A DISCIPLINA DE GEOGRAFIA NA ESCOLA INCLUSIVA
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A DISCIPLINA DE GEOGRAFIA NA ESCOLA INCLUSIVA Ruth E. Nogueira
“Educar é empenhar-se por fazer o outro crescer, desenvolver-se, evoluir.”
(Mantoan, 2006, p. 7)
A inclusão escolar é um assunto geralmente não abordado na formação de licenciados
em Geografia e, se acontece, fica mais na teoria do que nas práticas de ensino, porém estará
presente no dia a dia dos professores quando chegarem à escola. Por isso, a escolha desse
tema que trago é uma tentativa de aproximá-lo do professor de Geografia, buscando ser
prática, mesmo que limitada no conhecimento.
Sempre gostei de ensinar na universidade, e a Cartografia com seus conteúdos
técnicos, artísticos e científicos é uma paixão na minha vida. Em dado momento saí da zona
de conforto do meu domínio nessa ciência e iniciei uma nova luta, com entusiasmo renovado,
ao criar uma disciplina específica para o ensino da Cartografia Escolar. Dali foi um pequeno
grande salto rumo à cartografia para deficientes visuais, e dela para o ensino de Geografia na
perspectiva da Educação Inclusiva.
Acredito que podemos fazer cada dia melhor o nosso ofício, se temos vontade de
entender e encontrar uma maneira de penetrar o desconhecido em nós, na busca de respostas,
mesmo que parciais. Como diz Mantoan (2006), elas nos dão força para buscar novas e
melhores condições de ensinar. Assim como essa autora, penso que sempre existe a
possibilidade de nos melhorarmos, nos transformarmos e mudarmos nossas práticas de vida,
de forma a ultrapassar obstáculos que, inicialmente, julgávamos intransponíveis para realizar
o que desejamos e, ao mesmo tempo, tememos. A nossa transformação precisa ser realizada
para mudar o mundo, aos poucos, mesmo que parcialmente; para tanto precisamos abandonar
zonas de conforto e nos atirarmos corajosamente em novas descobertas.
Dessa forma, é um desejo que estas anotações, resultantes da transformação que estou
fazendo acontecer em mim, possam contribuir para o debate da inclusão educacional e
escolar, pois ela começa a se fazer sentir (falta) no curso de licenciatura em Geografia e nas
escolas brasileiras, e, lógico, na disciplina de Geografia. Para tanto, está se abordando neste
texto alguns aspectos relevantes para os professores de Geografia (ou outros), os quais, na sua
maioria, tiveram pouco (ou não tiveram) acesso a esse tema e práticas na sua formação.
Procuro sintetizar pontos básicos sobre o que é inclusão escolar e, em seguida, sugiro e
comento algumas práticas para o ensino de Geografia em uma classe inclusiva. Isso tudo é
feito com base em renomados autores, que debatem na literatura a inclusão escolar, a
educação de pessoas deficientes e o ensino da Geografia.
Porém, antes de entrar propriamente no assunto, preciso dizer que a minha experiência
na inclusão e no ensino de Geografia se dá a partir de estudos e pesquisas e das trocas com
aqueles envolvidos no processo de ensino-aprendizagem da Geografia. Nesse cabedal estão os
alunos da graduação e pós-graduação em Geografia, os deficientes visuais recém-incluídos na
escola regular e na disciplina de Geografia, os colegas da universidade e das escolas. Não
sendo eu uma profissional da educação básica, ou que tenha tido larga experiência em sala de
aula, posso não demonstrar um raciocínio pedagógico aprofundado sobre o tema em foco, mas
esforço-me por falar do que aprendi ao longo da profissão que escolhi e gosto, e porque
acredito que posso, mesmo sem os jargões próprios da Pedagogia ou da Geografia, trazer
informações que possam ser úteis, principalmente aos recém-professores.
Educação e Inclusão Escolar
Se voltarmos ao passado, veremos que a educação formal sempre foi segregada.
Poucos tinham acesso a ela, e isso foi e continua sendo determinado pela condição social e
econômica das pessoas. Na Antiguidade apenas a elite, com posses, podia usufruir da
educação. No feudalismo somente os nobres tinham direito à educação, que era realizada
individualmente ou nos mosteiros; o povo era analfabeto. Com a ascensão da burguesia na
Renascença, essa nova classe podia aprender a ler e a contar. Mesmo que na Europa houvesse
a obrigatoriedade escolar, as crianças do povo tinham uma educação mínima, enquanto a
burguesia recebia educação para o comércio e a elite social obtinha educação superior.
Resumindo a história, nunca houve uma educação para todos; as escolas só acolheram
crianças selecionadas de alguma maneira e, por isso mesmo, podem ser consideradas escolas
especiais (BEYER, 2010). Ainda hoje as melhores escolas são aquelas que acolhem alunos
específicos; as escolas privadas são reservadas para quem tem condição financeira
privilegiada.
