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Departamento de Ciência Política e Políticas Públicas
O Impacto da Crise Económica nas Desigualdades de Género nas Atitudes e
Participação Política na Europa do Sul: Uma Análise Longitudinal (1985-2014)
Estanislau Stéfan Franco
Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de
Doutor em Ciência Política
Orientadora:
Doutora Ana Espírito-Santo, Professora Auxiliar,
ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa
Abril, 2018
ii
Departamento de Ciência Política e Políticas Públicas
O Impacto da Crise Económica nas Desigualdades de Género nas Atitudes e
Participação Política na Europa do Sul: Uma Análise Longitudinal (1985-2014)
Estanislau Stéfan Franco
Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de
Doutor em Ciência Política
Presidente do Júri:
Doutora Helena Carreiras, Professora Associada, ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa
Vogais:
Doutor Manuel A. Meirinho Martins, Professor Catedrático, ISCSP, Universidade de Lisboa
Doutora Ana Lúcia A. Teixeira, Investigadora Auxiliar, FCSH, Universidade Nova de Lisboa
Doutora Maria H. Santos, Investigadora Integrada, CIS – Instituto Universitário de Lisboa
Doutor Tiago Luís Roma Fernandes, Professor Auxiliar, FCSH, Universidade Nova de Lisboa
Orientadora:
Doutora Ana Espírito-Santo, Professora Auxiliar,
ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa
Abril, 2018
Dedicatória
À Stephanie e à Francisca
(profundo infinito)
À minha Avó, Joaquina
Muassuamina
(a mãe que tanto procurei)
Agradecimentos
Antes de mais, gostaria de agradecer aos pilares desta obra que acaba de se materializar: ao
Governo Provincial da Lunda Norte e ao meu “pai”, Francisco Muaco Tiago. Agradeço-vos
pela crença, pela determinação e pela aposta. Nada seria possível sem o vosso financiamento
a tempo inteiro.
À minha orientadora, Ana Espírito-Santo, pelo discernimento e sapiência, pelo carinho,
amizade e irmandade com que pôde guiar-me neste universo, até então, desconhecido para
mim, principalmente, nos momentos mais fatídicos, angustiantes e academicamente solitários.
Na sakulila mama [muito obrigado, mãe]!
À Miriam Albuquerque, pela paciência e companheirismo.
À Stephanie e à Francisca, minhas almas, minhas luzes e minhas fontes de inspiração.
Aos meus amigos (propositadamente, não mencionarei nomes de modo a não me esquecer
de ninguém), que mesmo sendo pessoas diferentes têm a mesma proporção de importância
para mim.
Seria (um pouco) injusto se não vos mencionasse, obrigado à Laura e à Allia, por me
permitirem que, por momentos, pudesse partilhar a (n)vossa mãe. Aos meus familiares,
desculpem-me.
Para terminar, não deixaria de agradecer ao ISCTE pelo acolhimento, aos meus professores
do mestrado e doutoramento, especialmente à professora Ana Belchior (obrigado pelas
conversas) e ao professor André Freire (grato pelo encorajamento). Aos meus colegas, foi um
imenso prazer partilhar esses anos todos convosco. Sabem que hei de carregar-vos até à
eternidade.
i
Resumo
Os estudos de género e política têm explorado pouco os países do sul da Europa. Por
conseguinte, persistem algumas lacunas tanto ao nível comparativo como ao nível diacrónico.
Por outro lado, os estudos emergentes da crise económica (2008-2012) nas novas democracias
europeias, sobre ativismo político e atitudes políticas, não levaram em consideração o
possível impacto desta nas desigualdades de género. Consequentemente, a presente
investigação tem três objetivos principais: num primeiro momento, pretende-se fazer uma
análise longitudinal (1985 até 2014) para perceber a diferença entre os níveis de participação
e envolvimento político de mulheres e homens, comparando os países da Europa do sul entre
si.
Num segundo momento, procurar-se-á analisar o impacto da crise económica nas
desigualdades de género nos países mais afetados (países da Europa do sul) em comparação
com os países menos afetados, tais como, os países nórdicos, os países da Europa central e
ocidental e os países da Europa do leste.
Por último, realizar-se-á um estudo exploratório sobre a socialização política dos
estudantes universitários portugueses procurando averiguar se as experiências de vida na
infância terão transitado para a vida adulta. A intenção é fazer um estudo exploratório sobre a
influência dos agentes de socialização (familiares, escola, comunidade e igreja) na relação dos
jovens com a política.
A metodologia utilizada é triangular, consistindo no uso combinado de metodologia
quantitativa e qualitativa. A metodologia quantitativa servirá para analisar o efeito do tempo e
o efeito da crise económica nos países da Europa do sul e noutros grupos de países em
análise. Especificamente, recorreu-se à análise de dados secundários disponíveis em bancos
de dados internacionais, designadamente: Four Nations Study, 1985; ESS, 2002-2014; CSES,
2001-2006; WVS, 2004; EVS, 1981-2008; EES, 1999-2014. A metodologia qualitativa
servirá para analisar informação relativa à socialização política dos jovens estudantes em
Portugal. As entrevistas foram realizadas pelo autor em vários estabelecimentos de ensino
superior da cidade de Lisboa, em 2018.
Palavras-chave: género; crise económica; participação política; atitudes políticas;
socialização política; países do sul da Europa.
ii
Abstract
Studies on gender and politics rarely explore such matters in Southern Europe. As a result,
shortcomings remain visible both at a comparative level and diachronically. Furthermore, the
research emerging from the economic crisis (2008-2012) in the new European democracies,
on political activism and attitudes, have not considered its possible impact on gender
inequality.
Consequently, the present research has three principles objectives. Firstly, a longitudinal
analysis (1985 to 2014) seeks to understand the difference between levels of participation and
political engagement of women and men by comparing Southern European countries with
each other.
Secondly, an analysis will be made of the impact of the economic crisis on gender
inequalities in the most affected countries (Southern European countries) compared to those
least affected, the Nordic and the Central, Western and Eastern European countries.
Finally, an exploratory study will be conducted on the political socialization of Portuguese
university students, seeking to ascertain if life experiences in childhood will have passed into
adult life. The aim is to explore the influence of socialization agents (i.e. family, school,
community and church) on the relations of young people with politics.
A triangular methodology is used, combining quantitative and qualitative techniques. The
quantitative methodology will be used to analyse the effect of time and the economic crisis on
Southern European countries and other groups of countries. This will draw on secondary data
available in international databases, namely: Four Nations Study, 1985; ESS, 2002-2014;
CSES, 2001-2006; WVS, 2004; EVS, 1981-2008; EES, 1999-2014. The qualitative
methodology will be used to analyse information on the political socialization of young
students in Portugal, based on interviews conducted by the author in several higher education
establishments in the city of Lisbon in 2018.
Keywords: gender; economic crisis; political participation; political attitudes; political
socialization; countries of Southern Europe.
iii
Índice Geral
Índice de Figuras ....................................................................................................................... vi
Índice de Gráficos .................................................................................................................... vii
Índice de Quadros .................................................................................................................... viii
Glossário de siglas ...................................................................................................................... x
Capítulo I - Introdução ............................................................................................................ 1
1.1 A precariedade democrática ............................................................................................. 1
1.2 Delimitação e objetivos da pesquisa ................................................................................. 3
Capítulo II – Revisão da Literatura ....................................................................................... 7
2.1 Género e estudos de género num contexto global ............................................................ 7
2.2 Género: Participação política e atitudes políticas ........................................................... 10
2.3 Influência da crise na desigualdade de género nas atitudes e participação política ....... 13
2.4 Estudos da socialização política ..................................................................................... 16
2.4.1 Voltando à base ........................................................................................................ 16
Capítulo III – Hipóteses e Fundamentação de Hipóteses ................................................... 19
3.1 Hipóteses ........................................................................................................................ 19
3.2 Participação política e atitudes políticas ao longo do tempo (1985-2014) ..................... 19
3.3 Crise económica: origens e consequências ..................................................................... 28
3.4 Possível impacto da crise económica ............................................................................. 34
Capítulo IV - Metodologia, Dados e Operacionalização de Conceitos .............................. 40
4.1 Tipo e Natureza Metodológica ....................................................................................... 40
4.2 Metodologia quantitativa ................................................................................................ 41
4.3 Dados utilizados ............................................................................................................. 42
4.4 Operacionalização de conceitos ...................................................................................... 47
4.4.1 Participação política ................................................................................................. 47
4.4.2 Atitudes políticas ..................................................................................................... 49
4.4.3 Tratamento e análise de variáveis ............................................................................ 52
4.5 Metodologia qualitativa .................................................................................................. 55
4.5.1 A entrevista .............................................................................................................. 55
4.5.2 Da Entrevista à Análise de Conteúdo ...................................................................... 57
4.5.3 Socialização política ................................................................................................ 58
iv
Capítulo V - Participação política, atitudes políticas e socialização política:
conceptualização ..................................................................................................................... 61
5.1 Definição da participação política .................................................................................. 61
5.1.2 Formas e tipos de participação política .................................................................... 62
5.1.3 Modalidades da participação política ....................................................................... 63
5.1.4 Tipologias da participação política: novos enfoques ............................................... 73
5.1.5 Distinção das formas da participação política ......................................................... 76
5.1.6 Participação convencional vs não convencional ...................................................... 78
5.2 Definição das atitudes políticas ...................................................................................... 80
5.2.1 Das atitudes às atitudes políticas .............................................................................. 80
5.2.2 Cultura política como fator primordial das atitudes políticas .................................. 83
5.2.3 Cultura política e a pós-modernidade ...................................................................... 85
5.3 Denifição da socialização política .................................................................................. 86
5.3.1 Agentes de socialização política .............................................................................. 88
Capítulo VI - Análise e Discussão dos Resultados: participação política, atitudes
políticas e socialização política .............................................................................................. 93
6.1 Análise da participação política ...................................................................................... 93
6.1.1 Evolução das desigualdades de género na participação eleitoral ............................. 93
6.1.2 Evolução das desigualdades de género na participação convencional .................. 105
6.1.3 Desigualdades de género na participação política não convencional .................... 116
6.1.4 Evolução das desigualdades de género na participação comunitária ..................... 128
6.1.5 Conclusão ............................................................................................................... 139
6.2 Evolução das desigualdades de género nas atitudes políticas ...................................... 141
6.2.1 Desigualdade de género no envolvimento político ................................................ 141
6.2.2 Desigualdades de género na confiança em instituições políticas ........................... 154
6.2.3 Conclusão ............................................................................................................... 165
6.3 Análise da socialização política .................................................................................... 166
6.3.1 A influência dos agentes de socialização nas atitudes e comportamentos políticos
durante a infância e adolescência dos estudantes ........................................................... 166
6.4 Influência da socialização nas atitudes e comportamentos políticos dos jovens
estudantes............................................................................................................................ 169
6.5 Conclusão e Discussão ................................................................................................. 170
v
Capítulo VII – Conclusões Gerais....................................................................................... 173
7.1 Objetivos da pesquisa ................................................................................................... 173
7.2 Os resultados da pesquisa ............................................................................................. 174
7.2.1 Participação política ............................................................................................... 174
7.2.2 Atitudes políticas ................................................................................................... 176
7.2.3 Socialização política .............................................................................................. 177
7.2.4 Notas finais ............................................................................................................ 178
Bibliografia ........................................................................................................................... 179
Fontes ..................................................................................................................................... 200
Anexos ........................................................................................................................................ I
Anexo A – Análise qualitativa (entrevistas) ............................................................................ I
Anexo B – Análise e descrição de variáveis quantitativas .................................................. VII
vi
Índice de Figuras
Figura nº 1.1 - Modelo de Análise ............................................................................................. 4
Figura nº 3.1 - Fatores estruturais da origem da crise na Zona Euro ....................................... 29
Figura nº 5.1 - Níveis de participação política ......................................................................... 64
Figura nº 5.2 - Evolução da participação política .................................................................... 70
vii
Índice de Gráficos
Gráfico nº 3.1 - Mudanças na confiança no governo e na UE entre 2007-2011 ...................... 39
Gráfico nº 6.1 - Probabilidades da participação eleitoral na Europa do sul, 1985-2014 ........ 100
Gráfico nº 6.2 - Probabilidades da participação eleitoral nos países menos e mais afetados,
2006-2014 ............................................................................................................................... 104
Gráfico nº 6.3 - Probabilidades da participação convencional na Europa do sul, 1985-2014 111
Gráfico nº 6.4 - Probabilidades da participação convencional nos países menos e mais
afetados, 2006-2014 ............................................................................................................... 115
Gráfico nº 6.5 - Probabilidades da participação não convencional na Europa do sul,
1985-2014 ............................................................................................................................... 123
Gráfico nº 6.6 - Probabilidades da participação não convencional nos países menos e mais
afetados, 2006-2014 ............................................................................................................... 127
Gráfico nº 6.7 - Probabilidades da participação comunitária na Europa do sul, 1985-2014 .. 134
Gráfico nº 6.8 - Probabilidades da participação comunitária nos países menos e mais afetados,
2006-2014 ............................................................................................................................... 138
Gráfico nº 6.10 - Previsão do envolvimento político nos países menos e mais afetados,
2006-2014 ............................................................................................................................... 153
Gráfico nº 6.11 - Previsão da confiança política nos países da Europa do sul (1999-2014) .. 160
Gráfico nº 6.12 - Previsão da confiança política nos países menos e mais afetados, 2006-2014
................................................................................................................................................ 164
viii
Índice de Quadros
Quadro nº 3.1 - Contexto eleitoral durante a crise económica na Europa do sul, 2010-2011. . 31
Quadro nº 4.1 - Vantagens e limitações dos dados secundários .............................................. 43
Quadro nº 4.2 - Inquéritos utilizados: European Elections Studies, 1999-2014 ...................... 44
Quadro nº 4.3 - Inquéritos utilizados: Four Nations Study, 1985 ............................................ 45
Quadro nº 4.4 - Inquéritos utilizados: European Social Survey, 2002-2012 ........................... 46
Quadro nº 4.5 - Inquéritos utilizados: European Values Survey, 1981-2008 .......................... 46
Quadro nº 4.6 - Inquéritos utilizados: World Values Survey, 2004 ......................................... 47
Quadro nº 4.7 - Operacionalização de conceitos: formas e tipos de participação política ....... 49
Quadro nº 4.8 - Operacionalização de conceitos: Dimensão e modalidades das atitudes
políticas .................................................................................................................................... 52
Quadro nº 4.9 - Tipo e caraterística da entrevista .................................................................... 55
Quadro nº 4.10 - Modelo de socialização política durante o ciclo de vida .............................. 59
Quadro nº 4.11 - Operacionalização de conceitos da socialização política ............................. 60
Quadro nº 5.1 - Formas e participação política ........................................................................ 63
Quadro nº 5.2 - Tipos e formas de participação política .......................................................... 65
Quadro nº 5.3 - Tipologia da Ação do Repertório Político ...................................................... 67
Quadro nº 5.4 - Formas e caraterísticas das atividades políticas .............................................. 69
Quadro nº 5.5 - Formas de participação política ...................................................................... 71
Quadro nº 5.6 - Estrutura da participação política ................................................................... 72
Quadro nº 5.7 - Tipologia da participação política, segundo Sabucedo e Arce ....................... 74
Quadro nº 5.8 - Nova tipologia dos modos de participação política ........................................ 75
Quadro nº 5.9 - Tipos de cultura política ................................................................................. 84
Quadro nº 6.1 - Evolução da modalidade da participação política eleitoral (voto) (%) ........... 94
Quadro nº 6.2 - Desigualdades de género na participação política na Europa do sul, (regressão
logística binária), 1985-2014 ................................................................................................... 98
Quadro nº 6.3 - Desigualdades de género na participação eleitoral nos países menos afetados,
(regressão logística binária), 2006-2014 ............................................................................... 101
Quadro nº 6.4 - Evolução das modalidades da participação política convencional (%) ........ 105
Quadro nº 6.5 - Desigualdades de género na participação convencional, (regressão logística
binária), 1985-2014 ............................................................................................................... 109
Quadro nº 6.6 - Desigualdades de género na participação convencional nos países menos
afetados (regressão logística binária), 2006-2014 ................................................................ 112
ix
Quadro nº 6.7 - Evolução das modalidades da participação não convencional, 1985-2014, (%)
................................................................................................................................................ 117
Quadro nº 6.8 - Desigualdades de género na participação não convencional na Europa do sul,
(regressão logística binária), 1985-2014 ............................................................................... 121
Quadro nº 6.9 - Desigualdades de género na participação não convencional dos menos
afetados (regressão logística binária), 2006-2014 ................................................................ 124
Quadro nº 6.10 - Modalidade da participação comunitária (ajudar a resolver problemas
comunitários), 1985-2014 (%) ............................................................................................... 128
Quadro nº 6.11 - Desigualdades de género na participação comunitária, (regressão logística
binária), 1985-2014 ............................................................................................................... 132
Quadro nº 6.12 - Desigualdades de género na participação comunitária nos países menos
afetados (regressão logística binária), 2006-2014 ................................................................ 135
Quadro nº 6.13 - Evolução das modalidades do envolvimento político (%), 2002-2014 ...... 143
Quadro nº 6.14 - Desigualdades de género no envolvimento político na Europa do sul
(regressão linear, coeficientes não estandardizados), 2002-2014 ......................................... 147
Quadro nº 6.15 - Desigualdades de género no envolvimento político em países menos
afetados (regressão linear, coeficientes não estandardizados), 2006-2014 ........................... 150
Quadro nº 6.16 - Evolução das modalidades da confiança política, 1990-2014, (média) ...... 155
Quadro nº 6.17 - Desigualdades de género na confiança política na Europa do sul (regressão
linear múltipla, coeficientes não estandardizados), 1999-2014 ............................................. 158
Quadro nº 6.18 - Desigualdades de género na confiança política em países menos afetados
(regressão linear, coeficientes não estandardizados), 2006-2014 ......................................... 161
x
Glossário de siglas
AP-PP – Alianza Popular-Partido Popular
BCE – Banco Central Europeu
C – Casado
CNME – Conselho Nacional das Mulheres Espanholas
CNMG – Conselho Nacional das Mulheres Gregas
CNMI – Conselho Nacional das Mulheres Italianas
CNMP – Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas
DP – Desvio-padrão
EES – European Elections Studies
ESS – European Social Survey
EUA – Estados Unidos da América
EVS – European Values Studies
E.P – Erro-padrão
H – Homem
IEA – The International Association for the Evaluation of Educational Achievement
ICW – International Council of Women
M – Mulher
ONG – Organização(ões) não governamental(ais)
ONU – Organização das Nações Unidas
PPD-PSD – Partido Popular Democrático-Partido Social-Democrata
S – Superior
SPSS – Statiscal Package for Social Science
xi
TV – Televisão
UE – União Europeia
VD – Variáveis Dependentes
VI – Variáveis Independentes
WVS – World Values Survey
1
Capítulo I - Introdução
1.1 A precariedade democrática
A questão da participação política está intrinsecamente ligada à democracia (Parry et al.,
1992: 3). Um dos princípios fundamentais da democracia, participativa e representativa em
especial, é o princípio da equidade social (Verba e Nie, 1972; Lijphart, 1997). E são as
atitudes e comportamentos que permitem que o cidadão tenha alguma orientação para a vida
política (Dalton, 2000). A democracia é um processo que exige esforços e investimentos
permanentes a médio e a longo prazo. A sustentabilidade democrática depende de vários
fatores, desde os níveis culturais ao desenvolvimento socioeconómico. Mas, os ensinamentos
que o indivíduo obtém, desde muito cedo, são fundamentais para a subsistência do próprio
regime, como observou Orit Ichilov, “democracy’s vitality and continuity greatly depend
upon transmitting to each young generation the visions of the democratic life and the
commitment to it” (1990: 1 citado por Perloff, 2014: 96).
As mudanças e continuidades dos comportamentos e atitudes políticas tendem a ser as
principais inquietações dos académicos da área da socialização política, pelo que analisar
estas três componentes temáticas – atitudes políticas, participação política e socialização
política – revela-se um passo importante para o aprofundamento e conhecimento do processo
democrático.
Nas últimas décadas, a igualdade de género1 tem ganho grande relevância nos centros de
decisão política, exigindo-se a inclusão de mulheres no(s) processo(s) de eleição e/ou
nomeação para órgãos superiores da política (Viegas e Faria, 2001: 1; Norris, 2006: 197). Os
constantes apelos de várias organizações nacionais e internacionais, designadamente, ONU,
ONG e partidos políticos, no sentido de se promover a igualdade da participação de ambos os
sexos em todas as áreas da esfera política e da esfera pública, a crescente presença desse tema
no debate político dos países industriais avançados e não avançados, as medidas
regulamentares internas dos partidos e a frequente adoção de disposições legais que impõem a
representação mínima de cada sexo são exemplos claros da importância e da forte
1 Decidiu-se usar os termos “género” e “sexo” como palavras intercambiáveis, já que é conhecida a
aceção de ambos os conceitos. Isto é, “género” refere-se a uma variável contínua que carateriza o
grau masculino e feminino e “sexo” é uma variável dicotómica que distingue a categoria mulher e
homem (Espírito-Santo, 2011).
2
consciencialização relativamente a esta questão (Viegas e Faria, 2001: 1; Santos e Amâncio,
2010-2012; Sawer, 2011).
No campo das atitudes e comportamentos políticos as desigualdades de género são menos
visíveis, embora existam. Mulheres e homens tendem a intervir de igual modo na participação
eleitoral (Topf, 1995a) e na participação política não convencional (Verba et al., 1995),
embora as mulheres se envolvam menos do que os homens em atividades políticas ditas
convencionais (Coffé e Bolzendahl, 2010) e sejam mais ativas do que os homens nas
atividades comunitárias (Lowndes, 2000). Quando analisadas as atitudes políticas, as
diferenças de género são mais expressivas. As mulheres revelam níveis de sentimento de
eficácia política, de conhecimento e informação política e de envolvimento político mais
baixos do que os homens, mas apresentam níveis de confiança política semelhantes (ver cap.
III).
Os momentos que sucederam à terceira vaga de democratização, que teve início na Europa
do Sul no final dos anos 70, traduziram-se em fortes transformações não só no que diz
respeito ao regime político, mas também no que concerne à modernização, desenvolvimento
socioeconómico e cultural. No entanto, o processo de modernização tem sido desigual, parcial
e incompleto quando se trata das diferenças entre mulheres e homens, o que resulta num dos
obstáculos à qualidade da democracia no Sul do velho continente (ver Ferreira, 2000 e 2013).
É sabido que as desigualdades de género nas atividades políticas podem variar de época
para época, de sociedade para sociedade e de eleições para eleições, como resultado da
dinâmica dos acontecimentos políticos e sociais.
A crise financeira que teve origem nos EUA em 2007 e que atingiu as costas europeias, de
2008 até sensivelmente ao ano de 2012, deixou algumas sequelas irreparáveis pelo menos a
médio prazo. Como afirma o sociólogo António Barreto, o estado-providência começou a ter
problemas de solidez, o sul passou a estar cada vez mais pobre, falido e endividado: com
pouca indústria, um sistema bancário deficitário, uma população envelhecida, um enorme
caudal de emigração (de mulheres e jovens, principalmente)2 e uma profunda desigualdade
social (Barreto, 2015).
Embora tenha passado, a crise económica tem estado no centro da política europeia e tem
representado um dos focos de interesse de investigadores das mais variadas áreas das ciências
sociais, incluindo, cientistas políticos. A intervenção de vários economistas de renome do
2 Ver por exemplo, Wall et al, 2015; Múrias, 2015.
3
mundo académico [da esquerda (Thomas Piketty e Joseph Stiglitz)3 à direita (Paul Krugman,
2012)], os vários protestos que se verificaram nos países do sul da Europa apelando ao fim
das políticas de austeridade ou o aumento do interesse, nos últimos anos, pela revista
académica centrada no sul da Europa South European Society and Politics não só
demonstram a atualidade deste tema, mas também a importância do mesmo. Freire et al.
(2015) e Viegas et al. (2015: 195) salientam que qualquer análise que se relacione com o
comportamento e atitudes políticas nas democracias europeias nos dias de hoje, deve
distinguir as tendências de mudança estrutural dos aspetos conjunturais associados à crise
económica e financeira que o continente enfrentou.
1.2 Delimitação e objetivos da pesquisa
Por um lado, os estudos sobre desigualdade de género nos países da Europa do sul ainda
carecem de análises detalhadas no que se refere às atitudes e à participação política,
principalmente uma análise diacrónico-comparativa entre os países. Por outro lado, os estudos
emergentes da crise económica (2008-2012) nas novas democracias europeias, sobre ativismo
político e atitudes políticas, não levaram em consideração o possível impacto desta nas
desigualdades de género. A presente pesquisa, que visa investigar as diferenças entre
mulheres e homens quanto às atitudes políticas e quanto à participação política – que
funcionarão como as variáveis dependentes (VD) do estudo –, procura colmatar estas duas
lacunas. Relativamente a cada um desses conceitos (atitudes políticas e participação política)
far-se-ão três tipos de análise: em primeiro lugar, realiza-se uma análise longitudinal que
compreende o período de 1985 até 2014; em segundo lugar, investiga-se o efeito da crise
económica através do estudo dos seus momentos mais marcantes, isto é, de 2008 a 2012; e,
por último, faz-se um estudo exploratório sobre a socialização política de jovens estudantes
universitários. A figura n.º 1.1 apresenta o modelo de análise desenvolvido.
Consequentemente, a presente investigação tem três objetivos principais: num primeiro
momento, procurar-se-á fazer uma análise longitudinal (1985 até 2014) para perceber a
diferença entre os níveis de participação e envolvimento político de mulheres e homens,
comparando os países da Europa do sul entre si.
3 Disponível em: http://observador.pt/2015/06/06/economistas-escrevem-carta-contra-a-continuacao-
da-austeridade-na-grecia/. Acedido a 23 de fevereiro de 2016.
4
Figura nº 1.1 - Modelo de Análise
Fonte: elaborado pelo autor.
Num segundo momento, procurar-se-á analisar o impacto da crise económica nas
desigualdades de género nos países mais afetados (países da Europa do sul) em comparação
com os países menos afetados, tais como, os países nórdicos, os países da Europa central e
ocidental e os países da Europa do leste.
Por último, num terceiro momento, realizar-se-á um estudo exploratório sobre a
socialização política dos estudantes universitários portugueses, procurando averiguar se as
experiências de vida na infância terão transitado para a vida adulta (Sears e Levy, 2003). A
intenção é perceber até que ponto o legado dos agentes de socialização (familiares, escola,
comunidade e igreja) tem influência na perceção política entre as e os jovens portugueses
durante o seu ciclo de vida (Rapoport, 1985; Verba et al, 2003; Hooghe e Wilkenfeld, 2008).
Antes de mais, importa realçar que o período em análise, de 1985 até 2014, é fundamental
porque permite identificar e compreender a evolução da inclinação das mulheres para serem
politicamente ativas ao longo dos últimos anos (Vassalo, 2006: 412; Baum e Espírito-Santo,
2007: 112 e 113). Em segundo lugar, permite perceber se, com o surgimento da crise
económica, as desigualdades de género se acentuaram ou não. Finalmente, a pesquisa começa
em 1985 porque é o momento em que Portugal e Grécia começam a ser incluídos em estudos
internacionais (ver Freire, 2006; Baum e Espírito-Santo, 2007), logo, só a partir deste ano há
dados de opinião pública disponíveis.
Como foi dito, os estudos sobre desigualdade de género e política têm sido pouco
frequentes nos países do sul da Europa, deixando, de certo, algumas lacunas tanto ao nível
comparativo, como ao nível de uma análise diacrónica e quanto a uma análise que reflita o
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Efeito do tempo (1985-2014)
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Efeito do tempo (1985-2014)
Efeito da crise
(2008-2012)
Socialização política (jovens estudantes)
5
impacto da crise económica no ativismo político de mulheres e homens. Por isto, esta
investigação propõe-se examinar os seguintes objetivos específicos:
1 - Analisar a participação política e as atitudes políticas de mulheres e homens dos países da
Europa do sul ao longo dos tempos;
2 - Verificar se a crise económica protagonizou um possível efeito nas diferenças de género
no período pré e pós crise económica nas atitudes políticas e na participação política;
3 - Comparar o impacto da crise económica nos países da Europa do sul com os países
europeus menos afetados (países nórdicos, países europeus do centro e ocidente e do leste),
no período compreendido entre 2008 e 2012, tendo em conta as atitudes políticas e a
participação política de mulheres e homens;
4 – Fazer um estudo exploratório sobre a forma como são socializados para a política as
jovens e os jovens estudantes;
5 – Averiguar, ainda que superficialmente, a relação entre o tipo de socialização política e o
grau de participação política das jovens e dos jovens estudantes.
Para o alcance dos objetivos do estudo, utilizar-se-á a metodologia triangular que consiste
no uso combinado de metodologia quantitativa e qualitativa. A metodologia quantitativa
servirá para analisar o efeito tempo e o efeito crise económica (nos países da Europa do sul e
noutros grupos de países em análise). Os dados provêm de vários bancos de dados
internacionais, designadamente, European Social Survey, European Values Studies, European
Electoral Studies, World Values Survey, Four Nations Studies (para mais detalhes ver cap.
IV). A seleção das bases de dados foi feita, sobretudo, tendo em conta a disponibilidade de
indicadores adequados para aferir atitudes políticas e participação política no horizonte
temporal pretendido (1985-2014). Foi dada particular atenção ao facto da formulação de
questões em cada uma das bases de dados ter sido feita de forma idêntica (ver anexo B.3, pp.
X-XIV).
A metodologia qualitativa servirá para analisar dados relativos à socialização política dos
jovens estudantes em Portugal. Os dados foram recolhidos por nós em vários
estabelecimentos do ensino superior na cidade de Lisboa, nomeadamente, Faculdade de
Direito, Escola Superior de Enfermagem, Faculdade de Letras, Faculdade de Medicina
Dentária, Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de Lisboa, Instituto Superior
Técnico da Universidade de Lisboa e no ISCTE, num total de 27 entrevistas.
6
Para terminar, atente-se que este trabalho está estruturado em sete secções lógicas. A
primeira é a presente introdução que faz uma breve apresentação do que se pretende analisar;
a segunda consiste numa revisão da literatura que engloba os estudos de género nas atitudes
políticas, na participação política e na socialização política; a terceira secção apresenta as
hipóteses e a sua fundamentação; a quarta desenha o quadro metodológico orientador da
pesquisa; a quinta secção apresenta o quadro concetual da participação política, atitudes
políticas e socialização política; a sexta secção consiste numa exposição dos resultados, onde
se procura fazer a sua análise e discussão; por último, apresentam-se as conclusões e
considerações finais da pesquisa.
7
Capítulo II – Revisão da Literatura
2.1 Género e estudos de género num contexto global
Desde sempre que as mulheres têm sido excluídas do processo político, quer por
autoexclusão, quer por serem discriminadas pelo sexo oposto, ao achar-se que a política é
uma atividade meramente masculina (Paxton e Kunovich, 2003: 91; Tremblay, 2007: 533).
O estudo sobre o género não se limita apenas ao campo da ciência política, sendo analisada
também em outras ciências como economia, psicologia, sociologia, antropologia, história, etc.
(Burns, 2002; Norris, 2007; Bourdieu, 2013; entre outros). O surgimento do conceito de
género, a nível internacional e nas mais diversas ciências sociais, deve-se em grande parte aos
movimentos feministas que questionavam o essencialismo das categorias homem e mulher na
segunda vaga do feminismo. A segunda vaga do feminismo, que se demarcou na década de
1960 e 1970 no mundo ocidental, fez com que as mulheres exigissem a sua emancipação em
todas as áreas sociais da atividade humana, incluindo uma grande representação na esfera
política (Viegas e Faria, 2001: 1; Matland, 2005: 100; Sawer, 2011: 202).
No ramo da ciência política, a (des)igualdade de género não é um tema recente, mas nos
últimos tempos emergiram vários estudos dedicados a esta questão (Burns, 2002; Norris,
2007; Shapiro e Jacobs, 2011: cap. 29). O sociológo e politólogo Maurice Duverger foi um
dos primeiros estudiosos desta matéria no âmbito da ciência política. Num estudo publicado
em 1955, intitulado The Political Role of Women, o autor pretendia perceber quais os motivos
que influenciavam a fraca participação de mulheres nos processos políticos.
Posteriormente, surgiram vários estudos para explicar a fraca proporção de mulheres em
cargos elegíveis/nomeação para os órgãos superiores de decisão política. Estes estudos
distinguiram, essencialmente, três fatores: fatores estruturais ou socioeconómicos que
incluem níveis de desenvolvimento socioeconómico e a proporção de mulheres em ocupações
profissionais e de gerência empresarial; fatores políticos como os sistemas eleitorais (sistema
de representação proporcional e sistema maioritário); e fatores culturais, tais como os
comportamentos culturais, os valores da sociedade que se relacionam com as questões do
género (Kenworthy e Malami, 1999; Matland e Montgomery, 2003; Norris e Inglehart, 2001;
Norris, 2009; Paxton e Kunovich, 2003; Tremblay, 2008; Roza et al., 2011; entre outros).
Alguns estudos analisam o papel dos partidos políticos na promoção ou despromoção de
mulheres em órgãos superiores dos ditos partidos (Lovenduski e Norris, 1993; Caul, 1999;
Kittilson, 2011). Outros estudam a forma como as mulheres são recrutadas para as elites
8
políticas, ou seja, avaliam a lei da oferta e da procura (Rule, 1987; Norris e Lovenduski, 1995;
Matland, 2005). Uma outra linha de investigação avalia as quotas como forma de
discriminação positiva nos órgãos superiores da política (Caul, 2001; Dahlerup e Freidenvall,
2005; Ballington, 2004; Bauer, 2008).
Nancy Burns (2002) e Pippa Norris (2007) abordam o “estado da arte” nos estudos do
género, também fazem a sua conceptualização e sublinham as dificuldades patentes na
conceptualização do mesmo.
Sainsbury (1999), Orloff (1996), O´Connor (1996) e Skocpol (1992), González et al.
(2000) estudam a relação que existe entre Estado, mercado e família. Isto é, estudam a relação
entre o Estado e o mercado no sistema de distribuição dos direitos sociais. Neste contexto, são
reconhecidas todas as famílias e mulheres que não trabalham e não são pagas como uma
variação no sistema de pagamento social. Miki Caul Kittilson (2008) examina a relação que
existe entre a proporção de mulheres nos parlamentos e um conjunto de políticas que se
destinam às mulheres e às famílias, tais como a provisão de políticas de maternidade e de
cuidados infantis. Estas medidas permitem maior acessibilidade a cargos elegíveis, segundo a
autora.
Gray et al. (2006) estudam a globalização como agente da mudança e promotor da
ascensão das mulheres na esfera económica, política e social. Ou seja, a globalização permite
que as mulheres entrem no mercado de trabalho e, por sua vez, estas ganham uma autonomia
económico-financeiro e social.
Lim e Petrone (2010) estudam o género na política de massas em regimes ditatoriais. Por
um lado, os autores analisam a forma como homens e mulheres são mobilizados para
participar e apoiar voluntariamente os atos de massas nestes regimes. Por outro, os autores
analisam o modo como os impérios colonialistas (tanto os regimes não democráticos como os
regimes democráticos) utilizavam o género, para mobilizar e apoiar os seus ideais, junto dos
seus colonizados e dos cidadãos das suas grandes metrópoles. Harvey (1998) analisa a forma
como partidos políticos/candidatos mobilizam as mulheres para votarem em eleições, durante
o período de 1920 a 1970, nos Estados Unidos da América.
Outros autores analisam a ambição política nas desigualdades de género, cujo foco é a
motivação pessoal dos homens e das mulheres para ascenderem ao mais alto nível da
atividade política. Nesta linha de investigação, alega-se que as desigualdades de género na
política devem-se ao facto de as mulheres se acharem menos qualificadas para competir com
homens no campo político (Merritt, 1982; Costantini, 1990; Palmer e Simon, 2003; Lawless,
2004; Fox e Lawless, 2005; 2010; 2011; Lawless e Fox, 2012; Greenlee, 2014).
9
Existe uma linha de investigação que estuda as desigualdades de género no comportamento
eleitoral, avaliando a variância de voto e a ideologia política (esquerda vs direita) entre
homens e mulheres (Inglehart e Norris, 2000 e 2003; Baum e Espírito-Santo, 2007; Corbetta e
Cavazza, 2007).
Conway et al. (1997), Baum e Espírito-Santo (2004; 2007), Morales (1999) analisam o
efeito das mudanças culturais nos papéis das mulheres e o impacto da perceção do papel do
género nas atitudes, comportamento e participação política.
Outros analisam a socialização política. Estes estudos centram-se na educação que os
indivíduos obtêm desde a infância. Ou seja, a fraca participação política das mulheres está
relacionada com a diferença na educação política que mulheres e homens recebem desde tenra
idade. O facto de os homens serem mais incentivados para a vida fora de casa, para exporem
as suas opiniões e para o conflito fá-los mais aptos para a vida política (Hyman, 1959;
Greenstein, 1965; Hess e Torney, 1967; Andersen, 1975; Welch, 1977: 713-14; Rapoport,
1981; 1985; Togeby, 1994: 216; Pateman, 1994; Putman, 1995 e 2000).
Stocker e Jennings (1995) procuram perceber se as pessoas casadas se influenciam umas às
outras no processo político. Estes analisam as mudanças de comportamento entre casais
quanto à participação política tendo em conta os momentos que antecedem e sucedem o
casamento. Caprioli e Boyer (2001) analisam a relação que existe entre países que têm
melhores políticas igualitárias de género e o papel que estes desempenham no processo de
resolução de conflitos na arena internacional. Estes concluem que países com melhores
políticas são menos propensos ao uso da força nos conflitos entre os Estados do que aqueles
que têm políticas menos igualitárias.
Nos EUA, por exemplo, têm-se feito estudos de género e política ligados a questões
inter-raciais (ver por exemplo, Walton Jr., 1994a: parte 5; Wilcox, 1997; Gurin, 1985). Os
temas estão relacionados com fatores implícitos à promoção/despromoção de mulheres em
órgãos de decisão política, o seu envolvimento político nas estruturas partidárias,
comportamento de voto das mulheres, a participação de mulheres em campanhas políticas.
Uns procuram perceber a participação política feminina e os fatores que influenciam essa
participação, enquanto outros examinam a influência que algumas candidatas negras
exerceram na comunidade afroamericana (mulheres e homens) a entrar massivamente na
política (Harmon-Martin, 1994; Ardey, 1994; Walton Jr. e Campbell Jr., 1994; Walton Jr.,
1994b). Walton Jr. (1994b) estuda o papel das organizações feministas negras e a influência
que exerceram no apoio de candidatas negras à presidência e vice-presidência nos EUA.
10
Estuda-se, também, o papel das organizações feministas no processo de emancipação de
mulheres na esfera pública, em geral, e na esfera política, em particular (Wilcox, 1997;
Conover, 1988; Gurin, 1985; Kollman, 1998: 108; Harmon-Martin, 1994; Ardey, 1994;
Walton Jr. e Campbell Jr., 1994; Harvey, 1988; Walton Jr., 1994b; González et al, 2000,
Cova, 2008; 2010 e 2013; Levine, 2007; Offen, 1988; 2000; Harvey, 1998; Lovenduski
(2005); Sawer, 2011; entre outros). Outros estudam a importância dos movimentos feministas
no processo de emancipação feminina através da mudança de consciência na sociedade
(Gurin, 1985; Kollman, 1998).
Harvey (1998) estuda a forma como os partidos políticos e os candidatos mobilizavam as
mulheres, enquanto grupo social, em seu benefício, durante o processo eleitoral. Outros
autores estudam os fatores estruturais baseados nos recursos. Nesta teoria, analisam-se as
dificuldades que as mulheres enfrentam como consequência dos seus níveis baixos de
desenvolvimento social e económico, incluindo tempo e dinheiro para as ocupações em
atividades políticas, tais como, ocupações profissionais e de chefia, e para se apresentarem
como candidatas políticas, etc. (Togeby, 1994; Burns et al, 2001; Scholzman et al, 1994 e
1995; Burns et al, 2001 e 2002).
2.2 Género: Participação política e atitudes políticas
Numa perspetiva global, importa salientar a existência de um manancial de publicações (em
livros, artigos, capítulos de livro, etc) que centram a sua análise na temática do gender gap.
Como por exemplo, o livro editado por González et al. (2000), Gender Inequalities in
Southern Europe: Women, Work and Welfare in the 1990s, que aborda as mudanças e
continuidades nos sistemas de provisão social, as configurações de famílias e de lares, a
divisão de trabalho de género, os padrões de emprego e a participação política feminina nos
quatro países da Europa do Sul. Guadagnini (2005) e Valiente (2005) analisam a influência
que as organizações feministas tiveram no processo de empoderamento da participação de
mulheres em órgãos de decisão política em Espanha e Itália. Destaca-se, também, o papel das
organizações feministas no processo da emancipação de mulheres em toda esfera social nos
países da Europa do Sul (Offen, 2000; Cova, 2008-2013; Frangoudaki e Keyder, 2007; entre
outros). Jiménez (2009) analisa a participação das mulheres nos partidos conservadores em
Portugal e Espanha, designadamente, no Partido Popular Democrático-Partido
Social-Democrata (PPD-PSD, Portugal) e na Alianza Popular-Partido Popular (AP-PP,
11
Espanha), explorando os fatores que podem explicar o aumento da sua participação nestes
partidos e as suas consequências.
Os estudos sobre as desigualdades de género nas atitudes e comportamentos políticos na
Europa do Sul tendem a ser poucos explorados (Vassalo, 2006; Giger, 2009). Não obstante,
verificam-se algumas pesquisas realizadas no âmbito de estudo de caso (Bull, 1997; Morales,
1999; Baum e Espírito-Santo, 2004; Corbetta e Cavazza, 2008; entre outros). Outros, apesar
de estudos de caso, centram a sua análise numa perspetiva comparativa europeia (Baum e
Espírito-Santo, 2007; Viegas e Faria, 2001). Nalguns casos, as novas democracias do sul são
analisadas ao nível comparativo regional europeu (Topf, 1995a e 1995b; Coffé e Bolzendahl;
2010; Marien et al, 2010), ou, são examinadas ao nível global (Karp e Banducci, 2008;
Espírito-Santo, 2011; Kittilson e Schwindt-Bayer, 2012).
Porém, assinala-se o estudo comparativo de Tània Verge (2013) que procura analisar o
impacto do sistema de adoção de quotas no processo de seleção de mulheres em cargos
políticos elegíveis, nomeadamente, em Portugal, Grécia e Espanha. Além das investigações
apontadas no ponto anterior e da investigação qualitativa de Tània Verge, não foi possível
encontrar outro estudo que centre a sua atenção exclusivamente na Europa do sul.
Coincidentemente, são poucos os autores que procuram explorar a ação política de mulheres e
homens na Europa do sul ao longo dos tempos (Topf, 1995a e 1995b; Baum e Espírito-Santo,
2007). Neste sentido, os dados precisam de ser atualizados.
É nesta perspetiva que se procura analisar as desigualdades de género nas atitudes políticas
e na participação política, comparando os países entre si, numa perspetiva longitudinal, e,
pontualmente, comparando-os com os países da Europa do norte, central e ocidental e Europa
do leste.
No que toca à participação política, Laura Morales (1999) analisou várias formas de
participação política (convencionais e não convencionais). Em termos gerais, Morales
concluiu que a desigualdade de género na participação política é bastante significativa em
Espanha. A autora percebeu que a desigualdade de género é maior nas organizações políticas
tradicionais e nos partidos políticos, onde a participação de homens é três vezes superior à de
mulheres. No que respeita à participação não convencional, são poucas as diferenças em
atividades como assinar uma petição e participar em demonstrações ou protestos. E, verifica o
desaparecimento total das desigualdades de género na participação eleitoral.
Com base em metodologia comparativa, no seu estudo longitudinal, Topf (1995a) e Baum
e Espírito-Santo (2007) comprovaram também o desaparecimento significativo das
desigualdades de género na participação eleitoral em Portugal (em especial) e em toda Europa
12
do sul. Quando procuraram analisar as desigualdades de género além do voto (ser membro de
um partido, convencer alguém a votar, colaborar com um partido, contactar um político),
Baum e Espírito-Santo (2007) notaram que até 1988 a desigualdade de género era
significativa, sendo os homens mais participativos, tendência que em 2002 entrou em
declínio. No que toca à participação não convencional (aderir a greves, ocupar edifícios ou
fábricas, participar em manifestações legais, assinar petições), observa-se que, a partir de
1999, as desigualdades de género tornaram-se menos significativas e nos casos onde haja
diferenças significativas, estas são ligeiras. Antes, em 2004, Baum e Espírito-Santo tinham
aferido desigualdades de género ligeiras ao nível da participação eleitoral, opções partidárias e
outras formas de participação política convencional em Portugal. Mas, quando se transpusesse
para as atividades não convencionais, as desigualdades de género eram bastante significativas.
No seu estudo ao nível regional da UE, Francesca Vassalo (2006) demonstra que Portugal,
Espanha e Itália apresentam, consistentemente, fracos níveis de ativismo nas atividades
eleitorais e atividades não convencionais da participação política. Por sua vez, Marien et al.
(2010) e Coffé e Bolzendahl (2010) não detetaram diferenças entre mulheres e homens nas
atividades políticas eleitorais em Portugal e Espanha, mas verificaram diferenças
significativas e ligeiras na participação política convencional e não convencional nestes países
em análise.
No que tange aos estudos intrínsecos às atitudes políticas, procurando analisar a relação
histórica entre nações fortemente influenciadas pelo Catolicismo ou Protestantismo em oito
democracias europeias, Margareth Inglehart deteta que em países predominantemente
católicos, incluindo Itália, as mulheres tendem a discutir e a interessar-se pela política
significativamente menos do que os homens – sendo essas diferenças consistentes (Inglehart,
1988). Recentemente, em estudos semelhantes, Laura Morales e Michael Baum e Ana
Espírito-Santo, observaram resultados idênticos em Portugal e em Espanha, respetivamente,
pese embora estes indivíduos (portuguesas e portugueses e espanholas e espanhóis)
apresentem níveis de interesse e discussão política fracos (Morales, 1999; Baum e
Espírito-Santo, 2007: 126-7). Quando comparado com o resto da Europa, mesmo assim, a
média das portuguesas e portugueses parecia mais baixa (Baum e Espírito-Santo, 2007:
126-7).
