POSSÍVEIS ICONOGRAFIAS DA DIÁSPORA: UM DIÁLOGO ENTRE AS ARTES VISUAIS, MODA E MÚSICA
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POSSÍVEIS ICONOGRAFIAS DA DIÁSPORA:
UM DIÁLOGO ENTRE AS ARTES VISUAIS, MODA E MÚSICA1.
Carol Barreto Laila Rosa
Duron Jackson
Neste simbólico novembro de consciência negra, é com alegria que trazemos um
pouco do que estamos vivenciando no nosso curso de extensão fruto da parceria
UFBA/MAM. O curso como um todo, se pauta pela proposta de pensar arte como
agência política legítima de enfrentamento ao racismo, ao etnocídio, ao sexismo, a
LGBTTIQ-‐fobia e outras matrizes produtoras e legitimadoras das desigualdades,
questões presentes na produção intelectual e artística de nós três, ainda que de forma
bem diferentes. Assumimos que as relações étnico-‐raciais, bem como, o racismo e
etnocídio, reconfiguram as identidades que compõem a diversidade humana, visto que
a branquitude ainda se faz hegemônica enquanto parâmetro de produção de
conhecimento, estética, beleza e sofisticação como já nos denunciou a escritora
nigeriana Chimamanda Adichie.
Com estas inquietações, que nada mais são do que frutos de nossas próprias trajetórias
de vida, experiências artísticas e enfrentamentos políticos, desejávamos fortalecer um
espaço criativo que fosse, sobretudo, de compartilhamentos. Compartilhamentos
sobre a historicidade dessas matrizes de desigualdades na diáspora e seus
desdobramentos no campo artístico de modo geral.2 Compartilhamento das histórias
de vida de cada participante e de seus desejos e anseios artísticos frente a este
panorama político, bem como, da percepção de si enquanto sujeito político e criativo.
Compartilhamentos de fazer artístico, o colocar a mão na massa, vendo, sentido com o
corpo, ouvindo, produzindo... e esta tem sido nossa proposta felizmente muito bem
acolhida pel@s participantes do curso.
O curso traz à tona a problematização das identidades, da produção de diferença no
1 Artigo publicado na Revista MAM 2013. 2 Sobre cosmologias da diáspora e descolonização de pensamento a partir do pensamento das mulheres negras brasileiras sugerimos o trabalho de Claudia Pons Cardoso (2012). Sobre diáspora e o conceito de atlântico negro ver GILROY (2002) e MATORY (2005).
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contexto de nação e também transnacional, tomando como referência a abordagem
de Stuart Hall (2010) sobre tais questões e de pensadoras feministas pós-‐coloniais
como Rita Laura Segato (2002) e Ochy Curiel (2010) que tratam dos marcadores sociais
como raça/etnia, gênero, identidade sexual/sexualidade, geração, classe social, não
somente por meio dos debates teóricos como também no olhar e fazer cultural que
estendemos aqui para a(s) arte(s) contemporânea(s). Desse modo, propomos novos
modos de ver e experimentar as fronteiras entre o ativismo político e a arte (no plural),
a partir da reflexão proposta pelo MAM sobre o “Por que e como fazer novas formas
de vida”?
Observa-‐se que fazer novas formas de vida, diante da falta de mobilidade urbana e
crescente aumento da violência simbólica e física, se apresenta como uma necessidade
nos tempos atuais, assim a indagação POR QUE FAZER se atrela diretamente a COMO
FAZER, pois a compreensão da motivação se desenrola nas práticas possíveis para
redesenho da existência em novas formas de vida. Na vida cotidiana o fazer criativo
parece ser de exclusividade de famosos artistas e muito embora nos seja cara a
diferenciação entre criatividade e criação, o que nos interessa é a possibilidade de
provocar práticas criadoras por meio da desconstrução política e cultural dos discursos
hegemônicos e das suas representações sociais dominantes. Ao experimentar
uma variedade de práticas artísticas interdisciplinares – interagindo com as artes
visuais, moda e música, através dos nossos próprios trabalhos e da exploração da
maneira como as idéias se tornam forma de visualização e elaboração de imagens e
sonoridades, juntamente à leitura de textos teóricos -‐ históricos e contemporâneos -‐ de
artistas, críticos e jornalistas que informam sobre a evolução da arte contemporânea e
o debate feminista, antirracista, não-‐sexista e LGBTTIQ.
