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- Internet e Eleições 2014 - I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública
Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015
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WEBLEITORES, ELEITORES E COMENTADORES:
Uma análise do debate público no Facebook d’O Estadão durante a campanha
presidencial de 20145
Fernanda Cavassana de Carvalho6
Isabele Batista Mitozo7
Michele Goulart Massuchin8
RESUMO
Devido à adesão dos veículos de comunicação às redes sociais, o debate público passa a ter nova arena para seu desenvolvimento. O presente trabalho tem por objetivo analisar como os comentadores da página d’O Estadão no Facebook se comportaram como comentadores de posts que faziam menção direta a, pelo menos, um dos três principais presidenciáveis em 2014, também mencionando tais candidatos, durante o primeiro turno. Procura-se, especificamente, verificar 1) que posturas esses webleitores mais tomaram durante a discussão (se monológica ou recíproca em relação a outros comentadores) e 2) se eles persuadiram, progrediram ou radicalizaram no decorrer do debate. Para tanto, a metodologia adotada foi a análise de conteúdo quantitativa, tendo-se utilizado testes estatísticos para verificar as relações tanto entre a página observada e o perfil de seu comentador em relação às categorias das variáveis estudadas, assim como a relação entre cada categoria e a citação dos candidatos no comentário. Como resultado, pode-se observar que o Estadão, além de possuir um comentador mais propício ao debate, agrega mais eleitores dispostos a persuadir, mas, com maior tendência à radicalização, quando mencionam Dilma Rousseff, e ao progresso, quando citam Eduardo Campos ou Marina Silva.
Palavras-chave: Debate público; Eleições Presidenciais 2014; O Estado de S. Paulo; Facebook
Introdução
Os estudos acerca das relações entre internet e debate público têm se voltado para um
novo campo a princípio mais aberto e, portanto, propício a discussões: as redes sociais
digitais. Se observarmos, por exemplo, a quantidade de trabalhos que têm sido
apresentados nos últimos congressos e publicados em periódicos da área de internet e
política, é notável o quanto as investigações acerca, especialmente, de Facebook e
Twitter estão crescendo e tornando-se tendência.
Este trabalho, por sua vez, endossa essa subárea e procura estudar a relação
específica entre o debate que o jornalismo suscita, atualmente, entre seus webleitores, a
partir do momento em que adentra as redes sociais, em que é permitido a atores sociais
5 Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo Núcleo de pesquisa em
Comunicação Política e Opinião Pública, da Universidade Federal do Paraná (CPOP-UFPR). 6 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, PPGCOM-UFPR.
fercavassana@hotmail.com 7 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, PPGCP-UFPR. ibmitozo@gmail.com
8 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos –
UFSCAR. mimassuchin@gmail.com
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comentarem o que é postado pelas páginas dos veículos de comunicação. De forma mais
específica, o objetivo do artigo é apresentar uma investigação acerca de como se
comportou o comentarista-eleitor dos posts difundidos pela página d’O Estadão no
Facebook tendo como metodologia a análise de conteúdo quantitativa, que terá como
foco a análise das variáveis 1) postura do comentador (se responde ou não a outros
comentadores), conforme classificação de Dahlberg (2002) e 2) reflexividade, seguindo o
que teoriza e aplica Jensen (2003), em seu estudo. Tais variáveis serão, ainda, cruzadas
com a citação de cada candidato, a fim de indicar quando o diálogo se desenvolve de
forma mais ampla em relação à citação de um candidato, assim como o tipo de
reflexividade que mais se expressa nessa mesma relação.
O período em estudo comporta 13 semanas que compõem o primeiro turno das
eleições presidenciais (julho-setembro/20149) e tem como unidade de análise os
comentários que mencionavam diretamente ao menos um dos três principais
presidenciáveis, feitos a posts que, igualmente, citavam um deles. Assim, trabalhou-se
com 63.730 comentários. Os resultados apresentam que O Estadão, além de ser um
veículo que gera debate entre os comentadores de seus posts no Facebook, também
agrega distintos posicionamentos políticos dos eleitores enquanto comentadores.