No que diz respeito ao consumo de informação política através dos media, Baum e
Espírito-Santo encontraram um fosso maior entre mulheres e homens, em Portugal, cuja
tendência era alargar-se à medida que o tempo ia avançando (Baum e Espírito-Santo, 2007:
129-30). Estudos prévios em Espanha e em Portugal, já tinham revelado diferenças de género
13
significativas, mas ligeiras (Morales, 1999; Baum e Espírito-Santo, 2004). Baum e
Espírito-Santo (2004: 284-6) assinalaram diferenças significativas e consistentes do género ao
nível de sentimento de eficácia política, mas, curiosamente, não encontraram nenhuma
diferença ao nível da confiança nas instituições políticas.
Dado o objetivo desta pesquisa, que é averiguar até que ponto a crise económica teve um
impacto na participação política e atitudes políticas nas diferenças de género nos países da
Europa do Sul, é interessante ver como é que a literatura tem tratado o fenómeno da crise
económica. Assim, no ponto a seguir, pretende-se fazer uma revisão de literatura no campo da
Ciência Política sobre o impacto da crise económica nas atitudes e comportamento político.
Como se pode observar, constatou-se que não existem muitas pesquisas sobre a
desigualdade de género na participação política e atitudes políticas em perspetiva comparada
e longitudinal nos quatros países do Sul da Europa, podendo ser este o primeiro.
De realçar, também, que, apesar de só recentemente ser enquadrado na ciência política, o
estudo de género é uma área de pesquisa que tem sido, frequentemente, analisada nos quatro
cantos do mundo (desde África até a Ásia) e com uma longa tradição nos Estados Unidos da
América.
2.3 Influência da crise na desigualdade de género nas atitudes e
participação política
Ainda não existem evidências claras que afirmem que a crise tende a estimular ou não o maior
ou menor grau de envolvimento na ação política (Häusermann et al. 2013; Kern et al., 2015:
465). Neste sentido, essa afirmação parece ambivalente. Por um lado, os autores afirmam que
em tempo de crise as pessoas sentem-se mais motivadas a expressar as suas necessidades e
desejos nas urnas devido à sua indignação face ao estado da economia – efeito de mobilização
(Scholzman e Verba, 1979: 12-19). Por outro lado, Rosenstone (1982) afirma que, em tempo
de crise, as pessoas não se sentem motivadas para votar, porque a falta de recursos financeiros
deixa-as desinteressadas pelo processo eleitoral – efeito de rejeição. Esta última afirmação
parece verdadeira, à luz do atual momento que os países do Sul da Europa enfrentam. Por
exemplo, nas eleições realizadas durante o período de (2010-2011), estes países registaram
uma elevada taxa de abstenção eleitoral (Espanha, 74% a 69%, Itália, 81% a 75% e Grécia
mais de 71% a 63%, respetivamente) (Glais e Blais, 2014: 1).
14
Como referido, a crise económica que se tem vivido na Europa, com enfoque aos países do
sul do continente, despoletou um conjunto de estudos em várias áreas das ciências sociais. A
crise económica não só alterou toda a conjuntura social e económica, como também o
discurso e a prática da elite política e, em especial, alterou o processo da participação política
dos países mais afetados, nomeadamente, Portugal, Grécia, Espanha e Itália (Bosco e Verney,
2012; Freire et al, 2014 e 2015; Magalhães, 2014; entre outros4). Essas mudanças devem-se
ao facto de as questões económicas (emprego, segurança social, impostos, cortes salariais,
etc.) fazerem parte do programa político (Scholzman e Verba, 1979:1; Viegas et al, 2015:
198).
Atualmente, a atenção concernentemente à participação política está muito virada para os
efeitos (mudanças económicas, sociais e culturais que se começaram a manifestar nas últimas
décadas do século XX até ao século XXI)5 da crise económica nestes comportamentos
(Viegas et al, 2015: 195). Alguns autores têm destacado o envolvimento em manifestação nas
faixas etárias mais elevadas e mais jovens, maior número de cidadãos das classes médias
envolvidas, entidades organizadoras das manifestações públicas, aparições de grupos
espontâneos da sociedade civil a par de outras manifestações dinamizadas por organizações
reivindicativas tradicionais (Hooghe, 2012; Baumgarten, 2013; Fernades, 2015).
Estudos locais e internacionais relacionados com o efeito da crise económica na
participação política têm enfatizado que, em tempos austeros da economia, as pessoas
participam menos na vida política, responsabilizando os líderes políticos e os autores têm
chamado à atenção para o declínio de participação nas formas eleitorais, convencionais e
comunitárias e um aumento considerável da participação nas formas não convencionais da
atividade política (Bartels, 2012; Lewis-Beck e Nadeau, 2012; Lobo e Lewis-Beck, 2012;
entre outros).
Outros estudos recentes identificaram um aumento de todas as formas de participação
política. No que toca à participação institucional política, “contactar com um político” revelou
valores significativos na ordem dos 5% a 9%. O valor para a “colaboração com organização
social ou cívica” é expressivo (19%), embora não seja considerado efeito da crise, uma vez
que estudos anteriores já dispunham dos mesmos resultados. No âmbito da participação
política não institucional, também se verificaram acréscimos significativos dessas
modalidades, que foram visíveis nas petições (de 21% para 31%), nas manifestações públicas
4 Para uma revisão alargada sobre o impacto da crise económica no processo político pode ver os
livros organizados/editados por Freire et al, 2015 e 2015b; Magalhães, 2015; Voicu et al, 2016. 5 Sobre este assunto, ver Inglehart, 1977; Norris, 1999.
15
(12% para 24%) ou nas greves legais (de 11% para 25%) (Viegas et al., 2015; ver também
Chryssochou et al, 2013 e Freire et al., 2015: cap. 9).
No que diz respeito aos estudos de género, destaca-se o livro editado por Karamessini e
Rubery (2013) que analisa o impacto da crise económica nas desigualdades de género,
relativamente às políticas de austeridade e de consolidação fiscal. Estas incluíram, no curto
prazo, medidas de restrição e, a longo prazo, reformas estruturais e institucionais e no âmbito
das políticas de emprego, rendimento e políticas sociais. Nesta obra, os autores concluíram
que a crise económica baixou a taxa de emprego em ambos sexos e aumentou a taxa de
desemprego. E, com a implementação das políticas de austeridade em todos países em análise,
procurou-se reduzir o emprego ou mudar as condições de trabalho no setor público, como
resultado das políticas de específicas de diminuição de postos de trabalho, como por exemplo,
o regime de reformas antecipadas (para as mães na Grécia), congelamento de carreiras (nos
quatro países da Europa do sul), reduçaõ da proteção legal, incluindo estabelecimento de
entrada inferiores ao mínimo para jovens no setor privado (na Grécia e Itália).
Há, no entanto, outros estudos que, embora não sendo especificamente sobre género,
analisaram brevemente as consequências da crise económica na participação entre mulheres e
homens nas atividades políticas. Um estudo feito em 26 países membros da UE, incluindo
Portugal, Grécia e Espanha, sobre a crise económica atual demonstrou que os homens são
mais participativos nas formas convencionais da participação política do que as mulheres.
Enquanto as mulheres envolvem-se mais do que os homens nas formas não convencionais de
participação política (Kern et al, 2013). Noutro estudo sobre a participação eleitoral em 22
países membros da UE, incluindo Portugal, Grécia e Espanha, que avalia também o impacto
da crise económica nestes países, verificou-se um aumento significativo e forte na
probabilidade de voto das mulheres em comparação com os homens (1.30 rácio de
probabilidade), ou seja, os resultados sugerem, portanto, que a crise económica inverteu a
vontade tradicional de os homens votarem maioritariamente do que as mulheres (Häusermann
et al, 2013). Viegas et al. avaliaram o impacto da crise económica na participação política em
Portugal e não verificaram diferenças significativas na variância entre mulheres e homens nas
suas formas convencionais e não convencionais, durante esse período de austeridade
financeira (Viegas et al, 2015).
Relativamente às atitudes políticas, observou-se que a crise económica que assolou a
Europa levou a uma quebra de confiança nas instituições políticas destes países, sobretudo
nos países mais afetados: Portugal, Grécia, Espanha e Itália, só para mencionar alguns
(Armingeon e Ceka, 2013; Belucci, 2014; Braun e Tausendpfund, 2014). Quanto à questão de
16
género, a crise não revelou efeito significativo na confiança em instituições políticas entre
homens e mulheres (Armingeon e Ceka, 2013; Braun e Tausendpfund, 2014). Siemieʼnska
identificou que, em tempo de crise económica, as mulheres demonstram pouco interesse,
passando a envolver-se menos na política do que os homens (Siemieʼnska, 1985: 339-40).
2.4 Estudos da socialização política
A socialização política, enquanto área de investigação6, é marcada por dois grandes
momentos: o primeiro momento é a literatura emergente na década de 1950 a 1960, enquanto
o segundo consiste na literatura pós década de 1960.
2.4.1 Voltando à base
O reconhecimento da socialização política como área de investigação foi lento e faseado. É,
precisamente, em 1954 que o termo socialização política ganha notoriedade através do
capítulo “The Psychology of Voting”, do politólogo Seymour M. Lipset, publicado no livro
The Handbook of Social Psychology. Lipset centrou a sua análise na participação eleitoral. A
análise sugeria que o estudo dos processos de desenvolvimento onde o indivíduo adquire
identidade, crença, valores, atitudes e padrões políticos poderiam ser aplicados em várias
etapas da vida política7 (Greenstein, 1965: 7; Wasburn e Covert, 2017: 3).
Em 1959, Herbert Hyman lança, nos EUA, a obra Political Socialization: A Study in
Psychology of Political Behavior. O estudo avalia a importância da família no processo de
aprendizagem política de crianças, raparigas e rapazes. Segundo o autor, este estudo não
analisa diretamente o processo de socialização ou de aprendizagem, mas procura perceber se
as experiências vividas na infância deixam a sua marca e se, em parte, poderão ser
responsáveis pelos padrões políticos na vida adulta (Hyman, 1959: 29). Hyman categorizou a
socialização política em cinco dimensões: família, media, comunidade, escola e grupos de
6 Nos EUA, a socialização política foi traçada, dentro da própria ciência política, como uma disciplina
académica (Greenstein, 1965: 6; Sapiro, 2004). 7 “While the chapter in which it was used focused on voting, discussion clearly suggested that the
study of the developmental processes by which individuals acquire political identities, beliefs,
values, attitudes, and patterns of behavior could be applied to many other features of political life”
(ver Wasburn e Covert, 2017: 3).
17
pares. Na mesma linha de pesquisa, também se pode salientar a obra clássica de Fred I.
Greenstein, Children and Politics, (1965).
A partir da década de 1960, as pesquisas sobre socialização política caraterizaram-se por
alguns momentos mais ou menos produtivos ao nível de publicações em artigos e livros, isto
é, houve momentos de estagnação e outros de progresso (Wasburn e Covert, 2017: 3). É,
principalmente, em 1968 que o tema da socialização política ganha maior notoriedade, tendo
sido registada como especialidade de mais de setecentos investigadores nos EUA e Canadá
(Greenstein, 1970: 969). De acordo com alguns autores, com a crescente literatura, as
pesquisas relacionadas com a socialização política tornaram-se mais complexas (Greenstein,
1965: 10; Gimpel et al, 2003: 7).
Em 1968, no seu artigo “The Major Problems of Political Socialization Research”, Jack
Dennis aponta os dez maiores problemas que a recente literatura enfrenta8: a relevância do
sistema de socialização política; variedades de conteúdo de socialização política; socialização
política ao longo do ciclo de vida; socialização política entre gerações; aspetos interculturais
da socialização política; variação de subgrupos e subculturas; o processo de aprendizagem
política; os agentes e agências de socialização política; a extensão e efeitos relativos da
socialização política em diferentes indivíduos; e a socialização política especializada
(sobretudo, as elites).
Ultimamente, têm surgido inúmeros estudos ligados à socialização política, muito
inspirados nos estudos iniciais, sobretudo de Hyman (1959) e Greenstein (1965).
Basicamente, a literatura emergente procura focar-se em matérias, tais como, cidadania e
educação democrática, identificação partidária, mudanças e continuidades no percurso de vida
geracional, género e/ou questões étnicas na socialização política, entre outros tópicos (ver
Sapiro, 2004: 4).
Nestas linhas de pesquisa, pode-se destacar os estudos ao nível macro e micro, conduzidos
por Torney-Purta e seus colaboradores (1999 e 2001). Estes procuravam perceber o papel dos
agentes de socialização política, especialmente a escola, na transformação dos jovens em
agentes cívicos e membros proativos da sociedade. Outros investigadores avaliam o processo
de socialização política dos indivíduos ao longo da vida (Sears e Levy, 2003; Wasburn e
Covert; 2017), analisam adolescentes, raparigas e rapazes, no sentido de averiguar que valores
são transmitidos pela mãe e pelo pai (Schmid, 2012) e pesquisam a influência dos familiares
8 They are the basic problems around which much recent research has tended to become organized,
even though the literature fails to provide any coherent, explicit, elaborate and precise statement of
them (Dennis, 1968: 88).
18
nas atividades políticas (participação política, conhecimento e envolvimento político) das suas
filhas (Gidengil et al, 2010). Numa perspetiva comparada, Mayer e Schmidt (2004) analisam
o efeito da família como agentes de socialização das atitudes e comportamentos políticos de
raparigas e rapazes. Cross e Young (2008) investigam os fatores que influenciam os jovens a
fazer parte ou não de um partido político. Hooghe e Wilkenfeld (2008) procuram examinar as
atitudes e comportamentos políticos de adolescentes em 20 países europeus. Alguns autores
dissecam o papel da família no processo de ensino/aprendizagem da política de adolescentes,
jovens, mulheres e homens (Beck e Jennings, 1991; Verba et al., 2003).
19
Capítulo III – Hipóteses e Fundamentação de Hipóteses
3.1 Hipóteses
Relativamente às hipóteses do estudo, estas centrar-se-ão em dois grandes momentos: o
primeiro focar-se-á na evolução das atitudes políticas e participação política do género
ao longo do tempo (análise longitudinal); o segundo, focar-se-á no impacto da crise
económica nas desigualdades de género nas atitudes políticas e na participação política.
A parte que analisa a socialização política não inclui hipóteses por se tratar de um
estudo exploratório.
3.2 Participação política e atitudes políticas ao longo do tempo
(1985-2014)
Os países da Europa do sul partilham traços comuns no que diz respeito ao papel de
género e à rápida transformação do papel da mulher na sociedade, que se notabilizou,
principalmente, nas últimas duas ou três décadas (González et al, 2000: 4 e 11). O fim
dos regimes autoritários nos países da Europa do sul trouxe consigo benefícios
sociopolíticos aos cidadãos desta região, uma vez que foram melhorados os modelos de
Estado providência que eram praticamente inexistentes nos antigos regimes, dando
às/aos cidadãs/ãos novos direitos sociais para além dos direitos civis e políticos (Freire e
Kivistik, 2015: 6). As consequências do processo de liberalização democrática foram
particularmente marcantes para as mulheres que adquiriram o direito ao voto, entraram
massivamente no mercado de trabalho assalariado, passaram a obter mais oportunidades
ao nível formativo, etc. Segundo Inglehart e Norris (2000: 446), estas grandes mudanças
na vida das mulheres poderão ter influenciado o comportamento político de mulheres e
homens nas sociedades pós-industriais. Alguns estudos demonstram uma correlação
significativa entre participação eleitoral feminina e a entrada de mulheres no mercado
de trabalho assalariado (Togeby, 1994).
Há várias razões avançadas para explicar a igual participação de mulheres e homens
nas atividades de voto. As mulheres acompanham com muita atenção os programas
eleitorais dos candidatos que apresentam propostas de aperfeiçoamento do
20
Estado-providência. A organização do próprio sistema eleitoral também pode permitir
uma grande afluência de mulheres às urnas (Topf, 1995a: 31 e 46; Inglehart e Norris,
2003: 109; Campbell, 2004-2012), ou seja, sistemas eleitorais mais inclusivos e com
normas representativas (quotas, por exemplo) como o sistema proporcional tendem a
atrair mais mulheres às urnas do que outros sistemas (Kittilson e Schwindt-Bayer, 2012:
73-4).
Alguns estudos diacrónicos têm apontado o declínio significativo das diferenças de
género na participação eleitoral a partir dos finais do século XX (Inglehart e Norris,
2003:107-10). Outros, numa perspetiva local (Portugal) e internacional (Europa,
incluindo-se os quatro países do sul)9 têm assinalado a não existência de diferenças
significativas de género ao nível da participação eleitoral, sobretudo a partir da década
de 1980 (Topf, 1995a: 47; Baum e Espírito-Santo, 2007), sendo que, por vezes, as
mulheres chegam a participar mais do que os homens (Topf, 1995a: 47). Daqui, advém
a primeira hipótese deste estudo:
H.A1 - É expetável que, desde a obtenção do direito pleno de voto, as mulheres do sul
da Europa tenham participado com a mesma intensidade que os homens nas formas de
participação eleitoral. Ou seja, não se espera encontrar diferenças de género em nenhum
momento em análise;
Se por um lado, as mulheres passaram a beneficiar de todos os direitos fundamentais,
tal como os homens, por outro, essas conquistas não garantiram a igualdade plena. Por
exemplo, no âmbito económico, as mulheres detêm salários relativamente mais baixos
do que os homens, estando, sobretudo, concentradas no “setor agrícola (mal pago)” e
noutros igualmente precários e informais. Para além disso, são elas as principais
responsáveis pelo trabalho doméstico, o que se traduz numa dupla jornada laboral
quando comparadas com os homens (González et al, 2000: 22; Karamessini e Rubery,
2013). No âmbito político, apesar de, recentemente, os países da Europa do sul terem
começado a adotar sistemas de quotas como forma de garantir a presença de mulheres
na esfera política, as mulheres nestes países continuam sub-representadas ao nível dos
9 Esta pesquisa procura fazer a sua análise a partir da década de 1960 até ao princípio da década
de 1990. Em Portugal, Espanha e Grécia a análise é feita a partir dos meados da década de
1980, enquanto em Itália a análise é feita desde 1960.
21
órgãos superiores da política (Viegas e Faria, 2001: 2; Baum e Espírito-Santo, 2012;
Verge, 2013).
Um dos elementos que ressalta do habitual exercício da caracterização panorâmica
das sociedades mediterrâneas é a profunda e paradoxal transformação pela qual tem
passado a condição feminina, que se destaca por grandes progressos numas áreas e
défices consideráveis noutras (Ferreira, 2000; Viegas e Faria, 2001: 16; Karmessini e
Rubery, 2013). Ilustrando-se a entrada massiva da mulher no mercado de trabalho e a
sua ambiguidade em termos do seu posicionamento ao nível do topo ministerial ou das
empresas. Em média, desde os finais da década de 1990 até ao presente, elas apresentam
níveis de escolaridade mais elevados do que os homens10, em contraste, continuam a
apresentar taxas de desemprego relativamente mais altas do que a dos homens11. Tal
como noutras sociedades europeias pós-industriais, as jovens mulheres da Península
Ibérica constituem atualmente a maioria entre a população com educação superior12.
No entanto, toda a transformação cultural que acompanhou e, em parte, apoiou a
mudança da situação das mulheres nestas sociedades, não desvalorizou a função da
maternidade, passando a ser compatível – acumulável – com o trabalho fora de casa.
Assinalando três consequências importantes: a primeira é a conquista de uma garantia
de autonomia e segurança pessoal, que deriva do facto de a mulher auferir um salário e
um conjunto de outros direitos conexos, ultrapassando, de algum modo, a sua condição
de dependência em relação ao homem, até aí quase sempre o “ganha pão” de casa; a
segunda consequência ultrapassa a fronteira da domesticidade já que, a mulher, ao ter
acesso ao espaço público e ao que nele é disponibilizado – educação e emprego,
nomeadamente –, para além de ver o seu campo de liberdade alargado, consegue não só
que a sua dignidade adquira maior dimensão, mas também que esta dignificação tenha
tradução cívica evidente (Viegas e Faria, 2001: 17).
De modo geral, a estrutura familiar, o modo como são (ou não) divididos os
trabalhos domésticos, a estrutura de classes sociais, o estatuto cívico das mulheres e dos
homens e as suas respetivas concretizações, os traços culturais, a estrutura económica, o
10 Disponível em Pordata: http://www.pordata.pt/DB/Europa/Ambiente+de+Consulta/Tabela
(acedido a 26. 04. 2017). 11 Disponível em Eurostat:
http://ec.europa.eu/eurostat/statisticsexplained/index.php/Unemployment_statistics. (acedido
a 10.01.2018). 12 Disponível em Pordata: http://www.pordata.pt/DB/Europa/Ambiente+de+Consulta/Tabela.
(acedido a 26.04.2017).
22
modelo do mercado de trabalho, as políticas de apoio à família e à maternidade, etc. são
determinantes que, entre outros, podem (ou não) condicionar também o modo e as
hipóteses de passagem para o exercício da atividade política (Viegas e Faria, 2001: 16).
Verifica-se que nas sociedades pós-industriais, os estudos têm apontado para o
declínio das desigualdades de género no que concerne à participação convencional
(Scholzman et al, 1995; Burns et al, 2001: 61-99; Norris et al., 2004; entre outros). Na
Europa do sul, os resultados observados tendem a variar consoante a época e o local,
isto é, em Espanha, por exemplo, o estudo de Laura Morales (1999: 232) verificou
diferenças significativas na participação política convencional nos anos 90, onde as
mulheres revelaram-se menos participativas do que os homens. Resultados que também
foram alcançados em pesquisas internacionais mais recentes, sobretudo, nos países do
sul da Europa (Gallego, 2007; Coffé e Bolzendahl, 2010), enquanto Baum e
Espírito-Santo (2007: 137-8), no seu estudo longitudinal, deram conta de uma tendência
para o declínio das diferenças significativas de género a partir da década de 1980 até ao
final da década de 1990 e de um total desaparecimento das mesmas a partir do início do
novo milénio.
Tem sido dito que o conhecimento político influencia a participação das/dos
cidadãs/ãos de várias formas. Por um lado, promove a participação e o envolvimento na
política, ou seja, o conhecimento político é a chave central para compreender as atitudes
e comportamentos políticos. Por outro lado, o conhecimento político habilita as/os
cidadãs/ãos a compreender o mundo da política (Delli Carpini e Keeter, 2000: 23), mas
as mulheres apresentam níveis mais baixos de conhecimento e informação política do
que os homens (Delli Carpini e Keeter, 1992-2000; Dolan, 2011). Assim, apesar de
Baum e Espírito-Santo terem verificado o desaparecimento das desigualdades de
género, pela razão acima mencionada, espera-se que:
H.A2 – Apesar dos efeitos da modernidade, é expetável que diferenças significativas de
género na participação convencional persistam ao longo do tempo nos países da
periferia europeia;
O alcance dos direitos e garantias fundamentais das mulheres nas sociedades
industriais avançadas não foram obtidos sem alguma reivindicação social. Este espaço
foi conquistado através dos movimentos feministas que foram surgindo a partir da
“Primeira Vaga do Feminismo” no mundo ocidental, onde se enquadram Portugal,
23
Espanha, Grécia e Itália. A maioria dos movimentos feministas Europeus emergiu nos
finais do século XIX e inícios do século XX e atingiu o pico no auge da Primeira Guerra
Mundial, um período considerado a “belle époque” do feminismo (Cova, 2010: 596).
Porém, as associações de mulheres no sul da Europa constituem uma fonte privilegiada
para tornar visíveis as preocupações das mulheres num período em que não tinham
direito a quase nada (Cova, 2008: 583).
Nos quatro países da Europa do sul, durante os regimes autoritários, foram várias as
organizações feministas que se debateram sobre a forma desprezível como as mulheres
eram tratadas na sociedade e que procuravam alcançar para as mulheres os mesmos
direitos e liberdades que os homens. Estes conselhos de mulheres nasceram sob o
impulso de uma organização internacional americana, International Council of Women
(ICW), em 1888, com o objetivo de «stimulate the sentiment of internationalism among
women throughout the World», a fim de tentar construir uma identidade coletiva das
mulheres (Cova, 2008: 583). No sul da Europa, foram quatro os Conselhos que tiveram
maior visibilidade social e política em cada um dos seus países: Conselho Nacional das
Mulheres Portuguesas (CNMP, fundado em 1914), Conselho Nacional das Mulheres
Italianas (CNMI, fundado em 1903), Conselho Nacional das Mulheres Espanholas
(CNME, fundado em 1918) e Conselho Nacional das Mulheres Gregas (CNMG,
fundado em 1896). Os programas dos conselhos nacionais eram muito abrangentes, de
modo a suscitar o máximo de adesões possível. Assim, o CNMP queria incluir
federações que “se ocupam da mulher e da criança”; CNMI pretendia “elevar as
mulheres ao nível intelectual, moral e material, de modo a capacitá-las a contribuir mais
efetivamente para o progresso harmonioso da família e da sociedade em geral; o CNMG
procurava alistar o maior número possível de organizações femininas do país; enquanto
em Espanha, durante o período franquista subsistiram apenas associações de mulheres
franquistas e católicas (Offen, 2000; Cova, 2008: 599; 2010; Frangoudaki e Keyder,
2007: 162). Isto não significa que em Espanha não existissem organizações femininas
antirregime durante essa época. Destacam-se o próprio CNME, Cruzada de Mulheres
Espanholas e Liga Internacional de Mulheres Ibéricas e Hispano-americanas (Offen,
2000: 321).
Com os efeitos da modernização, as mulheres têm tentado envolver-se cada vez mais
nas organizações públicas (por exemplo, nos partidos políticos, movimentos de
reivindicação, etc.) de modo a alcançar direitos mais igualitários. As mulheres e os
homens têm-se engajado em conjunto nas ações coletivas para alcançarem mais e
24
melhores serviços de assistência sociais para os membros familiares (González, 2000:
30).
Cada vez mais, os protestos revelam-se canais alternativos de manifestação pública
dos cidadãos (Dalton, 2009), uma vez que os protestos evidenciam um profundo
sentimento de frustração, fúria e alienação, não apenas com os governantes políticos ou
com determinadas questões sociopolíticas, mas também com o sistema político (Norris,
1999; Pharr e Putnam, 2000). Nalguns casos, estas atividades são violentas, pois
caraterizam-se pela destruição ou danificação de edifícios e marchas ilegais (Norris et
al., 2006: 304).
Os estudos têm declarado o desaparecimento das desigualdades de género devido aos
efeitos da modernidade, isto é, através da entrada massiva das mulheres no mercado de
trabalho e através do surgimento de novas questões ligadas ao papel do género,
tornando as mulheres mais vocacionadas a participar neste tipo de atividades. Por
exemplo, as mulheres tendem a participar em protestos realizados por organizações sem
fins lucrativos, em setores que normalmente empregam muitas mulheres (enfermagem,
assistente de enfermagem e assistente de geriatria), em marchas que visam atacar as
falhas do sistema judicial em solidariedade para com os pais cujos filhos foram
assassinados (Aelst e Walgrave, 2001: 474-6; ver também Espírito-Santo, 2011: 97).
As pesquisas empíricas têm apresentado vários resultados. Por exemplo, nos EUA e
na Bélgica, Burns et al. (2001: 64-5) e Aelst e Walgrave (2001: 474-6) não verificaram
diferenças significativas de género. Norris et al. (2004: 26) ao analisar três atividades
não convencionais no Reino Unido obtiveram resultados mistos. Observaram diferenças
significativas entre mulheres e homens (com as mulheres a participarem mais) no que
respeita a “assinar uma petição”; não encontraram diferenças significativas em relação a
“boicotar certos produtos”; e obtiveram diferenças significativas (com os homens a
participar mais) quando se tratava de “demonstração ou marcha”. Já nos territórios
Ibéricos, em síntese, os autores observaram diferenças significativas de género nas
várias formas de participação não convencional (Morales, 1999: 232; Baum e
Espírito-Santo, 2004: 273 e 277). Três anos depois, fazendo uma análise longitudinal,
Baum e Espírito-Santo (2007: 142-3) verificaram que as desigualdades de género nas
formas não convencionais passaram a ser cada vez menos significativas a partir dos
finais da década de 1990 e, nos casos em que se encontravam diferenças significativas,
estas eram muito ligeiras. Visto desta forma, é expetável que as diferenças de género
nestas formas de participação tenham continuado a diminuir, pelo que:
25
H.A3 - Espera-se que a partir do início do novo milénio, apesar das desigualdades de
género na participação não convencional persistirem, estas sejam ligeiras nos países da
Europa do sul;
As atividades comunitárias, como toda a atividade política, tendem a ser exigentes do
ponto de vista do tempo, do dinheiro e das competências cívicas13 que requerem (Burns
et al, 2001: 249; Verba et al, 1995). Em geral, a proteção social nos países da Europa do
sul tende a ser débil em serviços tais como cuidados relacionados com as crianças e
assistência aos idosos, se comparada com os países nórdicos. A assistência,
normalmente, é dirigida aos trabalhadores (estáveis) do setor formal (maioritariamente
homens) (González et al, 2000: 26 e 27). As falhas do Estado mencionadas fazem com
que haja pouca disponibilidade de tempo e dinheiro para as mulheres participarem nas
atividades comunitárias.
Segundo Putnam (2000: 194), trabalhar fora de casa tem dois efeitos opostos no
envolvimento dos indivíduos na comunidade. Por um lado, aumenta a sua rede de
contacto, o que lhe permite conhecer novas pessoas. Por outro, reduz o tempo para
aproveitar estas oportunidades. Neste contexto, as mulheres tendem a participar menos,
sobretudo as mães solteiras (Putnam, 2000: 195). Quando comparadas entre si, algumas
formas de envolvimento comunitário tendem a registar um aumento da participação de
mulheres que entram/estão no mundo laboral e um declínio no grupo das mães solteiras
(Putnam, 2000: 195-6).
Todavia, estudos realizados nos EUA têm constatado que há diferenças significativas
de género e que as mulheres se mostram menos propensas a participar nas atividades
comunitárias do que os homens (Scholzman et al, 1995; Conway, 2000: 36; Burns et al,
2001: 65). Por isso:
H.A4 - Espera-se encontrar diferenças significativas de género na participação
comunitária na Europa do sul, onde as mulheres são menos ativas do que os homens da,
ao longo dos tempos;
Tem sido referido que quanto maior for o número de mulheres ao nível parlamentar,
maior é o interesse de as mulheres em se envolverem na esfera política (Kittilson e 13 Capacidades comunicativas e organizativas que permitem aos indivíduos usar, efetivamente,
tempo e dinheiro na esfera política (Verba et al, 1995: 305).
26
Schwindt-Bayer, 2012: 58). Paradoxalmente, numa fase em que as questões relativas à
legitimidade democrática nas sociedades industriais avançadas, atingiu o auge no que
diz respeito à estabilidade e à qualidade das democracias estabelecidas, cresceu também
o descontentamento político, o declínio das atividades cívicas e do ativismo político.
Isto, (sobretudo, mas não exclusivamente) entre os cidadãos americanos e europeus,
pelo menos a partir da década de 1970 (Inglehart e Catterberg, 2002:301-2; Putnam e
Goss, 2002: 4; Belchior, 2015: 12), considerando-se os jovens e as mulheres aqueles
que revelam maior “apatia” política (Norris, 2002: 8; van Deth, 2003: 256; Baum e
Espírito-Santo, 2007).
Tem sido referenciado que o envolvimento político promove a ligação das/dos
cidadãs/ãos ao processo democrático. Entre as/os cidadãs/ãos, os envolvidos moldam o
debate em torno de questões relevantes e lideram a opinião pública (Kittilson e
Schwindt-Bayer, 2012: 26). Os envolvidos são também aqueles que mais propensos
estão para participar nas atividades políticas (Viegas et al., 2015). Portanto, é no
envolvimento político que se continuam a verificar fortes diferenças de género
(Morales, 1999; Kittilson e Schwindt-Bayer, 2012; entre outros). O envolvimento
político de mulheres na Europa ocidental pode refletir as atitudes históricas perante as
mulheres em cada nação. Países cujas histórias se cruzam com um passado de
instituições autoritárias, de natureza clerical ou militarista, como nos países do sul da
Europa, as mulheres tendem a interessar-se e a discutir menos assuntos relacionados
com a política (Inglehart, 1981). Pois, o clero e as ditaduras tendem a retardar a
igualdade política com uma concentração de poder no topo e uma severa obediência por
parte das massas (Inglehart, 1981). Década e meia depois, Verba e os seus
colaboradores (1997: 1053) afirmaram que as mulheres se envolvem pouco na vida
política possivelmente devido a uma «preferência construída», isto é, não se trata de
uma escolha livre, mas de um reflexo do facto da política, tradicionalmente, ter sido e
continuar a ser dominada por homens.
Relativamente às atitudes políticas, culturalmente, as mulheres do sul da Europa
tendem a ser consideradas menos interessadas na política, apresentando graus de
envolvimento político e de sentimento de eficácia política baixos quando comparados
com os dos homens (Morales, 1999, Baum e Espírito-Santo: 2004-2007), embora
apresentem níveis de confiança política iguais aos dos homens (Baum e Espírito-Santo:
2004).
27
Latus sensus, como tem sido apontado pela maioria dos estudos ocidentais, as
desigualdades de género que têm sido detetadas ao longo dos tempos, no que concerne
ao nível do envolvimento político, persistem até hoje (Inglehart, 1981; van Deth, 2000;
Atkeson e Rapoport, 2003; entre outros). Por isso:
H.A5 - É expetável que as desigualdades entre mulheres e homens no envolvimento
político prevaleçam até hoje nos países do sul da Europa;
A confiança política pertence à esfera público-política (e, a confiança social pertence
à esfera privada), onde há mais desconhecidos, maiores riscos e menor previsibilidade.
Por estas razões, a confiança política é de menor grau que a confiança social e pode ser
mais reduzida sob as influências e pressões da vida política moderna (Newton, 1999:
179)14. É comum, em estudos políticos, incluírem-se questões sobre a confiança que os
indivíduos sentem em relação às instituições políticas, aos líderes políticos e aos outros
indivíduos (Belchior, 2015: 17). Porém, as instituições são baseadas em sistemas,
normas e procedimentos formais que operam independentemente das relações de
confiança das pessoas (Newton, 2007: 344). Sendo a confiança um princípio
fundamental das democracias liberais, os cidadãos com melhores níveis de literacia têm
sido considerados aqueles que exigem mais e melhor democracia (Belchior, 2015: 13).
De acordo com a literatura, os autores têm defendido posições diferentes. Para os
estudiosos da comunicação política, a influência dos media tem levado a um aumento
de confiança dos indivíduos nas instituições e entidades políticas (ver Shapiro e Jacobs,
2013: 223). Enquanto os modernistas assumem que a melhoria do Estado providência, o
acesso à educação e a influência dos media têm promovido maior contestação por parte
dos indivíduos quanto ao funcionamento das instituições políticas, provocando o
declínio da confiança nas mesmas (Norris, 1999; 2011).
De acordo com Dolan (2011: 97), o “conhecimento político” é considerado o
conceito chave para se compreender as atitudes e o comportamento político na
14 “Personal trust belongs to the private sphere; political trust belongs to the public political
sphere, where there are more unknowns, greater risks, and less predictability. For these
reasons, political trust is usually of a thinner kind than social trust, and it may be getting
thinner under the influences and pressures of modern political life” (Newton, 1999:179).
28
América15. Segundo Delli Carpini e Keeter (1992: 25), o significado das desigualdades
de género no conhecimento político depende, em parte, do pressuposto de que cidadãos
informados, independentemente do sexo, são melhores e mais efetivos. Conforme
sublinha Norris, não deverão existir diferenças significativas de género na confiança
política (Norris et al, 2004: 43).
Estudos sobre género e política, previamente realizados nos EUA e em Portugal,
detetaram a não existência de desigualdades de género em termos de confiança nas
instituições entre mulheres e homens (Conway, 2000: 37; Baum e Espírito-Santo, 2004:
285-6). Logo:
H.A6 - É expetável que não haja diferenças significativas entre mulheres e homens, ao
longo do tempo, na periferia europeia e nos países menos afetados, no que diz respeito à
confiança nas instituições políticas.
3.3 Crise económica: origens e consequências
Com origem nos EUA, em 2007, a crise financeira assolou as costas europeias entre
2008 até 2012, empurrando a economia para a recessão. A dívida financeira de
instituições do setor privado, tornou-se dívida pública soberana por duas razões óbvias:
em primeiro lugar, destaca-se o resgate financeiro e a recapitalização da banca privada
(em alguns casos); em segundo, a crise económica relaciona-se com os incentivos que
os bancos enfrentaram aquando da introdução do euro16 como se resume na figura nº
3.1. Diagnosticada a crise por Bruxelas, o problema da Europa cingia-se a uma crise da
despesa estatal. Por isso, sacrificar os orçamentos dos Estados da periferia do sul foi a
forma politicamente correta (Blyth, 2013: 85-8; Freire et al, 2015: 223).
15 “Political knowledge is considered to be a central concept for understanding the political
attitudes and behaviors of Americans” (Dolan, 2011: 97) 16 A adesão à moeda única na Europa não teve em conta os pressupostos económicos de cada
país, beneficiando os mais fortes e prejudicando os menos poderosos. Como observa Blyth,
os países pobres foram dotados da notação de crédito alemão na perspetiva de que o Banco
central Europeu (BCE) apoiaria toda a dívida extraordinária emitida pelos países membros
desde que fizessem parte da nova divisa europeia. Por sua vez, a Grécia, por exemplo,
conseguia obter empréstimos com mais facilidade, pôde financiar-se ao nível do consumo e
do investimento; a sua competitividade caiu, alargando o seu défice da balança de transações
correntes, importando mais do que exportava (Blyth, 2013: 102 e 119-20).
29
Enquanto uns recuperavam (Alemanha) e outros resgatavam (Inglaterra),
silenciosamente, a crise estava a fermentar nos países periféricos, onde mais tarde
viriam a soar os alarmes (Blyth, 2013: 101). A crise de 2008-2012 só pode ser
comparada com a Grande Depressão de 1930 nos EUA ou com a Década Perdida do
Japão de 1990 (Reis, 2013; Blyth, 2013). Mais do que uma crise económica e
financeira, a austeridade passou a ser uma crise político ideológica, onde o
neoliberalismo tinha de ser confrontado com o keynesianismo (Blyth, 2013: cap. 3).
Figura nº 3.1 - Fatores estruturais da origem da crise na Zona Euro
Fonte: elaborado a partir de Blyth, 2013: cap. 3.
Apesar de similar, a crise económica nos países da Europa do sul teve origens
distintas em cada um destes países: a crise na Grécia e em Portugal resultou da
excessiva despesa pública, fraca capacidade de competitividade e de produtividade e
falta de respostas e de coordenação ao nível de políticas nacionais e europeias
(combinando-as, para a confiança dos mercados), aumentando os títulos do governo e a
incapacidade de cumprir com as obrigações da dívida sem o resgate financeiro; a crise
em Espanha e Itália deriva de uma crise bancária e imobiliária. O estado de insolvência
atingiu o setor público com custos de serviço da dívida, forçando a uma ação mais
sensível da UE, incluindo os empréstimos para resgatar os seus bancos e, o recurso ao
BCE como credor de última instância nos mercados das obrigações soberanas (Blyth,
2013: 101-114; Magalhães, 2014: 126-7).
A Grande Recessão que ocorreu recentemente, entre 2008-2012, manifestou-se de
forma particularmente preocupante no continente europeu. Se comparada com as
Estado Mercados
Euro
BCE
30
recessões anteriores (1974, 1976 e 1979-1982), parece que só a inflação teve efeitos
menos problemáticos. Em 2008, a economia de quase todos os Estados europeus
estagnou e, no ano seguinte, o PIB contraiu-se (Magalhães, 2014: 126).
Durante este período, o desemprego aumentou cerca de três vezes mais em toda a
zona Euro (de 7,4% em 2007 para 11,3% em 2012). A Grécia (8,3% em 2007 para
24,3% em 2012) e a Espanha (8,3% em 2007 para 24,8% em 2012) foram os países sul
europeus mais visados (EUROSTAT, 2016; PORDATA, 2016), com maior incidência
nas camadas jovens cujo desemprego, por exemplo em Espanha, chegou a atingir os
52% (Blyth, 2013: 108). Constata-se que, em toda a zona Euro, a economia contraiu-se
de -0,6% em 2007 para -3,6% em 2012. À exceção da Itália, a economia dos demais
países do sul (Portugal, Grécia e Espanha) cresceu muito menos do que a média da
zona Euro (EUROSTAT, 2016; PORDATA, 2016).
Só no final de 2011 é que a média do PIB per capita nos 27 países retomou aos
níveis da época pré-crise (Magalhães, 2014: 125). O crescimento real do PIB revelou
sinais de melhorias (apesar dos saldos negativos), tanto na zona Euro como nos países
mais afetados. Tudo o resto manteve-se inalterado, piorando no ano de 2013
(EUROSTAT, 2016; PORDATA, 2016).
Enquanto os efeitos da crise económica na zona Euro e a economia mundial
apresentavam valores inquestionáveis, as consequências políticas são imediatamente
menos compreensíveis (Magalhães, 2014: 126).
Como consequência da insolvência dos Estados da Península Ibérica, todos eles
tiveram de recorrer às instituições financeiras internacionais para acudir aos seus
respetivos problemas internos. Com os juros a subirem para níveis insustentáveis, os
países do sul tiveram de receber um resgate da UE, BCE e FMI (a chamada Troika), e
de aceitar empréstimos bilaterais, com a condição de implementarem um conjunto de
medidas de austeridade para corrigirem os seus planos orçamentais (Blyth, 2013:
114-5). Cortar nas despesas e aumentar os impostos – mas cortar mais na despesa do
que aumentar os impostos – era o mais acertado (Blyth, 2013: 115).
Com a implementação do programa de assistência financeira, governar na Europa do
sul tornou-se, eleitoral e civicamente, muito oneroso às elites políticas. A crise
económica teve consequências profundamente desestabilizadoras para os sistemas
políticos nacionais (Bosco e Verney, 2012: 129). Portugal assistiu à sua maior onda de
manifestação desde a instalação do regime democrático (Accornero e Pinto, 2015). No
geral, verificou-se o surgimento de vários movimentos de contestação social,
31
particularmente nos países da Europa do sul, que organizavam marchas (que, por vezes,
atingiam números quase históricos, com cerca de um milhão de participantes, outras
vezes eram mesmo violentas ou acompanhadas de uma onda de solidariedade
internacional, por exemplo, os movimentos M12M, Que se lixe a Troika, Geração à
Rasca (em Portugal), M5 Estrelas (em Itália), os Indignados, Democracia, Real Ya (em
Espanha), só para mencionar alguns. Estes grupos tinham como base exigir o fim das
políticas de austeridade (Hooghe, 2012; Baumgarten, 2013; Accornero e Pinto, 2015).
Segundo Pippa Norris, os indivíduos procuram envolver-se em manifestações políticas
como um recurso estratégico para se expressarem civicamente, se confrontados com
questões ligadas ao emprego ou Estado do bem-estar (Norris, 2002: cap. 10).
Milhões de jovens e mulheres, especialmente na Europa do sul, não tinham outra
opção senão permanecer dependente dos seus parentes. A transição para a fase adulta da
vida e a sua consequente independência foi adiada por mais alguns anos para estes
grupos de indivíduos. Tendo em conta o desespero da condição económica destes
jovens e destas mulheres, não havia muitas escolhas, senão emigrar. De facto, assistiu-
se à emigração de indivíduos com maior qualificação, em Espanha, Grécia e Itália, em
busca de melhores oportunidades no estrangeiro (Hooghe, 2012: 32; Kantola e
Lombardo, 2017: cap. 9).
Quadro nº 3.1 - Contexto eleitoral durante a crise económica na Europa do sul,
2010-2011.
Data País Nível
28-29 de março de 2010 Itália Regional 7 e 14 de novembro 2010 Grécia Regional e Municipal 28 de novembro de 2010 Espanha (Catalunha) Regional 23 de janeiro de 2011 Portugal Presidencial 15 e 16 de maio de 2011 Itália Municipal e Provincial
22 de maio de 2011 Espanha Regional e Municipal 5 de junho de 2011 Portugal Legislativas 12-13 de junho de 2011 Itália Referendo nacional 20 de novembro de 2011 Espanha Legislativas 06 de maio de 2012 Grécia legislativas 25 de fevereiro de 2013 Itália Legislativas
25 de maio de 2014 UE, incluindo-se PT, ESP, GRE, IT
Parlamento Europeu
Fonte: Bosco e Verney, 2012: 141; Freire et al, 2014; Belucci, 2014.
Em contexto de crise económica, novembro de 2011 é marcado por um momento
excecional na política europeia. Uma série de acontecimentos, em simultâneo, derruba
32
os governos grego, italiano e espanhol em apenas 18 dias. Antes, em junho do mesmo
ano, o governo socialista de José Sócrates já tinha caído (ver a quadro acima nº 3.1).
Durante este período de austeridade financeira, as eleições foram sempre marcadas pela
performance do(s) governo(s), apesar de existir pouca polarização partidária, os
discursos políticos foram marcados por questões económicas e do Estado providência
(Magalhães, 2014: 129; Freire e Santana-Pereira, 2012; Lobo e Lewis-Beck, 2012).
Após o período de crise económica, o trauma da austeridade económica persiste nas
sociedades periféricas europeias. Em 2012, aquando das eleições legislativas na Grécia
e Presidenciais em França, reagindo aos resultados, o Partido Socialista português (PS)
afirmou que os resultados que vinham de Atenas e de Paris eram “a derrota das políticas
de austeridade excessiva”. Na Grécia perderam eleições “aqueles que foram obrigados a
executar» essas medidas, e na França aqueles que traçaram esta política demolidora,
concluiu o PS (TVI24, 2012)17.
Relativamente às questões de género, a austeridade económica que se verificou
durante o período de 2008-2012, na Europa, especialmente nos países do sul, representa
o maior desafio à igualdade de género desde a Segunda Guerra Mundial (Karamessini e
Rubery, 2013: 4). A crise económica deve ser encarada como uma ameaça aos
progressos feitos no processo de emancipação das mulheres em todo o continente, pois,
as suas medidas afetaram a possibilidade de as mulheres participarem no mercado de
trabalho e na vida pública, em geral (Burri et al, 2012: 3).
A crise económica teve consequências gravíssimas, incluindo a perda de milhões de
postos de trabalho e, consequente, aumento da taxa de desemprego, cortes nas despesas
sociais, com implicações diferentes para os cidadãos, particularmente para os jovens e
pessoas do sexo feminino (Karamessini e Rubbery, 2013: 3; Kern et al, 2015: 465).
