UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS DIREITO CONSTITUCIONAL I PROFESSORA: ISABEL DUARTE VALVERDE UNIDADE...

26
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS DIREITO CONSTITUCIONAL I PROFESSORA: ISABEL DUARTE VALVERDE UNIDADE I - DIREITO CONSTITUCIONAL E DO CONSTITUCIONALISMO 1. Natureza do Direito Constitucional: O Direito Constitucional é um ramo do Direito Público que distingue-se dos demais ramos por sua natureza específica. 2. Objeto do Direito Constitucional: Cabe ao Direito Constitucional o estudo sistemático das normas que integram a constituição do Estado. O objeto do Direito Constitucional é formado pelas normas relativas à estrutura do Estado, forma de governo, modo de aquisição e exercício do poder, estabelecimento de seus órgãos, limites de sua atuação, direitos e garantias fundamentais do homem e regras básicas da ordem econômica e social. 3. Conceito de Direito Constitucional: “O Direito Constitucional é um ramo do Direito Público, destacado por ser fundamental à organização e funcionamento do Estado, à articulação dos elementos primários do mesmo e ao estabelecimento das bases da estrutura política”. (Alexandre de Moraes) “O Direito Constitucional é ramo do Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e normas fundamentais do Estado”. (José Afonso da Silva) 4. Origem e adoção da Denominação “Direito Constitucional”: A origem da expressão Direito Constitucional está associada ao triunfo político e doutrinário de alguns princípios ideológicos na organização do Estado Moderno. Tais princípios como a limitação do poder ou autoridade governativa e a declaração de direitos foram impostos desde a Revolução Francesa, inspirando as formas políticas do chamado Estado Liberal, Estado de Direito ou Estado Constitucional. A designação direito constitucional começa a ganhar relevo em 1834, passando a ser lecionada na Faculdade de Direito de Paris. No Brasil, o termo se fixou definitivamente após 1940 no ensino didático. A antiga cadeira de Direito Público Constitucional foi 1

Transcript of UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS DIREITO CONSTITUCIONAL I PROFESSORA: ISABEL DUARTE VALVERDE UNIDADE...

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁSDIREITO CONSTITUCIONAL IPROFESSORA: ISABEL DUARTE VALVERDE

UNIDADE I - DIREITO CONSTITUCIONAL E DO CONSTITUCIONALISMO

1. Natureza do Direito Constitucional: O Direito Constitucional é umramo do Direito Público que distingue-se dos demais ramos por suanatureza específica.

2. Objeto do Direito Constitucional: Cabe ao Direito Constitucional o estudo sistemático das normas

que integram a constituição do Estado. O objeto do Direito Constitucional é formado pelas normas

relativas à estrutura do Estado, forma de governo, modo deaquisição e exercício do poder, estabelecimento de seus órgãos,limites de sua atuação, direitos e garantias fundamentais dohomem e regras básicas da ordem econômica e social.

3. Conceito de Direito Constitucional:

“O Direito Constitucional é um ramo do Direito Público,destacado por ser fundamental à organização e funcionamento doEstado, à articulação dos elementos primários do mesmo e aoestabelecimento das bases da estrutura política”. (Alexandre deMoraes)

“O Direito Constitucional é ramo do Direito Público que expõe,interpreta e sistematiza os princípios e normas fundamentais doEstado”. (José Afonso da Silva)

4. Origem e adoção da Denominação “Direito Constitucional”:

A origem da expressão Direito Constitucional está associada aotriunfo político e doutrinário de alguns princípios ideológicos naorganização do Estado Moderno. Tais princípios como a limitação dopoder ou autoridade governativa e a declaração de direitos foramimpostos desde a Revolução Francesa, inspirando as formas políticasdo chamado Estado Liberal, Estado de Direito ou EstadoConstitucional.

A designação direito constitucional começa a ganhar relevo em1834, passando a ser lecionada na Faculdade de Direito de Paris.

No Brasil, o termo se fixou definitivamente após 1940 no ensinodidático. A antiga cadeira de Direito Público Constitucional foi

1

desmembrada em duas: A Teoria Geral do Estado e DireitoConstitucional.

5. Principais tendências do Direito Constitucional:

Existem duas grandes tendências no campo do DireitoConstitucional. Uma tem um conteúdo social e político, histórico epragmático, vez que analisa as normas jurídicas pesquisando as suasraízes nas instituições político-sociais. As instituições jurídicasmergulham no mundo social histórico e devem ser analisadas emcorrelação com este.

Outra tendência é a orientação puramente formalista (HansKelsen), onde procura-se analisar as normas jurídicas existentes naConstituição considerando, tão somente, a sua exegese einterpretação, pouco importando o conteúdo histórico, social,econômico, material, que a norma possa ter.

6. Divisão do Direito Constitucional:6.1. Direito Constitucional Particular ou Positivo: Cada Estadoapresenta peculiaridades em sua organização jurídica fundamental,peculiaridades que são suficientes para distingüi-los. O DireitoConstitucional Particular ou Positivo trata do Direito de umdeterminado Estado, isto é, da organização e funcionamento dospoderes constitucionais desse Estado e tem por objeto a análise daConstituição nacional ou estrangeira.

6.2. Direito Constitucional Comparado: Sempre há entre Estadospontos de contato suficientes para justificar sua comparação sob umou outro aspecto peculiar. Dessa forma, pode-se dizer que estamosdiante do Direito Constitucional Comparado quando o método adotadona análise é o da comparação de pontos entre um Estado e outro.

6.3. Direito Constitucional Geral: É denominado de Teoria Geral doEstado e constitui-se na sistematização dos princípiosuniversalmente respeitados em matéria constitucional, isto é, aquiloque há de comum a todos os Estados. O Direito Constitucional Geralserve ao mesmo tempo de roteiro para o constituinte e para ointérprete.

7. A ciência do Direito Constitucional e suas relações com outrasciências:

O Direito Constitucional abarca várias ciências jurídicas quecompõem o rol de matérias que se ocupam do ordenamento jurídico doEstado. E se todos os ramos do Direito, sem exceção, estão atrelados

2

à Constituição e, portanto, ao Direito Constitucional, estadisciplina mantém, obrigatoriamente, relações íntimas com outras decunho não-jurídico e em especial, com a Economia, a Filosofia, aSociologia e a Política, tendo em vista que: a Economia condiciona oêxito das formas de governo; a Filosofia informa sobre os valoresque inspiram as organizações políticas; a Sociologia mostra a inter-relação dos fenômenos sociais (entre os quais pode-se citar osjurídicos e os políticos) e a Política, que é a ciência daorganização jurídica do poder.