A importância da interdisciplinaridade nas reflexões sobre os nossos processos...
Com a devida fluidez interdisciplinar de nossas distintas áreas de atuação artística,
achamos por bem dividir o curso em módulos, trazendo para a prática do fazer artístico
as linguagens das artes visuais, da moda (pensando no corpo como território
identitário, político e cultural primeiro) e do campo musical em sua diversidade. Para
tanto, adotamos algumas referências teóricas importantes para pensar os marcadores
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sociais como raça, gênero e sexualidade (Louro, 1997; Butler, 1999; Liv Sovik, 2009;
Anzaldúa, 2005; Carneiro,1994) e como os mesmos delineiam alternativas de ser e de
fazer artístico e de performance (Glusberg, 2009; Cohen, 2002; Hikiji, 2003). A partir
deste diálogo, a proposta é conduzir, nas interação entre as três linguagens, uma
reflexão sobre estes marcadores sociais que nos formam, bem como, a partir deles, a
construção de um olhar reflexivo e fazer artístico interdisciplinar:
1. Nas artes plásticas se tomamos como referência obras de artistas como Helio
Oiticica, Lygia Clark, Cildo Meireles, Doris Salcedo, Antonio Manuel, Artur Barrio,
Sanford Biggers, Hank Willis Thomas, Terry Adkins, etc;
2. No campo da moda propomos fomentar uma análise do modo como
são estabelecidos padrões de beleza específicos, bem como, a introdução a uma
estética afro contemporânea que dialoga com as obras de artistas como Nick Cave,
Yinka Shonibare e Emanoel Araújo;
3. Na parte musical, passeamos entre a etnomusicologia e apreciação musical ativa,
onde aguçar a escuta em sua diversidade sonora e cultural que inclui nossas
subjetividades e experiências é extremamente importante para podermos então
experimentar com a improvisação musical coletiva com objetos sonoros fabricados
pelo grupo participante com material reciclável.
Adotando uma perspectiva também feminista na relação com o que produzimos
artisticamente, achamos importante situar nossas falas que vêm de distintos lugares,
mas que dialogam profundamente. O curso conta com a participação de nós duas,
professoras da UFBA, que, além de suas carreiras acadêmicas, investem na carreira
artística produzindo performances com as temáticas em questão e que juntas têm
produzido escritas sobre processos criativos atrelados aos estudos de gênero, raça e
sexualidade, e ainda com a significativa colaboração do artista plástico, norte-‐
americano Duron Jackson, bolsista Fullbright em residência artística no Brasil. Logo,
temos vivenciado juntamente com a turma uma rica experiência de intercâmbio
internacional com um artista plástico de larga experiência.
Situando nossos caminhos criativos...
Mudando mais ainda o curso de nossa narrativa e trazendo autoras como a poetisa e
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militante feminista negra e lésbica Audre Lorde (S/D) e a mexicana feminista e lésbica
Gloria Anzaldúa (2005) que nos alertam para a descolonização também dos nossos
escritos e pensares sobre nossas experiências e experimentos enquanto agência
política contra-‐hegemônica, mantemos nossa perspectiva de fala em primeira pessoa,
o que rompe com o distanciamento entre quem escreve e quem lê, quem compõe,
quem performatiza/toca e quem aprecia. Para esta missão, assumimos, ainda que
suscintamente, um pouco das nossas trajetórias que, entrelaçadas, compõem um novo
tema singular, uma quarta narrativa. Trazemos em primeira pessoa, considerando
nossas subjetividades e produções artísticas como produções sociais, históricas,
políticas e artísticas diaspóricas. Para tanto, falaremos um pouco sobre alguns de
nossos trabalhos e temas que nos são caros.
