2015. Webleitores, eleitores e comentadores: Uma análise do debate público n'O Estadão durante a...

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- Internet e Eleições 2014 - I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015 25 WEBLEITORES, ELEITORES E COMENTADORES: Uma análise do debate público no Facebook d’O Estadão durante a campanha presidencial de 2014 5 Fernanda Cavassana de Carvalho 6 Isabele Batista Mitozo 7 Michele Goulart Massuchin 8 RESUMO Devido à adesão dos veículos de comunicação às redes sociais, o debate público passa a ter nova arena para seu desenvolvimento. O presente trabalho tem por objetivo analisar como os comentadores da página d’O Estadão no Facebook se comportaram como comentadores de posts que faziam menção direta a, pelo menos, um dos três principais presidenciáveis em 2014, também mencionando tais candidatos, durante o primeiro turno. Procura-se, especificamente, verificar 1) que posturas esses webleitores mais tomaram durante a discussão (se monológica ou recíproca em relação a outros comentadores) e 2) se eles persuadiram, progrediram ou radicalizaram no decorrer do debate. Para tanto, a metodologia adotada foi a análise de conteúdo quantitativa, tendo-se utilizado testes estatísticos para verificar as relações tanto entre a página observada e o perfil de seu comentador em relação às categorias das variáveis estudadas, assim como a relação entre cada categoria e a citação dos candidatos no comentário. Como resultado, pode-se observar que o Estadão, além de possuir um comentador mais propício ao debate, agrega mais eleitores dispostos a persuadir, mas, com maior tendência à radicalização, quando mencionam Dilma Rousseff, e ao progresso, quando citam Eduardo Campos ou Marina Silva. Palavras-chave: Debate público; Eleições Presidenciais 2014; O Estado de S. Paulo; Facebook Introdução Os estudos acerca das relações entre internet e debate público têm se voltado para um novo campo a princípio mais aberto e, portanto, propício a discussões: as redes sociais digitais. Se observarmos, por exemplo, a quantidade de trabalhos que têm sido apresentados nos últimos congressos e publicados em periódicos da área de internet e política, é notável o quanto as investigações acerca, especialmente, de Facebook e Twitter estão crescendo e tornando-se tendência. Este trabalho, por sua vez, endossa essa subárea e procura estudar a relação específica entre o debate que o jornalismo suscita, atualmente, entre seus webleitores, a partir do momento em que adentra as redes sociais, em que é permitido a atores sociais 5 Trabalho apresentado no Workshop Internet e Eleições 2014e desenvolvido pelo Núcleo de pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública, da Universidade Federal do Paraná (CPOP-UFPR). 6 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, PPGCOM-UFPR. [email protected] 7 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, PPGCP-UFPR. [email protected] 8 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos UFSCAR. [email protected]

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Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015

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WEBLEITORES, ELEITORES E COMENTADORES:

Uma análise do debate público no Facebook d’O Estadão durante a campanha

presidencial de 20145

Fernanda Cavassana de Carvalho6

Isabele Batista Mitozo7

Michele Goulart Massuchin8

RESUMO

Devido à adesão dos veículos de comunicação às redes sociais, o debate público passa a ter nova arena para seu desenvolvimento. O presente trabalho tem por objetivo analisar como os comentadores da página d’O Estadão no Facebook se comportaram como comentadores de posts que faziam menção direta a, pelo menos, um dos três principais presidenciáveis em 2014, também mencionando tais candidatos, durante o primeiro turno. Procura-se, especificamente, verificar 1) que posturas esses webleitores mais tomaram durante a discussão (se monológica ou recíproca em relação a outros comentadores) e 2) se eles persuadiram, progrediram ou radicalizaram no decorrer do debate. Para tanto, a metodologia adotada foi a análise de conteúdo quantitativa, tendo-se utilizado testes estatísticos para verificar as relações tanto entre a página observada e o perfil de seu comentador em relação às categorias das variáveis estudadas, assim como a relação entre cada categoria e a citação dos candidatos no comentário. Como resultado, pode-se observar que o Estadão, além de possuir um comentador mais propício ao debate, agrega mais eleitores dispostos a persuadir, mas, com maior tendência à radicalização, quando mencionam Dilma Rousseff, e ao progresso, quando citam Eduardo Campos ou Marina Silva.

