EXPERIMENTOS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DOS CINCO PRIMEIROS AXIOMAS DA GEOMETRIA EUCLIDIANA PLANA A...
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EXPERIMENTOS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DOS CINCO PRIMEIROS AXIOMAS DA GEOMETRIA EUCLIDIANA PLANA A DEFICIENTES VISUAIS
Ana Maria M. R. Kaleff Universidade Federal Fluminense – Niterói – RJ
Fernanda Malinosky C. da Rosa Mestranda em Educação Matemática – UNESP – Rio Claro
Viviane Lopes Rodrigues
SEEDUC/RJ [email protected]
Resumo
Apresentam-se experimentos educacionais que permitem motivar o educando com
deficiência visual para a aprendizagem dos cinco primeiros axiomas da Geometria
Euclidiana por meio da utilização de pequenos aparelhos manipulativos de baixo custo,
especialmente criados ou adaptados para esse fim, a partir de materiais comumente
encontrados no comércio. Junto a esses recursos, apresentam-se atividades escritas, tanto
em fonte ampliada quanto em Braille, que auxiliam ao educando a compreender conceitos
introdutórios à Geometria Euclidiana. Os experimentos, além de auxiliarem o educando
vidente e o com deficiência visual na construção do conhecimento e no desenvolvimento
da habilidade da visualização de conceitos geométricos, satisfazem aos princípios
educacionais apresentados nos Parâmetros Curriculares Nacionais, às suas Adaptações
Curriculares e ao Modelo de van Hiele do desenvolvimento do pensamento geométrico.
Tais recursos destinam-se a alunos e professores do Ensino Fundamental e do Médio, bem
como aos da Educação de Jovens e Adultos. Além de se buscar o desenvolvimento de
metodologias e estratégias de ensino-aprendizagem com vistas à inclusão do aluno com
deficiência visual, também se busca desenvolver a capacitação e a qualificação de recursos
humanos para o trabalho com esse aluno. Tais experimentos foram aplicados por
licenciandos aos deficientes visuais do Ensino Médio do Colégio Pedro II, no Rio de
Janeiro.
Palavras-chave: Cinco Axiomas Euclidianos. Inclusão. Deficiente Visual. Experimentos
Educacionais. Materiais Concretos.
Introdução
As atividades e os artefatos didáticos manipulativos destinados ao ensino do aluno
com deficiência visual arrolados nos experimentos educacionais tratados a seguir, foram
desenvolvidos e adaptados durante 2010, no âmbito da disciplina Educação Matemática –
Geometria, obrigatória aos licenciandos do curso de Matemática da Universidade Federal
Fluminense (UFF) e isso se deu no Laboratório de Ensino de Geometria (LEG). Esse
estudo, desenvolvido sob a orientação da primeira autora desse artigo visa, por um lado, à
formação, à capacitação para a inclusão escolar de deficientes visuais e à qualificação de
licenciandos e de professores de Matemática em formação continuada para a inclusão e,
por outro, à criação de materiais didáticos que auxiliem no processo de ensino-
aprendizagem da geometria euclidiana para alunos do Ensino Fundamental e do Médio,
além da adaptação destes materiais para o ensino do aluno com deficiência. Nos anos que
se seguiram, o estudo foi ampliado no âmbito do projeto Desenvolvimento de Atividades
para Ampliação do Acervo Didático do LEG, vinculado à Pró-Reitoria de Extensão da
UFF.
A justificativa para os procedimentos realizados apoia-se em documentos oficiais,
já existentes no Brasil, que além de preverem a matrícula do deficiente em escolas
regulares e a formação de professores aptos a trabalhar com sua inclusão, também
recomendam aos sistemas de ensino a adaptação do currículo à admissão, em seu quadro
profissional, de recursos humanos capacitados, bem como de recursos materiais e
financeiros que viabilizem e dêem sustentação ao processo de construção da inclusão na
educação (BRASIL, 2001a e 2001b).
Cabe mencionar que as atividades didáticas para deficientes visuais aqui relatadas
satisfazem os princípios educacionais apresentados nos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN) para o ensino da matemática para as séries do Ensino Fundamental e do
Médio, bem como as Adaptações Curriculares propostas pela Secretária de Educação
Especial (BRASIL, 1998a, 1998b e 1999). Os recursos didáticos específicos e voltados
para a Geometria são estabelecidos segundo o Modelo de van Hiele do desenvolvimento do
pensamento geométrico, proposto por van Hiele (1986). Tais recursos têm como ponto de
partida aqueles desenvolvidos para alunos videntes, ou seja, com visão normal, e
apresentados por Kaleff (2008). Os estudos de Barbosa (2004) formam a fundamentação
matemática teórica para a Geometria Euclidiana desses recursos. Por outro lado, a principal
fonte de referência sobre o ensino e a aprendizagem do aluno deficiente visual é o acervo
da Revista Benjamin Constant do Instituto Benjamin Constant. Em Kaleff e Rosa (2012),
encontram-se outros experimentos educacionais já adaptados a esses alunos, bem como
mais informações sobre o LEG e seus projetos.
