APOSTILA DE DIREITO PENAL I 2015 II

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PROFª Msc. ADRIANA SPENGLER APOSTILA DE DIREITO PENAL I - PARTE GERAL FUNÇÕES DO DIREITO PENAL - CONTENÇÃO DO PODER PUNITIVO DO ESTADO - Ao definir através das Leis Penais o que é crime e cominar penas. Limita a atividade do juiz, ali representando o Estado. Procura afastar qualquer arbitrariedade por parte do Estado no exercício do seu poder de punir. - PROTEGER BENS JURÍDICOS - Interesses que a sociedade quer a proteção por parte do Estado. A sociedade impulsiona o legislador a criminalizar condutas, descriminalizar, aumentar penas ou diminuir penas. Certos bens jurídicos podem perder parte de sua proteção e outros podem ser incorporados. Ex1: A lei 11.106/05 descriminalizou o “ adultério” (antigo art.240 do CP), portanto, a partir dessa lei a fidelidade” do bem jurídico “casamento” passou a não ter mais a proteção penal. Ex2: Até 1997 o porte ilegal de arma não era crime, era mera contravenção penal (forma de infração penal mas não são considerados crimes, lei 3688/41). A lei 9437/97 criminalizou a conduta diante da necessidade demonstrada no âmbito da sociedade que houvesse proteção penal para essa conduta. Da mesma forma, penas mais graves e novas condutas criminosas passaram a ser previstas em outra alteração legislativa com o advento do Estatuto do desarmamento, lei 10.826/03, que vigora atualmente. - FUNCIONA COMO ÚLTIMA FORMA DE CONTROLE SOCIAL - Nos Estados Democráticos de Direito, é a última instância de controle, quando todas as demais falharam (instâncias informais, família, religião, escola, etc...), bem como quando os demais ramos do Direito não foram capazes de resolver a situação concreta, atua como “ultima ratio”. Tem um caráter subsidiário. DIREITO PENAL É RAMO DO DIREITO PÚBLICO – VIOLADA A NORMA PENAL, EFETIVA-SE O JUS PUNIENDI DO ESTADO. Ideia básica: O cometimento de um crime é ofensa a toda uma sociedade. PRINCÍPIO DA “RESERVA LEGAL” OU DA “LEGALIDADE”: PORTANTO, UMA CONDUTA, POR MAIS IMORAL, REPUGNANTE OU REPROVÁVEL QUE SEJA, SÓ SERÁ CRIME SE ESTIVER DESCRITA COMO TAL NUMA LEI PENAL QUALQUER. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO PENAL ___________________________________________________________________ 2º PERÍODO – 2015/II NULLUM CRIMEM, NULLA POENA SINE LEGE NÃO HÁ CRIME SEM LEI ANTERIOR QUE O DEFINA NEM PENA SEM PRÉVIA COMINAÇÃO LEGAL (ART.1º CÓDIGO PENAL e ART.5º, inciso XXXIX da CF) 1

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PROFª Msc. ADRIANA SPENGLER APOSTILA DE DIREITO PENAL I - PARTE GERAL

FUNÇÕES DO DIREITO PENAL

- CONTENÇÃO DO PODER PUNITIVO DO ESTADO - Ao definir através das Leis Penais o que é crime e cominar penas. Limita a atividade do juiz, ali representando o Estado. Procura afastar qualquer arbitrariedade por parte do Estado no exercício do seu poder de punir.- PROTEGER BENS JURÍDICOS - Interesses que a sociedade quer a proteção por parte do Estado. A sociedade impulsiona o legislador a criminalizar condutas, descriminalizar, aumentar penas ou diminuir penas. Certos bens jurídicos podem perder parte de sua proteção e outros podem ser incorporados. Ex1: A lei 11.106/05 descriminalizou o “adultério” (antigo art.240 do CP), portanto, a partir dessa lei a “fidelidade” do bem jurídico “casamento” passou a não ter mais a proteção penal.Ex2: Até 1997 o porte ilegal de arma não era crime, era mera contravenção penal (forma de infração penal mas não são considerados crimes, lei 3688/41). A lei 9437/97 criminalizou a conduta diante da necessidade demonstrada no âmbito da sociedade que houvesse proteção penal para essa conduta. Da mesma forma, penas mais graves e novas condutas criminosas passaram a ser previstas em outra alteração legislativa com o advento do Estatuto do desarmamento, lei 10.826/03, que vigora atualmente.- FUNCIONA COMO ÚLTIMA FORMA DE CONTROLE SOCIAL - Nos Estados Democráticos de Direito, é a última instância de controle, quando todas as demais falharam (instâncias informais, família, religião, escola, etc...), bem como quando os demais ramos do Direito não foram capazes de resolver a situação concreta, atua como “ultima ratio”. Tem um caráter subsidiário.

DIREITO PENAL É RAMO DO DIREITO PÚBLICO – VIOLADA A NORMA PENAL, EFETIVA-SE O JUS PUNIENDI DO ESTADO.

Ideia básica: O cometimento de um crime é ofensa a toda uma sociedade.

PRINCÍPIO DA “RESERVA LEGAL” OU DA “LEGALIDADE”:

PORTANTO, UMA CONDUTA, POR MAIS IMORAL, REPUGNANTE OU REPROVÁVEL QUE SEJA, SÓ SERÁ CRIME SE ESTIVER DESCRITA COMO TAL NUMA LEI PENAL QUALQUER.

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO PENAL

___________________________________________________________________2º PERÍODO – 2015/II

NULLUM CRIMEM, NULLA POENA SINE LEGE

NÃO HÁ CRIME SEM LEI ANTERIOR QUE O DEFINA NEM PENA SEM PRÉVIA COMINAÇÃO LEGAL (ART.1º

CÓDIGO PENAL e ART.5º, inciso XXXIX da CF)

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a) ANTERIORIDADE DA LEI PENAL – Reforça o Princípio da Legalidade. É também previsto na redação do art.1º do CP, determinando que, para haver crime e ser imposta uma pena é preciso que o fato tenha sido cometido depois da lei que o define como crime entrar em vigor. Pode o crime entrar em vigor no mesmo dia em que o fato foi praticado, porque a partir da meia-noite está vigorando a Lei que o prevê.

b) IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS SEVERA – (Lei Penal no Tempo) - (art.2º do CP) – Uma lei nova mais grave (seja tornando crime uma conduta qualquer, seja aumentando a pena, por exemplo), jamais retroagirá, terá efeito “ex nunc”, já uma lei nova que de qualquer modo favorecer o agente (réu), aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado; “Art.5º, inciso XL da CF- a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”.

c) TAXATIVIDADE OU DA DETERMINAÇÃO (nullum crimen sine lege scripta et stricta) - Diz respeito à técnica de elaboração da lei penal, que deve ser suficientemente clara e precisa na formulação do crime e no estabelecimento da sanção para que exista real segurança jurídica. Do princípio da reserva legal decorre uma máxima determinação e taxatividade dos crimes, impondo-se ao Poder Legislativo, na elaboração das leis, que redija as condutas criminosas com a máxima precisão de seus elementos, bem como ao Judiciário que as interprete restritivamente, de modo a preservar a efetividade do princípio.

d) PROIBIÇÃO DA ANALOGIA “IN MALAM PARTEM” (para prejudicar) - A Lei Penal só poderá ser interpretada em benefício do réu. É impossível ao legislador prever tudo que possa acontecer e nem é essa a função do Direito Penal. Portanto, nesse aspecto, existirão lacunas, omissões, brechas na lei penal, situações não previstas e assim só se pode usar a Analogia se for para beneficiar o réu, ou seja, é proibido enquadrar alguém em determinado crime se o que ele fez não tem correspondência (não se encaixa) em nenhuma lei penal, embora haja um crime “parecido”. A utilização de analogia só será possível se for para beneficiar o réu. Ex: Art.181, I do CP fala em isenção de pena se o(a) acusado(a) for “cônjuge” da vítima mas se no caso concreto tratar-se de “companheiro(a)” em virtude de união estável, poderia ser feita a analogia para favorecê-lo(a) e ele(a) ser isento(a) de pena porque trata-se de um artigo favorável do ponto de vista do réu, diz “ isenta de pena”.

e) FRAGMENTARIEDADE - O Direito Penal não protege todos os bens jurídicos (vida, patrimônio, honra, saúde....) de violações, só os mais importantes, e, dentre estes, não os tutela de todas as lesões: intervém somente nos casos de maior gravidade, protegendo um fragmento desses interesses jurídicos. Ex: Lembrar do exemplo que a “fidelidade” não é mais um fragmento protegido do bem jurídico “casamento”.

f) INTERVENÇÃO MÍNIMA – O Direito Penal deve obedecer ao caráter de imprescindibilidade, procurando restringir ou impedir o arbítrio do legislador, no sentido de evitar a definição desnecessária de crimes. Só será crime o que realmente for necessário para a sociedade.

g) PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL - “Não se pode castigar aquilo que a sociedade considera correto”. Condutas que são aceitas pela sociedade e que não ofendam a Constituição Federal, seja pelos costumes, folclore ou cultura, passaram a ser excluídas da esfera penal. Ainda que determinada conduta aparentemente se enquadre em algum crime previsto, não será considerada criminosa, uma vez que está amparada pela aceitação social. Ex: Muitas pessoas fazem tatuagem (menores de idade principalmente), mães furam a orelhinha das meninas recém-nascidas para colocar brincos. Essas condutas são formalmente enquadradas como crime, ou seja, acham-se descritas na lei penal, em razão da ocorrência de uma lesão corporal, mas não serão consideradas, eis que tratam-se de condutas socialmente aceitas.

h) LESIVIDADE OU OFENSIVIDADE – (nullum crimen sine iniuria) Exige que do fato praticado ocorra lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. O aspecto valorativo da norma

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determina que só existe crime quando há ofensa concreta a esse bem jurídico. Daí se conclui que o crime exige, sempre, desvalor da conduta assim como desvalor do nível que irá afetar concretamente determinado bem jurídico. Sem ambos os desvalores não há crime. Tal como outros princípios, o da lesividade não se destina somente ao legislador, mas também ao aplicador da norma incriminadora, que deverá observar, diante da ocorrência de um fato tido como criminoso, se houve efetiva lesão ou perigo concreto de lesão ao bem jurídico protegido.

i) INSIGNIFICÂNCIA – “Crimes de bagatela”. Trata-se de um princípio de política jurídica, podendo o juiz aplicar ou não, mas que tem sua relevância quando se confronta com a necessidade de lesividade ou ofensividade ao bem jurídico, acima exposto. Ex: furto de um vidro de shampoo em uma grande rede de supermercado.

j) CULPABILIDADE – Nullum crimen sine culpa. É um juízo de reprovabilidade elaborado pelo juiz ao analisar o caso concreto e verificar se aquela pessoa a ser punida preenche os seguintes requisitos: ser imputável poderia ter agido de maneira diversa e tinha condições de alcançar o conhecimento da ilicitude do fato.

k) HUMANIDADE – Fundamentado no Princípio da Dignidade da pessoa humana prevê, no Direito Penal, que o réu deve ser tratado como “pessoa humana” antes do processo (desde o flagrante, durante o inquérito policial), durante o processo e na execução da pena, tem previsão constitucional, conforme art.5º, incisos III – “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”; e proibição, inciso XLVII “da pena de morte, salvo em caso de guerra declarada, de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento e cruéis”.

l) ESTADO DE INOCÊNCIA – ou Princípio da presunção de inocência: Previsto no art.5º, inciso LVII da CF “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. A pessoa poderá ter vários processos em andamento “ao mesmo tempo” MAS o que vale é a data do fato e se na data de cada fato ainda não havia uma condenação anterior definitiva, será tratado como réu primário em todos esses processos. Após a primeira condenação se tornar definitiva e ele cometer um novo crime, nesse sim será considerado reincidente (vide art.61,I e art.63 do CP).

m) IGUALDADE – Todos são iguais perante a lei penal.n) NON BIS IN IDEM – Ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato.

FONTES DO DIREITO PENAL “ de onde provém o Direito Penal?”

. Fonte originária (consciência do povo, tendo em vista a necessidade histórica de limitação do poder punitivo do Estado e a proteção dos interesses que a sociedade necessita)

. Fonte material ou de produção – Diz respeito ao órgão encarregado de sua elaboração. É o Estado, órgão criador do Direito Penal (União - art.22, I, C.F.) “Compete à União legislar sobre Direito Penal”.