Palavras-chave: Debate público; Eleições Presidenciais 2014; O Estado de S. Paulo; Facebook

Introdução

Os estudos acerca das relações entre internet e debate público têm se voltado para um

novo campo a princípio mais aberto e, portanto, propício a discussões: as redes sociais

digitais. Se observarmos, por exemplo, a quantidade de trabalhos que têm sido

apresentados nos últimos congressos e publicados em periódicos da área de internet e

política, é notável o quanto as investigações acerca, especialmente, de Facebook e

Twitter estão crescendo e tornando-se tendência.

Este trabalho, por sua vez, endossa essa subárea e procura estudar a relação

específica entre o debate que o jornalismo suscita, atualmente, entre seus webleitores, a

partir do momento em que adentra as redes sociais, em que é permitido a atores sociais

5 Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo Núcleo de pesquisa em

Comunicação Política e Opinião Pública, da Universidade Federal do Paraná (CPOP-UFPR). 6 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, PPGCOM-UFPR.

[email protected] 7 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, PPGCP-UFPR. [email protected]

8 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos –

UFSCAR. [email protected]

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comentarem o que é postado pelas páginas dos veículos de comunicação. De forma mais

específica, o objetivo do artigo é apresentar uma investigação acerca de como se

comportou o comentarista-eleitor dos posts difundidos pela página d’O Estadão no

Facebook tendo como metodologia a análise de conteúdo quantitativa, que terá como

foco a análise das variáveis 1) postura do comentador (se responde ou não a outros

comentadores), conforme classificação de Dahlberg (2002) e 2) reflexividade, seguindo o

que teoriza e aplica Jensen (2003), em seu estudo. Tais variáveis serão, ainda, cruzadas

com a citação de cada candidato, a fim de indicar quando o diálogo se desenvolve de

forma mais ampla em relação à citação de um candidato, assim como o tipo de

reflexividade que mais se expressa nessa mesma relação.

O período em estudo comporta 13 semanas que compõem o primeiro turno das

eleições presidenciais (julho-setembro/20149) e tem como unidade de análise os

comentários que mencionavam diretamente ao menos um dos três principais

presidenciáveis, feitos a posts que, igualmente, citavam um deles. Assim, trabalhou-se

com 63.730 comentários. Os resultados apresentam que O Estadão, além de ser um

veículo que gera debate entre os comentadores de seus posts no Facebook, também

agrega distintos posicionamentos políticos dos eleitores enquanto comentadores.

1. Jornalismo e debate nas redes sociais online

O jornalismo pode ser considerado um elemento imprescindível ao jogo político,

interferindo na forma como a política se desenvolve (MONT’ALVERNE; MARQUES, 2013)

e no debate público, sendo até chamado por alguns de novo “quarto poder”, como uma

espécie de “poder moderador” (ALBUQUERQUE, 2000). Sua forma de alcançar o leitor,

porém, foi durante muito tempo unilateral: os veículos de comunicação de massa

assumiam o papel de emissores, enquanto ao público restava a função de receptor da

mensagem.

Esta visão do poder dos veículos de mídia passa a ser superada quando

consideramos características próprias da comunicação via web, como a descentralização

da produção de conteúdo, a multidirecionalidade e a interatividade. É fato que a internet

possibilitou grandes mudanças na comunicação em comparação com as mídias de

9 São considerados os comentários feitos aos posts, sobre a disputa presidencial, de 1 de julho a 29 de

setembro de 2014. O dia 30 de setembro faz parte da semana 14, última semana do primeiro turno, não incluída nesta análise, porque o banco de outubro encontra-se em fase de finalização.

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massa, como a televisão e o rádio, mas, assim como o público está presente na internet,

os veículos tradicionais também estão. Na rede, exploram as ferramentas possíveis para

compartilhar seu produto – a notícia – muitas vezes com o conteúdo modificado pela

interação de seu leitor, ativo, principalmente, nas redes sociais.

Assim, a presença dos veículos jornalísticos na web, e em suas diversas

plataformas como o Facebook, acaba propiciando uma nova configuração da forma a

partir da qual a audiência recebe e interage com o que é publicado. E esse é um fator

importante quando se pretende estudar debate público, já que, agora, o leitor não é mero

receptor a discutir com parentes ou vizinhos acerca do que o jornal pautou: ele pode

questionar diretamente a notícia, bem como debater com outros webleitores online.

