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SAÚDE PÚBLICA NO NORTE DE MINAS GERAIS: a dimensão urbana e rural do Projeto Montes Claros 1
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SAÚDE PÚBLICA NO NORTE DE MINAS GERAIS: a dimensão urbana e rural do
Projeto Montes Claros1
Simone Narciso Lessa 2
Alcione Gonçalves Ribeiro Vieira3
Elizabeth Ferreira de Pádua Melo Franco4
Idalécia Soares Correia5
Introdução
As políticas sociais são gestadas pelo Estado para o enfrentamento de
questões sociais e dos problemas sociais, dentre eles aqueles relacionados à saúde. A
agenda de problemas públicos que será alvo de políticas é continuamente negociada,
definindo-se o que será incluído e a sua importância relativa no conjunto de problemas a
receberem a intervenção do Estado. Assumem determinadas “feições” dependendo das
sociedades e concepções de Estado e projeto político em que se inserem. Acurcio (2007) irá se
referir à agenda pública como uma resposta às demandas postas pela sociedade. Cita
Mattos (1999) quando relaciona os atores sociais às demandas existentes, considerando
que as fazem chegarem ao Estado e interferem para definir como deve ocorrer a
intervenção. A concepção de atores sociais trabalhada refere-se a um “coletivo de
pessoas ou, no seu extremo, uma personalidade que participa de determinada situação,
tem organização minimamente estável, é capaz de intervir nesta situação e tem um
projeto”.
O contexto histórico, a situação econômica e social, o conhecimento
cientifico, e a capacidade dos atores de interferirem definem a política publica. No caso
da política de saúde, as distintas articulações entre sociedade e Estado promoveram
inúmeras mudanças como respostas sociais às necessidades e aos problemas de saúde
existentes no contexto de diversas conjunturas vividas no Brasil.
1 Este texto é um desdobramento da Pesquisa Gestão de Políticas de Saúde no Norte de Minas Gerais:
Contextos, atores e trajetórias. Agradecemos o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais
– FAPEMIG para o desenvolvimento da pesquisa, e de foma muito especial aos gestores e trabalhadores
da saúde que contribuiram como sujeitos neste estudo. 2 Simonte Narciso Lessa é doutora em História Social/UFMG, professora do Programa de Pós-Graduação
em Desenvolvimento Social e do Departamento de História da Universidade Estadual de Montes Claros 3 Alcione Gonçalves Ribeiro Vieira é assistente social, mestre em Desenvolvimento
Social/UNIMONTES, professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de
Montes Claros 4 Elizabeth F. P. Melo Franco é formada em Filosofia, especialista em Gestão de Sistemas de Saúde/ESP-
MG e professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Montes Claros 5 Idalécia Soares Correia é mestre em Ciência Política/UFMG, professora do Departamento de Ciências
Sociais da Universidade Estadual de Montes Claros
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É possível afirmar que a década de 1970 se sobressai na área da saúde por
ser neste período que ocorreram as primeiras fraturas no sistema de saúde previdenciário
vigente durante 40 anos, e quando se iniciou o movimento de luta pela reforma
sanitária. A assistência à saúde previdenciária adotava a medicina curativa, individual,
médico-hospitalar, centralizada e principalmente urbana. A partir da crítica a este
modelo por uma parte do meio técnico-científico surgem alguns projetos experimentais
que servem como referencia para propostas alternativas com vistas a se desenvolver e
expandir uma modalidade assistencial voltada para assistir os contingentes
populacionais excluídos da assistência previdenciária, especialmente para os que viviam
nas periferias das cidades e nas zonas rurais.
Estes projetos, entre os quais se inseriu o Projeto Montes Claros, se
incluíam dentro das ações de saúde pública, operacionalizadas pelo Ministério da Saúde,
Secretarias Estaduais de Saúde, e alguns nas áreas da saúde das Prefeituras Municipais. Na
década de 1970 existia uma clara dicotomia entre a assistência médica curativa prestada
aos beneficiários do Sistema Previdenciário e as ações Ministério da Saúde, em que prevalecia
o modelo campanhista. O modelo adotado pelo Ministério da Previdência Social na
assistência a saúde direcionava-se, até então, exclusivamente aos trabalhadores formais
e urbanos, atrelada ao princípio do seguro social. Hegemonicamente, a política de saúde
voltava-se para os trabalhadores urbanos e inseridos no mercado de trabalho, ficando a
população rural excluída dos serviços de saúde.
O modelo de saúde previdenciária atendia à conjuntura existente no Brasil,
de acelerada urbanização, ativada pela industrialização, que ocorreu a partir de 1940.
Tanto as ações através de campanhas, quanto à assistência a saúde curativa buscaram
sanear os ambientes e a manter saudáveis os trabalhadores voltando-se para as cidades,
cuja lógica predominante era a do desenvolvimento do capitalismo no país.
Impulsionado pelo poder público, a assistência curativa no território urbano se
especializava, com a constituição de redes articuladas e interdependentes de saúde nos
grandes conglomerados urbanos.
Foram os movimentos contra-hegemônicos ao modelo de assistência
previdenciária, ao tecerem críticas a forma de intervenção do Estado frente à situação de
saúde no Brasil, que inseriram a atenção primária como ponto central de uma nova
proposta para a saúde. Seguiam, inclusive, a proposta internacional dos cuidados
primários propostos pela Organização Mundial da Saúde/Organização Pan-Americana
da Saúde (OMS/OPAS) que veiculava propostas de expansão da rede pública de saúde
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dentro de uma organização descentralizada e democratizada, buscando maior
racionalidade e menores custos. Que pese as concepções vigentes nestas instituições
neste momento.
As novas propostas e projetos que surgem sob esta perspectiva volta-se para
a rearticulação de redes de saúde, buscando mais ativamente relacioná-las com o espaço
urbano, principalmente nos municípios de pequeno e médio porte, no sentido de
propiciar o acesso a população descoberta pela assistência à saúde previdenciária e
expandi-lo para outras áreas descobertas, principalmente a área rural. As ações
previstas, que tinham como ponto central a atenção primária, irão se organizar dentro do
espaço urbano e rural por meio da construção de equipamentos de saúde na tentativa de
imprimir uma distribuição espacial mais racional. A concepção de atenção primária
naquele contexto se referia a cuidados passíveis de execução por pessoal auxiliar de
saúde com baixa qualificação.
Metodologicamente a pesquisa que deu origem a este texto foi construída a
partir da combinação das abordagens qualitativa e quantitativa. A primeira centrou-se na
técnica da entrevista semi-estruturada e na pesquisa documental e a segunda em dados
de fonte secundária, especialmente em bancos de dados do DATASUS, Fundação João
Pinheiro e trabalhos publicados sobre a região.
Em relação às entrevistas ressalta-se que se utilizou do conteúdo de
entrevistas já publicados em trabalhos anteriores, e realizou-se dez entrevistas com
atores institucionais que participaram efetivamente da implantação das políticas de
saúde na região.
