TABLETS E JORNALISMO: o estado da arte e a multimidialidade no Estadão Noite e no Globo A Mais
Transcript of TABLETS E JORNALISMO: o estado da arte e a multimidialidade no Estadão Noite e no Globo A Mais
4ª Conferência ICA América Latina Diálogos entre Tradição e Contemporaneidade
nos Estudos Latino-Americanos e Internacionais de Comunicação Universidade de Brasília, 26 a 28 de março de 2014
TABLETS E JORNALISMO: o estado da arte e a multimidialidade no
Estadão Noite e no Globo A Mais1
Resumo Este trabalho objetiva mapear e classificar os aplicativos noticiosos para tablets desenvolvidos pelas empresas brasileiras. Além disso, o artigo busca refletir sobre e identificar o uso da multimidialidade nas versões de jornais desenvolvidas exclusivamente para tablets. Para a construção da nossa análise, usamos a base de dados dos membros da Associação Brasileira de Jornais (ANJ). Ao todo, são 141 associados no país, dos quais apenas 34 possuem versão para o dispositivo. Desses, somente dois dispõem de uma versão exclusiva para o formato e neles foram aplicadas fichas de observação. Os aplicativos catalogados foram classificados a partir de uma proposta tipológica: transpositivos, transpositivos potencializados e autóctones. Sobre a multimidialidade, nossos dados indicam que os meios fazem uso dessa linguagem, mas as apropriações ainda são tímidas quando comparadas às feitas pelos cibermeios. Palavras-chave: Tablets, multimídia, aplicativos, ANJ.
As apropriações e usos dos dispositivos móveis no cenário comunicacional são muito
variados. São feitos em suportes digitais para leitura e escrita (eReader), como também em
netbooks, telefones móveis e tablets (GÜERE E NEVES, 2012). É possível inserir, neste
cenário de inovações, aplicativos, softwares e páginas web desenhadas especificamente para
estes suportes.
Para este trabalho, interessam-nos os aplicativos jornalísticos desenvolvidos
especificamente para tablets. Há diversos projetos periodísticos que indicam a exploração dos
recursos nativos das novas plataformas: o norte-americano The Daily, italiano La Repubblica
Sera, o belga Le Soir e o espanhol El Mundo de La Tarde. No Brasil, O Globo a Mais, de O
Globo, e Estadão Noite, de O Estado de S. Paulo, são destaques.
Esses aplicativos são conhecidos como autóctones. São aplicações de “[...] natureza
nativa que se inserem na modalidade de exploração dos recursos característicos das
plataformas móveis em termos de navegação, interação táctil e outras particularidades dos
apps.” (BARBOSA et al, 2013, p.13).
1 Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho Jornalismo e Sociedade, 4ª Conferência ICA América Latina, Universidade de Brasília, 26 a 28 de março de 2014.
Universidade de Brasília
4ª Conferência ICA América Latina 2014
2
É neste cenário de transformações que o tablet é visto pelas empresas jornalísticas como
um novo suporte para a produção de conteúdo e uma alternativa comercial a ser explorada
pelas empresas (VALENTINI, 2012). O marco de sua inserção no mercado é o mês de abril
de 2010 quando a Apple lançou o iPad (CANAVILHAS; DE SANTANA, 2011).
Os suportes não eram novidade no mercado da tecnologia, mas o lançamento de Steve
Jobs representou o boom de vendas e aceitação do aparelho no mercado mundial. Esse
lançamento impactou fortemente o mercado editorial e provocou o lançamento de novas
versões de jornais para o dispositivo.
Quando falamos de tablets e jornalismo, Roger Fidler, professor e diretor do Programa
Digital Publishing Donald W. Reynolds Journalism, da Universidade do Missouri (EUA), é
conhecido como o idealizador de um dos dispositivos que marcará os processos de produção,
criação e consumo do jornalismo “[...]. Foi ele quem, há 16 anos, idealizou o ‘tablet
newspaper’ [...]” (BARBOSA; SEIXAS, 2013, pp. 51-52).
Dados da comScore2 mostram que a proporção de acessos realizados por dispositivos
móveis, como celulares e tablets, teve crescimento de 300% entre maio de 2011 (quando era
de 0,6% do tráfego total) e maio de 2012 (2,4%) no Brasil.