1. Jornalismo e debate nas redes sociais online
O jornalismo pode ser considerado um elemento imprescindível ao jogo político,
interferindo na forma como a política se desenvolve (MONT’ALVERNE; MARQUES, 2013)
e no debate público, sendo até chamado por alguns de novo “quarto poder”, como uma
espécie de “poder moderador” (ALBUQUERQUE, 2000). Sua forma de alcançar o leitor,
porém, foi durante muito tempo unilateral: os veículos de comunicação de massa
assumiam o papel de emissores, enquanto ao público restava a função de receptor da
mensagem.
Esta visão do poder dos veículos de mídia passa a ser superada quando
consideramos características próprias da comunicação via web, como a descentralização
da produção de conteúdo, a multidirecionalidade e a interatividade. É fato que a internet
possibilitou grandes mudanças na comunicação em comparação com as mídias de
9 São considerados os comentários feitos aos posts, sobre a disputa presidencial, de 1 de julho a 29 de
setembro de 2014. O dia 30 de setembro faz parte da semana 14, última semana do primeiro turno, não incluída nesta análise, porque o banco de outubro encontra-se em fase de finalização.
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massa, como a televisão e o rádio, mas, assim como o público está presente na internet,
os veículos tradicionais também estão. Na rede, exploram as ferramentas possíveis para
compartilhar seu produto – a notícia – muitas vezes com o conteúdo modificado pela
interação de seu leitor, ativo, principalmente, nas redes sociais.
Assim, a presença dos veículos jornalísticos na web, e em suas diversas
plataformas como o Facebook, acaba propiciando uma nova configuração da forma a
partir da qual a audiência recebe e interage com o que é publicado. E esse é um fator
importante quando se pretende estudar debate público, já que, agora, o leitor não é mero
receptor a discutir com parentes ou vizinhos acerca do que o jornal pautou: ele pode
questionar diretamente a notícia, bem como debater com outros webleitores online.
A interatividade do webleitor com o jornal traz novas possibilidades para
pesquisas que desejam compreender a influência do conteúdo jornalístico no debate
público. Em redes sociais digitais, por exemplo, os comentários nos posts dos veículos
podem se tornar objetos que revelem, ao menos em parte, como se dá a recepção da
notícia compartilhada. Na perspectiva de Braga (2006), há um sistema de interações
sociais sobre a mídia, caracterizado por uma circulação diferida e difusa, que se dá após
o consumo da informação midiatizada. As pessoas passam a comentar e debater o que
viram na mídia e, a partir disso, “as proposições circulam evidentemente trabalhadas,
tensionadas, manipuladas, reinseridas nos contextos mais diversos” (BRAGA, 2006,
p.28).
Portanto, a partir de Braga (2006), os comentários dos webleitores em posts de
jornais nas redes sociais devem ser considerados como um dispositivo deste sistema de
interação social. Os dispositivos são formas socialmente geradas e tornadas
culturalmente disponíveis, “lugares materiais ou imateriais nos quais se inscrevem
(necessariamente) os textos” (MOUILLAUD apud BRAGA, 2006, p.40). O autor ainda
ressalta que a ocorrência dessas interações diretamente na mídia em que o conteúdo é
veiculado é importante, porque, deste modo, as interações podem ter efeitos sociais e
culturais mais abrangentes. Atualmente, a internet é a mídia mais escolhida para a
ocorrência destes dispositivos e as redes sociais potencializam tais ocorrências.
Se, por um lado, a possibilidade de interação entre jornal e webleitor existe, há
também a interação entre leitores, em que eles podem desenvolver uma conversação
(DAHLGREN, 2005) e, inclusive, tornarem-se politicamente ativos. Embora algumas
estratégias tenham apenas sido transportadas dos media tradicionais aos media digitais
(MARQUES et al., 2013), como a capacidade de enquadrar notícias, esses webleitores
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têm se tornado agentes cada vez mais importantes para a dinâmica da comunicação via
web, uma vez que podem escolher o veículo de comunicação que vão ler, pois os jornais
romperam com a barreira da distância estando em ambiente online e, portanto, concorrem
pela audiência entre si. Do mesmo modo, os leitores podem decidir conversar mais com
outros internautas que com as notícias, como apresentou o trabalho de Cervi (2013).
Os sites de redes sociais, mais especificamente, tomaram tanto o primeiro plano
das campanhas eleitorais quanto o da circulação de notícias jornalísticas. Isso porque,
além da maior potencialidade de circulação de conteúdo em relação aos websites e
portais, as redes agregam mais seguidores, pois são gratuitas ao usuário (o que não é o
caso de todos os portais jornalísticos, como a Folha de S. Paulo) e são consideradas,
pelo próprio público, um importante canal para se informar (BRASIL, 2014)10.
