UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO CURSO DE COMUNICAÇÃO
ADRIANA ALVES SANTANA
DIAGNÓSTICO SOBRE GESTÃO E USOS DE UM
EQUIPAMENTO CULTURAL NO INTERIOR DA BAHIA: O
CENTRO CULTURAL CECILIANO DE CARVALHO
Salvador
2013
ADRIANA ALVES SANTANA
DIAGNÓSTICO SOBRE GESTÃO E USOS DE UM
EQUIPAMENTO CULTURAL NO INTERIOR DA BAHIA: O
CENTRO CULTURAL CECILIANO DE CARVALHO
Monografia apresentada ao Curso de graduação em
Comunicação – Produção em Comunicação e Cultura,
Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da
Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Comunicação.
Orientador: Prof. Dr. José Roberto Severino
Salvador
2013
AGRADECIMENTOS
Agradeço à mainha, pelo amor cotidiano, ligações intermináveis e cuidado insubstituível:
“sem você sou pá furada”.
A painho, pelo exemplo de dedicação àquilo que faz.
Às irmãs, a quem eu, caçula, sigo os passos da determinação.
Aos amigos bonfinenses – seus sorrisos e seus abraços sempre me fizeram retornar chorosa a
Salvador.
Aos amigos soteropolitanos ou que conheci por aqui: hoje amo a cidade por conta de vocês.
Inicialmente, a Igui, por me mostrar tão gentilmente os caminhos da capital.
Aos amigos que colaboraram diretamente na execução do trabalho: Kerollen, Milena, Caio,
Marília, Ítalo, Raulino, Leo, Anderson, Xandy. Vocês foram fundamentais!
Especialmente, a Caio e Mari, pelo amor que nos une; Elba e Ito, pelo apoio constante nessa
jornada.
À Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil (PROAE) da UFBA e ao
Programa Permanecer – sem eles, eu nem começaria.
À Agência Experimental em Comunicação e Cultura, meu casulo dentro da Faculdade de
Comunicação: junto aos agenciadores, fui apresentada a uma visão de mundo.
Aos grandes professores da faculdade, em especial à Daniele Canedo, que, já no primeiro
semestre, me ensinou a amar o campo das Políticas Culturais, com sua competência e ternura;
Gisele Nussbaumer, que, em outra ponta, já no sétimo semestre, apresentou os bons caminhos
da Gestão e Produção Cultural; e José Roberto Severino, fundamental para a trajetória desse
trabalho que apresento, pelos ensinamentos e generosidade.
Aos artistas e gestores culturais de Senhor do Bonfim: obrigada pela solicitude em conceder
as entrevistas, pelo trabalho realizado e por ajudarem não apenas na minha pesquisa, mas na
minha formação enquanto público da cultura num primeiro momento, e, hoje, na minha
formação como produtora cultural.
“É um espetáculo este, cuja magnificância os meus olhos
não se saciam de ver, e o meu coração não cansará de
guardar. Na contemplação dele se nos mostra que a cidade
de Bonfim, hoje, se excede a si mesmo.”
Ruy Barbosa, 1919
SANTANA, Adriana Alves. Diagnóstico sobre gestão e usos de um equipamento cultural no
interior da Bahia: o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. 186 f. il. 2013. Monografia –
Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2013.
RESUMO
A pesquisa apresenta um diagnóstico sobre o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, principal
equipamento cultural de Senhor do Bonfim, cidade localizada na região norte da Bahia.
Foram investigados a gestão e usos do espaço de cultura, a partir de informações obtidas
através da pesquisa de campo, em entrevistas com gestores, artistas e produtores do
município. A análise da cena cultural bonfinense, feita através de pesquisa documental e
bibliográfica, antecede esta etapa. Foi diagnosticada a necessidade de reforma física,
equipamentos técnicos, equipe de trabalho, programação regular e, principalmente, efetivação
do protagonismo cultural no espaço. As 16 entrevistas realizadas forneceram dados para a
elaboração de um plano de ação para o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, tomando como
base o edital de Dinamização de Espaços Culturais, da Secretaria de Cultura do Estado da
Bahia (Secult-Ba). O trabalho apresenta como produto o blog Produção no Sertão, página na
qual foram disponibilizadas as entrevistas feitas durante a execução do estudo.
Palavras-chave: diagnóstico cultural; gestão cultural; equipamento cultural; políticas culturais
municipais; Senhor do Bonfim, Bahia.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Fotografia 1 - Atual Sociedade 25 de Janeiro ........................................................................ 34
Fotografia 2 - O Cine-Teatro Reginaldo Carvalho ................................................................. 37
Fotografia 3 - Fundação Cultural Fernando Jatobá da Silva Teles.......................................... 30
Fotografia 4 - Bispado de Senhor do Bonfim, em situação precária ...................................... 41
Fotografia 5 - Panfleto distribuído pela prefeitura em 2008 ................................................... 42
Fotografia 5 - Auditório Irmã Raimunda ................................................................................ 43
Fotografia 6 - Antigo Palácio Municipal, atual Prefeitura de Senhor do Bonfim................... 59
Fotografia 7 - Fachada do Centro Cultural ............................................................................. 64
Fotografia 8 - Foyer do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho.............................................. 65
Fotografia 9 - Área externa do estacionamento....................................................................... 66
Fotografia 10: Sala de ensaio no mês de julho, ainda com a decoração junina ..................... 73
Fotografia 11: Cadeiras defeituosas na sala principal ............................................................ 80
Fotografia 12: A BA 222 liga Bonfim a Campo Formoso .................................. .................. 83
Quadro 1 – Programação: formação em cultura ..................................................................... 98
Quadro 2 – Programação: filarmônica ................................................................... ............... 99
Quadro 3 – Programação: música ..................................................... ................................... 100
Quadro 4 – Programação: exposição............................................... ..................................... 101
Quadro 5 – Programação: teatro, dança e circo..................................................................... 101
Quadro 6 – Programação: Marketing Cultural ..................................................................... 103
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Aclasb Academia de Ciências, Letras e Artes de Senhor do Bonfim
Bahiatursa Empresa de Turismo da Bahia
CMC Conselho Municipal de Cultura
DEC Diretoria de Espaços Culturais da Secult-Ba
DIAR Departamento de Intercâmbio e Ações Regionalizadas
FCBA Fundo de Cultura do Estado da Bahia
FGM Fundação Gregório de Matos
Funceb Fundação Cultural do Estado da Bahia
MEC Ministério da Educação
MinC Ministério da Cultura
OAC Observatório das Actividades Culturais
PMN Partido da Mobilização Nacional
PNC Plano Nacional de Cultura
PT Partido dos Trabalhadores
PTN Partido Trabalhista Nacional
SCT Secretaria de Cultura e Turismo
Secult-Ba Secretaria de Cultura do Estado da Bahia
Secult Bonfim Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim
Seplan Secretaria de Planejamento do Estado da Bahia
SIIC Sistema de Informações e Indicadores em Cultura
SNC Sistema Nacional de Cultura
Ufba Universidade Federal da Bahia
Uneb Universidade do Estado da Bahia
Univasf Universidade Federal do Vale do Francisco
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 08
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLÓGICA ............................................ 12
2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS DE CULTURA NA BAHIA: BREVE HISTÓRICO .............. 12
2.2 EQUIPAMENTO CULTURAL E GESTÃO CULTURAL: DEFINIÇÕES ................... 18
2.3 OS ENTREVISTADOS .................................................................................................... 20
3. SENHOR DO BONFIM ................................................................................................... 27
3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA .......................................................................... 27
3.2 CONTEXTO CULTURAL ............................................................................................... 33
3.3. POLÍTICAS CULTURAIS X SÃO JOÃO ..................................................................... 43
4. O CENTRO CULTURAL CECILIANO DE CARVALHO ......................................... 55
4.1 O MAESTRO CECILIANO DE CARVALHO ................................................................ 55
4.2 HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DO ESPAÇO CULTURAL ................................................. 57
4.3 AVALIAÇÃO DO ESPAÇO PELOS ATORES CULTURAIS DO MUNICÍPIO ......... 75
5. PLANO DE AÇÃO PARA O CENTRO CULTURAL CECILIANO DE CARVALHO
.................................................................................................................................................. 85
5.1 OS ESPAÇOS CULTURAIS DA SECULT-BA: UM MODELO A SEGUIR ................ 85
5.2 EM BUSCA DE UMA PROGRAMAÇÃO CONTINUADA .......................................... 94
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 105
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 108
BIBLIOGRÁFICA, DOCUMENTAL E ONLINE ........................................................ 108
ENTREVISTAS .............................................................................................................. 115
APÊNDICES .................................................................................................................... 117
ANEXOS .......................................................................................................................... 126
8
1. INTRODUÇÃO
O propósito deste trabalho é elaborar um diagnóstico sobre o Centro Cultural Ceciliano de
Carvalho, principal espaço público de cultura da cidade baiana de Senhor do Bonfim. Para
atingir esta finalidade, foram realizadas entrevistas com os gestores públicos responsáveis pelo
espaço, artistas e produtores locais, a fim de entender qual relação possuem com o
equipamento e quais perspectivas vislumbram para o mesmo. As potencialidades e
deficiências identificadas, bem como as atividades desenvolvidas pelos grupos culturais
entrevistados, serviram de base para a construção de plano de ação para o centro de cultura.
Antes de alcançar a investigação de campo, a pesquisa se voltou para a análise do contexto
cultural do município e do recente histórico das políticas culturais desenvolvidas em âmbito
local. O trabalho pretende contribuir para o planejamento de políticas que se pautem pelo
reconhecimento das práticas culturais locais, portanto, a bibliografia utilizada é composta por
estudos conceituais sobre políticas culturais, reforçados por Coelho (1986, 1997), Botelho
(2001, 2007), Barbalho (2005), Leitão (2003, 2009) e Rubim (2007). O objetivo da pesquisa é
contribuir para a reflexão sobre a organização da cultura no interior da Bahia, através da
investigação sobre as políticas implementadas nessa região, historicamente negligenciada pela
ação do Estado no setor. A busca pelo autoconhecimento e o desejo em contribuir para o
fortalecimento das práticas culturais da sua comunidade de origem também impulsionaram o
trabalho da pesquisadora.
Com relação ao objetivo, a pesquisa desenvolvida possui caráter exploratório. Essa classe de
pesquisa visa a familiarização com um tema ainda pouco investigado, pouco explorado, como
é, de fato, o caso do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. Assim como a maioria dos
trabalhos criados a partir da metodologia (GIL, 2008), o diagnóstico realizado em Senhor do
Bonfim envolveu levantamento bibliográfico e entrevistas com pessoas que conhecem
empiricamente o problema pesquisado. As etapas do trabalho foram desenvolvidas a partir das
técnicas da pesquisa bibliográfica, documental, pesquisa de campo e pesquisa participante.
As principais respostas que influenciaram a análise sobre o equipamento cultural investigado
foram alcançadas através da pesquisa de campo. Essa modalidade flexível de pesquisa permite
que objetivos estabelecidos possam ser formulados ao longo da execução. É característico o
uso de mais técnicas de observação que de interrogação, mas, quando estas são utilizadas, a
entrevista semiestruturada é tida como o principal instrumento. (GIL, 2008). Nesse método, o
9
pesquisador é o protagonista da ação, pois deve realizar o trabalho pessoalmente,
considerando a ênfase na experiência direta com o contexto do objeto de estudo. A imersão
em uma determinada comunidade é necessária para compreender suas regras, hábitos, modos
de relacionamento etc. O trabalho de campo em Senhor do Bonfim consistiu em visitas ao
espaço cultural para reconhecimento das suas características e, em dias de programação ativa,
observar a rotina de produção. Como a Secretaria Municipal de Cultura (Secult-Bonfim)
funciona em algumas salas anexas ao Centro Cultural, a observação sobre seu funcionamento,
ritmo de trabalho e movimentação de público também foi feita.
Gil (2008, p. 53) aponta como desvantagem da pesquisa de campo o “risco de subjetivismo na
análise e interpretação dos resultados”, considerando que apenas um pesquisador é
responsável pela coleta de dados. Por muitos anos, a ciência julgou imprudente a aproximação
do pesquisador com o seu objeto, sob a mesma alegação de risco de imparcialidade e
subjetividade, que comprometeriam os resultados. A sociologia positivista, surgida na
primeira metade do século XIX, buscava pautar seus métodos a partir das ciências naturais,
procurando alcançar a mesma objetividade e êxito nas formas de controle sobre os fenômenos
estudados. Mas, conforme indica Oliveira, R. e Oliveira, M. (1986, p. 23), “a realidade social
não é uma coisa dada e acabada, e que o pesquisador não pode ser um observador imparcial
situado fora da situação que ele analisa”. É contrária a essa linha de raciocínio que separa o
sujeito (pesquisador) do objeto de pesquisa (sociedade) que surge a pesquisa participante,
onde “pesquisadores-e-pesquisados são sujeitos de um mesmo trabalho comum, ainda que
com situações e tarefas diferentes” (BRANDÃO, 1986, p. 11). Nessa proposta, os grupos
pesquisados ajudam a construir o trabalho em todas as etapas.
Em Senhor do Bonfim, a fim de compreender a gestão e os usos do principal equipamento
cultural da cidade, foram realizadas entrevistas com os gestores públicos responsáveis pela
pasta da cultura no município, artistas e produtores locais. Por produtor, compreende-se
aquele que cria e administra eventos e projetos culturais e, por gestor cultural, aquele que
administra grupos e instituições do setor ou que administra atividades voltadas para a cultura
em empresas, órgãos públicos, organizações não governamentais e espaços culturais
(AVELAR, 2008). Constantemente esses papéis se confundem na atuação cotidiana, como
será exemplificado na análise das entrevistas. De modo geral, os gestores tiveram que
responder sobre o perfil do centro, estatísticas, ações planejadas, reserva orçamentária
10
destinada ao local e desafios enfrentados na gestão. Já os produtores foram questionados sobre
a relação com o centro, como apreciadores e como agentes culturais, e induzidos a fazer uma
avaliação das deficiências e potenciais do espaço, sugerindo por fim ações de revitalização. A
elaboração de entrevistas semiestruturadas, com questões definidas a priori, mas abertas à
adequação ao ator entrevistado, evidencia o caráter participativo da pesquisa. Um roteiro de
perguntas foi levado a cada entrevista, mas ele esteve aberto durante a conversa,
transformando-se muitas vezes em um documento muito diferente do original.
Foram realizadas no município 13 entrevistas: 10 com artistas locais, duas com os atuais
gestores da Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim e uma com a antiga
secretária de cultura, atuante na época da criação do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho.
Uma das etapas da pesquisa participante descritas por Freire (1986) diz sobre a delimitação da
área do estudo e consequente reconhecimento e identificação de organismos populares ou
oficiais no espaço escolhido. O reconhecimento de grupos culturais atuantes em Senhor do
Bonfim se deu de modo preliminar, uma vez que sou natural do município e faço parte do
público consumidor das produções culturais locais. A escolha inicial se deu, portanto, por uma
observação anterior à pesquisa, a partir das práticas cotidianas de consumo. Foram
selecionados para a pesquisa grupos identificados como principais produtores de cultura na
localidade. Enquanto alguns fazem mais uso do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho e,
portanto, conseguem diagnosticar melhor seus potenciais e deficiências, aqueles que nunca se
apresentaram no espaço conseguem apontar motivos para a exclusão e propor medidas para
incorporação. Além das 13 entrevistas locais, foi realizada entrevista com a diretora de
Espaços Culturais da Secult, Giuliana Kauark, quando ela foi questionada sobre o panorama
dos espaços públicos do interior da Bahia geridos pela Secretaria de Cultura do Estado da
Bahia (Secult-Ba), grupo ao qual o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho não está incluído. A
comparação entre aqueles espaços e o equipamento de Senhor do Bonfim se faz necessária
para compreender a diferença no que se refere à gestão cultural.
Entre as 14 entrevistas realizadas, 13 foram registradas em áudio e disponibilizadas em texto
no blog Produção no Sertão1, a fim de democratizar o acesso a informações sobre a cultura
local a todos os interessados. Marcos Cesário, um dos artistas entrevistados, preferiu não ter o
1 <www.producaonosertao.wordpress.com>.
11
seu depoimento gravado, portanto, o registro não está disponível. Também contribuíram para
a pesquisa o nonagenário Florisvaldo Queiroz de Carvalho, conhecido como Seu Meló, com
documentos históricos e um breve relato, e o cordelista Jotacê Freitas, que atuava em Senhor
do Bonfim no período de inauguração do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. Essa última
contribuição foi feita através de e-mail, mas ainda assim foi registrada no blog.
Dividido em cinco capítulos de desenvolvimento, este trabalho parte primeiro da apresentação
dos conceitos que norteiam a pesquisa e passa pela contextualização sócio-histórica de Senhor
do Bonfim antes de chegar, de fato, ao diagnóstico sobre o equipamento cultural estudado.
Além de registrar os conceitos de política cultural, política cultural pública, equipamento
cultural e gestão cultural, o primeiro capítulo traça um breve histórico das políticas para o
setor voltadas para o interior da Bahia, evidenciando o silenciamento do Estado na região
compreendida como semiárido baiano, onde Senhor do Bonfim está inserida. O segundo
capítulo apresenta o contexto histórico da cidade de Senhor do Bonfim, colocando em
evidência sua estreita relação com a produção cultural, influenciada especialmente pela
ferrovia, e indicando que a busca por um equipamento cultural já existia no início do século
XX. O terceiro capítulo discorre sobre o histórico recente da tentativa de organização da
cultura local, a partir da década de 2000, verificando que a festa de São João, tradicional no
município, ainda ocupa demasiada atenção do poder público, em detrimento do apoio às
diversas outras práticas culturais. O quarto capítulo apresenta o Centro Cultural Ceciliano de
Carvalho e traça uma análise da gestão do equipamento, a partir da observação feita na
pesquisa de campo e entrevistas com artistas e gestores culturais. Por fim, o quinto capítulo de
análise apresenta um modelo de gestão para o espaço de Senhor do Bonfim, a partir do que é
desenvolvido na Diretoria de Espaços Culturais (DEC) da Secult-Ba. A pesquisadora se
concentra na proposição de melhorias em um dos eixos entendidos como deficitários: a
programação. Tomando como ponto de partida o edital público de Dinamização de Espaços
Culturais, coordenado por esta diretoria, sugere um esquema de programação regular para seis
meses de atuação no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho.
12
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLÓGICA
2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS DE CULTURA NA BAHIA: BREVE HISTÓRICO
A elaboração de um diagnóstico sobre um espaço cultural de Senhor do Bonfim tem como
objetivo contribuir para a implementação de políticas culturais municipais que se pautem pelo
reconhecimento das expressões locais. A etapa preliminar de pesquisa junto a atores culturais
do município parte do entendimento de que conhecer a cultura local é o primeiro passo para a
implementação de políticas efetivas de cultura (LIBÂNIO, 2010).
Políticas culturais são entendidas aqui conforme o conceito proposto por Canclini (1987):
Entenderemos por políticas culturales el conjunto de intervenciones
realizadas por el Estado, las instituciones civiles y los grupos comunitarios
organizados a fin de orientar el desarrollo simbólico, satisfacer las
necesidades culturales de la población y obtener consenso para un tipo de
orden o de transformación social (CANCLINI, 1987, p. 26).2
Definição esta que é complementada por Coelho (1997):
[…] a política cultural apresenta-se assim como o conjunto de iniciativas,
tomadas por esses agentes, visando promover a produção, distribuição e o
uso da cultura, a preservação e a divulgação do patrimônio histórico e o
ordenamento do aparelho burocrático por elas responsável (COELHO, 1997,
p.293).
Devemos estar atentos para algumas constatações decorrentes dos conceitos apresentados. A
primeira se refere aos atores das políticas culturais, que não se limitam ao poder
governamental das três esferas, mas abrangem os atores sociais, incluindo instituições civis e
comunitárias. Devemos nos atentar ainda para o fato de que as “necessidades” a serem
satisfeitas pelas políticas não estão pré-fixadas, nem são neutras, mas são resultado da
interpretação dos atores acerca dessas necessidades e dos interesses envolvidos
(BARBALHO, 2005).
Calabre (2005, p. 9) compreende por políticas públicas de cultura “um conjunto ordenado e
coerente de preceitos e objetivos que orientam linhas de ações públicas mais imediatas no
campo da cultura”. O sentido de “pública” estaria, portanto, em seu objetivo, de estruturar
2 “Entenderemos por políticas culturais o conjunto de intervenções realizadas pelo Estado, instituições civis e
grupos comunitários organizados a fim de orientar o desenvolvimento simbólico, satisfazer as necessidades
culturais da população, e obter consenso para um tipo de ordem e de transformação social” (tradução nossa).
13
programas disponíveis ao público, ao maior número de pessoas. Rubim (2007) destaca que
uma política pública pode ser desenvolvida não apenas pelo Estado, mas também por outros
atores políticos-sociais, desde que, necessariamente, seja submetida ao controle social, ao
debate e crivo públicos. Neste sentido, “pública” se refere à construção da própria política,
que deve ser feita com a participação da sociedade. Sem assumir essa condição, uma política
não poderia, de fato, ser considerada pública.
O planejamento e execução de políticas culturais vão depender do conceito de cultura adotado
pelos atores envolvidos. Eles podem se pautar pela dimensão sociológica, que define a cultura
de modo restritivo, ou pela dimensão antropológica, que apresenta um conceito mais amplo
(BOTELHO, 2001). A dimensão sociológica é o foco de atenção preponderante das políticas
culturais, pois trata da cultura enquanto âmbito especializado, portanto, daquela que faz parte
de um circuito organizado. Abrange as expressões artísticas de modo estrito e inscreve tanto a
produção de caráter profissional quanto a produção amadora (BOTELHO, 2001). A dimensão
antropológica define a cultura como modo inteiro de vida, conforme já proposto por Willians
(1979). A cultura é entendida como tudo “que o ser humano elabora e produz, simbólica e
materialmente falando” (BOTELHO, 2001, p. 2). Ela é entendida como o conjunto de relações
que o indivíduo trava com seu universo mais próximo, portanto, nesse sentido, solicita ações
culturais locais, elaboradas em âmbito municipal. No entanto, pela sua abrangência, a
dimensão antropológica necessita de ações globais de governo, que tome como ponto de
partida a transversalidade (BOTELHO, 2001).
A primeira meta do Plano Nacional de Cultura (PNC), aprovado em 2011 pelo Congresso
Nacional, diz justamente a respeito da articulação entre a União, estados e municípios para a
construção de políticas culturais efetivas. A meta se propõe a criar sistemas de cultura em
todos os estados e ao menos em 3.339 cidades (o que corresponde a 60% do território
nacional), a fim de tornar efetivo o Sistema Nacional de Cultura (SNC). A criação destes
instrumentos tornará a gestão pública da cultura planejada e eficaz, fazendo com que os
recursos públicos sejam mais bem distribuídos.
Botelho (2007) afirma que as políticas de cultura devem se preocupar não apenas em garantir
o acesso da população aos bens culturais, mas em promover condições para que a população
possa produzir cultura. Realizar somente a primeira ação é limitar-se, já que apoiar o “fazer”
contribui significativamente para a formação de públicos. Afirmando que uma ação alimenta a
14
outra, a autora indica que aquele que tem acesso ao fazer artístico é potencialmente o melhor
público para o consumo cultural. Articular o aspecto da formação de públicos com o apoio aos
produtores deve ser o objeto das políticas culturais.
A relação entre cultura e municipalização é mais preocupante que nos outros âmbitos, dada a
sua vulnerabilidade. Como coloca Leitão (2009, p. 41-42),
Embora presentes nos palanques dos candidatos ao legislativo ou ao
executivo em nosso país, os discursos sobre cultura não se reverteram, ao
longo do tempo, em projetos de lei capazes de garantir políticas culturais
voltadas à descentralização, inclusão e democratização dos bens e serviços
culturais.
Em geral, a atuação dos órgãos responsáveis pela gestão pública da cultura se limita à
dimensão do evento. A chamada “política de eventos” gira em torno da realização de ações
pontuais, “que não se configuram um sistema, não se ligam necessariamente a programas
anteriores nem lançam pontes necessárias para programas futuros.” (COELHO, 1997, p. 300),
ou seja, o oposto de uma política cultural. A continuidade de uma política de cultura é
condição fundamental para seu sucesso, mas, ao longo da história, “a área cultural se vê refém
de interesses contraditórios e da vontade das autoridades públicas” (AVELAR, 2008, p. 99).
São criadas cada vez mais “políticas de governo”, limitadas a uma única gestão, não tendo
sido formulada com a sociedade civil, como deve ser uma “política de Estado”. Aquelas são
facilmente desmontadas pela gestão seguinte, a quem não interessa manter rastros do governo
anterior, por vaidade ou revanchismo. Esse fato tem produzido impactos negativos para o
setor, entre eles, a descontinuidade dos programas e ações culturais, assim como o descrédito
na efetividade das pastas de cultura no país (LEITÃO, 2009). Diante do quadro, se faz
necessária a criação de uma legislação que garanta a continuidade das políticas, para que
aquelas ideias testadas e aprovadas tenham perspectiva de longevidade (AVELAR, 2008).
Quando nos atentamos para a realidade da Bahia em relação à execução de políticas culturais,
vemos um aspecto de desigualdade que impediu durante muitos anos que as ações se
voltassem para o interior do estado e especificamente para a região do semiárido, onde a
pesquisa em questão foi desenvolvida. A região do semiárido baiano possui 388.274 km² e é
formada por 264 municípios, com uma população de 6.316.846 habitantes. Isso corresponde a
uma área de 70% do estado e 48% de sua população (VASCONCELOS, 2011). Apesar deste
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território, compreendido como “sertão baiano”, apresentar uma grande extensão e diversidade,
as políticas culturais nem sempre se direcionaram para seu entorno.
Em 1967, no governo Luis Viana Filho, o turismo cultural passa a ser tratado como política, a
partir da criação da Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia. Seu sucessor,
Antônio Carlos Magalhães (ACM), assume essa área como um dos setores produtivos
prioritários do governo, levando a estratégia adiante em suas próximas gestões. A partir de
1991, quando ACM assume pela terceira vez o cargo de governador, a associação entre cultura
e turismo se fortalece e determina a política cultural do estado, contemplando ações a fim de
promover a Bahia enquanto um estado com características particulares, que, na ação dos
governantes, se conformavam como um todo indissociável, a dita “baianidade”. “A idéia [sic]
era transformar a Bahia em um dos principais destinos turísticos do país adotando como
diferencial turístico a cultura do Estado” (LIMA, 2011, p. 10). A problemática é que tal
discurso hegemônico centrou-se na cidade de Salvador e no Recôncavo Baiano, negando a
existência de uma tradição sertaneja na Bahia. (VASCONCELOS, 2011). A política se
consolida em 1995, com a criação da Secretaria de Cultura e Turismo (SCT), inédita no Brasil,
e segue até o fim do período carlista3, que vai de 1991 a 2006.
Apesar de as primeiras iniciativas no campo das políticas culturais na Bahia terem sido criadas
durante o governo de Otávio Mangabeira (1947-1951), poucas foram as ações voltadas para o
interior do estado. (UCHÔA, 2006). Na gestão de João Durval Carneiro (1983-1986), último
governador do período ditatorial, a então Secretaria de Educação e Cultura estabeleceu a
dinamização cultural como programa prioritário, implementando como ação mais importante a
construção de sete equipamentos culturais4 no interior da Bahia, com o objetivo de criar um
circuito estadual de ações culturais. As cidades de Vitória da Conquista, Porto Seguro,
Valença, Juazeiro, Alagoinhas, Itabuna e Feira de Santana foram contempladas com os
espaços, que hoje são geridos pela Diretoria de Espaços Culturais da Secretaria de Cultura do
Estado da Bahia (Secult-Ba). Ainda segundo Uchôa (2006), o projeto Chapéu de Palha foi
outra ação deste governo voltada para o interior. Criado em 1983, a iniciativa consistia na
3 Carlismo é o termo utilizado para designar o grupo formado na Bahia em torno da liderança de Antônio Carlos
Magalhães (1927-2007), que durante quatro décadas foi o político mais importante do estado e um dos mais
influentes do Brasil. 4 Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima (Vitória da Conquista); Centro de Cultura de Porto Seguro; Centro de
Cultura Olívia Barradas (Valença); Centro de Cultura João Gilberto (Juazeiro); Centro de Cultura de Alagoinhas;
Centro de Cultura Adonias Filho (Itabuna) e Centro de Cultura Amélio Amorim (Feira de Santana).
16
realização de cursos e oficinas de teatro destinadas não apenas para artistas, mas para a
população em geral (LIMA, 2011). No final do projeto, um espetáculo era montado a partir
das pesquisas sobre cultura local desenvolvidas durante as oficinas. O Chapéu de Palha
circulou por diversas cidades do estado, inclusive Senhor do Bonfim, onde os artistas locais
ainda registram sua importância.
Em 1987, no início do governo de Waldir Pires5, foi criada a primeira secretaria para cuidar
exclusivamente da cultura – desmontada em 1995, no governo de Paulo Souto, para dar lugar
à Secretaria de Cultura e Turismo. A Secretaria de Cultura incluía em sua estrutura um órgão
para planejar ações voltadas ao interior do estado. O Departamento de Intercâmbio e Ações
Regionalizadas (DIAR) surgiu com a finalidade de regionalizar o fomento às atividades
culturais, além de promover o intercâmbio com instituições nacionais, internacionais e
estrangeiras. Como afirma Lima (2011), a gestão de Waldir Pires na área da cultura ainda não
foi devidamente estudada, portanto, não é possível avaliar se o órgão cumpriu com o objetivo
proposto. O governo seguinte, de ACM (1991-1994), realizou a segunda fase dos Salões
Regionais de Artes Plásticas, bienal que envolvia a cada edição cerca de 100 artistas das
cidades sede do evento e dos municípios próximos. O projeto foi iniciado em 1992 em
parceria com os sete centros culturais do interior e as prefeituras das cidades.
De 1998 a 2006, nas gestões de César Borges e Paulo Souto, a atuação no interior do estado se
manteve irrisória. Kauark (2006) observou que projetos como PopulAção e CirculAção
Cultural, importantes para o cenário cultural do período, foram executados em apenas 15
municípios do estado, naqueles que possuíam espaços culturais. No período, foram criados
dois novos equipamentos6, o Centro de Cultura Antonio Carlos Magalhães, em Jequié (2000)
e o Teatro Dona Canô, em Santo Amaro (2001). Foi realizado ainda o Censo Cultural, um
mapeamento cultural em todos os municípios da Bahia. Kauark (2006) afirma, no entanto, que
o programa não conseguiu impulsionar a criação de políticas para dinamizar os espaços
culturais nas cidades do interior.
A gestão do governador Jacques Wagner, iniciada em 2007, dissociou a Secretaria de Cultura
da Secretaria de Turismo e atribuiu àquela o princípio de “descentralizar as ações culturais e
5 Eleito nas primeiras eleições diretas para governador após o regime militar. Vindo na linha contrária ao
carlismo, gerou grandes expectativas de mudança no estado. Rompeu por um breve período a hegemonia de
ACM, até renunciar para se candidatar à vice-presidência do Brasil. 6 Hoje a Secult-Ba administra 12 espaços culturais no interior do estado.
17
democratizar o processo de planejamento, execução e avaliação dos programas e projetos
culturais” (CARVALHO, 2007, p. 4). O governo criou o Programa de Desenvolvimento
Territorial da Cultura, que consistiu no agrupamento dos 417 municípios baianos em 26
territórios de identidade, a fim de promover seu desenvolvimento sociocultural (BAHIA,
2010). “Território é aqui entendido como a base geográfica da existência social, espaço
simbólico em que a população constrói a sua identidade, exprime sentimentos de pertença e
cria seu patrimônio cultural.” (DUARTE, 2009, p. 1). Para Milton Santos, o primeiro a tratar o
território geográfico como espaço vivo e dinâmico, este seria o “chão da população, isto é, sua
identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence” (SANTOS, 2000, p.
96).
Instituído pela Secretaria de Planejamento (Seplan) para nortear todas as linhas de ação do
Governo do Estado, o Programa Territórios de Identidade foi regulamentado em 2010. O
decreto cria ainda o Conselho Estadual de Desenvolvimento Territorial (Cedeter), fórum
permanente para discutir a elaboração de políticas públicas que atendam às demandas
territoriais. Por território de identidade compreende-se o
[...] agrupamento identitário municipal formado de acordo com critérios
sociais, culturais, econômicos e geográficos, e reconhecido pela sua
população como o espaço historicamente construído ao qual pertence, com
identidade que amplia as possibilidades de coesão social e territorial.
(BAHIA, 2010)
O Cedeter aprovou em 2011 a criação de um novo território de identidade, o Território Costa
do Descobrimento, atendendo à demanda da população local e assumindo a centralidade do
princípio do pertencimento. A reconfiguração territorial7 foi incluída no Plano Plurianual
2012-2015 do Governo do Estado da Bahia, que já estabeleceu políticas para 27 territórios, ao
invés de 26.
A partir de 2007, portanto, o governo estadual adotou uma política de “interiorização”, ou de
“territorialização”, como a atual gestão da Secretaria de Cultura, liderada por Albino Rubim,
prefere denominar. Entre as ações executadas, podemos citar a adoção de uma política de
editais e de cotas de patrocínio para projetos do interior do estado e a realização de
conferências de cultura, mecanismos de consulta das demandas culturais do público. Apesar
7 Foi aprovada também a alteração de nomes de alguns territórios e migração de municípios de um território para
outro.
18
do esforço realizado pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, ainda existe uma grande
concentração no patrocínio de projetos inscritos por proponentes de Salvador e Região
Metropolitana. A ausência de profissionalização e de indicadores culturais são alguns dos
motivos para a quantidade pouco expressiva de projetos inscritos por proponentes do interior
para pleitear recursos públicos.
No que se refere à investigação na área das políticas culturais, podemos dizer que ela envolve
dois caminhos: a análise do que constitui o campo cultural sobre o qual as políticas atuam, ou
seja, a realização de estudos sobre agentes, práticas e consumos culturais; ou a análise das
próprias políticas culturais (SANTOS, 2007). No primeiro caso, a informação produzida serve
como fonte para a formulação das políticas culturais. No âmbito do Observatório das
Actividades Culturais (OAC), instituição sem fins lucrativos de Portugal que realiza estudos
na área das políticas culturais desde 1996 e de onde Santos (2007) parte no texto apresentado,
esse setor envolve a produção de informações estatísticas sobre a cultura; o levantamento
sobre equipamentos culturais; as práticas culturais e os públicos; os criadores, produtores e
seus mercados de trabalho; o financiamento da cultura e os impactos dos grandes eventos. A
análise do campo cultural envolve, portanto, uma pesquisa junto aos atores culturais de
determinada região, o que se propõe, em primeiro instante, o trabalho a ser desenvolvido na
cidade de Senhor do Bonfim.
2.2 EQUIPAMENTO CULTURAL E GESTÃO CULTURAL: DEFINIÇÕES
O diagnóstico cultural realizado no município tem como objeto o Centro Cultural Ceciliano de
Carvalho, compreendido como o principal equipamento cultural público da localidade. Por
equipamento cultural,
[...] entende-se tanto edificações destinadas a práticas culturais (teatros,
cinemas, bibliotecas, centros de cultura, filmotecas, museus) quanto grupos
de produtores culturais abrigados ou não, fisicamente, numa edificação ou
instituição (orquestras sinfônicas, corais, corpos de baile, companhias
estáveis, etc.) (COELHO, 1997)
As definições de equipamento cultural, espaço cultural, centro cultural e casa de cultura
geralmente se confundem. Coelho (1997) faz a distinção e diz que o centro cultural
geralmente se refere a espaços públicos, maiores, com equipamentos permanentes e atividades
19
desenvolvidas sincronicamente. Para Milanese (1997), o que caracteriza os centros é a reunião
de produtos culturais, sejam de que natureza forem, a possibilidade de discuti-los e a prática
de criar novos produtos. Segundo Cenni (1991), deveria ser natural nos centros culturais o
estímulo à formação de grupos interessados em explorar certos temas, bem como as
oportunidades para as pessoas desenvolverem suas habilidades. Outro ponto abordado por
Coelho (1986) é a relação entre o centro cultural e a cidade, indicando que não se pode fazer
uma cultura distanciada da realidade na qual vivem os indivíduos e os grupos.
Conforme aponta Boas (2005), a fragilidade dos grupos e instituições culturais está na falta de
planejamento a médio e longo prazo.
A maioria dos projetos, e também de alguns espaços culturais, é gerida, a
dizer, “naturalmente”, na “marra”, “no improviso”, “apagando incêndios”,
“de última hora”, e mais tantos outros termos pejorativos que só traduzem
um estigma sobre este setor, como também expressam a baixa credibilidade
daqueles que trabalham com cultura. Há uma constante tensão em torno da
tradicional visão de que cultura não é prioridade e dos poucos recursos
destinados a esse campo. [...] No entanto, essas questões que estão postas, ao
invés de causar desestímulo, deveriam incentivar cada vez mais uma forma
eficiente de utilização dos parcos recursos destinados, e assim diminuir a
imobilidade ocasionada pelo jargão de que cultura é uma atividade cara.
(BOAS, 2005, p. 101)
Por rejeitar o uso das ferramentas de administração na gestão cultural, como se isso fosse
atribuir valor negativo às práticas do setor, os gestores limitam-se a buscar resultados
imediatos. Como propõe Boas (2005), é necessário vencer o preconceito que vê tais
ferramentas como instrumentos complicados e burocráticos, que não se adequam às questões
culturais. O planejamento se faz necessário para que determinada instituição construa um
futuro desejado. Por planejamento estratégico entende-se “um processo gerencial que permite
a definição do direcionamento a ser adotado por uma organização, com o objetivo de buscar
maior eficiência na sua relação com o ambiente” (AVELAR, 2008). A definição da missão
corporativa, análise do ambiente, formulação de objetivos, definição de estratégias e
implementação destas são etapas necessárias para um planejamento eficaz que, direcionado ao
campo cultural, tende a sanar suas fragilidades institucionais.
Leitão (2003) afirma, no entanto, que a gestão estratégica no campo cultural apresenta
algumas particularidades e, consequentemente, algumas dificuldades que lhe são próprias.
Uma delas refere-se à descontinuidade de lideranças no setor. Agir estrategicamente num
contexto marcado pela incerteza e curto prazo se torna inviável, o que diz mais uma vez sobre
20
a necessidade de se estabelecer “políticas de Estado”, ao invés de “políticas de governo”,
necessariamente frágeis. Outras especificidades das organizações culturais merecem destaque,
considerando que alteram o modo como a estratégia deve ser planejada. O primado da oferta
sobre a procura (a oferta cria sua própria demanda), a fragmentação da oferta (cada produto é
único) e o efeito assinatura (a marca do autor concede status ao produto) faz Leitão (2003)
acreditar na necessidade da inversão da lógica tradicional de gestão estratégica. A
investigação das necessidades do mercado (macroambiente) e das competências da
organização (microambiente) não é o passo fundamental para alcançar sucesso, como nas
empresas de outros setores. No domínio da cultura, o projeto artístico ou cultural (portanto, a
oferta) é que deve embasar a reflexão estratégica das instituições culturais. Isso demonstra que
as organizações culturais dependem de modelos próprios de gestão, a fim de tornarem-se
competentes e competitivas.