CAROL BARRETO3
Mulher negra, feminista, desenho desde sempre, antes mesmo de começar a ler e
escrever. Crio roupas na tentativa de expressar visualidades que não estão disponíveis
no mercado ou que contemplem a diversidade. Cresci em Santo Amaro da Purificação,
cidade onde a criatividade sempre esteve no centro das práticas cotidianas, seja por
conta das histórias e práticas vigentes de opressão ao povo negro ou pelo
redimensionamento dessa mesma condição. Saí da cidade aos 18 anos para estudar
Letras com Inglês na UEFS e em Feira de Santana parte da história do povo nordestino
e sertanejo me faziam fruir outras raízes. Lá também cursei Especialização em Desenho
e o Mestrado em Desenho, Cultura e Interatividade UEFS (bolsista CAPES -‐ 2008) onde
realizei escritas acadêmico-‐literárias sobre as minhas relações com as transformistas,
drag queens e posteriormente com as Travestis de Salvador que se reúnem na ATRAS-‐
GGB.
Desde o início da graduação os textos de pesquisa científica ou relatos de práticas de
extensão no Núcleo de Desenho e Artes se faziam por meio de exposição de telas,
desenhos, instalações, fotografias e textos. Assim percorri, menina, algumas galerias de
Feira de Santana e Santo Amaro com trabalhos que questionavam os padrões do 3www.carolbarretoatelier.com.br
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modismo e da branquitude. Travestis, mulheres cisgênero com aparência de culturas
tradicionais, perfis femininos e masculinos diversos foram desenhados nas telas, nos
textos e nos desfiles. Os primeiros deles intitulados Déjà Vu e depois Démodée
aconteceram respectivamente em 2001-‐2002 no campus universitário da UEFS e
posteriormente no Teatro Dona Canô em Santo Amaro. Mais tarde, residente da capital
baiana desde 2005 investi na “adequação” do meu trabalho à linguagem comercial da
moda a fim de alcançar estrategicamente maior visibilidade e elaborar nesse nicho,
representações de mulheres negras e LGBTTIQ em negociação com os padrões
hegemônicos a fim subverter no interior dessas mesmas linguagens.
Como docente de cursos de graduação em Design de Moda entre os anos de 2006 e
2013, me dediquei à elaboração metodológica e teórica de discursos de enfrentamento
e empoderamento junto @s discentes e desde 2011 como Docente e Membro do
Colegiado do Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade, do Departamento de
Ciência Política da UFBA, integrante da linha de pesquisa ‘Gênero, Cultura e Arte’ no
Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM-‐UFBA), tenho tido o
privilégio de reunir toda elaboração de conteúdo interdisciplinar numa prática de
crítica à definição do que se considera como conhecimento acadêmico, artístico ou
metodológico. Atualmente como Designer de Moda, assino a marca que leva meu
nome, trabalhando processos criativos e projetos que refletem minha área de pesquisa
acadêmico/artística, produzindo imagens com um discurso feminista, anti-‐racista e não
sexista, voltadas para um consumo de moda mais consciente e para a visibilização da
expressão artística e do design da comunidade negra na Bahia e no Brasil. Nessa
caminhada de passarelas, desfilei coleções em eventos de moda na Bahia e
Pernambuco, premiada em duas ocasiões. Recentemente fui convidada a representar o
Brasil na Dakar Fashion Week, no Senegal, evento internacional que reúne criadores de
diversas nacionalidades que expressem a diversidade cultural de seu país.
