UNIVERSIDADE ESTÁCIO/FIC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL ERIKSON DE MOURA...
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1
UNIVERSIDADE ESTÁCIO/FIC
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL
ERIKSON DE MOURA NASCIMENTO
PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES COM HANSENÍASE,ATENDIDOS EM UM CENTRO DE SAÚDE DE FORTALEZA, CEARÁ, PERÍODO
2010 A 2014.
3
Erikson de Moura Nascimento
PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES COMHANSENÍASE, ATENDIDOS EM UM CENTRO DE SAÚDE DEFORTALEZA, CEARÁ, PERÍODO 2010 A 2014.
Trabalho de Conclusão de
Curso, apresentado como
requisito parcial à obtenção
do título de Especialização
em Fisioterapia
Neurofuncional, pela
Universidade Estácio/FIC.
Orientador: Prof. Dr. José
Musse Costa Lima Jereissati.
4
Nascimento, Erikson de MouraPerfil clínico-epidemiológico dos pacientes com hanseníase, atendidos em um centro de saúde em fortaleza, ceará, período 2010 a 2014. / Erikson de M. Nascimento. – 2016. 47 f.
Orientadora: José Musse Costa Lima Jereissati. Trabalho de conclusão de curso (pós-graduação) – Universidade Estácio/FIC, Curso de Especialização em Fisioterapia Neurofuncional, 2016.
1. Hanseníase. 2. Epidemiologia. 3. Fortaleza I. Autor. II. Título.
615.1N244l
5
ERIKSON DE MOURA NASCIMENTO
PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES COM HANSENÍASE,
ATENDIDOS EM UM CENTRO DE SAÚDE EM FORTALEZA, CEARÁ, PERÍODO
2010 A 2014.
Trabalho de Conclusão de Curso,
apresentado como requisito parcial
à obtenção do título de
Especialização em Fisioterapia
Neurofuncional, pela Universidade
Estácio/FIC.
Orientadora:
Co-Orientador: Prof. Dr. José Musse
Costa Lima Jereissati.
Data de Aprovação _____/________/__________
Banca Examinadora
___________________________Orientador: Prof. Dr. José Musse Costa Lima Jereissati, FAECE.
7
Dedico à minha família,
composta pelos meus pais
Edilson e Valderice, esposa
Vanessa, filhos Ayandry e
Douglas, pela confiança e
alicerce a mim prestado, com
amor e dedicação, na certeza
que um dia trilharia caminhos
dignos e vencedores.
AGRADECIMENTOS
Deus, por ser a força maior com quem sempre pode contar.
Aos meus pais, Edilson e Valderice, por seus ensinamentos
e amor presentes constantemente em minha vida, me ajudando
neste e em todos os desafios que me propus enfrentar.
À minha família, esposa Vanessa, que sempre acredita no
meu potencial, me apoiando e me amando e sendo meu alicerce e
amparo estrutural físico e psicológico. Meus filhos Ayandry e
Douglas, na qual tenho imensa alegria em admirar a sua
felicidade e conforto, e que espero ser a base sólida e motivo
de orgulho para o tracejado da sua vida que se inicia.
8
Ao meu Co-orientador, Prof. Dr. José Musse Costa Lima
Jereissati, inicialmente pelos conhecimentos passados na época
de graduação, seu incentivo moral e psicológico e pela
confiança no meu potencial. Depois, por ter abraçado
prontamente meu projeto, sua atenção e disponibilidade e a
vontade e desejo de tornar meu projeto realidade demonstrado
no seu olhar.
À Banca examinadora, pelo tempo destinado na avaliação
criteriosa e qualificada deste trabalho. Agradeço
antecipadamente, pelas sugestões, comentários e críticas.
As minhas amizades que angariei durante esta jornada, que
me acolheram e contribuíram na coleta dos dados, emprestando
seu tempo e partilhando suas opiniões e expectativas. Sem o
convívio com vocês, essa caminhada teria sido muito mais
árdua.
9
"Seja você quem for, seja qual
for a posição social que você
tenha na vida, a mais alta ou a
mais baixa, tenha sempre como
10
meta muita força, muita
determinação e sempre faça tudo
com muito amor e com muita fé
em Deus, que um dia você chega
lá. De alguma maneira você
chega lá.”
Ayrton Senna.
11
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...............................................09
2. JUSTIFICATIVA............................................13
3. OBJETIVOS................................................14
3.1. Objetivo Geral........................................14
3.2 Objetivos Especificos..................................14
4. REVISÃO DE LITERATURA....................................15
5. HANSENÍASE...............................................22
6. METODOLOGIA..............................................32
6.1 Tipo De Pesquisa.......................................32
6.2. Local e Período......................................32
6.3. População e Amostra...................................32
6.4. Critérios de Inclusão.................................32
6.5. Critérios de Exclusão.................................32
6.6. Coleta de Dados.......................................32
6.7. Variáveis do Estudo...................................33
6.8. Análise de Dados......................................33
6.9. Aspectos Éticos e Legais..............................33
7. REFERÊNCIAS..............................................34
12
1 INTRODUÇÃO
A hanseníase é uma doença infectocontagiosa, de caráter
crônico, causada pelo Mycobacterium leprae, possui predileção
para a pele e nervos periféricos, sua transmissão se dá inter-
humana e ocorre predominantemente através do trato
respiratório superior de doentes multibacilares.
Os fatores genéticos, ambientais, o estado nutricional, a
vacinação contra o Bacillus Calmette Guérin (BCG) e a
imunidade estão envolvidos na susceptibilidade em adquirir. A
doença caracteriza-se por alta infectividade e baixa
patogenicidade, apresentando efeitos desastrosos quando não
tratada precocemente, razão pela qual, nos dias atuais ainda
existe o estigma da doença ( BRASIL, 2006).
Em 2006, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi
notificada de 219.826 novos casos da doença no mundo. Nestes
casos, os países com maior prevalência de Hanseníase eram
Brasil, Índia, Madagascar, Mianmar, Nepal, Tanzânia e
Moçambique. O Brasil respondia por 80% de todas as
notificações na América Latina, sendo a segunda área mais
endêmica no mundo, depois da Índia (PENNA, 2008).
Atualmente, as taxas de hanseníase mundial reduziram em
aproximadamente 90% quando comparadas há duas décadas atrás. O
13
Brasil ocupa o segundo lugar no mundo em número absoluto de
casos de hanseníase sendo o primeiro das Américas. Segundo a
Organização Mundial de Saúde (2005) o Brasil ainda é um pais
onde a doença é endêmica principalmente nas regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste.