Apresentação dos Primeiros Cinco Axiomas de Euclides
A Geometria tem fundamental importância no desenvolvimento dos alunos, pois os
ajuda na resolução de problemas do cotidiano, no melhor aproveitamento do espaço
tridimensional, auxiliando no desenvolvimento da habilidade de percepção visual e tátil, na
visualização e no estabelecimento de conexões entre a Matemática e outras áreas do
conhecimento. Vale lembrar também a sua importância histórica para o desenvolvimento
dessa ciência, pois foi por volta do século VI a.C. que a Geometria começou a se
transformar em um sistema de representações de ideias relacionadas a especulações
abstratas, baseadas em raciocínios dedutivos. Essa transformação atingiu o seu ápice na
época de Euclides (cerca de 300 a.C.). Foi ele quem compilou e estruturou os
conhecimentos matemáticos consensuais até então estabelecidos, reunindo-os em 13 livros
denominados "Os Elementos". Esta estruturação consistia em 23 definições (sem quaisquer
comentários); postulados (cinco afirmações consideradas como proposições geométricas) e
axiomas (cinco afirmações consideradas verdades estabelecidas por si mesmas). A partir da
combinação dessas afirmações e de leis da lógica clássica, Euclides estabeleceu relações
consideradas verdadeiras e denominadas de teoremas, cuja veracidade lógica podia ser
constatada por meio de seqüências de raciocínio dedutivo.
O Livro I de ”Os Elementos” se inicia com a lista das definições e, considerando
que “postular” significa “pedir para aceitar”, Euclides “pede” ao seu leitor para aceitar
como verdades as afirmações geométricas que formula como postulados. Segundo
Carvalho (1994), os cinco primeiros postulados são os seguintes: 1º - Pede-se, como coisa
possível que se tire, de um ponto qualquer para outro ponto qualquer, uma linha reta; 2º -
Que uma linha reta determinada continua em direção de si mesma, até onde seja
necessário; 3º - Que com qualquer centro e qualquer intervalo se descreve um círculo; 4º -
Todos os ângulos retos são iguais e o 5º - Se uma linha reta encontrando-se com outras
duas retas fizer ângulos internos, da mesma parte, menores que dois retos, estas duas retas,
produzidas ao infinito, concorrerão para a mesma parte dos ditos ângulos internos.
Por sua vez, as noções comuns ou axiomas tratam de “coisas” e “quantidades”. Por
exemplo, o primeiro “As coisas que são iguais a uma terceira são iguais entre si” e o
terceiro: “Duas quantidades que se ajustam perfeitamente uma com outra são também
iguais”.
A partir de 1796, uma nova versão do 5º Postulado, tornou-se muito conhecida
devido aos estudos de John Playfair, que mostrou a equivalência lógica dessa nova
afirmação com aquela apresentada nos “Os Elementos”. Essa versão do postulado, por ser
bem mais simples e de fácil compreensão do que a original, passou a ser considerada no
ensino e apresentada na maioria dos livros didáticos como 5° Postulado da Geometria
Euclidiana, ou seja: Por um ponto do plano, não pertencente a uma determinada reta, passa
uma e somente uma reta paralela à reta considerada.
No final do século XIX, o matemático David Hilbert formalizou o sistema teórico
criado por Euclides, considerando os elementos da Geometria como entes pertencentes a
conjuntos abstratos e não mais como representantes dos conteúdos do mundo a nossa volta.
Também passou a considerar tanto os postulados como os axiomas, segundo uma nova
nomenclatura, chamando-os indistintamente de axiomas. Essa nomenclatura é a que
aparece na maioria dos livros atuais e será utilizada, a seguir, na apresentação do conjunto
dos experimentos educacionais que tratam dos cinco axiomas.
Os Experimentos Educacionais: Recursos Manipulativos e Atividades
Inicialmente, cabe ressaltar que todos os dez experimentos educacionais aqui
apresentados, podem ser realizados individualmente pelo aluno (vidente ou com
deficiência visual), sem o auxílio de um professor, a partir de um caderno adaptado
(denominado Caderno de Atividades) e escrito tanto em fonte impressa em tipo grande (no
mínimo 18 pontos) como em Braille.
