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Ativismo mediado na rede Avaaz: os limites de um modelo informacional
Internet-mediated activism on Avaaz network: the limits of an informational
model
Lara Nasi
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, bolsista Capes.
Resumo: O objetivo deste artigo é relatar a experiência de um micro-estudo de recepção que teve como objetivo compreender os sentidos do ativismo mediado pela Internet. O objeto empírico é a rede Avaaz.org, que organiza petições e campanhas pela internet em diferentes países, para questões locais e globais e insere-se no contexto de movimentos de ativismo global. As estratégias metodológicas adotadas priorizaram a realização de entrevistas semi-estruturadas orais, com um organizador da rede Avaaz e com um ativista que assina petições da rede, além de observação de um chat promovido no site da Avaaz. Os resultados da análise indicaram a ausência de afinidade política entre os ativistas e os idealizadores da rede. A partir destes sentidos controversos no ativismo, empreende-se uma breve discussão, no marco da cidadania, sobre os limites de atuação de um movimento político mediado, que se sustenta por um modelo eminentemente informacional.
Palavras-chave: comunicação; estudos de recepção; cidadania; ativismo global
Abstract: The article intends to report the experience of a micro reception study that aimed to understand the meanings of internet-mediated activism. The empirical object is Avaaz.org network, which organizes petitions and campaigns on the Internet in different countries, for local and global issues, within the context of global activism movements. Methodological strategies adopted gave priority to semi-structured oral interviews with an organizer of Avaaz and an activist who signs petitions from the network. Besides that, we observed a chat promoted by Avaaz on its website. The results indicated the absence of political affinity between the activists and the creators of the network. From these controversial senses of activism, we purpose to do a brief discussion, in the ambit of citizenship, about the limits of a mediated political movement, which is supported by an eminently informational model.
Keywords: communication; reception studies; citizenship; global activism
1. Para descer ao campo
Pensar em uma aproximação com a rede de ativismo Avaaz. O resultado desta
breve reflexão deu início ao trabalho de campo desenvolvido para a disciplina de
Teorias e Metodologias em Recepção Midiática1, que pretendeu compreender os
sentidos do ativismo quando realizado de forma mediada, como é o caso da rede
Avaaz. A rede foi proposta como objeto empírico para o desenvolvimento de
dissertação para o curso de Mestrado em Ciências da Comunicação da Unisinos,
com o objetivo de discutir o ativismo global e a contribuição das Tecnologias de
Informação e Comunicação (TICs) para a conformação destes movimentos
contra-hegemônicos, globalmente organizados
A proposição da rede Avaaz como contexto empírico para realização do estudo
está relacionada com as novas dinâmicas de atuação de movimentos que se
articulam a partir da Internet, em contraposição às exclusões decorrentes da
globalização econômica. A Avaaz é uma rede com atuação desde fevereiro de
2007, disponível na Internet em quatorze diferentes línguas, e que organiza ações
voltadas a questões ambientais, direitos humanos, guerras, corrupção, pobreza,
dentre outras causas, em todo o mundo. A rede contabiliza mais de 4 milhões de
ativistas, e conforme informações em seu site2, até julho de 2010 promoveu mais
de 22 milhões de ações só no corrente ano.
Considerando-se o que propõe Martín-Barbero para as pesquisas de
comunicação, na relação com a cultura, que “tendríamos que ponernos a formular
preguntas sobre el sentido de los procesos de comunicación y de cultura en los
que juega (…) la construcción colectiva del sentido” (2008, p.6), busca-se com o
trabalho compreender os sentidos do ativismo global realizado na internet para os
sujeitos sociais que fazem parte deste processo, considerando-se os aspectos
culturais e de cidadania em questão.
1 Disciplina ministrada pela profa. Dra. Denise Cogo, no primeiro semestre de 2010, no Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos
2 www.avaaz.org
Para isso, lançamos mão de estratégias metodológicas com inspiração
etnográfica, buscando contemplar as diferentes modalidades de interação que a
Avaaz propicia: desde organizadores das ações da rede, voluntários e pessoas
que simplesmente assinam as petições. O primeiro passo foi a observação do
site, seguido pela busca de contatos com os organizadores da rede e com
ativistas que residem na região metropolitana de Porto Alegre, e posterior
realização de entrevistas semi-estruturadas.
Além das questões relacionadas com cidadania, cultura, globalização e
empoderamento a que a análise dos dados nos remete, torna-se fundamental
neste estudo a discussão sobre os limites de atuação de um movimento político
mediado, que se sustenta por um modelo eminentemente informacional.