Frequentemente organizo evento de Economia Criativa, onde se reúnem estilistas,
artistas e designers soteropolitanos para comercializar os seus produtos e atualmente
ligada ao CEN (Coletivo de Entidades Negras) tenho atuado no desenvolvimento e
gestão de projetos ligados à Economia Criativa e à Economia Solidária. Num pequeno
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recorte do acervo de fotografias de moda da marca Carol Barreto, integrarei a
exposição ‘Ancestors, Guardians and Guides: A Visual Arts and Writers’ Exhibition’, com
curadoria de Jarvis DuBois. O evento acontece entre os dias 15 de novembro e 15 de
dezembro de 2013, no ‘The Charles Sunmer School Museum’ na cidade Estadunidense
de Washington, DC. O museu que leva o nome de uma figura importante na luta pela
abolição da escravidão e o estabelecimento de direitos iguais para Afro-‐americanos, foi
um dos primeiros edifícios escolares públicos erguidos para a educação da comunidade
negra de Washington.
LAILA ROSA4
Apresento um pouco do meu caminhar, do meu canto e da minha voz através de breve
relato sobre minhas pesquisas e militâncias, e, sobretudo, das impressões sobre o meu
primeiro disco a ser lançado neste mês histórico de novembro, mês da consciência
negra e do meu nascimento. Apresento ainda uma breve “narrativa líquida” que fluiu
para fora do CD recém parido “Água viva: um disco líquido”, que, em parceria com o
Coletivo Os Ventos5, traz narrativas sonoras diversas que versam sobre a fluidez das
águas, livremente inspirado por temas como vida, flores, amor e tempo da obra Água
Viva de Clarice Lispector, aos arquétipos femininos dos orixás femininos das águas
como Iemanjá e Oxum, e a força ancestral indígena de entidades caboclas e mestras da
Jurema sagrada, e também a urbanidade periférica de Casa Amarela (Recife/PE),
subúrbio onde nasci.
Como fazer tudo soar? Há um conceito norteador líquido que ao mesmo tempo não se
admite coerente, estático e fluido sem suas devidas rupturas. São narrativas que vêm
do improviso experimental e performance coletiva literalmente aquática, onde
“tocamos água” para cantar as possibilidades várias das nossas vivas águas, em duas
vinhetas que abrem e fecham, respectivamente “os trabalhos” no disco. Até o armorial,
o toque de terreiro Xambá do Quilombo Portão do Gelo (Olinda/PE), das coquistas Del
4www.soundcloud.com/laila-‐rosa 5O Coletivo Os Ventos é formado por Ângelo Santiago, Mariana Marin, Maurício Lourenço (direção musical) e Ricardo Hardmann. O disco teve a direção musical de Maurício Lourenço, Júlio Caldas e minha e foi produzido por mim e por Júlio Caldas. Contemplado pelo edital de Demanda Espontânea 2011 do Fundo de Cultura do Estado da Bahia.
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do coco e Graça do coco ao rock progressivo e violino distorcido em meio a quarteto de
cordas, alaúde e pifes encantados. Incoerente? Fora do objeto? Talvez. Mas coerente
em sua incoerência líquida. Risco de afogamento ou de mergulho profundo no mar
abissal do amor compartilhado e das sonoridades experimentais, com direito a
participações mais que especiais. Gratidão.
E essa gratidão musical se entrelaça profundamente com minha trajetória enquanto
feminista branca antirracista, compositora, musicista, pesquisadora, etnomusicóloga,
cozinheira que adora temperar a vida, pessoa enfim. Foram mais de dez anos de
pesquisa e convivência no Terreiro Xambá, onde aprendi sobre os orixás, seus cantos,
sobre o enfrentamento das mulheres negras ao racismo institucional que fechou os
terreiros de matrizes africanas em inícios do século XX, onde enfim compreendi o que
significa Diáspora no seu sentido mais doloroso e de profundo poder criativo.6 Ali
aprendi também sobre as importantes articulações diaspóricas com as tradições
indígenas, através da presença da jurema sagrada e de suas entidades espirituais,
encantadas, caboclas e pretas-‐velhas na “direita” até as entidades da “esquerda” como
são consideradas e respeitadas as entidades mestras, exus e pombagiras. Assim como
no universo dos orixás, são extensos e ricos os repertórios musicais de cada entidade,
suas narrativas, corporalidades, coreografias, vestes, pratos, ervas. Enfim, são
cosmologias particulares da diáspora que oferecem perspectivas bem particulares e
complexas de mundo, sendo, em primeiro plano inclusivas em relação à diversidade
humana, aprendizagem que, sem dúvida trago nesta soma a narrativas e
materialidades sonoras7das possíveis iconografias que ora apresentamos.