. Fonte formal ou de conhecimento – Processo de exteriorização do Direito Penal

. Fonte formal Imediata (ou primária) – LEI (Obs: O Código Penal é uma espécie de Lei Penal dentre tantas, Lei 2.848/40). Outros exemplos de Leis Penais: Lei 11.343/06 (Antitóxicos); Lei 9.613/98 (Crimes de Lavagem de Dinheiro); Lei 7.492/86 (Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional); Lei 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento); Lei 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro);Lei 9605/98 (Lei dos Crimes Ambientais), etc....___________________________________________________________________

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. Fonte formal Mediata (ou subsidiária) – Costumes – Equidade - Princípios Gerais do Direito - Analogia

FONTE FORMAL IMEDIATA - LEI

A lei é a única fonte formal imediata. É o único modo pelo qual o Estado pode definir crimes e cominar penas (Princípio da Reserva Legal)

Partes da Lei penal: art.121 “Matar alguém” (preceito primário) Pena: 06(seis) a 20(vinte) anos (preceito secundário)

Características da lei penal. Imperativa. Exclusiva

. Geral (“erga omnes”) . Impessoal e abstrata . Fatos futuros (princípio da irretroatividade)

FORMAS DE CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS PENAIS (artigos de uma lei penal)

1ª Classificação das normas penais:

a - Normas penais incriminadorasb - Normas penais permissivasc - Normas penais finais, complementares, explicativas ou por extensão

Formas de adequação DO CASO CONCRETO à lei penal

. Subordinação imediata – Ex: A dá um tiro em B e ele MORRE – “imediatamente” é possível adequar o caso concreto ao art.121 do CP. (homicídio consumado)

. Subordinação mediata – Ex: A dá um tiro em B mas ele não MORRE – não é possível “imediatamente” adequar o caso concreto ao art.121 do CP, utiliza-se, então, uma Norma Penal por Extensão, neste caso, art.14,II do CP (tentativa), ficando, então, art.121 c/c art.14, II, ambos do CP(tentativa de homicídio)

2ª Classificação da lei penal

a – Completa - preceito primário completo (descrição do crime completa sem necessidade d complementação)

b – Incompleta - preceito primário indeterminado ou genérico, necessitando de complementação por conter matéria extrapenal, doutrinariamente denomina-se norma penal em branco

NORMA PENAL EM BRANCO___________________________________________________________________

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Conceito: Espécie de Norma Penal (artigo de uma lei penal) Incompleta, onde a descrição de uma ou várias circunstâncias que descrevem do crime necessitam de complementação, por conter matéria extrapenal.

Exemplo: art.237 CP (impedimentos para o casamento - Código Civil); art.268 CP (doença contagiosa – portaria do Ministério da Saúde); art.269 CP (doença de notificação compulsória – Ministério da Saúde); art.33 da Lei 11.343/06 (o que é considerado “droga”, Portaria da Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde)

Podem ser classificadas em :

a) Norma penal em branco em sentido lato ou homogêneas: O complemento vem de outra lei oriunda da mesma instância legislativa. ( Ex :Código Civil complementando o Código Penal) .

b) Norma penal em branco em sentido estrito ou heterogêneas: O complemento vem de lei de fonte legislativa diversa, ato normativo, portaria, etc... (Ex: Portaria 344/98 da ANVISA sobre drogas)

FONTE FORMAL MEDIATA (ou secundária)

As lacunas da lei penal em face do Princípio da fragmentariedade podem ser supridas????? SIM DESDE QUE PARA BENEFICIAR O RÉU

Espécies de fontes formais mediatas:

1. Analogia – Aplicação de uma hipótese não prevista na lei a caso concreto “parecido”. Somente será possível para favorecer o réu.Ex: “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a celebrar contrato de trabalho ” (art.198), é um crime que não pode ser aplicado, por analogia, a quem constranger outrem a “NÃO CELEBRAR CONTRATO”. Isso não seria permitido em Direito Penal.

2. Costumes – Trata-se de regra de conduta, é geral, constante e uniforme.

Ex: art.139 CP “reputação” art.140 CP “dignidade e decoro” art.233 CP “ato obsceno” art.234 CP “objeto obsceno”

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: O desuso não revoga as normas penais. Apenas uma lei federal pode revogar um crime previsto em outra lei.

3. Princípios Gerais do Direito – São premissas éticas extraídas da lei, que orientam a compreensão do ordenamento jurídico para melhor elaboração, aplicação e integração das normas.Ex: Princípio de não produzir provas contra si.___________________________________________________________________

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4. Tratados e as convenções - após o “referendum” é que tem caráter obrigatório (art.84, inciso VIII da CF), tornando-se fontes como as leis.

Equidade - Não é considerada fonte, mas forma de interpretação. O juiz utiliza a equidade (espécie de bom senso), por exemplo, quando for excluir a pena, como nos casos de perdão judicial. Ex: Art.121 § 5º - “Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária”.

A doutrina e a jurisprudência - NÃO são fontes do Direito Penal , mas servem como argumentação.

DOUTRINA: Autores das mais diversas áreas e ramos do Direito que publicam livros e artigos.JURISPRUDÊNCIA: É o conjunto de decisões uniformes e constantes dos tribunais, resultante da aplicação de normas a casos semelhantes constituindo uma norma geral aplicável a toda as hipóteses similares e idênticas. Visto o Direito brasileiro é fundamentado no sistema jurídico de tradição “civil law”, onde a fonte essencial do direito consolida-se na lei, conclui-se que a jurisprudência, enquanto compendio de decisões proferidas num mesmo sentido por um Tribunal, não possui competência normativa

SÚMULA: É o enunciado pelo qual o STJ (Superior Tribunal de Justiça) ou STF (Supremo Tribunal Federal) inscrevem o seu entendimento sobre questões que apresentem controvérsias na Jurisprudência nacional e sobre as quais chegaram a uma posição firme em face da sua composição contemporânea. É o pensamento dominante em determinada época. Trata-se de um método que visa simplificar os julgados desses Tribunais e de certa forma uniformizar a Jurisprudência. São numeradas e desde a Emenda Constitucional 45/2004 (Reforma do Judiciário) as Súmulas podem ser classificadas em (a) Vinculantes e (b) Não vinculantes.A grande maioria não são vinculantes. Todas as Súmulas editadas pelo Supremo Tribunal Federal até o advento da Lei 11.417/2006 não são vinculantes.

SÚMULAS VINCULANTES: Para ter a característica de “vinculantes” devem seguir rigorosamente o procedimento descrito nessa Lei, de 19.12.2006, que regulamentou o art.103-A da CF (inserido pela EC 45/2004) Somente o STF pode aprovar Súmulas vinculantes. Nenhum outro Tribunal do país pode fazer isso. Quando aprovada uma Súmula vinculante no âmbito criminal, ela passa a ser fonte formal mediata do Direito Penal.

A LEI PENAL NO TEMPO

(vigência da norma quando praticado o crime)

Teoria adotada pelo Código Penal: TEORIA DA ATIVIDADE (ou da ação): “TEMPO DO CRIME”: Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado (art. 4º CP). Ex: A deu um tiro em B que, levado ao hospital, faleceu dez dias depois. A data do crime foi fixada quando do disparo do tiro.

Quando há conflito de leis penais pelo surgimento de novos preceitos legais, APLICA-SE A LEI QUE FOR MAIS BENÉFICA AO AGENTE. Isto significa que a lei penal mais benigna tem retroatividade e ultratividade.

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RETROATIVIDADE: fenômeno pelo qual uma norma jurídica é aplicada a fato ocorrido antes do início de sua vigência.

ULTRATIVIDADE: fenômeno pelo qual uma norma jurídica é aplicada a fato ocorrido após a sua revogação. Ex: Paulo praticou o crime na vigência da lei A, (mais benéfica), posteriormente revogada pela Lei B (prejudicial). Neste caso a lei A se projetará no tempo e produzirá seus efeitos na vigência na Lei.

As hipóteses de conflito de leis penais no tempo são:

1. “novatio legis” incriminadora (tornando uma situação como crime)2. “abolitio criminis” (descriminalizando)3. “novatio legis in pejus” (por exemplo aumentando a pena)4. “novatio legis in mellius” (por exemplo diminuindo a pena)

LEI PENAL EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA(art.3º CP)

São consideradas leis temporárias aquelas que possuem vigência previamente fixada pelo legislador.São consideradas leis excepcionais aquelas que vigoram durante situações de emergência.

Pelo que determina o art.3º do CP embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. Ou seja, um crime praticado durante sua vigência será julgado conforme seu texto e não conforme as leis atuais, AINDA QUE AS ATUAIS SEJAM MAIS BENÉFICAS. Ou seja, aplicam-se ao fato cometido sob sua vigência, mesmo depois de revogadas pelo decurso do tempo ou pela superação do estado excepcional. Trata-se de exceção a regra do que seja mais benéfico ao réu, pois, se assim não fosse, não teria a eficácia esperada, já que nesse caso os agentes saberiam que seriam beneficiados de qualquer forma pelo fim de sua vigência.Exemplo: É criada uma lei temporária que define como crime determinada conduta apenas por 60 dias. Passam-se os 60 dias e a vigência dessa lei termina. As pessoas que praticaram aquela conduta nesse tempo da vigência da lei continuarão a responder pelo crime.

CONFLITO APARENTE DE NORMAS

A CADA INTENÇÃO CRIMINOSA só é cabível a aplicação de um artigo (uma norma), com a respectiva pena.

Porém, à primeira vista, pode parecer que seja cabível ao caso concreto mais de um artigo, ou seja, que aquela conduta se enquadre em mais de um crime.

Para resolver este problema, 4 são os princípios:

1. Princípio da ESPECIALIDADE (norma geral X especial) ou ESPECIFICIDADE ( a ideia do crime mais específico)

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A norma especial afasta a norma geral, vez que contém elementos que a especializam. Uma norma é especial em relação a uma norma geral quando a norma especial contém todos os elementos da norma geral e mais alguns elementos, denominados especializantes, específicos. Ex1: art.121, § 2º, V = é norma geral (fala genericamente “de outro crime”)art.157, § 3º, 2ª parte = norma especial, mais específica (tem todos os elementos do homicídio qualificado além de especificar a ação que é para subtrair, visa o patrimônio da vítima).

Ex2: art.130 “Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado” . art.131 “Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio.” O art. 130 tem circunstâncias específicas (doença venérea, que é moléstia grave, mediante relação sexual ou ato libidinoso) em relação ao art.131, que é mais genérico (fala genericamente moléstia grave e qualquer ato capaz de transmitir).

Ex3: art.121 (homicídio) e art.123 (infanticídio) - aqui é a mulher em estado puerperal matando o próprio filho durante o parto ou logo após é uma forma de homicídio “específico para essa situação”.

2. Princípio da SUBSIDIARIEDADE

Norma primária (mais ampla) X Norma subsidiária (menos ampla)

Norma subsidiária ou Crime subsidiário é aquele que descreve uma conduta criminosa como autônoma mas que em alguns casos faz parte da descrição de um crime mais grave . O crime subsidiário, portanto, descreve um grau menor de violação de um mesmo bem jurídico, isto é, um fato menos amplo e menos grave. Somente aplica-se a norma subsidiária, quando não se tratar de fato mais amplo.

Ex: art.146 – “Crime de constrangimento ilegal” é uma norma subsidiária (menos ampla) em relação a norma que define o estupro porque está contida na descrição desse crime. art.213 – “Crime de estupro” - é norma primária (mais ampla) - Constranger a vítima num estupro – Só responderá pelo estupro. O mesmo acontece com a ameaça (art.147) e a lesão corporal (art.129 “caput”), ambos também se encontram na definição do estupro, do roubo e de outros crimes.

Ex: dano qualificado – art. 163, § único, inc. II - é norma subsidiária mas danificar o patrimônio com o intuito de causar incêndio ou explosão - art.250 e 251 são normas primáriasobs: Sempre responderá pelo crime mais amplo INDEPENDENTE DE SER MAIS GRAVE.

3. Princípio da CONSUNÇÃO (ou absorção)

No cometimento de um crime, o agente pode, ao longo de seus atos, cometer outros delitos para efetivar o crime pretendido e nessas situações alguns desses crimes ficam absorvidos.

Ex: Para furtar uma TV no interior de uma residência: . arrombar a porta - art.163 = dano

. entrar na casa - art.150 = violação de domicílio . furtar a TV= art.155

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Assim, os artigos 163 e 150 são crimes meios para atingir o fim maior. O agente só irá responde pelo crime fim.Ex: Para cometer um estelionato (art.171), falsifica o conteúdo de um documento (art.299). O crime de falsidade ideológica ficará absorvido pelo estelionato, inclusive pela aplicação, nesse exemplo da Súmula 17 do STJ.

4. Princípio da ALTERNATIVIDADE(?)

Alguns crimes possuem mais de um núcleo (verbos), levando o nome de crime de ação múltipla. Ex: art.122 – induzimento, instigação ou auxílio a suicídio) - mesmo que o indivíduo instigue, auxilie e induza à prática do suicídio, ele responderá só por um delito Ex: art.33 da Lei 11.343/06 – No mesmo contexto fático o sujeito pode ser surpreendido vendendo, trazendo consigo, tendo em depósito, etc... só responderá por um crime de tráfico de drogas.

OBS: apenas alguns doutrinadores reconhecem o crime de ação múltipla como uma modalidade de conflito de normas, JÁ QUE RESPONDERÁ UMA VEZ SÓ PELO CRIME.

TERRITORIALIDADE DA LEI PENAL BRASILEIRA

(diz respeito à aplicação da lei brasileira dependendo de onde o crime é praticado)

1. O DIREITO PENAL ADOTA O PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE (MAS NÃO DE FORMA ABSOLUTA) – Esse princípio não atende à nacionalidade do autor do crime, mas o local onde foi cometido. O art.5º, do CP adotou o princípio da territorialidade temperada na medida em que adota-se o princípio da territorialidade quanto à aplicação da lei penal no espaço, mas não de maneira absoluta, em razão de respeito às convenções, tratados e regras de direito internacional

Território Nacional: é o local onde a lei penal será aplicada; Há a fixação do território dentro das fronteiras secas ou fronteiras fluviais (Paraguai/Uruguai). Abarca, portanto, o solo, subsolo, águas internas, mar e espaço aéreo. O espaço aéreo é uma coluna atmosférica (uma linha imaginária) e o mar territorial, tem até 12 milhas da costa (aproximadamente 22 km). As outras 12 milhas além do mar territorial, são chamadas de zona contígua e já configura alto-mar. É utilizada para exploração comercial.

art.5º, § 1º do C.P. = território nacional por extensão

- aeronaves/navios pertencentes ao governo- aeronaves/navios que, embora particulares, estejam a serviço do governo.- Eventuais destroços de embarcações ou aeronaves são também considerados embarcações

nacionais se estiverem em mar internacional; se estiverem em mar territorial estrangeiro será aplicada a lei do país que se encontre.

