Diagnóstico sobre gestão e usos de um equipamento cultural no interior da Bahia: o Centro Cultural...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO CURSO DE COMUNICAÇÃO ADRIANA ALVES SANTANA DIAGNÓSTICO SOBRE GESTÃO E USOS DE UM EQUIPAMENTO CULTURAL NO INTERIOR DA BAHIA: O CENTRO CULTURAL CECILIANO DE CARVALHO Salvador 2013

Transcript of Diagnóstico sobre gestão e usos de um equipamento cultural no interior da Bahia: o Centro Cultural...

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO CURSO DE COMUNICAÇÃO

ADRIANA ALVES SANTANA

DIAGNÓSTICO SOBRE GESTÃO E USOS DE UM

EQUIPAMENTO CULTURAL NO INTERIOR DA BAHIA: O

CENTRO CULTURAL CECILIANO DE CARVALHO

Salvador

2013

ADRIANA ALVES SANTANA

DIAGNÓSTICO SOBRE GESTÃO E USOS DE UM

EQUIPAMENTO CULTURAL NO INTERIOR DA BAHIA: O

CENTRO CULTURAL CECILIANO DE CARVALHO

Monografia apresentada ao Curso de graduação em

Comunicação – Produção em Comunicação e Cultura,

Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da

Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de

Bacharel em Comunicação.

Orientador: Prof. Dr. José Roberto Severino

Salvador

2013

AGRADECIMENTOS

Agradeço à mainha, pelo amor cotidiano, ligações intermináveis e cuidado insubstituível:

“sem você sou pá furada”.

A painho, pelo exemplo de dedicação àquilo que faz.

Às irmãs, a quem eu, caçula, sigo os passos da determinação.

Aos amigos bonfinenses – seus sorrisos e seus abraços sempre me fizeram retornar chorosa a

Salvador.

Aos amigos soteropolitanos ou que conheci por aqui: hoje amo a cidade por conta de vocês.

Inicialmente, a Igui, por me mostrar tão gentilmente os caminhos da capital.

Aos amigos que colaboraram diretamente na execução do trabalho: Kerollen, Milena, Caio,

Marília, Ítalo, Raulino, Leo, Anderson, Xandy. Vocês foram fundamentais!

Especialmente, a Caio e Mari, pelo amor que nos une; Elba e Ito, pelo apoio constante nessa

jornada.

À Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil (PROAE) da UFBA e ao

Programa Permanecer – sem eles, eu nem começaria.

À Agência Experimental em Comunicação e Cultura, meu casulo dentro da Faculdade de

Comunicação: junto aos agenciadores, fui apresentada a uma visão de mundo.

Aos grandes professores da faculdade, em especial à Daniele Canedo, que, já no primeiro

semestre, me ensinou a amar o campo das Políticas Culturais, com sua competência e ternura;

Gisele Nussbaumer, que, em outra ponta, já no sétimo semestre, apresentou os bons caminhos

da Gestão e Produção Cultural; e José Roberto Severino, fundamental para a trajetória desse

trabalho que apresento, pelos ensinamentos e generosidade.

Aos artistas e gestores culturais de Senhor do Bonfim: obrigada pela solicitude em conceder

as entrevistas, pelo trabalho realizado e por ajudarem não apenas na minha pesquisa, mas na

minha formação enquanto público da cultura num primeiro momento, e, hoje, na minha

formação como produtora cultural.

“É um espetáculo este, cuja magnificância os meus olhos

não se saciam de ver, e o meu coração não cansará de

guardar. Na contemplação dele se nos mostra que a cidade

de Bonfim, hoje, se excede a si mesmo.”

Ruy Barbosa, 1919

SANTANA, Adriana Alves. Diagnóstico sobre gestão e usos de um equipamento cultural no

interior da Bahia: o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. 186 f. il. 2013. Monografia –

Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2013.

RESUMO

A pesquisa apresenta um diagnóstico sobre o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, principal

equipamento cultural de Senhor do Bonfim, cidade localizada na região norte da Bahia.

Foram investigados a gestão e usos do espaço de cultura, a partir de informações obtidas

através da pesquisa de campo, em entrevistas com gestores, artistas e produtores do

município. A análise da cena cultural bonfinense, feita através de pesquisa documental e

bibliográfica, antecede esta etapa. Foi diagnosticada a necessidade de reforma física,

equipamentos técnicos, equipe de trabalho, programação regular e, principalmente, efetivação

do protagonismo cultural no espaço. As 16 entrevistas realizadas forneceram dados para a

elaboração de um plano de ação para o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, tomando como

base o edital de Dinamização de Espaços Culturais, da Secretaria de Cultura do Estado da

Bahia (Secult-Ba). O trabalho apresenta como produto o blog Produção no Sertão, página na

qual foram disponibilizadas as entrevistas feitas durante a execução do estudo.

Palavras-chave: diagnóstico cultural; gestão cultural; equipamento cultural; políticas culturais

municipais; Senhor do Bonfim, Bahia.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Fotografia 1 - Atual Sociedade 25 de Janeiro ........................................................................ 34

Fotografia 2 - O Cine-Teatro Reginaldo Carvalho ................................................................. 37

Fotografia 3 - Fundação Cultural Fernando Jatobá da Silva Teles.......................................... 30

Fotografia 4 - Bispado de Senhor do Bonfim, em situação precária ...................................... 41

Fotografia 5 - Panfleto distribuído pela prefeitura em 2008 ................................................... 42

Fotografia 5 - Auditório Irmã Raimunda ................................................................................ 43

Fotografia 6 - Antigo Palácio Municipal, atual Prefeitura de Senhor do Bonfim................... 59

Fotografia 7 - Fachada do Centro Cultural ............................................................................. 64

Fotografia 8 - Foyer do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho.............................................. 65

Fotografia 9 - Área externa do estacionamento....................................................................... 66

Fotografia 10: Sala de ensaio no mês de julho, ainda com a decoração junina ..................... 73

Fotografia 11: Cadeiras defeituosas na sala principal ............................................................ 80

Fotografia 12: A BA 222 liga Bonfim a Campo Formoso .................................. .................. 83

Quadro 1 – Programação: formação em cultura ..................................................................... 98

Quadro 2 – Programação: filarmônica ................................................................... ............... 99

Quadro 3 – Programação: música ..................................................... ................................... 100

Quadro 4 – Programação: exposição............................................... ..................................... 101

Quadro 5 – Programação: teatro, dança e circo..................................................................... 101

Quadro 6 – Programação: Marketing Cultural ..................................................................... 103

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Aclasb Academia de Ciências, Letras e Artes de Senhor do Bonfim

Bahiatursa Empresa de Turismo da Bahia

CMC Conselho Municipal de Cultura

DEC Diretoria de Espaços Culturais da Secult-Ba

DIAR Departamento de Intercâmbio e Ações Regionalizadas

FCBA Fundo de Cultura do Estado da Bahia

FGM Fundação Gregório de Matos

Funceb Fundação Cultural do Estado da Bahia

MEC Ministério da Educação

MinC Ministério da Cultura

OAC Observatório das Actividades Culturais

PMN Partido da Mobilização Nacional

PNC Plano Nacional de Cultura

PT Partido dos Trabalhadores

PTN Partido Trabalhista Nacional

SCT Secretaria de Cultura e Turismo

Secult-Ba Secretaria de Cultura do Estado da Bahia

Secult Bonfim Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim

Seplan Secretaria de Planejamento do Estado da Bahia

SIIC Sistema de Informações e Indicadores em Cultura

SNC Sistema Nacional de Cultura

Ufba Universidade Federal da Bahia

Uneb Universidade do Estado da Bahia

Univasf Universidade Federal do Vale do Francisco

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 08

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLÓGICA ............................................ 12

2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS DE CULTURA NA BAHIA: BREVE HISTÓRICO .............. 12

2.2 EQUIPAMENTO CULTURAL E GESTÃO CULTURAL: DEFINIÇÕES ................... 18

2.3 OS ENTREVISTADOS .................................................................................................... 20

3. SENHOR DO BONFIM ................................................................................................... 27

3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA .......................................................................... 27

3.2 CONTEXTO CULTURAL ............................................................................................... 33

3.3. POLÍTICAS CULTURAIS X SÃO JOÃO ..................................................................... 43

4. O CENTRO CULTURAL CECILIANO DE CARVALHO ......................................... 55

4.1 O MAESTRO CECILIANO DE CARVALHO ................................................................ 55

4.2 HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DO ESPAÇO CULTURAL ................................................. 57

4.3 AVALIAÇÃO DO ESPAÇO PELOS ATORES CULTURAIS DO MUNICÍPIO ......... 75

5. PLANO DE AÇÃO PARA O CENTRO CULTURAL CECILIANO DE CARVALHO

.................................................................................................................................................. 85

5.1 OS ESPAÇOS CULTURAIS DA SECULT-BA: UM MODELO A SEGUIR ................ 85

5.2 EM BUSCA DE UMA PROGRAMAÇÃO CONTINUADA .......................................... 94

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 105

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 108

BIBLIOGRÁFICA, DOCUMENTAL E ONLINE ........................................................ 108

ENTREVISTAS .............................................................................................................. 115

APÊNDICES .................................................................................................................... 117

ANEXOS .......................................................................................................................... 126

8

1. INTRODUÇÃO

O propósito deste trabalho é elaborar um diagnóstico sobre o Centro Cultural Ceciliano de

Carvalho, principal espaço público de cultura da cidade baiana de Senhor do Bonfim. Para

atingir esta finalidade, foram realizadas entrevistas com os gestores públicos responsáveis pelo

espaço, artistas e produtores locais, a fim de entender qual relação possuem com o

equipamento e quais perspectivas vislumbram para o mesmo. As potencialidades e

deficiências identificadas, bem como as atividades desenvolvidas pelos grupos culturais

entrevistados, serviram de base para a construção de plano de ação para o centro de cultura.

Antes de alcançar a investigação de campo, a pesquisa se voltou para a análise do contexto

cultural do município e do recente histórico das políticas culturais desenvolvidas em âmbito

local. O trabalho pretende contribuir para o planejamento de políticas que se pautem pelo

reconhecimento das práticas culturais locais, portanto, a bibliografia utilizada é composta por

estudos conceituais sobre políticas culturais, reforçados por Coelho (1986, 1997), Botelho

(2001, 2007), Barbalho (2005), Leitão (2003, 2009) e Rubim (2007). O objetivo da pesquisa é

contribuir para a reflexão sobre a organização da cultura no interior da Bahia, através da

investigação sobre as políticas implementadas nessa região, historicamente negligenciada pela

ação do Estado no setor. A busca pelo autoconhecimento e o desejo em contribuir para o

fortalecimento das práticas culturais da sua comunidade de origem também impulsionaram o

trabalho da pesquisadora.

Com relação ao objetivo, a pesquisa desenvolvida possui caráter exploratório. Essa classe de

pesquisa visa a familiarização com um tema ainda pouco investigado, pouco explorado, como

é, de fato, o caso do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. Assim como a maioria dos

trabalhos criados a partir da metodologia (GIL, 2008), o diagnóstico realizado em Senhor do

Bonfim envolveu levantamento bibliográfico e entrevistas com pessoas que conhecem

empiricamente o problema pesquisado. As etapas do trabalho foram desenvolvidas a partir das

técnicas da pesquisa bibliográfica, documental, pesquisa de campo e pesquisa participante.

As principais respostas que influenciaram a análise sobre o equipamento cultural investigado

foram alcançadas através da pesquisa de campo. Essa modalidade flexível de pesquisa permite

que objetivos estabelecidos possam ser formulados ao longo da execução. É característico o

uso de mais técnicas de observação que de interrogação, mas, quando estas são utilizadas, a

entrevista semiestruturada é tida como o principal instrumento. (GIL, 2008). Nesse método, o

9

pesquisador é o protagonista da ação, pois deve realizar o trabalho pessoalmente,

considerando a ênfase na experiência direta com o contexto do objeto de estudo. A imersão

em uma determinada comunidade é necessária para compreender suas regras, hábitos, modos

de relacionamento etc. O trabalho de campo em Senhor do Bonfim consistiu em visitas ao

espaço cultural para reconhecimento das suas características e, em dias de programação ativa,

observar a rotina de produção. Como a Secretaria Municipal de Cultura (Secult-Bonfim)

funciona em algumas salas anexas ao Centro Cultural, a observação sobre seu funcionamento,

ritmo de trabalho e movimentação de público também foi feita.

Gil (2008, p. 53) aponta como desvantagem da pesquisa de campo o “risco de subjetivismo na

análise e interpretação dos resultados”, considerando que apenas um pesquisador é

responsável pela coleta de dados. Por muitos anos, a ciência julgou imprudente a aproximação

do pesquisador com o seu objeto, sob a mesma alegação de risco de imparcialidade e

subjetividade, que comprometeriam os resultados. A sociologia positivista, surgida na

primeira metade do século XIX, buscava pautar seus métodos a partir das ciências naturais,

procurando alcançar a mesma objetividade e êxito nas formas de controle sobre os fenômenos

estudados. Mas, conforme indica Oliveira, R. e Oliveira, M. (1986, p. 23), “a realidade social

não é uma coisa dada e acabada, e que o pesquisador não pode ser um observador imparcial

situado fora da situação que ele analisa”. É contrária a essa linha de raciocínio que separa o

sujeito (pesquisador) do objeto de pesquisa (sociedade) que surge a pesquisa participante,

onde “pesquisadores-e-pesquisados são sujeitos de um mesmo trabalho comum, ainda que

com situações e tarefas diferentes” (BRANDÃO, 1986, p. 11). Nessa proposta, os grupos

pesquisados ajudam a construir o trabalho em todas as etapas.

Em Senhor do Bonfim, a fim de compreender a gestão e os usos do principal equipamento

cultural da cidade, foram realizadas entrevistas com os gestores públicos responsáveis pela

pasta da cultura no município, artistas e produtores locais. Por produtor, compreende-se

aquele que cria e administra eventos e projetos culturais e, por gestor cultural, aquele que

administra grupos e instituições do setor ou que administra atividades voltadas para a cultura

em empresas, órgãos públicos, organizações não governamentais e espaços culturais

(AVELAR, 2008). Constantemente esses papéis se confundem na atuação cotidiana, como

será exemplificado na análise das entrevistas. De modo geral, os gestores tiveram que

responder sobre o perfil do centro, estatísticas, ações planejadas, reserva orçamentária

10

destinada ao local e desafios enfrentados na gestão. Já os produtores foram questionados sobre

a relação com o centro, como apreciadores e como agentes culturais, e induzidos a fazer uma

avaliação das deficiências e potenciais do espaço, sugerindo por fim ações de revitalização. A

elaboração de entrevistas semiestruturadas, com questões definidas a priori, mas abertas à

adequação ao ator entrevistado, evidencia o caráter participativo da pesquisa. Um roteiro de

perguntas foi levado a cada entrevista, mas ele esteve aberto durante a conversa,

transformando-se muitas vezes em um documento muito diferente do original.

Foram realizadas no município 13 entrevistas: 10 com artistas locais, duas com os atuais

gestores da Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim e uma com a antiga

secretária de cultura, atuante na época da criação do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho.

Uma das etapas da pesquisa participante descritas por Freire (1986) diz sobre a delimitação da

área do estudo e consequente reconhecimento e identificação de organismos populares ou

oficiais no espaço escolhido. O reconhecimento de grupos culturais atuantes em Senhor do

Bonfim se deu de modo preliminar, uma vez que sou natural do município e faço parte do

público consumidor das produções culturais locais. A escolha inicial se deu, portanto, por uma

observação anterior à pesquisa, a partir das práticas cotidianas de consumo. Foram

selecionados para a pesquisa grupos identificados como principais produtores de cultura na

localidade. Enquanto alguns fazem mais uso do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho e,

portanto, conseguem diagnosticar melhor seus potenciais e deficiências, aqueles que nunca se

apresentaram no espaço conseguem apontar motivos para a exclusão e propor medidas para

incorporação. Além das 13 entrevistas locais, foi realizada entrevista com a diretora de

Espaços Culturais da Secult, Giuliana Kauark, quando ela foi questionada sobre o panorama

dos espaços públicos do interior da Bahia geridos pela Secretaria de Cultura do Estado da

Bahia (Secult-Ba), grupo ao qual o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho não está incluído. A

comparação entre aqueles espaços e o equipamento de Senhor do Bonfim se faz necessária

para compreender a diferença no que se refere à gestão cultural.

Entre as 14 entrevistas realizadas, 13 foram registradas em áudio e disponibilizadas em texto

no blog Produção no Sertão1, a fim de democratizar o acesso a informações sobre a cultura

local a todos os interessados. Marcos Cesário, um dos artistas entrevistados, preferiu não ter o

1 <www.producaonosertao.wordpress.com>.

11

seu depoimento gravado, portanto, o registro não está disponível. Também contribuíram para

a pesquisa o nonagenário Florisvaldo Queiroz de Carvalho, conhecido como Seu Meló, com

documentos históricos e um breve relato, e o cordelista Jotacê Freitas, que atuava em Senhor

do Bonfim no período de inauguração do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. Essa última

contribuição foi feita através de e-mail, mas ainda assim foi registrada no blog.

Dividido em cinco capítulos de desenvolvimento, este trabalho parte primeiro da apresentação

dos conceitos que norteiam a pesquisa e passa pela contextualização sócio-histórica de Senhor

do Bonfim antes de chegar, de fato, ao diagnóstico sobre o equipamento cultural estudado.

Além de registrar os conceitos de política cultural, política cultural pública, equipamento

cultural e gestão cultural, o primeiro capítulo traça um breve histórico das políticas para o

setor voltadas para o interior da Bahia, evidenciando o silenciamento do Estado na região

compreendida como semiárido baiano, onde Senhor do Bonfim está inserida. O segundo

capítulo apresenta o contexto histórico da cidade de Senhor do Bonfim, colocando em

evidência sua estreita relação com a produção cultural, influenciada especialmente pela

ferrovia, e indicando que a busca por um equipamento cultural já existia no início do século

XX. O terceiro capítulo discorre sobre o histórico recente da tentativa de organização da

cultura local, a partir da década de 2000, verificando que a festa de São João, tradicional no

município, ainda ocupa demasiada atenção do poder público, em detrimento do apoio às

diversas outras práticas culturais. O quarto capítulo apresenta o Centro Cultural Ceciliano de

Carvalho e traça uma análise da gestão do equipamento, a partir da observação feita na

pesquisa de campo e entrevistas com artistas e gestores culturais. Por fim, o quinto capítulo de

análise apresenta um modelo de gestão para o espaço de Senhor do Bonfim, a partir do que é

desenvolvido na Diretoria de Espaços Culturais (DEC) da Secult-Ba. A pesquisadora se

concentra na proposição de melhorias em um dos eixos entendidos como deficitários: a

programação. Tomando como ponto de partida o edital público de Dinamização de Espaços

Culturais, coordenado por esta diretoria, sugere um esquema de programação regular para seis

meses de atuação no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho.

12

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLÓGICA

2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS DE CULTURA NA BAHIA: BREVE HISTÓRICO

A elaboração de um diagnóstico sobre um espaço cultural de Senhor do Bonfim tem como

objetivo contribuir para a implementação de políticas culturais municipais que se pautem pelo

reconhecimento das expressões locais. A etapa preliminar de pesquisa junto a atores culturais

do município parte do entendimento de que conhecer a cultura local é o primeiro passo para a

implementação de políticas efetivas de cultura (LIBÂNIO, 2010).

Políticas culturais são entendidas aqui conforme o conceito proposto por Canclini (1987):

Entenderemos por políticas culturales el conjunto de intervenciones

realizadas por el Estado, las instituciones civiles y los grupos comunitarios

organizados a fin de orientar el desarrollo simbólico, satisfacer las

necesidades culturales de la población y obtener consenso para un tipo de

orden o de transformación social (CANCLINI, 1987, p. 26).2

Definição esta que é complementada por Coelho (1997):

[…] a política cultural apresenta-se assim como o conjunto de iniciativas,

tomadas por esses agentes, visando promover a produção, distribuição e o

uso da cultura, a preservação e a divulgação do patrimônio histórico e o

ordenamento do aparelho burocrático por elas responsável (COELHO, 1997,

p.293).

Devemos estar atentos para algumas constatações decorrentes dos conceitos apresentados. A

primeira se refere aos atores das políticas culturais, que não se limitam ao poder

governamental das três esferas, mas abrangem os atores sociais, incluindo instituições civis e

comunitárias. Devemos nos atentar ainda para o fato de que as “necessidades” a serem

satisfeitas pelas políticas não estão pré-fixadas, nem são neutras, mas são resultado da

interpretação dos atores acerca dessas necessidades e dos interesses envolvidos

(BARBALHO, 2005).

Calabre (2005, p. 9) compreende por políticas públicas de cultura “um conjunto ordenado e

coerente de preceitos e objetivos que orientam linhas de ações públicas mais imediatas no

campo da cultura”. O sentido de “pública” estaria, portanto, em seu objetivo, de estruturar

2 “Entenderemos por políticas culturais o conjunto de intervenções realizadas pelo Estado, instituições civis e

grupos comunitários organizados a fim de orientar o desenvolvimento simbólico, satisfazer as necessidades

culturais da população, e obter consenso para um tipo de ordem e de transformação social” (tradução nossa).

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programas disponíveis ao público, ao maior número de pessoas. Rubim (2007) destaca que

uma política pública pode ser desenvolvida não apenas pelo Estado, mas também por outros

atores políticos-sociais, desde que, necessariamente, seja submetida ao controle social, ao

debate e crivo públicos. Neste sentido, “pública” se refere à construção da própria política,

que deve ser feita com a participação da sociedade. Sem assumir essa condição, uma política

não poderia, de fato, ser considerada pública.

O planejamento e execução de políticas culturais vão depender do conceito de cultura adotado

pelos atores envolvidos. Eles podem se pautar pela dimensão sociológica, que define a cultura

de modo restritivo, ou pela dimensão antropológica, que apresenta um conceito mais amplo

(BOTELHO, 2001). A dimensão sociológica é o foco de atenção preponderante das políticas

culturais, pois trata da cultura enquanto âmbito especializado, portanto, daquela que faz parte

de um circuito organizado. Abrange as expressões artísticas de modo estrito e inscreve tanto a

produção de caráter profissional quanto a produção amadora (BOTELHO, 2001). A dimensão

antropológica define a cultura como modo inteiro de vida, conforme já proposto por Willians

(1979). A cultura é entendida como tudo “que o ser humano elabora e produz, simbólica e

materialmente falando” (BOTELHO, 2001, p. 2). Ela é entendida como o conjunto de relações

que o indivíduo trava com seu universo mais próximo, portanto, nesse sentido, solicita ações

culturais locais, elaboradas em âmbito municipal. No entanto, pela sua abrangência, a

dimensão antropológica necessita de ações globais de governo, que tome como ponto de

partida a transversalidade (BOTELHO, 2001).

A primeira meta do Plano Nacional de Cultura (PNC), aprovado em 2011 pelo Congresso

Nacional, diz justamente a respeito da articulação entre a União, estados e municípios para a

construção de políticas culturais efetivas. A meta se propõe a criar sistemas de cultura em

todos os estados e ao menos em 3.339 cidades (o que corresponde a 60% do território

nacional), a fim de tornar efetivo o Sistema Nacional de Cultura (SNC). A criação destes

instrumentos tornará a gestão pública da cultura planejada e eficaz, fazendo com que os

recursos públicos sejam mais bem distribuídos.

Botelho (2007) afirma que as políticas de cultura devem se preocupar não apenas em garantir

o acesso da população aos bens culturais, mas em promover condições para que a população

possa produzir cultura. Realizar somente a primeira ação é limitar-se, já que apoiar o “fazer”

contribui significativamente para a formação de públicos. Afirmando que uma ação alimenta a

14

outra, a autora indica que aquele que tem acesso ao fazer artístico é potencialmente o melhor

público para o consumo cultural. Articular o aspecto da formação de públicos com o apoio aos

produtores deve ser o objeto das políticas culturais.

A relação entre cultura e municipalização é mais preocupante que nos outros âmbitos, dada a

sua vulnerabilidade. Como coloca Leitão (2009, p. 41-42),

Embora presentes nos palanques dos candidatos ao legislativo ou ao

executivo em nosso país, os discursos sobre cultura não se reverteram, ao

longo do tempo, em projetos de lei capazes de garantir políticas culturais

voltadas à descentralização, inclusão e democratização dos bens e serviços

culturais.

Em geral, a atuação dos órgãos responsáveis pela gestão pública da cultura se limita à

dimensão do evento. A chamada “política de eventos” gira em torno da realização de ações

pontuais, “que não se configuram um sistema, não se ligam necessariamente a programas

anteriores nem lançam pontes necessárias para programas futuros.” (COELHO, 1997, p. 300),

ou seja, o oposto de uma política cultural. A continuidade de uma política de cultura é

condição fundamental para seu sucesso, mas, ao longo da história, “a área cultural se vê refém

de interesses contraditórios e da vontade das autoridades públicas” (AVELAR, 2008, p. 99).

São criadas cada vez mais “políticas de governo”, limitadas a uma única gestão, não tendo

sido formulada com a sociedade civil, como deve ser uma “política de Estado”. Aquelas são

facilmente desmontadas pela gestão seguinte, a quem não interessa manter rastros do governo

anterior, por vaidade ou revanchismo. Esse fato tem produzido impactos negativos para o

setor, entre eles, a descontinuidade dos programas e ações culturais, assim como o descrédito

na efetividade das pastas de cultura no país (LEITÃO, 2009). Diante do quadro, se faz

necessária a criação de uma legislação que garanta a continuidade das políticas, para que

aquelas ideias testadas e aprovadas tenham perspectiva de longevidade (AVELAR, 2008).

Quando nos atentamos para a realidade da Bahia em relação à execução de políticas culturais,

vemos um aspecto de desigualdade que impediu durante muitos anos que as ações se

voltassem para o interior do estado e especificamente para a região do semiárido, onde a

pesquisa em questão foi desenvolvida. A região do semiárido baiano possui 388.274 km² e é

formada por 264 municípios, com uma população de 6.316.846 habitantes. Isso corresponde a

uma área de 70% do estado e 48% de sua população (VASCONCELOS, 2011). Apesar deste

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território, compreendido como “sertão baiano”, apresentar uma grande extensão e diversidade,

as políticas culturais nem sempre se direcionaram para seu entorno.

Em 1967, no governo Luis Viana Filho, o turismo cultural passa a ser tratado como política, a

partir da criação da Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia. Seu sucessor,

Antônio Carlos Magalhães (ACM), assume essa área como um dos setores produtivos

prioritários do governo, levando a estratégia adiante em suas próximas gestões. A partir de

1991, quando ACM assume pela terceira vez o cargo de governador, a associação entre cultura

e turismo se fortalece e determina a política cultural do estado, contemplando ações a fim de

promover a Bahia enquanto um estado com características particulares, que, na ação dos

governantes, se conformavam como um todo indissociável, a dita “baianidade”. “A idéia [sic]

era transformar a Bahia em um dos principais destinos turísticos do país adotando como

diferencial turístico a cultura do Estado” (LIMA, 2011, p. 10). A problemática é que tal

discurso hegemônico centrou-se na cidade de Salvador e no Recôncavo Baiano, negando a

existência de uma tradição sertaneja na Bahia. (VASCONCELOS, 2011). A política se

consolida em 1995, com a criação da Secretaria de Cultura e Turismo (SCT), inédita no Brasil,

e segue até o fim do período carlista3, que vai de 1991 a 2006.

Apesar de as primeiras iniciativas no campo das políticas culturais na Bahia terem sido criadas

durante o governo de Otávio Mangabeira (1947-1951), poucas foram as ações voltadas para o

interior do estado. (UCHÔA, 2006). Na gestão de João Durval Carneiro (1983-1986), último

governador do período ditatorial, a então Secretaria de Educação e Cultura estabeleceu a

dinamização cultural como programa prioritário, implementando como ação mais importante a

construção de sete equipamentos culturais4 no interior da Bahia, com o objetivo de criar um

circuito estadual de ações culturais. As cidades de Vitória da Conquista, Porto Seguro,

Valença, Juazeiro, Alagoinhas, Itabuna e Feira de Santana foram contempladas com os

espaços, que hoje são geridos pela Diretoria de Espaços Culturais da Secretaria de Cultura do

Estado da Bahia (Secult-Ba). Ainda segundo Uchôa (2006), o projeto Chapéu de Palha foi

outra ação deste governo voltada para o interior. Criado em 1983, a iniciativa consistia na

3 Carlismo é o termo utilizado para designar o grupo formado na Bahia em torno da liderança de Antônio Carlos

Magalhães (1927-2007), que durante quatro décadas foi o político mais importante do estado e um dos mais

influentes do Brasil. 4 Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima (Vitória da Conquista); Centro de Cultura de Porto Seguro; Centro de

Cultura Olívia Barradas (Valença); Centro de Cultura João Gilberto (Juazeiro); Centro de Cultura de Alagoinhas;

Centro de Cultura Adonias Filho (Itabuna) e Centro de Cultura Amélio Amorim (Feira de Santana).

16

realização de cursos e oficinas de teatro destinadas não apenas para artistas, mas para a

população em geral (LIMA, 2011). No final do projeto, um espetáculo era montado a partir

das pesquisas sobre cultura local desenvolvidas durante as oficinas. O Chapéu de Palha

circulou por diversas cidades do estado, inclusive Senhor do Bonfim, onde os artistas locais

ainda registram sua importância.

Em 1987, no início do governo de Waldir Pires5, foi criada a primeira secretaria para cuidar

exclusivamente da cultura – desmontada em 1995, no governo de Paulo Souto, para dar lugar

à Secretaria de Cultura e Turismo. A Secretaria de Cultura incluía em sua estrutura um órgão

para planejar ações voltadas ao interior do estado. O Departamento de Intercâmbio e Ações

Regionalizadas (DIAR) surgiu com a finalidade de regionalizar o fomento às atividades

culturais, além de promover o intercâmbio com instituições nacionais, internacionais e

estrangeiras. Como afirma Lima (2011), a gestão de Waldir Pires na área da cultura ainda não

foi devidamente estudada, portanto, não é possível avaliar se o órgão cumpriu com o objetivo

proposto. O governo seguinte, de ACM (1991-1994), realizou a segunda fase dos Salões

Regionais de Artes Plásticas, bienal que envolvia a cada edição cerca de 100 artistas das

cidades sede do evento e dos municípios próximos. O projeto foi iniciado em 1992 em

parceria com os sete centros culturais do interior e as prefeituras das cidades.

De 1998 a 2006, nas gestões de César Borges e Paulo Souto, a atuação no interior do estado se

manteve irrisória. Kauark (2006) observou que projetos como PopulAção e CirculAção

Cultural, importantes para o cenário cultural do período, foram executados em apenas 15

municípios do estado, naqueles que possuíam espaços culturais. No período, foram criados

dois novos equipamentos6, o Centro de Cultura Antonio Carlos Magalhães, em Jequié (2000)

e o Teatro Dona Canô, em Santo Amaro (2001). Foi realizado ainda o Censo Cultural, um

mapeamento cultural em todos os municípios da Bahia. Kauark (2006) afirma, no entanto, que

o programa não conseguiu impulsionar a criação de políticas para dinamizar os espaços

culturais nas cidades do interior.

A gestão do governador Jacques Wagner, iniciada em 2007, dissociou a Secretaria de Cultura

da Secretaria de Turismo e atribuiu àquela o princípio de “descentralizar as ações culturais e

5 Eleito nas primeiras eleições diretas para governador após o regime militar. Vindo na linha contrária ao

carlismo, gerou grandes expectativas de mudança no estado. Rompeu por um breve período a hegemonia de

ACM, até renunciar para se candidatar à vice-presidência do Brasil. 6 Hoje a Secult-Ba administra 12 espaços culturais no interior do estado.

17

democratizar o processo de planejamento, execução e avaliação dos programas e projetos

culturais” (CARVALHO, 2007, p. 4). O governo criou o Programa de Desenvolvimento

Territorial da Cultura, que consistiu no agrupamento dos 417 municípios baianos em 26

territórios de identidade, a fim de promover seu desenvolvimento sociocultural (BAHIA,

2010). “Território é aqui entendido como a base geográfica da existência social, espaço

simbólico em que a população constrói a sua identidade, exprime sentimentos de pertença e

cria seu patrimônio cultural.” (DUARTE, 2009, p. 1). Para Milton Santos, o primeiro a tratar o

território geográfico como espaço vivo e dinâmico, este seria o “chão da população, isto é, sua

identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence” (SANTOS, 2000, p.

96).

Instituído pela Secretaria de Planejamento (Seplan) para nortear todas as linhas de ação do

Governo do Estado, o Programa Territórios de Identidade foi regulamentado em 2010. O

decreto cria ainda o Conselho Estadual de Desenvolvimento Territorial (Cedeter), fórum

permanente para discutir a elaboração de políticas públicas que atendam às demandas

territoriais. Por território de identidade compreende-se o

[...] agrupamento identitário municipal formado de acordo com critérios

sociais, culturais, econômicos e geográficos, e reconhecido pela sua

população como o espaço historicamente construído ao qual pertence, com

identidade que amplia as possibilidades de coesão social e territorial.

(BAHIA, 2010)

O Cedeter aprovou em 2011 a criação de um novo território de identidade, o Território Costa

do Descobrimento, atendendo à demanda da população local e assumindo a centralidade do

princípio do pertencimento. A reconfiguração territorial7 foi incluída no Plano Plurianual

2012-2015 do Governo do Estado da Bahia, que já estabeleceu políticas para 27 territórios, ao

invés de 26.

A partir de 2007, portanto, o governo estadual adotou uma política de “interiorização”, ou de

“territorialização”, como a atual gestão da Secretaria de Cultura, liderada por Albino Rubim,

prefere denominar. Entre as ações executadas, podemos citar a adoção de uma política de

editais e de cotas de patrocínio para projetos do interior do estado e a realização de

conferências de cultura, mecanismos de consulta das demandas culturais do público. Apesar

7 Foi aprovada também a alteração de nomes de alguns territórios e migração de municípios de um território para

outro.

18

do esforço realizado pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, ainda existe uma grande

concentração no patrocínio de projetos inscritos por proponentes de Salvador e Região

Metropolitana. A ausência de profissionalização e de indicadores culturais são alguns dos

motivos para a quantidade pouco expressiva de projetos inscritos por proponentes do interior

para pleitear recursos públicos.

No que se refere à investigação na área das políticas culturais, podemos dizer que ela envolve

dois caminhos: a análise do que constitui o campo cultural sobre o qual as políticas atuam, ou

seja, a realização de estudos sobre agentes, práticas e consumos culturais; ou a análise das

próprias políticas culturais (SANTOS, 2007). No primeiro caso, a informação produzida serve

como fonte para a formulação das políticas culturais. No âmbito do Observatório das

Actividades Culturais (OAC), instituição sem fins lucrativos de Portugal que realiza estudos

na área das políticas culturais desde 1996 e de onde Santos (2007) parte no texto apresentado,

esse setor envolve a produção de informações estatísticas sobre a cultura; o levantamento

sobre equipamentos culturais; as práticas culturais e os públicos; os criadores, produtores e

seus mercados de trabalho; o financiamento da cultura e os impactos dos grandes eventos. A

análise do campo cultural envolve, portanto, uma pesquisa junto aos atores culturais de

determinada região, o que se propõe, em primeiro instante, o trabalho a ser desenvolvido na

cidade de Senhor do Bonfim.

2.2 EQUIPAMENTO CULTURAL E GESTÃO CULTURAL: DEFINIÇÕES

O diagnóstico cultural realizado no município tem como objeto o Centro Cultural Ceciliano de

Carvalho, compreendido como o principal equipamento cultural público da localidade. Por

equipamento cultural,

[...] entende-se tanto edificações destinadas a práticas culturais (teatros,

cinemas, bibliotecas, centros de cultura, filmotecas, museus) quanto grupos

de produtores culturais abrigados ou não, fisicamente, numa edificação ou

instituição (orquestras sinfônicas, corais, corpos de baile, companhias

estáveis, etc.) (COELHO, 1997)

As definições de equipamento cultural, espaço cultural, centro cultural e casa de cultura

geralmente se confundem. Coelho (1997) faz a distinção e diz que o centro cultural

geralmente se refere a espaços públicos, maiores, com equipamentos permanentes e atividades

19

desenvolvidas sincronicamente. Para Milanese (1997), o que caracteriza os centros é a reunião

de produtos culturais, sejam de que natureza forem, a possibilidade de discuti-los e a prática

de criar novos produtos. Segundo Cenni (1991), deveria ser natural nos centros culturais o

estímulo à formação de grupos interessados em explorar certos temas, bem como as

oportunidades para as pessoas desenvolverem suas habilidades. Outro ponto abordado por

Coelho (1986) é a relação entre o centro cultural e a cidade, indicando que não se pode fazer

uma cultura distanciada da realidade na qual vivem os indivíduos e os grupos.

Conforme aponta Boas (2005), a fragilidade dos grupos e instituições culturais está na falta de

planejamento a médio e longo prazo.

A maioria dos projetos, e também de alguns espaços culturais, é gerida, a

dizer, “naturalmente”, na “marra”, “no improviso”, “apagando incêndios”,

“de última hora”, e mais tantos outros termos pejorativos que só traduzem

um estigma sobre este setor, como também expressam a baixa credibilidade

daqueles que trabalham com cultura. Há uma constante tensão em torno da

tradicional visão de que cultura não é prioridade e dos poucos recursos

destinados a esse campo. [...] No entanto, essas questões que estão postas, ao

invés de causar desestímulo, deveriam incentivar cada vez mais uma forma

eficiente de utilização dos parcos recursos destinados, e assim diminuir a

imobilidade ocasionada pelo jargão de que cultura é uma atividade cara.

(BOAS, 2005, p. 101)

Por rejeitar o uso das ferramentas de administração na gestão cultural, como se isso fosse

atribuir valor negativo às práticas do setor, os gestores limitam-se a buscar resultados

imediatos. Como propõe Boas (2005), é necessário vencer o preconceito que vê tais

ferramentas como instrumentos complicados e burocráticos, que não se adequam às questões

culturais. O planejamento se faz necessário para que determinada instituição construa um

futuro desejado. Por planejamento estratégico entende-se “um processo gerencial que permite

a definição do direcionamento a ser adotado por uma organização, com o objetivo de buscar

maior eficiência na sua relação com o ambiente” (AVELAR, 2008). A definição da missão

corporativa, análise do ambiente, formulação de objetivos, definição de estratégias e

implementação destas são etapas necessárias para um planejamento eficaz que, direcionado ao

campo cultural, tende a sanar suas fragilidades institucionais.

Leitão (2003) afirma, no entanto, que a gestão estratégica no campo cultural apresenta

algumas particularidades e, consequentemente, algumas dificuldades que lhe são próprias.