DURON JACKSON
Apresento um pouco das três dimensões do meu trabalho que estão profundamente
interligadas aos marcadores sociais já citados anteriormente: 1. as instalações; 2. as
pinturas corporais e 3. as fotografias de vista aéreas de prisões Estadunidenses.
6A respeito do universo musical dos orixás e entidades femininas da jurema no contexto do Terreiro Xambá ver ROSA (2009 e 2005). 7Sobre materialidade do musical em relação a contextos de violência ver OCHOA (2006).
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1. Das instalações:8minhas instalações, performances, vídeos, esculturas e pinturas
tentam expor tanto as inter-‐relações formais e sociais da ' escuridão ' dentro do
contexto mais amplo da cultura contemporânea. Como um artista multi-‐disciplinar
minha prática funde a pesquisa acadêmica e artística, e freqüentemente usa arquivos
de instalação, objetos , fotografia e vídeo para criar novas perspectivas críticas sobre
narrativas históricas dominantes. Meus interesses estão na criação de discurso em
torno de representações contemporâneas e debates dentro discurso crítico ocidental,
e são direcionados para fins sociais. Estou interessado pela forma como os sistemas
afetam as populações, com foco em histórias sociais e políticas dos EUA relativas ao
encarceramento , a criminalidade, vigilância e espectador .
2. Pinturas Corporais: o corpo de trabalho que consta no meu site e é um exame em
curso e destina-‐se como uma declaração de estar. Cada pintura é uma impressão em
tamanho natural, tirada diretamente da figura masculina, criando uma única marca ou
símbolo, que cataloga e indexa o corpo , produzindo um traço (evidência) , linguagem
figurada ", narrando uma maneira de ser . " A série inclui uma projeção animada digital
na adição a um componente de desempenho , que ilustra, em adição ao processo de
colocação no corpo negro masculino sem adornos no discurso com o corpo social,
permitindo que o público projete também a sua experiência em relação ao sujeito. A
projeção digital é usada para manipular em escala facilitando o aparecimento de
ascendência, vivificando a sublimidade final da nossa experiência através da nossa
relação com o corpo .
3. Vista Aérea da Prisão: o conjunto de trabalhos que se dedica a este tema,
especificamente, aborda o encarceramento, a vigilância, os sistemas de justiça criminal
e penal dos Estados Unidos. É conceitual e tem sido exibido em multi-‐meios (vídeo,
fotografia, escultura, instalação e técnica mista). A série negro é inspirado pelos Quilts
da curvatura do Gee, "RooftopVariations", e trabalho em 3D não-‐local de referência
Robert Smithson, já que cada peça é uma abstração de um lugar real, eles também são
metáforas para os presos enquanto esquecidos e colocados em "não-‐locais". Estes 8www.duronjackson.com
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desenhos são demarcações aéreas ou pegadas arquitetônicas de prisões dentro os
EUA, e são de grafite e tinta lousa no cartão duro. Através deste trabalho, eu estou
vigiando o suveillor enquanto explora como os sistemas de influenciar a condição
humana, afetam a cultura e visão de mundo.
Aqui em Salvador venho desenvolvendo pesquisa sobre as “Raízes Africanas nas
práticas da Arte Contemporânea na Diáspora, com foco no Brasil” composta também
pela fase de interlocução com a sujeitos de diversos âmbitos de participação na cultura
local, e portanto a oportunidade do curso em questão tem sido de interlocução
extremamente frutífera.
