Post on 17-Feb-2023
HETEROSSEMÂNTICOS DE CONOTAÇÃO SEXUAL: ULTRAPASSANDO FRONTEIRAS ENTRE O PORTUGUÊS E O ESPANHOL
Janaína SOARES ALVES1 Resumo: Este trabalho apresenta uma mostra de um grupo específico dentro dos conhecidos “Falsos amigos”: os de conotação sexual, por vezes erótica, por vezes pornográfica, mas todas usadas e coletadas em interações com os professores de cursos de atualização e formação em E/LE. A clientela é brasileira com contato com hispanofalantes das mais diversas regiões. Trazemos à tona também elementos que propiciam uma tentativa de classificação desse léxico específico que é muitas vezes um empecilho à leitura e à compreensão das duas línguas mencionadas. Maiores complicações são geradas aos tradutores, profissionais das duas línguas responsáveis pela apreensão de significados e matizes de significação. Arcaísmos, regionalismos, modismos e outros -ismos estão presentes nesse estudo que conta com um leque de potencial abrangência, tendo em conta que a variação diatópica e diastrática encaixam e desencaixam vocábulos nessas categorias de heterossemânticos. Apesar de ser um tema bastante frequente em nossos seminários, ainda estão pendentes padrões que os sistematizem e sirvam de auxílio a professores, tradutores, intérpretes e a outros profissionais dessas línguas em questão. Palavras-chave: Falsos amigos eróticos. Léxico. Interferências léxicas. Línguas em contato.
A semelhança entre o português e o espanhol apresenta muitas
vantagens no processo de ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras
aproximando os dois lados dessas fronteiras. Uma delas é o fato de, muito
excepcionalmente contarmos com aprendizes em nível zero. A proximidade
dessas línguas acaba por privilegiar alguma das habilidades e permite que os
interlocutores se entendam sob um aspecto mais geral e, apesar das
deficiências no entendimento das especificidades, algo de compreensão geral
é depreendido.
Essa suposta tranquilidade de troca de informações entre os
interlocutores, alimenta por uma parte a criação e “confirmação” de dois dos
mitos que acreditamos estar bastante presentes no contato entre o português e
o espanhol. Um deles é o mito da facilidade em que se acredita que com a
simples troca de terminações e sonoridade, pode-se comunicar com clareza e
1Departamento de Letras e Tradução. Universidade de Brasília – UnB, Brasília (DF). janainasoares.unb@gmail.com
eficácia com a língua irmã, por isso ouvimos com freqüência: “Falar espanhol é
fácil”. O outro é o mito do bilinguismo que versa sobre a possibilidade de
comunicar-se e ler, desde os primeiros contatos com os textos, tanto em uma
como na outra língua estrangeira remete ao conhecimento mínimo das línguas
em contato.
Docentes e discentes cada vez mais percebem a necessidade de
sistematizar os temas fonéticos, morfológicos, sintáticos e semânticos
envolvidos no processo de aquisição “natural” destas duas línguas, sem
necessidade de aprendizagem formal, pode se transformar num conjunto
considerável de erros difíceis de se erradicar se não são elucidados na sala de
aula. El estudio de la adquisición de lenguas extranjeras nació muy ligado a la actividad de los profesores, preocupados por encontrar una metodología acertada que les permitiera ayudar a sus alumnos a no cometer errores al expresarse en la lengua meta. (BARALO, 1999, p. 35)
Questões lexicais são apontadas sempre como elementos dificultadores
de um texto ou uma comunicação oral. Os heterossemânticos podem gerar
problemas aos nativos dessas línguas chegando mesmo a impedir uma leitura
ideal de textos e a eficácia da comunicação. Isto é motivo de preocupação de
muitos pesquisadores e de professores dessas línguas em contato.
O presente trabalho nasce de nossa experiência autodidata na
aprendizagem do espanhol como língua estrangeira (E/LE), do trabalho
docente nas línguas espanhola e portuguesa (inclusive em Português como
língua Estrangeira -P/LE) e do contato com as experiências de outros
professores companheiros e investigadores dessas línguas em contato.