Concordamos com Beyer (2010) quando diz que a “escola para todos” nunca existiu,
se consideramos tal escola com a capacidade de inclusão de todas as crianças, sem qualquer
exceção. Nesse caso não pode haver distinção de qualquer espécie, especialmente no que
tange à diversidade de características de aprendizagem dos seus alunos.
E note-se que ainda nem mencionei o que acontecia com aquelas crianças que nasciam
com alguma deficiência. Com raras exceções, essas crianças tiveram um lugar: seu destino era
ser “nada”. Aristóteles, Platão e mesmo Martin Luther King, o reformador protestante,
aconselhavam “matar essas crianças”. Mesmo com a obrigatoriedade do ensino há cerca de
100 anos na Europa, as crianças deficientes não tinham o direito de frequentar a escola
pública. Elas eram consideradas “não educáveis” (BEYER, 2010).
Em um caminho diverso, há uma história longa de pequenos avanços sociais no
sentido de dar acesso à educação de crianças com deficiência, e a escola especial se constituiu
em um lugar onde essas crianças podiam estudar. Esse talvez seja o maior mérito dessas
escolas, as quais, na opinião de Beyer (2010), não eram “segregadoras”, mas sim integraram
pela primeira vez as crianças com deficiência no sistema escolar. Elas surgiram com a função
de acolher as crianças deficientes que o sistema regular não estava disposto a ensinar,
constituindo-se em soluções complementares, oferecendo um auxílio pedagógico não
existente nas escolas regulares.
O movimento da educação na evolução da humanidade caminhou na direção de novos
paradigmas educacionais, e chegamos hoje na atual crise, reconhecendo as dificuldades de as
escolas abarcarem a todos, sem exceção. A legislação, por sua vez, integrou a educação
especial à escola regular, tirando-a do ostracismo em que permanecia desde a sua criação.
Como argumenta Mantoan (2006), estamos em um momento de crise paradigmática
do nosso modelo educacional, que há algum tempo dá sinais de esgotamento do formalismo
da racionalidade e das diferentes modalidades de ensino, de tipos de serviços, das grades
curriculares e da burocracia. No vazio de ideias que acompanham essa crise surge o momento
oportuno das transformações necessárias, e a proposta de inclusão se apresenta como saída
para que a escola rompa com a atual estrutura organizacional e possa fluir na sua ação
formadora para todos que dela participam. A inclusão é uma oportunidade para reverter a
situação da maioria das nossas escolas, deixando de imputar aos alunos as deficiências que
são do próprio ensino.
Já Beyer (2010) tem outro ponto de vista sobre a crise paradigmática da educação.
Segundo ele, a crise de paradigma é da educação especial, que acabou por gerar a educação
inclusiva, ou seja, a de alunos ditos com necessidades educacionais especiais (alunos com
algum tipo de deficiência) no sistema regular de ensino, na utopia em que nos encontramos. O
autor diz que, apesar de alguns interpretarem este momento histórico como o surgimento de
um novo paradigma educacional ou como um movimento para a reforma educacional, ele
entende que seja esse um movimento internacional de revisão dos pressupostos fundamentais
da educação especial. De qualquer forma, destaca o autor, as posições nesse sentido se
alinham por duas tendências: a) uma aproximação da educação especial com a educação
regular, em que as funções da primeira serviriam como elementos de suporte às propostas de
educação inclusiva; e b) a educação especial pela sua abordagem clínico-terapêutica, que
tenderia mais a prejudicar do que a auxiliar a educação inclusiva.
Neste texto não iremos expor o que seria cada uma dessas abordagens, pois qualquer
das duas demandaria um espaço que não cabe neste momento. Para tanto, recomendamos ler
Beyer (2010).
Independentemente das discussões acerca da crise na educação, conforme Glat e
Pletsch (2004), na educação inclusiva se torna fundamental a experiência em processos
diferenciais de aprendizagem da educação especial. O que deve ser almejado não é a escolha
de uma em detrimento da outra, mas a junção de ambas para a consolidação de uma educação
regular inclusiva pautada nos recursos e conhecimentos advindos da educação especial.
Segundo Mrech (2011), a educação inclusiva teve início nos Estados Unidos através
da Lei Pública nº 94.142, de 1975, e nesse tempo evoluiu consideravelmente em projetos e
estudos para a inclusão escolar e social. Os sujeitos que passaram pelo processo de educação
inclusiva são observados através da análise da sua rede de relações sociais, atividades de
laser, formas de participação na comunidade, satisfação pessoal, etc.
No caso do Brasil, Kassar (2000) assinala que o início da educação especial pode ser
rememorado à época do Império, com a criação de dois institutos, o de meninos cegos, em
1854 (atual Instituto Benjamin Constant), e o dos surdos-mudos, em 1856 (atual Instituto
Nacional de Educação de Surdos). Como salientam Glat e Fernandes (2005), a deficiência
nesses tempos era entendida como uma doença e por isso era necessário intervir para
minimizá-la ou superá-la, não havendo expectativas de essas pessoas se desenvolverem
academicamente e ingressarem na cultura formal.
