Estados Alterados de Consciência e Preservação Ambiental

236
(Re)Conexão: Estados Alterados de Consciência e Preservação Ambiental __________________________________________ (Re)Connection: Environmental Conservation and Altered States of Consciousness Tese de Mestrado em Ecologia Humana e Problemas Sociais Contemporâneos desenvolvida por Alexandru Ostrovschii Setembro de 2021

Transcript of Estados Alterados de Consciência e Preservação Ambiental

(Re)Conexão:

Estados Alterados de Consciência

e Preservação Ambiental

__________________________________________

(Re)Connection:

Environmental Conservation and

Altered States of Consciousness

Tese de Mestrado em Ecologia Humana e Problemas Sociais

Contemporâneos

desenvolvida por

Alexandru Ostrovschii

Setembro de 2021

Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários

à obtenção do grau de mestre em Ecologia Humana

e Problemas Sociais Contemporâneos,

realização sob orientação científica de

João Carlos Lutas Craveiro Sousa

“Surrender yourself humbly;

then you can be trusted to care for all things.

Love the world as your own self;

then you can truly care for all things.”

(Lao Zi – Tao Te Ching)

Agradecimentos

Incondicionalmente ao universo pelas suas vitais possibilidades,

aos meus pais pelos sacrifícios e oportunidades,

ao meu irmão pela benquerença,

à minha companheira pela constante presença e extensa conexão,

a todos aqueles que se cruzaram no meu caminho,

sem esquecer o meu orientador pela sua paciência e coesão.

Resumo

Atendendo ao preocupante cenário de perda de habitat contemporâneo – tanto pela

mão direta como pela indireta reverberação – a presente dissertação aprofunda-se na

exploração desta temática pela preposição da associação da experienciação de estados

alterados de consciência como agentes estimuladores de reconsideração dos parâmetros

intrínsecos de autoidentificação, consequentemente despontando uma transfiguração da

perceção e do comportamento humano erróneos em relação ao Meio Ambiente pelo

estabelecimento de novas perspetivas centradas em tangíveis critérios de

interdependência, distinguíveis mediante vivências místico-transcendentais.

Esta análise desenrola-se recorrendo a uma metodologia qualitativa tendo em apreciação

relatos pessoais de indivíduos altamente versados em técnicas potencializadoras de

expansão da consciência, desde diversas práticas psicofisiológicas indutoras de estados

de transe (como por exemplo meditação, yoga, oração), à consagração e/ou consumo de

substâncias enteógenas/psicoativas, destacando-se categoricamente a fauna e flora com

estas propriedades operacionais pela sua vinculação às milenares tradições xamânicas

espalhadas em redor de todo o nosso planeta.

Palavras-chave: Ecologia, Preservação Ambiental, Espiritualidade,

Xamanismo, Alteração Comportamental, Substâncias Psicoativas

Abstract

Regarding the worrisome scenario of the contemporary habitat loss - both by

direct and indirect reverberation - this dissertation deepens this thematic exploration by

the associative preposition of altered states of consciousness as stimulating agents of

reconsideration of the intrinsic parameters of self-identification, hence promoting

transfiguration of erroneous human perception and behaviour in relation to the

environment through the establishment of new perspectives centred on tangible criteria

of interdependence, naturally acclaimed through mystical-transcendental experiences.

This analysis is carried out using a qualitative methodology, taking into consideration

personal reports of highly versed individuals in techniques that enhance consciousness,

from various psychophysiological practices inducing trance states (such as meditation,

yoga, prayer), to consecration and consumption of entheogenic/psychoactive substances,

categorically highlighting the fauna and flora with these operational properties due to

their link to millenary shamanic traditions spread around the world.

Keywords: Ecology, Environmental Conservation, Spirituality,

Shamanism, Behaviour Change, Psychoactive Substances

Índice

Introdução ...................................................................................................... 1

Objetivo(s) de estudo .................................................................................... 5

Capítulo I: Insensibilidade Antropocêntrica ................................................. 8

Contextualização ........................................................................................ 8

Advertência e Reflexão, Ecologia Humana em Consideração ................ 14

Capítulo II: Mudança de Paradigma: Expansão da Perceção ..................... 23

Dilucidação de Consciência ..................................................................... 23

Exploração Transmutativa: Yoga e Meditação ........................................ 32

Xamanismo e os seus Processos de Consagração .................................... 38

Capítulo III: Metodologia ........................................................................... 47

Capítulo IV: Apresentação dos Resultados ................................................. 54

Síntese Temática ...................................................................................... 86

Capítulo V: Considerações Finais ............................................................... 94

Referências ................................................................................................ 100

Consultas Online .................................................................................... 118

Anexos ....................................................................................................... 123

Lista de Figuras ...................................................................................... 123

Transcrições das Entrevistas .................................................................. 123

1

Introdução

A razão da existência, ou a existência da razão, é um mistério. Desde os

primórdios imemoriais que este enigma se encontra profundamente entrelaçado com a

essência da Humanidade, e reciprocamente com cada um nós. Sem esse mistério, sem

essa faísca alquímica de propulsão, o interesse pela realidade envolvente se desvaneceria;

o ditado já é velho – Não é só de pão que vive um Homem – a nutrição física e material é

meramente a primeira etapa de uma longa e inevitável jornada rumo ao

autoconhecimento.

Consoante os principais fundamentos das mais vastas crenças e religiões, existem

patamares adjacentes ao palpável quotidiano objetivista, designadamente os planos

mentais e espirituais, que por sua vez albergam mecanismos operacionais estruturalmente

complexificados, desde a autoidentificação à conceptualização e imersão na cosmologia

metafísica.

A perceção dessa intrínseca ligação entre os domínios materiais, mentais e

espirituais favorece o desenvolvimento de uma compreensão alargada e aprofundada da

realidade, promovendo quer direta quer indiretamente o equilíbrio e a funcionalidade

geral do sistema e/ou organismo. Qualquer tipo de desequilíbrio dentro de pelo menos

um dos planos inevitavelmente gera repercussões nos adjacentes, podendo induzir severas

disfunções, à primeira vista sem causa aparente.

Uma visão holística incorporando a harmonia e o livre fluxo de energia –

identicamente intitulada de Chi ou Prana no Oriente – abre espaço a novos caminhos e a

novas experiências, demarcando-se como um fundamento de mudança. Por mais

perseverante que a oposição a essa transformação possa parecer, desde os valores pessoais

à tremenda pressão sócio-político-cultural, não menosprezando ainda o íntimo

julgamento dos nossos familiares e amigos mais próximos, a transição para

comportamentos eticamente mais sustentáveis deverá a todo o custo prevalecer, caso

contrário comprometemos não só a nossa própria integridade como a estabilidade dos

parâmetros ecossistémicos altamente imprescindíveis à sobrevivência da espécie humana

no planeta Terra.

2

Ao observar a Natureza na sua ação, facilmente se percebe a enigmática

multidimensionalidade do seu funcionamento; a sua composição alberga milhões de

distintas espécies agrupadas em especializados reinos potencializando ao expoente

máximo as probabilidades evolutivas, os ciclos químico-atmosféricos (como os de

carbono, oxigénio e nitrogénio) mantêm o equilíbrio dos elementos, o ciclo geológico

responsabiliza-se pela (re)criação morfológica-estrutural, o hidrológico sustenta os

ademais pelo meticuloso fornecimento de água e minerais; passando ao conspícuo

universo celestial de imediato se salienta a presença lunar e solar, basilares na regulação

eletromagnética e gravitacional tal como pelo fornecimento do primordial sustentáculo

de toda a vida – a luz – e assim adiante em ambos os sentidos, tanto no micro como no

macrocosmos esta miraculosa dinâmica meticulosa no seu âmago é indecifrável, a

autêntica força motriz é uma variável indeterminante, onde a mudança é a única constante

prevalecente pelas suas tangíveis características regenerativas.

Tendo em consideração a atual situação contemporânea, incontestavelmente se

notabiliza um ambiente de tensão, vivenciamos crises em todas as vertentes possíveis e

imagináveis: morais, sociais, políticas, culturais, sanitárias, virológicas, climáticas,

ambientais, etc. a lista de complicações é demasiado extensa aquando comparada com as

possíveis resoluções. Este emaranhado de problemas encontra-se num patamar tão

protuberante que se alimenta de si próprio, alastrando-se progressivamente por e para

todos os pontos fracos que encontra ao longo da sua extensa expansão.

A usual obstrução ao progresso da deontologia ambientalista por parte das grandes

corporações capitalistas também já é bem conhecida, e o exemplo mais notório disso é a

sua influência nas esferas político-jurídico-governamentais, impactando arduamente todo

e qualquer tipo de iniciativas que se contraponham ao(s) seu(s) modelo(s) de lucro pela

devastação e acumulação desmesurada de recursos; afastando e desmotivando os ademais

através de sentimentos de impotência gerados pela ameaça de um constrangimento

económico.

De forma a parar e a alterar este paradigma autodestrutivo é fundamental uma

mudança de perceção; essa transformação em primeiro lugar tem de ocorrer dentro de

cada indivíduo, de dentro para fora, reprogramando os hábitos incongruentes,

modificando os pensamentos, comportamentos, e ações, dando o exemplo, mostrando que

é possível ser diferente e melhor, só assim se desencadeará uma progressiva

consciencialização coletiva. É certo que essa tão aguardada permutação não se realizará

3

instantaneamente da noite para o dia, mas sim sucessivamente, agindo localmente a

pensar globalmente, só assim gerar-se-á um ímpeto inspiracional suficientemente

categórico digno de uma sólida aprovação e implementação contínua.

Contudo, uma transposição de valores pessoais – éticos e morais – amplamente

consolidados com os princípios de beneficência cosmológico-universais, não é tarefa

fácil. A árdua luta pela sobrevivência e dominação, geneticamente entranhada na matriz

da espécie humana, há milénios que molda o nosso percurso e desenvolvimento,

espelhando-se consecutivamente em toda a história da Humanidade … todavia, a

prevalência dos esperançosos (pres)sentimentos de amor e compaixão garantem à

imaginação uma redimida possibilidade de remodelar o núcleo idiossincrático

civilizacional, aproximando-nos do altamente necessitado equilíbrio harmonioso: em nós,

nos outros, e em todos os elementos que compõem a Natureza.

Afortunadamente, a incessante procura de conhecimento ao longo da evolução

humana despertou uma certa ampliação da conceção da realidade, desenvolvidamente

idealizando (tanto por acaso como por intuição) inúmeros procedimentos

proporcionadores de estados alterados de consciência, permitindo ao seu executor uma

experienciação sensorial aumentada, comumente desconhecida pela banalidade

quotidiana, podendo até – com o devido foco e preparação – alcançar patamares para-

sensoriais, explorando a metafísica essência de uma inexplicável inteligência, consciente

e presente em toda a existência.

E é exatamente aí, nesse alterado estado de contemplação que reside a

possibilidade de resposta e solução a muitos dos problemas que avassalam o(s) nosso(s)

discernimento(s) – o que se vê de olhos fechados, dificilmente se esquece mesmo de olhos

abertos – a magnificência sentida no auge de uma impactante experiência de um estado

alterado de consciência é suficientemente veemente para transformar a vida de qualquer

sujeito minimamente aberto a esse tipo de mudança, catalisando o corpo, a mente e a

alma.

São múltiplos os métodos e as técnicas favoráveis a alterar o estado da consciência

humana, a sua grande maioria provém de sabedoria ancestral passada de geração em

geração – por vezes dissimulada e acompanhada de secretismo por outras exposta e

praticada em grande escala – existindo, porém, diversos procedimentos concebidos

contemporaneamente ou num passado relativamente próximo. Sendo o yoga, a

4

meditação, a oração, a dança, o tambor e a ingestão de plantas e/ou substâncias enteógenas

e/ou psicoativas alguns dos seus mais ilustres exemplos.

Considerando a crise ecológica e ambiental como uma das mais emergentes

adversidades da era atual, destacando-se as alterações climáticas, a desflorestação, a

poluição e a perda de biodiversidade. A mitigação das atividades suscitantes causadoras

destas disfuncionalidades é meramente um benigno modo de procrastinação, sendo

urgente e essencial a tomada de medidas ativas e contrastantes como a reflorestação, a

vigilância e a imposição jurídico-governamental de leis que privilegiem o equilíbrio da

biosfera. No entanto, e, entretanto, enquanto uma drástica mudança de perceção a nível

coletivo não se manifestar afirmativamente, dificilmente se evitará o presságio da

concorrente instabilidade.

Associando-se a estas premissas o principal objetivo desta dissertação recai no

estudo da possível correlação contributiva entre os estados alterados de consciência e a

preservação ambiental, particularmente na análise das ações e dos comportamentos

emergentes nos indivíduos familiarizados com este tipo de termos e atividades,

interligando assim estes dois domínios parcamente conjugados. Para tal recorrer-se-á a

uma metodologia qualitativa – entrevistando elementos-chave praticantes de

diversificadas práticas espirituais, focalizando (n)as suas trajetórias de vida de modo a

obter relatos em primeira-pessoa das suas experiências e do seu conhecimento.

5

Objetivo(s) de estudo

A presente tese em Ecologia Humana e Problemas Sociais Contemporâneos, tal

como o seu título sugere, pretende averiguar o impacto contributivo dos estados alterados

de consciência (EAC) na preservação ambiental, focando-se principalmente nos

mecanismos interativos de certas práticas espirituais – como por exemplo o yoga, a

meditação, o rezo, a dança, o canto, tamborilares, etc. – e ainda na análise dos efeitos da

ingestão de substâncias e/ou plantas psicoativas, atendendo às suas eventuais capacidades

de estimulação e mediação de características pessoais subjetivas e objetivas, catalisando

mudanças comportamentais, componentes essenciais na transfiguração da perceção da

Natureza.

A principal força motriz por detrás desta investigação é a inserção da temática

relativa aos estados alterados de consciência no círculo académico das Ciências Sociais,

promovendo o seu debate crítico e intelectual, examinando extensas teorias e dados

empíricos publicados, distanciando-se de igual modo de todas a incongruências e

marginalizações sócio-político-culturais fundamentadas em factos falaciosos e/ou

invalidados. Outro aspeto em foco é a produção de literatura científica em português, pela

reduzida e/ou quase inexistente publicação de artigos sobre esta matéria nesta língua,

servindo de suporte para os futuros interessados nesta área.

Estruturalmente esta dissertação está constituída inicialmente por uma extensa

revisão de literatura subdividida em dois distintos capítulos: o primeiro, intitulado de

“Insensibilidade Antropocêntrica” visa a enunciação e exploração de temáticas relativas

ao antropocentrismo e às suas plausíveis consequências na degradação ambiental,

enquadrando-se inclusivamente com alguns dos contributos teóricos da ecologia humana

mais facilmente associados ao tema em circunstância.

Já no segundo capítulo, denominado de “Mudança de Paradigma: Expansão da

Perceção” expõe-se o núcleo conceitual por detrás desta investigação, abordando e

corroborando abrangentemente algumas das publicações contemporâneas mais

sensacionais no estudo da consciência humana, interligando-as subsequentemente com o

vasto domínio da espiritualidade, perscrutando tanto as práticas modernas como as

indígenas e ancestrais.

6

Evidencia-se que as substâncias psicoativas envolvidas nesta investigação

remetem-se principalmente ao discernimento do grupo dos psicadélicos clássicos, isto é,

compostos psicoativos que exercem uma ação agónica direta nos recetores neuronais da

serotonina 2A (5-HT2AR), subdivididos respetivamente em triptaminas, lisergamidas e

fenetilaminas (Johnson et al., 2019). Este apuramento é fundamentado pela maior

quantidade de estudos publicados sobre as suas ações e efeitos, pelo seu menor

desconhecimento geral e acima de tudo pela sua história; contudo, não se pode deixar de

mencionar (mesmo que brevemente) algumas das outras categorias prevalecentes.

Tendo em ademais consideração a intrínseca essência ecológica desta dissertação

o âmago da pesquisa destas substâncias não recairá meramente nos compostos químicos

isolados mas sim na consagrada fauna e flora da sua proveniência, indo ao encontro de

uma visão holística baseada nos ensinamentos xamânicos, onde toda a matéria, orgânica

e/ou inorgânica, é associada a um espírito ou a uma entidade particular (Braun, 2010;

Campos, 2011; Pinchbeck & Rokhlin, 2019).

Seguidamente surge a “Metodologia” e o conseguinte desenvolvimento de novos

dados empíricos respetivos aos estados alterados de consciência e à preservação

ambiental. Para tal, a referência de eleição recai num método de pesquisa qualitativo

mediante a realização de entrevistas atendendo a uma temática exploração das trajetórias

de vida do público-alvo. A escolha deste modelo metodológico justifica-se pela

necessidade de estabelecer evidências teóricas consolidadas, mergulhando

consecutivamente numa pesquisa exploratória mais detalhada, recorrendo às

experiências, pensamentos e opiniões dos indivíduos entrevistados, obtendo desse modo

um panorama mais abrangente baseado em relatos reais e fidedignos.

Relativamente à exploração de trajetórias de vida, esta prática de investigação

social possibilita não só a complexificação dos fenómenos observados como ainda a

apreciação das circunstâncias contextualizadas, possibilitando ao observador fundir-se ao

observado, elevando a sua própria perceção em relação ao objeto de estudo. A narrativa

biográfica é per se o expediente estrutural atendendo à sua capacidade de considerar os

relatos dos entrevistados como elementos-chave para a compreensão do conteúdo em

análise, registando aspetos quotidianos, pessoais e sociais, de vasto interesse para o

desenvolvimento teórico (Marinho, 2017).

7

No que toca à seleção do público-alvo, recorreu-se a uma amostragem não

probabilística via bola de neve (snowball sampling), optando-se por entrevistar

indivíduos-chave altamente familiarizados com pelo menos uma das vertentes

correlacionáveis com os estados alterados de consciência, possibilitando assim a

demarcação dos seus padrões de comportamento e perceção a nível pró-ambiental.

A priori, pressupõe-se que os indivíduos assiduamente mais dinâmicos nas

práticas espirituais predisponham de uma maior propensão a comportamentos

ecologicamente mais sensatos, aplicando-se o mesmo prognóstico a quem tenha

experiência na utilização de fauna e flora psicoativa, preponderadamente devido a uma

maior predisposição ao auto(re)conhecimento e à (re)visão integral como elementos

indivisíveis do Meio Ambiente, possibilitando-os assim de um discernimento lógico e

moral mais acentuado aquando comparados com a generalizada população mundial.

Esta hipótese é posteriormente inspecionada nas secções finais desta dissertação.

8

Capítulo I

Insensibilidade Antropocêntrica

Contextualização

Antes de embarcar na jornada teórico-exploratória deste estudo, considera-se de

certa forma necessária a enunciação e elucidação da realidade contemporânea observada

aquando do desenvolvimento desta dissertação, tanto pelo seu impacto direto em todas as

etapas de investigação e otimização como pelo seu íntimo entrelaçamento com os

problemas socias contemporâneos e o respetivo antropocentrismo, tornando-se assim

numa excelente matéria-prima de análise pela sua associação ao tema contextualizado.

Com o rápido alastrar da pandemia mundial e consequente resposta-ação de

segurança, a vida quotidiana sofreu drásticas reviravoltas no seu habitual emaranhamento,

deparando-se com repentinas alterações das normas e procedimentos socioculturais até

então tidos maioritariamente como garantidos (Sheykhi, 2020). Uma das características

mais impactantes associadas ao coronavírus (Covid-19 e todas as suas adjacentes

mutações) foi a atmosfera de tensão que se sentiu em todos os continentes, elevando ao

expoente máximo sentimentos de medo, ansiedade, impotência, insegurança e acima de

tudo falta de confiança perante a vasta quantidade de informação disseminada.

Para além do drástico colapso dos sistemas sanitários inter e intra nacionais –

realçando-se o fatídico estafamento das equipas prestadoras dos cuidados de saúde, a falta

de equipamentos de intervenção e ainda a ausência de infraestruturas capazes de abranger

toda a população infetada (Nicola et al., 2020; Sheykhi, 2020) – um outro aspeto

equitativamente preocupante é a devastadora recessão económica que se tem manifestado

progressivamente, estimando-se que a totalidade das suas presentes e futuras

consequências possam ultrapassar as maiores crises sentidas pela Humanidade no século

antecedente, como por exemplo a Grande Depressão de 1930 e o pós II Guerra Mundial

(Bateman et al., 2020; Proaño, 2020).

Atendendo às medidas governamentais executadas no intuito de reduzir o

exponencial crescimento pandémico, apesar de conterem as estatísticas de proliferação,

9

estas restringiram drasticamente a liberdade individual pela implementação de padrões

normativos que se opõem ao núcleo constitucional da democracia, ameaçando a delicada

estabilidade pacífica da liberdade coletiva através de significativas alterações dos direitos

e deveres civis; fenómeno este observado com repetida e acentuada frequência um pouco

por todo o planeta, salientando-se as nações com fraco desenvolvimento económico, onde

por subsequência as taxas de desigualdade e pobreza social são mais evidenciadas,

associando-se inevitavelmente a fracos sistemas políticos de governação, com tendência

para a corrupção e autoritarismo (Proaño, 2020; Gebrekidan, 2020 ).

Todavia, a inexorável acumulação de poder legislativo e governamental não

acontece somente nos continentes e/ou países subdesenvolvidos, tanto na Europa como

na América do Norte a convergência a domínios voltados para o totalitarismo também é

amplamente observável, com especial destaque para os Estados Unidos da América onde

a proeminente agitação e mobilização social se têm manifestado com elevado furor e

descontentamento. O exórdio desta instabilidade é longevo e complexo pois entrelaça-se

com o próprio desenlaçar histórico contemporâneo, porém descomplicadamente se denota

que os temas centrais em conflito se associam a tremendas desigualdades civilizacionais

e filantrópicas vinculadas a um voraz e exorbitante capitalismo acompanhado por um

falacioso patriotismo gerador de confusão, divisão, aversão, violência e distanciamento,

resultando em impertinentes racismos, militarismos e muitos outros “ismos” (Diaz &

Mountz, 2020; Krieger, 2020).

Somando a estes fatores as (im)previstas taxas de contaminação e mortalidade

alusivas ao coronavírus – sendo estas as mais elevadas de todo o planeta, inquietamente

representando aproximadamente 1/5 de todos os casos confirmados e 1/6 de todas as

mortes associadas a nível mundial (World Health Organization, 2021) – torna-se

axiomática a escassez de igualdade e equidade estrutural, naquela que é considerada a

supra-nação da era contemporânea, sobretudo quando a grande maioria dos óbitos e dos

casos de contaminação pertencem às classes socioculturais e económicas mais

desfavorecidas, como as comunidades afrodescendentes e latino-americanas (Krieger,

2020; Osofsky et al., 2020).

Porém, não é só a oeste do Atlântico que as cumulativas incongruências de

imparcialidade se externalizam publicamente, também no continente europeu se tem

constatado a perpetração de procedimentos antidemocráticos que malogram a privacidade

e a liberdade individual. Um nítido exemplo é a justaposição de regulamentação sem

10

consulta pública nem debate parlamentar através dos constantes e sucessivos estados de

emergência (Nice, 2020), concedendo ainda mais poder às forças policiais –

possibilitando-as agora de invadir propriedade privada sem mandatos judicias em caso de

suspeita de violação das restrições vigorantes (Vilhena & Freire, 2020).

A necessidade de imposição de preceitos de contenção é inevitável, no entanto

não se pode deixar de referir a analogia entre estas injunções com as dos regimes

ditatoriais europeus do século passado, tais como as limitações de ajuntamento na via

pública, impossibilidades migratórias e até vigilância e denúncias inesperadas por parte

de civis não pertencentes às forças de segurança pública; corroborando com esta paridade,

“Corona-Diktatur” foi elegida como a não-palavra mais impactante de 2020 na

Alemanha pelo “Unwort des Jahres” (Grenier, 2021). De semelhante modo, mesmo que

plausivelmente exagerado, vários protestantes de uma recente manifestação em Berlim

equipararam as novas emendas da lei de proteção contra as infeções

(“Infektionsschutzgesetz”) à Lei Habilitante de 1933 (“Ermächtigungsgesetz”), que após

aprovação concedeu plenos poderes governativos ao partido Nazi (Hille, 2020).

Homogeneamente por todo o planeta, a extrema-direita política e as organizações

fascistas e/ou neonazis têm-se aproveitado desta vulnerabilidade social para recrutar

novos apoiantes através de diversas e elaboradas técnicas de aproximação e

familiarização emocional, usufruindo dos sentimentos de revolta e descontentamento

gerais perante os infortúnios desta pandemia (Agência Lusa, 2021; Rettman, 2020; Diaz

& Mountz, 2020), moldando e voltando progressivamente os raciocínios dos mais

inscientes contra as minorias étnico-culturais imutavelmente desfavorecidas; preferindo

culpabilizar diferenças ao invés de confrontar a corrupção e ganância político-

corporativa, adiando exaustivamente a remodelação dos incongruentes comportamentos

de consumo hiperbólico.

Na última década, nomeadamente após a recessão económica de 2007-2008, os

partidos políticos reacionário-tradicionalistas (re)começaram gradualmente a (re)afirmar-

se cada vez mais nas assembleias parlamentares devido a uma ampliação na adesão às

suas idiossincráticas agendas populistas. E assim o é bem visível aquando se analisam os

recentes sufrágios ocidentais: como por exemplo a eleição de Donald Trump para o cargo

de presidente dos EUA em 2016, ou os mais de 30% dos votos arrecadados por Marine

Le Pen nas últimas eleições presidenciais francesas, ou na Alemanha onde o AfD

11

representa a maior oposição à atual coalizão governante, ou ainda a Áustria onde o FPÖ

já se encontra no poder via coligação partidária (Lammers & Baldwin, 2020).

Assinalando os resultados da última corrida presidencial portuguesa, na qual

André Ventura obteve o 3º lugar mediante 496.773 votos (SGMAI, 2021), o cenário

também se revela preocupante, constatando a sua rígida e incessante exposição de ideais

xenófobos, racistas, homofóbicos e machistas, tal como pela já exposta interligação de

alguns membros do seu partido – CHEGA, de cariz populista radical de direita – com

algumas organizações ainda mais extremistas, como o Partido Nacional Renovador

(PNR), a Associação Portugal Primeiro – movimento antirrefugiados – e até a Nova

Ordem Social – organização neonazi (Agência Lusa, 2021; Malhado, 2020; Lopes 2020).

Toda esta exposição é deveras relevante pois a ligação entre a autoidentificação

político-ideológica e os comportamentos pró ou contra natura é uma equivalência já

amplamente evidenciada; aparentemente, quanto mais conservador – ou à direita – maior

a probabilidade de oposição a iniciativas e condutas ambientais, isto pelo menos aquando

comparados com indivíduos mais liberais – ou à esquerda (Jones & Dunlap 1992;

Krosnick, Holbrook & Visser 2000; Dunlap, Xiao & McCright 2001; Neumayer 2004;

Tranter 2011; McCright & Dunlap 2011, 2012; Clements 2012, 2014; Greenhill et al.

2014; Liu, Vedlitz & Shi 2014; Hamilton & Saito 2015).

A causalidade fenomenológica desta tendência é deveras complexa, porém

estudos recentes sugerem que os mecanismos responsáveis por este tipo de associação

estão emaranhados em fatores adjacentes para além das afinidades político-ideológicas

como a aceitação/rejeição e/ou satisfação/insatisfação perante a implementação de certas

leis e medidas que possam contrastar com as noções de justiça e liberdade pessoal de cada

indivíduo (Jagers et al., 2018). Segundo Moyano-Díaz et al. (2019) a inclinação para o

liberalismo económico – preferência por um comércio de mercado livre com pouca

regulamentação e fraco controlo governamental – é outra característica denegridora dos

movimentos ecológicos; todavia o parâmetro mais impactante está intrinsecamente

embutido no âmago sociocultural e civilizacional contemporâneo, nomeadamente nos

métodos de extração e produção dos bens materiais, imaginando infinitos recursos

naturais, alimentando uma mentalidade voltada para a destruição (Longo & Baker, 2014).

É presumível que a predileção capitalista seja conservadora, de outro modo não

seria possível conservar os hedónicos estilos de vida ocidentais norteados por aspirações

de poder e superioridade, ocultando (ou não) a arrogante postura de orientação à

12

dominância social, recompensando os dominantes – por norma os já bem abastados – às

custas dos grupos “inferiores” – padronizadamente imigrantes e trabalhadores não

qualificados (Stanley & Wilson, 2019), sendo estes os incumbentes essenciais para um

coerente funcionamento da sociedade (Diaz & Mountz, 2020; Krieger, 2020).

De modo geral sintetiza-se que a orientação à dominância social e o simpatizar

com ideais conservadores são os principais motores por detrás da locomotiva reacionária

anti-ambiental, catalisando convicções arbitrárias como a negação das alterações

climáticas (Carrus et al., 2018) mediante a promoção de mentalidades competitivamente

obstinadas à mudança, tecendo narrativas de apoio à violência, discriminação e à

hierarquia social (Stanley & Wilson, 2019), distanciando-se desse modo de toda e

qualquer obrigação ética e moral para com o ambiente – integralmente divergindo dos

fundamentalismos liberais (Feinberg & Willer, 2013) e ademais da (auto)exploração da

identidade própria (Whitmarsh & O’Neill, 2010).

Curiosamente, um dos artifícios mais comumente utilizados na recruta de novos

seguidores e simpatizantes de ideais anacrônicos e conservadores na era digital é a

propagação e divulgação em massa de notícias alteradas e/ou falaciosas – “fake news” –

deturpando a veracidade dos acontecimentos, gerando confusão e alienação naqueles que

não se dão ao trabalho de averiguar a fidedignidade da informação obtida, principalmente

a das distintas redes sociais (Allcott & Gentzkow, 2017).

Todo este fraudulento enredo abre portas a variadíssimas teorias de conspiração,

atraindo inúmeros sujeitos pela sua procura de sentimentos de pertença, conexão, auxílio

e compreensão, ludibriando-se gradualmente nestas retóricas elaboradas, afundando-se e

cercando-se cada vez mais em grupos radicais e bolhas de filtro – “filter bubbles” – onde

o fluxo de informação divergente é praticamente inexistente, fomentando apenas pontos

de vista idênticos (Difranzo, 2017; Pariser, 2011).

Um notório exemplo deste inquietante processo, constatando a sua proeminente

popularidade, é a teoria de conspiração QAnon – fundamentada num discurso antissemita

e antidemocrata – onde Donald Trump adquire uma postura de herói messiânico por travar

inimagináveis batalhas diplomáticas em prol da liberdade nacional (Wong 2020). No

entanto, o verdadeiro objetivo por detrás destas alegações é a obtenção de um maior

número de apoiantes e votantes no partido republicano; representando por consequência

nada mais nada menos do que uma severa ameaça à segurança e à saúde pública mundial

pela indução do pensamento neurótico de desconfiança, dividindo ainda mais os

13

respetivos polos ideológicos (Amarasingam & Argentino, 2020; Beene & Greer, 2021),

resultando em espontâneos atos de violência, intolerância e assolação como a invasão do

capitólio norte-americano por parte de fanáticos republicanos por mero descontentamento

e não aceitação do resultado das eleições presidenciais (Borger, 2021).

Com a exorbitante proliferação da decorrente epidemia e procedente

confinamento, a consulta e comunicação de informação passou a ser realizada em ampla

fração online, acarretando elevados riscos de disseminação de “conhecimento” errôneo,

cientificamente não comprovado e baseado predominantemente em opiniões e desejos

pessoais, induzindo uma elevada percentagem da população global em equivocados e

arriscados comportamentos comprometedores do bem-estar pessoal e coletivo (Apuke &

Omar, 2021; Elías & Catalan-Matamoros, 2020; Fuchs, 2020).

Apesar de todos estes aspetos negativos arduamente impactantes no transcurso da

Civilização, o coronavírus trouxe à luz uma pequena esperança a nível ecológico,

palpavelmente demonstrando – mesmo que involuntariamente – que através de esforços

e sacrifícios generalizados ainda é plausível alterar o rumo do colapso ecossistémico, indo

ao reencontro de estilos de vida menos poluentes e mais sossegados, abrandando a

monstruosa fome de crescimento económico (Helm, 2020).

Alguns dos fenómenos imediatamente constatados após o cessar das atividades

laborais/industriais – como a redução da poluição aérea, aquífera, sonora e ainda a

“invasão” urbana de várias espécies animais – são acontecimentos históricos com deveras

longevos antecedentes (Arora et al., 2020), elevando-se ao expoente máximo a

necessidade de uma rápida intervenção acompanhada por uma alteração dos paradigmas,

fomentando a solidariedade, interconexão e coletivismo não binário (Jandrić et al., 2020).

14

Advertência e Reflexão, Ecologia Humana em Consideração

A diligência perante o estado natural dos ecossistemas, tal como a sua preservação

e manutenção, tratam-se de provectos elementos de análise e integração desde os

primórdios da Humanidade, entrelaçando-se inevitavelmente com o próprio processo

evolutivo da nossa espécie: tão altamente dependente das características e peculiaridades

do seu meio envolvente. Edward Wilson, fundador da sociobiologia, argumenta que a

Biofilia é a nossa inata tendência de identificação e convergência com toda a existência

natural (2003); sendo precisamente pela decursiva imersão e inspiração na Natureza que

os nossos antepassados adquiriram a tão necessária inteligência para a sua vital

preservação, nutrindo-se fisicamente e espiritualmente pela exploração do mundo natural,

expandindo a sua cognição, passando progressivamente esse conhecimento de geração

em geração (Boyette & Hewlett, 2017).

No que toca ao termo ecologia – do grego oikos + logos (estudo do lugar onde se

vive) – este foi cunhado em 1866 por Ernst Haeckel na sua obra “Morfologia Geral” no

intuito de perscrutar as noções do Darwinismo, significando na sua totalidade o somatório

das relações de todos os organismos e o circunjacente mundo exterior, podendo-se

considerar num sentido mais amplo como todas as condições favoráveis à existência,

tanto orgânicas como inorgânicas (Watts et al., 2019). Na altura desta publicação, a

comunidade científica (ainda altamente subjugada pela religião) não soube dar o devido

valor a este conhecimento e terminologia, expectando aproximadamente um século

inteiro até se consolidar numa coerente disciplina do saber.

Desde os meados do século XVIII que inúmeros biólogos e naturalistas

contribuíram para o desenvolvimento teórico da ecologia, contudo foi somente em 1962

com a publicação do “Silent Spring” de Rachel Carson, que a sociedade começou a

despertar para os danos ambientais causados pelas suas práticas insustentáveis,

apercebendo-se da contingência dos perigos associados (Kroll, 2001). Um dos fatores que

certamente impulsionou a expansão do debate deste tema foi a instabilidade política e

cultural vivenciada na década de 1960 nos Estados Unidos da América, onde diversos

movimentos sociais exigiam uma sociedade mais justa, igualitária, sem violência, nem

discriminação, aquando o governo da sua nação procurava somente confrontação e

dominação de todas as minorias (Burns, 1991; Marger, 1984; Pompper et al., 2009),

15

envolvendo-se em obscuras demandas de soberania internacional, como a guerra do

Vietname por exemplo, concedendo total e livre arbítrio aos já poderosos complexos

industriais atendendo apenas aos seus lucros: hegemonicamente imparciais e corruptos.

Independentemente da elucidação e disseminação das suas consequências, a

grande maioria dos indivíduos continuou a afundar-se no consumismo material,

agravando o equilíbrio biossistémico pelo astronômico crescimento populacional,

transformando as imprescindíveis paisagens selvagens em terrenos pastoris e de

agricultura, monocultivando alimentos com baixos valores nutricionais artificialmente

abastecidos de hormonas, pesticidas e ademais … poluindo a água, a terra e o mar,

extinguindo inúmeras espécies pela incessante destruição de habitat, empurrando a

biodiversidade a um colapso irretornável (Attenborough, 2020).

É compreensível a aflição da ideia de transformação, tornando-se tudo deveras

complexo na altura do sacrifício, sobretudo aquando foi árduo o esforço em atingir um

modo de vida aconchegante, com alojamento e acesso diário a comida e água potável,

resguardados por sistemas de segurança, saúde e educação, sem ter de pensar para além

da nossa especialização. Contudo, saindo dessa zona de conforto, de imediato se verifica

que estas condições não estão ao dispor de toda a Humanidade, encontrando-se

desmesuradas discrepâncias na qualidade de vida global, onde nem todos têm emprego,

teto, água e pão.

Atualmente, independentemente dos esforços que se têm realizado neste intuito,

cerca de 11% da população mundial vive abaixo do limiar da pobreza – com menos de

1,60€ por dia – defrontando-se diariamente com severas adversidades como a fome,

malnutrição, acesso limitado a sistemas de saúde e educação, exclusão social,

discriminação, impossibilidade de participar nas tomadas de decisão, etc. (ONU, n.d.). O

mais intrigante disto tudo é que o próprio conceito de pobreza é ocidental, se a perspetiva

religiosa-colonial não tivesse devastado inúmeras civilizações na altura dos

“descobrimentos”, o mais provável é que os atuais desequilíbrios ambientais e

desigualdades sócio-étnico-culturais não estariam tão amplamente agravados

(Bhattacharyya, 2016).

O elo invisível, ou propositadamente não testemunhado, é que toda esta

desigualdade deriva da supra imposição dos estilos de vida ocidentais, mantidos por uma

metodologia de consumo sem lucidez nem remorsos, desprezando o facto de que a

maioria dos objetos e/ou recursos à disposição provêm dos países considerados em

16

desenvolvimento, nomeadamente no hemisfério austral, como o(s) continente(s) africano,

asiático e sul-americano; daí o seu baixo custo, pois de forma alguma se equipara o

rendimento salarial e a própria legislação interventiva, situando-se além de mais em

tremenda desvantagem tecnológica e organizacional (Mirza et al., 2019). Pela influência

dos media e da cultura globalizada, neoliberalmente americanizada, transmite-se uma

errónea correspondência entre bem-estar e sucesso, incentivando uma exagerada

percentagem de indivíduos a almejar pelo mesmo tipo de posses e de comportamento,

aumentando a procura de acumulação (Durvasula & Lysonski, 2010; Loubser, 2018).

O ditado já é velho, enquanto houver procura: haverá oferta, concedendo

gradativamente o exponencial empoderamento dos detentores dos meios de produção em

troca de uma trivial possibilidade de escolha dos produtos pretendidos, afunilando ainda

mais a estratificação social através de um desequilibrado fluxo de bens, recursos e

dinheiro, recompensando apenas aqueles que se conformam com o vigente modelo de

economia linear, predispostos a renunciar a prosperidade das futuras gerações em prol de

um antagónico proveito imediato da fertilidade ambiental (Bedenik & Zidak, 2019;

Sariatli, 2017); corrompendo a simbiótica delicadeza entre todas as relações da fauna e

flora, tanto micro como macro estruturais, pela privação do tempo de regeneração,

desrespeitando os limites de crescimento da civilização na Biosfera terrestre (Meadows

et al., 1972).

Segundo Rockström e associados, de forma a sustentar um espaço operacional

seguro para a Humanidade é necessário ter em observação e apreço a estabilidade de 9

limites planetários específicos – designadamente a poluição química, a acidificação dos

oceanos, as alterações no uso dos solos terrestres, o uso global das reservas de água

potável, a carga de aerossóis na atmosfera, a destruição da camada de ozono

estratosférica, o(s) ciclo(s) do fósforo/nitrogénio, o decréscimo da biodiversidade e as

alterações climáticas – mesmo que separáveis e quiçá quantificáveis por distintos grupos,

todos estes parâmetros encontram-se profundamente interconectados e co-dependentes, o

desequilíbrio de um inevitavelmente destabilizará a performance dos adjacentes.

Infelizmente, neste exato momento considera-se que os últimos 3 limites mencionados já

se encontram ultrapassados, e que os restantes 5 alcançarão as suas respetivas tangentes

muito rapidamente se o nosso comportamento não sofrer nenhum tipo de alteração

(2009).

17

As consequências dos processos da sobre-exploração dos recursos naturais cada

vez mais se manifestam com recorrida frequência, indubitavelmente a desenfreada

multiplicação do ser humano é a condição mais responsável por esta decorrência: tendo

o seu número total octuplicado, de quase 1 bilião para quase 8 biliões apenas nos últimos

200 anos (Roser et al., 2019), asseverando um tipo de crescimento antinatural aquando

equiparado a outras espécies, excluindo-se apenas o reino dos insetos (Wilson, 2003).

Dentro deste espectro, a verdadeira fonte do desastre não é o espaço ocupado por esta

gigantesca multidão mas sim a produção de alimentos para a sua sustentação,

metamorfoseando as pristinas florestas e pradarias em parceladas áreas de cultivo

intensificadas, esgotando a preciosa água potável imprudentemente à medida que

rompendo a orgânica fluência da essência ecossistémica, isto sem esquecer a extinção da

funa pelas exaustivas práticas de caça e de pesca (Crist et al., 2017).

A contrariedade desta esquematização é que para além de toda esta intoxicação

ecossistémica, mais de 690 milhões de indivíduos passam fome diariamente e outros

assombrosos 3 biliões não têm possibilidades de desfrutar de uma dieta saudável

regularmente (FAO, 2020), aquando um terço de toda produção global de alimentos é

desperdiçada: cerca de 14% entre a colheita e a distribuição (FAO, 2019) e cerca de 17%

entre os pontos de venda e o domiciliário (UNEP, 2021), significando que dos 5,5 biliões

de toneladas de alimentos produzidos anualmente, 1,7 biliões de toneladas acabam no

lixo … sendo que esta quantidade seria o suficiente para alimentar uma população entre

2 a 3 vezes superior à atual com falta de subsistência (WFP, 2020).

Economicamente, este desaproveitamento negligente resulta em prejuízos

estimados à volta de 850 biliões de euros aniversariamente (WFP, 2020), já

ambientalmente pondera-se que 28% da totalidade dos terrenos agrícolas – 1,4 biliões de

hectares – são utilizados para cultivar comida extraviada, esbanjando-se 250km³ de água

doce para a sua irrigação – equiparando-se ao caudal do rio Volga, o maior da Europa –

emitindo ainda 3,3 biliões de toneladas de CO2 para a atmosfera anualmente (FAO,

2014). Logicamente que a preponderância desta dilapidação provém da sociocultura

ocidental, congregando somente a Austrália, os Estados Unidos da América, o Reino

Unido e todos os países da União Europeia, contabiliza-se uma malversação rondando os

257 biliões de euros anuais, representando 30% do somatório financeiro mundial

irrecuperável (IFCO, 2020).

18

Uma das preeminentes causas para esta discrepância são as variedades dietárias

praticadas internacionalmente e intercontinentalmente, exemplificando: a média anual do

consumo de cereais per capita da Índia incide em 170kg, a da China em 285kg, a do

México em 450kg, a da Rússia em 480kg, a da Alemanha em 507kg enquanto que a dos

Estados Unidos da América nuns estonteantes 924kg; a causalidade deste gritante

contraste advém pela diferenciação entre a ingestão direta e a ingestão indireta dos cereais

– sendo que a posterior refere-se maioritariamente à ração de gado, sementes e

processamento – ao passo que um indiano consome cerca 150kg diretamente e 20kg

indiretamente, um norte-americano consome 109kg diretamente e 815kg indiretamente

(Siddiqui, 2011). Sem grande margem para dúvidas, a colossal utilização indireta dos

cereais nas nações ocidentais fundamenta-se no excessivo consumo de carne das suas

respetivas populações, pois de forma alguma seria humanamente possível ingerir a

pluralidade das quantidades integrais acima referenciadas.

Uma dieta predominantemente carnívora, tendo em consideração o inacabável

crescimento populacional, é uma inevitável enaltação antecipativa da derradeira tragédia

dos comuns (Hardin, 1968). A cada vez maior procura aciona um mecanismo de cada vez

maior oferta, gerando uma inexorável transformação paisagística pelo desmatamento e

subsecutiva ocupação territorial tanto para a monocriação de gado como para o

condizente monocultivo de ração para o seu sustento (Godfray et al., 2018).

Para além da redução da biodiversidade glocal, alta emissão de gases com efeitos

de estufa e condenável crueldade animal (Bonnet et al., 2020) a indústria da pecuária é

também responsável pelo desgaste de 29% da água utilizada no sector da agricultura –

sendo que esta encarrega-se de 92% da pegada antropomorfizada relativamente à água

potável (Gerbens-Leenes et al., 2013). É realmente difícil de explicar o porquê de tanta

insistência e obstinação em relação à predileção da carne, sobretudo tendo em

consideração os regularmente enfatizados efeitos negativos do seu consumo exagerado

para a saúde humana, como doenças cardiovasculares, cancro colorretal, apoplexia,

diabetes e obesidade (Carvalho et al., 2013).

Um tipo de regime principalmente vegetariano e/ou até vegano, tendo em

solicitude uma equilibrada e multicolorida diversificação de frutas, legumes,

leguminosas, nozes e cereais, não só reduz a probabilidade de contrair múltiplas doenças

como as cardiovasculares, vários cancros, diabetes, hipertensão, cálculos biliares/renais,

diverticulite, prisão de ventre, obesidade, etc. – isto devido a uma diminuta deglutição de

19

componentes potencialmente prejudiciais à saúde como gordura saturada, colesterol,

proteína animal, carnes vermelhas e ferro-heme; substituindo-os por produtos ricos em

fibra, antioxidantes e fitoquímicos (Marsh et al., 2012; Pilis et al., 2014) – como também

reduz o impacto da pegada ambiental através de uma impactante atenuação no consumo

de água, emissão dos gases com efeito de estufa e utilização da área agrícola

(Aleksandrowicz et al., 2016; Baroni et al., 2007; Chai et al., 2019).

De modo geral, mesmo com a regular anunciação e publicação de relatos sobre os

seus efeitos inconvenientes, ainda existe muita pressão da estrutura sociocultural

associada à ingestão da carne (Gossard & York, 2003), resultando em resistência e

ceticismo na redução do seu consumo, tal como em equivocadas opiniões pessoais acerca

da falta de correlação com as alterações climáticas (Macdiarmid et al., 2016).

Segundo Bastian et al. um dos fatores mais preponderantes para este

acontecimento é a denegrição da mente animal, reduzindo a sua senciência a um mero

objeto incapaz de sentir dor, justificando o consumo de carne pela ausência de sofrimento

(2012). Outra condição destacável é a influência da mentalidade patriarcal, espelhando-

se reciprocamente numa maior percentagem masculina do que feminina no que toca à

renúncia da abstinência de carne, pela sua disparatada associação a noções de força e

virilidade (Rothgerber, 2012). Já no que toca a extremismos políticos, também existe uma

positiva correlação entre afiliação à extrema-direita e o excessivo consumo de animais,

principalmente devido a ideologias de dominação e superioridade (Dhont & Hodson,

2014).

Pelas noções de Baudrillard, especificamente a sociedade do consumo,

apercebemo-nos que a presumível fonte desta desarmonia entre o Homem e a Natureza

ocorre pelos artifícios capitalistas de publicidade, embalagem minuciosa, exibição,

tendências, cultura mediática de massas, sexualização e proliferação de mercadorias,

resultando numa desenfreada exteriorização de estímulos promotores de valores

simbólicos associados a expressões de estilo, luxúria, prestígio e poder. A infiltração

desta simulação no quotidiano gera impulsos subconscientes conformistas tanto no

pensamento como no comportamento, alienando o ser humano pela inviabilidade de

compreensão das suas verdadeiras necessidades e até da contingência de um estilo de vida

alternativo, suprimindo a capacidade de transcendência (Kellner, 2019).

Na visão de Ulrich Beck, os confortos da modernização e da globalização, não

obstante os aspetos positivos como a generalizada implementação da democracia,

20

ampliação do multiculturalismo, valimento da intolerância, incremento da esperança de

vida, melhoramento económico, etc., carregam sempre outros negativos mesmo que

silenciosamente, como inflexibilidade laboral, crises político-económicas,

imparcialidade, terrorismo, etc., correlacionando o risco e o progresso ininterruptamente.

Cada ação e/ou medida tem um perigo concatenado, independentemente se nos

apercebemos da sua eventualidade ou não, realçando a pertinência de uma profunda

análise dedutiva antecedente à execução da interferência pretendida, destacando-se os

governos e as grandes corporações industriais pelas suas operações em grande escala,

solicitando as devidas assunções de responsabilidade pelas decisões tomadas (Beck,

1992, 2002, 2006).

Na sociedade do risco global ninguém é imune aos eventuais infortúnios, todas as

hierarquizações político-sociais e económico-culturais estão expostas às catástrofes e às

mudanças inobstante as imaginárias fronteiras (inter)nacionais, e assim o é bem visível

através das alterações climáticas, desastres nucleares, derrames petrolíferos, incêndios

florestais, e por aí adiante. Certos riscos, como os organismos geneticamente

modificados, são irreversíveis, uma vez inseridos nos ecossistemas a difusão desse

específico ADN é incontrolável, afetando toda a fauna e flora circundante. Menosprezar

as implicações desses riscos a médio e longo prazo em prol de um fugaz rendimento é

insustentável, pois nem o respetivo aperfeiçoamento tecnológico é capaz de solucionar

todas as disfunções planetárias causadas pela Humanidade (Beck, 1992, 2002, 2006).

“À medida que o risco provocado pelo homem se expande, o risco torna-se mais

‘arriscado’ (…) Não conhecemos, nem por sombras, qual o nível de risco que

enfrentamos e em muitos casos só o conseguimos detetar quando já é demasiado

tarde”. (p. 37)

(Giddens, 2000)

De forma a contrariar esta tendência é necessário recorrer a um pensamento de

longa distância, contemplando o panorama universal, só assim será possível equilibrar a

exploração dos recursos planetários tendo em equação a prosperidade das gerações

futuras e do meio ambiente (Thorstad & Wolff, 2018). Para tal é imprescindível o

abandono da dicotomia dualista-separatista dentro da nossa espécie, pela genuína

inexistência de dissemelhança entre eu/nós vs. tu/eles; ou se encontra o sucesso para

21

todos, ou para ninguém, não nos sobrando muito mais tempo para averiguar qual é o

sistema político superior, aquando a ilusão governa a sua vasta maioria.

A verdadeira definição de riqueza não é a desmedida acumulação de capital, dado

que este procedimento é antagônico ao inerente processo de evolução pela rutura da

simbiótica sinergia, mas sim a capacidade de organizar a nossa prosperidade tendo em

atenção uma salutífera regeneração paisagística – física e metafísica – da Biosfera (Wu,

2013); expondo-se por conseguinte a emergência em aderir às leis universais

generalizadas ao invés das perversas leis humanas. Nesse intuito, é vital cessar a poluição,

começando pela purificação da nossa cognição, fruindo da intelectualidade. O ideal é o

realisticamente prático, se o uso dos combustíveis fósseis não for descontinuado as

gerações futuras serão privadas de dignidade e qualidade de vida, ameaçando a

prorrogação do Homo Sapiens Sapiens no planeta Terra; é compulsório estagnar as

justificações do tipo “isto custa demasiado”, pois não existe preço mais elevado do que o

desaparecimento da nossa própria espécie (Matheny, 2007).

Outra fonte de transtorno é a (híper)especialização profissional, esta estrutura,

onde cada indivíduo desempenha uma função singular, promove incompreensão, falta de

comunicação e fragmentação dos mais variados ramos da sociedade devido à acérrima

defensão dos pré-programados valores ideológicos de cada área especializada, gerando

ambiguidade e confusão, outorgando a total soberania de decisão aos políticos e aos seus

respetivos governos (Millgram, 2015; Nguyen, 2018). Genericamente, o sistema

educativo é um dos principais perpetuadores desta dinâmica pela sua constante insistência

e sobrevalorização da especialização, conferindo-lhe características associadas ao

sucesso socioprofissional e por conseguinte a idealização de que este tipo de lapidação é

natural, inevitável e até desejável, resultando numa implacável frustração da iniciativa

espontânea, não possibilitando desse modo o desenvolvimento da culminância cognitiva,

acabando na aceitação de todo e qualquer tipo de autoridade (Buckminster Fuller, 1969).

Pela ecofilosofia de Arne Naess, a supressão do âmago antropocentrista

desenrola-se pela formulação de uma sociedade anti-hierárquica e sem classes,

sustentando-se em estilos de vida em conformidade com o bem-estar ecossistémico,

possibilitando a ulterior contemplação da fundamentalidade e complexidade da Natureza.

Os princípios da sua ecologia profunda, argumentam a favor do biocentrismo equitativo,

onde todas as espécies têm um igual e incondicional direito à vida e à sua otimização,

promovendo uma relação simbiótica entre toda a biodiversidade (Drengson, 1995; Naess

22

et al., 1999; Rodrigues, 2012; Sessions & Leopold, 1987). Na sua visão o ponto de partida

para a resolução da crise socioambiental começa pela auto-confrontação e auto-

examinação, seguindo-se a exploração e o questionamento das influências internas e

externas, remodelando-se as atitudes e os comportamentos pessoais (Schroll &

Rothenberg, 2010).

Realçando este fator, a Ecologia do Desenvolvimento Humano considera que a

transição para práticas ecologicamente mais sensatas ocorre pela alteração das próprias

aspirações e expectativas, desencadeando uma mudança no papel social e no seu tipo de

conduta (Bronfenbrenner 1979). Por conseguinte, infere-se que o exórdio da resolução do

decorrente desastre ecológico parte da alteração percetual da nossa própria mentalidade,

pela sua intrínseca reciprocidade com ação e inferência.

23

Capítulo II

Mudança de Paradigma: Expansão da Perceção

Dilucidação de Consciência

Transitando para a segunda secção desta dissertação, enquadrando-se ainda na

revisão de terminologia e de literatura, perscruta-se a importância da perceção da

consciência humana em relação à realidade experienciada integralmente, tanto pelas suas

exponenciais possibilidades, como pela substancialidade de compreensão do seu

enigmático exórdio.

Segundo Max Planck, excogitador da teoria quântica, toda a matéria existe e se

origina unicamente pela virtude de uma força, força esta presumidamente dimanada por

uma inteligência configurada, deduzindo-se, por conseguinte, que a mente inteligente

e/ou espírito é a matriz de toda a matéria (1944); significando que se a própria matéria

objetivamente observável deriva da consciência, tudo aquilo que consideramos como

existente, postula consciência (1931).

Definir consciência pragmaticamente não é tarefa fácil, para além de se tratar de

um termo altamente abstrato e subjetivo com mais de 40 possibilidades de interpretação

(Vimal, 2009), contemporaneamente é também alusivo a pelos menos três distintos signos

facilmente emaranháveis entre si: (1) consciência de ser vivente – representando a

senciência, vigilância, responsividade sensorial; (2) consciência transitiva: representando

a aperceção/atenção/sensibilidade em relação a algo, desde objetos exteriores a

pensamentos próprios; e (3) consciência de estado: representando a perceção subliminar

associada a específicas propriedades de estados mentais como sensações, emoções,

discernimentos, etc. (Rosenthal, 2009).

Outro aspeto de árdua e complexa delimitação, fomentador de intransigente

discussão, é o ponto de proveniência da consciência. Pela noção materialista/fisicalista

considera-se que a consciência é um mero subproduto do mecanismo fisiológico cerebral

e que a realidade material é a derradeira realidade, sendo objetiva e não experimental

(Stoljar, 2015); já na dualismo de substância (e/ou cartesiano) reitera-se que existem dois

24

fundamentos existenciais, o físico e o mental, em que a consciência é exclusiva à mente,

e o corpo um mero recetáculo (Robinson, 2020); no idealismo argumenta-se que toda a

realidade é de certa forma indistinguível e inseparável da perceção e/ou compreensão

humana, sendo a consciência uma idealização e/ou construção mental (Guyer, 2021); ao

passo que no pampsiquismo reforça-se a convicção de que a consciência é inerente a todas

as coisas, orgânicas e inorgânicas, estando sempre presente (Goff, 2017).

Esta dissonância de sentido e categorização é proveniente de resolutos

comprometimentos teóricos pré-existentes em relação às propriedades da consciência, da

mente e do mundo, correlacionando-se inevitavelmente às respetivas particularizações

históricas e socioculturais. A dicotomia entre os pensamentos filosóficos ocidentais e

orientais é um excelente exemplo deste contraste: enquanto Platão e Descartes – pilares

da ciência moderna – bifurcaram o universo pela dualidade substancial, dividindo a

matéria e o espírito antagonicamente; as escrituras clássicas indianas como os

Upanishads consideram a consciência como um estado imanente, primordial, puro e

transcendental, sem sujeito nem objeto, constituindo e fornecendo a base para toda a

existência, humana e universal (Sen, 2008).

De forma a simplificar a sua significação, afastando-se de igual modo de

dogmatismos metafísicos e materialismos unilaterais, a terminologia relativa à

conceptualização da consciência nesta investigação refere-se à experienciação em si; em

vez de ser exemplificada por algo observado e/ou experienciado particularmente, é

exemplificada pela totalidade do que é observado e/ou experienciado plenamente,

simbolizando a sua manifestação à proporção da existência de conteúdo fenomenológico,

isto é, a consciência manifesta-se aquando há consciência e/ou conhecimento e/ou

perceção de qualquer coisa, seja ela o que for. O conteúdo da consciência engloba todas

as ocorrências das quais estamos cientes e a experienciar, incluindo não apenas as

experiências intrínsecas e subjetivas como pensamentos, sensações corporais,

sentimentos, emoções, sonhos, etc. mas também as experiências para além do universo

tridimensional e da sua superfície (Velmans, 2009).

Segundo Malsburg (1997), qualquer tentativa de reduzir a consciência a um

fenómeno unicamente derivado de processos anatómicos/neuronais é reducionista, e o

mesmo acontece com as teorias de foro idealista, dado que ambas as aproximações são

simplesmente dois lados da mesma moeda; para um adequado e próspero funcionamento,

a consciência necessita de plena cooperação entre o corpo e a mente.

25

Utilizando o valor do dinheiro como metáfora ilustrativa, apercebemo-nos que ao

contemplar uma nota e/ou moeda exclusivamente não nos iluminará sobre a sua

verdadeira essência, pois objetivamente não passa de uma conglomeração de plástico,

tinta, papel, metal; o seu sentido deriva inteiramente de padrões de hábitos e crenças

sociais associados a expetativas normativas. Identicamente, focar num único neurônio

e/ou área cerebral, comprimindo a sua função a uma específica sensação, emoção,

experiência, nunca nos clareará sobre a sincrética performance da consciência.

Pelo princípio de Heisenberg, sabemos que a incerteza é uma constante, sendo

impossível determinar com precisão o exato posicionamento de uma partícula a nível

quântico, e que a mera ação de medição perpetuamente alterará o âmago daquilo que é

medido devido a incongruências observacionais (Uffink, 2016). A experiência da dupla

fenda, pela divergência de resultados obtidos no instante da mensuração da refração da

luz, resultando em partículas na presença de um observador e em ondas na sua ausência,

é uma extraordinária amostra desse acontecimento (Weizmann Institute of Science,

1998), comprovando que a consciência é indefinidamente plástica e transmutativa,

transgredindo as barreiras da nossa perceção individual e coletiva.

De modo a expandir os nossos horizontes, alargando a perceção e a compreensão

das possibilidades máximas da localização espácio-temporal onde a Humanidade se

encontra neste exato momento, é mandatória a integração e assimilação da

hiperconsciência, ou seja, unir a antropo-consciência à consciência universal. Seguindo

os preceitos do pampsiquismo, sustentáculo filosófico de inúmeras crenças e religiões

como o hinduísmo, budismo, paganismo, etc., a consciência não é uma virtude

exclusivamente humana, encontrando-se presente em toda a existência, admitindo-se até

que a matéria é oriunda da própria consciência, sendo nada mais do que a representação

da sua condensação atómica (Goff & Cook, 2020).

Por mais que a supremacia da ciência moderna se recuse a aceitar esta hipótese,

dogmatizando acerrimamente a espiritualidade e a metafísica, reduzindo a sua

importância a supérfluas superstições objetivamente invalidadas, o facto de habitarmos

num universo repleto de vida é incontestável, e a semelhança de design entre o micro e o

macrocosmos é provavelmente o indício mais concreto desta inteligência inexplicável.

“O que está em cima, é como o que está em baixo; o que está dentro, é como o

que está fora.”, declarara sabiamente Hermes Trismegistus, o alquimista quiçá-fictício

resultante da mitológica fusão entre o deus grego Hermes e a deidade egípcia Hórus

26

(Hanegraaff, 2018; Vieira, 2018) … e destarte assim o aparenta, aquando se equipara

visualmente a rede neural de um cérebro com a representação ilustrativa do universo, ou

o nascimento de uma célula com a morte de uma estrela, ou a íris ocular com uma

nebulosa, ou a estrutura pulmonar com a ramificação de uma árvore, ou de um rio, ou de

um relâmpago, e por aí fora. Quase tudo – só não é mesmo tudo, devido ao nosso

imperfeito entendimento – é simetricamente correspondente; os padrões da geometria

holística, sequenciando-se matematicamente por Fibonnaci, Venn, Lucas, etc. (Lemanski,

2019), demonstram justificadamente o princípio da fractalidade: matriz incondicional da

realidade observada ecumenicamente, espelhando-se estruturalmente tanto na energia

como na matéria (Calcagni, 2010; Coleman & Pietronero, 1992; Iovane et al., 2004).

Inobstante à geral carência de demonstração de formas de vida sapientes

extraterrestres – apesar dos infindáveis relatos anedóticos de contacto e/ou avistamento

por todo o planeta – há fortes indícios de existência de vida microbiótica interplanetária

através da identificação de fósseis semelhantes a cianobactérias presentes em alguns

excecionais meteoritos (Hoover, 1997), apontando para a teoria da panspermia cósmica,

onde a transferência de vida e/ou evolução biológica ocorre através da migração de

microrganismos por astros celestes (Joseph & Schild, 2010). Para além do espectro

orgânico, certas suposições de carácter panteísta alegam que mesmo os domínios

inorgânicos são portadores e difusores de consciência, constituindo estruturalmente o(s)

substrato(s) para o desenvolvimento microbiológico, evoluindo progressivamente para

etapas mais complexificáveis de forma a sondar esta infindável e omnipresente

inteligência (Mander, 2020).

Gaia, a admissível consciência do nosso próprio planeta, desde os tempos da

Grécia Antiga que se tem intrometido literariamente na nossa imaginação, contudo,

contemporaneamente, paralelamente à evolução tecnológica e à progressiva conquista

exploratória da órbita terrestre, superfície lunar, sistema solar e sucessivamente, essa

fantasia tem-se consolidado categoricamente no nosso quotidiano, despertando novas

questões e uma nova visão sobre a existência. O ponto de viragem começou na década de

1960 com o surgimento das primeiras fotografias espaciais do planeta Terra na sua

íntegra, demonstrando objetivamente que a vida tal como a conhecemos se encontra

enclausurada numa magnificente esfera azul à deriva numa preponderante inóspita e vazia

escuridão, tendo margens e limites (Attenborough, 2020).

27

O efeito da visão global – “Overview Effect” – frequentemente mencionado pelos

astronautas, é caracterizado por intensas emoções transcendentais aquando se contempla

a superfície terrestre a partir dos espaço, impulsionando sentimentos de fascínio,

comunhão e identificação com toda a Humanidade e com toda a Biosfera, removendo

instantaneamente as barreias socio-politico-étnico-culturais, pois nada disso é

concretamente observável (Yaden et al., 2016).

“A visão da Terra a partir da Lua fascinou-me, um pequeno disco a 240,000

milhas de distância … furiosos interesses nacionalísticos, pestes, guerras,

fomes, não aparecem àquela longinquidade.”

(Borman, n.d.) 1

Outro aspeto comumente relatado é a visualização dos macro-mecanismos

ecossistémicos, como a proporcionalidade harmónica na mudança das estações,

transformando as cores e as texturas paisagísticas ao longo de centenas e/ou milhares de

hectares num curto período de tempo; ou a migração de sedimentos do Deserto do Saara

por cima do Oceano Atlântico em direção à Floresta Amazónica para a sua nutrição; ou

a deslocação da evaporação vegetal oriunda das florestas tropicais, condensando-se em

chuva nos locais mais necessitados; ou ainda as flutuações do degelo das calotas polares,

e as suas reverberações nas linhas costeiras (Aronofsky et al., 2018). Todas estas

particularidades testemunham a favor da existência de uma inteligência supraconsciente

pela sua colossal magnitude de interconectividade, sendo impercetíveis para a maioria da

Humanidade – ordinariamente por falta de vontade, ou até mesmo medo em aceitar uma

realidade antagónica aos seus habitus.

Diversos autores argumentam que inclusivamente as plantas são entidades

amplamente conscientes, exibindo sinais de cognição, aprendizagem e memória, estando

capacitadas de sentir mais de vinte diferenciadas sensações e/ou reações químicas em

simultâneo – deveras acima dos nossos habituais cinco sentidos – conseguindo ademais

comunicar não só com outras espécies de plantas como com diversas espécies de animais

pela emissão de feromonas e/ou mecanismos simbióticos de recompensa (Barlow, 2015;

Mancuso et al., 2015; Trewavas & Baluška, 2011). São inúmeros os possíveis exemplos

1 Frank Borman, comandante da missão lunar Apollo 8.

28

ilustrativos da interação intra e inter-espécies corroboradores da elevada inteligência do

mundo vegetal, desde a escolha dos seus parceiros de acasalamento (Moore & Pannell,

2010), ao esforço comunitário em lidar com infeções parasitárias (Dicke, 2009), ao

estratégico estiramento das suas raízes para setores não ocupados, afastando-se antes de

sequer tocar nos ademais competidores (Falik et al., 2005), às multiformes micorrizas

conectando toda a flora circundante e proporcionando uma idónea transferência de

nutrientes e outros sinais eletromagnéticos até agora indecifráveis (Barto et al., 2012;

Song et al., 2010), à mímica de órgãos reprodutores dos seus polinizadores, à

cooperação/atração especializada de aves e mamíferos para propagação de descendência

(Leonard & Francis, 2017), etc..

Todavia, existe uma conjuntura que ultrapassa toda as expectativas e compreensão

do que é possível e imaginável, fazendo-nos indagar sobre o próprio conhecimento

conceptual da realidade envolvente: as plantas psicoativas. Dispersas um pouco por todo

o planeta, metamorfoseando-se em diversas variações do reino vegetal – com mais de 300

espécies identificadas como propícias a alterar a consciência humana – cada uma destas

plantas tem os seus respetivos artifícios, segredos, e ações, sendo capazes de produzir

exímias alterações nos estados emocionais, perceções, e sensações dos domínios espácio-

temporais (Rätsch & Hofmann, 2005), proporcionando ao seu usufrutuário a

contemplação de patamares de complexidade e interligação, geralmente desconhecidos.

Um espantoso elemento mencionado com alguma regularidade é a aparente

manifestação de inteligência consciente no decorrer dos seus efeitos, guiando e

acompanhando o usuário ao longo da sua extraordinária jornada, estando na sua intrínseca

eloquência associada a uma metafísica apresentação da sapiência da planta em causa

(Campos, 2011; Luna, 1984; Pendell, 1995; Strassman et al., 2008). Apesar do tema dos

psicadélicos se tratar de algo relativamente recente na sociedade ocidental e/ou científica

– popularizando-se apenas em meados do século passado – a utilização e consagração da

flora com este tipo de características é uma provecta atividade humana, espelhando-se

pela sua fulcral centralidade em inúmeras comunidades tribais, onde o contacto com a

Natureza é imediato e correlativo.

Independentemente da remota geo-localização da generalidade das remanescentes

sociedades primitivas (sustentadas através da caça e recoleção) e/ou com vinculações a

esse estilo de vida, denota-se uma acentuada homogeneidade a nível da significação e dos

procedimentos concatenados às práticas de divinação com as plantas psicoativas: como a

29

importância e o respeito pelo ato ritualístico por parte dos seus participantes, a invocação

de forças anímicas superiores, e a indispensável figura do curandeiro e/ou xamã,

supervisionando, alumiando e amparando todo o decurso cerimonial (Harner, 1982);

fazendo-nos questionar seriamente sobre este acontecimento, considerando a analogia dos

seus argumentos e interpretações aquando o contacto físico entre a maioria destas

comunidades tribais fora e é, logicamente impossível, tanto pelas suas extremas isolações,

como pela separação geomorfológica oceânica-continental.

Este tipo de circunstância(s) corrobora(m) dinamicamente a favor da existência

de uma realidade metafísica comumente não observável, visto que o espaço acedido

através de diversificadas técnicas de divinação é deveras idêntico não obstante a

diferenciação da localização global, refletindo-se nitidamente pela exegese das suas

contingências e crenças espirituais, costumes culturais, e ainda semelhanças nos padrões

artísticos – geometria, multicor, etc. (Walter & Fridman, 2004).

Para além da flora psicoativa, há numerosas alternativas apropriadas à alteração

da consciência humana descobertas e/ou desenvolvidas ao longo da nossa evolução, como

meditar, tamborilar, chocalhar, rezar, cantar, dançar, criar arte, jejuar, suar

(sauna/temazcal), buscas de visão, privação de sono, auto-isolação, privação sensorial,

técnicas de respiração, foco da atenção, interpretação de sonhos, rituais de passagem, etc.

(Bourzat & Hunter, 2019; Eliade, 1984; Metzner, 2009). Todas estas competências

surgiram pela arcaica necessidade de compreender e explorar a consciência, procurando

satisfazer as mais inerentes tendências das aspirações pessoais, à medida da insuficiência

de coerência baseada meramente no domínio material.

Os estados alterados de consciência são denominados como temporárias

deviações do habitual e normativo estado de vigília, envolvendo múltiplas transformações

nos níveis de perceção, cognição, emoção e entusiasmo; podendo ocorrer

espontaneamente – via trauma, ataque epilético, experiência de quase-morte – ou ser

induzidos deliberativamente pelos métodos acima referidos, e mais alguns.

Indiferentemente do seu processo originador, os estados alterados de consciência

afrouxam as ordinárias restrições sensoriais e cognitivas, podendo romper crenças há

muito tempo estabelecidas sobre o que é provável e improvável, possível e impossível, e

em certas situações intensificadas, dissolver a impregnada distinção entre o “eu” e tudo o

resto (Kingsland, 2019).

30

Segundo Winkelman (2004), os estados alterados de consciência proporcionam –

ou são proporcionados por – sistemáticos padrões de descargas cerebrais, promovendo a

coesão e sincronização entre ambos os hemisférios; a integração destas descargas

elétricas no eixo do sistema nervoso central (neuraxis) gera a síntese dos pensamentos,

emoções e comportamentos. A serotonina (5-HT), neurotransmissor responsável pela

regulação do humor, apetite, digestão, ajudando também na regulação do ciclo sono-

vigília pela sua precursão da melatonina (McIntosh & Carter, 2020), desempenha uma

importantíssima função em todo o encadeamento de um estado alterado de consciência –

pela condensação de sinais ao longo das áreas cerebrais funcionais – integrando os

feedbacks de todo o organismo, envolvendo especificamente a transmissão de informação

das estruturas pré-verbais (sistema(s) límbico e reptílico: dirigentes dos impulsos

comportamentais e emocionais) para as estruturas associadas à autoidentificação

(mediadas pelo córtex frontal e linguagem).

Na sua íntegra, estes mecanismos biológicos providenciam a sustentação

materialística que possibilita a experienciação de sensações de iluminação, conexão e

unidade com todo universo; contudo, como referido anteriormente, isso é apenas metade

de um resumido esclarecimento, a outra metade é espiritual, mística e indecifrável,

fundindo-se com a imaginação. Apelidada de Deus por uns, Alá por outros, surgindo

ainda Brahman e Grande Espírito … todas estas diferenciações terminológicas,

conceptuais e religiosas, exaltam exatamente a mesma tônica: a consciência cósmica e/ou

universal unificadora de toda(s) a(s) realidade(s): sendo omnipresente, omnipotente,

omnisciente, eterna, infinita, e auto-existente (Das, 1932).

Os estados alterados de consciência, mediante a sua ação de expansão,

impulsionam um inevitável alargamento da perceção pela maior proximidade e

compreensão desta ubíqua inteligência, desencadeando sentimentos de pertença,

aceitação e benevolência, aliviando a tensão quotidiana e o medo do desconhecido,

substituindo-os por liberdade, empoderamento, fascínio e gratidão, pela realização do

quão miraculosa é a possibilidade de experienciar a vida em primeira pessoa (Buck, 2006;

Coyle, 2002; Swinton, 2001). Vislumbrar os domínios metafísicos – mesmo que por

breves instantes – pode estimular uma profunda alteração comportamental no momento

da aperceção de que tudo está interconectado (Vaughan, 2002), fomentando sentimentos

de amor próprio por cada partícula do universo, transfigurando as práticas incongruentes

e de destruição em atos de compaixão e proteção regenerativa, depreendendo-se que

31

aquando fazemos algo de errado, mesmo inconscientemente, pomos em causa a nossa

integridade pessoal.

Ao analisarmos minuciosamente os registos do desenvolvimento biológico no

planeta Terra, infere-se irrefutavelmente que pouco ou nada se poderia alterar ao longo

do seu decurso de modo a ser possível o nosso aparecimento: é como se fosse uma

inerente vontade da própria vida em tornar-se auto-consciente de todos os seus processos

subentendidos, esforçando-se ao máximo para que apenas as melhores características e

aptidões sejam passadas de geração em geração de forma a aprimorar a magnificência e

complexidade da sua vital infraestrutura (Darwin, 1859).

“A felicidade da abelha e do golfinho é existir; para o ser-humano é saber isso e

maravilhar-se.”

(Cousteau, n.d.)2

Considerando a virtuosidade da nossa anatomia, torna-se extremamente difícil de

prever quais seriam os próximos atributos físicos a ser elaboradamente otimizados – tanto

pela atual instabilidade ecossistémica (correlacionando-se com a adaptação do organismo

ao seu meio ambiente), como pela heterogeneidade da plasticidade genética – todavia,

certas teorias apontam que a próxima grande revolução na nossa evolução é espiritual

(Kapoor, 2007; Neufeldt, 1993; Stead & Stead, 2014; Vaillant, 2008). Ao favorecer a

ampliação das nossas capabilidades psíquicas, um senso de comunhão coletiva

prevalecer-se-á, removendo muitos dos obstáculos sócio-político-culturais pela

facilitação da comunicação e compreensão entre os respetivos indivíduos; a dissipação da

diferenciação fortalecerá os laços da representatividade, impulsionando a interajuda ao

passo que desimpedindo a transposição para práticas mais sustentáveis e equitativas.

Apenas um esforço comunitário em grande escala, holístico e unificado, é capaz de

solucionar o desmedido desequilíbrio sócio-biosférico, mas para tal é inevitável

amadurecer a nossa perceção.

2 Jacques-Yves Cousteau, oficial da marinha francesa, cineasta, oceanógrafo, coinventor do equipamento

de mergulho autónomo (SCUBA).

32

Exploração Transmutativa: Yoga e Meditação

Como abordado referencialmente até este exato momento, existem inúmeros

procedimentos capazes de suscitar um estado alterado e/ou expansivo de consciência.

Segundo Vaitl (2012), é possível simplificar o seu entendimento e os seus mecanismos

de ação pela categorização em cinco domínios distintos: (1) indução espontânea, (2)

indução patológica, (3) indução psicológica, (4) indução física/fisiológica, e (5)

indução farmacológica; podendo qualquer uma delas originar uma profunda e

transformadora experiência transcendental.

No que toca aos estados alterados de consciência espontâneos, estes afluem

através de súbitas flutuações no estado de vigília ao longo de habituais atividades diárias,

apresentando-se subjetivamente na integração fenomenológica via oscilações no

continuum dos ciclos neurológicos, isto é, incorre uma repentina mudança na disposição,

foco/atenção e assimilação da realidade objetiva (Boly et al., 2008). Na sua pluralidade

estes acontecimentos são constantemente vivenciados por todos os humanos, contudo

desvalorizados pela sua ordinária frequência; dentro deste espectro encontram-se os

estados de sonolência – mais especificamente a privação do sono (Oswald, 1962;

Guilleminault et al., 1972) – os estados hipnagógicos – períodos de passagem entre o

acordar e o adormecer – (Hori, Hayashi & Morikawa, 1994) – as diferentes fases do

sono/sonhos – e todas as suas variações como a paralisia do sono, terrores noturnos,

sonhos lúcidos, etc. (Arkin, Antrobus, & Ellman, 1978) – e o ato de sonhar acordado –

“daydreaming” (Klinger, 1978). As experiências de quase-morte, mesmo que

excecionais, e claramente não banais, também se enquadram neste grupo, sendo por si as

mais enigmáticas, marcantes, e revolucionárias, porém as mais difíceis de analisar pela

impossibilidade de as ocasionar artificialmente (Greyson, 2000).

A indução patológica, tal como o seu nome indica, é a ocorrência de estados

alterados de consciência por intermédio de uma doença e/ou perturbação,

comprometendo o saudável funcionamento do organismo. As principais causas estão

corelacionadas com desordens cognitivas, e lesões cerebrais diretas e indiretas (estruturas

periféricas), afetando o fluxo da consciência através de dramáticas e acentuadas variações

na perceção, emoção, sensação, racionalização e mobilidade, resultando principalmente

de distúrbios psicóticos, ataques epiléticos, estados vegetativos, coma, doenças

33

neurodegenerativas (p.e. Parkinson, Alzheimer), entre outras mais raras e complicadas

(Noirhomme & Laureys, 2011).

Estas duas categorias iniciais (patológicas e espontâneas), devido às suas

condições de instabilidade, imprevisibilidade e causalidade inoportuna, são abordadas

apenas para fins introdutórios e elucidativos, de modo a instruir o leitor sobre as vastas

possibilidades e contingências proporcionadoras de expansão e/ou alteração da

consciência. As seguintes (psicológicas, físicas/fisiológicas e farmacológicas), são

notoriamente mais destacáveis e vinculativas a esta investigação, tanto pela vultuosidade

dos seus impactos subjetivos (resultando em modificações comportamentais mais

perspicazes e eficientes), como por questões de segurança, quantidade de informação, por

padrão de descomplicada execução, e ainda holística convergência perante o envolvente

Meio Ambiente.

Sumariamente, os estados alterados de consciência induzidos psicologicamente,

física/fisiologicamente e farmacologicamente, processam-se por atividades corpóreas e

mentais capacitadas e canalizadas a modificar a periódica atividade cerebral. A intrincada

diferenciação recai na condição do impulso: enquanto na indução psicológica a

estimulação é interna, de dentro para dentro (da mente auto-dominada que vai ao encontro

da expansão propositada); ambas as induções físicas/fisiológicas e farmacológicas advêm

de uma estimulação externa, de fora para dentro, dependendo de certos procedimentos

e/ou circunstâncias circundantes (Vaitl et al., 2005).

