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A ICTIOFAUNA DA REPRESA DE ITUTINGA,RIO GRANDE (MINAS GERAIS - BRASIL)
CARLOS BERNARDO MASCARENHAS ALVES\ ALEXANDRE LIMA GODINHO\HUGO PEREIRA GODINH02 e VASCO CAMPOS TORQUAT03
lDepartamento de Zoologia, Instituto de Ciências Biológicas,Universidade Federal de Minas Gerais - 31270-901 Belo Horizonte, MG
2Departamento de Morfologia, Instituto de Ciências Biológicas,Universidade Federal de Minas Gerais - 31270-901 Belo Horizonte, MG
3Departamento de Programas e Ações Ambientais, CEMIG - 30190-131 Belo Horizonte, MG
(Com 3 figuras)
ABSTRACT
The Ichthyofauna of the Itutinga Reservoir,Grande River (Minas Gerais - Brazil)
Itutinga reservoir, built in 1955, is located 5.5km downstream from the Camar~os dam (themost upstream impoundment in the Grande river). With surface area of l.64km and a smalldrainage basin, it has a low residence time (12 hours) and little water leveI variation (:t 05m).Limnological profiles made in September 1989, February and June 1990 showed no stratifica-tion of the water column in relation to temperature, conductivity, pH and dissolved oxygen.Five quantitative fish samples, between December 1988 and June 1990, using gillnets of 3, 4,5,6, 7, 8, 10, 12, 14 and 16cm (stretch measure) mesh and qualitative ones using seine netswere made. Twenty-four native fish species and one exotic (Tilapia sp.) were recorded. Thehigher captures per unit of effort were Pimelodus maculatus, Astyanax fasciatus, lheringich-thys labrosus and Schizodon nasutus (numerically), and Hoplias cf. lacerdae,P maculatus, S.nasutus and I. labrosus (in biomass). The reservoir showed low abundance and biomass offishes. The presence of migratory species (such as Salminus maxillosus, Prochilodus scrofaand P maculatus) probably can be explained by the manual transposition of fishes imprisonedin Itutinga turbines and spillway channel, passage through Camargos dam turbines (Kaplantype) and fish stocking programs.
Key words: ichthyofaunistic inventory, Paraná basin, stocking, limnology,migratory species. .
RESUMO
A represa de Itutinga, formada em 1955, situa-se 5,5km a jusante da UHE Camargos (barra-mento mais a montante do rio Grande). Com área alagada de 1,64km2 e pequena bacia de
Recebido em 28 de maio de 1996Aceito em 24 de setembro de 1997
Distribuído em 15 de janeiro de 1998Correspondênciapara: Carlos B. M. AlvesE-mail: curimata@oraculoJcc.ufmg.br
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drenagem, é do tipo "fio d'água", com tempo de residência reduzido (12 horas) e pequenavariação do nível da água (:t 0,5m). Perfis limnológicos realizados em setembro de 1989, fe-vereiro e junho de 1990 mostraram desestratificação da coluna d'água em relação à tempera-tura, à condutividade, ao pH e ao oxigênio dissolvido. Entre dezembro de 1988 e junho de1990, foram realizadas 5 amostragens quantitativas (redes de malhas 3, 4, 5, 6, 7, 8,10,12,14e 16cm entre nós opostos) e qualitativas (rede de arrasto). Foram registradas 24 espécies nati-vas e uma introduzida (Tilapia sp.). As espécies mais representativas em termos de capturapor unidade de esforço foram, em ordem decrescente, Pimelodus maculatus, Astyanax fas-ciatus, /heringichthys labrosus e Schizodon nasutus, em número, e Hoplias cf. lacerdae, P.maculatus, S. nasutus e I. labrosus, em biomassa. A represa apresentou baixa abundância ebiomassa de peixes. A presença de espécies rnigradoras (e.g. Salminus maxillosus, Prochi-lodus scrofa e P. maculatus) explica-se provavelmente pela transposição manual para arepresa de peixes aprisionados nas turbinas e no canal do vertedouro de Itutinga, pela pas-sagem de indivíduos através das turbinas do tipo Kaplan da barragem de Camargos e pelosprogramas de repovoamento.
Palavras-chave: inventário ictiofaunístico, bacia do Paraná, repovoamento, limnologia,espéciesmigratórias.
