3. INTRODUÇÃO - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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10 1 INTRODUÇÃO A preocupação com a população nordestina, mais precisamente, a que vive em regiões onde frequentemente o fornecimento de água potável sofre racionamento, vem crescendo a cada ano, pois grande parte da população vive de alguma atividade relacionada ao meio rural onde as condições climáticas interferem na produção, chegando, em casos mais extremos, a interferir também na própria sobrevivência dos produtores e de suas famílias. O Semiárido brasileiro é um dos maiores, mais populosos e também mais úmidos do mundo. Abrangendo os estados do Ceará, Pernambuco, Paraíba, Bahia, Piauí, Alagoas, Rio Grande do Norte, Sergipe e Minas Gerais, vivem nessa região mais de 22 milhões de pessoas, sendo 8 milhões na área rural. (IBGE,2000). Em relação as precipitações, dados dos órgãos de controle climático, mostram que, no nordeste, chove normalmente cerca de 800 mm anuais, em média. Em épocas de seca, chega a chover próximo aos 200 mm por ano, quantidade suficiente para garantir o abastecimento de uma família de 5 pessoas pelos meses de estiagem. (FEBRABAN, 2003). Porém, essas chuvas variam muito no tempo e no espaço nordestino e, devido as características climáticas, o nordeste tem um dos maiores índices de evaporação de água, tornando os reservatórios rasos pouco eficientes em épocas de seca.

Transcript of 3. INTRODUÇÃO - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1 INTRODUÇÃO

A preocupação com a população nordestina, mais

precisamente, a que vive em regiões onde frequentemente o

fornecimento de água potável sofre racionamento, vem

crescendo a cada ano, pois grande parte da população vive de

alguma atividade relacionada ao meio rural onde as condições

climáticas interferem na produção, chegando, em casos mais

extremos, a interferir também na própria sobrevivência dos

produtores e de suas famílias.

O Semiárido brasileiro é um dos maiores, mais populosos

e também mais úmidos do mundo. Abrangendo os estados do

Ceará, Pernambuco, Paraíba, Bahia, Piauí, Alagoas, Rio

Grande do Norte, Sergipe e Minas Gerais, vivem nessa região

mais de 22 milhões de pessoas, sendo 8 milhões na área

rural. (IBGE,2000).

Em relação as precipitações, dados dos órgãos de

controle climático, mostram que, no nordeste, chove

normalmente cerca de 800 mm anuais, em média. Em épocas de

seca, chega a chover próximo aos 200 mm por ano, quantidade

suficiente para garantir o abastecimento de uma família de 5

pessoas pelos meses de estiagem. (FEBRABAN, 2003).

Porém, essas chuvas variam muito no tempo e no espaço

nordestino e, devido as características climáticas, o

nordeste tem um dos maiores índices de evaporação de água,

tornando os reservatórios rasos pouco eficientes em épocas

de seca.

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A possibilidade de reservar um volume necessário para a

época da estiagem anual, com boas condições potabilidade

fizeram da construçãos das cisternas de placas, equipamento

criado e desenvolvido por Nel, pedreiro de Simão Dias, em

Sergipe, em 1968, uma das alternativas de abastecimento de

água para a população rural.

Nesse contexto, uma série de intervenções

governamentais surgiram para financiar a construção de

milhares dessas cisternas em todo o Brasil. O Programa Um

Milhão de Cisternas (P1MC) que faz parte desta definição

construiu até fevereiro de 2012 pouco mais de 376 mil

cisternas de placas em todo o semiárido brasileiro, segundo

a Articulação do Semiárido (ASA, 2012).

No estado do Ceará, o programa, até outubro de 2011,

tinha quase 100 mil cisternas construídas ou em construção,

como diz a coordenadora executiva do ASA-Ceará ao Jornal O Povo

no dia 19/10/2011: “Desde que começou, em 2003, 48.308 cisternas foram

construídas no Ceará pelas organizações integrantes da ASA dentro do P1MC. Em

todo o semiárido brasileiro, são mais de 300 mil cisternas. Atualmente, está em

execução um contrato com o Governo do Estado para execução de 26.500

cisternas. Já estamos com quase 100 mil cisternas no Ceará, comemora a

coordenadora.

Porém, parte das cisternas construídas chegam a

apresentar problemas com vazamentos e perdem parte da água

reservada. Alguns dos proprietários podem recuperá-las, mas

outros não possuem recursos financeiros suficientes e não

utilizam a água reservada na sua totalidade. Assim, surge os

12

carros-pipa, como um meio de abastecimento dessas cisternas

quando a água reservada não atende a demanda solicitada.

Deste modo, o presente estudo trata de uma avaliação

detalhada da construção das cisternas no semiárido

brasileiro, por meio da análise de dados provenientes da

aplicação de um questionário às famílias usuárias das

cisterna, relacionando o desenvolvimento social com a

segurança abastecimento contínuo, o qual as cisternas tendem

a garantir.

13

1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo Geral

Estudar os benefícios da construção das cisternas para

o semiárido brasileiro;

1.1.2 Objetivos Específicos

Elaborar estudo com levantamento censitário das

cisternas de placas executadas no município de

Milhã/Ce;

Avaliar os dados fornecidos pela aplicação do

questionário em campo;

Estudar os métodos de captação e conservação da água;

Analisar a utilização da água reservada nas cisternas e

suas condições.

14

1.2 Justificativa

A questão da água no semiárido sempre foi tratada com

muito cuidado, pois a região depende diretamente desse bem

para o desenvolvimento de suas atividades e ele é tão

escasso nessas regiões.

As precipitações variam no tempo e no espaço, sendo que

normalmente não chegam a abastecer a todos e, no período de

estiagem, a necessidade de um reservatório para água potável

se torna essencial a vida.