2. Contexto dos movimentos de ativismo global
Quando nos propomos a discutir a atuação de movimentos organizados pela
internet, voltados para pautas globais, é inevitável contextualizar o momento em
que se conformam. Configuram-se em contraposição à globalização que, quando
vista sob o ponto de vista econômico, é um processo marcado pela especulação,
concentração de riqueza, desaparecimento de controles políticos e ratificação
velhas desigualdades e exclusões, como argumenta Taibo (2007). Porém, as
mudanças consideráveis na política e economia, e na reorganização entre os
países, facilitada pelo desenvolvimento das tecnologias de comunicação que
permitiram uma vertiginosa aceleração nos fluxos de informação transnacional,
traz desdobramentos importantes para outros âmbitos. Não é a toa que desde o
início dos anos 1990, globalização passou a ser um termo recorrente nos debates
sobre economia, política e cultura (TAIBO, 2007). Para Elhajji, trata-se a
globalização de uma viragem história marcada pelos contínuos e velozes fluxos e
deslocamentos, “materiais, subjetivos, imaginários e simbólicos” (2010, p. 12).
As TICs têm um papel importante neste processo. Elhajji explica que a estrutura
técnica e organizacional que sustenta o processo de globalização caracteriza-se
“pela reformulação e rearticulação das instâncias de produção de sentido da
contemporaneidade em torno dos meios de produção controle e distribuição da
informação” (2010, p. 12). A comunicação e as TICs passam, portanto, a assumir
um papel central nessa nova ordem sócio-tecnológica, criando uma nova base
material para o desenvolvimento das atividades humanas que acabou “impondo a
sua própria lógica à maioria dos processos sociais e condicionando, de maneira
fundamental e inédita, todos os níveis da sociedade contemporânea”. (op. cit, p.
12).
A globalização, desta forma, tem como principal efeito a superação dos planos
territoriais espaciais, o que permite o surgimento de novas modalidades culturais
e referenciais identitários, com extensões transnacionais. “Ainda que não seja
regra absoluta, no contexto global, as composições identitárias tendem a se
reformular e se afirmar numa perspectiva propriamente transnacional”, afirma
Elhajji (2010, p. 14).
Esse quadro traz diferentes perspectivas para pensar também nos movimentos de
cidadania. Se as composições identitárias se reformulam em uma perspectiva
transnacional, esse processo repercute na ação de coletivos e movimentos
políticos, preocupados com questões como direitos humanos, distribuição de
renda, ambiente dentre outros. Estes problemas nunca foram restritos a um único
Estado, mas havia – e ainda há - políticas locais/estatais para estas questões.
Porém, os fóruns que deliberam sobre estes temas em escala global são
instituições como Organização das Nações Unidas, Organização Mundial do
Comércio, Fundo Monetário Internacional, Grupo dos 8 países mais ricos, etc. É
nesse contexto que surgem os movimentos anti-globalização, ou de ativismo
global, buscando estabelecer um novo local de enunciação, para reivindicações
diferentes daquelas dos movimentos sociais tradicionais, mais voltados para o
Estado e para o conjunto da sociedade no contexto do estado nação.
A primeira vez que o movimento anti-globalização teve visibilidade mundial foi em
1999, nas manifestações contra a reunião da Organização Mundial do Comércio
(OMC) em Seattle. Desde então, muitas redes se organizam em todo o mundo,
tendo como propósito fazer frente à globalização econômica. Na pauta dos
movimentos, passa a estar presente também a reivindicação por direitos das
minorias e a recusa ao crescimento bélico, o que, para Taibo (2007), diferencia
estes novos movimentos da esquerda tradicional.
Outra característica destes novos movimentos é a aposta na comunicação, tanto
para demonstrar sua existência e suas ações, como para mobilizar ativistas para
novas campanhas. A internet, pelas suas características, passa a ser uma grande
aliada, capaz de permitir a organização para ações em escala global, e hoje é
uma das ferramentas fundamentais para os movimentos anti-globalização que se
organizam em rede. Exemplo disso é o uso de ferramentas de comunicação feito
por organizações como a Via Campesina ou o Attac (Ação pela Taxação das
Transações financeiras em Apoio aos Cidadãos). Estes são apenas alguns dos
inúmeros movimentos que se enquadram na definição “anti-globalização”, e que
mobilizam milhares de pessoas em ações nos países em que têm atuação.
Porém, a Avaaz, objeto empírico em questão, faz um uso diferente das TIC,
quando comparada aos movimentes citados. Diferente daqueles, parece
prescindir de outros tipos de espaço de atuação que não o mediático. A rede tem
na internet não apenas um meio para mobilizar cidadãos a aderirem a
campanhas; é a internet o próprio meio que explica sua existência. Por isso, nesta
aproximação ao campo pensamos nas configurações identitárias e nos desafios
para a constituição de um movimento de cidadania eminentemente mediático.