Pretendo apresentar aqui uma parte do processo de uma pesquisa em
andamento sobre os falsos amigos e a sua necessidade de contextualização e
sistematização de estudo. Alguns professores, tradutores e inclusive autores,
questionam a relevância do estudo dos heterossemânticos e os incluem a um
campo menos prioritário das interferências léxicas:
[Debyser (1970) considera los falsos amigos como una más de las varias interferencias lexicales de las que se ocupa en su trabajo. No ve en los falsos amigos un peligro real para la comunicación ni para la traducción y llega a decir que “las listas de falsos amigos son divertidas pero no señalan generalmente que una débil parte, la más conocida, pero contrariamente a esto que creemos, la menos grave y la menos durable de las interferencias.”
Aunque Roey (1985) sí ve en los falsos amigos un peligro de que nos debemos tener dudas, los incluye en un grupo más general de common words (palabras comúnes) de dos idiomas y sólo distingue entre deceptive cognates (pares de palabras emparentados etimologicamente) y homomorphs (los que en la similitud es accidental).] 2(LUGRÍS,1997)
Muitas são as questões que tentamos observar, analisar e talvez
quantificar embora ofereçam desafios e até impossibilidades. Não poderíamos
afirmar com exatidão que a questão dos Falsos Amigos seja realmente uma
das menos duráveis das interferências léxicas. A coleta de amostragem desse
léxico se faz a partir de textos escritos, maioritariamente, no entanto, os
ambientes expontâneos de textos quase sempre informais e de situações
dificilmente registráveis, são onde acontecem os possíveis “embaraços”
causados pelos senhores falsos.
Registramos em ALVES (2005) o caso do falante, professor, proficiência
alta que repetia, às saídas do teatro: “Esta obra fue um suceso...”. Amigos
traiçoeiros que bem os denomina MELLO e BATH (1996).
Ao nos debruçarmos nessa necessidade de sistematização, chegamos à
descoberta de grupos específicos de falsos amigos:
os que se ampliam suas acepções em uma das línguas, como é o
caso de “esposa”, com sentido único em português e em espanhol com o
mesmo sentido que o português, mas também denominando o aparelho usado
pelos policiais.
os que apresentam grafias semelhantes em ambas as línguas
mas equivalem a duas palavras na outra língua; (caso de sono, sonho - sueño;
peixe- pez, pescado; doze - doce – doce – dulce)
os que são os verdadeiros falsos amigos ou heterossemânticos
transparentes ou ainda totais, aqueles que são realmente diferentes com
relação ao seu significado, embora apresente grafias semelhantes ou idênticas.
(caso de rato, rato, ratón, rata).
2Debyser (1970) considera os falsos amigos como unha máis das varias interférences lexicales das que se ocupa no seu trabalho. Non ve nos falsos amigos un perigo real para a comunicación nin para a traducción e chega a dicir que “ les listes de faux amis sont amusantes mais ne signalet généralement qu´une faible part, la plus conque, mais, contrairement à ce que l´on croit, la moins grave et la moins durable des interferénces”. Ainda que Roey (1985) si ve nos falsos amigos un perigo do que nos debemos gardar, inclúeos nun grupo máis xeral de common words (palabras comúns) de dous idiomas e distingue só entre deceptive cognates (pares de palabras emparentados etimoloxicamente) e homomorphs (nos que a semellanza é accidental).
Embora ainda em andamento, temos encontrado um número mínimo de
falsos amigos totais já que a maioria é diagnosticado como parciais. Para isso,
temos consultado a lexicografia existente no mercado com principal ênfase à
FEIJÓO HOYOS (1992) e BECHARA e MOURE (1998).
Fenômenos que atingem os falsos amigos.
Ao analisar os dicionários especializados em falsos amigos, percebemos
que a grande maioria, ainda não quantificada (parte do trabalho ainda em
desenvolvimento) se encaixam em algum dos fenômenos que enumeramos a
seguir:
Arcaísmos: palavras consideradas falsas amigas, são, na
verdade, amigos de longa data como é o caso de “olvido” e de olvido. Ainda
que se tenha caído no “esquecimento” ou se reservado à linguagem literária.