A situação epidemiológica da hanseníase no Brasil mostra
uma significativa redução na sua prevalência entre os anos de
1985 a 2007 e tendência de estabilização nos coeficientes de
detecção de casos novos no período de 1994 a 2008. Devido ao
esforço do Ministério da Saúde, em dois anos houve uma
diminuição em 24,3% dos casos de hanseníase e em 2005 a taxa
de incidência foi de 2,1 casos em 10.000. Isso, em parte,
deve-se ao aumento de 41,1% dos serviços de diagnóstico e
tratamento no sistema público de saúde ( BRASIL, 2006).
Apesar da eficiência em reduzir casos de hanseníase, os
planos de eliminação não foram suficientes para desclassificar
a doença como problema de Saúde Pública. O Plano de Eliminação
Nacional de Hanseníase em âmbito municipal (2006-2010) tinha a
meta de eliminação da doença até 2010 com ações como a redução
da prevalência para valores abaixo de 1/10.000, monitorização
dos registros de casos novos, o fortalecimento da vigilância
epidemiológica, capacitação dos profissionais de saúde e uma
rede eficiente de referência e contra-referência.
Segundo França ( 2005) as ações de controle da hanseníase
são realizadas desde 1980. Somente em 1995, quando o
Ministério da Saúde assumiu compromisso de eliminar a
14
Hanseníase até o ano de 2000, o Programa é oficialmente
implantado no município.
A situação epidemiológica da hanseníase em Fortaleza segue
a tendência do estado, apresentando um declínio nas taxas de
prevalência e detecção no período de 2004 a 2005.
Em 2004, taxa de prevalência foi de 2,98 por 10.000
habitantes e taxa de detecção 3,58 por cada 10.000 habitantes.
Em 2005, a prevalência foi 2,15 por 10.000 habitantes e a de
detecção 2,98 para cada 10.000 habitantes e em 2006,
apresentou taxa de prevalência 1,59 por 10.000 habitantes e
taxa de detecção 2,50 para cada 10.000 habitantes. No período
de 2007 e 2008 foram confirmados 133 e 119 casos
respectivamente (BRASIL, 2010).
Apesar do declínio na taxa de prevalência da hanseníase
observada a nível nacional, estadual e municipal, essa redução
encontra-se acima do recomendado pela Organização Mundial de
Saúde (2005) considerando a hanseníase ainda, como um sério
problema de saúde pública, que exige a adoção de intervenções
de forma contínua que produzam impacto na sua transmissão e
assim atingir um coeficiente de prevalência inferior a 1
caso/10.000 habitantes em cada município (OMS, 2000).
O Brasil apresentava em 2000 um total de 41.070 casos de
hanseníase, o equivalente a uma prevalência de 4,28 casos por
10.000 habitantes. Esta prevalência que corresponde a um
coeficiente mais de quatro vezes maior que o estabelecido pela
Organização Mundial de Saúde (OMS), e um coeficiente de
detecção de casos novos (incidência), de 2,12 casos para cada
15
10.000 habitantes. Ciente do não cumprimento da meta em 1999,
o Brasil firmou com a OMS e seus países membros, o plano para
a Eliminação da Hanseníase até 2005 durante a III Conferência
Mundial de Eliminação da Hanseníase, em Abdjan, na Costa do
Marfim (BRASIL, 2002).
Este foi mais um dos planejamentos que o Brasil não
alcançou. Com o intuito de reduzir ainda mais os valores de
incidência e prevalência da doença e reparar as questões não
resolvidas no Plano de Eliminação, a Organização Mundial de
Saúde lançou a Estratégia Global para Maior Redução da Carga
da Hanseníase e a Sustentação das Atividades de Controle da
Hanseníase proposta para 2006-2010 (MIRANZI, 2010).
Mesmo com o desenvolvimento das medidas adotadas pelo
Ministério da Saúde, a prevalência de hanseníase no país ainda
é muito alta. O Brasil chegou a ocupar o primeiro lugar em
taxa de prevalência com uma média de 4,52 casos para cada
10.000 habitantes, seguido pela Índia com um coeficiente de
3,2 casos para cada 10.000 habitantes (RADIS, 2004). A
prevalência no Brasil é inegavelmente alta, contudo é válido
ressaltar que esse primeiro lugar se deve, em parte, à
metodologia utilizada pela OMS, que difere da adotada pelo
Brasil.
De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (2001)
o período para tratamento com a poliquimioterapia (PQT) é de
seis meses para paucibacilares e doze meses para
multibacilares. O paciente um ano depois do início do
tratamento é considerado curado, independente de avaliação.
16
Dessa forma, se o paciente abandonar o tratamento, mesmo
assim, será considerado curado.
Entretanto, se esses procedimentos fossem adotados no
Brasil certamente o coeficiente de prevalência teria um
declínio significante, já que, ainda se tem a prática, por
parte de alguns pacientes, de abandono de tratamento após
melhora do quadro. Além disso, deve se levar em conta que o
tratamento também pode passar de um ano, existindo a
possibilidade de uma série de fatores não serem analisados
pela OMS.
Embora possa ter ocorrido um aumento no coeficiente de
detecção da hanseníase e a redução da prevalência da doença,
medidas preventivas são necessárias. Se, por um lado, a
introdução da poliquimioterapia (PQT) trouxe consigo a
possibilidade de curar pacientes portadores da doença, por
outro lado, não houve o impacto esperado para diminuição das
fontes de infecção (PENNA, 2008).
Em 2011, o Ministério da Saúde implantou o Programa
Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção
Básica (PMAQ), sendo que sua primeira fase consiste na etapa
formal de adesão ao Programa, mediante a contratualização de
compromissos e indicadores. As contratualizações devem ser
firmadas entre as Equipes de Atenção Básica com os gestores
municipais, e destes com o Ministério da Saúde num processo
que envolve pactuação local, regional e estadual e a
participação do controle social. Um dos indicadores a ser
17
contratualizados é a detecção precoce de casos novos e
acompanhamento dos pacientes com hanseníase. (BRASIL, 2011).
No Brasil, a distribuição da doença não é homogênea, já
que há regiões onde o agravo pode ser considerado eliminado,
pois tem taxa de detecção anual menor que 1 para 10.000
habitantes. Como exemplo da heterogeneidade, a taxa de casos
novos na região Norte em 2005 foi de 5,6 casos por 10.000
habitantes, enquanto que no sul do Brasil foi registrada uma
taxa de apenas 0.7/10, 000 (NUNES, 2008). Em 2007, a
incidência no Brasil alcançou o valor de 21,08/100.000
habitantes e o coeficiente de prevalência de 21,94/100.000
habitantes. (ALVES, 2011).
