Epidemiologia do consumo de medicamentos em crianças de centro urbano da região sul do Brasil

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Epidemiologia do consumo de medicamentos em crianças de centro urbano da região sul do Brasil* Epidemiology of consumption of medicines by children of an urban population in the southern of Brazil Jorge U. Béria**, Cesar G. Victora**, Fernando C. Barros**, Ana B. Teixeira**, Cintia Lombardi** BÉRIA, J. U. et al. Epidemiologia do consumo de medicamentos em crianças de centro urbano da região sul do Brasil. Rev. Saúde Publica, 27: 95-104, 1993. Foram investigados os padrões do consumo de medicamentos em uma coorte de 4.746 crianças de Pelotas, RS, Brasil e as influências de variáveis socioeconômicas, biológicas e de utilização de serviços de saúde. O delineamento foi transversal aninhado em estudo longitudinal e o período investigado foi 15 dias. O consumo global alcançou 56% das crianças, sendo mais de 50% em todas as classes sociais. Os medicamentos mais utilizados foram ácido acetil salicílico, vitaminas com sais minerais, associações antigripais, mebendazole e estimulantes do apetite. Mais de 60,0% dos medicamentos eram indicados por médicos (inclusive dipirona e estimulantes do apetite). Os principais motivos do consumo foram gripe, febre e falta de apetite. Ser primogênito foi fator de risco para o consumo. As crianças com pouco apetite na semana anterior consumiam duas vezes mais do que aquelas com bom apetite. É preocupante o alto consumo de aspirina, principalmente devido à associação desse produto com a Síndrome de Reye em crianças. Outro ponto a ser questionado a respeito é a mensagem que talvez inadvertida ou inconscientemente possa estar sendo passada a essas crianças: o consumo de medicamentos é uma rotina e a resposta para qualquer problema. Nesse sentido, parece que se estará preparando o terreno para a dependência de medicamentos e drogas ilícitas. Descritores: Hábitos de consumo de medicamentos. Saúde infantil. * Parte de Tese de Doutorado apresentada por J.U.Béria à Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1991. Pesquisa realizada com auxílio financeiro do Interna- tional Development Research Center (Canadá), Over- seas Development Administration (Reino Unido), Di- visão de Saúde Familiar da Organização Mundial da Saúde e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. ** Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas - Pelotas, RS - Brasil. Separatas/Reprints: J.U.Béria - Caixa Postal 464-96001-970 - Pelotas, RS - Brasil. Introdução Com o acentuado avanço da ciência e da tecno- logia em nosso tempo, os medicamentos foram crescendo em seu papel, chegando a constituir um dos principais remédios utilizados para mitigar os muitos tipos de dor a que estamos sujeitos 8 . Os medicamentos transformaram-se, também, em importante mercadoria, movimentando altas cifras anualmente. Em 1985, o mercado de me- dicamentos movimentou 43 bilhões de dólares. As desigualdades são enormes: 75% da popu- lação mundial (países pobres) consumiram so- mente 21% dos medicamentos utilizados naquele ano. O Brasil, em 1985, era o décimo mercado de medicamentos do mundo, com vendas de 1,4 bilhões de dólares, representando 1,5% do merca- do mundial. As indústrias farmacêuticas multina- cionais dominam 78% do mercado brasileiro de medicamentos 30 . Quando todo esse aparato científico, tec- nológico e econômico é acionado na expectativa de aliviar o sofrimento das crianças, podemos imaginar a complexidade de fatores envolvidos. São escassos os estudos recentes de base popu- lacional sobre o tema. Em geral, apontam para um alto consumo entre crianças e um menor consumo de medicamentos entre os grupos sociais de baixa renda, sendo a maioria dos medicamentos consu- midos com indicação médica. Em revisão biblio- gráfica nos últimos dez anos encontramos apenas três estudos no Brasil com amostra representativa probabilística (Ribeirão Preto e Araraquara em São Paulo e Nova Iguaçu no Rio), nenhum com ênfase específica para o consumo em crianças 3,7,24 . Outro fator relevante do presente estudo é a uti- lização do conceito de classe social como catego- ria explicativa. Os indicadores tradicionais de es- tratificação, como renda e escolaridade, mesmo nas tentativas de sua utilização a partir de uma