3. Redes e cidadania
Cidadania, para Garretón (2006), é a reivindicação e reconhecimento de direitos e
deveres de um sujeito frente a um poder. Com diferentes focos de poder nos
Estados fragmentados a partir da globalização, há, portando, em nossas
sociedades, muitas formas de poder ser sujeito, inclusive frente a poderes
globalmente instituídos. Isso significa, para Garretón, que estamos na presença
de uma redefinição da cidadania em termos de múltiplos campos de seu
exercício.
A comunicação passa a ter neste contexto um papel importante para a cidadania,
como têm indicado estudos sobre a temática na América Latina. Para Maria
Cristina Mata (2002), a cidadania passou a designar na última década do século
passado, um modo específico de aparição dos indivíduos no espaço público. Ao
se reconhecer a lógica da globalização, para Mata, a noção de cidadania é o
recurso necessário para repensar um modo de ser ampliado: significa pensar o
intercâmbio e a vinculação simbólica dos indivíduos em um espaço tornado
comum pelas tecnologias de produção e distribuição de informação.
Esse novo espaço comum a que se refere a autora é o que possibilita que os
sujeitos, até então receptores dos processos de comunicação, possam também
tornarem-se emissores. Trata-se da mudança na concepção da comunicação de
que fala Martín-Barbero (2008, p. 16), “donde no hay emisor ni receptor, en
muchos sentidos, cualquier emisor es a la vez receptor y cualquier receptor tiene
la posibilidad de ser emisor”, e que muda radicalmente o que entendemos por
comunicação. Para o autor, o que está em jogo é uma noção de comunicação
ancorada nos conceitos de rede e de interface, que nos obriga a refletir não mais
em termos de recepção, mas de apropriação e empoderamento dos sujeitos
através das possibilidades abertas pelas novas tecnologias (2008).
Evidentemente, esse empoderamento só é possível com acesso e domínio à
técnica, e tem suas limitações. Apesar de a internet permitir uma “reinvenção” da
democracia e da política, não se pode pensar que pequenas redes possam fazer
frente, em iguais em condições, às grandes redes de rádio e de televisão
hegemônicas (e que também operam com grandes portais na internet). As
condições de emissão são desiguais.
O ativismo global, considerando-se as limitações da democracia das redes
apontadas por Martín-Barbero, emerge no marco da ordem econômica e política
global como uma possibilidade de empoderamento dos sujeitos, frente ao
acirramento das exclusões cidadãs na globalização. Está inserido num contexto
de busca de cidadania que já não passa mais necessariamente pelos estados, já
que as questões para as quais se voltam os movimentos transcendem as
fronteiras nacionais, embora os indivíduos que façam parte das ações estejam
incorporados em contextos locais. Buscamos assim compreender os sentidos
desta atividade para indivíduos situados na região metropolitana de Porto Alegre.
4. Estratégias metodológicas para compreender os sentidos do ativismo
na rede Avaaz
A etnografia, para Winkin, evoca três competências: saber ver, saber estar com
os outros e consigo mesmo, e saber retraduzir a observação para um público
terceiro (1998). Esse trabalho, de inspiração etnográfica, apesar de formatar-se
como um micro estudo de campo, tenta dar conta da observação e do relato da
experiência. De acordo com Soriano (2007), o investigador tem de ser capaz, a
partir da etnografia, de “entender o significado das ações que movem os
indivíduos do ambiente estudado, compreender seus objetivos e suas
motivações” (2007, s/p), e é o que é se buscou fazer com este trabalho.
Para compreender os significados das ações de ativismo de uma rede com
atuação na internet, o primeiro passo metodológico foi a observação do site da
Avaaz. Apesar de concentrar a principal atividade da rede, que é a assinatura de
petições, o site não é um espaço privilegiado de discussões. Havia no site uma
seção que possibilitava interação de quem o acessasse, o “blog da Avaaz”, que
durante o período de realização da pesquisa foi retirado do ar. O blog, contudo,
tinha poucas entradas e pouca interação. Como não foi possível localizar ativistas
pelo site, partiu-se para a definição de outras estratégias para encontrá-los. Era
importante contemplar as diferentes modalidades de interação possíveis a partir
do site: há pessoas que organizam as campanhas, idealizadoras da rede, que
recebem salários da organização; há pessoas que atuam como voluntárias e há
as que participam assinando petições. Assim, definiu-se por tentar localizar
organizadores da rede e também ativistas situados na região metropolitana de
Porto Alegre para que fosse possível fazer entrevistas semi-estruturadas, não
mediadas pela internet.