EMBAIXADAS ESTRANGEIRAS EM TERRITÓRIO BRASILEIRO – O território da embaixada estrangeira no Brasil, para fins penais, é considerado território brasileiro, salvo se o autor do crime possuir imunidade diplomática. Assim como as embaixadas brasileiras em território estrangeiro são territórios daquele país.___________________________________________________________________

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LEITURA IMPORTANTE: IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS - Está prevista na Convenção de Viena, assinada em 18.4.1961, aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo nº 103, de 1964, e ratificada em 23.12.1965. Funda-se no respeito ao Estado que o infrator representa e na necessidade de proteger essa pessoa para que bem exerça a sua missão. Atinge qualquer delito praticado pelos agentes diplomáticos, aos componentes de suas famílias, e aos funcionários da organização internacional, quando em serviço. Encampa, também, os chefes de governo estrangeiro que visitem o país, bem como a sua comitiva. Não alcança os empregados particulares dos agentes diplomáticos e os cônsules, embora possa haver tratado que estabeleça a imunidade. Esses últimos possuem apenas imunidade de jurisdição administrativa e judiciária, quando da realização de atos pertinentes ao exercício de suas funções consulares. Se o delito ocorrer dentro das sedes diplomáticas, o autor será devidamente processado pela lei brasileira se não possuir imunidade. Estes locais não são mais considerados extensão do país estrangeiro, embora possuem inviolabilidade em face do respeito devidos ao Estado.

IMUNIDADES PARLAMENTARES - Para que o parlamentar possa bem exercer o seu papel de representante da sociedade livre de pressões, a Constituição lhe outorga imunidades de natureza material ou substantiva, denominada imunidade absoluta, e formal ou processual, denominada relativa.

IMUNIDADE ABSOLUTA - Os membros do Congresso Nacional são invioláveis por suas opiniões, palavras e votos (art. 53, caput, da CF).Tratam-se dos chamados delitos de opinião ou de palavra, como os crimes contra a honra, apologia ao crime, etc. Como a prerrogativa é da função, e não da pessoa que a exerce, é irrenunciável e sequer poderá ser instaurado inquérito policial para a investigação e muito menos processo-crime. A imunidade inicia-se com a diplomação e encerra-se com o término do mandato. Mesmo após o término do mandato o parlamentar não poderá ser processado por crime de opinião ocorrido durante o período de imunidade.

IMUNIDADE RELATIVA - São referentes à prisão, processo, às prerrogativas de foro e para servir como testemunha. Desde a expedição do diploma o parlamentar não poderá ser preso em flagrante delito, salvo por crime inafiançável, quando o auto deverá ser lavrado pela Autoridade Policial e remetido à Câmara ou senado, conforme o caso, que, em votação secreta e por maioria absoluta de seus membros, poderá determinar a soltura. Para que seja instaurada a ação penal contra o congressista, haverá a necessidade de prévia licença da respectiva Casa (art. 53, §§ 1º e 3º, da CF). Os Deputados Federais e Senadores serão processados perante o STF e o indeferimento do pedido de licença, ou a ausência de deliberação, suspenderão a prescrição enquanto durar o mandato (art. 53, §§ 2º e 4º, da CF). Os Congressistas, também, não poderão ser obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhe confiaram ou deles receberam informações (art. 53, § 5º da CF).

IMUNIDADES DE DEPUTADOS ESTADUAIS E VEREADORES - Deputados Estaduais tem as mesma imunidades dos Congressistas, para isso, devem constar tais imunidades na Constituição Estadual. Mantendo-se o foro por prerrogativa de função o TJ (art. 27, § 1º da CF). São válidas apenas em relação às autoridades Judiciárias estaduais e locais, não podendo ser invocada em face do poder Judiciário federal. Já os vereadores possuem imunidade material em relação às suas opiniões, palavras e votos, desde que o exercício de suas funções e em seu respectivo município (art. 29, VIII, da CF).

LUGAR (local) DO CRIME

(diz respeito dentro do território brasileiro onde será julgado o caso)

Teoria adotada pelo Código Penal: TEORIA DA UBIQUIDADE: também denominada mista.**art.6º CP** Quanto ao LUGAR DO CRIME o CP adotou a teoria da ubiquidade (ou mista), considerando-se praticado o crime tanto no lugar da ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produzir ou deveria produzir-se o resultado.

Se o crime se iniciou e se consumou no Brasil, evidente que a lei brasileira é a que será aplicada. A segunda parte do art.6º se aplica a hipótese em que a ação teve início no Brasil, porém teve sua consumação em outro país (ou vice-versa).

Será aplicada a lei brasileira se:

1. a ação/omissão se deu no estrangeiro e o resultado se produziu no Brasil2. se a ação/omissão se iniciou aqui e se consumou no estrangeiro

Pena cumprida no estrangeiro

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Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.

Há situações em que os crimes cometidos fora do Brasil, ainda que já julgados no estrangeiro, serão novamente processados no Poder Judiciário brasileiro. Essa é a regra da extraterritorialidade, das hipóteses do art. 7.º do Código Penal, acima descrito.

Nestes casos, quando houver nova condenação, agora pela lei brasileira, a pena cumprida no estrangeiro abaterá a pena que for imposta no Brasil, na forma deste artigo.

Ou seja, admitindo-se que o réu seja condenado no Brasil por crime ao qual já foi processado no exterior (nas hipóteses de extraterritorialidade do art. 7.º do CP), a pena cumprida no estrangeiro detrairá a pena imposta no Brasil:

- Se forem idênticas as penas - a pena cumprida no estrangeiro será abatida na que restar fixada no Brasil (ex. duas privativas de liberdade).

- Se elas forem diversas - aquela cumprida no estrangeiro deve atenuar a pena imposta no Brasil, a critério a ser adotado pelo juiz (ex. uma pena restritiva de direitos e outra privativa de liberdade).

EFICÁCIA DA SENTENÇA PENAL ESTRANGEIRA

Para que a sentença penal estrangeira produza seus efeitos no Brasil, necessário se faz a sua homologação, cuja competência é do STJ (Superior Tribunal de Justiça), de acordo com a emenda constitucional 45/2004 (art. 105, alínea “i”, CF). A homologação servirá, segundo o art.9º do CP, para:

1. Obrigar o condenado à reparação do dano, a restituição e outros efeitos civis;2. Sujeitá-lo à medida de segurança

Porém, a sentença penal estrangeira poderá produzir seus efeitos no Brasil, independentemente de homologação, como se observa a título de ilustração, da leitura do art.63 do CP, que trata da reincidência.

EXTRADIÇÃO

É o ato pelo qual uma nação entrega a outra um criminoso para ser julgado ou punido.Para a extradição são consideradas determinadas circunstâncias que se referem ao

delinqüente e ao delito.

Quanto ao delinqüente:. só é permitida a extradição de estrangeiro; exceto art.5º, inc. LII da CF. é proibida a extradição do brasileiro nato - art.5º, inc. LI da CF

O brasileiro naturalizado poderá ser extraditado em 2 hipóteses:

1. Crime praticado antes da naturalização2. Tráfico de drogas

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Tramitação: O andamento do pedido de extradição no Supremo Tribunal Federal depende de que o extraditando seja preso no Brasil e colocado à disposição da Justiça até que termine o processo (Prisão Preventiva para Extradição). Ele será submetido a interrogatório e terá direito a se defender por meio de advogado. A Procuradoria-Geral da República também deve se manifestar na ação.

Condições para concessão da Extradição:

1. Crime cometido no território do Estado requerente;2. Ser aplicável ao extraditando a lei do Estado requerente;3. Existir sentença final de prisão, ou estar a prisão autorizada por autoridade competente no

Estado requerente.4. O ato cometido no país requerente seja considerado crime também no Brasil; 5. O crime não estar prescrito; 6. O extraditando não ter realmente a nacionalidade brasileira e 7. A condenação não ultrapassar o limite para pena máxima no Brasil, que é de 30 anos,

sendo que, nesse caso o Estado requerente teria que se comprometer a alterar para esse máximo.

Conseqüências Jurídicas

Concedida a Extradição, o Estado requerente terá o prazo de 60 dias para retirar o extraditando do território nacional, e não o fazendo, ele será posto em liberdade. Negada a Extradição, não se admitirá um novo pedido baseado no mesmo fato. Fundamentação Legal: Constituição Federal – artigo 5º, LI e LII; artigo 12; artigo 102, I, g. // Estatuto do Estrangeiro – Lei 6.815/80: artigo 76 e seguintes // Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal – artigos 207 a 214.

Teoria Geral do Crime(Título II da Parte Geral do C.P.)

- arts. 13 ao 25 -

1. Sistema dicotômico (adotado pelo Brasil - art.1º LICP) CRIME = DELITO

XCONTRAVENÇÃO PENAL (Lei das Contravenções Penais 3688/41)

*** INFRAÇÃO PENAL é gênero do qual crime e contravenção penal são espécies

C R I M E

1. CONCEITOS DE CRIME

a) Material: É toda conduta que lesa e/ou põe em perigo bem jurídico penalmente tutelado

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b) Formal: É o que a lei diz que é crime

** princípio da legalidade (art.1º CP)

c) Analítico: Busca, sob um prisma jurídico, estabelecer os elementos estruturais do crime

“Crime é um fato típico, antijurídico e culpável”

2. SUJEITOS DO CRIME2.1. - sujeito ativo: Quem pratica a ação ou omissão que caracteriza o delito.OBS: Pessoa jurídica somente pode ser sujeito ativo de crime ambiental (Lei 9605/98) OBS: O STF entendeu que é admissível a condenação de pessoa jurídica pela prática de crime ambiental, ainda que absolvidas as pessoas físicas ocupantes de cargo de presidência ou de direção do órgão responsável pela prática criminosa. (1ªTurma. Recurso Extraordinário 548181/PR, rel. Min. Rosa Weber, julgado em 6/8/2013 (Informativo 714).2.2. - sujeito passivo: É o titular do bem jurídico ofendido (vítima ou ofendido)

3. OBJETOS DO DELITO - aquilo contra o quê se dirige a conduta criminosa3.1 objeto jurídico: é o bem/interesse tutelado pela norma penal (ex: No homicídio é a vida)3.2 objeto material : é a coisa ou pessoa sobre a qual recai a atividade criminosa (ex: No homicídio é o cadáver)Obs: há crimes em que não há objeto material, ex: ato obsceno, falso testemunho

4. DO TÍTULO DO DELITO4.1. título genérico: No CP aparece como “Título” e “Capítulo”: refere-se a um gênero de fatos

ex: Crimes contra a pessoa e contra a vida4.2. título específico: refere-se a conduta descrita

é a denominação jurídica do crime (“nomen juris”)ex: homicídio

PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES DAS INFRAÇÕES PENAIS

1) QUANTO AO RESULTADO:

a) Crimes materiais: O legislador descreve a conduta e o resultado, exigindo a sua produção para a consumação

(ex. arts. 121, 124, 129, 155, 157)

b) Crimes de mera conduta:O legislador só descreve o comportamento do agente (ex. arts.135,150, 233, 330, 338)

c) Crimes formais:

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O legislador descreve a conduta e o resultado, mas não exige a sua produção para a consumação (ex. 147, todos os crimes contra a honra)

2) QUANTO AO ELEMENTO SUBJETIVO:

a) Crimes dolososDefinição no art.18, I, C.P.

b) Crimes culpososDefinição no art.18, II, C.P.

c) Crimes preterdolosos (ou preterintencionais ou qualificados pelo resultado)É aquele em que a ação causa um resultado mais grave que o pretendido pelo agente (há dolo

no antecedente e culpa no conseqüente)

3) QUANTO AO NÚMERO DE SUJEITOS:

a) Crimes simples – Apenas uma pessoa pode cometer o crime. Ex: Uma pessoa sozinha pode matar alguém, uma pessoa sozinha pode praticar um furto, etc.... É a natureza do crime. Não pensar em casos concretos pq pode ser que fora praticado por várias pessoas numa determinada situação.

b) Crimes de concurso necessário

São os que exigem mais de um sujeito ativo.

