A cultura da participação sob a ótica dos fansubbers: convergências e divergências no fandom de...

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A cultura da participação sob a ótica dos fansubbers : convergências e divergências no fandom de animês 1 Krystal Cortez Luz Urbano 2 Resumo O presente artigo explora o universo do fandom de animês, dando enfoque particular à prática fansubber que consiste na tradução, legendagem e distribuição informal de séries japonesas no meio on-line. Fundamentalmente, o trabalho apresenta um contraponto à idéia da cultura de fãs de animês representada por esses grupos como uma comunidade homogênea, com motivações e condutas em comum partilhadas. Os primeiros resultados da pesquisa apontam para a idéia de que os fansubbers vêm operando cada vez mais num ambiente competitivo, baseado em disputas por capital subcultural ao invés de mutuamente solidário ou afetivo. Palavras-chave: capital subcultural; divergência; cultura participativa; fandom; fansubbers. 1 – Introdução 1 Artigo apresentado no Eixo 7 – Redes sociais na Internet e Sociabilidade online do VI Simpósio Nacional da Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura realizado de 06 a 08 de novembro de 2012. 2 Mestranda em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (PPGCOM - UFF). Linha de pesquisa: Estéticas e Tecnologias da Informação. Email: [email protected]. 1

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A cultura da participação sob a ótica dos fansubbers:convergências e divergências no fandom de animês 1

Krystal Cortez Luz Urbano2

Resumo

O presente artigo explora o universo do fandom de animês,dando enfoque particular à prática fansubber que consiste natradução, legendagem e distribuição informal de sériesjaponesas no meio on-line. Fundamentalmente, o trabalhoapresenta um contraponto à idéia da cultura de fãs de animêsrepresentada por esses grupos como uma comunidade homogênea,com motivações e condutas em comum partilhadas. Os primeirosresultados da pesquisa apontam para a idéia de que osfansubbers vêm operando cada vez mais num ambientecompetitivo, baseado em disputas por capital subcultural aoinvés de mutuamente solidário ou afetivo.

Palavras-chave: capital subcultural; divergência; cultura

participativa; fandom; fansubbers.

1 – Introdução

1 Artigo apresentado no Eixo 7 – Redes sociais na Internet e Sociabilidade online do VI Simpósio Nacional da Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura realizado de 06 a 08 de novembro de 2012.2 Mestranda em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (PPGCOM - UFF).Linha de pesquisa: Estéticas e Tecnologias da Informação. Email:[email protected].

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Acessar

e consumir produtos midiáticos através da internet já se

tornou uma atividade constante entre muitos consumidores

culturais de diversas partes do globo. A apenas um clique do

mouse pode se chegar a um vasto repertório de produções

midiáticas – filmes, séries de TV, programas de auditório

etc. - incluindo desde obras populares no mercado global

tais como as clássicas sitcoms americanas até produções mais

singularizadas pensadas a principio para uma distribuição

local, como, por exemplo, os produtos de mídia indiana,

chinesa e sul-coreana dentre outras produções de mais de

diversas línguas que não figuram no mainstream da mídia

global. Por intermédio de certas atividades colaborativas

engendradas nos seio de “comunidades de conhecimento”

(JENKINS, 2006; HILLS, 2002) espalhadas no ciberespaço,

esses mesmos produtos que também traduzem as irregularidades

das operações das indústrias culturais globais (APPADURAI,

1990, 1996; LEE; 2011) são apropriados, re-significados e

compartilhados com outros fãs no ambiente on-line.

Objetivamente, esses conteúdos de mídia são traduzidos,

legendados e livremente distribuídos - de fã para fã - no

ciberespaço, sem a permissão das holdings responsáveis pelo

fluxo oficial desses bens no mercado.

A tal atividade, de caráter “voluntário, não-remunerado

e descentralizado” (LEE, 2011) convencionou-se chamar de

prática fansubber, junção das palavras inglesas “fan” (“fã”) e2

“subtitle”