A interatividade do webleitor com o jornal traz novas possibilidades para

pesquisas que desejam compreender a influência do conteúdo jornalístico no debate

público. Em redes sociais digitais, por exemplo, os comentários nos posts dos veículos

podem se tornar objetos que revelem, ao menos em parte, como se dá a recepção da

notícia compartilhada. Na perspectiva de Braga (2006), há um sistema de interações

sociais sobre a mídia, caracterizado por uma circulação diferida e difusa, que se dá após

o consumo da informação midiatizada. As pessoas passam a comentar e debater o que

viram na mídia e, a partir disso, “as proposições circulam evidentemente trabalhadas,

tensionadas, manipuladas, reinseridas nos contextos mais diversos” (BRAGA, 2006,

p.28).

Portanto, a partir de Braga (2006), os comentários dos webleitores em posts de

jornais nas redes sociais devem ser considerados como um dispositivo deste sistema de

interação social. Os dispositivos são formas socialmente geradas e tornadas

culturalmente disponíveis, “lugares materiais ou imateriais nos quais se inscrevem

(necessariamente) os textos” (MOUILLAUD apud BRAGA, 2006, p.40). O autor ainda

ressalta que a ocorrência dessas interações diretamente na mídia em que o conteúdo é

veiculado é importante, porque, deste modo, as interações podem ter efeitos sociais e

culturais mais abrangentes. Atualmente, a internet é a mídia mais escolhida para a

ocorrência destes dispositivos e as redes sociais potencializam tais ocorrências.

Se, por um lado, a possibilidade de interação entre jornal e webleitor existe, há

também a interação entre leitores, em que eles podem desenvolver uma conversação

(DAHLGREN, 2005) e, inclusive, tornarem-se politicamente ativos. Embora algumas

estratégias tenham apenas sido transportadas dos media tradicionais aos media digitais

(MARQUES et al., 2013), como a capacidade de enquadrar notícias, esses webleitores

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têm se tornado agentes cada vez mais importantes para a dinâmica da comunicação via

web, uma vez que podem escolher o veículo de comunicação que vão ler, pois os jornais

romperam com a barreira da distância estando em ambiente online e, portanto, concorrem

pela audiência entre si. Do mesmo modo, os leitores podem decidir conversar mais com

outros internautas que com as notícias, como apresentou o trabalho de Cervi (2013).

Os sites de redes sociais, mais especificamente, tomaram tanto o primeiro plano

das campanhas eleitorais quanto o da circulação de notícias jornalísticas. Isso porque,

além da maior potencialidade de circulação de conteúdo em relação aos websites e

portais, as redes agregam mais seguidores, pois são gratuitas ao usuário (o que não é o

caso de todos os portais jornalísticos, como a Folha de S. Paulo) e são consideradas,

pelo próprio público, um importante canal para se informar (BRASIL, 2014)10.

2. O Estadão no Facebook: análise dos comentários em posts do primeiro turno da campanha presidencial de 2014

Tendo como base a breve discussão teórica realizada na seção anterior, este

paper se concentra em compreender como os webleitores d’O Estadão agem na condição

de comentadores dos posts desse jornal em sua página oficial no Facebook.

A escolha da referida página como aquela a ser tomada para observação deu-se,

primeiramente, pela constatação em trabalho anterior (MITOZO; MASSUCHIN;

CARVALHO, 2015) do quanto O Estado de S.Paulo se destacou em relação aos outros

quality papers nacionais, Folha de S. Paulo e O Globo (MONT’ALVERNE; MARQUES,

2013), quanto ao notado maior nível de reciprocidade que seus comentadores

apresentaram.

Em segundo lugar, é interessante observar como O Estadão, sendo um jornal que

possui tradição em deixar explícito seu posicionamento político, assim como de destacar

o fato de separar opinião de informação, agrega mais reciprocidade entre os

comentadores. Por outro lado, vale ressaltar que esse jornal possui o portal online mais

democrático, por ter sido o primeiro dentre aqueles três maiores jornais nacionais a abrir a

possibilidade de se comentar, nele, suas notícias (CERVI, 2013).