Uma delas refere-se à descontinuidade de lideranças no setor. Agir estrategicamente num

contexto marcado pela incerteza e curto prazo se torna inviável, o que diz mais uma vez sobre

20

a necessidade de se estabelecer “políticas de Estado”, ao invés de “políticas de governo”,

necessariamente frágeis. Outras especificidades das organizações culturais merecem destaque,

considerando que alteram o modo como a estratégia deve ser planejada. O primado da oferta

sobre a procura (a oferta cria sua própria demanda), a fragmentação da oferta (cada produto é

único) e o efeito assinatura (a marca do autor concede status ao produto) faz Leitão (2003)

acreditar na necessidade da inversão da lógica tradicional de gestão estratégica. A

investigação das necessidades do mercado (macroambiente) e das competências da

organização (microambiente) não é o passo fundamental para alcançar sucesso, como nas

empresas de outros setores. No domínio da cultura, o projeto artístico ou cultural (portanto, a

oferta) é que deve embasar a reflexão estratégica das instituições culturais. Isso demonstra que

as organizações culturais dependem de modelos próprios de gestão, a fim de tornarem-se

competentes e competitivas.

2.3 OS ENTREVISTADOS

Entre maio e julho de 2013, foram realizadas 16 entrevistas para a pesquisa, com artistas,

produtores e gestores culturais. Entre elas, 13 foram registradas em áudio e disponibilizadas

em texto no blog Produção no Sertão, a fim de democratizar o acesso a informações sobre a

cultura local a todos os interessados. Marcos Cesário, um dos artistas entrevistados, preferiu

não ter o seu depoimento gravado, portanto, o registro não está disponível. Também

contribuíram para a pesquisa o nonagenário Florisvaldo Queiroz de Carvalho, conhecido como

Seu Meló, com documentos históricos e um breve relato, e o cordelista Jotacê Freitas, que

atuava em Senhor do Bonfim no período de inauguração do Centro Cultural Ceciliano de

Carvalho. Essa última contribuição foi feita através de e-mail, mas ainda assim foi registrada

no blog. Abaixo, apresentamos um breve perfil dos entrevistados.

2.3.1 Artistas e produtores culturais

a) Guegueu Schade

Músico, escritor e diretor musical para teatro, atua há doze anos no setor cultural de Senhor do

Bonfim. Participou durante seis anos do Núcleo Aroeira de Arte e hoje atua na área artística

21

como profissional freelancer. É um dos fundadores da Selos Tabor, editora criada em 2011

pela qual publicou seu livro de poesias, 37 de dezembro. Durante muitos anos obteve

sustentabilidade financeira a partir do trabalho artístico, mas hoje é funcionário público

estadual, além de estudante de Licenciatura em Ciências da Computação, no Instituto Federal

de Educação, Ciência e Tecnologia (IFBaiano). A entrevista foi realizada no dia 27 de maio,

na residência da pesquisadora, e teve duração de 1 hora e 22 minutos.

b) Alexandre Magalhães

Natural de Paraupebas (PA), chegou à Bahia em 1997, quando morou na cidade de Jaguarari,

antes de se fixar em Senhor do Bonfim, em 2007. Desde então, atua no setor cultural do

município, como dançarino, coreógrafo e professor de dança. Participa do Ballet

Sacramentinas há seis anos, há três como professor, e hoje também integra o corpo de

funcionários da clínica de fisioterapia e reabilitação Bonfisio. É estudante de Pedagogia e não

possui outra fonte de renda além do trabalho artístico. A entrevista foi realizada no dia 29 de

maio, na residência da pesquisadora, e teve duração de 52 minutos.

c) Zumar Sérgio

No teatro, trabalha com texto, direção e atuação. Escreve ainda literatura de cordel e atua

como palhaço. Atua há 31 anos no setor cultural do município e diz que sempre sobreviveu do

trabalho como artista, mais voltado para o trabalho no comércio, quando o contratam para se

apresentar em frente às lojas para atrair a atenção dos clientes. Formou-se no curso técnico de

Licenciatura em Artes Visuais, oferecido pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb),

campus de Senhor do Bonfim, e hoje trabalha como assistente na Secretaria Municipal de

Cultura. Já havia integrado a antiga Diretoria de Cultura entre 2000 e 2003, no governo do

prefeito Carlos Brasileiro (PT). A entrevista foi realizada no dia 31 de maio, no Centro

Cultural Ceciliano de Carvalho, e teve duração de 36 minutos.

22

d) Benedito Oliveira

Natural de Saúde, município da microrregião que tem Senhor do Bonfim como sede, possui

atuação em diversos municípios, tendo se afixado em Bonfim em 2003, onde logo criou o

grupo em que atua hoje, o Núcleo Aroeira de Arte. Como artista, se define como ator, diretor

teatral, palhaço e bonequeiro. No âmbito acadêmico, é pedagogo formado pela Uneb de

Senhor do Bonfim e especialista em História, Cultura Urbana e Memória, pela Uneb de

Jacobina. Além do Aroeira, integra a Academia de Letras e Artes de Senhor do Bonfim e

ensina Artes no Centro Educacional Sagrado Coração (Colégio Casinha Feliz). A entrevista

foi realizada no dia 30 de maio, na residência do entrevistado, e teve duração de 2 horas e 40

minutos.

e) Nando Lemos

Graduado em Pedagogia (Uneb-Bonfim), especialista em Psicopedagogia e Educação

(Uninter) e História e Sociedade (Uneb-Jacobina). Atua há 19 anos no setor cultural do

município, sempre voltado para o teatro, e há nove anos participa do Núcleo Aroeira de Arte.

Foi subgerente da antiga Diretoria de Cultura entre 2003 e 2004, no governo do prefeito

Carlos Brasileiro (PT). Tem papel de destaque na formulação da Lei de Cultura vigente em

Senhor do Bonfim e foi presidente do Conselho Municipal de Cultura em 2009, na única

gestão empossada. A entrevista com o artista ocorreu no dia 1º de junho, na sede da

Comunidade Kolping, onde ministra aulas de teatro com outro membro do Núcleo Aroeira de

Arte, Paulinho Vasconcelos. O depoimento teve duração de 40 minutos.

f) Reginaldo Carvalho

Estudou Pedagogia na Uneb de Senhor do Bonfim, graduou-se em Licenciatura em Teatro

pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e, no Programa de Pós-graduação em Artes

Cênicas da mesma universidade, ingressou no Mestrado e no Doutorado. Atua no setor

cultural de Senhor do Bonfim desde a década de 1990 e organizou em 2010 o I Colóquio

sobre História do Teatro no Piemonte Norte do Itapicuru, que debateu as práticas teatrais dos

nove municípios que compõem o território durante o século XX. Sua produção acadêmica está

23

ligada à cidade, tendo investigado em sua dissertação a história do cine-teatro no sertão

baiano. A entrevista foi realizada no dia 3 de junho, no restaurante Casa do Aragão, e teve

duração de 1 hora e 25 minutos.

g) Cynthia Ramos

Cynthia Ramos é professora, coreógrafa, bailarina, cenógrafa e figurinista do Ballet

Sacramentinas, grupo vinculado a um colégio particular de Senhor do Bonfim. Natural de

Anápoles (GO), a artista mora em Senhor do Bonfim há 15 anos, a mesma idade do grupo que

ajudou a fundar. Há três anos dá aulas de dança para adultos na clínica de fisioterapia e

reabilitação Bonfisio. A entrevista com a artista ocorreu no dia 28 de junho, em sua residência,

com duração de 42 minutos.

h) Tenison Santana

Tenison Santana participou, por quatro anos, da Sociedade Filarmônica União dos

Ferroviários Bonfinenses, a única filarmônica ainda ativa em Senhor do Bonfim. Hoje, o

músico atua no Neojiba (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia) e na

Filarmônica da Universidade Federal da Bahia (Ufba), instituição onde concluiu o bacharelado

em Instrumento e cursa mestrado em Educação Musical. A entrevista foi realizada no dia 1º de

julho, na Praça Nova do Congresso, e teve duração de 1 hora.

i) Caco Muricy

Autodidata, Caco Muricy atua como ceramista, ator, cenógrafo e figurinista. O primeiro

contato com o teatro e circo se deu a partir das brincadeiras no quintal. Participa do Núcleo

Aroeira de Arte desde 2007 e hoje possui seu próprio ateliê de arte. Já atuava no município em

1989, ano de inauguração do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. A entrevista com o

artista foi realizada no dia 2 de julho, na sede do Núcleo Aroeira de Arte, no bairro da

Gamboa, com duração de 28 minutos.

24

j) Marcos Cesário

O cronista, fotógrafo e filósofo Marcos Cesário iniciou a carreira artística de “modo

instintivo”, espontaneamente. Autodidata, se aperfeiçoou na fotografia sem ter realizado

cursos de formação. Já realizou exposições em diversas cidades, inclusive fora do país, mais

recentemente em Coimbra, Portugal. O depoimento não foi gravado em áudio, a pedido do

artista.

l) Jotacê Freitas

Jotacê publicou o livro Baianices, Baianadas e Baianidades e tem uma produção de mais de

100 folhetos de cordel. Atua como arte-educador na rede municipal de Educação de Salvador,

ministrando oficinas de literatura de cordel. Recebeu os prêmios Nacional de Literatura de

Cordel pela Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) em 2005 e Mais Cultura, pelo

Ministério da Cultura (MinC), em 2010. Antes de mudar para Salvador, atou no setor cultural

de Senhor do Bonfim, inclusive nos primeiros anos de funcionamento do Centro Cultural

Ceciliano de Carvalho. O relato foi feito por e-mail.

m) Seu Meló

Florisvaldo Queiroz de Carvalho, conhecido como Seu Meló, tem 90 anos e é dono do

Memorial João e Ana Carvalho, onde expõe as esculturas de vidro que cria. Apesar do

sobrenome, não faz parte da mesma família de Ceciliano de Carvalho, artista que dá nome ao

centro municipal de cultura. Concedeu depoimento no dia 22 de julho de 2013 que, por conta

da brevidade, não foi registrado no blog.

2.3.2 Gestores culturais

25

a) Ary Urbano

Secretário de Cultura, Ary é empresário e comerciante, proprietário de uma loja de roupas de

surfwear, estilo de vestuário inspirado pela cultura do surfe. Não tem formação universitária,

iniciou o curso de Administração, mas não concluiu. Candidatou-se a vereador nas últimas

eleições pelo partido do prefeito eleito (PTN), mas não saiu vencedor, tendo sido indicado em

janeiro para a vaga da Secult Bonfim. A entrevista foi realizada no dia 3 de junho, na

Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim, e teve duração de 30 minutos.

b) Carla Lidiane Pereira

Natural de Campo Formoso, cidade vizinha a Senhor do Bonfim, Carla Lidiane atuou como

representante territorial do Território nº 25 da Bahia, o Piemonte Norte do Itapicuru, de 2010

ao início de 2013. Pedagoga, especialista em Cultura Afro-brasileira e em Gestão de Pessoas,

Carla atualmente é diretora de Atividades, Eventos e Políticas Culturais da Secretaria de

Cultura de Senhor do Bonfim. A entrevista com a gestora ocorreu no dia 28 de junho, na sede

da Secult Bonfim, com duração de 2 horas e 25 minutos.

c) Angélica Santana

Angélica é proprietária e diretora do Centro Educacional Sagrado Coração (Colégio Casinha

Feliz), instituição que abriga em suas dependências o Cine-teatro Reginaldo Carvalho e o

Memorial Senhor do Bonfim, que reúne os principais documentos históricos do município.

Atuou como diretora de cultura no governo de José Leite, quando foi inaugurado o Centro

Cultural Ceciliano de Carvalho. A entrevista com a gestora foi realizada no dia 1º de julho, no

Colégio Casinha Feliz, e teve duração de 42 minutos.

d) Giuliana Kauark

Mestre em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Giuliana Kauark

atualmente é diretora de Espaços Culturais da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia

26

(Secult-Ba). A DEC gerencia 17 equipamentos culturais no estado e tem desenvolvido uma

política setorial para ampliar a atuação a fim de atender também espaços não vinculados à

Secult. A entrevista foi realizada no dia 23 de julho, na Faculdade de Comunicação da Ufba.

Parte do depoimento foi registrado na Oficina de Gestão Cultural, disciplina ministrada por

Gisele Nussbaumer para o curso de Produção Cultural, em que Giuliana foi convidada para

apresentar a diretoria. O relato durou cerca de 2 horas, entre aula e entrevista individual.

27

3. SENHOR DO BONFIM

3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

Senhor do Bonfim localiza-se no centro-norte do estado da Bahia, a 374 km de Salvador, na

região compreendida como semiárido ou sertão baiano. Sua população, de 74.419 habitantes

(IBGE, 2010), é predominantemente urbana (57.566 habitantes). Nas últimas duas décadas, a

taxa de urbanização cresceu 30,94%, hoje 77,35% da população mora na zona urbana

(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2013).

Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano Brasil 2013, o Índice de Desenvolvimento

Humano Municipal (IDHM) de Senhor do Bonfim em 2010 ficou em 0,666, considerado

Médio. Em relação aos 417 municípios da Bahia, o município ocupa a 30ª posição. Entre 2000

e 2010, a taxa de crescimento verificada foi de 27,10%. Neste período, a dimensão que mais

cresceu foi Educação, seguida por Longevidade e por Renda. Senhor do Bonfim teve um

incremento no seu IDHM de 87,08% nas últimas duas décadas, acima da média de

crescimento nacional (47,46%) e estadual (70,98%).

A cidade está inserida no território de identidade do Piemonte Norte do Itapicuru, do qual é

representante. O território, localizado na região conhecida como Polígono das Secas, é

composto por mais oito cidades: Andorinha, Antônio Gonçalves, Caldeirão Grande, Campo

Formoso, Filadélfia, Jaguarari, Pindobaçu e Ponto Novo. A microrregião em que está

localizada pertence à bacia hidrográfica do Itapicuru, por isso o nome do território. O Rio

Itapicuru nasce no Piemonte da Diamantina, próximo à cidade de Jacobina, e percorre 54

cidades baianas. “Piemonte” é um termo da geologia que indica “região situada entre a

montanha e a planície”. Senhor do Bonfim fica no sopé da Serra do Gado Bravo, extensão da

Chapada Diamantina, Cordilheira do Espinhaço, e é cercada ainda pelas serras do Mamão,

Catuni, Morgados e da Varzinha (MACHADO, 2007).

Apesar de ter completado 128 anos de emancipação política em 2013, o nascimento de Senhor

do Bonfim remonta a 1697, há 316 anos. Naquele ano se instalou próximo à sede do

município o Arraial de Missão de Nossa Senhora das Neves de Sahy, um dos mais antigos

arraiais da então Capitania da Bahia, entregue à Ordem dos Padres Franciscanos

(MACHADO, 1993). O arraial passa à condição de vila em 1799, a então Vila Nova da

28

Rainha, e se torna cidade em 1885. Machado (1993) aponta que as origens de Senhor do

Bonfim estão ligadas a três acontecimentos históricos do Brasil e da Bahia nos séculos XVII e

XVIII: a corrida em busca do ouro e das pedras preciosas, o confronto com o indígena e a

criação do gado. Em 1720, a descoberta do ouro em Jacobina correu a colônia, atraindo muita

gente em busca do enriquecimento rápido (MIRANDA, 2001). Essa região depois passaria a

contar com apoio e incentivo oficial do governo-geral para a exploração, recebendo

principalmente pessoas do Nordeste e Recôncavo Baiano. Bonfim se apresenta então como

local de chegada e partida em direção aos minerais, por conta da sua localização privilegiada,

“caminho para quem vem do norte ou vai pro sul, um entroncamento que passa a ser passagem

obrigatória pra muitos lugares” (MIRANDA, 2001). Nesse momento, Bonfim era passagem

obrigatória para quem vinha do Piauí, Maranhão ou da região do Rio São Francisco, era o

“descanso de tropeiro no meio do sertão”, como indica o hino do município (ANEXO A). A

localização estratégica também incluiu o então arraial no Ciclo do Gado, que ajudou no

povoamento do sertão, uma forma encontrada pelo conquistador para tirar do abandono esse

território. É válido ressaltar que isso ocorreu por conta da proibição do criatório de gado no

litoral, porque a atividade prejudicava o plantio da cana-de-açúcar (MACHADO, 1993).

Tal posição de destaque atribuída a Senhor do Bonfim no início de sua formação permanece

até os dias atuais, mesmo que enfraquecida, por conta da quase inutilização da ferrovia,

importante para o desenvolvimento da região a partir do século XIX. Com o advento da

estrada de ferro em 1887, a cidade é incluída na rota que ligaria Salvador ao sertão baiano,

iniciada em 1858 com o trecho Calçada-Aratu. A partir de então, foi sendo constituído um

sistema ferroviário que integrou as principais cidades do piemonte, do sertão sanfranciscano e

do nordeste da Bahia ao sul do país (GIESBRECH, 2005).

Além da importância para o setor de comércio e serviços, a ferrovia teve um papel

fundamental para as artes.

[...] a arte em Bonfim é influenciada completamente pela ferrovia, porque

muitas companhias de outras partes do estado e de outros estados vieram pra

Senhor do Bonfim através da ferrovia, as fitas para exibição cinematográfica

em nossos cinemas desde o Cine Royal vieram pela ferrovia. Inclusive, na

ocasião de uma greve dos ferroviários na primeira metade do século XX, o

cinema teve que parar, porque não tinha o que exibir (SILVA, 2013)

29

Hoje a Ferrovia Centro Atlântica faz transporte apenas de minério de ferro e derivados de

petróleo (MACHADO, 2007), saindo de Senhor do Bonfim em direção a Camaçari, na Região

Metropolitana de Salvador (GIESBRECH, 2005). Machado (2007) aponta que, apesar de a

malha ferroviária da Bahia ser composta por 1.597 Km de ferrovia, hoje transporta apenas 4%

das mercadorias produzidas ou que chegam ao estado, em função da falta de investimento no

setor. A Rodovia BR-407 desempenha hoje a função exercida pela ferrovia nos séculos

passados, o que tem dificultado a integração econômica do município com as demais regiões

produtoras do estado, já que a malha rodoviária que serve à região encontra-se, há alguns

anos, em estado precário (MACHADO, 2007).

A análise do processo de estruturação recente da economia de Bonfim nos

permite inferir que a substituição progressiva do transporte ferroviário pelo

transporte rodoviário resultou numa perda de importância econômica do

município, no contexto da região, dada à flexibilidade do transporte

rodoviário. Esse modal de transporte facilita o escoamento de cargas em

menor volume e quantidade, reduzindo o papel exercido por Senhor do

Bonfim de centro atacadista de fracionamento de mercadorias para a região

(MACHADO, 2007, p. 172).

Ainda assim, Senhor do Bonfim se configura enquanto principal centro de serviços da

microrregião, com destacada participação no fluxo de comércio e serviços, e como via de

acesso do litoral baiano ao sertão de Pernambuco, mais especificamente às cidades de Juazeiro

(BA) e Petrolina (PE), que têm enfrentando um processo de desenvolvimento avançado.

Juazeiro, com população de 197.965 habitantes, ocupa na Bahia a 17ª posição no Índice de

Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), enquanto Petrolina, com 293.962 habitantes,

tem o 6º melhor IDHM de Pernambuco. O bipolo Juazeiro/Petrolina vem atraindo

investimentos em agroindústria, em comércio e serviços de apoio, enquanto Bonfim perde

espaços e instituições relevantes (MACHADO, 2007).

A cidade de Petrolina (Estado de Pernambuco) atraiu, nas últimas décadas, os

maiores benefícios do desenvolvimento regional, trazendo fluxos inclusive

de cidades como Senhor do Bonfim, ao instalar na sua área urbana as sedes

das maiores agências federais de desenvolvimento e promovendo

investimentos na qualificação da sua infra-estrutura [sic], em níveis

diferenciados daqueles apresentados pelas cidades próximas da Bahia

(BAHIA, 2000 apud MACHADO, 2007, p. 359).

As principais atividades que dinamizam a economia de Senhor do Bonfim se concentram no

setor de comércio e serviços, que responde por ¾ da geração de riquezas produzidas. A

atividade agropecuária perdeu a centralidade ao longo dos anos, porque o município não

30

experimentou um processo de modernização, algo que aconteceu em outras cidades do estado,

com destaque para a fruticultura em Juazeiro. A criação de gado desde a formação do

município teve como principal consequência uma economia voltada para a pecuária, tornando

Bonfim em outro momento detentora de uma grande bacia leiteira, chegando a se configurar

entre os dez maiores rebanhos do estado, favorecido pela presença da empresa Alimba,

posteriormente Parmalat. Os longos períodos de seca, entre as décadas de 1980 e 1990,

provocaram o declínio da atividade e saída da Parmalat (MACHADO, 1993; 2007). No que se

refere à cultura, a presença do vaqueiro e a atividade pecuária no município resultam em uma

série de códigos marcados pelo uso do couro como matéria-prima, o consumo de farinha e

carne do sol na alimentação e pela toponímia que lembra essa presença do gado. Pertencem a

Senhor do Bonfim locais como o Campo do Gado, a Serra do Gado Bravo, o Cocho, Lagoa do

Cocho, Lagoa do Boi, Baixa do Boi, Curral Falso, Espanta Gado, Passagem de Estiva,

Passagem Velha, Lagoa dos Cavalos, Garrote, Caldeirão da Vaca, Campo do Meio e outros,

entre bairros, distritos e povoados do município (MACHADO, 1993).

De um modo geral, a escassez de recursos hídricos sempre restringiu a expansão das

atividades agropecuárias. O setor nunca funcionou de modo competitivo, se voltando para o

mercado, predominando assim as culturas de subsistência. A agricultura se caracteriza pela

utilização de técnicas rudimentares, de baixa produtividade, organizada por propriedades

familiares, destacando-se a produção de milho, feijão, mandioca e mamona. Tais produtos são

vendidos na feira livre do município, a segunda maior do Nordeste em extensão, com cerca de

1,2 Km, atrás apenas de Caruaru (PE) (SENHOR DO BONFIM, 2013). A feira tem seu ponto

forte às sextas-feiras e sábados e reúne milhares de pessoas dos diversos municípios que

compõem a microrregião, entre consumidores, comerciantes e ambulantes. Nela encontra-se

de tudo um pouco: uma grande variedade de frutas e verduras, doces, queijo, requeijão, beiju,

animais abatidos, cerâmicas, esteiras, roupas, calçados, bijuterias e o tradicional forró, tocado

em barracas localizadas em seu entorno (MIRANDA, 2001).

Como foi colocado, os setores do comércio e serviços são os principais vetores econômicos de

Senhor do Bonfim, contribuindo com 76% de toda a riqueza gerada. Machado (2007)

apresenta informações sobre o perfil da estrutura produtiva da cidade, colhidas no censo

empresarial realizado pela Prefeitura Municipal em 2003.

31

O comércio de Senhor do Bonfim caracteriza-se por apresentar um perfil

baseado em estabelecimentos de pequeno porte, administrados através de

uma estrutura familiar, pouco profissionalizada, porém diversificada e

adequada ao contexto da região. Destacam-se os ramos de vestuário,

calçados, gêneros alimentícios, móveis, eletro-eletrônicos [sic] e outras

utilidades domésticas. [...] Segundo dados obtidos através de entrevista junto

ao CDL – Clube de Diretores Lojistas local, o conjunto dos estabelecimentos

sediados em Senhor do Bonfim realiza um faturamento médio mensal

estimado em sessenta milhões. (MACHADO, 2007, p. 174-175).

O grau de informalidade do comércio bonfinense é alto: 57,9% dos estabelecimentos

existentes não são registrados e cerca de 46% dos postos de trabalho são ocupados por

familiares dos proprietários. Em 2003 eram 2.046 empresas cadastradas, que geravam

aproximadamente 5.200 ocupações. 62% das firmas possuem mais de três anos de existência,

44% dos empreendedores afirmaram ter mais de 10 anos de experiência no negócio que atuam

e 85% registraram ter outra atividade além do negócio, dados que demonstram a

sustentabilidade do setor.

Atualizando os dados a partir do Atlas do Desenvolvimento Humano Brasil 2013, verifica-se

que em 2010 os setores de comércio e serviços continuam movimentando a economia. Nesse

ano, das pessoas ocupadas na faixa etária de 18 anos ou mais, 44,11% trabalhavam no setor de

serviços, 19,88% no comércio, 18,20% no setor agropecuário, 0,64% na indústria extrativa,

3,90% na indústria de transformação, 7,60% no setor de construção e 1,36% nos setores de

utilidade pública8 (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2013).

No quesito Educação, o que apresenta maior crescimento no IDHM, verifica-se que a

proporção de jovens entre 18 e 20 anos com ensino médio completo cresceu 288,41% entre

2000 e 2010. Entre os alunos de 18 a 24 anos, 8,04% estavam cursando o ensino superior em

2010, enquanto em 2000 essa taxa era de 3,22%.

É importante ressaltar que o município de Senhor do Bonfim possui tradição

no setor de educação, tendo desempenhado no passado um papel de

importante pólo [sic] educacional do interior do Estado da Bahia, pela

presença de instituições como o Colégio Maristas9, Educandário Nossa

8 Chama atenção o fato de o IDHM não incluir as atividades artísticas e culturais entre as categorias. Elas devem

fazer parte dos “serviços”, segmento muito genérico que não permite distinguir as atividades econômicas

criativas das demais. Assim, não é possível dimensionar a parte da população bonfinense que vive a partir de

economia criativa. 9 Refere-se ao Ginásio Sagrado Coração, conhecido como Ginásio Marista por pertencer à Congregação dos

Irmãos Maristas. Foi instalado em 1944 e transferido para o governo da Bahia em 1970, transformando-se em

Colégio Estadual Senhor do Bonfim, que funciona até hoje (SILVA, 1971). Os irmãos Maristas eram alguns dos

32

Senhora do Santíssimo Sacramento10

e Colégio Diocesano11

, que atendiam à

demanda de toda a região (MACHADO, 2007, p. 178).

Das instituições citadas, a única que permanece ativa é o Educandário Nossa Senhora do

Santíssimo Sacramento, hoje Colégio Sacramentinas, que atende do ensino infantil ao ensino

médio e se configura como principal colégio particular do município, atraindo até hoje

estudantes de outras cidades. A partir de 1999, a Escola Agrotécnica Federal de Senhor do

Bonfim (EAFSB), vinculada à Secretaria de Educação Média e Tecnológica do Ministério da

Educação, começou a funcionar como um novo centro de confluência de estudantes da região.

De modo integrado ao ensino médio, a escola oferecia o curso técnico em Agropecuária e, por

conta da crescente demanda, foram criados os cursos subsequentes de Técnico Agrícola com

habilitação em Zootecnia e o de Técnico em Alimentos. Milhares de estudantes da região

passaram pela escola, que estava alinhada com uma atividade econômica que ainda predomina

na microrregião. Em 2008, o colégio se transformou em uma unidade do Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia (IFBaiano). Além dos cursos já oferecidos, o campus

disponibiliza os cursos superiores de licenciatura em Ciências da Computação e Ciências

Agrárias, cursos técnicos a distância em Meio Ambiente e Segurança no Trabalho e curso de

pós-graduação em Desenvolvimento Sustentável no Semiárido com ênfase em Recursos

Hídricos (IFBAIANO, 2013).

O IF soma-se à Universidade do Estado da Bahia (Uneb) Campus VII e à Universidade

Federal do Vale do São Francisco (Univasf), outras duas instituições públicas de ensino

superior que funcionam na cidade e atraem estudantes de todo o estado. A Uneb – inaugurada

em 1986 como Faculdade de Educação de Senhor do Bonfim (FESB) – oferece os cursos de

Pedagogia, Matemática, Ciências Biológicas, Ciências Contábeis e Enfermagem. Já a Univasf

oferece o curso de Licenciatura em Ciências da Natureza desde 2009 e deve implementar já

em 2014 os novos cursos de Geologia, Ecologia e Geografia. A presença dessas instituições

tem gerado um fluxo grande de estudantes da microrregião e outros territórios, demandando

uma série de serviços e injetando recursos na economia local.

principais produtores de teatro na virada da primeira para a segunda metade do século XX. O colégio mantinha

um auditório em seu prédio (SILVA, 2013). 10

Pertence à Congregação das Religiosas do Santíssimo Sacramento, com sede na França, fundada em 1715.

Instalou-se em Bonfim em 1937 (SILVA, 1971) e funciona até hoje, com o nome de Colégio Sacramentinas,

apelidado de Sacrá. 11

Também conhecido como Ginásio Diocesano, foi criado em 1942 com a denominação de Seminário São José.

33

3.2 CONTEXTO CULTURAL

Depois da caracterização histórica da cidade de Senhor do Bonfim, faz-se necessário

apresentar seu contexto cultural. A apresentação do nosso objeto de pesquisa, o Centro

Cultural Ceciliano de Carvalho, será feita no próximo capítulo, mas os dados a seguir

contribuem para o entendimento da relação histórica da cidade com a cultura e as artes.

Voltamos aos séculos XIX e XX para evidenciar a relação dos bonfinenses, especialmente,

com as letras, a música e o teatro.

Fundadas a partir da chegada de D. João VI ao Brasil, que trouxe consigo a Banda da Armada

Real Portuguesa, as filarmônicas espalharam-se pela Bahia desde 1863, com a criação da

Erato Nazareno, na cidade de Nazaré das Farinhas (BENEDITO, 2011). Em Senhor do

Bonfim, a primeira banda de música originou-se em 1888: era a Filarmônica União Ceciliana,

que teve entre os fundadores o músico e negociante Severo Lopes de Carvalho, pai do maestro

Ceciliano de Carvalho. Na década seguinte, em 1895, foi fundada a Filarmônica União e

Recreio, que viria a se tornar “um dos melhores conjuntos musicais do interior baiano e na sua

fase áurea arrebatou multidões de adeptos e admiradores” (SILVA, 1971, p. 155). Comandada

por Ceciliano de Carvalho, participou de diversos eventos fora da cidade, inclusive da

recepção de Ruy Barbosa em Salvador no ano de 1919. A Filarmônica 25 de Janeiro surgiu

1897 e se tornou “rival” da União e Recreio, duelando em embates musicais. Posteriormente,

ambas se transformaram em clubes sociais, tendo os nomes modificados para Sociedade

Beneficente e Cultural União e Recreio e Sociedade Cultural e Recreativa 25 de Janeiro,

respectivamente. Apesar da extinção das bandas, suas sedes funcionam até hoje: a primeira

para realização de pequenos eventos e cerimônias na cidade e, a segunda, como casa de shows

e eventos maiores.

34

Fotografia 1 - Atual Sociedade 25 de Janeiro. Foto: Adriana Santana.

Atualmente, a única filarmônica ativa em Senhor do Bonfim é a Sociedade Filarmônica dos

Ferroviários Bonfinenses, criada em 1953 na Gamboa, bairro que se formou a partir da

ocupação dos ferroviários, dada a sua proximidade com a estação. A partir de 1959, passou

por um recesso de 12 anos, sendo reativada apenas em 1971. Em 2000, passou por uma nova

crise que quase a leva à extinção. Foi quando o atual presidente, Paulo Pereira de Alencar,

assume a coordenação e leva a banda a um local de destaque no estado. A década de 2000 é

tida como o “tempo áureo” da filarmônica, quando participa dos Encontros de Filarmônicas

em Morro do Chapéu e em Jacobina, sendo convidada pelo governador do estado para se

apresentar em Salvador (SANTANA, 2013; LIMA, 2010).

A produção jornalística de Bonfim também foi sempre intensa. A imprensa estreou no

município em 1811, com o jornal O Futuro e, até 1997, circularam outros 47 jornais12

na

cidade (SILVA, 1971; IMPRENSA, 1999). Ao apresentar o movimento intelectual da cidade,

Silva (1971, p. 118) o divide em três fases, sendo a segunda delas o que chamou de “idealistas

da imprensa”, formado por jovens que disseminavam informação “por meio de pequenos e

12

“O Feitiço” (1899), “O Zéfiro” (1899-1890), “A Pena” (1899-1900), “A Moda” (1899-1900), “O Brinco”

(1900), “O Beija-Flor” (1900), “A Sílfide” (1903), “O Lince” (1904), “A Cidade de Bonfim” (1902-1903), “O

Atleta” (1902-1907), “O Artista” (1907), “Correio do Bonfim” (1912-1942), “A Luz”, “A Inocência”, “O

Combatente”, “O Lábaro”, “O Crisântemo” (1915), “O Imparcial” (1914), “O Espinho” (1914), “O Amor”

(1914), “O Eco” (1915), “O Álbum” (1915), “O Riso” (1916), “O Resplendor”, “A Vida”, “O Esporte” (1927),

“O Garganta” (1928), “A Boa Semente” (1930), “Bonfim-Filme”, “A Escada”, “O Social” (1934), “A Lâmpada”,

“A Abelhinha” (1938), “Alvorecer”, “Bonfim-Esportivo” (1944), “O Círio” (1952), “O Líder” (1968), “O

Abaeté” (1968), “Tribuna do Sertão” (1973), “Jornal do Sertão” (1977), “Nossa Gente” (1982), “Correio dos

Sertões” (1985), “A Voz do Povo” (1989), “Lampião” (1993), “Gazeta Bonfinense” (1995) e “Voz da Tapera”.

35

grandes jornais, alguns modestos e escritos à mão, que denunciavam a febre do jornal

característica dessa época”.

O Correio do Bonfim, jornal de mais longa duração, circulou de 1912 a 1942 quase que de

modo ininterrupto, com recesso de apenas dois anos durante a produção. Nessa época, os

jornais costumavam publicar críticas de teatro. Em 1913, determinada edição do Correio do

Bonfim13

apresentou uma crítica ocupando a metade de uma das páginas.

[...] pode acreditar, naquela época tinha crítica de teatro em Bonfim, às

vezes com meia página do jornal. Se a gente pensar que nos últimos

10, 15 anos pra sair alguma nota no jornal a gente tem que enviar... E

pela forma que escreviam, iam assistir aos espetáculos e comentavam

[...] (SILVA, 2013).

Atualmente, ainda circula na cidade o jornal Lampião, de 1993. A cidade conta ainda com a

Rádio Caraíba (frequência AM, ativa desde 1980) e Rádio Rainha FM, esta que atinge

aproximadamente 40 municípios da região (TBL, 2013). A Rainha FM faz parte da Rede

Bonfim de Comunicação, que conta com a Urri! Internet, provedor de internet banda larga e a

TBL (Telecomunicações Bonfinense Ltda), operadora de TV a cabo de Senhor do Bonfim.

Criada em 2001 pelo empresário Valdênio Monteiro e sua esposa, Viviane Monteiro, a TBL

cobra uma taxa de R$ 26 para exibição de um pacote com 37 canais, abertos e fechados,

alguns deles internacionais, como TCM, RTP, TNT e CNN. O canal 10 da TBL é a TV

Bonfim, que apresenta uma programação regional, hoje restrita a dois programas fixos, o

Jornal Bonfinense a o Esporte na TV. A emissora faz transmissão ao vivo de alguns eventos

que acontecem na cidade, sendo o São João o principal. No geral, a programação fica restrita a

reprises, exibição de clipes de música e publicidade. A rede está presente em cerca de 700

domicílios, cobrindo 70% do município (TBL, 2013). É válido ressaltar que, em Senhor do

Bonfim, uma televisão com antena simples consegue transmitir apenas três canais – Rede

Bahia, Aratu e Itapuã. Eventualmente, a Band e TVE conseguem transmissão. Verifica-se

ainda que os blogs se tornaram veículos bastante populares nos últimos anos. No geral, são os

radialistas14

que ingressaram na plataforma virtual, aprendendo a se comunicar de um novo

modo e passando a atingir um público mais amplo.

13

Ver SILVA, 2008, p. 45. 14

Destaque para o Blog do Cleber Vieira <http://www.blogdoclebervieira.com.br/>; Maravilha Notícias, de

Netto Maravilha <http://maravilhanoticias.blogspot.com.br/>; Blog do Walterley Kuhin

36

Acompanhando o movimento intelectual dos jornais, a Sociedade União e Recreio cria em

1912 a primeira biblioteca de Senhor do Bonfim, com 1.928 volumes (SILVA, 1971). Em

1916, possuía 903 obras, sendo 446 da área de artes, dos quais 43 eram de teatro,

correspondendo a quase 5% de todo o acervo (SILVA, 2008). A segunda biblioteca,

denominada Borges e Barros, foi fundada em 1934, com 3.916 volumes. Hoje denominada

Biblioteca Pública Profª Zenáurea Terezinha Campos, ela pertence à Prefeitura Municipal e

funciona como única biblioteca do município. Em 2007, possuía cerca de 1.620 títulos no

acervo (MACHADO, 2007). Senhor do Bonfim já possuiu as bibliotecas União e Mocidade,

em 1940, com 645 volumes; Manoel Quirino, em 1942, com 439 volumes; Rui Barbosa, de

1948, com 1.344 obras; Pedro Calmon, em 1957, com 280 volumes e Pio XII, em 1959, com

1.200 volumes (SILVA, 1971). Não foi possível descobrir na pesquisa o destino do acervo das

bibliotecas extintas, nem mesmo a quantidade de obras que a biblioteca municipal possui hoje.

A instituição funciona num espaço conhecido como “Pirâmide”, próximo à estação

ferroviária.

Entendendo que Senhor do Bonfim não possuía até então um espaço para consulta sobre o

passado, o Centro Educacional Sagrado Coração (Casinha Feliz)15

criou em 1994 o Arquivo

Regional de Senhor do Bonfim, hoje nomeado Memorial Senhor do Bonfim. O colégio

Casinha Feliz foi fundado em 1974 pela já falecida professora Zenáurea Terezinha – que dá

nome à biblioteca municipal, devido sua importância para a memória bonfinense – e

professora Maria Angélica Matos Santana, uma das entrevistadas para a pesquisa. O Memorial

Senhor do Bonfim é formado por documentos históricos doados pelas famílias de pessoas

ilustres do município. A etapa inicial para construção do espaço se deu através da realização

de gincanas, por seis anos consecutivos, para recolher documentos históricos junto aos

moradores da cidade. O texto de convocação diz que

Nesta sala [destinada ao arquivo], cuja FINALIDADE é servir como FONTE

DE PESQUISA, gostaríamos que contasse sua BIOGRAFIA, a HISTÓRIA

de sua EMPRESA, alguns dos seus TRABALHOS, para que as gerações

posteriores possam conhecer um pouco da sua história. Sua colaboração,

fornecendo-nos informações, documentos, retratos, livros, objetos de arte,

<http://www.blogdowalterley.com.br>, Ivan Silva Notícia <http://www.ivansilvanoticia.com.br> e Blog do

Meireles <http://www.blogdomeireles.com.br>. 15

Apesar de ter seu nome modificado para Centro Educacional Sagrado Coração em 1982, os bonfinenses ainda

preferem o uso do nome “Casinha Feliz”, ou apenas “Casinha”, para se referir à instituição. A pesquisadora

utilizará ao longo do trabalho essa nomenclatura, portanto.

37

enriquecerá este arquivo e dará aos estudantes a oportunidade de sentir como

nossa terra é rica em cultura, recursos naturais e pessoas de grande talento e

personalidade. (ALMEIDA, 2001, p. 27).

De fato, o espaço tem servido de principal referência de estudos para pesquisadores sobre a

história de Senhor do Bonfim. Seu acervo conta com mapas da região desde 1901, decretos

municipais, fotografias, biografias, livros, trabalhos literários, entrevistas, composições

musicais, vídeos, fitas cassetes, discos, CDs, convites etc. “Outra preciosidade são os jornais a

partir de 1903 alguns números avulsos e, de 1912 em diante, quase todos os jornais que já

circulam e, atualmente, ainda circulam na cidade em edições completas” (ALMEIDA, 2001,

p. 34).