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Epidemiologia do consumo de medicamentos em crianças de centrourbano da região sul do Brasil*

Epidemiology of consumption of medicines by children of an urban population inthe southern of Brazil

Jorge U. Béria**, Cesar G. Victora**, Fernando C. Barros**, Ana B. Teixeira**, Cintia Lombardi**

BÉRIA, J. U. et al. Epidemiologia do consumo de medicamentos em crianças de centro urbano da regiãosul do Brasil. Rev. Saúde Publica, 27: 95-104, 1993. Foram investigados os padrões do consumo demedicamentos em uma coorte de 4.746 crianças de Pelotas, RS, Brasil e as influências de variáveissocioeconômicas, biológicas e de utilização de serviços de saúde. O delineamento foi transversalaninhado em estudo longitudinal e o período investigado foi 15 dias. O consumo global alcançou 56% dascrianças, sendo mais de 50% em todas as classes sociais. Os medicamentos mais utilizados foram ácidoacetil salicílico, vitaminas com sais minerais, associações antigripais, mebendazole e estimulantes doapetite. Mais de 60,0% dos medicamentos eram indicados por médicos (inclusive dipirona e estimulantesdo apetite). Os principais motivos do consumo foram gripe, febre e falta de apetite. Ser primogênito foifator de risco para o consumo. As crianças com pouco apetite na semana anterior consumiam duas vezesmais do que aquelas com bom apetite. É preocupante o alto consumo de aspirina, principalmente devido àassociação desse produto com a Síndrome de Reye em crianças. Outro ponto a ser questionado a respeitoé a mensagem que talvez inadvertida ou inconscientemente possa estar sendo passada a essas crianças: oconsumo de medicamentos é uma rotina e a resposta para qualquer problema. Nesse sentido, parece quese estará preparando o terreno para a dependência de medicamentos e drogas ilícitas.

Descritores: Hábitos de consumo de medicamentos. Saúde infantil.

* Parte de Tese de Doutorado apresentada por J.U.Béria àUniversidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1991.Pesquisa realizada com auxílio financeiro do Interna-tional Development Research Center (Canadá), Over-seas Development Administration (Reino Unido), Di-visão de Saúde Familiar da Organização Mundial daSaúde e Conselho Nacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico.

** Departamento de Medicina Social da Faculdade deMedicina da Universidade Federal de Pelotas - Pelotas,RS - Brasil.

Separatas/Reprints: J.U.Béria - Caixa Postal 464-96001-970 -Pelotas, RS - Brasil.

Introdução

Com o acentuado avanço da ciência e da tecno-logia em nosso tempo, os medicamentos foramcrescendo em seu papel, chegando a constituir umdos principais remédios utilizados para mitigar osmuitos tipos de dor a que estamos sujeitos8.

Os medicamentos transformaram-se, também,em importante mercadoria, movimentando altascifras anualmente. Em 1985, o mercado de me-dicamentos movimentou 43 bilhões de dólares.As desigualdades são enormes: 75% da popu-lação mundial (países pobres) consumiram so-

mente 21% dos medicamentos utilizados naqueleano. O Brasil, em 1985, era o décimo mercadode medicamentos do mundo, com vendas de 1,4bilhões de dólares, representando 1,5% do merca-do mundial. As indústrias farmacêuticas multina-cionais dominam 78% do mercado brasileiro demedicamentos30.

Quando todo esse aparato científico, tec-nológico e econômico é acionado na expectativade aliviar o sofrimento das crianças, podemosimaginar a complexidade de fatores envolvidos.

São escassos os estudos recentes de base popu-lacional sobre o tema. Em geral, apontam para umalto consumo entre crianças e um menor consumode medicamentos entre os grupos sociais de baixarenda, sendo a maioria dos medicamentos consu-midos com indicação médica. Em revisão biblio-gráfica nos últimos dez anos encontramos apenastrês estudos no Brasil com amostra representativaprobabilística (Ribeirão Preto e Araraquara emSão Paulo e Nova Iguaçu no Rio), nenhum comênfase específica para o consumo em crianças3,7,24.

