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CONSIDERAÇÕES SOBRE A TRANSNACIONALIZAÇÃO IURDIANA: O CASO DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO
DE DEUS (IURD) EM MOÇAMBIQUE1 por Silas Fiorotti2
Resumo: Apresentamos algumas características da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em
Moçambique, destacando as continuidades e as especificidades desta missão evangelizadora em relação à IURD no Brasil. Destacamos que a mensagem de libertação da IURD, que no Brasil voltou-se contra o panteão afro-brasileiro, encontrou referentes locais provenientes do chamado “universo religioso ancestral”. Além de mencionarmos alguns dados da nossa pesquisa de doutorado que está em andamento, apresentamos principalmente uma breve leitura de outras pesquisas sobre a IURD em Moçambique (pesquisas de Teresa Cruz e Silva, de Dowyvan Gabriel Gaspar, e de Linda van de Kamp).
Palavras-chave: transnacionalização religiosa, Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), pentecostalismo, batalha espiritual, África – Moçambique.
Palavras iniciais
As missões da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) no exterior são comandadas por
dirigentes brasileiros, são sempre estes pastores e bispos brasileiros que formam suas próprias redes
de pastores locais. Acreditamos que a África possui um lugar de destaque na história da IURD,
nomes como os de Marcelo Crivella –senador pelo Estado do Rio de Janeiro– e Valdemiro
Santiago –fundador e apóstolo da Igreja Mundial do Poder de Deus– estão entre aqueles que
dirigiram a IURD neste continente. Desde a década de 1980, a IURD está presente na África e,
atualmente, possui templos em 26 países africanos. Somente em Moçambique a IURD possuía,
em 2004, 98 templos ou lugares de culto nas onze províncias – sendo 53 na cidade de Maputo ou
na província de Maputo, 5 na província de Gaza, 2 na província de Inhambane (províncias
localizadas no sul do país); 5 na província de Manica, 12 na província de Sofala, 8 na província de
Tete (províncias localizadas no centro do país); 2 na província de Zambézia, 5 na província de
Nampula, 3 na província de Cabo Delgado, e outros 3 na província de Niassa (províncias
1 Texto elaborado para o SemiNau –Seminário do Núcleo de Antropologia Urbana– que ocorrerá entre os dias 18 e 22 de novembro de 2013 na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP).
2 Silas Fiorotti é mestre em Ciências da Religião (UMESP), doutorando em Antropologia Social (USP), pesquisador colaborador no CERNe (USP) e articulista na revista Novos Diálogos. E-‐mail: silas.fiorotti@gmail.com.
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localizadas no norte do país).3 Em 2011, com a presença do bispo Edir Macedo, a IURD
inaugurou um grande templo chamado Cenáculo da Fé no centro da cidade de Maputo com
capacidade para receber 10 mil pessoas (cf. Gaspar, 2006; Mariano, 2010; Zanini, 2010).4
Acreditamos que em Moçambique a IURD possui a mesma estrutura de expansão, uma
estrutura que foi consolidada primeiramente no Brasil e que foi objeto de várias pesquisas (cf.
Almeida, 2009; Campos, 1997; Freston, 1994; Mariano, 1999), mas esta estrutura é preenchida
por conteúdos locais e guarda suas especificidades neste país africano por conta das diferenças no
campo religioso e na cultura. Neste sentido, acreditamos que não há como avaliar a expansão da
IURD em Moçambique sem levar em conta o campo religioso moçambicano e os conflitos da
IURD nele, assim como a área cultural em que Moçambique está inserido e, principalmente o sul
do país – a parte austral e oriental do continente africano.5
Mencionaremos aqui somente alguns aspectos deste campo religioso, como podemos ver
quadro Distribuição populacional e religiosa em Moçambique (2007) (cf. INE de Moçambique).6
3 Lembramos que as cidades mais populosas de Moçambique são: (1ª) Maputo, (2ª) Matola (na província de Maputo) e (3ª) Beira (na província de Sofala). Devido a isso é que, na nossa opinião, estas províncias concentram o maior número de templos da IURD.
4 De acordo com o jornal Folha Universal de dezembro de 2000, a IURD em Moçambique possuía 55 templos ou lugares de culto: 31 na cidade de Maputo e seus arredores, 3 na província de Gaza, 2 na província de Inhambane (sul do país); 1 na província de Manica, 13 na capital ou outras zonas urbanas da província de Sofala, 1 na província de Tete (centro do país); 1 na província de Zambézia, 1 na província de Nampula, 1 na província de Cabo Delgado, e 1 na província de Niassa (norte do país). Por isso, Teresa Cruz e Silva afirmou que estes dados mostram que a IURD está inserida nas zonas mais urbanizadas e no eixo centro-‐sul de Moçambique, mas também mostram “a tentativa de estender seus ramos a todo o país” (Cruz e Silva, 2003, p. 127, nota 4).
5 Algumas obras podem nos ajudar a compreender este contexto cultural e religioso da parte austral do continente africano (cf. Barrett, 1968; Comaroff, 1985; Honwana, 2002; Junod, 1944-‐46; Schapera, 1962; Tempels, 1953; Thompson e Wilson, 1969; Webster, 1976).
6 De acordo com a base de dados Joshua Project do U.S. Center for World Mission –trata-‐se de uma agência missionária protestante–, em 2010, o panorama religioso em Moçambique constituía-‐se: cristianismo (57,7%), religiões étnicas ou tradicionais (22,0%), islamismo (18,1%), sem religião (2,2%) e hinduísmo (0,1%). Sendo que o cristianismo, por sua vez, constituía-‐se: igrejas independentes (38,9%), catolicismo (36,1%), protestantismo (14,5%), outras igrejas cristãs (9,6%) e anglicanismo (0,9%) (cf. Joshua Project, 2010). No entanto, não sabemos se estes dados são confiáveis. O grupo igrejas independentes provavelmente refere-‐se às igrejas zionistas ou ziones (cf. Agadjanian, 1999). Conforme o II Recenseamento Geral da População e Habitação de 1997, uma população de 12.536.800 habitantes dividia-‐se entre: catolicismo (23,8%), islamismo (17,8%), igrejas zionistas (17,5%), protestantismo (7,8%), outras igrejas cristãs (3,6%), animismo (2,1%), outras religiões (1,6%), sem religião (23,1%) e desconhecida (2,6%) (cf. Fry, 2001, p. 41). Conforme o III Recenseamento Geral da População e Habitação, consultado na página do Instituto Nacional de Estatística de Moçambique, em 2007, Moçambique possuía uma população de 20.278.361 habitantes que dividia-‐se entre: catolicismo (27,9%), islamismo (17,8%), igrejas zionistas (13,7%), e protestantismo (11,1%); no entanto, este instituto não apresenta nenhuma informação sobre a religião do restante considerável da população (29,5%) (cf. INE de Moçambique). Destacamos que a pesquisadora Teresa Cruz e Silva, apesar da falta de dados estatísticos confiáveis, afirma que “os evangélicos [ou protestantes] são majoritários no sul de Moçambique, com predominância em Maputo, a capital do país” (cf. Cruz e Silva, 2003, pp. 123-‐124). Por isso, voltamos aos dados do Instituto Nacional de Estatística de Moçambique, especificamente sobre a
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Por exemplo, os católicos formam o maior grupo religioso de Moçambique –27,9% da
população–; no entanto, eles não formam o grupo majoritário. Os muçulmanos formam um
grupo populacional extremamente relevante e que não pode ser ignorado, 17,8% da população;
assim como os zionistas ou maziones, 13,7% da população. Já os protestantes ou evangélicos, que
são considerados por alguns pesquisadores o maior grupo religioso do sul de Moçambique (cf.