O Norte de Minas Gerais na década de 1970
A região de saúde no norte de Minas Gerais abarcava 46 municípios e
apresentava juntamente com a região do Jequitinhonha/Mucuri as piores condições de
vida do Estado. O Índice Condições de Vida, medindo 0, 384, estava entre piores do
Estado. O IDH situava-se em 0, 335, abaixo do de Minas Gerais (0, 440) sendo o
segundo menor índice entre todas as regiões, só ultrapassado pela região do
Jequitinhonha/Mucuri. Este índice é resultado dos baixos índices da maioria dos
municípios da Região, que estavam entre os de piores do Estado, como o de São João
do Paraíso 0, 221, (o, 224) Rio Pardo de Minas 0, 246, Itacarambí 0, 248, Riacho dos
Machados 0, 249, Grão Mogol 0, 256, Cristália 0, 261, entre outros.
4
Pereira e Soares (2005) relatam que na década de 1970 cerca de 27,6% da
população da região vivia nas cidades e mais de 70% viviam na zona rural. A base
econômica da região até esta década era a agropecuária, com destaque para a
bovinocultura de corte. As características regionais desde a década de 1940 levou a sua
inclusão na área mineira do polígono das secas6. Vários autores que analisam a região
Nordeste como Cohn (1997) consideram que a zona de Minas Gerais incluída no
Polígono das Secas apresenta características econômicas, geográficas e sociais similares
a esta região. A região nordeste pode ser dividida em três áreas: a zona úmida litorânea,
açucareira e com grandes núcleos urbanos; o agreste e o sertão. O sertão tem na
pecuária uma de suas principais atividades econômicas, realizada extensivamente e com
emprego de pouca mão de obra, que conjuga suas atividades com a plantação de
roçados, fornecedores de alimentos para sua subsistência.
O Norte de Minas pode ser considerado como uma região-sertão e
apresenta baixa exploração econômica, aridez da vegetação e do clima (longos períodos
de secas), baixa densidade demográfica, concentração fundiária e pobreza da população
(OLIVEIRA, 2000).
No Norte de Minas, na década de 1970, as transformações no campo
ocorreram de forma heterogênea, em decorrência das políticas de desenvolvimento
rural, manifestas na modernização da agricultura e pecuária. Essas transformações
reforçaram as desigualdades e os privilégios, dicotomizando duas realidades, uma classe
da sociedade que se utiliza do que há de mais moderno nesta área, e outra de
agricultores familiares, que eram a grande maioria dos produtores rurais, cada vez mais
distantes de tais inovações e no limite de sobrevivência.
Nesta região de Minas, na década de 1970, conforme o censo de 1970 os
minifúndios constituíam 75% dos imóveis rurais. Esse dado que sugere que há um
número grande de proprietários operando com base familiar, produzindo para a
subsistência. A renda familiar era de até um salário mínimo para 39,85% destas famílias
(VAN STRALEN, 1985).
6 O Norte de Minas por possuir características físicoclimáticas e sociais semelhantes à região Nordeste foi
incluído no polígono das secas em 1946. A Área Mineira do Polígono da Seca - AMPS abrange
municípios do Norte de Minas em uma área que coincide com a da Superintendência de Desenvolvimento
do Nordeste - SUDENE , a qual foi incorporada em 1965. (GOMES, 2007)
5
Ao lado do tipo descrito acima de cultura familiar, implantaram-se grandes
empreendimentos agro-industriais, a fim de sustentar o novo modelo econômico que
passou a direcionar o rumo da agricultura brasileira e o gênero de vida do campo. Nas
décadas de 1970 e 1980 intensificou-se a apropriação de áreas para plantio do eucalipto no
cerrado norte mineiro, e também áreas destinadas a projetos de irrigação, como o Projeto de
Colonização do Jaíba e diversas outras monoculturas como o algodão.
Ademais, o contexto brasileiro de expansão do capital na década de 1970
reflete-se na região Norte de Minas Gerais, através da implantação de grandes empresas
agropecuárias e reflorestamento, que expulsam os pequenos proprietários da terra, ao
mesmo tempo, que absorve parte desta população como trabalhadores rurais. Nesta
década a região apresenta uma redistribuição de sua população rural, como decorrência
da criação de novas atividades agrícolas, em que pequenas propriedades e propriedades
tradicionais dão lugar a pastos ou florestas artificiais, fruto da apropriação de terras
devolutas por empresas rurais ou empresas de reflorestamento que provocam a
expropriação dos posseiros e pequenos proprietários, a expulsão de agregados, parceiros
e outros agricultores não proprietários. A extensa migração é conseqüência do abandono
do campo e da procura de emprego em áreas urbanas como Montes Claros, São Paulo,
Rio de Janeiro e os fluxos migratórios se fazem do campo para a cidade e da cidade para
o campo e campo-campo (VAN STRALEN, 1985).
Contudo, Gomes (2007) afirma que é nesta década que a atividade industrial
passa a ser incrementada através da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
- SUDENE, que tem as suas atividades concentradas quatro municípios: Montes Claros,
Pirapora, Bocaiúva e Várzea da Palma.
Em decorrência da implantação do Distrito Industrial (DI) e da atuação da
SUDENE, o município de Montes Claros em 1970, tornou-se predominantemente
urbano, com grau de urbanização que passou de 40,66%, em 1960, para 73,10%, em
1970 (FRANÇA et al, 2007).
Segundo o Censo Predial da Região Sudeste - FIBGE (1970) citado por
Somarriba (1977), na Área Mineira do Polígono das Secas, cerca de 11% da população
total era servida por água encanada, três municípios possuíam serviços de rede de
esgoto, sendo que a proporção da população servida era de 49,7% em Montes Claros,
34,8% em Francisco Sá e 31,0% em Bocaiuva. Apenas 6,1% da população total da
Região dispunham de latrinas em casa. De acordo com dados da COPASA citados por
6
Magalhães e Magalhães (2009) em 1970 a população de Montes Claros é de 85.154
habitantes, sendo que 51,8% tinham água encanada em suas residências.
A mortalidade infantil pode ser uma ocorrência "evitável" por serviços de
saúde eficazes, o que leva a utilizá-lo como um "evento sentinela" da qualidade da
atenção médica (HARTZ et al, 1996). Entretanto, este indicador pode sofrer a
interferência do sub-registro médio de óbitos existente no Brasil, ainda mais presente na
década de 1970, podendo-se pressupor que maior ainda na Região Norte de Minas, com
baixas condições de vida.
A taxa de mortalidade infantil que compõe o índice de Condições de Vida-
Saúde, na região Norte de Minas registrou uma taxa de mortalidade infantil de
117,4/1000 situando-se próximo da taxa verificada em Minas Gerais 116,6/1000. Por
sua vez, o Estado de Minas Gerais se comparado ao Estado de São Paulo, no mesmo
período, apresentava uma taxa de 94,2/1000 nascidos vivos. A afirmação da
subnotificação se torna muito razoável quando observamos as taxas dos municípios de
Janaúba 154,7/1000, Jequitaí 141,9/1000, Monte Azul 145,2/1000, Riacho dos
Machados 147,5/1000, São Romão (150,0), Brasília de Minas 132,0/1000 Buritizeiro
136,1/1000 Capitão Enéas 129,0/1000 (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO/IPEA,1996).