A opção metodológica por entrevistas não mediadas foi feita por considerarmos
que o meio nunca é transparente (ARDEVOL et al., 2003). A experiência de
etnografia virtualizada em chats, relatada por Ardevol et al., demonstra que
entrevistas online podem ter resultados muito diferentes de entrevistas orais semi-
estruturadas. Para as autoras, é necessário levar em consideração que o meio
técnico, ou a interface, não são apenas meios que possibilitam ações sociais, mas
neles também estão inscritas as formas de estruturar e entender a sociabilidade
do próprio meio. Além disso, conforme Ardevol et. al. (op. cit.), a escrita e a
oralidade diferenciam-se muito, tendo a primeira a possibilidade de ser mais
reflexiva enquanto a segunda é mais ágil.
Assim, a Internet foi utilizada como ponto de partida para a busca por ativistas.
As redes sociais Orkut e Facebook foram importantes para fazer contatos iniciais
com organizadores da rede e com ativistas que divulgavam em seus perfis
campanhas da Avaaz. No Facebook foi possível localizar três organizadores de
campanhas da rede, sendo uma das organizadoras, Graziela Tanaka, brasileira. A
partir de contato por e-mail foi agendada uma entrevista por Skype, porque que
estávamos geograficamente distantes. Já o contato com ativistas da rede que
assinam petições foi possível através do Orkut. Depois do contato com cinco
sujeitos, foi possível agendar uma entrevista com um deles, em Porto Alegre.
A entrevista semi-estruturada com a organizadora da rede3, embora mediada por
Skype, permitiu a realização de uma conversa de cerca de uma hora. A estratégia
para gravação da conversa (que consistia em gravá-la com um programa do
próprio computador) não funcionou, pois dependia da reprodução do som da
ligação em auto-falante. A qualidade da ligação ficou comprometida com os auto-
falantes, produzindo ecos e dificultando a conversa, e por isso foi necessária a
utilização fones de ouvidos, sem que fosse possível gravar a entrevista. Os textos
utilizados para a análise são uma reprodução produzida a partir das anotações
feitas durante a entrevista.
3 Entrevista realizada no dia 21 de maio de 2010.
Já a entrevista com o ativista da rede4, também semi-estruturada, foi realizada em
Porto Alegre, gravada com gravador digital e transcrita. O entrevistado, que nesse
texto será chamado de Jorge, não mora em Porto Alegre, mas dispôs-se a
participar da pesquisa quando veio para a cidade para outros fins. Foi uma etapa
fundamental para o estudo de campo, na busca dos sentidos do ativismo “virtual”,
entrevistar um ativista da rede na outra “ponta” do processo, com um nível de
interação diferente no site daquele dos organizadores.
Não foi possível entrevistar voluntários da Avaaz, pela dificuldade de localizá-los,
decorrente da quase ausência de voluntários na região metropolitana de Porto
Alegre, conforme relatos do organizador da rede entrevistado.
Outra estratégia metodológica adotada foi a observação de um chat promovido
pela Avaaz no dia 13 de maio, quando da aprovação na Câmara Federal do
projeto de lei Ficha Limpa, para o qual a rede organizou uma petição.
4.1 A visão de quem organiza a rede
A Avaaz não se intitula uma organização anti-globalização5, mas é possível
perceber que sua atuação é marcada nitidamente em oposição à globalização
capitalista. No site, na seção “quem somos”, a missão da Avaaz é definida como
“acabar com a brecha entre o mundo que temos, e o mundo que queremos”. E
este mundo desejado é descrito logo a seguir: “A maioria das pessoas do mundo
querem proteções mais fortes para o meio–ambiente, um respeito maior pelos
direitos humanos, esforços concretos para acabar com a pobreza, corrupção e
Guerra”. A Avaaz pondera que a globalização enfrenta um “déficit democrático”,
porque as decisões internacionais são tomadas pelas elites políticas e pelas
empresas privadas, desconsiderando as visões e valores das maiorias nacionais.
4 Realizada no dia 15 de maio, no Parque na Redenção.
5 Em resposta a este questionamento por e-mail, Graziela Tanaka, a organizadora de campanhas no Brasil
afirmou que acredita que o termo anti-globalização está ultrapassado e é pouco usado pelas ONGs porque tira
o foco de outros temas que são prioritários para a rede, como direitos humanos e mudanças climáticas.
