UMA INTRODUÇÃO À ÉTICA DE BENEDICTUS DE SPINOZA

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Kalagatos Kalagatos Kalagatos Kalagatos Kalagatos - REVISTA DE FILOSOFIA. FORTALEZA, CE, V. 9 N. 17,INVERNO 2012 63 EMANUEL ANGELO DA ROCHA FRAGOSO * Recebido em abr. 2012 Aprovado em jun. 2012 UMA INTRODUÇÃO À ÉTICA DE BENEDICTUS DE SPINOZA RESUMO A Ética Demonstrada em ordem geométrica é considerada a obra magna do filósofo holandês Benedictus de Spinoza (1632-1677). Publicada no ano da morte do seu autor, em latim e holandês, a Ética foi desde então uma obra marcadamente polêmica, seja pela sua forma de demonstrar – em ordem geométrica –, seja pelas teses nela defendidas, como, por exemplo, a crítica ao antropomorfismo divino e a negação do livre-arbítrio (absoluto beneplacito). Nossa intenção com o presente texto é a de apresentar a Ética aos estudiosos de Filosofia em geral e em particular, aos interessados na obra do pensador holandês. Para tal, fundamentamos nossa leitura nas análises de Martial Gueroult e Pierre Macherey. PALAVRAS-CHAVE Benedictus de Spinoza. Ética. Filosofia. Filosofia Holandesa. * Professor do CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO EM FILOSOFIA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE e Coordenador do GT BENEDICTUS DE SPINOZA.

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EMANUEL ANGELO DA ROCHA FRAGOSO *

Recebido em abr. 2012Aprovado em jun. 2012

UMA INTRODUÇÃO À ÉTICA DE BENEDICTUS DE SPINOZA

RESUMO

A Ética – Demonstrada em ordem geométrica éconsiderada a obra magna do filósofo holandêsBenedictus de Spinoza (1632-1677). Publicada no anoda morte do seu autor, em latim e holandês, a Ética foidesde então uma obra marcadamente polêmica, sejapela sua forma de demonstrar – em ordem geométrica–, seja pelas teses nela defendidas, como, por exemplo,a crítica ao antropomorfismo divino e a negação dolivre-arbítrio (absoluto beneplacito). Nossa intençãocom o presente texto é a de apresentar a Ética aosestudiosos de Filosofia em geral e em particular, aosinteressados na obra do pensador holandês. Para tal,fundamentamos nossa leitura nas análises de MartialGueroult e Pierre Macherey.

PALAVRAS-CHAVE

Benedictus de Spinoza. Ética. Filosofia. Filosofia Holandesa.

* Professor do CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO EM FILOSOFIA DA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE e Coordenador do GTBENEDICTUS DE SPINOZA.

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ABSTRACT

The Ethics – demonstrated in geometrical order isconsidered the magnum opus of the Dutch philosopherBenedictus de Spinoza (1632-1677). Published in theyear of the author’s death, in both Latin and Dutch, theEthics was ever been branded as a polemic piece of workeither by Spinoza’s way of demonstration – in geometricorder – either by the theses defended, in it for example,the critique of divine anthropomorphism and the denialof free will (absoluto beneplacito). Our intention withthis paper is to present the philosophy of ethics tostudents in general and in particular, those interestedin the work of the Dutch thinker. To do so, we basedour reading of the analyzes Martial Gueroult and PierreMacherey.

KEYWORDS

Benedictus de Spinoza. Ethics. Philosophy. Dutchphilosophy.

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A Ética, tal como Spinoza a desenvolve, não é um livro puramente teórico, ela tem também uma

vertente prática: a liberdade ou a beatitude da mente.Na verdade, esta obra não é mais do que a descriçãoou prescrição do longo e árduo percurso do ser humanoem busca da sua verdadeira liberdade, pois, trata-seda passagem, ou da superação a partir doconhecimento, de um estado cotidiano de submissão àspaixões, ou de escravo das paixões, a um estado defelicidade contínua e suprema, ou seja, à beatitude. Estapor sua vez, mais do que um fim a se atingir, é um fimque vale por si próprio e não a recompensa por algumaação virtuosa. Sobre aquela afirmativa e esta última,escreve Spinoza, respectivamente, na proposição 42 daparte 5 da Ética: “A beatitude não é o prêmio da virtude,mas a própria virtude; [...]” (E5P42)1; e no prólogo do

1 Para a citação das obras de Spinoza, utilizaremos as siglas PPC,para os Princípios de Filosofia Cartesiana; TIE para o Tratadoda Reforma do Entendimento; Ep para as Cartas e E para aÉtica. Quanto às citações referentes às divisões internas da Éticaou dos Princípios de Filosofia Cartesiana, indicaremos a partecitada em algarismos arábicos, seguida da letra correspondentepara indicar as definições (d), axiomas (a), proposições (p),prefácios (Pref), corolários (c) e escólios (s), com seusrespectivos números. Quando necessário, citaremos o originalem latim da edição de Carl Gebhardt, cuja sigla será SO, seguidado número correspondente ao volume (1 a 4), em algarismoarábico. Nos poucos casos em que a obra de Spinoza não constada edição de Gebhardt, como ocorre com algumas Cartas, ouda numeração dos parágrafos do Tratado da Reforma doEntendimento, a partir da edição de Bruder, utilizaremos asrespectivas traduções de Atilano Domínguez para o primeirocaso e a tradução de Abílio Queirós para o segundo.

