Economia, política e meio ambiente: negociações internacionais - impactos locais

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1 REVISTA DO CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS MOVENDO IDEIAS

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1REVISTA DO CENTRO DE ESTUDOSSOCIAIS APLICADOS

MOVENDO IDEIAS

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Catalogação na fontewww.unama.br

REITORÉdson Raymundo Pinheiro de Souza Franco

VICE-REITORAntonio de Carvalho Vaz Pereira

PRÓ-REITOR DE ENSINOMário Francisco Guzzo

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T759tt Movendo Idéias: Revista do Centro de Estudos Sociais Aplicados. Belém: UNAMA, v. 14, n.1,jun. 2009.

154 p.

ISSN: 1517-199x

1. Administração. 2. Contabilidade. 3. Comunicação. 4. Direito. 5. CESA - periódicos. 6.UNAMA. - periódicos. I. Título.

CDD: 050

REVISTA DO CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS2009, UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

MOVENDO IDEIAS

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ECONOMIA, POLÍTICA E MEIOAMBIENTE: negociações

internacionais - Impactos locais

Nilson Luiz CostaFélix Gerardo Ibarra Prieto

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ECONOMIA, POLÍTICA E MEIO AMBIENTE:negociações internacionais - Impactos locais

Nilson Luiz Costa*Félix Gerardo Ibarra Prieto**

RESUMO

Embasado na abordagem de pesquisa bibliográ-fica e análise documental, o presente artigoapresenta uma breve contribuição para o en-tendimento da evolução da teoria econômicaclássica para a economia ambiental neoclássi-ca. Neste trabalho, analisam-se as perspectivasde desenvolvimento para a economia amazô-nica, seja através do aumento da produção decommodities ou remuneração dos serviços am-bientais. No contexto em evidência, observou-se que as negociações internacionais, especial-mente as realizadas na COP-15, em dezembrode 2009 em Copenhague, na Dinamarca, apon-tam para um gradual avanço, mas não o sufici-ente para definir, a curto e médio prazos, a im-plantação de um sistema de remuneração porserviços ambientais que seja capaz de pautar aestruturação de um modelo de desenvolvimen-to, na Amazônia brasileira, economicamenteviável, socialmente justo e ambientalmentecorreto.Palavras-chave: Economia Ambiental Neoclás-sica. COP-15. Desenvolvimento. Remuneraçãode Serviços Ambientais.

* Doutorando em Ciências Agrárias pela Universidade Fe-deral Rural da Amazônia (UFRA); mestre em Planejamen-to do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Pará(UFPA); professor do curso de Relações Internacionais daUniversidade da Amazônia (UNAMA) e do curso de Direitoda Faculdade de Belém (FABEL).

** Mestre e doutorando em Relações Internacionais pelaUniversidad Autónoma de Asunción (UAA); professor e co-ordenador do curso de Relações Internacionais da Uni-versidade da Amazônia (UNAMA).

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo foi concebido para res-ponder ao seguinte problema de pesquisa: asnegociações internacionais sobre alterações cli-máticas poderão se constituir em uma alterna-tiva para a remuneração dos serviços ambien-tais amazônicos e a consequente implantaçãode um modelo de desenvolvimento sustentá-vel? Para responder esta pergunta, buscou-seanalisar a evolução do pensamento econômicosobre a questão ambiental, da teoria econômi-ca clássica à neoclássica ambiental; ponderarsobre a atual conjuntura econômica da RegiãoAmazônica, bem como os possíveis impactos depolíticas públicas conservacionistas e; avaliar osresultados obtidos nas recentes negociações

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internacionais sobre o clima. Para tanto, utili-zou-se o método de pesquisa bibliográfica eanálise documental.

Assim sendo, este trabalho está divididoem cinco seções: a primeira é a Introdução; nasegunda seção, Desenvolvimento Econômico eMeio Ambiente discute-se brevemente a evo-lução do pensamento econômico a partir daeconomia clássica até a economia ambientalneoclássica. Na terceira seção encontrar-se-á umensaio sobre segurança alimentar internacionale conservação ambiental na Amazônia. Já, naquarta seção discute-se a atual conjuntura dasnegociações internacionais sobre o tema. Porfim, na quinta e última seção, estão expressasas considerações finais.