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A Pesquisa Brasileira de Mídia (BRASIL, 2014) aponta o Facebook como o site/rede social mais acessado pelos brasileiros em dias de semana e nos finais de semana, bem como o site/blog/rede social mais acessado pelo público para se informar.

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O jornal O Estado de S. Paulo, durante o primeiro turno11 das eleições de 2014,

publicou em seu perfil no Facebook 3.747 posts, dos quais consideramos 276 como

pertencentes ao tema “Campanha Eleitoral”, por citarem um dos três principais candidatos

à Presidência da República12. A partir disso, a análise a seguir traz algumas

características do debate público nestes posts, pela investigação de 63.730 comentários,

que totalizam as citações dos principais candidatos pelo próprio público no ato de

comentar.

2.1. A postura do comentador

Primeiramente, observou-se a postura que o comentador d’O Estadão adota. A

postura é um dos fatores que Dahlberg (2002) aponta como importante categoria de

análise indicativa de predisposição ao debate. Assim, o autor estuda a reciprocidade de

comentários. Classificamos, ainda, como fez Sampaio et al. (2010), a ausência dessa

resposta como postura monológica.

O Gráfico 1, abaixo, mostra a frequência de comentários monológicos e recíprocos

encontrados entre os webleitores da página d’O Estadão no Facebook.

GRÁFICO 1 – Postura dos comentadores nos posts d’O Estadão FONTE: As autoras, com os dados do Núcleo CPOP-UFPR

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Considerando as 13 semanas aqui analisadas. 12

Até agosto consideramos os nomes de Aécio Neves, Dilma Rousseff e Eduardo Campos. Em agosto e setembro, passamos a considerar o nome de Marina Silva.

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Como se pode ver, há uma predominância de comentários em que os webleitores

conversam sozinhos, o que representa 74% do total. De qualquer forma, se olharmos

para a proporção apresentada entre esses e aqueles em que houve reciprocidade, 26%

do total, há uma diferença significativamente menor entre as duas categorias em relação

aos outros grandes jornais de circulação nacional, conforme apresentado em estudo

anterior (MITOZO; MASSUCHIN; CARVALHO, 2015)13. Assim, mesmo que O Estadão se

apresente como veículo de posição política conservadora explícita, ele agrega

comentadores mais dispostos a responder, de alguma forma, outros internautas.

Em relação à pluralidade de citação dos candidatos pelos comentadores dos posts

desse jornal, era esperado que Dilma Rousseff fosse a mais citada, tanto por ser a

candidata à reeleição como por ocupar concomitantemente ao período eleitoral a

Presidência da República em um momento de escândalos políticos, um dos maiores

temas a pautar o jornalismo. O que surpreende é o fato de que houve equilíbrio entre as

citações da incumbente e de Eduardo Campos/Marina Silva.

GRÁFICO 2 – Total de citações dos candidatos em comentários d’O Estadão14

FONTE: As autoras, com os dados do Núcleo CPOP-UFPR.

É certo que a tragédia que vitimou Campos causou alta na produção de

comentários, mas não de forma a causar a vantagem das citações dele e de Marina sobre

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A Folha de S. Paulo teve 82,4% dos comentários monológicos e 17,6% recíprocos. Os dados são ainda mais negativos para O Globo: 91,6% de comentários monológicos e somente 8,4% recíprocos. 14

É importante ressaltar que a soma desses valores ultrapassa o total de comentários em estudo (63.730), pois há comentários que citam mais de um candidato, o que se deve considerar em todas as análises que seguirão neste paper.

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aquelas de Aécio Neves, que agregou pouco mais que a metade de menções da mais

citada. Chegamos aqui à constatação de que Aécio Neves foi o menos citado nos

comentários sobre campanha n’O Estadão, aparecendo em apenas 26,7% dos 63.730

comentários analisados.

Quando se observa a expressão da reciprocidade em relação à citação dos

candidatos, pode-se constatar que os internautas estiveram mais dispostos a conversar

sozinhos, não importando que candidato estivessem mencionando. Os Gráficos 3, 4 e 5,

abaixo, mostram a correlação que existe entre a postura adotada pelos comentaristas e

as citações dos candidatos.