Exemplificando, os EAC psicológicos albergam técnicas arcaicas como a

meditação, o rezo, a dança, o tamborilar, e ainda técnicas modernas desenvolvidas

cientificamente como a privação sensorial, a hipnose e o biofeedback; já os EAC

físicos/fisiológicos podem ocorrer mediante técnicas respiratórias, dietas/jejuns,

atividade sexual/orgasmo e exposições a ambientes extremos desfavoráveis à nossa

subsistência (como elevadas altitudes e/ou profundidades e/ou temperaturas

intransigentes); já os EAC farmacológicos (sucedidos pelo consumo de substâncias com

propriedades psicoativas) certamente se remetem à sistematização física/fisiológica, no

entanto, pela sua vasta disseminação e variação de desempenho, englobando distintos

métodos e associações socioculturais, torna-se metodologicamente mais acertado a sua

consideração sui generis.

Múltiplos destes procedimentos, independentemente se são psicológicos,

físicos/fisiológicos e/ou farmacológicos, influenciam-se mutuamente, sendo até

34

praticados em simultâneo ou intercaladamente de forma a obter um panorama mais

completo e diversificado, destacando-se o yoga. Esta prática milenar, inerentemente

associada à civilização do vale do Indo – notoriamente uma das civilizações mais

vanguardistas da antiguidade oriental – é datada de há pelo menos 9 mil anos atrás, isto

considerando as referências astronómicas afirmadas nas escrituras mais antigas

conhecidas pela Humanidade, o Rig Veda (Achar, 2009), havendo contudo propostas

enraizadas na cultura popular Hindu que estendem essa margem muito mais além, sendo

todavia impossível de as ratificar cientificamente, pois até à aparição da escrita esse

conhecimento era transmitido oralmente.

O termo yoga deriva do bīja sânscrito “yuj”, tendo o literal significado de união

e/ou reunião (da personalidade com a universalidade). Tratando-se de um conceito

ancestral, mencionado em inúmeras obras literárias, a sua conceptualização foi-se

ligeiramente adulterando ao longo dos milénios, metamorfoseando-se com o passar dos

tempos até à forma como a conhecemos atualmente.

Hoje em dia, o yoga está amplamente disperso por todo o planeta, contando com

mais de 300 milhões de praticantes (The Good Body, 2020), no entanto, na sociocultura

ocidental esta exótica palavra é forçadamente conotada apenas a flexibilidade e atividade

física, banalizando-se e desprendendo-se das suas raízes filosóficas e espirituais

(Webster, 2016; White, 2012). Pela formulação de Ashtanga – os oito membros – do Raja

Yoga, Patanjali elucida este percurso absoluto, explicitando que a vertente física é apenas

um oitavo desta multifacetada aprendizagem, sendo a sua íntegra composta por:

1. Yamas (disciplinas externas, subdivididas em:)

1.1. Ahimsa (não-violência)

1.2. Satya (autenticidade/genuinidade)

1.3. Asteya (não roubar)

1.4. Brahmacharya (comedimento sexual: castidade/fidelidade conjugal)

1.5. Aparigraha (não-ganância/não-possessividade)

2. Niyamas (disciplinas internas, subdivididas em:)

2.1. Shaucha (pureza: da mente, do corpo, e da expressão/linguagem)

2.2. Santosha (contentamento/aceitação das circunstâncias e dos ademais)

2.3. Tapas (persistência/perseverança/austeridade/asceticismo)

35

2.4. Svadhyaya (autoestudo/estudo das escrituras sagradas)

2.5. Ishvarapranidhana (entrega/rendição à vontade divina)

3. Āsana (posturas físicas centradas na promoção da tonificação bioenergética)

4. Prānāyāma (controlo da energia vital via técnicas de respiração)

5. Pratyāhāra (supressão da sensação: redução/remoção dos estímulos exteriores)

6. Dhāraṇā (concentração: gerar atenção deliberadamente por tempo indefinido)

7. Dhyāna (meditação/contemplação: atenção sem tensão, presente e consciente)

8. Samādhi (absorção/iluminação: integração total entre o “eu” e o “universo”)

(Hayes & Chase, 2010)

Como se pode observar, o yoga não é uma mera prática desportiva, na sua essência

trata-se de um estilo de vida holístico e disciplinado, imerso na exploração dos segredos

da existência via expansão da perceção, aperfeiçoando-se progressivamente pela união da

consciência individual com a consciência universal, preconizando uma aprimorada

harmonia entre o corpo e a mente, entre o Homem e a Natureza.

Constatando a sua metodologia de incessante observação até adquirir a

compreensão de um (pre)determinado mecanismo, o yoga equipara-se veementemente à

ciência moderna, demonstrando a viabilidade de alternativas para a obtenção do mesmo

conhecimento; como é por exemplo o caso da física quântica, em que a sua afirmação

basilar (de toda a realidade ser uma manifestação energética, operando em singularidade),

ter sido repetidamente exposta, detalhada e clarificada por inúmeros mestres e escrituras

milhares de anos anteriormente (Aravinda Prabhu & Bhat, 2013).

Na visão do yoga, aqueles que conseguem experienciar essa mesma

singularidade/unidade existencial são intitulados de yogīs, devido ao alcance de um novo

patamar de liberdade (mukti, nirvāṇa ou mokṣa). Por conseguinte, o derradeiro objetivo

do yoga é a autorrealização, superando todo e qualquer tipo de sofrimento, direcionando-

se ininterruptamente para novos estados de libertação e independência, comandando o

próprio destino, deixando para trás a vitimização e a culpabilização de outrem pela

disposição da situação atual das nossas vidas. Para além desta intrínseca mudança no

ânimo pessoal, o yoga também promove o melhoramento da condição humana coletiva,

impulsionando a execução de condutas éticas e morais, valorizando o respeito, a

entreajuda, a compaixão, a afeição, a benquerença, etc. (Basavaraddi, 2020; Bhavanani,

n.d.; Pereira & Tesser, 2021).

36

A meditação desempenha uma função imprescindível para o acontecimento desta

progressão transformativa, pois é através do cessar do raciocínio corrente que se

desencadeia a contingência de expandir a consciência, vislumbrando os seus mecanismos

latentes. A relevância da meditação espelha-se pela sua prática e subsistência muito para

além do yoga, centrando-se em religiões como o Budismo, Hinduísmo, Jainismo,

Siquismo, Taoismo … encontrando-se também no Cristianismo, Judaísmo e Islamismo

por meios subjacentes (Caponigro, n.d.; Ross, 2016).

São inúmeras e diferenciadas as técnicas e especificações concernentes à

meditação, não havendo nenhuma privilegiada, acertada, ou errada, desde que a sua

principal finalidade se verifique (conexão do “eu” com o “eu-interior”): é como se tratasse

de uma vasta rede de estradas com a mesma destinação, cada uma representando exímias

preferências pessoais, socioculturais e/ou religiosas. Nesta diversificadíssima

espetrologia englobam-se procedimentos como o controlo da respiração, visualização

mental, atenção plena (mindfulness), entoação/imaginação de mantras, concentração

auditiva em sons naturais e/ou artificiais, contemplação paisagística/iconográfica,

relaxamento progressivo, emanação de amor incondicional, etc. (Riopel, 2021). Todos

estes métodos (e mais alguns) direcionam-se à ampliação da compreensão da realidade,

no entanto nem todos são propícios a iniciantes devido à complexidade vinculada à sua

consumação, sendo quase sempre aconselhado uma variada experimentação de forma a

depreender qual é o tipo de meditação que nos proporciona melhores resultados e

satisfação (Bertone & Bubnis, 2020).

Ao contrário da convicção generalizada, o ato de meditar não é apenas fechar os

olhos e estagnar o movimento; inobstante o sólido estatismo da postura convencional

(assentar retilineamente), persevera-se um subentendido ativismo subjetivo no domínio

da concentração, requerendo uma recorrente firmeza e determinação em desapegar do

contínuo fluxo de pensamento, tal como da sua múltipla correspondência com as

estimulações provenientes do exterior e/ou do corpo físico (Bhajanananda, 1981).

Segundo as escrituras primordiais, o processo meditativo desenrola-se em 3 fases

distintas: (1) [dhāraṇā] – perpetuação do foco da atenção num (pre)determinado objeto

por consideráveis intervalos de tempo sem ceder a distrações; (2) [dhyāna] –

estabilização da relação entre o objeto da atenção e a mente, despontando introspeção; (3)

[samādhi] – a relação entre o objeto da atenção e a mente intensifica-se, fruindo a

37

singularidade, despertando a perceção plena do (auto)condicionamento, ampliando a

noção das limitações e possibilidades da consciência (Telles et al., 2014).

Atingir o derradeiro estado de união cósmica requer entrega e dedicação,

dependendo de igual modo da capacidade de abstração/focalização de cada indivíduo

(demarcando-se que é através da prática que se atinge a perfeição); porém Hankey et al.

(2006) afirmam que esta eventualidade torna-se mais plausível recorrendo às técnicas

ancestrais fundamentadas nas tradições védicas e budistas, como a meditação

transcendental e/ou a meditação da compaixão, isto devido à observação da ativação de

todas as áreas cerebrais durante as suas decorrências, espelhando-se num consistente

aprimoramento da perceção caracterizado por um sublime estado de vigília, altamente

sensível ao processamento mental dos padrões cognitivos e dos estímulos exteriores

(Gifford-May & Thompson, 1994).

Uma possível explicação para este acontecimento dá-se pelo alcance da

assimilação não-dual – espaço em segundo plano, onde tudo é unificado, imutável e vazio

de conteúdo mental; sempre presente, contudo frequentemente não reconhecido,

encontrando-se obscurecido pelos sentimentos, emoções e pensamento discursivo –

facilitando a compreensão da natureza da realidade e a sua interligação com a

individualidade, promovendo profundos estados de êxtase e bem-estar (Hanley et al.,

2018). Esta transgressão de barreiras mentais permite um diálogo direto entre o consciente

e o subconsciente, viabilizando a transferência de conteúdo e o acesso a informação

exclusiva a profundos estados de sono e/ou sonhos, porém lucidamente; sofisticando a

resposta-ação da totalidade do organismo pela compreensão das suas insuficiências

(Barnard, 2017; Sharma, 2015).

38

Xamanismo e os seus Processos de Consagração

Para além dos métodos expansivos de derivação oriental, ao examinarmos as

poucas tradições indígenas que nos restam contemporaneamente – sendo elas na sua

íntegra uma vivificada e detalhada amostra pré-histórica – apercebemo-nos de imediato

da influência de variadíssimos processos instigadores de alteração da perceção,

corroborando a contingência de que a serventia dos estados alterados de consciência é

uma prática deveras ancestral, havendo fortes indícios a apontar para a sua notoriedade

ao longo da evolução da nossa espécie.

Pela antropo-arqueologia, considerando especificamente as pinturas rupestres e os

jazigos, depreende-se consistentemente que a espiritualidade e o misticismo

desempenhavam uma função de elevada importância no dia-a-dia dos nossos

antepassados, encontrando-se um pouco por todo o planeta evidências de ilustrações com

fortes semelhanças aos padrões geométricos frequentemente associados às visões

entópticas inicialmente experienciadas nos estados alterados de consciência, destacando-

se os ziguezagues e as espirais (Lewis-Williams, 2002); tal como diversificados objetos

com plausíveis finalidades ritualísticas, como por exemplo ossos, conchas, cristais,

estatuetas, instrumentos musicais, com algumas datações excedendo os 30 000 anos

(Ustinova, 2011).

Perscrutando as panóplias arqueológicas, infere-se que as técnicas primordiais

utilizadas para induzir estados alterados de consciência provinham maioritariamente da

música, movimento, e fauna e flora com propriedades enteógenas/psicoativas,

equiparando-se extensivamente ao que é possível de observar explicitamente nas

comunidades tribais coetâneas (Eliade, 1964; Walter & Fridman, 2004).

A música e o movimento, nomeadamente a dança, o canto e a percussão, há vastos

milénios que têm sido fonte de harmonia e convívio, fortalecendo os laços amistosos e a

coesão social, resolvendo por vezes conflitos mediante a simples possibilidade de

isocrónica celebração, implementando a noção de semelhança e igualdade através de

intuitiva coordenação e/ou mimetismo, dimanando num senso comunitário de

intencionalidade; esse temporário período de interconexão viabiliza a transferência de

informação entre diversificadas modalidades de expressão (como a facial, emocional,

comportamental), consolidando-se num senso de concordância acerca da realidade

39

experienciada, alargando as capacidades integrativas da consciência coletiva e do seu

respetivo simbolismo, apaziguando o sofrimento e a solidão pela representatividade

(Fasullo et al., 2020; Winkelman, 2011).

Segundo Cvetkovic & Cosic (2011), a enigmática influência da musicalidade no

nosso estado de espírito, provém da sua habilidade em despertar e excitar os neurônios

auditivos, influenciando posteriormente os neurônios motores espinhais, transfigurando

a atividade cardiorrespiratória mediante a sua intrínseca complexidade e variação de

timbre, tom, vibrato, intensidade, batimento, tempo, velocidade, contorno, harmonia,

melodia, entonação … trazendo desse modo à superfície emoções correlacionadas com a

tensão-liberação, repouso-moção, desagrado-satisfação (Winner 1982), inferindo

subjetivamente na autoavaliação cognitiva das sensações e da respetiva resposta-ação

idiossincrática.

Pela eletroencefalografia (EEG), sabe-se que a performance cerebral resulta de

multifacetados mecanismos eletroquímicos, promanando energia elétrica neuronal a

milionésimos de um volt, transferindo e assimilando informação, representando ondas

cerebrais integralmente padronizadas (enfatizando-se ademais que diferentes regiões

encefálicas raramente emitem frequências exatamente iguais, sendo únicas e exclusivas a

cada indivíduo). A medição desta atividade cerebral processa-se em Hertz (ciclos por

segundo) subdividindo-se em distintas gradações, dependendo respetivamente das suas

oscilações ondulatórias: [γ] gamma > a 35 Hz; [β] beta entre 12 – 35 Hz; [α] alpha entre

8 – 12 Hz; [θ] theta entre 3 – 8 Hz; [δ] delta entre 0.5 – 3 Hz; e épsilon [ε] < a 0.5 Hz

(Krishna et al., 2019; Padmanabhan et al., 2005).

Referencialmente, cada um destes espectros é correlacionável a diferentes estados

e disposições pessoais, sendo que as ondas cerebrais [β – beta] são as que predominam

nos estados de vigília habituais, tanto na imersão na realidade objetiva (p.e. interação com

outros seres-humanos), como no processamento cognitivo ativo e atentivo (p.e. tomada

de decisão); as ondas [α – alfa] manifestam-se prevalentemente em fluxos de pensamento

mais sublimes e equilibrados e/ou em cenários de fadiga e relaxação, associando-se a

princípios de presença, calma e coordenação mental; as [θ – teta] afluem

maioritariamente durante o sono (R.E.M.), podendo contudo ser vivenciadas em

meditações na fase de dhyāna, interligando-se com campos altamente subjetivos como a

aprendizagem, criatividade e intuição, voltando progressivamente o enfoque para o

subconsciente; as ondas [δ – delta] interligam-se sucessivamente com as [θ] no mesmo

40

domínio da meditação, distinguindo-se no entanto pela ação em fases do sono mais

profundos (não R.E.M.) promovendo a regeneração e a perceção do inconsciente; já no

espectro mais lento do qual se tem conhecimento – o infrabaixo e/ou [ε – épsilon] – não

há certezas absolutas em relação à sua determinante função (por se tratar de uma recente

descoberta, (e) de objetivamente árdua medição/observação), especulando-se, todavia,

que a sua ação predetermina a temporização e o funcionamento da rede neural como um

todo, encontrando-se sempre presente e funcional, podendo apenas ser compreendida na

fase mais profunda da meditação (samādhi); revertendo para o extremo oposto,

deparamo-nos com as subtis e aceleradas ondas [γ – gama], sobressaindo-se em estados

de elevada concentração e sentimentos como o amor, compaixão e altruísmo, agregando-

se a presunções representativas da própria consciência, tanto por se encontrarem em todas

as áreas cerebrais, como pela sua frequência de oscilação ser superior à velocidade dos

disparos neuronais, sendo a sua gênese um verdadeiro mistério (Neurohealth, n.d.;

Brainworks, 2017; Koudelková & Strmiska, 2018).

A interligação entre a música, o movimento, e os estados alterados de consciência

ocorre exatamente por estas mesmas ondas cerebrais, realçando-se a implicação do ritmo

e/ou repetição, pois é a partir da aparente sequencialização que se desencadeia uma

sincrética correspondência entre distintas áreas cerebrais, possibilitando a transformação

das vigilantes e predominantes ondas [β] nas ademais, todavia conscientemente,

suscitando a experienciação de insólitas sensações e discernimentos, permitindo

interpretar informação e aceder a conhecimentos presentes no firmamento metafísico e/ou

subconsciente (Fachner, 2011).

Curiosamente, muito previamente ao surgimento desta neurológica

conceptualização elucidativa, os nossos antepassados conseguiram compreender a

fascinante essência que advém do som e da sua vibração, evidenciando-se pela

fundamentalidade e simbologia do tambor em inúmeras tribos indígenas em redor do

nosso planeta; atribuindo-lhe uma frequente classificação de utensílio sagrado,

especializado em unir o universo observável ao universo espiritual, transportando o(s)

usuário(s) entre mundos através da(s) sua(s) batida(s). Todavia, de modo a entrar em

transe (estado transcendental), é necessário alvejar um ínterim entre os 150 e os 200

batimentos por minuto (bpm), num ritmo constante e harmonizado, realçando os graves-

profundos típicos de um tambor (potencializando as ondas [δ] e expandindo a perceção);

por vezes, para atingir estados ainda mais substanciais, introduzem-se os chocalhos

41

(potencializando as ondas [γ]), amplificando o desempenho cerebral pela diversificação

dos espetros sonoros (Braun, 2010; Mattos, 2010; Jovanov, 2011).

Genericamente, o comando do tambor fica ao encargo do líder espiritual de cada

comunidade em circunstância, pois é ele/a que detém a maior experiência e conhecimento

em cruzar o ténue véu que nos separa das esferas imateriais devido à sua dedicação de

vida inteira em explorar as realidades espirituais, notabilizando-se além do mais que a sua

mestria não se restringe ao ritmo e à musicalidade.

Globalmente, este tipo de indivíduos são tipicamente denominados de xamãs,

reforçando-se no entanto que essa designação é uma ecumenização do termo “šaman”

pertencente aos povos tungúsicos siberianos – significando “aquele que sabe” – havendo

conquanto uma terminologia específica e detalhada em cada cultura e/ou área geográfica,

como por exemplo “pajé” para os Huni Kuin brasileiros, “iyeska” para os Teton Sioux

norte-americanos, “yatiri” para os Aymara bolivianos, “sangoma” para os Zulu sul-

africanos, “táltos” para os húngaros, “tang-ki” para os chineses, “angakok” para os

inuítes, “seidhr” para os vikings, “sadhu” para os hindus, “dukun” para os indonésios,

“kahuna” no Hawaii, “miko” no Japão, “mambo” na tradição voodoo, etc.

(Shamanlinks, 2015; M. Singh, 2018).

É deveras importante nominar as distintivas variações do xamanismo pela sua

designação de origem, evitando a vulgarização e a confusão destas tão multifacetadas

práticas – cada uma associada a procedimentos, culturas e credos sui generis – contudo,

não havendo espaço nem tempo para uma tão profícua disseminação (tendo em

consideração as centenas dos arquétipos referenciais, ramificando-se posteriormente em

milhares de variações intrassociais, e ainda todos os desenvolvimentos pré-históricos

concatenados) torna-se compreensível uma agregação generalizada, ressaltando as suas

semelhanças mundiais de modo a clarificar a significação destas ancestrais condutas de

espiritualidade; aconselhando-se, sem embargo, a leitura da obra “Shamanism: An

Encyclopedia of World Beliefs, Practices and Culture” editada por Mariko Walter e Eva

Fridman (2004), para uma minuciosa análise e explicitação da diversidade em causa.

Alusivamente a estes extraordinários seres-humanos (igualmente apelidados de

curandeiros, magos, feiticeiros), pode-se sumariamente enunciar que as suas

incumbências albergam sofisticadas competências de herbalismo, anatomia, psicologia e

religião, sendo dos mais ativos e conceituados constituintes dos seus respetivos coletivos,

transmitindo informação e discernimento multidimensionalmente, transcendendo o

42

próprio espaço e tempo para cuidar da saúde e do bem-estar de todos os indivíduos da sua

comunidade (Sessa, 2012).

Concisamente, o xamanismo alicerça-se no pampsiquismo, tratando-se de uma

holística sistematização empenhada em alcançar o entendimento dos mistérios do

universo recorrendo ao exponencial desenvolvimento das capacidades físicas e mentais,

sobrelevando a exploração da intuição e um profundo respeito por todas as formas de

vida, humildemente reconhecendo a interdependência entre a flora, a fauna, a dimensão

inorgânica, e a espiritual; recorrendo à ajuda de entidades anímicas mediante invocação

(p.e. totem, espirito animal e/ou guardião) melhorando a sua perceção em relação ao

problema e/ou questão em relevância, restaurando as forças/energias vitais ao passo que

removendo a presença de prejudicais (Harner, 1982; Metzner, 2009).

Esta atividade, sendo no seu âmago a prática medicinal mais antiga da

Humanidade, não é para qualquer um; normativamente estas habilidades são adquiridas

geneticamente, de geração em geração, todavia há sempre exceções à regra a partir do

momento em que se sinta o chamado e haja predisposição; inobstante do caso, formalizar

este percurso requer uma total entrega e dedicação por longos e extensos anos sob

tutelagem e supervisão de alguém experienciado, afastando-se temporariamente da

ordinária vivência humana de forma a ganhar o tão necessário conhecimento e

visualização do integral funcionamento da realidade e da consciência universal,

divinando ininterruptamente até estarem aptos o suficiente para serem os guardiões do

equilíbrio ecológico, auxiliando todos os necessitados (Metzner, 1998).

Relativamente aos artifícios mais comummente utilizados para atingir esses

transcendentais estados de perceção, para além dos já mencionados extáticos traquejos do

som, movimento e meditação (abrangendo de uma forma ou de outra todas as sociedades

indígenas e mesmo algumas ocidentais), observa-se ainda a serventia da fauna e flora

local com propriedades psicodislépticas. As plantas, fungos e animais detentores destas

peculiaridades são normalmente considerados como derradeiros sacramentos pelos povos

indígenas mundialmente (decididamente em virtude dos seus vastos e profundos efeitos

curativos nos amplos aspetos físicos, mentais e espirituais) encontrando-se a sua

identificação, preparação, consagração, dosagem e administração ao encargo dos seus

exímios curandeiros, incumbindo-se sempre da decisão final se alguém está apto ou não

em receber a dita medicina (Luna et al., 2008).

43

A escolha da matéria-prima psicoativa, depende radicalmente do propósito, nível

de experiência do facilitador, seriedade da anomalia, circunstâncias socioculturais, e

obviamente da biodiversidade local – sendo que a maior concentração destas espécies se

encontra nas regiões tropicais, resultando consecutivamente em maiores taxas de

usufruição, destacando-se a América Latina (Rätsch & Hofmann, 2005). Globalmente,

para além da identificação classificatória de mais de 300 espécies de plantas como

transfiguradoras da consciência humana, sabe-se da existência de mais de 200 espécies

de fungos com faculdades neurotrópicas similares (Guzmán et al., 1998), e ainda de um

indeterminado número de espécies de animais (50 +) – principalmente peixes, anfíbios,

répteis e insetos (Orsolini et al., 2018).

Os efeitos de cada uma destas distintas espécies são deveras diversificados,

subdividindo-se regularmente em 3 categorias explícitas: (1) estimulantes – acelerando

o desempenho do organismo, caracterizando-se por maiores índices de atenção,

excitação, euforia, mais energia, etc. – (2) depressores – abrandando o desempenho do

organismo, relaxando as tensões físicas e mentais – e (3) alucinógenos – indutores de

imponentes alterações psicossomáticas, fomentando a despersonalização e um

comportamento errático, podendo estimular e deprimir simultaneamente (Adis, 2018).

Em adição, atendendo à vasta utilização e disseminação contemporânea, pode-se ainda

considerar a subsistência de outras duas grandes categorias, restringindo-se, no entanto,

a um único género de espécie respetivamente: os opiáceos/narcóticos (papaver

somniferum) – suprimindo a dor, acompanhando-se por sonolência, euforia, confusão,

etc. – e a cannabis (indica, sativa e ruderalis) – associando-se a alternâncias de apetite,

memória, concentração, relaxação, coordenação, etc. (Hartney & Gans 2020). 3

Obviamente, as espécies mais hieráticas no panorama xamânico são as

alucinógenas, todavia esta científica terminologia é extremamente pacata e redutora das

suas inerentes funcionalidades, referindo-se quase unicamente à alteração dos

mecanismos fisionómicos, audiovisuais e comportamentais, desagregando-os de

simbologia; a aplicação dos conceitos psicadélico (manifestação da mente) e enteógeno

(manifestação do divino), pela enaltação das características espirituais e subjetivas,

3 Oficialmente, dependendo da jurisdição local e nacional, a distinção dos efeitos das substâncias pode-se

estender acima deste predicamento, englobando por exemplo esteroides, analgésicos, inalantes,

dissociativos, etc. (IACP, n.d.) … a necessidade de implantar tamanha diferenciação deriva

maioritariamente da vulgarização dos fármacos e/ou drogas sintéticas, não se encontrando tais tipos

compostos na Natureza correntemente; tornando-se desse modo irrelevantes para esta investigação.

44

correlacionando devidamente o subconsciente e a consciência universal/coletiva, torna-

se uma opção mais correta e plausível, assemelhando-se de igual modo às noções

indígenas-primitivas (Thoricatha, 2015).

Regularmente, as espécies mais utilizadas para fins divinatórios enquadram-se na

ordem dos psicadélicos clássicos – atuando via ligação aos recetores serotoninérgicos 5-

HT2A (Ly et al., 2018) – distribuindo-se respetivamente em triptaminas, lisergamidas e

fenetilaminas, havendo, porém, outros agrupamentos extensamente aproveitados fora

dessa classificação – atuando noutra categoria de recetores neuronais – como as β-

carbolinas (p.e. harmina e harmalina), colinérgicos (p.e. muscimol e nicotina),

anticolinérgicos (p.e. atropina e escopolamina), etc. (Previc, 2011; Ujváry, 2014).

O grupo dos alcaloides triptamínicos é o mais extenso e variado, ocorrendo

naturalmente em mais de 1500 espécies de flora e fauna intercontinentalmente (NicDaéid

& Mckenzie, 2018), representando-se mais notoriamente pela psilocina e/ou psilocibina

(provenientes de fungos, destacando-se o genus de cogumelos Psilocybe), ibogaína

(delimitando-se a algumas plantas da família Apocynaceae do continente africano), e

DMT: dimetiltriptamina (surgido em centenas de espécies multiformes, salientando-se as

plantas dos genus: Acacia; Virola; Delosperma; Phalaris; Mimosa … ramificando-se

equitativamente em covalentes estruturas moleculares como a bufotenina, 5-Meo-DMT,

NMT, etc. … particularizando-se, curiosamente, como o pilar estrutural de inúmeros e

diferenciados compostos, tanto triptamínicos – incluindo neuromoduladores como a

serotonina e a melatonina – como lisergamídicos e fenetilamínicos) (Cameron & Olson,

2018; Greene, 2013). No que toca ao grupo das lisergamidas, destacam-se os alcaloides

no espectro da ergolina (p.e. LSA), presentes em algumas videiras da família

Convolvulaceae (nomeadamente do genus Ipomea e Argyreia), assim como no genus dos

fungos parasíticos Claviceps (Steiner et al., 2006). Já nas fenetilaminas, o alcaloide

natural mais destacável é a mescalina, provindo predominantemente dos catos do genus

Lophophora e Trichocereus/Echinopsis (Rucker et al., 2018).

Enfatiza-se que todos os exemplos das substâncias moleculares referidas

anteriormente encontram-se na Natureza de forma espontânea e inalterada, podendo ser

consumidas mediante simples processos de secagem, confeção e extração das espécies

detentoras de tais propriedades. Todavia, ao considerarmos o cenário da corrente

modernidade, rapidamente se depreende que através dos artifícios da química avançada

como a precipitação, oxidação, rarefação, etc. é possível sintetizar centenas (se não

45

mesmo milhares) de substâncias psicoativas que se ajustem aos mecanismos de ação

destas 3 categorias; destacando-se nas lisergamidas o LSD (dietilamida do ácido

lisérgico) (Hofmann, 1979), nas fenetilaminas as anfetaminas (p.e. speed, MDMA) e a

classe 2C (p.e. 2CB) (Shulgin & Shulgin, 1991), e nas triptaminas incontáveis variações

da molécula do DMT (p.e. 4-AcO-DMT, DET, MiPT) (Shulgin & Shulgin, 1997).

Tanto as moléculas sintéticas como as naturais podem induzir significativas

alterações percetuais, engendrando experiências místicas e transcendentais, no entanto, a

nível de estabilidade e segurança as de origem orgânica salientam-se pelo seu longínquo

historial, interligando-se equitativamente com a veneração do Meio Ambiente, ao passo

que as novidades artificiais (mesmo que identicamente detentoras de elevadas

potencialidades na aplicação terapêutica e mudanças comportamentais) carecem imenso

da vertente ritualística e espiritual – sendo este o incontornável sustentáculo para a sua

utilização nas comunidades indígenas (M. J. Winkelman, 2007).

No xamanismo, acima dos próprios efeitos físico-psicológicos da(s) substância(s),

situa-se a conexão do xamã/curandeiro com os seus aliados sobrenaturais (adquiridos

progressivamente ao longo da sua jornada como devoto místico-espiritual) pois é a partir

desse vínculo metafísico que ele/a obtém a imprescindível informação em relação a cada

circunstância. Estes incorpóreos colaboradores, tendo ínsitas personalidades e

apresentações, não são meros lacaios a prestar serviço, tratam-se de formas de vida

conscientes portadoras de uma inteligência sobre-humana, existindo intemporalmente e

multidimensionalmente entre distintas realidades, tendo as suas respetivas agendas e

motivações, aliando-se apenas àqueles que os honrem devidamente e se associem

minimamente aos seus padrões energético-normativos (Campos, 2011; Cowan, 1995;

Grinspoon & Bakalar, 1979; Metzner, 1998).

Articulando esta eventualidade com os fundamentos do animismo/pampsiquismo

– de que essencialmente tudo tem um espírito associado – os efeitos psicoativos das

espécies detentoras de tais propriedades passam a ser observados como um mecanismo

de diálogo direto entre distintas formas de consciência habitualmente não compatíveis de

envolvimento (nomeadamente a humana e a vegetal, ou animal, ou extraterrestre, ou

coletiva/universal), impulsionando uma conceção mais holística da realidade pela

perceção de que o universo já se encontra repleto de vida sapio-consciente, e de que a

Humanidade, por mais fascinante que seja, não é assim tão excecional, havendo ainda

muito espaço para aprendizagem e melhoramento (Strassman et al., 2008).

46

Como referido anteriormente, é deveras plausível atingir estados de êxtase e de

comunhão cósmica/divina sem recorrer às substâncias psicoativas, todavia, mediante a

catártica e ostensiva manifestação dos seus efeitos na psique humana, os psicadélicos e/ou

enteógenos convertem-se numa excecional ferramenta introdutória de transformação,

metamorfoseando a consciência quase instantaneamente, ao passo que os restantes

procedimentos ocasionadores de expansão (como o yoga, meditação, dança, oração, etc.)

para além de recorrente predisposição, requerem ainda prática assídua (por vezes de anos

ou décadas) para o seu eventual despontamento – enquanto que sob consentânea

orientação de um experiente curandeiro em medicinas psicoativas, estes estados podem

ser alcançados numa só sessão, ou mais realisticamente num par delas, dependendo da

pretensão e da preparação física e mental do indivíduo em causa (Blofeld, 1966; Huxley,

1954; Kingsland, 2019).

Salvaguardando erróneas interpretações, e contrariando algumas das

presunçosamente milagrosas narrativas habitualmente concatenadas, o mero ato de

consumir psicadélicos e/ou enteógenos não torna as pessoas imediatamente mais sensatas,

nem resolve todos os seus problemas pessoais, para tal tipo de mudança ocorrer será

sempre necessário um grandioso esforço e uma ativa dedicação provinda da mais sincera

de todas as vontades, só assim, através da honestidade e da perseverança em ultrapassar

as respetivas limitações é que haverá suficiente abertura para o aperfeiçoamento.

Todavia, mesmo que o trabalho ao fim do dia seja sempre particular, as medicinas

psicoativas, aquando consagradas apropriadamente, num local espácio-temporal

compatível e complacente, com o harmônico acompanhamento de um mestre qualificado

(confiável e de boas intenções), viabilizam a oportunidade de começar esta jornada

facultativamente, pela concreta revelação de que tudo está interligado, testemunhando de

que a nossa presença neste universo não é assim tão em vão, havendo um intrínseco

sentido metafísico para a encarnação, despontando sensacionais processos de cura

psicossomática mediante um novo e alargado entendimento do funcionamento do nosso

próprio organismo, e de que este está inevitavelmente inserido numa complexa e conexa

rede de fluída sincronia, onde cada ação gera elementarmente uma repercussão, tanto em

nós como em todos os aspetos orgânicos, inorgânicos e espirituais da nossa Biosfera

(Bourzat & Hunter, 2019; Harris, 2017; Goldsmith, 2011; Hofmann, 1979).

47

Capítulo III

Metodologia

Tendo em consideração os factos exteriorizados ao longo desta extensa e

multifária revisão de literatura, o cerne desta pesquisa compenetra-se na averiguativa

exploração do impacto de uma propínqua vinculação a diferenciados estados alterados de

consciência, numa tentativa de compreensão dos seus potenciais contributos apreciáveis

a nível de ideologia e comportamento ecológico, denotando-se particularmente as práticas

que vão de encontro a inerentes compromissos pró-ambientais, refletindo-se numa

continuamente ativa e voluntária ação em preservar o Meio Ambiente e a revigoração de

todos os seus ecossistemas: primariamente, pela redução da interferência pessoal,

alastrando-se progressivamente para desempenhos mais integrantes como a participação

em projetos de larga escala, e ainda a consciencialização coletiva da seriedade do

problema em causa (Diniz et al., 2018).

De modo a examinar a eventualidade destes mecanismos optou-se por focar o

âmago desta investigação em indivíduos altamente familiarizados e/ou com vasta

experiência em práticas propícias a expandir a perceção humana da realidade envolvente

(tanto subjetiva, como objetiva), ressaltando respetivamente os procedimentos

enunciados no capítulo antecedente (concatenando-se com as extensões do som, do

movimento, da meditação e da utilização ponderada de psicadélicos/enteógenos). A

escolha de unicamente perscrutar sujeitos seriamente instruídos sobre o assunto justifica-

se maioritariamente pela complexidade e sensibilidade do tema em si, pois quem não se

encontra proficientemente afeiçoado aos domínios metafísicos e/ou até à vontade para

exteriorizar as suas experiências (ou pelo menos o seu sincero entendimento do sucedido)

facilmente obstaculizaria o avanço e a tentativa de compreensão desta já tão excêntrica e

enigmática temática.

Assim sendo, pela elevada intangibilidade de medição objetiva, o método de

pesquisa elegido recaiu no qualitativo, recorrendo a entrevistas semi-diretivas

aprofundadas (de uma única sessão) tendo em especial atenção as trajetórias de vida dos

entrevistados, possibilitando a composição de novo e original conhecimento científico

mediante a manifestação de conteúdo categórico das suas exposições, particularmente a

48

emersão da latente autoidentificação e/ou posição perante variadas dinâmicas sociais, a

sua significação e respetivo simbolismo (Earthy & Cronin, 2008), sendo tudo isto ademais

sintetizado por uma análise temática atendendo à sua capacidade de sistematicamente

identificar, organizar e aprofundar discernimentos pelo reconhecimento de padrões em

todo o conjunto dos dados (V. Braun & Clarke, 2012).

A aplicação destes procedimentos neste estudo em particular viabiliza a

sequencialização cronológica das histórias narradas pelos personagens principais,

assegurando coerentes evidências acerca do antes e do depois da descoberta e/ou

experienciação dos estados alterados de consciência, facilitando a verificação de uma

eventual modificação ideológica e comportamental em relação à Natureza, ao mesmo

tempo que contrastando imparcialmente o impacto e a eficiência de cada metodologia

indutora de expansão per se – tanto nesse exato momento (explorando a intrínseca

fenomenologia dos domínios metafísicos), como a reverberação desse vislumbramento

no quotidiano habitual (apreciando a reestruturação da ontologia).

A predileção da operacionalização por intermédio de uma conceptualização

justaposta com as trajetórias de vida, fundamenta-se pela exequibilidade em elaborar

hipóteses sociológicas generalizadas alicerçando-se em testemunhos pessoais, pela

concludente representatividade da memória (e/ou consciência) coletiva: fragmentada em

perspetivas específicas/individuais (de Saint-Laurent, 2017; Sato et al., 2007). Este tipo

de aproximação fomenta a descontinuação da consideração de cada interpretação

subjetiva como um acontecimento isolado, conglobando todas as narrativas como fulcrais

e integrantes componentes da cosmovisão socio-política-cultural contemporânea, pois à

medida que se altera o contexto de cada situação, os níveis de influência, competência e

perceção de todo e qualquer ser-humano transfiguram-se equitativamente à sua

experiência de vida (Dreier, 1999, 2003; Riessman, 2005).

Tendo em atenção a minuciosidade dos esclarecimentos pretendidos, os primeiros

indícios de saturação – sinais de repetição do mesmo tipo de informação, estagnando

consecutivamente a obtenção de novas referências (Nascimento et al., 2018) –

começaram a verificar-se por volta da 8ª entrevista, no entanto, pela elevada importância

da diversidade (intencionando sempre igualdade de género) efetuaram-se mais duas

entrevistas atendendo a essa proporcionalidade, asseverando o saturamento, totalizando-

se assim 10 entrevistados, subdividindo-se reciprocamente em 5 homens e 5 mulheres.

49

Referencialmente ao processo de seleção dos entrevistados, este desenrolou-se

mediante uma amostragem por bola de neve (“snowball sampling”), partindo

preliminarmente da solicitação direta de alguns contactos pessoais acerca do eventual

conhecimento de indivíduos que se conseguissem enquadrar no tipo de características

desejadas; concomitantemente, ainda se efetivou uma procura e apuração de potenciais

candidatos através das redes sociais (nomeadamente Facebook e WhatsApp), perquirindo

algumas das figuras centrais envoltas em proeminentes grupos e/ou organizações

vinculadas direta e/ou indiretamente a hábitos análogos a estados alterados de

consciência, como por exemplo estúdios/escolas de yoga, coletivos religiosos/espirituais,

plataformas de divulgação de variegadas terapias holísticas, sociedades psicadélicas

nacionais, etc.

O pretexto primário por detrás da escolha de uma amostragem por bola de neve

deve-se à dificuldade de identificação espontânea do grupo-alvo desta investigação,

servindo-se, por conseguinte, da rede de confraternizações e/ou meras sugestões dos

entrevistados precedentes, ampliando as viabilidades de observar certas particularidades

à primeira instância dissimuladas (Sharma, 2017). Tratando-se de uma amostragem não-

probabilística (e ademais canalizada por elos de reconhecimento), subsiste

frequentemente a possibilidade de enviesamento (Etikan et al., 2015), de forma a atenuar

essa possibilidade, realizou-se um esforço considerável na triagem dos eventuais

pretendentes, dispensando recomendações de familiares, coabitantes, colegas de trabalho

e/ou amigos muito chegados, ao passo que privilegiando idades, género, profissões e

nacionalidades descoincidentes.

No que toca à circunscrição da amostra, pré-estabeleceu-se descomplicadamente

a conveniência de enquadrar cidadãos de várias nacionalidades (tanto pela diversificação

das respetivas trajetórias de vida, como pela crescente e inevitável globalização da

Humanidade), todavia, de modo a não extraviar a agnição do panorama nacional

empregou-se o critério de apenas considerar como qualificáveis sujeitos que habitem em

Portugal por um período mínimo de 2 anos (sendo este período de tempo suficiente para

se compreender as realidades sociais, culturais, económicas, legislativas e ecossistémicas

desta nação). Por conseguinte, dentro desta sortida amostra populacional encontram-se 7

distintas nacionalidades: 4 portuguesas, 1 belga, 1 irlandesa, 1 norte-americana, 1

australiana, 1 indiana, e 1 brasileira, suscitando variedade étnica e cultural.

50

Alusivamente a algumas peculiaridades metodológicas, destaca-se que devido à

situação pandémica vivenciada, as entrevistas efetuaram-se virtualmente mediante

plataformas digitais gratuitas como Messenger, WhatsApp, e Zoom – tanto por chamada

como por videochamada – dependendo da conveniência e/ou preferência por parte dos

entrevistados, recorrendo adicionalmente a um gravador externo (telemóvel pessoal) para

fazer o devido registo do sucedido; sendo as transcrições referentes posteriormente

enviadas por e-mail para retificação, servindo igualmente o propósito de souvenir de

participação. Realça-se que este procedimento não é de todo perfeito, pois remove a

componente da conexão empática entre o investigador e o entrevistado, dificultando a

análise das expressões físicas (p.e. faciais e gestuais), restringindo ademais o fluxo do

diálogo intuitivo; contudo, não havendo possibilidade para tal, implementaram-se

multifários recursos de expressividade (p.e. semântica, entoação, concessão de tempo)

encorajando a confiança, recetividade e sintonização.

Indo ao encontro dos princípios éticos e morais de pesquisa, tanto quanto pela

sensibilidade e marginalização da matéria em circunstância, empregou-se

depreensivelmente o anonimato, resguardando assim a identidade de todos os

entrevistados, significando consecutivamente que todos os nomes presentes nesta

investigação são fictícios, representando, no entanto, independentemente do grau de

extravagância, narrativas de sujeitos reais e concretos. Todavia, por interesses analíticos

as suas idades e ocupações mantiveram-se as factuais, na diligência de avaliar a

subsistência de uma influência condicional; configurando na sua integralidade uma média

à volta dos 40,4 anos de idade – sendo o participante mais jovem de 22, e o mais longevo

de 67 – ramificando-se além do mais em heterogéneas profissões, desde monges a

agricultores, de estudantes a professores, de designers a aposentados, de joalheiros a

terapeutas; englobando ainda substanciais tipologias de aptidões adjacentes, tal como

variadíssimas formações laborais e académicas relacionadas com engenharia, línguas,

cultura, construção, serviço social, etc., demonstrando objetivamente que a população em

causa é altamente proficiente, instruída e de elevado interesse avaliativo.

Respetivamente à decorrência das entrevistas, estas foram conduzidas ora em

português ora em inglês, consoante a fluência e/ou preferência por parte dos

entrevistados, tendo como sustentação um guião semiestruturado (podendo ser consultado

nas páginas seguintes), possibilitando assim o avanço intercalado de questão em questão

dependendo da direção que os entrevistados lhe conferiam, adicionando novos

51

tópicos/perquirições caso necessário, mantendo sucessivamente maiores níveis de fluidez

e aumentando o volume de informação compartida.

Medularmente, a formulação das perguntas elaborou-se em deferência às 4

categorias primaciais em apreciação: a) Trajetórias de Vida – avaliação da

autoidentificação e atinente enquadramento socio-politico-cultural – b) Afinidade com a

Natureza – observação da perceção subjetiva em relação ao Meio Ambiente e

concernente mensuração objetiva das práticas pró-ambientais empreendidas – c)

Espiritualidade – reconhecimento dos padrões de devoção, a sua influência na perceção

da Natureza, e exploração dos mecanismos proporcionadores de estados alterados de

consciência – e (caso aplicável) d) Experiência com Psicadélicos/Enteógenos –

aprofundamento da exploração dos estados alterados de consciência mediante o impacto

psicossomático deste tipo de vivências e a sua respetiva atuação nos domínios da

espiritualidade e idealização da Natureza.

Finalmente, tendo em apreço que esta investigação privilegia a análise temática

(salientando-se a informação do que é dito ao invés da forma como é dito), e a

consideravelmente extensa durabilidade destas entrevistas (com uma duração média de

68 minutos, sendo a mais curta de 40, e a mais longa de 127), a transcrição dos diálogos

não se sucedeu inteiramente por ipsis litteris, removendo-se sempre que possível as

desnecessárias repetições, interjeições, erros de gramática e de sintaxe, de forma a

compactar e facilitar a compreensão da mensagem; podendo estas exposições ser

consultadas e analisadas integralmente na secção dos Anexos. Adiciona-se ademais que

para além das 10 entrevistas prevalecentes realizaram-se ainda mais 2 excedentes, no

entanto, sendo excluídas por se afastarem dos padrões normativos desta investigação.

52

Guião de Entrevista Semiestruturado

1. Trajetórias de Vida

1. Fale um pouco sobre si próprio/a (Faixa etária; Profissão; Nacionalidade;

Género; Orientação Sexual; Classe Social; etc.)

2. Como definiria a sua relação familiar? (Boa, Má, Como? Porquê?)

3. E a sua ideologia política? (Justificações/Motivos)

4. Quais as suas maiores preocupações em relação ao presente? E ao

Futuro?

5. Quais são as suas aspirações de vida?

2. Afinidade com a Natureza

1. O que é a Natureza/Meio Ambiente para si?

2. Sente-se conectado aos outros organismos deste planeta? De que

forma?

3. Por semana, em média, passa quanto tempo em ambientes naturais?

(Gostaria de aumentar esse tempo? O que o/a leva a esses locais? Como

se sente nessa altura?)

4. Que cuidados/ações procura ter para reduzir o seu próprio impacto

ambiental? (Reciclagem, Consumo de Água/Eletricidade, etc.)

5. Pertence a algum movimento pró-ambiental? (Se sim, qual? Elabore.)

3. Espiritualidade

1. Está familiarizado com estados alterados de consciência? Como os

definiria? Em que circunstâncias ocorreram? Tem facilidade em atingi-

los? Etc.

2. É crente? É adepto de alguma religião em específico? (ou simplesmente

se simpatiza com algumas das suas morais/ideologias)

53

3. Efetua regularmente algum tipo de prática espiritual? Como por

exemplo yoga, meditação, rezo, jejum, etc. (Porquê? Quais os seus

benefícios? Como se sente durante e após a sua realização? E como se

sente caso deixe de praticar?)

4. Ao longo da sua vida já vivenciou alguma experiência mística? Isto é,

uma experiência subjetiva onde entrou em contacto com uma entidade

divina ou se deparou com uma realidade transcendental. (Onde? Como?

Quando? Por que meio? Qual foi a mensagem/ensinamento que recebeu?)

5. Na sua visão, existe alguma conexão entre a espiritualidade e a

afinidade com a Natureza/Meio Ambiente? (Qual? Elabore)

4. Psicadélicos/Enteógenos

1. Já experimentou alguma vez substâncias/plantas psicoativas e/ou

enteógenas? (Se sim – Quais? Quantas vezes? Como foi introduzido? O

que o levou a experimentar? … Se não – Tenciona vir a fazê-lo alguma

vez na sua vida?)

2. Que tipo de mudanças ocorreram na sua vida após descobrir estes

estados alterados/elevados da consciência? (a nível de personalidade? E

a nível comportamental?)

3. Qual foi a influência dessa(s) experiência(s) na sua perceção da

Natureza/Meio Ambiente?

4. Em que tipo de contexto (set & setting) costumam decorrer as suas

sessões com estas plantas/substâncias? (Qual a verdadeira intenção?)

5. Para si, qual seria a conexão/explicação entre estas substâncias/plantas

e a Espiritualidade?

54

Capítulo IV

Apresentação dos Resultados

De modo a analisar os presumíveis contributos dos estados alterados de

consciência a favor da preservação ambiental, é necessário observar intimamente a

tipologia comportamental e percetual de cada indivíduo entrevistado, elucidando-nos se

efetivamente a experienciação de estados transcendentais desencadeia algum tipo de

reação na sua intrínseca visão e relação com a Natureza. Para tal é fundamental o

reconhecimento da autoidentificação, pois é através deste subjetivo mecanismo que todo

e qualquer ser-humano constrói e solidifica a sua interpretação do universo,

posicionando-se favoravelmente, adversamente e/ou intermediariamente a seja qual for o

assunto em circunstância.

A examinação da autoidentificação neste caso específico, ocorre através das

questões iniciais enquadradas na categoria de Trajetória de Vida, ilustrando o background

sócio-político-cultural pelo esclarecimento do relacionamento familiar – núcleo

primordial da formação da personalidade (Bronfenbrenner, 1979; Judith, 2004) – e da

ideologia política – demarcador de certos valores éticos e morais pessoais (Feldman,

2003). Inserindo-se ainda uma sondagem acerca das preocupações e aspirações, atuais e

futuras, servindo a finalidade de transparecer outros tipos de características viscerais,

fluindo para as categorias subsecutivas.

Ramificando para a verificação de atitudes (pró ou contra) ambientais surge a

categoria de Afinidade com a Natureza, promovendo a exteriorização da inerente

conceção do Meio Ambiente, demonstrando diretamente os sentimentos nutridos em

relação à Biosfera. Esta revelação auxilia na delineação dos perfis idiossincráticos através

da significação atribuída, destarte refletindo a influência do pensamento (consciência) na

ação. Esta ação é posteriormente ponderada/mensurada pela inquirição dos métodos

objetivamente empregues na mitigação dos próprios vestígios nos ecossistemas

circunscritos, permitindo a apresentação das especificidades dos seus consumos dos

recursos naturais e da respetiva diligência de sustentabilidade, validando (ou não) a

equipolência entre a perceção e o comportamento.

55

Já relativamente às questões na categoria da espiritualidade, visa-se

fundamentalmente a exploração do impacto que este tipo de inclinação gera no quotidiano

dos seus aderentes, perscrutando as motivações dessa escolha e os respetivos benefícios

obtidos ao longo dessa(s) vivência(s); potencializando-se a visualização dos peculiares

mecanismos responsáveis pela eventual reestruturação da autoidentidade. Tendo em

consideração o basilar pressuposto desta investigação, grande parte deste apuramento é

efetuado pelo esclarecimento das diferenciadas contingências relativas aos estados

alterados de consciência – primariamente pela articulação das técnicas prediletas para a

sua obtenção, e se exequível uma detalhada descrição das experiências mais impactantes

– focando-se reiteradamente o interesse na observação de uma furtuita modificação no

discernimento do valor sacro-simbólico da Natureza.

Sucessivamente, ponderando que as experiências com psicadélicos/enteógenos

têm tendência a serem das mais marcantes dentro do variado espectro dos estados

alterados de consciência – outorgando disposições místicas/transcendentais com maior

potência e velocidade em comparação aos demais procedimentos; e sendo na sua essência

exatamente esse tipo de vivências místicas/transcendentais os elementos mais

responsáveis e determinantes para uma benéfica alteração da perceção e do

comportamento (Ballesteros, 2019; Griffiths et al., 2018; Johnson et al., 2019) – a seleção

da amostra populacional incidiu propositadamente em indivíduos familiarizados com esta

tônica, pela maior possibilidade de observação de uma acentuada transformação

psicossomática num curto período de tempo, evidenciando-se mais veementemente os

resultados gerados pelos estados alterados de consciência.

Consequentemente a análise desta categoria desenrola-se pela identificação do

consumo das substâncias, da diferenciação dos seus particulares efeitos, dos pretextos

para a sua utilização, da preparação física e mental para a sua consumação, e de uma

minuciosa exploração das informações/conhecimentos adquiridos por este(s) meio(s), no

intuito de depreender os eventuais contributos da experienciação destas vivências nos

domínios da autoidentificação, espiritualidade e afinidade com a Natureza.

Assim sendo, o gráfico abaixo apresentado, representa a força motriz por detrás

desta investigação, onde cada ação/alteração gera inevitavelmente uma

repercussão/assimilação nas categorias adjacentes, sendo a perceção o princípio

primordial no (des)encadeamento deste mecanismo.

56

Interação Esquemática4

Adiciona-se ainda que por se tratar de uma tipologia semiestruturada é de certa

forma evidente que nem todas as questões preliminarmente deduzidas foram executadas,

tornando-se plausível a ausência de pequenos parâmetros comparativos entre a totalidade

dos entrevistados; esta metodologia justifica-se pelo seu maior grau de flexibilidade em

acompanhar o fluxo de narração, permitindo ao entrevistado um maior conforto e

estabilidade, alargando-se naturalmente e detalhadamente nas temáticas onde detém

maior experiência e conhecimento.

Passando à derradeira exteriorização do núcleo objetivamente apreciável dos

dados recolhidos, é substancial sequenciar o processo pela apresentação singular de cada

um dos entrevistados, destarte ambientando com as suas trajetórias de vida e backgrounds

socio-politico-culturais, possibilitando o estabelecimento do núcleo assimilativo da

(auto)identificação e afinidade com a Natureza, desenlaçando-se gradualmente para as

suas crenças e práticas espirituais, abordando respetivamente a temática dos

psicadélicos/enteógenos de forma a demarcar o possível impacto da experienciação de

4 Figura 1 – Mediada pela Perceção

57

estados alterados de consciência na (auto)perceção, delimitando e categorizando a

informação fornecida em perfis e/ou grupos temáticos comparativos.

E assim sendo, apresenta-se:

Dimitri de 33 anos, é belga, casado e pai de 2 filhos, após concluir os seus estudos

em engenharia eletrotécnica decidiu viajar pelo mundo com a mochila às costas no intuito

de encontrar novos conhecimentos para aplicar na sua vida, apercebendo-se

derradeiramente que “o caminho da sociedade tecnológica moderna não tem grandes

viabilidades de sucesso se não for acompanhado por uma mudança de consciência”,

levando-o a adquirir uma quinta em Portugal de modo a começar um novo estilo de vida

mais harmonioso baseando-se nos ideais da agricultura sintrópica.

O seu projeto principal foca-se na regeneração dos solos, sendo este, para si, um

dos métodos mais efetivos no combate às alterações climáticas, pois para além de

sequestrar consideráveis quantidades de carbono, armazenar água, aumentar a

biodiversidade, acompanha-se ainda de elevadas quantidades e variedades de recursos e

alimentos. Produzindo a sua própria eletricidade mediante painéis fotovoltaicos, obtendo

água de uma mina e de um generoso rio que passa no seu terreno, Dimitri afirma ser

praticamente autossustentável, vivendo uma vida saudável e em elevado grau de conexão

com o ecossistema circundante, permitindo aos seus filhos uma infância plena e exultante,

alimentados biologicamente e (co)ensinados pela própria Natureza.

Em conjunto com a comunidade local (vizinhos e interessados dos arredores) tenta

fazer algo diferente e melhor, uma espécie de “recetáculo testado e experienciado que

possa servir de exemplo e alternativa ao sistema atual”, reiterando assertivamente que a

Humanidade encontra-se voltada para um precipício sem retorno, sendo imperativo

adotar estilos de vida independentes da economia industrial antes do seu decisivo colapso

e reconectar o mais aceleradamente e intimamente possível com Natureza, visto que é

exatamente esta desconexão a principal causa para a megalómana disfunção da

civilização, exemplificando-se pela “falta de comunicação, empatia, amor, bondade, e

uma verdadeira falta de livre e espontânea espiritualidade, resultando em absurdos

padrões de vícios globais complementados por uma democracia falsificada (sendo nada

mais do que uma engendração de consentimento)”.

58

Inobstante estas alegações, Dimitri não se opõe ativamente às vigentes

sistematizações político-económicas, sentindo-se até bastante agradecido pelas suas

infraestruturas e serviços prestados, que direta ou indiretamente projetaram a espécie

humana a novos patamares de estabilidade; não se identificando, no entanto, com nenhum

tipo de rotulagem ideológica tentando pensar por si próprio constantemente, fomentando

novas formas de pensamento e comportamento vanguardistas, distanciando-se de igual

modo de toda e qualquer religião institucionalizada, simpatizando apenas com algumas

noções do Budismo por estas não se basearem em divindades sobrenaturais, sinalizando

mais sensatez e liberdade.

No que toca à sua visão ambiental, trata-se de uma perspetiva holística que

posiciona a Natureza como “a expressão máxima das potencialidades da existência, fonte

de vida, transformação, beleza e mistério” … sendo ele próprio uma extensão inseparável

dessa “diversidade unificada e conectada a tudo o que é visível e invisível”.

Passando cerca de 80% do seu tempo imerso em ambientes naturais, Dimitri sustenta que

nesse(s) momento(s) sente-se feliz, calmo, satisfeito, e proficiente, algo que não consegue

associar de todo à vida na cidade, onde há sempre confusão e aproveitamento.

Versátil e experiente nos Estados Alterados de Consciência, praticando meditação

diariamente e recorrendo mais esporadicamente a técnicas de respiração holotrópica, ao

tambor, e à ingestão de psicadélicos, reconhece que cada técnica tem as suas

peculiaridades, contudo numa perspetiva geral trata-se de uma “ampliação e/ou

dissipação da autoimagem” permitindo a ocorrência de mudanças nas crenças,

pensamentos, e padrões habituais pelo incremento da conetividade neuronal: processo

este que desencadeia um “realçamento dos paradoxos mentais”, viabilizando a

extrapolação das limitações conceptuais através do acesso aos domínios do

subconsciente, facilitando desse modo o entendimento da origem das disfunções –

“conseguindo fazer as pazes com a história familiar, curar traumas ligados com a

educação, perceber as porcarias que fizemos, e alterar essas diretrizes desde a matriz”.

Assume que a meditação regular fá-lo sentir-se bem, mais alerta e consciente, ao

passo que quando não tem disponibilidade para o fazer entra frequentemente em modo de

piloto automático, alimentando loops auto-repetitivos e desconectando-se facilmente

daquilo que o rodeia; já a meditação profunda (atingida após vários dias de meditação em

retiro), permite-o colocar a mente num estado de quietude absoluta, alcançando patamares

místicos “muito além da limitação da linguagem”.

59

Referencialmente a psicadélicos/enteógenos tem muito para contar, começando

por uma experiência de São Pedro onde recebeu a mensagem de que tinha de começar o

seu projeto de permacultura o mais brevemente possível; voltando uns anos atrás aquando

ainda se encontrava na universidade, o primeiro psicadélico que experimentou foi LSA

(Argyreia Nervosa) fazendo com que de um dia para o outro reduzisse o seu abusivo

consumo de álcool em mais de 50%, seguidamente deparou-se com a molécula do DMT,

obliterando completamente o seu ilusório discernimento sobre a realidade, as

experiências com os cogumelos mágicos/psilocibinos que advieram permitiram-lhe

brincar e explorar a sua autoimagem, tornando-se mais livre e feliz, enquanto o LSD

instrui-o sobre a magnificência do movimento corporal; mais recentemente descobriu o

5-MeO-DMT despertando-o para o verdadeiro poder e respeito pessoal através de uma

implacável união com todo o universo (fazendo-o deixar de fumar inteiramente); faz

ainda referência a Peganum Harmala (inibidor da monoamina-oxidase), tratando-se da

única substância/planta que utiliza como microdosagem pelo seu efeito de trazer a atenção

ao presente, não se perdendo em divagações desnecessárias.

Considerando as reverberações de todas estas experiências ao longo da sua vida,

reconhece que é difícil de delimitar os seus impactos diretos “pois à medida que vamos

envelhecendo o aprimorar das faculdades humanas é um processo natural”, todavia

acredita veementemente existir uma forte interconexão com a sua robusta evolução nas

virtudes do amor, compaixão, bondade, liberdade, entusiasmo, perseverança,

sociabilidade e afloramento/resolução das relações familiares, sentindo-se sem dúvida

alguma muito grato pelos conhecimentos adquiridos nestas sessões, sobretudo os que

levaram à libertação de medos, de tensões e do afastamento da constante autocriação de

drama e miséria. Frisando, no entanto, que por mais benéficos que os seus efeitos possam

ser, os psicadélicos não são de todo uma varinha mágica que resolve todas as nossas

complicações instantaneamente, consistindo num encadeamento complexo que requer

muita paciência e dedicação, complementando que “se as pessoas soubessem a priori do

quão longo, difícil e profundo este percurso pode ser, muito dificilmente dariam o

primeiro passo em experimentá-los mesmo que por curiosidade”.

Porém, se de facto as pessoas estiverem mesmo interessadas em mudança,

consolida que é sempre necessário criar uma intenção, começar com um objetivo e ir à

procura de uma solução (nem que seja nada mais do que aprofundamento do

autoconhecimento), deixando as tormentas de parte e concedendo espaço para a

60

concretização do inimaginável - “comunicando diretamente com as plantas sem

necessidades de extravagâncias”.

Catarina de 32 anos, estabeleceu-se recentemente no Porto após 10 anos a

trabalhar e viajar pelo mundo, sendo designer proclama que para si “a linguagem

simbólica e visual é muito importante” – a sua forma predileta de expressão – recorrendo

perenemente à Natureza para se inspirar, adquirindo assim novas capacidades de

perspetiva ao passo que afastando-se dos “pequenos detalhes insignificantes da vida” pelo

reset dos seus loops mentais. Apercebendo-se deste positivo impacto na sua saúde mental,

no máximo de 3 em 3 dias compromete-se a fazer um grande passeio na Natureza (uma

tarde ou até mesmo um dia inteiro), dirigindo-se frequentemente à sua praia de eleição.

Subjetivamente, no seu entender, a Natureza é uma direta manifestação do sagrado e do

divino, fonte de grande conhecimento e contemplação; como mulher revê-se

profundamente em todas as fases cíclicas anuais pelos seus marcantes impactos na

disposição pessoal.

A suas principais preocupações contemporâneas giram em torna das alterações

climáticas e da perda de biodiversidade, insistindo que “estamos numa corrida contra o

tempo, tendo menos de uma década para tomar as ações necessárias à escala mundial, o

que me parece quase impossível tendo em consideração tudo o que teria de acontecer”,

adicionando que as gerações futuras herdarão uma situação muito difícil de se resolver.

De forma a contrariar esta tendência destrutiva evita a todo custo fazer longas viagens de

automóvel desacompanhada, esforça-se para fazer o menos de lixo possível (criticando

as excessivas e desnecessárias embalagens), dispensando a utilização de tudo o que seja

descartável (optando ao máximo pela limpeza, reparação e reutilização dos objetos

deteriorados), tendo ainda em atenção o seu consumo dos recursos naturais, não

excedendo o necessário e priorizando alternativas mais sustentáveis e eficientes; num

patamar coletivo, fez parte do grupo ativista/ambientalista Extinction Rebellion, aquando

vivia no Reino Unido.

Ideologicamente assume-se como “esquerda completamente”, identificando-se

com as noções basilares do socialismo (entreajuda e responsabilidade); confessando que

o sistema político atual é “completamente limitado e com defeitos”, todavia não é de todo

descartável, é algo novo e em evolução, precisando de tempo e desenvolvimento. Já

religiosamente é “super crente” bebendo de todas as religiões, considerando que todas

61

são buscas válidas para responder às perguntas universais da Humanidade, simpatizando,

no entanto, especialmente com a filosofia oriental e com os ensinamentos de Jesus Cristo,

sem ser cristã, nem budista, nem hinduísta.

Identifica que a sua plurirreligiosidade deve-se provavelmente à falta de

imposição de ideais espirituais por parte dos seus pais, levando-a a sentir algumas

ansiedades existenciais ao longo da sua juventude, transmutando-se num fascínio pela

superstição e misticismo desde tenra idade. A nível de práticas espirituais destaca a dança

como “muito ritualística” sendo um ponto de partida para a reconexão do seu habitual

estado caótico; o tarot que a “ajuda a tecer narrativas com imagens” transportando-a para

o seu centro; a meditação freestyle por não gostar muito de regras nem imposições; e

ainda o Kundalini Yoga, tendo praticado durante algum tempo assertivamente, mas

devido a ressentimentos ao guru e à ética institucional deixou a organização, praticando

esporadicamente por si mesma. Acrescenta que quando pratica continuamente estes

artifícios sente-se reorganizada, simplificando a sua cabeça e as suas experiências – “é

uma pausa, um momento de vazio que funciona mais ou menos como uma limpeza” –

quando não pratica, acontece o oposto, sentindo-se com dificuldade de concentração,

vulnerabilidade a imprevistos, impulsividade, falta de ponderação e grande “tendência

para o pensamento neurótico”.

Relativamente a estados alterados de consciência, Catarina vivenciou uma

experiência espontânea muito impactante que mais tarde aprendeu a designar por

‘Kundalini Awakening’ – “também poderia apelidá-lo de surto psicótico, exceto que não

tive o lado mais prejudicial e danoso (…) pode-se dizer que é algo mais especial do que

uma epifania” – ao longo desses 5 dias viu que “a realidade não tinha erros nem

imperfeições, tudo fazia parte de uma rede ultra complexa de acontecimentos

absolutamente perfeitos”, conseguindo visualizar ondas de energia interligadas que

emanavam uma enorme energia de amor, uma espécie de tecido da realidade; devido à

sua hipersensibilidade nesse período, e medo de incompreensão dos ademais, isolou-se

em casa “num estado de catarse permanente”, chorando imenso não por tristeza mas como

um processo de descarga emocional.

Para além deste acontecimento, é também familiarizada com plantas/substâncias

psicoativas, notabilizando os cogumelos mágicos (psilocibinos) como “medicina de

eleição”, recorrendo mais esporadicamente ao DMT, tendo ainda testado São Pedro e

Ayahuasca; fazendo-o apenas quando se sente emocionalmente bem, com enorme

62

disposição e coragem para tal, e preferencialmente na Natureza. Na sua opinião estes

agentes fizeram com que compreendesse mais satisfatoriamente o seu ‘Kundalini

Awakening’ e de que a consciência não é exclusividade humana, afirmando que em certos

momentos dessas experiências recebeu informações/conhecimentos que jamais

conseguiria obter doutra forma. De modo geral acredita que os psicadélicos tornaram-na

“muito mais tolerante, com maior capacidade de relativizar as coisas e uma maior

capacidade de aceitação da realidade do que tinha antes”; indignando-se

consecutivamente pelos seus estatutos obscurecidos e marginalizados socialmente, uma

vez que em primeira pessoa reconhece os seus elevadíssimos potenciais de cura e

exploração, considerando-os “válidos, profundos e saudáveis”, capazes de reconstituir a

nossa ligação à Natureza há muito enfraquecida pelos nossos estilos de vida artificiais.

Diana de 33 anos vive em Lisboa dedicando-se ao yoga, ensinando todos os

interessados numa vida mais saudável e equilibrada a ultrapassarem os seus obstáculos e

a evoluírem progressivamente nos domínios do corpo, da mente e da alma, adicionando

que toda e qualquer prática voltada para o bem-estar e desenvolvimento pessoal é

altamente benéfica para a vida de qualquer indivíduo; antes de se conseguir auto-

empregar na sua vocação suportou diversificados trabalhos em diferenciadas áreas que

não a faziam completa nem feliz, sentindo-se escravizada “porque tinha que trabalhar dia

e noite para ter dinheiro para pagar as contas e depois não ter vida”.

Associando-se a estas premissas as suas preocupações preponderantes voltam-se

para o espectro sociopolítico, especificamente para a desigualdade de classes e

acumulação de poder por parte dos governos e grandes corporações, que, sendo os

detentores dos meios de produção e instituidores de legislação, conseguem escapar aos

próprios conceitos de justiça mesmo que desviando milionárias quantidades de dinheiro

público, ao passo que a maioria da “controlada” população esforça-se para sobreviver,

arcando constantemente com as consequências. Por estas razões de tendenciosidade,

desrespeito e falta de ética, desde jovem que nunca gostou muito de política, acreditando

que estilos de vida comunitários orientados para a solidariedade, sustentabilidade e união

coletiva seriam um bom ponto de partida para reivindicar direitos a favor de uma grande

maioria.

63

A nível ambiental considera que os verdadeiros responsáveis pelo atual desastre

ecológico são as grandes indústrias, todavia cada consumidor individual tem grande

influência em toda esta multifacetada sistematização, pois enquanto houver procura,

haverá oferta. Pessoalmente evita viagens de avião, recicla o máximo possível (optando

sempre por embalagens que tenham menos plástico), tenta comprar mais produtos a

granel, acompanha-se habitualmente dos seus próprios sacos de pano para as compras,

realçando ainda o cuidado em substituir os produtos de limpeza e higiene pessoal por

alternativas naturais como produtos caseiros à base de óleos essências; provindo de uma

família humilde com fortes raízes na agricultura desde jovem que foi habituada a poupar

no seu consumo dos recursos naturais, aproveitando mesmo o lixo orgânico para

compostagem.

Criada num contexto católico, desde sempre acreditou na existência de algo

superior, no entanto nunca se conseguiu identificar com as noções transmitidas na igreja

pelas suas avultadas contradições – “Não acredito numa verdade absoluta, mas acredito

que o Universo é aquilo que nos alimenta e nos sustém (…) uma energia divina que está

e faz parte de cada um de nós” representando-se objetivamente pela Natureza que

“significa vida, significa tudo (…) é a minha casa e então sempre a vou proteger”,

simbolizando o divino, a saúde e a medicina, sendo capaz de desencadear profundos

processos de cura e desintoxicação, destacando sobretudo os locais pristinos e intocados

pelo Homem, onde sente uma energia inigualável, mais pura e harmoniosa, fazendo-a

sentir-se mais conectada, removendo a fadiga mental, as ansiedades e o stress; algo muito

semelhante àquilo que verifica em relação à repercussão das suas práticas espirituais,

como por exemplo a meditação que estimula a orientação quotidiana, a organização

mental proficiente e a focalização determinada ao invés de se perder “na confusão das mil

e uma coisas ao mesmo tempo”; contrariamente, nas ocasiões em que não consegue

meditar, sai de casa à pressa, atrasa-se, fica com as ideias fora do sítio e com muitos

pensamentos em simultâneo.

Como erudita nas técnicas orientais de auto-melhoramento afirma que existe uma

grande diferença entre meditar esporadicamente e ter rotina de meditação, sendo que

somente pelo hábito e pela incorporação do yoga (posturas físicas) é que é possível

alcançar estados alterados de consciência (pois na sua essência não é bem plausível

separar os planos físicos, mentais e espirituais, tratando-se de um processo

complexamente interligado), tornando-se assim numa “das ferramentas mais poderosas

64

que nós temos para nos conseguirmos desenvolver e melhorar a nossa performance a

todos os níveis”, demonstrando preliminarmente os seus resultados a nível físico (corpo),

passando gradualmente a remodelações no discernimento, como por exemplo o apaziguar

das emoções mais tóxicas, libertação de medos, tensões, mágoas, perdão próprio/de

outrem, etc.

No que toca a psicadélicos, já desde algum tempo que tinha ouvido falar, porém

tinha muito receio de experimentar devido à divergência de opiniões e relatos;

recentemente, por curiosidade e conveniência de avaliação pessoal, acabou por

experimentar cogumelos mágicos, retorquindo que foi uma experiência fantástica –

“puxou muito a criatividade e abriu mais a conexão comigo própria” desvendando novas

conjunturas de fluição. Complementa que também provou Rapé, mesmo que não

estritamente um psicoativo (tratando-se de tabaco soprado para as vias nasais), estimulou

um forte processo de cura por meio de vómito/purga fazendo-a aperceber-se que deveria

ter mais cuidado com o seu tipo de alimentação (menos saudável), conectando-a

diretamente à consciência corporal.

Maria de 41 anos, depois de viver algum tempo no grande Porto decidiu voltar à

aldeia onde cresceu no interior do país no intuito de garantir ao seu jovem filho um estilo

de vida mais descomplicado, saudável, e em pleno contacto com a Natureza, incutindo-

lhe fortes noções de ética ambiental desde infância na esperança de que o seu futuro não

se entrelace com fortes dependências tecnológico-digitais. Como terapeuta holístico,

focando-se em diversificadas áreas do desenvolvimento e bem-estar pessoal (contudo

atualmente desempregada), vê com grande preocupação o decorrente desequilíbrio

ecossistémico fomentado pela Humanidade, especialmente o descomedido consumismo

alicerçado em descartabilidade, insensibilidade e violência.

Aponta que o originador da presente desconexão e instabilidade é a obsessão e

alienação tecnológica assentada e apoiada por hostis e sobrecarregados sistemas

educativos e profissionais, acarretando bolhas de isolamento desde tenra idade pela falta

de tempo livre tanto dos filhos como dos pais, expressando-se num bloqueio do

desenvolvimento dos instintos e da cognição. Para piorar ainda mais esta situação, o tipo

de deita/alimentação de uma vasta maioria da sociedade é altamente dissimulado e

incongruente, respaldando-se em tremenda crueldade animal e insustentabilidade agrícola

65

abastecida de “hormonas de crescimento, antibióticos e anti-inflamatórios”. Devido a

isto, e muito mais, politicamente não se revê “em absoluto, nem na direita, nem na

esquerda, nem no centro, nada!”, redarguindo que este sistema veementemente feudal é

o grande responsável pela grande “lavagem cerebral”, adicionando ainda que falta muita

oposição popular a todas as imposições políticas.

Ecologicamente sustenta que “sem o Meio Ambiente nós não existíamos (…) e

enquanto não aprendermos isso, que não somos mais nem menos do que um

escaravelhozinho ou uma minhocazinha (…) não haverá prosperidade.”

Atualmente, depois de ter regressado às origens, passa grande parte do seu tempo na

Natureza, pois para além de a fazer sentir-se “completamente plena, em paz, e numa

sensação zen”, é um fantástico suplemento de aprendizagem para o seu filho.

Já no que toca às suas ações pessoais, para a Maria o essencial recai em consumir o menos

possível em todas as vertentes (alimentos, combustíveis, vestuário, etc.), distanciando-se

de tudo o que é descartável, reciclando tudo o que é permissível; boicota a atroz industria

pecuária ao não consumir carne, procurando ainda informar-se acerca das principais

problemáticas ambientais no intuito de ajudar na disseminação, voluntariando-se ademais

em projetos agroflorestais esporadicamente.

Educada no catolicismo, tendo frequentado a catequese, desde cedo apercebeu-se

da controvérsia envolta de certas questões, nomeadamente a visão referente ao papel das

mulheres, levando-a a ser repreendida inúmeras vezes “por incomodar”; à medida que foi

crescendo, esta ambiguidade aliada a um desejo de entendimento mais profundo fê-la

percorrer várias escrituras de outras religiões acabando por se aproximar do Xamanismo

– “devido à sua simbiose com a Natureza, acho que é o que se aproxima mais daquilo que

eu sou e quero ser”. Dentro deste espectro explorou intimamente o Xamanismo

ameríndio, sentindo neste momento que chegou a altura de imergir nas tradições do

Xamanismo europeu “de forma a perceber e conhecer melhor as nossas raízes”,

apontando conquanto para a dificuldade da sua realização pois “muita informação foi

queimada na altura da Inquisição”.

Referentemente às suas práticas espirituais, para além dos xamânicos atos de

celebração dos solstícios e dos equinócios, temazcal, e utilização de fauna e flora com

propriedades psicoativas, numa perspetiva mais geral recorre regularmente à oração e à

meditação, ambicionando voltar mais seriamente ao yoga para impulsionar a sua saúde

física, justificando que os efeitos desencadeados por estas técnicas tipológicas já se

66

encontram comprovados pela Ciência, criando “novas ligações neurológicas (…) e um

novo sistema no nosso organismo (…) nem que seja pelo efeito placebo”, adicionando

que a nossa mente/imaginação é capaz de coisas magníficas e maravilhosas aquando

acreditamos verdadeiramente no seu poder. Alude ainda para a importância de uma

linguagem saudável e benevolente, com palavras sinceras e graciosas, pela sua

capacidade de influenciar o funcionamento do nosso próprio organismo, exemplificando

com o estudo conduzido por Masaru Emoto relacionado com a cristalização da água

consoante a expressão de sentimentos, onde esplendidamente as formações associadas a

mensagens de amor, bondade, agradecimento, apresentam estruturas moleculares muito

mais definidas, complexas e elegantes aquando comparadas com as formações expostas

a mensagens de raiva, ódio, angústia, etc. (Emoto, 2004).

Passando para o assunto dos psicadélicos/enteógenos revela ter algum know-how

com Ayahuasca, São Pedro, Peyote, Cogumelos Mágicos, LSD, Yopo, Kambô e Rapé

reiterando que “são de facto expansores da consciência”, principalmente Ayahuasca que

a fez sentir uma mudança muito profunda “a nível celular” – “A primeira vez que eu

experimentei Ayahuasca eu visualizei a hélice do meu ADN a desfazer-se, a vir uma nova

informação e ela voltar a enrolar-se sobre si mesma” – recomendando a toda a gente pelo

menos uma vez na vida, porém sempre com as devidas precauções, sentindo “o chamado”

sem ter problemas adversos associados, fazendo-o sempre em contexto cerimonial, dando

tempo de integração entre as sessões e acima de tudo ter um facilitador/moderador

experiente e confiável.

Assevera que após ter introduzido estas medicinas na sua vida transitou para um

novo patamar de veneração e respeito pela Natureza, adquirindo a noção de que tudo tem

um propósito e tudo está interligando, ficando mais segura de si mesma e do seus

princípios pretendidos; concluindo que “tudo está dentro de nós, temos DMT dentro de

nós, temos endocanabinóides dentro de nós”, as plantas simplesmente potencializam essa

realização, se não estivéssemos tão desconectados da Natureza e de nós mesmos seria

perfeitamente concebível atingir esses estados de transe dispondo apenas de meditações,

no entanto, enquanto não conseguirmos desintrincar as barreias espirituais impostas pelos

nossos estilos de vida alienados, estas medicinas psicoativas são dos melhores recursos

que temos à nossa disposição indicando um caminho propício para uma significativa

reconexão.

67

Fernando de 60 anos, emigrou do Brasil para Portugal há 3 anos atrás

estabelecendo-se em Lisboa, o seu currículo é vasto e variegado, apontando que viveu

várias e diferentes vidas numa só. Atualmente trabalha como terapeuta holístico e técnico

paramédico, sendo ademais mestre de obra (construção convencional e bio-construção),

eletrotécnico, permacultor, enfim “um artesão e um eterno aprendiz”. Grande parte da sua

ocupação como terapeuta gira em torno das medicinas xamânicas, destacando-se a

Ayahuasca, caminho este que percorre há mais de 20 anos, afirmando firmemente que

esta relação salvou-lhe a vida, transformando a sua perceção.

Pai de 6 filhos e avô de 7 netos, assegura que o contacto frequente com a Natureza

é muito enriquecedor, havendo constantemente algo novo à espera de ser descoberto,

ajudando todo e qualquer ser humano a centrar-se e a desconectar-se do Caos tecnológico

contemporâneo. Identificando-se como “um ser da floresta”, tal como os seus guias

espirituais, afirma indubitavelmente que as plantas são seres vivos inteligentes, altamente

evoluídos e conscientes, sendo apenas necessário respeito e contacto próximo para sentir

a sua energia de cura primordial. Aquando imerso no Meio Ambiente sente-se “em pleno

equilíbrio, em paz na respiração e no meu ser, o meu estado de espírito está totalmente

em equilíbrio harmónico e com uma vibração suave, sem piques de alterações (…) ali eu

estou no colo de minha mãe”.