Eles podem ser:

1. crimes coletivos São os que têm como elementar o concurso de várias pessoas para um fim único (ex: art.288 –

Associação Criminosa – 3 pessoas ou mais - Alteração pela Lei 12.850/13)

2. crimes bilaterais São os que exigem o concurso de duas pessoas, mesmo que uma delas não seja culpável

(ex.art.235)

4) QUANTO AO MOMENTO DA CONSUMAÇÃO:

a) Crimes instantâneos

A consumação se dá num determinado instante, sem continuidade temporal (ex: 155,157...)

b) Crimes permanentesSão os que causam uma situação danosa ou perigosa que se prolonga no tempo. O momento

consumativo se prolonga no tempo (ex.148, 149,159)

c) Crimes instantâneos de efeitos permanentesSão os crimes em que a permanência dos efeitos não depende do agente; se caracterizam

pela índole duradoura de suas conseqüências; em outras palavras podemos dizer que o crime se consuma em determinado instante e os efeitos perduram (ex. 121,123)___________________________________________________________________

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5) QUANTO À CONDUTA PUNÍVEL:a) Crimes comissivos

São os praticados mediante ação; vale dizer, o sujeito faz alguma coisa**há os crimes comissivos propriamente ditos (são os que se perfazem com a realização da

conduta descrita no crime)**há os crimes comissivos por omissão (ou omissivos impróprios) (são aqueles em que o

sujeito, mediante uma omissão, permite a produção de um resultado posterior - ex. mãe deixar de alimentar o filho, vindo este a morrer)

b) Crimes omissivosSão os praticados por inação; vale dizer, o sujeito deixa de fazer alguma coisa que deveria ter

feito (ex.135)**há os crimes omissivos próprios (são os que se perfazem com a simples abstenção da

realização de um ato – ex.art.135 )

**há os crimes omissivos impróprios (ou comissivos por omissão) (são aqueles em que o sujeito, mediante uma omissão, permite a produção de um resultado posterior - ex. mãe deixar de alimentar o filho, vindo este a morrer)

**há os crimes de conduta mista (são os delitos em que há uma ação inicial por parte do agente e uma omissão final - ex. art.169, parágrafo único, II)

6) QUANTO À INTENSIDADE DA OFENSA AO BEM JURÍDICO:

a) Crime de danoSão os que só se consumam com a efetiva lesão do bem jurídico (ex.121, 129, 155, 163,..)

b) Crime de perigo: o agente cria apenas a probabilidade do dano

São os que se consumam tão-só com a possibilidade do dano (ex.130 caput, 137, 250)

7) QUANTO AO AGENTE:

a) Crimes comunsSão os que podem ser praticados por qualquer pessoa

b) Crimes próprios São os que só podem ser cometidos por uma determinada categoria de pessoas, pois pressupõe no agente uma particular condição ou qualidade pessoal (ex.123, 312). Nesta modalidade o sujeito ativo pode determinar a outrem a execução do crime, podendo haver co-autor e partícipe.

obs: os crimes funcionais (são os que só podem ser praticados por pessoas que exercem funções públicas - arts.312 e seguintes) pertencem à categoria dos crimes próprios

c) Crimes de mão própriaSão os que somente podem ser cometidos pelo sujeito em pessoa (vem da idéia de que

somente aquela “mão” pode cometer. Só há 4: 1º: corrupção passiva privilegiada; 2º prevaricação; 3º

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falso testemunho; 4º deserção. O sujeito ativo não pode determinar que outrem pratique o crime em seu lugar; poderá haver partícipe; nunca co-autor.

QUADRO GERAL DAS CLASSIFICAÇÕES:

QUANTO AO RESULTADOMATERIAISDE MERA CONDUTAFORMAIS

QUANTO AO ELEMENTO SUBJETIVODOLOSOSCULPOSOSPRETERDOLOSOS

QUANTO AO NÚMERO DE SUJEITOS SIMPLES

DE CONCURSO NECESSÁRIO – crimes coletivos e crimes bilaterais

QUANTO AO MOMENTO DA CONSUMAÇÃOINSTANTÂNEOSPERMANENTESINSTANTÂNEOS DE EFEITOS PERMANENTES

QUANTO À CONDUTA PUNÍVELCOMISSIVOSOMISSIVOS – próprios, impróprios e de conduta mista

QUANTO À INTENSIDADE DA OFENSA AO BEM JURÍDICODE DANODE PERIGO

QUANTO AO AGENTECOMUNSPRÓPRIOSDE MÃO PRÓPRIA

(FAZER O EXERCÍCIO RELATIVO AO TEMA)

DO FATO TÍPICO(1º requisito do crime)

Definição analítica de crime: “fato típico, antijurídico e culpável”

1. CONCEITO DE FATO TÍPICO

** é todo fato que se enquadra na descrição contida em determinado crime ** é o primeiro requisito do crime

2. ELEMENTOS DO FATO TÍPICO

1º CONDUTA (dolosa ou culposa)* ação/omissão – pois pressupõe um comportamento humano

2º RESULTADO* é o efeito do comportamento humano

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* somente nos crimes materiais pq. nos formais e nos de mera conduta não há a necessidade de resultado

3º NEXO CAUSAL* é a ligação entre a conduta e o resultado

4º TIPICIDADE* é a adequação da conduta à descrição do crimefato típico (se adequa) X fato atípico (não se adequa)

Ex: A mata B com tiros de revólver.- Conduta: atirar- Resultado: morte- Nexo causal entre eles: a vítima faleceu em conseqüência dos ferimentos produzidos pelos tiros.- Tipicidade: esses elementos estão descritos pela lei como crime de homicídio (art.121 do CP)

CONDUTA(1º elemento do Fato Típico)

1. CONCEITO: É a ação ou omissão humana consciente e voluntária, dirigida a determinada finalidade

2. CARACTERÍSTICAS DA CONDUTA:

1ª - só o ser humano pode realizar uma conduta.

2ª - só a conduta voluntária tem relevância para o direito penal

Elementos da conduta:a) um ato de vontade dirigido a uma finalidadeb) atuação positiva ou negativa dessa vontade no mundo exterior (manifestação através de

um fazer ou não fazer)

ATOS INVOLUNTÁRIOS OU INCONSCIENTES

- movimentos reflexos – (Diferentes de atos impulsivos que são considerados voluntários – ex: violenta emoção)

- movimentos realizados em completo estado de inconsciência (ex. sonambulismo, hipnose);

- coação física irresistível – Um sujeito segura o outro forçando a atirar na vítima.

- caso fortuito e a força maior (são os acontecimentos imprevisíveis e inevitáveis, que escapam do domínio da vontade do homem)

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*** nestas hipóteses, por não haver vontade dominante afastam o crime.

3. FORMAS DE CONDUTA

Duas são as formas de condutas: a ação e a omissão

1. AÇÃO (Crime comissivo) A ação consiste num movimento corpóreo externo; necessariamente o agente fará uma atitude positiva, no sentido de fazer algo.

2. OMISSÃO (Crime omissivo) Justamente o comportamento omissivo faz o sujeito incorrer no crime

**comportamento estático, de repouso corporalOU

** deixar o agente de fazer aquilo que tinha o dever jurídico e a possibilidade de realizar (art.13 §2º CP)

RESULTADO(2º elemento do fato típico)

RESULTADO é a modificação do mundo exterior provocada pelo comportamento humano voluntário (pela conduta). O resultado pode apresentar-se de diversas formas:

Ex: efeitos físicos, como a destruição de um objeto no crime de dano (art.163); fisiológicos, como a morte de um homem no homicídio (art.121), ou a perda de um membro nas lesões corporais (art.129, parágrafo 2º, III), etc...

RELAÇÃO DE CAUSALIDADE(3º elemento do fato típico)

O 3º elemento do fato típico é o nexo de causalidade entre o comportamento humano e a modificação do mundo exterior (resultado)

Ex: A mata B a golpes de faca. Há o comportamento humano (ato de desferir facadas) e o resultado (morte). O primeiro elemento é a causa; o segundo, o efeito. Entre um e outro há uma relação de causalidade, pois a vítima faleceu em conseqüência dos ferimentos produzidos pelos golpes de faca.

ATENÇÃO:O nexo causal só funciona como elemento do fato típico em relação aos crimes:a) materiais consumados eb) na tentativa dos crimes materiais Já nos crimes formais e nos de mera conduta, a ação/omissão relaciona-se direto com a tipicidade, sendo que nestes crimes, apenas dois (conduta/tipicidade) são os elementos do fato típico.

Art.13, caput , 2ª parte – é considerada causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

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Teoria da “conditio sine qua non” ou da equivalência dos antecedentes causais foi a adotada pelo Código Penal.

Atribui-se relevância causal a todos os antecedentes do resultado, considerando que nenhum elemento, de que depende a sua produção, pode ser excluído da linha de desdobramento causal.

Procedimento hipotético de Thyrén – Para se saber se uma ação é causa do resultado basta, mentalmente, excluí-la da série causal. Se com sua exclusão o resultado teria deixado de ocorrer, é causa.

A conduta é causa quando, suprimida mentalmente, o evento concreto não teria ocorrido no momento em que ocorreu.

Crítica à teoria adotada pelo C.P.: ela é muito abrangente, pois ao considerá-la ao “pé da letra”, chegaremos a conclusões absurdas (ex: homicídio com arma: quem fabricou, quem vendeu, quem comprou, quem emprestou) daí, porque

** A análise do nexo causal não se esgota evidentemente na aplicação da teoria do conditio sine qua non.

A complementação do juízo de nexo causal depende ainda da causalidade psíquica, isto é, da existência de dolo ou culpa.

Vale dizer: para evitar-se interpretações absurdas, é preciso verificar-se o aspecto subjetivo da conduta de cada pessoa que contribuiu para o resultado e não somente o aspecto material.

Art.13, §1º, do CP : (exceção à teoria adotada pelo C.P.no caput) – a superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.

Este parágrafo determina que uma conduta que apesar de se relacionar com o acontecimento, “esta causa por si só pode causar o resultado” e dessa forma o agente não responderá pelo resultado.

Aqui fica excluído nexo de causalidade quando sobrevém uma “segunda causa” que se situa fora do desdobramento normal da causa original, e que, por si só, já causa o resultado.

Ex: a vítima agredida pelo agente é transportada ferida para o hospital em ambulância, que, no caminho, sofre uma colisão; se o posterior falecimento da vítima no hospital foi conseqüência da batida do veículo, trata-se de uma causa independente, só respondendo o agente pelas lesões corporais.

ESPÉCIES DE “SEGUNDAS CAUSAS” QUE PODEM INTERFERIR NUM CASO CONCRETO

CAUSA ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTE: causa que por si só produz o resultado.- preexistentes: ex: A desfere facadas em B que, morre por ter ingerido veneno antes das

facadas.

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-concomitante: ex: A desfere tiros em B que vem a falecer naquele exato momento por estar sofrendo de um ataque cardíaco fulminante, não causado pela conduta de A

- supervenientes: A envenena B que, morre em razão de um desabamento de sua residência

CAUSA RELATIVAMENTE INDEPENDENTE:

- preexistentes: ex: A desfere facadas em B que, por ser hemofílico morre de hemorragia

-concomitante: ex: A desfere tiros em B que vem a falecer de um ataque cardíaco que teve início naquele momento da conduta e em razão dela.

- supervenientes: ex: Um ônibus que o sujeito dirige, colide com um poste que sustenta fios elétricos, um dos quais, caindo ao chão, atinge um passageiro já fora do veículo apenas com escoriações no braço, provocando a sua morte em conseqüência da forte descarga elétrica.

(FAZER O EXERCÍCIO RELATIVO AO TEMA)

Absolutamente independentes em

relação à conduta do sujeito

Preexistentes

Concomitantes

Supervenientes

Art.13, caput, do CP (há exclusão do nexo

de causalidade). Nunca responderá

pelo resultado

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TIPOS DESEGUNDAS

PreexistentesConcomitantes

O resultado é imputável (art.13,

caput)CAUSAS

Relativamente independentes em

relação à conduta do sujeito

Se estiver fora do desdobramento normal dos fatos

Supervenienteso resultado não é imputável( art.13, § 1º), CASO CONTRÁRIO SIM

Art.13, § 2º do CP: A omissão como causa do crime

O agente responde pelo resultado porque não o impediu realizando a conduta a que estava obrigado.

Causalidade nos crimes comissivos por omissão:

Art.13, § 2º: “A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem”:

a) TENHA POR LEI OBRIGAÇÃO DE CUIDADO, PROTEÇÃO OU VIGILÂNCIA

Ex: A mãe que deixa de alimentar o filho e este vem a morrer de inanição. Ela está descumprindo uma obrigação imposta pela lei. Normalmente essas obrigações a que se referem à alínea ”a” advém das relações de pátrio poder, casamento, família, tutela, curatela, adoção, etc...

b) DE OUTRA FORMA, (leia-se, de qualquer forma) ASSUMIU A RESPONSABILIDADE DE IMPEDIR O RESULTADO

Ex: Guia alpino e alpinista; enfermeiro e doente; salva-vidas e mau nadador. O sujeito está na condição de garantidor, independente de uma relação jurídica entre eles.

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c) COM SEU COMPORTAMENTO ANTERIOR, CRIOU O RISCO DA OCORRÊNCIA DO RESULTADO

Ex: Um exímio nadador convida alguém a acompanha-lo em longo nado e, em determinado instante, vendo que o companheiro está perdendo as forças, não o socorre, deixando-o morrer.

TIPICIDADE

(4º elemento do fato típico)

CONCEITO: É a perfeita adequação entre o fato concreto e a descrição de cada espécie de infração contida no artigo que define determinado crime

TIPO é o conjunto dos elementos descritivos do crime contidos na lei penal. Ex: Art.155. O tipo do crime de furto é o conjunto dos elementos da conduta punível definido pela lei: “Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”

Formas de Adequação Típica:

1) Adequação típica de subordinação imediata – O fato se enquadra no modelo legal imediatamente. Ex: A mata B. O fato se amolda à figura legal do homicídio (art.121).

2) Adequação típica mediata (por extensão ou ampliada) – O fato não se enquadra imediatamente na norma penal incriminadora, necessita de outra disposição. Ex: Na tentativa de homicídio, por exemplo, o fato não se amolda de maneira imediata no art.121, havendo necessidade de empregar-se a norma contida na parte geral que o descreve.

DO TIPO DO CRIME DOLOSO

O dolo é elemento subjetivo do tipo

Conceito de DOLO: é a vontade e a consciência de realizar as características objetivas do tipo

ELEMENTOS:

1) Consciência da conduta e do resultado;2) Vontade de realizar a conduta e produzir o resultado.