2 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E MEIOAMBIENTE

Nos últimos anos, as questões relaciona-das ao meio ambiente têm sido motivo de in-tenso debate no meio acadêmico nacional e in-ternacional. A sociedade evoluiu e juntamentecom ela as teorias que buscam, em essência,apontar caminhos para o progresso e o desen-volvimento dos países. Em função disso, a aná-lise da atual conjuntura amazônica nacional einternacional deve partir da apreciação dos con-ceitos e fundamentos da teoria econômica emperspectiva histórica de evolução do pensamen-to econômico.

Neste contexto, destaca-se que o meioambiente, na Teoria Econômica Clássica1, foi umelemento relegado ao segundo plano, mesmoconsiderando que seus autores principais atri-buíam a produção de riquezas (Q) a três fatores:trabalho (T), capital (K) e natureza (N), ou seja,Q = f (T, K, N).

Para os pensadores dessa escola, a exem-plo de Adam Smith (1996), a preocupação comos recursos naturais estava restrita às limitaçõesna produção de alimentos, diretamente corre-lacionada com a quantidade disponível de ter-ras agricultáveis. Nesse sentido, Mueller (2007)destaca que os economistas clássicos viam omeio ambiente como neutro e passivo. Já oseconomistas neoclássicos2 “[...] focalizavameconomias nas quais a indústria já tinha assu-mido posição predominante. Com isso, a natu-reza foi, cada vez mais, ficando em posição se-cundária na análise neoclássica” (MUELLER,2007. p. 125). Assim, a produção de riquezaspassou a ser apenas uma função de dois fato-res, trabalho e capital, de modo que Q = f (T, K).

As explicações para o posicionamento dosteóricos neoclássicos fundamentam-se emdois elementos: o primeiro considera que, sen-do os recursos naturais considerados comobens livres, não eram escassos e, por isso, nãotinham valor de troca, pois a natureza lhes for-necia de maneira gratuita; o segundo elemen-to reside no fato de que as principais econo-mias estavam passando por um considerávelprocesso de industrialização, derivados dosavanços tecnológicos da Revolução Industrial.Diante disso, as questões ambientais foram li-teralmente relegadas ao segundo plano, tantopelas principais escolas do pensamento eco-nômico quanto pela sociedade até o final dadécada de 1960.

Os períodos posteriores foram fundamen-tais para o surgimento de várias teorias e con-cepções que passaram a considerar os recursosnaturais como elementos tão importantes quan-to a atividade econômica e o bem-estar social,a exemplo da economia ambiental neoclássica,economia ecológica, desenvolvimento susten-

1 Linha de pensamento econômico que vai da publicação dolivro A Riqueza das Nações, de Adam Smith, em 1776, aosPrincípios de Economia Política, de John Stuart Mill de 1848[...]” (SANDRONI, 1998. p. 120).

2 Escola de pensamento predominante entre 1870 e a Pri-meira Guerra Mundial, também conhecida como escolamarginalista por fundamentar-se na teoria subjetiva dovalor da utilidade marginal para reelaborar a teoria econô-mica clássica” (SANDRONI, 1998. p. 125).

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tável, entre outros. Em essência, essas concep-ções consideram o planeta como um sistemaaberto à entrada de energia solar. A economia,por sua vez, através da energia, produz materi-

ais e energia degradada, que podem ser parci-almente reciclados pelo mercado ou pela natu-reza, uma prestadora de serviços à economiahumana, conforme se demonstra na figura 1.

Figura 1: A economia como um Sistema Aberto.Fonte: Adaptado de Alier e Jusmet (2000).

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Entre as variáveis que contribuíram para aimportante e destacada mudança de paradig-ma ressaltam-se três, particularmente.

a ) O alto nível de poluição, derivadoda produção e do consumo nas prin-cipais economias: note-se que apartir do momento em que o homemdominou a tecnologia para a produ-ção de energia a partir da queimade combustíveis fósseis e utilizaçãode recursos naturais não-renová-veis3, as emissões de resíduos au-mentaram consideravelmente;

b) Crise do Petróleo da década de 1970:esse acontecimento levou parte dasociedade e refletir sobre a exacer-bada dependência dos recursos na-turais não-renováveis e a finitudedos mesmos;

c) Sustentabilidade: estudos enco-mendados pelo Clube de Roma4

apontavam que se o modelo de de-senvolvimento industrial vigente àépoca fosse mantido, em poucosanos os recursos seriam exauridoscompletamente e o sistema socioe-conômico entraria em colapso.