Tratam-se, portanto de falsos amigos parciais. Apenas detectáveis em uma
abordagem diacrônica e completamente ocultados sob o aspecto sincrônico já
que encontrar mostras de fala ou textos atuais que utilizem correntemente este
vocábulo seria algo bastante raro. Essas diferenças, internas a uma língua, na
abordagem de Cunha e Cintra (1984) são observáveis também no contato
entre o português e o espanhol, principalmente no que se refere aos
heterossemânticos.
Modismos: vemos a impossibilidade dos dicionários de
acompanharem a evolução da língua e, sob uma perspectiva sincrônica,
conseguirem detectar se um termo que está em voga, já foi aceito pelos
dicionários de referência de uma língua. Além disso, a dificuldade de detectar
com exatidão sua frequência de uso, faz com que determinados
heterossemânticos se restrinjam a uma determinada comunidade, em uma
determinada época.
Alguns vocábulos podem inclusive desaparecer em uma linha de
geração de falantes e reaparecer em outra, ou simplesmente falecer
prematuramente sem conseguir o status de verbete. Este pode ser o caso do
eufemismo “jobar” que se refere a “joder” em espanhol, restrito, segundo
nossas observações a uma classe de pessoas de nível cultural alto e que não
querem rechear sua fala com uma das “muletillas” mais frequentes no espanhol
da Espanha e, tendem a reduzi-la a “jolines”, a “joer” ou até mesmo a “jo”, algo
que os deixa mais fino e elegante.
Variações diatópicas (as que se referem a falares locais,
regionais e intercontinentais).
Determinados heterossemânticos são acometidos por este tipo de
camuflagem só detectável por falantes com um nível de conhecimento de
léxico e variantes. Determinado heterossemântico somente pode ser
reconhecido por uma comunidade enquanto em outra, é totalmente
desconhecido ou não corrente na língua.
Exemplo é o caso de “buseta”, “pila”, “concha” etc.
Variações diastráticas, responsáveis pelas distinções em nível
culto, popular, padrão, também são encontradas no contato entre as duas
línguas em questão. Este é o caso de “culo”: este vocábulo apresenta a
peculiaridade de ser parte integrante de um possível glossário de falsos amigos
entre o português de Portugal e o português brasileiro. (Esta proposta foi
parcialmente implementada, sem caráter acadêmico por Prata (2003), mas
também sem uma abordagem etimológica séria e de tom jocoso). A palavra
“culo” em Portugal, refere-se às nádegas enquanto que o leitor brasileiro faz a
primeira associação ao ânus, ou seja ao “cu”, vulgarmente falando e para
dirigir-se à sua tradução. Por sua vez, essa associação se estende ao espanhol
ao tomar conhecimento do nome da letra “Q” que é exatamente: “cu”.
Além dessas observações, temos também o registro do fato de que, em
português brasileiro, esta palavra pertence ao vocabulário vulgar e até mesmo
ao vocabulário tabu.
Não poderíamos afirmar com exemplos específicos que não sejam
afetadas também as relações de variações diafásicas por encontrarmos
heterossemânticos restritos a determinadas modalidades expressivas, como é
o caso da língua falada, da escrita e da literária. Como já mencionamos
anteiormente, olvido se restringe à literatura.
Estes fenômenos nos levam a questionar a validade da nomenclatura
utilizada para tratar desse tema.
Falsos amigos é um termo que apresenta muitas vantagens, já que se
proporciona uma publicidade em si mesmo. Chama a atenção inicial ao
problema além de ser um grande motivador para as primeiras explicações nas
aulas de E/LE y P/LE. Esta nomenclatura suscita entre os alunos um interesse
pelo tema e os prepara para um estudo posterior mais aprofundado, se
possível. Outro fator positivo encontrado no uso de tal denominação está no
fato de que ao aparecer nas capas de dicionários específicos, desperta a
curiosidade do leitor, até mesmo daqueles que não pretendem sistematizar
nenhum estudo sobre o tema. Segundo Lugrís (1997) os primeiros a utilizar
esta denominação foram os franceses Maxime Koessler y Jules Derocquiny no
seu estudo Les Faux Amis ou Les trahisons du vocabulaire anglais (1928).