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TIE: “[...] investigar se existia algo que fosse um bemverdadeiro e capaz de comunicar-se, e de tal naturezaque, por si só, rechaçados todos os demais, afetar oânimo; mais ainda, se existia algo que, achado eadquirido, me desse para sempre o gozo de uma alegriacontínua e suprema.” (TIE, § 1, grifo nosso). E é pelanoção de virtude, dada na definição 8, da parte 4 daÉtica: “[...] a virtude, enquanto se refere ao homem, éa própria essência ou natureza do homem, enquantotem o poder de fazer algumas coisas que só podem sercompreendidas pelas leis da própria natureza.”(E4Def8), que a divisão entre a teoria e a prática éanulada: é o conhecimento do vínculo que me une demodo intemporal com a natureza e com tudo o queexiste que constitui a virtude suprema, ou seja, minhaconsciência da necessidade universal.

Podemos compreender melhor isto a partir deum esboço geral da composição da Ética e das partesque a compõem.

1 A ESTRUTURA DA ÉTICA 2

A Ética como a conhecemos hoje foi publicadaem Latim nas Opera Posthuma (OP) e em holandês nasNagelate Schriften (NS), organizadas por seus amigos,vindo à luz no final do ano de 1677. Esta obra estádividida em cinco partes, sistematicamente articuladasentre elas, conforme o título geral posto no início: In

2 Nossa análise da estrutura da Ética se fundamentará emMartial Gueroult (1997, v. 1 e v. 2) e Pierre Macherey (1997a,1998a, 1997b, 1997c e 1998b).

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quinque Partes distincta (SO2, p. 43). Para PierreMacherey, o emprego do termo partes não foi umaescolha aleatória de Spinoza, mas tal escolha, além deremeter aos Elementos de Euclides, “[...] exprime anecessária integração entre os diferentes momentos doraciocínio seguido por Spinoza na organização globalde um projeto unificado, [...]” (1997a, p. 17).

A primeira parte da Ética é denominadasimplesmente De Deo (Sobre Deus); a segunda, De Natura& Origine Mentis (Da natureza e da origem do Espírito);a terceira, De Origine & Natura Affectuum (Da natureza eda origem das Afecções); a quarta, De Servitute Humana,seu de Affectuum Viribus (Da servidão humana ou dasforças das Afecções); e finalmente a quinta, De PotentiaIntellectus, seu de Libertate Humana (Da potência doEntendimento ou da liberdade humana).

Na primeira parte, De Deo, trata-se deestabelecer os fundamentos ou os primeiros princípiosdo conhecimento, afirmando Deus como causa únicae primeira. Mas o uso do termo Deus não é em absolutoempregado com o mesmo sentido em que é utilizadona tradição teológica judaico-cristã, pois não se trataaqui de afirmar o conceito ou os fundamentos de umanova teologia, e sim de afirmar “[...] o verdadeiroconhecimento de Deus [...]” (E1P15S), “[...]manifestamente em ruptura com as representaçõestradicionais do divino, das quais Spinoza não se cansade denunciar a ininteligibilidade.” (MACHEREY,1998a, p. 9-10).

Na segunda parte, De Natura & Origine Mentis,segundo explica o próprio autor numa breve

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Introdução, trata-se de explicar as coisas que deverãoseguir-se necessariamente da essência de Deus,explicada na primeira parte. Entretanto, nem todasessas coisas serão objeto de explicação por parte doautor, mas tão somente aquelas que podem nosconduzir ao conhecimento da mente [mentis] humanoe da sua beatitude suprema (E2Pref). SegundoMacherey (1998b, p. 5), esta parte “[...] é consagradaao estudo das condições de funcionamento do regimemental considerado em geral, sem referência explícita,ao menos inicialmente, à natureza específica dohomem, enquanto este regime mental é objetivamentedeterminado pelas leis que definem a ordem darealidade própria à coisa pensante em geral.”.

Na terceira parte, De Origine & NaturaAffectuum, um aspecto específico desse funcionamentoé desenvolvido, aquele que corresponde ao domínioda afetividade propriamente dita, sem a vantagemreferente ao contexto especial da existência humana,ou, como escreve Spinoza: “[...] determinar a naturezae a força dos afetos e, inversamente, o que pode oespírito [mens] para as orientar.” (E3Pref). Macherey(1998b, p. 5-6) ressalta a importância desta parte, oumelhor, sua necessidade, porque o homem não estáfora da natureza e, enquanto pertencente à natureza,ele é afetado; é então necessário compreender comoos afetos e as afecções se ordenam no homem, segundoa ordem natural e necessária.

Na quarta parte, De Servitute Humana, seu deAffectuum Viribus, trata-se de demonstrar a causa daservidão humana, definida muito mais em termos de

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impotência do submetido, do que em termos depotência do afeto, caracterizando os afetos, mostrandoo que há de bom ou de mau neles. Por estacaracterização podem ser determinados quais são osafetos bons que devem ser cultivados e quais são osafetos que, ao contrário, devem ser transformados.

A quinta parte, De Potentia Intellectus, seu deLibertate Humana, é uma espécie de explicação final,ápice de tudo o que a precedeu, segundo os preceitosda Ordine geometrica demonstrata. Para Macherey(1997a, p. 26-27), esta parte expõe as condições daquestão ética fundamental: a reconciliação do racionale do afetivo.

1.1 A ESTRUTURA INTERNA DAS PARTES DA ÉTICA

A parte 1 da Ética está organizada em oitodefinições, sete axiomas e trinta e seis proposições,com suas respectivas demonstrações, escólios ecorolários (quando presentes), além de um apêndiceao final, no qual Spinoza descreve a gênese e faz acrítica da ilusão finalista e das representaçõesinadequadas da ordem das coisas que a acompanham.

As definições desta parte versam sobre a causade si ou causa sui (definição 1), a coisa finita em seugênero (definição 2), a substância (definição 3), oatributo (definição 4), os modos (definição 5), Deuscomo absolutamente infinito (definição 6), a coisa livreou a liberdade (definição 7) e a eternidade (definição8). Os axiomas por sua vez, versam sobre o real outudo o que existe (axioma 1), concebido por si ou em

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outro (axioma 2), a necessidade de um efeito de umadada causa (axioma 3), o conhecimento do efeito comodependendo do conhecimento da causa (axioma 4),só se pode compreender coisas que têm algo de comumente si (axioma 5), a ideia verdadeira concorda comseu ideato (axioma 6) e a essência de uma coisainexistente não envolve a existência (axioma 7).

