A casa como espaço familiar e espaço social: um estudo semiótico do espaço
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Paulino, Vicente. 2012. A casa como espaço familiar e espaço social: um estudo semiótico do espaço. In Negro, Francesca (org.), Público privado: o deslizar de uma fronteira, Ribeirão: Húmus, pp.119-134.
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A CASA COMO ESPAÇO FAMILIAR E ESPAÇO SOCIAL:
UM ESTUDO SEMIÓTICO DO ESPAÇO
Vicente Paulino*
INTRODUÇÃO
Reflectir sobre a casa e as suas representações artísticas sob a
perspectiva teórica da semiótica significa preocupar-se com a questão
da recepção ou, simplesmente, com a significação de habitabilidade
enquanto espaço familiar e social. As casas privadas (espaço familiar) e
públicas (espaço social) convergem num movimento difuso e,
certamente, na sua função existencialista, construtivista e artística
contêm o sentido do signo como a palavra, o corpo, e o objecto, o
movimento e a luz. A arte da construção da casa e de a habitar é um
objecto semiótico por natureza. O conceito do que entendemos
actualmente por „casa‟ revela o modo como o homem a constrói e a
contempla. A noção de representação da casa como „espaço familiar vs
privado‟ e „espaço social vs público‟ está vinculada ao ritual mágico e
religioso tradicional, que é tão antigo quanto o homem. Nasceu assim a
significância metafórica e cósmica da casa, a partir do momento em
que a sociedade tradicional colocou o seu espaço habitacional como
espaço de ritualização e fluxo de vida.
A casa é a força de integração para os pensamentos, as lembranças e
os sonhos do passado, do presente e futuro. Sem ela, o homem seria um
ser disperso; ela assegura a vida de um ser no risco e na incerteza. É o
primeiro espaço que dá continuidade de vida ao homem. É alma gémea
de um ser. A casa é um espaço doméstico e, dentro dela estabelecem-se
sistemas mediadores e simbólicos que permitem a circulação das
actividades sociais mais amplas.
* Universidade de Lisboa. Bolseiro da Fundaçõa Calouste Gulbenkian.
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A casa faz declarações tanto públicas quanto privadas, ou seja, a
casa tem múltiplas funções quer no âmbito de colectividade, quer no da
vida familiar. Por outras palavras, as casas na sua dimensão hermética,
associam-se sempre com a concepção da origem do mundo, dos seres e
da humanidade com a sociedade e os indivíduos actuais. Nesta
perspectiva, o que determina se o espaço “casa” é público ou privado?
Mesmo que um espaço seja destinado a um fim específico, isso não
significa que, desempenhará a função para a qual foi construído.
Nenhuma casa é um invólucro, porque todas as casas, modestas ou
ostentosas, conservam em si o espírito de quem as construiu e a alma
de quem as habita. Esta relação, aparentemente excessiva, contém em si
mesma, uma ideia de „lar‟, embora nem todas as casas sejam um „lar‟.
Um „lar‟ é o local onde a família se congrega, se refugia, se fraterniza.
Porém, a casa não é apenas um lar para ser habitado, é antes de mais
uma habitação que tem características próprias, embora implique de
algum modo uma certa cumplicidade, o estabelecimento de ligações
afectivas e a projecção de sentimentos, tais como o de protecção, o de
segurança, o de mistério, o de prazer, etc.
Daí, a constituição do „eu‟ enquanto identidade do ser „pessoal‟ e a
construção do „eu‟ enquanto pertencente do ser „colectivo‟, que se
correlaciona com a apropriação do espaço habitacional, habitualmente
chamado „casa de habitação‟. Habitar significa „ser‟, isto é, permite
afirmar a identidade do „eu‟ enquanto sujeito principal – ser
“habitador” – da casa, que está também associada a outra identidade do
„eu social‟ que, “[D]e facto, o sentido objectivado nas coisas ou nos
lugares do espaço não se livra completamente a não ser através de
práticas estruturadas segundo os mesmos esquemas que se organizam
em relação a eles reciprocamente” (Bourdieu, 1980:443-444).