A nível de ações pessoais “a parte que eu faço, é uma vibração que eu tenho”,

tentando despertar as pessoas para o decorrente desastre ambiental através do

subconsciente coletivo e/ou plano astral, referindo ainda que num domínio mais objetivo

tenciona plantar muitas árvores no seu terreno fora da cidade assim que a disponibilidade

o permita; no dia-a-dia corrente enfatiza que a reciclagem é um mínimo obrigatório, mas

que mesmo assim ainda vê muito lixo espalhado pelas ruas de Portugal, algo que não

observa noutros países europeus como a Suíça.

Politicamente, na sua juventude afiliou-se a vários grupos radicais de esquerda

que elaboravam várias ações contra a ditadura militar brasileira; no entanto, rapidamente

se apercebeu que “tanto faz se for da esquerda ou da direita, extrema-direita, moderado

ou socialista, todos beijam uma única mão” (dinheiro e poder). Neste momento reconhece

que a maioria dos governantes precisam de uma transformação interior (espiritual),

transcendendo a ganância e os interesses pessoais, só assim se poderiam tornar em

melhores governantes para todos. Concatenando com estas alegações, as suas principais

preocupações recaem na centralização do poder por parte das grandes superpotências,

68

particularmente os Estados Unidos da América e a China, que detêm praticamente todos

os meios de produção nas áreas da alimentação, fármacos, combustíveis, etc. sendo

extremamente implacáveis, corruptos e cruéis; numa perspetiva inversa, denota que se

tem deparado com várias novas ideias e estilos de vida comunitários voltados para o

equilíbrio entre o Homem e a Natureza, implementados e praticados especialmente pelas

gerações mais hodiernas.

Na vertente religiosa identifica muita abertura com a Umbanda e com o Budismo,

contudo sem a interferência de mestres nem gurus – “sou totalmente ecuménico e vibro

muitas religiões, acredito na força divina, acredito no pressuposto de Deus, e de certa

forma também seria ateu, mas não acredito num Deus intrometido que guarda rancor”. Já

nos estados alterados de consciência sustenta que há várias facetas e procedimentos

diferenciados, elucidando através da meditação, entre a diferença de uma vida ocidental

e uma vida num templo tibetano, onde pela inexistência de perturbações externas

(tecnologia!) é possível alcançar “contacto com a estrutura molecular do próprio corpo”

… algo deveras incompreensível para a grande maioria civilizacional.

Levando mais de 2 décadas a consagrar Ayahuasca, é este o seu EAC de eleição

e o qual mais fielmente consegue pormenorizar, acentuando que “não é para todos”, é

preciso ter alguns pré-requisitos, como por exemplo uma boa condição física e

psicológica; tratando-se de um processo muito profundo acompanhado por muitas

mudanças radicais, e são poucos os que estão prontos para esse tipo de transformação.

Todavia, independentemente do caso é sempre possível utilizar esta medicina de forma

terapêutica (microdosagem) – “algumas gotinhas como tratamento é um remédio, é um

tónico para a alma, para a mente e para o corpo” – estabilizando o organismo, prevenindo

enfermidades e melhorando a vida sexual – “quem consome Ayahuasca são pessoas

saudáveis, deixam de existir muitas doenças porque é como uma vacina para o corpo, e

não vicia!” – desenvolvendo que com o passar do tempo ganha-se maior sensibilidade à

sua ação, transformando-se numa das únicas substâncias conhecidas a ter efeitos mais

profundos com menor quantidade.

Aprofunda que a reação da Ayahuasca inicia-se no cérebro afetando

imediatamente todo o sistema corporal, demarcando-se a ordenação cardiometabólica,

ativando “todas as lâmpadas (…) os meridianos, os centros de energia: simulação em

demonstração”. Por vezes, e especialmente nas primeiras vezes, no decorrer deste

processo acontecem as purgas físicas e emocionais (remoção de bagagem energética

69

desnecessária e/ou iniciação da remodelação dos paradigmas), criando grande impacto e

choque nos principiantes pela defrontação com um espaço onde se pode interagir entre

mundos e dimensões – “passa por vários estágios dependendo da sua permissão, do seu

contexto, do estado mental (…) pode aceder outros planos, outros universos, pode ter

contacto com seres totalmente extrafísicos conscientes, você poder receber fisiografias,

pode receber mensagens, pode se conectar com entes queridos mortos (…) o plano físico

e o plano extrafísico é o mundo real”.

Em função da sua atuação, os procedimentos de cura desencadeados podem ser

realmente extraordinários, no seu caso particular, após uma vida repleta de vícios

(canábis, cocaína, álcool, LSD, raiva, ódio, vingança, etc.) ao consagrar Ayahuasca

Fernando vivenciou a sua própria morte, tendo renascido um homem novo bem melhor.

Como facilitador de cerimônias testemunhou muitos exemplos extraordinários, repletos

de transformações espontâneas, conhecendo várias pessoas que com apenas uma única

sessão “se harmonizaram para toda a vida, com a família, com a mãe, com o pai, com os

irmãos, consigo próprios, deixaram as drogas, arrumaram emprego, etc.”, ilustrando ainda

com o exemplo da sua irmã que fumava dois maços por dia e deixou de fumar

completamente de um dia para o outro.

Consigna que a experiência por si só não advém meramente pela junção das duas

plantas (cipó e chacrona); a intenção na forma como foi feita, a energia formada por todos

os participantes da cerimónia e sobretudo o propósito pessoal são aspetos muito

importantes ao longo de cada jornada, complementando que a Ayahuasca “é um ser vivo,

é um ser inteligente, que tem assim uma força e um poder intangível, totalmente quântico,

infinitas possibilidades” … precavendo que se o espírito for tratado com desrespeito (em

festas ordinárias, misturando com outras drogas) aí o que se vai sentir é só e apenas o

efeito químico dos seus constituintes, não havendo cura nem partilha de conhecimento –

“precisa de estar num estado místico, num espaço de reverência, com lugar apropriado no

tempo e no espaço, fazer uma conexão com o sagrado, criar uma egrégora, abrir um

campo de energia para fazer contacto com o espírito da Ayahuasca”.

Similarmente a Maria aborda o placebo e o poder da mente/imaginação

demonstrando com alguns estudos realizados com a Ayahuasca – “quem tomou placebo

melhorou, quem tomou Ayahuasca melhor muito mais ainda” – esclarecendo que mesmo

sem a ingestão física da substância ocorreu uma intenção/mentalização prévia de

vivenciar algo inimaginável, abrindo as portas para o comunicação espiritual; reforçando

70

ademais esta noção através de um caso de hipersensibilidade que contemplou

pessoalmente, onde bastou passar algumas gotinhas da medicina na pele, suscitando

resultados semelhantes à ingestão, peripécia esta que a Ciência não consegue comprovar

fisicamente pois trata-se de um vínculo metafísico/imaterial.

Concomitantemente à Ayahuasca, Fernando recorre ainda ao uso do Rapé pelo

seu poderoso efeito de cura física, emocional e espiritual – “ajuda a combater Alzheimer,

equilibra muito as doenças de respiração, doenças da voz, garganta, amígdalas” –

conhecendo uma pessoa que conseguiu desbloquear o seu rosto paralisado cronicamente

através do Rapé; vale-se ainda da Jurema-Preta (Mimosa Hostilis), da Sananga

(Tabernaemontana Sananho) – colírio muito eficaz no tratamento de problemas de visão

– e ainda das defumações pelos seus efeitos de limpeza energética (p. ex. pau santo, sálvia,

várias resinas e sementes).

“Todas essas medicinas têm uma grande influência nas pessoas com depressão,

com ansiedade, pessoas sem foco na vida, pessoas sem um caminho a trilhar, pessoas

desarmonizadas (…) e isso eu não li, eu vivo isso! (…) tenho muito alegria de ter isso

como trabalho, como caminho que eu partilho, porque são coisas que fazem bem às

pessoas (…) e tudo à sua volta”, finaliza com a conjuntura de que todas estas medicinas

são da floresta, representando a essência da Natureza, tratando-se assim de uma

manifestação direta do conhecimento da Natureza por intermédio destas plantas.

Miguel de 22 anos, depois ter vivido grande parte da sua vida no estrangeiro

decidiu voltar a Portugal (Lisboa) no intuito de prosseguir os seus estudos superiores,

hoje em dia é estudante de Ecologia à procura de estruturar a sua vida de forma que a sua

futura profissão possa incluir o seu desejo de estar constantemente na Natureza.

Identificando-se politicamente como uma mistura de conceitos de esquerda, liberdade,

meritocracia, acreditando também em certas restrições e numa certa forma de “anarquia

natural”, ao olhar brevemente para a sociedade contemporânea, alarma-se com o facto de

uma elevada percentagem populacional não se conseguir autossustentar, encontrando-se

fragmentada pela (híper)especialização e completamente dependente de fatores externos

para sobreviver, adicionando que “se esse externo colapsar, depois essas pessoas também

entram em perigo”; como possível solução, enfatiza que os governos deveriam estimular

e/ou incentivar todos os indivíduos a prestar serviço, fazer algo novo e diferente numa

71

área essencial para a sobrevivência da espécie humana, como por exemplo agricultura e

construção.

Considerando a sua paixão pela Natureza, esta é para si a matriz do conhecimento,

inspiração, renovação e o mais próximo daquilo que pode ser considerado como divino,

simbolizando “um organismo híper-complexo e interligado que permite toda a vida existir

e se desenrolar”. Infelizmente, por viver numa grande cidade não consegue passar tanto

tempo imerso em ambientes naturais quanto pretendia, esforçando-se em pelo menos

conseguir esse momento de paz e tranquilidade uma vez por semana, durante um dia

inteiro; porém, mal tenha algum tempo livre e/ou férias esse período é estendido ao

máximo potencial: entre 5 a 7 dias por semana. Justificando que a procura desses espaços

naturais é “uma necessidade profunda que não tem causa lógica ou racional” contrariando

equitativamente a “exaustão de uma sobre-estimulação de estar na cidade”.

Como medidas de redução do seu próprio impacto ambiental, Miguel substituiu

os transportes públicos pela bicicleta, recorre frequentemente ao dumpster diving

(reciclagem de comida) contrariando o desperdício e o sistema de sobreprodução,

servindo-se ademais de lojas de segunda mão para adquirir vestuário sempre que for

necessário, optando regularmente por arranjar e/ou reestruturar os objetos danificados.

Coletivamente, apesar de não pertencer oficialmente a nenhuma organização, voluntaria-

se frequentemente em diversos projetos de Permacultura e Agrofloresta, participando

ainda em manifestações pró-ambientais oportunas.

Relativamente aos estados alterados de consciência define-os como “um estado

de experiência da realidade (…) que é diferente do nosso estado comum”, um desvio do

referencial cognitivo e emocional, permitindo-nos compreender a existência de “uma

maneira mais abundante”. Servindo-se regularmente da meditação, rezo, diálogo com a

figura de Deus e mais esporadicamente da dança, técnicas de respiração e plantas

psicoativas (possuindo ainda algumas modestas noções de yoga, tambor e desporto

intensivo como catalisadores de EAC), assevera que atendendo a estas práticas

desenvolveu um “maior conhecimento de si mesmo, do tecido da vida ou da realidade”

ajudando-o a entrar em direta comunhão com o sagrado sem ter de depender de uma figura

externa (p. ex. padre/professor); seguindo os ensinamentos bíblicos e simpatizante do

Budismo não se considera aderente a nenhuma religião especificamente, em grande parte

devido à institucionalização promotora de “toda uma série de argumentos autoritários que

72

restringem a liberdade do individuo e que por vezes também bloqueiam o acesso do

individuo à divindade”.

No decorrer das suas práticas espirituais denota “uma paz que se traduz num

conhecimento e um entendimento da realidade”, podendo trazer à tona vários sentimentos

como tristeza, raiva, confusão, felicidade, que, estando alojados no seu subconsciente

precisam de ser analisados, trabalhados e integrados coerentemente, sentindo-se

consequentemente motivado para continuar esse tipo de exploração pela crescente

tendência de autodisciplina, espelhando-se objetivamente em “menos discussões com as

pessoas, mais tolerância, mais abertura a novas ideias, novas maneiras de pensar (…)

experienciando uma maneira mais flexível de viver”.

Por intermédio da meditação vivenciou pela primeira vez o corpo e a mente sem

qualquer tipo de diálogo interno, levando-o a um novo domínio e perceção de liberdade,

este acontecimento despertou uma sequência de eventos que o acabaram por direcionar

às “plantas-mestras ou plantas-medicina”, concedendo-lhe “uma visão mais estrutural e

metafísica da realidade (…) um profundo mergulho dentro do meu ser”. Neste contexto

alega que cada planta tem o seu próprio espírito e os seus ensinamentos, excelendo os

cogumelos mágicos que se assemelham a criancinhas que brincam com a nossa

autoimagem e autoidentificação, e a Ayahuasca que assumindo uma representação

maternal (de avó) aborda temas mais profundos como a vida e a morte, e a condição

humana; referindo ainda São Pedro e LSD sem grandes aprofundamentos.

Para além destas medicinas naturais, menciona que durante a sua juventude

experimentou por curiosidade vários compostos sintetizados como MDMA, anfetaminas,

Ketamina, 2CB e derivados, aduzindo que estes impulsionaram uma amplificação do seu

ser social, atenuando problemas de timidez, de medo, de falta de confiança, tornando-o

mais livre, aberto e espontâneo; no entanto por não necessitar mais desse tipo de estímulos

contemporaneamente, vale-se apenas das plantas visionárias que o permitem desenvolver

espiritualmente, promovendo uma perspetiva holística que emparelha o mundo físico

manifestado com o mundo metafísico invisível, acentuando os seus valores em

compaixão, amor e respeito, mudando ademais o seu foco de admiração “não no artificial

e urbano, mas sim no natural e na Natureza”.

Declara que inobstante da perícia pessoal de cada um, para fazer trabalho com as

plantas-medicina é preciso ter sempre muita prudência, sendo vital “estar num sítio

calmo, pacífico e sereno, com pessoas de confiança”, contrapondo que quando não

73

efetivava estes princípios “muitas vezes corria mal”. Acrescenta que estes tipos de

experiências não são para toda a gente, havendo certos tipos de personalidades que podem

sair mais prejudicadas do que ajudadas, malogrando a estabilidade pessoal e das

comunidades envolventes, sobretudo na inexistência de uma predisposição a

mudanças/transformações profundas e impactantes.

Conclui que numa interpretação mais genérica estas medicinas incrementam uma

alargada propensão ambiental – “muitas destas plantas têm como missão ou como

exercício espalhar certos conhecimentos e entendimentos que são necessários neste

momento para a Terra poder sobreviver e continuar (…) são um forte catalisador para a

mudança social e ecológica (…) todo este surgimento pode ser visto como a urgência da

Natureza em comunicar aos seres-humanos que ela precisa de ser protegida”.

Joseph de 60 anos, nascido na Índia, é monge há mais de metade do seu tempo de

vida tendo conhecido cerca de 140 países através da sua dedicação ao serviço social e

espiritual da Humanidade; entre 1988 e 1997 percorreu diversas localidades no(s)

continente(s) asiático e africano a ajudar populações em risco extremo afetadas por

catástrofes ambientais e/ou humanas (como terramotos, guerras, fomes, etc.); em 1997/98

mudou-se para Portugal passando a se concentrar em grande parte ao ensino e

disseminação do yoga e da meditação.

Ao olhar para a contemporaneidade assinala que há muito para ser feito de modo

a começar a reverter a calamidade ambiental, apontando que essa mudança tem de partir

de dentro para fora, começando pela “conexão, autoconhecimento, e compreensão do

funcionamento do nossos próprios organismos, curando-os pelo entendimento;

seguidamente, o ambiente curar-se-á também”. Já numa perspetiva mais objetiva salienta

que os principais responsáveis pela evidente destruição e poluição são as grandes

instituições governamentais e privadas, que, servindo-se da metodologia capitalista e

manipulação por propagação de medo, monopolizam e privatizam acumulando todos os

meios de produção, com pesada notoriedade para o sistema agropecuário “que só destrói

(…) e envenena”.

De forma a atenuar o seu próprio impacto sustenta que “ser vegano é um grande

passo para ajudar na tão necessitada transformação”, tanto pela intolerável crueldade

animal, insustentabilidade de produção, como ainda por questões de elevação espiritual,

74

acrescentando que apoiar o comércio local é outra fundamentalidade. Sendo monge vive

seguindo os máximos potenciais de respeito e veneração por toda a existência,

resguardando toda a matéria viva e inanimada, devotando todo o seu tempo livre a apoiar

quem o procura e a ajudar os mais desfavorecidos. Ideologicamente sentencia ser

humanista, não havendo nenhum partido mais importante do que a espécie humana ou até

mesmo qualquer outra, sendo mandatório uma mudança de perspetiva que dê primazia à

sustentabilidade e preservação.

Como conselheiro e guia espiritual, passa grande parte do seu tempo imerso em

ambientes naturais pois é daí que advém muita da sua inspiração, curiosidade e

conhecimento, asseverando ainda que quando observamos a Natureza o que realmente

visualizamos é a nossa natureza interna, onde a perceção individual e subjetiva sobrepõe-

se constantemente à realidade objetiva; de modo a compreender a verdadeira ação e

significação do Meio Ambiente é necessário compreendermo-nos a nós mesmos

primeiramente, sobressaindo o entendimento do nosso funcionamento para além das

dogmáticas limitações do materialismo; complementa que “o corpo é relativamente um

objeto, no entanto é operacionalizado mediante uma energia vibracional muito elevada –

o espírito – pertencendo a tudo o que existe” … e é exatamente esse espírito (amor) a

origem de toda a existência, sinalizando que tanto a espécie humana como a Natureza são

diretos reflexos dessa grandiosa e universal inteligência.

Aprofunda que no universo tudo é vibração, incluindo a matéria que é puramente

energia condensada, exemplificando com o facto da composição de qualquer átomo ser

99,99% espaço vazio (ou melhor, vibratório) … ora, seguindo este pressuposto científico

assimila-se pela primeira lei da termodinâmica que a energia nunca se cria nem destrói,

apenas se conserva, reciclando, retornando repetidamente àquilo que em sânscrito se

apelida de “Purusha” (essência abstrata do espírito e/ou mente cognitiva), tratando-se da

força inteligente por detrás dos princípios operativos de “Prakriti” (universo objetivo)

força criadora operacionalizada segundo os princípios mutativos, destrutivos e sencientes

… resumindo “da consciência adveio a matéria, e da matéria adveio a mente unitária,

repartindo-se respetivamente por cada átomo” – “nós não somos apenas uma gota no

oceano, nós somos o inteiro oceano numa gota”.

No que toca aos efeitos fomentados pelas práticas como o yoga e meditação, ao

invés de estados alterados de consciência recomenda uma mudança de designação para

‘experiências causais superiores’ pela intenção e dedicação propositada em atingir

75

“Samadhi” (suspensão e compreensão da existência em comunhão com o universo),

exprimindo que é impossível descrevê-los devidamente por palavras pela sua

extraordinária complexidade. Todavia, tenta resumir que durante o processo de meditação

ocorre primeiramente uma distanciação do corpo, seguindo-se da mente, proporcionando

uma conexão a uma vibração superior mediante a experienciação de sons muito subtis e

peculiares; sucessivamente surge uma sensação de validação de existência pessoal,

desenvolvendo-se para a perceção de uma presença que nos circunda, não nos sentido

mais sozinhos; progressivamente essa presença transforma-se numa vibração leve e

consistente fazendo-nos aperceber dos limites do nosso próprio espaço, expandindo-o

gradualmente até nos unirmos com toda a existência – “esta experiência é a

experienciação do amor universal (…) zilhões de vezes mais afetuosa do que aquilo que

sentimos por quem amamos (…) e quanto mais fundo mergulhamos mais complexo se

torna”.

Concernentemente a substâncias psicoativas, Joseph nunca sentiu nenhum tipo de

atração em experimentá-los pois no seu entender estes compostos ao serem utilizados

repetidamente prejudicam o nosso sistema nervoso, ratificando que é demasiada

potência/energia para o nosso organismo. Adiciona que muitos dos seus amigos que

decidiram testar estes preparados perderam o brilho no seu olhar, e até em alguns casos

acabaram por desenvolver algum tipo de complicação a nível físico e/ou mental

(conquanto é de se evidenciar que agrupa todas as categorias das drogas numa só, sem ter

uma demarcada noção acerca das suas variedades e efeitos, sendo incompreensível quais

foram de facto as substâncias utilizadas pelos seus conhecidos).

Afirma que consegue atingir estados muito mais completos e profundos através

da meditação, diferenciando os estados alterados de consciência e as experiências causais

superiores como “estar enclausurado num quarto e olhar para o universo através de uma

janela, entre abrir essa janela ou até mesmo a porta e entranhar-se no universo”.

Realçando, no entanto, que para se conseguir alcançar tamanha proficiência expansiva é

mandatório seguir uma alimentação muito específica, a dieta senciente (maioritariamente

vegana, sem álcool, sem alho, sem cebola, sem ovos e sem cogumelos, por se tratarem de

alimentos tóxicos e energeticamente densos); para além da nutrição é necessário

abstinência sexual perpétua tanto física como mental (algo que, realisticamente falando,

é extremamente complicado para a grande maioria da Humanidade). Assevera que mesmo

que seguindo um estilo de vida saudável e equilibrado, repleto de práticas espirituais, sem

76

o acompanhamento e aconselhamento de um mestre tântrico altamente evoluído, é

praticamente impossível a obtenção da transcendência – “é essa a razão por existirem

centenas de milhares de milionários e bilionários no nosso planeta e tão poucos santos”.

Finaliza que de forma a iniciar uma mudança efetiva na nossa consciência e estilos

de vida é preciso remodelar drasticamente o sistema educativo, distanciando-se da

pressão socioeconómica profissional e autoidentificação repartida em prol de

desenvolvimento e felicidade coletiva, ensinando as crianças desde o início das suas vidas

que elas são extraordinárias e não apenas um robô, que elas não são apenas o seu corpo

físico nem a sua mente, mas sim todo o universo representado e encarnado nos seus

corpos e nas suas mentes, aí fluirá um tipo espiritualidade livre e sana, “desenvolvendo

automaticamente amor e respeito pela Natureza”.

Philipa de 30 anos, influenciada pelo estilo de vida hippie dos seus pais na

Austrália, desde tenra idade que se habituou a viver em contacto muito próximo com a

Natureza; após concluir os seus estudos mudou-se para Alemanha onde passou grande

parte do seu tempo a explorar florestas, acabando por desenvolver uma nova paixão pela

identificação e colheita de fauna e flora comestíveis e/ou com propriedades medicinais.

Há 2 anos atrás, em conjunto com o seu ex-companheiro, adquiriram uma propriedade

em Portugal no intuito de desenvolver uma comunidade voltada para a

autossustentabilidade, bio-construção, agricultura consciente, etc., algo que até estavam

a conseguir, todavia, devido ao término da relação deixaram o projeto de parte seguindo

caminhos divergentes.

Hoje em dia é professora de Inglês e aprendiz de ourivesaria, ambicionando em

adquirir uma nova propriedade assim que possível para viver o seu estilo de vida de

eleição off-grid: não dependendo de combustíveis fósseis, coletando a sua água,

plantando a sua comida e de um modo geral vivendo em maior proximidade com o

ecossistema; algo que tem sentido imenso falta devido às circunstâncias da sua atual

localização. Mesmo assim esforça-se por passar pelo menos meia hora por dia em

ambientes naturais pois este tipo de imersão fá-la sentir-se calma, desacelerada e em paz,

não havendo pressas nem preocupações, sendo “outro tipo de sustento”.

Em relação à sua associação à Natureza não tem dúvidas: “quando eu me

(re)lembro que sou parte da Terra, e que não estou apenas na Terra, eu reconheço

77

plenamente que somos a mesma força vital, a mesma consciência, a mesma matéria”,

acrescentando ainda que o grande problema do ser-humano é equivocar-se a si mesmo ao

pensar que é algo diferente e/ou superior a um animal. Seguindo esta linha de pensamento,

a sua principal preocupação consiste no esgotamento dos recursos naturais e sobretudo

na forma como encaramos esse problema coletivamente, reiterando que “temos de

encontrar uma rápida solução de simplificação em massa de todas as nossas atividades,

apercebendo-nos pelo caminho que somos parte da Terra e não os seus soberanos”.

Pessoalmente, para além da sua experiência off-grid, Philipa substituiu o papel

higiénico pelo bidé, boicotando assim a indústria dos eucaliptais, compra local e

sazonalmente, evita o plástico, recicla, dá preferência aos produtos biodegradáveis, e,

similarmente a muitos dos outros entrevistados de modo geral tenta consumir o menos

possível; já na sua arte de ourives fez um voto de utilizar apenas metais reciclados.

No espectro político é “muito liberal, ligeiramente socialista”, sem se associar a nenhum

partido em particular por acreditar na autonomia de todos os seres; fundamenta que uma

forma concreta de contrariar a centralização do poder político seria a concessão de

autogerência e diminuta autolegislação a comunidades locais consolidadas, atenuando a

árdua tarefa de gerência nacional de macro-escala. Já religiosamente, após ter sido uma

cristã-renascida entre os seus 14 e 21 anos, considera-se atualmente mais inclinada para

o panteísmo, vendo-se como uma ramificação e parte inseparável de Deus.

No que toca às suas rotinas espirituais, em diferentes alturas da sua vida foi

praticante regular de yoga, meditação e oração, porém estando a passar por uma fase de

redefinição neste exato momento, centra-se na formação de uma intenção a cada instante

(tentando sentir a sua própria presença continuamente), servindo-se ainda de incensos e

defumações para limpeza energética do espaço físico e mental. Complementa que a dança

é uma atividade que preza imenso por se tratar “de um portal para estados de transe”,

equitativamente à hipnose e ainda aos cogumelos mágicos que tanto reverencia.

Admite que quando não pratica regularmente por vezes demora mais tempo para atingir

os estados de calma com os quais está familiarizada, em contrapartida, quando se encontra

nos seus melhores dias consegue alcançar algo muito mais profundo – “é como se fosse

uma libertação do mundano quotidiano, da minha pequena mentalidade humana; é como

uma transição, é euforia, muito riso e felicidade, perceção da absurdidade dos meus

receios” – ajudando-a a sentir-se muito mais leve e livre, menos preocupada com os

problemas e melodramas existenciais.

78

Aquando abordada acerca de estados alterados de consciência, descreve-os como

abertura transcendental das camadas superficiais da personalidade como p. ex. a

autoidentificação, ego, drama e sofrimento, permitindo ao seu centro “de pura existência”

brilhar, apercebendo-se da sua verdadeira essência individual e distanciando-se de todas

as conceções ilusórias empilhadas sobre si mesma. Sustenta que os cogumelos mágicos

são a ferramenta ideal para a experienciação dessa realidade mais profunda, facilitando

uma sintonização pessoal que reverbera por longos períodos de tempo – “a parte mais

difícil é relembrar de lembrar isso diariamente”.

Em adição aos fungos psilocibinos (que prefere consagrar em solidão e na

Natureza para se concentrar no seu próprio desenvolvimento; só e apenas na ocasião de

uma intenção predeterminada), Philipa também se encontra aclimatada com a utilização

de marijuana (em contexto social), de LSD (em pequenos grupos), de São Pedro

(cerimonialmente), e ainda de 2CB; atestando que estas experiências (particularmente os

cogumelos mágicos) mudaram a sua perspetiva sobre a realidade, tornando-se mais

empática, mais senciente, mais compreensiva, mais capaz de dar e partilhar e acima de

tudo desenvolveu uma visão mais alargada de todo o universo, conectando-a

espiritualmente com o planeta Terra e com todos os seus seres-vivos, especialmente as

árvores que passou a visualizar como portadoras de personalidades caracterizadas.

Evidencia a recorrência de certos temas em algumas das suas sessões,

nomeadamente tônicas sobre feminidade e a sua capacidade de dar vida, misturando-se

derradeiramente com questões existenciais sobre a vida e o pós-morte; ânsia esta que lhe

foi atenuada mediante uma experiência em que se viu envelhecer, morrer e voltar a juntar-

se com a própria Terra (materialmente e metafisicamente), apercebendo-se ultimamente

que tudo está interconectado e perfeito à sua medida. Arrematando que “cuidar e

conservar o planeta ativamente desenrola-se mais proficuamente quando possuímos uma

relação íntima e pessoal com o ecossistema (…) e os psicadélicos, ou EAC em geral, são

muito poderosos na determinação e aprofundamento dessa conexão”.

Sophia de 67 anos goza atualmente da sua reforma depois de ter desempenhado

várias profissões ao longo da sua vida como massagista, aromaterapeuta, educadora,

assistente social, etc. Confessa ter tido uma infância muito difícil, repleta de abandono e

79

rejeição, derivado em grande parte por ter contraído pertússis com poucos meses de vida,

deixando-a às portas da morte e fisicamente debilitada para o resto da vida.

Guiada por uma vontade de viver inigualável, acompanhando-se pelos mais altos

ideais de justiça social e ambientalismo, acredita que apenas pela interligação destas duas

vertentes é que é possível fazer frente à desmedida desigualdade humanitária

implementada pelo capitalismo, sendo necessário responsabilizar os governos e as

grandes corporações pela falta de veracidade nos seus discursos relativos à desflorestação

e aos combustíveis fósseis, que intencionalmente destroem o ambiente.

Irlandesa de nascença, mas sediada em Portugal há algumas décadas, vive

completamente off-grid na sua quinta, produzindo a própria energia através de painéis

solares, coletando água das chuvas (filtrando-a para consumo), desenrolando ainda vários

projetos de permacultura na sua localidade; para além do mais, apoia sempre o comércio

biológico/local, retificando o fair-trade e as condições laborais, optando sempre pela

opção mais sustentável. Coletivamente, na sua juventude participou em algumas

manifestações, todavia atualmente a sua principal ação como ativista é digital,

investigando e partilhando informação de qualidade relativa a problemáticas ambientais,

expondo os deturpados interesses corporativistas e as suas consequências inevitáveis.

Apesar de se esforçar ao máximo para reduzir a sua própria pegada ecológica, reconhece

que “cada um só tem de fazer aquilo que pode atendendo à sua situação financeira”.

Independentemente da sua avançada idade, passa em média entre 4 a 6 horas por

dia imersa em ambientes naturais, podendo até ser mais dependendo das condições

climatéricas, alegando que é na Natureza que encontra um grande alívio para a sua

depressão maníaca, elevando-se acima do dilemas humanos, expandindo a sua perceção,

deparando-se constantemente com surpresas, sentindo ainda que a parte animal da sua

alma necessita de frequente contacto com o Meio Ambiente para se nutrir e otimizar.

Tendo vivenciado a adolescência no fim da década de 1960, diversificadas

substâncias psicoativas apareciam em todo o lado espontaneamente, familiarizando-se

com estados alterados de consciência muito cedo e rapidamente, continuando a desfrutar

do seu consumo ao longo de toda a sua vida descomplicadamente.

Após o subtido falecimento do seu companheiro de há mais de 35 anos, ao vasculhar as

memórias fotográficas apercebeu-se que em praticamente todas as ocasiões se

encontravam alterados, ora álcool, ora marijuana, ora ecstasy, ora LSD … levando-a a

reconsiderar sobre o tipo de vida que tinham em conjunto, decidindo-se naquele exato

80

momento em restringir o seu consumo dessas substâncias drasticamente (sobretudo

ecstasy e LSD, uma vez que os restantes já se encontravam totalmente excluídos).

Devido a essa paragem, em certas ocasiões mais marcantes, constatou o

comparecimento de EAC originados naturalmente e saudavelmente sem ter de recorrer a

estímulos externos, e, mesmo que por períodos de mais curta duração inferiu que o

estados expansivos estão sempre presentes no dia-a-dia de qualquer indivíduo

manifestando-se em circunstâncias de sentimentos profundos como o amor,

contemplação, humildade, felicidade, etc. – “os insólitos um minutos, os insólitos cinco

minutos” – não obstante, visto que a ação dos psicadélicos é de exatamente intensificar

essas mesmas emoções, os seus consumidores tornam-se deveras mais sensíveis e

conscientes aquando da sua ocorrência espontânea.

Referencialmente aos seus hábitos espirituais, Sophia adorava yoga, contudo em

consequência da sua saúde frágil teve de abdicar, voltando-se correntemente para a oração

e sobretudo a retrospeção – “como disse Sócrates: ‘A vida não examinada não merece ser

vivida’” – esforçando-se para se auto-atualizar continuamente de modo a chegar a um

melhor entendimento, a uma melhor verdade, perceber quem verdadeiramente é, porque

“em muitos momentos nós não somos nós mesmos”, atenuando destarte as suas ações e

pensamentos incongruentes, resultando em maiores níveis de compreensão e

compassividade em relação às outras pessoas. Para além deste processo costuma utilizar

uma meditação/visualização onde se imagina a vincular a todas as pessoas espalhadas

pelos quatro cantos da Terra que querem fazer bem ao planeta e à Humanidade, no intuito

de fortalecer esse tipo de energia/vibração.

Abrangentemente define que a espiritualidade “requer que sejamos a nossa melhor

versão a qualquer momento, algo que inevitavelmente será diferente em diferentes fases

das nossas vidas, requerendo prontidão imediata para assumir esse tipo de

responsabilidade pessoal” pois nunca se sabe quando as nossas próprias ações serão

impactantes o suficiente para gerar inspiração, mobilização e mudança em grande escala,

necessitando sempre de dar o nosso melhor para aumentar a probabilidade de tornar o

mundo cada vez melhor – “no fundo é sempre a relação connosco mesmos”.

Respeitantemente à Natureza, na vertente espiritual, esta desempenha a função de

arbitrariedade, não nos punindo por errar, repetindo-se e renovando-se ciclicamente de

forma a compreendermos a lição concisamente, forçando-nos a ultrapassar as limitações

do instinto, do ego, e da dor, em direção a um estado de graça permanente.

81

No que toca à religião, afirma que todos os seres-humanos nascem com o seu

próprio sentido de sagrado, porém o que a religião institucionalizada trata é de se

apropriar dessa significação, deturpando-a e impondo as suas respetivas regras e

definições – “Jesus não era cristão, Buddha não era budista, Mohammed não era

muçulmano (…) foram as pessoas soberanas que se aproveitaram do seus grandes

ensinamentos, transformando-os em reduzidos sistemas de crenças (…) no fundo a

religião é um problema, mas os sentimentos pelo sagrado individuais são bem reais (…)

todos devemos retirar o que bem nos importar desses grandes ensinamentos, contudo

descartando os operadores religiosos intermediários”.

Voltando ao tema dos psicadélicos complementa que em adição a marijuana,

ecstasy e LSD, também já experienciou São Pedro, Peyote, Salvia Divinorum, cogumelos

mágicos e DMT; fazendo-o sempre sensibilizada com o seu conforto e bem-estar,

seguindo as oportunidades meteorológicas de forma a dar o máximo de espaço possível

à Natureza pela sua acentuação da noção de interconectividade e da nossa pequenez

comparativa, atenuando drasticamente o egocentrismo pela aperceção de que o universo

não precisa da nossa permissão para se reproduzir. Realça que só se deve embarcar neste

tipo de jornas explorativas quando nos sentimos bem, bem acompanhados e num local

apropriado, tendo ademais digerido e integrado a experiência anterior (se aplicável), caso

contrário o melhor a fazer é adiar sem nunca ceder a pressões nem internas nem externas.

Notabiliza dois critérios fundamentais para que a experiência possa correr bem, a

limpeza física e a limpeza emocional, apontando para o privilégio ocidental pois não são

todos os seres-humanos do nosso planeta que dispõem da mesma tipologia de

possibilidades. Sendo os psicadélicos extensivos expansores dos nossos estados atuais,

não ter fome, ter um teto e estar higienizados são aspetos imprescindíveis para a génese

de uma experiência positiva, sendo sempre congruente ser humilde e agradecer pelas

nossas contingências; no plano mental, se tivermos demasiadas complicações subterradas

no nosso inconsciente, e acima de tudo se não estivermos preparados o suficiente para as

enfrentar e resolver, a experiência pode se tornar seriamente traumatizante. Agora, se

ambos destes domínios se encontrarem minimamente satisfeitos e nos encontrarmos num

ambiente seguro e confortável, adquirimos elevadas probabilidades de vivenciar uma

profunda experiência espiritual, sim pode ser beatífico, sim pode ser doloroso, mas no

final será deveras gratificante e recompensante em todos os aspetos possíveis e

(in)imagináveis.

82

Proclama que a axiomática dinâmica dos psicadélicos/enteógenos é a exacerbação

da compreensão de que vivemos num universo mágico, quer sejamos paranoicos quer

pronoicos, os seus mecanismos atenuam as vertentes do ego e da autoidentificação

transportando-nos para o autêntico presente pela distorção das habituais conceções da

linearidade, possibilitando-nos em emergir e experienciar cada momento na sua

singularidade, aumentando a predisposição à reverência, apreciação da beleza, e

reconhecimento da verdade.

Narrando a sua experiência mais impactante até hoje, tendo ocorrido há alguns

anos atrás sob influência de LSD, conta que foi transportada para a altura em que era um

embrião dentro do útero da sua mãe, vendo-se desenvolver e nascer, apreciando a relação

mãe-filha nos seus primeiros meses de vida (sendo fenomenal, sentindo-se amada e

protegida) … todavia, depois de adoecer severamente com pertússis (algo que era

equivalente a uma sentença de morte na década de 1950), o isolamento, a falta de toque

humano, e sobretudo o afastamento emocional por parte da sua mãe, geraram um forte

trauma de abandono que carregara ao longo de toda a sua vida … nessa experiência

conseguiu sentir todos os sentimentos e preocupações da sua mãe aquando quase perdera

a sua filha, levando-a a compreender o seu afastamento como mecanismo de defesa

pessoal (pré-luto), perdoando-a, sarando respetivamente a maior ferida da sua alma.

Conclui fazendo uma breve alusão à situação pandémica relacionada com o

Covid-19, afirmando que esta pode ser vista como uma gigantesca viagem

psicadélica/espiritual coletiva, forçando as pessoas a se isolarem e a resolverem os seus

problemas pessoais, concedendo-lhes tempo e espaço para saírem das habituais rotinas

de escape e se reconectarem com as suas famílias e consigo mesmos; evidenciando que

“o mundo não colapsou, as economias é que estão a colapsar” e é preciso fazer algo

urgentemente para parar o decorrente desastre ecológico, pois tudo está interconectado

… o Covid é nada mais do que um aviso direto da Natureza a salientar a necessidade de

uma mudança de consciência.

Victor de 26 anos é um cidadão norte-americano que cresceu na Noruega, viveu

algum tempo no Reino Unido, acabando por se mudar para Portugal há 2 anos e meio

atrás, onde, acabou recentemente o seu mestrado em estudos culturais, dedicando-se

agora a tempo inteiro à sua grande paixão de produção musical; acrescentando ainda ter

83

vasto interesse em temáticas relacionadas com o desenvolvimento pessoal como

psicologia/psicoterapia holística, meditação e plantas-medicina (enteógenos).

Como recém-formado à procura de estabilidade, inquieta-se com o iminente

colapso ecossistémico ressaltando que “sem o Meio Ambiente não haverá outras crises

para ficarmos preocupados (…) e como seres ecológicos e sociais deveríamos viver

conformemente”. Em consonância com muitos dos relatos anteriores alega que a raiz do

problema está sediada no vertiginoso consumismo globalizado e na institucionalização,

incluindo até o sistema educativo que passou a ser mais um produto ao invés de concreto

conhecimento; alerta ainda para a normalização do absurdo como a dilatação do fascismo

e a elevada tendência para a demonstração de poder, controlo e violência por parte dos

governos “cada vez mais assimilados a sistemas de policiamento”.

Por estas razões e muito mais, simpatiza com o anarco-sindicalismo – “esquerda radical,

sem ser esquerda de todo” – sendo acima de tudo humanitário realçando as noções de

liberdade, igualdade, sustentabilidade e integralidade com o Ambiente.

Subjetivamente perceciona-se como parte integral e inseparável da Natureza,

complementando que “a cultura é tipo uma patologia inconsciente, ao passo que a

Natureza é a coisa mais consciente do universo”, consistindo numa expressão divina e

altamente inteligente que o faz aperceber do autêntico propósito da sua existência.

Vivendo na cidade lamenta-se por não ter um Meio Ambiente pristino à sua volta,

empenhando-se em se dirigir a esse tipo de locais por vários dias, pelo menos duas vezes

por mês, “aproveitando cada segundo desse tempo”.

Visualizando-se como um “agente ecológico pertencente a uma ecologia” esforça-

se ao máximo para fazer o seu melhor, gerindo o consumo dos seus recursos naturais,

contribuindo simultaneamente para a sua regeneração mediante reciclagem, dumpster

diving, reparação/reutilização de objetos danificados, evitando o uso de produtos

químicos e sintéticos, dando preferência a produtos orgânicos e recorrendo aos

transportes públicos; aponta finalmente para o facto de que a vida citadina é um estilo de

vida muito mais poluidor do que a vida no campo, estimulando o consumo e

inevitavelmente gerando mais poluição.

Abordando os estados alterados de consciência, expõe que preza imenso as

definições conceptuais rudimentares das décadas de 1950 e 1960, como por exemplo as

de Timothy Leary e Aldous Huxley, que consideram a consciência corrente como

amplamente filtrada, limitando o acesso à informação processada de modo a não

84

sobrecarregar a nossa atividade funcional; complementa que qualquer tipo de EAC é um

desvio deste padrão, alargando e aprimorando a perceção da realidade, introduzindo-nos

gradualmente a múltiplos plateaus existenciais que habitualmente não percecionamos,

tanto nos domínios materiais, como nos metafísicos, astrais, e por aí adiante.

Contudo alega que não se trata somente de expansão, efetivamente é mais uma forma de

reconhecimento de que a consciência por si só já se encontra num estado altamente

expandido, ajustando a nossa sapiência a englobar diferenciadas vertentes

subconscientes, transformando-as em discernimento consciente.

Relativamente às técnicas promotoras de EAC informa que (re)conhece a

meditação, vários processos físicos de indução de transe (como o yoga, a dança, e

basicamente qualquer tipo de repetição de movimento ritmado) e particularmente os

psicadélicos, sendo estes o seu procedimento de eleição por serem “mais profundos,

convenientes e requererem menos esforço do que os demais”. Dentro da categoria

psicoativa, a sua atenção recai maioritariamente nas plantas portadoras de tais

propriedades e não propriamente nos compostos sintetizados, isto em virtude da sua

posição ideológica e conceção romantizada da Natureza como provedor; todavia não

invalida as variantes laboratoriais, considerando-as válidas e similarmente capazes de

induzir profundas e impactantes experiências transcendentais.

Tendo já testado uma elevada variedade de substâncias naturais e sintetizadas,

desde DMT (puro, changa e Ayahuasca), a cogumelos mágicos, a Salvia Divinorum, a

harmalas (Peganum Harmala e Banisteriopsis Caapi), a São Pedro, a marijuana, a 5-

MeO-DMT, a 4-AcO-DMT, e ainda ketamina; assevera que a Ayahuasca e os cogumelos

mágicos são para si dos mais impressionantes devido ao seu enquadramento nas tradições

xamânicas ancestrais (representando bases de conhecimento testadas e comprovadas ao

longo de inúmeras gerações), enaltecendo “uma relação natural e mais harmoniosa entre

o seu consumidor e o ecossistema da sua proveniência”, transformando-se numa fonte de

cura e sabedoria proveniente diretamente da Natureza, sem precisar de recorrer a

intermediários como a indústria farmacêutica.

Atraído inicialmente por curiosidade de vivenciar algo diferente, rapidamente se

apercebeu dos seus elevadíssimos potenciais terapêuticos pelo apaziguar da suas

ansiedades e depressões, constatando que muitas outras pessoas poderiam beneficiar

destas propriedades, inclusivamente quem sofre de perturbações mentais mais

complicadas. Reitera que para além da componente terapêutica a componente mística é

85

também muito perseverante, elevando a associação com sentimentos de união e

divindade, acentuando os princípios por detrás das nossas interpretações e expetativas da

realidade, espelhando-se num aumento de produtividade, melhor comunicação,

melhoramento do relacionamento interpessoal, acompanhando-se ainda de muita

humildade, gratidão, e por vezes felicidade.

Aponta que independentemente da substância a intenção é muito importante, “se

partirmos para a jornada num intuito recreativo o seu conteúdo será predominantemente

recreativo” não havendo muito espaço para exploração e crescimento pessoal.

Quanto à preparação para uma experiência expansiva, Victor aconselha que é necessário

relaxamento e despreocupação, e em condição de sentimentos de insegurança,

desconfiança, ansiedade, negatividade, é preferível adiar; a não ser que a intenção se

encontre direcionada para a resolução e/ou compreensão desses mesmos sentimentos

menos positivos, mas aí já é mandatória certa perícia e avultado autoconhecimento.

Em adição a estes fatores emocionais, refere que a companhia é igualmente

importante, porque “nesses momentos de expansão somos capazes de sentir a presença e

a energia dos demais imensamente”, tornando-se importante fazê-lo com amigos

próximos e/ou pessoas com boas intenções; faz ainda uma breve observação à

predefinição do local para o sucedido – “ainda está para acontecer uma experiência dentro

de um quarto ou de um apartamento em que não preferisse me encontrar na Natureza”.

Inobstante do procedimento pessoal justifica que não há melhor contexto do que o

ritualístico e/ou cerimonial desenvolvido pelo Xamanismo, sendo definitivamente o

espaço ideal, onde pela figura central do xamã a experiência torna-se mais segura e

significativa, abrindo espaço para a manifestação espiritual das plantas-medicina – “há o

nível da presença, da comunicação, do dar e receber, há o nível da imersão na experiência

por aquilo que verdadeiramente é, e ainda o nível da simbologia, onde os espíritos das

plantas representam certos arquétipos e idiossincrasias”.

86

Síntese Temática

Quadro Tipológico/Categorial5

Categorias-Matriz Parâmetros-Avaliativos Resultâncias

Autoidentificação

Preocupações

Contemporâneas

Sistema Económico;

Sistema Político;

Destruição Ambiental

Perfil Político-Ideológico

Tendência para a Não-

Aquiescência a Partidos

Políticos

Afinidade com a Natureza

Interpretação Individual da

Simbologia da Natureza

Tendência para o Holismo e

Divinização

Tempo de Imersão em

Ambientes Naturais

Variável entre ‘meia hora

por dia’ e ‘80% do dia’

Sentimentos Providos pela

Imersão em Ambientes

Naturais

Calma, Felicidade,

Satisfação, etc.

Ações Pessoais na Redução

do Impacto Ecológico

Reciclagem, Plantar

Árvores, Redução do

Consumo, etc.

Espiritualidade

Aderência Religiosa

Tendência para o

afastamento da Religião

Institucionalizada, todavia

Simpatização

Multirreligiosa

Práticas Espirituais

Meditação; Yoga;

Psicadélicos/Enteógenos;

Oração; Respiração; Dança;

Tambor; Retrospeção; etc.

Sentimentos Providos pelas

Práticas Espirituais

Reconexão,

Transcendência,

Focalização, etc.

Sentimentos Providos pela

Não-Prática

Desconexão, Impulsividade,

Vulnerabilidade, etc.

Consumo de

Enteógenos/Psicadélicos

(Perscrutação de EAC)

Nível de Experiência Maioritariamente elevado

Substâncias Prediletas

Predominantemente de

índole natural, destacando-

se Cogumelos Mágicos e

DMT (var. Ayahuasca)

Reverberações desse

Consumo na Vida Pessoal

Bem-estar, Maior Fluidez,

Mais Liberdade, etc.

Advertências

Prudência espácio-

temporal; Bem-estar

pessoal; Acompanhamento

especializado;

Intencionalidade;

Integração; etc.

5 Figura 2 - Sintetização dos dados obtidos mediante fundamento teórico em (Guerra, 2006).

87

Recorrendo a uma breve análise temática pela sua capacidade de agrupar toda a

população em observação e consequente evidenciação das tendências do conteúdo

adquirido, realça-se que inobstante as diferentes trajetórias e perspetivas de vida é

possível identificar consideráveis semelhanças em todas as esferas analisadas,

estabelecendo-se assim o preambulo para o possível reconhecimento dos contributos da

experienciação de estados alterados de consciência na autoidentificação, afinidade com a

Natureza, e espiritualidade, intercaladamente.

Preliminarmente, no domínio das preocupações preponderantes (categóricos

indicadores de autoidentificação) verifica-se que estas incidem particularmente em três

proposições distintas (no entanto altamente correlacionáveis pelo que se dá a entender):

(1) o sistema socioeconómico globalizado, no qual 80% dos indivíduos delimitam o

consumismo como um dos agentes mais determinantes no desdobramento de toda e

qualquer disfunção – com 70% a apontar diretamente para o setor da alimentação

(envolvendo-se com argumentos de insustentabilidade agrícola e crueldade animal) – e

cerca de 60% a culpabilizar as grandes corporações pelas suas forçadas imposições,

corrupção, falta de ética, e lucro mediante devastação.

(2) o sistema político, associado amplamente a uma grande corporação (instituição), é

criticado por cerca de 70% pela incongruência e até falsificação dos procedimentos

democráticos, acumulando poder e exercendo-o a favor de minorias privilegiadas;

adicionando-se que 50% veem este sistema como hegemónico na proliferação de ideais

erróneos como insensibilidade, violência e falta de espiritualidade, isto tendo em

consideração a degradação do sistema educativo (mencionado por 30%), alienação

tecnológica (por 30%), desigualdade de classes (por 20%), hiperespecialização (por 10%)

e ascensão do fascismo (por 10%) – ilustrando-se com que 40% da amostra assuma que

o sistema político atual há de colapsar brevemente e apenas 30% a visualizar alguns

benefícios e esperança de mudança.

(3) a destruição ambiental é outra dimensão amplamente abordada, com cerca de 60%

a frisarem as alterações climáticas e/ou a perda de biodiversidade como a supra urgência

da atualidade – maioritariamente pela berrante desconexão da Natureza (por 20%) –

destarte colocando as futuras gerações numa situação extremamente delicada (por 30%).

É de se notabilizar que curiosamente entre 50% a 60% consignam que a forma

mais impactante de gerar mudança em qualquer uma destas três temáticas destacáveis é

88

através de união coletiva fundamentada em estilos de vida comunitários, repartindo o

poder e a gestão dos recursos localmente ao invés de governar uma nação aplicando

princípios generalizados: que de uma forma ou de outra nunca irão privilegiar a totalidade

da sua população pela impossibilidade de enquadramento.

Traçando-se o perfil político-ideológico distingue-se que 60% desta amostra não

se identifica de forma alguma com nenhum polo de doutrinação, afirmando necessidade

de mudança e reestruturação, subentendendo-se, todavia, uma forte inclinação para os

conceitos de paz, liberdade, ambientalismo, ativismo, coletivismo, etc.; outros 30%

identificam-se como esquerda, elevando as noções do socialismo; e ainda 10% que se

identificam como uma mistura de conceitos (esquerda, direita, meritocracia e anarquia).

Passando para a tónica da afinidade com a Natureza (no intuito de avaliar critérios

subjetivos de perceção e objetivos de concreta ação) é de se destacar que a integralidade

dos indivíduos entrevistados (100%) detém uma visão holística do Meio Ambiente,

considerando-se como ramificação e/ou parte inseparável da Natureza, dos quais 50%

ainda lhe atribui uma valorização de divino/sagrado, sobretudo aos locais intocados pelo

Homem (com 30% chegando mesmo a afirmar que as plantas são seres vivos inteligentes

e conscientes, com os quais é possível comunicar); ressalta-se ainda que os pais com

filhos pequenos (20%) agraciam a Natureza como um substancial suplemento de

aprendizagem em todos os sentidos.

Tendo em conta o tempo passado em ambientes naturais percebe-se que há

grandes divergências pessoais, desde a 80% do seu dia, a pelo menos meia hora por dia,

a uma tarde ou dia inteiro de 3 em 3 dias, a pelo menos 2 vezes por mês por vários dias,

a pelo menos 1 dia inteiro por semana, a 4 a 6 horas por dia, até outros relatos menos

especificados ou mais complexificados, surgindo porém um padrão facilmente

identificável nos indivíduos que habitam nas cidades – que gostariam imenso de aumentar

consideravelmente esse período de contacto com a Natureza, esforçando-se em sair dos

seus espaços habituais para satisfazer essa necessidade.

Aquando se analisa as exposições das emoções providas pela imersão na Natureza,

60% das narrativas especificam sentimentos de calma; 50% aludem à Natureza como

fonte de conhecimento; 40% reportam felicidade e/ou satisfação e/ou inspiração e/ou

mais conexão e/ou menos cansaço e stress; 30% versam os seus efeitos de cura e

desintoxicação; enquanto 20% apontam para o desenvolvimento de novas perspetivas

e/ou proficiência e/ou sentimentos de segurança e/ou até como forma de terapia para as

89

suas ansiedades e depressões … atestando por tanto, ao Meio Ambiente, grandiosas

qualidades promotoras de saúde e bem-estar.

Seguindo esta linha de raciocínio desponta a apreciação das ações na redução dos

seus próprios impactos ambientais, servindo o propósito de aferir os métodos mais

recorridos e equitativamente os mais marcantes, possibilitando uma interpretação mais

coerente das suas visões através do pragmatismo percetível. Assim sendo, a redução geral

de consumo (em todos os aspetos) foi a característica mais exteriorizada (por 60%);

seguindo-se a reciclagem e/ou a plantação de árvores (por 50%); sucedendo-se o esforço

em produzir o menos lixo possível e/ou o voluntariado em projetos de

Agrofloresta/Permacultura (por 40%); progredindo surgem referências a estilos de vida

autossustentáveis (off grid), alimentação biológica, comprar alimentos local e

sazonalmente, preferência por alternativas mais sustentáveis, zelo em reduzir a utilização

de automóveis, e propensão à reparação dos objetos danificados (por 30%); continuando

distinguem-se ainda condutas que estimam a substituição de produtos químicos/sintéticos

por naturais, abstenção da carne (vegetarianos/veganos), reciclagem de comida (dumpster

diving), disseminação de informação ambientalmente proveitosa, e boicote a tudo o que

seja descartável (por 20%); por fim alçam-se certos casos isolados (10%) como a

regeneração dos solos, renúncia ao papel higiénico como boicote à indústria dos

eucaliptais (servindo-se do bidé), serventia de roupa em segunda mão, predileção pela

bicicleta como meio de transporte citadino, evitar viagens de avião, levar os próprios

sacos para as compras, eleger produtos a granel e ainda uma passada participação ativa

no grupo ativista Extinction Rebellion.

Acentua-se que independentemente destas estatísticas e generalizações é

altamente provável que muitos destes indivíduos desempenhem outros tipos de ações não

mencionadas, aumentando na realidade a percentagem de várias destas atividades

consideravelmente, como por exemplo a reciclagem; no entanto, devido à brevidade de

uma entrevista é compreensível que cada sujeito em causa dê preferência aos seus

desempenhos mais interessantes e/ou convenientes, isto tendo em consideração a

subjetividade do tema e aquilo que cada um efetivamente considera como importante.

Focando agora em elementos relacionados com a espiritualidade (pela forte

analogia com o misticismo e subsequentemente incremento probabilístico de vivenciar

estados alterados de consciência); aquando interpelados acerca das suas aderências

religiosas (delimitador da autoidentificação), cerca de 70% referiram de imediato o

90

afastamento e até mesmo alergia a qualquer tipo de estrutura institucional nesta vertente,

tanto pela consideração dos seus elos de restrição à autoexploração dos conceitos de

divindade e sacralidade, como pela imposição forçada desses mesmos ideais; já no

espectro oposto, 20% aderem totalmente ao Xamanismo e outros 10% aos ensinamentos

do Tantra. No que toca à simpatização não aderente o plano torna-se bem mais

diversificado, com 50% a reportar afeição por todas as crenças e religiões, sendo cada

uma válida à sua medida, intercaladamente cerca de 50% mencionam especificamente o

Budismo, 30% o Cristianismo, 20% o Islamismo e/ou Agnosticismo, e 10% o Hinduísmo

e/ou Panteísmo e/ou Umbanda.

Transpondo essas convicções para as práticas espirituais denota-se uma total

aderência à meditação (100%) – e/ou no mínimo conhecimento dos seus procedimentos

base – sendo que este hábito é para muitos o método de eleição para o alcance de estados

alterados de consciência pela sua praticidade diária; de seguida surge a prática do yoga

(amplamente correlacionada com a meditação) e/ou o consumo de substâncias psicoativas

(ambos mencionados por 70% da amostra populacional); a oração apresenta-se

consignada por cerca de 40% dos relatos; e em menor escala de reiteração (com 30%)

despontam as técnicas de respiração (sendo estas também uma vertente do yoga e da

meditação) e a dança; evidencia-se ainda uma alusão a diferenciadas técnicas de

tamborilares, retrospeção e temazcal (por 20%); e em certos casos isolados (10%)

constata-se a celebração de solstícios e equinócios, diálogos com a figura de Deus,

hipnose, e valência do tarot pela sua simbologia ilustrativa.

Relativamente aos efeitos sentidos/desencadeados por estas variadas práticas

observa-se uma alusão de 70% ao sentir-se bem (felicidade); 60% a reconexão, e/ou

transcendência (algo indescritível); 50% a organização e/ou flexibilidade mental; 40% a

mais vigilância (atenção/focalização), e/ou autoconhecimento, e/ou apaziguar de

emoções mais tóxicas (como raiva, angústia, etc.); 30% refere a libertação de medos, e/ou

tensões, e/ou mágoas, e/ou ansiedades, e/ou depressões; e ainda 20% a mencionar um

melhor entendimento do seu próprio organismo, e/ou mais consciência na sua presença,

e/ou maior facilidade de perdão (tanto pessoal como de outrem). Complementa-se que

30% denotam a existência de uma grande diferença entre o praticar esporadicamente e o

criar uma rotina, onde somente pelo constante empenho e dedicação é que é possível a

obtenção e compreensão dos patamares mais profundos possibilitados por estas práticas,

permitindo maiores níveis de evolução.

91

Devido ao facto da grande maioria dos indivíduos entrevistados serem bastante

versados e constantes no que toca às suas rotinas espirituais, de modo geral não houve

grande aprofundamento das consequências e/ou ocorrências de quando deixam de

praticar, todavia foi possível de verificar numa determinada minoria (entre 20% a 30%)

menções de maior propensão à desconcentração, desconexão, impulsividade, pensamento

neurótico, reconhecimento de loops auto-repetitivos e vulnerabilidade.

Aproveitando a ligação semidirecta entre as práticas espirituais e os estados

alterados de consciência fez-se uma série de questões frontais acerca das opiniões

pessoais sobre este assunto, na tentativa de assimilação dos específicos mecanismos

estimulados aquando num estado místico e/ou transcendental; desta feita, e

surpreendentemente, apreciou-se uma grande afluência por parte de praticamente todos

os entrevistados a temáticas relacionadas com a ampliação e/ou dissipação da

autoimagem (assinalado por 90%), acesso ao subconsciente (cerca de 80%), e

contemplação de uma interconectividade absoluta entre toda a existência

(aproximadamente 70%); corroborando que inobstante a considerável multiplicidade de

técnicas utilizadas para a obtenção de estados alterados de consciência, na sua essência

todas se direcionam a resultâncias deveras semelhantes.

Entrando agora nos domínios das substâncias psicoativas (atendendo à sua já

evidenciada supra capacidade de indução de profundos estados alterados de consciência),

destaca-se que 80% dos indivíduos têm significativa experiência nesta matéria (com

alguns a contabilizarem mais de 50 sessões ao longo da sua vida, e outros provavelmente

bem mais do que isso deferindo à minuciosidade das suas explicações); outros 10%

contabilizam uma única sessão; e ainda outros 10% que nunca testaram, opondo-se

seriamente à sua utilização sob pretensão destes danificarem o equilibrado funcionamento

do corpo e da mente humana (notabilizando-se conquanto uma generalizada agrupação

dos psicadélicos a todas as restantes tipologias de drogas).

De forma geral todos aqueles que vivenciaram pelos menos uma sessão (90%)

apresentam uma sincrética inclinação/predileção pelas substâncias naturais (plantas e/ou

fungos) ao invés dos compostos sintetizados, assinalando que estes são mais seguros

(amplamente testados por várias culturas e tradições), mais profundos, mais espirituais, e

até um acesso direto à consciência do Meio Ambiente, visto que é a própria Natureza o

seu provedor; todavia cerca de 50% não menospreza de todo as variantes sintetizadas,

92

afirmando que dependendo do propósito e da forma de utilização também se podem tornar

em catalisadores de experiências positivas, terapêuticas e transcendentais.

Dentro do variegado espectro das plantas e/ou substâncias usufruídas os

cogumelos mágicos psilocibinos são os mais referenciados (por 80%) – sendo que em

dois casos específicos (20%) trata-se da metodologia predileta para a obtenção de EAC –

logo após apresenta-se São Pedro e DMT (por 70%); segue-se o LSD (por 60%); e a

Ayahuasca (por 50%); a Marijuana é curiosamente mencionada apenas por 40% (isto

considerando a sua vasta banalização contemporânea); e o Rapé (mesmo que não

estritamente um psicoativo) é referido por 30%; já na proporção dos 20% surgem alusões

a vários psicadélicos como Salvia Divinorum, Peyote, Peganum Harmala, 5-MeO-DMT,

MDMA, 2CB e Ketamina; à medida que no espectro mínimo (10%) aponta-se ainda para

LSA, 4-AcO-DMT (psilocibina sintética), Yopo, Jurema-Preta, e mesmo que não

estritamente psicoativos, Sananga e Kambô.

Sublinha-se que no meio desta agigantada multiplicidade os cogumelos mágicos

e a Ayahuasca foram amplamente bem-conceituados e genericamente distintos dos

ademais pelos seus profundos efeitos de cura e forte tendência para a transcendência

espiritual – segundo 30% dos relatos, esta ocorrência deve-se a uma profusa vinculação

destas medicinas às tradições xamânicas milenares, constituindo sólidas diretrizes para a

sua correta utilização, guiando e orientando frutiferamente – (estranhando-se no entanto

a não agregação de São Pedro a esta categoria, atendendo à sua elevada percentagem

referencial e proeminente centralidade em certas culturas xamânicas delimitadas).

Numa perspetiva mais universalizada a todos os psicadélicos/enteógenos, as

reverberações suscitadas na vida pessoal de cada individuo após ter vivenciado pelo

menos uma sessão com estas plantas-medicina e/ou substâncias psicoativas sinalizam

aspetos francamente tonificantes em múltiplas áreas da saúde, do bem-estar, e do

aprimoramento pessoal, espelhando-se em 90% dos relatos a proferir maior fluidez na

exploração da autoimagem; 80% a declarar um melhor entendimento do seu próprio

organismo; 70% a sentir mais liberdade; 60% a expandir os seus índices de virtudes

(como amor, compaixão, bondade, perseverança), e/ou a fazer saudáveis mudanças nos

estilos de vida, e/ou a amplificar o seu entendimento do universo/realidade mediante

sólidas convicções de interconectividade; 50% a informar acerca de uma maior

predisposição a sociabilizar e/ou atenuação de sentimentos de medo, ansiedade,

autodrama e tensão; 40% a proferir mais felicidade, mais presença e/ou segurança em si

93

mesmos, maior tendência para o perdão, e ainda maior conexão e apreço pela Natureza;

30% a identificar o apaziguar das suas emoções mais tóxicas; 20% a externalizar um

aumento de relativização e tolerância, tal como o reduzir drasticamente e/ou até deixar

por completo o consumo de álcool e tabaco; e os isolados 10% a pronunciar um

melhoramento da vida sexual, mais criatividade, e ainda a experienciação do presente

absoluto … testemunhando assim o gigantesco potencial latente desta tipologia de

experienciação.

Conquanto, independentemente de todos estes benefícios associados, são muitas

as advertências a serem enumeradas para se potencializar um estado alterado de

consciência salutiferamente consolidado, com 60% da amostra a reconhecer a

necessidade de se realizar essa experiência num local apropriado, com pessoas de

confiança, e somente quando existir uma predisposição pessoal favorável a esse

acontecimento; 40% a distinguir a Natureza como o panorama ideal; 30% a persistir na

importância da presença de um experiente e confiável facilitador/moderador/xamã, e a

indispensabilidade de não ter problemas adversos associados (como problemas físicos

e/ou mentais graves) tal como o pré-estabelecimento de uma intenção a examinar; 20%

denotam que este tipo de vivência não é para toda gente, sendo realmente possível

malograr o bem-estar pessoal de certas individualidades específicas que não se encontrem

o minimamente abertas e preparadas a profundas e espontâneas mudanças, tratando-se

ademais de um longo e intrincado caminho de auto-exploração, requerendo sempre um

contexto sagrado e cerimonial, e, sempre que aplicável dar tempo de integração entre as

sessões de forma a não sobrecarregar; no que corresponde aos 10% individuais registam-

se ainda aspetos correlacionados com a coragem e a não necessidade de recorrer a

extravagâncias (apenas deixar as plantas comunicar).

94

Capítulo V

Considerações Finais

Pelos resultados obtidos através desta diferida análise sobre os estados alterados

de consciência e os seus eventuais contributos no desenvolvimento de alterações

percepto-comportamentais revigorantes, tendo em apreço que 10 entrevistas não é um

número suficientemente veemente para consolidar conclusões assertivas, admite-se que

não é possível estabelecer o vínculo pretendido. Conquanto, tratando-se de uma amostra

meramente exploratória, observa-se um avantajado potencial latente direcionado para a

(re)conexão com a Natureza; começando primariamente pelo melhoramento da saúde e

bem-estar pessoal, tanto físico como mental, espalhando-se progressivamente para uma

alargada e interconectada compreensão da realidade pelo desenvolvimento e/ou

aprofundamento da espiritualidade atendendo à constatação da comparência de uma

intrigante e mística inteligência que se encontra sempre presente em todos os domínios.

Nesta específica população, altamente proficiente em determinadas práticas

espirituais, destacando-se o yoga, a meditação e o consumo de plantas e/ou substâncias

enteógenas/psicoativas, verificou-se que a experienciação de estados alterados de

consciência tornou-os mais conscientes acerca de si mesmos e das suas particulares

funções nas sociedades e ecossistemas circundantes, isto especificamente pelo

entendimento do funcionamento dos seus organismos e dos seus processamentos mentais,

levando-os a reconsiderar inúmeros parâmetros autoidentificativos no intuito de se

tornarem pessoas proactivamente melhores, reconectando-os identicamente à Natureza

pela acentuação da sua sacro-simbologia como promotora de mecanismos fundamentais

para o desenrolar de toda a vida, removendo ainda os elos de separação entre a

consciência humana e a consciência universal.

Aquando se compara os relatos concernentes aos efeitos suscitados pela imersão

em ambientes naturais, diversificadas práticas espirituais, e ainda o consumo de plantas

e/ou substâncias enteógenas/psicoativas, é surpreendente o grau de similaridade a nível

daquilo que é sentido e estimulado em atividades que à primeira vista parecem ser no

mínimo divergentes, todas apontando genericamente para a exacerbação de virtudes

como o amor, compaixão, bondade; aumentando os níveis de liberdade, calma, felicidade,

95

satisfação, cura, desintoxicação; reduzindo o stress, a depressão, a ansiedade, permitindo

ademais vivenciar algo mais complexo como a transcendentalidade.

Toda esta ligação, ao que aparenta, desenrola-se fundamentalmente pela ação da

Natureza, desde as suas diretas reverberações no estado de alma nos momentos de

imersão, à subtil criação de fauna e flora com propriedades expansivas – promovendo

uma forma de comunicação explícita e frontal entre variegados patamares de

consciência(s) (notabilizando-se que uma considerável percentagem dos entrevistados

indica que é precisamente no Meio Ambiente que se desenrolam as experiências mais

profundas e benéficas); já nas práticas espirituais esta associação é ligeiramente mais

ténue devido ao enfoque pessoal, refletindo-se no entanto pelos sentimentos de

inspiração, servindo de sustentação mística nos momentos de autoexploração.

Num âmbito mais sociológico, a notoriedade desta cândida atração bio-

morfológica pode ser clareada pela noção de “processos proximais” desenvolvida por

Bronfenbrenner & Morris (1998) expondo que é pela interação entre um determinado

organismo e o Meio Ambiente que ocorre o verdadeiro aperfeiçoamento das máximas

capabilidades. Neste conceito socio-ecológico estabelece-se uma sólida interconexão

entre 4 domínios primaciais (modelo PPCT): Pessoa-Processo-Contexto-Tempo – onde,

pela descodificação interativa do(s) seu(s) encadeamento(s), promove-se o crescimento

individual e um maior entendimento da realidade envolvente pela assimilação das

estruturas microssistémicas – mesossistémicas – exossistémicas – macrossistémicas

(salientando-se respetivamente a elevada semelhança à formulação categorial da presente

dissertação, atendendo à(s) analogia(s) entre Pessoa e Autoidentificação; Contexto e

Afinidade com a Natureza; Processo e Espiritualidade; Tempo e EAC).

Seguindo a linha de pensamento deste(s) autor(es), o autêntico desenvolvimento

(tanto individual, como coletivo) provém não tanto pelo aprofundamento dos processos

psicológicos tradicionais – perceção, motivação, pensamento, aprendizagem – mas

sobretudo da interação com o Meio Ambiente, ampliando-se a personalidade mediante a

reconsideração de enquadramento e contradição da tendência para o estaticismo (Martins

& Szymanski, 2004). Este aspeto em pormenorização pode ser uma viável explicação

para o facto dos indivíduos entrevistados habitantes das cidades sentirem uma tremenda

necessidade de aumentarem o(s) seu(s) tempo(s) de imersão na Natureza, sobretudo

aquando se trata de indivíduos já amplamente familiarizados com os benefícios providos

dessa interação.

96

Complementando teoreticamente, tanto a ecologia profunda de Arnes Naess como

as inferências práticas de Aldo Leopold argumentam que independentemente da utilidade

humana retirada de um fixado recurso natural e/ou espécie animal, o seu genuíno valor

ultrapassa a léguas a nossa diminuta agnição, sendo necessário adquirir (mesmo que

realisticamente impossibilitados) a postura e a perceção de uma montanha, pois somente

pela dissolvência e contemplação milenar – macro escala temporal – é que se começam a

desvendar os verdadeiros mistérios da existência, nomeadamente a singeleza e a

importância de cada recurso natural, e de cada espécie animal, para um profícuo

desenrolar do metabólico funcionamento planetário (Leopold, 1949; Rodrigues, 2012).

Sendo isto deveras curioso, pois em elevada equivalência, a ação instigada pela

experienciação de EAC é exatamente a de convergência com perspetivas adjacentes à

cronologia antropomorfizada .

Referencialmente aos resultados obtidos, atenta-se que tanto as práticas espirituais

como o consumo de plantas e/ou substâncias enteógenas/psicoativas apresentam-se

equitativamente como concisos potencializadores de estados alterados de consciência,

sobressaindo os hábitos de meditação, yoga, oração, dança e técnicas de respiração na

primeira vertente (ordenados respetivamente por frequência de registro), enquanto que na

segunda, os psicadélicos de origem natural são substancialmente os mais aclamados,

destacando-se primariamente os cogumelos mágicos, DMT (particularmente Ayahuasca),

São Pedro, e LSD – sendo este o único composto seminatural dos mais citados –

maioritariamente devido às suas penetrantes vinculações à Natureza e aos aspetos

metafísicos fomentadores de expansão e interconectividade.

Numa certa uniforme pluralidade, os entrevistados abordaram a meditação regular

– dedicada e atenta – como a técnica mais completa e proveitosa na exploração da

alteração da consciência, tornando-se seriamente mais eficaz aquando complementada

pelo yoga e técnicas de respiração (pranayamas), possibilitando uma gradativa e

consolidada evolução pela maior simplicidade de aplicação desse harmonioso equilíbrio

na vida quotidiana. Todavia é de se adicionar que para tal é necessário no mínimo alguma

abertura e/ou inclinação para um estilo de vida ponderado, algo que à primeira vista é

descomplicado sem verdadeiramente o ser, justamente pelos intensificados estilos de vida

contemporâneos enredados em tecnológica agitação, sobrecarga laboral e um sistema

educativo incongruente, rompendo em vasta quantidade a possibilidade de predisposição

e tempo para discernimento e crescimento pessoal, quanto mais para explorar

97

eventualidades que se encontram dissimuladamente recalcadas no vigente e dogmático

objetivismo socio-político-cultural.

Em alternativa, ou elucidação repartida, surge a fauna e flora

enteógena/psicoativa, catalisando salientes estados alterados de consciência que

repentinamente transfiguram o funcionamento do organismo humano e mais

importantemente a perceção – desbloqueando vias neuronais pela estimulação de

comunicação entre regiões cerebrais habitualmente não sincronizadas – transformando

inevitavelmente a perceção da realidade experienciada, desencadeando uma profunda

sensibilidade à reavaliação da autoidentidade, visto que a própria noção de tangibilidade

(re)torna-se amplificada; viabilizando consecutivamente o (re)alinhamento do

pensamento pelo transitório distanciamento dos habituais silogismos percepto-

comportamentais.

Contempla-se paralelamente que a meditação e qualquer outra tipologia técnico-

prática de indução de estados de transe são também altamente capazes de provocar

idiossincrasias semelhantes (ou até mais aprofundadas), no entanto para atingir idênticos

níveis de ampliação sensorial – isto colacionando as múltiplas narrativas auferidas – para

além de longa dedicação (de vários anos), é mandatório o acompanhamento e/ou

aconselhamento de um mestre experienciado, adotando ainda rigorosas dietas físicas e

imateriais recorrendo à fomentação de uma categórica ideologia compassiva; ao passo

que a ingerência enteógena/psicoativa dispõe de uma capacitação singular em originar

impactantes vivências místico-transcendentais começando imediatamente na primeira

sessão … adquirindo assim características sui generis na fomentação metamórfica da

consciência, aquando utilizadas devidamente.

Inobstante da sua superna facilidade e celeridade em alterar a perceção humana,

moldando identicamente o comportamento pela decisiva interligação, há diversas

contingências a ter em consideração no que toca à utilização das plantas e/ou substâncias

enteógenas/psicoativas para que cada experiência se possa desenvolver da melhor forma

possível: sendo mandatório não ter problemas adversos associados (tanto físicos como

mentais), conceituar a sintonização com as deliberações pessoais (especialmente a

recetividade e aceitação de eventuais mudanças autoidentificativas), e em caso afirmativo

fazê-lo sempre em locais seguros e confortáveis, acompanhados por pessoas de confiança,

sob orientação de um experiente e transparente facilitador/moderador/xamã, sempre num

98

contexto consagrado e cerimonial, sem esquecer a importância de prévia delimitação de

uma intenção orientada para a conceptualização dos critérios a serem examinados.

Sumariamente, pode-se depreender que os estados alterados de consciência

ocasionados por uma sistematização de indução psicológica e/ou fisiológica (hábitos

espirituais que não recorrem à consumação de nada externo ao organismo, servindo-se

unicamente das suas inerentes capacidades) a médio-longo prazo são mais oportunos para

a estimulação de estilos de vida mais conscientes e equilibrados em todos sentidos,

espelhando-se inevitavelmente na forma de interação com o Meio Ambiente pelo

incremento de sustentabilidade e responsabilidade afiliativa; à proporção que os estados

alterados de consciência ocasionados por uma sistematização de indução farmacológica

(serventia de fauna e flora e/ou substâncias enteógenas/psicoativas) em virtude das suas

diligências de intensificação da experienciação da realidade vigente, oportunizam

perseverantes transformações num curto período temporal, abrindo e/ou incrementando

as eventualidades de transladação dos parâmetros da autoidentificação a favor de uma

maior predisposição a estilos de vida mais holisticamente harmónicos.

Em si, adiciona-se ainda que não se trata exclusivamente de uma comparação, pois ambos

os procedimentos se encontram interligados, complementando-se proficuamente pelo

prosseguimento consubstancial do autoconhecimento espiritual.

Face às contingências verificadas nesta distintiva amostragem qualitativa,

perscrutando-se uniformemente uma profusa tendência à solicitude dos problemas sociais

contemporâneos – tanto filantrópicos como ambientais – representando-se notoriamente

pelas estatisticamente generalizadas ações e procedimentos excecionais na redução das

pegadas ecológicas individuais (isto aquando equiparados aos extensos panoramas

internacionais), torna-se conspícua a propensão de (re)conexão alusiva aos contributos

gerados pela experienciação de estados alterados de consciência em praxis de preservação

ambiental, corroborando, mesmo que minimamente, as especulações introdutórias.

Atenta-se que independente dos resultados obtidos há ainda muito trabalho de

pesquisa a ser desenvolvido no intuito de verdadeiramente consolidar e comprovar

universalmente a associação entre os estados alterados de consciência e a preservação

ambiental, salientando-se a dificuldade de concretamente estipular a génese deste

complexificado mecanismo: se é de facto pela experienciação de EAC que se

desencadeiam os processos de (re)conexão ambiental, ou se é pela já prévia cadência ao

99

ambientalismo que se propicia a procura de novos patamares de conexão, encaminhando

os indivíduos em causa a sondar técnicas promotoras de expansão.

De forma a analisar mais proficuamente esta(s) possibilidade(s), sugestiona-se aos

futuros interessados nesta área temática o desenvolvimento de estudos que englobem uma

maior variedade de amostras populacionais, tanto intra como internacionais no intuito de

estabelecer bases de dados confrontativas, esmiuçando detalhadamente certas

peculiaridades qualitativas – como a integração de mais perspetivas não tanto

familiarizadas com tônicas voltadas para o consumo de plantas e/ou substâncias

enteógeno/psicoativas – e ainda a amplificação desta averiguação a metodologias

quantitativas de modo a incrementar a variedade estatística pela mensuração e inclusão

de conglobadas opiniões e trajetórias de vida.

Finalizando, apela-se aos governos e grandes instituições à reformulação da

legislação proibitiva – não aconselhando conquanto à sua total e livre legalização pela

factualidade de indisposição coletiva – atenuando preponderadamente a reprovação,

dificuldade de investigação e obtenção de financiamento a um domínio científico deveras

promissor para o desenvolvimento e aprimoramento das capabilidades humanas,

(sobretudo) no momento em que vivenciamos a maior cise socioambiental assistida pela

nossa espécie, sendo urgente algum tipo de ação na reconsideração da nossa aptidão

evolutiva, transvertendo contiguamente a destruição explorativa numa simbiose próspera

e regenerativa.

100

Referências

Aleksandrowicz, L., Green, R., Joy, E. J. M., Smith, P., & Haines, A. (2016). The

impacts of dietary change on greenhouse gas emissions, land use, water use, and

health: A systematic review. PLoS ONE, 11(11), 1–16.

https://doi.org/10.1371/journal.pone.0165797

Allcott, H., & Gentzkow, M. (2017). Social Media and Fake News in the 2016 Election.

Journal of Economic Perspectives, 31(2), 211–236.

Amarasingam, A., & Argentino, M.-A. (2020). The QAnon Conspiracy Theory: A

Security Threat in the Making? CTC SENTINEL, 13(7), 37–44.