Portanto, vale ressaltar que nos municípios onde se registrou taxas mais elevadas os
dados estão mais condizentes com as características regionais e que a média regional
pode estar sendo influenciada pelo sub registro, problema característico de regiões com
deficiências assistenciais como os observados no Norte de Minas.
Mendes (2007)7 informa que 33% das mortes eram por doenças infecciosas
e desnutrição, e quase um quarto das internações hospitalares eram por doenças
infecciosas e parasitárias. Ainda, segundo Mendes (2007) 38% dos óbitos ocorriam sem
assistência médica. Nesta mesma direção, Somarriba (1977) reafirmando as precárias
condições de vida e saneamento vigentes na região credita a falta de estrutura e a baixa
cobertura dos serviços de saúde, fatores provavelmente levaram ao índice alarmante de
51,1% dos óbitos registrados nesta região figurarem como sintomas e afecções mal
definidas. Este índice revela a falta de acesso e a baixa qualidade da assistência á saúde
7 Palestra proferida na Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes no dia 27/03/2007numa
sessão do Conselho Universitário quando o cientista e sanitarista Eugênio Vilaça Mendes recebeu o título
de professor honoris causa da Unimontes. A homenagem foi concedida devido ao fato de Mendes ter sido
Professor Assistente da Faculdade de Medicina do Norte de Minas e por ter exercido o cargo de Diretor
Técnico do Projeto Instituto de Preparo e Pesquisa para o Desenvolvimento da Assistência Sanitária Rural
– IPPEDASAR (1971/72) e por ter continuado a prestar importantes contribuições ao sistema de saúde da
região.
7
disponível para a população.A segunda e a terceira causa são a “Enterite e outras
doenças diarréicas” e “outras causas de mortalidade prenatais”, bem como, a ocorrência
relativamente alta de Tripanossomiase americana.
Somarriba (1977) aponta que outros problemas ligados ao saneamento
ambiental estavam presentes, influindo gravemente nas condições de saúde da
população. Esta autora cita os altos índices de positividade dos resultados de exames de
habitações realizados nos municípios da Região de Saúde de Montes Claros em 1975,
representando 32,3% dos domicílios infestados. Segundo Athos Avelino Pereira, um
dos colaboradores da pesquisa em entrevista afirma:
A doença de Chagas tinha uma prevalência acentuada particularmente em
alguns municípios como Itacambira, Juramento, Grão Mogol também,
Botumirim, Cristália, mas era uma prevalência alta em todo norte de Minas.
Naquela época já não se via muito doença de Chagas na fase aguda, casos
recentes, particularmente os adultos mais maduros traziam muitas vezes
seqüelas decorrentes dessa doença de Chagas crônica que resultava, nos
adultos em manifestações digestivas ou cardíacas. Eram freqüentes os casos
de megacólon chagásico, megaesôfago chagásico e também cardiopatia
chagásica com insuficiência cardíaca congestiva e casos de arritmia cardíaca
grave que freqüentemente também fazia com que estes pacientes morressem
precocemente.
Não havia programas contínuos de combate ao "barbeiro", mas apenas
campanhas periódicas desenvolvida pela Superintência de Campanhas de Saúde Pública
- SUCAM, o que fez com que os focos assumissem proporções que alarmavam os
próprios moradores da região. Segundo Somarriba (1977), a grande extensão de áreas
atingidas pelo desmatamento na região, e posterior reflorestamento homogêneo, eram os
possíveis fatores explicativos do enorme aumento da presença de "barbeiros" nas
habitações.
A capacidade instalada de unidades de saúde existente na região Norte de
Minas, era, aproximadamente, de 40 unidades ambulatoriais e 26 unidades hospitalares,
sendo que nove hospitais se localizavam em Montes Claros. Nesta cidade estavam
concentrados 506 leitos, representando 52% dos leitos existentes na região. Excluindo
os hospitais localizados em Montes Claros, a média de leitos dos hospitais da região era
de 20 leitos/hospital, podendo ser considerados como de pequeno porte. Em quatro
municípios os hospitais ultrapassavam este número de leitos, Janaúba com dois
hospitais que somavam 80 leitos, Pirapora, um hospital de 40 leitos e Salinas com um
hospital de 60 leitos. Ressalte-se que em 25 municípios da região não existiam hospitais
(SOMARRIBA, 1977).
8
Sistema Regional de Saúde do Norte de Minas/IPPEDASAR: o desenho da
intervenção na saúde da população norte mineira
O primeiro marco da intervenção do Estado no setor saúde na região Norte
de Minas, inicia-se em 1971, através do convênio entre o Instituto de Preparo e Pesquisa
para o Desenvolvimento da Assistência Sanitária Rural – IPPEDASAR com a Fundação
Norte Mineira de Ensino Superior (FUNM), e a Secretaria de Estado da Saúde de Minas
Gerais e a Universidade de Toulane/Family Health Foundatiom (EUA).
Este projeto foi coordenado tecnicamente pelo Dr.Eugênio Vilaça Mendes
e tinha como colaborador e Diretor Associado de Planejamento o Doutor Leslie
Scofield Júnior representante da Universidade de Toulane no projeto.Segundo Mendes
(2007) a parceria com a universidade de Toulane significou uma oportunidade ímpar
para a equipe do IPPEDASAR no sentido da formação técnico-científica, da disciplina
para o trabalho e da busca pelas evidência. Mendes (2007) descreve Scofield8 como um
missionário que se dedicava a cuidar da saúde dos ribeirinhos do vale do São Francisco.
Salienta, “mas que como acontece com os pioneiros, foi incompreendido”,
provavelmente a referencia de Mendes é relativa à polêmica sobre o controle de
natalidade que estava embutida nas ações desenvolvidas pelos norte americanos junto a
populações pobres no Brasil.
A forma de convênio9, que dava suporte a este projeto, é um documento-
proposta com linhas diretivas, tendo entre as principais, a extensão de cobertura em
saúde, ação intersetorial, financiamento multilateral, regionalização, hierarquização dos
serviços, relacionamento com o sistema formal, participação da comunidade e utilização
de equipe de saúde. A localização física da instituição constituía-se de um espaço na
Faculdade de Medicina de Montes Claros (FAMED)10
. O modelo proposto enfatiza a
8 Scofield era um enfermeiro norte americano que além da Universidade de Toulane era vinculado a uma
igreja evangélica adventista e fazia atendimento – educação em saúde – no vale do São Francisco. 9Estatuto do IPEDASAR/ Certidão de criação – endereços topográficos dos convênios que envolvem a
FUNM e o IPPEDASAR, SES/MG disponíveis no centro de docuentação da UNIMONTES:
TX/EP02(09)/CP21/PC21/XX/FD 000.654, TX/EP03(18)/CP79/PC 107/XX/FD 001.188,
TX/EP02(09)/CP18/PC18/XX/FD000.573, TX/EP(09)/CP18/PC18/XX/FD 000.545 10
A FUNM através do convênio tripartite SES/MG, Universidade de Toulane e FUNM recebia recursos
para melhoria das instalações físicas da FAMED. O estatuto que institui o IPPEDASAR que data de
novembro de 1970, tem descritos, dentre outros, a denominação, sede, fins, duração, atribuições,
patrimônio, conselhos e diretoria do órgão.
