HETEROSSEMÂNTICOS DE CONOTAÇÃO SEXUAL: ULTRAPASSANDO FRONTEIRAS ENTRE O PORTUGUÊS E O ESPANHOL.

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HETEROSSEMÂNTICOS DE CONOTAÇÃO SEXUAL: ULTRAPASSANDO FRONTEIRAS ENTRE O PORTUGUÊS E O ESPANHOL Janaína SOARES ALVES 1 Resumo: Este trabalho apresenta uma mostra de um grupo específico dentro dos conhecidos “Falsos amigos”: os de conotação sexual, por vezes erótica, por vezes pornográfica, mas todas usadas e coletadas em interações com os professores de cursos de atualização e formação em E/LE. A clientela é brasileira com contato com hispanofalantes das mais diversas regiões. Trazemos à tona também elementos que propiciam uma tentativa de classificação desse léxico específico que é muitas vezes um empecilho à leitura e à compreensão das duas línguas mencionadas. Maiores complicações são geradas aos tradutores, profissionais das duas línguas responsáveis pela apreensão de significados e matizes de significação. Arcaísmos, regionalismos, modismos e outros -ismos estão presentes nesse estudo que conta com um leque de potencial abrangência, tendo em conta que a variação diatópica e diastrática encaixam e desencaixam vocábulos nessas categorias de heterossemânticos. Apesar de ser um tema bastante frequente em nossos seminários, ainda estão pendentes padrões que os sistematizem e sirvam de auxílio a professores, tradutores, intérpretes e a outros profissionais dessas línguas em questão. Palavras-chave: Falsos amigos eróticos. Léxico. Interferências léxicas. Línguas em contato. A semelhança entre o português e o espanhol apresenta muitas vantagens no processo de ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras aproximando os dois lados dessas fronteiras. Uma delas é o fato de, muito excepcionalmente contarmos com aprendizes em nível zero. A proximidade dessas línguas acaba por privilegiar alguma das habilidades e permite que os interlocutores se entendam sob um aspecto mais geral e, apesar das deficiências no entendimento das especificidades, algo de compreensão geral é depreendido. Essa suposta tranquilidade de troca de informações entre os interlocutores, alimenta por uma parte a criação e “confirmação” de dois dos mitos que acreditamos estar bastante presentes no contato entre o português e o espanhol. Um deles é o mito da facilidade em que se acredita que com a simples troca de terminações e sonoridade, pode-se comunicar com clareza e 1 Departamento de Letras e Tradução. Universidade de Brasília – UnB, Brasília (DF). [email protected]

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HETEROSSEMÂNTICOS DE CONOTAÇÃO SEXUAL: ULTRAPASSANDO FRONTEIRAS ENTRE O PORTUGUÊS E O ESPANHOL

Janaína SOARES ALVES1 Resumo: Este trabalho apresenta uma mostra de um grupo específico dentro dos conhecidos “Falsos amigos”: os de conotação sexual, por vezes erótica, por vezes pornográfica, mas todas usadas e coletadas em interações com os professores de cursos de atualização e formação em E/LE. A clientela é brasileira com contato com hispanofalantes das mais diversas regiões. Trazemos à tona também elementos que propiciam uma tentativa de classificação desse léxico específico que é muitas vezes um empecilho à leitura e à compreensão das duas línguas mencionadas. Maiores complicações são geradas aos tradutores, profissionais das duas línguas responsáveis pela apreensão de significados e matizes de significação. Arcaísmos, regionalismos, modismos e outros -ismos estão presentes nesse estudo que conta com um leque de potencial abrangência, tendo em conta que a variação diatópica e diastrática encaixam e desencaixam vocábulos nessas categorias de heterossemânticos. Apesar de ser um tema bastante frequente em nossos seminários, ainda estão pendentes padrões que os sistematizem e sirvam de auxílio a professores, tradutores, intérpretes e a outros profissionais dessas línguas em questão. Palavras-chave: Falsos amigos eróticos. Léxico. Interferências léxicas. Línguas em contato.

A semelhança entre o português e o espanhol apresenta muitas

vantagens no processo de ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras

aproximando os dois lados dessas fronteiras. Uma delas é o fato de, muito

excepcionalmente contarmos com aprendizes em nível zero. A proximidade

dessas línguas acaba por privilegiar alguma das habilidades e permite que os

interlocutores se entendam sob um aspecto mais geral e, apesar das

deficiências no entendimento das especificidades, algo de compreensão geral

é depreendido.