Apuke, O. D., & Omar, B. (2021). Fake news and COVID-19: modelling the predictors

of fake news sharing among social media users. Telematics and Informatics, 56.

https://doi.org/10.1016/j.tele.2020.101475

Aravinda Prabhu, H. R., & Bhat, P. S. (2013). Mind and consciousness in yoga -

Vedanta: A comparative analysis with western psychological concepts. Indian

Journal of Psychiatry, 55(SPEC. SUPPL.), 182–186. https://doi.org/10.4103/0019-

5545.105524

Arora, S., Bhaukhandi, K. D., & Mishra, P. K. (2020). Coronavirus lockdown helped

the environment to bounce back. Science of the Total Environment, 742(July).

https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2020.140573

Ballesteros, V. (2019). Applied Mysticism: A Drug-Enabled Visionary Experience

Against Moral Blindness. Zygon, 54(3), 731–755.

https://doi.org/10.1111/zygo.12544

Barlow, P. W. (2015). The natural history of consciousness, and the question of whether

plants are conscious, in relation to the Hameroff-Penrose quantum-physical ‘Orch

OR’ theory of universal consciousness. Communicative and Integrative Biology,

8(4), 1–28. https://doi.org/10.1080/19420889.2015.1041696

Barnard, G. W. (2017). Psi and Psychedelics; Meditation and Mysticism: Religion,

Science, and Non-Ordinary States of Consciousness. Religious Studies Review,

43(3), 225–233. https://doi.org/10.1111/rsr.13064

101

Baroni, L., Cenci, L., Tettamanti, M., & Berati, M. (2007). Evaluating the

environmental impact of various dietary patterns combined with different food

production systems. European Journal of Clinical Nutrition, 61(2), 279–286.

https://doi.org/10.1038/sj.ejcn.1602522

Barto, E. K., Weidenhamer, J. D., Cipollini, D., & Rillig, M. C. (2012). Fungal

superhighways: Do common mycorrhizal networks enhance below ground

communication? Trends in Plant Science, 17(11), 633–637.

https://doi.org/10.1016/j.tplants.2012.06.007

Basavaraddi, I. V. (2020). Foundations, Concepts and Practices of Yoga for Health and

Well-being. Yoga Vijnana - The Science and Art of Yoga, 1(1), 1–7.

Bastian, B., Loughnan, S., Haslam, N., & Radke, H. R. M. (2012). Don’t mind meat?

the denial of mind to animals used for human consumption. Personality and Social

Psychology Bulletin, 38(2), 247–256. https://doi.org/10.1177/0146167211424291

Bateman, I. J., Dannenberg, A., Elliott, R., Finus, M., Koundouri, P., Millock, K.,

Munro, A., Robinson, E. J. Z., Rondeau, D., Schumacher, I., Strobl, E., &

Xepapadeas, A. (2020). Editorial: Economics of the Environment in the Shadow of

Coronavirus. Environmental and Resource Economics, 76(4), 519–523.

https://doi.org/10.1007/s10640-020-00496-z

Beck, U. (1992). From Industrial Society to the Risk Society: Questions of Survival,

Social Structure and Ecological Enlightenment. Theory, Culture & Society, 9, 97–

123.

Beck, U. (2002). The Silence of Words and Political Dynamics in the World Risk

Society. Logos, 1(3). http://logosonline.home.igc.org/beck.pdf

Beck, U. (2006). Living in the world risk society. Economy and Society, 35(3), 329–

346. https://doi.org/10.1080/03085140600844902

Bedenik, N. O., & Zidak, N. (2019). Green Economy Supported By Green Chemistry.

Eurasian Journal of Business and Management, 7(2), 49–57.

https://doi.org/10.15604/ejbm.2019.07.02.005

Beene, S., & Greer, K. (2021). A call to action for librarians : Countering conspiracy

theories in the age of QAnon. The Journal of Academic Librarianship, 47(1).

https://doi.org/10.1016/j.acalib.2020.102292

102

Bhajanananda, S. (1981). Types of Meditation. Prabuddha Bharata.

Bhattacharyya, S. (2016). The Historical Origins of Poverty in Developing Countries.

The Oxford Handbook of the Social Science of Poverty.

https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199914050.013.13

Bhavanani, A. B. (n.d.). The History of Yoga from Ancient to Modern Times. ICYER.

Blofeld, J. (1966). A High Yogic Experience Achieved with Mescaline. Psychedelic

Review, 7, 27–32.

Boly, M., Phillips, C., Tshibanda, L., Vanhaudenhuyse, A., Schabus, M., Dang-Vu, T.

T., Moonen, G., Hustinx, R., Maquet, P., & Laureys, S. (2008). Intrinsic Brain

Activity in Altered States of Consciousness: How Conscious is the Default Mode

of Brain Function? Annals of the New York Academy of Sciences, 1129, 119–129.

Bonnet, C., Bouamra-Mechemache, Z., Réquillart, V., & Treich, N. (2020). Viewpoint:

Regulating meat consumption to improve health, the environment and animal

welfare. Food Policy, 97. https://doi.org/10.1016/j.foodpol.2020.101847

Bourzat, F., & Hunter, K. (2019). Consciousness Medicine: Indigenous Wisdom,

Entheogens, and Expanded States of Consciousness for Healing and Growth.

North Atlantic Books.

Boyette, A. H., & Hewlett, B. S. (2017). Teaching in Hunter-Gatherers. Review of

Philosophy and Psychology, 9, 771–797. https://doi.org/10.1007/s13164-017-

0347-2

Braun, S. B. (2010). Neo-Shamanism as a Healing System: Enchanted Healing in a

Modern World. The University of Utah.

Braun, V., & Clarke, V. (2012). Thematic analysis. In APA handbook of research

methods in psychology, Vol 2: Research designs: Quantitative, qualitative,

neuropsychological, and biological. (Vol. 2, pp. 57–71).

https://doi.org/10.1037/13620-004

Bronfenbrenner, U. (1979). The Ecology of Human Development: Experiments By

Nature and Design. Harvard University Press.

Buck, H. G. (2006). Spirituality: Concept Analysis and Model Development. Holistic

Nursing Practice, 20(6), 288–292. https://doi.org/10.1097/00004650-200611000-

103

00006

Burns, S. (1991). Social Movements of the 1960s: Searching for Democracy. The

Journal of American History, June, 396–397.

http://books.google.com/books?id=WW2jpQ36kSAC&pg=PA121&dq=intitle:Ber

keley+at+War&hl=&cd=1&source=gbs_api%5Cnpapers3://publication/uuid/9693

6FA9-4DC7-4C41-9119-E31C221E96CF

Calcagni, G. (2010). Fractal universe and quantum gravity. Physical Review Letters,

104(25), 1–4. https://doi.org/10.1103/PhysRevLett.104.251301

Cameron, L. P., & Olson, D. E. (2018). Dark Classics in Chemical Neuroscience: N , N

‑ Dimethyltryptamine (DMT). ACS Chemical Neroscience, 9(10), 2344–2357.

https://doi.org/10.1021/acschemneuro.8b00101

Campos, D. J. (2011). The Shaman & Ayahuasca: Journey to Sacred Realms (G.

Overton (ed.)). Divine Arts.

Carrus, G., Panno, A., & Leone, L. (2018). The Moderating Role of Interest in Politics

on the Relations between Conservative Political Orientation and Denial of Climate

Change. Society and Natural Resources, 31(10), 1103–1117.

https://doi.org/10.1080/08941920.2018.1463422

Carvalho, A. M. de, César, C. L. G., Fisberg, R. M., & Marchioni, D. M. L. (2013).

Excessive meat consumption in Brazil: Diet quality and environmental impacts.

Public Health Nutrition, 16(10), 1893–1899.

https://doi.org/10.1017/S1368980012003916

Chai, B. C., van der Voort, J. R., Grofelnik, K., Eliasdottir, H. G., Klöss, I., & Perez-

Cueto, F. J. A. (2019). Which diet has the least environmental impact on our

planet? A systematic review of vegan, vegetarian and omnivorous diets.

Sustainability (Switzerland), 11(15). https://doi.org/10.3390/su11154110

Coleman, P. H., & Pietronero, L. (1992). The fractal structure of the universe. Physics

Reports, 213(6), 311–389. https://doi.org/10.1016/0370-1573(92)90112-D

Coyle, J. (2002). Spirituality and health: towards a framework for exploring the

relationship between spirituality and health. Journal of Advanced Nursing, 37(6),

589–597.

Crist, E., Mora, C., & Engelman, R. (2017). The interaction of human population, food

104

production, and biodiversity protection. Science, 356(April), 260–264.

https://doi.org/10.1126/science.aal2011

Cvetkovic, D., & Cosic, I. (2011). States of Consciousness: Experimental Insights into

Meditation, Waking, Sleep and Dreams. Springer. https://doi.org/10.1007/978-3-

642-18047-7

Darwin, C. (1859). On the origin of species: By means of natural selection, or the

preservation of favoured races in the struggle for life.

Das, B. (1932). The Essential Unity of All Religions. Theosophical Publishing House.

de Saint-Laurent, C. (2017). Personal trajectories, collective memories: Remembering

and the life-course. Culture and Psychology, 23(2), 263–279.

https://doi.org/10.1177/1354067X17695758

Dhont, K., & Hodson, G. (2014). Why do right-wing adherents engage in more animal

exploitation and meat consumption? Personality and Individual Differences, 64,

12–17.

Diaz, I. I., & Mountz, A. (2020). Intensifying Fissures: Geopolitics, Nationalism,

Militarism, and the US Response to the Novel Coronavirus. Geopolitics, 25(5), 1–

8. https://doi.org/10.1080/14650045.2020.1789804

Difranzo, D. J. (2017). Filter bubbles and fake news. Crossroads, 23(3).

https://doi.org/10.1145/3055153

Diniz, R., Morais, D., & Pinheiro, J. (2018). Life experiences and the formation of pro-

ecological commitment: exploring the role of spirituality / Experiencias de vida y

la formación del compromiso pro-ecológico: explorando el papel de la

espiritualidad. Psyecology, 9(2), 237–258.

https://doi.org/10.1080/21711976.2018.1433080

Dreier, O. (1999). Participation across contexts of social practice. Outlines. Critial

Social Studies, 1(1), 5–32.

Dreier, O. (2003). Learning in Personal Trajectories of Participation. In N. Stephenson,

H. L. Radtke, R. Jorna, & H. J. Stam (Eds.), Theoretical Psychology: Critical

Contributions (pp. 20–29). Captus University Publications.

Drengson, A. (1995). The Deep Ecology Movement. Trumpeter, 12(3).

105

Durvasula, S., & Lysonski, S. (2010). Money, money, money – how do attitudes toward

money impact vanity and materialism? – the case of young Chinese consumers.

Journal of Consumer Marketing, 27(2), 169–179.

https://doi.org/10.1108/07363761011027268

Earthy, S., & Cronin, A. (2008). Narrative Analysis. In N. Gilbert (Ed.), Researching

Social Life (3rd ed.). Sage. http://epubs.surrey.ac.uk/805876/9/narrative

analysis.pdf

Eliade, M. (1964). Shamanism: Archaic Techniques of Ecstasy. Arkana (Penguin

Books). https://doi.org/10.1001/jama.1964.03070170143037

Eliade, M. (1984). Rites and Symbols of Initiation: The Mysteries of Birth and Rebirth.

Spring Publications.

Elías, C., & Catalan-Matamoros, D. (2020). Coronavirus in Spain: Fear of ‘Official’

fake news boosts WhatsApp and alternative sources. Media and Communication,

8(2), 462–466. https://doi.org/10.17645/mac.v8i2.3217

Emoto, M. (2004). The Hidden Messages in Water. Beyond Words Pub.

Etikan, I., Alkassim, R., & Abubakar, S. (2015). Comparision of Snowball Sampling

and Sequential Sampling Technique. Biometrics & Biostatistics International

Journal, 3(1), 1–2. https://doi.org/10.15406/bbij.2016.03.00055

Fachner, J. C. (2011). Time Is the Key: Music and Altered States of Consciousness. In

E. Cardeña & M. Winkelman (Eds.), Altering Consciousness: Multidisciplinary

Perspectives. Volume 1: History, Culture and Humanities (Vol. 1, pp. 355–376).

Praeger.

FAO. (2014). Food Wastage Footprint: Full-cost accounting.

https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=2&cad=rj

a&uact=8&ved=0ahUKEwjYgbWn0pDKAhWHCI4KHUlyCEUQFggoMAE&url

=http://www.fao.org/3/a-

i3991e.pdf&usg=AFQjCNH7yX7VQI_OF8sfkIIR3yUbjJG06w&sig2=uKA9X-

6f2YpJF4i-ZgmBcw&bvm=bv.110151844,d.c2E

FAO. (2019). The State of Food and Agriculture: moving forward on food loss and

waste reduction.

Fasullo, L., Hernandez, A., & Bodeker, G. (2020). The innate human potential of

106

elevated and ecstatic states of consciousness: Examining freeform dance as a

means of access. Dance, Movement & Spiritualities, 6(1–2), 87–117.

https://doi.org/10.1386/dmas_00005_1

Feinberg, M., & Willer, R. (2013). The Moral Roots of Environmental Attitudes.

Psychological Science, 24(1), 56–62. https://doi.org/10.1177/0956797612449177

Feldman, S. (2003). Values, ideology, and the structure of political attitudes. In Oxford

Handbook of Political Psychology (pp. 477–508).

Fuchs, C. (2020). Everyday Life and Everyday Communication in Coronavirus

Capitalism. Triple C, 18(1), 375–399.

Gerbens-Leenes, P. W., Mekonnen, M. M., & Hoekstra, A. Y. (2013). The water

footprint of poultry, pork and beef: A comparative study in different countries and

production systems. Water Resources and Industry, 1–2, 25–36.

https://doi.org/10.1016/j.wri.2013.03.001

Giddens, A. (2000). O Mundo na Era da Globalização (S. Barata (ed.)). Editorial

Presença.

Gifford-May, D., & Thompson, N. L. (1994). “Deep States” of Meditation:

Phenomenological Reports of Experience. The Journal of Transpersonal

Pscyhology, 26(2), 117–138.

Godfray, H. C. J., Aveyard, P., Garnett, T., Hall, J. W., Key, T. J., Lorimer, J.,

Pierrehumbert, R. T., Scarborough, P., Springmann, M., & Jebb, S. A. (2018).

Meat consumption, health, and the environment. Science (New York, N.Y.),

361(6399). https://doi.org/10.1126/science.aam5324

Goldsmith, N. M. (2011). Psychedelic Healing: The Promise of Entheogens for

Psychotherapy and Spiritual Development. Healing Arts Press.

Gossard, M. H., & York, R. (2003). Social structural influences on meat consumption.

Human Ecology Review, 10(1), 1–9.

Greene, S. L. (2013). Tryptamines. In Novel Psychoactive Substances (pp. 363–382).

Elsevier Inc. https://doi.org/10.1016/B978-0-12-415816-0.00015-8

Griffiths, R. R., Johnson, M. W., Richards, W. A., Richards, B. D., Jesse, R., MacLean,

K. A., Barrett, F. S., Cosimano, M. P., & Klinedinst, M. A. (2018). Psilocybin-

107

occasioned mystical-type experience in combination with meditation and other

spiritual practices produces enduring positive changes in psychological functioning

and in trait measures of prosocial attitudes and behaviors. Journal of

Psychopharmacology, 32(1), 49–69. https://doi.org/10.1177/0269881117731279

Grinspoon, L., & Bakalar, J. B. (1979). Psychedelic drugs reconsidered.

Guerra, I. C. (2006). Tratamento do Material. In Pesquisa Qualitativa e Análise de

Conteúdo - Sentidos e Formas de Uso. Princípia Editora.

Guzmán, G., Allen, J. W., & Gartz, J. (1998). A Worldwide geographical distribution of

the Neurotropic fungi, an analysis and discussion. Ann. Mus. Civ. Rovereto, 14,

189–280.

Hanegraaff, W. J. (2018). Hermes Trismegistus and Hermetism. Sgarbi M. (Eds)

Encyclopedia of Renaissance Philosophy.

Hankey, A., House, H., & Tn, K. (2006). Studies of Advanced Stages of Meditation in

the Tibetan Buddhist and Vedic Traditions I: A Comparison of General Changes.

3(July), 513–521. https://doi.org/10.1093/ecam/nel040

Hanley, A. W., Nakamura, Y., & Garland, E. L. (2018). The Nondual Awareness

Dimensional Assessment (NADA): New Tools to Assess Nondual Traits and

States of Consciousness Occurring Within and Beyond the Context of Meditation.

Psychological Assessment, 30(12), 1625–1639.

Hardin, G. (1968). The Tragedy of the Commons. Science, 162, 1243–1248.

Harner, M. (1982). The Way of the Shaman: A Guide to Power and Healing. Bantam

Books.

Hayes, M., & Chase, S. (2010). Prescribing Yoga. 37, 31–47.

https://doi.org/10.1016/j.pop.2009.09.009

Helm, D. (2020). The Environmental Impacts of the Coronavirus. Environmental and

Resource Economics, 76(1), 21–38. https://doi.org/10.1007/s10640-020-00426-z

Hofmann, A. (1979). LSD My Problem Child: Reflections on Sacred Drugs, Mysticism

and Science.

Hoover, R. B. (1997). Instruments, Methods, and Missions for the Investigation of

Extraterrestrial Microorganisms. SPIE - The International Society for Optical

108

Engineering, 31. http://adsabs.harvard.edu/abs/1997SPIE.3111.....H

Huxley, A. (1954). The Doors of Perception & Heaven and Hell. Harper Collins.

Iovane, G., Laserra, E., & Tortoriello, F. S. (2004). Stochastic self-similar and fractal

universe. Chaos, Solitons and Fractals, 20(3), 415–426.

https://doi.org/10.1016/j.chaos.2003.08.004

Jagers, S. C., Harring, N., & Matti, S. (2018). Environmental management from left to

right–on ideology, policy-specific beliefs and pro-environmental policy support.

Journal of Environmental Planning and Management, 61(1), 86–104.

https://doi.org/10.1080/09640568.2017.1289902

Jandrić, P., Jaldemark, J., Hurley, Z., Bartram, B., Matthews, A., Jopling, M., Mañero,

J., MacKenzie, A., Irwin, J., Rothmüller, N., Green, B., Ralston, S. J., Pyyhtinen,

O., Hayes, S., Wright, J., Peters, M. A., & Tesar, M. (2020). Philosophy of

education in a new key: Who remembers Greta Thunberg? Education and

environment after the coronavirus. Educational Philosophy and Theory, 1–21.

https://doi.org/10.1080/00131857.2020.1811678

Johnson, M. W., Hendricks, P. S., Barrett, F. S., & Griffiths, R. R. (2019). Classic

psychedelics: An integrative review of epidemiology, therapeutics, mystical

experience, and brain network function. Pharmacology and Therapeutics, 197, 83–

102. https://doi.org/10.1016/j.pharmthera.2018.11.010

Jovanov, E. (2011). On Physiological Bases of States of Expanded Consciousness. In D.

Cvetkovic & I. Cosic (Eds.), States of Consciousness: Experimental Insights into

Meditation, Waking, Sleep and Dreams (pp. 203–221). Springer.

https://doi.org/10.1007/978-3-642-18047-7_9

Kapoor, R. (2007). Auroville: A spiritual-social experiment in human unity and

evolution. Futures, 39(5), 632–643. https://doi.org/10.1016/j.futures.2006.10.009

Kingsland, J. (2019). Am I Dreaming? The New Science of Consciousness and How

Altered States Reboot the Brain. Atlantic Books.

Koudelková, Z., & Strmiska, M. (2018). Introduction to the identification of brain

waves based on their frequency. MATEC Web of Conferences, 210, 1–4.

https://doi.org/10.1051/matecconf/201821005012

Krieger, N. (2020). ENOUGH: COVID-19, structural racism, police brutality,

109

plutocracy, climate change-and time for health justice, democratic governance, and

an equitable, sustainable future. American Journal of Public Health, 110(11),

1620–1623. https://doi.org/10.2105/AJPH.2020.305886

Krishna, B. M., Jhansi, V. C., Shama, P. S., Leelambika, A. B., Prakash, C., &

Manikanta, B. V. V. N. (2019). Novel Solution to Improve Mental Health by

Integrating Music and IoT with Novel Solution to Improve Mental Health by

Integrating Music and IoT with Neural Feedback. Journal of Computational

Information Systems, 15(3), 234–239.

Kroll, G. (2001). The “Silent Springs” of Rachel Carson: Mass media and the origins of

modern environmentalism. Public Understanding of Science, 10(4), 403–420.

https://doi.org/10.1088/0963-6625/10/4/304

Lammers, J., & Baldwin, M. (2020). Make America gracious again: Collective nostalgia

can increase and decrease support for right-wing populist rhetoric. European

Journal of Social Psychology, 50(5), 943–954. https://doi.org/10.1002/ejsp.2673

Lemanski, J. (2019). Logic Diagrams, Sacred Geometry and Neural Networks. Logica

Universalis, 13(4), 495–513. https://doi.org/10.1007/s11787-019-00239-9

Leonard, A. S., & Francis, J. S. (2017). Plant–animal communication: past, present and

future. Evolutionary Ecology, 31(2), 143–151. https://doi.org/10.1007/s10682-017-

9884-5

Leopold, A. (1949). A Sand County Almanac and Sketches Here and There. Oxford

University Press. New York.

Longo, S. B., & Baker, J. O. (2014). Economy “versus” Environment: The Influence of

Economic Ideology and Political Identity on Perceived Threat of Eco-Catastrophe.

Sociological Quarterly, 55(2), 341–365. https://doi.org/10.1111/tsq.12052

Loubser, J. J. (2018). Understanding the role of post- materialism in the trade-off

between economic growth and the environment in BRICS countries (Issue 424).

Luna, L. E. (1984). The Healing Practices of a Peruvian Shaman. Journal of

Ethnopharmacology, 11, 123–133.

Ly, C., Greb, A. C., Cameron, L. P., Wong, J. M., Barragan, E. V., Wilson, P. C.,

Burbach, K. F., Soltanzadeh Zarandi, S., Sood, A., Paddy, M. R., Duim, W. C.,

Dennis, M. Y., McAllister, A. K., Ori-McKenney, K. M., Gray, J. A., & Olson, D.

110

E. (2018). Psychedelics Promote Structural and Functional Neural Plasticity. Cell

Reports, 23(11), 3170–3182. https://doi.org/10.1016/j.celrep.2018.05.022

Macdiarmid, J. I., Douglas, F., & Campbell, J. (2016). Eating like there’s no tomorrow:

Public awareness of the environmental impact of food and reluctance to eat less

meat as part of a sustainable diet. Appetite, 96, 487–493.

https://doi.org/10.1016/j.appet.2015.10.011

Malsburg, C. von der. (1997). The Coherence Definition of Consciousness. Cognition,

Computation, and Consciousness.

https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780198524144.003.0013

Mancuso, S., Viola, A., & Pollen, M. (2015). Brilliant Green: The Surprising History

and Science of Plant Intelligence (J. Benham (ed.)). Island Press.

Marger, M. N. (1984). Social Movement Organizations and Response to Environmental

Change: The NAACP, 1960-1973. Social Problems, 32(1), 16–30.

https://doi.org/10.2307/800259

Marinho, M. A. C. (2017). Trajetórias de Vida : um conceito em construção. Revista Do

Instituto de Ciências Humanas, 13(17), 25–49.

Marsh, K., Zeuschner, C., & Saunders, A. (2012). Health Implications of a Vegetarian

Diet: A Review. American Journal of Lifestyle Medicine, 6(3), 250–267.

https://doi.org/10.1177/1559827611425762

Martins, E., & Szymanski, H. (2004). A Abordagem Ecológica de Urie Bronfenbrenner

em Estudos com Famílias. Estudos e Pesquisas Em Psicologia, 4(1), 63–77.

Matheny, J. G. (2007). Reducing the risk of human extinction. Risk Analysis, 27(5),

1335–1344. https://doi.org/10.1111/j.1539-6924.2007.00960.x

Meadows, D. H., Meadows, D. L., Randers, J., & Behrens III, W. W. (1972). The Limits

to Growth. Universe Books.

Metzner, R. (1998). Hallucinogenic drugs and plants in psychotherapy and shamanism.

Journal of Psychoactive Drugs, 30(4), 333–341.

https://doi.org/10.1080/02791072.1998.10399709

Metzner, R. (2009). Alchemical Divination: Accessing Your Spiritual Intelligence for

Healing and Guidance (2nd ed.). Green Earth Foundation & Regent Press.

111

Millgram, E. (2015). The Great Endarkenment: Philosophy for and age of

Hyperspecialization. Oxford University Press.

http://books.google.com/books?id=8GEBCAAAQBAJ&printsec=frontcover&dq=

Great+Endarkenment&cd=1&source=gbs_gdata

Mirza, M. U., Richter, A., Nes, E. H. Van, & Scheffer, M. (2019). Technology driven

inequality leads to poverty and resource depletion. Ecological Economics,

160(May), 215–226. https://doi.org/10.1016/j.ecolecon.2019.02.015

Moyano-Díaz, E., Palomo-Vélez, G., & Vergara-Bravo, J. (2019). Political ideology,

economic liberalism and pro-environmental behaviour / Ideología política,

liberalismo económico y conducta pro-ambiental. Psyecology, 10(1), 127–150.

https://doi.org/10.1080/21711976.2018.1546422

Naess, A., Sessions, G., Ayer, A., Elders, F., Feyerabend, P., Devall, B., Lloyd, G.,

Clark, J., Watson, R., French, W., Callicott, B., Fox, W., Brennan, A., Reed, P.,

Plumwood, V., Sale, K., Zimmerman, M., Salleh, A., Warren, K., … Witoszek, N.

(1999). Philosophical Dialogues: Arne Naess and the Progress of Ecophilosphy. In

W. Nina & A. Brennan (Eds.), Journal of Chemical Information and Modeling

(Vol. 53, Issue 9). Rowman & Littlefield Publishers, Inc.

Nascimento, L. de C. N., Souza, T. V. de, Oliveira, I. C. dos S., Moraes, J. R. M. M. de,

Aguiar, R. C. B. de, & Silva, L. F. da. (2018). Saturação teórica em pesquisa

qualitativa: relato de experiência na entrevista com escolares. Rev Bras Enferm

[Internet], 71(1), 243–251.

Neufeldt, R. (1993). Reflections on Swami Vivekananda’s Speeches At the World

Parliament of Religions, 1893. Journal of Hindu-Christian Studies, 6(1), 1–3.

https://doi.org/10.7825/2164-6279.1073

Nguyen, C. T. (2018). Expertise and the Fragmentation of Intellectual Autonomy.

Philosophical Inquiries, 6(2), 107–124.

https://philinq.it/index.php/philinq/article/view/224

NicDaéid, N., & Mckenzie, C. (2018). Introduction to Drugs of Abuse. In Encyclopedia

of Analytical Science (3rd ed., pp. 1–6). Elsevier Inc. https://doi.org/10.1016/B978-

0-12-409547-2.14459-2

Nicola, M., Alsafi, Z., Sohrabi, C., Kerwan, A., Al-Jabir, A., Iosifidis, C., Agha, M., &

112

Agha, R. (2020). The socio-economic implications of the coronavirus pandemic

(COVID-19): A review. International Journal of Surgery, 78(March), 185–193.

https://doi.org/10.1016/j.ijsu.2020.04.018

Noirhomme, Q., & Laureys, S. (2011). Altering Consciousness and Neuropathology. In

E. Cardeña & M. Winkelman (Eds.), Altering Consciousness: Multidisciplinary

Perspectives. Volume 1: History, Culture and Humanities (pp. 263–278). Praeger.

Orsolini, L., Ciccarese, M., Papanti, D., De Berardis, D., Guirguis, A., Corkery, J. M.,

& Schifano, F. (2018). Psychedelic fauna for psychonaut hunters: A mini-review.

Frontiers in Psychiatry, 9, Article 153. https://doi.org/10.3389/fpsyt.2018.00153

Osofsky, J. D., Osofsky, H. J., & Mamon, L. Y. (2020). Psychological and Social

Impact of COVID-19. Psychological Trauma: Theory, Research, Practice, and

Policy, 12(5), 468–469. https://doi.org/10.1037/tra0000656

Padmanabhan, R., Hildreth, A. J., & Laws, D. (2005). A prospective, randomised,

controlled study examining binaural beat audio and pre-operative anxiety in

patients undergoing general anaesthesia for day case surgery. Anaesthesia, 60,

874–877. https://doi.org/10.1111/j.1365-2044.2005.04287.x

Pariser, E. (2011). The Filter Bubble: What the Internet is Hiding from You. The

Penguin Press.

Pendell, D. (1995). Pharmako Poeia : Plant Powers, Poisons, and Herbcraft. Mercury

House.

https://books.google.com/books?id=BnAfPwAACAAJ&dq=pharmako+poeia&hl=

en&sa=X&ved=0ahUKEwiDkMzm2tvcAhUIwFQKHQ55Do4Q6AEIKTAA

Pereira, L. F., & Tesser, C. D. (2021). Do yoga para a atenção psicossocial na Atenção

Primária à Saúde: um estudo hermenêutico sobre valores e princípios éticos do

Yoga Stura de Patañjali. Ciencia e Saude Coletiva, 26(2), 711–720.

https://doi.org/10.1590/1413-81232020261.29482018

Pilis, W., Stec, K., Zych, M., & Pilis, A. (2014). Health benefits and risk associated

with adopting a vegetarian diet. Roczniki Państwowego Zakładu Higieny, 65(1), 9–

14.

Pinchbeck, D., & Rokhlin, S. (2019). When Plants Dream: Ayahuasca, Amazonian

Shamanism, and the Global Psychedelic Renaissance. Watkins.

113

Pompper, D., Lee, S., & Lerner, S. (2009). Gauging outcomes of the 1960s social

equality movements: Nearly four decades of gender and ethnicity on the cover of

the rolling stone magazine. Journal of Popular Culture, 42(2), 273–290.

https://doi.org/10.1111/j.1540-5931.2009.00679.x

Proaño, C. R. (2020). On the Macroeconomic and Social Impact of the Coronavirus

Pandemic in Latin America and the Developing World. Intereconomics, 55(3),

159–162. https://doi.org/10.1007/s10272-020-0889-x

Rätsch, C., & Hofmann, A. (2005). The Encyclopedia of Psychoactive Plants:

Ethnopharmacology and its Applications (J. R. Baker, A. Lee, & C. Ballent (eds.)).

Park Street Press.

Riessman, C. K. (2005). Narrative Analysis. Narrative, Memory & Everyday Life, 1–7.

https://books.google.com/books?hl=en&lr=&id=9ffAwoYi7E0C&oi=fnd&pg=PP6

&dq=Riessman,+C.K.+1993:+Narrative+analysis&ots=UruAVDq2jO&sig=GPBi

B-ShN-

eW1tUcgGSJLqb5ZlA%0Ahttp://eprints.hud.ac.uk/id/eprint/4920/2/Chapter_1_-

_Catherine_Kohler_Riessman.pdf&embedded

Rockström, J., W. Steffen, K. Noone, Å. Persson, F. S. Chapin, E. F. Lambin, T. M.

Lenton, M. Scheffer, C. Folke, H. J. Schellnhuber, B. Nykvist, C. A. de Wit, T.

Hughes, S. van der Leeuw, H. Rodhe, S. Sörlin, P. K. Snyder, R. Costanza, U.

Svedin, … J. A. Foley. (2009). A safe operation space for humanity. Nature,

461(September), 472–475.

Rodrigues, V. M. dos S. (2012). Deep Ecology: Princípios, Fundamentos e Fins.

Universidade Nova de Lisboa.

Rosenthal, D. M. (2009). Concepts and Definitions of Consciousness. Encyclopedia of

Consciousness, 157–169. https://doi.org/10.1016/B978-012373873-8.00018-9

Rothgerber, H. (2012). Real men don’t eat (vegetable) quiche: Masculinity and the

justification of meat consumption. Psychology of Men and Masculinity.

https://doi.org/10.1037/a0030379

Rucker, J. J. H., Iliff, J., & Nutt, D. J. (2018). Psychiatry & the psychedelic drugs. Past,

present & future. Neuropharmacology, 142, 200–218.

https://doi.org/10.1016/j.neuropharm.2017.12.040

114

Sariatli, F. (2017). Linear Economy Versus Circular Economy: A Comparative and

Analyzer Study for Optimization of Economy for Sustainability. Visegrad Journal

on Bioeconomy and Sustainable Development, 6(1), 31–34.

https://doi.org/10.1515/vjbsd-2017-0005

Sato, T., Yasuda, Y., Kido, A., Arakawa, A., Mizoguchi, H., & Valsiner, J. (2007).

Sampling Reconsidered: Idiographic Science and the Analysis of Personal Life

Trajectories. In J. Valsiner & A. Rosa (Eds.), The Cambridge Handbook of

Sociocultural Psychology (pp. 82–106). Cambridge University Press.

Schroll, B. M. A., & Rothenberg, D. (2010). Psychedelics and the Deep Ecology

Movement: A Conversation with Arne Naess. xix(1), 41–43.

Sessa, B. (2012). The Psychedelic Renaissance: Reassessing the Role of Psychedelic

Drugs in 21st Century Psychiatry and Society. Muswell Hill Press.

Sessions, G., & Leopold, A. (1987). The Deep Ecology Movement: A Review.

Environmental Review, 11(2), 105–125.

http://biophilosophy.ca/Teaching/2070papers/sessions.pdf

Sharma, G. (2017). Pros and cons of different sampling techniques. International

Journal of Applied Research, 3(7), 749–752. www.allresearchjournal.com

Sheykhi, M. T. (2020). Coronavirus Environment vs Socio-Economic and Demographic

Problems Followed : A Sociological Appraisal. SIASAT Journal of Religion,

Social, Cultural and Political Science, 5(2), 1–6.

https://doi.org/10.5742/mewfm.2020.93844

Shulgin, A., & Shulgin, A. (1991). PiHKAL (Phenylethylamines i Have Known and

Loved): A Chemical Love Story. Transform Press.

Shulgin, A., & Shulgin, A. (1997). TiHKAL (Tryptamines i Have Known And Loved):

The Chemistry Continues. Transform Press.

Siddiqui, K. (2011). Experiences of Capitalism in India and Pakistan. Research in

Applied Economics, 3(1). https://doi.org/10.5296/rae.v3i1.654

Singh, M. (2018). The cultural evolution of shamanism. Behavioral and Brain Sciences,

41, 1–62. https://doi.org/10.1017/S0140525X17001893

Stanley, S. K., & Wilson, M. S. (2019). Meta-analysing the association between social

115

dominance orientation, authoritarianism, and attitudes on the environment and

climate change. Journal of Environmental Psychology, 61, 46–56.

https://doi.org/10.1016/j.jenvp.2018.12.002

Stead, J. G., & Stead, W. E. (2014). Building spiritual capabilities to sustain

sustainability-based competitive advantages. Journal of Management, Spirituality

and Religion, 11(2), 143–158. https://doi.org/10.1080/14766086.2013.832359

Steiner, U., Ahimsa-Müller, M. A., Markert, A., Kucht, S., Groß, J., Kauf, N., Kuzma,

M., Zych, M., Lamshöft, M., Furmanowa, M., Knoop, V., Drewke, C., & Leistner,

E. (2006). Molecular characterization of a seed transmitted clavicipitaceous fungus

occurring on dicotyledoneous plants (Convolvulaceae). Planta, 224(3), 533–544.

https://doi.org/10.1007/s00425-006-0241-0

Strassman, R., Wojtowicz, S., Luna, L. E., & Frecska, E. (2008). Inner Paths to Outer

Space: Journeys to Alien Worlds through Psychedelics and Other Spiritual

Technologies. Park Street Press.

Swinton, J. (2001). Spirituality and Mental Health Care – Rediscovering a “Forgotten

Dimension.” Jessica Kingsley Publishers.

Telles, S., Singh, N., Naveen, K. V, Deepeshwar, S., Pailoor, S., Manjunath, N. K.,

George, L., Dawn, R., & Balkrishna, A. (2014). A fMRI Study of Stages of Yoga

Meditation Described in Traditional Texts. Psychology & Psychotherapy, 5(3).

Thorstad, R., & Wolff, P. (2018). A big data analysis of the relationship between future

thinking and decision-making. Proceedings of the National Academy of Sciences of

the United States of America, 115(8), 1740–1748.

https://doi.org/10.1073/pnas.1706589115

Trewavas, A. J., & Baluška, F. (2011). The ubiquity of consciousness, cognition and

intelligence in life. EMBO Reports, 12(12), 1221–1225.

https://doi.org/10.1038/embor.2011.218

Ujváry, I. (2014). Psychoactive natural products: overview of recent developments.

Annali Dell’Istituto Superiore Di Sanità, 50(1), 12–27.

UNEP. (2021). Food Waste Index.

Vaillant, G. E. (2008). Spiritual Evolution. Broadway Books.

116

Vaitl, D. (2012). Veränderte Bewusstseinszustände: Grundlagen -Techniken -

Phänomenologie. Schattauer.

Vaitl, D., Gruzelier, J., Jamieson, G. A., Lehmann, D., Ott, U., Sammer, G., Strehl, U.,

Birbaumer, N., Kotchoubey, B., Kübler, A., Miltner, W. H. R., Pütz, P., Strauch, I.,

Wackermann, J., & Weiss, T. (2005). Psychobiology of altered states of

consciousness. Psychological Bulletin, 131(1), 98–127.

https://doi.org/10.1037/0033-2909.131.1.98

Vaughan, F. (2002). What is spiritual intelligence? Journal of Humanistic Psychology,

42(2), 16–33. https://doi.org/10.1177/0022167802422003

Velmans, M. (2009). How to define consciousness - and how not to define

consciousness. Journal of Consciousness Studies, 16(5), 139–156.

https://doi.org/10.4324/9781315516776-8

Vieira, T. B. (2018). Hermes Trismegisto e o Corpus Hermeticum: Um estudo sobre a

relação do Hermetismo com o Pensamento Filosófico Renascentista. Universade

Federal de Uberlândia.

Vimal, R. L. P. (2009). The Dual-Aspect-Dual-Mode Framework for Consciousness. In

Chromatikon V: Yearbook of Philosophy in Process (pp. 295–307). Presses

universitaires de Louvain.

Walter, M. N., & Fridman, E. J. N. (2004). Shamanism: An Ecyclopedia of World

Beliefs, Practices, and Culture. ABC-CLIO, Inc.

Watts, E., Hoßfeld, U., & Levit, G. S. (2019). Ecology and Evolution: Haeckel’s

Darwinian Paradigm. Trends in Ecology and Evolution, 34(8), 681–683.

https://doi.org/10.1016/j.tree.2019.04.003

Webster, T. D. (2016). Secularization and Cosmopolitan Gurus. Asian Ethnology, 75(2),

327–357.

White, D. G. (2012). Yoga , Brief History of an Idea. In Yoga in Practice (pp. 1–23).

Princeton University Press.

Whitmarsh, L., & O’Neill, S. (2010). Green identity, green living? The role of pro-

environmental self-identity in determining consistency across diverse pro-

environmental behaviours.

117

Wilson, E. O. (2003). Biophilia.

Winkelman, M. (2004). Shamanism as the original neurotheology. Zygon, 39(1), 193–

217. https://doi.org/10.1111/j.1467-9744.2004.00566.x

Winkelman, M. J. (2007). Shamanic guidelines for psychedelic medicine. Psychedelic

Medicine: New Evidence for Hallucinogenic Substances as Treatments., Vol. 2,

143–167.

http://ovidsp.ovid.com/ovidweb.cgi?T=JS&PAGE=reference&D=psyc5&NEWS=

N&AN=2007-11123-008

Wu, J. (2013). Landscape sustainability science: Ecosystem services and human well-

being in changing landscapes. Landscape Ecology, 28, 999–1023.

https://doi.org/10.1007/s10980-013-9894-9

Yaden, D. B., Iwry, J., Slack, K. J., Eichstaedt, J. C., Zhao, Y., Vaillant, G. E., &

Newberg, A. B. (2016). The overview effect: Awe and self-transcendent

experience in space flight. Psychology of Consciousness: Theory, Research, and

Practice, 3(1), 1–11. https://doi.org/10.1037/cns0000086

118

Consultas Online

Achar, B. N. N. (2009). An Examination of the Cronology of Rg Veda based on

astronomical references using Planetary Software;

http://bharatkalyan97.blogspot.com/2013/11/rgveda-chronology-based-on-

astronomical.html acedido em abril de 2021

Adis – Queensland Government. (2018). Stimulants, Depressants and Hallucinogens.

Alcohol and Drug Support; https://adis.health.qld.gov.au/information/drug-types

acedido em maio de 2021

Agência Lusa. (2021). Relatório alerta para risco de “radicalização” da extrema-direita

em Portugal. Observador; https://observador.pt/2021/02/16/relatorio-europeu-

alerta-para-risco-de-radicalizacao-da-extrema-direita-em-portugal/ acedido em

fevereiro de 2021

Bertone, H. J., & Bubnis, D. (2020). Which Type of Meditation is Right for Me?.

Healthline; https://www.healthline.com/health/mental-health/types-of-meditation

acedido em maio de 2021

Borger, J. (2021). Mega mob’s Capitol invasion makes Trump’s assault on democracy

literal. The Guardian; https://www.theguardian.com/us-news/2021/jan/06/us-

capitol-trump-mob-election-democracy acedido em março de 2021

Borman, F. (2017). Detailed Globes Enhance Education and Recreation. Nasa Spinoff;

https://spinoff.nasa.gov/Spinoff2007/ch_2.html acedido em abril de 2021

Brainworks (Symphonic Mind). (2007). What are Brainwaves?;

https://brainworksneurotherapy.com/what-are-brainwaves acedido em maio de 2021

Caponigro, J. P. (n.d.). All Religions Practice Forms of Meditation;

https://www.johnpaulcaponigro.com/blog/9419/all-religions-practice-forms-of-

meditation-meditation-is-a-universal-practice/ acedido em maio de 2021

FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations. (2020). As more go

hungry and malnutrition persists, achieving Zero Hunger by 2030 in doubt, UN

report warns; http://www.fao.org/news/story/en/item/1297810/icode/ acedido em

abril de 2021

119

Gebrekidan, S. (2020). For Autocrats, and Others, Coronavirus Is a Chance to Grab Even

More Power. The New York Times;

https://www.nytimes.com/2020/03/30/world/europe/coronavirus-governments-

power.html acedido entre fevereiro e março de 2021

Goff, P. (2017). Panpsychism. Stanford Encyclopedia of Philosophy;

https://plato.stanford.edu/entries/panpsychism/ acedido em abril de 2021

Goff, P., & Cook, D. (2020). Does Consciousness Pervade the Universe?. Scientific

American; https://www.scientificamerican.com/article/does-consciousness-

pervade-the-universe/ acedido em abril de 2021

Grenier, E. (2021). ‘Corona dictatorship’ is German ‘non-word of the year’ 2020.

Deutsche Welle; https://www.dw.com/en/corona-dictatorship-is-german-non-word-

of-the-year-2020/a-56200376 acedido em fevereiro de 2021

Guyer, P. (2021). Idealism. Stanford Encyclopedia of Philosophy;

https://plato.stanford.edu/entries/idealism/ acedido em abril de 2021

Hille, P. (2020). Coronavirus: Can Germany’s infection protection law be compared to

the Nazis’ ‘Enabling Act?’. Deutsche Welle;

https://www.dw.com/en/coronavirus-can-germanys-infection-protectionlaw-be-

compared-to-the-nazis-enabling-act/a-55649748 acedido em fevereiro de 2021

Hartney, E., & Gans, S. (2020). The Different Types of Psychoactive Drugs. very well

mind; https://www.verywellmind.com/what-is-psychoactive-22500 acedido em

maio de 2021

IACP – International Association of Chiefs of Police. (n.d.). 7 Drugs Categories;

https://www.theiacp.org/7-drug-categories acedido em maio de 2021

IFCO Systems. (2020). Food waste by country: who’s the biggest waster?;

https://www.ifco.com/pt/countries-with-the-least-and-most-food-waste/ acedido em

abril de 2021

Kellnar, D. (2019). Jean Baudrillard – Early Writings: From the System of Objects to The

Mirror of Production. Stanford Encyclopedia of Philosophy;

https://plato.stanford.edu/entries/baudrillard/ acedido em abril de 2021

Lopes, M. (2020). Chega vai retirar confiança política aos dirigentes com ligação a

movimentos extremistas e controlar admissões. Público;

120

https://www.publico.pt/2020/01/16/politica/noticia/ventura-vai-retirar-confianca-

politica-dirigentes-participado-movimentos-extremistas-1900628 acedido em

fevereiro de 2021

Malhado, A. (2020). Ex-membros de grupos neonazis são dirigentes do Chega. Sábado;

https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/ex-membros-de-grupos-neonazis-sao-

dirigentes-do-chega acedido em fevereiro de 2021

Mander, W. (2020). Pantheism. Stanford Encyclopedia of Philosophy;

https://plato.stanford.edu/entries/pantheism/ acedido em abril de 2021

McIntosh, J., & Carter, A. (2020). What is serotonin, and what does it do?. Medical News

Today; https://www.medicalnewstoday.com/articles/232248 acedido em abril de

2021

Neurohealth. (n,d.). Brainwaves Definitions; https://nhahealth.com/brainwaves-the-

language/ acedido em maio de 2021

Nice, A. (2020). Extraordinary coronavirus restrictions on personal freedom require

proper parliamentary scrutiny. Institute for Government;

https://www.instituteforgovernment.org.uk/blog/coronavirus-restrictions-

parliamentary-scrutiny acedido em fevereiro de 2021

ONU – Organização das Nações Unidas. (n.d.). Pobreza; https://unric.org/pt/eliminar-a-

pobreza/ acedido em março de 2021

Rettman, A. (2020). Far right using pandemic to win friends in Germany. EUobserver;

https://euobserver.com/coronavirus/149545 acedido em fevereiro de 2021

Roser, M., Ritchie, H., Ortiz-Ospina, E. (2019). World Population Growth. Our World in

Data; https://ourworldindata.org/world-population-growth acedido em março de

2021

Robinson, H. (2020). Dualism. Stanford Encyclopedia of Philosophy;

https://plato.stanford.edu/entries/dualism/ acedido em abril de 2021

Ross, A. (2016). How Meditation Went Mainstream. Time;

https://time.com/4246928/meditation-history-buddhism/ acedido em maio de 2021

Riopel, L. (2021). 28 Best Meditation Techniques for Beginners to Learn. Positive

Psychology; https://positivepsychology.com/meditation-techniques-beginners/

121

acedido em maio de 2021

SGMAI – Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna. (2021). Resultados

Globais: Território Nacional e Estrangeiro;

https://www.presidenciais2021.mai.gov.pt/resultados/globais acedido em fevereiro

de 2021

Shamanlinks. (2015). Shaman Names; https://www.shamanlinks.net/shaman-info/about-

shamanism/shaman-names/ acedido em maio de 2021

Stoljar, D. (2015). Physicalism. Stanford Encyclopedia of Philosophy;

https://plato.stanford.edu/entries/physicalism/ acedido em abril de 2021

Thoricatha, W. (2015). What is the meaning of Psychedelic? Different Terms for

Entheogens and what they Mean. Psychedelic Times;

https://psychedelictimes.com/what-is-the-meaning-of-psychedelic-the-difference-

between-psychedelics-hallucinogens-and-entheogens/ acedido em maio de 2021

The Good Body. (2020). Yoga Statistics: tracking the huge rise in yoga’s popularity;

https://www.thegoodbody.com/yoga-statistics/ acedido em abril de 2021

Uffink, J. (2016). The Uncertainty Principle. Stanford Encyclopedia of Philosophy;

https://plato.stanford.edu/entries/qt-uncertainty/ acedido em abril de 2021

Vilhena, F., & Freire, H. D. (2020). Covid-19: Polícia pode entrar em propriedades

privadas sem mandato. Postal do Algarve; https://postal.pt/sociedade/2020-10-16-

Covid-19-Policia-pode-entrar-em-propriedades-privadas-sem-mandato acedido em

fevereiro de 2021

WIS – Weizmann Institute of Science. (1998). Quantum Theory Demonstrated:

Observation Affects Reality. Science Daily;

https://www.sciencedaily.com/releases/1998/02/980227055013.htm acedido em

abril de 2021

WFP – World Food Programme of the United Nations. (2020). 5 facts about food waste

and hunger; https://www.wfp.org/stories/5-facts-about-food-waste-and-hunger

acedido em abril de 2021

WHO – World Health Organization. (2021). Coronavirus (Covid-19) Dashboard;

https://covid19.who.int/ acedido em julho de 2021

122

Wong, J. C. (2020). QAnon explained: the antisemitic conspiracy theory gaining traction

around the world. The Guardian; https://www.theguardian.com/us-

news/2020/aug/25/qanon-conspiracy-theory-explained-trump-what-is acedido em

março de 2021

123

Anexos

Lista de Figuras

Figura 1 – Interação Esquemática, mediada pela Perceção …………………………p.58

Figura 2 – Quadro Tipológico/Categorial .…………………………………...………p.88

Transcrições das Entrevistas

Dimitri A: Hello, good afternoon.

D: Hello!

A: You've demonstrated some interest in participating in my thesis research. Today, are

you still interested and willingly accepting to partake in this project?

D: That's exact, yes.

A: Perfect. Some little ethical questions then. If there's any question that you don't want

to answer, you are more than welcome to skip it, or even if you are uncomfortable, we

can stop, for any other reason, we can also postpone the interview, it's not a big deal.

D: Okay, sounds good.

A: Another topic ... I will be using anonymity for every single one of my interviewees,

so not a single person will be linked to the data. Feel free and open to answer my questions

as you wish because nothing will be linked to you.

D: Okay.

A: Perfect. So, firstly I would like to make a set of questions more of a sociological

stratum. I would like you to talk a little bit about yourself, like your age, profession, how

long you have been living in Portugal, if you have kids, if you are married ...

D: Okay. So, my name is Dimitri, I’m 33, born in Belgium. I've made studies of

engineering, electrical engineering, but ultimately, I realized that the path through

technologies and this evolving societies is not really going to make it if it doesn't come

with something more important, which is actually a change in consciousness. So, I started

to make a travel, to try to find a better way to live my life, and ultimately, I found my

wife and I got my first daughter. And that kind of created a final line where we needed to

take responsibility for the future of the world, or at least the future of our family, and just

to be able to provide and sustain ourselves through all our lifetimes and more. So, I

decided to move to Portugal to start a permaculture project. Actually, this vision has been

given to me through a San Pedro journey. Not only this vision has always been with me,

but it's been clearly revealed, insisted upon through a San Pedro journey that told me:

Look, if you're not doing everything you can to create a lifestyle that could allow someone

to grow and survive, whatever the world is becoming, then yeah, you might regret it later.

124

It's better to start now than never. So, I moved to Portugal, bought a quinta, and this has

been now the third year I'm doing this project, and gardening, replanting, doing a food

forest, and learning about ecosystems.

A: Oh, that's beautiful. Thank you. How would you define your relationship with your

family, right now, as well as when you were younger with your parents?

D: Okay. So, my family unit has basically been me and my mom, never lived with my

father. I was really close to my mom. We were doing quite an interesting duo. We

travelled the whole world together, and it was a beautiful relationship, but not always

easy. A lot of conflicts arise, a lot of blockages, but ultimately, we always went through,

we always kept really connected. Then with my father, it's always been more a distant

relationship, he's never been that much as a father figure, is more like someone I know,

and we love each other, and respect each other, support a little bit each other, but that's

about it. Yeah.

A: I see, thank you very much. Dimitri, how would you describe yourself politically, like

in terms of your ideology?

D: Ufff ... It has been a while I didn't put a label on myself ... So, let's see, I've always

been a bit on the rebel side of things, since school I already didn't agree with the school

system, even though I was good at it, and I was not a troublemaker. But intellectually, I

was like ... this is bullshit. Then I grew up being kind of opposed to the political system,

rejecting society, like the modern capitalism thing, rejecting the idea of money, at least

intellectually, but then I grew out of this. Now, I'm not opposed to any political system,

I'm not opposed to capitalism and what they call Babylon, the big structure, I became

really grateful for this system to exist. I think it's offering us a lot of beautiful things like

forms of stability, forms of global corporations, and all the basic needs, and roads, and

electricity. For me that's like absolute magic when I look at a city, the intrication of all

this system and how it's working, so I'm kind of like ... Okay, this is a great system, I don't

want to throw all of it, but ... it's missing something, it doesn't step out of itself to look

where it's going as a whole, and obviously is going to hit some big crisis. We all see it

coming. It's already happening, but yeah. So, politically, I'm trying to be a bit of, how to

say ... Out of the norm to create a little pocket of something different, which when the

time will come, it will be like already tested and experienced system that can be an

alternative, and that offers new keys for the system to evolve, and we need people to get

out of the system way before it crash down, way before we enter in crisis, to prepare for

the alternative. That's what I'm trying to do [laughs].

A: I see ... Following these guidelines. What are your biggest concerns about the

contemporary society?

D: The biggest issue for this contemporary society, okay ... I think is a lack of connection

not to Nature, because ultimately, we are Nature, we are an expression of the potentialities

of Nature, but it's a disconnection from how ecosystem works. That's one issue ... The

second issue is ... Well, I could say like all kinds of obvious things, you know, from the

fakeness of democracy, which is just like engineering of consent, and the worldwide

addictive patterns of new human beings [unperceivable] to a point of absurd, to the lack

of communication, empathy, love, kindness, and a complete lack of true spirituality, of a

free form of spirituality. We have religions and atheism and all of this, but we lack ...

Yeah, actually this is one of the biggest issues! We, at least in this occidental society, we

lack tools to work with the different states of consciousness. We are stuck in the daily

basic state of consciousness, and we have no vocabulary, no tools, not even tolerance to

speak about what's the other possibilities of consciousness [laughs].

125

A: Okay. And how could we trespass these issues, these complications?

D: Well, obviously psychedelics are a nice kick in your mind to be like ... Okay, there are

other possibilities, there is more going on that we have been told, there's much more going

on that what society is allowed to speak in public, what we tell you in school, what our

culture accepts as the truth, there is much more going on. Nature is much richer, much

more complex, much more inspiring than this, and we rely on this Nature and this

ecosystem much more than we like to believe to ... So, wow, what was the question again?

[laughs]

A: How could we fix these concerns, or some ideas how to make our society better, more,

or less.

D: Okay. Yeah, of course there's plenty of ways ... I said one of them, which is

psychedelics. Oh! Actually, any other tool that helps us switch consciousness to get

another point of view on reality and step back of loops, because I do believe our mind,

this all-mind structure unfolds of these self-sustaining loops. And sometimes we need

actually a crisis, like a personal crisis, or a breaking point to singularity, to break the

patterns, to go for a transition time of chaos and confusion until a new pattern, more

adapted to a wider reality emerges. This can be done on the personnel level through, well,

the randomness of life happening but also from tools like drumming and meditation, and

all the ... Yes, exactly! [laughs]

A: I understand you, thank you very much. So, regarding this next section of questions ...

I know you live in a permaculture setting, but I will still ask you these questions just for

the data. The first one is a little bit more different though. For you, what is nature

subjectively? How do you feel connected to it?

D: Nature is the expression of the potential of existence, it's what is giving us life, and it's

a life that is in constant transformation itself. Nature is the universe seeking to find

himself, to observe himself in the mirror. Nature is also the deepest mystery of it all. And

how I feel connected to it, is through this really natural process of just being with an

ecosystem with all the trees, and the plants, and animals, and the mushrooms, and all the

life forms, visible and invisible, and finding that it gives me, a daily constant sense of

satisfaction, happiness, higher heightened mood. It seems to be completely renewable

joy. But it's even deeper than that ... It's of course it's beauty. The beauty is in this constant

change and this fact that it's constantly evolving. This is where I find the deepest

connection with Nature, is this constant flow of things other than when I'm in the city

when I see a concrete wall and stone pathways, there is this monotony, these straight

lines, this self-repetition, constant repetition of the pattern. However, when I look at the

bark of a tree, there is no one little spot of the bark that is the same as the next one. It's

constant difference. At the same time, within all this difference in this diversity,

everything is united and is connected to everything else. And so am I.

A: Oh! I would like to ask you, how much time do you spend in Nature?

D: Okay ... Apart of when I go to town to make groceries [laughs] and I spend a bit of

time in the computer obviously. But like I said, especially now in the Spring, like today I

spent the whole day, in the garden, outside, making a walk with the kids, going in a crazy

adventure through bushes and blackberries with them, completely lost out of the path, off

track. So, 80% of my time in Nature, for sure.

A: And how do you feel during that time?

126

D: There are nearly never things that make me really angry, well, my relationship with

Nature is a privilege too, because I'm not in a struggle for surviving kind of relation to

Nature. But let's see it compared to when I go to town and buy tools or materials, there is

always things going wrong and people fooling me. You buy stuff brand new, and they

break the next day, and this and that ... And with Nature many things fail, and not

everything grows, and some pests come, and this, but my reaction to it is completely

different, I'm kind of always Zen whatever is happening in Nature. I feel I can take it in

because it feels like it's fair somehow. [laughs]

A: I understand. Regarding the ecological crisis, that is ongoing right now, which type of

actions do you do to reduce your own impact?

D: I do my best but let's move on to the first paradox of this whole thing. I never

contaminated that much since I started the permaculture project, because before I was

living really simple as a kind of backpacker, hitchhiking, and I was living out of the

energy of the society in many ways, but you know, it was pretty simple life. Now I put

the truck, and the tractor, and I buy diesel, I buy much more things that obviously have

ecological impact that I didn't have that much before. But I consider that all this energy

is to be used as tools for transition towards something better. I take the bet that the energy

I use, ultimately will pay itself back and sequester more carbon than what I spend on the

project. So, what I do is like when I use the truck or the tractor is to make a food forest

system and a gardening system, where the humus, the soil means the capital of the earth,

augment, and the whole system is creating a better soil, and soil is one of the most

underrated resources on Earth. It's what can sequester a lot of carbon, can keep the whole

water table up, can keep rain from staying in the ground, and can create this lushness in

life. That's one of the main things I do. For planting trees and creating a food forest

system, which is too long to explain in detail right now, but you create an ecosystem that

is evolving towards reversing climate change or compensating for it. And then, obviously,

it's also providing local resources of foods and fuel to heat the house, which then have

much less of a carbon impact than going to the supermarket. It reduced the groceries I

have to buy but it's also how often I need to go to town. With the quarantine for example,

we noticed that actually we're able to go to groceries every two weeks. So, that's a big

change because we can keep eating fresh greens from the gardens, etc. Like for the whole

house system, I have been using wood that I can cut on the land to have heating, and hot

water, and cooking, and I have a solar system, which is not perfect, is photovoltaics, but

I do believe it's still better than many other forms of energy. So, that's what I do.

A: And in terms of your water ... How does that work?

D: I have ... what they have in Portugal is a wonderful system, is called water mine, it's

like a well but it's horizontal. They dig horizontally in the hill until they reach some water,

and so we get water from the inside of the hill like this. We have our own water that we

pump, which is like 10-meter-high to have a bit pressure for the house, and then for the

garden [unperceivable] I pump a bit from the river. It's quite a big river, so, it's okay to

pump a bit water from it. And that's it. I have my own water too.

A: Oh, that's fascinating, thank you very much. Dimitri, do you belong to any pro-

environmental movement, some activism?

D: Well, actually no, I'm not really part of any movement right now. I know there is a lot

of things happening in Portugal, but I've been so busy with my family, and starting my

own project, that right now, not really, at least not formally. In a way the group, and what

I call the tribe around here, is working on lots of environmental aspects. By the way, we

127

choose to live and cooperate together but it's not a formal group, it has no legal relevance

or whatever.

A: Yeah, totally get you ... but well you are more than an activist [laughs] you're doing

more than many people under the political sphere. Okey-doke. Passing for the more

spiritual aspect of this research. So, it looks like you're familiarized with the altered states

of consciousness as we spoke before. How would you define them?

D: Oh man, your questions are really hard! [laughs] Okay, let's try to put words on this.

There're many different kinds of altered states of consciousness, they can have different

characteristics. A general thing that can happen within these states, first, is a loss of your

self-image or at least the tightness of your self-image becomes loose. That allows yourself

to be someone else, to not be trapped and in jail by who you believe you are. So, that's

opening the door for you to change ... beliefs, thoughts, patterns, and allow you to enter

a state of higher connectivity in your brain. But the altered state of consciousness has also

kind of connection to something mystical, a bit mysterious, to something that seems to be

beyond the self ... This is getting complex now! [laughs] Okay, let's be more general first.

In an altered state of consciousness different things can happen, like, with the loss of the

concept of the self, we can start to feel the interconnectedness, how much we are

connected and bonded with everything around us. It's a sense of unity, which can become

a divine experience, a spiritual experience. Another thing that happens, at least to me, in

altered states of consciousness is, many things become highlighting the paradoxes within

our mind, we have incoherent and paradoxical beliefs and it's bringing them to the surface,

and it's inviting us to look at a way to transcend to other elements. There's a paradox

because probably the concepts we are using are nonsensical ... and then it’s inviting us

[unperceivable] to make a bit more sense. So, that's one of the things that can happen.

Then, altered state of consciousness is also diving deep into the subconscious and

unconscious mind. What we call unconscious mind, which actually is not unconscious, is

constantly conscious of itself, of deeper things that're happening with the body. In this

altered state of consciousness, we can exceed, connect our normal daily awareness and

our higher mind with these really lower layers of the mind, that are actually constantly

feeding the higher mind, they are like the substrate on which thoughts arise. We dive into

this substrate, and it allows to make deep change that we're not able to do from the surface.

So, that's one of the main potentials that arise in altered state of consciousness, where

obviously we can heal our family's history, or trauma linked to our education, and know

the bullshit we received in life, and we can change these deep patterns. So, that's the

possibilities of altered states of consciousness, it's healing. But it's more than this. It's also

exploration, it's also discoveries, and going into like out of space experiences, which are

extremely hard to describe. Okay, I could stop there or, yeah, let's see where it goes?

A: If you want to go further, we can go further.

D: Just let me think one minute more about what I actually really want to say about these

altered states ... So, one of my favourites and most powerful altered state of consciousness

is the deep meditative state. When you do a meditation retreat and after 10 days of

meditation, hundred-hour meditation, the mind gets in such a quiet state. Definitely this

is an altered state of consciousness, where you're not pressing attention to thoughts

anymore. And something else arise, something beyond the limitation of language.

Because language it's a wonderful potential, but somehow our vocabulary is still limited

to a defined number of words. We can combine it in infinite ways, but it's not open to

everything and anything. By going beyond the language and connected it to the incredible

complexity and wonders of the body, we get information that when someone never went

128

there, he will never believe what's possible. So, this is what altered states of consciousness

is for me, I think.

A: Thank you, this was fascinating. Dimitri, are you religious? Or are there any aspects

of some religions that you incorporate in your life?

D: No, I'm pretty allergic to every spiritual structure. I respect and enjoy watching people

following tradition, that sometimes have really good tools and bla bla bla, but I'm a

completely off-track person. So, I enjoy taking ideas from the Buddhists, but I don't

consider them a religion because especially the form of Buddhism that I inspire with is

extremely sober. It doesn't refer to any deity, there's no dogma in it. I'm a completely free-

spirited person.

A: I see, perfect. You were speaking about meditation, are there any other spiritual

practice that you do regularly?

D: Well, [laughs] psychedelics obviously is a spiritual practice for me, it puts me in the

deep state of connection with the divine. I practice sometimes drum sessions and

breathing sessions, holotropic breathwork. But daily, I do daily meditations that's kind of

the base of my practice, but ultimately, the way I see my project is also spiritual,

spirituality put in action, and my job I consider it to be spiritual because creating a tangible

way to reconnect with Nature and live with Nature is an act of spirituality to for me.

A: Amazing! Dimitri how do you feel when you do not put in action your spiritual

practice?

D: I'm not sure ... I noticed that if I don't meditate for a while, I can tell that on the counter

side when I do meditate, is good that I'm doing better. Especially in the sense that I'm

much more aware of how I react to everything happening around me. And when I don't

do this, I go into this automatic mode, there is a scientific name for this ... autopilot

system. Spirituality it's a path of liberation in order to find freedom, which means to get

out of the autopilot, to stop being a robot basically, because without the spirituality, which

is a form of glitch, creating this tiny crisis or singularity point which allows change to

happen within yourself, without this, it's just a self-repeating loop, which eventually eats

his own tail and self-destroys ... that's happening at large scale right now.

A: Seems like great knowledge over there. In your vision, this is a more subjective

question, what would be the seed of the connection between spirituality and Nature

commitment?

D: Well, spirituality will bring you to a state where you're going start to realize where

you come from, and why you're here, and what allowed you to be here. At one point, you

for sure will start to be grateful for this life [and] when you start to be grateful for this

life, you realize that it's Nature that gave you this life. Because I believe spiritually brings

you on the path of virtue, you're going to start to respect and protect the gift. And this is

only one tiny aspect, but I think it's a big one. Secondly, spirituality will start to show

you, will put you in a state where you can be in wonder, you see the world in its true

beauty and so again you will really value Nature and the beauty of Nature other than if

you are being like always programmed to - ah just flowers - and programmed to enjoy

what society provides you as TV series and bla bla bla ... somehow, especially to open

your eyes so wide open, that the beauty of Nature penetrates inside of you. Then obviously

you will want to know more about it, interact with it and ultimately be part of it and

protect it.

129

A: Wonderful, thank you. You spoke a little bit ago that San Pedro was one of the plants

that encouraged you to start your dream ... Which would be the other psychoactive

substances that you tried, or that made a really big impact in your life?

D: Okay ... [laughs] they all made a big impact! I didn't try them all but, okay ... So, the

first one was LSA, Hawaiian Baby Woodrose, it's still my favourite psychedelic so far,

this is beyond magic, it's absolute wow. The first time I took a psychedelic was this, and

it completely switched my track, at that time I was dinking a lot of alcohol as a student in

university, and it clearly switched, I decreased by 50% from one day to another, my

alcohol consumption, and then every day I was drinking less. Then from there I started to

discover more psychedelics, obviously DMT cut through the illusion of the matrix. Magic

mushrooms completely played with my self-image and allowed me to become a joyful,

quite free being. LSD was amazing, also one of the teachers about the movement of the

body and how you can find freedom through movement. And then more mushrooms, and

more LSD, and more DMT, and ultimately like recently 5-Meo-DMT, which is something

that awakes true respect for yourself and your own power, and it's reuniting you with the

whole universe. That's the one that made me completely stop smoking 100%. So, they all

had big teachings happening though them. And last but not least, is Paganum Harmala

which is not considered strictly as a psychedelic, but it is definitely altering states of

consciousness. This is the only plant I use as microdose for longer periods of time because

it allows me to snap to the present. You know, when you are in daily life, driving your

car, or going to the day-care for the kids, your mind is constantly thinking, bla bla bla,

and you can be in the full loop for half an hour, not realizing how your body is feeling,

how your breathing is, what's your posture, what's the energy around you, what's your

environment looking like, and Paganum Harmala just every five minutes takes you back

to the instant present, and opens your eyes to how you feel. And over longer periods of

time, this really helps to change your life completely.

A: Beautiful! You spoke about that you quit drinking and you also quit smoking through

these experiences ... What other type of changes happened in your life after discovering

the psychedelics, mostly on a personality and behaviour level?

D: It's hard to tell, I'm a bit of a scientist so this is hard to tell, if it's the plant that did the

change or if it's me, myself. Also, as I was taking these things, my environment was

constantly changing, going out of university, and started traveling. Overall, the way I

changed, I became much freer, my behaviour enthusiastic and open to others. I think I

developed ... The question is about what change it made?

A: Yeah, which impacts and changes it created?

D: The virtues of passion, and compassion, and love, and kindness, and determination,

discipline, perseveration, all these virtues got developed. I guess it's always a natural

process as a man matures, that some of them will develop, and it's hard to tell if it would

have happened otherwise, but I do feel I owe to the plants and their teachings a lot in this.

It changed my relationship with my parents a lot. By observing people that don't use

psychedelics or any other tools to alter consciousness, I can see how stagnant the relation

with their family is, and how the trauma and life history are not only stagnant but also so

self-repeating. I feel a lot of really good, interesting healing has happened within my

family and within my relationship with my wife too, which has been a longer process

and it's not a magic wand. Now there is a big hype around psychedelics, and there is a

wonderful documentary about mushroom healings, and you can read articles online of:

mushrooms healed depression in one take, or only three doses and three sessions and

people healed. I'm like, whoa! Or I'm not really receptive to the medicine, or [laughs] ...

130

Honestly, it's a really long path. That's why it's really delicate to recommend it to anyone

because if you knew in what you're getting into, and how difficult, and long, and deep it

goes, you might probably never do the first step. It's out of curiosity and foolishness that

you go there, but once you go there and you go for all these challenges, at one point you

see it's really worth it. But man, wow, it's not all easy! And the impact on the personal

level is a sense of being so, so, so grateful to exist, and to finally free myself from the

fears, and the tension, and the constant self-creating drama and misery, because I do

believe misery is mostly created by yourself for yourself, especially in our modern

occidental society. We are the engineers of our own misery, and to step out of this ... Oh,

gosh, thanks!

A: Thank you, thank you. In terms of set and setting, how do you usually prepare for your

psychedelic sessions or ceremonies?

D: Okay, so it widely depends. When I was a beginner, I used to prepare actually every

session really carefully, up to two weeks in advance, by gathering and feeling what was

just under the table, like what was the kind of issue in my life, and things burdening me,

and things I could already get to pick at something going on with my mother. I would

bring these things on the table and gather, okay there's these different topics, and I would

gather symbols that came in my life at that time, and also prepare a form of intention,

what kind of experience I wanted to go through. By putting all of this on the table, the

plants are really wise, and they will take all of this and make things clear, and solve the

puzzle for you, and you'd come out with not always what you want, but nearly always

what you need. Now I'm sometimes a bit more spontaneous with preparation, especially

for mushrooms which are a life form that grows in 2 or 3 days. Traditionally, you find

them, and you eat them, it's a really spontaneous kind of life form. Sometimes you: ah!

okay, now is the day and we do it, and voilà. Cactus is a less spontaneous life form, you

look at them grow for many years, and years, and years, and then you can prepare for

weeks before taking it, thinking I'm going to take San Pedro. No, then you need to cut it

and cook it, and then for the whole three days of cooking you think constantly about it so

you're preparing through a form of prayer. But I will say that just before the ceremony I

become more and more sober in the way I approach it, much, much less of this red carpet

and big trumpets, like they do in organized ceremonies with tons of prayers, and clothes,

and Shipibo patterns, and bla bla bla. I realize it has its whole, I see how it's working. But

for anyone that saw the Kumaré documentary, it is just a show, to trick ourselves into

something, and ultimately we can have a direct connection with the plant, that is just what

it is, you consume the things and you communicate with the plant directly with no need

of extravagance, but this being said let's not be foolish, I always have [unperceivable] a

really good environment like I'm in Nature alone, I don't have disturbance of people

coming judging me or bullshit around, and I'm not in any dangerous place or

whatever. The setting is always good, and the dosage, and the things I consume are also

always the perfect quality, kind of know what I'm taking. That's for sure.

A: Regarding some of the literature that I've been analysing, there's a lot of evidence,

though not scientifically proved data, that talks about spirits and the connection that these

specific plants open certain pathways or doorways to communicate with higher forms of

intelligence. How could you define it?

D: Hmm, this is a tricky one because there I have all kinds of ambivalent believes, where

I can entertain simultaneously the belief that all of this is just opening potential within

ourselves, that there is no higher form and bla bla bla, this higher forms are also illusion

within your mind, that makes it really practical because it allows you to have inner

dialogues with this intelligence part of you. That's kind of a reductivist point of view. And

131

then of course I have a part of me that is completely open, like there is a deep mystery

here, what the fuck is going on with these higher entities and life forms? Or inorganic life

forms, I will say ... And what was the question again? [laughs]

A: For example, putting it on a more practical level, during your experiences I believe

you've encountered these different types of entities ... What type of messages do they

provide? What is their meaning, their purpose?

D: Wow. Yes, many times they seem to provide a new understanding of the higher

structures of this reality and of human experience. Typically, these higher entities are, not

always, but they can be some kind of archetypes. And by directly encountering this

archetype, you see what role is playing, and how much is influencing the collective

consciousness, for example. That's one thing. Sometimes by encountering these entities

seems really challenging, and for these deeply challenging experiences, sometimes the

output is that I just find my own strength, or I experience my deepest fears or things like

this. So, this is what they sometimes do. But most of the time I'm actually not the guy that

operates much within the entity paradigms or those mega deals with spirits. I had my own

way, that it's a bit off-track, where most of the time I don't work directly with these

inorganic entities, I have another platform, which is hard to describe. So, the question is

half relevant for me.

A: And could you describe your method?

D: Well, [laughs] ... By not putting myself in any tradition, in any frame, I step out of the

belief of this fixed other entities we deal with. Like in Ayahuasca there will be all kinds

of hyperspace doctors and within the Ayahuasca energy field, in tradition, you can accede

to these entities and kind of achieve a certain healing. But my technique is just going out

of the frame, which is hard to describe how I'm doing this ... Actually, what I'm doing is

in the simplicity of sitting in Nature with the plants, and then things happen just by

themselves. Things just become clear, things unlocking me. It's actually just a really

personal way to do it, I'm not looking to any manual, any recipe, or how other people do

it, and I'm not a shaman, but I found a form of the shaman in me, or a higher self, or a

guidance within me, that just tells me how to walk on that path.

A: I see. Thank you very much for sharing. One last question, on a broader scale, in your

opinion, how could altered states of consciousness heal our planet?

D: Well, it's really two things we've already said that is: by reconnecting us to the

ecosystem, by healing our families’ histories, by generating a path of virtue, and getting

out of our self-loop, and addiction, and self-destructive patterns, by being grateful to be

alive, and stop living in constant fear and tensions. All of these together will bring us

eventually into a more loving community of human beings. It's one piece of the puzzle to

help the world change, and I do believe it's a really important one. And again, this is why

I decided to not go on the path of developing more technology, and working in the

industry, is because I felt that there were not enough people working on consciousness

itself. And that all these tools, and all this new technology we vow to change, and

consciousness is nearly worthless.

A: Well, thank you very much Dimitri. I don't have any more questions for you. Would

there be anything else that you would like to add spontaneously?

D: Well, no, that was an amazing interview [laughs], that was really great. Thank you,

thank you so much Alex.

132

Catarina

A: Boa tarde, Catarina. Agradeço imenso pela tua disponibilidade e pelo teu interesse em

participar na minha investigação. Antes de começarmos gostaria só de expor alguns dos

parâmetros éticos padronizados.

C: Boa tarde, sim, claro.

A: Ora, ao longo da entrevista se por algum motivo não quiseres responder a alguma

questão, ou se quiseres até parar por completo a entrevista, por favor diz-me e assim o

faremos, eu quero que te sintas o mais confortável possível. Queria também anunciar que

optei pelo anonimato, não havendo nenhum dado que ligar-se-á a ti, convidando-te assim

a estar o mais abertamente possível a responder a qualquer questão que te proponha, pois,

a tua identidade estará em segurança.

C: Ok.

A: Passando então para a primeira questão, eu gostaria que falasses um pouco sobre ti

própria, ou seja, a tua faixa etária, profissão, nacionalidade, género, aspetos que

consideres importantes na tua auto-caracterização.

C: Então, tenho 32 anos e sou do Porto. Morei fora 10 anos, morei na Índia quase 1 ano;

sou designer, trabalho com imagem e para mim a linguagem simbólica e visual é muito

importante, porque é isso que eu faço como profissão e é a linguagem com a qual eu me

expresso.

A: Catarina, gostaria de te fazer uma questão um pouco mais pessoal, como é que

definirias a tua relação familiar? Tanto quando eras mais pequenina com os teus pais,

como agora no presente.

C: Eu considero os meus pais incrivelmente amáveis e revolucionários dentro do contexto

cultural em que eles nasceram, que era no contexto de uma ditadura. A luta dos meus pais

foi contra a religião e contra o fascismo, e graças a isso eles deram-me um ambiente muito

saudável de livre crença, quase de mais até, mas o facto de não me terem imposto

nenhuma crença, foi uma coisa que eu acho que foi muito saudável na minha família e na

minha educação. Também me criou algumas ansiedades existenciais, porque a ausência

de religião ou a total ausência de uma noção mais cosmológica da vida, também me deu

alguma ansiedade. Então grande parte da minha busca na adolescência tem que ver com

muita superstição, muito fascínio pelo misticismo, e vem daí, de ter nascido com uma

página completamente em branco nesse aspeto da vida, que eu pude reescrever

completamente.

A: Ok, percebo. E como é que te vês a nível de ideologia política?

C: Esquerda completamente.

A: Poderias alargar um pouco acerca das tuas justificações, motivos, etc.?

C: Sim. Eu encaro o sistema político em que vivemos como completamente limitado e

com defeitos, como tudo, mas não acho que é algo descartável, vejo que o sistema político

é algo em construção, é algo em evolução, é algo recente, a democracia é uma coisa

jovem. Identifico-me completamente com a ideia do Socialismo, e acredito em

organizações sociais que cuidam das pessoas mais desprivilegiadas e mais desprotegidas

na sociedade, acho que tem de haver essa responsabilidade. E eu creio que existem

partidos e pessoas na política do nosso país que são muito interessantes e fazem um

excelente trabalho. Não sou militante de nenhum partido, mas voto sempre no mesmo

partido com o qual mais me identifico, que é o Bloco de Esquerda.

133

A: Ok, muito grato. Gostaria de te perguntar, quais são as tuas maiores preocupações em

relação ao presente contemporâneo e ao futuro vindouro?

C: A crise climática sem dúvida, é a coisa que mais me preocupa. Porque estamos numa

corrida contra o tempo, tendo menos de uma década para tomar as ações necessárias à

escala mundial, o que me parece quase impossível tendo em consideração tudo o que teria

de acontecer. O clima é a coisa que mais me preocupa neste momento porque o clima não

fala, não é uma pessoa, o planeta não tem uma voz própria para se defender dos

mecanismos que nós criamos para o destruir. Todos precisamos do planeta para viver,

todos os aspetos da vida dependem do planeta e da saúde do planeta, mas o planeta é

mudo, e por ser mudo parece que a sua voz nunca é ouvida, nunca entra nas

equações. Então é isso que mais me preocupa, não só pelas gerações futuras que vão

herdar uma situação muito difícil de se resolver, mas pela Natureza em si, pelos lugares

que estão a desaparecer, os animais que estão a desaparecer, são as coisas que mais me

fazem sofrer neste momento, aliás, há muitos anos.

A: Sim, é um duro sofrimento ... Catarina, tu pertences a algum movimento pro-

ambiental?

C: Pertencia quando morava em Londres, ao Extinction Rebellion, estava bastante

envolvida. Mas desde que estou em Portugal não pertenço a associação nenhuma.