2.3 OS ENTREVISTADOS
Entre maio e julho de 2013, foram realizadas 16 entrevistas para a pesquisa, com artistas,
produtores e gestores culturais. Entre elas, 13 foram registradas em áudio e disponibilizadas
em texto no blog Produção no Sertão, a fim de democratizar o acesso a informações sobre a
cultura local a todos os interessados. Marcos Cesário, um dos artistas entrevistados, preferiu
não ter o seu depoimento gravado, portanto, o registro não está disponível. Também
contribuíram para a pesquisa o nonagenário Florisvaldo Queiroz de Carvalho, conhecido como
Seu Meló, com documentos históricos e um breve relato, e o cordelista Jotacê Freitas, que
atuava em Senhor do Bonfim no período de inauguração do Centro Cultural Ceciliano de
Carvalho. Essa última contribuição foi feita através de e-mail, mas ainda assim foi registrada
no blog. Abaixo, apresentamos um breve perfil dos entrevistados.
2.3.1 Artistas e produtores culturais
a) Guegueu Schade
Músico, escritor e diretor musical para teatro, atua há doze anos no setor cultural de Senhor do
Bonfim. Participou durante seis anos do Núcleo Aroeira de Arte e hoje atua na área artística
21
como profissional freelancer. É um dos fundadores da Selos Tabor, editora criada em 2011
pela qual publicou seu livro de poesias, 37 de dezembro. Durante muitos anos obteve
sustentabilidade financeira a partir do trabalho artístico, mas hoje é funcionário público
estadual, além de estudante de Licenciatura em Ciências da Computação, no Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia (IFBaiano). A entrevista foi realizada no dia 27 de maio,
na residência da pesquisadora, e teve duração de 1 hora e 22 minutos.
b) Alexandre Magalhães
Natural de Paraupebas (PA), chegou à Bahia em 1997, quando morou na cidade de Jaguarari,
antes de se fixar em Senhor do Bonfim, em 2007. Desde então, atua no setor cultural do
município, como dançarino, coreógrafo e professor de dança. Participa do Ballet
Sacramentinas há seis anos, há três como professor, e hoje também integra o corpo de
funcionários da clínica de fisioterapia e reabilitação Bonfisio. É estudante de Pedagogia e não
possui outra fonte de renda além do trabalho artístico. A entrevista foi realizada no dia 29 de
maio, na residência da pesquisadora, e teve duração de 52 minutos.
c) Zumar Sérgio
No teatro, trabalha com texto, direção e atuação. Escreve ainda literatura de cordel e atua
como palhaço. Atua há 31 anos no setor cultural do município e diz que sempre sobreviveu do
trabalho como artista, mais voltado para o trabalho no comércio, quando o contratam para se
apresentar em frente às lojas para atrair a atenção dos clientes. Formou-se no curso técnico de
Licenciatura em Artes Visuais, oferecido pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb),
campus de Senhor do Bonfim, e hoje trabalha como assistente na Secretaria Municipal de
Cultura. Já havia integrado a antiga Diretoria de Cultura entre 2000 e 2003, no governo do
prefeito Carlos Brasileiro (PT). A entrevista foi realizada no dia 31 de maio, no Centro
Cultural Ceciliano de Carvalho, e teve duração de 36 minutos.
22
d) Benedito Oliveira
Natural de Saúde, município da microrregião que tem Senhor do Bonfim como sede, possui
atuação em diversos municípios, tendo se afixado em Bonfim em 2003, onde logo criou o
grupo em que atua hoje, o Núcleo Aroeira de Arte. Como artista, se define como ator, diretor
teatral, palhaço e bonequeiro. No âmbito acadêmico, é pedagogo formado pela Uneb de
Senhor do Bonfim e especialista em História, Cultura Urbana e Memória, pela Uneb de
Jacobina. Além do Aroeira, integra a Academia de Letras e Artes de Senhor do Bonfim e
ensina Artes no Centro Educacional Sagrado Coração (Colégio Casinha Feliz). A entrevista
foi realizada no dia 30 de maio, na residência do entrevistado, e teve duração de 2 horas e 40
minutos.
e) Nando Lemos
Graduado em Pedagogia (Uneb-Bonfim), especialista em Psicopedagogia e Educação
(Uninter) e História e Sociedade (Uneb-Jacobina). Atua há 19 anos no setor cultural do
município, sempre voltado para o teatro, e há nove anos participa do Núcleo Aroeira de Arte.
Foi subgerente da antiga Diretoria de Cultura entre 2003 e 2004, no governo do prefeito
Carlos Brasileiro (PT). Tem papel de destaque na formulação da Lei de Cultura vigente em
Senhor do Bonfim e foi presidente do Conselho Municipal de Cultura em 2009, na única
gestão empossada. A entrevista com o artista ocorreu no dia 1º de junho, na sede da
Comunidade Kolping, onde ministra aulas de teatro com outro membro do Núcleo Aroeira de
Arte, Paulinho Vasconcelos. O depoimento teve duração de 40 minutos.
f) Reginaldo Carvalho
Estudou Pedagogia na Uneb de Senhor do Bonfim, graduou-se em Licenciatura em Teatro
pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e, no Programa de Pós-graduação em Artes
Cênicas da mesma universidade, ingressou no Mestrado e no Doutorado. Atua no setor
cultural de Senhor do Bonfim desde a década de 1990 e organizou em 2010 o I Colóquio
sobre História do Teatro no Piemonte Norte do Itapicuru, que debateu as práticas teatrais dos
nove municípios que compõem o território durante o século XX. Sua produção acadêmica está
23
ligada à cidade, tendo investigado em sua dissertação a história do cine-teatro no sertão
baiano. A entrevista foi realizada no dia 3 de junho, no restaurante Casa do Aragão, e teve
duração de 1 hora e 25 minutos.
g) Cynthia Ramos
Cynthia Ramos é professora, coreógrafa, bailarina, cenógrafa e figurinista do Ballet
Sacramentinas, grupo vinculado a um colégio particular de Senhor do Bonfim. Natural de
Anápoles (GO), a artista mora em Senhor do Bonfim há 15 anos, a mesma idade do grupo que
ajudou a fundar. Há três anos dá aulas de dança para adultos na clínica de fisioterapia e
reabilitação Bonfisio. A entrevista com a artista ocorreu no dia 28 de junho, em sua residência,
com duração de 42 minutos.
h) Tenison Santana
Tenison Santana participou, por quatro anos, da Sociedade Filarmônica União dos
Ferroviários Bonfinenses, a única filarmônica ainda ativa em Senhor do Bonfim. Hoje, o
músico atua no Neojiba (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia) e na
Filarmônica da Universidade Federal da Bahia (Ufba), instituição onde concluiu o bacharelado
em Instrumento e cursa mestrado em Educação Musical. A entrevista foi realizada no dia 1º de
julho, na Praça Nova do Congresso, e teve duração de 1 hora.
i) Caco Muricy
Autodidata, Caco Muricy atua como ceramista, ator, cenógrafo e figurinista. O primeiro
contato com o teatro e circo se deu a partir das brincadeiras no quintal. Participa do Núcleo
Aroeira de Arte desde 2007 e hoje possui seu próprio ateliê de arte. Já atuava no município em
1989, ano de inauguração do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. A entrevista com o
artista foi realizada no dia 2 de julho, na sede do Núcleo Aroeira de Arte, no bairro da
Gamboa, com duração de 28 minutos.
24
j) Marcos Cesário
O cronista, fotógrafo e filósofo Marcos Cesário iniciou a carreira artística de “modo
instintivo”, espontaneamente. Autodidata, se aperfeiçoou na fotografia sem ter realizado
cursos de formação. Já realizou exposições em diversas cidades, inclusive fora do país, mais
recentemente em Coimbra, Portugal. O depoimento não foi gravado em áudio, a pedido do
artista.
l) Jotacê Freitas
Jotacê publicou o livro Baianices, Baianadas e Baianidades e tem uma produção de mais de
100 folhetos de cordel. Atua como arte-educador na rede municipal de Educação de Salvador,
ministrando oficinas de literatura de cordel. Recebeu os prêmios Nacional de Literatura de
Cordel pela Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) em 2005 e Mais Cultura, pelo
Ministério da Cultura (MinC), em 2010. Antes de mudar para Salvador, atou no setor cultural
de Senhor do Bonfim, inclusive nos primeiros anos de funcionamento do Centro Cultural
Ceciliano de Carvalho. O relato foi feito por e-mail.
m) Seu Meló
Florisvaldo Queiroz de Carvalho, conhecido como Seu Meló, tem 90 anos e é dono do
Memorial João e Ana Carvalho, onde expõe as esculturas de vidro que cria. Apesar do
sobrenome, não faz parte da mesma família de Ceciliano de Carvalho, artista que dá nome ao
centro municipal de cultura. Concedeu depoimento no dia 22 de julho de 2013 que, por conta
da brevidade, não foi registrado no blog.
2.3.2 Gestores culturais
25
a) Ary Urbano
Secretário de Cultura, Ary é empresário e comerciante, proprietário de uma loja de roupas de
surfwear, estilo de vestuário inspirado pela cultura do surfe. Não tem formação universitária,
iniciou o curso de Administração, mas não concluiu. Candidatou-se a vereador nas últimas
eleições pelo partido do prefeito eleito (PTN), mas não saiu vencedor, tendo sido indicado em
janeiro para a vaga da Secult Bonfim. A entrevista foi realizada no dia 3 de junho, na
Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim, e teve duração de 30 minutos.
b) Carla Lidiane Pereira
Natural de Campo Formoso, cidade vizinha a Senhor do Bonfim, Carla Lidiane atuou como
representante territorial do Território nº 25 da Bahia, o Piemonte Norte do Itapicuru, de 2010
ao início de 2013. Pedagoga, especialista em Cultura Afro-brasileira e em Gestão de Pessoas,
Carla atualmente é diretora de Atividades, Eventos e Políticas Culturais da Secretaria de
Cultura de Senhor do Bonfim. A entrevista com a gestora ocorreu no dia 28 de junho, na sede
da Secult Bonfim, com duração de 2 horas e 25 minutos.
c) Angélica Santana
Angélica é proprietária e diretora do Centro Educacional Sagrado Coração (Colégio Casinha
Feliz), instituição que abriga em suas dependências o Cine-teatro Reginaldo Carvalho e o
Memorial Senhor do Bonfim, que reúne os principais documentos históricos do município.
Atuou como diretora de cultura no governo de José Leite, quando foi inaugurado o Centro
Cultural Ceciliano de Carvalho. A entrevista com a gestora foi realizada no dia 1º de julho, no
Colégio Casinha Feliz, e teve duração de 42 minutos.
d) Giuliana Kauark
Mestre em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Giuliana Kauark
atualmente é diretora de Espaços Culturais da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia
26
(Secult-Ba). A DEC gerencia 17 equipamentos culturais no estado e tem desenvolvido uma
política setorial para ampliar a atuação a fim de atender também espaços não vinculados à
Secult. A entrevista foi realizada no dia 23 de julho, na Faculdade de Comunicação da Ufba.
Parte do depoimento foi registrado na Oficina de Gestão Cultural, disciplina ministrada por
Gisele Nussbaumer para o curso de Produção Cultural, em que Giuliana foi convidada para
apresentar a diretoria. O relato durou cerca de 2 horas, entre aula e entrevista individual.
27
3. SENHOR DO BONFIM
3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
Senhor do Bonfim localiza-se no centro-norte do estado da Bahia, a 374 km de Salvador, na
região compreendida como semiárido ou sertão baiano. Sua população, de 74.419 habitantes
(IBGE, 2010), é predominantemente urbana (57.566 habitantes). Nas últimas duas décadas, a
taxa de urbanização cresceu 30,94%, hoje 77,35% da população mora na zona urbana
(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2013).
Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano Brasil 2013, o Índice de Desenvolvimento
Humano Municipal (IDHM) de Senhor do Bonfim em 2010 ficou em 0,666, considerado
Médio. Em relação aos 417 municípios da Bahia, o município ocupa a 30ª posição. Entre 2000
e 2010, a taxa de crescimento verificada foi de 27,10%. Neste período, a dimensão que mais
cresceu foi Educação, seguida por Longevidade e por Renda. Senhor do Bonfim teve um
incremento no seu IDHM de 87,08% nas últimas duas décadas, acima da média de
crescimento nacional (47,46%) e estadual (70,98%).
A cidade está inserida no território de identidade do Piemonte Norte do Itapicuru, do qual é
representante. O território, localizado na região conhecida como Polígono das Secas, é
composto por mais oito cidades: Andorinha, Antônio Gonçalves, Caldeirão Grande, Campo
Formoso, Filadélfia, Jaguarari, Pindobaçu e Ponto Novo. A microrregião em que está
localizada pertence à bacia hidrográfica do Itapicuru, por isso o nome do território. O Rio
Itapicuru nasce no Piemonte da Diamantina, próximo à cidade de Jacobina, e percorre 54
cidades baianas. “Piemonte” é um termo da geologia que indica “região situada entre a
montanha e a planície”. Senhor do Bonfim fica no sopé da Serra do Gado Bravo, extensão da
Chapada Diamantina, Cordilheira do Espinhaço, e é cercada ainda pelas serras do Mamão,
Catuni, Morgados e da Varzinha (MACHADO, 2007).
Apesar de ter completado 128 anos de emancipação política em 2013, o nascimento de Senhor
do Bonfim remonta a 1697, há 316 anos. Naquele ano se instalou próximo à sede do
município o Arraial de Missão de Nossa Senhora das Neves de Sahy, um dos mais antigos
arraiais da então Capitania da Bahia, entregue à Ordem dos Padres Franciscanos
(MACHADO, 1993). O arraial passa à condição de vila em 1799, a então Vila Nova da
28
Rainha, e se torna cidade em 1885. Machado (1993) aponta que as origens de Senhor do
Bonfim estão ligadas a três acontecimentos históricos do Brasil e da Bahia nos séculos XVII e
XVIII: a corrida em busca do ouro e das pedras preciosas, o confronto com o indígena e a
criação do gado. Em 1720, a descoberta do ouro em Jacobina correu a colônia, atraindo muita
gente em busca do enriquecimento rápido (MIRANDA, 2001). Essa região depois passaria a
contar com apoio e incentivo oficial do governo-geral para a exploração, recebendo
principalmente pessoas do Nordeste e Recôncavo Baiano. Bonfim se apresenta então como
local de chegada e partida em direção aos minerais, por conta da sua localização privilegiada,
“caminho para quem vem do norte ou vai pro sul, um entroncamento que passa a ser passagem
obrigatória pra muitos lugares” (MIRANDA, 2001). Nesse momento, Bonfim era passagem
obrigatória para quem vinha do Piauí, Maranhão ou da região do Rio São Francisco, era o
“descanso de tropeiro no meio do sertão”, como indica o hino do município (ANEXO A). A
localização estratégica também incluiu o então arraial no Ciclo do Gado, que ajudou no
povoamento do sertão, uma forma encontrada pelo conquistador para tirar do abandono esse
território. É válido ressaltar que isso ocorreu por conta da proibição do criatório de gado no
litoral, porque a atividade prejudicava o plantio da cana-de-açúcar (MACHADO, 1993).
Tal posição de destaque atribuída a Senhor do Bonfim no início de sua formação permanece
até os dias atuais, mesmo que enfraquecida, por conta da quase inutilização da ferrovia,
importante para o desenvolvimento da região a partir do século XIX. Com o advento da
estrada de ferro em 1887, a cidade é incluída na rota que ligaria Salvador ao sertão baiano,
iniciada em 1858 com o trecho Calçada-Aratu. A partir de então, foi sendo constituído um
sistema ferroviário que integrou as principais cidades do piemonte, do sertão sanfranciscano e
do nordeste da Bahia ao sul do país (GIESBRECH, 2005).
Além da importância para o setor de comércio e serviços, a ferrovia teve um papel
fundamental para as artes.
[...] a arte em Bonfim é influenciada completamente pela ferrovia, porque
muitas companhias de outras partes do estado e de outros estados vieram pra
Senhor do Bonfim através da ferrovia, as fitas para exibição cinematográfica
em nossos cinemas desde o Cine Royal vieram pela ferrovia. Inclusive, na
ocasião de uma greve dos ferroviários na primeira metade do século XX, o
cinema teve que parar, porque não tinha o que exibir (SILVA, 2013)
29
Hoje a Ferrovia Centro Atlântica faz transporte apenas de minério de ferro e derivados de
petróleo (MACHADO, 2007), saindo de Senhor do Bonfim em direção a Camaçari, na Região
Metropolitana de Salvador (GIESBRECH, 2005). Machado (2007) aponta que, apesar de a
malha ferroviária da Bahia ser composta por 1.597 Km de ferrovia, hoje transporta apenas 4%
das mercadorias produzidas ou que chegam ao estado, em função da falta de investimento no
setor. A Rodovia BR-407 desempenha hoje a função exercida pela ferrovia nos séculos
passados, o que tem dificultado a integração econômica do município com as demais regiões
produtoras do estado, já que a malha rodoviária que serve à região encontra-se, há alguns
anos, em estado precário (MACHADO, 2007).
A análise do processo de estruturação recente da economia de Bonfim nos
permite inferir que a substituição progressiva do transporte ferroviário pelo
transporte rodoviário resultou numa perda de importância econômica do
município, no contexto da região, dada à flexibilidade do transporte
rodoviário. Esse modal de transporte facilita o escoamento de cargas em
menor volume e quantidade, reduzindo o papel exercido por Senhor do
Bonfim de centro atacadista de fracionamento de mercadorias para a região
(MACHADO, 2007, p. 172).
Ainda assim, Senhor do Bonfim se configura enquanto principal centro de serviços da
microrregião, com destacada participação no fluxo de comércio e serviços, e como via de
acesso do litoral baiano ao sertão de Pernambuco, mais especificamente às cidades de Juazeiro
(BA) e Petrolina (PE), que têm enfrentando um processo de desenvolvimento avançado.
Juazeiro, com população de 197.965 habitantes, ocupa na Bahia a 17ª posição no Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), enquanto Petrolina, com 293.962 habitantes,
tem o 6º melhor IDHM de Pernambuco. O bipolo Juazeiro/Petrolina vem atraindo
investimentos em agroindústria, em comércio e serviços de apoio, enquanto Bonfim perde
espaços e instituições relevantes (MACHADO, 2007).
A cidade de Petrolina (Estado de Pernambuco) atraiu, nas últimas décadas, os
maiores benefícios do desenvolvimento regional, trazendo fluxos inclusive
de cidades como Senhor do Bonfim, ao instalar na sua área urbana as sedes
das maiores agências federais de desenvolvimento e promovendo
investimentos na qualificação da sua infra-estrutura [sic], em níveis
diferenciados daqueles apresentados pelas cidades próximas da Bahia
(BAHIA, 2000 apud MACHADO, 2007, p. 359).
As principais atividades que dinamizam a economia de Senhor do Bonfim se concentram no
setor de comércio e serviços, que responde por ¾ da geração de riquezas produzidas. A
atividade agropecuária perdeu a centralidade ao longo dos anos, porque o município não
30
experimentou um processo de modernização, algo que aconteceu em outras cidades do estado,
com destaque para a fruticultura em Juazeiro. A criação de gado desde a formação do
município teve como principal consequência uma economia voltada para a pecuária, tornando
Bonfim em outro momento detentora de uma grande bacia leiteira, chegando a se configurar
entre os dez maiores rebanhos do estado, favorecido pela presença da empresa Alimba,
posteriormente Parmalat. Os longos períodos de seca, entre as décadas de 1980 e 1990,
provocaram o declínio da atividade e saída da Parmalat (MACHADO, 1993; 2007). No que se
refere à cultura, a presença do vaqueiro e a atividade pecuária no município resultam em uma
série de códigos marcados pelo uso do couro como matéria-prima, o consumo de farinha e
carne do sol na alimentação e pela toponímia que lembra essa presença do gado. Pertencem a
Senhor do Bonfim locais como o Campo do Gado, a Serra do Gado Bravo, o Cocho, Lagoa do
Cocho, Lagoa do Boi, Baixa do Boi, Curral Falso, Espanta Gado, Passagem de Estiva,
Passagem Velha, Lagoa dos Cavalos, Garrote, Caldeirão da Vaca, Campo do Meio e outros,
entre bairros, distritos e povoados do município (MACHADO, 1993).
De um modo geral, a escassez de recursos hídricos sempre restringiu a expansão das
atividades agropecuárias. O setor nunca funcionou de modo competitivo, se voltando para o
mercado, predominando assim as culturas de subsistência. A agricultura se caracteriza pela
utilização de técnicas rudimentares, de baixa produtividade, organizada por propriedades
familiares, destacando-se a produção de milho, feijão, mandioca e mamona. Tais produtos são
vendidos na feira livre do município, a segunda maior do Nordeste em extensão, com cerca de
1,2 Km, atrás apenas de Caruaru (PE) (SENHOR DO BONFIM, 2013). A feira tem seu ponto
forte às sextas-feiras e sábados e reúne milhares de pessoas dos diversos municípios que
compõem a microrregião, entre consumidores, comerciantes e ambulantes. Nela encontra-se
de tudo um pouco: uma grande variedade de frutas e verduras, doces, queijo, requeijão, beiju,
animais abatidos, cerâmicas, esteiras, roupas, calçados, bijuterias e o tradicional forró, tocado
em barracas localizadas em seu entorno (MIRANDA, 2001).
Como foi colocado, os setores do comércio e serviços são os principais vetores econômicos de
Senhor do Bonfim, contribuindo com 76% de toda a riqueza gerada. Machado (2007)
apresenta informações sobre o perfil da estrutura produtiva da cidade, colhidas no censo
empresarial realizado pela Prefeitura Municipal em 2003.
31
O comércio de Senhor do Bonfim caracteriza-se por apresentar um perfil
baseado em estabelecimentos de pequeno porte, administrados através de
uma estrutura familiar, pouco profissionalizada, porém diversificada e
adequada ao contexto da região. Destacam-se os ramos de vestuário,
calçados, gêneros alimentícios, móveis, eletro-eletrônicos [sic] e outras
utilidades domésticas. [...] Segundo dados obtidos através de entrevista junto
ao CDL – Clube de Diretores Lojistas local, o conjunto dos estabelecimentos
sediados em Senhor do Bonfim realiza um faturamento médio mensal
estimado em sessenta milhões. (MACHADO, 2007, p. 174-175).
O grau de informalidade do comércio bonfinense é alto: 57,9% dos estabelecimentos
existentes não são registrados e cerca de 46% dos postos de trabalho são ocupados por
familiares dos proprietários. Em 2003 eram 2.046 empresas cadastradas, que geravam
aproximadamente 5.200 ocupações. 62% das firmas possuem mais de três anos de existência,
44% dos empreendedores afirmaram ter mais de 10 anos de experiência no negócio que atuam
e 85% registraram ter outra atividade além do negócio, dados que demonstram a
sustentabilidade do setor.
Atualizando os dados a partir do Atlas do Desenvolvimento Humano Brasil 2013, verifica-se
que em 2010 os setores de comércio e serviços continuam movimentando a economia. Nesse
ano, das pessoas ocupadas na faixa etária de 18 anos ou mais, 44,11% trabalhavam no setor de
serviços, 19,88% no comércio, 18,20% no setor agropecuário, 0,64% na indústria extrativa,
3,90% na indústria de transformação, 7,60% no setor de construção e 1,36% nos setores de
utilidade pública8 (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2013).
No quesito Educação, o que apresenta maior crescimento no IDHM, verifica-se que a
proporção de jovens entre 18 e 20 anos com ensino médio completo cresceu 288,41% entre
2000 e 2010. Entre os alunos de 18 a 24 anos, 8,04% estavam cursando o ensino superior em
2010, enquanto em 2000 essa taxa era de 3,22%.
É importante ressaltar que o município de Senhor do Bonfim possui tradição
no setor de educação, tendo desempenhado no passado um papel de
importante pólo [sic] educacional do interior do Estado da Bahia, pela
presença de instituições como o Colégio Maristas9, Educandário Nossa
8 Chama atenção o fato de o IDHM não incluir as atividades artísticas e culturais entre as categorias. Elas devem
fazer parte dos “serviços”, segmento muito genérico que não permite distinguir as atividades econômicas
criativas das demais. Assim, não é possível dimensionar a parte da população bonfinense que vive a partir de
economia criativa. 9 Refere-se ao Ginásio Sagrado Coração, conhecido como Ginásio Marista por pertencer à Congregação dos
Irmãos Maristas. Foi instalado em 1944 e transferido para o governo da Bahia em 1970, transformando-se em
Colégio Estadual Senhor do Bonfim, que funciona até hoje (SILVA, 1971). Os irmãos Maristas eram alguns dos
32
Senhora do Santíssimo Sacramento10
e Colégio Diocesano11
, que atendiam à
demanda de toda a região (MACHADO, 2007, p. 178).
Das instituições citadas, a única que permanece ativa é o Educandário Nossa Senhora do
Santíssimo Sacramento, hoje Colégio Sacramentinas, que atende do ensino infantil ao ensino
médio e se configura como principal colégio particular do município, atraindo até hoje
estudantes de outras cidades. A partir de 1999, a Escola Agrotécnica Federal de Senhor do
Bonfim (EAFSB), vinculada à Secretaria de Educação Média e Tecnológica do Ministério da
Educação, começou a funcionar como um novo centro de confluência de estudantes da região.
De modo integrado ao ensino médio, a escola oferecia o curso técnico em Agropecuária e, por
conta da crescente demanda, foram criados os cursos subsequentes de Técnico Agrícola com
habilitação em Zootecnia e o de Técnico em Alimentos. Milhares de estudantes da região
passaram pela escola, que estava alinhada com uma atividade econômica que ainda predomina
na microrregião. Em 2008, o colégio se transformou em uma unidade do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia (IFBaiano). Além dos cursos já oferecidos, o campus
disponibiliza os cursos superiores de licenciatura em Ciências da Computação e Ciências
Agrárias, cursos técnicos a distância em Meio Ambiente e Segurança no Trabalho e curso de
pós-graduação em Desenvolvimento Sustentável no Semiárido com ênfase em Recursos
Hídricos (IFBAIANO, 2013).
O IF soma-se à Universidade do Estado da Bahia (Uneb) Campus VII e à Universidade
Federal do Vale do São Francisco (Univasf), outras duas instituições públicas de ensino
superior que funcionam na cidade e atraem estudantes de todo o estado. A Uneb – inaugurada
em 1986 como Faculdade de Educação de Senhor do Bonfim (FESB) – oferece os cursos de
Pedagogia, Matemática, Ciências Biológicas, Ciências Contábeis e Enfermagem. Já a Univasf
oferece o curso de Licenciatura em Ciências da Natureza desde 2009 e deve implementar já
em 2014 os novos cursos de Geologia, Ecologia e Geografia. A presença dessas instituições
tem gerado um fluxo grande de estudantes da microrregião e outros territórios, demandando
uma série de serviços e injetando recursos na economia local.
principais produtores de teatro na virada da primeira para a segunda metade do século XX. O colégio mantinha
um auditório em seu prédio (SILVA, 2013). 10
Pertence à Congregação das Religiosas do Santíssimo Sacramento, com sede na França, fundada em 1715.
Instalou-se em Bonfim em 1937 (SILVA, 1971) e funciona até hoje, com o nome de Colégio Sacramentinas,
apelidado de Sacrá. 11
Também conhecido como Ginásio Diocesano, foi criado em 1942 com a denominação de Seminário São José.
33
3.2 CONTEXTO CULTURAL
Depois da caracterização histórica da cidade de Senhor do Bonfim, faz-se necessário
apresentar seu contexto cultural. A apresentação do nosso objeto de pesquisa, o Centro
Cultural Ceciliano de Carvalho, será feita no próximo capítulo, mas os dados a seguir
contribuem para o entendimento da relação histórica da cidade com a cultura e as artes.
Voltamos aos séculos XIX e XX para evidenciar a relação dos bonfinenses, especialmente,
com as letras, a música e o teatro.
Fundadas a partir da chegada de D. João VI ao Brasil, que trouxe consigo a Banda da Armada
Real Portuguesa, as filarmônicas espalharam-se pela Bahia desde 1863, com a criação da
Erato Nazareno, na cidade de Nazaré das Farinhas (BENEDITO, 2011). Em Senhor do
Bonfim, a primeira banda de música originou-se em 1888: era a Filarmônica União Ceciliana,
que teve entre os fundadores o músico e negociante Severo Lopes de Carvalho, pai do maestro
Ceciliano de Carvalho. Na década seguinte, em 1895, foi fundada a Filarmônica União e
Recreio, que viria a se tornar “um dos melhores conjuntos musicais do interior baiano e na sua
fase áurea arrebatou multidões de adeptos e admiradores” (SILVA, 1971, p. 155). Comandada
por Ceciliano de Carvalho, participou de diversos eventos fora da cidade, inclusive da
recepção de Ruy Barbosa em Salvador no ano de 1919. A Filarmônica 25 de Janeiro surgiu
1897 e se tornou “rival” da União e Recreio, duelando em embates musicais. Posteriormente,
ambas se transformaram em clubes sociais, tendo os nomes modificados para Sociedade
Beneficente e Cultural União e Recreio e Sociedade Cultural e Recreativa 25 de Janeiro,
respectivamente. Apesar da extinção das bandas, suas sedes funcionam até hoje: a primeira
para realização de pequenos eventos e cerimônias na cidade e, a segunda, como casa de shows
e eventos maiores.
34
Fotografia 1 - Atual Sociedade 25 de Janeiro. Foto: Adriana Santana.
Atualmente, a única filarmônica ativa em Senhor do Bonfim é a Sociedade Filarmônica dos
Ferroviários Bonfinenses, criada em 1953 na Gamboa, bairro que se formou a partir da
ocupação dos ferroviários, dada a sua proximidade com a estação. A partir de 1959, passou
por um recesso de 12 anos, sendo reativada apenas em 1971. Em 2000, passou por uma nova
crise que quase a leva à extinção. Foi quando o atual presidente, Paulo Pereira de Alencar,
assume a coordenação e leva a banda a um local de destaque no estado. A década de 2000 é
tida como o “tempo áureo” da filarmônica, quando participa dos Encontros de Filarmônicas
em Morro do Chapéu e em Jacobina, sendo convidada pelo governador do estado para se
apresentar em Salvador (SANTANA, 2013; LIMA, 2010).
A produção jornalística de Bonfim também foi sempre intensa. A imprensa estreou no
município em 1811, com o jornal O Futuro e, até 1997, circularam outros 47 jornais12
na
cidade (SILVA, 1971; IMPRENSA, 1999). Ao apresentar o movimento intelectual da cidade,
Silva (1971, p. 118) o divide em três fases, sendo a segunda delas o que chamou de “idealistas
da imprensa”, formado por jovens que disseminavam informação “por meio de pequenos e
12
“O Feitiço” (1899), “O Zéfiro” (1899-1890), “A Pena” (1899-1900), “A Moda” (1899-1900), “O Brinco”
(1900), “O Beija-Flor” (1900), “A Sílfide” (1903), “O Lince” (1904), “A Cidade de Bonfim” (1902-1903), “O
Atleta” (1902-1907), “O Artista” (1907), “Correio do Bonfim” (1912-1942), “A Luz”, “A Inocência”, “O
Combatente”, “O Lábaro”, “O Crisântemo” (1915), “O Imparcial” (1914), “O Espinho” (1914), “O Amor”
(1914), “O Eco” (1915), “O Álbum” (1915), “O Riso” (1916), “O Resplendor”, “A Vida”, “O Esporte” (1927),
“O Garganta” (1928), “A Boa Semente” (1930), “Bonfim-Filme”, “A Escada”, “O Social” (1934), “A Lâmpada”,
“A Abelhinha” (1938), “Alvorecer”, “Bonfim-Esportivo” (1944), “O Círio” (1952), “O Líder” (1968), “O
Abaeté” (1968), “Tribuna do Sertão” (1973), “Jornal do Sertão” (1977), “Nossa Gente” (1982), “Correio dos
Sertões” (1985), “A Voz do Povo” (1989), “Lampião” (1993), “Gazeta Bonfinense” (1995) e “Voz da Tapera”.
35
grandes jornais, alguns modestos e escritos à mão, que denunciavam a febre do jornal
característica dessa época”.
O Correio do Bonfim, jornal de mais longa duração, circulou de 1912 a 1942 quase que de
modo ininterrupto, com recesso de apenas dois anos durante a produção. Nessa época, os
jornais costumavam publicar críticas de teatro. Em 1913, determinada edição do Correio do
Bonfim13
apresentou uma crítica ocupando a metade de uma das páginas.
[...] pode acreditar, naquela época tinha crítica de teatro em Bonfim, às
vezes com meia página do jornal. Se a gente pensar que nos últimos
10, 15 anos pra sair alguma nota no jornal a gente tem que enviar... E
pela forma que escreviam, iam assistir aos espetáculos e comentavam
[...] (SILVA, 2013).
Atualmente, ainda circula na cidade o jornal Lampião, de 1993. A cidade conta ainda com a
Rádio Caraíba (frequência AM, ativa desde 1980) e Rádio Rainha FM, esta que atinge
aproximadamente 40 municípios da região (TBL, 2013). A Rainha FM faz parte da Rede
Bonfim de Comunicação, que conta com a Urri! Internet, provedor de internet banda larga e a
TBL (Telecomunicações Bonfinense Ltda), operadora de TV a cabo de Senhor do Bonfim.
Criada em 2001 pelo empresário Valdênio Monteiro e sua esposa, Viviane Monteiro, a TBL
cobra uma taxa de R$ 26 para exibição de um pacote com 37 canais, abertos e fechados,
alguns deles internacionais, como TCM, RTP, TNT e CNN. O canal 10 da TBL é a TV
Bonfim, que apresenta uma programação regional, hoje restrita a dois programas fixos, o
Jornal Bonfinense a o Esporte na TV. A emissora faz transmissão ao vivo de alguns eventos
que acontecem na cidade, sendo o São João o principal. No geral, a programação fica restrita a
reprises, exibição de clipes de música e publicidade. A rede está presente em cerca de 700
domicílios, cobrindo 70% do município (TBL, 2013). É válido ressaltar que, em Senhor do
Bonfim, uma televisão com antena simples consegue transmitir apenas três canais – Rede
Bahia, Aratu e Itapuã. Eventualmente, a Band e TVE conseguem transmissão. Verifica-se
ainda que os blogs se tornaram veículos bastante populares nos últimos anos. No geral, são os
radialistas14
que ingressaram na plataforma virtual, aprendendo a se comunicar de um novo
modo e passando a atingir um público mais amplo.
13
Ver SILVA, 2008, p. 45. 14
Destaque para o Blog do Cleber Vieira <http://www.blogdoclebervieira.com.br/>; Maravilha Notícias, de
Netto Maravilha <http://maravilhanoticias.blogspot.com.br/>; Blog do Walterley Kuhin
36
Acompanhando o movimento intelectual dos jornais, a Sociedade União e Recreio cria em
1912 a primeira biblioteca de Senhor do Bonfim, com 1.928 volumes (SILVA, 1971). Em
1916, possuía 903 obras, sendo 446 da área de artes, dos quais 43 eram de teatro,
correspondendo a quase 5% de todo o acervo (SILVA, 2008). A segunda biblioteca,
denominada Borges e Barros, foi fundada em 1934, com 3.916 volumes. Hoje denominada
Biblioteca Pública Profª Zenáurea Terezinha Campos, ela pertence à Prefeitura Municipal e
funciona como única biblioteca do município. Em 2007, possuía cerca de 1.620 títulos no
acervo (MACHADO, 2007). Senhor do Bonfim já possuiu as bibliotecas União e Mocidade,
em 1940, com 645 volumes; Manoel Quirino, em 1942, com 439 volumes; Rui Barbosa, de
1948, com 1.344 obras; Pedro Calmon, em 1957, com 280 volumes e Pio XII, em 1959, com
1.200 volumes (SILVA, 1971). Não foi possível descobrir na pesquisa o destino do acervo das
bibliotecas extintas, nem mesmo a quantidade de obras que a biblioteca municipal possui hoje.
A instituição funciona num espaço conhecido como “Pirâmide”, próximo à estação
ferroviária.
Entendendo que Senhor do Bonfim não possuía até então um espaço para consulta sobre o
passado, o Centro Educacional Sagrado Coração (Casinha Feliz)15
criou em 1994 o Arquivo
Regional de Senhor do Bonfim, hoje nomeado Memorial Senhor do Bonfim. O colégio
Casinha Feliz foi fundado em 1974 pela já falecida professora Zenáurea Terezinha – que dá
nome à biblioteca municipal, devido sua importância para a memória bonfinense – e
professora Maria Angélica Matos Santana, uma das entrevistadas para a pesquisa. O Memorial
Senhor do Bonfim é formado por documentos históricos doados pelas famílias de pessoas
ilustres do município. A etapa inicial para construção do espaço se deu através da realização
de gincanas, por seis anos consecutivos, para recolher documentos históricos junto aos
moradores da cidade. O texto de convocação diz que
Nesta sala [destinada ao arquivo], cuja FINALIDADE é servir como FONTE
DE PESQUISA, gostaríamos que contasse sua BIOGRAFIA, a HISTÓRIA
de sua EMPRESA, alguns dos seus TRABALHOS, para que as gerações
posteriores possam conhecer um pouco da sua história. Sua colaboração,
fornecendo-nos informações, documentos, retratos, livros, objetos de arte,
<http://www.blogdowalterley.com.br>, Ivan Silva Notícia <http://www.ivansilvanoticia.com.br> e Blog do
Meireles <http://www.blogdomeireles.com.br>. 15
Apesar de ter seu nome modificado para Centro Educacional Sagrado Coração em 1982, os bonfinenses ainda
preferem o uso do nome “Casinha Feliz”, ou apenas “Casinha”, para se referir à instituição. A pesquisadora
utilizará ao longo do trabalho essa nomenclatura, portanto.
37
enriquecerá este arquivo e dará aos estudantes a oportunidade de sentir como
nossa terra é rica em cultura, recursos naturais e pessoas de grande talento e
personalidade. (ALMEIDA, 2001, p. 27).
De fato, o espaço tem servido de principal referência de estudos para pesquisadores sobre a
história de Senhor do Bonfim. Seu acervo conta com mapas da região desde 1901, decretos
municipais, fotografias, biografias, livros, trabalhos literários, entrevistas, composições
musicais, vídeos, fitas cassetes, discos, CDs, convites etc. “Outra preciosidade são os jornais a
partir de 1903 alguns números avulsos e, de 1912 em diante, quase todos os jornais que já
circulam e, atualmente, ainda circulam na cidade em edições completas” (ALMEIDA, 2001,
p. 34).