Entre 2009 e 2010, o risco de pobreza aumentou consideravelmente num número de
países. Por exemplo, em Espanha, Irlanda, Islândia, Malta, etc. os níveis de pobreza
chegaram a atingir 2% nas mulheres e nos homens, resultando numa partilha igual
(Bettio e Verashchagina, 2013: 64). Mas outros autores partilham pontos de vista
diferentes. Ou seja, afirma-se que, inicialmente, a crise afetou mais os homens do que as
mulheres, em Espanha (Gago e Kirzner, 2013: 245) e em Itália (Verashchagina e
Capparucci, 2013: 265).
17 Disponível em: http://www.tvi24.iol.pt/politica/joao-ribeiro/eleicoes-na-grecia-derrota-da-
austeridade-excessiva. Acedido a 28 de outubro de 2016.
33
Segundo Rubery (2013: 18 e 20), as diferenças de género quanto à vulnerabilidade
perante a recessão e a austeridade económica derivam das diversas posições que
mulheres e homens ocupam na estrutura do trabalho, na família e no modelo de Estado
providência.
Durante estes momentos, marcados pela austeridade e pela contração da despesa
pública na proteção social e no auxílio ao crescimento económico, caraterizado também
pela desregulação do mercado do trabalho, extremamente exigente e assente numa
lógica do presentismo18 (Múrias, 2015: 105), tornava-se difícil evitar o conflito entre as
partes por causa da inacessibilidade à justiça em matéria de defesa contra a
discriminação laboral (Ferreira e Monteiro, 2013: 198). Múrias (2015: 105-6) advoga
que, no contexto da crise atual, os homens reúnem melhores condições para
responderem a situações profissionais do que as mulheres. Estas sentem mais
dificuldades em ter tempo para tratar de assuntos pessoais ou familiares.
Entre 2008 e 2009, provavelmente, as tarefas domésticas e o trabalho não
remunerado das mulheres terão aumentado na UE, em geral. Em Itália, a diferença entre
o número de horas despendidas pelas mulheres (relativamente aos homens) com o
trabalho não remunerado na década de 1990 e início dos anos de 2000 foi inferior ao
período entre 2002/3 e 2008/9, o que pode refletir o facto do trabalho não remunerado
ter aumentado mais para as mulheres, sobretudo com a crise económica (Bettio e
Verashchagina, 2013: 64). Espanha, que apresentava resultados satisfatórios na
redistribuição do trabalho não pago, poderá ter adiado o seu avanço na tal redistribuição
durante o período da crise económica (Bettio e Verashchagina, 2013: 64).
18 Situação em que a pessoa comparece no emprego, mas sente-se incapaz de desempenhar
eficazmente as suas funções (Múrias, 2015: 105).
34
3.4 Possível impacto da crise económica
Habitualmente, a participação política é baixa nos países do sul europeu em comparação
com os países do norte e centro da Europa, e superior, em alguns casos, à participação
dos países do leste (González et al, 2000: 28; Viegas et al., 2015: 201-2). Ao
compararmos alguns países do sul da Europa, Portugal revela níveis de participação
política relativamente mais baixos do que Espanha (Viegas et al., 2015. 204-5 e 214).
Pese embora, Fernandes (2015: 1091) conclua que o nível de predisposição para aderir à
sociedade civil é mais alta em Portugal do que em Espanha.
Relativamente ao efeito da(s) crise(s) económica(s) nas democracias estabilizadas,
tem-se verificado um aumento da participação política convencional e não convencional
(Simon, 2012; Viegas et al, 2015; Freire et al, 2015). Por outro lado, assiste-se ao
decréscimo dos níveis de participação nas atividades comunitárias (Humphries, 2001) e
nas atividades eleitorais (voto) e nos níveis de envolvimento político e de confiança
política (Armigeon e Ceka, 2015; Belchior, 2015). Este aparente paradoxo – rise ´n fall
– acontece porque a participação originada pela crise económica resulta da combinação
de altos níveis de descontentamento social, alinhamento eleitoral instável e maior
destaque das questões socioeconómicas (Simon, 2012: 11).
Em contrapartida, os académicos dos estudos sobre escolha racional, que analisaram
a atual crise económica, têm concluído que, em tempos de crise, os eleitores tendem a
aderir em massa às eleições, a apoiar programas políticos que apresentam propostas de
recuperação e estabilização socioeconómica e a responsabilizar nas urnas os líderes
governantes quando a economia apresenta maus resultados, colocando de parte os seus
interesses ideológicos (Belucci et al, 2012; Lobo e Lewis-Beck, 2012; Magalhães, 2014;
Torcal, 2014; entre outros). Portanto, o estudo recente sobre o impacto da crise
económica europeia, em 22 países, que inclui Portugal, Espanha e Grécia, verificou que
as mulheres participaram mais do que os homens nas atividades eleitorais (Häusermann
et al, 2013). Apesar do estudo de Häusermann e seus coautores ter observado que as
mulheres participaram mais do que os homens no tempo de austeridade política, existe
um grande consenso em torno do desaparecimento de diferenças entre mulheres e
homens no que diz respeito ao voto e, por isso, não se espera que a crise económica
tenha provocado alterações na participação eleitoral. Assim,
35
H.B1 - É expetável que, durante o período de austeridade, as diferenças entre mulheres e
homens quanto à participação eleitoral se mantenha inexistente, nos países da Europa do sul;
Tem sido defendido que as condições socioeconómicas estão relacionadas com a
participação política feminina, levando ao aumento ou ao decréscimo da participação. O
gender gap na participação política tende a persistir significativamente em países em
vias de desenvolvimento e a desaparecer em países com melhores indicadores
económicos (países pós-industriais avançados) (Inglehart e Norris, 2003; Norris, 2007a:
728 e 729). Nos países da África subsariana, por exemplo, as desigualdades de género
nas atitudes e comportamentos políticos tendem a ser muito elevadas devido a um fraco
(ou inexistente) modelo de Estado providência (Gough e Wood, 2008), ou, devido à
falta de recursos. Ou seja, indivíduos que possuem tempo, dinheiro e competências
cívicas tendem a ser politicamente mais ativos do que aqueles que não possuem (Verba
et al, 1995; Burns et al, 2001). Tendo em conta que as mulheres foram mais afetadas
pela crise, é de prever que isso tenha afetado a sua propensão para participar na política.
Testando o género como variável de controlo em 26 países da UE, com destaque para
Portugal, Espanha e Grécia, observou-se que nessa fase de austeridade, as mulheres
foram significativamente menos propensas a participar em atividades convencionais do
que os homens (Kern et al, 2015). Assim, quanto à participação política convencional:
H.B2 - É expectável que, durante a crise económica, as diferenças de género na
participação convencional tenham aumentado nos países do sul da Europa;
Em relação às atividades de protesto, estudos realizados em 26 e 24 países,
respetivamente, durante o período de recessão económica na Europa (incluindo-se
Portugal, Espanha e Grécia), conclui que as mulheres se mostraram mais propensas a
realizar atividades não convencionais do que os homens (Kern et al, 2015; Vassalo e
Ding, 2016: 116-7). Aos autores, parece-lhes que o aumento ao nível do desemprego,
pode ser associado a uma onda de protesto e a outras formas de participação como
resultado dessas reclamações impostas repentinamente (Kern et al, 2015: 482)19. Noutra
19 “A rapid growth in unemployment level, therefore, seems to be associated with a wave of
protest behaviour and other forms of participation as a result these suddenly imposed
grievance” (Kern et al, 2015: 482).
36
análise feita por uma das autoras acima mencionada, em 24 países incluindo os do sul,
observou-se que durante o período da recessão económica, as mulheres revelaram-se
menos participativas nas atividades não convencionais em relação aos homens (Vassalo,
2016: 11). Outros estudos que também se focam nas atividades não convencionais, e
que prestam alguma atenção ao género, têm destacado que ser mulher ou homem não
influencia a participação neste tipo de atividades. Isto é, tanto as mulheres quanto os
homens procuram protestar com a mesma intensidade em períodos económicos menos
bons (Viegas et al., 2015: 212).
Como as mulheres viram as suas condições de vida piorar, participam menos. No
entanto, a participação não convencional tem uma caraterística diferente da participação
convencional, como por exemplo votar, porque as pessoas protestam contra algo que
não está bem. Como as mulheres foram mais afetadas pela crise, têm mais razões para
protestar. E, assim, uma coisa anula a outra (por um lado, têm piores condições de vida
e, por isso, menos propensão para participar, por outro lado, têm mais razões para
protestar), logo, no que se refere à participação não convencional, gera-se a seguinte
hipótese:
H.B3 - É expetável que, apesar da Grande Recessão, as mulheres e os homens
participem da mesma forma nas atividades não convencionais nos países da Europa do
sul;
Na sua famosa obra, Bowling Alone, Robert Putnam (2000: 319-25) afirma que a
prosperidade económica de uma nação permite ao indivíduo estabelecer maior contacto
com a comunidade envolvente, porque este consegue frequentar locais diferentes, o que
lhe possibilita conhecer outras pessoas. Putnam explica que, por exemplo, na cidade de
Los Angeles, dois terços das mulheres (brancas e negras) que tinham procurado um
emprego nos últimos cinco anos, tendo progredido na carreira, conseguiram-no através
da ajuda de colegas novos. Curiosamente, a maioria destes colegas não eram dos seus
bairros. Consequentemente, as mulheres tendem a participar menos nas atividades
comunitárias do que os homens devido aos escassos recursos que elas obtêm, centrando
as suas atividades na família e/ou no lar (Scholzman et al, 1995; Burns et al, 2001: 65).
Por outro lado, como foi abordado, em tempo de crise económica, os níveis das
atividades comunitárias tendem a decrescer (Humphries, 2001), porque os indivíduos
têm de percorrer longas distâncias, à procura de emprego, por exemplo, diminuindo os
níveis da atividade política e os moradores que trabalham tendem a interagir pouco com
37
os outros membros da comunidade (ver Humphries, 2001: 682). Logo, no que concerne
à participação comunitária:
H.B4 - Espera-se que, com a crise económica, as diferenças de género aumentem nos
países fortemente afetados;
A tese de “videomalaise” assume que a TV provoca alienação ou apatia aos
telespetadores, influenciando modesta e consistentemente as suas atitudes e
comportamentos políticos20 (Norris, 2000b: 238, 240 e 249). O desempenho dos media
no que diz respeito ao acompanhamento da agenda política da Troika, bem como as
ações de protesto que se verificaram nos países fortemente afetados pela crise
económica, poderão ter enfraquecido o interesse pela política e aprofundado as
desigualdades de género no envolvimento político entre mulheres e homens (ver Norris,
2000b: 240-2).
Outros autores sublinham as consequências da austeridade sob o indivíduo afetado
pelos cortes nas despesas, que pode operar na mesma direção como adversidade
económica (vs desenvolvimento económico), isto é, um possível declínio no
envolvimento político devido a redução nos recursos avaliados. Por isso, é esperado que
as medidas de austeridade, tais como a redução de salários, o corte nas pensões e outros
benefícios sociais, reduzam os níveis de envolvimento político entre as pessoas que
sofreram as consequências de tais decisões políticas. Isto porque, as/os cidadãs/ãos
afetados procuram resolver os seus problemas económicos e não aumentar o seu nível
de envolvimento político (Muñoz et al, 2014: 21). Como tem sido destacado, visto que
as mulheres terão sido as mais afetadas pelas políticas de austeridade, quanto ao
envolvimento político, avançamos o seguinte:
H.B5 - Espera-se que as diferenças significativas entre mulheres e homens envolvidos
na política aumentem nos países fortemente afetados;
As políticas de austeridade podem ter operado em diferentes maneiras, no que diz
respeito às atitudes políticas. Também podem ter afetado as crenças políticas, a própria
20 A evidência estatística não explica se esse padrão é o efeito ou a causa de ver TV (Norris,
2000b: 249).
38
perceção na competência de interação com o governo, apoio e confiança política e
expetativas sobre a capacidade de resposta do sistema político (Munõz et al, 2014: 23).
As políticas da UE foram parcialmente responsáveis pelo agudo declínio da
confiança dos cidadãos na UE, em particular, e nas instituições políticas em geral
(Belchior, 2015). Os resultados têm demonstrado que a má ou boa perceção das
condições sociais e económicas do país permitem aos seus concidadãos confiar menos
ou mais nas instituições políticas nacionais e internacionais (Armigeon e Ceka, 2013;
Kroknes et al, 2015). Neste caso, nos países sob alçada da Troika, os cidadãos
encontravam-se permanentemente críticos dos seus governos e das instituições políticas
em geral. Conforme pode ser constatado no gráfico abaixo nº 3.1 existe uma clara e
forte correlação entre confiar nos governos nacionais e confiar na UE (com o
coeficiente da correlação r = 0,67 e significantiva p 0 0,01). Ou seja, um decréscimo na
confiança no governo nacional é fortemente associado pelo decréscimo na confiança na
UE (Armigeon e Ceka, 2013: 13). Neste estudo, o género parecia não explicar a
confiança nas instituições (Armigeon e Ceka, 2013: 115-16). Estes resultados
assemelham-se a estudos anteriores à crise económica, quando se tratava de avaliar
instituições internacionais (Norris et al, 2004: 44).
39
Gráfico nº 3.1 - Mudanças na confiança no governo e na UE entre 2007-2011
Fonte: Armigeon e Ceka, 2013: 14.
Norris et al. ao analisarem a confiança nas instituições nacionais, verificaram a
existência de desigualdades de género, sendo que as mulheres apresentam menos
confiança nas instituições do que os homens. Porém, a recente crise económica que se
viveu, particularmente, na Europa do sul é fortemente conotada com as instituições
europeias; com base no facto de as mulheres terem sofrido mais as consequências da
crise económica, elas (mais do que eles) revelam uma diminuição da confiança nas
instituições, logo, registou-se um aumento da diferença entre mulheres e homens. Neste
sentido:
H.B6 - Espera-se verificar na Europa do sul, durante o período das políticas de
austeridade, o aparecimento significativo das desigualdades de género na confiança nas
instituições políticas.
40
Capítulo IV - Metodologia, Dados e Operacionalização de Conceitos
4.1 Tipo e Natureza Metodológica
De acordo com Quivy e Campenhoudt (2008: 156-57), em investigação social, é
necessário delimitar o campo das análises empíricas no espaço geográfico e social e no
tempo, a fim de se identificarem quais os dados pertinentes a serem recolhidos.
Nos últimos tempos, tem sido frequente o recurso à metodologia combinada,
interligando diferentes metodologias num mesmo estudo (Tarrow, 2004:172; Della
Porta, 2014: cap. 4; entre outros). A triangulação reflete o uso de vários métodos de
investigação de forma a que um(uns) método(s) sirva(m) para compensar ou reforçar
a(s) fragilidade(s) do(s) outro(s), tendo em conta a circunstância e o contexto da(s)
pesquisa(s) (Della Porta e Keating, 2008: 34; Creswell, 2014: 14).
“É comum considerar-se a pesquisa quantitativa preponderantemente fiável e a
pesquisa qualitativa preponderantemente válida” (Belchior, 2010: 38). Essa premissa é
especialmente relevante quando se trata de estudos ligados às atitudes e
comportamentos políticos (Belchior, 2010: 38). Reconhece-se a insuficiência do
inquérito enquanto instrumento para estudar a existência e a significância das atitudes e
comportamentos políticos (ver Lichbach e Zuckerman, 1997: 56). Em compensação, a
metodologia qualitativa revela-se um rico e poderoso instrumento de análise em estudos
de caso na temática sobre as atitudes e comportamentos políticos (Norris, 2002: xiii).
A metodologia quantitativa centra a sua análise nos números e nos procedimentos
estatísticos. Procura basear-se em medidas numéricas específicas para relatar aspetos de
certos fenómenos, obtendo-se conclusões gerais (King, Keohane e Verba, 1994: 3). O
recurso a vários casos torna o método quantitativo apto para a comparação,
particularmente se os dados recolhidos forem agregados em diferentes etapas. Graças ao
uso de técnicas estatísticas, a sua vantagem consiste na possibilidade de estender a
análise a vários países através do tempo e espaço e permitir fazer inferências que
asseguram mais de um caso (Landmam, 2008: 27).
Em contraste, o método qualitativo procura identificar e compreender os atributos,
caraterísticas e traços dos objetos a serem analisados (Ragin, 1987; Berg-Schlosser,
2012). Os dados qualitativos são ideais para análises exploratórias. As pesquisas em
ciências sociais normalmente começam a partir da análise qualitativa e (algumas vezes)
41
prosseguem para a análise quantitativa. Isto é, os dados “qualitativos” podem ser
convertidos em “quantitativos”, mas não o inverso (Gerring, 2017: 20).
A metodologia qualitativa não se baseia em medidas numéricas. Essa metodologia
visa focar-se num único fenómeno ou num pequeno número de casos que são
explorados em detalhe por meio de entrevistas intensas ou de análises profundas de
conteúdos históricos (King, Keohane e Verba, 1994: 4). Os investigadores tendem a
incorporar um vasto leque de pistas traçadas de diferentes fontes, abordando diversos
aspetos do mesmo problema. A natureza dos seus dados torna a metodologia qualitativa,
praticamente, não comparável (Gerring, 2017: 19).
Na presente pesquisa selecionou-se a metodologia triangular emergente, isto é,
aquela que é implementada no decurso da pesquisa, quando se percebe que um método,
por si só, não é suficientemente explicativo (Creswell e Clark, 2011: 54). A triangulação
metodológica utilizada neste estudo remeter-nos-á para a metodologia quantitativa e
qualitativa. O remanescente deste capítulo está organizado de acordo com estas duas
metodologias, sendo a secção seguinte dedicada à metodologia quantitativa e a secção
posterior à qualitativa.
4.2 Metodologia quantitativa
A metodologia quantitativa é, neste projeto, utilizada para analisar o efeito do tempo e o
efeito da crise económica (nos países da Europa do sul e noutros grupos de países em
análise) nas desigualdades de género na participação e atitudes políticas. É seguido o
método comparativo, cujo objetivo é descrever certos fenómenos e eventos de um
determinado país ou grupo de países com o intuito de explicar fenómenos políticos
individuais, estruturais e culturais (Landman, 2008: 5 e 284).
A atual pesquisa remete-nos para a análise de muitos casos (>50) e a sua estratégia
consiste em analisar, sobretudo, «sistemas mais semelhantes». Analisar/comparar os
países da Europa do Sul é interessante pelo facto de estes apresentarem várias
semelhanças ao nível histórico-político e sociogeográfico que os carateriza (Gunther et
al, 1995; Bosco e Verney, 2012; Freire et al, 2014). Embora também se possa aplicar a
42
«sistemas mais diferentes», numa abordagem longitudinal21. Analisar muitos casos
comporta algumas desvantagens, incluindo a indisponibilidade de dados e a validade de
medição. Agregar dados publicados apenas em anos e países distintos, torna a
comparação difícil (Landman, 2008: 63). Na prática, todos os métodos relacionados
com pesquisas nas atividades políticas apresentam fragilidades e limitações (Parry et al.,
1992: 31; Norris, 2002: xii; Scholzman et al, 2012: 299). Não sendo este estudo uma
exceção.
4.3 Dados utilizados
A parte quantitativa deste estudo é baseada em dados secundários, como se pode
observar no quadro abaixo nº 4.1. Os dados secundários apresentam vantagens quanto à
racionalização de tempo e de dinheiro (Gauthier e Turgeon, 2003; Quivy e
Campenhoudt, 2008: 203; Bryman, 2012: cap. 14; entre outros), da mesma forma que
permitem ao investigador beneficiar do trabalho realizado por outros investigadores e
instituições altamente qualificados (Gauthier e Turgeon, 2003: 429; Bryman, 2012:
313).
No entanto, reconhecem-se as suas limitações, como o facto de os dados provirem de
várias fontes de informação, o que pode, de certa forma, levar a uma homogeneização
das estratégias de investigação, medidas e procedimentos, provocando, enviesamentos
não deliberados. Reconhecem-se também a existência de potenciais problemas ao nível
da adequação dos dados às exigências de cada investigação (Gauthier e Turgeon, 2003:
422).
A presente pesquisa usa dados secundários provenientes de diversas bases de dados,
nomeadamente, European Social Survey, European Elections Studies, Four Nations
Study, World Values Survyy, European Values Study. Cada uma destas bases de dados
consiste numa amostra aleatória probabilística, cuja realização foi efetuada por vários
investigadores e com objetivos distintos. Em algumas bases de dados (ESS, FNS), os
indivíduos entrevistados tinham 15 ou mais anos. Mas para o presente estudo
21 Na verdade, trata-se de uma análise sequencial (Hardy e Bryman, 2004: 387) sendo também
considerada como análise quase longitudinal ou mesmo análise longitudinal (Babbie, 1996:
129-35).
43
selecionaram-se apenas indivíduos com 18 ou mais anos por estes compreenderem a
população com idade permitida, por lei, ao exercício do voto (ver Freire, 2006), o que
implicou uma pequena perda no número de casos.
Quadro nº 4.1 - Vantagens e limitações dos dados secundários
Vantagens Limitações
Familiarização com a área do conhecimento Inibir a criatividade
Precisar certas caraterísticas para as próximas investigações
Criar hegemonia ideológica
Aumento da investigação ateórica
Verificação da validade e credibilidade dos dados
Economia de tempo Invisibilidade dos erros e dificuldade em identificar a sua fonte precisa
Economia de recursos financeiros Demoras na familiarização com os dados
Eliminação de problemas operacionais relacionados com a recolha de dados
Indisponibilidade de alguns tipos de dados
Dados manuseáveis em várias estratégias de investigação (longitudinal, transversal, etc.)
Dificuldades na compatibilidade entre os estudos e as medidas
Análise longitudinal
Elevada qualidade dos dados
Maior robustez das análises
Precisar problemas de investigação
Precisar opções de investigação Problemas na qualidade dos dados
Normalização das disciplinas Dados desatualizados
Análise de pequenos grupos Análise de pequenos grupos
Fontes: elaborado pelo autor a partir de Kiecolt e Turgeon, 1985; Gauthier e Turgeon, 2003; Bryman, 2012, cap. 14.
A seleção destas bases de dados é interessante porque remete-nos a três realidades
políticas distintas das jovens democracias do sul da Europa: primeira, coloca-nos uma
visão generalizada em que as mais importantes transformações políticas e sociais, em
consequência do processo de democratização, estavam no início. Segunda, a
consolidação democrática é estabilizada, especialmente, pelos mais novos que não têm
memória das ditaduras nem dos períodos que marcam as revoluções (ver Baum e
44
Espírito-Santo, 2007: 112). A terceira tem a ver com o facto de tanto as gerações mais
velhas como as gerações mais jovens partilharem experiências que caraterizam as
sociedades pós-modernas. Mais, fundamentalmente, o critério de seleção incidiu no
facto de as perguntas de cada base de dados ter sido feita de forma idêntica e ter,
possivelmente, os quatro países presentes. Outro critério importante é a comparabilidade
dos dados. Começando nos meados da década de 1985, muitos destes estudos foram
sistematicamente recolhidos como parte de investigações internacionais, o que permite
colocar as atitudes e comportamentos políticos dos cidadãos do sul da Europa em
perspetiva comparada (ver Baum e Espírito-Santo, 2007: 113). Passamos agora à
apresentação de todas as bases de dados usadas nesta tese.
O primeiro elemento de informação resulta de dados recolhidos e agregados no
European Elections Studies (EES). Referem-se a estudos pós-eleitorais dirigidos pelo
Parlamento Europeu, relacionados com o comportamento eleitoral e atitudes políticas
dos cidadãos da comunidade europeia. Os dados são recolhidos periodicamente (de 5
em 5 anos) em todos os países membros incluindo os países do sul da Europa. Os livros
de códigos, questionários e etc. podem ser obtidos através de
http://eeshomepage.net/ees-2014-study/. No quadro abaixo nº 4.2, pode ser observado o
número de inqueridos na base de dados do EES durante o período de 1999 a 2014.
Quadro nº 4.2 - Inquéritos utilizados: European Elections Studies, 1999-2014
País Abreviaturas Dimensão da amostra
Portugal POR cerca de 1.000/ano
Espanha ESP + 1.000 a cerca de 5.000/ano
Grécia GRE + 500 a cerca de 4000/ano
Itália IT + 800 a cerca de 4000/ano
Nota: Portugal inclui apenas o continente. Fonte: elaborado pelo autor com base no livro de códigos.
O conjunto de dados do Four Nations Study contém informação acerca das atitudes e
crenças dos cidadãos dos quatro países da Europa do sul. Os dados foram recolhidos em
45
1985. Para obter os livros de códigos, questionários e etc. ver Freire et al, 2005. O
quadro abaixo nº 4.3 contém a informação relativa a dimensão da amostra.
Quadro nº 4.3 - Inquéritos utilizados: Four Nations Study, 1985
País Abreviaturas Dimensão da amostra
Portugal POR 2.000
Espanha ESP 2.498
Grécia GRE 1.998
Itália IT 2.074
Fonte: elaborado pelo autor com base no livro de códigos. Nota: Portugal inclui apenas o continente.
O European Social Survey (ESS) (base principal), 2002-2012, contém dados
recolhidos de forma bienal e visa analisar, essencialmente, as atitudes e
comportamentos políticos dos cidadãos. Estes dados são fornecidos pelos países
membros deste programa, onde se incluem os quatros países da Europa do Sul. Não há
dados para Itália durante os períodos de 2006 a 2010, faltando também os dados para a
Grécia de 2006 a 2012. Os livros de códigos, questionários e etc. podem ser obtidos
através de www.europeansocialsurvey.org. Em média, foram entrevistados 800 a 1,500
indivíduos em cada pais (ver quadro nº 4.4).
46
Quadro nº 4.4 - Inquéritos utilizados: European Social Survey, 2002-2012
País Abreviaturas Dimensão da amostra
Portugal POR A média é de
800 a 1.500
Por cada país
Espanha ESP
Grécia GRE
Itália IT
Fonte: elaborado pelo autor com base no livro de códigos. Nota: Portugal inclui apenas o continente. Estes valores da dimensão da amostra também se aplicam na segunda parte do estudo aos quais se acrescentam os de outros grupos de países tais como nórdicos, da Europa Central e ocidental e do leste (ver página 54 e 97).
European Values Study, 1981-2008, consistem em estudos multi-etapas (de 9 em 9
anos), realizados em mais de 40 países. Procuram avaliar a perceção e preferência dos
cidadãos acerca do regime político da comunidade e a avaliação da performance da UE,
entre vários outros temas. São sempre entrevistados 1.500 indivíduos em cada país. Os
dados, os livros de códigos e os questionários podem ser obtidos através do ICSPR e
acedidos em www.gesis.org/em/sevices/data-analysis/survey-data/european-values-
study/longitudinal-data-file-1981-2008/. No quadro nº 4.5 pode-se observar a dimensão
da amostra e os anos em que os dados foram recolhidos por país durante o período de
1981 a 2008 da referida base de dados.
Quadro nº 4.5 - Inquéritos utilizados: European Values Survey, 1981-2008
País Abreviaturas Dimensão da amostra e ano da colheita (entre
parênteses)
Portugal POR 1.500 (1990-2008)
Espanha ESP 1.500 (1981-2008)
Grécia GRE 1.500 (1999-20008)
Itália IT 1.500 (1981-2008)
Nota: Portugal inclui apenas o continente. Fonte: elaborado pelo autor com base no livro de códigos.
47
World Values Survey (WVS), trata-se de estudos globais em ciências sociais que se
encarregam da análise das mudanças de valores e do seu impacto na esfera social e
política. Recorreu-se ao WVS para compensar o facto de a Itália estar ausente na base
do European Social Survey, previamente referida. Foram entrevistados cerca de mil
indivíduos. Os dados, os livros de códigos e os questionários podem ser acedidos em
http://www.worldvaluessurvey.org/WVSContents.jsp. Referem-se aos dados coletados
no ano de 2004 com base à amostra representativa de 1.012 cidadãos (ver quadro nº
4.6).
Quadro nº 4.6 - Inquéritos utilizados: World Values Survey, 2004
País Abreviaturas Dimensão da amostra
Itália IT 1.012
Fonte: elaborado pelo autor com base no livro de códigos.
4.4 Operacionalização de conceitos
4.4.1 Participação política
A crise económica alterou, de certo modo, a forma de participação política nos países
mais afetados. Nota-se que os partidos políticos têm organizado marchas e protestos,
alguns deles violentos. Os líderes partidários e os próprios partidos têm sensibilizado a
população e os militantes, em particular, para assinarem petições, obrigando os partidos
governantes ou organizações internacionais a mudarem e/ou aceitarem certas políticas22.
As formas de participação política podem ser de vários tipos aglutinados em voto,
atividades de campanha, contactar políticos ou instituições políticas ou não políticas e
protesto (Verba e Nie, 1972: 73 e 1978: 55; Marsh e Kaase, 1979: 59-60 Teorell et al,
2007a: 340-43; Viegas e Faria, 2007: 62-4). Nos estudos da participação política, tem-se
demonstrado algumas inquietações ligadas aos critérios que determinam a sua tipologia.
22 Destacam-se os partidos de esquerda como o Partido Comunista Português, Bloco de
Esquerda (português) e o Siryza (grego). Nota-se ainda a marcha organizada pelo Siryza
enquanto partido governante para pressionar o seu próprio governo a acautelar as medidas de
austeridade impostas por Bruxelas.
48
Ou seja, as tipologias da participação política variam de acordo com as posições dos
autores e de acordo com critérios que advêm dos estudos empíricos (Martins, 2004:
256; Teorell et al, 2007a: 343).
Scholzman apresenta uma solução que tem em conta as discussões sobre como se
deve conceptualizar a participação política. Segundo o autor, não interessa o quão
sofisticada é a conceptualização do conceito, mas o que mais importa é a forma como é
operacionalizado no estudo em questão (Scholzman, 2002: 436).
A sua mensuração basear-se-á na diferença de predisposição entre mulheres e
homens para participarem nas modalidades da participação política, agrupadas nas
seguintes dimensões: 1) participação eleitoral; 2) participação convencional; 3) não
convencional e 4) participação comunitária (ver quadro nº 4.7). A respetiva mensuração
é inspirada em pesquisas previamente realizadas por outros autores (Burns et al,2001;
Norris et al, 2004; Baum e Espírito-Santo, 2004-2007; Coffé e Bolzendahl, 2010; entre
outros).
A participação eleitoral e a comunitária constituíram-se através da modalidade
“votar” e “ajudar a resolver problemas comunitários”, respetivamente – variáveis
dicotómicas que foram codificadas com 0 (Não – não participou nesta atividade
política) e 1 (Sim – participou nesta atividade política). No que diz respeito à
participação política convencional e não convencional, ambas as variáveis resultaram da
junção de quatro modalidades cada. O índice de participação convencional resulta da
soma de quatro modalidades, nomeadamente, contactar um político ou funcionário do
governo; pertencer a uma organização política; trabalhar numa organização política; e
trabalhar noutra organização. O índice de participação não convencional também
resulta da soma de quatro modalidades, designadamente, usar material de campanha,
boicotar certos produtos, assinar uma petição ou abaixo assinado e participar numa
greve legalizada (ver quadro abaixo nº 4.7 e/ou anexo B.2.1). Cada um dos índices foi,
posteriormente, recodificado como variável dicotómica – 0 (Não - não participou em
nenhuma das atividades políticas) e 1 (Sim - participou em pelo menos uma das
atividades políticas) – para serem comparáveis com as outras duas variáveis já
enunciadas, nomeadamente participação eleitoral e comunitária, também elas
dicotómicas (no anexo B.1.1 pode ser consultado o guião de entrevistas e a
(re)codificação das variáveis da participação política).
49
Quadro nº 4.7 - Operacionalização de conceitos: formas e tipos de participação
política
Pa
rtic
ipaçã
o p
olí
tica
Dimensões Modalidades
Eleitoral Voto em eleições
C
on
ven
cio
nal
Contactar um político ou um funcionário do Governo
Pertencer a uma associação ou organização política
Trabalhar numa associação ou organização política
Trabalhar noutra associação
Não
co
nv
enci
on
al
Usar material de campanha eleitoral
Boicotar certos produtos
Assinar petição ou abaixo assinado
Participar numa greve legal
Comunitária Resolver problemas comunitários
Fonte: elaborado pelo autor com base na revisão da literatura.
Ainda em referência aos índices de participação convencional e não convencional
foram medidas as suas consistências internas para cada ano em análise. Para o efeito
usou-se o coeficiente do Alfa de Cronbach. Os seus respetivos valores são considerados
aceitáveis, variando entre 0,534 e 0,446 (participação convencional) e entre 0,571 e
0,569 (participação não convencional).
4.4.2 Atitudes políticas
É mais complexo medir cultura política atualmente, do que inicialmente parecia ser o
caso de acordo com Almond e Verba [1963] (Robinson et al, 1999: 1; Dalton e Welzel,
2014: 10). Esta complexidade poder-se-á dever ao facto de, nas últimas cinco décadas,
terem surgido vários conceitos da cultura política (Dalton e Welzel, 2014: cap. I).
A cultura política tem sido frequentemente analisada através de traços comuns
articulados pelas orientações e atitudes cognitivas, afetivas, avaliativas e de disposições
50
de comportamentos face ao sistema político e às suas componentes, caraterizadas e
partilhadas por membros de um grupo, conforme sublinhado inicialmente por Almond e
Verba [1963] (Belchior, 2010: 69).
Neste caso, duas componentes são essenciais na cultura política (Newton e van Deth,
2010: 172; Dalton e Welzel, 2014: 10-11; Welzel e Dalton, 2014: Cap. 12): as atitudes
dos cidadãos perante o sistema político e a forma como os cidadãos se sentem capazes
de influenciar o processo da tomada de decisão.
Tendo em conta a matriz clássica de Almond e Verba ([1963] 1989), a presente
pesquisa pretende avaliar a conceção que os cidadãos fazem do sistema democrático.
Essa avaliação é destinada às estruturas formais do Estado, tais como, Governo, partidos
políticos, estruturas de poder e de influência política, partilhas de normas, comunicação
e etc.
Na presente pesquisa consideram-se duas dimensões das atitudes políticas,
nomeadamente, envolvimento político e confiança política.
Envolvimento político23 refere-se ao grau de interesse do cidadão pela política e à
sua perceção da importância da política na sua vida (Martín e van Deth, 2007: 303-4 e
311).
O conceito de interesse será usado no sentido restrito da palavra. Ou seja, interesse
político deve ser entendido como o grau de curiosidade que a política desperta no
indivíduo (van Deth, 1990: 278). Para que se interesse pela política, o indivíduo deve ter
“consciência política”, isto é, deve prestar atenção à política e entender a matéria. O
princípio da consciência política é a absorção da comunicação política (Zaller, 1992:
21), uma vez que notícias sobre política têm uma grande implicação no impacto que o
discurso da elite política tem na opinião pública (Zaller, 1992: 18).
Consensualmente, a confiança política significa, em termos das consequências, uma
maior disponibilidade para a cooperação. Se a massa eleitoral confiar no governo, acata
resignadamente políticas pouco populares, o que se traduz numa mais-valia para os
políticos e governos. Desconfiança política, por oposição, surge associada a problemas
governativos que podem degenerar na instabilidade do próprio sistema político
(Belchior, 2015: 31-2).
23 Têm sido distinguidas várias definições e operacionalizações para o envolvimento político,
nomeadamente, interesse na política, envolvimento político psicológico, engajamento
político, apatia política ou desafeição política (Martín e van Deth, 2007: 303).
51
Por sua vez, confiança nas instituições políticas refere-se à avaliação que os cidadãos
fazem das instituições políticas. Isto implica uma avaliação dos atributos mais
relevantes de cada instituição política, tais como, credibilidade, imparcialidade,
competência e transparência nas suas políticas ou atividades (Newton, 2007: 344;
Zmerli et al, 2007: 41; Denters et al, 2007: 67).
Segundo Belchior (2015: 32), os indivíduos que tendem a confiar mais nas
instituições políticas (parlamento, governo, sistema jurídico, polícia, políticos, etc.)
fazem também, sistematicamente, avaliações mais satisfatórias sobre o funcionamento
da democracia no país, sobre o desempenho do governo e sobre o estado da economia
nacional e internacional.
Inspirando-se nas pesquisas de Morales (1999), de Norris et al. (2004) e de Baum e
Espírito-Santo (2007), esta parte da presente investigação centra-se na análise das
diferenças de género nas atitudes políticas. A sua mensuração basear-se-á na frequência
de atitudes políticas de mulheres e homens, agrupadas nas seguintes dimensões: 1)
envolvimento político; e 2) confiança nas instituições políticas (ver quadro abaixo nº
4.8). O guião de entrevista pode ser observado no anexo nº B.2.2.
A construção das dimensões das atitudes políticas resulta na soma das modalidades
do envolvimento político e da confiança política. O índice de envolvimento político
resulta da soma de duas modalidades, designadamente, ver notícias/programas sobre
política na TV (escala de 1 a 4) e grau interesse pela política (escala de 1 a 4) (ver
quadro nº 4.8 ou anexo 2.2). As variáveis originais eram compostas por uma escala que
variava de 1 a 4, mas esta foi posteriormente recodificada para uma escala de 0 a 3,
porque começar uma escala do zero é mais intuitivo. Depois de recodificadas, a soma
das escalas compreendeu um ponto de 0 a 6, em que 0 significa nenhum (nenhum
envolvimento) e 6 significa muito (muito envolvimento). A sua consistência interna
varia de 0,650 a 0,750.
52
Quadro nº 4.8 - Operacionalização de conceitos: Dimensão e modalidades das
atitudes políticas
A
titu
des
polí
tica
s
Dimensões Modalidades
En
vo
lvim
ento
p
olí
tico
Interesse político
Ver notícias/programas sobre política na TV
C
on
fian
ça n
as
inst
itu
içõ
es p
olí
tica
s Nos tribunais
No parlamento
Na polícia
No governo
Na União Europeia (UE)
Fonte: elaborado pelo autor com base na revisão da literatura.
O índice da confiança política resultou na soma de cinco variáveis, nomeadamente,
confiança nos tribunais, parlamento, polícia, UE e governo. A escala original de cada
uma destas variáveis variava entre 1 e 4, tendo sido recodificadas para uma escala de 0 a
3. Após a soma, as escalas das variáveis recodificadas passaram a ser medidas num
ponto de 0 a 15 em que 0 é nenhuma confiança e 15 significa muita confiança. A sua
consistência interna varia entre 0,590 a 0,686. De realçar que tudo o que foi
apresentado, aqui, nesta secção consiste nas VD da parte quantitativa do trabalho.
4.4.3 Tratamento e análise de variáveis
O tratamento e análise de dados respeitantes à metodologia comparativa foi efetuado
através do programa informático Statiscal Package for Social Science (SPSS) versão 24.
As análises corresponderão a dois momentos distintos e sequenciais. Primeiro, análise
bivariada e depois análise multivariada24. A realização da análise bivariada
corresponderá aos indicadores das atitudes e comportamentos políticos. Isto é, para a
participação política o teste do qui-quadrado para duas amostras independentes e para
as atitudes políticas realizar-se-ão o teste t para duas amostras independentes. Utilizar-
se-á o teste de qui-quadrado para analisar variáveis binárias, enquanto o teste t é usado
porque analisam-se variáveis métricas.
24 Em ambos casos, os dados foram ponderados.
53
O objetivo da análise de regressão neste caso não é o de obter um modelo fortemente
capaz de estimar a variável dependente, mas o de testar a significância do género na
previsão das atitudes e comportamentos políticos, conforme sublinhado por Morales
(1999: 236). Assim, em todos os modelos de regressão, a variável género surge como a
variável independente principal. Esta refere-se à construção social que distingue uma
mulher de um homem, sendo uma variável dicotómica (0 = masculino; 1 = feminino).
De modo a isolar melhor o impacto da variável independente principal, foram
adicionadas três variáveis de controlo25 aos modelos. Estas variáveis foram inspiradas
no modelo de recurso, visto que mulheres e homens constituem dois grupos muito
heterogéneos entre si – diferenciados por idade, raça ou etnicidade, classe social e
outros atributos (Burns et al, 2001: 50). O modelo de recurso avalia as posições sociais
dos indivíduos como o nível de educação, rendimento e emprego formal, estado civil,
nível de escolaridade, idade, profissão, etc. (Verba et al, 1995: 270; Atkeson e
Rapoport, 2003: 499). Tem sido apontado que desenvolver atividades políticas, como
por exemplo, trabalho de campanhas, ofertas informais para resolver problemas
comunitários e votar, requerem tempo e dinheiro e competências (skills – saber fazer)
(ver, por exemplo, Verba et al, 1995; Verba et al, 2003; Burns et al, 2001). Isto é,
quanto maior for o nível de instrução, o estatuto social e o rendimento, etc. mais o
cidadão participa na política.
As três variáveis de controlo são as seguintes: estado civil – indivíduos que vivem
(legalmente ou em união de facto) ou não com o seu cônjuge –, variável dicotómica (0 =
solteiro; 1= casado); educação – indica o nível de escolaridade que o indivíduo detém,
sendo não superior (indivíduos que não adquiriram níveis de escolaridade universitária)
e superior (indivíduos que tenham obtido pelo menos a licenciatura ou um grau
equivalente) – variável dicotómica (0 = educação não superior; 1 = educação superior);
idade – indivíduos com idade compreendida entre 18 e mais anos (65+) –, variável
contínua.
Dois modelos de regressão26 estão patentes na presente pesquisa: regressão linear e
regressão logística. O modelo de regressão logística (binária) será utilizada na análise da
25 Teve de ser feita uma opção entre analisar mais países e anos, ou fazer uma análise mais
profunda. Optou-se pela primeira, daí os nossos modelos terem menos controlos do que
outras pesquisas, mas têm certamente um N maior. 26 Foram realizadas as medidas mais importantes para a adequabilidade do modelo de regressão
logística e linear. Concluiu-se que esses cumprem com os pressupostos para a sua realização.
54
participação política porque pretende avaliar variáveis qualitativas. A análise da
participação política corresponderá ao modelo de regressão logística (binária) com erros
robustos estandardizados27.
Enquanto o modelo de regressão linear (múltipla) corresponderá à análise das atitudes
políticas visto as variáveis dependentes serem quantitativas ou tratadas como tal. De
sublinhar que nos modelos de regressão os dados relativamente aos países são
agregados - pooled model. O objetivo de pooled model é testar as especificidades de
cada país ou grupos de países, onde cada especificidade cultural permanece intacta
(Pennings et al, 2006: 174; Landman, 2008: 32 e 79).
As análises de regressão serão apresentadas tendo em conta o nosso modelo de
análise (ver cap. I). Isto é, primeiro, analisar-se-á os modelos de regressão logística e
linear ao nível diacrónico (1985 até 2014); segundo, investigar-se-á o efeito da crise
económica através do estudo dos seus momentos mais marcantes, isto é, de 2008 a
2012. Neste momento, a análise compreende quatro grupos de países: 1) Europa do sul,
que inclui Portugal, Espanha, Grécia e Itália; 2) Europa do norte, que inclui Noruega,
Suécia, Finlândia e Dinamarca; 3) Europa central e ocidental, que inclui Reino Unido,
Bélgica, Holanda, Alemanha, França e Suíça; 4) Europa do leste, que inclui República
Checa, Polónia, Bulgária, Hungria e Eslovénia.
Os resultados da regressão logística não são fáceis de serem analisados por um
simples olhar. Logo, é necessário complementar a análise com “probabilidades
previstas”. Estas serão reportadas em gráficos.
Os resultados de regressão linear múltipla serão apresentados através dos coeficientes
de regressão não estandardizados, porque permitirem avaliar como é que o efeito do
género vai mudando ao longo dos tempos (ver Atkeson e Rapoport, 2003: 503). Os
modelos de regressão linear permitem estimar os valores médios ou esperados e
realizar previsões pontuais de novos valores das VD para um dado conjunto de
observações das VI (Laureano, 2013: 171; Marôco, 2014: 742-47). Ou seja, “no caso,
da previsão, falamos de novos valores da variável dependente que não fazem parte da
amostra inicial onde foi deduzido o modelo de regressão” (Marôco, 2014: 743). No
27 O erro robusto estandardizado é tolerável na medida em que o seu procedimento não afeta os
coeficientes, mas estima mais a sua consistência quando é violado alguns pressupostos da
variância. Neste contexto, pode se assumir que os casos são independentes entre os países,
mas não entre si (Karp e Banducci, 2008: 112).
55
entanto, de forma a ler melhor os resultados, na presente investigação realizar-se-á as
previsões dos valores das VD.
4.5 Metodologia qualitativa
A metodologia qualitativa é, na presente pesquisa, utilizada para analisar dados relativos
à socialização política dos jovens estudantes em Portugal.
4.5.1 – A entrevista
A metodologia qualitativa foi desenvolvida através da técnica de entrevista, que consiste
numa das técnicas mais eficazes, dentro da metodologia qualitativa (ver, por exemplo,
Evers, 2011). Sendo também uma ferramenta fundamental para a compreensão dos
fenómenos políticos (Mosley, 2013).
Quadro nº 4.9 - Tipo e caraterística da entrevista
Investigação Não Diretiva Semidiretiva Diretiva
Controlo •
Verificação • •
Aprofundamento • •
Exploração •
Fonte: Ghiglione e Matalon, 2005: 86.
A presente pesquisa recorreu ao tipo de entrevistas semidiretiva, porque esta permite
aprofundar um determinado tema, ou verificar a evolução de um tema conhecido,
conforme pode constatar-se no quadro acima nº 4.9.
A educação tem sido considerada como uma condição necessária dos cidadãos em
sociedades democráticas (Nie et al, 1996: 1). Entender profundamente como é que a
educação influencia o que os cidadãos sabem, quanta atenção prestam à política, e quão
politicamente ativos e tolerantes eles são, tem fortes implicações nas teorias
56
democráticas e políticas educativas (Nie et al, 1996: 1). Como tal, a educação apresenta
três caraterísticas: aumenta as habilidades cognitivas que facilitam a aprendizagem
acerca da política; pessoas bem-educadas tendem a obter maior gratificação em termos
de participação política; a escola concede experiência com uma variedade de relações
político administrativas (Wolfinger e Rosenstone, 1980: 35-6). Mais importante, as
mudanças que se verificaram no mundo desde 1971, em primeiro lugar, trouxeram
questões ligadas à forma como os estudantes veem e definem a sua identidade de
cidadania e, em segundo, como as suas opiniões são influenciadas pelo contexto
político, educacional e social nos países em transição democrática ou em democracias
estabilizadas (Torney-Purta et al, 1999: 13). As sociedades estão a atravessar as rápidas
transformações sociais e políticas, existindo tentativas de capacitar os jovens a
adaptarem-se à nova ordem mundial política e económica. Dentro dessas sociedades, a
educação cívica difere de muitos outros assuntos na extensão do desacordo sobre a base
do conhecimento e a atitude apropriada dos jovens (Torney-Purta et al, 1999: 15).
