revista portuguesa de ciências do desporto

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revista portuguesa de ciências do desporto Volume 7 · Nº 2 Maio·Agosto 2007 portuguese journal of sport sciences

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revista portuguesa de

ciências do desporto

revista portuguesa de ciências do desporto [portuguese journal of sport sciences]

Volume 7 · Nº 2Maio·Agosto 2007

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Publicação quadrimestralVol. 7, Nº 2, Maio·Agosto 2007ISSN 1645–0523Dep. Legal 161033/01

Vol. 7, Nº 2

A RPCD tem o apoio da FCTPrograma Operacional

Ciência, Tecnologia, Inovaçãodo Quadro Comunitário

de Apoio III

ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO[RESEARCH PAPERS]

Determinação da gemelaridade: do questionário de Peetersaos micro-satélites aleatórios espalhados pelo DNAZygosity determination: From Peeters’ questionnaire to DNA microsatelitesJosé Maia, Sónia Fernandes, António Amorim,Cíntia Alves, Leonor Gusmão, Luísa Pereira

Aceleração e tempo de duração de impacto emsegmentos corporais do judoca durante a realizaçãode ukemi em diferentes tipos de tatamesAcceleration and impact time on judo’s athlete body segmetsduring ukemi movement on different tatame typesSaray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto M.Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis

Effects of different handle techniques during the back pullexercise on the angular kinematic and production of strengthAnálise cinemática de duas técnicas de “pegada” no exercício puxada altaLuciano P. da Silva, Juliano Dal Pupo, Josiele V. Alves,Carlos B. Mota

Características dinâmicas de movimentosseleccionados do basquetebolDynamical characteristics of basketball specific movementsFernanda M. Acquesta, Germano M. Peneireiro,Roberto Bianco, Alberto C. Amadio, Júlio C. Serrão

Efeito da posição da omoplata na força máximaisométrica de flexão do ombroEffect of scapular position on shoulder flexion maximum isometric strengthOtília Sousa, Fernando Ribeiro, Mário Leite,Francisco Silva, Ana P. Azevedo

Análise das componentes da prova como ponto de partidapara a definição de objectivos na natação na categoria decadetesChronometric analyses of swimming events in infantile swimmers:An objective model for goal settingAntónio Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis,Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais,Felipe Aidar

Ritmo dos jogos das finais das competições europeias debasquetebol (1988-2006) e as estatísticas que discriminamos jogos mais rápidos dos jogos mais lentosBasketball game rhythm in the European Competitions Finals’ (1988-2006) andthe game-related statistics that discriminate between fast and slow paced gamesJorge M. Malarranha, Jaime Sampaio

Efeito da complexidade da tarefa na direção da transferênciabilateral em habilidades motoras seriadasEffect of task complexity in the bilateral transfer direction in serial motor skillsDayane M. Pinho, Guilherme M. Lage,Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda

O efeito da interferência contextual em idososThe contextual interference effect in elderly peopleWesley R. Gonçalves, Guilherme M. Lage, Alexandro B.da Silva, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda

Actividade física, equilíbrio e medo de cair.Um estudo em idosos institucionalizadosPhysical activity, balance and fear of falling.A study with institutionalized older peopleJoana Carvalho, Joana Pinto, Jorge Mota

Situações de estresse no vôlei de praia de alto rendimento:um estudo de caso com uma dupla olímpicaSituations of stress in high performance beach volley:a case study with an olympic pairJoice Stefanello

Torcida familiar: a complexidade das inter-relaçõesna iniciação esportiva ao futebolParental support: inter-relationships complexity in football sportive initiationFabrício M. Filgueira, Gisele M. Schwartz

ARTIGOS DE REVISÃO[Reviews]

Stress oxidativo e dano oxidativo muscular esquelético:influência do exercício agudo inabitual e do treino físicoOxidative stress and damage in skeletal muscle: influence of unusual acuteexercise and physical conditioningFilipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte

Revista Portuguesa de Ciências do Desporto[Portuguese Journal of Sport Sciences]

Publicação quadrimestral da Faculdade de Desporto da Universidade do PortoVol. 7, Nº 2, Maio·Agosto 2007ISSN 1645-0523 · Dep. Legal 161033/01

DirectorJorge Olímpio Bento (Universidade do Porto)

EditoresAntónio Teixeira Marques (Universidade do Porto)José Oliveira (Universidade do Porto)

Conselho editorial [Editorial Board]Adroaldo Gaya (Universidade Federal Rio Grande Sul, Brasil)António Prista (Universidade Pedagógica, Moçambique)Eckhard Meinberg (Universidade Desporto Colónia, Alemanha)Gaston Beunen (Universidade Católica Lovaina, Bélgica)Go Tani (Universidade São Paulo, Brasil)Ian Franks (Universidade de British Columbia, Canadá)João Abrantes (Universidade Técnica Lisboa, Portugal)Jorge Mota (Universidade do Porto, Portugal)José Alberto Duarte (Universidade do Porto, Portugal)José Maia (Universidade do Porto, Portugal)Michael Sagiv (Instituto Wingate, Israel)Neville Owen (Universidade de Queensland, Austrália)Rafael Martín Acero (Universidade da Corunha, Espanha)Robert Brustad (Universidade de Northern Colorado, USA)Robert M. Malina (Universidade Estadual de Tarleton, USA)

Comissão de Publicação [Publication Committee]Amândio Graça (Universidade do Porto, Portugal)António Manuel Fonseca (Universidade do Porto, Portugal)Eunice Lebre (Universidade do Porto, Portugal)João Paulo Vilas Boas (Universidade do Porto, Portugal)José Pedro Sarmento (Universidade do Porto, Portugal)Júlio Garganta (Universidade do Porto, Portugal)Maria Adília Silva (Universidade do Porto, Portugal)Olga Vasconcelos (Universidade do Porto, Portugal)Ovídio Costa (Universidade do Porto, Portugal)Rui Garcia (Universidade do Porto, Portugal)

Design gráfico e paginação Armando Vilas BoasImpressão e acabamento Multitema

Assinatura Anual Portugal e Europa: 37,50 Euros Brasil e PALOP: 45 Euros, outros países: 52,50 EurosPreço deste número Portugal e Europa: 15 Euros Brasil e PALOP: 15 Euros, outros países: 20 Euros

Tiragem 500 exemplaresCopyright A reprodução de artigos, gráficos ou fotografias só é permitida com autorização escrita do Director.

Endereço para correspondênciaRevista Portuguesa de Ciências do DesportoFaculdade de Desporto da Universidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 Porto · PortugalTel: +351–225074700; Fax: +351–225500689www.fade.up.pt – [email protected]

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Revista Portuguesa de Ciências do Desporto[Portuguese Journal of Sport Sciences]

Vol. 7, Nº 2, Maio·Agosto 2007

ISSN 1645-0523, Dep. Legal 161033/01

ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO [RESEARCH PAPERS]

147 Determinação da gemelaridade: do questionário dePeeters aos micro-satélites aleatórios espalhadospelo DNA Zygosity determination: From Peeters’ questionnaire to DNA microsatelites José Maia, Sónia Fernandes, António Amorim,Cíntia Alves, Leonor Gusmão, Luísa Pereira

156 Aceleração e tempo de duração de impacto em segmentos corporais do judoca durante a realizaçãode ukemi em diferentes tipos de tatames Acceleration and impact time on judo’s athlete body segmets during ukemi movement on different tatame types Saray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Ro b e r t oM. Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis

167 Effects of different handle techniques during theback pull exercise on the angular kinematic andproduction of strength Análise cinemática de duas técnicas de “pegada” no exercício puxada altaLuciano P. da Silva, Juliano Dal Pupo, Josiele V. Alves, Carlos B. Mota

174 Características dinâmicas de movimentos seleccionados do basquetebol Dynamical characteristics of basketball specific movements Fernanda M. Acquesta, Germano M. Pe n e i r e i r o ,Roberto Bianco, Alberto C. Amadio, Júlio C. Serrão

183 Efeito da posição da omoplata na força máxima isométrica de flexão do ombroEffect of scapular position on shoulder flexion maximum isometric strength Otília Sousa, Fernando Ribeiro, Mário Leite,Francisco Silva, Ana P. Azevedo

189 Análise das componentes da prova como ponto de partida para a definição de objectivos na natação na categoria de cadetes Chronometric analyses of swimming events in infantile swimmers: An objective model for goal setting António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis, Daniel Marinho, André Carneiro,Jorge Morais, Felipe Aidar

202 Ritmo dos jogos das finais das competições euro-peias de basquetebol (1988-2006) e as estatísticasque discriminam os jogos mais rápidos dos jogosmais lentos Basketball game rhythm in the European Competitions Finals’ (1988--2006) and the game-related statistics that discriminate between fastand slow paced games Jorge M. Malarranha, Jaime Sampaio

209 Efeito da complexidade da tarefa na direção da tra n s-ferência bilateral em habilidades motoras seriadasEffect of task complexity in the bilateral transfer direction in serial motor skills Dayane M. Pinho, Guilherme M. Lage, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda

217 O efeito da interferência contextual em idosos The contextual interference effect in elderly people Wesley R. Gonçalves, Guilherme M. Lage,Alexandro B. da Silva, Herbert Ugrinowitsch,Rodolfo N. Benda

225 Actividade física, equilíbrio e medo de cair.Um estudo em idosos institucionalizados Physical activity, balance and fear of falling.A study with institutionalized older people Joana Carvalho, Joana Pinto, Jorge Mota

232 Situações de estresse no vôlei de praia de alto re n d i-mento: um estudo de caso com uma dupla olímpica Situations of stress in high performance beach volley: a case study with an olympic pair Joice Stefanello

245 Torcida familiar: a complexidade das inter-relaçõesna iniciação esportiva ao futebol Parental support: inter-relationships complexity in football sportive initiation Fabrício M. Filgueira, Gisele M. Schwartz

ARTIGOS DE REVISÃO [REVIEWS]

257 Stress oxidativo e dano oxidativo muscular esquelé-tico: influência do exercício agudo inabitual e dotreino físicoOxidative stress and damage in skeletal muscle: influence of unusual acute exercise and physical conditioning Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte

A RPCD tem o apoio da FCTPrograma Operacional Ciência,Tecnologia, Inovação do Quadro

Comunitário de Apoio III

Nota editorialEm defesa do desporto

Jorge Bento

Decidi elaborar este editorial, recorrendo a algumascitações, todas complementares e contribuintes parao objectivo pretendido.