Desta forma o presente trabalho instruirá de forma
significativa e relevante traçar um perfil dos portadores da
referida doença em uma área demográfica da cidade de
Fortaleza, Ceará, principal capital do Nordeste e uma das
maiores do país.
18
2 JUSTIFICATIVA
Deste tempos remotos, a hanseníase se faz presente no
Brasil em nível endêmico, a ponto de ser considerado um
problema de Saúde Pública, sendo muitas as medidas
implementadas pelo Ministério da Saúde para a eliminação da
mesma.
Segundo Andrade 1996, a meta para eliminação da hanseníase
como problema de Saúde Pública foi adotada até o ano 2000,
19
estabelecendo-se como objetivo, em termos de coeficiente de
prevalência, sua redução para valor abaixo de um caso para
cada 10.000 habitantes, como podemos vereficar nos dias
atuais, uma meta não alcançada mesmo mediante um atraso de 15
anos.
Por ser a hanseníase uma doença de prevalência
relativamente alta no Brasil, e que causa a estigmatização de
portadores, tanto pelas incapacidades físicas, como pela a
visibilidade, na maior parte das vezes, de suas lesões que a
doença pode causar, acredita-se que o conhecimento do perfil
clínico epidemiológico desta patologia possibilite a
implementação de medidas para eliminar o agravo.
Assim, o presente trabalho se justifica porque possibilita
a construção de ferramentas que mostram a distribuição da
patologia em uma área específica da cidade, e possibilita um
norte para a descentralização das ações desenvolvidas pelo
Programa de Combate a Hanseníase, visando facilitar o acesso
ao serviço e qualifica-lo, vindo a diminuir o abandono do
tratamento e possibilitar diagnósticos precoces.
20
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral
Conhecer o perfil clínico- epidemiológico da hanseníase em
um centro de saúde de Fortaleza no período de 2010 a 2014.
3.2 Objetivos específicos
Identificar a incidência da hanseníase em um centro
de saúde de Fortaleza, no período de 2010 a 2014.
Relacionar variáveis clínico-epidemiológicas como:
idade, sexo, forma clínica, grau de incapacidade, modo de
saída, modo de descoberta e Baciloscopia.
21
4 REVISÃO DE LITERATURA
De acordo com Pereira 2008, “a hanseníase é uma doença
infectocontagiosa de evolução crônica, granulomatosa, causada
por um bacilo de alta infectividade e baixa patogenicidade o
Mycobacterium leprae”. Ainda de acordo com a autor acima
citado, a maioria dos indivíduos oferece resistência ao M.
leprae, não desenvolvendo a doença, situação que pode ser
alterada, em função da relação entre agente, meio ambiente e
hospedeiro, para os que adoecem a infecção pode tomar rumos
diversos de acordo com a resposta do hospedeiro frente ao
bacilo.
“Em relação a carga bacilar, a doença pode ser
classificada como paucibacilar ou multibacilar.
A hanseníase paucibacilar caracteriza-se por
ser menos grave, apresentar poucas lesões de
22
pele hipocrômicas (até cinco), com perda de
sensibilidade. Na forma multibacilar manifesta-
se com múltiplas lesões de pele (mais de
cinco), nódulos, placas, espessamento da derme
ou infiltração cutânea e, em alguns casos,
envolvimento da mucosa nasal, causando
congestão nasal e epistaxe.” (BRASIL, 2009).
A incidência da hanseníase no território nacional varia de
acordo com a região: 20 estados têm taxas consideradas altas
ou muito altas da doença seguidos por outros estados onde
houve um declínio nos coeficientes de incidência e prevalência
da hanseníase. Essa redução no coeficiente de incidência é
influenciada pela notificação de ocorrências, dependente das
condições técnico-operacionais para a detecção e notificação
de casos. (BRASIL, 2008).
Tais condições são peculiares a cada área geográfica de
desagregação dos dados e podem variar ao longo do tempo, em
função de fatores como: ampliação das fontes de notificação;
intensidade dos esforços realizados para a detecção de casos;
sensibilidade e especificidade das técnicas de diagnóstico e
tratamento; mudanças de critérios para definição e
classificação de casos. (BRASIL, 2008).
A hanseníase é uma doença de notificação compulsória em
todo o território nacional e de investigação epidemiológica
hierarquicamente superior, através de uma ficha de
notificação/investigação do Sistema de Informações de Agravo
de Notificação (SINAN). A vigilância epidemiológica tem
23
funções intercomplementares que são operacionaliza das através
de um ciclo completo de atividades específicas e inter-
relacionadas, que devem, necessariamente, ser desenvolvidas de
modo contínuo.
“A vigilância epidemiológica da hanseníase é
realizada através de um conjunto de atividades
que fornecem informações sobre a doença e sobre
o seu comportamento epidemiológico, com a
finalidade de recomendar, executar e avaliar as
atividades de controle da hanseníase. Visa
também, divulgar informações sobre a doença e
sobre as atividades de controle realizadas,
tanto para os responsáveis por essas
atividades, como para a população em geral.”
(BRASIL, 2009).
A Hanseníase é uma doença que possui tratamento e é
curável, entretanto, se no momento do diagnóstico o usuário
for detectado com alguma deformidade física, ele poderá ficar
com sequelas permanentes no momento da alta:
“O que torna importante tanto para o portador
da hanseníase, como para o sistema de saúde a
realização do diagnóstico precoce e o início
imediato do tratamento adequado, torna-se
importante salientar que como consta no Guia
para o controle da Hanseníase as incapacidades
nos olhos, nas mãos e nos pés principalmente
24
podem ser totalmente evitadas se os portadores
da doença forem tratados e acompanhados nos
serviços de saúde de atenção básica.” (SOUZA,
1997)
O abandono ao tratamento também constitui um importante
obstáculo a ser superado, uma vez que no Brasil, em média 18%
dos doentes abandonam os serviços antes de completarem o
tratamento, sendo a causa principal a má organização interna
dos serviços e a baixa cobertura dos mesmos, obrigando o
paciente a grandes deslocamentos na busca de um serviço para o
seu diagnóstico e tratamento (BERTOLOZZI, 2010).
A hanseníase causa frequentemente prejuízo na função
nervosa autonômica sensitiva e motora, o que determina
frequentemente incapacidades secundárias ou deformações em
olhos, face, mãos e pés. Essas incapacidades e deformidades
podem se tornar irreversíveis se o cliente afetado não receber
o tratamento apropriado, podendo causar limitação da atividade
e restrição de participação. (BRASIL, 2006).
