FUNDAÇÃO ESCOLA DE COMÉRCIO ALVARES PENTEADO CENTRO UNIVERSITÁRIO FECAP PÓS-GRADUAÇÃO LATO...
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FUNDAÇÃO ESCOLA DE COMÉRCIO ALVARES PENTEADO
CENTRO UNIVERSITÁRIO FECAP
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO EMPRESARIAL
CLAUDIA ELEUTÉRIO DOS SANTOS
DESCONSTRUINDO OS MITOS DA PROFISSÃO
DE SECRETÁRIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, como parte dos requisitos para a obtenção do certificado de Pós-Graduação em Gestão Empresarial.
Orientadora: Professora Georgia Rogel
São Paulo
2008
FOLHA DE APROVAÇÃO
Claudia Eleutério dos Santos
Desconstruindo os Mitos da Profissão de Secretária
Este trabalho de conclusão de curso foi apresentado para obtenção do certificado de Pós Graduação Lato Sensu em Gestão Empresarial da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, obtendo a nota _____, atribuída pela orientadora Professora Georgia Rogel.
16 de dezembro de 2008
São Paulo
2008
AGRADECIMENTOS
Meus sinceros agradecimentos à Professora Georgia Rogel pela orientação
direta a este trabalho.
Especialmente, à Profa. Dra. Cynthia Regina Fisher, coordenadora do Curso
de Secretariado Trilíngüe da FECAP, pelo apoio, incentivo, considerações
pontuais, e, principalmente, por sua amizade sincera.
À professora Walkíria Almeida, que me brindou com sua amizade e
contribuiu com sua experiência de vida e entusiasmo.
A todos os alunos do Curso de Secretariado Trilíngüe e aos colegas de
profissão que, através da FENASSEC, contribuíram respondendo à pesquisa e me
oferecendo apoio e incentivo.
Às amigas Andréa, Angélica e Karen pelos exemplos de profissionalismo e
pelo amor com que me receberam em suas vidas.
À minha mãe e meu filho que se engajaram nos bastidores para que este
trabalho fosse possível e ao meu pai e irmãos que incentivaram e acreditaram.
"A maior dificuldade não é fazer com
que as pessoas aprendam coisas
novas, mas sim conseguir que
esqueçam as antigas."
Tom Peters
RESUMO
O papel da secretária nas organizações modernas é dar suporte aos administradores e gestores através de múltiplas capacidades que fornecerão as soluções necessárias aos diversos contextos empresariais. E para que ela possa exercer tais atividades com agilidade e eficácia, foi preciso enfrentar grandes dificuldades e transpor desafios cotidianos que fortaleceram a atuação da secretária e da profissão. O discurso favorável à extinção da profissão surgiu no momento em que o avanço da tecnologia significou mais liberdade para os executivos e representou um incremento de sofisticação nas atividades cotidianas dos escritórios. Assim, um gestor que pudesse executar atividades antes consideradas mecânicas e rotineiras, não precisaria mais de uma funcionária para auxiliar nessas tarefas. Esta era apenas uma das mais recentes dificuldades enfrentadas pelas secretárias ao longo de sua história, cujos primórdios estão relacionados à antiga civilização egípcia. Entretanto, a história da profissão de secretária está entrelaçada à história da entrada da mulher no mercado de trabalho no que tange à questão dos preconceitos enfrentados, e ambas estão repletas de mitos. Talvez por isso, podem ter influenciado a percepção das profissionais de secretariado levando-as a repetir, ainda que sem consciência, frases e pensamentos que acabariam por denigrir a imagem da profissão. Assim, a presente pesquisa buscou investigar quais são os principais mitos relacionados à profissão de secretária e como eles contribuem para a desvalorização da profissão. Por este motivo, optou-se pela elaboração de um estudo exploratório através de levantamento bibliográfico e abordagem de pesquisa qualitativa com a entrega de 467 questionários a profissionais e estudantes de secretariado de ambos os sexos, localizados em todo o território nacional. Estes foram entregues por meio eletrônico e devolvidos até uma semana após a data do recebimento, ou foram entregues pessoalmente e recolhidos tão logo fossem respondidos. Do total, obtiveram-se 52 questionários considerados válidos, representando 11% da população. Os resultados mostraram que a existência dos mitos concernentes à profissão parece não influenciar a imagem que a profissional tem da profissão, o que pode ser explicado pela disseminação da formação profissional específica, notadamente a acadêmica, que coloca à disposição do mercado profissionais altamente capacitados para atuar em diversas frentes, e está cada vez mais sintonizada com as necessidades das empresas em tempos de globalização.
Palavras-chave: Secretária, Profissional de Secretariado, Mitos, Imagens
ABSTRACT
The secretary’s function in the modern organizations is to assist administrators and managers through multiple capabilities which will provide solutions to the various enterprise contexts. In order to be able to do such activities with agility and effectiveness, the secretary has had to face great difficulties and to transpose daily challenges which strengthened their performance and their profession. The favorable speech to the extinguishing of the profession appeared when the advance of technology meant more freedom for the executives and it represented an increase of sophistication in offices’ daily activities. Thus, a manager who could do activities formerly considered mechanical and ordinary would not need an employee to assist in these tasks anymore. That situation was only one of the most recent difficulties faced by the secretaries throughout their history, whose beginning is related to the old Egyptian civilization. However, the history of the secretaries’ profession is mingled with the history of the insertion of the women in the job market in relation to faced prejudice, and, in both of them there are so many myths. Perhaps because of this, they might influence secretaries’ perception, leading them to repeat, although without conscience, sentences and thoughts that might depreciate the image of this profession. Consequently, the present research aimed at investigating which are the main myths related to the secretaries’ profession and how they contributing for the professional devaluation. For this reason, we had chosen elaborate an exploratory study in which it was done a bibliographical survey and a qualitative research for what we delivered the survey to a 467 secretaries and students of the secretary’s course from both gender, located in whole national territory. This surveys had delivered by electronic mail and returned to us one week later, or had deliver personally and gave back when immediately answered. We had 52 valid surveys, that represents 11% by population. The results showed that the myths related to the profession it seems does not have influence about the image which secretaries have from the profession, what can be explained by dissemination of specific professional formation, specially academic one, which provides highly skilled professionals to the job market, is more and more tuned to the companies’ needs in global times. Key words: Secretary, secretaryship professional, myths, images.
Lista de Tabelas
Tabela 1 – Universo Pesquisado..................................................................... 34
Tabela 2 – Quantidade de Empresas em eue os Respondentes já Trabalharam.....................................................................................................
37
Tabela 3 – Relação entre Quantidade de Empresas em que se Trabalhou e Tempo de Trabalho..........................................................................................
38
Tabela 4 – Cargo Registrado em Carteira....................................................... 38
Tabela 5 – Tabulação dos Resultados............................................................. 44
Tabela 6 – Tabulação dos Resultados............................................................. 46
Tabela 7 – Tabulação dos Resultados............................................................. 47
Lista de Gráficos
Gráfico 1 – Gênero dos Respondentes............................................................ 34
Gráfico 2 – Idade dos Respondentes............................................................... 35
Gráfico 3 – Estado Civil dos Respondentes..................................................... 35
Gráfico 4 – formação Escolar dos Respondentes............................................ 36
Gráfico 5 – Faixa Salarial dos Respondentes.................................................. 39
Gráfico 6 – Por que você escolheu esta Profissão?........................................ 40
Gráfico 7 – Por que você escolheu esta Profissão?........................................ 42
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................8
1.1 Apresentação.......................................................................................................8
1.2 Problema de Pesquisa.......................................................................................11
1.3 Proposições.......................................................................................................11
1.4 Objetivos............................................................................................................12
1.4.2 Geral..................................................................................................................12
1.4.3 Específicos ........................................................................................................12
1.5 Justificativa ........................................................................................................12
2 REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................13
2.1 Entrada da Mulher no Mercado de Trabalho .....................................................13
2.2 Histórico da Profissão de Secretária..................................................................16
2.3 Perfil Atual da Profissão ....................................................................................20
2.4 Dos Mitos...........................................................................................................22
2.5 Dos Mitos da Profissão de Secretariado............................................................24
2.6 Desconstruindo os Mitos em Relação à Profissão de Secretariado ..................26
3 METODOLOGIA ....................................................................................................30
3.1 Características deste Estudo.............................................................................31
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ............................................33
4.1 Perfil dos Respondentes....................................................................................34
4.2 Perfil Educacional e Profissional dos Respondentes.........................................35
4.3 Percepção dos Respondentes Sobre os Mitos da Profissão .............................43
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................50
REFERÊNCIAS..............................................................................................................52
APÊNDICE A – Questionário de Pesquisa.....................................................................56
8
1 INTRODUÇÃO
1.1 Apresentação
O Secretariado é uma das mais antigas profissões do mundo, uma vez que está
ligado por afinidade de atividades aos escribas do Egito antigo e Mesopotâmia
(RIBEIRO, 2002).
Tendo atravessado os séculos, surgiu como profissão majoritariamente feminina
após os dois conflitos mundiais do século XX e, no Brasil, com a chegada das
multinacionais nos anos 1950 (BRUNO, 2006), foi extremamente influenciada pelas
condições sociais, políticas e econômicas vivenciadas pelas mulheres ao longo do
tempo (ALVES e PITANGUY, 1991; LOBOS, 2002).
A profissão, cujas atividades estão ligadas a alguma forma de facilitação do
trabalho de alguém, foi e tem sido vista – mesmo pelas secretárias – como
desimportante e, muitas vezes, desnecessária.
Com o desenvolvimento e a disseminação da tecnologia, notadamente a da
informação, no decorrer do século XX, se preconizou seu fim e, mesmo hoje, se ouvem
vozes reforçando seu caráter desnecessário e conseqüentemente sua extinção. No
entanto, apesar dos maus prognósticos, a profissão tem crescido em número de
trabalhadores (informação verbal)1, em interesse por cursos regulares que formam e
aprimoram profissionais; em importância perante as empresas e, conseqüentemente,
perante a sociedade.
A década de 1980 revelou-se muito importante para a classe secretarial pelas
conquistas alcançadas neste período, quais sejam: regulamentação da profissão por
legislação própria, publicação do código de ética, autorização de funcionamento dos
sindicatos e da federação, entre outros.
Já, a década seguinte foi crucial para a consolidação da profissão nas empresas
porque sofreu os efeitos da intensificação do processo de globalização (MAERKER,
1999) e da conseqüente reengenharia das empresas (RIBEIRO, 2002), chegando a um
momento de impasse: ou se reinventava ou se extinguiria.
1 Informação fornecida pela Presidente do Sindicato das Secretárias (os) do Estado de São Paulo, Sra. Isabel Cristina Baptista.
9
Por isso, as secretárias de então se viram obrigadas a adequar-se aos novos
tempos, assumindo mais tarefas e responsabilidades, angariando mais autonomia
sobre seu trabalho, tornando-se uma das mais importantes funcionárias nas empresas,
por sua posição de destaque junto aos centros de poder e decisão.
Entretanto, apesar das conquistas que sustentaram o crescimento da importância
da profissão, observamos que as profissionais ainda julgam-se desvalorizadas,
permitindo que idéias concebidas no âmbito de vivências preconceituosas ainda
permeiem os pensamentos a respeito do exercício da profissão.
Tais idéias podem ter sido concebidas a partir de fatores que, ainda que reais, são
passíveis de discussão ou negociação: falta de definição do âmbito de atuação do
profissional; atuação profissional sujeita à aceitação de trabalhos de qualquer natureza;
e o sub-aproveitamento das capacidades intelectuais e profissionais, entre outros
(GARCIA, 1999).
A atividade secretarial possui este caráter sustentador do trabalho de outro
profissional, no entanto, não significa que a secretária tenha que “sujeitar-se” a
condições desfavoráveis ou insuportáveis de trabalho. Em outras palavras, essas idéias
servem apenas para alavancar um círculo vicioso no qual as idéias reforçam uma
atuação menos profissionalizada que reforça essas idéias, e assim por diante.
Portanto, o que nos interessa neste estudo é promover a desconstrução de
algumas das idéias que permeiam o exercício do secretariado, não para acirrar a
discussão sobre se o trabalho secretarial é ou não importante – porque já está
comprovado que é – ou sobre se a profissão será ou não extinta – porque já está
comprovado que não será –, e outros pensamentos nessa linha, mas, apenas porque
tais idéias não condizem mais com a realidade.
Inclusive, é necessário destacar que as conquistas recentes têm atraído cada vez
mais homens para a profissão e pode-se perceber sua presença nos cursos de nível
médio e superior. Segundo dados fornecidos pela Presidente do Sindicado das
Secretárias(os) de São Paulo, Isabel C. Baptista, o número de homens que solicitam
filiação vem crescendo a cada ano.