Nos Estados Unidos, os números 2012 também chamam atenção. Das pessoas que
possuem tablets no país, 64% usam o dispositivo para ler notícias, revela a Pew Research
Center's Project for Excellence in Journalism (PEJ)3.
Utilizando a mesma fonte, a Agência Globo4 mostra que, entre 13 países, o Brasil é
aquele onde mais se consome conteúdo jornalístico por meio de tablets. O país tem uma
média de leitura duas vezes maior do que em outros equipamentos. O iPad é responsável por
31,8% de todos os acessos a jornais por dispositivos móveis em território nacional.
“No campo do jornalismo e das práticas de comunicação contemporâneas, observa-se
que o jornalismo cada vez mais se alimenta de plataformas móveis, tanto para a produção,
quanto para a difusão de conteúdo digital” (RUBLESCKI; BARICHELLO; DUTRA, 2013,
p.129). Diversas empresas jornalísticas têm desenvolvido aplicativos. Contudo, as instituições
midiáticas têm criado produtos não somente em aplicativos. A web também tem sido
utilizada, com apoio de uma linguagem chamada de HTML5, como suporte de produção
desse formato.
2 Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/tec/1137021-participacao-de-tablet-e-celular-na-internet-brasileira-quadruplica-em-um-ano.shtml> Acesso em: 12 set. 2013 3 Disponível em < http://www.journalism.org/analysis_report/future_mobile_news>. Acesso em 20 de set. de 2012. 4 Disponível em: <http://www.yib.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=82:brasileiro-e-quem-mais-le-jornais-via-smartphone-e-tablet&catid=39:noticias>. Acesso em: 25 jun. 2013.
Universidade de Brasília
4ª Conferência ICA América Latina 2014
3
Como fator impulsionador dessa adoção, pesquisadores (AGUADO; CASTELLET,
2013) também têm destacado que, nos dispositivos móveis, como celular e tablet, é mais
plausível, quando comparada a outros suportes, a rentabilização. Principalmente pelo corte na
produção de conteúdo, que passa a ser cross-media5, e pela novas formas de interação com os
usuários e a fidelização das audiências mais jovens.
Apesar de existir esse movimento, as empresas brasileiras não possuem um modelo
definido para rentabilizar o seu conteúdo. “Em termos jornalísticos, as palavras de ordem são
reinventar o formato das notícias e diferenciar o conteúdo, além de personalizar a experiência
de leitura em mobilidade.” (RUBLESCKI, BARICHELLO, DUTRA, 2013, p. 129)
Barbosa e Seixas (2013, p. 62) acreditam que as aplicações tablet-based media seguem
a mesma tendência das primeiras versões de sites jornalísticos para a web. As pesquisadoras
afirmam que vivemos um “[...] estágio de transposição pura e simples, que emula as edições
impressas de jornais e também de revistas[...].” Porém, essas transposições no cenário
midiático são mais complexas e provenientes de diferentes suportes. Elas mostram que são
agregados “[...] conteúdos multimídia dos respectivos sites para os novos dispositivos tablets
como iPad, Xoom, HP touchPad ou aqueles que rodam o sistema android da Google.”
É nitidamente perceptível que os “processos visuais, sonoros e textuais que
permeavam os meios tradicionais de comunicação são gradualmente incorporados aos
dispositivos móveis, [...] inclusive para fins noticiosos-jornalísticos.” (RUBLESCKI,
BARICHELLO; DUTRA, 2013, p.121)
É perceptível também que este desenvolvimento herda do jornalismo digital
caraterísticas como hipertextualidade, interatividade, multimidialidade, personalização,
atualização contínua/instantaneidade e memória (PALACIOS, 2003). Principalmente os
aplicativos desenvolvidos especificamente para os suportes, como os dois brasileiros: Globo
A Mais e Estadão Noite.
É neste cenário que o presente artigo tem como objetivo mapear os jornais brasileiros
que possuem versões para tablets. Incialmente, utilizando a observação livre (TRIVIÑOS,
2011) como método de pesquisa, buscamos mapear os aplicativos nos jornais brasileiros.