A: Ok. E a nível pessoal que cuidados ou ações procuras ter para reduzir o teu próprio

impacto ambiental?

C: Tenho sempre noção do quê que é dispensável fazer, por exemplo, para mim é

dispensável fazer longas viagens de carro sozinha, porque acho que não se justifica, é

dispensável fazer muito lixo, comprar coisas com muito plástico, há montes de coisas

descartáveis que são dispensáveis e opto por não as usar nem comprar. Acho que a vida

fica muito mais bonita quando cuidamos das coisas e olhamos para elas numa condição

não descartável. A relação que eu tenho com os objetos é muito mais especial se eu cuido

deles e os limpo e os reutilizo e os reparo, é por aí que eu faço pequenas coisas, não sei

se fazem grande diferença, mas para mim na minha relação saudável com o mundo,

fazem.

A: E a nível de recursos como a água, a eletricidade, qual é a tua relação com eles?

C: Não acho que gaste muita água, tenho um apartamento no centro da cidade então não

tenho aquela relação mais off grid que gostaria de ter com a água, porque tenho uma coisa

muito mais sistemática, parece que já está escrito, não é, a maneira como se usa a água

aqui. Mas por exemplo, uma coisa que eu estou agora a fazer é mudar da EDP para a

Coopérnico, que é uma cooperativa de eletricidade, não é uma grande empresa, é uma

coisa que pertence aos cidadãos; tem-se de comprar algumas ações da Coopérnico para

começar, é ligeiramente mais barato que a EDP e a energia é maioritariamente solar, acho

que é completamente solar na verdade, e é muito mais sustentável, então estou neste

processo de transição.

A: Uau, desconhecia por completo a Coopérnico, vou investigar sobre isso.

Catarina, por semana em média quanto tempo passas em ambientes naturais?

C: No Verão passo muito mais tempo, no Inverno menos por causa do mau tempo, mas

no máximo de 3 em 3 dias tenho de fazer um passeio grande pela Natureza, assim uma

tarde ou até um dia inteiro. Normalmente vou ao meu sítio favorito aqui na zona que é o

Castro de São Paio, é uma praia que eu acho super mágica. Para mim tem uma energia

ancestral muito forte, é muito bonito, há marcas de runas nas rochas e há marcas de lanças

134

e de armas, é um sítio que eu adoro, é mesmo bonito, é em Leça do Balio, que é onde eu

costumo ir para fazer esse reset.

A: E gostarias de aumentar esse tempo?

C: Sim, gostaria.

A: E como é que te sentes nessa altura quando estás imersa pela Natureza?

C: Eu sinto que a Natureza me dá uma capacidade de perspetiva que eu não tenho quando

passo muito tempo na cidade. Sinto que a Natureza me ajuda imenso a expandir as minhas

ideias e a vê-las com um bocadinho de visão de águia. Normalmente quando entro

naqueles loops mentais e parece que estou demasiado focada em pequenos detalhes

insignificantes da vida, sei que se for para a Natureza que consigo ganhar perspetiva e vê-

los de fora. A Natureza também me faz sentir pequena, mas com esse encolhimento os

meus pequenos problemas desaparecem. A Natureza na minha vida é a manifestação do

sagrado e do divino, e é aquilo que me faz sentir que é algo muito maior do que eu, que é

uma fonte inesgotável de mistério, de estudo e de pesquisa; sendo também uma enorme

fonte de inspiração.

A: Que belo! Catarina, sentes-te conectada aos outros organismos deste planeta?

C: Super!

A: De que forma? Poderias alargar?

C: Como mulher sinto-me muito conectada à ideia de ciclos, e para mim é muito visível

que a Natureza tem ciclos; imensos ciclos de vida e de morte, de timidez e expansão, de

hibernação e explosões de beleza. E eu sinto-me muito parecida com a Natureza nesse

aspeto, também tenho os meus ciclos em que me sinto mais tímida ou mais preguiçosa,

ou mais expansiva, ou mais curiosa, neste aspeto sinto-me muito ligada à Natureza.

A: Incrível! Gostaria também de te perguntar se efetuas regularmente algum tipo de

prática espiritual? Como por exemplo yoga, meditação, rezo, jejum, dança, tambor,

qualquer tipo de prática.

C: A dança para mim é muito ritualística. Eu diria que sim, mas para mim é muito difícil

de o catalogar porque sou muito caótica na maneira como o faço, tanto posso sentir que

estou nesse flow, de ter apanhado um autocarro diferente e estar num sítio novo ... Há

algo na realidade que me mostra certas coisas que me fazem sentir agarrada à vida ...

como posso ir a algum lado e uma certa música mais especial me transporta para esse

lugar, deixo-me ir muito no caos da vida e normalmente sou surpreendida por esses

momentos, e não sou eu que os crio, se é que isto faz sentido. Mas é claro, depois também

há a necessidade de ter alguns métodos. Tenho o Tarot, eu herdei 40 baralhos de Tarot e

então por causa disso estudo o Tarot. O Tarot é uma coisa que me ajuda a tecer narrativas

com imagens, tendo algum tipo de efeito na minha cabeça, é um utensílio que me

transporta para o meu centro.

A: E para além da dança e do Tarot, nem que seja esporadicamente, efetuas mais algum

tipo de prática?

C: Eu pratiquei durante algum tempo Kundalini Yoga, mas guardo ressentimentos em

relação ao guru, à pessoa que traz o Kundalini Yoga para o Ocidente, que é o Yogi Bhajan.

Tenho alguns problemas com essa figura e também tenho vários problemas éticos com o

lado institucional do Kundalini Yoga. Por causa disso não me sinto 100% ligada àquela

prática, mas pratico-a. Espero agora conseguir ir a um retiro de Vipassana. E faço

135

meditação assim muito freestyle, procuro uma coisa ou outra, não sou uma pessoa com

grandes regras.

A: Ok. E como é que te sentes durante a realização das tuas práticas espirituais? No exato

momento em que ela está a decorrer, qual é a sensação?

C: Reorganização. É também um processo de simplificação da minha cabeça e das

minhas experiências. É uma pausa, um momento de vazio, que funciona mais ou menos

como uma limpeza.

A: E nos dias seguintes, como te sentes após efetuares essas práticas? E como te sentes

caso não efetues nenhuma dessas práticas?

C: Se eu não tenho essa prática, se eu não tenho esses pequenos rituais, eu sinto que tenho

muito mais tendência para o pensamento neurótico. Sou transportada muito mais

facilmente para reações de reação em que respondo impulsivamente, não sou

ponderada. Tenho muito mais dificuldade em concentrar-me e ter um dia planeado, isto

é, sou muito mais vulnerável a imprevistos e desconcentrações, não sou muito produtiva.

Ao passo que quando eu medito e faço essas coisas que me levam para o meu lugar, sinto

que tenho muito mais capacidade de aproveitar o dia e conduzir o tempo de uma maneira

mais enriquecedora.

A: Formidável. Já abordámos este tema assim por alto, mas gostaria de alargá-lo um

bocado. Tu és crente? Ou és adepta de alguma religião em específico?

C: Sou super crente e sempre bebi de todas as religiões. Todas as religiões são buscas

válidas para responder às mesmas perguntas, que são perguntas universais, então todas as

religiões têm algo de válido e de importante. Mas não sigo nenhuma prática religiosa

especificamente. Isto é, não sou cristã apesar de gostar dos ensinamentos de Jesus Cristo,

não tenho esse contexto religioso na minha educação que me faça sentir em ter um

caminho sólido nessa religião em específico. Simpatizo enormemente com os

ensinamentos budistas, e sinto uma enorme afinidade com a filosofia oriental, como o

hinduísmo e a filosofia yogica, já aprendi muito nesses caminhos.

A: Compreendo. Catarina, estás familiarizada com estados alterados de consciência? Se

sim, como é que os poderias definir?

C: Sim. Eu tive espontaneamente uma experiência que eu mais tarde aprendi a designar

de Kundalini Awakening, porque assim me pareceu mais saudável, isto aconteceu numa

fase da minha da minha vida em que praticava muita meditação de uma forma um pouco

caótica de mais. Mas também poderia apelidá-lo de surto psicótico, exceto que não tive o

lado mais prejudicial e danoso que normalmente se associa aos surtos psicóticos; pode-

se dizer que é algo mais especial que uma epifania. Tive uma experiência espontânea de

estados alterados de consciência na qual eu senti que o mundo era perfeito, onde eu tinha

um papel absolutamente ideal dentro desse esquema alargado, via e sentia que tudo estava

interligado. Via que a realidade não tinha erros nem imperfeições, tudo fazia parte de uma

rede ultra complexa de acontecimentos absolutamente perfeitos. A minha perceção visual

também era diferente daquilo que é normalmente, isto é, eu conseguia ver ondas de

energia e conseguia ver uma espécie de grelha que emanava uma enorme energia de amor,

digamos que essa grelha era uma espécie de tecido da realidade.

A: Uau! Quanto tempo é que essa experiência durou?

C: Durou mais ou menos 5 dias, nos quais estive sempre em casa. Eu senti que não podia

falar disso com ninguém porque sentia que as pessoas poderiam ficar muito assustadas e

levar-me para um hospital psiquiátrico, ou convencer-me de que estava maluca, e se

136

calhar até estava mesmo. Mas eu consegui conduzir a situação de uma maneira muito

saudável e muito calma até sair dela. Falei com a minha melhor amiga, que é muito

sensível e também está familiarizada com estados alterados de consciência, e ela percebeu

exatamente pelo que eu estava a passar e foi me ligando de vez em quando para ver se eu

estava bem. Tive cerca de 5 dias super bonitos em minha casa, num estado de catarse

permanente, chorei muito. Mas não eram lágrimas de tristeza, era simplesmente uma

enorme descarga emocional. Sentia que não podia ir à rua devido à enorme sensibilidade

em que me encontrava, que iria conseguir sentir demasiadamente as emoções e os

pensamentos das outras pessoas, então não conseguia estar próxima de nenhum ser

humano nessa fase. Mas fiquei a observar as pessoas na rua, e do lado da minha varanda

é só jardins, então eu tive altos diálogos com as plantas onde percebi que existiam outras

formas de consciência, nomeadamente a consciência vegetal. Então foi assim uma fase

mesmo muito incrível. Para além disso, eu costumo tomar algumas coisas que me

provocam estados alterados de consciência, que eu considero como experiências pessoais

super saudáveis. Eu gosto muito de cogumelos mágicos, e esporadicamente, mais

raramente, um bocadinho de DMT, mas cogumelos mágicos são mesmo a minha

medicina de eleição.

A: Uau, muito obrigado. Para além dos cogumelos mágicos e do DMT, existe alguma

outra substância com a qual já tenhas entrado em contacto ou simplesmente

experienciado?

C: Sim, aos 27 anos eu fiz a minha primeira cerimónia de Ayahuasca, depois mais ou

menos de ano a ano ou de dois em dois anos, voltei a fazer mais, acho que no total fiz 3

cerimónias de Ayahuasca. Fiz uma cerimónia de São Pedro, e acho que é tudo.

A: Se juntarmos todas as tuas viagens de todas as substâncias/medicinas, poderias

mencionar um número total assim por alto?

C: Talvez umas 50 vezes.

A: Ok. E o que te levou a experimentar esse tipo de substâncias?

C: O Kundalini Awakening que eu tive, que me aconteceu espontaneamente, eu só o

consegui contextualizar e integrar verdadeiramente através da sabedoria e compreensão

das medicinas vegetais. Sendo que eu não tenho um caminho religioso, as experiências

que eu tive nestes estados alterados de consciência contribuíram com ideias basilares na

minha maneira de encarar a realidade.

A: Que tipo de mudanças é que ocorreram na tua vida depois de descobrires os estados

alterados de consciência? Sobretudo a nível comportamental e de personalidade.

C: Sem dúvida que me tornei uma pessoa muito mais tolerante, com maior capacidade de

relativizar as coisas e uma maior capacidade de aceitação da realidade do que tinhas antes.

A: Há pouco mencionaste que durante o teu Kundalini Awakening conseguiste conectar

com a inteligência/consciência das plantas. Gostaria de te perguntar qual foi a influência,

quer dessa experiência em particular, quer das experiências que se seguiram com as

medicinas vegetais, na tua perceção da Natureza e do Meio Ambiente?

C: Percebi que a inteligência e a consciência não é exclusiva dos Humanos, que a forma

como as plantas se posicionam, se direcionam e se movem em direção à luz e ao sol é

consciente. Algo que dialoga muito comigo são os padrões da Natureza, ou seja, a

criatividade visual da Natureza para mim é altamente inspiradora. Eu já tive experiências

tão profundas com estas medicinas que eu jamais me consideraria autora das informações

137

que eu recebi aquando nesses estados; eu sinto mesmo que é um diálogo com formas

elevadíssimas da realidade não observável.

A: É como se fossem espíritos conscientes, certo?

C: Sim, sem dúvida.

A: Na tua visão, qual seria a conexão entre a espiritualidade e a Natureza? Como é que

ambas se poderiam entrelaçar?

C: Eu acho que a Natureza espelha a base da experiência Humana, ou seja, a experiência

da morte, da decomposição, a experiência da sombra, a experiência da luz, acho que todos

esses reflexos advêm da Natureza. Eu diria que os estados mais elevados da experiência

Humana, como por exemplo a expressão da criatividade, é também algo que acontece na

Natureza. Não considero a vida Humana algo externo à Natureza, nós também somos

Natureza, estamos sempre em paralelo diálogo. Os nossos conflitos internos, tal como as

nossas maiores vontades e desejos, proveem da Natureza. A reprodução, o sexo, a

sedução, são tudo coisas naturais. Espiritualidade pode querer dizer muita coisa ..., mas a

espiritualidade que eu considero trata-se de uma forma de elevação da consciência,

ligando-se à Natureza pela expressão de locais naturais que são autênticos templos. Há

lugares na Natureza que são mais especiais do que outros, há certos locais que são

autênticos santuários, como é o caso do Gerês no nosso país.

A: Voltando um pouco atrás, em relação às experiências com as medicinas vegetais.

Gostaria de perguntar em que tipo contexto, ou seja, set & setting, é que costumam

decorrer as tuas sessões?

C: Eu só tomo medicinas quando sinto uma enorme coragem e disposição para o fazer.

Para mim é muito importante sentir esse forte impulso e desejo de o fazer para que a

experiência corra bem. Nunca o faço em espaços fechados, faço-o sempre na Natureza,

salvo raras exceções. Quando o faço em casa, limpo a minha casa impecavelmente, ponho

a minha casa bonita, tento transformar a minha casa numa espécie de templo, onde não

há desarrumação nem objetos pelo caminho, onde o ar circule e haja espaço para deitar,

tem que haver conforto. Além dessa preparação do espaço, que pode ser preparar a minha

casa ou ir para a Natureza, que eu considero muito mais importante e muito mais especial,

também há o lado da preparação mental, só parto para essas aventuras quando me sinto

emocionalmente bem.

A: Incrível, muito sensato. Passando para a última questão, qual seria a conexão ou

explicação entre estas substâncias/medicinas e a espiritualidade em si?

C: Isso para mim é um grande mistério, porque para mim é absolutamente bizarro o quão

obscuras estas coisas parecem ser. Estas experiências são tão fortes e tão profundas que

eu acho chocante o quão raras, obscuras e marginalizadas elas são pela

sociedade. Mesmo historicamente, acho bizarro a sua ausência no desenvolvimento dos

seres humanos.

A: Sim, há vários relatos e estudos que indicam e/ou sugerem a sua presença ao longo da

nossa evolução, só que com o tempo foram postas de parte e/ou adulteradas ao longo da

nossa História. É que nos regemos muito pelos registos históricos ocidentais,

maioritariamente da Europa, mas quando passamos para outros continentes, destacando-

se a América do Sul, observamos que há várias tribos que ainda mantêm essa tradição

bem viva e congruente.

C: Sem dúvida que há um enorme estigma em cima destas substâncias/medicinas. E eu

acho muito injusto porque para mim são experiências válidas, profundas, saudáveis,

138

aumentam a conexão das pessoas à Natureza e à realidade, dão outra dimensão e outra

profundidade às relações humanas. Acho que são poços de sabedoria fortíssimos, não

deveriam ser estigmatizados nem proibidos ... há quem ponha isto numa caixinha de

maluquinhos, pessoas com uma espiritualidade bué oca, acho muito injusto esta

catalogação.

A: Sim, a ver se com o devido trabalho se consegue informar acertadamente o público

geral.

C: Eu espero que sim.

A: E pronto é isso, quer direta quer indiretamente já me respondeste a todas as questões.

Contudo se quiseres fazer em suma um pequeno resumo direcionado à possível correlação

entre estados alterados de consciência e preservação ambiental, seria muito bem-vindo.

C: O facto de nós nascermos em cidades, afastados da Natureza, com luzes elétricas,

estamos desde nascença muito condicionados para um afastamento em relação ao mundo

natural. Contudo precisamos desses ciclos naturais e de encaixar neles; saudáveis padrões

de sono, de pensamento, de repouso, de atividade, de recriação, de reprodução, são

essenciais para o nosso bem-estar. Nós nascemos muito condicionados para um

afastamento em relação à Natureza, e as medicinas naturais são mesmo uma ponte de

salvação que nos reconecta àquilo que nós somos, e nós somos Natureza, estamos

programados para um diálogo com a Natureza. Mas todos os dias somos forçados a

encaixar em horários e ritmos de produtividade artificiais, numa fugaz e fatigante

tentativa de nos enquadrarmos no funcionamento da sociedade. Considero as medicinas

absolutamente relevantes neste momento contemporâneo de total separação da Natureza

e ausência de noção do sagrado no nosso dia-a-dia.

A: Incrível, que belas palavras. Catarina, agradeço imenso pela tua participação e pelo

teu contributo.

C: Não tens de quê, eu é que agradeço pelo convite.

A: Pois bem, não tomarei mais do teu tempo. Desejo-te o resto de um excelente dia e até

uma próxima.

C: Até uma próxima Alex, tudo de bom.

139

Diana

A: Bom dia.

D: Bom dia.

A: Diana tu demonstraste algum interesse em participar nesta minha investigação.

Gostaria de te perguntar se hoje estás-te a sentir confortável e se queres mesmo perseguir?

D: Sim, estou super tranquila.

A: Perfeito, ao longo desta entrevista se houver alguma questão que tu não queiras

responder ou não te sintas tão confortável, por favor não hesites em me dizer, podemos

saltar para a próxima questão ou até mesmo parar a entrevista se assim o for necessário.

D: Combinado.

A: Por questões éticas eu irei respeitar a confidencialidade das pessoas, então podemos

falar abertamente de tudo o que te sentires confortável para isso e o teu nome não será

divulgado nesta investigação.

D: Uhum, ok.

A: Nesse caso a minha primeira questão será: fala um pouco sobre ti própria, como por

exemplo a tua faixa etária, profissão, nacionalidade, género, orientação sexual, etc.

define-te.

D: Então, eu tenho 33 anos neste momento, chamo-me Diana e nasci em Portugal, sou

natural de Barcelos e sou professora de Yoga. Claro que o meu percurso não foi logo

definido no início, mas pouco-a-pouco fui descobrindo mais qual seria o meu percurso, e

estou mais alinhada agora comigo mesma desde que decidi realmente alinhar-me com as

aulas de yoga e outras coisas relacionadas com o bem-estar e desenvolvimento pessoal.

Neste momento também tenho interesse em informar-me em fisioterapia, tudo assim

alinhado para o bem-estar físico e pessoal. Entretanto também mudei-me para Lisboa e

por lá devo ficar mais uns tempos. A nível de orientação sexual sou hétero.

A: Muito interessante. Como sabes, esta investigação está-se a focar nos estados alterados

de consciência; basicamente o que eu estou a tentar perceber é se estes estados alterados

de consciência, que podem ser atingidos a partir de inúmeras formas e métodos, qual será

a sua relação com o bem-estar e sobretudo com a Natureza, como é que a partir destes

estados nos conseguimos conectar e reconectar com a Natureza em geral.

Vasta parte da literatura que eu tenho analisado tem indicado que a meditação, o yoga, e

práticas mais holísticas, realmente nos conseguem levar para estados de consciência

alterados e diferentes da realidade ordinária … Qual seria a tua opinião sobre isso? Qual

a influência da tua prática pessoal nesta área?

D: Sem dúvida que meditação, yoga, rituais e outras práticas relacionadas com o bem-

estar pessoal e desenvolvimento da consciência, ajuda imenso em tudo na nossa vida

praticamente; sempre que medito eu consigo orientar-me muito melhor no meu dia, a

organizar as ideias, a focar-me numa coisa de cada vez, em vez de estar na confusão de

mil e uma coisas ao mesmo tempo, como normalmente acontece se a pessoa não medita,

não se foca. Sempre que eu não meditava acontecia o inverso, sair de casa a correr com

pressa, chegava aos sítios em cima da hora ou atrasada, por vezes as ideias não estavam

no sítio, andava com muitos pensamentos ao mesmo tempo, e sim faz muita diferença se

houver uma rotina. Claro que as diferenças vêem-se numa pessoa que medita

regularmente e uma pessoa que medita uma vez ou duas de vez em quando. Se houver

uma rotina, sim acredito que a pessoa possa realmente modificar a sua vida; e altera sem

140

dúvida o estado da nossa consciência, a atenção, o foco, tudo isso. Assim como a prática

de Yoga, e a meditação também faz parte da prática de yoga, e incluídas, as duas

complementadas, acho que é uma das ferramentas mais poderosas que nós temos para nos

conseguirmos desenvolver como pessoas e melhorar a nossa performance a todos os

níveis, sem dúvida. Na prática de yoga temos os resultados mais visíveis a nível físico no

início, para quem está a iniciar ou para quem nunca praticou, e pouco a pouco,

gradualmente, vai começando a ter também resultados a nível da consciência, do estado

emocional, a forma como interage com a própria vida, como interage com outras

pessoas. E sim é fantástico, temos todos a ganhar com essas práticas, conexão com a

Natureza, está tudo interligado a meu ver.

A: Que bom, que bom. Sendo que és professora de Yoga, e como acabaste de referir, as

primeiras mudanças ocorrem a nível físico, na tua opinião como é que funciona esta

influência e congruência entre o bem-estar físico que depois se espelha no bem-estar

mental e espiritual?

D: Isso às vezes pode variar de pessoa para pessoa, há pessoas que são mais ligadas à sua

consciência. Os benefícios e os resultados, antes de passar para o físico começam já a

nível espiritual. Mas acredito que na maior parte das pessoas que não estão tão

conectadas, que comecem a sentir os primeiros sintomas a nível físico. Em relação a como

é que a pessoa se sente, seria um apaziguar das suas emoções mais tóxicas, por exemplo

se a pessoa sente raiva ou sente medos, nós trabalhamos muito isso, a pessoa com a prática

regular consegue libertar-se de medos, de tensões, de raivas, também de mágoas e aprende

aos poucos a perdoar-se, a perdoar os outros, e é um exercício também, está interligado.

Ou seja, a pessoa não consegue separar o físico do mental e do espiritual; mental neste

caso é uma passagem entre os dois, não quero bem dizer que é mental porque é muito

mais do que isso. A nossa mente sim, nós estamos a treinar a mente para que consigamos

reduzir a instabilidade mental, o fluxo de pensamentos em constante movimento, a

observação do exterior, estamos sempre em pensamentos, mesmo a fantasiar, etc. Mas o

mais importante é a passagem do corpo, das emoções do corpo, para o espiritual. Neste

caso, trabalhando o corpo com yoga e depois a meditação, são duas ferramentas

fantásticas para conseguirmos chegar aí, e sem dúvida que a parte espiritual é a parte mais

importante. É um processo que começa gradualmente e vamos depois cada vez mais

conseguindo desenvolver.

A: Uau, que bonito. Gostaria de te perguntar, és crente de alguma religião? Ou mesmo

que não seja religião, se acreditas em algo superior e como é que o poderias explicar.

D: Na verdade, eu cresci numa família religiosa, cristã, neste caso católica. Quando era

criança eu sentia e acreditava já, sempre acreditei em algo divino, algo superior, uma

energia; mas tudo aquilo que me passavam da religião não me fazia muito sentido porque

havia muitas contradições, muita coisa que não batia certo e que não ressoava cá dentro,

por isso não me considero religiosa nesse sentido. Mas estudando outras filosofias, mais

ancestrais, há um historial, pelo menos todas as civilizações acreditavam em deuses ou

um Deus, e eu acredito sim que há algo superior, mesmo até Deus ou deuses. Não acredito

numa verdade absoluta, mas acredito que o universo é aquilo que nos alimenta e que nos

sustém. Acredito numa energia universal, uma energia divina, que está e faz parte de cada

um de nós. Cada um de nós tem uma pequena parte dessa energia, e sim podemo-nos

considerar também fazendo parte desse todo, desse cosmos, desse universo que é essa

energia divina.

A: Incrível, fascinante! Ao longo da tua vida, quer através da prática da yoga, quer não,

quer espontaneamente, pode ser a partir de alguma outra forma ... Já vivenciaste uma

141

experiência mística? Isto é, uma experiência subjetiva onde entraste em contacto com

alguma espécie de consciência ou entidade superior/espiritual ...

D: Assim que eu me recorde, quando estou lúcida, quando estou acordada, só em umas

pequenas frações de segundos quando estou a meditar, aí sim sinto uma grande conexão

com algo muito superior, talvez seja a minha própria consciência ou talvez seja algo mais.

Entretanto quando era mais pequenina, em criança, sim já tive algumas experiências em

sonhos que me faziam pelo menos sentir essas energias, mesmo seres que podiam ser

anjos ou algo do género. Acredito também que existam anjos e possivelmente seriam

anjos nos sonhos.

A: Uau, que incrível. E lembras-te ou conseguires mencionar, por exemplo esses anjos,

que tipos de mensagens e ensinamentos eles te passavam?

D: Na altura era mais para me acalmar, seria mais uma mensagem de luz, de confiar em

mim, que eu tinha algumas crises de falta de confiança, falta de autoestima, porque era

muito tímida, muito calada. E as pessoas por vezes gozavam comigo, brincavam, era tipo

bullying na escola, e então eu ficava triste e por vezes tinha esses sonhos. E esses sonhos

acredito que fossem mensagens do divino, dos anjos, para eu não deixar de acreditar em

mim, que eu estava certa, que não estava errada, então acredito que tenha sido por aí, algo

do género.

A: Voltando ligeiramente atrás, como definirias a tua relação familiar?

D: Uma pergunta um pouco difícil [risos] ... Sempre achei que nunca me enquadrei muito

na minha família, sempre achei que era bem diferente dos meus pais principalmente. Dos

meus irmãos, tenho três irmãos, uma delas é a minha irmã mais velha, também nunca me

encaixei com ela; tenho dois irmãos que aí sim já temos mais parecenças a nível de

crenças, de filosofia, também de valores. Com quem eu mais me encaixo é com o meu

irmão mais velho, que sempre me ajudou em tudo, e todas as coisas que eu desenvolvi

também foi ele que as começou, e eu ao observá-lo, inspirava-me. Como já estava dentro

de mim, já eu tinha esse interesse, essa vontade de aprender mais, de me tornar numa

pessoa melhor. Ele sempre me ajudou e sempre me inspirou, mesmo em livros, ele tinha

vários livros que eu começava a ler quando era mais nova, e sempre fui desenvolvendo

assim uma espiritualidade grande. Com os meus pais já não havia essa conexão, eu

fechava-me muito, porque como eu não podia falar com eles de nada praticamente, então

éramos um pouco como se fossemos estranhos. Eu gostava deles como é óbvio, e gosto,

da minha mãe neste caso agora, só que nunca houve aquele afeto próximo, aquele carinho,

aquele à-vontade para estarmos a falar uns com os outros de tudo. Nunca falamos assim

de grandes coisas, só pequenas coisas do dia-a-dia, mais sobre os estudos ou profissão,

etc. Mas assim a nível mais profundo, espiritual, ou mesmo a nível sexual, nunca houve

assim conversas com eles. Então lá está, a minha adolescência foi passada mais a ler

livros, a observar, a estudar eu própria, a ver as minhas reações, os meus sentimentos. Foi

um processo longo, não digo que tenha sido mau, por acaso não foi mau, podia ter sido

pior, porque sem o apoio dos pais por vezes é difícil, às vezes eu sentia-me sozinha

claro; mas pouco a pouco fui me habituando e quando cresci comecei a perceber que eles

deram o seu melhor, não os culpo por nada.

A: Obrigado pela tua partilha. Gostaria também de te perguntar sobre a tua ideologia

política … quais são as tuas perspetivas a esse nível?

D: Quando era mais nova odiava política [risos], nunca gostei, agora também não ligo

muito, mas claro que me interesso e é um assunto importante porque no fundo afeta a

todos nós. Claro que não estou 100% de acordo com a forma que as coisas estão agora a

142

nível político, podia haver mudanças boas; entretanto isso também cabe a cada um de nós

de tomar essa iniciativa e coragem para mostrarmos mais, ter aquilo que é nosso por

direito; só que sozinhos não conseguimos tanto. Seria bom as pessoas começarem a dar

mais valor a esses assuntos, e sim juntarem-se, fazerem grupos, mesmo até algumas

manifestações, mas de outra forma penso que a política neste momento não está a

favorecer as pessoas, é um assunto complicado, não sei bem como explicar. Na minha

opinião poderia haver sim política, como está alguém a gerir, mas de uma outra forma,

de uma forma mais sustentável que ajudasse as pessoas realmente, da raiz e não

superficialmente. Dar de um lado e a tirar do outro, a enganar as pessoas por vezes, isso

aí eu acho que é uma falta de ética e é errado. Acho que podia haver mais solidariedade

entre todos, mais agir em comunidade pro-bem e em prol de todos.

A: Acho que há várias pessoas que concordam contigo, desta forma que tem de haver

mudanças de uma forma rápida. Quais seriam as tuas maiores preocupações em relação

ao presente e ao futuro também?

D: As preocupações são que realmente essas pessoas que controlam, os governos, os

bancos, etc. comecem as colocar leis ou outras coisas mais absurdas para prejudicar as

pessoas. Porque as pessoas mal têm para sobreviver e se começarem a pôr mais impostos,

mais leis absurdas que não fazem sentido ... Por falar em leis, sou contra muitas leis que

estão aí porque não fazem sentido nenhum, eu sei que o estado tem que ter dinheiro para

pagar as reformas, para pagar outras coisas, mas já existem mil e uma formas de eles

terem dinheiro. Depois vê-se roubos das pessoas que estão lá a trabalhar, roubaram não

sei quantos milhões e fugiram, coisas do gênero. Por isso acho que não haveria

necessidade de serem tantas as formas de irem buscar dinheiro às pessoas, podia haver só

uma ou outra para terem algum dinheiro para as pessoas que precisam de um apoio. Mas

também acho errado as pessoas que têm uma casa e/ou um terreno, imagina compraram

um terreno, fizeram uma casa, mas depois a casa nunca é delas porque têm que estar

sempre a pagar ao estado todos os anos o IMI, e se não pagarem o estado vem buscar a

casa, porque afinal a pessoa não tem um espaço seu neste mundo, neste planeta, e isso eu

acho horrível, acho mal e não faz sentido. Desde que eu me conheço como pessoa, sempre

que eu ouvia os meus pais a falarem - Ah temos que pagar os impostos da casa! - e eu

virava-me para eles - Porquê? A casa não é nossa? - e isso dá que pensar. As pessoas

estão controladas e as pessoas não são livres e isso para mim é revoltante, não faz um

mínimo sentido, acho que todos nós temos o direito de sermos livres, termos a nossa

liberdade e também de escolhermos onde queremos estar. Por vezes nós não gostamos ou

não nos enquadramos num sítio, porque não irmos para outro lugar que nos faz mais

sentido?

A: E de que forma é que acreditas que poderíamos alcançar essa maior liberdade?

D: Uma das formas seria as pessoas juntarem-se numa comunidade com interesses em

comum, claro que não funciona se as pessoas não tiverem grandes coisas em comum, se

forem de filosofias diferentes, mas se se juntarem pessoas com interesses em

sustentabilidade, em entreajuda, acho que é um bom começo. Tentarmos também aos

poucos lutar mais pelos nossos direitos, tentar quebrar pelo menos algumas dessas leis

que não fazem menor sentido, que é só para controlar a população e escravizar neste caso.

Muitas alturas da minha vida eu sentia-me uma escrava, mesmo escrava, porque tinha que

trabalhar dia e noite para ter dinheiro para pagar as contas e depois não ter vida, então

nem conseguia fazer nada do que eu gostava. Sempre tive uma grande propensão para

artes e para criar, e isso a mim, se eu não fizer nada disso começo a ficar triste, começo a

ficar em baixo. Havia alturas da minha vida que eu não conseguia, tinha que lutar, tinha

que ter dinheiro para pagar as coisas, um trabalho que não gostava, fazia coisas que não

143

eram ligadas à minha essência, à minha personalidade, alinhadas com o meu propósito. E

então desgastava a energia toda, não fazia nada e não vivia. Acho que muitas pessoas,

uma grande parte da população deve se sentir como escrava(s). Portanto uma das coisas

que seria fantástica, que seria bom para começar a mudar o mundo, era pelo menos que

cada pessoa tivesse o seu próprio sustento, podia ser um apoio obrigatório, toda a gente

poderia ter um pequeno apoio para pelo menos conseguir sobreviver. Depois o resto a

pessoa escolhia se queria fazer mais, se queria fazer menos, se queria criar arte, se queria

fazer outra coisa, então seria fantástico se toda a gente tivesse direito a um sustento

mínimo de sobrevivência, seria tudo muito mais fácil.

A: Um fundo de criatividade, realmente seria perfeito viver numa sociedade assim. Em

relação a esta distopia em que as pessoas se encontram, muito desconectadas de si

próprias devido a essas rotinas de trabalho muito intensas; uma larga percentagem de

literatura aponta que as pessoas quando entram neste tipo de ciclos também se

desconectam muito da Natureza. Poderias dar a tua opinião sobre este assunto? Como é

que o ambiente natural ou a Natureza por si, poderia ajudar este tipo de pessoas?

D: Com certeza que poderia ajudar a todos os níveis, basta respirarem fundo, observarem

a vida a acontecer. Porque por vezes as pessoas desconectam-se, para já porque não estão

focadas nelas próprias, estão só focadas no stress, tanta coisa para gerir, para fazer no dia,

sobrecarga de tarefas e de trabalho, e isso claro que gera muito stress e ansiedade, porque

elas não estão a fazer nada que as faça vibrar, que as faça felizes. Por vezes até há pessoas

que trabalham muito e são felizes, mas estamos a falar das pessoas que estão mais

fechadas num centro de trabalho e na cidade. Neste caso, obviamente que basta um

pequeno passeio no jardim, ou praia, ou algo do género. Toda a gente que eu conheço e

toda a gente que fala sobre isso, quando saem e dão uma volta, nem que seja à beira-mar

só para ouvir as ondas do mar, ou um passeio no jardim a ouvir os passarinhos cantar,

parece que é automático, desliga-nos logo do stress, dos pensamentos, daquela ansiedade

toda, porque a Natureza é isso mesmo, é um estado puro, é um estado com uma vibração

mais elevada, e nós automaticamente quando entramos nesses locais, a nossa vibração

muda. É como uma egrégora, quando estamos no meio de uma cidade, a egrégora - a

energia dessa cidade - é caos, confusão, assim uma energia densa; quando saímos desse

meio, a energia é completamente diferente e o nosso corpo muda também com ela. E sim,

a Natureza faz parte de nós e nós fazemos parte dela, não nos podemos desligar dela, o

planeta Terra que chamamos de Mãe-Terra é aquilo que cria a vida, se nos desconectamos

disso estamos desconectados de nós próprios e de tudo o resto. Por isso mesmo que

começamos a ficar mais doentes, mais stressados, com doenças mentais e psicológicas,

etc.

A: Sim, realmente a Natureza é maravilhosa a esse nível. Uma questão um pouco mais

subjetiva, para ti o que significa a Natureza?

D: A Natureza para mim significa vida, significa tudo. Eu que sempre cresci no meio

rural, numa aldeia, eu aprendi a viver na Natureza, e podemos ter tudo o que nós

precisamos para viver bem e saudáveis na Natureza. Acho que não há nada melhor do

que estarmos conectados com ela. A Natureza é vida, é medicina, é saúde, é a nossa casa,

eu costumo dizer que a Natureza é a minha casa e então sempre a vou proteger, e sinto-

me sempre feliz. Até há um pequeno exemplo de agora recentemente, com esta paragem

e redução de trabalho devido ao vírus que estamos a ultrapassar neste momento; eu já

tinha um trabalho que gosto, mas era na cidade, e não tinha assim tanto tempo para me

conectar com a Natureza, tinha menos tempo com o stress da cidade. Quando voltei aqui

para a minha casa do Norte a primeira coisa que fiz foi estar sozinha na Natureza, e

vieram-me as lágrimas aos olhos, porque há um sítio muito especial aqui perto da minha

144

casa. Eu cresci aqui e ia para lá quando queria meditar ou estar sozinha, e a conexão com

as pedras é uma coisa incrível, não sei bem explicar por palavras. Mas só o facto de eu

estar sentada numa daquelas pedras antigas, rochedos grandes, e estar a ver o pôr do sol

no meio das árvores, sozinha a ouvir os sons dos animais e do vento, só isso foi um

processo de cura tão grande que não sei bem explicar. Natureza é pureza, é cura,

simplesmente é vida.

A: Então para ti realmente existe uma conexão entre a espiritualidade e a Natureza, existe

algo de divino na Natureza ...

D: Sim, sim, sim, eu acho que a Natureza é pura divindade, as plantas, as árvores,

podemos sentir o mesmo com as pedras e os cristais; sinto uma grande vibração quando

estou em locais pouco frequentados por pessoas. Também temos que fazer a distinção dos

jardins públicos no meio da cidade - têm árvores, têm flores e plantas - mas não é a mesma

coisa do que estar num local pouco frequentado ou que não vá lá quase ninguém. Esses

locais são locais sagrados para mim porque realmente a energia sente-se de longe quando

uma pessoa se aproxima desses locais. Está tudo em harmonia, está tudo puro, é como se

a pessoa fosse banhada por essa pureza, essa espiritualidade. Esses locais são excelentes

para quem quer meditar, mesmo para fazer algumas práticas a nível físico como yoga, ou

outras práticas como o reiki, tai-chi, artes marciais, tudo aquilo que seja corpo e mente, a

pessoa sente-se outra, sente-se muito mais conectada.

A: Parece que dá um impulso exta a essas práticas, o cansaço desaparece ao mesmo

tempo.

D: Exatamente, a pessoa até nem precisa dormir tantas horas. Agora que estou aqui mais

ligada à Natureza, estou aqui quase há um mês, eu não preciso dormir tantas horas como

precisava. Quando a pessoa medita, pratica yoga ou outra prática que a faça sentir bem,

dança ou algo do género, estando conectada com a Natureza recebe a energia, isso aí é a

fonte, é um bónus.

A: Tendo em consideração a enorme crise ambiental que a nossa humanidade e o nosso

planeta estão a atravessar neste momento ... quais são os teus cuidados ou ações que tu

procuras ter para reduzir esse impacto ambiental?

D: Isso é uma das questões que sempre me preocupou e ainda agora faço o meu trabalho,

tento reciclar o máximo, separar os produtos do lixo, tento comprar coisas que tenham

menos plástico, tanto comprar mais coisas a granel, legumes, frutas e frutos-secos. Levo

os meus próprios sacos de casa, de pano, antigamente levava um saco plástico, mas agora

nem isso sequer, é melhor a pessoa ter um saco de pano, aqueles como antigamente, ou

um cesto, qualquer coisa para ir buscar os seus legumes. Há pessoas que dizem - Ah, mas

depois as coisas contaminam-se com bactérias e não sei quê! - e não precisa, a pessoa

pode chegar a casa e lavar os legumes com um bocadinho de vinagre ou bicarbonato, que

purifica os legumes. Mesmo a nível de gastar água também sempre fui habituada a gastar

pouca água, isso aí dou graças aos meus pais que sempre foram muito preocupados com

isso, acho que também foi por serem pobres e de estarem habituados a poupar muito. Mas

também o meu pai já tinha alguma consciência elevada a esse nível, ele era muito

conectado com a Natureza e dava valor, e passou isso para nós; então eu já estou habituada

a poupar água, a poupar luz. Assim a nível ambiental sempre tive essa consciência e acho

que cada vez mais devemos estar preocupados. Quem tiver um terreno e ter a sorte de

puder cultivar as suas próprias coisas, já reduz muito esse lixo que fazemos, aproveitar as

cascas dos legumes e das frutas para fazer fertilizante para as árvores, é uma reciclagem

natural. Tudo o resto é tentar reciclar ao máximo. Agora estou mais preocupada com as

viagens, nunca tinha pensado nesse ponto, aqui há uns tempos comecei a ver que quem

145

viaja muito de avião polui bastante o ambiente, é tentar reduzir pelo menos um pouco.

Sei que há aquelas pessoas que trabalham a viajar e precisam de se deslocar rápido

internacionalmente, só que se formos a pensar nisso, se muita gente fizesse o mesmo ia

ser bastante pior e difícil. Depois há pequenos cuidados que a pessoa pode fazer em casa,

a lavar os dentes, a lavar as mãos, a cuidar da casa; não é necessário usar tantos produtos

tóxicos para limpar, pode-se usar apenas bicarbonato de sódio, é um excelente aliado para

tudo, mesmo na alimentação, o bicarbonato é saudável e não é tóxico. Mesmo a nível dos

cosméticos para higiene pessoal, também podemos usar coisas a nível de óleos essenciais,

produtos naturais caseiros feitos por alguém que saiba ou mesmo pela própria pessoa se

tiver algum conhecimento de aromaterapia. É tentar usar o máximo de produtos

sustentáveis, recicláveis, e ter essa consciência ambiental. Claro que se as pessoas forem

a pensar - Ah, mas eu sou só um, então não vai fazer grande diferença! - Mas eu acho

que sim, que faz diferença se cada um tomar algumas pequenas mudanças. Obviamente

que as grandes fábricas que poluem muito se reduzissem a poluição seria fantástico, mas

é passo a passo. Nós também se não consumirmos produtos dessas fábricas ou produtos

que foram produzidos com grande desgaste e poluição para Natureza, estamos também a

reduzir a produção dessas matérias, desses produtos.

A: Obrigado pelo teu contributo e por todas as tuas ações, o planeta agradece [risos

mútuos]. Gostaria também de te perguntar se por acaso pertences a algum movimento

pro-ambiental?

D: De momento não pertenço a nenhum, mas tenho interesse sim, é só encontrar o certo

ou pelo menos ou mais acessível para eu conseguir ajudar. Sempre trabalhei nestes

aspetos sozinha ou com os meus amigos, ou com o pessoal que eu conheço. Mas é uma

boa questão que me fazes agora, porque nunca tinha pensado em me juntar assim a uma

associação, um grupo ou uma comunidade que trabalhe mais a fundo essa questão. É uma

boa oportunidade, e também para muita gente que não saiba por onde começar, as pessoas

quando se juntam em comunidade ou em grupo conseguem influenciar-se umas às outras

e apoiar-se mutuamente, e assim uma pessoa não desiste tão facilmente.

A: Sim, juntos somos mais fortes é verdade. Passando agora às últimas questões ... Dentro

do espectro da minha investigação, as substâncias psicadélicas ou enteógenas aparentam

ser um dos principais catalisadores dos estados alterados de consciência ... Eu gostaria de

te perguntar, se estiveres aberta a partilhar isso, se alguma vez experimentaste ou se

tiveste alguma experiência com este tipo de substâncias e/ou plantas-medicinas?

D: Sim, tive poucas experiências para já mas foram boas. Eu já tinha ouvido falar dessas

substâncias e plantas, dos procedimentos que podemos fazer para nos conectarmos mais

profundamente connosco, mas tinha sempre algum receio porque havia pessoas que

falavam bem, outras que falavam mal, outras que tinham medo, outras que iam

influenciando assim por vezes. E como era uma coisa que eu não tinha assim grande

informação, nunca me tinha aventurado sozinha. Mais tarde experimentei sim e adorei,

pelo menos foi uma experiência fantástica, transformadora tanto a nível de bem-estar

comigo própria como a nível mais profundo. Experimentei cogumelos e achei que foi

ótimo, puxou muito a criatividade e abriu mais a conexão comigo própria. Por vezes nós

queremos bloquear muito a nossa vida, controlar tudo, e estamos a bloquear energia; então

isso é também uma forma de nos mostrar o que é o fluir, temos de nos deixar relaxar por

vezes. E é muito bom, é transformador sem dúvida. Também experimentei um conjunto

de ervas medicinais para nos ajudar a entrar mais profundamente dentro de nós, ao que

chamam de Rapé; foi uma experiência muito, muito boa e bastante forte. Por vezes a

pessoa pode sentir que algo está a acontecer a nível físico, sente-se logo se algo não está

bem; por exemplo comigo, quando me senti enjoada e vomitei com essa experiência,

146

tenho a certeza de que isso é mesmo a planta a dizer para teres atenção ao que estás a

ingerir. Eu estava a ter uma alimentação um bocadinho menos saudável, com o stress do

trabalho, etc. e por vezes nem tinha tempo para cozinhar, então sabia que não me estava

a alimentar muito bem; e isso é uma forma de me chamar à atenção. A pessoa consegue

mergulhar muito dentro dela e perceber certas coisas que não estão a ir bem e coisas que

até estão a ir bem, consegue-se conectar muito facilmente com essas substâncias. É uma

mais-valia para quem quer desenvolver outros processos e trabalhar mais no inconsciente.

A: Mencionaste há pouco que essa planta poderia te indicar quando algo não estava bem

contigo ... sentes que essas plantas conseguem comunicar com o ser humano? Qual será

a ação a partir dessa comunicação?

D: A meu ver é aceitar em primeiro lugar. Sei que por vezes o nosso impulso, não é

reprimir, mas culparmo-nos - Ah estás a ver? Porquê que fiz isto? Já sabia! - por vezes é

aceitar - Ok, pronto, aconteceu, mas agora vou ter mais cuidado, vou mudar, vou alterar

os meus hábitos - começar por aí. Ter atenção e a via é sempre a melhorar. Se a planta

nos comunica que algo está mal e precisa de ser mudado, porque não fazer isso? Só

estamos a perder se não o fizermos. É um processo lento, claro que não pode haver aquela

violência de – Ai tem que ser e não pode ser mais nada, e tem que ser já, e tem que ser

assim! - óbvio que se a pessoa estiver muito rígida consigo própria, por vezes acaba por

chegar um dia em que explode, e já não quer, e desiste. Então é começar gradualmente e

ir deixando os maus hábitos aos poucos. É como dar um doce a uma criança para ela fazer

alguma coisa, por vezes os adultos agem assim e então temos de fazer isso com a nossa

mente, com os nossos maus hábitos e velhos padrões. Prometer - Olha, agora vais-te

portar bem, vamos fazer isto com calma e depois ficas livre! - e é tentando seguir por aí.

A: Gratidão pela tua partida. Gostaria então de te fazer a última questão ... tendo em

consideração a forma como os estados alterados de consciência podem afetar a nossa

relação com a Natureza e connosco próprios ... haveria mais alguma coisa que gostarias

de adicionar?

D: No fundo já disse quase tudo aquilo que tinha em mente, provavelmente há mais sim,

mas de momento está tudo assim um bocado no ar. No fundo é isso, acho que as pessoas

que não estão conectadas com a Natureza estão desconectadas completamente delas

próprias; e se a pessoa se conectar cada vez mais com ela própria através de práticas,

exercícios ou meditações, e com a Natureza em conjunto, é o caminho da evolução. Não

há outro caminho, nós estamos completamente ligados e interligados com a Natureza; não

há outra forma de seguirmos e conseguirmos ficar bem. Estamos a ver que o caminho não

é o consumismo nem é o capitalismo, não é isso que nos vai ajudar a sermos felizes e a

sermos saudáveis daqui para a frente. Devemos todos começar a tomar essa consciência

que a Natureza é a nossa casa, e a nossa medicina, e tudo aquilo que precisamos; então

temos que cuidar dela, cuidar de nós e assim tudo vai se encaixando.

A: Muito obrigado pela tua participação.

D: De nada, gostei muito de estar aqui a partilhar um bocadinho das minhas experiências,

e espero que inspire outras pessoas também.

A: Sim, é exatamente essa a vertente do meu estudo, utilizar a opinião pessoal de algumas

pessoas e tentar espalhar essas perspetivas com a minha tese.

D: Que bom, é exatamente isso que precisamos. Boa sorte! Pois bem, muito agradecida

por esta oportunidade, e até uma próxima.

A: Até uma próxima Diana, desejo-te o resto de um excelente dia.

147

Maria

A: Olá Maria, muito obrigado por teres aceitado o meu convite para participar nesta

entrevista.

M: Olá Alex, ora essa.

A: Como te tinha explicado anteriormente, eu estou a analisar a possível correlação entre

os Estados Alterados de Consciência (EAC) e a Preservação Ambiental, ou seja, se esta

conexão realmente existe ou não e de que forma é que ela se poderia elaborar e manifestar

a nível comportamental.

M: Uhum.

A: Antes de começarmos gostaria só de te expor alguns parâmetros éticos.

Nomeadamente que esta entrevista será totalmente anónima, optei pelo anonimato de

forma a proteger a identidade e os dados pessoais dos entrevistados, convidando-te a estar

completamente aberta. Depois durante a entrevista se por acaso não te sentires confortável

para responder a qualquer tipo de questão, ou se por acaso tivermos mesmo que parar a

entrevista, por favor manifesta o teu interesse de forma a reagendar ou parar por completo

se assim o for necessário.

M: Claro com certeza.

A: Ora, passando então para a primeira questão. Gostaria que falasses um pouco sobre ti

própria, como a tua faixa etária, profissão, nacionalidade, género, orientação sexual, etc.

M: Então, eu tenho 41 anos, sou uma mulher, a nível de orientação sexual gosto de

homens (risos), neste momento estou desempregada, mas o meu trabalho é muito

abrangente, poderei dizer que sou uma terapeuta, é um pouco mais redutor, uma terapeuta

no sentido de massagista, terapias holísticas e hipnoterapia.

A: Ok, perfeito. Como é que definirias terapia?

M: Interessante essa pergunta, eu acho que é um conceito muito novo; a definição de

terapias é o que fazes como profissão, como por exemplo um massagista, ou até mesmo

um psicólogo pode-se designar como terapeuta. Julgo que hoje em dia com a quantidade

de profissões que existem nesse sentido, serve para classificar um grupo específico de

profissões voltadas para a ajuda e desenvolvimento de quem o procura e/ou necessita.

A: Percebo. Passando para questões de foro sociológico um pouco mais pessoais. Como

é que definirias a tua relação familiar?

M: Nunca tive de pensar nisso, boa questão. Acho que é uma relação normal como todas

as outras, contudo o que é normal? Poderíamos entrar por aí, mas, julgo que é uma relação

normal de família, fui criada num seio familiar orientado para a Saúde Moderna, os meus

pais são enfermeiros, então sempre tive uma visão científica do mundo devido a essa

orientação dos meus pais e da minha família em geral, tenho vários tios e tias enfermeiras

também. Julgo que é uma relação normal, onde fui criada nessa base, onde temos as

discussões normais e naturais de famílias e julgo que a minha família é muito parecida

com a maioria das famílias que existem hoje em dia. Não te sei responder muito bem a

essa questão, teria que pensar um pouco mais sobre esse assunto, de facto nunca pensei

sobre isto, nunca me fizeram esta questão.

A: Pormenorizando, tu quando eras criança sentias-te amada pelos teus pais?

M: Completamente!

A: Isso é fantástico. E agora na tua vida moderna, tu és mãe por acaso?

148

M: Sim, sou mãe de um menino de 3 anos.

A: E como é que é a tua relação com ele? Ou sentimento da tua relação com ele?

M: A minha relação com ele é uma relação de mãe, cuidadora, de lhe querer o melhor,

que ele seja feliz e que nunca se magoe, sabemos que isso não é possível, mas tento ser

uma orientadora, uma professora. Mas acho que estou a aprender muito mais sobre mim

mesma do que ele propriamente aprende comigo muito sinceramente, é um grande

desafio, é um desafio estrondosamente belo a nível pessoal, de facto não há lição maior

em termos de crescimento pessoal do que ter um filho, põe em perspetiva muita coisa na

nossa vida e traz à luz umas outras tantas que de facto não seriam nem se poriam em causa

se ele não existisse.

A: Uau, que belo! Maria, quais são as tuas maiores preocupações em relação ao presente?

E ao futuro?

M: O estado do mundo em que ele está, e o estado do mundo em que vou deixar o meu

filho, é isso que deveras me preocupa. Eu antes de facto pensava muito sobre isso e sobre

a forma como nós crescemos e nos desenvolvemos, isto já falando no geral como seres

humanos, da nossa pegada aqui na Mãe-Terra. E agora que tive o meu filho isso ainda

ficou mais exacerbado, tenho uma grande preocupação de fazer ainda mais a minha parte

e pôr mais o meu cunho para que o meu filho cresça com essa responsabilidade ética de

proteger a Mãe-Terra e tudo o que ela implica no nosso crescimento como seres

humanos.

A: Ok. E elaborando, quais são por exemplo os cuidados que procuras ter para proteger

o nosso planeta e reduzir o teu próprio impacto ambiental?

M: Consumir o menos possível, estamos numa era de consumo estrondosa, tudo é

descartável. Já não se constroem coisas como antigamente que duravam 30 e 40 anos, (e

mesmo aí) quando se estragava pensávamos em ir consertar as coisas, em ir ver se

encontrávamos a peça para arranjar o que eventualmente ficou estragado. Hoje estamos

numa era de consumismo de pastilha - perde o sabor e deitas fora. E é por aí o que eu

mais faço, tanto no consumo de alimentos, como no consumo de vestuário, consumo de

combustíveis, consumo em geral. Depois tenho uns ou outros tantos como o não comer

carne, triagem do lixo que faço, reciclagem, mas cortar no consumo é primordial.

A: Ok, incrível. Acabaste de mencionar o consumo de carne, suponho que sejas

vegetariana ou mesmo vegana, poderias elaborar um pouco mais profundamente os

princípios éticos e morais que te levaram a tomar essa decisão?

M: Eu como peixe de vez em quando, peixe selvagem, mas o que me fez deixar de comer

carne é a forma como nos tratamos os animais, eu posso dizer que é vergonhoso. Nunca

fui extremista, e acho que não é por aí o caminho, o dos polos extremos de deixar de

comer isto e deixar de comer aquilo, mas para mim fez sentido porque eu não quero

envenenar o meu corpo dessa maneira. A forma como hoje em dia os alimentos chegam

à nossa mesa, quase que já não são alimentos, são hormonas de crescimento, antibióticos

e anti-inflamatórios, não faz sentido, mesmo com os vegetais eu faço isso, tento comer os

vegetais da época e não fora de época, por exemplo eu nesta altura não como tomate, nem

me sabe bem o tomate nesta altura, faz-me confusão. Um molhinho de tomate para

alguma coisa, tudo bem. Mas comer uma salada de tomate como como no verão que é só

mesmo tomate, quando vem aquele molho maravilhoso em que consegues molhar o

pãozinho depois de comer a salada, é fabuloso, tem um sabor estrondoso. Agora nesta

altura não tem sabor absolutamente nenhum, tá injetado com hormonas de crescimento,

injetado com vitaminas para poder ter algum valor nutritivo, mas são vitaminas sintéticas

149

logo a absorção já não é realizada da mesma forma, as nossas enzimas não destrinçam

aquele tipo de vitaminas artificiais, julgo que é um pouco por aí, e é dessa forma que estou

a tentar educar o meu filho.

A: Formidável, muito grato pelo teu contributo. Maria, tu pertences a algum movimento

pró-ambiental, ou se pelo menos te identificas com algum em específico?

M: Hmmm, é como a religião, eu não me espelho em muitas coisas, tiro informação daqui

e de acolá e vou adaptando de acordo com as minhas vivências, com o meu ser, com a

minha forma de estar no mundo. E sim, sigo algumas páginas do Facebook a haver com

a floresta, porque como sabemos no mundo inteiro está a ocorrer uma desflorestação

massiva, mas pronto, eu vivo em Portugal e é em Portugal que eu tenho de afirmar o meu

cunho, é aqui que eu tenho de ser útil, não é lá do outro lado do Oceano. Tenho

inclusivamente uma amiga que trabalha com agrofloresta, retirando espécies invasoras

como o eucalipto e reintroduzindo as nossas florestas autóctones.

A: Incrível, e tu vais participando nesse projeto da tua amiga?

M: À medida que eu vou podendo sim. De momento ela está fora do país a trabalhar e

também só no ano passado é que esta associação ficou oficialmente ativa, apesar de terem

sido organizados vários eventos e workshops posteriormente. Fui fazendo algumas

coisinhas, mas é este o ano em que vou entrar a sério na associação mesmo fisicamente,

porque até agora têm sido mais pequenas ações como entregar papelada burocrática e

afins.

A: Claro, mas já estás envolvida em qualquer dos casos.

M: Um bocadinho, um bocadinho.

A: Gostaria de te perguntar como te vês a nível de ideologia política?

M: Não vejo! (Risos) Não me revejo na política que tivemos e que estamos a ter neste

momento, não me revejo em absoluto, nem na direita, nem na esquerda, nem no centro,

nada. Acho que este formato que nós temos já vem desde há dois mil anos, desde os

romanos ou se calhar de até mais tempo, foi implementado e está enraizado em todo o

mundo, é um sistema feudal, continua a sê-lo mesmo sem condes, viscondes nem nada

do género, mas temos primeiros-ministros e ministros, só o nome é que é diferente. A

nível de leis e a forma dos seus procedimentos, não me revejo em absoluto na política.

A: E de que forma é que tu pensas que nós conseguiríamos alterar isso?

M: Ui, alterando por completo os atuais paradigmas.

A: E por onde é que isso poderia começar?

M: Por nós mesmos! O povo a demandar e a mandar, a "obrigar" esses tais políticos a

mudar esse mesmo paradigma, mas nós somos muito conformistas.

A: Ok, percebo. Maria, a nível subjetivo o que é a Natureza ou Meio Ambiente para ti?

M: É tudo, é tudo! Sem o Meio Ambiente nós não existíamos. Se deixarmos de existir, o

Meio Ambiente vai continuar a existir e melhor ainda, vai prosperar. Nós somos uma

simbiose e enquanto não aprendermos isso, que não somos mais nem menos do que um

escaravelhozinho ou uma minhocazinha que está em simbiose com a Terra, nós seres

humanos, enquanto não percecionarmos isso, não haverá prosperidade. Acontecendo o

que está a acontecer, que é de definhar.

A: Ok, e conseguirias dar-me a tua opinião sobre o porquê de nós a nível contemporâneo,

a nível cultural e social, estarmos tão desconectados da Natureza?

150

M: Lavagem cerebral (risos) muita lavagem cerebral. Isto tem vindo a acontecer de uma

forma gradual, com pequenas alterações nas leis, com pequenas alterações nas religiões

que vieram e se apoderaram das antecedentes, mudando completamente o paradigma.

Mas de há 50 anos para trás, desde que surgiu a televisão, aí é que foi o "down the hill",

à medida que a tecnologia foi aumentando a nossa desconexão com a Natureza foi

gradualmente aumentando, mais ao mesmo tempo muito rapidamente, posta de lado. Hoje

em dia não se vê crianças a brincar na rua, vê-se as crianças enfiadas em casa a jogar

videojogos; os pais querem-nos levar para a rua e eles não querem ir para a rua. Como

referi há pouco eu não sou de extremos, a tecnologia é necessária, de facto ajuda-nos

imenso, mas a culpa é nossa como pais, em não educar os nossos filhos, e a culpa também

é do resto da sociedade e das políticas que têm vindo a entrar em vigor, cada vez

trabalhamos mais horas, as crianças estão sozinhas em casa porque os pais estão a

trabalhar, não temos segurança a nível monetário que nos possa permitir faltar ao trabalho.

Eu invés de trabalhar as 8h por dia trabalho só 6h, para poder estar as outras 2h com o

meu filho, para o ir buscar mais cedo à escola. As crianças hoje em dia acordam às 6 da

manhã e chegam às 18h/19h ou mais tarde ainda, estão podres, estão de rastos. O meu

filho por exemplo com 3 anos já não dorme a cesta, para mim não faz sentido uma criança

de 3 anos não fazer a cesta, é fundamental para o crescimento e desenvolvimento

infantil. Também sei de outras crianças que não dormem, mas terem aquele momento ao

fim do almoço, ao meio do dia, onde elas possam estar no silêncio, no escurinho, sem

qualquer tipo de distração, acho que é muito importante. E é este tipo de coisinhas

pequeninas, que parecem insignificantes, mas todas juntas estão a encaminhar a

Humanidade para esta desconexão brutal com a Natureza. E sempre que nós vemos as

pessoas a irem das férias, para onde é que elas querem ir? Elas querem ir para a Natureza,

querem ir para a praia, querem se conectar, é lá que elas se sentem em paz. E tem sido o

inverso, temos andado para trás, acho que é um pouco por aí.

A: E de que forma é que achas que conseguiríamos reverter esta desconexão?

M: Primeiramente, logo em casa e depois na escola. Ora aí está, os pais cada vez têm

menos tempo para estar com os seus filhos como referi anteriormente, acho que

necessitaríamos de mais tempo com os nossos filhos de forma a termos capacidade de

chegar a casa, descomprimir, e termos um tempinho livre para nós mesmos e depois para

os nossos filhos, ao invés de os metermos em frente à televisão para se distraírem um

bocadinho enquanto se trata da roupa, do jantar e de tudo o resto. E depois na escola, cada

vez mais nos desconectam da Natureza, e as políticas, toda a politiquice de facto retira-

nos esse poder.

A: A nível pessoal, em média, quanto tempo passas em ambientes naturais?

M: Agora, basicamente desde que acordo até que vou para a cama (risos). Porque saí do

Porto, vivia mesmo no centro do Porto, mas mesmo aí aos fins-de-semana sempre que

podia tentava ir para o campo ou para a praia, tanto por mim como pelo meu filho. Mas

agora que estou a viver aqui na aldeia, a minha casa é uma vivenda numa quinta, onde

tenho terreno à minha volta que nunca mais acaba. Mas basicamente a partir do momento

em que o meu filho acorda até à hora do almoço andamos sempre na rua, e depois da sua

sesta ele vai para a rua outra vez. E mesmo nos dias de escola, quando o vou buscar ele

não vem para casa, ficamos na rua a brincar até que se ponha o sol.

A: Incrível. E posso-te perguntar como te sentes nesse exato momento aquando estás

imersa na Natureza?

M: Plena, sinto-me plena, adoro. Se já ligava muito à Natureza, então agora com o meu

filho, como ele tem 3 anos, todas as aprendizagens das várias estações que fizemos no

151

ano passado tivemos de as reforçar este ano, porque há muita coisa que ele ainda não se

lembra daquilo que eu lhe falei. Já no ano passado fomos para a floresta apanhar

cogumelos e este ano a mesma coisa. Como andamos aqui na rua, ele vai observando e

eu vou-lhe apontando as várias coisas, do porquê de as folhas estarem a cair, o porquê

das folhas estarem a ganhar outras tonalidades; então quando eu estou na Natureza sinto-

me completamente plena, em paz e numa sensação zen, tranquilidade absoluta, nós

pertencemos à Natureza e a Natureza pertence a nós, fica mesmo reforçada essa simbiose

em mim.

A: Uau, muito grato pelo teu contributo. Gostaria agora de passar a questões de um

patamar mais espiritual. Há pouco estavas a referir um certo tipo de alergia à religião,

poderias elaborar um pouco essa afirmação?

M: Eu cresci no Catolicismo, fiz catequese, e analisando em retrospetiva foi super giro,

acho um máximo o tipo de ensinamento que tive, porque aqui nesta aldeia era o momento

em que me encontrava com as minhas amigas e com os meus amigos em formato fora da

escola. Apesar de vivermos numa aldeia, a aldeia ainda é relativamente grande, e como

eu vivo na zona das quintas só tinha 3 ou 4 amigos por perto para brincar na rua. A maior

parte estava mais para o centro da aldeia, e no fim-de-semana era o momento onde nos

encontrávamos, onde cantávamos, porque eu também pertencia ao coro e ao rancho

(risos) e foi muito divertido, foi uma infância muito alegre. Mas fazia-me muita confusão,

e fui várias vezes repreendida na catequese, porque eu fazia questões incómodas, porque

fazia-me muita confusão, principalmente eu sendo mulher, certas e determinadas coisas

que a religião católica, e outras religiões, têm relativamente à visão da mulher. E até

mesmo a própria história do menino Jesus, que nasceu da virgem Maria, e eu dizia - Mas

como é que ela pode ser virgem? Como referi anteriormente os meus pais são enfermeiros

então o tema do sexo nunca foi tabu cá em casa. Eu aos 10 anos já ensinava as minhas

amigas o que é que era o período por exemplo, conversas que elas não tinham com as

suas mães, porque tanto as mães como elas tinham vergonha de falar no assunto. E à

medida em que eu fui crescendo e lendo sobre as outras religiões, eu gosto imenso de

lendas, adoro contos e lendas, e eu fui lendo muito sobre variadíssimas religiões que

existiram, gostava imenso de ler, e gosto ainda, até que finalmente conheci o Xamanismo,

tendo-o descoberto há cerca de 10 anos atrás, e para mim foi o que me fez mais sentido,

exatamente devido à sua simbiose com a Natureza, acho que é o que se aproxima mais

daquilo que eu sou e quero ser.

A: Ok. E a nível das práticas que se enquadram no Xamanismo, quais são as tuas

prediletas, ou que praticas com maior regularidade?

M: Ainda ontem vim de um retiro de celebração do Yule relacionado com o solstício de

Inverno. Adoro o Temazcal por exemplo, é das minhas medicinas favoritas. Gosto muito

também de trabalhar com o rapé. Agora, depois de ter trabalhado com o Xamanismo

Ameríndio, estou a estudar e a imergir nas tradições do Xamanismo Europeu de forma a

perceber e conhecer melhor as nossas raízes, o Xamanismo das nossas raízes. Muita

informação foi queimada na altura da Inquisição, e agora há um movimento cada vez

maior que está a despertar e à procura desse conhecimento. A minha geração, que viajou

muito para o Brasil, para o Perú, para o México, viu-se e reviu-se nesse Xamanismo, mas

depois voltando para a Europa há coisas que não fazem muito sentido, como por exemplo

trazer algumas das suas medicinas cá, levando-os a explorar o Xamanismo Europeu. Eu

por exemplo no início deste ano gostava muito de ter ido para o Brasil, mas depois

começou esta palhaçada toda e não foi possível. Eu tive no meu espaço dois pajés Huni

Kuin durante sensivelmente 2 meses, e eu planeava juntar-me a eles na floresta amazónica

e depois visitar uma comunidade de mulheres curandeiras da tribo Yawanawá;

152

exatamente para conhecer melhor a forma como eles fazem as coisas, de forma a voltar e

adaptar esse conhecimento a mim mesma e às raízes daqui, não querendo exportar tudo,

mas adaptar.

A: Realmente fascinante, desejo-te muita sorte nesse percurso, que se realize.

M: Bem-haja!

A: Para além destas práticas xamânicas, realizas regularmente mais algum tipo de prática

espiritual? Como por exemplo yoga, meditação, oração, por aí.

M: Orações sempre, principalmente quando deito o meu filho faço sempre uma

oraçãozinha de agradecimento, dou-lhe sempre uma bênção. Meditação faço com alguma

regularidade, e yoga epá, já fiz, mas ando preguiçosa (risos) mas já algum tempo que

ando a pensar em voltar outra vez ao yoga porque as articulações já andam a pedir.

A: E como te sentes quando realizas as tuas práticas espirituais?

M: Nem que seja pelo efeito placebo …. Sabemos que a nossa mente é estrondosamente

maravilhosa, o nosso cérebro é uma máquina que se a olearmos bem conseguimos coisas

magníficas, e temos vários estudos que comprovam isso, a Ciência hoje em dia já está a

demonstrar os efeitos dessas práticas, que criam novas ligações neurológicas, que criam

um novo sistema no nosso organismo. O poder da palavra é muito importante, é muito

forte, eu gosto de dar o exemplo de Masaru Emoto e do seu estudo sobre a água em que

se falarmos para a água mudamos as moléculas e a estrutura de cristalização dos seus

flocos. Só ter esse conhecimento muda logo a perspetiva como nós podemos fazer as

coisas. Se nós dissermos palavras boas, bonitas, a nós mesmos, isso vai nos mudar a nível

celular, e isso é estrondoso, ter essa capacidade de poder mudar o nosso organismo só

com o poder da palavra, é mesmo de ficção científica digamos, mas não é! (risos)

A: Ok! Maria, gostaria de te perguntar se ao longo da tua vida já vivenciaste alguma

experiência místico-espiritual? Isto é, uma experiência subjetiva onde te deparaste com

algum tipo de entidade/divindade transcendental. Se sim, onde, como, quando, por que

meio?

M: Já, várias vezes, via meditação e foi porque eu pedi, direcionando a minha intenção

para isso, e tive mesmo alucinação visual, e recebi mensagens que eu estava a necessitar.

E depois através de medicinas como por exemplo a Ayahuasca, o São Pedro, o Peyote,

que são expansores de consciência.

A: Para além da Ayahuasca, do São Pedro e do Peyote, experimentaste mais algum tipo

de substâncias/medicinas expansoras da consciência?

M: LSD, o Yopo e o Kambô.

A: Conseguirias fazer uma pequena nomeação/descrição de cada um dos seus efeitos em

específico e como é que eles atuaram na tua própria perceção?

M: A Ayahuasca, o São Pedro e o Peyote, apesar das suas diferenças achei-os muito

similares, e mesmo o LSD se enquadraria neste grupo, tal como a changa, também já

experimentei changa (DMT) e são de facto expansores de consciência. Mas aquele que

de facto me fez sentir uma mudança, uma alteração mesmo a nível celular, foi a

Ayahuasca. A primeira vez que eu experimentei Ayahuasca eu visualizei a hélice do meu

ADN a desfazer-se, a vir uma nova informação e ela voltar a enrolar-se sobre si

mesma. Só de estar a contar consigo visualizar exatamente o que vi nessa altura, foi assim

uma coisa muito forte e que de facto eu recomendaria a muita gente. É necessário

obviamente ter todo o cuidado, sentir o chamado, e não ter problemas adversos

153

associados. Mas acho que toda a gente deveria tomar Ayahuasca pelo menos uma vez na

vida, acho que o mundo seria visto de uma outra forma, e acho que iriamos ter de facto

uma alteração de consciência brutal.

A: Formidável. E depois de teres descoberto estas medicinas, que tipo de mudanças

ocorreram na tua vida, tanto a nível de personalidade como a nível comportamental?

M: Comecei a ter ainda mais respeito pela Natureza, se eu já tinha a noção de que tudo

tem um propósito, que tudo está interligado, então aí é que eu tive a certeza absoluta,

senti-me segura de mim mesma, e segura dos princípios em que eu estava a pisar. E

percebi que de facto estamos todos interligados, está tudo interligado, e está tudo tão

intrinsecamente formatado para que naquele momento tu tenhas aquela experiência,

porque vai reverberar de uma forma que não poderia ter sido feito nem anteriormente nem

posteriormente, tinha de ser mesmo naquele momento exato.

A: Se bem compreendi é quase como se fosse predestinado a que isso acontecesse …

M: Sim, por aí.

A: Gostaria também de te perguntar em que tipo de contexto, apelidado geralmente de set

& setting, em que costumam decorrer as tuas sessões com estas medicinas?

M: Em contexto cerimonial sempre, não o faço por fazer. Por exemplo, fiz há pouco

tempo uma cerimónia de Ayahuasca, há coisa de 2 meses, e agora no solstício uma amiga

convidou-me para uma sessão, e eu recusei, porque recentemente tinha feito uma e ainda

estou no processo de integrar a informação recebida. E a minha última cerimónia de

Ayahuasca tinha sido há 2 anos, ou seja, tive um período de 2 anos sem contactar com

esta medicina, contudo fiz São Pedro e fiz Peyote. A meu ver e da forma como eu o faço

tem de ser cerimonial, e isto é válido para mim, porque também conheço pessoas que o

fazem com um pouco mais de regularidade, mas para mim as coisas vêm quando têm de

vir, eu faço aquele trabalho quando acho que estou preparada para tal, e as coisas

aparecem-me à frente.

A: Ok, muito agradecido. E para ti, quais são os parâmetros cerimoniais corretos? Quais

são os contextos para que se possa considerar uma cerimónia?

M: Primeiro, a pessoa que está a guiar, o facilitador tem que reverberar comigo, não me

entrego assim. Tudo bem que eu vou-me entregar à medicina, mas eu vou estar num

momento em que eventualmente tenha de recorrer a alguém para cuidar de mim, e eu

tenho que sentir que essa pessoa reverbera comigo. O contexto não tem que ser

necessariamente uma cerimónia de 20 pessoas, eu já fiz cerimónias de 20, mas também

já fiz cerimónias em que eramos 4, por isso não é por aí. O trabalho é mesmo interno,

comigo mesma, e aquilo que eu necessito aparece-me à frente.

A: Para ti qual seria a conexão, ou a explicação, entre estas substâncias/medicinas e a

espiritualidade? De que forma é que elas se congruem mutuamente?

M: Eu acho que elas são umas facilitadoras, porque de facto está tudo dentro de nós,

temos DMT dentro de nós, temos endocanabinóides dentro de nós, temos tudo dentro de

nós. É possível entrar em estados de transe em meditações que são trabalhos como os de

Ayahuasca, ou de Peyote, ou de São Pedro, ou até mesmo de cogumelos - esqueci-me de

dizer que também já experimentei cogumelos, e que gosto bastante, é uma medicina bem

bonita. E elas facilitam, acendem o interruptor, é quem nos abre a porta, porque as

mensagens vêm todas de dentro. Num certo sentido se a nossa sociedade estivesse virada

de facto para uma simbiose com a Natureza, talvez não necessitaríamos de tanta

154

substância, provavelmente o conseguiríamos fazer através de estados de transe e

meditações.

A: Concluindo, na tua visão qual seria agora a conexão entre a espiritualidade e a

Natureza?

M: É toda a conexão! Como te disse anteriormente a Natureza está dentro de nós e nós

estamos dentro da Natureza e uma não se pode desassociar da outra, e é por isso que nós

andamos um bocado perdidos, exatamente por causa desse cordão etérico que existe entre

nós e a Natureza. Porque a Natureza é um espírito, e é ela que nos ensina essa mesma

espiritualidade, de olharmos para nós, de olharmos para as várias estações, a forma como

os passarinhos se movem, a forma como as borboletam se metamorfem, como as árvores

perdem as folhas, como têm frutos, está tudo interligado. E se nós olhássemos e

observássemos, e estivéssemos conectados com a Natureza, julgo que a nossa

espiritualidade interna, seja ela qual for e o nome que tiver, estaria muito, muito mais

desperta, e estaríamos muito mais sãos mentalmente do que estamos. Muitas das doenças

que nós temos hoje em dia são causadas de facto por essa desconexão de nós mesmos, e

da Natureza.

A: Uau, perfeito. De momento não tenho mais questões para te propor, entretanto se

tiveres algo que queiras adicionar espontaneamente ao que abordamos ao longo desta

conversa, seria muito bem-vindo.

M: Com certeza, vou pensar um pouco e caso surja alguma resposta vou-te contactar

novamente.

A: Combinado! Mais uma vez, estou muito grato pelo teu contributo e pela tua

disponibilidade em participar nesta minha investigação.

M: Bem-haja, bem-haja mesmo! Até uma próxima, tudo de bom.

A: Igualmente, muitas felicidades.

155

Fernando

A: Bom dia Fernando, como está?

F: Bom dia Alex, estou muito bem e você?

A: Em muito bom estado! Prosseguiremos então com a entrevista. Primeiramente,

algumas questões éticas. Você demonstrou algum interesse em participar na minha

investigação, gostaria de lhe perguntar se hoje ainda está a fim de participar de livre e

espontânea vontade?

F: Sim, claro, é uma honra.

A: Também gostaria de referir, caso não queira responder a alguma questão em específico

está mais do que livre para o fazer ou até mesmo parar a entrevista por completo se assim

o for necessário.

F: Certo.

A: Optei pela confidencialidade de todos os meus entrevistados, de forma que se sintam-

se o mais à-vontade possível para falar o mais abertamente possível.

F: No que poder auxiliar você e qualquer outra pessoa, é válido [risos].

A: Incrível. Como tinha referido anteriormente, estou a analisar a relação entre os estados

alterados de consciência e a conexão com a Natureza, sobretudo se a espiritualidade

funciona como um agente meditativo nessa ação. No início gostaria de lhe fazer algumas

perguntas mais pessoais, que falasse um pouco sobre si próprio: Qual a sua profissão?

Nacionalidade? Há quanto tempo vive em Portugal? Coisas desse género ...

F: Bom, o meu nome é Fernando, sou brasileiro, nascido no estado da Bahia, mas cresci

e vivi em São Paulo; viajei muito, morei em várias regiões do Brasil e vivo há 3 anos aqui

em Portugal. Tenho esse caminho com a Ayahuasca há 20 anos, me iniciei primeiramente

no caminho espiritual com as meditações, que foi uma coisa muito fantástica para mim.

Mas foi nas terapias xamânicas, nas medicinas xamânicas, que me aflorou um novo

mundo e hoje é um divisor de águas na minha vida. Antes e depois, é uma coisa muito

marcante, marcante para muitas pessoas que acedem as plantas sagradas, as plantas-

professoras que te mostram, que abrem seus olhos, abrem a perceção para a vida de uma

forma muito mais saudável, é o que eu sinto. Depois pela eliminação dos vícios

compulsivos que tinha, de drogas, de cocaína, de canábis, de LSD, de álcool, de raiva, de

ódio e de estado de vingança ... Eu era um ser atormentado bem diferente de hoje, é como

se fosse uma vida passada minha, antes de Ayahuasca. Como se diz é o chicote da morte,

chicote das almas, realmente eu literalmente morri. Eu morri o que eu era antes de

Ayahuasca e nasci um ser bem melhor. Aqui em Portugal eu trabalho como terapeuta

holístico, como técnico paramédico, essa é a minha concessão [impercetível] dentro do

que eu faço, dentro do que gosto. Também sou artesão, bio-construtor, sou mestre-de-

obra de casas convencionais e de bio-construção, de permacultura, de técnicas de

eletricidade, tenho certificado internacional de instalações elétricas, trabalho com energia

eólica e fotovoltaica; enfim, sou um artesão e um eterno aprendiz, só sei que nada sei

[risos].

A: Uau, tanta experiência! Fernando como é que definiria a sua relação familiar? Tanto

quando era criança com os seus pais, como agora ... você tem filhos por acaso?