A Casinha Feliz tem um papel importante para a cena cultural de Senhor do Bonfim. Além do

Memorial, abriga em suas dependências um cine-teatro e um teatro de arena. Alguns artistas

do município entrevistados pela pesquisa – Reginaldo Carvalho e Benedito Oliveira – atuaram

como professores de Artes da escola e contam que é frequente a realização de apresentações

artísticas por estudantes e grupos de fora da cidade, assim como festivais de cultura.

Reginaldo Carvalho considera que a escola foi num primeiro momento “um espaço de

mecenato para o teatro”.

O Cine-teatro Reginaldo Carvalho foi criado em 2011 e seu nome é uma homenagem ao

artista bonfinense que trabalhou no colégio por muitos anos. O espaço ainda está inacabado,

por conta da falta de recursos. O local ainda não possui poltronas para o público, ar-

condicionado ou equipamentos técnicos, por exemplo, o que foi mencionado em entrevistas

com artistas como empecilho para se realizar espetáculos.

Fotografia 2 - O Cine-Teatro Reginaldo Carvalho. Foto: Adriana Santana.

38

Algumas instituições foram criadas ao longo dos anos para fomentar a cultura bonfinense.

Ressaltamos o papel da Sociedade União e Recreio e Sociedade 25 de Janeiro. Além da

filarmônica e biblioteca, como já foi citado, a primeira mantinha um grupo de teatro. Já a

Sociedade 25 de Janeiro mantinha dois grupos dramáticos, um formado por rapazes e outro

por moças, e também possuía uma biblioteca e um “teatrinho” em sua sede. Tais grupos se

apresentavam com frequência nos “palcos oficiais” do município, os antigos cinemas.

Se não tinha a política pública como incentivadora para a produção de teatro,

havia outras forças. Citando os casos da Sociedade 25 de Janeiro e União e

Recreio, cada uma tinha a sua filarmônica, muitas pessoas adeptas dessas

filarmônicas, e tinha também seus grupos de teatro. De alguma forma, a

diretoria dessas agremiações desempenhava um papel importante junto a

esses jovens, na medida em que se preocupavam em estruturar o espaço para

receber espetáculos de teatro, comprar livros [...]. Então a presença dessa

biblioteca, dessa diretoria que pensa na construção de um palco, esses

elementos funcionaram em outro momento como um incentivo que hoje a

gente entende que deve ser de responsabilidade pública. (SILVA, 2013)

Em 1979, foi criada a Fundação Cultural Fernando Jatobá da Silva Teles, cujo nome é uma

homenagem ao já falecido deputado bonfinense.

Com a finalidade de preservar a memória cultural da cidade, foi criada a

Fundação Cultural Fernando Jatobá da Silva Teles, que vinha apoiando as

manifestações folclóricas e culturais através de grupos teatrais, musicais e de

pesquisas, bem como promovendo eventos culturais com apoio da Prefeitura

Municipal (ALMEIDA, 2001, p.45).

Sua atuação não foi devidamente registrada. Sabemos apenas que funcionava ao lado da

prefeitura e, na década de 1980, realizou uma oficina de teatro na cidade e foi responsável pela

pesquisa que deu origem ao documento “Bonfim Hoje: Calendário Histórico-Cultural de

Senhor do Bonfim”, que apresenta a cronologia dos acontecimentos no setor da cultura no

município.

39

Fotografia 3: Fundação Cultural Fernando Jatobá da Silva Teles. Foto: acervo de Meló Carvalho.

Outra instituição que merece ser citada é a Academia de Ciências, Artes e Letras de Senhor do

Bonfim (Aclasb), criada em 1990, por iniciativa de Paulo Machado (ALMEIDA, 2001). Paulo

Machado é Doutor em Educação, professor da Uneb campus VII e foi prefeito de Senhor do

Bonfim entre 2009 e 2012. A Aclasb – que permanece com a sigla, mas alterou o nome,

tirando o termo “Ciências” do título – fomenta a realização de debates, lançamento de livros e

atua em parceria com a prefeitura municipal16

. O atual presidente, José Gonçalves, foi assessor

de Relações Institucionais da prefeitura na gestão de Paulo Machado. Em 1992, a Aclasb

mediou a parceria com a Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) que trouxe a Senhor

do Bonfim uma oficina de teatro ministrada por Kátia Alexandria. Silva (2013) afirma que a

iniciativa “foi fundamental porque reaqueceu a cena cultural que estava morna depois da

explosão dos anos 80, que foi muito forte, com a atuação de muitos grupos”.

Por fim, é necessário fazer uma caracterização dos espaços de cultura localizados em Senhor

do Bonfim, para além do objeto da pesquisa – o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho – e os

já citados Cine-Teatro Reginaldo Carvalho, Sociedade 25 de Janeiro e Sociedade União e

Recreio. Antes, no entanto, se faz crucial a apresentação dos antigos equipamentos de cultura,

até mesmo para que se faça compreender a relação que os bonfinenses mantêm com as artes

até hoje, especialmente com o teatro.

16

Em 2011, a Aclasb contribuiu para a discussão que gerou a transferência dos bustos de personalidades

bonfinenses para as praças que dão nome. Ver em: <http://maravilhanoticias.blogspot.com.br/2011/06/prefeitura-

transfere-bustos-de-dr-jose.html>.

40

Em 1912, é inaugurado o primeiro cinema em Senhor do Bonfim, o Cinema Brasil, que só

funcionou por um mês, entre novembro e dezembro de 1912 (SILVA, 2008). O segundo é

inaugurado em 1913, com o nome de Cinema Royal,

“[...] palco dos mais variados espetáculos: teatro – de grupos locais e

visitantes – orquestra, ilusionismo, bailados infantis, bailes carnavalescos,

festivais acadêmicos, festas cívicas etc. Funcionava como uma espécie de

centro de diversões, pois além de uma seção de tiro ao alvo na parte interna,

acontecia em frente ao seu edifício, retreta das filarmônicas 25 de Janeiro e

União e Recreio; quermesses; queimas de Judas; diversões infantis como:

quebra pote, pau-de-sebo, corrida de saco; etc. O cinema fazia 3 ou 4 sessões

semanais, incluindo matinês, às vezes com 7 projeções [...]” (SILVA, 2008,

p. 42)

Em 1917, o espaço foi comprado e passou a se chamar Cinema Confiança, mantendo a

programação diversificada e abrindo espaço também para eventos escolares, conferências e

reuniões políticas, entre outras. Deixou de funcionar entre 1922 e 1924 – não é possível

precisar –, dando espaço ao Cine-Bonfim. Todos os cinemas citados localizavam-se na Praça

do Comércio, atual Praça Dr. José Gonçalves, e costumavam enfrentar problemas técnicos de

exibição. Em 1927, é criado em outro espaço – antiga Praça do Cinema, atual Praça Dr.

Antônio Gonçalves, onde está localizada hoje a Igreja Universal – o Cine-Teatro São José,

cujo projeto havia sido iniciado 15 anos antes. Nessa época a população de Senhor do Bonfim

girava em torno de onze a doze mil habitantes e tinha duas casas de espetáculo, já que o

espaço da Praça do Comércio, fechado no final de 1927, voltou a funcionar em 1928, com o

nome de Cine-Popular. Como cinema, funcionou por apenas dois meses e, como teatro,

voltou a funcionar esporadicamente em 1930. Reginaldo Carvalho, que pesquisou sobre os

espaços de cultura de Senhor do Bonfim entre 1910 e 1960, indica que “algumas fontes dizem

que o Cine-teatro Popular era uma opção ao Cine-Teatro São José e o popular não estava só

no nome, mas nos preços” (SILVA, 2013). Isso porque quem frequentava os outros cinemas

eram as classes mais altas, dado o alto custo dos ingressos. Sobre o Cine-Teatro São José,

Almeida (2001, p. 140) aponta que “as pessoas mais humildes ficavam atrás das telas para

assistirem porque não podiam comprar ingressos porque era muito caro. Naquela época,

custava 300 réis e na poltrona o ingresso era 2.000 réis ou 1.500 réis”.

O Cine-Teatro São José tinha acomodações para cerca de 800 pessoas e foi considerado o

melhor cine-teatro do interior. Além de filmes e espetáculos, o equipamento realizava shows

musicais. Grandes artistas nacionais passaram pelo espaço: Cauby Peixoto, Nelson Gonçalves,

41

Raul Seixas, Ângela Maria, Emilinha Borba, Tony Tornado, Jackson do Pandeiro, Luiz

Gonzaga etc. (SILVA, 2008). O Cine-Teatro São José entrou em decadência a partir de 1970,

apesar de ainda exibir filmes diariamente. Foi fechado em janeiro de 1983, reaberto em

novembro do mesmo ano, com o nome de Rafael Cine Foto, até fechar definitivamente em

1984, com prejuízos decorrentes da falta de público.

Criado em 1933, o Bispado de Senhor do Bonfim foi bastante aclamado, por representar a

sede da Diocese do município, constituída por 20 paróquias, englobando 33 municípios

(SILVA, 1971). O local contava com o Auditório João Paulo II (Bispado), que se configurou

por algumas décadas como um dos principais espaços de cultura da cidade. Era frequente a

realização de apresentações de teatro em festivais realizados pela Igreja Católica, mesmo

depois da inauguração do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, em 1989. Na década de

1980, o Bispado recebeu a primeira edição do projeto Chapéu de Palha, realizado pela Funceb

para formação em cultura. O Bispado encontra-se hoje em situação de abandono, não foi

possível verificar se existe alguma perspectiva de reforma, requalificação ou tombamento do

espaço.

Fotografia 4 - Bispado de Senhor do Bonfim, em situação precária. Foto: Adriana Santana.

Os três principais locais para shows no município são a já citada Sociedade 25 de Janeiro, o

Campo Clube e o Parque da Cidade. O Campo Clube foi inaugurado em 1972, a partir do

diagnóstico de que Senhor do Bonfim necessitava de um espaço de lazer e entretenimento.

Sua estrutura possui dois campos de futebol, uma quadra poliesportiva, quadra de areia,

quiosque, piscinas, sinuca, churrasqueira, salão de festas, bares, parque infantil e uma concha

acústica com capacidade para 10.000 pessoas. O local abriga os principais eventos musicais da

cidade, além de réveillon e festas particulares como aniversários, casamentos, formaturas etc.

42

Em 1985, o clube promoveu uma festa de São João com as presenças de Luiz Gonzaga e

Dominguinhos, considerado o momento mais marcante do espaço (CAMPO CLUBE, 2013).

Já o Parque da Cidade é um espaço público criado em 2008 para abrigar o São João da cidade

e servir como espaço de lazer nos outros meses do ano. Com capacidade para 100 mil pessoas,

está localizado na área da antiga pista de pouso da cidade, atualmente desativada, chamada

popularmente de "Campo de Aviação". Segundo o projeto original apresentado pela

prefeitura, o parque deveria conter pistas de cooper e ciclismo, quadra de esporte, campo de

futebol, pista de skate e restaurantes, entre outras coisas. O projeto não foi executado e serviu

inicialmente apenas como arena para os principais eventos realizados pela prefeitura, que

inclui, além do São João, a festa de aniversário da cidade. Em 2011, foram inauguradas a pista

de skate e a Academia da Terceira Idade.

Fotografia 5: Panfleto distribuído pela prefeitura em 2008. Foto: Prefeitura Municipal de Sr. do Bonfim

Até 2007, a festa de São João era realizada tradicionalmente na principal praça do município,

a Praça Nova do Congresso, e a mudança gerou polêmica. A grande quantidade de pessoas

que frequentava a festa gerava deteriorização e desconforto na praça, já que o espaço não era

apropriado para reunir aglomerações. Em 2013, o espaço voltou a ser utilizado para a festa,

mas através de um palco alternativo, para apresentações menores. No resto do ano geralmente

não são realizados eventos culturais no local, tido como principal espaço de cultura da cidade

nas décadas anteriores. O Estádio Municipal Pedro Amorim também acolhe, além de

campeonatos de futebol, apresentações culturais de grande apelo popular. Na década de 1980,

foi apresentado pelo grupo Sol Nascente, hoje extinto, o espetáculo da Paixão de Cristo, na

Semana Santana. O Festival Anual da Canção Estudantil (Face), promovido pela Secretaria de

Educação do Estado da Bahia, também realiza suas edições regionais no estádio.

43

Outros espaços possíveis para a criação artística são mencionados pelos artistas entrevistados

na pesquisa, que veem nos auditórios das escolas públicas do município um potencial ainda

pouco explorado. Ainda que não possuam dimensões exatas para o teatro, os auditórios do

Colégio Senhor do Bonfim, Colégio Teixeira de Freitas e Colégio Modelo Luís Eduardo

Magalhães, todos estaduais, poderiam se adaptar a esse tipo de apresentação, caso assim fosse

pretendido. O Colégio Sacramentinas é, além da Casinha Feliz, outra instituição que possui

seu próprio equipamento cultural. Ressaltamos que ambas as instituições são privadas e

disponibilizam aulas de ballet para os alunos, cujo desempenho é apresentado ao fim do ano,

num espetáculo aberto ao público. O Sacramentinas criou um espaço cultural próprio para

acolher as apresentações do seu grupo, que está completando 15 anos. Inaugurado em 2013, o

Auditório Irmã Raimunda Maria tem capacidade para 350 pessoas.

Fotografia 5 - Auditório Irmã Raimunda. Foto: Sacramentinas.

3.3 POLÍTICAS CULTURAIS X SÃO JOÃO

Esta pesquisa tem como fim a elaboração de um plano de ação para o Centro Cultural

Ceciliano de Carvalho, em Senhor do Bonfim, a partir dos resultados da investigação junto aos

atores culturais do município, sejam gestores públicos responsáveis pelo espaço ou artistas e

produtores locais. Antes da pesquisa de campo, é necessário realizar uma investigação sobre o

histórico recente das políticas culturais desenvolvidas na cidade e qual a atenção voltada para

o centro, principal equipamento cultural público da localidade.

44

Em 2010, a Secretaria Municipal de Cultura17

foi criada na estrutura administrativa da

prefeitura de Senhor do Bonfim. Tal iniciativa pode ser vista como um despertar para a

necessidade da organização da cultura em nível local, visto que criação de um órgão

autônomo de cultura é a primeira etapa para a consolidação do Plano Municipal de Cultura

(PNC). Apesar deste esforço merecer aprovação, a atuação da secretaria se mostrou

inexpressiva ao longo dos anos. Ela já nasce com três problemas estruturais: falta de

orçamento, de equipe e descontinuidade no comando da pasta. A atuação do órgão tem se

resumido à realização de ações pontuais e que não contam com a participação pública na

elaboração. A pesquisa parte do pressuposto de que a continuidade de uma ação cultural é um

dos fatores que garantem a sua efetividade, além de entender que a participação social é um

valor indispensável para uma política pública ser, de fato, considerada pública (RUBIM,

2007).

Ivomar Gitânio Silva, o primeiro secretário de cultura, saiu e retornou ao cargo por mais de

uma vez entre 2010 e 2011, na gestão do prefeito Paulo Machado (PT). Carla Lidiane, na

época representante territorial da Secult-Ba, afirma que “foi uma gestão muito conturbada, ele

saiu diversas vezes e voltou, e isso enfraqueceu a secretaria, [...] talvez por ela já ter sido

criada como uma secretaria menor, sem recursos, sem uma equipe” (PEREIRA, 2013). A

fragilidade administrativa do órgão se associa à dependência do setor a questões de cunho

político-partidário. A primeira exoneração de Ivomar aconteceu em 16 de novembro de 2010,

tendo retornado em fevereiro de 2011. Na época, um blog local noticiou que “O Secretário

alegou que o motivo de sua saída meses atrás teria sido em obediência ao seu partido PMN”

(MARAVILHA, 2011a). Em setembro do mesmo ano, ele deixa novamente a pasta, dando

lugar a Riana Oliveira. O blogueiro Netto Maravilha expressa sua indignação com o fato, pois,

segundo ele, o então diretor de eventos da secretaria, Edneuton Sá, deveria assumir junto com

Riana um cargo no órgão. A posição teria sido negada a ele por conta, mais uma vez, de

questões de ordem partidária. “[...] motivos políticos retiram a pessoa mais indicada para ser o

assessor chefe da cultura, uma vez que foi exigido de Edneuton que, para assumir a assessoria,

ele teria que se afiliar ao PMN, o que foi negado pelo jovem, que teve que ficar de fora [...].”

(MARAVILHA, 2011c). Edneuton Sá trabalhou por mais de 10 anos na diretoria citada,

17 Lembramos que a Secretaria de Cultura não é nova no município. Ela já existiu no governo de José Leite,

época da inauguração do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, mas logo depois voltou a ser Diretoria.

45

coordenando inclusive o São João do município. O Jornal Lampião, no entanto, credita a saída

de Ivomar nessa ocasião à falta de condições adequadas de trabalho.

Ivomar Gitânio e Julieta Araújo deixaram a Secretaria Municipal de Cultura,

cada alegando seu motivo particular (o principal motivo não foi dito, a falta

de condições para trabalhar nossa cultura). Riana Oliveira é a nova secretária,

que vai enfrentar os mesmos problemas, recursos. Esperamos que não.

(NOVA, 2011)

Em 2012, no final do último governo, a Secretaria de Cultura voltou a ser Diretoria de

Cultura, vinculada à pasta de Educação.

[...] isso tudo foi no final do governo passado, em outubro, a prefeitura

precisava cortar gastos e fechar o ano, funcionários foram demitidos, a

secretária virou diretoria e no imaginário isso é algo muito ruim, no nível

institucional, pois no nível de atividade tudo continuou da mesma forma.

(PEREIRA, 2013)

Decorrem da fala duas considerações analíticas. Primeiro, o fato denunciado diz sobre como a

prefeitura enxerga a cultura como acessório: se é necessário cortar custos, que seja desse setor.

A outra questão refere-se à declaração final, que diz que, em relação à execução de atividades,

não existiu diferença no município entre uma diretoria e uma secretaria, dado este que foi

evidenciado nas entrevistas com os artistas. A Secretaria de Cultura, um órgão supostamente

autônomo, não disponibilizou mais dinheiro ou realizou mais atividades que a diretoria

vinculada à Secretaria de Educação. Formada atualmente por uma equipe de oito pessoas –

dois diretores, dois assistentes, três auxiliares de serviços gerais e um office boy, além do

secretário – a secretaria encontra dificuldade de atender as demandas e de planejar ações.

Antes da efetiva criação da Secretaria de Cultura, foi criado em 2009 o Conselho Municipal de

Cultura (CMC), a partir da movimentação da classe artística. Em 2005, a prefeitura lançou

uma Lei Municipal de Cultura, em que nenhum artista foi consultado na elaboração. Algumas

falhas estavam evidentes: pela lei, o presidente nato do CMC seria o diretor municipal de

cultura e a sociedade civil estava mal representada em sua composição. Nando Lemos afirma

que esta era uma cópia da Lei Rouanet, então a sociedade civil estaria representada por grupos

que não existem em Bonfim, como, por exemplo, orquestra, ópera e cinema. Os artistas

ocupariam apenas cinco ou seis cadeiras, de linguagens existentes na cidade, o que

impossibilitaria que fossem ouvidos, pela pequena representatividade. Diante disso, a classe se

organizou, com grande liderança do Núcleo Aroeira de Arte nesse processo, e elaborou uma

nova lei, uma proposta de política pública para Senhor do Bonfim.

46

A Lei Municipal nº 1137/2009 (ANEXO B), resultado do trabalho dos artistas e aprovada pela

Câmara Municipal, dispõe, nos cinco capítulos em que está dividida, sobre o Sistema

Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim, o Conselho Municipal de Cultura, o Fundo

Municipal de Cultura, programa de Incentivo a Projetos Culturais e Comissão de Avaliação

dos Projetos Culturais. Com a nova lei, o Conselho Municipal de Cultura passaria a ter

atribuições normativas, deliberativas, consultivas e fiscalizadoras, com participação paritária

do poder público e da sociedade civil. O poder público tem direito a onze cadeiras: o gestor do

órgão municipal de cultura; dois vereadores, representando as bancadas de maioria e minoria

na Câmara; um representante das secretarias municipais de Educação, Administração, Meio

Ambiente, Ação Social, Integração, Infraestrutura, Finanças e de Indústria, Comércio e

Turismo. O segmento empresarial tem direito a uma cadeira, assim como os sindicatos de

trabalhadores. As duas universidades públicas da cidade, Universidade do Estado da Bahia

(Uneb) e Universidade Federal do Vale do Francisco (Univasf), têm direito a um

representante, cada uma, no Conselho. O segmento cultural também tem direito a onze

representantes: um da Academia de Ciências, Letras e Artes de Senhor do Bonfim (Aclasb) e

os demais das áreas artísticas e culturais atuantes na cidade – artes cênicas, dança, artes

visuais, artes audiovisuais, cultura popular, literatura, música, patrimônio cultural, indígena e

quilombola. Merece destaque a inclusão dos segmentos indígena e quilombola, pretendendo

dar voz a grupos que fazem parte da formação do município e que só costumam ter destaque

no São João, ficando suas apresentações restritas a horários menos nobres.

Nando Lemos esteve à frente desse processo, de elaboração da nova lei, e acabou sendo eleito

presidente do CMC. Ele aponta a dificuldade de articulação como o primeiro problema

enfrentado. Enquanto os representantes do poder público eram liberados dos seus trabalhos

para participarem das reuniões, a realidade do artista do interior é diferente, pois muitas vezes

tem que conciliar o trabalho artístico com outras profissões, o que os impedia de participar. A

sua gestão, de dois anos, conforme previsto na lei, encerrou sem a diretoria completa ter

conseguido se reunir ao menos uma vez. Nando era o único representante da sociedade civil a

participar da diretoria, é válido ressaltar. Ele afirma que muitas reuniões do Conselho foram

realizadas, mas não atendendo a regularidade mensal prevista na legislação. Após este

mandato, o conselho se desfez e nunca foi convocada uma nova formação. A inoperância do

órgão pode ser definida por suas palavras:

47

Meu medo era que o conselho existisse só pra beneficiar o poder público,

porque muitos recursos a gente sabe que precisa do Conselho... Então o

Conselho acabou se tornando o órgão que o poder público queria, existente e

não atuante, no sentido de cobrar. (LEMOS, 2013).

De fato, a atuação do órgão não foi efetiva, assim como o funcionamento da Lei da Cultura

não foi executado sob nenhum aspecto. Segundo Carla Lidiane, a própria estrutura do

Conselho Municipal de Cultura impede a sua vigência. A única reunião em que todos os

conselheiros estiveram presentes foi a reunião de posse. O número excessivo de conselheiros,

26 no total, 13 do poder público, se formou porque no momento de criação todos os

segmentos queriam estar representados. Carla afirma que, desde que acompanha a atuação do

CMC, “nunca houve uma reunião com mais de seis pessoas”. Partindo da análise de outros

modelos, a gestora acredita que, para diminuir a evasão, um número em torno de dez

conselheiros seria ideal. Para tanto, se faz necessária a criação de colegiados para as artes, que

passariam as demandas para o único representante das linguagens artísticas no órgão

consultivo. Hoje, cada linguagem tem seu representante no CMC. O objetivo da nova gestão é

alterar a lei que cria o conselho, diminuindo a quantidade de pessoas e sugerindo a criação dos

colegiados setoriais. Depois de discutida publicamente, a proposta deverá seguir para a

Câmara de Vereadores. O fórum de Culturas Populares e Identitárias já foi criado e, inclusive,

realizou em julho um debate público, para levar propostas à Conferência Municipal de Cultura

de 2013. O secretário de cultura, Ary Urbano, sinalizou a pretensão em reativar o CMC,

mesmo que tenha confundido os papeis do órgão com o do Sistema Municipal de Cultura,

num ato falho que pode demonstrar a falta de atenção às políticas que estão sendo

desenvolvidas.

Nós vamos ter que elaborar isso até o final de junho, porque a gente precisa

formar esse Sistema Municipal de Cultura, porque na verdade ele já existe,

mas a gente precisa reativar com outras pessoas, outros membros, tanto da

sociedade civil quanto das pessoas que participam da questão cultural de

Senhor do Bonfim. (URBANO, 2013).

O comerciante Arinaldo Urbano Costa, Ary Urbano, assume a Secretaria de Cultura em 2013,

com a eleição no ano anterior de um novo prefeito em Senhor do Bonfim, Dr. Correia (PTN).

Ary havia concorrido como vereador nas eleições de 2012 pelo mesmo partido do atual

prefeito, tendo ficado como suplente. Lembramos que Prefeitura Municipal foi liderada por 12

anos – de 2001 a 2012 – pelo Partido dos Trabalhadores (PT), então 2013 marca a renovação

política local, com a eleição de um prefeito do Partido Trabalhista Nacional (PTN). Um dia

48

após assumir a nova secretaria, a equipe lançou uma página institucional no Facebook, a fim

de desenvolver a cidadania virtual dos diversos segmentos culturais atuantes no município,

conforme descrito na rede social. Segundo Pereira (2013), a página serve “pra divulgar as

ações, pra conversar com as pessoas, pra ouvir um pouco mais, um mecanismo de escuta para

que o secretário pudesse pensar em algumas propostas”. De imediato, são apresentadas

também a nova identidade visual e conceito da Secult Bonfim, como passa a ser representada

a sigla. A cultura é entendida em “suas mais variadas definições científicas, sociais, filosóficas

e antropológicas, como toda produção dos diversos aspectos simbólicos de uma sociedade e

seus respectivos potenciais econômicos e sociais”, definição influenciada pelo que vem sendo

proposto nacionalmente. Nota-se, no entanto, que o conceito surge como um objetivo a

conquistar, sem que metas tenham sido traçadas para o alcance. Como Carla Lidiane coloca, a

secretaria ainda não conseguiu trabalhar em cima dele. A equipe reduzida e mal qualificada,

além da inexistência de planejamento estratégico, impedem a ação do órgão de cultura, pois,

“quando você tem duas diretorias e quatro assistentes, você acaba inviabilizando a realização

de qualquer coisa” (PEREIRA, 2013). Não há perspectiva de contratação de profissionais

qualificados na área cultural, mas a atual equipe deve ser qualificada internamente no segundo

semestre de 2013. O “segundo semestre” constantemente foi apontado nas entrevistas com os

gestores da Secult Bonfim como o período em que serão atendidas as principais demandas.

Isso porque as atividades são atropeladas pela urgência do São João, realizado no mês de

junho.

Em março que a secretaria sentou pra pensar as suas próprias diretrizes,

quem é o órgão, sua missão e sua visão. Mas isso ainda não foi internalizado.

Até porque isso foi atropelado pela urgência do São João que, mais uma vez,

parece que briga o tempo inteiro, enquanto evento, enquanto permanência

dentro da realização da secretaria. (PEREIRA, 2013)

A Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), em conjunto com Fundação Nacional das

Artes (Funarte), realizou no mês de junho em Senhor do Bonfim uma oficina de Confecção de

Figurino para Dança, ministrada por Rino Carvalho, vencedor do Prêmio Braskem de Teatro

2012 pelo figurino criado para o musical Amor Barato (COUTINHO, 2013). Mesmo diante da

importância da atividade formativa, a produção do São João impediu que a secretaria a

divulgasse de modo mais intensivo (PEREIRA, 2013).

Ainda dentro desse contexto de prioridade da festa junina, a elaboração do Plano Municipal de

Cultura e institucionalização do Sistema Municipal de Cultura não avançaram. O Fundo

49

Municipal de Cultura existe desde a última gestão, no entanto, o decreto de criação diz que é

necessário que o município estipule um valor de investimento nas atividades culturais, sem

determinar qual é esse valor. Por conta dessa “falha”, o único recurso depositado em conta até

hoje refere-se à arrecadação do único projeto permanente realizado pela gestão anterior de

cultura, o Cine Bonfim, no valor de cerca de R$ 1.300. Hoje a Secretaria de Cultura não possui

orçamento específico, tem apenas uma dotação orçamentária utilizada no São João, em torno

de 1 milhão e 400 mil. Com a adesão do município ao Sistema Nacional de Cultura, essa

realidade deve mudar, pois é necessário que o prefeito institua um percentual mínimo a ser

destinado à cultura. Carla Lidiane está confiante nessa meta, mas vê a capacitação da equipe

como necessária para que o recurso possa ser gerido da maneira adequada. “Isso é ótimo

porque significa que em 2014 parte dos nossos problemas irão se resolver, se a gente tiver

uma gestão que consiga lidar com esse recurso, que é uma preocupação agora capacitar a

equipe pra lidar com o recurso” (PEREIRA, 2013).

Os dados apontados por Carla Lidiane, que dizem sobre o privilégio do São João, são

reforçados pelos artistas bonfinenses, insatisfeitos com o investimento maciço da prefeitura na

festa junina, em detrimento das demais atividades culturais. A festa realizada no município há

mais de 100 anos é considerada uma das melhores da Bahia, ao lado daquelas organizadas nas

cidades de Cruz das Almas e Amargosa. Senhor do Bonfim recebe inclusive o título de

Capital Baiana do Forró, por conta da representatividade e manutenção das características

tradicionais dos festejos, como apresentações de sanfoneiros e quadrilhas, desfile de carroças,

baile com banda de pífanos18

, além de incorporação de outros elementos, como o samba de

lata19

e o show de espadas20

. Dividem espaço com essas manifestações populares as

apresentações das chamadas “atrações de peso”, bandas de forró reconhecidas, seja no estilo

pé de serra21

ou eletrônico. A partir de 1967, a festa que tinha como característica a

organização coletiva, de caráter familiar, passou a ser organizada pela prefeitura. (SANTOS,

198?). Inicialmente com duração de 30 dias, o São João foi se transformando, chegando a ter

ainda 15 dias de festa na década de 2000 e vendo esse número ser reduzido até o contexto

atual, de quatro dias de programação oficial. Durante o período junino, Senhor do Bonfim

18

Conjunto instrumental de percussão e sopro. Pífano é um instrumento semelhante à flauta. 19

Manifestação cultural que tem como principal representante a comunidade quilombola de Tijuaçu, criada em

1750 e hoje distrito de Senhor do Bonfim. Em busca de reservas de água, tendo a lata como repositório, os

habitantes da localidade transformaram a adversidade em diversão, criando o samba de lata. 20

Tradicional manifestação que consiste no lançamento de espadas, fogos de artifício fabricado artesanalmente. 21

Forma mais tradicional do gênero.

50

atrai de 50 a 100 mil turistas. A criação da festa privada Forró do Sfrega22

, no ano de 2000,

contribuiu para o aumento de visitantes.

O orçamento do São João nos últimos anos variou entre R$ 850 mil a R$ 1 milhão. A

prefeitura divide os custos com o governo estadual, federal e patrocinadores diversos. Em

2010, por exemplo, o Ministério do Turismo destinou R$ 239 mil para a festa do município e,

em 2012, R$ 300 mil. Nesse último ano, recebeu ainda R$ 100 mil da Empresa de Turismo da

Bahia (Bahiatursa) e destinou R$ 869 mil para a contratação das atrações. Na ocasião, o

prefeito Paulo Machado foi questionado pelo Ministério Público por conta do gasto excessivo,

visto que Senhor do Bonfim enfrentava graves consequências da seca que atingiu o Nordeste e

a prefeitura liberou mais recursos para a festa junina (R$ 965 mil) que para o combate aos

prejuízos decorrentes da falta de água (R$ 114 mil). Em 2013, com a continuação do período

de estiagem, o orçamento do São João diminuiu em 50%, contando ainda com o patrocínio da

Nova Schin, Petrobras, Sebrae, Bradesco, Trident e 51.

Identificamos que, mesmo no São João, a prefeitura não realiza um trabalho de valorização

dos artistas bonfinenses, priorizando o pagamento das bandas que se apresentam na festa, em

detrimento das manifestações populares do município, que já chegaram a ficar cinco meses

sem receber o cachê combinado. O Conselho Municipal de Cultura, em uma das únicas ações

efetivas, criou um regimento para nortear o São João, que, a princípio, foi elogiado pelo então

prefeito, Paulo Machado (PT), mas não foi posto em prática. Nele, os artistas, com

protagonismo do Núcleo Aroeira de Arte, esquematizaram um modelo de apresentações que

incluísse o maior número de grupos bonfinenses na programação do São João. Nando Lemos,

assim como Benedito Oliveira, afirma que é corriqueiro que um grupo receba de 15 a 20 mil

por uma apresentação teatral, quando esse recurso poderia ser dividido por quatro ou cinco

grupos, para realização de apresentações diversas. A valorização dos artistas locais é bastante

considerada no regimento. Músicos que tocam no São João demonstraram insatisfação com o

planejamento da festa, que destina a eles horários de pouca visibilidade, em que não há

público para assisti-los. Benedito Oliveira afirma que é necessária a abertura de editais

22

Com dois ou três dias de duração, a depender do ano, o evento privilegia a contratação de artistas de ritmos

como pagode, arrocha, axé e sertanejo, além do forró. Sua estrutura é elogiada pelo público, que comparece à

festa atraído principalmente pela oferta de bebida gratuita e atrações diversificadas. Em 2013, os preços dos

ingressos variaram de R$ 273 (pista) a R$ 1.258 (camarote).

51

públicos para que os grupos concorram às apresentações dos festejos, numa busca por mais

transparência e qualidade.

O São João de 2013 recebeu críticas de diversos segmentos de Senhor do Bonfim, seja em

relação à infraestrutura, atrações contratadas, logística ou decoração. O Núcleo Aroeira de

Arte divulgou uma carta (ANEXO C) para a imprensa em que critica a organização da festa,

indicando que as tradições juninas não foram preservadas. O antigo prefeito, Paulo Machado,

teve a mesma iniciativa, questionando também aspectos referentes à gestão (ANEXO D).

Muitas das críticas recaíram sobre a Secult Bonfim, responsável pela organização do palco e

atrações.

Apesar da notável descontinuidade dos gestores municipais de cultura ao longo dos anos,

conforme apontado, a fase de transição entre a gestão anterior e a atual, em 2012, foi positiva,

segundo Carla Lidiane. O Cine Bonfim, principal projeto do governo precedente, foi acolhido

pela nova secretaria, que deve reativá-lo em breve. O projeto consistia em apresentar

semanalmente filmes ao público mediante o pagamento opcional de ingresso no valor de 2

reais. A sessão trazia a cada quinta-feira um filme comercial, muitas vezes voltado ao público

infantil. A falta de expressividade da programação somada a curta divulgação muitas vezes

esvaziaram o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, onde os filmes eram exibidos. O desafio

hoje consiste na regularização jurídica do evento. No período anterior, o Centro Cultural

funcionava como uma sala de exibição não oficial, apresentando filmes de várias

programadoras sem licença.

A principal ação executada pelo novo governo foi o Programa de Cadastramento Cultural

Bonfinense, iniciativa que visa o mapeamento dos envolvidos com a cultura no município,

sejam artistas, artesões, agentes, produtores, gestores ou pesquisadores. Foi realizada uma

audiência no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho para apresentar o programa, ouvir a

opinião do público e colher suas contribuições. É válido destacar que o mapeamento tem o

potencial de se tornar fonte para o planejamento de políticas culturais públicas, consideradas

inexistentes até o momento na cidade, e contribuir para a elaboração de um Plano Municipal

de Cultura. Artistas afirmam, no entanto, que iniciativas como essa já foram feitas por antigos

gestores, que não executaram nenhuma ação após o cadastro. Os entrevistados não

participaram dessa nova etapa, por não acreditarem em resultados a partir do programa.

52

No geral, os artistas têm baixas expectativas em relação à nova gestão da Secretaria Municipal

de Cultura. Muitos estão insatisfeitos com o início da atuação do órgão. O resultado tem sido o

afastamento desse público, que não tem participado das tentativas de diálogo propostas pelo

governo. Diversos relatos sobre a descontinuidade da prefeitura em torno das ações, a partir de

motivação político-partidária, foram narrados pelos artistas. O fato de a classe artística ter

apoiado nas últimas eleições outro candidato, ligado ao Partido dos Trabalhadores (PT), é tida

como o motivo para sanções verificadas no campo da cultura. Não podemos deixar de relatar

alguns desses casos, ainda que preservando os nomes dos artistas que fizeram as denúncias,

quando necessário. Fulano (2013) afirma que seu grupo foi tratado de forma desrespeitosa no

São João. Uma apresentação já realizada tradicionalmente na festa foi retirada da programação

sem que um diálogo fosse estabelecido. De um modo geral, acredita que

Infelizmente no interior quem domina é o partido político, o que tinha que se

sobressair que é a cultura, ninguém está preocupado. Eles se preocupam em

saber em quem você votou e se você merece ter atenção ou não. Qualidade é

o que menos conta. [...] Não existe uma preocupação com os artistas locais,

com a qualidade dos trabalhos que eles oferecem. Os artistas que tem que tá

procurando eles, pedindo ajuda para as coisas. Os gestores não procuram os

artistas pra nada, pelo contrário. (FULANO, 2013)

Outro artista relata que a troca completa dos funcionários do Programa Mais Educação nas

escolas municipais teve motivação partidária. O programa federal inclui nas escolas públicas

atividades complementares sobre meio ambiente, esporte e lazer, direitos humanos, cultura e

artes, cultura digital, prevenção e promoção da saúde, educomunicação, educação científica e

educação econômica (BRASIL, 2013). Sicrano (2013) disse que, após ser solicitado, indicou a

uma funcionária da prefeitura um artista para ensinar aulas de dança em outro projeto

destinado à terceira idade. Ao entrar em contato com a responsável, o bailarino indicado foi

constrangido a responder se tinha votado no prefeito eleito e, quando respondeu

negativamente, foi dispensado. A mesma atitude teria sido praticada no momento de

contratação de artistas locais para o São João. Quando questionada se a questão partidária

influencia a ação da Secult Bonfim ou, especialmente, a contratação de artistas para festa,

Carla Lidiane diz que até então não registrou nenhuma ocorrência nesse sentido, mas que “a

ideia é que secretaria consiga mesmo se instituir pra que ela diminua essas coisas” (PEREIRA,

2013).

53

Notamos que a institucionalização de um órgão de cultura na cidade não foi acompanhada da

criação de uma política municipal de cultura ou mesmo do apoio aos atores culturais de

Senhor do Bonfim. Reginaldo Carvalho afirma que nos últimos anos, inclusive, a quantidade

de produções culturais diminuiu. Se a cidade já viveu numa efervescência cultural, a última

década teria sido a pior para a área, quando o “teatro em Bonfim teve seus anos de maior

amargura” (SILVA, 2013). Como primeiro motivo para a queda, Reginaldo Carvalho aponta a

falta de incentivo público para a manutenção de grupos. Reginaldo concorda que nunca foram

criadas políticas de cultura no município, que a prefeitura nunca investiu em cultura, mas que

a efervescência anterior poderia ser justificada pelo apoio concedido por outras instituições,

como os clubes recreativos. O artista compara que, enquanto nos anos 80 foi possível montar

no estádio municipal um espetáculo da Paixão de Cristo, entre 2002 e 2003 o artista não

conseguiu apoio da prefeitura para apresentar seu espetáculo, que havia estreado em Salvador,

no Teatro Vila Velha.