Cruz e Silva, 2003), representariam 11,1% da população moçambicana. Este percentual aumenta
se levarmos em conta apenas as províncias do sul, mas parece que não há motivos para
considerarmos que os protestantes ou evangélicos formam o maior grupo religioso; a não ser que
o critério seja a visibilidade do grupo ou mesmo uma suposta herança ou fundo religioso
protestante que influenciou e influencia todos os grupos religiosos, principalmente o dos zionistas
(cf. Agadjanian, 1999). Já os “outros”, grande parcela da população que o Instituto Nacional de
Estatística (INE) de Moçambique não apresentou nenhuma informação sobre a religião,
representam 29,5% da população. Acreditamos que a maior parte destes, mesmo não possuindo
nenhuma afiliação religiosa, mantém alguma prática local ligada ao chamado “universo religioso
ancestral”.
cidade de Maputo que, em 2007, possuía uma população de 1.094.628 habitantes que dividia-‐se entre: catolicismo (23,1%), islamismo (5,3%), igrejas zionistas (25,2%), e protestantismo (23,0%); e não apresenta nenhuma informação sobre a religião do restante (23,4%) (cf. INE de Moçambique).
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Apresentamos a leitura de três pesquisas que tratam do desenvolvimento da IURD em
Moçambique – as pesquisas de Teresa Cruz e Silva (2003), Dowyvan Gabriel Gaspar (2006) e
Linda van de Kamp (2012). Mesmo que nem todas as pesquisas tenham sido desenvolvidas no
Brasil, acreditamos que elas seguem as abordagens dos pesquisadores brasileiros. Ou seja, mesmo
mencionando as especificidades da IURD em Moçambique e do campo religioso moçambicano; a
ênfase destas pesquisas parece recair sobre as continuidades da IURD e as características que já
foram abordadas anteriormente pelos pesquisadores brasileiros (cf. Campos, 1997; 1999; Freston,
1994; Mariano, 1999). Após a leitura da pesquisas, finalizando o texto, apresentaremos alguns
dados preliminares da nossa própria pesquisa de doutorado que, de alguma forma, aproximam-se
do que foi apontado nestas pesquisas. Lembramos que no doutorado, iniciado em 2013, nosso
foco também recai sobre a IURD em Maputo, Moçambique, e suas relações com as práticas
religiosas locais.
Teresa Cruz e Silva
Teresa Cruz e Silva é professora da Universidade Eduardo Mondlane em Maputo,
Moçambique, e autora de diversos artigos e capítulos de livros. Mencionamos sua pesquisa sobre a
Missão Suíça –presbiterianos– no sul de Moçambique, que deu origem ao artigo Educação,
identidades e consciência política: a Missão Suíça no sul de Moçambique (1930-1975) (Cruz e Silva,
1998) e ao livro Igrejas protestantes e consciência política no sul de Moçambique: o caso Missão Suíça
(1930-1974) (Cruz e Silva, 2001).
Destacamos a pesquisa de Cruz e Silva que deu origem ao artigo A Igreja Universal em
Moçambique (Cruz e Silva, 2003). Esta pesquisa foi realizada no âmbito do projeto Evangelical
Christianity and Third-World Democracy, especificamente a parte sobre a África que foi
coordenada por Terence Ranger e financiada pela Pew Charitable Trusts.
Tópicos do artigo A Igreja Universal em Moçambique
Evangelismo, contexto e origem da IURD (pp. 123-126)
A Igreja Universal do Reino de Deus em Moçambique (pp. 126-132)
A IURD e a política em Moçambique (pp. 132-134)
Cruz e Silva inicia o artigo mencionando a falta de pesquisas sobre a distribuição religiosa
em Moçambique. Os próprios dados estatísticos disponíveis supostamente apresentam muitas
limitações. No entanto, apesar da suposta falta de dados confiáveis, ela afirma que os evangélicos
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são majoritários no sul de Moçambique, principalmente na capital Maputo.
Ainda na primeira parte do artigo, intitulada Evangelismo, contexto e origem da IURD (pp.
123-126), Cruz e Silva resgata alguns aspectos da história do movimento evangélico em
Moçambique, desde o final do século XIX. Menciona que ele supostamente foi marginalizado no
período colonial e depois, já no período pós-independência, foi novamente marginalizado pelo
governo controlado pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), movimento de
orientação socialista. E menciona o chamado período de crise em que o país sentia os efeitos da
guerra civil, com as incursões militares da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) –
movimento que se opunha ao governo–, que levou o governo a buscar alianças internas e,
consequentemente, iniciar uma relação mais positiva com as igrejas evangélicas. Neste contexto,
segundo Cruz e Silva, emerge uma “revitalização religiosa” marcada pelo crescimento do
movimento evangélico e, juntamente com outras igrejas evangélicas que entraram em
Moçambique na década de 1990, a IURD está presente.
Cruz e Silva menciona a inserção da IURD nos Países Africanos de Língua Oficial
Portuguesa (PALOP’s), sobretudo em Angola e Moçambique. A proximidade geográfica com a
África do Sul é apresentada como um dos motivos do crescimento da IURD em Moçambique, já
que supostamente naquele país africano o sucesso da IURD é notável.
Na segunda parte do artigo, intitulada A Igreja Universal do Reino de Deus em Moçambique
(pp. 126-132), Cruz e Silva afirma que a IURD foi legalmente registrada no Ministério da Justiça
de Moçambique em 1993. Esta igreja teria tirado partido das condições sociais, econômicas e
políticas que, em meados da década de 1980, geraram uma abertura em Moçambique. Sendo que
o primeiro templo da IURD foi inaugurado em Maputo, a capital do país, e teria atingido
indivíduos urbanizados das classes menos favorecidas e das classes médias baixas. Após uma
década de atividades, o perfil dos adeptos da IURD em Moçambique supostamente continuou o
mesmo. No entanto, já notava-se a adesão de um pequeno número de indivíduos das classes altas
e da elite política, mesmo que estes nem sempre assumam publicamente a adesão. Mencionou-se
os dados do jornal Folha Universal de dezembro de 2000, estes dados mostram que a IURD em
Moçambique possuía 55 templos ou lugares de culto: 31 na cidade de Maputo e seus arredores, 3
na província de Gaza, 2 na província de Inhambane (sul do país); 1 na província de Manica, 13
na capital ou outras zonas urbanas da província de Sofala, 1 na província de Tete (centro do país);
1 na província de Zambézia, 1 na província de Nampula, 1 na província de Cabo Delgado, e 1 na
província de Niassa (norte do país). Por isso, Cruz e Silva afirmou que estes dados mostram que a
IURD continuava inserida nas zonas mais urbanizadas e no eixo centro-sul de Moçambique, mas
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também mostram “a tentativa de estender seus ramos a todo o país” (p. 127, nota 4).