Após o surgimento desses elementos, asdiscussões sobre o meio ambiente ganharamênfase na comunidade internacional e as teori-as antigas cederam espaço às novas, visto quenão se mostravam capazes de produzir soluçõesadequadas às questões do desenvolvimento

contemporâneo. Tal processo reflete e confir-ma os escritos de Thomas Kuhn (1975) em seuensaio sobre a estrutura das revoluções cientí-ficas, momento em que tirou conclusões sobrea natureza epistemológica da ciência, fez abor-dagens sobre “a anomalia e a emergência dasdescobertas científicas” e “as crises e a emer-gência das teorias científicas”.

Em especial, a economia ambiental neo-clássica surgiu a partir da união dos fundamen-tos da economia neoclássica, da macroecono-mia keynesiana e das leis físicas da termodinâ-mica. Desse modo, está ancorada em três prin-cípios básicos:

a ) Princípio da escassez: considera osrecursos naturais como recursos es-cassos, com valor de mercado;

b) Princípio das externalidades: sus-tenta a ideia que os recursos natu-rais, para seguirem a lógica de mer-cado, devem ser privatizados, umavez que a administração comum debens públicos tende a esgotamentodos mesmos;

c) Princípio das leis físicas da termo-dinâmica: aproxima o sistema eco-nômico dos ecossistemas naturais.

Ademais, a economia ambiental neoclás-sica passou a representar um avanço significati-vo no campo da ciência econômica, pois ao con-solidar a existência das externalidades positi-vas e negativas, rompeu com o teorema funda-mental da teoria do bem-estar. Este, por sua vez,estabelece que, na ausência de falhas de mer-cado, o equilíbrio de mercado reflete a eficien-te alocação dos recursos, no sentido atribuídopor Pareto (1988). Desse modo, a ideia de livremovimento e determinação dos mercados pas-sa a ser superada pela regulação estatal no sis-tema econômico.

Chama-se atenção para o fato que exter-nalidades se constituem enquanto falhas demercado. “Uma externalidade ocorre quando

3 Em geral os recursos geológicos, minério de ferro e petró-leo, por exemplo, são classificados como recursos exaurí-veis.

4 “Pequeno grupo internacional de profissionais das áreasde diplomacia, indústria, academia e sociedade civil reu-niram-se em uma vila calma, em Roma. Convidado peloindustrial italiano Aurelio Peccei e cientista escocês Ale-xander King, eles se reuniram para discutir o dilema de pre-valecer pensamento de curto prazo nos assuntos interna-cionais e, em particular, as preocupações relativas ao con-sumo de recursos ilimitados em um mundo cada vez maisinterdependente” (CLUB OF ROME, 2009).

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alguma atividade de produção ou de consumopossui um efeito indireto sobre outras ativida-des de consumo ou de produção, que não sereflete diretamente nos preços de mercado”(PINDYCK e RUBINFELD, 2007. p. 524). Nesse sen-tido, as altas taxas de desmatamento da flores-ta amazônica podem ser consideradas externa-lidades negativas, pois contribuem para as mu-danças climáticas, representam custos que nãoestão refletidos nos preços de mercado dos pro-dutos produzidos nessa região. Por suposto, osimpactos negativos não estão sendo internali-zados pelo sistema econômico.

Do mesmo modo, as externalidades posi-tivas dos ecossistemas amazônicos, represen-tadas pelos serviços de aprovisionamento, deregulação, culturais e de suporte, não são re-muneradas. Neste aspecto, a FAO (2007) desta-ca que os serviços ecossistêmicos são o suporteda vida na terra, pois englobam desde o forne-

cimento de alimentos, regulação climática atéa formação do solo, a ciclagem de nutrientes e aprodução primária.

3 SEGURANÇA ALIMENTAR E CONSERVAÇÃOAMBIENTAL: os desafios do século XXI

Um dos principais desafios da humanida-de nas próximas décadas é garantir a segurançaalimentar para a população mundial. Segundoo U.S. Census Bureau (2009), em 1950 a popula-ção mundial era de 2,6 bilhões de habitantes.As projeções para 2010 e 2050 indicam um efe-tivo total de 6,8 e 9,2 bilhões, respectivamente.Nesse sentido, destaca-se que em 60 anos ocrescimento demográfico foi de 161,54% e se asexpectativas de crescimento se confirmarem,em 2050 o mundo vai ter uma população253,85% maior do que em 1950, conforme de-monstra a figura 2.

Figura 2: População Mundial: 1950 e 2050.Fonte: United States Census Bureau, 2009.

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Entre os países mais populosos, destacam-se China, Índia, Estados Unidos, Indonésia, Brasil,Paquistão, Bangladesh, Nigéria e Rússia, que jun-

Figura 3: Estimativa dos Maiores Contingentes Populacionais: 2009Fonte: United States Census Bureau, 2009.

tos somam 3.872.479.268 de habitantes, o que equi-vale a 57% da população mundial atual(6.755.987.239), conforme se demonstra na figura 3.