Considerando apenas o conteúdo posterior àsdefinições e aos axiomas, Martial Gueroult (1997, v.1, p. 19) divide esta primeira parte em três. A primeiradivisão (proposições 1 a 15) é consagrada àconstrução da essência de Deus. E se subdivide emduas seções, sendo que a primeira (proposições 1 a8) trata da dedução dos elementos da essência deDeus: a substância de um só atributo; e a segunda(proposições 9 a 15) constrói a essência de Deus porintegração das substâncias a um só atributo em umasubstância constituída de uma infinidade de atributos,existentes por si, indivisíveis e únicos. A segundadivisão (proposições 16 a 29) é consagrada à deduçãoda potência de Deus. Esta divisão, por sua vez, éigualmente subdividida em duas seções,compreendendo a primeira (proposições 16 a 20) adedução de Deus como causa ou natureza Naturantee a segunda (proposições 21 a 29), a dedução de Deuscomo efeito ou natureza Naturada. A terceira e últimadivisão da parte 1 (proposições 30 a 36), que é o seuponto culminante, deduz Deus como identidade desua essência e de sua potência, e a necessidadesubsequente tanto de seus efeitos, quanto do modode sua produção.

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Para Macherey (1998a, p. 271-275), o De Deonão necessita ser dividido em três partes, podendo serperfeitamente dividida em duas. A primeira(proposições 1 a 15) versa sobre a natureza divina (queDeus é e aquilo que ele é), e se subdivide em duaspartes: a primeira (proposições 1 a 10), versando sobrea substância e os atributos; a segunda (proposições 11a 15), versando sobre as propriedades (ou próprios)da natureza divina. A segunda divisão (proposições16 a 36) versa sobre a potência divina (aquilo queDeus faz sendo dado o que ele é) e se subdivide emtrês seções. A primeira (proposições 16 a 20) versasobre a natureza Naturante; a segunda (proposições21 a 29) versa sobre a natureza Naturada; e, por fim,a terceira (proposições 30 a 36) versa sobre aidentidade da natureza Naturante e da naturezaNaturada que define a ordem das coisas: é anecessidade absoluta da ação divina cuja potência nãopode se exercer de forma diferente da que é exercida.

A parte 2 da Ética está organizada em setedefinições, cinco axiomas e quarenta e noveproposições, com suas respectivas demonstrações,escólios e corolários (quando presentes), bem comouma breve introdução antes das definições. A estaspartes são acrescidos outros axiomas, em número decinco, sete lemas, uma definição e seis postulados(intercalados entre as proposições 13 e 14).

As definições iniciais desta parte 2 versam sobreos corpos (definição 1), a essência de uma coisa(definição 2), a ideia (definição 3), a ideia adequada(definição 4), a duração (definição 5), a realidade

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(definição 6) e as coisas singulares (definição 7). Oscinco axiomas iniciais descrevem as principaiscaracterísticas do ser humano. Os axiomas, os lemas,a definição e os postulados intercalados entre aproposição 13 e a 14 não serão considerados emseparado por Gueroult e nem por Macherey.

Sem considerar as definições e axiomas iniciais,Gueroult (1997, v. 2, p. 12-13) identifica setemomentos principais nesta parte da Ética. O primeiro(proposições 1 a 13) consiste na dedução da essênciado homem; o segundo (do escólio da proposição 13até a proposição 23), na dedução da imaginação ouconhecimento do primeiro gênero; o terceiro(proposições 24 a 31), na dedução da natureza nãoadequada e confusa de todo conhecimento imaginativo;o quarto (proposições 32 a 36), na dedução da naturezado verdadeiro e do falso; o quinto (proposições 37 a44), na dedução da razão ou conhecimento do segundogênero (primeiro grau do conhecimento adequado); osexto (proposições 45 a 47), na dedução da ciênciaintuitiva, ou conhecimento do terceiro gênero (segundograu do conhecimento adequado); o sétimo e último(proposições 48 a 49), na dedução da vontade comopotência de afirmação própria da ideia.

Macherey (1997c, p. 409-417) irá dividir o DeNatura & Origine Mentis em apenas duas partes: aprimeira (proposições 1 a 13) trata da mente (âme)enquanto ideia do corpo. Por sua vez, esta parte sesubdivide em duas seções, sendo que a primeira(proposições 1 a 13) trata da natureza do espírito,explicada a partir de sua origem, que é o pensamento

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como atributo de Deus; e a segunda (axiomas, lemas,definição e postulados intercalados entre as proposições13 e 14) trata da natureza dos corpos em geral, e aquelado corpo humano em particular, explicados, a partirdas determinações próprias da extensão (um resumode física e de fisiologia). A segunda divisão desta parte2, versando sobre as formas da atividade pensante, sesubdivide em três partes: a primeira (proposições 14 a31), versando sobre o conhecimento imediato; a segunda(proposições 32 a 47), sobre o conhecimento racional;e a terceira, proposições 48 (corolário) e 49 (corolárioe escólio), sobre a passagem do conhecimento à ação:querer e compreender.

A parte 3 da Ética está organizada em trêsdefinições, dois postulados e cinquenta e noveproposições, com suas respectivas demonstrações,escólios e corolários (quando presentes). Além destas,tem como acréscimo um prefácio, um catálogo geraldos afetos (definições 1 a 48) e uma definição geraldos afetos ou recapitulação geral. No prefácio Spinozaexplica que a afetividade, como sendo um fenômenocompletamente natural, assim como todos os outrosfenômenos naturais, deve ser explicada por suas causas.As definições versam sobre a causa adequada e causainadequada (definição 1), agir e sofrer uma ação(definição 2) e afeto como as afecções do corpo(definição 3). Os dois postulados versam sobre asmaneiras como pode o corpo humano ser afetado.