GRÁF.3– Postura X Dilma GRÁF.4 – Postura X Aecio GRÁF.5 Postura X Edu/Marina

FONTE – As autoras com dados do Núcleo CPOP-UFPR

É interessante observar que, proporcionalmente, os comentadores mais propícios

ao debate foram aqueles que mencionavam Dilma Rousseff, seguidos, novamente, de

Eduardo Campos/Marina Silva. Vale informar que o maior ou o menor número de

menções não teve influência sobre a proporção de comentários que apresentaram

postura recíproca, embora tenha havido a coincidência em relação à ordem dos

presidenciáveis. Por outro lado, a análise não se resume a essa observação e alguns

dados adiante mostrarão que, mesmo respondendo a outros comentários, o webleitor não

necessariamente apresenta-se como um debatedor no sentido que Jensen (2003), à luz

dos conceitos habermasianos, identifica, justamente por não expressar de forma mais

ampla o que se desejaria em um debate aberto e respeitoso.

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2.2. A reflexividade nos comentários

Assim, passa-se ao estudo de uma variável que complementa aquela anterior por

proporcionar, mesmo que de forma mais restrita, uma visão qualitativa à análise quanti

aqui desenvolvida: o tipo de reflexividade apresentada nos comentários. Como dito

anteriormente, essa variável ajuda a investigar como essa maior reciprocidade foi

expressa entre os comentadores d’O Estadão: tentou-se mais 1) persuadir; 2) progredir,

apresentando informações complementares ao debate; ou 3) radicalizar, comportando-se

de forma desrespeitosa durante a discussão.

Tab.1 - Tipo de reflexividade do comentador n’O Estado de S. Paulo

Frequência Porcentual Porc. Válida

ESP Válido Persuasão 16427 25,8 52,5

Radicalização 10224 16,0 32,7

Progresso 4619 7,2 14,8

Total 31270 49,1 100,0

Ausente 32460 50,9

Total 63730 100,0

FONTE – As autoras com dados do Núcleo CPOP-UFPR

Como exposto na Tabela 1 acima, a categoria “persuasão” foi aquela mais utilizada

pelos comentadores, representando 52,5% das ocorrências. Em seguida, a radicalização

apareceu em 32,7% dos casos, superando “progresso”, que representou apenas 14,8%

do total. É importante lembrar que muitos comentários não apresentaram qualquer

reflexividade e, portanto, decidiu-se trabalhar apenas com a percentagem válida.

GRÁFICO 6 – Tipo de reflexividade dos comentadores FONTE – As autoras com dados do Núcleo CPOP-UFPR

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Conforme foi feito com a postura do comentador, analisa-se, também, o tipo de

reflexividade que os comentadores apresentaram ao mencionar cada candidato. Tendo

atentado anteriormente sobre a ausência de relação entre ser recíproco e apresentar-se

mais polido no debate, observando a tabela a seguir, pode-se ter uma percepção mais

nítida desse fenômeno. Os resíduos padronizados permitem a constatação de que o

comentarista que citou Dilma Rousseff, se, por um lado, esteve mais propenso a ler e dar

continuidade à discussão, por outro, apresentou-se como aquele que mais radicalizou o

debate. A incumbente é a única cujo resíduo é alto positivo (22,5), destoando dos outros

candidatos, que apresentam baixos negativos, principalmente de Eduardo

Campos/Marina Silva (-17,8).

Tab. 2 - Tipo de reflexividade em comentários que citam candidato

Cita candidato no comentário

Dilma Aécio Edu/Marina Total

Reflexividade Radicalização N 6845 2329 3081 12255

Rp 22,5 -8,8 -17,8

Progresso N 2200 1142 2470 5812

Rp -5,5 -5,05 10,2

Persuasão N 7356 5318 7779 20453

Rp -14,4 9,5 8,3

Total 16401 8789 13330 38520

FONTE – As autoras com dados do Núcleo CPOP-UFPR

Os comentadores que mais estiveram abertos ao progresso, preocupando-se, pois,

em inserir novas informações e, assim, reforçar a argumentação, foram aqueles que

citaram Eduardo Campos/Marina Silva (10,2). Perceba-se que os outros candidatos

tiveram resíduos padronizados negativos bem próximos, o que caracteriza aqueles que os

mencionaram com um perfil, em relação a essa categoria, bem similar.