Para tanto, surgem as cisternas de placas capazes de

reservar água suficientes para o período de estiagem, ou

pelo menos, para maior parte dela. Porém, o uso dessas

cisternas e a água reservada devem ser objeto de estudo para

sabermos sua qualidade e seus impactos na realidade da

população.

15

Para a realização desses estudos, o município de Milhã,

no estado do Ceará foi o escolhido por suas características,

bem como a necessidade dessas cisternas.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 O Princípio de Captação e Manejo de Água da Chuva

A definição do termo captação e manejo de água de chuva

baseia-se no seguinte conceito: A água de chuva faz parte do

16

ciclo hidrológico e é um bem a ser captado de telhados, do

chão e do solo, armazenado e/ou infiltrado de forma segura,

tratado conforme requerido pelo uso final, e utilizado seu

pleno potencial, substituindo ou suplementando outras fontes

atualmente usadas, antes de ser finalmente descartado

(GNADLINGER,2005; BRASIL, 2006).

De maneira geral, as tecnologias de captação e manejo

de água de chuva são técnicas que permitam: interceptar e

utilizar a água de chuva no local onde ela cai no chão; que

facilite a água de chuva a se infiltrar no solo; ou que

captam a água de escoamento de uma área específica

(telhados, pátio, chão, ruas e estradas) para depois ser

armazenada em um reservatório (cisterna ou solo) para uso

futuro, seja doméstico, agrícola, dessedentação de animais

ou ambiental, tanto em áreas rurais como urbanas

(GNADLINGER,2005).

A água de chuva até hoje é considerada uma fonte de

água subutilizada, pois, muitas vezes, não é considerada

como um insumo, mas como um problema, pois é considerada

como esgoto. A água da chuva ao escoar pelos telhados e

pisos ficam cheias de impurezas, são drenadas até rios ou

riachos e de lá, seguem para estações de tratamento de água

para, assim serem verdadeiramente aproveitadas. Assim, são

relacionadas como esgoto, pois são confundidas com água

superficial, a mais problemática das águas do ponto de vista

da qualidade. Porém, nos últimos anos, o conceito sobre a

utilização da água da chuva vem mudando e deve adquirir mais

17

importância com o Plano Nacional de Recursos Hídricos, que

indica que a água da chuva é um bem que deve ser utilizado

em todo o seu potencial (BRASIL;2006)

2.2 A Situação da Captação e Manejo de Água da Chuva no

Semiárido Brasileiro (SAB)

O semiárido brasileiro (Figura 1) abrange uma área de

cerca de 969.584 km² e contém 1.133 municípios de nove

estados brasileiros, segundo o Ministério da Integração,

sendo eles: Ceará, Pernambuco, Paraíba, Bahia, Piauí,

Alagoas, Rio Grande do Norte, Sergipe e Minas Gerais (ASA,

2010), seguindo a nova delimitação do Semiárido que tem por

base três critérios técnicos básicos (BRASIL,2005):

- Precipitação pluviométrica média anual inferior a 800

mm;

- Índice de aridez menor que 0,5, calculado pelo

balanço hídrico que relaciona as precipitações e a

evaporação potencial (I=P/ETP), no período entre 1961 e

1990;

- Risco de seca maior que 60%, tomando por base o

período entre 1970 e 1990.

18

Nessa região, existem mais de 22 milhões de habitantes

que representa 11,8% da população brasileira, segundo o

Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE, 2000)

tornando assim o semiárido brasileiro o mais populoso do

mundo.

Figura 1 – Mapa do Semiárido Brasileiro – Nova

Delimitação.

FONTE: ANA/MI (2010)

Uma das características marcantes do semiárido é o

bioma caatinga, esse exclusivamente brasileiro e que possui

alto poder de adaptação, ajudando assim a sobrevivência da

população agricultora da região.

Outra característica marcante do semiárido é o déficit

hídrico, que ao contrário do que muitos pensam, não

significa falta de água. O nosso semiárido é o mais

19

chuvoso, com médias de precipitações entre 200 e 800 mm

anuais porém essas chuvas são muito mal distribuidas no

tempo e no espaço afetando o abastecimento dos reservatórios

para o período, conhecido como estiagem, tão temido pela

população rural. Além disso, a taxa de evaporação em algumas

regiões são muito altas chegando até a 3.000 mm/ano, três

vezes maior que as precipitações, tornando assim a maioria

dos pequenos e rasos açudes inúteis ao período da estiagem.

Então, para o período de estiagem, a população da

região semiárida deve se preparar para reservar água,

principalmente para consumo humano.

2.3 Indicadores sociais

A região do semiárido também tem sido marcada pelas

contradições e injustiças sociais. Os indicadores sociais

nas áreas de saúde, educação e renda são os piores em

relação à média nacional.(ADENE,2003)

Apesar do seu potencial natural e do trabalho do povo,

a região nordeste tem 58% da população pobre do país,

segundo estudo do Ministério da Integração Nacional. Também,

segundo estudos do Fundo das Nações Unidas para Infância

(Unicef), 67% das crianças e adolescentes do semiárido estão

na faixa de pobreza do país, muitas vezes, sem ter acesso a

necessidades básicas como saúde, educação, direitos humanos,

20

entre outros, que são essenciais para o desenvolvimento de

qualquer população. (ASA, 2010)

Segundo o Atlas Brasileiro de Desenvolvimento Humano,

em 2000, mostrou que 81,1% dos municípios pertencentes ao

semiárido brasileiro, com 61,7% da população tem baixo

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e nenhum deles

alcançou as faixas mais altas que vão de 0,800 a 1,000,

conforme consta nas Tabelas 1 e 2. (PNUD Brasil, 2000).