Macherey (1998b, p. 407-414) vai dividi-la emseis partes: a primeira (proposições 1 a 11) trata daatividade e da passividade; a segunda (proposições 12

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a 20), dos complexos afetivos e da formação da relaçãodo objeto; a terceira (proposições 21 a 34), da figurasinterpessoais da afetividade e o mimetismo afetivo; aquarta (proposições 35 a 47), dos conflitos afetivos; aquinta (proposições 48 a 57), dos acidentes e dasvariações da vida afetiva; por último, a sexta(proposições 58 a 59), dos afetos ativos.

A quarta parte da Ética está organizada em oitodefinições, um axioma e setenta e três proposições, alémde um prefácio e um apêndice com trinta e dois capítulos,que para satisfazer as exigências da prática, recapitulamo conjunto de questões tratadas nesta parte 4, em funçãodos constrangimentos teóricos impostos pela ordemdemonstrativa. As definições versam sobre o Bem(definição 1), o Mal (definição 2), o contingente(definição 3), o possível (definição 4), os afetos contráriosque arrastam o homem para direções diferentes, não pornatureza, mas sim por acidente (definição 5), os afetospara com uma coisa futura, presente ou passada(definição 6), o apetite enquanto aquilo por cuja causafazemos alguma coisa (definição 7) e virtude e potência(definição 8). O axioma versa sobre a potência de umacoisa singular sempre estar limitada por outra maispotente do que ela. No prefácio Spinoza define a servidãohumana e analisa o Bem e o Mal, a perfeição e aimperfeição, bem como suas condições fixadas não pelarazão, mas sim pela imaginação.

Macherey (1997b, p. 433-440) vai dividi-la emduas partes. Destas, a primeira (proposições 1 a 37)irá considerar os homens tais quais eles são, subdividaem três seções, versando a primeira (proposições 1 a

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18) sobre as forças dos afetos; a segunda (proposições19 a 28) versa sobre o fundamento natural da virtude;e a terceira (proposições 29 a 37) versará sobre o útilque é próprio ou adequado ao útil comum: a gênese dasociedade. A segunda divisão desta parte (proposições38 a 73), que versa sobre as condições de umaracionalização da existência humana, também se divideem três seções: a primeira (proposições 38 a 58) versasobre a avaliação comparada dos afetos humanos emfunção de sua utilidade, isto é, do grau de alegria e detristeza que acompanha seu desenvolvimento; a segunda(proposições 59 a 66), sobre o controle racional dosapetites humanos; e, por fim, a terceira (proposições67 a 73), sobre a vida dos homens livres.

A quinta parte da Ética está organizada em doisaxiomas e quarenta e duas proposições, acrescidas deum prefácio. Os axiomas versam sobre a mudança quenecessariamente ocorre com ações contráriassuscitadas num mesmo sujeito (axioma 1) e sobre apotência de um efeito ser necessariamente definida pelapotência da causa pois a essência do efeito é explicadapela essência da sua causa (axioma 2). No prefáciodesta parte Spinoza trata do caminho que conduz àliberdade ou da potência da razão, define a liberdadeou a beatitude da mente e mostra qual é o poder darazão sobre os afetos.

Macherey (1997a, p. 227-230) vai dividi-la emduas partes, a primeira (proposições 1 a 20), na qualtrata dos remédios aos afetos, e a segunda (proposições21 a 42), na qual trata da beatitude suprema. Estaspartes serão por sua vez subdivididas em duas e quatro

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seções, respectivamente. A primeira delas (proposições1 a 10) versa sobre a terapia psicofisiológica; a segunda(proposições 11 a 20), sobre uma nova arte de amar: oamor que tem Deus por objeto. Já a primeira seção dasegunda divisão (proposições 21 a 31) trata da ciênciaintuitiva e o ponto de vista da eternidade; a segunda(proposições 32 a 37) trata do amor intelectual de Deus;a terceira (proposições 38 a 40) trata da liberação doespírito; e, por fim, a quarta e última (proposições 41 a42) trata da ética no cotidiano.

2 AS DEFINIÇÕES DA PARTE 1 DA ÉTICA

Por ser a parte fundante do sistema spinozista,iremos agora analisar mais detidamente os elementosque fundamentam o De Deo e, em última instância,toda a Ética, ou seja, as definições iniciais de todo osistema. Iniciaremos nossa análise conceituando adefinição, ou seja, o que Spinoza considera umadefinição. A seguir iremos considerar a natureza, aclassificação e a lógica das definições da parte 1. Porfim, faremos uma análise mais detida na definição queabre a Ética: a definição de causa sui ou causa de si.

Ressalte-se que, apesar de nossa análise serestringir às definições da parte 1, ela pode ser estendidaàs demais definições, pois todas elas têm o mesmoestatuto na Ética, independente do lugar que ocupam.

2.1 AS DEFINIÇÕES DA PARTE 1 DA ÉTICA

Considerando o subtítulo da Ética, Ordinegeometrico demonstrata, Maria Carmen Casillas Guisadoafirma que o método empregado na obra é dedutivo.

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A definição, enquanto um dos constituintes dossistemas dedutivos deve determinar “[...] o significadode novos termos com ajuda dos termos primitivos oude outras expressões já definidas.” (1999, p. 202), e“[...] devem aclarar por completo o sentido dosconceitos definidos, estabelecendo o seu significado.”(Ibid., p. 202). Além disso, a definição consiste emenunciar o que caracteriza essencialmente uma coisa,o que faz a coisa a ser definida ser o que ela é; ou,como escreve Spinoza: “[...] a verdadeira definição decada coisa não envolve e não exprime senão a naturezada coisa definida.” (E1P8S2).