Outro fator relevante do presente estudo é a uti-lização do conceito de classe social como catego-ria explicativa. Os indicadores tradicionais de es-tratificação, como renda e escolaridade, mesmonas tentativas de sua utilização a partir de uma

perspectiva dialética, configuram grupos humanosque não compartilham necessariamente a mesmasituação de classe, já que implicam cortes ar-bitrários do pesquisador que não refletem a com-plexidade da estrutura social5,6. É importante lem-brar, ainda, as dificuldades em obter dadosfidedignos sobre renda.

O consumo de medicamentos é, também, umindicador importante para avaliar a qualidade dosserviços de saúde e a efetividade da propaganda demedicamentos junto aos médicos e à população13.

A idéia central deste estudo é desvendar algunsdeterminantes do consumo de medicamentos, suasinter-relações e as magnitudes de suas influênciasem uma coorte de 4.746 crianças. Pretende, tam-bém, fornecer material para os planejadores desaúde e formadores de recursos humanos do setor,no sentido de orientar as políticas e currículos rela-cionados ao tema.

Metodologia

A presente investigação, realizada em 1986em Pelotas, RS (217.000 habitantes)20, tem umdelineamento híbrido, sendo um estudo transver-sal alinhado em um estudo longitudinal11. Sãoutilizadas variáveis coletadas em diferentes fasesda coorte.

O estudo longitudinal das crianças nascidas em1982

Este estudo, até 1990, havia se desdobrado emquatro fases, incluindo o estudo perinatal e trêsacompanhamentos da coorte de 6.011 crianças urba-nas nascidas em hospitais (mais de 99% dos nasci-mentos totais). O estudo foi planejado para avaliar ainfluência sobre a saúde infantil de uma série de fa-tores perinatais, demográficos, ambientais, alimen-tares e assistenciais, dentro de um quadro mais am-plo definido pela estrutura social27,28.

No terceiro acompanhamento, realizado em1986, foi estudado o consumo de medicamentos.Foi realizado um censo da cidade sendo visitados77.199 domicílios e encontradas 4.746 criançasque correspondiam a 84% da coorte de nascidosem hospitais de Pelotas em 1982. A idade dascrianças neste acompanhamento variava entre 35 e53 meses. O trabalho de campo foi realizado dedezembro de 1985 a abril de 1986. (O presente ar-tigo referir-se-á a 1986, para simplificar).

Em relação ao consumo de medicamentos, asperguntas formuladas às mães ou responsáveis, em1986, foram as seguintes:"A criança recebeu algum remédio nos últimos 15dias, inclusive remédio para febre ou vitaminas?"

"Qual é?""Para tratar o quê?""Quem receitou?""Foi tomado regularmente por um mês ou mais?"

Os entrevistadores solicitavam às mães quemostrassem, sempre que disponíveis, os medica-mentos que estavam sendo consumidos. No ques-tionário havia espaço para identificação de até cin-co medicamentos. As informações mais detalhadasdescritas acima foram colhidas para os primeirostrês medicamentos referidos, devido a resultadosde outro estudo mostrar que foi rara a utilização demais de três medicamentos no período estudado3.Posteriormente ficou confirmado que apenas 2,7%das crianças haviam consumido mais de três me-dicamentos.

Adotou-se a definição de medicamento da Orga-nização Mundial da Saúde (OMS)17: "Medicamen-to é toda substância contida em um produto farma-cêutico, utilizada para modificar ou investigarsistemas fisiológicos ou estados patológicos, embenefício da pessoa em que se administra". A ho-meopatia pode não se enquadrar totalmente nestadefinição, mas foi também considerada no presenteestudo. Os medicamentos foram classificados con-juntamente por dois dos autores (JUB e ABT).

As variáveis estudadas foram as seguintes:

Variável dependente

Consumo de medicamentos - percentual decrianças utilizando medicamentos nos 15 dias an-teriores à entrevista.

Variáveis independentes

Classe social - Tomando por base alguns indi-cadores socioeconômicos da pessoa de maior ren-da da família (tipo de ocupação, posição emrelação aos meios de produção, setor e ramo deatividade, renda mensal, tipo de estabelecimento -se autônomo; número de empregados - se empre-gador - e escolaridade) foi possível classificar asfamílias em classes sociais ou frações de classes6.

Renda - Quintis de renda familiar per capitamensal em 1986, em salários mínimos.