Mencionou-se a utilização das chamadas mídias eletrônicas, do rádio e dos textos
impressos no trabalho de propaganda religiosa da IURD. Estes seriam os meios que permitem à
IURD estabelecer laços mais próximos com as populações urbanas e, ao mesmo tempo, garante a
adesão dos grupos etários mais jovens.
As mensagens da IURD estariam sintonizadas com as necessidades de resposta nos campos
material e espiritual das camadas mais desfavorecidas da sociedade. Segundo Cruz e Silva, a IURD
em Moçambique, com seus diferentes cultos e serviços religiosos, aparece como “uma resposta aos
problemas de uma sociedade na qual os valores morais, o sentido de família e o tecido social
foram brutalizados e destruídos ao longo dos anos” (p. 128). Mencionou-se os seguintes cultos:
(a) dos empresários e da prosperidade; (b) a corrente dos 70, para solucionar problemas de saúde;
(c) da família; e (d) de libertação. Os pontos catalisadores da adesão à IURD seriam as chamadas
cruzadas ou correntes e os respectivos milagres prometidos nelas: garantia de fertilidade, emprego,
sucesso na vida, casamento feliz, cura dos vícios, ou mesmo a garantia de um sentido na vida e de
segurança no campo espiritual.
A IURD rejeitaria a chamada feitiçaria, as crenças tradicionais e as curas dos médicos
tradicionais e, ao mesmo tempo, rejeitaria as curas realizadas por outras igrejas pentecostais. Cruz
e Silva, seguindo Leonildo Silveira Campos (1997; 1999), afirma que a IURD vive “numa
situação de simbiose entre o ‘tradicional’ e o moderno” (p. 129). Ela atuaria no sentido de
proteger seus adeptos dos espíritos malignos e demônios, aproximando-se de algumas crenças
populares, utilizando tecnologias modernas.
As iniciativas assistencialistas da IURD seriam amplamente divulgadas nos meios de
comunicação e garantiriam, além da enorme visibilidade desta igreja, o aprofundamento da sua
inserção na sociedade moçambicana. A IURD teria criado a Associação Beneficente Cristã (ABC)
para auxiliar seus membros mais necessitados. Cruz e Silva menciona o SOS-Moçambique, um
programa criado pela ABC para auxiliar os atingidos pelas inundações de 2000 e 2001, que
ofereceu alimentos, roupas, cobertores e materiais de construção.
Sobre a utilização dos meios de comunicação em Moçambique, Cruz e Silva afirma que a
IURD segue padrões semelhantes a outros países onde está estabelecida. Ou seja, vincula seus
programas de caráter religioso na rádio e na televisão Miramar que pertencem à Rede Record,
estes programas contêm mensagens que pretendem ir ao encontro dos problemas dos cidadãos
moçambicanos. Mencionou-se programas como Fala que eu te escuto e Terapia do amor, muito
conhecidos aqui no Brasil, que exibem depoimentos e testemunhos de brasileiros e moçambicanos
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que foram “libertados” de diversos problemas, dificuldades ou doenças na IURD.
Já na terceira parte do artigo, intitulada A IURD e a política em Moçambique (pp. 132-
134), Cruz e Silva afirmou que “a IURD não se envolve diretamente em assuntos de foro
político” (p. 132), sua atuação social supostamente se restringiria às obras de caráter
assistencialista. A autora mencionou que está disseminada no senso comum a ideia de que a
IURD, desde a década de 1990, apoia a FRELIMO, o que teria facilitado seu acesso à concessão
da rádio e da televisão Miramar. E, segundo Cruz e Silva, mesmo que isso não possa ser
comprovado, os pastores da IURD, durante as eleições presidenciais de 1999, proferiram
mensagens de apoio e benção aos membros do governo e ao ex-presidente Joaquim Alberto
Chissano, o que teria ocorrido também durante as eleições presidenciais de 1994.
E, por fim, Cruz e Silva conclui dizendo que IURD em Moçambique, assim como no
Brasil, apresenta mensagens e ações que vão de encontro com as necessidades das populações.
Neste sentido, ela teria encontrado “um campo fértil para atuar junto às esferas sociais
negligenciadas pela incapacidade e fraqueza do Estado em providenciar o bem-estar necessário”
(p. 135).
Dowyvan Gabriel Gaspar
O moçambicano Dowyvan Gabriel Gaspar graduou-se em Ciências Sociais, em 2003, pela
Universidade Federal da Bahia (UFBA), através do Programa de Estudantes-Convênio de
Graduação (PEC-G) do Ministério da Educação (MEC). Para tanto, apresentou a monografia
intitulada O porquê da guerra civil em Moçambique: uma análise política/histórica dos fatores
internos e externos à guerra civil (Gaspar, 2003). Em 2006, concluiu o mestrado em História Social
pela mesma universidade, através do Programa de Estudantes-Convênio de Pós-Graduação (PEC-
PG), defendendo a dissertação “É dando que se recebe”: a Igreja Universal do Reino de Deus e o
negócio da fé em Moçambique (Gaspar, 2006) sob orientação de Valdemir Donizette Zamparoni.
Capítulos da dissertação “É dando que se recebe”
1. Panorama religioso de Moçambique (pp. 22-78)
2. Pentecostalismo (pp. 79-103)
3. A Igreja Universal do Reino de Deus e suas peculiaridades (pp. 104-165)
4. A Igreja Universal do Reino de Deus em Moçambique (pp. 166-195)
Nesta dissertação, Gaspar analisa a presença e os métodos de ação da IURD na cidade de
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Maputo, Moçambique, destacando a arrecadação de recursos financeiros e a ênfase na teologia da
prosperidade. Além dos livros e artigos publicados sobre a IURD, Gaspar utilizou jornais, revistas
e páginas da internet desta igreja e material jornalístico disponível no Arquivo Histórico de
Moçambique como fonte de pesquisa. Entre 2003 e 2004, realizou sua pesquisa de campo com
observação participante nas reuniões –num templo da IURD em Maputo e num templo em
Salvador–, descrição destas reuniões, entrevistas, conversas informais, entre outras coisas. E, por
fim, Gaspar aplicou cem questionários aos fieis da IURD em Maputo.