GRÁF.7 – Reflexividade X Dilma GRÁF.8 – Reflexividade X Aécio GRÁF.9–Reflexividade X Edu/Mar

FONTE: As autoras, com os dados do Núcleo CPOP-UFPR.

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Por fim, os comentadores que mencionam Dilma Rousseff são também os únicos

que estão menos dispostos a persuadir ou serem persuadidos, pois os resíduos para essa

categoria ficaram com baixo negativo (-14,4), em contraste com os altos positivos de

Aécio Neves (9,5) e Eduardo Campos/Marina (8,3). Isso implica dizer que os

comentadores que fizeram menção a Aécio foram aqueles mais dispostos a persuadir

outros debatedores. Os gráficos acima (GRAFs. 7, 8 e 9) ilustram bem as diferenças e

semelhanças que os números da Tabela 2 já apontaram.

Considerações finais

Apesar de, entre os comentários analisados, o debate nos posts d’O Estado de S.

Paulo apresentar quase três vezes mais comentários monológicos do que recíprocos,

esses comentaristas tendem a apresentar mais reciprocidade, especialmente na

comparação direta com o debate realizado nos comentários na Folha e n’O Globo no

mesmo período (MITOZO; MASSUCHIN; CARVALHO, 2015). Porém, só esse dado não é

suficiente para se afirmar que o diálogo flui entre os comentadores na página do veículo e

que há um debate construtivo entre os participantes.

Esta análise preliminar identificou algumas características do webleitor que

comenta no Facebook d’O Estadão. Pode-se verificar que a grande maioria tende a tentar

convencer, persuadir, o outro e apenas 7% progridem no debate. Há ainda um número

alto de comentadores que tendem à radicalização, interrompendo o diálogo e se fechando

às ideias de outros comentadores, muitas vezes, agredindo-as.

Em relação à citação de candidatos nos comentários, observa-se que há muito

mais radicalização quando Dilma Rousseff é citada e mais progresso quando há

referência a Eduardo Campos ou Marina Silva. Esse trabalho também apontou que estes

nomes pautaram bem mais o debate entre os comentadores, eleitores, do que o nome de

Aécio Neves, presente em menos de 27% dos comentários.

A análise apresentada neste trabalho leva à conclusão de que ainda há muitas

investigações a serem realizadas, a fim de traçar-se um perfil de comentador, mesmo na

página de um único veículo jornalístico dentro do Facebook. Mesmo que se possa

perceber como um comentador se comporta quando cita determinado candidato, não se

pode depreender totalmente esse comportamento, pois isso exigiria nova modelagem do

banco de dados, para identificar que comentários citaram apenas um dos candidatos e

em que temáticas tal perfil poderia ser observado.

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Nada impede que trabalhos futuros venham a tomar isso como ponto de partida

para nova análise, uma vez que é interessante perceber como o leitor-eleitor se põe no

debate, quando suas opiniões e crenças serão postos à prova por outros debatedores.

Referências

ALBUQUERQUE, A. Um outro “quarto poder”: imprensa e compromisso político no Brasil. In: Contracampo, n.4, pp. 23-57, 2000.

BRAGA, J. L. A sociedade enfrenta sua mídia. São Paulo: Paulus, 2006.

BRASIL. Presidência da República. Secretaria de Comunicação Social. Pesquisa brasileira de mídia 2014: hábitos de consumo de mídia pela população brasileira. – Brasília: Secom, 2014. Disponível em: http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de-contratos-atuais/livro-pesquisa-brasileira-de-midia_internet-pdf/view. Acesso em: Janeiro de 2015.

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JENSEN, J. L. Public Spheres on the Internet: Anarchic or Government-Sponsored – A Comparison. In: Scandinavian Political Studies, v. 26, n. 4, 2003.

MITOZO, I.B.; MASSUCHIN, M.; CARVALHO, F.C. Características do debate político-eleitoral no Facebook: Os comentários do público em posts jornalísticos nas eleições presidenciais de 2014. Anais do VI Compolítica, Rio de Janeiro, 2015.

MONT’ALVERNE, C.; MARQUES, F.J. Jornalismo político e imagem pública: Dilma Rousseff nos editoriais do jornal O Estado de S. Paulo. In: Contracampo, Vol. 28, n. 3, pp. 92-115, 2013.

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