1. CASA COMO ESPAÇO FÍSICO E DE VIVÊNCIA
No estudo semiótico do espaço, a „casa‟ pode ser considerada como
um signo que deve ser interpretado à luz das três descrições de Peirce
(1977): primeiridade, secundidade e terceiridade. Na primeiridade, a
„casa‟ enquanto signo deve ser entendida como objecto totalmente
diferente de qualquer outra coisa (por exemplo, uma „casa‟ pode ser
habitada por uma determinada família, mas na realidade não é apenas
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um lugar para ser habitado, é mais do isso); na secundidade, a „casa‟ é
destinada a execução de alguns trabalhos colectivos concretos que lhe
conferem harmonização (por exemplo, o menino apreende a primeira
‘regra de vida’ em casa. O objecto visualiza „casa‟ e o sujeito visualiza
„menino‟, „regra de vida‟ e a acção que o menino está apreender); na
terceiridade, a regra geral é a de que os factos futuros irão confirmar
que o conceito „menino apreende a primeira ‘regra de vida’ em casa‟
pode ser ensinado pelos pais, tios, avôs e irmãos mais velhos, bem
como ensinado na sala de visitas, ou no quarto.
Ao longo dos tempos, o homem sempre demarcou a sua existência
pela criação de modelos de classificação do espaço, como a distinção
estabelecida entre o „meu espaço‟ (espaço privado – pessoal e familiar
– e espaço social) e o „outro espaço‟ (espaço abstracto e espaço
religioso). No caso concreto, a „casa‟ é edificada ou construída como
um espaço próprio, fechado e seguro (pano de fundo da constituição da
cidade), em oposição a „outro espaço‟ (abstracto), aberto e arrojado que
constitui uma extensão do próprio homem. Neste sentido, salientamos
que é a partir da casa que o homem produz, duplica ou se representa a
si próprio como algo „organizado‟ e „valorizado‟, em contraste com o
que é desconhecido ou pertence a outrem, talvez como algo
„inquietante‟ e „desvalorizado‟. Como tal, a representação da „casa‟
enquanto espaço constitui a parte integrante do universo e da própria
condição de existência da cultura humana, pois de facto, é pela
representação de espaços como a “casa” que o próprio homem constrói
a sua plenitude humana. Esta engloba o labor, Trabalho e acção, pois
segundo Hanna Arendt (2001:19-21): “a condição humana compreende
algo mais que as condições nas quais a vida foi dada ao homem. Os
homens são seres condicionados: tudo aquilo com o qual entram em
contacto torna-se imediatamente uma condição da sua existência”. Em virtude disto, percebe-se que na interacção do Homem (no
sentido plural do termo) com o mundo ao qual viemos, ele cria, produz
e estabelece o seu próprio Ambiente. Todavia, nesse processo de
transformação do mundo à medida das suas necessidades, o Homem
respeitar-se-á tanto mais quanto mais respeitar a Natureza de que ele
também é parte (Paulino, 2009:4). Ao fazer da sua casa o centro de
planificação do projecto de vida onde “a vida social, em todas as suas formas,
moral, religiosa, jurídica, etc., é função de seu substrato material e varia
com esse substrato, isto é, com massa, a densidade, a forma e a composição
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dos grupos humanos” (Mauss, 1974:325) e sob a forma de
representação da consciência cultural de materialidade e de
imaterialidade estes grupos humanos encontram “a relação mais
profunda da arte moderna em geral com o realismo; a modalidade
crescente da vida real não se manifesta só na modalidade idêntica da
arte, mas o estilo da vida e o da arte provêm da mesma raiz profunda”
(Simmel.1990:126).