Entendem que a Internet tem suprido esse déficit, criando uma nova cidadania a
partir da rede:
A tecnologia e a Internet permitiram que os cidadãos se conectem
e se mobilizem como nunca visto antes. A ascensão de um novo
modelo de democracia participativa, guiado pela sociedade civil através
da Internet está mudando países da Austrália às Filipinas aos Estados
Unidos. Avaaz trouxe essa tendência para a escala global,
conectando pessoas além das fronteiras e trazendo uma nova voz
para a política internacional que antes era inacessível para a
população. (www.avaaz.org)
Para a organizadora de campanhas da Avaaz entrevistada, a ideia da Avaaz é
globalizar solidariedade e não só a economia. O objetivo é garantir que os valores e visões da comunidade global ajudem a definir as políticas internacionais (Graziela Tanaka).
Diferente de outros movimentos de ativismo global, que já existiam antes de sua
migração para a Internet, a Avaaz começou como uma rede global, já articulada
pela internet. Embora atue em conjunto com outros movimentos, organizando
petições para campanhas nem sempre elaboradas pela própria Avaaz, conforme
Graziela, (E), a Avaaz diferencia-se de outros movimentos sociais pela dinâmica
de atuação e pelo amplo leque de causas abarcados em suas campanhas.
A idéia é otimizar a participação social. A Avaaz surgiu refletindo sobre isso. Os movimentos sociais estão conseguindo se mobilizar? Se dá pra levar 20 pessoas para a rua, a Avaaz consegue mobilizar 5 milhões de pessoas (...). A gente trabalha com a idéia de comunidade global, de que as decisões acontecem além das fronteiras nacionais (G.T.).
Antes não existia grupos como a Avaaz. Os grupos focam sempre no mesmo assunto, tem abrangência restrita, não tem flexibilidade de mudar de assunto. Percebemos que as pessoas que se interessam por causas sociais não se interessam por uma só (G.T.).
Evidentemente, diferencia-se de outros movimentos também pela dinâmica de
atuação, sempre mediada pela internet. A mobilização de que fala Graziela, que
reúne milhões de pessoas, consiste no clique para assinar as petições. A rede
envia e-mails de alerta relacionados a alguma questão social para todos os
“ativistas” cadastrados no site. Nestes e-mails, o ativista é convidado a assinar
uma petição, no site da rede. Após assinar a petição, tem a opção de enviar o
alerta para os contatos de seu e-mail. As campanhas geralmente têm um objetivo
numérico a ser atingido: um determinado número de assinaturas para a petição
em questão. Alcançado o número considerado, as petições são entregues a
governos, organizações supra-nacionais, enfim, as autoridades relacionadas à
reivindicação em questão. Apesar do pouco comprometimento que o ativista
precisa ter para participar das campanhas, Graziela afirma que a Avaaz trabalha de
forma que a participação possa fazer sentido para quem recebe o alerta para assinar a
petição.
A gente fala da Theory of Change – cada alerta que a gente envia tem que ter um propósito, um sentido, para quem recebe. Cada alerta precisa ter uma teoria clara, de como o clique pode ajudar. A pessoa é um ator dentro da campanha, a gente não é só agência de notícia (...). São levados em conta o apelo, a abrangência da ação, porque o clique da pessoa vai fazer diferença (E).
Além da Avaaz, outras redes têm atuação parecida, como a MoveOn6, nos
Estados Unidos, e a Getup7 na Austália. De acordo com Graziela, em entrevista
ao site da revista Galileu8, a Avaaz surgiu no molde das redes estaduninense e
australiana citadas. Mas pontua que aquelas são redes nacionais enquanto a
Avaaz se propõe como uma rede de ativismo mundial. Assim, as principais
causas da rede são relacionadas à questão climática, guerra e paz, direitos
humanos e, mais recentemente, corrupção, no Brasil, Índia e Itália. Há
campanhas de caráter global, e outras de caráter local. Os assuntos que entram
6 www.moveon.org
7 www.getup.org.au
8 Matéria publicada em junho de 2010, disponível em:
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI150363-17770,00-
SAIBA+COMO+SER+UM+CIBERATIVISTA.html
em debate são definidos em reuniões semanais, organizadas por Skype, entre os
organizadores de campanha, que atuam em no mínimo 13 diferentes países de 4
continentes.
A gente escolhe o assunto de acordo com a urgência. A gente escolhe o assunto não só
porque é importante, mas ele tem que ter uma justificativa para que se faça uma
campanha agora. Por exemplo, quando tem alguma reunião de líderes, ou quando há
algum escândalo, como o vazamento de petróleo. E é um trabalho quase jornalístico: as
pessoas lêem no jornal e não vão se preocupar com isso daqui a um mês, elas vão se
preocupar agora (G.T.).
Para Graziela, essa dinâmica facilita para que a rede tenha tantos acessos.