2. O Estadão no Facebook: análise dos comentários em posts do primeiro turno da campanha presidencial de 2014
Tendo como base a breve discussão teórica realizada na seção anterior, este
paper se concentra em compreender como os webleitores d’O Estadão agem na condição
de comentadores dos posts desse jornal em sua página oficial no Facebook.
A escolha da referida página como aquela a ser tomada para observação deu-se,
primeiramente, pela constatação em trabalho anterior (MITOZO; MASSUCHIN;
CARVALHO, 2015) do quanto O Estado de S.Paulo se destacou em relação aos outros
quality papers nacionais, Folha de S. Paulo e O Globo (MONT’ALVERNE; MARQUES,
2013), quanto ao notado maior nível de reciprocidade que seus comentadores
apresentaram.
Em segundo lugar, é interessante observar como O Estadão, sendo um jornal que
possui tradição em deixar explícito seu posicionamento político, assim como de destacar
o fato de separar opinião de informação, agrega mais reciprocidade entre os
comentadores. Por outro lado, vale ressaltar que esse jornal possui o portal online mais
democrático, por ter sido o primeiro dentre aqueles três maiores jornais nacionais a abrir a
possibilidade de se comentar, nele, suas notícias (CERVI, 2013).
10
A Pesquisa Brasileira de Mídia (BRASIL, 2014) aponta o Facebook como o site/rede social mais acessado pelos brasileiros em dias de semana e nos finais de semana, bem como o site/blog/rede social mais acessado pelo público para se informar.
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O jornal O Estado de S. Paulo, durante o primeiro turno11 das eleições de 2014,
publicou em seu perfil no Facebook 3.747 posts, dos quais consideramos 276 como
pertencentes ao tema “Campanha Eleitoral”, por citarem um dos três principais candidatos
à Presidência da República12. A partir disso, a análise a seguir traz algumas
características do debate público nestes posts, pela investigação de 63.730 comentários,
que totalizam as citações dos principais candidatos pelo próprio público no ato de
comentar.
2.1. A postura do comentador
Primeiramente, observou-se a postura que o comentador d’O Estadão adota. A
postura é um dos fatores que Dahlberg (2002) aponta como importante categoria de
análise indicativa de predisposição ao debate. Assim, o autor estuda a reciprocidade de
comentários. Classificamos, ainda, como fez Sampaio et al. (2010), a ausência dessa
resposta como postura monológica.
O Gráfico 1, abaixo, mostra a frequência de comentários monológicos e recíprocos
encontrados entre os webleitores da página d’O Estadão no Facebook.
GRÁFICO 1 – Postura dos comentadores nos posts d’O Estadão FONTE: As autoras, com os dados do Núcleo CPOP-UFPR
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Considerando as 13 semanas aqui analisadas. 12
Até agosto consideramos os nomes de Aécio Neves, Dilma Rousseff e Eduardo Campos. Em agosto e setembro, passamos a considerar o nome de Marina Silva.
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Como se pode ver, há uma predominância de comentários em que os webleitores
conversam sozinhos, o que representa 74% do total. De qualquer forma, se olharmos
para a proporção apresentada entre esses e aqueles em que houve reciprocidade, 26%
do total, há uma diferença significativamente menor entre as duas categorias em relação
aos outros grandes jornais de circulação nacional, conforme apresentado em estudo
anterior (MITOZO; MASSUCHIN; CARVALHO, 2015)13. Assim, mesmo que O Estadão se
apresente como veículo de posição política conservadora explícita, ele agrega
comentadores mais dispostos a responder, de alguma forma, outros internautas.
Em relação à pluralidade de citação dos candidatos pelos comentadores dos posts
desse jornal, era esperado que Dilma Rousseff fosse a mais citada, tanto por ser a
candidata à reeleição como por ocupar concomitantemente ao período eleitoral a
Presidência da República em um momento de escândalos políticos, um dos maiores
temas a pautar o jornalismo. O que surpreende é o fato de que houve equilíbrio entre as
citações da incumbente e de Eduardo Campos/Marina Silva.