Essa suposta tranquilidade de troca de informações entre os

interlocutores, alimenta por uma parte a criação e “confirmação” de dois dos

mitos que acreditamos estar bastante presentes no contato entre o português e

o espanhol. Um deles é o mito da facilidade em que se acredita que com a

simples troca de terminações e sonoridade, pode-se comunicar com clareza e

1Departamento de Letras e Tradução. Universidade de Brasília – UnB, Brasília (DF). [email protected]

eficácia com a língua irmã, por isso ouvimos com freqüência: “Falar espanhol é

fácil”. O outro é o mito do bilinguismo que versa sobre a possibilidade de

comunicar-se e ler, desde os primeiros contatos com os textos, tanto em uma

como na outra língua estrangeira remete ao conhecimento mínimo das línguas

em contato.

Docentes e discentes cada vez mais percebem a necessidade de

sistematizar os temas fonéticos, morfológicos, sintáticos e semânticos

envolvidos no processo de aquisição “natural” destas duas línguas, sem

necessidade de aprendizagem formal, pode se transformar num conjunto

considerável de erros difíceis de se erradicar se não são elucidados na sala de

aula. El estudio de la adquisición de lenguas extranjeras nació muy ligado a la actividad de los profesores, preocupados por encontrar una metodología acertada que les permitiera ayudar a sus alumnos a no cometer errores al expresarse en la lengua meta. (BARALO, 1999, p. 35)

Questões lexicais são apontadas sempre como elementos dificultadores

de um texto ou uma comunicação oral. Os heterossemânticos podem gerar

problemas aos nativos dessas línguas chegando mesmo a impedir uma leitura

ideal de textos e a eficácia da comunicação. Isto é motivo de preocupação de

muitos pesquisadores e de professores dessas línguas em contato.

O presente trabalho nasce de nossa experiência autodidata na

aprendizagem do espanhol como língua estrangeira (E/LE), do trabalho

docente nas línguas espanhola e portuguesa (inclusive em Português como

língua Estrangeira -P/LE) e do contato com as experiências de outros

professores companheiros e investigadores dessas línguas em contato.

Pretendo apresentar aqui uma parte do processo de uma pesquisa em

andamento sobre os falsos amigos e a sua necessidade de contextualização e

sistematização de estudo. Alguns professores, tradutores e inclusive autores,

questionam a relevância do estudo dos heterossemânticos e os incluem a um

campo menos prioritário das interferências léxicas:

[Debyser (1970) considera los falsos amigos como una más de las varias interferencias lexicales de las que se ocupa en su trabajo. No ve en los falsos amigos un peligro real para la comunicación ni para la traducción y llega a decir que “las listas de falsos amigos son divertidas pero no señalan generalmente que una débil parte, la más conocida, pero contrariamente a esto que creemos, la menos grave y la menos durable de las interferencias.”

Aunque Roey (1985) sí ve en los falsos amigos un peligro de que nos debemos tener dudas, los incluye en un grupo más general de common words (palabras comúnes) de dos idiomas y sólo distingue entre deceptive cognates (pares de palabras emparentados etimologicamente) y homomorphs (los que en la similitud es accidental).] 2(LUGRÍS,1997)

Muitas são as questões que tentamos observar, analisar e talvez

quantificar embora ofereçam desafios e até impossibilidades. Não poderíamos

afirmar com exatidão que a questão dos Falsos Amigos seja realmente uma

das menos duráveis das interferências léxicas. A coleta de amostragem desse

léxico se faz a partir de textos escritos, maioritariamente, no entanto, os

ambientes expontâneos de textos quase sempre informais e de situações

dificilmente registráveis, são onde acontecem os possíveis “embaraços”

causados pelos senhores falsos.

Registramos em ALVES (2005) o caso do falante, professor, proficiência

alta que repetia, às saídas do teatro: “Esta obra fue um suceso...”. Amigos

traiçoeiros que bem os denomina MELLO e BATH (1996).

Ao nos debruçarmos nessa necessidade de sistematização, chegamos à

descoberta de grupos específicos de falsos amigos:

os que se ampliam suas acepções em uma das línguas, como é o

caso de “esposa”, com sentido único em português e em espanhol com o

mesmo sentido que o português, mas também denominando o aparelho usado

pelos policiais.

os que apresentam grafias semelhantes em ambas as línguas

mas equivalem a duas palavras na outra língua; (caso de sono, sonho - sueño;

peixe- pez, pescado; doze - doce – doce – dulce)

os que são os verdadeiros falsos amigos ou heterossemânticos

transparentes ou ainda totais, aqueles que são realmente diferentes com

relação ao seu significado, embora apresente grafias semelhantes ou idênticas.

(caso de rato, rato, ratón, rata).

