Post on 31-Mar-2023
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Carlos Morgado Braz
“Terrorism is a word used by state
coalitions, by states, sub-state actors and
even individuals to rationalize acts of
violence or to respond to acts of violence”.
Mohammad al-‘Asi (2012: 35)
A escatologia do terrorismo como a base para a islamofobia
Introdução
Os dantescos acontecimentos de 11/9, assumiram um estatuto icónico na novíssima
narrativa da modernidade e do novíssimo sistema político internacional, que nenhum
país ficou alheio. Estes acontecimentos – o chamado novo terrorismo – introduziram
alterações profundas não só na forma de se pensarem as relações diplomáticas entre
estados, como também, passaram a ter que incluir no jogo de xadrez mundial, uma nova
entidade cuja conceção confunde-se muito com o legado de uma realidade deixada pela
velha ordem mundial.
O que aparentemente não se torna evidente, é o terrorismo ser um fenómeno
remoto e ter um passado, que é provavelmente, coexistente com o histórico da
conflitualidade. Embora o termo tenha surgido durante a Revolução Francesa para
caracterizar as práticas dos dirigentes revolucionários – o terror com fins políticos – não
só hoje, mas ao longo de toda a história, tem sido comummente utilizado, nas mais
diversas situações (Martins, 2010: 9). Já no século XX, se há algo de incontornável que
durante o período da Guerra Fria não tenha ocorrido, foram os atentados e as ações de
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grupos radicais que, apesar de tudo, possuíam um perfil de atuação que permitia
identificar quem o praticou. Estas novas entidades, trouxeram consigo para o palco das
relações internacionais, novos territórios negligentemente ignorados e que prontamente
foram sendo absorvidos de forma endémica. No caso dos países ocidentais,
[a]s formas polissémicas de terrorismo tornaram-se frequentes como o demonstraram as que
tiveram lugar [em] vários países europeus desde o bando Baader - Meinof na Alemanha e as
Brigadas Vermelhas na Itália, ao terrorismo basco ou corsego, passando pela quase “medieval”
guerra de religiões na Irlanda cujas cinzas ainda não estão apagadas. Essas ações mantiveram-
se, em geral, dentro das fronteiras nacionais e eram determinadas por razões políticas,
autonomistas, nacionalistas ou revolucionárias, escoradas por determinados parâmetros, com
objetivos em muitos casos conhecidos mesmo quando não reconhecidos (Torres, 2004: 16).
A queda do muro de Berlim foi sem dúvida alguma, o perecer de uma ordem
mundial e o nascimento de outra. Embora existam algumas discordâncias de opinião
face à evolução e complexidade da nova realidade desta forma de violência, facto é que
se assistiu desde os atentados em Nova Iorque, Madrid, Londres e em Bombaim, já para
não falar do Iraque, do Afeganistão e do Paquistão, a um ressurgimento de um
fenómeno com características inéditas cuja perigosidade não teve equivalente em épocas
anteriores.
Muitos autores analisaram de vários ângulos estes acontecimentos, uns
procuraram compreendê-lo, outros assumiram posições pouco favoráveis à sua
compreensão. Verificamos que ainda existe pouca sensibilidade no entendimento das
causas, e profundas discrepâncias nas opiniões sobretudo, na forma como abordá-lo.
Assim, no confronto entre “razão“ e “irracionalidade”, e sem um quadro normativo que
permita tratar as origens e os discursos para validação das causas, optaremos sim, de
analisar as consequências que trouxeram, sobretudo passada já uma década pós 11/9. Na
opinião de Daniel Pinéu (2011: 62), a consequência mais marcante, foi o ressurgimento
de um discurso de confrontação entre o Ocidente e o mundo islâmico, e uma série de
narrativas sobre os perigos do islão político e a indelével associação ao terrorismo – e
que teve como consequência, o agudizar do sentimento de ódio ou de repúdio em
relação aos muçulmanos e ao islamismo em geral. A outra consequência, mais sentida
desproporcionalmente por muçulmanos, segundo o mesmo autor, teve a ver com os
efeitos a longo prazo da Guerra contra o Terror, o que considera chamar, um
3
“[r]eordenamento legal global, baseado num ethos excepcionalista – a ideia de que
medidas extraordinárias e porventura ilegais, são necessárias e justificadas para garantir
a segurança de estados ocidentais, ainda que às expensas das liberdades civis dos
cidadãos” (2011: 63).
Tendo em mente a falta de objetividade na análise das consequências que
resultaram desses acontecimentos, em particular na comunidade muçulmana, o
argumento deste ensaio pretende mostrar que a complexificação histórica e política que
está na génese da conceptualização do terrorismo não o relaciona com o islamismo. No
entanto, o recurso a esta forma de violência por grupos islâmicos radicais, tem dado
alguma plausibilidade teórica à narrativa ocidental, quando associa o terrorismo ao
Islão. Assim, na defesa desse argumento, a estrutura do ensaio centra-se em duas linhas
de análise: Na primeira, começaremos por abordar as razões históricas e politicas que
estão na génese do terrorismo. Embora não querendo ser muito detalhado nas definições
de pormenor, procurarei sintetizar alguns pontos para a construção duma definição
adequada do terrorismo, que permita uma melhor compreensão do fenómeno em si, e
dos perigos que veicula. A segunda, dada a dificuldade que existe em compreender –
país do Islão, politica e religião – começarei por fazer a irrupção do Islão como religião,
até à sua apropriação pelo sistema político, e demonstrar que existe uma plausibilidade
teórica na narrativa ocidental, quando associa o terrorismo ao Islão, uma vez que é nela
que está a base para os principais sofismas que alimentam a islamofobia1.
Terrorismo: as velhas e as novas dimensões de um conceito problemático
Desde finais do século XX e inícios do século XXI, o terrorismo está intrinsecamente
ligado a interpretações fundamentalistas do islamismo. Na opinião de Martins (2010: 9),
este fenómeno, ligado desde tempos imemoriais aos fanatismos religiosos, às guerras
santas, aos tribunais de inquisição, ressurge na atualidade em fundamentalismos
cristãos, judaicos, hindus e muçulmanos. Razão pela qual talvez, o termo “terrorismo”
tem sido muito contestado, essencialmente porque não existir um consenso sobre qual a
sua definição deva ser. Por exemplo, se por um lado na literatura académica e em
1Na opinião de Fred Halliday (1999: 898), o uso do termo “Islamofobia” serve para reproduzir nas
comunidades muçulmanas, uma distorção grave sobre o Islão e tudo que seja muçulmano, contra o qual a
fobia é dirigida.