ESPÉCIES

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1) Dolo direto e eventual (artigo 18, inciso I do CP)

a) DIRETO – quando a vontade do sujeito se dirige a determinado resultado, ele quer efetivamente realizar o crime. Ex: o sujeito desfere golpes de faca na vítima com intenção de matar.

b) EVENTUAL - quando o sujeito assume o risco de produzir o resultado. Ele não quer o resultado, senão seria dolo direto. Ele prevê o resultado e mesmo assim age, sendo indiferente se o resultado ocorrerá ou não.Ex: o sujeito dirige a 190km embriagado em via pública, atropela e mata um pedestre.

DO TIPO DO CRIME CULPOSO

CULPA: Constitui elemento normativo do tipo, pois quando houver, para determinado crime, a punição a título de culpa, estará claramente descrita, pois é a exceção. Ex: art.121 § 3º

- A “culpa” decorre da inobservância do dever de cuidado

- As condutas humanas não podem causar danos à 3o, pois, caso contrário, houve falta de cuidado objetivo

- Há falta do discernimento e prudência = infringe o cuidado necessário objetivo do ‘’homem médio ‘’ – este é o critério.

1) Previsibilidade (possibilidade de ser antevisto o resultado)

a) Objetiva

Compara-se a conduta da pessoa modelo na mesma situação com a conduta concreta

Ex: dirigir na contramão

Pergunta-se: Qual seria o cuidado exigível ?

O resultado lesivo deve ser objetivamente previsível. Obs: Se não há como prever objetivamente a probabilidade de um resultado, a pessoa não pode responder por ele, fica excluída a tipicidade. Ex: A pessoa está dirigindo normalmente na marginal Tietê em São Paulo, onde há vários viadutos que a cortam. De repente despenca um ciclista de um desses viadutos bem no momento que o motorista está passando embaixo. Ele atropela e mata o ciclista. Ele tinha como prever o resultado??? Obviamente que não.

b) Subjetiva

É questionada a possibilidade do agente segundo suas aptidões pessoais e na medida de seu poder individual, prever o resultado.

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Elementos do fato típico culposo

1- Conduta humana voluntária: não dirigida a um fim, assim só crime doloso.

2- Inobservância do cuidado objetivo

Manifesta -se através da:

- IMPRUDÊNCIA : é a prática de fato perigoso (dirigir em alta velocidade)

- NEGLIGÊNCIA : é a ausência de precaução (deixar arma perto de um criança)

- IMPERÍCIA: é a falta de aptidão técnica

3- Previsibilidade objetiva: o que a pessoa vê antes. (antes que aconteça nós prevemos um resultado)

4- Ausência de previsão: a culpa é justamente “não prever o que era previsível objetivamente” = o agente poderia ter previsto o que todos previram, mas por ter sido imprudente, negligente e/ou imperito não previu.

5- Resultado Involuntário: não há crime culposo sem resultado: não havendo resultado a conduta realizada por si só já será uma infração ou um indiferente penal ex: dirigir em alta velocidade (não é crime, apenas infração administrativa no Código de Trânsito) e limpar arma carregada (mesmo que não dispare, se a pessoa não tem porte já será um crime).

6- Nexo de Causalidade – ligação entre a conduta e o resultado

7- Tipicidade – Previsão legal pois é a exceção ( a regra é que o crime seja punido apenas a título de dolo)

1 ) ESPÉCIES DE CULPA

- Culpa consciente e inconsciente

*culpa inconsciente: é a que se manifesta pela imprudência, imperícia e negligência. É a culpa propriamente dita

* culpa consciente (ou culpa de previsão) : o resultado é previsto pelo agente que espera levianamente que não ocorra ou pode evitá-lo. Ex: caçador, ultrapassagem

obs: não confundir dolo eventual com culpa consciente.

No DOLO EVENTUAL o agente tolera a produção do resultado; é indiferente que o resultado ocorra ou não.

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Na CULPA CONSCIENTE o agente não quer o resultado e acredita na sua habilidade para que o resultado não ocorra

- Culpa própria e imprópria

* Na culpa própria o agente não quer o resultado nem assume o risco de produzi-lo, embora seja previsível. É a culpa propriamente dita.

* Na culpa imprópria o resultado é previsto e querido pelo agente o qual age em erro sobre algum elemento descritivo de um crime (Ex: Pai mata o próprio filho que entra de madrugada pensando tratar-se de um ladrão MAS havia luz e ele poderia ter tido mais cautela mas foi imprudente, já pegou a arma e atirou). Previsto no art.20,§ 1º, 2ª parte.

2) Graus de Culpa

Grave, leve e levíssima

OBS: Inexiste diferença para efeito de cominação abstrata de pena mas o juiz deve levar em conta a natureza da culpa no momento de dosar a pena concreta, já que lhe cabe, nos termos do art.59 , caput, do Código Penal, fixar a pena de acordo com o grau de reprovabilidade do agente.

3) Compensação de culpas – Não se admite em Direito Penal - O proceder culposo da vítima não elide o do agente.

Ex1: A imprudência do pedestre que cruza a via pública em local inadequado não afasta a do motorista que, trafegando na contramão, vem a atropelá-lo.

Ex2: Se um motorista deixa, em declive, seu automóvel mal brecado e uma criança sobe nele, vindo a ferir-se pela precipitação ladeira abaixo do veículo, responderá por culpa.

Exceção: Só se isentará de pena alguém quando o resultado for atribuível exclusivamente à culpa da vítima. Ex: Se uma pessoa toma, sem que o condutor a possa ver, a traseira de seu veículo e vem a machucar-se, não existe responsabilidade daquele, pois o fato voluntário e ilícito da vítima é que torna danosa sua ação. Em regra, a responsabilidade do agente existe quando a ação causal de outrem é previsível para ele.

4) Concorrência de culpas

Ocorre quando dois ou mais agentes, em atuação independente uma da outra, causam resultado lesivo por imprudência, negligência ou imperícia. Todos respondem pelos eventos lesivos.

Ex: Suponha-se que dois veículos se choquem num cruzamento, produzindo-se ferimentos nos motoristas e provando-se que agiram culposamente. Trata-se de concorrência de culpas.

Os dois respondem por crime de lesão corporal culposa. O motorista A é sujeito ativo do crime em relação a B, que é vítima; em relação à conduta de B, ele é sujeito ativo do crime, sendo A o ofendido.

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OBS: Não se trata de co-autoria, tendo em vista que não há vínculo psicológico entre os agentes. Na realidade verifica-se a ocorrência da autoria colateral, onde não há adesão da conduta de uma na do outro, ignorando os agentes que contribuem reciprocamente na realização da mesma ação.

5) Excepcionalidade do crime culposo

O artigo 18, § único do CP diz que deve ser previsto pelo artigo que define o crime expressamente e no silêncio desta, quanto ao elemento subjetivo, a punição só se verifica a título de dolo. Ex: não há crime de dano culposo (art.163), sobra apenas a responsabilidade civil.

6)Culpa nos delitos omissivos impróprios ( ou comissivos por omissão ) – Para aqueles que se enquadram no art.13, § 2º do CP e têm o dever de impedir o resultado – É possível a ocorrência de crimes omissivos impróprios culposos. Ex: É o caso da babá que, por negligência, descumpre o dever contratual de cuidado e vigilância da criança e não impede que esta morra afogada na piscina da casa. Nessa hipótese responderá por homicídio culposo por omissão

DOS CRIMES QUALIFICADOS PELO RESULTADO

Conceito: É aquele em que o legislador, após descrever uma conduta típica, com todos os seus elementos, acrescenta-lhe um resultado, cuja ocorrência acarreta um agravamento da sanção penal. O crime qualificado pelo resultado possui duas etapas:

a) Prática de um crime completo, com todos os seus elementos (fato antecedente)

b) Produção de um resultado agravador, além daquele que seria necessário para a consumação (fato consequente)

Na letra “a” há um crime perfeito e acabado, praticado a título de dolo ou culpa, ao passo que, na letra “b”, um resultado agravador produzido dolosa ou culposamente acaba por tipificar um delito mais grave.

Ex: A ofensa à integridade corporal de outrem, por si só, já configura o crime previsto no art.129, caput, do Código Penal, mas, se o resultado final caracterizar uma lesão grave ou gravíssima, essa consequência servirá para agravar a sanção penal, fazendo com que o agente responda por delito mais grave.

Exemplos de crimes qualificados pelo resultado: São 4:

1º) Dolo no antecedente e dolo no consequente: Ex: Marido que espanca a mulher até atingir seu intento, qual seja, deformidade permanente.(art.129, § 2º, IV CP)

2º) Culpa no antecedente e culpa no consequente: Ex. Incêndio culposo com vítima fatal (art.250 c/c art.258 CP)

3º) Culpa no antecedente e dolo no consequente: Ex: Motorista que atropela a vítima culposamente por imprudência e depois, dolosamente deixa de socorrê-la (art.303 § único do CTB)

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4º) Dolo no antecedente e culpa no consequente (crime preterdoloso ou preterintencional): Ex: Lesão corporal seguida de morte (art.129, § 3º CP) Agente dá um soco na vítima querendo somente lesioná-la mas ela escorrega e bate com a cabeça na quina da calçada e morre.

DO CRIME PRETERDOLOSO

( artigo 19 do CP)

Conceito: - Também denominado preterintencional. É aquele crime em que a conduta produz um resultado mais grave que o pretendido pelo sujeito : o agente quer um resultado e acaba conseguindo um resultado mais grave que o pretendido.

Generalidades: - São espécies de crimes qualificados pelo resultado pois há dolo no antecedente (conduta) e culpa no conseqüente (resultado) deriva da inobservância do cuidado objetivo. Exemplos: - art. 127(aborto), art. 129, § 3º (lesão corporal seguida de morte, art. 133, § 1º e 2º e Artigo 135, § único)

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA DE UM CRIME

DO ITER CRIMINIS

Iter criminis é o conjunto de fases pelas quais passa o delito, abrangendo as seguintes etapas: 1. cogitação; 2. atos preparatórios; 3. execução; 4. consumação.

Ex: O agente, com intenção de matar a vítima (cogitação), adquire um revólver e se posta de emboscada à sua espera (atos preparatórios), atirando contra ela (execução) e lhe produzindo a morte (consumação).

O estudo da tentativa, portanto, está intrinsecamente ligado ao iter criminis, posto só haver crime tentado quando o delito deixa de percorrer todo o seu caminho, findando sem a completa satisfação do tipo.

1ª Fase do iter criminis - COGITAÇÃO

A primeira fase do iter criminis é a “cogitatio” - que é o ato de elaborar planos, estratégias e demais elocubrações acerca do perpetrar de um crime. A cogitação está no foro íntimo de cada pessoa, podendo ou não se materializar em ato ilícito.

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Esta fase não tem relevância para o Direito Penal, dado não constituir circunstância punível o mero exercício de pensar.

Mesmo quando exteriorizada, se ela não passa de certo ponto, se não chega ao grau de tentativa, não é punível, como acontece com a determinação, a instigação ou auxílio, conforme art. 31 do CP. Porém, há casos em que se observa já constituir delito o desígnio ou propósito de vir a cometê-lo, como sucede com a conspiração, a incitação ao crime (art. 286), a associação criminosa (art. 288), e ainda outros, em que há o propósito delituoso, ou a intenção revelada de vir a praticá-lo.

“A impaciência do legislador, então, antecipa-se e não espera que ele se verifique, punindo, em última análise, a intenção, o projeto delituoso”.

2ª Fase do iter criminis - ATOS PREPARATÓRIOS

Depois da cogitação, o iter criminis dá espaço aos atos preparatórios.

Atos preparatórios "é aquela forma de atuar que cria as condições prévias adequadas para a realização de um delito planejado. Por um lado, deve ir mais além do simples projeto interno (mínimo) sem que deva, por outro, iniciar a imediata realização tipicamente relevante da vontade delitiva (máximo)".

Portanto, consiste na conduta que precede, sob o prisma temporal, a execução do fato criminoso: um trecho da realidade fática que não é atingido pela pena.

Ex: A compra de uma arma ou a aquisição de um tubo de gás paralisante, para a realização de um homicídio ou de um roubo.

Exceção: São punidos, entretanto, quando o legislador os define como atos executórios de outro delito autônomo. Nesses casos, o sujeito pratica crime não porque realizou atos preparatórios do crime que pretendia cometer no futuro, mas sim porque praticou atos executórios de outro delito. Ex.: aquele que, desejando cometer uma falsidade, fabrica aparelho próprio para isso, responde pelo crime do art. 291 do CP. É punido não porque realizou ato preparatório (a fabricação do instrumento) da falsidade futura, mas porque realizou a conduta descrita no dispositivo citado.

A punibilidade dos atos preparatórios deve representar, no entanto, uma medida de caráter excepcional, não se admitindo, de forma alguma uma incriminação genérica e indiscriminada desses atos.

3ª Fase do iter criminis – INÍCIO DE EXECUÇÃO é a TENTATIVA PROPRIAMENTE DITA

“Art.14 do CP: Diz-se o crime:Crime ConsumadoI – consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;TentativaII – tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.Pena da tentativaParágrafo único: Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.”

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O estágio de realização do crime que está entre a preparação e a consumação do delito é o início da execução, denominado também tentativa.

No entanto é muito sutil a diferença entre os atos preparatórios e o início de execução.

O início da execução é o começo da realização do tipo penal. Tentar a morte (homicídio) é começar a matar. Tal ação executiva é aquela que se amolda ao tipo, mas de forma total (por inteiro). O sujeito ativo da ação começa a execução de um crime quando pratica uma fração do tipo, quando adentra na área do tipo, quando se dá uma parcial tipicidade.