2Debyser (1970) considera os falsos amigos como unha máis das varias interférences lexicales das que se ocupa no seu trabalho. Non ve nos falsos amigos un perigo real para a comunicación nin para a traducción e chega a dicir que “ les listes de faux amis sont amusantes mais ne signalet généralement qu´une faible part, la plus conque, mais, contrairement à ce que l´on croit, la moins grave et la moins durable des interferénces”. Ainda que Roey (1985) si ve nos falsos amigos un perigo do que nos debemos gardar, inclúeos nun grupo máis xeral de common words (palabras comúns) de dous idiomas e distingue só entre deceptive cognates (pares de palabras emparentados etimoloxicamente) e homomorphs (nos que a semellanza é accidental).

Embora ainda em andamento, temos encontrado um número mínimo de

falsos amigos totais já que a maioria é diagnosticado como parciais. Para isso,

temos consultado a lexicografia existente no mercado com principal ênfase à

FEIJÓO HOYOS (1992) e BECHARA e MOURE (1998).

Fenômenos que atingem os falsos amigos.

Ao analisar os dicionários especializados em falsos amigos, percebemos

que a grande maioria, ainda não quantificada (parte do trabalho ainda em

desenvolvimento) se encaixam em algum dos fenômenos que enumeramos a

seguir:

Arcaísmos: palavras consideradas falsas amigas, são, na

verdade, amigos de longa data como é o caso de “olvido” e de olvido. Ainda

que se tenha caído no “esquecimento” ou se reservado à linguagem literária.

Tratam-se, portanto de falsos amigos parciais. Apenas detectáveis em uma

abordagem diacrônica e completamente ocultados sob o aspecto sincrônico já

que encontrar mostras de fala ou textos atuais que utilizem correntemente este

vocábulo seria algo bastante raro. Essas diferenças, internas a uma língua, na

abordagem de Cunha e Cintra (1984) são observáveis também no contato

entre o português e o espanhol, principalmente no que se refere aos

heterossemânticos.

Modismos: vemos a impossibilidade dos dicionários de

acompanharem a evolução da língua e, sob uma perspectiva sincrônica,

conseguirem detectar se um termo que está em voga, já foi aceito pelos

dicionários de referência de uma língua. Além disso, a dificuldade de detectar

com exatidão sua frequência de uso, faz com que determinados

heterossemânticos se restrinjam a uma determinada comunidade, em uma

determinada época.

Alguns vocábulos podem inclusive desaparecer em uma linha de

geração de falantes e reaparecer em outra, ou simplesmente falecer

prematuramente sem conseguir o status de verbete. Este pode ser o caso do

eufemismo “jobar” que se refere a “joder” em espanhol, restrito, segundo

nossas observações a uma classe de pessoas de nível cultural alto e que não

querem rechear sua fala com uma das “muletillas” mais frequentes no espanhol

da Espanha e, tendem a reduzi-la a “jolines”, a “joer” ou até mesmo a “jo”, algo

que os deixa mais fino e elegante.

Variações diatópicas (as que se referem a falares locais,

regionais e intercontinentais).

Determinados heterossemânticos são acometidos por este tipo de

camuflagem só detectável por falantes com um nível de conhecimento de

léxico e variantes. Determinado heterossemântico somente pode ser

reconhecido por uma comunidade enquanto em outra, é totalmente

desconhecido ou não corrente na língua.

Exemplo é o caso de “buseta”, “pila”, “concha” etc.

Variações diastráticas, responsáveis pelas distinções em nível

culto, popular, padrão, também são encontradas no contato entre as duas

línguas em questão. Este é o caso de “culo”: este vocábulo apresenta a

peculiaridade de ser parte integrante de um possível glossário de falsos amigos

entre o português de Portugal e o português brasileiro. (Esta proposta foi

parcialmente implementada, sem caráter acadêmico por Prata (2003), mas

também sem uma abordagem etimológica séria e de tom jocoso). A palavra

“culo” em Portugal, refere-se às nádegas enquanto que o leitor brasileiro faz a

primeira associação ao ânus, ou seja ao “cu”, vulgarmente falando e para

dirigir-se à sua tradução. Por sua vez, essa associação se estende ao espanhol

ao tomar conhecimento do nome da letra “Q” que é exatamente: “cu”.

Além dessas observações, temos também o registro do fato de que, em

português brasileiro, esta palavra pertence ao vocabulário vulgar e até mesmo

ao vocabulário tabu.

Não poderíamos afirmar com exemplos específicos que não sejam

afetadas também as relações de variações diafásicas por encontrarmos

heterossemânticos restritos a determinadas modalidades expressivas, como é

o caso da língua falada, da escrita e da literária. Como já mencionamos

anteiormente, olvido se restringe à literatura.