A „casa‟ é um espaço de vivência do ser humano. Ela é o resultado
de uma produção técnica e artística do homem em larga escala e do
deslocamento que, no estudo de comunicação, é tomado como um
sistema estruturado de signos e códigos segundo o qual se produz
sentido, porque o conteúdo e o processo de produção de sentidos são
recíprocos (Fidalgo, 2009; Eco, 1990; Rodrigues, 1991). Por esta razão,
a „casa‟ enquanto espaço, é construída segundo os padrões de eficiência
que caracterizam a racionalidade produtiva do ser. A „casa‟ é um
espaço demarcado por dois poderes: o poder masculino e o poder
feminino, ambos são princípios construtivos do espaço, dotando-o de
materialidade, ou seja, atribuindo-lhe uma espacialidade singular e
plural. A „casa‟ é por definição um espaço físico, por isso, a noção da
sua espacialidade é semelhante com a “representação colectiva do
espaço”, pois segundo Emile Durkheim (1912 [2002:14-15]),
“[a] representação espacial consiste essencialmente numa primeira
coordenação introduzida entre os dados da experiência sensível, mas
tal coordenação seria impossível se as partes do espaço se
equivalessem quantitativamente, se fossem realmente substituíveis
entre si. Para podermos dispor espacialmente as coisas, precisamos
de as poder situar diferentemente: pôr umas à direita, as outras à
esquerda, estas em cima, aquelas em baixo, a norte ou a sul, a leste
ou a oeste, etc.,”.
Ao longo da história, a „casa‟ tem sido, por natureza, categorizada
como espaço de reprodução, de aprendizagem, de construção e de
socialização e humanização, como se pode ver na apresentação da
figura abaixo e respectivas explicações:
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Figura 1 – A categorização da significância da casa
1) A reprodução, vinculada à acção do homem na multiplicação da
vida humana, de cunho eminentemente biológico como um processo da
constituição da vida familiar. Considerado nesta perspectiva e a
propósito dos povos Barasana da comunidade Índia da América
meridional, Edmund Lead (1985:82-83) caracteriza metaforicamente a
casa como um mapa dos órgãos internos do corpo humano. É neste
ponto que este autor apresenta duas funções para a casa. A casa no seu
conjunto é, por um lado, vista como um corpo humano, em que a porta
principal „masculina‟ da casa representa a boca onde se introduzem os
alimentos e de onde saem os enunciados verbais. O centro comum é o
lugar da digestão. A porta „feminina‟ por trás é o ânus, e através dela
são deitados fora também os restos da cozinha. Por outro lado, a casa é
vista como um ventre, em que a porta principal “masculina” é a vagina
através da qual os homens transmitem o sémen; as divisões femininas,
dispostas em semicírculo atrás, representam os alimentos e o sangue
que as mulheres dão ao feto; o centro comum da casa representa, pelo
contrário, o ventre no sentido do lugar de procriação, tanto cultural
como biológico dos novos membros do grupo familiar (cf. Hugh-Jones,
1976) que, no caso concreto das mulheres indonésias (incluindo as de
Timor), James Fox (1980) considera-as como “fluxo de vida”. O que
permite perceber o processo de reprodução da unidade doméstica em
contextos onde a casa estabelece e controla os meios de produção.
2) Categoriza-se a casa como espaço de aprendizagem, porque ela é
o lugar onde o homem despertam e consolidam aprendizagens e, deste
modo, a família é a primeira instituição que transmite um importante
interesse pelos livros, ou seja a valorização da comunicação escrita, seja
através da leitura de jornais, revistas, ou pelo uso de bilhetes e pelo hábito de
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contar histórias. É certo que só em casa, a criança vai aprender as
primeiras importantes noções sobre “o que é certo” e “o que é errado”,
relativamente aos valores de vida pessoal e social, tais como,
cumprimentar as pessoas, respeitar os mais velhos, arrumar as coisas.