No primeiro capítulo, intitulado Panorama religioso de Moçambique (pp. 22-78), Gaspar
destaca que deve-se levar em consideração que Moçambique é formado por grupos populacionais
ou povos etnicamente diferentes e com distintas características, o que resultou numa pluralidade
extremamente rica. Podemos encontrar variadas comunidades religiosas de origem estrangeira por
todo o território moçambicano: muçulmanas, católicas, protestantes, entre outras; além de
múltiplas formas da chamada “religiosidade ancestral africana” – Gaspar adotou esta terminologia
ao invés de “religião tradicional africana”, segue abaixo sua justificativa:
A expressão “religião tradicional africana”, de uso muito corrente em muita bibliografia africanista, deve ser tomada com muita restrição uma vez que traduz uma operação reducionista da multiplicidade de práticas religiosas e/ou sagradas de povos diferenciados e as considera como um conjunto homogêneo com as mesmas características das religiões estrageiras (cristianismo e islamismo) e que com elas possa ser comparado. (nota 29, p. 26)
No entanto, Gaspar escreve a respeito de uma “cultura religiosa ancestral” das sociedades africanas
em que a vida humana é compreendida como um ciclo que parte do nascimento mas não termina
na morte, morrer seria apenas uma outra fase da vida. Neste sentido, “os mais velhos estão numa
posição (hierarquicamente) mais próxima aos espíritos dos antepassados (ancestrais) e exercem
uma função de mediadores entre os vivos e os mortos” (p. 26). Por isso, as “religiosidades
ancestrais africanas” supostamente estão centradas no conhecimento dos mais velhos que vem dos
antepassados. Por exemplo, as doenças seriam consequências de desequilíbrios nas relações entre
as pessoas, os espíritos ancestrais e a natureza. Já as estratégias da chamada “medicina tradicional”
para lidar com as doenças seriam duas: a adivinhação e a cura.
Mencionou-se as chamadas religiões estrangeiras que foram introduzidas em território
moçambicano no período colonial: o islamismo e o cristianismo, este último nas versões católica e
protestante. Destacamos que Gaspar afirma que muitos nativos convertidos ao cristianismo
continuaram reverenciando os antepassados. Cita o exemplo de sua própria família, uma família
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católica que costuma marcar na igreja as missas –sétimo dia, um mês, seis meses, um ano, etc.–
quando morre um familiar; no entanto, nos dias das respectivas missas a família realiza o mukuto
que é uma cerimônia tradicional na qual é venerado um determinado ente-querido (p. 39).
Mesmo com a imposição do catolicismo no período colonial e a restrição das atividades
missionárias não-católicas, além da desqualificação das “práticas religiosas ancestrais”, não
impediou o avanço da evangelização protestante nem significou o desaparecimento destas práticas
que supostamente continuam vivas e adaptaram-se às novas realidades (p. 47). As próprias igrejas
zionistas ou maziones efetuariam uma espécie de sincretismo religioso entre o cristianismo e a
“cultura religiosa ancestral” (p. 30) – estas igrejas seriam conhecidas como “igrejas de cura” e seus
rituais de cura aproximariam-se bastante da chamada “medicina tradicional” (pp. 75-76). Gaspar
conclui que nestas igrejas houve um sincretismo entre a “religiosidade ancestral africana” e o
cristianismo católico (p. 77). No entanto, as supostas características comuns destas igrejas, que
foram apresentadas por autores como: Bengt Sundkler, Victor Agadjanian, e Ulla Alfredsson e
Calisto Linha, e resgatadas por Gaspar no texto, são características que as aproximam mais do
protestantismo e, especificamente, do pentecostalismo: a invocação do Espírito Santo, a cura
divina, a glossolalia, a centralidade da Bíblia no vernáculo, entre outras (p. 77). O próprio
Agadjanian (1999) considera que as igrejas zionistas são igrejas de tipo pentecostal.
No segundo capítulo da dissertação, intitulado Pentecostalismo (pp. 79-103), Gaspar
resgata alguns aspectos da história do protestantismo, seu surgimento e o surgimento do
pentecostalismo. Resgata também alguns aspectos da história do protestantismo no Brasil e,
especialmente, a inserção e a implementação do pentecostalismo. Para isso, utiliza principalmente
o estudo de Paul Freston (1994) e as conhecidas “três ondas do pentecostalismo brasileiro”: (1ª)
na década de 1910 com Congregação Cristã do Brasil e Assembleia de Deus; (2ª) nas décadas de
1950 e 1960 com Igreja do Evangelho Quadrangular, Igreja O Brasil para Cristo, e Igreja Deus é
Amor; e (3ª) no final da década de 1970 com a IURD, a Igreja Internacional da Graça de Deus, e
a Igreja Sara Nossa Terra, entre outras.
Somente no terceiro capítulo da dissertação, intitulado A Igreja Universal do Reino de Deus
e suas peculiaridades (pp. 104-165), é que Gaspar começa a tratar especificamente da IURD.
Mencionou-se a forma vertical de governo eclesiástico da IURD e como esta forma de governo
restringe a autonomia dos pastores e dos adeptos (p. 108). Outras características da IURD que
foram mencionadas: o caráter multinacional, a habilidade com a mídia, a chamada “demonização
dos problemas sociais”, o apelo emocional, e as promessas de libertação. Sendo que através das
promessas de libertação, a IURD conseguiu colocar em evidência os causadores dos males, os
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demônios que são relacionados principalmente com o panteão afro-brasileiro (pp. 110-112).
Ainda mencionou-se o anticatolicismo da IURD e sua demonização dos santos católicos. Gaspar
lembrou que em Moçambique a Igreja Católica também é considerada concorrente e inimiga. Ele
citou as palavras de um pastor da IURD em Maputo:
Você que tem imagem de algum santo dentro da sua casa e não joga fora, está carimbando seu passaporte para o inferno. Imagem dentro da sua casa é demônio. Às vezes quem é seu ídolo é seu marido, seu filho... mas quem está na parede é um santo. (p. 113)
Mesmo que os templos da IURD estejam concentrados na região sul que possui mais adeptos das
igrejas protestantes e das igrejas zionistas, quase metade dos pesquisados de Gaspar –46 dos 100
pesquisados– afirmaram que haviam pertencido a Igreja Católica (p. 114).
Destacamos a centralidade dos exorcismos em Moçambique, assim como no Brasil, que
foi mencionada por Gaspar. As reuniões especificamente dedicadas aos exorcismos são realizadas
às terças-feiras e às sextas-feiras: Sessões do Descarrego e Reuniões da Libertação respectivamente
– ver quadro Reuniões da IURD em Maputo (pp. 135-136). Nestas reuniões pode-se ouvir
pastores ou bispos gritando: “manifeste-se agora, espírito do mal” (p. 130). No momento em que
o espírito –“maligno” ou “demoníaco”– manifesta-se, começa uma série de perguntas dirigidas ao
espírito; as perguntas indispensáveis seriam três: (1) “como ou qual é o seu nome?”, (2) “o que é
que você faz na vida dessa pessoa?”, e (3) “como é que você entrou na vida dessa pessoa?” (p.
