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INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA Pós-Graduação Lato Sensu em PSICOPEDAGOGIA E EDUCAÇÃO INFANTIL NOÇÕES FUNDAMENTAIS DE DIREITO E CIDADANIA Prof. MA. ALCIONE ADAME ALTA FLORESTA - MT Av. Gabriel Muller, 1065Modulo 01 Juina MT CEP 78320-000 www.pos.ajes.edu.br [email protected] Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático. De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98. 1 POLÍTICAS PÚBLICAS- DIREITO E CIDADANIA Prof(a): alcione adame "A cidadania é o direito a ter direitos, pois a igualdade em dignidade e direitos dos seres humanos não é um dado. É um construído da convivência coletiva, que requer o acesso ao espaço público. É este acesso ao espaço público que permite a construção de um mundo comum através do processo de asserção dos direitos humanos." (Hannah Arendt)

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POLÍTICAS PÚBLICAS-

DIREITO E CIDADANIA Prof(a): alcione adame

"A cidadania é o direito a ter direitos, pois a igualdade em dignidade e direitos dos seres

humanos não é um dado. É um construído da convivência coletiva, que requer o acesso ao

espaço público. É este acesso ao espaço público que permite a construção de um mundo

comum através do processo de asserção dos direitos humanos." (Hannah Arendt)

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O QUE É DIREITO

Dicionário Aurélio

O que é justo, conforme à lei.

Faculdade legal de praticar ou não praticar um ato.

Prerrogativa que alguém tem de exigir de outrem, em seu proveito, a prática ou

a abstenção de algum ato; jus.

O conjunto das normas jurídicas vigentes num país.

Imposto alfandegário.

Dicionário de Filosofia

Em seu sentido vulgar, poder moral que alguém tem de possuir. Fazer ou exigir

uma coisa, seja aquilo que é conforme a uma regra precisa (ter direito a, ter um

direito sobre), seja aquilo que simplesmente permitido (ter o direito de).

Direito positivo: conjunto das normas, leis criadas pelos homens, suscetíveis

de reger determinada sociedade numa determinada época.

Direito natural: aquele que resulta da própria natureza do homem, superior a

toda convenção ou legislação positiva, sendo inalienável. "Aquilo que se

convencionou chamar de teoria do direito natural, ao lado do direito real, isto é,

positivo, criado pelos homens e, por conseguinte, variável, um direito ideal,

natural, imutável que ela identifica com a justiça...; ela considera a natureza

como a fonte de onde emanam as normas do direito ideal e justo. A natureza, a

saber, a natureza em geral ou a natureza do homem em particular,

desempenha o papel de autoridade normativa, isto é, criadora de normas"

(Hans Kelsen). Assim, para os teóricos do direito natural, o direito é o conjunto

das leis necessárias, universais, deduzidas pela razão da natureza das coisas

e que serviria de fundamento para o direito positivo.

O QUE É JUSTIÇA?

Dicionário Aurélio

A virtude de dar a cada um aquilo que é seu.

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A faculdade de julgar segundo o direito e melhor consciência.

Magistratura .

Conjunto de magistrados judiciais e pessoas que servem junto deles.

O pessoal dum tribunal.

O poder judiciário.

Dicionário de Filosofia

1. Justiça distributiva: princípio ético-político que estabelece a atribuição a cada

um do que lhe é devido.

2. Justiça comutativa: conjunto de princípios e leis que regulam as relações

entre os indivíduos em uma sociedade e que devem ser cumpridos de modo

rigoroso e igualitário. "Quando os homens são amigos não há necessidade de

justiça" (Aristóteles).

3. Instituição jurídica que julga a aplicação da lei segundo um código

estabelecido. Princípio *moral que estabelece o *direito como um *ideal e exige

sua aplicabilidade e seu acatamento. Por extensão, virtude moral que consiste

no reconhecimento que devemos dar ao direito do outro.

O QUE É SER CIDADÃO?

Ser cidadão é ter consciência de que é sujeito de direitos. Direitos à vida, à

liberdade, à propriedade, à igualdade de direitos, enfim, direitos civis, políticos

e sociais. Mas este é um dos lados da moeda. Cidadania pressupõe também

deveres. O cidadão tem de ser cônscio das suas responsabilidades enquanto

parte integrante de um grande e complexo organismo que é a coletividade, a

nação, o Estado, para cujo bom funcionamento todos têm de dar sua parcela

de contribuição. Somente assim se chega ao objetivo final, coletivo: a justiça

em seu sentido mais amplo, ou seja, o bem comum.

O QUE É CIDADANIA?

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A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade

de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem

cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de

decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social. Por

extensão, a cidadania pode designar o conjunto das pessoas que gozam

daqueles direitos.

“A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à

pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do

governo de seu povo. Quem não tem cidadania está

marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de

decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do

grupo social” Dalmo de Abreu Dallari

Textos:

DIREITOS E DEVERES DA CIDADANIA

Dalmo Dallari

Cidadão, Cidadania e Integração Social

A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social. Por extensão, a cidadania pode designar o conjunto das pessoas que gozam daqueles direitos. Assim, por exemplo, pode-se dizer que todo brasileiro, no exercício de sua cidadania, tem o direito de influir sobre as decisões do governo. Mas também se pode aplicar isso ao conjunto dos brasileiros, dizendo-se que a cidadania brasileira exige que seja respeitado seu direito de influir nas decisões do governo. Nesse caso se entende que a exigência não é de um cidadão mas do conjunto de cidadãos.

Na Grécia antiga, como se lê no filósofo Aristóteles (384 a.C.-322 a.C), já havia o reconhecimento do direito de participar ativamente da vida da cidade, tomando decisões políticas, embora esse direito ficasse restrito a um número pequeno de pessoas. Em Roma, como anteriormente mencionado, foi feita a classificação das pessoas para efeito de cidadania. Os estrangeiros e os escravos estavam excluídos da cidadania, e, além disso, só uma parte dos cidadãos romanos gozava da cidadania ativa. E só o cidadão ativo tinha o direito de ocupar cargos públicos importantes e de participar das decisões políticas, especialmente através do voto.

Cidadania: Participação na Vida Pública

Foi a partir da concepção romana que se adotou o conceito de cidadania, na França do século dezoito, como foi acima exposto. E foi também a partir da França que se introduziu nas legislações modernas a diferenciação entre cidadania e cidadania ativa.

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A cidadania, que no século dezoito teve sentido político, ligando-se ao princípio da igualdade de todos, passou a expressar uma situação jurídica, indicando um conjunto de direitos e de deveres, jurídicos. Na terminologia atual, cidadão é o indivíduo vinculado à ordem jurídica de um Estado. Essa vinculação pode ser determinada pelo local do nascimento ou pela descendência, bem como por outros fatores, dependendo das leis de cada Estado. Assim, por exemplo, o Brasil consideram seus cidadãos, como regra geral, as pessoas nascidas em território brasileiro ou que tenham mãe ou pai brasileiro.

Essa vinculação significa que o indivíduo terá todos os direitos que a lei assegura aos cidadãos daquele Estado, tendo também o direito de receber a proteção de seu Estado se estiver em território estrangeiro. Desde o começo do século dezenove foi estabelecida a idéia de que direitos específicos da cidadania são aqueles relacionados com o governo e a vida pública. Em primeiro lugar, o direito de votar e ser votado, mas a partir disso existem outros direitos exclusivos dos cidadãos. Entre esses se acha o direito de ser membro do Tribunal do Júri, além do direito de ter um cargo, emprego ou função na Administração Pública.

A Cidadania no Brasil Atual

A constituição Brasileira de 1988 assegurou aos cidadãos brasileiros os direitos já tradicionalmente reconhecidos, como o direito de votar para escolher representantes do Legislativo e no Executivo e o direito de se candidatar para esses cargos. Não ficou, porém, apenas nisso, sendo importante assinalar que essa Constituição ampliou bastante os direitos da cidadania.

Como inovação, foi dado ao cidadão o direito de apresentar projetos de lei, por meio de iniciativa popular, tanto ao Legislativo federal quanto às Assembléias Legislativas dos Estados e as Câmaras Municipais. Foi assegurado também o direito de participar de plebiscito ou referendo, quando forem feitas consultas ao povo brasileiro sobre projetos de lei ou atos do governo. Além disso, foi atribuído também aos cidadãos brasileiros o direito de propor certas ações judiciais, denominadas garantias constitucionais, especialmente previstas para a garantia de direitos fundamentais. Entre essas ações estão a Ação Popular e o Mandado de Segurança, que visam impedir abusos de autoridades em prejuízo de direitos de um cidadão ou de toda a cidadania.

A par disso, a Constituição prevê a participação obrigatória de representantes da comunidade em órgãos de consulta e decisões sobre os direitos da criança e do adolescente, bem como na área da educação e da saúde. Essa participação configura o exercício de direitos da cidadania e é muito importante para a democratização da sociedade.

Em todos os Estados do mundo, inclusive no Brasil, a legislação estabelece exigências mínimas para que um cidadão exerça os direitos relacionados com a vida pública, o que significa a imposição de restrições para que alguém exerça os direitos da cidadania. De certo modo, isso mantém a diferenciação entre cidadãos e cidadãos ativos. O dado novo é que no século vinte, sobretudo a partir de sua Segunda metade, houve o reconhecimento de que muitas dessas restrições eram anti-democráticas e por isso elas foram sendo eliminadas. Um exemplo muito expressivo dessa mudança é o que aconteceu com o direito de cidadania das mulheres. Em grande parte do mundo as mulheres conquistaram o direito de votar e de ocupar todos os cargos públicos, eliminando-se uma discriminação injusta que, no entanto, muitos efeitos ainda permanece na prática.

Por último, é importante assinalar que os direitos da cidadania são, ao mesmo tempo, deveres. Pode parecer estranho dizer que uma pessoa tem o dever de exercer os seus direitos, porque isso dá a impressão de que tais direitos são convertidos em obrigações. Mas a natureza associativa da pessoa humana, a solidariedade natural característica da humanidade, a fraqueza dos indivíduos isolados quando devem enfrentar o Estado ou grupos sociais

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poderosos são fatores que tornam necessária a participação de todos nas atividades sociais. Acrescente-se a isso a impossibilidade de viver democraticamente se os membros da sociedade externarem suas opiniões e sua vontade. Tudo isso torna imprescindível que os cidadãos exerçam seus direitos de cidadania.

Direitos humanos, cidadania e educação. Uma nova concepção introduzida pela Constituição Federal de 1988

"A cidadania é o direito a ter direitos, pois a igualdade em dignidade e direitos dos seres

humanos não é um dado. É um construído da convivência coletiva, que requer o acesso ao espaço

público. É este acesso ao espaço público que permite a construção de um mundo comum através

do processo de asserção dos direitos humanos." (Hannah Arendt)

1. INTRODUÇÃO

O objetivo do presente ensaio é tecer algumas reflexões sobre o relacionamento

dos direitos humanos com a concepção contemporânea de cidadania. Isto é, objetiva-se

fazer um conjugado entre o processo de internacionalização dos direitos humanos e a

nova concepção de cidadania introduzida pela Constituição Federal de 1988.

Para tanto, num primeiro momento, buscou-se delinear, ainda que brevemente, o

processo de internacionalização dos direitos humanos, cujo marco inicial foi a Declaração

Universal de 1948, bem como, a forma através da qual a Constituição brasileira de 1988

se relaciona com os instrumentos internacionais de proteção dos direitos humanos

ratificados pelo Estado brasileiro.

Depois de feito este estudo prévio, verificou-se de que maneira a nova Carta

brasileira, rompendo com a ordem jurídica anterior, passou a comungar os direitos

humanos internacionalmente consagrados com a concepção contemporânea de cidadania.

Por fim, buscou-se delinear qual o papel da educação em direitos humanos, e

quais as maneiras de se implementar, de forma sólida, além dos princípios éticos que o

cercam, uma cultura de direitos humanos, em nosso meio e em nossa sociedade.

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2. A CONSAGRAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO

A cidadania é um processo em constante construção, que teve origem,

historicamente, com o surgimento dos direitos civis, no decorrer do século XVIII –

chamado Século das Luzes –, sob a forma de direitos de liberdade, mais precisamente, a

liberdade de ir e vir, de pensamento, de religião, de reunião, pessoal e econômica,

rompendo-se com o feudalismo medieval na busca da participação na sociedade. A

concepção moderna de cidadania surge, então, quando ocorre a ruptura com o Ancien

Régime, em virtude de ser ela incompatível com os privilégios mantidos pelas classes

dominantes, passando o ser humano a deter o status de "cidadão".

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entendimento do Supremo Tribunal Federal?

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Sistema de enjuizamento escalonado (ou procedimento judicial funcionalmente escalonado).

Repensando o modelo de processo

A tutela da omissão constitucional

O conceito de cidadania, entretanto, tem sido freqüentemente apresentado de

uma forma vaga e imprecisa. Uns identificam-na com a perda ou aquisição da

nacionalidade; outros, com os direitos políticos de votar e ser votado. No Direito

Constitucional, aparece o conceito, comumente, relacionado à nacionalidade e aos direitos

políticos. Já na Teoria Geral do Estado, aparece ligado ao elemento povocomo integrante

do conceito de Estado. Dessa forma, fácil perceber que no discurso jurídico dominante, a

cidadania não apresenta um estatuto próprio pois na medida em que se relaciona a estes

três elementos (nacionalidade, direitos políticos e povo), apresenta-se como algo ainda

indefinido.(1)

A famosa Déclaration des Droits de l’Homme et du Citoyen, de 1789, sob a

influência do discurso burguês, cindiu os direitos do "Homem" e do "Cidadão", passando a

expressãoDireitos do Homem a significar o conjunto dos direitos individuais, levando-se

em conta a sua visão extremamente individualista, cuja finalidade da sociedade era a de

servir aos indivíduos, ao passo que a expressão Direitos do Cidadãosignificaria o conjunto

dos direitos políticos de votar e ser votado, como institutos essenciais à democracia

representativa.(2)

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Com o triunfo do liberalismo, sufocou-se, então, a idéia de democracia, que só

ocorre quando todas as camadas da sociedade têm as mesmas oportunidades de

participação no processo econômico. Não era esta a preocupação da burguesia do Estado

Liberal, no século XVIII.