Então essa é a compreensão de que não se tem nenhuma responsabilidade

com o teatro na cidade, que o município não precisa se preocupar com esse

fomento. É um grande paradoxo o que aconteceu no cenário nacional e

estadual e o que aconteceu em Bonfim, falando em políticas públicas do

Partido dos Trabalhadores. (SILVA, 2013)

De fato, é curioso que o governo municipal não tenha se alinhado ao planejamento para a

cultura que seu partido realizou em nível estadual e federal. Em 2009, o Núcleo Aroeira de

Arte conta que apresentou à prefeitura um projeto para a Semana Santa, propondo a

apresentação do espetáculo da Paixão de Cristo, assim como feito na década de 80 por outro

grupo. Orçado em R$ 110 mil, o antigo prefeito – Paulo Machado – ofereceu R$ 15 mil para a

execução. Por entender que era inviável, o grupo se recusou e ofereceu a proposta em outra

região. Desde 2010 fazem a apresentação no território de identidade do Sisal, nas cidades de

Valente, Retirolândia e São Domingos, onde obtiveram apoio das prefeituras e comércio. Ao

dizer que “era só a prefeitura deixar de contratar um Aviões do Forró para patrocinar o projeto

da Paixão de Cristo”, Benedito Oliveira expressa mais uma vez que a área da cultura em

Bonfim fica restrita à organização do São João. É válido dizer que não há um sentimento de

desprestígio dos artistas em relação à festa, ninguém acredita que ela tem que deixar de existir,

pois todos entendem sua importância histórica, social, cultural e econômica. O que existe é o

desejo por regulamentação dos festejos, pela valorização dos artistas locais e, ao mesmo

tempo, pela descentralização dos recursos para outras atividades culturais.

54

Sabe-se que o contexto verificado em Senhor do Bonfim não é exclusivo, pois

[...] na agenda de desenvolvimento nacional, a cultura foi historicamente

concebida de forma unilateral enquanto uma “política de governo”, não tendo

sido formulada e pactuada pela sociedade civil, como deve ser uma “política

de Estado”. Esse fenômeno tem produzido inúmeros impactos para o campo

cultural, valendo destacar, entre eles, a descontinuidades dos programas e

ações culturais, assim como o descrédito na eficiência, efetividade e eficácia

das pastas de cultura no país. (LEITÃO, 2009, p. 43).

No entanto, verificamos inclusive a dificuldade em se conquistar uma “política de governo”

para a cultura em Senhor do Bonfim. Até o momento, por exemplo, não foi criado um plano

para o setor no atual governo. Para além do São João, as ações pontuais executadas voltam-se

apenas para a comemoração de datas simbólicas, como o aniversário da cidade, Sete de

Setembro, Dia da Mulher, Dia das Crianças etc. Na comemoração deste ano do aniversário de

emancipação do município, em 28 de maio, a programação noturna contou com apresentações

de bandas de pagode num dia e, no outro, realização da “noite gospel”. Nota-se que o

privilégio de uma religião em detrimento de outras vai contra a obrigatoriedade do Estado

laico, enquanto a promoção de um show de pagode que traz no repertório músicas ofensivas

descumpre a Lei Antibaixaria23

, vigente no estado.

Como esta pesquisa foi concluída pouco depois da realização da festa junina, é possível que a

pasta da cultura passe por mudanças. Ainda que tenhamos dados que indiquem a permanência

da falta de investimento no setor cultural ao longo deste governo, entendemos que não é

razoável avaliar a atuação da secretaria a partir dos sete primeiros meses de atividade.

23

A Lei 12.573/2012 proíbe que eventos públicos, financiados pelo governo, contratem artistas que em suas

músicas “desvalorizem, incentivem a violência ou exponham as mulheres à situação de constrangimento”.

Homossexuais também são mencionados como sujeitos de violência nas canções.

55

4. O CENTRO CULTURAL CECILIANO DE CARVALHO

4.1 O MAESTRO CECILIANO DE CARVALHO

Conforme Silva (1971), Ceciliano de Carvalho foi um músico, compositor, maestro, fotógrafo

e pintor bonfinense. Nascido em 13 de julho de 1882 e falecido em 15 de janeiro de 1950,

vitimado por câncer, é considerado o principal expoente das artes da história de Senhor do

Bonfim. Casou-se com Francisca Umbuzeiro Angelim, com quem viveu por 48 anos e teve 11

filhos, entre eles o poeta Omar Carvalho24

e a poetisa Oriana Carvalho.

Autodidata, tocava diversos instrumentos, inclusive os de percussão, compunha para bandas

de música e era professor de piano. Filho do comerciante e músico Severo Lopes de Carvalho,

um dos fundadores da primeira filarmônica de Senhor do Bonfim, a União Ceciliana, seu

nome foi fruto do entusiasmo paterno com a banda, que na época fazia sucesso na região.

Apesar de sua grande vocação ter sido a música, destacou-se também na fotografia, pintura e

reprodução em craião – lápis para desenho –, cujo ateliê “era um centro de atenção e

preferência de clientes de todas as partes até onde chegava a sua fama” (SILVA, 1971, p.

127). Seu acervo musical conhecido possui 101 peças: 31 dobrados, 18 marchas festivas e 5

fúnebres, 15 valsas e 8 hinos. Foi regente da banda criada por seu pai, que havia mudado o

nome para União e Recreio. Na época, era uma das mais aclamadas filarmônicas da Bahia e,

Ceciliano de Carvalho, considerado o maior conhecedor das regras musicais na teoria e na

prática, enquanto compositor, maestro e executor. Suas composições eram executadas pelas

bandas musicais do interior e da capital baiana. Além da filarmônica União e Recreio, regeu

por muitos anos a 28 de Setembro, de Juazeiro, e, na sua formação, a 21 de Setembro, de

Petrolina.

Em 1919, participou com a União e Recreio da recepção a Ruy Barbosa em Salvador e,

devido a seu destaque, foi convidado a permanecer na cidade para reger as bandas do Corpo

de Bombeiros e da Polícia, convite que recusou. Destacam-se na sua obra os dobrados

Lidador, Dever do Mestre e Veludinho, a marcha Julieta e a fúnebre Saudades do Cônego

24 Tem quatro livros de poesia e prosa publicados e participação em diversas antologias. Foi membro

da Aclasb, Academia Castro Alves de Letras de Salvador e da Casa do Poeta Brasileiro em Salvador

(Poebras). Sua obra está inscrita na Enciclopédia Brasileira, de Afrânio Coutinho. (FONSECA, 2000).

56

Hugo, além dos hinos da União e Recreio e Salutaris. Ainda segundo Silva (1971), seis meses

antes do seu falecimento, compôs a marcha fúnebre Descansa em Paz, expressamente para ser

executada em sua morte. Deixou-a devidamente instrumentada e a música composta

acompanhou seu funeral.

Dantas (2003), no livro Teoria e Leitura da Música para as Filarmônicas, cita alguns dos

principais compositores da Bahia e, entre eles, está Ceciliano de Carvalho, que foi apresentado

como uma figura espirituosa, de “gênio forte”, o que era comum entre os mestres da música.

Ele

[...] tinha status de autoridade, freqüentando [sic] os palanques e tribunas de

honra junto ao prefeito, o juiz, etc. Dava aulas de piano às senhoras da

sociedade. Certa vez quebrou uma batuta na cabeça de uma delas. Mesmo

sob súplicas da própria agredida, jamais voltou a lecionar depois desse

episódio. (DANTAS, 2003, p. 112).

Segundo Florisvaldo Queiroz de Carvalho, conhecido como Seu Meló25

, Ceciliano de

Carvalho “era um homem de muito respeito. Não ria pra ninguém. Numa ocasião, tinha um

circo aqui e inventaram de levar ele pro circo pro palhaço fazê-lo rir. Esse palhaço se

desmanchou e ele nem...” (informação oral).

Suas peças musicais, bem como um dos instrumentos que tocava e batuta26

encontram-se

numa seção exclusiva do Memorial Senhor do Bonfim. O acervo foi doado pela família do

músico à instituição. O material já esteve sob responsabilidade da Prefeitura Municipal, que o

manteve em situação precária, o que impulsionou a família a resgatar os documentos e

repassar para a Casinha Feliz. A falta de zelo com a memória do músico é apontada pelos

artistas entrevistados para a pesquisa. Santana (2013a) indica que

A maioria das pessoas até nem sabe quem era Ceciliano de Carvalho, que ele

era músico. [...] foi um dos grandes compositores da Bahia para filarmônicas.

Ele é conhecidíssimo em Salvador e tem gravações das músicas dele feitas

em todo Nordeste. Um CD do Quinteto Brasil, da Paraíba, tem um dobrado27

dele, Dever do mestre. [...] O dobrado Dever do mestre foi selecionado pela

Funarte e publicado numa edição que eles fizeram com várias partituras do

Brasil, entre o “repertório de ouro das bandas de música” da Funarte. E essa

música é do Ceciliano de Carvalho, bonfinense, compositor daqui, maestro,

que está mais reconhecido fora do que aqui mesmo na cidade.

25

Depoimento concedido em 22 de julho de 2013. 26

Vareta utilizada pelo maestro para reger orquestras, coros etc. 27

“Dobrado é um estilo musical típico de filarmônicas, originário da marcha e utilizado em desfiles. Existe o

dobrado tanto de desfile quanto o dobrado sinfônico, que é mais utilizado em apresentações paradas, em

concertos em praças, num centro cultural, num teatro” (SANTANA, 2013a).

57

O desconhecimento dos bonfinenses sobre a história do artista que dá nome ao Centro Cultural

também é pontuado pela gestora Carla Lidiane Pereira, que indica que isso não foi priorizado

pelas gestões. Pensando nessa questão, Carla Lidiane sugeriu a realização da Conferência

Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim na data de aniversário do músico, 13 de julho,

aproveitando o momento para fazer uma homenagem ao maestro.

A ideia de homenagear Ceciliano veio de umas das reuniões com os artistas

onde as pessoas desabafaram a injustiça do descaso do município com a

memória desse artista. Existia inclusive um museu com todo o acervo dele

doado pela família que estava sendo saqueado, a família retirou e agora está

na Casinha, mas nenhum governo posterior se preocupou. Aí a gente pensou

em trazer de volta a figura de Ceciliano pro Centro Cultural. (PEREIRA,

2013)

O fórum, no entanto, foi adiado duas vezes e acabou sendo realizado apenas no dia 2 de

agosto.

Como apontou Tenison Santana, o músico possui um reconhecimento significativo fora da

cidade. O Arquivo Histórico Musical de Salvador, vinculado à Fundação Gregório de Matos

(FGM), reúne alguns manuscritos musicais de Ceciliano de Carvalho: a música para banda

Polaca nº 3, as valsas Diana e Lormina, os dobrados Eduardo Britto e Lidador

(MANUSCRITOS, 2013). Sua principal composição, Dever do Mestre28

, encontra-se

disponível para download em um portal nacional, o Brasil Sonoro29

, e sua partitura foi lançada

no Projeto Fortalecimento Musical, da Secretaria de Cultura do Ceará (CEARÁ, 2011).

4.2 HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DO ESPAÇO CULTURAL

O Centro Cultural Ceciliano de Carvalho põe fim, num primeiro momento, às ansiedades dos

artistas bonfinenses em ter um edifício teatral. O século XX inteiro esteve permeado pelo

desejo de se ter uma casa de espetáculos, que acaba sendo este espaço cultural apenas no final

da década de 1980 (SILVA, 2008).

28

A composição pode ser ouvida em: <http://www.youtube.com/watch?v=zUyW-jXrQuI>. 29

Ver em: <http://portal.brasilsonoro.com/dever-do-mestre/> .

58

No início do século XX, Senhor do Bonfim ainda não possuía uma casa de espetáculos formal.

O primeiro cinema local, o Cinema Brasil, só havia funcionado por um mês, entre novembro e

dezembro de 1912. Os bonfinenses ansiavam por um teatro, que seria, segundo um jornal da

época, o “atestado vivo do nosso grau de civilização”. (THEATRO, 1912 apud SILVA, 2008,

p. 272). Por conta desta demanda, a prefeitura destinou no orçamento para 1913 recursos para

a construção do teatro, um valor que correspondia a 10% do dinheiro investido nas obras

públicas do município e 1% da despesa total prevista para aquele ano. Mas a casa de

espetáculos demorou quinze anos para ser concretizada, com a inauguração em 1927 do Cine-

teatro São José, que não conseguiu atender plenamente aos anseios da população – assim

como os cinemas anteriores, Cine Royal, Cine Confiança, Cine Bonfim, Cine Ideal e Cine

Popular.

Silva (2008) atesta que, nessa época, existia a crítica de que o cinema tinha ocupado o lugar

do teatro, linguagem que não estava sendo privilegiada no período. Havia uma hegemonia do

“cine” em detrimento do “teatro”. Havia a busca por um espaço com especificidades próprias

para a realização de espetáculos. As condições do Cine Confiança, por exemplo, impediam a

montagem de alguns gêneros, como o teatro de revista. A estrutura também era criticada:

Bonfim já merece o direito, o direito inegável, de uma casa de espetáculos na

altura do seu valor e da sua real importância. [...] não é possível suportar por

mais tempo uma ofensa tamanha ao nosso reconhecido bom gosto e à nossa

relativa civilização. Aquele pardieiro oco, estreitíssimo, sem declive, sem

arejamento, sem comodidade; cadeiras, umas de couro, pequenas que nos

unem aos espectadores como sardinhas em caixa [...] devem desaparecer

quanto antes porque não se equilibram com o brilho da nossa vida social [...].

(CENÁRIO, 1921 apud SILVA, 2008, p. 279).

Entre 1913 e 1942, a programação teatral de Senhor do Bonfim era variada e acontecia nos

cinemas e no Teatrinho do Edifício Municipal. Esse espaço era assim chamado por pertencer

ao Palácio Municipal, edifício da Câmara e Cadeia, hoje Prefeitura Municipal de Senhor do

Bonfim. O local para a instalação da Câmara e Cadeia foi escolhido em 1799, ano em que o

arraial passou à condição de vila, a Vila Nova da Rainha. No entanto, o edifício só foi

instalado no ano de 1856, num prédio com estilo colonial clássico, que permanece até hoje.

(SILVA, 1971).

59

Fotografia 6 - Antigo Palácio Municipal, atual Prefeitura de Senhor do Bonfim. Foto: Reprodução.

Silva (2008) aponta que a presença de espetáculos teatrais e cinematógrafo, apresentação de

reisados, exposições e outros eventos artísticos fizeram do Palácio Municipal, naquele

momento, uma espécie de centro cultural em Senhor do Bonfim.

Na década de 70, o desejo de uma casa de espetáculos ainda continuava na pauta de

necessidades dos bonfinenses. Em 1973, no aniversário de 88 anos do município, o jornal

Tribuna do Sertão publicou uma carta30

dos “Jovens de Bonfim” ao então governador Antônio

Carlos Magalhães em que reivindicavam a construção de um teatro, que poderia ser adaptado

no espaço do Colégio Teixeira de Freitas. No período, quem comandava a pasta de educação

no estado era um político natural de Campo Formoso, cidade vizinha a Senhor do Bonfim, o

que talvez tenha impulsionado os jovens a fazerem o pedido, dada a proximidade. Referindo-

se à cultura de forma elitista, como “cultivo” e “desenvolvimento da inteligência”, assim

como os documentos das épocas anteriores, a carta apresenta, ainda de modo mais evidente, a

necessidade de um palco para as artes em Senhor do Bonfim.

Em meados da década de 70 – entre 1974 e 1976, não é possível precisar – temos as primeiras

notícias sobre a criação do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, naquela época “um

esqueleto de concreto na saída para Campo Formoso, depois do Campo de Aviação”.

(FREITAS, 2013). A fim de contextualizar o período que vai da criação do projeto do Centro

30

Ver em SILVA, 2008, p. 293

60

Cultural aos dias atuais, constantemente os prefeitos31

da época serão mencionados.

Informações coletadas em entrevistas e documentos antigos indicam que o projeto do espaço

foi idealizado no governo de Miguel Abrão, conhecido como Miguelzinho, que esteve à frente

da prefeitura entre 1973 e 1976. A construção teria sido iniciada na gestão de Antônio

Carvalho, Antoninho, entre 1977 e 1982, e continuada por Cândido Augusto Martins (1983-

1988). A obra seria finalizada e entregue apenas no governo de José Leite (1989-1992), em

1989. Na gestão seguinte, de Jonas Costa (1993-1996), o Centro Cultural teria vivido sua

melhor fase, com apresentações constantes e participação de vários grupos locais ou de outras

cidades. Daí seguem-se os governos de Alberto Carvalho32

(1996), Cândido Augusto Martins

(1997-2000), Carlos Brasileiro (2001-2008) e Paulo Machado (2009-2012), que antecede a

atual gestão de Dr. Correia (2013).

Como se vê, passaram-se cerca de 15 anos do projeto do Centro Cultural Ceciliano de

Carvalho para sua inauguração, curiosamente, o mesmo período da construção do Cine-teatro

São José. Caco Muricy indica que o local permaneceu como um “elefante branco” por muito

tempo, mas, depois de concluída a obra, a inauguração não demorou. Jotacê Freitas recorda ter

colaborado para uma matéria do jornal Correio dos Sertões em que denunciava o abandono do

espaço e o fato da verba da cultura ter sido investida em outra instituição.

As fontes de pesquisa indicam que o espaço utilizado para o equipamento cultural era um

terreno baldio, não havia nenhuma funcionalidade anterior. Aquela região da cidade, já

indicada como próxima ao “Campo de Aviação”, era inabitada no período. O equipamento

está localizado na Avenida Antônio Carlos Magalhães (ACM), à beira da rodovia que dá

acesso às cidades de Antônio Gonçalves e Campo Formoso, local que passou a ser valorizado

a partir dos anos 2000, com a criação do Colégio Luís Eduardo Magalhães, Condomínio

Brisas do Monte, Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e oferta de

serviços como clínicas, bares, restaurantes etc.

31

A cronologia dos prefeitos de Senhor do Bonfim é traçada por MACHADO, 2007, p. 167. No entanto, essa

pesquisa faz uma revisão das datas apresentadas, a partir das informações sobre os anos em que foram realizadas

eleições municipais, a partir de 1970. A fonte de consulta foi o site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),

disponível em: < http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleitos-1945-1990/cronologia-das-eleicoes#32>. 32

Assumiu a prefeitura em março de 1996, após o suicídio de Jonas Costa, e permaneceu por nove meses, até a

nova eleição.

61

No mesmo ano de sua inauguração, grupos de artistas se mobilizaram para que o prédio do

antigo Cine-teatro fosse tombado e reaberto pela prefeitura. Um panfleto distribuído na cidade

pedia que o cinema funcionasse anexo ao novo espaço.

A cidade necessita de atividades culturais e um espaço como esse não pode

permanecer fechado, como ocorre até o momento, por incompetência e

insensatez de empresários e políticos. [...] O prédio do Cine Teatro, além de

sala de exibição de filmes, pode ser utilizado para apresentações de

espetáculos musicais e teatrais, conferências etc., funcionando como anexo

ao Centro Cultural, com subsídios da Secretaria de Cultura e indicação de

alguém competente e comprometido com a cultura da cidade, como

dirigente. (VAMOS, s/d apud SILVA, 2008, p. 294-195)

A notícia que corria na época dava como certa a transformação do local em um shopping

center, o que não aconteceu. Em seu lugar, o prédio foi arrendado para a Igreja Universal do

Reino de Deus.

O Centro Cultural Ceciliano de Carvalho foi inaugurado no dia 23 de novembro de 1989, às

20h, com um evento “lítero-musical” (ANEXO E). O momento antecedeu a realização da 1ª

Feira de Negócios de Senhor do Bonfim, que ocorreu entre os dias 24 e 26 daquele mês. Um

panfleto de divulgação da feira menciona a inauguração do Centro Cultural, como se aquele

evento desse continuidade à cerimônia de abertura. Realizada pela Prefeitura Municipal em

parceria com o Centro de Apoio Gerencial às Micro e Pequenas Empresas do Estado da Bahia

(Ceag-Ba), órgão vinculado à Secretaria Estadual de Indústria e Comércio, a Feira de

Negócios foi destinada à exposição de “micro, pequenas e médias empresas industriais dos

diversos setores da economia” (FEIRA, 1989, p. 2). Além da assessoria prestada às empresas,

foi divulgado que haveria “no local distribuição de brindes, shows, serviços de som,

lanchonete, bar e segurança” (FEIRA, 1989, p. 2). De imediato, verifica-se que mesmo no

nascimento do equipamento cultural, a cultura era vista como “acessório”. A alocação de um

evento de economia como primeira produção recebida no espaço indica que a preocupação

com o setor cultural era inexistente, já nesse primeiro momento.

Em entrevista, a secretária de cultura do período, Angélica Santana, não soube responder

questões mais pontuais sobre o equipamento: como se deu o financiamento para a construção,

programação inicial, como se deu a escolha do nome e qual o objetivo do espaço, entre outras.

Como a construção iniciou bem antes da sua atuação frente ao órgão, ela não esteve alinhada

com o planejamento do espaço cultural. No dia da inauguração, Angélica estava fora da

62

cidade, então soube apenas através de relatos o que houve na ocasião. No entanto, Caco

Muricy participou da inauguração e conta que, no dia da abertura, os artistas populares foram

barrados, “não puderam entrar no Centro por livre espontânea vontade, mas sim por livre

espontânea pressão”. (MURICY, 2013). Havia policiais na porta vetando a entrada dos

artistas, que fizeram uma manifestação e, assim, conseguiram acesso. Caco acredita que a

restrição ocorreu por conta da desvalorização que o poder público reservava aos artistas

populares, que não eram bem-vindos no espaço. Ele identifica o equipamento como um

“auditório”, já que “aquilo ali em momento nenhum foi pensado pro artista” (MURICY,

2013).

Angélica indica que a manifestação feita pelos artistas no dia da abertura foi motivada pela

busca de recursos e tinha caráter partidário.

Eles queriam recurso. Aconteceu na última etapa de minha estadia na

prefeitura33

. Eles queriam tomar conta do Centro Cultural. Achavam que o

recurso que vinha para o Centro deveria ser gerido pelos artistas, bem como

o próprio órgão. O prefeito não aceitou, até mesmo por causa de interesses

partidários, pois os artistas eram de esquerda e o prefeito de direita. Houve

uma repercussão, mas não deu em nada. (SANTANA, 2013b)

Na gestão do prefeito Jonas Costa, no início dos anos 90, o Centro Cultural teve o seu

momento de maior dinamismo cultural, inclusive sediando um festival regional de teatro, pela

Federação Baiana de Teatro Amador (FBTA), com participação de vários grupos do estado. O

grupo Mutarte34

, um dos protagonistas da mobilização na inauguração do espaço, teve um

papel de destaque no período, chegando a atuar como grupo residente. Caco aponta que, entre

1993 e 1995, as apresentações no Centro Cultural eram constantes, quase todo final de

semana. Esse apoio à cultura não foi sem propósito, funcionou como uma espécie de moeda

de troca, visto que o grupo Mutarte apoiou Jonas Costa nas eleições.

Nós trabalhamos com o grupo político de Jonas Costa, que deu o maior apoio

pra gente, e a gente caminhava junto com o poder público, nós éramos

33

A pedagoga atuou por apenas um ano e meio na Secretaria de Cultura do município, mas em gestões anteriores

já havia trabalhado no período junino. Ela é responsável pela inovação da decoração do São João e executou esse

trabalho por 12 anos. 34

Silva (2008) conta que o grupo Mutarte era o mais importante do período e atuava de modo transgressor. Nessa

época, antes mesmo de se falar em casamento civil igualitário no Brasil, o grupo apresentou um espetáculo

chamado O Casamento Trocado, em que o noivo era gay e a noiva era lésbica, declaradamente. Isso em praça

pública, no dia de maior fluxo de pessoas do São João, inclusive de idosos e de crianças – o dia 24 de junho, que

acontece tradicionalmente o desfile das carroças e o espetáculo conhecido como Casamento Matuto. No final dos

anos 80, o grupo apresentou ainda uma peça chamada O Cabaré da Debday, com cenas de nudismo. O Mutarte

encerrou as atividades no ano de 2005.

63

remunerados pelo poder público, as apresentações eram quase todas

gratuitas, nós levávamos as apresentações até a zona rural, fazíamos

apresentações nos bairros também. (MURICY, 2013)

É inegável que o apoio foi positivo para os artistas e população, que teve no período uma

programação cultural permanente. No entanto, o apoio ao Mutarte, inclusive financeiro, não

reverberou em outros grupos. Caco Muricy afirma que no período existiam muitos grupos em

atividade, como o Mandacaru, Sol Nascente e Trio de Quatro. O fato narrado demonstra o

caráter governamental da política desenvolvida.

Em 1997, na gestão de Cândido Augusto Martins (PFL), uma reforma na prefeitura de Senhor

do Bonfim fez com que o órgão passasse a funcionar no Centro Cultural, por

aproximadamente um ano (MURICY, 2013; SCHADE, 2013). Na época, foi sugerida a

transformação da prefeitura em centro cultural. O Mutarte havia feito essa sugestão de troca

de funções no governo de José Leite. A arquitetura do espaço, do século XIX, a localização

centralizada, a relação histórica com a cultura, como já foi mencionada nesse trabalho, além

do espaço livre ao redor, caso fosse necessário realizar adaptações, indicam que prédio seria

ideal para um equipamento de cultura. O grupo sugeriu a ideia, inclusive, de construção de um

teatro de arena na praça ao fundo, com capacidade para 100 ou 150 lugares. Sem dúvidas, tal

iniciativa viria fortalecer o teatro de rua, linguagem desenvolvida historicamente pelos artistas

bonfinenses. Na ocasião do uso do espaço pela prefeitura, mais uma vez os artistas

manifestaram sua insatisfação com o tratamento concedido pelo poder público à cultura:

De caras pintadas os artistas, poetas, músicos e cantores bonfinenses

promoveram passeata de protesto pela ocupação do Centro Cultural de nossa

cidade pela Prefeitura Municipal que ali instalou o seu arquivo morto

burocrático. Entidades culturais e artísticas da cidade querem de volta o

único espaço cultural da cidade (CULTURA, 1997, p. 3).

A estrutura original do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho é composta por um auditório,

foyer, sala de ensaio e bar. Desde a sua criação, o espaço não contava com sistema de som ou

iluminação cênica, o que indica mais uma vez que o equipamento não tinha a atividade

cultural como principal meta. Angélica afirmou que as poltronas do espaço eram as mesmas

do antigo Cine-teatro São José, que foram compradas e reformadas.

64

Fotografia 7 - Fachada do Centro Cultural. Foto: Adriana Santana

Em 2006, no governo do prefeito Carlos Brasileiro (PT), com Ricardo Bittencourt assumindo

a Diretoria de Cultura, uma reforma no Centro Cultural melhorou sua estrutura. O palco foi

ampliado, mudaram o forro do teto, o ar-condicionado foi instalado e a quantidade de cadeiras

aumentou, sendo que dessa vez foram compradas novas poltronas acolchoadas. A acústica do

espaço até então era inadequada, como aponta Oliveira (2013):

Desde quando começamos a nos apresentar no Centro Cultural, um dos

principais problemas que identifiquei foi a questão acústica, que era horrível,

e nós discutimos muito com o poder público. Eles não nos ouviam, então no

fim de todo espetáculo a gente falava para o público saber o que tava

acontecendo, questionava o poder público em público e a partir disso

veríamos qual decisão ia ser tomada. A gente discutia muito com Ricardo

[Bittencourt], falando muito dos problemas que tinha no Centro Cultural: não

tinha acústica, não tinha som e não tinha iluminação, e naquele período ainda

não tinha ar-condicionado. Então o calor era intenso, a acústica era ruim e

não tinha equipamentos. E já contava com a distância do espaço e tal... todo

esse problema. Então a gente pensou em várias estratégias: botar tecidos

pendurados no meio do auditório, pra ver se quebrava o som, pra ver se

melhorava a acústica... Quando eles fizeram uma reforma no Centro Cultural,

que mudaram o teto, mudaram o forro, já melhorou a acústica.

É notável que o Centro Cultural não foi projetado para ser um equipamento cultural e, seu

palco, para servir a apresentações cênicas. Serroni (2002 apud SILVA, 2008) indica que essa

realidade é comum aos edifícios teatrais brasileiros, que sofreram com equívocos técnicos em

sua construção, devido à confusão existente entre as noções de teatro e auditório – este que

necessita de menos equipamentos, dimensões e infraestrutura. A reforma citada foi a única

grande manutenção do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, depois foram feitos apenas

65

pequenos reparos. Foi empregado o valor de R$ 134.696,12 na reforma, proveniente do

programa Turismo no Brasil, do Ministério do Turismo (JUSBRASIL, 2006a). R$ 33.678,11

foi destinado ao pagamento da empresa responsável pela execução das obras, a LM

Construções Ltda, R$ 29.950,00 para a compra de cinco aparelhos de ar condicionado e R$

56.160,00 para a aquisição das cadeiras (JUSBRASIL, 2006b).

A sala principal do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho tem capacidade para 303 pessoas e

é climatizada. O palco italiano35

tem altura aproximada de 5 metros e tamanho de 6,63 x 4,02

m. O foyer tem espaço suficiente para realização de pequenos eventos, como lançamento de

livros e exposição de artes visuais, por exemplo. A área externa, destinada ao estacionamento,

também poderia ser utilizada para apresentações, pois é extensa e teria condições de

comportar um grande público. A montagem de um palco móvel para apresentações musicais

seria uma opção possível. O espaço dispõe ainda de alojamento com 10 camas para artistas de

outras cidades que se apresentam no local. Até a última gestão, uma sala funcionava como

infocentro, aberto à comunidade. Nesta gestão, o serviço ainda não está aberto integralmente,

por falta de um técnico para a função. No entanto, a Secult Bonfim disponibiliza a sala

através de agendamento prévio.

Fotografia 8 - Foyer do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. Foto: Adriana Santana.

A estrutura do local hoje é melhor definida por Schade (2013):

Antigamente, na parte de baixo do auditório, tinha um bar, que na verdade

era pra ser um espaço de convivência pra artistas, que nunca funcionou. Era

35

Caracterizado pela disposição frontal da plateia ao palco. O palco é retangular e fica em um nível elevado,

separado da plateia numa distância maior que o palco de arena (SOLER; KOWALTOWSKI; PINA, 2005).

66

um espaço enorme, que depois foi dividido em várias salas. Se não me

engano, funcionou ainda como restaurante/lanchonete por semanas, não

durou muito tempo, porque não tinha movimento, até por ser um local

afastado do roteiro de todo mundo. Durante os eventos culturais não

funcionava, porque não tinha ninguém à frente, talvez se funcionasse poderia

gerar lucro, até porque o pessoal hoje vai vender pipoca durante os eventos.

Aí fecharam o espaço, dividiram em salas, criaram o infocentro (aberto à

comunidade), fizeram alojamento com camas para artistas que vem de fora se

hospedarem. [...] Tem ainda a sala da Secretaria, uma cozinha, banheiro,

salinha pro vigilante, dois camarins e, lá em cima, tem um espaço livre, sem

divisórias, chamado de sala de ensaio [...].

Nando Lemos lembra da abertura do bar citado, “que só funcionou por duas noites, porque

teve briga entre as pessoas que estavam coordenando”. (LEMOS, 2013).

Fotografia 9 - Área externa do estacionamento. Foto: Adriana Santana.

Hoje o Centro Cultural possui alguns equipamentos técnicos36

, como mesa de iluminação,

caixas acústicas, mesa de áudio, microfones, amplificador, equalizador, gravador etc.

Disponibiliza também projetor, tela e reprodutor de DVD para exibições de cinema. Através

dos depoimentos dos artistas e, comparando com outros espaços culturais37

, nota-se que a

quantidade de equipamentos é insuficiente para a realização de uma produção.

Mesmo com a reforma realizada, ainda permanecem equívocos no espaço, conforme indica

Oliveira (2013):

Compraram alguns equipamentos de iluminação e som, mas não tinha mesa

de luz e não tinha cabos para ligar a mesa de luz aos equipamentos de luz. E

36

Ver a lista completa no Regimento Interno do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho (ANEXO F) 37

Comparação realizada entre os espaços culturais gerenciados pela Secult-Ba. Tomamos como exemplo

principal o rider técnico do Centro de Cultura João Gilberto, de Juazeiro, uma vez que a capacidade de público se

aproxima com aquela do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho (ANEXO G)

67

até hoje está parado. Muitos dos refletores, dos canhões desapareceram.

Tinha mais de 40 canhões lá e aos poucos sumia e ninguém sabia pra onde

estava indo aquele material. E nunca apareceu a mesa de luz e nunca

apareceram os cabos pra ligar esse equipamento. [...] Aumentaram o palco,

que ficou ruim, porque o palco ficou um pouco acima da visão de que está

sentado na frente. Já prejudicou ou pouco, os movimentos que você fizer de

solo já ficou [sic] difícil... A gente sempre quis que eles alongassem o palco,

porque num espetáculo de dança, por exemplo, o palco não cabe. Um

bailarino dá dois passos e já atravessou o espaço todo. E é um palco baixo

também, pra você fazer coisas mais altas. Os camarins também têm que ficar

mais próximos do palco [...].

Os camarins do espaço deveriam estar localizados onde funciona hoje a Secretaria Municipal

de Cultura. As salas ocupadas pelo órgão dão acesso direto ao palco do teatro. As coxias

possuem um espaço mínimo, desconfortável para os artistas que se apresentam, conforme

alguns indicaram durante as entrevistas.

A seguir, apresentamos alguns dados referentes à gestão do Centro Cultural Ceciliano de

Carvalho. Observamos que não existe uma política voltada para o espaço cultural, decorrente,

naturalmente, da inexistência de uma política cultural desenvolvida pela Secretaria Municipal

de Cultura. A análise da gestão do equipamento cultural, portanto, constantemente requer o

diagnóstico sobre o órgão municipal de cultura, o que vai sendo feito de modo paralelo.

A Secult Bonfim conta com oito funcionários, um responsável diretamente pelos

equipamentos culturais do município, a saber, o Centro Cultural e a Biblioteca Pública Profª

Zenáurea Terezinha Campos. Este funcionário é Antônio Lopes Filho, diretor de Arquivo,

Museus e Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico. Entende-se que sua função é

assumir a gestão dos espaços, mas, por conta da quantidade insuficiente de profissionais, bem

como ausência de documento que regule e direcione o funcionamento do órgão de cultura, o

diretor sofre de acúmulo de funções. Isso não é comum só a ele, mas a todos os servidores do

órgão, já que, como aponta Carla Lidiane Pereira, diretora de Atividades, Eventos e Políticas

Culturais, “no primeiro semestre todo mundo fez um pouco de tudo”. Hoje, portanto, não

existe um funcionário que trabalhe exclusivamente para o Centro Cultural Ceciliano de

Carvalho. Os objetivos, funções e funcionamento da Secult e do equipamento se confundem.

[...] ao tempo que você tem, por exemplo, um assistente que trabalha como

office [boy], ele também trabalha como operador de som e iluminação, então

pra realização de um evento é impossível que ele se divida em duas funções.

Assim como você tem o diretor de Patrimônio que, ao mesmo tempo, está

68

preocupado com a realização de um evento cultural no Centro Cultural, [...]

tem que trabalhar com a biblioteca e ainda tem que lidar com as questões de

ordem da casa, por exemplo, falta de material que não tem na estrutura do

prédio. (PEREIRA, 2013)

A secretaria tem como objetivo criar uma diretoria para gerenciar especificamente o Centro

Cultural Ceciliano de Carvalho. “[...] isso é importante porque aí o Centro ganha dinamismo,

o gestor não precisa se preocupar com outras pautas. A ideia é manter a secretaria aqui, manter

o espaço, mas ela conseguir ter duas equipes diferentes” (PEREIRA, 2013). A Secult conta em

sua estrutura apenas com as duas diretorias citadas, criadas na atual gestão, e nunca teve um

organograma. Nota-se que a divisão das diretorias é incoerente. Uma delas se propõe a

trabalhar com “políticas culturais”, “fomento” e “eventos”, três campos de atuação amplos e

em alguma medida divergentes, o que impede a execução de qualquer ação em qualquer das

três áreas. A segunda, de “Arquivo, Museus e Preservação do Patrimônio Histórico e

Artístico” prevê uma atuação mais centralizada, mas é incompreensível que ela exista numa

cidade que não possui arquivos e museus municipais. Ao mesmo tempo, atribuir à diretoria a

gestão dos espaços culturais limita o trabalho nos espaços à modalidade de manutenção física.

Soma-se a isso o fato da secretaria não contar com diretorias administrativa e técnica, o que

exige que essas funções sejam exercidas por “afinidade”. Esse é o caso do office boy, o único

da equipe que tem habilidade com equipamentos de sonorização e iluminação, e que acaba

trabalhando como técnico nos espetáculos que o Centro Cultural recebe, visto que não existe

alguém responsável por essa função. Inexiste também funcionários para o turno noturno,

quando a maioria dos eventos acontece. Atualmente, um funcionário fica responsável por abrir

o espaço antes da atividade e depois voltar para fechá-lo. Esse quadro é melhor do que o

enfrentado nas gestões anteriores, quando o artista tinha que solicitar a chave do equipamento

e cuidar de toda a administração, contando eventualmente com o auxílio do porteiro do prédio.

“No dia do espetáculo, não tinha ninguém pra dar suporte, a gente não sabia onde tava [sic] o

controle pra ligar o ar-condicionado, pra ligar a luz do lado de fora... Quem fazia isso era o

guarda, que não estava ali pra isso. Não tinha ninguém da secretaria [...]”. (OLIVEIRA, 2013).

A ação dos produtores que utilizam o espaço cultural é regulada por um regimento interno. Ao

concordar com seus termos, o produtor apresenta um ofício de solicitação de pauta, assina um

termo de responsabilidade quanto ao uso de equipamentos, paga a taxa devida e tem seu

evento agendado em uma agenda de papel, escrita a mão. A agenda daquele mês e meses

subsequentes é disposta no mural da Secult. Existe apenas uma cópia impressa do regimento e

69

o conteúdo não está disponibilizado online, o que pode impedir que os produtores tenham

acesso às normas. Os artistas entrevistados ainda não fizeram uso do espaço nesses primeiros

seis meses da atual gestão, portanto, não sabem informar se o documento é apresentado no

momento de solicitação de pauta.

Nota-se que o Regimento Interno do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho é uma reprodução

de instrumentos de gestão aplicados a outras realidades. Diversos indícios apontam para esta

constatação, mas, certamente o mais evidente, é a troca da cidade de Senhor do Bonfim por

outra em alguns trechos.

São atribuições e competências do Gestor Legislativo Cultural [...]

Apresentar, discutir e elaborar pareceres sobre projetos referentes à

produção, ao acesso aos bens culturais e à difusão das manifestações

culturais da cidade de Salvador (grifo nosso), através da Secretaria

Municipal de Cultura. (SENHOR DO BONFIM, 2013, p. 5-6).