Na década de 1970 a educação especial foi institucionalizada no país, todavia a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDBEN/61) já mencionava que a educação de pessoas com
deficiência deveria ser realizada na rede regular de ensino sempre que possível. A inserção de
alunos deficientes na rede regular de ensino tornou-se mais significativa na década de 1990,
em grande parte como resultado de pressão internacional, apesar de a constituição brasileira
de 1988 garantir a todos o direito à educação e o acesso à escola. Só por isso, toda escola
deveria atender aos princípios constitucionais sem excluir ninguém por causa da sua origem,
cor, idade, religião, sexo ou deficiência.
Em âmbito internacional alguns eventos significativos, dos quais participaram
representantes do Brasil, influenciaram fortemente as políticas educacionais brasileiras, como
a Declaração Mundial sobre a Educação para Todos, realizada em Jomtien, em 1990, a
Declaração de Salamanca, o Encontro de Dakar e a Convenção sobre os Direito das Pessoas
com Deficiência. O primeiro evento suscitou o documento com mesmo nome (UNESCO,
2011a), que fala das necessidades básicas de aprendizagem, faz ponderações sobre a educação
no mundo, reconhecendo os fracassos dos governos em promover o acesso à educação de
crianças, jovens e adultos, principalmente dos pobres e das mulheres, e aponta diretrizes para
uma educação pensada para todos.
A Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais ocorrida em
Salamanca, Espanha, em 1994, foi um movimento com o objetivo de analisar as mudanças
fundamentais nas políticas necessárias para fortalecer o enfoque da Educação para Todos,
sobretudo das crianças que têm necessidades educativas especiais. Participaram dessa
conferência mundial representantes de 25 países, culminando com a aprovação da Declaração
de Salamanca (UNESCO, 2011b), um documento norteador de “princípios, política e prática
das necessidades educativas especiais”, o qual passou a ser adotado no Brasil para referendar
as mais diversas ações da educação especial. Outro marco nas discussões acerca dos rumos da
educação em âmbito mundial foi o Encontro de Dakar, ocorrido em 2000, onde foram
revisados os documentos de Jomtien e reafirmados compromissos futuros para com a
educação.
Em 2006 foi realizada a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,
determinando que os Estados-partes cumprissem as determinações sobre os direitos das
pessoas com deficiência. O documento dessa convenção é considerado hoje referência no
assunto. No Brasil, o decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, promulga essa Convenção e
seu Protocolo Facultativo, que traz no seu artigo 1º a acepção que atualmente é considerada a
que melhor define a condição de deficiência:
Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em
igualdades de condições com as demais pessoas. (BRASIL, 2009).
Fazendo referência aos tratados mundiais, o texto da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional disciplina a educação e institui as diretrizes para a educação especial na
educação básica. Na interpretação de Mantoan (2006), ela traz de forma detalhada orientações
para o atendimento dos alunos com necessidades especiais nas classes comuns do ensino
regular. Mazzotta (2002) considera que a referida lei apresenta disposições legais e
normativas que refletem uma acepção democrática da educação escolar que não admite
qualquer tipo de exclusão de crianças, de jovens e de adultos, sob nenhum pretexto ou
condição, e detalha o papel da educação especial dentro da proposta de ensino inclusivo para
todos.
Como podemos perceber na breve descrição efetuada, no Brasil a inclusão escolar não
teve assento na iniciativa de familiares e das escolas, não houve um movimento gradativo de
decisões conjuntas e adaptação de escolas e professores na direção de um projeto inclusivo,
como seria um caminho mais natural para o sucesso. Ela foi articulada e definida por
estudiosos da área e técnicos de secretarias, e quando chegou à escola muito pouco havia de
história concreta no sentido de ações efetivas de inclusão escolar. Esta é, segundo Mantoan
(2006), a causa da situação incipiente das escolas, em sua maioria, diante desse projeto
deslocado do topo para a base. Há um grande despreparo da sociedade para lidar com o
deficiente, e a escola também não está preparada. Porém, não há como retroceder no processo
de avanço social e, olhando para a escola atual, com a sua crise, devemos nos preparar para
enfrentar as diferenças que são inerentes e utilizar as potencialidades individuais como fator
de crescimento para todos os educandos.
A transformação das escolas não irá acontecer em decorrência do estabelecimento de
diretrizes político-pedagógicas somente, e sim fazendo o caminho no processo de
conscientização, primeiro de nós mesmos e depois da sociedade. Não é fácil vencer barreiras
preconceituosas e equívocos sobre a deficiência, mas é possível mudar esse estado de
pensamento e evoluir para novas concepções, reconhecendo que as pessoas com deficiência
têm direito de ocupar um lugar em uma sociedade que deve procurar superar a exclusão.