GRÁFICO 2 – Total de citações dos candidatos em comentários d’O Estadão14
FONTE: As autoras, com os dados do Núcleo CPOP-UFPR.
É certo que a tragédia que vitimou Campos causou alta na produção de
comentários, mas não de forma a causar a vantagem das citações dele e de Marina sobre
13
A Folha de S. Paulo teve 82,4% dos comentários monológicos e 17,6% recíprocos. Os dados são ainda mais negativos para O Globo: 91,6% de comentários monológicos e somente 8,4% recíprocos. 14
É importante ressaltar que a soma desses valores ultrapassa o total de comentários em estudo (63.730), pois há comentários que citam mais de um candidato, o que se deve considerar em todas as análises que seguirão neste paper.
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aquelas de Aécio Neves, que agregou pouco mais que a metade de menções da mais
citada. Chegamos aqui à constatação de que Aécio Neves foi o menos citado nos
comentários sobre campanha n’O Estadão, aparecendo em apenas 26,7% dos 63.730
comentários analisados.
Quando se observa a expressão da reciprocidade em relação à citação dos
candidatos, pode-se constatar que os internautas estiveram mais dispostos a conversar
sozinhos, não importando que candidato estivessem mencionando. Os Gráficos 3, 4 e 5,
abaixo, mostram a correlação que existe entre a postura adotada pelos comentaristas e
as citações dos candidatos.
GRÁF.3– Postura X Dilma GRÁF.4 – Postura X Aecio GRÁF.5 Postura X Edu/Marina
FONTE – As autoras com dados do Núcleo CPOP-UFPR
É interessante observar que, proporcionalmente, os comentadores mais propícios
ao debate foram aqueles que mencionavam Dilma Rousseff, seguidos, novamente, de
Eduardo Campos/Marina Silva. Vale informar que o maior ou o menor número de
menções não teve influência sobre a proporção de comentários que apresentaram
postura recíproca, embora tenha havido a coincidência em relação à ordem dos
presidenciáveis. Por outro lado, a análise não se resume a essa observação e alguns
dados adiante mostrarão que, mesmo respondendo a outros comentários, o webleitor não
necessariamente apresenta-se como um debatedor no sentido que Jensen (2003), à luz
dos conceitos habermasianos, identifica, justamente por não expressar de forma mais
ampla o que se desejaria em um debate aberto e respeitoso.
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2.2. A reflexividade nos comentários
Assim, passa-se ao estudo de uma variável que complementa aquela anterior por
proporcionar, mesmo que de forma mais restrita, uma visão qualitativa à análise quanti
aqui desenvolvida: o tipo de reflexividade apresentada nos comentários. Como dito
anteriormente, essa variável ajuda a investigar como essa maior reciprocidade foi
expressa entre os comentadores d’O Estadão: tentou-se mais 1) persuadir; 2) progredir,
apresentando informações complementares ao debate; ou 3) radicalizar, comportando-se
de forma desrespeitosa durante a discussão.
Tab.1 - Tipo de reflexividade do comentador n’O Estado de S. Paulo
Frequência Porcentual Porc. Válida
ESP Válido Persuasão 16427 25,8 52,5
Radicalização 10224 16,0 32,7
Progresso 4619 7,2 14,8
Total 31270 49,1 100,0
Ausente 32460 50,9
Total 63730 100,0
FONTE – As autoras com dados do Núcleo CPOP-UFPR
Como exposto na Tabela 1 acima, a categoria “persuasão” foi aquela mais utilizada
pelos comentadores, representando 52,5% das ocorrências. Em seguida, a radicalização
apareceu em 32,7% dos casos, superando “progresso”, que representou apenas 14,8%
do total. É importante lembrar que muitos comentários não apresentaram qualquer
reflexividade e, portanto, decidiu-se trabalhar apenas com a percentagem válida.
GRÁFICO 6 – Tipo de reflexividade dos comentadores FONTE – As autoras com dados do Núcleo CPOP-UFPR
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Conforme foi feito com a postura do comentador, analisa-se, também, o tipo de
reflexividade que os comentadores apresentaram ao mencionar cada candidato. Tendo
atentado anteriormente sobre a ausência de relação entre ser recíproco e apresentar-se
mais polido no debate, observando a tabela a seguir, pode-se ter uma percepção mais
nítida desse fenômeno. Os resíduos padronizados permitem a constatação de que o
comentarista que citou Dilma Rousseff, se, por um lado, esteve mais propenso a ler e dar
continuidade à discussão, por outro, apresentou-se como aquele que mais radicalizou o
debate. A incumbente é a única cujo resíduo é alto positivo (22,5), destoando dos outros
candidatos, que apresentam baixos negativos, principalmente de Eduardo
Campos/Marina Silva (-17,8).