Observa-se que a conservação ambientaltornar-se-á uma tarefa que vai exigir grande es-forço político e, principalmente, investimentosem ciência e tecnologia. Os impactos ambientaisdevem ser mitigados, visto que a produção e con-sumo de alimentos, energia, minérios, e hidro-carbonetos tende a crescer significativamentenos próximos anos, principalmente nos países emdesenvolvimento. Neste contexto a FAO (2009)destaca que, para garantir a segurança alimen-tar, a produção de alimentos deverá aumentarem 70% até 2050, o que significa um acréscimode aproximadamente 1 bilhão de toneladas decereais e 200 milhões de toneladas de carne.

Even if total demand for food and feedmay indeed grow more slowly, just sa-

tisfying the expected food and feed de-mand will require a substantial incre-ase of global food production of 70percent by 2050, involving an additio-nal quantity of nearly 1 billion tonnesof cereals and 200 million tons of meat(FAO, 2009. p. 8).

Ao considerar que a América Latina pos-sui a maior quantidade de áreas agricultáveisainda não utilizadas (figura 4), tecnologia, ca-pital e mão de obra para incorporá-las no pro-cesso produtivo, a expectativa é de que as pres-sões para produção alimentos e extração deminérios fiquem mais intensas, principalmen-te na região que engloba os biomas Amazôniae Cerrado, onde está a maior parte dessas áre-as. Do mesmo modo, percebe-se que as cadei-

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Figura 4: Potencial de Expansão da Área Plantada: 2009Fonte: FAO, 2009. p. 9.

as produtivas de alimentos ainda não estãoefetivamente estruturadas nas áreas com po-tencial agricultável, principalmente da ÁfricaSubsaariana, acredita-se que está se abrindouma “janela de oportunidade” para o continen-te americano e, principalmente o Brasil. En-

tretanto, essa janela somente poderá ser apro-veitada se as técnicas de manejo forem ade-quadas para o novo padrão de desenvolvimen-to exigido pela sociedade contemporânea:economicamente viável, socialmente justo eambientalmente correto.

Nota-se que se apresenta para a RegiãoAmazônica uma excepcional possibilidade paraaumento de renda, seja por meio do aumentoda produção ou da remuneração de serviços am-bientais.

Segundo dados do INPE (2009a) o Brasilpossuía, em 1950, cerca de 4 milhões de km2 deflorestas tropicais. Igualmente, o INPE (2009b)destaca que o desmatamento acumulado daAmazônia está estimado em 700 mil km2. As-

sim sendo, é possível afirmar que aproximada-mente de 82,5% da floresta amazônica está con-servada.

No caso do Brasil, o Instituto Nacionalde Pesquisas Espaciais (INPE) reali-za desde 1988 um levantamento anu-al do desmatamento na Amazônia

Legal, uma área de cerca de 5 mi-lhões de km2, que até 1950 tinha 4milhões de km2 de florestas tropi-cais (INPE, 2009ª, p. 4).[...] foram utilizadas imagens de 2007,quando o desmatamento acumuladona Amazônia era de 700 mil quilôme-tros quadrados (INPE, 2009b, p. 1).

Portanto, a área desmatada na Amazôniaequivale a 70.000.000ha (setenta milhões dehectares). Considerando que em 2008 a somadas áreas plantadas de lavoura temporária epermanente nos estados da Amazônia Legal foide 13.187.451ha (treze milhões, cento e oitentae sete mil, quatrocentos e cinqüenta e um hec-tares), é possível observar que do total da área

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desmatada, 18,8%5 estão sendo utilizados como cultivo agrícola. Em contrapartida, o efetivodo rebanho bovino e bubalino nos Estados ana-lisados equivale a aproximadamente 72.777.189milhões de cabeças, o que demonstra que amaior parte da gleba desflorestada está sendoutilizada pela pecuária extensiva.

Diante disto, é possível afirmar que a Re-gião Amazônica poderá aumentar sua produçãosem aumentar o desmatamento. Entretanto,salienta-se que toda atividade produtiva geraimpactos ambientais, o que leva-nos a concluirsobre a importância da regulação estatal e daadoção de práticas de manejo adequadas.