10
A propósito, neste trabalho nos referiremos aos profissionais preferencialmente no
gênero feminino, contrariando a norma culta que pede a utilização do gênero masculino
para indicar profissionais de ambos os sexos, sem, no entanto, desconsiderar o
profissional masculino.
Muito embora o tema pesquisado esteja baseado em vivências tipicamente
femininas, buscaremos não levantar nenhuma espécie de enfrentamento de gêneros,
isto porque se por um lado os mitos afastam os homens desta profissão, por outro lado,
a importância alcançada pelo profissional de secretariado junto às empresas tem
demandado profissionais cada vez mais qualificados, sejam homens ou mulheres, e,
portanto, os salários têm se mostrado cada vez mais atrativos. Não se justifica, pois,
fazer tal distinção, vez que o tema, ainda que originado nas dificuldades encontradas
pelas mulheres, afeta os homens, que acabam enfrentando preconceito por optarem
por uma profissão ainda considerada adequada para mulheres.
Dessa forma, seguindo nossa linha de trabalho, no primeiro capítulo
descreveremos o problema da pesquisa e suas proposições, bem como os objetivos
que pretendemos alcançar e sua justificativa.
No segundo capítulo faremos a revisão bibliográfica e serão abordados um
panorama da condição da mulher no mercado de trabalho; um breve histórico da
profissão de secretária e uma descrição do perfil profissional na atualidade. Também
neste capítulo trataremos do que sejam os mitos, como se estabelecem os mitos
profissionais e, especificamente, quais os mitos específicos da profissão.
No terceiro capítulo trataremos das características metodológicas deste estudo,
como foi desenvolvida a pesquisa que sustenta o trabalho, bem como a análise de seus
resultados e, finalmente, relacionaremos os resultados da pesquisa com as proposições
iniciais e apresentaremos as considerações finais.
11
1.2 Problema de Pesquisa
Sabe-se que a procura pelos cursos de secretariado do nível técnico à pós-
graduação tem estado em constante crescimento; que a formação específica na área,
notadamente a acadêmica, sustenta o desempenho profissional e seu conseqüente
desenvolvimento; que a profissão é regulamentada por lei e apontada como uma das
mais promissoras do novo século por escritores como Peter Drucker (1995), Robert
Reich (1994) e Alvin Tofler (1998).
Sabe-se, também, que a procura pelos cursos pode ter um caráter mais prático do
que vocacional, ou seja, os interessados buscam inserção no mercado de trabalho;
melhoria de condições profissionais pré-existentes e obtenção de formação superior
(SANTOS, 2003).
Entretanto, permanece viva a imagem de uma profissional cuja atuação, ligada à
máquina de escrever (SCHVINGER, 1985 apud Garcia, 1999), depende exclusivamente
das demandas de uma chefia que deverá direcionar as atividades secretariais conforme
sua vontade e necessidades, colaborando para a propagação de paradigmas que, em
nossa percepção, culminam na desvalorização da profissão.
Este estudo, portanto, está centrado em responder ao seguinte questionamento:
quais são os principais mitos relacionados à profissão de secretária e como eles
contribuem para a desvalorização da profissão?
1.3 Proposições
Para responder a este questionamento partimos do pressuposto de que a
existência de determinados mitos contribui para reforçar no imaginário popular a
imagem de um profissional cuja atuação esteja em extinção por força do avanço da
tecnologia e, portanto, do incremento de sofisticação que as atividades profissionais já
exigem e continuarão a exigir no futuro.
Considerando ainda que tal premissa se legitime como um das principais razões
que motivem a visão estereotipada da profissão e sua conseqüente desvalorização,
12
supomos também que promover a desconstrução desses mitos possa contribuir para a
construção de uma imagem mais fortalecida que permita maior valorização profissional.
1.4 Objetivos
1.4.2 Geral
Tendo em vista que a própria secretária, ao reforçar os mitos existentes, não
reconhece a importância de sua atuação e, portanto, não valoriza sua profissão,
pretende-se, com este trabalho, investigar quais mitos ainda persistem no imaginário
corporativo em relação a ela e sua profissão para sugerir imagens mais positivas que
possibilitem um incremento de valorização para ambas.
1.4.3 Específicos
Para se atingir o objetivo proposto será necessário:
a) Estudar quais são os mitos existentes em relação à profissão e à profissional
de Secretariado;
b) Investigar qual imagem a profissional tem da profissão.
c) Avaliar em que medida a existência de mitos corrobora a desvalorização da
profissão.
1.5 Justificativa
O presente estudo poderá ser útil aos profissionais e estudantes de Secretariado
no sentido de propor a desconstrução de mitos que ainda permeiam o exercício da
profissão com o objetivo de subsidiar uma nova representação para estas profissionais.
Podendo, portanto, auxiliar em sua decisão aqueles que pretendem seguir carreira.
13
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Entrada da Mulher no Mercado de Trabalho
O objetivo desta pesquisa não é estudar, nem problematizar, a existência ou não
de preconceito de gênero em qualquer âmbito de atuação das mulheres, notadamente
no mercado de trabalho.
Entretanto, considerando que o secretariado tem sido exercido majoritariamente
por mulheres, necessário se faz situar historicamente sua entrada no mercado de
trabalho, a fim de embasar nossas proposições acerca dos mitos presentes na
profissão.
Embora não haja estudos conclusivos, sabe-se que na pré-história a sociedade
emergente vivia os rudimentos do que, mais tarde, se poderia chamar de sistema
matriarcal, em que a fêmea era responsável pela segurança e desenvolvimento da
família (LOBOS, 2002), o que configurava senão uma condição de controle, uma
demonstração de sua capacidade de gerenciar conflitos.
A sociedade permaneceu essencialmente matrilinear, ou seja, considerando a
ascendência materna para a transmissão do nome, dos privilégios, da condição de
pertencer a um clã ou a uma classe, até meados de 1.200 a.C quando o povo Dório
conquistou a Grécia – que mais tarde influenciaria o mundo com suas idéias – e todos
os costumes foram erradicados, incluindo-se o matriarcado. Aliado a isto, o advento da
escrita – que permitiu a divulgação dos feitos heróicos dos homens –, contribuiu para a
instalação em definitivo de uma cultura patriarcal (LOBOS, 2002).
Alves e Pitanguy (1991) afirmam ainda que na Grécia a mulher possuía a mesma
condição social dos escravos, a quem era permitido apenas a execução de trabalhos
manuais, menosprezados pelos homens.
A civilização romana, através de seu código legal, legitimou essa condição inferior
da mulher em relação ao homem, com a instituição do paterfamilias, dando ao homem o
poder sobre todas as coisas que lhe pertenciam: mulheres, filhos, escravos, parentes
que habitavam sob o mesmo teto, bens, etc. (ALVES e PITANGUY, 1991).
14
Em civilizações como a Gália e Germânia as mulheres possuíam igualdade de
condições sociais com os homens, mas, não só este fato constituía uma exceção,
como, com o avanço do Império Romano, esta condição foi rapidamente alterada (idem,
p. 15).
Lobos (op. cit., p. 40) registra que o “surgimento das primeiras cidades e do
mercantilismo só exacerbaram a dominação masculina” e esta condição era sustentada
por filósofos e cientistas que afirmavam ser o macho ”superior por natureza”.
Durante a Idade Média as mulheres gozaram de alguns privilégios, podendo,
exercer profissões e gerir os negócios da família, situação comum em virtude do
homem estar “envolvido em constantes guerras e longas viagens, ou recolhido à vida
monástica” (ALVES e PITANGUY, 1991, p.16).
Entretanto, seu trabalho além de menos remunerado gerava a hostilidade dos
homens porque a competição rebaixava o nível geral de salários.
Além disso, à época, poder e prestígio estavam contidos na posse da terra e na
ascendência espiritual, privilégio da nobreza e do clero, portanto, a mulher, assim como
o homem comum, não desfrutava de prestígio social pelo trabalho porque este não era
reconhecido como um valor em si (idem, p. 20).
A Idade Média, ademais, foi também um período marcado pela religiosidade
exacerbada, o que tornou a vida das mulheres muito difícil em razão da perseguição
que se abateu sobre elas, entre outras coisas, por seu suposto conhecimento das artes
curativas e dos mistérios da concepção, que contradizia o conhecimento científico,
privilégio exclusivo dos homens (ALVES e PITANGUY, 1991; LOBOS, 2002).
Durante o Renascimento, com a reintrodução do código legal romano, as
mulheres perderam muitos de seus direitos civis tais como: receber herança, reger seus
próprios bens e representar-se na justiça, além perderem gradativamente o direito de
exercer determinadas profissões. Fato que ocorreu exatamente no momento em que o
trabalho começava a ser visto como instrumento de valorização do homem, e que, em
contrapartida, depreciava o trabalho da mulher (ALVES e PITANGUY, 1991).
15
É desta época a reafirmação de que o trabalho manual era mais adequado à
natureza “frágil” da mulher. Esta é uma visão romântica da castelã medieval que ficaria
passivamente aguardando o cavaleiro amado retornar de suas aventuras pelo mundo
exterior. Visão que, não obstante falsa, perpetuou-se no imaginário popular.
Mais tarde, durante a Revolução Francesa, a mulher configurou-se como
importante partícipe do processo revolucionário, entretanto, as conquistas políticas não
se estenderam a elas, o que gerou uma onda de reivindicações e protestos fortemente
repudiados, legalmente reprimidos e mortalmente punidos (ALVES e PITANGUY, 1991;
LOBOS, 2002).
Rosseau, um dos artífices da Revolução Francesa, assim encarava a participação
da mulher na vida pública:
Toda a educação das mulheres deve ser relacionada ao homem. Agradá-los, ser-lhes útil, fazer-se amada e honrada por eles, educá-los quando jovens, cuidá-los quando adultos, aconselhá-los, consolá-los, tornar-lhes a vida útil e agradável – são esses os deveres das mulheres em todos os tempos e o que lhes deve ser ensinado desde a infância. (JEAN JACQUES ROUSSEAU apud Alves e Pitanguy, 1991, p.35)
Em resumo, desde tempos muito longínquos a mulher era tratada como um ser
inferior tanto do ponto de vista humano e médico, quanto moral e legal, filosófico e
espiritual, o que a colocava a serviço do homem em sua atuação pública e privada.
Apesar das dificuldades, as mulheres não deixaram de trabalhar, nem de se
interessar por campos do conhecimento considerados masculinos como as ciências e
as artes, apenas seu trabalho tinha um caráter invisível. Ela era contratada por
intermediários para exercer atividades de cunho doméstico fortemente relacionado aos
cuidados com o outro como alimentação, tecelagem, confecção e bordados (ALVES e
PITANGUY, 1991).
A Revolução Industrial promoveu grandes modificações sociais, econômicas e
políticas, interferindo para sempre nas relações entre o homem e o meio. No campo do
trabalho, ainda que o objetivo fosse contribuir para a acumulação de capital (LOBOS,
2002), permitiu-se o acesso das mulheres às fábricas, onde lhes eram reservadas “as
funções mais desqualificadas, as condições mais precárias de trabalho e as menores
16
remunerações” (GARCIA, 1999, p. 57), porque as funções administrativas (e por
extensão, o trabalho intelectual) eram destinadas aos homens.
A fabricação das primeiras máquinas de escrever comerciais, em fins do século
XIX, trouxe para as mulheres a oportunidade de ingressarem nos escritórios.
No entanto, a datilografia era considerada apropriada somente para os “cegos, os
que escreviam mal e os que sofriam das mãos” (NETTO, 1980, p. 2), além de
configurar-se como um trabalho manual, mecânico e monótono, sendo, portanto,
inadequado à natureza dinâmica e ativa do homem (SCHVINGER, 1985 apud Garcia,
1999, p. 58).
Também era comum a mulher ter pouca ou nenhuma formação escolar, o que
contribuiu para caracterizar como operário o trabalho da datilógrafa.
Somente com a escassez de mão-de-obra gerada pelos conflitos mundiais na
primeira metade do século XX, as mulheres consolidaram sua participação no mercado
de trabalho e abriram caminho para o trabalho administrativo nos escritórios.
Este momento é significativo para as mulheres porque adquirem visibilidade, muito
embora sua luta por direitos civis, políticos, etc. ainda percorreria um longo caminho, e
passa a ter uma atuação importante no âmbito das organizações.
2.2 Histórico da Profissão de Secretária
A profissão de secretária por sua vez, tem sua origem associada aos escribas do
Egito antigo, porque naquela época desempenhavam as funções
[...] de um alto funcionário do governo, que servia de intermediário entre o poder público e o povo. Em papiro [...] registrava as ordens, os decretos e os relatos ligados à vida dos faraós. É por isso que o escriba pode ser considerado o precursor dos funcionários de escritório, e por analogia, da secretária. (GARCIA, 1999, p. 57)
Mais tarde, durante o Império Romano os escribas desempenharam importante
papel na administração pública, mas, desapareceram na Idade Média quando apenas
os monges detinham o conhecimento, exercendo nos mosteiros as atividades de
copistas, arquivistas e ilustradores (NATALENSE, op.cit).