A idéia de cidadão como participante da vida política do país em que reside, fica

facilmente perceptível pela leitura do Article VI da Déclaration, que dispõe:

"La loi est l’expression de la volonté générale; tous les citoyens ont droit de concourir

personnelement, ou par leurs représentants à sa formation; elle doit être le même pour tous, soit

qu’elle protège soit qu’elle punisse. Tous les citoyens étant égaux à ses yeux, sont également

admissibles à toutes dignités, places et emplois publics, selon leur capacité, et sans autres

distinctions que celles de leurs vertus et de leurs talents."

Mais à frente, a Declaração, no seu Article XIV, também privilegia os citoyens,

nestes termos:

"Les citoyens ont le droit de constater par eux-mêmes ou par leurs représentants la

nécessité de la contribution publique, de la consentir librement, d’en suivre l’emploi et d’en

déterminer la quantité, l’assiette, le recouvrement et da durée."

Na lição lapidar do Prof. José Afonso da Silva: "A idéia de representação, que

está na base no conceito de democracia representativa, é que produz a primeira

manifestação da cidadania que qualifica os participantes da vida do Estado – o cidadão,

indivíduo dotado do direito de votar e ser votado –, oposta à idéia de vassalagem tanto

quanto a de soberania aparece em oposição à de suserania. Mas, ainda assim, nos

primeiros tempos do Estado Liberal, o discurso jurídico reduzia a cidadania ao conjunto

daqueles que adquiriam os direitos políticos. Então, o cidadão era somente aquela pessoa

que integrasse o corpo eleitoral. Era uma cidadania "censitária", porque era atributo

apenas de quem possuísse certos bens ou rendas".(3)

A idéia de cidadão, que, na Antigüidade Clássica, conotava o habitante da cidade

– o citadino – firma-se, então, como querendo significar aquele indivíduo a quem se

atribuem os direitos políticos, é dizer, o direito de participar ativamente na vida política do

Estado onde vive. Na Carta de 1824, por exemplo, falava-se, nos arts. 6.º e 7.º,

emcidadãos brasileiros, como querendo significar o nacional, ao passo que nos arts. 90 e

91 o termo cidadão aparece designando aquele que pode votar e ser votado. Estes últimos

eram chamados de cidadãos ativos, posto que gozavam de direitos políticos. Aqueles, por

sua vez, pertenciam à classe dos cidadãos inativos, destituídos dos direitos de eleger e ser

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eleito. Faziam parte, nas palavras de José Afonso da Silva, de uma "cidadania amorfa",

posto que abstratos e alheios a toda uma realidade sociológica, sem referência política.(4)

Assim, Homem e Cidadão recebiam significados diversos. É dizer,

o Cidadão teria um plus em relação àquele, consistente na titularidade de direitos na

ordem política, na participação da vida da sociedade e na detenção de riqueza, formando,

assim, uma casta especial e mais favorecida, distinta do resto da grande e carente massa

popular, considerados simples indivíduos.(5)

Esta idéia, entretanto, vai sendo gradativamente modificada, quando do início do

processo de internacionalização dos direitos humanos, iniciado com a proclamação da

Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. Passa-se a considerar

como Cidadãos, a partir daí, não somente aqueles detentores dos direitos civis e políticos,

mas todos aqueles que habitam o âmbito da soberania de um Estado e deste Estado

recebem uma carga de direitos (civis e políticos; sociais, econômicos e culturais) e

também deveres, dos mais variados.

A Constituição brasileira de 1988, consagra, desde o seu Título I (intitulado Dos

Princípios Fundamentais), esta nova concepção de cidadania, iniciada com o processo de

internacionalização dos direitos humanos. Deste modo, ao contrario do que ocorria no

constitucionalismo do Império, hoje, em face da Constituição vigente, aquela doutrina

dacidadania ativa e passiva, não tem mais nenhuma procedência.

Para bem se compreender o significado dessa nova concepção de cidadania

introduzida pela Carta de 1988, entretanto, é importante tecermos alguns comentários

sobre a gênese do processo de internacionalização dos direitos humanos, iniciado com o

pós-Segunda Guerra, que culminou na Declaração Universal de 1948, revigorada pela

segunda Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, ocorrida em Viena, no ano de

1993.

3. O LEGADO DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE 1948 AO PROCESSO DE

INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Decorrido mais de meio século da proclamação da Declaração Universal de 1948,

adentramo-nos hoje, ao que parece, na era internacional dos direitos ou dos direitos

internacionalmente consagrados. Testemunha-se, hoje, uma crescente evolução na

identidade de propósitos entre o Direito Interno e o Direito Internacional, no que respeita à

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proteção dos direitos humanos, notadamente um dos temas centrais do Direito

Internacional contemporâneo.

A normatividade internacional de proteção dos direitos humanos, conquistada

através de incessantes lutas históricas, e consubstanciada em inúmeros tratados

concluídos com este propósito, foi fruto de um lento e gradual processo de

internacionalização e universalização desses mesmos direitos.

Os direitos humanos passaram, então, com o amadurecimento evolutivo deste

processo, a transcender os interesses exclusivos dos Estados, para salvaguardar,

internamente, os interesses dos seres humanos protegidos.

Esta nova concepção, assim, pretendeu afastar, de vez, o velho e arraigado

conceito de soberania estatal absoluta, que considerava como sendo os Estados os únicos

sujeitos de direito internacional público, para proteger e amparar os direitos fundamentais

de todos os cidadãos. Os indivíduos, a partir de então, foram erigidos à posição – de há

muito merecida – de sujeitos de direito internacional, dotados de mecanismos processuais

eficazes para a salvaguarda dos seus direitos internacionalmente protegidos.

É, entretanto, somente a partir da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que o

Direito Internacional dos Direitos Humanos, efetivamente, se consolida. Nascidos dos

horrores da era Hitler, e da resposta às atrocidades cometidas a milhões de pessoas

durante o nazismo, esses acordos internacionais protetivos dos direitos da pessoa humana

têm criado obrigações e responsabilidades para os Estados no que diz respeito às

pessoas sujeitas à sua jurisdição.

Neste contexto marcado por inúmeras violações de direitos, cujo saldo maior

foram 11 milhões de mortos durante o período nazista, foi necessário construir toda uma

normatividade internacional, a fim de resguardar e proteger esses direitos, até então

inexistente. Viram-se os Estados obrigados a construir uma normatividade internacional

eficaz, em que o respeito aos direitos humanos encontrasse efetiva proteção. O tema,

então, tornou-se preocupação de interesse comum dos Estados, bem como um dos

principais objetivos da comunidade internacional.(6)

Como bem explica a Prof.ª Flávia Piovesan, diante da ruptura "do paradigma dos

direitos humanos, através da negação do valor da pessoa humana como valor fonte do

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Direito", passou a emergir "a necessidade de reconstrução dos direitos humanos, como

referencial e paradigma ético que aproxime o direito da moral".(7)

O "direito a ter direitos", segundo a terminologia de Hannah Arendt, passou,

então, a ser o referencial primeiro de todo este processo internacionalizante. Como

resposta às barbáries cometidas no Holocausto, começa, então, a aflorar todo um

processo de internacionalização dos direitos humanos, criando uma sistemática

internacional de proteção, mediante a qual se torna possível a responsabilização do

Estado no plano externo, quando, internamente, os órgãos competentes não apresentarem

respostas satisfatórias na proteção desses mesmos direitos.

Um passo concreto foi dado, quando, no início do ano de 1945, em Chapultepec,

no México, os vinte e um países da América se reuniram firmando a tese de que um dos

principais objetivos das Nações Unidas seria a elaboração de uma Carta dos Direitos do

Homem, razão pela qual a Carta das Nações Unidas, de 26 de junho de 1945, ficara

impregnada da idéia do respeito aos direitos fundamentais do homem, desde o seu

segundo considerando, onde se afirmou "a fé nos direitos fundamentais do homem, na

dignidade e valor da pessoa humana, na igualdade dos direitos de homens e mulheres e

das Nações grandes e pequenas".(8)

Assim, a partir do surgimento da Organização das Nações Unidas, em 1945, e da

conseqüente aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, o

Direito Internacional dos Direitos Humanos começa a aflorar e a solidificar-se de forma

definitiva, gerando, por via de conseqüência, a adoção de inúmeros tratados internacionais

destinados a proteger os direitos fundamentais dos indivíduos. Trata-se de uma época

considerada como verdadeiro marco divisor do processo de internacionalização dos

direitos humanos.(9) Antes disso a proteção aos direitos do homem estava mais ou menos

restrita apenas a algumas legislações internas dos países, como a inglesa de 1684, a

americana de 1778 e a francesa de 1789. As questões humanitárias somente integravam a

agenda internacional quando ocorria uma determinada guerra, mas logo mencionava-se o

problema da ingerência interna em um Estado soberano e a discussão morria

gradativamente. Assim é que temas como o respeito às minorias dentro dos territórios

nacionais e direitos de expressão política não eram abordados a fim de não se ferir o até

então incontestável e absoluto princípio de soberania.(10)

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Surge, então, no âmbito da Organização das Nações Unidas, um

sistema global de proteção dos direitos humanos, tanto de caráter geral (a exemplo do

Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos), como de caráterespecífico (v.g., as

Convenções internacionais de combate à tortura, à discriminação racial, à discriminação

contra as mulheres, à violação dos direitos das crianças etc.). Revolucionou-se, a partir

deste momento, o tratamento da questão relativa ao tema dos direitos humanos. Colocou-

se o ser humano, de maneira inédita, num dos pilares até então reservados aos Estados,

alçando-o à categoria de sujeito de direito internacional. Paradoxalmente, o Direito

Internacional feito pelos Estados e para os Estados começou a tratar da proteção

internacional dos direitos humanos contra o próprio Estado, único responsável reconhecido

juridicamente, querendo significar esse novo elemento uma mudança qualitativa para a

comunidade internacional, uma vez que o direito das gentes não mais se cingiria aos

interesses nacionais particulares. Neste cenário, o cidadão, antes vinculado à sua Nação,

passa a tornar-se, lenta e gradativamente, verdadeiro "cidadão do mundo".(11)

Mas a estrutura normativa de proteção internacional dos direitos humanos, além

dos instrumentos de proteçãoglobal, de que são exemplos, dentre outros, a Declaração

Universal dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o

Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, e cujo código básico é a

chamada international bill of human rights, abrange também os instrumentos de

proteção regional, aqueles pertencentes aos sistemas europeu, americano, asiático e

africano (v.g., no sistema americano, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos).

Da mesma forma que ocorre com o sistema de proteção global, aqui também se

encontram instrumentos de alcance geral e instrumentos de alcance especial. Gerais são

aqueles que alcançam todas as pessoas, a exemplo dos tratados acima citados; especiais,

ao contrário, são os que visam apenas determinados sujeitos de direito, ou determinada

categoria de pessoas, a exemplo das convenções de proteção às crianças, aos idosos,

aos grupos étnicos minoritários, às mulheres, aos refugiados, aos portadores de

deficiência etc.

Tais sistemas, cabe observar, não são dicotômicos, mas complementares uns

dos outros, onde fica permitido ao indivíduo que sofreu violação de direitos a escolha do

aparato mais benéfico, tendo em vista que, não raramente, vários direitos são tutelados

por dois ou mais instrumentos de alcance global ou regional ou ainda de alcance geral ou

específico. Essa diversidade de sistemas, assim, interagem em prol da proteção da

pessoa humana.(12)

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13

O "Direito Internacional dos Direitos Humanos", emergido com princípios próprios,

passa, então, a efetivamente solidificar-se como um corpus juris dotado de uma

multiplicidade de instrumentos internacionais de proteção que impõe obrigações e

responsabilidades para os Estados no que diz respeito às pessoas sujeitas à sua

jurisdição. Sua observância, assim, deixou de se subscrever ao interesse estritamente

doméstico dos Estados, para passar a ser matéria de interesse do Direito Internacional e

objeto de sua regulamentação.

Rompendo com a distinção rígida existente entre Direito Público e Direito Privado,

e libertando-se dos clássicos paradigmas até então existentes, o Direito Internacional dos

Direitos Humanos passa a afirmar-se como um novo ramo do direito, dotado de

autonomia, princípios e especificidade próprios, cuja finalidade é a de assegurar a

proteção do ser humano, nos planos nacional e internacional, concomitantemente.

Foi neste cenário que a Declaração Universal de 1948, composta de trinta artigos,

precedidos de um "Preâmbulo" com sete considerandos, conjugou num só todo tanto os

direitos civis e políticos, tradicionalmente chamados de direitos e garantias

individuais (arts. 1.º ao 21), quanto os direitos sociais, econômicos e culturais (arts. 22 ao

28). O art. 29 proclama os deveres da pessoa para com a comunidade, na qual o livre e

pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível, e no art. 30 consagra um

princípio de interpretação da Declaração sempre a favor dos direitos e liberdades nela

proclamados. Assim o fazendo, combinou a Declaração, de forma inédita, o discurso

liberalcom o discurso social, ou seja, o valor da liberdade com o valor da igualdade.

Firma-se, então a concepção contemporânea de direitos humanos, fundada no

duplo pilar baseado nauniversalidade e indivisibilidade desses direitos. Diz-se universal

"porque a condição de pessoa há de ser o requisito único para a titularidade de direitos,

afastada qualquer outra condição"; e indivisível "porque os direitos civis e políticos hão de

ser somados aos direitos sociais, econômicos e culturais, já que não há verdadeira

liberdade sem igualdade e nem tampouco há verdadeira igualdade sem liberdade".

A Declaração de 1948, dessa forma, demarca – repita-se – a concepção

contemporânea de direitos humanos, deixando claro que não há direitos civis e políticos

sem direitos sociais, econômicos e culturais, ou seja, não há liberdade sem igualdade. Da

mesma forma, não há igualdade sem a plena a eficaz proteção da liberdade, ou seja, a

igualdade fica esvaziada quando não assegurado o direito de liberdade concebido em seu

sentido amplo.