É pelas razões assinaladas no parágrafo anterior que as entrevistas foram dirigidas a
jovens estudantes universitários. Geralmente, os estudantes são indivíduos mais bem
informados do que o resto da população (Zaller, 1992). O seu interesse e conhecimento
político fá-los mais aptos ao nível de considerações políticas, particularmente, se os
estudantes universitários se relacionam com conteúdos políticos (Belchior et al, 2016:
7).
As entrevistas foram feitas em universidades públicas sitas na cidade de Lisboa28.
Elas foram realizadas de 24 a 26 de outubro de 2017, nas faculdades de Direito, de
Letras, de Medicina Dentária, de Farmácia, Escola Superior de Enfermagem e Instituto
Superior Técnico da Universidade de Lisboa e no ISCTE – Instituto Universitário de
Lisboa. Exceto dois estudantes que afirmaram estar a frequentar o mestrado, os(as)
restantes entrevistados frequentam cursos de licenciatura (ver anexo A.2, pp. IV-VI).
Primeiro, perguntou-se ao entrevistado se poderia fazer parte do nosso estudo. Após
este contacto fez-se a apresentação da natureza da pesquisa, procedimentos planeados,
garantias de confidencialidade e a voluntariedade da participação destes, bem como a
28 Em Portugal, as universidades públicas são frequentadas por pessoas de todos extratos sociais
(ver Estanque, 2011). A cidade de Lisboa pela sua diversidade e oferta educativa (e não só),
consegue albergar estudantes oriundos dos vários pontos do país (ver anexo nº A2). Por esses
motivos achou-se essencial selecionar a cidade de Lisboa e estes tipos de instituições de
ensino.
57
utilização de aparelho de gravação e a duração da entrevista de aproximadamente 30
minutos (ver anexo A.1, pp. I-III).
No que toca à dimensão da amostra, a literatura não estipula um número exato de
pessoas para serem entrevistadas, ou, como afirma Danielle Ruquoy:
Nos estudos qualitativos interroga-se um número limitado de pessoas, pelo que a
questão da representatividade, no sentido estatístico do termo, não se coloca. O critério
que determina o valor da amostra passa a ser a sua adequação aos objetivos da
investigação, tomando como princípio a diversificação das pessoas interrogadas e
garantindo que nenhuma situação importante foi esquecida (Ruquoy, 2011: 103).
No total foram realizadas 27 entrevistas, a 13 raparigas e a 14 rapazes. A idade média
de idade das(os) entrevistadas(os) é de 20 anos. Sendo a máxima de 24 e a mínima de
17.
4.5.2 Da Entrevista à Análise de Conteúdo
Quando se trata de entrevista, a parte relevante consiste em registar e transcrever o que
foi dito (Flick, 2005: 169), sendo a transcrição um passo primordial para a sua
interpretação (Flick, 2005: 174). Depois da realização das entrevistas fez-se a
transcrição dos dados no formato word do computador. Posteriormente, começou-se o
processo de interpretação de dados recolhidos e transcritos.
Sendo um trabalho de caráter qualitativo, optámos pela análise de conteúdo, definida
por Bardin (2013: 33, 40 e 44) como “um conjunto de técnicas de análises das
comunicações” que abrange todas as comunicações, isto é, “tudo o que é dito ou escrito
é suscetível de ser submetido a uma análise de conteúdo” (Moscovici citado por Bardin,
2013: 34). A análise de conteúdo utilizada é do tipo descritivo analítico (Bardin, 2013:
37).
A constituição das categorias foi elaborada a partir de um sistema de categorias
mutuamente exclusivas (Vala, 2005: 113; Bardin, 2013: 147). A construção de um
sistema de categorias pode ser feita “a priori” ou “a posteriori” (Vala, 2005: 111-113;
Bardin, 2013). Onde a unidade de análise é a frase (Bardin, 2013: 130).
Para nos assegurarmos da fidelidade do sistema de categorias, classificaram-se os
dados das categorias calculando o índice de fidelidade inter-juízes das categorias e
58
subcategorias. Para a sua classificação, pediu-se a um segundo investigador que
analisasse duas entrevistas. Seguidamente, fez-se o acordo inter-juízes através do
coeficiente do Kappa de Cohen. Este, cálculo de k, mede-se a partir da concordância
entre codificadores que varia de 0 (desacordo) a 1 (acordo pleno). Neste caso, o presente
estudo obteve um valor de Kappa de Cohen de ,65 que revela um valor de concordância
bom (Fonseca et al, 2007). O cálculo do acordo inter-juízes foi realizado no SPSS
versão 24.
A descrição e análise dos dados foi possível com recurso ao programa informático
Maxqda versão 18.0.5.
4.5.3 Socialização política
A relevância da socialização política reside no seu determinado contexto social. O
contexto social estrutura a quantidade e o fluxo de informação que influencia as atitudes
e comportamentos políticos das crianças (Gimpel et al, 2003: 7; Mayer e Schmidt, 2004:
395).
A crescente literatura sobre socialização política permitiu o surgimento de vários
modelos de análise, tendencialmente complexos (Gimpel et al, 2003: 7). A principal
dificuldade parece ser a de estabelecer ligações entre experiências vividas na infância e
o comportamento atual, como adulto, em estudos não longitudinais (Burns et al, 2001:
138). Conforme foi sublinhado antes, a presente pesquisa pretende examinar a
importância do estímulo da família, escola, comunidade e religião na maior ou menor
propensão para as meninas e meninos se tornarem politicamente ativos na vida adulta,
tendo em conta o contexto social em que estes estavam inseridos. Onde se considera
o(s) próprio(s) indivíduo(s) como unidade de análise (McDevitt e Chaffee, 2002: 285).
De forma mais sintetizada, o quadro nº 4.10 (pág. 60) mostra o processo de
maturação, isto é, o desenvolvimento cognitivo e sofisticação política do indivíduo
durante o ciclo de vida. Geralmente, as experiências adquiridas pelo indivíduo mudam
com o tempo. Em cada etapa da vida, o indivíduo aparenta obter novas experiências de
maturação. A maturação política do individuo é adquirida através da interação com os
agentes de socialização política.
Excluindo os meios de comunicação, a presente investigação operacionaliza a
socialização política através de quatro agentes: família, escola, comunidade e religião.
59
Conforme enfatizado por Hyman (1959), procura-se perceber as experiências adquiridas
na infância que são mais determinantes para os padrões políticos do indivíduo na vida
adulta, isto é, que poderão estar relacionadas com as suas atitudes e comportamentos
políticos atuais. Como por exemplo, votar e/ou praticar outra atividade política além do
voto, discutir política, interessar-se pela política, ser membro de uma organização
juvenil, participar em atividades comunitárias, etc.
Sendo assim, aos respondentes foi dirigido um conjunto de questões que se referiam
à sua infância, por exemplo, se quando crianças se lembram de ter visto os seus parentes
a realizar diversas atividades cruciais para o processo de socialização política, bem
como lhes foi questionado se praticam alguma atividade política atualmente (ver guião
de entrevista no anexo nº A1, pp. I-III).
Quadro nº 4.10 - Modelo de socialização política durante o ciclo de vida
Infância Adolescência Jovem Adulto Adulto Anos depois
Orientação
da família
Escola
Igreja
Associações
voluntárias
Meios de
comunicação
Orientação da
família
Escola
Igreja
Associações
voluntárias
Meios de
comunicação
Orientação da
família
Procriação da
família
Igreja
Lugar de trabalho
Associações
voluntárias
Meios de
comunicação
Orientação da
família
Procriação da
família
Igreja
Lugar de trabalho
Associações
voluntárias
Meios de
comunicação
Procriação da
família
Igreja
Associações
voluntárias
Meios de
comunicação
Fonte: Wasburn e Covert, 2017: 17.
60
Quadro nº 4.11 - Operacionalização de conceitos da socialização política
Conceito Dimensão Sub-Dimensão Indicadores
Socialização
política
Família Relação com os
parentes
▪ Conversas com os pais
▪ Atividades com os
pais
▪ Leitura/histórias
contadas
▪ Acompanhar os media
com os pais
Atitudes Políticas
dos parentes
▪ Identificação
partidária
▪ Militância política
▪ Discutir política c/
amigos/família
Participação
Política dos
parentes
▪ Votar
▪ Atividades além do
voto
▪ Ter um familiar na
política
▪ Pessoas próximas
noutras organizações
Escola ▪ Incentivo dos
professores para a
política
▪ Salas/locais propícios
▪ Votar em associações
académicas
Comunidade ▪ Trabalho na
comunidade
▪ Participar nas
assembleias
Religião ▪ Ter frequentado uma
igreja, enquando
criança, com os pais
Fonte: elaborado pelo autor com base na revisão de literatura.
61
Capítulo V - Participação política, atitudes políticas e socialização
política: conceptualização
5.1 Definição da participação política
Etimologicamente, participação (do latim, participatio) significa “fazer parte de”,
“tomar parte de qualquer coisa”. De acordo com a conceção de participação política,
pode-se associar a ideia de alguém “fazer parte da atividade política” (Martins, 2004:
39). Devido à dificuldade em delimitar a sua natureza, modos, formas, determinantes e
graus, não existe um consenso quanto a sua conceptualização operacional (Weiner,
1971:159-64; Martins, 2004: 39; Teorell, 2006). Como frisam Parry et al. (1992: 20),
qualquer definição da participação política deve ser, obrigatoriamente, tendencial e
discutível. Normalmente, a definição varia de estudo para estudo e em função dos
objetivos que neles são traçados.
A participação política é um fenómeno existente desde a Grécia Antiga que começa a
ser estudada em 1972 por Verba e Nie (Pasquino, 2005: 76; Teorell et al, 2007: 335).
Apesar das inúmeras investigações na área de estudos da ação política, o conceito de
participação política tende a não se afastar muito do conceito definido por Verba e Nie
(Teorell et al, 2007: 337). Por outro lado, a existência de vários conceitos remete, de
antemão, para a complexidade intrínseca à abordagem de um fenómeno que pode
referir-se a comportamentos ativos ou passivos dos cidadãos; a atitudes e motivações
face à vida política e pública; a ações individuais e voluntárias destinadas a intervir no
processo de decisão político; a atividades estimuladas por diversos agentes políticos e
sociais; a comportamentos consentidos e não consentidos; ou a intervenções na esfera
política (Martins, 2004: cap. I).
Verba e Nie (1972: 2) definiram a participação política como atividades individuais
dos cidadãos que estão destinadas a influenciar, diretamente, a(s) escolha(s) do(s)
governo(s) e/ou a moldar a(s) ação(ões) que ele(s) toma(m).
Essa definição de Verba e Nie parece limitada uma vez que os autores excluem
outras atividades da participação política, ou seja, nesta definição, os autores não
incluem as formas não convencionais da participação política dos cidadãos (Teorell et
al, 2007: 335-7).
Normalmente, as pessoas esperam que através da sua participação política as suas
necessidades e problemas sejam resolvidos pelos seus governos, seja comparecendo
62
perante as urnas, protestando politicamente ou através da ação revolucionária com vista
a determinar o futuro do governo ou o governo futuro (Brady, 1999: 737; Scholzman,
2002: 433).
Uma definição semelhante à de Verba e Nie (1972) é desenvolvida por Kaase e
Marsh (1979: 42). Para estes dois autores, a participação política refere-se a todas as
atividades voluntárias dos cidadãos que procuram influenciar, direta ou indiretamente, a
sua escolha política em vários níveis do sistema político. Isto inclui as formas
convencionais desenvolvidas por Verba e Nie (1972) e as formas não convencionais
desenvolvidas por Kaase e Marsh (1979).
É nesta última definição que o presente trabalho se vai inserir, uma vez que este
conceito é extensivo e abrangente. Conforme sublinham alguns autores, o termo
“participação política” implica todas as ações que tentam influenciar, direta ou
indiretamente, aquilo que os agentes e/ou as instituições políticas e não políticas fazem
(Conway et al, 1997:78; Viegas et al., 2010: 21).
5.1.2 Formas e tipos de participação política
Em sentido lato, as formas de participação política consistem num conjunto de
ferramentas que permitem pôr em prática a ação política dos cidadãos. Estando
associadas aos direitos legais que permitem aos indivíduos a possibilidade de
intervenção no processo político, como por exemplo, direitos de voto, de associação, de
reunião e manifestação, de candidatura a cargos eletivos, de iniciativa legislativa
(Martins, 2004: 255).
As formas de participação podem ser vistas, também, como meios através dos quais
os cidadãos tendem a influenciar as decisões políticas, admitindo-se o recurso a ações
não consentidas ou a ações que, sendo consentidas, rompem com os requisitos
estabelecidos na lei, como por exemplo, os protestos, os boicotes, as manifestações, os
bloqueios de vias públicas e as greves. Ou podem ser consideradas como meios de
contacto entre o representante e o representado político, através dos quais os
representantes procuram apoios necessários ao exercício das suas funções e os
63
representados manifestam exigências no sentido em que esperam ver atendidas as suas
pretensões29 (Martins, 2004: 255).
5.1.3 Modalidades da participação política
Reconhecem-se os contributos pioneiros de Lester Milbrath. Os seus contributos deram
origem aos estudos empíricos de Verba e Nie (1972). Os estudos de Milbrath
centravam-se no indivíduo enquanto membro de uma comunidade política. Isto é, a
forma como estes encaram e se envolvem na política. Para o autor, a participação é um
ato individual (perspetiva unidimensional) (Milbrath, 1960). Ainda que os estudos
empíricos evidenciassem uma correlação fraca entre as variáveis (voto, persuadir outros
a votar, ter preferência política, participar em reuniões políticas, doar dinheiro a partidos
ou organizações políticas e trabalhar num partido político) sobretudo, o voto em
comparação com outras modalidades (Brady, 1999: 745). Para Milbrath (1960), a
sociedade estava dividida em três grupos, seguindo uma ordem hierárquica: gladiadores,
apáticos e espetadores (Milbrath, 1960; Milbrath e Goel, [1965] 1977: 11), conforme
nos mostra o Quadro abaixo.
Quadro nº 5.1 - Formas e participação política
Tipo de participação política Grau de utilização das formas Gladiadores Ativo
Espetadores Médio Apáticos Nulo
Fontes: adaptado de Milbrath, 1960; Milbrath e Goel, [1965] 1977.
Os gladiadores são aqueles indivíduos que vivem intensamente os assuntos políticos,
chegando a concorrer a cargos eletivos e de nomeação. Em seguida, encontram-se os
espetadores. Estes não participam, simplesmente, observam. Ao mesmo tempo que
29 Esta visão é assumida por Almond e Powell ([1966] 1978: 143-45) que afirmam a
comunicação como um elemento central entre os governantes e governados. Segundo eles, a
comunicação é feita através da interação entre colegas de trabalho ou universitários e o meio
que os envolve, onde a política é o epicentro das suas discussões.
64
consideram a política uma atividade destinada aos políticos. Por último, há os apáticos,
que não participam nem se preocupam com a política (Milbrath, 1960; Milbrath e Goel,
[1965] 1977). Como se pode observar na figura abaixo nº 5.1, quanto mais os
indivíduos se aproximam do topo da hierarquia, mais ativos se tornam.
A obra Participation in America, de Verba e Nie, marca o princípio dos estudos
empíricos nas sociedades industriais avançadas (Verba e Nie, 1972: 46). Esta obra vem
contrariar a perspetiva unidimensional da participação política30. Segundo eles, não se
pode considerar que as pessoas são mais ou menos participativas, visto que existem
outras atividades em que os cidadãos se envolvem por motivos e consequências
diferentes. Ou seja, os cidadãos exigem do governo coisas diferentes e de formas
diferentes (Verba e Nie, 1972: 45).
Figura nº 5.1 - Níveis de participação política
Nos seus estudos, Verba e Nie (1972) e Verba et al. (1978) propõem quatro formas
da participação política: voto, atividade de campanha, contactar um membro do
governo e atividade comunitária. Estas dimensões representam um conjunto
significante das atividades que completam as várias formas de alternativas através das
30 Na segunda edição da sua obra Political participation, o próprio Milbrath reconhece a
perspetiva multidimensional da participação política.
65
quais os cidadãos procuram pressionar o governo para ver os seus problemas resolvidos,
como se constata no quadro abaixo. Estas atividades diferem umas das outras, na
medida em que cada indivíduo escolhe qual delas é a sua prioridade (Verba e Nie, 1972:
51).
Quadro nº 5.2 - Tipos e formas de participação política
Tipo de atividade
Formas de atividade
Tipo de influência
Resultado esperado
Nível de conflito
Iniciativa requerida
Cooperação com os outros
Atividades eleitorais
Voto Muita Pressão/Pouca informação
Coletivo Conflituosa Pouca Pouca
Atividade de campanha
Muita pressão/pouca a muita informação
Coletivo Conflituosa Alguma Alguma ou muita
Atividades não eleitorais
Atividade comunitária
Pouca a muita pressão/muita informação
Coletivo Mais ou menos conflituosa
Alguma ou muita
Alguma ou muita
Contactar membro de governo
Pouca pressão/muita informação
Particular Não conflituoso
Muita Pouca
Fontes: Verba e Nie, 1972: 54; Verba et al, 1978: 55.
Os estudos de Verba e os seus co-autores foram alvos de várias críticas,
posteriormente. Os críticos argumentam que tal abordagem é muito limitada, se
comparada com as atividades que os indivíduos praticam hoje em dia (Kaase e Max,
1979; Parry et al., 1992; Inglehart, 1997; Brady, 1999; Norris, 2007b; Norris, 2004;
Teorell et al, 2007 entre outros). Como realça Norris (2007b: 639; 2004: 15), o voto e a
pertença a um partido continuam a ser os principais elementos de participação numa
democracia, mas hoje, estas atividades são demasiadas limitadas já que excluem
algumas atividades comuns do engajamento cívico.
Entre as principais críticas, destaca-se a obra clássica de Barnes et al. (1979),
Political Action. Mass Participation in Five Western Democracies. Segundo Marsh e
Kaase (1979: 57), para além das formas convencionais, designadamente, voto, apoio
66
partidário e participar em campanhas, era preciso ter em conta o surgimento de novas
formas de participação política que estavam a ser desenvolvidas nas táticas de protesto.
Os governantes foram surpreendidos com demonstrações públicas, protestos, ocupação
de estradas, etc. Por exemplo, aquando da guerra dos EUA no Vietname. Desde então,
alguns destes atos apareceram em contexto de desordem pública – ao mesmo tempo
que, na academia, ganharam o nome de participação não convencional – e vieram
revolucionar a ordem política das democracias ocidentais, estando também ao alcance
das áreas de desobediência civil e violência política (Kaase, 1999: 14; Norris, 2007b,
639).
Esta obra de Barnes e seus co-autores (1979) não só continha novidades sobre a
participação não convencional, como também apresentava novidades ao nível
metodológico, ao articular a dimensão das atitudes e comportamento na criação de uma
escala de participação não convencional (Borba, 2012: 272).
A obra de Barnes et al. (1979) também sofreu algumas críticas relacionadas com a
sua mensuração (Brady, 1999: 754). Sublinham-se as críticas apontadas por van Deth
(2001), Dalton et al. (2010) e Inglehart e Welzel (2005: 116-7) que afirmam que, se no
início destes estudos, tais abordagens vaziam sentido, tendo em conta os acontecimentos
políticos e sociais daquela altura, atualmente, não. Visto que as formas não
convencionais passaram a ser consideradas como participação convencional31, uma vez
que assinar petições e participar em protestos públicos começam a ser tão frequentes
como as atividades eleitorais ou contactar políticos. Os estudos longitudinais têm
demonstrado que os níveis de protesto têm aumentado à medida em que os Estados se
desenvolvem económica e politicamente (ver também Inglehart, 1977; 1997).
Numa altura em que os estudos empíricos do ativismo político desenvolviam-se em
época de tranquilidade política e de estabilização económica nas velhas democracias, a
participação política estava associada a mobilização eleitoral (Verba e Nie, 1972; Verba
et al, 1978). Mas, a publicação da obra de Barnes et al. (1979) motivou a revisão do
conceito de participação política, dando-lhe um novo alargamento (Viegas e Faria,
2007: 62; Baum e Espírito-Santo, 2007: 273-4; Borba, 2012; Viegas et al., 2015: 199).
As modalidades de participação política passaram a ser não só modalidades
convencionais, mas também não convencionais, distinguindo-se por ações de “boicote a
certos produtos, ocupação de edifícios ou danos provocados em bens de entidades
31 Sobre a distinção de forma convencional e não convencional ver página 76.
67
privadas” que se forem inseridas em forma de protesto, a ação direciona-se a empresas
ou organizações da sociedade civil e não diretamente aos governantes e o uso de
internet para expressar opiniões políticas (Marsh e Kaase, 1979: 59-60; Kaase e Marsh,
1979).
A tipologia de Marsh e Kaase (1979: 137) foi designada por “reportório político” –
obtenção de conhecimentos essenciais que permitem às pessoas responderem à procura
e às necessidades políticas para o alcance dos seus objetivos sociais – que resulta da
composição das modalidades convencionais e não convencionais. Nesta obra, a
participação volta a ser tratada como um fenómeno unidimensional32, em que as suas
modalidades fazem parte de um reportório, que são mobilizados por indivíduos num
continuum que envolve custos e complexidade crescentes (Borba, 2012: 271). A
“tipologia do reportório da ação política” classifica os indivíduos em “inativos”,
“conformistas”, “reformistas”, “ativistas” e “protestadores”. Seguindo a lógica de Verba
e seus co-autores, no que respeita à participação convencional, Marsh e Kaase (1979)
acrescentam ao “repertório” mais duas modalidades, a mencionar: “ler sobre política
nos jornais” e “discutir política com os amigos”. Como se pode verificar no quadro
abaixo (Quadro nº 5.3).
Quadro nº 5.3 - Tipologia da Ação do Reportório Político
Potencial escala de protesto (formas não convencionais)
Escala de Participação Política Convencional
NA Ler política nos jornais
Discussão Política
Discutir política
Trabalhar com os outros na comunidade
Doar tempo e dinheiro para partidos ou candidatos
Convencer amigos a votar
Participar em reuniões /manifestações políticas
AC
NA Inativos Conformistas Assinar
petições Participar em
32 A perspetiva unidimensional está relacionada com a forma como o cidadão se comporta na
esfera política. O seu comportamento é avaliado a partir do grau de intensidade com que o
indivíduo se envolve na política (Milbrath e Goel, [1965] 1977: 11). Em contraste com a
perspetiva unidimensional, está a perspetiva multidimensional. Esta última perspetiva
considera que as formas de participação se distinguem quanto ao seu grau de dificuldade,
mas também quanto às diferentes modalidades através das quais os cidadãos procuram
influenciar as decisões políticas (Martins, 2004: 261).
68
demonstrações pacíficas
Reformistas
Participar em boicotes
Não pagar impostos
Pro
test
ado
res
Ativistas
Ocupar edifícios Bloquear vias públicas Participar em greves ilegais
Fonte: tirado de Marsh e Kaase, 1979: 154. Legenda: NA – Nenhuma Atividade; AC – Atividade de Contacto.
Voice and Equality, Civic Voluntarism in American Politics, de Verba et al., (1995),
foi o maior contributo empírico que surgiu depois de Political Action (Borba, 2012:
272-3). Na sequência dos estudos anteriores, Verba et al. (1995) analisam a participação
política voluntária dos indivíduos em organizações políticas e não políticas – aquilo que
eles denominam por voluntarismo cívico. Segundo eles, a participação é motivada por
dinheiro, tempo e competências do indivíduo (dinheiro para contribuir na organização,
tempo para participar nas atividades da organização e habilidades que o permitam saber
fazer para ajudar os problemas da organização).
Este trabalho incorpora a participação não convencional como forma de participação,
mas inclui também modalidades não endereçadas ao governo, por exemplo, as formas
sociais de participação, como o voluntariado (Borba, 2012: 272). Segundo van Deth
(2001: 6), o desaparecimento da divisão entre a esfera política e não política das
sociedades modernas tem permitido o renascimento das teorias comunitárias e
tocquevillianas, o que levou a participação política para outra dimensão, com atividades
“civis” como o voluntariado e o engajamento social. Em termos de classificação das
modalidades de participação, o estudo reafirma a multidimensionalidade do fenómeno
(Borba, 2012: 723). Classificada sob as seguintes modalidades: votar, trabalhar em
campanhas políticas, contribuir para campanhas, contactar dirigentes, protestar,
trabalhar informalmente na comunidade, tornar-se membro de um conselho local, filiar-
se numa organização política e contribuir para uma causa política (ver quadro abaixo nº
5.4). Neste modelo, o protesto tem uma função mais diminuta do que aquela que tem
69
sido sublinhado na literatura (Barnes et al, 1979). O protesto não passa de uma simples
modalidade da participação política, para Verba e seus co-autores (1995). Segundo
Verba et al. (1995: 47), aquilo que se designa como atividade não convencional varia de
acordo com o tempo e o lugar.
Quadro nº 5.4 - Formas e caraterísticas das atividades políticas
Atividade Capacidade de informar
Variação no volume Requisitos
Votar Baixo Baixo Tempo Trabalhar numa campanha
Misto Elevado Tempo e competências
Contribuir para campanhas
Misto Elevadíssimo Dinheiro
Contactar dirigentes políticos
Elevado Médio Tempo e competências
Protestar Elevado Médio Tempo Realizar trabalho comunitário informal
Elevado Elevado Tempo e competências
Ser membro da junta comunitária
Elevado Elevado Tempo e competências
Filiar-se num partido
Misto Elevado Tempo, competências e dinheiro
Contribuir para uma causa política
Misto Elevadíssimo Dinheiro
Fonte: Verba et al. (1995: 48).
Tal como as outras investigações, esta também não ficou imune às críticas. As
críticas estavam relacionadas com o surgimento de novos elementos (modalidades) que
foram classificadas como “políticos” nos estudos de participação política – que ocorreu
de forma contínua nos últimos anos. A sua ampliação conceitual parece problemática,
pois coloca o risco de se perder a referência sobre as linhas demarcatórias (Borba, 2012:
723). Neste caso, os riscos estariam associados à sua ampliação em direção a uma teoria
que alberga quase tudo (van Deth, 2001).
Como se pode observar na figura nº 5.2, o início do novo milénio foi marcado por
uma mudança radical nos estudos da participação política. Segundo Norris (2004: 15),
para o mundo contemporâneo, a participação política não deve estar confinada apenas a
atividades convencionais e não convencionais. É preciso ter em conta a definição
moderna que incorpora atividades informais, como por exemplo, os movimentos sociais
70
crescentes, atividades voluntárias em grupos de pressão, associações cívicas, de
caridade e outras associações. É nesta perspetiva que van Deth (2001: 6) afirma que as
abordagens da participação política do século XXI expandem-se até à esfera da
atividade “civil”, tais como, voluntariado e engajamento social.
Figura nº 5.2 - Evolução da participação política
Ronald Inglehart aponta que estes acontecimentos derivam das sociedades com
valores pós-materialistas – caraterizada por um elevado índice de desenvolvimento
socioeconómico, tais como, elevados níveis de educação, inovação tecnológica,
divulgação massiva dos mass media, distintivas vivências sociais entre os mais velhos e
os mais jovens (Inglehart, 1977 e 1997). Para Inglehart e outros (2005; 2002), as
sociedades ocidentais estavam a atravessar momentos económicos e sociais gloriosos
nos quais as pessoas não se preocupavam mais com as necessidades primárias e vitais
do homem, mas sim procuravam investir a sua força física e psicológica noutras coisas
– valores materialistas vs pós-materialistas (ver também Inglehart 1977; 1990: 359-63;
1997). Assim, para Inglehart (2005; 2002), nas sociedades pós-materialistas as formas
convencionais tendem a diminuir em detrimento das não convencionais – elite-
challenging e elite-directed.
“Elite-challenging” – atividades de massa desencadeadas através de petições,
demonstrações, boicotes, etc. Para os autores, estas formas, apesar de se parecerem com
as não convencionais, são formas de ação que caraterizam os cidadãos das sociedades
71
pós-industriais. Uma vez que os cidadãos destas sociedades são mais críticos do sistema
e se tornam cada vez menos membros das organizações políticas. “Elite-directed” –
atividades tais como ação de voto, ser membro de partidos, sindicatos, igreja e etc. Para
estes autores, estas formas estão em declínio político em detrimento de “elite-
challenging”.
A crítica que se coloca a estes autores é: esta visão é muito restrita e enviesada do
real conceito da participação política. Nota-se que nestas abordagens, os cidadãos são
tratados como indivíduos que estão desafeiçoados do sistema e que tentam exigir
mudanças através de posições radicais (protestos, por exemplo), tendo como alvo a elite
política. Aqui, os cidadãos consideram-se como agentes passivos da política que apenas
se envolvem quando necessário ou exigido (Inglehart e Welzel, 2005: 115-18; Inglehart
e Catterberg, 2002). Para Kaase (1990: 28), a mudança de valores referida por Inglehart
e os seus co-autores, é resultado da emergência de novas questões prioritárias em apenas
um pequeno subgrupo da população.
Pippa Norris (2002) defende que está na altura de se rever e atualizar a forma como a
participação política tem sido debatida desde 1960 e 1970, de modo a facilitar as
abordagens do engajamento cívico que se tem discutido nos últimos anos. Norris (2004;
2007b) distingue quatro formas de participação política: voto, campaign-oriented que
mais tarde virá a apelidar-se de citizen-oriented, cause-oriented e civic-oriented,
sumariados no quadro abaixo nº 5.5.
Quadro nº 5.5 - Formas de participação política
Dimensão Modalidades
Voto Campaign-oriented/Citizen-oriented
Contactar um político; doar dinheiro a um partido; trabalhar para um partido; ser membro de um partido; usar material de campanha.
Cause-oriented
Assinar uma petição; comprar material por motivos políticos; boicotar produtos; demonstração legal; protestar ilegalmente.
Civic-oriented
Ser membro de: uma igreja; de um grupo ambiental; grupo humanitário; grupo educacional; união aduaneira; grupo de hobby; clube social; grupo de consumo; grupo de profissionais; clube desportivo.
Fontes: adaptado de Norris, 2004; 2007b: 638-41.
72
Neste caso, os cidadãos são os elementos chave na construção do processo
democrático. São pró-ativos e detêm o conhecimento total do sistema político em que
estão inseridos, como consideram Almond e Verba ([1963] 1989: 18), são cidadãos com
uma cultura política participativa, que vai de uma simples filiação num clube desportivo
até à forma mais elementar da participação política (voto).
Há outros autores que defendem uma mudança na divisão entre formas da
participação política convencional e não convencional. Nesta linha de pensamento
encontram-se Pattie e outros (2004). Para estes autores, a distinção entre participação
convencional e não convencional é inapropriada para as democracias ocidentais
contemporâneas (Pattie et al, 2004: 84). Porque, por exemplo, assinar uma petição
continua a ser a principal atividade na Grã-Bretanha, portanto, o termo “não
convencional” é inapropriado para a sua descrição. Pattie et al. distinguem três formas
de participação: individual, contacto e coletivo. O quadro nº 5.6 demonstra as respetivas
modalidades de cada dimensão.
Na primeira dimensão, os indivíduos podem participar sem a cooperação dos outros;
na segunda dimensão, os indivíduos realizam as suas tarefas através dos representantes
eleitos ou dirigentes públicos; e a terceira dimensão só é atingível através de ações
coletivas que podem ser formais ou informais (Pattie et al, 2004: 134-5).
Quadro nº 5.6 - Estrutura da participação política
Dimensão Modalidades
Individual
Comprar material político; boicotar produtos; doar dinheiro a uma organização; assinar
petição; usar distintivo de campanha; votar.
Contacto Contactar um dirigente ou politico; contactar
uma organização; contactar os media, contactar os serviços judiciais.
Coletivo
Fazer parte de uma demonstração pública; participar numa reunião ou comício político;
participar em protesto ilegal; formar um grupo.
Fonte: adaptado de Pattie et al. (2004: 134).
73
5.1.4 Tipologias da participação política: novos enfoques
No sentido de se compreender melhor o argumento de validar e/ou invalidar as
classificações que existem sobre a participação política, bem como compreender se a
participação é um fenómeno multidimensional, surgiram várias perspetivas
metodológicas com o objetivo de se proceder a uma melhor compreensão das
modalidades da participação (Borba, 2012: 275).
Neste contexto, notam-se os primeiros esforços de Sabucedo e Arce (1991). Os
autores sentem a necessidade de desenvolver novas categorizações que permitam
descrever pequenas diferenças entre os tipos de participação política. Estes
questionam-se se uma análise mais específica das dimensões da participação política
não permitiria desenvolver novas classificações da participação política (Sabucedo e
Arce, 1991: 94-5). A análise foi feita em 77 estudantes da Universidade de Compostela,
Espanha33. Os autores verificaram que as variáveis que caraterizam a participação
política, aparecem em dois grupos de clusters que originaram dois subgrupos. Por um
lado, verificavam-se os clusters das atividades legais, por outro, o das atividades ilegais.
Nas atividades legais encontravam-se dois subgrupos distintos que representam os tipos
da participação política. O primeiro respeita às ações de influência e de persuasão que
ocorrem durante as campanhas eleitorais e são afetados pela filiação partidária
(participar em reuniões políticas e tentar convencer os outros a votar). O segundo
demonstra a capacidade de as pessoas estarem envolvidas no processo político de várias
formas (votar, escrever para a imprensa, participar em demonstrações públicas legais e
em greves legais). No segundo cluster sobre as atividades ilegais, também emergiram
dois subgrupos distintos. O primeiro cluster carateriza-se pelas ações consideradas
violentas (destruir propriedades privadas e violência armada). O segundo cluster
carateriza-se por ações de protesto que, por sua vez, não são consideradas violentas
33 Como estímulo, os autores utilizaram 30 modalidades da participação política. Tendo sido
construídos 78 pares de estímulos. Os indivíduos foram convidados a usar um ponto de
escala (0-9) para encontrarem a dissimilaridade entre os pares de estímulo. A ordenação de
pares de estímulos foi feita através do método de rotação estandardizado. Adicionalmente, os
estudantes foram questionados numa escala de julgamento de estímulos de 29 pontos.
Finalmente, os estudantes foram questionados sobre as suas posições ideológicas numa
escala de 1 a 7 (Sabucedo e Arce, 1991: 95).
74
(boicotes, greves não autorizadas, demonstrações não autorizadas, ocupar edifícios e
interrupção do tráfego) (Sabucedo e Arce, 1991: 99-100).
Quadro nº 5.7 - Tipologia da participação política, segundo Sabucedo e Arce
Formas Persuasão eleitoral Participar em reuniões políticas; tentar
convencer alguém a votar Participação convencional Votar; escrever para a imprensa; participar em
demonstrações públicas legais; participar em greves legais
Participação violenta Destruir propriedades privadas; violência armada
Participação não violenta Boicotes; greves legalizadas; demonstrações não autorizadas; ocupar edifícios; interrupção do tráfego
Fonte: adaptado de Sabucedo e Arce, 1991
O estudo permitiu aos autores criarem novas classificações que passaram a ser
distinguidas por “persuasão eleitoral”, “participação convencional”, “participação
violenta” e “participação direta não violenta”. Segundo estes, o estudo permitiria sair do
ciclo arbitrário que tem caracterizado os estudos da ação política e possibilitaria uma
distinção precisa das diferentes formas de participação violenta e não violenta.
Acreditando também terem identificado distinções dentro da categoria que normalmente
tem sido vista como “não convencional” ou “ilegal” (Sabucedo e Arce. 100-1).
Borba (2012: 276) acredita que o trabalho de Sabucedo e Arce (1991) deu-se,
sobretudo, no sentido de chamar à atenção para distinções analíticas que se relacionam
com as modalidades da participação política, cuja inovação está patente no plano
metodológico, ao utilizar análise que foi incorporada noutros estudos. A limitação deste
trabalho está relacionada, particularmente, com a população amostral (universitários),
que é um grupo muito restrito e homogéneo, em geral, com atitudes e padrões
vinculados à dimensão geracional, o que impossibilita qualquer tipo de generalização de
tal classificação (Borba, 2012: 276).
O trabalho de Teorell e os seus colaboradores (2007b) tem sido apontado como um
dos mais recentes e dos mais inovadores nesta área (Borba, 2012: 276; Viegas e Faria,
75
2007). A pesquisa faz parte do projeto Citizen, Involvement, Democracy (CID) que
envolve 12 países europeus. Os autores abordam assuntos relacionados com as formas e
tipos de participação que se caraterizam pela ação do voto, partidos, protestos e o uso de
internet para questões políticas34.
Na sua tipologia, os autores admitem que determinadas atividades são agrupáveis e
formam uma dimensão distinta da participação política (Teorell et al, 2007b: 340).
Teorell e seus os colaboradores distinguem duas dimensões da participação política:
primeiro, o canal de expressão; segundo, o mecanismo de influência. O canal de
expressão é utilizado através das formas de representação (voto e atividade partidária)
ou extra representação (protesto e participação do consumidor). Enquanto, o mecanismo
de influência é caraterizado pela estratégia de voz (voto, atividade partidária,
participação do consumidor) e/ou saída (atividade partidária; protesto, contacto).
Quadro nº 5.8 - Nova tipologia dos modos de participação política
Mecanismo de influência
Canal de Expressão Representação Extra representação
Saída Voto Participação do consumidor
Voz Atividade partidária (Non-targeted)
Protesto (non-targeted)
Contacto (Targeted)
Fonte: adaptado de Teorell et al., 2007b: 341.
Os autores concluíram que os padrões dimensionais são idênticos em quase todos os
países, com exceção de Portugal: a mobilização partidária em Portugal tende a obstruir a
presença das distintas dimensões de protesto e da participação do consumidor (Teorell
34 O uso da internet para expressar opiniões políticas difere, significativamente, da participação
institucional quanto às modalidades de protesto. Estas novas formas caraterizam-se pela sua
manifestação individual, pela sua atuação esporádica ou pontual (direcionada para um
objetivo e momento específicos) e não estão intrínsecos a fidelização de determinados
grupos com formas organizativas permanentes. Estas caraterizam-se, também, pelo facto de
não serem dirigidas aos órgãos do poder político, podendo ser direcionadas a empresas ou
outras instituições da sociedade civil, que detêm um grande poder de intervenção (Viegas e
Faria, 2007: 63; Viegas et al, 2015: 199).
76
et al, 2007b: 355). Porém, o facto de essas dimensões serem idênticas nas mais variadas
áreas da sociedade (económica, política e cultural) é um forte argumento para a
equivalência da medição dos quatros modos das atividades em análise. Este resultado
reforça a ideia de que a multidimensionalidade da participação política está encaixada
na distintiva natureza de cada modo da participação política e não responde a
configurações institucionais de cada país (Teorell et al, 2007b: 348).
A classificação de Teorell et al. (2007b) é das mais sofisticadas construções
metodológicas da participação política, quer pela complexidade do conjunto de questões
incluídas no projeto, quer por incorporar novas modalidades, como por exemplo,
“participação do consumidor”. Também avança na compreensão do caráter
multidimensional, ao separar as modalidades conforme os seus canais de expressão e os
mecanismos de influência, cuja diferença interna se relaciona com os custos envolvidos.
A principal limitação do trabalho está no facto de se centrar, empiricamente, nos países
democráticos europeus (Borba, 2012: 278).
5.1.5 Distinção das formas da participação política
A distinção das formas da participação política tem sido muito controversa na literatura.
Como realçam Kaase e Marsh (1979: 30 e 37), as discussões contemporâneas acerca das
formas próprias da participação política relembram um puzzle que são confrontadas nos
primeiros estudos dos comportamentos políticos. As mesmas formas, por vezes, são
tratadas como convencionais e não convencionais, legais e ilegais, institucionais e não
institucionais, velhas e novas formas (Marsh e Kaase, 1979; Sani, 1980: 310-13; van
Deth, 1986: 263; Sabucedo e Arce, 1991: 94)35.
A distinção destas formas nasce Kaase e Marsh, 1979 (van Deth, 1986: 263). Para
Kaase e Marsh (1979: 39 e 42), as formas institucionais estão interligadas às atividades
políticas “tradicionais” que envolvem o voto, as instituições políticas, etc. Quer dizer,
um simples ato de participação é selecionado como um meio preciso destinado aos
atores políticos para atingir certos objetivos com um custo mínimo, objetivos que não
seriam alcançados de outra forma devido à falta de responsabilidade das autoridades
35 Essas nomenclaturas são distinguidas como o status quo da política. Muitas destas formas têm
um significado pejorativo da política tradicional (Sabucedo e Arce, 1991:94; van Deth, 1986: 263).
77
políticas e das instituições. Já as formas não institucionais, na maior parte das vezes, são
consideradas violentas já que os cidadãos apresentam comportamentos conflituosos que
originam a mudança de sistema. As atitudes que os cidadãos apresentavam poderiam ser
legais ou ilegais.
Giacomo Sani (1980: 310-13) propõe novos critérios na distinção da participação
política. Este adota as “novas” e “velhas” formas de participação, em vez das
convencionais e não convencionais. Para o autor, novas formas de participação
emergiram e expandiram-se através do “reportório tradicional do comportamento
político” – voto, filiação partidária, atividades associativas e de campanha (com menor
visibilidade pública e menor espontaneidade) – e incluem as novas formas, que
estiveram no centro dos debates na década de 1970, caraterizadas por demonstrações
públicas, greves ilegais, ocupação de fábricas, escritórios e de edifícios públicos,
bloqueios de vias públicas, pinturas murais e inscrição de slogans em edifícios públicos,
etc. (com maior visibilidade social e maior espontaneidade). Segundo o autor, nenhuma
destas atividades é nova. A novidade está na elevada frequência com que ocorrem estes
comportamentos, que no passado eram raros e isolados. A surpresa verifica-se no
aumento da violência política, fenómeno que deve ser considerado patológico, entre os
quais se destacam atos como atentados bombistas, assaltos, sequestros, destruição de
viaturas e confrontos físicos entre os manifestantes. No entanto, verificaram-se ligeiras
diferenças entre as velhas e as novas formas da participação política, destacando-se: as
novas formas são mais visíveis socialmente, visto que ocorrem na esfera pública e
necessitam deste espaço para maior expressão e envolvimento, sendo também mais
espontâneas e menos controladas pelas organizações e pelas instituições políticas. As
novas formas de participação tomam posições violentas entre os grupos opostos.
Normalmente, os participantes ocupam fábricas, bloqueiam o tráfego e incitam ao não
pagamento de impostos como formas de ação direta para chamar a atenção das
autoridades governamentais, exigindo-lhes a tomada de novas decisões ou de
implementação de novas políticas (Sani, 1980: 310-13).
Contudo, apesar de existirem várias distinções entre as formas da participação
política, as formas convencionais e não convencionais têm sido as mais utilizadas nas
pesquisas contemporâneas em ciência política (Pattie et al, 2004: 84; Norris, 2007b:
639, Dalton e Klingemann, 2007: 13). É esta nomenclatura que se vai utilizar na
presente investigação.
78
5.1.6 Participação convencional vs não convencional
Nas abordagens das formas de participação política tem-se apontado a dicotomia
existente entre as formas convencionais e não convencionais, não se registando
consensos na sua delimitação (Martins, 2004: 273). Como apontam Parry et al. (1992:
18) e van Deth (1986: 264), os termos convencionais e não convencionais são
controversos porque não existem parâmetros que distinguem o que é tolerável ou
intolerável numa sociedade democrática, pois, um cidadão mediano não consegue
distinguir o que é um comportamento político convencional ou não convencional.
Também se nota que a participação convencional e não convencional varia de
localidade para localidade, refletindo as normas e valores de cada comunidade sobre
aquilo que se considera uma conduta legítima ou ilegítima e acerca da intensidade com
que esta deve ser praticada, isto é, certas atividades ilegais podem ser consideradas
atividades convencionais e algumas atividades ilegais podem ser consideradas violentas
ou não violentas (Parry et al., 1992: 18; Sabucedo e Arce, 1991: 94).
A relação entre a participação convencional e não convencional é reprovada por
teóricos como Schumpeter ([1943] 1992: 294-5). Schumpeter não concorda que os
cidadãos devam pressionar os governantes de maneira a que se respeitasse o modus
operandi do método democrático. Ou seja, os cidadãos devem envolver-se menos,
sendo submissos voluntariamente, visto que com pressão não é possível os governantes
realizarem as políticas ou exigências feitas pelos eleitores o que, de certa forma, mina os
princípios basilares democráticos. Porém, os cidadãos devem respeitar as atividades do
governo e participar de acordo as normas consentidas democraticamente. Porque o
político foi eleito para gerir os negócios do cidadão e não dele próprio.
Admitem-se juízos de valor acerca do funcionamento da democracia,
particularmente, em relação ao modo como os cidadãos devem relacionar-se com os
dirigentes políticos, mas a tendência é para admitir a existência de um vasto conjunto de
instrumentos que podem ser utilizados pelos cidadãos para intervir no processo político
e que esses instrumentos se podem segmentar, por exemplo, entre modos pacíficos e
modos violentos; entre modos consentidos e modos não consentidos; entre modos
tradicionais e modos não tradicionais (Martins, 2004: 273-4).
79
É nesta perspetiva que estudos empíricos consideram a forma convencional e não
convencional indissociáveis uma da outra. Como afirmam Kaase e Marsh (1979: 137),
as formas convencionais e não convencionais da participação política não são
mutuamente exclusivas, mas operam em conjunto e constituem um “reportório da ação
política”. De facto, o critério da separação parece ser o do grau de contestação ligado
aos atos de participação, facto que é admitido por outros autores que consideram que as
formas convencionais dependem do quadro institucionalizado da competição eleitoral e
que as formas não convencionais se associam ao crescimento dos movimentos de
protesto social que protagonizam formas de ação direta, contestatária e autónoma, que
se distinguem das formas tradicionais institucionalizadas. Neste contexto, as formas não
convencionais, ao alargarem o âmbito da intervenção política dos cidadãos, alteram o
modo do seu funcionamento (Martins, 2004: 274).