(“legenda”), designando suas principais características: a

tradução e a legendagem de textos de mídia asiática,

geralmente, desenhos animados japoneses – conhecidos

popularmente como animês. A palavra “fansubber” refere-se

tanto as pessoas que realizam a atividade - os fãs-

legendadores - quanto designa a prática em si. Surgida do

intuito dos fãs em promover e divulgar animês e demais

textos de mídia asiática em seus países3 num período

fortemente marcado pela escassez dessas produções no mercado

mundial (HILLS, 2005, JENKINS, 2006; LEONARD, 2005), a

prática fansubber veio evoluindo nas últimas décadas

acompanhando a esteira do desenvolvimento das tecnologias de

reprodução e compartilhamento de arquivos. A princípio,

utilizando-se da tecnologia VHS, que permitiu as primeiras

produções de legendas e, posteriormente, lançando mão das

facilidades da internet e da comunicação P2P4, a atividade

de fã-legendagem se expandiu consideravelmente e ganhou

novos contornos. Atualmente existem muitos fansubs que

traduzem animês para diversas línguas, sendo difícil

precisar, quantitativamente, o número de grupos em atuação

na rede. Versões de animês legendados em inglês, italiano,

3 As origens dessa atividade colaborativa encontram-se na década de 1980,período no qual emerge um grande interesse dos estudantes estadunidenses sobreanimação japonesa. No Brasil, a atividade de fã-legendagem começou a serrealizada entre o final da década de 1990 e início do ano 2000, período quecoincide com a popularização da internet no país. 4 Peer-to-Peer: Usuário a usuário.

3

chinês,

espanhol e taiwanês dentre outras línguas são

disponibilizadas para outros fãs numa rapidez e velocidade

que sugere a atuação desses grupos em escala global.

Considerando o exposto, o objetivo principal desse

artigo é enriquecer os debates sobre as interações que

ocorrem no interior do fandom de animês, ao explorar as

disputas sociais recorrentes entre os fansubbers em suas

comunidades, intensificadas nos últimos tempos pelo

crescimento considerável de grupos em atuação na rede. A

pesquisa evidencia que a transnacionalização da prática da

fã-legendagem, com a adição de softwares de fonte aberta nos

processos de produção bem como a chegada de novos atores na

cena fansubber fez vir à tona tensões e disputas no interior

do fandom de animês. Nossa aposta é que cada vez mais os

grupos vêm operando num ambiente competitivo, em vez de

mutuamente solidário ou afetivo, enfrentando por um lado a

pressão de sua exigente audiência e dos demais mediadores do

mundo animê e, por outro lado, as contestações da indústria

dos animês quanto à legitimidade da prática. Com base em

dados iniciais coletados em entrevistas com fansubbers

brasileiros5, discussões em blogs de opinião relacionados ao

universo animê e alguns escritos acadêmicos recentes acerca

5 Este trabalho expõe as reflexões da dissertação de mestrado em desenvolvimentojunto ao PPGCOM-UFF (RJ), e traz alguns dos resultados correspondentes à fase deentrevistas e tratamento de dados da referida pesquisa com os membros dos fansubsbrasileiros no ambiente on-line.

4

da

tradução e distribuição fansubber (DENISON, 2011; DIAZ E

SÁNCHEZ, 2006; JENKINS; 2006, 2009; LEE, 2011; LEONARD,

2005) o artigo pretende também reforçar as discussões sobre

o potencial da mediação desses produsers6 (BRUNS, 2008) no

tocante às práticas engendradas no ambiente da cibercultura.

2 - A prática fansubber: das competências e tecnologias de

distribuição

A prática fansubber se configura num processo altamente

especializado e diversificado. Sua dinâmica segue uma lógica

compartilhada entre grupos que atuam em diversos países. Em

seu estudo, Cintas e Sánchez (2006) descrevem sete etapas de

produção que se traduzem nas seguintes tarefas: aquisição de

fonte (raw), tradução, sincronismo, typesetting, edição,

codificação, distribuição e karaokê para as seqüências de

aberturas e encerramento dos animês (DIAZ E SÁNCHEZ, 2006,

p. 40-42). Outros adereços, além da própria legenda das

falas, são criados pelos fansubbers como é o caso das notas

explicativas, dos logotipos dos grupos e das assinaturas

eletrônicas dos membros do projeto. Este excesso de

intervenções divide as opiniões dos diversos fãs espalhados6 Esse novo conceito tenta dar conta de uma realidade em que a palavra produçãonão é capaz de representar com precisão o contexto atual onde os papéis deprodutor e usuário se confundem (BRUNS, 2008).

5

pelo globo7.