Segundo Vladimir, Diltor, Opramolla em 1990, “a combinação
de limitação funcional, preconceito social e sofrimento humano
que acompanham a hanseníase, explicam porque essa doença é
mais temida do que outras, inclusive doenças fatais”. Em
vários contextos a imagem social negativa da hanseníase afeta
a avaliação e o manejo dos danose da disponibilidade de
medidas eficazes para a sua prevenção e tratamento, com
evidente reflexo na efetividade das ações desenvolvidas a fim
de conseguir sua eliminação A introdução da poliquimioterapia
25
(PQT) com esquema padrão no tratamento da hanseníase a partir
da década de 1980 possibilitou o tratamento e a cura da
doença, contribuindo para redução gradativa da prevalência da
doença. Dessa forma o PQT foi decisivo no encurtamento do
tempo de tratamento.
O sucesso da PQT fez com que a Organização Mundial da
Saúde ( 2005) estabelecesse o compromisso com a eliminação da
hanseníase como problema de saúde pública, e, alcançar uma
prevalência inferior a um caso em cada 10.000 habitantes,
inicialmente em 1991 até fim do ano 2000. A Organização Pan-
americana de Saúde (2001) divulgou relatório sobre a situação
de eliminação da hanseníase nas Américas. Observa-se que a
meta de eliminação da doença no nível nacional foi atingida
nos seguintes países: Argentina, Cuba, Equador, Paraguai e
Uruguai, enquanto que no Brasil a taxa de prevalência
(4,24/10.000 hab.) e de detecção 2,07/10.000 hab.), continua
acima da meta preconizada pela OMS. O que torna o Brasil o
principal responsável pela a carga da doença na Américas.
A política de controle da hanseníase no Brasil é
desenvolvida pela Secretaria de Vigilância em Saúde, através
do Programa Nacional de Controle da Hanseníase (PNCH) que ao
longo do tempo vem adequando as atividades em conformidade com
a estratégia para controle da doença como problema de saúde
pública visando o fortalecimento das ações de vigilância
epidemiológica da hanseníase e desenvolvimento de ações de
promoção da saúde com ênfase na educação em saúde, os objetivo
do PNCH são:
26
“Fortalecer a inserção da política sobre
hanseníase nos pactos firmados entre gestores
das três esferas de governo e nos instrumentos
de macroplanejamento das políticas públicas de
abrangência nacional;
Realizar ações de promoção, proteção à saúde,
prevenção, diagnóstico, tratamento e
reabilitação, envolvendo toda a complexidade da
atenção à saúde;
Fomentar a ampliação da cobertura das ações com
descentralização e prioridade à sua inclusão na
atenção básica e na estratégia Saúde da
Família;
Preservar a autonomia e a integridade física e
moral das pessoas acometidas pela hanseníase e
humanizar o atendimento;
Fortalecer as parcerias com a sociedade civil,
visando à mobilização social e ao controle
social das políticas de saúde relacionadas à
hanseníase.” (BRASIL, 2006).
A atenção ao doente de Hanseníase deve ser garantida em
todos os níveis de complexidade do Sistema Único de Saúde de
acordo com as necessidades de cada doente, ser disponibilizada
em serviços de saúde o mais próximo possível da sua
residência. Nesse sentido, no Brasil vem gradativamente
descentralizando as ações de controle da hanseníase para
atenção básica (BRASIL, 2006).
27
De acordo com Diniz (2009) é responsabilidade da
Estratégia saúde da família a execução das ações de vigilância
epidemiológica e atenção ao doente de hanseníase através do
diagnóstico, tratamento e realização de exames. As ações de
vigilância epidemiológica consistem na realização de
atividades que propicie informações sobre a doença e sobre o
seu comportamento epidemiológico, visando à descoberta precoce
de casos de hanseníase existentes na comunidade e o seu
tratamento. Recomenda-se a intensificação da busca ativa de
casos mediante o exame de contatos do caso diagnosticado, e
das outras formas de detecção ativa.
Para que a hanseníase seja diagnosticada precocemente é
importante que seja observado as seguintes condições:
“A população deve conhecer os sinais e sintomas
da doença e deve estar informada de que a
hanseníase tem cura. Deve estar informada,
também, sobre o tratamento e estar motivada a
buscá-lo nas unidades de saúde de seu
município;
As unidades de saúde devem ter seus serviços
organizados para desenvolver as atividades de
controle da hanseníase, garantindo o acesso da
população a esses serviços;
Os profissionais de saúde devem estar
capacitados para reconhecer os sinais e
sintomas da doença, isto é, para diagnosticar e
tratar os casos de hanseníase;os profissionais
28
de saúde, devem estar capacitados para realizar
ações de promoção de saúde.” (FRANÇA, 2005)
Nesse contexto, o diagnostico de um caso novo da doença
envolve as seguintes atividades: suspeição diagnóstica, a
confirmação do diagnóstico, tratamento poliquimioterápico do
caso e investigação epidemiológica (exame dos contatos) do
caso identificado. Considera-se caso de Hanseníase a pessoa
que apresenta um ou mais dos seguintes sinais cardinais e que
necessita de tratamento poliquimioterápico:
“• Lesão e/ou área da pele com diminuição ou
alteração de sensibilidade;
• Acometimento de nervo periférico, com ou sem
espessamento associado a alterações sensitivas
e/ou motoras e/ou autonômicas;
• Baciloscopia positiva de esfregaço
intradérmico;” (BRASIL, 2006).
Conforme evidencia Virmond, (1995) Após o diagnóstico do
caso, é iniciado o tratamento que consiste em quimioterapia
específica, supressão dos surtos reacionais, prevenção de
incapacidades físicas, reabilitação física e psicossocial.
Independente do grau de comprometimento dos programas de
controle em relação as ações de prevenção de incapacidades,
estas assumem posição preponderante nessa fase .Na indicação
do esquema terapêutico deve-se levar em conta toda a história
clínica do paciente, com especial atenção para alergias a
29
medicamentos, interação de drogas, e de doenças associadas. A
definição do esquema depende da classificação final do caso.
Conforme Andrade (1996) para o tratamento, o MS sugere uma
classificação operacional com os seguintes critérios:
paucibacilares (PB) - casos com até cinco lesões de pele e/ou
apenas um tronco nervoso comprometido e multibacilares (MB) -
casos com mais de cinco lesões de pele e/ou mais de um tronco
nervoso acometido. A baciloscopia positiva classifica o caso
como multibacilar, independentemente do número de lesões. Tal
classificação veio em consequência da implantação da
Poliquimioterapia implantada pelo MS na tentativa de combate a
doença, cita como principal consequência de uma classificação
incorreta da hanseníase no momento do diagnostico a ineficácia
do tratamento nos casos de pacientes multibacilares, desta
forma a classificação clinica se constitui como uma das
principais formas para definir o melhor tratamento para
determinado paciente com hanseníase.