4
documentos oficiais existam, segundo Jackson et al. (2011), centenas de definições e
conceptualizações diferentes, por outro lado, provavelmente por causa da discordância
entre comentadores e analistas – quando para uns devam ser excluídos do debate grupos
que eles apoiam, para outros a inclusão de grupos que queiram denunciar – existam uma
plenitude de outras tantas. Ou então, se para o sistema judicial se requeira uma definição
que permita a sua criminalização, para a agenda politica, estas definições poderão ser
“construídas” para estarem de acordo com as necessidades e interesses. Para William
Connolly,
[W]hen the disagreement does not simply reflect different readings of evidence within a fully
shared system of concepts, we can say that a conceptual dispute has arisen. When the concept
involved is appraisive [than] the practice described is internally complex in that its
characterization involves reference to several dimensions, and when the agreed and contested
rules of application are relatively open, enabling parties to interpret even those shared rules
differently as new and unforeseen situations arise, then the concept in question is ‘an
essentially contested concept’. Such concepts ‘essentially involve endless disputes about their
proper uses on the part of their users (1993: 10).
Embora essa procura de definições envolvam um sem-fim de discussões, para
iniciar, a primeira dificuldade que encontramos para abordagem do conceito
“terrorismo”, está logo á partida, relacionada com o facto de a sua conotação ser
altamente pejorativa, e quer queiramos ou não, como veremos, tem sido um método
recorrentemente utilizado para se atingirem objetivos religiosos, económicos ou
políticos. Seja como for, e importa partirmos deste pressuposto, procurarei
conceptualizar uma definição neutra e que não seja prescritiva. Assim, começaremos
por abordar as razões históricas e politicas que estão na sua génese e analisar algumas
definições que possam justificar a sua “colagem” ao islamismo. Embora não querendo
ser muito detalhado nas definições de pormenor, procurarei sintetizar nalguns pontos, a
construção duma definição adequada do terrorismo, que ajude a interpretá-lo para uma
melhor compreensão do fenómeno em si, e a partir desta compreensão, “descolá-lo” das
narrativas dominantes.
Evolução e polimorfia
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Começaremos então, por explorar as razões históricas e politicas que estão na génese da
sua conceptualização. Na opinião de Lemos Pires (2012: 46), considera que o
“terrorismo” não existe por si, é “[u]ma técnica disponível, de fácil utilização, está à
mão, está off the shelf”. Por outro lado, temos autores como Young (2012: 12), que no
seu entendimento diz tratar-se de uma tática que usa a violência extrema e está
continuamente em mudança, ou ainda outra, de acordo com o Departamento de Defesa
dos Estados-Unidos, ao considerar “[o] uso calculado de violência ilegal [ou] a ameaça
da sua utilização para provocar o medo”.
Para contextualizar estas (e outras) diferenças e analisar algumas definições que
possam justificar a falta de consenso, será necessário examinar a sua evolução histórica,
e como o seu desenvolvimento se impulsionou devido à natureza dos conflitos e das
relações internacionais. Segundo certas narrativas históricas, os primeiros praticantes
(conhecidos) de atos de “terror” de forma organizada e intencionada, foram os Zelotas2
e a Ordem dos Assassinos3, embora não tenham deixado qualquer registo da doutrina e
da intenção das suas ações. Com exceção de alguns falhanços espetaculares como o de
Guy Fawkes4, religiosamente inspirado na tentativa de regicídio do rei da escócia e
atentado no Parlamento inglês em 1605, o terrorismo não se destacou ou progrediu para
além das práticas normais da guerra daquela época (ITSR, 2014).
Como os sistemas políticos foram se tornando mais sofisticados, e a autoridade
era vista cada vez menos como um “dom divino” e mais como uma construção social,
desenvolveram-se novas ideias sobre o conflito político. Na verdade, o termo entrou no
vocabulário político, muito em boa verdade pelo Reinado de Terror ou Terror (1793-
94), desencadeada pelo governo da República da França, estabelecido um ano antes
pelos revolucionários franceses – sob a liderança de Robespierre – atendendo ao facto
que durante um ano, cerca de 12000 pessoas foram executadas por terem sido
consideradas contrarrevolucionárias (Mohammad al-‘Asi, 2012: 37). O período de
guerra e o conflito político que envolveu a Europa após a revolução francesa forneceu
inspiração para os teóricos políticos até ao início do século XIX, tendo contribuído para
2 A sua origem prende-se com um movimento judaico do século I, que incitava o povo da Palestina a
rebelar-se contra o Império Romano e expulsá-lo pela força das armas. Este movimento esteve na origem
dos acontecimentos que conduziu à primeira guerra judaico-romana no ano de 66 a 70. 3 O termo resultou da interpretação de “Assass” e ficou associado a uma seita religiosa criada por Hassan
Ibn Sabbah, conhecida pela sua destreza e eficácia em assassinatos. 4 Foi o soldado inglês responsável por guardar os barris de pólvora que seriam utilizados para explodir o
Parlamento durante a sessão.
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importantes teorias da revolução social que se desenvolveram a partir dessa época. A
ligação entre as teorias revolucionárias e o terror, lançou as bases para o uso da
violência irrestrita para fins políticos.
Nos primeiros anos do século XX, nacionalismos e ideologias políticas
revolucionárias, eram as principais forças do desenvolvimento que atuavam através de
atos de terrorismo. Quando o Tratado de Versalhes “redesenhou” o mapa da Europa
após a I Guerra Mundial – rompendo com o Império Austro-húngaro e criando novas
nações – reconheceu o princípio da autodeterminação para os movimentos nacionalistas
e grupos étnicos. No entanto, em muitos casos, a autodeterminação limitou-se apenas a
determinados grupos étnicos e nações europeias e negado a outros, especialmente aos
que eram possessões coloniais das grandes potências europeias, criando o palco para os
movimentos de libertação (ITSR, 2014).
Desde o fim da II Guerra Mundial e durante o período da Guerra Fria, o
terrorismo incrementou o seu desenvolvimento e tornou-se numa importante
componente do conflito contemporâneo. Ao serviço de várias ideologias e aspirações,
até terá suplantado completamente outras formas de conflito, como o foi nos países
ditos da periferia, em particular no continente africano. Os resultados aparentemente
rápidos e o mediatismo chocante do terrorismo, fez alguns grupos considerá-lo como
um atalho para a vitória e daí talvez, a sua internacionalização. Em suma, numa
tentativa de síntese desses movimentos até 11/9, dependentes das suas motivações e que
possam contextualizar e precisar a definição do termo, poderíamos subescrever a
opinião de Wilkinson (1984) em duas linhas de ação5 – terrorismo com motivação
independentista ou separatista e terrorismo fanático de destruição.
Utilizando como ponto de partida o facto de que o terrorismo nos últimos 40
anos, ter tido um crescimento irregular mas constante, foi com o êxito da revolução
iraniana e dos mujahedin6 no Afeganistão que se tornou cada vez mais proeminente a
alusão ao fundamentalismo religioso, especialmente na transição da primeira metade
dos anos noventa. Neste breve período, verificou-se no entendimento de Martins (2010:
28), a uma diminuição global do terrorismo de cariz ideológico, assistindo-se deste
5 Na opinião de Martins (2010), ainda existe o “terrorismo de Estado” – que engloba ações de e contra o
estado e o “terrorismo privado ou autónomo” – que engloba os radicalismos religiosos, nacionalistas,
separatistas e ideológicos. 6 São combatentes dispostos ao sacrifício da própria vida, em nome de Deus e da religião.