Estes fenômenos nos levam a questionar a validade da nomenclatura

utilizada para tratar desse tema.

Falsos amigos é um termo que apresenta muitas vantagens, já que se

proporciona uma publicidade em si mesmo. Chama a atenção inicial ao

problema além de ser um grande motivador para as primeiras explicações nas

aulas de E/LE y P/LE. Esta nomenclatura suscita entre os alunos um interesse

pelo tema e os prepara para um estudo posterior mais aprofundado, se

possível. Outro fator positivo encontrado no uso de tal denominação está no

fato de que ao aparecer nas capas de dicionários específicos, desperta a

curiosidade do leitor, até mesmo daqueles que não pretendem sistematizar

nenhum estudo sobre o tema. Segundo Lugrís (1997) os primeiros a utilizar

esta denominação foram os franceses Maxime Koessler y Jules Derocquiny no

seu estudo Les Faux Amis ou Les trahisons du vocabulaire anglais (1928).

Portanto, pelas razões expostas anteriormente com especial destaque

ao fato de que a maioria desses vocábulos compartilham ou compartilharam

semelhanças de significado em algum momento, poderíamos desconsiderar a

nomenclatura “Falsos amigos” ou renegá-la ao lugar em que se instauram o

lúdico, o pueril ou a simplificação de tratamento deste conteúdo. É razoável

pensar que, se estamos tratando de falsidades, não podemos pensar em mais

ou menos falso. E, neste caso, não há esta total exclusão entre as

características apresentadas por este léxico contrastivo. Há um diálogo entre

os significados, um entrelaçar de possibilidades, de matizes e de pontos em

comuns e, numericamente falando, bem menos pontos convergentes do que

pode nos parecer à primeira vista.

Processo semelhante acontece com o nome “Falsos cognatos”, ainda

que a confusão possa ser ainda maior já que, embora frequentemente utilizado

entre os estudantes, desperta a confusão de não saber exatamente se se

refere também aos cognatos. Tal problema já ganhou repercussão nos meios

eletrônicos e o próprio Wikipedia o aborda:

O conceito falso cognato tem sido difundido erroneamente no Brasil como palavras semelhantes em duas línguas, mas de sentidos diversos. Essa definição é errada porque duas palavras semelhantes de sentidos diversos podem ser cognatos legítimos, por terem a mesma origem, mesmo que tenham significados distintos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Cognato disponível em 20 de agosto de 2010.

Apoiados pelo Diccionario da Real Academia de la Lengua Española,

percebemos o equívoco bastante frequente.

cognado, da.(Del lat. cognātus).1. adj. Gram. Emparentado morfológicamente.//2. m. y f. Pariente por cognación. cognación.(Del lat. cognatĭo, -ōnis).1. f. Parentesco de consanguinidad por la línea femenina entre los descendientes de un tronco común. DRAE, 2003

Utilizar indistintamente “cognados” e “falsos cognados” é claramente um

erro, já que se tratam de conceitos opostos. Quando mencionamos este

problema léxico dos heterossemânticos nas aulas de espanhol como língua

estrangeira (E/LE) e de português como língua (P/LE), a maioria dos alunos

usam estas nomenclaturas, conforme resultado de nossa pesquisa em ALVES

(2005).

Diante de todos os infortúnios que pode gerar a simples denominação do

caso, optamos realmente por utilizar a nomenclatura de Heterossemânticos

por abranger mais adequadamente o processo que engloba essas duas línguas

em contato: hetero- distinto, semânticos- relacionados à significação.

Essa temática envolve também o questionamento do grau de

bilinguismo, já que, tais palavras aparecem comumente independentemente do

nível de proficiência dos falantes envolvidos. O diferencial apresentado nessa

questão é que, ao se tratar de falantes ou estudantes no nível inicial, esse

vocabulário abunda. No entanto, apesar do contínuo policiamento tanto por

parte de falantes lusófonos, como por parte de falantes hispânicos, estes

“falsos” escapam e aparecem nos momentos mais inadequados e

inapropriados.

El peligro de ser presa de los falsos amigos es, pues, tanto mayor como menor es nuestro dominio de la lengua extranjera, pero no se puede establecer una frontera definida para separar aquellas semejanzas peligrosas de las que no lo son.3 (Lugrís: 1997, p. 46)

Maiores complicações são geradas aos tradutores cuja labor não lhes é

dada a possibilidade de contentar-se com as explicações generalistas, além do

que, é a eles se pretende designar a responsabilidade pela apreensão de

significados mais aproximados possíveis além da “obrigação” de serem

detentores de matizes de significação.