Os recursos manipulativos concretos são compostos por uma prancha de apoio –
criada em papelão e plástico emborrachado, elaborada segundo Kaleff (2008); folhas de
papel especial de gramatura 180g e utilizadas para a escrita Braille; duas réguas
sobrepostas confeccionadas em papelão tipo Paraná; peças arredondadas e tiras de madeira;
um pino arredondado, uma seringa e um disco plástico com diversas perfurações;
prendedores de papel e, ainda, fichas com formas geométricas traçadas em alto relevo.
A atividade do primeiro experimento se inicia com a apresentação dos conceitos
básicos da Geometria, como ponto, reta e plano. O aluno com deficiência visual é levado a
associar os pontos do sistema de escrita Braille com o conjunto de pontos do plano,
enquanto que um fio fino, e bem esticado, sugere uma representação da reta e a folha de
papel representa uma porção do plano. Na sequência, é pedido ao aluno que coloque uma
folha de papel sob as cantoneiras da prancha de apoio e marque um ponto qualquer com
um lápis. A folha é retirada da prancha e virada no verso, para que o aluno perceba o ponto
criado por ele. A seguir, é pedido que faça uma dobra no papel, passando por esse ponto, e
depois mais duas dobras diferentes entre si e da primeira, sobre esse mesmo ponto. O aluno
ainda é questionado, se pode criar outras dobras diferentes, além das que ele já fez. É dessa
forma, que ele é levado a observar que essas dobras representam retas e que por um único
ponto podem passar infinitas retas. No segundo experimento, por meio de uma ficha com
representações em alto relevo, apresentam-se os conceitos de retas concorrentes.
A atividade descrita a seguir, visa à introdução do 1º Axioma. O aluno deve colocar
uma nova folha de papel na prancha de apoio e marcar dois pontos quaisquer. Em seguida,
ele retira a folha e a dobra sobre os pontos marcados, de forma que a marcação da dobra
seja bem definida e passe pelos pontos marcados. Então, é pedido que ele desdobre a folha
e repita o procedimento. É assim que o aluno é levado a perceber que a dobra representa
parte de uma reta que se prolonga para fora do limite do papel e, ainda que, por esses dois
pontos distintos passa uma única reta. Essa afirmação corresponde ao 1º Axioma. A partir
dessa atividade, já no terceiro experimento, é apresentada ao estudante uma ficha com a
representação, em alto relevo, de uma reta com dois pontos e com ela será introduzido o
traçado e aos conceitos de segmento de reta, de semirreta e semiplano.
Sobre outra folha de papel na prancha de apoio, o aluno deve marcar alguns pontos
distintos e é questionado sobre a quantidade de pontos que ele pode criar na folha e no
plano. Com isso ele é levado a perceber que em um plano cabem infinitos pontos. Com um
fio de linha qualquer, é pedido ao aluno que faça alguns nós e que coloque o fio bem
esticado sobre a prancha. Ele é novamente questionado sobre a quantidade de nós que
poderá fazer neste fio. Assim, o estudante é levado a associar este fio a uma reta e os nós
Figura 1: Prancha de apoio e fichas com representação em alto relevo de retas concorrentes e de reta sobre dois pontos. Fonte: Acervo LEG.
aos pontos e, com isso ele pode perceber que terá quantos nós quiser, se prolongar o fio e,
portanto, que uma reta possui infinitos pontos. Essa afirmação corresponde ao 2º Axioma.
Para a introdução do conceito de ângulo, já no quarto experimento, é usado um
artefato chamado de réguas sobrepostas. Este permite movimentos e as réguas podem ser
abertas em qualquer posição sobre o plano de uma mesa. É pedido ao aluno que coloque
uma folha de papel na prancha de apoio e fixe a régua aberta em uma posição qualquer
sobre ela. Então, deve contornar as bordas interiores das duas réguas. Finalmente, o aluno
deve retirar o papel da prancha e, virando-o, poderá perceber o desenho em alto relevo que
fez e, além disso, comparar esse desenho com a representação que está em uma ficha
apresentada a ele. Com esse procedimento espera-se que o aluno compreenda o conceito de
ângulo.
No quinto experimento, com um disco de plástico rígido e uma ficha com a
representação em alto relevo de uma circunferência, o aluno é apresentado ao conceito de
círculo e de circunferência e seus elementos.