O fato é que, a curto e médio prazos, talpotencial não pode ser relegado ao segundoplano. É necessário conservar e remunerar afloresta que está em pé, mas também estrutu-rar as cadeias produtivas para fornecer rendae condições para que os 23,56 milhões de habi-tantes dos Estados da Amazônia Legal tenhamuma alternativa de renda. Caso contrário, con-forme demonstram a tabela 1 e a figura 5, aAmazônia Legal vai continuar com uma produ-ção econômica pequena e representando ape-nas 7,81% da riqueza produzida no país, mes-mo possuindo aproximadamente 60% do ter-ritório nacional.

Fonte: IBGE, em parceria com os órgãos estaduais de Estatística, Secretarias estaduais de governo e Superintendência da ZonaFranca de Manaus. Elaboração própria.

Tabela 1: Produto Interno Bruto a preços de mercado (em R$ milhões).

5 Chamamos atenção para o fato que este cálculo represen-ta uma estimativa sobre o uso da terra com cultivo agrícolana Amazônia, pois foi elaborado a partir da área total detodos os estados da Região Norte mais Mato Grosso e Ma-ranhão, o que inclui as áreas do cerrado mato-grossense,maranhense e tocantinense.

6 Estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticapara o ano de 2007.

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as políticas públicas de curto prazo não estãobuscando uma alternativa de renda, mas ape-nas a redução do desmatamento, conforme asdiretrizes do Ministério do Meio Ambiente epronunciamento do presidente da República naCOP-15.

A Amazônia é um grande patrimônio dospovos que a habitam. Daí o nosso compromissode reduzir seu desmatamento em 80% até 2020.O Congresso brasileiro aprovou projeto de leide iniciativa do Executivo, que contém um con-junto de ações envolvendo combate ao desma-tamento, agricultura, energia e siderurgia. Es-sas medidas deverão reduzir o crescimento dasemissões brasileiras de gases de efeito estufaentre 36,1% e 38,9%, até 2020. Esse esforço noscustará US$ 160 bilhões. Ou seja, US$ 16 bilhõespor ano, até 2020. Mas essa não é uma propostapara barganhar. É um compromisso que assumi-

Figura 5: Produto Interno Bruto e Assimetrias Regionais: Brasil – 2007.Fonte: IBGE, em parceria com os órgãos estaduais de Estatística, Secretarias estaduais de governo e Superintendência da

Zona Franca de Manaus. Elaboração própria.

4 NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS: impactoslocais

Como se observa, os desafios que se apre-sentam para a Amazônia, o Brasil e a Comunida-de Internacional são significativamente gran-des. Especificamente no caso da Amazônia, tor-na-se imprescindível associar desenvolvimen-to econômico, redução da miséria e conserva-ção do maior banco genético do planeta Terra.Essa é uma demanda do país e da comunidadeinternacional, entretanto, observa-se que a sa-dia preocupação com os recursos naturais deveestar acompanhada de políticas capazes de for-necer uma alternativa de renda para os agen-tes, caso contrário as demandas econômicas esociais, também fundamentais para o desenvol-vimento sustentável, não serão atendidas.

Destaca-se que até o presente momento

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mos com a nação brasileira e com o mundo(LULA DA SILVA, 2009).

Tal posicionamento demonstra o nível depreocupação e de engajamento que o governobrasileiro vem demonstrando, nos últimos me-ses, com as questões climáticas, pois conformearticula o presidente:

A mudança do clima é dos problemas maisgraves que enfrenta a humanidade. Controlar oaquecimento global é fundamental para prote-ger o meio ambiente, permitir o crescimentoeconômico e superar a inaceitável exclusão so-cial. O Relatório de Desenvolvimento Humanodo PNUD alertou, em 2007, que a mudança doclima poderia estar gerando o maior retrocessoda história. Não podemos permitir que isso ocor-ra (LULA DA SILVA, 2009).

Isso representa um grande avanço para acomunidade internacional, mas também sérias

preocupações para os estados Amazônicos jácastigados pelas restrições orçamentárias e dé-ficits de desenvolvimento. Exemplo disso é asituação em que se encontra a infraestruturaregional, saneamento básico, saúde, educaçãoentre outros. A curto prazo, a redução do des-matamento deve ser seguida de políticas públi-cas compensatórias, visto que a matriz produti-va da economia amazônica está fundamentadana produção primária que, somada à adminis-tração pública, representa mais de 40% do valoradicionado bruto em todos os estados da Ama-zônia Legal, conforme se demonstra na tabela2.

Em especial, no estado do Pará, 27,36% dasatividades econômicas estão ligadas diretamen-te com a agricultura, silvicultura, exploração flo-restal, pecuária, pesca, indústria extrativa e in-dústria de transformação.