A grande barreira quando pensamos no deficiente situa-se no isolamento frequente que
ele vivencia na família, na vida escolar e na vida em sociedade. Nesse sentido, a escola, além
do seu objetivo de promover a educação e a inclusão social para todos, cumpre um papel
fundamental para reverter situações de exclusão ao promover ações de conscientização sobre
os direitos de acesso aos serviços de saúde e de reabilitação para crianças com deficiência.
Uma reflexão sobre a inclusão escolar na prática pode ser buscada nos apontamentos
de Mrech (2011). A autora diz o que é e o que não é inclusão.
Inclusão é:
a) atender aos estudantes portadores de necessidades especiais nas vizinhanças da sua
residência;
b) propiciar a ampliação do acesso destes alunos às classes comuns;
c) propiciar aos professores da classe comum um suporte técnico;
d) perceber que as crianças podem aprender juntas, embora tendo objetivos e
processos diferentes;
e) levar os professores a estabelecer formas criativas de atuação com as crianças
portadoras de deficiência; e
f) propiciar um atendimento integrado ao professor de classe comum.
O conceito de inclusão não é:
a) levar crianças às classes comuns sem o acompanhamento do professor
especializado;
b) ignorar as necessidades específicas da criança;
c) fazer as crianças seguirem um processo único de desenvolvimento, ao mesmo
tempo e para todas as idades;
d) extinguir o atendimento de educação especial antes do tempo; e
e) esperar que os professores de classe regular ensinem as crianças portadoras de
necessidades especiais sem um suporte técnico.
Ensinar Geografia na Escola Inclusiva
Como professores podemos fazer a nossa parte na escola inclusiva e, principalmente,
na nossa prática, considerando que temos o dever de planejar aulas com metodologias que
permitam o acesso ao conhecimento de todos, estando cientes das diferentes capacidades e
ritmos de aprendizagem dos alunos. Podemos buscar o apoio de educadores da Educação
Especial se não sabemos agir perante o aluno com deficiência e, dessa forma, permitir que
esses alunos frequentem as classes regulares. Eles têm experiências específicas e podem dar
suporte ao nosso trabalho, à escola e aos familiares. Não podemos esperar que os sistemas
educacionais, as organizações internacionais ou financiadores de projetos nos deem respostas.
Eles certamente ditam caminhos, tolhem a nossa liberdade, mas, afinal, somos nós que
estamos na sala de aula, somos nós os agentes transformadores de seres humanos e, por isso, é
fundamental que tenhamos bem clara a nossa meta como educadores.
Também não podemos nos regular pelos dados estatísticos, notas e outras formas de
medir o avanço da educação. Eles não mostram a realidade contraditória do sistema
educacional. O nosso olhar percebe as marcas da fragilidade do sistema educacional público,
assinalada nas classes superlotadas, nas instalações físicas precárias e insuficientes, na
remuneração inadequada dos professores, no quadro docente sem formação adequada ou na
falta de estímulo para a tarefa sublime que é educar. Isso se restringindo somente àquilo que a
vista alcança, sem se deter na questão dos currículos, da evasão de uma parte significativa de
alunos, os quais, de acordo com Mantoan (2006), são marginalizados pelo insucesso, por
privações constantes e pela baixa estima resultante das exclusões escolar e social. O fracasso
desses alunos é imputado a eles, e não à escola, relutante em admiti-lo como seu, pois esta
não busca outros meios, novas saídas ou descobrir a fundo as causas geradoras do fracasso
escolar.
Quando como professores pensamos um processo de ensino-aprendizagem que seja
significativo, isto é, que contemple e valorize as experiências dos alunos, fica impossível não
reconhecer a diversidade que compõe o contexto escolar. Conhecer e saber lidar com essa
diversidade é um grande desafio do professor, especialmente do professor de Geografia, que
possui como base de repertório o estudo da pluralidade que constitui e confere forma à
sociedade.
Para a Geografia ser pensada como uma disciplina que consegue alcançar as
expectativas dos alunos, o professor precisa reconhecer a diversidade do mundo e a realidade
na qual estamos inseridos. Por lidar com conhecimentos ligados ao mundo vivido, os
conceitos trabalhados na disciplina de Geografia, segundo Cavalcanti (2006), são importantes
na formação de atitudes e valores para a vida prática. Mais do que conteúdos, esses valores
devem ser o foco do ensino de uma ciência que tem como preocupação a formação intelectual
e pessoal do seu alunado.
Na opinião de Callai (2003), a Geografia é uma disciplina que deve ser um
instrumento útil para ler e entender o mundo, exercitar a cidadania e formar cidadãos. Para
tanto, essa disciplina precisa ser dinâmica, na qual a relação entre professor e aluno é baseada
na ideia de movimento, para que os alunos compreendam que as pessoas, ao construírem a
sociedade, produzem um espaço carregado de histórias, com as suas marcas.