Tabela 1 – Os 20 Melhores IDH’s do Brasil

FONTE: Atlas Brasileiro de Desenvolvimento Humano (2000)

Tabela 2 – Os 20 piores IDH’s do Brasil

21

Fonte: Atlas Brasileiro de Desenvolvimento Humano (2000)

O Semiário brasileiro é uma região muito complexa, com

suas irregularidades de chuvas, seus aspectos físicos,

limitações hídricas, e somando-se a tudo isso a falta de

conhecimento de sua potencialidade natural, o preconceito a

essa região e muitas vezes a própria desinformação da vida

sertaneja fazem com que a opnião pública e até mesmo os

habitantes locais tenham a falsa impressão da inviabilização

socio-econômica da região, causando parte desses problemas

sociais. (ADENE, 2003)

2.3.1 Renda

Segundo os dados da Agência de Desenvolvimento do

Nordeste (ADENE), de 1970 a 1990, o Produto Interno Bruto

(PIB) da região nordeste praticamente triplicou ao passo que

22

a o PIB per capita não acompanhou o mesmo rítmo, dobrando de

US$ 740 para US$ 1.481, sendo assim o mais baixo do Brasil.

Convém lembrar que o PIB da região do semiárido a

situação é inversa. No mesmo período, houve uma queda do

produto interno per capita de 74,4% para 53,3% em relação ao

PIB da região nordeste.

2.3.2 A Nova Abordagem de Manejo das Águas de Chuva

Apesar dos problemas de distribuição irregular das

chuvas e das altas taxas de evaporação, é sempre possível

captar água quando chove e armazená-la garantindo assim, uma

fonte segura de abastecimento no período de estiagem, não

somente como água potável, mas para outros usos. Esse

pensamento de manejo integrado das águas de chuva nos leva a

uma nova abordagem de manejo em que cinco linhas de política

de água são essenciais (GNADLINGER,2001):

Água de beber para as famílias: a água potável para

cada família deve ser fornecida por meio de cisternas ou

eventualmente por meio de poços rasos próximos as

residências. A água deve ser usada para beber, cozinhar e

para a higiene básica, devendo ser usadas fontes menos

nobres para outros usos. A água para dessedentação humana

deve ser prioridade em caso de escassez, segundo a lei

brasileira (LEI DAS ÁGUAS, 1997).

23

Água para comunidade: a água utilizada pela comunidade

dever ser proveniente de açudes, caçimbas, poços rasos e

profundos, pois, para lavagem de roupa, banho, limpeza e

dessedentação de animais, a água não necessita de um grau de

qualidade elevado. Lembra-se que o envolvimento da

comunidade na construção, operação e manutenção desses meios

de reservação é muito importante para o pleno uso da água.

Água para agricultura: para períodos de estiagem, faz-

se necessário o uso de tecnologias como cisternas de

produção, barragens subterrâneas e captação em estradas,

visando a irrigação e produção de alimentos. Isso

caracteriza uma incrível economia no período de seca, pois

em comparação com a irrigação tradicional de fluxo estável,

a irrigação complementar usa água somente nos períodos sem

chuva.

Água para o futuro: assegurar água para o futuro com

possíveis secas severas é uma estratégia fundamental.

Existem no SAB, barragens com grande capacidade de

reservação e poços profundos que podem assegurar o

abastecimento nesses períodos, porém, esses recursos ainda

estão sem o acesso da grande maioria da população. Nesse

contexto, estratégias que visam uma reservação mais

distribuída na área do semiárido de água proveniente das

chuvas são de grande importância para a população rural. Mas

algumas dessas ações ainda não garantem abastecimento em

estados mais críticos, como em secas prolongadas, sendo

24

necessário o uso dos carros-pipa, uma alternativa ainda

muito cara, porém a única encontrada em alguns municípios.

Água para o meio ambiente: sabe-se que o ciclo

hidrológico e o balanço hídrico fornecem água suficiente

para as populações do meio ambiente, porém o uso desta água

tem que ser dimensionado e mantido para uma completa

harmonia entre o clima e o meio ambiente. Para isto, uma

série de atividades devem ser garantidas como o manejo de

bacias, proteção e revitalização de fontes de água,

recomposição de mata ciliar e, ainda, ações como tratamento

de esgotos, reúso de água e reciclagem.

Com essas políticas, surgiu uma nova concepção para as

comunidades rurais do SAB, em que tinham por base a

descentralização de ações para passarem a conviver do

semiárido e não saírem dele. Para a população do SAB essas

ações trouxeram uma identidade e uma autoestima que eles não

tinham, pois passaram a produzir seus próprios projetos e

não importá-los das regiões mais ao sul do Brasil.

Dessas novas concepções surgiram, junto com a sociedade

civil em apoio do Governo, os programas Um Milhão de

Cisternas (P1MC) e Uma Terra e Duas Águas (P1+2).

2.4 Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC)

25

O programa é destinado às famílias com renda até meio

salário mínimo por membro da família, incluídas no Cadastro

Único do governo federal, e que residam permanentemente na

área rural e não tenham acesso ao sistema público de

abastecimento de água. Tem por objetivo beneficiar com água

potável para beber e cozinhar cerca de cinco milhões de

pessoas em todo o SAB com cisternas de placas, com

capacidade total ao fim do programa de 16 bilhões de litros

de água. (ASA, 2012).

Esse programa gera uma descentralização de água potável

que garante abastecimento da população rural por todo o

período sem chuva no SAB (ASA, 2012).

O projeto (Figura 2) é muito simples e tem como o

apoio a população beneficiada na construção, assim como, a

parceria de pessoas físicas, empresas privadas, agências de

cooperação e do governo federal, gerando um produto simples:

Figura 2 – Comunidade Ajudando na Construção e Cisterna

Pronta.

26

FONTE: Próprio Autor (2012).

A cisterna é uma tecnologia simples, de baixo custo e

adaptável a qualquer região. A água é captada das chuvas,

através de calhas instaladas nos telhados das casas. De

formato cilíndrico, coberta e semienterrada, o reservatório

tem capacidade para armazenar até 16 mil litros de água,

quantidade suficiente para uma família de 5 pessoas beber e

cozinhar, por um período de 6 a 8 meses – época da estiagem

na região. As placas da cisterna são construídas de cimento

pré-moldadas feitas pela própria comunidade. A construção é

feita por pedreiros das próprias localidades, formados e

capacitados pelo P1MC. Já a contribuição das famílias no

processo de construção se caracteriza com a contrapartida.