Considera que é “mais fácil mobilizar quando se tem um limite de tempo”. Além
disso, considera que é necessário mobilizar pessoas que ainda não são
militantes, mas que têm preocupações com questões sociais. Para a organizadora
de campanhas, o “clique aqui” pode ser uma porta de entrada na militância e uma
maneira fácil de se ver participando.
É uma maneira de participar, dentro de certos limites. E pode ser mesmo uma porta de entrada: se hoje você recebe um e-mail sobre ambiente, direitos humanos, a partir do momento em que recebe alertas você vai ficar mais atenta ao mundo. A idéia é que as pessoas passem a ser interessar mais pelas questões sociais e que possam futuramente se tornar militantes (G.T.).
Embora a rede promova algumas ações offline quando faz a entrega de petições
organizadas pela internet, não parece haver o objetivo de ampliar a atuação dos
ativistas, que se restringe à assinatura de petições e divulgação das campanhas.
Assim, a Avaaz parece não pretender romper a condição de ser apenas a porta
de entrada para a militância.
4.2 Os sentidos para os ativistas “virtuais”
O ativista entrevistado neste estudo de recepção, Jorge, relatou que participa das
ações da Avaaz desde que a rede foi criada, e que sempre que possível assina as
petições e as encaminha para seus amigos. Contudo, mesmo participando de
quase todas as campanhas desde o início da rede, Jorge não se considera
necessariamente um ativista. Quando interrogado se se intitulava ativista da rede
Avaaz, respondeu:
Não, acho que isso é meio forte (risos). Ativista virtual acho que sei lá, né, sei lá se dá pra considerar ativista, mas eu sou engajado neste sentido, nas campanhas, olha, que eu me lembre até a gora, eu comecei a participar em 2007 né, Que eu me lembre todas as campanhas que eu recebi que eles mandavam por e-mail eu entrava no abaixo-assinado (J).
É importante observar que mesmo participando das ações da Avaaz de forma
plena, dentro do que as condições do site permitem, Jorge não tem certeza de
que esta atividade constitua-se como ativismo. Contrasta com a visão da
organizadora de campanhas da rede entrevistada, para qual, ativistas são todos
que assinam as petições (permite que atualmente sejam contabilizados mais de 4
milhões de ativistas).
Durante a realização da entrevista Jorge relatou que tem engajamento com
instituições religiosas e com ONGs que fazem arrecadação de alimentos para
crianças e idosos. Para ele, o ativismo global é uma forma de ajudar as pessoas
que, apesar de não morarem no mesmo lugar que ele, podem ser consideradas
também seus “irmãos”, o que demonstra uma mediação religiosa para sua
atuação como “ativista virtual”.
Eu acho que, eu acho que é importante a gente participar, realmente fazer parte de uma mudança lá no Sri Lanka, que seja, porque, sei lá, cada vez mais eu to pensando a humanidade como um todo, sabe. Meu irmão não é só meu vizinho, não é só a pessoa que mora na mesma cidade que eu, no mesmo estado no mesmo país, meu irmão é o cara que ta lá no Japão, na China (J).
Este senso de humanidade é o que o faz criticar o capitalismo, ao afirmar que vê
que o mundo está dividido em uma linha mais “econômica, mais capitalista, mais
selvagem”, e outra de humanização. Apesar disso, Jorge relatou que a principal
ação de uma ONG que dirige é a participação em um evento de arrecadação de
fundos da rede McDonald’s, considerada, junto com a Coca-Cola, um dos mais
disseminados símbolos do capitalismo, alvo por diversas vezes foi alvo de
movimentos anti-capitalistas e anti-globalização.
Além disso, Jorge afirma que simpatiza mais com ações de ONGs do que com
movimentos sociais, por considerar que estes têm atuação radicalizada e atraem
antipatia da opinião pública. Ao enumerar as causas pelas quais acha que as
pessoas devem se mobilizar, cita fome, água, ambiente, trabalho, igualdade e as
“ditaduras”:
As ditaduras eu acho que tem ser combatidas. A prepotência. A questão do Tibete por exemplo, A China ali no Tibete. Respeitar a soberania né dos países. E a ditadura em si né, em Cuba, ali a Venezuela com o Chávez, a questão bem séria assim, ta piorando, até na Bolívia mesmo o Evo Morález ta começando a virar um Chávez, então a questão da política mesmo, a política de certos países (J).