17
Os escribas teriam reaparecido durante a revolução comercial e, mais tarde, com
o surgimento do modelo empresarial que conhecemos até hoje, reafirmaram sua
participação no mercado de trabalho assumindo funções de assessoria administrativa.
Até meados do século XX tais funções eram exercidas exclusivamente pelos
homens. A mulher, que havia estreado no mercado de trabalho formal como operária
durante a Revolução Industrial, somente foi aceita nos escritórios com a invenção da
máquina de escrever e, em razão da carência de trabalhadores durante os períodos de
guerra, é que pode assumir o trabalho administrativo e de assessoria.
Entretanto, ainda que estes fatos se estabeleçam como conquistas, Nunes et al.
[2006] afirma que
[...] nesta época a mulher não tinha direito à cidadania, era confinada ao lar, cuidava da saúde dos elementos da família, [...] tinham que se dedicar totalmente ao marido. (NUNES et al., [2006], p.1).
Lobos (op. cit., p. 42) também chama a atenção para o fato de que o homem
exigia da mulher obediência fiel, apoio emocional e sacrifício por ele e pelos filhos, se
necessário, e que esta condição acabou transportada para o ambiente de trabalho,
determinando que a mulher tivesse o mesmo padrão de atendimento das necessidades
do homem que se verificava no ambiente domiciliar.
Nunes et al. (op. cit), reforçam esta idéia indicando que
[...] o ingresso das mulheres [...] na formação profissional dava-se em setores freqüentemente relacionados com suas aptidões naturais [...], estas aptidões partem da atenção que a mulher tem em relação ao cuidar. (NUNES et al., [2006], p. 1).
Assim, percebe-se que as primeiras mulheres a trabalhar em escritório assumiram
um papel cuidador no ambiente profissional, reafirmando o entendimento de que havia
uma vocação feminina para servir, e que esta deveria ser sua atuação também fora do
restrito círculo doméstico. (LOBOS, op. cit.)
Sendo assim, o trabalho de assessoria que tais mulheres desempenhavam no
escritório, além da datilografia, tinha um caráter doméstico: atender ao telefone e anotar
recados, receber os visitantes e servir o café. Para isso era também exigido que esta
trabalhadora tivesse boa aparência para causar boa impressão.
18
Não obstante seu caráter doméstico essas atividades exigiam conhecimentos e
postura que distanciavam essa trabalhadora da datilógrafa, considerada uma operária,
a quem era exigido simplesmente o conhecimento técnico do ato de datilografar.
Por este motivo as mulheres que desempenhavam este trabalho diferenciado,
passaram a exigir uma nova denominação para sua função, o que aconteceu em
meados dos anos 1930, quando se cunhou o termo secretária, que literalmente significa
“que guarda segredos”
para designar a profissional cuja principal ferramenta de trabalho era a máquina de escrever, mas que não poderia ser designada datilógrafa para não ser caracterizada como uma simples operadora de máquina. (Garcia, 1999, p. 58).
A partir daí, para essas profissionais, aprimorar as habilidades técnicas e
aperfeiçoar sua atuação junto aos executivos atendidos, viria somente com a prática
diária, o que contribuiu para conferir às secretárias um viés autodidata.
No Brasil a atuação das mulheres nos escritórios é percebida, principalmente, com
a chegada das multinacionais automobilísticas, em meados dos anos 1950, em que as
filhas dos imigrantes assessoravam os gestores porque, diferentemente da mulher
comum, tinham formação escolar, geralmente falavam outros idiomas; possuíam
habilidade manual para lidar com a máquina de escrever e também estavam
preparadas para administrar o lar (BRUNO, 2006).
A partir dos anos 1960, esta visão da trabalhadora com características
marcadamente femininas e de caráter cuidador mencionada por Alves e Pitanguy
(1991), Lobos (2002), e Nunes et. al. [2006], e da secretária submissa e autodidata
reafirmada por Garcia (1999) e Natalense (2000), ficou mais evidente em razão da
difusão das novas teorias administrativas, e o conseqüente treinamento gerencial, que
transformou esta secretária em símbolo de status.
Assim, o gerente a via como parte de um benefício da empresas à sua atuação
executiva, e não como profissional gabaritado a fazer parte de sua equipe, o que
contribuiu para reforçar a idéia de que a secretária era “somente uma extensão dos
‘braços’ do chefe, incompetente para qualquer atividade intelectual” (GARCIA, 1999, p.
43).
19
Entretanto, em sua condição de autodidata, as secretárias da época reuniram-se
em associações para defesa dos seus direitos e, para atender a uma demanda cada
vez maior por profissionais melhor qualificados, fazem surgir os primeiros treinamentos
profissionais específicos para secretárias e o primeiro curso de nível superior em
Secretariado Executivo na Universidade Federal da Bahia2.
O incremento na formação das profissionais, o surgimento das associações de
classe nos estados e, pouco mais tarde, a associação em nível nacional promoveram
às secretárias as seguintes conquistas (BRUNO, 2006):
a) Instituição do Dia Nacional de Secretária, Lei nº 1.421/77, em 20 de setembro de 1977 (data do aniversário de Lílian Scholes, a primeira mulher a datilografar em público em 1873);
b) Em 5 de setembro de 1978, por meio da Lei nº 6.556/78, assinada pelo Presidente Ernesto Geisel, é dado o primeiro passo para o reconhecimento da profissão. Essa Lei fornece dispositivos para que as Delegacias Regionais do Trabalho fiquem responsáveis pelos Registros da Profissão, porém não há mecanismos de obrigatoriedade no cumprimento dessa lei pelas organizações;
c) É finalmente, em 30 de setembro de 1985, por meio da Lei nº 7.377/85, assinada pelo Presidente José Sarney, que a profissão de secretariado é regulamentada, com a exigência da formação específica e garantindo os direitos das profissionais atuantes, embora tivesse algumas falhas só resolvidas em 1996 com a Lei nº 6.291/96, assinada em 10 de janeiro de 1996 pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso. (BRUNO, 2006, p. 15)
Além destas conquistas é importante mencionar ainda o reconhecimento pelo
Ministério do Trabalho como categoria profissional diferenciada3 e a criação de seu
código de ética4, significando que a profissão possui atividades específicas e regras
próprias podendo organizar-se em sindicatos. Estas conquistas deram credibilidade à
profissão e as secretárias começam a ser vistas como membros da organização e não
mais como “braços” do gerente.
2 Curso criado em 1969, mas, só reconhecido em 1998, através do Parecer 331/98 – DOU 24/8/98. O primeiro
curso de nível superior em Secretariado reconhecido no Brasil foi o da Universidade Federal de Pernambuco, criado em 1970 e reconhecido em 1978, através do Decreto no. 82.166, publicado no DOU de 25/8/78.
3 Segundo o Sindicato das Secretárias do Estado de São Paulo, categoria diferenciada significa que “o profissional de secretariado possui, no mundo do trabalho, regras próprias que norteiam o exercício da profissão. Essas regras são: as leis de regulamentação, os acordos coletivos e o sindicato próprio de sua profissão”, sendo assim a profissão foi reconhecida como categoria diferenciada através da Portaria 3.103 de 29/04/87 – DOU de 30/04/87.
4 DOU 7/7/89
20
2.3 Perfil Atual da Profissão
O processo de globalização e a crescente revolução tecnológica que se
intensificaram a partir dos anos 1990 trouxeram uma série de transformações sociais,
políticas e econômicas que culminaram numa revisão de valores que atingiu
especialmente o mundo empresarial. As organizações perceberam a necessidade de
redefinir seu organograma, reduzindo níveis hierárquicos, eliminando chefias, criando
novas atribuições para todas as pessoas envolvidas no processo organizacional, e isto
afetou positivamente a profissão da secretária.
As secretárias de então foram obrigadas a repensar o papel que exerciam dentro
das organizações para acompanhar o veloz desenvolvimento de novas tecnologias, das
novas formas de gestão, dos novos meios de comunicação, e principalmente, aprender
a trabalhar como parceiras da organização, polivalentes e empreendedoras.
A secretária tornou-se parte da organização, e “precisa entender a empresa em
sua totalidade, preocupar-se com a produtividade, a qualidade e a geração de lucros”
(NATALENSE, op. cit., p. 5).
Estes requisitos auxiliam na construção do perfil profissional dos trabalhadores
chamados por Robert Reich (1994) de analítico-simbólicos. Para ele as atividades deste
indivíduo incluem identificação e solução de problemas a partir da
“[...]manipulação de símbolos. As manipulações são realizadas com ferramentas analíticas [...]. as ferramentas podem ser algoritmos matemáticos, argumentos legais, artifícios financeiros, princípios científicos, conhecimentos psicológicos [...] ou qualquer outro conjunto de técnicas para resolver quebra-cabeças conceituais” (REICH, 1994, p. 165).
Além disso, o perfil atual da secretária demanda o conhecimento de ferramentas
gerenciais como liderança, motivação, comunicação e, principalmente, negociação
(GARCIA, 1999; NATALENSE, 2000). O que não significa que ela deverá atuar no
mesmo nível hierárquico que o gerente, competindo, mas utilizando desses mesmos
princípios fundamentais da gerência para propiciar condições para a atuação gerencial,
ou seja, contribuindo, participando e facilitando.
O gerente é o profissional que deve atingir resultados a partir de planejamento,
organização e controle dos recursos humanos e materiais disponíveis. À secretária
21
cabe planejar, organizar e controlar a infra-estrutura para facilitar o alcance destes
mesmos resultados organizacionais (NATALENSE, 2000).
Bruno (2006, p. 94) confirma que
o perfil profissional...de secretariado, exigido pelo mercado, concentra-se mais em sua capacidade de auxiliar o administrador a resolver problemas e tomar iniciativa, que na sua habilidade em registrar e administrar informações. Considerando que os profissionais de secretariado [...] assessoram o nível estratégico das organizações e que seu representante, em função da competitividade do mercado, delega tarefas e responsabilidades a esse profissional para alcançar os objetivos da organização.
[...] o profissional de secretariado tem uma posição estratégica nas organizações por ter acesso às informações confidencias em primeira mão, atuando como um facilitador nas relações interpessoais, coletando dados estruturados, bem como por contribuir com as informações não estruturadas, recursos necessários ao processo decisório. (BRUNO, 2006, p. 94)
Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações – CBO do Ministério do
Trabalho e Emprego (2002), as atribuições das secretárias envolvem: assessoria ao
executivo ou à sua área; atendimento externo/interno; gerenciamento de informações;
elaboração de documentos; controle de correspondências; serviços em idioma
estrangeiro; organização de eventos; supervisão de equipes de trabalho e
sistematização de atividades e suprimentos.
Todas essas as atribuições que delineiam o perfil profissional podem fazer parecer
que é necessário ser uma espécie de “super-herói” do escritório. No entanto, em todas
as profissões, as empresas buscam trabalhadores que apresentem o melhor
desempenho dentro de um perfil desenhado pela organização, significando que, além
dos talentos e habilidades pessoais, o profissional deve buscar aprimorar as técnicas
para o exercício da profissão, deve perceber a cultura peculiar a cada organização e a
cada executivo como indivíduo e entender a necessidade de atualização constante.
Estas condições são imperativas para qualquer profissional que pretenda manter
elevado seu nível de empregabilidade.
Além disso, a profissão de Secretariado é regulamentada por lei que dispõe sobre
seu exercício determinando que todo profissional deva obter registro junto à
Superintendência Regional do Trabalho e Emprego – SRTE (antiga Delegacia Regional
do Trabalho – DRT).
22
Mediante a apresentação de certificado de conclusão de curso, são considerados
Secretários Executivos (bilíngües ou trilíngües) aqueles que concluíram o curso superior
e como Técnicos em Secretariado ou Secretários aqueles que concluíram os cursos
profissionalizantes (nível médio técnico).
Em virtude da consolidação do novo perfil da profissão e da exigência legal do
registro profissional, a procura por cursos de Secretariado tem aumentado
consideravelmente em todos os níveis de aprendizado. Segundo dados da Federação
Nacional dos Secretários e Secretárias – FENASSEC, no ano da regulamentação da
profissão havia cursos superiores de Secretariado em poucos estados brasileiros e
atualmente há pelo menos um em cada estado e em alguns já é possível encontrar
cursos de pós-graduação. Atualmente, o Brasil conta com dois milhões de Secretários,
sendo quase um milhão só no estado de São Paulo (informação verbal)5.
Cientes da necessidade de aperfeiçoamento profissional, as empresas possuem
planos de carreira, financiam os estudos, cursos, participação em seminários, viagens,
etc. contribuindo para que a formação da secretária brasileira seja considerada uma das
profissionais mais completas do mundo (HOW..., 2001). Sendo, por este motivo,
considerada como uma das mais promissoras do novo século (MORAES, 2003).