A Casinha Feliz tem um papel importante para a cena cultural de Senhor do Bonfim. Além do
Memorial, abriga em suas dependências um cine-teatro e um teatro de arena. Alguns artistas
do município entrevistados pela pesquisa – Reginaldo Carvalho e Benedito Oliveira – atuaram
como professores de Artes da escola e contam que é frequente a realização de apresentações
artísticas por estudantes e grupos de fora da cidade, assim como festivais de cultura.
Reginaldo Carvalho considera que a escola foi num primeiro momento “um espaço de
mecenato para o teatro”.
O Cine-teatro Reginaldo Carvalho foi criado em 2011 e seu nome é uma homenagem ao
artista bonfinense que trabalhou no colégio por muitos anos. O espaço ainda está inacabado,
por conta da falta de recursos. O local ainda não possui poltronas para o público, ar-
condicionado ou equipamentos técnicos, por exemplo, o que foi mencionado em entrevistas
com artistas como empecilho para se realizar espetáculos.
Fotografia 2 - O Cine-Teatro Reginaldo Carvalho. Foto: Adriana Santana.
38
Algumas instituições foram criadas ao longo dos anos para fomentar a cultura bonfinense.
Ressaltamos o papel da Sociedade União e Recreio e Sociedade 25 de Janeiro. Além da
filarmônica e biblioteca, como já foi citado, a primeira mantinha um grupo de teatro. Já a
Sociedade 25 de Janeiro mantinha dois grupos dramáticos, um formado por rapazes e outro
por moças, e também possuía uma biblioteca e um “teatrinho” em sua sede. Tais grupos se
apresentavam com frequência nos “palcos oficiais” do município, os antigos cinemas.
Se não tinha a política pública como incentivadora para a produção de teatro,
havia outras forças. Citando os casos da Sociedade 25 de Janeiro e União e
Recreio, cada uma tinha a sua filarmônica, muitas pessoas adeptas dessas
filarmônicas, e tinha também seus grupos de teatro. De alguma forma, a
diretoria dessas agremiações desempenhava um papel importante junto a
esses jovens, na medida em que se preocupavam em estruturar o espaço para
receber espetáculos de teatro, comprar livros [...]. Então a presença dessa
biblioteca, dessa diretoria que pensa na construção de um palco, esses
elementos funcionaram em outro momento como um incentivo que hoje a
gente entende que deve ser de responsabilidade pública. (SILVA, 2013)
Em 1979, foi criada a Fundação Cultural Fernando Jatobá da Silva Teles, cujo nome é uma
homenagem ao já falecido deputado bonfinense.
Com a finalidade de preservar a memória cultural da cidade, foi criada a
Fundação Cultural Fernando Jatobá da Silva Teles, que vinha apoiando as
manifestações folclóricas e culturais através de grupos teatrais, musicais e de
pesquisas, bem como promovendo eventos culturais com apoio da Prefeitura
Municipal (ALMEIDA, 2001, p.45).
Sua atuação não foi devidamente registrada. Sabemos apenas que funcionava ao lado da
prefeitura e, na década de 1980, realizou uma oficina de teatro na cidade e foi responsável pela
pesquisa que deu origem ao documento “Bonfim Hoje: Calendário Histórico-Cultural de
Senhor do Bonfim”, que apresenta a cronologia dos acontecimentos no setor da cultura no
município.
39
Fotografia 3: Fundação Cultural Fernando Jatobá da Silva Teles. Foto: acervo de Meló Carvalho.
Outra instituição que merece ser citada é a Academia de Ciências, Artes e Letras de Senhor do
Bonfim (Aclasb), criada em 1990, por iniciativa de Paulo Machado (ALMEIDA, 2001). Paulo
Machado é Doutor em Educação, professor da Uneb campus VII e foi prefeito de Senhor do
Bonfim entre 2009 e 2012. A Aclasb – que permanece com a sigla, mas alterou o nome,
tirando o termo “Ciências” do título – fomenta a realização de debates, lançamento de livros e
atua em parceria com a prefeitura municipal16
. O atual presidente, José Gonçalves, foi assessor
de Relações Institucionais da prefeitura na gestão de Paulo Machado. Em 1992, a Aclasb
mediou a parceria com a Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) que trouxe a Senhor
do Bonfim uma oficina de teatro ministrada por Kátia Alexandria. Silva (2013) afirma que a
iniciativa “foi fundamental porque reaqueceu a cena cultural que estava morna depois da
explosão dos anos 80, que foi muito forte, com a atuação de muitos grupos”.
Por fim, é necessário fazer uma caracterização dos espaços de cultura localizados em Senhor
do Bonfim, para além do objeto da pesquisa – o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho – e os
já citados Cine-Teatro Reginaldo Carvalho, Sociedade 25 de Janeiro e Sociedade União e
Recreio. Antes, no entanto, se faz crucial a apresentação dos antigos equipamentos de cultura,
até mesmo para que se faça compreender a relação que os bonfinenses mantêm com as artes
até hoje, especialmente com o teatro.
16
Em 2011, a Aclasb contribuiu para a discussão que gerou a transferência dos bustos de personalidades
bonfinenses para as praças que dão nome. Ver em: <http://maravilhanoticias.blogspot.com.br/2011/06/prefeitura-
transfere-bustos-de-dr-jose.html>.
40
Em 1912, é inaugurado o primeiro cinema em Senhor do Bonfim, o Cinema Brasil, que só
funcionou por um mês, entre novembro e dezembro de 1912 (SILVA, 2008). O segundo é
inaugurado em 1913, com o nome de Cinema Royal,
“[...] palco dos mais variados espetáculos: teatro – de grupos locais e
visitantes – orquestra, ilusionismo, bailados infantis, bailes carnavalescos,
festivais acadêmicos, festas cívicas etc. Funcionava como uma espécie de
centro de diversões, pois além de uma seção de tiro ao alvo na parte interna,
acontecia em frente ao seu edifício, retreta das filarmônicas 25 de Janeiro e
União e Recreio; quermesses; queimas de Judas; diversões infantis como:
quebra pote, pau-de-sebo, corrida de saco; etc. O cinema fazia 3 ou 4 sessões
semanais, incluindo matinês, às vezes com 7 projeções [...]” (SILVA, 2008,
p. 42)
Em 1917, o espaço foi comprado e passou a se chamar Cinema Confiança, mantendo a
programação diversificada e abrindo espaço também para eventos escolares, conferências e
reuniões políticas, entre outras. Deixou de funcionar entre 1922 e 1924 – não é possível
precisar –, dando espaço ao Cine-Bonfim. Todos os cinemas citados localizavam-se na Praça
do Comércio, atual Praça Dr. José Gonçalves, e costumavam enfrentar problemas técnicos de
exibição. Em 1927, é criado em outro espaço – antiga Praça do Cinema, atual Praça Dr.
Antônio Gonçalves, onde está localizada hoje a Igreja Universal – o Cine-Teatro São José,
cujo projeto havia sido iniciado 15 anos antes. Nessa época a população de Senhor do Bonfim
girava em torno de onze a doze mil habitantes e tinha duas casas de espetáculo, já que o
espaço da Praça do Comércio, fechado no final de 1927, voltou a funcionar em 1928, com o
nome de Cine-Popular. Como cinema, funcionou por apenas dois meses e, como teatro,
voltou a funcionar esporadicamente em 1930. Reginaldo Carvalho, que pesquisou sobre os
espaços de cultura de Senhor do Bonfim entre 1910 e 1960, indica que “algumas fontes dizem
que o Cine-teatro Popular era uma opção ao Cine-Teatro São José e o popular não estava só
no nome, mas nos preços” (SILVA, 2013). Isso porque quem frequentava os outros cinemas
eram as classes mais altas, dado o alto custo dos ingressos. Sobre o Cine-Teatro São José,
Almeida (2001, p. 140) aponta que “as pessoas mais humildes ficavam atrás das telas para
assistirem porque não podiam comprar ingressos porque era muito caro. Naquela época,
custava 300 réis e na poltrona o ingresso era 2.000 réis ou 1.500 réis”.
O Cine-Teatro São José tinha acomodações para cerca de 800 pessoas e foi considerado o
melhor cine-teatro do interior. Além de filmes e espetáculos, o equipamento realizava shows
musicais. Grandes artistas nacionais passaram pelo espaço: Cauby Peixoto, Nelson Gonçalves,
41
Raul Seixas, Ângela Maria, Emilinha Borba, Tony Tornado, Jackson do Pandeiro, Luiz
Gonzaga etc. (SILVA, 2008). O Cine-Teatro São José entrou em decadência a partir de 1970,
apesar de ainda exibir filmes diariamente. Foi fechado em janeiro de 1983, reaberto em
novembro do mesmo ano, com o nome de Rafael Cine Foto, até fechar definitivamente em
1984, com prejuízos decorrentes da falta de público.
Criado em 1933, o Bispado de Senhor do Bonfim foi bastante aclamado, por representar a
sede da Diocese do município, constituída por 20 paróquias, englobando 33 municípios
(SILVA, 1971). O local contava com o Auditório João Paulo II (Bispado), que se configurou
por algumas décadas como um dos principais espaços de cultura da cidade. Era frequente a
realização de apresentações de teatro em festivais realizados pela Igreja Católica, mesmo
depois da inauguração do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, em 1989. Na década de
1980, o Bispado recebeu a primeira edição do projeto Chapéu de Palha, realizado pela Funceb
para formação em cultura. O Bispado encontra-se hoje em situação de abandono, não foi
possível verificar se existe alguma perspectiva de reforma, requalificação ou tombamento do
espaço.
Fotografia 4 - Bispado de Senhor do Bonfim, em situação precária. Foto: Adriana Santana.
Os três principais locais para shows no município são a já citada Sociedade 25 de Janeiro, o
Campo Clube e o Parque da Cidade. O Campo Clube foi inaugurado em 1972, a partir do
diagnóstico de que Senhor do Bonfim necessitava de um espaço de lazer e entretenimento.
Sua estrutura possui dois campos de futebol, uma quadra poliesportiva, quadra de areia,
quiosque, piscinas, sinuca, churrasqueira, salão de festas, bares, parque infantil e uma concha
acústica com capacidade para 10.000 pessoas. O local abriga os principais eventos musicais da
cidade, além de réveillon e festas particulares como aniversários, casamentos, formaturas etc.
42
Em 1985, o clube promoveu uma festa de São João com as presenças de Luiz Gonzaga e
Dominguinhos, considerado o momento mais marcante do espaço (CAMPO CLUBE, 2013).
Já o Parque da Cidade é um espaço público criado em 2008 para abrigar o São João da cidade
e servir como espaço de lazer nos outros meses do ano. Com capacidade para 100 mil pessoas,
está localizado na área da antiga pista de pouso da cidade, atualmente desativada, chamada
popularmente de "Campo de Aviação". Segundo o projeto original apresentado pela
prefeitura, o parque deveria conter pistas de cooper e ciclismo, quadra de esporte, campo de
futebol, pista de skate e restaurantes, entre outras coisas. O projeto não foi executado e serviu
inicialmente apenas como arena para os principais eventos realizados pela prefeitura, que
inclui, além do São João, a festa de aniversário da cidade. Em 2011, foram inauguradas a pista
de skate e a Academia da Terceira Idade.
Fotografia 5: Panfleto distribuído pela prefeitura em 2008. Foto: Prefeitura Municipal de Sr. do Bonfim
Até 2007, a festa de São João era realizada tradicionalmente na principal praça do município,
a Praça Nova do Congresso, e a mudança gerou polêmica. A grande quantidade de pessoas
que frequentava a festa gerava deteriorização e desconforto na praça, já que o espaço não era
apropriado para reunir aglomerações. Em 2013, o espaço voltou a ser utilizado para a festa,
mas através de um palco alternativo, para apresentações menores. No resto do ano geralmente
não são realizados eventos culturais no local, tido como principal espaço de cultura da cidade
nas décadas anteriores. O Estádio Municipal Pedro Amorim também acolhe, além de
campeonatos de futebol, apresentações culturais de grande apelo popular. Na década de 1980,
foi apresentado pelo grupo Sol Nascente, hoje extinto, o espetáculo da Paixão de Cristo, na
Semana Santana. O Festival Anual da Canção Estudantil (Face), promovido pela Secretaria de
Educação do Estado da Bahia, também realiza suas edições regionais no estádio.
43
Outros espaços possíveis para a criação artística são mencionados pelos artistas entrevistados
na pesquisa, que veem nos auditórios das escolas públicas do município um potencial ainda
pouco explorado. Ainda que não possuam dimensões exatas para o teatro, os auditórios do
Colégio Senhor do Bonfim, Colégio Teixeira de Freitas e Colégio Modelo Luís Eduardo
Magalhães, todos estaduais, poderiam se adaptar a esse tipo de apresentação, caso assim fosse
pretendido. O Colégio Sacramentinas é, além da Casinha Feliz, outra instituição que possui
seu próprio equipamento cultural. Ressaltamos que ambas as instituições são privadas e
disponibilizam aulas de ballet para os alunos, cujo desempenho é apresentado ao fim do ano,
num espetáculo aberto ao público. O Sacramentinas criou um espaço cultural próprio para
acolher as apresentações do seu grupo, que está completando 15 anos. Inaugurado em 2013, o
Auditório Irmã Raimunda Maria tem capacidade para 350 pessoas.
Fotografia 5 - Auditório Irmã Raimunda. Foto: Sacramentinas.
3.3 POLÍTICAS CULTURAIS X SÃO JOÃO
Esta pesquisa tem como fim a elaboração de um plano de ação para o Centro Cultural
Ceciliano de Carvalho, em Senhor do Bonfim, a partir dos resultados da investigação junto aos
atores culturais do município, sejam gestores públicos responsáveis pelo espaço ou artistas e
produtores locais. Antes da pesquisa de campo, é necessário realizar uma investigação sobre o
histórico recente das políticas culturais desenvolvidas na cidade e qual a atenção voltada para
o centro, principal equipamento cultural público da localidade.
44
Em 2010, a Secretaria Municipal de Cultura17
foi criada na estrutura administrativa da
prefeitura de Senhor do Bonfim. Tal iniciativa pode ser vista como um despertar para a
necessidade da organização da cultura em nível local, visto que criação de um órgão
autônomo de cultura é a primeira etapa para a consolidação do Plano Municipal de Cultura
(PNC). Apesar deste esforço merecer aprovação, a atuação da secretaria se mostrou
inexpressiva ao longo dos anos. Ela já nasce com três problemas estruturais: falta de
orçamento, de equipe e descontinuidade no comando da pasta. A atuação do órgão tem se
resumido à realização de ações pontuais e que não contam com a participação pública na
elaboração. A pesquisa parte do pressuposto de que a continuidade de uma ação cultural é um
dos fatores que garantem a sua efetividade, além de entender que a participação social é um
valor indispensável para uma política pública ser, de fato, considerada pública (RUBIM,
2007).
Ivomar Gitânio Silva, o primeiro secretário de cultura, saiu e retornou ao cargo por mais de
uma vez entre 2010 e 2011, na gestão do prefeito Paulo Machado (PT). Carla Lidiane, na
época representante territorial da Secult-Ba, afirma que “foi uma gestão muito conturbada, ele
saiu diversas vezes e voltou, e isso enfraqueceu a secretaria, [...] talvez por ela já ter sido
criada como uma secretaria menor, sem recursos, sem uma equipe” (PEREIRA, 2013). A
fragilidade administrativa do órgão se associa à dependência do setor a questões de cunho
político-partidário. A primeira exoneração de Ivomar aconteceu em 16 de novembro de 2010,
tendo retornado em fevereiro de 2011. Na época, um blog local noticiou que “O Secretário
alegou que o motivo de sua saída meses atrás teria sido em obediência ao seu partido PMN”
(MARAVILHA, 2011a). Em setembro do mesmo ano, ele deixa novamente a pasta, dando
lugar a Riana Oliveira. O blogueiro Netto Maravilha expressa sua indignação com o fato, pois,
segundo ele, o então diretor de eventos da secretaria, Edneuton Sá, deveria assumir junto com
Riana um cargo no órgão. A posição teria sido negada a ele por conta, mais uma vez, de
questões de ordem partidária. “[...] motivos políticos retiram a pessoa mais indicada para ser o
assessor chefe da cultura, uma vez que foi exigido de Edneuton que, para assumir a assessoria,
ele teria que se afiliar ao PMN, o que foi negado pelo jovem, que teve que ficar de fora [...].”
(MARAVILHA, 2011c). Edneuton Sá trabalhou por mais de 10 anos na diretoria citada,
17 Lembramos que a Secretaria de Cultura não é nova no município. Ela já existiu no governo de José Leite,
época da inauguração do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, mas logo depois voltou a ser Diretoria.
45
coordenando inclusive o São João do município. O Jornal Lampião, no entanto, credita a saída
de Ivomar nessa ocasião à falta de condições adequadas de trabalho.
Ivomar Gitânio e Julieta Araújo deixaram a Secretaria Municipal de Cultura,
cada alegando seu motivo particular (o principal motivo não foi dito, a falta
de condições para trabalhar nossa cultura). Riana Oliveira é a nova secretária,
que vai enfrentar os mesmos problemas, recursos. Esperamos que não.
(NOVA, 2011)
Em 2012, no final do último governo, a Secretaria de Cultura voltou a ser Diretoria de
Cultura, vinculada à pasta de Educação.
[...] isso tudo foi no final do governo passado, em outubro, a prefeitura
precisava cortar gastos e fechar o ano, funcionários foram demitidos, a
secretária virou diretoria e no imaginário isso é algo muito ruim, no nível
institucional, pois no nível de atividade tudo continuou da mesma forma.
(PEREIRA, 2013)
Decorrem da fala duas considerações analíticas. Primeiro, o fato denunciado diz sobre como a
prefeitura enxerga a cultura como acessório: se é necessário cortar custos, que seja desse setor.
A outra questão refere-se à declaração final, que diz que, em relação à execução de atividades,
não existiu diferença no município entre uma diretoria e uma secretaria, dado este que foi
evidenciado nas entrevistas com os artistas. A Secretaria de Cultura, um órgão supostamente
autônomo, não disponibilizou mais dinheiro ou realizou mais atividades que a diretoria
vinculada à Secretaria de Educação. Formada atualmente por uma equipe de oito pessoas –
dois diretores, dois assistentes, três auxiliares de serviços gerais e um office boy, além do
secretário – a secretaria encontra dificuldade de atender as demandas e de planejar ações.
Antes da efetiva criação da Secretaria de Cultura, foi criado em 2009 o Conselho Municipal de
Cultura (CMC), a partir da movimentação da classe artística. Em 2005, a prefeitura lançou
uma Lei Municipal de Cultura, em que nenhum artista foi consultado na elaboração. Algumas
falhas estavam evidentes: pela lei, o presidente nato do CMC seria o diretor municipal de
cultura e a sociedade civil estava mal representada em sua composição. Nando Lemos afirma
que esta era uma cópia da Lei Rouanet, então a sociedade civil estaria representada por grupos
que não existem em Bonfim, como, por exemplo, orquestra, ópera e cinema. Os artistas
ocupariam apenas cinco ou seis cadeiras, de linguagens existentes na cidade, o que
impossibilitaria que fossem ouvidos, pela pequena representatividade. Diante disso, a classe se
organizou, com grande liderança do Núcleo Aroeira de Arte nesse processo, e elaborou uma
nova lei, uma proposta de política pública para Senhor do Bonfim.
46
A Lei Municipal nº 1137/2009 (ANEXO B), resultado do trabalho dos artistas e aprovada pela
Câmara Municipal, dispõe, nos cinco capítulos em que está dividida, sobre o Sistema
Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim, o Conselho Municipal de Cultura, o Fundo
Municipal de Cultura, programa de Incentivo a Projetos Culturais e Comissão de Avaliação
dos Projetos Culturais. Com a nova lei, o Conselho Municipal de Cultura passaria a ter
atribuições normativas, deliberativas, consultivas e fiscalizadoras, com participação paritária
do poder público e da sociedade civil. O poder público tem direito a onze cadeiras: o gestor do
órgão municipal de cultura; dois vereadores, representando as bancadas de maioria e minoria
na Câmara; um representante das secretarias municipais de Educação, Administração, Meio
Ambiente, Ação Social, Integração, Infraestrutura, Finanças e de Indústria, Comércio e
Turismo. O segmento empresarial tem direito a uma cadeira, assim como os sindicatos de
trabalhadores. As duas universidades públicas da cidade, Universidade do Estado da Bahia
(Uneb) e Universidade Federal do Vale do Francisco (Univasf), têm direito a um
representante, cada uma, no Conselho. O segmento cultural também tem direito a onze
representantes: um da Academia de Ciências, Letras e Artes de Senhor do Bonfim (Aclasb) e
os demais das áreas artísticas e culturais atuantes na cidade – artes cênicas, dança, artes
visuais, artes audiovisuais, cultura popular, literatura, música, patrimônio cultural, indígena e
quilombola. Merece destaque a inclusão dos segmentos indígena e quilombola, pretendendo
dar voz a grupos que fazem parte da formação do município e que só costumam ter destaque
no São João, ficando suas apresentações restritas a horários menos nobres.
Nando Lemos esteve à frente desse processo, de elaboração da nova lei, e acabou sendo eleito
presidente do CMC. Ele aponta a dificuldade de articulação como o primeiro problema
enfrentado. Enquanto os representantes do poder público eram liberados dos seus trabalhos
para participarem das reuniões, a realidade do artista do interior é diferente, pois muitas vezes
tem que conciliar o trabalho artístico com outras profissões, o que os impedia de participar. A
sua gestão, de dois anos, conforme previsto na lei, encerrou sem a diretoria completa ter
conseguido se reunir ao menos uma vez. Nando era o único representante da sociedade civil a
participar da diretoria, é válido ressaltar. Ele afirma que muitas reuniões do Conselho foram
realizadas, mas não atendendo a regularidade mensal prevista na legislação. Após este
mandato, o conselho se desfez e nunca foi convocada uma nova formação. A inoperância do
órgão pode ser definida por suas palavras:
47
Meu medo era que o conselho existisse só pra beneficiar o poder público,
porque muitos recursos a gente sabe que precisa do Conselho... Então o
Conselho acabou se tornando o órgão que o poder público queria, existente e
não atuante, no sentido de cobrar. (LEMOS, 2013).
De fato, a atuação do órgão não foi efetiva, assim como o funcionamento da Lei da Cultura
não foi executado sob nenhum aspecto. Segundo Carla Lidiane, a própria estrutura do
Conselho Municipal de Cultura impede a sua vigência. A única reunião em que todos os
conselheiros estiveram presentes foi a reunião de posse. O número excessivo de conselheiros,
26 no total, 13 do poder público, se formou porque no momento de criação todos os
segmentos queriam estar representados. Carla afirma que, desde que acompanha a atuação do
CMC, “nunca houve uma reunião com mais de seis pessoas”. Partindo da análise de outros
modelos, a gestora acredita que, para diminuir a evasão, um número em torno de dez
conselheiros seria ideal. Para tanto, se faz necessária a criação de colegiados para as artes, que
passariam as demandas para o único representante das linguagens artísticas no órgão
consultivo. Hoje, cada linguagem tem seu representante no CMC. O objetivo da nova gestão é
alterar a lei que cria o conselho, diminuindo a quantidade de pessoas e sugerindo a criação dos
colegiados setoriais. Depois de discutida publicamente, a proposta deverá seguir para a
Câmara de Vereadores. O fórum de Culturas Populares e Identitárias já foi criado e, inclusive,
realizou em julho um debate público, para levar propostas à Conferência Municipal de Cultura
de 2013. O secretário de cultura, Ary Urbano, sinalizou a pretensão em reativar o CMC,
mesmo que tenha confundido os papeis do órgão com o do Sistema Municipal de Cultura,
num ato falho que pode demonstrar a falta de atenção às políticas que estão sendo
desenvolvidas.
Nós vamos ter que elaborar isso até o final de junho, porque a gente precisa
formar esse Sistema Municipal de Cultura, porque na verdade ele já existe,
mas a gente precisa reativar com outras pessoas, outros membros, tanto da
sociedade civil quanto das pessoas que participam da questão cultural de
Senhor do Bonfim. (URBANO, 2013).
O comerciante Arinaldo Urbano Costa, Ary Urbano, assume a Secretaria de Cultura em 2013,
com a eleição no ano anterior de um novo prefeito em Senhor do Bonfim, Dr. Correia (PTN).
Ary havia concorrido como vereador nas eleições de 2012 pelo mesmo partido do atual
prefeito, tendo ficado como suplente. Lembramos que Prefeitura Municipal foi liderada por 12
anos – de 2001 a 2012 – pelo Partido dos Trabalhadores (PT), então 2013 marca a renovação
política local, com a eleição de um prefeito do Partido Trabalhista Nacional (PTN). Um dia
48
após assumir a nova secretaria, a equipe lançou uma página institucional no Facebook, a fim
de desenvolver a cidadania virtual dos diversos segmentos culturais atuantes no município,
conforme descrito na rede social. Segundo Pereira (2013), a página serve “pra divulgar as
ações, pra conversar com as pessoas, pra ouvir um pouco mais, um mecanismo de escuta para
que o secretário pudesse pensar em algumas propostas”. De imediato, são apresentadas
também a nova identidade visual e conceito da Secult Bonfim, como passa a ser representada
a sigla. A cultura é entendida em “suas mais variadas definições científicas, sociais, filosóficas
e antropológicas, como toda produção dos diversos aspectos simbólicos de uma sociedade e
seus respectivos potenciais econômicos e sociais”, definição influenciada pelo que vem sendo
proposto nacionalmente. Nota-se, no entanto, que o conceito surge como um objetivo a
conquistar, sem que metas tenham sido traçadas para o alcance. Como Carla Lidiane coloca, a
secretaria ainda não conseguiu trabalhar em cima dele. A equipe reduzida e mal qualificada,
além da inexistência de planejamento estratégico, impedem a ação do órgão de cultura, pois,
“quando você tem duas diretorias e quatro assistentes, você acaba inviabilizando a realização
de qualquer coisa” (PEREIRA, 2013). Não há perspectiva de contratação de profissionais
qualificados na área cultural, mas a atual equipe deve ser qualificada internamente no segundo
semestre de 2013. O “segundo semestre” constantemente foi apontado nas entrevistas com os
gestores da Secult Bonfim como o período em que serão atendidas as principais demandas.
Isso porque as atividades são atropeladas pela urgência do São João, realizado no mês de
junho.
Em março que a secretaria sentou pra pensar as suas próprias diretrizes,
quem é o órgão, sua missão e sua visão. Mas isso ainda não foi internalizado.
Até porque isso foi atropelado pela urgência do São João que, mais uma vez,
parece que briga o tempo inteiro, enquanto evento, enquanto permanência
dentro da realização da secretaria. (PEREIRA, 2013)
A Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), em conjunto com Fundação Nacional das
Artes (Funarte), realizou no mês de junho em Senhor do Bonfim uma oficina de Confecção de
Figurino para Dança, ministrada por Rino Carvalho, vencedor do Prêmio Braskem de Teatro
2012 pelo figurino criado para o musical Amor Barato (COUTINHO, 2013). Mesmo diante da
importância da atividade formativa, a produção do São João impediu que a secretaria a
divulgasse de modo mais intensivo (PEREIRA, 2013).
Ainda dentro desse contexto de prioridade da festa junina, a elaboração do Plano Municipal de
Cultura e institucionalização do Sistema Municipal de Cultura não avançaram. O Fundo
49
Municipal de Cultura existe desde a última gestão, no entanto, o decreto de criação diz que é
necessário que o município estipule um valor de investimento nas atividades culturais, sem
determinar qual é esse valor. Por conta dessa “falha”, o único recurso depositado em conta até
hoje refere-se à arrecadação do único projeto permanente realizado pela gestão anterior de
cultura, o Cine Bonfim, no valor de cerca de R$ 1.300. Hoje a Secretaria de Cultura não possui
orçamento específico, tem apenas uma dotação orçamentária utilizada no São João, em torno
de 1 milhão e 400 mil. Com a adesão do município ao Sistema Nacional de Cultura, essa
realidade deve mudar, pois é necessário que o prefeito institua um percentual mínimo a ser
destinado à cultura. Carla Lidiane está confiante nessa meta, mas vê a capacitação da equipe
como necessária para que o recurso possa ser gerido da maneira adequada. “Isso é ótimo
porque significa que em 2014 parte dos nossos problemas irão se resolver, se a gente tiver
uma gestão que consiga lidar com esse recurso, que é uma preocupação agora capacitar a
equipe pra lidar com o recurso” (PEREIRA, 2013).
Os dados apontados por Carla Lidiane, que dizem sobre o privilégio do São João, são
reforçados pelos artistas bonfinenses, insatisfeitos com o investimento maciço da prefeitura na
festa junina, em detrimento das demais atividades culturais. A festa realizada no município há
mais de 100 anos é considerada uma das melhores da Bahia, ao lado daquelas organizadas nas
cidades de Cruz das Almas e Amargosa. Senhor do Bonfim recebe inclusive o título de
Capital Baiana do Forró, por conta da representatividade e manutenção das características
tradicionais dos festejos, como apresentações de sanfoneiros e quadrilhas, desfile de carroças,
baile com banda de pífanos18
, além de incorporação de outros elementos, como o samba de
lata19
e o show de espadas20
. Dividem espaço com essas manifestações populares as
apresentações das chamadas “atrações de peso”, bandas de forró reconhecidas, seja no estilo
pé de serra21
ou eletrônico. A partir de 1967, a festa que tinha como característica a
organização coletiva, de caráter familiar, passou a ser organizada pela prefeitura. (SANTOS,
198?). Inicialmente com duração de 30 dias, o São João foi se transformando, chegando a ter
ainda 15 dias de festa na década de 2000 e vendo esse número ser reduzido até o contexto
atual, de quatro dias de programação oficial. Durante o período junino, Senhor do Bonfim
18
Conjunto instrumental de percussão e sopro. Pífano é um instrumento semelhante à flauta. 19
Manifestação cultural que tem como principal representante a comunidade quilombola de Tijuaçu, criada em
1750 e hoje distrito de Senhor do Bonfim. Em busca de reservas de água, tendo a lata como repositório, os
habitantes da localidade transformaram a adversidade em diversão, criando o samba de lata. 20
Tradicional manifestação que consiste no lançamento de espadas, fogos de artifício fabricado artesanalmente. 21
Forma mais tradicional do gênero.
50
atrai de 50 a 100 mil turistas. A criação da festa privada Forró do Sfrega22
, no ano de 2000,
contribuiu para o aumento de visitantes.
O orçamento do São João nos últimos anos variou entre R$ 850 mil a R$ 1 milhão. A
prefeitura divide os custos com o governo estadual, federal e patrocinadores diversos. Em
2010, por exemplo, o Ministério do Turismo destinou R$ 239 mil para a festa do município e,
em 2012, R$ 300 mil. Nesse último ano, recebeu ainda R$ 100 mil da Empresa de Turismo da
Bahia (Bahiatursa) e destinou R$ 869 mil para a contratação das atrações. Na ocasião, o
prefeito Paulo Machado foi questionado pelo Ministério Público por conta do gasto excessivo,
visto que Senhor do Bonfim enfrentava graves consequências da seca que atingiu o Nordeste e
a prefeitura liberou mais recursos para a festa junina (R$ 965 mil) que para o combate aos
prejuízos decorrentes da falta de água (R$ 114 mil). Em 2013, com a continuação do período
de estiagem, o orçamento do São João diminuiu em 50%, contando ainda com o patrocínio da
Nova Schin, Petrobras, Sebrae, Bradesco, Trident e 51.
Identificamos que, mesmo no São João, a prefeitura não realiza um trabalho de valorização
dos artistas bonfinenses, priorizando o pagamento das bandas que se apresentam na festa, em
detrimento das manifestações populares do município, que já chegaram a ficar cinco meses
sem receber o cachê combinado. O Conselho Municipal de Cultura, em uma das únicas ações
efetivas, criou um regimento para nortear o São João, que, a princípio, foi elogiado pelo então
prefeito, Paulo Machado (PT), mas não foi posto em prática. Nele, os artistas, com
protagonismo do Núcleo Aroeira de Arte, esquematizaram um modelo de apresentações que
incluísse o maior número de grupos bonfinenses na programação do São João. Nando Lemos,
assim como Benedito Oliveira, afirma que é corriqueiro que um grupo receba de 15 a 20 mil
por uma apresentação teatral, quando esse recurso poderia ser dividido por quatro ou cinco
grupos, para realização de apresentações diversas. A valorização dos artistas locais é bastante
considerada no regimento. Músicos que tocam no São João demonstraram insatisfação com o
planejamento da festa, que destina a eles horários de pouca visibilidade, em que não há
público para assisti-los. Benedito Oliveira afirma que é necessária a abertura de editais
22
Com dois ou três dias de duração, a depender do ano, o evento privilegia a contratação de artistas de ritmos
como pagode, arrocha, axé e sertanejo, além do forró. Sua estrutura é elogiada pelo público, que comparece à
festa atraído principalmente pela oferta de bebida gratuita e atrações diversificadas. Em 2013, os preços dos
ingressos variaram de R$ 273 (pista) a R$ 1.258 (camarote).
51
públicos para que os grupos concorram às apresentações dos festejos, numa busca por mais
transparência e qualidade.
O São João de 2013 recebeu críticas de diversos segmentos de Senhor do Bonfim, seja em
relação à infraestrutura, atrações contratadas, logística ou decoração. O Núcleo Aroeira de
Arte divulgou uma carta (ANEXO C) para a imprensa em que critica a organização da festa,
indicando que as tradições juninas não foram preservadas. O antigo prefeito, Paulo Machado,
teve a mesma iniciativa, questionando também aspectos referentes à gestão (ANEXO D).
Muitas das críticas recaíram sobre a Secult Bonfim, responsável pela organização do palco e
atrações.
Apesar da notável descontinuidade dos gestores municipais de cultura ao longo dos anos,
conforme apontado, a fase de transição entre a gestão anterior e a atual, em 2012, foi positiva,
segundo Carla Lidiane. O Cine Bonfim, principal projeto do governo precedente, foi acolhido
pela nova secretaria, que deve reativá-lo em breve. O projeto consistia em apresentar
semanalmente filmes ao público mediante o pagamento opcional de ingresso no valor de 2
reais. A sessão trazia a cada quinta-feira um filme comercial, muitas vezes voltado ao público
infantil. A falta de expressividade da programação somada a curta divulgação muitas vezes
esvaziaram o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, onde os filmes eram exibidos. O desafio
hoje consiste na regularização jurídica do evento. No período anterior, o Centro Cultural
funcionava como uma sala de exibição não oficial, apresentando filmes de várias
programadoras sem licença.
A principal ação executada pelo novo governo foi o Programa de Cadastramento Cultural
Bonfinense, iniciativa que visa o mapeamento dos envolvidos com a cultura no município,
sejam artistas, artesões, agentes, produtores, gestores ou pesquisadores. Foi realizada uma
audiência no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho para apresentar o programa, ouvir a
opinião do público e colher suas contribuições. É válido destacar que o mapeamento tem o
potencial de se tornar fonte para o planejamento de políticas culturais públicas, consideradas
inexistentes até o momento na cidade, e contribuir para a elaboração de um Plano Municipal
de Cultura. Artistas afirmam, no entanto, que iniciativas como essa já foram feitas por antigos
gestores, que não executaram nenhuma ação após o cadastro. Os entrevistados não
participaram dessa nova etapa, por não acreditarem em resultados a partir do programa.
52
No geral, os artistas têm baixas expectativas em relação à nova gestão da Secretaria Municipal
de Cultura. Muitos estão insatisfeitos com o início da atuação do órgão. O resultado tem sido o
afastamento desse público, que não tem participado das tentativas de diálogo propostas pelo
governo. Diversos relatos sobre a descontinuidade da prefeitura em torno das ações, a partir de
motivação político-partidária, foram narrados pelos artistas. O fato de a classe artística ter
apoiado nas últimas eleições outro candidato, ligado ao Partido dos Trabalhadores (PT), é tida
como o motivo para sanções verificadas no campo da cultura. Não podemos deixar de relatar
alguns desses casos, ainda que preservando os nomes dos artistas que fizeram as denúncias,
quando necessário. Fulano (2013) afirma que seu grupo foi tratado de forma desrespeitosa no
São João. Uma apresentação já realizada tradicionalmente na festa foi retirada da programação
sem que um diálogo fosse estabelecido. De um modo geral, acredita que
Infelizmente no interior quem domina é o partido político, o que tinha que se
sobressair que é a cultura, ninguém está preocupado. Eles se preocupam em
saber em quem você votou e se você merece ter atenção ou não. Qualidade é
o que menos conta. [...] Não existe uma preocupação com os artistas locais,
com a qualidade dos trabalhos que eles oferecem. Os artistas que tem que tá
procurando eles, pedindo ajuda para as coisas. Os gestores não procuram os
artistas pra nada, pelo contrário. (FULANO, 2013)
Outro artista relata que a troca completa dos funcionários do Programa Mais Educação nas
escolas municipais teve motivação partidária. O programa federal inclui nas escolas públicas
atividades complementares sobre meio ambiente, esporte e lazer, direitos humanos, cultura e
artes, cultura digital, prevenção e promoção da saúde, educomunicação, educação científica e
educação econômica (BRASIL, 2013). Sicrano (2013) disse que, após ser solicitado, indicou a
uma funcionária da prefeitura um artista para ensinar aulas de dança em outro projeto
destinado à terceira idade. Ao entrar em contato com a responsável, o bailarino indicado foi
constrangido a responder se tinha votado no prefeito eleito e, quando respondeu
negativamente, foi dispensado. A mesma atitude teria sido praticada no momento de
contratação de artistas locais para o São João. Quando questionada se a questão partidária
influencia a ação da Secult Bonfim ou, especialmente, a contratação de artistas para festa,
Carla Lidiane diz que até então não registrou nenhuma ocorrência nesse sentido, mas que “a
ideia é que secretaria consiga mesmo se instituir pra que ela diminua essas coisas” (PEREIRA,
2013).
53
Notamos que a institucionalização de um órgão de cultura na cidade não foi acompanhada da
criação de uma política municipal de cultura ou mesmo do apoio aos atores culturais de
Senhor do Bonfim. Reginaldo Carvalho afirma que nos últimos anos, inclusive, a quantidade
de produções culturais diminuiu. Se a cidade já viveu numa efervescência cultural, a última
década teria sido a pior para a área, quando o “teatro em Bonfim teve seus anos de maior
amargura” (SILVA, 2013). Como primeiro motivo para a queda, Reginaldo Carvalho aponta a
falta de incentivo público para a manutenção de grupos. Reginaldo concorda que nunca foram
criadas políticas de cultura no município, que a prefeitura nunca investiu em cultura, mas que
a efervescência anterior poderia ser justificada pelo apoio concedido por outras instituições,
como os clubes recreativos. O artista compara que, enquanto nos anos 80 foi possível montar
no estádio municipal um espetáculo da Paixão de Cristo, entre 2002 e 2003 o artista não
conseguiu apoio da prefeitura para apresentar seu espetáculo, que havia estreado em Salvador,
no Teatro Vila Velha.