Como professores de Geografia devemos considerar essa dinâmica na sala de aula,
sendo sensíveis para com as dificuldades dos nossos alunos, vendo nelas possibilidades de
superar barreiras. Para tanto, será necessário aplicar métodos e recursos didáticos adequados,
que possam atender às necessidades dos estudantes. Dessa maneira, como argumentam
Ferreira e Guimarães (2003), o ensino poderá alcançar o atendimento das necessidades e
potencialidades de todos os alunos. O essencial não está no tipo de limitação apresentada, mas
no modo e nos instrumentos que possibilitem a inserção do sujeito no contexto social.
Lembramos que cada um tem o seu potencial e o seu tempo para atingir determinado
conhecimento.
Fazer da Geografia uma disciplina interessante é um desafio no ensino dessa ciência,
diz Callai (2003), um desafio que tem a ver com a vida, e não apenas com dados e
informações distantes da realidade; uma Geografia que fale do espaço construído pela
sociedade como resultado da relação do homem com o meio natural, um espaço com relações
que são indissociáveis.
Nessas perspectivas vamos comentar aqui parte das nossas experiências (nossas e dos
nossos alunos de graduação e pós-graduação) em algumas situações de ensino-aprendizagem
de Geografia. São situações reais que podem acontecer analogamente em qualquer sala de
aula de Geografia. Como poderão constatar, essas experiências ocorreram principalmente em
salas com alunos cegos, ou no ensino de Geografia a estudantes cegos.
Caso A – Rio, Lagoa, Lago e Laguna: Você Sabe o Que É?
Formamos conceitos pela experiência no cotidiano, observando nossos pais, familiares
e a comunidade onde vivemos e nos relacionamos. Portanto, chegamos à escola já com alguns
conceitos ditos do senso comum, formulados. Por ter visto um rio, sabemos o que ele é.
Podemos dizer o que é um prédio, uma cidade, uma paisagem, etc., pois, ao vivermos tal
experiência, observamos alguém dizer o que é e então aprendemos. Uma boa parte dos
conceitos do senso comum são pautados pelo que vemos, outra, pelo que associamos ao ver,
ouvir e sentir. Estocamos esses conceitos na memória e sempre recorremos a eles em
situações que os evocam.
Aqui vamos falar de uma experiência conduzida em uma aula para alunos cegos, sobre
a elaboração de conceitos científicos de rio, lago, lagoa, laguna e praia, aspectos naturais de
Florianópolis. Eram quatro alunos com idades entre 17 e 23 anos (três moças e um moço), de
diferentes escolas, que frequentavam o ensino médio ou a educação de jovens e adultos. A
aula em questão aconteceu no contraturno e foi mediada por uma professora de Geografia.
Para a aula foi preparada uma maquete com diferentes formas de relevo e um mapa, ambos
adaptados para a forma tátil, onde configuravam as formas do relevo. A aula foi conduzida
considerando-se os conceitos trazidos pelos alunos. A título de exemplo, vamos aqui nos ater
mais na questão do rio.
Em determinado ponto, depois de introduzir o assunto sobre os aspectos naturais da
paisagem, a professora perguntou: Para vocês o que é um rio? Quem pode definir? As
primeiras respostas foram: Aquelas águas. Água suja, poluída. É uma área que só tem água.
Se ele for um conjunto de cachoeiras, pode percorrer um caminho. Pelas respostas dadas,
percebe-se que os conceitos trazidos pelos alunos estão associados às lembranças das suas
experiências, por ouvir falar de rio poluído e, quem sabe, sentir o cheiro e escutar o barulho
das águas de algum rio. Outro experimentou, provavelmente, um banho no rio e sentiu que
seria uma área com água, e outro pode ter tomado banho de cachoeira e ter ouvido dizer que
havia uma sequência delas, e agora, quando perguntado, considerou que, se havia uma
sequência de cachoeiras, então provavelmente as águas percorriam alguma extensão.
Percebemos aqui que experimentar de alguma maneira aquilo que não podem ver é
fator imprescindível para que os alunos cegos compreendam as informações que recebem,
formulem conceitos comuns e elaborem conceitos científicos. Os estudos de Ventorini (2007)
consideram a experiência como fator determinante para os alunos cegos entenderem o que
está sendo explicado e formularem conceitos. Podemos estender tal constatação afirmando
que a experiência de qualquer aluno é necessária para a formulação de conceitos científicos.
Assim como as crianças que enxergam, as crianças cegas não encontram dificuldades em
assimilar o que está sendo explicado se lidam com informações ou representações de
ambientes conhecidos. As dificuldades se tornam evidentes à medida que não há vivências
sobre o que está sendo tratado.
Mais adiante, a professora solicitou que desenhassem um rio, um lago e uma lagoa,
seguido de explicações. O aluno Inácio desenha lago e lagoa na forma circular, e o rio com
traços, dizendo que há duas cachoeiras e que o rio desemboca em um lugar grande, o lago.