Diante dessas questões, este trabalho se dirige até uma especificidade

ainda mais minuciosa: o caso dos falsos amigos de conotação erótica ou

sexual. Em alguns momentos, chego a questionar se esse quadro de falsos

amigos não deva ser chamado realmente de pornográficos. Na falta de

denominação melhor, nos mantemos com os Heterossemânticos de Conotação

Sexuais – em diante, HCS.

Este léxico específico é capaz de nutrir um glossário que se calca

principalmente nas variações diatópicas pois o que se é considerado um HCS

3O perigo de sermos presa dos falsos amigos é, pois, tanto maior cuanto menor é o noso dominio da lingua estranxeira, mais non é doado establecer unha fronteira definida para seprarmos aquelas semellanzas perigosas das que non o son. (Lugrís, 1997, p. 46)

em uma determinada região ou variante da língua espanhola ou portuguesa,

não o é em outra. Cada comunidade linguística é responsável pela conotação

que dá a determinadas palavras e poderemos contar com realidades tão

díspares como é o exemplo de “concha” que em território argentino se

relaciona ao órgão sexual feminino, em nível vulgar (algo como buseta) ao

passo que em território espanhol é simplesmente o hipocorístico de

Concepción. Na realidade espanhola é possível e até muito frequente a

presença de tias Concha entre os apelidos comuns talvez impensável na

Argentina.

Denominado por muitos como vocabulário de baixo calão ou pertencente

à linguagem tabu, está no centro de atenção de vários estudantes

principalmente de espanhol como língua estrangeira (E/LE). Podemos observar

esta preocupação exposta em MENDONÇA DE LIMA e MENDONÇA E SILVA

(2006), no texto Professora, cuándo vamos a aprender palabrotas?.Este

vocabulário faz parte da língua estrangeira, nem sempre é ensinado nos

estabelecimentos de ensino, podemos prescindir dele no uso formal da língua.

No entanto, entendê-lo e inclusive saber usá-lo adequadamente pode gerar

uma proximidade entre os interlocutores, principalmente no que se refere aos

vulgarismos que já se cristalizaram como “muletillas” com o seu sentido

primeiro esvaziado.

A necessidade de entender bem o uso desse léxico aparece

principalmente porque os textos cultos e oficialmente aceitos o omite ou

prescinde dele. Na verdade, acabamos por recorrer a mostras de língua que

não estão disponíveis em textos formais e muito menos, nos textos exemplos

de nossas castas gramáticas. Como alternativa a mais esta dificuldade,

encontramos na Linguística de Corpus um grande aliado para mostras

autênticas nas línguas em questão. Utilizamos um veículo oficialmente aceito e

outro ainda em expansão. Do lado espanhol, recorremos ao CREA – Corpus de

Referencia del español actual e do lado português brasileiro, recorremos ao

corpus do português. Encontramo-nos atualmente nesta busca de

exemplificação desse léxico específico gerado do Português e Espanhol como

línguas em contato. Nossa decisão de utilizar este instrumento se basa

principalmente na necessidade de substituir de maneira eficaz as inúmeras

listas de falsos amigos muitas vezes presenteadas aos nossos estudantes sem

uma aplicação concreta ou sem um contexto que melhor os localize na

realidade da língua.

Por maior que seja a proficiência que se tenha na língua estrangeira,

determinados elementos nos faltam se não há devida imersão lingüística,

destaquemos o fato de que não estamos nos referindo somente à viagens de

imersão, mas tudo o que “alimente” o conhecimento da língua estrangeira,

como filmes, livros, TV etc.. Um desses elementos e talvez mais desafiante

seja o uso correto ou mais próximo do matiz desejado dos HCS em um

contexto de comunicação.

A norma culta nos apoia e é autossuficiente para as ocasiões formais.

No entanto, no aspecto pragmático da língua, ao adequar a linguagem e

utilizar-se de uma leveza maior ou de uma inserção em uma comunidade ou

situação – sobretudo as não necessariamente acadêmicas- corremos o risco

de cairmos no pedantismo se não soubermos ou não salpicarmos nosso

discurso de uma ou outra “gracinha” linguística ou uma “muletilla” (termo

nunca antes tão bem empregado).

Por outro lado, é exatamente o desconhecimento dos matizes,

acrescentando-lhes as diferenças de uso e os diferentes pesos do uso de um

HCS em uma cultura ou outro é que nos faz evitar seu uso, mas ao mesmo

tempo, nos exige interpretá-los corretamente. Conta-nos um aluno que, para

adequar-se, em uma comunidade argentina, em uma situação de um churrasco

informal, decide soltar um “que hijo puta sos”,resultado: conseguiu perceber

sua inadequação instantes depois quando o silêncio gélido e cortante invadiu o

ambiente.