Então essa é a compreensão de que não se tem nenhuma responsabilidade
com o teatro na cidade, que o município não precisa se preocupar com esse
fomento. É um grande paradoxo o que aconteceu no cenário nacional e
estadual e o que aconteceu em Bonfim, falando em políticas públicas do
Partido dos Trabalhadores. (SILVA, 2013)
De fato, é curioso que o governo municipal não tenha se alinhado ao planejamento para a
cultura que seu partido realizou em nível estadual e federal. Em 2009, o Núcleo Aroeira de
Arte conta que apresentou à prefeitura um projeto para a Semana Santa, propondo a
apresentação do espetáculo da Paixão de Cristo, assim como feito na década de 80 por outro
grupo. Orçado em R$ 110 mil, o antigo prefeito – Paulo Machado – ofereceu R$ 15 mil para a
execução. Por entender que era inviável, o grupo se recusou e ofereceu a proposta em outra
região. Desde 2010 fazem a apresentação no território de identidade do Sisal, nas cidades de
Valente, Retirolândia e São Domingos, onde obtiveram apoio das prefeituras e comércio. Ao
dizer que “era só a prefeitura deixar de contratar um Aviões do Forró para patrocinar o projeto
da Paixão de Cristo”, Benedito Oliveira expressa mais uma vez que a área da cultura em
Bonfim fica restrita à organização do São João. É válido dizer que não há um sentimento de
desprestígio dos artistas em relação à festa, ninguém acredita que ela tem que deixar de existir,
pois todos entendem sua importância histórica, social, cultural e econômica. O que existe é o
desejo por regulamentação dos festejos, pela valorização dos artistas locais e, ao mesmo
tempo, pela descentralização dos recursos para outras atividades culturais.
54
Sabe-se que o contexto verificado em Senhor do Bonfim não é exclusivo, pois
[...] na agenda de desenvolvimento nacional, a cultura foi historicamente
concebida de forma unilateral enquanto uma “política de governo”, não tendo
sido formulada e pactuada pela sociedade civil, como deve ser uma “política
de Estado”. Esse fenômeno tem produzido inúmeros impactos para o campo
cultural, valendo destacar, entre eles, a descontinuidades dos programas e
ações culturais, assim como o descrédito na eficiência, efetividade e eficácia
das pastas de cultura no país. (LEITÃO, 2009, p. 43).
No entanto, verificamos inclusive a dificuldade em se conquistar uma “política de governo”
para a cultura em Senhor do Bonfim. Até o momento, por exemplo, não foi criado um plano
para o setor no atual governo. Para além do São João, as ações pontuais executadas voltam-se
apenas para a comemoração de datas simbólicas, como o aniversário da cidade, Sete de
Setembro, Dia da Mulher, Dia das Crianças etc. Na comemoração deste ano do aniversário de
emancipação do município, em 28 de maio, a programação noturna contou com apresentações
de bandas de pagode num dia e, no outro, realização da “noite gospel”. Nota-se que o
privilégio de uma religião em detrimento de outras vai contra a obrigatoriedade do Estado
laico, enquanto a promoção de um show de pagode que traz no repertório músicas ofensivas
descumpre a Lei Antibaixaria23
, vigente no estado.
Como esta pesquisa foi concluída pouco depois da realização da festa junina, é possível que a
pasta da cultura passe por mudanças. Ainda que tenhamos dados que indiquem a permanência
da falta de investimento no setor cultural ao longo deste governo, entendemos que não é
razoável avaliar a atuação da secretaria a partir dos sete primeiros meses de atividade.
23
A Lei 12.573/2012 proíbe que eventos públicos, financiados pelo governo, contratem artistas que em suas
músicas “desvalorizem, incentivem a violência ou exponham as mulheres à situação de constrangimento”.
Homossexuais também são mencionados como sujeitos de violência nas canções.
55
4. O CENTRO CULTURAL CECILIANO DE CARVALHO
4.1 O MAESTRO CECILIANO DE CARVALHO
Conforme Silva (1971), Ceciliano de Carvalho foi um músico, compositor, maestro, fotógrafo
e pintor bonfinense. Nascido em 13 de julho de 1882 e falecido em 15 de janeiro de 1950,
vitimado por câncer, é considerado o principal expoente das artes da história de Senhor do
Bonfim. Casou-se com Francisca Umbuzeiro Angelim, com quem viveu por 48 anos e teve 11
filhos, entre eles o poeta Omar Carvalho24
e a poetisa Oriana Carvalho.
Autodidata, tocava diversos instrumentos, inclusive os de percussão, compunha para bandas
de música e era professor de piano. Filho do comerciante e músico Severo Lopes de Carvalho,
um dos fundadores da primeira filarmônica de Senhor do Bonfim, a União Ceciliana, seu
nome foi fruto do entusiasmo paterno com a banda, que na época fazia sucesso na região.
Apesar de sua grande vocação ter sido a música, destacou-se também na fotografia, pintura e
reprodução em craião – lápis para desenho –, cujo ateliê “era um centro de atenção e
preferência de clientes de todas as partes até onde chegava a sua fama” (SILVA, 1971, p.
127). Seu acervo musical conhecido possui 101 peças: 31 dobrados, 18 marchas festivas e 5
fúnebres, 15 valsas e 8 hinos. Foi regente da banda criada por seu pai, que havia mudado o
nome para União e Recreio. Na época, era uma das mais aclamadas filarmônicas da Bahia e,
Ceciliano de Carvalho, considerado o maior conhecedor das regras musicais na teoria e na
prática, enquanto compositor, maestro e executor. Suas composições eram executadas pelas
bandas musicais do interior e da capital baiana. Além da filarmônica União e Recreio, regeu
por muitos anos a 28 de Setembro, de Juazeiro, e, na sua formação, a 21 de Setembro, de
Petrolina.
Em 1919, participou com a União e Recreio da recepção a Ruy Barbosa em Salvador e,
devido a seu destaque, foi convidado a permanecer na cidade para reger as bandas do Corpo
de Bombeiros e da Polícia, convite que recusou. Destacam-se na sua obra os dobrados
Lidador, Dever do Mestre e Veludinho, a marcha Julieta e a fúnebre Saudades do Cônego
24 Tem quatro livros de poesia e prosa publicados e participação em diversas antologias. Foi membro
da Aclasb, Academia Castro Alves de Letras de Salvador e da Casa do Poeta Brasileiro em Salvador
(Poebras). Sua obra está inscrita na Enciclopédia Brasileira, de Afrânio Coutinho. (FONSECA, 2000).
56
Hugo, além dos hinos da União e Recreio e Salutaris. Ainda segundo Silva (1971), seis meses
antes do seu falecimento, compôs a marcha fúnebre Descansa em Paz, expressamente para ser
executada em sua morte. Deixou-a devidamente instrumentada e a música composta
acompanhou seu funeral.
Dantas (2003), no livro Teoria e Leitura da Música para as Filarmônicas, cita alguns dos
principais compositores da Bahia e, entre eles, está Ceciliano de Carvalho, que foi apresentado
como uma figura espirituosa, de “gênio forte”, o que era comum entre os mestres da música.
Ele
[...] tinha status de autoridade, freqüentando [sic] os palanques e tribunas de
honra junto ao prefeito, o juiz, etc. Dava aulas de piano às senhoras da
sociedade. Certa vez quebrou uma batuta na cabeça de uma delas. Mesmo
sob súplicas da própria agredida, jamais voltou a lecionar depois desse
episódio. (DANTAS, 2003, p. 112).
Segundo Florisvaldo Queiroz de Carvalho, conhecido como Seu Meló25
, Ceciliano de
Carvalho “era um homem de muito respeito. Não ria pra ninguém. Numa ocasião, tinha um
circo aqui e inventaram de levar ele pro circo pro palhaço fazê-lo rir. Esse palhaço se
desmanchou e ele nem...” (informação oral).
Suas peças musicais, bem como um dos instrumentos que tocava e batuta26
encontram-se
numa seção exclusiva do Memorial Senhor do Bonfim. O acervo foi doado pela família do
músico à instituição. O material já esteve sob responsabilidade da Prefeitura Municipal, que o
manteve em situação precária, o que impulsionou a família a resgatar os documentos e
repassar para a Casinha Feliz. A falta de zelo com a memória do músico é apontada pelos
artistas entrevistados para a pesquisa. Santana (2013a) indica que
A maioria das pessoas até nem sabe quem era Ceciliano de Carvalho, que ele
era músico. [...] foi um dos grandes compositores da Bahia para filarmônicas.
Ele é conhecidíssimo em Salvador e tem gravações das músicas dele feitas
em todo Nordeste. Um CD do Quinteto Brasil, da Paraíba, tem um dobrado27
dele, Dever do mestre. [...] O dobrado Dever do mestre foi selecionado pela
Funarte e publicado numa edição que eles fizeram com várias partituras do
Brasil, entre o “repertório de ouro das bandas de música” da Funarte. E essa
música é do Ceciliano de Carvalho, bonfinense, compositor daqui, maestro,
que está mais reconhecido fora do que aqui mesmo na cidade.
25
Depoimento concedido em 22 de julho de 2013. 26
Vareta utilizada pelo maestro para reger orquestras, coros etc. 27
“Dobrado é um estilo musical típico de filarmônicas, originário da marcha e utilizado em desfiles. Existe o
dobrado tanto de desfile quanto o dobrado sinfônico, que é mais utilizado em apresentações paradas, em
concertos em praças, num centro cultural, num teatro” (SANTANA, 2013a).
57
O desconhecimento dos bonfinenses sobre a história do artista que dá nome ao Centro Cultural
também é pontuado pela gestora Carla Lidiane Pereira, que indica que isso não foi priorizado
pelas gestões. Pensando nessa questão, Carla Lidiane sugeriu a realização da Conferência
Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim na data de aniversário do músico, 13 de julho,
aproveitando o momento para fazer uma homenagem ao maestro.
A ideia de homenagear Ceciliano veio de umas das reuniões com os artistas
onde as pessoas desabafaram a injustiça do descaso do município com a
memória desse artista. Existia inclusive um museu com todo o acervo dele
doado pela família que estava sendo saqueado, a família retirou e agora está
na Casinha, mas nenhum governo posterior se preocupou. Aí a gente pensou
em trazer de volta a figura de Ceciliano pro Centro Cultural. (PEREIRA,
2013)
O fórum, no entanto, foi adiado duas vezes e acabou sendo realizado apenas no dia 2 de
agosto.
Como apontou Tenison Santana, o músico possui um reconhecimento significativo fora da
cidade. O Arquivo Histórico Musical de Salvador, vinculado à Fundação Gregório de Matos
(FGM), reúne alguns manuscritos musicais de Ceciliano de Carvalho: a música para banda
Polaca nº 3, as valsas Diana e Lormina, os dobrados Eduardo Britto e Lidador
(MANUSCRITOS, 2013). Sua principal composição, Dever do Mestre28
, encontra-se
disponível para download em um portal nacional, o Brasil Sonoro29
, e sua partitura foi lançada
no Projeto Fortalecimento Musical, da Secretaria de Cultura do Ceará (CEARÁ, 2011).
4.2 HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DO ESPAÇO CULTURAL
O Centro Cultural Ceciliano de Carvalho põe fim, num primeiro momento, às ansiedades dos
artistas bonfinenses em ter um edifício teatral. O século XX inteiro esteve permeado pelo
desejo de se ter uma casa de espetáculos, que acaba sendo este espaço cultural apenas no final
da década de 1980 (SILVA, 2008).
28
A composição pode ser ouvida em: <http://www.youtube.com/watch?v=zUyW-jXrQuI>. 29
Ver em: <http://portal.brasilsonoro.com/dever-do-mestre/> .
58
No início do século XX, Senhor do Bonfim ainda não possuía uma casa de espetáculos formal.
O primeiro cinema local, o Cinema Brasil, só havia funcionado por um mês, entre novembro e
dezembro de 1912. Os bonfinenses ansiavam por um teatro, que seria, segundo um jornal da
época, o “atestado vivo do nosso grau de civilização”. (THEATRO, 1912 apud SILVA, 2008,
p. 272). Por conta desta demanda, a prefeitura destinou no orçamento para 1913 recursos para
a construção do teatro, um valor que correspondia a 10% do dinheiro investido nas obras
públicas do município e 1% da despesa total prevista para aquele ano. Mas a casa de
espetáculos demorou quinze anos para ser concretizada, com a inauguração em 1927 do Cine-
teatro São José, que não conseguiu atender plenamente aos anseios da população – assim
como os cinemas anteriores, Cine Royal, Cine Confiança, Cine Bonfim, Cine Ideal e Cine
Popular.
Silva (2008) atesta que, nessa época, existia a crítica de que o cinema tinha ocupado o lugar
do teatro, linguagem que não estava sendo privilegiada no período. Havia uma hegemonia do
“cine” em detrimento do “teatro”. Havia a busca por um espaço com especificidades próprias
para a realização de espetáculos. As condições do Cine Confiança, por exemplo, impediam a
montagem de alguns gêneros, como o teatro de revista. A estrutura também era criticada:
Bonfim já merece o direito, o direito inegável, de uma casa de espetáculos na
altura do seu valor e da sua real importância. [...] não é possível suportar por
mais tempo uma ofensa tamanha ao nosso reconhecido bom gosto e à nossa
relativa civilização. Aquele pardieiro oco, estreitíssimo, sem declive, sem
arejamento, sem comodidade; cadeiras, umas de couro, pequenas que nos
unem aos espectadores como sardinhas em caixa [...] devem desaparecer
quanto antes porque não se equilibram com o brilho da nossa vida social [...].
(CENÁRIO, 1921 apud SILVA, 2008, p. 279).
Entre 1913 e 1942, a programação teatral de Senhor do Bonfim era variada e acontecia nos
cinemas e no Teatrinho do Edifício Municipal. Esse espaço era assim chamado por pertencer
ao Palácio Municipal, edifício da Câmara e Cadeia, hoje Prefeitura Municipal de Senhor do
Bonfim. O local para a instalação da Câmara e Cadeia foi escolhido em 1799, ano em que o
arraial passou à condição de vila, a Vila Nova da Rainha. No entanto, o edifício só foi
instalado no ano de 1856, num prédio com estilo colonial clássico, que permanece até hoje.
(SILVA, 1971).
59
Fotografia 6 - Antigo Palácio Municipal, atual Prefeitura de Senhor do Bonfim. Foto: Reprodução.
Silva (2008) aponta que a presença de espetáculos teatrais e cinematógrafo, apresentação de
reisados, exposições e outros eventos artísticos fizeram do Palácio Municipal, naquele
momento, uma espécie de centro cultural em Senhor do Bonfim.
Na década de 70, o desejo de uma casa de espetáculos ainda continuava na pauta de
necessidades dos bonfinenses. Em 1973, no aniversário de 88 anos do município, o jornal
Tribuna do Sertão publicou uma carta30
dos “Jovens de Bonfim” ao então governador Antônio
Carlos Magalhães em que reivindicavam a construção de um teatro, que poderia ser adaptado
no espaço do Colégio Teixeira de Freitas. No período, quem comandava a pasta de educação
no estado era um político natural de Campo Formoso, cidade vizinha a Senhor do Bonfim, o
que talvez tenha impulsionado os jovens a fazerem o pedido, dada a proximidade. Referindo-
se à cultura de forma elitista, como “cultivo” e “desenvolvimento da inteligência”, assim
como os documentos das épocas anteriores, a carta apresenta, ainda de modo mais evidente, a
necessidade de um palco para as artes em Senhor do Bonfim.
Em meados da década de 70 – entre 1974 e 1976, não é possível precisar – temos as primeiras
notícias sobre a criação do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, naquela época “um
esqueleto de concreto na saída para Campo Formoso, depois do Campo de Aviação”.
(FREITAS, 2013). A fim de contextualizar o período que vai da criação do projeto do Centro
30
Ver em SILVA, 2008, p. 293
60
Cultural aos dias atuais, constantemente os prefeitos31
da época serão mencionados.
Informações coletadas em entrevistas e documentos antigos indicam que o projeto do espaço
foi idealizado no governo de Miguel Abrão, conhecido como Miguelzinho, que esteve à frente
da prefeitura entre 1973 e 1976. A construção teria sido iniciada na gestão de Antônio
Carvalho, Antoninho, entre 1977 e 1982, e continuada por Cândido Augusto Martins (1983-
1988). A obra seria finalizada e entregue apenas no governo de José Leite (1989-1992), em
1989. Na gestão seguinte, de Jonas Costa (1993-1996), o Centro Cultural teria vivido sua
melhor fase, com apresentações constantes e participação de vários grupos locais ou de outras
cidades. Daí seguem-se os governos de Alberto Carvalho32
(1996), Cândido Augusto Martins
(1997-2000), Carlos Brasileiro (2001-2008) e Paulo Machado (2009-2012), que antecede a
atual gestão de Dr. Correia (2013).
Como se vê, passaram-se cerca de 15 anos do projeto do Centro Cultural Ceciliano de
Carvalho para sua inauguração, curiosamente, o mesmo período da construção do Cine-teatro
São José. Caco Muricy indica que o local permaneceu como um “elefante branco” por muito
tempo, mas, depois de concluída a obra, a inauguração não demorou. Jotacê Freitas recorda ter
colaborado para uma matéria do jornal Correio dos Sertões em que denunciava o abandono do
espaço e o fato da verba da cultura ter sido investida em outra instituição.
As fontes de pesquisa indicam que o espaço utilizado para o equipamento cultural era um
terreno baldio, não havia nenhuma funcionalidade anterior. Aquela região da cidade, já
indicada como próxima ao “Campo de Aviação”, era inabitada no período. O equipamento
está localizado na Avenida Antônio Carlos Magalhães (ACM), à beira da rodovia que dá
acesso às cidades de Antônio Gonçalves e Campo Formoso, local que passou a ser valorizado
a partir dos anos 2000, com a criação do Colégio Luís Eduardo Magalhães, Condomínio
Brisas do Monte, Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e oferta de
serviços como clínicas, bares, restaurantes etc.
31
A cronologia dos prefeitos de Senhor do Bonfim é traçada por MACHADO, 2007, p. 167. No entanto, essa
pesquisa faz uma revisão das datas apresentadas, a partir das informações sobre os anos em que foram realizadas
eleições municipais, a partir de 1970. A fonte de consulta foi o site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
disponível em: < http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleitos-1945-1990/cronologia-das-eleicoes#32>. 32
Assumiu a prefeitura em março de 1996, após o suicídio de Jonas Costa, e permaneceu por nove meses, até a
nova eleição.
61
No mesmo ano de sua inauguração, grupos de artistas se mobilizaram para que o prédio do
antigo Cine-teatro fosse tombado e reaberto pela prefeitura. Um panfleto distribuído na cidade
pedia que o cinema funcionasse anexo ao novo espaço.
A cidade necessita de atividades culturais e um espaço como esse não pode
permanecer fechado, como ocorre até o momento, por incompetência e
insensatez de empresários e políticos. [...] O prédio do Cine Teatro, além de
sala de exibição de filmes, pode ser utilizado para apresentações de
espetáculos musicais e teatrais, conferências etc., funcionando como anexo
ao Centro Cultural, com subsídios da Secretaria de Cultura e indicação de
alguém competente e comprometido com a cultura da cidade, como
dirigente. (VAMOS, s/d apud SILVA, 2008, p. 294-195)
A notícia que corria na época dava como certa a transformação do local em um shopping
center, o que não aconteceu. Em seu lugar, o prédio foi arrendado para a Igreja Universal do
Reino de Deus.
O Centro Cultural Ceciliano de Carvalho foi inaugurado no dia 23 de novembro de 1989, às
20h, com um evento “lítero-musical” (ANEXO E). O momento antecedeu a realização da 1ª
Feira de Negócios de Senhor do Bonfim, que ocorreu entre os dias 24 e 26 daquele mês. Um
panfleto de divulgação da feira menciona a inauguração do Centro Cultural, como se aquele
evento desse continuidade à cerimônia de abertura. Realizada pela Prefeitura Municipal em
parceria com o Centro de Apoio Gerencial às Micro e Pequenas Empresas do Estado da Bahia
(Ceag-Ba), órgão vinculado à Secretaria Estadual de Indústria e Comércio, a Feira de
Negócios foi destinada à exposição de “micro, pequenas e médias empresas industriais dos
diversos setores da economia” (FEIRA, 1989, p. 2). Além da assessoria prestada às empresas,
foi divulgado que haveria “no local distribuição de brindes, shows, serviços de som,
lanchonete, bar e segurança” (FEIRA, 1989, p. 2). De imediato, verifica-se que mesmo no
nascimento do equipamento cultural, a cultura era vista como “acessório”. A alocação de um
evento de economia como primeira produção recebida no espaço indica que a preocupação
com o setor cultural era inexistente, já nesse primeiro momento.
Em entrevista, a secretária de cultura do período, Angélica Santana, não soube responder
questões mais pontuais sobre o equipamento: como se deu o financiamento para a construção,
programação inicial, como se deu a escolha do nome e qual o objetivo do espaço, entre outras.
Como a construção iniciou bem antes da sua atuação frente ao órgão, ela não esteve alinhada
com o planejamento do espaço cultural. No dia da inauguração, Angélica estava fora da
62
cidade, então soube apenas através de relatos o que houve na ocasião. No entanto, Caco
Muricy participou da inauguração e conta que, no dia da abertura, os artistas populares foram
barrados, “não puderam entrar no Centro por livre espontânea vontade, mas sim por livre
espontânea pressão”. (MURICY, 2013). Havia policiais na porta vetando a entrada dos
artistas, que fizeram uma manifestação e, assim, conseguiram acesso. Caco acredita que a
restrição ocorreu por conta da desvalorização que o poder público reservava aos artistas
populares, que não eram bem-vindos no espaço. Ele identifica o equipamento como um
“auditório”, já que “aquilo ali em momento nenhum foi pensado pro artista” (MURICY,
2013).
Angélica indica que a manifestação feita pelos artistas no dia da abertura foi motivada pela
busca de recursos e tinha caráter partidário.
Eles queriam recurso. Aconteceu na última etapa de minha estadia na
prefeitura33
. Eles queriam tomar conta do Centro Cultural. Achavam que o
recurso que vinha para o Centro deveria ser gerido pelos artistas, bem como
o próprio órgão. O prefeito não aceitou, até mesmo por causa de interesses
partidários, pois os artistas eram de esquerda e o prefeito de direita. Houve
uma repercussão, mas não deu em nada. (SANTANA, 2013b)
Na gestão do prefeito Jonas Costa, no início dos anos 90, o Centro Cultural teve o seu
momento de maior dinamismo cultural, inclusive sediando um festival regional de teatro, pela
Federação Baiana de Teatro Amador (FBTA), com participação de vários grupos do estado. O
grupo Mutarte34
, um dos protagonistas da mobilização na inauguração do espaço, teve um
papel de destaque no período, chegando a atuar como grupo residente. Caco aponta que, entre
1993 e 1995, as apresentações no Centro Cultural eram constantes, quase todo final de
semana. Esse apoio à cultura não foi sem propósito, funcionou como uma espécie de moeda
de troca, visto que o grupo Mutarte apoiou Jonas Costa nas eleições.
Nós trabalhamos com o grupo político de Jonas Costa, que deu o maior apoio
pra gente, e a gente caminhava junto com o poder público, nós éramos
33
A pedagoga atuou por apenas um ano e meio na Secretaria de Cultura do município, mas em gestões anteriores
já havia trabalhado no período junino. Ela é responsável pela inovação da decoração do São João e executou esse
trabalho por 12 anos. 34
Silva (2008) conta que o grupo Mutarte era o mais importante do período e atuava de modo transgressor. Nessa
época, antes mesmo de se falar em casamento civil igualitário no Brasil, o grupo apresentou um espetáculo
chamado O Casamento Trocado, em que o noivo era gay e a noiva era lésbica, declaradamente. Isso em praça
pública, no dia de maior fluxo de pessoas do São João, inclusive de idosos e de crianças – o dia 24 de junho, que
acontece tradicionalmente o desfile das carroças e o espetáculo conhecido como Casamento Matuto. No final dos
anos 80, o grupo apresentou ainda uma peça chamada O Cabaré da Debday, com cenas de nudismo. O Mutarte
encerrou as atividades no ano de 2005.
63
remunerados pelo poder público, as apresentações eram quase todas
gratuitas, nós levávamos as apresentações até a zona rural, fazíamos
apresentações nos bairros também. (MURICY, 2013)
É inegável que o apoio foi positivo para os artistas e população, que teve no período uma
programação cultural permanente. No entanto, o apoio ao Mutarte, inclusive financeiro, não
reverberou em outros grupos. Caco Muricy afirma que no período existiam muitos grupos em
atividade, como o Mandacaru, Sol Nascente e Trio de Quatro. O fato narrado demonstra o
caráter governamental da política desenvolvida.
Em 1997, na gestão de Cândido Augusto Martins (PFL), uma reforma na prefeitura de Senhor
do Bonfim fez com que o órgão passasse a funcionar no Centro Cultural, por
aproximadamente um ano (MURICY, 2013; SCHADE, 2013). Na época, foi sugerida a
transformação da prefeitura em centro cultural. O Mutarte havia feito essa sugestão de troca
de funções no governo de José Leite. A arquitetura do espaço, do século XIX, a localização
centralizada, a relação histórica com a cultura, como já foi mencionada nesse trabalho, além
do espaço livre ao redor, caso fosse necessário realizar adaptações, indicam que prédio seria
ideal para um equipamento de cultura. O grupo sugeriu a ideia, inclusive, de construção de um
teatro de arena na praça ao fundo, com capacidade para 100 ou 150 lugares. Sem dúvidas, tal
iniciativa viria fortalecer o teatro de rua, linguagem desenvolvida historicamente pelos artistas
bonfinenses. Na ocasião do uso do espaço pela prefeitura, mais uma vez os artistas
manifestaram sua insatisfação com o tratamento concedido pelo poder público à cultura:
De caras pintadas os artistas, poetas, músicos e cantores bonfinenses
promoveram passeata de protesto pela ocupação do Centro Cultural de nossa
cidade pela Prefeitura Municipal que ali instalou o seu arquivo morto
burocrático. Entidades culturais e artísticas da cidade querem de volta o
único espaço cultural da cidade (CULTURA, 1997, p. 3).
A estrutura original do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho é composta por um auditório,
foyer, sala de ensaio e bar. Desde a sua criação, o espaço não contava com sistema de som ou
iluminação cênica, o que indica mais uma vez que o equipamento não tinha a atividade
cultural como principal meta. Angélica afirmou que as poltronas do espaço eram as mesmas
do antigo Cine-teatro São José, que foram compradas e reformadas.
64
Fotografia 7 - Fachada do Centro Cultural. Foto: Adriana Santana
Em 2006, no governo do prefeito Carlos Brasileiro (PT), com Ricardo Bittencourt assumindo
a Diretoria de Cultura, uma reforma no Centro Cultural melhorou sua estrutura. O palco foi
ampliado, mudaram o forro do teto, o ar-condicionado foi instalado e a quantidade de cadeiras
aumentou, sendo que dessa vez foram compradas novas poltronas acolchoadas. A acústica do
espaço até então era inadequada, como aponta Oliveira (2013):
Desde quando começamos a nos apresentar no Centro Cultural, um dos
principais problemas que identifiquei foi a questão acústica, que era horrível,
e nós discutimos muito com o poder público. Eles não nos ouviam, então no
fim de todo espetáculo a gente falava para o público saber o que tava
acontecendo, questionava o poder público em público e a partir disso
veríamos qual decisão ia ser tomada. A gente discutia muito com Ricardo
[Bittencourt], falando muito dos problemas que tinha no Centro Cultural: não
tinha acústica, não tinha som e não tinha iluminação, e naquele período ainda
não tinha ar-condicionado. Então o calor era intenso, a acústica era ruim e
não tinha equipamentos. E já contava com a distância do espaço e tal... todo
esse problema. Então a gente pensou em várias estratégias: botar tecidos
pendurados no meio do auditório, pra ver se quebrava o som, pra ver se
melhorava a acústica... Quando eles fizeram uma reforma no Centro Cultural,
que mudaram o teto, mudaram o forro, já melhorou a acústica.
É notável que o Centro Cultural não foi projetado para ser um equipamento cultural e, seu
palco, para servir a apresentações cênicas. Serroni (2002 apud SILVA, 2008) indica que essa
realidade é comum aos edifícios teatrais brasileiros, que sofreram com equívocos técnicos em
sua construção, devido à confusão existente entre as noções de teatro e auditório – este que
necessita de menos equipamentos, dimensões e infraestrutura. A reforma citada foi a única
grande manutenção do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, depois foram feitos apenas
65
pequenos reparos. Foi empregado o valor de R$ 134.696,12 na reforma, proveniente do
programa Turismo no Brasil, do Ministério do Turismo (JUSBRASIL, 2006a). R$ 33.678,11
foi destinado ao pagamento da empresa responsável pela execução das obras, a LM
Construções Ltda, R$ 29.950,00 para a compra de cinco aparelhos de ar condicionado e R$
56.160,00 para a aquisição das cadeiras (JUSBRASIL, 2006b).
A sala principal do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho tem capacidade para 303 pessoas e
é climatizada. O palco italiano35
tem altura aproximada de 5 metros e tamanho de 6,63 x 4,02
m. O foyer tem espaço suficiente para realização de pequenos eventos, como lançamento de
livros e exposição de artes visuais, por exemplo. A área externa, destinada ao estacionamento,
também poderia ser utilizada para apresentações, pois é extensa e teria condições de
comportar um grande público. A montagem de um palco móvel para apresentações musicais
seria uma opção possível. O espaço dispõe ainda de alojamento com 10 camas para artistas de
outras cidades que se apresentam no local. Até a última gestão, uma sala funcionava como
infocentro, aberto à comunidade. Nesta gestão, o serviço ainda não está aberto integralmente,
por falta de um técnico para a função. No entanto, a Secult Bonfim disponibiliza a sala
através de agendamento prévio.
Fotografia 8 - Foyer do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. Foto: Adriana Santana.
A estrutura do local hoje é melhor definida por Schade (2013):
Antigamente, na parte de baixo do auditório, tinha um bar, que na verdade
era pra ser um espaço de convivência pra artistas, que nunca funcionou. Era
35
Caracterizado pela disposição frontal da plateia ao palco. O palco é retangular e fica em um nível elevado,
separado da plateia numa distância maior que o palco de arena (SOLER; KOWALTOWSKI; PINA, 2005).
66
um espaço enorme, que depois foi dividido em várias salas. Se não me
engano, funcionou ainda como restaurante/lanchonete por semanas, não
durou muito tempo, porque não tinha movimento, até por ser um local
afastado do roteiro de todo mundo. Durante os eventos culturais não
funcionava, porque não tinha ninguém à frente, talvez se funcionasse poderia
gerar lucro, até porque o pessoal hoje vai vender pipoca durante os eventos.
Aí fecharam o espaço, dividiram em salas, criaram o infocentro (aberto à
comunidade), fizeram alojamento com camas para artistas que vem de fora se
hospedarem. [...] Tem ainda a sala da Secretaria, uma cozinha, banheiro,
salinha pro vigilante, dois camarins e, lá em cima, tem um espaço livre, sem
divisórias, chamado de sala de ensaio [...].
Nando Lemos lembra da abertura do bar citado, “que só funcionou por duas noites, porque
teve briga entre as pessoas que estavam coordenando”. (LEMOS, 2013).
Fotografia 9 - Área externa do estacionamento. Foto: Adriana Santana.
Hoje o Centro Cultural possui alguns equipamentos técnicos36
, como mesa de iluminação,
caixas acústicas, mesa de áudio, microfones, amplificador, equalizador, gravador etc.
Disponibiliza também projetor, tela e reprodutor de DVD para exibições de cinema. Através
dos depoimentos dos artistas e, comparando com outros espaços culturais37
, nota-se que a
quantidade de equipamentos é insuficiente para a realização de uma produção.
Mesmo com a reforma realizada, ainda permanecem equívocos no espaço, conforme indica
Oliveira (2013):
Compraram alguns equipamentos de iluminação e som, mas não tinha mesa
de luz e não tinha cabos para ligar a mesa de luz aos equipamentos de luz. E
36
Ver a lista completa no Regimento Interno do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho (ANEXO F) 37
Comparação realizada entre os espaços culturais gerenciados pela Secult-Ba. Tomamos como exemplo
principal o rider técnico do Centro de Cultura João Gilberto, de Juazeiro, uma vez que a capacidade de público se
aproxima com aquela do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho (ANEXO G)
67
até hoje está parado. Muitos dos refletores, dos canhões desapareceram.
Tinha mais de 40 canhões lá e aos poucos sumia e ninguém sabia pra onde
estava indo aquele material. E nunca apareceu a mesa de luz e nunca
apareceram os cabos pra ligar esse equipamento. [...] Aumentaram o palco,
que ficou ruim, porque o palco ficou um pouco acima da visão de que está
sentado na frente. Já prejudicou ou pouco, os movimentos que você fizer de
solo já ficou [sic] difícil... A gente sempre quis que eles alongassem o palco,
porque num espetáculo de dança, por exemplo, o palco não cabe. Um
bailarino dá dois passos e já atravessou o espaço todo. E é um palco baixo
também, pra você fazer coisas mais altas. Os camarins também têm que ficar
mais próximos do palco [...].
Os camarins do espaço deveriam estar localizados onde funciona hoje a Secretaria Municipal
de Cultura. As salas ocupadas pelo órgão dão acesso direto ao palco do teatro. As coxias
possuem um espaço mínimo, desconfortável para os artistas que se apresentam, conforme
alguns indicaram durante as entrevistas.
A seguir, apresentamos alguns dados referentes à gestão do Centro Cultural Ceciliano de
Carvalho. Observamos que não existe uma política voltada para o espaço cultural, decorrente,
naturalmente, da inexistência de uma política cultural desenvolvida pela Secretaria Municipal
de Cultura. A análise da gestão do equipamento cultural, portanto, constantemente requer o
diagnóstico sobre o órgão municipal de cultura, o que vai sendo feito de modo paralelo.
A Secult Bonfim conta com oito funcionários, um responsável diretamente pelos
equipamentos culturais do município, a saber, o Centro Cultural e a Biblioteca Pública Profª
Zenáurea Terezinha Campos. Este funcionário é Antônio Lopes Filho, diretor de Arquivo,
Museus e Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico. Entende-se que sua função é
assumir a gestão dos espaços, mas, por conta da quantidade insuficiente de profissionais, bem
como ausência de documento que regule e direcione o funcionamento do órgão de cultura, o
diretor sofre de acúmulo de funções. Isso não é comum só a ele, mas a todos os servidores do
órgão, já que, como aponta Carla Lidiane Pereira, diretora de Atividades, Eventos e Políticas
Culturais, “no primeiro semestre todo mundo fez um pouco de tudo”. Hoje, portanto, não
existe um funcionário que trabalhe exclusivamente para o Centro Cultural Ceciliano de
Carvalho. Os objetivos, funções e funcionamento da Secult e do equipamento se confundem.
[...] ao tempo que você tem, por exemplo, um assistente que trabalha como
office [boy], ele também trabalha como operador de som e iluminação, então
pra realização de um evento é impossível que ele se divida em duas funções.
Assim como você tem o diretor de Patrimônio que, ao mesmo tempo, está
68
preocupado com a realização de um evento cultural no Centro Cultural, [...]
tem que trabalhar com a biblioteca e ainda tem que lidar com as questões de
ordem da casa, por exemplo, falta de material que não tem na estrutura do
prédio. (PEREIRA, 2013)
A secretaria tem como objetivo criar uma diretoria para gerenciar especificamente o Centro
Cultural Ceciliano de Carvalho. “[...] isso é importante porque aí o Centro ganha dinamismo,
o gestor não precisa se preocupar com outras pautas. A ideia é manter a secretaria aqui, manter
o espaço, mas ela conseguir ter duas equipes diferentes” (PEREIRA, 2013). A Secult conta em
sua estrutura apenas com as duas diretorias citadas, criadas na atual gestão, e nunca teve um
organograma. Nota-se que a divisão das diretorias é incoerente. Uma delas se propõe a
trabalhar com “políticas culturais”, “fomento” e “eventos”, três campos de atuação amplos e
em alguma medida divergentes, o que impede a execução de qualquer ação em qualquer das
três áreas. A segunda, de “Arquivo, Museus e Preservação do Patrimônio Histórico e
Artístico” prevê uma atuação mais centralizada, mas é incompreensível que ela exista numa
cidade que não possui arquivos e museus municipais. Ao mesmo tempo, atribuir à diretoria a
gestão dos espaços culturais limita o trabalho nos espaços à modalidade de manutenção física.
Soma-se a isso o fato da secretaria não contar com diretorias administrativa e técnica, o que
exige que essas funções sejam exercidas por “afinidade”. Esse é o caso do office boy, o único
da equipe que tem habilidade com equipamentos de sonorização e iluminação, e que acaba
trabalhando como técnico nos espetáculos que o Centro Cultural recebe, visto que não existe
alguém responsável por essa função. Inexiste também funcionários para o turno noturno,
quando a maioria dos eventos acontece. Atualmente, um funcionário fica responsável por abrir
o espaço antes da atividade e depois voltar para fechá-lo. Esse quadro é melhor do que o
enfrentado nas gestões anteriores, quando o artista tinha que solicitar a chave do equipamento
e cuidar de toda a administração, contando eventualmente com o auxílio do porteiro do prédio.
“No dia do espetáculo, não tinha ninguém pra dar suporte, a gente não sabia onde tava [sic] o
controle pra ligar o ar-condicionado, pra ligar a luz do lado de fora... Quem fazia isso era o
guarda, que não estava ali pra isso. Não tinha ninguém da secretaria [...]”. (OLIVEIRA, 2013).
A ação dos produtores que utilizam o espaço cultural é regulada por um regimento interno. Ao
concordar com seus termos, o produtor apresenta um ofício de solicitação de pauta, assina um
termo de responsabilidade quanto ao uso de equipamentos, paga a taxa devida e tem seu
evento agendado em uma agenda de papel, escrita a mão. A agenda daquele mês e meses
subsequentes é disposta no mural da Secult. Existe apenas uma cópia impressa do regimento e
69
o conteúdo não está disponibilizado online, o que pode impedir que os produtores tenham
acesso às normas. Os artistas entrevistados ainda não fizeram uso do espaço nesses primeiros
seis meses da atual gestão, portanto, não sabem informar se o documento é apresentado no
momento de solicitação de pauta.
Nota-se que o Regimento Interno do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho é uma reprodução
de instrumentos de gestão aplicados a outras realidades. Diversos indícios apontam para esta
constatação, mas, certamente o mais evidente, é a troca da cidade de Senhor do Bonfim por
outra em alguns trechos.
São atribuições e competências do Gestor Legislativo Cultural [...]
Apresentar, discutir e elaborar pareceres sobre projetos referentes à
produção, ao acesso aos bens culturais e à difusão das manifestações
culturais da cidade de Salvador (grifo nosso), através da Secretaria
Municipal de Cultura. (SENHOR DO BONFIM, 2013, p. 5-6).