Este tipo de valores faz parte da educação que qualquer membro da
família (nomeadamente a criança) adquire e aprende em casa, antes de
poder praticar na sociedade em geral.
3) Casa como espaço de construção, é o centro de construção da
identidade familiar (pessoal e colectiva) baseada nos usos e costumes,
ou seja, o lugar onde o Homem faz o plano de viver em comunidade,
partilhando a alegria do amanhecer e a tristeza do entardecer; a casa
como espaço de construção está próxima a noção de espaços
incorporados (embodied space), porque permite trabalhar em conjunto
dimensões que são frequentemente ligadas a experiência vivida
partilhada, ou que ainda está em construção, isto é, “O espaço
incorporado é o local onde a experiência humana e a consciencialização
assumem forma material e espacial (…) é apresentado como um
modelo para entender a criação do lugar, através da orientação espacial,
do movimento e da linguagem” (Low & Lawrence-Zúñiga, 2003:2) e
através do “agir comunicacional” (Habermas, 1987).
4) A casa não é só lugar de protecção e de segurança, mas espaço de
socialização e humanização dos valores éticos. É na casa que vive o ser
humano e cultiva as experiências de amor, de solidariedade e de
respeito; é na casa que os pais, os filhos e outros membros da família
constroem a primeira pedra de solidariedade social. Neste contexto, o
que permite esta reconstituição é precisamente a mudança no eixo de
relacionamento das categorias de parentesco, família e aliança. Através
desta lógica de reprodução grupal, “[o] que permanentemente se
reproduz são relações que, por sua vez, produzem novas relações
através da transmissão de substâncias partilhadas” (Camps, 1998:231),
substâncias essas que se baseiam no conceito de sociétés à maison
(Lévi-Strauss, 1984).
Em virtude destas categorizações, é necessário definir que a „casa‟ é
o centro de todas as actividades humanas ligadas à vida pessoal e social
e, todas elas circulam num ciclo chamado „ciclo de vida‟, ou aquilo que
Pierre Nora (1984) designa como “lugares de memória”. É por isso que,
construir uma casa faz parte de um processo de comunicação, isto é,
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comunicar com o espaço e o tempo, com a recta e a areia, bem como
com todos materiais de construção. Neste sentido, é preciso um olhar
atento para dialogar com tais objectos, porque eles também falam
silenciosamente dentro do seu universo, podendo este processo ser
considerado como “uma interacção simbólica, na qual a possibilidade
de transferir mensagens ocorre na base de signos segundo regra cultural
e socialmente partilhada” (Crespi, 1997:197).
Construir uma casa – como já disse – é um acto de comunicação,
porque produz uma mensagem a partir de signos como „espaço‟,
„tempo‟, „recta‟, „área‟ e „os materiais de construção‟. O „espaço‟ é um
signo estático que dá sustentáculo ao ser humano para que este possa
construir a sua casa e respectiva aldeia ou cidade urbana; o „tempo‟ é
um signo dinâmico que ajuda o homem a regular a duração do seu
trabalho: o marco do início e do fim. Com efeito, o „espaço‟ e o
„tempo‟ são signos de índices classificatórios em que o significante é
contíguo ao significado. Um tipo importante de índices são os
deícticos, isto é, as expressões que referem demonstrativamente. Por
exemplo, „vamos construir aqui uma casa‟, „aquele espaço muito
verde‟ são índices do espaço. Os dias e os meses são índices; assim
„vamos construir amanhã, a casa da nossa prima e acabá-la à tarde’
contém índices de tempo. Deste modo, o tempo não é índice absoluto e
nem consequencial de uma percepção individual, mas constitui um
componente material de cada uma das variáveis que formam o sistema
de circularidade do lugar através de uma velocidade fixada pela rotação
do planeta terra.
Os materiais de construção são ícones representados por vários
signos “martelo, prego, madeira, sementes, betão, zinco, areia, etc.,) em
que existe uma semelhança topológica entre o significante e o
significado. No caso em estudo são diagramas como os planos de uma
casa que têm uma correspondência topológica com o seu objecto.