7
feito, a um progressivo fortalecimento do terrorismo religioso, sobretudo islâmico, o
qual no seu entendimento note-se, passou a dominar o sistema internacional tendo
introduzido um acréscimo de letalidade, comparativamente aos que praticavam o
terrorismo ideológico e/ou separatista.
O papel da ideologia como justificação, é particularmente pronunciado na
militância islamita, onde a necessidade de obter Fatwa7 tem dado um papel importante
às credenciais religiosas. As ideologias também funcionam como uma forma de auto
apresentação de potenciais futuros parceiros. É neste contexto que na Jihad8 contra o
regime comunista afegão, surgiu a Al-Qaeda9, concebida através da fusão de fações
islâmicas ultrarradicais, e conexões espalhadas pelo mundo – inclusive nos Estados
Unidos – país que seria o alvo do mais arrojado ataque executado pela organização.
A Al-Qaeda possuí um código genético de terrorismo, resignado a “[f]omentar,
coordenar e apoiar a luta dos mujahedin, em todo o mundo, tanto contra os regimes
islâmicos corruptos como contra todos os infiéis que ocupam as terras do Islão.”
(Martins, 2010: 29). Depois de ter sido responsável por alguns notáveis ataques
sobretudo contra alvos americanos na Arábia Saudita em 1995 e 1996, no Quénia e na
Tanzânia em 1998 e alegadamente no Iémen em 2000, a organização de Bin Laden que
anteriormente tinha colaborado, como vimos, com o regime fundamentalista islâmico
Taliban10, na luta contra o governo marxista da República Democrática do Afeganistão,
instalou nesse país as suas bases de treino para aquilo que seria a mais espetacular ação
terrorista até hoje efetuada e que teve repercussões incalculáveis para todo o resto do
mundo. É, sobretudo pela recorrência destes acontecimentos que na “visão” do mundo
ocidental – o terrorismo – sem diferenciação politica ou ideológica, se encontra
veiculado ao mundo árabe e ao islão, muito em boa verdade, pelas reivindicações feitas
7 É um pronunciamento previsto no Islão, com vínculo legal, emitido por um especialista em lei religiosa,
a pedido de um indivíduo ou juiz de modo a esclarecer uma questão onde a jurisprudência islâmica é
pouco clara. 8 Significa “empenho” e pode ser entendido como uma luta, mediante vontade pessoal, de se buscar e
conquistar a fé perfeita. 9 É uma organização fundamentalista islâmica internacional, constituída por células colaborativas e
independentes que visam reduzir a influência não-islâmica sobre os assuntos islâmicos. Como veremos no
decurso deste ensaio, existe uma forte relação com o Wahhabismo, dado que parece inspirar os seus ideais
religiosos. 10 Movimento de resistência político e militar que surgiu durante a ocupação soviética do Afeganistão.
São conhecidos por se terem feitos portadores do ideal político-religioso para recuperação dos aspetos
cultural, social, jurídico e económico do Islão e criar de um Estado teocrático.
8
pela Al- Qaeda e a alusão às reformas do Islão, proferidas por Bin Laden, que
analisaremos no decurso deste ensaio.
O problema das definições
A grande variedade de formas que o terrorismo apresenta, apela naturalmente, a uma
precisão do conceito. Existem muitas propostas diferentes para a sua definição, que
exigem que se vá mais além do que as análises históricas. É essencial ir ao núcleo das
dificuldades teóricas e justificar os erros sistemáticos em que as Relações Internacionais
teimam omitir do debate. Em primeiro lugar, é necessário identificar os tipos de
terrorismo. Existem centenas de facetas do terror, acontecendo de várias formas, mas
podemos classificar em dois grandes grupos: o terrorismo aleatório, onde atentados
acontecem ao acaso, sem um alvo definido e sem nenhuma ligação com grupos
terroristas, e o seletivo, que tem alvos estabelecidos, ligados a fações terroristas,
visando fins específicos.
Na literatura académica, e sobretudo na discussão politica, também tem sido
impossivel chegar a um consenso sobre a conceptualização do terrorismo. Embora
muitos esforços tenham sido feitos para se chegar a um consenso, a natureza e valor
desses esforços tem variado consideravelmente, dependendo em parte, dos fatores
motivacionais que lhe estão subjacentes. Porém, existe uma base de partida ao entende-
lo como um tipo de violência off the shelf, que tem como finalidade estrutural, a
intimidação para se alcançarem objetivos políticos, sociais ou religiosos. Jackson et al.
(2011), identifica três abordagens – académica, política e institucional – que podem ser
um bom ponto de partida e que prospectivamente se transcrevem:
Resorting to analytical tools is […] vital to understanding current events and appropriately
influencing future ones. [A] canonical and consistent definition of “terrorism” can and should
be pursued [and] such definitions and their corresponding normative codes, which are desirable
for legal systems and the states […] are absolutely essential […] to modern affairs (Jackson et
al, 2011 apud Meisels, 2006: 465-466).
If one keeps searching for acts of terrorism without defining terrorism itself, then its
denunciation is encouraged more than its understanding by confusing the reasons for an action
with its explanation, definition and support. In place of proper definitions we have to cope with
9
descriptions of terrorist behavior, which is more a social judgement than the comprehension of
a global phenomenon (Jackson et al, 2011 apud Sorel, 2003: 370).
As long as there is no agreement as to “what terrorism?” it is impossible to assign
responsibility to nations that support terrorism, to formulate steps to cope on an international
level with terrorism, and to fight effectively the terrorists, terror organizations and their allies
(Jackson et al, 2011 apud Ganor, 2005: 2).
Como se pode verificar existem posicionamentos distintos, com fronteiras
porosas, mas que poderão permitir ultrapassar a dificuldade insolúvel que consiste em
relativizar antecipadamente qualquer juízo sobre uma experiência de terrorismo. Com o
propósito meramente exemplificativo, veja-se a análise sobre perceção dos fatores que
conduzem ao terrorismo do ponto de vista académico, no exemplo sugerido por
Weinberg et al. (2004: 783-784). Na primeira figura11, a análise está de acordo com
afiliação profissional do escritor (jornalista, comentador, etc.) e na segunda figura12, de
acordo com a região de onde escreveu/observou.
11 Consiste na análise de 73 definições extraídas de 55 artigos em 3 jornais. 12 Frequência das definições de acordo com a região do escritor/observador.
10
Para o propósito de nortear a análise no decurso deste ensaio, vamos seguir a
opinião Wieviorka (2007), enquadrados no contexto dos discursos políticos, e centrar a
nossa proposta de definição no âmbito da finalidade que procura alcançar. Nesse
sentido, como veremos na análise dos exemplos seguintes, estamos perante um catchy
concept, que tem servido para justificar a velha máxima de Robert Cox, que cada
definição tem uma finalidade e deriva de uma posição específica no tempo e no espaço.