Estado nutricional da criança - escores z parapeso/idade e altura/idade29. A criança era pesadacom uma balança CMS tipo Salter, especialmenteprojetada para pesquisa domiciliar e medida empé, sendo utilizado um antropômetro desenvolvidopela própria equipe de pesquisa. Em função de seupeso, altura, idade e sexo, cada criança foi classifi-cada em escores z em relação ao padrão do "Na-tional Center for Health Statistics" dos EUA16. As-sim, foram consideradas como desnutridas as

crianças que estivessem com um escore z menordo que a média menos dois desvios-padrão e,como eutróficas, as demais.

Outras variáveis independentes estudadas fo-ram: escolaridade da mãe, sexo da criança, ordemde nascimento, idade da criança, amamentação aoseio, apetite da criança (na semana anterior), con-sultas médicas da criança (nos três meses anterio-res à entrevista), hospitalizações da criança (noano anterior). As variáveis independentes in-cluíram algumas informações coletadas por oca-sião do nascimento das crianças, no início do estu-do longitudinal (ordem de nascimento) e outrascoletadas durante os acompanhamentos. Do segun-do acompanhamento, em 1984, utilizamos avariável educação da mãe e do terceiro, as demais.

A análise estatística das informações seguiu osseguintes passos: análise univariada com a des-crição da distribuição das variáveis dependente eindependentes na população estudada, utilizando oprograma estatístico SPSS/PC+; análise bivariadaconstando do cruzamento da variável dependentecom as independentes através de tabelas de contin-gência (teste qui-quadrado) utilizando o programaSPSS/PC+, e teste para tendência linear em pro-porções1; por último, análise multivariada com ainvestigação do efeito conjunto de variáveis inde-pendentes sobre a variável dependente através deregressão logística incondicional, utilizando o pro-grama estatístico EGRET.

As estimativas fornecidas pela análise es-tatística podem ser expressas como razão de pro-dutos cruzados (RPC) com o respectivo intervalode confiança de 95% e o teste de razão de verossi-milhanças (TRV) categórico e para tendência line-ar. A RPC pode ser expressa de duas maneiras: a)não ajustada ou bruta e b) controlando para asvariáveis cujo efeito se deseja neutralizar. A RPCexpressa a magnitude das influências das variáveisindependentes sobre a variável dependente. ARPC para eventos considerados raros (prevalênciamenor do que 10%) é quase equivalente à razão deprevalências (RP).

No presente estudo, a variável dependente possuiprevalência elevada (56%). Neste caso, para facili-tar a interpretação dos resultados, se fez necessárioconverter a RPC em RP. A fórmula utilizada foi:

A análise multivariada foi realizada conformemodelo teórico hierarquizado expresso na Figura 1e que contempla as variáveis independentes asso-ciadas ao consumo de medicamentos no presenteestudo. Assim, os efeitos das variáveis sociais

(classe social, renda familiar per capita e educaçãoda mãe) não foram ajustados para nenhuma dasoutras variáveis em estudo, pois no modelo teóricoutilizado, o social determina o biológico. Os efei-tos das variáveis biológicas (ordem de nascimento,altura/idade, peso/idade, apetite e amamentação aoseio) foram ajustados para as variáveis sociais. Fi-nalmente, os coeficientes das variáveis relativasaos cuidados de saúde (consultas e internações dacriança) foram ajustados para as variáveis sociaise biológicas. Conforme o modelo teórico, o efeitodos cuidados de saúde sobre os fatores biológicosseria pequeno, não sendo portanto realizado oajuste neste sentido. É essencial salientar que estemodelo não contempla um importante determi-nante que é a morbidade da criança. Conforme serásalientado em maiores detalhes na discussão, estavariável não foi investigada no presente estudo.

Resultados

Das 4.746 crianças localizadas, 55,8% haviamconsumido algum medicamento nos 15 dias queprecederam a entrevista. Entre estas, o número to-tal de medicamentos consumidos foi de 4.322,sendo que 31,3% das crianças haviam utilizadoum medicamento e 8,8%, três ou mais. O consumocrônico de medicamentos por um mês ou maisatingiu 9,5% das crianças. Vinte e quatro por cen-to das crianças consumiram medicamentos comtrês ou mais fármacos. Os médicos foram res-ponsáveis pela prescrição de 62,7% dos medica-mentos, seguidos pelas mães (32,3%) (Tabela 1).