É certo que, no estudo semiótico do espaço, a construção da casa
(designadamente a construção da nova morada) engloba a produção e
reprodução dos lugares e dos conjuntos espaciais encarados nas
representações do espaço, que estão ligadas com à existência de
conhecimento, signos e códigos específicos. No entanto, enquanto sistema
semiótico, a arte da construção da casa e de a habitar é sempre determinado
pelo cenário do tempo e do espaço. Certamente, para se entender a linguagem
artística da casa, definida como „espaço familiar‟ e „espaço social‟, é preciso
recorrer a outros sistemas artísticos, como a pintura, a escul-
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tura, a arquitectura, a decoração e o design da composição estrutural.
São estes sistemas que se encarregam de representar um espaço
geográfico, um espaço social ou um espaço interior.
Neste contexto, é de salientar que seja qual for a teoria adoptada, a
produção do espaço como „casa‟ é um produto, dos conhecimentos que
temos sobre ele e que estão associados ao processo de reprodução do
espaço de uma dada sociedade a partir de um determinado sistema de
signos. Isto é, “os espaços de representação, quer dizer o espaço vivido
através das imagens e dos símbolos que o acompanham, portanto
espaço dos „habitantes‟, dos „utentes‟, mas também de certos artistas e
talvez daqueles que descrevem e crêem só descrever: os escritores, os
filósofos. É o espaço dominado, portanto submetido, que tenta
modificar e apropriar-se da imaginação” (Lefebvre, 1986:49).
No entanto, na vida quotidiana, a necessidade comunitária do
homem reveste-se de uma significação prática; a situação extra-
temporal e extra-espacial que transporta o seu modo de sentir e de
olhar, através da virtude de um sentimento artístico, faz com que este
ser na sua plena consciência, revele a essência mais profunda da
humanidade. Assim, o homem é designado como criador da obra de
arte, pois o seu humanitarismo artístico e consciência cultural dão
acesso ao valor simbólico da espiritualidade, que permite a
comunicação entre o espaço, o tempo e o homem, a ser realizada na
unidade social, comunicação que o próprio ser estabelece no seu
quotidiano. Pois percebe-se que o espaço e o tempo são elementos que
aparecem em todas as sociedades, e que têm por todo o lado, qualquer
coisa de comum (Ledrut, 1979); por isso, é necessário considerar os
espaços, as suas representações e as suas individualidades sociais como
íconicos inseparáveis na interacção humana.
2. A CASA COMO ESPAÇO FAMILIAR
A casa é o espaço privado por excelência onde tem lugar o labor
quotidiano do ser humano, especificamente das famílias, ao mesmo
tempo que se posiciona como espaço familiar onde todos os membros
da família podem conviver e partilhar das mesmas ideias, intimidades e
preocupações. A casa não pode dissociar-se do conceito de „espaço
privado‟, sendo-o já por natureza. Como espaço familiar, a casa é
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regida pelos usos e costumes, afecto e amizade de cada membro da
família. Daí que o espaço da casa não reflicta a vida quotidiana como
um todo, mas apenas um fragmento da história social de um tempo e
uma amostra de cultura material que se opõe ao público como um
espaço reservado e íntimo. Tal espaço na esfera privada segundo Jürgen
Habermas (1984) está associado à casa porque até o seu carácter físico
e simbólico fazem dela um espaço de prolongamento de vida das
pessoas que nela habitam.
A casa como espaço familiar tem dois espaços particularmente
distintos: o espaço privado (quarto de dormir) e o espaço público
(varanda, sala de visitas e outras divisões). No que diz respeito ao
primeiro, é de sublinhar que os valores de privacidade são construídos
pelo homem no seu espaço mais restrito que é o quarto, o lugar mais
íntimo onde cada membro da família pode desfrutar da sua privacidade
e intimidade. Assim, a família torna-se cada vez mais privada dentro do
seu próprio espaço familiar.