1. A primeira é da autoria de José ManuelConstantino: “O desporto precisa de ser defendido.Defendido perante os seus desvios. Defendidoperante os seus opositores. Essa defesa requer umpensamento crítico e actualizado sobre as suas práti-cas, sob pena de se acumularem intenções e objecti-vos que o desporto, supostamente, deveria garantir eque teima em não atingir.Muitas das posições críticas ao desporto, particular-mente incisivas por parte dos novos ascetas do higie-nismo, repousam no facto de os defensores do des-porto permanecerem prisioneiros de perspectivasredutoras e defensivas, que aprisionam o desporto auma lógica de sentido único, quase que pedindolicença para ocupar o seu espaço.O espectáculo desportivo e a sua comercializaçãoarrastando fenómenos de perturbação à sua matrizidentitária e a desregulação que isso originou altera-ram o equilíbrio de muitas das suas teses e interpre-tações e desfizeram mitos com os quais muitos anosconviveu.A defesa do desporto é, também, isso. A avaliação docapital de experiência que a história do desporto acu-mulou (...) Um capital de experiência que é contradi-tório: tem aspectos positivos ao lado de negativos”.1Para contribuirmos para a defesa do desporto, para odefendermos dos seus desvios e desvarios, assimcomo dos seus opositores, devemos entender queele, como qualquer organismo, é dotado de mecanis-mos endógenos de regeneração. A sua defesa e credi-bilidade têm que vir de dentro, do esforço daqueles

que o pensam, investigam, teorizam e ensinam,organizam e dirigem, praticam e usufruem. Por issoele deve merecer, de todos quantos perfazem o seusujeito plural, um esforço constante de renovação emelhoria. Como disse Ortega y Gasset, nós “temos odever de pressentir o novo”.

2. Aos opositores ao desporto, nomeadamente àque-les que lançam sobre ele a acusação de ser da ordemdo efémero e contingente, quero expressar algumaconcordância formal e total discordância substancial.Sim, o desporto está aí para cultivar a ética e estéticada contingência, a beleza e alegria do contingente eimanente na peripécia que a vida encarna, celebran-do tanto o brilho do que nos é dado como a sombrado que nos falta e inquieta. Convida-nos a optar “pelo aperfeiçoamento humilde-mente tentativo e resignadamente inabalável do quesempre nos parecerá de algum modo imperfeito, emvez de o recusar com desânimo culpável ou de tentaragigantá-lo até que a sua enormidade inumana nosesmague”. Ao exaltar o contingente ele não impede de apontarpara a excelência, entendida não como “a busca denenhum absoluto (o excelente conseguido será tãocontingente como o medíocre rebaixado), mas o afãde ir mais além e aperfeiçoar o que conseguimos (...)embora sem nunca sairmos da limitação que nosdefine e baliza o sentido a que podemos aspirar”.2

3. Muitos mitos alimentam o desporto, tal como avida. Alguns carecem de ser esclarecidos e quiçáabandonados. Todavia outros são essenciais. Assimdevemos ter bem presente a advertência seguinte:“Precisamos de mitos para tornar suportáveis os

nossos dilemas irresolúveis. (…) Se fôssemos demo-lidores irresponsáveis de mitos, rasgaríamos os nos-sos direitos humanos e começaríamos de novo:repensando o que queremos dizer com vida humanae dignidade humana. Por enquanto, se quisermoscontinuar a acreditar que somos humanos, e justifi-car o status especial que nos atribuímos – se, na ver-dade, quisermos permanecer humanos através dasmudanças que enfrentamos -, é melhor não descartaro mito, mas começar tentando viver à sua altura”.3

Defender o desporto é, a esta luz, procurar viver àaltura do mito desportivo, aproximar-se da concreti-zação dos sentidos, axiomas, fins e ideais que eleaponta. Mesmo sabendo quão difícil é chegar lá.

4. A defesa do desporto exige, portanto, uma novaatitude perante ele. Necessitamos de renovar a

maneira de o encarar; de voltar a despertar, nascrianças e jovens, o entusiasmo e a paixão por ele.Urge que o discurso oficial enfatize a substância queele encerra, o quanto a excelência desportiva éessencial à formação de uma geração moldada pelodesejo de vencer, de transcender defeitos e fracassos,assumir esforços para atingir metas sobre-humanas eevitar o inumano, de não se acomodar a um passadoe destino de perdedores crónicos. Não, não chegaparticipar, é imperioso ousar triunfar e não se resig-nar, mesmo que a derrota bata sucessivas vezes ànossa porta. Em suma, há que retomar o projecto de um paísdesportivo, por fora e por dentro, no corpo e naalma, nos sonhos e ambições, nos princípios e con-venções. Mobilizar para o desporto é acordar eenvolver o país com uma causa social e cultural.

1 BENTO, Jorge Olímpio; CONSTANTINO, José Manuel (2007): Em Defesa do Desporto – Mutações e Valores em Conflito. Coimbra:Edições Almedina.2 SAVATER, Fernando (2004): A CORAGEM DE ESCOLHER. Lisboa: Publicações Dom Quixote.3 FERNÁNDEZ-ARMESTO, Felipe (2004): Então você pensa que é humano? São Paulo: Companhia das Letras.

ARTIGOS DEINVESTIGAÇÃO

[RESEARCH PAPERS]

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Determinação da gemelaridade: do questionário de Peeters aos micro-satélites aleatórios espalhados pelo DNA

José António Ribeiro Maia1

Sónia Cristina de Tavares e Cruz Fernandes1

António Amorim2

Cíntia Alves2

Leonor Gusmão2

Luísa Pereira2

1 Laboratório de CineantropometriaUniversidade do PortoPortugal

2 IPATIMUPUniversidade do PortoPortugal

RESUMOCom a realização deste estudo pretendíamos testar a validadede um método indirecto para avaliação da gemelaridade emestudos na população portuguesa. Da pesquisa participaram 96gémeos (45 grupos gemelares monozigóticos e dizigóticos), deambos os sexos, dos 6 aos 12 anos de idade, e as respectivasmães biológicas, num total de 141 sujeitos. A determinação dazigotia foi efectuada com recurso a dois métodos: (1) Métodoindirecto, através da aplicação do questionário de Peeters et al.(1998) às mães dos gémeos; (2) Método directo, através darecolha de sangue (pequena picadela no dedo) a cada um dosmembros dos grupos de gémeos e posterior análise do DNAem laboratório. A proporção global de gémeos correctamenteclassificados como monozigóticos e dizigóticos com recurso aoquestionário foi de 97,8%. O valor do teste do qui-quadrado éaltamente significativo (!2=41.053, p<0.0001), reforçado peloteste de McNemar (p<0.0001). Face aos resultados obtidos,conclui-se que o questionário de Peeters et al. (1998) apresentavalidade transcultural para avaliação da gemelaridade em estu-dos na população portuguesa.

Palavras-chave: gemelaridade, gémeos, questionário, DNA, vali-dade

ABSTRACTZygosity determination: From Peeters’ questionnaireto DNA microsatelites

This study had the purpose of testing the validity of an indirect methodto assess zygosity in twin studies in the Portuguese population. Thesample included 96 twins (45 monozygotic and dizygotic twin groups),of both sexes, from 6 to 12 yrs old, and their biological mothers, sum-ming 141 subjects. Two methods were used to determine zygosity: (1)Indirectly, through Peeters et al. (1998) questionnaire filled out by themothers; (2) Directly, through blood sampling of each twin member,and their DNA was analysed in the laboratory. Proportion of correctclassification of twins as monozygotic or dizygotic through Peeters etal. (1998) Questionnaire was 97,8%. The Qui-Square test was highlysignificant (!2=41.053, p<0.0001), and it was reinforced byMcNemar test (p<0.0001). The results allow us to conclude thatPeeters et al. (1998) Questionnaire shows transcultural validity toassess zygosity in twin studies in the Portuguese Population.

Key-words: gemelarity, twins, questionnaire, DNA, validity

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INTRODUÇÃOA existência de gémeos é um fenómeno que tem inte-ressado não exclusivamente os investigadores de ciên-cias biológicas e sociais, mas também a população emgeral desde longa data(28). Este é, sem dúvida, umgrupo populacional fascinante no domínio das maisvariadas características do ser humano, uma espéciede “experiência da própria Natureza” que se prendeao esclarecimento da enorme variabilidade nas maisdiversas características do ser humano.Cada pessoa tem duas séries de cromossomas, umatransmitida pelo pai a outra pela mãe. Cada cromosso-ma pode ser imaginado como uma sequência degenes, cada um desempenhando uma função particu-lar. Espalhados entre os genes existem marcadoresque não lhe são conhecidas quaisquer funções bioló-gicas mas cuja transmissão é idêntica à dos genes. Aordem dos genes (e marcadores) num cromossoma éfixa, pelo que cada gene é encontrado sempre namesma posição, chamada locus. Cada pessoa temdois genes em cada locus, um da série de cromosso-mas herdada do pai e o outro da mãe. Em cada locusos genes assumem diferentes formas, cada uma cha-mada de alelo. Dois genes que assumem a mesmaforma são designados de idênticos pelo estado (doinglês identical-by-state – IBS). Dois genes podem serIBS, por serem originários do mesmo descendente, esão réplicas do mesmo gene ascendente. Este tipo departilha de genes é designado de identidade pela des-cendência (identity-by-descendent – IBD). Os genespodem também ser IBS não por causa de serem IBDmas devido a uma coincidência. Os gémeos monozi-góticos (MZ) têm ambos os genes IBD em todos osloci do genoma. Em contraste, os gémeos dizigóticos(DZ) têm 25% de probabilidades de terem ambos osgenes IBD, 50% de que um gene seja IBD e 25% denenhum gene ser IBD em cada locus. Se um par degémeos, num dado locus não for IBD em ambos osgenes será, portanto, DZ.A distinção de gémeos em MZ e DZ tem origens noséculo XIX, com Sir Francis Galton (1822-1902), masfoi apenas no século XX que surgiram os primeirose s t u d o s(24, 18), com o intuito de averiguar uma baseobjectiva para o diagnóstico da zigotia, os quaisderam origem ao método clássico de estudos comgémeos que ao longo do século assumiu uma enormea p l i c a b i l i d a d e( 1 9 ). Até aos procedimentos mais actuais,com base no DNA houve certamente um caminho