The unlawful use of violence or threat of violence to instill fear and coerce governments or
societies. Terrorism is often motivated by religious, political, or other ideological beliefs and
committed in the pursuit of goals that are usually political (JP 3-07.2, 2010).
Criminal acts intended or calculated to provoke a state of terror in the general public, a group
of persons or particular persons for political purposes are in any circumstance unjustifiable,
whatever the considerations of a political, philosophical, ideological, racial, ethnic, religious or
any other nature that may be invoked to justify them (A/RES/49/60, 1999).
Criminal acts, including against civilians, committed with the intent to cause death or serious
bodily injury, or taking of hostages, with the purpose to provoke a state of terror in the general
public or in a group of persons or particular persons, intimidate a population or compel a
government or an international organization to do or to abstain from doing any act
(SC/RES/1566).
11
Given their nature or context, may seriously damage a country or an international organization
where committed with the aim of: seriously intimidating a population; or unduly compelling a
Government or international organization to perform or abstain from performing any act; or
seriously destabilizing or destroying the fundamental political, constitutional, economic or
social structures of a country or an international organization (EFTA, 2002).
Terrorism is all violence committed by a state or an organization against the innocent in order
to achieve the objectives of propagandist, political, or military goals at the expense of another
party. Terrorism is foremost a form of negative thinking and abnormal, aberrant, and
pathologic behavior. It is attributed to narrowness in perspective and a limitation of
intelligence, and reflects weakness of problem-solving intellectual faculties (Howeish, 2012:
73).
Existem muitas outras propostas diferentes para a sua abordagem, e que
podemos sucintamente expor à reflexão. Schmid (2004: 7) considera por exemplo, que
historicamente, a religião tem sido muitas vezes um mecanismo para controlar certos
impulsos humanos potencialmente prejudiciais, mas também, quando existam
constrangimentos estruturais, como por exemplo a pobreza ou a privação de recursos,
podemos assistir a uma fusão da religião com a violência política. A pobreza (não
necessariamente do terrorista), injustiça social e repressão, são gatilhos para atos de
terrorismo insurgente e tendencialmente, nas opiniões públicas perpassa a ideia de que o
terrorismo está apenas associado à pobreza e à miséria humana. A tentação terrorista é
frequentemente uma combinação de alguns destes fatores ou de todos eles.
Na opinião de Garcia (2006: 351), são as próprias Nações Unidas a reconhecer
que existe uma relação muito próxima entre terrorismo e pobreza, sendo as regiões mais
pobres do mundo as mais propensas à ocorrência de violência, assim como os países
“fracos” são aqueles que apresentam condições mais favoráveis para a eclosão ou para
servirem de “berço” ao terrorismo, pois toda a organização terrorista carece de um local
onde se possa organizar, dar instrução e recrutar, isto, apesar das capacidades de
expansão e projeção que a utilização dos modernos meios de comunicação permitem,
pois ultrapassam o espaço definido pelas fronteiras políticas e criam redes de interesses
e solidariedades dificilmente controladas.
Ainda a propósito de religião, em 2000, Mark Juergensmeyer, desenvolveu um
estudo teórico que pode ajudar a entender como o impulso religioso, pode se
12
transformar em violência extrema. Segundo o mesmo autor, uma característica
predominante no comportamento dos terroristas é que eles tendem a ver o mundo de
uma forma polarizada — ou seja, “parte da solução” ou “parte do problema” e não
existe nenhuma área cinzenta nas entrelinhas. É o “nós” contra “eles”. Esta relação
dicotómica, transforma-se numa guerra cósmica entre as “forças do mal” e as “forças do
bem”, entre o profano e o sagrado. A construção das ideias induz o esforço para receber
um título nobiliárquico, capacitação ou emancipação pelo que, o terrorismo aparece, de
acordo com Juergensmeyer, apenas na fase posterior quando começa a surgir um
sentimento de impotência ou radicalização. Nesta perspetiva, como observa
Juergensmeyer, “[p]erpetrar atos de terrorismo é uma das várias maneiras
simbolicamente utilizadas para expressar poder sobre as forças opressivas e recuperar
alguma nobreza na vida pessoal”. Isto traz-nos de volta à fórmula secular de que o
terrorismo é a “arma dos fracos”. Tendo em vista que alguns terroristas estão a tentar
obter armas de destruição em massa, e mantendo em mente o registro histórico de
terrorismo de estado ao abrigo de regimes totalitários e autoritários, novamente
devemos estar conscientes de que este religioso quadro – como os outros discutidos aqui
– apenas fornece uma verdade parcial sobre a natureza do terrorismo.
Se ainda introduzirmos a dimensão moral que sugere Primoratz (2004: 24), ao
considerar o terrorismo, como sendo o uso deliberado de violência ou ameaça da sua
utilização, contra pessoas inocentes, com o objetivo de intimidar terceiros, abriríamos o
campo da discussão para a questão da natureza humana, que não é esse o propósito
deste ensaio. Dado que o terrorismo é multidimensional, como vimos, certamente
qualquer definição simples seria insuficiente e incompreensível. Assim sendo, para uma
melhor compreensão do fenómeno em si, e a partir desta compreensão, “descolá-lo” da
narrativa islamofobica, Nojoumi e Valizadeh (2012: 129-130), sugerem que a
construção duma definição de terrorismo (neutra), tenha em linha de conta os seguintes
pontos:
Para discutirmos terrorismo e os mecanismos de resposta, é exigido que a
análise seja feita para cada período específico; ou seja, terroristas do século
XIX não podem ser comparados com os terroristas do tempo presente;
Prevenir orientações emocionais;
13
O terrorismo pode ser realizado tanto por estados como por agências não-
governamentais ou grupos fundamentalistas;
Uma definição adequada, em primeiro lugar, deve abranger todas as
questões jurídicas e humanitárias e ter garantias de desempenho
internacional;
No estudo do terrorismo, a história deve ser racionalmente usada como uma
ferramenta analítica;
O terrorismo deve ser visto como um exemplo segurança humana que se foi
transformando num dos desafios de segurança mais importantes de muitos
países hoje, o que pode ser relativista.
Outros fatores podem (e devem) ser apontados para a análise deste fenómeno.
Por certo temos, que o terrorismo para além de um ato é também, uma mensagem, na
medida em que as organizações terroristas necessitam, também elas de comunicar e
fazer assim cumprir um dos seus principais objetivos – a dispersão do medo e do terror.
Torna-se pois imperioso, compreender como funciona o processo de comunicação,
nomeadamente de que modo as organizações terroristas utilizam os sistemas de
informação e comunicação para fornecerem às suas ações o caráter imediato e universal.
Mas, mais importante do que mostrar o que aconteceu é pensar nas consequências do
acontecimento, até para evitar que os terroristas os utilizem como instrumentos porque,
“[n]a realidade quem mais ganha com o mediatismo do terrorismo são os próprios
terroristas [a informação dada pelos media é aproveitada] pelos cérebros do terrorismo
para influenciarem as opiniões públicas” (Biernatzki, 2002).