8. O CONSTITUCIONALISMO

8.1) Resumo Histórico: A existência de um sistema constitucional fundamentado em leis

básicas remonta aos tempos antigos; A Magna Carta dos ingleses, de 1215, e a Bula de Ouro dos

húngaros, de 1222, são marcos expressivos na história inicialdo constitucionalismo;

Mas os documentos antigos não tinham a significação que odireito público atual dá às modernas Constituições, comodocumentos que resumem a vontade soberana da nação;

As Cartas antigas eram simples tentativas de pacificação entreo príncipe e o povo e não chegavam a limitar efetivamente opoder absoluto dos soberanos;

Foi na Inglaterra que se formou o primeiro capítulo na históriado constitucionalismo, com início no século XIII, tendo emvista sua tradição liberal e direito público costumeiro;

O Constitucionalismo moderno começou ao final do século XVIII,quando surgiram as primeiras constituições escritas, como leisbásicas das repúblicas liberais, registrando no seu texto asconquistas da filosofia liberal-individualista;

Com a guerra da independência do Estados Unidos da América doNorte e a revolução francesa, ambas impulsionadas pelaspregações racionalistas da época (século XVII e XVIII), surgiuo Estado Liberal, documentado pela Constituição escrita(formalização de um pacto social), em cujo texto se declaram osdireitos fundamentais do homem.

8.2) Conteúdo Substancial: O constitucionalismo é a formalização da filosofia liberalista; Qualquer ato de governo, de manifestação do poder, só é

considerado legítimo dentro dos princípios traçados naConstituição;

3

O governo é mandatário da nação e deve atuar como foideterminado por esta;

Quando o governo excede seu poder e atua de forma arbitrária,torna-se ilegítimo e pode ser modificado por nova manifestaçãoda soberania popular;

A importância das Constituições escritas se encontra,principalmente no capítulo que lhes é essencial: o dadeclaração e garantias dos direitos fundamentais do homem

9. PODER CONSTITUINTE

9.1) Conceituação: poder constituinte é a capacidade de criação,instituição, construção de alguma coisa. No Direito Constitucional aexpressão indica o poder de constituir, criar um Estado.

9.2) Surgimento: o poder constituinte originário, na sua versãoclássica, é de origem francesa e está vinculado às manifestaçõesrevolucionárias.

Do ponto de vista histórico, pode-se afirmar que a grandeevolução do conceito de Estado reside na erradicação daconfusão entre o Poder Executivo e o poder constituinte,estabelecendo-se de forma nítida e perceptível as diferençasentre esses dois poderes.

O poder constituinte começa a tomar forma com a possibilidadedo surgimento das incipientes assembléias constituintes,consideradas na acepção ampla da expressão. Estas podem sertraduzidas, justamente, nas chamadas convenções das Colôniasrecém libertadas pela Revolução Americana.

O exercício do poder constituinte se manifesta através de umaassembléia constituinte.

9.3) Titularidade do poder constituinte: O titular do poder constituinte é o povo, uma vez que ele é o

instrumento direto da idéia de Direito. A assembléia nacional constituinte deve concretizar a vontade

popular, mas nem sempre é assim, pois uma pessoa ou um grupopode deter o poder constituinte. Nesse caso, o povo é otitular de direito, mas não de fato, pois a Constituição seráde origem outorgada, sem a participação popular.

A convocação democrática de uma assembléia nacionalconstituinte está atrelada à eclosão revolucionária, pois aproposta consiste em substituir o Estado, a estrutura vigentedas coisas.

4

A atual Constituição brasileira entende que o titular do poderconstituinte é o povo, de fato e de direito (art. 1º,parágrafo 1º, CF/88).

9.4) Tipos de poder constituinte:

9.4.1) originário;9.4.2) derivado (subordinado e condicionado):

a) decorrente: elaboração das Constituições estaduais pelosEstados membros da Federação Brasileira;b) constituído: regulamentar o texto constitucional ou reformaro texto constitucional.

9.4.3) Características do poder constituinte originário:a) supremo;

b) ilimitado; c) extraordinário; d) indelegável.

9.5) Regulamentação do texto constitucional: é realizada através deprodução legislativa e normativa e visa a transformar todos osdispositivos constitucionais não auto-aplicáveis em normas deeficácia plena.

9.6) Reforma do texto constitucional: a alteração no texto daconstituição pode ser feita por meio da Revisão (alteração comcaráter mais amplo) e por meio da Emenda (caráter específico).

9.7) Limitações ao poder de reforma constitucional:a) materiais, substanciais ou cláusulas pétreas: (art. 60, parágrafo4º, incisos I a IV);b) formais ou procedimentais: (artigo 60, caput, parágrafos 2º e3º). Derivam da rigidez constitucional.c) circunstanciais: no direito brasileiro, não há limitaçõestemporais, isto é, não existe dispositivo constitucionalestabelecendo um período de tempo entre a tramitação de uma emenda ea apresentação de outra idêntica ou não. A exceção foi o artigo 2ºdo ADCT quanto ao processo revisional.d) implícita: o artigo 60 da CF é o único que não admite nenhumaespécie de emenda constitucional, seja aditiva, modificativa ousupressiva.

9.8) Princípio da supralegalidade constitucional:

5

A superioridade do Poder Constituinte confere ao ordenamentojurídico estatal dupla categoria de normas: a constitucional ea ordinária (infraconstitucionais);

Sem a distinção hierárquica das normas não é possível um eficazsistema de controle de constitucionalidade;

Quanto à hierarquia da normas, a doutrina faz distinção entresupremacia material e supremacia formal ;

A supremacia formal apenas se manifesta nas Constituições quesurgem de uma só vez, materializando-se em um único texto, istoé, uma Constituição escrita, fundamentada em dogmas quenorteiam a realidade de um Estado ao tempo de sua elaboração;

A supremacia material reflete a própria natureza da normaconstitucional, que, por estruturar o Estado e servir de basepara o ordenamento jurídico é hierarquicamente superior àsoutras normas jurídicas.

UNIDADE II – TEORIA DA CONSTITUIÇÃO

1. Conceito:

A palavra constituição é empregada com vários significados. Mastodas as acepções expressam a idéia de modo de ser de alguma coisa e, porextensão, a idéia de organização interna de seres e entidades. Nesse sentido,pode-se dizer que todo Estado tem constituição, que é o simples modo de ser doEstado.

Por outro lado, considerando a constituição como leifundamental de um Estado, pode-se dizer que a constituição é aorganização dos elementos estatais: “ um sistema de normas jurídicas, escritasou costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo deaquisição e o exercício do poder, o estabelecimento de seus órgãos, os limites de sua ação,

6

os direitos fundamentais do homem e as respectivas garantias”. (Jose Afonso daSilva)

2. Objeto e Conteúdo das constituições:

2.1. Objeto: as constituições têm por objeto o estabelecimento daestrutura do Estado, a organização de seus órgãos, o modo deaquisição do poder e a forma de seu exercício, limites de suaatuação; assegurar os direitos e garantias dos indivíduos; fixaçãodo regime político e disciplina dos fins sócios - econômicos doEstado, bem como também, os fundamentos dos direitos econômicos,sociais e culturais.