Para chegar ao nosso corpus, selecionamos, no site da Associação Nacional de Jornais
(ANJ), todos os meios de comunicação a ela associados. Ao total, são 141. Chegamos a fazer
uma ligação telefônica em junho de 2013 para a ANJ, com o intuito de saber se eles tinham
esse levantamento. Identificado que não existiam as informações na Associação, passamos a
5 Cross-media é um modelo de distribuição de serviços, produtos e experiências por meio das diversas mídias e plataformas de comunicação. Os grupos de comunicação têm utilizado este modelo para baratear sua produção.
Universidade de Brasília
4ª Conferência ICA América Latina 2014
4
visitar as páginas da internet dos associados buscando descobrir quais possuíam versões para
tablets. A procura foi realizada na página principal de forma visual e utilizando as palavras-
chave na busca: tablet, ipad e móvel. Essas palavras foram escolhidas a partir de uma
observação inicial para a identificação das mais usadas. Além disso, de forma complementar,
fomos na loja da Apple6 e utilizamos o nome meio de comunicação para encontrar o
aplicativo. Essa busca foi feita no mês de junho de 2013.
Feita esse primeiro levantamento, ancorado no trabalho de Güere e Neves (2012), e
identificadas algumas apropriações distintas, desenvolvemos uma tipologia e passamos a
categorizar e classificar as versões para dispositivos em:
a) Transpositivos: disponibilizam o PDF do impresso, transpondo o conteúdo
original.
b) Transpositivos híbridos: transpõem conteúdos dos diversos meios do grupo de
comunicação. Além disso, esses dispositivos podem apresentar versões do
impresso, potencializando com recurso interativos, multimidiáticos e hipertextuais,
como links e QR Codes. Esse modelo ainda não apresenta uma diagramação
adequada ao suporte.
c) Autóctones7: nascem exclusivamente para o suporte e possuem uma produção
exclusiva.
Um outro aspecto que precisa ser deixado claro é que nosso foco e busca, neste
trabalho, é por aplicativos direcionados à produção de conteúdos jornalísticos noticiosos.
Frisamos isso porque as empresas jornalísticas têm criado aplicativos diversificados, como
para entretenimento (infoTabment8), prestação de serviço e puramente jornalísticos. Com isso,
é possível encontrar em meios de comunicação mais de um aplicativo.
Outro ponto que destacamos, como tínhamos ressaltado na introdução, é que há
aplicativos feitos em lojas específicas de app, como Apple, bem como versões para o
dispositivo desenvolvidas na web9. Além disso, para identificar os aplicativos que possuíam
produção específica para o suporte, analisamos a primeira capa das versões com a página
web. Esses dados foram levantados de 9 a 15 de junho de 2013, totalizando uma semana.
6 Por não termos o dispositivo que rodasse em outra plataforma, não buscamos em outras lojas. Apesar disso, achamos que o trabalho não é prejudicado, principalmente porque buscamos na página dos sites como principal critério. Mas também por entendermos que a Apple possui o dispositivo mais usado pelas empresas jornalísticas e pelos usuários, e por ser o modelo percursor. 7 Este termo é usado pelo grupo do Projeto Laboratório de Jornalismo Convergente, coordenado pelas pesquisadoras Suzana Barbosa e Lia Seixas, na Pós-Com, UFBA. 8 O conceito de InfoTabment é derivado do conceito de Infotainnment. Tem relação com uma nova atitude dos usuários de tablets e o consumo de entretenimento nos dispositivos. 9 Enquanto o primeiro é desenvolvido em um ambiente fechado, que limita inclusive o uso da hipertextualidade, o outro é feito na web, que tem como característica sua estrutura rizomática.
Universidade de Brasília
4ª Conferência ICA América Latina 2014
5
Nossos dados mostram que, na região Sudeste, dos 66 jornais sócios da ANJ, 18
possuem suas versões em aplicativos para tablets. Desses, 16 possuem aplicativos próprios e
dois vendem suas versões impressas no aplicativo O Jornaleiro10. Apenas um dos jornais
possui uma versão para tablet na web, que é o Jornal Folha de São Paulo. Apesar disso, o
meio também tem aplicativo nas lojas. Usando nossa tipologia, é possível afirmar que existem
12 aplicativos transpositivos, dois transpositivos híbridos e dois autóctones11.