A Lei Municipal de Incentivo à Cultura, ao Desporto, Preservação e

Manutenção do Patrimônio Histórico e Cultural do Município de Salvador

(grifo nosso), bem como outros mecanismos de gestão das políticas públicas

culturais constituem instrumentos do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho,

estando sujeitos às mesmas regulamentações. (SENHOR DO BONFIM,

2013, p. 13).

É evidente que o instrumento encontra-se inacabado, considerando erros como esse, itens com

sequência de numeração incorreta e frases incompletas, por exemplo. Mais grave que isso, no

entanto, é o fato de que o regimento: a) institui uma norma ideal, regulando condutas a partir

de dados irreais; b) regulamenta questões que não dizem respeito a um espaço cultural e c)

está deslocado com a realidade cultural de Senhor do Bonfim, no qual o erro do nome da

cidade em algumas passagens é apenas um indício.

Sobre o primeiro item, a partir das entrevistas com os gestores da Secult, verificamos que

dados informados pelo regimento não condizem com a realidade. A menção ao site da

secretaria – que deve ser criado, mas hoje é apenas um plano – é feita mais de uma vez,

indicando inclusive que a solicitação de pauta pode ser feita através da suposta página. O

documento aponta a necessidade de assinatura do “Termo de Compromisso de Uso” e do

“Termo de Permissão de Uso” – que aparecem com nomenclaturas diferentes, mas,

aparentemente, teriam a mesma função –, além do “Termo de Assunção de Responsabilidade

sobre a questão de direitos autorais”, quando, na verdade, o único documento assinado pelo

proponente hoje é o Regimento Interno e o “Termo de Responsabilidade para Utilização de

70

Equipamento”. Indica também que é obrigatório o pagamento da taxa de uso do espaço

através de um Documento de Arrecadação Municipal (DAM), fornecido pela Prefeitura

Municipal de Senhor do Bonfim, mas isso de fato não acontece. Por fim, seções inteiras do

Capítulo III – que versam sobre a avaliação das solicitações, critérios de julgamento e

processo de seleção – também são incoerentes, visto que as pautas agendadas não passam por

avaliação.

No item b), notamos que as finalidades atribuídas ao Centro Cultural são inatingíveis. Entre os

objetivos do espaço, estão “Estabelecer e implementar políticas de longo prazo” (SENHOR

DO BONFIM, 2013, p. 3), “divulgar e preservar o patrimônio cultural do Município”

(SENHOR DO BONFIM, 2013, p. 4) e

“Consolidar um sistema público municipal de gestão cultural, [...]

implantando novos instrumentos institucionais, como cadastro cultural do

município de Senhor do Bonfim, Fundo Municipal de Cultura (FMC), e

posterior elaboração de proposta anual do Centro Cultural Ceciliano de

Carvalho” (SENHOR DO BONFIM, 2013, p. 3).

É evidente que tais atribuições são pertinentes à Secretaria Municipal de Cultural, não ao

Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. O último trecho apontado indica inclusive que o

espaço cultural teria o dever de implementar o Fundo Municipal de Cultura (FMC), o que de

fato não faz sentido.

O item c), que aborda a falta de atenção do regulamento às realidades culturais de Senhor do

Bonfim, pode ser visto com o mais emblemático, por ir contra à noção vigente de que uma

política cultural deve atender às necessidades locais. O regimento indica que este equipamento

deve ser utilizado para atividades e apresentações culturais de interesse coletivo em dois

segmentos: Arte e Patrimônio Cultural. Chama atenção no primeiro segmento a inclusão de

itens como “Agente cultural” e “Produção cultural”, que não condizem com setores artísticos,

e do amplo termo “Artes Cênicas” para se referir às linguagens da Dança, Circo e Teatro, visto

que as artes já alcançaram reconhecimento setorial, que a cidade de Senhor do Bonfim tem sua

formação cultural ligada aos segmentos e, acima de tudo, que quase a totalidade das produções

culturais que compõem a programação do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho são de duas

dessas linguagens, a saber, Teatro e Dança. Dentro do segmento Patrimônio Cultural, é

incompreensível a presença de itens como “Arquivos, museus, salas de memória, centros

culturais e coleções particulares”, “Patrimônio material”, “Turismo”, “Jornalismo” e

71

“Movimentos sociais” – a realização de eventos sobre os tais áreas deve acontecer, mas não

ser ajustada como centro das atenções. A presença na lista de segmentos como “Culturas

ayahuasqueiras” – culturas tradicionais da Amazônia – e “Historiografia acreana” – acreana

enquanto gentílico de quem nasce no Acre mesmo – demonstram mais uma vez a falta de

atenção da equipe que elaborou o documento, visto que são linguagens que não condizem com

a cultura bonfinense. Por fim, a ausência de item específico para as manifestações populares

indígenas também pode ser vista como um equívoco, visto que a formação original da

população bonfinense se deu a partir da ocupação indígena e que essas manifestações ainda

são mantidas, mesmo sem apoio do poder público municipal.

O Centro Cultural Ceciliano de Carvalho funciona conforme o horário da Secult Bonfim, de

8h às 14h, de segunda a sexta-feira. Por serem órgãos interligados, os funcionários da Secult

participam do dia-a-dia do Centro, mas de forma desorganizada. Quando está sendo realizado

algum evento no auditório, os produtores se dirigem aos servidores para solicitar algo, ou

mesmo os participantes adentram o espaço do órgão para utilizar sanitários, por exemplo. Em

atividades realizadas a partir de 14h e nos finais de semana, os funcionários se revezam para

abrir e fechar o espaço, como já foi indicado.

As informações sobre preços de pauta estão afixadas no mural, assim como cartazes dos

espetáculos e agenda com dias das apresentações. As pautas (APÊNDICE A) variam de R$

160 a R$ 300 pelo uso do teatro por produtores externos; R$ 60 a R$ 150 pelo uso do teatro

por produtores locais; de R$ 20 a R$ 50 para uso da sala de reuniões; R$ 25 para a sala de

ensaio e R$ 50 para utilização do foyer. É prevista a isenção de taxa para o uso de qualquer

um dos espaços, desde que sejam realizadas ações formativas. Apesar de determinar os

valores, os funcionários da secretaria afirmam que ainda não cobraram por pautas de

produtores locais, apenas por atividades de outros municípios. A organização, portanto, não

está sendo seguida. Carla Lidiane indica inclusive um preço diferente para a reserva do teatro

por produtores externos, de R$ 120, ao invés do mínimo de R$ 160, conforme previsto.

A gente definiu o valor da pauta em 120 reais para atividades de fora.

Pensando nos valores cobrados em outros espaços pelo interior, que ficam

em torno de 300 reais, a gente viu que não se adequava a nossa realidade.

Para bonfinenses, pensamos em cobrar 60 reais e, se a atividade for gratuita

ou tiver outro beneficio cultural, a gente libera a pauta. Aí a pessoa não

aceita porque não sabe se vai conseguir pagar, se vai ter público, aí não tem

como você negar para uma pessoa e aceitar para outra, então a gente

72

praticamente não cobrou a pauta de nenhum bonfinense até hoje, só dos

[produtores] de fora (PEREIRA, 2013).

Os artistas alegam que a cobrança de pautas é incoerente, diante da precariedade das

condições físicas do espaço. Em outras gestões, houve a tentativa de cobrança, mas os artistas

se recusaram a pagar.

Teve uma época que se cobrava uma porcentagem da bilheteria para

manutenção do espaço, [...] mas é inviável, porque o próprio espaço não

disponibiliza uma qualidade pra cobrar isso. [...] Até porque se fosse pra

cobrar uma taxa em cima da bilheteria, quem teria que ficar na bilheteria

seria uma pessoa do grupo e uma pessoa de lá [da Secult]. Se meu grupo se

apresenta, por exemplo, com casa cheia, tem uma renda boa e depois eu [...]

falar que teve um faturamento menor, eles não têm como comprovar.

(SCHADE, 2013)

[...] a gente disse: “vocês não vão cobrar, porque vocês não estão oferecendo

nada. Vocês tem que reformar esse centro cultural, estruturar, pra poder

cobrar. Vocês vão cobrar o que aqui?”. Então a gente batia de frente com

eles: “não vai cobrar e pronto”. E entrava na discussão: “se vocês cobrarem,

a gente vai pra rádio38

” (risos). (OLIVEIRA, 2013)

Não cabe questionar qual a posição correta nesse caso – se a da prefeitura, que queria cobrar

para conseguir fazer manutenção do espaço, ou a do artista, que ao ser desassistido pelo poder

público, não acha justo pagar pelas pautas –, mas sim identificar o caráter de informalidade

com que as relações são travadas entre gestores e produtores.

Atualmente, apesar de cobrar pelo uso da sala de ensaio – ao menos instituir oficialmente essa

cobrança –, a Secretaria de Cultura a mantém em condições inapropriadas.

[...] tem um espaço livre, sem divisórias, chamado de sala de ensaio, mas não

tem condições nenhuma de ensaiar lá, porque só vive suja, empoeirada, com

material que a prefeitura não sabe onde botar e deixa lá. Qualquer coisa eles

guardam lá. Depois do São João, por exemplo, eles recolhem todo o material

e jogam lá, independentemente do que seja [...]. (SCHADE, 2013)

Não existe um espaço para ensaio, em todo teatro você vê uma sala de

ensaio, porque você tem que passar aquela coreografia antes pra saber se vai

dar certo. Lá tem um espaço, mas não é de ensaio, é como se fosse um salão

para reunião, uma coisa assim, o teto é baixo, então não tem condições de ter

ensaio. (MAGALHÃES, 2013)

Chegou um período que eles não queriam que a gente ensaiasse no palco, que

a gente ensaiasse lá em cima, numa sala desestruturada, caindo os pedaços do

gesso, dizendo que era a sala de ensaio, que não funciona. Aí a gente entrou

na discussão e disse que ia ensaiar no palco e pronto. (OLIVEIRA, 2013)

38

A menção demonstra a importância do rádio no município, inclusive como lugar de denúncia.

73

Nos meses que antecederam o São João, a sala de ensaio foi utilizada para a confecção do

material de decoração da festa. O palco do teatro também serviu a essa função, o que reduziu a

quantidade de atividades realizadas no espaço no mês de junho. Esses dados indicam que o

Centro Cultural Ceciliano de Carvalho é utilizado para as mais diversas atividades da

prefeitura, servindo muitas vezes como depósito de materiais em desuso, como foi colocado

na entrevista com Guegueu Schade.

Fotografia 10: Sala de ensaio no mês de julho, ainda com a decoração junina. Foto: Adriana Santana.

Analisando a tabela de marcação de pautas (APÊNDICE B) do Centro Cultural Ceciliano de

Carvalho, do período de janeiro a agosto de 201339

, verifica-se que o espaço é utilizado

predominantemente para eventos não culturais. Nesses oito meses, 77 dias tiveram reservas

agendadas. 26 dias (34%) foram agendados para atividades culturais, como espetáculos

teatrais, de dança ou fóruns para discutir o setor. Sete dias foram reservados para atividades

educativas (9%), como a Jornada Pedagógica da Secretaria de Educação e a Semana do Meio

Ambiente. Nos outros 44 dias (57%), foram realizadas atividades institucionais da prefeitura

ou particulares, como formaturas, encontros religiosos, eventos da Polícia Militar, de

sindicatos e empresas estatais, entre outras.

O regimento do equipamento cultural não limita a realização de eventos de interesse privado,

seja cobrando preços de pauta mais altos ou impedindo que sejam executados no final de

semana. O secretário, Ary Urbano, diz que é cobrada uma taxa única para todos, “porque se

fosse diferenciar ficaria complicado, eles não iam achar interessante, iriam questionar: ‘por

39

A tabela foi consultada em maio, portanto, é possível que algumas atividades tenham sido modificadas.

74

que fulano pagou tanto e a gente tanto?’. Então é melhor taxar igual para todos” (URBANO,

2013).

A constatação de que o Centro Cultural não funciona como um espaço de cultura é observada

pelos gestores do local, que desejam ver a situação modificada, mas ainda não estão atuando

para esse fim, como se a mudança fosse algo que não dependesse deles. De fato, realizar

mudanças não está sob alcance da secretaria, visto que ela não tem orçamento próprio. O São

João, mais uma vez, ocupa o centro de interesses.

Nós não temos um orçamento especifico, a gente tem uma dotação livre. No

PPA anterior, a dotação ficou em 1 milhão e 400 mil, para tudo e São João, e

o São João é mais de 1 milhão e 400 mil, então não há uma dotação para a

secretaria, há dotação para o São João (PEREIRA, 2013)

No âmbito da Comunicação, a gestão do Centro Cultural Ceciliano nunca construiu um modo

de se relacionar com seu público. O equipamento não possui identidade visual ou página

online, para que artistas ou público possam conhecer sua história e funcionamento. O espaço

também não faz registro do seu público frequentador. Como não existe a figura do bilheteiro,

ficando a venda de ingressos a cargo da produção do evento, a quantidade de pessoas que

circula no espaço não é registrada.

Notamos que os principais problemas de gestão enfrentados pelo Centro Cultural Ceciliano de

Carvalho são decorrentes de, ao menos, cinco fatores: a divisão do espaço com a Secretaria

Municipal de Cultura; a falta de funcionários; a inexistência de instrução normativa capaz de

regular a conduta, ao mesmo tempo, de servidores, produtores e público; a falta de orçamento

próprio para o espaço cultural e a precariedade da infraestrutura. Por conta da falta de

recursos, entendemos que algumas ações são mais difíceis de executar num primeiro

momento. No entanto, qualificar as ferramentas de gestão e apresentar uma programação

regular são ações mais imediatas que devem causar um impacto positivo, gerando receita para

a prefeitura e estimulando a produção local, podendo viabilizar futuramente ações macro.

75

4.3 AVALIAÇÃO DO ESPAÇO PELOS ATORES CULTURAIS DO MUNICÍPIO

Entre os dias 26 de maio e 22 de julho, foram feitas três viagens a Senhor do Bonfim para

realização da pesquisa de campo, cada uma com duração média de cinco dias. Além da busca

por documentos e livros sobre a história do município, foram realizadas catorze entrevistas,

onze com artistas locais e três com gestores culturais.

A questão “Como avalia o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho? Quais os principais pontos

positivos e negativos do espaço?” foi feita a todos os entrevistados. A partir dos dados

apresentados nas falas, traçamos abaixo uma análise global do espaço de cultura, dividida em

itens que se formam como consenso entre os relatos.

a) O Centro Cultural possui espaço suficiente para a realização de produções diversas

Constantemente, os entrevistados iniciaram a resposta indicando o potencial do equipamento

de cultura, “um dos melhores espaços do interior da Bahia” (SÉRGIO, 2013), “um dos

espaços culturais em termos de estrutura física melhores da região” (LEMOS, 2013). A

quantidade de lugares na plateia, 303 no total, é destacada pelos artistas. De fato, entre os 12

espaços culturais gerenciados pela Secult-Ba no interior do estado, apenas dois40

apresentam

capacidade muito superior a 300 pessoas na sala principal (ESPAÇOS, 2013). Alexandre

Magalhães e Cynthia Ramos ainda afirmam que o teatro tem espaço suficiente para adicionar

mais cadeiras, o que era feito nos espetáculos do Ballet Sacramentinas, para atender à

demanda do público e conseguir mais recursos de bilheteria. O bar, foyer e área externa do

Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, no entanto, não é utilizado para produções, apenas o

potencial da sala principal é explorado. Não há registros da utilização da área do

estacionamento para realização de eventos maiores, nem mesmo da produção de pequenos

eventos no foyer.

40

O Centro de Cultura ACM (Jequié), com capacidade para 515 pessoas, e o recém reformado Centro de Cultura

Amélio Amorim, em Feira de Santana, hoje com 490 lugares. Sete espaços possuem de 274 a 320 assentos na

sala principal, dois outros contam com capacidade para 360 e 380 pessoas. Já a Casa de Mutuípe não possui

teatro.

76

b) O espaço tem que assumir o protagonismo cultural

A principal demanda dos artistas é apresentada antes mesmo da questão avaliativa ser

sugerida. Um consenso se forma: é necessário coibir a prática de atividades que servem a

interesses particulares no espaço, aquelas que fogem do caráter artístico-cultural. Lemos

indica que “[...] nunca teve uma gestão voltada para o Centro Cultural enquanto espaço de

produção cultural. Acho que 80% das pautas eram cedidas para as igrejas, encontros,

aniversários, era usado mesmo como palanque”. Além do termo “palanque”, para indicar que

o espaço é utilizado em grande medida para ações institucionais da prefeitura, constantemente

são utilizadas as terminações “auditório” e “centro de convenções” para nomear o Centro

Cultural, evidenciando que este espaço abriga atividades de qualquer natureza, como acontece

nos tipos de equipamento citados. É emblemática a fala de Oliveira (2013), quando expressa

sua insatisfação ao afirmar que “o espaço do Centro Cultural nunca foi um espaço para a arte,

era um espaço pra tudo, e a arte entrava aí no meio”. Silva (2008, p. 295) indica que até pouco

tempo atrás “o seu palco servia como espaço para pagamento do funcionalismo público

municipal”. A própria gestora da Secult Bonfim corrobora ao avaliar o espaço “como um

centro de convenções que também funciona como centro de cultura”. (PEREIRA, 2013). Já

apresentamos o relatório de pautas agendadas no espaço, que comprova o uso do equipamento

para toda e qualquer atividade.

A gestão do centro não regula o uso do Centro Cultural e não é feita avaliação dos pedidos de

pauta, ainda que seu regimento interno determine isso. É importante evidenciar que essa

prática é mantida ao longo dos anos, desde a criação do equipamento cultural, não é algo

recente. Em 2011, por exemplo, a prefeitura realizou um leilão de carros no espaço cultural.

Essa atividade foi realizada durante um dia, mas o período de visitação dos veículos esteve

aberto durante uma semana (SENHOR DO BONFIM, 2011b). Diversos artistas denunciam

práticas de privilégio de pautas não culturais, em contraste com o que de fato deveria

acontecer: a valorização da programação cultural num espaço que deveria servir a esse fim. Os

relatos condizem às gestões anteriores da Secretaria de Cultura, visto que, até o mês de julho,

nenhum dos entrevistados havia realizado produção no equipamento. Os membros do Núcleo

Aroeira de Arte, Benedito Oliveira e Guegueu Schade, contam um caso em que uma

associação de taxistas ocupou o Centro Cultural num dia em que o grupo tinha pauta

agendada. Houve discussão e a equipe acabou não realizando o ensaio.

77

A gente tinha o ofício e mesmo assim eles não queriam sair, éramos 10

contra 50. Sempre acontecia isso, chegávamos lá com pauta marcada e tinha

igreja evangélica fazendo evento, por exemplo. Eles chegavam lá e se

alojavam, às vezes não marcavam pauta, ou solicitavam pro sábado, mas

levavam o material todo pra arrumar na sexta, sendo que sexta a pauta era

nossa. (SCHADE, 2013).

Outro membro do grupo Aroeira, Caco Muricy, apresenta histórias semelhantes.

Muitas vezes nós fomos vetados de apresentar no Centro Cultural, já

chegamos lá e tínhamos montado cenário, afinado luz, quando chegamos

para ensaiar, porque a apresentação seria no outro dia, eles tinham tirado

tudo, porque estava acontecendo um evento da Secretaria de Saúde. Por aí

você vê que não é pensado no artista, é pensado nos eventos deles [da

prefeitura], porque se fosse uma casa do artista, não fariam isso. No próprio

Colóquio [I Colóquio sobre História do Teatro no Piemonte Norte do

Itapicuru, organizado por Reginaldo Carvalho], a apresentação iria acontecer

às 20h, nós fomos ter acesso ao espaço 16h, porque cederam pra uma igreja...

A gente ainda tinha que montar iluminação, som, cenário... (MURICY, 2013)

O Ballet Sacrementinas, mesmo apresentando poucos espetáculos no ano – se formos

comparar com a atuação do Núcleo Aroeira, que em determinado momento chegou a se fixar

como grupo residente –, também já enfrentou os mesmos problemas.

Teria que existir um local apenas para as apresentações culturais na cidade,

pois muitas vezes quando tentamos marcar algo no Centro, já existem outros

eventos não relacionados à cultura marcados, como seminários de igreja, por

exemplo. [...] O espaço que deveria ser utilizado para um fim, termina tendo

outra utilidade. Uma vez desmarcaram um ensaio do nosso grupo, pois eles

utilizariam o Centro para uma reunião do MEC [Ministério da Educação]. A

cultura não é prioridade aqui [...]. (RAMOS, 2013)

Verifica-se, portanto, que esse ponto é o mais problemático. As falas indicam que o único

equipamento público de cultura no município não serve a esse fim. Carla aponta que a

transformação do Centro Cultural em “centro de convenções” se dá por duas razões, ligadas

ao contexto de Senhor do Bonfim. A cidade não possui outros auditórios com capacidade para

300 lugares, como é o caso do centro cultural. Isso faz com que as instituições que atuam no

município tenham que recorrer ao espaço para realizar suas atividades para o grande público.

É o caso da Univasf, por exemplo, que já solicitou o centro para realizar seminários

acadêmicos, ou mesmo a Uneb, que frequentemente realiza formaturas nas dependências do

equipamento. Esse também é um dado apontado por Giuliana Kauark, diretora de Espaços

Culturais da Secult-Ba, que afirma que isso também acontece nas cidades do interior onde

estão localizados os centros estaduais. Desse modo, o regulamento criado pela diretoria não

proíbe a realização de tais atividades de natureza não cultural, apenas limita sua execução

78

entre segunda e quarta-feira, e cobra preço diferenciado para essas pautas. (KAUARK, 2013).

Outro dado sobre Senhor do Bonfim que influencia a gestão do espaço cultural é a própria

dinâmica da cidade do interior, que funciona a partir de relações informais, onde o “contrato

verbal” funciona mais que o escrito ou, como diz Carla Lidiane, “as questões são muito

pessoais, então se você nega a uma instituição a pauta para uma formatura, ou algo assim,

pode parecer que a secretaria está negando a instituições importantes da região que poderiam

ser inclusive parceiras, aí fica muito complicado” (PEREIRA, 2013).

c) O espaço necessita de uma reforma

Artistas e gestores também concordam que o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho necessita

de uma reforma imediata. A última ocorreu em 2006 e, desde então, só foram realizados

pequenos reparos. Caco Muricy afirma que nenhuma manutenção foi feita pensando nos

artistas. Fato é que hoje não existem salas de camarim no fundo do palco, as salas anexas

servem ao funcionamento da Secretaria de Cultura. Já as cochias encontram-se em situação de

precariedade. Como afirma Oliveira (2013), “a cochia do teatro é terrível, é um negócio feito

de madeirite, a madeira toda estragada, não é seguro. É difícil pra você fazer as entradas [no

palco], não tem como, é tudo muito apertado e fica tudo muito largado e sujo”. Alexandre

Magalhães aponta que isso é prejudicial, tendo em vista principalmente que o Ballet

Sacramentinas é composto parcialmente por um público infantil. “Nas cochias, onde o público

não vê, têm madeiras penduradas... temos que ir antes para amarrar as madeiras, para as

crianças não se baterem, não se furarem.” (MAGALHÃES, 2013). Diversas poltronas também

estão quebradas e o forro do teto deteriorado. O palco do teatro é o principal alvo das críticas.

Por conta da falta de acompanhamento das atividades, os produtores dos eventos que

acontecem no espaço têm liberdade de atuação, utilizando muitas vezes materiais que

danificam o palco, como grampos e pregos. Os atores e dançarinos são os principais

prejudicados, pois são quem dependem do palco para ensaios e apresentações. “A gente que é

bailarino sempre tem que tá saltando, andando, pulando, rolando no chão... [e o que

encontramos] é grampo solto, é madeira fofa, buraco...” (MAGALHÃES, 2013). Oliveira

(2013) diz ter presenciado pequenos acidentes por conta desses usos indevidos. “O ator tá

fazendo um exercício, rola pelo chão e se arranha. A madeira fica toda estragada e já houve

vários acidentes, da galera se cortar, se arranhar com prego e grampo [...]”. (OLIVEIRA,

79

2013). Muitos reclamam também do tamanho do palco, no que diz respeito à extensão e altura.

Do ponto de vista musical, “o espaço não é grande, o palco. É tanto que hoje em dia o Centro

Cultural pode comportar uma filarmônica de maneira bem apertada, mas uma orquestra

sinfônica nunca vai poder se apresentar ali”. (SANTANA, 2013a). Magalhães (2013)

menciona ainda a necessidade de a prefeitura reativar o bar que existe dentro da sua estrutura

original, transformando aquele ambiente em lanchonete, já que tanto público quanto artistas

solicitam um espaço para consumo, como frequentemente se vê em outros centros culturais.

Os artistas são obrigados a permanecer horas no equipamento cultural, seja para ensaios ou

apresentações, então ter o acesso facilitado à alimentação seria fundamental, principalmente

porque o espaço cultural fica distante de estabelecimentos comerciais. Já mencionamos

anteriormente o problemático funcionamento da sala de ensaios, que hoje é utilizada como

depósito da prefeitura em boa parte do ano. O local serve também para realização de pequenos

eventos, como reuniões. A falta de um espaço específico para os ensaios exige o uso constante

da sala principal do teatro, o que acaba por comprometer sua estrutura. A atual sala guarda

equipamentos técnicos do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho e os banheiros que existem

estão defeituosos. Ressaltamos que a sala principal não contém banheiros anexos, algo que

pode ser visto como indispensável para o conforto do público e artistas. O secretário de cultura

reconhece os problemas estruturais do espaço, ao afirmar que

[...] a gente precisa reformar, por exemplo, a sala de ensaios, que fica no

primeiro andar. Algumas portas estão danificadas, para que o pessoal guarde

seu material. Precisamos de algumas mesas e cadeiras dentro do Centro

Cultural, que a gente não dispõe, então tá faltando muita coisa ainda. A gente

precisa de uma manutenção maior nas poltronas do auditório, que sempre tá

[sic] soltando parafuso, quebrando isso e aquilo, então a gente precisa desse

suporte que... Como eu te falei, principalmente no camarim. A gente precisa

desse camarim adequado, de mais camas, de um banheiro adequado, pra dar

um suporte a esses eventos que vem acontecendo e tendem a acontecer

futuramente. (URBANO, 2013).

Quando questionados sobre a possibilidade de se realizar uma reforma, os gestores da Secult

Bonfim se colocaram de forma favorável, ainda que desesperançada. O secretário diz que “A

reforma se torna mais difícil, mas a gente vai tentar. [...] Eu acho que a prefeitura tá

empenhada em elaborar um projeto que vá desenvolver a reforma do Centro Cultural.”.

(URBANO, 2013). Carla Lidiane é mais executiva, ao já prever fonte de recursos para a ação.

A gente tem uma perspectiva de utilizar um recurso do Sincov [sistema de

convênios do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão] para

reforma. O Sincov é a única maneira atual da União repassar recursos para os

80

municípios. Nossa ideia é esperar abrir esse segundo semestre um edital de

reforma de espaços culturais e adequar nosso projeto ao edital. (PEREIRA,

2013).

Entendemos que a reforma física de um espaço não é condição única para seu pleno

funcionamento, mas se impõe, sem dúvidas, como etapa fundamental para a realização das

atividades culturais, visto que a área da cultura depende de especificidades que não podem ser

desconsideradas.

Fotografia 11: Cadeiras defeituosas na sala principal. Foto: Adriana Santana.

d) Faltam equipamentos de som e iluminação e pessoal técnico

O espaço cultural está mal equipado e, na ocasião em que foram comprados equipamentos

técnicos, a ausência de pessoal qualificado impediu a utilização. Carla Lidiane lamenta o fato

e entende que essas questões devem ser sanadas. “Hoje nós não temos um técnico em

iluminação, como vamos ter um espetáculo de dança se não temos a iluminação? A gente não

tem um técnico de som, todos usam som, hoje o office boy cuida disso. A gente não tem um

mapa de palco também para as atividades [...]” (PEREIRA, 2013). A ausência desses

equipamentos, de uso obrigatório, induz o aumento do custo da produção dos artistas. “A

iluminação é precária, muitas vezes o gasto maior que a gente tem é com o cenário. A gente

contrata um serviço de 3 a 4 mil reais, já incluindo sonorização e iluminação. Na verdade o

Centro Cultural deveria disponibilizar isso para a sociedade.” (MAGALHÃES, 2013). O

Núcleo Aroeira de Arte se viu obrigado a adquirir equipamentos próprios, por entender que a

continuidade do grupo dependia dessa ação, por falta de perspectiva de ver o espaço cultural

aparelhado.

81

[...] a gente viu a necessidade de ter nosso próprio equipamento porque senão

não tinha como a gente se manter. Um rapaz tinha banda e estava vendendo

um material de luz, aí a gente comprou, era um material mais simples, mas

era o que a gente conseguia ter. A gente comprou e foi pagando aos poucos,

dividimos. A iluminação que a gente utilizava era esse material e uma

mesinha de som simples. (OLIVEIRA, 2013)

A partir de então, o grupo passou a emprestar ou alugar seus equipamentos para outros

produtores que realizavam atividades no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. “Nós

cansamos de o povo que vinha de fora se apresentar entrar em contato com a gente. Do nada o

telefone tocava: ‘oi, eu sou não sei quem, tô [sic] vindo de fora...’. Isso porque a pessoa se

deparava com o estado: não tinha material, não tinha nada.” (SCHADE, 2013). Hoje, o

mínimo de equipamentos que o espaço reúne encontra-se defasado. Schade (2013) indica a

importância de ter pessoal qualificado no espaço cultural para utilizar os equipamentos, pois,

“por mais que o equipamento seja defasado, se você for usar, tem que saber usar, ou então

chamar alguém de fora, porque lá não tem ninguém. Às vezes os outros grupos chamavam a

gente pra ajudar [...].” (SCHADE, 2013). Esses dados são emblemáticos, pois percebemos

como os artistas da cidade são os protagonistas da ação cultural. Ao emprestar equipamentos a

grupos de outras cidades e auxiliar no manuseio deles, o grupo Aroeira dá suporte ao poder

público municipal, enquanto a perspectiva contrária não é verificada.

e) É necessário que a equipe acompanhe todas as atividades, a fim de coibir o uso

indevido do espaço

A equipe da Secretaria de Cultura, a mesma que trabalha no Centro Cultural Ceciliano de

Carvalho, conta com três auxiliares de serviços gerais, um office boy, dois diretores e dois

assistentes, além do secretário. Uma gestão eficiente do espaço depende de recursos humanos.

Carla Lidiane afirma que não existe perspectiva de concurso público para seleção de corpo

funcional e, que, no momento, o que o órgão prevê é a realização de atividades formativas

para os funcionários já existentes. Uma equipe qualificada, sem dúvidas, pode potencializar o

trabalho desenvolvido, assim como salários melhores podem garantir que o turno de trabalho

passe de 6h para 8h diárias, aumentando a produtividade. No entanto, tais medidas podem ser

vistas como paliativas. Cada espaço cultural administrado pela Secult-Ba possui quatro

equipes: coordenação, técnica, vigilância e limpeza. No total, são 250 funcionários divididos

entre os 17 equipamentos, o que dá uma média de 14 funcionários por espaço. Hoje a

82

quantidade de pessoas que trabalha no Centro Cultural não permite a divisão por equipes, os

funcionários seguem apenas o fluxo das demandas. Antes do São João, voltaram todas as

atenções para a festa; entre julho e agosto, o trabalho esteve voltado para a Conferência

Municipal de Cultura e Conferência Territorial de Cultura. No entanto, se faz necessária uma

gestão que acompanhe todas as atividades, a fim de coibir o uso indevido do espaço, e isso

depende inicialmente de funcionários disponíveis. A escala de acompanhamento das

produções é improvisada, um funcionário se responsabiliza apenas por abrir e fechar o centro

de cultura, como afirmam os gestores. Schade (2013) conta que essa prática já era comum nas

gestões anteriores.

Lá era assim: você pedia pauta, eles imprimiam, colocavam no mural e

pronto. Em dia de evento, a gente ia e ficava responsável pelo espaço, nós

mesmos, com a chave e tudo. Tinha uma sala com equipamentos que a gente

não tinha acesso, então se o evento começasse 20h, 18h chegava o

responsável, abria e dava o controle do ar condicionado, o microfone pra

gente e pronto, ia embora. Ou então ficava, às vezes, pra depois recolher o

material e guardar. Ou seja, não tem um funcionário efetivo pra ficar

tomando conta do espaço. Quem tomava conta era o vigilante.

A falta de administração efetiva do equipamento cultural permite que grupos utilizem o

espaço de forma inapropriada, pregando grampos ou pregos no palco, por exemplo, como já

foi colocado pelos artistas. Carla Lidiane assume que a gestão do espaço é deficiente,

motivada pela ausência de um gerenciamento próprio, com funcionários que se

responsabilizem apenas por ele.

Esse é um problema fundamental dele: não ter gerência própria, como no

caso dos espaços do estado que tem uma gerência, uma coordenação que

pensa isso, que mesmo que os funcionários não estejam capacitados, estão

sempre ocupados aprendendo sobre aquilo (PEREIRA, 2013)

f) É fundamental investir em transporte público e segurança

Apesar de não reclamarem da ausência de público nas atividades culturais que promovem, os

artistas indicam que a distância do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho impede a frequência

de um público maior. Muricy (2013) indica que “as pessoas têm preguiça de ir, porque tudo

acontece ‘pra cá’ e o Centro Cultural fica lá muito distante”. A distância e a falta de segurança

da região onde o espaço está localizado foram alguns dos motivos para o Ballet Sacramentinas

ter investido em um palco próprio.

83

É um lugar afastado, então também foi um dos propósitos de se criar um

auditório na Sacramentinas. O local é perigoso, a gente tem um corpo de 90 a

120 alunas crianças, então os pais se preocupavam, até porque em frente

passa uma BR, uma pista. Na questão da segurança, a gente não vê

vigilantes, durante o espetáculo não tem. (MAGALHÃES, 2013)

O espaço cultural fica a 30 minutos de caminhada a partir da Praça Nova do Congresso,

principal praça da cidade. Senhor do Bonfim conta com poucas linhas de ônibus, apenas para

bairros mais afastados. A partir do surgimento de um condomínio naquela região, uma linha

de ônibus passou a circular nas imediações do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho

(SCHADE, 2013). No entanto, não faz parte do cotidiano dos moradores de outros bairros

utilizarem transporte coletivo, além de que as linhas operam em horários não pré-

determinados e com frequência bastante reduzida, principalmente à noite e nos finais de

semana, quando acontece a maior parte das atividades culturais. Investir na criação de um

sistema de transporte próprio para o centro de cultura, alinhado com os dias de apresentação,

pode estimular a frequência de novos públicos, tendo em vista principalmente que os artistas

apontam que as produções recebem um público fiel, porém segmentado, o mesmo de sempre.

Fotografia 12: A BA 222 liga Bonfim a Campo Formoso. Foto: Adriana Santana

84

g) A necessidade de uma programação regular

O Núcleo Aroeira de Arte foi o grupo que mais se apresentou no Centro Cultural Ceciliano de

Carvalho ao longo da história do equipamento. Produziu ainda o espetáculo mais assistido, Na

Casa de Irene, que foi apresentado 11 vezes. (LEMOS, 2013). Em 2005, recebeu um título da

Câmara de Vereadores que reconheceu a importância do grupo para a cultura bonfinense. O

grupo sempre atuou na perspectiva da arte-educação e, nesse sentido, realiza oficinas de

formação artística. Membros do grupo e demais artistas concordam que esse trabalho

desenvolvido ao longo dos anos é responsável pela presença de público que os eventos

culturais conseguem garantir. Ou seja, a ação tem resultado na plateia, hoje fiel, e tem

contribuído para a formação de novos artistas. Apesar do histórico favorável, o grupo cultural

jamais obteve financiamento da prefeitura para realização de seus projetos, nem mesmo

daqueles que visam a execução de atividades formativas. Durante a atuação do grupo na

cidade, ele só foi contratado duas vezes pela prefeitura para executar alguma ação, ambas no

último governo, de Paulo Machado (PT). Foram contratados pela Secretaria de Administração

e Planejamento, para realizar uma campanha de conscientização no trânsito e apresentaram

um espetáculo teatral no dia da luta contra a exploração sexual de crianças e adolescentes,

numa campanha promovida em parceria com o Centro de Referência Especializado de

Assistência Social (Creas) e Ministério Público. Como se vê, ações pontuais e que não

partiram da Secretaria de Cultura. O caso do grupo Aroeira foi citado para exemplificar um

fato: a prefeitura não contrata artistas ou produtores para realizarem atividades no Centro

Cultural Ceciliano de Carvalho. A demanda é sempre inversa: os grupos se produzem,

agendam pauta no espaço cultural, se apresentam, recolhem a bilheteria e utilizam esse

recurso para uma próxima produção, continuando o ciclo. Os artistas entrevistados desejam

ver essa realidade modificada e concordam que é necessário haver uma programação

continuada no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, esforço que deve partir da Prefeitura

Municipal de Senhor do Bonfim para corrigir um erro histórico.

85

5. PLANO DE AÇÃO PARA O CENTRO CULTURAL CECILIANO DE CARVALHO

5.1 OS ESPAÇOS CULTURAIS DA SECULT-BA: UM MODELO A SEGUIR

No dia 23 de julho, uma entrevista realizada com a diretora de Espaços Culturais da Secult-

Ba, Giuliana Kauark, evidenciou o modo de funcionamento dos espaços culturais estaduais e,

em que medida, a aplicação de instrumentos eficientes de gestão tem contribuído para a

melhoria desses equipamentos. O relato foi colhido após a participação da gestora na

disciplina Oficina de Gestão Cultural, ministrada por Gisele Nussbaumer na Faculdade de

Comunicação da UFBA, na qual Giuliana foi convidada para apresentar a diretoria. A aula, os

slides apresentados e a entrevista subsequente forneceram dados para a análise disposta a

seguir. Em primeira medida, entendemos que o modelo de gestão desses espaços culturais é

eficiente e pode ser incorporado pelo Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. Num segundo

momento, a atual política setorial da diretoria – para ampliar a atuação a fim de atender

também espaços não vinculados à Secult – pode ser útil ao equipamento de Senhor do Bonfim.

A Diretoria de Espaços Culturais (DEC) foi criada em 2007 na Fundação Cultural do Estado

da Bahia (FUNCEB), com objetivo de manter e modernizar os espaços culturais pertencentes

a esta instituição, bem como dinamizar sua programação. Após reforma administrativa em

2011, a DEC passou a ser vinculada diretamente à Secretaria de Cultura do Estado, através da

Superintendência de Desenvolvimento Territorial da Cultura (Sudecult), com o propósito de

contribuir para a política territorial desta pasta. Atualmente, a DEC é responsável pela gestão

de 17 equipamentos culturais da Secretaria de Cultura do Estado, sendo cinco localizados em

Salvador, um na Região Metropolitana e outros 11 no interior do estado. O Espaço Cultural

Alagados, a Casa da Música e a Casa de Mutuípe são os três únicos espaços que não possuem

estrutura cênica.