Informa que o rio é maior que o lago. Elena desenha uma linha com diversas voltas e diz que
para ela tudo é muito parecido: o lago, a lagoa e o rio. A outra aluna, Amanda, diz que
desenhou uma lagoa grande, com um círculo, e que pintou o rio de azul, afirmando que o rio é
azul (mas ela nunca enxergou cores!) e que pintou do seu jeito. A quarta aluna, Tereza,
desenha uma área na forma de um círculo e diz ser uma lagoa. Outro desenho de forma igual é
um lago, e o rio está representado por uma linha. Com esses desenhos a professora percebe o
conceito e as experiências que cada um traz.
A aula segue sempre pautada pelas perguntas e interações entre todos. A professora
lembra os nomes de alguns rios do município, das lagoas, busca experiências deles para
conduzir a elaboração de conceitos científicos. No senso comum os conceitos de lago e lagoa
são utilizados sem distinção, mas agora, utilizando o tamanho como referência, a professora
consegue conduzir a turma a distinguir cada um desses elementos da paisagem. Utiliza os
materiais didáticos preparados para essa finalidade, auxiliando-os a utilizar a maquete e os
mapas, e continua sempre perguntando, conduzindo, avançando, até que cada um, ao seu
tempo, consiga elaborar os conceitos em foco. Como observado por Vygotsky (1996), o
ensino direto de conceitos é impossível e infrutífero. Um professor deve preparar o meio
ambiente para desafiar, exigir e estimular o intelecto do adolescente, para que este possa
atingir estágios mais elevados de raciocínio.
Observamos que, ao desenhar o rio, Amanda disse que ele deveria ser pintado de azul,
que o rio é azul. A referência à cor mostra que a aluna aprendeu a ler mapas na linguagem
visual. Mais adiante, ela associa textura a cor para representar o rio e diferenciá-lo de estrada,
representando esta última com textura áspera, e o rio com textura lisa. Também observamos
referências a essa situação nos estudos de Vygotsky (1997), quando afirma que a linha diretriz
da psicologia do cego está orientada para a superação da deficiência por meio da
compensação social, pela incorporação da experiência do vidente, mediante o uso da
linguagem.
Ainda encontramos em Vygotsky (1997) referência sobre a potencialidade e a
integridade cognitiva do cego, que precisa de condições favoráveis para que seja desenvolvida
de forma plena e sem prejuízo. A superação da cegueira é conseguida mediante a interação
social, construída na linguagem, na relação social. Como observado no decorrer das aulas, a
linguagem e as interações entre os alunos e o professor, assim como o uso de materiais
didáticos, foram fundamentais no processo de elaboração de conceitos científicos e também
para que os temas passassem a fazer parte do repertório conceitual dos alunos.
Os fatos vivenciados na experiência aqui relatada em parte podem nos dar pistas de
como superar o nosso próprio desconhecimento sobre como conduzir a aprendizagem de
alunos cegos nas nossas aulas de Geografia. Deve haver cuidado com o uso da linguagem que
se utiliza na sala de aula em presença de alunos cegos. Estamos habituados à linguagem e ao
comportamento visual, que pode não fazer sentido algum para o aluno cego. Ele pode
“decorar” e pode “fingir” que compreendeu, para não ser marcado como diferente.
Há de se considerar o que nos aponta Masini (1997) sobre as formas de a pessoa com
deficiência visual perceber e compreender o espaço. Esta, utilizando os sentidos de que
dispõe, falará do mundo que os videntes não percebem, pela falta do uso dos outros sentidos
disponíveis, ao entrar em contato com as coisas ao seu redor. Dessa forma, cria-se um campo
de reciprocidade na relação com o deficiente visual, e a percepção dos videntes poderá se
ampliar.
A deficiência visual não impõe uma educação diferente, mas exige adaptações que, no
caso do ensino da Geografia, por ser essa uma ciência que solicita o sentido da visão,
precisam de atenção especial do professor. Essa atenção significa o uso de materiais didáticos
adaptados (mapas, maquetes, gráficos, esquemas), o uso da linguagem para descrever ações
que estão desenvolvendo na sala e para descrever imagens de filmes, jornais, revistas e livro
didático.
Caso B – Algumas Perguntas (In)Oportunas
Para conhecer melhor como a sua aluna cega Roseana (14 anos), do primeiro ano do
ensino médio, compreende os mapas táteis, a professora solicita que ela leia um mapa simples
e diz a ela que fique à vontade e que, depois, vai perguntar algo sobre o mapa. Quando
Roseana considera que já leu o mapa, chama a professora. Esta pergunta então: Qual é a
forma da área que foi mapeada? A aluna fica espantada com essa pergunta, pois não a
esperava. Porém, pensa um pouco, pede para “rever” o mapa e, depois de tocá-lo novamente,
diz: É alongado no sentido norte-sul (era o mapa da Ilha de Santa Catarina, conhecida por
alguns como Florianópolis). Então, a professora solicita que Roseana desenhe a forma
aproximada do mapa. Para isso, fornece à aluna uma folha de papel comum, lápis de cera e
uma pasta de plástico com textura, onde a folha está apoiada. Ela desenha o mapa, e a
professora constata ter uma forma parecida com aquela do mapa original. A aluna vai
desenhando e comentando. Coloca alguns detalhes narrando: Isso é a “ponte”, que fica mais
ou menos na metade do mapa. Realmente, as pontes que ligam a ilha ao continente estão
localizadas a oeste e aproximadamente na metade da Ilha.