2.2. Conteúdo: a cada etapa da história algo novo entra nos textosconstitucionais. A ampliação do conteúdo da constituição gerou adistinção entre:

a) constituição em sentido material: as previsões das constituições,que se referem à estrutura do Estado, à organização dos poderes, seuexercício e aos direitos do homem e respectivas garantias.

b) constituição em sentido formal: as previsões das constituições,que não se referem à estrutura de Estado, à organização dos poderes,seu exercício aos direitos do homem e respectivas garantias. Só sãoconstitucionais em virtude da natureza do documento a que sereferem, por isso diz-se que são constitucionais apenas do ponto devista formal.

A constituição não pode ser compreendida e interpretada, se nãose tiver em mente essa estrutura, considerada como conexão desentido, como é tudo aquilo que integra um conjunto de valores.Entretanto, isso não impede o estudo de cada perspectivaseparadamente.

2. Classificação das constituições:

O seguinte critério de classificação é junção dos métodos de JoséAfonso da Silva, Alexandre de Moraes, Luiz Alberto David Araújo e VidalSerrano Nunes Jr.

a) Quanto à origem: ; Promulgada ou votada -> são Populares e Democráticas, fruto de um

Poder Constituinte, composto de representantes do povo, eleitospara o fim de as elaborar e estabelecer, através de uma AssembléiaConstituinte. Ex. pátrios: 1891, 1934, 1946 e 1988.

7

Outorgada -> são aquelas elaboradas e estabelecidas de formaautoritária, sem qualquer participação popular. Ex. pátrios: 1824,1937, 1 967 e 1969.

Cesarista – são aquelas que, não obstante outorgadas, dependem daratificação popular por meio de referendo. (Ex.: referendo popularsobre um projeto elaborado por um Imperador – referendonapoleônico, e por um Ditador – referendo de Pinochet, no Chile).

b) Quanto à estabilidade:

Flexível-> podem ser alteráveis segundo o processo de elaboraçãodas demais leis.

Rígidas- são as Constituições somente alteráveis medianteprocessos solenes e exigências formais especiais, diferentes emais difíceis que os determinados para criação das demais leisordinárias ou complementares. São Imutáveis aquelas em que se vedaqualquer alteração, constituindo-se relíquias históricas.

Semi-Rígida ou semi flexível -> são as que contem uma parte rígidae outra flexível. Ex.: Constituição do Império de 1824.

c) Quanto à forma/ modo de elaboração:

Escrita ou dogmática -> quando codificada e sistematizada num textoúnico. Sistematiza os dogmas ou idéias fundamentais da teoria políticae do Direito dominantes no momento.

Costumeira ou histórica -> as normas não estão unificadas num únicodocumento, e baseiam-se principalmente nos costumes, na jurisprudência,em convenções e em textos constitucionais esparsos. Resulta de lentaformação histórica, do lento evoluir das tradições, dos fatos sócio-políticos que se solidificam como normas fundamentais da organização dedeterminado Estado.

d) Quanto ao conteúdo:

Material ou Substancial -> aquelas que trazem tudo quanto forconteúdo básico referente a composição e ao funcionamento da ordempolítica. Trazem matérias tipicamente constitucionais. Ex. naCF/88: arts. 1°, 2° e 18. Ela pode ser concebida em sentido amplo e emsentido estrito. No primeiro identifica-se com a organização total doEstado, com regime político. No segundo, designa as normasconstitucionais escritas ou costumeiras, inseridas ou não numdocumento escrito, que regula a estrutura do Estado, a organizaçãode seus órgãos e os direitos fundamentais.

Formal -> e o peculiar modo de existir do Estado, reduzido, sobforma escrita, a um documento solenemente estabelecido pelo Poder

e) Quanto à sistemática: Reduzida -> um único código. Sistematizado. Variada -> diversos diplomas legais.

f) Quanto à ideologia: Ortodoxa -> uma so ideologia. Eclética -> formada por varias ideologias conciliatórias. Ex.

CF/88.

8

g) Quanto à extensão dou finalidade: Analítica-> que examinam e regulamentam todos os assuntos que

entendam relevantes a formação, destinação e funcionamento do Estado(p.ex.: Constituição Brasileira de 1988).

Sintética-> prevêem somente os princípios e as normas gerais deregência do Estado, organizando-o e limitando seu poder, por meio daestipulação de direitos e garantias fundamentais (p.ex.: ConstituiçãoAmericana).

3 - ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO - DIREITO PÁTRIO – CF/88.

a) Elementos Orgânicos - encontram-se nas normas que regulam a estrutura do Estado e do poder, e em nossa Constituição, predominam nos Títulos III, IV,Capítulos I e II do Titulo V e Titulo VI;

b) Elementos Limitativos - se manifestam nas normas que consubstanciam o elencodos direitos e garantias fundamentais, sendo chamados de limitativos porquerestringem a ação dos poderes estatais e dão a tônica ao Estado de Direito,e estão inscritos no Titulo II, exceto o Capitulo II;

c)Elementos Sócio-ideólogicos - estão nas normas que revelam o caráter decompromisso das Constituições modernas entre o Estado individualista e oEstado Social, intervencionista, como as do Capitulo II, do Título II, e asdos Títulos V VIII;

d)Elementos de Estabilização Constitucional - estão consagrados nas normas quevisam assegurar a solução de conflitos constitucionais, a defesa daConstituição, do Estado e das instituições democráticas, e são encontradasno art. 102, I, "a", arts. 34-36, 59,1 e 60 e Titulo V;

e)Elementos Formais de Aplicabilidade - se acham consubstanciados nas normas queestatuem regras de aplicação das Constituições, assim o preâmbulo, odispositivo que contem as cláusulas de promulgação e as disposiçõesconstitucionais transitórias (ADCT), assim também a do § 1° do art. 5°,segundo o qual as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentaistêm aplicação imediata.

4 – HIERARQUIA E SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO

O princípio da supremacia constitucional é a sustentação do DireitoPublico do Estado Moderno.

As normas constitucionais põem-se acima das demais normas jurídicas- hierarquia -convalidando em sua superioridade sobre as demais.

As normas constitucionais não são produtoras de direitos, mas, sim,a expressão vitoriosa do Direito, fruto das conquistas históricas,sociais, políticas, econômicas, geográficas, axiológicas; que seformalizam através de um Poder Constituinte Originário.