A Lei Municipal de Incentivo à Cultura, ao Desporto, Preservação e
Manutenção do Patrimônio Histórico e Cultural do Município de Salvador
(grifo nosso), bem como outros mecanismos de gestão das políticas públicas
culturais constituem instrumentos do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho,
estando sujeitos às mesmas regulamentações. (SENHOR DO BONFIM,
2013, p. 13).
É evidente que o instrumento encontra-se inacabado, considerando erros como esse, itens com
sequência de numeração incorreta e frases incompletas, por exemplo. Mais grave que isso, no
entanto, é o fato de que o regimento: a) institui uma norma ideal, regulando condutas a partir
de dados irreais; b) regulamenta questões que não dizem respeito a um espaço cultural e c)
está deslocado com a realidade cultural de Senhor do Bonfim, no qual o erro do nome da
cidade em algumas passagens é apenas um indício.
Sobre o primeiro item, a partir das entrevistas com os gestores da Secult, verificamos que
dados informados pelo regimento não condizem com a realidade. A menção ao site da
secretaria – que deve ser criado, mas hoje é apenas um plano – é feita mais de uma vez,
indicando inclusive que a solicitação de pauta pode ser feita através da suposta página. O
documento aponta a necessidade de assinatura do “Termo de Compromisso de Uso” e do
“Termo de Permissão de Uso” – que aparecem com nomenclaturas diferentes, mas,
aparentemente, teriam a mesma função –, além do “Termo de Assunção de Responsabilidade
sobre a questão de direitos autorais”, quando, na verdade, o único documento assinado pelo
proponente hoje é o Regimento Interno e o “Termo de Responsabilidade para Utilização de
70
Equipamento”. Indica também que é obrigatório o pagamento da taxa de uso do espaço
através de um Documento de Arrecadação Municipal (DAM), fornecido pela Prefeitura
Municipal de Senhor do Bonfim, mas isso de fato não acontece. Por fim, seções inteiras do
Capítulo III – que versam sobre a avaliação das solicitações, critérios de julgamento e
processo de seleção – também são incoerentes, visto que as pautas agendadas não passam por
avaliação.
No item b), notamos que as finalidades atribuídas ao Centro Cultural são inatingíveis. Entre os
objetivos do espaço, estão “Estabelecer e implementar políticas de longo prazo” (SENHOR
DO BONFIM, 2013, p. 3), “divulgar e preservar o patrimônio cultural do Município”
(SENHOR DO BONFIM, 2013, p. 4) e
“Consolidar um sistema público municipal de gestão cultural, [...]
implantando novos instrumentos institucionais, como cadastro cultural do
município de Senhor do Bonfim, Fundo Municipal de Cultura (FMC), e
posterior elaboração de proposta anual do Centro Cultural Ceciliano de
Carvalho” (SENHOR DO BONFIM, 2013, p. 3).
É evidente que tais atribuições são pertinentes à Secretaria Municipal de Cultural, não ao
Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. O último trecho apontado indica inclusive que o
espaço cultural teria o dever de implementar o Fundo Municipal de Cultura (FMC), o que de
fato não faz sentido.
O item c), que aborda a falta de atenção do regulamento às realidades culturais de Senhor do
Bonfim, pode ser visto com o mais emblemático, por ir contra à noção vigente de que uma
política cultural deve atender às necessidades locais. O regimento indica que este equipamento
deve ser utilizado para atividades e apresentações culturais de interesse coletivo em dois
segmentos: Arte e Patrimônio Cultural. Chama atenção no primeiro segmento a inclusão de
itens como “Agente cultural” e “Produção cultural”, que não condizem com setores artísticos,
e do amplo termo “Artes Cênicas” para se referir às linguagens da Dança, Circo e Teatro, visto
que as artes já alcançaram reconhecimento setorial, que a cidade de Senhor do Bonfim tem sua
formação cultural ligada aos segmentos e, acima de tudo, que quase a totalidade das produções
culturais que compõem a programação do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho são de duas
dessas linguagens, a saber, Teatro e Dança. Dentro do segmento Patrimônio Cultural, é
incompreensível a presença de itens como “Arquivos, museus, salas de memória, centros
culturais e coleções particulares”, “Patrimônio material”, “Turismo”, “Jornalismo” e
71
“Movimentos sociais” – a realização de eventos sobre os tais áreas deve acontecer, mas não
ser ajustada como centro das atenções. A presença na lista de segmentos como “Culturas
ayahuasqueiras” – culturas tradicionais da Amazônia – e “Historiografia acreana” – acreana
enquanto gentílico de quem nasce no Acre mesmo – demonstram mais uma vez a falta de
atenção da equipe que elaborou o documento, visto que são linguagens que não condizem com
a cultura bonfinense. Por fim, a ausência de item específico para as manifestações populares
indígenas também pode ser vista como um equívoco, visto que a formação original da
população bonfinense se deu a partir da ocupação indígena e que essas manifestações ainda
são mantidas, mesmo sem apoio do poder público municipal.
O Centro Cultural Ceciliano de Carvalho funciona conforme o horário da Secult Bonfim, de
8h às 14h, de segunda a sexta-feira. Por serem órgãos interligados, os funcionários da Secult
participam do dia-a-dia do Centro, mas de forma desorganizada. Quando está sendo realizado
algum evento no auditório, os produtores se dirigem aos servidores para solicitar algo, ou
mesmo os participantes adentram o espaço do órgão para utilizar sanitários, por exemplo. Em
atividades realizadas a partir de 14h e nos finais de semana, os funcionários se revezam para
abrir e fechar o espaço, como já foi indicado.
As informações sobre preços de pauta estão afixadas no mural, assim como cartazes dos
espetáculos e agenda com dias das apresentações. As pautas (APÊNDICE A) variam de R$
160 a R$ 300 pelo uso do teatro por produtores externos; R$ 60 a R$ 150 pelo uso do teatro
por produtores locais; de R$ 20 a R$ 50 para uso da sala de reuniões; R$ 25 para a sala de
ensaio e R$ 50 para utilização do foyer. É prevista a isenção de taxa para o uso de qualquer
um dos espaços, desde que sejam realizadas ações formativas. Apesar de determinar os
valores, os funcionários da secretaria afirmam que ainda não cobraram por pautas de
produtores locais, apenas por atividades de outros municípios. A organização, portanto, não
está sendo seguida. Carla Lidiane indica inclusive um preço diferente para a reserva do teatro
por produtores externos, de R$ 120, ao invés do mínimo de R$ 160, conforme previsto.
A gente definiu o valor da pauta em 120 reais para atividades de fora.
Pensando nos valores cobrados em outros espaços pelo interior, que ficam
em torno de 300 reais, a gente viu que não se adequava a nossa realidade.
Para bonfinenses, pensamos em cobrar 60 reais e, se a atividade for gratuita
ou tiver outro beneficio cultural, a gente libera a pauta. Aí a pessoa não
aceita porque não sabe se vai conseguir pagar, se vai ter público, aí não tem
como você negar para uma pessoa e aceitar para outra, então a gente
72
praticamente não cobrou a pauta de nenhum bonfinense até hoje, só dos
[produtores] de fora (PEREIRA, 2013).
Os artistas alegam que a cobrança de pautas é incoerente, diante da precariedade das
condições físicas do espaço. Em outras gestões, houve a tentativa de cobrança, mas os artistas
se recusaram a pagar.
Teve uma época que se cobrava uma porcentagem da bilheteria para
manutenção do espaço, [...] mas é inviável, porque o próprio espaço não
disponibiliza uma qualidade pra cobrar isso. [...] Até porque se fosse pra
cobrar uma taxa em cima da bilheteria, quem teria que ficar na bilheteria
seria uma pessoa do grupo e uma pessoa de lá [da Secult]. Se meu grupo se
apresenta, por exemplo, com casa cheia, tem uma renda boa e depois eu [...]
falar que teve um faturamento menor, eles não têm como comprovar.
(SCHADE, 2013)
[...] a gente disse: “vocês não vão cobrar, porque vocês não estão oferecendo
nada. Vocês tem que reformar esse centro cultural, estruturar, pra poder
cobrar. Vocês vão cobrar o que aqui?”. Então a gente batia de frente com
eles: “não vai cobrar e pronto”. E entrava na discussão: “se vocês cobrarem,
a gente vai pra rádio38
” (risos). (OLIVEIRA, 2013)
Não cabe questionar qual a posição correta nesse caso – se a da prefeitura, que queria cobrar
para conseguir fazer manutenção do espaço, ou a do artista, que ao ser desassistido pelo poder
público, não acha justo pagar pelas pautas –, mas sim identificar o caráter de informalidade
com que as relações são travadas entre gestores e produtores.
Atualmente, apesar de cobrar pelo uso da sala de ensaio – ao menos instituir oficialmente essa
cobrança –, a Secretaria de Cultura a mantém em condições inapropriadas.
[...] tem um espaço livre, sem divisórias, chamado de sala de ensaio, mas não
tem condições nenhuma de ensaiar lá, porque só vive suja, empoeirada, com
material que a prefeitura não sabe onde botar e deixa lá. Qualquer coisa eles
guardam lá. Depois do São João, por exemplo, eles recolhem todo o material
e jogam lá, independentemente do que seja [...]. (SCHADE, 2013)
Não existe um espaço para ensaio, em todo teatro você vê uma sala de
ensaio, porque você tem que passar aquela coreografia antes pra saber se vai
dar certo. Lá tem um espaço, mas não é de ensaio, é como se fosse um salão
para reunião, uma coisa assim, o teto é baixo, então não tem condições de ter
ensaio. (MAGALHÃES, 2013)
Chegou um período que eles não queriam que a gente ensaiasse no palco, que
a gente ensaiasse lá em cima, numa sala desestruturada, caindo os pedaços do
gesso, dizendo que era a sala de ensaio, que não funciona. Aí a gente entrou
na discussão e disse que ia ensaiar no palco e pronto. (OLIVEIRA, 2013)
38
A menção demonstra a importância do rádio no município, inclusive como lugar de denúncia.
73
Nos meses que antecederam o São João, a sala de ensaio foi utilizada para a confecção do
material de decoração da festa. O palco do teatro também serviu a essa função, o que reduziu a
quantidade de atividades realizadas no espaço no mês de junho. Esses dados indicam que o
Centro Cultural Ceciliano de Carvalho é utilizado para as mais diversas atividades da
prefeitura, servindo muitas vezes como depósito de materiais em desuso, como foi colocado
na entrevista com Guegueu Schade.
Fotografia 10: Sala de ensaio no mês de julho, ainda com a decoração junina. Foto: Adriana Santana.
Analisando a tabela de marcação de pautas (APÊNDICE B) do Centro Cultural Ceciliano de
Carvalho, do período de janeiro a agosto de 201339
, verifica-se que o espaço é utilizado
predominantemente para eventos não culturais. Nesses oito meses, 77 dias tiveram reservas
agendadas. 26 dias (34%) foram agendados para atividades culturais, como espetáculos
teatrais, de dança ou fóruns para discutir o setor. Sete dias foram reservados para atividades
educativas (9%), como a Jornada Pedagógica da Secretaria de Educação e a Semana do Meio
Ambiente. Nos outros 44 dias (57%), foram realizadas atividades institucionais da prefeitura
ou particulares, como formaturas, encontros religiosos, eventos da Polícia Militar, de
sindicatos e empresas estatais, entre outras.
O regimento do equipamento cultural não limita a realização de eventos de interesse privado,
seja cobrando preços de pauta mais altos ou impedindo que sejam executados no final de
semana. O secretário, Ary Urbano, diz que é cobrada uma taxa única para todos, “porque se
fosse diferenciar ficaria complicado, eles não iam achar interessante, iriam questionar: ‘por
39
A tabela foi consultada em maio, portanto, é possível que algumas atividades tenham sido modificadas.
74
que fulano pagou tanto e a gente tanto?’. Então é melhor taxar igual para todos” (URBANO,
2013).
A constatação de que o Centro Cultural não funciona como um espaço de cultura é observada
pelos gestores do local, que desejam ver a situação modificada, mas ainda não estão atuando
para esse fim, como se a mudança fosse algo que não dependesse deles. De fato, realizar
mudanças não está sob alcance da secretaria, visto que ela não tem orçamento próprio. O São
João, mais uma vez, ocupa o centro de interesses.
Nós não temos um orçamento especifico, a gente tem uma dotação livre. No
PPA anterior, a dotação ficou em 1 milhão e 400 mil, para tudo e São João, e
o São João é mais de 1 milhão e 400 mil, então não há uma dotação para a
secretaria, há dotação para o São João (PEREIRA, 2013)
No âmbito da Comunicação, a gestão do Centro Cultural Ceciliano nunca construiu um modo
de se relacionar com seu público. O equipamento não possui identidade visual ou página
online, para que artistas ou público possam conhecer sua história e funcionamento. O espaço
também não faz registro do seu público frequentador. Como não existe a figura do bilheteiro,
ficando a venda de ingressos a cargo da produção do evento, a quantidade de pessoas que
circula no espaço não é registrada.
Notamos que os principais problemas de gestão enfrentados pelo Centro Cultural Ceciliano de
Carvalho são decorrentes de, ao menos, cinco fatores: a divisão do espaço com a Secretaria
Municipal de Cultura; a falta de funcionários; a inexistência de instrução normativa capaz de
regular a conduta, ao mesmo tempo, de servidores, produtores e público; a falta de orçamento
próprio para o espaço cultural e a precariedade da infraestrutura. Por conta da falta de
recursos, entendemos que algumas ações são mais difíceis de executar num primeiro
momento. No entanto, qualificar as ferramentas de gestão e apresentar uma programação
regular são ações mais imediatas que devem causar um impacto positivo, gerando receita para
a prefeitura e estimulando a produção local, podendo viabilizar futuramente ações macro.
75
4.3 AVALIAÇÃO DO ESPAÇO PELOS ATORES CULTURAIS DO MUNICÍPIO
Entre os dias 26 de maio e 22 de julho, foram feitas três viagens a Senhor do Bonfim para
realização da pesquisa de campo, cada uma com duração média de cinco dias. Além da busca
por documentos e livros sobre a história do município, foram realizadas catorze entrevistas,
onze com artistas locais e três com gestores culturais.
A questão “Como avalia o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho? Quais os principais pontos
positivos e negativos do espaço?” foi feita a todos os entrevistados. A partir dos dados
apresentados nas falas, traçamos abaixo uma análise global do espaço de cultura, dividida em
itens que se formam como consenso entre os relatos.
a) O Centro Cultural possui espaço suficiente para a realização de produções diversas
Constantemente, os entrevistados iniciaram a resposta indicando o potencial do equipamento
de cultura, “um dos melhores espaços do interior da Bahia” (SÉRGIO, 2013), “um dos
espaços culturais em termos de estrutura física melhores da região” (LEMOS, 2013). A
quantidade de lugares na plateia, 303 no total, é destacada pelos artistas. De fato, entre os 12
espaços culturais gerenciados pela Secult-Ba no interior do estado, apenas dois40
apresentam
capacidade muito superior a 300 pessoas na sala principal (ESPAÇOS, 2013). Alexandre
Magalhães e Cynthia Ramos ainda afirmam que o teatro tem espaço suficiente para adicionar
mais cadeiras, o que era feito nos espetáculos do Ballet Sacramentinas, para atender à
demanda do público e conseguir mais recursos de bilheteria. O bar, foyer e área externa do
Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, no entanto, não é utilizado para produções, apenas o
potencial da sala principal é explorado. Não há registros da utilização da área do
estacionamento para realização de eventos maiores, nem mesmo da produção de pequenos
eventos no foyer.
40
O Centro de Cultura ACM (Jequié), com capacidade para 515 pessoas, e o recém reformado Centro de Cultura
Amélio Amorim, em Feira de Santana, hoje com 490 lugares. Sete espaços possuem de 274 a 320 assentos na
sala principal, dois outros contam com capacidade para 360 e 380 pessoas. Já a Casa de Mutuípe não possui
teatro.
76
b) O espaço tem que assumir o protagonismo cultural
A principal demanda dos artistas é apresentada antes mesmo da questão avaliativa ser
sugerida. Um consenso se forma: é necessário coibir a prática de atividades que servem a
interesses particulares no espaço, aquelas que fogem do caráter artístico-cultural. Lemos
indica que “[...] nunca teve uma gestão voltada para o Centro Cultural enquanto espaço de
produção cultural. Acho que 80% das pautas eram cedidas para as igrejas, encontros,
aniversários, era usado mesmo como palanque”. Além do termo “palanque”, para indicar que
o espaço é utilizado em grande medida para ações institucionais da prefeitura, constantemente
são utilizadas as terminações “auditório” e “centro de convenções” para nomear o Centro
Cultural, evidenciando que este espaço abriga atividades de qualquer natureza, como acontece
nos tipos de equipamento citados. É emblemática a fala de Oliveira (2013), quando expressa
sua insatisfação ao afirmar que “o espaço do Centro Cultural nunca foi um espaço para a arte,
era um espaço pra tudo, e a arte entrava aí no meio”. Silva (2008, p. 295) indica que até pouco
tempo atrás “o seu palco servia como espaço para pagamento do funcionalismo público
municipal”. A própria gestora da Secult Bonfim corrobora ao avaliar o espaço “como um
centro de convenções que também funciona como centro de cultura”. (PEREIRA, 2013). Já
apresentamos o relatório de pautas agendadas no espaço, que comprova o uso do equipamento
para toda e qualquer atividade.
A gestão do centro não regula o uso do Centro Cultural e não é feita avaliação dos pedidos de
pauta, ainda que seu regimento interno determine isso. É importante evidenciar que essa
prática é mantida ao longo dos anos, desde a criação do equipamento cultural, não é algo
recente. Em 2011, por exemplo, a prefeitura realizou um leilão de carros no espaço cultural.
Essa atividade foi realizada durante um dia, mas o período de visitação dos veículos esteve
aberto durante uma semana (SENHOR DO BONFIM, 2011b). Diversos artistas denunciam
práticas de privilégio de pautas não culturais, em contraste com o que de fato deveria
acontecer: a valorização da programação cultural num espaço que deveria servir a esse fim. Os
relatos condizem às gestões anteriores da Secretaria de Cultura, visto que, até o mês de julho,
nenhum dos entrevistados havia realizado produção no equipamento. Os membros do Núcleo
Aroeira de Arte, Benedito Oliveira e Guegueu Schade, contam um caso em que uma
associação de taxistas ocupou o Centro Cultural num dia em que o grupo tinha pauta
agendada. Houve discussão e a equipe acabou não realizando o ensaio.
77
A gente tinha o ofício e mesmo assim eles não queriam sair, éramos 10
contra 50. Sempre acontecia isso, chegávamos lá com pauta marcada e tinha
igreja evangélica fazendo evento, por exemplo. Eles chegavam lá e se
alojavam, às vezes não marcavam pauta, ou solicitavam pro sábado, mas
levavam o material todo pra arrumar na sexta, sendo que sexta a pauta era
nossa. (SCHADE, 2013).
Outro membro do grupo Aroeira, Caco Muricy, apresenta histórias semelhantes.
Muitas vezes nós fomos vetados de apresentar no Centro Cultural, já
chegamos lá e tínhamos montado cenário, afinado luz, quando chegamos
para ensaiar, porque a apresentação seria no outro dia, eles tinham tirado
tudo, porque estava acontecendo um evento da Secretaria de Saúde. Por aí
você vê que não é pensado no artista, é pensado nos eventos deles [da
prefeitura], porque se fosse uma casa do artista, não fariam isso. No próprio
Colóquio [I Colóquio sobre História do Teatro no Piemonte Norte do
Itapicuru, organizado por Reginaldo Carvalho], a apresentação iria acontecer
às 20h, nós fomos ter acesso ao espaço 16h, porque cederam pra uma igreja...
A gente ainda tinha que montar iluminação, som, cenário... (MURICY, 2013)
O Ballet Sacrementinas, mesmo apresentando poucos espetáculos no ano – se formos
comparar com a atuação do Núcleo Aroeira, que em determinado momento chegou a se fixar
como grupo residente –, também já enfrentou os mesmos problemas.
Teria que existir um local apenas para as apresentações culturais na cidade,
pois muitas vezes quando tentamos marcar algo no Centro, já existem outros
eventos não relacionados à cultura marcados, como seminários de igreja, por
exemplo. [...] O espaço que deveria ser utilizado para um fim, termina tendo
outra utilidade. Uma vez desmarcaram um ensaio do nosso grupo, pois eles
utilizariam o Centro para uma reunião do MEC [Ministério da Educação]. A
cultura não é prioridade aqui [...]. (RAMOS, 2013)
Verifica-se, portanto, que esse ponto é o mais problemático. As falas indicam que o único
equipamento público de cultura no município não serve a esse fim. Carla aponta que a
transformação do Centro Cultural em “centro de convenções” se dá por duas razões, ligadas
ao contexto de Senhor do Bonfim. A cidade não possui outros auditórios com capacidade para
300 lugares, como é o caso do centro cultural. Isso faz com que as instituições que atuam no
município tenham que recorrer ao espaço para realizar suas atividades para o grande público.
É o caso da Univasf, por exemplo, que já solicitou o centro para realizar seminários
acadêmicos, ou mesmo a Uneb, que frequentemente realiza formaturas nas dependências do
equipamento. Esse também é um dado apontado por Giuliana Kauark, diretora de Espaços
Culturais da Secult-Ba, que afirma que isso também acontece nas cidades do interior onde
estão localizados os centros estaduais. Desse modo, o regulamento criado pela diretoria não
proíbe a realização de tais atividades de natureza não cultural, apenas limita sua execução
78
entre segunda e quarta-feira, e cobra preço diferenciado para essas pautas. (KAUARK, 2013).
Outro dado sobre Senhor do Bonfim que influencia a gestão do espaço cultural é a própria
dinâmica da cidade do interior, que funciona a partir de relações informais, onde o “contrato
verbal” funciona mais que o escrito ou, como diz Carla Lidiane, “as questões são muito
pessoais, então se você nega a uma instituição a pauta para uma formatura, ou algo assim,
pode parecer que a secretaria está negando a instituições importantes da região que poderiam
ser inclusive parceiras, aí fica muito complicado” (PEREIRA, 2013).
c) O espaço necessita de uma reforma
Artistas e gestores também concordam que o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho necessita
de uma reforma imediata. A última ocorreu em 2006 e, desde então, só foram realizados
pequenos reparos. Caco Muricy afirma que nenhuma manutenção foi feita pensando nos
artistas. Fato é que hoje não existem salas de camarim no fundo do palco, as salas anexas
servem ao funcionamento da Secretaria de Cultura. Já as cochias encontram-se em situação de
precariedade. Como afirma Oliveira (2013), “a cochia do teatro é terrível, é um negócio feito
de madeirite, a madeira toda estragada, não é seguro. É difícil pra você fazer as entradas [no
palco], não tem como, é tudo muito apertado e fica tudo muito largado e sujo”. Alexandre
Magalhães aponta que isso é prejudicial, tendo em vista principalmente que o Ballet
Sacramentinas é composto parcialmente por um público infantil. “Nas cochias, onde o público
não vê, têm madeiras penduradas... temos que ir antes para amarrar as madeiras, para as
crianças não se baterem, não se furarem.” (MAGALHÃES, 2013). Diversas poltronas também
estão quebradas e o forro do teto deteriorado. O palco do teatro é o principal alvo das críticas.
Por conta da falta de acompanhamento das atividades, os produtores dos eventos que
acontecem no espaço têm liberdade de atuação, utilizando muitas vezes materiais que
danificam o palco, como grampos e pregos. Os atores e dançarinos são os principais
prejudicados, pois são quem dependem do palco para ensaios e apresentações. “A gente que é
bailarino sempre tem que tá saltando, andando, pulando, rolando no chão... [e o que
encontramos] é grampo solto, é madeira fofa, buraco...” (MAGALHÃES, 2013). Oliveira
(2013) diz ter presenciado pequenos acidentes por conta desses usos indevidos. “O ator tá
fazendo um exercício, rola pelo chão e se arranha. A madeira fica toda estragada e já houve
vários acidentes, da galera se cortar, se arranhar com prego e grampo [...]”. (OLIVEIRA,
79
2013). Muitos reclamam também do tamanho do palco, no que diz respeito à extensão e altura.
Do ponto de vista musical, “o espaço não é grande, o palco. É tanto que hoje em dia o Centro
Cultural pode comportar uma filarmônica de maneira bem apertada, mas uma orquestra
sinfônica nunca vai poder se apresentar ali”. (SANTANA, 2013a). Magalhães (2013)
menciona ainda a necessidade de a prefeitura reativar o bar que existe dentro da sua estrutura
original, transformando aquele ambiente em lanchonete, já que tanto público quanto artistas
solicitam um espaço para consumo, como frequentemente se vê em outros centros culturais.
Os artistas são obrigados a permanecer horas no equipamento cultural, seja para ensaios ou
apresentações, então ter o acesso facilitado à alimentação seria fundamental, principalmente
porque o espaço cultural fica distante de estabelecimentos comerciais. Já mencionamos
anteriormente o problemático funcionamento da sala de ensaios, que hoje é utilizada como
depósito da prefeitura em boa parte do ano. O local serve também para realização de pequenos
eventos, como reuniões. A falta de um espaço específico para os ensaios exige o uso constante
da sala principal do teatro, o que acaba por comprometer sua estrutura. A atual sala guarda
equipamentos técnicos do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho e os banheiros que existem
estão defeituosos. Ressaltamos que a sala principal não contém banheiros anexos, algo que
pode ser visto como indispensável para o conforto do público e artistas. O secretário de cultura
reconhece os problemas estruturais do espaço, ao afirmar que
[...] a gente precisa reformar, por exemplo, a sala de ensaios, que fica no
primeiro andar. Algumas portas estão danificadas, para que o pessoal guarde
seu material. Precisamos de algumas mesas e cadeiras dentro do Centro
Cultural, que a gente não dispõe, então tá faltando muita coisa ainda. A gente
precisa de uma manutenção maior nas poltronas do auditório, que sempre tá
[sic] soltando parafuso, quebrando isso e aquilo, então a gente precisa desse
suporte que... Como eu te falei, principalmente no camarim. A gente precisa
desse camarim adequado, de mais camas, de um banheiro adequado, pra dar
um suporte a esses eventos que vem acontecendo e tendem a acontecer
futuramente. (URBANO, 2013).
Quando questionados sobre a possibilidade de se realizar uma reforma, os gestores da Secult
Bonfim se colocaram de forma favorável, ainda que desesperançada. O secretário diz que “A
reforma se torna mais difícil, mas a gente vai tentar. [...] Eu acho que a prefeitura tá
empenhada em elaborar um projeto que vá desenvolver a reforma do Centro Cultural.”.
(URBANO, 2013). Carla Lidiane é mais executiva, ao já prever fonte de recursos para a ação.
A gente tem uma perspectiva de utilizar um recurso do Sincov [sistema de
convênios do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão] para
reforma. O Sincov é a única maneira atual da União repassar recursos para os
80
municípios. Nossa ideia é esperar abrir esse segundo semestre um edital de
reforma de espaços culturais e adequar nosso projeto ao edital. (PEREIRA,
2013).
Entendemos que a reforma física de um espaço não é condição única para seu pleno
funcionamento, mas se impõe, sem dúvidas, como etapa fundamental para a realização das
atividades culturais, visto que a área da cultura depende de especificidades que não podem ser
desconsideradas.
Fotografia 11: Cadeiras defeituosas na sala principal. Foto: Adriana Santana.
d) Faltam equipamentos de som e iluminação e pessoal técnico
O espaço cultural está mal equipado e, na ocasião em que foram comprados equipamentos
técnicos, a ausência de pessoal qualificado impediu a utilização. Carla Lidiane lamenta o fato
e entende que essas questões devem ser sanadas. “Hoje nós não temos um técnico em
iluminação, como vamos ter um espetáculo de dança se não temos a iluminação? A gente não
tem um técnico de som, todos usam som, hoje o office boy cuida disso. A gente não tem um
mapa de palco também para as atividades [...]” (PEREIRA, 2013). A ausência desses
equipamentos, de uso obrigatório, induz o aumento do custo da produção dos artistas. “A
iluminação é precária, muitas vezes o gasto maior que a gente tem é com o cenário. A gente
contrata um serviço de 3 a 4 mil reais, já incluindo sonorização e iluminação. Na verdade o
Centro Cultural deveria disponibilizar isso para a sociedade.” (MAGALHÃES, 2013). O
Núcleo Aroeira de Arte se viu obrigado a adquirir equipamentos próprios, por entender que a
continuidade do grupo dependia dessa ação, por falta de perspectiva de ver o espaço cultural
aparelhado.
81
[...] a gente viu a necessidade de ter nosso próprio equipamento porque senão
não tinha como a gente se manter. Um rapaz tinha banda e estava vendendo
um material de luz, aí a gente comprou, era um material mais simples, mas
era o que a gente conseguia ter. A gente comprou e foi pagando aos poucos,
dividimos. A iluminação que a gente utilizava era esse material e uma
mesinha de som simples. (OLIVEIRA, 2013)
A partir de então, o grupo passou a emprestar ou alugar seus equipamentos para outros
produtores que realizavam atividades no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. “Nós
cansamos de o povo que vinha de fora se apresentar entrar em contato com a gente. Do nada o
telefone tocava: ‘oi, eu sou não sei quem, tô [sic] vindo de fora...’. Isso porque a pessoa se
deparava com o estado: não tinha material, não tinha nada.” (SCHADE, 2013). Hoje, o
mínimo de equipamentos que o espaço reúne encontra-se defasado. Schade (2013) indica a
importância de ter pessoal qualificado no espaço cultural para utilizar os equipamentos, pois,
“por mais que o equipamento seja defasado, se você for usar, tem que saber usar, ou então
chamar alguém de fora, porque lá não tem ninguém. Às vezes os outros grupos chamavam a
gente pra ajudar [...].” (SCHADE, 2013). Esses dados são emblemáticos, pois percebemos
como os artistas da cidade são os protagonistas da ação cultural. Ao emprestar equipamentos a
grupos de outras cidades e auxiliar no manuseio deles, o grupo Aroeira dá suporte ao poder
público municipal, enquanto a perspectiva contrária não é verificada.
e) É necessário que a equipe acompanhe todas as atividades, a fim de coibir o uso
indevido do espaço
A equipe da Secretaria de Cultura, a mesma que trabalha no Centro Cultural Ceciliano de
Carvalho, conta com três auxiliares de serviços gerais, um office boy, dois diretores e dois
assistentes, além do secretário. Uma gestão eficiente do espaço depende de recursos humanos.
Carla Lidiane afirma que não existe perspectiva de concurso público para seleção de corpo
funcional e, que, no momento, o que o órgão prevê é a realização de atividades formativas
para os funcionários já existentes. Uma equipe qualificada, sem dúvidas, pode potencializar o
trabalho desenvolvido, assim como salários melhores podem garantir que o turno de trabalho
passe de 6h para 8h diárias, aumentando a produtividade. No entanto, tais medidas podem ser
vistas como paliativas. Cada espaço cultural administrado pela Secult-Ba possui quatro
equipes: coordenação, técnica, vigilância e limpeza. No total, são 250 funcionários divididos
entre os 17 equipamentos, o que dá uma média de 14 funcionários por espaço. Hoje a
82
quantidade de pessoas que trabalha no Centro Cultural não permite a divisão por equipes, os
funcionários seguem apenas o fluxo das demandas. Antes do São João, voltaram todas as
atenções para a festa; entre julho e agosto, o trabalho esteve voltado para a Conferência
Municipal de Cultura e Conferência Territorial de Cultura. No entanto, se faz necessária uma
gestão que acompanhe todas as atividades, a fim de coibir o uso indevido do espaço, e isso
depende inicialmente de funcionários disponíveis. A escala de acompanhamento das
produções é improvisada, um funcionário se responsabiliza apenas por abrir e fechar o centro
de cultura, como afirmam os gestores. Schade (2013) conta que essa prática já era comum nas
gestões anteriores.
Lá era assim: você pedia pauta, eles imprimiam, colocavam no mural e
pronto. Em dia de evento, a gente ia e ficava responsável pelo espaço, nós
mesmos, com a chave e tudo. Tinha uma sala com equipamentos que a gente
não tinha acesso, então se o evento começasse 20h, 18h chegava o
responsável, abria e dava o controle do ar condicionado, o microfone pra
gente e pronto, ia embora. Ou então ficava, às vezes, pra depois recolher o
material e guardar. Ou seja, não tem um funcionário efetivo pra ficar
tomando conta do espaço. Quem tomava conta era o vigilante.
A falta de administração efetiva do equipamento cultural permite que grupos utilizem o
espaço de forma inapropriada, pregando grampos ou pregos no palco, por exemplo, como já
foi colocado pelos artistas. Carla Lidiane assume que a gestão do espaço é deficiente,
motivada pela ausência de um gerenciamento próprio, com funcionários que se
responsabilizem apenas por ele.
Esse é um problema fundamental dele: não ter gerência própria, como no
caso dos espaços do estado que tem uma gerência, uma coordenação que
pensa isso, que mesmo que os funcionários não estejam capacitados, estão
sempre ocupados aprendendo sobre aquilo (PEREIRA, 2013)
f) É fundamental investir em transporte público e segurança
Apesar de não reclamarem da ausência de público nas atividades culturais que promovem, os
artistas indicam que a distância do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho impede a frequência
de um público maior. Muricy (2013) indica que “as pessoas têm preguiça de ir, porque tudo
acontece ‘pra cá’ e o Centro Cultural fica lá muito distante”. A distância e a falta de segurança
da região onde o espaço está localizado foram alguns dos motivos para o Ballet Sacramentinas
ter investido em um palco próprio.
83
É um lugar afastado, então também foi um dos propósitos de se criar um
auditório na Sacramentinas. O local é perigoso, a gente tem um corpo de 90 a
120 alunas crianças, então os pais se preocupavam, até porque em frente
passa uma BR, uma pista. Na questão da segurança, a gente não vê
vigilantes, durante o espetáculo não tem. (MAGALHÃES, 2013)
O espaço cultural fica a 30 minutos de caminhada a partir da Praça Nova do Congresso,
principal praça da cidade. Senhor do Bonfim conta com poucas linhas de ônibus, apenas para
bairros mais afastados. A partir do surgimento de um condomínio naquela região, uma linha
de ônibus passou a circular nas imediações do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho
(SCHADE, 2013). No entanto, não faz parte do cotidiano dos moradores de outros bairros
utilizarem transporte coletivo, além de que as linhas operam em horários não pré-
determinados e com frequência bastante reduzida, principalmente à noite e nos finais de
semana, quando acontece a maior parte das atividades culturais. Investir na criação de um
sistema de transporte próprio para o centro de cultura, alinhado com os dias de apresentação,
pode estimular a frequência de novos públicos, tendo em vista principalmente que os artistas
apontam que as produções recebem um público fiel, porém segmentado, o mesmo de sempre.
Fotografia 12: A BA 222 liga Bonfim a Campo Formoso. Foto: Adriana Santana
84
g) A necessidade de uma programação regular
O Núcleo Aroeira de Arte foi o grupo que mais se apresentou no Centro Cultural Ceciliano de
Carvalho ao longo da história do equipamento. Produziu ainda o espetáculo mais assistido, Na
Casa de Irene, que foi apresentado 11 vezes. (LEMOS, 2013). Em 2005, recebeu um título da
Câmara de Vereadores que reconheceu a importância do grupo para a cultura bonfinense. O
grupo sempre atuou na perspectiva da arte-educação e, nesse sentido, realiza oficinas de
formação artística. Membros do grupo e demais artistas concordam que esse trabalho
desenvolvido ao longo dos anos é responsável pela presença de público que os eventos
culturais conseguem garantir. Ou seja, a ação tem resultado na plateia, hoje fiel, e tem
contribuído para a formação de novos artistas. Apesar do histórico favorável, o grupo cultural
jamais obteve financiamento da prefeitura para realização de seus projetos, nem mesmo
daqueles que visam a execução de atividades formativas. Durante a atuação do grupo na
cidade, ele só foi contratado duas vezes pela prefeitura para executar alguma ação, ambas no
último governo, de Paulo Machado (PT). Foram contratados pela Secretaria de Administração
e Planejamento, para realizar uma campanha de conscientização no trânsito e apresentaram
um espetáculo teatral no dia da luta contra a exploração sexual de crianças e adolescentes,
numa campanha promovida em parceria com o Centro de Referência Especializado de
Assistência Social (Creas) e Ministério Público. Como se vê, ações pontuais e que não
partiram da Secretaria de Cultura. O caso do grupo Aroeira foi citado para exemplificar um
fato: a prefeitura não contrata artistas ou produtores para realizarem atividades no Centro
Cultural Ceciliano de Carvalho. A demanda é sempre inversa: os grupos se produzem,
agendam pauta no espaço cultural, se apresentam, recolhem a bilheteria e utilizam esse
recurso para uma próxima produção, continuando o ciclo. Os artistas entrevistados desejam
ver essa realidade modificada e concordam que é necessário haver uma programação
continuada no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, esforço que deve partir da Prefeitura
Municipal de Senhor do Bonfim para corrigir um erro histórico.
85
5. PLANO DE AÇÃO PARA O CENTRO CULTURAL CECILIANO DE CARVALHO
5.1 OS ESPAÇOS CULTURAIS DA SECULT-BA: UM MODELO A SEGUIR
No dia 23 de julho, uma entrevista realizada com a diretora de Espaços Culturais da Secult-
Ba, Giuliana Kauark, evidenciou o modo de funcionamento dos espaços culturais estaduais e,
em que medida, a aplicação de instrumentos eficientes de gestão tem contribuído para a
melhoria desses equipamentos. O relato foi colhido após a participação da gestora na
disciplina Oficina de Gestão Cultural, ministrada por Gisele Nussbaumer na Faculdade de
Comunicação da UFBA, na qual Giuliana foi convidada para apresentar a diretoria. A aula, os
slides apresentados e a entrevista subsequente forneceram dados para a análise disposta a
seguir. Em primeira medida, entendemos que o modelo de gestão desses espaços culturais é
eficiente e pode ser incorporado pelo Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. Num segundo
momento, a atual política setorial da diretoria – para ampliar a atuação a fim de atender
também espaços não vinculados à Secult – pode ser útil ao equipamento de Senhor do Bonfim.
A Diretoria de Espaços Culturais (DEC) foi criada em 2007 na Fundação Cultural do Estado
da Bahia (FUNCEB), com objetivo de manter e modernizar os espaços culturais pertencentes
a esta instituição, bem como dinamizar sua programação. Após reforma administrativa em
2011, a DEC passou a ser vinculada diretamente à Secretaria de Cultura do Estado, através da
Superintendência de Desenvolvimento Territorial da Cultura (Sudecult), com o propósito de
contribuir para a política territorial desta pasta. Atualmente, a DEC é responsável pela gestão
de 17 equipamentos culturais da Secretaria de Cultura do Estado, sendo cinco localizados em
Salvador, um na Região Metropolitana e outros 11 no interior do estado. O Espaço Cultural
Alagados, a Casa da Música e a Casa de Mutuípe são os três únicos espaços que não possuem
estrutura cênica.