Relativamente ao segundo, é de salientar que há dois espaços
públicos: varanda e sala de vistas. A varanda é um elemento constante
das habitações na sociedade contemporânea e, por isso, numa
linguagem da arquitectura doméstica pode ser considerada como parte
da cultura material, o que acaba por reflectir a estética de uma moradia
que esteja, por exemplo, rodeada de pequenas plantas domésticas. A
existência de uma varanda é muito importante, porque ela carrega
consigo diversos significados para quem a utiliza, sendo expressão de
bem-estar no ambiente da casa.
A propósito disto, é de sublinhar que a varanda surge como um
elemento físico da casa situado na parte da frente do edifício, voltado
para a parte visível do mesmo, é um espaço que “faz parte dos
sentimentos primordiais gerados pela arquitectura que é o de entrar em
casa, atravessar a porta, cruzar a fronteira entre o exterior e o interior”
(Pallasmaa, 2006:487), podendo, portanto, ser considerada como um
espaço de transição entre dois mundos ou duas esferas sociais distintas. A sala de visitas é um espaço dentro da esfera privada que se destina a
receber pessoas que vêm de fora; é um dos espaços mais públicos da casa e
é mais público do que o quarto, não deixando, porém, de ser classificada
como um espaço semi-público e semi-privado, categorias que
suavizam a oposição entre os termos público e privado.
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Figura 2 – A divisão da casa enquanto espaço familiar
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O sentimento de insegurança da sociedade actual, devido ao
aumento da criminalidade, fez com que a casa começasse a fechar-se
em torno do círculo familiar. Este sentimento de insegurança é uma
expressão da representação social do meio, como uma forma de pensar,
de interpretar e dar o sentido à realidade (Jodelet, 1989), que em
determinadas situações, leva as pessoas a colocarem grades nas janelas
e construírem muros altos em volta da casa para sua segurança. Embora
o aumento da urbanização das grandes cidades tenha trazido
perturbações capazes de invadir a privacidade tranquila dos moradores,
a casa não perdeu o seu estatuto primordial que sem dúvida representa
a protecção contra os perigos do mundo contemporâneo. Assim, a segurança é avaliada em proporção directa com a distância a
que o indivíduo estiver da sua casa, quanto mais próximo, mais seguro se
sente. Esta forma de avaliação é directa e espontânea, segundo Jürgen
Habermas (1984:61): “o isolamento do membro da família, mesmo no
interior da casa, passa a ser considerado como algo positivo”, ressaltando
ainda que a casa continua a ser o espaço mais habitável para o indivíduo
1 Esta divisão da casa que apresentamos está de acordo com a divisão da casa dos
timorenses, onde normalmente, a cozinha e a “casa de banho” são construídas como
independentes fora da „casa principal‟. O esquema da divisão da casa apresentada na
figura é um dos esquemas arquitectónicos que consideramos mais aplicável ou
utilizável pelos timorenses na construção do seu espaço habitacional.
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e, ao mesmo tempo, mais estreito e mais pobre para a família. Quer isto
dizer que, os espaços da casa, nomeadamente os quartos que eram
chamados quartos de dormir; são hoje, associados a uma saleta, um
banheiro e um pequeno escritório, espaços estes que são independentes
entre si.
Em virtude disto, Daniel Soares Lins (1999:132-133) destaca que a
análise do imaginário da casa e da rua implica um estudo quase
exegético da violência, e das suas representações simbólicas, codificada
na gestão do quotidiano. Tal pressupõe um desenvolvimento e uma
elaboração multipolarizados da questão, o que ultrapassa o âmbito
deste estudo do espaço da casa enquanto espaço familiar e, mais
globalizante, enquanto espaço social. Levando em consideração a força
do imaginário semântico, que parece significar a insegurança da
sociedade actual perante a violência, seja ela a forma inicial do
nascimento ou da invenção, pode-se afirmar que a importância da casa
como espaço privado representa, apesar de suas ambiguidades e de
economia emocional permeada por dramas e, as vezes, por tragédias, o
campo simbolicamente preservado pela força da violência codificada.