IMPORTANTE: A DOUTRINA RECONHECE QUE A DIVISÃO DOS ATOS PREPARATÓRIOS E OS ATOS DE EXECUÇÃO NÃO SE PODE ESTABELECER POR MEIO DE FÓRMULAS MATEMÁTICAS SENÃO APRECIANDO CASO POR CASO, AS VÁRIAS CIRCUNSTÂNCIAS QUE O ENVOLVEM NO FATO OBJETIVADO, PARA, ENTÃO, SE PODER DIZER, NA ESPÉCIE, SE TRATA DE UM ATO DE SIMPLES PREPARAÇÃO OU DE INÍCIO DE EXECUÇÃO.

Ex1: A pontaria ainda é considerada atos preparatório mas o primeiro disparo já é o início de execução de um homicídio.

Ex2: No furto, a aquisição da chave falsa é ato preparatório mas a abertura da porta, com essa chave, já é início de execução.

ATOS PREPARATÓRIOS - O agente pode não começar o crime

INÍCIO DE EXECUÇÃO – O agente deve parar para desistir do crime

Conclusão: Para dar uma nítida separação entre os atos preparatórios não puníveis e os atos de execução puníveis o legislador recorreu ao conceito de "início de execução", mas não procurou defini-lo, de forma que a delimitação de sua área de significado foi relegada à doutrina.

CASO RESTE DÚVIDA INSANÁVEL SE FOI ATO PREPARATÓRIO OU INÍCIO DE EXECUÇÃO, DEVE-SE OPTAR PELO PRIMEIRO

- O crime é consumado quando estão presentes todos os elementos de sua definição legal

- O crime é tentado quando o agente percorre toda a trajetória do crime até a execução , e, uma vez iniciada a execução, não se consuma o resultado típico (crime) "POR RAZÕES ALHEIAS À VONTADE DO AGENTE". Não tem o resultado

NATUREZA JURÍDICA DA TENTATIVA

Norma penal de extensão temporal (adequação típica de subordinação mediata)

Causa de diminuição de pena (levada em consideração na terceira fase da dosimetria da pena)

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FORMAS

a) Tentativa Imperfeita - Após iniciada a execução houve a interrupção por circunstâncias alheias a vontade do agente.

b) Tentativa Perfeita – Apesar de ter o agente realizado toda a fase de execução, o resultado não ocorre por circunstâncias também alheias a sua vontade (também chamado de crime falho)

Em ambos os casos trata-se da tentativa referida pelo art.14,II CP

Elemento subjetivo: DOLO, pois o art.14,II fala em “vontade do agente”

NÃO ADMITEM A TENTATIVA:

a) Crimes Culposos (porque não há vontade direcionada a um fim)

b) Crimes Preterdolosos ou preterintencionais , pois o evento de maior gravidade objetiva, não querido pelo agente, é punido a título de culpa.

c) Contravenções Penais – por expressa disposição legal - Art. 4º LCP (DL 3688/41)

d) Crimes Omissivos Próprios (ex.: Art.135 CP - omissão socorro): Ou o indivíduo deixa de realizar a conduta, e o delito se consuma, ou a realiza, e não se pode falar em crime.

e) Crimes unissubsistentes (materiais, formais ou de mera conduta), que se realizam num único ato. Ex: Injúria verbal. (os plurissubsistentes admitem tentativa)

f) Os crimes em que a lei só pune quando há resultado (ex.: Art.122 CP - suicídio)

g) Crimes Habituais, pois não possuem um iter (Art. 230 CP)

h) Crimes permanentes de forma exclusivamente omissivaEx: Cárcere privado praticado por quem não liberta aquele que está em seu poder. O crime permanente que possui uma fase inicial comissiva admite tentativa.

ELEMENTOS

1º) Início de execução do crime; e2º) não-consumação do crime por circunstâncias alheias à vontade do agente O 2º elemento da tentativa é a não-consumação do crime por circunstâncias alheias à vontade do agente. Não obstante a vontade inicial do sujeito em realizar o crime, o iter criminis pode ser interrompido por dois motivos:

a) pela sua própria vontade;b) pela interferência de circunstâncias alheias a ela

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Na letra a) ocorre a chamada DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA e o ARREPENDIMENTO EFICAZ (ART.15 CP)

“Art.15 – O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução (desistência voluntária) ou impede que o resultado se produza (arrependimento eficaz), só responde pelos atos praticados”

Se o sujeito interrompe a execução do tipo ou, se já exaurida a atividade executiva, evita a produção do resultado, inexiste crime tentado.

obs.: - desistência voluntária é diferente de crime tentado, vez que no primeiro o crime não se consuma por vontade do agente, enquanto no segundo não se consuma por razões alheias à vontade do agente.

Desistência Voluntária: o agente não praticou o ato final, DESISTINDO VOLUNTARIAMENTE DO SEU INTENTO, isto é, desistindo sem ter sido coagido moral ou materialmente. Não é tentativa. Quem desiste voluntariamente responde, somente, pelos atos praticados até a desistência.

Pode ocorrer nos crimes materiais ou formais, porém não nos de mera conduta, pois, nestes, o início de execução já constitui consumação.

Ex: O ladrão, dentro da residência da vítima e prestes a subtrair-lhe valores, desiste de consumar o furto e se retira.

Ex2: A mãe suspende a amamentação do filho a fim de causar sua morte. Desiste da consumação e alimenta a criança.

Obs: Desistência Voluntária tem que ser – voluntária mas não necessita ser espontânea.

A desistência é voluntária quando o agente pode dizer: “Não quero prosseguir embora pudesse fazê-lo” e é involuntária quando tem de dizer: “Não posso prosseguir, ainda que o quisesse” (aqui há tentativa punível) Ex: porta que bate, cachorro que late, etc...

Portanto, se o sujeito só desiste de seu intento de cometer o crime diante do perigo de ser preso em flagrante, ao perceber que seus movimentos são atentamente seguidos por outrem, não há falar-se em desistência voluntária.

Motivos da desistência ou do arrependimento: Dó, remorso, etc....

Arrependimento Eficaz: O agente, tendo já terminado o processo de execução do crime, DESENVOLVE NOVA ATIVIDADE IMPEDINDO A PRODUÇÃO DO RESULTADO

Ex: Após ministrar veneno na alimentação da vítima, o agente se arrepende, dando-lhe um antídoto que a salva. TEM QUE SALVAR, TEM QUE SER EFICAZ (se não conseguir salvá-la responde por homicídio)

ATENÇÃO

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Desistência Voluntária X Arrependimento Eficaz

= art. 15 “responde pelos atos já praticados”

Ex.: No Furto (art.155), responde por Violação de Domicílio (art. 150), Dano (art.163) Homicídio (art. 121) responde por Lesão Corporal (art. 129)

ARREPENDIMENTO POSTERIOR (ART.16 CP)

“Art.16: Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços”

Requisitos:

a) O delito tenha sido cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa.b) O sujeito tenha reparado o dano físico ou moral emergente do crime ou restituído o objeto materialA reparação deve ser integral, como também a restituição.c) A reparação do dano ou restituição do bem constituam atos voluntários do agenteNão se exige espontaneidade; o arrependimento posterior pode ocorrer em face de sugestão ou conselho de terceiro.d) A reparação ou a restituição deve ocorrer até a data do recebimento da denúncia ou da queixa

APLICAÇÃO: Atendidos os pressupostos do art.16 do CP, a causa de redução da pena é aplicável aos crimes: dolosos e culposos, tentados e consumados; simples, privilegiados e qualificados.É causa obrigatória de diminuição de pena.

CRIME IMPOSSÍVEL ( ART. 17 CP) (OU QUASE CRIME)

“Art.17 – Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime”.

Ex: Não se pune a tentativa quando, pelo meio empregado (envenenar alguém com farinha) ou pelo objeto visado (matar um morto), não se pode consumar o crime.

REQUISITOS

a) Ineficácia Absoluta de meio empregado Ex.: veneno X farinha

arma de brinquedo

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Se for relativa haverá tentativa. Ex: O agente pretende atirar com um revólver contra a vítima mas a arma nega fogo. (ineficácia relativa do meio) se fosse arma de brinquedo seria ineficácia absoluta do meio.

b) Absoluta impropriedade do objeto material. Ex.: facadas em um morto

manobras abortivas em quem não está grávida

Há impropriedade relativa do objeto quando:

a) uma condição acidental do próprio objeto material neutraliza a eficiência do meio usado pelo agente; Ex: a cigarreira da vítima desvia o projétil.

b) presente o objeto na fase inicial da conduta, vem a ausentar-se no instante do ataque.; Ex: O agente dispara tiros na cama da vítima que dela saíra frações de segundos antes

ATENÇÃO: O CRIME IMPOSSÍVEL NÃO CONSTITUI FIGURA TÍPICA. (NÃO RESPONDE POR NADA)

DA ANTIJURIDICIDADE (OU ILICITUDE)

(2º REQUISITO DO CRIME)

“É a prática de algo contra o Direito”

Não é suficiente que o comportamento seja típico, que a conduta encontre correspondência num modelo legal, adequando-se o fato à norma penal incriminadora. É necessário que seja ilícito para que sobre ele incida a reprovação do ordenamento jurídico, e que o agente o tenha cometido com os requisitos da culpabilidade. Em face disso, surge, até aqui, o crime como fato típico e antijurídico (ou ilícito).

A antijuridicidade consiste na falta de autorização da ação típica. Matar alguém é uma ação típica porque infringe a norma que diz 'não deves matar', esta mesma ação será antijurídica se não for praticada sob o amparo de uma causa que a justifique.

CAUSAS EXCLUDENTES DA ANTIJURIDICIDADE (OU ILICITUDE )

São elas:

- Estado de necessidade (art.23, I CP)- Legítima defesa (art.23,II CP)- Estrito cumprimento do dever legal (art.23, III CP)

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- Exercício regular do direito (art.23, III CP)

ESTADO DE NECESSIDADE

CONCEITO: (art. 24 CP) é a prática de fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.

O padrão é o homem normal, não o herói. Caso seja razoável se exigir comportamento diverso a pena pode ser reduzida de um a dois terços.

Ex: Alguém que mata um cachorro que lhe ataca se investe desta excludente.

Assim, estado de necessidade é uma situação de perigo atual de interesses protegidos pelo Direito, em que o agente, para salvar um bem próprio ou de terceiro, não tem outro caminho senão o de lesar o interesse de outrem.

O estado de necessidade pode ser desdobrado em: a) situação de perigo (ou situação de necessidade); b) conduta lesiva (ou fato necessitado).

São requisitos da situação de perigo: a) um perigo atual; b) ameaça a direito próprio ou alheio; c) situação não causada voluntariamente pelo sujeito; d) inexistência de dever legal de arrostar perigo (art.24, §1º CP).

A prática da conduta lesiva exige: a) inevitabilidade do comportamento lesivo; b) inexigibilidade de sacrifício do interesse ameaçado; c) conhecimento da situação de fato justificante. A ausência de qualquer requisito exclui o estado de necessidade.

A) Perigo Atual ou Iminente (1º requisito da situação de perigo)

Perigo atual é o presente, que está acontecendo; iminente é o que está preste a desencadear-se. É certo que o CP menciona apenas o primeiro caso. José Frederico Marques observa que "não se inclui aqui o perigo iminente porque é evidente que não se pode exigir o requisito da iminência da realização do dano".

Porém, Damásio defende que se o perigo está prestes a ocorrer, não parece justo que a lei exija que ele espere que se torne real para praticar o fato necessitado. Só o perigo atual ou iminente permite a conduta lesiva.

Mirabete diz: “não haverá estado de necessidade se a lesão somente é possível em futuro remoto ou se o perigo já esta confinado".

Assim como um perigo futuro não autoriza a justificativa, não permitirá o passado. Deve o perigo ser efetivo, quer pela atualidade, quer pela iminência.

No caso do agente que supõe a existência do perigo, que na realidade não existe ocorre o denominado

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"estado de necessidade putativo". Se escusável o erro de tipo, exclui-se o dolo e culpa; se inescusável, o agente responde pelo crime culposo, desde que prevista a modalidade culposa, conforme preceitua o art.20§1º, 2ª parte.

A situação de perigo pode ter sido causada por conduta humana ou fato natural. Cabe assinalar que o autor de crime permanente ou habitual não pode alegar estado de necessidade.

B) Ameaça a direito próprio ou alheio (2º requisito da situação de perigo): estado de necessidade próprio e de terceiro

A intervenção necessária pode ocorrer para salvar um bem jurídico do sujeito ou de terceiro. No último caso, não se exige qualquer relação jurídica específica entre ambos e não é preciso que ele, terceiro, manifeste vontade de salvaguardar seu bem jurídico.

É necessário que os interesses em litígio se encontrem protegidos pelo Direito. Se a ordem jurídica nega a proteção a um dos bens jurídicos, fica afastada aocorrência do estado de necessidade.

C) Situação não causada voluntariamente pelo sujeito (3º requisito da situação de perigo)

No Brasil, Costa e Silva, Basileu Garcia e Aníbal Bruno ensinavam que só o perigo doloso impede o estado de necessidade.

Em campo oposto, Nélson Hungria, José Frederico Marques e Magalhães Noronha entendiam que também o perigo culposo impede a alegação de necessidade.

Para Damásio, somente o perigo causado dolosamente impede que seu autor alegue encontrar-se em fato necessitado. Explica o autor que além da consideração humana, temos apoio no CP, que define a tentativa empregando a expressão "vontade", que é indicativa de dolo.

D) Inexistência de dever legal de enfrentar (suportar) o perigo (4º requisito da situação de perigo)

Determina o art.24, §1º, que "não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo".