Em resposta a alguns dos meus questionamentos, o fansubber Jihox

comenta sobre as funções que lhe são atribuídas na produção

do seu coletivo:

Basicamente eu tenho um ou mais projetos de tradução e souresponsável por baixar o episódio, conseguir um script(arquivo com a legenda) no qual será baseada a minhatradução, traduzir o script, revisar a minha tradução,identificar os typesets (textos na tela que precisam sertraduzidos, como placas, mensagens de celular e outros)necessários e deixá-los indicados no script para outromembro da equipe tratar. É trabalho meu ainda reassistir oepisódio com a minha tradução para identificar possíveisfalhas que tenham passado e erros de timing (sincronizaçãoentre fala e legenda), falas faltando, linhas com tamanhoinadequado para as falas, pontuação incorreta, etc. (Jihox,ANSK)

O processo de legendagem também requer etapas

organizadas de trabalho; começando com a obtenção dos vídeos

originais (ou 'raws') em sites P2P8. A próxima etapa

consiste na tradução e sincronismo que são seguidos pela

edição e editoração. Em seguida, o vídeo original é

codificado e funde-se com as legendas. Após a revisão

textual, o grupo disponibiliza na rede. Essas tarefas são

divididas entre membros do grupo e por muitas vezes um

7 No Youtube é possível ter acesso ao documentário “The Rise and Fall of Anime Fansubs –a documentary”. Produzido por um fã que atende por OtaKing, o documentárioapresenta uma crítica em torno do excesso gerado pela demasia de legendas eefeitos nos animês produzidos por fansubs.

Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=IUYlqLlbix0 8 No decorrer das entrevistas com Aracraud, do Ryussei Fansub cheguei a esses doissites que disponibilizam raws: http://leopard.raw-providers.net/ ehttp://yousei-raws.org/

6

membro pode

fazer várias tarefas. Quanto ao tempo requerido, há que se

dizer que depende deveras das habilidades das pessoas

envolvidas. Normalmente, o processo se dá entre 8 e 20

horas, mas há grupos que visam lançar mais rapidamente os

episódios na rede, utilizando-se de cerca de 3 a 5 horas

para legendar um episódio de 25 minutos.

Quanto às tecnologias utilizadas no processo merece

destaque os programas Adobe After Effects, Aegisub, MeGUI, MKV tools.

Atualmente, a difusão do soft subbing9 (que permite re-

codificações de novas legendas e retraduções) vem

permitindo repetidas reproduções, com novas mediações que

se materializam ao longo do tempo em um número crescente de

animês traduzidos em línguas e versões diferentes. Já que a

legenda não está fixa no vídeo, é possível editá-las como

quiser (mudar cor, tamanho, fonte ou mesmo mudar o time ou

frases) usando players que permitem essa interação. Também é

possível desativá-las e inserir diversas legendas

diferentes no vídeo. Um ponto forte do soft subbing é que ele

preserva mais a qualidade do vídeo ao contrário do hard

subbing que exige mais espaço, mais bitrate no vídeo e,

conseqüentemente, possui maior tamanho. Um exemplo de

fansub brasileiro que adotou softsub é o grupo Eternal

9Significa o contrário do hardsub. No hardsub a legenda é “presa” ao vídeo,enquanto a legenda softsub está “solta” dentro do contêiner (nesse caso, noprograma MKV).

7

Animes (EA)10,

que desde 2008 adotou o padrão para seus lançamentos.

Apesar de o softsub ser comum em fansubs estrangeiros

(principalmente estadunidenses), ainda é pouco usado entre

os grupos no Brasil. Muitos ainda preferem legendar em

hardsub onde a legenda é fixada no vídeo, o que dificulta

sua recodificação, ainda que possível nesse padrão.

Ainda é preciso lembrar que os processos inerentes à

prática fansubber também exigem de seus membros conhecimentos

lingüísticos para se obter um resultado final satisfatório.

Dentre essas competências, o domínio do japonês se

sobressai, sobretudo por ser um dos principais meios de

distinção dos grupos no fandom de animês. No entanto, boa

parte dos fansubs brasileiros que atuam na rede re-traduzem

os scripts do inglês. De todo o modo, a tradução se

configura, sobremaneira, como importante função no

estabelecimento de padrões de qualidade, tornando-se uma das

principais habilidades requeridas quando se observa esses

grupos:

Na minha ótica de tradutor, o que difere o bom do maltradutor é o uso correto do português e saber interpretarbem o inglês [...]Reparo que muitas traduções possuem tantoserros de português que claramente são reflexo do tradutornão dominar o idioma, e um texto mal escrito pode acabarestragando a experiência de quem o lê. Muitos textos tambémsão "pobres" do ponto de vista de uso do vocabulário porfalta de conhecimento de sinônimos para variar e até melhor

10 Disponível em: http://eternalanimes.org/

8

traduziruma idéia. [...] Porém muitos tradutores não sabem inferir osignificado de uma sentença como um todo e acabam portraduzir errado, fugindo do significado original da frase ecasos assim são pouco ajudados pelos dicionários. Outrostradutores são só preguiçosos demais para buscar traduções esinônimos na internet e melhorar a qualidade do própriotrabalho (Jihox, ANSK).