131). Em Moçambique, além das respostas não estarem associadas ao panteão afro-brasileiro,
Gaspar afirma que quando se trata desta terceira pergunta, as respostas estão sempre associadas aos
nomes dos responsáveis ou genericamente ao “seu vizinho”, “seu colega” (p. 131). Somente após
as perguntas e a humilhação pública do espírito, é que aconteceria a sua expulsão: “sai deste corpo
que não te pertence” (p. 132). Gaspar ainda afirma que o ritual de cura liga-se ao exorcismo:
Tendo sido descoberto [o espírito] e, pelo exorcismo, despotencializado, a ação maligna do demônio encontra-se inibida ou inviabilizada. Logo, o indivíduo encontrar-se-ia cura e então propício para uma vida próspera segundo os preceitos divinos. (p. 135)
Reuniões da IURD em Maputo, em 2003-04
• Domingo – Reuniões do Espírito Santo (7h, 9h, 15h, 18h e 20h) • Segunda-feira – Reuniões da Prosperidade (8h, 10h, 15h e 18h) • Terça-feira – Sessões do Descarrego (8h, 10h, 15h e 18h) • Quarta-feira – Reuniões do Espírito Santo (9h, 15h e 18h)
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• Quinta-feira – Reuniões da Família (9h, 15h e 18h) • Sexta-feira – Reuniões da Libertação (8h, 10h, 15h e 18h) • Sábado – Terapia do Amor (9h, 15h e 18h)
Algo que chamou a atenção de Gaspar, mas que ele somente citou, foi o fato da IURD em
Moçambique dedicar dois dias da semana para reuniões do Espírito Santo, sendo que um deles é
o domingo, um dos dias de maior frequência e que há o maior número de reuniões. Para Gaspar,
“talvez isto ocorra em razão de uma associação do Espírito Santo com os espíritos do universo
religioso ancestral local” (p. 136).
Gaspar faz uma pequena menção ao fato de que todas as reuniões que ele observou em
Maputo foram dirigidas por pastores ou bispos brasileiros, com exceção das reuniões de sábado
(Terapia do Amor) que foram dirigidas por um pastor moçambicano (nota 303, p. 136; p. 197).
Concluindo o terceiro capítulo da dissertação, Gaspar fala sobre a teologia da
prosperidade, o significado da arrecadação do dinheiro, os dízimos e as ofertas. Destacamos, como
foi mostrado por Gaspar, que mais da metade dos homens entrevistados em idade
economicamente ativa estavam desempregados no momento da pesquisa –final de 2003 e início
de 2004–; por isso, ele acredita que a maior parte dos homens estaria na IURD em busca de uma
libertação ou cura na vida financeira (p. 143), porque como chefes de família eles supostamente
são mais afetados pelos problemas advindos da falta de dinheiro, o que os leva com maior
frequência às reuniões de segunda-feira (p. 188).
Gaspar começa o quarto capítulo da dissertação, intitulado A Igreja Universal do Reino de
Deus em Moçambique (pp. 166-195), destacando a “grande capacidade [da IURD] de adaptação
às diversidades locais” (p. 166). Ele apresenta alguns dados da história da IURD em Moçambique
e o contexto em que ela se estabeleceu – realizou a primeira reunião em Moçambique no final de
1992. Destacamos, conforme indicado por Gaspar, que as províncias do sul de Moçambique,
onde o estabelecimento da IURD foi mais acelerado, “carregam consigo um passado histórico que
as identificam com a experiência religiosa protestante” (p. 175) – ver a tabela Templos da IURD
em Moçambique baseada nos dados retirados por Gaspar de duas edições do jornal Folha
Universal de Moçambique: n. 12 de março de 1996 e n. 180 de janeiro de 2004 (p. 175).
Segundo Gaspar, a fraca projeção da IURD no resto do país, “deve-se à forte presença do
islamismo na região norte, e do cristianismo católico na região central” (p. 197). Em seguida,
Gaspar afirma que
Enquanto no Brasil a maior preocupação da Igreja Universal é com a expulsão do demônio da vida do indivíduo através do exorcismo, em Moçambique sua
12
principal luta é travada na tentativa de derrotar os praticantes de medicina tradicional e a relação de veneração que parte da população tem com os espíritos ancestrais ou de seus antepassados (p. 176)
Neste sentido, a IURD acompanharia o movimento de outras igrejas pentecostais contra o que é
considerado feitiçaria e contra os espíritos do “universo religioso ancestral” enfatizando o batismo
com o Espírito Santo. Consideramos esta afirmação de Gaspar problemática, já que no capítulo
anterior ele afirmou que em algumas reuniões da IURD, assim como no Brasil, constata-se a
centralidade dos exorcismos.
Templos da IURD em Moçambique
Províncias Em 1996 Em 2004 Niassa - - 3 3% Cabo Delgado - - 3 3% Nampula 1 3,4% 5 5% Zambezia 1 3,4% 2 2% Tete 1 3,4% 8 8% Manica 1 3,4% 5 5% Sofala 4 13,8% 12 12% Inhambane 2 6,9% 2 2% Gaza 2 6,9% 5 5% Maputo e Cidade de Maputo 17 58,6% 53 54%
Total 29 100% 98 100% A partir de certo ponto do quarto capítulo, Gaspar começa propriamente a analisar os
dados dos questionários. Lembramos novamente que Gaspar aplicou cem questionários aos fieis
da IURD em Maputo – ver quadro Questionário da pesquisa de Dowyvan Gabriel Gaspar.
Questionário da pesquisa de Dowyvan Gabriel Gaspar
1. Sexo. 2. Idade. 3. Estado civil. 4. Local de nascimento (província). 5. Caso tenha nascido em outra província, há quanto tempo mora em Maputo (menos de 1 ano, de 1 a 5
anos, de 6 a 10 anos, ou mais de 10 anos). 6. Reside em Maputo na condição de (arrendatário ou proprietário). 7. Reside com (esposa/o, filho/a, esposa/o e filhos/as, pai e mãe, pai e mãe e irmãos, sozinho, ou com amigos). 8. Quantas pessoas moram em sua casa (uma única pessoa, de duas a quatro pessoas, de cinco a sete pessoas,
ou mais de sete pessoas)? 9. A sua residência dispõe dos seguintes serviços (energia elétrica, água canalizada, esgoto sanitário). 10. Qual é o principal problema existente no seu bairro (desemprego, violência, transporte, educação,
saneamento, saúde, ou nenhum)? 11. Alguma vez frequentou escola (sim ou não)? 12. Caso sim, qual foi a classe ou nível mais alto (elevado) que frequentou (1ª a 5ª classe, 6ª a 7ª classe, 8ª a 10ª
classe, 11ª a 12ª classe, superior incompleto, superior completo, 4ª classe colonial, ou escola técnica incompleta)?