Cada espaço cultural da Secult possui quatro equipes: coordenação, técnica, vigilância e

limpeza. No total, são 250 funcionários divididos entre os 17 equipamentos, o que dá uma

média de 14 funcionários por espaço. A Secult conseguiu formalizar contratos com empresas

terceirizadas em 2013, por isso o número de funcionários aumentou. As equipes de

coordenação e técnica já estão sendo capacitadas através de cursos de formação, o objetivo é

expandir a capacitação para os funcionários da vigilância em breve.

86

A DEC lançou dez metas que pretende alcançar nos próximos anos. São elas: ampliar os

recursos orçamentários destinados aos espaços culturais; ampliar e qualificar as equipes de

trabalho; aprimorar a gestão; requalificar os espaços culturais, tornando-os acessíveis a todos;

priorizar o uso dos equipamentos para atividades de natureza cultural; diversificar a

programação; ampliar o público frequentador; desenvolver uma política setorial para os

espaços; consolidar a rede de espaços culturais da Secult-Ba e articular-se com outros

equipamentos não vinculados ao estado; tornar os espaços culturais da rede referências de

formação e fruição da cultura nos territórios onde estão situados.

O orçamento destinado aos espaços culturais é baixo para atender todas as demandas. Em

2012, foi destinado menos de R$ 2 milhões de reais – valor que não inclui pagamento de

funcionários ou contas de água, luz e telefone. Acontece que, desse valor, cerca de R$ 1,5

milhão vai para manutenção e execução de obras, pouco dinheiro vai para programação. Ano

passado, esse etapa recebeu recursos em torno de R$ 700 mil. Infelizmente, muitos

equipamentos não possuem programação própria, dependem de atividades desenvolvidas pela

Secult-Ba e do fluxo de procura dos artistas. Quanto a isso, Kauark (2013) aponta a

necessidade de os gestores dos espaços aprenderem a lidar com essa procura: é imprescindível

que as pautas solicitadas pelos produtores passem por curadoria. Os espaços estão começando

a pensar nisso, a fim de deixar de reproduzir uma prática comum a um “consultório médico”:

encaixar uma proposta onde tem vaga, sem pensar se tem relação com a programação já

estabelecida. A metáfora utilizada por Kauark indica que, no campo da cultura, a técnica não

pode substituir a análise criteriosa. Apenas uma equipe qualificada pode entender tais

especificidades.

Em relação à meta 3, sobre a necessidade de aprimorar a gestão dos espaços culturais da

Secult, Giuliana Kauark apresentou dados sobre o histórico da gestão desses espaços. No que

se refere à institucionalização e comunicação desses equipamentos, notamos a criação já em

2007 da tabela de pauta, posterior revisão em 2010 e 2013; criação dos blogs individuais de

cada espaço cultural entre 2008 e 2009; cessão de pautas gratuitas a partir de 2009,

inicialmente às terças e quartas-feiras e, depois de modo estendido; criação das marcas da

DEC e dos espaços em 2010; elaboração do roteiro dos espaços culturais ainda em 2010 e

criação das microredes41

em 2011. Compreende-se que o relacionamento com o público deve

41

Encontros entre gestores de espaços culturais diferentes para discussão de ações em conjunto

87

passar pela atração, mediação e fidelização. É necessário investir numa comunicação eficiente

para os espaços culturais, para conseguir atrair público e, nesse sentido, os blogs e o

lançamento de um newsletter com o roteiro semanal dos espaços é fundamental. No item

“mediação”, uma programação constante e regular é essencial, o que é estimulado em alguma

medida pela cessão de pautas gratuitas. Já a “fidelização” é conquistada através do

relacionamento permanente com o público, oferecendo inclusive meios para que sua

frequência aumente, como, por exemplo, programas de desconto nos ingressos.

A Diretoria de Espaços Culturais também tem como meta fazer um cadastramento de artistas

para fomentar a circulação de produções. Hoje o que se vê nos espaços do interior é uma

programação composta em grande medida por pautas locais e, em segundo lugar, pela

circulação de espetáculos de outros estados, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo.

“Vemos pouca circulação entre interior-interior ou capital-interior, e queremos estimular isso”

(KAUARK, 2013).

A meta 8, que visa desenvolver uma política setorial para os espaços culturais, já conta com

ações implementadas e outras em fase de planejamento. Uma política voltada para os espaços

culturais começou a ser planejada em 2010. No segmento de “Informação”, foi realizado um

cadastramento dos equipamentos culturais do estado, visando obter no futuro uma articulação

com eles, abrangendo o alcance da DEC para além dos espaços gerenciados por ela. Os dados

ainda não foram disponibilizados, mas isso deve ser feito em breve dentro do portal do

Sistema de Informações e Indicadores em Cultura (SIIC). No item “Institucionalização”, a

diretoria criou em 2013 uma Instrução Normativa e um Regulamento, para nortear a ação dos

espaços culturais sob sua gerência. Ainda neste ano, será realizada a I Conferência Setorial de

Espaços Culturais e, a partir dela, a formação da Rede de Espaços Culturais, que funcionará

como mais um colegiado setorial e, assim como os outros, terá um Plano Setorial. Os fóruns

foram criados para discutir e planejar uma política setorial para os espaços culturais do estado.

Em paralelo à conferência, será realizado o Seminário de Gestão de Espaços Culturais, uma

das ações previstas no item “Formação”. O seminário ocorre nos dias 26 e 27 de setembro, e a

conferência acontece no dia 28, mesma data das outras conferências setoriais. Outro objetivo

do segmento é lançar um Manual de Gestão, para auxiliar na capacitação dos gestores do

estado. No último item, “Fomento”, já temos duas ações implementadas: a chamada pública

Ações Continuadas de Instituições Privadas sem fins lucrativos e o edital de Dinamização de

88

Espaços Culturais. A chamada tem como objetivo fomentar a realização de atividades por

organizações culturais privadas sem fins lucrativos, como centros culturais, arquivos, museus

e teatros. Já o edital foi criado em 2012 e visa contemplar a criação de uma programação

regular para qualquer espaço cultural do estado, seja público ou privado. Na primeira seleção,

recebeu 80 inscrições. Desses, apenas 17 conseguiram passar pela etapa inicial, de análise

prévia42

, pois a quantidade de documentos obrigatórios solicitados confundiu os produtores.

O público já estava acostumado a apenas enviar documentação depois de

aprovado, pois os editais da Secult estão seguindo essa lógica, então, no

nosso edital, muitos deixaram de anexar os documentos obrigatórios,

acarretando em desclassificação. Para 2013, vamos tirar isso, só vamos pedir

a carta de anuência do espaço cultural. De toda forma, os 11 projetos

selecionados são muito bons. Entre os equipamentos culturais selecionados,

apenas dois são da Secult, o Centro Cultural Plataforma e o espaço de Vitória

da Conquista, o Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima. (KAUARK,

2013).

No geral, o edital contemplou propostas de seis territórios: Velho Chico, Chapada Diamantina,

Extremo Sul, Vitória da Conquista, Baixo Sul e Região Metropolitana de Salvador. Sabendo

que, além da falta de programação, os espaços culturais enfrentam problemas estruturais e

técnicos, inclusive com a falta de equipamentos adequados, como acontece em Senhor do

Bonfim, a diretoria planejou criar um edital específico para atender essa necessidade, mas não

foi possível.

Pensamos em seguir um edital da Funarte43

, de doação de equipamentos

técnicos, mas isso não foi possível dentro da Secult. Teríamos que aplicar

recursos na compra desses equipamentos e depois selecionar espaços, para

então repassar pra eles. Mas o dinheiro que temos pra fomentar é do Fundo

de Cultura e lá isso não é permitido, a aplicação de recursos para a própria

secretaria fazer essa compra. (KAUARK, 2013)

Como a secretaria não tem perspectiva de adquirir novos espaços culturais, em outras cidades,

por conta da falta de recursos financeiros, o objetivo é formar a Rede de Espaços Culturais

para ajudar na gestão de mais equipamentos, alcançando todos os 27 territórios do estado.

A gente tem encontros periódicos com nossos coordenadores, nesses

encontros esses outros gestores também participariam e teriam as orientações

todas pra gestão, no que se refere ao regulamento, à instrução, à norma de

42

Etapa de verificação de documentos, a fim de identificar se a proposta está apta a ser inscrita no processo

seletivo.

43 A Fundação Nacional de Artes (Funarte) lançou em 2011 um edital de Doação de Equipamentos de Iluminação

Cênica

89

funcionamento, ao procedimento de solicitação de pauta, de arrecadação de

bilheteria, dentre outros. A gente tem condições de divulgar mais, por

exemplo, o edital de Dinamização de Espaços Culturais; fazer com que eles

consigam programação através desse edital e, se for o caso, articular também

alguns projetos que a gente consegue para os espaços, como o Verão Cênico,

os Salões Regionais e o Quarta que Dança; fazer com que alguns deles

sejam realizados em equipamentos culturais fora da Secult. (KAUARK,

2013)

As orientações apontadas pela diretora estão presentes nos instrumentos de gestão criados pela

DEC em 2013: a Instrução Normativa nº 001/2013 (ANEXO H), seguida pelo Regulamento

do Uso e Funcionamento dos Espaços Culturais da Secult (ANEXO I). Antes, já havia

diretrizes gerais de funcionamento dos espaços, mas, a partir da observação e

acompanhamento da gestão desses locais, notava-se que as normas eram constantemente

descumpridas quando havia “interesses maiores”, envolvendo principalmente força política.

Diante de casos de desatenção às regras, “a gente viu que era necessário ter uma publicação

normativa, porque isso resguardava a própria secretaria” (KAUARK, 2013). Após um

processo de discussão em conjunto com os coordenadores dos espaços, foram criados os

documentos que regulam a gestão, oficializados através de publicação no Diário Oficial do

Estado (DOE).

Isso é uma forma de se resguardar, mas um meio também de perpetuar essa

política, porque essa instrução normativa não tem data de validade, ela só

não deve ser cumprida no momento em que for revogada. Enquanto ela

estiver vigente, a gente tem que seguir essas diretrizes. Então, ela vem no

sentido de institucionalização dessa política para os espaços culturais da

secretaria, de priorizar a pauta cultural, de impedir uma série de atividades de

uso particular nos espaços que são públicos.

Tais instrumentos construídos pela DEC merecem atenção desse trabalho, visto que se

configuram em um modelo de gestão que pode ser seguido pelo Centro Cultural Ceciliano de

Carvalho. Todas as questões apontadas pelos artistas de Senhor do Bonfim como

problemáticas para o bom funcionamento do equipamento municipal são sanadas pela

Secretaria de Cultura nos espaços que administra. Transformando aqueles pontos em

positivos, dizemos que a Secult se compromete em garantir: priorização de pautas culturais;

infraestrutura adequada; equipamentos técnicos disponíveis, bem como funcionários para

realizar a manutenção; equipe própria para administrar cada espaço e investimento em

programação. O único ponto sobre o qual a Secult não tem condições de atuar é aquele sobre

disposição de transporte público e segurança dos espaços, o primeiro item de responsabilidade

90

da prefeitura e, o segundo, dos produtores, já que os espaços estaduais contam apenas com

segurança patrimonial.

Giuliana Kauark admite não ter sido possível impedir a organização de eventos não culturais

dentro dos espaços da secretaria. O contexto das cidades do interior em que estão localizados

os centros é o mesmo daquele verificado em Senhor do Bonfim: não existem outros auditórios

ou teatros com a mesma dimensão dos equipamentos de cultura, que têm de 200 a 500 lugares.

Logo, a procura para realização das mais diversas atividades é frequente e natural. Desse

modo, o regulamento criado pela diretoria não proíbe a realização de atividades de natureza

não cultural, apenas limita sua execução entre terça e quinta-feira, e cobra preço diferenciado

para essas pautas. A instrução normativa sugere que as atividades de natureza cultural devem

ser privilegiadas, mas que é possível a realização de eventos de natureza educacional e social,

de natureza institucional ou corporativa. É necessário ressaltar que as atividades corporativas

estão condicionadas ao “exame prévio de sua compatibilidade com o interesse público do uso

do espaço cultural” (INSTRUÇÃO, 2013, p. 2). Além disso, não é permitida a utilização dos

espaços para

eventos de pregação religiosa, atividades que no seu conteúdo evidenciem

qualquer tipo de preconceito ou discriminação, apologia ao uso de drogas

ilícitas, bem como as que incitem à violência e à intolerância e àquelas que

possam causar impactos negativos à saúde, à integridade física e psicológica

das pessoas e ao meio-ambiente. Tampouco é permitida a utilização dos

espaços para eventos particulares, tais como aniversários, casamentos,

velórios, entre outros. É expressamente vedada também a utilização dos

espaços culturais para a realização de eventos político-partidários, com

exceção da realização de convenções para escolha de candidatos [debates]

[...]. (REGULAMENTO, 2013, p. 1)

Também para coibir o uso indevido dos espaços, foi estabelecido que pedidos de pauta devem

ser avaliados pela coordenação de cada equipamento e autorizados pela DEC. Portanto, o

“recebimento do pedido não implica na automática permissão para realização do evento”

(REGULAMENTO, 2013, p. 3), como acontece no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho.

Após a autorização, o proponente é convocado a assinar o Termo de Compromisso e

Responsabilidade (ANEXO J), documento que estabelece as obrigações e responsabilidades

do produtor. Lembramos que para solicitar pauta é necessário preencher um formulário padrão

(ANEXO K), disponível no blog da Diretoria de Espaços Culturais44

, com antecedência

44

<http://espacosculturais.wordpress.com/>

91

mínima de 30 dias antes da data do evento. O formulário mapeia o perfil do produtor e do

evento, solicitando inclusive previsão de público para a atividade, classificação indicativa e

informações técnicas sobre montagem e desmontagem, por exemplo.

No que se refere ao estímulo à manutenção de uma programação continuada nos espaços

culturais, devemos nos atentar ao Programa de Gratuidade (ANEXO L) criado pela diretoria.

Com o objetivo de promover e ampliar o acesso de artistas e produtores aos espaços culturais,

assim como dinamizar e diversificar a programação desses equipamentos, a Secult-Ba

disponibiliza pautas gratuitas para a realização de determinadas atividades, necessariamente

de natureza cultural e realizadas por grupos e artistas residentes na Bahia. Além de garantir

gratuidade em atividades de formação – desde que abertas ao público e com entrada franca – e

de qualificação interna para grupos artísticos, a DEC não cobra pauta para produções culturais

apresentadas às terças e quartas-feiras e atividades relacionadas aos meses temáticos. A cada

mês do ano, um tema é privilegiado nos espaços culturais da Secult-Ba. Todo produtor que

realizar programação cultural relacionada ao tema do mês terá pauta gratuita,

independentemente do dia da semana. É condicionado a cada proponente o limite máximo de

quatro pautas por mês e a cobrança de até R$ 10 pelo ingresso da atividade que realizar. A

diretoria isenta também toda e qualquer intervenção e exposição de artes visuais feita nos

espaços, com limite de utilização de até uma pauta por proponente a cada mês. Em todos os

casos de gratuidade, o proponente do evento deverá mencionar o apoio do Governo do Estado

da Bahia, inserindo nos materiais de divulgação as marcas do espaço cultural e da Secretaria

de Cultura da Bahia.

As demais atividades realizadas nos espaços são cobradas de acordo com alguns critérios:

natureza do evento, dependência (se vai acontecer na sala principal ou em outras

dependências), origem da programação (se do interior da Bahia, Salvador e Região

Metropolitana, outros estados ou outros países) e tipo de proponente (com ou sem finalidade

cultural). Na sala principal, por exemplo, o valor cobrado para um proponente do interior que

realiza uma atividade cultural – de R$ 100 ou 10% da bilheteria, o que for maior – é 300%

menor do que aquele cobrado por uma pauta sem finalidade cultural – independentemente da

localidade do proponente, a taxa é de R$ 400 ou 20% da bilheteria, o que for maior. Esses são

valores válidos para o horário convencional, ou seja, até 22h. Após esse horário, a primeira

pauta ficaria no valor de R$ 200 e, a segunda, subiria para R$ 1.000. Esses dados demonstram

92

claramente a atenção da diretoria com a atividade cultural, entendendo que esses espaços são,

por excelência, locais de produção da cultura e que, portanto, as demais ações devem pagar

preços mais altos para a utilização.

Proponentes de eventos que não visam a cobrança de ingressos devem efetuar o pagamento no

ato da assinatura do Termo de Compromisso e Responsabilidade. Para os demais, o percentual

do pagamento da pauta será descontado da receita bruta de cada sessão, no ato de elaboração

do borderô45

, após 15 minutos do início do evento. Os ingressos das atividades devem ser

confeccionados preferencialmente pela Secult-Ba, a fim de manter uma padronização. Em

eventos gratuitos, são utilizados ingressos do tipo “convite”. Essa medida é válida para

dimensionar a quantidade de público que acessa o espaço cultural. Outra ação relevante é a

destinação de 10% das vagas das oficinas ou cursos realizados para a formação da equipe e/ou

público do espaço cultural.

O horário de funcionamento administrativo dos espaços culturais é de segunda a sexta-feira,

das 9h às 19h. A bilheteria abre de 16h às 19h ou, em dias de evento, até o seu início. O

Regulamento do Uso e Funcionamento dos Espaços Culturais da Secult-Ba indica ainda os

horários de funcionamento de cada dependência do equipamento e da montagem e

desmontagem. Segunda-feira é folga da equipe técnica, portanto, apenas excepcionalmente

são pautados eventos neste dia. O coordenador do espaço é responsável por organizar a escala

de trabalho da equipe para cada evento a ser pautado. Os técnicos fazem a supervisão do

manuseio e resolução de problemas com os equipamentos do espaço, mas a operação da

iluminação e sonorização de um evento é de responsabilidade do proponente.

No Regulamento consta ainda normas sobre cancelamento de pauta, funcionamento da

bilheteria, elaboração do borderô, limite de horário para entrada do público nos eventos, regras

de segurança, proibição da entrada de alimentos ou líquidos de qualquer natureza na sala

principal e regras para disponibilização de meia-entrada, convite e ingresso promocional, entre

outros itens. O descumprimento das normas previstas implica na suspensão por três meses do

uso dos espaços culturais da Secult-Ba pelo infrator.

45

Borderô vem do francês “borderau” e significa lista, nota, fatura ou registro. Nesse contexto, significa o

relatório do movimento da bilheteria de uma sala de espetáculos.

93

Kauark (2013) avalia a utilização dos mecanismos de gestão de modo positivo. Os

documentos facilitam a regulação do funcionamento desses espaços. Ela indica que a gestão

tem servido como modelo aplicado a outras realidades. “Hoje, outras cidades do estado estão

seguindo o regulamento, utilizando os instrumentos em espaços não ligados à Secult. Esse

retorno tem sido positivo no sentido de institucionalização.” (KAUARK, 2013). Em relação

ao público,

A gente tem queixa do público porque a gente não está deixando mais entrar

depois de 15 minutos que inicia o espetáculo. Daí, a gente apresenta o

regulamento, diz que isso tem porquê, essas normas não são aleatórias, foram

construídas com base numa dinâmica própria do espaço, própria do fazer

cultural, da função pública desse espaço, então elas têm uma razão de ser. É

claro que elas não são imutáveis, elas podem ser questionadas, mas não

descumpridas. (KAUARK, 2013).

O modelo criado pela Diretoria de Espaços Culturais da Secult-Ba se mostra eficiente e deve

ser seguido por equipamentos como o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, precário no que

diz respeito à gestão, infraestrutura e programação. Diante do exposto, é possível fazer

indicativos para mudanças na terceira perspectiva, aproveitando que ela vem sendo priorizada

pela DEC, através do edital de Dinamização de Espaços Culturais. Lançado pelo Fundo de

Cultura do Estado da Bahia (FCBA) em 2013, o mecanismo de financiamento apoia

propostas de dinamização de espaços culturais, públicos ou privados, do

estado da Bahia, através de proposição de uma programação regular durante

um período mínimo de seis meses e máximo de um ano, envolvendo

atividades mensais de formação e/ou difusão das diversas expressões

culturais, buscando ampliar o impacto do espaço junto à comunidade local,

fomentar o acesso e a formação de público para a cultura. (BAHIA, 2013a)

Lembramos que a Secult-Ba é a principal financiadora de projetos culturais da Bahia,

contribuindo ao longo dos anos para a descentralização de recursos e ações pelo interior do

estado. O investimento total nos 20 editais lançados pelo FCBA em 2013 foi de 27,8 milhões,

o que indica um aumento de 52% do recurso em relação à seleção de 2012. No total, foram

recebidos 2.309 projetos, mas apenas 72 para o edital de Dinamização de Espaços Culturais. O

envio de documentação incompleta por diversos proponentes do edital resultou na inscrição

efetiva de apenas 17 projetos. Em avaliação feita pela secretaria, Giuliana Kauark, também

coordenadora da comissão de seleção do edital, reforçou a importância desta área de atuação,

principalmente no interior do estado. “O número de propostas comprova que existe uma

demanda crescente e a absoluta necessidade de a Secretaria possibilitar a existência de uma

94

programação contínua em espaços dedicados à cultura nas suas mais diversas linguagens”

(BAHIA, 2013b). O edital será reaberto em 2014, com execução orçamentária no total de R$

1,5 milhão e limite máximo por proposta no valor de R$ 100 mil. (BAHIA, 2013c).

A construção de um projeto cultural para Senhor do Bonfim e posterior inscrição neste

mecanismo teria o potencial de movimentar o setor cultural do município, ajudando a

preencher as lacunas de programação no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, auxiliando na

manutenção dos grupos culturais beneficiados e gerando uma alternativa de formação e lazer

para o público bonfinense. Podem encaminhar propostas apenas Pessoas Físicas maiores de 18

anos e Pessoas Jurídicas de Direito Privado, ou seja, a Prefeitura Municipal de Senhor do

Bonfim não pode elaborar um projeto para o edital. No entanto, entendemos que o estímulo à

elaboração de projetos para este mecanismo de fomento, que pode beneficiar o município a

longo prazo, deveria ser feita pela gestão municipal.

5.2 EM BUSCA DE UMA PROGRAMAÇÃO CONTINUADA

A existência de um equipamento de cultura no município não é condição suficiente para o

estímulo à produção cultural. Acreditamos que um modelo de gerenciamento adequado, em

conjunto com uma programação regular, criada por artistas locais, que diante do foi

apresentado nesta pesquisa têm condições de manter o espaço ativo durante todo o ano, devem

retirar o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho da posição de inoperância. Cabe ao poder

público incentivar essas atividades, recuperando um erro histórico, de desestímulo à cultura

local.

Os estudos atuais sobre organização da cultura evidenciam a necessidade de os municípios

ampliarem a capacidade de gerenciar suas políticas culturais, ainda que de modo integrado

com o governo federal e estadual. O objetivo de se criar um Plano Nacional de Cultura (PNC)

no Brasil é conseguir articular no país um sistema cultural, a exemplo do Sistema Único de

Saúde (SUS), no qual municípios, estados e a Federação negociam responsabilidades. O

posicionamento do município como gestor da cultura local é importante para que cada vez

mais seja possível a aproximação das políticas culturais com o conceito antropológico de

cultura, que diz que esta deve ser entendida para além das artes, como modo de vida,

promovendo assim o reconhecimento de manifestações tradicionais e populares, por exemplo.

95

Uma das metas do PNC, previstas para serem alcançadas até 2020, falam sobre o aumento do

número de cidades com espaços culturais, determinando que 55% dos municípios entre 50 mil

e 100 mil habitantes devam ter pelo menos três tipos de “instituição ou equipamento cultural,

entre museu, teatro ou sala de espetáculo, arquivo público ou centro de documentação, cinema

e centro cultural” (BRASIL, 2012, p. 88). Além do centro cultural pesquisado, Senhor do

Bonfim possui dois teatros e um memorial (arquivo), mas eles são privados, não se

aproximam da população e também necessitam de ações, sejam de revitalização física ou no

que se refere à programação. A meta do PNC fala sobre a necessidade de não apenas construir

espaços, mas também zelar pela manutenção deles, tendo em vista a importância de considerar

as características culturais de cada região “tanto no planejamento desses espaços como na

programação de serviços oferecidos à população.” (BRASIL, 2012, p. 91). Outra meta fala

sobre o aumento em 60% do número de pessoas que frequentam espaços culturais. Para

garantir a sua execução, é necessário “criar e fortalecer políticas públicas na área de cultura

que estimulem o acesso e ampliem a oferta de bens e serviços culturais e a formação de

público.” (BRASIL, 2012, p. 83). De modo segmentado, o PNC prevê o aumento de 7,4%

para 11,84% do número de pessoas que frequentam museus ou centros culturais e de 14,2%

para 22,72% o número de pessoas que frequentam espetáculos de teatro, circo ou dança.

Para além dos benefícios que a construção de um projeto de dinamização do Centro Cultural

Ceciliano de Carvalho pode trazer para o poder público, no caso de ajudar na manutenção de

um espaço gerido pelo município, e para a população, tendo em vista a complementaridade

entre ações que visam sua formação e lazer, que não podem ser vistas de forma dissociada, é

importante destacar sua relevância para outro setor da sociedade, o dos artistas e produtores

culturais. A meta 22 do PNC prevê o aumento em 30% no número de municípios brasileiros

com grupos em atividade nas áreas de teatro, dança, circo, música, artes visuais, literatura e

artesanato, indicando que os municípios “podem colaborar por meio de cessão de espaços

desocupados, isenção de tributos e taxas e outras ações de fomento a esses grupos.” (BRASIL,

2012, p. 71). Entendemos que a realização de projetos contínuos, que contem com a

participação dos grupos na elaboração e execução é uma dessas ações que podem contribuir

para a estabilidade desses artistas. O estímulo da Secretaria Municipal de Cultura na inscrição

de projetos para editais da Secult-Ba, em especial naquela relacionado à DEC, pode tornar o

Centro Cultural Ceciliano de Carvalho um espaço de permanente atividade.

96

Em 2009, os participantes da Conferência Territorial do Piemonte Norte do Itapicuru

sugeriram a “realização de festivais no território e municípios”, de “uma feira cultural anual

envolvendo os artistas municipais para promover o encontro de grupos artísticos culturais para

divulgação e troca de experiências” e a “formação continuada para os agentes culturais”, itens

que podem incorporados ao projeto. A formação de artistas, técnicos e gestores culturais, com

cursos de gestão, linguagens artísticas, patrimônio cultural e demais áreas relacionadas é,

inclusive, outra meta do Plano Nacional de Cultura (PNC). A publicação diz que é papel do

Ministério da Cultura (MinC) aumentar a oferta de cursos e oficinas, mas se espera que

estados e cidades participantes do Sistema Nacional de Cultura (SNC) comprometam-se em

buscar ampliar suas ofertas. Além de proporcionar o aperfeiçoamento de técnicas e a

profissionalização dos agentes, a iniciativa tem o potencial de aprimorar os serviços ofertados

e os bens culturais produzidos e contribuir para a manutenção de instituições e espaços

culturais.

Ao questionar como seu deu a formação artística de cada entrevistado, notamos que as

brincadeiras no fundo do quintal, as apresentações na escola e a observação das práticas

culturais familiares e em espetáculos artísticos – em que o circo tem papel de destaque –

foram os principais momentos formativos dos artistas bonfinenses.

Nas cidades onde o circo passava, geralmente os grupos que tavam [sic] ali

começavam a repetir os dramas e faziam isso num auditório, na rua, na

escola. E aí foram sendo criados esses grupos de drama, essas pessoas iam

passando, como a arte vai passando de pai pra filho (OLIVEIRA, 2013).

É inegável, no entanto, a função das oficinas técnicas realizadas no município. Segundo Silva

(2013), o projeto Chapéu de Palha, promovido pela Funceb na década de 1980, foi realizado

em Senhor do Bonfim em ao menos três edições. Muitos artistas tiveram suas primeiras

experiências de formação com esses técnicos que vinham de Salvador. Esta é uma iniciativa

“sem o qual a gente não consegue pensar o teatro na segunda metade do século XX no interior

da Bahia” (SILVA, 2013). Em 1992, Reginaldo Carvalho participou de uma oficina

ministrada por Kátia Alexandria, dentro de um projeto da Funceb, quando teve seu primeiro

contato com o teatro profissional. Na turma, estavam alguns dos mais representativos artistas

da atual cena cultural bonfinense: Nalvinha Aguiar, Jotacê Freitas e Marcos Cesário. Silva

(2013) aponta que oficina foi fundamental porque reaqueceu a cena cultural que estava morna

depois da explosão dos anos 80, época que Bonfim teve a atuação intensa de muitos grupos –

97

Trio de Quatro, Migração de Ventos, Sol Nascente e Mandacaru. Ele cita outros projetos,

como o Tubo de Ensaio, voltado para atores, e o Teatro Vivo, ministrada por Jotacê Freitas,

ambos promovidos pela prefeitura no final da década de 80. Muricy (2013), Oliveira (2013),

Schade (2013), Santana (2013a) e Lemos (2013) também mencionam outras atividades

formativas que passaram pela cidade. Antes do Chapéu de Palha, Caco Muricy participou de

uma oficina de teatro promovida pela Fundação Cultural Fernando Jatobá da Silva Telles e,

mais recentemente, do projeto João de Barro46

. Em 2007, Tenison Santana trabalhou no

Programa Tim de Arte-Educação47

, realizado pelo Centro de Referência Integral de

Adolescentes (CRIA), de Salvador, que desenvolvia formação em algumas linguagens

artísticas, inclusive a música.

Silva (2013) observa que cada projeto formativo realizado na cidade na segunda metade do

século XX é acompanhado por um momento de boom na produção teatral bonfinense,

demonstrando assim a importância da realização de atividades formativas. Hoje, o grupo

Aroeira contribui para a formação de novos artistas, a partir das oficinas que realiza, bem

como para formação de público.

Diante do exposto, que está em consonância com o planejamento das políticas culturais em

âmbito federal, e do que foi colhido nas entrevistas com os artistas de Senhor do Bonfim,

apresentamos abaixo uma sugestão de programação (APÊNDICE D) para o Centro Cultural

Ceciliano de Carvalho, a ser inserida numa futura proposta para o edital de Dinamização de

Espaços Culturais. Nas entrevistas, após os artistas declararem unanimidade sobre a

importância de uma programação regular, eles foram estimulados a sugerirem ações artísticas-

culturais para o espaço, incluindo seus próprios trabalhos. Somam-se às sugestões

apresentadas indicativos feitos pela pesquisadora, a partir da análise do contexto local.

a) Formação em cultura

O Núcleo Aroeira de Arte realiza atividades de formação em cultura desde 2004, quando foi

criado. Desde então, nunca contou com apoio da prefeitura ou outras instituições municipais.

46 Projeto de Danillo Novais, de Vitória da Conquista, aprovado no edital de Formação e Qualificação Artística,

da Funceb. Percorreu três cidades baianas realizando atividades formativas com foco na cultura popular. Ver em:

<http://joaodebarroprojeto.blogspot.com.br/> 47 Inicialmente Programa Maxitel de Arte-Educação, o projeto foi concebido e coordenado por Maria Eugênia

Millet, em 2001. Neste ano, circulou pelas cidades de Feira de Santana, Ilhéus, Itabuna, Jequié, Juazeiro, Vitória

da Conquista e Barreiras. Durante o dia aconteciam as oficinas e à noite eram apresentados os resultados junto

aos produtos artísticos dos repertórios das ONGs que o integravam (SILVA, 2008).

98

No entanto, artistas locais, membros do grupo ou não, corroboram a importância dessa atuação

e dizem que o trabalho desenvolvido reflete hoje na plateia que circula pelos eventos culturais

de Senhor do Bonfim. É sabido que o ensino das artes contribui para a formação de novos

públicos culturais, então o projeto a ser elaborado deve incentivar a realização de mais

atividades de capacitação. O ensino de dança, teatro, música, artes plásticas, literatura de

cordel – inclusive para contribuir na preservação desta linguagem popular, tradicional do

sertão – e circo, entre outras, deve ser estimulado. No entanto, tão importante quanto o ensino

das linguagens artísticas é a formação técnica. Verificamos que tanto gestores quanto artistas

não estão habilitados a realizar funções de cenografia, iluminação cênica, música para teatro,

figurino etc., à exceção de alguns expoentes. Tal formação é imprescindível para que a

produção de eventos com qualidade cada vez mais elevada.

______ Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6

Semana 1 Oficina de

cordel

Oficina de

teatro de

bonecos

Oficina de

direção

teatral48

Projeto

“Teatro no

Povoado”49

:

oficinas de

teatro na

zona rural

Projeto

“Teatro no

Povoado”:

oficinas de

teatro na

zona rural

Oficina de

cenografia

Semana 2 Oficina de

cordel

Oficina de

teatro de

bonecos

Oficina de

direção

teatral

Projeto

“Teatro no

Povoado”

Projeto

“Teatro no

Povoado”

Oficina de

cenografia

Semana 3 Oficina de

cordel

Oficina de

teatro de

bonecos

Oficina de

direção

teatral

Projeto

“Teatro no

Povoado”

Projeto

“Teatro no

Povoado”

Oficina de

cenografia

Semana 4 Mostra

com os

resultados

da oficina:

“Literatura

no Varal”

Mostra

com os

resultados

da oficina:

“Bonecos

em Caixa”

Oficina de

direção

teatral

Projeto

“Teatro no

Povoado”

Projeto

“Teatro no

Povoado”

Mostra

com

resultados

do projeto

“Teatro no

Povoado”

Quadro 1 – Programação: formação em cultura

48

Sugestão de Reginaldo Carvalho 49

Sugestão de Benedito Oliveira

99

b) Retomando o protagonismo da filarmônica

A Sociedade Filarmônica União dos Ferroviários Bonfinenses tem 60 anos e é única

filarmônica de Senhor do Bonfim. Passou por períodos de crise em outras décadas, o que

acarretou sua desativação em alguns períodos. Santana (2013a) compreende que o grupo passa

por uma situação difícil, já que não possui apoio financeiro de nenhuma fonte. Ele está em

atividade apenas por conta dos professores, que trabalham de forma voluntária. A contratação

da filarmônica para se apresentar no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho seria um estímulo

financeiro para a manutenção do grupo e uma iniciativa importante para a valorização de um

grupo tradicional do município que, por conta da queda de apresentações ao longo dos anos, é

desconhecida pelo público mais jovem. A realização de concertos regulares faz jus à memória

do artista que dá nome ao espaço, visto que são raras as apresentações de música no teatro.

Seria importante traçar relação entre este e o primeiro item, de formação, produzindo assim

concertos didáticos para crianças e adolescentes, para que tenham oportunidade de conhecer

mais sobre os instrumentos, autores clássicos e a música de concerto.

______ Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6

Semana 1 Concerto

didático50

Concerto

didático

Concerto

didático

Concerto

didático

Concerto

didático

Concerto

didático

Semana 2 - - - - - -

Semana 3 A

filarmônica

apresenta:

Quintas

Musicais

A

filarmônica

apresenta:

Quintas

Musicais

A

filarmônica

apresenta:

Quintas

Musicais

A

filarmônica

apresenta:

Quintas

Musicais

A

filarmônica

apresenta:

Quintas

Musicais

A

filarmônica

apresenta:

Quintas

Musicais

Semana 4 - - - - - -

Quadro 2 – Programação: filarmônica

c) Shows na área externa

Não há ocorrência de realização de shows abertos no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho.

A área externa do equipamento, que comporta o estacionamento, poderia ser utilizado para

montagem de um palco móvel. Em Senhor do Bonfim, não é frequente a apresentação de

50

Sugestão de Tenison Santana

100

espetáculos musicais de ritmos diferentes do forró, pagode e arrocha. Produtores de festas

privadas constantemente contratam artistas dos gêneros citados para se apresentarem no

município, utilizando como palco principalmente o Campo Clube. Partindo da compreensão

de que é dever do Estado estimular a promoção da diversidade de atividades e práticas

culturais, sugerimos a criação de um circuito musical alternativo em Senhor do Bonfim. A

cidade conta com grupos de samba, reggae, rock e MPB, entre outros estilos não privilegiados

nos eventos locais. Muitos deles não conseguem sustentabilidade e se desfazem em pouco

tempo, portanto, o estímulo à produção musical alternativa se faz crucial.

Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6

Semana 1

Semana 2 Projeto

“Música

comendo

no Centro”

Projeto

“Música

comendo

no Centro”

Semana 3

Semana 4 Projeto

“Música

comendo

no Centro”

Quadro 3 – Programação: música

d) Exposições no foyer

Marcos Cesário51

é um fotógrafo bonfinense reconhecido internacionalmente, mas que nunca

teve a oportunidade de expor seu trabalho no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. Na

ocasião em que foi convidado pela prefeitura, recusou-se a organizar uma mostra, dadas as

condições inadequadas oferecidas para apresentação das suas obras. Caco Muricy também

trabalha com artes plásticas e ainda não teve oportunidade de expor seu trabalho neste espaço

cultural. Enquanto isso, o foyer do equipamento mantém-se inoperante, sem utilização. O

potencial dessa dependência deve ser explorado, com o objetivo de aproximar o público da

51

Artista entrevistado para a pesquisa, mas que preferiu não ter seu relato gravado. Para conhecer sua obra, é só

acessar: < http://www.marcoscesario.com.br/>.

101

linguagem das artes visuais, ainda pouco acessível, valorizar os artistas já consagrados e

fomentar a criação de novos trabalhos. É possível ainda organizar uma mostra de artesanato,

visto que esta atividade é bastante praticada na região.

Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6

Semana 1 - - - - - -

Semana 2 Abertura

de

exposição

fotográfica

- Abertura

de nova

mostra

(painéis,

quadros ou

esculturas)

Abertura

de

exposição

de

artesanato

-

Semana 3 - - - - - -

Semana 4 - - - - - -

Quadro 4 – Programação: exposição

e) Estímulo ao teatro, dança e circo

As linguagens mais apresentadas no Centro Cultural Ceciliano merecem atenção especial. Os

grupos de teatro e dança até hoje se mantiveram através de iniciativa própria. É necessário

fomentar novas produções e, assim, fortalecer as áreas temáticas. A quantidade de artistas das

artes cênicas em Senhor do Bonfim é alta, portanto, é possível garantir a apresentação de nove

espetáculos (entre circo, teatro e dança) ao longo dos seis meses de programação.

Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6

Semana 1

Projeto

“Bonfim em

Cena”:

apresentação

de espetáculo

de dança

Semana 2 Projeto

“Bonfim em

Cena”:

apresentação

de

espetáculo

Projeto

“Bonfim em

Cena”:

apresentação

de espetáculo

Projeto

“Bonfim em

Cena”:

apresentação

de espetáculo

de teatro /

Projeto

“Bonfim em

Cena”:

apresentação

de espetáculo

de teatro /

102

de teatro /

circo

de dança circo circo

Semana 3 Projeto

“Bonfim em

Cena”:

apresentação

de espetáculo

de teatro /

circo

Semana 4 Projeto

“Bonfim

em Cena”:

apresentaç

ão de

espetáculo

de teatro /

circo

Projeto

“Bonfim em

Cena”:

apresentação

de espetáculo

de teatro /

circo

Projeto

“Bonfim em

Cena”:

apresentação

de espetáculo

de dança

Quadro 5 – Programação: teatro, dança e circo

f) Capacitação em Marketing Cultural

Mais que ações passageiras, é necessário criar programas que se perpetuem, que reverberem a

longo prazo. Assim como as oficinas formativas e os concertos didáticos, que irão auxiliar na

formação de público, um benefício que vigora ao longo dos anos do participante,

principalmente se ainda tiver na idade escolar, a capacitação de outros sujeitos da cadeia

produtiva pode auxiliar no alcance de resultados favoráveis ao longo dos anos. É o caso da

formação em Marketing Cultural para o setor do comércio, principal elo produtivo da

economia da Senhor do Bonfim e que, infelizmente, mesmo com seu poder financeiro, não

patrocina a ação cultural. Entendemos que os artistas precisam avançar na forma de dialogar

com esse setor, assim como é preciso apresentar aos empresários os benefícios do patrocínio

cultural, de que forma essa aparente “doação” pode retornar em resultados, seja em vendas ou

consolidação da marca da empresa. Nesse sentido, uma parceria com a associação local do

comércio se faz importante, para estimular que os membros participem da formação proposta.