O que se pretende, vetor direcionado a supremacia da Constituição, e concepção que não a entendacomo simples e pura norma, mas norma em sua contextualidade social a carrear-lhe esteio fático e

9

axiológico. O sentido jurídico da Constituição não se obterá se a apreciarmos desgarrada da vidasocial, sem conexão com o conjunto da comunidade. A Constituição não pode ser compreendida einterpretada se não tiver em mente essa estrutura, considerada como conexão de sentido, como etudo aquilo que Integra um conjunto de valores. (Controle de Constitucionalidade:conceitos, sistemas e efeitos. Oswaldo Palu. p. 31 e32).

4.1) SUPERIORIDADE CONSTITUCIONAL

a) material: é a superioridade do conteúdo de natureza constitucional.A doutrina reconhece nas constituições costurmeiras e nas flexíveis porapresentar rigidez do ponto de vista sociológico e sócio – político.b) formal: do ponto de vista jurídico esta é reconhecida, pois se apóiana regra da rigidez constitucional (para constituições rígidas,escritas, em documento solene).

5- EVOLUÇÃO CONSTITUCIONAL BRASILEIRA. CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DASCONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

Ao longo de sua história, o Brasil teve oito Constituições.Destas quatro foram outorgadas (Constituições de 1824, 1937, 1967 e1969). Elas foram impostas pelo Chefe de Estado sem a devidaconsulta prévia ao povo ou a seus legítimos representantes. Asoutras quatro (Constituições de 1891,1934,1946 e 1988) resultaram deum processo democrático, sendo votadas e promulgadas por AssembléiasConstituintes.

5.1) Brasil Colônia – A colonização do Brasil se deu com a divisão do território

colonial em 12 porções irregulares, todas confrontando com o oceano,chamadas estas de capitanias hereditárias. Os titulares eramdesignados donatários e faziam a lei dentro de seus limites,exercendo o seu governo com jurisdição civil e criminal. A únicafonte comum de poder político e administrativo entre as capitaniasera a metrópole.

Em 1549 foi nomeado o primeiro Governador – Geral, Tomé deSouza, que trouxe com ele o Regimento do Governador – Geral, queeram Cartas organizatórias do regime colonial, que conferiam aoGovernador – Geral poderes atinentes ao Governo Político e aoGoverno Militar.

Em 1621, o governo geral dividiu-s em governos regionais(Estado do Maranhão e Estado do Brasil), e estes em váriascapitanias gerais. Cada capitania dividiu-se em comarcas, distritos.Todos subordinados em tese ao Governador – Geral da capitania.

10

Porém, acabaram-se autônomos, independentes do poder central que erao capitão – general.

Nas zonas de exploração agrícola, floresceu uma organizaçãomunicipal. O Senado da Câmara ou Câmara Municipal constituiu-se noórgão do poder local. Era composto de vários oficiais, à imitação dosistema de Portugal.

A ausência de um poder central trouxe a formação coronelísticaoligárquica, que com a dispersão do poder político durante a colôniae na formação de centros efetivos de poder locais, se encontravamcomo fatores reais de poder.

5.2) Brasil Império – O Brasil, Reino Unido à Portugal teve início com a chegada de

D. João VI ao Brasil em 1808. Em 1815, o Brasil foi elevado àcategoria de Reino Unido a Portugal, pondo fim ao sistema colonial eao monopólio da Metrópole.

Em 7 de setembro de 1822 houve a independência e surgiu oEstado Brasileiro sob a forma de Governo Imperial.

Quando de sua emancipação política em 1822, o Brasil era regidopelas antiquadas Ordenações do Reino, expedidas m 1603 por Filipe I,embora alteradas por inúmeras leis e decretos extravagantes.

Pela necessidade de um legislação própria, o governo imperialexpediu a Lei de 20 de outubro de 1823, estabelecendo a vigência portodo o território nacional as Ordenações, leis e decretos dePortugal, enquanto não fossem organizadas um novo Código.

5.2.1) A Constituição de 1824- Chamada de Constituição Política do Império do Brasil, de 25 de

março de 1824. Possuía 179 artigos. Trazia idéias do Liberalismo (ohomem como base de todo o sistema social: o indivíduo protegidofrente ao Estado). E tinha como características:

Inspiração nas teorias liberais, como no rol dos direitosindividuais e garantias, considerados modernos para a época eque permaneceu nas Constituições posteriores;

Centralização monárquica, com previsão do Poder Moderador –divisão quadripartida;

Semi-rigidez quanto à imutabilidade, pois permitia que osdispositivos da Constituição material fossem modificáveis pormaioria, mas admitia a modificação de dispositivos daConstituição formal através dos mesmos requisitos necessários àelaboração da lei comum (artigo 178);

Trouxe a enumeração dos direitos individuais (artigo 179)estabelecendo um regime co-respectivo de garantias individuais(positivação e subjetivação);

11

Irresponsabilidade do Imperador e responsabilidade de seuMinistério;

O Poder Executivo, exercido pelos Ministros de Estado, tinhacomo chefe também o Imperador (o Rei reinava, administrava egovernava);

O Poder Judiciário era independente e composto de juízes ejurados.

A Constituição de 1824 referiu-se expressamente à organizaçãode um Código Civil e Criminal, fundados nas sólidas bases dajustiça e da equidade.

5.3) Fase Republicana – Os poderes efetivos e autônomos do Brasil aliaram-se aos novos

fatores da vida política brasileira: o federalismo, como princípioconstitucional de estruturação do Estado, a democracia como regimepolítico que melhor assegura os direitos humanos fundamentais.Assim, tomba o Império e instala-se o governo provisório sob apresidência do Marechal Deodoro da Fonseca e sob a primeiraafirmação constitucional, o Decreto n. 1, de 15 de novembro de 1889.

Foi elaborado um Projeto de constituição, que foi publicadopelo Decreto 510, de 22 de junho de 1890, como Constituição aprovadapelo Executivo. Pouco mais de três meses após a instalação daAssembléia-Geral Constituinte, a primeira Constituição republicanaficara aprovada, com pequenas alterações no Projeto do Executivo.

5.3.1) Constituição de 1891 e o início da RepúblicaChamada de Constituição da República dos Estados Unidos do

Brasil. Promulgada no dia 24 de fevereiro de 1891. Para AmaroCavalcanti, esta Constituição era o "texto da Constituição norte-americanacompletado com algumas disposições das Constituições Suíça e Argentina".

Tinha 91 artigos em seu texto e 8 nas DisposiçõesConstitucionais e Transitórias. Instituía o Federalismo comoprincípio da estruturação do Estado e a democracia representativacomo regime político, tendo como principais características:

As províncias foram transformadas em Estados-membros daFederação brasileira, mas dirigidas por presidentes;

Houve a autonomia constitucional dos Estados-membros; Extinção do Poder Moderador; Eleição do Presidente pelo sufrágio direto e com

responsabilidade perante a Câmara (inspiração dopresidencialismo americano);

Instituição do Habeas Corpus; Poder dos governantes (tentativa de extinção do coronelismo);

12

Criação da Justiça Federal; Previsão da Intervenção Federal (inspirada na Constituição

Argentina de 1853); Abolição da pena de morte.