Tabela 2: Participação de atividades econômicas selecionadas no valor adicionado bruto a preçobásico, segundo unidades da Federação: Pará - 2002-2007.

Fonte: IBGE, em parceria com os órgãos estaduais de Estatística, Secretarias estaduais de governo e Superintendência da ZonaFranca de Manaus. Elaboração própria.

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Nessa conjuntura, as atuais políticas públi-cas não serão capazes de manter o nível médiode renda na Amazônia Legal, frente a umaabrupta e necessária redução do desmatamen-to. Segue-se, pois, a tendência de que as assi-metrias entre as regiões brasileiras continua-rão muito salientes.

4.1 COP-15 E REMUNERAÇÃO DE SERVIÇOSAMBIENTAIS

Uma possibilidade para mitigar os efeitossocioeconômicos da redução das atividades eco-nômicas é a remuneração dos serviços ambien-tais, conforme prevê a economia ambientalneoclássica. Nesse contexto, caberia aos agen-tes beneficiados pela conservação da florestareceber pela conservação e pelos serviços deaprovisionamento, regulação, culturais e desuporte, demonstrados no quadro 1.

Contudo, o que se percebe é que tanto asociedade brasileira como a comunidade in-ternacional pressionam pela conservação daAmazônia, mas não apresentam mecanismoscapazes de garantir a implantação de um mo-delo de desenvolvimento sustentável, quegaranta, na mesma proporção, as demandaseconômicas, sociais e ambientais.

Recentemente, entre os dias 7 e 18 de de-zembro de 2009, foi realizada em Copenhague,na Dinamarca, a Conferência das Partes (COP15), uma reunião anual de representantes depaíses que ratificaram a Convenção das NaçõesUnidas Sobre Mudança Climática (UNFCCC). Par-ticiparam desta conferência mais de uma cen-tena de chefes de Estados e governos, minis-tros e diplomatas, entretanto, não se obteve osresultados esperados pelos cientistas que acom-panham o aumento gradual da temperatura daterra. Contudo, em meio a uma grande polêmi-ca, um pacto mínimo foi aprovado.

Alguns países, obviamente, fizeram oposi-ção ideológica. Observou-se que Venezuela, Bo-lívia, Cuba, Nicarágua e Sudão são contrários aqualquer acordo com a anuência dos norte-ame-ricanos. Dos 193 países com direito a voto, só oscinco não concordaram com o acordo fechado pordezoito chefes de Estados. Em função disso, aaprovação do acordo ficou pendente.

A Europa, segundo Josef Mattias Leinen,chefe da delegação do Parlamento Europeu,confiava em Barack Obama, presidente dos EUA,e acreditavam que quando este se dirigisse aomundo fosse mais ousado. Em conversas infor-mais entre as partes, os norte-americanos dis-seram que aceitariam entre 26 e 33% de redu-

Quadro:. Categoria de Serviços dos EcossistemasFonte: FAO, 2007. p. 4.

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ção dos gases do efeito estufa, mas as negocia-ções com China e o atrelamento de Barack Oba-ma ao Congresso dos EUA provocaram mudançaconjuntural, o que culminou com uma posiçãobastante tímida, restrita. Por outro lado, a Chi-na, após acordo fechado, nos bastidores, comos Estados Unidos, não se manifestou no plenoda reunião, chegando inclusive a bater palmaspara os países que criticaram o texto inicial dopossível acordo de Copenhague.

Os países “bolivarianos7” exigiram metasde redução das emissões de gases por parte dospaíses desenvolvidos e em desenvolvimento.Não almejaram dinheiro, fizeram uma oposiçãopouco pragmática e evidentemente ideológi-ca. Contudo, acredita-se que esse tipo de argu-mento não condiz com a realidade dos mesmos,principalmente porque são países que fazemparte da Região Amazônica e poderiam ganharcom a conservação. Alguém tem que produzir ealguém têm que receber por optar pela preser-vação. Hoje a luta é pela existência dessa opor-tunidade, pois o crescimento a qualquer custoestá definitivamente fora de todo caminho paraobter riqueza.

Conjunturalmente, observou-se que Esta-dos Unidos e China monopolizaram o debate eo resultado foi praticamente o desejo das duaspotências. O G-2 está decidindo, literalmente,o destino da humanidade. Como os internacio-nalistas sempre comentam estes tipos de ne-gociações e a mesma não foge à regra, no mun-do ninguém defende ideias, mas interesses.Entretanto, levando em consideração o macroambiente econômico, social e ambiental, estámais do que na hora de defender, como inte-resse, uma boa ideia.