Entende-se, portanto, que a prática fansubber toma forma

a partir da junção dos saberes específicos de cada membro do

grupo, dando origem a algo que Pierre Lévy (1999a) define

como “inteligência coletiva”, que se constituiria em “uma

inteligência distribuída por toda parte, incessantemente

valorizada, coordenada em tempo real, que resulta uma

mobilização efetiva das competências” (LÉVY, 1999a, p. 28).

Através das particularidades das redes digitais, é permitido

aos membros de um grupo social (como é o caso dos

fansubbers) que “se coordenem, cooperem, alimentem e

consultem uma memória comum, e isto quase em tempo real,

apesar da distribuição geográfica e da diferença de

horários” (LÉVY, 1999b, p. 49). Assim, a concepção de um

novo espaço antropológico11, o “espaço do saber” tal qual

preconizado por Lévy se concretizaria. É no bojo desse

pensamento que o pesquisador Henry Jenkins (2009) apóia seu

argumento sobre a constituição real de uma “inteligência

coletiva” no tocante às práticas colaborativas que emergem11 Lévy (1999a) propõe a existência de quatro espaços antropológicos: Terra,Território, Mercadorias e Espaço do Saber. Este último espaço, para o autor, não existiria:seria uma “utopia”. Contudo, estaria sempre se configurando, na expectativa deum vir-a-ser.

9

na era da

“convergência tecnológica”:

O que consolida uma inteligência coletiva não é aposse do conhecimento – que é relativamente estática-, mas o processo social de aquisição do conhecimento– que é dinâmico e participativo -, continuamentetestando e reafirmando os laços sociais do gruposocial (JENKINS, 2009, p. 88).

Para Jenkins (2009), essas “novas comunidades são

definidas por afiliações voluntárias, temporárias e táticas,

e reafirmadas através de investimentos emocionais e

empreendimentos intelectuais comuns” (JENKINS, 2009, p. 57).

No entanto, há que se assinalar a existência de práticas

plurais no fandom digital que nos propomos a refletir nesse

paper. Em outras palavras, sugere-se que a cena fansubber12

atual não comporta unicamente membros ligados por um

interesse comum, dentro de um espaço ideal, isento das

tensões sociais.

3 – Das práticas à cena fansubber: disputas e renovação no

fandom online de animês12 Acredita-se que o gênero animê constitui nichos de mercado e comunidades deimaginação que possuem afinidades em comum, aproximando-se do que o pesquisadorWill Straw (1991) vair chamar de cenas, espaços específicos, onde “uma série depráticas culturais coexistem, interagindo entre si dentro de uma variedade deprocessos de diferenciação, e de acordo com trajetórias amplamente variadas”(STRAW, 1991, p. 373). No sentido que o temo é adotado aqui, trata-se, dacriação de novas “comunidades imaginadas”, cujas formações permite um senso decomunidade, a qual não necessita de interação face a face.

10

Ao longo da pesquisa foi possível notar que a

comunidade fansubber é fortemente atravessada por um processo

permanente de articulação de hierarquias, alianças,

rivalidades, baseado em disputas por “capital subcultural”.

Tal noção postulada por Sarah Thorthon (1996, p.11) em seu

estudo sobre a cena clubber inglesa nos parece ser um bom

ponto de partida para se pensar as disputas que se

estabelecem no interior do fandom de animês. Nas palavras da

autora:

[o] capital subcultural confere status para o seu possuidor,aos olhos daquelas pessoas que importam. [...] Assim comolivros ou pinturas são demonstrações de capital culturaldentro da casa de uma família, o capital subcultural éobjetificado na forma de cortes de cabelo da moda, e decoleções de discos bem construídas (THORNTON, 1996, p. 11).