5.3.2) A Revolução de 1930 e a questão social

O sistema constitucional enfraqueceu o poder central ereacendeu os poderes regionais e locais, adormecidos durante oImpério. O fenômeno do Coronelismo voltou, o qual possuía suaspróprias lei e funcionava na base da coerção pela força e leiverbal, bem como pelos favores e obrigações. Os coronéis elegiamgovernadores, deputados e senadores. Os governadores impunham oPresidente da República. Houve uma dissonância entre a constituiçãomaterial e o esquema normativo da Constituição vigente, tão bemestruturada formalmente.

A Emenda Constitucional de 1926 não conseguiu adequar aConstituição formal à realidade. Quatro anos depois aconteceu aRevolução de 1930, que teve a finalidade de desmontar o coronelismo.

Getúlio Vargas foi o líder civil da Revolução. EleitoPresidente da República inclinou-se para a questão social. Criou-seo Ministério do Trabalho, investiu-se na educação e cultura. Houve aintervenção nos Estados-membros, afastou-se a influência doscoronéis. Houve a decretação do Código Eleitoral em 03 de fevereirode 1932. Em 03 de maio de 1932 marcou-se as eleições à AssembleiaConstituinte para 03 de maio de 1933. Três meses depois estoura emSão Paulo a Revolução que se chamou constitucionalista, que ensejouna segunda Constituição republicana do país. 5.3.2.1) A Constituição de 1934 e o fim da República Velha

Chamada de Constituição da República dos Estados Unidos doBrasil, promulgada em 16 de julho de 1934. Possuía 187 artigos eainda 26 nas Disposições Constitucionais Transitórias. EssaConstituição sofreu forte influência da Constituição alemã deWeimar. Surgiu em decorrência do movimento revolucionário que alçouGetúlio Vargas no poder. E tinha como características:

Definição do sistema eleitoral (voto feminino) e instituição daJustiça Eleitoral;

Adoção do unicameralismo, transformando o Senado em órgão decolaboração da Câmara dos Deputados (ente como exclusividade doPoder Legislativo);

Oscilou entre o liberalismo e o intervencionismo; Determinou a responsabilidade solidária dos ministros de Estado

com o Presidente da República; Ministério Público como órgão de cooperação nas atividades

governamentais;

13

Instituição do Mandado de Segurança; Previsão de declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato

do poder público pela vocação da maioria absoluta de votos doscomponentes dos tribunais (artigo 179);

Estipulação da tríplice garantia dos magistrados(vitaliciedade, irredutibilidad de vencimentos einamovibilidade);

Criação das Justiças Eleitoral e Militar; Criação do Ministério do Trabalho; Ao lado da clássica declaração de direitos e garantias

individuais, a Constituição de 1934 inscreveu um título sobre aordem econômica e social e outro sobre a família, a educação ea cultura, com normas quase todas programáticas.

5.3.3) O Estado NovoSurgem ideologias novas no mundo, e no Brasil, os partidos

políticos buscaram adaptar-se a elas. Surge então, um partidofascista (A Ação Integralista Brasileira) que tinha como chefe,Plínio Salgado, que, como Mussolini e Hitler, se preparava paraempolgar o poder. Ainda, reorganiza-se o partido comunista,disciplinado, cujo chefe Luís Carlos Prestes, também queria o poder.

Getúlio Vargas, no poder, eleito que fora pela AssembleiaConstituinte para o quadriênio Constitucional, dissolve a Câmara e oSenado revoga a Constituição de 1934, e promulga a Carta de 1937 em10 de novembro de 1937. "(...) as novas formações partidárias, surgidas em todo o mundo, por sua própria naturezarefratária aos processos democráticos, oferecem perigo imediato para as instituições,exigindo de maneira urgente e proporcional à virulência dos antagonismos, o reforço dopoder central". Desta forma se implantou a nova ordem denominada EstadoNovo. Getúlio prometeu plebiscito (o correto seria referendo) paraaprovar a nova Constituição, mas nunca o convocou. Institui-se aDitadura.

5.3.3.1) A Constituição de 1937Adveio da revogação da Constituição de 1934 por ato de Getúlio

Vargas. Inaugura-se a fase denominada Estado Novo, implantando-se umregime autocrático, onde se legislava por intermédio de decretos-leis, concentrando-se o Poder Executivo e Legislativo nas mãos doPresidente da República. Conhecida como "Polaca", por ter adotadocomo parâmetro idéias polonesas.

A Constituição de 1937 possuía 187 artigos, com as seguintescaracterísticas principais:

Inspiração fascista e totalitária; Apesar de prever plebiscito (adequado seria o referendo)

nacional para sua vigência (Constituição Cesarista), nunca foi

14

realizada a consulta (artigo 187, após revogado pela Emenda n.09/45);

Ignorou o Mandado de Segurança e a Justiça Eleitoral criados em1934;

Não tratou da organização do Ministério Público; Extinguiu a Justiça Federal; Previsão de superação da decisão judicial que declarasse a

inconstitucionalidade de lei, pela confirmação do textonormativo, mediante provocação de Presidente, por 2/3 doParlamento (artigo 96, parágrafo único);

Restaurou a pena de morte.

5.3.4) A Constituição de 1946 e a redemocratização do paísCom o término da Segunda Guerra Mundial, houve a

redemocratização do país, e o fim do Estado Novo. Os MinistrosMilitares derrubaram Getúlio Vargas, desconfiados de que estaria eletramando sua permanência no poder. Surge então, nova Constituiçãocom 222 artigos e 36 Disposições Finais, tendo sido promulgada em 18de setembro de 1946, pela Assembleia Constituinte.

Teve como base para sua formação as Constituições de 1891 e de1934. A Constituição de 1946 regeu o país por vinte anos. Nesseínterim, Getúlio Vargas elegeu-se com um programa social e econômicoque inquietou as forças conservadoras, que acabaram provocandoenorme crise que culminou com o suicídio do chefe de governo.

A Constituição de 1946 teve 21 Emendas, 4 Atos Institucionais e37 Atos Complementares, e tinha como características:

Correta observância da técnica constitucional, com traçospolíticos que apontavam a abertura para a recuperação da ordemsocial;

Prestígio ao municipalismo, especialmente quanto à repartiçãoda receita tributária;

Restauração do Mandado de Segurança; Liberdade de organização partidária; Proibição das penas de morte, confisco e banimento; Instituição do direito de greve; Restauração parcial da Justiça Federal (somente 2º grau), e da

previsão constitucional do Ministério Público; Criação da Justiça do Trabalho.