Os produtos mais consumidos (Tabela 2) foramo ácido acetil salicílico (24,7%), as combinaçõesde vitaminas mais sais minerais (9,5%) e, em ter-ceiro lugar, as associações antigripais (8,9%). Foisurpreendente o número de estimulantes do apetite,que apareceram em quinto lugar (4,5%). Esta tabe-la, também mostra o percentual de cada produto in-dicado por médicos. O ácido acetil salicílico cor-respondia a quase um quarto dos medicamentosutilizados, sendo 30,5% com indicação médica. Háuma tendência dos medicamentos mais utilizadosapresentarem menor índice de indicação médica.

Os problemas de saúde citados mais fre-qüentemente como motivos da utilização de medi-camentos foram gripe (17,3%), febre (14,9%) e fal-ta de apetite (12,1%) (Figura 2). Surgiram tambémalguns motivos pouco usuais para o consumo,como por exemplo, analgésico (AAS) ministrado"depois do banho para prevenir gripe", "porque a

criança tomou chuva", "porque o irmão tomou", "acriança pediu", "toda vez que chora", entre outros.

A seguir descrevemos as distribuições dasvariáveis independentes utilizadas no estudo. Emrelação à classe social, as crianças pertenciam emgrande parte ao proletariado não típico (42%).Quanto à renda familiar mensal, a maioria dasfamílias estava na faixa de menos de um saláriomínimo (aproximadamente 50 dólares) per capita.Sessenta e dois por cento das mães apresentavamde quatro a dez anos de escolaridade. Do sexomasculino eram 51% das crianças, sendo que 39%eram o primeiro filho do casal. A idade variava en-tre 35 e 53 meses. Em relação à amamentação aoseio, 39% das crianças foram amamentadas menosde três meses, enquanto que 18% mamaram porum ano ou mais. Em 29% dos casos, as mães rela-

tavam pouco apetite da criança na semana anteriorà entrevista. O estado nutricional, medido pelo es-core z, apontou 8,5% de desnutridos segundo ocritério altura-idade e apenas 3% conforme opeso-idade. Quanto à utilização dos serviços desaúde, em 53% das crianças houve o relato de umaou mais consultas médicas nos três meses anterio-res à entrevista, e 9% das crianças haviam sidohospitalizadas no período de um ano.

Antes de iniciar a análise multivariada propria-mente dita, foi realizada uma análise bivariada,cruzando os fatores socioeconômicos com o con-sumo de medicamentos. Os resultados são expres-sos como razão de produtos cruzados, os quais po-dem ser transformados em razão de prevalências.Não houve associação entre o consumo global demedicamentos e classe social. As diferenças sig-nificantes apareceram apenas quando os principaisgrupos terapêuticos foram discriminados. Assim, anova pequena burguesia e a burguesia foram asclasses onde as crianças mais consumiam analgési-cos e antiinflamatórios, e medicamentos para o a-parelho respiratório enquanto que antiparasitáriose medicamentos para o aparelho digestivo erammais consumidos por crianças do subproletariado

e proletariado típico (Fig. 3). Por outro lado, a RPCdo consumo de medicamentos conforme a renda fa-

miliar per capita mostra que as crianças classifica-das nos quintis três e quatro apresentavam um con-sumo de medicamentos 17% mais alto do que as doquintil um (RPC = 1,4 transformada em RP equi-vale aproximadamente a um excesso de 17%). Ascrianças de mães com escolaridade acima de seisanos consumiam 20% (RPC = 1,5) mais medica-mentos do que aquelas cujas mães haviam estudadomenos de três anos (Tabela 3). Como em relação àescolaridade materna havia dúvida a respeito da in-fluência que poderia exercer no consumo, indepen-dente da inserção de classe, foi realizada análisecontrolando para classe social e renda familiar. Osresultados foram praticamente os mesmos.