Estas palavras conhecidas como “malsonantes” ou tacos, são

características da linguagem vulgar e constituem-se de um tabu linguístico: “de

uso restrito por se considerar pouco elegante, ofensivo, ou até mesmo

inapropriadas”(www.rae.es). Podem ser vistas também como indecentes ou

grosseiras. Na maioria das vezes, estão isoladas de contexto, o que nos

apresenta como uma dificuldade de uso ou compreensão exata, além de

estarem esvaziadas de significado. No entanto, cumprem perfeitamente a

necessidade dos falantes de exprimirem suas emoções, surpresas, raiva e até

mesmo felicidade.

Apresentamos alguns desses HCS´s que surgiram durante os cursos e

palestras dados sobre essa temática. Nosso objetivo primeiro foi apresentar

uma proposta alternativa às listas de falsos cognatos, buscando contextualizá-

los de maneira a inseri-los no contexto educacional. Dessa forma, aspectos

como ambiente, procedência do sujeito produtor do texto, intencionalidade,

público alvo, variante e outros elementos podem ser observados.

Evidentemente o elemento distintivo primordial é o fato de proporcionar ao

leitor um contato com mostras autênticas de texto em língua estrangeira, quer

seja no caso do espanhol (maior parte deste trabalho) quer seja em português

(minoria por contar com menor quantidade de mostras de texto.

Foi utilizado o corpus linguístico fornecido pela Real Academia de la

Lengua Española, Corpus de referencia del español actual e pelo Corpus do

Português, elaborado por Michael Ferreira e Mark Davies. Sempre que possível

demos preferência às amostras de oralidade, ainda que esta seja outra

deficiência do trabalho: não encontrar esta modalidade nos corpus atuais.

Retiramos alguns exemplos e apresentamos uma síntese de contextos

escolhidos para exemplificá-los:

buseta

CREA Corpus do Português

"A la Universidad Católica llegaba en buseta , tenía mucha labia y se hizo popular cuando se inició en la política estudiantil junto a los hermanos Héctor y Ricardo Vanegas Cortázar", recuerda uno de sus compañeros de Jurisprudencia, hoy destacado periodista. "Desde que entró al Congreso se tuteaba con todos los diputados pues sabía cómo ganarse su confianza", afirma una secretaria cercana a Paquito.

Sus amigos de Guayaquil coinciden en que perdieron contacto con Paquito Díaz el día en que se marchó a Quito. Pocos lo volvieron a ver. Ninguno de ellos cree que se trate de un delincuente pero prefieren evitar complicaciones pidiéndonos unánimemente no mencionar sus nombres en este artículo, ya que de su vida en Quito no pueden dar fe. "En Navidad yo salía de un almacén en el centro de Guayaquil y vi a Paquito cuando subía a un flamante Mercedes Benz.

entreaberto e, dentro dele, duas fileiras de dentes agudos, ser-rilhados. Rapidamente, desço os olhos até o chão. Com o pé esquerdo descalço, ela esmaga a cabeça de uma serpente de cor diferente das outras. Não chego a descobrir essa cor, não chego a reconhecer essa mulher antes de acordar gritando. Mas sem necessidade de lembrar seu nome, sei perfeitamente quem ela é. Aquele som real, furando a manhã. Grosseiro demais para um cravo, vulgar demais para Haendel. Pulei do sofá, bati o tornozelo em alguma coisa dura. Buceta, gritei.

PRENSA, Vistazo, 18/09/1997 : ¿Dónde está el asesor de alto vuelo?Ecuanet (Quito)

Abreu, Angela. 1997 Santa Sofia

concha

CREA Corpus do Português

de una madre que sabe educar y sugiere a su hijo el eterno consejo "¿Qué se dice?" El niño con la estrella de mar o la concha preciosa bien apretada en sus

Sem registro.

manos, mira hacia arriba y susurra un "thanks" tan forzado como el de cualquiera de su edad.

Por supuesto que tengo a flor de piel muchas imágenes inolvidables de un verano, muy especial, en este rincón del mundo. Pero, por desgracia, existe la otra cara de la moneda que, me ha llevado a dar vueltas a esas escenas familiares. Una tarde, al volver de la playa, puse la Televisión para verlas noticias en la ABC, la cadena con mayor audiencia en el país. Entre las cuestiones que trataron, la central fue la enorme preocupación que tienen en los Estados Unidos por el número de divorcios -un 50 por ciento en algunos estados-, que van en aumento. De acuerdo con estudios muy rigurosos es una de las causas que están destrozando no tan sólo a los interesados, sino a la sociedad en general.