13
13. O que é que faz atualmente (estuda, trabalha, estuda e trabalha, desempregado/a, reformado/a ou aposentado/a)?
14. Tem filhos (sim ou não)? 15. Caso sim, quantos (de 1 a 2, de 3 a 5, ou mais de 6)? 16. Quais as suas ocupações (estudam, estudam e trabalham, trabalham, desempregados/as)? 17. A renda mensal na sua residência está entre (menos de um salário mínimo, 1 salário mínimo, de 2 a 3
salários mínimos, ou mais de 3 salários mínimos). 18. Quem contribui com a renda mensal na sua casa (marido, mulher, marido e mulher, filho/os, marido e
mulher e filho, ou nenhum dos residentes)? 19. Já teve alguma religião antes de entrar na Igreja Universal (sim ou não)? 20. Caso já tenha tido, qual (católica, muçulmana, zione, animista, religião ancestral africana, e outras)? 21. Quanto tempo tem nesta igreja (de 1 a 4 semanas, de 1 a 6 meses, de 7 a 12 meses, de 2 a 4 anos, de 4 a 6
anos, de 6 a 8 anos, ou mais de 9 anos)? 22. Caso tenha parceiro/a, ele/a é membro da Igreja Universal (sim ou não)? 23. O que é que o/a fez entrar na Igreja Universal (problemas financeiros, problemas sentimentais, problemas
de saúde de um parente, problemas de saúde, procura de felicidade, curiosidade, procura de emprego, vítima de feitiçaria, e palavra de Deus)?
24. Se entrou nesta igreja por algum problema, acha que conseguiu resolvê-lo (sim, não, ou parcialmente)? 25. O que é que o/a senhor/a acha que atrai as pessoas para a igreja (esperança de cura, esperança de
prosperidade financeira, quando se tem algum problema, resolve-se todos os problemas, e esperança de casar)?
26. O que é que o/a senhor/a encontra na Igreja Universal (paz e amor, solidariedade, felicidade, esperança, segurança, atenção, amigos, carinho, e Deus)?
27. Quais são os dias da semana que costuma vir à igreja (segunda-feira na Reunião da Prosperidade, terça-feira na Sessão do Descarrego, quarta-feira na Reunião do Espírito Santo, quinta-feira na Reunião da Família, sexta-feira na Reunião de Libertação, e sábado na Terapia do Amor)?
28. Para a Igreja Universal, o dízimo corresponde a 10% daquilo que produzimos. A seu ver, o dízimo deveria ser (obrigatório, facultativo, ou não existir).
29. Para a Igreja Universal, oferta é tudo aquilo que damos de livre e espontânea vontade. A seu ver, deveria ser (obrigatório, facultativo, ou não existir).
30. Para os determinados fins, você concorda com a arrecadação de (dízimo, oferta, ou nenhuma doação). 31. O/a senhor/a é dizimista (sim, não, ou nem sempre)? 32. O/a senhor/a participa das ofertas (sim, não, ou nem sempre)? 33. O/a senhor/a concorda com a cobrança de ofertas em moeda estrangeira – dólar, rand (sim, não, dá quem
tiver, ou tanto faz)? 34. O valor do dízimo é (alto, baixo, ou suficiente). 35. O valor pedido para as ofertas é (alto, baixo, ou suficiente). 36. Quem decide o destino do dinheiro arrecadado (os pastores, os bispos, os fieis, bispos e pastores, conselho
da igreja, ou não sabe)? 37. Aonde é aplicado o dinheiro arrecadado (salário dos bispos e pastores, construção de novos templos,
pagamento de água e luz e aluguel, benefício para os crentes, ou não sabe)? 38. Aonde deveria ser aplicado o dinheiro arrecadado (benefício para os crentes, pagamento de água e lu e
aluguel, salário dos bispos e pastores, construir novos templos, ou não opina)? 39. Como soube, ou aonde ouviu falar da Igreja Universal (rádio, televisão, jornal, amigo/vizinho,
escola/trabalho, chapa/machimbombo/ônibus, ou não se lembra)?
Constatou-se uma predominância feminina (61% dos pesquisados), mas com ampla
dispersão de idades, supostamente mostrando que a IURD atrai indivíduos de todas as idades. A
maioria dos pesquisados nasceu na província de Maputo (72% dos pesquisados), sendo que
nenhum deles é proveniente das províncias do norte de Moçambique (Niassa, Cabo Delgado e
Nampula) (p. 179).
Com relação à pergunta 10, sobre o principal problema existente no seu bairro: 85 pessoas
(29 homens e 56 mulheres) apontaram para a saúde como sendo o principal problema, 81 pessoas
14
(28 homens e 53 mulheres) apontaram a violência, e 80 pessoas (34 homens e 46 mulheres)
apontaram o desemprego (p. 180).
Já com relação às perguntas 19 e 20, sobre outras experiências religiosas: 75 pessoas (28
homens e 47 mulheres) já haviam tido alguma experiência religiosa anterior. Destas, 47 pessoas
(17 homens e 30 mulheres) indicaram a “religião ancestral africana”, 46 pessoas (17 homens e 29
mulheres) indicaram a Igreja Católica, e 40 pessoas (9 homens e 31 mulheres) indicaram as igrejas
zionistas (pp. 182-183).
Constatou-se, com base na pergunta 23, que boa parte das cem pessoas estava na IURD
porque procurava sanar ou sanou algum problema: 62 pessoas (13 homens e 49 mulheres)
buscavam solucionar algum problema de saúde, 57 pessoas (25 homens e 32 mulheres)
procuravam emprego, 50 pessoas (9 homens e 41 mulheres) foram vítimas de feitiçaria, 50
pessoas (11 homens e 39 mulheres) buscavam a Palavra de Deus, 44 pessoas (28 homens e 16
mulheres) buscavam solucionar problemas financeiros, e 41 pessoas (4 homens e 37 mulheres)
buscavam solucionar problemas sentimentais (p. 184).
Sobre o que acham que atrai as pessoas à igreja, pergunta 25, constatou-se que: 77 pessoas
indicaram a opção “quando se tem um problema”, 60 pessoas indicaram a opção “esperança de
cura”, 54 pessoas indicaram a opção “esperança de prosperidade”, e 50 pessoas indicaram a opção
“resolução de algum problema”. E sobre os dias de maior frequência à igreja, pergunta 27,
contatou-se que: 76 pessoas indicaram a terça-feira (dia das Sessões do Descarrego), 76 pessoas
indicaram a sexta-feira (dia das Reuniões da Libertação), e 75 pessoas indicaram a segunda-feira
(dia das Reuniões da Prosperidade) (pp. 186-188).