(ASA, 2012).

2.5 Operação Pipa

A Operação Pipa, até 2006, era executada pela Defesa

Civil, passando porteriormente à responsabilidade do

Ministério da Defesa (MD) e Ministério da Integração

Nacional (MI), atribuíndo ao Exército Brasileiro a

responsabilidade do planejamento, operação, manutenção e

controle da distribuição de água emergencial nas comunidades

do SAB (CEARÁ,2010).

27

O sistema de distribuição funciona como um roteiro bem

definido de ações em que a prefeitura do município

beneficiado, a Defesa Civil e o Exército têm que cumprir

atividades de cooperação, que integradas, tem por objetivo

amenizar a situação de calamidade em que os municípios

atingidos estão passando, tendo que esses serem reconhecidos

pelo governo federal. Esse roteiro possui as seguintes

atividades (CEARÁ, 2010):

A demanda por água dos carros-pipa partem das

perfeituras municipais que juntamente com o COMDEC

(Conselho Municipal de Defesa Civil) analisam a

situação das áreas atingidas e solicitam a

decretação de calamidade pública do município;

O CEDEC (Coordenadoria Estadual de Defesa Civil)

envia uma equipe ao local para averiguação das

informações e passa o material o Ministério da

Integração Nacional;

Com a aprovação do Conselho Nacional de Defesa

Civil, o Exército passa a operar as atividades.

O Exército é o responsável pelo cadastramento das

famílias (Figura 3). É de sua responsabilidade também a

determinação da periodicidade de distribuição, a quantidade

de litros por mês para a comunidade, o local de

armazenamento (Cisternas quase na totalidade dos casos, pois

não é permitido o abastecimento em tanques abertos), o

responsável em cada comunidade e, a partir daí, os

28

proprietários de caminhões (pipeiros) com suas respectivas

rotas e fontes hídricas. É também do Exercito a

responsabilidade de administração e fiscalização da

distribuição de água potável (Ceará,2010).

Figura 3 – Oficiais do Exército Atuando na Operação

Pipa.

FONTE: Próprio Autor (2012).

Para controle da distribuição da água, cada agrupamento

de família recebe uma senha que fica por conta do

responsável da comunidade, que é escolhido pelo Exército.

Essas senhas devem ser entregues aos pipeiros no momento do

abastecimento (Figura 4).

29

Figura 4 – Abastecimento com Carro- Pipa em Cisterna.

FONTE: Próprio Autor (2012).

2.6 Área de Estudo – Milhã/Ce

O município de Milhã está localizado no estado do Ceará

(Figura 5), na Mesoregião Sertões Cearenses e na Microregião

Sertão de Senador Pompeu, tendo como limitante ao norte:

Quixeramobim e Banabuiú; ao leste: Solonópole; ao sul: Dep.

Irapuan Pinheiro; e ao Oeste: Senador Pompeu.

Figura 5 – Localização do Município de Milhã/Ce.

30

FONTE: Wikipédia (2012).

Milhã possui atualmente, segundo o censo do IBGE/2010,

com 13.078 habitantes, com uma economia voltada para

pequenos agricultores, comércio e produção leiteira que,

devido a essa o município recebeu o título de “Terra do

Leite”. O município está localizada no Semiárido Brasileiro,

que em 2012, passou por um situação de calamidade pública

(Figura 6) por conta da seca que assolou, não só Milhã, mas

vários outros municípios do semiárido brasileiro.

Figura 6 – Açude que Abastece Parte da Localidade de

Massapê em Milhã/Ce.

31

FONTE: Próprio Autor (2012).

Por não ter obras de grande porte que abasteça com

qualidade o município, Milhã passa sérias necessidades

atualmente. Grande parte da população rural do município

consegue passar por esse período utilizando-se da água

armazenada nas cisternas. Com o prolongamento da seca, os

açudes e algumas das cisternas secaram levando a população a

utilizar como única fonte os carros-pipa.

O município também conta ainda com três

dessalinizadores (Figura 7) que estão nas localidades de

Segurança, Amanajú e Novo Destino, porém o de Amanajú

permanece sem funcionar desde de sua aquisição e os de

Segurança e Novo Destino abastecem uma minoria que ainda

consegue se deslocar até a localidade.

32

Figura 7 – Dessalinizador Instalado na Localidade de

Amanajú (Sem Funcionamento) .

FONTE: Próprio Autor (2012).

33

3 METODOLOGIA

Nosso estudo de caso foi realizado com pesquisas de

campo onde o fenômeno estudado acontecia, ou seja, no

município de Milhã. Conta ainda com a produção de um

questionário (Figura 8) que visa obter uma descrição do

fenômeno, porém, não se limita só a descrição, pois busca

uma análise e uma interpretação dos dados obtidos no

questionário de maneira qualitativa e quantitativa. A

pesquisa a campo se realizou em um período de 21 dias,

chegando abranger 235 cisternas em residências diferentes.

Primeiramente, na etapa de planejamento do trabalho de

pesquisa, tivemos o apoio de uma Socióloga que indicou

alguns pontos a serem perguntados à população local de

grande importância a parte qualitativa do nosso trabalho.

Posteriormente, a pesquisa foi realizada no município

de Milhã, dentro do período de 04 de julho de 2012 à 24 de

julho de 2012 em diversas localidades do município. O

produto final desse período de pesquisas foram diversas

fotos, coordenadas geométricas obtidas por GPS (Global

Positioning System), o questionário em si e anotações de algumas

informações que a população nos passava e que não estavam

contidas no questionário.