interessante onde alguns nomes deram passos mar-cantes na história da determinação da zigotia1.A identificação precisa da zigotia dos gémeos, i.e.,saber se a gemelaridade é MZ ou DZ, não tem sidotarefa fácil para os geneticistas interessados no fenó-meno da gemelaridade, tão pouco para os obstetrasno momento do parto gemelar( 1 1 ), a não ser que asmembranas fetais sejam monocoriónicas. Apesar doexame das membranas fetais ser considerado porDerom et al.( 5 ) como o único método que permite tera certeza da identificação de gémeos MZ, Segal( 2 7 )estimou que mesmo os obstretas mais ex p e r i e n t e sclassificam erradamente a zigotia em 6% dos casos eElston et al.( 7 ) referiram a necessidade de observ a ç ã omicroscópica para distinguir a placentação monocorial(verificada nos gémeos MZ) de placentas dicoriónicasde dois embriões que se fundiram (gémeos DZ).A investigação no vasto território da Genética docomportamento (do inglês Behavioral Genetics) ou daEpidemiologia Genética aplicada às Ciências doDesporto com delineamentos gemelares necessitaque se distingam claramente os gémeos MZ dos DZ(ver extensas aplicações deste tipo de pesquisa emBouchard et al.(2). Por exemplo, a qualidade e genera-lização dos resultados de investigação “relativamentesimples” de agregação familiar nos níveis e padrõesde actividade física(20, 15, 25), até matérias de maiorrepercussão, como transplante de órgãos, tratamen-tos farmacológicos ou transfusões sanguíneas (33, 12,

32) exigem a determinação precisa da gemelaridadedos grupos.É pois da maior relevância a identificação precisa,fiável e válida da zigotia(33) respondendo, de modoinequívoco, à seguinte questão: estes gémeos sãoMZ ou DZ? Claro que se forem os dois de sexooposto (cerca de 1/3 dos nascimentos gemelares), aresposta é óbvia – só podem ser dizigóticos2.Contudo, se forem do mesmo sexo, a resposta já nãoé tão óbvia.Ao longo do tempo, os geneticistas foram desenvol-vendo um conjunto variado de procedimentos decomplexidade técnica e computacional diversa, quecolectivamente podem ser agrupadas em dois tiposde métodos: directos e indirectos(ver por exemplo 28, 1, 23).Uma aventura interessante é a leitura da dissertaçãode doutoramento do geneticista belga RobertVlietinck(33) ao dedicar-se, exclusivamente, ao lato edifícil assunto da determinação da gemelaridade,

José Maia, Sónia Fernandes, António Amorim, Cíntia Alves, Leonor Gusmão, Luísa Pereira

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desenvolvendo técnicas simples cuja utilização oautor deseja generalizar.Apesar de técnicas moleculares poderem estabelecer odiagnóstico com uma taxa de precisão de cerca de100% e formas não invasivas de obtenção do DNAterem sido desenvolvidas( 6 ), o custo destes procedi-mentos limita o seu uso em estudos epidemiológicosem larga escala( 4 ). Portanto, não será de estranhar queo uso de questionários em matéria de determinação dazigotia tenha sido crescente nos últimos anos3.A estratégia centrada na utilização dos questionáriosé bem simples – tornar acessível um procedimentoválido e fiável, de baixíssimo custo, para estimar azigotia do grupo. É evidente que o processo de vali-dação concorrente do questionário tem sido objectode sofisticação e refinamento por parte de procedi-mentos técnicos mais actuais e também do recurso aanálises estatísticas mais poderosas(ver, por exemplo, 4, 37).O propósito deste nosso estudo radica precisamentenesta estratégia, pelo que pretendemos testar, umavez mais, a qualidade do questionário de Peeters etal. (21) na determinação da zigotia. Este propósito étanto mais válido quando não existe nenhum ques-tionário, que seja do nosso conhecimento, de deter-minação da zigotia validado para a população portu-guesa e quando se pretende que o seu uso seja“generalizado” por investigadores portugueses,nomeadamente das Ciências do Desporto, sempreque a sua amostra for constituída por pares degémeos e enfrentar problemas sérios de financia-mento para determinar a zigotia dos sujeitos combase no seu DNA.

METODOLOGIAAmostraA amostra do estudo foi recolhida fundamentalmen-te em dois Encontros de Gémeos realizados noCentro de Portugal: Cantanhede e Viseu, durante osquais foi feita uma reunião com os pais das criançasonde lhes foram explicados os propósitos e alcancesda pesquisa e os procedimentos que seriam adopta-dos. Foi obtido consentimento expresso para partici-parem por parte dos pais em somente 52 casos.Porém, apenas foram validados para o nosso estudo,por questões processuais, 45 destes grupos gemela-res assim distribuídos (ver quadro 1): 40 pares degémeos, 4 grupos de trigémeos e 1 grupo de quadri-gémeos, o que perfaz 96 gémeos dos 6 aos 12 anos

de idade, 47 do sexo masculino e 49 do sexo femini-no (uma distribuição praticamente equitativa quantoà variável género). Participaram também, através dopreenchimento do questionário de Peeters, as res-pectivas mães (45).

Quadro 1. Distribuição da amostra por grupos gemelares e sexo

grupos sexo n %

Par gémeos (40; 88.9%) MM 40 41.7MF 4 4.2FF 36 37.5

Trigémeos (4; 8.9%) MMM 3 3.1FFF 9 9.3

Quadrigémeos (1; 2.2%) MMFF 4 4.2

45 96 100

M – Masculino; F - Feminino

Instrumentos e ProcedimentosActualmente poderemos considerar dois tipos demétodos: directos e indirectos. Os métodos directosincluem: (1) exame das membranas materno-fetais,(2) marcadores genéticos clássicos, (3) DNA. Osindirectos são constituídos por uma plêiade de técni-cas: (1) apreciação somatoscópica pericial da morfo-logia externa, (2) dermatóglifos, (3) questionários.O quadro 2 mostra como é possível efectuar o diag-nóstico com graus crescentes de fiabilidade.

Quadro 2. Sumário dos procedimentos usados para determinação da zigotiaapresentados por Borges-Osório e Robinson (1) e Elston et al. (7). Sequência

crescente em termos de Validade.

Determinação da zigotia

1. Regra diferencial de Weinberg2. Comparação da similaridade3. Questionários de similaridade

Auto-registoRegisto de outros

4. Dermatóglifos5. Exame das membranas materno-fetais6. Marcadores genéticos

Grupos sanguíneosSistema HLAProteínas séricasEnxertos de pele

7. Análise do DNA: ma rcador es molecu la r es alta mente pol i m ó rf icos

Determinação da gemelaridade

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Destes métodos, só trataremos de forma brevíssimaas técnicas que mais nos interessam – o exame demicro-satélites ou STRs (Short Tandem Repeats4) dis-persos de forma aleatória no genoma e os questioná-rios que incluem perguntas de grau de similaridadedistinta cujas estimativas de heritabilidade, para ascaracterísticas em apreço, são muito altas.

Determinação da zigotia com base em micro-satélites do DNAA análise do DNA dos membros de cada par implicaobtenção de uma amostra muito reduzida de sangue.Trata-se, pois, de um procedimento “algo invasivo”,para o qual foi obtido consentimento por parte dospais, realizado por um elemento experiente. Tambémpoderia ser feito através de saliva ou esfregaço bucal,mas o sangue foi o material preferido. A técnica deextracção e amplificação do DNA por cadeia de reac-ção da polimerase é bem conhecida e está suficiente-mente explicada em qualquer manual de genéticamédica (uma leitura interessante sobre o assunto emlíngua portuguesa é o livro de Regateiro(23). Aextracção do DNA a partir das amostras de sanguede 96 indivíduos foi efectuada com um métodobaseado na utilização da resina Chelex (13).Em todas as amostras de DNA, a análise de 17 STRsautossómicos (CSF1PO, D2S1338, D3S1358,D5S818, D7S820, D8S1179, D13S317, D16S539,D18S51, D19S433, D21S11, FGA, PD, PE, TH01,TPO e VWA) e o locus da Amelogenina (determina-ção do sexo), foi efectuada por amplificação porPCR, utilizando os kits comerciais Powerplex 16System (Promega Corporation) e Identifiler (ABApplied Biosystems), de acordo com as instruçõesdos fabricantes.A genotipagem foi efectuada em aparelhos ABI 310Genetic Analyzer (AB Applied Biosystems), de acor-do com as instruções do fabricante, por determina-ção do tamanho dos fragmentos de DNA e compara-ção com escalas alélicas fornecidos com os kitscomerciais.Nos casos onde os indivíduos apresentavam perfisgenéticos de STRs idênticos, foi efectuado o cálculo deprobabilidade de monozigotia, que segue, no funda-mental, a metodologia de Essen-Møller( 8 ) e que sebaseia nas frequências génicas, neste caso determinadas

na população residente no Centro e Norte de Po r t u g a l .Dada a relevância da informação obtida, particular-mente para os gémeos e seus pais, foi elaborado umrelatório com os resultados que posteriormente lhesfoi enviado.