Em jeito de síntese, estabelecidas as devidas distinções, pode definir-se
terrorismo como um método premeditado, politicamente motivado, comunicador de
violência ou uma ameaça de violência contra não-combatentes em que as mortes das
vítimas têm um valor mais psicológico do que estratégico-funcional e que procura
influenciar uma terceira parte, geralmente a parte que dirige a comunidade que é alvo
das ações. De seguida, procurarei na identificação dos fenómenos do Islão, desde a
religião até à sua transformação como sistema político, perceber a sua “colagem” ao
terrorismo e o motivo do confronto com o mundo ocidental.
14
O terrorismo como base para a islamofobia
Em 2001, perante os acontecimentos imprevistos, impensáveis e ininteligíveis em solo
americano, nenhum país conseguiu ficar alheio. A nebulosa islâmica animada pela Al-
Qaeda, fez com que o termo “terrorismo islâmico” se tivesse tornado uma característica
omnipresente do discurso13 político e académico pós 11/9, embora em boa verdade, já
tenha uma longa história, profundamente enraizada nas estruturas discursivas,
institucionais e culturais da sociedade ocidental (Jackson, 2007: 397)
A inteligibilidade do terrorismo como violência indiscriminada, associada a
fatores de desconhecimento da religião muçulmana, corre o risco de falsear a sua
análise, dado que “[…] não deve ser associado a qualquer raça, religião ou cultura e
[além disso], é contrário aos ensinamentos do Islão, que defende a paz, a tolerância, a
não-violência e a harmonia”(Herschinger, 2013: 194). Pelo que, se a comunidade
internacional continuar a confundir os fenómenos do Islão, com fanatismo e
irracionalidade, segundo a mesma autora, seria cair na armadilha dos extremistas para
provocar o “choque de civilizações”. Dada a dificuldade que existe em compreender –
país do Islão, politica e religião – começarei por fazer a irrupção do Islão como religião
até à sua apropriação como sistema político e confirmar que existe uma plausibilidade
teórica na narrativa ocidental quando “cola” terrorismo ao Islão.
Islão: história e religião
A história do Islão, como componente integrante de uma tradição monoteísta14, está
intrinsecamente ligada ao judaísmo e ao cristianismo. Segundo Ferro (2013: 195), não
tem uma única voz, apesar de, nos últimos 40 anos, ser mais agressiva em relação ao
Ocidente e que resulta, sem dúvida, da sua herança própria e da “[d]egradação
generalizada que atinge as sociedades desenvolvidas”. Como acréscimo à sua vitalidade
religiosa, o islamismo assume-se como uma força política, com peso crescente, na cena
mundial. Esta ideia é amplamente reforçada na narrativa do mundo ocidental, aqui
expressa no argumento de Burke, ao considerar “[o] islamismo uma religião mais
13 Para Jackon (2007: 401), “[c]ulturally loaded and highly flexible in the way they are deployed. [T]he
discourse is first and foremost founded on the deployment of a series of core labels, terms and discursive
formations: ‘the Islamic world’, ‘the West’, ‘the Islamic revival’, ‘political Islam’, ‘Islamism’,
‘extremism’, ‘radicalism’, ‘fundamentalism’, ‘religious terrorism’, ‘jihadists’, ‘wahhabis’, ‘salafis’,
‘militants’, ‘moderates’, ‘global jihadist movement’”. 14 Os textos mais antigos do Alcorão fazem referência ao monoteísmo universal do qual o judaísmo e o
cristianismo eram expressões particulares.
15
explicitamente política do que muitas outras, usualmente [utilizado] para explicar
injustiças políticas [e] apontar soluções fáceis e convincentes para qualquer situação”
(2004: 50). Ora é precisamente pela incompreensão sobre a natureza do Islão, que torna-
se necessário, perceber a sua origem até à sua transformação como sistema político e
apropriação por parte de determinados grupos extremistas.
O islamismo desde a sua génese, até aos nossos dias, foram bastante complexas
as circunstâncias e os condicionalismos que determinaram a fisionomia de cada país ou
regiões onde ele reside15. Por este facto, também não se pode compreender a situação do
islamismo na atualidade sem se ter presente como nasceu e como se desenvolveu ao
longo dos séculos. Este ponto é vincado por vários autores nesta matéria, como um dado
fundamental para entender o que se passa hoje no mundo árabe e nos países onde a
religião se professa, daí que se tenha recorrido a Mandaville (2007) pela sua abordagem
compreensiva e esclarecedora da dimensão global que o Islão político tem na
atualidade.
Deste modo, o islamismo – termo que na etimologia significa submissão a
Deus – surgiu nos desertos da Arábia entre os anos 610 e 632. O seu berço foi Meca,
cidade importante pelo comércio das caravanas e grande centro de peregrinações. Nessa
altura, a população de Meca em que dominavam gentes politeístas e negociantes ricos
manifestava sinais evidentes de pretender sair do seu isolamento religioso. Maomé
nasceu cerca do ano 570 e por volta de 610 teve a convicção de ter sido “escolhido por
Deus” para receber as suas revelações. Esse apelo sobrenatural constitui um dado
importante para a história do Islão e a vida da cidade de Meca.
A partir dessas revelações estava lançada a base do Qer'ân (Alcorão), mas foi
em Medina que se começou a elaborar uma nova legislação com os textos sagrados
proclamados por Maomé, que incluía a doutrina de jejum do Ramadão16, as normas
relativas ao jejum, ao culto, ao casamento, à usura, à guerra santa, entre outros rituais. A
15 O Islamismo possui três ramos principais: xiitas, sunitas e sufistas. Os xiitas são tidos como a ala mais
radical do Islão, não aceitando divisão entre o poder político e a esfera religiosa. Política e religião
consubstanciam-se na formação do Estado Teocrático e atribuem ao líder religioso uma proteção
sobrenatural contra o pecado e o erro. Os sunitas, a imensa maioria desse segmento religioso, são
conhecidos por sua moderação, pela separação do poder divino do político-social. Consideram que a fonte
essencial para a lei islâmica é a Suna, compilação da vida e do comportamento do profeta. Já os sufistas,
constituem-se em uma corrente esotérica do Islamismo e se preocupam mais com as verdades espirituais
da religião do que com as questões políticas e ortodoxas. Assim sendo, a interpretação do Alcorão não é a
mesma para todos os islâmicos. 16 É o nono mês do calendário islâmico, durante o qual, se pratica o jejum ritual (suam), consagrado no
quarto pilar do Islão (arkan al-Islam).
16
passagem por Medina teve pois um significado importante para o futuro do Islão. Aí se
colocaram os fundamentos da nova religião. Em 630, a conquista de Meca e a
purificação da Ka’aba17, a qual punha termo ao paganismo, marcava o fim de uma
primeira fase que representava a formação de uma estrutura sólida18 para o Islão. Em
632 morria Maomé, uma figura ímpar de homem religioso, um nome que revolucionava
a história e lhe dava uma nova dimensão (Mandaville, 2007: 24-29).