2.4 Dos Mitos
A palavra mito é de origem grega, mythos, que deriva de dois verbos: mytheyo,
que significa contar, narrar, falar alguma coisa para outros e mytheo, significando
conversar, contar, anunciar, nomear, designar (CHAUÍ, 2001).
Chauí (2001, p. 23) nos ensina que os mitos são narrativas “sobre a origem de
alguma coisa”, proferidas
para ouvintes que recebem como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra; é uma narrativa feita em público, baseada, portanto, na autoridade e confiabilidade da pessoa do narrador. E essa autoridade vem do fato de que ele ou testemunhou diretamente o que está narrando ou recebeu a narrativa de quem testemunhou os acontecimentos narrados (CHAUÍ, 2001, p. 23).
5 Informação fornecida por Isabel C. Baptista, presidente do Sindicato das Secretárias(os) do Estado de São Paulo, em São Paulo, em 11 nov. 2008.
23
De acordo com Eliade (1998, p. 12) o mito se configura ainda como “uma história
sagrada e, portanto, uma ‘história verdadeira’, porque sempre se refere a realidades”,
significando que tais narrativas são construídas com base no que é visível pela
sociedade.
Tal conceito é confirmado por Teles (1997, p. 13) para quem
O pensamento mítico [...] caracteriza-se como um processo de ordenação de elementos concretos: coisas, seres vivos, pessoas, para significar a realidade que pretendiam explicar.
Assim, cria-se um saber a partir do sensível, empregando-se outros elementos concretos e sensíveis para explicar uma realidade concreta (que está à nossa frente).
Mito é, pois, um conjunto fechado de conhecimento, capaz de ordenar e dar significação a realidades do meio, importantes e prioritárias para o homem.
Sendo assim, o mito configura-se como parte integrante e indissociável da cultura
de uma sociedade conforme aponta Marcondes (2001, p. 20) para quem ”o mito é [...]
essencialmente fruto de uma tradição cultural e não de uma elaboração de um
determinado indivíduo”.
Os mitos, portanto, são parte de nossa história pessoal e coletiva e são
construídos em nossas vidas desde a mais tenra infância, a ponto de não termos
consciência deles.
E para que servem os mitos?
De acordo com Ziemer (1996, p. 35) os mitos servem para “auxiliar os indivíduos a
confrontarem e elaborarem os desafios capitais da existência” a partir de promover a
ordenação da realidade e favorecer a passagem pelas diversas fases da vida.
No ambiente corporativo, os mitos integram os elementos da cultura da
organização, servindo para dar significado aos acontecimentos do ambiente
organizacional, explicar rotinas, direcionar ações, diminuir instabilidades através de
consolidar comportamentos e atitudes dos participantes do grupo para se atingir as
metas organizacionais (TAVARES, 1996; ZIEMER, 1996).
Não é função deste estudo descrever a influência dos mitos no ambiente
organizacional, mas é importante destacar que as empresas que se voltam para o
estudo dos mitos presentes em sua estrutura podem promover ações mais objetivas e
24
eficazes de aprimoramento das políticas de relações humanas, podendo culminar em
melhoria do desempenho econômico-financeiro.
Isto ocorre porque, em razão de entender o “funcionamento” das pessoas é
possível definir o “funcionamento” das estruturas invisíveis das empresas, promovendo
maior flexibilidade e adaptação às constantes mudanças das condições do mercado
(ZIEMER, 1996).
2.5 Dos Mitos da Profissão de Secretariado
Partindo do pressuposto de que os mitos são parte da cultura de uma sociedade e
que estão entranhados em nossas vidas de maneira que não se tem consciência deles,
podemos deduzir que estejam presentes também no exercício de qualquer profissão.
Embora na bibliografia consultada não tenhamos encontrado referências diretas
sobre os mitos de cada profissão, pesquisas na rede mundial de computadores nos
mostram que os mitos fazem parte do universo de diversas atividades profissionais tais
como: jornalismo, enfermagem, relações públicas, apenas citando as mais comuns.
A partir das explicações sobre a formação dos mitos e para que servem, também
pode-se deduzir que tais mitos são gerados no âmbito das profissões com o objetivo,
entre outros, de determinar o comportamento e atitudes esperados do referido
profissional no exercício de sua atividade.
Em nosso caso, uma vez delineados o histórico da entrada da mulher no mercado
de trabalho e da profissão de secretariado desde os primórdios até a definição de seu
moderno perfil, podemos afirmar que os mitos contribuem de maneira negativa para a
imagem da profissão de secretariado.
Ao observarmos a origem e a trajetória das profissionais de secretariado
perceberemos que os mitos em relação à profissão coincidem com o estereótipo
feminino de secretária caracterizado por Natalense (2002) como passivo e maternal
sustentado por atributos como paciência, tolerância, disponibilidade, compreensão,
calma, entre outros.
25
Assim, surge o primeiro mito que nos propusemos a investigar que diz que a
profissão deve ser exercida exclusivamente por mulheres, em razão de valorizar tais
atitudes.
Conforme estudado anteriormente, a invenção da máquina de escrever permitiu a
entrada das mulheres nos escritórios, mas, a atividade da datilografia, um trabalho
manual, tinha um caráter operacional e monótono, o que era considerado adequado
apenas à natureza dita passiva das mulheres.
Também era esperado que as atividades profissionais dessas primeiras mulheres
no ambiente de trabalho fossem conduzidas e controladas pelos homens, assim como
era o costume nos lares. Portanto, era natural e esperado que a mulher tivesse uma
postura submissa ao homem, conforme apontado pelos diversos autores consultados.
Além disso, esperava-se que a mulher, no ambiente de trabalho, tivesse, em
relação ao homem, o mesmo cuidado e atenção que tinha com os seus em casa,
caracterizando assim uma atuação maternal, mesmo profissionalmente.
Não podemos afirmar que estes fatos consolidaram a imagem da secretária como
“mãe” e “mulher submissa” do escritório, mas pode-se apontar que estas imagens
contribuíram para imprimir às atividades das secretárias um caráter auxiliar, uma
condição de estar à disposição, que influenciam a atividade secretarial até hoje.
O segundo mito diz respeito a não exigência de formação escolar específica para
o exercício da profissão. Um fator que pode explicar esta imagem diz respeito à pouca
formação das primeiras profissionais, a quem exigia-se apenas ter boa aparência e
saber datilografia.
Garcia (1999) aponta ainda que esta imagem é reforçada pela busca por mulheres
jovens, bonitas, sensuais que não precisam demonstrar profundos conhecimentos
específicos porque
o perfil de secretária esperado pelo empresariado resume-se em que [...] tenha domínio tanto em microinformática como em uma ou mais línguas estrangeiras, sendo que outros requisitos variam de acordo com quem a terá como parceira de trabalho, resultando na dificuldade em estruturar sua identidade profissional (GARCIA, 1999)
26
Já o terceiro mito diz respeito à idéia de extinção da profissão tendo em vista que
por tratar-se de função auxiliar, as atividades da secretária não geram resultados
mensuráveis para a consecução dos objetivos empresariais, ou seja, acredita-se que o
trabalho da secretária não contribui para atingir as metas estabelecidas pela
organização.
Este mito está relacionado ao entendimento de que a atividade secretarial existe
para atender as demandas de outro profissional, ou seja, depende de estar “à sombra”
de alguém que vai coordenar tal atividade, confirmando uma função de caráter auxiliar.
Esta afirmação é comumente ouvida em conversas informais com outros profissionais e
reflete a força deste mito.
Este mito configura-se também como uma conseqüência dos dois mitos descritos
anteriormente, uma vez que a função tem caráter “auxiliar”, “doméstico” e “cuidador”,
entretanto, nada mais obsoleto para as empresas que buscam profissionais cada vez
mais qualificados e capazes de contribuir para a consecução dos objetivos
organizacionais.
2.6 Desconstruindo os Mitos em Relação à Profissão de Secretariado
No caso específico da profissão de secretária os mitos que auxiliam a reforçar a
imagem de uma profissão em extinção são o que são: apenas mitos. Isto porque, como
veremos a seguir, nenhum deles se sustenta sob o crivo de um estudo mais apurado.
Poderíamos dizer que os mitos existentes sobre a profissão de secretária refiram-
se a uma atuação profissional que não considera os avanços da tecnologia e a
conseqüente mudança do perfil profissional. Mas, como eles ainda persistem no
imaginário popular, contaminando a fala dos próprios profissionais e seus pares, será
necessário fornecer subsídios para que estas imagens se transformem.
É verdade que nossa cultura valoriza a escolha de profissões consideradas de
prestígio perante a sociedade, em detrimento da vocação, aqui entendida como:
[...] parte da identidade, sendo construída a partir de cada experiência de vida desde as primeiras manifestações da personalidade, representando um encontro do indivíduo com aquilo que é fundamental para sua vida, que relaciona-se a atividades que
27
atendam às necessidades íntimas envolvendo valores e crenças que representam fontes de prazer (SANTOS 2003, p. 22).
Assim, observa-se que a escolha pelo secretariado como profissão pode estar
fundamentada em motivações práticas como, por exemplo, acesso ao mercado de
trabalho, e que a opção baseada em vocação ainda seja incipiente.
No entanto, é preciso lembrar que o Secretariado integra o rol das chamadas
novas profissões e está se modernizando a cada dia.
Natalense (2000, p. 4-7) aponta algumas características que definem o perfil do
moderno profissional de secretariado:
a) Entender do negócio (conhecer a empresa, seus produtos e mercado;
preocupar-se com a produtividade; preocupar-se com a qualidade);
b) Ser polivalente (capacidade de realizar diversas etapas de um mesmo
processo ou assessorar diferenças áreas de atuação);
c) Ser negociador e programador de soluções.
Também é necessário lembrar que o secretário tem uma função facilitadora do
trabalho do executivo, contribuindo com o alcance dos objetivos organizacionais e por
isso não pode ser alguém com formação deficiente.
Tais competências são desenvolvidas e aprimoradas nos bancos escolares, além
disso, a profissão é regulamentada por lei específica e reconhecida pelo Ministério do
Trabalho e Emprego como categoria diferenciada, o que exige dos interessados em
exercê-la um certificado de conclusão de curso específico para a obtenção do registro
profissional. Portanto, cai o mito da falta de formação para o exercício profissional.
Em virtude das exigências do mercado, as empresas buscam profissionais cada
vez mais capacitados tecnicamente, auto-motivados, cientes de suas competências e
com alto grau de controle emocional. Tais indivíduos, independente de gênero,
contribuirão com sua produtividade para o alcance dos objetivos empresariais, assim, o
maior o nível de competências eleva os salários percebidos pelos profissionais da área,
o que tem atraído homens para a profissão. E, portanto, cai também o mito da profissão
feminina e de caráter auxiliar.
28
Sobre o mito da extinção da profissão BRUNO (2006, p. 4) afirma que
[...] o ‘discurso’ pela extinção é comprovadamente esvaziado, pois, com o auxílio das ferramentas da tecnologia de informação esse profissional, utilizando-se das novas técnicas secretariais informatizou as rotinas, capacitando-se para essas mudanças, utilizou o seu tempo para atividades de assessoramento ao administrador e à equipe de trabalho, inclusive assumindo as atividades e responsabilidades da área ou departamento. (BRUNO, 2006, p. 4)
Além disso tudo, é preciso acrescentar que a profissão é considerada pela
Organização das Nações Unidas – ONU como uma das que mais crescem no mundo
(LIEUTHIER, 2003), porque há uma demanda por profissões e profissionais que
interajam diretamente com os clientes, posição ocupada pelo secretário que envolve a
gestão de recursos e de pessoas.
Esta condição do secretário é confirmada por Pirró e Longo (1999) que, citando
Reich (1994), afirmam ser o secretário um profissional altamente qualificado, cuja
atuação demanda identificação e solução de problemas através da “simplificação da
realidade, transformando-a em imagem abstrata que pode ser reordenada, comunicada
e transformada de novo em realidade”.
Assim, destaca-se não só a necessidade dos profissionais de Secretariado na
estrutura das organizações, como percebe-se que os mitos aqui estudados, na verdade,
configuram-se como maneiras equivocadas de pensar uma profissão capaz de
promover o crescimento pessoal de quem a exerce e o desenvolvimento de uma
carreira promissora.
Portanto, o que fica patente em conversas informais com profissionais de outras
áreas é o desconhecimento das capacidades e possibilidades de aproveitamento do
trabalho secretarial.
Também observa-se uma banalização do termo “secretária” que é utilizado para
designar indivíduos que executam desde trabalhos domésticos propriamente ditos (o
emprego doméstico é atividade também regulamentada por lei, com direitos e deveres,
além de organização sindical, configurando, portanto, profissão diversa de secretária),
até panfletagem de rua (secretária externa).