Conforme Brasil (2010), além do diagnóstico e tratamento
dos casos identificados, cabe a unidade de saúde a realização
da vigilância de casos em menores de 15 anos e de recidivas.
As atividades de prevenção e tratamento de incapacidades
físicas não devem ser dissociadas do tratamento PQT. Serão
desenvolvidas durante o decorrer de cada caso e devem ser
integradas na rotina dos serviços da unidade de saúde, de
acordo com o seu grau de complexidade. A adoção de atividades
de prevenção e tratamento de incapacidades deve ser baseada em
informações obtidas através da avaliação dermatoneurológicas ,
30
no diagnóstico da hanseníase. Estas informações referem-se ao
comprometimento neural ou às incapacidades físicas
identificadas, as quais merecem atenção especial , tendo em
vista suas consequências na vida econômica e social de
pacientes com hanseníase, ou mesmo suas eventuais sequelas que
acometem aqueles já curados.
“Durante o tratamento PQT, e em alguns casos
após a alta, o profissional de saúde deve ter
uma atitude de vigilância em relação ao
potencial incapacitante da doença, visando
diagnosticar precocemente e tratar
adequadamente as neurites e reações, a fim de
prevenir incapacidades e evitar que as mesmas
evoluam para deformidades. Deve haver um
acompanhamento da evolução do comprometimento
neurológico do indivíduo, através da avaliação
neurológica, durante a consulta para
administração da dose supervisionada do
tratamento PQT. Serão adotadas técnicas simples
e condutas de prevenção e tratamento de
incapacidades adequadas ao caso.” (BRASIL,
2010).
Conforme a OMS (2005) os profissionais devem alertar ao
paciente para que ele também tenha essa atitude de vigilância,
orientando-o na realização e para a realização de alguns auto
cuidados para evitar-se a instalação de incapacidades, suas
complicações e para evitar-se que elas se agravem e evoluam
31
para deformidades. O tratamento medicamentoso do doente tem
sido uma estratégia bastante válida na luta para eliminação da
hanseníase, porém a adoção de medidas preventivas eficazes
concomitante ao tratamento, e uma constante avaliação dessas
torna-se fundamental para a quebra da cadeia epidemiológica e
não propagação da doença.
A ocorrência de recidiva é o indicador mais importante
para a eficácia do tratamento, ainda que as recidivas em
hanseníase possam ser causadas por cepas mono e
multirresistentes aos quimioterápicos. Considera-se caso de
recidiva na hanseníase o individuo que recebeu o tratamento
PQT/OMS, e geralmente após um período superior de 5 anos da
alta por cura, volta a apresentar sinais e sintomas de
atividade da doença . A ocorrência de recidivas está associado
ao tratamento PQT/MS incorreto e inadequado (PEREIRA, 2011).
Conforme Diniz (2009) na recidiva ocorre o aparecimento de
novas lesões características das formas clínicas da
hanseníase, nos mesmos locais do primeiro diagnóstico ou em
outras áreas da pele e/ou acometimento de nervos periféricos
(neurite). Nos casos paucibacilares (PB), é imprescindível o
diagnóstico diferencial com a reação reversa, sendo que esta
responde favoravelmente com a terapia de corticosteroide
sistêmico em doses preconizadas, diferente da recidiva.
32
5 Hanseníase
A hanseníase é uma doença crônica granulomatosa,
proveniente de infecção causada pelo Mycobacterium leprae.
Suas referências mais remotas datam de 600 A.C, procedendo da
Ásia que juntamente com a África podem ser consideradas como o
berço da doença (BRASIL, 2009).
33
A hanseníase é influenciada por fatores genéticos do
hospedeiro, fatores ambientais, como o estado nutricional,
vacinação com BCG e taxa de exposição ao M. leprae ou outras
micobactérias. A resposta imune é de fundamental importância
para a defesa do organismo frente à exposição ao bacilo. A
doença se caracteriza por apresentar alta infectividade e
baixa patogenicidade (MENDONÇA, 2008).
No Brasil, a doença se mantém em patamares elevados a
ponto de se constituir um problema de saúde pública, conforme
pode ser observado na tabela abaixo:
34
Dados: Ministério da Saúde, 2010.
O bacilo causador da doença é eliminado pelas vias aéreas
superiores, que constitui também a porta de entrada para a
infecção. A transmissão geralmente ocorre no espaço domiciliar
(FINE, 1992). Por tal razão, faz-se necessário o
esclarecimento dos contatos domiciliares para que se possa
quebrar a cadeia epidemiológica da transmissão, sendo os
pacientes multibacilares a principal fonte de infecção. Embora
a doença acometa os dois sexos, a literatura relata uma
predominância da mesma no sexo masculino em uma relação de
dois para um (BRASIL, 2002).
O diagnóstico da doença pode ser clínico, onde se
investiga a presença de manchas sem sensibilidade na pele,
além da investigação da lesão de nervos. De acordo com as
manifestações clínicas, a bacterioscopia e a histopatologia, a
doença pode ser classificada em indeterminada, tuberculóide,
virchowiana e dimorfa. Já em termos operacionais, a
classificação é paucibacilar e multibacilar (ROUQUAYROL,
2003).
A classificação operacional da doença ajuda na escolha do
seu tratamento, sendo que os pacientes hansênicos
paucibacilares apresentam um quadro clínico menos acentuado
que os multibacilares. Segundo o Ministério da Saúde, a
paucibacilar apresenta até cinco lesões de pele insensíveis
aos estímulos, estando inclusas as formas clínicas
indeterminada e tuberculóide que são negativas à baciloscopia.
No caso da multibacilar, estão presentes mais de cinco lesões,
35
englobando as formas virchoviana e dimorfa. Em se tratando da
dimorfa, esta pode apresentar uma baciloscopia positiva ou
negativa, variando, portanto, entre cada caso, enquanto a
virchowiana é positiva ao exame baciloscópico (BRASIL, 2009).
A baciloscopia é o exame complementar mais útil no
diagnóstico da hanseníase, é de fácil execução e baixo custo.
Colhe-se o material a ser examinado, realizando-se um raspado
de tecido dérmico nos lóbulos das orelhas direita e esquerda,
cotovelos direito e esquerdo e em lesão suspeita. O material
coletado é submetido ao método de coloração de Ziehl-Neelsen,
sendo o resultado apresentado sob a forma de índice
baciloscópico (ARAUJO, 2003).
As lesões da forma clínica indeterminada surgem após um
período de incubação que varia, em média, de dois a cinco
anos, apresentando um período de incubação longo.