Portanto, pelas razões expostas anteriormente com especial destaque
ao fato de que a maioria desses vocábulos compartilham ou compartilharam
semelhanças de significado em algum momento, poderíamos desconsiderar a
nomenclatura “Falsos amigos” ou renegá-la ao lugar em que se instauram o
lúdico, o pueril ou a simplificação de tratamento deste conteúdo. É razoável
pensar que, se estamos tratando de falsidades, não podemos pensar em mais
ou menos falso. E, neste caso, não há esta total exclusão entre as
características apresentadas por este léxico contrastivo. Há um diálogo entre
os significados, um entrelaçar de possibilidades, de matizes e de pontos em
comuns e, numericamente falando, bem menos pontos convergentes do que
pode nos parecer à primeira vista.
Processo semelhante acontece com o nome “Falsos cognatos”, ainda
que a confusão possa ser ainda maior já que, embora frequentemente utilizado
entre os estudantes, desperta a confusão de não saber exatamente se se
refere também aos cognatos. Tal problema já ganhou repercussão nos meios
eletrônicos e o próprio Wikipedia o aborda:
O conceito falso cognato tem sido difundido erroneamente no Brasil como palavras semelhantes em duas línguas, mas de sentidos diversos. Essa definição é errada porque duas palavras semelhantes de sentidos diversos podem ser cognatos legítimos, por terem a mesma origem, mesmo que tenham significados distintos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Cognato disponível em 20 de agosto de 2010.
Apoiados pelo Diccionario da Real Academia de la Lengua Española,
percebemos o equívoco bastante frequente.
cognado, da.(Del lat. cognātus).1. adj. Gram. Emparentado morfológicamente.//2. m. y f. Pariente por cognación. cognación.(Del lat. cognatĭo, -ōnis).1. f. Parentesco de consanguinidad por la línea femenina entre los descendientes de un tronco común. DRAE, 2003
Utilizar indistintamente “cognados” e “falsos cognados” é claramente um
erro, já que se tratam de conceitos opostos. Quando mencionamos este
problema léxico dos heterossemânticos nas aulas de espanhol como língua
estrangeira (E/LE) e de português como língua (P/LE), a maioria dos alunos
usam estas nomenclaturas, conforme resultado de nossa pesquisa em ALVES
(2005).
Diante de todos os infortúnios que pode gerar a simples denominação do
caso, optamos realmente por utilizar a nomenclatura de Heterossemânticos
por abranger mais adequadamente o processo que engloba essas duas línguas
em contato: hetero- distinto, semânticos- relacionados à significação.
Essa temática envolve também o questionamento do grau de
bilinguismo, já que, tais palavras aparecem comumente independentemente do
nível de proficiência dos falantes envolvidos. O diferencial apresentado nessa
questão é que, ao se tratar de falantes ou estudantes no nível inicial, esse
vocabulário abunda. No entanto, apesar do contínuo policiamento tanto por
parte de falantes lusófonos, como por parte de falantes hispânicos, estes
“falsos” escapam e aparecem nos momentos mais inadequados e
inapropriados.
El peligro de ser presa de los falsos amigos es, pues, tanto mayor como menor es nuestro dominio de la lengua extranjera, pero no se puede establecer una frontera definida para separar aquellas semejanzas peligrosas de las que no lo son.3 (Lugrís: 1997, p. 46)
Maiores complicações são geradas aos tradutores cuja labor não lhes é
dada a possibilidade de contentar-se com as explicações generalistas, além do
que, é a eles se pretende designar a responsabilidade pela apreensão de
significados mais aproximados possíveis além da “obrigação” de serem
detentores de matizes de significação.
Diante dessas questões, este trabalho se dirige até uma especificidade
ainda mais minuciosa: o caso dos falsos amigos de conotação erótica ou
sexual. Em alguns momentos, chego a questionar se esse quadro de falsos
amigos não deva ser chamado realmente de pornográficos. Na falta de
denominação melhor, nos mantemos com os Heterossemânticos de Conotação
Sexuais – em diante, HCS.