Essa definição é pertinente para a nossa análise uma

vez que os fansubbers desenvolvem suas atividades em um

constante processo de acúmulo de conhecimento e informações,

ampliando suas habilidades num ambiente em constante

negociação e bastante competitivo. Alguns grupos proclamam

que há um desgaste generalizado na cena fansubber ocasionado

pela popularização da prática entre os demais fãs, o que vem

promovendo a entrada de novos tradutores e mediadores que

não comungam dos mesmos códigos tradicionais que compõem a

cena fansubber desde seu surgimento. Em outras palavras,

11

nota-se que há

uma discussão em torno da legitimidade das práticas dos

grupos no fandom on-line de animês:

Hoje em dia é muito fácil legendar, não precisa ser nenhumespecialista, são pouquíssimos os fansubs que prezam aqualidade dos animes e cada vez esses fansubs lançamentos[...] Talvez, o grande problema da legendagem hoje, seja acompetição dos fansub. Hoje os fansubs lançam para teremmais downloads, e não por que gostam, fazem projetos que nemgostam, só pq são famosos e para terem mais de cemcomentários no post. Não encodam, nem fazem type, karaokes eetc, só pegam a raw e muxa a legenda traduzida, sem serrevisada e adaptada. Quando eu comecei a legendar, euassumo, eu era completamente noob no aspecto, aí eu fui meaprimorando e hoje já consigo fazer um trabalho bem legal13.

Central nesse pensamento é a crença que o surgimento de

novos grupos no fandom de animês que traduzem e legendam

animês num curto período (entre 3 e 5 horas após transmissão

oficial) - os denominados speed subs - acompanham uma

tendência cada vez mais crescente à velocidade, o que vem

modificando as bases artesanais que guiaram a prática até

pouco tempo atrás. Primordialmente, observa-se que a geração

que atua há mais tempo como fansubber é propensa a desprezar

as práticas dos grupos de velocidade, que cada vez mais

crescem em amplitude e visibilidade na rede. Entendendo que

a prática fansubber é orientada pela afeição aos animês; a

atividade é vista pelos próprios membros dos grupos como um

tempo de lazer, um hobby organizado, guiado pela devoção13 Trecho do post publicado em 30/07/2011 no site do Hacchi fansubs. Disponível em:http://www.hacchifansub.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1104:fim-dos-fansubs-no-brasil-post-random&catid=1:postagens

12

(FISKE, 1992)

ao produto cultural em questão, a chegada dos grupos de

velocidade traz consigo outra dinâmica, mais competitiva e

entranhada nos ritmos da economia do mercado. Mais do que

produzir novas demandas de títulos, a velocidade

possibilitada pelos speed subs parece alterar,

significativamente, os códigos norteadores próprios à

atividade. Alguns fansubbers, por exemplo, proclamam que grupos

de velocidade possuem uma ética ambígua em suas operações

que divergem dos ideais norteadores que acompanham a

atividade desde seu surgimento. Os relatos dos fansubbers,

alguns deles reproduzidos neste artigo, sugerem que as

práticas de produção e distribuição encerradas nos grupos

não devem ser influenciadas por um desejo de aumentar o

número de downloads, nem mesmo aspirar eventuais lucros

financeiros provenientes do sucesso dos espaços em questão

O lema “De fã para fã” é uma pratica que é seguido pelamaioria dos fansubs sérios, que visam apenas a distribuiçãodos animes para todos sem visar lucro, mas nesse meio temalgum fansubs que comercializam isso, vendendo animes,camisetas, e todo tipo de coisas que possam mais sercaracterizados como Pirataria do que como fansub.Nesse ponto quem mais faz isso são os speedsubs, fansubs quenão se preocupam com qualidade e sim com velocidade. [...]São a meu ver um exemplo de quem não segue esse lema(Aracraud, Ryussei Fansub)

É importante salientar, entretanto, que o objetivo

principal de boa parte desses grupos (sejam eles speeds ou

13

não) está em

promover o interesse de distribuidoras locais na aquisição

dos direitos dessas obras junto às produtoras no Japão.

Tendo como justificativa o trânsito ainda escasso de animês

no mercado global, essas versões disponibilizadas pelos fãs-

legendadores atuariam na divulgação de títulos inéditos de

animês (não-licenciados). Entretanto, são muitos os motivos

que levam os fansubs a iniciarem ou darem fim a um projeto e,

não necessariamente, a aquisição dos direitos por

distribuidoras locais se impõem enquanto empecilho para as

atividades dos grupos. Cabe ressaltar que os membros dos

fansubs investem não só o seu tempo livre, mas muitas vezes

dinheiro para produzir e distribuir títulos, manter o

funcionamento dos seus links, sites, portais, etc. Dessa

forma, promovem uma nova forma econômica, na qual Paul Booth

(2010, p. 24) argumenta ter características da junção da

“economia de mercado” com a “economia da dádiva”, denominada

pelo autor como economia Digi-Gratis. Na visão de Booth, o

termo

[...] indica uma estrutura econômica onde não há trocamonetária, mas que retém elemento de estrutura de mercado.Em uma economia “grátis”, pessoas criam e compartilhamconteúdo sem recompensas ou cobranças, ou, pelo menos,cobrando uma taxa variável determinada pelo usuário. Emmuitos sentidos, esta troca está relacionada à economia dadádiva descrita por Mauss como sendo nas quais “trocas econtratos acontecem na forma de presentes...” A economia dadádiva constrói laços sociais. Esta estrutura econômica, emmuitos aspectos, difere de nossa idéia contemporânea de

14

economiade mercado, na qual produtos e serviços são trocados porrecompensa monetária, e na qual o propósito é construirriqueza.