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assistência à saúde materno-infantil, a assistência simplificada, regionalizada, e
hierarquizada. Pela primeira vez, na região, a organização da assistência a saúde foi
desenhada por níveis de complexidade dos procedimentos ambulatoriais e hospitalares.
No Brasil, a partir da década de 1970, os centros de saúde tradicionalmente
ligados à prestação de serviços de saúde pública para populações pobres passam a ser
alvo de diversas iniciativas com vistas a mudanças na sua forma de atuação e na
ampliação quantitativa de serviços ofertados. Em Minas Gerais a Secretaria de Saúde
(SES/MG), com o intuito de superar o modelo de administração dos serviços de saúde
vigente à época, com base na “ideologia do planejamento” inserida no contexto presente
na Administração Pública do Estado de Minas Gerais, e pautada em diagnóstico
realizado em 1972, busca estruturar um modelo de atenção amparado na Teoria de
Sistemas.
O Projeto Regional de Saúde do Norte de Minas – desenhado pelo
IPPEDASAR insere-se nesta proposta de Medicina Comunitária, e incorporou a
recomendação de articulação com as escolas de saúde. A análise dos seus princípios de
coordenação interinstitucional, máxima cobertura, financiamento multilateral,
hierarquização de serviços, relacionamento com o sistema informal, participação da
comunidade e utilização da equipe de saúde com delegação de funções; demonstra
como se processou a influencia do contexto da saúde pública do período.
O projeto se vinculava, através de convênios, à Faculdade de Medicina-
Fundação Norte Mineira de Ensino Superior (FUNM)11
, objetivando oportunizar o
contato dos alunos e professores com a realidade de saúde do Norte de Minas e com a
proposta do Projeto. Naquele momento objetivava-se o desenvolvimento de um
programa de treinamento de auxiliares da saúde, para atuarem na implementação do
programa regional de saúde, bem como a instalação e funcionamento de uma unidade de
saúde na localidade de Remansinho no município de Januária, para atendimento das
populações ribeirinhas.
O modelo proposto pelo IPPEDASAR e que foi em parte seguido pelo
Projeto Sistema Integrado de Saúde do Norte de Minas, que apresentaremos na
sequência, buscava a racionalização e integração dos serviços de saúde e a ampliação da
cobertura assistencial. O cerne da proposta - extensão de cobertura inseria-se na
situação dicotômica do sistema de saúde vigente, em que uma parte da população era
10
assistida com benefícios e ações de saúde pela Previdência Social e a outra ficava
desassistida, sendo que este segundo segmento era o alvo do projeto.
Segundo Fonseca Sobrinho (1993), a Family Heath Foundation orientava-
se, primeiramente, para a implantação de "um programa de planejamento familiar que
poderia significar um teste-piloto para um projeto continental". Este autor analisa, que o
contexto em que o IPPEDASAR se instala, é o da confrontação entre duas posições, a
antinatalistas e a anticontrolistas, tendo no centro a questão populacional. A política
externa norteamericana para os países do “terceiro mundo” direcionava-se para a
adoção de programas de controle da natalidade. Sobrinho (1993, p. 93) ressalta que o
controle da natalidade equipara-se em importância para as agências internacionais,
como a Organização das Nações Unidas (ONU), a International Planned Parenthood
Federation (IPPF) entre outras, ao combate às doenças, a finalidade era evitar a
‘explosão demográfica. O foco estratégico são os países subdesenvolvidos. É no período
de 1964 a 1974 que tem início a queda nos níveis de fecundidade, embora
explicitamente não se adotassem políticas de controle da natalidade. O governo militar
no Brasil silenciava-se frente ao dilema de justapor-se aos interesses americanos de
controle de natalidade, ou ser favorável a preencher os “imensos espaços vazios” do
território nacional, uma vez que a densidade demográfica não era um problema para o
Brasil. Além disso, havia a insegurança em relação aos valores de segmentos da
sociedade brasileira, principalmente os religiosos, em relação a este tema, bem como já
é notória a insatisfação social com o regime.
Para Fonseca Sobrinho (1993) Montes Claros havia sido escolhida pela
Family Health Foundation para fazer parte de um programa internacional de
planejamento familiar, escolha ligada tanto pelos altos índices de natalidade, pobreza,
alta prevalência de doenças endêmicas, tensão social permanente, como por algumas
variáveis de ordem institucional. A referência do autor é ao Centro Regional de Saúde e
à SUDENE.
No contexto da criação do Sistema de Saúde do Norte de Minas/
IPPEDASAR, já estava instalado um Centro Executivo Regional de Saúde em Montes
Claros, criado em 1969 a partir de um acordo com a SUDENE, que condicionou a
instalação desta unidade à transferência de recursos para a Secretaria de Estado da
Saúde de Minas Gerais.
Para Van Stralen (1985), a que se considerar que no inicio da década de
1970 havia o interesse dos organismos internacionais, de financiar ações que visavam a
11
assistência a saúde das populações dos países pobres, principalmente populações rurais
e as marginalizadas. O interesse era reduzir as pressões sociais advindas da
proletarização da população do campo e sua migração para a cidade.
Machado (2010) afirma que Sistema de Saúde do Norte de Minas/
IPPEDASAR foi engavetado a partir de um relatório sigiloso encomendado pelo
secretário de saúde da época a técnicos da Assessoria de Planejamento, da pasta, em
conjunto com outros técnicos do Escritório Técnico de Racionalização Administrativa –
ETRA, órgão dirigido pela Secretaria de Estado do Planejamento.
O IPPEDASAR extinguiu-se em abril de 1974 e a Carta enviada aos
técnicos e a outros integrantes da equipe comunicando o fato, informa que o tempo de
vigência e as etapas previstas pelo Projeto haviam se cumprido e a implementação
estaria a cargo da SES/ MG.
Embora, o IPPEDASAR tenha sido extinto, as negociações entre o
Ministério da Saúde e a United States Agency for International Development - USAID
não terminaram, firmando-se um acordo sobre empréstimos destinado a implementação
de sistemas regionais de prestação de serviços de saúde no norte de Minas Gerais, e em
duas outras regiões do País. Este acordo possibilitou a implantação efetiva de um
sistema regional a partir de 1976 (VAN STRALEN, 1985).