Cada espaço cultural da Secult possui quatro equipes: coordenação, técnica, vigilância e
limpeza. No total, são 250 funcionários divididos entre os 17 equipamentos, o que dá uma
média de 14 funcionários por espaço. A Secult conseguiu formalizar contratos com empresas
terceirizadas em 2013, por isso o número de funcionários aumentou. As equipes de
coordenação e técnica já estão sendo capacitadas através de cursos de formação, o objetivo é
expandir a capacitação para os funcionários da vigilância em breve.
86
A DEC lançou dez metas que pretende alcançar nos próximos anos. São elas: ampliar os
recursos orçamentários destinados aos espaços culturais; ampliar e qualificar as equipes de
trabalho; aprimorar a gestão; requalificar os espaços culturais, tornando-os acessíveis a todos;
priorizar o uso dos equipamentos para atividades de natureza cultural; diversificar a
programação; ampliar o público frequentador; desenvolver uma política setorial para os
espaços; consolidar a rede de espaços culturais da Secult-Ba e articular-se com outros
equipamentos não vinculados ao estado; tornar os espaços culturais da rede referências de
formação e fruição da cultura nos territórios onde estão situados.
O orçamento destinado aos espaços culturais é baixo para atender todas as demandas. Em
2012, foi destinado menos de R$ 2 milhões de reais – valor que não inclui pagamento de
funcionários ou contas de água, luz e telefone. Acontece que, desse valor, cerca de R$ 1,5
milhão vai para manutenção e execução de obras, pouco dinheiro vai para programação. Ano
passado, esse etapa recebeu recursos em torno de R$ 700 mil. Infelizmente, muitos
equipamentos não possuem programação própria, dependem de atividades desenvolvidas pela
Secult-Ba e do fluxo de procura dos artistas. Quanto a isso, Kauark (2013) aponta a
necessidade de os gestores dos espaços aprenderem a lidar com essa procura: é imprescindível
que as pautas solicitadas pelos produtores passem por curadoria. Os espaços estão começando
a pensar nisso, a fim de deixar de reproduzir uma prática comum a um “consultório médico”:
encaixar uma proposta onde tem vaga, sem pensar se tem relação com a programação já
estabelecida. A metáfora utilizada por Kauark indica que, no campo da cultura, a técnica não
pode substituir a análise criteriosa. Apenas uma equipe qualificada pode entender tais
especificidades.
Em relação à meta 3, sobre a necessidade de aprimorar a gestão dos espaços culturais da
Secult, Giuliana Kauark apresentou dados sobre o histórico da gestão desses espaços. No que
se refere à institucionalização e comunicação desses equipamentos, notamos a criação já em
2007 da tabela de pauta, posterior revisão em 2010 e 2013; criação dos blogs individuais de
cada espaço cultural entre 2008 e 2009; cessão de pautas gratuitas a partir de 2009,
inicialmente às terças e quartas-feiras e, depois de modo estendido; criação das marcas da
DEC e dos espaços em 2010; elaboração do roteiro dos espaços culturais ainda em 2010 e
criação das microredes41
em 2011. Compreende-se que o relacionamento com o público deve
41
Encontros entre gestores de espaços culturais diferentes para discussão de ações em conjunto
87
passar pela atração, mediação e fidelização. É necessário investir numa comunicação eficiente
para os espaços culturais, para conseguir atrair público e, nesse sentido, os blogs e o
lançamento de um newsletter com o roteiro semanal dos espaços é fundamental. No item
“mediação”, uma programação constante e regular é essencial, o que é estimulado em alguma
medida pela cessão de pautas gratuitas. Já a “fidelização” é conquistada através do
relacionamento permanente com o público, oferecendo inclusive meios para que sua
frequência aumente, como, por exemplo, programas de desconto nos ingressos.
A Diretoria de Espaços Culturais também tem como meta fazer um cadastramento de artistas
para fomentar a circulação de produções. Hoje o que se vê nos espaços do interior é uma
programação composta em grande medida por pautas locais e, em segundo lugar, pela
circulação de espetáculos de outros estados, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo.
“Vemos pouca circulação entre interior-interior ou capital-interior, e queremos estimular isso”
(KAUARK, 2013).
A meta 8, que visa desenvolver uma política setorial para os espaços culturais, já conta com
ações implementadas e outras em fase de planejamento. Uma política voltada para os espaços
culturais começou a ser planejada em 2010. No segmento de “Informação”, foi realizado um
cadastramento dos equipamentos culturais do estado, visando obter no futuro uma articulação
com eles, abrangendo o alcance da DEC para além dos espaços gerenciados por ela. Os dados
ainda não foram disponibilizados, mas isso deve ser feito em breve dentro do portal do
Sistema de Informações e Indicadores em Cultura (SIIC). No item “Institucionalização”, a
diretoria criou em 2013 uma Instrução Normativa e um Regulamento, para nortear a ação dos
espaços culturais sob sua gerência. Ainda neste ano, será realizada a I Conferência Setorial de
Espaços Culturais e, a partir dela, a formação da Rede de Espaços Culturais, que funcionará
como mais um colegiado setorial e, assim como os outros, terá um Plano Setorial. Os fóruns
foram criados para discutir e planejar uma política setorial para os espaços culturais do estado.
Em paralelo à conferência, será realizado o Seminário de Gestão de Espaços Culturais, uma
das ações previstas no item “Formação”. O seminário ocorre nos dias 26 e 27 de setembro, e a
conferência acontece no dia 28, mesma data das outras conferências setoriais. Outro objetivo
do segmento é lançar um Manual de Gestão, para auxiliar na capacitação dos gestores do
estado. No último item, “Fomento”, já temos duas ações implementadas: a chamada pública
Ações Continuadas de Instituições Privadas sem fins lucrativos e o edital de Dinamização de
88
Espaços Culturais. A chamada tem como objetivo fomentar a realização de atividades por
organizações culturais privadas sem fins lucrativos, como centros culturais, arquivos, museus
e teatros. Já o edital foi criado em 2012 e visa contemplar a criação de uma programação
regular para qualquer espaço cultural do estado, seja público ou privado. Na primeira seleção,
recebeu 80 inscrições. Desses, apenas 17 conseguiram passar pela etapa inicial, de análise
prévia42
, pois a quantidade de documentos obrigatórios solicitados confundiu os produtores.
O público já estava acostumado a apenas enviar documentação depois de
aprovado, pois os editais da Secult estão seguindo essa lógica, então, no
nosso edital, muitos deixaram de anexar os documentos obrigatórios,
acarretando em desclassificação. Para 2013, vamos tirar isso, só vamos pedir
a carta de anuência do espaço cultural. De toda forma, os 11 projetos
selecionados são muito bons. Entre os equipamentos culturais selecionados,
apenas dois são da Secult, o Centro Cultural Plataforma e o espaço de Vitória
da Conquista, o Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima. (KAUARK,
2013).
No geral, o edital contemplou propostas de seis territórios: Velho Chico, Chapada Diamantina,
Extremo Sul, Vitória da Conquista, Baixo Sul e Região Metropolitana de Salvador. Sabendo
que, além da falta de programação, os espaços culturais enfrentam problemas estruturais e
técnicos, inclusive com a falta de equipamentos adequados, como acontece em Senhor do
Bonfim, a diretoria planejou criar um edital específico para atender essa necessidade, mas não
foi possível.
Pensamos em seguir um edital da Funarte43
, de doação de equipamentos
técnicos, mas isso não foi possível dentro da Secult. Teríamos que aplicar
recursos na compra desses equipamentos e depois selecionar espaços, para
então repassar pra eles. Mas o dinheiro que temos pra fomentar é do Fundo
de Cultura e lá isso não é permitido, a aplicação de recursos para a própria
secretaria fazer essa compra. (KAUARK, 2013)
Como a secretaria não tem perspectiva de adquirir novos espaços culturais, em outras cidades,
por conta da falta de recursos financeiros, o objetivo é formar a Rede de Espaços Culturais
para ajudar na gestão de mais equipamentos, alcançando todos os 27 territórios do estado.
A gente tem encontros periódicos com nossos coordenadores, nesses
encontros esses outros gestores também participariam e teriam as orientações
todas pra gestão, no que se refere ao regulamento, à instrução, à norma de
42
Etapa de verificação de documentos, a fim de identificar se a proposta está apta a ser inscrita no processo
seletivo.
43 A Fundação Nacional de Artes (Funarte) lançou em 2011 um edital de Doação de Equipamentos de Iluminação
Cênica
89
funcionamento, ao procedimento de solicitação de pauta, de arrecadação de
bilheteria, dentre outros. A gente tem condições de divulgar mais, por
exemplo, o edital de Dinamização de Espaços Culturais; fazer com que eles
consigam programação através desse edital e, se for o caso, articular também
alguns projetos que a gente consegue para os espaços, como o Verão Cênico,
os Salões Regionais e o Quarta que Dança; fazer com que alguns deles
sejam realizados em equipamentos culturais fora da Secult. (KAUARK,
2013)
As orientações apontadas pela diretora estão presentes nos instrumentos de gestão criados pela
DEC em 2013: a Instrução Normativa nº 001/2013 (ANEXO H), seguida pelo Regulamento
do Uso e Funcionamento dos Espaços Culturais da Secult (ANEXO I). Antes, já havia
diretrizes gerais de funcionamento dos espaços, mas, a partir da observação e
acompanhamento da gestão desses locais, notava-se que as normas eram constantemente
descumpridas quando havia “interesses maiores”, envolvendo principalmente força política.
Diante de casos de desatenção às regras, “a gente viu que era necessário ter uma publicação
normativa, porque isso resguardava a própria secretaria” (KAUARK, 2013). Após um
processo de discussão em conjunto com os coordenadores dos espaços, foram criados os
documentos que regulam a gestão, oficializados através de publicação no Diário Oficial do
Estado (DOE).
Isso é uma forma de se resguardar, mas um meio também de perpetuar essa
política, porque essa instrução normativa não tem data de validade, ela só
não deve ser cumprida no momento em que for revogada. Enquanto ela
estiver vigente, a gente tem que seguir essas diretrizes. Então, ela vem no
sentido de institucionalização dessa política para os espaços culturais da
secretaria, de priorizar a pauta cultural, de impedir uma série de atividades de
uso particular nos espaços que são públicos.
Tais instrumentos construídos pela DEC merecem atenção desse trabalho, visto que se
configuram em um modelo de gestão que pode ser seguido pelo Centro Cultural Ceciliano de
Carvalho. Todas as questões apontadas pelos artistas de Senhor do Bonfim como
problemáticas para o bom funcionamento do equipamento municipal são sanadas pela
Secretaria de Cultura nos espaços que administra. Transformando aqueles pontos em
positivos, dizemos que a Secult se compromete em garantir: priorização de pautas culturais;
infraestrutura adequada; equipamentos técnicos disponíveis, bem como funcionários para
realizar a manutenção; equipe própria para administrar cada espaço e investimento em
programação. O único ponto sobre o qual a Secult não tem condições de atuar é aquele sobre
disposição de transporte público e segurança dos espaços, o primeiro item de responsabilidade
90
da prefeitura e, o segundo, dos produtores, já que os espaços estaduais contam apenas com
segurança patrimonial.
Giuliana Kauark admite não ter sido possível impedir a organização de eventos não culturais
dentro dos espaços da secretaria. O contexto das cidades do interior em que estão localizados
os centros é o mesmo daquele verificado em Senhor do Bonfim: não existem outros auditórios
ou teatros com a mesma dimensão dos equipamentos de cultura, que têm de 200 a 500 lugares.
Logo, a procura para realização das mais diversas atividades é frequente e natural. Desse
modo, o regulamento criado pela diretoria não proíbe a realização de atividades de natureza
não cultural, apenas limita sua execução entre terça e quinta-feira, e cobra preço diferenciado
para essas pautas. A instrução normativa sugere que as atividades de natureza cultural devem
ser privilegiadas, mas que é possível a realização de eventos de natureza educacional e social,
de natureza institucional ou corporativa. É necessário ressaltar que as atividades corporativas
estão condicionadas ao “exame prévio de sua compatibilidade com o interesse público do uso
do espaço cultural” (INSTRUÇÃO, 2013, p. 2). Além disso, não é permitida a utilização dos
espaços para
eventos de pregação religiosa, atividades que no seu conteúdo evidenciem
qualquer tipo de preconceito ou discriminação, apologia ao uso de drogas
ilícitas, bem como as que incitem à violência e à intolerância e àquelas que
possam causar impactos negativos à saúde, à integridade física e psicológica
das pessoas e ao meio-ambiente. Tampouco é permitida a utilização dos
espaços para eventos particulares, tais como aniversários, casamentos,
velórios, entre outros. É expressamente vedada também a utilização dos
espaços culturais para a realização de eventos político-partidários, com
exceção da realização de convenções para escolha de candidatos [debates]
[...]. (REGULAMENTO, 2013, p. 1)
Também para coibir o uso indevido dos espaços, foi estabelecido que pedidos de pauta devem
ser avaliados pela coordenação de cada equipamento e autorizados pela DEC. Portanto, o
“recebimento do pedido não implica na automática permissão para realização do evento”
(REGULAMENTO, 2013, p. 3), como acontece no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho.
Após a autorização, o proponente é convocado a assinar o Termo de Compromisso e
Responsabilidade (ANEXO J), documento que estabelece as obrigações e responsabilidades
do produtor. Lembramos que para solicitar pauta é necessário preencher um formulário padrão
(ANEXO K), disponível no blog da Diretoria de Espaços Culturais44
, com antecedência
44
<http://espacosculturais.wordpress.com/>
91
mínima de 30 dias antes da data do evento. O formulário mapeia o perfil do produtor e do
evento, solicitando inclusive previsão de público para a atividade, classificação indicativa e
informações técnicas sobre montagem e desmontagem, por exemplo.
No que se refere ao estímulo à manutenção de uma programação continuada nos espaços
culturais, devemos nos atentar ao Programa de Gratuidade (ANEXO L) criado pela diretoria.
Com o objetivo de promover e ampliar o acesso de artistas e produtores aos espaços culturais,
assim como dinamizar e diversificar a programação desses equipamentos, a Secult-Ba
disponibiliza pautas gratuitas para a realização de determinadas atividades, necessariamente
de natureza cultural e realizadas por grupos e artistas residentes na Bahia. Além de garantir
gratuidade em atividades de formação – desde que abertas ao público e com entrada franca – e
de qualificação interna para grupos artísticos, a DEC não cobra pauta para produções culturais
apresentadas às terças e quartas-feiras e atividades relacionadas aos meses temáticos. A cada
mês do ano, um tema é privilegiado nos espaços culturais da Secult-Ba. Todo produtor que
realizar programação cultural relacionada ao tema do mês terá pauta gratuita,
independentemente do dia da semana. É condicionado a cada proponente o limite máximo de
quatro pautas por mês e a cobrança de até R$ 10 pelo ingresso da atividade que realizar. A
diretoria isenta também toda e qualquer intervenção e exposição de artes visuais feita nos
espaços, com limite de utilização de até uma pauta por proponente a cada mês. Em todos os
casos de gratuidade, o proponente do evento deverá mencionar o apoio do Governo do Estado
da Bahia, inserindo nos materiais de divulgação as marcas do espaço cultural e da Secretaria
de Cultura da Bahia.
As demais atividades realizadas nos espaços são cobradas de acordo com alguns critérios:
natureza do evento, dependência (se vai acontecer na sala principal ou em outras
dependências), origem da programação (se do interior da Bahia, Salvador e Região
Metropolitana, outros estados ou outros países) e tipo de proponente (com ou sem finalidade
cultural). Na sala principal, por exemplo, o valor cobrado para um proponente do interior que
realiza uma atividade cultural – de R$ 100 ou 10% da bilheteria, o que for maior – é 300%
menor do que aquele cobrado por uma pauta sem finalidade cultural – independentemente da
localidade do proponente, a taxa é de R$ 400 ou 20% da bilheteria, o que for maior. Esses são
valores válidos para o horário convencional, ou seja, até 22h. Após esse horário, a primeira
pauta ficaria no valor de R$ 200 e, a segunda, subiria para R$ 1.000. Esses dados demonstram
92
claramente a atenção da diretoria com a atividade cultural, entendendo que esses espaços são,
por excelência, locais de produção da cultura e que, portanto, as demais ações devem pagar
preços mais altos para a utilização.
Proponentes de eventos que não visam a cobrança de ingressos devem efetuar o pagamento no
ato da assinatura do Termo de Compromisso e Responsabilidade. Para os demais, o percentual
do pagamento da pauta será descontado da receita bruta de cada sessão, no ato de elaboração
do borderô45
, após 15 minutos do início do evento. Os ingressos das atividades devem ser
confeccionados preferencialmente pela Secult-Ba, a fim de manter uma padronização. Em
eventos gratuitos, são utilizados ingressos do tipo “convite”. Essa medida é válida para
dimensionar a quantidade de público que acessa o espaço cultural. Outra ação relevante é a
destinação de 10% das vagas das oficinas ou cursos realizados para a formação da equipe e/ou
público do espaço cultural.
O horário de funcionamento administrativo dos espaços culturais é de segunda a sexta-feira,
das 9h às 19h. A bilheteria abre de 16h às 19h ou, em dias de evento, até o seu início. O
Regulamento do Uso e Funcionamento dos Espaços Culturais da Secult-Ba indica ainda os
horários de funcionamento de cada dependência do equipamento e da montagem e
desmontagem. Segunda-feira é folga da equipe técnica, portanto, apenas excepcionalmente
são pautados eventos neste dia. O coordenador do espaço é responsável por organizar a escala
de trabalho da equipe para cada evento a ser pautado. Os técnicos fazem a supervisão do
manuseio e resolução de problemas com os equipamentos do espaço, mas a operação da
iluminação e sonorização de um evento é de responsabilidade do proponente.
No Regulamento consta ainda normas sobre cancelamento de pauta, funcionamento da
bilheteria, elaboração do borderô, limite de horário para entrada do público nos eventos, regras
de segurança, proibição da entrada de alimentos ou líquidos de qualquer natureza na sala
principal e regras para disponibilização de meia-entrada, convite e ingresso promocional, entre
outros itens. O descumprimento das normas previstas implica na suspensão por três meses do
uso dos espaços culturais da Secult-Ba pelo infrator.
45
Borderô vem do francês “borderau” e significa lista, nota, fatura ou registro. Nesse contexto, significa o
relatório do movimento da bilheteria de uma sala de espetáculos.
93
Kauark (2013) avalia a utilização dos mecanismos de gestão de modo positivo. Os
documentos facilitam a regulação do funcionamento desses espaços. Ela indica que a gestão
tem servido como modelo aplicado a outras realidades. “Hoje, outras cidades do estado estão
seguindo o regulamento, utilizando os instrumentos em espaços não ligados à Secult. Esse
retorno tem sido positivo no sentido de institucionalização.” (KAUARK, 2013). Em relação
ao público,
A gente tem queixa do público porque a gente não está deixando mais entrar
depois de 15 minutos que inicia o espetáculo. Daí, a gente apresenta o
regulamento, diz que isso tem porquê, essas normas não são aleatórias, foram
construídas com base numa dinâmica própria do espaço, própria do fazer
cultural, da função pública desse espaço, então elas têm uma razão de ser. É
claro que elas não são imutáveis, elas podem ser questionadas, mas não
descumpridas. (KAUARK, 2013).
O modelo criado pela Diretoria de Espaços Culturais da Secult-Ba se mostra eficiente e deve
ser seguido por equipamentos como o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, precário no que
diz respeito à gestão, infraestrutura e programação. Diante do exposto, é possível fazer
indicativos para mudanças na terceira perspectiva, aproveitando que ela vem sendo priorizada
pela DEC, através do edital de Dinamização de Espaços Culturais. Lançado pelo Fundo de
Cultura do Estado da Bahia (FCBA) em 2013, o mecanismo de financiamento apoia
propostas de dinamização de espaços culturais, públicos ou privados, do
estado da Bahia, através de proposição de uma programação regular durante
um período mínimo de seis meses e máximo de um ano, envolvendo
atividades mensais de formação e/ou difusão das diversas expressões
culturais, buscando ampliar o impacto do espaço junto à comunidade local,
fomentar o acesso e a formação de público para a cultura. (BAHIA, 2013a)
Lembramos que a Secult-Ba é a principal financiadora de projetos culturais da Bahia,
contribuindo ao longo dos anos para a descentralização de recursos e ações pelo interior do
estado. O investimento total nos 20 editais lançados pelo FCBA em 2013 foi de 27,8 milhões,
o que indica um aumento de 52% do recurso em relação à seleção de 2012. No total, foram
recebidos 2.309 projetos, mas apenas 72 para o edital de Dinamização de Espaços Culturais. O
envio de documentação incompleta por diversos proponentes do edital resultou na inscrição
efetiva de apenas 17 projetos. Em avaliação feita pela secretaria, Giuliana Kauark, também
coordenadora da comissão de seleção do edital, reforçou a importância desta área de atuação,
principalmente no interior do estado. “O número de propostas comprova que existe uma
demanda crescente e a absoluta necessidade de a Secretaria possibilitar a existência de uma
94
programação contínua em espaços dedicados à cultura nas suas mais diversas linguagens”
(BAHIA, 2013b). O edital será reaberto em 2014, com execução orçamentária no total de R$
1,5 milhão e limite máximo por proposta no valor de R$ 100 mil. (BAHIA, 2013c).
A construção de um projeto cultural para Senhor do Bonfim e posterior inscrição neste
mecanismo teria o potencial de movimentar o setor cultural do município, ajudando a
preencher as lacunas de programação no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, auxiliando na
manutenção dos grupos culturais beneficiados e gerando uma alternativa de formação e lazer
para o público bonfinense. Podem encaminhar propostas apenas Pessoas Físicas maiores de 18
anos e Pessoas Jurídicas de Direito Privado, ou seja, a Prefeitura Municipal de Senhor do
Bonfim não pode elaborar um projeto para o edital. No entanto, entendemos que o estímulo à
elaboração de projetos para este mecanismo de fomento, que pode beneficiar o município a
longo prazo, deveria ser feita pela gestão municipal.
5.2 EM BUSCA DE UMA PROGRAMAÇÃO CONTINUADA
A existência de um equipamento de cultura no município não é condição suficiente para o
estímulo à produção cultural. Acreditamos que um modelo de gerenciamento adequado, em
conjunto com uma programação regular, criada por artistas locais, que diante do foi
apresentado nesta pesquisa têm condições de manter o espaço ativo durante todo o ano, devem
retirar o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho da posição de inoperância. Cabe ao poder
público incentivar essas atividades, recuperando um erro histórico, de desestímulo à cultura
local.
Os estudos atuais sobre organização da cultura evidenciam a necessidade de os municípios
ampliarem a capacidade de gerenciar suas políticas culturais, ainda que de modo integrado
com o governo federal e estadual. O objetivo de se criar um Plano Nacional de Cultura (PNC)
no Brasil é conseguir articular no país um sistema cultural, a exemplo do Sistema Único de
Saúde (SUS), no qual municípios, estados e a Federação negociam responsabilidades. O
posicionamento do município como gestor da cultura local é importante para que cada vez
mais seja possível a aproximação das políticas culturais com o conceito antropológico de
cultura, que diz que esta deve ser entendida para além das artes, como modo de vida,
promovendo assim o reconhecimento de manifestações tradicionais e populares, por exemplo.
95
Uma das metas do PNC, previstas para serem alcançadas até 2020, falam sobre o aumento do
número de cidades com espaços culturais, determinando que 55% dos municípios entre 50 mil
e 100 mil habitantes devam ter pelo menos três tipos de “instituição ou equipamento cultural,
entre museu, teatro ou sala de espetáculo, arquivo público ou centro de documentação, cinema
e centro cultural” (BRASIL, 2012, p. 88). Além do centro cultural pesquisado, Senhor do
Bonfim possui dois teatros e um memorial (arquivo), mas eles são privados, não se
aproximam da população e também necessitam de ações, sejam de revitalização física ou no
que se refere à programação. A meta do PNC fala sobre a necessidade de não apenas construir
espaços, mas também zelar pela manutenção deles, tendo em vista a importância de considerar
as características culturais de cada região “tanto no planejamento desses espaços como na
programação de serviços oferecidos à população.” (BRASIL, 2012, p. 91). Outra meta fala
sobre o aumento em 60% do número de pessoas que frequentam espaços culturais. Para
garantir a sua execução, é necessário “criar e fortalecer políticas públicas na área de cultura
que estimulem o acesso e ampliem a oferta de bens e serviços culturais e a formação de
público.” (BRASIL, 2012, p. 83). De modo segmentado, o PNC prevê o aumento de 7,4%
para 11,84% do número de pessoas que frequentam museus ou centros culturais e de 14,2%
para 22,72% o número de pessoas que frequentam espetáculos de teatro, circo ou dança.
Para além dos benefícios que a construção de um projeto de dinamização do Centro Cultural
Ceciliano de Carvalho pode trazer para o poder público, no caso de ajudar na manutenção de
um espaço gerido pelo município, e para a população, tendo em vista a complementaridade
entre ações que visam sua formação e lazer, que não podem ser vistas de forma dissociada, é
importante destacar sua relevância para outro setor da sociedade, o dos artistas e produtores
culturais. A meta 22 do PNC prevê o aumento em 30% no número de municípios brasileiros
com grupos em atividade nas áreas de teatro, dança, circo, música, artes visuais, literatura e
artesanato, indicando que os municípios “podem colaborar por meio de cessão de espaços
desocupados, isenção de tributos e taxas e outras ações de fomento a esses grupos.” (BRASIL,
2012, p. 71). Entendemos que a realização de projetos contínuos, que contem com a
participação dos grupos na elaboração e execução é uma dessas ações que podem contribuir
para a estabilidade desses artistas. O estímulo da Secretaria Municipal de Cultura na inscrição
de projetos para editais da Secult-Ba, em especial naquela relacionado à DEC, pode tornar o
Centro Cultural Ceciliano de Carvalho um espaço de permanente atividade.
96
Em 2009, os participantes da Conferência Territorial do Piemonte Norte do Itapicuru
sugeriram a “realização de festivais no território e municípios”, de “uma feira cultural anual
envolvendo os artistas municipais para promover o encontro de grupos artísticos culturais para
divulgação e troca de experiências” e a “formação continuada para os agentes culturais”, itens
que podem incorporados ao projeto. A formação de artistas, técnicos e gestores culturais, com
cursos de gestão, linguagens artísticas, patrimônio cultural e demais áreas relacionadas é,
inclusive, outra meta do Plano Nacional de Cultura (PNC). A publicação diz que é papel do
Ministério da Cultura (MinC) aumentar a oferta de cursos e oficinas, mas se espera que
estados e cidades participantes do Sistema Nacional de Cultura (SNC) comprometam-se em
buscar ampliar suas ofertas. Além de proporcionar o aperfeiçoamento de técnicas e a
profissionalização dos agentes, a iniciativa tem o potencial de aprimorar os serviços ofertados
e os bens culturais produzidos e contribuir para a manutenção de instituições e espaços
culturais.
Ao questionar como seu deu a formação artística de cada entrevistado, notamos que as
brincadeiras no fundo do quintal, as apresentações na escola e a observação das práticas
culturais familiares e em espetáculos artísticos – em que o circo tem papel de destaque –
foram os principais momentos formativos dos artistas bonfinenses.
Nas cidades onde o circo passava, geralmente os grupos que tavam [sic] ali
começavam a repetir os dramas e faziam isso num auditório, na rua, na
escola. E aí foram sendo criados esses grupos de drama, essas pessoas iam
passando, como a arte vai passando de pai pra filho (OLIVEIRA, 2013).
É inegável, no entanto, a função das oficinas técnicas realizadas no município. Segundo Silva
(2013), o projeto Chapéu de Palha, promovido pela Funceb na década de 1980, foi realizado
em Senhor do Bonfim em ao menos três edições. Muitos artistas tiveram suas primeiras
experiências de formação com esses técnicos que vinham de Salvador. Esta é uma iniciativa
“sem o qual a gente não consegue pensar o teatro na segunda metade do século XX no interior
da Bahia” (SILVA, 2013). Em 1992, Reginaldo Carvalho participou de uma oficina
ministrada por Kátia Alexandria, dentro de um projeto da Funceb, quando teve seu primeiro
contato com o teatro profissional. Na turma, estavam alguns dos mais representativos artistas
da atual cena cultural bonfinense: Nalvinha Aguiar, Jotacê Freitas e Marcos Cesário. Silva
(2013) aponta que oficina foi fundamental porque reaqueceu a cena cultural que estava morna
depois da explosão dos anos 80, época que Bonfim teve a atuação intensa de muitos grupos –
97
Trio de Quatro, Migração de Ventos, Sol Nascente e Mandacaru. Ele cita outros projetos,
como o Tubo de Ensaio, voltado para atores, e o Teatro Vivo, ministrada por Jotacê Freitas,
ambos promovidos pela prefeitura no final da década de 80. Muricy (2013), Oliveira (2013),
Schade (2013), Santana (2013a) e Lemos (2013) também mencionam outras atividades
formativas que passaram pela cidade. Antes do Chapéu de Palha, Caco Muricy participou de
uma oficina de teatro promovida pela Fundação Cultural Fernando Jatobá da Silva Telles e,
mais recentemente, do projeto João de Barro46
. Em 2007, Tenison Santana trabalhou no
Programa Tim de Arte-Educação47
, realizado pelo Centro de Referência Integral de
Adolescentes (CRIA), de Salvador, que desenvolvia formação em algumas linguagens
artísticas, inclusive a música.
Silva (2013) observa que cada projeto formativo realizado na cidade na segunda metade do
século XX é acompanhado por um momento de boom na produção teatral bonfinense,
demonstrando assim a importância da realização de atividades formativas. Hoje, o grupo
Aroeira contribui para a formação de novos artistas, a partir das oficinas que realiza, bem
como para formação de público.
Diante do exposto, que está em consonância com o planejamento das políticas culturais em
âmbito federal, e do que foi colhido nas entrevistas com os artistas de Senhor do Bonfim,
apresentamos abaixo uma sugestão de programação (APÊNDICE D) para o Centro Cultural
Ceciliano de Carvalho, a ser inserida numa futura proposta para o edital de Dinamização de
Espaços Culturais. Nas entrevistas, após os artistas declararem unanimidade sobre a
importância de uma programação regular, eles foram estimulados a sugerirem ações artísticas-
culturais para o espaço, incluindo seus próprios trabalhos. Somam-se às sugestões
apresentadas indicativos feitos pela pesquisadora, a partir da análise do contexto local.
a) Formação em cultura
O Núcleo Aroeira de Arte realiza atividades de formação em cultura desde 2004, quando foi
criado. Desde então, nunca contou com apoio da prefeitura ou outras instituições municipais.
46 Projeto de Danillo Novais, de Vitória da Conquista, aprovado no edital de Formação e Qualificação Artística,
da Funceb. Percorreu três cidades baianas realizando atividades formativas com foco na cultura popular. Ver em:
<http://joaodebarroprojeto.blogspot.com.br/> 47 Inicialmente Programa Maxitel de Arte-Educação, o projeto foi concebido e coordenado por Maria Eugênia
Millet, em 2001. Neste ano, circulou pelas cidades de Feira de Santana, Ilhéus, Itabuna, Jequié, Juazeiro, Vitória
da Conquista e Barreiras. Durante o dia aconteciam as oficinas e à noite eram apresentados os resultados junto
aos produtos artísticos dos repertórios das ONGs que o integravam (SILVA, 2008).
98
No entanto, artistas locais, membros do grupo ou não, corroboram a importância dessa atuação
e dizem que o trabalho desenvolvido reflete hoje na plateia que circula pelos eventos culturais
de Senhor do Bonfim. É sabido que o ensino das artes contribui para a formação de novos
públicos culturais, então o projeto a ser elaborado deve incentivar a realização de mais
atividades de capacitação. O ensino de dança, teatro, música, artes plásticas, literatura de
cordel – inclusive para contribuir na preservação desta linguagem popular, tradicional do
sertão – e circo, entre outras, deve ser estimulado. No entanto, tão importante quanto o ensino
das linguagens artísticas é a formação técnica. Verificamos que tanto gestores quanto artistas
não estão habilitados a realizar funções de cenografia, iluminação cênica, música para teatro,
figurino etc., à exceção de alguns expoentes. Tal formação é imprescindível para que a
produção de eventos com qualidade cada vez mais elevada.
______ Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6
Semana 1 Oficina de
cordel
Oficina de
teatro de
bonecos
Oficina de
direção
teatral48
Projeto
“Teatro no
Povoado”49
:
oficinas de
teatro na
zona rural
Projeto
“Teatro no
Povoado”:
oficinas de
teatro na
zona rural
Oficina de
cenografia
Semana 2 Oficina de
cordel
Oficina de
teatro de
bonecos
Oficina de
direção
teatral
Projeto
“Teatro no
Povoado”
Projeto
“Teatro no
Povoado”
Oficina de
cenografia
Semana 3 Oficina de
cordel
Oficina de
teatro de
bonecos
Oficina de
direção
teatral
Projeto
“Teatro no
Povoado”
Projeto
“Teatro no
Povoado”
Oficina de
cenografia
Semana 4 Mostra
com os
resultados
da oficina:
“Literatura
no Varal”
Mostra
com os
resultados
da oficina:
“Bonecos
em Caixa”
Oficina de
direção
teatral
Projeto
“Teatro no
Povoado”
Projeto
“Teatro no
Povoado”
Mostra
com
resultados
do projeto
“Teatro no
Povoado”
Quadro 1 – Programação: formação em cultura
48
Sugestão de Reginaldo Carvalho 49
Sugestão de Benedito Oliveira
99
b) Retomando o protagonismo da filarmônica
A Sociedade Filarmônica União dos Ferroviários Bonfinenses tem 60 anos e é única
filarmônica de Senhor do Bonfim. Passou por períodos de crise em outras décadas, o que
acarretou sua desativação em alguns períodos. Santana (2013a) compreende que o grupo passa
por uma situação difícil, já que não possui apoio financeiro de nenhuma fonte. Ele está em
atividade apenas por conta dos professores, que trabalham de forma voluntária. A contratação
da filarmônica para se apresentar no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho seria um estímulo
financeiro para a manutenção do grupo e uma iniciativa importante para a valorização de um
grupo tradicional do município que, por conta da queda de apresentações ao longo dos anos, é
desconhecida pelo público mais jovem. A realização de concertos regulares faz jus à memória
do artista que dá nome ao espaço, visto que são raras as apresentações de música no teatro.
Seria importante traçar relação entre este e o primeiro item, de formação, produzindo assim
concertos didáticos para crianças e adolescentes, para que tenham oportunidade de conhecer
mais sobre os instrumentos, autores clássicos e a música de concerto.
______ Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6
Semana 1 Concerto
didático50
Concerto
didático
Concerto
didático
Concerto
didático
Concerto
didático
Concerto
didático
Semana 2 - - - - - -
Semana 3 A
filarmônica
apresenta:
Quintas
Musicais
A
filarmônica
apresenta:
Quintas
Musicais
A
filarmônica
apresenta:
Quintas
Musicais
A
filarmônica
apresenta:
Quintas
Musicais
A
filarmônica
apresenta:
Quintas
Musicais
A
filarmônica
apresenta:
Quintas
Musicais
Semana 4 - - - - - -
Quadro 2 – Programação: filarmônica
c) Shows na área externa
Não há ocorrência de realização de shows abertos no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho.
A área externa do equipamento, que comporta o estacionamento, poderia ser utilizado para
montagem de um palco móvel. Em Senhor do Bonfim, não é frequente a apresentação de
50
Sugestão de Tenison Santana
100
espetáculos musicais de ritmos diferentes do forró, pagode e arrocha. Produtores de festas
privadas constantemente contratam artistas dos gêneros citados para se apresentarem no
município, utilizando como palco principalmente o Campo Clube. Partindo da compreensão
de que é dever do Estado estimular a promoção da diversidade de atividades e práticas
culturais, sugerimos a criação de um circuito musical alternativo em Senhor do Bonfim. A
cidade conta com grupos de samba, reggae, rock e MPB, entre outros estilos não privilegiados
nos eventos locais. Muitos deles não conseguem sustentabilidade e se desfazem em pouco
tempo, portanto, o estímulo à produção musical alternativa se faz crucial.
Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6
Semana 1
Semana 2 Projeto
“Música
comendo
no Centro”
Projeto
“Música
comendo
no Centro”
Semana 3
Semana 4 Projeto
“Música
comendo
no Centro”
Quadro 3 – Programação: música
d) Exposições no foyer
Marcos Cesário51
é um fotógrafo bonfinense reconhecido internacionalmente, mas que nunca
teve a oportunidade de expor seu trabalho no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. Na
ocasião em que foi convidado pela prefeitura, recusou-se a organizar uma mostra, dadas as
condições inadequadas oferecidas para apresentação das suas obras. Caco Muricy também
trabalha com artes plásticas e ainda não teve oportunidade de expor seu trabalho neste espaço
cultural. Enquanto isso, o foyer do equipamento mantém-se inoperante, sem utilização. O
potencial dessa dependência deve ser explorado, com o objetivo de aproximar o público da
51
Artista entrevistado para a pesquisa, mas que preferiu não ter seu relato gravado. Para conhecer sua obra, é só
acessar: < http://www.marcoscesario.com.br/>.
101
linguagem das artes visuais, ainda pouco acessível, valorizar os artistas já consagrados e
fomentar a criação de novos trabalhos. É possível ainda organizar uma mostra de artesanato,
visto que esta atividade é bastante praticada na região.
Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6
Semana 1 - - - - - -
Semana 2 Abertura
de
exposição
fotográfica
- Abertura
de nova
mostra
(painéis,
quadros ou
esculturas)
Abertura
de
exposição
de
artesanato
-
Semana 3 - - - - - -
Semana 4 - - - - - -
Quadro 4 – Programação: exposição
e) Estímulo ao teatro, dança e circo
As linguagens mais apresentadas no Centro Cultural Ceciliano merecem atenção especial. Os
grupos de teatro e dança até hoje se mantiveram através de iniciativa própria. É necessário
fomentar novas produções e, assim, fortalecer as áreas temáticas. A quantidade de artistas das
artes cênicas em Senhor do Bonfim é alta, portanto, é possível garantir a apresentação de nove
espetáculos (entre circo, teatro e dança) ao longo dos seis meses de programação.
Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6
Semana 1
Projeto
“Bonfim em
Cena”:
apresentação
de espetáculo
de dança
Semana 2 Projeto
“Bonfim em
Cena”:
apresentação
de
espetáculo
Projeto
“Bonfim em
Cena”:
apresentação
de espetáculo
Projeto
“Bonfim em
Cena”:
apresentação
de espetáculo
de teatro /
Projeto
“Bonfim em
Cena”:
apresentação
de espetáculo
de teatro /
102
de teatro /
circo
de dança circo circo
Semana 3 Projeto
“Bonfim em
Cena”:
apresentação
de espetáculo
de teatro /
circo
Semana 4 Projeto
“Bonfim
em Cena”:
apresentaç
ão de
espetáculo
de teatro /
circo
Projeto
“Bonfim em
Cena”:
apresentação
de espetáculo
de teatro /
circo
Projeto
“Bonfim em
Cena”:
apresentação
de espetáculo
de dança
Quadro 5 – Programação: teatro, dança e circo
f) Capacitação em Marketing Cultural
Mais que ações passageiras, é necessário criar programas que se perpetuem, que reverberem a
longo prazo. Assim como as oficinas formativas e os concertos didáticos, que irão auxiliar na
formação de público, um benefício que vigora ao longo dos anos do participante,
principalmente se ainda tiver na idade escolar, a capacitação de outros sujeitos da cadeia
produtiva pode auxiliar no alcance de resultados favoráveis ao longo dos anos. É o caso da
formação em Marketing Cultural para o setor do comércio, principal elo produtivo da
economia da Senhor do Bonfim e que, infelizmente, mesmo com seu poder financeiro, não
patrocina a ação cultural. Entendemos que os artistas precisam avançar na forma de dialogar
com esse setor, assim como é preciso apresentar aos empresários os benefícios do patrocínio
cultural, de que forma essa aparente “doação” pode retornar em resultados, seja em vendas ou
consolidação da marca da empresa. Nesse sentido, uma parceria com a associação local do
comércio se faz importante, para estimular que os membros participem da formação proposta.
Deve ser apresentado um programa de capacitação extenso, de no mínimo 30 horas, com
apoio das universidades locais, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae) e, caso necessário, Universidade Federal da Bahia (UFBA), que possui constante
atuação nesse setor. A etapa de finalização do curso poderia ser um momento de diálogo entre
103
empresários e artistas, em que os últimos apresentariam seus projetos aos prováveis
financiadores.
Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6
Semana 1
Curso de
Marketing
Cultural
para
empresários
Semana 2 Curso de
Marketing
Cultural
para
empresários
Semana 3 Curso de
Marketing
Cultural
para
empresários
Semana 4 Curso de
Marketing
Cultural
para
empresários
Quadro 6 – Programação: Marketing Cultural
g) Retorno financeiro para a manutenção do espaço cultural
Considerando que uma reforma gerencial e física deve ser feita urgentemente no Centro
Cultural Ceciliano de Carvalho, um dos objetivos do projeto pode ser dispor os recursos
advindos da bilheteria na manutenção do espaço. Desse modo, todos os produtores e artistas
envolvidos seriam pagos por seus trabalhos, mas o retorno em bilheteria seria utilizado a favor
do próprio espaço. O destino do dinheiro seria discutido publicamente, para que aqueles que
usam o equipamento pudessem indicar quais as principais questões a serem desenvolvidas. De
acordo com o modelo dos espaços culturais da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia
(Secult-Ba), sugerimos que um dos serviços contratados seja o de comunicação, para
104
elaboração da identidade visual do espaço e de material de divulgação, físico e online, para
que o público possa conhecer sua história, funcionalidade e potencial.
Não é objetivo desse trabalho fundamentar um projeto cultural, formatar as atividades
apresentadas dentro da lógica de um edital, inclusive apresentando orçamento consistente,
pessoas responsáveis por cada ação, tempo de duração exata das atividades, perspectiva de
público etc. Indicamos essas questões de modo preliminar, a partir de indicações alcançadas
nas entrevistas e da observação da pesquisadora. No entanto, uma ressalva precisa ser feita, a
fim de que a proposta sugerida não seja tida como megalomaníaca: é sabido que as atividades
sugeridas não cabem em um único projeto, especialmente, naquele a ser encaminhado para o
edital de Dinamização de Espaços Culturais. É necessário selecionar quais ações devem ser
privilegiadas ou, ainda melhor, a Prefeitura de Senhor do Bonfim deve se responsabilizar
financeiramente por algumas etapas, visto que tal projeto, de caráter regular ao longo de seis
meses, necessitaria de um orçamento alto, não coberto pelo edital da Secult-Ba. Assim como é
necessário assumir o protagonismo cultural dentro do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho,
é fundamental que a prefeitura assuma o seu papel de agente público de fomento à cultura,
negado ao longo dos anos.
105
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho em questão traçou um diagnóstico cultural sobre o Centro Cultural Ceciliano de
Carvalho, a partir das perspectivas de gestão e usos do espaço. Em linhas gerais, observamos
que o espaço já nasceu deficitário, do ponto de vista de infraestrutura e objetivos de ação. A
realização de um evento de economia no dia posterior à abertura indica que o centro cultural já
nasce como “auditório” da prefeitura, que até então não contava com um espaço para a
realização dos seus eventos corporativos e institucionais. No entanto, a nomeação deste
equipamento como “centro cultural” – apesar de estar deslocado com as concepções de Cenni
(1991), Coelho (1997) e Milanese (1997), que indicam que um espaço como esse se
caracteriza pela reunião de produtos culturais de diversas naturezas e pelo estímulo à
formação de novos produtos e públicos, o que o espaço bonfinense não consegue atender – já
apresenta por si só um indicativo positivo. Se a prefeitura cria um equipamento para
realização de seus eventos e não o nomeia de “centro de convenções” ou mesmo “auditório
municipal”, como seria natural, preferindo o título de “centro cultural” e subtraindo o termo
“municipal” para dar lugar ao nome de um grande artista, verifica-se que ao menos no
imaginário a preocupação com a cultura existiu. Preocupação esta que talvez tenha sido
forçada a assumir, diante da organização da classe artística local, mas que, ainda assim, indica
a legitimidade daquele enquanto espaço de cultura, legitimidade esta que deve ser retomada.
O estudo se utilizou de fontes documentais, bibliográficas e, principalmente, orais. A pesquisa
de campo junto aos atores culturais da cidade permitiu a construção de um plano de ação para
o espaço, a partir de uma proposta de programação cultural regular, visto que, desde a criação,
o Centro privilegiou a ação não cultural. É real a emergência de ativar o potencial deste
centro, reinserindo Senhor do Bonfim no circuito da Produção Cultural especializada, visto
que a cidade já teve posição de destaque no estado do início do século XX à década de 1980,
com apresentação, inclusive de festival nacional de teatro.
Entre outros significados, compreende-se que diagnosticar é apresentar juízo sobre algo com
base em dados e informações obtidas por meio de “exame”. A compreensão de que o “exame”
ou análise do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho não poderia estar distanciada da
investigação do seu contexto cultural, a pesquisa conseguiu realizar o diagnóstico do
equipamento a partir da relação com a cultura bonfinense. A escolha dos artistas locais como
principais fontes de dados e informações apontou o diagnóstico para uma direção contrária à
106
análise restrita dos métodos e instrumentos utilizados na gestão do centro de cultura, caminho
este que legitimaria como sujeitos da ação apenas os gerenciadores oficiais da pasta, ou seja,
diretores, coordenadores e secretários de cultura.
Além de estar alinhado com os estudos atuais sobre organização da cultura, que toma a
participação como aspecto central para a criação de políticas, um diagnóstico pautado na
centralidade dos atores culturais do município tem a funcionalidade de apresentar perspectivas
de requalificação, visto que são estes atores quem conhecem empiricamente o funcionamento
da casa de espetáculos. Assim, visualizamos através das entrevistas não apenas “o que foi” ou
“o que é” o Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, mas também o que este equipamento pode
de fato se tornar. Ao se identificarem como criadores e recriadores cotidianos do principal
equipamento de cultura de Senhor do Bonfim, os artistas lutam para a sua permanência e se
disponibilizam para ajudar a construir um modelo para tal.
Sabemos que uma programação permanente não é condição única para a requalificação do
espaço, mas um dos caminhos para alcançá-la. Ela é proposta como ponto de partida por
existir um mecanismo estadual de fomento que incentiva esta etapa, a saber, o edital de
Dinamização de Espaços Culturais da Secult-Ba. Disponibilizar uma programação regular ao
longo de seis meses deve ampliar o impacto do espaço junto à comunidade local, fomentar o
acesso e a formação de público para a cultura. A realização de atividades formativas deve ter
local de destaque, visto que um dos dados encontrados indica que o público frequentador das
apresentações é sempre o mesmo. Nesse sentido, dispor de atividades regulares não basta, é
necessário atuar de forma mais efetiva na formação de públicos, seja de plateia ou novos
artistas. Conforme Botelho (2007), entendemos que não basta garantir o acesso da população
aos bens culturais, é necessário promover condições para que a população possa produzir
cultura, já que apoiar o “fazer” contribui significativamente para a formação de públicos.
A pesquisa de campo foi realizada de maio a julho de 2013 e, como principal dificuldade
encontrada, apontamos a falta de registro adequado das fontes documentais do município. A
cidade não possui museu ou arquivo público e a biblioteca municipal não reúne jornais antigos
ou documentos históricos, ficando a pesquisa restrita à consulta ao Memorial Senhor do
Bonfim, gerenciado por uma instituição particular de ensino. Sem apoio da prefeitura, a falta
de recursos impede que a instituição realize um trabalho de manutenção ou disponibilize
funcionários para trabalhar no espaço. Assim, o Memorial abre apenas se uma visita for
107
agendada com antecedência. Tive acesso ao espaço apenas por um dia. Nas outras tentativas,
não havia funcionário disponível para a função e, num segundo momento, a chave do local
tinha sido emprestada pela diretora. Mesmo com a aparente boa vontade da equipe, o acesso
não teve como ser concedido, visto que a única chave do espaço não foi devolvida durante o
tempo de permanência da pesquisadora na cidade. Vale identificar ainda a distância de Senhor
do Bonfim em relação a Salvador, de 6h a 7h de transporte rodoviário, como mais uma
dificuldade enfrentada. Isso impediu que as viagens fossem mais frequentes e que o tempo de
permanência na cidade do interior fosse maior, a fim de fazer uma pesquisa mais aprofundada.
As horas gastas no deslocamento, bem como na transcrição das entrevistas, de algum modo
limitou o tempo despendido para a análise, no entanto, sem prejudicá-la.
Espera-se que o diagnóstico traçado sirva a estudos futuros sobre a Produção Cultural de
Senhor do Bonfim. A escolha em disponibilizar as entrevistas em um blog, acessível a todos
os públicos, foi tomada com esse objetivo. Acreditamos que a análise do Centro Cultural
Ceciliano de Carvalho e do contexto de Senhor do Bonfim se aplica a outras cidades baianas,
portanto, o lançamento das informações em um portal online pode contribuir também para
investigações sobre organização da cultura no interior do estado, de uma forma macro.
108
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICA, DOCUMENTAL E ONLINE
ALMEIDA, Rose Mary Ferreira (org.). E tu, me amas? Encontro de leitores e enamorados
da cidade de Senhor do Bonfim. Senhor do Bonfim: Direc-28, 2001.
AQUINO, Klene Barreto de. Univasf debate projetos para o campus de Senhor do Bonfim
em evento para os candidatos eleitos no município. Univasf, Senhor do Bonfim, out. 2012.
Disponível em: < http://www.univasf.edu.br/detalhe_noticias.php?cod=1379>. Acesso em: 28
jul. 2013.
AROEIRA, Núcleo de Arte. São João da tradição? Artistas criticam sufocamento da
cultura bonfinense. Senhor do Bonfim, 2013. Disponível em:
<http://maravilhanoticias.blogspot.com.br/2013/06/sao-joao-da-tradicao-artistas-
criticam.html>. Acesso em: 02 jul. 2013.
AVELAR, Romulo. O avesso da cena: notas sobre produção e gestão cultural. Duo
Editorial, 2008.
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em: < http://producaonosertao.wordpress.com/2013/07/27/entrevista-angelica-santana/>.
SCHADE, Guegueu. Entrevista – Guegueu Schade [mai. 2013]. Músico e escritor; já
integrou o Núcleo Aroeira de Arte. Entrevistadora: Adriana Santana. Senhor do Bonfim, 2013.
1 arquivo .mp3 (82 min). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita e disponível em:
<http://producaonosertao.wordpress.com/2013/08/13/entrevista-guegueu-schade/>.
SÉRGIO, Zumar. Entrevista – Zumar Sérgio [mai. 2013]. Artista de circo e teatro; trabalha
atualmente na Secult Bonfim. Entrevistadora: Adriana Santana. Senhor do Bonfim, 2013. 1
arquivo .mp3 (36 min). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita e disponível em:
<http://producaonosertao.wordpress.com/2013/08/13/zumar-sergio/ >.
SILVA, Reginaldo Carvalho da. Entrevista – Reginaldo Carvalho [jun. 2013]. Artista de
circo e teatro; doutorando em Teatro pela UFBA. Entrevistadora: Adriana Santana. Senhor do
Bonfim, 2013. 1 arquivo .mp3 (85 min.). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita e
disponível em: <http://producaonosertao.wordpress.com/2013/08/13/reginaldo-carvalho/>.
URBANO, Ary. Entrevista – Ary Urbano [jun. 2013]. Atual secretário de cultura de Senhor
do Bonfim. Entrevistadora: Adriana Santana. Senhor do Bonfim, 2013. 1 arquivo .mp3 (30
min). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita e disponível em:
<http://producaonosertao.wordpress.com/2013/08/13/ary-urbano/>.
117
APÊNDICES
APÊNDICE A – Gestão interna: horários de funcionamento e preços de pauta
As informações sobre preços de pauta e horários de funcionamento da Secretaria Municipal de
Cultura estão afixadas no mural do Centro Cultural, no anexo onde funciona o órgão.
a) Expediente da Secult Bonfim
Horário de funcionamento: de 8h às 14h
Segunda-feira – Atendimento externo
Terça-feira – Atendimento interno
Quarta-feira – Atendimento externo
Quinta-feira – Atendimento interno
Sexta-feira – Atendimento externo
b) Valores das pautas
* Anfiteatro – Produção local
Parceria: R$ 80 ou isenção com realização de ações formativas (espetáculos gratuitos)
Taxa mínima: R$ 60
Pauta cheia – R$ 150
* Anfiteatro – Produção externa
Parceria: R$ 160 ou isenção com realização de ações formativas (espetáculos gratuitos)
Taxa mínima: R$ 160
Pauta cheia – R$ 300
118
* Sala de reuniões – Produção local
Parceria: Isenção com realização de ações formativas
Taxa: R$ 20
* Sala de reuniões – Produção externa
Parceria: Isenção com realização de ações formativas
Taxa: R$ 50
* Sala de ensaio (pauta por turno)
Parceria: Isenção com realização de ações formativas
Taxa: R$ 25
* Foyer – Produção externa
Parceria: Isenção com realização de ações formativas
Taxa: R$ 50
119
APÊNDICE B - Agendamento de pautas: janeiro a agosto de 2013
A tabela de marcação de pautas foi acessada no dia 31 de maio, na sede da Secretaria
Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim. É possível que algumas atividades tenham sido
modificadas. Sabemos, por exemplo, que a Conferência Municipal de Cultura deixou de ser
realizada no dia 20 de julho, sendo alocada no mês seguinte, em 2 de agosto.
JANEIRO
14 – Secretaria de Educação
24 – Secretaria da Fazenda (Sefaz)
26 – Universidade Estadual da Bahia (Uneb)
27 – Secretaria da Fazenda (Sefaz)
29 – Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar
FEVEREIRO
22 a 24 – Formação Trupe do Teatro
25 – Reunião da Comissão do São João
26 – Plenária da Seca
28 – Ensaio da Uneb
MARÇO
01 – Ornamentação da Uneb e da Secretaria de Educação
02 – Formatura da Uneb
03 e 04 – Jornada Pedagógica da Secretaria de Educação
05 – Parada da Polícia Militar
09 – Igreja Adventista
120
11 a 15 – Recadastramento dos funcionários da prefeitura
16 e 17 – Espetáculo “Vitamina”
22 – Embasa
ABRIL
01 a 05 – Recadastramento dos funcionários da prefeitura (RH)
06 e 07 – Terapeutas do Riso (Teatro)
08 a 12 – Recadastramento dos funcionários da prefeitura (RH)
13 – Palestra Construtora – Ceara
15 a 17 – Recadastramento dos funcionários da prefeitura (RH)
19 – Ensaio do Workdance
20 – Espetáculo (Workdance?)
26 – Parada Militar
27 – Faculdade Anhanguera
29 – Ensaio da Faculdade Anhanguera
30 – Dia da Mulher
MAIO
01 – Ensaio da Faculdade Anhanguera
02 – Semus
06 – Reunião com ambulantes (Secretaria de Indústria e Comércio)
10 – Semec
11 e 12 – Espetáculo “Professores Alucinados” (Cia do Riso)
14 a 17 – I Congresso de Enfermagem
18 – Mesa de Reunião do Colegiado Territorial de Dança
22 a 24 – Espetáculo “A Revolta dos Brinquedos”
121
28 – Formatura da Uneb
JUNHO
01 – Minuto Mulheres Adventistas
03 a 07 – Semana do Meio Ambiente (Secretaria do Meio Ambiente)
08 – Desbravadores Clube Continentes (Noite de Louvor)
10 a 13 – Oficina de Iluminação e Figurino para Dança (Funceb / Funarte)
JULHO
06 e 07 – Espetáculo “O Diabo Veste Saia”
12 e 13 – I Giro Cultural – Trupe da Saúde
20 – III Conferência Municipal de Cultura
AGOSTO
08 e 09 – Espetáculo “PI – Palavras Improvisadas”
18 – Renovação Carismática Católica
122
APÊNDICE C – Roteiro para entrevista com artistas ou produtores culturais da cidade de
Senhor do Bonfim
Data: _____/______/_______ Início: _______h Término: _______h
Nº da entrevista: ___________
Nome do (a) entrevistado (a):
Formação:
Naturalidade:
Contatos (telefone e e-mail):
1. Qual (is) grupo (s) cultural (is) você integra? Há quanto tempo?
2. Qual função exerce no grupo?
3. Possui outro tipo de trabalho (fonte de renda) além do grupo que faz parte?
4. Há quanto tempo atua no setor cultural em Senhor do Bonfim? Trace um breve
histórico da sua atuação no setor cultural em Senhor do Bonfim. Como se deu sua formação
artística?
5. Em qual (is) área (s) artística (s) atua?
( ) Dança ( ) Teatro ( ) Circo ( ) Literatura ( ) Música ( ) Artes Visuais ( ) Outro
_________________________
6. Quantas e quais outras pessoas participam do (s) grupo (s) que integra?
7. Relate um breve histórico da iniciativa que atua (como e quando surgiu, motivação
para criação do grupo, público-alvo, prêmios conquistados).
8. O grupo é registrado (possuem CNPJ)?
9. Quais as principais formas de manutenção do grupo?
( ) Recursos próprios ( ) Bilheteria ( ) Patrocínio/Apoio ( ) Editais Públicos ( ) Outras
Fontes. Quais? ____________________________________________
10. Onde costuma (m) se apresentar?
123
11. Quais as principais apresentações feitas no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho?
12. Como avalia este equipamento cultural? Quais os principais pontos positivos e
negativos do espaço?
13. Você acredita que é necessário haver uma programação mais constante no Centro
Cultural?
14. Qual tipo de programação gostaria de ver no local?
15. De que forma sua produção poderia ser incluída no programação do centro?
16. Como você avalia a frequência de público nas atividades culturais bonfinenses? Caso a
participação seja pequena, quais fatores são determinantes?
17. Como avalia a gestão da Secretaria Municipal de Cultura?
18. Existe uma aproximação dos gestores com os artistas locais?
19. Você conhece os editais de financiamento à cultura lançados pela Secult-Ba?
20. Você sabia que existe uma política de territorialização, que facilita a inscrição de
projetos do interior do estado?
21. Indica alguma pessoa para ser entrevistada para a pesquisa?
126
9. ANEXOS
ANEXO A – Hino do município de Senhor do Bonfim
Exaltação a Bonfim
Letra e música: Jairo Simões
Descanso de tropeiro
No meio do sertão
Caminho de bandeirantes
Descobrindo o nosso chão
Aqui ficaram boiadeiros
Bravos pioneiros
De laço e gibão
Em torno, a Serra do Espinhaço,
Num amistoso abraço,
Lhe dá proteção
Vila Nova da Rainha
Uma história p’ra contar
São lutas de um povo
Por tudo o que é novo
Na certeza de que vai ganhar
Salve o lavrador
Que os campos refaz
E p’ra nossa feira
Muito nos traz
Salve o comércio e a indústria
Na lida sem fim
Viva Bonfim.
138
ANEXO C - Crítica do Núcleo Aroeira de Arte ao São João 2013
“São João da tradição?” Artistas criticam sufocamento da cultura bonfinense
Autoria: Núcleo Aroeira de Arte (Associação Artística, Cultural e Educacional do Semiárido
Baiano)
A cultura unifica a nação, esta premissa básica é suficiente para a presente analise em que se
aponta a descaracterização da cultura popular nordestina especificamente o são João no
interior da Bahia. Mesmo diante da diversidade da identidade sertaneja, por exemplo,
percebemos que alguns elementos externos ultrapassam valores tradicionais com raízes
marcantes da fantástica miscigenação brasileira e que fogem aos princípios do momento
vivido.
Quando se fala em cultura, tudo ou quase tudo cabe. Porém, quando numa brincadeira infantil
gritamos “cada macaco em seu galho”, estamos querendo acordar que existe um lugar para
cada um e um momento para cada coisa. O comediante e compositor baiano, Gordurinha,
dizia que “chicletes ele iria misturar com bananas”! Mas, só quando o Tio San pegasse no
tamborim. Seguindo este raciocínio, fica a dica: não faça esta mistura de forma tão radical,
isto é um choque para uma cultura construída ao logo de tantos anos de festa e alegria
intrínseca a forma de ser do povo do nordeste brasileiro e aqui falamos especificamente do
povo baiano e bonfinense.
Será que as senhoras e senhores que dedicaram suas vidas para fortalecer e manter viva a
história cultural de Senhor do Bonfim merecem este desrespeito? Perdoem-nos os
organizadores que acreditamos não terem medido esforços para planejar, fazer uma consulta
popular com as classes e pessoas responsáveis pela tradição dos festejos juninos em Senhor do
Bonfim, gente que entenda de alimento a transporte, de hospedagem a segurança, da fé ao
divertimento.
Ironia? Claro que sim! Porque acreditamos na transformação da cultura, mas, não na
banalização e desrespeito com o esforço coletivo de um povo que vêm doando a muitos anos
suas mais profundas convicções para manter vivo a essência do forró, da roda cantada, das
bandas de calumbis, da magia do trio: triangulo, sanfona e zabumba, das luzes e brilhos dos
fogos explodindo em alvoradas, vivas a Santo Antônio, São João e São Pedro; Sem esquecer
Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Zé Anastácio e Eliziario, Neném Fogueteiro e tantos
outros mestres e mestras desta brava gente bonfinense.
Antes que digam, não se trata de ufanismo ou saudosismo caricaturado. O que provocamos
aqui é uma reflexão sobre o valor cultural e a importância para as gerações futuras de se
manter a memória dos homens e mulheres que fizeram e fazem a história de Senhor do
Bonfim.
139
Assim, se ouvirdes uníssono que desde o início de junho em Senhor do Bonfim chega de
paredão, lek-lek, pagodão, músicas eletrônicas, e todos os pacotes massificadores. Não
estamos ocultando uma face oculta do moralismo ou da censura disfarçada. O que queremos é
manter a ética, respeitando a memória dos mais velhos e garantindo a acessibilidade aos mais
novos no gigantesco terreiro da tradição cultural.
Outro lado da moeda. Ao observar o circuito cultural bonfinense na atualidade percebemos
que blocos como Jegue elétrico, Feixo de Lenha, Bico do Urubu, Me cutuca e o sfrega só para
citar os mais famosos, são opções incentivadas pela iniciativa privada e de interesse comercial
autêntico dentro do sistema capitalista vigente e que, até que se possa criar um sistema mais
coletivo e autossustentável da economia, permanecerá esta forma dominante inclusive no
campo cultural porque a economia gerada com a indústria dos divertimentos é a que mais
cresce no mundo e em Senhor do Bonfim não é diferente. Porém, para que outras opções
como calumbis, roda do palmeira, samba de lata e outras manifestações se fortaleça será
necessário a intervenção do Estado.
Mas, contudo, o Estado que tem a obrigação de garantir o direito de cada cidadão como afirma
a constituição federal no Artigo 215. “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos
direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e
a difusão das manifestações culturais”. Assim, entendemos que uma vez em que “todos são
iguais perante a lei”, é preciso garantir direitos e respeitar a diversidade. O empresário tem a
liberdade de oferecer um serviço e o público o livre arbítrio para comprar ou não o ingresso
isso é um fato! Mas, a maioria das pessoas não são obrigadas a ouvirem e dançarem no mesmo
compasso capitalista imposto dentro desta logica: coma, beba, dance e dance! Por tanto o
poder público tem a obrigação de respeitar e fazer cumprir a lei.
ANEXO D – Crítica do ex-prefeito Paulo Machado ao São João 2013
O São João de Senhor do Bonfim e os pecados mortais do governo Correia Autoria: Paulo Machado (vice-prefeito de Senhor do Bonfim entre 2001 e 2008; prefeito entre
2009 e 2012).
Lembro-me de ter lido, em uma cartilha escolar, que o gato foi convidado pela “amiga” onça a
ensinar-lhe os pulos que ele, gato, conhecia como ninguém. Depois de uma longa aula, a onça,
muito sabida, deu um pulo para abocanhar o gato, mas este se safou rapidamente e deixou a
onça a ver navios. Esta, julgando-se enganada, disse ao gato: “Mas este tipo de pulo você não
me ensinou”. O bichano, muito vivo, retrucou: “E eu iria te ensinar o meu pulo? Se tivesse
ensinado você me teria comido agora”. Daí, passou para a nossa cultura, a idéia do “pulo do
gato”, uma referência a um saber que só a pessoa tem e guarda para si como defesa”.
Poderíamos agora, levados pela mesma lógica, abstermo-nos de passar para a assessoria do
atual prefeito “o pulo do gato”, fruto de nossa experiência como vice-prefeito e secretário da
educação durante oito anos, e como prefeito durante quatro anos. Almejando contudo o
melhor para nossa terra, passo agora, em nossa avaliação, os furos que levaram ao último e
sofrível São João, para que, quem sabe, caso haja humildade em quem governa, se faça em
140
2014 o São João que este ano não tivemos. Daí, elencamos aqueles que consideramos os
“pecados mortais” da equipe governante:
1. A dispensa de pessoas técnicas, que vinham fazendo o São João havia anos, e sabiam de cor
os passos a serem dados, até mesmo na arrumação da grade e desenrolar do palco. Por que não
ouvir Edneuton, Ebão, Moreira, Fernando Coelho? Um São João não pode ser entregue a uma
equipe toda nova, sem a presença de técnicos experientes;
2. No afã de “fazer diferente”, o governo rejeitou tudo aquilo que vinha sendo feito havia anos
e garantia sucesso. Iniciativas que já tinham virado tradição, bastando ao governo atual dar ali
o seu toque inovador. A morte do São João nos Bairros, que começava ainda em maio... A
morte do forrobodó, que tornava a cidade borbulhante desde o meio-dia... A dificuldade em se
fazer a Feira da Agricultura Familiar, trazendo a zona rural para dar o verdadeiro toque típico
ao nosso São João... Tudo isto contribuiu ao enfraquecimento da festa;
3. O desconhecimento de que precisamos aproveitar a mobilidade popular, onde o povo está,
para ali fazer chegar a festa. O povo já se reunia, naturalmente, no abrigo, em frente às Lojas
Maia, na Benjamim Constant até a Praça Nova: artesanato, comida típica, mesas e cadeiras,
bares, a praça, e era só levar a música e o palco. Esta foi a grande sacada de Luis Moreira e
Fernando Coelho em nosso governo. A coisa deu tão certo, que muita gente não ia nem ao
Parque, ficando por ali, e tínhamos de encerrar as atrações cedo para não atrapalhar o Parque
da Cidade. Um Palco em uma deserta Praça Nova, outro em uma área comercial deserta atrás
dos correios, o isolamento de áreas onde o povo freqüenta, o que era de se esperar? O vazio e
o desânimo.
4. O imediatismo das contratações de peso: contratávamos as atrações, com os empresários
diretos, já em janeiro/fevereiro. E pagávamos em parcelas, desde fevereiro/março. Quando
chegávamos em junho nada mais devíamos às grandes atrações, que estavam garantidas.
Querer pagar de vez ou em curto tempo as atrações contratadas é suicídio em uma prefeitura,
hoje em dia, onde o dinheiro chega a conta-gotas.
Taí uma parte do pulo do gato. A outra parte? Esta é melhor não ensinar... rs rs.
141
ANEXO E – Convite de inauguração do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho
O documento faz parte do acervo do Memorial Senhor do Bonfim e foi fotografado no dia 29
de maio de 2013.
142
ANEXO F - Regimento Interno do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho
REGIMENTO INTERNO CENTRO CULTURAL CECILIANO DE CARVALHO
Centro Cultural Ceciliano de Carvalho
Endereço: Avenida ACM, s/n, Senhor do Bomfim/ BA.
Telefone: (74) 3541-8309
143
CAPÍTULO I
DA FINALIDADE E COMPETÊNCIA
Art. 1º - O Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, visa proporcionar
efetivas condições para o exercício da cidadania cultural a todos os
bonfinenses, estabelecendo novos mecanismos de gestão pública das
políticas culturais e cria instâncias de efetiva participação de todos os
segmentos sociais atuantes no meio cultural, compreendido em seu
sentido mais amplo.
Parágrafo Único - Para a consecução dos fins previstos neste artigo, o
Centro Cultural Ceciliano de Carvalho da Secretaria Municipal de Senhor
do Bonfim, tem como objetivos:
I - Estabelecer e implementar políticas de longo prazo, em consonância
com as necessidades e aspirações da comunidade bonfinense;
II - consolidar um sistema público municipal de gestão cultural, com ampla
participação e transparência nas ações públicas, através de parcerias com
pessoas jurídicas de direito público ou privado, sempre na busca da
preservação e manutenção do patrimônio histórico, artístico e Cultural da
Cidade de Senhor do Bonfim, implantando novos instrumentos
institucionais, como cadastro cultural do Município de Senhor do Bonfim,
Fundo Municipal de Cultura (FMC), e posterior elaboração da proposta
anual do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho;
III - mobilizar a sociedade, mediante a adoção de mecanismos que lhe
permitam, por meio da ação comunitária, definir prioridades e assumir co-
responsabilidades no desenvolvimento e na sustentação das
manifestações e projetos culturais;
IV - democratizar o acesso aos bens culturais e o direito à sua fruição,
através da ampliação da oferta desses bens e da descentralização das
ações culturais do Município, estendendo o espaço do Centro Cultural a
toda municipalidade;
144
V - fortalecer as identidades locais, através da promoção e do incentivo à
criação, produção, pesquisa, difusão e preservação das manifestações
culturais, nos vários campos da cultura, de modo a renovar a auto-estima
da população, fortalecer seus vínculos com a cidade, estimular atitudes
críticas e cidadãs proporcionando prazer e conhecimento;
VI - colaborar com as organizações já existentes para sua consolidação;
VII - estimular a organização e a sustentabilidade de grupos, associações,
cooperativas e outras entidades de classe atuantes na área cultural;
VIII - divulgar e preservar o patrimônio cultural do Município e da
Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim, Bahia a memória,
material e imaterial, da comunidade bonfinense;
IX - garantir continuidade aos projetos culturais já consolidados com
notório reconhecimento da comunidade;
X - assegurar a centralidade da cultura no conjunto das políticas locais,
reconhecendo o Município como o território onde se traduz os princípios
da diversidade e multiplicidade cultural estimulando uma visão local que
equilibre o tradicional e o moderno numa percepção dinâmica da cultura.
Art. 2º Compete ao Centro Cultural Ceciliano de Carvalho da Secretaria
Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim, Bahia:
I - divulgar a realidade cultural do Município, através dos seus diversos
artistas, esportistas, produtores, técnicos, usuários, profissionais, bem
como grupos, entidades e equipamentos culturais existentes;
II - estimular a participação de grupos de coral, emergentes, comunitários,
estudantil, universitários, autores, recém formados, e todo grupo cultural
organizado, criadores e protagonistas do cenário cultural de Senhor do
Bonfim, para aquisição de apoio logístico objetivando realizar eventos
culturais.
III – viabilizar através de parcerias e sem ônus para a Secretaria Municipal
de Cultura de Senhor do Bonfim, a divulgação da produção cultural local
através da contratação e serviços de entidades cultural, esportiva e de
145
turismo;
IV - difundir a produção e o patrimônio cultural do Município, facilitando o
acesso ao seu espaço, de forma a potencializar e dinamizar a cadeia
produtiva;
V – fomentar no âmbito municipal as atividades culturais nas suas diversas
áreas;
VI - habilitar seus integrantes a participar dos fóruns deliberativos, nas
diversas instâncias, dentro dos princípios Municipais de Cultura;
VII – identificar nas suas diversas áreas fontes de financiamento para as
atividades culturais.
CAPÍTULO II
DA ORGANIZAÇÃO
Art. 3º - O Centro Cultural Ceciliano de Carvalho da Secretaria Municipal
de Cultura de Senhor do Bonfim, Bahia será administrada da seguinte
forma:
I - O Centro Cultural Ceciliano de Carvalho será administrado pelo Diretor
de Arquivo, Museus e Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico, ora
denominado, Gestor Legislativo Cultural, por indicação do Secretário
Municipal de Cultura com mandato de 02(dois) anos podendo ser
prorrogado por mais 02(dois) anos. Em caso de exoneração do mesmo,
fica responsável por tempo indeterminado o Assessor Chefe do Secretário
Municipal de Cultura em exercício, até que um novo Diretor de Arquivo,
Museus e Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico seja definido.
No caso de exoneração do Assessor Chefe, fica responsável o Diretor de
Políticas, Atividades e Eventos Culturais em exercício.
ATRIBUIÇÃO E COMPETÊNCIA DO GESTOR LEGISLATIVO
Art. 4º - São atribuições e competências do Gestor Legislativo Municipal:
I – Representar perante o Poder Legislativo Municipal os assuntos
referentes a gestão cultural;
146
II – Estabelecer diretrizes e propor normas para as políticas culturais do
Centro Cultural Ceciliano de Carvalho;
III – Apresentar, discutir e elaborar pareceres sobre projetos referentes à
produção, ao acesso aos bens culturais e à difusão das manifestações
culturais da cidade de Salvador, através da Secretaria Municipal de
Cultura;
IV – Estimular a democratização do espaço cultural e atividades de
produção, formação e difusão culturais, visando garantir a cidadania como
direito de acesso e fruição dos bens culturais, de produção e de
preservação das memória histórica, social, política, artística, paisagística e
ambiental através da Secretaria Municipal de Cultura;
V – Estabelecer condições que garantam a continuidade dos projetos
culturais que fortaleçam as identidades locais;
VI – Responder consultas sobre questões normativas relacionadas às
políticas culturais da Secretaria Municipal de Cultura;
VII – Fiscalizar as ações relativas ao cumprimento das políticas culturais da
Secretaria Municipal de Cultura, pelos órgãos públicos de natureza
cultural, na forma de seu Regimento.
VIII - Avaliar a estrutura e o funcionamento do Centro Cultural Ceciliano
de Carvalho, baseado em relatórios elaborado pelo Coordenador Técnico
Cultural, podendo apresentar alterações, quando necessárias;
IX - Avaliar a execução das diretrizes e prioridades da utilização do espaço
do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho;
X- Debater e pré-aprovar propostas de reformulação do Regimento
Interno do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, e posterior
encaminhamento a Secretaria Municipal de Cultura;
XI - Estimular a criação de instrumentos para o fortalecimento das
atividades culturais, zelando pelo Patrimônio Cultural, material e
imaterial, e sua diversidade, nos termos da lei Municipal
Capitulo III
147
DA UTILIZAÇÃO DO ESPAÇO DO CENTRO CULTURAL CECILIANO DE
CARVALHO
Art. 5º - O Centro Cultural Ceciliano de Carvalho da Secretaria Municipal
de Cultura de Senhor do Bonfim, Bahia, localizado na Avenida ACM, s/n,
Senhor do Bonfim, BA, CEP 48-970-000, tem por finalidade ser utilizado
para atividades e apresentações culturais de interesse coletivo,
especificada nos seguintes termos:
I- Arte a) Artes visuais;
b) Música;
c) Artesanato e Artes aplicadas;
d) Artes cênicas;
e) Literatura;
f) Culturas urbanas;
g) Audiovisual; h)
Artes digitais; i)
Arte educação;
j) Agente cultural;
k) Produção cultural.
II- Patrimônio Cultural a) Comunidades tradicionais;
b) Tradições populares
c) Culturas ayahuasqueiras;
d) Culturas afro-brasileiras em diversas manifestações;
e) Culturas populares;
f) Arquivos, museus, salas de memória, centros culturais e coleções
particulares;
g) Historiografia acreana, incluindo produções de outros campos de
conhecimento: hemerografia, antropologia, geografia, sociologia etc.;
h) Patrimônio material;
i) Patrimônio imaterial;
j) Turismo;
148
k) Jornalismo;
l) Movimentos sociais.
Art. 6º - A programação das atividades do Centro Cultural terá inicio às 8h
e encerrará às 23h.
Art. 7º - A data para realização de atividades culturais agendadas estarão
sujeita a alterações por motivo de recesso, ponto facultativo ou
necessidade de caráter extraordinário do Legislativo com devido aviso
prévio.
I - O horário disponibilizado para ensaio, ao longo da temporada será das
8h até as 23h as quartas e sextas-feiras;
II - O espaço do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho será disponibilizado
através de prévio agendamento e desde que seja quitada 24h(vinte e
quatro horas) antes do evento, a Taxa de Administração e Manutenção do
Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, obedecendo à ordem cronológica
da solicitação. O correndo desistência de qualquer ordem ou
impossibilidade de cumprimento por parte do solicitante será convocado
imediatamente o subseqüente, sem direito a devolução de valores já
pagos pela Taxa de Administração.
III - A duração de cada atividade não será menor que 30 minutos nem
superior a 4h (quatro horas).
IV - Ocorrendo atividade no turno noturno fica estabelecido o horário de
22h para encerramento do espetáculo e 22h30m para entrega do espaço.
V - Não será permitido a permanência de cenários ou quaisquer
elementos cênicos nas dependências do Centro Cultural Ceciliano de
Carvalho estando incluso no horário para entrega do espaço constantes no
item IV o tempo da desmontagem sob pena de cancelamento da reserva.
VI - As apresentações terão tolerância máxima de 15(quinze minutos) para
seu começo devendo ser iniciada com qualquer número de público.
VII – Ao ser solicitado, através dos formulários específicos fornecidos pelo
Gestor Legislativo Municipal, é terminantemente proibido no Centro
Cultural Ceciliano de Carvalho, o recebimento de moeda corrente do país
149
ou estrangeira para pagamento dos eventos que serão apresentados no
local. O mesmo será efetuado através de um DAM( Documento de
Arrecadação Municipal) fornecido pela Prefeitura Municipal de Senhor do
Bonfim, na data de assinatura do Termo de Compromisso de Uso.