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14

Após um quarto de século da realização da primeira Conferência Mundial de

Direitos Humanos, ocorrida em Teerã em 1968, a segunda Conferência (Viena, 1993),

reiterando os propósito da Declaração de 1948, consagrou os direitos humanos como

tema global, reafirmando sua universalidade, indivisibilidade e interdependência. Foi o que

dispôs o parágrafo 5.º da Declaração e Programa de Ação de Viena, de 1993, nestes

termos:

"Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-

relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos de forma global, justa e

eqüitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase. Embora particularidades nacionais e

regionais devam ser levadas em consideração, assim como diversos contextos históricos, culturais e

religiosos, é dever dos Estados promover e proteger todos os direitos humanos e liberdades

fundamentais, sejam quais forem seus sistemas políticos, econômicos e culturais".

Compreendeu-se, finalmente, que a diversidade cultural (relativismo) não pode

ser invocada para justificar violações aos direitos humanos. A tese universalista defendida

pelas nações ocidentais saiu, ao final, vencedora, afastando-se de vez a idéia de

relativismo cultural, em se tratando de proteção internacional dos direitos humanos.

Enriqueceu-se, pois, o universalismo desses direitos, afirmando-se cada vez mais

o dever dos Estados em promover e proteger os direitos humanos violados,

independentemente dos respectivos sistemas, não mais se podendo questionar a

observância dos direitos humanos com base no relativismo cultural ou mesmo com base

no dogma da soberania.(13) E, no que toca à indivisibilidade, ficou superada a dicotomia

até então existente entre as "categorias de direitos" (civis e políticos de um lado;

econômicos, sociais e culturais, de outro), historicamente incorreta e juridicamente

infundada, porque não há hierarquia quanto a esses direitos, estando todos

eqüitativamente balanceados, em pé de igualdade. É dizer, a classificação tradicional das

"gerações de direitos" não corresponde, historicamente, ao desenvolvimento do processo

de efetivação e solidificação dos direitos humanos.

Objeta-se que se as gerações de direitos induzem à idéia de sucessão – através

da qual uma categoria de direitos sucede à outra que se finda –, a realidade histórica

aponta, em sentido contrário, para a concomitância do surgimento de vários textos

jurídicos concernentes a direitos humanos de uma ou outra natureza. No plano interno, por

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15

exemplo, a consagração nas Constituições dos direitos sociais foi, em geral, posterior ao

dos direitos civis e políticos, ao passo que no plano internacional o surgimento da

Organização Internacional do Trabalho, em 1919, propiciou a elaboração de diversas

convenções regulamentando os direitos sociais dos trabalhadores, antes mesmo da

internacionalização dos direitos civis e políticos no plano externo.(14)

O processo de desenvolvimento dos direitos humanos, assim, opera-se em

constante cumulação, sucedendo-se no tempo vários direitos que mutuamente se

substituem, consoante a concepção contemporânea desses direitos, fundada na

sua universalidade, indivisibilidade e interdependência.

Afasta-se, pois, a visão fragmentária e hierarquizada das diversas categorias de

direitos humanos, para se buscar uma "concepção contemporânea" desses mesmos

direitos, a qual foi introduzida pela Declaração Universal de 1948 e reiterada pela

Declaração de Direitos Humanos de Viena de 1993. Como destaca Carlos Weis, insistir na

idéia geracional de direitos, "além de consolidar a imprecisão da expressão em face da

noção contemporânea dos direitos humanos, pode se prestar a justificar políticas públicas

que não reconhecem indivisibilidade da dignidade humana e, portanto, dos direitos

fundamentais, geralmente em detrimento da implementação dos direitos econômicos,

sociais e culturais ou do respeito aos direitos civis e políticos previstos nos tratados

internacionais já antes citados".(15)

Desta forma, a dicotomia até então existente – leciona José Afonso da Silva –

entre direitos civis (mais conhecidos como direitos individuais) e políticos e direitos

econômicos, sociais e culturais, vai sendo suplantada pelo reconhecimento doutrinário

da universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos.(16) E isto

porque pensava-se que os direitos civis e políticos eram de aplicação imediata, bastando a

abstenção do Estado para sua efetivação, ao passo que os direitos econômicos, sociais e

culturais eram de aplicação progressiva, requerendo uma atuação positiva do Estado para

que pudessem ser eficazes.(17)

Problema muito discutido dizia respeito à eficácia das normas da Declaração

Universal de 1948, uma vez que ela, por si só, não dispõe de aparato próprio que a faça

valer. À vista disso é que, sob o patrocínio da ONU, se tem procurado firmar vários pactos

e convenções internacionais a fim de assegurar a proteção aos direitos fundamentais do

homem nela consagrados, dentro dos quais destacam-se o Pacto Internacional dos

Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e

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16

Culturais, ambos aprovados pela Assembléia-Geral da ONU, em Nova York, aos 16 de

dezembro de 1966. Surgiram estes tratados, pois, com a finalidade de conferir dimensão

jurídica à Declaração de 1948, tendo o primeiro pacto regulamentado os arts. 1.º ao 21 da

Declaração, e o segundo os arts. 22 a 28.(18)

4. A ABERTURA DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 AO SISTEMA

INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Rompendo com a ordem jurídica anterior, marcada pelo autoritarismo advindo do

regime militar, que perdurou no Brasil de 1964 a 1985, a Constituição brasileira de 1988,

no propósito de instaurar a democracia no país e de institucionalizar os direitos humanos,

faz como que uma revolução na ordem jurídica nacional, passando a ser o marco

fundamental da abertura do Estado brasileiro ao regime democrático e à normatividade

internacional de proteção dos direitos humanos.

Como marco fundamental do processo de institucionalização dos direitos

humanos no Brasil, a Carta de 1988, logo em seu primeiro artigo, erigiu a dignidade da

pessoa humana a princípio fundamental (art. 1.º, III), instituindo, com este princípio, um

novo valor que confere suporte axiológico a todo o sistema jurídico e que deve ser sempre

levado em conta quando se trata de interpretar qualquer das normas constantes do

ordenamento nacional.

A nova Constituição, além disso, seguindo a tendência do constitucionalismo

contemporâneo, deu um grande passo rumo a abertura do sistema jurídico brasileiro ao

sistema internacional de proteção de direitos, quando, no parágrafo 2.º do seu art. 5.º,

deixou estatuído que:

"Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do

regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República

Federativa do Brasil seja parte".

Estabelecendo a Carta de 1988 que os direitos e garantias nela elencados "não

excluem" outros provenientes dos tratados internacionais em que a República Federativa

do Brasil seja parte, é porque ela própria está a autorizar que tais direitos e garantias

constantes nesse tratados "se incluem" no ordenamento jurídico brasileiro, como se

escritos no rol de direitos constitucionais estivessem. É dizer, se os direitos e garantias

expressos no texto constitucional "não excluem" outros provenientes de tratados

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internacionais, é porque, pela lógica, na medida em que tais instrumentos passam a

assegurar também direitos e garantias, a Constituição "os inclui" no seu catálogo dos

direitos protegidos, ampliando, destarte, o seu "bloco de constitucionalidade".

Assim, ao incorporar em seu texto esses direitos internacionais, está a

Constituição atribuindo-lhes uma natureza especial e diferenciada, qual seja, a natureza de

"norma constitucional", os quais passam a integrar, portanto, o elenco dos direitos

constitucionalmente protegidos.

Dessa forma, tanto os direitos como as garantiasconstantes dos tratados

internacionais de que o Brasil seja parte, passam, com a ratificação desses mesmos

instrumentos, a integrar o rol dos direitos e garantias constitucionalmente protegidos.

Há que se enfatizar, porém, que os demais tratados internacionais que não

versem sobre direitos humanos, não têm natureza de norma constitucional; terão sim,

natureza de norma infraconstitucional (mas supra-legal), extraída justamente do citado art.

102, III, b, da Carta Magna, que confere ao Supremo Tribunal Federal a competência para

"julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância,

quando a decisão recorrida: b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal".

Há, pois, neste cenário de proteção dos direitos humanos, um enfraquecimento

da noção da não-interferência internacional em assuntos internos, flexibilizando, senão

abolindo, a própria noção de soberania estatal absoluta.

A inovação, no § 2.º ao art. 5.º da Constituição de 1988, referente aos tratados

internacionais de que o Brasil seja parte, assim, além de ampliar os mecanismos de

proteção da dignidade da pessoa humana, vem também reforçar e engrandecer o princípio

da prevalência dos direitos humanos, consagrado pela Carta como um dos princípios pelo

qual a República Federativa do Brasil se rege nas suas relações internacionais (CF, art.

4.º, II).

A Carta de 1988 passou a reconhecer explicitamente, portanto, no que tange ao

seu sistema de direitos e garantias, uma dupla fonte normativa: aquela advinda do direito

interno (direitos expressos e implícitos na Constituição), e aquela outra advinda do direito

internacional (decorrente dos tratados internacionais em que a República Federativa do

Brasil seja parte).

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18

Não bastasse esse extraordinário avanço, um outro ainda se apresenta. Os

tratados internacionais de proteção dos direitos humanos ratificados pelo Estado brasileiro,

passam a incorporar-se automaticamente em nosso ordenamento, pelo que estatui o § 1.º

do art. 5.º da nossa Carta:

"As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata".

Ora, se as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm

aplicação imediata, os tratados internacionais de proteção dos direitos humanos, uma vez

ratificados, por também conterem normas que dispõe sobre direitos e garantias

fundamentais, terão, dentro do contexto constitucional brasileiro, idêntica aplicação

imediata. Da mesma forma que são imediatamente aplicáveis aquelas normas expressas

nos arts. 5.º a 17 da Constituição da República, o são, de igual maneira, as normas

contidas nos tratados internacionais de direitos humanos de que o Brasil seja parte.

Atribuindo-lhes a Constituição a natureza de "normas constitucionais", e

passando tais tratados a teraplicabilidade imediata tão logo ratificados, fica dispensada,

por isso, a edição de decreto de promulgação a fim de irradiar seus efeitos tanto no plano

interno como no plano internacional. Já, nos casos de tratados internacionais que não

versam sobre direitos humanos, este decreto, materializando-os internamente, faz-se

necessário. Em outra palavras, com relação aos tratados internacionais de proteção dos

direitos humanos, foi adotado no Brasil o monismo internacionalista kelseniano,

dispensando-se da sistemática da incorporação, o decreto executivo presidencial para seu

efetivo cumprimento no ordenamento pátrio, de forma que a simples ratificação do tratado

por um Estado importa na incorporação automática de suas normas à respectiva

legislação interna.

Além disso, todos os direitos insertos nos referidos tratados internacionais, cuja

incorporação é automática, passam, também, a constituírem cláusulas pétreas, não

podendo ser suprimidos sequer por emenda à Constituição (CF, art. 60, § 1.º, IV). É o que

se extrai do resultado da interpretação dos §§ 1.º e 2.º, do art. 5.º da Lei Fundamental, em

cotejo com o art. 60, § 4.º, IV, da mesma Carta. Isto porque, o §1.º, do art. 5.º, da

Constituição da República, como se viu, dispõe expressamente que "as normas

definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata". E o art. 60, §

4.º, IV, por sua vez, estabelece que qualquer proposta de emenda constitucional tendente

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a abolir os direitos e garantias individuais não será objeto sequer de deliberação, tendo em

vista o núcleo imodificável desses direitos.

Em suma, tendo ingressado tais tratados pela porta de entrada do parágrafo 2.º

do art. 5.º da Carta Magna de 1988, passam eles, da mesma forma que aqueles direitos e

garantias insertos no texto constitucional: a) a estar dentro dos fundamentos da República

Federativa do Brasil (art. 1º, inc. II a V); b) a permear os objetivos fundamentais do Estado

brasileiro (art. 3º, inc. I, III e IV); c) a ser diretrizes que regem as relações internacionais da

República Federativa do Brasil (art. 4º, inc. II), e; d) a constituírem cláusula pétrea do texto

constitucional (art. 60, § 4º, inc. IV), dando lugar à intervenção federal em caso de sua

não-observância (art. 34, inc. VII, b).

5. O CIDADÃO E A CIDADANIA NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988

"Tudo o que acontece no mundo, seja no meu país, na minha cidade ou no meu bairro,

acontece comigo. Então eu preciso participar das decisões que interferem na minha vida. Um

cidadão com um sentimento ético forte e consciência da cidadania não deixa passar nada, não abre

mão desse poder de participação." Herbert de Souza (Betinho)

Como se viu, em face do processo de internacionalização dos direitos humanos,

iniciado com a Declaração Universal de 1948, e reiterado na segunda Conferência de

Viena, em 1993, cidadãos, hoje, são todos aqueles que habitam o âmbito da soberania de

um Estado e deste Estado têm assegurados, constitucionalmente, direitos fundamentais

mínimos.

O cidadão, torna-se, então, aquele indivíduo a quem a Constituição confere

direitos e garantias – individuais, políticos, sociais, econômicos e culturais –, e lhe dá o

poder de seu efetivo exercício, além de meios processuais eficientes contra a violação de

seu gozo ou fruição por parte do Poder Público.

A Constituição brasileira de 1988, com a transição para o regime democrático e

conseqüente abertura à normatividade internacional, consagrou, expressamente, esta

nova concepção de cidadania, como se depreende da leitura de vários dos seus

dispositivos, estando hoje superada a antiga doutrina, do tempo do constitucionalismo do

império, da cidadania ativa e passiva que significava a prerrogativa de quem podia

participar da vida política do país, ou seja, de quem detinha os direitos políticos,(19) e

daqueles a quem faltava este atributo.

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20

Observe-se que a Carta de 1988, ao tratar, no seu art. 14, dos direitos políticos,

não se refere, sequer em um momento, à expressão cidadania, dizendo apenas que a

"soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direito e secreto, com

valor igual para todos (…)". Pelo contrário: a Constituição faz uma separação entre

cidadania e direitos políticos quando, no seu art. 68, § 1.º, II, ao tratar das leis delegadas,

exclui do âmbito da delegação legislativa a "nacionalidade, cidadania, direitos

individuais, políticos e eleitorais".