Telva, 10/1997 : EN MI OPINIÓN.Recoletos Cía. Editorial (Madrid).ESPAÑA.

Cu – culo - culete

CREA Corpus do Português

Todos os “cu” del CREA referem-se a abreviatura de Cuba nos endereços de web sites. CULO -

- Esto último suena a excusa fácil, como echar las culpas a los demás de lo que a uno le pasa.

- No es esa mi intención, cuando teníamos menos años el gobierno nos ofreció la posibilidad de cambiar la sociedad de arriba abajo si le ayudábamos, pero mientras lo intentábamos nos dejó con el culo al aire.

E mais do que isso: podia falar sobre isso, verbalizar " estou me sentindo assim, estou querendo isso, eu me sinto.. " E aí fui capaz de juntar aquela minha recém descoberta facilidade de externar e sentir com a minha muito bem cultivada e burilada capacidade de escrever. Eu podia fazer as duas coisas. E desembocar todo o conhecimento que você adquiriu desde a infância. E todo o sentimento que é o mais importante. De nada adianta cultura sem sentimento. Você aprendeu a chorar? Desesperadamente. A chorar, a mandar tomar no cu, a mandar a calar a boca, a virar pra pessoa e dizer " não se meta na minha vida, você não tem nada a ver com isso ". Isso pra mim era impossível. E aí eu fui capaz de escrever. Então quando alguém fala " eu ri com o que você disse, eu achei legal o que você disse ", eu gosto. Mas se alguém diz " eu me emocionei com o que você disse ", aí eu vibro: " yes.. " Já …

Fal Azevedo

El padre de la menor, Rafael Hidalgo, dijo a Servimedia que su hija sufre un considerable complejo después de haberse desnudado ante el resto de sus compañeros. "Le da vergüenza ir al colegio, porque sus

compañeros le pueden decir que le han visto el culete o la parte delantera y cuando ve alguna escena de desnudo en la tele, como una mujer quitándose un jersey, se pone muy nerviosa", relató.

Por su parte, la directora del colegio, María Dolores Chito, aseguró ayer que fue una actividad "normal, como otra cualquiera" incluida dentro del proyecto educativo del centro, uno de cuyos objetivos es que los pequeños conozcan su cuerpo, por lo que este problema le parece "desorbitado y absurdo".

Según su versión, la profesora pidió voluntarios en la clase de preescolar para que enseñasen sus genitales "y para que sus compañeros viesen las semejanzas y diferencias entre los niños y las niñas". En ese momento, la maestra dijo a los niños que se bajasen los pantalones por detrás "para demostrar que el culito lo tienen igual" y luego les pidió que se los bajasen por delante, "para que los otros niños

El Mundo, 20/11/1996 : Málaga. Una profesora manda desnudarse a dos niños para explicar anatomía. Unidad Editorial (Madrid), 1997

porra

CREA Corpus do Português

Llorar, lloraron pocos. Buena parte del público -mucha gente joven- había ido como quien asiste a un concierto de rock, y la fiesta tenía que durar, a toda costa, toda la noche. Los comentarios eran definitivos: "Yo no lo puedo resistir, me voy", "Desde el primer gol ya te lo he dicho", "Aquellos iban a ir a Montserrat en calzoncillos. Pues ya no irán", "¿Y quién va a ganar la porra ?", "Se los han toreado"... Pero, en realidad, las frases más elocuentes iban dirigidas a aquellos que se habían jugado el sueño camino de Atenas, en alguno de esos aviones que salían con retraso: "Son los que de verdad lo han pasado mal. Nosotros lo hemos vivido a distancia, y una derrota a distancia resulta más digerible, pero vivirlo allí debía ser terrible". Los ojos de los barcelonistas, literalmente metidos dentro de la pantalla gigante -aunque no tanto- captaban cómo se les iba la gloria de las manos.

o PT é o salvador do mundo, querem que o PT vá de porta em porta dar comida e leite. Não é assim, os caras têm que ver que a situação está embaçada, está um nó cego. O PT vai de novo tentar desatar o nó. Só que as pessoas não têm paciência. Até porque quem gosta do partido é fanático, então sempre fala que o PT resolve, faz, que o resto não presta, o PT é que é. Os caras estão acostumados a ver o Maluf roubar, o PSDB não fazer porra nenhuma, então o PT, que é tão falado, acaba sendo mais cobrado, entendeu? Mas pelo que eu vejo vai ser difícil. Convenci vários caras a votar no Vicente Cândido (vereador petista da zona sul com atuação na luta por centros de cultura, lazer e esporte), a votar na Marta. Tudo favelado, sofredor, que ia votar no Maluf. O problema é que o PT investe dinheiro onde ninguém vê: escola, merenda, salário de professor.