Escorel (1985 OU 1998 p. 251) entende que o Sistema Regional de
Saúde/IPPEDASAR constituiu-se numa primeira etapa do denominado Projeto Montes
Claros. Projeto que fica conhecido como "um espaço de luta", que iria definir rumos
para um projeto nacional da reforma sanitária brasileira. Esta autora divide o Projeto
Montes Claros em três etapas: a primeira etapa o Sistema Regional de Saúde do Norte
de Minas – desenhado pelo IPPEDASAR (1971-74), O Sistema Integrado de Prestação
de Serviços de Saúde no Norte de Minas - o Projeto Montes Claros, propriamente dito
(1975-77) e a fase de incorporação do Programa de Interiozação das Ações de Saúde e
Saneamento - PIASS (1977-79).
O Sistema Integrado de Prestação de Serviços de Saúde no Norte de Minas e o
Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento
O Sistema Integrado de Prestação de Serviços de Saúde no Norte de Minas,
denominado o Projeto Montes Claros é implantado no ano de 1975 sendo formalizado
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através da sua apresentação na Secretaria do Estado da Saúde de Minas Gerais em 1976
(VAN STRALEN,1985).
No Brasil a situação de saúde da população se agrava em decorrência da
recessão econômica, cresce um conjunto de forças oposicionistas ao Regime Militar
vigente, e o Estado tenta responder às pressões e buscar legitimidade através de políticas
sociais. O II Plano Nacional de Desenvolvimento –IIPND 1975-1979, entre outras
questões, aponta para os “bolsões de pobreza” do Norte e Nordeste, para a necessidade
da redução da pobreza absoluta e para a necessidade de aumentar em 21% a assistência
médica à população. Em decorrência disso, estão dadas as condições para o surgimento
de propostas alternativas para o setor saúde, bem como, a reapresentação de propostas já
lançadas anteriormente (VAN STRALEN, 1985).
O debate sobre a “crise do sistema de saúde” aponta três fatores: a grande
parcela da população descoberta pela Previdência Social, os crescentes gastos com
assistência médica, gerado pela compra de serviço da iniciativa privada da forma como
é ofertada, e o agravamento das condições de saúde da população. Estes fatores levam a
a procura por novos modelos que propiciem o planejamento com vistas a maior
racionalidade das ações no setor de saúde, e que ademais se direcionem para a saúde
pública,com atenção especial as populações urbanas descobertas e às rurais.
As forças vinculadas aos interesses do capital privado, inseridas no Estado,
buscam mudanças que enfrentem esta crise, mas que conservem a estrutura do modelo
previdenciário na saúde, e alguns setores técnicos dentro do Estado preocupam-se em
modelos alternativos de extensão de cobertura a baixos custos.
O Decreto Lei nº 6229 de 1975 que trata do Sistema Nacional de Saúde,
harmoniza os interesses dos dois grupos, ao manter separados as ações de saúde pública
e as ações de assistência médica previdenciária, mas absorve as propostas de
regionalização, coordenação interinstitucional e a prioridade á atenção médica primária.
Ressalte-se, ainda, que as estratégias de implantar Programas de Extensão
de Cobertura-PECs é uma recomendação da III Reunião Especial dos Ministros de
Saúde das Américas realizada em Santiago do Chile em 1972. Nesta reunião se elaborou
o Plano Decenal de Saúde das Américas, salientando em suas conclusões, a necessidade
de incorporar grupos populacionais, até então excluídos do consumo de serviços de
saúde (TEIXEIRA,1982). Em 1973 a Organização Mundial de Saúde publicou um
documento (WHO, 1973) afirmando que os serviços de saúde deveriam ser
considerados parte do desenvolvimento econômico e social de um país, e que as
13
medidas de saúde têm de estar em sintonia não apenas com as prioridades do setor de
saúde, mas com os valores e metas de toda a sociedade.
Desta forma observa-se que o Projeto Montes Claros num dos seus
principais pilares, extensão de cobertura, atende ao propósito do Estado e às
recomendações internacionais da medicina comunitária, que tem em vista o apoio as
iniciativas de modelos de regionalização e modelos simplificados de atenção a saúde.
Segundo Van Stralem (1985, p. 189) este direcionamento está explicito
desde a apresentação do Projeto, momento em que se dá ênfase a maior organização dos
níveis hierárquicos do sistema (ambulatorial e hospitalar) e se propõe a controlar seus
custos e sua eficiência através da participação da comunidade e do sistema informal.
Esta idéia já estava contida no modelo do Sistema Regional de Saúde do Norte de
Minas, realizado pelo IPPEDASAR. Há que se ressaltar que a ideia de expansão de
cobertura associada à medicina comunitária, advinda do nível internacional, já vinha
sendo discutida no interior das universidades brasileiras, sem, no entanto alcançar
reconhecimento por parte do governo, o que vem ocorrer pela primeira vez com a
formalização e o financiamento dos projetos Montes Claros, de Paulínia e de Caruaru.
Mendes (1985) afirma que o processo brasileiro de medicina comunitária se inicia
através destes projetos pilotos.
Somarriba (1977) afirma que os princípios do modelo proposto para o
projeto podem ser agregados em três categorias. A primeira é uma meta quantitativa, a
extensão da cobertura por serviços de saúde 70% da população da região. A segunda, a
meta qualitativa do Modelo, que é propiciar atividades de prevenção, recuperação e
promoção de saúde, refere-se à própria natureza dos serviços de saúde a serem
ofertados, que buscam uma “medicina” de caráter integral. A terceira categoria do
modelo articula-se às atividades meios, como as de caráter político-administrativo que
englobam, entre outras, a coordenação interinstitucional, a obtenção de financiamentos
(internos e externo), a descentralização administrativa e a hierarquização dos serviços
de saúde, bem como, o conjunto de atividades-meio que envolve diretamente a
população a que se destinam os serviços de saúde como o aproveitamento de recursos
humanos informais de saúde, a utilização de pessoal auxiliar e a participação das
comunidades locais.
Em 1977 o projeto, que seguia um modelo de medicina comunitária, e a
Atenção Primária em Saúde (APS), incorporou-se ao Programa de Interiorização das
Ações de Saúde e Saneamento no Nordeste (PIASS), que fora concebido seguindo estas
14
mesmas orientações com base no Plano Decenal de Saúde das Américas. O PIASS foi
instituído pelo Decreto-Presidencial de nº 78.307 de 24 de agosto de 1976 A integração
do PIASS possibilitou a ampliação e consolidação do Projeto Montes Claros,
principalmente no que tange a expansão das atividades de saneamento e a manutenção
da rede básica de saúde.
Em relação ao PIASS, pode-se entender que não obstante se direcionasse
formalmente para um atendimento a toda a população da sua área de abrangência,
assistindo a população sem a contrapartida de contribuição direta, constituindo-se como
um primeiro esgarçamento do conceito da assistência a saúde direcionado à
beneficiários contribuintes, e neste sentido, um reforço à idéia de universalização,
tinha uma perspectiva de ‘focalização’ em saúde, e reforçava a segmentação no acesso à
assistência dada a possibilidade de êxito de uma política com duas faces, uma para os
que diretamente podem pagar e outra para a outra parte da população.