Questionário de Peeters et al. (1998)Esta técnica não invasiva, facilmente operacionalizá-vel, de custo baixíssimo, permite obter informaçãopreciosa acerca da zigotia dos pares de forma quaseimediata. O questionário de Peeters et al.(21) foidesenvolvido na Bélgica pela equipa do ProfessorRobert Vlietinck (Departamento de GenéticaHumana da Universidade Católica de Lovaina). Éconstituído por um conjunto muito simples de ques-tões (ver anexo) apreciado exclusivamente pela mãe.Está organizado do seguinte modo: um grupo deperguntas simples acerca da similaridade dos mem-bros do par e índices de similaridade que contêmquestões relativamente à parecença dos membros decada par, tal como são apreciados pelos pais, irmãos,professores, amigos e estranhos. Esta informaçãoestá dispersa no questionário do seguinte modo: opi-nião da mãe (item 1); similaridade global e confusãogemelar (itens 2 a 7) e similaridade específica (itens8 e 9).Entre outros, é possível calcular um índice designa-do por índice simples de similaridade que foi o utili-zado nesta pesquisa. O seu cálculo é efectuado doseguinte modo: adiciona-se 1 ponto a cada respostaque indique similaridade entre os gémeos e subtrai-se 1 ponto a cada resposta que sugira dissemelhan-ça. Gémeos DZ duvidosos são cotados com – 1/2 egémeos MZ duvidosos com +1/2. Se a soma simplesdas cotações das respostas for igual ou superior azero, os sujeitos são considerados gémeos MZ. Casocontrário, são referidos como gémeos DZ.A recolha dos dados com base nos questionários foifeita durante os Encontros. Estes foram sempre cota-dos pelo mesmo investigador (J.A.R.M.), muitoexperiente e bem familiarizado com o instrumento eprocedimentos. Conforme é descrito na literatura,uma amostra menor foi re-cotada para se obter umaestimativa da fiabilidade dos resultados. A consistên-cia das cotações foi elevada, confirmando a qualidadeda avaliação efectuada.

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Procedimentos estatísticosInicialmente, e após o procedimento descrito paraestimar a fiabilidade dos resultados, foi calculada apercentagem de acordos de classificação (questioná-rio – DNA) com base nas percentagens de classifica-ções correctas nos gémeos MZ e DZ. O Kappa deCohen foi utilizado para a correcção desta estatística,assumindo que classificações certas podem ter ocor-rido de modo “casual”. Com o intuito de testar for-malmente a qualidade da informação das mãesrecorremos ao teste de qui-quadrado e ao teste deMcNemar, esperando uma forte associação entre asduas classificações.O software estatístico utilizado foi o SPSS 13.0.

RESULTADOS Os principais resultados encontram-se sumariadosno Quadro 3.

Quadro 3. Tabela de dupla entrada relativa às frequências e percentagens declassificação gemelar obtidas com o Questionário e os micro-satélites do

DNA dos sujeitos

Classificação Informação do DNA

DZ MZ

Informação do Questionário DZ 18 (94.7%) 1 (5.3%)40% 2.2%

MZ 0 (0%) 26 (100%)0% 57.8%

18 27

DZ – Dizigótico; MZ - Monozigótico. Total: 45 grupos de gémeos

O teste da zigotia com base nos micro-satélites deDNA permitiu classificar correctamente os 96 indiví-duos da amostra: 35 (40%) são gémeos DZ e os res-tantes 61 (60%) são gémeos MZ. Dos 19 grupos degémeos DZ que foram identificados como tal atravésda cotação do questionário, 18 (94.7% dos gémeosDZ) foram confirmados com a informação prove-niente do DNA. Apenas 1 par (i.e., 2.2% do total daamostra) foi erradamente classificado. A sua zigotiacorrecta é MZ. Nos gémeos MZ a percentagem declassificação correcta é de 100%, i.e. 26 em 26 gru-pos de gémeos foram correctamente classificadosatravés do questionário.

A proporção global de acordo é calculada somandoos resultados correctamente classificados como MZ eDZ, obtendo-se deste modo o seguinte valor:(18+26)/45 = 0.977, i.e. 97.8%, um valor bastanteelevado. Decorrente deste procedimento chegamostambém ao valor da percentagem de erros de classifi-cação de 2.2%.Os resultados significativos obtidos no teste Kappade Cohen (0.954 ±0.045, p<0.000), mostram clara-mente a relevância e a qualidade da informação obti-da através do questionário, já que este é um testeque permite aferir a concordância ou semelhançaentre os procedimentos por nós utilizados, cujovalor máximo é 1 e valores acima de 0.75 significamuma excelente concordância entre as variáveis.O valor do teste do qui-quadrado é altamente signifi-cativo (!2

(1)=41.053, p<0.0001). Estes resultadosimplicam uma forte associação entre a classificaçãoreportada pelas mães e os resultados do DNA, resul-tados que são reforçados pelo teste de McNemar(p<0.0001). Este último, também designado nasciências sociais de teste de mudança de opinião,compara em termos percentuais as respostas dicoto-mizadas de duas variáveis, no nosso caso a classifica-ção com base nos questionários e a classificação pro-veniente da análise do DNA, em amostras empare-lhadas, o que igualmente se verifica no estudo pornós efectuado uma vez que os gémeos classificadosnos dois procedimentos foram os mesmos. O valorde prova obtido com o teste foi menor que 1/1 000, oque nos leva à conclusão de que a classificação dosgémeos através dos questionários não alterou signifi-cativamente a classificação obtida pelo outro proce-dimento utilizado. O valor encontrado salienta ofacto de não haver qualquer diferença significativaentre os resultados das frequências de respostas dezigotia do questionário e o exame do DNA.

DISCUSSÃO Destes resultados emergem os seguintes comentá-rios:— A elevada associação entre a classificação dasmães e os resultados do DNA vem confirmar a quali-dade da informação do progenitor e a “capacidade”do questionário em determinar de modo simples ealtamente económico a zigotia dos pares de gémeos.— A validade dos questionários já havia sido ante-

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riormente confirmada(21, 4, 31, 26) e é suportada emtoda a magnitude no caso dos gémeos MZ. Já nosDZ, os valores mostram erros de classificação decerca de 2.2%. Resultados equivalentes aos nossosforam já reportados por outros autores, cuja percen-tagem de erros varia entre 0 e 7%. Convém referirque as amostras de estudos referenciados na intro-dução, bem como a que foi utilizada no questionáriode Peeters, se situam entre os 100 e os 150 pares degémeos, manifestamente superiores às do presenteestudo. Daqui que apresentemos a sugestão de serefectuado um estudo com uma amostra maior, talcomo é sugerido por Mange e Mange(17) para com-provar, de modo cruzado, a fiabilidade dos resulta-dos, ainda que estejamos convictos que os resulta-dos na população portuguesa não serão muito distin-tos dos que foram por nós obtidos.— O facto do grau de concordância entre a classifica-ção através do questionário e do teste de DNA, rela-tivamente aos gémeos MZ, ter sido de 100% poderiaeventualmente suscitar a curiosidade dos motivosconducentes a uma total concordância entre a infor-mação proveniente dos dois métodos, já que váriosautores(e.g. 24, 14, 9, 32, 22) estudaram e assinalaram asdiferenças comportamentais, físicas, genéticas e epi-genéticas nos gémeos MZ, tendo inclusive conduzi-do à subdivisão destes em três tipos(23, 33, 11, 1).Clarificando melhor: os gémeos MZ provêm de umovo que foi fecundado e que em determinadomomento se divide em duas “cópias genéticas”. Omomento da divisão dos blastómeros5 traduz-sedepois em diferenças, mesmo físicas (cujo exemplo,talvez o mais perceptível seja o dos gémeos siame-ses), dissimilitudes que frequentemente se acentuamao longo da vida dos gémeos. As dissemelhanças dosgémeos, a que as mães tendem a ser mais sensíveis,e o esforço que fazem por tratar os seus filhos indi-vidualmente foram os motivos apontados pela equi-pa de investigação do Professor Vlietinck, no estudode Peeters et al.(21), para o facto de ter verificadovalores inferiores de concordância nos gémeos MZdo que nos gémeos DZ. Porém, os pais usualmentedistinguem os gémeos MZ(32). De facto, “apesar de osgémeos MZ parecerem indistinguíveis aos estranhos,nenhuns gémeos são tão idênticos que as suas mães não osconsigam distinguir sem errar” (10, p.105), o que tornaeste questionário ainda mais válido.

— O valor de erros de classificação é altamente acei-tável no domínio da investigação no âmbito dasCiências do Desporto. Talvez não o fosse em outroscampos da investigação, como o demonstra clara-mente a experiência vivenciada pelos gémeos St.Clair(32). Desde bastante cedo pensaram ser gémeosDZ por apresentarem alguns traços discordantes,ainda que fossem muito similares na aparência. JohnSt. Clair, após uma intoxicação com cogumelos vene-nosos, recebeu um transplante renal do seu irmãoDavid. Durante 15 anos John foi submetido a trata-mentos de imunossupressão, com bastantes compli-cações daí derivadas. Perante a possibilidade deinterromper o tratamento, caso se verificasse mono-zigotia, efectuaram vários testes de DNA que confir-maram serem MZ. Nove meses depois de ter inter-rompido os tratamentos com imunossupressoresJohn mantinha uma função renal normal, confirman-do 15 anos de tratamentos escusados. Não obstanteos erros passíveis de serem encontrados na determi-nação da zigotia através deste procedimento, não háque retirar qualquer valor à informação do questio-nário. Bem pelo contrário!— Ainda que o valor do erro seja baixo e seja o espe-rado, cremos que este tem uma explicação no con-texto deste estudo. Nenhuma das mães tinha a cer-teza absoluta da zigotia dos seus filhos. Não tinhainformação proveniente do exame do DNA, ou dequalquer exame de anatomia patológica à placenta.Curiosamente, a mãe que afirmava que os seusfilhos eram gémeos DZ (pelo menos foram estes osresultados emergentes das suas respostas ao ques-tionário), sempre tratou os seus filhos de modo dife-rente. Isto é, ainda que sejam MZ, procurou sempreum espaço de intervenção de forte dissemelhançaentre os membros do par. A diferença foi o seutoque no processo de relacionamento e educação. Ede algum modo sugeriu que todos os tratassemdesse modo. Este é um tipo de comportamento fre-quente entre as mães que vêem os seus filhos deforma diferente, ainda que possam ser “iguais” doponto de vista genético. Este fenómeno é bem repor-tado na literatura, de que o texto “gémeos, trigé-meos e mais”(3) dá conta.— É evidente que a determinação da gemelaridade éum fenómeno que encerra em si mesmo um espaçopara a incerteza, ainda que a probabilidade de se

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errar com os resultados dos micro-satélites seja bai-xíssima(24, 4, 35, 36). Contudo, não é impossível. Mais“fácil” é o erro de classificação com base nos ques-tionários. Enquanto que na primeira técnica a proba-bilidade é muito próxima de 0%, na segunda é cercade 1 a 5%. Há pois aqui que estabelecer um compro-misso entre precisão do resultado e o respectivocusto, que é sempre elevado quando se recorre aoexame do DNA e se lida com centenas de sujeitos.— Da aplicação do questionário fica-nos porém aseguinte sugestão: ainda que o valor do inventáriode Peeters seja inquestionável, há que recolher dasmães um rigor ainda maior no modo como respon-dem às questões. Verificámos que porventura sãoconfundidos os aspectos de natureza comportamen-tal com as características físicas dos filhos para per-mitir tornar mais perceptíveis as “igualdades oudesigualdades” perante elas próprias e terceiros.Com esta ênfase serão claramente distinguidasimpressões subjectivas e atitudes relativamente aocomportamento dos gémeos das suas opiniões quan-to às características físicas dos mesmos.Em conclusão, o questionário de Peeters de determi-nação da zigotia é um instrumento válido e fiávelpara ser utilizado em pesquisa gemelar no espaçolusófono.