A interação da aluna cega com o material didático e com a professora durou apenas
alguns minutos, os quais se tornaram preciosos para o professor compreender como a aluna lia
o mapa. No início conduziu as mãos da aluna sobre o mapa mostrando o título, a legenda (que
estava na outra folha) e os contornos principais. Depois deixou que ela explorasse o mapa e
ficou observando de longe, sem que a menina percebesse.
Depois de desenhado o mapa, a professora solicitou que Roseana comparasse-o com o
original e dissesse se eram semelhantes. Solicitou que posicionasse o “seu mapa” na condição
geográfica da ilha, ao que ela atendeu. Então a professora perguntou: Você sabe qual é a
inclinação da ilha em relação ao norte? Como a aluna considerasse que era alinhada com o
norte, a professora argumentou mostrando que não era bem assim. A ilha forma 11 graus de
inclinação para leste, disse a professora, que acrescentou: Você sabe o que significa 11 graus
na prática? Então, para demonstrar isso, pegou duas canetas próximas e solicitou à aluna que
demonstrasse 90 graus, depois 45 graus, e depois, aproximadamente, 22 graus, para chegar a
11 graus. Em tudo isso a professora auxiliou e solicitou também que Roseana reproduzisse.
Por fim, colocou a mão direita da aluna sobre a caneta que formava a inclinação de 11 graus,
a mão esquerda sobre a caneta que marcava zero grau (o norte) e comentou: Assim está a Ilha
em relação ao norte. A aluna mostrou ter compreendido e manifestou contentamento com
aquela improvisação que se havia tornado em algo significativo, o que, segundo ela, só
aprendeu na teoria da Matemática, mas nunca havia ligado o assunto com a Geografia. Disse
que nunca alguém havia lhe explicado ângulos dessa maneira, de forma simples e útil.
Com essa situação, podemos verificar que a professora não conhecia a sua aluna
“especial”, mas nem por isso teve receio de se aproximar dela para buscar conhecer como ela
conseguia ler mapas. Utilizou estratégias simples, auxiliou, improvisou. Tudo que se espera
de um professor que se importa com os seus alunos são atitudes semelhantes a essa. Do
trabalho conjunto advêm os resultados almejados, e na troca de experiências é que ambos
saem ganhando. O professor que ensina aprende, e o aluno que aprende também ensina.
Da troca estabelecida entre aprendiz e mestre é que a Geografia adquire o significado
de uma ciência dialógica, que deve pensar o objeto de estudo a partir das e nas relações.
Conforme Callai (2003), se a preocupação do professor de Geografia é formar cidadãos,
torna-se ponto básico a oferta de oportunidades, condições e instrumentos para que o aluno
conheça e aprenda sobre a realidade em que vive. Costella (2007) reforça essa acepção ao
dizer que o professor deve evitar o uso de esquemas prontos e dar prioridade a atividades que
provoquem reflexões. É importante que o educador incentive o pensamento autônomo do
estudante e desperte o saber que vem da construção, como aconteceu no caso relatado.
Podemos acrescentar ainda que evocar imagens da memória para lembrar lugares pode
ser uma estratégia a ser aplicada para toda a turma, para criar mapas mentais de lugares e
fatos em estudo. Esses mapas mentais podem ser expressos em desenhos ou em palavras.
Cabe ao professor decidir qual a maneira mais adequada. Mesmo que o sentido da visão seja
requerido para tanto, podemos verificar que, se o professor conhecer o seu aluno cego, poderá
também propiciar maneiras de ele participar da aula. Para isso, precisará utilizar a sua
sensibilidade, promovendo as adaptações necessárias, que podem ser simples ou sofisticadas,
porém o mais importante é que ele perceba se os conceitos foram elaborados e se os
conhecimentos foram adquiridos pela sua turma.
Não podemos esquecer que desenhar é permanecer criança! Depois de adultos
perdemos o hábito de desenhar, e especialmente os cegos são pouco estimulados ao desenho
porque as pessoas pensam que eles não precisam e não sabem desenhar. Sobre esse assunto
inspirador do desenho de cegos recomendamos a leitura de Duarte (2011).
Caso C – Saber Como e Quando Adaptar Materiais Didáticos
A aluna Cássia, com 16 anos (segundo ano do ensino médio), precisava entender como
se deu a colonização no final do século XIX e início do século XX, e para tanto precisava do
auxílio de mapas. Todos os alunos da sua sala conheciam o mapa da colonização porque
podiam vê-lo no livro didático, porém Cássia, como cega, estava alheia a essa informação,
apesar de ter o texto do livro transcrito em braille. Qual seria a atitude do professor perante
essa dificuldade apresentada pela aluna?