INTRODUÇÃO
o estado de Minas Gerais possui 14 baciashidrográficas (CETEC, 1983) e seu potencial hi-dráulico está parcialmente explorado por usinashidrelétricas. O quadro de barramentos sucessivos,que é especialmente significativo no rio Grande,estender-se-á para a maioria das bacias do estadocom a implementação dos planos energéticos daEletrobrás (Godinho, 1993). Com isto, a hidrogra-fia estadual passará da condição fluvial para a la-custre. Em conseqüência, o curso natural de seusprincipais rios estará modificado pela sucessão degrandes lagos artificiais, com alterações significa-tivas nas populações de peixes migradores (Godi-nho & Godinho, 1994).
Algumas das alterações sofridas pela ictio"fauna brasileira em razão dos barramentos estão
sendo identificadas, incluindo as que dizem res-peito às restrições reprodutivas impostas às espé-cies migradoras ou de piracema (e.g. Agostinho,1992; Godinho & Godinho, 1994) e as alteraçõesna estrutura das comunidades (Merona,1986/1987). Ressalte-se que a ictiofauna de gran-de parte destes ambientes sequer ainda foi inven-tariada.
A conservação e o manejo de comunidadesde peixes de represas constituem tarefa multidisci-plinar e de longo prazo (Agostinho, 1992), sendoque estudos de casos particulares podem aceleraro desenvolvimento de metodologias necessárias à
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sua execução. A represa da Usina Hidrelétrica(UHE) de Itutinga pode constituir-se modelo paraestudos de represas de pequeno porte, em funçãode suas características físicas, biológicas e morfo-métricas, aliadas ao estado atual do conhecimentode sua ictiofauna e limnologia.
A represa de Itutinga, formada em 1955, si-tua-se no alto rio Grande, município de Itutinga,Minas Gerais (21°16'S; 44°40'W). O reservatóriopossui área de 1,64km2 e acumula cerca de 11 x106 3 d
' O d.d" d ' ,
m e agua. tempo e reSI enCIa a agua ede 12 horas e os seus níveis mínimo e máximo são
de 880,0 e 886,Omacima do nível do mar, respec-tivamente. Todavia, em condições normais de ope-ração, a variação do nível da água é pequena (:t0,5m) e está sob influência da UHE Camargos, si-tuada imediatamente a montante (= 5,5km). Comexceção do próprio rio Grande, a represa não rece-be afluentes significativos.
O presente trabalho apresenta os resultadosdos primeiros estudos sistematizados realizadosna região da represa da UHE Itutinga cujos objeti-vos foram de inventariar sua ictiofauna; estimar aabundância ictiofaunística através da captura porunidade de esforço (CPUE); e obter dados limno-lógicos básicos de suas águas.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram realizadas 5 campanhas de amostra-gem na represa de Itutinga nos meses de dezem-
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bro de 1988, maio e setembro de 1989 e fevereiroe junho de 1990. Em todas as campanhas foramutilizadas redes de emalhar de fundo de 20 metrosde comprimento, de malhas 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10, 12,14 e 16cm (medidas entre nós opostos) e alturaentre 1,45 e 1,75m. A área total de redes utilizadafoi de 24.347m2,distribuídosnas 5 campanhas. Asredes foram armadas à tarde e retiradas na manhãseguinte, permanecendo cerca de 16h expostas nacoluna d'água da zona litorânea.
Para complementação do inventário ictiofau-nístico, foram armados 1.175m2de redes de ema-lhar nos meses de dezembro de 1988 e junho de1990 no trecho do rio Grande entre a represa deItutinga e a barragem de Camargos. Estas redes ti-nham as mesmas especificações daquelas utiliza-das na represa.
Os peixes capturados foram separados pormalha e fixados em solução de formol a 10% nocampo. O peso corporal e o comprimento padrãode cada indivíduo capturado foram registrados nolaboratório. Complementarmente, estádios de ma-turação gonadal de espécies consideradas migra-doras foram macroscopicamente determinados,como forma de confirmar sua desova no ambienteem estudo.
Utilizando-se somente os peixes capturadosna represa, estimou-se para cada malha m a captu-ra por unidade de esforço em número (CPUENm)e em biomassa (CPUEBm)por:
CPUENm=NrnlEPm
CPUEBm = BrnlEPm,
onde:Nrn =número de peixes capturados na malha m;Brn = biomassa, em gramas, capturada na malha m;. 2EPrn =esforço de pesca, em 100m, de rede da malha m;
m = tamanho da malha (3, 4, 5, 6, 7, 8, 10, 12, 14 e 16cm).