No sexto experimento, o aluno trabalha com um conjunto de artefatos que
permitem desenhar circunferências. Este é formado por duas peças arredondadas de
madeira de tamanhos diferentes e com um furo central; uma peça de material plástico e
duas tiras de madeira com dois furos, um em cada extremidade. É pedido ao aluno que fixe
Figura 2: Prancha de apoio, réguas sobrepostas e ficha com representação em alto relevo. Fonte: Acervo LEG.
Figura 3: Disco de plástico rígido e ficha com representação em alto relevo de circunferências com seus respectivos raios. Fonte: Acervo LEG.
uma das peças de madeira sobre uma folha de papel, que estará sobre a prancha de apoio
sem tampar o furo central. Ele é orientado a colocar a ponta do lápis nesse furo, marcando
um ponto. Ainda, mantendo a peça de madeira fixada sobre o papel, pede-se que encaixe a
peça de material plástico no furo central. Em seguida é pedido que encaixe um dos furos da
tira de madeira na peça de material plástico. Finalmente, com a ponta do lápis no furo
restante da tira de madeira, pede-se ao aluno que contorne a peça arredondada de madeira.
O aluno deve então retirar o papel da prancha e, virando-o, poderá perceber o desenho em
alto relevo que realizou, comparando-o com o da ficha mostrada anteriormente. A seguir, é
pedido ao aluno que faça o mesmo procedimento com o outro disco em uma nova folha.
Depois, ele deverá colocar as duas folhas, lado a lado, e imaginar que formam uma única
porção do plano. Assim, o aluno pode perceber, pelo tato, que as circunferências não
possuem o mesmo centro e nem o mesmo raio. Com isso pode estabelecer que: com um
ponto qualquer do plano e com um raio qualquer é sempre possível se desenhar uma
circunferência no plano. Essa afirmação corresponde ao 3º Axioma de Euclides.
O conjunto de artefatos do sétimo experimento permite desenhar as representações
de circunferências concêntricas. No procedimento, o aluno é levado a perceber que o disco
de plástico possui diversos furos pequenos e um furo central maior. É pedido ao aluno que
monte um novo objeto da seguinte maneira: primeiro deve colocar o furo central do disco
de plástico no pino (plástico) e em seguida a seringa. O aluno deve então fixar esse objeto
no papel sobre a prancha de apoio e, colocando a ponta do lápis no furo pequeno, ele deve
girar o disco em torno da seringa. Procedimento análogo o aluno deve realizar para cada
um dos demais furos. Após essas orientações o aluno deve retirar a folha de papel da
prancha e virá-la a fim de perceber o desenho em alto relevo que realizou e, além disso,
comparar com o da ficha apresentada a ele. Ao final, o aluno poderá perceber que estas
circunferências possuem um mesmo centro, mas seus raios são de diversos tamanhos. Com
esses procedimentos poderá compreender o conceito de circunferências concêntricas.
Figura 4: Peças arredondadas de madeira, prancha de apoio, disco de plástico rígido, seringa, pino de plástico e ficha com a representação em alto relevo de circunferências concêntricas.
Fonte: Acervo LEG.
No nono experimento, as atividades apresentam ao aluno os conceitos de retas
perpendiculares e feixe de retas paralelas. Deve manusear as tiras de papelão e os
prendedores de papel. Ele é orientado a colocar a tira menor sobre o lado menor da prancha,
fixando-a com os prendedores. É solicitado ao aluno que encoste uma régua qualquer nesta
tira menor e desenhe a representação de uma reta no papel, que está sobre a prancha de
apoio. A seguir, ele deve realizar o mesmo procedimento colocando a tira de papelão maior
ao longo do lado maior da prancha, traçando a representação de uma reta com a régua.
Após isso, deve retirar o papel da prancha e, virando-o, perceber o desenho em alto relevo
que ele realizou. Deverá também comparar o seu desenho tateando aquele que está em uma
ficha colocada à sua frente. O aluno é levado a perceber que as representações que ele
desenhou são de retas perpendiculares e que os ângulos formados por elas são ângulos
retos. Além disso, é introduzido o 4º Axioma, sobre dois ângulos retos serem iguais entre si.