3. A CASA COMO ESPAÇO SOCIAL
Na perspectiva antropológica e sociológica, a casa é um espaço social
que representa a estratificação da sociedade local e global. Pela sua
natureza e posição no espaço social, ela representa os três níveis de
estratificação social da relação de oposição „dominadores/dominados‟: o
alto, o médio ou intermédio e o baixo (Lindoso, 2005:240). Estes
elementos também podem ser condicionados pela altitude do território de
uma sociedade, por exemplo, no caso concreto das casas antigas
timorenses construídas nas aldeias.
No nível alto, a “casa” é caracterizada como símbolo social de
dominação; no médio ou intermédio, ela traduz um espaço de transição
estaminal; e no nível baixo, ela representa (numa linguagem estereotipada)
as condições sociais de submissão ou de opressão. Estas caracterizações
expressam, de um modo geral, a “casa” como um espaço social que
representa uma determinada realidade social, a polarização de uma
sociedade profundamente estratificada, hierarquizada e dividida em
pólos de poder absoluto e de submissão absoluta, como se vê na
pirâmide da figura 3.
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Figura 3 – Três níveis da estratificação social da casa
Este modo de caracterização da „casa‟ como espaço social ainda
existe nas sociedades da América Latina e de África. Compreende-se,
no entanto, que a realidade social de “comunidade da casa” seja, no
nível alto, representada por senhores de engenho, ou por aqueles que
são considerados „elites locais‟; no nível médio ou intermédio, ela é
formada por sociedades de lavradores; e no nível baixo é constituída
por escravos e aldeões.
As escolas, as bibliotecas, os museus, as livraria e os centros
culturais (teatros e cinemas), os centros comerciais e os cafés são „casas
públicas‟ que devem ser entendidas como um espaço de realização da
“vida social, real e imaginária entre a realidade vivida e a sua
representação” (Bourdieu, 1989:113). Os referidos espaços enquanto
„casa‟, caracterizam-se por nomes que, no estudo semiótico, são signos
convencionais porque designam uma classe extensional de objectos.
As casas que se chamam „bibliotecas, escolas, as livraria‟ só têm em
comum o nome. Aqui não há um atributo intencional que as caracterize,
porém, se nós referimos directamente as casas que têm em comum o
nome e uma particularidade de referência, como „biblioteca Espaço por
Timor, Centro Cultural de Belém‟ é certo que aqui há sem dúvida um
atributo intencional que as caracteriza.
Deste modo, a casa enquanto elemento estruturante da vida social
do ser humano pressupõe uma visão específica das funções dos espaços
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públicos, ou seja, enquanto espaço social, ela pressupõe uma visão
específica dos espaços não já como espaços de utilidade privada, mas
como espaços sociais para o uso público. Logo, a casa enquanto espaço
social é uma realidade construída a partir da necessidade do público e,
desta forma, a sua construção surge sempre associada ao território
porque o território enquanto elemento da cultura tem uma forte relação
com os objectos (com a materialidade ou imaterialidade) e as
representações do espaço que são constituídos pela configuração
simbólica. A casa como espaço social, em sentido lato, pode ser entendida como o
largo, a rua, a estação do comboio e do autocarro, o jardim, a esplanada.