Na Carta 9, endereçada a Simon de Vries, Spinozadistingue dois gêneros de definição: “[...] a definiçãoque serve para explicar uma coisa, da qual só se busca aessência, pois somente desta se duvida, e uma definiçãoproposta para ser somente examinada.” (Ep 9, SO4, p.42). O primeiro gênero “[...] explica a coisa tal como éfora do entendimento, [...]” (Ibid., p. 43), e o segundo“[...] explica as coisas tais como são concebidas oupodem ser concebidas por nós, [...]” (Ibid., p. 43-44).Enquanto das definições do primeiro gênero, por seremrepresentações de coisas determinadas, pode-se predicar“[...] a verdade ou a falsidade, e para que seja uma boadefinição há de ser verdadeira; é o denominado ‘critériode correspondência’, entre o que diz uma sentença e oque ocorre na realidade deve existir uma relação deadequação ou satisfação.” (GUISADO, 1999, p. 206),das definições do segundo gênero, por serem simplesmodos do pensamento sem correspondência exterior,neste gênero de definições não é posta em questão a

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verdade ou não do que foi concebido, ou seja, não sepode exigir “[...] a verdade como correspondência, massim que seja concebível a definição e o objeto definido[...]” (Ibid., p. 206). Em outros termos: no primeirogênero, as definições são representações, e como taistêm um objeto determinado, cuja “[...] concebibilidade,agora, não concerne mais simplesmente à coerênciainterior de nosso pensamento, mas à possibilidadeintrínseca da coisa representada.” (GUEROULT, 1997,v. 1, p. 23). E, no segundo gênero, por não seremrepresentações, as definições são apenas concepçõesinternas ao pensamento sem correspondência exterior,a concebibilidade “[...] é puramente subjetiva, elaconcerne somente à não-contradição interna de nossopensamento, [...]” (Ibid., p. 23).

Nesta mesma Carta, Spinoza cita e analisa oexemplo de uma “má Definição”, a definição de Borelli:“[...] alguém disse que duas linhas retas que encerramum espaço são ditas figuráveis.” (Ep 9, SO4, p. 44). Senesta definição os termos “linhas retas” estão sendoempregados no sentido usado habitualmente pelosgeômetras, teremos uma má definição porque elaestaria atribuindo uma natureza inconcebível em simesma à coisa: o espaço encerrado entre duas retas.Ora, de acordo com os conceitos acordes pelaGeometria, duas retas podem fazer um ânguloqualquer, caso se cruzem, mas nunca encerrarão umespaço. Além de ser uma má definição, ela seria,também, necessariamente falsa, visto não poder serconforme a natureza da coisa definida. Explicitandoestas duas razões, pode-se afirmar que a definição é

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formulada com termos de sentido diverso do sentidousual em que estes termos são utilizados (mádenominação) e se aplica a algo que é inconcebível,caso seja observado o sentido usual dos termosempregados: um espaço encerrado por duas retas(inconcebibilidade real), ou seja, segundo Gueroult, éuma má definição “[...] porque a estrutura essencial queela atribui à coisa é ela mesma inconcebível; e, dessefato, ela é falsa, visto ela não ser e não poder serconforme a natureza de seu objeto.” (1997, v. 1, p. 24).

Na hipótese de convencionarmos quesubstituiremos os termos “linhas retas” por “linhascurvas”, e sempre que nos referirmos àqueles,escreveremos estes últimos, poderíamos esclarecer osentido dos termos empregados por Borelli. Por meiodesta convenção, a definição se tornaria concebívelporque eliminaríamos as duas razões que a tornam umamá definição, seja na perspectiva do sentido dos termos(má denominação), seja na perspectiva da possibilidadeintrínseca do seu objeto (inconcebibilidade real), isto é,a definição agora se torna concebível porque versa sobreum objeto possível: o espaço encerrado entre duas linhascurvas. Assim convencionada, a definição não será maisnecessariamente falsa e poderemos introduzir aquestão dela ser ou não verdadeira: no caso de serconforme a natureza do objeto definido ela será umadefinição verdadeira; em caso contrário, ela será falsa.

Portanto, uma boa definição para Spinoza devecumprir duas exigências básicas: em primeiro lugar,deve ser formulada, utilizando os termos em seusentido usual, ou definindo o seu novo sentido, se os

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utilizarmos em sentido diverso; em segundo lugar, aestrutura essencial atribuída ao objeto deve ela mesmaser concebível no caso das definições do primeirogênero (que se referem aos objetos exteriores aoentendimento); no caso das definições do segundogênero (que não se referem às coisas exteriores aoentendimento), devem apenas ser concebíveisinternamente. Se qualquer uma destas duas exigênciasnão for cumprida, teremos uma “má” definição, àsemelhança da definição de Borelli. Observe-se queestas condições de Spinoza concernentes às definiçõessão em tudo semelhantes às condições gerais devalidade das definições do método dedutivo em geral,conforme a citação supra de Guisado (1999, p. 202).

2.2 A NATUREZA DAS DEFINIÇÕES

Não obstante a explicação de Spinoza na Carta9 sobre as definições, como a Ética foi escrita ordinegeometrico demonstrata, ou, conforme Guisado (1999,p. 202), dedutivamente, torna-se necessárioexaminarmos a natureza de suas definições. Talnecessidade advém, por um lado, da consideração dosistema spinozista como dedutivo, no qual as definiçõesdevem cumprir determinadas condições para seremconsideradas adequadas, como, por exemplo, eliminara ambiguidade dos termos definidos, que implica naverificação das condições de adequação requeridas(Ibid., p. 203). Por outro lado, a considerar a análisede Victor Delbos (1987, p. 7) e Martial Gueroult (1997,v. 1, p. 36), o sistema spinozista, considerado comogeométrico, implica na verificação das condições deinteligibilidade de suas definições, que devem ser as

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mesmas das definições geométricas iniciais, queexcluem necessariamente qualquer questionamentoestranho ao conteúdo precedentemente posto ouqualquer noção que não seja diretamente exigível pelasafirmativas, isto é, se as definições são imediatamenteevidentes ou se necessitam de algo mais além delasmesmas para terem a “certeza da verdade”.