As CPUEs também foram estimadas paracada espécie i por:
16
CPUENi =L Nim/EPmm=3
16
CPUEBi =L Bim/EPm,m=3
onde:
Nirn = número de peixes da espécie i capturado na
malha m;
Birn = biomassa, em gramas, da espécie i capturada namalha m;
malhas utilizadas:3, 4, 5, 6, 7, 8, 10, 12, 14 e 16;
e para toda amostra por:
16
CPUEN =L Nm/EPmm=3
16
CPUEB =L Bm/EPm,m=3
onde:
Nrn = número de peixes capturado na malha m;Brn =biomassa,emgramas,capturadanamalham;malhas utilizadas:3, 4, 5, 6, 7, 8, 10, 12, 14 e 16.
Além das amostragens quantitativas com re-des de emalhar, foram feitas coletas qualitativasatravés de arrastos com redes de tela mosquiteiranas margens da represa para a captura de espéciese indivíduos de pequeno porte.
Foram determinados os valores de penetra-
ção de luz (medida pelo disco de Secchi), tempe-ratura, condutividade elétrica, pH e oxigêniodissolvido da coluna d'água de metro em metro dasuperfície ao fundo nos meses de setembro de1989, fevereiro e junho de 1990 em três pontos darepresa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram capturadas 25 espécies, distribuídasem 3 ordens, 9 famílias, 17 gêneros. Todas as es-
pécies, com exce~o de Pseudopimelodus zunga-ro, ocorreram na represa de Itutinga. A Tabela Icontém a lista taxonômica das espécies capturadascom os respectivos nomes populares utilizados naregião.
Em Itutinga, a riqueza de espécies foi baixase comparada às das represas de Camargos (mon-tante) e de Fumas (jusante). Camargos apresentou36 espécies (Mourgués-Schurter & Silva, 1994).Em Fumas, Santos et ai. (1994) registraram 30 es-pécies, capturadas exclusivamente com redes deemalhar entre junho de 1992 e maio de 1993. Suariqueza, entretanto, poderá atingir cerca de 45 es-pécies, se incluídas coletas posteriores com redesde espera e de arrasto (G. B. Santos, com. pes.,1995). A baixa riqueza em Itutinga provavelmente
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TABELA I
Lista das espécies de peixes capturadas na região da represa de Itutinga.
Superordem Ostariophysi
Ordem Characiformes
Família Characidae
SubfamíliaTetragonopterinae
Astyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758)
Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819)
Bryconamericus stramineusl Eigenmaoo, 1908
Piabina argenteal Reinhardt, 1866
Subfamília Salmininae
Salminus hilarii Valencieooes,1849
Salminus maxillosui Valenciennes,1849
Família Erythrinidae
Hoplias d. lacerdae Ribeiro, 1908
Hoplias malabaricus (Bloch, 1794)FamíliaAnostomidae
Leporellus vittatus (Valencieooes, 1849)
Leporinus friderici (Bloch, 1794)
Leporinus octofasciatus Steindachner, 1917
Leporinus striatus Kner, 1859
Schizodon nasutus Kner, 1864
Família Prochilodontidae
Prochilodus scrofa Steindachner, 1882
Família Parodontidae
Apareiodon piracicabae (Eigenmaoo, 1907)Ordem Siluriformes
Família Sternopygidae
Eigenmannia virescens Valencieooes,1847Família PinIelodidae
lheringichthys labrosus (Kroeyer, 1874)
Pimelodus maculatus Lacépede, 1803
Pseudopimelodus zungaro3 (Humboldt, 1833)Família Loricariidae
Hypostomus aff. myersi Gosline, 1947
Hypostomus aff. strigaticeps (Regan, 1908)
Hypostomus sp. A
Hypostomus sp. B
SuperordemAcanthopterygii
Ordem Perciformes
Família CicWidae
/
Geophag~s cf. brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824)Tilapiasp.5
Nome popular N° do lote*
lambari
lambari-do-rabo-vermelho
MZUSP 51449
MZUSP 51448
piaba
pequira MZUSP 51463
tabarana
dourado
traíra, trairão
traíra
MZUSP 51460
MZUSP 51459
tinIburé
piapara
flamenguinho
tinIburé
MZUSP 51458
MZUSP 51461
MZUSP 51446
MZUSP 51457campineiro
curinIba
canivete MZUSP 51464
espada MZUSP 51447
mandi-bicudo
mandi-amarelo
MZUSP 51453
MZUSP 51462
MZUSP 51452bagre-sapo
cascudo
cascudo 4
cascudo
cascudo
4
cará MZUSP 51451
MZUSP 51450tilápia
*Númerodos lotes tombados na coleção ictiológica do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. 1=capturada na represaexclusivamente com arrasto; 2 =capturada na represa por pescador local; 3 =capturada exclusivamente no rio Grande a montantede Itutinga; 4 =espécies depositadas em três lotes (MZUSP 51454, MZUSP 51455 e MZUSP 51456) com denominação Hypos-tomus sp.; 5 =espécie exótica à bacia do rio Grande.