F: Sim, sim, eu tenho 6 filhos e 7 netos. Eu tenho uma super-boa-relação com os meus

filhos, tal como com os meus sobrinhos, todos os meus sobrinhos têm essa fascinação por

mim - Porra tio, você é um cara bacana, bonitão, tem uma namorada bonita, tá na vida

156

legal, você viaja para muitos lugares! Todos os meus filhos, como meus netos - tenho

uma neta de 18 anos e tenho uma filha de 17 [risos] - e tenho uma boa relação sim; com

meu pai, não tenho mãe [impercetível], uma boa família. Meus irmãos também, sou muito

agregado com eles. E espiritualmente, atualmente, eu sou totalmente resolvido com

questões familiares. Eu acho que tem a ver com os saltos que a gente dá em relação ao

nosso apego às coisas, às pessoas, à vida e à morte; dentro desse contexto eu sou

totalmente desapegado de filhos. Eu acho que os filhos quando fazem 18 anos se tornam

amigos, não vejo muito essa questão de meu filho e minha filha. É lógico que eternamente

vão ser meus filhos, mas psicologicamente eu vejo eles como amigos; depois que ficam

adultos não tem mais essa conexão. É tipo animal, a vaca deixa o bezerro mamar até ele

comer a primeira grama, depois não deixa mais; como a águia joga o filho lá do penhasco

de uma altura incrível para ele aprender a voar; como o índio joga a criança dentro do rio

para ele aprender a nadar, não fica na escolinha com boinha não, enfia ele dentro do rio e

se vira, vai se debater e vai aprender a nadar. É mais ou menos isso, mas tenho um

relacionamento muito bom com meus filhos, com minhas famílias, vamos falando e

reiterando, com os meus 6 filhos e 7 netos.

A: Muitas raízes para o futuro que cá deixa. Fernando, só para o registo, qual a sua idade?

F: 60 anos.

A: Incrível. E como se vê a nível de ideologia política?

F: Eu acredito o seguinte, na época de estudante eu participava em alguns grupos de

esquerda lá do Brasil, comunistas, socialistas. Um desses grupos tinha uma ideologia de

luta armada, que lá no Brasil tinha luta armada contra a ditadura militar. Inclusive uma

vez eu fui abordado pela polícia com vários livros, ditos subversivos, de guerrilha, tinha

uns 4 ou 5 livros na minha mochila de Karl Marx, Jorge Amado, etc. e eu fui enquadrado

numa contraordenação penal, não fui preso, mas passei por isso. Mas em tempos de luta,

fui atacado com gás lacrimogénio, tiro de borracho, levei no lombo, enfim. Depois eu

percebi que tanto a esquerda como a direita seguem o mesmo senhor. Politicamente há

uma ordem, tanto faz se for da esquerda ou da direita, extrema-direita, moderado ou

socialista, todos eles beijam uma única mão. O ser humano precisa de uma transformação

interior para se tornar bom governante, para governar por uma causa melhor para todos,

isso ver-se-ia em mundos mais evoluídos, mas nós vamos chegar lá. Hoje em dia eu não

tenho partido político; lógico que lá no Brasil eu votei no Andrade e não no Bolsonaro,

toda a minha família é contra o Bolsonaro, somos pessoas conscientes; mas no fundo sei

que são duas merdas, uma fede mais e uma fede menos. Eu não tenho partido político

nem religião, sou totalmente ecuménico e vibro muitas religiões, acredito na força divina,

acredito no pressuposto de Deus, e de se certa forma também seria ateu. Mas não acredito

num Deus intrometido, um Deus que guarda rancor e que só beneficia se for bonzinho, se

for mauzinho te joga lá no caldeirão. Eu tenho muita abertura com a Umbanda, dentro de

um plano espiritual tenho a Umbanda e o Budismo, vibro muito Siddhartha Gautama.

Não tenho gurus nem mestres, mas sou aberto a todas as vertentes, acho muito

importantes as religiões, ajudam - [por vezes] mais atrapalham que ajudam, mas ajudam.

Muita gente que vejo no Brasil, que estão dentro da religiosidade da igreja católica, da

igreja evangélica, se juntam à religião e deixam o vício das drogas; tal como as medicinas

[vegetais], a religião faz isso também. Eu vejo pessoas que mudaram de vida indo para a

igreja, mas é aquela coisa, é como outra droga também, deixa de consumir uma coisa para

consumir outra.

A: Obrigado pela profunda partilha. Fernando quais são as suas maiores preocupações

em relação ao presente, à sociedade contemporânea?

157

F: É óbvio que a gente vive numa sociedade cruel, desumana, você vê agora mesmo na

crise os Estados Unidos cercando a Venezuela, porque têm dó do povo da Venezuela que

está mal. Mas tem um povo na África que está passando mal, tem um povo na América

Central do lado da Venezuela que também está mal, passando fome, cheios de doenças,

tem ditador, mas não tem petróleo, não é? Se não tem petróleo então não é digno de

invasão dos Estados Unidos. Eles não invadem o Haiti por exemplo, visto que são

miseráveis. A gente vê uma sociedade com o poder centralizado em todas as coisas, em

produção de alimentos, em produção de remédios, em produção de doenças, e a gente vê

uma sociedade totalmente doente. A gente vê países com um padrão de vida preferenciado

que não produzem nada, não fabricam nada; esses aí são os portadores dos bancos, onde

está boa parte do dinheiro da corrupção mundial, esses países ditos desenvolvidos vivem

disso, de um dinheiro sujo. Mas têm condições de dar aos seus habitantes uma vida mais

privilegiada. Tem países que não produz petróleo, mas que tem petróleo mais barato do

que o país que o produz. Eu vejo uma sociedade doente, muito doentia, um capitalismo

voraz voltado apenas para o lucro exagerado. Mesmo este processo do COVID-19, a

China produz máscaras que não funcionam, fraudes em licitação, a gente vê lá no Brasil

o presidente comprando uma mega quantidade de máscaras de uma empresa que é

associada ao partido dele, quando uma empresa ao lado tinha a mesma máscara com um

preço talvez 10x menor. A gente vê o nível de uma sociedade doente, desumana em que

nós vivemos. Poderia falar de muitas outras coisas, mas aí tomaria todo o seu tempo. Por

exemplo é uma sociedade cruel com os animais, a gente vê coisas na China que é um

absurdo, as pessoas mutilam centenas de animais só para se divertirem, dá nojo. São seres

totalmente sem vida que nascem neste planeta, na Umbanda diriam que são quiumbas,

são espíritos de quiumbas que nascem aqui. Por outro lado, eu vejo sociedades novas

crescendo, eco-vilas, no Brasil por exemplo tem o MST, que é o movimento da Terra, é

um grupo muito grande e organizado. Boa parte da produção que vem do Brasil vem de

cultura familiar, de pequenos produtores, e tem também aqueles produtores de produtos

orgânicos, que são grandes e estão se espalhando no mundo. Eu vejo também uma

sociedade sadia, saudável, com uma mentalidade totalmente voltada para o equilíbrio da

Natureza, com o equilíbrio humano, e que está florando em todos os países. Eu fui na

Suíça e vi lá uma comunidade que ensinava as pessoas a plantar que passavam um mês

inteiro lá, e eles sobreviviam daquilo, era corporativo, eles lucravam com aquilo, eles

mantinham aquilo sem pagar mão-de-obra. Assim como a Uber que é a maior empresa de

táxi do mundo e não tem um carro, tem uma ideia. É como Deepak Chopra diz - Faça

pouco e realize muito - Eu vejo pessoas lá gerindo algo interessante, sobrevivendo

daquilo, não pagam ninguém e ainda recebem pelo cara trabalhar porque ele está

aprendendo. Eu teria uma ideia por exemplo de dar um curso de bio-construção; muitos

por aí dizem - Ai aprendi a fazer um tijolo de bio-construção! Ai eu fiz um curso de

permacultura! - Ok, você aprendeu a fazer um tijolo, mas você aprendeu a assentar o

tijolo? A assentar uma porta? A fazer uma casa? A fazer um telhado? A fazer uma fossa?

Eu tento ter um projeto de construir coisas assim, fazer um grupo, também ganhar algum

dinheiro com isso ou senão a mão de obra, mas que aquele grupo vai aprender a fazer

uma casa. Participando do início da fundação ao telhado, ao piso, à janela, ao trinco da

fechadura, à instalação sanitária, à parte elétrica e à hidráulica. Eu vejo assim um conjunto

de ideias novas, dentro da sociedade moderna, muito evoluídas. E aí a gente vê que a

gente tem um mundo tridimensional como se fossem várias dimensões vivendo

paralelamente no mesmo mundo, no mesmo universo. Uns chegam ao mundo para fazer

a guerra, outros chegam aos milhares para fazer meditação em prol da Humanidade.

Existem os dois lados, é preciso ter algum senso para saber as coisas. Mas eu vibro mais

com as pessoas que estão meditando; vamos mandar amor, vamos interiorizar primeiro a

158

mim mesmo depois a minha família e depois as outras pessoas. É gradativo, é como

hierarquias angelicais, cada um chega a um patamar e vai espalhando essa energia, essa

onda. E assim eu vejo uma sociedade doente e uma sociedade saudável vivendo junto,

respirando o mesmo ar, sendo iluminados pelo mesmo sol, pela mesma lua, por mais que

cada um viva alegrias diferentes [risos].

A: Muito bonito. Fernando, subjetivamente o que é para si a Natureza?

F: Eu nasci e cresci numa fazenda, eu nasci de parto natural com parteira em casa, meu

avô era agricultor produtor de cacau, produto que faz o chocolate. Eu vivi lá muitos anos

e depois dos meus 18 fui para São Paulo viver na cidade, mas sempre morei em lugares

em contacto com a Natureza, com a Terra. Eu sou um ser da floresta, o meus guias

espirituais são da floresta, então eu me sinto a floresta. É um mundo fantástico a floresta,

quando você entra dentro de uma mata você se acalma, é uma medicina só de você

descalçar os pés e estar na floresta. Eu como terapeuta passei por vários cursos e aprendi

que as pessoas com depressão têm o chakra base [muladhara] desarmonizado, e esse

chakra base se harmoniza a partir do contacto com a Natureza. O que eu recomendo é que

vá aos jardins nas cidades, às praças, que se encoste numa árvore, descalce os pés, bote

umas folhas e sinta ali a energia da Terra. A árvore é um organismo vivo, inteligente, na

floresta uma árvore comunica com a outra, há uma linguagem entre elas, é muito incrível.

Eu vejo isso como um mundo evoluído, altamente evoluído, a natureza das plantas, a

natureza dos animais, a natureza das águas, há floresta debaixo da água também, debaixo

do mar, debaixo dos rios. Eu vejo a Natureza como algo enriquecedor, que tem muito

ensinamento para a Humanidade, para as pessoas se centrarem, se desconectarem das

tecnologias, do smartphone, do note-book. As pessoas se tornaram zombies, andam na

rua feito zombies, dentro dos automóveis, dos aviões e tal. Se as pessoas direcionassem

uma parte do seu tempo em contato com a Natureza não teria tanta depressão no mundo.

A causa da depressão mundial está nos países desenvolvidos que têm dinheiro, que têm

recursos, mas que têm grandes índices de suicídio. Nos países miseráveis as pessoas não

se suicidam, você vê os povos morrendo de fome, tá seco, mas não se matam! Mas na

Suécia, nesses países ricos, há grandes índices de suicídios, são pessoas a quem não falta

nada, têm a casa aquecida, têm o frigorífico entupido de comida, a conta cheia de dinheiro,

mas ceifam-se da própria vida. E a pessoa que está lá descalça andando na Terra, passando

fome, ela não se mata, mesmo tendo em conta a condição miserável em que está, ela cai

ali e se não se conseguir levantar ela morre ali, mas ela não tira a sua vida. Isso é o

contacto com a Natureza, é o equilíbrio. No plano espiritual você não se torna num

suicida, um suicida no plano espiritual sofre muito, é um sofrimento sem fim. Acho que

a Natureza é a solução das coisas, não há nada igual. Ouvir a árvore, olhar para ver a

árvore, cheirar, abrir todos os sentidos do olfato, do toque ao abraçar uma árvore, é a cura

[risos].

A: Sim, cura tudo é verdade! Gostaria de lhe perguntar, quanto tempo em média passa

em ambientes naturais?

F: Ultimamente pouco, ultimamente pouco, é que eu moro na cidade, em Odivelas, mas

eu tenho um espaço que num raio de 2km não tem uma casa, e eu estou lá sempre que

posso. Aqui por exemplo [Odivelas] a 100m da minha casa tem um parque que tem

grandes árvores, todas as noites eu vou lá levar o cachorro, ou vou de dia, vou lá e pito o

cachimbo, olho para as árvores, olho para o céu, fazendo aquele contacto, fazendo esse

xamanismo urbano. E quando eu posso eu vou para o meu terreno, agora o meu projeto

de vida é viver mais tempo lá fazendo um chalé. Porque eu sinto essa falta, de estar num

quintal, eu vivo hoje num apartamento aqui. Eu preciso de ter um lugar onde eu saia, que

não tenha vizinhos, vou lá na frente e mijo ao ar livre, é outro sentido de liberdade, ter a

159

minha fogueirinha ali, botar a minha cadeirinha e ficar vendo as estrelas e a lua. Essa é a

minha vida!

A: E quando está imerso na Natureza, como se sente?

F: A primeira coisa que eu percebo são os meus pensamentos. Aqui no apartamento por

exemplo eu me ligo para pagar as finanças, a revisão do carro, o telemóvel, a conta da

internet, tenho que pagar isso e aquilo. Agora quando eu estou lá no meu terreno eu não

tenho muito essa questão, é assim uma sensação indiscritível. Mas fazendo um esforço

posso dizer que estou em pleno equilíbrio, em paz na respiração e no meu ser, o meu

estado de espírito está totalmente em equilíbrio harmónico e com uma vibração suave,

sem piques de alterações, eu sinto que ali eu estou no colo de minha mãe. E é muito

gostoso, eu me sinto muito bem dentro do seio da mãe Natureza.

A: Uau! Tendo em consideração a crise ecológica que a nossa Humanidade está a

atravessar, a nível pessoal que cuidados procura ter para reduzir o seu impacto ambiental?

F: A Natureza ela se restaura, se banir o ser humano de todo o planeta em questão de 50

ou 100 anos desaparecem todas as cidades, as árvores comem todo o cimento, destroem

todos os prédios, vai virar catacumba, cemitérios, e a floresta toma conta. A biologia da

Natureza ela brota no asfalto, ela brota no cimento, ela vai ruindo, derruba e levanta, as

raízes das árvores derrubam os prédios, e enfim. Olhando para o organismo do nosso

corpo, se comermos algo de errado botamos fora, se for ingerido um pedacinho de vidro

o organismo envolve-o numa membrana para que não cause danos ao aparelho digestivo;

assim também é a Natureza. Eu acho muito importante uma coisa, a reciclagem por

exemplo não custa nada, e já é algo que você está fazendo ao não jogar o lixo no chão;

aqui em Portugal vejo muito lixo na rua. Num parque onde eu vou ali às vezes, está cheio

de garrafas, de papel, tem um McDonald's ao lado, sacolas de comida que as pessoas

comem e deixam lá, por vezes no chão mesmo ao lado de um contentor. É uma coisa que

por exemplo na Suíça eu não vejo, mas que em Portugal vejo muito. Agora a parte que

eu faço, é uma vibração que eu tenho, esse contacto que com certeza a Natureza sente,

um sentimento que qualquer ser vivente sente quando é amado. Um cachorro quando é

amado ele é amável, tem a simbologia de balançar o rabo, do olhar; também o peixinho

no aquário quando as pessoas têm aquela conversa com ele; todo o ser vivente é recetivo

ao sentimento. Eu acho que quanto mais a gente vibra junto, mais desperta as outras

pessoas. Eu gostaria de plantar, atualmente eu tenho um terreno de 15 mil metros, vou

meter árvores lá, comprar árvores frutíferas, eu estou juntando sementes para plantar. Vou

fazendo o que eu posso dentro do possível para um equilíbrio saudável da Natureza.

A: Obrigado pelo seu contributo. Passando a um patamar um pouco mais espiritual;

acredito que esteja familiarizado com os estados alterados de consciência, gostaria de lhe

perguntar como é que os conseguiria definir? Como por exemplo a diferença entre os

estados alterados de consciência e o estado natural da nossa existência.

F: Isso aí tem várias facetas, um estado alterado de consciência se pode atingir através da

meditação, mas não como ocidental. As pessoas que já nascem dentro de um templo lá

no Tibete, que passa o tempo inteiro meditando, tem uma vida totalmente desalinhada de

sistemas, de informática, de internet, está ali sempre em contacto com uma estrutura

molecular que desenvolve no próprio corpo, e pode até fazer coisas consideradas como

superpoderes, extrafísicas. Somos matéria, mas a matéria ela é mutável o tempo todo.

Agora o estado com as medicinas, por exemplo da floresta, a que eu conseguiria falar

mais seria sobre a Ayahuasca. Requer assim vários fatores, a pessoa para imergir dentro

de um processo com a Ayahuasca, o indivíduo precisa ter uma aptidão para isso, não é

para todos, a pessoa precisa ter alguns requisitos alusivos; desde o psicológico à condição

160

física, à condição de uma patologia clínica de uma aptidão. Pode ter várias vertentes

dentro da pessoa que entra nos estados alterados de consciência, pode ter estados de beta

para alfa. Você está em alfa e acelera o ritmo, ou pode ter uma respiração diminuída tal

como o batimento cardíaco, relaxando, relaxando, até ficar super relaxado; ou pode ter

um pico para beta e tudo acelera. Tem uma reação no cérebro que trabalha todo o físico

do indivíduo. Tem várias coalizões com o que acontece dentro do trance com a ingestão

da Ayahuasca. O contexto do primeiro plano é uma reação física através do estomago que

vai mexendo todo o seu metabolismo, todo o seu sistema cardíaco. Vai dar primeiro uma

limpada e depois ela volta a passar por aí acendendo todas as lâmpadas - o corpo, os

meridianos, os centros de energia - simulação em demonstração. Você passa por vários

estágios, dependendo da sua permissão, do seu contexto, do estado mental ... pode acessar

outros planos, outros universos, pode ter contacto com seres totalmente extrafísicos

conscientes, você pode receber fisiografias, pode receber mensagens, pode se conectar

com entes queridos mortos ... Conheço várias histórias de cerimónias que eu dirigi, de

uma pessoa por exemplo - um empresário, geralmente uma pessoa de sinceridade, ele

tinha uns 60 anos, então a mãe dele morreu e eles estavam sem amizade, estavam

brigados; depois que a mãe faleceu ele começou a manifestar os problemas de saúde da

mãe dele. Ele veio na primeira cerimónia comigo, já era uma pessoa de idade, e ele ficou

no colchão deitado como um bebé em posição fetal dentro do útero. Ele me relatou que

ele se viu dentro do útero da mãe dele, mas totalmente consciente, se viu nascer, ele se

harmonizou com a mãe dele nessa cerimónia, teve um contacto com ela, se perdoaram.

Depois vim a saber através de uma ex-companheira minha que depois da cerimónia ele

deixou de ter todos os problemas de saúde que tava tendo da mãe e ficou com a vida

organizada. Isso acontece muito, mas pode ser uma experiência terrível também, tem

pessoas que passam por experiências terríveis. Tem as purgas também, a primeira vez não

é muito plausível nem harmónica, o primeiro impacto é como um choque, você está

dentro de um espaço e não sabe que você pode e consegue interagir entre os mundos e as

outras dimensões; está aqui na terceira dimensão e você salta as dimensões. Mas é toda

uma realidade, o plano físico e o plano extrafísico é o mundo real. O estado da Ayahuasca

dentro do ser humano tem muitas facetas. Eu tenho uma irmã que é evangélica, ela fumava

dois maços de cigarros por dia, e ela fez uma cerimónia, fez uma só e parou de fumar,

nunca mais fumou. Eu conheço pessoas que vieram uma vez na cerimónia e mudaram a

vida drasticamente. Eu posso citar, contactar ou até passar contactos de pessoas que

gostariam de falar, que fizeram comigo uma única cerimónia e se harmonizaram por toda

a vida, com a família, com a mãe, com o pai, com os irmãos, consigo próprios, deixaram

as drogas, deixaram o álcool, arrumaram emprego, se harmonizaram de uma forma

incrível! Apenas uma vez com acesso à Ayahuasca! Isso como é que acontece? Lá no

Brasil por exemplo tem grandes estudos pela USP e por vários núcleos de pesquisas. Aqui

em Portugal eu fui contactado pela Faculdade de Ciências Nucleares, eles estão a fazer

um estudo da Ayahuasca através de scans cerebrais. Eles me contactaram a explicar o

estudo, do efeito da Ayahuasca no cérebro, mas esses estudos pouco vão saber de

Ayahuasca. Eles vão conseguir analisar apenas a reação química no cérebro, que

realmente existe, alterações nos gráficos eles vão ter, mas é como ir ao deserto e trazer

um grão de areia dizendo que trouxe o deserto ... não vai. Eu me surpreendo, recentemente

um amigo fez trabalho na cerimónia pela primeira vez, é uma pessoa com grande

equilíbrio, budista, centrado na meditação, totalmente vegano, uma pessoa com um

estágio de mente equilibrada, que não usa drogas, um cara centrado. A Ayahuasca chegou

a ele e disse - Eu sou a Ayahuasca, sou o espírito da Ayahuasca - e levou ele por mundos

infinitos, totalmente consciente, é uma coisa incrível esse contexto. Mas nem sempre é

assim, isso depende muito da própria Ayahuasca, de como ela foi feita, como ela foi

161

produzida, a egrégora que foi formada ali com as pessoas que estavam dentro da

cerimónia, isso tem uma grande influência, a intenção colocada ali pelo dirigente e por

cada um. Quando você assiste um filme você entra dentro da história do filme, você faz

parte daquele filme, está interagindo ali, ali é uma egrégora; você está sendo o cara lá

cortando o fio certo para não explodir a bomba; e o animal querendo atacar e você

esperando que a pessoa escape, você está mandando energia ali. Quando você está na

cerimónia de Ayahuasca, pode ser benéfica e pode ser maléfica. Quando você está dentro

de uma cerimónia de Ayahuasca por diversão é diferente, não vai ser a melhor coisa, mas

pode correr tudo bem. Mas aquando dentro de um propósito que você busca e que o

dirigente ou o grupo que está dirigindo a cerimónia tem uma visão espiritual, você vai

acessar outras camadas da medicina da Ayahuasca. São infinitas as possibilidades do

contexto da Ayahuasca; eu faço Ayahuasca, planto Ayahuasca, planto o Cipó e planto a

Chacrona, tenho sementes aqui no apartamento, já tenho em Portugal cultivado pés de

Chacrona, não tenho de Cipó, mas está no projeto de trazer o Cipó para cá e plantar. Existe

um zelo muito grande quando você as reúne, para fazer Ayahuasca é 70% de Cipó e 30%

de folhas [de Chacrona]. O Cipó cultivado se ele crescer bem você precisa de pelo menos

10 anos, e tem vários tipos de Cipó, tem uma vasta qualidade de Cipó e de Chacrona

também. E tem vários nomes também, muito esquisitos até, hoje no mundo ocidental é

chamado de Ayahuasca, tem hoasca, daime, yagé, caapi, mariri ... tem mais de 50 nomes

catalogados que se referem à Ayahuasca entre as tribos, desde Colômbia, Brasil, Bolívia,

Peru, Equador, aquela região toda ali. O estado alterado para finalizar, é algo muito

fantástico, é indiscritível, ali você acessa um universo [impercetível]. Eu por exemplo já

fiz contatos com coisas que não consigo explicar o que é que aconteceu, porque eu não

tenho palavras, contacto mesmo com energias superiores. Viajar e ver uma cidade numa

arquitetura totalmente diferenciada daqui; eu já vi um planeta coberto de vegetação, mas

que não era a vegetação do nosso planeta, era de longe, mas tinha outro formato de

continentes. Uma coisa que acontece comigo muito é acessar a vidas passadas, outras

vidas existentes minhas, até outras pessoas conseguem ver. Recentemente uma miúda de

21 anos, ela chegou para mim na cerimónia e disse - Oh Fernando, você já foi muçulmano

não é? - eu falei - Já! - depois ela saía, ficava ali no trance e voltava dizendo - Você já foi

prisioneiro, já foi escravo - eu falei - Já! Porque eu tenho esse contacto de vários outros

lugares, eu até tenho sintomas de um homem muçulmano, a minha companheira também

o sente; quando diminuo a velocidade para acompanhar ela e digo - Porra, anda mais

rápido! Porque isso é coisa de homem muçulmano, a mulher ir atrás e ele ir à frente; eu

carrego isso ainda hoje em dia, essa mentalidade, é uma coisa muito encrustada dentro de

mim. Outra coisa é a mudança que um indivíduo tem dentro da Ayahuasca. Eu tenho um

certificado de um trabalho realizado pela Universidade de São Paulo (USP) sobre

Ayahuasca no tratamento de dependentes químicos, de viciados em drogas, de crack,

cocaína, canábis ... Mas na verdade Ayahuasca quando te entra no corpo, alinha todos os

seus chakras, todos os seus centros cardíacos, seus meridianos. Quando você tem um

vício, eu sou um terapeuta como referi, se por exemplo a pessoa tem um problema com

droga, todo o mundo que tem problema com droga tem o primeiro chakra de baixo

desalinhado. Então Ayahuasca leva ele dentro de uma floresta e ele está ali, ele se sente

uma árvore, ou ele está dentro de um rio, ou ele se sente a chuva, o arquétipo da floresta

trabalho o indivíduo. Por falar em arquétipo, existem experimentos de placebo de

Ayahuasca, você toma que é Ayahuasca e não é Ayahuasca. Num grupo de depressivos,

metade tomaram Ayahuasca, metade tomaram placebo. Quem tomou placebo melhorou,

quem tomou Ayahuasca melhorou muito mais ainda. Mas o placebo, o cara tomou

acreditando que era Ayahuasca e não era Ayahuasca - isso na faculdade, pessoas com

depressão! - quem tomou placebo achando que era Ayahuasca fez esse contacto, porque

162

tudo está interligado, tem uma coisa muito específica que se percebe que está tudo

interligado. Isso está cientificamente comprovado, há vários estudos que o

comprovam. Num experimento por exemplo, tiraram o sangue de uma pessoa e botaram

ele para ver um filme e mediram as suas vibrações. Ao analisar o filamento do DNA dele,

num momento de alegria o DNA abre, num momento de terror, de violência, o filamento

fecha. A amostra de sangue e o indivíduo dador estão em salas diferentes, mas os dois

ficam compatíveis! E depois fizeram a mesma experiência a 80km e aconteceu o mesmo!

Quando você toma um placebo está tudo interligado, talvez aquele placebo liga com a

Ayahuasca. Eu já fiz cerimónias de passar Ayahuasca no pulso de uma pessoa, ela pode

falar sobre isso, ela não ingeriu, só passei no pulso. Ela queria estar na cerimónia sem

fazer a toma e eu falei que não pode, mas eu passei nos pulsos dela, ela ficou com os

braços engessados durante a cerimónia toda, e entrou em trabalho, entrou em vibração

com a Ayahuasca só na pele. A Ayahuasca leva o indivíduo para dentro da floresta,

mesmo dentro do apartamento ele vai para a floresta. Eu já fiz cerimónias dentro de um

apartamento no 12º andar que era uma ómega [?] na floresta amazónica, às vezes você

pode ir na floresta e não faz uma cerimónia tão grande. O que você precisar a Ayahuasca

vai trazer para você, se você precisa da cura do fogo ela traz a cura do fogo. Você vê fogo,

você vê água, cachoeira, oceanos, naves, índio, jiboia ... tem relatos incríveis sobre isso,

não posso querer expressar mais, enfim. Resumindo, a ação da Ayahuasca é infinita e eu

tenho muita experiência com isso, experiência minha própria e de pessoas que eu trato

tanto no Brasil como na Suíça. Esses dias na Suíça fiz uma cerimónia lá, um suíço chegou

para mim e disse - Porra Fernando, muito obrigado pela cerimónia, estou muito grato pelo

dinheiro que eu dou porque eu recebo de volta, na última cerimónia você não tem ideia,

minha vida financeira melhorou imenso! Eu conheço pessoas que vem na cerimónia e

depois me fala - Olha eu sou corretor e não tava vendendo nada, agora vendi tudo o que

tinha que vender, arrasei! - são incríveis os relatos, é algo fantástico Ayahuasca. Dentro

do seu estudo, se quiser eu posso entrar em contacto com várias pessoas para você

entrevistar. Por exemplo aqui dentro de Portugal eu faço cerimónias com vários policiais,

tem um gajo aí que é muito meu amigo desde que eu cheguei aqui, ele é da Interpol, da

polícia judiciária [risos]. Tem uma vereadora também, vários médicos ... coisas muito

lindas, Ayahuasca é uma coisa muito fantástica. Pena que não é para todos, nem todo o

mundo pode consumir Ayahuasca para entrar dentro desse plano. Pode sim de forma

terapêutica, algumas gotinhas como tratamento é um remédio, é um tónico para a alma,

para a mente e para o corpo. Estabiliza, deixa você ativo, a vida sexual depois da

Ayahuasca melhora, é um tónico daquelas folhas do Cipó no seu corpo, te livra de

doenças. Quem consome Ayahuasca são pessoas saudáveis, deixam de existir muitas

doenças porque é como uma vacina para o corpo, e não vicia! A Ayahuasca não vicia,

porquê? Porque quando você deseja percorrer um caminho dentro da Ayahuasca é através

do tempo. Num vício por exemplo você começa a beber um copo, uma garrafa, passando

um tempo já são 2 ou 3 garrafas, 5 ou 6 garrafas, aí depois você bebe o barril inteiro. O

cara que fuma maconha, canábis, primeiro fuma um pouquinho e é uma viagem, depois

passando um tempo faz outro e não chega na sua primeira experiência. Na Ayahuasca

não, as experiências se tornam maiores com menor quantidade, a tendência é você

diminuir. Não tem o hábito de vício, porque você diminui a quantidade e faz uma conexão

ainda maior. Eu por exemplo tomo pouca Ayahuasca, mas era beberão, tomava copos e

copos e copos, hoje em dia tomo pouquinho mesmo, vou e faço a minha cerimónia com

pouquíssima Ayahuasca. Mas antes ninguém tomava Ayahuasca que nem eu não. Lá na

Suíça num desses dias tinha lá um colombiano, o cara tomou uns 5 copos de Ayahuasca,

eu falei - Rapaz, você é louco! - se aguenta eu dou, se quer beber 1 litro eu dou. Mas às

vezes é preciso ter atenção porque todo o mundo está concentrado, e ele está ali só

163

absorvendo a parte química da Ayahuasca, não está no espírito da Ayahuasca. Quando

você está no espírito da Ayahuasca, você não precisa de estar nos copos, você toma um e

vai. É algo muito fantástico, eu tenho 20 anos de experiência com Ayahuasca tratando

pessoas, mas primeiro me tratei e me curei. Eu tinha uma vida muito desarmonizada,

muito bagunçada, e aí de um momento para o outro foi uma transformação muito grande

na minha vida. E eu tenho a Ayahuasca como o meu caminho, como o espírito do meu

caminho, eu tenho uma grande devoção e uma grande gratidão por esse campo de energia

fantástico, por esse ser, por essa luz, por esse brilho, por esse mestre, por essa mestra, e

que eu tenho muito que aprender ainda, tenho muito que estudar ainda sobre Ayahuasca,

mais ou menos isso [risos].

A: Uau! Eu fiz-lhe uma pergunta e quase me respondeu às 10 seguintes, já sabia tudo,

estava conectado! [risos] Fernando, considerando que até agora é claramente a pessoa

com maior experiência de Ayahuasca dentro dos meus entrevistados, eu gostaria que me

descrevesse o espírito da Ayahuasca, esta entidade não-humana, como é que a conseguiria

descrever? Qual a sua origem?

F: Em campo é uma dimensão, é a dimensão da Ayahuasca ... é difícil falar sobre o

espírito da Ayahuasca porque o espírito não tem forma, mas ela se manifesta para cada

pessoa consoante vários arquétipos. Muitas vezes esse espírito se comunica com voz com

as pessoas. Eu tenho uma amiga brasileira que mora aqui em Guimarães e ela me disse -

Olha eu nunca fui de rezar, orar, esses negócios - mas na Ayahuasca ela se viu no colo de

uma mulher e o espírito balançando ela perguntou - Você sabe rezar? - ela falou - Não,

não sei não - ao que o espírito pronunciou - Então eu vou-te ensinar a rezar uma oração -

e ensinou ela; e ela começou a orar ali, balançando e tal. O espírito da Ayahuasca se

manifesta de várias formas, mas é um ser vivo, é um ser inteligente, que tem assim uma

força e um poder intangível, totalmente quântico, infinitas possibilidades. Quando parte

desse princípio de infinitas possibilidades nem a nossa ciência consegue explicar esses

fenómenos. Mas é um espírito vivo sim, ela não se desenvolve somente com você

tomando Ayahuasca, ela também se pode retirar dali da Ayahuasca se você não botar uma

intenção. Por exemplo, hoje em dia tem loucura para tudo, tem muitas pessoas utilizando

de forma errónea a Ayahuasca, desde atividade sexual a festas partilhando drogas, é óbvio

que o espírito da Ayahuasca não está ali. Você bebe Ayahuasca, mas o espírito não vai

estar presente, só vai estar a composição química do Cipó e da folha. Eu acredito que o

chá seja o veículo, tal como nós temos o nosso veículo, a merkaba, e esse veículo nos

pode levar para lá ou para cá, ou para cima, ou para baixo, ou para dentro, em qualquer

direção que você busque. Se você busca o contacto sagrado dentro de um plano sagrado,

espiritual, no religare, aí você tem o contacto com o espírito da Ayahuasca. Basicamente,

não é ao beber Ayahuasca que você entra em contato com o espírito da Ayahuasca não,

se eu tomar Ayahuasca para andar no parque não resulta. Precisa de estar num estado

místico, num espaço de reverência, com lugar apropriado no tempo e no espaço, fazer

uma conexão com o sagrado, criar uma egrégora, abrir um campo de energia para fazer

contacto com o espírito da Ayahuasca. Porque senão você pode fazer um contacto com

uma outra energia, o seu ego mesmo, pode vir um Shiva ou um Ganesha falar com você,

e você não sabe distinguir quem é quem ali. Siddhartha Gautama nas suas peregrinações,

nos seus retiros de 40 dias meditando, chegou um ser lá e começou a falar com ele, e ele

acreditou que era Brahma, depois que "Brahma" tentou entrar na sua mente e quebrar a

iluminação, aí ele se apercebeu que não era Brahma. Na Ayahuasca as pessoas às vezes

também vêm um vampiro, um espírito do lado negro, das trevas, dos manipuladores, tem

várias vertentes. Uma entidade pode utilizar a sua energia, e você tem contacto com

índios, porque ele vai estudar sua mente e ver se você gosta de índios, se você vibra o

164

xamanismo, se escuta mantra o tempo inteiro vai te levar para Shiva, Ganesha; mestre

Jesus se é católico ou evangélico, Maomé ou outra coisa qualquer. Ele vai mostrar essas

coisas para você, e você - Uh, reverência! Namastê! - e aquela energia está te

vampirizando, sugando seus recursos. Mas quando você está dentro de um plano sagrado

da Ayahuasca aí você tem contacto com o espírito da Ayahuasca. É tal e qual como beber

e entrar numa máquina de ressonância magnética, se você tomar Ayahuasca de qualquer

jeito e fazer ressonância vai dar alteração no seu cérebro, como qualquer outra substância,

se você fumar maconha ou cocaína e entrar na ressonância vai ter picos de aceleração

também. Não se estuda o que não leva a nada, eu acho que não daria muito crédito não. Eu

falei isso para os investigadores quando eles me perguntaram se eu gostaria de participar,

até se ofereceram para pagar. Mas eu queria utilizar essa investigação para fazer a minha

experiência, utilizando os seus recursos, de forma a fazer uma comparação das alterações

entre a Ayahuasca que eles usam e a minha, fazer duas sessões. Eu vou botar umas

músicas, fazer uma vibração, e ver se pode medir, que eu queria entender um pouco sobre

isso aí. Mas é propriamente isso, o espírito da Ayahuasca não está ligado ao simples facto

de beber o chá; de forma química não, a química está ali, não tem como negar.

A: Para além do espírito/medicina da Ayahuasca, eu gostaria de lhe perguntar com que

outras medicinas/espíritos costuma trabalhar frequentemente?

F: Sim, sim, tem outras medicinas que se associam com este trabalho, o espírito do rapé

por exemplo. O espírito do rapé é algo fantástico, se você tomar rapé de qualquer forma

você não se vai sentir muito legal não, o rapé precisa de uma concentração, precisa de

criar um campo. Tem vários tipos de rapé, feito de várias plantas, com propósitos

diferenciados. Eu tenho uma amiga que tinha um bloqueio, o rosto paralisado, e com o

rapé ela readquiriu os movimentos. O rapé por exemplo ajuda a combater o Alzheimer,

equilibra muito em doenças de respiração, doenças da voz, da garganta, amígdalas.

Pessoas que nessa vida, ou nas passadas, que sofreram caladas quando deviam ter falado

e não o fizeram, acabam por ter problemas nessa região, nesse chakra, na laringe; e o rapé

ele atua muito dentro desse campo. É muito bom, é também um espírito inteligente. Da

mesma forma como Ayahuasca eu faço o meu rapé, 70% de tabaco [nicotiana rustica]

com 30% de cinzas ou outras misturas de sementes, pólen das folhas. Além do sagrado

espírito do rapé, do sagrado espírito do tabaco, que é uma medicina muito poderosa, muito

forte, de muita cura física, emocional e espiritual; temos a jurema [mimosa hostilis],

originária do nordeste do Brasil, alguns índios também a usam tal como algumas vertentes

da Umbanda. Utilizo sananga também, que é para os olhos, que abre o terceiro olho, a

sananga tem assim uma cura física dos olhos. Eu uso sempre para enxergar melhor, pelo

menos uma vez por mês eu uso, porque senão a ler as letras se misturam então eu coloco

a sananga e melhora a minha visão. Conheço um senhor que tinha uma deficiência na

visão muito grande, ele vinha nas cerimónias e tal, e aí eu cedi para ele um frasquinho de

sananga, e falei para ele usar duas vezes por semana, então ele passou a usar. No outro

mês ele foi ao médico, e o médico falou - Porra, o que é que aconteceu?! Você fez alguma

coisa? - ele não quis falar da sananga - Teve uma mudança na sua visão, eu até vou

suspender a limpeza a laser - e passou a não fazer mais limpezas a laser; e isto foi

recentemente. A sananga, a jurema, o rapé, fazem parte das cerimónias. Também as

defumações têm um grande poder, tem o palo santo, a sálvia, várias resinas e sementes,

tudo faz parte do contexto de um enredo, faz parte de todas as culturas os incensos. Jesus

quando nasceu foi logo incensado por olíbano trazido pelos magos do oriente. Todas as

igrejas deste mundo os usam em várias cerimónias, faz parte e faz muita diferença a

defumação, da mirra, de todos os incensos em geral, das ervas, do fogo, da fogueira. Mas

essas medicinas são muito apropriadas para tratamentos, todas as essas medicinas têm

165

uma grande influência nas pessoas com depressão, com ansiedade, pessoas sem foco na

vida, pessoas sem um caminho a trilhar, pessoas perturbadas, desarmonizadas. Tem

mulheres que afloram muito, aparecem pela segunda vez na cerimónia e estão mais

bonitas, diferentes, toda a gente nota, toda a gente fala. Eu tenho muita alegria de ter isso

como trabalho, como caminho que eu partilho, porque são coisas que fazem bem às

pessoas. Causa um grande impacto nas famílias, porque quando você melhora o seu

estado, melhora tudo à sua volta; quando você tem uma pessoa doente dentro de uma

casa, você adoece todo o mundo, e quando você melhora, melhora tudo! E isso eu não li,

eu vivo isso! Conheço várias pessoas assim, as pessoas vêm ter comigo e agradecem,

pessoas que nem sequer participaram nas cerimónias dizem - Obrigado, meu marido se

tornou outra pessoa! Meu filho se tornou outra pessoa! Que incrível! - Eu tenho um amigo

que gosto muito lá no Brasil e ele me contou que lhe apareceu um rapaz com problema

de vício químico, enterrado em várias drogas; fez a cerimónia, depois foi para uma clínica

e largou todas as drogas! A mãe ligou a esse meu amigo, o Afonso, e falou - Nossa, o que

é que aconteceu?! O meu filho é outra pessoa, mudou, parou com tudo! Eu quero conhecer

isso também! - e ela foi lá fazer uma cerimónia, a mãe desse rapaz; isto num sábado. Na

segunda-feira ela arrumou um emprego, alugou uma casa, se separou do marido e foi

morar noutra casa. Tinha a vida ali estagnada com um marido que não fazia nada e

resolveu. Tem essa ligação entre as medicinas e o estado físico, emocional, social, e

pessoal de se sentir bem. E não é fácil não, tem muitos desafios para a pessoa acessar a

essas medicinas. Recentemente, na penúltima cerimónia, veio uma moça de Espanha, a

menina chegou com alegria, que tava com um problema de heroína, injetando na veia;

quando eu dei a palestra ela ficou louca, quis ir embora, ela falou - Não, eu não vou ficar!

- e largou as coisas dela, a roupa, o aparelhinho de som, e até hoje ainda não foi

buscar. Ela ficou desesperada, queria ir embora de lá - isto pela questão espiritual, da

energia do espírito da droga. Eu já tinha dado a palestra, eu já tinha passado o rapé, eu

tava para servir a medicina ... aí peguei no carro e fui levar ela na cidade mais próxima

para ela pegar o Uber, a mulher queria sair do carro dizendo que estava tudo bem, feliz

que estava ali. Mas quem tava feliz não era ela, ela queria se livrar das drogas, mas ela

está sob um domínio, isso é a questão espiritual. Tem vários fatores nas medicinas como

te estava resumindo, é pessoal, é social, é físico, que abrange um campo muito grande, o

planeta e também o universo. Numa questão espiritual, quando você melhora e se liberta,

você liberta toda uma linhagem de ancestrais que estão na gaveta esperando despertar. E

quando você muda tudo se revolta, no social e no espiritual também, é incrível, é uma

fonte de vida, é uma fonte de luz incrível essas medicinas!

A: Uau!

F: Eu me exalto a falar às vezes [risos].

A: Não, não, está perfeito, está uau, tanta coisa incrível! Eu por mim não tenho mais

questões, respondeu-me muito acima do que eu estava à espera, muita gratidão.

F: Se por acaso depois tiver alguma questão, a gente pode escrever ou falar e eu te ajudo,

enfim estou aberto.

A: Sim, muito obrigado pela disponibilidade.

F: Sim à vontade, se precisar de nomes avisa. Olha, eu vou mandar um texto que pode

ser útil para você, que tem os nomes, você pode ilustrar melhor o seu trabalho, uma

apresentação de cabeçalho, e depois entrar em outros temas até. Valeu meu querido, um

abração!

A: Perfeito, gratidão, gratidão! Um grande abraço, até uma próxima!

166

Miguel

A: Olá, boa tarde Miguel, como estás?

M: Boa tarde Alex, estou bem e com boa energia, sinto-me feliz e calmo.

A: Incrível. Tu tinhas demonstrado um certo interesse em participar na minha

investigação. Gostaria de te perguntar se hoje ainda estás de livre e espontânea vontade

disponível para fazer a entrevista?

M: Sim com certeza. Sinto que neste momento estou aberto a responder a qualquer

pergunta que possa ser.

A: Formidável. Gostaria de te informar, se não quiseres responder a alguma questão, se

for demasiado pessoal ou mesmo que te faça sentir desconfortável, podemos saltar essa

questão ou até mesmo parar a entrevista por completo; o mais importante é sempre o teu

bem-estar pessoal e emocional.

M: Obrigado, vou manter isso em conta.

A: Também gostaria de adicionar que vou seguir padrões de confidencialidade, não

havendo dados que fiquem ligados a ti; podes falar o mais abertamente possível que ficará

tudo entre nós.

M: Ok, ótimo. Muito obrigado.

A: A primeira questão que eu gostaria de te propor, era que tu falasses um pouco sobre ti

próprio, por exemplo a tua faixa etária, profissão, nacionalidade, orientação sexual,

género ... é uma questão aberta, define-te basicamente.

M: Eu sou o Miguel, sou um jovem adulto de 22 anos, sou um rapaz e moro em Lisboa.

Estou aqui a estudar Ecologia Humana, então a minha profissão é estudante. Moro em

Lisboa há 3 anos e o meu percurso de vida passou por vários países, incluindo a Inglaterra

e o Luxemburgo, encontrando-me agora em Portugal.

A: E como definirias a tua relação familiar?

M: A minha relação familiar já foi mais instável e hoje em dia encontra-se em situação

de melhorar.

A: Ok, e tu quando eras criança, sentias-te amado pelos teus pais?

M: Hmmm ... Quando era muito jovem sim, mas ao longo do tempo não, especialmente

nos meus últimos anos de infância e passando para a adolescência, aí já começou a mudar,

certamente que o divórcio dos meus pais afetou esta dinâmica.

A: Percebo. E como é que te vês a nível de ideologia política?

M: A nível de ideologia política vejo-me como uma mistura interessante de conceitos de

esquerda e de liberdade, mas ao mesmo tempo também acredito em conceitos como a

meritocracia e certas restrições, acreditando também numa certa forma de anarquia

natural. É uma mistura de vários tipos de pensamentos que vê que cada lado político tem

as suas coisas a dizer e os seus benefícios, pessoalmente encontrei uma síntese do que eu

vejo como sendo benefícios de cada um desses partidos políticos e trouxe-o para uma

filosofia mais pessoal.

A: Muito obrigado pela tua partilha. Miguel, quais são as tuas maiores preocupações em

relação ao presente? Referindo-me à sociedade contemporânea.

167

M: Principalmente o facto da maioria dos seres humanos nesta Terra, neste momento,

não terem o seu próprio sustento. A maior parte das pessoas não cultiva a sua própria

comida e não fazem as suas próprias coisas. Por um lado vejo este sistema de trocas de

serviços e bens como algo que possa facilitar mas, especialmente agora nestes tempos

onde esse sistema está cada vez mais e mais a entrar em apuros devido ao COVID-19,

vejo que quando uma pessoa não pode trocar o seu serviço que aprendeu, como por

exemplo um engenheiro ou alguém que trabalha num banco, quando essa pessoa não

consegue oferecer esse serviço porque o sistema está em baixo, então é difícil essa pessoa

aceder aos recursos mais básicos que necessita, tais como a comida, o abrigo, roupa e

outros objetos mais materiais. O que eu vejo com grande preocupação é que as pessoas

não têm esse conhecimento de produzir o que eles realmente precisam, e estão sempre a

depender de algo externo; só que se esse externo colapsar, depois essas pessoas também

entram em perigo. Trazendo depois problemas de fome, de pobreza, de alojamento, etc.

A: E na tua opinião pessoal, qual seria a forma mais prática de resolver esses problemas?

M: Acho que uma das formas mais práticas seria que mais pessoas se interessarem por

temas como a agricultura, construção, fabricação de têxteis, de roupa ... Até posso ver

uma possível implementação de medidas do estado que possam motivar as pessoas a fazer

um serviço, vamos dizer para a agricultura, uma vez por ano, a trabalhar numa quinta

algures, e esse programa poderia fazer parte do trabalho das pessoas. Imaginemos que um

banqueiro possa trabalhar 2 semanas numa quinta, e através deste programa do estado ia

à mesma receber. As pessoas não precisariam de abdicar da sua carreira, mas ao mesmo

tempo podem continuar a desenvolver esses conhecimentos mais necessários como a

agricultura, produção de têxteis e construção.

A: É realmente uma excelente ideia. Miguel, poder-te-ia perguntar acerca das tuas

aspirações de vida?

M: Sim, as minhas aspirações de vida focam-se primariamente em ter um sítio onde eu

poça cultivar a minha vida e ter uma facilidade material - mas não no aspeto de ter muitos

carros ou assim - eu quero ter um sítio e um terreno onde eu possa cultivar a minha

comida, para mim e para a minha comunidade. As minhas aspirações focam-se também

em planos mais internos, tais como desenvolvimento espiritual e artístico.

A: Estavas a referir o termo abundância e o de não ter muitos carros ... então o que é para

ti a abundância? Poderias entrar mais fundo nesse tópico?

M: Sim claro, da forma como o vejo, abundância é o ter muito do necessário e não ter

muito do que não é necessário. O necessário para mim seria a comida bem desenvolvida,

que tenha bons nutrientes, seria uma vida rica de amigos e de família, uma vida com

aquilo que nos faz felizes. Quando uma pessoa tem muito do que a faz feliz, tal como boa

comida, bons amigos e um bom sítio para viver, e eventualmente práticas artísticas,

espirituais e culturais, eu vejo isso como uma abundância. Seria essa base de

necessidades que todos os humanos necessitam, e que nos preenchem de uma maneira

mais profunda do que por exemplo um carro, ou um novo esquentador, ou um frigorífico

da nova marca.

A: Muito bem. Se mais pessoas pensassem assim como tu, o planeta estaria em menos

apuros. Passando para um outro grupo de questões mais ligadas com a Natureza ...

gostaria que descrevesses o que é para ti subjetivamente a Natureza, ou o meio ambiente.

M: Para mim o meio ambiente é o sítio onde nos encontramos inseridos, é o meio natural

do planeta onde nós estamos, é a formação natural deste planeta. E é uma coisa muito

complexa que permite que toda a vida possa funcionar interligadamente, de uma maneira

168

muito delicada. Vemos hoje que se fizermos algum mal a uma parte do ecossistema ou

do ambiente, todas as outras partes vão sofrer. Eu vejo a Natureza como um organismo

híper-complexo e interligado que permite toda a vida existir e se desenrolar. Olhando

mais profundamente a Natureza é também um sítio de inspiração, sinto que como

humanos e como seres naturais desta Terra, nós também temos uma certa intuição de que

a Natureza preenche-nos. Vejo-a também como uma constante fonte de renovação e de

conhecimento. Por um lado mais subjetivo e espiritual, vejo a Natureza como um reflexo

direto do que pode ser considerado o divino.

A: Uau, bem bonito. Por semana, em média, quanto tempo passas em ambientes naturais?

M: Isso depende muito da semana ... Se for numa semana normal, onde eu estou a cumprir

o meu dever de estudante, por acaso não passo muito tempo na Natureza porque eu moro

no centro da cidade; aí vamos dizer que passo 1 dia por semana na Natureza. Mas quando

tenho férias e/ou tempo livre eu normalmente vou para sítios naturais, aí o meu tempo já

vai de 5 a 7 dias por semana na Natureza.

A: Ok, então procuras sempre aumentar esse tempo ao exponencial máximo?

M: Sim, sempre. E procuro também estruturar a minha vida de forma que a minha

profissão possa também incluir este meu gosto de estar constantemente na Natureza.

A: O que te leva a esses locais, a esses ambientes naturais?

M: É uma boa pergunta ... De certo modo podemos dizer que é exaustão de uma sobre-

estimulação de estar na cidade; estes estímulos que existem aqui na cidade levam-me às

vezes a um certo sentimento de desgaste, que me traz até à Natureza. Mas mais

profundamente é como se fosse um amigo a chamar-me, sinto às vezes dentro de mim

uma necessidade profunda que não tem causa lógica ou racional, mas sinto dentro de mim

uma intuição que me leva a ir até um sítio natural.

A: E como é que te sentes nessa altura?

M: Hmmm, quando eu vou para a Natureza eu sinto-me muito em paz. Quando sinto esse

chamado do amigo, da Natureza, eu sinto que estou a fazer algo de muito bom para mim

porque estou a seguir uma intuição profunda que me leva a estar num sítio que me faz

bem.

A: Miguel, tendo em consideração a crise ecológica que a Humanidade está a atravessar

nos tempos contemporâneos ... Que cuidados é que tu procuras desenvolver para reduzir

o teu próprio impacto ambiental?

M: Neste momento como estou na cidade eu faço várias ações para reduzir a minha

pegada ecológica, sendo para mim a mais importante o meu transporte de bicicleta. Há

dois anos abdiquei do transporte público e arranjei uma bicicleta em segunda mão, desde

aí faço todo o meu transporte, dentro dos possíveis, de bicicleta; somente apanho o

autocarro quando está a chover ou assim, também não tenho carro então a bicicleta é o

meu meio principal de transporte. Segundo, eu participo em conjunto com várias pessoas

num sistema de reciclagem de comida, em vez de comprar toda a minha comida e de

contribuir para um mercado de sobreprodução, muitas das vezes eu vou a certos sítios e

lojas que dão a comida que não é vendida. Temos instituições como a Go Natural que

quando não vendem certas frutas, vegetais, pão, eles mandam essa comida fora, mas é

comida que está boa e pode ser reutilizada a fim de evitar desperdício. A bicicleta e essa

reutilização de comida são as minhas principais ações para reduzir a minha pegada

ecológica. Depois tento também focalizar muito as minhas compras, no sentido de, tento

não comprar roupa nova, compro sempre em segunda-mão hoje em dia, a não ser que seja

169

um par de sapatos, mas vamos dizer que 90% da roupa que compro é em segunda mão. E

mais recentemente, especialmente nestas últimas semanas, tendo estado na Natureza,

aprendi e senti que quando estrago alguma coisa em vez de comprar novo vou tentar

arranjar maneiras de o arranjar, reestruturar, ou até fazer por mim próprio algo de novo

que seja necessário.

A: Incrível. Há pouco estavas a mencionar a reciclagem de alimentos, mais comummente

conhecida por dumpster diving ... Gostaria de te perguntar se para além desse movimento,

se pertences a algum outro movimento pro-ambiental?

M: Ativamente não pertenço a nenhum grupo ambiental no meu dia-a-dia, mas já fiz parte

de vários protestos, de manifestações, também vou a sítios que vendem comida ecológica,

que vendem comida mais barata - que também é reciclada. Mas principalmente eu faço

muito voluntariado nos meus tempos livres, vou até quintas e ajudo em projetos, projetos

de reflorestação, também já fiz parte de vários projetos de permacultura - uma agricultura

mais holística. Faço parte de vários projetos aqui e ali, mas nada que realmente seja

constante.

A: Seguindo o rumo da nossa entrevista, vamos agora passar para uma temática mais

holística, orientada para a espiritualidade. Tal como te tinha mencionado anteriormente,

eu estou a investigar a possível correlação entre os estados alterados de consciência e a

conexão com a Natureza, ou a forma como esses estados possam levar as pessoas a ter

comportamentos pro-ambientais mais efetivos. Gostaria de te perguntar se estás

familiarizado com estados alterados de consciência?

M: Sim, estou.

A: Como é que os definirias?

M: Hmmm, para mim um estado alterado de consciência seria um estado de experiência

da realidade, ou um estado de perceção da realidade, que é diferente do nosso estado

comum. Vamos dizer que o estado comum é a maneira como nos sentimos todos os dias,

de padrão normal; e um estado alterado de consciência seria uma experiência que foge a

esse padrão de perceção da realidade. É uma experiência que permite-nos ver e perceber

a realidade de uma maneira mais abundante ou diferente.

A: Tens facilidade a nível pessoal de atingir esses estados?

M: Sim, para mim é muito fácil porque é uma prática à qual eu dediquei-me já há alguns

anos. Então já desenvolvi algumas técnicas e alguns conhecimentos que me dão certa

facilidade a entrar, e às vezes até nem é preciso uma técnica - considerando os sonhos -

pelo menos uma vez por dia entro num estado alterado de consciência, do modo que todos

os dias tenho um sonho bastante intenso.

A: Quais são os métodos por ti conhecidos que nos possibilitam a obtenção de estados

alterados de consciência?

M: Vou começar pelos que eu pratico, se calhar é uma lista mais pequena, e depois

continuo a dizer os que eu conheço. Os que eu pratico são principalmente a meditação, o

rezo, o diálogo com a figura de Deus, também existem outras técnicas como a dança, a

respiração, e também temos várias plantas neste planeta que nos permitem entrar nesse

estado alterado de consciência. Fora do que pratico também conheço várias técnicas como

por exemplo o yoga, certas maneiras de tocar o tambor, já ouvi falar de desportistas que

correm, que nadam e de repente entram num EAC. Pelo que estudei, qualquer ação que

traga para fora um aumento de adrenalina e de sensação de quase stress, pode ter essa

função de catalisar um EAC.

170

A: Muito obrigado pela tua partilha. Tendo em conta que tu praticas um amplo espectro

de práticas espirituais regularmente, para ti, quais são os benefícios dessas práticas?

M: Principalmente o conhecimento de si mesmo, do tecido da vida ou da realidade, é uma

profunda inspeção do que é experienciado. As práticas espirituais permitem-nos

investigar a maneira como tudo é feito e também permite-nos entrar em contacto com

estados de divindade ou com figuras como Deus, Jesus Cristo, figuras que aparecem na

Bíblia e que parecem distantes. Muitas práticas espirituais ajudam-nos a entrar em direta

comunhão com essas figuras, rompendo a ligação de dependência de uma figura externa,

tipo um padre ou professor, e trazendo essa possibilidade de volta a cada indivíduo de

poder experienciar essa vertente divina da realidade.

A: E como é que te sentes durante a prática espiritual?

M: Durante a prática espiritual eu sinto muitas coisas; quando a prática está a correr bem

sinto uma paz que se traduz num conhecimento e um entendimento não conceptual da

realidade. Um entendimento que é experienciado a partir de uma maneira de ver e de

pensar a realidade sem pensamento verbal, é quase um pensamento silencioso, mas que

está cheio de conteúdo. Mas ao mesmo tempo - porque a prática espiritual traz de fora

muitas emoções - às vezes também sinto tristeza, raiva, confusão, felicidade. Dependendo

do dia e de como está a correr a prática, a prática pode trazer ao de fora diferentes coisas

que serão necessárias ver para depois ter um entendimento mais amplo.

A: Ok, e como te sentes após a realização destas práticas? Isto é, de que forma é que estas

práticas se espelham no teu dia-a-dia?

M: Primeiro, eu sinto uma motivação contínua para continuar a praticar estas práticas

[risos]. Cada vez que pratico, sinto que é favorável para continuar a praticar, e isso

motiva-me a construir uma disciplina dia após dia. Mas depois por um lado mais

subjetivo, o que eu sinto é uma calma mais profunda, uma não-reação a emoções mais

turbulentas, quando sou confrontado com tristeza ou com raiva, com vergonha, com

sentimentos que são delineados por mais negativos, é mais fácil não reagir a isso. Entro

em menos discussões com pessoas, tenho mais tolerância, mais abertura a novas ideias, a

novas maneiras de pensar, e os meus padrões rígidos e estruturais que costumam ser

implementados no dia-a-dia através de rotinas começam-se a abrir. Então eu começo a

experienciar uma maneira mais flexível de viver a vida, que não está tão presa a estruturas

e a planos, em cada momento sinto uma abertura maior para poder fazer o que eu

realmente desejo, do fundo do meu ser.

A: Parece realmente a cura para a Humanidade [risos mútuos]. Há pouco estavas a

mencionar Deus e Jesus Cristo ... Gostaria de te perguntar se és crente, se és adepto de

alguma religião em específico?

M: Eu não me considero completamente aderente a uma religião porque até agora senti

que qualquer religião - quer seja o Cristianismo, o Budismo, o Hinduísmo - contêm toda

uma série de argumentos autoritários que restringem a liberdade do indivíduo e que por

vezes também bloqueiam o acesso direto do indivíduo à divindade. Sim, eu tenho muito

gosto em tradições como a cristandade, o catolicismo, também o budismo, e sigo muito

essas leituras, por exemplo a Bíblia e muitos dos textos budistas, mas não me considero

budista, católico ou cristão. Sigo a palavra de Jesus Cristo e de Deus, mas não me

considero cristão.

A: Compreendo, obrigado. Ao longo da tua vida já vivenciaste alguma experiência

místico-espiritual? Isto é, uma experiência subjetiva onde entraste em contacto com uma

espécie de entidade divina ou uma realidade transcendental.

171

M: Sim, já tive várias. Ao longo da minha busca espiritual, tive a fortuna de ser

apresentado com várias experiências desse género ... A pergunta também requer o

desenvolvimento?

A: Sim, sim. Basicamente a seguinte questão é: Onde? Como? Quando? Por que meio?

E qual foi a mensagem/ensinamento que recebeste?

M: Ok. Vamos começar pela meditação; uma vez estava meditando, era mais no início

do meu caminho, e experienciei algo ao de leve, mas foi uma coisa profunda - a minha

mente abriu-se de uma maneira que parei de ter pensamentos, durante um breve instante

experienciei o meu corpo e a minha mente sem todo o diálogo interno, levando-me a um

sentimento de liberdade. Foi essa experiência que me motivou a continuar a busca e a

trazer de volta à minha vida esse estado de mais e mais, porque reparei que era um

sentimento de verdadeira paz e de verdadeira liberdade, uma liberdade de nós mesmos,

do diálogo interno que nós fabricamos dia após dia. Isso aí depois fez-me continuar a

procurar levando-me às minhas experiências místicas maiores, que se apresentaram com

as plantas-professoras ou as plantas-mestras ou as plantas-medicinas, como lhe queiramos

chamar. Ao longo da minha vida tive a fortuna de poder experienciar várias tradições e

várias plantas, plantas que conferem ao utilizador EAC. As minhas experiências místicas

encontraram-se quase com todas as plantas que eu experienciei. Algumas permitiram-me

uma visão mais estrutural e metafísica da realidade, outras permitiram-me uma direta

comunhão com a figura de Deus, outras também me permitiram um mergulho profundo

dentro do meu ser. Cada planta permitiu-me ter uma experiência mística a seu próprio

gosto.

A: Poderias mencionar quais foram as plantas que te levaram a esses estados?

M: Sim. Primeiro foi um componente, um químico extraído de uma certa planta que se

traduz em LSD, isso foi a minha primeira experiência mística. Segundo, já tive a fortuna

de experienciar os cogumelos psilocibinos, também referidos como cogumelos mágicos

ou cogumelos alucinogénios, um cogumelo que concede uma experiência de visão e um

estado mais amplificado de consciência. Também já tive experiência com o cacto São

Pedro; um cacto proveniente das montanhas da América do Sul, mas que também cresce

noutras regiões planetárias - possibilitando também uma experiência de visão e/ou

espiritual. Mais importantemente, a planta com a qual eu hoje em dia tenho mais

experiência, é a Ayahuasca. Trata-se de uma mistura da liana [Ayahuasca] com folhas de

outra planta da Amazónia [usualmente Chacrona]. É usada em muitas tradições

indígenas, mas hoje em dia também em católicas, cristãs, brasileiras, da América do Norte

... Contudo originalmente é uma mistura de plantas que provém da Amazónia.

A: Ok, muito interessante. E para além das plantas psicoativas, tens alguma experiência

com outros psicadélicos, ou com outras substâncias mais químicas, mais laboratoriais?

M: Sim. Hoje em dia eu felizmente [só] faço uso das plantas, mas no início do meu

caminho eu tinha muito interesse nessas substâncias químicas. Tenho experiência de

várias coisas, como por exemplo o MDMA, anfetamina, ketamina, 2CB e derivados ...

Isso aí foram os químicos que no início me deram a curiosidade de continuar a explorar

mais, mas que hoje em dia por princípio não uso.

A: Ok, muito obrigado pela tua partilha. Gostaria de te perguntar que tipo de mudanças

ocorreram na tua vida após teres descoberto este tipo de experiências?

M: As experiências naturais ou as experiências em geral?

A: Sobretudo a nível de personalidade e a nível comportamental.

172

M: Ok. No início do meu caminho, especialmente com as moléculas químicas, eu tive

uma amplificação do meu ser social; muitos dos problemas de timidez, de medo e de falta

de confiança foram trabalhados. Muitas das moléculas químicas permitiram desinibir-me

de maneira social, a poder conseguir comunicar com outros seres humanos de maneira

mais aberta, livre e espontânea. Isso aí foi muito bom porque ajudou-me a ter uma base

mais terrena ou terrestre, podendo continuar esse trabalho com as seguintes plantas. As

práticas espirituais que daí advieram, foram uma visão mais ampla e um conhecimento

mais profundo de cada situação da realidade. O que eu percebia antes, hoje em dia foi

completamente transformado para uma visão muito mais aberta, holística e abrangente.

Consigo ver a vida a cada momento de uma maneira mais profunda, mais espiritual, e até

de um certo modo simbólica. Permitiu-me fazer vários paralelos com o mundo físico (e)

manifestado com o mundo metafísico (e) invisível. Essas plantas permitiram-me criar

uma síntese de perceção que inclui ambos o físico e o metafísico num pacote. Ajudando-

me a ter um conhecimento muito mais amplo do que eu tinha antes, a fazer decisões mais

informadas no plano social e a poder ter mais valores, como por exemplo compaixão,

amor, respeito.

A: Uau, incrível! Miguel, e a nível pessoal qual foi a influência dessas experiências na

tua perceção da Natureza?

M: Estas experiências, especialmente as plantas, foram muito importantes porque

fizeram-me realizar de maneira direta e instantânea a importância da

Natureza. Especialmente nas minhas primeiras experiências com plantas enteógenas, eu

percebi diretamente que deveria pôr o meu foco de admiração e contemplação, não no

artificial e urbano, mas sim no natural e na Natureza. Essa contemplação depois ajudou-

me a perceber que eu queria passar mais tempo na Natureza, então comecei a passar mais

tempo na Natureza e a observar os seus ciclos e a sua maneira de funcionar. Levando-me

a ter, acima de tudo, uma grande reverência e respeito à Natureza, que depois com o

tempo foi-se amadurecendo em querer aprender aspetos mais práticos da vida natural,

como por exemplo agricultura, cultivação de solo e construção. Senti que o meu respeito

e a minha admiração não chegavam para traduzir o sentimento tão enorme que tinha. Quis

então encontrar mais e mais práticas para poder solidificar e pôr neste mundo a minha

reverência à Natureza, que ganhei graças às experiências com estas plantas.

A: Formidável. A nível mais prático, quais são as preocupações que costumas ter aquando

vais ter essas experiências? Comummente apelidado de set & setting ... quais são as

preocupações que tu procuras ter com o set & setting antes, durante e depois das

experiências?

M: As preocupações que eu tenho muitas das vezes vêm com um certo sentimento de

prudência. Com o tempo e com as várias experiências que tive vim a aprender que é muito

importante termos a consciência de com quem, quando e onde fazemos uma experiência

destas. É uma experiência muito grande, que transborda e transtorna o nosso ser, mais e

mais sinto necessário estar num sítio calmo, pacífico e sereno, com pessoas que eu

confio. Quando eu não seguia este conselho - quando o fiz num sítio inadequado ou com

pessoas que não conhecia ou que conhecia pouco - muitas das vezes estas experiências

correram mal. Com o tempo, isto veio-me ensinar que é necessário um certo sentimento

de prudência a fim de ter uma boa experiência. Antes da experiência procuro sempre

perguntar-me - Será que este sítio realmente tem as condições necessárias físicas, de

conforto, para uma experiência destas desenrolar-se? (e) Será que as pessoas com quem

eu estou são benéficas para o desenvolvimento desta experiência? Então procuro sempre

relacionar-me com indivíduos que já tenham uma ligação e que preferivelmente também

já tenham experiência com estas plantas, assim ajuda-se a criar um ambiente de

173

experiência e de uma partilha mais profunda que pode não ser possível quando o fazemos

com pessoas desconhecidas e/ou iniciantes.

A: Muito obrigado. Do vasto espectro de literatura que eu tenho analisado, menciona-se

várias vezes do(s) espírito(s) que reside(m) nessas plantas psicoativas ... Poderias

partilhar a tua experiência em relação a este assunto?

M: Sim. São muito interessantes essas passagens que você leu, eu experienciei isso

diretamente. E é engraçado porque eu venho de um contexto ateu, toda a minha

adolescência fui ateu e nunca acreditei num aspeto metafísico, pensava que era tudo físico

e mecânico. E o que aconteceu, não foi uma conceptualização de que há um espírito nas

plantas, mas [inaudível/falha na gravação] ... mudar a minha maneira de ver o mundo.

Através dessa revelação direta, eu realmente experienciei uma inteligência inerente a cada

planta que eu consumia ou ingeria. Sentia que cada planta tinha as suas características, a

sua personalidade, as suas lições, os seus tópicos e os seus temas que partilhava com o

indivíduo que procurava consumi-la. Inter-subjetivamente confirmei isso com amigos

meus que também conseguem distinguir certas personalidades, ou masculinas ou

femininas, atribuir certos temas específicos a cada planta. Por exemplo os cogumelos são

mais referidos a criancinhas que brincam e que dançam; a Ayahuasca é associada a tons

mais sérios e é referida a uma avó que costuma abordar temas mais profundos como a

morte, a tristeza humana, o sofrimento. Cada uma dessas plantas tem a sua característica

inerente, que se pode traduzir a um conceito de espírito. O espírito seria essa essência

pessoal que está dentro de cada planta.

A: Uau, formidável! Sei que se trata de uma questão muito ampla e difícil de se responder,

mas para ti qual seria a explicação, ou pelo menos a conexão, entre estas substâncias e a

espiritualidade? Como é que isto tudo acontece?

M: A espiritualidade é difícil de definir, mas para tornar mais fácil este diálogo vamos

olhar para o nome espiritualidade. Espiritualidade contém a palavra espírito, sendo assim

um diálogo ou uma experiência direta do espírito, pessoal ou não. O espírito seria o

metafísico, o que está escondido, o que está invisível. Tendo uma prática espiritual, uma

pessoa pode mais e mais aceder ao que é invisível ou ao que não se vê com os olhos

diretamente, mas ao que está presente - o espírito. Esse espírito se está dentro de cada

humano, podemos estender a noção a que também está dentro de animais e dentro de cada

planta. E cada espírito é diferente, o espírito de um ser humano tem características

diferentes de outro. A essência invisível de cada planta tem uma característica que pode

beneficiar o seu meio ambiente. Eu vejo a espiritualidade de uma maneira interconectada,

de modo que cada ser ou cada espírito está aqui tendo uma missão ou um plano que tem

de cumprir para conseguir viver em harmonia com todos os seus elementos em

redor. Quando o espírito humano entra cada vez mais fundo no papel da sua missão, ele

vê a sua harmonia social e cultural enriquecida e mais funcional. E do mesmo modo vejo

que cada planta tem esse espírito de devoção, um espírito que está a seguir uma certa

missão para a Humanidade e para o planeta. Por exemplo, vejo que muitas destas plantas

têm como missão ou como exercício de espalhar certos conhecimentos e entendimentos

que são necessários neste momento para a Terra poder sobreviver e continuar.

A: Uau! Passando para a última questão, assim mais aberta ... De que forma é que

consideras que estas plantas possam, ou não, ajudar a Humanidade a atravessar a atual

crise ecológica?

M: Isso é uma ótima pergunta! Uma parte de mim acredita que sim, que estas plantas

podem ajudar muito os seres humanos a ter uma visão ecológica mais ampla, mas ao

mesmo tempo reconheço que cabe a cada ser humano de ter a consciência aberta para

174

isso. Se uma pessoa não está aberta a ter uma experiência de conexão com a Natureza,

também não vai receber isso de volta. É necessária uma certa precondição inicial para

receber essa experiência de abertura para a consciência ecológica. Mas do outro lado da

moeda, vejo que essa precondição já se está a criar coletivamente para todos os seres

humanos graças ou devido à crise ecológica. A crise ecológica seria o motor que motiva

cada indivíduo de se abrir a essa possibilidade de receber uma experiência

ecologicamente consciente. Esta crise ecológica que se apresenta nos dias de hoje pode

ser vista também como motivador para a sua própria resolução. Como há esta destruição

enorme, os seres que se encontram dentro desta destruição veem que é necessário mudar

e fazer um diferente plano de ação do que tem vindo a ser feito nestes últimos anos. E

isso pode levar muitos mais indivíduos a buscar estas plantas como experiências,

resultando numa maior incidência de aumento de consciência. Para adicionar, reconheço

que isto não é uma experiência universal. Segundo muita literatura e experiência pessoal,

estas plantas não dão sempre a mesma coisa a cada indivíduo, cada indivíduo vai ter uma

lição muito diferente. Contudo uma grande parte vão ter uma experiência de alargamento

de consciência ecológica, nem que seja a experiência de que uma planta pode dar um

conhecimento a um ser humano, isso para mim já é uma experiência ecológica. Também

vejo que há muitos humanos que possivelmente podem não beneficiar destas plantas e

que até podem fazer mal a si mesmos e às suas comunidades. Vejo as duas possibilidades.

Mas mais importantemente vejo que estas plantas, acima de tudo, são um forte catalisador

para a mudança social e ecológica.

A: Muito obrigado pela tua partilha. De momento não tenho mais questões para te propor,

creio que todas foram respondidas mesmo que indiretamente. Tu terias algo a adicionar

de livre e espontânea vontade em relação ao tema abordado?

M: Uma coisa que eu tenho a adicionar seria algo mais subjetivo e filosófico, é que esta

crise ecológica está a trazer uma situação nunca vista na Terra, ou pelo menos nunca vista

pela nossa espécie, então nós estamos em tempos críticos. E tempos críticos costumam

ativar medidas mais drásticas, até individualmente em situações de sobrevivência há

certos indivíduos que ativam capacidades sobre-humanas. O que está a acontecer, eu vejo-

o como algo coletivo. Esta crise ecológica está a causar um desperto enorme na vida de

cada ser humano, que está a ter mais consciência do que realmente é necessário fazer, e

muitos humanos estão a sentir isso. Mas ao mesmo tempo também sinto que a Natureza

está a ter esse desperto, se virmos a Natureza como um ser-vivo e um organismo-vivo,

também está a sofrer as repercussões da crise ecológica, ativando certos mecanismos que

abrem uma certa necessidade de urgência. Essa urgência depois causa à Natureza e aos

seres humanos de mais e mais se encontrarem um ao outro. Todo este surgimento de

plantas enteógenas pode ser visto como a urgência da Natureza em comunicar aos seres

humanos que ela precisa de ser protegida. Vejo isto como uma história bonita no meio da

tragédia; que a Natureza está a acordar e que através destas plantas está a relembrar e a

comunicar aos seres humanos o que é necessário fazer para toda a gente sobreviver.

A: Basicamente é como se estas plantas fossem os embaixadores, ou os porta-vozes, da

própria biosfera em si.

M: Sim, exatamente.

A: Uau, muito obrigado.

M: De nada, meu prazer.

A: Até uma próxima Miguel; desejo-lhe o resto de um bom dia e uma vida feliz.

M: Igualmente Alex, um grande abraço.

175

Joseph

A: Greetings Joseph, how are you?

J: Hello Alex, I’m great, how about you?

A: I’m perfectly fine. So, okay, I think we're ready to roll. In the beginning I'll just make

you some ethical questions because well it's always necessary. Joseph, you agreed to

participate in my research beforehand, I would like to ask you if today you are still

willingly accepting to partake in this research of mine.

J: Yeah, sure, no problem. But also tell me the conditions for this I mean, what will you

use this thing for and something.

A: Ok. So, I am researching like the altered states of consciousness and its impact on

Nature. I'm taking a master's degree in Human Ecology. I want to understand if there is

indeed a connection with altered states of consciousness, that are produced through any

type of means that can lead us to them. And if they indeed change our behaviour to get a

better behaviour, more ecological behaviour, so to say, because there's a lot of literature

that suggests so; so, I'm interviewing different type of people to indeed realize if this

connection exists or not. I will also respect anonymity because it's more ethical to conduct

interviews like this. So not a single part of this data will be linked to you, all the names

and locations and all of that will be changed as well.

J: Yeah. If you need you can ask me. All right. That's not a problem. If you need to refer

this lecture by name or whatever is not a problem. But please ask me for so. Okay?

A: Okay. Wonderful. Basically, this material I will just use it for my thesis, but well, as I

said all the names and all of that will be changed. Another thing, if by any chance you

don't want to answer a specific question, we can skip it without problems or even if you

want to, or need to postpone this interview, we are always open to that.

J: Okay, no problems.

A: Wonderful. So, the first questions that I'm going to do are more like of a sociological

level or let's say a personal level. I would like you to, to speak a little bit about yourself,

like what's your profession, your nationality, how long have you been living in Portugal?

Describe yourself.

J: Okay. Namaskar! Yes, I've been living here since 97/98, before that I was working and

living in Africa (or in use) and before that in Asia for some time. I've been traveling as a

Dada since 1988, teaching meditation practices, yoga practices. Oh yeah, by the way I'm

from India, parents and everybody come from there. I became a monk in 1988 and since

then I've been traveling around and mainly first from 1988 until 1997 basically doing

disaster management, working in disaster areas, environments where's catastrophes like

earthquakes, tornados, typhoon, [inaudible], even natural and manmade calamities like in

crisis areas like war zones, in famine, drought environments, in places like that. When I

arrived here in Europe in 97/98 then I started to work on teaching people about yoga and

meditation. So that has been the work, teaching about the mind, about the body, and about

the Spirit. And that entails taking care of the physical body through food and physical

exercises and yoga postures. And then teaching people about also understanding some

aspects of the mind. But the mind is a complex structure. Where, in my research and

understanding, there's never been a clear definition of the mind. Many great scientists,

neurologists, psychologists have talked about and discussed about human beings and the

states of mind and consciousness, but none of them have ever really given a clear

definition of mind. My master, he defined mind as never-ending clash, ever changing

176

relative functional organism [laughs]. And that was an intriguing definition, that blew my

mind many, many years ago. So since then, the whole concept of mind has not been

explained. But now today in this age and time after 2000, "the next century", 21st century

now, and we are beginning to unravel the mysteries and the Mind by making it more ...

tangible, in terms of explanation, alright? breaking into parts and so that we can

understand it much more [inaudible]. So, there are fundamental components that when

you break it up, you begin to understand the points and if I asked you, what is water?

What would your response be?

A: Liquid material or ... well there are so many possibilities, an element, a vital life force.

J: Right. Imagine I was an alien, and I came to this planet, and you asked me, so, would

you like some water? And I say: what is water? How would you describe water to the

alien?

A: Wow, that's a really hard question. [laughs]

J: Isn't so simple, isn't it? [laughs] So, in the same way, if I asked you what is a mind?

How would you define the mind? So, here comes into [quasi-central(?)] all of that. So,

the best way to explain water in my opinion is to explain the functions of water. When

you explain the functions of the water, then you begin to correlate and understand, and

you can paint a picture ... Okay? This is water for example. If I ask you what is water and

you say it's an element as you just mentioned. True, is one of the elements of the entire

cosmos. And there are five elements. Then the second factor of the water element is earth,

water, fire, air and ether. So, water is an element. True. Then you can also say it's a

chemical compound. So, hydrogen and oxygen mixed together, and you get a fluid and

this fluid now, so called water, can function in the only element that exists in three levels

which is solid, liquid and vapor. So, in that sense we are able to describe the functions of

that structure on the water then we begin to understand what water is. So, Water is life

giving, means without water this planet is unable to thrive as it is. With water you can see

all its majesty. Yeah, in Nature. Like you can see also the desert, there's no water it's just

sand dunes but you can also see with water how the Amazon Forest can flourish.