29
Existe ainda certa resistência dos profissionais da área (homens e mulheres) que
preferem a denominação de “assessor” ou “assistente”. Sobre isso vejamos a definição
de assessor para a Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC/PR:
Assessorar não é cargo, é uma função presente em algumas profissões como a de secretária. Não é algo a ser conquistado no futuro, pois já está presente, assessorando os diversos níveis gerenciais. Cargo é posição que traz título, vantagens e poder institucional, mas acarreta o peso de importantes deveres e, função é a obrigação decorrente do cargo. (www.pucpr.br, [2007]).
Ainda que não esteja entre os objetivos deste estudo contemplar o problema da
nomenclatura do profissional de secretariado como um dos mitos da profissão, é
necessário mencionar este assunto em razão de ser um dos temas mais discutidos
atualmente.
Preocupada com esta questão, a FENASSEC [2007] coordenou pesquisa para
verificar as mudanças no perfil profissional e os resultados mostram 66,5% daqueles
respondentes preferem o termo “secretária”, ainda que se observe algum preconceito,
inclusive aqueles aqui estudados, considerando-o mais adequado para os indivíduos
que exercem a profissão. Em segundo lugar, o termo “assistente”, com 30% dos votos,
porque na opinião dos entrevistados, amplia o âmbito de atuação do profissional, além
de ser percebido pelo mercado como uma denominação menos influenciada pelos
mitos.
Com estes pensamentos esperamos ter contribuído para desmistificar aspectos da
profissão que, por força de tais paradigmas, acaba sendo discriminada por profissionais
competentes por entenderem que sua atuação é apenas auxiliar, quando, na realidade,
sua participação no processo organizacional mostra-se, muitas vezes, fundamental, não
obstante coadjuvante.
30
3 METODOLOGIA
De acordo com Cervo e Bervian (2002, p. 63) “a pesquisa é uma atividade voltada
para a solução de problemas teóricos ou práticos com o emprego de processos
científicos”.
Com propósitos acadêmicos, a pesquisa, quase sempre, proporciona ao estudante
(de graduação ou de pós-graduação) o primeiro contato com o mundo das idéias
através de técnicas ordenadas de busca de respostas para os fenômenos e suas
relações de causalidade.
A pesquisa, portanto, configura-se como uma das maneiras concretas de “ampliar
as fronteiras do conhecimento” (idem, p. 64), proporcionando ao estudante a
construção do seu próprio conhecimento intelectual.
Segundo Gil (1996, p. 45), as pesquisas podem classificar-se com base em dois
critérios: quanto os objetivos gerais e quanto ao delineamento da pesquisa, ou seja, de
acordo com seus procedimentos técnicos de coleta e de dados.
Quanto aos objetivos gerais as pesquisas podem ser (GIL, 1996, p. 45 a 47):
a) Exploratórias: cujo objetivo é permitir “maior familiaridade com o problema, com
vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses (...)”, quando não há
muitos dados ou pesquisas anteriores sobre o problema a ser estudado.
Geralmente envolvem “levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas
que tiveram experiência prática com o problema pesquisado e análise de
exemplos”.
b) Descritivas: cujo objetivo é descrever, por meio de técnicas padronizadas “as
características de determinada população ou fenômeno ou, então, o
estabelecimento de relações entre variáveis“.
c) Explicativas: cujo objetivo é “identificar os fatores que determinam ou
contribuem para a ocorrência dos fenômenos” para aprofundar “o
conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas”.
Quanto aos procedimentos técnicos para coleta dos dados as pesquisas podem
ser classificadas de acordo com o instrumento de coleta de que se utilizam:
31
a) Dados fornecidos pelas fontes de papel (GIL, op.cit., p. 47 a 48):
- Pesquisa bibliográfica: “desenvolvida a partir de material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos científicos” sendo que a
maioria dos estudos exploratórios se vale exclusivamente desta fonte.
- Pesquisa documental: desenvolvida a partir de “materiais que não
receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser
reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa”.
b) Dados fornecidos pelas pessoas (Gil, op. cit., p. 53 a 60):
- Pesquisa experimental: que “consiste em determinar um objeto de estudo,
selecionar as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definir as
formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no
objeto”.
- Pesquisa ex-post facto: “experimento que se realiza depois dos fatos” sendo
que, todavia, o pesquisador não controla as variáveis.
- Levantamento: que “caracterizam-se pela interrogação direta das pessoas
cujo comportamento se deseja conhecer”.
- Estudo de caso: que “caracteriza-se pelo estudo profundo e exaustivo de
um ou de poucos objetos, de maneira que permita o seu amplo e detalhado
conhecimento [...]”.
3.1 Características deste Estudo
De acordo com Soares (1999) a escolha por uma metodologia de trabalho está
intimamente relacionada ao objeto em estudo, sua natureza, amplitude e aos objetivos
do pesquisador.
O presente trabalho preocupa-se em investigar quais são as imagens presentes
no ideário dos profissionais de secretariado em relação a si próprios e à profissão, em
32
virtude de tantos deles não reconhecerem a importância de sua atuação nas empresas
e não valorizarem essa atuação.
O Secretariado é uma das chamadas novas profissões que só recentemente vêm
sendo sistematizadas e estudadas com rigor científico, assim, são incipientes os
estudos e a bibliografia específicos que auxiliem na construção do conhecimento para o
tema escolhido.
Mesmo assim a pesquisa bibliográfica se faz necessária tanto por ser o primeiro
passo de qualquer pesquisa científica – importante por permitir o contato com teorias e
situações novas ou já conhecidas –, como por possibilitar “o aprimoramento das idéias
ou a descoberta de intuições” (GIL, 1996, p. 45).
Por este motivo também, este estudo caracteriza-se como exploratório com
abordagem de pesquisa qualitativa porque, como nos ensina Vieira e Zouain (2006, p.
18), oferece “um maior grau de flexibilidade para a adequação da estrutura teórica ao
estudo do fenômeno administrativo e organizacional” e permite, de acordo com Neves
(1996, p. 1) “contato direto e interativo do pesquisador com a situação objeto de
estudo”.
Sabemos que a pesquisa qualitativa apresenta certo grau de subjetividade e, por
isso, é refutada por alguns autores como não científica. Entretanto, em toda a
bibliografia consultada verificamos que, na realidade, é considerada falsa a dicotomia
existente entre pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa em virtude de serem
consideradas complementares em alguns casos, e melhor indicadas para determinados
tipos de estudo (NEVES, 1996, p. 1; VIEIRA e ZOUAIN, 2006, p. 26).
33
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
O instrumento metodológico utilizado foi um questionário com dezessete questões
de múltipla escolha. A primeira parte contém catorze questões que pretendem definir o
perfil dos respondentes e a segunda parte, com três grupos de questões, pretende
embasar a análise dos aspectos subjetivos do tema.
Nos três grupos de questões da segunda parte utilizamos uma escala de Likert de
cinco pontos, própria para mensurar dados intangíveis, que tem por objetivo identificar
certa relação entre as respostas através de uma escala numérica em que à resposta
mais favorável aplica-se o maior valor e à resposta menos favorável aplica-se o menor
valor (GIL, 1994 apud SOARES, 1999).
A escolha de tal ferramenta metodológica explica-se pela precariedade de estudos
sistematizados do tema pesquisado. Assim, procurou-se tratar o assunto de forma
sistemática, tornando mensuráveis e passíveis de se extrair conclusões os dados
fornecidos pelos questionários, investigando grau de concordância e freqüência de
certos acontecimentos estreitamente ligados à profissão.
O questionário foi aplicado a 467 indivíduos escolhidos por conveniência, em
virtude da facilidade de acesso ao público pesquisado.
Nossa expectativa era atingir pelo menos 10% dessa população, objetivo
plenamente alcançado tendo em vista que recebemos 52 questionários válidos,
representando 11,13% da população.
Através da FENASSEC foram enviados 400 questionários por meio eletrônico (e-
mail) aos profissionais filiados à entidade em todo o território nacional. Para efeito deste
estudo foram considerados válidos os questionários devolvidos pela mesma via até uma
semana depois de enviados, sendo que obtivemos 19 questionários, representando
4,07% do universo pesquisado.
Os demais respondentes são 67 estudantes das três turmas do curso de
Secretariado Executivo Trilíngüe da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado –
FECAP, na cidade de São Paulo, que responderam ao questionário durante o intervalo
das aulas.
34
Conforme ensina Quivy e Campenhoudt (1995, p. 184 apud SOARES, 1999) para
quem “é preciso que a pessoa interrogada conheça as respostas, esteja em condições
de dá-la, e não se sinta constrangida com o questionário”, ressalvamos a não
obrigatoriedade em responder ao questionário. Sendo assim, foram respondidos 33
deles, representando 49,25% dos estudantes matriculados, e 7,06% da totalidade dos
respondentes.
Tabela 1 – Universo pesquisado UNIVERSO % RESPONDENTES %
FENASSEC 400 85,7% 19 4,07% FECAP 67 14,3% 33 7,06% TOTAL 467 100 52 11,13%
Fonte: a autora
4.1 Perfil dos Respondentes
Quanto ao gênero, 96% os respondentes são mulheres e 4% são homens. Apesar
de neste estudo a amostra do gênero masculino ser irrelevante, de acordo com dados
do Sindicato das Secretárias(os) do Estado de São Paulo – SINSESP, a procura pela
profissão por pessoas do gênero masculino vem aumentando.
Gênero dos Respondentes
Feminino96%
M asculino4%
Feminino
Masculino
Gráfico 1 – Gênero dos Respondentes Fonte: a autora
Relativamente à idade a amostra é representada significativamente por jovens de
até 25 anos, com 46% de participação, seguidos por indivíduos na faixa etária entre 26
e 30 anos, que representam 27% da amostra. As demais faixas etárias (31-35 anos; 36-
40 anos; 41-45 anos; 46-50 anos; acima de 50 anos) somam 27% de participação na
amostra.
35
Idade
até 25 anos46%
41-45 anos2%
46-50 anos2%
31–35 anos13%
36–40 anos6%
mais de 51 anos4%
26–30 anos27%
até 25 anos
26–30 anos
31–35 anos
36–40 anos
41-45 anos
46-50 anos
mais de 51 anos
Gráfico 2 – Idade dos Respondentes Fonte: a autora
Em relação ao estado civil esta amostra é 65% representada por indivíduos
solteiros, 75% dos quais não possuem dependentes. Os indivíduos casados, separados
ou viúvos representam 35% da amostra, sendo que aqueles que possuem de 1 a 3
dependentes aparecem em 25% dos casos.
Estado Civil
Casado33%
Separado2%
Solteiro65%
solteiro(a)
Casado(a)
separado(a)
Gráfico 3 – Estado Civil dos Respondentes Fonte: a autora
4.2 Perfil Educacional e Profissional dos Respondentes
Inicialmente, é importante ressalvar que o número de questionários respondidos
entre a população universitária é maior do que o número de questionários respondidos
entre os profissionais filiados à FENASSEC e acessados por meio eletrônico. Este dado
é importante na medida em que influencia os resultados desta pesquisa.
36
Sendo assim, em relação à formação escolar temos 52% dos respondentes que
ainda estão cursando o ensino superior, sendo que destes, 85% cursam Secretariado
Executivo Trilíngüe.
Da amostra 13% dos respondentes possuem cursos de pós-graduação completos.
Ainda que esta pesquisa buscasse identificar a formação dos respondentes, não
contemplou a formação que antecedeu a especialização, entretanto, pudemos
identificar que dentre os indivíduos que já possuem grau de especialista, 71% buscou
aprimoramento na área de humanas.
Dentre os indivíduos pesquisados, 9% possui ensino técnico completo, entretanto,
não necessariamente em secretariado. Ainda que a preferência pela área de humanas
também seja relevante neste caso, os cursos técnicos procurados pelos indivíduos
revelam ecletismo.
Os respondentes desta população distribuem-se conforme o gráfico abaixo:
Formação Escolar
Superior Cursando; 52%
Superior Completo; 5%
Pós-graduação Cursando; 5%
Pós-graduação Completa; 13% Técnico
Completo; 9%
Superior Incompleto ;
4%
Ensino Médio Completo; 5%
Gráfico 4 – Ensino Superior Fonte: a autora
Dados interessantes são encontrados quando se pergunta há quanto tempo os
indivíduos trabalham. A pesquisa indica que apesar da juventude, a amostra revela um
percentual de 33% de respondentes que trabalha há mais de 10 anos, seguidos por
aqueles que trabalham há no máximo 2 anos, representando 29% da amostra. Entre os
37
indivíduos que trabalham entre 2 e 5 anos, a representatividade é de 17%, seguida por
aqueles que trabalham de 6 a 10 anos com 19% de representatividade. Os indivíduos
que nunca trabalharam representam um percentual de 2% da amostra.