Deve ser apresentado um programa de capacitação extenso, de no mínimo 30 horas, com

apoio das universidades locais, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

(Sebrae) e, caso necessário, Universidade Federal da Bahia (UFBA), que possui constante

atuação nesse setor. A etapa de finalização do curso poderia ser um momento de diálogo entre

103

empresários e artistas, em que os últimos apresentariam seus projetos aos prováveis

financiadores.

Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6

Semana 1

Curso de

Marketing

Cultural

para

empresários

Semana 2 Curso de

Marketing

Cultural

para

empresários

Semana 3 Curso de

Marketing

Cultural

para

empresários

Semana 4 Curso de

Marketing

Cultural

para

empresários

Quadro 6 – Programação: Marketing Cultural

g) Retorno financeiro para a manutenção do espaço cultural

Considerando que uma reforma gerencial e física deve ser feita urgentemente no Centro

Cultural Ceciliano de Carvalho, um dos objetivos do projeto pode ser dispor os recursos

advindos da bilheteria na manutenção do espaço. Desse modo, todos os produtores e artistas

envolvidos seriam pagos por seus trabalhos, mas o retorno em bilheteria seria utilizado a favor

do próprio espaço. O destino do dinheiro seria discutido publicamente, para que aqueles que

usam o equipamento pudessem indicar quais as principais questões a serem desenvolvidas. De

acordo com o modelo dos espaços culturais da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia

(Secult-Ba), sugerimos que um dos serviços contratados seja o de comunicação, para

104

elaboração da identidade visual do espaço e de material de divulgação, físico e online, para

que o público possa conhecer sua história, funcionalidade e potencial.

Não é objetivo desse trabalho fundamentar um projeto cultural, formatar as atividades

apresentadas dentro da lógica de um edital, inclusive apresentando orçamento consistente,

pessoas responsáveis por cada ação, tempo de duração exata das atividades, perspectiva de

público etc. Indicamos essas questões de modo preliminar, a partir de indicações alcançadas

nas entrevistas e da observação da pesquisadora. No entanto, uma ressalva precisa ser feita, a

fim de que a proposta sugerida não seja tida como megalomaníaca: é sabido que as atividades

sugeridas não cabem em um único projeto, especialmente, naquele a ser encaminhado para o

edital de Dinamização de Espaços Culturais. É necessário selecionar quais ações devem ser

privilegiadas ou, ainda melhor, a Prefeitura de Senhor do Bonfim deve se responsabilizar

financeiramente por algumas etapas, visto que tal projeto, de caráter regular ao longo de seis

meses, necessitaria de um orçamento alto, não coberto pelo edital da Secult-Ba. Assim como é

necessário assumir o protagonismo cultural dentro do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho,

é fundamental que a prefeitura assuma o seu papel de agente público de fomento à cultura,

negado ao longo dos anos.

105

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho em questão traçou um diagnóstico cultural sobre o Centro Cultural Ceciliano de

Carvalho, a partir das perspectivas de gestão e usos do espaço. Em linhas gerais, observamos

que o espaço já nasceu deficitário, do ponto de vista de infraestrutura e objetivos de ação. A

realização de um evento de economia no dia posterior à abertura indica que o centro cultural já

nasce como “auditório” da prefeitura, que até então não contava com um espaço para a

realização dos seus eventos corporativos e institucionais. No entanto, a nomeação deste

equipamento como “centro cultural” – apesar de estar deslocado com as concepções de Cenni

(1991), Coelho (1997) e Milanese (1997), que indicam que um espaço como esse se

caracteriza pela reunião de produtos culturais de diversas naturezas e pelo estímulo à

formação de novos produtos e públicos, o que o espaço bonfinense não consegue atender – já

apresenta por si só um indicativo positivo. Se a prefeitura cria um equipamento para

realização de seus eventos e não o nomeia de “centro de convenções” ou mesmo “auditório

municipal”, como seria natural, preferindo o título de “centro cultural” e subtraindo o termo

“municipal” para dar lugar ao nome de um grande artista, verifica-se que ao menos no

imaginário a preocupação com a cultura existiu. Preocupação esta que talvez tenha sido

forçada a assumir, diante da organização da classe artística local, mas que, ainda assim, indica

a legitimidade daquele enquanto espaço de cultura, legitimidade esta que deve ser retomada.

O estudo se utilizou de fontes documentais, bibliográficas e, principalmente, orais. A pesquisa

de campo junto aos atores culturais da cidade permitiu a construção de um plano de ação para

o espaço, a partir de uma proposta de programação cultural regular, visto que, desde a criação,

o Centro privilegiou a ação não cultural. É real a emergência de ativar o potencial deste

centro, reinserindo Senhor do Bonfim no circuito da Produção Cultural especializada, visto

que a cidade já teve posição de destaque no estado do início do século XX à década de 1980,

com apresentação, inclusive de festival nacional de teatro.

Entre outros significados, compreende-se que diagnosticar é apresentar juízo sobre algo com

base em dados e informações obtidas por meio de “exame”. A compreensão de que o “exame”

ou análise do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho não poderia estar distanciada da

investigação do seu contexto cultural, a pesquisa conseguiu realizar o diagnóstico do

equipamento a partir da relação com a cultura bonfinense. A escolha dos artistas locais como

principais fontes de dados e informações apontou o diagnóstico para uma direção contrária à

106

análise restrita dos métodos e instrumentos utilizados na gestão do centro de cultura, caminho

este que legitimaria como sujeitos da ação apenas os gerenciadores oficiais da pasta, ou seja,

diretores, coordenadores e secretários de cultura.

Além de estar alinhado com os estudos atuais sobre organização da cultura, que toma a

participação como aspecto central para a criação de políticas, um diagnóstico pautado na

centralidade dos atores culturais do município tem a funcionalidade de apresentar perspectivas

de requalificação, visto que são estes atores quem conhecem empiricamente o funcionamento

da casa de espetáculos. Assim, visualizamos através das entrevistas não apenas “o que foi” ou

“o que é” o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, mas também o que este equipamento pode

de fato se tornar. Ao se identificarem como criadores e recriadores cotidianos do principal

equipamento de cultura de Senhor do Bonfim, os artistas lutam para a sua permanência e se

disponibilizam para ajudar a construir um modelo para tal.

Sabemos que uma programação permanente não é condição única para a requalificação do

espaço, mas um dos caminhos para alcançá-la. Ela é proposta como ponto de partida por

existir um mecanismo estadual de fomento que incentiva esta etapa, a saber, o edital de

Dinamização de Espaços Culturais da Secult-Ba. Disponibilizar uma programação regular ao

longo de seis meses deve ampliar o impacto do espaço junto à comunidade local, fomentar o

acesso e a formação de público para a cultura. A realização de atividades formativas deve ter

local de destaque, visto que um dos dados encontrados indica que o público frequentador das

apresentações é sempre o mesmo. Nesse sentido, dispor de atividades regulares não basta, é

necessário atuar de forma mais efetiva na formação de públicos, seja de plateia ou novos

artistas. Conforme Botelho (2007), entendemos que não basta garantir o acesso da população

aos bens culturais, é necessário promover condições para que a população possa produzir

cultura, já que apoiar o “fazer” contribui significativamente para a formação de públicos.

A pesquisa de campo foi realizada de maio a julho de 2013 e, como principal dificuldade

encontrada, apontamos a falta de registro adequado das fontes documentais do município. A

cidade não possui museu ou arquivo público e a biblioteca municipal não reúne jornais antigos

ou documentos históricos, ficando a pesquisa restrita à consulta ao Memorial Senhor do

Bonfim, gerenciado por uma instituição particular de ensino. Sem apoio da prefeitura, a falta

de recursos impede que a instituição realize um trabalho de manutenção ou disponibilize

funcionários para trabalhar no espaço. Assim, o Memorial abre apenas se uma visita for

107

agendada com antecedência. Tive acesso ao espaço apenas por um dia. Nas outras tentativas,

não havia funcionário disponível para a função e, num segundo momento, a chave do local

tinha sido emprestada pela diretora. Mesmo com a aparente boa vontade da equipe, o acesso

não teve como ser concedido, visto que a única chave do espaço não foi devolvida durante o

tempo de permanência da pesquisadora na cidade. Vale identificar ainda a distância de Senhor

do Bonfim em relação a Salvador, de 6h a 7h de transporte rodoviário, como mais uma

dificuldade enfrentada. Isso impediu que as viagens fossem mais frequentes e que o tempo de

permanência na cidade do interior fosse maior, a fim de fazer uma pesquisa mais aprofundada.

As horas gastas no deslocamento, bem como na transcrição das entrevistas, de algum modo

limitou o tempo despendido para a análise, no entanto, sem prejudicá-la.

Espera-se que o diagnóstico traçado sirva a estudos futuros sobre a Produção Cultural de

Senhor do Bonfim. A escolha em disponibilizar as entrevistas em um blog, acessível a todos

os públicos, foi tomada com esse objetivo. Acreditamos que a análise do Centro Cultural

Ceciliano de Carvalho e do contexto de Senhor do Bonfim se aplica a outras cidades baianas,

portanto, o lançamento das informações em um portal online pode contribuir também para

investigações sobre organização da cultura no interior do estado, de uma forma macro.

108

REFERÊNCIAS

BIBLIOGRÁFICA, DOCUMENTAL E ONLINE

ALMEIDA, Rose Mary Ferreira (org.). E tu, me amas? Encontro de leitores e enamorados

da cidade de Senhor do Bonfim. Senhor do Bonfim: Direc-28, 2001.

AQUINO, Klene Barreto de. Univasf debate projetos para o campus de Senhor do Bonfim

em evento para os candidatos eleitos no município. Univasf, Senhor do Bonfim, out. 2012.

Disponível em: < http://www.univasf.edu.br/detalhe_noticias.php?cod=1379>. Acesso em: 28

jul. 2013.

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LEMOS, Nando. Entrevista – Nando Lemos [jun. 2013]. Membro do Núcleo Aroeira de

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MAGALHÃES, Alexandre. Entrevista – Alexandre Magalhães [mai. 2013]. Dançarino e

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OLIVEIRA, Benedito. Entrevista – Benedito Oliveira [mai. 2013]. Artista-educador, atua

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PEREIRA, Carla Lidiane. Entrevista – Carla Lidiane [jun. 2013]. Ex-representante

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<http://producaonosertao.wordpress.com/2013/07/28/entrevista-tenison-santana/>.

SANTANA, Angélica. Entrevista – Angélica Santana [jul 2013]. Diretora do colégio

Casinha Feliz e ex-secretária de cultura. Entrevistadora: Adriana Santana. Senhor do Bonfim,

2013b. 1 arquivo .mp3 (42 min.). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita e disponível

em: < http://producaonosertao.wordpress.com/2013/07/27/entrevista-angelica-santana/>.

SCHADE, Guegueu. Entrevista – Guegueu Schade [mai. 2013]. Músico e escritor; já

integrou o Núcleo Aroeira de Arte. Entrevistadora: Adriana Santana. Senhor do Bonfim, 2013.

1 arquivo .mp3 (82 min). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita e disponível em:

<http://producaonosertao.wordpress.com/2013/08/13/entrevista-guegueu-schade/>.

SÉRGIO, Zumar. Entrevista – Zumar Sérgio [mai. 2013]. Artista de circo e teatro; trabalha

atualmente na Secult Bonfim. Entrevistadora: Adriana Santana. Senhor do Bonfim, 2013. 1

arquivo .mp3 (36 min). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita e disponível em:

<http://producaonosertao.wordpress.com/2013/08/13/zumar-sergio/ >.

SILVA, Reginaldo Carvalho da. Entrevista – Reginaldo Carvalho [jun. 2013]. Artista de

circo e teatro; doutorando em Teatro pela UFBA. Entrevistadora: Adriana Santana. Senhor do

Bonfim, 2013. 1 arquivo .mp3 (85 min.). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita e

disponível em: <http://producaonosertao.wordpress.com/2013/08/13/reginaldo-carvalho/>.

URBANO, Ary. Entrevista – Ary Urbano [jun. 2013]. Atual secretário de cultura de Senhor

do Bonfim. Entrevistadora: Adriana Santana. Senhor do Bonfim, 2013. 1 arquivo .mp3 (30

min). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita e disponível em:

<http://producaonosertao.wordpress.com/2013/08/13/ary-urbano/>.

117

APÊNDICES

APÊNDICE A – Gestão interna: horários de funcionamento e preços de pauta

As informações sobre preços de pauta e horários de funcionamento da Secretaria Municipal de

Cultura estão afixadas no mural do Centro Cultural, no anexo onde funciona o órgão.

a) Expediente da Secult Bonfim

Horário de funcionamento: de 8h às 14h

Segunda-feira – Atendimento externo

Terça-feira – Atendimento interno

Quarta-feira – Atendimento externo

Quinta-feira – Atendimento interno

Sexta-feira – Atendimento externo

b) Valores das pautas

* Anfiteatro – Produção local

Parceria: R$ 80 ou isenção com realização de ações formativas (espetáculos gratuitos)

Taxa mínima: R$ 60

Pauta cheia – R$ 150

* Anfiteatro – Produção externa

Parceria: R$ 160 ou isenção com realização de ações formativas (espetáculos gratuitos)

Taxa mínima: R$ 160

Pauta cheia – R$ 300

118

* Sala de reuniões – Produção local

Parceria: Isenção com realização de ações formativas

Taxa: R$ 20

* Sala de reuniões – Produção externa

Parceria: Isenção com realização de ações formativas

Taxa: R$ 50

* Sala de ensaio (pauta por turno)

Parceria: Isenção com realização de ações formativas

Taxa: R$ 25

* Foyer – Produção externa

Parceria: Isenção com realização de ações formativas

Taxa: R$ 50

119

APÊNDICE B - Agendamento de pautas: janeiro a agosto de 2013

A tabela de marcação de pautas foi acessada no dia 31 de maio, na sede da Secretaria

Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim. É possível que algumas atividades tenham sido

modificadas. Sabemos, por exemplo, que a Conferência Municipal de Cultura deixou de ser

realizada no dia 20 de julho, sendo alocada no mês seguinte, em 2 de agosto.

JANEIRO

14 – Secretaria de Educação

24 – Secretaria da Fazenda (Sefaz)

26 – Universidade Estadual da Bahia (Uneb)

27 – Secretaria da Fazenda (Sefaz)

29 – Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar

FEVEREIRO

22 a 24 – Formação Trupe do Teatro

25 – Reunião da Comissão do São João

26 – Plenária da Seca

28 – Ensaio da Uneb

MARÇO

01 – Ornamentação da Uneb e da Secretaria de Educação

02 – Formatura da Uneb

03 e 04 – Jornada Pedagógica da Secretaria de Educação

05 – Parada da Polícia Militar

09 – Igreja Adventista

120

11 a 15 – Recadastramento dos funcionários da prefeitura

16 e 17 – Espetáculo “Vitamina”

22 – Embasa

ABRIL

01 a 05 – Recadastramento dos funcionários da prefeitura (RH)

06 e 07 – Terapeutas do Riso (Teatro)

08 a 12 – Recadastramento dos funcionários da prefeitura (RH)

13 – Palestra Construtora – Ceara

15 a 17 – Recadastramento dos funcionários da prefeitura (RH)

19 – Ensaio do Workdance

20 – Espetáculo (Workdance?)

26 – Parada Militar

27 – Faculdade Anhanguera

29 – Ensaio da Faculdade Anhanguera

30 – Dia da Mulher

MAIO

01 – Ensaio da Faculdade Anhanguera

02 – Semus

06 – Reunião com ambulantes (Secretaria de Indústria e Comércio)

10 – Semec

11 e 12 – Espetáculo “Professores Alucinados” (Cia do Riso)

14 a 17 – I Congresso de Enfermagem

18 – Mesa de Reunião do Colegiado Territorial de Dança

22 a 24 – Espetáculo “A Revolta dos Brinquedos”

121

28 – Formatura da Uneb

JUNHO

01 – Minuto Mulheres Adventistas

03 a 07 – Semana do Meio Ambiente (Secretaria do Meio Ambiente)

08 – Desbravadores Clube Continentes (Noite de Louvor)

10 a 13 – Oficina de Iluminação e Figurino para Dança (Funceb / Funarte)

JULHO

06 e 07 – Espetáculo “O Diabo Veste Saia”

12 e 13 – I Giro Cultural – Trupe da Saúde

20 – III Conferência Municipal de Cultura

AGOSTO

08 e 09 – Espetáculo “PI – Palavras Improvisadas”

18 – Renovação Carismática Católica

122

APÊNDICE C – Roteiro para entrevista com artistas ou produtores culturais da cidade de

Senhor do Bonfim

Data: _____/______/_______ Início: _______h Término: _______h

Nº da entrevista: ___________

Nome do (a) entrevistado (a):

Formação:

Naturalidade:

Contatos (telefone e e-mail):

1. Qual (is) grupo (s) cultural (is) você integra? Há quanto tempo?

2. Qual função exerce no grupo?

3. Possui outro tipo de trabalho (fonte de renda) além do grupo que faz parte?

4. Há quanto tempo atua no setor cultural em Senhor do Bonfim? Trace um breve

histórico da sua atuação no setor cultural em Senhor do Bonfim. Como se deu sua formação

artística?

5. Em qual (is) área (s) artística (s) atua?

( ) Dança ( ) Teatro ( ) Circo ( ) Literatura ( ) Música ( ) Artes Visuais ( ) Outro

_________________________

6. Quantas e quais outras pessoas participam do (s) grupo (s) que integra?

7. Relate um breve histórico da iniciativa que atua (como e quando surgiu, motivação

para criação do grupo, público-alvo, prêmios conquistados).

8. O grupo é registrado (possuem CNPJ)?

9. Quais as principais formas de manutenção do grupo?

( ) Recursos próprios ( ) Bilheteria ( ) Patrocínio/Apoio ( ) Editais Públicos ( ) Outras

Fontes. Quais? ____________________________________________

10. Onde costuma (m) se apresentar?

123

11. Quais as principais apresentações feitas no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho?

12. Como avalia este equipamento cultural? Quais os principais pontos positivos e

negativos do espaço?

13. Você acredita que é necessário haver uma programação mais constante no Centro

Cultural?

14. Qual tipo de programação gostaria de ver no local?

15. De que forma sua produção poderia ser incluída no programação do centro?

16. Como você avalia a frequência de público nas atividades culturais bonfinenses? Caso a

participação seja pequena, quais fatores são determinantes?

17. Como avalia a gestão da Secretaria Municipal de Cultura?

18. Existe uma aproximação dos gestores com os artistas locais?

19. Você conhece os editais de financiamento à cultura lançados pela Secult-Ba?

20. Você sabia que existe uma política de territorialização, que facilita a inscrição de

projetos do interior do estado?

21. Indica alguma pessoa para ser entrevistada para a pesquisa?

124

APÊNDICE D – Programação para o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho

125

126

9. ANEXOS

ANEXO A – Hino do município de Senhor do Bonfim

Exaltação a Bonfim

Letra e música: Jairo Simões

Descanso de tropeiro

No meio do sertão

Caminho de bandeirantes

Descobrindo o nosso chão

Aqui ficaram boiadeiros

Bravos pioneiros

De laço e gibão

Em torno, a Serra do Espinhaço,

Num amistoso abraço,

Lhe dá proteção

Vila Nova da Rainha

Uma história p’ra contar

São lutas de um povo

Por tudo o que é novo

Na certeza de que vai ganhar

Salve o lavrador

Que os campos refaz

E p’ra nossa feira

Muito nos traz

Salve o comércio e a indústria

Na lida sem fim

Viva Bonfim.

127

ANEXO B – Lei Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim

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138

ANEXO C - Crítica do Núcleo Aroeira de Arte ao São João 2013

“São João da tradição?” Artistas criticam sufocamento da cultura bonfinense

Autoria: Núcleo Aroeira de Arte (Associação Artística, Cultural e Educacional do Semiárido

Baiano)

A cultura unifica a nação, esta premissa básica é suficiente para a presente analise em que se

aponta a descaracterização da cultura popular nordestina especificamente o são João no

interior da Bahia. Mesmo diante da diversidade da identidade sertaneja, por exemplo,

percebemos que alguns elementos externos ultrapassam valores tradicionais com raízes

marcantes da fantástica miscigenação brasileira e que fogem aos princípios do momento

vivido.

Quando se fala em cultura, tudo ou quase tudo cabe. Porém, quando numa brincadeira infantil

gritamos “cada macaco em seu galho”, estamos querendo acordar que existe um lugar para

cada um e um momento para cada coisa. O comediante e compositor baiano, Gordurinha,

dizia que “chicletes ele iria misturar com bananas”! Mas, só quando o Tio San pegasse no

tamborim. Seguindo este raciocínio, fica a dica: não faça esta mistura de forma tão radical,

isto é um choque para uma cultura construída ao logo de tantos anos de festa e alegria

intrínseca a forma de ser do povo do nordeste brasileiro e aqui falamos especificamente do

povo baiano e bonfinense.

Será que as senhoras e senhores que dedicaram suas vidas para fortalecer e manter viva a

história cultural de Senhor do Bonfim merecem este desrespeito? Perdoem-nos os

organizadores que acreditamos não terem medido esforços para planejar, fazer uma consulta

popular com as classes e pessoas responsáveis pela tradição dos festejos juninos em Senhor do

Bonfim, gente que entenda de alimento a transporte, de hospedagem a segurança, da fé ao

divertimento.

Ironia? Claro que sim! Porque acreditamos na transformação da cultura, mas, não na

banalização e desrespeito com o esforço coletivo de um povo que vêm doando a muitos anos

suas mais profundas convicções para manter vivo a essência do forró, da roda cantada, das

bandas de calumbis, da magia do trio: triangulo, sanfona e zabumba, das luzes e brilhos dos

fogos explodindo em alvoradas, vivas a Santo Antônio, São João e São Pedro; Sem esquecer

Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Zé Anastácio e Eliziario, Neném Fogueteiro e tantos

outros mestres e mestras desta brava gente bonfinense.

Antes que digam, não se trata de ufanismo ou saudosismo caricaturado. O que provocamos

aqui é uma reflexão sobre o valor cultural e a importância para as gerações futuras de se

manter a memória dos homens e mulheres que fizeram e fazem a história de Senhor do

Bonfim.

139

Assim, se ouvirdes uníssono que desde o início de junho em Senhor do Bonfim chega de

paredão, lek-lek, pagodão, músicas eletrônicas, e todos os pacotes massificadores. Não

estamos ocultando uma face oculta do moralismo ou da censura disfarçada. O que queremos é

manter a ética, respeitando a memória dos mais velhos e garantindo a acessibilidade aos mais

novos no gigantesco terreiro da tradição cultural.

Outro lado da moeda. Ao observar o circuito cultural bonfinense na atualidade percebemos

que blocos como Jegue elétrico, Feixo de Lenha, Bico do Urubu, Me cutuca e o sfrega só para

citar os mais famosos, são opções incentivadas pela iniciativa privada e de interesse comercial

autêntico dentro do sistema capitalista vigente e que, até que se possa criar um sistema mais

coletivo e autossustentável da economia, permanecerá esta forma dominante inclusive no

campo cultural porque a economia gerada com a indústria dos divertimentos é a que mais

cresce no mundo e em Senhor do Bonfim não é diferente. Porém, para que outras opções

como calumbis, roda do palmeira, samba de lata e outras manifestações se fortaleça será

necessário a intervenção do Estado.

Mas, contudo, o Estado que tem a obrigação de garantir o direito de cada cidadão como afirma

a constituição federal no Artigo 215. “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos

direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e

a difusão das manifestações culturais”. Assim, entendemos que uma vez em que “todos são

iguais perante a lei”, é preciso garantir direitos e respeitar a diversidade. O empresário tem a

liberdade de oferecer um serviço e o público o livre arbítrio para comprar ou não o ingresso

isso é um fato! Mas, a maioria das pessoas não são obrigadas a ouvirem e dançarem no mesmo

compasso capitalista imposto dentro desta logica: coma, beba, dance e dance! Por tanto o

poder público tem a obrigação de respeitar e fazer cumprir a lei.

ANEXO D – Crítica do ex-prefeito Paulo Machado ao São João 2013

O São João de Senhor do Bonfim e os pecados mortais do governo Correia Autoria: Paulo Machado (vice-prefeito de Senhor do Bonfim entre 2001 e 2008; prefeito entre

2009 e 2012).

Lembro-me de ter lido, em uma cartilha escolar, que o gato foi convidado pela “amiga” onça a

ensinar-lhe os pulos que ele, gato, conhecia como ninguém. Depois de uma longa aula, a onça,

muito sabida, deu um pulo para abocanhar o gato, mas este se safou rapidamente e deixou a

onça a ver navios. Esta, julgando-se enganada, disse ao gato: “Mas este tipo de pulo você não

me ensinou”. O bichano, muito vivo, retrucou: “E eu iria te ensinar o meu pulo? Se tivesse

ensinado você me teria comido agora”. Daí, passou para a nossa cultura, a idéia do “pulo do

gato”, uma referência a um saber que só a pessoa tem e guarda para si como defesa”.

Poderíamos agora, levados pela mesma lógica, abstermo-nos de passar para a assessoria do

atual prefeito “o pulo do gato”, fruto de nossa experiência como vice-prefeito e secretário da

educação durante oito anos, e como prefeito durante quatro anos. Almejando contudo o

melhor para nossa terra, passo agora, em nossa avaliação, os furos que levaram ao último e

sofrível São João, para que, quem sabe, caso haja humildade em quem governa, se faça em

140

2014 o São João que este ano não tivemos. Daí, elencamos aqueles que consideramos os

“pecados mortais” da equipe governante:

1. A dispensa de pessoas técnicas, que vinham fazendo o São João havia anos, e sabiam de cor

os passos a serem dados, até mesmo na arrumação da grade e desenrolar do palco. Por que não

ouvir Edneuton, Ebão, Moreira, Fernando Coelho? Um São João não pode ser entregue a uma

equipe toda nova, sem a presença de técnicos experientes;

2. No afã de “fazer diferente”, o governo rejeitou tudo aquilo que vinha sendo feito havia anos

e garantia sucesso. Iniciativas que já tinham virado tradição, bastando ao governo atual dar ali

o seu toque inovador. A morte do São João nos Bairros, que começava ainda em maio... A

morte do forrobodó, que tornava a cidade borbulhante desde o meio-dia... A dificuldade em se

fazer a Feira da Agricultura Familiar, trazendo a zona rural para dar o verdadeiro toque típico

ao nosso São João... Tudo isto contribuiu ao enfraquecimento da festa;

3. O desconhecimento de que precisamos aproveitar a mobilidade popular, onde o povo está,

para ali fazer chegar a festa. O povo já se reunia, naturalmente, no abrigo, em frente às Lojas

Maia, na Benjamim Constant até a Praça Nova: artesanato, comida típica, mesas e cadeiras,

bares, a praça, e era só levar a música e o palco. Esta foi a grande sacada de Luis Moreira e

Fernando Coelho em nosso governo. A coisa deu tão certo, que muita gente não ia nem ao

Parque, ficando por ali, e tínhamos de encerrar as atrações cedo para não atrapalhar o Parque

da Cidade. Um Palco em uma deserta Praça Nova, outro em uma área comercial deserta atrás

dos correios, o isolamento de áreas onde o povo freqüenta, o que era de se esperar? O vazio e

o desânimo.

4. O imediatismo das contratações de peso: contratávamos as atrações, com os empresários

diretos, já em janeiro/fevereiro. E pagávamos em parcelas, desde fevereiro/março. Quando

chegávamos em junho nada mais devíamos às grandes atrações, que estavam garantidas.

Querer pagar de vez ou em curto tempo as atrações contratadas é suicídio em uma prefeitura,

hoje em dia, onde o dinheiro chega a conta-gotas.

Taí uma parte do pulo do gato. A outra parte? Esta é melhor não ensinar... rs rs.

141

ANEXO E – Convite de inauguração do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho

O documento faz parte do acervo do Memorial Senhor do Bonfim e foi fotografado no dia 29

de maio de 2013.

142

ANEXO F - Regimento Interno do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho

REGIMENTO INTERNO CENTRO CULTURAL CECILIANO DE CARVALHO

Centro Cultural Ceciliano de Carvalho

Endereço: Avenida ACM, s/n, Senhor do Bomfim/ BA.

Telefone: (74) 3541-8309

143

CAPÍTULO I

DA FINALIDADE E COMPETÊNCIA

Art. 1º - O Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, visa proporcionar

efetivas condições para o exercício da cidadania cultural a todos os

bonfinenses, estabelecendo novos mecanismos de gestão pública das

políticas culturais e cria instâncias de efetiva participação de todos os

segmentos sociais atuantes no meio cultural, compreendido em seu

sentido mais amplo.

Parágrafo Único - Para a consecução dos fins previstos neste artigo, o

Centro Cultural Ceciliano de Carvalho da Secretaria Municipal de Senhor

do Bonfim, tem como objetivos:

I - Estabelecer e implementar políticas de longo prazo, em consonância

com as necessidades e aspirações da comunidade bonfinense;

II - consolidar um sistema público municipal de gestão cultural, com ampla

participação e transparência nas ações públicas, através de parcerias com

pessoas jurídicas de direito público ou privado, sempre na busca da

preservação e manutenção do patrimônio histórico, artístico e Cultural da

Cidade de Senhor do Bonfim, implantando novos instrumentos

institucionais, como cadastro cultural do Município de Senhor do Bonfim,

Fundo Municipal de Cultura (FMC), e posterior elaboração da proposta

anual do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho;

III - mobilizar a sociedade, mediante a adoção de mecanismos que lhe

permitam, por meio da ação comunitária, definir prioridades e assumir co-

responsabilidades no desenvolvimento e na sustentação das

manifestações e projetos culturais;

IV - democratizar o acesso aos bens culturais e o direito à sua fruição,

através da ampliação da oferta desses bens e da descentralização das

ações culturais do Município, estendendo o espaço do Centro Cultural a

toda municipalidade;

144

V - fortalecer as identidades locais, através da promoção e do incentivo à

criação, produção, pesquisa, difusão e preservação das manifestações

culturais, nos vários campos da cultura, de modo a renovar a auto-estima

da população, fortalecer seus vínculos com a cidade, estimular atitudes

críticas e cidadãs proporcionando prazer e conhecimento;

VI - colaborar com as organizações já existentes para sua consolidação;

VII - estimular a organização e a sustentabilidade de grupos, associações,

cooperativas e outras entidades de classe atuantes na área cultural;

VIII - divulgar e preservar o patrimônio cultural do Município e da

Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim, Bahia a memória,

material e imaterial, da comunidade bonfinense;

IX - garantir continuidade aos projetos culturais já consolidados com

notório reconhecimento da comunidade;

X - assegurar a centralidade da cultura no conjunto das políticas locais,

reconhecendo o Município como o território onde se traduz os princípios

da diversidade e multiplicidade cultural estimulando uma visão local que

equilibre o tradicional e o moderno numa percepção dinâmica da cultura.

Art. 2º Compete ao Centro Cultural Ceciliano de Carvalho da Secretaria

Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim, Bahia:

I - divulgar a realidade cultural do Município, através dos seus diversos

artistas, esportistas, produtores, técnicos, usuários, profissionais, bem

como grupos, entidades e equipamentos culturais existentes;

II - estimular a participação de grupos de coral, emergentes, comunitários,

estudantil, universitários, autores, recém formados, e todo grupo cultural

organizado, criadores e protagonistas do cenário cultural de Senhor do

Bonfim, para aquisição de apoio logístico objetivando realizar eventos

culturais.

III – viabilizar através de parcerias e sem ônus para a Secretaria Municipal

de Cultura de Senhor do Bonfim, a divulgação da produção cultural local

através da contratação e serviços de entidades cultural, esportiva e de

145

turismo;

IV - difundir a produção e o patrimônio cultural do Município, facilitando o

acesso ao seu espaço, de forma a potencializar e dinamizar a cadeia

produtiva;

V – fomentar no âmbito municipal as atividades culturais nas suas diversas

áreas;

VI - habilitar seus integrantes a participar dos fóruns deliberativos, nas

diversas instâncias, dentro dos princípios Municipais de Cultura;

VII – identificar nas suas diversas áreas fontes de financiamento para as

atividades culturais.

CAPÍTULO II

DA ORGANIZAÇÃO

Art. 3º - O Centro Cultural Ceciliano de Carvalho da Secretaria Municipal

de Cultura de Senhor do Bonfim, Bahia será administrada da seguinte

forma:

I - O Centro Cultural Ceciliano de Carvalho será administrado pelo Diretor

de Arquivo, Museus e Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico, ora

denominado, Gestor Legislativo Cultural, por indicação do Secretário

Municipal de Cultura com mandato de 02(dois) anos podendo ser

prorrogado por mais 02(dois) anos. Em caso de exoneração do mesmo,

fica responsável por tempo indeterminado o Assessor Chefe do Secretário

Municipal de Cultura em exercício, até que um novo Diretor de Arquivo,

Museus e Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico seja definido.

No caso de exoneração do Assessor Chefe, fica responsável o Diretor de

Políticas, Atividades e Eventos Culturais em exercício.

ATRIBUIÇÃO E COMPETÊNCIA DO GESTOR LEGISLATIVO

Art. 4º - São atribuições e competências do Gestor Legislativo Municipal:

I – Representar perante o Poder Legislativo Municipal os assuntos

referentes a gestão cultural;

146

II – Estabelecer diretrizes e propor normas para as políticas culturais do

Centro Cultural Ceciliano de Carvalho;

III – Apresentar, discutir e elaborar pareceres sobre projetos referentes à

produção, ao acesso aos bens culturais e à difusão das manifestações

culturais da cidade de Salvador, através da Secretaria Municipal de

Cultura;

IV – Estimular a democratização do espaço cultural e atividades de

produção, formação e difusão culturais, visando garantir a cidadania como

direito de acesso e fruição dos bens culturais, de produção e de

preservação das memória histórica, social, política, artística, paisagística e

ambiental através da Secretaria Municipal de Cultura;

V – Estabelecer condições que garantam a continuidade dos projetos

culturais que fortaleçam as identidades locais;

VI – Responder consultas sobre questões normativas relacionadas às

políticas culturais da Secretaria Municipal de Cultura;

VII – Fiscalizar as ações relativas ao cumprimento das políticas culturais da

Secretaria Municipal de Cultura, pelos órgãos públicos de natureza

cultural, na forma de seu Regimento.

VIII - Avaliar a estrutura e o funcionamento do Centro Cultural Ceciliano

de Carvalho, baseado em relatórios elaborado pelo Coordenador Técnico

Cultural, podendo apresentar alterações, quando necessárias;

IX - Avaliar a execução das diretrizes e prioridades da utilização do espaço

do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho;

X- Debater e pré-aprovar propostas de reformulação do Regimento

Interno do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, e posterior

encaminhamento a Secretaria Municipal de Cultura;

XI - Estimular a criação de instrumentos para o fortalecimento das

atividades culturais, zelando pelo Patrimônio Cultural, material e

imaterial, e sua diversidade, nos termos da lei Municipal

Capitulo III

147

DA UTILIZAÇÃO DO ESPAÇO DO CENTRO CULTURAL CECILIANO DE

CARVALHO

Art. 5º - O Centro Cultural Ceciliano de Carvalho da Secretaria Municipal

de Cultura de Senhor do Bonfim, Bahia, localizado na Avenida ACM, s/n,

Senhor do Bonfim, BA, CEP 48-970-000, tem por finalidade ser utilizado

para atividades e apresentações culturais de interesse coletivo,

especificada nos seguintes termos:

I- Arte a) Artes visuais;

b) Música;

c) Artesanato e Artes aplicadas;

d) Artes cênicas;

e) Literatura;

f) Culturas urbanas;

g) Audiovisual; h)

Artes digitais; i)

Arte educação;

j) Agente cultural;

k) Produção cultural.

II- Patrimônio Cultural a) Comunidades tradicionais;

b) Tradições populares

c) Culturas ayahuasqueiras;

d) Culturas afro-brasileiras em diversas manifestações;

e) Culturas populares;

f) Arquivos, museus, salas de memória, centros culturais e coleções

particulares;

g) Historiografia acreana, incluindo produções de outros campos de

conhecimento: hemerografia, antropologia, geografia, sociologia etc.;

h) Patrimônio material;

i) Patrimônio imaterial;

j) Turismo;

148

k) Jornalismo;

l) Movimentos sociais.

Art. 6º - A programação das atividades do Centro Cultural terá inicio às 8h

e encerrará às 23h.

Art. 7º - A data para realização de atividades culturais agendadas estarão

sujeita a alterações por motivo de recesso, ponto facultativo ou

necessidade de caráter extraordinário do Legislativo com devido aviso

prévio.

I - O horário disponibilizado para ensaio, ao longo da temporada será das

8h até as 23h as quartas e sextas-feiras;

II - O espaço do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho será disponibilizado

através de prévio agendamento e desde que seja quitada 24h(vinte e

quatro horas) antes do evento, a Taxa de Administração e Manutenção do

Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, obedecendo à ordem cronológica

da solicitação. O correndo desistência de qualquer ordem ou

impossibilidade de cumprimento por parte do solicitante será convocado

imediatamente o subseqüente, sem direito a devolução de valores já

pagos pela Taxa de Administração.

III - A duração de cada atividade não será menor que 30 minutos nem

superior a 4h (quatro horas).

IV - Ocorrendo atividade no turno noturno fica estabelecido o horário de

22h para encerramento do espetáculo e 22h30m para entrega do espaço.

V - Não será permitido a permanência de cenários ou quaisquer

elementos cênicos nas dependências do Centro Cultural Ceciliano de

Carvalho estando incluso no horário para entrega do espaço constantes no

item IV o tempo da desmontagem sob pena de cancelamento da reserva.

VI - As apresentações terão tolerância máxima de 15(quinze minutos) para

seu começo devendo ser iniciada com qualquer número de público.

VII – Ao ser solicitado, através dos formulários específicos fornecidos pelo

Gestor Legislativo Municipal, é terminantemente proibido no Centro

Cultural Ceciliano de Carvalho, o recebimento de moeda corrente do país

149

ou estrangeira para pagamento dos eventos que serão apresentados no

local. O mesmo será efetuado através de um DAM( Documento de

Arrecadação Municipal) fornecido pela Prefeitura Municipal de Senhor do

Bonfim, na data de assinatura do Termo de Compromisso de Uso.