Entretanto, cumpre ressaltar a distinção entreos objetos temáticos da Geometria e da Metafísica:quanto à primeira, seu objeto de estudo são os seresde razão (as essências das coisas que não tem existênciaexterior a nós); quanto à segunda, seu objeto temáticosão os seres fisicamente reais (as essências das coisasque têm existência exterior a nós, seja na duração ouna eternidade). É desta distinção dos objetos temáticosque advém a importância da natureza das definiçõesmetafísicas, pois elas versam sobre as essências decoisas exteriores a nós constituindo um conjunto denoções fundamentais no sistema spinozista. Para Gueroult(Ibid., p. 27), ao contrário da Geometria, a admissão daverdade destas noções deve necessariamente ultrapassara mera concebibilidade interna ao entendimento. Asdefinições metafísicas, ou os “[...] pressupostos daPhilosophia são investidos de uma evidência ao menosigual àquela dos pressupostos da Geometria, [...]”(Ibid., p. 36), ou seja, elas devem poder sustentarapenas por si a “certeza da verdade” preconizada porSpinoza em sua definição de método, para que possamser o fundamento de toda a Ética. Ou, como escreveLouis Meyer, no Præfatio dos PPC, “Pois, como todoconhecimento certo e seguro de uma coisa

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desconhecida somente pode ser extraído e derivadode coisas previamente conhecidas com certeza, énecessário assentar antes estas na base, para levantardepois sobre elas, como um fundamento sólido, todo oedifício do conhecimento humano, sem risco deste seabater por si mesmo ou de desabar ao menor choque.”(SO1, p. 127, grifo nosso).

Pelo exposto, evidencia-se a necessidade dasdefinições da Ética serem consideradas comopertencentes ao primeiro gênero citado por Spinoza naCarta 9, referindo-se às coisas exteriores ao pensamento,definindo-as verdadeiramente, ou seja, como definiçõesde coisas externas ao nosso entendimento ecorrespondentes a elas. Todavia, cumpre examinarmosse seria lícito considerá-las em tal sentido forte, ou, emcaso contrário, a despeito de sua necessidade de certeza,as definições devem ser consideradas num sentido maisfraco, incluindo-se no segundo gênero, ao lado dasnoções internas ao pensamento, sem nenhumacorrespondência exterior. Ou, ainda, apesar de remota,numa terceira hipótese: a de que as definições seriamuma mera convenção verbal, restringindo-se a assinalaro significado desta ou daquela palavra.

Nesta última hipótese, as definições seriamapenas nominais, cuja função dentro do sistema seriaúnica e necessariamente a de nomear as coisas; ou,como escreve Gueroult, ao analisar esta hipótese: “[...]elas se contentariam em explicar os nomes pelos quaisnos convém designar tal ou tal coisa, e seu enunciadonão acarreta, como aquele dos axiomas, nossoassentimento necessário.” (1997, v. 1, p. 20, grifo do

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autor). Neste caso, não seria lícito considerar asdefinições como noções fundamentais na Ética, poisestaríamos tratando de convenções verbais; e, comotais, a única pretensão de evidência que poderiam terseria a consensual. Assinale-se aqui que não é a hipótesedas definições serem nominais o que lhes interdita afunção de noções fundamentais, mas sim a hipótesede que esta seja a sua única função dentro da Ética.Como vimos acima, no exemplo dado por Spinoza deuma má definição, nomear corretamente as coisas éfundamental para a concebibilidade das definições, e,por conseguinte, para a garantia de suas funções naobra. Com efeito, a importância da designação corretadas coisas é explicitamente sustentada por Spinoza naparte 2 da Ética, ao escrever que “[...] a maioria doserros consiste apenas em que não aplicamoscorretamente os nomes às coisas.” (E2P47S).

Se considerarmos as definições spinozistas nosentido mais fraco, como simples modos dopensamento sem correspondência exterior a este, nãose poderia indagar acerca da verdade ou não dasdefinições, pois, como vimos acima, uma definiçãoverdadeira em relação aos seres fisicamente reais éaquela que está conforme com a natureza da coisadefinida. Ora, neste caso, as definições não seriamrepresentações de objetos exteriores ao entendimento,o que nos interditaria de considerar as definições comoconformes ou não à natureza de um objeto, visto nãohaver nenhum representado. Neste caso, a únicanecessidade das definições seria a da concebibilidadeinterna. Se não podemos questionar a conformidade

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aos objetos ou não das definições deste gênero, elasnão podem ser consideradas como definições de seresfisicamente reais e, muito menos, comoindubitavelmente certas pela Metafísica; porconsequência, as definições deste gênero estãoexcluídas como noções fundamentais da Ética.

Por fim, resta-nos considerar as definições daÉtica como pertencentes ao primeiro gênero citado porSpinoza na Carta 9 ou, no sentido forte: as definiçõessão representações de objetos exteriores ao pensamentoque convém ou devem convir a estes mesmos objetos,definindo-os verdadeiramente. A licitude como noçõesfundamentais do sistema spinozista das definições assimconsideradas repousa sobre um paralelo entre aGeometria e a Metafísica, pois Spinoza confere ao ordinegeometrico, ou às matemáticas (Mathesis), a função deelevar o entendimento finito à inteligibilidade do que éracional; ou como escreve no Apêndice à parte 1 da Ética,após descrever o prejuízo das causas finais: “Isto só porsi seria causa bastante para que a verdade ficasse parasempre oculta ao gênero humano, se a Matemática, quenão se ocupa de finalidades, mas apenas da essênciadas figuras e respectivas propriedades, não desse aconhecer aos homens uma outra norma de verdade.”(E1A, SO2, p. 79).