AGRADECIMENTOS 1) este estudo foi financiado por uma bolsa de inves-tigação da Fundação para a Ciência e Tecnologia(POCI/DES/62499/2004); (2) ao revisor anónimo,cujas sugestões ajudaram a melhorar alguns aspectosdo texto.

NOTAS1 A este propósito ver os percursos históricos sumariamentedescritos por Vlietinck (33), Borges-Osório e Robinson (1) eSpector et al. (30).2 Gringras e Chen (10) descreveram vários efeitos intra-uterinose mecanismos genéticos que podem resultar em diferençasfenotípicas, genéticas e epigenéticas nos gémeos MZ, inclusiveno que respeita ao sexo.3 Um percurso histórico pode ser efectuado nos textos de Sarnaet al. (26), de Chen et al. (4) e de von Wurmb-Shwark et al. (34).4 Short Tandem Repeat Polimorphism, também designado pormicro-satélites, são repetições de 3 ou 4 nucleótidos comextensão reduzida e bem localizada ao longo do genoma huma-no que permite mapear informação importante, neste caso, apresença dos mesmos micro-satélites nos mesmos lugares doscromossomas dos gémeos MZ.5 É hoje aceite pela comunidade científica distintos momentosde separação dos blastómeros: se a separação for precoce, atéao 3º dia, os dois embriões implantam-se de forma autónomano endométrio, originando uma placentação bicorial biamnióti-ca; se a divisão do embrião ocorre entre o 3º e o 7º dia (a maisfrequente), formam-se assim dois gémeos MZ com uma pla-centa comum, mas cada um com o seu saco amniótico – mono-corial biamniótica; se a divisão ocorre após a primeira semana(com uma frequência <1% dos gémeos MZ), os gémeos parti-lham uma mesma placenta e um saco amniótico comuns. Nocaso dos gémeos siameses (que chegam a partilhar órgãos) adivisão do embrião ocorre para além das duas semanas dedesenvolvimento.

CORRESPONDÊNCIAJosé António Ribeiro MaiaLaboratório de CineantropometriaFaculdade de Desporto, Universidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200-450 Porto

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6. ANEXO

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Aceleração e tempo de duração de impacto em segmentos corporais do judoca durante a realização de ukemi em diferentes tipos de tatames

Saray G. dos Santos1

Sebastião I.L. Melo2

Roberto M. Heidrich3

António R.P. Moro1

Diogo C. Reis1

1 Laboratório de BiomecânicaDEF/CDS/UFSCFlorianópolis SC, Brasil

2 Laboratório de BiomecânicaCEFID/UDESCFlorianópolis SC, Brasil

3 Departamento de Engenharia MecânicaCTC/UFSCFlorianópolis SC, Brasil

RESUMOEste estudo, de cunho exploratório, objectivou verificar e com-parar as acelerações e os tempos de duração dos impactos sofri-dos por diferentes segmentos corporais de judocas (punho,quadril e tornozelo) através de quedas em diferentes tipos detatames. Para a realização do estudo foram seleccionados setetipos diferentes de tatames (seis sintéticos e um de palha),assim como, dois judocas para executarem a técnica “Ipon-Seoi-Nague” e respectivo amortecimento “Zempo-Kaiten-Ukemi”. Como instrumento de medida, foi utilizado um acele-rômetro triaxial da Bruel & Kjaer®, conectado a um sistema deaquisição de sinais. Para a colecta de dados, o acelerómetro foifixado sucessivamente no punho, no quadril e no tornozelo,medindo as acelerações provenientes de 10 impactos em cadasegmento em cada um dos sete tipos de tatames. Os resultadosobtidos permitem afirmar que os valores dos impactos recebi-dos pelos judocas, principalmente no punho e tornozelo, ultra-passam os limites considerados seguros em todos os tipos detatames, os quais, mesmo sendo impactos de curta duração,encontram-se em limites considerados geradores de severaslesões (aceleração > 200 g). De acordo com os resultados destetrabalho, os tatames “A”, “B” e “F” foram os que se apresenta-ram mais apropriados para o amortecimento de quedas noJudô.

Palavras-chave: impacto, ukemi, tatame.

ABSTRACTAcceleration and impact time on judo’s athlete body segmets during ukemi movement on different tatame types

This exploratory study was conducted to detect and compare the accel-erations and the time intervals of impacts suffered by different bodysegments of a judoka (wrist, hip, and ankle) using different types oftatami. In order to accomplish this study, seven different types of tata-mi were selected intentionally (six of them synthetic and one natural -straw). We had the help of two judoka to execute the “Ipon-Seoi-Nague” technique and the respective “Zempo-Kaiten-Ukemi” reduction.A Bruel&Kjaer triaxial accelerometer was used for the measurements.It was connected through cables to preamplifiers linked to a system ofterminals with divisors where the signal was acquired. For the data col-lection, the accelerometer was fastened on the wrist, on the hip, and onthe ankle. The device measured the accelerations of 10 impacts of everysegment in each of the seven types of tatami, totaling 210 measures.The results obtained allow us to state, based on tolerance criteria, thatthe values of the impacts received by the judoka, mainly in the fist andankle body segments, exceed the limits considered safe. Even thoughthese impacts were of short duration, they are in limits consideredcauser of severe injuries (acceleration >200g). From the results of thiswork, the more appropriate for Judo falls damping were the tatami“A”, “B” and “F”.

Key-words: impact, ukemi, tatami.

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INTRODUÇÃOEntre as preocupações de pesquisadores em diferen-tes áreas, tais como Ergonomia, EngenhariaMecânica, Biomecânica e algumas áreas da Saúde,encontram-se as respostas do corpo humano a dife-rentes tipos de impactos e vibrações. Há muitas acti-vidades que produzem vibrações e impactos, sendogrande parte delas relacionadas com actividadeslaborais e esportivas.O efeito do impacto em corpos acelerados tem sidoestudado em tecidos rígidos(23), mostrando que aexposição a vibrações provocadas pelo impacto causalesões.Com relação à prática de esportes, apesar do enten-dimento incompleto das causas e da natureza dosdanos relacionados à mesma, a crença de que aexposição repetitiva aos impactos pode induzir aodano tem recebido um considerável interesse porparte de pesquisadores em biomecânica do esporte(4,1,2,5,14,15,16,22).De maneira geral, qualquer tipo de impacto advindo

dos esportes é um evento caracterizado pela ocorrên-cia de forças de grande intensidade e curta duração,isto é, forças impactantes, e estas são frequentes emvários esportes, como exemplo, pode-se citar a práti-ca do judô, onde para toda a projeção (Nage-Waza)existe uma queda (ukemi). As quedas são realizadaspor técnicas de amortecimento, as quais dependemdo tipo de técnica de projecção utilizada. A práticadas quedas faz parte do treinamento sistemático dosjudocas, sendo utilizadas com o objectivo de ameni-zar os efeitos deletérios no organismo, a curto,médio ou longo prazo, provenientes do impacto docorpo do judoca com o tatame.O tatame é um material específico para a prática dojudô, como para outros esportes de combate, o qualtem por objectivo contribuir para a amenização dosefeitos das quedas. Embora haja estudos que apon-tam os tatames como um dos causadores de lesõesem judocas (21, 19, 20, 18, 17), não se encontrou na litera-tura, nem nas especificações dos fabricantes e/ourepresentantes de tatames, as características quepropiciem ao consumidor conhecer o material queestá adquirindo.Partindo do pressuposto que os diferentes tipos de

tatames podem influenciar nas acelerações resultan-tes do impacto do corpo do judoca com o solo, é que

se realizou este estudo com o objectivo de verificaras acelerações e a duração dos tempos dos impactossofridos por diferentes segmentos corporais de judo-cas (mão, quadril e pé) após quedas nos diferentestipos de tatame, assim como comparar as respectivasacelerações nos diferentes pontos corporais.

MATERIAIS E MÉTODOSForam testados sete diferentes tipos de tatame,sendo um de palha (C) e seis sintéticos (A, B, D, E,F, G) com diferentes espessuras (6,0 cm, 4,0 cm, 3,5cm, 3,8 cm, 3,0 cm, 4,0 cm, 3,2 cm, pela ordem refe-rida), escolhidos intencionalmente. Os testes foramrealizados em laboratório por dois judocas, sendoque o “tori” (judoca que projecta) executava a técni-ca “Ipon-Seoi-Nague”, técnica escolhida por nãohaver necessidade da utilização do “judogui” (indu-mentária adequada para a prática do judô), e o “uke”(judoca que é projectado) amortecia a queda com o“Zempo-Kaiten-Ukemi” (Figura 1).

Figura 1. Técnica “Ipon-Seoi-Nague”.