A Tabela 4 revela que os primogênitos conso-mem mais medicamentos que seus irmãos, mesmo

controlando para classe social, renda familiar e es-colaridade da mãe. Ter irmãos mais velhos foi umfator de proteção em relação ao consumo de me-dicamentos. Há uma tendência linear significantee após ajustar para as variáveis sociais, os segun-dos filhos consumiram 7% (RCP=0,86) menosmedicamentos que os primogênitos e as criançascom dois ou mais irmãos mais velhos consumiram12% (RPC=0,76) menos (Fig. 4). Dois outros fa-tores biológicos estudados - sexo e idade - não es-tavam associados ao consumo de medicamentos.

No modelo teórico, os fatores de confusão fo-ram definidos como as variáveis hierarquicamentesuperiores ao fator de risco em estudo. No entanto,é também possível incluir no modelo multivaria-do, variáveis hierarquicamente inferiores que re-

presentam prováveis mecanismos da ação do fatorem estudo. Por exemplo, pode-se ajustar o efeitode ordem de nascimento para o número de consul-tas, investigando assim até que ponto consultasmais freqüentes seriam responsáveis pelo maiorconsumo de medicamentos dos primogênitos. Seisto fosse verdadeiro, as RPCs para as diferentescategorias de ordem de nascimento tenderiam àunidade. Esta análise foi realizada, mas as RPCspermaneceram praticamente as mesmas, sugerindoque o efeito da ordem de nascimento não é media-do pelo número de consultas.

A Tabela 4 também mostra que as criançasamamentadas ao seio por um ano ou mais consu-

miam 4% menos medicamentos do que as quenunca mamaram. Entretanto, os intervalos de con-fiança incluíram a unidade.

Quanto ao estado nutricional, as crianças desnu-tridas conforme o critério peso/idade consumiam25% (RPC = 1,64) mais medicamentos que as compeso/idade adequado. Controlando para variáveissociais, este valor subia para 30% (RPC = 1,78).Neste caso, classe social, renda e escolaridade ma-terna configuram um exemplo de fatores de con-fusão negativos4. Como os desnutridos pertencema famílias de classe social, renda familiar e escola-ridade materna menos favorecidas, seria esperadoque consumissem menos. Mesmo assim, na análisebruta, consomem mais medicamentos. Quando osfatores sociais são ajustados, os desnutridos apare-cem consumindo ainda mais medicamentos, pois oefeito de confusão das variáveis sociais foi eli-minado21. Em relação à altura/idade os valoreseram 16% (RPC = 1,38) e 19% (RPC = 1,47),respectivamente.

As crianças com pouco apetite na última sema-na consumiam duas vezes mais medicamentos doque aquelas com bom apetite. Controlando paravariáveis sociais, o valor permanecia aproximada-mente o mesmo.

A Tabela 5 mostra os resultados relativos à uti-lização dos serviços de saúde. Na análise multiva-riada, estes resultados foram ajustados para asvariáveis sociais e biológicas conforme o modeloteórico hierarquizado referido na metodologia. Ascrianças que consultaram uma vez os serviços desaúde nos três meses anteriores à entrevista, con-

sumiam 31% (RPC = 1,8) mais medicamentos doque as que não consultaram. O consumo aumentoulinearmente com o número de consultas, sendoque as crianças que consultaram quatro vezes oumais consumiam duas (RPC = 4,4) vezes mais me-dicamentos do que aquelas que não consultaram.As crianças que foram hospitalizadas no ano ante-rior consumiram 12% (RPC = 1,3) mais do que asque não internaram. Controlando para variáveis deconfusão, estes valores permaneciam praticamenteos mesmos.

Discussão

O estudo longitudinal das crianças nascidas emPelotas em 1982 demonstrou que, apesar das difi-culdades inerentes à pesquisa epidemiológica noTerceiro Mundo, foi possível identificar umacoorte de crianças, representativa de toda a popu-lação de uma cidade de tamanho médio, e acom-panhá-la prospectivamente com uma perda relati-vamente pequena por um período aproximado dequatro anos.

Alguns problemas e limitações do estudo deconsumo de medicamentos podem ser levantados:

1) A idade das crianças ser de uma amplitude limi-tada, pois todas haviam nascido em 1982 e ti-nham no momento do estudo entre três e quatroanos e meio, aproximadamente. Existem referên-cias na literatura a um maior consumo de medica-mentos nos dois primeiros anos de vida2,9,12, por-tanto nesta investigação estaríamos perdendo operíodo de maior consumo nas crianças.