Este léxico específico é capaz de nutrir um glossário que se calca
principalmente nas variações diatópicas pois o que se é considerado um HCS
3O perigo de sermos presa dos falsos amigos é, pois, tanto maior cuanto menor é o noso dominio da lingua estranxeira, mais non é doado establecer unha fronteira definida para seprarmos aquelas semellanzas perigosas das que non o son. (Lugrís, 1997, p. 46)
em uma determinada região ou variante da língua espanhola ou portuguesa,
não o é em outra. Cada comunidade linguística é responsável pela conotação
que dá a determinadas palavras e poderemos contar com realidades tão
díspares como é o exemplo de “concha” que em território argentino se
relaciona ao órgão sexual feminino, em nível vulgar (algo como buseta) ao
passo que em território espanhol é simplesmente o hipocorístico de
Concepción. Na realidade espanhola é possível e até muito frequente a
presença de tias Concha entre os apelidos comuns talvez impensável na
Argentina.
Denominado por muitos como vocabulário de baixo calão ou pertencente
à linguagem tabu, está no centro de atenção de vários estudantes
principalmente de espanhol como língua estrangeira (E/LE). Podemos observar
esta preocupação exposta em MENDONÇA DE LIMA e MENDONÇA E SILVA
(2006), no texto Professora, cuándo vamos a aprender palabrotas?.Este
vocabulário faz parte da língua estrangeira, nem sempre é ensinado nos
estabelecimentos de ensino, podemos prescindir dele no uso formal da língua.
No entanto, entendê-lo e inclusive saber usá-lo adequadamente pode gerar
uma proximidade entre os interlocutores, principalmente no que se refere aos
vulgarismos que já se cristalizaram como “muletillas” com o seu sentido
primeiro esvaziado.
A necessidade de entender bem o uso desse léxico aparece
principalmente porque os textos cultos e oficialmente aceitos o omite ou
prescinde dele. Na verdade, acabamos por recorrer a mostras de língua que
não estão disponíveis em textos formais e muito menos, nos textos exemplos
de nossas castas gramáticas. Como alternativa a mais esta dificuldade,
encontramos na Linguística de Corpus um grande aliado para mostras
autênticas nas línguas em questão. Utilizamos um veículo oficialmente aceito e
outro ainda em expansão. Do lado espanhol, recorremos ao CREA – Corpus de
Referencia del español actual e do lado português brasileiro, recorremos ao
corpus do português. Encontramo-nos atualmente nesta busca de
exemplificação desse léxico específico gerado do Português e Espanhol como
línguas em contato. Nossa decisão de utilizar este instrumento se basa
principalmente na necessidade de substituir de maneira eficaz as inúmeras
listas de falsos amigos muitas vezes presenteadas aos nossos estudantes sem
uma aplicação concreta ou sem um contexto que melhor os localize na
realidade da língua.
Por maior que seja a proficiência que se tenha na língua estrangeira,
determinados elementos nos faltam se não há devida imersão lingüística,
destaquemos o fato de que não estamos nos referindo somente à viagens de
imersão, mas tudo o que “alimente” o conhecimento da língua estrangeira,
como filmes, livros, TV etc.. Um desses elementos e talvez mais desafiante
seja o uso correto ou mais próximo do matiz desejado dos HCS em um
contexto de comunicação.
A norma culta nos apoia e é autossuficiente para as ocasiões formais.
No entanto, no aspecto pragmático da língua, ao adequar a linguagem e
utilizar-se de uma leveza maior ou de uma inserção em uma comunidade ou
situação – sobretudo as não necessariamente acadêmicas- corremos o risco
de cairmos no pedantismo se não soubermos ou não salpicarmos nosso
discurso de uma ou outra “gracinha” linguística ou uma “muletilla” (termo
nunca antes tão bem empregado).