A década de 1990 (até sensivelmente 2002) foi marcada por uma enorme
proliferação de estudos sobre a participação em redes sociais e em associações
voluntárias (Putman, 1993; 1995; 2000; 2002; Parry et al., 1992; Verba et al, 1995;
Pharr e Putman, 2000)36. Mas é com Almond e Verba (1979) que se marcam os seus
primeiros passos, seguidos por Verba e os seus companheiros (1972; 1978) (ver Teorell,
2003:49). Um dos seus defensores afirma que os cidadãos em comunidades cívicas são
caraterizados, antes de tudo, por participação ativa em questões públicas e são movidos
por interesses próprios através dos valores ligados em redes sociais (capital social)37
(Putman, 1993: 87-8; 2000: 19). Essa participação manifesta-se de formas distintas,
baseando-se, fundamentalmente, na comunidade, igreja e trabalho. Uma das suas
principais caraterísticas é desenvolver atividades em grupos de pessoas que acabam por
se conhecer nesse local (Putman, 1993: 99; 2000: 49 e 51). Tais redes conectam os
36Existem também outras formas que analisa(m) o(s) indivíduo(s), resultando direta ou
indiretamente da participação em certos tipos de redes sociais e, ao mesmo tempo,
significam a mesma coisa. Por exemplo, mobilização política, associações cívicas e
voluntárias (Stolle, 2007: 659; Putman e Goss, 2002: 7). 37 Refere-se à conexão entre os indivíduos. Redes sociais, as normas de reciprocidade e a
confiança que fomentam entre eles (Putman, 2000: 19). De acordo com Coleman (1990:
302), o capital social é uma variedade de entidades que apresentam duas caraterísticas
comuns: todas elas consistem em alguns aspetos da estrutura social e facilitam certas ações
dos indivíduos que estão entre a estrutura. A sua relação é destinada à estrutura da relação
entre as pessoas e sobre as pessoas, diferentemente de outras formas de capital, como por
exemplo, o capital humano que se preocupa apenas com o indivíduo.
80
indivíduos a um vasto contexto e, consequentemente, aumentam a probabilidade de
estes estarem expostos a atividades políticas (Verba et al, 1995: 304; Teorell, 2003: 52).
Apesar das teorias das atividades comunitárias estarem intrinsecamente ligadas à
teoria do capital social, elas são mutuamente exclusivas (Teorell, 2003). Neste caso, a
atenção deste estudo recai na participação política comunitária. A principal ideia é a de
que um membro de família, amigos e associados constituem um ativo importante, onde
qualquer um pode ser chamado em situação de crise para o seu próprio bem e obter
ganhos materiais. As tais comunidades são ricas em solidariedade com fortes posições
para combater a pobreza e a vulnerabilidade, resolvem conflitos e tiram vantagens das
novas oportunidades. A comunidade como um todo beneficiará da cooperação de todas
as partes, enquanto o indivíduo encontrará na sua associação as vantagens de ajudar, a
simpatia e o carinho dos vizinhos (Putman e Goss, 2002: 4 e 6; Verba e Nie, 1972: 47).
Atenta-se que a participação nestas atividades requer tempo, dinheiro, capacidades
físicas e competências cívicas (Verba et al, 1972: 45;1995: parte III; Putman e Goss,
2002: 18).
A classificação da atividade comunitária é ambígua, visto que existem várias formas
e o seu ato é difícil, bem como pode reduzir o efeito das instituições. O que é pouco
claro, é que a extensão das atividades comunitárias requere canais institucionais e a
extensão com que parece ser o sujeito direto da mobilização institucional. Alguns atos
são levados a cabo por atividades comunitárias formais e outras por informais (Verba et
al, 1972: 47; 1978: 74; ver também Putman, 1993; 2000). De realçar que as atividades
que estes tomam são voluntárias e sem compensação financeira (Verba et al, 1995:
38-9).
5.2 Definição das atitudes políticas
5.2.1 Das atitudes às atitudes políticas
A história da jovem paquistanesa Malala Yousafzai, Prémio Nobel da Paz em 2014,
pode ser considerada como um dos acontecimentos mais chocantes e emocionantes dos
dias de hoje. Segundo Cooper et al. (2016:1), a sua atitude em relação à educação
poderá ter-lhe causado “trauma” e “triunfo”. O trauma aconteceu a 9 de outubro de
81
2012 ao ser atacada por homens armados do grupo terrorista talibãs, quando Malala ía
para escola, tendo sido atingida por uma bala na cabeça. Malala sobreviveu e, após uma
recuperação difícil, foi recebida com uma triunfante ovação de pé na Assembleia Geral
das Nações Unidas.
Sem medo nem ressentimento contra os seus malfeitores, movida pela crença e
esperança num mundo melhor, Malala rematou no auditório:
Queridos irmãos e irmãs, precisamos de escolas para o futuro brilhante de todas as crianças… não devemos esquecer que milhares de crianças estão a sofrer de pobreza, injustiça e ignorância. Devemos lembrar-nos que milhares de crianças estão fora do sistema de ensino. Portanto, vamos lutar contra a iliteracia, pobreza e terrorismo, e deixem-nos pegar nas nossas canetas e livros. Elas são as nossas armas mais poderosas. Uma criança, um professor, uma caneta e um livro podem mudar o mundo. A Educação é a única solução. A Educação primeiro que tudo o resto38.
(NY Times, 12 de julho de 2013).
Mahatma Gandhi, Nelson Mandela, Martin Luther King Jr., só para mencionar
alguns, são os mais notáveis exemplos de como as atitudes e crenças podem tornar o
mundo num local melhor. As atitudes deles deixaram nas sociedades uma nova visão
sobre a liberdade e dignidade humanas (Cooper et al, 2016: 1-2). Basicamente, a forma
como se avalia o mundo é profundamente determinada pelas atitudes. Desde as questões
políticas relevantes até à mais simples forma de perceber o mundo, remetem-nos a uma
profunda reflexão entre gostar e não gostar, as nossas preferências e as nossas
avaliações (Cooper et al, 2016: 2). Ou seja, o mundo é movido pelas atitudes do ser-
humano.
Importada do francês, o uso da palavra “atitude” foi registada pela primeira vez na
linguagem inglesa no séc. XVII, significando “postura do corpo”. A sua primeira
ligação com a psicologia ocorreu em 1725, referindo-se a uma postura do corpo que
reflete o estado mental do indivíduo (Cooper et al, 2016: 2).
Os primeiros estudos científicos sobre atitudes datam do início do século XX, com a
publicação da obra clássica The Polish Peasant in Europe and America do sociólogo
americano William I. Thomas e do académico polaco Florian Znaniecki, em 1918.
Primordialmente, os estudos das atitudes estavam ligados à psicologia social. Como
afirma Gordon Allport (1959: 43), o conceito de atitudes é, provavelmente, o mais
38 Tradução do autor. Disponível em: https://thelede.blogs.nytimes.com/2013/07/12/video-of-
malala-yousafzai-at-u-n-calling-on-world-leaders-to-provide-education-to-every-child/?_r=0.
Acedido a 08.03.2017.
82
distintivo e indispensável na psicologia social contemporânea39. Antes, Thomas e
Znaniecki já tinham afirmado que as “atitudes” deveriam ser consideradas como a
essência da psicologia social porque, segundo eles, qualquer manifestação das nossas
vidas, simples ou complexa, particular ou geral, pode ser tratada como uma atitude
(Thomas e Znaniecki, 1918: 27). Noutros termos, as atitudes podem ser consideradas
como uma predisposição comportamental que pode influenciar a ação positiva ou
negativa do indivíduo (Voicu et al, 2016: 9).
A definição de atitudes é pouco consensual entre os estudiosos (ver Cooper et al,
2016: 5-6). Conforme salientam Pratkanis et al. ([1989] 2014: 5):
Geralmente, os investigadores sobre atitudes têm tratado virtualmente qualquer entidade nomeável ou descritível como um objeto de atitude. Os estudos sobre atitudes podem estar relacionados com (a) qualidades sensoriais (cores, odores, texturas), (b) objetos concretos (animais, pessoas, lugares, comida), (c) conceitos abstratos (traços de personalidade, objetos de estudos académicos), (d) declarações verbais (crenças, opiniões), (e) sistemas de pensamentos (ideologias, estilos estéticos), (f) ação (beber álcool, comportamento sexual), e (g) atitudes (e.g. uma atitude para prejudicar).
Nesta tese, interessa centrarmo-nos no conceito mais especifico de atitudes políticas.
Relativamente a atitudes políticas, poucos têm sido os autores que se preocupam em
conceptualizá-las, mas há algumas exceções como se pode constatar pelos parágrafos
que se seguem.
Lancelot define as atitudes políticas como “atitudes sociais formadas em relação a
situações políticas que, por sua vez, são situações sociais consideradas a partir do
ângulo do poder, isto é, do governo ou da sobrevivência da sociedade”40 (Lancelot,
1974: 10).
Conway (2000: 48) entende que as atitudes políticas podem focar-se num ou mais
objetos, incluindo em pessoas ou situações, sendo estas importantes para influenciar a
ação política dos indivíduos. Por exemplo, os cidadãos avaliam frequentemente os
candidatos presidenciais (que neste caso são objetos) quanto ao modo como eles se
39 Segundo Cooper et al. (2016), esta afirmação ainda faz sentido em pleno século XXI, uma vez
que se se pesquisar o termo “atitudes” em pesquisas científicas, este aparece em mais de 65
mil artigos, capítulos de livros, livros e dissertações. 40 “Les attitudes politiques sont attitudes sociales formées par rapport à des situation politiques
qui sont des situations sociales considérées sous l´angle du pouvoir, c´est-à-dire du
gouvernement ou de la survie de la société” (Lancelot, 1974: 10).
83
apresentam face a diferentes situações (quais são as suas prioridades orçamentais, como
lidam com matérias de política externa ou como lidam com uma crise internacional).
Estas avaliações podem ser instrumentais e determinantes na decisão dos cidadãos em
como vão votar.
5.2.2 Cultura política como fator primordial das atitudes políticas
O fim da Segunda Guerra Mundial levou ao surgimento de questões ligadas ao futuro
do regime democrático a nível mundial. O recente surgimento de regimes autoritários e
totalitários na Europa (por exemplo, o fascismo de Mussolini ou o nazismo de Hitler)
levantou a suspeita de que ter instituições democráticas não chegava para garantir a
continuidade das democracias. Pelo contrário, alguns autores começaram a defender a
ideia de que as atitudes das pessoas face ao sistema político seria um fator indispensável
a ter em conta (Almond e Verba, [1963] 1989:).
No seu estudo seminal The Civic Culture: Political Attitudes and Democracy in Five
Nations, Almond e Verba ([1963] 1989) desenvolveram o conceito de cultura política.
Para estes cientistas, o termo “cultura política” refere-se às orientações políticas, isto é,
às atitudes dos cidadãos perante o sistema político e seus objetos mais específicos,
incluindo a forma como o cidadão se vê como parte do sistema político. Segundo os
mesmos autores, a cultura política é composta por três tipos de orientações, afetivas,
avaliativas e cognitivas; respetivamente, o sentimento, a avaliação e o conhecimento
que os cidadãos têm sobre o sistema político, sobre os objetos e sobre si como parte do
sistema (Almond e Verba, [1963] 1989: 11-16; Almond, 1968: 58; Almond e Verba,
1980: 26 e 28). Os autores avançam com três tipos de cultura política ideais-tipo:
cultura política paroquial; de sujeito e participativa41.
A cultura política paroquial implica a quase total ausência de orientações políticas.
Os cidadãos não têm grandes conhecimentos políticos, pelo que também não têm
sentimentos, nem avaliam o sistema político. Este tipo de cultura política é frequente em
sistemas tradicionais onde a especialização política é mínima como, por exemplo, em
algumas tribos africanas (Almond e Verba, [1963] 1989:17).
41 Parochial political culture; the subject political culture; the participant political culture.
84
A cultura política de sujeito refere-se à existência de orientações políticas, mas
apenas em relação aos objetos de “output”42 do sistema político. As orientações perante
os objetos de “input”43 do sistema e perante si mesmo como um participante ativo deste
sistema não se destacam (Almond e Verba, [1963] 1989:17-18).
Por último, a cultura política participativa, que é aquela em que os cidadãos têm
orientações sobre o sistema político, quer como um todo, quer em relação aos seus
objetos de “input” e de “output” e, ainda, se veem como parte ativa desse mesmo
sistema. Cada cidadão pode ter orientações mais ou menos favoráveis em relação ao
sistema político, mas em termos de atitudes são ativos no processo político (Almond e
Verba, [1963] 1989: 18).
O quadro nº 5.1 apresenta de forma sistemática a existência (vs. ausência) de
orientações individuais em relação ao sistema político, numa simples matriz. Em linha
encontram-se os tipos de cultura e em coluna os quatro possíveis objetos relacionados
com o sistema político.
Quadro nº 5.9 - Tipos de cultura política
Sistema como
um todo
Objetos de
input
Objetos de
output
Cidadão como participante ativo
Paroquial 0 0 0 0
Sujeito 1 0 1 0
Participativo 1 1 1 1
Fonte: Almond e Verba, [1963] 1989: 17.
42 Objetos de “output” são os agentes que aplicam e fazem cumprir os princípios impostos pelas
autoridades governamentais como, por exemplo, os serviços públicos administrativos e os
tribunais (Almond e Verba, [1963] 1989):14-15). [«“output” process refers to that process
by which authorative policies are applied or enforced. Structures predominantly involved in
this process would include bureacracies and courts» (Almond e Verba, [1963] 1989: 14)]. 43 Objetos de “input” referem-se ao fluxo de exigências por parte da sociedade em relação ao
sistema político e à conversão dessas exigências em políticas efetivas. Entre estes objetos
incluem-se os partidos políticos, grupos de interesses e os meios de comunicação (Almond e
Verba, [1963] 1989: 14). [«“input” process refers to the flow of demands from the society
into the polity and conversion of these demands into authoritative policies. Some
structures… involved in the input process are political parties, interest groups, and the
media of communication» (Almond e Verba, [1963] 1989: 14)].
85
Em democracia, espera-se que o indivíduo seja um elemento ativo e envolvido na
política, supondo-se que as suas atitudes são racionais e não emocionais. Para tal, o
indivíduo deve estar bem informado, pois só assim poderá tomar decisões – de como
deve votar – com base nos interesses e princípios que gostaria de ver resolvidos.
Designa-se este modelo por modelo do “ativista racional” da cultura política (Almond e
Verba, [1963] 1989: 29). Logo, à partida o tipo de cultura política que melhor se
coadunaria com o regime democrático é o tipo participativo.
No entanto, os autores salientam que o tipo de cultura política que observam no seu
estudo, mesmo em democracias muito consolidadas como é o caso do Reino Unido, está
longe de se enquadrar totalmente no tipo de cultura política participativa. Embora
encontrem entre os cidadãos britânicos muitos elementos desse tipo de cultura política,
encontram também elementos típicos de uma cultura de sujeito ou até paroquial. A esta
cultura política mista, que é sobretudo do tipo participativa, mas que também contém
caraterísticas dos outros dois tipos ideais de cultura política, os autores denominam por
cultura cívica e concluem que é aquela que, na prática, melhor se adequa a um regime
democrático (Almond e Verba, [1963] 1989).
Apesar da obra, The Civic Culture: Political Attitudes and Democracy in Five
Nations, ter sido alvo de várias críticas (por exemplo de Pateman, 1980), a sua
relevância é indiscutível até aos dias de hoje.
5.2.3 Cultura política e a pós-modernidade
Com a expansão científica e tecnológica e, principalmente, da globalização44, a
modernidade começou a perder vigor, dando entrada à pos-modernidade (Giddens,
1997; Belchior, 2010: 46). O pós-modernismo inspirou uma das melhores pesquisas
empíricas sobre a mudança de valores, a obra A revolução silenciosa, de Inglehart,
publicada no final dos anos 70 (Gabriel e van Deth, 1995: 390-1). Segundo Ronald
Inglehart nos países ocidentais estaria a ocorrer uma mudança de valores, no sentido em
44 A globalização passa a ser encarada como um fenómeno de proximidade, ligado diretamente
às circunstâncias da vida local, cuja ideia implica uma “aldeia global”, onde os
acontecimentos locais passaram a ser universais, e os universais passaram a locais (Giddens,
1997:67-75).
86
que os valores materialistas deixavam de ocupar uma posição primordial e os valores
pós-materialistas passariam a assumir uma enorme importância (Inglehart, 1979). Esta
revolução estaria a acontecer porque as populações desses países viam pela primeira vez
as suas necessidades mais básicas satisfeitas, quer do ponto de vista financeiro, quer do
ponto de vista da segurança física, o que lhes daria a possibilidade de se preocuparem
com questões que, noutros tempos, seriam consideradas secundárias. Temas como o
ambiente, a qualidade de vida ou os direitos das minorias passam a ocupar um lugar
importante entre as preocupações das pessoas.
A dinâmica da cultura política e respetivas consequências sociais e políticas das
sociedades pós-modernas têm constituído tema recorrente na literatura da ciência
política nos últimos tempos (Belchior, 2010: 28). Tendencialmente, destacam-se os
elevados níveis de apatia política (Magalhães, 2004), de falta de confiança política
(Pharr e Putman, 2000) e de desafeição política dos cidadãos (Torcall e Montero, 2006;
Norris 1999 e 2011), o declínio da participação convencional e o aumento das formas de
protesto (Barnes et al, 1979; Inglehart, 1997: 311-15 e 327), baixa afluência às urnas
(Franklin, 2004) e o declínio da identificação partidária (Dalton e Wattenberg, 2000).
Verifica-se um nível considerável de declínio do interesse político destes cidadãos que,
sob as palavras de Pippa Norris (2002: 7) começa a tornar-se “pandémico”.
5.3 Definição da socialização política
Em termos globais, a socialização é a forma como os indivíduos são integrados num ou
mais grupos sociais, onde os integrantes mais antigos esperam resultados satisfatórios
dos recém-admitidos (Grusec e Hastings, 2015: xi). O principal objetivo do grupo é
ensinar os seus valores, atitudes e outros comportamentos que irão acompanhar o
processo de formação dos novos integrantes ao longo de toda a vida. Aqui, destacam-se
o papel dos agentes de socialização que desempenham estas funções, designadamente, a
família, a escola, os professores, a comunidade, os meios de comunicação social, as
igrejas, etc. (Hess e Torney, 1967: 6; Torney-Purta et al, 1999). O sucesso ou fracasso
do indivíduo dependerá, essencialmente, da sua perceção, cognição e ação adquiridas
através das sugestões, conhecimentos, valores e expetativas dos agentes de socialização
que se destacam como seus modelos (Zuckerman, 2005: xv).
87
A manifestação política que um adulto revela tem origem nas atitudes, valores e
orientações básicas adquiridas na infância (Hess e Torney, 1967: 6). Esta aquisição de
conteúdos políticos é desencadeada pelas informações que recebem desde muito cedo
(Gimpel et al, 2003: 7). A informação varia de acordo com o tempo e o espaço, bem
como a comunidade e a sua parte constituinte e o fluxo da relevância da mensagem
política. Por exemplo, as coortes geracionais adquirem as mensagens de socialização de
diferentes maneiras, com maior impacto numas do que noutras, independentemente dos
atributos dos próprios indivíduos e as caraterísticas dos lugares em que habitam
(Gimpel et al, 2003: 7).
Em The Politics of the Developing Areas, compreende-se que a socialização política
é o processo que procura explicar a cultura política. O seu produto final é um conjunto
de atitudes – cognição, valores, padrões e sentimentos – perante o sistema político e os
seus vários papéis desempenhados (Almond e Coleman, 1960: 27-8). O que inclui
também conhecimentos, valores afetivos e sentimentos perante os objetos de inputs e
outpus (Almond e Coleman, 1960: 27-8; Almond e Verba, 1988 [1965]).
Easton e Dennis entendem que a socialização política é a maneira como uma
sociedade transmite as orientações políticas – conhecimento, atitudes ou normas e
valores – de geração a geração (Easton e Dennis,1973: 59). Enquanto Hyman define a
socialização política como um processo de aprendizagem dos padrões sociais do
indivíduo que correspondem à sua posição social. Esses padrões são mediados por
vários agentes sociais45 (Hyman, 1959: 25).
Sapiro compreende a socialização política como um campo de pesquisa em que
existe inter-relação de fenómenos ao nível macro e micro: ao nível macro, a
socialização política procura formular questões relativas ao modo como os políticos e
outras sociedades políticas46 e sistemas incutem normas e práticas nos cidadãos,
residentes e membros; ao nível micro, procura-se perceber os padrões e processos pelos
quais os indivíduos se relacionam com questões políticas e aprendem e constroem
relações particulares no contexto político em que se encontram (Sapiro, 2004: 2-3). É
nesta última definição que a presente pesquisa procurará inserir-se.
45 “…learning of social patterns corresponding to his societal positions as mediated through
various agencies of society” (Hyman, 1959: 25). 46 “… other political societies…” (Sapiro, 2004).
88
5.3.1 Agentes de socialização política
5.3.1.1 A família
A família é o principal agente de socialização política, no sentido em que os pais
transmitem – direta ou indiretamente – aos filhos conhecimentos, experiências,
interesses, normas, valores e ideologias (Beck e Jennings, 1991; Sears e Levy, 2003: 62;
Schmid, 2012; entre outros). Crianças cujas famílias são politicamente ativas, tendem a
ser, também, politicamente ativas (Sani e Quarantana, 2015; Gidengil et al, 2016).
Russell Dalton verificou que os parentes influenciam significativamente o sentimento
de eficácia política, a tolerância política e o conhecimento político dos seus filhos
(Dalton, 1982: 152). Mas também a identificação partidária de um indivíduo é
fortemente influenciada pela família (Niemi e Jennings, 1991; Zuckerman, et al, 2005:
91). E, quanto maior for o nível de politização na família, maior o envolvimento político
dos filhos (Stoker e Bass, 2011: 454; McDevitt, 2006: 81) e maior a concordância em
questões políticas entre pais e filhos (Beck e Jennings, 1991: 751). Com isso, o
desaparecimento das diferenças de género na discussão política de raparigas e rapazes
em casa ou com amigos (Scholzman, 2012: 196; Mayer e Schmidt, 2004; Verba et al,
2003).
Tradicionalmente, raparigas e rapazes são encorajados, na família, a desenvolver
atividades de acordo com a estereotipação de género (Mayer e Schmidt, 2004: 393;
Cunningham, 2001). A formatação política que as crianças recebem nos primeiros anos
de vida tendem a determinar as atitudes e comportamentos políticos de mulheres e
homens na vida adulta (Chodorow, 1978; Verba et al, 1995: 434 e 436). O facto de os
homens serem mais incentivados para a vida fora de casa, para exporem as suas
opiniões e para o conflito fá-los mais aptos para a vida política (Pateman, 1994;
Putman, 2000).
Aparentemente, a figura materna é a força motriz no processo de formação política
das crianças. Os níveis de opinião política das filhas são mais fortemente afetados pelas
mães do que pelos pais e o impacto é maior quando as mães revelam baixos níveis de
opinião (Rapoport, 1985: 207). Quanto mais as mães respondem “não sei” [don´t know]
as filhas tendem também a responder “não sei”. Recentemente, observou-se que a
participação política das mães é mais importante para a participação das filhas e filhos
do que a dos pais (Sani e Quarantana, 2015; Gindegil et al, 2010 e 2016).
89
A aprendizagem política que as crianças e os jovens recebem desde muito cedo dos
seus parentes tende a mudar ligeiramente ao longo do tempo e do espaço (Hyman, 1959:
25; Verba et al, 2003). Após o casamento, a socialização de cada elemento do cônjuge
molda-se e produz novas oportunidades de persuasão e aprendizagem. Também cria
uma relação de interdependência no casal e aumenta a probabilidade de as decisões
políticas serem feitas em conjunto, o que pode aumentar ou diminuir a participação,
dependendo dos níveis de envolvimento político do novo parceiro (Stoker e Jennings,
1995 e 2005).
5.3.1.2. A escola
Entende-se por processo de socialização política levado a cabo pela escola a influência
dos programas curriculares, bem como as caraterísticas contextuais, tais como a
capacidade de a escola encorajar a discussão ou participação na política (Eckstein et al,
2012: 486). Nela é suposto que as/os estudantes sejam preparadas(os) para a vida no
mundo “real”, particularmente, na esfera política (Gimpel et al, 2003: 145).
Com a estabilização democrática, na maioria dos países europeus, têm sido
implementadas várias iniciativas políticas para fortalecer a educação cívica nas escolas.
Por exemplo, o Conselho da Europa proclamou o ano de 2005 como o “Ano Europeu
dos Cidadãos através da Educação”47, cujo objetivo é harmonizar as ofertas educativas
dos Estados membros (Hooghe e Claes, 2009: 219).
Num estudo seminal, publicado em 1968, Robert Hess e Judith Torney afirmaram
que a escola parecia ser o instrumento mais eficaz de socialização política nos EUA
(Hess e Torney, 1968: 120). Pessoas que participam em atividades escolares estão mais
capacitadas a envolverem-se em atividades políticas na fase adulta (Beck e Jennings,
1982). Nessas atividades, as pessoas poderão ter desenvolvido competências e
orientações que serão transferidos para a esfera política (Beck e Jennings, 1982: 105).
Torney-Purta verificou, em 28 países, que as(os) jovens estudantes são encorajadas(os),
na escola, a participar em atividades de voto e noutras atividades além do voto,
inclusive a participar em atividades comunitárias (Torney-Purta et al, 2001: 118). Nos
EUA, observou-se que a participação em cursos cívicos está associada a um aumento
47 “European Year of Citizenship through Education”.
90
significativo do nível de discussão política, do nível de conhecimento político e de
eficácia política interna dos alunos (Gimpel et al, 2003: 149).
Estudos mostram que as raparigas com mais escolaridade têm maior probabilidade de
adotar uma ideologia (McDevitt, 2006: 78). Mulheres universitárias são mais propensas
a votar, a filiar-se num partido e a participar noutras atividades políticas para além das
formas tradicionais. Têm também maior interesse na política e estão mais informadas
(Gidengil et al, 2010; Sherkat e Blocker, 1994: 838).
Mais do que os rapazes, as raparigas admitem que as salas de aulas promovem
discussão sobre questões políticas (Torney-Purta et al, 2001: 140).
Embora as previsões da participação das(os) jovens alunos seja determinante para a
participação real (Torney-Purta et al, 2001), aparentemente, a escola não é um elemento
que contribua para as diferenças de género que se observam na participação política na
idade adulta, como constatado recentemente (Burns et al, 2001; McDevitt, 2006;
Gidengil et al, 2016).
5.3.1.3 A comunidade
As associações são o garante e a estabilidade da democracia. O progresso de todas as
outras instituições depende do seu progresso (Tocqueville, [1835] 2008: 494). Uns
encaram-nas como um poderoso meio de ação coletiva, enquanto outros consideram-nas
o único meio de agir dos indivíduos (Tocqueville, [1835] 2008: 492). As associações
tendem a nascer de um sentimento ou ideia pré-concebida com o objetivo de a dar a
conhecer ao mundo e, posteriormente, os indivíduos procuram-se uns aos outros,
encontram-se e unem-se. A partir desse momento, deixam de ser pessoas isoladas, pelo
contrário, passam a ter um poder que se vê de longe, cujas ações servem de exemplo:
um poder que fala e que é ouvido (Tocqueville, [1835] 2008: 493-4).
A comunidade consiste em locais onde as pessoas vivem e interagem com bastante
frequência, incluindo familiares, vizinhos, colegas de escola e de trabalho, membros da
igreja ou de um clube social, etc. (Gimpel, 2003: 44). A comunidade, enquanto espaço
político, representa os membros da sociedade como um grupo de pessoas homogéneas
que procuram resolver problemas comuns, através da partilha de estruturas políticas
(Easton e Hess, 1962: 233). Os indivíduos que procuram estar inseridos em associações
voluntárias ou ajudar a comunidade a resolver os seus problemas, mostram-se mais
91
propensos a votar e a praticar atividades além do voto do que os outros (Knack et al,
1998: 595; Knack, 1992: 151). Verba observou que a participação do indivíduo na ação
comunitária tem maior efeito na participação política do que trabalhar ou frequentar a
igreja (Verba et al, 1995: 451-2).
As organizações juvenis podem desempenhar um papel importante nos serviços
sociais das suas comunidades. Dentro dessas organizações, destacam-se organizações
académicas, conselhos académicos, clubes académicos e grupos religiosos, cujas
principais atividades consistem em discursos públicos, debates cívicos, encontro com os
representantes locais, etc. (Becker, 2001). Os jovens percebem que a sua participação
nas organizações juvenis lhes dá poder na tomada de decisão da comunidade,
permitindo-lhes atuar no presente para poderem desenvolver atividades políticas no
futuro (Flanagan, 2003: 260; Settle et al, 2011: 246). Conforme reforçado por
McFarland e Thomas, a participação de jovens nas associações juvenis, apesar de
modesta, tem efeitos positivos no ativismo político na fase adulta (2006: 418). No
entanto, são os jovens rapazes que mais tendem a revelar esse tipo de comportamento
(McFarland e Thomas, 2006: 413).
No geral, os jovens europeus participam pouco nas atividades ou organizações
comunitárias. Sendo os sul europeus menos participativos se comparados com outros
grupos de países da Europa (Norris, 2004). Resultados semelhantes foram encontrados
em estudos de socialização. Os rapazes mostraram-se mais ativos do que as raparigas
nas organizações desportivas e as raparigas revelaram-se mais ativas do que os rapazes
nas organizações académicas (Burns et al, 2001: 148). Noutro estudo, concluiu-se que
os rapazes têm mais possibilidades de se envolver em atividades cívicas do que as
raparigas (Torney-Purta et al, 2001: 151).
5.3.1.4 A religião
Indivíduos que frequentam locais religiosos obtêm várias vantagens, especialmente, os
mais novos. Jovens que frequentam regularmente atividades religiosas tendem a mostrar
comportamentos menos desviantes (como drogas, álcool, promiscuidade sexual,
envolvimento em atividades criminosas, etc.) do que aqueles que não frequentam
(Smith e Denton, 2005: 221-3).
92
As igrejas são fontes privilegiadas de perspetivas teológicas e atitudes morais. Elas
transmitem, ao grupo de participantes, normas e habilidades cívicas (Pearson-
Merkowitz e Gimpel, 2009). Enquanto agente de socialização, as igrejas revelam-se
locais privilegiados para a mobilização política dos indivíduos (Solt, 2008; Warren e
Wicks, 2011: 167).
A relativa igualdade de oportunidades entre as(os) cidadãs(os) brancas(os),
negras(os) e latinas(os) que lhes permite desenvolver as competências e os estímulos
políticos relevantes, que são fornecidos pela igreja, é um aspeto importante para
compreender a política norte-americana (Verba et al, 1995: 384; Brenner, 2011: 36).
Tem-se defendido que a identidade religiosa fornece as estruturas cognitivas que
fomentam a participação política individual ou coletiva do indivíduo (Wilcox et al,
2008: 878). Os dados indicam que o estímulo para a participação política – incluindo
votar num candidato, frequentar outras atividades políticas e/ou debater questões socias
e políticas – tem emergido das instituições religiosas (Verba et al, 1995: 372-3; Becker,
2001: 326). Alguns estudos notaram que a composição religiosa das comunidades tem
um impacto direto no conhecimento, na discussão e nos níveis de eficácia política.
Principalmente, se o indivíduo reside numa comunidade muçulmana ou católica
(Gimpel et al, 2003: 127).
Relativamente ao género, as mulheres tendem a ser mais ativas do que os homens em
instituições religiosas e são mais propensas a considerar a religião importante nas suas
vidas (Burns et al, 2001; Djupe et al, 2007; Einolf, 2011). A sua participação neste tipo
de instituições permite-lhes expandirem a sua rede de contactos na comunidade (Einolf,
2011: 1109). Contudo, no caso das mulheres, a frequência de instituições religiosas não
tem efeito na propensão para votar (Gidengil et al, 2010: 343-5).
93
Capítulo VI - Análise e Discussão dos Resultados: participação
política, atitudes políticas e socialização política
6.1 Análise da participação política
6.1.1 Evolução das desigualdades de género na participação eleitoral
A literatura clássica sobre a participação eleitoral demonstrou que nas velhas
democracias, durante as décadas de 1960 e 1970, as mulheres eram menos propensas a
participar em atividades eleitorais do que os homens (ver, por exemplo, Lipset, 1960:
182-4). Estudos posteriores têm revelado o desaparecimento das desigualdades de
género nas atividades eleitorais nos países industriais avançados (Inglehart e Norris,
2003: 105). É a partir dos finais da década de 1990 que se verifica o desaparecimento
total das desigualdades de género nos EUA e na Europa ocidental (Inglehart e Norris,
2003: 107-8). Mas, recentemente, ao usar dados de Comparative Study of Electoral
Systems, modulo 4 – 2011-13, Miki Caul, ao analisar resultados de 16 países descobriu
que em 11 países, incluindo a Grécia, os homens revelaram-se mais participativos na
participação eleitoral do que as mulheres (Kittilson, 2016).
Conforme se pode observar no presente estudo, quadro nº 6.1, os testes estatísticos,
do qui-quadrado, não revelam a existência de desigualdades de género em nenhum dos
quatro países da Europa do sul durante o período em análise, salvo raras exceções em
Espanha (1985, 1990, 2008 e 2014), Grécia (1985) e Itália (2002, 2012 e 2014), tendo
as mulheres votado ligeiramente menos do que os homens. Apesar dos níveis de
participação eleitoral, em geral, estarem acima dos 60%, em média, Portugal parece ser
o país da Europa do sul onde a participação eleitoral tende a ser mais baixa e a Grécia
parece ter níveis de participação mais elevados48.
48 Esta é a percentagem que os resultados dos questionários apresentam, sendo mais altas do que
as percentagens da participação eleitoral real. Os resultados eleitorais reais, normalmente,
são baixos em toda a Europa, aumentando a taxa de abstenção eleitoral que começou a notar-
se a partir dos anos 70. Essa taxa é, especialmente, elevada em 17 países das novas
democracias – incluindo Portugal, Espanha e Grécia – cujos valores médios atingem os 40 a
45%, tendo em conta os métodos de operacionalização utilizados, enquanto noutro grupo de
países (16 países incluindo Itália), o aumento da abstenção tende a conter-se, principalmente,
quando se considera a taxa média de todos os países (Delwit, 2013: 46-8).
94
Se num modelo multivariado que inclui as variáveis de controlo, acima descritas, que
costumam explicar a participação política eleitoral, não se mantiverem as diferenças de
género, então, pode ser assumido com alguma certeza que essas diferenças, de facto,
não existem. Como se pode constatar no quadro nº 6.2, os resultados indicam que, ao
longo das últimas três décadas, o género não tem sido um fator diferenciador no que à
participação eleitoral diz respeito nos países da Europa do sul. Mas, constata-se que
entre 1985 e 1990, o género revelou-se uma variável determinante na propensão para
mulheres e homens votarem. Tendo as mulheres votado significativamente menos do
que os homens.
Quadro nº 6.1 - Evolução da modalidade da participação política eleitoral (voto)
(%)
Mulheres Homens
PORTUGAL
1985 86,3 84,6
1990 49,5 50,9
1999 57,1 58,0
2002 72,0 77,0
2004 69,9 73,8
2006 75,7 76,3
2008 71,3 75,3
2010 74,6 77,1
2012 68,4 70,2
2014 71,1 72,3
ESPANHA
1985 76,0 71,0*
1990 65,6 74,5***
1999 81,0 80,6
2002 78,2 80,1
2004 81,5 84,0
2006 80,0 79,2
95
2008 79,4 83,4**
2010 83,6 83,0
2012 76,8 77,6
2014 79,0 82,6**
GRÉCIA
1985 95,2 92,1**
1990 86,9 89,6
1999 88,0 90,3
2002 89,9 91,5
2004 90,2 91,1
2008 86,6 88,6
2010 79,2 79,0
2014 79,8 79,4
ITÁLIA
1985 88,1 88,9
1990 82,9 81,7
1999 87,4 89,8
2002 88,3 91,8***
2004 88,8 89,6
2012 79,7 83,4**
2014 67,0 72,9*
PAÍSES NÓRDICOS
2006 88,4 87,2
2008 88,9 88,2
2010 88,6 87,3
2012 89,2 88,9
2014 89,6 88,1
EUROPA CENTRAL E OCIDENTAL
2006 77,7 80,8***
2008 78,5 80,5**
2010 78,6 77,7
2012 78,2 81,0
2014 76,2 78,9**
EUROPA DO LESTE
96
2006 73,5 72,2
2008 71,4 70,4
2010 72,7 71,5
2012 71,3 71,9
2014 66,2 68,5
*** p< 0,001; ** p< 0,01; * p< 0,05
Fontes: Four Nations Study, 1985; EES, 1990-2014; ESS, 2002-2014.
Nota: Os dados do Four Nations Study referem-se às eleições legislativas de 1981 (Grécia)
1982 (Espanha) e 1983 (Portugal e Itália). Na base de dados do EES foi retirada informação
relativa a alguns países, nomeadamente, Itália (dados referentes aos anos de 2004, 2008 e
2014) e Grécia (dados referentes ao ano de 2014). Na verdade, os resultados que compõem
o quadro nos anos de 1990 e 2008 referem-se aos anos de 1994 e 2009 na base de dados do
ESS.
Os dados do gráfico nº 6.1 não sugerem diferenças significativas na probabilidade de
mulheres e homens participarem em eleições nos quatro países da Europa do sul.
Nalguns casos, as mulheres chegaram a participar mais do que os homens, pese embora,
os resultados não sejam significativos. Nos anos de 1985 e 1990, em que os resultados
do género se mostraram significativos, as diferenças eram ligeiras, com exceção de
Portugal, no ano de 1990, onde as diferenças eram elevadas. Logo, os resultados
confirmam a hipótese proposta inicialmente (H.A1), em que se previa a ausência de
diferenças de género ao longo dos tempos.
Pesquisas anteriores, locais e/ou internacionais, encontraram resultados semelhantes,
tendo admitido o desaparecimento das desigualdades de género na atividade eleitoral
nos países da Europa do sul (Topf, 1995a: 47; Morales, 1999: 232-2; Baum e
Espírito-Santo, 2007: 134). Mas, recentemente, um estudo internacional observou
desigualdades de género significativas em Portugal e Itália – onde mais homens do que
mulheres admitiam votar – e em Espanha – com as mulheres a votarem mais do que os
homens (Kittilson e Schwindt-Bayer, 2012: 61-2). No entanto, estas diferenças eram
ligeiras.
Centremo-nos agora no segundo objetivo que visa aferir se a crise económica terá
influenciado ou não as desigualdades de género na participação política dos países mais
97
afetados (países da Europa do sul) em comparação com os países menos afetados49, tais
como os países nórdicos, países da Europa central e ocidental e países da Europa do
leste, durante os momentos mais marcantes (2008-2012) da crise económica. Como
indica o quadro abaixo nº 6.1, em geral, não há indícios estatísticos sobre um “possível”
impacto da crise económica nas desigualdades de género durante os momentos mais
assinaláveis (2008-2012), tanto nos países da Europa do sul como nos menos afetados.
Quer dizer, os dados não clarificam que, durante o período de austeridade económica,
tenham surgido ou desaparecido as desigualdades de género nos quatro grupos de países
em análise.
Conforme revela o gráfico nº 6.2, os dados não sugerem diferenças significativas na
probabilidade de mulheres e homens participarem nas eleições nos países da Europa do
sul e nos grupos de países menos afetados pela crise económica, salvo alguns casos na
Europa central e ocidental em que se verificaram desigualdades significativas (ver
quadro nº 6.3), mas ligeiras (gráfico nº 6.2). Estudos anteriores sobre o impacto da crise
económica nas atividades eleitorais em 22 países da UE, incluindo Portugal, Espanha
Grécia, e com dados do ESS de 2010, analisando brevemente o género, tinham
observado resultados diferentes dos desta pesquisa. Häusermann e seus colaboradores,
admitiram, primeiramente, que as restrições governamentais têm como consequências
para os cidadãos uma enorme vontade de participar nas eleições, pelo que se esperava
maior participação de todos os indivíduos, independentemente do status quo. Estes
argumentaram que a crise económica inverteu a predisposição dos homens para votar,
ou seja, as mulheres mostraram que tinham mais probabilidades de votar do que os
homens (1,30 odds ratio) (Häusermann et al, 2013).
Os resultados dão suporte à expetativa teórica (hipótese H.B1) que afirmava que,
apesar de o estudo de Häusermann ter assinalado desigualdades de género no momento
da crise económica, o mais provável era a crise não ser suscetível de provocar alterações
na participação eleitoral, devido ao consenso que existe relativamente ao
desaparecimento das diferenças entre mulheres e homens.
49 A análise compreende quatro grupos de países: 1) Europa do sul, inclui Portugal, Espanha,
Grécia e Itália; 2) Europa do norte, inclui Noruega, Suécia, Finlândia e Dinamarca; 3)
Europa central e ocidental, inclui Reino Unido, Bélgica, Holanda, Alemanha, França e Suíça;
4) Europa do leste, inclui República Checa, Polónia, Bulgária Hungria e Eslovénia.
98
Quadro nº 6.2 - Desigualdades de género na participação política na Europa do sul, (regressão logística binária), 1985-2014
1985 1990 1999 2002 2004
B E.P B E.P B E.P B E.P B E.P
Género (F) 0,226** 0,067 -0,300** ,101 - - -0,085 ,096 -0,061 0,093
Est. civil (c)
0,128 0,075 0,446** ,131 - - 0,444*** ,102 0,526*** ,101
Educação (s)
-0,036 0,078 0,354*** ,113 - - 0,509*** ,115 0,372*** ,101
Idade 0,014*** 0,002 -0,030*** ,004 - - 0,037*** ,004 0,030*** ,004
Portugal -0,275** 0,102 -1,912*** ,147 - - -1,235*** ,161 -0,960*** ,143
Espanha -0,988*** 0,089 -0,860*** ,152 - - -1,233*** ,151 -0,301* ,143
Grécia 0,686*** 0,120 1,015*** ,213 - - -0,376* ,151 0,250 ,147
Constante 1,225 0,151 0,204 ,231 - - 0,658*** ,188 0,385* ,193
X2 (7)=411,655*** (7)=593,883*** - - (7)=296,016*** (7)=306,344***
Pseudo R2 CS=,054
N=,094
CS=0,117
N=0,277
- - CS=0,077
N=0,134
CS=0,076
N=0,131
N 7460 3058 - - 3676 3861
2006 2008 2010 2012 2014
Género (F) 0,199 ,113 -0,129 ,088 0,093 ,114 -0,078 ,124 -,157 ,087
99
Est. civil (c)
0,446*** ,125 0,422*** ,094 -0,239 ,288 -0,111 ,168 0,401*** ,098
Educação (s)
0,717*** ,126 0,387*** ,095 0,511*** ,121 0,890*** ,144 0,503*** ,095
Idade 0,024*** ,005 0,031*** ,004 0,023*** ,004 0,021*** ,005 0,008** ,003
Portugal -0,190 ,115 -0,840*** ,110 -0,218 ,140 -1,024*** ,176 0,113 ,144
Espanha -0,108*** ,105 0,330* ,139 -0,796*** ,175 0,419** ,134
Grécia 0,484*** ,105
Constante -0,224 ,193 0,277 ,155 -0,111 ,174 0,663** ,222 0,157 ,167
X2 (6)=114,576*** (6)=216,344*** (6)=72,806*** (6)=102,462*** (7)=83,241***
Pseudo R2 CS=0,060
N=0,090
CS=0,056
N=0,091
CS=0,043
N=0,062
CS=0,071
N=0,101
CS=0,028
N=0,041
N 1852 3781 1664 1399 2939
*** p< 0,001; ** p< 0,01; * p< 0,05 Fontes: Four Nations Study, 1985; EES, 1990-2014; ESS, 2002-2014. Legenda: F – feminino; C – casado; S – superior; E.P – Erro-padrão.
Nota: Os Pseudo R2 baseiam-se na comparação do modelo ajustado com o modelo nulo, não sendo propriamente uma medida da variabilidade explicada pelo modelo (Marôco, 2014).
100
Gráfico nº 6.1 - Probabilidades da participação eleitoral na Europa do sul, 1985-2014
Fonte: elaborado pelo autor com base nos resultados estatísticos.