Ao falar sobre as ditaduras, Jorge inclui neste grupo governos de países de
regimes democráticos que se opõem claramente à política capitalista dos Estados
Unidos, As contradições explícitas em sua atuação como “ativista global” não são
um caso isolado. Elas também repercutiram na observação de chat organizado
pela Avaaz no dia 13 de maio. Naquela data todos os ativistas que assinaram a
petição para pressionar a aprovação do projeto de lei de iniciativa popular Ficha
Limpa, (com o objetivo de evitar a reeleição de políticos corruptos), foram
convidados a participar de um chat. Na observação de duas horas do chat, os
seguintes temas tiveram destaque: a) celebração da democracia das redes; b)
internet como espaço de cidadania; c) necessidade de ampliar a pauta de lutas da
Avaaz; d) necessidade de ir às ruas. Mas além destes, surgiram outros temas,
relacionados com o contexto pré-eleitoral, mas também com a formação política
dos sujeitos que fizeram parte desta campanha da Avaaz, conforme os trechos
destacados abaixo>
Agora temos que juntar nossas forças para impedirmos uma guerrilheira como Presidente do Brasil!!! Dilma não!!! Pelo amorrrrr de Deus!!!! by Claudia at 11:14
SERRA O FUTURO PRESIDENTE DO BRASILLLLLLLLL !!!!!!!!!! by Beto at 11:54
SERRA ESTÁ DE ARMA APONTADA PARA OS MENOS FAVORECIDOS DO BRASIL.JÁ VIRAM A IMAGEM DELE DE ARMA NA MÃO. É SÍMBOLO. SE LIGA POVO FORA SERRRRRRRRA. by Marcos at 11:54
vamos fazer campanha para menor poder ser preso!!! vcs nem fazem idéia de quantas pessoas vcs vão salvar !!! by Rafael at 11:53
Os trechos destacados, evidentemente, não ilustram a totalidade da discussão do
chat, que, na maior parte do período observado, refletiu os temas apontados no
parágrafo anterior. Porém, somados à entrevista com o ativista da região
metropolitana, nos levam a pensar nos limites de uma atuação política mediada.
Quais são os elementos que identificam os ativistas desta rede? Embora os
objetivos dos organizadores da rede sejam claros, de globalizar a solidariedade e
otimizar a participação social, qual é o comprometimento dos sujeitos que
pretendem participar das ações da Avaaz com as causas sociais? Quais os
sentidos de um ativismo anti-globalização para quem tem postura política
reacionária? E qual é o sentido de organizar uma rede em que não há unidade
política entre seus participantes? O objetivo aqui não é responder a estas
perguntas, mas fazer uma discussão a partir dos sentidos diversos do ativismo
encontrados no estudo de campo.
5. O ativismo mediado da rede Avaaz: os limites de um modelo
informacional
A ação coletiva, dos atores e movimentos sociais, está debilitando-se na América
Latina, conforme afirma Garretón (2002). Os movimentos clássicos, para o autor,
perderam parte de sua significação social e tendem a se corporativizar. Cita o
caso do movimento sindical, estudantil, dentre outros. Mas os novos movimentos,
dentre os quais cita os que têm como eixo de atuação a democratização política e
social, a reconstrução da economia nacional e a reformulação da modernidade,
não parecem constituir-se como atores sociais estáveis: “aparecen más em
calidad de públicos o em movilizaciones eventuales” (p.19). Assim, considera que
os atores sociais propriamente ditos estão sendo substituídos por mobilizações
esporádicas e ações fragmentadas e defensivas, às vezes em forma de redes,
mas com baixa institucionalização e representação políticas, ou por reações
individuais de tipo consumista.
O ativismo realizado pela rede Avaaz pode ser identificado com os novos
movimentos de que fala Garretón. Embora tenha uma atuação constante, esta é
restrita ao meditático e, além disso, realizada de forma isolada por indivíduos
conectados. Assim a institucionalização e a representação política não se dão em
sua totalidade. Ou ao menos não se dão na forma como a ação social tradicional
pretende. A quase ausência de interações entre os ativistas da rede talvez não
contribuam para a construção da identidade coletiva a partir da ação, na
perspectiva de Schuster et. al. (2005). Ele considera que as ações de protesto9
não são apenas formas de tornar visíveis os movimentos, mas são instituidoras
de rupturas frente às relações sociais que existiam antes do protesto. Por isso
9 De acordo com Shuster et. al. (2005), a noção de movimento social, na forma como foi concebida, exige
que se fale em continuidade e extensão espaço-temporal para poder caracterizar um sistema ou conjunto de
ações como movimento social. E é esse contexto no qual não se enquadram muitas das formas de
manifestação de nosso tempo que fez com que diferentes correntes da sociologia e da ciência política
passassem a adotar o conceito de “protesto social”, que dá conta de manifestações que podem surgir “nada”,
sendo ou não provenientes de um movimento social constituído previamente. Os protestos, para Schuster,
podem esgotar-se em si mesmos, em sua pura existência como ação instantânea, sem passado nem futuro
considera a identidade coletiva uma questão importante ao se pensar nos
protestos sociais.