A pergunta seguinte refere-se à quantidade de empresas pelas quais os
respondentes já passaram, sendo que 48% dos respondentes trabalhou em 3 ou 4
empresas (ver tabela), 27% trabalhou em até 2 empresas e 21% trabalhou entre 5 e 8
empresas, 4% é o percentual apurado de respondentes que não respondeu ou nunca
trabalhou.
Tabela 2 – Quantidade de empresas em que os respondentes já trabalharam Quantidade de Empresas %
1 empresa 15% 2 empresas 11% 3 empresas 25% 4 empresas 23% 5 empresas 2% 6 empresas 8% 7 empresas 2% 8 empresas 10%
não informado 4% Fonte: a autora
Entretanto, é interessante mostrar a relação entre tempo de trabalho e número de
empresas em que os indivíduos trabalharam, na qual se pode observar que, apesar de
o número de indivíduos que trabalham há mais de 10 anos representar 35% da
amostra, a maior concentração de pessoas encontra-se entre aquelas que trabalharam
em 3 ou 4 empresas, representando 48% da amostra.
Observe-se, ainda que, em números absolutos, a faixa de 2 a 5 anos de trabalho
apresenta, para o mesmo número de empresas em que se trabalhou, a maior
concentração de pessoas, podendo indicar que os respondentes, apesar de jovens e
ainda cursando a universidade, apresentam um tempo de permanência no emprego
superior a 2 anos, o que pode configurar certa estabilidade, considerando também as
boas condições da economia brasileira nos últimos anos.
Quando perguntados especificamente sobre o exercício de atividades secretariais,
17% informam não exercê-las, contra 83% que relata exercer ou já ter exercido tais
atividades. Dentre estes, 31% exerce a profissão há até 2 anos, 25% possui entre 3 e 6
anos de exercício profissional e 12% informa possuir entre 7 e 10 anos de profissão.
38
Dos demais, 14% relata exercer a profissão entre 11 e 19 anos e parcela significativa
de indivíduos, 19%, não respondeu.
Tabela 3 – Relação entre quantidade de empresas em que se trabalhou e tempo de trabalho Não
respondeu Até 2 anos
2 a 5 anos
6 a 10 anos
Mais de 10 anos
Nº de pessoas
%
1 empresa 1 2 2 3 8 15% 2 empresas 5 - 1 - 6 12% 3 empresas 4 5 2 2 13 25% 4 empresas 2 2 4 4 12 23% 5 empresas - - 1 - 1 2% 6 empresas - - 1 3 4 8% 7 empresas - - - 1 1 2% 8 empresas - - - 5 5 10% 9 empresas - - - - 0 0 10 empresas - - - - 0 0
Não respondeu 2 - - - - 2 4% Nº de pessoas 2 12 9 11 18 52
% 4% 23% 17% 21% 35% 100% Fonte: a autora
Em seguida investigamos a realidade vivida pela secretária no que tange às
relações de trabalho. 25% da amostra tem registro em carteira como estagiária, dado
que se coaduna com o perfil jovem e estudantil desta população.
Tabela 4 – Cargo registrado em carteira Cargo registrado em carteira %
Estagiário (a) 25% Secretário (a) 21% Assistente 17% Outro 13,5% Secretário (a) (Executivo, Bilíngüe, Trilíngüe) 11,5% Auxiliar 10% Não respondeu 2%
Fonte: a autora
Ao comparamos com o tempo que respondente trabalha, observamos que esta
população se caracteriza por jovens em começo de carreira porque estão no mercado
ou na profissão há até seis anos.
Quanto ao salário, as respostas demonstram que os vencimentos mensais desta
população são condizentes com sua condição de estudante em início de carreira, ou
seja, 48% indicou perceber vencimentos de até R$ 1.500,00. Entretanto, na faixa
salarial entre R$ 1.501,00 a R$ 2.000,00 há uma significativa queda, sendo
representada por apenas 15% dos entrevistados, percentual que volta a elevar-se na
faixa entre R$ 2.001,00 e R$ 3.000,00, representada por 21% dos respondentes.
39
Aqueles que percebem entre R$ 3.001,00 e R$ 4.000,00, são representados por 12%
da amostra e, para as maiores faixas salariais, o percentual de respondentes é
insignificante: 0, 2% e 0, respectivamente para recebimentos entre R$ 4.001,00 e acima
de R$ 6.000,00.
Faixa Salarial
21%
15%
12% 2%
48% até R$ 1.500,00
de R$ 2.001,00 a R$ 3.000,00
de R$ 1.501,00 a R$ 2.000,00
de R$ 3.001,00 a R$ 4.000,00
de R$ 5.001,00 a R$ 6000,00
Gráfico 5 – Faixa Salarial Fonte: a autora
Em pesquisa realizada pela FENASSEC [2007], 83% dos entrevistados percebem
salários de até R$ 1.700,00 mensais, o que pode auxiliar á percepção de que, em
nossa pesquisa, cujo alcance é bastante menor, estes dados estão em concordância
com o mercado.
A primeira parte do questionário encerra com questões ligadas à motivação para a
escolha da profissão tendo em vista que o indivíduo esteja cursando Secretariado ou já
trabalhe na área.
Para aqueles que estejam cursando ou já tenham cursado Secretariado inquirimos
sobre as motivações para a escolha da profissão. Considerando que esta amostra foi
influenciada por uma população estudantil, é interessante notar que crescer
profissionalmente é o motivo mais apontado como motivador da escolha, com 28% das
respostas, o que poderia configurar-se como um indício de que a motivação para a
escolha seja mais prática do que vocacional.
40
Dentre os respondentes, 23% assinalaram a opção “outros” como motivação para
a escolha do curso e, neste quesito, obteve-se respostas que já estavam contempladas
nas opções anteriores tais como vocação e oportunidade profissional, porém, a
motivação mais significativa para a escolha do curso, e que não estava contemplada
nas respostas oferecidas, relaciona-se ao caráter eclético do curso de secretariado, o
que representou 33% do total de respostas para aquela opção.
Isto significa que estes respondentes procuraram o curso em razão da
possibilidade de ter contato com disciplinas da área das ciências humanas e ciências
aplicadas que, de outra forma, só teriam acesso caso freqüentassem cursos
específicos, tais como: administração, finanças, relações internacionais, etc.
Por conseguinte, considerando que a multifuncionalidade é uma característica
exigida como parte do perfil profissional do secretário moderno, é interessante notar
que tal característica está sendo demandada pelos estudantes e oferecida pelas
escolas.
Por que você escolheu esta profissão?(considerando aqueles que ainda estão estudando)
acredito que poderei crescer
profissionalmente28%
Outros23%
Eu acredito ter vocação.
15%
Para obter formação prof issional (técnico ou
superior)9%
Eu quero aprender / aprimorar idiomas
7%
Acho que o curso de secretariado é
f inanceiramente mais acessível.
0%
Fui influenciado(a) por familiar / professor / prof issional da área /
etc. 4%
Acho que o curso de secretariado é o mais
rápido.4%
O salário de Secretário(a) é mais
atrativo do que outras profissões.
10%
Gráfico 6 – Por que você escolheu esta Profissão? Fonte: a autora
41
Outro dado que pode configurar-se como um indício do caráter prático da
motivação para a escolha do curso é que as respostas relacionadas exclusivamente à
questão educacional aparecem com percentuais pouco relevantes: “para obter
formação profissional (técnico ou superior)”, com 9%; e “eu quero aprender / aprimorar
idiomas”, com 7%.
Os respondentes foram questionados se a rapidez6 do curso ou o preço cobrado
pelas instituições representaram motivação para a escolha. Os dados encontrados
foram irrelevantes: 4,5% e 0%, respectivamente. O que pode apontar para o fato de que
este tipo de consideração não se constitui como um fator de decisão.
Ainda no que tange à questão educacional, a vocação é apontada por 15% da
amostra como motivação para a escolha do curso. Ainda que não se possa saber se a
escolha da profissão antecedeu a escolha do curso, observa-se que este pode ter sido
um fator considerado na escolha, lembrando que esta é uma população jovem que, no
entanto, já trabalha há razoável período de tempo.
Relativamente a terem sido influenciados por outra pessoa, os percentuais são
respectivamente, 4,5% e 3,5%, para a escolha do curso e da profissão, o que ser um
indício de que tais estudantes estão menos suscetíveis à influenciação, ponderando
sobre os prós e os contras de seguir ou não tal profissão.
A respeito da escolha da profissão por aqueles que já trabalham na área, 18% dos
respondentes apontou como motivação a oportunidade profissional, aqui entendida
como oferta de emprego ou promoção; seguidos de 14,5% que apontou que trabalhar
na área aconteceu naturalmente.
6 Algumas instituições de ensino superior, a FECAP entre elas, oferecem o curso de Secretariado Executivo com três anos de duração, contra os normais quatro anos em cursos oferecidos por outras instituições.
42
Por que você escolheu esta Profissão?(considerando aqueles que já trabalham na área)
Outros. Explique9%
não respondeu11%
Tive uma oportunidade prof issional (promoção,
novo emprego, etc.).18%
O salário de Secretário(a) era
atrativo. 13%
Eu queria aprender / aprimorar idiomas
11%
Eu acredito ter vocação.
19%
Não tive opção, aconteceu
naturalmente.15%
Fui influenciado(a) por familiar / professor /
profissional da área / etc. 4%
Gráfico 7 – Por que você escolheu esta Profissão? Fonte: a autora
Muito embora o questionário não tenha inquirido os respondentes sobre como se
deu o processo de “acontecer naturalmente”, para esta pesquisadora pode ser
explicado de algumas maneiras, dentre elas destacam-se:
a) A pessoa trabalha na empresa em um cargo administrativo de apoio como
telefonista, recepcionista, etc., e por demonstrar características pessoais e
profissionais que se coadunam com um determinado perfil esperado pela
empresa galga, conseqüentemente, posições melhores, como o cargo de
secretária, por exemplo.
b) A pessoa já trabalha como secretária e é considerada apta para assumir uma
posição em uma área mais estratégica da empresa.
c) Uma vertente desta possibilidade é a secretária convidada para substituir
colegas em férias, licenças, afastamentos de toda ordem, ou mesmo aquelas
que são contratadas como temporárias e acabam ficando.
43
Inclusive, o fato de “acontecer naturalmente” pode influenciar o que poderia ser
chamado de vocação, que, na categoria daqueles que já trabalham na área, apresenta
19% das respostas. Isto pode ser possível porque quando a funcionária é deslocada
para a área de secretariado, muitas vezes, percebe que possui o perfil e as
características pessoais necessárias ao pleno desenvolvimento da profissão.
Também pode demonstrar que, ainda que a haja uma tendência pela escolha da
profissão de caráter prático, as pessoas consideram suas habilidades e aptidões para
exercer a profissão de secretária.
Finalizando a avaliação dos resultados da primeira parte do questionário pode-se
observar que a motivação para a escolha tanto da profissão quanto do curso tem por
objetivo buscar a melhoria das condições profissionais, considerando que 92% dos
respondentes já esteja trabalhando.
Outro aspecto que podemos inferir relaciona-se à preocupação com a diversidade
de atividades que a secretária pode vir a desempenhar nas empresas. Esta
preocupação pode ser percebida na busca pelas disciplinas diferenciadas que os
cursos de secretariado oferecem.
4.3 Percepção dos Respondentes Sobre os Mitos da Profissão
Os três grupos de questões que ora seguem buscam responder as perguntas que
motivaram esta pesquisa: perceber quais os mitos relacionados à profissão de
secretária e como eles contribuem para a desvalorização da profissão.
No primeiro grupo de questões propunha-se averiguar em que medida os
respondentes concordam ou não com as afirmações propostas, a fim de levantar se tais
pessoas percebem ou não a existência dos mitos inerentes à profissão.
Havia uma expectativa de que os respondentes tivessem familiaridade com a
profissão de secretária, uma vez que não seriam fornecidos esclarecimentos adicionais.
Tal expectativa se confirmou em virtude de se ter obtido número razoável de
questionários respondidos adequadamente.