Permite-se em determinados casos, o recolhimento de
gêneros alimentícios como valor da taxa de aluguel, para
posterior entrega a entidades filantrópicas.
VIII - Os usuários serão responsáveis pela manutenção dos espaços
devendo ao final entregá-lo como encontraram sob pena de arcarem com
os danos e prejuízos ocorridos durante a utilização do local.
IX – A Taxa de Administração e Manutenção tem como intuito garantir: o
Termo de Permissão de Uso do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho e a
manutenção do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho. O valor da Taxa de
Administração e Manutenção será definida no Termo de Permissão de Uso
do Centro e terá valor definido de acordo com a dimensão do evento a ser
solicitado.
DAS CONDIÇÕES DO ESPAÇO DO CENTRO CULTURAL CECILIANO DE
CARVALHO
Art. 8º - O Teatro do Centro Cultural conta com os seguintes
equipamentos em perfeito estado de uso:
I - Mesa de áudio Behring MX244A (uma unidade);
II - Microfone dinâmico Superlux Pro 248 (oito unidades);
III - Microfone sem fio UHF JTS VF901/950. (duas unidades);
IV – Toca disco de CD TEAC CD 1250 (uma unidade);
V - Gravador Cassete TEAC W790R (uma unidade);
VI – Fone de ouvido senheizer HD437 (uma unidade);
VII – Direct Box Behring DI100, cabo de 10m XLR (uma unidade);
VIII - Pedestal de mesa para microfone Visão PS36(quatro unidades);
IX - Equalizador Sterio de 31 bandas Ciclotron CGC 2312S (três unidades);
X - Amplificador Sterio 300W RMS Markaudi MK40000 (duas unidades);
XI- Amplificador Sterio 550 RMS Markaudi MK8000(uma unidade);
XII- Amplificador Mono 100W RMS Hayonik GG2500(uma unidade);
XIII- Arandela com alto-falante de oito polegadas Staner Contract 25(três
150
unidades);
XIV -Rack metálico pintura pó para dezoito unidades padrão Rack(uma
unidade);
XV- Multicabo de dezenove vias com meduza, com conectoresXLR fêmeas
e conectores macho XLR para ligação de 50m de comprimento(uma
unidade);
XVI- Caixa Acústica para lateral de palco Attac A590TP (duas unidades);
XVII - Caixa Acústica monitor de palco Attac MVA480 (quatro unidades);
XIX - Fiação para as caixas acústicas, todos os cabos com 2,5 mm2
polarizados de acordo com o projeto de ligações;
XX- Mesa de iluminação Tango 24 ADB ;
XXI - A altura do teatro: aproximadamente 5m;
XXIV - Dimensões de palco: 6,63 x 4,02m;
XXII - Capacidade: 150 lugares;
XXIII- Quatro ar-condicionados da marca...
Art. 9º - O Centro Cultural Ceciliano de Carvalho disponibiliza projetor,
tela e reprodutor de DVD para projeções de cinema mediante solicitação
prévia com antecedência mínima 72 horas junto ao Gestor Legislativo
Cultural.
Art. 10 - Os solicitantes terão acesso ao som e luz, mas não será
disponibilizado nenhuma espécie de recursos humanos (técnicos de som,
iluminação, cenografia, etc). Os grupos deverão trazer profissionais
especializados para manusear os equipamentos da Casa.
Art. 11 - Os equipamentos do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho
cedidos aos selecionados para uso em suas atividades são de
responsabilidade do solicitante, ficando ao seu encargo a responsabilidade
de ressarcimento à da Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do
Bonfim por eventual dano provocado.
DAS SOLICITAÇÕES E DO PRAZO
Art. 12 - As solicitações do espaço do Centro Cultural Ceciliano de
Carvalho serão feitas mediante ofício ou pela internet, através do e-mail
[email protected], com preenchimento de formulário específico
constante no site da Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim,
151
Bahia.
Art. 13 - As solicitações deverão estar adequadas à rotina de programação
do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, nos termos deste Regimento
Interno e da Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim, Bahia.
Art. 14 - As solicitações deverão estar adequadas à rotina da segurança da
Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim.
Art. 15 - O Centro Cultural Ceciliano de Carvalho poderá solicitar dos
requerentes as informações que julgar necessárias.
Art. 16 - Os solicitantes deverão apresentar cópias dos documentos
específicos solicitados por ocasião do agendamento dos eventos junto ao
Gestor Legislativo Cultural, especialmente os documentos referentes às
cedências de direitos autorais, no caso de apresentação de teatro infantil
e adulto ou recibos de pagamentos de direitos autorais junto ao ECAD,
para o caso de uso de músicas, nos termos da lei.
Art. 17 - Por ocasião da reserva do espaço será assinado o Termo de
Compromisso de Uso com a Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do
Bonfim.
Art. 18 - Será permitida a título de contribuição a doação de alimentos
para posterior entrega a entidades filantrópicas.
Art. 19 - A Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim não
arcará com custos referentes ao período de montagem do espetáculo,
produção de CD, DVD, produção de filmes e de livros (edição, publicação e
distribuição).
DA AVALIAÇÃO DAS SOLICITAÇÕES
Art. 20 - As solicitações para reserva do espaço para cujo objetivo seja a
exploração de obras imaterial de terceiros, serão avaliados pelo Centro
Cultural da Ceciliano de Carvalho, observados os critérios de qualidade do
conteúdo artístico, da inedicidade, além da aceitação da gratuidade
financeira para execução do projeto do espetáculo artístico.
DOS CRITÉRIOS DE JULGAMENTO DAS SOLICITAÇÕES
152
Art. 21 - As solicitações de reserva do espaço serão apreciadas
considerando-se:
a) qualidade artístico-cultural;
b) a relevância artístico-cultural para a cidade;
c) a abrangência cultural e social do evento;
d) a permanência e o desempenho da solicitação, caso exista fator de
encaminhamento histórico na Cidade;
e) a originalidade do evento;
f) expectativa de público;
g) adequação do evento ao espaço disponível;
h) racionalização do uso do espaço em vista das demais programações.
DO PROCESSO DE SELEÇÃO DAS SOLICITAÇÕES
Art. 22 - O Centro Cultural Ceciliano de Carvalho, através de sua assessoria
e do Gestor Legislativo Cultural selecionará as solicitações com base nos
critérios constantes no art. 21.
Art. 23 - Após avaliação das solicitações, estas serão agendadas junto a
administração do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho e disponibilizadas
no site da Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim.
Art. 24 - Serão indicadas, em ordem cronológica, duas solicitações
suplentes que poderão ser contempladas mediante a desistência da
selecionada.
Art. 25 - Caso haja necessidade, o solicitante poderá ser convocado, em
data e horário específico, para prestar esclarecimentos sobre a solicitação.
DAS OBRIGAÇÕES DO TITULAR DA SOLICITAÇÃO DEFERIDA
Art. 26 - Assinar o “Termo de Permissão de Uso do Centro Cultural
Ceciliano de Carvalho”.
Art. 27 - Assinar o Termo de Assunção de Responsabilidade sobre a
questão de direitos autorais.
DOS RESULTADOS
153
Art. 28 - As respostas das solicitações será lavrada em ata da qual
constará:
a) os critérios de seleção;
b) a lista das solicitações selecionadas, acompanhadas do nome da pessoa
solicitante, pessoa física ou privada, do respectivo responsável, tipo de
evento, data e hora conferida;
c) duas solicitações suplentes que contribuam para o evento.
Art. 29 - O resultado das solicitações será tornado publico através do site
da Secretaria Municipal de Cultura de Senhor do Bonfim, Bahia e
comunicada por e-mail ao solicitante.
CAPITULO IV
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 52 - A Lei Municipal de Incentivo à Cultura, ao Desporto, Preservação
e Manutenção do Patrimônio Histórico e Cultural do Município de
Salvador, bem como outros mecanismos de gestão das políticas públicas
culturais constituem instrumentos do Centro Cultural Ceciliano de
Carvalho, estando sujeitos às mesmas regulamentações.
Art. 53 - O presente Regimento deverá será regulamentado pelo
Secretário Municipal de Cultura da Secretaria Municipal de Cultura,
constituindo normas da Política Cultural do Legislativo Municipal de
Senhor do Bonfim, e entrará em vigor na data de sua publicação, revogada
as disposições em contrário.
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 54 - O ato de inscrição implicará por parte dos interessados na
aceitação das normas constantes do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho.
Art. 55 - É facultado ao proponente a captação de recursos necessários
(patrocínio) para a viabilização de evento, desde que seja quitada
24h(vinte e quatro horas) antes do evento, a Taxa de Administração e
Manutenção do Centro Cultural Ceciliano de Carvalho.
154
Art. 56 - Os casos omissos serão deliberados pelo Gestor Legislativo do
Centro Cultural Ceciliano de Carvalho ouvido o Secretário Municipal de
Cultura, ou, em sua falta pelo Assessor Chefe.
Senhor do Bonfim, 5 de Janeiro de 2013.
Arinaldo Urbano da Costa
Secretário Municipal de Cultura
André Luís de Oliveira Miranda
Assessor Chefe da Secretaria Municipal de Cultura
Nome
Diretor de Arquivo, Museus e Preservação do
Patrimônio Histórico e Artístico (Gestor
Legislativo Cultural)
Carla Lidiane P. Silva
Diretora de Políticas, Atividades e Eventos Culturais
155
ANEXO G – Rider técnico do Centro de Cultura João Gilberto (Juazeiro)
RIDER TÉCNICO
Centro de Cultura João Gilberto
Localização
Rua José Petitinga, S/N – Bairro Stº Antonio – Juazeiro - BA
Tel/Fax (74) 3611- 4322
E-mails: [email protected] / [email protected]
Capacidade 307 lugares (teatro interno)
1500 lugares arquibancada (teatro de arena)
Pessoal de apoio 01 bilheteiro
01 técnico de luz 01 técnico de som 01 técnico de manutenção
Ar condicionado
Sistema que permite a refrigeração do teatro mesmo quando lotado.
Palco
Proscênio
Altura: 7,50m
156
Largura: 8,80m
Profundidade: 4,65m
Caixa
Altura: 6,50m
Largura: 8,80m
Profundidade: 6,75m
Boca de cena
Altura: 7,50m
Largura: 8,40m
Profundidade: 4,65m
Outras medidas e informações Coxia: 80 cm Rotunda completa em todo o palco (caixa), tamanho total da rotunda:
16,80m Altura do palco até o solo: 0,80cm
Sala 01: 7.30m X 10.0m Sala 02: 7.30m X 10.0m Sala 03: 9,70m X 9.70m
Não tem iluminação cênica no teatro de arena
Equipamentos de sonorização e audiovisual
Quantidade Equipamento Marca Modelo
01 Mesa de Som Ciclotron CSM 24.4 SA8
04 Caixa P.A (Ativo) Leás’s Leás’s Vip 1000
Plus,
2 Alto falante de
15”
Drive de titânio
1”.
04 Monitor (Passivo) Oneal Oneal OBM 2020
Alto falante de
157
15’e corneta 1’
02 Equalizador Berhinger Berhinger
Utragraph Pro -
FBQ 31 Banda.
02 Amplificador Oneal Oneal Op Série
5.500
04 Microfone c/Fio Sennheiser Sennheiser
E 815 S
03 Direct Box
(Passivo)
CSR CSR-DBP 600Ohm
04 Pedestal RMV RMV Girafa
Articulável
+
01 CSR Mesa
Articulável.
01 Rack Light Lexsen Lexsen Pc 801
01 Meduza (Fixa) Santo Angêlo 28 Canais XLR
01 Autotransformador Nordeste Nordeste
220v/110v-8000w
01 Aparelho de DVD Blu Ray Blu Ray Player
DBR 750
01 Aparelho de DVD Gradiente Gradiente D-203
01 Projetor Multimídia LG LG-DBL 2.500
Ansi Lumens
01 Projetor Multimídia Optomar Optomar Ex 536
DBL 2.500Ansi
Lumens
Equipamentos de iluminação cênica
Quantidade Equipamento Marca Modelo
158
01 Mesa de Luz
(Digital)
ETC Element 40 Feders/250
Canais
20 Projetor PAR 64 Mecalux Foco 05 (MFL)
1.000w/220v
13
Projetor PAR 64 Mecalux Foco 02 (NSP)
1.000w/220v
15 Projetor PAR 64 Mecalux Foco 01 (VNSP)
1.000w/220v
12 Projetor PC
(Plano Convexo)
Telem TM 3011
1.000w/220v
08 Projetor Fresnel Telem TM 3810
1.000w/220v
04 Projetor Ciclorama Telem TM 9910
1.000w/220v
03 Dimmer CBI Iluminação
Material Cenográfico
07 Faixa Linóleo Rosco 1.60m(Largura)
4.80m (Comp)
Informações gerais
A montagem deverá ser feita preferencialmente no dia do evento, a partir das 9h ou 13h. Caso a produção apresente alguma especificidade e requeira outros horários, os ajustes deverão ser acordados previamente com a
coordenação do espaço;
Todo material cênico terá acesso pela porta lateral do palco;
O teatro não fornece carregadores. A montagem, desmontagem, instalação de cenário e a operação da luz e som deverão ser realizadas por técnicos contratados pela produção do evento, cabendo à equipe técnica do espaço
cultural a supervisão, auxílio e acompanhamento;
159
Para ter acesso à cabine ou ao palco é obrigatório o uso de sapato fechado e camisa;
Materiais de consumo tais como gelatina, gobo, pilha para microfone, fita de linóleo, líquido para máquina de fumaça, entre outros, serão de
responsabilidade da produção do evento;
Não é permitido o uso de produtos químicos no palco bem como a fixação de
pregos e grampos ou qualquer outro tipo de material no piso, teto, paredes e vestimentas cênicas;
Fios, cabos e outros materiais cenográficos utilizados no palco devem ser presos com fitas específicas, evitando acidentes com os usuários.
Não será permitida a instalação elétrica nas varas utilizadas para uso de vestimenta cênica;
A desmontagem deverá ser feita logo após o evento ou a última sessão, no caso de temporada e terminar até as 22h. Caso um evento, uma montagem ou desmontagem ultrapasse o horário das 22h, a produção deverá se
responsabilizar pelo transporte, com segurança e comodidade, dos funcionários do espaço em serviço;
Corrente elétrica de 220 v.
160
ANEXO H - Instrução Normativa nº 001/2013
Instrução Normativa nº 001/2013
Estabelece critérios e procedimentos para a utilização dos espaços culturais sob a
gestão da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia – SECULT e dá outras
providências.
O SECRETÁRIO DE CULTURA DO ESTADO DA BAHIA, no uso das atribuições
legais, tendo em vista o disposto nos art. 43 e 48 Lei Estadual nº 9.433, de 1º de março de 2005, nos
arts. 84 a 86 da Lei Estadual nº 12.212, de 04 de maio de 2011, e no Processo Administrativo no
0606120021660,
Considerando que os espaços culturais sob a gestão da SECULT devem servir como locais
de criação, intercâmbio e qualificação de criadores culturais, bem como de difusão e circulação da
produção cultural nacional e internacional, estimulando o potencial criativo de indivíduos e grupos
do estado da Bahia;
Considerando que esses espaços devem apoiar o desenvolvimento de ações formativas no
campo da cultura, valorizar a cultura local e contribuir para a formação dos cidadãos;
Considerando que esses espaços devem servir como locais de referência cultural para os
territórios nos quais estão inseridos, propiciando, às comunidades locais e adjacentes, o acesso à
produção cultural, ao lazer e ao entretenimento; e
Considerando que esses espaços devem estimular a participação local, estabelecendo,
permanentemente, o intercâmbio com a comunidade, sociedade civil e órgãos públicos nos processos
de gestão do espaço e em sua programação cultural;
RESOLVE:
Art. 1o
- Os espaços culturais sob a gestão da Secretaria de Cultura - SECULT poderão
ser utilizados para atividades e usos específicos e transitórios, a título precário, mediante
remuneração ou com imposição de encargos.
Parágrafo Primeiro - Para os fins desta norma, entende-se por espaços culturais as áreas e
os imóveis públicos destinados às atividades culturais ou que permitam a sua realização sem
prejuízo da sua finalidade precípua.
Parágrafo Segundo - Aplicar-se-ão as disposições previstas nesta norma, exclusivamente,
aos espaços culturais administrados pela Superintendência de Desenvolvimento Territorial da
Cultura - SUDECULT, através da Diretoria de Espaços Culturais, e pelo Centro de Culturas
Populares e Identitárias – CCPI.
Art. 2
o - Os espaços culturais serão destinados à realização de atividades,
161
preferencialmente, de natureza cultural, e de curta duração, com prazo máximo contínuo de até 03
(três) meses, prorrogável por igual período, uma única vez.
Parágrafo Primeiro - Admitir-se-á também nos espaços culturais a realização de
atividades de natureza educacional e social, de natureza institucional e de natureza corporativa na
forma estabelecida nos Regulamentos de Uso e Funcionamento dos Espaços Culturais da SECULT,
que constituem o Anexo I desta Instrução.
Parágrafo Segundo – A realização de atividades de natureza corporativa está
condicionada ao exame prévio de sua compatibilidade com o interesse público do uso do espaço
cultural.
Art. 3º - O uso dos espaços culturais por prazo contínuo superior ao previsto no art. 2º
desta Instrução poderá ser outorgado mediante concessão, permissão ou cessão de uso, segundo o
caso, na forma prevista nos artigos 43 a 48 da Lei Estadual nº 9.433/2005.
Art. 4
o - É expressamente vedada a utilização dos espaços culturais para a realização
de atividades:
I - de pregação religiosa, como culto, cerimônia, entre outras;
II - que no seu conteúdo evidenciem qualquer tipo de preconceito ou discriminação;
III - que possam causar impactos negativos à saúde e à integridade física e psicológica das
pessoas, bem como ao meio-ambiente;
IV - de cunho político-partidário, respeitadas as exceções previstas na Lei Federal no
9.504/97 (art. 8º, § 2º);
V - caracterizadas como eventos particulares, a exemplo de casamentos, aniversários,
velórios, entre outros.
Art. 5
o - A utilização dos espaços culturais perfar-se-á mediante reserva de sua pauta,
com remuneração ou imposição de encargos, e dependerá de autorização específica, identificada
nesta Instrução como “autorização de uso de pauta”.
Art. 6
o - A Secretaria de Cultura publicará, em Portaria específica, os valores da
remuneração fixados para o uso dos espaços culturais.
Parágrafo Único - A utilização dos espaços culturais poderá ser gratuita, mediante
imposição de encargos, no caso de atividades que atendam aos critérios do Programa de Gratuidade
dos Espaços Culturais da SECULT ou que sejam realizadas diretamente pela Administração Pública
Federal, Estadual e Municipal.
Art. 7
o - A utilização dos espaços culturais deverá obedecer às normas de uso e
funcionamento constantes nos Regulamentos que integram o Anexo I desta Instrução Normativa.
Art. 8
o - O interessado, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, deverá
requerer a autorização de uso de pauta do espaço cultural através de formulário padrão que constitui
o Anexo II desta Instrução.
162
Art. 9º - A avaliação do requerimento será procedida pela Diretoria de Espaços
Culturais ou pelo Centro de Culturas Populares e Identitárias, com base nos critérios
estabelecidos pelos referidos órgãos, observadas as normas previstas nesta Instrução e as
diretrizes da política cultural do Estado.
Art. 10 - A autorização de uso de pauta dos espaços culturais será outorgada por ato
administrativo do Diretor de Espaços Culturais e do Coordenador do Centro de Culturas Populares e
Identitárias, no qual constará a identificação do espaço cultural, do autorizado, do evento, do
período de realização e do valor da remuneração e/ou descrição dos encargos.
Parágrafo Único - As autorizações de uso de pauta dos espaços culturais serão
divulgadas, mediante boletim mensal, no sítio eletrônico da SECULT: www.cultura.ba.gov.br.
Art. 11 - Após a autorização de uso de pauta, o interessado deverá firmar Termo de
Compromisso e Responsabilidade que constitui o Anexo III desta Instrução, condição necessária
para utilização do espaço.
Art. 12 - O descumprimento das normas previstas nos Termo de Compromisso e
Responsabilidade, a que se refere o artigo 11 desta Instrução, resultará na suspensão do
autorizado, pelo prazo de 03 (três) meses, do uso dos espaços culturais geridos pela SECULT, sem
prejuízo da responsabilização nas esferas penal, civil e administrativa.
Art. 13 - Ao Forte de Santo Antônio Além do Carmo se aplicam as normas e
procedimentos estabelecidos nesta Instrução Normativa, respeitadas as condições previstas
no instrumento de outorga de uso celebrado entre a União Federal e o Estado da Bahia (contrato
de cessão de uso – processo nº 1058.002867/91-81).
Parágrafo Único – A finalidade de uso do Forte é o funcionamento do Centro Popular
que visa implementar o desenvolvimento de atividades voltadas para o fazer artístico-cultural de
origem popular.
Art. 14 - Os Anexos mencionados nesta Instrução Normativa estão disponíveis no
sítio eletrônico da SECULT: www.cultura.ba.gov.br.
Art. 15 – Os casos omissos serão resolvidos pelo Secretário de Cultura, devendo ser
consultada a Procuradoria Geral do Estado (PGE) quando se tratar de matéria jurídica.
Art. 16 - Esta Instrução Normativa entra em vigor na data de sua publicação.
SECRETÁRIO DE CULTURA
174
ANEXO J - Termo de Compromisso e Responsabilidade
TERMO DE COMPROMISSO E RESPONSABILIDADE
PELO USO DE ESPAÇO CULTURAL
(ANEXO III da Instrução Normativa no 001/2013)
(nome da pessoa física ou jurídica), domiciliado ou sediado na endereço, CPF ou CNPJ n°xxxxxxxx, neste ato representado por (no caso de pessoa jurídica), CPF n° xxxxxxxx, doravante denominado COMPROMISSADO, de acordo com o previsto na Instrução Normativa n
o 001/2013 e com base no
Pedido de Pauta no xxxxx, firma o presente Termo, nas seguintes condições:
1. O presente Termo tem por objeto a utilização, pelo COMPROMISSADO, do/a (digitar o nome das dependências solicitadas) do/a (nome do espaço cultural), situado em xxxxx (BA), para a realização exclusiva da atividade: xxxx, no(s) dia(s) xxxxx a xxxx, das xxxxx às xxxx, do mês de xxxx de xxxxx, bem como para montagem de luz, som e cenário no(s) dia(s) xxxx, das xxxx às xxxx, do mês de xxxxx de xxxxxx, totalizando xxxxxxx funções. Atenção: escolher apenas uma das possibilidades do item “2” para preenchimento do Termo, de acordo com a negociação realizada entre proponente, coordenação do espaço cultural e Diretoria de Espaços Culturais. Após a escolha apagar as outras opções:
2. O COMPROMISSADO pagará ao Estado da Bahia, através da Secretaria de Cultura, o valor correspondente a xxxxx % (xxxxx por cento) da renda bruta da bilheteria, por cada função, ou o valor mínimo de R$ xxxxx (xxxxxx reais), o que for maior. ou 2. O COMPROMISSADO pagará ao Estado da Bahia, através da Secretaria de Cultura, o valor de R$ xxxx (xxxx reais), por cada função, totalizando R$ xxxxxx (xxxxx reais). ou 2. O COMPROMISSADO assumirá o encargo de xxxxx (no caso de gratuidade da pauta).
3. São obrigações do COMPROMISSADO:
I - manter sob sua guarda e responsabilidade o bem cujo uso fora autorizado;
II - não dar ao bem imóvel destinação diversa ou estranha à prevista no item 1 deste Termo;
III - não ceder, nem transferir, no todo ou em parte, o seu uso a terceiros;
IV - zelar pela manutenção e conservação do imóvel, ao longo do período da autorização;
V - responder por todos os danos causados ao imóvel durante o período da autorização, observando-se o processo de reparação de danos previsto na Lei Estadual n
o 12.209/2001;
VI - responder por danos pessoais e materiais causados a terceiros decorrente da realização da atividade;
VII - responsabilizar-se pelo cumprimento de toda a legislação trabalhista e previdenciária relativa ao seu pessoal, ficando a SECULT isenta de qualquer responsabilidade neste sentido, inclusive com relação a acidentes de trabalho;
VIII - providenciar, as suas expensas, todas as autorizações e medidas necessárias para a realização do evento, inclusive aquelas relativas ao meio ambiente e patrimônio cultural, se for o caso, bem como o pagamento de taxas e tributos (ECAD, SBAT, Juizado de Menores, Prefeitura, etc.), ficando responsável pelo cumprimento das sanções aplicáveis pelo eventual inadimplemento das obrigações legais, inclusive em caso de equívoco ou de má fé;
IX - respeitar os horários de funcionamento do espaço, bem como aqueles estabelecidos no item 1 deste Termo;
X - respeitar a lotação máxima das dependências dos espaços culturais e aos limites de decibéis previstos na legislação municipal;
XI - fornecer ao espaço cultural uma cota de convites referente a 5% (cinco por cento) do total de ingressos disponibilizados para a venda, por sessão, sendo de responsabilidade da coordenação do espaço a sua distribuição;
175
XII - fornecer ao espaço cultural uma cota de 10% (dez por cento) do total das vagas das oficinas e cursos, quando houver pagamento de inscrição ou mensalidade, para formação da equipe e/ou público do espaço cultural, sendo de responsabilidade da coordenação do espaço a sua distribuição;
XIII - retirar, para uso da produção do evento, uma cota de convites de até 10% (dez por cento) do total dos ingressos disponibilizados para a venda, por sessão;
XIV - fixar a classificação indicativa de cada evento, conforme disposto na Portaria nº 1.100, de 14 de julho de 2006, do Ministério da Justiça, bem como a informação sobre os temas abordados, respondendo por possíveis questionamentos, em caso de equívoco ou de má fé;
XV – cumprir com as legislações relativas à meia-entrada (menores de 18 anos, idosos acima de 60 anos, estudantes matriculados regularmente em instituições de ensino fundamental, médio e superior);
XVI - dispor de técnicos operadores de som, luz, projeção e maquinário cênico, bem como de responsáveis pela montagem e desmontagem de linóleo e condução dos cenários e equipamentos instalados nos espaços culturais;
XVII - arcar com as despesas de deslocamento, com segurança e comodidade, dos funcionários do espaço cultural, se houver necessidade de permanência após as 22 horas;
XVIII - arcar com as despesas e responsabilizar-se pela locação, carregamento, movimentação, montagem, desmontagem, operação e guarda de equipamentos não disponíveis no espaço, pela aquisição de materiais de consumo (gelatina, gobo, pilha para microfone, fita de linóleo, líquido para máquina de fumaça, entre outros), pelo transporte de obras e materiais cênicos e pela venda de obras em exposição, se for o caso;
XIX - solicitar previamente à coordenação do espaço a avaliação técnica para instalação de equipamentos não disponíveis no espaço;
XX - arcar com as despesas de segurança, controle de acesso do público e limpeza (material de consumo e pessoal) para eventos realizados nos anfiteatros e nas áreas externas dos espaços, bem como no palco principal para eventos classificados como "horário estendido";
XXI - mencionar, em qualquer caso de gratuidade ou de parceria com o espaço, o apoio do Governo do Estado, inserindo as marcas do espaço cultural e da Secretaria de Cultura da Bahia, em todo e qualquer material de divulgação (impresso e digital), segundo normas de aplicação das marcas disponíveis no site da SECULT;
XXII - informar a desistência do uso de pauta do espaço cultural, na forma escrita e no prazo máximo de até 15 (quinze) dias corridos que anteceder a data programada para o início do evento;
XXIII - observar as demais normas de funcionamento e utilização dos espaços culturais estabelecidas no Regulamento de Uso e Funcionamento dos Espaços Culturais da SECULT, a que se refere o artigo 7º da Instrução Normativa 001/2013;
XXIV - responder pelo descumprimento das obrigações previstas neste Termo de Compromisso e Responsabilidade, através da suspensão do uso dos espaços culturais geridos pela SECULT, pelo prazo de 03 (três) meses, sem prejuízo da responsabilização nas esferas penal, civil e administrativa.
4. Na hipótese de descumprimento devidamente comprovado do art. 4º da Instrução Normativa 001/2013, será revogada a autorização do uso de pauta pelo Diretor de Espaços Culturais, o que implicará no cancelamento do evento, independente de interpelação judicial ou extrajudicial. 5. Caso necessário e desde que comprovada a motivação, a SECULT poderá solicitar ao COMPROMISSADO alterações em seu Pedido de Pauta. 6. Caso seja realizado espetáculo de médio ou grande porte é imprescindível a entrega do rider técnico e mapas de som, luz e cenário do espetáculo no ato da assinatura deste Termo.
7. Neste ato o COMPROMISSADO indica como responsável pelo fechamento do borderô (preencher somente se houver cobrança de ingresso/mensalidade):
176
Nome:xxxxxx CPF: xxxxxxx 8. O COMPROMISSADO declara sua ciência e concordância com todas as condições de uso estabelecidas no presente Termo, no ato da outorga, no Regulamento de Uso e Funcionamento dos Espaços Culturais da SECULT e na Instrução Normativa 001/2013. 9. Este Termo deverá ser assinado em 03 (três) vias, de igual teor, antes da realização da atividade.
xxxxxxxxxxx, xxxx de xxxx de xxxxx
______________________________________ COMPROMISSADO
181
ANEXO L - Programa de Gratuidade
PROGRAMA DE GRATUIDADE DE PAUTAS DOS
ESPAÇOS CULTURAIS DA SECULT - 2013
Apresentação O Programa de Gratuidade de Pautas dos Espaços Culturais da Secretaria de Cultura
do Estado da Bahia foi desenvolvido com o objetivo de promover e ampliar o acesso
de artistas e produtores aos espaços culturais administrados por esta Secretaria, bem
como dinamizar e diversificar a programação destes equipamentos.
O Programa consiste na disponibilização de pautas gratuitas nos dezessete espaços
culturais da capital e do interior, que estão sob a gestão da Diretoria de Espaços
Culturais (DEC) da SECULT, para a realização de atividades de natureza cultural de
grupos e artistas residentes na Bahia.
Além da gratuidade no pagamento da pauta, os artistas ainda terão direito à totalidade
da arrecadação gerada nos eventos com venda de ingressos, descontados os devidos
impostos e taxas. Em contrapartida, é solicitado ao proponente da pauta que realize
alguma atividade que auxilie na ampliação do acesso do público ou na conservação e
manutenção do espaço cultural.
Com este Programa, busca-se aumentar a demanda e a ocupação dos espaços
culturais, gerando, assim, uma programação mais intensa, diversa e atrativa para os
diferentes públicos e criadores. Espera-se, dessa forma, contribuir para a efetivação
dos princípios e objetivos da Política Estadual de Cultura (Lei Estadual Nº
12.365/2011), em especial no que se refere à democratização, descentralização e
desburocratização no incentivo à pesquisa, à criação, à produção, e à fruição de bens
e serviços culturais.
Ações contempladas no Programa de Gratuidade de Pautas
Atividades de grupos artísticos nas salas multiuso Concede pauta gratuita para a realização de atividades de grupos artísticos voltadas
ao aperfeiçoamento e qualificação dos próprios participantes, tais como ações de
formação, pesquisa, intercâmbio, criação e ensaios. Aqui, compreende-se grupo
artístico como uma base organizativa formada por artistas, agentes culturais e técnicos
que realizam um trabalho continuado, a partir de uma proposta cultural e/ou princípios
estéticos norteadores que os identifica como tal.
Condições de participação: Essa linha de ação contempla realização de atividades
apenas nas salas multiuso. Cada proponente terá o limite de utilização de até doze
pautas por mês (sendo até três períodos de até quatro horas, por semana). Não
poderão ser realizadas atividades pagas e/ou voltadas para o público externo.
182
Atividades formativas na área cultural Concede pauta gratuita para a realização de cursos e/ou oficinas artístico-culturais,
que tenham entrada franca e que sejam abertas ao público.
Condições de participação: Essa linha de ação contempla a realização de atividades
apenas nas salas multiuso. Em casos excepcionais, poderão ser utilizadas outras
dependências (com exceção da sala principal), desde que haja disponibilidade de
pauta e compatibilidade com a estrutura da dependência solicitada. Cada proponente
terá o limite de utilização de até doze pautas por mês (sendo até três períodos de até
quatro horas, por semana). Não poderão ser realizadas atividades pagas nem para
público restrito.
Atividades artístico-culturais realizadas às terças e quartas-feiras
Concede pauta gratuita para a realização de atividades artístico-culturais nas terças e
quartas-feiras em qualquer dependência do espaço cultural, durante todo o ano.
Condições de participação: Cada proponente terá o limite de utilização de até quatro
pautas por mês e o valor máximo a ser cobrado pelo ingresso do público na atividade
é de R$ 10,00 (dez reais) a inteira.
Atividades artístico-culturais relacionadas aos meses temáticos
Concede pauta gratuita para qualquer dia da semana, incluindo sábados e domingos,
para realização de ações artístico-culturais de acordo com os períodos e temáticas
elencadas abaixo:
MÊS TEMA
Março Teatro e Circo
Abril Dança
Maio Atividades culturais relacionadas à diversidade
sexual Junho Música
Julho Literatura
Agosto Culturas populares
Setembro Atividades culturais relacionadas à inclusão social
de pessoas com deficiência
Outubro Atividades culturais voltadas ao público infanto-
juvenil
Novembro Atividades culturais relacionadas à cultura negra
183
Condições de participação: Cada proponente terá o limite de utilização de até quatro
pautas por mês e o valor máximo a ser cobrado pelo ingresso do público na atividade
é de R$ 10,00 (dez reais) a inteira.
Atividades de artes visuais
Concede pauta gratuita para a realização de intervenções e exposições de artes
visuais, nas suas diferentes modalidades e técnicas, a exemplo de arte e tecnologia,
assemblage, cerâmica, colagem, desenho, design gráfico (ilustração, humor gráfico e
quadrinhos), escultura, fotografia, grafitti, gravura, instalação, intervenção urbana,
objeto, performance, pintura, tapeçaria e videoarte.
Condições de participação: Esta linha de ação contempla a realização de atividades
preferencialmente no foyer ou área externa dos espaços culturais. Em casos
excepcionais, poderão ser utilizadas outras dependências (com exceção da sala
principal), desde que haja disponibilidade de pauta e compatibilidade com a estrutura
da dependência solicitada. Cada proponente terá o limite de utilização de até uma
pauta por mês, com duração de até três meses, conforme Regulamento. No caso de
exposições que prevejam a comercialização de obras, estas só poderão ser removidas
e entregues aos compradores após o término da mostra.
Quadro-resumo das ações contempladas
ATIVIDADE
PRINCIPAL
DEPENDÊNCIA
UTILIZADA
DURAÇÃO
MÁXIMA
PERMITIDA
LIMITE DE
PAUTAS (POR
PROPONENTE E
POR MÊS)
EXIGÊNCIA
Grupos
artísticos
Salas multiuso
Até 4 horas
por pauta
12
Atividade gratuita
para público
específico
Atividades
formativas
Salas multiuso
Até 4 horas
por pauta
12
Entrada franca
Terça e
quartas
Todas
Até 4 horas
por pauta
4
Ingressos de até
R$10,00 (dez reais)
a inteira
Mês temático
Todas
Até 4 horas
por pauta
4
Ingressos de até
R$10,00 (dez reais)
a inteira
Artes visuais
Foyer Até 90 dias
por pauta
1
Entrada franca
Procedimentos
Para solicitar a pauta, os interessados deverão entrar em contato com a coordenação
do espaço cultural de seu interesse, verificar a disponibilidade de agenda, preencher o
formulário de pedido de pauta e encaminhá-lo para a coordenação do espaço com
antecedência mínima de trinta dias do evento.
184
O proponente deverá encaminhar informações e materiais adicionais, se houver, que
possam complementar a proposta apresentada no pedido de pauta, por exemplo:
cópia de matérias publicadas na imprensa, fotografias, vídeos, programas e/ou
cartazes, dentre outros.
Caso a proposta seja deferida pela coordenação do espaço cultural e autorizada pela
SECULT, através da DEC, o proponente deverá assinar um Termo de Compromisso e
Responsabilidade, condição necessária para a utilização do espaço.
Critérios
A avaliação das propostas encaminhadas aos Espaços Culturais será realizada pelas
coordenações desses espaços, levando em consideração: qualidade artística e técnica da
proposta; qualificação do proponente e da equipe principal envolvida; correlação entre o
perfil da proposta e a programação do espaço, se for o caso; e, por último,
caraterísticas técnicas da proposta e sua adaptabilidade às características físicas do
espaço cultural.
O mesmo proponente não poderá acumular, no mesmo mês, a obtenção de pautas
gratuitas por mais de uma das linhas de ação desse Programa.
Não serão aceitos eventos institucionais, que não tenham natureza cultural ou que
pleiteiem o uso dos espaços culturais para ações com público restrito, a exemplo de
atividades corporativas, formaturas e apresentações artísticas fechadas. Essa regra não
se aplica às atividades de grupos artísticos nas salas multiuso, que consiste em uma
das linhas de ação deste Programa.
Estão vedadas também, conforme Regulamento dos espaços culturais, a realização de
atividades:
- de pregação religiosa, como culto, cerimônia, entre outras;
- que no seu conteúdo evidenciem qualquer tipo de preconceito ou discriminação;
- que possam causar impactos negativos à saúde e à integridade física e psicológica
das pessoas, bem como ao meio-ambiente;
- de cunho político-partidário;
- caracterizadas como eventos particulares, a exemplo de casamentos, aniversários,
velórios, entre outros.
Em todos os casos de gratuidade, conforme Instrução Normativa e legislação vigente,
são atribuídos encargos a serem assumidos pelo proponente, principalmente
relacionados à ampliação do público e à conservação e manutenção do espaço, tais
como:
- serviços de comunicação e mobilização de público ao espaço cultural;
- participação em projetos e eventos realizados pelo espaço cultural;
- realização de atividades formativasvoltadas para o público externo;
185
- limpeza do local utilizado;
- manutenção de equipamentos;
- doação de equipamentos, mobiliário ou materiais de consumo.
Poderão ser estabelecidos outros encargos pela coordenação do espaço cultural, em
concordância com o proponente e aprovação da Diretoria de Espaços Culturais.
A gratuidade também implica ao proponente incluir as marcas do espaço cultural e da
Secretaria de Cultura da Bahia, com a assinatura “apoio”, no material de divulgação
(impresso e digital), segundo normas de aplicação das marcas da SECULT
disponíveis em: http://www.cultura.ba.gov.br/a-secretaria/marcas-e-logotipos/.
Para qualquer utilização de um espaço cultural da Secretaria, é fundamental que o
proponente tenha conhecimento das diretrizes e normas contidas na Instrução
Normativa e no Regulamento de Uso e Funcionamento dos Espaços Culturais da
SECULT, disponíveis no blog: espacosculturais.wordpress.com.
Contatos
Informações e esclarecimentos poderão ser obtidos no blog da Diretoria de Espaços
Culturais da SECULT (espacosculturais.wordpress.com), através do e-mail:
[email protected] e/ou dos telefones (71) 3103-34.
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