A sala de recursos que a aluna frequentava no contraturno poderia ser o lugar onde
conseguir o mapa adaptado para o modo tátil, mas ele precisaria ser solicitado com
antecedência, para ser confeccionado e disponibilizado no momento em que o assunto fosse
discutido em sala de aula. Porém, por se tratar de um material didático específico, era
imperativo o auxílio do professor de Geografia, do qual se espera que entenda melhor que o
professor de educação especial tanto da elaboração como do uso de mapas.
O mapa impresso no livro precisava ser adaptado para a leitura tátil. No caso, era um
mapa-múndi colorido onde configuram todos os países colonizados e os seus colonizadores.
As cores foram utilizadas para diferenciar os colonizadores. Havia um grande número de
informações, o mapa possuía pequena dimensão (metade da folha do livro) e, por causa disso,
muitos países ficaram com tamanho reduzido. Como transformar essas informações visuais
em táteis? Ao observar esse mapa, verificamos que ele não poderia ser adaptado diretamente
ao modo tátil. A solução seria construir um mapa para cada continente, de forma que os
limites dos países pudessem ser contornados por uma linha fina. Assim, cada país poderia ser
identificado na leitura tátil por meio de um número identificador, escrito em braille. De modo
semelhante, uma letra em braille poderia determinar quem foi o colonizador, desde que essa
letra estivesse dentro da área do país. A legenda, construída em outra folha, seria o elemento
decodificador da temática e dos nomes dos países. Algumas particularidades foram
consideradas, como aquela da América do Norte, que não foi representada porque não havia
país colonizado lá. A América Central foi representada em um mapa, e a América do Sul, em
outro (a figura mostra imagens desses mapas táteis e o mapa impresso utilizado como
referência para a adaptação). O mapa-múndi na forma tátil, configurando apenas os
continentes, permaneceu como um mapa de auxílio, para ser utilizado antes dos outros mapas
e possibilitar que o aluno “localizasse” o lugar de cada país nos continentes.
Soluções semelhantes podem ser necessárias em outros casos que possam vir a
acontecer em sala de aula e precisarão ser conduzidas pelo professor de Geografia, em
interação com o professor da sala de recursos, ou com o professor da Educação Especial. A
solução didática de adaptação é do professor responsável pela disciplina e cabe à escola
providenciar a confecção desse material, que nem sempre é fornecido pela secretaria de
ensino. Mas, se o professor não estiver sensibilizado pela causa dos seus alunos, com certeza
esse caminho ficará mais difícil, e a sua sala de aula inclusiva existirá só no discurso. Se o
professor de Geografia não souber nada sobre mapas táteis, poderá pesquisar na internet. Um
site onde conseguirá ajuda é o do Laboratório de Cartografia Tátil e Escolar (LabTATE),
www.labtate.ufsc.br, onde estão disponibilizados modelos de algumas dezenas de mapas
táteis para a educação, além da “receita” de como fazer esse tipo de mapa.
Indo para os finalmentes
É certo que não há como elaborar conclusões ou apresentar considerações finais neste
texto. Como afirmamos no início, estamos construindo um caminho novo. Saímos da zona de
conforto do conhecimento dominado e, enquanto caminhamos por “novos mundos”, estamos
nos transformando pelo contato com o desconhecido. Ultrapassamos alguns obstáculos e
continuamos a encarar outros enquanto derrubamos (pré)conceitos para, aos poucos,
mudarmos um pouco o mundo ao nosso redor.
A pesquisa, a extensão e o ensino que vimos fazendo na universidade abriram a
possibilidade de olhar e ver. Ao vermos, observamos que podemos, como diz Callai (2008),
mostrar aos nossos alunos que eles podem, como os professores, fazer da Geografia uma
disciplina interessante na escola. Mais que isso, pode-se utilizar essa disciplina como uma
oportunidade de trabalhar nos alunos atitudes e valores para a vida prática, além da formação
intelectual. E a sala de aula inclusiva se configura como ambiente adequado para esse
exercício.
Esperamos que os apontamentos aqui deixados possam, de alguma forma, contribuir
para o seu desafio de ser um PROFESSOR DE GEOGRAFIA na escola inclusiva.
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Agradecimentos
Agradecemos ao CNPq, pelo apoio às pesquisas; aos nossos alunos do labTATE, que
participaram delas; e, principalmente, aos estudantes cegos, que colaboram voluntariamente.
Este texto foi publicado em: Rosa Elisabete Milititz Wypyczynski Martins; Ivaine Maria Tonini;
Lígia Beatriz Goulart. (Org.). Ensino de Geografia no Contemporâneo: experiências e desafios.1 ed. Santa Cruz do Sul : EDUNISC, 2014.