Permite-se em determinados casos, o recolhimento de

gêneros alimentícios como valor da taxa de aluguel, para

posterior entrega a entidades filantrópicas.

VIII - Os usuários serão responsáveis pela manutenção dos espaços

devendo ao final entregá-lo como encontraram sob pena de arcarem com

os danos e prejuízos ocorridos durante a utilização do local.

IX – A Taxa de Administração e Manutenção tem como intuito garantir: o

Termo de Permissão de Uso do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho e a

manutenção do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. O valor da Taxa de

Administração e Manutenção será definida no Termo de Permissão de Uso

do Centro e terá valor definido de acordo com a dimensão do evento a ser

solicitado.

DAS CONDIÇÕES DO ESPAÇO DO CENTRO CULTURAL CECILIANO DE

CARVALHO

Art. 8º - O Teatro do Centro Cultural conta com os seguintes

equipamentos em perfeito estado de uso:

I - Mesa de áudio Behring MX244A (uma unidade);

II - Microfone dinâmico Superlux Pro 248 (oito unidades);

III - Microfone sem fio UHF JTS VF901/950. (duas unidades);

IV – Toca disco de CD TEAC CD 1250 (uma unidade);

V - Gravador Cassete TEAC W790R (uma unidade);

VI – Fone de ouvido senheizer HD437 (uma unidade);

VII – Direct Box Behring DI100, cabo de 10m XLR (uma unidade);

VIII - Pedestal de mesa para microfone Visão PS36(quatro unidades);

IX - Equalizador Sterio de 31 bandas Ciclotron CGC 2312S (três unidades);

X - Amplificador Sterio 300W RMS Markaudi MK40000 (duas unidades);

XI- Amplificador Sterio 550 RMS Markaudi MK8000(uma unidade);

XII- Amplificador Mono 100W RMS Hayonik GG2500(uma unidade);

XIII- Arandela com alto-falante de oito polegadas Staner Contract 25(três

150

unidades);

XIV -Rack metálico pintura pó para dezoito unidades padrão Rack(uma

unidade);

XV- Multicabo de dezenove vias com meduza, com conectoresXLR fêmeas

e conectores macho XLR para ligação de 50m de comprimento(uma

unidade);

XVI- Caixa Acústica para lateral de palco Attac A590TP (duas unidades);

XVII - Caixa Acústica monitor de palco Attac MVA480 (quatro unidades);

XIX - Fiação para as caixas acústicas, todos os cabos com 2,5 mm2

polarizados de acordo com o projeto de ligações;

XX- Mesa de iluminação Tango 24 ADB ;

XXI - A altura do teatro: aproximadamente 5m;

XXIV - Dimensões de palco: 6,63 x 4,02m;

XXII - Capacidade: 150 lugares;

XXIII- Quatro ar-condicionados da marca...

Art. 9º - O Centro Cultural Ceciliano de Carvalho disponibiliza projetor,

tela e reprodutor de DVD para projeções de cinema mediante solicitação

prévia com antecedência mínima 72 horas junto ao Gestor Legislativo

Cultural.

Art. 10 - Os solicitantes terão acesso ao som e luz, mas não será

disponibilizado nenhuma espécie de recursos humanos (técnicos de som,

iluminação, cenografia, etc). Os grupos deverão trazer profissionais

especializados para manusear os equipamentos da Casa.

Art. 11 - Os equipamentos do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho

cedidos aos selecionados para uso em suas atividades são de

responsabilidade do solicitante, ficando ao seu encargo a responsabilidade

de ressarcimento à da Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do

Bonfim por eventual dano provocado.

DAS SOLICITAÇÕES E DO PRAZO

Art. 12 - As solicitações do espaço do Centro Cultural Ceciliano de

Carvalho serão feitas mediante ofício ou pela internet, através do e-mail

[email protected], com preenchimento de formulário específico

constante no site da Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim,

151

Bahia.

Art. 13 - As solicitações deverão estar adequadas à rotina de programação

do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, nos termos deste Regimento

Interno e da Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim, Bahia.

Art. 14 - As solicitações deverão estar adequadas à rotina da segurança da

Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim.

Art. 15 - O Centro Cultural Ceciliano de Carvalho poderá solicitar dos

requerentes as informações que julgar necessárias.

Art. 16 - Os solicitantes deverão apresentar cópias dos documentos

específicos solicitados por ocasião do agendamento dos eventos junto ao

Gestor Legislativo Cultural, especialmente os documentos referentes às

cedências de direitos autorais, no caso de apresentação de teatro infantil

e adulto ou recibos de pagamentos de direitos autorais junto ao ECAD,

para o caso de uso de músicas, nos termos da lei.

Art. 17 - Por ocasião da reserva do espaço será assinado o Termo de

Compromisso de Uso com a Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do

Bonfim.

Art. 18 - Será permitida a título de contribuição a doação de alimentos

para posterior entrega a entidades filantrópicas.

Art. 19 - A Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim não

arcará com custos referentes ao período de montagem do espetáculo,

produção de CD, DVD, produção de filmes e de livros (edição, publicação e

distribuição).

DA AVALIAÇÃO DAS SOLICITAÇÕES

Art. 20 - As solicitações para reserva do espaço para cujo objetivo seja a

exploração de obras imaterial de terceiros, serão avaliados pelo Centro

Cultural da Ceciliano de Carvalho, observados os critérios de qualidade do

conteúdo artístico, da inedicidade, além da aceitação da gratuidade

financeira para execução do projeto do espetáculo artístico.

DOS CRITÉRIOS DE JULGAMENTO DAS SOLICITAÇÕES

152

Art. 21 - As solicitações de reserva do espaço serão apreciadas

considerando-se:

a) qualidade artístico-cultural;

b) a relevância artístico-cultural para a cidade;

c) a abrangência cultural e social do evento;

d) a permanência e o desempenho da solicitação, caso exista fator de

encaminhamento histórico na Cidade;

e) a originalidade do evento;

f) expectativa de público;

g) adequação do evento ao espaço disponível;

h) racionalização do uso do espaço em vista das demais programações.

DO PROCESSO DE SELEÇÃO DAS SOLICITAÇÕES

Art. 22 - O Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, através de sua assessoria

e do Gestor Legislativo Cultural selecionará as solicitações com base nos

critérios constantes no art. 21.

Art. 23 - Após avaliação das solicitações, estas serão agendadas junto a

administração do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho e disponibilizadas

no site da Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim.

Art. 24 - Serão indicadas, em ordem cronológica, duas solicitações

suplentes que poderão ser contempladas mediante a desistência da

selecionada.

Art. 25 - Caso haja necessidade, o solicitante poderá ser convocado, em

data e horário específico, para prestar esclarecimentos sobre a solicitação.

DAS OBRIGAÇÕES DO TITULAR DA SOLICITAÇÃO DEFERIDA

Art. 26 - Assinar o “Termo de Permissão de Uso do Centro Cultural

Ceciliano de Carvalho”.

Art. 27 - Assinar o Termo de Assunção de Responsabilidade sobre a

questão de direitos autorais.

DOS RESULTADOS

153

Art. 28 - As respostas das solicitações será lavrada em ata da qual

constará:

a) os critérios de seleção;

b) a lista das solicitações selecionadas, acompanhadas do nome da pessoa

solicitante, pessoa física ou privada, do respectivo responsável, tipo de

evento, data e hora conferida;

c) duas solicitações suplentes que contribuam para o evento.

Art. 29 - O resultado das solicitações será tornado publico através do site

da Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim, Bahia e

comunicada por e-mail ao solicitante.

CAPITULO IV

DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 52 - A Lei Municipal de Incentivo à Cultura, ao Desporto, Preservação

e Manutenção do Patrimônio Histórico e Cultural do Município de

Salvador, bem como outros mecanismos de gestão das políticas públicas

culturais constituem instrumentos do Centro Cultural Ceciliano de

Carvalho, estando sujeitos às mesmas regulamentações.

Art. 53 - O presente Regimento deverá será regulamentado pelo

Secretário Municipal de Cultura da Secretaria Municipal de Cultura,

constituindo normas da Política Cultural do Legislativo Municipal de

Senhor do Bonfim, e entrará em vigor na data de sua publicação, revogada

as disposições em contrário.

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 54 - O ato de inscrição implicará por parte dos interessados na

aceitação das normas constantes do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho.

Art. 55 - É facultado ao proponente a captação de recursos necessários

(patrocínio) para a viabilização de evento, desde que seja quitada

24h(vinte e quatro horas) antes do evento, a Taxa de Administração e

Manutenção do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho.

154

Art. 56 - Os casos omissos serão deliberados pelo Gestor Legislativo do

Centro Cultural Ceciliano de Carvalho ouvido o Secretário Municipal de

Cultura, ou, em sua falta pelo Assessor Chefe.

Senhor do Bonfim, 5 de Janeiro de 2013.

Arinaldo Urbano da Costa

Secretário Municipal de Cultura

André Luís de Oliveira Miranda

Assessor Chefe da Secretaria Municipal de Cultura

Nome

Diretor de Arquivo, Museus e Preservação do

Patrimônio Histórico e Artístico (Gestor

Legislativo Cultural)

Carla Lidiane P. Silva

Diretora de Políticas, Atividades e Eventos Culturais

155

ANEXO G – Rider técnico do Centro de Cultura João Gilberto (Juazeiro)

RIDER TÉCNICO

Centro de Cultura João Gilberto

Localização

Rua José Petitinga, S/N – Bairro Stº Antonio – Juazeiro - BA

Tel/Fax (74) 3611- 4322

E-mails: [email protected] / [email protected]

Capacidade 307 lugares (teatro interno)

1500 lugares arquibancada (teatro de arena)

Pessoal de apoio 01 bilheteiro

01 técnico de luz 01 técnico de som 01 técnico de manutenção

Ar condicionado

Sistema que permite a refrigeração do teatro mesmo quando lotado.

Palco

Proscênio

Altura: 7,50m

156

Largura: 8,80m

Profundidade: 4,65m

Caixa

Altura: 6,50m

Largura: 8,80m

Profundidade: 6,75m

Boca de cena

Altura: 7,50m

Largura: 8,40m

Profundidade: 4,65m

Outras medidas e informações Coxia: 80 cm Rotunda completa em todo o palco (caixa), tamanho total da rotunda:

16,80m Altura do palco até o solo: 0,80cm

Sala 01: 7.30m X 10.0m Sala 02: 7.30m X 10.0m Sala 03: 9,70m X 9.70m

Não tem iluminação cênica no teatro de arena

Equipamentos de sonorização e audiovisual

Quantidade Equipamento Marca Modelo

01 Mesa de Som Ciclotron CSM 24.4 SA8

04 Caixa P.A (Ativo) Leás’s Leás’s Vip 1000

Plus,

2 Alto falante de

15”

Drive de titânio

1”.

04 Monitor (Passivo) Oneal Oneal OBM 2020

Alto falante de

157

15’e corneta 1’

02 Equalizador Berhinger Berhinger

Utragraph Pro -

FBQ 31 Banda.

02 Amplificador Oneal Oneal Op Série

5.500

04 Microfone c/Fio Sennheiser Sennheiser

E 815 S

03 Direct Box

(Passivo)

CSR CSR-DBP 600Ohm

04 Pedestal RMV RMV Girafa

Articulável

+

01 CSR Mesa

Articulável.

01 Rack Light Lexsen Lexsen Pc 801

01 Meduza (Fixa) Santo Angêlo 28 Canais XLR

01 Autotransformador Nordeste Nordeste

220v/110v-8000w

01 Aparelho de DVD Blu Ray Blu Ray Player

DBR 750

01 Aparelho de DVD Gradiente Gradiente D-203

01 Projetor Multimídia LG LG-DBL 2.500

Ansi Lumens

01 Projetor Multimídia Optomar Optomar Ex 536

DBL 2.500Ansi

Lumens

Equipamentos de iluminação cênica

Quantidade Equipamento Marca Modelo

158

01 Mesa de Luz

(Digital)

ETC Element 40 Feders/250

Canais

20 Projetor PAR 64 Mecalux Foco 05 (MFL)

1.000w/220v

13

Projetor PAR 64 Mecalux Foco 02 (NSP)

1.000w/220v

15 Projetor PAR 64 Mecalux Foco 01 (VNSP)

1.000w/220v

12 Projetor PC

(Plano Convexo)

Telem TM 3011

1.000w/220v

08 Projetor Fresnel Telem TM 3810

1.000w/220v

04 Projetor Ciclorama Telem TM 9910

1.000w/220v

03 Dimmer CBI Iluminação

Material Cenográfico

07 Faixa Linóleo Rosco 1.60m(Largura)

4.80m (Comp)

Informações gerais

A montagem deverá ser feita preferencialmente no dia do evento, a partir das 9h ou 13h. Caso a produção apresente alguma especificidade e requeira outros horários, os ajustes deverão ser acordados previamente com a

coordenação do espaço;

Todo material cênico terá acesso pela porta lateral do palco;

O teatro não fornece carregadores. A montagem, desmontagem, instalação de cenário e a operação da luz e som deverão ser realizadas por técnicos contratados pela produção do evento, cabendo à equipe técnica do espaço

cultural a supervisão, auxílio e acompanhamento;

159

Para ter acesso à cabine ou ao palco é obrigatório o uso de sapato fechado e camisa;

Materiais de consumo tais como gelatina, gobo, pilha para microfone, fita de linóleo, líquido para máquina de fumaça, entre outros, serão de

responsabilidade da produção do evento;

Não é permitido o uso de produtos químicos no palco bem como a fixação de

pregos e grampos ou qualquer outro tipo de material no piso, teto, paredes e vestimentas cênicas;

Fios, cabos e outros materiais cenográficos utilizados no palco devem ser presos com fitas específicas, evitando acidentes com os usuários.

Não será permitida a instalação elétrica nas varas utilizadas para uso de vestimenta cênica;

A desmontagem deverá ser feita logo após o evento ou a última sessão, no caso de temporada e terminar até as 22h. Caso um evento, uma montagem ou desmontagem ultrapasse o horário das 22h, a produção deverá se

responsabilizar pelo transporte, com segurança e comodidade, dos funcionários do espaço em serviço;

Corrente elétrica de 220 v.

160

ANEXO H - Instrução Normativa nº 001/2013

Instrução Normativa nº 001/2013

Estabelece critérios e procedimentos para a utilização dos espaços culturais sob a

gestão da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia – SECULT e dá outras

providências.

O SECRETÁRIO DE CULTURA DO ESTADO DA BAHIA, no uso das atribuições

legais, tendo em vista o disposto nos art. 43 e 48 Lei Estadual nº 9.433, de 1º de março de 2005, nos

arts. 84 a 86 da Lei Estadual nº 12.212, de 04 de maio de 2011, e no Processo Administrativo no

0606120021660,

Considerando que os espaços culturais sob a gestão da SECULT devem servir como locais

de criação, intercâmbio e qualificação de criadores culturais, bem como de difusão e circulação da

produção cultural nacional e internacional, estimulando o potencial criativo de indivíduos e grupos

do estado da Bahia;

Considerando que esses espaços devem apoiar o desenvolvimento de ações formativas no

campo da cultura, valorizar a cultura local e contribuir para a formação dos cidadãos;

Considerando que esses espaços devem servir como locais de referência cultural para os

territórios nos quais estão inseridos, propiciando, às comunidades locais e adjacentes, o acesso à

produção cultural, ao lazer e ao entretenimento; e

Considerando que esses espaços devem estimular a participação local, estabelecendo,

permanentemente, o intercâmbio com a comunidade, sociedade civil e órgãos públicos nos processos

de gestão do espaço e em sua programação cultural;

RESOLVE:

Art. 1o

- Os espaços culturais sob a gestão da Secretaria de Cultura - SECULT poderão

ser utilizados para atividades e usos específicos e transitórios, a título precário, mediante

remuneração ou com imposição de encargos.

Parágrafo Primeiro - Para os fins desta norma, entende-se por espaços culturais as áreas e

os imóveis públicos destinados às atividades culturais ou que permitam a sua realização sem

prejuízo da sua finalidade precípua.

Parágrafo Segundo - Aplicar-se-ão as disposições previstas nesta norma, exclusivamente,

aos espaços culturais administrados pela Superintendência de Desenvolvimento Territorial da

Cultura - SUDECULT, através da Diretoria de Espaços Culturais, e pelo Centro de Culturas

Populares e Identitárias – CCPI.

Art. 2

o - Os espaços culturais serão destinados à realização de atividades,

161

preferencialmente, de natureza cultural, e de curta duração, com prazo máximo contínuo de até 03

(três) meses, prorrogável por igual período, uma única vez.

Parágrafo Primeiro - Admitir-se-á também nos espaços culturais a realização de

atividades de natureza educacional e social, de natureza institucional e de natureza corporativa na

forma estabelecida nos Regulamentos de Uso e Funcionamento dos Espaços Culturais da SECULT,

que constituem o Anexo I desta Instrução.

Parágrafo Segundo – A realização de atividades de natureza corporativa está

condicionada ao exame prévio de sua compatibilidade com o interesse público do uso do espaço

cultural.

Art. 3º - O uso dos espaços culturais por prazo contínuo superior ao previsto no art. 2º

desta Instrução poderá ser outorgado mediante concessão, permissão ou cessão de uso, segundo o

caso, na forma prevista nos artigos 43 a 48 da Lei Estadual nº 9.433/2005.

Art. 4

o - É expressamente vedada a utilização dos espaços culturais para a realização

de atividades:

I - de pregação religiosa, como culto, cerimônia, entre outras;

II - que no seu conteúdo evidenciem qualquer tipo de preconceito ou discriminação;

III - que possam causar impactos negativos à saúde e à integridade física e psicológica das

pessoas, bem como ao meio-ambiente;

IV - de cunho político-partidário, respeitadas as exceções previstas na Lei Federal no

9.504/97 (art. 8º, § 2º);

V - caracterizadas como eventos particulares, a exemplo de casamentos, aniversários,

velórios, entre outros.

Art. 5

o - A utilização dos espaços culturais perfar-se-á mediante reserva de sua pauta,

com remuneração ou imposição de encargos, e dependerá de autorização específica, identificada

nesta Instrução como “autorização de uso de pauta”.

Art. 6

o - A Secretaria de Cultura publicará, em Portaria específica, os valores da

remuneração fixados para o uso dos espaços culturais.

Parágrafo Único - A utilização dos espaços culturais poderá ser gratuita, mediante

imposição de encargos, no caso de atividades que atendam aos critérios do Programa de Gratuidade

dos Espaços Culturais da SECULT ou que sejam realizadas diretamente pela Administração Pública

Federal, Estadual e Municipal.

Art. 7

o - A utilização dos espaços culturais deverá obedecer às normas de uso e

funcionamento constantes nos Regulamentos que integram o Anexo I desta Instrução Normativa.

Art. 8

o - O interessado, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, deverá

requerer a autorização de uso de pauta do espaço cultural através de formulário padrão que constitui

o Anexo II desta Instrução.

162

Art. 9º - A avaliação do requerimento será procedida pela Diretoria de Espaços

Culturais ou pelo Centro de Culturas Populares e Identitárias, com base nos critérios

estabelecidos pelos referidos órgãos, observadas as normas previstas nesta Instrução e as

diretrizes da política cultural do Estado.

Art. 10 - A autorização de uso de pauta dos espaços culturais será outorgada por ato

administrativo do Diretor de Espaços Culturais e do Coordenador do Centro de Culturas Populares e

Identitárias, no qual constará a identificação do espaço cultural, do autorizado, do evento, do

período de realização e do valor da remuneração e/ou descrição dos encargos.

Parágrafo Único - As autorizações de uso de pauta dos espaços culturais serão

divulgadas, mediante boletim mensal, no sítio eletrônico da SECULT: www.cultura.ba.gov.br.

Art. 11 - Após a autorização de uso de pauta, o interessado deverá firmar Termo de

Compromisso e Responsabilidade que constitui o Anexo III desta Instrução, condição necessária

para utilização do espaço.

Art. 12 - O descumprimento das normas previstas nos Termo de Compromisso e

Responsabilidade, a que se refere o artigo 11 desta Instrução, resultará na suspensão do

autorizado, pelo prazo de 03 (três) meses, do uso dos espaços culturais geridos pela SECULT, sem

prejuízo da responsabilização nas esferas penal, civil e administrativa.

Art. 13 - Ao Forte de Santo Antônio Além do Carmo se aplicam as normas e

procedimentos estabelecidos nesta Instrução Normativa, respeitadas as condições previstas

no instrumento de outorga de uso celebrado entre a União Federal e o Estado da Bahia (contrato

de cessão de uso – processo nº 1058.002867/91-81).

Parágrafo Único – A finalidade de uso do Forte é o funcionamento do Centro Popular

que visa implementar o desenvolvimento de atividades voltadas para o fazer artístico-cultural de

origem popular.

Art. 14 - Os Anexos mencionados nesta Instrução Normativa estão disponíveis no

sítio eletrônico da SECULT: www.cultura.ba.gov.br.

Art. 15 – Os casos omissos serão resolvidos pelo Secretário de Cultura, devendo ser

consultada a Procuradoria Geral do Estado (PGE) quando se tratar de matéria jurídica.

Art. 16 - Esta Instrução Normativa entra em vigor na data de sua publicação.

SECRETÁRIO DE CULTURA

163

ANEXO I – Regulamento dos Espaços Culturais da Secult-Ba

164

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166

167

168

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170

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173

174

ANEXO J - Termo de Compromisso e Responsabilidade

TERMO DE COMPROMISSO E RESPONSABILIDADE

PELO USO DE ESPAÇO CULTURAL

(ANEXO III da Instrução Normativa no 001/2013)

(nome da pessoa física ou jurídica), domiciliado ou sediado na endereço, CPF ou CNPJ n°xxxxxxxx, neste ato representado por (no caso de pessoa jurídica), CPF n° xxxxxxxx, doravante denominado COMPROMISSADO, de acordo com o previsto na Instrução Normativa n

o 001/2013 e com base no

Pedido de Pauta no xxxxx, firma o presente Termo, nas seguintes condições:

1. O presente Termo tem por objeto a utilização, pelo COMPROMISSADO, do/a (digitar o nome das dependências solicitadas) do/a (nome do espaço cultural), situado em xxxxx (BA), para a realização exclusiva da atividade: xxxx, no(s) dia(s) xxxxx a xxxx, das xxxxx às xxxx, do mês de xxxx de xxxxx, bem como para montagem de luz, som e cenário no(s) dia(s) xxxx, das xxxx às xxxx, do mês de xxxxx de xxxxxx, totalizando xxxxxxx funções. Atenção: escolher apenas uma das possibilidades do item “2” para preenchimento do Termo, de acordo com a negociação realizada entre proponente, coordenação do espaço cultural e Diretoria de Espaços Culturais. Após a escolha apagar as outras opções:

2. O COMPROMISSADO pagará ao Estado da Bahia, através da Secretaria de Cultura, o valor correspondente a xxxxx % (xxxxx por cento) da renda bruta da bilheteria, por cada função, ou o valor mínimo de R$ xxxxx (xxxxxx reais), o que for maior. ou 2. O COMPROMISSADO pagará ao Estado da Bahia, através da Secretaria de Cultura, o valor de R$ xxxx (xxxx reais), por cada função, totalizando R$ xxxxxx (xxxxx reais). ou 2. O COMPROMISSADO assumirá o encargo de xxxxx (no caso de gratuidade da pauta).

3. São obrigações do COMPROMISSADO:

I - manter sob sua guarda e responsabilidade o bem cujo uso fora autorizado;

II - não dar ao bem imóvel destinação diversa ou estranha à prevista no item 1 deste Termo;

III - não ceder, nem transferir, no todo ou em parte, o seu uso a terceiros;

IV - zelar pela manutenção e conservação do imóvel, ao longo do período da autorização;

V - responder por todos os danos causados ao imóvel durante o período da autorização, observando-se o processo de reparação de danos previsto na Lei Estadual n

o 12.209/2001;

VI - responder por danos pessoais e materiais causados a terceiros decorrente da realização da atividade;

VII - responsabilizar-se pelo cumprimento de toda a legislação trabalhista e previdenciária relativa ao seu pessoal, ficando a SECULT isenta de qualquer responsabilidade neste sentido, inclusive com relação a acidentes de trabalho;

VIII - providenciar, as suas expensas, todas as autorizações e medidas necessárias para a realização do evento, inclusive aquelas relativas ao meio ambiente e patrimônio cultural, se for o caso, bem como o pagamento de taxas e tributos (ECAD, SBAT, Juizado de Menores, Prefeitura, etc.), ficando responsável pelo cumprimento das sanções aplicáveis pelo eventual inadimplemento das obrigações legais, inclusive em caso de equívoco ou de má fé;

IX - respeitar os horários de funcionamento do espaço, bem como aqueles estabelecidos no item 1 deste Termo;

X - respeitar a lotação máxima das dependências dos espaços culturais e aos limites de decibéis previstos na legislação municipal;

XI - fornecer ao espaço cultural uma cota de convites referente a 5% (cinco por cento) do total de ingressos disponibilizados para a venda, por sessão, sendo de responsabilidade da coordenação do espaço a sua distribuição;

175

XII - fornecer ao espaço cultural uma cota de 10% (dez por cento) do total das vagas das oficinas e cursos, quando houver pagamento de inscrição ou mensalidade, para formação da equipe e/ou público do espaço cultural, sendo de responsabilidade da coordenação do espaço a sua distribuição;

XIII - retirar, para uso da produção do evento, uma cota de convites de até 10% (dez por cento) do total dos ingressos disponibilizados para a venda, por sessão;

XIV - fixar a classificação indicativa de cada evento, conforme disposto na Portaria nº 1.100, de 14 de julho de 2006, do Ministério da Justiça, bem como a informação sobre os temas abordados, respondendo por possíveis questionamentos, em caso de equívoco ou de má fé;

XV – cumprir com as legislações relativas à meia-entrada (menores de 18 anos, idosos acima de 60 anos, estudantes matriculados regularmente em instituições de ensino fundamental, médio e superior);

XVI - dispor de técnicos operadores de som, luz, projeção e maquinário cênico, bem como de responsáveis pela montagem e desmontagem de linóleo e condução dos cenários e equipamentos instalados nos espaços culturais;

XVII - arcar com as despesas de deslocamento, com segurança e comodidade, dos funcionários do espaço cultural, se houver necessidade de permanência após as 22 horas;

XVIII - arcar com as despesas e responsabilizar-se pela locação, carregamento, movimentação, montagem, desmontagem, operação e guarda de equipamentos não disponíveis no espaço, pela aquisição de materiais de consumo (gelatina, gobo, pilha para microfone, fita de linóleo, líquido para máquina de fumaça, entre outros), pelo transporte de obras e materiais cênicos e pela venda de obras em exposição, se for o caso;

XIX - solicitar previamente à coordenação do espaço a avaliação técnica para instalação de equipamentos não disponíveis no espaço;

XX - arcar com as despesas de segurança, controle de acesso do público e limpeza (material de consumo e pessoal) para eventos realizados nos anfiteatros e nas áreas externas dos espaços, bem como no palco principal para eventos classificados como "horário estendido";

XXI - mencionar, em qualquer caso de gratuidade ou de parceria com o espaço, o apoio do Governo do Estado, inserindo as marcas do espaço cultural e da Secretaria de Cultura da Bahia, em todo e qualquer material de divulgação (impresso e digital), segundo normas de aplicação das marcas disponíveis no site da SECULT;

XXII - informar a desistência do uso de pauta do espaço cultural, na forma escrita e no prazo máximo de até 15 (quinze) dias corridos que anteceder a data programada para o início do evento;

XXIII - observar as demais normas de funcionamento e utilização dos espaços culturais estabelecidas no Regulamento de Uso e Funcionamento dos Espaços Culturais da SECULT, a que se refere o artigo 7º da Instrução Normativa 001/2013;

XXIV - responder pelo descumprimento das obrigações previstas neste Termo de Compromisso e Responsabilidade, através da suspensão do uso dos espaços culturais geridos pela SECULT, pelo prazo de 03 (três) meses, sem prejuízo da responsabilização nas esferas penal, civil e administrativa.

4. Na hipótese de descumprimento devidamente comprovado do art. 4º da Instrução Normativa 001/2013, será revogada a autorização do uso de pauta pelo Diretor de Espaços Culturais, o que implicará no cancelamento do evento, independente de interpelação judicial ou extrajudicial. 5. Caso necessário e desde que comprovada a motivação, a SECULT poderá solicitar ao COMPROMISSADO alterações em seu Pedido de Pauta. 6. Caso seja realizado espetáculo de médio ou grande porte é imprescindível a entrega do rider técnico e mapas de som, luz e cenário do espetáculo no ato da assinatura deste Termo.

7. Neste ato o COMPROMISSADO indica como responsável pelo fechamento do borderô (preencher somente se houver cobrança de ingresso/mensalidade):

176

Nome:xxxxxx CPF: xxxxxxx 8. O COMPROMISSADO declara sua ciência e concordância com todas as condições de uso estabelecidas no presente Termo, no ato da outorga, no Regulamento de Uso e Funcionamento dos Espaços Culturais da SECULT e na Instrução Normativa 001/2013. 9. Este Termo deverá ser assinado em 03 (três) vias, de igual teor, antes da realização da atividade.

xxxxxxxxxxx, xxxx de xxxx de xxxxx

______________________________________ COMPROMISSADO

177

ANEXO K - Formulário de Solicitação de Pauta nos Espaços Culturais da Secult-Ba

178

179

180

181

ANEXO L - Programa de Gratuidade

PROGRAMA DE GRATUIDADE DE PAUTAS DOS

ESPAÇOS CULTURAIS DA SECULT - 2013

Apresentação O Programa de Gratuidade de Pautas dos Espaços Culturais da Secretaria de Cultura

do Estado da Bahia foi desenvolvido com o objetivo de promover e ampliar o acesso

de artistas e produtores aos espaços culturais administrados por esta Secretaria, bem

como dinamizar e diversificar a programação destes equipamentos.

O Programa consiste na disponibilização de pautas gratuitas nos dezessete espaços

culturais da capital e do interior, que estão sob a gestão da Diretoria de Espaços

Culturais (DEC) da SECULT, para a realização de atividades de natureza cultural de

grupos e artistas residentes na Bahia.

Além da gratuidade no pagamento da pauta, os artistas ainda terão direito à totalidade

da arrecadação gerada nos eventos com venda de ingressos, descontados os devidos

impostos e taxas. Em contrapartida, é solicitado ao proponente da pauta que realize

alguma atividade que auxilie na ampliação do acesso do público ou na conservação e

manutenção do espaço cultural.

Com este Programa, busca-se aumentar a demanda e a ocupação dos espaços

culturais, gerando, assim, uma programação mais intensa, diversa e atrativa para os

diferentes públicos e criadores. Espera-se, dessa forma, contribuir para a efetivação

dos princípios e objetivos da Política Estadual de Cultura (Lei Estadual Nº

12.365/2011), em especial no que se refere à democratização, descentralização e

desburocratização no incentivo à pesquisa, à criação, à produção, e à fruição de bens

e serviços culturais.

Ações contempladas no Programa de Gratuidade de Pautas

Atividades de grupos artísticos nas salas multiuso Concede pauta gratuita para a realização de atividades de grupos artísticos voltadas

ao aperfeiçoamento e qualificação dos próprios participantes, tais como ações de

formação, pesquisa, intercâmbio, criação e ensaios. Aqui, compreende-se grupo

artístico como uma base organizativa formada por artistas, agentes culturais e técnicos

que realizam um trabalho continuado, a partir de uma proposta cultural e/ou princípios

estéticos norteadores que os identifica como tal.

Condições de participação: Essa linha de ação contempla realização de atividades

apenas nas salas multiuso. Cada proponente terá o limite de utilização de até doze

pautas por mês (sendo até três períodos de até quatro horas, por semana). Não

poderão ser realizadas atividades pagas e/ou voltadas para o público externo.

182

Atividades formativas na área cultural Concede pauta gratuita para a realização de cursos e/ou oficinas artístico-culturais,

que tenham entrada franca e que sejam abertas ao público.

Condições de participação: Essa linha de ação contempla a realização de atividades

apenas nas salas multiuso. Em casos excepcionais, poderão ser utilizadas outras

dependências (com exceção da sala principal), desde que haja disponibilidade de

pauta e compatibilidade com a estrutura da dependência solicitada. Cada proponente

terá o limite de utilização de até doze pautas por mês (sendo até três períodos de até

quatro horas, por semana). Não poderão ser realizadas atividades pagas nem para

público restrito.

Atividades artístico-culturais realizadas às terças e quartas-feiras

Concede pauta gratuita para a realização de atividades artístico-culturais nas terças e

quartas-feiras em qualquer dependência do espaço cultural, durante todo o ano.

Condições de participação: Cada proponente terá o limite de utilização de até quatro

pautas por mês e o valor máximo a ser cobrado pelo ingresso do público na atividade

é de R$ 10,00 (dez reais) a inteira.

Atividades artístico-culturais relacionadas aos meses temáticos

Concede pauta gratuita para qualquer dia da semana, incluindo sábados e domingos,

para realização de ações artístico-culturais de acordo com os períodos e temáticas

elencadas abaixo:

MÊS TEMA

Março Teatro e Circo

Abril Dança

Maio Atividades culturais relacionadas à diversidade

sexual Junho Música

Julho Literatura

Agosto Culturas populares

Setembro Atividades culturais relacionadas à inclusão social

de pessoas com deficiência

Outubro Atividades culturais voltadas ao público infanto-

juvenil

Novembro Atividades culturais relacionadas à cultura negra

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Condições de participação: Cada proponente terá o limite de utilização de até quatro

pautas por mês e o valor máximo a ser cobrado pelo ingresso do público na atividade

é de R$ 10,00 (dez reais) a inteira.

Atividades de artes visuais

Concede pauta gratuita para a realização de intervenções e exposições de artes

visuais, nas suas diferentes modalidades e técnicas, a exemplo de arte e tecnologia,

assemblage, cerâmica, colagem, desenho, design gráfico (ilustração, humor gráfico e

quadrinhos), escultura, fotografia, grafitti, gravura, instalação, intervenção urbana,

objeto, performance, pintura, tapeçaria e videoarte.

Condições de participação: Esta linha de ação contempla a realização de atividades

preferencialmente no foyer ou área externa dos espaços culturais. Em casos

excepcionais, poderão ser utilizadas outras dependências (com exceção da sala

principal), desde que haja disponibilidade de pauta e compatibilidade com a estrutura

da dependência solicitada. Cada proponente terá o limite de utilização de até uma

pauta por mês, com duração de até três meses, conforme Regulamento. No caso de

exposições que prevejam a comercialização de obras, estas só poderão ser removidas

e entregues aos compradores após o término da mostra.

Quadro-resumo das ações contempladas

ATIVIDADE

PRINCIPAL

DEPENDÊNCIA

UTILIZADA

DURAÇÃO

MÁXIMA

PERMITIDA

LIMITE DE

PAUTAS (POR

PROPONENTE E

POR MÊS)

EXIGÊNCIA

Grupos

artísticos

Salas multiuso

Até 4 horas

por pauta

12

Atividade gratuita

para público

específico

Atividades

formativas

Salas multiuso

Até 4 horas

por pauta

12

Entrada franca

Terça e

quartas

Todas

Até 4 horas

por pauta

4

Ingressos de até

R$10,00 (dez reais)

a inteira

Mês temático

Todas

Até 4 horas

por pauta

4

Ingressos de até

R$10,00 (dez reais)

a inteira

Artes visuais

Foyer Até 90 dias

por pauta

1

Entrada franca

Procedimentos

Para solicitar a pauta, os interessados deverão entrar em contato com a coordenação

do espaço cultural de seu interesse, verificar a disponibilidade de agenda, preencher o

formulário de pedido de pauta e encaminhá-lo para a coordenação do espaço com

antecedência mínima de trinta dias do evento.

184

O proponente deverá encaminhar informações e materiais adicionais, se houver, que

possam complementar a proposta apresentada no pedido de pauta, por exemplo:

cópia de matérias publicadas na imprensa, fotografias, vídeos, programas e/ou

cartazes, dentre outros.

Caso a proposta seja deferida pela coordenação do espaço cultural e autorizada pela

SECULT, através da DEC, o proponente deverá assinar um Termo de Compromisso e

Responsabilidade, condição necessária para a utilização do espaço.

Critérios

A avaliação das propostas encaminhadas aos Espaços Culturais será realizada pelas

coordenações desses espaços, levando em consideração: qualidade artística e técnica da

proposta; qualificação do proponente e da equipe principal envolvida; correlação entre o

perfil da proposta e a programação do espaço, se for o caso; e, por último,

caraterísticas técnicas da proposta e sua adaptabilidade às características físicas do

espaço cultural.

O mesmo proponente não poderá acumular, no mesmo mês, a obtenção de pautas

gratuitas por mais de uma das linhas de ação desse Programa.

Não serão aceitos eventos institucionais, que não tenham natureza cultural ou que

pleiteiem o uso dos espaços culturais para ações com público restrito, a exemplo de

atividades corporativas, formaturas e apresentações artísticas fechadas. Essa regra não

se aplica às atividades de grupos artísticos nas salas multiuso, que consiste em uma

das linhas de ação deste Programa.

Estão vedadas também, conforme Regulamento dos espaços culturais, a realização de

atividades:

- de pregação religiosa, como culto, cerimônia, entre outras;

- que no seu conteúdo evidenciem qualquer tipo de preconceito ou discriminação;

- que possam causar impactos negativos à saúde e à integridade física e psicológica

das pessoas, bem como ao meio-ambiente;

- de cunho político-partidário;

- caracterizadas como eventos particulares, a exemplo de casamentos, aniversários,

velórios, entre outros.

Em todos os casos de gratuidade, conforme Instrução Normativa e legislação vigente,

são atribuídos encargos a serem assumidos pelo proponente, principalmente

relacionados à ampliação do público e à conservação e manutenção do espaço, tais

como:

- serviços de comunicação e mobilização de público ao espaço cultural;

- participação em projetos e eventos realizados pelo espaço cultural;

- realização de atividades formativasvoltadas para o público externo;

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- limpeza do local utilizado;

- manutenção de equipamentos;

- doação de equipamentos, mobiliário ou materiais de consumo.

Poderão ser estabelecidos outros encargos pela coordenação do espaço cultural, em

concordância com o proponente e aprovação da Diretoria de Espaços Culturais.

A gratuidade também implica ao proponente incluir as marcas do espaço cultural e da

Secretaria de Cultura da Bahia, com a assinatura “apoio”, no material de divulgação

(impresso e digital), segundo normas de aplicação das marcas da SECULT

disponíveis em: http://www.cultura.ba.gov.br/a-secretaria/marcas-e-logotipos/.

Para qualquer utilização de um espaço cultural da Secretaria, é fundamental que o

proponente tenha conhecimento das diretrizes e normas contidas na Instrução

Normativa e no Regulamento de Uso e Funcionamento dos Espaços Culturais da

SECULT, disponíveis no blog: espacosculturais.wordpress.com.

Contatos

Informações e esclarecimentos poderão ser obtidos no blog da Diretoria de Espaços

Culturais da SECULT (espacosculturais.wordpress.com), através do e-mail:

[email protected] e/ou dos telefones (71) 3103-34.

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ANEXO M – Preços de pautas dos Espaços Culturais da Secult-Ba