Para quantificar os impactos resultantes das colisõesde segmentos corporais do judoca (punho, quadril etornozelo) contra os tatames, utilizou-se um acelerô-

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metro triaxial do Tipo 4321, da Brüel & Kjaer®.O acelerómetro foi fixado com fita adesiva (Figura2), de forma a evitar o movimento do acelerómetrosobre o local escolhido. Os pontos de fixação foram:no punho, sobre a articulação radioulnar distalesquerda (Figura 2); no quadril, na porção superiorda crista ilíaca direita (Figura 3); e na perna, doiscentímetros proximais ao maléolo medial esquerdo(Figura 4). O sistema de coordenadas utilizado foideterminado com base na posição do acelerómetrono instante do contato do segmento com o tatame(queda), sendo: sentido vertical para o eixo z, senti-do antero-posterior para o eixo y e sentido latero-lateral para o eixo x (Figura 5).

Figura 2. Forma de fixação do acelerômetro no punho

Figura 3. Ponto de fixação do acelerômetro no quadril

Figura 4. Ponto de fixação do acelerômetro no tornozelo

Figura 5. Sistema de referência tridimensional utilizado

Foram obtidos sinais de dez projecções e quedas,com êxito, em cada segmento corporal e em cada umdos sete tipos de tatames, totalizando 210 projec-ções/quedas. As colectas foram realizadas em diver-sos dias, organizados em sessões de 10projecções/quedas com intervalo de um minutoentre elas, duas vezes por semana ao longo de trêsmeses, visando preservar a integridade física dosjudocas participantes do estudo. Para a obtenção dosdados foi estipulada uma frequência de aquisição de5000 Hz e tempo total de aquisição de 4 s para cadaprojecção/queda.Os sinais eléctricos gerados no acelerómetro (emmV) pelo impacto dos segmentos com os tatamesforam amplificados por pré-amplificadores de cargatipo 2635 da Brüel & Kjaer® e enviados a uma placade aquisição de dados multicanal CIO-DAS 16/1600que compreende 16 canais absolutos ou 8 canais

Saray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto M. Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis

X Y

Z

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diferenciais, com conversor analógico/digital de 12bites com um limite de tensão de entrada de , daComputer Board®, tendo sido processados e registra-dos no software SAD32® (1977). Após a realização do estudo piloto, para o qual doisjudocas realizaram projecções e quedas nos diferentestatames com o acelerómetro fixado em diferentessegmentos corporais (punho, quadril e tornozelo),definiram-se os factores de correcção do aceleróme-tro, via pré-amplificadores, como mostra o Quadro 1.Tanto um divisor resistivo de 1/2, quanto os factoresde correcção dos pré-amplificadores, foram necessá-rios para que se evitasse saturação dos sinais, devidoaos diferentes tipos de materiais a serem testados eà colocação do acelerômetro em diferentes segmen-tos corporais.

Quadro 1. Factores de correcção dos pré-amplificadorespara aquisição dos sinais via acelerometria.

Seg. Corporal Tipo de tatame x (mV) y (mV) z (mV)

Punho “A”, “B”, “C” e “E” 1 1 3,16“D”, “F” e “G” 1 10 1

Tornozelo Todos 10 10 1

Quadril “B”, “C” e “E” 10 100 10“A”, “D”, “F” e “G” 10 10 10

Para quantificar a magnitude do impacto utilizou-seo valor máximo absoluto da aceleração, conformeapresenta a Figura 6, corrigidos pelos factores cita-dos no Quadro 1 e normalizados por 9,81 m/s2 (ace-leração da gravidade – g).

Figura 6. Representação gráfica dos valores de impacto nos eixos x, y e z

Para as análises dos tempos de duração do impacto,os valores em cada eixo (x,y,z) foram obtidos com oseguinte critério: obtenção do tempo inicial e dotempo final de cada curva (Figura 7). O valor deduração do impacto, em cada componente (x, y ouz), resulta da subtracção entre o tempo final e otempo inicial (tF – tI = ti).Os dados foram processados usando a estatísticadescritiva em termos de média, desvio padrão e coe-ficiente de variação, assim como a análise de variân-cia (ANOVA) com p!0,05.

Figura 7. Representação gráfica do critério utilizado para retirar das curvas ofactor tempo inicial e tempo final

A partir do atendimento das exigências internacio-nais de experimentação com humanos (Declaraçãode Helsínquia de 1975), e legais conforme o que dis-põem as Resoluções 196 e 251, de 07/08/97 doConselho Nacional da Saúde (Brasil), no que concer-ne ao Comitê de Ética da Universidade Federal deSanta Catarina (processo 055/2000 em06/09/2000), os dados foram colectados após osatletas assinarem um termo de consentimento infor-mado.

RESULTADOSOs resultados obtidos referentes às magnitudes dasacelerações e tempo de duração dos impactos dostrês segmentos corporais (punho, quadril e tornoze-lo) nos sete diferentes tipos de tatames, estão conti-dos nos Quadros 2, 3, 4, 5, 6 e 7 a seguir.

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Quadro 2. Va lores das mag n itudes de impacto no PUNHO nos di ferentes tata mes (ei xos x, y e z). Onde: é a média, s é o desv io padrão e CV é o co ef iciente de va r iaç ã o

Variáveis Tatames/Aceleração

Eixos A B C D E F G Média

x X (g) 170,35 202,00 218,27 130,39 155,29 150,16 156,30 168,97s (g) 33,49 33,84 39,65 27,14 24,94 31,81 28,70 31,37CV (%) 19,66 16,75 18,17 20,82 16,06 21,19 18,36 18,71

y X (g) 63,00 67,97 61,48 39,52 58,73 39,99 64,91 56,51s (g) 12,02 10,47 12,00 9,70 12,89 12,42 18,97 12,64CV(%) 19,08 15,40 19,53 24,55 21,96 31,05 29,22 22,97

z X (g) 221,69 230,87 300,94 270,74 301,11 231,51 267,05 260,56s (g) 22,44 16,31 24,13 19,01 25,80 23,52 30,13 23,05CV(%) 10,12 7,06 8,02 7,02 8,57 10,16 11,28 8,89

Quadro 3. Valores do tempo de duração de impacto no PUNHO nos diferentes tatames (eixos x, y e z). Simbologia equivalente à do quadro 2.

Variáveis Tatames/Tempo de duração do Impacto

Eixos A B C D E F G Média

x X (s) 0,0087 0,0079 0,0060 0,0076 0,0049 0,0086 0,0059 0,0071s (s) 0,0009 0,0006 0,0011 0,0012 0,0010 0,0011 0,0006 0,0009CV (%) 10,30 7,08 18,09 15,44 20,32 13,30 9,33 13,41

y X (s) 0,0095 0,0079 0,0048 0,0059 0,0043 0,0086 0,0073 0,0069s (s) 0,0011 0,0012 0,0007 0,0007 0,0012 0,0015 0,0016 0,0012CV (%) 11,85 15,63 15,01 12,73 27,40 16,98 21,80 17,34

z X (s) 0,0117 0,0122 0,0085 0,0057 0,0055 0,0091 0,0079 0,0087s (s) 0,0018 0,0015 0,0012 0,0005 0,0007 0,0015 0,0008 0,0011CV (%) 15,35 12,35 13,55 8,99 12,80 16,67 9,82 12,79

Quadro 4. Valores das magnitudes de impacto no QUADRIL nos diferentes tatames (eixos x, y e z). Simbologia equivalente à do quadro 2.

Variáveis Tatames/Aceleração

Eixos A B C D E F G Média

x X (g) 13,41 11,19 14,17 15,26 17,17 18,30 18,79 15,47s (g) 1,60 1,53 1,85 2,23 2,05 2,10 2,63 2,00CV (%) 11,97 13,69 13,02 14,61 11,92 11,45 14,00 12,95

y X (g) 12,89 5,96 6,64 9,03 8,81 8,83 10,32 8,93s (g) 4,19 1,34 0,93 2,08 1,25 2,16 2,64 2,08CV (%) 32,49 22,49 13,95 23,00 14,18 24,41 25,53 22,29

z X (g) 12,88 6,65 9,50 17,63 8,00 13,84 16,06 12,08s (g) 1,37 0,70 0,66 1,81 1,05 2,02 1,75 1,34CV (%) 10,65 10,52 6,98 10,30 13,13 14,60 10,86 11,00

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Quadro 5. Valores do tempo de duração de impacto no QUADRIL nos diferentes tatames (eixos x, y e z). Simbologia equivalente à do quadro 2.

Variáveis Tatames/Tempo de duração do Impacto

Eixos A B C D E F G Média

x X (s) 0,0254 0,0132 0,0148 0,0198 0,0074 0,0189 0,0170 0,0167s (s) 0,0031 0,0032 0,0030 0,0040 0,0013 0,0037 0,0027 0,0030CV (%) 12,02 24,10 20,63 19,98 17,80 19,46 15,95 18,56

y X (s) 0,0231 0,0247 0,0167 0,0229 0,0095 0,0286 0,0196 0,0207s (s) 0,0044 0,0041 0,0024 0,0027 0,0025 0,0039 0,0050 0,0036CV (%) 18,91 16,78 14,66 11,75 25,88 13,52 25,60 18,16

z X (s) 0,0235 0,0150 0,0177 0,0222 0,0064 0,0220 0,0128 0,0171s (s) 0,0046 0,0029 0,0022 0,0024 0,0018 0,0038 0,0025 0,0029CV (%) 19,54 19,24 12,29 10,99 27,83 17,33 19,40 18,09

Quadro 6. Valores das magnitudes de impacto no TORNOZELO nos diferentes tatames (eixos x, y e z). Simbologia equivalente à do quadro 2.

Variáveis Tatames/Aceleração Eixos A B C D E F G Média

x X (g) 108,99 111,04 56,77 101,15 118,87 111,30 114,90 103,29s (g) 11,19 6,82 7,91 18,68 5,45 10,96 8,03 9,86CV (%) 10,27 6,14 13,94 18,47 4,58 9,85 6,99 10,03

y X (g) 94,03 69,93 82,72 48,37 61,21 42,14 60,51 65,56s (g) 7,05 11,94 15,61 6,82 9,61 6,72 5,87 9,09CV (%) 7,50 17,07 18,87 14,11 15,71 15,94 9,70 14,13

z X (g) 371,37 297,12 349,94 296,01 304,56 159,01 211,11 284,16s (g) 47,48 28,84 26,90 46,40 32,83 25,51 34,22 34,60CV (%) 12,79 9,71 7,69 15,68 10,78 16,05 16,21 12,70

Quadro 7.Valores do tempo de duração do impacto no TORNOZELO nos diferentes tatames (eixos x, y e z). Simbologia equivalente à do quadro 2.