34

Por fim, foram realizadas as tabulações do material

obtido, onde podemos obter diversas informações sobre dados

dos usuários das cisternas, das cisternas, da captação das

águas de chuva para as cisternas, de uso da água, de

tratamento e dados de manutenção/proteção das cisternas.

Como produto dessas tabulações e dessas informações obtidas,

teremos uma série de gráficos e tabelas que com o uso de

estudos estatísticos, podemos obter uma situação mais real

possível de como estão sendo utilizadas as cisternas, de

como são abastecidas, se os usuários possuem informações

suficientes para utilizarem a água da chuva em sua plena

forma e se o uso da tecnologia da cisterna na vida rural

realmente mudou satisfatoriamente a vida no Semiárido

Brasileiro, ou seja, se o crescimento socioambiental com as

cisternas foi satisfatório.

3.1 O Questionário

Figura 8 – Modelo de Questionário Aplicado.

35

FONTE: Próprio Autor (2012).

3.1.1 Localidade

36

O campo tem por objetivo indicar a localidade onde a

cisterna pesquisada está localizada dentro do município.

3.1.2 Município

O campo indica o município no qual a cisterna

pesquisada é pertencente.

3.1.3 Responsável

O campo indica o nome do usuário beneficiado pela

cisterna.

3.1.4 Nº de moradores

O campo tem por objetivo indicar o número de moradores

na residência, consequentemente o número de pessoas

beneficiadas pela água de chuva reservada na cisterna.

3.1.5 Nº da cisterna

O campo é preenchido com o número da placa de

identificação existente na cisterna. Quando não é possível

obtê-lo, esse campo não é preenchido.

3.1.6 Foto nº

37

Cada cisterna pesquisada era fotografada e esse campo

possui a identificação das fotos para relacioná-las com as

cisternas.

3.1.7 Idade da Cisterna

Esse campo é preenchido com o número de anos os quais a

cisterna possui. É um campo muito importante, pois dele será

retirado um gráfico que relacionará a frequência das

cisternas com as idades encontradas.

3.1.8 Coordenadas

O campo é preenchido com coordenadas UTM (Universal

Transversa de Mercator) provenientes da localização das cisternas

com uso do equipamento GPS (Global Positioning System).

3.1.9 Captação

Esse campo é preenchido com duas formas de dados:

Número de quedas do telhado e área de telhado. O número de

quedas fornecerá informações como se está sendo usada a área

de captação (telhado) no seu uso pleno para captar o máximo

possível de água de chuva. Já a área de telhado (área de

captação) fornecerá informações que serão mostradas em

gráficos relacionando frequência com as áreas encontradas.

38

3.1.10 “A construção da cisterna teve participação da população? E foi utilizado

algum material do dono?”

O campo foi preenchido com as respostas “sim” e “não”

para as perguntas. O intuito do questionamento era saber se

a população estava ajudando na mão-de-obra e/ou se forneceu

algum material para a construção das cisternas.

3.1.11 “A cisterna precisou ser recuperada em algum momento (rachaduras)? Se

sim, que intervenção foi realizada?”

O campo foi preenchido com as respostas “sim” e “não”

para a primeira pergunta e, se sim, indicar o material

utilizado para recuperação da cisterna ou se não utilizou

nenhum material. Esse campo fornece uma tabela em que

constam a porcentagem de cisternas que não precisaram de

recuperação, as que precisaram e o usuário utilizou material

para recuperá-la e, por fim, as que precisaram de

recuperação, porém o usuário não utilizou nenhum recurso

para recuperá-la.

3.1.12 “A cisterna é utilizada por mais alguém da comunidade? Se sim, quantas

pessoas e se a cisterna é suficiente no período de estiagem?”

O campo foi preenchido com as respostas “sim” e “não”

para a primeira pergunta e, se sim, indicamos quantas

39

famílias a mais utilizavam a água da cisterna e se essa água

era suficiente para todos pelo período da estiagem. Com

isso, obtemos um gráfico que relaciona a frequência de uso

da cisterna com o número de famílias a mais utilizando-a e,

também, obtemos uma tabela com o percentual de respostas em

relação ao questionamento se a cisterna suporta o

abastecimento no perído de estiagem.

3.1.13 “A cisterna já precisou ser preenchida com água de outra fonte (Carro-pipa,

outras)? Se sim, quantas vezes e se perceberam alguma diferença (odor,

qualidade, sabor)?”

O campo foi preenchido com as respostas “sim” e “não”

para a primeira pergunta e, se sim, indicamos a outra fonte

utilizada, quantas vezes fez-se necessário o uso e se os

usuários perceberam alguma diferença na água em relação a

água da chuva. Com essas informações, obtemos gráficos que

relacionam porcentagens de cisternas que utilizaram os

carros-pipa e um gráfico com dados das vezes que os carros-

pipa foram utilizados.

3.1.14 “Como o senhor(a) classifica a água da cisterna? (Boa, Regular ou Ruim)?”

O campo foi preenchido com uma das três opções : Boa,

Regular ou Ruim. Esse campo tem por objetivo obter a

classificação das águas de chuva das cisternas pelos

usuários.

40

3.1.15 “Algum tipo de tratamento é dado para o uso da água da cisterna? Qual?”

Nesse campo, os usuários falam sobre como tratam as

águas das cisternas. Tem por objetivo indicar quais os

tratamentos mais usados pela população do SAB. Dessas

informações podemos produzir gráficos em que relacionem as

porcentagens de tratamentos mais utilizadas nas cisternas

pesquisadas.

3.1.16 “Quais medidas de manutenção das cisternas são utilizadas?”