Unfortunately, we are destroying it in such a vast dimension that one day when Amazon

becomes a desert, that's the end of this planet, I think. Just what my master in fact said

that if Amazon for us becomes a desert, that's the end of this planet. So, in that sense, we

explained the water, we explained the functions of the water. But if I ask you, the human

body is running on what? You said is a life force, right?

A: Yes.

J: So, we need fluid in this body. And what does water do? It transforms and then we

have blood. Imagine now, if I want to test your blood, what do I do? I don't drain your

entire body, then send it to the laboratory and then test the blood. Now, what do I do? I

take 100 mL of blood from your veins, and I test that 100 mL. I check for white blood

cells, red blood cells, for different components, minerals, vitamins and all the things then

I can say, okay, you are healthy person, your blood is healthy, or you are sick in your

blood is unhealthy, right? I don't drain your entire body. From the body let's go now to

the swimming pool water. If I want to test the water where I swim in the swimming pool,

what do I do? I don't drain the entire pool. I take 1 litre of it, and I check whether it's pH

is good for swimming or not. Let's go to another level. If I want to go and swim in the

beach in the ocean, on the sea, the local county will have to test the water. And what do

they do? They don't drain the entire sea or the ocean. You can't! [laughs] So what do you

do? You test the beach water; you take out a Litre/ two Litres, you bring it back to the

laboratory, you test for its pH, pH is good, there's no chemicals and not many pollutants

177

and then you put a green flag, blue flag, or you put a red flag, or you put a yellow flag.

So, you put a blue flag and everybody's happy everybody goes swim, right? You put a

red flag, that's it, no swimming. Now, you just take a small portion of that entire ocean,

and you test it and then you say: Wow! The ocean is clean enough to swim. Now, how

do you know the universe? How do you know the cosmos? How do you test the universe?

Now, to test the universe, you have to go into the human mind. The human mind is a

composite of the universe. This is how Rumi puts it, he says: "You are not just a drop of

the ocean. You are the entire ocean in the drop". So, we are nothing but a reflection of the

cosmic consciousness. Yes, like you will look at millions and millions of drops of water

after the rain in the moonlight night, after the rain you can see the sparkling of the moon

on each drop on the water, on the petals, on the leaves, on the flower, on the floor

anywhere, so, the reflection on the moon is present on each drop of the water. So, in the

same way, the human mind is a reflection of the entire cosmos. So, as the universe, so, is

the mind, and this is the idea that the philosophies of Tantra yoga propagate in order to

make people understand that the mind is a vast universe. So, you can explain the mind

again, diminish the mind. So, mind can become solid like the water, condense, and

become crystal like, or you can expand the mind like the steam become vapor. So, the

mind also exists in different stages, right? Like solid ice, like liquid, like steam, and all

of this is what? H2O!

A: Wow! [laughs] that's really beautiful and profound. Hmmm ... Joseph, I would like to

ask you what is Nature for yourself, subjectively?

J: Subjectively!?

A: Yes, or well ... even objectively, however you feel doing it.

J: We live in a relative world, and this relative world is based on subject and object. So,

to understand this whole nature, there is a subject and there's an object as an observer and

as an observed. So, subjective adjustment, objective approach. This is a course which we

need to understand, all right? When you look at nature, you are visualizing nature within

yourself. The only way you can perceive things is perceiving [what's] inside of you. Not

perceiving what's out there. This human body is a reflection of everything, like a mirror,

okay? To understand Nature, we have to understand ourselves first before we can

understand anything outside of ourselves, if we will treat this body as a mechanical

structure, which is outdated philosophy, outdated dogmatic philosophy in this material

world. If you look at this material world everything is defined as an object, physical

component, but this body is a relative object but functioning in a very high vibrational

level and we have to say that you are not in the body, the body is in the Spirit because

everything around us is nothing but vibration and these vibrations are emanating from

that point in the space, and in that sense, it's being condensed and then recreated. So, In

Sanskrit, there's a terminology called Nirguna. Where existence is unmanifested but it's

just in linear form. And from that linear form, begins the first curvature. And that first

curvature in Sanskrit is called Nada. Nada means it's where desire manifests in that vast

cosmos. It's like if you sometimes in your life, had this feeling of "I want to be alone for

some time" and you go away, go for a retreat, you either go to the mountains, islands,

forests, or desert, right? Let's take an example, you go to the desert, and you want to be

alone, right, want to be away from everybody. How long will you be there? After some

time, you get tired of being in a desert and you want to come back to society again. So,

imagine the time that you wanted to be alone. You are alone. And you are alone forever.

There’s no insects, there's no birds, there's no plants, there's no animals, there's nothing

around you are absolutely alone, imagine you are in the Sahara Desert. How long you

think you can last there? Not very long, Isn't it?

178

A: True

J: Right. In the same way, in the philosophical sense, we have to understand that nothing

can come out of nothing. (But) There must be some force behind or some intelligence

behind to create everything. And today science has come to that understanding, there is a

force that's guiding everything in the entire cosmos. Vibration cannot just appear out of

nothing. Okay? So, there's like, if you have a thought, it didn't just come out of it blindly

or it came out from somewhere. So, something cannot come out of nothing. So, there

must have been some force behind, so that force we call in the philosophy of Tantra, or

Yoga, or you go as far as you, to the Vedas, is all based on that ... Unity, oneness, from

that oneness came out everything. In that process, there is a system that is developed by

the cosmic force. And that system has two sides, from the desire bursts out the line which

creates everything. And that creation, we can say, is Nature. That part of the creation is

Nature and behind everything that you see in Nature there is that force intrinsically

embedded in it. For example, if you look at yourself, there's an entity inside of you that

says: this body belongs to me. You call yourself Alex. But who is Alex? Alex, it was a

name given to you by your parents or someone [else]. And this physical structure is now

given name Alex. But if I asked you, who is it that is saying to you that: I am Alex! ... I

know myself! There’re two entities. If I say this hand belongs to me, there's somebody

who's owning this body, who is that owner? So, in the quest to understand this thousands

of years ago, people have asked the same questions: Who am I? Where am I coming from?

What do I do? And where do I go once I leave this body? So, like that, many seers, great

masters, have been searching for this, and they have come up with definitions and they've

come up with explanations because every one of them [was] having insight. Everything

eventually came out from love. Now, it may be a bit complex to explain this in scientific

form, right? Because no science can explain love. And I've defined love as this, L. O. V.

E. life’s origin is vibrational and eternal. So, our origin came from a microscopic form of

life, right? And it's nothing but vibration, the atom is nothing but vibration, you know that

99.999% of the atom is vibration. So, it is atoms, [that evolved to] as minute molecules

[that] formed together the male and the female, forming life. It came from vibration,

right? The origin is vibrational and is eternal, Science says energy cannot be destroyed, it

can only be transformed. It's never lost, it gets recycled. So, the whole cosmos and

everything is getting recycled, nothing is wasted. In that sense, coming back to the

question of Nature, Prakriti, is what we call Nature in Tantra, the creative force is

Purusha in Sanskrit or the cognitive mind, is the force of intelligence behind the operative

principle and that operative principle is Nature. So, Nature itself has three forces in order

to go about creating everything, Nature creates everything with some tools. The tools of

Nature are what we call the Static Force, the Mutating Force and the Sentient Force. Now

before Nature can begin, there is two aspects to the creation, right? The first one is that

pure, conscious existence which is no vibration, and from there desire is created, and from

that desire two things begin. And that is like the side of the paper. Have you ever seen a

paper with two sides? Yes. Have you ever seen a paper with only one side? Never

[laughs]. You will never see that. And you'll never see a being without a mind. A human

being without a mind. You can never say there is a human being without a mind, right?

So, this is intrinsic. And that duality began from the point of creation. That's the reason

why in Nature, you always see duality, but duality is not the cause of creation, unity is

the cause of creation, unity had a desire and it manifested and then it became dual, and

duality pervades everything, you see up and down, hot and cold, black and white, in and

out, beauty and ugly, hate and love, in everything you see duality. So, from this duality

and this one aspect of the paper, we can say cognitive mind, the intellect behind or the

force behind and then the operational principle behind the creative faculty behind all

179

nature, right. So, one side of paper is nature. [The other] One side of paper is the creative

force, the intellectual force. So, from there begins, and then this creative force has these

three tools which is mutative, which is destructive, and which is sentient. Then in that

aspect of creation, from the atomic structure, the intellectual force is always the mind,

and that mind is a Cosmic Mind. And then it all begins manifestation. And from there

comes out the ethereal factor, the aerial factor, condensation into fire, into water, into

solid, right. Then from there begins, the human mind comes into physical matter, so, from

consciousness came matter and from matter came mind, mind in the unit form, unit form

meaning you are the unit mind, I'm the unit mind, meaning what Rumi put it so elegantly.

"You are not just a drop of the ocean. You are the entire ocean in the drop". So, this is the

unit mind.

A: Oh, thank you. I would like to ask you, generally how much time do you spend in

nature environment.

J: From very young, I spent time in nature just by curiosity. When I was very young,

when my father was meditating and praying, he used to pray to Shiva, and I was just very

curious, and I asked him: "Where's God? You're praying do the image of Siva but, where's

God?" He replied very simply: "God is everywhere. You just need to close your eyes and

see". Okay, understood [laughs]. From like very young age, until I remember like 6, 8

years old until 16, 17 years old. I used to wander away and spend time in nature or I used

to look at the stones in the river, leaves and the insects and the bees and the butterfly, a

caterpillar I just keep standing looking at it, and I just sit and observe Nature. And I tell

you Nature is miraculous! Nature is magnificent, stupendous! We have no understanding

of how Nature bids, how it began to create. We all just think blindly that you put a seed

in, and it just grows, but there's a force behind this guiding you [it]. You take a plant and

put it in your house by the window, and [if] the room is dark, the plant will lean towards

the window. Why is the plant doing that? Isn't there an intrinsic intelligence behind the

plant to say: you have to move towards the sun? But what is telling this plant to move

towards the sun? Isn't that being some intelligence force? Like that, the intelligent force

is in every molecule, every atom, and this is how Nature became so diverse. It's so

magnificent in its form, and beauty, and colour. So, I spent a lot of time in nature, just

marvelling these things. And that curiosity, or wanting to know, provoke me to become

a seeker of the truth. I wanted to know what is behind all this magic that we see every

day. From a very young age, I understood that one day on, I'm going to be a monk. And

I even had a calling for that, once at 10 years old I was playing football in the field with

my friends, and I heard a voice telling me: "You're going to be a monk one day. You're

going to seek and find out and teach this". I know, okay, I came back playing football.

Then at age of 14, it hit me in a very big way. Something hit me when I saw an old man

walking on my way to school. I've seen this guy in my village every day. And I looked at

him and I understood, well, one day, I'm going to end up like that. 70 years old, walking

double bent, wondering, wow, this is going to happen to everybody. It's going to happen

to me too, better take care of my health. So, I was very active, dynamic, responsive. Until

today for me, my number one priority is my health. And today, right now, we are having

a discussion but I'm on a fasting, liquid fasting, just juicing and eating fruits for the next

two weeks. And at this age I can say I'm very flexible, very healthy, don't get sick, very

hardly I get sick, and even if any illnesses come by my body just heals itself miraculously.

And I cannot say miraculous because I understand the magic behind the mill. And today

we are in a lockdown everywhere in the world first time in the history of the entire planet,

that there is no movement. Everybody's still at home. Everybody has time to contemplate.

And Nature has provoked this because we humans are beginning to destroy the planet(!)

180

and nature has provoked this. Can you explain the phenomenon? Some people say it's

been created by man, this disease, these viruses, and all that. But this is the power of

Nature. It has put the planet on hold and is giving us a warning. We better change or our

species is going to disappear from this planet forever. Many species have come, many

species have gone, and we are just another species. But this planet will continue because

it's been around for 14 billion years 13.7 to be exact, according to physicists. Now, we

are just a blip on the planet, been around for a million years. And dinosaurs have been

here 65 million years ago, and they are gone [laughs]. Who are we to compete? I think

we are smart enough to learn from this lesson that we need to change our lifestyle and our

way of life. And more and more people will awaken to this higher consciousness, I'm

sure. So, your question of how long I spend in Nature, I spend my entire life in Nature. I

love the ocean, I love the forests, I love the mountains, I love the sea. I've been to 140

countries in the world in the past years, being a monk, traveling around. One other reason

is because I want to know my home, the Earth is my home. And it's not just another planet.

So, I get very angry with people ... people abuse the planet. And being angry is really

useless, but we need to educate people. We need to teach people that our lifestyle is

destroying the planet, and we need to conform to a new way of life.

A: Thank you for these words, Joseph regarding this huge ecological crisis that our planet

is passing at this moment. You personally, which type of actions do you take to reduce

your own impact?

J: Wow, that's a very powerful question. Now, I've been doing that since the past 40 years

of my life, 40/45 years of my life I can say. And I am vegan by nature, I've stopped even

taking a cow/animal product since I came here to Europe because I see the way they've

been abusing animals. Number one, going vegan is a big step towards transforming our

planet. And I have to be honest, that I'm not 100% vegan, I would say I'm 99% vegan.

But I still feel that some form of animal product is still necessary, like for spiritual

practice, and strengthening your nervous system. Casein [protein] that comes from animal

product which is primarily present in cow's milk, and sheep's, milk and goat's milk. It's a

necessity for strengthening your nervous system for particular spiritual practices of

Pranayama, it's vital I would say, when you go deeper into higher consciousness, you

[need to] strengthen your nervous system. And my practices have brought me to this

understanding that without the Nature we all die, so we need to respect Nature. We need

to take care of all beings in Nature. So, going vegetarian, going vegan, being conscious

is very important because of several things, ethically, if we cannot give life, we have no

right to take life, number one. Everything has life, even plants have life. But in order for

me to sustain my physical body, I need to consume something, I need to eat something

unless you have developed the capacity to go to the cave and stay without eating,

right, which not many people can do [laughs]. So, for the people in society, we need to

have a particular lifestyle that can sustain you, at the same time, sustain the environment.

Well, going vegetarian and going vegan is a primary requirement, today right now.

Because our agricultural system is destroying the planet, the corporations are making the

agricultural system in such a way that we are not becoming sustainable. So, to go back to

sustainability, we have to look at local production, not global production. And if each and

every one of us go back and think globally, but act local, what does that mean? You are

able to produce your own food in your own environment, meaning each and every country

has to become sustainable to produce their own food. And we all are able to do that. And

this multi-level corporations are producing food in such vast quantity, if you look at the

amount of food that's being wasted, from the time it leaves the earth until the food arrives

on your plate 50% of all production goes to waste, it goes back and gets destroyed. And

181

that's a vast wastage of resources. So local production should be encouraged in order to

sustain our planet. And we all need to take responsibility of how we consume food and

not waste food. And the food that we eat in order to sustain our physical body, mind, and

also elevate our consciousness is food that we produce ourselves. And every one of us

can produce food ourselves in a very simple way, and it's not very difficult. Eating the

processed food is what makes us sick. And eating natural food is what keeps us healthy.

And nature is designed in such a way that each and every one of us can have our nutrition

to its fullest in the local environment. The cost of flying bananas from South America to

Europe, its tremendous waste, the fuel, the production, the transportation and everything

involved it's such a waste of resources. So, the way we are looking at Nature, we need to

think differently, and we need to respect nature, and we need to change our lifestyle. So

being vegetarian and going vegan is one way that we can save our planet. Because even

if we think that all of us go, what we call organic, and produce meat organically and fish

organically and sheep organically and pigs organically there is no planet enough to feed

them all. God there is no space enough to feed all the agriculture animals, and there are

70 billion agricultural animals on the planet, and we are 7 billion now coming to 8 billion

already soon. And to feed the vast amount of human population, we have to go vegetarian.

And we have enough stock of food around now, at this particular moment, to feed the

planet ten times over, all right? This is not what I'm saying, you can go and do your

research and you will find out but the vast majority of the food that we have, we are

feeding to the animals, to the cows, to the sheeps, to the goats, to the pigs, to the fish, and

then we are eating the fish and then we are saying there is not enough food. This is

completely ridiculous! Human intelligence is vast, much vaster than this, it's because of

the system that we are living in this so-called system of monopolies, system of capitalism

of gaining wealth and riches and holding it, is destroying our planet and that system needs

to change. And that begins from each and every one of us. We need to go back and re-

evaluate our life in terms of sustainability. Taking care of the plants, the animals, the

insects, the minerals that we have, the soil, the earth, everything has to be respected. And

all of this is what is giving us life. So, I live like that, and I share this with all my students,

I conduct classes and courses and if people are interested, of course they are welcome to

come and learn. And we have centres like that all around the world to teach people about

this lifestyle. So, Nature, coming back to your question, how do I live? I wake up early

in the morning at 4:30 am, I do my practice of meditation until eight o'clock, I do my

yoga postures, everything is done. Then in the morning I make a smoothie and walk out

into my field. I pick up normal grass, just normal grass, I cut the grass, I blend it, I take

out the pulp and the juice is green in colour, I add a few apples, put some orange,

sometimes a banana, or put some coconut oil, some olive oil, sesame oil, whichever is

available. And I blend everything in and make a smoothie and that's my breakfast. And

for lunch we make amazing vegetables and grains and nuts. And then in the evening we

have a simple soup with vegetables, and we are super-duper healthy. And in this moment

because of this Coronavirus in Portugal, we go out to do social service. We feed the guys

in the streets, the homeless people and today because of the economic downturn, many

people have lost their jobs and employment and they have no money to buy food, so we

go and distribute food with them. And we are super-duper healthy. None of us are sick.

We've been doing this for two months going through the streets, meeting people. And the

biggest problem today, with this Coronavirus, is a fear that is being propagated, that

people are getting paranoid with, which is also unnecessary. And I don't want to go into

that, but the thing is this is just a big bluff. Like always people are a manifestation of all

these big multinationals and corporations to keep people from organizing the world in

order to go into the next phase of human existence. And its people like you, me and

182

everybody else have to awaken to this and understand that mind should not be

manipulated, and it is being manipulated. And in order not to be manipulated, we need to

take back control of our mind, and that is understanding our body, mind and

understanding our nature.

A: Thank you for such profound knowledge, Joseph since we are in this field, could I ask

about your political ideology? How would you define it?

J: My political ideology? Well, it's simple, we are first and foremost human beings, and

when we consider that we all become brothers and sisters, and everyone on this planet,

each and every being on this planet is family. And family means taking care of each other.

And family does not just mean humanity, it means the entire species of humanity, which

is all plants, the animals, the birds, insects, the Nature, which is the ocean, the sea, the

sky, the river, everything, everything involved, this is all one we are one planet, we do

not have another planet to migrate to. So, according to your question on what my political

view is, we are one human species, and this human species is destroying the planet. So,

there is no political science behind this. We are family, full stop. And we need to act and

work as one in order to take care of everybody, the mother and the father and the children,

is family, right. The government has to act in that sense as a family. They need to work

together. No political party is going to come and change or solve the problem. We human

beings, as citizens of this planet, need to take action and we all need to act as one. There

is no political party, there is one political party, human party, humanity is one party.

A: Namaskar! Joseph passing to more spiritual questions. Since you are a monk and on

previous meetings, we aborded different types of meditation and different levels of altered

states of consciousness, I would like to ask you, if possible, if you could define what is

an altered state of consciousness.

J: An altered state of consciousness!? Define!?

A: Yes.

J: My god! [laughs] There is no definition for that, if I can define that, I'll be called a

nutcase. You cannot define the altered state of consciousness, you have to experience [it].

Now to try to put it into words will not justify it, but we can try to understand that through

the feeling of love. Okay? Now, when you are in love, is there a sense of boundary? Is

there a sense of definition? Of who you are and what you are? Is there any identification

of the existence? No! It's just a feeling. So, in that sense the un-altered state of

consciousness in the philosophy of the Vedas, the Upanishads, the Tantra and all other

cultural explanations, everybody can just articulate it into words, but words do not justify

the feelings that we carry when we experience it, because it's limited. So, to articulate

non-causal, these altered states of experiences is two different things. These higher altered

states people experience, can come through abuse of drugs, right? Nowadays DMT is

called the molecule of God, dimethyltryptamine, or something like that ... and you can

create them [reach those states] yourself through processes of Pranayama and when you

go into those states, so called higher ... I would mention not altered states but higher

causal experiences. And these experiences in the philosophy of Tantra is explained as

Samadhi. There are various layers of Samadhi, and these layers of Samadhi can be

defined, and those definitions are not easy to explain but I can send you some written

texts that my master wrote, and I can share those texts with you. And that´s my only

reference to that because I cannot put those experiences into words. And my master has

given us amazing history in literature which I can share with you, and I can speak from

that perspective, and in my own experience, all being meditation of the past 20 ... 40

years. I can tell you this much, that once you cross a threshold in yourself within your

183

mind, you can only bring back the experience. You cannot bring back the words because

it's too vast to explain. Can you define the ocean? We look to the stars and galaxies, and

we know about the cosmos much more than we know about our own earth, our own ocean

to be correct. The ocean is so vast, we have maybe discovered less than 20%, now I might

be wrong, maybe even less than that, I don't know. Put words into this is not easy, so, I

can share with you those experiences. One of those experiences ... I've had several ... and

one of those experiences is in the process of meditation, when you withdraw, right, there's

a process of withdrawal, you withdraw from the physical body and then you withdraw

from the mind, then you connect your mind to a higher vibration and this form of higher

vibration can come through connecting through sounds, okay? Because sounds are the

primordial link to the higher connection, to the higher consciousness. There must be a

medium for you to link, right now we are speaking, you are in Norway, and I'm here.

How are we connecting? Right? There's a system of vibration that's being emanated

through the radio wave, radio frequency. And then this electrical system is powering all

the machines that we are using here, then there is no wire connected through you and me.

I am not even connected to any telephone line. So how are we speaking? We are

transmitting our voice vibration through the medium of sound, right?

A: True.

J: So, this medium of sound carries very subtle waves. And we as human beings with our

sensory capacity, will perceive a very limited spectrum of that wavelength. Right? A dog

can hear sounds that you and I cannot hear, a bat can hear sounds that you and I cannot

hear. A fox can see in the night, the tiger can see in the night through infrared vision, that

you and I cannot see, we only see blackness. Our senses are limited. So, with this sense

of being so limited how can we define the vastness of the entire cosmos and then how can

we go and give words to this infinity? So, in that sense in the philosophy of Tantra, it is

explained that when you do deep meditation, you will achieve a certain state and that state

is called Samadhi. And that Samadhi state, the word Samadhi itself, Sama means in

Sanskrit, to be one, to be one with your objective, your goal. The principles of the practice,

the applications of the practice will bring you to these states and that is through practice

of controlling your diet through sustaining your body with sentient diet, we go to the

extent of not even taking onion, garlic, eggs or mushroom. So, not to perturb biological

functions of the body. Because if you want to make your body subtle, you need to feed

the body with subtle nutrition. If you feed the body with dense nutrition, then your body

is unable to perceive those higher sensory vibrations. In that context, we are very, very

particular about our diet. The reason for that is in order to be able to experience higher

vibrations beyond the consciousness of the mind. So, when you do meditation and you

hook your brain up, or your head, and they put these cables and all that, and you measure

it in the encephalogram, you can pick up the beta wave, the alpha wave, the theta wave,

and the delta wave. Scientists have done studies, neurologists have done studies, and

people have gone to states and it's just like a flatline, and then they say, well, flatline

means you're dead [laughs], but you are conscious, you're conscious in a super dynamic

level which even the machines cannot perceive. So, that state is called Samadhi. Now,

these Samadhi states are on various levels and these various levels of Samadhi states can

be explained through our inferential and non-inferential experiences. Now, how would I

put it to you ... in a way that makes sense. I can only tell you what my master has

explained. So, when you withdraw the physical body, when you withdraw the mind from

the physical body, the first stage that you experience is a sense of feeling that I exists, that

I am here, then you feel that this presence of me being here, and you connect with

everything around you. Then the second stage of this sensation is you feel that I am here,

184

but there is some presence around me, and that presence is everything around you, when

you see objectively ... and beyond that, there is a sense of feeling that I'm not alone, that

there is other presence around. For example, you go to a metro station, and you take a

train, and you see the whole platform bay, thousands of people, hundreds of people, and

you go into the train, and you feel the other people around you, you're not alone. There's

a sense that I am here but there are others also around you, there's presence of people

around. In the next stage ... you have an experience that there is not just the physical

presence, there's subtleness, presence of subtleness around you, you can sense subtle

vibrations. For example, you are in the same train station and there's no one around you,

and you go into the train/metro, and you sit there, the whole compartment is empty,

somebody walks in, and that person comes and sits right beside you. How do you feel?

You'll think this guy's crazy. Why is he invading my personal space? So many empty

seats and he comes and sits beside me, this guy is nuts! [laughs] That's the immediate

feeling you'll feel. There's a space around you and that space you feel is your boundary.

If somebody comes too close, you feel that this guy is coming to my boundary. Why is

that? So, this is another expanded state of experience. Now when you go deeper into

meditation, the next stage is, you know you are close with somebody, for instance, you

may have a wife or a girlfriend, all that, you are close together but at some point, in your

being together you want to be alone. You say I need my space, even that company of

being together, you don't feel comfortable, you want to go away, and you want to be

separate. Why? Your space is getting expanded now. Now the next stage, you feel there

is this presence in a much subtler level, so you feel the presence of ... let’s say your mother

or your father. You are sitting in Norway; you've not seen your mother nor your father.

You think about your mother, you think about your father. And then suddenly your

mother and father call you and you connect with them. Immediately you feel the presence

around. In the same way, your space has expanded so far that you are mentally connecting

with your parents while in another place. That's the next stage. And then comes another

stage where you feel that oneness. Even being alone, that person that you are with

[mentally], is right there with you, may not be physically but you can feel that person's

physical presence. Now, there is still the definition of: I am together. In the Bible, Christ

in the beginning said, me and my father, then in the end of the Bible, he said, me and my

father are one ... and there you begin to merge. When you merge into one, if I ask you

Alex, you are the drop of the ocean and I put you back into the ocean. Can you tell me

which drop you are?

A: No, that's impossible.

J: Exactly! So, trying to say I can define that non causal state, there is no words that

define it, it's an experience. There's a little metaphorical story of three dolls, made of salt,

they are on one side of a wall, and they are saying, we need to go to the other side of the

wall, we need to go and see what's on the other side. One jumps over the wall, climbs up

with the help of the other two, then he looks over the wall and he says: Wow, let me go

down there and then come back and tell you ... he goes down, and he doesn't come back,

the other two are waiting on this side, one says: Let me go and see what happened to him.

He jumps up the wall and he goes: Wow, amazing! Wait, let me come back and tell you

... he goes over the other side, and he doesn't come back. And this guy on this side is lost,

he doesn't know what's on the other side. So, [now on the other side] as a doll made of

salt he says: let me go into the ocean and see how deep it is, telling its friend ... You think

the doll will ever come back? It's going to become one with the ocean! So, you will never

know ... My master defined himself, he wrote his autobiography as many devotees were

asking him: Master, please write us your autobiography! ... Many years they were hassling

185

him. And one day he's like: Okay, okay, give me a pen and paper, I will write you out my

autobiography ... They were so excited; they came and gave him pen and paper. Then he

said: Later you come back in and I'll give it to you ... then in the evening, if I'm not

mistaken, they came back and he said: It's written there, go and take a look ... Wow, he

wrote it so fast! So, they went to the table and saw the piece of paper, they picked up that

piece of paper, and he wrote - "I am a mystery. I was a mystery. I am a mystery, and I

will always remain a mystery." [laughs] When we think we know about the universe, we

are thrown into another level of trying to uncover the mystery. The last time they directed

the Hubble telescope to an area where they thought, maybe there's nothing here, let's see

this empty space or this black patch in the vast universe. What is this? They zoomed into

the emptiness, and they were boggled! Totally! The vastness of that entire area showed

clusters of galaxies. So, the deeper you go, the more complex it gets. When we think, we

are coming to the Age of Discovery, then opens another Pandora box, and then we are

lost again. It's impossible to define what is infinity. So, this expansion you can experience

mentally in yourself by meditation, and you can only bring back the experience, you

cannot put words to define it. I am not going to be the first one to say yes, I can define it,

because all the masters, all the seers, all the sages in thousands of years have said the

same thing. That experience is the experience of cosmic love. Multiply that experience of

love that you have, this feeling for your mother, your father, your girlfriend, multiply it a

million, a zillion times ... that is the experience on that stage. That's the closest I can come

to give you words.

A: Those words so far exactly what I was looking for. Thank you so much.

J: Okay, I will look into those specific terminologies that my master defined as what he

called Samadhi, I'll send you an article and you can use it, you can give credit to that

article in the name of Sri Sri Anandamurti and you can use it, that I will give you

permission to write about.

A: I will definitely check that out! Joseph, the book about your master is "Advent of a

Mystery", right?

J: Exactly. There are many, many, many books. One of the best books right now about

my master is the "Advent of a Mystery", you can buy it at Amazon and you should read

about it because there's many thing explained the way I've explained to you, the author

has written there very well, he has done 25 years of research by talking to those people

who had the experience with my master, and every one of them have returned personal

experiences. You will see it's an amazing book, I think it's a much more powerful book

than "The Autobiography of a Yogi". I think it's going to become a very successful book

in the next, maybe 5 ... 10 years, we'll see. It's a have to read for you, this book.

A: Ok, great! I'll try to order it.

J: I can share with you some texts right now and read to you the first, second, third, fourth,

fifth and sixth stages of this non causal experiences, if you like, I can read it and then I

can explain that to you.

A: Yes, I'm definitely up for it.

J: Because reading it, you may understand things, but the explanation is vital, it's very

important to understand. Yeah?

A: Yes.

J: All right. So, one of these stages, is the term Salokiya* Samadhi. Salokiya Samadhi is

a sense of ... proximity, these are his words, proximity in the sense that he feels, that force

186

which I used earlier, the cosmic force is present with you. It's a status and you feel that

there is a force that's with me. In that first phase, you feel the question of: Where am I?

Is this force with me? You ask this question, right? Then in the second phase, you have

your eyes closed and you feel some force very near to me. And that presence of feeling,

that proximity, comes because you are reducing the gap between entity. So, that first

phase of Samadhi, is the so called Salokiya Samadhi. In the second phase of that

proximity, he calls it, Samipiya* Samadhi, Samipiya is knowing, consciously knowing

that there is a presence. You asked me several questions earlier ... [about] how I spend

my time, if I spend my time in Nature ... and during that time that I spent in Nature from

8 to 16 [years old] ... I'm still spending a lot of time in Nature now ... But those times

were very significant for me because that really moulded my life, in that sense. At that

time, I used to have this sensation of this feeling, of that closeness, the proximity, sitting

there in Nature just understanding you know, just focusing, looking at the rocks, and

looking at the sand, looking at the river, looking at the leaves, looking at the tree, looking

at the insects, and the bees, the butterfly, the ants ... that there was this sense of proximity

with them. So, the first two stages ... the first stage is Salokiya, then the second stage is

called Samipiya ... it's that proximity that you feel, and through meditation you experience

it. The third stage is called Sarupya, then in that Sarupya stage is that feeling of oneness

... with your girlfriend, just saying, then separating again, that you still feel I need my

space. So, these different stages by dint of meditation, you will experience, and when you

experience it you can, what do we call, put your finger to it, you have close contact with

that experience, but you still cannot give words. Here he explains it very well. I'm going

to share that text with you. I think it's best you read it, and after reading it we can have a

chat again. Maybe that will be a better way to go through the next phase[s].

A: Ok, perfect! I just wanted to do like 2 or 3 questions more and then I think we could

be done with the interview. I will read the text afterwards and call you back in a couple

of days to clarify it.

J: Okay.

A: I would like to ask you if you could briefly talk about your master since you referred

to him a couple of times [so far].

J: Oh ... well ... he was born in India, in Jamalpur, in 1921. At a very young age he was

already showing a lot of what he called potentials and capacities that normal people could

not understand. When he was born, usually in India we have a ceremony where we give

the child some liquid food to ingest up to the first three days or four days, and in that

moment when they were doing the ceremony, he was just a newborn baby, just a couple

days old. When the grandmother picked up a shell, a conch shell, it's like a fluted shell

where they put the milk inside and they feed the baby with the milk to the mouth. She

was holding his head and putting that fluted conch shell into his mouth, to put a few drops

of milk in the mouth, he grabbed the hand of the grandmother which was holding the

conch and he drank the milk himself. Okay, that's one phenomenon. The grandmother

was totally shocked, and she said: My God ... Babu! ... [which] means very old soul. That

was the first word that she added after his actions. The next few years were really dotted

with mind boggling experiences for the whole family. So, what he did was, in the next

stage he was going to school, his friends all used to call him the encyclopaedia. You asked

him anything on the subject matter, he would explain to you, anything, he was like a big

open dictionary, and encyclopaedia, he would read to you, tell you things, you could not

[find anywhere else] it just was just mind boggling. As he grew up older, after going to

school and college and all that, started his work life very early and he got employed in a

railway station, at the British East Indian Railway Company, he started working at a very

187

early age in order to help the family, to sustain himself. From school life he went to work

and during his school life, even just being a student ... many things happened, but one

very phenomenal thing happened to him, it was his first disciple, that he initiated into

meditation, and this guy was a very famous robber, thief, and murderer in that so called

village or county. One day when he was doing meditation by the river Ganges, this

particular thief, or person ... was observing this young man sitting and meditating alone

at night and he thought, another prey for him. So ... he was hiding behind a pillar

observing my master doing meditation at 17 years old and before he could come and rob

him, my master called him and asked him: Kalikananda come forward! Why are you

hiding? And he got shocked, he started trembling. Oh, how this guy knows I'm here! Then

somehow, he just stepped forward in front of him, trembling. How do you know who I

am? He said: Why did you have to do these things? ... Go to the Ganges River, take a

bath, and come out, I'll teach you meditation. And he, just like a robot, followed these

orders, he went to bath and back ... and then my master initiated him, taught him

meditation. So, the first person he initiated was unorthodox, was a thief and a killer

[laughs] ... Can you imagine? That proves to everybody that anybody can develop higher

consciousness and understanding of it. And he began practicing and he became a great

salika* and a great saint in our circle of members in organization, and all that. That person

is today called Kalikananda, you will read the story in that book. Kalikananda was one of

the first disciples of our Master, at the age of 17. And he went on, at 17 years old he

started designing the organization. At one point, after school, college time, at a very

young age, I think like 7 or 8 years old, when he was at home lying down in bed, when

kids and children are playing all day and studying and things like that, his older sister

came and asked him: You useless! Just lying down here the whole week, not studying,

not doing your work ... she scolded him and left. He immediately took a piece of paper,

he wrote down his name, I think in five different languages, and he wrote several other

stuff, in different languages, and he left it on the table. After some time, his sister read

that, and she got completely shocked. She never said a word after that. When he was 17

years old, he lied down in his bedroom again, in his free time, and he said he designed

the entire organization mentally. Since then, he's been teaching people meditation, to

many people individually, without exposing himself too much. Like that, in 1955 he

started an organization, and through that process he developed a worldwide organization

in the matter of 20 years. This organization is now present in 180 countries or more with

dedicated volunteer monks like me, full time, spreading his ideology and practices. He

has written more than ... I don't know, I don't have the count of it ... but there's probably

more than 400 or 500 books, in every topic, he has given new signs of medicine, new

signs of agriculture, new signs of geography, new signs of understanding and rewriting

history, math, new signs of microvita medicine that will revolutionize the world in the

near future, he has given re-written history in such a way that people never understood,

he has given signs of language and art. He has written the melody, the music, and the

lyrics of 5018 songs within eight years. Spiritual songs which is mind boggling. Just to

give you a comparison, one of the greatest poets in India is called Rabindranath Tagore,

who lived until the age of 65, and in his entire life he composed 2500 songs, poetic songs,

spiritual songs ... while my master wrote 5018 songs in a matter of eight years. So, you

see, yeah? And the big majority of the intellectuals of India [are] today studying his work,

in every field, in the field of music, in the field of science, in the field of history, in the

field of medicine, in the field of language ... And its mind boggling for them, how could

one person be able to do such vast things in a short lifespan? When he left his physical

body, it was a sad day for many people, but he left in the same way as he came, in a very

mysterious way. He never told anybody. The greatest gift of my master is to show

188

humility, simplicity, and spiritedness. He lived throughout his life without giving a scope

at any moment for people to say that he was egoistic, he kept his ego in check, from the

day he was born until the day he died. No one was able to come close to him if he did not

want them close to him, so he attracted people that he wanted. Once he said that he

attracted those people who were willing to sacrifice their lives for the benefit of humanity,

meaning for the planet, those people he attracted towards him. He would never give an

interview to a journalist or talk to anybody in the public, unless and until they were doing

meditation and following principles and values of human values, Yama and Niyama, I

would say the best would be for you to get a copy of the "Advent of Mystery" and go and

verify what I've told you.

A: I definitely will. I would like to pose you one last question ... in much of the literature

that I've analysed, psychedelics appear as one of the main ways of reaching altered states

of consciousness and mystical experiences. Could you elaborate your opinion about it? I

know that you are against it, we have aborted it briefly on a previous occasion ... and I

would like you to expose it, so I could use this type of material for my thesis.

J: Okay, what exactly you want me to say? What is an altered state with psychedelic

drugs? What can it do to you?

A: Yes ... or how they can affect us, if there's a bad side of it, for example.

J: Okay, all right, that's a good question. You see, today in our society. There is a kind of

... Can we just pause for two minutes? I need to go and answer nature's call [laughs].

A: Yes, for sure, no problems.

J: Okay. So, regarding the question of psychedelics and how it's going to affect you. I

have seen from very young age, that many people after taking all this amphetamines and

stuff, I don't know whatever name they give, you know, ecstasy and all the psychedelic

stuff ... they drop off and then physically they're wasted. Now, you can see there's people

all over the world looking for something beyond themselves or in the same way there's

people who are looking for things beyond themselves and have experienced it without

taking any of these psychedelics, right? So, the component to understand that, is within

us. When you alter yourself with a substance from an external level, what happens is you

are damaging your entire nervous system. How to metaphorically explain this ... if you

had a light bulb in your room that is being powered by a voltage of 220 volts. Now,

imagine there is a power surge, suddenly, an electrical storm, thunderstorm, hit

somewhere and those thousands and thousands of voltages of that power when the

lightning hits and somehow connects to your electrical grid ... What do you think will

happen to the light bulb? It will blow. Yes, totally, you'll just fry the light bulb … Are

you there? Hello?

A: Yes, yes, yes, I'm listening.

J: Right. In the same way, this physical body has certain potentials, certain capacity, and

in order to experience these higher states, you need to prepare the body. Another example

I can give you is, you take an ordinary clear glass bottle, a decanter, you can pour normal

water, you can pour juice, you can pour wine, you can pour everything. So, let's take an

example of a beautiful wine glass, crystal glass, and you drink wine out of it, you use the

glass in such meticulous way because there's beautiful, refined shapes and all that.

Imagine now, instead of pouring wine, you pour boiling water into the wine cup, what

will happen to the cup? It will crack, instantly. Why? It's not designed to hold high

temperature [as] the light bulb is not designed to take more than 220 volts. If you take the

human being and you try to subject it to a high voltage, you will fry the human being as

189

well. Now, the drugs and the chemical substances that people are taking in order to

experience these higher states, it's a particular level of experience, is one particular realm,

it opens up your mind, inside, through these chemical processes, and you can experience

these states. Most of the people that I have experience with who come back and tell me,

like I said earlier, their words/worlds [?] are limited. They say they see amazing colours,

and nebulas, and stars, and galaxies and all that. All this comes from the pictures they

have seen, and of course, in your mind's eye, you can close your eyes, you can see this, I

have seen this myself. I have seen this vast nebulas, vast galaxies, I've seen the entire

universe inside of my mind through my process of meditation. And I'm not gazing one

universe, I've seen several universes, and this is even much more mind boggling than just

looking at stars and galaxies and nebulas. So, that altered ... I will not use the word altered

state to say that ... that causal state ... when you're taking drugs is an altered state, but

when you are doing meditation is a causal state. So, I'll use these words in a very specific

way. The altered state affected by drugs, stimulates your nervous system, and explicitly

provokes the glands in your body specifically your pineal gland and your pituitary gland,

and I am sure it affects all the other glands because all these glands secrete hormones.

One of the hormones secreted from the pineal gland is called serotonin and another

hormone is called melatonin. These two hormones control your biological clock and also

your state of being happy or sad. So, these chemical substances, provoke certain reactions

in the pineal gland and opens a channel, opens a door for you to experience these so-

called altered states, which when these people come back, and they define and explain it,

it's limited in itself. Some people say I've seen God. Well ... Some people say I see magical

colours, immense bliss and states of happiness, but when they come back for most of the

time, from my experience what I've seen, their body and their minds are wasted. So,

frequent use of this chemical substances, what happens is, wears out the nervous

system. It's like you're taking a beautiful flower, a lotus flower, and keep on putting

pressure on it. What I mean by pressure, if you sit on a lotus flower, what will happen to

it? You just crushing it, you lose its beauty, its essence and everything. But then [if] you

put it out, somehow it can maybe bloom back gently, but it will be scarred already, those

petals in the lotus flower will be permanently scarred. It will never blossom or bloom in

its magnificence anymore, the lines will be there. Maybe if it survived being crushed, new

petals can grow, but those new petals will also have some form of deformed structure

within it. The body's nervous system is designed specifically, and when it's being abused

by all these substances and drugs, it can cause permanent damage. I have a very close

friend, he is 45 years old now, and he tried using cocaine and ecstasy when he was 14

years old. Until today, he says he hears a buzzing sound in his ears, a ringtone in his ears.

He's been initiated when he was very young, 16 years old, and he came out of the drug

situation. Until today, he cannot sit for meditation for more than 10 minutes, because

when he concentrates his mind, the sound gets intense. So, he can only do chanting,

mantras and he feels amazing. But to meditate is impossible for him because there's been

a permanent damage in his pineal gland, and every time the full moon and the new moon

comes, he goes slightly off balance, goes berserk sometimes, he breaks windows, he fights

his mother, his friends, his family, and everybody. People can have amazing experiences

with these substances, and I have some friends who had these experiences and became a

monk and doing meditation and yoga and having incredible experiences, but physically,

they are damaged. They get into all kinds of diseases. So, some form of reaction is going

to take place in your physical body. You may have had those mental experiences, but on

the physical level, you are literally damaging your body. There are going to be

consequences and you have to pay for those. It's like a baby being born, and then

accidentally being crushed, hand or leg being crushed by something heavy, or a table

190

falls, or a chair falls in and then the fingers are crushed. The surgeon can put the bones

and fingers back together, but it will never be in its original state again. So, in that sense,

these substances ... and I've also had friends who have had these experiences with drugs,

and there's one psychologist, his name is Stanislav Grof from Bulgaria if I'm not mistaken

[he's czech] ... he has dealt [?] with all kinds of psychedelics and he's promoting that

psychedelics should be used to help people better themselves. And people who have used

these substances, it's a very subtle thing that I'm going to bring up now, the subjects of

experiences of drugs, you will see, and you will notice that the people whoever substance

abuse, their shine in their being is lost, there is no sparkle in their eyes anymore, after

many years of abuse. Now, that does not mean that when you stop, your body cannot

recover. This is the miraculousness of the body, this is the magicalness of the body that

the body has its way to recover, but not fully. All these drugs can have good effects and

can have bad effects. Like, I also know friends who take chemicals of Ayahuasca ... these

Ayahuasca experiences also bring you to altered states and the shamans in South America,

who have somehow developed the capacity to find two plants and combine these two

plants to have this effect, in itself shows how meditation and how the causal state can

give you information. How can a person know how to mix two particular plants [among]

thousands in the middle of the forest? That you have to take this and this herb and combine

it and you will have this reaction in the physical body and then have this so called higher

spiritual experiences? How are they able to do it? This can only have come through their

causal experience, through deep spiritual experience, when Nature connects with you, the

sight of creation, with your cognitive force and gives you information. That is the only

way they can find this out. Scientifically this is like many several of my friends have said,

it's almost impossible for them to be able to discover such a thing, mean the vastness of

the Amazon forests and then taking to plants and say, only these two particular plants

really connect, then you can have this experience, the DMT gets secreted, and you get

this out of body states and all this. So, and all these people, you know, will go for these

Ayahuasca retreats and treatments and all that, when they come back, I've seen many of

them. They may have had amazing experiences, but they have lost the shine from the

inside. Many of my very close friends have told me, Joseph you must go and try this. And

I tell them ... You know what I tell them? I give them a very, very, very simple response.

Taking Ayahuasca, taking all these hypnotic drugs and all that, is doing one thing, it's like

you are in a room and the windows are closed, you go walk towards the window and you

look at the outside and you see the vast Nature, the vast ocean, you see the blue sky, and

dark nights, and beautiful stars, and the moonlight, and the sunlight, sunset, and

everything. But you are limited to staying inside the room, you are only observing

everything from the window, and you have not access to the outside. During meditation,

you open the window, you open the door, and you jump in the ocean, and you swim in

the ocean, and you get drenched in the ocean [laughs]. That is the difference! An

intellectual and a devotee is that an intellectual will look at a mango tree and start

analysing ... Wow, these mangoes they're so beautiful, so sweet, such beautiful yellow

reddish colour and orange colour. He'll be counting the trees, and counting the branches,

and counting even the fruits and all that. But a devotee, will just look at the mango tree,

climb up the mango tree, pluck the mango and enjoy the beautiful flavours, he doesn't

care anything about the intellectual side of it [laughs]. That much I can tell you about

these substances, I can also send you more literature about it, but final stage of explaining

about these altered states of experience through substances abuse is that you are damaging

your body, and some form or another, in some time in your life, you will suffer the

consequences of that damage of these chemicals in your body. There will be some

limitation in your faculties, there will be some limitations in your health, something is

191

going to be provoked. So, my advice is a simple story ... masters, highly evolved masters

usually when they're in very high conscious states, their eyes become red in colour, and

this is one of reasons why Shiva's eyes were always red. Another reason why some of the

monks that are following the teachings of Shiva smoke in India, hashish, and ganja and

all that, and they say Shiva smoked hashish, that's the reason why his eyes was dark, but

it's not true. When you are in these higher states, in these causal states, the secretion of

the hormones from your pineal gland flows out through your left side, and when it flows

out through your left side, you get this ecstasy experience and your eyes naturally turn

red, because it's a very highly vibrational state, and your body needs to be able to handle

those vibrations. Like a lightning strike, or like a tornado, or like a volcanic eruption, the

energy that's sitting in coil in your first vertebrae, in your coccyx, can jump up into your

pineal gland through your nervous system inside your spine. That awakening of that

energy is so powerful, so tremendous, that many people lose control of the body, and they

start going into convulsions. It's just like people taking drugs, because that chemical is so

strong, that you have to be able to handle it. That's the reason why the nervous system has

to be ready. If your nervous system is not strong, you cannot experience it yourself. And

this master, one day while walking into a village, who was in a very high state, his eyes

were always red, as he was walking through the village, one guy just came out of a wine

store highly drunk, and he happened to see this monk. He suddenly looked at him and he

saw this monk just smiling and his eyes were red, this drunken guy was thinking: Oh, he's

also drunk! ... So, he walked with him. The master just happily looked at him smiling,

just walked, and this drunken guy kept him company. They were walking, walking,

walking, and they walked out of the town, the village, it was evening now, sun was setting,

the master decided to sit under a tree and started doing meditation. The drunken guy who

was following him also sat under the tree and just started observing the master, what he

was doing, while he was observing the master, he fell asleep. In the next day he wakes up

in the morning, all sober, then he rubs his eyes, he gets up, and then he looks at the master

... Master is still meditating, then he's closely observing the master. The master opens his

eyes, he looks at the drunken man, and he's smiling ... Then the drunken person looks at

him and says: Master, your eyes are still red! Where do you buy your wine from? [laughs]

Master looks at the drunken man and said: My dear fellow, I make my own wine! [laughs]

So, that wine that we're all looking for, the drug that we're all looking for, the drug that

we're all searching and yearning for, is that pure happiness. It's called Amruta and it is

secreted in your pineal gland. At midnight, every night, and especially on the new moons’

night, it's a double dose that you get. Your diet, your yoga exercises, your mind state,

pure mind state, all are prerequisite in order for this chemical to be produced. This

chemical in order to be, what we call concentrated, and created in order for you to have

that experience takes 12 years. If you even lose a drop of your semen, you have to wait a

long time before this condensation comes ... and that one nectar, can blow you out into

the entire infinity. This is another reason why non-indulgence in sex, physically or

mentally, is vital in order to have that experience. Many people who have chosen to go in

this path, have to have very strict control over this issue of sex. It's a vital necessity in

order to experience this. I emphasized many times; diet is very important. Sentient diet is

even much more important. We don't touch onion, nor garlic, nor eggs, nor mushroom.

Any food that is cooked for more than 24 hours and left in the fridge, even that becomes

negative for the body. So, this is all meaning sentient diet, even food that is cooked by a

person who's angry, who's mean, even that kind of food is going to influence the structure

of your cells in the body. This is how deep and how highly specialized [it is], in order for

you to reach those higher experiences. Of course, today everybody is flaunting that I have

this experience, I have that experience, and I'm going into these states, and I'm going into

192

those states ... Of course, all amazing, and we all can reach it ...But the higher stage[s] of

reaching these several levels which I was explaining, is near to impossible without

guidance and without grace of a highly evolved tantric master. That's the reason why we

have hundreds and thousands of millionaires and billionaires, but there are very few saints

on the planet. Makes sense?

A: A lot.

J: Yeah.

A: Oh, thank you very much for this, I was indeed searching for this type of information.

I would like to ask you one little thing that I didn't catch. Joseph, could you specify me

your age, if that's possible?

J: I'm 60 years old.

A: 60. Perfect. Okay, so at this point, I don't have any more questions in my guideline,

though, if you want one last answer, you know, like an open-end question ... Let's say, in

your opinion how could we heal our relationship with Nature, as humanity?

J: Respect! We need to respect Nature and we need to coexist as family. The tree that we

cut down, we take it for granted, because we want to write and use the wood for our own

selfish needs, and this tree is in a way a life-giving force for us to breathe the air that we're

breathing. The plankton in the ocean does the same thing, without those algae and

planktons in the ocean, we cannot breathe. We are polluting the air, destroying our nature,

we are polluting the sea and destroying our sea. You know how much the sea is polluted,

with all these floating islands of plastic and garbage, it's acidifying the sea so much that

is killing many species of life form ... 90% of all the big fish in the planet is gone ...

commercially viable fish. So, how do we heal ourselves with Nature? First and foremost,

we need to respect our Nature, and we need to respect this body first. Until and unless we

begin to respect the body and understand this physical body, the medical substance that

this body is made of and the magic that's within this body ... until we begin to understand

that we are living our lives as if we are just machines, which is what the present society

is teaching ... our whole educational system has to change in order to bring about a new

generation of children, knowing that they are extraordinary, that they are not just this

physical body, that they're not just this mind. They are the entire cosmos in this physical

body, and that the mind is cosmic! Until we change that, and have respect for that, we

cannot change this nature. To heal it, first we have to heal ourselves by understanding and

then our environment will get healed. So, to bring about respect, I feel we need to go

inside, and we need to look inside very seriously, very consciously and not be misguided

by the system that we are living in ... everything that we do is to make money, is to

generate wealth, is not to generate health [?] ... we all want one thing and one thing only,

which is to be happy infinitely. And all the money on the planet is not going to bring that

infinite happiness, and people know that, but because of lack of security, we all are

searching independently to sustain ourselves. As a collective body, we need to have a

collective one system, that can govern all of humanity and make everybody have

abundance, not just for a handful of few, because that's what the whole system is

perpetuating. The ones that are below are trying and looking up towards those

multibillionaires and multimillionaires and saying this is what I want too. This is not what

they want. We all want to be happy ...and walking in the beach, looking at the moonlight,

walking in the forests, swimming in the ocean, brings you tremendous joy. Now, going

to work, you earn a salary, you earn a living, and then we identify ourselves as I am a

doctor, I'm a lawyer, I'm an engineer, I'm a neurologist, I'm a carpenter, I'm a nurse and

I'm this and I'm that ... You are not that! We are none of this! These are nothing but just

193

your profession. We have to teach our young children that you are the cosmos, you are

the infinite in this physical body, you are human first and foremost, and then the rest is

just your mode of survival. Once you teach everybody, once we teach everybody, that

there is God inside of you, that you are the manifestation of the supreme, you will

naturally begin to respect nature. The fact that you walk on the grass, you don't even feel

that the grass is feeling pain, but the fact that when you walk on the grass and have the

experience that, this grass is also feeling pain, you will stop walking. So, to experience

meditation to that profound level, you can have an experience of being one with

everything. You become the atom. You see the air floating around you. And these people

are talking about string theory, the physicists, for 20 years I've been hearing this. I have

seen these string[s] and I've seen through my meditation how these waves are all so

interconnected, how it's so magical, mysterious, magnificent. It's dancing with energy.

Our body is at a very high state of frequency vibrating, but we are making it crude with

all the dense food that we are putting inside. My master said, if somebody asked you:

where do you come from? Your response should be ... Where are you? Where are you

from?

A: The universe.

J: Ah, you know! You should say I come from the stars, that's what he said. Yes, you're

from the universe but specifically you came from the stars because it's a hormone, is what

he called the chemicals of hydrogen, helium, and nitrogen, and oxygen and carbon. All

these formed together and then it all exploded in a big bang, then the stars all started

coming and it became solidified, and we are in this state now. But your mind is not solid!

Your mind is not oxygen, is not carbon, is not nitrogen, is not hydrogen, is not helium, is

nothing chemical. Can you define your mind? Can you touch your mind? You cannot!

So, is not physical. There is no atom in your mind, there's atoms in your body, but there

is no atom in your mind. Is thought waves, subtle vibrations. When you understand that

you are infinite, then everything changes, but the whole education system needs to

change. We need to teach the young people, the young generation, that we need to have

respect for Nature. The leaves that we walk on, the grass and we walk on, is made of the

same stuff as the stars. So, if somebody asked where you come from your response should

be, I come from the stars ... and if somebody asked, how are you? My master asked, what

should be your response? He said your response should be, I am vibrating with energy

and dancing in ecstasy. That should be your response [laughs]. When you are in that high

state of ecstasy, you will naturally and automatically develop love and respect for Nature.

That's the way we're going to change so. Coexisting, not using for personal pleasure, of

course we need to utilize in order to sustain ourselves, but with respect, as a human being

we need to eat, so instead of killing an animal I can sustain myself with the simple not so

highly evolved conscious plants, fruits, nuts, and seeds ... So, I don't have to kill what we

call a cow, or pig, or sheep, or goat, all these things ... I just eat leaves, plants they also

have feelings, but their consciousness is not so highly evolved. They may feel pain, but

their pain is not as tremendous as a cow feeling the pain is being killed ... You see, this is

because of consciousness. For instance, if I cut a branch of a tree and I take the tree and I

plant it back into the earth, that branch will grow again. If I cut your hand and I try to

plant it somewhere, you think it will grow another Alex? No way ... Why? This is because

of mind. There is a collective mind in the tree and there's a unit mind in the human being

and all other higher forms of life. Now this is a deeper science, where you need to be

explained what it is all about. Mind is a very fascinating and tremendously intricate

subject. We are still dabbling in something that we think that we know. According to

194

neuroscientists and all that ... They can say: I think so I am. But, you know, in the

philosophy of Tantra we say: I stopped thinking and I really am. [laughs]

A: Well, this was great Joseph, thank you so much! So much material, it's going to take

me a while ...

J: Okay. Good to know. Fantastic.

A: Perfect. Namaskar Joseph, this was perfect.

J: Thank you!

A: Infinite gratitude.

J: If there's anything just call me. Bye-bye.

195

Philipa

A: Good morning Philipa, welcome. Thank you very much for agreeing to participate in

my research.

P: Good morning, thank you for inviting me.

A: As I mentioned beforehand, I'm trying to analyse the relation between altered states of

consciousness and environmental conservation; in which way they can interact and

correlate in general terms, focusing mostly on behaviour changes.

P: Hmmm.

A: Starting with some ethical feedback. During this interview, if by any chance you want

to stop or simply don't want to answer any question, please tell me so, and we can skip it

or even totally pause our interview, I just want you to feel comfortable.

P: Thank you.

A: This interview will be totally anonymous, there won't be any data linked to you, so, I

invite you to be totally open and free to answer any question because your identity will

be secured.

P: Cool, thanks.

A: All right, starting with the first question. I would like you to speak a little bit about

yourself, like your age, your profession, your life trajectory, your studies, whatever you

feel important.

P: Okay. So, im 30 years old, I grew up in Australia on a piece of land in the mountains

with my hippie parents, who were building a house and grew a little bit of food and

generally had an alternative lifestyle, very much connected to the earth. That's my origin.

When I was 10, we moved to the suburbs. When I was 21, I moved to a bigger city to

study filmmaking. After my degree I moved to Germany, to Berlin, for four years I lived

there. I was unemployed for about half of that time, and the rest of that time I worked as

a videographer for a start-up. Moving to Europe was a very significant thing for me,

especially in terms of my connection to Nature. I spent a lot of time in the forest, I spent

a lot of time mushroom picking and berry picking and learning actually a lot about

medicinal plants like wild edibles. So that was kind of awakened to me when I moved to

Europe. When I was 28, I moved to Portugal. I bought a piece of land with my ex-partner

with the intention of starting a community, living as self sustainably as possible, living

off grid, being closer to the earth, eco-building, growing our own food, that kind of

thing. Which we did for about a year, and when we separated, I then moved to the south

of Portugal, where I now live in a small village on the beach. My intention still is to buy

another piece of land and do the whole community project again, but maybe on a bigger

scale with my current partner who's studying agronomy. So, my connection to the earth

has always been a big part of my life and hopefully will continue to be in a greater part.

Professionally right now I teach English, and I'm teaching myself silver smithing. I'd like

to shift into being a full-time jeweller sometime, hopefully this year, or next year.

A: Uau, quite a story, very lovely. Philipa, how would you define your relationship with

your family, as you were a child growing up, and right now?

P: Uhh (nervous laugh). Okay, my relationship with my family is quite a strenuous one,

I guess. I'm the child of two alcoholics, so, it was quite a difficult upbringing in many

ways. My mom is sober now, but my dad is not. I'm quite close with my mom now,

although I wasn't for quite a long time between the ages of 10 and 15, I didn't see her at

196

all. But now we've reconnected and yeah, she actually has nine hectares of land in

Australia. She also is very self-sufficient living totally off grid, actually, growing some

of her own food, collecting rainwater, building her own house. Yeah, a lot of what I grew

up with, and what I again, aim to do now. My dad, I don't talk to him very much at the

moment, I have very limited contact with him. I also have a younger sister, she's three

and a half years younger, but we have chosen very different life trajectories. She is a

financial planner working for a huge bank in Australia and I'm a dirty hippie, happy to

live in a mud shack in the middle of nowhere (laughs) so, we also don't have a very close

relationship.

A: All right, I see. Thank you very much for sharing. Philipa, how would you define

yourself politically, in terms of ideology?

P: Uhh, okay, very liberal, I guess. I mean, I believe in the autonomy of all beings, and I

think that's probably one of my most important values, as well as community. So, I don't

particularly adhere to the existing political ideologies, because I think there's a lot

lacking. Ideally, I would like to see us focus more on small communities, like self-

governing of small communities. I think the human element, the personal human element

is missing from politics greatly, because it's too big, it's too many people to govern at

once, and I think because of that we lose sight of the individual and the individuals place

in communities. But that said, within existing ideologies. Yeah, leftist, slightly socialist

probably.

A: Understood. And which would be your greatest concerns about the present, and the

upcoming future?

P: Globally or personally?

A: Both combined.

P: Yeah, you're right. One is inextricable from the other. I worry a lot about the depletion

of the Earth's resources and the way that we as humans have approached that, and the way

we continue to approach that. I worry a lot about capitalism and its focus on infinite

growth, which is not possible nor sustainable. I worry a lot about the environment and

our impact upon it. I worry that we are extremely short sighted and that we struggle to

work together for the greater good and are instead working in the short term for personal

gain, above all else. Yeah, I don't know if it's the apocalypse that is coming, if it's not here

already (laughs) and that's a big part of my motivation, I guess, for wanting to get back

to the Earth and wanting to learn how to live more sustainably. I think it's the only option

that we have in the long term. I worry there's going to be a mass extinction, not only of

animals, but of humans, and if we survive at all, we'll need to figure out how to massively

simplify and understand that we are part of the Earth, not that we have dominion over it.

Does that answer your question?

A: Yes, totally. Do you belong to any pro-environmental movement, or do you

sympathize with the ideas of one in particular?

P: No, not officially. Honestly, I'm scared to get involved politically, I don't exactly know

why. But no, I don't have any affiliation to any actual group. I mean, Extinction Rebellion,

I have a lot of respect for that movement, and the urgency and passion with which they're

trying to draw attention to environmental issues and the change that needs to take place

for us to survive, or for the world to find some kind of harmony or balance.

A: All right. And personally, which are the actions that you do to reduce your own

environmental impact?

197

P: As I said, I lived off grid for about two years. I lived in a tent for about a year and a

half (laughs). That's again my sort of ideal lifestyle, to not be dependent on fossil fuels

for sure, to harvest rainwater, or conserve water in a more responsible way, especially in

Portugal, where water use, and water management is just so irresponsibly handled.

Currently, in the life I live now, obviously I do use mains water and electricity. I try to be

mindful of how much. I don't use toilet paper because I think the eucalyptus industry in

Portugal is bullshit. So, I use a bidet instead. In my jewellery making, I use only recycled

silver. So, it's recycled from electronics, medical equipment and all jewellery. And I'm

very strict with that, I only allow myself to use recycled metals. In my packaging I use

recycled or upcycled or reclaimed or used products. I buy locally and seasonally as much

as I can. I avoid plastic packaging as much as I humanly can in this world. I have a

bamboo toothbrush (laughs). In as much as I am a consumer, which I try to avoid as well,

I try to be a conscious consumer and use recycled or at least biodegradable materials. I

think that's the bulk of it. I just don't buy things as much as I can. I think that helps.

A: Well, thank you very much for all your actions. Philipa, in medium term, how much

time do you spend in Nature?

P: Ohh, not enough, nowhere near enough! Where I'm living right now, Nature doesn't

feel very accessible. But I mean, I go for a walk every day. Having a dog helps me to go

for a walk every day. So, we go down to the river, walk along a small patch of woods

there is here, which is nice. I guess if I tallied it up, not much, half an hour a day, maybe.

A: I suppose you would like to increase this time?

P: (Laughs) Yeah, I mean, living in a tent was the best thing I ever did. That's the point,

to get back to that.

A: And how do you feel during this time when you are immersed in Nature?

P: It slows me down, when I pay attention to it, that's a big part of it. The Nature I have

here somehow doesn't really hit the spot very well. But when I'm in a place where I feel

really surrounded by Nature, not on the outskirts of a city or something, but really, like

in the forest, or in a lake, or in the mountains or something. I feel I can breathe more

easily, figuratively, and literally, feel just at peace. Like there's nothing I have to do.

There's nothing to catch up with or catch up to. It's easy, it's nourishing. It feels like home.

Feels like I belong there, now. I could say much more, but I think that sums it up.

A: Subjectively, on a more intrinsic and emotional level, what is Nature to you?

P: I'm Nature, that's the point. I don't know, it's so easy to forget that we're animals. I

think we've tricked ourselves into thinking we're something else. Being in Nature, it

seems that city is the anomaly and Nature is the baseline. Being in Nature, or Nature itself,

just feels like it's part of me, it's the most obvious thing in the world, kind of.

A: In which way do you feel connected to any other living entity in our planet?

P: Uh, we're all the same! (laughs) When I remember who I am, when I remember that I

am part of the earth, not on the earth; I recognize fully that we're all the same lifeforce,

we're all the same consciousness, we're all the same matter. It's just we think we're

separate. But me and the ants and the trees and the pinecones and the dung beetles, we're

all the same.

A: Lovely, thank you. Passing now to more spiritual questions. Do you regularly practice

any type of spiritual practice? Like yoga, meditation, praying, fasting, whatever.

198

P: At different times of my life I have been more regular. At different times I've practiced

yoga and meditation and prayer, actually. Currently, I'm refinding my practice maybe. At

the moment I'm burning smudge sticks, to find more presence, cleansing, and just more

intention. That's been a more regular part of my practice lately. Dancing is a big thing to

me, and sometimes that's more intentionally spiritual than others. That's a huge portal to

trance state maybe.

A: And how do you feel during the moment that you're exercising any type of these

practices and afterwards?

P: During it varies, depending on the day and depending on how regular my practice is.

If I haven't done it for a while, it sometimes can take more time or more patience or more

intention to reach the state of peace that I often get from those practices. But on my best

days or in the best case, it's like liberation from the mundane, or from the everyday, or

from my small human mind. It's like fleeting. It's euphoria, there's a lot of laughter in it

as well, a lot of joy, a lot of recognition and awareness of the absurdity of my worries.

And after, that lingers. Usually, it helps me to be lighter, much lighter, freer, less weighed

down by my worries or problems, and it kind of carries me through any of the human

dramas that might weigh me down otherwise.

A: Thank you very much for sharing. Philipa, are you religious? Do you follow any

specific religion?

P: Not any specific religion, I was a born-again Christian between the ages of 14 and 21.

But these days I would describe myself as God, so, it doesn't really make sense to follow

a religion, it's just myself and everything else, pantheistic if anything.

A: All right. You were mentioning that you could reach some trance states during your

spiritual practices. I guess you would be familiarized with altered states of consciousness

then.

P: Yes.

A: How could you describe them? If that would be possible in words.

P: Actually, I wanted to add to the spiritual practice part, that taking mushrooms

specifically has been a regular part of my spiritual practice as well. Yes. How would I

describe trance state, is that the question?

A: Describe altered states of consciousness, but yeah trance and ASC are basically the

same.

P: Okay, I'm going to try my best to describe this. This is me; this is the core of me, it's

pureness, it's just pure being, consciousness, existence, whatever you want to call it. And

then, on top of that are all these layers of identity, and ego, and human drama, and

suffering. Being in trance state, or being in an altered state of consciousness, or

transcendence, all of these layers don't fall away but open up like a flower, and the core

of me shines out of that, and it just feels real. What I usually do is to identify with these

layers, but in the altered states of consciousness, I see that the layers are not me, they're

just on me, or have been heaped upon me, or I've bound them to myself, but they aren't

me. So, they become lighter and easier to bear and kind of silly, actually. And the core ...

it's remembering who I am.

A: And is it easy for you to reach that state?

P: Yeah, yeah, now it is. Mushrooms kind of showed me the path and now I can walk it

myself. The tricky part is remembering to remember. Does that make sense? (laughs) But

199

yeah, when I choose to, like in this conversation now talking about it, I feel that very,

very tangibly. It's something I can revisit at will, which is really nice.

A: Uau, that's amazing. Philipa, during these peak experiences have you ever had a

mystical experience where you'd meet some type of entity that would pass you some kind

of teaching or message?

P: Yes, sorry, this reminds me I've experienced hypnosis as well, which I would also

describe as an altered state of consciousness. And yeah, I've met spirit guides, that's how

I prefer to call them, both in my experiences with mushrooms and in hypnosis.

A: And usually what's their message to you?

P: Oh, good question! I think it depends on the moment; it's been different. But usually

there's maybe two main messages. The first one is this remembering, the beingness that

is me, with that I am. The second one strangely, is a lot about femininity, that makes me

aware of myself as a woman and my womanhood, often it has to do with fertility, my

capacity to give life, which is interesting. And actually, yeah, life and death. I think those

are the big messages.

A: Thank you, that's quite big! (laughs)

P: Yeah! (laughs)

A: Philipa, you mentioned mushrooms, magic mushrooms I suppose. I would like to ask

if you ever took any other psychoactive plants or substances?

P: Marijuana, which on occasions had more intense psychedelic effects than anything.

LSD, San Pedro and 2CB. Yeah, I think that's all

A: If we could combine all these experiences together, how many times have you had this

type of psychedelic journeys?

P: You want a total number?

A: Yeah, just an average.

P: Okay, maybe 50, maybe ... all in all, probably yeah.

A: All right, thank you. I would like to ask you, what type of changes happened in your

life after you discovered these substances and these altered states of consciousness?

P: Uau! Ok, mushrooms by and large, have been a huge teacher to me, they literally

changed my life and my outlook on reality. As I said, they showed me these layers of

human drama, or at least I became more aware of them and therefore more able to shut

them. Have given me a really intense sense of cosmic connection, like understanding that

all things are one, all things are connected, and that everything's perfect as it is. Not

perfect in terms of needing to achieve something but perfect in terms of wholeness. And

that was a very liberating epiphany. The question is, how has my life changed?

A: Yes. Especially your personality and your behaviour.

P: Okay, my personality, I feel better able to give, I think, I feel more empathetic, more

understanding of others, more aware as well. I think what psychedelics did more than

anything was to give me perspective; like to step back from myself a bit and see a bigger

picture and see how I fit into it, or how I connect to it all. Yeah, I feel much more

connected with the Earth as well, like in a more spiritual sense. As I said, I grew up sort

of in that environment and had connections to trees and animals already, but it felt more

practical or more physical maybe, it's hard to describe. But yeah, I think mushrooms

200

especially have given me a personal and spiritual connection to the Earth. In a way that it

feels like the trees are my friends, literally, like they have personalities, they have

experiences, they have consciousness like animals also, it just feels like I have a more

holistic understanding of the Earth. It opened me up a lot. It gave more perspective on

life and death, and in the beauty and the terror, so to speak. Aldous Huxley writes about

this in "Island" specifically, he describes it at the end of the book, a trip I guess, like a

transcendental experience, of seeing the beauty and perfection in everything, the

wholeness of it, the prettiness of it. But then to see the flip side of that, you know, the

death and decay, and sadness and pain. I think psychedelics helped me experience exactly

that. Just seeing ... balance is not the right word for it ... but yeah, the wholeness, and that

it encompasses everything, and that it's perfect because of that. My fear of death, for

example, there's a part of me that fears it for sure, but I have a greater appreciation for it

as well. I had a very intense experience on mushrooms once where I saw myself die, like

grow old and die, and it was okay because I just became one with the Earth again. So, I

think having that experience, having that knowledge makes me more at peace in my

general existence. It's not so much to fear. And even the really terrible things are okay

because I just thought of it all. So, I think it gives me more resilience and more acceptance

in life as well.

A: Thank you for sharing. Philipa, in which type of context, like set and setting, do your

sessions or experiences with these medicines occur?

P: It depends on the medicine actually. Weed it's usually with other people, I think I've

only smoked weed alone once, ever, weed is not really my medicine either. So, that's

usually in a more social setting, and sometimes that has been really intensely psychedelic

or intensely trance inducing as well, and that's been really beautiful, I've had some really

beautiful experiences in groups. The San Pedro was in a ceremonial setting, in a women's

ceremony, also with the temazcal. It was much more ritualistic and

intentional. Mushrooms, I always take alone. For me, mushrooms are really, really sacred,

and my most direct connection to the divine, I think. The way I take mushrooms is very,

very intentional. There was a time where I was taking them every three to six months,

always alone, often in Nature, but sometimes in my house as well, or in my apartment.

Acid, I've only have taken it a couple of times, mostly with one other person, or a couple

of other people. But yeah, I'm very intentional about how I take medicine. To me, it's not

something to be taken lightly. So, it's usually, if possible, in a more ritualistic or conscious

setting.

A: That's wise!

P: Yeah. (laughs)

A: So yeah, you already answered to all my questions, even if indirectly. If you want to

add something about what we were discussing, like something more direct about how

altered states of consciousness may affect our relationship with Nature and therefore

acting more proactively to conserve it ... it would be very welcomed.

P: Thanks. I think I kind of covered most of it, but in summary ... caring for the Earth,

actively caring for the Earth, and actively working to conserve it, comes best from a

personal connection to it. There's a lot of rhetoric around being Earth friendly, and I think

there's a lot of greenwashing in capitalism; capitalism is just taking hold of this eco-

friendly kind of notion and warping it a little bit, because it's another way of making

money. And that saddens me. The only way we can really work towards the Earth is to

have a real personal connection to it, to understand that we're a part of it. And to be able

to reach that understanding, we need to do it intentionally. It's like doing the right thing

201

because you should or doing the right thing because you love someone or something. It's

a completely different approach, and I think we need to fall in love with the Earth again

and recognize our part in it. And psychedelics, or altered states of consciousness in

general, are an incredibly powerful tool to be able to do that.

A: Uau, very beautiful!

P: Thanks Alex! Thanks so much for this. (laughs)

A: Thank you, thank you! All right Philipa, I won't take more of your precious time, wish

you a lovely day.

P: Bye-bye. Good luck with everything

202

Sophia

A: Hello, Sophia. How are you feeling today?

S: Hello Alex. I'm feeling fine, how about you?

A: I'm quite good as well. So, let's begin. I would like to put some ethical questions in the

beginning. You demonstrated some interest in a participating in my research. Are you

still willingly partaking into this?

S: Yes, yes, I am.

A: Perfect ... Another thing, if during the interview you don't want to answer any question,

we can skip it, or even in case you want to stop the interview, feel welcome to say so, no

pressure, let's do it on a casual way, relaxingly.

S: Thank you, I appreciate that.

A: And the last thing is, don't worry about any type of data because this interview will

not be linked to you in any sort of way. I opted to use the anonymity for each of one of

my interviewees. I will use fake names, fake addresses, sort of that.

S: Thank you. Can I put in a request at this point myself, about this?

A: Yes, of course.

S: Okay. So, I'm Irish, I'm a very oral thinker, that means that sometimes I can say

something that I had no idea that was in me. So, can I have a recording too of the

interview? Because maybe I say something that I feel, wow, I'd really like to remember

that [laughs].

A: Yes, of course, I will share the recording with you it with all the pleasure.

S: Great. Okay. That sounds fine.

A: Regarding the first set of questions, they'll be more sociologically oriented, because

as I explained to you this research is investigating the altered state of consciousness and

how they could relate with our affection and connection with Nature, especially how it

could affect our behaviour, regarding all this psychological collapse that is ongoing. So,

in the beginning, I would like you to introduce yourself, speak a little bit about yourself,

what's your profession, your age, your nationality, if you are married, if you have kids or

not, stuff around that.

S: Okay. So, my name is Sophia, I'm 67 years old, I'm divorced and not currently in a

relationship. I have one son, and a niece and a sister, very small family. My profession,

well, I did quite a few things to earn money in my time ... I'm not doing anything to earn

money now, I am in receipt of an old age pension. But I have been a massage therapist, a

play therapist for children, second-hand bookshop owner, advice-rights worker. I have

worked in a women's centre, helping women get their welfare rights, to get information,

and also women who were suffering from violence get into shelters. I've been a creche

worker, working with infants under four ... Oh, and I'm an aroma therapist, which because

it doesn't involve much physical strength, I still do ... I think that's mainly what I have

worked at.

A: Wow, you have done so many amazing things, especially social help oriented, that's

so great! I would like to ask you, how is your relationship with your family? Even when

you were younger, with your parents, how did that work out for you?

203

S: Well, my family is a bit difficult. My parental home was very dysfunctional, my mother

was an alcoholic and very emotionally abusive. I had two stepfathers and I never lived

with my genetic father. I had a lot of illness as a child, I nearly died as a baby and then I

had recurrent illnesses throughout my childhood really until I was about 14, I found it

very stressful my first stepfather leaving my mother and then my second stepfather. All

my life really, since I possibly could, since I was four years old, I always networked. I

found neighbours to talk to, because I felt very threatened at home, I thought if I didn't

have a social network of people that I felt valued me and saw me, that I might kind of die

in my spirit. So, I've made a vow when I was about eight years old, that I was going to

grow up and get away from all these people, and when I was growing up, I wasn't going

to repeat that kind of life and I was never going to treat children the way I had been

treated. I married very young, I got together with my husband when I was 17. I had my

son when I was 18, as I really wanted to do that, I think I was instantly trying to create a

better family, I did plan to have my son. I was very young, but I actually did plan the

pregnancy, I went off the contraception pill. I had quite a nice time being his mother, I

loved being his mother ... I get on well with my son, he spends more of his time in a city

that I'm not in, a city in Bristol, UK. So, I don't see him so much, but we talk, we have

lovely long conversations in which we talk about all sorts of things for about an hour or

an hour and a half. And I always try to leave the conversation so that he feels enlivened,

and empowered, and lively, because often he's quite depressed and stressed, he has

diabetes, and a bit of a stressed kind of home life. My sister is an alcoholic, she's a worse

alcoholic than our mother was. She is more abusive to her daughter than our mother was

to us. I find that incredibly distressing because to me, the only purpose, the only thing

that we can distil in our lives, we all have this more ferment of experience, all of us have

that. And what it seems to me our task is, is to distil that raw ferment into some kind of

fine spirit. Certainly not to just knee-jerk, repeat or even magnify the awful things that

we experience. I know that some people do have good-enough childhoods, mine wasn't,

neither was my sisters, so, I find that very challenging. For me, my sister is a bit like

world poverty, I know that world poverty exists, but I would rather not spend my time

going to countries where it's impossible for most of those people to come to my country,

and where I see that world poverty closer. I know that my sister is an abusive alcoholic

whether I see her or not, but I would rather not see her very much and not get too

compassioned fatigue for her. I only see her when I feel I've got something, when I've got

enthusiasm and I could enjoy her, so she could enjoy being with me, for an hour or

so. And that happens less and less as the time goes on, because less and less does she even

want to be relatively sober for half an hour, or an hour. My niece was an alcoholic too but

recently she's been clean, fantastic! I'm really happy about it, that she went to rehab, and

she is now not drinking and has not been drinking for the last three months, which is

great! She breaks the chain in her direct line as I broke the chain; Me and my son we don't

really drink, I don't drink at all, he drinks rarely. So that's good. That's my family. Sorry,

I talk too much [laughs].

A: No problem. Thank you very much for sharing this.

S: One thing I should say, although I was born in England, I'm culturally and totally Irish.

I do talk a lot, I do love words, talking is my preferred medium really. Although I'm a

poet and I write poetry too.

A: Amazing, that's fabulous. Sophia, I would like to ask you which are your bigger

concerns about the contemporary world?

S: My biggest concern about the contemporary world is what I perceive as a war against

Nature, that some of us are unconsciously unwillingly co-opted into, because of what is

204

available for us to eat, and that some people are actively driving this war. My biggest

concerns are environmental and social in terms of the pressures, and actually this virus

too, it's a direct result of the pressure that we put on Nature, in my understanding of it.