Ou seja, a um só tempo, o PIASS reforça a idéia de universalização e em
contraposição, cria a possibilidade de manter o sistema vigente de assistência a saúde
previdenciária para uma parte da população (trabalhadores formais) e assistir a outra
descoberta com programa focalizado de baixo custo, mais tarde denominada, “medicina
pobre para pobre”.
Como uma política focalizada e de baixa resolutividade, era uma “medicina
simples, para gente simples com doenças simples”, limitando-se a uma atenção primária
seletiva para as populações marginalizadas de regiões marginalizadas, com escassa
disponibilidade de recursos, pessoal qualificado e tecnologias (VAN STRALEN, 1985).
No relatório da VI Conferência Nacional de Saúde, o PIASS foi apresentado como um
programa que visava promover, em breve espaço de tempo, a implantação de uma
ampla rede de unidades de saúde pública, estruturada dentro de um complexo: Postos de
Saúde — Centro de Saúde (ou Unidades Mistas), um módulo básico do Sistema
Nacional de Saúde. Simultaneamente, propunha-se a instalar e manter, junto aos
agrupamentos humanos atendidos pela rede sanitária, equipamentos de saneamento
básico referentes à água própria para consumo e destinação adequada aos dejetos. As
ações de saneamento visavam prevenir doenças de veiculação hídrica, que assolavam a
maioria da população mais carente, principalmente em áreas rurais.
Cabe destacar que este programa é o primeiro de medicina simplificada em
nível federal, que concentra suas ações nas Secretarias Estaduais de Saúde, com a
15
colaboração eventual dos municípios, adotando o modelo de regionalização
administrativa e desconcentração administrativa.
Alem da extensão de cobertura, a participação comunitária é expressa nas
propostas oficiais do PIASS e do Projeto Montes Claros. A concepção desta
participação é analisada por alguns autores como Carvalho (1995) como retórica
governamental para a legitimação do Estado e representada no discurso como ampliação
do poder de decisão do nível local em relação ao planejamento, operação e avaliação
dos serviços de saúde. Neste sentido teria em vista o controle social sobre o nível
periférico, captando as demandas locais para manipular recursos em função de
interesses de forças políticas locais, estaduais e centrais, e não efetuava mudança no
modelo assistencial nem eficácia sanitária Esta é uma das ações mais controversas do
projeto.
Van Stralen (1985, p. 194) salienta que o Projeto Montes Claros não é
produto exclusivo das propostas políticas internacionais, federais e estaduais, mas sua
própria implementação irá mostrar que faz parte de um “processo social em que classes
e grupos se mobilizam e se organizam para impor seus objetivos”. Analisa o autor que o
Estado ao implementar a política pública gera espaços para redefinir a própria política
pública inicial e modificar sua própria posição frente à questão, inclusive ao dar acesso
à atores sociais técnicos e sociedade para sua interpretação. Neste sentido há que se
observar que o Projeto Montes Claros não resulta, exatamente, nem do que foi
planejado pelos técnicos e agentes políticos, e nem no que era demandado para
enfrentamento das necessidades da população regional. A sua implementação gera a
configuração de um sistema regional de saúde, mas assumem contornos lapidados pelos
limites da realidade regional e nacional, sociais políticas e econômicas.
A implementação do modelo de assistência à saúde no Projeto Montes Claros:
regionalização, hierarquização e a participação comunitária
Para atingir a população urbana e rural do Norte de Minas, o projeto
propunha um modelo de hierarquização definida, espacialmente, como nível domiciliar,
nível local subdividido em rural e urbano, área programática, como agregado de
municípios e região, correspondendo à área da Região Norte de Minas (SES/MG, 1976).
As unidades de atendimento eram definidas por critérios de complexidade e custos. No
16
primeiro nível denominado Modulo Básico existiam as Unidades Auxiliares de Saúde
(UAS) e as Unidades Ambulatoriais Gerais (UAG).
As Unidades Auxiliares de Saúde (UAS) deveriam situar-se em áreas rurais
dos municípios, operadas exclusivamente por pessoal auxiliar que prestavam cuidados
simples e atividades de saneamento, constituindo-se nas "portas de entrada" do sistema.
Os hospitais locais ou "hospitais rurais" de tamanho reduzido, localizadas
em áreas urbanas, tendo médicos generalistas e auxiliares de saúde e recursos em
equipamentos, indispensáveis à elaboração de diagnósticos. Funciona com atendimento
ambulatorial e hospitalar denominado "módulo básico" do sistema.
No nível intermediário estavam os Hospitais Distritais, de porte médio,
localizados nas cidades-pólos das Áreas Programáticas, desenvolvendo ações de
medicina interna, cirurgia geral, pediatria e obstetrícia. O vértice da pirâmide era o
Hospital Regional localizado na cidade pólo regional, tendo maior número de
especialidades e a unidade ambulatorial especializada. A assistência a saúde se
organizava a partir do rural, tomado como "módulo básico" do sistema e o urbano com
os procedimentos médicos hospitalares e ambulatoriais de media complexidade
realizados nos Hospitais Distritais aos mais complexos no Hospital Regional. O
conjunto dos três níveis organizava o Sistema Regional de Saúde. O mapa a seguir
apresenta a organização das áreas programáticas com as suas respectivas sedes.
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A organização dos serviços no projeto Montes Claros tinha por critério o
fluxo de doentes para os hospitais existentes Região de Saúde do Norte de Minas e a
disponibilidade de comunicação. Foram designadas oito áreas Programáticas e definidas
suas cidades – pólo e os municípios componentes destas, bem como, a sua abrangência
populacional rural, urbana e total.
A coordenação das atividades do Sistema Integrado de Prestação de
Serviços de Saúde do Norte de Minas com vistas à regionalização da saúde, requeria a
adesão e integração da Fundação Serviço Especial de Saúde Pública – FSESP. A FSESP
tinha presença marcante na Região e concentrava grande parte dos serviços direcionadas
à população descoberta pela assistência do INAMPS, prestando assistência ambulatorial
e hospitalar no conjunto de municípios vizinhos polarizados por Pirapora. A sua atuação
na região era atrelada aos planejamentos e programas do nível federal, além de seguir
uma ideologia de valorização da instituição e de sua tradição aferida por algumas
décadas de serviços de saúde publica. Apresentava uma estrutura rigidamente
burocratizada, com alto grau de centralização das decisões (SOMARRIBA, 1977). A
integração prevista consistia em fornecer recursos financeiros ao Sistema Regional de
Saúde para a prestação de atenção médica e cuidados primários nas unidades de saúde
que compõem os vários níveis do Sistema Regional. Sua incorporação ao sistema
regionalizado não ocorreu em decorrência destes fatores citados, dificultando na prática
a implementação do sistema formulado.
Para Somarriba (1977) também não ocorreu a integração das unidades de
saúde contratados pelo Ministério da Previdência e Assistência Social – MPAS. Esta
não integração, pode ser creditada principalmente, à “compatibilização dos valores
distintos que orientavam a atuação das duas instituições” O direcionamento do Projeto
Montes Claros era a provisão de cuidados primários numa linha mais preventivista e o
do MPAS o tratamento hospitalar, para o qual direcionava a maior parte de sua dotação
de recursos.