Da quarta narrativa conjunta: nós e tod@s
A partir da curta exposição de nossas experiências, trabalhos e inquietações que
trazemos para o curso UFBA/MAM talvez fique explícito que nossa provocação maior
seja que as práticas interdisciplinares e temas como arte conceitual, Diáspora Africana,
artes visuais, bem como, suas interações com a música e a moda não podem ser
pensados sem os seus marcadores sociais: raça/etnia, gênero, identidade
sexual/sexualidade, classe social, idade/geração, dentre outros. Simplesmente por que
são estes marcadores que situam imagens e narrativas de moda e aparência,
sonoridades, performances, paisagens sonoras e humanas diversas.
Compreendendo, portanto, a relevância de se abrir um debate para a multiplicidade de
referências artísticas e políticas no campo da arte, propomos a exploração da
multilinguagem:
1. dos modos como imagens materializam ideias e como textos históricos e
contemporâneos de artistas, críticos e jornalistas informam sobre a evolução da(s)
arte(s) contemporânea(s), bem como, dos avanços políticos no campo dos estudos pós-‐
coloniais. Discutir como o conteúdo teórico debatido pode informar materiais,
processos e iconografias através do prisma das tendências culturais e sócio-‐políticas
pós-‐coloniais da atualidade, considerando a articulação entre raça/etnia, gênero e
sexualidade (Kamnitzer, 2007;Calirman, 2012; Rochter, 2012).
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2. Dentro da perspectiva do que chamamos de possíveis iconografias pós-‐coloniais,
pensamos sobre o campo da moda e de que forma padrões de beleza informam (ou
não) políticas de representação (Lipovetsky, 1989; Sant’Anna, 2007; Preciosa, 2005;
Cidreira, 2005).
3. Das iconografias musicais, consideramos como os marcadores sociais compõem
distintas paisagens sonoras (Schafer, 2001; Pinto,2008; Ochoa, 2003; Werneck, 2007;
Sovik, 2009) e como precisamos ampliar nossa percepção não somente sonora, como
humana em relação `a diferença que sempre esteve aí nos seus “sistemas abertos”,
mas que, na realidade, nossos “territórios fechados” de perceber que nos limitou a
enxergá-‐los como nos sugere Rita Segato e José Jorge de Carvalho (1994).
Trabalhando a partir dessa interdisciplinaridade sob o ponto de vista das artes
plásticas, da música e da moda em interação com os marcadores sociais supracitados e
a prática artística no campo das artes visuais, esperamos abrir um espaço de troca de
experiências, considerando a multiplicidade possível dentre o público integrante do
curso como parte central para o debate sobre diversidade e interdisciplinaridade no
fazer artístico enquanto campo do político e das subjetividades múltiplas. Acionando
diversas possibilidades de expressão e de empoderamento por meio das visualidades,
dos toques e das sonoridades.
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Etnomusicologiapela Universidade Federal da Bahia (2009), com bolsa CAPES de doutorado sanduíche de 1 ano realizado na New York University (Nova York, 2007).Profa Adjunta da Escola de Música/Programa de Pós-‐Graduação em Música da UFBA, Pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Mulher -‐ NEIM/UFBA. Com o Coletivo os Ventos (www.myspace.com/lailarosa) está lançando seu primeiro disco autoral, contemplado pelo edital de Demanda Espontânea 2011: "Água Viva: um disco líquido", livremente inspirado na obra homônima de Clarice Lispector. Professor/artista colaborador: Duron Jackson – Bolsista Fulbright de Residência Artística, pintor, escultor, trabalha com as linguagens de vídeo, performance e instalação.Formação: 2010 Bard College, Milton Avery Graduate School of Arts – Masters of Fine Art, Sculpture 2004 BA, Visual Art, SUNY Empire State College Studio Art Program, New York, NY
www.duronjackson.com