Depois de Maomé seguiu-se outra fase importante da história do Islão. Os
califados de Abu Bakr (632-634), de Umar (634-644), de Uthman (644-656), e de Ali
(656-661), representaram uma era de notável expansionismo da religião. Mas nem tudo
eram sucessos, pois dentro do islamismo, estalou-se um conflito de enormes proporções
que viria a marcar toda a sua história. Foi a divisão entre os seguidores de Ali e os
coraixitas. A vitória de Mu'awiya sobre o primo e genro de Maomé, levou à criação do
grupo dos xiitas19 e ao estabelecimento da dinastia Umayyad em Damasco.
Mas outro facto importante surgia em 750, com a dinastia Umayyad a ser
substituída pela Abbasid, com sede em Bagdad, que era já nessa altura parte do império
árabe que se estendia do Sul de França ao Turquestão chinês e das fronteiras da Índia ao
Sahara africano. A dinastia formalmente terminou em 1258, quando Império Mongol,
tomou Bagdad e assassinou o califa (Mandaville, 2007: 29-33).
O século IX representa uma fase de estagnação nas conquistas árabes. É então
que nas diversas regiões do império se formam estados independentes, assistindo-se a
uma série de reajustamentos políticos. Os muçulmanos retiram-se da região da Índia e
os turcos começam a aparecer no quadro do Islão. Contudo, há mesmo assim, uma
progressão importante do Islão no Mediterrâneo embora no norte de Espanha tenha
havido uma forte oposição. Em síntese, segundo poderíamos dizer que depois de
Bagdad (século IX e X), Córdova (século. X e XI), Cairo (entre 1350 e 1500), Istambul,
na Pérsia e de Nova Deli (século XVI), o Islão como que “adormecera” (Rodrigues,
1980: 16).
Assim nos séculos XV e XVI como a Europa conheceu o seu renascimento
também o mundo muçulmano teve o seu a partir de finais do século XVIII. Não há
17 Segundo o Islão, é o lugar mais sagrado, considerado também a “Casa de Deus”. 18 A oposição aos judeus, foi nessa altura, um facto permanente de atritos e a obrigação de os
muçulmanos se orientarem para Meca e não para Jerusalém traduzia esse rompimento. 19 Os xiitas eram os adeptos de Ali e os sunitas eram os que tinham seguido os califas da capital da Síria.
17
dúvida, de que o renascimento religioso que se verificou nos países islâmicos, é antes de
mais, uma reação contra a ignorância ou abandono dos valores relativos à fé20. Ao longo
dos séculos, mesmo nos períodos mais obscuros, a fermentação espiritual mantivera-se
sempre viva e atuante.
O Islão que é, simultaneamente, um movimento político e religioso – uma
religião inseparável de uma organização política e de uma civilização – crescera no
decorrer dos tempos apoiado constantemente pela força dos seus princípios religiosos.
Os reformadores procuravam purificar o Islão de todas as coisas que, no decurso dos
séculos, tinham sido “acrescentadas ou inventadas” (Mandaville, 2007: 40-44). Neste
contexto, importa aqui fazermos uma análise mais detalhada, dado que é a partir desta
reforma que se verificam as mudanças mais significativas em relação à cooptação da
religião ao sistema político, e portanto vejamos quais foram essas correntes.
Em primeiro lugar, temos Muhammad Ibn Abdul Wahhab (1703-87)21, e
posteriormente, Jamal al-Din al-Afghani (1839-97), que é indiscutivelmente, a figura
mais em evidência do reformismo islâmico no século XIX. O teólogo Muhammad
Abduh (1849-05), discípulo de al-Afghani, depois de várias vicissitudes, foi nomeado
em 1899 o grande mufti do Egito, o lugar mais elevado a que pode chegar um homem
na lei muçulmana, e que se deveu os seus cursos de exegese corânica na Azhar. Outro
grande reformador foi Rachid Rida22 (1865-1935), discípulo de Abduh, que insistia na
ideia de que o autêntico reformismo, não se podia fazer sem um retorno ao livro sagrado
muçulmano – o Alcorão.
Na opinião de Rodrigues (1980:21), o reformismo começou então a ganhar
terreno com uma rapidez impressionante. Para isso, muito contribuiu a maturação
política, a instrução das elites, as rivalidades internas dos ocidentais e a ação comunista,
a proclamação do princípio do direito de os povos disporem de si; tudo isto foram
elementos tidos em consideração neste fenómeno da renascença islâmica. Em tudo isto,
20 O desejo de “despertar” manifestou-se no domínio político e cultural e ficou a dever-se ao contacto
com a Europa, quer a oriental quer a ocidental. Foi graças aos orientalistas que recomeçou o contacto
com a Europa e o mesmo se pode dizer dos missionários. 21 Ibn Taymiyyah foi um teólogo, especialmente importante para Muhammad Ibn Abdul al-Wahhab, na
medida que defendeu a interpretação literal dos versos do Alcorão e da Hadiz. 22 Considera que na fraternidade muçulmana, ricos e pobres, deviam dar as mãos para que não houvesse
diferenças entre uns e outros ao contrário do que os judeus e os europeus que contribuíram para a difusão
do comunismo pelo facto de explorarem a mão de obra barata dos mais humildes e desprotegidos.
Também aqui, os reformadores procuram demonstrar que o Islão não defende a escravatura, e no que diz
respeito aos juros, dão várias interpretações em ordem a mostrar que a sua religião não está desfasada da
vida contemporânea (Rodrigues, 1980: 25).
18
o Alcorão ocupou sempre um lugar primordial. Os reformadores apelavam
incessantemente para o livro sagrado muçulmano. Só o retorno ao Alcorão, no seu
entendimento, pode resolver todos os problemas que existem e que afligem os crentes
quer na esfera privada quer na pública. É vasta a literatura sobre o Alcorão, daí que o
movimento revivalista islâmico tenha ganho uma posição política que não detinha até
então, ao procurar resgatar os princípios e tradições de tempos passados, que
analisaremos seguidamente mais em detalhe.
Revivalismo do Islão23 e o radicalismo: de Taymiyyah a Bin Laden
Após o final da confrontação ideológica da era Guerra Fria, o movimento islamita,
denominado pelas mais variadas expressões – de revivalismo, fundamentalismo ou
integrismo – ganhou uma posição política que não detinha até então. Esta situação não
se deveu, apenas, à maior atenção dos meios de comunicação social, mas
principalmente porque se apresentou como alternativa ao fracasso do modelo
nacionalismo-socialismo, imposto ao mundo muçulmano. O movimento revivalista
islâmico, encontrou as suas raízes no terreno religioso, mas igualmente em
circunstâncias sociais que marcaram as sociedades muçulmanas da pós-independência.
Analisemos pois a sua evolução.