Em alguns outros dispositivos da Constituição, a palavra cidadania (ou

cidadão) poderia ainda ter a significação de direitos políticos, mas mesmo assim de

forma implícita, a exemplo dos arts. 22, XIII, e 5.º, LXXIII. No primeiro se lê que

compete à União legislar sobre "nacionalidade, cidadania e naturalização", e no

segundo que "qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise

anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à

moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural,

ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da

sucumbência".(20)

Mas o que importa é que a Constituição de 1988 abandona, sem embargo

disso, o velho conceito decidadania ativa e passiva, incorporando em seu texto a

concepção contemporânea de cidadania introduzida pela Declaração Universal de

1948 e reiterada pela Conferência de Viena de 1993.

Foi nesse sentido que, pioneiramente, estatuiu a Carta de 1988, em seu art. 1.º,

que a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e

Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem

como fundamentos, dentre outros, a cidadania (inc. II). Na mesma esteira, o disposto no

art. 5.º, incisos LXXI ("conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma

regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das

prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e àcidadania") e LXXVII ("são

gratuitas as ações de habeas-corpus e habeas-data, e, na forma da lei, os atos

necessários ao exercício da cidadania"). No seu Título VIII, Capítulo II, Seção I, a Carta

Magna de 1988 dispõe, ainda, que a "educação, direito de todos e dever do Estado e da

família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação

para o trabalho (art. 205).

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21

Outro dispositivo em que fica bastante marcada esta nova concepção de

cidadania, é o art. 64 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que dispõe: "A

Imprensa Nacional e demais gráficas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios, da administração direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas

pelo Poder Público, promoverão edição popular do texto integral da Constituição, que será

posta à disposição das escolas e dos cartórios, dos sindicatos, dos quartéis, das igrejas e

de outras instituições representativas da comunidade, gratuitamente, de modo que

cada cidadão brasileiro possa receber do Estado um exemplar da Constituição do Brasil."

Enfim, a Constituição de 1988, enriqueceu e ampliou os conceitos de cidadão e

cidadania. Seu entendimento, agora, como leciona José Afonso da Silva, "decorre da idéia

de Constituição dirigente, que não é apenas um repositório de programas vagos a serem

cumpridos, mas constitui um sistema de previsão de direitos sociais, mais ou menos

eficazes, em torno dos quais é que se vem construindo a nova idéia de cidadania".(21) De

forma que, não mais se trata de considerar a cidadania como simples qualidade de gozar

direitos políticos, mas sim de aferir-lhe um núcleo mínimo e irredutível de direitos

(fundamentais) que devem se impor, obrigatoriamente, à ação dos poderes públicos.

A cidadania, assim considerada – conclui brilhantemente o Prof. José Afonso da

Silva –, "consiste na consciência de pertinência à sociedade estatal como titular dos

direitos fundamentais, da dignidade como pessoa humana, da integração participativa no

processo do poder, com a igual consciência de que essa situação subjetiva envolve

também deveres de respeito à dignidade do outro e de contribuir para o aperfeiçoamento

de todos".(22)

Vestir a camisa de cidadão, então, é ter consciência dos direitos e deveres

constitucionalmente estabelecidos e participar ativamente de todas as questões que

envolvem o âmbito de sua comunidade, de seu bairro, de sua cidade, de seu Estado e de

seu país, não deixando passar nada, não se calando diante do mais forte nem subjugando

o mais fraco.(23)

Vê-se, dessa forma, que a Carta de 1988 endossa esse novo conceito de

cidadania, que tem na dignidade da pessoa humana sua maior racionalidade e sentido.

Consagra-se, de uma vez por todas, os pilares universais dos direitos humanos

contemporâneos fundados na sua universalidade, indivisibilidade e interdependência.

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22

A universalidade dos direitos humanos consolida-se, na Constituição de 1988, a

partir do momento em que ela consagra a dignidade da pessoa humana como núcleo

informador da interpretação de todo o ordenamento jurídico, tendo em vista que a

dignidade é inerente a toda e qualquer pessoa, sendo vedada qualquer discriminação.

Quanto à indivisibilidade dos direitos humanos, a Constituição de 1988 é a primeira Carta

brasileira que integra, ao elenco dos direitos fundamentais, os direitos sociais, que nas

Cartas anteriores restava espraiados no capítulo pertinente à ordem econômica e social. A

Carta de 1988, assim, foi a primeira a explicitamente prescrever que os direitos sociais são

direitos fundamentais, sendo pois inconcebível separar o valor liberdade (direitos civis e

políticos) do valor igualdade (direitos sociais, econômicos e culturais).

Conclui-se, portanto, que a Constituição brasileira de 1988 endossa, de forma

explícita, a concepção contemporânea de cidadania, afinada com as novas exigências da

democracia e fundada no duplo pilar dauniversalidade e indivisibilidade dos direitos

humanos.

6. EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: RESPONSABILIDADE DE TODOS

Por fim, é necessário tecermos algumas palavras sobre o papel da educação no

processo de solidificação dos direitos humanos e da cidadania, cujo fundamento também

se encontra no texto constitucional brasileiro.

A Constituição de 1988, ao consagrar a universalidadee indivisibilidade dos

direitos humanos, também entrega ao Estado e ao cidadão – de forma implícita – a tarefa

de educar (dever) e ser educado (direito) em direitos humanos e cidadania. Somente com

a colaboração de todos os partícipes da sociedade e do Estado, é que os direitos humanos

fundamentais alcançarão a sua plena efetividade. O papel de cada um na construção

desta nova concepção de cidadania é fundamental para o êxito dos objetivos desejados

pela Declaração Universal de 1948 e pela Carta Constitucional brasileira.

A educação em direitos humanos deve se dar de uma forma tal que os princípios

éticos fundamentais que o cercam, sejam para todos nós – membros da coletividade – tão

naturais como que o próprio ar que respiramos. A consolidação da cidadania, em sua

forma plena, deve ser o fator principal da criação de uma cultura em direitos humanos. A

Declaração Universal de 1948, a esse propósito, deixa bem claro que: "A instrução [leia-

se: educação] será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade

humana e do fortalecimento e do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades

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fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre

todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações

Unidas em prol da manutenção da paz" (Artigo XXVI, 2.ª alínea).

E foi seguindo esta trilha traçada pela Declaração Universal, que a Carta

brasileira de 1988 estatuiu, no seu art. 205, que a "educação, direito de todos e dever do

Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,

visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e

sua qualificação para o trabalho". Assim o fazendo, conjugou a Constituição, de forma

expressa, os "direitos humanos", a "cidadania" e a "educação", como querendo significar

que não há direitos humanos sem o exercício pleno da cidadania, e que não há cidadania

sem uma adequada educação para o seu exercício. De forma que, somente com a

interação destes três fatores – direitos humanos, cidadania e educação – é que se poderá

falar em um Estado Democrático assegurador do exercício dos direitos e liberdades

fundamentais decorrentes da condição de ser humano.

Como se vê, é também papel da educação o preparo para o exercício

da cidadania, considerada aqui no seu sentido amplo, cuja consagração está

assegurada tanto constitucionalmente, no âmbito do direito interno, quanto

internacionalmente, no contexto dos instrumentos internacionais de proteção

dos direitos humanos.

Enfim, a efetiva proteção dos direitos humanos – nas palavras de

Dyrceu Aguiar Dias Cintra Junior – "depende em muito de um processo

educacional capaz de formar novas gerações que se envolvam, desde cedo, no

compromisso ético com o tema".(24)

E o que também dizem as sábias palavras do mestre André Franco

Montoro, em mais uma de suas lições de extremada felicidade:

"Não basta ensinar direitos humanos. É preciso lutar pela sua

efetividade. E, acima de tudo, trabalhar pela criação de uma cultura prática

desses direitos".(25)

A falta de uma cultura em direitos humanos destrói, pois, todo o

referencial ético e principiológico galgado ao longo deste mais de meio século

da proclamação da Declaração Universal de 1948, inobstante o alto preço pago

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por toda a comunidade internacional para a consagração desses direitos, bem

como para a sua efetiva positivação em diversos instrumentos internacionais

de proteção. A conseqüência mais dramática disso, consiste no fato de ser

toda a sociedade levada à irreflexão acerca da produção do mal em massa (de

que foi exemplo, dentre outros, o genocídio cometido durante o período

nazista) e na conseqüente falta de um mínimo de senso político e de espírito

crítico por parte dos indivíduos que a compõe.(26)

A tarefa de implementar os direitos humanos através da educação é,

assim, dever de todos – cidadãos e governo. A educação em direitos humanos,

pois, deve se dar de forma a que os princípios éticos fundamentais que os

cercam sejam assimilados por todos nós, passando a orientar as ações das

gerações presentes e futuras, em busca da reconstrução dos direitos humanos

e da cidadania em nosso país.

Somente assim é que o exercício da cidadania e o respeito aos direitos

humanos estarão completos e definitivamente assegurados.

7. CONCLUSÕES

I – A idéia de cidadania surgiu como querendo significar a qualidade do

indivíduo a que se atribuíam direitos políticos de votar e ser votado. Falava-se,

então em cidadãos ativos, que gozavam de direitos políticos, e em cidadãos

inativos, destituídos dos direitos de eleger e ser eleito.

Assim, Homem e Cidadão recebiam significados distintos. OCidadão teria

um plus em relação àquele, consistente na titularidade de direitos na ordem

política.

II – Em virtude do processo de internacionalização dos direitos

humanos, iniciado com a elaboração da Declaração Universal de 1948, esta

idéia vai sendo gradativamente modificada, passando a considerar-

se cidadãos, todos aqueles que habitam o âmbito da soberania de um Estado e

deste Estado recebem direitos e deveres.

III – Começou-se, a partir daí, a testemunhar-se uma crescente

evolução na identidade de propósitos entre o Direito Interno e o Direito

Internacional, no que respeita à proteção dos direitos humanos. Os direitos

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humanos passaram, então, com o amadurecimento evolutivo desse processo,

a transcender os interesses exclusivos dos Estados, para salvaguardar,

internamente, os interesses dos seres humanos protegidos, afastando-se de

vez, o velho e arraigado conceito de soberania estatal absoluta, que

considerava como sendo os Estados os únicos sujeitos de direito internacional

público.

IV – O "direito a ter direitos", segundo a terminologia de Hannah

Arendt, passou, então, a ser o referencial primeiro de todo este processo

internacionalizante. Aflorou-se, então, todo um processo de internacionalização

dos direitos humanos, criando uma sistemática internacional de proteção,

mediante a qual se torna possível a responsabilização do Estado no plano

externo, quando, internamente, os órgãos competentes não apresentarem

respostas satisfatórias na proteção desses mesmos direitos.

V – O Direito Internacional dos Direitos Humanos, como novo ramo do

Direito Internacional Público, emerge com princípios próprios, autonomia e

especificidade, sendo característica de suas normas a expansividade

decorrente da abertura tipológica de seus enunciados. Libertou-se, de vez, a

rígida distinção até então existente entre Direito Público e Direito Privado,

libertando-se dos seus clássicos paradigmas.

VI – Os direitos humanos passaram, então, a fundar-se nos pilares

da universalidade e indivisibilidade, consagrados pela Declaração universal de

1948 e reiterado pela Segunda Conferência Mundial de Direitos Humanos,

realizada em Viena, no ano de 1993. Compreendeu-se, enfim, que o

relativismo cultural não pode ser invocado para justificar violações aos direitos

humanos internacionalmente consagrados. Ficou superada a dicotomia até

então existente entre "categorias de direitos" (civis e políticos de um lado;

econômicos, sociais e culturais, de outro), historicamente incorreta e

juridicamente infundada, porque não há hierarquia quanto a esses direitos,

estando todos eqüitativamente balanceados, em pé de igualdade.

VII – A Constituição brasileira de 1988, marco fundamental do processo

de institucionalização dos direitos humanos no Brasil, recebe os tratados

internacionais de proteção dos direitos humanos

com índole e nívelconstitucional, além de dar aplicação imediata às suas

normas devidamente incorporadas. A abertura do sistema se deu no art. 5.º, §

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2.º, que dispõe: "Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não

excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou

dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja

parte".

VIII – Assim, tendo tais tratados ingressado pela porta de entrada do §

2.º do art. 5.º da Carta Magna de 1988, passam eles, da mesma forma que

aqueles direitos garantidos no texto constitucional: a) a estar dentro dos

fundamentos da República Federativa do Brasil (art. 1º, inc. II a V); b) a

permear os objetivos fundamentais do Estado brasileiro (art. 3º, inc. I, III e

IV); c) a ser diretrizes que regem as relações internacionais da República

Federativa do Brasil (art. 4º, inc. II), e; d) a constituírem cláusula pétrea do

texto constitucional (art. 60, § 4º, inc. IV), dando lugar à intervenção federal em

caso de sua não-observância (art. 34, inc. VII, b).

IX – A Constituição de 1988 abandona o velho conceito

de cidadania ativa e passiva, incorporando em seu texto a concepção

contemporânea de cidadania introduzida pela Declaração Universal de

1948 e reiterada pela Conferência de Viena de 1993. A Carta de 1988

endossa esse novo conceito de cidadania, que tem na dignidade da pessoa

humana sua maior principiologia e racionalidade, consagrando-se de uma vez

por todas, os pilares universais dos direitos humanos contemporâneos.

X – A universalidade dos direitos humanos consolida-se, na

Constituição de 1988, a partir do momento em que ela consagra a dignidade da

pessoa humana como núcleo informador da interpretação de todo o

ordenamento jurídico, tendo em vista que a dignidade é inerente a toda e

qualquer pessoa, sendo vedada qualquer discriminação. Quanto à

indivisibilidade dos direitos humanos, a Constituição de 1988 integra, ao elenco

dos direitos fundamentais, os direitos sociais, que nas Cartas anteriores

restavam espraiados no capítulo pertinente à ordem econômica e social.

XI – A Constituição brasileira de 1988 endossa, portanto, de forma

explícita, a concepção contemporânea de cidadania, afinada com as novas

exigências da democracia e fundada no duplo pilar

da universalidade e indivisibilidadedos direitos humanos.

XII – A tarefa de implementar os direitos humanos através da educação

é dever de todos – cidadãos e governo. A educação em direitos humanos, pois,

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deve se dar de forma a que os princípios éticos fundamentais que o cercam

sejam assimilados por todos nós, passando a orientar nossas ações, em busca

da reconstrução dos direitos humanos em nosso país. Só assim é que o efetivo

exercício da cidadania e o respeito aos direitos humanos estarão completos.