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1985 1990 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014
Portugal
Mulher Homem
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1985 1990 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014
Espanha
Mulher Homem
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1985 1990 2002 2004 2008 2010 2014
Grécia
Mulher Homem
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1985 1990 2002 2004 2012 2014
Itália
Mulher Homem
101
Quadro nº 6.3 - Desigualdades de género na participação eleitoral nos países menos afetados, (regressão logística binária), 2006-2014
2006 2008 2010 2012 2014
Euro norte B E.P B E.P B E.P B E.P B E.P
Género
(F)
0,029 ,085 -0,019 ,088 0,057 ,143 -0,201 ,111 0,268* ,114
Est. civil
(c)
0,674*** ,094 0,485*** ,094 -0,566 ,297 0,022 ,151 -0,045 ,141
Educação
(s)
0,684*** ,094 0,953*** ,100 0,731 ,157 1,214*** ,127 0,887*** ,121
Idade 0,026*** ,003 0,032*** ,003 0,030*** ,005 0,028 ,004 0,019*** ,004
Noruega 0,093 ,108 0,158 ,108 -0,921*** ,176 0,158 ,140 0,707*** ,146
Dinamarca 0,902*** ,137 1,343*** ,143 -0,535** ,193 1,169*** ,177 1,035*** ,164
Suécia 0,670*** ,116 1,007*** ,122 0,637*** ,145 1,199*** ,155
Constante -0,025 ,116 -0,418** ,154 0,984*** ,219 -0,139 ,172 -0,124 ,181
X2 (7)=346,580*** (7)=430,655*** (7)=109,238*** (7)=242,104*** (7)=174,445***
Pseudo R2 CS=0,058; N=0,112 CS=0,071; N=0,143 CS=0,0456; N=0,0105 CS=0,081; N=0,142 CS=0,060; N=0,0107
N 5852 5807 1887 2858 2836
102
Euro
central e
ocidental
Género
(F)
-0,170** ,053 -0,089* ,054 -0,004 ,071 -0,180* ,074 -0,089 ,068
Est. civil
(c)
0,580*** ,054 0,579*** ,0556 -0,004 ,139 -0,180* ,086 -0,230** ,080
Educação
(s)
0,775*** ,059 0,851*** ,059 0,920*** ,078 0,944*** ,078 0,760*** ,071
Idade 0,025*** ,002 0,028*** ,002 0,023*** ,002 0,028*** ,002 0,027*** ,002
R. Unido 0,317*** ,085 0,159 ,085 0,519*** ,123 0,220 ,121 0,024 ,126
Bélgica 2,081*** ,126 2,061*** ,124 1,868*** ,152 2,057*** ,167 1,953*** ,169
Holanda 1,232*** ,096 1,343*** ,098 1,260*** ,135 1,200*** ,133 0,591*** ,130
Alemanha 0,803*** ,079 0,904*** ,081 1,261*** ,123 0,885*** ,119 0,892*** ,124
França 0,705*** ,091 0,690*** ,088 0,485*** ,131 0,697*** ,119 -0,155 ,127
Constante -0,015*** ,108 -1,190*** ,086 -1,233*** ,095 -1,087*** ,134 0,859***
X2 (9)=1000,624** (9)=117,906*** (4)=514,280*** (9)=599,158*** (9)=548,381***
Pseudo R2 CS=0,097; N=0,01512 CS=0,113; N=0,178 CS=0,107; N=0,155 CS=0, 121; N=0,1079 CS=0,0161; N=0,161
N 9846 9836 4549 4651 4678
103
Euro leste
Género
(F)
0,072 ,065 0,008 ,052 0,012 ,071 0,006 ,071 -0,050 0,084
Est. civil
(c)
0, 533*** ,066 0,514*** ,052 0,079 ,180 0,080 ,080 -0,001 ,098
Educação
(s)
0,806*** ,089 0,795*** ,073 0,676*** ,087 0,723*** ,086 0,769*** ,098
Idade 0,020*** ,002 0,016*** ,002 0,018*** ,002 0,016*** ,002 0,014*** ,002
Polónia -0,542*** ,091 -0,035 ,092 0,245 ,132 -0,253* ,117 -0,034 ,132
Bulgária -0,676*** ,097 -0,245** ,086 0,232* ,117 -0,162 ,109
Hungria -0,026 ,099 -0,685*** ,083 -0,346** ,110 -0,584*** ,115 -0,393** ,116
Eslovénia -0,079 ,118 0,364*** ,099 -0,287* ,123 -0,134 ,109 0,267* ,121
Constante -0,400*** ,100 -0,125*** ,101 -0,381** ,121 -0,056 ,123 -0,303** ,138
X2 (7)=376,973*** (8)=579,589*** (8)=223,965*** (8)=162,245*** (7)=129,909***
Pseudo R2 CS=0,069; N=0,100 CS=0,072; N=0,103 CS=0,055; N=0,076 CS=0,040; N=0,055 CS=0,048; N=0,065
N 5293 7726 3967 3985 2661
*** p< 0,001; ** p< 0,01; * p< 0,05 Fonte: ESS, 2006-2014.
104
Gráfico nº 6.2 - Probabilidades da participação eleitoral nos países menos e mais afetados, 2006-2014
Fonte: elaborado pelo autor com base em resultados estatísticos.
0,55
0,6
0,65
0,7
0,75
0,8
0,85
0,9
0,95
2006 2008 2010 2012 2014
EURO SUL
Mulher Homem
0,55
0,6
0,65
0,7
0,75
0,8
0,85
0,9
0,95
2006 2008 2010 2012 2014
EURO NORTE
Mulher Homem
0,55
0,6
0,65
0,7
0,75
0,8
0,85
0,9
0,95
2006 2008 2010 2012 2014
EURO CENTRAL E OCIDENTAL
Mulher Homem
0,55
0,6
0,65
0,7
0,75
0,8
0,85
0,9
0,95
2006 2008 2010 2012 2014
EURO LESTE
Mulher Homem
105
6.1.2 Evolução das desigualdades de género na participação convencional
As diferenças de género tendem a não ser significativas no que diz respeito à
participação eleitoral, conforme foi observado na presente pesquisa. Contudo, quando as
atividades políticas das/os cidadãs/os se estendem além do voto, as desigualdades de
género, apesar de ligeiras na maioria dos casos, persistem significativamente em todas
as sociedades, com as mulheres a participarem relativamente menos do que seus pares
masculinos (Inglehart e Norris, 2003: 124-6; Kittilson e Schwindt-Bayer, 2012: 67).
Como se constata no quadro nº 6.4, os dados descritivos indicam a persistência
significativa de desigualdades de género na participação política convencional na zona
sul da Europa. Grosso modo, os homens tendem a participar mais em atividades
convencionais do que as mulheres nos quatro países da Europa do sul.
Quadro nº 6.4 - Evolução das modalidades da participação política convencional
(%)
Contactar um
político
Pertencer a uma
organização política
Trabalhar numa organização
política
Trabalhar noutra organização
Índice das modalidades de participação convencional (%)
M H M H M H M H M H
PORTUGAL
1985 - - 2,1 5,1*** 9,5 18,4*** - - 9,8 20,2***
1990 - - 2,6 7,1*** - - 0,8 4,3*** 3,4 10,1***
1999 - - 0,6 1,1 - - 2,1 4,4* 2,7 5,1*
2002 8,6 16,0** 2,6 6,2* 1,7 7,4*** 3,5 8,1** 11,3 21,5***
2004 4,2 7,6* 1,7 5,6** 0,8 3,2** 1,5 4,4* 6,6 12,4**
2006 5,4 13,2** 2,6 4,8 1,3 2,4 3,0 4,8 9,2 17,6***
2008 4,5 9,6** 2,1 3,5 0,9 2,1 1,7 5,1** 7,4 14,1**
2010 4,0 6,8 1,3 3,4* 0,9 2,8* 2,6 6,0* 6,4 11,4**
2012 4,7 7,2 - - 0,6 1,4 3,2 5,5 6,7 10,4*
2014 13,3 18,0 - - 4,9 4,9 10,8 13,1 21,1 24,2
106
ESPANHA
1985 - - 1,2 4,1*** 4,9 11,4*** - - 5,6 12,5*
1990 - - 0,8 2,0* - - 4,3 2,8* 5,1 4,6
1999 - - 1,0 3,1** - - 3,4 3,9 4,2 6,7
2002 9,1 14,8*** 1,1 5,2*** 3,5 8,4*** 10,2 19,3*** 17,0 29,3***
2004 9,0 17,0*** 3,4 4,9* 4,9 10,4*** 16,3 20,2** 23,8 31,2***
2006 9,9 14,7*** 1,9 3,2* 3,9 6,7*** 13,6 15,6 19,4 25,3***
2008 8,1 12,8*** 1,1 1,6 2,9 3,4 9,5 11,1 14,3 20,1***
2010 10,9 16,6*** 2,4 2,2 4,9 9,4*** 16,1 19,3* 22,5 28,7***
2012 19,9 16,1*** - - 6,6 9,3** 21,9 22,7 27,7 31,9**
2014 15,0 18,4*** - - 6,8 9,8** 20,7 23,6* 29,4 32,5*
GRÉCIA
1985 - - 7,0 25,2*** 66,2 69,4 - - 67,8 74,9*
1999 - - 5,7 10,9** - - 6,0 7,2 11,3 17,7**
2002 12,7 17,0 2,9 7,2** 4,0 6,3 3,7 8,2** 15,9 23,8**
2004 11,9 16,1 5,2 10,4** 4,4 7,7*** 4,4 5,9 16,3 23,4**
2008 9,0 11,6 5,7 10,0* 2,9 5,0 3,1 4,8 13,1 19,8**
2010 7,3 10,7 2,8 5,9* 2,4 3,4 3,6 6,4* 10,6 17,2**
ITÁLIA
1985 - - 2,8 8,4*** 10,0 18,6*** - - 11,4 20,6***
1990 - - 2,6 8,2*** - - 1,9 2,3 4,1 10,3***
1999 - - 2,4 5,8*** - - 2,0 3,1 4,2 8,8***
2002 88,3 91,8*** 2,5 6,2*** 2,6 4,2** 6,7 9,8*** 14,0 24,1***
2004 - - 7,6 13,2** - - 6,5 18,0*** 10,1 27,7***
2008 - - 1,9 5,6*** - - 4,3 5,9 5,7 11,3***
2012 10,5 21,7*** - - 2,6 7,9** 8 18,1*** 15,8 30,6***
PAÍSES NÓRDICOS
2006 16,1 21,5*** 6,7 8,7** 4,2 6,1*** 25,3 32,4*** 37,0 44,8***
2008 17,9 21,0** 6,8 8,4* 4,2 5,3* 27,0 31,5*** 38,3 44,2***
2010 16,9 22,5*** 6,4 8,0* 3,5 4,9** 27,4 34,5*** 28,8 47,1***
2012 15,7 21,4*** - - 4,1 5,5* 31,7 34,3* 39,1 43,2***
2014 19,4 21,9* - - 5,0 6,0 33,6 36,4* 42,9 45,7*
EUROPA CENTRAL E OCIDENTAL
2006 12,9 17,9*** 3,7 5,9*** 3,2 5,4*** 15,6 20,5*** 25,8 33,4***
107
2008 13,2 18,2*** 3,1 4,9*** 2,8 4,8*** 14,7 21,7*** 25,0 33,8***
2010 12,9 17,7*** 3,0 5,6*** 2,4 5,1*** 15,0 21,0*** 24,6 32,9***
2012 13,0 17,4*** - - 3,0 5,2*** 16,6 23,4*** 25,5 33,3***
2014 14,6 20,6*** - - 3,2 5,7*** 19,3 24,7*** 28,6 36,1***
EUROPA DO LESTE
2006 7,6 12,5*** 2,5 4,8*** 2,1 3,8*** 1,5 3,3*** 10,6 17,6***
2008 8,5 11,1*** 2,5 4,7*** 1,9 3,5*** 3,8 6,2*** 12,2 17,3***
2010 8,3 12,3*** 2,0 4,1*** 1,7 3,7*** 3,8 6,2*** 11,8 17,4***
2012 5,8 9,2*** - - 1,5 3,0*** 3,2 5,0*** 8,2 12,8***
2014 9,0 12,1*** - - 1,2 3,3*** 3,6 5,1** 10,8 14,9***
*** p< 0,001; ** p< 0,01; * p< 0,05 Fontes: Four Nations Study, 1985; EVS, 1990-2008; ESS, 2002-2014. Legenda: M – Mulher; H – Homem. Nota: Os resultados referem-se ao ano de 2009. Apenas Itália contempla os resultados de 2008
da base do EVS.
Passando agora à análise multivariada, verifica-se que, apesar da inclusão das
variáveis de controlo (estado civil, educação e idade), o género mantém-se como fator
explicativo da participação convencional ao longo dos tempos nos países da Europa do
sul, exceto em 2014 (ver quadro nº 6.5).
No cômputo geral, como indica o gráfico nº 6.3, apesar de as desigualdades de género
se revelarem significativas ao longo dos tempos, as diferenças na probabilidade de
participação em atividades convencionais entre mulheres e homens sul europeus são
ligeiras. Em meados da década de 1980 as probabilidades para mulheres e homens
participarem nas atividades convencionais pareciam elevadas, tendo reduzido
significativamente a partir da década de 1990 até 2012. Estes resultados confirmam a
hipótese colocada inicialmente (H.A2), na qual se previa encontrar a persistência das
desigualdades de género ao longo das últimas décadas. Os resultados obtidos na presente
pesquisa são semelhantes aos obtidos noutras pesquisas feitas a nível nacional e
internacional que abrangem alguns dos países da Europa do sul (Morales, 1999: 232;
Marien et al, 2010; Coffé e Bolzendahl, 2010; Kittilson e Schwindt-Bayer, 2012). Em
contraste, estudos realizados em Portugal, basicamente, não verificaram desigualdades
de género na ação convencional, observando-se que das quatro modalidades em análise
apenas a modalidade “teve qualquer contacto com um deputado” se revelou
significativa (Baum e Espírito-Santo, 2004: 273 e 276-7).
108
De acordo com a literatura especializada, as desigualdades entre mulheres e homens
nas atividades políticas, em geral, tendem a persistir até aqui devido aos escassos
recursos que as mulheres têm, pois, em geral, as formas de participação convencional
(para além do voto) exigem bastante tempo, esforço e competências cívicas (ver Verba
et al, 1995; Kittilson, 2016). As mulheres, simplesmente, possuem poucos recursos, por
comparação com os homens, e os recursos são fundamentais para o nível de
participação política (Kittilson, 2016).
Educação é, praticamente, a única variável de controlo que tem efeito na participação
convencional. Homens com níveis de educação superior tendem a ser mais participativos
nas formas convencionais do que os menos formados e as mulheres. A idade e o estado
civil, basicamente, não têm um efeito significativo.
Relativamente à crise económica, apesar de as diferenças permanecerem significativas
nos períodos pré, durante e pós austeridade económica, os dados não indicam um
aumento das diferenças de género na participação convencional política durante os anos
de crise económica, tanto na Europa do sul quanto nos países menos afetados pela crise.
Agora, observando-se o gráfico nº 6.4 - com exceção dos países nórdicos em que se
nota o desaparecimento significativo das desigualdades de género no período pós-Troika
-, houve uma tendência para as desigualdades entre mulheres e homens se manterem
inalteradas ao longo de todo o período em análise (2006-2014). No entanto, apesar de as
mulheres terem menos probabilidade de participar em atividades convencionais do que
os seus pares masculinos, as diferenças verificadas também eram ligeiras. Sendo assim,
os resultados infirmam a hipótese H.B2, acima proposta, que previa um aumento das
diferenças nos países mais afetados (Europa do sul) durante o período de crise.
Estes resultados assemelham-se aos dados de outras pesquisas sobre a crise
económica que, ao analisarem de forma resumida o género, observaram que as mulheres
tiveram menos possibilidades de participar nas atividades políticas eleitorais do que os
homens durante a crise económica (Kern et al, 2015). Numa altura em que, em
particular, as democracias sul europeias atravessavam períodos políticos e económicos
difíceis e com níveis de desconfiança nas instituições políticas muito elevadas (Belchior,
2015), de acordo com estudos que analisaram os comportamentos políticos dos
indivíduos, em momentos sociopolíticos de grande perturbação há uma tendência para
que os «cidadãos» se tornem «críticos» e demonstrem níveis de participação
convencional relativamente baixo, e, como esperado, as mulheres participam
ligeiramente menos do que os seus companheiros masculinos (Norris, 1999: 261).
109
Quadro nº 6.5 - Desigualdades de género na participação convencional, (regressão logística binária), 1985-2014
1985 1990 1999 2002 2004
B E.P B E.P B E.P B E.P B E.P
Género (F) -0,648*** ,071 -0,536*** ,117 -0,570*** ,108 -0,429*** ,077 -0,312*** ,085
Est. civil (c) 0,134 ,079 -0,094 ,127 0,226 ,121 0,147 ,083 0,150 ,093
Educação (s) 0,523*** ,081 0,580*** ,133 0,695*** ,137 0,686*** ,085 0,541*** .087
Idade -0,006** ,002 0,011** ,004 0,010** ,004 0,000 ,003 0,005 ,003
Portugal 0,050 ,094 0,083 ,160 -0,204 ,177 -0,086 ,133 -0,211 ,194
Espanha -0,554*** ,097 -0,283* ,129 -0,229 ,158 0,265* ,112 1,017*** ,175
Grécia 2,646*** ,100 - ,240 0,831*** ,134 -0,074 ,105 0,372* ,173
Constante -1,513*** ,154 -3,125*** -3,409*** ,238 -0,1288*** ,142 -2,027*** ,217
X2 (7)=1553,280*** (6)=54,314*** (7)=145,906*** (7)=125,332*** (7)=197,436***
Pseudo R2 CS=197
N=0,312
CS=0,010
N=0,027
CS=0,027
N=0,066
CS=0,032
N=0,048
CS=0,057
N=0,086
N 7066 5610 5277 3881 3380
2006 2008 2010 2012 2014
Género (F) -0,336** ,109 -0,479*** ,076 -0,327** ,123 -0,375** ,132 -0,199 ,122
Est. civil (c) 0,020 ,119 0,098 ,081 0,132 ,291 0,041 ,182 -0,142 ,152
110
Educação (s) 0,784*** ,110 0,655*** ,077 0,730*** ,124 0,845*** ,134 0,623*** ,123
Idade 0,008 ,004 0,008** ,003 0,008 ,004 0,004 ,005 0,016*** ,004
Portugal -0,369** ,115 0,958*** ,133 0,161 ,175 -0,766*** ,195 -0,0400 ,235
Espanha - - 1,259*** ,117 0,877*** ,137 0,554** ,162 -0,252 ,226
Grécia - - 0,997 ,120 - - - - 0,401 ,268
Constante -1,503*** ,180 -2,989*** ,166 -2,321*** ,193 -1,593*** ,227 -1,107 ,207
X2 (5)=86,541*** (7)=219,487*** (6)=93,675*** (6)=140,326*** (7)=62,970***
Pseudo R2 CS=0,043
N=0,065
CS=0,039
N=0,067
CS=0,048
N=0,078
CS=0,088
N=0,135
CS=0,049
N=0,067
N 1956 5498 1919 1530 1261
*** p< 0,001; ** p< 0,01; * p< 0,05 Fontes: Four Nations Study, 1985; EVS, 1990-2008; ESS, 2002-2014. Legenda: F – feminino; C – casado; S – superior; E.P – Erro-padrão.
111
Gráfico nº 6.3 - Probabilidades da participação convencional na Europa do sul, 1985-2014
Fonte: elaborado pelo autor com base nos resultados estatísticos.
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
1985 1990 1999 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014
Portugal
Mulher Homem
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
1985 1990 1999 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014
Espanha
Mulher Homem
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1985 1999 2002 2004 2008 2010 2014
Grécia
Mulher Homem
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
1985 1990 1999 2002 2004 2008 2012 2014
Itália
Mulher Homem
112
Quadro nº 6.6 - Desigualdades de género na participação convencional nos países menos afetados (regressão logística binária), 2006-2014
2006 2008 2010 2012 2014
Euro norte B E.P B E.P B E.P B E.P B E.P
Género (F)
-0,352*** ,053 -0,276*** ,052 -0,399*** ,094 -0,152* ,076 -0,125 ,075
Est. civil (c)
0,238*** ,056 0,228*** ,055 0,492* ,211 0,134 ,094 0,240** ,089
Educação (s)
0,674*** ,055 0,562*** ,054 0,404*** ,094 0,682*** ,076 0,528*** ,075
Idade 0,006*** ,002 0,007*** ,002 ,004 ,003 0,009*** ,002 ,006* ,002
Noruega -0,264*** ,074 -0,307*** ,073 -0,021 ,110 -0,043 ,102 -0,438*** ,104
Dinamarca -0,372*** ,078 -0,425*** ,073 -0,132 ,116 -0,485*** ,111 -0,234* ,107
Suécia -0,297*** ,075 -0,384*** ,072 -0,086 ,099 -0,170 ,098
Constante 0,622*** ,097 -0,580*** ,092 -0,615*** ,139 -0,989*** ,120 -0,640*** ,119
X2 (7)=2472,425*** (7)=228,043*** (7)=44,099*** (7)=147,309*** (7)=99,185***
Pseudo R2 CS=0,044; N=0,059 CS=0,036; N=0,048 CS=0,021; N=0,029 CS=0,045; N=0,062 CS=0,031; N=0,042
N 6097 6256 2048 3175 3107
Euro central e ocidental
113
Género (F)
-0,322*** ,043 -0,314*** ,043 -0,348*** ,065 -0,264*** ,064 -0,234*** ,063
Est. civil (c)
0,218*** ,044 0,189*** ,045 0,349** ,122 0,034 ,074 -0,043 ,072
Educação (s)
0,774*** ,043 0,706*** ,044 0,736*** ,066 0,608*** ,064 0,637*** ,063
Idade 0,004*** ,001 ,008*** ,001 0,003* ,002 0,004* ,002 0,007*** ,002
R. Unido -0,084 ,080 -0,206* ,083 -0,249 ,128 -0,346** ,126 142 ,126
Bélgica 0,705*** ,079 0,383*** ,081 0,141 ,130 0,067 ,123 0,207 ,127
Holanda 0,430*** ,078 0,483*** ,081 0,534*** ,124 0,209 ,120 0,870*** ,119
Alemanha 0,049 ,072 0,343*** ,072 0,359** ,116 0,364** ,110 0,542*** ,113
França 0,089 ,081 0,145 ,081 0,170 ,129 -0,131 ,124 0,010 ,127
Constante -1,485*** ,093 -1,635** ,092 -1,392*** ,090 -1,340*** ,123 -1,594*** ,024
X2 (9)=559,569*** (9)=480,403*** (9)=214,619*** (9)=168,672*** (9)=253,783***
Pseudo R2 CS=0,0351; N=0,072 CS=0,044; N=0,063 CS=0,042; N=0,061 CS=0,032; N=0,047 CS=0,0248; N=0,068
N 10660 10581 4982 5111 5182
Euro leste
Género (F)
-0,591*** ,081 -0,415*** ,064 -0,400*** ,096 -0,476*** ,105 -0,280* ,118
Est. civil (c)
0,273** ,085 0,293*** ,067 0,372 ,219 0,222 ,115 0,349* ,137
Educação (s)
0,751*** ,088 0,871*** ,073 0,776*** ,101 0,751*** ,110 0,879*** ,120
114
Idade 0,001 ,002 0,007*** ,002 0,008** ,002 0,014*** ,003 0,002 ,003
Polónia -0,815*** ,108 -0,362** ,114 0,175 ,192 -0,046 ,161 -0,206 ,172
Bulgária -0,917*** ,120 -0,445*** ,108 -0,034 ,180 -0,964*** ,173
Hungria -0,489*** ,106 0,550*** ,099 0,667*** ,164 -0,034 ,151 -0,348* ,160
R. Checa -0,332** ,116 0,524** ,178 -0,757*** ,166 -0,595** ,175
Constante -1,394*** ,143 -2,211*** ,131 -2,626*** ,182 -2,518*** ,182 -1,990*** ,162
X2 (7)=212,644*** (4)=041,439*** (8)=114,277*** (8)=143,788*** (7)=75,937***
Pseudo R2 CS=0,039; N=0,070 CS=0,022; N=0,072 CS=0,027; N=0,050 CS=0,033; N=0,069 CS=0,026; N=0,050
N 5387 7969 4226 4247 2882
*** p< 0,001; ** p< 0,01; * p< 0,05 Fonte: ESS, 2006-2014. Legenda: F – feminino; C – casado; S – superior; E.P – Erro-padrão.
115
Gráfico nº 6.4 - Probabilidades da participação convencional nos países menos e mais afetados, 2006-2014
Fonte: elaborado pelo autor com base nos resultados estatísticos.
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0,35
0,4
0,45
0,5
2006 2008 2010 2012 2014
EURO SUL
Mulher Homem
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0,35
0,4
0,45
0,5
2006 2008 2010 2012 2014
EURO NORTE
Mulher Homem
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0,35
0,4
0,45
0,5
2006 2008 2010 2012 2014
EURO CENTRAL E OCIDENTAL
Mulher Homem
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0,35
0,4
0,45
0,5
2006 2008 2010 2012 2014
EURO LESTE
Mulher Homem
116
6.1.3 Desigualdades de género na participação política não convencional
Geralmente, os protestos têm sido entendidos como uma expressão de desafeição
política, vistos como desafios sérios às autoridades governamentais (Norris et al, 2005).
No início da década de 1970, o mundo ocidental viu-se confrontado com uma onda de
protestos em forma de demonstrações públicas, boicotes e petições. A popularidade
destas manifestações é visível em demonstrações massivas de protestos organizados por
vários movimentos sociais, exemplificadas por Mãe Milionária de Março, movimento
anti-imposto no Reino Unido, Bloqueio Europeu de óleo, manifestações anti
globalização ou anti Organização Mundial do Comércio, etc. (ver Barnes e Kaase et al,
1979; Norris et al, 2005). Recentemente, a Europa, especialmente, a do sul, assistiu a
uma onda de manifestações jamais vistas em qualquer outro momento (Baumgarten,
2013), com destaque para Portugal que atingiu números históricos de participantes (cerca
de um milhão em todo o país numa só manifestação) (ver Fernandes, 2015).
Como se pode observar no quadro nº 6.7, apesar de, tendencialmente, os homens
serem politicamente mais ativos do que as mulheres em atividades não convencionais, os
testes de qui-quadrado não revelam diferenças significativas, salvo algumas exceções.
No entanto, verifica-se que antes da chegada do novo milénio, existiam diferenças de
género consistentes em três dos quatro países, exceto na Grécia. Desaparecendo
significativamente a partir do início do novo século.
117
Quadro nº 6.7 - Evolução das modalidades da participação não convencional,
1985-2014, (%)
Assinar uma
petição ou um abaixo assinado
Boicotar certos
produtos
Colocar cartazes
e distribuir folhetos
Participar numa
greve legal
Índice das modalidades de participação não convencional (%)
M H M H M H M H M H
PORTUGAL
1990 43,9 64,5*** 29,5 42,6*** - - 40,3 58,0*** 50,3 70,1***
1999 31,2 44,3** 31,2 44,9*** - - 19,9 29,9** 28,6 47,4***
2002 6,0 8,3 3,0 3,7 5,6 7,1 3,2 5,5 11,7 13,9
2004 3,7 5,3 1,7 2,6 1,5 3,5 2,9 4,1 6,4 11,2*
2006 4,3 6,0 2,6 3,0 5,1 4,5 3,0 4,2 9,6 11,7
2008 4,5 6,3 3,0 3,3 2,4 3,0 3,2 3,9 8,8 10,5
2010 4,9 7,1 1,9 2,8 1,5 2,8 2,3 4,0 7,4 11,1
2012 6,0 9,5* 3,2 3,7 0,7 1,7 5,0 11,0** 10,3 18,2**
2014 14,2 17,7 6,3 7,2 5,1 4,2 5,9 8,5 22,5 24,3
ESPANHA
1985 16,2 31,3*** 4,4 13,4*** - - 17,6 30,2**1 25,6 43,4***
1990 29,3 44,2*** 21,9 38,1*** - - 27,5 45,8*** 25,7 47,1***
1999 41,8 52,9** 22,7 38,8*** - - 32,8 49,4*** 41,3 56,9**
2002 21,3 22,4 7,1 7,8 7,1 9,3* 13,1 18,2*** 27,1 29,3
2004 23,4 26,3 14,4 13,7 11,5 11,6 35,4 32,3 46,2 47,1
2006 22,2 24,0 9,9 10,8 8,0 7,4 17,7 18,7 32,1 33,9
2008 18,6 16,9 8,1 8,1 4,9 4,4 16,4 15,0 27,8 27,1
2010 26,6 26,4 10,9 12,3 9,8 10,2 17,9 18,8 38,9 38,0
2012 36,9 30,4*** 18,5 16,4 12,4 8,7*** 16,2 25,0 51,3 47,0**
2014 34,3 31,6 17,8 17,1 12,5 10,3* 21,8 24,6* 46,2 45,2
GRÉCIA
1999 81,6 79,9 25,3 26,4 - - 74,7 80,2 84,4 85,9
2002 4,2 5,5 9,3 7,7 1,9 3,6 3,5 5,2 13,5 15,0
2004 2,9 3,2 4,2 5,7 2,5 2,7 4,4 5,2 9,0 11,7
118
2008 4,3 5,2 16,0 14,9 2,3 4,3 4,9 6,7 19,0 20,7
2010 4,5 6,1 11,9 12,2 3,0 3,4 8,8 12,4 17,3 20,3
2014 - - - - - - 48,3 54,1 - -
ITÁLIA
1985 36,6 45,5** 3,7 7,9** - - 13,8 23,9*** 41,5 57,2***
1990 65,8 76,2*** 50,3 59,7*** - - 40,3 67,9*** 64,8 83,0***
1999 75,0 82,1** 51,1 57,0* - - 45,3 70,3*** 73,5 85,5***
2002 18,2 18,8 9,8 5,7 7,7 8,0 8,5 13,3*** 24,3 26,5
2004 52,6 55,4 38,2 40,8 - - - - 58,8 61,7
2008 74,4 76,3 46,8 52,1* - - 52,9 64,2*** 58,4 62,5
2012 20,9 24,7** 11,3 13,1* 8,3 13,8*** 12,3 20,7*** 32,2 40,6***
2014 - - - - - - 49,8 41,5 - -
PAÍSES NÓRDICOS
2006 40,4 34,9*** 29,2 26,5* 18,4 13,7*** 2,7 5,2 57,4 52,2***
2008 42,7 32,9*** 31,2 26,3*** 21,7 12,1*** 6,8 4,9** 59,9 50,1***
2010 36,2 28,8*** 30,5 25,4*** 21,4 13,7*** 5,9 5,0 57,5 48,2***
2012 35,7 28,3*** 35,9 30,2*** 22,0 14,2*** 5,6 5,1 58,6 50,4***
2014 39,4 32,0*** 39,0 32,5*** 23,1 15,4*** 7,0 6,5 62,5 53,3***
EUROPA CENTRAL E OCIDENTAL
2006 32,8 30,8* 22,6 19,5*** 7,3 7,2 6,4 8,5*** 44,6 42,3*
2008 34,1 31,0*** 23,4 22,4 6,6 6,6 6,6 8,4*** 45,2 43,9
2010 29,6 27,4** 22,9 21,5 5,7 6,2 5,6 7,8 41,7 40,8
2012 30,2 29,2 25,4 23,4* 5,9 5,7 5,5 6,9** 43,6 43,0
2014 34,9 34,3 27,9 26,4 7,1 7,9 6,8 8,7*** 48,7 49,1
EUROPA DO LESTE
2006 7,6 7,5 3,4 4,7* 2,4 2,9 2,5 3,0 11,1 12,7
2008 8,9 9,6 5,1 5,6 2,7 3,2 2,5 3,5* 13,3 14,8
2010 9,2 10,4 5,9 6,9 2,6 4,1*** 2,3 4,0*** 14,4 16,1*
2012 9,0 10,8** 5,8 6,9* 2,7 4,5*** 3,3 6,1*** 13,5 17,2***
2014 11,9 12,6 6,0 7,0 3,3 4,5* 2,9 4,7*** 16,3 18,7*
*** p< 0,001; ** p< 0,01; * p< 0,05
Fontes: Four Nations Study, 1985; WVS, 2004; EVS, 1985-2008; ESS, 2002-2014.
Legenda: H – Homem; M – Mulher.
Nota: Apenas Itália contempla os dados do WVS, cujos dados foram recolhidos em 2005. Os
dados de EVS-1985 foram recolhidos no ano de 1981.
119
Pippa Norris, usando dados de 1995-1997 do World Values Study para analisar a
associação entre potencias protestos e o índice da confiança institucional, concluiu que a
confiança nas instituições é significativamente explicada pelos protestos, mas a sua
associação é muito fraca. O género, enquanto variável de controlo, tende a ser
significativa (Norris, 1999: 262-3), sendo sobretudo os homens aqueles que se
identificam com este tipo de atividades (quadro nº 3.3).
Como é possível perceber pela quadro nº 6.8, numa visão global, o género tende a
não explicar as desigualdades entre mulheres e homens quanto à participação não
convencional, ao longo dos tempos na Europa do sul. Como se pode observar na análise
descritiva (quadro 6.7), mesmo com a inserção das variáveis de controlo, antes da
década de 2000, o género explicava as desigualdades entre mulheres e homens no que
refere à participação em atividades de protesto.
Analisando o gráfico nº 6.5, no geral, não há diferenças significativas na
probabilidade de mulheres e homens participarem em atividades de protesto, sobretudo,
a partir de 2002, altura em que essas diferenças deixam de ser observadas. Os resultados
confirmam a hipótese H.A3 que avançava com a expectativa de que as desigualdades
significativas de género desaparecessem a partir dos finais do séc. XX e inícios do séc.
XXI. Também se nota que, com a chegada do novo milénio, a predisposição dos
cidadãos, de ambos os sexos, para participarem nestas atividades começou a entrar em
declínio.
O fim das desigualdades de género em atividades de protesto político encontrado na
presente pesquisa tem sido, previamente, assinalado em estudos internacionais (Verba
et al, 1995: 255-6; Conway et al, 1997: 81; Burns et al, 2001: 65). Esse resultado
remete-nos para a ideia de que quanto mais moderna for uma sociedade, mais as
mulheres tendem a juntar-se aos homens e a reivindicar os seus direitos, conforme
salienta a literatura: a modernização das sociedades não só aumenta a propensão geral
para o envolvimento político em ações de protesto (que caraterizam as sociedades
pós-materialistas), mas também capacita as mulheres a serem mais pró-ativas nesta
forma de participação política (Inglehart e Norris, 2003: 102 e 118).
Noutras pesquisas, realizadas a nível local e internacional, observou-se a
persistência, embora ligeira, das desigualdades de género (Morales, 1999; Baum e
Espírito-Santo, 2004: 277 e 2007: 142; Marien et al, 2010). O estudo de Coffé e
120
Bolzendahl (2010: 323), usando dados de 18 democracias industrializadas – incluindo
Portugal e Espanha – verificou diferenças significativas de género na participação não
convencional, mas eram as mulheres quem mais recorria a estas atividades políticas.
Educação e idade são as variáveis de controlo que tendencialmente estimulam a
participação não convencional nesses países. Ou seja, nos países da Península Ibérica,
são os jovens com classificação académica superior que mais predisposição revelam
para as atividades políticas não convencionais.
No que concerne à fase de austeridade económica e financeira que se intensificou
entre 2008 e 2012, grosso modo, como indica o quadro acima nº 6.7, não se assinalam
desigualdades de género significativas na participação não convencional nos países da
Europa do sul – à exceção do ano de 2012, em que as mulheres revelaram ter
participado significativamente menos do que os homens.
Tendo em conta a análise multivariada, como indicam os quadros nº 6.8 e 6.9, no
cômputo geral, as políticas económicas da Troika não provocaram alterações nos
padrões da participação não convencional, tanto nos países mais afetados do sul da
Europa, como nos países europeus menos afetados.
Ao contrário do que se observa nos países da Europa do sul (ver gráfico nº 6.6), na
Europa do norte há uma tendência para as desigualdades de género na participação em
atividades não convencionais persistirem, significativa e consistentemente, ao longo de
todo o período em análise (2006-2014), pese embora se verifique um ligeiro aumento de
participação não convencional durante o período da crise económica, 2008-2012. No
entanto, essa diferença favorece as mulheres, visto que são elas que participam mais do
que os homens.
Como foi dito anteriormente, as pessoas envolvem-se em manifestações políticas
como um recurso estratégico para se expressarem civicamente se confrontadas com
questões ligadas, principalmente, ao emprego ou Estado de bem-estar (Norris, 2002:
cap. 10). E, numa fase em que as políticas económicas europeias tendiam a prejudicar
mais as mulheres, os resultados, como esperado, confirmam a hipótese de estudo
anteriormente assinalada (H.B3), que antevia uma participação igualitária entre o género
nos países da periferia europeia.
121
Quadro nº 6.8 - Desigualdades de género na participação não convencional na Europa do sul, (regressão logística binária), 1985-2014
1985 1990 1999 2002 2004
B E.P B E.P B E.P B E.P B E.P
Género (F) -0,650*** ,080 -0,602*** ,065 -0,709*** ,112 0,081 ,074 -0,100 ,083
Est. civil (c) -0,105 ,088 0,087 ,073 0,040 ,115 -0,059 ,079 0,133 ,090
Educação (s) 0,823*** 0,89 1,041*** ,073 1,456*** ,131 0,648*** ,083 0,740*** ,084
Idade -0,014*** ,003 -0,008*** ,002 -0,023*** ,004 -0,008** ,003 -0,006 ,003
Portugal - - -0,460*** ,090 -1,534*** ,144 -0,658*** ,127 -2,042*** ,144
Espanha -0,773*** ,083 -0,929*** ,073 -1,759*** ,143 0,180 ,102 0,015 ,122
Grécia - - - - -0,450* ,179 -0,684*** ,100 -2,106*** ,127
Constante 0,736*** ,141 0,245 ,134 2,344*** ,246 -0,584*** ,133 0,226 ,179
X2 (5)=361,486*** (6)=620,869*** (7)=719,372*** (7)=191,317*** (7)=901,273***
Pseudo R2 CS=0,116
N=’,156
CS=0,130
N=0,174
CS=0,279
N=0,385
CS=0,048
N=0,070
CS=0,223
N=0,312
N 2940 4476 2202 3876 3578
2006 2008 2010 2012 2014
Género (F) 0,042 ,101 0,007 ,062 0,003 ,106 -0,094 ,115 0,102 ,133
Est. civil (c) -0,077 ,111 0,059 ,067 0,249 ,264 -0,141 ,162 0,242 ,175
Educação (s) 0,606*** ,103 0,716*** ,063 0,811*** ,107 0,910*** ,123 1,078*** ,140
122
Idade 0,000 ,004 -0,002 ,002 -0,006 ,004 -0,013** ,004 -0,010* ,005
Portugal -1,004*** ,110 -1,887*** ,104 -0,626*** ,159 -,748*** ,155 -0,688*** ,140
Espanha - - -1,020*** ,081 0,806*** ,114 0,799*** ,143
Grécia - - -1,579*** ,086 - - - - - -
Constante -0,659*** ,167 0,156 ,125 -1,153*** ,161 -0,223 ,192 0,015 ,184
X2 (5)=145,055*** (7)=782,515*** (6)=177,399*** (6)=244,286*** (5)=90,109***
Pseudo R2 CS=0,071
N=0,100
CS=0,134
N=0,185
CS=0,088
N=0,125
CS=0,148
N=0,200
CS=0,084
N=0,113
N 1959 5421 1921 1523 1021
*** p< 0,001; ** p< 0,01; * p< 0,05 Fontes: Four Nations Study, 1985; WVS, 2004; EVS, 1985-2008; ESS, 2002-2014. Legenda: F – feminino; C – casado; S – superior; E.P – erro-padrão.
123
Gráfico nº 6.5 - Probabilidades da participação não convencional na Europa do sul, 1985-2014
Fonte: elaborado pelo autor com base nos resultados estatísticos.
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
1990 1999 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014
Portugal
Mulher Homem
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
1985 1990 1999 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014
Espanha
Mulher Homem
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1999 2002 2004 2008 2010
Grécia
Mulher Homem
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1985 1990 1999 2002 2004 2008 2012
Itália
Mulher Homem
124
Quadro nº 6.9 - Desigualdades de género na participação não convencional dos menos afetados (regressão logística binária), 2006-2014
2006 2008 2010 2012 2014
Euro norte B E.P B E.P B E.P B E.P B E.P
Género (F)
0,264*** ,054 0,457*** ,053 0,677*** ,094 0,431*** ,075 0,363*** ,076
Est. civil (c)
0,063 ,057 0,097 ,056 0,091 ,271 0,162 ,095 0,206* ,092
Educação (s)
0,561*** ,056 0,494*** ,055 0,413*** ,095 0,524*** ,077 0,425*** ,077
Idade -0,021*** ,002 -0,019*** ,002 -0,017*** ,003 -0,010*** ,002 -0,015*** ,002
Noruega -0,003 ,075 -0,017 ,073 -0,138 ,111 0,088 ,101 -0,214* ,104
Dinamarca -0,107 ,078 -0,172* ,073 -0,416*** ,115 -0,448*** ,105 -0,351** ,107
Suécia 0,384*** ,076 -0,508*** ,074 0,417*** ,100 0,264* 102
Constante 0,834*** ,096 0,657*** ,091 0,659*** ,138 0,200 ,116 0,693*** ,120
X2 (7)=350,755*** (7)=384,291*** (6)=120,548*** (7)=160,289*** (7)=132,241***
Pseudo R2 CS=0,056; N=0,075 CS=0,060; N=0,080 CS=0,057; N=0,077 CS=0,049; N=0,067 CS=0,042; N=0,057
N 6074 6227 2040 3158 3093
Euro central e ocidental
Género (F)
0,097 ,058 0,144*** ,040 0108 ,060 -0,020 ,059 0,097 ,058
125
Est. civil (c)
0,070 ,067 0,036 ,042 0,039 ,118 0,094 ,069 0,070 ,067
Educação (s)
0,712*** ,059 0,753*** ,042 0,749*** ,062 0,815*** ,060 0,712*** ,059
Idade -0,003 ,002 -0,005*** ,001 -0,005** ,002 -0,002 ,003 -0,002 ,002
R. Unido -0,035 ,106 -0,208** ,072 -0,276* ,108 -0,220* ,109 -0,035 ,106
Bélgica -0,734*** ,114 -0,687*** ,075 -0,724*** ,118 -0,717*** ,114 -0,734 ,114
Holanda -0,429*** ,108 -0,919*** ,075 -0,508*** ,114 -0,495*** ,111 -0,429*** ,108
Alemanha 0,171 ,100 -0,203** ,065 0,006 ,102 0,303** ,101 0,171 ,100
França 0,283** ,109 -0,006 ,072 0,378** ,113 0,376** ,109 0,283** ,109
Constante -0,134 ,106 0,0925 ,082 -0,264* ,112 -0,360** ,109 -0,134 ,106
X2 (9)=287,682*** (9)=636,204*** (9)= (9)=272,132*** (9)=356,992*** (9)=287,682***
Pseudo R2 CS=0,054; N=0,072 CS=0,058; N=0,078 CS=0,053; N=0,072 CS=0,068; N=0,091 CS=0,054; N=0,072
N 5172 10563 4964 5094 5172
Euro leste
Género (F)
-0183* ,087 -0,122 ,065 -0,072 ,090 -0,176* ,089 -0,006 ,104
Est. civil (c)
-0,070 ,091 0,089 ,068 -0,222 ,266 0,172 ,103 0,112 ,130
Educação (s)
0,993*** ,092 1,015*** ,072 0,876*** ,093 0,886*** ,093 0,926*** ,106
Idade -0,019 ,003 -0,011*** ,002 -0,009*** ,002 -0,012*** ,002 -0,014*** ,003
126
Polónia -0,844*** ,111 -0,165 ,115 0,033 ,157 -0,386** ,136 -0,230 ,152
Bulgária -1,231*** ,136 -0,264* ,122 -0,330* ,157 -0,897*** ,138
Hungria -0,758*** ,115 0,561*** ,103 0,392** ,135 0,117 ,123 0,135 ,135
Eslovénia -0,160 ,117 -0,562** ,170 -1,472*** ,153 -1,346*** ,181
Constante -0,608*** ,144 -1,525*** ,128 -1,503*** ,151 -0,808*** ,145 -0,994*** ,167
X2 (7)=289,363*** (8)=300,112*** (8)=169,006*** (8)=305,177*** (7)=222,813***
Pseudo R2 CS=0,052; N=0,100 CS=0,037; N=0,066 CS=0,0239; N=0,068 CS=0,070; N=0,119 CS=0,075; N=0123
N 5374 7958 4231 4199 2872
*** p< 0,001; ** p< 0,01; * p< 0,05 Fonte: ESS, 2006-2014. Legenda: F – feminino; C – casado; S – superior; E.P – Erro-padrão.
127
Gráfico nº 6.6 - Probabilidades da participação não convencional nos países menos e mais afetados, 2006-2014
Fonte: elaborado pelo autor com base nos resultados estatísticos.
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
2006 2008 2010 2012 2014
EURO SUL
Mulher Homem
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
2006 2008 2010 2012 2014
EURO NORTE
Mulher Homem
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
2006 2008 2010 2012 2014
EURO CENTRAL E OCIDENTAL
Mulher Homem
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
2006 2008 2010 2012 2014
EURO LESTE
Mulher Homem
128
6.1.4 Evolução das desigualdades de género na participação comunitária
Por vários motivos, a vida tende a ser mais fácil quando se vive numa comunidade
repleta de capital social50. As redes de contacto adquiridas no envolvimento cívico
fomentam normas robustas de reciprocidade generalizada e encorajam a emergência da
confiança social. A densa rede de interação do indivíduo, normalmente, eleva-lhe o ego,
ou seja, ele desenvolve o «eu» no «nós», aumentando o seu «gosto» pelo beneficio
coletivo (Putnam, 1995)51. O ativismo cívico nas organizações de voluntariado e nas
associações comunitárias representa uma dimensão distinta da participação política. As
mulheres podem ser mais ativas neste canal alternativo do que nos modos tradicionais
de expressão política (Inglehart e Norris, 2003: 111).
Como se pode observar no quadro nº 6.10, de acordo com os testes de qui-quadrado,
salvo algumas exceções, verifica-se a persistência de desigualdades de género
significativas nas atividades comunitárias entre mulheres e homens na Europa do sul,
sendo os homens mais participativos do que as mulheres.
Quadro nº 6.10 - Modalidade da participação comunitária (ajudar a resolver
problemas comunitários), 1985-2014 (%)
Mulheres Homens
PORTUGAL
1985 17,4 23,0*
2002 57,0 66,0*
2004 58,8 66,6*
2006 60,0 67,7*
2008 47,0 60,1***
2010 57,5 67,1**
2012 56,4 70,0***
50 “For a variety of reasons, life is easier in a community blessed with a substantial stock of
social capital” (Putnam, 1995). 51 “… Dense networks of interaction probably broaden the participants' sense of self,
developing the "I" into the "we," or (in the language of rational-choice theorists) enhancing
the participants' "taste" for collective benefits” (Putnam, 1995).
129
2014 37,5 28,2
ESPANHA
1985 28,5 35,0**
2002 57,5 62,0*
2004 62,5 65,2
2006 60,8 66,8***
2008 60,2 63,9*
2010 62,6 66,1*
2012 55,0 58,8*
2014 41,1 25,6*
GRÉCIA
1985 45,9 64,2***
2002 54,0 69,2***
2004 56,0 70,1***
2008 68,6 74,8*
2010 59,5 64,9
ITÁLIA
1985 36,0 37,1
2002 48,3 49,8
2012 50,0 55,0**
PAÍSES NÓRDICOS
2006 71,5 68,7*
2008 71,0 67,0***
2010 69,5 65,7**
2012 70,6 67,5**
2014 23,4 18,8**
EUROPA CENTRAL E OCIDENTAL
2006 65,7 65,8
2008 64,9 65,1
2010 64,9 63,7
2012 63,3 63,7
2014 24,1 21,9
EUROPA DO LESTE
2006 57,4 61,8**
130
2008 57,7 64,9***
2010 58,8 63,0***
2012 55,9 62,2***
2014 39,2 32,6**
*** p< 0,001; ** p< 0,01; * p< 0,05 Fontes: Four Nations Study, 1985; ESS, 2002-2014. Legenda: M – mulher; H – homem.
Ao contrário do que se observou nos dados descritivos, o modelo de análise
multivariada (quadro nº 6.11) revela que o género é um fator pouco diferenciador da
realização de atividades comunitárias ao longo dos tempos nos países da periferia
europeia.