44
Abaixo, apresentamos a tabulação dos resultados, e em seguida, apresentaremos
os comentários pertinentes:
Tabela 5 – Tabulação dos resultados Em sua opinião: Discordo
totalmenteDiscordo
parcialmente Indiferente Concordo parcialmente
Concordo totalmente
Não respondeu
A atividade da secretária é facilitadora da atividade gerencial 0,00% 1,92% 1,92% 28,85% 63,46% 3,85%
A digitação ocupa a maior parte do tempo do(a) Secretário(a) 15,38% 21,15% 30,77% 25,00% 3,85% 3,85%
A execução de tarefas particulares depende de negociação com o executivo. 3,85% 9,62% 9,62% 44,23% 28,85% 3,85%
A profissão deve ser exercida somente por mulheres. 69,23% 11,54% 5,77% 3,85% 3,85% 5,77%
A profissão é valorizada pelos executivos e empresas. 9,62% 7,69% 11,54% 44,23% 23,08% 3,85%
A profissão permite o desenvolvimento de uma carreira promissora. 5,77% 7,69% 13,46% 26,92% 40,38% 5,77%
A submissão e a passividade são características pessoais esperadas de uma secretária 50,00% 17,31% 5,77% 13,46% 9,62% 3,85%
As atividades da Secretária não geram resultados para a empresa. 78,85% 5,77% 3,85% 5,77% 1,92% 3,85%
É importante saber gerenciar conflitos 1,92% 0,00% 1,92% 11,54% 82,69% 1,92% É importante saber gerenciar informações 0,00% 1,92% 0,00% 7,69% 88,46% 1,92% É importante saber gerenciar o tempo 0,00% 0,00% 0,00% 7,69% 90,38% 1,92% O exercício da profissão deve exigir formação específica. 0,00% 5,77% 5,77% 21,15% 63,46% 3,85%
O secretariado é uma profissão em extinção. 53,85% 17,31% 7,69% 15,38% 1,92% 3,85% A secretária deve executar atividades particulares para o executivo. 7,69% 23,08% 32,69% 25,00% 9,62% 1,92%
A secretária deve ser boa negociadora 0,00% 0,00% 5,77% 32,69% 57,69% 3,85% A secretária utiliza-se de ferramentas gerenciais para exercer suas atividades (comunicação, liderança, motivação e negociação)
1,92% 0,00% 3,85% 21,15% 71,15% 1,92%
Profissionais com qualquer formação podem trabalhar como Secretárias. 51,92% 23,08% 7,69% 9,62% 1,92% 5,77%
Profissionais sem qualquer formação podem trabalhar como Secretárias. 69,23% 9,62% 7,69% 7,69% 1,92% 3,85%
Fonte: a autora
Esta pesquisa foi motivada pela percepção de desvalorização da profissão a partir
das imagens e mitos existentes no ideário da profissional. Com a análise das respostas
deste primeiro grupo de questões observou-se que as profissionais tendem a repetir
pensamentos que refletem tais mitos, mas o fazem sem perceber, o que está de acordo
com o estudado na definição do termo, pois, no caso dos mitos profissionais, que são
parte da história de cada profissão e alicerçados pelos elementos da cultura da
organização, são assimilados inconscientemente.
Também considerando a proposta inicial de investigar qual imagem a profissional
tem da profissão, se observa que as respostas obtidas neste grupo de questões
refletem o perfil do profissional moderno, ou seja, um indivíduo com uma atuação mais
profissionalizada e menos autodidata, o que poderia configurar-se como o resultado da
recente sistematização dos procedimentos e da disseminação dos cursos de formação,
45
a partir da regulamentação da profissão, ocorrida há pouco mais de 20 anos (BRUNO,
2006).
Dessa maneira, entende-se que os resultados obtidos parecem refutar as
proposições iniciais desta pesquisa, porque estão mostrando o que as secretárias
acreditam ser o perfil profissional ideal, mas realista. Não obstante, esta pesquisa foi
motivada pela insatisfação que as profissionais demonstram em relação a estes
mesmos temas.
Tanto isso é possível que alguns aspectos do perfil de atuação considerado
“antigo” parecem estar ainda cristalizados e presentes no comportamento profissional,
como por exemplo, a questão da negociação das tarefas particulares do executivo.
Embora os respondentes percebam que o secretário deva ser um bom negociador –
58% concordam totalmente e 33% concordam parcialmente – e que a execução de
tarefas particulares para o executivo depende de negociação – 44% concordam
parcialmente e 29% concordam totalmente –, é interessante notar que 33% da amostra
é indiferente quanto a realizar tais tarefas, que apenas 23% discorda parcialmente e
25% que concorda parcialmente.
Esta distribuição das respostas aponta uma tendência a não negociar a execução
destas atividades, ou seja, por razões que não foram investigadas neste trabalho, para
a maioria das secretárias, realizar as atividades particulares para o executivo parece
fazer parte de seu trabalho e, portanto, tende a não ser passível de negociação.
No entanto, as questões relacionadas à extinção da profissão, ao desenvolvimento
de uma carreira promissora e à valorização da profissão pelas empresas e executivos,
não refletem uma percepção negativa por parte dos respondentes, ao contrário,
revelam confiança na profissão e em seu desenvolvimento.
Por este motivo, em busca de complementar o estudo, o segundo grupo de
questões focaliza especificamente as atividades secretariais, na intenção de averiguar
se há coerência entre o discurso das secretárias e sua atuação propriamente dita.
O quadro abaixo mostra a tabulação dos resultados e a seguir os comentários.
46
Tabela 6 – Tabulação dos resultados Em sua opinião o profissional de Secretariado deve:
Discordo totalmente
Discordo parcialmente Indiferente Concordo
parcialmente Concordo totalmente
Não respondeu
Agir com paciência 0,00% 0,00% 3,85% 30,77% 61,54% 3,85% Agir com submissão 44,23% 25,00% 7,69% 19,23% 0,00% 3,85% Atender a mais de um executivo ao mesmo tempo. 3,85% 11,54% 30,77% 19,23% 28,85% 5,77%
Atender às demandas da equipe que o executivo coordena 3,85% 11,54% 3,85% 40,38% 28,85% 7,69%
Conhecer as técnicas secretariais. 0,00% 0,00% 5,77% 7,69% 82,69% 3,85% Controlar as finanças pessoais do executivo. 21,15% 21,15% 28,85% 11,54% 15,38% 1,92% Coordenar atividades de telefonistas, recepcionistas, etc. 7,69% 17,31% 23,08% 23,08% 25,00% 3,85%
Cuidar de aspectos da vida pessoal do executivo e família 28,85% 23,08% 23,08% 11,54% 11,54% 1,92%
Efetuar compras para a empresa ou o departamento 3,85% 13,46% 23,08% 30,77% 23,08% 5,77%
Elaborar orçamentos de qualquer natureza 5,77% 13,46% 19,23% 38,46% 19,23% 3,85% Influenciar decisões estratégicas do executivo (o que fazer) 5,77% 3,85% 5,77% 53,85% 28,85% 1,92%
Influenciar decisões táticas do executivo (como fazer) 3,85% 3,85% 7,69% 50,00% 32,69% 1,92%
Lidar com informações privilegiadas e/ou confidenciais 0,00% 1,92% 7,69% 25,00% 61,54% 3,85%
Lidar com pessoas (clientes internos e eternos) 0,00% 0,00% 0,00% 11,54% 86,54% 1,92% Organizar eventos (almoços, reuniões, seminários, etc.) 0,00% 0,00% 0,00% 17,31% 80,77% 1,92%
Participar da elaboração do planejamento em algum nível 0,00% 0,00% 5,77% 26,92% 63,46% 3,85%
Possuir capacidade de adaptação e flexibilidade. 0,00% 0,00% 0,00% 13,46% 84,62% 1,92%
Possuir registro na Superintendência de Relações do Trabalho e Emprego (antiga DRT). 0,00% 5,77% 7,69% 13,46% 71,15% 1,92%
Preparar e/ou servir café, chá, lanches, etc. 26,92% 23,08% 30,77% 11,54% 3,85% 3,85% Saber comunicar-se em outros idiomas 1,92% 0,00% 0,00% 17,31% 76,92% 3,85% Selecionar pessoas para trabalhar 5,77% 11,54% 11,54% 40,38% 28,85% 1,92% Ser chamado para opinar sobre assuntos relacionados a seu trabalho 0,00% 1,92% 5,77% 17,31% 71,15% 3,85%
Ter autonomia para tomar decisões sobre seu trabalho 0,00% 1,92% 1,92% 17,31% 76,92% 1,92%
Tomar a iniciativa para solucionar um problema 0,00% 1,92% 1,92% 13,46% 80,77% 1,92% Fonte: a autora
O que se observa a partir da análise deste segundo grupo de respostas é uma
confirmação do que já foi comentado anteriormente, isto porque a distribuição das
respostas também reflete um perfil de atuação mais moderno, além de apontar na
direção de que as respondentes percebem a necessidade de formação e
especialização para o exercício profissional, o que se configura como uma perspectiva
muito boa.
As respondentes também apontaram que a secretária deve possuir o registro
profissional na SRTE, o que só é possível após freqüentar com aproveitamento
qualquer um dos cursos de formação de nível técnico ou superior. Esta questão aponta
na direção contrária ao discurso comum, em que as próprias profissionais desprezariam
47
a obtenção do registro, o que pode ser muito bom no sentido de elas próprias
auxiliarem na fiscalização do exercício profissional através dos órgãos competentes.
As respostas obtidas nestes dois grupos de questões indicam que a secretária tem
uma percepção positiva em relação à sua imagem profissional e, conseqüentemente,
em relação à sua profissão.
Entretanto, a partir da investigação dos mitos presentes na profissão e como estes
estão relacionados à atuação propriamente dita das secretárias, buscamos investigar se
este discurso que valoriza um perfil de atuação modernizado, seria coerente com a
prática profissional das respondentes. Por este motivo, elaboramos um terceiro grupo
de questões que buscou levantar dados que indicassem a freqüência com que as
profissionais executavam determinadas tarefas características da profissão para avaliar
em que medida o discurso se alinha à prática.
A seguir, apresentamos a tabulação dos resultados, bem como os comentários a
este grupo de questões:
Tabela 7 – Tabulação dos resultados Considerando que você já trabalhe como Secretário(a) com que freqüência ocorrem as situações abaixo:
Nunca Raramente Às vezes Freqüentemente Sempre Não respondeu
Aplica as técnicas secretariais (agenda, atendimento, etc.) 0,00% 0,00% 5,77% 9,62% 76,92% 7,69%
Atende a mais de um executivo ao mesmo tempo 5,77% 3,85% 9,62% 21,15% 51,92% 7,69% Atende às demandas da equipe que o executivo coordena 1,92% 0,00% 13,46% 17,31% 59,62% 7,69%
Comunica-se em outros idiomas 17,31% 13,46% 13,46% 15,38% 32,69% 7,69% Controla as finanças pessoais do executivo 25,00% 17,31% 23,08% 11,54% 15,38% 7,69% Coordena as atividades de telefonistas, recepcionistas, etc. 23,08% 11,54% 15,38% 13,46% 28,85% 7,69%
Cuida de aspectos da vida particular do executivo e família 25,00% 17,31% 36,54% 5,77% 5,77% 9,62%
Deve demonstrar flexibilidade e adaptabilidade 0,00% 1,92% 5,77% 15,38% 67,31% 9,62% Efetua compras para a empresa ou o departamento 5,77% 5,77% 17,31% 17,31% 44,23% 9,62%
Elabora orçamentos de qualquer natureza 9,62% 11,54% 25,00% 17,31% 28,85% 7,69% Está envolvida com algum nível de planejamento 5,77% 3,85% 21,15% 28,85% 32,69% 7,69% Executa atividades para os familiares do executivo 23,08% 30,77% 21,15% 9,62% 7,69% 7,69%
Faz mais de uma atividade ao mesmo tempo 1,92% 0,00% 7,69% 19,23% 63,46% 7,69% Influencia decisões estratégicas do executivo (o que fazer) 17,31% 5,77% 23,08% 23,08% 19,23% 11,54%
Influencia decisões táticas do executivo (como fazer) 7,69% 7,69% 25,00% 30,77% 21,15% 7,69%
Lida com informações privilegiadas e/ou confidenciais 0,00% 3,85% 5,77% 25,00% 57,69% 7,69%
Lida com pessoas (clientes internos e eternos, etc.) 0,00% 0,00% 5,77% 11,54% 73,08% 9,62%
continua
48
conclusão Considerando que você já trabalhe como Secretário(a) com que freqüência ocorrem as situações abaixo:
Nunca Raramente Às vezes Freqüentemente Sempre Não respondeu
Organiza eventos (almoços, reuniões, seminários, etc.) 7,69% 11,54% 13,46% 17,31% 40,38% 9,62%
Precisa agir com submissão 19,23% 23,08% 21,15% 15,38% 13,46% 7,69% Precisa ser paciente 0,00% 3,85% 3,85% 19,23% 63,46% 9,62% Prepara e/ou serve café, chá, lanches, etc. 28,85% 30,77% 15,38% 11,54% 11,54% 7,69% Seleciona pessoas para trabalhar 25,00% 15,38% 26,92% 11,54% 13,46% 7,69% Toma a iniciativa de resolver um problema 0,00% 3,85% 9,62% 25,00% 53,85% 7,69% Toma decisões sobre seu trabalho 1,92% 7,69% 11,54% 9,62% 61,54% 7,69% Fonte: a autora
A observação das respostas a este grupo nos mostra, primeiramente, que, de
certa maneira, o discurso das respondentes está em concordância com um perfil
moderno de atuação que prevê, entre outras coisas, uma característica multitarefa, ou
seja, a secretária deve ser capaz de coordenar e executar atividades de diferentes
naturezas, para diferentes públicos, que deverão ser levadas a cabo, em geral,
concomitantemente.