NOTAS

1. O dicionarista Pedro Nunes, assim define o cidadão: "Pessoa que

goza dos direitos civis e políticos de um Estado, devendo, entretanto,

obrigações atinentes aos mesmos. Cidadão brasileiro – nacional que usufrui

esses direitos; o estrangeiro, quando naturalizado. Tal qualidade pode também

verificar-se pelo jus soli, quando a pessoa nascida num Estado toma

nacionalidade deste, ou em virtude do jus sanguinis, se se origina por vínculo

de sangue e neste caso o filho segue a nacionalidade dos pais. O

qualificativo cidadão é empregado nos países de regime republicano.

Corresponde a súdito, termo usado nos Estados monárquicos. No passado,

apenas os ricos e nobres eram considerados cidadãos em alguns Estados, e,

noutros, excluíam também as mulheres. Diz-se também do habitante de uma

cidade. Citadino." (Dicionário de tecnologia jurídica, p. 173).

2. Cf. José Afonso da Silva. "Faculdades de Direito e construção da

cidadania", p. 138-139.

3. José Afonso da Silva. Idem, p. 139.

4. Cf. José Afonso da Silva. Idem, ibidem.

5. Nas palavras de Loraine Slomp Giron: "Hegel demonstra que na

nova sociedade o indivíduo não nasce cidadão, para tornar-se cidadão ele

deve participar do mundo do trabalho. No mundo do trabalho livre a cidadania

só é conquistada por aquele que pode participar da produção. Os que estão

fora dos setores produtivos são apenas indivíduos e não cidadãos: condição de

produtor e de participante de uma corporação (sindicato) é que garante ao

homem sua condição de membro de um estado (sic), portanto de cidadão. O

enfraquecimento do Estado Nacional corresponde – de uma certa forma – ao

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enfraquecimento da cidadania. O surgimento dos Mega Estados renova a

dicotomia entre os direitos do indivíduo e do Estado. A antiga querela sobre o

confronto entre o indivíduo e o estado (sic), que ocupou o pensamento

iluminista, volta a atualidade. Na Comunidade Européia os cidadãos dos

pequenos países – como os gregos e os portugueses – terão os mesmos

direitos que os dos grandes países como aos da França e da Inglaterra?

Dentro do NAFTA os cidadãos mexicanos terão os mesmos direitos que os

norte-americanos? Ou alguns serão mais cidadãos que os outros?" (Prefácio

ao livro de Charles Antonio Kieling, Manifesto da cidadania, p. 14).

6. Nas palavras de André Franco Montoro, a barbárie cometida durante

o período nazista "provocou a revolta da consciência mundial e a constituição

de um Tribunal Internacional, em Nuremberg, para julgar os crimes contra a

humanidade, violadores dos fundamentos éticos da vida social. E deu origem

ao movimento impulsionado pelas aspirações da população de todo mundo,

culminando com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que constitui

um dos documentos fundamentais da civilização contemporânea. A Declaração

abre-se com a denúncia histórica dos ‘atos bárbaros, que revoltam a

consciência da humanidade’. E afirma solenemente como valores universais,

os direitos humanos básicos, como o direito à vida, à liberdade, à segurança, à

educação, à saúde e outros, que devem ser respeitados e assegurados por

todos os Estados e por todos os povos" ("Cultura dos Direitos Humanos", p.

23).

7. Flávia Piovesan. Direitos humanos e o direito constitucional

internacional, 4.ª ed., p. 129.

8. José Afonso da Silva. "Impacto da Declaração Universal dos Direitos

Humanos na Constituição brasileira de 1988", p. 190-191.

9. Como destaca Carlos Weis: "A recente sistematização dos direitos

humanos em um sistema normativo internacional, marcada pela proclamação

da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Assembléia-Geral das

Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, representa tanto o ponto de

chegada do processo histórico de internacionalização dos direitos humanos

como o traço inicial de um sistema jurídico universal destinado a reger as

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relações entre os Estados e entre estes e as pessoas, baseando-se na

proteção e promoção da dignidade fundamental do ser humano" (Direitos

humanos contemporâneos, p. 21).

10. Cf. Ana Flávia Barros-Platiau e Ancelmo César Lins de Góis.

"Direito internacional e globalização", p. 35.

11. Ana Flávia Barros-Platiau e Ancelmo César Lins de Góis. Idem,

ibidem.

12. Cf. Flávia Piovesan. Temas de direitos humanos, p. 31-32. O Prof.

José Afonso da Silva, a esse respeito, leciona: "Em face dessa diversificação,

cabe, desde logo, uma observação geral, qual seja: a de que tanto os tratados

regionais como os destinados a proteger especialmente determinadas

categorias de pessoas ou situações especiais são complementares aos

tratados gerais de proteção dos direitos humanos. Não existem normas

regionais de direitos humanos, mas apenas acordos regionais para verificar a

aplicação de normas internacionais – observa Cristina M. Cerna" ("Impacto da

Declaração Universal dos Direitos Humanos na Constituição brasileira de

1988", p. 196).

13. Cf. Ana Flávia Barros-Platiau e Ancelmo César Lins de Góis.

"Direito internacional e globalização", p. 37.

14. Cf. Carlos Weis. Op. cit., p. 40-41.

15. Carlos Weis. Idem, p. 43-44.

16. José Afonso da Silva. "Impacto da Declaração Universal dos

Direitos Humanos na Constituição brasileira de 1988", p. 196.

17. Cf. José Afonso da Silva. Idem, p. 196-197.

18. Cf. José Afonso da Silva. Idem, p. 193-194.

19. Compõem os direitos políticos, na Carta de 1988, os direitos de

votar e ser votado, de referendo, plebiscito e iniciativa popular das leis (CF, art.

14, incs. I, II e III). A soberania popular é exercida pelo sufrágio universal e pelo

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voto direto e secreto, com valor igual para todos. O plebiscito consiste na

prévia consulta ao povo (eleitorado) sobre a viabilidade de determinado projeto

de lei ou medida administrativa. Compete ao Congresso Nacional a sua

autorização bem como a do referendo (CF, art. 49, XV). Foi exemplo de

plebiscito a oportunidade de escolha entre república e monarquia, que se deu

no dia 7 de setembro de 1993 (art. 2.º, do ADCT, EC n.º 02). Já no referendo a

consulta ao povo é posterior à adoção de determinada medida pelo governo ou

à edição de uma lei. Aqui, o eleitorado, depois de editada a medida, é chamado

para ratificá-la ou lhe retirar a eficácia, por meio do voto. Por fim, a iniciativa

popularconsiste na apresentação, pelo povo, de projeto de lei à Câmara dos

Deputados subscrito, por nomínimo, um por cento do eleitorado nacional,

distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por

cento dos eleitores de cada um deles (CF, art. 61, § 2.º). O plebiscito, o

referendo e a iniciativa popular são regulados pela Lei n.º 9.709, de 18 de

novembro de 1988.

20. Da mesma forma, os seguintes dispositivos: "Art. 58. O Congresso

Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias,

constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento

ou no ato de que resultar sua criação. § 2º - Às comissões, em razão da

matéria de sua competência, cabe: solicitar depoimento de qualquer autoridade

ou cidadão (inc. V)."; "Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias

cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado

Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo

Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República

e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição."; "Art. 74, §

2º. Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima

para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o

Tribunal de Contas da União."; "Art. 89. O Conselho da República é órgão

superior de consulta do Presidente da República, e dele participam: VII -

seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade,

sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado

Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três

anos, vedada a recondução."; "Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos

Territórios, e os Estados criarão: II - justiça de paz, remunerada, composta

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de cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de

quatro anos e competência para, na forma da lei, celebrar casamentos,

verificar, de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo de

habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além

de outras previstas na legislação."; "Art. 101. O Supremo Tribunal Federal

compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e

cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e

reputação ilibada."; e, finalmente: "Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a

instituição que, diretamente ou através de órgão vinculado, representa a União,

judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei complementar que

dispuser sobre sua organização e funcionamento, as atividades de consultoria

e assessoramento jurídico do Poder Executivo. § 1º - A Advocacia-Geral da

União tem por chefe o Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo

Presidente da República dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de

notável saber jurídico e reputação ilibada."

21. José Afonso da Silva. "Faculdades de Direito e construção da

cidadania", cit., p. 141.

22. José Afonso da Silva. Idem, p. 142.

23. Cf. Carla Rodrigues & Herbert de Souza. Ética e cidadania (coleção

polêmica). São Paulo: Editora Moderna, 1994. Para Charles Antonio Kieling: "A

cidadania e, conseqüentemente, o bem comum só existem quando o Estado, o

mantenedor da organização social, preserva a sobrevivência, sem distinção,

desde o mais vulnerável ser até o mais apto, regulamentando as ações. A

cidadania exige a perfeita sintonia entre os Poderes e o Povo, entre as

diferentes classes e faixas etárias e entre as diferentes etnias. E do conjunto

maior sairá a vitória da Democracia" (Manifesto da cidadania. Caxias do Sul:

Maneco Livraria & Editora, 2001, p. 100).

24. Dyrceu Aguiar Dias Cintra Junior. "O judiciário brasileiro em face

dos direitos humanos", p. 32-33.

25. André Franco Montoro. "Cultura dos Direitos Humanos", p. 28.

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26. Nas palavras de Charles Antonio Kieling: "Se, no passado, o Senso

político significou para o homem perceber a natureza como um todo, entendê-

la, dominá-la e ao mesmo tempo perceber que era necessário defender-se de

suas adversidades a fim de tirar proveito dela, hoje significa perceber o

conjunto social. Muito mais complexo que um Senso Político contra a natureza

animal é desenvolver um Senso político contra as várias formas de dominação

que oprimem o seu humano dentro do ‘tecido’ social. É necessário um novo

despertar do Senso Político. Os seres humanos oprimidos e dominados

precisam perceber o conjunto social que, estruturalmente, legou-lhes a posição

que ocupam na organização social. Uma nova revolução do Senso político é

que possibilitará à humanidade reorganizar-se estruturalmente de forma

diferente das sociedades de hoje, pois acelera-se, cada vez mais, a percepção

holística dos que compõem a sociedade, possibilitando que os líderes percam

seu poder centralizador para as decisões das ‘massas populares’" (Manifesto

da cidadania, cit., p. 39).

BIBLIOGRAFIA

Arendt, Hannah. Entre o passado e o futuro, 5.ª ed. São Paulo: Editora

Perspectiva, 2000.

________. A condição humana, 7.ª ed. Rio: Forense Universitária, 1995.

Barros-Platiau, Ana Flávia & Góis, Ancelmo César Lins de. "Direito internacional e

globalização". In: Revista Cidadania e Justiça da Associação dos Magistrados Brasileiros,

ano 4, n.º 8, p. 27-42, 1.º semestre de 2000.

Cançado Trindade, Antônio Augusto. A proteção internacional dos direitos

humanos: fundamentos jurídicos e instrumentos básicos. São Paulo: Saraiva, 1991.

________. "Direito internacional e direito interno: sua interpretação na proteção

dos direitos humanos". In:Instrumentos internacionais de proteção dos direitos humanos,

obra cuja qual o autor prefacia. São Paulo: Centro de Estudos da Procuradoria Geral do

Estado, 1996.

Cintra Junior, Dyrceu Aguiar Dias. "O judiciário brasileiro em face dos direitos

humanos". In: Justiça e democracia: revista semestral de informação e debate, n.º 2, p. 10-

33, jul./dez. 1996 – ano 1 (publicação oficial da Associação Juízes para a Democracia).

São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, segundo semestre de 1996.

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http://dx.doi.org/10.1590/S0104-40362008000100007

Políticas públicas educacionais: antigas reivindicações, conquistas (Lei 10.639) e novos desafios

*

Sônia Querino dos Santos e SantosI; Vera Lúcia de Carvalho Machado

II

IMestra em Educação pela PUC-Campinas, Pesquisadora e Consultora sobre temas pertinentes às Questões Raciais. E-mail: [email protected] IIDoutora em Educação pela UNICAMP; coordenadora do Programa de Pós-Graduação em

Educação da PUC- Campinas

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RESUMO

O artigo "Políticas públicas educacionais: antigas reivindicações, conquistas (lei 10.639) e novos desafios" tem por base a dissertação de mestrado "População negra, relações inter-raciais e formação de educadoras/es: PENESB (1995-2007)", defendida por Sônia Querino dos Santos e Santos na PUC-Campinas em dezembro de 2007. Pretende considerar como o processo de identificação é construído no plano simbólico, nas opções curriculares, nas metáforas interditas que permeiam as idéias pré-concebidas que carregamos, pois nem sempre o diferente que vemos nos encanta, pelo contrário, muitas vezes, nos desafia e nos faz revisar nossas opções individuais e nossos valores.

Palavras-chave: Pertencimento. Diversidade étnico-racial. Práticas pedagógicas emancipatórias. Formação de educadoras/es.

A Constituição de 1988 representa um marco para a construção de uma sociedade inclusiva. As mudanças na Constituição política são reflexos da correlação de forças entre grupos que disputam o poder, neste, os movimentos sociais - negros e indígenas em especial- ganham relevância por assumirem a luta contra a opressão recebida em virtude de suas diferenças étnico-raciais e culturais. (SILVÉRIO, 2005, p. 88).

Embora inseridas no atual contexto de incertezas e múltiplas escolhas, vemos igualmente importante repensar os paradigmas, bem como, questionar as representações sociais, políticas e religiosas que perpassam o consciente coletivo dos grupos sociais. Dessa maneira, não obstante o contexto neoliberal globalizador, o processo de desconstrução das "verdades estabelecidas" se dá em ambiente de inconformidade a partir do qual os movimentos reivindicatórios vêm mostrando a resistência de africanas/os e seus descendentes que não se submeteram ao sistema escravista, mas que se rebelaram contra a monocultura mental

1 intrínseca à globalização.