Possivelmente, muitas dessas divergências encontradas

entre os fansubbers têm origem nas formas distintas com que

os fãs absorveram a rápida popularização dos principais

meios de produção e distribuição utilizados no processo de

legendagem. Como vimos, os últimos anos testemunharam a

transnacionalização da prática fansubber. Objetivamente, isto

significa que está se tornando bastante difícil para os

fansubbers regularem as práticas no fandom bem como a

distribuição de seu trabalho na rede. No Brasil, por

exemplo, a atividade confinava-se em plataformas de

comunicação como o MIRC, principal meio de distribuição

utilizado por esses grupos e que, curiosamente, ainda abriga

alguns grupos tidos como mais “tradicionais” em suas

práticas. No entanto, a chegada e a adição de novas

tecnologias de produção e distribuição, tais como o Torrent e

o Aegisub (programa de software de fonte aberta) trouxeram

mais flexibilidade para a atividade permitindo a outros

usuários alterarem livremente os textos, fontes, cores e

sincronismos das legendas. Devido a esse desenvolvimento, o

trabalho dos fansubs pode ser facilmente modificado, refeito

e retrabalhado por outros grupos no ciberespaço.

15

De acordo

com essa perspectiva, presume-se que os grupos de fã-

legendagem vêm enfrentando cada vez mais o imediatismo das

demandas de sua “fã-audiência”. O aumento significativo dos

grupos que disponibilizam animês na rede acompanhou a

tendência à instantaneidade das audiências que estão cada

vez mais interessadas em acompanhar os ritmos da

temporalidade de difusão de seus produtos favoritos. Matt

Hills (2002), por exemplo, argumenta que as interações dos

fãs uns com os outros são organizadas cada vez mais em torno

de agendas de difusão para esses textos:

[…] práticas de fandom tornaram-se cada vez mais entranhadasnos ritmos e temporalidades de transmissão; os fãs vão agoraon-line para discutir novos episódios logo depois detransmitidos - ou mesmo durante os intervalos comerciais -talvez para demonstrarem na oportunidade, a capacidade deresposta de sua devoção (HILLS, 2002, p. 178).

Nossa aposta é que um novo tipo de comunidade fansubber

está se formando atualmente. Em termos comportamentais,

observa-se que as dinâmicas dessas comunidades assemelham-se

bastante àquelas encontradas no universo dos Multiuser Massive

Online Role Playing Games (MMORPG). No entanto, uma diferença

substancial aí se impõe: apesar de se constituírem

socialmente como as comunidades de MMORPG, os membros dos

fansubbers criam produtos finais que podem ser utilizados,

reutilizados e re-produzidos ao fim do “jogo” para além de

16

fronteiras

lingüísticas e nacionais (DENISON, 2011). Entretanto, essa

flexibilidade trazida pela inserção das novas tecnologias

nos processos de produção e distribuição e, conseqüente,

popularização dessas ferramentas entres os demais fãs vem

adicionando ao “jogo” novas formas de participação, não

planejadas de antemão: os chamados sites de reencodes que,

por vezes, distribuem títulos lançados por esses grupos sem

autorização prévia.

Existe um tópico que transcende as brigas entre fansubs poródio comum a um mal maior: os grupos de reencode. São gruposque simplesmente pegam os nossos trabalhos, fazem algunsreencodes (transformam nossos arquivos de alguma forma) eredistribuem como se fosse deles, muita das vezes sem dar oscréditos. Pior, alguns ainda precisam de ajuda (doações)para sobreviver, usando serviços gratuitos de webhosting efilehosting (e tem gente que acredita, infelizmente). Essesgrupos têm todo o nosso desprezo porque muita gente queprocura os animes para baixar vão nesses sites e não nafonte que somos nós, os grupos de tradução. Não é queprocuramos reconhecimento, é que a maioria desses gruposlucram em cima do nosso trabalho gratuito e absorvem umaparte do dinheiro "bem intencionado" que serviria paramelhorar o nosso serviço (Jihox, ANSK).