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se deve ao fato da represa ser antiga, possuir áreainferior às áreas das duas outras (Camargos =
2 276km e Fumas =1.456km ), drenar um pequenotrecho livre do rio Grande (= 5,5km) e não receberoutros afluentes significativos.
A composição em espécies de Itutinga podeser considerada estabilizada. Espécies cuja repro-dução foi interrompida com o barramento nãomais ocorrem ou, se ocorrem, sua presença é frutode peixamentos realizados pela CEMIG. As am-plitudes de comprimento e peso das espécies, bemcomo suas características migratórias (Tabela 11),demonstram domínio de espécies de pequeno por-te e/ou capazes de concluir seu ciclo de vida emambiente lêntico. Agostinho et aI. (1992) mostra-ram a tendência de domínio da composição ictio-faunística de represas após alcançar a estabilidadepor espécies de pequeno porte, baixa longevidadee elevado potencial reprodutivo.
Foram capturados 494 exemplares com re-des de emalhar. Destes, 38 foram coletados no rio
Grande a montante da represa. A Figura 1 repre-
senta as CPUEs em número e biomassa por tama-nho de malha. A malha 3cm foi a mais produtivaem termos numéricos. Como esperado, há tendên-cia de menores capturas de indivíduos com o au-mento da malha. As malhas mais produtivas embiomassa foram 4, 5 e 6cm. Estes dados demons-tram que a ictiofauna é dominada por espécies demenor porte. As espécies mais capturadas nas ma-lhas maiores foram mandis-amarelos (P macula-tus), curimbas (P scrofa) e trairões (H. cf.lacerdae). A malha 16cm não capturou nenhumindivíduo.
Na Figura 2 está expressa a CPUEN dasprincipais espécies. Nota-se predomínio de man-dis, seguido por mandis-bicudos (I. labrosus),lambaris (A. fasciatus), campineiros (5. nasutus) etrairões. Na CPUEB (Fig. 3) destacaram-se trai-rões, mandis, campineiros e mandis-bicudos, emordem decrescente.
Ressalte-se a presença da curimba no rol dasespécies mais capturadas em biomassa. Poucosexemplares foram capturados, porém todos eles
TABELA 11
Amplitudes de comprimento padrão (em) e peso corporal (g) das espécies coletadasna represa de Itutínga (1988-1990).
'Segundo Miyamoto (1990) e Lamas (1993).
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Espécie N Comprimento padrão Peso corporal Migração'Mínimo Máximo Mínimo Máximo
Pimelodus maculatus 119 7,8 30,2 7 504 Sim
Hoplias cf. lacerdae 78 13,6 53,3 34 2.830 Não
Schizodon nasutus 76 11,5 24,4 21 245 Não
lheringichthys labrosus 67 9,4 22,4 11 166 Não
Astyanax fasciatus 55 8,2 12,5 10 40 Não
Hypostomus spp. 12 9,9 23,2 27 304 ?
Leporinusfriderici 12 11,7 27,5 24 482 ?
Hoplias malabaricus 10 14,8 26,7 52 328 Não
Astyanax bimaculatus 8 7,3 10,6 10 30 Não
Eigenmannia virescens 3 19,6 24,6 14 27 ?