O campo é formado por perguntas pré-definidas que devem

ser respondidas pelos usuários em “sim” e “não” e, também,

existe um espaço para citarem outras medidas de manutenção e

protenção que venham a ter em suas cisternas. O objetivo

desse campo é verificar se as medidas básicas de manutenção

e proteção das cisternas estão sendo utilizadas e observar

as práticas que os usuários adicionam as cisternas para

terem sempre a água com seu grau máximo de potabilidade

possível. Como produto desse campo, podemos ter tabelas com

as porcentagens de cisternas que utilizam as medidas de

manutenção e operação das cisternas.

3.2 Informações adicionais.

41

O questionário foi produzido e levado a campo com

perguntas bem definidas e objetivas, porém, com a exposição

dessas peguntas aos usuários das cisternas, passamos a

adicionar algumas perguntas e observações relevantes ao

objetivo final do trabalho.

Em contato com os usuários, passamos a perceber a

importância do agente de saúde na proteção e tratamento das

citernas. Então, passamos a perguntar se o agente de saúde

era importante na qualidade da água da cisterna.

Outro ponto que observamos foram nas medidas de

manutenção e proteção das cisternas, em que os usuários

passaram a cercar as cisternas contra o contato com animais

e passaram também a vedar os tubos de ventilação com

garrafas, panos, entre outros, para evitar a entrada de

insetos e animais pequenos que pudessem vir a contaminar a

água.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados serão divididos em sete áreas de análise

para uma melhor observação dos resultados.

4.1 Construção das Cisternas.

42

O processo de construção das cisterna tem parte sua

mão-de-obra cedida pelo beneficiários das cisternas e/ou

pessoas da própria comunidade dispostas a ajudá-los. Já o

material é exclusivamente fornecido com verba proveniente de

uma integração da sociedade civil e do governo federal. Como

já dito anteriormente, na pesquisa de campo, podemos

comprovar esse processo por meio dos questionamentos sobre o

assunto, onde todos os usuários foram unânimes em afirmar

que o processo é executado dessa maneira.

No que diz respeito a chegada da cisterna nas

comunidades para seus beneficiários, temos os dados da idade

da construção das cisternas no Gráfico 1:

Gráfico 1 – Gráfico com Porcentagens do Anos de

Construção das Cisternas.

FONTE: Próprio Autor (2012).

43

O gráfico mostra a tendência, principalmente, do P1MC

no município de Milhã que começou a se estabelecer a cerca

de cinco anos com poucas cisternas construídas e que vem, a

cada ano, aumentando o número de beneficiários. As cisternas

com seis ou mais anos de construídas estavam em uma época de

aceitação do programa e por isso, seus poucos números de

beneficiados.

4.2 Captação das Cisternas.

A captação das águas de chuvas são, geralmente, feitas

nos telhados das casas, seguindo para serem captadas em

calhas e levadas por tubulações até as cisternas. A análise

dos dados coletados da área de captação pode ser demonstrada

no Gráfico 2:

Gráfico 2 – Gráfico com Distribuição das Áreas de

Captação dos Telhados.

44

FONTE: Próprio Autor (2012).

A análise do gráfico indica que cerca de 80% das

cisternas tem até setenta metros quadrados de área de

captação. Considerando uma média de precipitação anual entre

800mm e 200mm, como dito anteriormente, teremos 500mm. Sendo

assim, telhados de no mínimo 32 metros quadrados já

abasteceriam a cisterna na sua totalidade, lembrando esse

cálculo considera a captação de 100% da precipitação pelo

telhado, sem perdas. Do gráfico, temos apenas cerca de 10%

das residências com menos que os 32 metros quadrados de área

de captação, sendo assim satisfatórios os resultados obtidos

com a área de captação das residências dos usuários.

Outro ponto de importante destaque é o fato de o

telhado ser dividido em mais de uma queda de água, ou seja,

com somente uma queda, na maioria das vezes, a água da chuva

cai nos pontos mais altos do telhado chegam as calhas com

uma velocidade relativamente alta, podendo ter perda de

45

parte da água da chuva por não escoar na calha. Com telhado

com mais de uma queda, esses pontos mais altos terão cotas

menores e tornarão, na maioria das vezes, o telhado um pouco

menos inclinado, garantindo que a água chegue com uma

velocidade menor à calha e que esta conduza a água até a

cisterna com o mínimo de perdas. Lembrando que ter mais de

uma queda no telhado da residência mais não aproveitá-las

com calhas em todas é desperdiçar água que poderia está

enchedo a cisterna e ajudar a passar o período de estiagem

sem maiores complicações, mas ainda assim, vemos muitas das

casas rurais sem a aplicação desta tática, tendo assim mais

um detalhe a ser observado e ser modificado pelos

responsáveis do programa. A maioria desses usuários nessas

condições alegam não terem recursos financeiros para

instalarem outras calhas, pois o P1MC só atende a um lado da

queda dos telhados.

4.3 Operação das Cisternas.

No que diz respeito a operação das cisternas, obtivemos

informações em relação a recuperação que as cisternas do

município precisaram, essas apresentadas na Tabela 3:

Tabela 3 – Necessidade de Recuperação das Cisternas.

46

FONTE: Próprio Autor (2012).

O sistema construtivo dessas cisternas ainda apresenta

alto índice de ineficiência, pois, como dado da Tabela 3

demonstra, ainda 37,45% das cisternas construídas

necessitaram ser recuperadas, impossibilitando o usuário de

utilizar toda a água que foi reservada. Esse dado agrava

ainda mais a situação quando relacionamos esse ao Gráfico 1

que mostra que a grande maioria das cisternas construídas em

Milhã possuem até cinco anos de uso.

Outro produto importante gerado pela aplicação do

questionário nesta área de análise foi Gráfico 3:

Gráfico 3 – Gráfico com Percentuais de Medidas de

Recuperação.

47

FONTE: Próprio Autor (2012).