5.3.5) Os Atos InstitucionaisSucederam Getúlio Vargas, vários presidentes, tais como Café

Filho, Carlos Luz, Senador Nereu Ramos que entrega a Presidência àJuscelino Kubitschek de Oliveira. Elege-se Jânio Quadros, querenuncia, assumi o vice João Goulart, contra a vontade dosmilitares. Então vota-se às pressas uma Emenda Constitucional

15

parlamentarista (EC n.4, de 2 de setembro de 1961), denominada AtoAdicional, retirando poderes do presidente. Consegue-se umplebiscito que se pronuncia contra o parlamentarismo e volta aopresidencialismo.

O Congresso aprovou a EC n. 6, de 23 de janeiro de 1963,revogando o Ato Adicional. Jango cai no dia 1º de abril de 1964, como Movimento Militar instalado no dia anterior.

Todos que seguiram o Presidente deposto ou com elesimpatizavam, ou protestavam contra o autoritarismo implantado,foram perseguidos.

Para a manutenção da ordem foi elaborado o AI n.1 de 09 deabril de 1964, impondo cassações de mandatos e suspensões de direitopolíticos. Elege-se Presidente o Marechal Castello Branco, quegovernou sob a égide deste Ato e outros complementares.

Ainda houveram o AI 2, de 27 de outubro de 1965, o AI 3 e o AI4, este regulando o procedimento a ser obedecido pelo CongressoNacional para votar a nova Constituição, cujo Projeto foiapresentado pelo Governo.

Em 24 de janeiro de 1967, foi promulgada a nova Constituição, aqual resumiu as alterações institucionais da Constituição de 1946.Possuía 189 artigos, sendo outorgada pelo Governo Militar econcentrou poderes nas mãos da União e do Presidente da República(Marechal Costa e Silva), revelando-se tecnicamente melhor no tratodas matérias orçamentárias e tributárias. Demonstrou fundamentalpreocupação com a segurança nacional. E teve como principaiscaracterísticas:

Fortalecimento do Executivo em matéria legislativa (decretos-lei);

Suspensão de direitos e de garantias constitucionais; Redução da autonomia individual; Reaparecimento da Justiça Federal de 1ª Instância; Previsão de desapropriação para fins de reforma agrária.

5.3.6) A Constituição de 1969 (Emenda Constitucional n.1 de 1969) Com o agravamento da crise política e a edição de medidas

autocráticas, registrou-s um rompimento da ordem constitucional(principalmente após o AI n. 05 de 1968), culminando com a entradaem vigor da Emenda Constitucional n. 1 de 1969. Sobressaem osseguintes aspectos:

Mudança de denominação: de Constituição dos Estados Unidos doBrasil para Constituição da República Federativa do Brasil;

Fiscalização financeira e orçamentária dos municípios,permitindo a criação de Tribunais de Contas nos Municípios commais de 2 milhões de habitantes;

16

A rejeição de Decreto-lei não implicaria a nulidade dos atospraticados durante sua vigência.

Obs.: Do ponto de vista formal, a Constituição de 1969 tomou o aspecto de emendaconstitucional (17 de junho de 1969, EC nº 1) à Constituição de 1967. Durante certo tempo,houve polêmica entre os juristas, pois alguns julgavam que a Carta de 1967 tivesse sidoemendada de modo substancial, mas não o suficiente para cessar sua vigência; outrosdefendiam que a Carta de 1967 tinha sido desfigurada de tal maneira que sua vigênciahavia cessado. Sobre a questão, pronunciou-se o STF decidindo, em plenária unânime, que aConstituição do Brasil de 1967 havia sido revogada. Assim, o texto de 1969 deve serconsiderado como novo e autônomo.

5.3.7) A Constituição de 1988Trouxe de volta a ideologia democrática ao país, com a abertura

política e a eleição de Trancredo Neves para ocupar o cargo dePresidente da República. A Assembleia Nacional Constituinte foiconvocada pela Emenda Constitucional n. 26 de 1985 à ConstituiçãoFederal de 1969. Esse ato é qualificado como um ato político queteve como objetivo a organização da transição do regime militar paraa Nova República.

A Constituição Federal de 1988 adotou a forma analítica, com apreocupação de garantir maior tangibilidade a certas conquistas,fazendo aderir ao texto várias normas apenas formalmenteconstitucionais.

Foi chamada de "Constituição Cidadã", expressão utilizada peloDeputado Ulysses Guimarães, que foi o Presidente da AssembleiaNacional Constituinte. A Constituição de 1988 tem as seguintescaracterísticas básicas:

Votada; Institui o Estado Democrático de Direito, auto limitando o

poder do Estado ao cumprimento das leis que a todos subordinam; Assegura a livre participação dos cidadãos à vida política.

Garante o pluripartidarismo; Fortalece o Federalismo, conferindo maior autonomia aos

Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios; Removeu as instituições autoritárias legadas pelo regime

militar.

5.3.71) O Processo de Reforma Constitucional de 1993A Constituição de 1988 trouxe a previsão para a realização de

revisão constitucional após 5 anos, contados da publicação de seutexto (art. 3º do ADCT), pelo voto da maioria absoluta dos membrosdo Congresso Nacional, em sessão unicameral.

17

A revisão constitucional prevista não alcançou muito êxito,haja vista não ter avançado como deveria. Houve apenas seis EmendasConstitucionais de Revisão.

Houve também a determinação, pelo artigo 2º do ADCT, deplebiscito quanto à forma de governo (república ou monarquiaconstitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo oupresidencialismo). A data foi antecipada para 21 de abril de 1993pela EC n. 2 de 1992. Houve expressiva maioria a favor da Repúblicae do Presidencialismo. 6 – HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL

6.1. Hermenêutica e Interpretação:

a) Hermenêutica: ciência que tem por objeto o estudo e asistematização dos processos aplicáveis para determinação do sentidoe do alcance das normas.

A hermenêutica é a ciência que fornece a técnica e osprincípios segundo os quais o operador do direito poderá apreendero sentido social e jurídico da norma constitucional em exame.

b) Interpretação: interpretar a norma significa desvendar seu realsignificado, buscar aquilo que o legislador efetivamente quis dizer;aquilo que ele pretende que aconteça.

Ao interpretar pretende-se: Ajuizar a intenção do legislador; Explicar, explanar ou aclarar o sentido da norma; Julgar, considerar e refutar o que foi determinado pela norma.

O hermeneuta define o verdadeiro significado do textoconstitucional levando-se em consideração a história, as ideologias,as realidades sociais, econômicas e políticas do Estado. Ainterpretação deverá levar em conta todo o sistema.