Caracteriza-se pelo aparecimento de manchas hipocrômicas,
com alteração de sensibilidade, ou simplesmente por áreas de
hipoestesia na pele. As lesões são em pequeno número e podem
se localizar em qualquer área da pele. Freqüentemente, apenas
a sensibilidade térmica encontra-se alterada. Esta forma cursa
sem comprometimento de troncos nervosos, apenas de músculos e
de nervos cutâneos. Esta condição é considerada a primeira
manifestação clínica da hanseníase e, após período de tempo,
que varia de poucos meses até anos, ocorre evolução para cura
ou para outra forma clínica caso não seja tratada (ARAUJO,
2003).
36
Na forma clínica tuberculóide encontram-se lesões em
número reduzido bem delimitadas, anestésicas e de distribuição
assimétrica. Descrevem-se lesões em placas e áreas da pele
eritematosas ou hipocrômicas, podendo apresentar descamação
das bordas. Observam-se, ainda, a variedade infantil e a forma
neural pura.
A variedade infantil manifesta em crianças através do
contato intradomiciliar com portadores de formas bacilíferas,
localizado-se principalmente em face. Sua manifestação pode
ocorrer em forma de nódulos, placas, lesões tricofitóides ou
sarcoídicas. Na forma neural pura, as lesões cutâneas não se
fazem presentes (ARAUJO, 2003).
A forma virchoviana é caracterizada por representar o pólo
de baixa resistência dentro do espectro imunológico da doença.
Manifesta-se nos indivíduos que apresentam imunidade deprimida
para o Mycobacterium leprae. A forma virchoviana pode ocorrer
desde o início da infecção ou evoluir a partir da forma
indeterminada. Sua evolução crônica caracteriza-se por:
“Infiltração progressiva e difusa da pele,
mucosas das vias aéreas superiores, olhos,
testículos, nervos, podendo afetar, ainda, os
linfonodos, o fígado e o baço. Na pele,
descrevem-se pápulas, nódulos e máculas. A
infiltração é difusa e mais acentuada na face e
nos membros. A pele torna-se luzidia, xerótica,
com aspecto apergaminhado e tonalidade
semelhante ao cobre. Há rarefação dos pelos nos
37
membros, cílios e supercílios. A queda de pelos
nesse local chama-se madarose. A infiltração da
face, incluindo os pavilhões auriculares, com
madarose e manutenção da cabeleira, forma o
quadro conhecido como fácies leonina. O
comprometimento nervoso ocorre nos ramúsculos
da pele, na inervação vascular e nos troncos
nervosos.” (ARAÚJO 2003).
Já a dimorfa é caracterizada por sua instabilidade
imunológica, o que faz com que haja grande variação em suas
manifestações clínicas seja na pele, nos nervos, ou no
comprometimento sistêmico. As lesões da pele se revelam
numerosas e a sua morfologia mescla aspectos da forma
virchowiana e tuberculóide, podendo haver predominância ora de
um, ora de outro tipo. Compreendem placas eritematosas,
manchas hipocrômicas com bordas ferruginosas, manchas
eritematosas ou acastanhadas com limite interno nítido e
limites externos imprecisos, placas eritemato-ferruginosas ou
violáceas, com bordas internas nítidas e limites externos
difusos (lesões foveolares).
Quando numerosas, são chamadas de lesões “em renda ou
queijo suíço”. As lesões neurais são precoces e, com
freqüência, levam a incapacidades físicas (ARAUJO, 2003).
No momento do diagnóstico, deve-se atentar para o grau de
incapacidade física apresentado pelo paciente. Esta
observância permite a adoção de atividades de prevenção e de
tratamento de tais incapacidades avaliadas a partir de exame
38
neurológico. Cabe salientar que essas incapacidades físicas
merecem especial atenção porque refletem na vida econômica e
social dos portadores de hanseníase (BRASIL, 2009). Uma vez
que por vergonha, ou até mesmo por preconceito do grupo no
qual o indivíduo se encontre inserido, a prática de pedir
demissão como a de ser demitido se faz presente no cotidiano
dos portadores do mal de Hansen, acarretando então mudanças do
perfil econômico dessa população.
Além da deformidade física, característica própria da
doença, a falta de informações sobre o seu modo de
transmissão, controle ou cura, somada ao medo da exclusão
social que acompanha os hansenianos por longo período
contribuíram para que a hanseníase se tornasse uma doença
temida.
E esse reflexo econômico e social se dá na medida em que o
paciente de hanseníase muda seu ritmo de vida devido, em
parte, aos preconceitos que esse enfrenta na sociedade,
alterando a dinâmica do trabalho, e outros acabam por esconder
a doença. De acordo com Carrasco e Queiroz (1995), no que se
refere ao meio social e de trabalho do paciente, a atitude de
encobrir a hanseníase é generalizada. É comum, por conta do
preconceito, que o início do tratamento seja retardado pelo
próprio portador da doença. Este fato certamente contribui
para manutenção da cadeia de transmissão da doença tanto no
ambiente familiar como no próprio local de trabalho.
O diagnóstico, quando realizado de forma precoce,
contribui para a implementação de medidas que possibilitam a
39
prevenção das incapacidades físicas geradas pela doença. O
diagnóstico clínico da hanseníase ainda é atividade
fundamental nos programas de controle desta endemia, e o seu
esclarecimento na fase pré-clínica poderia causar grande
impacto no controle da endemia, podendo a meta de eliminação
da doença ser mais rapidamente alcançada (BRASIL et al.,
2003).
O treinamento adequado da equipe médica pode contribuir
para o diagnóstico precoce da doença. Dentre as metas mais
importantes no combate da hanseníase, está a introdução da
poliquimioterapia que se constitui por uma associação de
drogas. Nos últimos vinte anos, a ampliação da cobertura da
poliquimioterapia padrão OMS (PQT/OMS) para tratar os
pacientes de hanseníase mudou drasticamente a situação da
doença como problema de Saúde Pública (OPAS/OMS, 2003).
Após a introdução da poliquimioterapia, o tratamento da
doença passou a ser eminentemente ambulatorial e é
indispensável, para a cura do doente, fechar a cadeia de
transmissão para eliminar a hanseníase enquanto problema de
Saúde Pública.
No caso de paucibacilares, o tratamento consta da
associação de rifampicina e dapsona, sendo seis doses mensais
supervisionadas de rifampicina que pode ser tomada até noves
meses, após o início do tratamento. Após um abandono de até
três meses o tratamento ainda pode ser retomado, sendo
considerado curado o paciente que completa o esquema, ainda
que apresente sequelas da doença.
40
Já no caso dos multibacilares, associa-se aos medicamentos
já citados a clofazimina, sendo doze doses mensais
supervisionadas de rifampicina que podem ser tomadas em
intervalo de dezoito meses, considerando as irregularidades do
paciente ao serviço (BRASIL, 2009).