Finalizando o quarto capítulo da dissertação, Gaspar analisa dez perguntas do questionário
–perguntas 28 a 38– que tratam da opinião dos fieis sobre a arrecadação e o destino de dízimos e
ofertas na IURD. Gaspar afirma que em todas as reuniões que participou houve um momento
reservado para que os fieis entregassem os dízimos e as ofertas, momento em que os fieis
entendem que estão fazendo votos com Deus. Mesmo que o dízimo seja algo voluntário, a IURD
enfatiza que o dizimista é abençoado e o não dizimista é amaldiçoado; este discurso dos pastores
da IURD, segundo Gaspar, tem se mostrado eficaz. E, juntamente com ele, a ênfase de que a
IURD contribui para a diminuição do sofrimento da população mais carente, mesmo que essa
contribuição seja somente pontual (pp. 194-195).
E, por fim, sobre como souberam ou ouviram falar da IURD, pergunta 39 do
questionário, constatou-se que: 77 pessoas indicaram a opção “amigo/vizinho”, 55 pessoas
indicaram “televisão”, 32 pessoas indicaram “chapa/machimbombo/ônibus”, 31 pessoas
15
indicaram “rádio”, e 24 pessoas indicaram “escola/trabalho”, entre outras opções menos indicadas
(pp. 195, 228).
Linda van de Kamp
Linda van de Kamp é antropóloga, doutora em Antropologia pela Universidade Livre de
Amsterdã, defendendo a tese Violent Conversion: Brazilian Pentecostalism and the Urban
Pioneering of Women in Mozambique (Kamp, 2011), e pós-doutoranda da Universidade de
Tilburg, Holanda. Estuda a circulação religiosa entre Brasil, Moçambique e Holanda. É autora de
diversos artigos, entre os quais destacamos: Burying Life: Pentecostal Religion and Development in
Urban Mozambique (Kamp, 2010) e Pentecostalismo brasileiro, “macumba” e mulheres urbanas em
Moçambique (Kamp, 2012). Neste último artigo, que analisaremos aqui, Kamp analisa a forma
como a presença de missionários brasileiros da IURD em Moçambique afeta diversos aspectos da
vida de mulheres das zonas urbanas.
Tópicos do artigo
Pentecostalismo brasileiro, “macumba” e mulheres urbanas em Moçambique
“Macumba” na África (pp. 62-66)
Mobilidade transnacional e distância cultural (pp. 67-71)
Mulheres pentecostais pioneiras (pp. 71-75)
Kamp inicia seu artigo destacando a crescente interação entre Brasil e África, e a
proeminência do pentecostalismo brasileiro em Moçambique, representado principalmente pela
IURD. Para Kamp, o pentecostalismo brasileiro tem sido bem-sucedido em Moçambique devido
ao que ela chama de “particularidades do seu transnacionalismo Sul-Sul” e à “ligação
transatlântica espiritual”. Neste sentido, ela se afasta dos argumentos que entendem o movimento
pentecostal como um caso de “fluxo cultural-religioso global que começou no Ocidente” e foi se
disseminando de forma homogênea, sendo atraente porque supostamente “oferece acesso a
processos de globalização culturais, econômicos e democráticos modernos (ocidentais)” (p. 60).
A predominância de pastores brasileiros é mencionada por Kamp. Mesmo com a presença
de pastores moçambicanos e até de pastores angolanos, Kamp destaca que são os brasileiros que
lideram estas igrejas, enquanto que os outros são pastores auxiliares. E ainda, estes pastores
africanos têm adotado o português do Brasil (p. 68, nota 12).
No primeiro tópico do artigo, intitulado “Macumba” na África (pp. 62-66), Kamp
apresenta algumas características do chamado movimento neopentecostal, sendo que a maioria
16
das igrejas brasileiras supostamente pertence a este movimento ou utiliza elementos do mesmo. As
igrejas neopentecostais seriam caracterizadas, segundo Kamp, pela ênfase na chamada “guerra
espiritual”, pela teologia da prosperidade, e pela “organização empresarial e forte orientação
internacional” (p. 62).
Kamp defende a noção de Atlântico lusófono como “espaço particular de produção
histórica, cultural e religiosa entre Portugal, Brasil e África” (p. 63), só que com a interação destes
pentecostais brasileiros e moçambicanos supostamente têm sido criado um espaço transatlântico
pentecostal específico. Segundo Kamp, os pastores brasileiros foram para Moçambique, no início
da década de 1990, com a ideia de que a raiz de todo o mal estava na África, de que havia muita
“macumba” e foram salvar os africanos dela. Para tanto, falavam abertamente sobre os espíritos
ancestrais e a “feitiçaria”, algo novo numa cidade como Maputo que havia passado por uma
história colonial e um período socialista em que isso era considerado obscurantismo e negado.
Muitos moçambicanos que cresceram em Maputo, onde não se deveria falar sobre “feitiçaria”, e
passaram a ouvir nas igrejas neopentecostais que incidentes com os espíritos ancestrais poderiam
ser a causa de algum problema (p. 66) e passaram a associar estes espíritos com os demônios: “o
Diabo faz com que as pessoas acreditem que estão lidando com um espírito específico ancestral,
mas é um demônio” (p. 71).
Reuniões da IURD em Maputo, em 2006
• Segunda-feira – Reuniões dos Empresários (6h, 8h, 10h, 12h, 15h e 18h) • Terça-feira – Reuniões da Saúde (6h, 8h, 10h, 12h, 15h e 18h) • Quarta-feira – Reuniões dos Filhos de Deus (6h, 8h, 10h, 12h, 15h e 18h) • Quinta-feira – Reuniões da Família (6h, 8h, 10h, 12h, 15h e 18h) • Sexta-feira – Correntes de Libertação (6h, 8h, 10h, 12h, 15h e 18h) • Sábado – Reuniões da Grandeza de Deus (6h, 12h, 15h e 18h) • Domingo – Reuniões dos Encontros com Deus (6h, 8h, 10h, 15h e 18h)
No segundo tópico do artigo, intitulado Mobilidade transnacional e distância cultural (pp.
67-71), Kamp destacou que os pastores brasileiros “confrontavam os moçambicanos numa
variedade de maneiras com aspectos da sua cultura e vida”: a bênção vinda do Brasil poderia livrá-
los dos vínculos com os espíritos ancestrais e estes pastores confrontavam os curandeiros locais
com o “poder ilimitado do Espírito Santo” (pp. 68-69). Da mesma forma que os pastores
brasileiros viajaram e romperam com suas vidas anteriores no Brasil, os fieis moçambicanos
supostamente são incentivados a romperem e transcenderem o familiar e local, mesmo sem
deslocamento geográfico, são incentivados a se sacrificarem de alguma forma e romperem com
suas práticas para conquistarem as bênçãos. Por isso, Kamp acredita que estes fieis pentecostais
17
tornam-se pessoas transnacionais.