Porquanto, a partir das duas últimas décadas do século XX, os movimentos sociais passam a expressar suas reivindicações em vista de coibir o tratamento discriminatório que recebem no seu cotidiano. Entre eles, encontram-se as reivindicações do movimento social negro na busca do reconhecimento da imensa contribuição da cultura de matriz africana, presente em nosso cotidiano, porém mal interpretada, estereotipada, bem como, banalizada e relegada ao fetichismo e à demonização pelas práticas pedagógicas e religiosas. Nesse contexto, as entidades de resistência negra surgem no interior de um caminho histórico, buscando respostas para cada período de dominação e exclusão.

Considerando o cenário brasileiro da harmonização racial, integrantes dos grupos do Movimento Negro são consensuais quanto à necessidade de repensar algumas noções e conceitos paradigmáticos incorporados no imaginário social. Dessa maneira, a luta pela liberdade é concebida como uma evolução da cidadania.

A ampliação da liberdade, para grupos socialmente excluídos, passa necessariamente pela identificação, por um lado, dos fatores sociais que são geradores e ou causadores da forma de exclusão e, por outro lado, pela identificação dos tipos de ações concretas e quais instituições sociais podem atuar de forma que se impeça sua reprodução. Uma das principais instituições sociais, considerada por muitos a instituição-chave das sociedades democráticas, é a escola,

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que sempre aparece como a que é capaz de preparar cidadãos e cidadãs para o convívio social. (SILVÉRIO, 2006, p. 7).

Denunciando a desigualdade racial existente no Brasil os movimentos sociais, na segunda metade do século XX, denominados identitários provocaram o debate sobre o lugar da diversidade e da diferença cultural no Brasil contemporâneo. Acreditamos que todas as dimensões da realidade estão articuladas e permeadas de saberes e, em nossa sociedade, a grande maioria dos saberes das culturas que constituem nosso jeito de viver tem origens no legado das civilizações africanas reelaboradas na dinâmica do dia-a-dia de nossas vidas, embora haja profundo desconhecimento e ausência da história e da saga africana no Brasil na educação de nível básico e nos níveis superiores de graduação e pós-graduação.

Por isso, quando se pensa no conhecimento, na pesquisa e na formação de uma intelectualidade no país, estamos já há algum tempo assumindo, não só no movimento negro, o papel de co-responsáveis pelas rupturas epistemológicas que levam um outro olhar para incluir a busca de nossas raízes, e as contribuições subjacentes às mesmas. Haja vista, os estudos sobre relações étnico-raciais e educação que têm contribuído para uma melhor compreensão dos jogos sociais e culturais que formam o tecido desigual de nossa sociedade.

É a partir da década de 70 que se inicia uma nova fase de pesquisa, cujos temas focalizam a posição dos negros na sociedade brasileira. Essas pesquisas, principalmente no âmbito das ciências sociais, enfatizavam aspectos relacionados à construção da identidade negra a partir do processo de modernização, bem como a interpretação criativa dos legados histórico-simbólico-educacionais oriundos do continente africano, recriados e reelaborados nos países afrodescendentes. Entre esses, o Brasil, seguido do Haiti, é alvo de pesquisa devido ao alto índice de africanas/os para cá trazidos na condição de escravos.

Considerando que nos tempos atuais, como muito se discute sobre a fragmentação e desumanização dos seres humanos, é importante perceber que as hegemonias dominantes não só institucionalizaram as epistemologias peculiares aos saberes considerados científicos, como também impuseram a monocultura mental aos "restantes", "os outros", aos "dissidentes", àqueles cujos saberes são "primitivos" e "anticientífico". De acordo com Shiva (2003, p.25)

A linearidade fragmentada do saber dominante rompe as interações entre os sistemas. O saber local resvala pelas rachaduras da fragmentação. É eclipsado como o mundo ao qual está ligado. Desse medo, o saber científico dominante cria uma monocultura mental ao fazer desaparecer o espaço das alternativas locais, de forma muito semelhante à das monoculturas de variedades de plantas importadas, que leva à substituição e destruição da diversidade local. O saber dominante também destrói as próprias condições para a existência de alternativas, de forma muito semelhante à introdução de monoculturas, que destroem as próprias condições de existências de diversas espécies.

As tentativas de invisibilizar a/o negra/o são tão sutis e refinadas que educadoras/es militantes dos movimentos negros têm investido esforços de pesquisa sobre as temáticas de discriminação e desvalorização da/o negra/o em espaços interativos, como a escola. Portanto, o respeito às diferenças implica uma reciprocidade na igualdade de relações.

Porquanto, uma breve retrospectiva dos avanços do movimento negro permite encontrarmos a aprovação da Lei 10.639 (BRASIL, 2003), em 09 de janeiro de 2003, que altera a Lei nº 9.394 (BRASIL, 1996), de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e cultura afro-brasileira". Haja vista, os inúmeros desafios encontrados para a implementação da Lei 10.639/03 podemos afirmar que as articulações em vista do reconhecimento de ser cidadão/cidadã na sociedade brasileira, seguem um ritmo histórico e, por vezes, algumas iniciativas antecedem, o "estabelecido por Lei", haja vista os trabalhos de

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conscientização desenvolvidos à margem dos espaços escolares por militantes dos movimentos negros.

Portanto, no contexto das diversas culturas, as diferenças e semelhanças foram ganhando significados distintos. Assim, a questão de pertencimento racial deve ser considerada no seu aspecto mais amplo, considerando principalmente a construção social, histórica, política e cultural das diferenças.

Embora a diversidade cultural esteja presente em todas as sociedades, a questão racial no Brasil localiza-se num amplo e complexo campo, cujo interesse não é algo particular às pessoas que se identificam a esse grupo étnico-racial, ou a militantes dos movimentos negros, antes, é uma questão pertinente a toda a sociedade brasileira e toda a humanidade.

Por isso, para compreender a relação raça e etnia algumas estudiosas/os adotam a expressão "étnico-racial", na tentativa de abarcar tanto a dimensão cultural (linguagem, tradições, ancestralidade), quanto as características raciais visivelmente observáveis, tais como cor da pele, tipo de cabelo, entre outros.

A tensão entre um ideário anti-racista, que corretamente negava a existência biológica das raças, e uma ideologia nacional, que negava a existência do racismo e da discriminação racial, acabou por se tornar insuportável pelos fatos. É justamente a partir daí que aparece a necessidade de teorizar as "raças" como o que elas são, ou seja, construtos sociais, formas de identidades baseadas numa idéia biológica errônea, mas eficaz, socialmente, para construir, manter e reproduzir diferenças e privilégios.

Se as raças não existem num sentido estritamente realista da ciência, ou seja, se não são um fato do mundo físico, são, contudo, plenamente existentes no mundo social, produtos de formas de classificar e de identificar que orientam as ações humanas (GUIMARÃES, 1999, p. 67).

Tomadas em conjunto, as três escolas do pensamento racista (etnológico-racista; escola histórica; darwinismo-social) influenciaram sobremodo os brasileiros que se davam ao trabalho de pensar sobre o problema racial. Para Skidmore(1976), o Brasil era vulnerável às doutrinas racistas, uma vez que tais doutrinas eram parte vital da civilização norte-americana tão ardentemente admirada. Nesse sentido, quanto mais os brasileiros tomavam conhecimento das últimas idéias geradas da Europa, tanto mais ouviam falar da inferioridade do negro e do índio.

Consequentemente, o processo de construção da identidade negra em uma sociedade como a brasileira passa pelo reconhecimento e pertencimento. E, reconhecer-se ou assumir-se negro no Brasil é uma decisão de coragem, pois quem quer ser considerado "feio" e portador de uma cultura "inferior"? Tais inquietações estão enraizadas no imaginário de negros e não-negros, como conseqüências das representações sócio-político-culturais e significações do que é ser negro no Brasil? Assim, a representação do "ser negro" foi marcada pela significação de quem é superior e de quem é inferior.

Nesse contexto, ser negro possui vários significados, que resulta da escolha da identidade racial que tem a ancestralidade africana como origem, ou seja, assumir-se negra/ negro no Brasil é, essencialmente, um posicionamento político.

Assumir a identidade racial negra em um país como o Brasil é um processo extremamente difícil e doloroso, considerando-se que os modelos "bons", "positivos" e de "sucesso" de identidades negras não são muitos e o respeito '.a diferença em meio '.a diversidade de identidades raciais/ étnicas inexiste (OLIVEIRA, 2004, p. 57).

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Conseqüentemente, no "país mestiço", chamado Brasil, ser negra/ ser negro, além de uma questão de coragem, é uma escolha de identidade: a da ancestralidade africana, que como atenta Silva (2005, p. 44) defendendo a idéia do filósofo Steve Biko, líder assassinado no combate ao apartheid da África do Sul: "ser negro não é uma questão de pigmentação; ser negro é reflexo de uma atitude mental". Portanto, auto-declarar-se negro/negra é essencialmente, um posicionamento político.

No rol das reivindicações e conquistas, a temática sobre desigualdade racial passou a interessar à imprensa oficial brasileira, em função da III Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada em 2001, período no qual passou a divulgar mais informações sobre a questão racial brasileira.

A partir da Conferência em Durban/ África do Sul, a questão racial reveste-se de grande complexidade, embora a Constituição de 1988 tenha deixado explícita a idéia de igualdade em todos os sentidos, afirmando inequivocamente a isonomia racial (art. 5º, caput) incriminando firmemente a prática do racismo (art. 5º, XLII)

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei. (BRASIL,1988).

No Brasil a exclusão social de que os negros são as principais vítimas deriva, sobretudo, da má distribuição de recursos públicos, principalmente, no âmbito da educação. Para Gomes (2005, p. 58-59):

[...] a educação é a mais importante dentre as diversas prestações que o indivíduo recebe ou tem legítima expectativa de receber do Estado. Trata-se, de um bem escasso [...].

Agir2 "afirmativamente" significa ter consciência do problema e tomar decisões coerentes com o

imperativo indeclinável de remedia-los. Além de vontade política, que é fundamental, é preciso entender que a questão é de vital importância para que o País se imponha no cenário internacional e ocupe o espaço, a posição e o respeito que a sua história, o seu povo, suas realizações e o seu peso político e econômico recomendam.

Embora, a utilização do conceito de raça suscite críticas, devido a seus antecedentes históricos e acadêmicos, a categoria raça foi e continua sendo uma categoria central para a formulação e definição de políticas públicas de Educação. Brota desse impasse uma pergunta: se para as ciências biológicas raça está superado, por que a insistência, em particular do movimento negro, em usá-lo como um paradigma da luta contra a opressão de base racial/étnica, ou seja, do racismo?

Em resposta, crê-se que

[...] o uso da categoria "raça" pelo movimento negro justifica-se por questões políticas, já que o racismo existe e é uma prática que tem por base não apenas a existência das raças, mas que as "não-brancas" são inferiores. (OLIVEIRA, 2004,p. 59).

Para Guimarães (2006) a América Latina passou por ampla reforma constitucional a partir dos anos 1990 e, isso explica a reconstrução do Estado democrático de direito depois das duas décadas de autoritarismo, de meados de 1960 até meados da década de 1980. Nesse sentido,

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as reformas constitucionais no que toca às diversidades raciais, trouxeram como novidade a concepção de sociedades e nações pluriétnicas e multiculturais.

Reestabelecida a vida democrática em 1985, o Estado tentará por um curto tempo restabelecer o antigo jogo de classes, tentando relacionar-se com os novos movimentos sociais a partir dos partidos políticos, da ampliação do seu próprio aparelho e do aggiornamiento de sua legislação (GUIMARÃES, 2006, p. 277).

E reitera alguns avanços e conquistas, tais como, a criação da Fundação Cultural Palmares, em 1988, e a instituição de Zumbi como herói nacional, como também a criminalização do racismo, regulamentada pela lei 7.716 de 1989 (BRASIL, 1989); enquanto marcos simbólicos.

Haja vista, o cenário sociopolítico e histórico do Brasil foi marcado por intenso trabalho e articulação do movimento negro que, a partir de 1985, organizou encontros municipais e estaduais com o objetivo de refletir a participação do negro no processo constituinte. Entre esses, destaca-se o Primeiro Encontro Estadual "O negro e a constituinte", realizado em julho de 1985 na Assembléia Legislativa de Minas Gerais.

As reflexões de 1986 culminaram na realização da Convenção Nacional "O negro e a Constituinte", da qual se originou um documento sintetizando os Encontros Regionais ocorridos em várias unidades da Federação que pautaram a importância e a reivindicação de que a Assembléia Nacional Constituinte (ANC) deveria proporcionar um espaço para atuação do movimento negro com objetivo de que a próxima Constituição Federal pudesse refletir as discussões até então realizadas por esse movimento.

Segundo documentos, uma das principais reivindicações apresentadas pelo movimento negro no âmbito da '.Subcomissão de negros, populações indígenas, pessoas deficientes e minorias

3', foi a educação, ou seja, a proposta de que o texto da Constituição Federal de 1988

afirmasse o compromisso da educação com o combate ao racismo e todas as formas de discriminação, com a valorização e respeito à diversidade assegurando a obrigatoriedade do ensino de história das populações negras do Brasil, como uma das condições para o resgate de uma identidade étnico-racial e a construção de uma sociedade plurirracial e pluricultural.

Essas propostas foram inicialmente aceitas na Assembléia Nacional Constituinte e inseridas no anteprojeto (BRASIL, 1987b) elaborado e aprovado nessa Subcomissão:

Art. 4º A educação dará ênfase à igualdade dos sexos, à luta contra o racismo e todas as formas de discriminação, afirmando as características multiculturais e pluriétnicas do povo brasileiro.

Art. 5º O ensino de "História das Populações Negras do Brasil" será obrigatório em todos os níveis da educação brasileira, na forma que a lei dispuser.

Ao ser submetido à Comissão Temática da Ordem Social(BRASIL, 1987a), sofre alteração,

Art. 85 O poder público reformulará, em todos os níveis, o ensino de história do Brasil, com o objetivo de contemplar com igualdade a contribuição das diferentes etnias para a formação multicultural e pluriétnica do povo brasileiro.

Por fim, aprovado na Comissão de Sistematização (BRASIL, 1987b)

Art. 242 O ensino de história do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e étnicas para a formação do povo brasileiro.