Tab. 2 - Tipo de reflexividade em comentários que citam candidato
Cita candidato no comentário
Dilma Aécio Edu/Marina Total
Reflexividade Radicalização N 6845 2329 3081 12255
Rp 22,5 -8,8 -17,8
Progresso N 2200 1142 2470 5812
Rp -5,5 -5,05 10,2
Persuasão N 7356 5318 7779 20453
Rp -14,4 9,5 8,3
Total 16401 8789 13330 38520
FONTE – As autoras com dados do Núcleo CPOP-UFPR
Os comentadores que mais estiveram abertos ao progresso, preocupando-se, pois,
em inserir novas informações e, assim, reforçar a argumentação, foram aqueles que
citaram Eduardo Campos/Marina Silva (10,2). Perceba-se que os outros candidatos
tiveram resíduos padronizados negativos bem próximos, o que caracteriza aqueles que os
mencionaram com um perfil, em relação a essa categoria, bem similar.
GRÁF.7 – Reflexividade X Dilma GRÁF.8 – Reflexividade X Aécio GRÁF.9–Reflexividade X Edu/Mar
FONTE: As autoras, com os dados do Núcleo CPOP-UFPR.
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Por fim, os comentadores que mencionam Dilma Rousseff são também os únicos
que estão menos dispostos a persuadir ou serem persuadidos, pois os resíduos para essa
categoria ficaram com baixo negativo (-14,4), em contraste com os altos positivos de
Aécio Neves (9,5) e Eduardo Campos/Marina (8,3). Isso implica dizer que os
comentadores que fizeram menção a Aécio foram aqueles mais dispostos a persuadir
outros debatedores. Os gráficos acima (GRAFs. 7, 8 e 9) ilustram bem as diferenças e
semelhanças que os números da Tabela 2 já apontaram.
Considerações finais
Apesar de, entre os comentários analisados, o debate nos posts d’O Estado de S.
Paulo apresentar quase três vezes mais comentários monológicos do que recíprocos,
esses comentaristas tendem a apresentar mais reciprocidade, especialmente na
comparação direta com o debate realizado nos comentários na Folha e n’O Globo no
mesmo período (MITOZO; MASSUCHIN; CARVALHO, 2015). Porém, só esse dado não é
suficiente para se afirmar que o diálogo flui entre os comentadores na página do veículo e
que há um debate construtivo entre os participantes.
Esta análise preliminar identificou algumas características do webleitor que
comenta no Facebook d’O Estadão. Pode-se verificar que a grande maioria tende a tentar
convencer, persuadir, o outro e apenas 7% progridem no debate. Há ainda um número
alto de comentadores que tendem à radicalização, interrompendo o diálogo e se fechando
às ideias de outros comentadores, muitas vezes, agredindo-as.
Em relação à citação de candidatos nos comentários, observa-se que há muito
mais radicalização quando Dilma Rousseff é citada e mais progresso quando há
referência a Eduardo Campos ou Marina Silva. Esse trabalho também apontou que estes
nomes pautaram bem mais o debate entre os comentadores, eleitores, do que o nome de
Aécio Neves, presente em menos de 27% dos comentários.
A análise apresentada neste trabalho leva à conclusão de que ainda há muitas
investigações a serem realizadas, a fim de traçar-se um perfil de comentador, mesmo na
página de um único veículo jornalístico dentro do Facebook. Mesmo que se possa
perceber como um comentador se comporta quando cita determinado candidato, não se
pode depreender totalmente esse comportamento, pois isso exigiria nova modelagem do
banco de dados, para identificar que comentários citaram apenas um dos candidatos e
em que temáticas tal perfil poderia ser observado.
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Nada impede que trabalhos futuros venham a tomar isso como ponto de partida
para nova análise, uma vez que é interessante perceber como o leitor-eleitor se põe no
debate, quando suas opiniões e crenças serão postos à prova por outros debatedores.
Referências
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