Segundo Gueroult, a legitimidade das definiçõesMetafísicas resulta da identificação da Metafísica coma Geometria, de tal modo que a potência de verdadepela qual devam ser concebidos os seres fisicamentereais não possa ser outra que aquela pela qual sãoconcebidos os seres de razão. O que funda este paralelo

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é o fato de que a revelação do entendimento comopotência de verdade é dada ao homem pela Geometria,porque é somente nesta que o homem “[...] apreendeem ato a produção espontânea de ideias pelo seupensamento, e vendo a verdade destas ideias se impora ele do fato que, as produzindo ele mesmo, ele asapreende interiormente em sua gênese.” (Ibid., p. 28),ou seja, os seres de razão da Geometria, ou seresgeométricos, têm uma especificidade que os outrosseres de razão não tem: nós podemos determinar-lhesuma causa adequada, enquanto que os outros seres derazão implicam a ignorância das verdadeiras causas.De fato, a definição específica de uma figuraGeométrica pode ser substituída por uma definiçãogenética (que explica a gênese da figura), ainda que afigura na natureza não seja engendrada como foidescrita nesta definição. Entretanto, mesmo sendofictícia, segundo Gilles Deleuze – que se fundamentanos §§ 73, 75 e 76 do TIE – esta causa pode ser utilizadacomo um “[...] bom ponto de partida, caso a utilizemospara conhecer a nossa potência de compreender, comoum trampolim para atingir a ideia de Deus(determinando Deus o movimento da linha ou dosemicírculo).” (2002, p. 54-55).

Para Gueroult, (Ibid., p. 28), se a Metafísica épossível como ciência, ela deve poder utilizar estapotência de verdade de modo que o entendimentopossa produzir espontaneamente as ideias dos seresreais, à semelhança da Geometria que produzespontaneamente as ideias dos seres de razão. De fato,ao expor as propriedades do entendimento, no que se

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refere à produção das ideias, Spinoza considera que estase dá por duas vias: o entendimento “[...] forma certasideias absolutamente, e algumas a partir de outras.” (TIE,§ 108). O exemplo utilizado para as ideias que se formamabsolutamente é extraído da Geometria: “Assim é queforma a ideia da quantidade absolutamente, semreferência a outros conhecimentos, [...]” (Ibid., § 108,grifo nosso). Portanto, apesar das distinções temáticas,a fonte produtora das ideias fundamentais da Geometriae da Metafísica é a mesma: o entendimento finitoenquanto parte do entendimento infinito, ou seja, oentendimento como potência de verdade.

2.3 A CLASSIFICAÇÃO DAS DEFINIÇÕES DA PARTE 1

Das oito definições da parte 1 da Ética, seteforam escritas como notae per se, pois não serãodemonstradas ulteriormente. Somente a sexta (adefinição de Deus) será demonstrada nas proposiçõesseguintes desta parte. Entretanto, a necessidade dedemonstrá-la não implica a sua exclusão das notionscommunes, isto é, princípios universalmente aceitos,evidentes, indemonstráveis e indispensáveis que estãona base de nosso raciocínio. Spinoza explica quesomente há necessidade de demonstrar, porque oshomens não fazem “[...] distinção entre asmodificações das substâncias e as próprias substânciase não saberem como são produzidas as coisas.”(E1P8S2), donde, “[...] confundem a natureza divinacom a natureza humana [...]” (E1P8S2); ou então,porque os homens não estão livres de preconceitos(E2P40S1).

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2.4 A LÓGICA DAS DEFINIÇÕES DA PARTE 1

Segundo Guisado, “Os termos primitivos de umateoria dedutiva são aqueles que se aceitam semnecessidade de se explicar seu significado e cujapropriedade é a independência lógica, [...]” (1999, p.199, grifo do autor). É com a ajuda dos termosprimitivos que as definições vão determinar osignificado de novos termos, denominados derivados,que, por sua vez, irão compor-se com os primitivospara definirem outros termos. Para Guisado (Ibid., p.200), Spinoza vai utilizar os termos primitivosdenominados próprios, em suas definições, como, porexemplo, essência, existência, o limitado e causa; e ostermos primitivos denominados impróprios ou lógicos,como por exemplo, implicar, conceber e a negação.Assim, as noções de causa sui (E1Def1), livre (E1Def7)e eternidade (E1Def8) são definidas pelos termosprimitivos próprios essência e existência e pelos termosprimitivos lógicos implicar e conceber. Já a noção definitude em seu gênero (E1Def2) é definida pelos termosprimitivos próprios o limitado e essência. O termosubstância (E1Def3) é derivado do termo primitivopróprio existência e dos primitivos lógicos conceber e anegação. O termo atributo (E1Def4) deriva do termoprimitivo próprio essência e do derivado substância. Otermo modo (E1Def5) deriva do primitivo próprioexistência, do primitivo lógico conceber e do derivadosubstância. O termo Deus (E1Def6) deriva dos termosprimitivos próprios essência, existência e o limitado, doprimitivo lógico a negação e dos derivados substância,atributo, eterno (E1Def8) e infinito (definido na própria

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E1Def6). O termo necessária (E1Def7) foi definido apartir do termo primitivo próprio existência.