Outra características do Projeto Montes Claros foi promover a participação
democrática entre os funcionários no órgão gestor da SESMG na Região Norte de
Minas- Centro Regional de Saúde (CERMOC). Buscava-se fomentar a participação de
todos os funcionários nas decisões tomadas. Para tanto, criou-se um Conselho Técnico
Administrativo (C.T.A), concebido como órgão co-participante e assessor na
administração do CER. Suas resoluções, embora não possuíssem caráter normativo,
serviam de subsídios para tomada de decisões nas áreas técnicas, administrativas e na
18
gestão política do projeto. A ideia e a prática de comportamento participativo
direcionavam-se também as unidades do Sistema UBS, estando presente nos
treinamentos de auxiliares de saúde. Referindo à metodologia dos treinamentos, a
entrevistada supervisora técnica do Projeto Montes Claros, Conceição relembra a
importância que era creditada à mobilização do conhecimento que o “treinante” trazia
da sua comunidade.
Os primeiros dias ficavam todos em uma sala, no auditório e ia definir
conteúdo, todos no auditório, mais de 100 pessoas, era uma loucura. A
metodologia o planejamento estratégico enchia folhas e folhas de papel kraft
e fazer reflexão sobre o processo de saúde e levantar problemas: mapa
falante, planejamento estratégico. Eram 3 a 4 dias.
Os auxiliares de saúde eram elementos-chave desse sistema. Eram
recrutados entre moradores da comunidade, não tinham qualificação para exercer a
função e recebiam treinamentos de curta duração ofertados pelo Projeto através dos
supervisores técnicos. A ação do auxiliar de saúde se voltava para o fomento da
participação popular, com vistas a interferir nas decisões voltadas para o setor saúde e
que se desdobrariam no enfrentamento das relações de poder autoritárias. Também
estavam previstas atividades educativas como orientação ao trabalho das parteiras,
reforço ao uso da medicina popular caseira com a utilização dos chás, orientação
alimentar com os produtos da região, orientação em puericultura e amamentação
natural, visita domiciliar, consultas coletivas, dentre outras. Estas ações mostram que
este era um programa de interiorização das ações e não de médicos e profissionais
qualificados (VAN STRALEN, 1985; SOMARRIBA, 1977).
Na prática as ações orientadas para execução nas unidades auxiliares se
centravam na vacinação, principalmente em ações direcionadas ao segmento materno-
inflantil, curativos, noções de higiene como uso de água fervida, terapia de reidratação
oral. Mas algumas questões serão identificadas como comprometedoras destes
objetivos: a lealdade dos auxiliares de saúde para com as lideranças políticas locais e o
fato destes auxiliares começarem a indicar medicamentos e executar procedimentos sem
a presença do profissional médico. A fala que se segue indica aspectos que possibilitam
a compreensão da situação acima referida.
[...] era difícil porque tinha gente que não sabia ler e nem escreve, era quem
o prefeito mandava. Mas tinham alguns muito bons. (CONCEIÇÃO,
supervisora/técnica do Projeto Montes Claros)
19
Para facilitar o recrutamento de pessoas com perfil mais adequado, o CER
solicitava a indicação pelo prefeito de três nomes para a seleção. Mas de qualquer
forma, em boa medida, não é difícil imaginar que o auxiliar se tornava um agente
vinculado ao poder local.
Outro técnico do projeto irá se referir a conduta dos auxiliares que
extrapolava a orientação da supervisão de enfermagem.
A gente dava uma um roteiro, isso era feito pela Darcy, enfermeira, o que é
que elas [auxiliares] podiam fazer, até que ponto elas podiam ir, quando que
elas deviam mandar para o médico. Tinha unidade de referencia, uma em
cada sede de município. Isso inclusive foi um pouco criticado porque falavam
que a gente estava criando, como é que fala, legalizando o charlatanismo.
Porque às vezes elas iam muito além, não tinha outro recurso. Então as
prefeituras foram dotadas de um meio de transporte, o médico visitava essas
unidades auxiliares de saúde pelo menos uma vez por mês. Dava um dia de
expediente de consulta lá e as prefeituras geralmente tinham uma condução,
uma ambulância, para vir para aqui. A unidade de referencia era aqui nas
unidades da faculdade, aqui em Montes Claros. (DEALTAGNAN,
Supervisor/técnico de saneamento do Projeto Montes Claros).
Observa-se na fala do entrevistado que as populações das áreas rurais
estavam mais expostas aos riscos do atendimento por pessoas sem qualificação.
Com a instalação das unidades de saúde a demanda se avolumou na maioria
dos locais em decorrência das precárias condições de vida e saúde da população, à
inexistência de médico ou recursos de saúde acessível ao atendimento às necessidades, a
expectativa e a facilidade de acesso à assistência. O auxiliar expunha-se às pressões da
população, uma vez que era o único recurso de saúde para atendimento nas áreas rurais.
Contudo, não possuíam as condições necessárias aos atendimentos requeridos, inclusive
em relação aos conhecimentos necessários para responder as estas demandas e
encaminhá-las.
Os elementos contidos na medicina comunitária estavam presentes no
modelo do projeto. Buscava-se uma conscientização da equipe sobre a determinação
social das condições de vida e saúde da população. Ao questionamento sobre as relações
de poder, entre estas, as coronelistas vigentes na região, sobre à verticalização das
políticas e programas sociais, sobre à exclusão da população do acesso aos serviços,
pretendia-se responder com propostas, vivencias, conhecimentos compartilhados, com
práticas políticas, com vistas à consciência sanitária e social, e à democratização das
relações no ambiente institucional e junto à comunidade.
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A proposta de participação comunitária assume duas direções dentro do
Projeto. Por um lado, as diretrizes de mobilizar a população para formação de uma
consciência sanitária em parte se concretiza nas ações dos auxiliares. Por outro, termina
por assumir a concepção de participação vigente naquela conjuntura social e política.
As práticas para implantação das ações de saneamento explicitam esta
assertiva. Na fala da entrevistada Elizabeth Melo Franco, aparece esta participação
“instrumental” na forma de atuação dos técnicos para a mobilização das comunidades
na execução das ações do Projeto Montes Claros. A citação ilustra uma ação típica do
PIASS.
[...] eu acho que isso aí deve muito a Dealtagnan ele falava tanto com as
pessoas, e as pessoas ajudava na construção das casinhas. As famílias
ajudavam, elas participavam com mão-de-obra, eu acho que com isso elas
tinham essa idéia de pertencimento. [...] Não sei qual era a lógica, mas (risos)
era a lógica da gente conseguir executar, eu não sei se era até
institucionalizado, não sei se era contrapartida se eu não sei, mas essa
mobilização ficava eu sei que.[...] O Programa de Interiorização das Ações de
Saúde e de Saneamento tinha ate verba com isso - para água, cisterna e as
fossinhas tinha essa verba especifica. Eu na me lembro se essa contrapartida
de município, não sei e nem da própria comunidade não sei como é que era.