Variáveis Tatames/Tempo de duração do Impacto

Eixos A B C D E F G Média

x X (s) 0,0084 0,0115 0,0046 0,0098 0,0077 0,0195 0,0172 0,0112s (s) 0,0014 0,0022 0,0013 0,0020 0,0011 0,0031 0,0029 0,0020CV (%) 17,16 18,85 29,26 20,07 13,88 16,11 16,67 18,86

y X (s) 0,0075 0,0086 0,0059 0,0079 0,0056 0,0228 0,0198 0,0111s (s) 0,0011 0,0011 0,0008 0,0025 0,0009 0,0032 0,0056 0,0022CV (%) 14,62 12,34 13,41 31,68 16,36 14,24 28,13 18,68

z X (s) 0,0075 0,0087 0,0060 0,0136 0,0061 0,0224 0,0216 0,0123s (s) 0,0009 0,0015 0,0010 0,0028 0,0008 0,0024 0,0027 0,0017CV (%) 11,45 17,46 16,08 20,34 13,48 10,70 12,35 14,55

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Com relação à comparação das acelerações nos dife-rentes pontos corporais entre os tatames, nos trêseixos, os resultados são apresentados nos Quadros8, 9 e 10.

Quadro 8. Comparação dos valores de impactos do segmento corporalPUNHO (eixos x, y e z) entre diferentes tatames.

EIXO FONTE DE Gl QUADRADOS F PVARIAÇÃO MÉDIOS

X entre grupos 6 9522,98 9,48 0,00*dentro grupo 63 1004,79

y entre grupos 6 1391,61 8,31 0,00*dentro grupo 63 167,51

Z entre grupos 6 11094,24 20,23 0,00*dentro grupo 63 548,54

* estatisticamente significativo

Quadro 9. Comparação dos valores de impacto no segmento corporal QUADRIL (eixos x, y e z) entre diferentes tatames.

EIXO FONTE DE Gl QUADRADOS F PVARIAÇÃO MÉDIOS

X entre grupos 6 77,06 18,73 0,00*dentro grupo 63 4,11

y entre grupos 6 52,79 9,82 0,00*dentro grupo 63 5,38

Z entre grupos 6 171,90 83,94 0,00*dentro grupo 63 2,05

* estatisticamente significativo

Quadro 10. Comparação dos valores de impacto no segmento corporal TORNOZELO (eixos x, y e z) entre diferentes tatames.

EIXO FONTE DE Gl QUADRADOS F PVARIAÇÃO MÉDIOS

X entre grupos 6 4504,272 39,53 0,00*dentro grupo 63 113,9534

y entre grupos 6 3354,736 35,87 0,00*dentro grupo 63 93,51304

Z entre grupos 6 56092,85 44,30 0,00*dentro grupo 63 1266,163

* estatisticamente significativo

DISCUSSÃODe acordo com os dados contidos no Quadro 2,constata-se que no punho, os maiores valores deaceleração ocorrem nos tatames “E” (301,11 g) e“C” (300,94 g), ambos no eixo z, e os menores nostatames “F” (39,99 g) e “D” (39,52 g) ambos noeixo y. De maneira geral, os valores mais altos ocor-reram no eixo z, (X = 260,56 g), os intermediáriosno eixo x (X = 168,97 g) e os menores no eixo y (X= 56,61 g). Quanto ao tempo de duração do impacto(Quadro 3), verifica-se que os menores valoresmédios foram obtidos no punho, no tatame “E”, nostrês eixos (x, y e z), enquanto que as maiores médiasocorreram no tatame “A”, também nos três eixos.Quanto aos valores de aceleração do quadril, combase no Quadro 4, verifica-se que os valores maisaltos de aceleração foram obtidos nos tatames “G”(18,79 g) e “F” (18,30 g), no eixo x. De uma manei-ra geral, foi no quadril que ocorreram os menoresvalores de aceleração em todos os eixos, sendo omenor valor médio de 5,96 g no eixo y, tatame “B”, eo maior de 18,79 g no eixo x, tatame “G”. Com refe-rência ao tempo de duração de impacto (Quadro 5),os menores tempos, nos três eixos, foram obtidosnos tatames “E” e, os maiores no tatame “A” para oseixos x e z, e no tatame “F” para o eixo y. De formageral o tatame “E” foi aquele que apresentou menortempo de impacto e o tatame “A” o maior.Analisando os resultados contidos no Quadro 6, veri-fica-se que para o tornozelo, o valor de aceleraçãomaior foi obtido no eixo z, no tatame “A” (371,37 g) .Enquanto que a menor aceleração foi registada noeixo y, tatame “F” (42,14 g). Quanto ao tempo deduração do impacto, pode-se verificar que as menoresmédias foram de: 0,0046 s no tatame “C” (eixo x) ;0,0056 s no tatame “E” (eixo y); 0,0060 s no tatame“C” (eixo z). Já os maiores tempos de impacto foramno tatame “F”, em todos os eixos.Muito embora não se tenha encontrado na literaturapesquisada estudos que possam ser comparados comestes dados, parece que existe uma relação entretempo de impacto e espessura do material, uma vezque os materiais utilizados para esportes com gran-des impactos têm que ser mais espessos, como ocaso dos colchões utilizados para o salto com vara,dado que os saltadores caem de grandes alturas ecolidem a altas velocidades(12). Deste modo, o tempo

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de duração do impacto é aumentado para reduzir asforças de impacto médio a níveis mais seguros.Assim, acredita-se que os tatames que apresentammaior tempo de impacto são mais apropriados para arealização dos “ukemis” no Judô.Utilizando-se como parâmetro o critério de tolerân-cia à aceleração do corpo inteiro no sentido postero-anterior de Macaulay(11), o qual afirma que há umatendência global de que quanto menores as duraçõesdos eventos maiores acelerações o organismo supor-ta, pode-se afirmar que os valores de tempo de dura-ção de impacto obtidos nos três segmentos corporaisavaliados podem ser considerados de curta duração.Por outro lado, os valores das acelerações recebidospelos judocas, principalmente nos segmentos corpo-rais punho e tornozelo ultrapassam os limites consi-derados seguros (dependendo do tempo de duraçãopodem chegar a 100 g), estando por vezes as acelera-ções recebidas pelos judocas acima de 200 g, valoresconsiderados geradores de severas lesões.Mesmo que o critério de Macaulay( 1 1 ) não apresente otempo total diário de exposição permitido, como citamas Normas ISO 5349 (1986) e ISO 2631(1985), quetrazem o tempo de tolerância limite para as ex p o s i ç õ e sem diferentes frequências e acelerações para mãos ebraços e corpo todo, respectivamente, não se podemutilizar estas normas, dado que o fenómeno estudadoneste trabalho consiste de impactos causando vibra-ções transitórias e não periódicas.Ademais, torna-se difícil afirmar qual o número deimpactos que seriam necessários para que causassemlesões em um judoca, pois, por um lado, os “ukemis”(22), são destinados a minorar os efeitos da queda, epor outro lado, encontrou-se apenas um estudo quecita números de “ukemis” por treino(17), mesmoassim para um grupo heterogéneo de judocas e nãopara atletas de alto nível.Além da técnica de amortecimento de quedas, aestrutura do corpo humano tem excelentes proprie-dades para resistir aos impactos, tanto em termos dearticulações e músculos, como com os ossos, sendoque principalmente o osso tem a capacidade de auto-reparo(21). Deste modo, para que se possa fazer qual-quer inferência sobre a capacidade de autoreparo dosbiomateriais, deve ser considerado além do númerode repetições das quedas, o intervalo entre as repeti-ções e entre as sessões.

Outro factor que também deve ser levado em consi-deração é a qualidade da técnica do executante,tanto aquele que projecta (“tori”) como aquele que éprojectado (“uke”), pois há estudos que detectaramque o maior número de lesões em competições ocor-reram em judocas iniciantes advindos da deficiênciatécnica(9,10). Outro estudo(20), realizado em judocascatarinenses por um período de 12 meses, identifi-cou que as causas de lesões em treinamentos de22/42 judocas, foi a não realização dos “ukemis” deforma correcta. Em relação aos sintomas posteriores à prática, emuma investigação diagnóstica (17), foi detectado quemais de um terço (24/86) dos judocas que participa-ram do estudo, sentem dores no tronco, mais especi-ficamente na região lombar (rins) no dia posterior aum treino com maior número de repetições de “uke-mis”, do que aqueles executados em média por trei-no (73,60±42,34 vezes). No que concerne ao objectivo de comparar as acele-rações nos diferentes pontos corporais entre os tata-mes nos três eixos, quanto aos resultados obtidos nopunho (Tabela 1) verifica-se que, pelo menos em umdos tatames, os valores de aceleração foram diferen-tes dos demais nos eixos x, y e z. Com a aplicação deum teste “post hoc” (Tukey) a p ! 0,05, detectou-seque: no eixo x o tatame “C” apresentou a maiormédia dos valores de aceleração e o tatame “D” amenor; não houve diferenças significativas entre asmédias dos valores de aceleração do tatame “A” com“B”, “D”, “E”, “F” e “G”; “B” com “C”; “D” com“E”, “F” e “G”; “E” com “F” e “G”, e “F” com “G”;e, em ordem crescente dos valores de aceleração, ostatames podem ser classificados no eixo x: “D”, “F”,“E”, “G”, “A”, “B”, “C”. No eixo y, o tatame “B”apresentou o maior valor de aceleração, semelhanteaos valores de impacto dos tatames “E”, “C”, “A” e“G” que, por sua vez, foram semelhantes entre si; eo tatame “D” o menor valor, equivalente ao do tata-me “F”. Independentemente das diferenças significa-tivas, os tatames foram classificados em ordem cres-cente de valores médios de impacto, para o segmen-to corporal punho, no eixo z, em: “A”; “B”; “F”; “G”;“D”; “C”; e “E”.Com relação ao quadril, analisando os resultados dascomparações (Tabela 2) constata-se que nos trêseixos, pelo menos um tatame apresentou valores de