Somente o Jornal O Globo, em um dos suas aplicativos, o Globo A Mais, possui
conteúdo produzido exclusivamente para o suporte. O Estadão Noite foi desenvolvido
especificamente para o suporte, mas possui uma boa parte do seu conteúdo transposto de
outros meios do grupo. Os dois são os dispositivos autóctones. Além disso, o jornal Lancer
oferece uma versão do seu jornal impresso com potencializações, como o leitor de QR Code.
Além disso, a Folha de São Paulo oferece recursos utilizados na web. Ele é considerado um
transpositivo híbrido. Todos os dispositivos apresentam modelos de assinatura variados.
Na região Sul, dos 28 jornais associados, dez possuem aplicativo na Appstore, sendo
todos eles transpositivos. Desses, dois jornais, do mesmo grupo empresarial, utilizam um
mesmo aplicativo. Todos os jornais possuem o modelo de assinatura.
Dos 15 jornais da região Norte, apenas dois têm aplicativos. São modelos
transpositivos e também adotam o formato pago. Para ter acesso aos exemplares impressos,
em PDF, o usuário precisa assinar um plano.
Na região Nordeste, dos 23 jornais, apenas quatro possuem aplicativos. Um deles, o
Jornal da Paraíba, possui aplicativo para diferentes plataformas e dá acesso via web também.
O jornal Estado do Maranhão possui chamada na capa do site, mas, ao clicar nela, apresenta
erro e não foi encontrado na loja. O Diário do Nordeste, com seu aplicativo Diário do
Nordeste Plus, é um aplicativo autóctone, sendo o único fora da região sudoeste. Contudo,
não tivemos acesso ao aplicativo. Tentamos algumas vezes instalar e pagar para acessar a
versão, mas apresentou um erro.
Já na região Centro-Oeste, são nove jornais associados, desses apenas dois possuem
aplicativos. O Correio Brasiliense tem um transpositivo híbrido. O jornal O Popular apresenta
uma versão transpositiva. Além desses dois, o Jornal de Brasília oferece suas versões do
impresso em PDF no aplicativo O Jornaleiro.
10 O Jornaleiro é um aplicativo que cumpre o papel de banca de revista virtual. Ele vende conteúdos digitais de jornais e revistas. 11 É possível encontrar mais de um produto nos aplicativos dos jornais mencionados. Alguns grupos empresariais, como o Globo, usam um tipo de loja virtual para vender versões diferentes de aplicativos.
Universidade de Brasília
4ª Conferência ICA América Latina 2014
6
Sudeste Sul Norte Nordeste Centro-‐
Oeste
Transpositivos 12 10 2 3 2
Transpositivos híbridos 2 0 0 0 1
Autóctones 2 0 0 1 0
Total de Jornais com aplicativos 16 10 2 4 3
TABELA 1 – Aplicativos de jornais divididos por região (Fonte: elaboração própria)
Feito esse mapeamento inicial, passamos a identificar o uso da multimidialidade nas
versões autóctones, Estadão Noite e Globo A Mais. Nossa escolha se deu por serem os únicos
jornais que possuem equipes próprias produzindo conteúdo12 e por terem sido desenvolvidos
pensando nas potencialidades do suporte. Como os dois jornais13 escolhidos para serem
testados oferecem edições pagas, fizemos a assinatura e aplicamos em duas edições dos
jornais. No Globo A Mais, foram analisadas as edições de sexta-feira (26/07/2013)14 e de
segunda-feira (30/07/2013). No Estadão Noite, foram as de quinta-feira (26/07/2013) e sexta-
feira (26/07/2013). Os questionários foram aplicados na segunda-feira (26/07/2013).
Para realizar a observação das versões, utilizamos a Ferramenta para Análise de
Multimidialidade em Cibermeios, desenvolvida Masip, Micó e Teixeira (2011). Apesar de
serem desenvolvidas para webjornais, acreditamos, nesta fase inicial de criação e
experimentação do suporte, que as fichas serão apropriadas.