Assim, é indispensável que o sujeito não tenha, em face das circunstâncias em que se conduz, o dever imposto por lei de sofrer o risco de sacrificar o próprio interesse jurídico. Ex.: o policial não pode deixar de perseguir malfeitores sob o pretexto de que estão armados e dispostos a resistir, o capitão do navio não pode salvar-se à custa da vida de um passageiro.

Quando o sujeito que tem o dever legal de enfrentar o perigo se encontra fora de sua atividade específica, não há a obrigação de expor o seu bem jurídico a perigo de dano, salvo exceções impostas pela função.

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Se a desproporção entre os bens em colisão é muito considerável não se pode exigir do sujeito que se deixe sacrificar. Assim, para a salvaguarda de um bem patrimonial, não se pode exigir do bombeiro que sacrifique a própria vida.

E) Formas do estado de necessidade

Tendo em vista a titularidade do interesse protegido, o estado de necessidade pode ser: a) estado de necessidade próprio; b) estado de necessidade de terceiro.

Levando em conta o aspecto subjetivo do agente, pode ser: a) estado de necessidade real: descrito no art.24 do CP. Exclui a antijuricidade; b) estado de necessidade putativo: resulta da combinação dos arts.24, 20, §1º, 1ª parte; e 21, caput. Ocorre quando o agente, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe encontrar-se em estado de necessidade ou quando, conhecendo a situação de fato, supõe, por erro quanto à ilicitude, agir acobertado pela excludente.

Sob o prisma do terceiro que sofre a ofensa necessária, há duas formas de estado de necessidade:

a) estado de necessidade agressivo: quando a conduta do sujeito atinge um bem jurídico de terceiro inocente

b) estado de necessidade defensivo: quando a conduta do sujeito atinge um interesse de quem causou ou contribuiu para a produção da situação de perigo.

EXCESSO: Tratando-se de excesso, nota-se que o agente se encontrava em situação de necessidade, exorbitando no uso dos meios de execução postos em ação para a defesa do bem. Ele vai responder pelo resultado produzido durante o excesso: responde pela lesão jurídica que constitui a conduta desnecessária.

Em relação ao excesso, este pode ser doloso ou culposo.

LEGÍTIMA DEFESA

CONCEITO: (art. 25) é a utilização moderada dos meios necessários para repelir injusta agressão, atual ou iminente, a qualquer direito seu ou de outrem.

O sujeito nesta excludente é o agente que legitimamente exercita o direito.

São requisitos: a) agressão injusta, atual ou iminente; b) direitos do agredido ou de terceiro, atacado ou ameaçado de dano pela agressão; c) repulsa com os meios necessários; d) uso moderado de tais meios; e) conhecimento da agressão e da necessidade da defesa (vontade de defender-se).

A ausência de qualquer dos requisitos exclui a legítima defesa.

A) Agressão injusta, atual ou iminente

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Agressão é o ato que lesa ou ameaça um direito. Implica a idéia de violência. Mas nem sempre, nos delitos omissivos não há violência, e mesmo em certos crimes comissivos, como o furto com destreza, pode inexistir violência.

Agressão injusta é aquela ilegal, que a pessoa não está obrigada a suportar.

Deve ser “injusta” (ilegal) porque, caso contrário, não há legítima defesa.

Ex: O oficial de justiça com mandado de busca e apreensão de um automóvel numa residência , é uma “agressão justa” (legal), portanto, não pode o sujeito partir para cima do oficial de justiça alegando legítima defesa de seu patrimônio. Ex2: Condenado a pena de morte não pode se insurgir contra o carrasco que está prestes a executar a pena capital.

A agressão, portanto, deve ser injusta, contra o direito, contra o que é lícito ou permitido. Dessa forma, opondo-se ao que é ilícito, o defendente atua consoante o direito.

Deve a agressão ser atual ou iminente. Não existe legítima defesa contra agressão futura nem contra a que já cessou. Admite-se legítima defesa nos delitos permanentes, por ex., no seqüestro.

A reação do agredido é sempre preventiva: impede o início da ofensa ou sua continuidade, que iria produzir maior lesão.

B) Direitos do agredido ou de terceiro atacado ou ameaçado de dano pela agressão

Em relação ao titular do bem jurídico, há duas formas de legítima defesa: a) própria, quando o autor da repulsa é o próprio titular do bem jurídico atacado ou ameaçado; b) de terceiro, quando a repulsa visa a defender interesse de terceiro.

Qualquer bem jurídico pode ser protegido através da ofensa legítima, não se fazendo distinção entre bens pessoais ou impessoais (vida, honra, patrimônio, liberdade sexual etc.).

C) Repulsa com os meios necessários

Somente ocorre a excludente quando a conduta de defesa é necessária para repelir a agressão.

A medida da repulsa deve ser encontrada pela natureza da agressão em face do valor do bem atacado ou ameaçado, circunstâncias em que se comporta o agente e os meios à sua disposição para repelir o ataque. (OU SEJA, O CASO CONCRETO É QUE DETERMINA) O meio escolhido deixará de ser necessário quando se encontrarem à sua disposição outros meios menos lesivos. O sujeito que repele a agressão deve optar pelo meio produtor do menor dano. (Ex: tem a disposição uma arma carregada, um taco de madeira, uma barra de ferro e um tijolo, deve optar pelo menos lesivo)

D) Uso moderado de tais meios

O requisito da moderação na reação necessária é muito importante porque delimita o campo em que pode ser exercida a excludente, sem que se possa falar em excesso.

Encontrado o meio necessário para repelir a injusta agressão, o sujeito deve agir com moderação. ___________________________________________________________________

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Ex: Para revidar uma agressão verbal bastaria outra agressão verbal ou até um empurrão por exemplo.

E) Elemento subjetivo da legítima defesa: conhecimento da situação de agressão e da necessidade de defesa

A legítima defesa exige requisitos de ordem subjetiva: é preciso que o sujeito tenha conhecimento da situação de agressão injusta e da necessidade da repulsa.

Assim, a repulsa legítima deve ser objetivamente necessária e subjetivamente conduzida pela vontade de se defender.

Aquele que se defende tem de conhecer a agressão atual e ter vontade de defesa. A falta de requisitos de ordem subjetiva leva à ilicitude da repulsa (fica excluída a legítima defesa).

F) Excesso

Ao reagir à agressão injusta que está sofrendo, ou em vias de sofrê-la, em relação ao meio usado o agente pode encontrar-se em três situações diferentes:

a) usa de um meio moderado e dentro do necessário para repelir a agressão;b) de maneira consciente emprega um meio desnecessário ou usa imoderadamente o meio necessário; e c) após a reação justa (meio e moderação) por imprevidência (culpa) ou conscientemente (dolo) continua desnecessariamente na ação.

Na letra “a” haverá necessariamente o reconhecimento da legítima defesa.

Na letra “b” a legítima defesa fica afastada porque excluído um dos seus requisitos essenciais. Note-se que a exclusão pode ocorrer, quer por imoderação quanto ao uso do meio, quer pelo emprego de um meio desnecessário.

Na letra “c” agirá com excesso, pois o agente intensifica demasiada e desnecessariamente a reação inicialmente justificada. O excesso poderá ser doloso ou culposo. O agente responderá pela conduta constitutiva do excesso.

G) Legítima defesa sucessiva e Legítima defesa putativa

Legítima defesa sucessiva é a repulsa contra o excesso. Ex.: A, defendendo-se de agressão injusta praticada por B, comete excesso. Então, de defendente passa a agressor injusto, permitindo a defesa legítima de B.

Legítima defesa putativa (art.20, § 1º CP) quando o agente, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe encontrar-se em face de agressão injusta. Na legítima defesa putativa, o agente supõe a existência da agressão ou sua injustiça. Ex: Pai mata o próprio filho porque este, chegando de madrugada pelo quintal escuro, fez com que o pai achasse tratar-se de um ladrão.

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H) Legítima defesa e Estado de necessidade

Diferenças: a) no estado de necessidade há conflito entre bens jurídicos; na legítima defesa há ataque ou ameaça de lesão a um bem jurídico;b) no estado de necessidade o bem jurídico é exposto a perigo; na legítima defesa o interesse sofre uma agressão; c) no estado de necessidade o perigo pode advir de conduta humana, força da natureza ou de ataque de irracional; só há legítima defesa contra agressão humana;d) no estado de necessidade o necessitado pode dirigir sua conduta contra terceiro alheio ao fato; na legítima defesa o agredido deve dirigir seu comportamento contra o agressor;e) na legítima defesa a agressão deve ser injusta; no estado de necessidade pode ocorrer à hipótese de duas pessoas, titulares de bens juridicamente protegidos, causarem lesões recíprocas.

ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL

Determina o art.23, III, do CP, que não há crime quando o sujeito pratica o fato em estrito cumprimento de dever legal. É causa de exclusão de antijuricidade.

Há casos em que a lei impõe determinado comportamento, em face do que, embora típica a conduta, não é ilícita. Ex.: prisão em flagrante realizada pelo policial. (Está autorizado pelo Direito Penal a constranger a pessoa do seu direito de ir e vir) mas se cometer excesso responderá por abuso de autoridade. A excludente só ocorre quando há um dever imposto pelo direito objetivo. O dever pode ser imposto por qualquer lei, seja penal, seja extrapenal. A atividade pode ser pública ou privada.É necessário que o sujeito pratique o fato no estrito cumprimento do dever legal. E exige-se que o sujeito tenha conhecimento de que está praticando o fato em face de um dever imposto pela lei.

EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO

O art.23, III, parte final, do CP determina que não há crime quando o agente pratica o fato no exercício regular de direito. Ex.: direito de correção do pai em relação ao filho. O Código Civil permite que no exercício do poder familiar, tanto o pai quanto a mãe possam em nome da educação de um filho, deixá-lo, por exemplo, de castigo. Não pode um ramo do Direito permitir algo e outro ramo proibir.

Desde que a conduta se enquadre no exercício de um direito, embora típica, não apresenta o caráter de antijurídica. Exige-se também o requisito subjetivo: conhecimento de que o fato está sendo praticado no exercício regular de um direito.

DA CULPABILIDADE

(3º requisito do crime e para alguns é o pressuposto da pena)

ELEMENTOS DA CULPABILIDADE :

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A culpabilidade é composta de três elementos:

a) Imputabilidade;b) Potencial consciência da ilicitude; ec) Exigibilidade de conduta diversa.

Quando falta algum dos elementos, não subsiste a culpabilidade. O CP, expressamente, prevê as causas excludentes de culpabilidade, que alguns chamam de dirimentes. Essas causas, excluindo alguns de seus elementos, excluem a própria culpabilidade. Embora o crime subsista, não sendo culpável o sujeito, deve ser absolvido.

São causas excludentes da culpabilidade:

1º) Erro de proibição (art.21, caput);2º) Coação moral irresistível (art.22, 1ª parte); 3º) Obediência hierárquica (art.22, 2ª parte);4º) Inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (art.26, caput);5º) Inimputabilidade por menoridade penal (art.27)6º) Inimputabilidade por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior (art.28, §1º).

Essas causas estão relacionadas com os elementos de culpabilidade e cada uma exclui certo elemento da culpabilidade, e, em conseqüência, ela fica excluída.

EXCLUDENTES DA CULPABILIDADE:

1 - A INIMPUTABILIDADE (exclui o elemento “Imputabilidade”)

Para se analisar o grau de culpabilidade do agente, deve-se primeiramente entender o que seja imputabilidade penal e seu inverso, inimputabilidade penal.

Para que o agente possa ser considerado culpável, deve ser imputável. Esta se refere "à capacidade do agente de lhe ser atribuído o fato e de ser penalmente responsabilizado".

No entender de Luiz Regis Prado “Imputabilidade é a plena capacidade (estado ou condição) de culpabilidade, entendida como capacidade de entender e querer, e, por conseguinte, de responsabilidade criminal (o imputável responde por seus atos). Costuma ser definida como “conjunto das condições de maturidade e sanidade mental que permitem ao agente conhecer o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento”. Essa capacidade possui, logo, dois aspectos: cognoscivo ou intelectivo (capacidade de compreender a ilicitude do fato); e volitivo ou de determinação da vontade (atuar conforme essa compreensão).”

Como a imputabilidade é um dos elementos da culpabilidade, sua negação, ou seja, a inimputabilidade é uma das causas de exclusão dessa culpabilidade. O CP, em seus arts. 26, caput, 27 e 28, §1º, determina os casos em que a inimputabilidade exclui a culpabilidade.

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INIMPUTÁVEL é aquele que, ao momento da ação ou omissão, era incapaz de entender o caráter lícito ou ilícito de sua conduta. Esta incapacidade de entendimento pode ser atribuída ao agente em função de sua idade, de sua formação intelectual, completa ou incompleta ou outra causa momentânea (p.ex. embriaguez por causa fortuita ou força maior).

Estas pessoas recebem outros tipos de sanção em função de sua condição (inimputáveis).

As sanções variam de internação em instituições próprias como manicômios, clínicas de desintoxicação ou casas de abrigo de menores, como a Fundação Casa no Estado de São Paulo, o Casep - Centro de Atendimento Socioeducativo Provisório em Santa Catarina.

1.1 OS DOENTES MENTAIS

"Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento".

Os doentes mentais são considerados inimputáveis. Os atos ilícitos por eles cometidos são típicos e antijurídicos, porém, são isentos de pena, afastando a culpabilidade. Estão sujeitos à Medida de Segurança. Espécies de medidas de segurança (Art. 96. As medidas de segurança são: I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado; II - sujeição a tratamento ambulatorial).

Enquanto o fundamento para a aplicação da pena é a culpabilidade, a medida de segurança encontra embasamento na periculosidade aliada à inimputabilidade (ou semi-imputabilidade) do indivíduo.