O gráfico mostra que grande parte dos usuários das

cisternas que necessitam ser recuperadas procuram medidas de

recuperação com o uso de produtos impermeabilizantes, porém

uma parcela considerável ainda não recupera sua cisterna, ou

seja, essas famílias não contam com a água ou contam somente

com parte deste volume reservado. Parte das fissuras

apresentadas no período pós-construção aparecem na parte

lateral da cisterna, onde podem perder parcialmente a água

reservada, pois o remanescente fica abaixo da fissuração

ocorrida. Porém, fissuras ocorridas na parte inferior ou na

base chegam a perder 100% do volume reservado. Nessas duas

últimas situações, os proprietários que não recuperam suas

cisternas indicam falta de recurso financeiro para aplicarem

medidas de recuperação.

4.4 Distribuição da Água da Cisterna na Comunidade.

Essa área de análise observa, fora a importância dos

quesitos técnicos, a importância dos quesitos sociológicos,

pois a distribuição da água é uma ação que parte dos

usuários das cisternas que deve suprir muitas vezes as

necessidades das pessoas da família do proprietário, também

como a de pessoas que não possuem outra fonte de água

potável próxima a sua residência.

Os produtos dessa análise são o Gráfico 4 e a Tabela 4:

48

Gráfico 4 – Gráfico com Percentuais de Cisternas

Utilizadas por Mais de Uma família.

FONTE: Próprio Autor (2012).

O gráfico, que relaciona as porcentagens de cisternas

com o número de famílias que as utilizam fora a família do

usuário, nos leva a perceber que grande parte das cisternas

são utilizadas por até mais quatro famílias. Esse fato pode

vir a ser fruto do crescimento acelerado da construção de

cisternas nas comunidades do município.

A Tabela 4 abaixo confirma as informações do gráfico do

Gráfico 4 e, mais ainda, com 55,74% das famílias ainda

cedendo parte da água reservada, demonstra o quanto a

solidariedade ainda faz parte do cotidiano da população do

SAB, pois a água é escassa e sem essa distribuição teríamos

grandes dificuldades com água potável para as famílias.

49

Tabela 4 – Número de Cisternas Utilizadas por Mais de

Uma Família .

FONTE: Próprio Autor (2012).

Outro ponto importantíssimo dessa análise é o fato de

saber se a água reservada na cisterna consegue abastecer as

famílias usuárias pelo período da estiagem e chegar ao

próximo período chuvoso, onde será reabastecida. Esse fator

também é importante na visão geral de que a cisterna, as

vezes, abasteça bem uma família, no caso sua proprietária,

mas quando é distribuída passa a não suprir as necessidades

de todos. Para obtermos informações sobre o assunto a Tabela

5 traz esses dados:

Tabela 5 – Situação de Famílias que Distribuem Água das

Cisternas com a Comunidade .

FONTE: Próprio Autor (2012).

Dos dados apresentados podemos verificar que, das

famílias que cedem parte da água de sua cisterna, 76,34%

50

conseguem suprir suas necessidades e a dos favorecidos com a

distribuição da água no período de estiagem, tornando assim

de grande valia a cisterna em poder da população do SAB.

4.5 Alternativas para o Abastecimento das Cisternas.

O abastecimento da cisterna deve ser, principalmente,

feito pela água de chuva, porém, como já foi dito antes,

algumas das cisternas passam por problemas ou o uso

acentuado faz com que a cisterna seque, parte das vezes no

período de estiagem, em que ela não irá demorar ser

abastecida com água de chuva. Para isso algumas ações são

tomadas visando o abastecimento emergencial dessas cisternas

com água potável para consumo humano. É nesse contexto que

se insere o carro-pipa. Com dados sobre o uso do carro-pipa

pelas comunidades chegamos a produzir os Gráfico 5 e Gráfico

6:

Gráfico 5 – Gráfico com Percentuais de Cisternas que

Necessitaram de Carros-pipa.

51

FONTE: Próprio Autor (2012).

O gráfico mostra que a necessidade do carro-pipa ainda

é muito grande com 41,28% de cisternas que necessitaram de

seu uso, pois se torna, na maioria das vezes, uma das únicas

alternativas de água potável à população.

Outro gráfico gerado pelas informações adquiridas é o

Gráfico 6, que indica o número de vezes por ano que as

cisternas que necessitaram de carros-pipa foram abastecidas.

Gráfico 6 – Gráfico com Frequência Anual de Cisternas

Abastecidas por Carros-pipa.

52

FONTE: Próprio Autor (2012).

As informações pertinentes retiradas desse gráfico é

que até 70% das cisternas foram abastecidas uma vez por ano

ou menos e conseguiram suprir suas necessidades. Nota-se

também que esse alto índice de cisternas abastecidas somente

uma vez por ano por carros-pipa, pode vir do grande número

de cisternas com cerca de até dois anos de construídas como

em dados apresentados anteriormente.

4.6 Tratamentos das Águas da Cisterna.

Os tratamentos utilizados são muitos, porém os mais

comuns e citados pelos usuários das cisternas foram a

cloração e filtração, até por serem mais baratos e os mais

53

disseminados pela atuação dos agentes de saúde do município,

figuras importantes no controle de doenças e tratamento das

águas nas cisternas. Como produtos das informações

coletadas, temos o Gráfico 7:

Gráfico 7 – Gráfico com Percentuais de Tratamentos

Utilizados nas Cisternas.

FONTE: Próprio Autor (2012).

O gráfico mostra como são largas as utilizações da

cloração e filtração no tratamento da água das cisternas,

totalizando mais de 80% das cisternas recebendo tratamento,

mas o que mais chama a atenção é o fato de 17,45% da

população rural ainda utilizar a água sem nenhum tratamento

prévio, trazendo riscos a saíude com uma possível água

contaminada.

54

4.7 Manutenção e Proteção das Cisternas.

A manutenção e proteção das cisternas são o que vão

garantir a qualidade da água consumida e evitar as possíveis

doenças que os tratamentos com a cloração e a filtração não

poderão evitar. Nesse atividade a figura do agente de saúde

também atua, informando o básico que os usuários devem

garantir para a boa qualidade da água reservada.