La Vanguardia, 19/05/1994 : Demasiados goles para tanta afición. Llanto

por una victoria anunciada q ...T.I.S.A (Barcelona), 1994

Teta

CREA Corpus do Português

Algún día nos tendrán que explicar por qué es legal y posible que las becarias del Instituto de la Mujer puedan perder el puesto por quedarse embarazadas y, en cambio, se retiren anuncios que insinúan una teta .

Diante de tanta diversidade de

fenômenos que envolvem os heterossemânticos, acabamos por ir mais adiante com as pesquisas nessa temática, lembrando- nos sempre que, as listas de palavras e os levantamentos realizados até então nos servem para uma base de estudo, e para glossários. Essas publicações são importantes materiais de consulta, mas se quisermos realmente despertar o interesse de nossos estudantes por essas miudezas da língua, devemos levá-los a perceber os contextos, os matizes e o conhecimento da nossa língua nativa e da língua estrangeira que está dialogando com a nossa.

então conte * - sabe que é ótima -

bom - e - para tirar o leite o leite é tirado - por um sujeito especializado naquilo - que pega a teta da vaca - e aperta - o dedão - de um lado e os os quatro dedos de outros - e puxa um pouco pra baixo e um pouco pra dentro também 19N:Br:Cur nos EUA. # Mão no cofre Uma pesquisa do petista Carlos Minc desnudou uma teta gorda da Assembléia Legislativa do Rio. Dos atuais chefes de postos de arrecadação do

La Voz de Asturias, 21/08/2004 :OPINIÓN PRENSA 9 La Voz de Asturias SA Oviedo 2004

Apresentamos outros que apareceram nos encontros com professores

de E/LE e P/LE que podem ser igualmente íteis e amplamente usados em

salas de aula de E/LE e P/LE, sempre que contextualizados, o que não nos é

conveniente neste espaço gráfico reduzido. A proposta de contextualização

pode iniciar-se nos corpus oficiais e ir às fontes dos buscadores de internet,

desde que se tome o devido cuidado de não utilizar referências desconhecidas

ou de procedência duvidosa como sites de pouca credibilidade.

É importante relembrar que nossa proposta não re restringe ao trabalho

com pares de heterossemânticos, mas sim tenta prever cada conjunto de

vocábulos relacionados. Como é o caso de “culo” e palavras do conjunto

abaixo mencionado:

ano – anus – ano

Bucear - buceta

boceto

bostezo

casete

coger -

saco -

culo – cu- bunda – nalgas - nádegas

culete

Durex – Não aparece no CREA.

Vello- velho – viejo – pelo .

polvo

porra – porro

sarro

Referências: BARALO, Marta, La adquisición del español como lengua extranjera. Madrid: Arco Libros ,1999. BECHARA, Suely Fernández, MOURA, Walter Gustavo. Ilustrações Laerte Ojo! Con los falsos amigos-Dicionário de falsos cognatos em Espanhol e Português. SP: Moderna, 1998. BECHARA, Suely Fernández, MOURA, Walter Gustavo Diccionario de falsos amigos en español y portugués. 2ed. São Paulo: Moderna; Santillana, 2002. Cunha, Celso; Cintra, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. São. Paulo: Scipione, 2003. FEIJÓO HOYOS, Balbina Lorenzo. Dicionário de falsos amigos do espanhol e do português. São Paulo: Consejería de Educación de España, 1992. FEIJÓO HOYOS, Balbina Lorenzo.Dicionário de falsos amigos do espanhol e do português. São Paulo: Consejería de Educación de España; Interprise Idiomas, 1998. FERREIRA, Michael e DAVIES, Mark. Corpus do Português - http://www.corpusdoportugues.org/ on line disponível em 3 de agosto de 2010. LUGRÍS, Alberto Álvarez. Os falsos amigos da traducción. Criterios de estudio e clasificación. Vigo: Servicio de Publicacións da Universidade de Vigo, 1997. MELLO, Thiago de. e BATH, Sérgio. Amigos Traiçoeiros. Coletânea de falsos amigos e outras peculiaridades da língua espanhola para uso dos brasileiros. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1996.

PRATA, Mario. Shifaizfavoire. São Paulo: Globo,1993. Disponível também online em: http://www.marioprataonline.com.br/obra/literatura/adulto/dicionario/shifaizfavoire.htm REAL ACADEMIA ESPAÑOLA: Banco de datos (CREA) [en línea]. Corpus de referencia del español actual. <http://www.rae.es> [3 de agosto de 2010.] http://pt.wikipedia.org/wiki/Cognato disponível em 20 de agosto de 2010.