Conforme Cezar Roberto Bittencourt, quatro são as diferenças principais entre a pena e a medida de segurança: a) As penas têm caráter retributivo-preventivo; as medidas de segurança têm natureza eminentemente preventiva. b) O fundamento da aplicação da pena é a culpabilidade; a medida de segurança fundamenta-se exclusivamente na periculosidade. c) As penas são determinadas; as medidas de segurança são por tempo indeterminado, só findam quando cessar a periculosidade do agente. d) As penas são aplicáveis aos imputáveis e semi-imputáveis; as medidas de segurança são aplicadas aos inimputáveis e, excepcionalmente, aos semi-imputáveis, quando estes necessitarem de especial tratamento curativo.

OBS: A aferição é feita através de exame pericial, que possa constatar o grau de debilidade do indivíduo. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL - “DA INSANIDADE MENTAL DO ACUSADO” - Art. 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal. § 1º O exame poderá ser ordenado ainda na fase do inquérito, mediante representação da autoridade policial ao juiz competente. § 2º O juiz nomeará curador ao acusado, quando determinar o exame, ficando suspenso o processo, se já iniciada a ação penal, salvo quanto às diligências que possam ser prejudicadas pelo adiamento. Art. 150. Para o efeito do exame, o acusado, se estiver preso, será internado em manicômio judiciário, onde houver, ou, se estiver solto, e o requererem os peritos, em estabelecimento adequado que o juiz designar. § 1º O exame não durará mais de quarenta e cinco dias, salvo se os peritos demonstrarem a necessidade de maior prazo. § 2º Se não houver prejuízo para a marcha do

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processo, o juiz poderá autorizar sejam os autos entregues aos peritos, para facilitar o exame. Art. 151. Se os peritos concluírem que o acusado era, ao tempo da infração, irresponsável nos termos do art. 22 do Código Penal, o processo prosseguirá, com a presença do curador. Art. 152. Se se verificar que a doença mental sobreveio à infração o processo continuará suspenso até que o acusado se restabeleça, observado o § 2º do art. 149. § 1º O juiz poderá, nesse caso, ordenar a internação do acusado em manicômio judiciário ou em outro estabelecimento adequado. § 2º O processo retomará o seu curso, desde que se restabeleça o acusado, ficando-lhe assegurada a faculdade de reinquirir as testemunhas que houverem prestado depoimento sem a sua presença. Art. 153. O incidente da insanidade mental processar-se-á em auto apartado, que só depois da apresentação do laudo, será apenso ao processo principal. Art.154. Se a insanidade mental sobrevier no curso da execução da pena, observar-se-á o disposto no art. 682 .

1.2 OS MENORES DE 18 ANOS

Os menores de 18 anos são protegidos pelo artigo 27 do CP e pelo artigo 228 da CF/88. São ditos inimputáveis, não lhes cabendo penas comuns. Suas sanções estão estabelecidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90) e tem o caráter sócio pedagógico, por isso são chamadas de “medidas socioeducativas”.

Assim, os menores de 18 anos são considerados como tendo desenvolvimento mental incompleto, não sendo totalmente capazes de distinguir entre o lícito e o ilícito, porque ainda são “pessoas em formação”. Para evitar o estigma até a nomenclatura é diferenciada. Ex: Cometem “ato infracional” e não crime; são apreendidos em flagrante e não presos em flagrante, ficam internados e não presos, etc...

A pessoa passa a ser imputável no momento em que completa 18 anos. A partir daí, o jovem já pode responder criminalmente como adulto pelos crimes praticados. Obs: Os antecedentes infracionais não serão contados para se estabelecer a reincidência.

1.3 A EMBRIAGUEZ COMPLETA PROVENIENTE DE CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR

Ocorre quando a ingestão do álcool ou de substância de efeitos análogos NÃO É VOLUNTÁRIA NEM CULPOSA, PODENDO SER PROVENIENTE DE CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR.

Caso fortuito – Quando o agente desconhece o efeito da substância que ingere ou alguma condição particular sua de suscetibilidade a ela

Força maior – Quando o agente não é responsável pela ingestão da substância alcóolica ou de efeitos análogos, como nos casos de ser forçado a dela fazer uso.

Obs: A embriaguez voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos não afasta a culpabilidade.

Sobre substância entorpecente veja o art.45 da Lei 11.343/06.

EMOÇÃO E PAIXÃO (art.28, I)

A emoção e a paixão não excluem a imputabilidade penal. A emoção é uma alteração afetiva importante, mas temporária, aguda, passageira, que pode consistir no susto, na raiva, na surpresa, na alegria etc.A paixão, por sua vez, é uma alteração duradoura, crônica e mais estável do estado psíquico da pessoa, tem-se como exemplo o ciúmes, o amor, o ódio etc.

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Podem constituir causas de diminuição de pena como no art.121§ 1º CP ou atenuante como previsto no art.65, III, c.

2 – COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL E OBEDIÊNCIA DE ORDEM (excluem o elemento “Exigibilidade de conduta diversa”)

Um dos elementos da culpabilidade é a exigibilidade de conduta diversa, ou seja, “exigia-se que o agente não cometesse o crime”.

Se o fato é cometido sob coação moral irresistível (coação que ele não tem como resistir ou enfrentar) ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem (art. 22 do CP).

A coação pode se dirigir contra terceiro. (Ex: gerente do banco e família sequestrada). A coação é moral, vez que a física retira a própria voluntariedade do comportamento (art. 13 do CP). Caso a coação seja resistível beneficiará o agente com uma atenuante genérica (art. 65, III, C, 1ª parte). A irresistível retira a culpabilidade em face da inexigibilidade de outra conduta e ele ficará isento de pena.

No caso de obediência de ordem não manifestamente ilegal, trata-se da ordem que, emanada de autoridade legítima, reveste as características externas de legalidade, isto é, de conformidade com a norma expressa. De fato, a obediência hierárquica somente excluirá a culpabilidade em caso de ordem não manifestamente ilegal, pois sendo manifesta a ilegalidade é perfeitamente presumível o seu conhecimento pelo agente.

3 - ERRO DE PROIBIÇÃO OU DE ILICITUDE (exclui o elemento “Potencial consciência da ilicitude”)

Da leitura do art. 21 do Código Penal, surge a idéia do erro de proibição ou de ilicitude, concluindo-se que a consciência da ilicitude do fato é requisito autônomo do juízo de reprovação da conduta.

Ocorre quando o agente ao praticar o ilicito penal, não atua com a consciência atual e inequívoca da ilicitude do fato, momento em que incidirá em erro sobre a proibição. Na verdade, a tipicidade e a antijuridicidade do fato são evidentes e palpáveis, entretanto, ao praticar o ilícito penal não atua com a consciência atual e inequívoca da ilicitude.

Haverá erro de proibição, quando o sujeito age na crença de que pratica algo absolutamente permitido, posto que desconhece a proibição.

“Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. Parágrafo Único. Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência.”

Da leitura do artigo 21 do Código Penal, conclui-se que o erro de proibição não recai sobre o tipo ou sobre o fato mas recai sobre a consciência da ilicitude.

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O termo - consciência da ilicitude do fato - deve ser entendido de forma flexível, não devendo ficar atrelado a juízo de valores técnicos ou científicos do operador jurídico. Deve servir para nortear a conduta do leigo, do homem comum, dominante no meio social em que vive.

ERRO DE TIPO (EXCLUDENTE DA TIPICIDADE)

Haverá erro de tipo quando o agente não sabe exatamente o que faz, isto é, quando não possui consciência de todos os requisitos que integram o tipo, o que significa dizer que não age com dolo, com consciência dos requisitos descritivos e axiologicamente negativos do tipo.

ERRO DE TIPO é o erro do agente que recai sobre os elementos constitutivos do tipo legal de crime (Código Penal art. 20, caput).

O erro de tipo essencial, sempre excluiu o dolo, posto que, encontra-se o erro de tipo do lado inverso do dolo de tipo. Considerando-se o dolo também como parte integrante do tipo conclui-se que o erro de tipo não chega a afetar a culpabilidade ou a ilicitude, antes, inexiste o próprio tipo. É, PORTANTO, EXCLUDENTE DA TIPICIDADE.

Por outro lado, em sendo vencível o erro de tipo surgirá a punição ao agente por crime culposo, caso seja previsto no ordenamento jurídico para aquele crime, a figura culposa, consoante se infere da leitura do art. 20, caput, 2ª do CP.

Haverá erro de tipo essencial, quando o erro do agente recair sobre dados constitutivos do tipo fundamental (“caput”) , do tipo qualificado ou sobre circunstâncias agravantes e causas de aumento de pena.

O erro de tipo essencial sempre exclui o dolo do agente e pode ser escusável (desculpável) ou inescusável (sem desculpas).

Será escusável, afastando o dolo e a responsabilidade penal totalmente, quando for inevitável. Acaso evitável, não se pode desculpar totalmente, subsistindo a responsabilidade por crime culposo, se este estiver previsto em lei.

Haverá erro de tipo acidental, quando o erro do agente recair:

- sobre o objeto material da infração - (error in objecto)- sobre a pessoa - (error in persona) – art. 20, § 3º CP - sobre o seu modo de execução – (aberratio ictus) - art. 73 CP- ou quando houve um resultado diverso do pretendido pelo agente - (aberratio delicti) - art. 74 CP

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CONCLUSÃO: O ERRO ACIDENTAL FAZ O AGENTE RESPONDER NORMALMENTE PELO CRIME, SOMENTE O ERRO DE TIPO ESSENCIAL PODERÁ FAVORECÊ-LO

ERRO DE TIPO

a) Essencial

Invencível (ou escusável) – exclui o dolo e culpa (art.20, caput, 1ª parte e § 1º, 1ª parte CP)Vencível (ou inescusável) – exclui o dolo, mas não a culpa (art.20, caput, 2ª parte, e §1º, 2ª parte CP)

b) Acidental

a) erro sobre objetob) erro sobre pessoa (error in persona) (art.20, § 3º CP)c) erro na execução (aberratio ictus) (art.73 CP)d) resultado diverso do pretendido (aberratio delicti) art.74 CP

CONCURSO DE PESSOAS

(ART.29 CP)

Ocorre quando duas ou mais pessoas concorrem para a prática do mesmo crime.

Para que ocorra o concurso de pessoas é indispensável:

- pluralidade de agentes e condutas com nexo causal;- relevância causal de cada uma das ações com o resultado;- liame subjetivo (psicológico) entre os agentes (consciência de que cooperam numa ação comum);- identidade de crime ou fato (infração penal deve ser igual, isto é, todos contribuem para o mesmo crime).

1) Autoria: Autor é aquele que participa ativamente do crime, bem com aquele que decide sobre o ato.

Tipos:

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1.1 - Autoria individual – Quando o agente atua isoladamente (sem qualquer colaboração de outras pessoas)

1.2 - Autoria mediata – O autor domina a vontade alheia, se valendo de outra pessoa para cometer o crime. Não há co-autoria, aqui o executor do crime atua sem culpabilidade, mediante determinação de outrem que tem o domínio do fato (chamado de autor mediato). Ex.: a enfermeira que administra veneno, pensando ser remédio, a um paciente por ordem médica, crime praticado por insano mental ou menor de idade mediante determinação de terceiro, crimes praticados mediante coação irresistível.

1.3 - Autoria Colateral ou imprópria - quando dois ou mais agentes agem buscando o mesmo resultado, porém sem que haja cooperação na conduta comum. Cada pessoa responde isoladamente pelo fato. Não há co-autoria.

Ex.: Duas pessoa disparam ao mesmo tempo contra A, sem que uma conheça a intenção da outra, cada qual responderá por um crime isoladamente. Se a vítima morrer apenas em decorrência da conduta de uma, a outra responderá por tentativa de homicídio .(chamada de autoria colateral certa). Havendo dúvidas quanto à causa da morte, sobre a autoria, a solução deverá obedecer ao princípio in dubio pro reo, punindo-se ambos por tentativa de homicídio.(chamada de autoria colateral incerta)

2) Co-autoria: Co-autor é quem executa, juntamente com outras pessoas, ação ou omissão que configura o delito. Funda-se no princípio da divisão do trabalho.

Há convergência de vontades objetivando o crime, independentemente de acordo prévio. É uma convergência ocasional de vontades. Não é necessário que todos exerçam a mesma conduta.

OBS 1: Co-autoria é diferente do concurso necessário. Existem delitos que só podem ser cometidos por duas ou mais pessoas: bigamia, rixa, associação criminosa.

OBS 2: A menoridade, o estado civil, a filiação, etc., são circunstâncias especiais, para a individualização das penas e comunicam-se aos co-autores de um crime quando elementares do mesmo. (art.30)

3) Participação - atividade acessória daquele que colabora para a conduta do autor com a prática de uma ação que, em si mesma, não é penalmente relevante. Essa conduta somente passa a ser relevante quando o auto, ou co-autores, iniciam ao menos a execução do crime.

São formas de participação:

3.1 - Instigação – Instigante é aquele que age sobre a vontade do autor, fazendo nascer neste a idéia ou fortalecendo a já existente da prática de crime determinado, exercendo-a através de conselho, comando, persuasão. Caso esta instigação seja realizada publicamente poderá constituir, em si mesma, o delito de incitação pública ao crime.

3.2 – Cumplicidade - Cúmplice é aquele que contribui para o crime prestando auxílio ao autor, exteriorizando-se a conduta por um comportamento ativo ou omissivo (empréstimo da arma, revelação do segredo de um cofre, etc.)

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