Em caso do aparente conflito de normas, buscar-se-á a solução pormeio de uma interpretação sistemática, orientada pelos princípiosconstitucionais.

E, ainda, quanto à interpretação das normas constitucionais, nãose pode interpreta-las com base nas leis, pois estas é que devem serinterpretadas de acordo com a constituição.

6.2. Princípios constitucionais de interpretação: a hermenêutica nodireito constitucional obedece a alguns princípios que norteiam aredação e a interpretação dos dispositivos constitucionais.

Alguns princípios de interpretação:

18

a) princípio da supremacia constitucional: nenhuma norma jurídicapode contrariar a constituição, material ou formalmente, sobpena de inconstitucionalidade;

b) princípio da imperatividade da norma constitucional: a normaconstitucional deve ser interpretada da forma mais amplapossível, pois ela é norma imperativa de ordem pública, emanada vontade popular e dá fundamento a todo o ordenamentojurídico;

c) princípio da unicidade da constituição: a constituição forma umtodo, uma totalidade procurando harmonizar todos os seusdispositivos. Há um conjunto harmônico de idéias;

d) princípio do efeito integrador: na resolução das questões sobrea constituição é preciso optar pelos caminhos de interpretaçãoque favoreçam a interpretação e unidade política e social;

e) princípio da imprescritibilidade da inconstitucionalidadematerial: é possível que uma norma jurídica seja reconhecidacomo inconstitucional anos depois de sua edição;

f) princípio da máxima efetividade ou da eficiência: interpretar anorma constitucional para atribuir-lhe a maior efetividadepossível;

g) princípio da conformidade funcional ou da justeza: éinadmissível qualquer interpretação que atente contra a divisãode funções e atribuições feitas pela constituição;

h) princípio da concordância prática ou da harmonização: procura apreservação dos direitos fundamentais, quando em conflito comoutros bens jurídicos constitucionalmente protegidos;

i) princípio da simetria constitucional: é o princípio federativoque exige uma relação simétrica entre os institutos jurídicosda constituição federal e as constituições dos Estados-membrosda federação. (Ex.: art. 125, parágrafo 2º da CF/88);

j) princípio da presunção da constitucionalidade das normasinfraconstitucionais: há uma presunção iuris tantum de que todalei é constitucional até prova em contrário. Sem esse princípioseria impossível dar curso e aplicabilidade imediata às leis,tornando impraticável a atuação do poder público.

6.3) Reforma constitucional e mutação constitucional.

6.3.1) Reforma constitucional: é a modificação do textoconstitucional através dos mecanismos definidos pelo poderconstituinte, alterando, suprimindo ou acrescentando artigos aotexto original.

19

6.3.2) Mutação constitucional: não são alterações físicas,palpáveis, materialmente perceptíveis, mas sim, alterações nosignificado e sentido interpretativo de um texto constitucional. Atransformação não está no texto em si, mas na interpretação daquelaregra enunciada; o texto permanece inalterado.

As mutações exteriorizam o caráter dinâmico das normasjurídicas, através de processos informais, no sentido de não seremprevistos dentre aquelas mudanças formalmente estabelecidas no textoconstitucional.

6.4) Preâmbulo da constituição: não tem relevância jurídica; não tem força normativa; não cria direitos ou obrigações; serve como norte interpretativo das normas constitucionais; a invocação da divindade não é de reprodução obrigatória nos

preâmbulos das constituições estaduais e leis orgânicas do DF edos Municípios.

6.6) Ato das Disposições Constitucionais Transitórias: O ADCT temnatureza de norma constitucional e poderá, portanto, trazer exceçõesàs regras colocadas no corpo da constituição.

6.6.1) A lacuna no direito constitucional:

6.6.1.1) Tipos de lacuna:

a) lacuna descoberta: quando ao tempo da elaboração da constituiçãodeterminada situação era prevista ou previsível, podia ser inseridano texto, mas por opção do constituinte acabou não constando. Não hápropriamente uma lacuna, mas, sim, um silêncio proibitivo deintegração. A lacuna descoberta não admite integração, valendo comouma proibição.

b) lacuna oculta: ocorre quando a ausência de previsãoconstitucional decorre de erro do poder constituinte ou dedesatualização da constituição, o que é mais comum no caso deconstituições antigas. No momento de se elaborar a constituição asituação não era previsível e por isso não existia necessidade deprevisão no texto, ou se havia, não foi prevista por falha humana.

6.6.1.2) Pressupostos da integração: para que a integração sejapermitida é essencial que não haja norma a ser interpretada, quefalte razoabilidade para a omissão. Somente a lacuna oculta admiteintegração por meio de analogia ou outro meio adequado.

20

6.7) Efeitos de nova constituição ou nova norma constitucional: sãofenômenos que ocorrem com a entrada em vigor de uma novaconstituição ou de uma nova norma constitucional, em relação aodireito formal existente; considerando como direito formal oconjunto de leis e demais atos normativos do poder público.

O assunto é relevante na medida em que a norma constitucionalconsiste na base de validade de todos os atos normativos. Em face doprincípio da supremacia da constituição, nenhum ato normativo éválido quando colidir com a constituição, e, além disso, aconstituição é a base da existência jurídica do próprio Estado; oEstado nasce com a constituição.

a) Teoria da revogação: Como conciliar a tese de que a constituiçãoé lei anterior a todas com a realidade da existência eaplicabilidade de leis elaboradas há muitos anos, e até mesmo noséculo passado?

A constituição é lei superior e anterior. Assim, a leiexistente ao tempo em que entra em vigor uma nova constituição ouemenda constitucional, se colidente com o novo texto constitucional,será considerada automaticamente revogada, independentemente deordem expressa.b) Teoria da recepção: a teoria funciona em oposição ao princípio darevogação. Se as leis e atos normativos forem compatíveis com o novotexto constitucional, então serão recepcionados automaticamente, ouseja, independentemente de ordem expressa.

c) Teoria da repristinação: a possibilidade é prevista no artigo 2º,parágrafo 3º da LICC (Lei de Introdução ao Código Civil).

A repristinação é um fenômeno temporal jurídico e consiste “narecuperação dos pressupostos de validade de uma lei revogada, revogando a leirevogadora” (Sylvio Motta).

Para a possibilidade da repristinação existe a necessidade de 3normas espaçadas no tempo: uma lei revogada, uma lei revogadora, umalei repristinante.

Lei 1 ---------------- Lei 2 --------------------- Lei 3 (revoga) (revoga)

A lei 1 volta a vigorar se houver disposição expressa da lei 3.

Se a lei depois de revogada for substituída por uma nova leicom o mesmo conteúdo da antiga, mas com número diverso, não serácaso de repristinação.

21

A repristinação pode ser total ou parcial, isto é, a leirepristinante pode incidir sobre todo o texto da lei repristinada ouapenas sobre alguns de seus dispositivos.