Só sei que a adesão era alta.
Em seu depoimento, Dealtagnan informa que:
Fazia um poço tubular, uma caixa d’água elevada. Então a princípio como foi
em outros Estados, iria fazer chafarizes, mas nós fizemos questão que a
pessoa não andasse mais do que 100 metros para colher água. Então
começamos a fazer chafarizes, aí nós calculamos que para fazer isso, tinha
que botar cano na cidade toda. Então eu envolvi a prefeitura e a própria
comunidade para fazer a mão-de-obra e invés de fazer chafariz fazia a água
encanada em todas as casas fazia o poço tubular a caixa d’água.
Por um lado, percebe-se uma inovação quando observamos que o conceito
de saúde que orientava o Projeto Montes Claros era o da saúde concebida como
condição de vida, trabalho, como condições biológicas relacionadas às condições de
vida, e também o acesso a serviços de saúde. Percebe-se aí o esforço para ampliar o
conceito de saúde para além dos aspectos biológicos, relacionando-o de promoção da
saúde, embora esta definição não aparecesse claramente. Outro aspecto importante a
ressaltar, para este momento, foi a mobilização das prefeituras mencionados na fala do
técnico.
Felipe (1987) referindo-se a implantação de sistemas simplificados de
abastecimento de água em comunidades rurais, que representaram o reconhecimento de
que a saúde se liga à qualidade de vida. E na avaliação desse autor a realização de obras
21
pelos executivos municipais contribui para diminuir o preconceito contra este nível de
governo, contra a descentralização, anteriormente visto como lugar da dispersão de
recursos públicos.
O Projeto Montes Claros até 1976, seguindo seus propósitos de extensão de
cobertura construiu 75 unidades auxiliares de saúde na Região Norte de Minas. Neste
período anterior a entrada do PIASS no Projeto em 1977, outras treze estavam em fase
de construção e 12 em fase de negociação do terreno para a construção. No final de
1978, já contando com recursos do PIASS, estavam em operação 179 unidades
auxiliares de saúde, 55 unidades ambulatoriais, compondo 47 módulos básicos, em que
havia o apoio de 40 laboratórios locais, anexos às unidades ambulatoriais (VAN
STRALEN, 1985, p.212).
As unidades foram construídas através de convênios e repasse de recursos
financeiros às Prefeituras Municipais. A escolha dos locais em que a maioria foi
construída estava pré determinado pelo Projeto, baseando-se nos dados do diagnóstico
realizado pelo CERMOC. Embora alguns em áreas rurais tenham sido modificados em
decorrência de interferência política dos prefeitos (VAN STRALEN, 1980).
Em relação a capacitação dos auxiliares de saúde receberam capacitação 276
auxiliares de saúde até 1976 e foram reciclados 262 auxiliares de saúde. Entre estes
últimos a maioria atuavam informalmente na área da saúde. No ano seguinte de 1977,
outros 234 auxiliares de saúde foram treinados e foram realizados três treinamentos para
técnicos de laboratórios na Faculdade de Medicina da FUNN.
A extensão da cobertura prevista não se concretizou no percentual esperado. Os
recursos existentes eram escassos para a pretensão de cobrir 70% da população, mesmo
com uma medicina simplificada, de baixo custo. Ao longo da implementação, por força
dos vários condicionantes, abandonou-se a pretensão de implantar o projeto idealizado e
se optou por se concentrar na formação de auxiliares de saúde, implantar as unidades de
saúde e expandir as ações preventivas. O encaminhamento dos pacientes para atendimento
aos níveis de maior complexidade, seja aos hospitais gerais ou especializados foi o ponto de
estrangulamento do sistema. Seja por barreiras físicas de acesso, como falta de transporte,
estradas, como acesso aos próprios serviços, não preparados para atender a esta população.
22
Considerações finais
A parte a população urbana, para a qual prioritariamente se voltavam às
políticas de saúde na década de 1970 e os modelos que a conformavam, a formatação de
programas e projetos voltados para o desenvolvimento da população do campo,
mormente as de saúde tornou-se década de 1970 uma condição necessária.
O Projeto Montes Claros em Minas e a experiência do PIASS no Nordeste
foram iniciativas destinadas a assistir a população rural e constitui-se na primeira
experiência em que se foca este segmento no Brasil, historicamente desassistido por
políticas publicas na área da saúde. Por serem as populações rurais as mais pobres, esta
focalização, entretanto, ocorreu dentro de um conceito de medicina para pobre,
considerada de segunda categoria, com ênfase na medicalização e com escassa
possibilidade de assistir ou referenciar aos níveis secundários e terciários do sistema.
A partir da analise de vários autores, citados no computo deste estudo, é
possível analisar que mesmo se constituindo como um programa de atenção primária
seletiva para as populações pobres, as experiências concretizadas na década de 1970 no
Norte de Minas, buscaram superar o caráter dos programas de extensão da cobertura e
buscaram desenvolver alternativas ao modelo dominante. O modelo proposto
contemplava a assistência a saúde na área urbana e rural. Planejado para permitir o
acesso da população de forma a responder à suas necessidades de saúde, propunha a
hierarquização dos procedimentos por níveis de complexidade, de forma a contemplar
nos municípios de pequeno porte e povoados e demais áreas rurais unidades menos
complexas, ambulatoriais, e alocando as de assistência mais especializadas nos
municípios maiores.
O Projeto Montes Claros e o PIASS possibilitaram a criação de estrutura
básica de saúde com a implantação de unidades de saúde de região Norte de Minas,
principalmente as de nível elementar, em locais situados em áreas rurais, onde até então
era inexistente qualquer recurso de saúde. Neste sentido foi exitoso ao propiciar uma
aproximação às demandas de saúde da população.
Ademais, possibilitou que a experiência em curso do Projeto Montes Claros,
avançasse em conceitos como a descentralização administrativa, a participação
democrática no trabalho das equipes do Centro Regional de Saúde e no trato com as
equipes de auxiliares de saúde, da participação comunitária, e que estas propostas
fossem veiculadas e se articulasse com outros projetos inovadores e com os movimentos
23
que buscavam a construção das bases teóricas e conceituais que sustentaram o.
propostas de reforma ao modelo vigente.
Contribuiu para que estas propostas testadas no Projeto Montes Claros
fossem divulgadas a nível nacional, e se tornassem referencia, na expressão dos
movimentos sociais que reinvidicavam a mudança no modelo de assistência a saúde
previdenciária, no sentido da universalização, da integralidade da assistência e de
democratização, mais tarde contidas no projeto de Reforma Sanitária Brasileira.
Ainda que, parte da equipe principal tenha sido deslocada da região norte de
Minas Gerais, para os que permaneceram na região, estas experiências do Projeto
Montes Claros e PIASS se figuraram como de grande importância para a sua formação
em bases teóricas e conceituais e de vivencias, e permitiram que posteriormente
estivessem mais aptos, inclusive politicamente, a contribuírem para a implantação do
Sistema Único de Saúde.
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