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A justificativa apresentada para a retirada dessa proposta do texto constitucional foi a de que, por se tratar de uma questão muito particular, deveria ser abordada em legislação complementar específica. No caso brasileiro, as mudanças em curso permitem levantar a hipótese de que vivemos numa transição de uma sociedade na qual a representação monocultural está dando lugar a uma representação social que cotidianamente se revela profundamente dinâmica e multicultural.

É neste cenário que o movimento social negro atuou intensamente no centenário da Abolição da Escravatura. Ocorreram eventos no Brasil inteiro, foram publicadas pesquisas com indicadores sociais e econômicos demonstrando que a população negra estava em piores condições que a população branca, comparando-se qualquer indicador: saúde, educação, mercado de trabalho, entre outros. Constroem-se com isso novos argumentos para romper com a idéia de que todos são tratados do mesmo modo no Brasil.

Em 1995, as manifestações comemorativas aos 300 anos da morte de Zumbi culminam com a Marcha de Zumbi dos Palmares

4 contra o racismo, pela cidadania e pela vida, na qual cerca de

10 mil negras e negros foram a Brasília com um documento (POR..., 1996) reivindicatório entregue ao então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Participaram dessa marcha, que aconteceu no dia 20 de novembro, uma segunda-feira, 30 mil ativistas negros vindos de todos os cantos do país. Naquele mesmo dia, integrantes da Executiva Nacional da Marcha Zumbi dos Palmares foram recebidos pelo então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, em rápida solenidade no Palácio do Planalto. Na ocasião, foi entregue ao presidente um documento com as principais reivindicações do Movimento Negro, denunciando o racismo, defendendo a inclusão dos negros na sociedade brasileira e apresentando propostas concretas de políticas públicas.

A construção da Marcha5 dos 300 anos contou com a participação de centenas de entidades

do Movimento Negro, espalhadas por todo o país, tendo também recebido o apoio de entidades sindicais, em especial às centrais nacionais de trabalhadores. A base da organização esteve sediada no Distrito Federal, sendo que o processo de mobilização foi intenso durante os quatro meses que antecederam a marcha.

De acordo com Santos (2005, p.15),

Sob pressão dos movimentos negros, em 1995, o atual presidente Fernando Henrique Cardoso iniciou publicamente o processo de discussão das relações raciais brasileiras, admitindo oficialmente pela primeira vez na história brasileira, que os negros eram discriminados. Apesar desse primeiro passo, o reconhecimento oficial do racismo no Brasil pode-se dizer que até agosto de 2000 o governo brasileiro não havia empreendido grandes esforços para que a discussão e implementação de ações afirmativas entrassem na agenda política e/ou nacional brasileira.

Por conseguinte, na formulação de políticas educacionais – quando se discute a definição de um modelo educacional à "nação" brasileira – é o conceito de raça que implicitamente é discutido e renegociado.

A discussão em torno das relações raciais no Brasil é marcada por uma tensão entre interpretações opostas: uma que afirma e valoriza a convivência harmoniosa entre brancos e não-brancos, expressa na ausência de conflito racial violento, e outra, que demonstra a existência do preconceito racial. Essa tensão está presente em todo o debate público sobre o "racismo"

6 brasileiro.

Afinal, o processo identitário da população brasileira é marcado por tensão, por quê? Nesse contexto necessitamos compreender o conceito de humanidade construído socialmente em

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vista de classificar os "recém-descobertos" – índios e negros, no qual, os europeus se perguntavam: esses "recém-descobertos" são seres humanos como nós? Como ponto de partida, explicitaremos os conceitos de raça e etnia e, em seguida, veremos as teorias racistas que influenciaram o pensamento científico brasileiro, bem como a classificação racial usada pelo Instituto Brasileiro Geográfico de Estudo (IBGE).

O trabalho de Guimarães revela-se de fundamental importância quando transitamos pelas concepções de raça e etnia. Considerando a amplitude e profundidade da sua produção sobre o tema, apresentamos a distinção entre os termos raça e etnia, visto que inúmeras vezes, estes são assumidos ou rejeitados por desconhecermos o contexto sociológico que redimensionou tais conceitos. O autor (GUIMARÃES, 2003, p. 93) inicia sua abordagem indicando a necessidade de "fazermos sempre uma distinção, nas Ciências Sociais, entre dois tipos de conceitos: os analíticos, de um lado, e os que podemos chamar de "nativos"; ou seja, trabalhamos com categorias analíticas ou categorias nativas."

No decorrer do texto sobre raça, o autor (GUIMARÃES, 2003, p. 99) nos diz

a idéia de raça, tal como a temos hoje, pressupõe uma noção chave para a ciência moderna - a de natureza imanente – segundo a qual da natureza emana um determinado caráter, uma determinada psicologia, uma determinada capacidade intelectual. A idéia científica de que a natureza se desenvolve propulsionada por seus próprios mecanismos internos é imprescindível para essa idéia moderna de raça. Feita essa distinção, não se pode negar que a palavra "raça" é anterior a esta idéia moderna. Mas trata-se então de uma idéia não científica, inteiramente teológica, que no Brasil, nos Estados Unidos e em outros lugares justificou a escravidão.

Portanto, no contexto das diversas culturas, as diferenças e semelhanças foram ganhando significados distintos. Assim, a questão de pertencimento racial deve ser considerada no seu aspecto mais amplo, considerando principalmente a construção social, histórica, política e cultural das diferenças.

Embora a diversidade cultural esteja presente em todas as sociedades, a questão racial no Brasil localiza-se num amplo e complexo campo, cujo interesse não é algo particular às pessoas que se identificam a esse grupo étnico-racial, ou a militantes dos movimentos negros, antes, é uma questão pertinente a toda a sociedade brasileira e a toda a humanidade.

Por isso, para compreender a relação raça e etnia algumas estudiosas/os adotam a expressão "étnico-racial", na tentativa de abarcar tanto a dimensão cultural (linguagem, tradições, ancestralidade), quanto as características raciais visivelmente observáveis, tais como cor da pele, tipo de cabelo, entre outros.

Segundo Hall (2003) "raça" é uma construção política e social. É a categoria discursiva em torno da qual se organiza um sistema de poder socioeconômico, de exploração e exclusão – ou seja – o racismo. Contudo como prática discursiva, o racismo possui uma lógica própria. Tenta justificar as diferenças sociais e culturais que legitimam a exclusão racial em termos de distinções genéticas e biológicas, isto é, na natureza.

Portanto, Stuart Hall (2003) entende "raça" como uma categoria organizadora das formas de falar, dos sistemas de representação e práticas sociais que utilizam um conjunto frouxo, freqüentemente pouco específico, de diferenças em termos de características físicas, correspondendo, portanto, a marcas simbólicas a fim de diferenciar um grupo de outro.

Para Seyferth (2001), na maioria das sociedades humanas a palavra raça evoca classificações de ordem física utilizadas para marcar diferenças de ordem social. Ou seja, o "significado biológico de raça é deformado por concepções errôneas acerca da hereditariedade, que levam

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à classificação e hierarquização de grupos e pessoas". Neste sentido, o que é apenas diferente torna-se desigual.

A noção de raça assume caráter ambíguo, por ser tomada como símbolo de diferenciação de grupos na sociedade, isto é, as características raciais têm função de signo de uma condição social inferior. Dois destes signos são particularmente enfatizados, a nível popular: a cor (da pele) e o sangue, tomados como metáfora da hereditariedade. Juntamente com eles, existe toda uma tendência reducionista nas sociedades multirraciais segundo a qual a raça determina a cultura e, por extensão, a civilização (SEYFERTH, 2001, p. 1).

A noção de raça tem, pois, relevância no sentido em que é usada para separar, na sociedade, as chamadas minorias. Como critério de diferenciação de grupos (étnicos), porém, nunca é unívoca. As minorias sejam elas raciais, nacionais ou étnicas, são tanto definidas por critérios exclusivos como inclusivos, e esses critérios comportam elementos que estabelecem uma especificidade cultural (simbólica ou não), racial, ambas, ou até outras.

Para a autora a raça em si, como conceito biológico, não é objeto de estudo das ciências sociais, porém, ao estudar as relações raciais não se pode prescindir do conceito de raça, científico ou popular - ainda que este seja carregado de preconceitos.

A utilização do termo "raça" pelo Movimento Negro e por diversas estudiosas/os não está alicerçada à idéia de que existam raças superiores e inferiores. Segundo Munanga e Gomes (2006, p. 175),

os grupos lançam mão do conceito, dando-lhe um outro significado, relacionado ao reconhecimento da diferença entre grupos humanos, sem atribuir qualidades positivas ou negativas, ao reconhecimento da condição das origens ancestrais e identidades próprias de cada um deles. Ou seja, ao utilizar o conceito raça negra no Brasil, denunciam o racismo, alertando para o fato de que aqueles classificados como negros (pretos, pardos, morenos e mulatos) estão expostos a condições de vida, educacionais e salariais extremamente desiguais quando comparados ao segmento branco da população brasileira.

Com relação ao termo "etnia", alguns intelectuais, educadoras(es) e acadêmicas(os) consideram seu conceito mais adequado por não carregar o sentido biológico atribuído à raça. Dessa forma, o termo é usado para se referir ao pertencimento ancestral e étnico-racial dos negros e outros grupos em nossa sociedade. Os que partilham dessa visão, entendem por etnia, segundo Munanga e Gomes (2006, p. 177),

um grupo possuidor de algum grau de coerência e solidariedade, compostos por pessoas conscientes, pelo menos em forma latente, de terem origens e interesses comuns. Um grupo étnico não é mero agrupamento de pessoas ou de setor da população, mas uma segregação consciente de pessoas unidas ou proximamente relacionadas por experiências compartilhadas.

Guimarães (1999, p. 67) afirma "se os negros considerarem que raças não existem, acabarão também por achar que eles não existem integralmente como pessoas, já que é como raça que são parcialmente percebidos e classificados por outros."

Ao situar o posicionamento de pesquisadoras/es, tendo a posicionar-me ao uso do termo raça, com as implicações dialético-crítica que o mesmo encerra. Creio ser importante o resgate do contexto histórico-sociopolítico no quais os termos foram elaborados, contudo, mais importante ainda, nos posicionarmos criticamente com relação ao uso dos termos em questão, ou seja, raça e/ou etnia.

Possivelmente os desafios atuais estejam nos impulsionando a tal posicionamento, mesmo considerando o "uso politicamente aceitável do termo etnia". Ou seja, na perspectiva em prol

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das relações inter-raciais, a opção política de um ou outro termo não nos fecha ao diálogo, ao contrário, motiva-nos para a discussão teórico-prática, fundamentada no rastro histórico-político-social no quais os termos foram cunhados.

Portanto, revela-se de fundamental importância pautarmos nossos "acordos e/ou desacordos" às questões que nos envolvem, enquanto cidadãs/os brasileiras/os, nos lastros de experiências em pesquisas e construção do conhecimento sobre essas realidades, a partir de procedimentos metodológicos que dêem conta de ler as especificidades criadas por estas diferenças.

Na luta por reconhecimento e implantação de políticas públicas que favoreçam os afro-descendentes, a trajetória da intelectualidade negra é marcada por articulações e lutas historicamente conhecidas contra o sistema colonial escravista, reivindicações pós-abolicionistas, organização dos quilombos, sobrevivência das religiões e culturas africanas.

De acordo com Siqueira (2006, p. 33-36) revisitando nosso passado, relembraremos algumas das iniciativas que interferiram na regulamentação da Lei 10.639/03 (BRASIL, 2003).

7 É,

justamente na década de 80 que irão eclodir várias experiências (ROSEMBERG; PINTO, 1987),

8 de alteração curricular, propondo a revisão curricular e à Inclusão da história e da

cultura do negro no currículo em diversos Estados do Brasil.

A partir do recorte descrito, podemos dizer que militantes do movimento negro propõem ir além da denúncia e partir para apresentação de propostas, pesquisas e formação de professores na luta contra a discriminação racial na escola. Gomes (1997) argumenta sobre o questionamento das políticas homogeneizadoras e sobre a necessidade de se repensar a estrutura excludente da escola de modo a garantir, a população excluída, o acesso e a permanência com êxito.

Pensar a educação brasileira do ponto de vista do povo negro é compreender que o processo de exclusão deste segmento étnico/racial não acontece somente em nível ideológico, que se faz notar na reprodução de estereótipos racistas nos livros didáticos, na baixa expectativa do professor em relação ao aluno negro, na veiculação de teorias racistas, na folclorização da cultura negra, mas também na existência de um sistema de ensino pautado em uma estrutura rígida e excludente que representa campo fértil para a repetência e a evasão. (GOMES, 1997, p. 24).

Todavia, a questão do negro na Educação é um dos mais graves e pendentes problemas da nossa sociedade. As desigualdades raciais são evidenciadas de modo extremamente acentuado em nossas escolas, desde a formação básica, perpassando pelo Ensino Fundamental e Médio, e Estudos Superiores de Graduação e Pós-Graduação. É lugar comum que, no Brasil, é reduzido o número de estudantes negros que chegam à Universidade e que são a "exceção que confirmam a regra".

Nessa perspectiva, necessitamos capacitar professoras/es educando-as/as para serem produtoras/es culturais, ou seja, para lidar com a diversidade como uma atividade inconclusa e aberta à contestação, em vista de uma práxis pedagógica preocupada com as leituras das imagens, dos discursos legitimados e das vozes silenciadas.

Esse trabalho vem sendo realizado pelo Programa de Educação sobre o Negro na Sociedade Brasileira (PENESB), aprovado pela Resolução nº. 121/95, do Conselho de Ensino e Pesquisa do Centro de Estudos Sociais Aplicados da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF) que inicia suas atividades a partir de agosto de 1995

9. O PENESB está

inserido no rol das lutas protagonizadas pelas denúncias do movimento negro brasileiro que, ao longo da história, reivindica o direito à educação. Daí que

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a atribuição de significados sociais à diversidade humana a hierarquiza, provocando as desigualdades entre negros e não-negros em todos os setores sociais com forte projeção na educação na qual são evidenciados claramente os efeitos da discriminação contra o negro na educação. A projeção das desigualdades entre negros e não negros na educação está a exigir uma formação dos profissionais da educação que dê conta da eliminação deste problema que atinge toda a humanidade. (OLIVEIRA, 2006, p. 128).