Por outro lado, é exatamente o desconhecimento dos matizes,
acrescentando-lhes as diferenças de uso e os diferentes pesos do uso de um
HCS em uma cultura ou outro é que nos faz evitar seu uso, mas ao mesmo
tempo, nos exige interpretá-los corretamente. Conta-nos um aluno que, para
adequar-se, em uma comunidade argentina, em uma situação de um churrasco
informal, decide soltar um “que hijo puta sos”,resultado: conseguiu perceber
sua inadequação instantes depois quando o silêncio gélido e cortante invadiu o
ambiente.
Estas palavras conhecidas como “malsonantes” ou tacos, são
características da linguagem vulgar e constituem-se de um tabu linguístico: “de
uso restrito por se considerar pouco elegante, ofensivo, ou até mesmo
inapropriadas”(www.rae.es). Podem ser vistas também como indecentes ou
grosseiras. Na maioria das vezes, estão isoladas de contexto, o que nos
apresenta como uma dificuldade de uso ou compreensão exata, além de
estarem esvaziadas de significado. No entanto, cumprem perfeitamente a
necessidade dos falantes de exprimirem suas emoções, surpresas, raiva e até
mesmo felicidade.
Apresentamos alguns desses HCS´s que surgiram durante os cursos e
palestras dados sobre essa temática. Nosso objetivo primeiro foi apresentar
uma proposta alternativa às listas de falsos cognatos, buscando contextualizá-
los de maneira a inseri-los no contexto educacional. Dessa forma, aspectos
como ambiente, procedência do sujeito produtor do texto, intencionalidade,
público alvo, variante e outros elementos podem ser observados.
Evidentemente o elemento distintivo primordial é o fato de proporcionar ao
leitor um contato com mostras autênticas de texto em língua estrangeira, quer
seja no caso do espanhol (maior parte deste trabalho) quer seja em português
(minoria por contar com menor quantidade de mostras de texto.
Foi utilizado o corpus linguístico fornecido pela Real Academia de la
Lengua Española, Corpus de referencia del español actual e pelo Corpus do
Português, elaborado por Michael Ferreira e Mark Davies. Sempre que possível
demos preferência às amostras de oralidade, ainda que esta seja outra
deficiência do trabalho: não encontrar esta modalidade nos corpus atuais.
Retiramos alguns exemplos e apresentamos uma síntese de contextos
escolhidos para exemplificá-los:
buseta
CREA Corpus do Português
"A la Universidad Católica llegaba en buseta , tenía mucha labia y se hizo popular cuando se inició en la política estudiantil junto a los hermanos Héctor y Ricardo Vanegas Cortázar", recuerda uno de sus compañeros de Jurisprudencia, hoy destacado periodista. "Desde que entró al Congreso se tuteaba con todos los diputados pues sabía cómo ganarse su confianza", afirma una secretaria cercana a Paquito.
Sus amigos de Guayaquil coinciden en que perdieron contacto con Paquito Díaz el día en que se marchó a Quito. Pocos lo volvieron a ver. Ninguno de ellos cree que se trate de un delincuente pero prefieren evitar complicaciones pidiéndonos unánimemente no mencionar sus nombres en este artículo, ya que de su vida en Quito no pueden dar fe. "En Navidad yo salía de un almacén en el centro de Guayaquil y vi a Paquito cuando subía a un flamante Mercedes Benz.
entreaberto e, dentro dele, duas fileiras de dentes agudos, ser-rilhados. Rapidamente, desço os olhos até o chão. Com o pé esquerdo descalço, ela esmaga a cabeça de uma serpente de cor diferente das outras. Não chego a descobrir essa cor, não chego a reconhecer essa mulher antes de acordar gritando. Mas sem necessidade de lembrar seu nome, sei perfeitamente quem ela é. Aquele som real, furando a manhã. Grosseiro demais para um cravo, vulgar demais para Haendel. Pulei do sofá, bati o tornozelo em alguma coisa dura. Buceta, gritei.
PRENSA, Vistazo, 18/09/1997 : ¿Dónde está el asesor de alto vuelo?Ecuanet (Quito)
Abreu, Angela. 1997 Santa Sofia
concha
CREA Corpus do Português
de una madre que sabe educar y sugiere a su hijo el eterno consejo "¿Qué se dice?" El niño con la estrella de mar o la concha preciosa bien apretada en sus
Sem registro.
manos, mira hacia arriba y susurra un "thanks" tan forzado como el de cualquiera de su edad.