Já no terceiro tópico do artigo, intitulado Mulheres pentecostais pioneiras (pp. 71-75),
Kamp destaca que o amor, o casamento e a sexualidade são abordados de forma explícita pelos
pastores brasileiros, algo novo para os costumes locais. Estes pastores são procurados também
porque combatem as influências “negativas” dos espíritos sobre os relacionamentos, Kamp
mencionou os chamados “cônjuges espirituais” como exemplo. Além disso, mencionou-se que
surgiram oportunidades econômicas inéditas para as mulheres e, por sua vez, estas mulheres com
uma mobilidade econômica e cultural encontram este pentecostalismo brasileiro transnacional e
supostamente ambos reforçam um ao outro em suas capacidades (p. 73). As adversidades
enfrentadas pelas mulheres pentecostais são consideradas como bons sinais da “guerra espiritual”,
permitindo que elas explorem novas possibilidades; para isso, elas precisam estar protegidas e
transitarem com o Espírito Santo. Neste sentido, “as novas posições e possibilidades das mulheres
pioneiras se conectam com o movimento transnacional pentecostal” (p. 76).
Palavras finais
De alguma forma temos encontrado, na nossa pesquisa, aquilo que foi apontado ou
mencionado nestas três pesquisas. Principalmente o uso do rádio, já que no momento temos
acompanhado a programação da Rádio Positiva (95,8 FM), uma rádio da cidade de Maputo que
pertence à IURD.7 Constatamos que a programação da rádio acompanha a programação dos
templos da IURD, uma programação que foi mencionada nas três pesquisas. Ou seja, durante a
noite, convidam os ouvintes para as reuniões do dia seguinte.
Por exemplo, no dia 15 de maio, uma segunda-feira a noite, enfatizou-se a cura, já que as
reuniões de terça-feira são dedicadas à cura. Foi mencionado, na mesma noite, que um “colírio
abençoado” seria distribuído nos templos da IURD. Houve oração, após o atendimento de
ligações e pedidos de oração dos ouvintes, e consagração dos copos de água dos ouvintes.
Mencionou-se e distinguiu-se doença física de doença espiritual, o pastor César disse: “não
estamos aqui para condenar o trabalho que os médicos fazem, é um dom de Deus, mas tem
doenças que não são físicas, mas sim espirituais”.
No dia 24 de maio, uma sexta-feira a noite, convidaram os ouvintes para, no domingo,
“tomarem o cálice da quebra da maldição”. Segundo os pastores, que remetiam-se ao texto bíblico
de Provérbios, “não há maldição sem causa”. Também foi falado que segunda-feira, nos templos
7 A Rádio Positiva de Maputo é transmitida nas seguintes páginas: http://tunein.com/radio/Radio-‐Positiva-‐958-‐FM-‐s187418/ e http://www.radios.com.br/aovivo/Radio-‐Positiva-‐95.8-‐FM/24010.
18
da IURD, seria o dia de quebrar a maldição financeira.
No dia 8 de agosto, uma quinta-feira a noite, o pastor usou uma expressão de uso corrente
nos momentos de transmissão dos testemunhos: “contra fatos não há argumentos”. Na mesma
noite, foi transmitido o testemunho de uma mulher que era perturbada pelo “marido espiritual”,
algo que foi mencionado também por Linda van de Kamp (2012, p. 72). Já no dia 11 de
outubro, uma sexta-feira, mencionou-se que às sextas-feiras às 18h00 tem “trabalho forte”, nos
templos da IURD, para arrancar as forças negativas que supostamente têm atuado nas vidas.
Mencionou-se que aos domingos iniciou-se um “novo tratamento”, além da oração para arrancar
a inveja. Especificamente no domingo, dia 13 de outubro, encerrou-se o Jejum de Daniel, de 21
dias, possivelmente tratou-se de uma campanha que também foi realizada no Brasil. Os pastores,
consideravam estes 21 dias como dias de santificação, “um sacrifício pessoal para uma conquista
espiritual”. Mencionou-se que todo domingo seria dia do derramamento do Espírito Santo nos
templos da IURD, em que as pessoas seriam batizadas com o Espírito Santo.
Agenda semanal do Cenáculo da Fé da IURD em Maputo, Moçambique
Fonte: http://www.iurdmocambique.com/agenda-semanal/.
No dia 12 de outubro, um sábado, transmitiu-se alguns testemunhos de fieis da IURD,
em sua maioria mulheres. É recorrente que estes fieis, que possuíam alguma doença, digam que
19
foram levados a diversos lugares (aos médicos, aos bruxos, aos curandeiros, à África do Sul, etc.) e
não obtiveram solução, somente na IURD é que supostamente foram curados após participarem
das reuniões. Por exemplo, transmitiu-se o testemunho de uma mulher que tinha dor na bexiga,
hemorragia, maus sonhos, angústia, e sentia fortes dores na hora da relação sexual. Outro
testemunho foi o de uma mulher que tinha fortes dores no peito e fez o trabalho de uma
curandeira; ou seja, comeu uma “galinha do mato” e “jogou os ossos para trás”, depois tomou
“banho de raízes” e comeu uma papa temperada com raízes que, segundo ela, tinha um gosto
ruim. Acreditamos que através destes testemunhos há uma clara tentativa de desqualificar a
“cultura religiosa ancestral” e a chamada “medicina tradicional”.
Para além da teologia da prosperidade enfatizada por Gaspar (2006), que encontra um
campo fértil num país com oportunidades econômicas inéditas, e da organização empresarial da
IURD; destacamos a especificidade da mensagem de libertação da IURD em Moçambique que
volta-se contra os espíritos do “universo religioso ancestral” e a demonização dos mesmos. Ainda
não constatamos a presença do anticatolicismo nestes dados, talvez porque a cidade e a província
de Maputo, onde a IURD concentra sua ação, possuam um passado que as identificam com o
protestantismo (cf. ibidem, p. 175). Destacamos também a ênfasa na cura divina, já que é uma
necessidade das camadas mais desfavorecidas da população moçambicana que compõem grande
parte dos fieis da IURD, também presente em outras igrejas pentecostais e nas igrejas zionistas. E,
por fim, a hipótese supostamente mais atraente, levantada por Gaspar, é que, em Moçambique,
ao invés dos exorcismos, há uma centralidade do batismo com o Espírito Santo na IURD.
Para finalizarmos, destacamos mais uma vez que nossos dados preliminares mostram
aquilo que as pesquisas de Teresa Cruz e Silva (2003), Dowyvan Gabriel Gaspar (2006) e Linda
van de Kamp (2012) já apontaram. No entanto, acreditamos que estas pesquisas enfatizaram mais
as continuidades da IURD em Moçambique em relação à IURD no Brasil, seguindo as
abordagens dos pesquisadores brasileiros, e não deram a devida importância ao próprio campo
religioso moçambicano e à área cultural em que o sul de Moçambique está inserido.
20
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