O fato é que as práticas dos grupos fansubs – desde seu

surgimento em VHS até chegar ao universo digital - reduziram

a barreira de acesso ao fandom de animês. Atualmente, o

usuário comum pode acessar facilmente os últimos lançamentos

em matéria de animês, participar de fóruns de discussão

localizados nas páginas desses grupos e, até mesmo se

envolver de maneira mais comprometida no fandom com a

17

manutenção de

blogs, podcasts dentre outros.

Observando a relevância dos fansubbers no mundo animê,

algumas discussões encontradas em sites, blogs e fóruns de

discussão foram coletadas para uma melhor compreensão das

interações que se estabelecem entre esses fãs em suas

comunidades de conhecimento. As ambigüidades observadas

brevemente no interior da comunidade fansubber parecem

suscitar opiniões divergentes dentre os demais mediadores do

mundo animê. Alguns blogueiros, por exemplo, são

comentadores afiados de práticas tal como o fansubber e o

scanlation14, justamente por perceberem na atividade um entrave

para a criação de um mercado oficial de distribuição em seus

países, como é o caso do Brasil15:

O que penso dos fansubbers e sites de scans? Bem, quemacompanha o Papo de Budega desde muito tempo - ou veja em"conscientização" - sabe que eu era terminantemente contraum e outro. Hoje, tenho repensado que há casos e casos. Hásituações que, defitivamente, não devem nunca ser apoiadas,como fansubbers venderem Dragon Ball Kai, sendo que estetítulo já tem representante legal e emissora legal paraexibir o anime.Mas... há situações que, realmente, pedem uma análise. Videmangás com traduções porcas e DVDs com problemas técnicossérios. Para casos assim, é de ser pensar realmente se asaída são os scans e fansubbers. Mas, não um consumoaleatório, e sim um consumo de protesto. Afinal, é um

14 Em poucas palavras, consiste na tradução e legendagem de mangás para distribuição gratuita na rede.15 Discussões interessantes acerca da legitimidade da prática fansubber podem serencontradas em diversos blogs mantidos por fãs de animês na rede. Taisdiscussões carecem de uma investigação mais aprofundada.

18

absurdoque um mangá, por exemplo, seja lastimavelmente maltraduzido e incompreensível, que ninguém entendi piadaalguma, que o texto é deturpado de forma horrorosa.16

[...] se o “de fã para fã” ainda resiste em alguns pequenospontos de forma genuína e honesta, a verdade é que ele servecomo desculpa aos fãs e aos “fansubs” (que de fãs não temquase nada) para perpetuar um modelo de comportamentocompletamente antropofágico. Se antes o movimento “de fãpara fã” tinha algo a alcançar, o “de fã para fã” atual é omaior perigo e o maior impedimento para que sequer exista ummercado brasileiro de animes [...] Não estou pregando aeliminação de todos os fansubs, mas o modelo que temos hojenão é sustentável se pensarmos de uma maneira mais macrocomo fãs de animes que querem ver o mercado oficial crescer.Fansubs tem seu papel, mesmo que tenham esquecido, e semprevão existir17.

Ao buscar aproximações e afastamentos entre as

dinâmicas estabelecidas entre os grupos fansubs, percebe-se

que há muitas disputas em jogo nos levando a crer que se

trata de uma comunidade plural, dividida entre antigos e

novos membros, com motivações e objetivos distintos entre

grupos. Em um meio caracterizado pela falta de contato face-

a-face o estabelecimento de reputações entre os membros da

comunidade depende, amiúde, do modo como as práticas desses

grupos são conduzidas. Trata-se, pois de uma comunidade

ampla e dividida, não apenas em termos de geração, mas

também em linhas éticas. Colocando de maneira mais enfática,

16 Trecho de post publicado em 07/02/2011 no blog Papo de Budega. Disponível em:http://www.papodebudega.com/2011/02/fansubbers-e-scans-um-mal-necessario.html17 Trecho de post publicado em 26/01/2012 no blog Gyabbo! Disponível em: http://gyabbo.wordpress.com/2012/01/26/o-de-fa-para-fa-criou-e-matou-a-possibilidade-de-um-mercado-de-animes-no-brasil/

19

as

disputas e tensões entre esses grupos sugerem mudanças na

cena fansubber com a chegada de novos atores, formando grupos

que possuem visões distintas acerca da prática da fã-

legendagem que também se refletem, inevitavelmente, nos

negócios da indústria dos animês no mercado global.