Ao total são nove fichas de observação. A primeira é uma ficha geral de recursos
multimídia. Aplicada a primeira, a B1 possibilita a observação do uso das fotografias. As
galerias de fotografias são privilegiadas nas ficha B215. Os vídeos são analisados na Ficha B3
12 O Diário do Nordeste anuncia que possui equipe própria, mas como não obtivemos sucesso no acesso, foi descartado. 13 Ao consultarmos a Folha de São Paulo, percebemos que as notícias que estavam na capa eram idênticas às da versão web, por isso descartamos o jornal da análise. 14 Apesar de existirem especificações na ficha para aplicação em horários separados, 9 e 19h, nos dias escolhidos, no caso das versões para tablets é inviável, já que produzem edições estanques, sem atualização contínua. 15 Diferente do que aconselha a ficha, utilizamos para observação de galerias nos diversos locais do dispositivo, mesmo não aparecendo na chamada da capa. Esse padrão servirá para todos os formatos.
Universidade de Brasília
4ª Conferência ICA América Latina 2014
7
e as galerias do formato na B4. Já a B5 é para áudio, B6 para infografias. As duas últimas, C1
e C2 não foram utilizadas em nosso trabalho, principalmente porque não há possibilidade de
recuperação de memória produzida pelos espaços.
2. A multimidialidade no Globo A Mais e no Estadão Noite
Passados 10 anos da pesquisa percursora feita por Mielniczuk (2003), em que, entre as
diversas contribuições, mapeou-se o uso das seis potencialidades do jornalismo feito na web,
ela já indicava que a multimidialidade é uma das menos utilizada pelos webjornais. Na
contemporaneidade, no âmbito da pesquisa, a multimidialidade ainda é pouco estudada
(MASIP; MICÓ, 2013).
Os pesquisadores espanhóis afirmam que este cenário está mudando. Elas acreditam
que o interesse crescente sobre a potencialidade entre grupos de pesquisas e meios de
comunicação tem permitido um melhor conhecimento e uma maior incidência na produção de
conteúdo multimídia nas rotinas produtivas e nas coberturas informativas.
Para fins jornalísticos, a multimidialidade é entendida neste trabalho como a
integração, em uma mesma unidade discursiva, de informação de vários tipos: textos, imagens
(fixas ou em movimento), sons e, até mesmo, base de dados e programas auto-executáveis.
Essa junção para a criação de uma narrativa pode ser por integração ou justaposição (NOCI,
2003).
“Um sistema multimídia é aquele que se caracteriza pelo uso de diferentes canais de
comunicação”. Ao se elaborar uma informação com este formato, é possível contextualizá-la
com as ferramentas oferecidas no suporte. Um exemplo seria a utilização de um mapa para
geolocalização de um acidente ou tragédia (SCHWINGEL, 2012, p. 15).
Som, vídeo, imagens e textos são os elementos que podem integrar o discurso
multimídia. A diferença no uso das imagens é que, nos jornais digitais, elas podem também
ser em movimento ou em pequenos trechos de vídeo. Feitas essas delimitações conceituais,
passamos aos resultados.
No aplicativo do Globo A Mais, nas duas edições pesquisadas, existem fotografias
individuais que servem de chamada e são combinadas com chamadas textuais. O fato é
observado nas duas edições selecionadas. Não existem mais outros formatos na capa. Além
disso, não há possibilidade de resgatar arquivos, já que são edições específicas. No Estadão
Noite, além da imagem individualizada que ocupa a capa inteira das duas edições analisadas,
Universidade de Brasília
4ª Conferência ICA América Latina 2014
8
existe um ícone de uma caixa de som para uma chamada de assuntos que acontecerão durante
o dia.
Na Ficha B1, identificamos que todas as imagens possuem legendas e estão integradas
na zona de notícias. Ao passar a primeira página e a parte explicativa de uso do dispositivo,
existe uma seção chamada Giro. As fotografias são utilizadas abundantemente e a observação
no espaço indica ser um recurso central nas edições. São sempre em alta qualidade (high
definition) e esse padrão é recorrente em todas as imagens publicadas nas edições.
No Estadão Noite, as imagens são utilizadas de forma mais tímida. Nos textos, existe
apenas uma imagem dos colunistas. Não há fotos individuais nos textos para ilustrar ou para
acrescentar informações. Na seção de vídeo, também existem imagens, mas estão sobrepostas
a um ícone de play de um vídeo.
Encontramos nas edições do Globo A Mais uma galeria fixa de imagens. Com a Ficha
B2, analisamos “As imagens do dia”, onde há uma galeria independente que faz uma
apresentação conjunta de informações sobre diversos temas da edição.