I'm also concerned at this kind of post-truth idea. I do believe in conspiracies, but the

conspiracies I believe in the everyday conspiracy that is on most people's plates of flour

and water pumped up with emulsifiers, possibly genetically modified, non-food that

people are eating. And I believe in the everyday conspiracy of fossil fuels having

completely overtaken governments so that all of our futures are jeopardized by them. I

also believe in the everyday conspiracy of deforestation, of pushing Nature to the edge,

of beaconing pesticides that should be banned all over the world, they should just not

exist, in anything that puts pressure on our water, our soil, our air, our insect life, these

things should not exist. Our governments play around with these big companies. So, those

are the everyday conspiracies that I believe in. I feel that there's a huge push, or I even

wonder where it comes from, for people looking at a plane, worrying about chemtrails,

and not about the fact that there's too many planes that aren't paying aviation fuel tax, and

we're flying too much. They're looking at the chemtrails and not at the plane and not at

the cars, they want to think that this virus, for instance, has been manufactured rather than

yet again habitats, wildlife being pushed to the absolute edge by our practices. We can

externalize that by saying: Oh! These awful Chinese practices ... But we didn't do that

when it was swine flu, the flu that came from pigs, which was directly a cause of

American factory farming. And our factory farming, our deforestation, this is another

conspiracy, but it's a conspiracy there's every day, it's right under our noses and nobody's

paying any attention to it. They want 5G, they want something, some big bad demon

bogeyman that we can't even prove, but here are the bogeymen that we can see, we don't

need to have monsters under the bed, the monsters are right in front of us. While people

have their attention, their energy diverted from this, from 5G to chemtrails, to

conspiracies of Chinese or American governments microchipping the soul ... I mean, sure

that the forces of oppression always will try to use anything to increase their power over

all of us, that happens, it's happening all the time ... Sorry, I've gone into a bit of a rant

about that [laughs].These are my concerns, that our interface with Nature and this kind of

post-truth, wherein our energy is being taken away from something that's provable, that

we could join together, and inform each other, and battle against, and we don't have to

win that argument, that argument is already won ... So, why are we doing that? Why is

the energy being diverted to these things that can't be proven? And the energy is gone ...

And I'm concerned about that.

A: Thank you very much and ... I actually like when people enter in this rampant of

descriptions, because this is where I can manage to find the biggest part of the information

that I'm searching for.

S: Ok [laughs].

A: Following the next question. How would you consider yourself politically, or

ideologically?

S: I'd say I'm an environmentalist activist combined with a social-justice activist. We

have to have both, it is wrong that some lives are worth more than others, this is

completely wrong, yet apparently, they are because we look at what's happening in

Yemen, we look at what's happening with the Palestinians, we look at what's happening

where countries are pushed to the edge to grow cash crops, while the people themselves

don't have good food. Social justice has to go hand in hand with environmentalism. Also,

a lot of those people that are pushed to the edge, as indigenous people all over the world

and they are the best guardians of our environment. So, we lose their cultures, we lose

205

their languages ... There's lovely author about this, Wade Davis, you might want to look

it up. He talks about that these cultures aren't dying because they are old fashioned, they're

dying because our mega-capitalism is pushing them out of their habitats, pushing them to

the edge, there's no reason for these languages and these cultures to be dying, they have

wonderful concepts.

A: Fascinating! And in which type of pro-environmental activism movements do you

engage more?

S: Well, in my youth I went to big anti-nuclear demonstrations ... I can't do that now; I

have a damaged spine and really not much use physically. So, I do a lot of social media,

I share a lot of information about environmental destruction, and I share information

about positive environmental things that have happened. I was very active in the anti-oil

campaign in Portugal. I don't just share information; I write polemic over something that

I feel is really vital and current. I spread a lot of my polemic all around the place and

sometimes it gets picked up by mainstream, by more mainstream activists, that have got

much bigger following. I'm always very pleased when that happens. I've only written one

poem that is actually environmentally proactive. I sort of feel that poetry and polemics

are not the same. The Dakota Access Pipeline, for instance, I was very active in sharing

information and petitions ... One of the things that people don't understand about activism

is that, if people think that just signing a petition doesn't do anything, but the thing is you

never know where the tipping point is ... Say for instance, Shell and the Artic [case], I

mean, these people will always come back because they're big, they will come back even

when we defeat them, and they'll come back again. But Shell and the Arctic is a really

good example of a tipping point, because it was getting more and more expensive for

Shell to drill and to extract the oil in the Arctic, the insurance premiums were starting to

get expensive. Then we had this huge, huge, big campaign. And what happens is,

politicians and people of power, some of them look to the future and think: I'd like to be

in power, I'd like to have my political career go forward in 10 or 15 years ... And then

they think: Hmmm, there's really a lot of noise about this particular initiative, I'm not sure

I want to be associated with it because it's getting a lot of publicity now, millions have

signed a petition. You know what? I'm not going to support it ... And this is where you

get a tipping point. So, in activism it's always worth signing a petition ... I should say, I

don't think it's worth signing a petition about 3 dolphins because if you really want to be

effective, you want to go for big things, you want to go for habitat, you know, I'm sorry

for the 3 individual dolphins but it's a waste of energy. You want to go for big oil, you

want to go for big environmental destruction, deforestation, big things where you can get

a lot, a lot of people. You can start to actually be part of a tipping point, where that

company now starts to think: You know what? There’re so many difficulties with this

thing now, we'll just back off for a while. Maybe they'll just back off for 2 years, but then

you go again. So, sharing petitions, sharing information, countering lies, because there

are so many lies and the thing is the lies don't make the headlines, they actually need

people like us to keep polite ways, sharing the data, showing the sources, sharing raw

data, looking at raw data. All right, I'm just going to stop there [laughs]. So, that's what I

do. I look at raw data, I look at stuff, I share information, I counter stuff that's propaganda

that's being put out by oil companies, by what I would call penetrating initiatives. I'm not

physically active, but when I am active, because there's some campaign I'm involved in,

I may do 4 or 5 hours a day ... Online stuff.

A: Well, thank you so much for all your actions and for all your commitment during your

whole life. You truly inspire me as an individual. I would like also to ask you, which type

of actions do you do to reduce your own environmental impact?

206

S: Right. Well, I think everybody needs to do what they can afford to do. I just want to

say that because I'm in a position that I actually can afford to do things ... 10 years ago I

couldn't afford to do the things I'm doing now; Just as I think everybody should eat as

best as they could afford to eat. Because garbage in garbage out, we use it for our

computers, but we don't use it for our bodies and our souls, which includes what we read

and what we listen too. With that proviso, what I'm doing now is, I have a big solar energy

system, I don't have gas, I don't have any fossil fuels at all. I don't even have a gas lighter

to light my fire, I have a lovely little rechargeable USB thing that heats up air. I have an

electric car that I charge off my own solar energy system, it's not being charged on dirty

energy. And I have no generator, that means in the winter when is low light conditions I

either cook in the middle of the day for the supper, or near to where the sun is going

down. I burn a bit of wood in the winter, at the moment I'm managing to do that just from

my own wood, wood from my land, by trimming the olive trees to grow better and to

conform with fire regulations. The last two years I haven't taken wood from anywhere

else and ... I live of rainwater. So again, I'm not taking water from anywhere else, I'm just

collecting the water that falls on my land. Because I live off rainwater, and unfortunately

the bureaucracy here stopped my major water catchment for my permaculture project.

Hopefully when all this is over the council will be able to look at it and give it to me.

Until then I can only do small things about growing but in the meantime, I support local

organic growers by buying their food wherever I can. I eat organic food, which can sound

like a luxury, but it does also mean that the food that you're eating, you know the workers

that were producing that food may have been exploited, it's very difficult in Portugal to

find fair trade food, but at least they weren't being exposed to dangerous chemicals,

because agriculture workers really suffer from the chemicals that go in our food. I do my

best to try and source anything that I buy, like when I wanted to buy a wood burner, I

spent a month researching what was the one with the least emissions, what was the most

efficient, because wood is still a resource even though it's not a fossil fuel, I do everything

that I can whenever I buy, everything second-hand that I possibly can. I use my own

water, my own electricity, do what I can and try not to be added to the problem in terms

of what I regularly consume.

A: Thank you. Sophia, subjectively, what is Nature for you?

S: Wow! [laughs] Nature is beauty, Nature is life. Nature feeds ... I believe that we have

a kind of a human soul, but also an animal soul. And our human soul thrives on love,

truth, sacred sex, the way we love our children, our babies, beautiful ideas; Our animal

soul loves air, and light, and water on skin, skies and stars and leaves. So, for me Nature

feeds our animal soul. We all need to feed our animal souls and I think it is so hard for

people at the moment who are locked down in ugly cities and tiny flats. I think it's really

wrong for governments to say they can't go out to parks, I think governments should help

people to say you can go out for a walk in the park, just don't go in groups, only one

family together go. Because these people are the people who can't get some Nature and

Nature can take it out of yourself. I was very upset the other day; I was talking about

something that was very upsetting. Suddenly, the light shone on the wings of a European

black bee with its iridescent purple with sort of dark pink edges. And the bee just took me

out of my human fret, my human fretting, worrying, being angry at something ... Boom!

This beautiful bee's wings just took me out and I think that's what Nature can do; it can

transport you.

A: Beautiful, beautiful! Sophia, generally, how much time do you spend in natural

environment?

207

S: Well, depends on the weather. I feel the cold a lot [laughs]. If it's not cold, then

probably 4 to 6 hours a day, could be more in the Summer. It really depends on the

atmospheric conditions because sometimes in the Summer it's so hot you need to be in

the shade, and then if it's too hot even if being in the shade outside, you have to be inside.

So, inside is not really natural. Most of my life really, I spent on average between 4 to 6

hours a day, and more when conditions are right.

A: That's way above the usual time that people in a city for example, spend time in Nature,

that's what every human being should do.

S: Yeah, that's what I said. I think it's so hard for people [in the cities] ... I have manic

depression and Nature is one of the things that just helps me. A bit of its beauty just takes

you, lifts you out of yourself, out of your human dilemmas.

A: Moving on to some more metaphysical or spiritual questions. Are you familiarized

with altered states of consciousness? How would you define them?

S: Yes ... How would I define them? It's quite a difficult question. Okay ... I'm from the

60s, late 60s, that was my growing up time. I've taken quite a lot of drugs in my life,

hallucinogenic drugs. So, I had lots of altered states that I was kind of ready, in whatever

sense that I was ready for them. My long-term husband, we've been together for 35 years,

left me very suddenly. And I had this experience where I sort of wanted to get him back,

it's a bit of a story, but I have to go and do it this way. I wanted to get him back so, I was

thinking of magical rituals, you try to create in microcosm what you would like to happen

in macrocosm. I was looking for photos where we had been happy together and as I was

looking through all these photos, 35 years of a relationship, I couldn't find any when we

were unaltered. I knew from that photo, we were drunk and stoned on marijuana, for that

one we were tripping, in that one we were on ecstasy, that one we were on ecstasy and on

LSD, and that one we were one alcohol. I just went through, and I was shocked. I was

shocked because I knew I couldn't use any of these photos in a ritual. You can't use a

ritual to create magic for people that were in an altered state, were out of their minds. But

it made me think, what kind of a life have I been living with this man. And I made this

decision that I was just not going to take so many drugs. Actually, I was not going to take

any, because I already was no longer smoking marijuana, I've not been doing that for 7

years, I think. And I hadn't been doing alcohol for over 10. Already quite a long way the

way, but I decided okay, I'm going to stop doing ecstasy, I only did it about once a month

or something, and I'm going to not do any acid for at least a year. And what I found was

that we get all these states. I found that sometimes when I was swimming in the sea, the

ecstatic physical nature of swimming in the sea, of being healthy, and being in the ocean,

it was as if all the ecstasy that I'd ever taken, had wired my brain to recognize here I am

in an ecstatic state. And this ecstatic state isn't going to last me for 3 or 4 hours because

I've taken a pill. It's just here, because in this moment, I'm in healthy animal ecstatic state.

Another time I was looking at a sunset, and I was just crying of how beautiful it was.

Now, I've had times on LSD when I've cried for a whole hour and a half at the beauty of

a sunset. When I was not on LSD, this experience of absolute reverence and sacredness

of Nature still came to me, but it came to me just for just five minutes, just out of the blue,

like I had no control over it, it was random. Then I had another time when I was playing

with my animals, and I was laughing and laughing. It just reminded me of all the times

when you smoke dope, when you just laugh and laugh and laugh. And what I came to

recognize was that all these states, all these altered states, we have them all the time, but

we have them random, the odd one minutes, the odd five minutes. Sometimes when you

have a deep conversation with a friend that you really care about, or lover, and in that

time, you go to a place with them where you completely love them, you have no agenda

208

to be right, or to match their experience that they're talking about with yours. You just

deeply love them; it is the most moving humbling experience. And that's too the kind of

thing that you can get on LSD or ecstasy. So, we have all these states in us, states of

reverence, of ecstasy, of sheer laughter, just laughing at the ridiculousness of everything,

the silliness. I think it's in our human nature to cherish and recognize these states, whether

we are engineering them, through taking something, always as they draw upon us like

just completely unearned joy or unearned depths. So, I don't know if that's an answer to

your question.

A: Yes, actually you already answered 3 or 4 questions I had forward so, that's more than

perfect [laughs]. Sophia, are you religious? Or do you sympathize with any type of moral

ideology from some of the worldwide religions?

S: All right, my take on religion kind of links in what I just said. I believe that human

beings have an inbuilt feeling of sacred, and that sacred could be when we fall in love

with our babies, when we fall in love with our partners, when we deeply care for a friend,

when we are blown away by the beauty of Nature, these are all experiences of the sacred.

Unfortunately, what religion tends to do is to appropriate like a thief, our experience of

the sacred and wrap it all up in a bag and say: you can only have this in my church, my

temple, my mosque, with my priestess, priest, imam, under my rules. So, the people's

natural experience of the sacred has now been taken away from them and put in a box.

Another thing that we all have to remember is that Jesus was not a Christian; Buddha was

not a Buddhist; Mohammed was not a Muslim. I don't know the other, then we've got all

the Hindu gods. I could say that there have been great teachers who experienced things,

and people were so impressed that wrote them down. But they themselves did not start

religions, it was other people afterwards, that made a power system out of that great

teacher or wise persons teachings. It's kind of a conflict. You know, when Jesus says: Let

him who has not sinned cast the first stone, when the people are stoning the prostitute to

death, is just such a great thing when we want to condemn, that's lovely. And for healing,

there are nice things Jesus said about healing. But what people do afterwards is the

problem. I mean, oppressing people because they're gay, under the name of religion. And

there's horrible things in the Old Testament, that are still running people in America and

in other places. It's fundamental Christians who want to oppress people about their

sexuality, it's just absolutely horrible. Doubtless the same in some other religions I don't

know so well. So, I think religion is a problem, but people's feeling of the sacred is real.

And it doesn't have to be a problem, we can all take what we want from the great teachings

of Buddha, from the humanistic teachings of Jesus, and we can discard the religious

operators, the power structures that have been there, in a sense hijacked those teachings.

A: I see, thank you. I can agree.

S: You don't have to, it's fine to be something else. I think when we're really clear about

something, we can discuss it with anybody.

A: It's true, the thing is that many people actually don't understand their own stance, they

never had the inner conversation with themselves so, when they are confronted with

something or with someone that doesn't agree with them, it's like: Whoa, whoa, wait!

What is this!? Because they don't have the right arguments for themselves so, they don't

have the right arguments for the others.

S: Yes. What we need to do as individuals is about important issues, whether they are

personal important issues to do with people we know, relationships we're having, or more

grand issues with the world, is to find our own bottom line, at the very, very bottom of

ourselves ... What was our bottom line? What am I not prepared to do? What am I

209

prepared to do? Once we really found that, and we may have to dig deep for quite a while

to find that, then our task is to enact it, enact our bottom line with the greatest amount of

compassion that we can.

A: Yes! Sophia, do you practice any spiritual practice regularly? For example, yoga,

meditation, fasting, praying ...

S: I used to love yoga, but my back, I've got such problems with my spine, I don't really

do much of it. I do regularly simple prayer, which is to try to take away all the details.

You know, we could think maybe this thing that's happening will teach us this, but that's

like, we're putting a prescription, we're putting an order on the universe, that this is the

way we want to come out, and the universe might have a much better solution. I try to

regularly, when I get upset about something and I feel something must happen to say to

myself, stop, stop, stop. Just hope that good, even the good that I have no idea of what

looks like, of what I can imagine, but the good will come as analysis, not a specified good

... It's a kind of prayer, do you understand?

A: Yes.

S: And the other thing I try to do is to, as Socrates said, the unexamined life is not worth

living. As I keep trying to update myself, don't just feel that because this is the position

that I had for 10 years and it worked well for me, I may have outgrown it, I may be able

to come to a better understanding, a better truth, I could have a better description of it,

one that works as a better parable. So, I try to keep updating myself, that's my spiritual

practice. When I find myself being very certain about something, the next time I'm at my

best self, because we aren't always our best self, we need to keep spiralling forward to be

our best self, to seriously interrogate myself: Do I really believe that? One time I was in

bed, that was a long time ago, I was maybe about 25. My husband was sleeping, and I

just had this sudden urge to punch him in the face. Immediately I could do it, but I

immediately sort of said: No, that's not sort of thing I do, I'm not the kind of person that

would do that. But for some reason, I caught myself and said: Well, you thought it, you

wanted to, you're the person who wanted to do that, you had to accept that about yourself.

That's the fucking truth Sophia, you wanted to do that ... And why didn't you do it? Not

because you're such a great person, but because he'd probably hit you back and he's a lot

stronger. Fact is, what I'm trying to say is that I have to keep self-examining myself,

whenever I'm in a good-enough state of consciousness to self-examine myself. We can

all say: Oh, I would never do that, because it's wrong and I'm such a good person. But

does that give you the truth? If I could forgive myself for having a bad thought that I

didn't act on and be brave enough to acknowledge that I did really have that thought, then

not only could I have compassion for myself, that yeah, you are not perfect, you do have

bad thoughts and let's face it, that thought arose in you. But then that helps us to not

condemn other people. We can find ourselves in situations where we're very moralistic

and we condemn other people, and if we can really examine ourselves, and keep owning

up to ourselves as our own internal conversation, then that helps us to be compassionate

towards other people and to accept. If I was in really bad circumstances, what would I

do? Because if that thought popped out of me when I was just comfortable lying in the

bed, what actually might have popped out of me when I was 25, if I was in some really

difficult position, really difficult situation. So, my spiritual practice is self-examination

and the prayer. One of the things I do, it's my own practice again, I imagine that there are

lots of people like me - don't mean exactly like me, but that in any situation, whether it

be about world pollution, whether it be about wanting the soil to heal, literally, we've got

about 60 harvests left if our current track-farming practices don't change sidebar. There

are lots of people who want good, and I imagine us all together, this chain of people all

210

around the world wanting the good. And just for a minute, I connect with all those people,

I don't know who they are, yet I know there's loads of them ... and that is a kind of magic,

it's a spiritual practice.

A: Beautiful ... Sophia, in your opinion, which is the connection between spirituality and

Nature? How do they work together?

S: Wow, that's a really interesting question ... Well, something occurs to me about

randomness. There's a kind of idea that good things happen to good people, bad things

happen to bad people, and it's a fairy tale, really. Because if we look around the world,

you know, what did the dolphins do to deserve our pollutions of the sea? So, is it only for

human beings that that works for, this idea of karma? I think it's a get out clause, that

stops us from being activists, that stops us with speaking-out against injustice, because

karma will probably work it out. Spirituality requires that we be our best, and our best is

going to be different at different times in our lives. But our best must always be that we

are prepared, when it's right in front of us, when we have the chance, we're in the position

to do so, to speak-out against injustice, it can be as simple as you're with a group of friends

and somebody has really oppressed another person in front of you, and the people are so

uncomfortable that nobody wants to say anything because it's embarrassing. But really,

spirituality means that we would say something, like - Well, I'm really uncomfortable

about what you said, because if that person was talking and you put her down, I can't let

it go so I'm just saying it. I've always been a person that's not been afraid to do that, and

you never know when you are the person that is the first one to do that. Other people in

the group will then also join in and support that person who has just been oppressed. I

have one of these little pack-sayings about spirituality, you're as spiritual as your last

unsolicited apology. Because if you can turn around and say to somebody when they

didn't ask you - I oppressed you; I treated you wrongly; I want you to know that I don't

feel like that about you and I'm sorry; I was wrong to speak to you that way, to treat you

that way - That is what spirituality is, it's always our relationship with ourselves. But this

is a complicated question so, I have to go deep in this ... What I mean about fairy tales

and randomness is one of the things that stops us from being spiritual. This fairy tale that

good things happen to good people, bad things happen to bad people, it stops us from

self-examining ourselves and thinking and actually coming to. Because obviously I want

to think that I'm a good person so, how could I have done that bad thing? How could I

have said that thing that hurt that person? How can I've not supported that person who is

need of support? I'm using a universal I, we all want to feel that we're good so, we need

to say to ourselves - I am a good person who is also capable of lesser good actions,

thoughts, feelings. Bad things can happen to good people, we have to take on that because,

otherwise, every child that was sexually abused deserved it, what bad thing did they do?

Our spirituality is closely involved with our understanding that it is a random world. Now

Nature, can teach us how random it is. You just trot on that ant, you didn't intend to hurt

it, you know? That bird of prey just caught that fish, what was the fish doing? Like, was

the fish good? Was the bird bad? I'm making a distinction between our instinctive

reactions, when we're afraid we have instinctive reactions and our task, as humans, as

spiritual beings, is to move beyond our instinctive reactions. We can't move beyond our

instinctive reactions when we have this fairy tale of, I'm good so, I don't do bad things. For

me, Nature with its random randomness and also with its second chance - all right, this

goes on ... For instance, there's this idea that you get punished for doing wrong, but Nature

never punishes you for doing wrong. Now, you pour the water in a bit of a hurry, and it

spills, but the next time you pour the water it's totally a new chance to pour the water

right. Every time you pick up that jug to pour the water, you have the chance to do it right,

211

you're not punished because you spilt it before. And this is Nature, this is the natural

world. Every day is a new day, every day the sun rises, every day some leaves grow, some

leaves fall. It's like this constant renewing. Bringing this back to our spirituality, we can

all do bad things, and we all have done bad things. Depending on our power, we may

have done very bad things. In any moment, though, we can step into grace again,

especially about our wrongdoings. You know, when I can own up to you that I was wrong,

I move beyond my ego and wanting to be right, even if you provoked me and whatever

little story I've got as to why it wasn't a bad thing, the way I spoke to you and snapped at

you like that. If I can move beyond that, and put your pain, your heart, in front of my ego,

and say that your pain is more important than my little ego. In that moment, I've moved

into grace again. And I can do that, everybody can do that at every moment, that is the

thing that Nature can teach us. In every moment, we could move into great again.

A: Wow! As you were just saying this, a massive eagle overflew the forest nearby.

S: That's amazing! Because you know, eagles come when you speak the truth. They come

when some really important truth has been said and it's been heard, there has to be both

ways, then eagles will come often, very often ... Thank you for telling me that. So, I don't

know if I did okay. Because it's such a huge question, I could talk about that question for

a couple of hours. I tried to just do something that has some meaning.

A: Yes, especially the final part, it answered quite directly to what I was looking for.

S: The thing is you have to lay the path to get to the final part ... Sometimes the path takes

you there.

A: Usually, the most important thing is not even the end, it's the path itself, enjoy the path

and not the conclusion of it.

S: I had a lovely experience ... I've got one more little thing about spirituality and Nature.

So, we have times here where there's just dragon fly migrations, there's just dragonflies

everywhere, and I really wanted some of their dead bodies for a collage, because they're

beautiful. I thought with all these millions of them for sure that I could find one, anyway

I didn't find very many. Then after the migration had gone, one day I was at the beach

and I saw what I thought was a dead dragonfly, tiny, a small one, not the huge big ones.

It was bright red, and I thought - Oh, wow! That's steady with the perfect colour! - I

picked it very, very carefully, because I didn't want to damage it ... But as I was walking

along, the warmth of my hand revived it so, then I thought - Okay, well, I'll just help, just

keep on holding it very flat and careful - what I was doing anyway, because I wanted it

to be in a good condition. Then I realized that although it had revived enough to be

moving, it was actually dying. So, I kind of just stopped to be with this dying creature,

and it was so lovely because it was dying but it wasn't struggling with its death, it just

knew it was dying, it was just letting go of its life. I've noticed this with bigger animals

like cats and dogs. It's so beautiful the way Nature can die and accept here is the end, I go

now. That is something we could really all learn from.

A: Indeed. Indeed, indeed. I would like to pass the final set of questions, which are more

interlinked with psychedelics and entheogens. As you spoke before, you have quite some

experience with LSD and marijuana, ecstasy ... Are there any other substances or plants

that you have experience with? And that really changed your life?

S: Yes, both Peyote and San Pedro, which I find quite different, and also Salvia

Divinorum, and also psilocybin mushrooms, both Mexican and Welsh ones ... Anything

else? Tried DMT only once, didn't really do it for me. But yeah, I had powerful

experiences on those.

212

A: After these experiences, which life changes occurred in your life?

S: Well, I had a lot of experiences. I think one of the biggest was from an LSD thing that

actually brought back my first three weeks of my life. And that was so powerful, because

I had a tormented relationship with my mother all my life. I went back to that time, on

LSD, and it was before she'd had her stroke. I remembered the first three weeks, but I also

remembered other important things that happened in the next four months, and those I

was able to check with her, and they were totally right, I literally went back in time on it.

What that did for me, was that I had such terrible experience for the first five months of

my life, that a part of my soul, my little, tiny baby soul, just could not stay in that reality.

We have more than one soul. And when I had that trip in 2000, I was able to get back the

first three weeks of my life and integrate with my little baby soul. That was just amazing,

because I reconnected with my soul that left me when sometime between three weeks and

four months old. It changed my whole life.

A: Wow, that's profound!

S: I could go into that in depth if you wanted. I don't know if it's what you want. I am

trying to think of really, really strong experiences that I had ...

A: Actually, what I'm trying to look, it's like, some of these experiences that you had on

psychedelics, how did they affect you in terms of your personality, and in terms of your

behaviour? For example, this experience that you just spoke about, it definitely affected

you in terms of your personality ... How did reviving those first months of your life

changed your life? Or your feelings towards it?

S: It reunited me; you see. How much time have you got?

A: I have all the time in the world.

S: Because really, if I was going to talk about this, I needed to talk a bit more. I just want

to check that I've got the space to do it.

A: Yes. If you have time, I am totally available.

S: Okay, I have the time. So, what happened to me in real life was that at about three

weeks old, I've got whooping cough, pertussis, and this was back in the very beginning

of 1953, it was known just as a total death sentence. Everybody said that I would die, and

everybody said that it was really good that I would die. Because if I lived, I'd be brain

damaged, I'd never be able to walk, and never be able to have a normal life in those days,

to get ill like that. There were no parents in hospitals, hospitals were much more

regimented and rigid. So, I was in a hospital and there was a doctor who was determined

to try to help me live, and I stayed in that hospital literally dying for almost four months,

I shrivelled away to nothing like a little skeleton. This is what happened, the bare bones

of what happened, but now I want to just go into it a little bit. So, on the LSD, I was in

the middle of a long-term illness when I took this acid trip in 2000. I've been ill for quite

a while, 30 years I think, and I was trying to do a kind of a healing on myself. So, I'm

laying there in a comfortable space, and I'm imagining, all my blood flowing, all the

synapses in my brain connecting, you know, all my blood gases in the perfect thing and

all this stuff. A little kind of voice went off in my head said - Yeah, yeah, yeah, but you

know, this is all very mechanistic, this isn't really healing, just very mechanical. As I was

listening to the voice, and the voice said, you know, this isn't really healing, healing is ...

I thought, oh my god, I'm going to be given the definition of healing! So, I was completely

alert and receptive. And the voice said, healing is, for about 4 times, and the whole room

turned peach golden with some elements of pink in it, there was the most incredible music

213

played, and then the word got louder, louder than the music, then the word was - healing

his mother. And then, I got the first three weeks of my life. In the first three weeks of my

life, my mother had wanted me, she'd had abortions in the past, but she really wanted me,

and from my point of view, as a tiny baby, I had this goddess. I didn't know what was

wrong with me, but she put something in my mouth, and it went away. I didn't know what

terrible pain I was in, but she did something to me, and it went away. I didn't know what

this huge fear was, but she held me in her arms, and it went away. So, I had this wonderful

goddess who sorted every problem, who loved me. I was her pink and white, gorgeous

baby, I could feel that from her. I could feel how she loved her pink and white, gorgeous

little baby. And that was my life. It was this goddess; it was me; and she thought I was

beautiful; she was wonderful. And then I got ill, got this terrible, terrible illness. I wasn't

afraid because my wonderful goddess was just going to sort it for me. But now, instead

of my wonderful goddess sorting it for me, there were these waves and waves of terror

and fear coming from her, and that terror and fear was terrifying to me. It was like a total

attack on my system. Instead of my goddess helping me, she was terrifying me with her

terror. And then, what happened was, I was suddenly in a place where I wasn't being

touched. I was laying there, there was nothing but pain. It was nothing but hell. So, I had

gone from heaven to hell, to laying there in total pain not being touched. No goddess!

First of all, my goddess turns into fear and terror, and then she's not even there, and there's

nothing. My soul could not take the contrast between heaven and hell. The only way that

I could survive that whole thing and stay alive, was to just say, nothing is real - heaven

isn't real, hell isn't real, nothing is real, nothing is real - And that's where I lost a part of

my soul. I have two memories that came to me in this trip, one of them is of my mother

doesn't want to touch me, I'm not her white and pink baby anymore, she's horrified. And

the thing was she was ashamed not to touch me. But there is this symbiosis with very,

very young babies where they don't know where they end and where their parent, their

mother, or whoever it is looking after them begins. So, I felt ashamed, her shame.

So, I'm not her pink and white baby, she doesn't want to touch it, I'm totally ashamed,

because actually, she was totally ashamed - I've gone and checked that out by the way.

That's one memory. The other memory is somebody and I don't know who it is, but

somebody with a very gentle forefinger strokes my little baby cheek. And in that stroking

of the cheek, I remember, this is what life is about. Life isn't about laying here in pain,

life is about somebody touching me carefully, gently on my cheek. I honestly believe that

touch, whoever it was, got me alive. What happened after that was, I never trusted my

mother. This trauma of her fear and her shame meant that I never trusted her again, that

she would let me down when I needed her so much. Remember I'm talking about a tiny

baby here. She never trusted me either, that I was going to die on her. She'd had four

months of me dying. So, when I had the trip, and I recovered how much she had loved

me, even just that short three weeks. We had been in perfect love and bliss together, and

that just did something for me. It helped me to love her, to forgive her. It transformed my

whole life, because I was now reunited with my own birth right, which is every baby's

birth right, to have to feel that they were totally loved. Not all babies get their birth right,

but I had it, but I had lost it, and it got regained. It changed everything about my life, it

put me on a deep, deep spiritual path to want to be my best self, to want to live up to that

love that was at my beginning, and to also feel that I deserve to be loved, in spite of the

fact that I was in a long-term illness [laughs] or having been in a lot of pain. It put me on

a deep, deep path of wanting to live up to love, that this whole universe is about love, and

every time we fall away from love, we are losing the whole world. That's what it did for

me. And yeah, it was 20 years ago this year, wow, amazing ... It sent me on my spiritual

path in a way that I just hadn't been taught before, healed my soul, actually was the

214

beginning of healing my soul, which that was 2000. Then between 2006 and 2009, I went

into the further stages of healing my soul and I have healed my soul now - it doesn't mean

that I'm perfect, doesn't mean that I don't make mistakes, doesn't mean that I have to

continually spiral forward into grace after those mistakes. But it does mean that I don't

have this huge, huge wound right at the core of my being.

A: Wow, thank you so much for all of this! I'm definitely putting this example in the

thesis, just fascinating! I would like also to ask you, usually in which type of set and

setting do you prepare your ceremonies or the psychotropic journeys?

S: A mixture of Nature and my house. In the daylight, or if it's warm enough to get a

mattress and lie down to look at stars. If it's warm enough go walking to Nature, go to the

beach. If the energy starts to fade, come home, play some nice music, have some beeswax

candles. When you're too tired or cold or you need to eat, you know, I'm older I need a

comfortable chair, it can be too hot for Nature. So, a mixture of Nature and my own home

where I can have lovely essential oils and great music.

A: I see. I would also like to ask you, what is the influence of Nature during these

experiences?

S: Well, then everything is unfolding the way it is. When you lie down, and you look at

clouds, and the whole sky is a picture, and it's perfect, it's totally perfect. How could it be

any more perfect? Yet the clouds change, and each time it's again perfect. It's the tree, the

way the tree is the most tree like it could possibly be, you see tree work-ship. I think it's

this deep accept that everything is unfolding, the whole universe is unfolding. Each

moment everything is the way it is; I suppose that you can only say this because you're

not been tortured or not in agony, not starving, right? We have to remember our privilege

in that, but in this moment, the whole world is unfolding, and everything is okay,

everything is okay, it has to be okay. This is the story, the story keeps continuing, keeps

unfolding. The tree keeps moving in the wind, even if it's not moving, then we somehow

see the very cells of its greenness, in that sort of tree hallucination. I hugged a tree once,

and it's really corny to hug a tree, but I hugged this tree on acid once, and I can feel people,

I'm a massage therapist, I can feel where their pain is. I've had so many awful things

happening to me in my life, I'm not afraid of people's pain. So, people's pain trusts me,

talks to me. So, I felt this tree the way I sometimes feel people, and this tree told me of a

different timeline, of a timeline that was so slow, but so real. Nature can remind us that

everything in this moment is perfect, and it keeps unfolding. We can think we will hold

on to this moment, but the next moment is just as perfect, just as beautiful. You fall in

love with each second as it happens. That's like a huge, huge spiritual lesson that we get

from Nature. And we can get it, sure we can get little flashes of that when we are sober,

when we haven't taken anything, but we're unlikely, honestly, in our busy lives, to spend

four hours experiencing that, four hours devoting our time to an acceptance of the

unfolding of our lives, to an acceptance of standing and hugging a tree for an hour, and

feel the story that tree is telling you. We can slow down, and we can feel how irrelevant

we are, and how beautiful it is to be that irrelevant. That we're just this tiny piece always

so full of our minds, and our business, and our upsetness. We're this tiny part of this huge,

huge canvas, that is constantly recreating itself. And we're so unimportant, the tree will

carry on being the beautiful tree, the clouds will carry on telling this beautiful cloud story

that in every moment is as perfect as the moment it was before. We are nothing! And

that's a liberated idea, that we are so irrelevant ... Sorry, I get involved [laughs].

215

A: As a last question, and it's totally interlinked with what we've been discussing. For

you, in your opinion, which is the connection or explanation between psychedelics and

spirituality?

S: Right. Well, again I think privilege comes into this, in a different way. We tend to get

deep spiritual connections on psychedelics so, we are privileged. My idea of psychedelics

and being prepared for them, I shorthand it and I call it housekeeping. So, if we have been

eating good food, and teeth are quite clean, and our hair feels nice, and we've got the right

clothes on for the environment, or that we're comfortable. Then, when we come into our

body, as if we were an alien coming into a human body, all of a sudden, or a new-born

coming into that themselves, then the shock of it is just the shock of that new

interpenetration, between us and our body, we don't have the added shock of coming into

a body that has been smoking tobacco, eating bad food, is not very clean, gritty teeth, the

wrong clothes for the environment. So, that privilege of coming into a body where the

physical housekeeping is good, then we are freer to have a good experience, we won't go

into the horrors at our body. The way I see it is that psychedelics are very powerful, that

we have lots of things inside us, that are kept very hidden from us. It's like our dreams,

you know, when we dream and we remember our dreams, some dreams we wake up, we

know we had an important dream, but it's gone, just the very millisecond of waking, it's

gone. We have a feeling, but we don't know where it came from, we don't know the story

of it. And that is our psyches, protecting us from emotional material that we are not ready

for now. Then of course, we have another dream, and we actually remember a lot of the

dream but it's in strange codes. And that again is our psyche saying - well, you might be

ready for this, I'm offering you this, but it's in code so, only if you really dig deep into my

code, are you going to find the deep emotional meaning that's relevant to you about this

dream. Our psyches protect us from painful deep material that we're not ready for. So,

what psychedelics do is, they have the capacity, though that doesn't always happen, to

open those doors that we may not be ready for. This is why psychedelics are so powerful

and also quite dangerous, because some of what is in our psyches that we are not ready

for, if we meet those in a place where we haven't been housekeeping ... I'll go forward

into housekeeping again. I've done physical housekeeping, which is the state of our

bodies. But there is emotional housekeeping, which is how have we treated our loved one,

our partner? What resentments are we holding against our parents, our sister? All of these

things ... We can only be as good as we are, are we being our best self at the moment?

Because we can't be more than what we can be, but are we being it? Because at any given

moment, we're all for naught. So, there's our emotional housekeeping, be up to date. Have

we forgiven ourselves or other people, we let go some of our resentments? Because if we

come into our emotional life with those doors unlocked, those deep doors in our psyche

so wide open, it may be a shattering experience. If we are privileged enough, that we

come into our psychedelic experience with reasonable emotional housekeeping,

reasonable physical housekeeping, and we have a lovely environment, then if those doors,

some of those dangerous doors are flung open, then we have a very good chance of having

deep spiritual experiences, which may be blissful. They may be very painful, but we're

likely to come out having had some real spiritual gold there. I felt lucky when I started

psychedelics, because it was late 60s and lots of people just took them for pretty patterns.

But the group of people that I got in with, that were taking them, they saw psychedelics

as a huge learning experience. So, they said, you should never plan to take acid, you

should have it in the cupboard and think - Yeah, I might take it on Saturday - but when

Saturday's here, you should examine yourself. Are you in a good place to do it? Did you

have the right companions? Was everything okay for you? Or as okay as it could be? If it

wasn't leave it in the cupboard, one day you'll think - This is a really good day to take it,

216

I'm going to do it now. And you weren't supposed to take another trip until you'd digested

all the lessons. I mean, we took very strong acid in those days literally, really, really

strong, maybe five or six times the strength of the acid that is now. I know because I've

been there and now [laughs]. So, the people I was with soon have said that it was until

you'd learned and digested it, the things that had come up for you, a bit like deep dream

work, if you've done the Jungian dream work, then you shouldn't take another one. I was

very lucky to have that as my kind of template for taking acid, and this was before I had

any kind of conscious spirituality, as such. I think the connection between spirituality and

psychedelics is that these deep doors in your psyche can open. And if you're privileged

enough to be in quite a good stage, terms of your physique and your emotions, there's a

very good chance that you can come out of those because you're not going to get shocked

into horror, the horror of shame and guilt at your emotional updating that you haven't

been doing. Because when we succumb to the horrors, they take us away from the spiritual

gold that could be in the experience. The horror is very real, I've had them when I was

16, I mean, I felt that a bloody guardian angel looked after me. When I was 15 or 16, I

took acid on the fucking aeroplane ... it was quite funny actually. But if we come into the

horrors about our body, if we come into the horrors about our emotions, and if we already

have a spiritual life, which in different stages of our life ... Well, we have a spiritual life

whether we know it or not, but if we're not actively engaged with our spiritual life, then

it's a mystery to us, we're not in contact with our own spiritual life. So, if we have a

spiritual life, if we are in contact with a spiritual life, to whatever extent we are, then our

spiritual housekeeping also needs to be good. If those things are fairly good, good enough,

then we have the chance to have great spiritual experiences, where we can learn, we can

go through, we can come to some learning about ourselves, about the world, not in this

normal linear, step by step, logical way, that it is fine as an analytical tool, but it can stop

us from seeing things at a completely different angle. We have this open space in which

we could see things at a very, very different angle. If we don't have dangers from our own

psyche, or physicality, or spirituality, we're not in danger because of our bad

housekeeping in those areas. The doors opening, they can be internal, they can be about

our past, they can be about the world. I mean, people have understood the beauty of

Nature on psychedelics that never had before. They got in touch with the animal soul.

Everything is choice, in terms of how we experience it. I love the idea of paranoia and

pronoia. Do you know about paranoia and pronoia?

A: Not about pronoia.

S: Basically, the paranoid person thinks it's a magical universe, and the universe is against

them. So, they can't find their keys, or the car doesn't start, and they feel they've been

targeted, and the universe is against them. The pronoid person also believes in a magical

universe, but they believe that the universe is working for them. For a second, they're a

bit upset that they can't find their keys, or the car that doesn't start, but then immediately

it pops into their mind - You know, but maybe I'm now not going to meet that angry

person at the supermarket or, some car isn't going to come out too fast at a junction, I

won't be at it. So, it is a magical universe, and it's neither for nor against us. We have a

choice about how we look at it, but we don't always recognize our choices. And the thing

about psychedelics is, they can just blast our prejudices away, blast either our paranoia or

our pronoia away. To where we aren't personally evolved, we can spiritually see, we can

immerse ourselves in a beautiful idea, in a beautiful piece of music, we can have such a

reverence for beauty, we can have such a recognition for truth. Because everything is

blasted away, our usual linear ways of thinking are blasted away. I probably can't go any

further with that, it's such a huge question. If you were staying here, I might keep coming

217

back to you on that for days. But it's been a long conversation, I think that's as far as I

could go today. I don't know if I answered that well.

A: It was perfect Sophia! Thank you very much. Honestly, you answered more than

enough. Thank you so much!

S: Great. Can I say something about this situation of the COVID-19?

A: Yes, of course.

S: There is a connection, really, because of this sense that it throws us into this thing

where anything can happen. It could be like a huge psychedelic spiritual experience for

the whole world, that the things that we learned in this, we should not go back. You know,

we are already learning that the most important people in our society are the people who

clean, who put food on supermarket shelves, who farm, who drive foods to be in places

where we can buy them, nurses, doctors, these are the people that keep our society going.

And in most of the world, these are underpaid, they're not valued, they're called unskilled

work. A lot of people aren't driving around now, the air is cleaner, many jobs could be

done from home. With this threat hanging over us, that's a conscious threat, as opposed

to the actual reality, it's always possible that I might die, you might die, I may never see

you again, that's always a possibility, but we don't really think about it.

The spiritual thing we could take from this, is that we could think about it, and we could

bring ourselves up to date, just as we would want to bring ourselves up to date. So, that

we would be a temple for a spiritual psychedelic experience. This COVID-19, we could

bring ourselves up to date, by campaigning, joining campaigns too, seriously value the

people that actually keep our societies going, to seriously want to connect with anybody

in our lives that we possibly can connect with, say hello to them, because we may not see

them again. Anything can happen and that's always been the case, but this is like

everything that happens on acid could happen when you're not on acid, right? There's a

kind of a parallel here, do you understand what I'm saying?

A: Yes, totally.

S: We could take a deep spiritual hit from this, from the fact that so much could change.

The world hasn't collapsed, economies are collapsing. Most people are being fed, that

everything could change, just as when we have a deep psychedelic experience like a

depth-bomb that goes off in our souls. In this COVID-19 we could connect, join the dots,

connect deforestation, fossil fuels, important jobs, the importance of telling the people

that we care about in the world, that we care for them, that we hope they'll come through,

we bother to make that phone call, do that. That we could move forward, just as we try to

do on our best psychedelic experiences, to be our best selves, this is how we could use

COVID-19. It's a horrible thing but we could use it in a good way. The raw ferment of

this experience could be distilled into the greatest spiritual interconnection for all of us

on this planet.

A: Beautifully said.

S: Okay, I just wanted to say that, because I've been going deep, deep, deep ... I'm

somebody that could die from it, I have a very bad immune system problem, I had a bad

start in life [laughs]. It could happen, I just got to live and be my best self. So, I've done

a lot of thinking about it, and I continue to do a lot of thinking about it. Not just thinking,

feeling and spiritual work about this whole thing. I've actually really enjoyed it because I

love telling the truth. I love digging into myself to say is this really true. Are you just

repeating something that you thought was true a week ago? How true is this for you? I

218

really like being able to go deep. So, thank you for great interview questions, look after

yourself.

A: Thank you very, very much once again Sophia. I will share with you the interview

very soon, maybe send me your email, it will be more appropriate.

S: Great, okay, I will send you my email.

A: Please stay strong, stay safe, big hugs! Hope to see you soon.

S: Bye-bye Alex, it was nice talking to you.

219

Victor

V: Hey.

A: Hello. Welcome, Victor. Hope you're feeling good today.

V: Yes, thank you.

A: You showed some interest in participating in this interview, are you still willing to

participate in it?

V: Yes, absolutely.

A: Okay, that's perfect. I'm going to ask you some questions then. As I told you earlier,

the research topic of my thesis is focused on how the expanded our altered states of

consciousness influence our behaviour and even relation with the natural world,

specifically pro-environmental behaviours and likewise. During the interview if you don't

feel comfortable answering any type of question, you are more than welcome to not

answer it or even if you want to stop the interview, just tell me.

V: Okay.

A: Okey-doke. Do you have any preliminary questions?

V: No, not really, I'm excited to hear what the questions are.

A: I'm going to ask you some personal questions first, since one of the main guidelines

of this interview is a life trajectory analysis, sociologically speaking. So, I would like you

to describe a little bit yourself, what's your age, your profession, nationality, gender,

sexual orientation, whatever ... Oh, one thing I forgot to mention, I will always follow the

anonymity rules, so you don't have to worry about anything.

V: Okay, great. So, just briefly about myself. My name is Victor, I'm 26 years old, I'm an

American citizen who grew up in Norway, I've lived in a few different places, I've lived

in Norway, lived in the UK, living in Portugal now currently. I was a student until

recently, now I'm working sort of full time as a musician, producer, DJ. I also do my own

personal research on plant medicine and altered states of consciousness, psychology,

particularly holistic psychology, and psychotherapy, I suppose. These are my key fields

of interest at this particular moment. Oh yeah, the basic information, I identify as male,

identify as heterosexual, or at least central normal but also recognize the spectrum. I'm

Caucasian, don't know my blood type but I have no particular pre-conditions. I used to

have asthma as a child, other than that I'm pretty healthy. I exercise fairly regularly, a few

times a week with yoga, running, physical labour, things like this. I meditate a lot. I don't

use any regular medications. But I do use cannabis regularly, and partake in psychedelics,

both recreational as well as ritual and medicinal contexts on a fairly regular basis.

A: Well, you already answered maybe 20% of my further questions, this is great. Could

I just recall how long have you been living in Portugal?

V: I've been in Portugal for roughly two and a half years.

A: That's great. Hope you're enjoying it.

V: I am, thank you.

A: I would like to dive a little bit more into personal relations, mostly familiar. How could

you describe your family relationships?

V: My family relationships, pretty strong, stronger than a lot. Our communication in my

family isn't so great, but we have a lot of love, and compassion, and support for each

220

other. We're maybe not as present in each other's lives as some families are on a regular

basis, though regular talking, and texting, and communicating, and meeting. Part of that

is because my family is spread out across the planet, literally from Australia to California

and back. But yeah, I would say fairly healthy relationships. All in all, we stay honest, we

try to stay fairly transparent about things. And we have a sort of foundation of love and

compassion and holding space for one another. Which is something I'm really, really

immensely grateful for.

A: That's fabulous. Hope everybody would share this type of experience. Moving a little

bit forward. How would you describe your political ideology?

V: Political ideologies? The tough one ... I guess I could go with the Chomsky answer,

like an arco syndicalist, more, or less. But I don't like these big descriptions. I guess I'm

a humanitarian at heart really, that's less political and just more general ideology. But

yeah, in terms of politics and exaltments, let's see, freedom, equalities, sustainability, and

integrity with our natural surroundings are basically fundamental political values that I

hold. But I don't really see them as political per se, and that they fit into current political

systems. Because I don't really see how our current global political system will affect the

change that I desire, essentially. So, I guess in that sense, I'm a bit of a general anti-

establishment. Radical left in one sense, but also not left at all. I tried to avoid the whole

blue-red spectrum entirely. I'm sorry I can't give you a more specific answer, a particular

title, I'm sure a political scientist could listen to me talking right now and say: Oh, he's

that! But I don't have that vocabulary.

A: No, actually for my type of research, your answer is way better than a singular title

honestly, you're giving me way more information this way.

V: Good. I guess the foundation of my political beliefs is that we are social and ecological

beings, and we should live accordingly. That’s sort of the foundation is to see humanity

on the material as well as social level and spiritual for that matter, as an ecological and

holistic process.

A: I see, amazing. Following a bit up. Which would be your biggest concerns about the

present day, worldwide? [Victor laughs] Of course, not just the Coronavirus, because this

is something huge happening right now. But in terms of our contemporary society.

V: Right. Yikes, what isn't my greatest concern would be an easier question to answer

[laughs]. Yeah, I could give two shits about Coronavirus, at this point is kind of beyond

me. But my greatest concerns would be, first and foremost, imminent environmental

collapse, because that is ultimately the foundation upon which every other crisis I could

possibly worry about lays. Without an environment there are no other crises to worry

about essentially. That was the first and foremost, the systemic degradation and inevitable

collapse of the ecological systems that keep our planet alive and keep us alive. Secondly,

would be our culture of commerce and cultural consumerism, which sort of plays hand in

hand. Another one that really terrifies me most of all is the globalization and

modernization of knowledge and knowledge production systems. I'm quite terrified that

if we haven't already reached that point, we're very close to reaching a point where no

original thinking, or values, or systems will be possible to conceptualize let alone

implement, because we are so rigidly locked into a homogenous peer-reviewed system of

knowledge in which only a certain explicit expression of that knowledge is considered

valid and validated or reputable. It also leaves a huge cultural blind spot as well, in terms

of how knowledge is received and disseminated through educational systems, whether

they be institutional or otherwise. So yeah, globalization or marginalization of knowledge

is another huge one. Let's see what else ... Rise of fascism, or the second rise of fascism

221

terrifies me a lot. I see more and more of our political systems leaning towards what

appears to be police states, or at least legitimizing the idea of a police state as a political

possibility within our current system, which is something that I thought we had left behind

about half a century ago, but no, here it still is. Hmmm ... Water shortages, food shortages,

clean air shortages, pollution, all of this sort of leads back to the environmental case which

I started with in the first place. And yeah, this sort of leads back to the rise of fascism as

well, the increasing ideological and political divide between individuals living within the

same political system. I fear civil wars breaking out in first world developed countries

quite soon, precisely because of the freedom and privilege that such countries and cultures

have been allowed. That masses won't really know how to respond to ideological

challenges to their sort of ideological and ontological realities and will respond in mass

violence. We already see this happening in the US abundantly, as well as sort of organized

hate crimes across Europe and the UK. And I think it's only going to get worse. I'm just

going to stop there. Otherwise, I'm going to be here all day, Alex [laughs].

A: Thank you very much. So, basically what you're saying is that the environmental crisis

and our socio-cultural crisis, they're just like this huge interloop that is constantly feeding

itself with the same problems.

V: Yeah, yeah, yeah, it's like ouroboros man, one problem just exacerbates the next,

they're all intrinsically interrelated. Another thing I'm a big sort of believer, in when it

comes to crises and issues is this idea of intersectionality. Essentially, that every crisis or

every form of oppression is inextricably linked to every other one, not consciously

systemic, but more like a pathology, a social kind of pathology of society or dominated

societies that seems to occur. So, this is the sort of the foundation that I think is the biggest

crisis we live in, is just this sort of detachment from recognizing that we can in fact

cultivate a better, more humanitarian, and more compassionate social pathology for how

we behave and control our populations. But yeah, they're all inextricably linked, and

they're all sort of feeding one another and exacerbating each other. Yes.

A: In your opinion, would there be some type of actions or measures that our society, or

our humanity even, could take to kind of disrupt this cycle?

V: See, that's the dangerous thing. My educational upbringing tells me that yes, there are

options, to sort of follow the political and ideological route. I guess it would be to go to a

more genuine meritocracy, not what neoliberalism refers to as meritocracy, but like an

actual meritocracy. And also, to work within a technocratic system as well, where actual

education and systemic knowledge of how the system works is what informs how we

respond to the system, rather than just popular opinion. So, it's not a very popular

idea. Basically, taking democracy more or less out of the picture would solve a lot of our

problems, but then also, a huge other essential would be to simply find a better way of

informing populations. But these are all pipe dreams, really. I don't really see any

systemic implementation, or sort of like evolution of the system that we already have,

really being a solution. I feel like the only thing that really is going to move society

forwards is an entire systemic or social collapse. And immense sacrifice that will follow

in resources, as well as quality of life, as well as actual lives, human lives, animal lives,

natural lives. I hate to sound so cynical, but I don't really see any way past this other than

by being, sort of speaking, burned alive, more, or less. Because as our current system

stands globally, I just don't see how any alternative is going to move us forward, for a

multitude of reasons. I don't know if I can really answer it any better than that without

giving you an hour-long lecture about my opinions on the matter. But yeah, I don't really

see any immediate solutions. I mean, I know what I am trying to do, which is see myself

as an ecological agent, within an ecology, and trying to play my part as best as I can and

222

trying to sustain my own self and my resource consumption as best as I can, and

simultaneously contribute to regeneration as best as I can. But I know that even as I do

so, I still live within a system where I don't even know whether what I am currently

contributing, or even what I can contribute to the future with time to come, will ever

outweigh what I consume in terms of resources. So, I'm always trying to work this balance

but within the current system there's still sort of this polarity, essentially. And as long as

we're living within a system where there's this sort of polarity of giving and taking, and

don't recognize ourselves as in a constant process, where we have to find an equilibrium,

then yeah, I just don't see a way forward. I'll leave my answer there.

A: Thank you very much, a lot of material. Considering that you're actually a person that

concerns a lot with environment, and especially the environmental crisis ... What is Nature

to you, or the environment? How would you describe it? How do you feel inserted into

it?

V: Right. Well, this is where things get a bit more ontological. In one sense, Nature is for

me everything, is totality. It's a word that has been mis constructed in order to give

division from humanity and culture. But ultimately, I see humanity as a component of

Nature. And I even see humanity's attempts to culture themselves as a natural process in

and for itself. On a more sort of general and material level, I guess I sort of associate

Nature with uncultured land, uncultured natural resources, and uncultured natural spaces,

by uncultured I simply mean that it hasn't been modified, it hasn't been limited, it hasn't

been turned into something agricultural, that is just Nature existing as it does, doing what

it does. But there is also another side to Nature, where it is a provider as well as a resource.

And as social beings, it seems it's in our nature, to engage with Nature in a slightly less

natural way, so to speak. So yeah, Nature is a really tough one to pin down ... I did culture

studies, we spent half the time trying to define what even is culture, and once you're

asking what even culture is, then you have to sort of look at the other half-question of

what culture is not, what comes out of just pure natural form of unconscious. But I find it

so much of the definitions of Nature and culture, is sort of this division between conscious

and unconscious. And for me it's quite the opposite, culture is more like an unconscious

pathology, whereas Nature is the most conscious thing in the universe. And more, and

more that's how I start to perceive Nature, as this very, very conscious, hyper intelligent

expression. It's really human culture, that's sort of the limited-half-asleep one, that's sort

of running on autopilot. This is the way I see Nature. On a more symbolic and

philosophical level, I see Nature as a provider, as a mother, also as a reckoner and a judge

as well. It's sort of the totality under which I live, so to speak. Nature is very much

everything, but most of all, Nature is a part of me, and I'm a part of her, I guess that would

be my final definition.

A: Oh, thank you. Regarding your answer, I could sense that, or I kind of had the

impression that you see Nature as a divine being.

V: Yes.

A: Okay ... And do you feel connected with any other being, life-being, material or

immaterial on this planet? Which way? How?

V: Let's see, that's a good question. For me, it exists in a holistic system ... Symbols are

extraordinarily powerful, archetypes are extraordinarily powerful, the concept of divinity

is extraordinarily powerful. But then there's a step beyond that, where it's no longer a

concept, at that point where the symbol stops being a symbol and you actually see it as a

kind of alchemical action, if you will. So, I don't know ... There's a lot of sort of like

figures, and archetypes, and beings I could say I relate to. I mean, I was brought up

223

Christian, so, the Holy Trinity, and particularly Jesus Christ as a sacrificer ... these things

have played a very big role in my conception of myself, and Nature, and many other

things. But generally, I try to avoid adding too many descriptions or even concrete forms.

A: I see, wonderful. Usually, or on average, how much time do you spent in Nature, or

natural environments?

V: Poof, not enough, not nearly enough! I live in the city most of the time, but I try to get

out into Nature as often as possible. I would say when I'm in the urban routine, I probably

don't get out to Nature more than a couple of times a month, to be honest, unless you

count going to a park or something, but unless it's a very big park, I don't really consider

that sort of immersion in Nature. However, when I do go to Nature, I try to make it count,

so, sort of longer excursions, spending days and even weeks at a time. Though I don't

have the opportunity to spend as much time in Nature as I would like ... But yeah, for a

number, I would say on average twice a month.

A: And how do you feel during that time that you're immersed in Nature?

V: I feel right, I feel like all my priorities fall into place. I feel all the insecurities that I

have when I'm living in the city, melt away, because I'm simply reminded of what it is all

for, what my work is for, what my feelings are for, what my existence in itself is for. It's

all for this, it's all for this present moment that I find in the natural world, essentially. In

one word: therapeutic. Nature is extraordinarily therapeutic for me, this is what I feel is

therapeutic growth, when I'm in Nature.

A: Beautiful, amazing ... Regarding this whole ecological and sociological crisis that we

spoke a little bit before, is there anything that you as an individual being, do to reduce

your environmental impact?

V: I try to recycle as much as I can, although I know that's largely a waste of time,

especially in Lisbon. I consume as little as possible, I try to repair my own clothes instead

of buying new ones, I try to get as much food as I can from the trash, from dumpster

diving, basically, trying to take advantage of waste as best as I can, in urban areas. I try

to avoid using cars, I try to remain on public transport as much as I can. When I had

regular work routines that required commuting, I've generally taken public transport, or a

bus, or walked. I try as much as I can to lower my carbon footprints and my waste and

pollution footprints as well. And when I get the opportunity, I try to give back as much

as I can too. I try to avoid using heavily chemical components, I don't really use soap or

shampoo unless I get a nice gift or a treat from someone, and you know sort of organic

production. I try to avoid using water whenever I can, or I try to be very sparing with how

much water I use, although that's something I definitely can get better at. I try to use warm

clothes instead of spending money and energy on electric heating, or gas heating. I try to

do what I feel I can do, while still maintaining a productive output, so to speak. Of course,

once I'm in a natural area, like right now I'm living on a farm, where it's much easier to

keep that footprint small, whereas when I'm in an urban space, I feel like it's quite

inevitable that I will be creating a lot of waste and a lot of pollution, one way or the other.

A: Thank you very much for all your efforts. I believe the planet is also happy with you

[mutual laughs]. Passing to more spiritual and different matters ... As I understood from

your first answer, you are a little bit in contact with spirituality ... So, how would you

describe the altered states of consciousness? How would you define them?

V: Altered states of consciousness ... Wow! I mean, that's the sort of the million-dollar

question. I really enjoy the simplicity of the early descriptions given by people like

Huxley and Leary in the 1950s and 60s, this idea that our day to day, our default mode

224

consciousness, is filtered, there's a limited amount of information that we receive, and

this is to not be overwhelmed, essentially. And then, altered states of consciousness is

sort of removing some of those filters, removing some of those barriers, to expand

perception of reality. I think for me altered states of consciousness it's a perceptual

expansion, enhancement, and amplification, first and foremost is by default applied to my

perception of my material reality around me. But then, altered states of consciousness,

not only is a radical reinforcing of my experience of reality, it also is an introduction, or

one way of introducing my consciousness to multiple plateaus of reality as well. So, that

includes the physical reality, the metaphysical reality, the astral realm, the realm of forms

and beyond that. Basically, altered states of consciousness is a way of not even expanding,

but recognizing that consciousness is already in an expanded state, essentially.

And in my own personal experience, is sort of recognizing the process of consciousness,

recognizing consciousness, this is what I always come back to in my altered states of

consciousness, regardless as where I'm vocalizing my efforts, or my attention, and my

perception. It's a way of becoming aware of the totality of the processes that facilitate my

awareness in the first place. I'm trying not to make this sound loopy and more complicated

than it needs to be, I just struggle to find other words for it. But yeah, an altered state of

consciousness is basically an enhancement of perception, an enhancement of the physical

realm, as well as the energetic fields, and realms even beyond that, although that, I find it

really hard to verbalize what those processes are. Enhancement and amplification and

insight, I suppose it's very difficult for me to describe how that enhancement,

amplification, is not just of the immediately observable, but actually expands my

conception of what even can be observed, let alone perceived and understood, reflected

on and responded to. And I find that altered states of consciousness raise my awareness

in my day-to-day consciousness as well, of precisely what is constituting my

consciousness in the first place, or lack of consciousness in the first place. I would define

the long-term effects of altered states of consciousness as to simply enhance day to day

conscious experience by bringing to the surface otherwise or previously unconscious

behaviour, unconscious responses, unconscious dynamics, and reactions, essentially, and

raise them to a level of awareness where suddenly in the day-to-day consciousness, I have

no choice but to address how it is I'm responding. In one way altered states of

consciousness leave less and less room for unconscious processing. Having said that,

unconscious processing, I believe is an essential part of what makes us human, and how

to keep ourselves sane. So, some amount of unconsciousness still needs to remain ... I'll

leave it there, otherwise I could just go on for too long.

A: Thank you! I can write so much about what you've been explaining ... Thank you for

your contribution. Since I could see that you are familiarized with ASC ... Which are the

methods, or, in what type of circumstances you usually reach those states?

V: Right ... Well, the easiest and one I use most often is through psychedelic compounds,

mostly natural psychedelic compounds, but some synthetic ones as well. I suppose the

other most common ... that depends a little bit of what your parameters are. I mean,

arguably, every night we enter in altered states of consciousness, and arguably every time

we get immersed in a book or watching television, we have a slightly altered state of

consciousness. But I know we're talking about something somewhat bigger than that.

Besides dreaming, which is not really something that I'm very well versed in or have

much control over. Then the top, there's sort of three places, ingesting psychedelics,

meditation practice and to some degree yoga as well as sort of physical processes of trance

induction, it could be through intense physical labour, it could be through extremely

concentrated yoga practice, can be through dance, or it can just be through something

225

more mundane, something more like a physical motion repetition. The body and the mind,

both give me access to altered states of consciousness if I work with them correctly. But

I would say in terms of effort, and convenience and also just sheer profoundness of what

I can extract from an altered state of consciousness then yes, psychedelic compounds are

my sort of go to methodology.

A: Regarding these psychedelic compounds ... Which type of compounds would you like

to talk about? Which are your favourite ones? Which are the effects that range from

between one and another? If some should be used for a specific method and others for

another? And ... What made you try these compounds for the first time?

V: Uh-huh. To some degree, I am mostly interested in naturally occurring psychedelic

compounds, for a lot of reasons. Part of it is just sort of my ideological and somewhat

romanticized relationship to Nature as a provider, so, finding psychedelic compounds

such as psilocybin mushrooms, just makes a lot more sense to me than taking something

synthetic from a laboratory. But having said that, I've had plenty of immensely profound

experiences with synthetic compounds coming from laboratory, such as LSD, such as 4-

AcO-DMT, and a whole host of others. The interesting thing about the molecular world

where these compounds are active, is that it starts to really blur the line between the

analogue and the synthetic, so to speak. Perhaps the best example of this might be DMT,

dimethyltryptamine, which to me is probably one of the most fascinating, if not the most

fascinating psychedelic compound in existence, which exists naturally in many spaces

and in many, many plants, but at the same time in order to be effective as a psychedelic

experience for me, I have to process it chemically somehow. And I can go from something

as, quote unquote simple as the traditional Ayahuasca brews from the Amazon to

something more complex, like doing a chemical extraction in my kitchen from a plant, to

simply purchasing an extraction from someone else, or even from someone who has

synthesized the substance entirely. And I have to be honest, I have no real reason to judge

a synthesized DMT as more or less than an analogue extracted DMT, I don't really have

enough personal experience with either to make any clear distinction and the

phenomenological level of experience, but also on a chemical level, then technically,

there is no distinction as well. Anyway, I'm drifting off. I suppose my sort of, quote

unquote favourite compounds to work with have definitely been psilocybin and DMT,

both naturally occurring compounds ... I sort of approached psychedelics, first, from a

place of curiosity when I was younger, and for a long period of time I certainly had some

profound experiences, and it definitely expanded my spiritual conception of self and

reality. But it was only when I started really seeking help, and healing, and therapeutic

process in a very concrete way, from psychedelic experience, that I really began to

understand the true potential of these substances. It's worth mentioning that it was also in

this time that I started to pay more attention to the millennial indigenous and shamanic

traditions of using these substances as plant medicines, and started to recognize that this

is not just an open field of experimentation, a new chapter in history, there is in fact a

lineage of critical knowledge here, which is becoming more and more essential by the

day to our global society. It is rooted and grounded in precisely this, in healing, and

growing, and transforming, and evolving on a personal, interpersonal, as well as

collective social level, essentially. And this is really what started to trigger my

understanding in relationship to psychedelics, and particularly again, mushrooms which

is psilocybin, and DMT. It's kind of interesting to me, because there's a lot of therapeutic

work with other psychedelic compounds, which have shown a lot of success and a lot of

results in clinical trials, I suppose the most notable being MDMA and ketamine, which

are two synthetic substances. And it's sort of beyond me to cast any sort of criticism or

226

judgment of those that find benefit from this therapeutically, apparently some people do.

Personally, these substances simply do not have that much of an effect on me, for a variety

of reasons. One of them being that I have a depressive disorder, which prohibits my brain

serotonin receptors from producing and receiving serotonin properly. So, you know, it's

just a very mundane example of how a certain compound might work very well for

someone and then doesn't work very well for me, it's a very, very individually based thing.

But personally, I also see that there is definitely an argument for the more natural

compounds: a) they're existing in a greater tradition of folk healing; and b) they give a

natural harmonious relationship between the consumer of the substance and the natural

world from which they came. It's kind of a mythology or cosmology even, that for me at

least is kind of impossible to avoid, and not appreciate in the therapeutic experience of

psychedelics, is the fact that this healing experience is coming directly from a natural

source, it's not a doctor that prescribed it to you, it's not a pharmaceutical company that

produced it for you, it's not a service that a therapist is providing to you, it is Nature

herself, that has put this on the ground. And it's really funny to think about, because, for

example the psilocybin molecule, I'm sure it serves a host of other purposes inside the

mushroom, but then Nature is just sort of giving this additional purpose to it, which is

that it allows us to experience something far greater of Nature herself, and our divinity

by extension. This can be, on multiple levels and multiple methodologies, an

extraordinarily healing and therapeutic experience, not just for cases like my own of

severe anxiety and depression, but also far more clinical and critical states of post-

traumatic-stress-disorder, of severely inhibiting mental disorders, and basically situations

far more critical than mine. I'm pretty lucky all things considered, and even luckier to

have found these natural medicines as a way of creating my own therapeutic

methodology. But yeah ... I think this is the foundation, for me personally, which concerns

me a lot as I see psychedelic compounds becoming more and more commercialized, and

more and more accessible in purely recreational context, not that I have anything against

the recreational context, I just feel like it's the tip of the iceberg, really. And also, it worries

me as well that there's sort of this emphasis on the recreational context because, that's the

other funny thing about the therapeutic properties of psychedelics, if you aren't prepared

to accept them, if you aren't sort of looking for them, I don't really think they're as likely

to appear. They can, of course, but that's the funny thing about the psychedelic experience

in so many cases, is that it works enormously on expectations. If the expectation is a

recreational experience, then largely that is what you will receive. If the expectation is a

therapeutic experience, well, then you're going to start noticing things within the

experience which have therapeutic elements to them, essentially. A lot of it comes down

to individual intention. I think that all of reality is sort of constructed largely by individual

intention, and psychedelics can be on a baseline extraordinarily therapeutic and helpful

to all sorts of people, regardless of how content or discontent you are with your life

quality, simply because they really enhance this basic principle of how much our

expectations and perceptions shape our experience of reality. This is a hugely helpful

dynamic to be aware of, which for itself can be therapeutic, can be healing, you can also

contribute to increasing productivity, to improving communication, improving

interpersonal relationships, so many things, just recognizing this basic essential dynamic

of how we perceive reality. I think that psychedelics most of all, can really, really

contribute to just recognizing with a bit of humility, and a little bit of humour as well at

times, just how much our world really is exactly as we expect it to be.

A: I see ... You were mentioning, the fact of intention. A lot of literature speaks about it,

especially the first ones to emerge in the 1960s. Many of them spoke about the context of

the set and setting. I suppose you're familiar with this terminology ...

227

V: Yeah, yeah, very well familiar.

A: I would like to ask you, usually, how are your experiences centred around the idea of

the set and setting? What's the preparation?

V: Right ... Well, the older I get, and the more psychedelic experiences I have, I'm more

and more convinced that set and setting are the absolute foundation of the experience. In

many ways, I feel that the set and setting principle that is applied to psychedelic

experiences applies just as much to ordinary states of consciousness as well. So, when I

construct set and setting ... Well, let's just start with the first part, the set, which is sort of

my individual mindset and how I'm proceeding. This can be a really interesting and tricky

one, because on one base level, an ideal set would have to be relaxed, to not be distracted

by anxious or severely troubling thoughts, to be in a sort of, if not positive, at least neutral

attitude ... just to get a basic baseline and not leaning towards anxiety, [not] leaning

towards negativity, [not] leaning towards fear and insecurity, essentially. And that's kind

of out of control, there are some days where I've planned a psychedelic trip, but then I

wake up and I'm just not in the right headspace. So, I avoid it. But then having said that,

once you start working with psychedelic experience as a healing process, at least in my

experience, I find sometimes it's necessary, not [strictly] necessary but it can be helpful

as well, to enter the psychedelic experience with a mindset which is honest about what

I'm feeling. So, if I'm feeling severely depressed and feeling severely anxious, I can work

on those things, as long as I'm honest with myself about them. I suppose for me, it's not

really so much about positive emotion or negative emotion, or positive or negative

experience, it's really about grounding, of feeling secure in my sense of self, feeling secure

in my sense of reality, and feeling secure in my surroundings, which then comes to the

setting. The setting, there again Nature, I find is the ideal setting for all psychedelic

experience circumstances, I have yet to have an experience in a room or in an urban

environment where a part of me wasn't wishing that I was in Nature instead. And then

comes the social aspect of the setting, the people that you're with, because at least for me

quite often, I tap my psychedelic experiences as a social experience, even if it's just a

small group of people like 2 or 3 other people. Even with a lot of spaces held for just

simply silence and for personal introspection, the energy of the people that I'm with is

usually significant, and informing the setting as well, and my relationship to those people

too is very, very significant. But really, I feel like set and setting can go even deeper, if

you start to look at the ceremonial and ritual form attached to shamanic practices with

psychedelic medicines, because the emphasis on ritual and the emphasis on ceremony, to

me, is kind of a guarantor system of set and setting. It guarantees a certain setting where

space is held, where certain intentions can be followed through, and a kind of protection

of that space, upholding that space through the authority figure of the shamans. It also in

some sense guarantees, though not completely, a lot of prerequisites that are necessary

for the individual mindset as well, because through the ritual and ceremonial preparation,

which includes the initiation by the shaman, it weeds out poor sets, poor mindset,

mindsets that aren't prepared or aren't in the correct condition for that experience,

essentially. A lot of the questions that I've had about set and setting, and trying to

understand how it works and what to consider, have been informed and illuminated in a

really, really helpful and essential way by participating in indigenous ritual forms of

shamanic work, because that gives me a far better blueprint and framework than anything

else I've found so far, as to how to facilitate and guarantee correct set and setting, and

how to avoid embarking on an experience without the correct set and setting. So, for me

it really comes down to ritual and ceremonial form. And this is something I can apply in

my own right, in my own self, and my own personal ceremonies and privacy as well. I

228

can give myself a certain sense of guarantee of set and setting by performing rituals which

I relate to, and which I honour, and which I find sacred. I know for a fact that if I do a

ritualistic preparation and I don't feel the power and the dynamic of the ritual, the

preparation, I don't feel that it's giving me a safe setting, I don't feel that it's giving me the

right mindset ... Then I know, I know it's not right and I'm not prepared for that experience

or for that journey. It's funny because dosage and substance do matter in a huge way, but

also in another way, set and setting are everything to me in many ways. Ritual and

ceremonial form are not just cultural principles or cultural methodologies, they're actually

something far more essential, they can also be seen as a kind of social technology for

ensuring correct set and setting, if you will.

A: Thank you very much for your contribution. Just for statistical curiosity, on average,

how many psychoactive or medicinal sacred plant journeys you had during your lifetime

so far?

V: So far, a few ... Let's see. If we start with DMT, I've had DMT in its purified form, in

Ayahuasca, in Changa. Psilocybin mushrooms, I've tried a variety of different kinds of

psilocybin mushrooms. I've experimented with Salvia Divinorum quite a bit. I've

experimented with Harmalas as well, with Syrian Rue and Banisteriopsis Caapi, among

others. I've experimented with San Pedro, the cactus containing mescaline. Cannabis

containing THC and CBD, tried a vast, vast variety of those [laughs]. Let's see what else

... 5-MeO-DMT, is not strictly a plant medicine because it comes from a toad after all,

but it is, quote unquote, of the natural world. It doesn't have any recorded history of

shamanic use, but there's still plenty of people that claim that it has, it nevertheless, does

have a long tradition of use just not an obvious one. Otherwise, I've tried plenty of

synthetic substances, I don't know if that's of interest. But there's MDMA, there's 4-AcO-

DMT, there's Ketamine, there's Cocaine which isn't exactly psychedelic, per se, but it can

also be therapeutic for that matter. That's the ones I can sort of come up with on the spot,

on the moment. I'm sure there are plenty of other ones that I'm just not thinking of

[laughs]. But yeah, that's sort of the gist of it. So, I've tried quite a spectrum of different

psychedelic substances and sacred plant medicines. For me, personally, the most effective

ones so far have been psilocybin and DMT in the form of Ayahuasca.

A: I see ... Quite a list. Regarding the spiritual connection of these compounds, how could

you describe it? Is there a spirit inbound when you access these higher levels of

consciousness? Did you ever experience any non-human-entities during these states?

V: Yes, absolutely. I quite frequently come into contact with the spirit of sacred plants.

Most of the time is in a more indirect sense, of not something that I visualize or an

exchange that takes in the form of English language communication, it's more sense of

presence, and conveyance of meaning. But having said that, I have had some pretty direct

and visceral encounters with plant spirits as well. The other spiritual aspect of these

experiences of the psychedelic compounds and plant medicines is really one that tickles

my brain the most, precisely because on one hand, I feel like I'm constantly experiencing

more and more the totality of spirit and the unity of spirit through these experiences,

which makes me feel less and less I, myself and my spirit, and more like recognizing the

whole of reality, and the whole of the universe as a kind of a spiritual process. But then

there's these very contradictory experiences, in addition to that, which is when I encounter

sort of spiritual experiences, or spiritual entities even, which are quite clearly outside of

my consciousness, and my spirit, and yet our spirits are clearly intrinsically connected,

beyond just simply my ingestion of a plant, and thereby invoking a spirit, there seems to

be a far more fundamental relationship going past, existing outside of the ritual of it, so

to speak. If anything, it seems that the ritual and the consumption and the experience of

229

the psychedelic in and for itself is kind of the ritualization of a much vaster and more

complex dynamic relationship. What I find most interesting or helpful about the plant

spirits is that they largely seem to be there to help me or are willing to help me, giving

me a great deal of advice, giving me a great deal of guidance, giving me a great deal of

perception, and also hold a great deal of space for me, allowing me to work through a lot

of my personal traumas, and even exist as, not as a therapeutic support, but actually

instilling archetypal values, if you will. Just to say, where my parental figures might have

failed in providing me a certain sense of security, and safety, and warmth, and

compassion, I find the plant medicines not as helping me understand that and learning

how to love myself, but actually almost being surrogates as well, and playing those

maternal and paternal roles for me. Which it's hard to go deeper into that without getting

into the whole debate of archetypes, and divinity, and spirituality, and psychology and all

these things. But yeah, I can say that my spiritual relationships to the plant spirits exist

on multiple levels. There's the level of presence, there's the level of communication, and

giving, and receiving. There's the level of immersion in the experience itself. There's the

level of representation, where the plant spirits come to serve certain purposes and roles

in my life. There's a lot going on there, to say the least. Ultimately, the foundation is the

spirit, and the spiritual reality, and experience of spirituality. And above all, I guess the

most basic and fundamental things that plant medicines have done for me, is really giving

me a proper introduction to spiritual reality and my spiritual sense of self. Now

personally, it's my belief of seeing and describing the world, that we are all spiritual

beings and spiritual creatures, it's just a matter of how we recognize this, I know that for

a long time. I consider myself a spiritual person without really recognizing the spiritual

modality of my existence, in my perception of my reality, and plant medicines have

helped hugely with breaking that barrier, allowing me to identify spirituality as a

component of my existence, and also a component of experience.

A: Great, thank you so much. I believe all the questions I had were answered, even if

indirectly. Is there anything that comes up to your mind to sum up? As I told you, I'm

analysing how the altered states of consciousness relate to our pro-environmental

behaviour ... As most of the literature suggests, they come through psychedelics, or

shamanic practices, or spiritual practices like meditation, breath work, etc. Regarding this

trinity, so to say, is there something that you would like to add?

V: Yeah, just in the simplest terms, I would add that the altered states of consciousness

that I explore through the natural world and my relationship to the natural world, it's all

quite harmonious, in the sense that I see it all from a space where Nature is one continuous

process, and we are part of that process, our cities, our culture, our pollution, our

destruction, our violence, our oppression. All of it is arguably on one plateau, part of

Nature, it's Nature doing her process. Nature can be beautiful as well, though demands a

lot of sacrifice. But ultimately, there's growth, and there's healing, and there's always a

new Spring. I think it's the cyclical structure of Nature, which really is the most healing

and profound, and that's something that I really come back to the altered states of

consciousness as well, is dissolving the sense of a linear trajectory of progression in the

individual life as well as on the collective scale of society. Seeing everything as a cyclical

process with a singular intention of growing, and evolving, and healing, and curing. Only

to then, whether it be through a violent force or through slow progression, finally wither

away and die, and then start the whole process over again. These principles of growth,

healing, and sacrifice, I feel are intrinsically embedded in the methodology and modality

of Nature, which as I said in the beginning, I recognize as a kind of super intelligence, if

you will. This is sort of the code that I believe Nature lives by, and the code that I believe

230

I should live by, and I'm trying to live by essentially. I just want to emphasize, lastly, the

foundation of healing and just how essential this is, not just to people like myself who

explicitly seek out healing, but also to the unconscious side of ourselves, which I believe

we're all seeking a kind of healing and a kind of growth as well. Because ultimately, what

we're trying to heal is precisely this disconnection from Nature that we have created

through our culture. As fatalist as I would love to be and just say: Oh yeah, that too is

then part of our nature; I know the consciousness and the conscious will, to change the

conscious will, to heal the conscious will, to grow, is also part of the natural force. So, in

the weirdest way, our culture as well as our resistance to culture, the same way our nature

and our resistance to Nature, is part of the natural process, as part of the totality. I guess

I can leave it at that, just want to emphasize that my personal belief is that Nature wants

us to grow; Nature is growing, and we are growing, and that if there's any kind of

conscious intention, in Nature as a totality, I think it's this, I think its growth.

A: Thank you very, very much.

V: You're very, very welcome. Bye-bye.

A: Bye-bye.