Leporinus octofasciatus 3 10,6 22,2 20 242 Sim
Leporinus striatus 3 10,9 12,1 19 34 Sim
Tilapiasp. 3 8,0 16,8 16 180 Não
Prochilodusscrofa 2 . 38,6 48,0 1.429 2.660 Sim
Geophaguscf. brasiliensis 2 7,0 7,8 12 19 Não
Leporellus vittatus 1 11,2 11,2 21 21 Sim
Salminus hilarii 1 27,2 27,2 310 310 Sim
Salminus maxillosus 1 46,0 46,0 1.600 1.600 Sim
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Malha (cm)
3
4
5
6
7
8
10
12
14
16
]-=====J-=- ::J.c=J
-DOE=:J
15 12 9 6 3 OCPUEN Ond./100 m2)
200 400 600
CPUEB (g/100 m2)
Fig. 1- CPUEs por malha na represa de Itutinga (1989-1990).
possuíam peso corporal considerável. A presençadesta espécie, caracteristicamente migradora(Miyamoto, 1990; Lamas, 1993), na represa deItutinga pode ser explicada pelos programas de re-povoamento realizados pela CEMIG. O mesmopode ser dito em relação ao dourado (5. maxillo-sus), cujo exemplar foi capturado na represa porpescador profissional. Segundo informações da
Espécie
H. malabaricus -Hypostomus spp. -li
L. frjderici -liA. bimaculatus -.H. cf. lacerdae
S. nasutus
A. fasciatus
CEMIG, durante o período de estudos (1988-
1990), houve a soltura de cerca de 23.000 alevinos
de curimbas (P scrofa), 2.000 de piaparas (como
Leporinus friderici é localmente designado),
1.200 de piaus (L. elongatus) e 100 de pacus (Pia-
ractus mesopotamicus). Dados de peixamentos
anteriores não são disponíveis.
I. labrosus
P. maculatus -Outros ---
o 2 4 6 8CPUENOnd./100 m2)
10
Fig.2 - CPUEN por espécie na represa de Itutinga (1989-1990).
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lCTIOFAUNA DE lTUTINGA (RIO GRANDE)
Espécie
Hypostomus spp. -I.........~
L. friderici
H. malabaricus
A. fasciatus
P. scrofa
I. labrosus
s. nasutus
127
P. maculatus
H. cf. lacerdae -Outros -li
o 400 800CPUEB(g/100 m2)
1200
Fig. 3 - CPUEB por espécie na represa de Itutinga (1989-1990).
Dos indivíduoscoletados, 130 (29%) perten-cem às espécies consideradas de piracema, desta-cando-se 119 mandis-amarelos (26%). Estaespécieparece não se reproduzir no trecho entre asbarragens de Itutinga e Camargos, uma vez que aanálise macroscópicade suas gônadas revelou so-mente fêmeas em repouso sexual e machos em es-tádio de maturação intermediária. A significativacaptura em número e em biomassa de P. macula-fus, espécie considerada migradora moderada(Miyamoto, 1990), deve-se em parte ao transportede jusante para montante de peixes aprisionadosnas turbinas e no canal do vertedouro durante as
operaçõesde manutençãoda usina e manejo do ní-vel da água da represa (Alves, obs. pes.). A maio-ria dos peixes transportados é constituída demandis-amarelos, campineiros, mandis-bicudos epiaparas.
A ocorrênciade espécies migradoras em Itu-tinga também pode ser explicada pela passagemde indivíduos através do vertedouro ou das turbi-
nas do tipo Kaplan da UHE Camargos, situadaimediatamente a montante, onde elas tambémocorrem. Turbinas Kaplan reconhecidamente per-mitem a passagem de indivíduos jovens e adultos(Davies, 1988). A passagem de peixes por barra-gens hidrelétricas deve ser melhor investigada esua pesquisa, por isto, incentivada.
As amplitudes dos parâmetros físico-quími-cos amostrados (temperatura, condutividade, pH,oxigênio dissolvido e transparência da água) narepresa encontram-se na Tabela III. Os perfis dacoluna d'água relativos a estes parâmetros revela-ram não ocorrer estratificação da coluna nos trêspontos amostrados.
Os dados físico-químicos das águas da re-presa de Itutinga sugerem que trata-se de ambientede características oligotróficas, com tendência àneutralidade e pouco material em suspensão a jul-gar pelos baixos valores de condutividade e gran-de transparência. Esta situação tende a ser mantidano futuro próximo, pois, Itutinga é uma pequenarepresa com tempo de residência da água reduzido
TABELA 1lI
Amplitudes de parâmetros limnológicos na represa deItutinga (1989-1990).