As fotos são passadas manualmente, com a tactalidade. Na edição de 26 de julho, são
ao todo nove fotos com assinatura pessoal, devidamente identificadas. Reuters, Associated
Press e Fundação AFP são as agências que assinam as imagens. Já a outra edição tem na
galeria dez imagens. Todas elas possuem as mesmas características identificadas na primeira
galeria, diferenciando-se somente em uma imagem, que é da Agência O Globo.
O Estadão também possui uma galeria de imagem no seu aplicativo. As imagens de
“Cenas do Dia” apresentam assinaturas em todas. Identificadas devidamente, as imagens do
dia 26 são, em sua grande maioria, de autoria de repórter fotográfico do meio. São quatro
fotos do Estadão e uma da Agência Reuters.
Na ficha B3, que faz uma análise de vídeo individual, na edição de 29 de julho,
aplicamos em cinco arquivos em editorias diferentes. Eles são identificados com um ícone nas
matérias, já que estão integrados com informações textuais. Todos servem de complemento,
buscando enriquecer o texto. Apenas um vídeo, de duração de 5 minutos e 13 segundos, é de
autoria própria, de um cineasta convidado. Os outros quatro vídeos variam de três a 30
segundos e são produzidos por agências. São vídeos ilustrativos, como clipes de filmes e
ensaios fotográficos.
No Estadão Noite, são três vídeos por edição e estão localizados em uma seção
chamada “Na TV Estadão & na Rádio Estadão”. Há indícios de transposição do canal feito no
Portal. Todos os vídeos possuem um fotograma com um botão play e são segregados em
galerias de vídeos. Possuem uma etiqueta própria e são independentes. Não é possível
Universidade de Brasília
4ª Conferência ICA América Latina 2014
9
também identificar os autores das peças, já que não possuem assinatura autoral. Também não
é possível identificar se os textos, que fazem a chamada dos vídeos, são do mesmo autor.
Na edição de quinta-feira, o primeiro vídeo, identificado com o título “É cedo para
analisar a visita do papa”, tem formato de entrevista em bancada feita em telejornalismo. Com
duração de dois minutos e 58 segundos, o arquivo é de autoria do meio de comunicação. O
jornalista que faz as perguntas no vídeo não recebe crédito. Apenas a TV é identificada.
O segundo vídeo, “Oscar Schmidt recebe benção do papa”, apresenta imagens do fato.
São 51 segundos de duração. O terceiro, “Veja o descarrilamento do trem na Espanha”, é mais
elaborado e possui também um formato de telejornalismo. A peça é construída com imagens
da Agência Associated Press e coberta com um off. Não há sinalização de autoria no arquivo,
somente sendo identificado com o símbolo do Estadão.
A edição do dia 26, de sexta-feira, também possui três vídeos. “Em dia de Sol,
peregrinos lotam Copacabana” tem três minutos e 13 segundos de duração. O arquivo possui
imagens, sonoras, off e uma música no fundo. Como todos os outros, os arquivos não são
identificados.
Já em “Campanha para prefeito de NY é circo de revelações”, a colunista de o Estadão
Lúcia Guimarães abre fazendo um stand up. Logo depois segue com imagens e um off
apresentando as informações. O vídeo de 2 minutos e 51 segundos de duração é o primeiro
que identifica o profissional que faz o arquivo.
“Conflito de geração é tema de peça em SP” também apresenta o crédito do
responsável pela apresentação. O arquivo segue a mesma linha do último comentado neste
trabalho. A diferença é que ele tem 52 segundos.
A Ficha B4 foi aplicada somente no Estadão, já que não existem galerias de vídeos no
aplicativo da Globo. As galerias, nos dois dias observados, apresentam um conjunto de
informações sobre temas variados. Elas são segregadas em uma área específica, independente.
Todos os vídeos são identificados e não há assinatura pessoal, sendo apenas identificado o
Jornal. Como se trata de um arquivo de notícias em bloco, não há a possibilidade de encontrar
arquivos e, como já foi exposto, eles são publicados em uma seção própria.
A B5, Ficha para análise de áudios, foi aplicada somente na edição de 26 de julho e
somente um áudio foi encontrado, sendo identificado por um ícone. Tratava-se de uma música
de um banda que era resenhada pelo autor do texto. O arquivo de áudio serviu nesse texto
como complemento da matéria.