2) Perdas de acompanhamento - O percentual decrianças localizadas esteve sempre acima de80%, e as diferenças entre as crianças localiza-das e as não localizadas foram pequenas28.

3) Viés de memória - As mães ou responsáveiseram solicitados a referir os medicamentos con-sumidos nos quinze dias anteriores à entrevista.Embora a maioria dos estudos revisados te-nham utilizado esse mesmo período de tempo,existe relato na literatura de que o ideal seriaperguntar sobre o consumo no dia anterior à en-trevista26 o que diminuiria este tipo de erro,mas ao mesmo tempo prejudicaria a compa-ração com os resultados de outros estudos.

4) A proporção do orçamento familiar destinada acompra de medicamentos para a criança não foiavaliada devido a não haver informação sobreonde os medicamentos foram adquiridos, se emfarmácia comercial ou obtidos gratuitamente.

5) A indicação médica dos medicamentos poderiater sido melhor estudada. Não foi colhida infor-mação sobre repetição de receitas anteriores,

isto é, se o medicamento foi indicado pelo mé-dico para o problema atual ou se foi repetiçãode uma prescrição anterior.

6) Não foi realizado levantamento da morbidadeno período estudado devido às dificuldadesoperacionais de tais inquéritos. Assim, não sepode conhecer que percentual dos problemas desaúde referidos pela população em estudo sãotratados com medicamentos. Apenas havia a in-formação dos problemas para os quais os me-dicamentos estavam sendo utilizados.

Em relação ao consumo de medicamentos, énotável o fato de que mais da metade das criançashavia consumido um ou mais medicamentos nos15 dias anteriores à entrevista. Este nível de consu-mo foi superior aos achados de Barros3, em Ri-beirão Preto, para menores de cinco anos, onde al-cançou 32,1%, mas inferior ao observado em umestudo norte-americano para crianças de três a seisanos (69,6%)12. No estudo realizado em Araraqua-ra, SP24, o consumo entre os menores de cincoanos chegou a 50% e, como no presente estudo, amaioria dos medicamentos tinha indicação médica.

É preocupante este alto consumo de medica-mentos em crianças de uma idade na qual nãoexistem grandes riscos para a saúde. Isso mostraque há uma grande disponibilidade de medicamen-tos nos domicílios e, portanto, risco das criançasterem acesso a esses produtos, sem a orientaçãodos responsáveis, e sofrerem intoxicações.

Outro ponto a ser questionado é a mensagemque talvez, inadvertida ou inconscientemente, pos-sa estar sendo passada a essas crianças: o consumode medicamentos é uma rotina e a resposta paraqualquer problema. Nesse sentido, não se estariapreparando o terreno para a dependência de me-dicamentos e drogas ilícitas?10 Os principais be-neficiados com a presente situação seriam aindústria e o comércio de medicamentos, além dosinteressados no subjacente controle social advindodesse tipo de prática.

No que se refere à classe social, é incoerenteque a nova pequena burguesia e burguesia consu-mam mais analgésicos e medicamentos para o apa-relho respiratório, quando sabemos que a morbi-dade das crianças da coorte foi maior nas classesdesprivilegiadas28. As variações no uso destasduas categorias medicamentosas estão possivel-mente mais associadas a distorções terapêuticas doque a diferenças epidemiológicas. No estudo deRibeirão Preto3 foi encontrado que as frações declasse com maior prevalência de morbidade eramas que apresentavam menor consumo de medica-mentos. Os antiparasitários (anti-helmínticos prin-cipalmente) e medicamentos para o aparelho di-gestivo (reidratante oral, antidiarréicos, e outros)

foram utilizados com maior freqüência nas classesdesprivilegiadas, o que reflete a distribuição socialda incidência desses problemas.

Outro achado do estudo foi o maior consumode medicamentos entre os primogênitos (apesar damagnitude ser discreta). A ansiedade e insegu-rança da família talvez estejam entre os fatores de-terminantes desse comportamento. É importanteque os serviços de saúde estejam atentos para essetipo de conduta e reforcem a rede de apoio fami-liar no sentido de baixar a ansiedade inerente auma experiência tão nova e, por vezes, angustiantecomo a de ser "pais de primeira viagem".