Há muito por fazer no campo das práticas pedagógicas com recorte racial. Contudo a contemporaneidade das reivindicações antigas e novas revela uma construção do imaginário social brasileiro menos sectarista. Os avanços demonstrados com o cenário pré-constituinte, a Carta Magna de 1988, a Marcha Zumbi dos Palmares, a aprovação da Lei 10.639/2003 (Brasil, 2003), e do Parecer 000/2004 estão construindo a tão sonhada democracia a partir dos retalhos de uma longa história de reivindicação e conquistas, protagonizadas pelo Movimento Negro.

Concordo com Silva (2005) ao chamar a atenção de educadores/as para a complexidade da educação da diversidade e na diversidade. Pois, segundo a autora, muito além dos procedimentos pedagógicos é requerido de quem se propõe a ensinar nessa perspectiva, conhecer sua história, ser sensível aos sofrimentos a que são constantemente submetidos, compreender sua visão de mundo, e aliar-se às lutas por seus direitos. Mais do que isto, precisa empenhar-se na educação de novas relações raciais, o que significa ter presente que estes não são problemas dos negros ou dos indígenas, mas de toda a sociedade brasileira.

Dessa maneira, um dos grandes desafios da escola consiste em proporcionar uma educação que respeite as diferenças existentes entre os sujeitos, valorizando-os em toda a sua diversidade. Para isso, faz-se necessário garantir a formação continuada de professores cujas práticas docentes conduzam o educando à autonomia intelectual, ajudando-o a alçar vôos, levantar hipóteses, argumentar, discutir os erros, projetar, planejar e vincular os conteúdos acadêmicos com o contexto histórico-político-social mais amplo.

Compreendo que o trato pedagógico da diversidade étnico-racial seja complexo e, além de exigir de nós o reconhecimento da diferença, exija também avançarmos na construção de práticas educativas que rompam com a idéia de homogeneidade e de uniformização que ainda impera no campo educacional.

As práticas pedagógicas serão emancipatórias quando extrapolarem os muros da escola e reavaliarem periodicamente o "fazer-pedagógico" inserido nos desafios das mudanças de valores, de lógicas e de representações sobre o outro, principalmente, aqueles que fazem parte dos grupos historicamente excluídos da sociedade.

Capacitar docentes para lidar com a diversidade significa fazer das diferenças um trunfo, explorá-las na sua riqueza, possibilitar a troca entre os grupos étnicos, entender que o acontecer humano é feito de avanços e limites. E que a busca de estabelecer relações dialógicas e valorativas do "outro" nos oriente para a adoção de práticas pedagógicas, sociais e políticas em que as diferenças sejam entendidas como parte de nossa vivência.

O que significa, conforme Freire, "ler e re-ler o mundo" e, como seres inacabados, interagir em um mundo no qual caibamos todos com iguais possibilidades de ascensão e participação sociopolítica na sociedade e no mundo globalizado? É o que busco responder enquanto mulher negra nascida em um dos estados brasileiros com maior percentual da população negra.

Portanto, para avançarmos nessas lutas a discussão do trato pedagógico dessas questões faz-se valer; a aproximar-se do corpo discente e do docente colhendo suas vozes e pareceres se impõem como embrião desafiador que possibilitará chegarmos ao cerne das questões relacionando-as na construção de diferentes identidades.

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Compreendemos que essas mudanças de foco na formação de educadores exigem que os centros de formação capacite-os para lidar com esses problemas, portanto, os professores hoje, especialistas em Educação, raça e etnia, estão em comparação aos demais muito mais capacitados para contribuir, em seus respectivos estabelecimentos de atuação, para um mundo no qual o racismo, o preconceito e a exclusão dos negros e indígenas sejam páginas realmente viradas na história.

Enquanto as coordenadas para o sistema educativo estiverem em mãos de empresários, muitos docentes são obrigados a seguir as apostilas e ignorar os conflitos vivenciados nas salas de aula, pois o conteúdo previsto nas apostilas e nos livros precisa ser repassado em detrimento de outros assuntos, os quais os alunos "têm oportunidade de aprender fora da escola". Percebemos que urge a discussão sobre a construção de uma postura ética dos educadores no que diz respeito aos conflitos raciais na escola. Não dá para ignorá-los ou silenciar acreditando que esses existem "fora daqui", ou "talvez na escola vizinha".

As discussões sobre as relações raciais implicam modificações, perdas e recriações em nossas práticas pedagógicas. Esse processo vivenciado na escola, por ela sempre ter estado envolvida com a formação de cidadãs/cidadãos e, contribuir diretamente na construção das identidades sociais. Conseqüentemente isso a torna palco pelas mais diferentes vertentes e por distintos movimentos sociais na contemporaneidade.

Sabemos que o professor, em sua prática, na sala de aula ou fora dela, difunde idéias políticas sobre a sociedade quando expressa juízos de valor sobre justiça, liberdade, igualdade, etc. Da mesma forma, ao demonstrar padrões de comportamento como aceitáveis ou não, colabora para o controle social pela assimilação desses padrões pelos alunos. Esses padrões éticos podem ser de conformismo ou de mudança, de crítica ou de aceitação. Dessa maneira, o professor exerce de fato uma influência sobre a concepção política dos seus alunos frente à sociedade.

Na sociedade em que vivemos, onde predomina a ideologia neoliberal, esses padrões têm sido tratados abstratamente, subtraídos das condições da realidade e dos fatores econômicos, sociais e políticos geradores da sociedade concreta da qual fazem parte a escola, o professor e o aluno. São conceitos trabalhados ideologicamente, livres das condicionantes sociais, cada vez mais abstraídos das questões de classe, tendo em vista que a divisão da sociedade em classes tem sido colocada como fator superado – somos todos cidadãos, quer dizer todos os que podem consumir.

Em nossa organização social, a escola tem estado a serviço de uma determinada classe, que não é a oprimida, o que leva diversos documentos do movimento negro a afirmarem que o conjunto ideológico por ela transmitido tem servido para justificar as desigualdades, ocultando e mascarando as contradições e os antagonismos da sociedade.

A seleção de conteúdo educacional brasileiro traz embutido em sua prática um arcabouço ideológico racista, apontando os negros como um povo extinto, visto que citados nos livros didáticos sempre no passado, incutindo no educando negro o perfil de ser inferior, deixando como alternativa o "embranquecimento". Nesse sentido, a dificuldade em autodeclarar-se negra, negro é conseqüência do desprezo pelos valores culturais dos afro-brasileiros.

Vários pesquisadores têm discutido os possíveis caminhos que podem ser traçados pela escola no tratamento da diversidade étnico-racial, para que os currículos incorporem essa questão de maneira menos descontextualizada das condições sociais e mais ativa, apresentando um rol de propostas baseadas fundamentalmente numa reflexão sobre a práxis educativa de alunos e professores.

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À revelia das propostas de formação inicial e/ou continuada das instituições de ensino e/ou das mantenedoras das redes de ensino, diversos profissionais da educação têm empreendido esforços na busca da produção de conhecimentos que rompam com a lógica reprodutivista da escola, a qual leva a compactuar e reforçar o sistema racista de nossa sociedade.

Concebemos que se faz necessário refletir coletivamente, com grupos de professores, que vêm desenvolvendo propostas em sua área de trabalho, visando a dar conta da produção de um conhecimento incipiente no meio acadêmico, que oriente sua ação numa perspectiva de reflexão crítica frente à organização excludente da sociedade e à manutenção do seu status quo.

Para tanto, é fundamental a discussão dos Projetos Pedagógicos das unidades educacionais tanto de Educação Infantil, quanto de Ensino Fundamental que incluem algum tipo de trabalho com a questão racial, além de estabelecer processos de análise e reflexão com profissionais que participam de grupos de formação ligados ao tema.

Entendemos que se faz necessário participar na sistematização desse conhecimento que vem sendo produzido nas escolas, contribuindo com a reflexão da ação a partir também da nossa prática em cursos de formação de professores e grupos de trabalho, onde devemos discutir propostas que vão desde a inclusão de temas no currículo, até a pesquisa da formação social do bairro/região onde está inserida a escola. É esse produto que devemos estar sistematizando e pretendemos que venha a servir de subsídio para reflexão da prática de outros educadores.

Embora as políticas educacionais que imperam na América Latina, desde os anos 90, tenham favorecido as empresas multinacionais, grandes investimentos e lucros em nome da Educação, nossos estudantes, outrora educandos, hoje considerados "clientes", são merecedores de uma formação educacional pertinentes aos desafios hodiernos.

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Recebido em: 26/12/2007 Aceito para publicação em: 15/02/2008

* O presente artigo faz parte da Dissertação de Mestrado: "População negra, relações inter-raciais e formação de educadoras/es: PENESB (1995-2007), defendida na PUC-Campinas 1 Metáfora utilizada pela autora Vandana Shiva (2003). 2 Cf. Joaquim B. Barbosa Gomes (2005, p. 56), as ações afirmativas têm como objetivo não apenas coibir a discriminação do presente, mas sobretudo eliminar os "efeitos persistentes"[...]. 3 Cf. Silvério (2005, p. 89), os trabalhos organizaram-se inicialmente em Subcomissões, que eram responsáveis pela preparação de anteprojetos básicos, esses eram emendados e votado no âmbito das próprias Subcomissões, em uma primeira etapa; na segunda etapa eram consolidados e novamente votados em Comissões Temáticas e finalmente reunidos em um texto completo na Comissão de Sistematização. Só então o texto seria apreciado, emendado, se fosse o caso, e votado pelo Plenário da Assembléia Nacional Constituinte. 4 Cf. Introdução do Documento entregue ao Presidente, em 1995. A Marcha Contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida é uma iniciativa do Movimento Negro brasileiro e se constitui num ato de indignação e protesto contra as condições subumanas em que vive o povo negro deste país, em função dos processos de exclusão social determinados pelo racismo e a discriminação racial presente em nossa sociedade. Já fizemos todas as denúncias. O mito da democracia racial está reduzido a cinzas. Queremos agora exigir ações efetivas do Estado – um requisito de nossa maioridade política. 5 A educação aparece, mais uma vez, como um dos elementos centrais desse programa, na crítica à centralidade dos estudos e referenciais do mundo ocidental nos currículos escolares,

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que acabam por permear também a estrutura do sistema educacional que atende a esse modelo, na medida em que seu contexto apresenta uma lógica cujos pressupostos reiteram estereótipos e confirmam preconceitos. Aponta-se nesse programa a necessidade de reorganização da escola a partir da diversidade que promova uma revisão de toda a estrutura educacional e a necessidade de ações afirmativas na educação. 6 De acordo com Seyferth (2001) "o racismo se afirmou como conceito científico no século XIX e, justificava claramente a dominação imperialista das raças classificadas como inferiores, isto é, não brancas". 7 Em 1914 surge a 1ªorganização Sindical de Negros. Dela participaram de forma expressiva e determinantes as mulheres negras em Campinas,SP; 1915 surge o Menelick, o primeiro jornal de negros da capital paulista; 1916 criado o Centro Cívico Palmares, em São Paulo, cujo objetivo, entre outros, era criar uma biblioteca só para negros; 1923 surge o Jornal O Clarim da Alvorada, cujo objetivo era refletir sobre as lutas dos antepassados e organizar a comunidade para dar continuidade a Saga; 1929 surge o Jornal Quilombo, na cidade do Rio de janeiro; 1931 a Frente Negra Brasileira (FNB) um movimento de massas, de protesto contra a discriminação racial, a exclusão dos negros dos empregos, dos sistemas de educação, contra a segregação do negro dos lugares públicos. A maior representatividade da ação da Frente era constituída de mulheres;1944 Abdias do Nascimento funda no Rio de Janeiro o Teatro Experimental Negro (TEN) a primeira entidade do Movimento afro-brasileiro a ligar, na teoria e na prática, a afirmação e o resgate da cultura brasileira de origem africana com a atuação política. Introduzindo assim, uma nova abordagem à luta do século;1950, no Rio de Janeiro, aprovada a Lei Afonso Arinos, que condena como contravenção penal a discriminação de raça, cor e religião. Também é o Conselho Nacional de Mulheres Negras;1969, o governo do general Emílio G. Médici proíbe a publicação de notícias sobre movimento negro e a discriminação racial;1971 surge em Porto Alegre o Grupo Palmares;1974 fundado em Salvador-Bahia o bloco afro Ilê Aiyê; 1978 consolidação do Movimento Negro Unificado em São Paulo. Também foi declarado o dia 20 de novembro como dia da consciência Negra;1978 – O Movimento Negro Unificado – Bahia (MNU) faz solicitação ao MEC para a inclusão de História da África nos currículos de ensino nas escolas brasileiras. 8 Em 1980 o Centro de Cultura do Maranhão, criado em 79, promoveu a I Semana do Negro, no período de 13 a 19 de maio; Em 1982 foi criado o Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra, em São Paulo, resultado da articulação de diversos grupos de militantes; Em 1983 o Projeto Palmares foi implantado em União dos Palmares após entendimento entre a Associação Cultural Zumbi e Secretaria de Cultura do MEC; Em 1983 o Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO) ligado à Universidade Federal da Bahia (UFBA) expõe ao Conselho Estadual de Educação a solicitação para incluir a Disciplina "Introdução aos Estudos Africanos", nos currículos de 1º e 2º grau da rede estadual de ensino; Em 1984, vários grupos dos movimentos negros assinaram um documento solicitando ao Secretário da Educação do Estado da Bahia a inclusão nos currículos de 1º, e 2º grau da Disciplina "Introdução aos Estudos Africanos", ao tempo em que referendavam igual solicitação do CEAO em 1983; No ano de 1985, ocorreu uma revisão curricular na rede municipal de ensino de São Paulo. Nesse ano, a Comissão de Educação do Conselho da Comunidade Negra sugeriu à Fundação Carlos Chagas uma pesquisa sobre a situação educacional dos negros em São Paulo. (ROSEMBERG; PINTO, 1987). 9 Orientando-se pelo objetivo de realizar pesquisas sobre a dimensão racial do fenômeno educativo de modo paralelo à disseminação dos conhecimentos sobre o tema, junto à população em geral e em especial junto aos profissionais da educação, interferindo na sua formação inicial e continuada. (Cf.Relatório PENESB, 1996 -1997)