O islamismo, entendido como ideologia política, seja, conforme já fizemos
notar, um fenómeno moderno, não significa que não tenham existido contributos
anteriores e que possam ser configurados. Esta situação decorre, desde cedo, de um
processo de apropriação das escrituras seculares, pelos “modernos” islamitas. Foi neste
contexto, o trabalho de Ibn Taymiyyah (1263-28), tornou-se uma referência importante
na atual ideologia islamita. A luta dos muçulmanos contra o Império Mongol e o
regresso ao “verdadeiro” Islão, foram as grandes motivações subjacentes às fatwas, pelo
que não é surpreendente que tenha apoiado o reatar da luta armada contra todos os que
se encontravam fora da influência do Islão. Este teólogo, tornar-se-ia de facto,
conhecido como um dos principais proponentes do dever islâmico Jihad. Foi também
23 Também denominado por Islão político, extremismo islâmico e de forma mais controversa,
islamofascismo. Na opinião de Calvert (2008:1), “[o] revivalismo, tal como outros ‘ismos‘ da era
moderna, subscreve uma visão dogmática ao afirmar que fornece respostas para todos os problemas do
mundo, [t]odavia, aqueles aos quais chamamos ‘islamitas‘ não aplicam este termo a si próprios [porque]
sugere que a sua filosofia é uma extrapolação do Islão e não um modo de vida.” No entendimento deste
ensaio, considera-se ser um movimento de caráter conservador e defensivo que procura resgatar
princípios e tradições de tempos passados.
19
Ibn Taymiyyah, que na opinião de Habeck (2006: 19-20), “[d]e forma persuasiva,
argumentou que o Islão necessitava do poder do Estado como princípio fundador para
todos os islamitas.”
De acordo com Mandaville (2008: 42-44), posteriormente Muhammad Ibn
Abdul al-Wahhab (1703-92) que, tal como Ibn Taymiyyah, teve uma vida de ativismo e
de propagação da da’wa24, impõe o seu conceito radical de tawhid25, que está na origem
de uma aversão radical a imagens, túmulos e templos de santos. Até às décadas de 60 e
70 do século XX, o wahhabismo foi uma corrente relativamente marginal no contexto
do Islão e sem influência relevante fora da península arábica. A partir dessa altura,
sobretudo devido aos enormes rendimentos gerados pelo petróleo na Arábia Saudita, o
whhabismo começou a espalhar-se um pouco por todo o mundo muçulmano chegando à
diáspora europeia. Em termos sucintos, tanto Ibn Taymiyyah como Abdul al-Wahhab,
preconizam a aplicação mais estrita da Sharia – a lei islâmica – na vida quotidiana, a
única adequada para reformar o Islão.
Já na sua (re)configuração moderna, uma figura incontornável, não tanto pelo
seu contributo ideológico, mas pelas suas capacidades de ativismo religioso, social e
político, foi Hassan al-Banna (1906-49). A ele se deve, a criação do principal arquétipo
dos movimentos islâmicos no Egito – a Al-ikhwan almuslimum26 que aliás perdura até
aos dias de hoje com os contornos que sabemos. No cerne da ideologia de Hassan e da
Irmandade Muçulmana estava (e está), uma vincada oposição à influência das ideias
seculares nos países muçulmanos, que por vezes dissimula a verdadeira crença pela
prática da taqiyya27. Na opinião de Mandaville (2008: 58-59), a sua mensagem combina
elementos de anticolonialismo com a rejeição da influência ocidental através da da’wa.
Tal como consta génese ideológica deste movimento, a principal razão apontada para a
decadência das sociedades islâmicas, foi terem-se afastado do “verdadeiro” Islão, e
sobretudo, terem copiado os sistemas seculares através do modo de funcionamento
24 Apelo ou chamamento ao Islão. 25 Significa “Unidade de Deus”. 26 Significa “A Irmandade Muçulmana”. É uma organização que luta para estabelecer a Sharia como base
para governos, sendo considerada a precursora do fundamentalismo islâmico contemporâneo, que a partir de cisões internas deu origem ao Hamas e à al-Qaeda. Esta organização tem objetivos mais ambiciosos ao
ponto de pretender unificar os países de população muçulmana, opondo-se às tendências seculares de
algumas nações islâmicas e às influências do chamado "islamismo moderado". 27 Significa “dissimulação”. Tem a sua origem numa comunidade religiosa autónoma - Ahl al-Tawhid -
que mantendo a sua verdadeira crença religiosa em segredo, aceita formalmente outra religião que seja
dominante.
20
materialista ocidental. A estratégia ideológico-política de Hassan e dos percussores da
Irmandade Muçulmana – a Young Men’s Muslim Association (YMMA), passou por
abordar temas sensíveis para as diferentes camadas da população, como a ocupação
colonial estrangeira, as desigualdades sociais e o apoio aos mais necessitados, a
necessidade de promover uma educação islâmica e afastar a corrupta ideologia do
modernismo e nacionalismo árabe que era promovido pelos sistemas políticos
ocidentais, a solidariedade com os irmãos palestinianos contra o invasor sionista, entre
outros temas fraturantes da nossa atualidade (Mandaville, 2008: 70).
Posteriormente, no contexto da traumática partição da Índia colonial britânica e
da criação do Paquistão como um estado para os muçulmanos do subcontinente indiano,
Abu’l-A’la Mawdudi (1903-79) foi mais longe, nas palavras de Nasr (1996: 81), ao
considerar a criação de um estado islâmico, porque “[e]ra uma clara manifestação da
soberania de Deus [e] necessário para que o Islão não enfraquecesse”. Desta forma, na
opinião de Nazr (1996), o modo de vida islâmico preconizado por Abu’l-A’la Mawdudi,
abrangia não só a esfera privada do crente muçulmano, como a esfera pública e a
organização social e política, devendo o estado e o exercício do poder político, judicial e
executivo submeter-se às suas regras. Na evolução da transformação social iniciada por
Abu’l-A’la Mawdudi, emergiu Sayyid Qutb (1906-66), que é considerado por muitos
autores, como o principal ideólogo da Irmandade Muçulmana egípcia e mundo
muçulmano (sunita). A influência das suas ideias fez-se sentir através do Fi Zilal al-
Qur’na que foram escritos durante os quinze anos da sua prisão em consequência da
confrontação com o regime (Mandaville, 2008: 76-83).
Tal como ocorreu com Abu’l-A’la Mawdudi, estamos perante um pensador
multifacetado cujas ideias evoluíram ao longo do tempo e, neste caso, se foram
radicalizando notoriamente a partir do final dos anos 40 do século passado. Ambos, com
um papel central na formação da ideologia sunita radical, usaram argumentos
persuasivos e com uma elaboração intelectual, nalguns casos até bastante sofisticada.
Talvez por isso, não seja surpreendente que se tenham tornado tão atrativos – tal como
Ibn Taymiyyah – para muitos muçulmanos com níveis de instrução elevada, e oriundos
de todos os estratos sociais, quer vivendo em países islâmicos ou na Europa e Ocidente,
onde a liberdade de circulação da informação e a consciência ideológica é notoriamente
maior.