Quando a repristinação tem como objeto normas constitucionais(originárias ou derivadas), a previsão expressa da constituiçãotambém é requisito indispensável ao surgimento do fenômeno.

d) Teoria da desconstitucionalização:

a) retirar matérias da constituição (por meio de emendaconstitucional) e entrega-las à lei ordinária;

b) recepção como lei ordinária de dispositivos da constituiçãorevogada não repetidos pelo texto constituinte, mas com elecompatível.

6.8) Eficácia e aplicabilidade da norma constitucional: quando surge um novo texto constitucional, muitas de suas

norma precisam de regulamentação; se a norma constitucional pode ser aplicada sem a

necessidade de regulamentação diz-se que a norma é auto-aplicável; todavia, se a norma precisa de regulamentação,ela é não auto-aplicável.

6.8.1) Normas constitucionais de eficácia plena (aplicabilidadedireta, imediata e integral):

No momento em que entram em vigor, estão aptas à produção deseus efeitos, independentemente da atuação do poder constituintederivado para sua regulamentação. São aplicáveis desde logo. “Criamsituações subjetivas de vantagem ou de vínculo desde logo exigíveis”(Pedro Lenza). Ex.: Cf/88, arts. 2º; 14, parágrafo 2º; 17, parágrafo4º; 19; 20; 21; 22 etc.

6.8.2) Normas constitucionais de eficácia contida ou prospectiva(aplicabilidade direta e imediata, mas possivelmente não integral):

Embora tenham condições de produzir seus efeitos, a normainfraconstitucional poderá reduzir sua abrangência. Há umalimitação, uma restrição a sua eficácia e aplicabilidade. Mas,enquanto não materializado o fator restritivo da norma, esta teráeficácia plena.

6.8.2.1) Fatores restritivos: lei infraconstitucional, como a exemplo do art. 5º, VII, VIII,

XIII, VX, XXVII, XXXIII; art. 15, IV; art. 37, I;

22

situações especiais, como por exemplo o estado de defesa eestado de sítio, onde alguns direitos podem ser limitados(CF/88, art. 136, parágrafo 1º e art. 139);

situações por motivo de ordem pública, bons costumes e pazsocial, onde a restrição se efetiva pela Administração Pública.

Obs.: apesar de não ser regra absoluta, na maioria das vezes a CFassegura um direito, podendo haver sua restrição “nos termos dalei”;

As normas constitucionais de eficácia contida também podem serchamadas de normas constitucionais de eficácia redutível ourestringível, apesar de sua aplicabilidade plena.

6.8.3) Normas constitucionais de eficácia limitada (aplicabilidademediata e reduzida ou aplicabilidade diferida):

Não podem produzir todos os seus efeitos, precisando serregulamentadas por norma infraconstitucional.

6.8.4) Normas constitucionais definidoras de princípio programático:configuram a ideia do regime político e inspiram sua ordenaçãojurídica. Não fazem remissão à lei, apenas estabelecem umafinalidade, um princípio, mas não impõem propriamente ao legisladora tarefa de atuá-las. Mas requerem uma política pertinente àsatisfação dos fins previstos nelas indicados. (José Afonso daSilva).Ex.: artigos 196 e 217 da Constituição Federal.

23

UNIDADE III - PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

Princípio: "mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposiçãofundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo decritério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e aracionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentidoharmônico." (José Afonso da Silva).

Norma de Princípio: norma que contém o início ou esquema de umórgão, entidade ou de programa. Ex.: normas de princípioinstitutivo e as de princípio programático.

Norma Princípio: são preceitos básicos da organizaçãoconstitucional. São princípios que começam a ser base de normasjurídicas, que podem estar positivamente incorporados,transformando-se em normas Princípio.

Norma: preceitos que tutelam situações objetivas de vantagem oude vínculo. Reconhecem a pessoas ou a entidades a faculdade derealizar certos interesses por ato próprio, exigindo ação ouabstenção de outrem e por outro lado vinculam pessoas ouentidades a submeterem ás exigências de realizar uma prestação,ação ou abstenção em favor de outrem.

1) Categorias:1.1) Princípios políticos constitucionais: manifestam-se comoprincípios constitucionais fundamentais. São decisões políticasfundamentais sobre a particular forma de existência política da

24

nação. São esses princípios fundamentais que constituem a matériados artigos 1º a 4º do Título I da Constituição Federal.

1.2) Princípios jurídicos constitucionais: são princípiosconstitucionais gerais informadores da ordem jurídica nacional.Geralmente constituem desdobramentos dos princípios fundamentais,como o princípio da supremacia da Constituição, o princípio daconstitucionalidade, o princípio da legalidade, o princípio daisonomia, o princípio do devido processo legal, o princípio docontraditório etc.

1.2.1) Princípios constitucionais sensíveis: são aqueles que secontrariados provocam como reação a intervenção da União nos Estadosvisando assegurar a sua observação. São enumerados no artigo 34,VII, que constituem a organização constitucional do país, de talforma que os Estados federados, ao se organizarem, estãocircunscritos à adoção:

Da forma republicana de governo; Do sistema representativo e do regime democrático; Dos direitos da pessoa humana; Da autonomia municipal; Da prestação de contas da Administração Pública, direta e

indireta.

2) Conceito e conteúdo dos princípios fundamentais: “os princípiosfundamentais visam essencialmente definir e caracterizar a coletividade política e o Estado eenumerar as principais opções político-constitucionais”. (Gomes Canotilho)

3) Os princípios constitucionais conforme a CF/88:a) relativos à existência, forma, estrutura e tipo de Estado:

república federativa, soberania, Estado democrático de direito(artigo 1º);

b) relativos à forma de governo e à organização dos poderes:república e separação de poderes (artigos 1º e 2º);

c) relativos à organização da sociedade: livre organização social,convivência justa e solidariedade (artigo 3º);

d) relativos ao regime político: cidadania, dignidade da pessoa,pluralismo, soberania popular, representação política,participação popular direta (artigo 1º, parágrafo único);

e) relativos à prestação positiva do Estado: independência edesenvolvimento nacional (artigo 3º, II), justiça social(artigo 3º, III), não discriminação (artigo 3º, IV);

f) relativos à comunidade internacional: independência nacional,respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana,autodeterminação dos povos, não intervenção, igualdade dos

25

Estados, solução pacífica dos conflitos e defesa da paz,repúdio ao terrorismo e ao racismo, cooperação entre os povos eintegração da América Latina (artigo 4º, incisos I a X eparágrafo único).

4) Função e relevância dos princípios fundamentais:

a) ação imediata ou indicativa dos objetivos do Estado;b) critério de interpretação e de integração, pois são eles que

dão coerência geral ao sistema.

26