Como se pode constatar, gráfico nº 6.7, não há diferenças na probabilidade de
mulheres e homens participarem em atividades políticas comunitárias nos países da
Europa do sul52 ao longo das últimas décadas. Nos três primeiros casos, em que as
diferenças são significativas (quadro 6.11), estas são ligeiras (gráfico nº 6.7). Esses
resultados contradizem algumas investigações realizadas a priori que assinalam a
persistência significativa das desigualdades de género (Scholzman et al, 1995: 273-4;
Inglehart e Norris, 2003:118; Norris et al, 2004: 22; entre outros). Enquanto um estudo
realizado no Reino Unido concluiu que as mulheres participavam mais nestas atividades
do que os homens (Lowndes, 2000), os resultados da presente pesquisa infirmam a
hipótese H.A4 de estudo, que antecipava encontrar diferenças significativas de género
na participação comunitária ao longo dos tempos.
De acordo com Inglehart e Norris, o século transato testemunhou uma transformação
em relação às organizações voluntárias e associações comunitárias, tendo a globalização
fortalecido as redes internacionais de mulheres que trabalham com associações locais e
regionais de base. Consequentemente, verificou-se, em muitos países, um aumento
significativo de movimentos de mulheres e ambiente político feminino em organizações
comunitárias, ONG, grupos de ativistas dos direitos das mulheres, movimentos
feministas, etc. Estas experiências tê-las-ão tornado mais ativas nestes canais
alternativos do que nas formas políticas tradicionais (Inglehart e Norris, 2003: 111-2 e
150).
52 Infelizmente, os dados não permitem fazer uma análise mais detalhada devido à falta de
vários casos, sobretudo, em Itália e na Grécia.
131
No que tange à crise económica, apesar de os dados demonstrarem a desigualdade de
género referida, não revelam qualquer aumento dessa desigualdade nos países da
Europa do sul e nos demais países em estudo durante o respetivo período da crise
económica (quadro nº 6.10).
No geral, não se verificam diferenças significativas na probabilidade de mulheres e
homens participarem em atividades políticas comunitárias tanto nos países mais
afetados do sul como nos países menos afetados, à exceção do grupo de países da
Europa do leste no qual se verificou um aumento gradual e significativo das diferenças
de género (ver gráfico nº 6.8). Os resultados obtidos refutam a hipótese H.B4 deste
estudo, segundo a qual seria expetável que as desigualdades aumentassem na Europa do
sul por altura da crise.
132
Quadro nº 6.11 - Desigualdades de género na participação comunitária, (regressão logística binária), 1985-2014
1985 2002 2004 2006 2008
B E.P B E.P B E.P B E.P B E.P
Género (F) -0,352*** ,061 -0,069** ,069 -0,231** ,081 -0,111 ,099 -0,169* ,069
Est. civil (c) 0,220** ,070 -0,006 ,073 -0,182* ,087 0,193 ,108 0,058 ,074
Educação (s) 0,425*** ,070 0,291*** ,083 0,355*** ,087 0,450*** ,106 0,439*** ,075
Idade -0,025** ,002 -0,011*** ,002 -0,008** ,003 -0,016*** ,004 -0,010*** ,002
Portugal -0,729*** ,101 0,630*** ,114 -0,154 ,100 0,159 ,102 -0,454*** ,090
Espanha -0,169* ,081 0,608*** ,099 -0,264** ,096 -0,297*** ,080
Grécia 0,772*** ,082 0,731*** ,089
Constante 0,336* ,136 0,548*** ,122 1,452*** ,139 1,136*** ,161 1,377*** ,122
X2 (7)=690,617*** (7)=132,184*** (6)=46,331*** (5)=36,774*** (6)=87,777***
Pseudo R2 CS=0,120
N=0,164
CS=0,034
N=0,047
CS=0,015
0,021
CS=0,019
N=0,026
CS=0,021
N=0030
N 5397 3819 3078 1932 4071
2010 2012 2014
Género (F) 0,010 ,105 -0,105 ,110 0,123 ,238
Est. civil (c) -0,574* ,239 -0,347* ,146 -0,083 ,283
133
Educação (s) 0,349** ,111 ,033** ,121 -0,538* ,263
Idade -0,027*** ,003 -0,013** ,004 0,011 ,007
Portugal 0,439** ,142 0,862*** ,145 0,279 ,236
Espanha 0,048 ,118 0,369** ,139
Grécia
Constante 1,688*** ,154 ,0512** ,181 -1,360*** ,320
X2 (6)=84,856*** (6)=67,517*** (5)=9,498
Pseudo R2 CS=0,043
N=0,062
CS=0,044
N=0,059
CS=0,022
N=0,032
N 1910 1510 377
*** p< 0,001; ** p< 0,01; * p< 0,05 Fontes: Four Nations Study, 1985; ESS, 2002-2014. Legenda: F – Feminino; C – Casado; CS – Con & Snell; N – Nagelkerke.
134
Gráfico nº 6.7 - Probabilidades da participação comunitária na Europa do sul, 1985-2014
Fonte: elaborado pelo autor com base em resultados estatísticos.
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
1985 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014
Portugal
Mulher Homem
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
1985 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014
Espanha
Mulher Homem
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
1985 2002 2004 2008 2010
Grécia
Mulher Homem
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
1985 2002 2012
Itália
Mulher Homem
135
Quadro nº 6.12 - Desigualdades de género na participação comunitária nos países menos afetados (regressão logística binária), 2006-2014
2006 2008 2010 2012 2014
Euro norte B E.P B E.P B E.P B E.P B E.P
Género (F)
0,162** ,058 0,234*** ,057 0,007 ,102 0,101 ,080 0,198 ,159
Est. civil (c)
-0,036 ,061 0,078 ,060 0,026 ,236 0,156 ,101 0,038 ,181
Educação (s)
0,534** ,062 0,424*** ,060 0,224* ,104 0,516*** ,083 -0,421* ,168
Idade -0,007*** ,002 -0,009*** ,002 -0,013*** ,003 -0,011*** ,002 0,013** ,004
Noruega 0,583*** ,083 0,629*** ,080 0,505 ,121 0,800*** ,112 -0,395 ,212
Dinamarca 0,266** ,083 0,552*** ,078 0,205 ,123 0,435*** ,111 -0,535* ,220
Suécia 0,248** ,079 0,474*** ,076 0,524*** ,103 -0,863*** ,215
Constante 0,727*** ,102 0,593*** ,096 1,207*** ,149 0,597*** ,122 -1,509*** ,242
X2 (7)=161,712*** (7)=178,889*** (6)=43,696*** (7)=117,071*** (7)=37,388***
Pseudo R2 CS=0,026; N=0,038 CS=0,028; N=0,0240 CS=0,0121; N=0,031 CS=0,036; N=0,52 CS= 0,035; N=0,055
N 6097 6244 2045 3162 1040
Euro central e ocidental
Género (F)
0,030 ,042 0,032 ,042 0,015 ,061 -0,041 ,060 0,122 ,110
Est. civil 0,128** ,043 0,059 ,043 -0,011 ,119 -0,178** ,068 0,098 ,120
136
(c)
Educação (s)
0,326*** ,045 0,274*** ,044 0,358*** ,065 0,3469*** ,061 -0,309** ,116
Idade -0,009** ,001 -0,007*** ,001 -0,012*** ,002 -0,007*** ,002 0,013*** ,003
R. Unido -0,118 ,074 0,002 ,073 -0,141 ,110 -0,133 ,111 -0,066 ,191
Bélgica -0,371*** 0,75 -0,070 ,073 -0,132 ,117 -0,287* ,112 0,247 ,195
Holanda 0,228** ,076 0,324*** ,075 0,145 ,116 0,025 ,112 -0,277 ,202
Alemanha -0,053 ,066 0,067 ,066 -0,065 ,104 -0,132 ,103 -0,201 ,182
França 0,950*** ,085 1,034*** ,082 0,859*** ,127 ,552*** ,117 -0,619* ,254
Constante 0,838*** ,087 0,620*** ,085 0,956*** ,115 0,819*** ,111 -1,601*** 211
X2 (9)=412,676*** (9)=342,406*** (9)=180,651*** (9)=138,006*** (9)=45,344***
Pseudo R2 CS=0,038; N=0,053 CS=0,032; N=0,044 CS=0,036; N=0,049 CS=0,027; N=0,037 CS=0,024; N=0,036
N 10599 10495 4960 5085 1882
Euro leste
Género (F)
-0,208** ,059 -0,326*** ,048 -0,176** ,068 -0,273*** ,067 0,292* ,130
Est. civil (c)
-0,071 ,060 0,066 ,049 -0,252 ,170 -0,373*** ,075 0,215* ,136
Educação (s)
0,435*** ,073 0,408*** ,062 0,404*** ,082 0,291*** ,077 -0,252 ,149
Idade -0,015*** ,002 -0,020*** ,001 -0,023*** ,002 -0,021*** ,002 0,021*** ,003
Polónia -0,091 ,060 -0,061 ,081 0,064 ,121 0,164 ,111 -0,035 ,205
137
Bulgária 0,602*** ,088 0,858*** ,081 0,684*** ,114 0,751*** ,104
Hungria -0415*** ,080 0,021 ,077 -0,080 ,106 0,451*** ,107 0,390* ,186
Eslovénia -0,320*** ,082 -0,410*** ,116 0,109 ,101 0,483** ,183
Constante 1,203 ,107 1,354*** ,096 1,430*** ,116 1,128*** ,116 -1,878*** ,229
X2 (7)=282,402*** (8)=534,733*** (8)=322,566*** (8)=303,729*** (7)=89,469***
Pseudo R2 CS=0,052; N=0,052 CS=-0,066; N=0,090 CS=0,074; N=0,100 CS=0,070; N=0,094 CS=0,072; N=0,097
N 5292 7810 4187 4166 1202
*** p< 0,001; ** p< 0,01; * p< 0,05 Fonte: ESS, 2006-2014. Legenda: F – feminino; C – casado; S – superior; E.P – Erro-padrão.
138
Gráfico nº 6.8 - Probabilidades da participação comunitária nos países menos e mais afetados, 2006-2014
Fonte: elaborado pelo autor com base em resultados estatísticos.
0,15
0,25
0,35
0,45
0,55
0,65
0,75
0,85
2006 2008 2010 2012 2014
EURO SUL
Mulher Homem
0,15
0,25
0,35
0,45
0,55
0,65
0,75
0,85
2006 2008 2010 2012 2014
EURO NORTE
Mulhjer Homem
0,15
0,25
0,35
0,45
0,55
0,65
0,75
2006 2008 2010 2012 2014
EURO CENTRAL E OCIDENTAL
Mulher Homem
0,15
0,25
0,35
0,45
0,55
0,65
0,75
2006 2008 2010 2012 2014
EURO LESTE
Mulher Homem
139
6.1.5 Conclusão
Conclui-se que, no geral, com exceção da participação comunitária, houve uma
tendência para o aumento da participação política tanto de mulheres como de homens ao
longo das três últimas décadas em análise e durante o período da crise económica,
conforme observado também por Viegas et al. (2015) e Muñoz et al. (2014).
Relativamente à análise diacrónica, foi possível verificar a ausência de desigualdades
de género significativas na participação política nos quatro países da Europa do sul, com
a exceção da participação convencional, onde as desigualdades ainda persistem
significativamente.
As atividades convencionais, per si, são muito exigentes a nível pessoal. Organizar
ou participar em festas partidárias, participar na assembleia partidária local, doar
dinheiro, fazer campanhas porta a porta, treinar e selecionar candidatos, participar nas
convenções nacionais, filiar-se num partido, etc. são alguns exemplos a ter em conta
nestas atividades (ver Inglehart e Norris, 2003:106). Esse é um preço que as mulheres
não estão dispostas a pagar. Como se sabe, a “política real” tem sido (quase)
exclusivamente dominada por homens. Juntando-se ao “coro” da política real, nos
media, normalmente, só há homens a analisar a(s) situação(ões) política(s) vigente(s). E,
muito do que se comunica através destas atividades políticas, parecem complexas para
as mulheres (ver Verba et al, 1995: 511).
Nota-se que, antes da década de 2000, as mulheres eram significativamente menos
ativas nas demais atividades políticas – voto, protestos e trabalho comunitário – e, com
o passar do tempo, a par das mudanças globais do mundo ocidental, à medida em que as
sociedades contemporâneas do sul da Europa foram se modernizando, as desigualdades
declinaram na sua totalidade.
No que toca ao efeito da crise económica, não se observou um possível impacto da
crise económica entre os géneros, principalmente, nos países mais afetados da Europa
do sul, ou seja, os resultados obtidos não sugerem que a crise económica tenha
influenciado a diferença na participação política entre mulheres e homens, tanto em
países menos afetados como em países mais afetados. Apesar de se verificarem
desigualdades de género na participação convencional, durante o período da Grande
Recessão, evita-se associar essa tendência a um provável efeito da crise económica uma
vez que há registo dessas desigualdades nos momentos pré e pós crise económica.
140
Convém salientar que é nos países nórdicos onde se observa uma pequena tendência
para o aumento das desigualdades, durante a crise económica (2008-2012), nas
atividades de protesto. No entanto, são as mulheres que se revelaram mais propensas a
participar nestas atividades. Reparou-se também, que no grupo de países do leste e ao
longo da crise económica, há um ligeiro aumento da participação dos homens para
ajudar a resolver prolemas comunitários.
A crise económica, apesar de ter mais consequências nas mulheres, como foi
salientado, de qualquer das formas, direta ou indiretamente, teve um grande impacto no
seio das famílias e da comunidade em geral – deixando-as vulneráveis. Essa situação só
veio instigar os cidadãos independentemente da idade ou do sexo, motivando as pessoas
a participar nas atividades políticas, em geral.
As variáveis de controlo mostraram que a educação é a variável que mais efeito teve
nas formas de participação política, conforme tem sido assumido pela literatura, os
indivíduos mais escolarizados tendem a revelar-se mais participativos nas atividades
políticas. A idade foi a segunda variável de controlo mais importante. Adultos e jovens
revelaram-se mais ativos numas atividades do que noutras, isto é, os indivíduos de
segmentação etária jovem tendem a ser mais participativos do que os mais velhos nas
atividades não convencionais e nas atividades comunitárias ao longo dos tempos e da
crise económica, enquanto os mais velhos tendem a participar mais nas atividades
eleitorais e convencionais.
Em suma, os dados indicam que a geração mais nova só participa em atividades
políticas que têm maior motivação para si, contrariando a tese que afirma que os jovens,
cada vez mais, não participam na política ao nível mundial (Norris, 2002; Marsh et al,
2007).
141
6.2 Evolução das desigualdades de género nas atitudes políticas
6.2.1 Desigualdade de género no envolvimento político
O envolvimento com a política é um dos mais diretos e importante fatores na predição
da participação política. Por exemplo, trabalhar numa campanha política, normalmente,
requer certos pré-requisitos, tais como, estar interessado na política, informar-se sobre
um partido ou candidato político, participar em reuniões e contactar a organização da
campanha (Norris et al, 2004: 41; Kittilson, 2016). A literatura tende a mostrar que
nesse tipo de atitudes políticas, pelo menos, as mulheres apresentam-se menos bem
posicionadas do que os homens, mostrando-se menos propensas a envolver-se na
politica do que estes.
Conforme é possível observar, no geral, os dados descritivos do quadro nº 6.13
mostram uma grande tendência para a persistência das desigualdades de género ao
longo dos tempos nos quatro países da Europa do sul, sendo as mulheres as que menos
se envolvem na política.
Recorrendo agora à análise multivariada, verifica-se que, quadro nº 6.14, apesar da
inclusão das variáveis de controlo (estado civil, educação e idade), o género mantém-se
como fator explicativo do envolvimento político, ao longo dos tempos, nos países da
Europa do sul (quadro nº 6.14).
No gráfico nº 6.9, nota-se que as desigualdades de género persistem ao longo dos
tempos na Europa do sul, tendo-se retraído significativamente nos últimos anos em
Portugal e Espanha, embora tenham voltado a crescer no último ano, e mantendo-se na
Grécia e em Itália. Resultados de pesquisas diacrónicas anteriores, de estudos
internacionais e locais, também tinham encontrado persistência significativa das
desigualdades de género (Atkeson e Rapoport, 2003; Baum e Espírito-Santo, 2007;
Preece, 2016). Estes resultados confirmam a hipótese H.A5 que previa a persistência de
desigualdades de género no envolvimento político na Europa do sul ao longo dos
tempos.
Alguns autores têm assinalado que à medida em que uma sociedade se vai
modernizando, as desigualdades de género no envolvimento político tendem a
retrair-se (Verba et al, 1997; van Deth, 2000: 262-5). Olhando para os resultados da
142
presente pesquisa, estes, de certa forma, refutam a premissa de que as desigualdades
declinariam com os avanços da modernidade.
143
Quadro nº 6.13 - Evolução das modalidades do envolvimento político (%), 2002-2014
Ver notícias/programas sobre política na TV
Interesse pela política
Índice das modalidades do envolvimento político (média)
DP
M H M H M H M H
PORTUGAL
2002 3,5 4,0* 6,5 10,5** 2,15 2,54*** 1,22 1,25
2004 23,3 29,1 5,2 9,1*** 2,65 3,10*** 1,39 1,45
2006 31,3 35,3 3,8 7,8** 2,75 3,13*** 1,39 1,36
2008 26,9 32,8 3,2 7,7*** 1,68 3,21*** 1,36 1,39
2010 23,7 29,8 4,0 8,0*** 2,63 3,35*** 1,36 1,41
2012 35,3 41,0 3,4 9,1** 2,86 3,22*** 1,38 1,41
2014 33,0 37,7 6,0 7,7*** 2,90 3,40*** 1,58 1,58
ESPANHA
2002 3,3 3,7** 2,9 4,7*** 1,90 2,30*** 1,30 1,29
2004 14,6 21,7*** 4,6 9,1*** 2,54 2,99*** 1,28 1,37
2006 17,2 23,8*** 3,8 8,3*** 2,48 2,93*** 1,31 1,34
2008 14,4 20,7*** 4,3 6,8*** 2,46 2,84*** 1,31 1,32
144
2010 22,2 26,2*** 5,9 10,6*** 2,45 2,93*** 1,40 1,44
2012 27,4 28,6 12,0 13,4*** 2,89 3,12*** 1,52 1,47
2014 28,2 32,3*** 8,1 14,7*** 2,97 3,40*** 1,43 1,45
GRÉCIA
2002 4,3 6,2* 6,7 13,2*** 1,68 2,18 1,37 1,48
2004 16,7 30,3*** 6,5 13,3*** 2,51 3,17*** 1,46 1,61
2008 10,2 18,5*** 4,7 10,7*** 2,13 2,77*** 1,48 1,64
2010 20,6 30,4** 5,3 9,8*** 2,38 2,93*** 1,54 1,62
2014 18,9 33,4*** 8,7 13,6*** 2,16 2,61*** 1,33 1,36
ITÁLIA
2002 2,8 3,0 5,3 12,2*** 1,79 2,21*** 1,25 1,29
2004 95,4 95,6 4,5 11,4*** 2,62 3,15*** 1,13 1,08
2008 31,6 40,7* 8,3 24,5*** 3,38 4,07*** 1,45 1,41
2012 30,8 29,3 9,6 21,8*** 3,31 3,57*** 1,44 1,44
2014 15,0 22,6** 3,6 7,0*** 1,90 2,33*** 1,26 1,33
PAÍSES NÓRDICOS
2006 20,3 24,5*** 7,1 14,0*** 3,51 5,71*** 1,25 1,26
2008 28,4 28,2 9,2 15,6*** 3,47 3,67** 1,29 1,28
2010 29,1 30,3 9,3 16,0*** 3,44 3,71*** 1,30 1,30
2012 23,9 27,6*** 7,2 13,6*** 2,99 3,33*** 1,45 1,48
145
2014 21,7 24,4*** 7,4 14,2*** 2,91 3,27*** 1,47 1,49
EURO CENTRAL E OCIDENTAL
2006 18,4 22,3*** 8,2 17,0*** 3,06 3,51*** 1,43 1,41
2008 19,2 22,1*** 8,7 18,0*** 3,21 3,63*** 1,38 1,37
2010 18,6 22,9*** 9,9 18,9*** 3,10 3,52*** 1,43 1,45
2012 21,4 25,1*** 10,1 19,9*** 3,16 3,54*** 1,43 1,44
2014 22,1 23,8*** 9,2 19,0*** 3,11 3,48*** 1,43 1,44
EURO LESTE
2006 18,2 23,8*** 5,8 10,3*** 2,90 3,31***
2008 17,2 21,1*** 5,6 8,2*** 2,77 3,21*** 1,42 1,43
2010 16,2 22,1*** 4,7 8,3*** 2,76 3,14
2012 21,5 24,5*** 4,7 7,9*** 2,80 3,09 1,45 1,48
2014 15,2 16,4 2,9 5,5*** 2,36 2,65*** 1,43 1,48
*** P< 0,001; ** P< 0,01; * P< 0,05 Fontes: ESS, 2002-2014; EES, 2008 e 2014; WVS, 2004. Nota: WVS (2004), referente à Itália (na verdade, são dados de 2005). EES (2008) dados correspondentes à Itália. EES (2014), Grécia e Itália. Na realidade
referem-se aos dados de 2009 na EES. Sobre o consumo de informação política, no WVS aplica-se uma única questão sobre a frequência que o indivíduo vê e ouve notícias na TV e rádio.
Legenda: M – Mulher; H – Homem; DP – Desvio-padrão.
146
Relativamente ao impacto da crise económica, não se observam sinais claros do
impacto da crise económica no que diz respeito ao envolvimento político entre
mulheres e homens nos países mais afetados pelas políticas de austeridade. Apesar de,
os dados não apresentarem resultados claros, o teste t para duas amostras
independentes apresenta diferenças significativas de género durante o período
2008-2012 (quadro nº 6.13).
Como é possível verificar no gráfico nº 6.10, nota-se que, apesar das diferenças
significativas entre mulheres e homens, as desigualdades de género foram-se atenuando
ao longo do período da crise económica, sobretudo, nos países mais afetados da Europa
do sul, onde o declínio das desigualdades começa a ser notório a partir do ano de 2010,
enquanto nos grupos de países menos afetados pela crise económica mantém-se, exceto
a Europa do leste que a par do sul, as desigualdades só são observadas claramente em
2012. Tendo os homens se envolvido significativamente mais do que as suas
homólogas femininas em todos grupos de países. Sendo assim, os resultados refutam a
hipótese H.B5 que previa um aumento significativo das desigualdades de género nos
países da Europa do sul.
Os resultados obtidos na presente pesquisa diferem dos alcançados em estudos
anteriores, que observaram um aumento das desigualdades de género entre mulheres e
homens no envolvimento na política em tempos de crise (Siemiʼnska, 1985). Nessa
altura, as mulheres representavam o grupo de indivíduos com menor nível de instrução
académica, menor força de trabalho, etc. e, de acordo com esses fatores, tende a ser
normal que se verifique um aumento das diferenças de género no envolvimento político.
Em suma, notou-se que entre 2008 a 2012 houve uma tendência para o
envolvimento político de mulheres e de homens decrescer, tanto em países do sul da
Europa como nos países menos afetados pela crise.
147
Quadro nº 6.14 - Desigualdades de género no envolvimento político na Europa do sul (regressão linear, coeficientes não estandardizados),
2002-2014
2002 2004 2006 2008 2010
B E.P B E.P B E.P B E.P B E.P
Género (F)
-0,451*** ,081 -0,629*** ,072 -0,404** ,132 -0,763*** ,088 -0,402* ,166
Est. civil (c)
-0,024 ,087 0,189* ,079 0,256 ,144 0,493*** ,089 0,041 ,046
Educação (s)
0,366*** ,090 0,879*** ,075 0,464** ,136 0,673*** ,091 0,957*** ,170
Idade 0,038*** ,003 0,031*** ,003 0,039*** ,005 8,418E-5 ,000 0,049*** ,006
Portugal 0,867*** ,121 3,419*** ,101 0,619*** ,134 1,427*** ,131 1,068*** ,207
Espanha -0,010 ,113 3,270*** ,103 0,911*** ,116 0,298 ,195
Grécia -0,113 ,110 2,418*** ,101 0,168 ,125
Constante 1,537*** ,140 1,135*** ,141 3,925*** ,222 4,537*** ,125 2,704*** ,258
R2Ajustado ,144*** ,421*** ,108*** ,103*** ,152***
F (7,1888) 46,377 (7,2463) 257,853 (5,1011) 25,566 (7,2704) 235,563 (6,703) 22,257
N 1895 2470 1016 2711 709
2012 2014
Género (F)
-0,255** ,075 -0,650*** ,058
148
Est. civil (c)
-0,045 ,101 0,248*** ,067
Educação (s)
0,752*** ,082 0,841*** ,061
Idade 0,019*** ,003 0,020*** ,002
Portugal -0,220* ,098 0,819*** ,103
Espanha -0,440*** ,098 0,545*** ,090
Grécia 0,005 0,001
Constante 2,471 ,126 1,736*** ,114
R2Ajustado ,104*** 0,125***
F (6,1465) 29,437 (7, 3028) 63,041
N 1471 3035
*** P< 0,001; ** P< 0,01; * P< 0,05. Fontes: ESS, 2002-2014; EES, 2008 e 2014. Legenda: F – feminino; C – Casado; S – superior; E.P – erro-padrão.
149
Gráfico nº 6.9 Previsão do envolvimento político nos países da Europa do sul, 2002-2014.
Fonte: elaborado pelo autor com base em resultados estatísticos.
2,3
3,3
4,3
5,3
6,3
7,3
2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014
PORTUGAL
Mulher Homem
2,3
3,3
4,3
5,3
6,3
7,3
2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014
ESPANHA
Mulher Homem
2,3
3,3
4,3
5,3
6,3
7,3
2002 2004 2008 2010 2014
GRÉCIA
Mulher Homem
2,3
3,3
4,3
5,3
6,3
7,3
2002 2004 2008 2012 2014
ITÁLIA
Mulher Homem
150
Quadro nº 6.15 - Desigualdades de género no envolvimento político em países menos afetados (regressão linear, coeficientes não
estandardizados), 2006-2014
2006 2008 2010 2012 2014
Euro norte B E.P B E.P B E.P B E.P B E.P
Género (F) -0,370*** ,054 -0,400*** ,054 -0,485*** ,108 -0,2765*** ,045 -0,173*** ,046
Est. civil (c) -0,005 ,057 -0,064 ,057 0,125 ,254 0,039 ,056 0,041 ,055
Educação (s) 0,422*** ,055 0,498*** ,056 0,804*** ,109 0,371*** ,046 0,313*** ,046
Idade 0,053*** ,002 0,052*** ,001 0,051*** ,003 0,029*** ,001 0,029*** ,001
Noruega 0,412*** ,074 0,364*** ,074 0,130 ,136 0,200** ,062 -0,079 ,063
Dinamarca 0,621*** ,080 0,793*** ,078 0,533*** ,064 0,370*** ,066
Suécia 0,128 ,076 -0,136 ,076 -0,378** ,125 -0,194** ,060 ,099 ,061
Constante 3,673*** ,100 3,777*** ,099 4,096*** ,158 1,951*** ,071 1,969*** ,074
R2Ajustado ,214*** ,227*** ,233*** ,218*** ,194***
F (7,4609) 180,854 (7,4537) 191,905 (6,1293) 66,674 (7,2997) 119,574 (7, 28999) 161,486
N 4617 4544 1299 3004 2906
Euro central e ocidental
Género (F) -0,624*** ,050 -0,531*** ,049 -0,546** ,149 -0,383*** ,039 -0,322*** ,039
Est. civil (c) 0,117* ,052 0,102* ,049 0,192 ,157 -0,015 ,041 -0,051 ,045
Educação (s) 0,744*** ,053 0,677* ,051 0,754*** ,085 0,494*** ,045 0,358*** ,039
151
Idade 0,037*** ,002 0,040*** ,002 0,037*** ,002 0,025** ,001 0,028*** ,001
R. Unido 0,356*** ,090 0,421*** ,087 -0,056 ,146 -0,075 ,074 0,071 ,073
Bélgica 0,512*** ,094 0,427*** ,092 0,368* ,160 -0,143 ,075 -0,122 ,076
Holanda 0,652*** ,089 0,704*** ,084 0,716*** ,148 ,0462*** ,074 0,373*** ,073
Alemanha 0,411*** ,075 0,329*** ,074 0,314* ,132 0,337*** ,069 0,214*** ,069
França 0,341*** ,094 0,533*** ,091 0,394* ,160 0,310*** ,075 0,143 ,075
Constante 3,862*** ,104 3,800*** ,099 3,921*** ,048 1,933*** ,074 1,899*** ,073
R2Ajustado ,135*** ,155*** ,151*** ,169*** ,168***
F (9,6583) 115,025 (9,6321) 384,390 (9, 2511) 50931 (9,4815) 207,902 (9,4828) 228,059
N 6592 6330 2520 4824 4837
Euro leste
Género (F) -0667*** ,078 -0,562*** ,064 -0,396*** ,094 -0,346*** ,043 -0,338*** ,053
Est. civil (c) 0,083 ,081 0,195*** ,066 0,084 ,261 0,210*** ,049 0,165** ,063
Educação (s) 0,628*** ,089 0,617*** ,075 0,664*** ,106 0,364*** ,050 0,420*** ,062
Idade 0,043*** ,002 0,044*** ,002 0,046*** ,002 0,025*** ,001 0,028*** ,001
Polónia 0,806*** ,102 0,185 ,102 0,682*** ,158 0,429 ,073 0,097 ,083
Bulgária 0,913*** ,128 0,460*** ,111 1,005*** ,164 0,429*** ,066
Hungria 0,141 ,101 -0,655*** ,094 -0,098 ,133 -0,344*** ,069 -0,416*** ,076
Eslovénia -0,487*** ,102 0,056 ,150 -0,585*** ,065 -0,540*** ,078
Constante 3,384*** ,139 3,641*** ,121 2,902*** ,152 1,821*** ,075 1,515*** ,088
152
R2Ajustado ,152*** ,178*** ,198*** ,196*** ,179***
F (7,2961) 77,091 (8,4142) 113,705 (8,1841) 58,010 (8,4064) 125,278 (7,2693) 85,099
N 2968 4150 1849 4072 27012700
Fonte: ESS, 2006-2014. Legenda: F – feminino; C – Casado; S – superior; E.P – erro-padrão.
153
Gráfico nº 6.10 - Previsão do envolvimento político nos países menos e mais afetados, 2006-2014
Fonte: elaborado pelo autor com base em resultados estatísticos.
2,75
4,75
6,75
2006 2008 2010 2012 2014
EURO SUL
Mulher Homem
2,75
3,75
4,75
5,75
6,75
7,75
2006 2008 2010 2012 2014
EURO NORTE
Mulher Homem
2,75
3,75
4,75
5,75
6,75
7,75
2006 2008 2010 2012 2014
EURO CENTRAL E OCIDENTAL
Mulher Homem
2,75
3,75
4,75
5,75
6,75
7,75
2006 2008 2010 2012 2014
EURO LESTE
Mulher Homem
154
6.2.2 Desigualdades de género na confiança em instituições políticas
Segundo os resultados do quadro descritivo nº 6.16, não se verificam diferenças
significativas entre mulheres e homens quanto à confiança em instituições políticas nos
países da Europa do sul, salvo raras exceções. É, principalmente, na década de 1990
que há vestígios de diferenças de género significativas, tendo desaparecido a partir da
década de 2000.
De acordo com o quadro nº 6.17, que apresenta a análise multivariada, globalmente,
o género não se revela uma variável preditiva da confiança nas instituições políticas ao
longo dos tempos na Europa do sul.
Também o gráfico 6.11 corrobora a hipótese A.6, que previa a ausência de diferenças
significativas entre mulheres e homens quanto à confiança nas instituições políticas. Os
mesmos resultados já tinham sido observados anteriormente por outros investigadores
(Baum e Espírito-Santo, 2004: 285-6). Contrastando os resultados da presente
pesquisa, destaca-se Hooghe e Wilkenfeld que, no seu estudo comparado em 8 países
europeus, Portugal incluído, observaram desigualdades de género entre mulheres e
homens (Hooghe e Wilkenfeld, 2008: 161). Tendo as mulheres revelado menor índice
de confiança do que os homens, usando dados do IEA Civic Education Study
(1999-2000) e ESS (2002).
No que diz respeito à crise económica, não se observa mudança de tendência entre os
géneros nos países da Europa do sul e no grupo de países mais afetados pela crise
económica entre 2008-2012. De acordo com o gráfico nº 6.12, ao contrário do previsto,
segundo a hipótese B.6 que é, por conseguinte, infirmada, durante o período de crise
económica não se verificou qualquer alteração no padrão de ausência das desigualdades
de género observado antes na confiança votada às instituições políticas.
No geral, nota-se um declínio da confiança nas instituições políticas em ambos os
sexos, como assinalado em algumas pesquisas (Armigeon e Ceka, 2013: 16; Belchior,
2015).
155
Quadro nº 6.16 - Evolução das modalidades da confiança política, 1990-2014, (média)
Grau de confiança
Confiança no parlamento nacional
Confiança nos tribunais
Confiança na polícia
Confiança nos partidos políticos
Confiança na UE Índice das modalidades da
confiança política (média)
DP
M H M H M H M H M H M H M H
PORTUGAL
1990 4,8 4,3 7,4 6,8 6,8 6,6 - - 10,6 10,5 5,53 5,42 2,30 2,28
1999 5,4 4,9* 6,2 3,3 15,5 13,3 - - 6,2 8,5** 6,19 5,78** 2,23 2,16
2002 5,7 9,6** 6,9 9,5 16,4 14,5 - - 16,6 25,2** 5,05 5,16 2,70 2,92
2004 17,2 21,2 22,0 24,5 24,5 28,3 3,1 4,8 22,4 24,0 7,35 7,66 3,54 3,63
2006 19,5 26,6 14,4 15,6 28,7 33,0 7,5 9,0 18,4 22,0 7,55 7,62 3,63 3,86
2008 10,8 12,0 14,7 14,4 18,6 18,0 5,8 7,6 17,0 18,5 6,82 6,85 3,68 3,61
2010 4,8 7,8 9,4 8,5 28,8 31,2 4,2 4,9 19,8 21,3 6,20 6,22 3,64 3,81
2012 4,4 4,6 9,7 11,0 35,6 38,2 2,8 3,5 13,8 16,9 5,83 5,81 3,60 3,65
2014 4,2 7,2 5,1 6,8 16,4 17,3 3,9 4,9 10,7 14,5 4,13 4,69 3,27 3,51
ESPANHA
1990 4,8 7,3* 10,0 7,4*** 11,6 8,6** - - 8,2 10,9 5,99 5,78* 2,30 2,38
1999 9,2 9,6 11,7 8,5** 10,6 9,6*** - - 8,5 7,5 6,06 5,99** 2,43 2,50
156
2002 10,4 14,0* 9,2 9,2 19,6 22,0** - - 21,5 20,6 5,62 5,59 2,92 3,15
2004 40,3 45,0* 34,9 39,7*** 45,6 44,1 19,2 20,7 43,3 42,8 9,99 10,05 3,78 3,79
2006 40,4 43,7* 29,2 29,6*** 48,0 46,8*** 15,9 16,9** 13,3 27,0*** 9,54 9,22* 3,63 3,87
2008 24,9 25,6 20,0 18,6 27,6 28,5 14,2 15,3 23,0 22,4 8,44 8,39 3,74 3,74
2010 15,0 16,4*** 21,0 19,7*** 51,9 50,9** 10,0 9,8* 31,1 34,3* 8,46 8,07** 3,72 3,81
2012 10,4 12,8* 12,9 18,2*** 44,3 46,9** 6,7 7,0 23,9 27,0 6,72 6,78 3,76 3,88
2014 6,7 8,7 9,1 12,2** 24,7 24,9 3,0 3,6 15,3 14,2 5,27 5,21 3,61 3,86
GRÉCIA
1999 3,3 2,0 6,3 5,5 2,8 2,9 - - 2,5 3,3 4,35 4,24 2,45 2,37
2002 16,2 19,4 39,9 41,9 42,9 42,6 - - 39,6 43,2 7,01 7,19 3,27 3,37
2004 35,5 38,1 50,3 47,6 51,5 46,5 18,7 19,5 49,8 46,9 9,99 9,71 3,94 3,99
2008 13,2 14,3 32,9 27,6 19,7 17,5 7,6 8,9 21,5 21,6 6,95 6,74 4,17 4,22
2010 3,8 6,4 21,2 18,9 30,8 27,7 3,2 2,3 11,8 9,6 4,97 4,95 3,74 3,96
ITÁLIA
1990 3,9 5,5** 5,0 5,8** 13,0 13,6*** - - 16,7 21,7* 6,01 5,81* 2,22 2,35
1999 4,3 5,6 6,4 5,6** 13,7 14,8 - - 13,0 18,5** 5,94 5,96 2,10 2,27
2002 8,3 11,6** 18,9 22,8*** 38,1 35,7 - - 32,4 35,0** 6,96 6,98 2,88 2,79
2004 1,2 2,2 8,0 6,0*** 14,5 14,7 0,2 1,6* 9,9 8,6 7,15 7,22 2,38 2,54
2008 4,6 5,8* 6,9 6,3* 20,8 18,8 0,6 1,3 12,1 13,8 6,17 5,93* 2,15 2,24
2012 9,4 11,1* 24,3 32,4*** 50,1 51,9 6,4 5,8*** 36,3 35,5 7,27 7,78* 4,05 4,08
157
PAÍSES NÓRDICOS
2006 31,6 37,1*** 32,3 35,0*** 45,7 45,5*** 19,6 21,6*** 21,4 22,6*** 8,85 8,86 4,09 4,21
2008 41,7 48,3*** 60,0 64,9*** 56,7 54,3*** 39,2 41,6* 24,9 23,3*** 11,00 10,90 3,21 3,38
2010 39,6 45,2*** 64,2 68,2** 78.7 76,8** 38,1 38,5** 42,5 37,3*** 11,57 11,40* 3,08 3,27
2012 18,4 21,2*** 30,0 33,2*** 46,2 45,7*** 17,7 18,8*** 32,4 32,3*** 8,17 8,12 4,39 4,45
2014 10,9 14,3*** 21,6 25,6*** 23,9 24,0** 11,0 12,5*** 18,9 18,3*** 6,42 6,62*** 4,04 4,14
EURO CENTRAL E OCIDENTAL
2006 33,3 40,2*** 34,3 38,5*** 53,3 52,1*** 22,7 25,0*** 16,6 16,2*** 9,32 9,28 3,69 3,85
2008 20,9 29,3*** 36,2 42,0*** 34,0 35,1*** 22,3 23,9** 18,6 18,8*** 8,99 8,97 3,59 3,84
2010 19,5 25,8*** 35,3 40,7*** 55,4 56,3*** 22,7 24,0 31,1 28,6*** 9,27 9,24 3,85 4,01
2012 24,3 29,0*** 38,6 45,4*** 59,9 59,8*** 25,2 26,0** 33,4 31,5*** 9,72 9,66 3,76 3,90
2014 10,7 15,6*** 21,2 28,3*** 22,0 23,1 11,7 13,6** 16,4 15,7*** 6,82 7,12** 3,87 3,79
EURO LESTE
2006 14,1 16,4 16,5 14,4 30,2 26,4*** 8,1 7,1 26,8 27,2 6,79 6,70 4,10 4,07
2008 7,7 9,2* 13,5 14,8** 14,2 14,0** 7,6 8,5 20,1 22,2 5,88 5,82 4,01 4,08
2010 9,9 10,8 15,3 15,1** 27,0 26,2 8,9 8,8 32,2 31,6 6,64 6,52 4,14 4,18
2012 10,2 10,3 15,8 14,6 30,4 29,4 9,4 10,3 27,3 29,2* 6,40 6,41 4,29 4,27
2014 5,2 5,4*** 10,6 10,2 13,2 11,7 6,4 6,8 17,8 18,3 4,74 4,81 3,67 3,64
*** P< 0,001; ** P< 0,01; * P< 0,05 Fontes: WVS, 2004; EVS, 1990-2008; ESS, 2002-2014. Legenda: M – Mulher; H – Homem; DP – Desvio-padrão.
158
Quadro nº 6.17 - Desigualdades de género na confiança política na Europa do sul (regressão linear múltipla, coeficientes não
estandardizados), 1999-2014
1999 2002 2004 2006 2008
B E.P B E.P B E.P B E.P B E.P
Género (F) 0,136* ,068 -0,128 ,099 -0,095 ,114 0,104 ,176 0,078 ,101
Est. civil (c) 0,206** ,074 0,394*** ,106 0,146 ,124 -0,023 ,193 0,399*** ,110
Educação (s) 0,094 ,081 0,268* ,117 0,521*** ,120 0,504** ,184 0,361** ,104
Idade 0,012*** ,002 0,013*** ,003 0,015* ,004 0,006 ,007 0,008* ,004
Portugal 0,102 ,097 -1,661*** ,166 1,072*** ,180 -1,498*** ,181 0,756*** ,139
Espanha -0,139 ,094 -1,286*** ,146 3,150*** ,171 1,794*** ,119
Grécia -1,543*** ,094 0,013 ,131 2,666*** ,156
Constante 5,158*** ,141 6,212*** ,180 6,177*** ,230 8,837*** ,293 5,916*** ,178
R2Ajustado ,090*** ,063*** ,111*** ,045*** ,046***
F (7,4688) 67,444
(7,3642) 36,324 (7,3763) 68,553 (5,1782) 17,716 (6,5020) 41,488
N 4695 3649 3770 1787 5026
2010 2012 2014
Género (F) 0,313 ,176 0,149 ,202 -0,085 ,284
Est. civil (c) 0,187 ,451 0,006 ,274 -0,246 ,363
159
Educação (s) 0,268 ,182 0,820*** ,218 -0,396 ,295
Idade 0,006 ,006 -0,008 ,007 -0,006 ,010
Portugal 2,348*** ,229 -1,399*** ,267 -0,441 ,295
Espanha 3,726*** ,200 -0,964*** ,264
Grécia
Constante 3,895*** ,259 7,346*** ,347 5,570*** ,402
R2Ajustado ,167*** ,026*** ,002
F (6,1825) 62,176
(6,1449) 7,327 (5,665) 1,273
N 1831 1455 670
*** p< 0,001; ** p< 0,01; * p< 0,05 Fontes: EVS, 1990-2008; EES, 1999-2014; ESS, 2002-2014. Legenda: F – Feminino; C – Casado; E.P – erro-padrão.
160
Gráfico nº 6.11 - Previsão da confiança política nos países da Europa do sul (1999-2014)
Fonte: elaborado pelo autor com base em resultados estatísticos.
4,2
5,2
6,2
7,2
8,2
9,2
10,2
11,2
1999 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014
PORTUGAL
Mulher Homem
4,2
5,2
6,2
7,2
8,2
9,2
10,2
11,2
1999 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014
ESPANHA
Mulher Homem
4,2
5,2
6,2
7,2
8,2
9,2
10,2
11,2
1999 2002 2004 2008 2010 2014
GRÉCIA
Mulher Homem
4,2
5,2
6,2
7,2
8,2
9,2
10,2
11,2
1999 2002 2004 2008 2012 2014
ITÁLIA
Mulher Homem
161
Quadro nº 6.18 - Desigualdades de género na confiança política em países menos afetados (regressão linear, coeficientes não
estandardizados), 2006-2014
2006 2008 2010 2012 2014
Euro norte B E.P B E.P B E.P B E.P B E.P
Género (F) -0,116 ,083 0,086 ,082 -0,008 ,150 0,141 ,121 -0,005 ,179
Est. civil (c)
0,268 ,088 0,283*** ,087 -0,141 ,344 -0,411** ,153 -0,303 ,214
Educação (s)
1,028*** ,085 1,002*** ,085 0,769*** ,152 0,946*** ,123 1,502*** ,179
Idade -0,012*** ,003 -0,013*** ,003 -0,012** ,004 0,016*** ,004 -0,022*** ,005
Noruega -0,987*** ,115 -0,820*** ,115 0,582** ,185 -0,165 ,166 0,622* ,247
Dinamarca 0,245* ,118 0,153 ,113 0,445* ,172 0,677** ,248
Suécia -1,218*** ,116 -1,121*** ,113 0,111 ,179 -0,840*** ,158 -0,438 ,235
Constante 11,927*** ,148 11,587*** ,144 11,511*** ,201 12,092*** ,188 9,651*** ,282
R2Ajustado ,135*** ,059*** ,019*** ,044*** ,057***
F (7, 5427) 61,153 (7,5680) 51,785 (6, 1731) 6,755 (7,2879) 20,115 (7,1827) 16,842
N 5434 5687 1737 2886 1834
Euro central e ocidental
Género (F) 0,156* ,073 0,011 ,072 0,192 ,113 0,081 ,107 -0,169 ,132
Est. civil (c)
0,316*** ,075 0,195** ,074 -0,006 ,223 -0,641*** ,125 -0,475** ,152
162
Educação (s)
1,125*** ,076 0,934*** ,074 1,083*** ,116 1,133*** ,109 1,126*** ,135
Idade -0,011*** ,002 -0,015*** ,002 -0,015*** ,003 -0,012*** ,003 -0,016*** ,004
R. Unido -2,609*** ,135 -2,675*** ,133 -2,580*** ,216 -2,562*** ,209 -2,980*** ,248
Bélgica -1,036*** ,135 -1,615*** ,134 -1,517*** ,221 -1,461*** ,206 -2,374*** ,257
Holanda -0,034 ,133 0,111 ,133 0,033 ,219 -0,158 ,206 -1,244*** ,255
Alemanha -2,136*** ,121 -1,780*** ,120 -2,026*** ,202 -1,515*** ,192 -2,035*** ,232
França -2,255 ,133 -2,190*** ,131 -2,629*** ,219 -2,679*** ,204 -3,578*** ,250
Constante 10,771 *** ,155 10,710*** ,125 10,976*** ,220 11,433*** ,156 9,620*** ,1246
R2Ajustado ,095*** ,084*** ,087*** ,095*** ,098***
F (9,9702) 113,771 (9,9746) 100,695 (9,4500) 48,844 (9,4683) 55,804 (4,3189) 39,790
N 9711 9755 4509 4692 3198
Euro leste
Género (F) 0,053 ,0213 0,087 0,092 0,186 ,136 0,015 ,139 0,307 ,166
Est. civil (c)
0,036 ,119 0,178 ,095 0,058 ,347 -0,648*** ,159 -0,675** ,194
Educação (s)
1,123*** ,140 0,787*** ,113 0,726*** ,157 0,648*** ,157 0,498** ,189
Idade 0,008* ,004 -0,005 ,003 -0,005 ,004 0,004 ,004 -0,005 ,004
Polónia -1,267*** ,159 -1,316*** ,160 1,241*** ,249 0,605** ,233 -0,055 ,261
Bulgária -2,975*** ,178 -3,427*** ,152 -0,683** ,227 -1,483*** ,217
163
Hungria 0,404* ,101 -1,446*** ,149 ,665** ,216 0,788*** ,217 1,181*** ,241
Eslovénia .2,157*** ,161 1,842*** ,168 1,998*** ,209 1,572*** ,247
Constante 7,174*** ,213 7,573*** ,181 5,918*** ,232 3,659*** ,238 3,993*** ,278
R2Ajustado ,079*** 0,081*** 0,051*** 0,078*** ,038***
F (7,4420) 55,158 (8,7045) 78,610 (8,3721) 26,060 (8,3791) 41,051 (7,2020) 12,567
N 4427 7053 3729 3799 2027
*** p< 0,001; ** p< 0,01; * p< 0,05 Fonte: ESS, 2006-2014. Legenda: F – feminino; C – casado; E.P- erro-padrão
164
Gráfico nº 6.12 - Previsão da confiança política nos países menos e mais afetados, 2006-2014
Fonte: elaborado pelo autor com base em resultados estatísticos.