21
O islamismo como vimos nesta breve incursão, é o ressurgimento de novas
abordagens normativas que têm procurado reconstruir quadros conceptuais e
identidades esquecidas. A sua ideologia visa promover a cooperação em diversas áreas
da sociedade para dar à luz a Ummah islâmica28. No Ocidente, a abordagem adaptada
pelos islamitas e por grupos políticos conservadores, é completamente oposta. Como
resultado, há um conflito entre quadros conceituais e normativos do Ocidente e do Islão.
Por outro lado, existem várias interpretações da Ummah, o que pode impedir o
nascimento de um discurso “genuinamente” islâmico. Segundo a linha de pensamento
tradicional, ninguém pode declarar a sua comunidade como sendo a única verdadeira
comunidade e essa declaração é uma prova de arrogância. O Islão apenas encoraja a
criação de uma Irmandade Muçulmana e defende que um Muçulmano dever ser um
bom cidadão
A propósito destas apropriações, Booney (2007: 123) denuncia uma distorção
do pensamento de Ibn Taymiyyah, feita pelos atuais islamitas radicais, para fins
políticos do presente, o que tem levantado várias questões. Todavia, na origem do uso
por Bin Laden e outros parece estar também o radicalismo existente em vários textos de
Ibn Taymiyyah, o que acaba por facilitar e dar uma teórica plausibilidade à narrativa
ocidental, onde na interpretação de Mottaqi (2012: 71), por um lado, Islão é igual a
terrorismo, por outro, marginaliza-se a identidade islâmica. Isto irá radicalizar
abordagens em torno do terrorismo nas relações internacionais. A narrativa ocidental,
por esses factos, tem criado conceitos e vincula-os a algumas questões sociais e
internacionais, a fim de reproduzir conflitos, enquanto ao mesmo tempo “legítima” a
sua diferenciação em relação aos países do mundo árabe.
28 Como sublinham até à exaustão, a explicação para a “tragédia” do presente só pode ser o resultado do
afastamento dos preceitos do Islão, que ocorreu quando tentaram imitar o Ocidente e adotar as suas
“corruptas” ideologias seculares - democracia liberal, comunismo, capitalismo materialista - só um
regresso ao “verdadeiro” Islão, o qual passa pelo cumprimento escrupulosa da Sharia e tem por horizonte
ideal o estado islâmico – o que só poderá ser criado quando (e onde) os muçulmanos estiverem em
maioria –, poderão recuperar o poder, a riqueza e a admiração do resto da humanidade. O grande
problema que daqui resulta, não só para os muçulmanos liberais e modernizadores, como para as
sociedades seculares ocidentais, é que esta forma de argumentação teve (e tem) grande ressonância em
pessoas oriundas de um contexto cultural e religioso muçulmano.
22
Breves conclusões
Tendo presente a falta de objetividade na análise das consequências dos acontecimentos
de 11/9, em particular sobre a comunidade muçulmana, o argumento deste ensaio
pretendeu mostrar que, a complexificação histórica e política associada ao terrorismo
não é propriamente uma nova expressão de protesto ou de luta pelo poder, pelo que não
deve ser associado ao Islão. Todavia, isso não significa que os elementos que o
compõem devam ser lidos apenas como factos internos do Islão ou dos países árabes
e/ou comunidades muçulmanas. De facto, não se podem ignorar nem os contextos
históricos que lhes deram origem nem a parte de responsabilidade do Ocidente neles.
Se, porém, abordássemos todos esses aspetos, a sua análise ultrapassaria o argumento
deste ensaio, o qual, mais modestamente, apenas se procura compreender as
consequências que o terrorismo produziu e produz.
Como podemos constatar, apenas nos finais do século XX e inícios do século
XXI, é que o termo “terrorismo” se revelou intrinsecamente ligado a interpretações
fundamentalistas do Islão pela obsessiva colagem a uma retórica “religiosa” elementar e
pela manipulação de citações redutoras do Alcorão. Embora existam algumas
discordâncias de opinião face à evolução e complexidade desta forma de violência, com
características inéditas cuja perigosidade não teve equivalente em épocas anteriores,
facto é que como consequência, sobretudo, dos atentados em Nova Iorque, Madrid,
Londres e em Bombaim, a narrativa da relação terrorismo – Islão, tornou-se uma prática
dominante de estados e instituições. Foi a nebulosa islâmica animada pela Al-Qaeda, na
reivindicação desses acontecimentos que fez com que “terrorismo islâmico” se tivesse
tornado uma característica omnipresente do discurso político e académico, embora em
boa verdade, como vimos, já tenha uma longa história, profundamente enraizada nas
estruturas discursivas, institucionais e culturais da sociedade ocidental.
Pelas razões evocadas ao longo deste ensaio, a exegese de certos versículos e
suras do Corão proferidos por Bin Laden, soube proporcionar infindos debates
apologéticos, mas não nos levou a uma hermenêutica consistente no plano científico. A
crença histórica num Corão “incriado” dificulta ainda mais o debate racionalista, como
o demonstra Seyyed Nasr. Em contrapartida, mesmo sem ter ousado entrar em matéria
teológica, há razões suficientes para pensarmos que as “justificações” de certos grupos
islamitas, apoiadas em citações corânicas, não passam de manobras de dissimulação
23
onde se conjugam, na maioria das vezes, simplismos grosseiros, transposições
anacrónicas ou reducionistas sem fundamento e sentido histórico real, o que não quer
dizer que sejam menos perigosas por isso. Por consequência, fazer a assimilação entre
os islamitas e a generalidade dos muçulmanos é uma injustiça para estes. Em muitas
ocasiões, a comunidade muçulmana pode, é certo, ser manipulada por certos grupos
islamitas, mas não se confundem com eles.
Após uma década dos atentados de 11/9, o mundo ainda procura uma solução
definitiva para os problemas ligados ao terrorismo que envolvem aspetos políticos,
sociais e económicos. Sendo assim, na análise das origens do terrorismo, preocupei-me
sobretudo em tentar compreender e enunciar algumas das definições, seguindo a
máxima de Meisels proposta por Jackson, ao propor o terrorismo como um método
premeditado, politicamente motivado, comunicador de violência ou uma ameaça de
violência contra não-combatentes em que as mortes das vítimas têm um valor mais
psicológico do que estratégico-funcional e que procura influenciar uma terceira parte,
geralmente a parte que dirige a comunidade que é alvo dessas ações.
É importante refletir sobre o terrorismo como prática e o discurso. A separação
dessas ações é fundamental para a compreensão da prática terrorista e para a análise dos
discursos construídos sobre o terrorismo. Desta forma, estaremos mais aptos a
questionar, lutar e compreender por que tantas pessoas matam e morrem por
determinadas causas, sejam elas políticas, religiosas, económicas ou culturais e termos
pois, presente que toda a situação em que a violência ocorre, pode portanto ser
terrorismo, mas nem toda a violência é terrorismo.
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