A rifampicina é considerada a primeira droga a ser
utilizada no combate ao Micobacterium leprae oferecendo um
resultado mais rápido. Esta medicação possui uma boa absorção
oral e geralmente seus efeitos adversos são raros (SILVA,
1998).
É necessário chamar a atenção de que para a OMS o
tratamento de paucibacilares tem duração de seis meses, ao
passo que o de multibacilares doze meses (OPAS/OMS, 2001).
Este fato traz implicações para os valores de prevalência já
que os pacientes em que o tempo de tratamento ultrapassar seis
meses ou um ano, a depender do caso, seriam considerados
curados de acordo com a OMS. Ressalta-se que no Brasil esses
casos são registrados como ativos, apesar de inativos para a
OMS.
Muitas vezes, pacientes submetidos ao tratamento, ainda
que de forma regular, podem apresentar as chamadas reações
hansênicas e, nesse caso, ficam submetidos ao uso de outras
drogas após o término do tratamento padrão com as drogas já
referidas. Nesses casos é feito o uso geralmente de
talidomida, ou predinisona. A primeira é pouco utilizada em
mulheres na idade fértil por tratar-se de uma droga
teratogênica capaz de causar malformações fetais. Já a segunda
41
quando utilizada, em período prolongado no tratamento das
reações hansenicas, pode causar impotência no sexo masculino.
Estas reações podem ser do tipo I e II, o tipo I são
eventos que se seguem a um desenvolvimento súbito de imunidade
celular, considerado um direcionamento transitório do paciente
para o pólo tuberculóide. Sua apresentação pode variar segundo
a forma clínica do paciente. Comumente, observa-se reativação
das lesões preexistentes ou aparecimento, em áreas
anteriormente não comprometidas, de novas lesões, apresentando
eritema e infiltração.
Ocorre a formação de uma placa de superfície lisa,
brilhante e de aspecto edemaciado, que pode involuir com
descamação de toda a lesão e hipercromia residual. A duração
do quadro reacional pode variar de semanas a meses (NERY et
al., 2006).
As ações para a eliminação da hanseníase devem estar
voltadas para uma descentralização de forma a facilitar o
acesso do usuário ao serviço e propiciar a redução do nível
endêmico da doença no Brasil. A inserção de equipes como as do
PSF, PACS e todas as Unidades do SUS facilitará o acesso
universal ao diagnóstico e tratamento.
Assim, de acordo com a Secretária de Saúde do Estado:
“A estratégia adotada pelo Brasil para atingir
a referida meta, fundamenta-se na ampliação da
rede de diagnóstico e atenção ao paciente,
através da descentralização destas ações para a
rede básica de serviços de saúde e na
42
mobilização social, visando o aumento da
detecção de casos novos.” (SESAB, 2005).
Dentre as medidas a serem implementadas no Programa de
Eliminação da Hanseníase, é recomendada a busca ativa na
população em geral de áreas de alta prevalência, a partir de
cinco casos por 10 mil habitantes, na profilaxia da hanseníase
(FIGUEIREDO E SILVA, 2003).
Tendo em vista a prática de omitir a doença, por parte de
alguns doentes, e o não esclarecimento da população,
certamente, a referida medida poderá contribuir para
diminuição da endemia, uma vez que essa busca possibilitará o
encontro dos doentes e dos contatos.
Esses contatos devem ser investigados quanto a presença da
cicatriz da vacina BCG, e se necessário for, deverão ser
imunizados com duas doses da vacina no intervalo de seis
meses. A ênfase nas ações educativas, aliadas a melhor oferta
de serviços de saúde com acesso facilitado e com
resolutividade, ainda se constitui na principal arma
disponível para controle da hanseníase (RÍMOLI et al., 2003).
E para implantação de tais medidas o perfil epidemiológico
da doença, evidenciando a distribuição desta na região,
contribui de forma significativa conforme se observa no texto
a seguir:
“Estudo da epidemiologia da hanseníase mostra
que a correta interpretação dos resultados
obtidos a partir da análise de indicadores
epidemiológicos, como o coeficiente de
43
detecção, prevalência, e outros, determinam
quais os fatores estão produzindo ou podem
produzir impacto na população de risco.”
(ANDRADE, 1996).
Dentre os indicadores epidemiológicos, ressalta-se a
incidência, já que esta permite estimar a força de transmissão
da doença, além de avaliar os impactos das ações de controle
sobre a transmissão. Esse coeficiente reflete a eficácia das
ações desenvolvidas para a descoberta de novos casos (ANDRADE,
1996). Dessa forma, constitui-se em boa ferramenta a ser
utilizada na avaliação das ações estabelecidas, além de
orientar os gestores de saúde na implementação de medidas que
contribuam para a eliminação do agravo, uma vez que a
especificidade desse coeficiente pode mostrar a forma como a
patologia se apresenta em determinado espaço e grupo.
A hanseníase hoje é prevalente nos países mais pobres,
especificamente nos estratos de população menos favorecida. É
desconhecida a real influência de variáveis como moradia,
estado nutricional, infecções concomitantes (HIV e malária) e
infecções prévias por outras micobactérias (ARAÚJO, 2003).
Assim, os coeficientes de detecção específicos como sexo,
idade, forma clínica, indicam por se só os riscos aos quais
determinado grupo está exposto (ANDRADE et al., 1996). Isso
possibilita uma intervenção mais direcionada, facilitando
desta forma a obtenção de resultados satisfatórios. A exemplo
disso, como no texto a seguir, a literatura relata que há
predominantemente uma concentração no sexo masculino e atribui
44
tal fato à mobilidade social que é conferida ao homem na
sociedade.
“Os homens são mais frequentemente acometidos
pela hanseníase, talvez em decorrência de uma
maior mobilidade social. Em situações onde as
mulheres vêm apresentando uma mobilidade social
progressivamente maior, em decorrência da
inserção no mercado de trabalho, como é o caso
de algumas áreas urbanas do Brasil, têm-se
encontrado coeficientes de detecção
semelhantes.” (ANDRADE, 1996).
O conhecimento destes dados, possibilita a adoção metas
pelos gestores, de que visem trabalhar a redução desta
patologia no grupo no qual ela aparece de forma mais
expressiva, ainda que este apresente uma maior mobilidade. Bons
indicadores epidemiológicos são necessários uma vez que a
distribuição da hanseníase não se dá de forma uniforme, já que
há uma tendência dos casos se concentrarem nos espaços. Dessa
forma, há uma exposição a risco diferenciado com relação ao
adoecer.
Nota-se, portanto, uma necessidade de planejamento das
intervenções de forma a direcionar as ações para as áreas que
apresentam uma maior concentração dos casos.