Por supuesto que tengo a flor de piel muchas imágenes inolvidables de un verano, muy especial, en este rincón del mundo. Pero, por desgracia, existe la otra cara de la moneda que, me ha llevado a dar vueltas a esas escenas familiares. Una tarde, al volver de la playa, puse la Televisión para verlas noticias en la ABC, la cadena con mayor audiencia en el país. Entre las cuestiones que trataron, la central fue la enorme preocupación que tienen en los Estados Unidos por el número de divorcios -un 50 por ciento en algunos estados-, que van en aumento. De acuerdo con estudios muy rigurosos es una de las causas que están destrozando no tan sólo a los interesados, sino a la sociedad en general.
Telva, 10/1997 : EN MI OPINIÓN.Recoletos Cía. Editorial (Madrid).ESPAÑA.
Cu – culo - culete
CREA Corpus do Português
Todos os “cu” del CREA referem-se a abreviatura de Cuba nos endereços de web sites. CULO -
- Esto último suena a excusa fácil, como echar las culpas a los demás de lo que a uno le pasa.
- No es esa mi intención, cuando teníamos menos años el gobierno nos ofreció la posibilidad de cambiar la sociedad de arriba abajo si le ayudábamos, pero mientras lo intentábamos nos dejó con el culo al aire.
E mais do que isso: podia falar sobre isso, verbalizar " estou me sentindo assim, estou querendo isso, eu me sinto.. " E aí fui capaz de juntar aquela minha recém descoberta facilidade de externar e sentir com a minha muito bem cultivada e burilada capacidade de escrever. Eu podia fazer as duas coisas. E desembocar todo o conhecimento que você adquiriu desde a infância. E todo o sentimento que é o mais importante. De nada adianta cultura sem sentimento. Você aprendeu a chorar? Desesperadamente. A chorar, a mandar tomar no cu, a mandar a calar a boca, a virar pra pessoa e dizer " não se meta na minha vida, você não tem nada a ver com isso ". Isso pra mim era impossível. E aí eu fui capaz de escrever. Então quando alguém fala " eu ri com o que você disse, eu achei legal o que você disse ", eu gosto. Mas se alguém diz " eu me emocionei com o que você disse ", aí eu vibro: " yes.. " Já …
Fal Azevedo
El padre de la menor, Rafael Hidalgo, dijo a Servimedia que su hija sufre un considerable complejo después de haberse desnudado ante el resto de sus compañeros. "Le da vergüenza ir al colegio, porque sus
compañeros le pueden decir que le han visto el culete o la parte delantera y cuando ve alguna escena de desnudo en la tele, como una mujer quitándose un jersey, se pone muy nerviosa", relató.
Por su parte, la directora del colegio, María Dolores Chito, aseguró ayer que fue una actividad "normal, como otra cualquiera" incluida dentro del proyecto educativo del centro, uno de cuyos objetivos es que los pequeños conozcan su cuerpo, por lo que este problema le parece "desorbitado y absurdo".
Según su versión, la profesora pidió voluntarios en la clase de preescolar para que enseñasen sus genitales "y para que sus compañeros viesen las semejanzas y diferencias entre los niños y las niñas". En ese momento, la maestra dijo a los niños que se bajasen los pantalones por detrás "para demostrar que el culito lo tienen igual" y luego les pidió que se los bajasen por delante, "para que los otros niños
El Mundo, 20/11/1996 : Málaga. Una profesora manda desnudarse a dos niños para explicar anatomía. Unidad Editorial (Madrid), 1997
porra
CREA Corpus do Português
Llorar, lloraron pocos. Buena parte del público -mucha gente joven- había ido como quien asiste a un concierto de rock, y la fiesta tenía que durar, a toda costa, toda la noche. Los comentarios eran definitivos: "Yo no lo puedo resistir, me voy", "Desde el primer gol ya te lo he dicho", "Aquellos iban a ir a Montserrat en calzoncillos. Pues ya no irán", "¿Y quién va a ganar la porra ?", "Se los han toreado"... Pero, en realidad, las frases más elocuentes iban dirigidas a aquellos que se habían jugado el sueño camino de Atenas, en alguno de esos aviones que salían con retraso: "Son los que de verdad lo han pasado mal. Nosotros lo hemos vivido a distancia, y una derrota a distancia resulta más digerible, pero vivirlo allí debía ser terrible". Los ojos de los barcelonistas, literalmente metidos dentro de la pantalla gigante -aunque no tanto- captaban cómo se les iba la gloria de las manos.