Os presidentes Barack Obama (EUA), WenJiabao (China), Lula da Silva (Brasil) e Manmo-ban Singh (Índia) decidiram o documento finalno primeiro andar do centro de convenções da

Cúpula do Clima em Copenhague. Os EstadosUnidos impuseram a sua lei e conseguiram amudança no eixo das relações internacionais naluta da mudança climática e também no siste-ma da ONU, incapaz de avançar no tema nos úl-timos dois anos (MÉNDEZ, 2009).

Entre tantos interesses e posicionamentosdivergentes, observou-se que a temática quemais avançou refere-se ao compromisso de fi-nanciamento aos países em desenvolvimento, oque pode culminar na tão necessária remunera-ção dos serviços ambientais prestados pela flo-resta amazônica. Em função da possibilidade definanciamento e remuneração para países emdesenvolvimento, os africanos passaram a tam-bém somar no acordo, mas ainda não existe umaposição clara da operacionalização do mecanis-mo de compensação pela conservação.

Barack Obama, segundo analistas, deixoua conferência pela porta dos fundos. Antes desair, conforme noticiou a imprensa falada, afir-mou que o avanço não foi o suficiente e quefica ainda um caminho longo para percorrer.Ademais, em suas palavras, o presidente ame-ricano pediu realismo ao expor suas ideias:“acredito que falta um tratado – vinculante –mas, se esperássemos mais por esse tratado,corríamos o risco de não conseguir nada”. Hou-ve muita confusão e alguns presidentes e dele-gações, como os chamados “bolivarianos”, esti-veram somente para atrapalhar as negociações,que já eram complicadas.

O Brasil, através da retórica de seu presi-dente, dominou o ambiente tenso com pro-postas ambiciosas, como a de doar US$ 10 bi-lhões para um fundo que estimula a reduçãode emissões de gases do efeito estufa. Entre-tanto, muitas propostas redundam em signifi-cativos impactos econômicos para a RegiãoAmazônica, que, conforme demonstrado nafigura 4, proporcionalmente ao seu tamanhogeográfico, possui uma atividade econômicaaquém de seu potencial.

7 Bolívia, Equador, Peru e Venezuela.

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Nesse sentido, acredita-se que o governobrasileiro deveria demonstrar compromissopara com os seus cidadãos e doar os 10 bilhõesque ofereceu para reduzir as emissões somen-te para a Amazônia, pois a preservação ambien-tal é uma questão simples, é econômica: o diaem que o caboclo receber o preço da sua sobre-vivência para não destruir, preservará; o dia emque a floresta em pé tiver um preço maior queos produtos madeireiros, o desmatamento serásignificativamente reduzido. Todavia, enquan-to isso não acontecer, podemos esperar maio-res índices de desmatamento.

Está na hora de o Brasil e o mundo olha-rem a Amazônia, assim como os americanosolham seus interesses: com realismo8. O resul-tado alcançado, em Copenhague, está longe deser aquilo que todos esperavam que fosse: amaior reunião de cúpula da Terra na história. Oacordo não tem caráter vinculante e não fixoumetas para redução de gases. Apenas corrobo-ra, em essência, que:

a ) A mudança climática é um dos mai-ores desafios da contemporaneida-de (CP-15, 2009);

b) Deverão ocorrer cortes profundosnas emissões globais, de modo amanter o aquecimento global abai-xo de dois graus Celsius (CP-15, 2009);

c) Esse desafio deve ser enfrentado portodos e, especialmente os paísesdesenvolvidos devem fornecer recur-sos financeiros, tecnologia e capa-citação para apoiar a implantaçãode medidas de adaptação dos paí-ses em desenvolvimento (CP-15,2009);

d) As emissões do desmatamento eforest degradation and the need toenhance removals of greenhousegas emission by forests degradação

da floresta devem ser reduzidas,bem como deve ser incentivado taisações através do imediatoestablish-ment of a mechanism includingREDD-plus, to enable the mobiliza-tion of financial estabelecimento deum mecanismo de Redução dasEmissões por Desmatamento e De-gradação Florestal (REDD), para per-mitir a mobilização de recursos fi-nanceiros dos países desenvolvidospara os países em desenvolvimento(CP-15, 2009);

e ) O compromisso coletivo dos paísesdesenvolvidos é fornecer recursosnovos e adicionais, através de insti-tuições internacionais, aproximan-do-se de US$ 30 bilhões para o perí-odo 2010 e 2012, com repartição equi-librada entre adaptação e mitigação(CP-15, 2009);