Podemos observar que dentre as sete definiçõesnotæ per se, as três que definem o critério dasubstancialidade (E1Def3), do atributo (E1Def4) e domodo (E1Def5) dependem dos termos primitivospróprios existência e essência. Das quatro restantes destegrupo, que definem as propriedades, causa sui (E1Def1),eternidade (E1Def8), livre (E1Def7) e finitude em seugênero (E1Def2), as três primeiras dependemunicamente de termos primitivos, os próprios essência eexistência e os lógicos implicar e conceber. Já a quartadefinição de propriedade, deriva dos termos primitivospróprios essência e o limitado. Donde os termos primitivospróprios existência e essência estão na base de toda aÉtica. Ora, estes termos estão reunidos em uma únicadefinição, a definição de causa sui.

2.5 A DEFINIÇÃO INICIAL: CAUSA SUI

Por causa de si entendo aquilo cuja essência envolvea existência; ou isto, aquilo cuja natureza não podeser concebida senão como existente. (E1Def1)3.

Com esta definição notum per se Spinoza iniciaa Ética. Apesar de não estar definindo nenhuma coisae sim uma propriedade, esta é uma das definiçõesfundamentais do sistema spinozista por postular aidentidade entre aquilo que é e aquilo que é concebido,ou seja, é a definição que funda a ontologia spinozista

3 Cf. o original: “Per causam sui intelligo id cujus essentia involvitexistentiam sive id cujus natura non potest concipi nisi existens.”(E1Def1, SO2, p. 45).

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porque possibilita que aquilo que o entendimento finito(por ser parte do entendimento infinito) concebe dacoisa e o que a coisa é em si sejam postos como idênticos.Segundo Deleuze (2002, p. 62), Spinoza inverte atradição que empregava a noção de causa sui emanalogia com a causalidade eficiente, como causa deum efeito distinto, ou, num sentido apenas derivado, noqual a noção de causa sui significaria tão somente comopor uma causa, fazendo da causa sui o arquétipo de todaa causalidade, no seu sentido originário e exaustivo.

Como vimos acima, as definições em Spinozapodem ser de dois gêneros: o primeiro explica a coisatal como é fora do entendimento, e o segundo explica acoisa tal como é concebida ou pode ser concebida pornós. Ora, apesar da necessidade que as definições daÉtica têm de pertencerem ao primeiro gênero, pelo fatoda definição de causa sui – uma propriedade, e comotal, considerada pela tradição um conceito derivado esempre in alio –, estar antecedendo a definição desubstância – considerada como um conceito primitivo,e sempre in se –, não estaríamos inclinados a consideraresta definição como uma exceção, e, por conseguinte,incluí-la no segundo gênero citado?

Ademais, se considerarmos o que Spinozaescreve na Carta 60, a Tschirnhaus: “[...] julgo quebasta observar o seguinte, cumpre averiguar aquelaideia da qual possa se deduzir todas, [...]” (Ep 60, SO4,p. 271), constataríamos que a definição de substânciaestá mais acorde com esta condição do que a de causasui, ou seja, a definição de substância seria maisadequada a uma introdução ao sistema, pois esta nos

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assemelha mais primitiva do que uma definição depropriedade (da substância). Além disso, podemostambém indagar o porquê da definição de causa suiestar definindo a propriedade de algo (a substância)ser a causa de si mesmo, sem que se tenha antesdefinido este algo ou sequer postulado a sua existência.

Quanto à primeira questão, devemos considerara importância da causa sui como propriedade necessáriae fundamental da substância absolutamente infinitaou Deus. Vimos anteriormente que devido à falta deatenção ou por preconceito dos homens, a definiçãosexta (ou de Deus) necessita ser ulteriormentedemonstrada. Ora, a propriedade de ser causa de simesmo deve necessariamente pertencer ao serabsolutamente infinito, ou seja, sem a causa suidefinida, Spinoza não poderia provar a existênciadivina e nem sequer postular a sua existência. No dizerde Gueroult, a causa sui é um importante “[...] meiode prova, porque ela é a propriedade decisiva dasubstância que vai permitir estabelecer a existência deDeus.” (Ibid., p. 41). A utilização da propriedade dealgo ser a causa de si mesmo, ou a causa sui comomeio de prova para a existência de Deus, pode sermelhor evidenciada se examinarmos a forma das duasprovas que utilizam o argumento ontológico: a primeirae a última dentre as quatro provas apresentadas porSpinoza fundamentam-se no argumento ontológico deforma distinta, sendo esta fundamentação indireta naprimeira, através da demonstração pelo absurdo e naúltima a fundamentação é direta. A utilização dadefinição de causa sui nestas provas é indispensável,

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porque na primeira é ela que interdita negar que aessência divina não envolve a existência (E1P7D eE1P8S2), sob pena de incorrermos em um absurdo(E1P11D), isto é, concebermos um ser absolutamenteinfinito que não é capaz de se autoproduzir; e na segundaela é afirmada como uma propriedade necessária deum ente absolutamente infinito, isto é, Deus (E1P11S).

Quanto à segunda questão, em Geometria oentendimento produz espontaneamente as ideias dosseres de razão sem postular a existência externa ou nãode tais seres, podendo “[...] definir uma certa propriedadeseparadamente, sem saber se alguma figura possa possuí-la.” (GUEROULT, 1997, v. 1, p. 40). Donde surge oproblema: “[...] procurar a figura que possua talpropriedade ou, se for o caso, demonstrar que ela nãopode existir em nenhuma.” (Ibid., p. 40), pois “Para cadacoisa deve poder designar-se a causa, ou razão, pela quala coisa existe ou não existe.” (E1P11D2). Na Metafísicaocorre o mesmo, pode-se definir a propriedade de umacoisa sem que seja necessário, simultaneamente,postularmos a existência ou não desta coisa. De fato, se afonte produtora das ideias fundamentais da Metafísica éa mesma da Geometria, ou seja, o entendimento finitoenquanto parte do entendimento infinito, não haveriaporque postularmos um estatuto diferente para as noçõesfundamentais da Metafísica, ainda que os objetostemáticos sejam distintos.

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