No Estadão Noite, há um áudio em cada edição. Eles possuem o mesmo formato: são
identificados com um botão de play (representado com uma caixa de som), são segregados e
Universidade de Brasília
4ª Conferência ICA América Latina 2014
10
independentes. Não é possível identificar o tempo dos áudios e também não dá a possibilidade
de o usuário saber quem é o repórter que apresenta.
Como não existiam infografias nas edições selecionadas, acabamos não aplicando a
Ficha B6. Apesar disso, é possível afirmar que, em todas as edições, existiam gráficos que
auxiliavam na compreensão das matérias. O Estadão Noite não possui nenhum gráfico ou
infográfico nas duas edições.
3. Considerações finais
Com uma abordagem exploratória e inicial, e por se tratar de um novo suporte para
produção jornalística, os tablets têm apresentado apropriações pouco variadas e, na maioria
dos casos, transpositivas. Os resultados colhidos neste trabalho mostram que a transposição
ainda é quase geral.
Reflexo de uma crise anunciada por muitos pesquisadores e empresas de consultoria,
os meios de comunicação têm visto nos tablets uma alternativa complementar ao seu modelo
de negócio. Nossa pesquisa reforça essa afirmação ao constatarmos que todos os jornais
comercializam seus versões impressas nos aplicativos.
Esse cenário demonstra que novas edições surgirão e que variados pacotes de
assinaturas as acompanharão. E os melhores exemplos disso são os aplicativos desenvolvidos
especificamente para os meios, no caso do Globo e do Estadão, já que, antes de entrar,
oferecem pacotes de acesso casados com sua edição impressa e da web. Não há acesso livre
nas edições para os dispositivos.
Nossos dados indicam que os jornais da região Sudeste saem na frente na quantidade
de aplicativos para tablets. A explicação está certamente na concentração dos maiores jornais,
com mais capacidade econômica, do país. Além disso, a região é a que possui o maior número
de jornais.
Há de se destacar que as duas edições pesquisadas são edições vespertinas e se
diferenciam com a proposta de analisar o que há a mais no dia. São análises de notícias do
dia. Isso implica em um modelo diferenciado de produção, já que o seu fechamento se dá no
final da tarde e é pautado pelas principais notícias do dia.
Quando nos referirmos especificamente aos resultados sobre os usos da
multimidialidade nos dispositivos autóctones, fica evidente que nos meios o uso ainda é
Universidade de Brasília
4ª Conferência ICA América Latina 2014
11
incipiente. Quando não são transposições do suporte digital, são vídeos e áudios
promocionais.
As fotografias, exploradas abundantemente no aplicativo do Globo, ainda são, em sua
grande maioria, produto das agências de notícia. No Globo A Mais, há uma preocupação
estética aliada aos requisitos que o fato jornalístico reúne. É importante frisar que nos dois
aplicativos as imagens são de alta definição. Isso impacta de alguma forma as estratégias de
produção do conteúdo e as rotinas que têm se constituído, nas quais o repórter tem produzido
todo o conteúdo da matéria, inclusive as imagens.
Essas observações iniciais também mostram caminhos de exploração de novas
narrativas. Como sugestão para futuras pesquisas, podem ser exploradas questões sobre as
formas de navegações horizontais e verticais nas notícias publicadas. Isso influencia
diretamente na construção de novas arquiteturas da informação.
Certamente novos modelos surgirão e exigirão dos jornalistas novos conhecimentos.
Isso acaba impactando diretamente na construção da pauta, momento em que o jornalista, a
partir das informações que possui, pensa nos formatos que utilizará e, consequentemente, na
sua navegação.
Além disso, a criação desses espaços de publicação jornalística abre a possibilidade de
desenvolvimento de pesquisas sobre as potencialidades utilizadas na produção desses
conteúdos.
Nossas próximas publicações serão centradas nas rotinas produtivas desses meios.
Buscaremos compreender como os meios autóctones fazem uso das seis potencialidades do
jornalismo digital e de que forma elas estão alocadas nas rotinas produtivas desses suportes.