f) O financiamento para a adaptaçãovai ser prioridade para os países emdesenvolvimento mais vulneráveis,como os países menos desenvolvi-dos, Estados insulares em desenvol-vimento e África (CP-15, 2009);

g) No contexto da redução significati-va e transparência na aplicação, ospaíses desenvolvidos comprome-tem-se a uma meta de mobilizaçãoconjunta de US$ 100 bilhões de dó-lares por ano até 2020 para atenderas necessidades de desenvolvimen-to dos países. Este financiamentovirá de uma ampla variedade de fon-tes, públicas e privadas, bilateral emultilaterais, incluindo as fontes al-ternativas de financiamento (CP-15,2009);

h) Novo financiamento multilateralpara adaptation will be deliveredthrough effective and efficient fundarrangements, with aadaptaçãoserá entregue por meio de eficazese eficientes modalidades de fundos,com uma governance structure pro-viding for equal representation ofdeveloped and developingestruturade governo que prevê a igualdade

8 O realismo ou realismo político, na teoria das relações in-ternacionais, agrega diversos pensadores que defendem aideia de que os Estados buscam o poder e a segurança, dei-xando em segundo plano os ideais e a ética.

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de representação dos países desen-volvidos e em desenvolvimento. Umaparcela significativa desse financi-amento deve fluir através do Co-penhagen Green Climate Fund (CP-15, 2009);

i ) Será estabelecido o CopenhagenGreen Climate Fund como mecanis-mo financeiro da Convenção paraapoiar projetos, programas, políti-cas e outras atividades nos paísesem desenvolvimento relacionadoscom a mitigação REDD (CP-15, 2009).

Do mesmo modo, ficou estabelecido queantes de fevereiro de 2010, voluntariamente,os países apresentarão seus planos de redução.O Painel Intergovernamental de Mudança Cli-mática pediu entre 25 e 40% por parte dos paí-ses desenvolvidos, mas, como se observou, osmesmos se comprometeram com 18%. Entre-tanto, o consenso não foi alcançado e, confor-me estabelecido pela ONU, uma convençãoaprovada apenas pela maioria não satisfaz osrequisitos para se tornar compulsória.

Diante desse cenário, de um acordo quenão foi aprovado por unanimidade, conformeexigem os regulamentos da ONU, que não é vin-culante, não fixa metas, apenas objetivos quepoderão ou não ser cumpridos, é difícil acredi-tar que, a curto e médio prazos, os serviços am-bientais amazônicos estejam realmente sendouma alternativa consistente para suprir as per-das econômicas provocadas pela conservação.Neste contexto os princípios da economia am-biental neoclássica que sugerem a internaliza-ção das externalidades, ou seja, a remuneraçãodos serviços ambientais, não são verdadeira-mente premissas para as políticas de desenvol-

vimento para a Amazônia. Vislumbra-se a pos-sibilidade vaga de a Região Amazônica contar,no médio e longo prazos, com recursos para apreservação, mas essa possibilidade ainda es-barra na vontade política e na falta de mecanis-mos e regulamentações para tal fim.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar o presente artigo, é possível afir-mar que as negociações internacionais sobre al-terações climáticas poderão trazer uma alterna-tiva para a remuneração dos serviços ambientaisamazônicos, mas a médio e longo prazos. Domesmo modo, considerando as expectativas dedemanda, vislumbra-se uma possibilidade paraaumentar a renda a partir do aumento da produ-ção de commodities, no curto prazo. Neste con-texto, é imperial decidir e informar ao setor pro-dutivo, através de Zoneamento Ecológico-Eco-nômico, o que pode ser feito, como pode ser fei-to e onde pode ser feito.

Igualmente importante, é destacar que ameta de redução de desmatamento para a Ama-zônia, fixada exogenamente em 80%, deve seracompanhada de políticas capazes de mitigar osimpactos socioeconômicos da redução do mes-mo. Assim, o Projeto do Macrozoneamento Eco-lógico-Econômico da Amazônia Legal, os esfor-ços para regularização fundiária e implantaçãode Agenda 21 local são importantes, mas não su-ficientes. Portanto, faz-se necessário que o go-verno aumente os investimentos em Ciência eTecnologia e a comunidade internacional come-ce a pagar pela conservação, pois o preço de ummeio ambiente equilibrado não pode ser o eter-no subdesenvolvimento da Região Amazônica.

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