Com base nisso e nas informações coletadas em pesquisa,

temos como produto o Gráfico 8:

Gráfico 8 – Gráfico com Percentuais das Ações de

Manutenção e Proteção das Cisternas.

FONTE: Próprio Autor (2012).

55

O gráfico mostra seis das ações de manutenção e

proteção mais utilizadas no município, porém delas podemos

destacar quatro que merecem mais atenção: manter fechada com

cadeado, limpeza da calha, telas de proteção e proteção das

tubulações contra insetos.

Os resultados mostram que justamente essas ações são as

mais praticadas pela população, onde todas estão em mais de

80% das cisternas, ajudando assim a garantir a potabilidade

da água reservada.

A pintura com tinta a base de cal pelo menos uma vez ao

ano serve para manter o aspecto de limpeza da cisterna e,

também, ajuda, com a cor branca, a resfriar a água, tendo

sim sua importância, mas não no nível das outras quatro

ações. Mas mesmo assim, ainda aparece no gráfico com um

valor representativo de 70% das cisternas pesquisadas.

Já a cerca é mais uma ação dos mais cuidadosos para

evitar a chegada de animais de grande porte próximo a tampa

da cisterna. Sendo um meio de proteção não tão necessário ao

bom funcionamento da cisterna.

5 CONCLUSÕES

Nas condições em que foram realizados os estudos e com

base na análise de todos os dados obtidas nos resultados,

podemos listar as seguintes coclusões nos parágrafos abaixo.

56

Em relação a análise dos dados da construção das

cisternas, observamos que o processo para a aquisição da

cisterna com o fornecimento do profissinal da construção

civil e do material cedido pelas entidades públicas e parte

da mão-de-obra cedida em mutirão pela população é

satisfatório, pois na totalidade de residências pesquisadas,

os proprietários se mostraram satisfeitos e aprovam a ação.

A análise dos dados sobre a área de captação da água da

chuvas nos telhados pode concluir que a maioria das

residências pesquisadas captam água para as cisternas da

melhor maneira possível, ou seja, com uma área de telhado

suficiente para encher a cisternas e garantir o

abastecimento. Porém, como foi visto em muitas das casas

visitadas, o número de residências que não aproveitam todas

as quedas de água é enorme e o motivo alegado pelos

responsáveis é a falta de dinheiro para completarem o

sistema de captação, pois o P1MC só fornece material para

captação em uma queda, independente do número que venham a

ter nas residências.

Em relação a recuperação que algumas cisternas vieram a

necessitar, o número de cisternas que tiveram problemas com

vazamentos foi alto, obrigando a população a entrar com

recursos para recuperá-la. Agravando ainda mais essa

situação, cerca de 90% das cisternas tinham até cinco anos

de construída, fato que não deveria ocorrer. Outro ponto que

deve ser lembrado é que 1/5 das cisternas que necessitaram

57

de recuperação, não foram recuperadas e os usuários não

utilizaram a água reservada na sua totalidade.

As cisternas trouxeram a descentralização de parte da

água das chuvas no SAB, porém essa descentralização também

precisa ocorrer dentro das comunidades que recebem as

cisternas. Os números de usuários que dividem a água com

mais algumas famílias é animador, pois cerca da metade das

cisternas tem água utilizada não só pela família do

proprietário, mas também por pelo menos uma família a mais

da comunidade. De acordo com relatos dos pesquisados esses

números eram maiores, porém o números de cisternas

construídas cresce a cada ano e beneficia famílias que antes

não tinham acesso a essa água. Tão importante quanto saber

que as famílias fornecem água a mais pessoas da comunidade,

é saber se a água das cisternas é suficiente para passar o

período da estiagem abastecendo os usuários e assim

analisando os dados obtidos concluímos que grande parte

consegue sim suprir suas necessidades e ainda fornecer água

a outras pessoas.

Em relação as alternativas de abastecimento das

cisternas quando a água da chuva não consegue suprir a

demanda, temos os carros-pipa como o recurso mais utilizado.

Porém, o grande número de utilizações dos carros-pipa, com

quase metade das cisternas já necessitando dos seus

serviços, traz preocupação, pois as cisternas devem

conseguir suprir a demanda de abastecimento e, além disso,

esse meio deve ser encarado como emergecial e não utilizado

58

quase que constantemente, por ser de alto custo. A tendência

do uso dos carros-pipa é diminuir, pois como vimos

anteriormente, a construção de cisternas nas comunidades

aumenta a cada ano e a idéia é ter quase todas as casas com

seus próprios reservatórios.

Em relação aos tratamentos dados as águas, se

sobressaem a filtração e a cloração, realmente, os mais

disseminados pela região pesquisada. Os resultados foram

animadores pois concluímos que a maioria das residências

estão dando o devido valor aos meios de tratamento e

cuidando de suas famílias. Porém, não podemos deixar de

perceber que cerca de 1/5 das cisternas ainda não tratam

suas águas, trazendo riscos à saúde de suas famílias.

Na área de manutenção e proteção das cisternas, as

cisternas pesquisadas estão com todas as exigências

supridas, pois, dos seis itens pesquisados, os quatro mais

importantes foram verificados em mais de 80% das cisternas,

garantindo assim a potabilidade adequada da água a ser

consumida. Os outros dois itens tem sua importância, porém

não afetariam tanto as qualidades da água reservada na

cisterna.

Por fim, grande parte desses bons resultados devem ter

sido conseguidos com a atuação da figura do agente de saúde.

Muitas das cisternas pesquisadas, quando perguntadas sobre

tratamento, manutenção e proteção indicavam que o que sabiam

e usavam tinha sido ensinado pelo agente de saúde da região.

59

Esse profissional pode vir a ser um dos grandes fatores da

boa qualidade da água consumida pelas cisternas no SAB.

REFERÊNCIAS

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