Universidade de Brasília
4ª Conferência ICA América Latina 2014
12
Referências Bibliográficas AGUADO, Juan Miguel; MARTÍNEZ, Immaculada. Sociedad móvil: tecnología, identidad y cultura. Madrid: Nova, 2008. AHONEN, Tomi. Almanac 2011. Hong Kong: TomiAhonen Consulting, 2011. AGUADO, Juan Miguel; CASTELLET, Andreu. Contenidos digitales en el entorno móvil: mapa de situación para marcas informativas y usuarios. In: BARBOSA, Suzana et al (ORG). Jornalismo e Tecnologias Móveis. 1. ed. Covilhã, Portugal: LivrosLabCOM, 2013. BARBOSA, Suzana; SEIXAS, Lia. Percepções, usos e tendências. In: BARBOSA, Suzana et al (ORG). Jornalismo e Tecnologias Móveis. 1. ed. Covilhã, Portugal: LivrosLabCOM, 2013. BARBOSA, S.; SILVA, F. F. da; NOGUEIRA, L. Análise da convergência de conteúdos em produtos jornalísticos com presença multiplataforma. In: Anais 10o Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo – SBPJor. Curitiba, novembro 2012. (on-line), Disponível em: <http://soac.bce.unb. br/index.php/ENPJor/XENPJOR/paper/view/1888/230>. Acesso em: 12 set. 2013. BARBOSA, Suzana. ; FIRMINO, Fernando ; NOGUEIRA, L. ; ALMEIDA, Yuri . A atuação jornalística em plataformas móveis. Estudo sobre produtos autóctones e a mudança no estatuto do jornalista. Brazilian Journalism Research (Online), v. 9, p. 10-29, 2013. CANAVILHAS, João e SANTANA, Douglas.. Jornalismo para plataformas móveis de 2008 a 2011: da autonomia a emancipação. in Revista Líbero, vol. 14, nº28, p. 53-66. São Paulo, 2011. GOMES, Rui Miguel. A importância da Internet para jornalistas e fontes. Lisboa: Livros Horizonte, 2009. GÜERE, H.N.; NEVES, Alysson L. Introducción a las Apps de noticias para dispositivos móviles. AE-IC 2012. Disponível em: <http://www. aeic2012tarragona.org/comunicacions_cd/ok/104.pdf>. Acesso em 23 set. 2013. MASIP, Peree; MICÓ, Josep Lluís; TEIXEIRA, Tattiana. Ferramenta para Análise de Multimidialidade em Cibermeios. In: PALACIOS, Marcos (Org). Ferramentas para análise de qualidade no ciberjornalismo. vol. 1, [S.I.], LabCom, 2011. MIELNICZUK, Luciana. Jornalismo na Web: uma contribuição para o estudo do formato na notícia na escrita hipertextual. 2003. Tese (Doutorado em Comunicação e Culturas contemporâneas) - Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2003. PALACIOS, Marcos ; CUNHA, R. E. S. . A Tactalidade em dispositivos móveis: primeiras reflexões e ensaio de tipologias Contemporanea (Salvador. Impresso), v. 10, p. 668-685, 2012.
Universidade de Brasília
4ª Conferência ICA América Latina 2014
13
PALACIOS, Marcos. Ruptura, continuidade e potencialização: o lugar da memória. PALACIOS, Marcos; MACHADO, Elias. (ORG). Modelos de jornalismo digital. Salvador: Casandra, 2003. RUBLESCKI, Anelise; BARICHELLO, Eugenia, DUTRA, Flora. Apps jornalísticas: panorama brasileiro. IN CANAVILHAS, João. (ORG) Notícias e Mobilidade: o jornalismo na era dos dispositivos móveis. Livros Labcom, 2013. SILVA, Fernando Firmino da . Jornalismo live streaming: tempo real, mobilidade e espaço urbano. In Anais: Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo - SBPJOR, 2008, São Bernardo do Campo - SP. Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo - SBPJOR, 2008. SCHWINGEL, Carla. Mídias digitais: produção de conteúdo para web. São Paulo: Paulinas, 2012. TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução À Pesquisa Em Ciências Sociais. A Pesquisa Qualitativa Em Educação. 1. ed. 20. Reimpr. São Paulo: Atlas, 2011. VALENTINI, Elena. Dalle gazzette all’iPad. Il giornalismo al tempo dei tablete. Milano: Mondadori, 2012.