Para a introdução do conceito de retas paralelas, é pedido ao aluno que prenda a
tira de papelão ao longo do lado menor da prancha de apoio, assim como foi feito no
procedimento anterior. Ele será orientado a encostar uma régua qualquer na tira de papelão
e fazer a representação de uma reta, depois ele deslizará a régua, ao longo da tira, sem
desencostá-la, para obter outras representações de retas. Em seguida, ele deve retirar o
papel da prancha e, virando-o, para novamente perceber o desenho em alto relevo que ele
realizou, e poderá compará-lo com a forma desenhada na ficha apresentada. Nesse
procedimento, o aluno é levado a perceber a representação de um feixe de retas paralelas
criadas em alto relevo. Além disso, ele será questionado sobre quantas retas paralelas
passariam por um mesmo ponto fora de uma determinada reta. O aluno pode perceber que
há somente uma única reta paralela àquela passando por esse ponto, e, assim poderá ser
introduzido à afirmação do 5º Axioma de Euclides, segundo a versão de Playfair. Para
Figura 5: Prancha de apoio, tiras de papelão rígido, prendedores de papel e ficha com a representação em alto relevo de retas perpendiculares e ficha com dois “bonecos”. Fonte: Acervo LEG.
finalizar, no décimo experimento e visando à introdução do conceito de direção, é
apresentada ao aluno uma ficha com a representação em alto relevo de dois bonecos.
Algumas Constatações Estes experimentos foram expostos em Mostras do Museu Interativo Itinerante do
LEG, nas quais alunos com deficiência visual puderam realizar as atividades. Também foi
aplicado a um aluno vidente e a seis outros com deficiência visual, na faixa etária entre 15
e 22 anos, do 1º e do 2º ano do Ensino Médio do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. A
testagem desses recursos, realizada por três licenciandos, se deu durante duas sessões de
duas horas cada. O comportamento dos participantes se mostrou sempre muito positivo e
alguns pontos merecem ser enfatizados,como se apresenta a seguir.
Desde a primeira vez em que os alunos viram a prancha de apoio a aprovaram, pelo
fato de haver em cada um de seus cantos uma cantoneira para prender o papel Braille. Eles
alegaram que algumas pranchas de desenho, com as quais já haviam tido contato, não
possuíam recursos para a fixação do papel. Sobre a adequação para a utilização desse
recurso, a aluna M. (cega, 16 anos) comentou: “A prancha, eu amei!”.
Os alunos compreenderam bem os conceitos iniciais até serem apresentados ao
terceiro experimento de introdução aos segmentos de retas e semirretas, a partir da ficha
com a representação de uma reta com dois pontos. Quanto a esta o aluno L. (com baixa
visão, 22 anos) observou sobre a inadequação do contraste de cores, pois como o barbante
e o papel possuíam quase a mesma tonalidade de cor, ele não conseguia enxergar o
desenho. Sugeriu que se modificasse o barbante para o de uma cor que contrastasse com a
do papel, para que alunos com baixa visão possam ver melhor o desenho.
Quando questionados sobre o procedimento de traçar circunferências utilizando os
materiais, a aluna E. (cega, 16 anos) afirmou que: “Gostei da ideia, achei bem criativa,
bem legal e pode ajudar bastante. [...] dá uma boa ideia de quando a gente pode
movimentar as coisas, assim fica mais fácil para nossa compreensão”. A aluna M. (cega,
16 anos) fez o seguinte comentário: “Gostei muito dos discos de madeira, apesar de não
poder fazer tantas circunferências quanto com o disco de plástico, mas também dá para
ter uma idéia. Uma reforça a outra. Com esses discos, a gente se enrola menos do que com
o compasso, porque a gente tem uma coisa fixa. Podemos largar um pouco o lápis e ficar
segurando só o pino de plástico ou largar o pino e segurar o lápis no lugar, diferente do
compasso”. Por sua vez, o aluno L. (baixa visão, 22 anos) comentou: “Adorei os discos de
madeira, é ‘maneiro’ fazer as circunferências”.
Os participantes afirmaram ter gostado da ideia de representar a retas
perpendiculares e as paralelas utilizando as tiras de papelão. Cabe enfatizar que a aluna D.
(cega, 15 anos) indicou ter finalmente compreendido durante os experimentos o que eram
retas perpendiculares, dizendo “Que legal! Isso é que são retas perpendiculares?” O
entusiasmo demonstrado, ao tocar no desenho em alto relevo, foi por nunca ter sido
mostrado a ela um tal modelo dessas retas, pois afirmou que seus professores apenas
descreviam oralmente tais retas e ela as imaginava. Aparentemente, era a primeira vez que
a aluna se deparava com a forma apresentada no desenho! Finalizando, cabe o oportuno
depoimento da aluna E. (cega, 16 anos): “Gostei de tudo, o material em si está bom, está
bem perceptível. Gostei da ideia da prancha, eu acho que os materiais poderiam ajudar a
gente nas nossas aulas de Matemática. Eu gosto muito das atividades que vocês fazem aqui,
acho que podem ajudar bastante e até mesmo para a prova do ENEM que a gente vai fazer”.
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