Estes espaços podem ser designados metaforicamente como „casa pública‟
não já no sentido „lugar com tecto‟, mas como „lugar aberto‟. São espaços
de cruzamento de pessoas de diferentes níveis (empresários, estudantes,
turistas, etc.,) e evidenciam uma série de relações, como as “mensagens e
sinais” (Prieto, 1973) materiais e imateriais que os definem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando se aborda a problemática do conceito da casa como „espaço
familiar‟ e „espaço social‟, é preciso compreender, em primeiro lugar,
todos os seus componentes – desde as matérias-primas utilizadas para a
sua construção, o valor artístico, a sua vivência até à imagem construída
pela comunidade, quer a imagem do presente quer a do passado; em
segundo lugar, a casa é compreendida como uma projecção da estrutura
dos membros familiares e dos grupos sociais que assenta em certas
hierarquias de poder e de autoridade. Neste aspecto, pode dizer-se que a
casa assume um papel de maior importância para a sociedade, quer
tradicional quer pós-tradicional.
Embora considerada como „espaço familiar‟ e „espaço social‟, a casa
continua a ser o berço de construção da identidade pessoal e colectiva
e de preservação dos valores culturais e dos princípios básicos morais
da família e da sociedade, ou seja, é preciso entender necessariamente
a casa enquanto elemento que intervém de forma continuada no pro-
cesso de valorização das regras familiares, sociais e das relações de
sociabilidade e que já possuí um valor de uso, de apropriação e de
identidade. Assim, as casas – quer no aspecto familiar quer no âmbito social
Paulino, Vicente. 2012. A casa como espaço familiar e espaço social: um estudo semiótico do espaço. In Negro, Francesca (org.), Público privado: o deslizar de uma fronteira, Ribeirão: Húmus, pp.119-134.
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– são espelho da adaptação do homem ao meio geográfico, humano,
histórico e cultural.
Em contextos urbanos, o conceito de „casa‟ não é relevante. A
propósito, os antropólogos vão-se mostrando cada vez mais
insatisfeitos com a ideia de que a modernidade corresponde à difusão
da „família nuclear‟. Na Índia, o debate em torno da velha noção de
joint family vs nuclear family continua vivo. Para Shah (1998), a
perspectiva que enfatiza a relevância do conceito de „casa‟ permite
compreender melhor a complexidade das relações inter-casas no
interior de uma família. Em Timor-Leste, o debate em torno da noção
de núcleo familiar está centralizado na expressão de “composição
multiétnica” e no conceito de “casa” como fundamento da afirmação
identitária (Paulino, 2009, 2012a e 2012b; Mendes 2005; Sousa 2007)
e, por isso, continua a ser objecto de estudo por parte dos académicos.
Em Portugal, também, o conceito de “identidades continuadas” veio
responder a uma necessidade interpretativa semelhante (Cabral,
1991:171-172 e 2003:119-152). No estudo das famílias de elite, a
relação complexa entre família e empresa revela-se paradoxal,
permitindo questionar os lugares comuns eurocêntricos em que assenta
a suposta “nuclearização” da vida familiar (Lima, 2002).
A „casa‟ enquanto pertença da categoria social traduz-se também,
com rara fidelidade, na distribuição do espaço do poder, quer do poder
masculino quer do feminino. Pois no conceito da „casa‟ existe uma
estreita relação entre espaço natural, espaço cósmico e espaço social, na
medida em que a casa é um espaço fisicamente construído e
representado simbolicamente pela divisão do trabalho e pela
diferenciação. No entanto, ao entender-se a casa como espaço social, é
preciso alinhá-la com os mecanismos de construção das identidades de
género, se “nós definimos „espaços identificados por género‟ para neles
incluir os locais específicos que as culturas investem com significados
de género, sítios em que ocorrem experiências sexualmente
diferenciadas ou sítios que são usados estrategicamente para enformar
identidades e produzir e reproduzir relações assimétricas de género,
poder e autoridade” (Low & Lawrence-Zúñiga, 2003:7).
Paulino, Vicente. 2012. A casa como espaço familiar e espaço social: um estudo semiótico do espaço. In Negro, Francesca (org.), Público privado: o deslizar de uma fronteira, Ribeirão: Húmus, pp.119-134.
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