Para que isso seja possível é necessário desenvolver características pessoais que
facilitarão esta atuação profissional. A adaptabilidade e a flexibilidade são as
características demonstradas por 84% das respondentes, em oposição à submissão e
passividade características identificadas com o perfil mais antiquado de atuação.
Juntamente com aquelas, a paciência revela-se nas respostas apresentadas como
outra das características necessárias à atuação profissional, quando 82% das
respondentes indicam a freqüência com que lançam mão deste atributo.
No que respeita ao tema da execução de atividades particulares para os
executivos, as respostas a este grupo de questões também revela coerência com o
perfil moderno de atuação secretarial, quando 52% das respondentes indicam
discordância (total ou parcial) em realizá-las.
Em 79% dos casos tais atividades são realizadas nunca (25%), raramente (17%)
ou, no máximo, às vezes (36,5%), o que pode indicar que há um entendimento de que
as atividades relacionadas ao negócio sobrepõem-se às atividades particulares para os
executivos, e que, quando estas são demandadas, estão no âmbito da facilitação do
seu trabalho, visando o interesse empresarial, em oposição ao perfil cuidador inerente à
atuação de antes.
49
Talvez por este motivo, não haja a negociação para a execução de tais atividades,
conforme observado na análise do primeiro grupo de questões. Embora, as secretárias
observem que a execução de tais atividades não condiz com o perfil moderno de
atuação profissional, entende-se que executá-las em alguns momentos pode
representar alguma forma de liberação do executivo, o que não significa que a
secretária goste de fazê-lo.
50
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As razões que motivaram a realização desta pesquisa centraram-se na percepção
de que as próprias secretárias desvalorizavam sua atuação e mesmo chegavam a
desprezar sua profissão.
Uma vez que o mercado de trabalho para as secretárias vinha apresentando
crescimento contínuo, os cursos de formação específica fossem alvo de crescente
procura, e o nível salarial de secretárias fosse dos mais promissores, não se concebia
que tal profissão estivesse em extinção, como dizia o senso comum.
Dessa forma, a investigação dos motivos que levariam as profissionais a
desvalorizar sua própria profissão deveria estar centrada em questões relacionadas à
percepção dos indivíduos em relação à sua atuação profissional.
Assim, buscou-se investigar sobre os mitos da profissão de secretária, partindo do
pressuposto que ela própria, ao reforçar os mitos existentes, não reconheceria a
importância de sua atuação e não valorizaria, portanto, sua profissão.
Além disso, investigou-se se, de alguma maneira, os preconceitos de gênero,
vivenciados ao longo da história da entrada da mulher no mercado de trabalho teriam
alguma relação com esta situação.
Os resultados da pesquisa revelaram tratar-se de uma população de perfil
majoritariamente feminino, jovem, e ainda estudando. Profissionalmente já exercem a
atividade como estagiárias de secretariado, posto que 52% da amostra é constituída de
estudantes de nível superior.
Relativamente aos motivos de escolha da profissão, percebeu-se uma tendência a
buscar o crescimento profissional, configurando uma motivação de caráter prático em
detrimento de vocação, embora este quesito seja também considerado para a escolha
da profissão, principalmente, se o indivíduo inicia suas atividades na área secretarial
antes de escolher o curso de formação superior.
Sendo assim, os resultados da pesquisa no que tange às questões que tratam
especificamente dos mitos, parecem indicar que a imagem que esta população tem da
51
profissão é bastante positiva, em concordância com um perfil moderno de atuação que
prevê atividades voltadas para o alcance dos objetivos empresariais.
Esta impressão é reforçada quando se questiona a freqüência com que a amostra
realiza determinadas atividades, entre elas, algumas consideradas inerentes ao perfil
mais antiquado de atuação. Neste quesito os resultados apontaram na mesma direção,
ou seja, a atuação profissional das respondentes está de acordo com o perfil
modernizado de atuação secretarial.
Sendo assim, pode-se perceber que a imagem que a secretária jovem e em início
de carreira tem de sua profissão é bastante positiva e tende a ser livre dos mitos que
permeavam o exercício da profissão, quais sejam: profissão deve ser exercida por
mulheres; o exercício profissional não exige formação; a profissão está em extinção.
Esta pesquisa não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas é importante
ressaltar que as próprias profissionais, experientes ou em início de carreira, são
responsáveis pela imagem que divulgam. Assim, desconstruir os mitos que
desvalorizam sua atuação impõe-se como uma necessidade e é possível a partir do
conhecimento da realidade da profissão.
O que está em extinção é o perfil antiquado de cuidados pessoais com o
executivo. A secretária que entender sua atuação como ferramenta para o alcance dos
resultados empresariais, estará contribuindo com sua carreira, seu desenvolvimento
pessoal, mas, principalmente, com o crescimento e a perenidade de toda uma classe
profissional.
52
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APÊNDICE A – Questionário de Pesquisa
QUESTIONÁRIO 01 – Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino 02 – Idade: ( ) até 25 anos ( ) 41-45 anos ( ) 26–30 anos ( ) 46-50 anos ( ) 31–35 anos ( ) mais de 51 anos ( ) 36–40 anos 03 – Estado Civil: ( ) Solteiro(a) ( ) Casado(a) ( ) Separado(a) / Divorciado(a) 04 – Dependentes: ( ) Nenhum ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) mais de 3 05 – Faixa Salarial ( ) até R$ 1.500,00 ( ) de R$ 1.501,00 a R$ 2.000,00 ( ) de R$ 2.001,00 a R$ 3.000,00 ( ) de R$ 3.001,00 a R$ 4.000,00 ( ) de R$ 4.001,00 a R$ 5.000,00 ( ) de R$ 5.001,00 a R$ 6000,00 ( ) acima de R$ 6.000,00 06 – Qual sua última formação escolar? ( ) Ensino Médio Incompleto ( ) Técnico Incompleto ( ) Superior Incompleto ( ) Ensino Médio Cursando ( ) Técnico Cursando ( ) Superior Cursando ( ) Ensino Médio Completo ( ) Técnico Completo ( ) Superior Completo ( ) Pós-graduação Incompleta ( ) Pós-graduação Cursando ( ) Pós-graduação Completa Especifique o Curso: ___________________________________________________ 07 – Há quanto tempo você trabalha? ( ) Nunca trabalhei ( ) até 2 anos ( ) 2 a 5 anos ( ) 6 a 10 anos ( )mais de 10 anos 08 – Em quantas empresas você já trabalhou? __________ empresas 09 – Há quanto tempo você trabalha na empresa atual?
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( ) Não trabalho ( ) até 2 anos ( ) 3 a 5 anos ( ) 6 a 10 anos ( ) mais de 10 anos 10 – Em seu emprego atual (ou no último emprego),qual o cargo registrado em carteira? ( ) Estagiário(a) ( ) Auxiliar ( ) Assistente ( ) Secretário(a) ( ) Secretário(a) (Executivo, Bilíngüe, Trilíngüe) ( ) Outro. Especifique: ______________________ 11 – Você já trabalha/trabalhou como Secretário(a)? ( ) Sim ( ) Não 12 – Há quanto tempo você trabalha/trabalhou como Secretário? ______ anos 13 – Considerando que você ainda esteja cursando ou já tenha cursado Secretariado (técnico ou superior) por que você escolheu esta profissão? ( ) Acredito que poderei crescer profissionalmente. ( ) Para obter formação profissional (técnico ou superior) ( ) O salário de Secretário(a) é / era mais atrativo do que outras profissões. ( ) Eu quero aprender / aprimorar idiomas ( ) Acho que o curso de secretariado é o mais rápido. ( ) Acho que o curso de secretariado é financeiramente mais acessível. ( ) Fui influenciado(a) por familiar / professor / profissional da área / etc. ( ) Eu acredito ter vocação. ( ) Outros. Explique: _________________________________________ 14 – Considerando que você já trabalha/já tenha trabalhado como Secretário(a) por que você escolheu esta profissão? ( ) Tive uma oportunidade profissional (promoção, novo emprego, etc.). ( ) O salário de Secretário(a) era atrativo. ( ) Eu queria aprender / aprimorar idiomas ( ) Fui influenciado(a) por familiar / professor / profissional da área / etc. ( ) Eu acredito ter vocação. ( ) Não tive opção, aconteceu naturalmente. ( ) Outros. Explique: _________________________________________
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15 – Atribua notas de 1 a 5 para os itens assinalados abaixo, de acordo com a seguinte escala: 1 – discordo totalmente 2 – discordo parcialmente 3 – indiferente 4 – concordo parcialmente 5 – concordo totalmente Em sua opinião: 1 2 3 4 5 A atividade do(a) Secretário(a) é facilitadora da atividade gerencial
A digitação ocupa a maior parte do tempo do(a) Secretário(a)
A execução de tarefas particulares depende de negociação com o executivo.
A profissão deve ser exercida somente por mulheres.
A profissão é valorizada pelos executivos e empresas.
A profissão permite o desenvolvimento de uma carreira promissora.
A submissão e a passividade são características pessoais esperadas de um(a) Secretário(a)
As atividades do Secretário(a) não geram resultados para a empresa.
É importante saber gerenciar conflitos É importante saber gerenciar informações É importante saber gerenciar o tempo O exercício da profissão deve exigir formação específica. O secretariado é uma profissão em extinção. O(a) secretário(a) deve executar atividades particulares para o executivo.
O(a) Secretário(a) deve ser um bom negociador O(a) secretário(a) utiliza-se de ferramentas gerenciais para exercer suas atividades (comunicação, liderança, motivação e negociação)
Profissionais com qualquer formação podem trabalhar como Secretários(as).
Profissionais sem qualquer formação podem trabalhar como Secretários(as).
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16 – Atribua notas de 1 a 5 para os itens assinalados abaixo, de acordo com a seguinte escala: 1 – discordo totalmente 2 – discordo parcialmente 3 – indiferente 4 – concordo parcialmente 5 – concordo totalmente
Em sua opinião o profissional de Secretariado deve: 1 2 3 4 5Agir com paciência Agir com submissão Atender a mais de um executivo ao mesmo tempo. Atender às demandas da equipe que o executivo coordena Conhecer as técnicas secretariais Controlar as finanças pessoais do executivo. Coordenar atividades de telefonistas, recepcionistas, etc. Cuidar de aspectos da vida pessoal do executivo e família Efetuar compras para a empresa ou o departamento Elaborar orçamentos de qualquer natureza Influenciar decisões estratégicas do executivo (o que fazer) Influenciar decisões táticas do executivo (como fazer) Lidar com informações privilegiadas e/ou confidenciais Lidar com pessoas (clientes internos e externos) Organizar eventos (almoços, reuniões, seminários, etc.) Participar da elaboração do planejamento em algum nível Possuir capacidade de adaptação e flexibilidade. Possuir registro na Superintendência de Relações do Trabalho e Emprego (antiga DRT).
Preparar e/ou servir café, chá, lanches, etc. Saber comunicar-se em outros idiomas Selecionar pessoas para trabalhar Ser chamado para opinar sobre assuntos relacionados a seu trabalho
Ter autonomia para tomar decisões sobre seu trabalho Tomar a iniciativa para solucionar um problema
60
17 –Atribua notas de 1 a 5 para os itens assinalados abaixo, de acordo com a seguinte escala: 1 – nunca 2 – raramente 3 – às vezes 4 – freqüentemente 5 – sempre
Considerando que você já trabalhe como Secretário(a) com que freqüência ocorrem as situações abaixo: 1 2 3 4 5
Aplica as técnicas secretariais (agenda, atendimento, etc.) Atende a mais de um executivo ao mesmo tempo Atende às demandas da equipe que o executivo coordena Comunica-se em outros idiomas Controla as finanças pessoais do executivo Coordena as atividades de telefonistas, recepcionistas, etc. Cuida de aspectos da vida particular do executivo e família Deve demonstrar flexibilidade e adaptabilidade Efetua compras para a empresa ou o departamento Elabora orçamentos de qualquer natureza Está envolvido(a) com algum nível de planejamento Executa atividades para os familiares do executivo Faz mais de uma atividade ao mesmo tempo Influencia decisões estratégicas do executivo (o que fazer) Influencia decisões táticas do executivo (como fazer) Lida com informações privilegiadas e/ou confidenciais Lida com pessoas (clientes internos e externos, etc.) Organiza eventos (almoços, reuniões, seminários, etc.) Precisa agir com submissão Precisa ser paciente Prepara e/ou serve café, chá, lanches, etc. Seleciona pessoas para trabalhar Toma a iniciativa de resolver um problema Toma decisões sobre seu trabalho