Cualquier individuo puede ver al otro como un igual de que comparta un mundo de experiencias semejantes, pero la generalización de la experiencia en la que se establece una categoría común en la cual ambos individuos se reconozcan es el resultado contingente de una operación de identificación, que implica la acción en común como uno de sus componentes principales. El sujeto, entendido aquí como identidad colectiva con efectos políticos y sociales es entonces un producto de la acción y no la inversa (op. cit., p. 54)
Considerando o que propõe Schuster, as ações da Avaaz poderiam ser
consideradas como protestos sociais. Mas será que pode ser entendido como
protesto o isolado clique em uma petição, feito de forma individual pelo indivíduo
que está em frente a seu computador pessoal? Seria essa ação o suficiente para
implicar na construção de identidades coletivas?
Ao discutir sobre as redes sociais e de movimentos na “sociedade da informação”,
Ilse Warren Scherer (2005) afirma que para compreender os movimentos sociais
contemporâneos, é preciso entender como os indivíduos tornam-se sujeitos de
seus destinos pessoais e, como de sujeitos, transformam-se em atores políticos,
por meio das conexões em rede. Propõe então uma abordagem que considere a
relação entre os sujeitos e atores coletivos e sua transformação em movimentos
sociais a partir de uma tripla dimensão das redes: social, espacial e temporal.
Embora a questão espacial seja a de maior interesse para este trabalho, é
importante refletirmos sobre as questões temporais, que, para Warren Scherer,
implicam pensar as redes também a partir de suas configurações espaciais: “se
trata de considerar las articulaciones en redes que contemplan simultáneamente
legados históricos de la tradición y proyectos o utopías de transformación, y que
conectan las escalas locales y globales, en esta era de informatización” (2005,
p.83). O questionamento a que a afirmação nos remete neste contexto de
pesquisa é: qual é o legado histórico da rede Avaaz?
Não se trata de negar a importância de uma rede com atuação exclusiva ao
ambiente digital. O território das redes de ciberativismo configura uma
espacialidade que transcende as fronteiras espaciais das redes e movimentos
tradicionais, e dos governos locais. Nesses territórios virtuais, as adesões se dão
não pela localização, mas por afinidades políticas, culturais e ideológicas
(WARREN SCHERER, 2005). Porém, como pontua Scherer, citando Tarrow, os
movimentos transnacionais só adquirem sustentabilidade quando estão
vinculados a tradições locais ou instituições. A tradição é depositária de relações
de confiança e aprendizagem cultural.
Dênis de Moraes (2001) também enfatiza a importância de que os movimentos de
cidadania organizados na internet tenham raízes nas tradições. Ele questiona:
“Como cogitar transformações radicais sem referências objetivas às tradições
sociais?” Para o autor, é perfeitamente viável a combinação de instrumentos de
ação político-cultural entre o concreto e o digital, porém, “sem perder de vista que
é no território físico, socialmente reconhecido e vivenciado, que se tece o
imaginário do futuro” (op. cit., s/p)
A Avaaz, sem ter atrelamento a tradições e territórios físicos, apresenta um
modelo de ativismo mediado e de base informacional, em que os ativistas
recebem um e-mail para assinar uma petição, assinam e enviam a seus contatos
também por e-mail. Não há dúvidas de que as petições, em geral com milhares de
assinaturas, tenham grande impacto e repercutam de forma positiva para os
ativistas que, como observado no chat promovido pelo site, comemoram a
possibilidade de democracia e de cidadania das redes. Mas a opção da rede em
priorizar a quantia de “ativistas” em detrimento das interações estes e a rede,
parece repercutir na ausência de afinidades políticas e ideológicas entre os
ativistas e a própria Avaaz. Essa opção também acaba negando uma das
dimensões centrais da cidadania, relatada por Dagnino (1992), que é a ênfase na
constituição de sujeitos sociais ativos, capazes de converter-se em agentes
políticos, em busca de seus direitos e da coletividade.
Se esta modalidade de ativismo pretende-se como prática cidadã, há ainda
muitos limites e desafios, caso compreendamos cidadania como abordam
KYMLICKA e NORMAN (1997), não simplesmente como um status legal definido
por um conjunto de direitos e responsabilidades, porque se trata também de
identidade, expressão de pertencimento a uma comunidade política.
Fato é que esta nova modalidade de ativismo é ainda bastante recente e sobre
ela há poucos estudos, por isso esta pequena entrada em campo pode servir
como ponto de partida para que futuras pesquisas e estudos possam apreender
os sentidos sociais e culturais desta prática.
6. Referências
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