4 – Apontamentos finais

A prática fansubber veio desempenhando, desde seu

surgimento, um papel extremamente importante na formação de

um mercado potencial para a indústria dos animês. Até pouco

tempo vista com tolerância pelas indústrias localizadas no

Japão e distribuidoras, a prática vem sendo encarada

atualmente como de potencial risco para o mercado, sendo

freqüentemente associada à discussão sobre violação dos

direitos autorais. Mesmo não sendo diferente das muitas

práticas que permeia o fandom de animês, como a produção de

fan fiction (“ficção de fã”) e fan arts (“arte de fã”), a

atividade de fã-legendagem se difere num aspecto substancial

que vai orientar os discursos que visam contestar a

legitimidade da prática: as legendas criadas para os animês

são traduzidas e gravadas no vídeo, ao contrário de certos

textos que são exclusivamente criados por fãs (DENISON,

2011; LEE; 2010).

20

Fundamentalmente, se argumenta que quando versões

legendadas por fãs começaram a circular na rede há alguns

anos atrás, a indústria nada fez para impedir ou fornecer

textos substitutos para essas audiências. Enquanto a

indústria deixou de considerar o potencial da distribuição

para os públicos estrangeiros, fansubbers de diversas línguas

adotavam novas tecnologias para trazer o animê para um

público cada vez mais vasto. Ao mesmo tempo, é preciso

considerar que a atividade demonstra claramente um novo

modelo de distribuição de anime, que é inseparável da

produção social do conhecimento coletivo sobre os animês.

Apesar da legitimidade do modelo ser questionada devido à

clara violação dos direitos autorais, é preciso pontuar que

a natureza da atividade tem sido eficaz no cultivo da

cultura anime para além-mar. Mais do que diversificar a

disponibilidade de anime disponível para os fãs com a oferta

de animês desconhecidos, antigos e não-mainstream – assim,

exemplificando a estratégia “cauda longa” tal como descrita

por Chris Anderson (2006) – a prática fansubber também

promoveu a produção e o compartilhamento de conhecimentos

coletivos sobre os animês (DENISON, 2011).

De todo o modo, as renovações ocorridas no interior

desse fandom têm implicações potenciais para as indústrias

japonesas e americanas que, estão tentando vir com modelos

de distribuição que possam competir com a distribuição

21

fansubber.

Enfrentando esses desafios, os editores de animês nos

Estados Unidos começaram a utilizar a internet como meio de

distribuição através dos serviços de streaming de vídeo on-

line. Além de Crunchyroll18, muitos sites de streaming estão

atualmente operando como o Hulu19, NBC.com20, Cartoon Network

Video21 e Funimation vídeos22 dentre outros. Alguns desses sites

são financiados pela publicidade e assim pode oferecer

transmissão gratuita, enquanto outros cobram dos

espectadores uma taxa, como é o caso do Crunchyroll.

Atualmente, o Crunchyroll possui os direitos para exibição

online de mais de 200 animes, incluindo séries como Naruto

Shippuden e Bleach e outros títulos recentes lançados quase

que simultaneamente com o Japão, como Usagi Drop e Nichijou.

Através do site é possível consumir conteúdo fornecido

diretamente por empresas de mídia asiáticas como a TV Tókio,

Gonzo e a Toei Animation.

Em suma, ao testemunhar a onipresença dos fansubbers na

internet, a indústria passou a adotar tecnologias

semelhantes às utilizadas pelos fansubs, promovendo sites de

reencode anteriormente ilegais como o Crunchyroll, em parceiros

reabilitados. Essa resposta dada pelo setor é vista como um

grande salto, porém o impacto de tais ações ainda têm sido18 Disponível em: http://www.crunchyroll.com/videos/anime/simulcasts19 Disponível em: http://www.hulu.com/20 Disponível em: http://www.nbc.com/21 Disponível em: http://www.cartoonnetwork.com22 Disponível em: http://www.funimation.com/videos/simulcast

22

tímido

(DENISON, 2011). No Brasil, por exemplo, vive-se a

expectativa da chegada do mesmo serviço – o streaming - a

partir de uma parceria firmada entre o site Crunchyroll e o

JBGroup anunciada em outubro de 2011. Essas iniciativas,

longe de gerar consenso, vêm arrefecendo as discussões nas

comunidades on-line dos fansubs brasileiros e entre os demais

mediadores do “mundo animê”. Essas e outras questões não

abordadas nesse paper deverão ser averiguadas nas próximas

etapas da pesquisa em curso.

5 - Referências bibliográficas

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