É preocupante, também, o alto consumo de as-pirina, principalmente devido à associação desseproduto com a Síndrome de Reye (uma encefalo-patia aguda associada com degeneração gordurosado fígado) em crianças com doenças virais. Ape-sar da raridade desta síndrome (incidência anualinferior a um caso por 10.000 crianças), as autori-dades sanitárias de diversos países - como os Es-tados Unidos e a Inglaterra - passaram a desacon-selhar o uso de aspirina em menores de doze anos,particularmente na presença de febre, infecçõesrespiratórias ou varicela18,19. Entre nossas criançasque utilizaram aspirina, 50% o fizeram devido afebre, 35,8% por infecções respiratórias e 0,2%por varicela. O acetaminofen e, recentemente, oibuprofeno14 têm sido recomendados como alter-nativas para crianças com febre. Como são drogasmais caras do que a aspirina e não estão dis-poníveis nos postos de saúde (ibuprofeno somenteem apresentação para adultos), é possível que - nocaso de restrições à aspirina - a população debaixa renda passe a utilizar como alternativaoutros produtos perigosos. Este é o caso da dipiro-na (medicamento proibido em muitos países de-senvolvidos) que apesar de seu uso estar associa-do a agranulocitose é distribuída gratuitamentepela Central de Medicamentos em postos de saúdee hospitais, além de estar disponível emfarmácias, bares e armazéns15. Tanto a dipironaquanto os estimulantes do apetite (consideradosmedicamentos inadequados)10,23,25, em sua grandemaioria, foram indicados por médicos.

O uso racional de medicamentos permaneceuma área não priorizada pelos governos do Tercei-ro Mundo. Como inexistem bons sistemas de in-formação na maioria dos países, reações adversasnão são monitorizadas e a educação continuadanão é implementada. O Brasil tem um longo ca-minho a percorrer no que se refere ao uso racionaldos medicamentos. Segundo Rozenfeld22, "é ur-gente e inadiável a construção de uma nova cultu-ra dos medicamentos, centrada no estudo sis-temático dos impactos biológicos e sociais dostratamentos médicos e na divulgação ampla dos

resultados desses estudos. O objetivo dessa novacultura deve ser a transformação do medicamentode mercadoria em instrumento para a preservaçãoe restauração da saúde".

Agradecimento

A Sharon R. A. Huttly (Universidade de Lon-dres) pelo auxílio na análise estatística.

BÉRIA, J. U. et al. [Epidemiology of consumption ofmedicines by children of an urban population in thesouth of Brazil]. Rev. Saúde Pública, 27: 95-104, 1993.The consumption of medicines among a population-based cohort of 4,746 children bom in 1982 in Pelotas,Brazil, was studied when the children were aged 3-4,5years. Fifty six percent of the mothers reported thattheir children had taken one or more medicines during atwo-week period; 29.5% of the products were fixedcombinations of three or more components, (which wastaken as an indicator of poor quality). Almost 10% ofthe children had used a given medicine for one monthor more. Aspirin, combinations of vitamins and mineralsupplements and cough and cold combinations were themedicines most frequently used. The commonest rea-sons for taking medicines were colds, fevers and lack ofappetite. The latter was the commonest reason for long-term use and also for that of combinations. Physicians'prescriptions were responsible for more than 60% ofthe medicines used (including dipyrone and appetitestimulants). In all social classes the consumption wasabove 50%. Children classified in the fifth quintile offamily income consumed 14% more medicines thanthose in the first quintile. Children with two or moreolder siblings consumed 12% less medicines than theelder ones. Malnourished children, according to weightfor age, consumed 30% more medicines than the well-nourished. Children consulting a doctor four times ormore during the three-month period before the inter-view were using two times more medicines than chil-dren who had had no consultation during the same peri-od. The frequent use of aspirin is a reason for concernas it has been associated with Reye's syndrome in chil-dren. It is also important to stress the danger of poison-ing resulting from medicines available at home. Anoth-er noteworthy aspect concerns the messages transmittedto the children regarding the use of medicines for al-most every conceivable reason which could possiblylead to medicine or illicit drug addiction.

Keywords: Drug use habits. Child health.

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Recebido para publicação em 31.3.1992Reapresenlado em 16.11.1992

Aprovado para publicação em 13.1.1993