4,4
6,4
8,4
10,4
12,4
2006 2008 2010 2012 2014
EURO SUL
Mulher Homem
4,4
6,4
8,4
10,4
12,4
2006 2008 2010 2012 2014
EURO NORTE
Mulher Homem
4,4
6,4
8,4
10,4
12,4
2006 2008 2010 2012 2014
EURO CENTRAL E OCIDENTAL
Mulher Homem
4,4
6,4
8,4
10,4
12,4
2006 2008 2010 2012 2014
EURO LESTE
Mulher Homem
165
6.2.3 Conclusão
Várias pesquisas têm mostrado que mulheres e homens revelam modos de atuação
diferentes relativamente às atitudes políticas. Mais concretamente, as mulheres tendem a
envolver-se significativamente menos na política do que os homens, embora apresentem
níveis de confiança política idênticos.
Apesar de os dados revelarem diminuição nos modos de envolvimento político de
mulheres e homens, nos últimos anos, as diferenças tendem a ser consistentes e
significativas. De acordo com Gidengil et al, pese embora as mulheres tenham
alcançado melhores garantias na vida pública, emprego, formação, etc. desde a Segunda
Vaga do Feminismo, mulheres e os homens continuam a pensar que a política é
demasiada complicada para as mulheres (Gidengil et al, 2008: 536). E, para acabar com
as desigualdades de género, será necessário mudar a forma como as mulheres pensam
acerca da sua relação com a política (Preece, 2016: 200).
No que diz respeito à crise económica, observou-se uma contração significativa das
desigualdades de género no envolvimento político de mulheres e homens nos países da
Europa do sul durante o período 2010-2012, enquanto nos outros grupos de países essa
tendência só começou a ser observada a partir de 2012.
No que toca à confiança política, não foi observado o surgimento das desigualdades
de género em nenhum momento em análise, tanto na Europa do sul como nos países da
Europa menos afetados pela crise económica.
No geral, nota-se uma descida do envolvimento político de ambos os sexos ao nível
diacrónico e em particular durante a crise, tanto nos países menos afetados como nos
mais afetados. Ao mesmo tempo, observa-se um declínio dos níveis de confiança de
mulheres e homens nas instituições políticas em todos os grupos de países em análise.
Nos países do sul, a confiança política começou a decrescer logo no início da crise
económica, enquanto nos menos afetados os níveis de confiança só começaram a baixar
em 2012, mantendo-se tudo o resto inalterável.
166
6.3 Análise da socialização política
6.3.1 A influência dos agentes de socialização nas atitudes e comportamentos
políticos durante a infância e adolescência dos estudantes
6.3.1.1 A família
A generalidade dos jovens estudantes universitários entrevistados mencionaram que os
parentes participam em atividades políticas como o voto e outras atividades não
convencionais como manifestações, greves e assinatura de petições. No entanto, houve
mais rapazes a referi-lo do que raparigas. É comum os jovens acompanharem os pais e
mães nessas atividades, como afirmam dois jovens estudantes:
Votam. A minha mãe participa em greves e o meu pai, às vezes, também. Tem ido com
eles? Sim. Sim, sempre (entrevistado nº 10, aluno de Direito, 20 anos);
Os meus pais são votantes. Fomos a algumas manifestações (entrevistado nº 11, aluno
de Direito, 18 anos).
Relativamente às atitudes políticas, os rapazes entrevistados conversam mais sobre
política com os seus parentes do que as raparigas, sendo os pais os elementos da família
com quem eles mais conversam.
Foram discussões sobre política e filosofia, com o meu pai. O meu pai sempre foi um
grande interessado nessas áreas. Sempre estudou muito. Ele lia algumas coisas e
mandava algumas “bocas”, e ele chateava-se com o superficial e tínhamos discussões
sobre isso. Profundas (entrevistado nº 11, aluno de Direito, 18 anos);
Da mesma forma, são sobretudo os rapazes entrevistados que afirmam que tinham
por hábito assistir a programas de TV com os pais e as mães e, nos seus quadros de
preferências enquanto telespetadores, viam programas de TV incluindo telejornal,
conforme se nota nas citações abaixo:
Variávamos. Cada dia escolhíamos um programa diferente. Às vezes, telenovelas ou, às
vezes, noticiários (entrevistado nº 12, aluno de Estudos Portugueses, 19 anos);
Na altura era desenhos animados, a viajar. Músicas. De vez em quando, telejornal
(entrevistado nº 26, aluno de Engenharia Eletrónica e Computadores, 19 anos).
Em contraste, as raparigas entrevistadas declararam ouvir com os seus parentes
programas radiofónicos diversos, incluindo notícias e debates. Elas também
167
mencionaram terem tido acontecimentos políticos mais marcantes durante a infância do
que os rapazes:
Às vezes, quando passava uma notícia, discutíamos essa notícia, ou, há uma música…
cantávamos se gostávamos da música (entrevistada nº 19, aluna de Ciências
Farmacêuticas, 22 anos);
Ouvíamos música. O meu pai também ouvia TSF para estar informado. Ouvíamos
música e notícias, pronto era basicamente isso (entrevistada nº 8, aluna de Direito, 22
anos).
Só participava nas campanhas políticas. Usava t-shirt. Começava a andar com aquelas
bandeirinhas. Porque as crianças achavam muito engraçado. Não tínhamos noção do
que era participação política. Mais as campanhas, porque havia música, dança e nós
íamos lá assistir. De resto, não me lembro de nada que me tenha marcado (entrevistada
nº 3, aluna de História, 24 anos);
A crise marcou-me um bocado. Houve uma altura que não havia emprego para o meu
pai e para a minha mãe. Mas, depois ficou… e passou (entrevistada nº 27, aluna de
Engenharia de Materiais, 18 anos).
6.3.1.2 A escola
Aparentemente, a escola proporciona mais capital político às raparigas entrevistadas do
que aos rapazes. As jovens estudantes mencionaram a escola como local em que existia
(no secundário) e existe (na universidade) interação entre a turma/colegas e professores.
Foram as raparigas que também mencionaram participar mais no processo de eleição
dos representantes das associações/organizações académicas do que os rapazes:
Sim. Nós tínhamos a disciplina de Educação Cívica que servia, às vezes, para
debater questões mais sérias, posso assim dizer… mais adultas, digamos. E,
também quando acontecesse alguma coisa no mundo ou no país, entretanto, há
[havia] sempre essas conversas na turma. (entrevistada nº 17, aluna de Higiene
Oral, 20 anos);
Eu acho que a universidade é aquele nível intelectual mais acima em que,
muitas vezes, os professores, se calhar, estão a dar aulas e depois sai-lhes
qualquer coisa do tipo, a queixarem-se da lei X ou de qualquer coisa que eles
acham que está mal. Pronto, nesse preciso momento eu vejo como é bom as
168
pessoas terem opiniões e, às vezes, até gera-se alguma discussão de 5 minutos,
a discutirem opiniões contrárias. E, vejo que isso acaba por puxar um bocado,
assim, a pessoa a querer averiguar porque é que ele acha isso, porque é que ele
acha aquilo (entrevistada nº 16, aluna de Estudos Gerais, 20 anos);
Sim. Isso participamos. Temos direito de escolher os nossos delegados. Quem
nos representa nos órgãos de questão técnica dos Conselhos Pedagógicos. A
faculdade dá-nos oportunidade de participar nisso, sim (entrevistada nº 24,
aluna de Engenharia Informática e Computadores, 18 anos).
6.3.1.3 A comunidade
As entrevistas realizadas sugerem que os jovens rapazes têm maior relação com o meio
envolvente do que as jovens raparigas. Vários rapazes afirmaram que os seus parentes
trabalham em prol da comunidade, participam em assembleias e têm pessoas com papel
ativo em organizações (ONG, sindicatos, movimentos sociais, etc.), como se pode
constatar nas declarações dos participantes:
Nós tínhamos uma boa relação. O meu pai até foi presidente do condomínio
durante muitos anos (entrevistado nº 11, aluno de Direito, 18 anos);
Costumávamos ir a vários jantares dos vizinhos e até em família… algumas
reuniões do condomínio e tudo. Tínhamos alguns jantares de trabalho (mais
antigamente). Mas hoje em dia não temos assim muita interação (entrevistado
nº 14, aluno de Estudos Comparatistas, 18 anos);
Movimentos partidários, muitos. Eu, particularmente, pertenço a um grupo sem
interesses partidários. De discussão política e formação. Tenho “montes” de
amigos nas juventudes, principalmente, PSD e CDS-PP. Também na juventude
bloquista, juventude comunista (entrevistado nº 11, aluno de Direito, 18 anos);
Penso que o meu tio trabalhou num sindicato. Mas, não tenho a certeza em que
sindicato é que foi. (entrevistado nº 23, aluno de Engenharia Mecânica, 19
anos).
169
6.3.1.4 A religião
Apesar de as raparigas entrevistadas mencionarem que as suas famílias são bastante
religiosas, são sobretudo os rapazes que afirmam frequentar essas atividades religiosas
com os seus familiares. Nota-se, também, que mais os rapazes do que as raparigas
continuam a frequentar esses locais atualmente:
Os meus pais são católicos. Também sou católico. Costumamos ir à missa todas
as semanas aos sábados (entrevistado nº 18, aluno de Medicina Dentária, 21
anos);
Eu frequentei quando era menor. Deixei de frequentar e, no passado recente,
voltei outra vez (entrevistado nº 20, aluno de Ciências Farmacêuticas, 21 anos).
6.4 Influência da socialização nas atitudes e comportamentos políticos
dos jovens estudantes
A base de estudo da socialização política é compreender a influência que os agentes de
socialização têm na vida política posterior do indivíduo. Isto é, a formação política que
as crianças recebem nos primeiros anos de vida tendem a determinar as atitudes e
comportamentos políticos de mulheres e homens na vida adulta. O nível de politização
que o indivíduo receba dos agentes de socialização terá um contributo (favorável ou
não). Quer dizer, quanto maior for o nível de politização que o indivíduo adquirir dos
agentes de socialização, maior será a sua entrega em questões políticas na fase adulta
(Stoker e Bass, 2011; McDevitt, 2006).
Os resultados da presente pesquisa, observaram que, na maioria dos casos, os jovens
estudantes universitários que fizeram alusão a questões políticas relacionadas com um
ou vários agentes de socialização tendem a afirmar-se como mais propensos a envolver-
se, atualmente, na política. Esta constatação aplica-se sobretudo aos rapazes
entrevistados. Os rapazes admitiram votar, discutir sobre política com colegas e
familiares e obterem mais informação política do que as raparigas. Essas influências
vêm das relações que foram estabelecendo com a família, a comunidade e a religião,
principalmente.
170
Enquanto as raparigas entrevistadas mencionaram discutir mais sobre política com
amigos e familiares, do que os rapazes. O facto de as raparigas discutirem política com
amigos e familiares deve-se, em grande parte, ao contacto com as questões políticas que
são estimuladas na escola.
Estudos representativos anteriores sublinharam que a participação em cursos cívicos
está associada a um aumento significativo do nível de discussão política, do nível de
conhecimento político e de eficácia política interna dos alunos (Gimpel et al, 2003).
Quando comparado aos estudos de género, esses resultados parecem interessantes, visto
que os estudos representativos não têm apontado a escola como um elemento que
contribua para as diferenças de género que se observam na idade adulta (Gidengil et al,
2016).
6.5 Conclusão e Discussão
A literatura que trata as desigualdades de género na política é vasta. Uma das principais
justificações que apresenta para os baixos níveis de participação das mulheres em
matérias políticas é que elas se autoexcluem do processo político – se comparadas com
homens com idênticos recursos e qualificações. Isto é, por vezes elas optam por ficar de
fora devido à baixa motivação (possivelmente, auto-confiança) para participarem
plenamente na arena política (Preece, 2016: 212). Uma das possíveis causas para este
fenómeno são os diferentes padrões de socialização a que, geralmente, mulheres e
homens são sujeitos. A família enquanto o núcleo central de socialização política tende
a capacitar raparigas e rapazes de formas diferentes. Os rapazes são mais preparados
para a vida lá fora enquanto as mulheres mais viradas para a vida familiar. Por exemplo,
as raparigas entrevistadas indicaram os “valores” como o principal campo de influência
dos seus parentes enquanto os rapazes mencionaram a “educação”, como se pode
conferir nos excertos de entrevistas abaixo:
Ao nível feminino, a minha mãe educou-me como a avó dela a educou a ela,
que é a ser muito “comportadinha”. Mas, até aos 12 anos, a minha mãe
ensinou-me a cuidar da casa, a cozinhar – essas coisas mais femininas. É
sempre determinante porque quando aprendemos algo na infância, no meu
caso, a saber me comportar, a lidar com as pessoas ao nível da religião, acaba
171
por nos moldar e é difícil sair deste molde (entrevistada nº 3, aluna de História,
24 anos);
…da minha mãe, foi precisamente o sentido de dar e não nos agarrarmos tanto
às coisas. Em que o sentido de partilha é bem mais importante do que termos
bastantes coisas que não nos servirão de nada (entrevistada nº 15, aluna de
Línguas, Literatura e Cultura, 20 anos);
Ajudaram-nos sempre a não depender dos outros. A ter relações pessoais e
também na parte intelectual. Saber que aprender é bom e saber que o
conhecimento é sempre uma coisa que se pode aumentar (entrevistado nº 26,
aluno de Engenharia Eletrotécnica e Computadores, 19 anos);
Os meus pais sempre me deram muita liberdade nas minhas decisões. Com essa
liberdade, também aprendi a ser um bocado mais autónomo, para ser sincero.
A minha mãe também me incutia muitos os estudos. Estudar muito. Que por
hábito costumo a fazer e quando não faço costumo sentir um bocado de
remorsos, o que é um bocado estranho. Mas é porque ela me influenciou a fazê-
lo (entrevistado nº 14, aluno de Estudos Comparatistas, 18 anos).
Conforme tem sido assinalado pelos estudos quantitativos, os agentes de socialização
política desempenham um papel fundamental no que toca à orientação política do
indivíduo durante o processo de maturação política. No que respeita à família, tem-se
assinalado uma forte influência das mães na ligação que os seus filhos estabelecem com
a política (Burns et al, 2001; Cicognani et al, 2011; Sani e Quarantana, 2015; entre
outros).
Na presente pesquisa, observou-se que os pais dos entrevistados têm tido um papel
de destaque na discussão sobre política com os filhos, especialmente os rapazes, ao
contrário do que se assinala na literatura, onde as mães são apontadas como as
principais interlocutoras (Rapoport, 1985; Burns et al, 2001; Murillo et al, 2004).
Não surpreende que as nossas conclusões apontem para que sejam os estudantes
entrevistados que estiveram mais expostos a matérias de cariz político durante a infância
ou adolescência (como, por exemplo, na família, escola ou comunidade), sejam os que
manifestaram estar, ainda hoje, mais ligados a estas questões. Geralmente, os jovens
estudantes mostraram-se mais propícios a envolverem-se nas questões políticas do que
as raparigas. Os rapazes mencionaram estar mais predispostos a votar, a discutir política
e a obter informação política, ao passo que as raparigas referiram que só acompanham
política nos meios de comunicação, ou seja, de forma mais passiva. Curiosamente, as
172
raparigas e os rapazes entrevistados mostraram ter o mesmo nível de interesse pela
política e níveis idênticos de filiação em organizações juvenis.
Uma das questões que nos chamou atenção foi o facto de as raparigas e de os rapazes
entrevistados se predisporem pouco a participarem em atividades políticas para além do
voto. Conforme observado nos estudos quantitativos, a passagem à vida adulta contribui
para o declínio da participação política de raparigas e rapazes (Albacete, 2014: 196). Os
jovens tendem a distanciar-se da política em parte devido à dificuldade em encontrar
emprego e dado os baixos níveis de confiança que depositam nos governos
(Torney-Purta et al, 1999: 13).
Infelizmente, os nossos resultados não representam o universo da população
portuguesa nem o universo dos jovens estudantes universitários portugueses, pelo que
se recomenda que se realizem estudos representativos em investigações futuras.
173
Capítulo VII – Conclusões Gerais
7.1 Objetivos da pesquisa
“Vivemos numa era de mudanças sociais e económicas massivas, incluindo as
expetativas de oportunidades e o papel das mulheres na sociedade” (Burns et al, 2001:
373). Apesar das impressionantes mudanças sociais e económicas, tem-se verificado
uma contínua e persistente desigualdade de género em quase todos os campos das
atividades humanas nas sociedades contemporâneas.
A escassez de estudos comparativos sobre as atitudes e comportamentos políticos
relacionados com a (des)igualdade de género, nos vários países na Europa do sul,
levou-nos a formular três objetivos principais: primeiro, analisar a participação e as
atitudes políticas de mulheres e homens nos países da Europa do sul ao longo dos
tempos; segundo, verificar se a crise económica originou um possível efeito nas
diferenças de género nas atitudes e na participação política, entre o período pré e pós
crise económica e comparando os países mais afetados do sul com os grupos de países
europeus menos afetados pela crise, tais como, países nórdicos, países europeus do
centro e ocidente e do leste. Por último, tentou-se perceber, de um modo exploratório, a
forma como as jovens e os jovens estudantes portugueses são politicamente
socializados, procurando aferir a relação entre a socialização política e as atitudes
políticas e o grau de participação política destes indivíduos na atualidade.
Com recurso à metodologia triangular, a investigação foi desenvolvida com base em
dados quantitativos oriundos de bancos de dados internacionais e com base em dados
qualitativos recolhidos pelo autor na cidade de Lisboa. Os dados quantitativos
permitiram uma análise diacrónica e uma análise ao possível impacto da crise
económica nos países da Europa do sul, enquanto o método qualitativo serviu para
observar a socialização política de alguns jovens estudantes universitários portuguesas e
portugueses.
174
7.2 Os resultados da pesquisa
Nas últimas décadas, tem-se verificado uma ligeira tendência de evolução no sentido da
paridade nas assembleias nacionais (IPU, 2017), enquanto as desigualdades ao nível
ministerial e de chefes de Estado (ver Norris, 2007: 730) têm-se mantido mais
inalteradas. Alguns autores defendem que a inclusão de mais mulheres ao nível
parlamentar, não só é vantajosa em termos de representação política e legitimidade
simbólica, mas também encoraja a participação política de mulheres, no geral (Norris et
al, 2004: 62), transmitindo às mulheres a mensagem de que a política é inclusiva. Para
além disso, havendo mais mulheres em cargos públicos há a crença de que elas irão
produzir políticas públicas mais “amigáveis” (Burns et al, 2001: 351-2).
7.2.1 Participação política
Relativamente à participação política, os nossos resultados permitem concluir que não
existem desigualdades de género nos quatro países da Europa do sul, com exceção da
participação convencional (para além do voto), onde as desigualdades, embora pouco
acentuadas, tendem a persistir ao longo das décadas. Também Pippa Norris conclui que
as mulheres põem ligeiramente menos em prática atividades políticas convencionais do
que os homens (Norris, 2002: 91 e 128), porque as mulheres detêm menos recursos
como tempo, dinheiro e competências cívicas que facilitam o acesso a essas atividades
(Verba et al, 1995). Para além disso, os baixos níveis de interesse pela política, bem
como o reduzido sentimento de eficácia política (Norris, 2002: 128) explicam as
desigualdades de género nesse tipo de atividades.
Em resumo, os dados comprovaram a hipótese que considerava haver desigualdades
significativas entre mulheres e homens na participação convencional em Portugal,
Espanha, Grécia e Itália. Quanto à participação eleitoral, como era previsto, os
resultados indicaram a não existência de diferenças de género nos países do sul da
Europa.
Na presente pesquisa, observou-se que, antes do início da década de 2000, as
mulheres do sul da Europa participavam significativamente menos do que os homens
em atividades de protesto, como era esperado. Contudo, com a chegada do novo
175
milénio, o crescente desenvolvimento social, acompanhado por um elevar do nível de
escolaridade de jovens e de mulheres, em especial, e a entrada massiva de mulheres no
mundo laboral pago, mulheres e homens das sociedades industriais avançadas, com
particular atenção aos cidadãos do mediterrâneo, perceberam que a melhor forma de as
suas vozes se fazerem ouvir é participando (em grupos de famílias, amigos e colegas)
em protestos antigovernamentais (Aelst e Walgrave, 2001: 481). Por conseguinte, o
presente estudo observou o desaparecimento significativo das desigualdades de género a
partir da década de 2000, como tem sido verificado noutras pesquisas (Burns et al,
2001; Aelst e Walgrave, 2001; Baum e Espírito-Santo, 2007), confirmando a hipótese
de estudo que previa uma diminuição significativa das desigualdades de género neste
tipo de participação. Na realidade, os dados vão além da hipótese.
Como é sabido, em tempos marcados por crises sociais e económicas, as(os)
cidadãs(os) tendem a desafeiçoar-se do sistema político, a criticar o desempenho do
governo e, consequentemente, os níveis de abstenção eleitoral tendem a elevar-se
(Magalhães, 2014). Paralelamente, os protestos aumentam enquanto os níveis da
participação política convencional diminuem (ver Norris, 1999: 261 e 263). Pessoas que
avaliam negativamente o “estado da economia atual” (Kern et al, 2015; Viegas et al.,
2015) são as que maior propensão revelam para participar em atividades políticas não
convencionais (Freire et al, 2015).
Ao contrário dos resultados obtidos por Häusermann et al. (2013) e Kern et al.
(2015), que observaram um efeito da crise económica na diferença entre mulheres e
homens na participação política durante o período de recessão económica, na presente
pesquisa, não se observa qualquer impacto da crise económica nas desigualdades de
género tanto nos países menos quanto nos mais afetados pela crise económica. Esta
afirmação aplica-se aos quatro tipos de participação política considerados,
nomeadamente participação eleitoral, convencional e não convencional e comunitária.
Esses resultados confirmam as hipóteses que previam a ausência de desigualdades de
género na participação eleitoral e participação não convencional nos países periféricos
do sul durante o período de 2008 a 2012. Em contrapartida, os resultados rejeitam as
hipóteses que previam aumento de participação nas atividades convencionais e
comunitárias nos países fortemente afetados pela crise económica.
No geral, notou-se uma tendência para o aumento da participação política de ambos
os sexos durante o período de crise económica, conforme observado também por Viegas
et al. (2015) e Muñoz et al. (2014).
176
7.2.2 Atitudes políticas
Com o aumento dos níveis de segurança económica e física, as(os) cidadãs(os) das
sociedades industriais avançadas vergaram-se aos valores pós-materialistas, enfatizando
mais a qualidade de vida, as questões ambientais, o estatuto da mulher e de minorias
étnicas, entre outras. Esta evolução levou também a um maior envolvimento político
(interesse e discussão política) das pessoas nessas sociedades, bem como a uma paralela
quebra de confiança nas instituições religiosas e políticas, o abandono da militância
partidária, etc (Inglehart, 1997; Inglehart e Catterberg, 2002). Embora seja assinalada
uma diminuição nas diferenças de género no envolvimento político (van Deth, 2000), as
mulheres continuam a revelar um menor envolvimento político se comparadas com os
homens (Verba et al, 1997; Preece, 2016). Muitos autores acreditam que as diferenças
de género nas atitudes políticas tendem a resistir devido à exposição desigual de
mulheres e homens a matérias políticas desde tenra idade (Conway et al, 1997; Morales,
1999), de forma menos vantajosa para as mulheres.
Considerando agora os resultados da presente pesquisa, observou-se que as mulheres
e os homens detêm ainda atitudes políticas marcadamente distintas. Isto é, as mulheres
tendem a envolver-se significativamente menos na política do que os homens, embora
confiem nas instituições políticas ao longo dos tempos de forma igual aos homens.
Como relatado por muitos, as desigualdades de género nas atitudes políticas persistem
consistente e continuamente no envolvimento político (Verba et al, 1997; Kittilson e
Schwindt-Bayer, 2012; Preece, 2016). E, a tendência dos níveis do envolvimento político
de mulheres e homens não é clara. Alguns autores americanos têm indiciado o aumento
das diferenças de género ao nível diacrónico (Atkeson et al, 2003: 507). Enquanto os
autores europeus têm realçado o declínio de envolvimento político entre mulheres e
homens ao longo dos tempos (van Deth, 2000). É nessa última direção que os nossos
estudos apontam.
Dadas as expetativas teóricas, os resultados confirmam a hipótese do estudo que
esperava verificar diferenças de género no envolvimento político nos países da Europa
do sul ao longo dos tempos. Também confirmam a hipótese que previa não notar
diferenças de género nos níveis de confiança política.
177
Relativamente à crise económica, observou-se uma contração significativa nas
desigualdades de género no envolvimento político de mulheres e homens nos países
menos e mais afetados pelas políticas de austeridade durante o período 2008-2012. Isto
é, as desigualdades diminuíram nesta fase de austeridade económica, quando era
expetável que aumentassem.
No que diz respeito à confiança política, apenas se observou um ligeiro declínio na
confiança política de mulheres e homens dos países mais afetados pela crise económica,
rejeitando a nossa hipótese que esperava detetar desigualdades de género nos países do
sul da Europa.
7.2.3 Socialização política
Como sublinhado anteriormente, os agentes de socialização política desempenham um
papel fundamental no processo de aquisição e maturação política do indivíduo ao longo
da vida. Esses agentes tendem a transmitir os ensinamentos políticos de modos
variados, isto é, raparigas e rapazes tendem a ser educados de maneiras diferentes.
Estudos sobre socialização política têm mencionado que as jovens raparigas se
mostram mais propensas a votar, a envolver-se em movimentos sociais e estão mais
dispostas a doar dinheiro para causas sociais quando se tornarem adultas. Em contraste,
os jovens rapazes afirmaram estar mais disponíveis para participar em atividades de
protesto, na maioria ilegais (Torney-Purta et al, 2001: 185-6). Quando se analisam as
atitudes dos jovens, não se constatam diferenças de género na discussão política em casa
ou com amigos (Scholzman, 2012: 196; Mayer e Schmidt, 2004; Verba et al, 2003).
Como tem sido observado geralmente por outros estudos (ver, por exemplo,
Cicognani et al, 2011), também no estudo exploratório desenvolvido no âmbito da
presente pesquisa se observou que os estudantes entrevistados que estiveram em
contacto permanente com assuntos políticos durante a fase pré-adulta na família, na
escola e na comunidade e que frequentavam uma religião com os seus parentes são
também os que estão atualmente mais ligados à política. Para além disso, são os rapazes
que aludem mais à prática de atividades políticas - votar, discutir política e obter
informação política – e que se sentem mais envolvidos em assuntos políticos na
atualidade. Por outro lado, as raparigas parecem envolver-se na política de forma mais
passiva, limitando-se em grande parte a acompanhar a política através dos media.
178
7.2.4 Notas finais
Para concluir, a nossa pesquisa mostrou que a educação é a variável de controlo que
mais explica as atitudes e comportamentos políticos de mulheres e homens na Europa
do sul. Segundo alguns autores, a influência da educação na propensão de mulheres e
homens para participar e envolver-se na política pode colocar em perigo o regime
democrático na medida em que os níveis de participação decrescem, em primeiro lugar.
Em segundo, mais níveis de edução despertam o “espírito” crítico dos indivíduos e,
consequentemente, aumentam o seu envolvimento político. Cidadãos mais educados
têm mais probabilidades de criar uma sociedade mais igualitária. Porque a educação
produz elevados níveis de recursos políticos e sociais (Nie et al, 1996).
Seria interessante analisar as desigualdades de género nas atitudes e na participação
política em zonas rurais, visto que os estudos tendem a menosprezar estas localidades.
Também seria interessante estudar a ambição política de mulheres e homens para serem
eleitas/nomeadas para cargos públicos (Lawless e Fox, 2004 e 2012). Por último,
recomenda-se a inclusão, nos estudos de opinião pública, de questões sobre género
ligadas às atitudes e à participação política nas redes sociais.
179
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200
Fontes
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Four Nations Study, 1985
Pordata (www.pordata.pt)
World Values Survey, 2004
I
Anexos
Anexo A – Análise qualitativa (entrevistas)
Anexo A.1 - Guião de entrevistas
1. Numa primeira fase, vou fazer-lhe uma série de questões que se relacionam
com a sua infância. Na segunda fase, vou procurar saber o seu atual
interesse pela política.
a) Mais ou menos entre os seus 6 e os 15 anos com quem e onde é que viveu?
b) Durante a infância, em sua casa costumava-se ver televisão em família? Se sim,
quais eram os programas favoritos dos seus parentes? Quais eram os seus?
c) E rádio, tinham por hábito ouvir rádio em conjunto? Pode falar-me um pouco
sobre isso (se a pessoa não disser espontaneamente perguntar: que tipo de
programas, etc)?
d) Na sua família, havia o hábito de se ler/contar histórias às crianças? Quem é que
lia/contava e que tipo de histórias eram essas? Mais tarde, quando começou a
ler, os seus pais incentivaram-no a ler? Que tipo de livros? Durante a sua
infância, lembra-se de ver os seus pais a lerem jornais?
e) A religião desempenha um papel fundamental no seio de algumas famílias. Pode
descrever, por favor, a relação da sua família com a religião? (Se os pais tinham
uma religião, se iam frequentemente à igreja, etc.).
f) Descreva, por favor, a relação que existia entre a sua família e a comunidade que
vos rodeava (trabalhavam em prol da comunidade, havia inter-ajuda entre os
vizinhos, participavam nas assembleias…).
g) De uma forma ou de outra, os nossos pais influenciam-nos sempre. Qual acha
que foram os principais campos em que os seus pais o/a influenciaram? De que
forma é que eles foram determinantes para aquilo que o/a define hoje como
pessoa?
h) Das conversas que teve com os seus pais ao longo da sua infância, quais foram
as que mais o/a marcaram? Ou quais foram as que ficaram mais na memória?
Costumava conversar sobre política com os seus pais? Se falava sobre política,
II
por favor, diga-me um pouco mais sobre essas conversas que mantinha com os
seus pais.
i) Como é que descreveria a relação da sua família com a política? (Caso o
respondente não diga espontaneamente, perguntar se eram militantes de algum
partido político, se votavam regularmente, se levavam a cabo outro tipo de
participação política além do voto. Perceber bem o que era levado a cabo pela
mãe e o que era levado a cabo pelo pai. Perguntar também, se não referido
diretamente, se o respondente costumava participar em algumas dessas ações da
sua família.)
j) Tem alguém na família que tenha um papel político ativo? Fale-me um pouco da
sua relação com essa pessoa [Qual é a sua relação com ele (próximo/distante)?
Tem-no incentivado a fazer política? De que modo?].
k) Tem alguém próximo que tenha um papel ativo em organizações, como ONG,
sindicatos, movimentos sociais, etc.? Fale-me um pouco da sua relação com essa
pessoa [Qual é a sua relação com ele (próximo/distante)? Tem-no incentivado a
fazer política? De que modo?].
l) A escola secundária era um local onde se falava sobre política? Pode explicar a
interação que existia entre si, a turma/colegas e os professores sobre este
assunto? (E, como eram encaradas as suas ou vossas opiniões?)
m) Para além da sua família e da escola, houve alguém/ou algum evento (que ainda
não tenha mencionado durante a entrevista) que tenha sido importante para a sua
relação com a política?
2. Agora, se não se importar, vamos passar à fase adulta, mais ou menos a
partir dos seus 18 anos.
a) Diga-me, por favor, brevemente onde e com quem tem vivido desde os 18 anos
(mais ou menos)?
b) Como descreve a sua relação com a política hoje em dia? (Costuma discutir
política com amigos e colegas? Costuma acompanhar notícias sobre política nos
media? Costuma votar? Pratica outras atividades políticas que não o voto? A
política é interessante para si? Sente-se informado sobre politica?)
c) É membro de alguma organização juvenil? Na faculdade? Fora dela? (Caso sim,
qual? O que significa, para si, ser membro dessa organização?)
III
d) Descreva a influência da universidade na sua relação com a política? (as salas de
aulas são locais propícios para tocar nessas questões, os professores despertam
atenção sobre esses assuntos; participam no processo de eleição dos
representantes das associações/organizações académicas?).
3. Variáveis sociodemográficas
a) Sexo
b) Idade
c) Ocupação
d) Curso que frequenta
e) Zona de residência (urbana/rural)
f) Nível de escolaridade do pai
g) Nível de escolaridade da mãe
h) Profissão do pai
i) Profissão da mãe
IV
Anexo A.2 - Caracterização das(os) Entrevistadas(os)
Entrevistado
nº
Sexo Idade Curso Esc.
pai
Esc.
mãe
Prof. pai Prof. mãe Residência Data Lugar
1 Homem 23 Comunicação,
Cultura e
Tecnologias de
Informação
Ens.
Sup.
Ens.
Sup.
Reformado Reformada Lisboa 24.10.17 ISCTE
2 Mulher 21 Comunicação,
Cultura e
Tecnologias de
Informação
Ens.
Básico
Ens.
Básico
Mecânico Empregada
limpeza
Alentejo 24.10.17 ISCTE
3 Mulher 24 História Ens.
Básico
Ens.
Básico
Carpinteiro Empregada
limpeza
Almada 24.10.17 ISCTE
4 Mulher 19 Psicologia Ens.
Básico
Ens.
Sup.
Empregado
Armazém
Life Coach Leiria 25.10.17 ISCTE
5 Homem 19 Eng. Eletrónica e
Telecomunicações
Ens.
Básico
Ens.
Básico
Empregado
balcão
Empregada
balcão
Amadora 25.10.17 ISCTE
6 Mulher 22 Direito Ens.
Sup.
Ens.
Sup.
Prof. e Eng. Empresária Lisboa 25.10.17 FDUL
V
7 Mulher 21 Direito Ens.
Sup.
Ens.
Sup.
Diretor
bancário
Professora Azeitão 25.10.17 FDUL
8 Mulher 22 Direito Ens.
Sup.
Ens.
Sup.
Gestor Jurista Lisboa 25.10.17 FDUL
9 Homem 19 Direito Ens.
Básico
Ens.
Básico
Func. Público Func. Pública Caldas da
Rainha
25.10.17 FDUL
10 Homem 20 Direito Ens.
Sup.
Ens.
Sup.
Advogado Enfermeira Massamá 25.10.17 FDUL
11 Homem 18 Direito Ens.
Sup.
Ens.
Sup.
Arquiteto,
professor
Educadora de
infância
Lisboa 25.10.17 FDUL
12 Homem 19 Estudos
Portugueses
Ens.
Básico
Ens.
Básico
Comercial Secretária Lisboa 25.10.17 FLUL
13 Homem Ling. Lit. Cul. Ens.
Básico
Ens.
Básico
Desempregado Empregada de
escritório
Odivelas 25.10.17 FLUL
14 Homem 18 Estudos
Comparatistas
Ens.
Báisco
Ens.
Básico
Constr. Civil Auxiliar de
Educação
Odivelas 25.10.17 FLUL
15 Mulher 20 Línguas Literatura
e Cultura
Ens.
Básico
Ens.
Sup.
Técnico de
eletrónica
Médica Barreiro 25.10.17 FLUL
16 Mulher 20 Estudos Gerais Ens.
Básico
Ens.
Sup
Desempregado Educadora de
Infância
Lisboa 25.10.17 FLUL
17 Mulher 20 Higiene oral Ens. Ens. Polícia Polícia Sintra 25.10.17 FMDUL
VI
Básico Básico
18 Homem 21 Medicina Dentária Ens.
Básico
Ens.
Sup.
Motorista Professora Damaia 25.10.17 FMDUL
19 Mulher 22 Ciências
Farmacêuticas
Ens.
Sup.
Ens.
Sup
Empregado por
conta própria
Funcionária
Pública
Lisboa 25.10.17 FCFUL
20 Homem 21 Ciências
Farmacêuticas
Ens.
Básico
Ensino
Básico
Funcionário
Público
Funcionária
Pública
Cacém 25.10.17 FCFUL
21 Mulher 17 Enfermagem Ens.
Básico
Ens.
Básico
Operário fabril Desempregada Carregado 25.10.17 ESFL
22 Homem 19 Enfermagem Ens.
Sup.
Ens.
Sup.
Eng.º
eletrotécnico
Gestora Lisboa 25.10.17 ESFL
23 Homem 19 Engº Mecânica Ens.
Sup.
Ens.
Sup.
Dir. Produção –
Engª Mecânica
Doméstica Lisboa 26.10.17 ITLUL
24 Mulher 18 Engª Informática e
Computadores
Ens.
Básico
Ens.
Básico
Marmorista Secretária Lisboa 26.10.17 ITLUL
25 Homem 19 Engª Biomédica Ens.
Básico
Ens.
Básico
Desempregado Func. Pública Carcavelos 26.10.17 ITLUL
26 Homem 19 Engª eletrotécnica
e computadores
Ens.
Sup.
Ens.
Sup.
Engº
eletrotécnico
Professora Sintra 26.10.17 ITLUL
27 Mulher 18 Engª de Materiais Ens.
Básico
Ens.
Sup.
Const. civil,
Serralharia
Técnica
Administrativa
Sintra 26.10.17 ITLUL
VII
Anexo B – Análise e descrição de variáveis quantitativas
Anexo B.1 - Codificação e guião das entrevistas das variáveis
Anexo B.1.1 - Guião de Entrevista e Codificação das variáveis da participação política
Dimensão
Participação eleitoral Perguntas Codificação
Votar em eleições Votou nas últimas
eleições?
0 – Não
1 – Sim
Participação convencional
Contactar um político
ou um funcionário do
Governo
Contactou um político
ou um funcionário do
Governo?
0 – Não
1 – Sim
Pertencer a uma
associação ou
organização política
Pertence/ a uma
associação ou
organização política?
0 – Não
1 – Sim
Trabalhar numa
associação ou
organização política
Trabalha numa
associação ou
organização politica?
0 – Não
1 – Sim
Trabalhar noutra
associação
Trabalha noutra
associação ou
organização?
0 – Não
1 – Sim
Participação não convencional
Assinar uma petição ou
um abaixo assinado
Assinar uma petição ou
um abaixo assinado?
0 – Não
1 – Sim
Distribuir cartazes e
folhetos
Distribuiu cartazes e
folhetos?
0 – Não
1 – Sim
Boicotar certos produtos Boicotou certos
produtos?
0 – Não
1 – Sim
Participar numa greve
legal
Participou em alguma
greve legal?
0 – Não
1 – Sim
Comunitário
Resolver problemas
comunitários
Ajuda a resolver
problemas
comunitários?
0 – Não
1 – Sim
VIII
Anexo B.1.2 - Guião de Entrevista e Codificação das variáveis das atitudes face à política
Dimensão Perguntas Codificação
Envolvimento político
Ver notícias/programas
sobre política na TV
Vê notícias/programas
sobre política na TV?
1 – Nunca
2 – Raramente
3 – Algumas vezes
4 – Frequentemente
Interesse pela política Qual é o seu grau de
interesse pela política?
1 – Nenhum
2 – Pouco
3 – Algum
4 – Muito
Confiança nas instituições políticas Grau de confiança
Nos tribunais Qual o seu grau de
confiança na seguinte
instituição política
1 – Nenhuma
2 – Pouca
3 – Alguma
4 – Muita
Na polícia Qual o seu grau de
confiança na seguinte
instituição política
1 – Nenhuma
2 – Pouca
3 – Alguma
4 – Muita
No parlamento Qual o seu grau de
confiança na seguinte
instituição política
1 – Nenhuma
2 – Pouca
3 – Alguma
4 – Muita
Nos partidos Qual o seu grau de
confiança na seguinte
instituição política
1 – Nenhuma
2 – Pouca
3 – Alguma
4 – Muita
Na União Europeia Qual o seu grau de
confiança na seguinte
instituição política
1 – Nenhuma
2 – Pouca
3 – Alguma
4 – Muita
Notas: tendo em conta as premissas do World Values Survey, a “confiança nas instituições
políticas”, normalmente, mede-se com base numa escala que vai de 1 a 4, onde os indivíduos
são questionados da seguinte forma: “Das seguintes instituições, indique qual é o grau de
confiança que cada uma delas lhe apresenta?” (Newton e Norris, 2000: 54; Belchior 2015:
17).
IX
Anexo B.2 - Índices da participação política e das atitudes políticas
Anexo B.2.1 - Índice da participação política: codificação
Tipo de PP Soma de variáveis (re)codificação
Participação política
convencional
Contactar um político +
Trabalhar numa
organização política +
Trabalhar noutra
organização
0 – Não
1 – Sim
Participação política
não convencional
Distribuir cartazes ou
folhetos + boicotar certos
produtos + assinar
petição ou abaixo
assinado + participar em
greve legal.
0 – Não
1 – Sim
Anexo B.2.2 - Índice das atitudes políticas: codificação
Tipo de PP Soma de variáveis (re)codificação
Envolvimento político Contactar um político +
Trabalhar em uma
organização política +
Trabalhar em outra
organização
0 – Nenhum
6 – Muito
Confiança política Nos tribunais + nos
partidos politicos + na
polícia + no parlamento
+ na UE
0 – Nenhuma
15 – Muita
Anexo B.2.3 - Variáveis independentes: codificação
Variáveis
independentes
(re)codificação
Género (VI principal) –
Variável recodificada
0 – Homem
1 – Mulher
Idade Anos dos inquiridos
Estado civil 0 – Solteiro
1 – Casado
Educação 0 – Ensino básico
1 – Ensino superior
X
Anexo B.3 - Dimensões e modalidades da participação política e atitudes políticas, por base de dados
Ano/Fonte: de... até… Ano/Fonte: de... até…
Participação política
Participação eleitoral
Votou nas últimas eleições
Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012*
Participação convencional
Teve reunião com um político
Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
CSES Module 2, 2001-2006**
Contactar um político ou um funcionário do
Governo
Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012; CSES
Module 2, 2001-2006
Contribuir com recursos económicos ou tempo
para um partido ou candidato durante as eleições
Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012
Tentou convencer alguém Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
CSES Module 2, 2001-2006; European Values
Survey (EVS), 1981-2008; EB, 1986-2014 (Gesis
ZACATI)
Discute política com os outros Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970- European Election Study (EES), 2004, 2009; EB,
XI
2002 1986-2014 (Gesis ZACATI
Ajuda a resolver problemas comunitários Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012
Pertence a/Trabalha numa associação ou
organização política
Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012; CSES
Module 2, 2001-2006; European Values Survey
(EVS), 2008
Pertence a/Trabalha noutra associação ou
organização
Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012; CSES
Module 2, 2001-2006; European Values Survey
(EVS), 2008
Participação não convencional
Assinar uma petição ou um abaixo assinado
Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012;
European Values Survey (EVS), 1981-2008***
Escrever uma carta para um jornal Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
Participar em ações ou movimentos de opinião em
defesa dos direitos humanos
Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Values Survey (EVS), 1981-2008
Participar num protesto, marcha ou manifestação Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012; CSES
Module 2, 2001-2006; European Values Survey
(EVS), 2008
XII
Boicotar alguns produtos Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012
Colocar cartazes e distribuir folhetos Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012
Atitudes face à política
Envolvimento político
Vê notícias/programas sobre política na TV
Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012;
European Election Study (EES), 2004, 2009;
European Values Survey (EVS), 1981-2008
Lê notícia sobre política nos jornais Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012;
European Election Study (EES), 2004. 2009;
European Values Survey (EVS), 1981-2008
Ouve notícias/programas sobre política na rádio Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012;
European Election Study (EES), 2004, 2009;
European Values Survey (EVS), 1981-2008
Grau de interesse pelo que os políticos pensam Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012
Grau de interesse pela política
Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012;
European Election Study (EES), 2004, 2009;
European Values Survey (EVS), 1981-2008
Frequência com que discute política Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970- European Social Survey (ESS), 2002-2012;
XIII
2002 European Values Survey (EVS), 1981-2008; EB,
1986-2014 (Gesis ZACATI)
Confiança nas instituições políticas
Grau de confiança:
Nos tribunais Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012;
European Values Survey (EVS), 1981-2008
Na polícia Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012;
European Values Survey (EVS), 1981-2008
No parlamento
Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012;
European Election Study (EES), 2004; European
Values Survey (EVS), 1981-2008
Nas forças armadas Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012;
European Values Survey (EVS), 1981-2008
No Presidente da República Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012;
European Values Survey (EVS), 1981-2008
Nos partidos Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012;
European Values Survey (EVS), 1981-2008
No governo Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970-
2002
European Social Survey (ESS), 2002-2012;
European Values Survey (EVS), 1981-2008
Na União Europeia Mannheim Eurobarometer Trend File, 1970- European Social Survey (ESS), 2002-2012;
XIV
2002 European Values Survey (EVS), 1981-2008
Fonte: Elaborado pelo autor. Nota: * Faltam dados da Grécia nesta fonte. ** Faltam dados da Grécia. Portugal (2002 e 2005), Espanha (2004) e Itália (2006). *** Itália (1981, 1990, 1999 e 2009), Espanha (1981, 1990, 1999 e 2008), Portugal 1990, 1999 e 2008), Grécia (1999 e 2009).