o PT é o salvador do mundo, querem que o PT vá de porta em porta dar comida e leite. Não é assim, os caras têm que ver que a situação está embaçada, está um nó cego. O PT vai de novo tentar desatar o nó. Só que as pessoas não têm paciência. Até porque quem gosta do partido é fanático, então sempre fala que o PT resolve, faz, que o resto não presta, o PT é que é. Os caras estão acostumados a ver o Maluf roubar, o PSDB não fazer porra nenhuma, então o PT, que é tão falado, acaba sendo mais cobrado, entendeu? Mas pelo que eu vejo vai ser difícil. Convenci vários caras a votar no Vicente Cândido (vereador petista da zona sul com atuação na luta por centros de cultura, lazer e esporte), a votar na Marta. Tudo favelado, sofredor, que ia votar no Maluf. O problema é que o PT investe dinheiro onde ninguém vê: escola, merenda, salário de professor.
La Vanguardia, 19/05/1994 : Demasiados goles para tanta afición. Llanto
por una victoria anunciada q ...T.I.S.A (Barcelona), 1994
Teta
CREA Corpus do Português
Algún día nos tendrán que explicar por qué es legal y posible que las becarias del Instituto de la Mujer puedan perder el puesto por quedarse embarazadas y, en cambio, se retiren anuncios que insinúan una teta .
Diante de tanta diversidade de
fenômenos que envolvem os heterossemânticos, acabamos por ir mais adiante com as pesquisas nessa temática, lembrando- nos sempre que, as listas de palavras e os levantamentos realizados até então nos servem para uma base de estudo, e para glossários. Essas publicações são importantes materiais de consulta, mas se quisermos realmente despertar o interesse de nossos estudantes por essas miudezas da língua, devemos levá-los a perceber os contextos, os matizes e o conhecimento da nossa língua nativa e da língua estrangeira que está dialogando com a nossa.
então conte * - sabe que é ótima -
bom - e - para tirar o leite o leite é tirado - por um sujeito especializado naquilo - que pega a teta da vaca - e aperta - o dedão - de um lado e os os quatro dedos de outros - e puxa um pouco pra baixo e um pouco pra dentro também 19N:Br:Cur nos EUA. # Mão no cofre Uma pesquisa do petista Carlos Minc desnudou uma teta gorda da Assembléia Legislativa do Rio. Dos atuais chefes de postos de arrecadação do
La Voz de Asturias, 21/08/2004 :OPINIÓN PRENSA 9 La Voz de Asturias SA Oviedo 2004
Apresentamos outros que apareceram nos encontros com professores
de E/LE e P/LE que podem ser igualmente íteis e amplamente usados em
salas de aula de E/LE e P/LE, sempre que contextualizados, o que não nos é
conveniente neste espaço gráfico reduzido. A proposta de contextualização
pode iniciar-se nos corpus oficiais e ir às fontes dos buscadores de internet,
desde que se tome o devido cuidado de não utilizar referências desconhecidas
ou de procedência duvidosa como sites de pouca credibilidade.
É importante relembrar que nossa proposta não re restringe ao trabalho
com pares de heterossemânticos, mas sim tenta prever cada conjunto de
vocábulos relacionados. Como é o caso de “culo” e palavras do conjunto
abaixo mencionado:
ano – anus – ano
Bucear - buceta
boceto
bostezo
casete
coger -
saco -
culo – cu- bunda – nalgas - nádegas
culete
Durex – Não aparece no CREA.
Vello- velho – viejo – pelo .
polvo
porra – porro
sarro
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