Parâmetro AmplitudeMinimo I Máximo
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Temperatura (°e) 18,1 25,8
Condutividade elétrica (!!S/em) 14,2 16,3
Oxigênio dissolvido (% saturação) 70,3 103,9
pH 6,2 7,4
Transparência (m) 0,9 3,8
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TABELA IV
Captura por unidade de esforço em número (CPUEN) e em biomassa (CPUEB) em represas e lagoas de Minas Gerais.O esforço de pesca considerado foi de 100m2de redes das malhas 3 a 16cm nas represas e 3 a 14cm nas lagoas.
1 =de julho/89 a abril/90; 2 =de março/91 a janeiro/no
(12 horas), e abastecida quase que exclusivamentepelas águas de Camargos, o que impede seu even-tual enriquecimento.
A condição oligotrófica de Itutinga reflete-sena reduzida abundância em número (CPUEN) ebiomassa (CPUEB) de peixes aí capturados com-parativamente a outros ambientes lacustres de Mi-nas Gerais (Tab. IV).
Durante o estudo, a pesca profissional, comapenas um pescador atuando regularmente na re-presa, e a pesca amadora eram reduzidas. As prin-cipais espécies capturadas são o trairão,campineiro, piapara (L. friderici) e curimba no re-servatório, e lambari (A. fasciatus) no trecho dorio Grande entre as represas de Itutinga e Camar-gos (obs. pes.). Programas de repovoamento comespécies migradoras nativas da bacia poderão serconduzidos com peixes provenientes de estaçõesde piscicultura ou capturados a jusante de Itutingae submetidos à reprodução induzida no local (Re-zende et aI., 1996), como forma de incrementar aatividade.
Os dados levantados permitem-nos concluir,em relação à represa de Itutinga, que sua ictiofau-na é mais pobre em espécies do que as das repre-sas de Fumas e Camargos; as abundâncias emnúmero (CPUEN) e biomassa (CPUEB) de peixessão inferiores a outros corpos d'água de MinasGerais; a presença de espécies migradoras pode
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ser explicada pelos programas de repovoamentoda CEMIG, pela translocação de peixes de mon-tante para jus ante e pela eventual passagem de in-divíduos pelas turbinas da barragem de Camargos;suas águas são oligotróficas sem tendência à estra-tificação devido, em parte, ao pequeno tempo deresidência da água.
Agradecimentos- Agradecemos ao Departamento de Pro-
gramas e Ações Ambientais (MA/PA) da Companhia Ener-gética de Minas Gerais (CEMIG) pelo apoio logístico efinanciamento das coletas; ao Df. Júlio C. Garavello (UFSCar)pela identificação taxonômica das espécies; ao Laboratório deComputação Científica (LCCIUFMG) pelo uso de suas ins-talações nas análises dos dados; ao Dr. Francisco A R. Bar-bosa, chefe do Laboratório de Limnologia (ICBIUFMG), peloempréstimo de equipamentos e ao revisor anônimo pelas suassugestões ao manuscrito.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Local Bacia hidrográfica CPUEB (kg) CPUEN Fonte
Represa de Itutinga Paraná 3,06 34,8 presente trabalho
Represa de Marimbondo Paraná 8,98 121,1 Santos et aI., 1994
Represa de Fumas Paraná 8,14 292,0 Santos et aI., 1994
Represa da Pampulhal São Francisco 31,03 113,0 Godinho et ai., 1992
Represa da Pampulha2 São Francisco 41,16 120,6 Godinho et aI., 1992
Lagoa Carioca Doce 30,29 74,2 Godinho et ai., 1994
Lagoa Dom Helvécio Doce 22,19 78,9 Godinho et aI., 1994
Lagoa Ferrugem Doce 12,80 345,0 Godinho et aI., 1994
Lagoa Jacaré Doce 28,06 116,3 Godinho et aI., 1994
Lagoa Palmeiras Doce 8,92 90,7 Godinho et aI., 1994
Lagoa Timboré Doce 13,73 105,0 Godinho et aI., 1994
ICTIOFAUNA DE ITUTINGA (RIO GRANDE)
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