Epidemiologicamente, o Brasil apresenta um nível endêmico
da doença, porém como a sua distribuição é desigual nas
regiões, esta oscila desde coeficientes baixos até
hiperendêmicos.
45
Durante o ano de 2002, o Brasil estava com um nível
hiperendêmico, uma vez que apresentava um coeficiente de
prevalência de 4,45 casos por 10.000 habitantes, sendo na
época o país com maior coeficiente na América Latina. O Brasil
se posicionava entre os 12 países que não conseguiram vencer o
nível endêmico de 1985, quando 122 países conseguiram êxito
(OPAS/OMS, 2003).
Por sua vez, no estado da Bahia, segundo estudo realizado
em registros oficiais, no estado da Bahia a taxa de detecção
para o período de 1987 a 1997 apresentou um crescimento de
93,3%, de 0,64 por 10.000 habitantes a 1,24 para cada 10.000,
representando um incremento médio de 7 a 8% ao ano (BAHIA,
2002).
Para se enquadrar nos padrões regidos pela OMS, uma série
de ações devem ser desenvolvidas, inclusive intervenções que
visem a educação em saúde, o que provavelmente auxiliará na
redução da descriminação pela qual passam os portadores da
doença. É notório que embora o preconceito esteja menos
acentuado, este ainda se faz presente em vários momentos na
vida do doente, trazendo implicações como a demissão do
trabalho, o afastamento de amigos dentre outras ocorrências.
Para Oliveira (1999), o que se percebe é que:
“Apesar dos esforços no sentido de reduzir a
conotação negativa da doença, há ainda um
conjunto de imagens e idéias acerca da
hanseníase, representada pela sociedade, como
uma doença estigmatizante, fazendo com que seus
46
portadores ocultem seu problema afim de não
serem discriminados pela sociedade.” (OLIVEIRA,
1999).
Ainda sobre esse aspecto, Carrasco e Queiroz (1995)
acrescentam que os portadores com sinais mais pronunciados da
doença, como manchas em partes visíveis do corpo ou
deformidades físicas sofrem um estigma bem mais pronunciado.
Nos últimos tempos tem se trabalhado mais informações sobre a
hanseníase, procurando informar para conscientizar a população
e de certa forma diminuir o preconceito.
Entretanto, em países como a Índia, ainda hoje, para um
indivíduo portador da doença, não há alternativa a não ser o
abandono do emprego, a separação da família e a exclusão da
sociedade pelo estigma social (CARRASCO e QUEIROZ, 1995).
É importante salientar que a transmissão da doença não se
dá mais após o início do tratamento, e a mesma tem cura a
partir de um tratamento com a poliquimioterapia que pode
causar algumas reações nos pacientes. Sobre este aspecto
Carrasco e Queiroz em 1995, afirmam que para as famílias de
classe social mais baixa, e menor grau de instrução, torna-se
estranho que um tratamento que causa indisposições e mal estar
possa ao mesmo tempo promover a cura da doença.
O fato da hanseníase estar mais concentrada nas camadas
sociais menos privilegiadas também contribui para a
disseminação da doença, visto que os portadores podem esconder
que tem a doença, além de se omitirem ao tratamento, por
desconhecimento, ou por medo. De acordo com Claro em1995, o
47
ocultamento da doença, juntamente com a recusa do tratamento
médico, é um acontecimento frequente devido ao estigma,
preconceitos e falta de conhecimento em torno de sua
manifestação. O fator econômico social é considerado por
alguns autores como uma causa predisponente da hanseníase
(HELENE e SALUM, 2002).
Esses fatos devem ser observados pelos gestores e
profissionais de saúde, devendo os mesmos envolver as camadas
da sociedade na luta contra a endemia na tentativa de reduzir
o preconceito. Para tal, a educação em saúde se faz necessária
porque contribui com a formação de agentes multiplicadores da
informação. Nesse plano, o Ministério da Saúde propõe que:
“O processo educativo nas ações de controle da
hanseníase deve contar com a participação do
paciente ou de seus representantes, dos
familiares e da comunidade, nas decisões que
lhe digam respeito, bem como na busca ativa de
casos e no diagnóstico precoce, na prevenção e
tratamento de incapacidades físicas, no combate
ao eventual estigma e manutenção do paciente no
meio social.” (BRASIL, 2002).
Quando tais medidas forem de fato implantadas, certamente a
eliminação da hanseníase no Brasil poderá se efetuar e, para
isso, há a necessidade de maior participação por parte da
sociedade.
49
6.1 Tipo de estudo
Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem
quantitativa, realizado em um centro de saúde de Fortaleza,
Ceará.
6.2 Local e período
O estudo foi realizado no município de Fortaleza, no qual
o Centro de Saúde .... está localizado no seguinte endereço:
Rua ..., bairro ... .
Pesquisa realizada no período de agosto a dezembro de
2015.
6.3 População e amostra
Esse estudo tem como foco populacional os pacientes
atendidos portadores de Hanseníase do Centro de Saúde acima
citado, com registro, no período de 2010 a 2014.
6.4 Critérios de inclusão
Paciente do Centro citado, atendido e registrado com o
quadro de hanseníase;
Frequentar com regularidade o tratamento disponibilizado
pelo centro;
6.5 Critérios de exclusão
Registros com informações insuficientes/insatisfatória;
Pacientes evadidos do tratamento;
50
6.6 Coleta de dados
Os dados foram coletados na administração do Centro,
através do acesso as fichas de notificação e acompanhamento
dos casos. Realizada pelo próprio pesquisador, de segunda à
sexta-feira, pela manhã, durante cinco meses.
6.7 Variáveis do estudo
Para o presente estudo, utilizaram-se as variáveis: idade,
sexo, grau de incapacidade no momento do diagnóstico, modo de
entrada do usuário no serviço, modo de saída do usuário do
serviço, forma clínica da doença e baciloscopia.
6.8 Análise de dados
Após a coleta de dados, estes serão tabulados e analisados no
programa Excel 2010, e os resultados apresentados sob forma de
tabelas e gráficos.
6.9 Aspectos éticos e legais
Este estudo será submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa
respeitando a Resolução n°466/2012 do Conselho Nacional de
Saúde.
Para desenvolver a presente pesquisa foram considerados os
aspectos éticos norteados pela resolução do Conselho Nacional
51
de Saúde 196/96, que rege os princípios a serem observados na
pesquisa com seres humanos, atentando-se desta forma para
princípios da autonomia, não maleficência, beneficência e
justiça.
7 REFERÊNCIAS
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dos pacientes com diagnóstico de hanseníase em serviço de
dermatologia do estado de São Paulo. Volume 43. Revista da
Sociedade Brasileira de Medicina, 2010.
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