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impacto diferentes dos demais. Após o “post-hoc”(Tukey) para cada eixo, detectou-se que: para o eixo xo tatame “G” foi o que apresentou maior valor deaceleração, porém, não diferiu estatisticamente de“F” e “E”; o tatame “B” exibiu o menor valor, masnão diferente do tatame “A” que, por sua vez, foisemelhante aos valores dos tatames “C” e “D”; ostatames “C”, “D” e “E” apresentaram valores de ace-leração intermediários, porém, diferentes entre si emordem crescente. Independentemente dos níveis designificância, em ordem crescente, os tatames foramclassificados em termos de aceleração no quadril,eixo x em: “B”; “A”; “C”; “D”; “E”; “F”; e “G”. Parao eixo y o tatame “A” apresentou o maior valor deaceleração, porém, semelhante ao tatame “G”; otatame “B” foi o menor, mas não diferente dos tata-mes “C”, “D”, “E” e “F”; retirando-se os extremos(“B” e “A”), os demais tatames exibiram valores deimpacto semelhantes. Independentemente das dife-renças significativas, os tatames foram classificadosem ordem crescente de valores de aceleração para oquadril, no eixo y, em: “B”; “C”; “E”; “F”; “D”; “G”;e “A”. Para o eixo z o tatame “D” apresentou o maiorvalor de aceleração, contudo semelhante ao tatame“G”; o “B” o menor valor, porém, semelhante aotatame “E”. Em ordem crescente os valores médiosde aceleração, para o quadril eixo z, os tatames apre-sentam a seguinte classificação: “B”; “E”; “C”; “A”;“F”; “G”; e “D”.Quanto ao tornozelo, observando o resultado daanálise ANOVA na Tabela 3, pode-se afirmar que,em pelo menos um dos tatames, houve diferençasignificativa em todos os eixos (x, y e z), e com aaplicação do “post-hoc” (Tukey) para cada eixo, veri-ficou-se que no eixo x, o tatame “C” apresentou omenor valor, o “E” o maior valor de aceleração,porém, semelhante aos tatames “A”, “B”, “F” e “G”.Em ordem crescente ficaram classificados em: “C”;“D”; “A”; “B”; “F”; “G”; e “E”. Quanto ao eixo y, otatame “A” apresentou o maior valor de aceleração eo “F” o menor; não houve diferença significativaentre os tatames “A” com “C”; “B” com “C”, “E” e“G”; “D” com “E”, “F” e “G”, e “E” com “G”; emordem crescente, independentemente de diferençassignificativas, ficaram classificados em: “F”; “D”;“G”; “E”; “B”; “C”; e “A”. Com relação ao eixo z, otatame “A” apresentou o maior valor de aceleração e o “F” o menor; não houve diferença entre: os tata-

mes “A” com “C”; “E” com “B”, “C” e “D”. Emordem crescente, independentemente das diferençasserem significativas, os tatames ficaram classificadosem: “F”; “G”; “D”; “B”; “E”; “C”; e “A”. Para o tornozelo, os valores mais altos foram encontra-dos nos tatames “A” (eixos y e z) e “E” (eixo x), e osmais baixos nos tatames “C” (eixo x) e “F” (eixos y e z) .Com base nas comparações anteriores, pode-se sin-tetizar que nos eixos x, y e z, respectivamente, osvalores mais altos para o punho foram obtidos nostatames “C”, “B” e “E”, para o quadril foram os tata-mes “G”, “A” e “D” e, para o tornozelo, os tatames“E”, “A” e “A”.Vale ressaltar que os valores das magnitudes deimpactos foram apresentados e discutidos apenaspor eixo, não apresentando a resultante das forçasde aceleração, tendo em vista que o fenómeno estu-dado apresenta tempos diferenciados em cada eixo.Este fato pode ser justificado em virtude do movi-mento proporcionado entre o acelerómetro e os teci-dos moles (pele) do judoca.Muito embora não se tenham encontrado referênciasbibliográficas para comparar os resultados obtidos,tendo em vista a metodologia adoptada na qual judo-cas realizam “ukemi” em diferentes tatames, encon-trou-se um estudo(13) onde foi analisado o coeficien-te de restituição e as acelerações em diferentes tiposde tatames, por meio de ensaio mecânico. Este estu-do apontou que tatames que apresentaram maioresvalores de coeficientes de restituição também apre-sentaram menores valores de impacto, ou seja,enquanto o impacto apresenta uma relação maisforte com a deformação (maciez) o coeficiente derestituição tem uma relação com a capacidade deresiliência. Este fato contribuiu para se deduzir queos resultados deste estudo ratificam as colocações deMcGinnis(12), quando ele relata que pode existir umarelação entre tempo de impacto e espessura domaterial. Portanto, mesmo sendo altos os valores deaceleração obtidos, dentro dos diferentes tipos detatames estudados, os mais espessos apresentarammenores valores de aceleração.

CONCLUSÕESCom base nos resultados obtidos, no referencial teó-rico e respeitando as limitações do estudo, conclui-se que:

Saray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto M. Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis

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a) os valores de aceleração, nos diferentes pontosdo corpo do judoca, registados por acelerómetro,foram altos, principalmente no punho e no torno-zelo, no eixo z (vertical). Por outro lado, o segmen-to quadril foi o que apresentou os menores valoresde aceleração;b) tanto os maiores valores de aceleração como adirecção destes, serviram para ratificar a importânciado “ukemi” na amenização dos efeitos dos impactos,haja em vista que a área de maior massa e conse-quentemente com maior número de órgãos internos,apresentou menores acelerações;c) quanto maior o tempo de contacto do segmentocorporal com o material, menor foi o valor da acele-ração, sendo os tatames “A”, “B” e “F” os que maisapresentaram tais características, sendo também osmais espessos dos tatames em estudo.Face aos altos valores de aceleração obtidos, vale res-saltar a necessidade de tatames com propriedadesvisco-elásticas mais apropriadas para as característi-cas dessa modalidade, visando a integridade física dojudoca, a curto, a médio e a longo prazo.

CORRESPONDÊNCIASaray Giovana dos SantosUniversidade Federal de Santa CatarinaLaboratório de Biomecânica, CDSCampus Universitário da Trindade, Florianópolis,Santa Catarina, BrasilCEP: 88040-900 Telefone: (+48) 3331-8530e-mail: [email protected]

Impacto em jodocas nas técnicas de ukemi

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Saray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto M. Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis

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Effects of different handle techniques during the back pull exercise on the angular kinematic and production of strength

Luciano P. da Silva1

Juliano Dal Pupo2

Josiele V. Alves2

Carlos B. Mota2

1 Federal University of Santa CatarinaBrasil

2 Federal University of Santa MariaBrasil

ABSTRACTThe present investigation aims to verify the kinematic pattern of move-ment in the back pull exercise through the evaluation of the articularangle of the joint of the elbow and shoulder between two different han-dle techniques in the bar: open and closed, considering the spans of theindividuals. Furthermore, the possible interference about these differenttechniques on the maximal dynamic strength (MDS) and the locatedmuscular resistance were related. The bidimensional videography with acamera operating at the frequency of 60Hz was used to capture imageswhich were later analyzed and processed by the Peak Motus System.Twenty six (26) young individuals of both sexes took part in the kine-matic analysis of the movement, 11 male individuals for the determina-tion of the maximum dynamic strength and 10 also male for the deter-mination of the located muscular resistance. The indicates significantangular discrepancies among the distinct handle techniques for eachinvolved joint (elbow and shoulder). The closed handle technique haspresented a largest flexion angle at the end of the movement for theelbow joint, witch implicate a higher acting of the flexor muscles onthat joint. The results have also showed that the size of the span exertsinfluence on the articular movement as long as the bar remains withthe same length for all individuals. For the maximal dynamic strengththe individuals have achieved a better result on the through the closedhandle technique unlike the behavior of the strength of located muscu-lar resistance where the individuals have achieved a better resultthrough the open handle.

Ke y-Words: resisted exercises with weight, kinematic, back pull ex e r c i s e

RESUMOAnálise cinemática de duas técnicas de “pegada” no exercício puxada alta

A presente investigação objectivou investigar, no exercício compesos denominado “puxada alta”, os ângulos articulares doombro e cotovelo em duas diferentes técnicas de pegada: abertae fechada, considerando a envergadura dos indivíduos e aindaverificar a interferência desta técnicas na força máxima e forçamuscular localizada. Para análise cinemática utilizou-se video-grafia bidimensional e um teste de 1RM e RMs para determinara força máxima e de resistência, respectivamente. Participaramdeste estudo 26 indivíduos de ambos os sexos para realizar aanálise cinemática, 11 indivíduos do sexo masculino paradeterminação da força máxima e 10 para a força de resistênciamuscular localizada. Os resultados mostraram que na técnicade pegada fechada houve maior flexão do cotovelo no final domovimento, implicando maior acção dos músculos flexoresdesta articulação. O tamanho da envergadura também influen-ciou nos ângulos articulares, mostrando que os indivíduos demaior envergadura tendem a flexionar mais o cotovelo no fimdo movimento. Em relação à força máxima, os indivíduos tive-ram melhor desempenho na técnica de pegada fechada,enquanto que na força de resistência muscular o melhordesempenho foi na pegada aberta. Conclui-se que as variaçõesnas técnicas de execução podem ser um factor interveniente notreinamento resistido com pesos.

Palavras-chave: biomecânica, cinemática, exercícios com pesos

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INTRODUCTIONResisted exercises with weights (REW) have beenattracting a large number of practitioners in order toavoid diseases, health promotion, aesthetic, competi-tive reasons and for leisure only (8). The popularityof this practice has increased mainly, due to the factthat several researches had demonstrated the benefitfrom this activity. That activity makes use of externaloverloads in order to offer resistance to the musclemaking them able to be applied in several waysamong which stand out the free loads or the specificmachines.It is essential to know the biomechanical and kinesi-ologic bases in order to allow a perfect accomplish-ment of the movements in REW. A better knowledgeabout these areas will permit a critical evaluation ofthe applied techniques and, thus, carry out a betterprescription of the exercises, besides, correcting pos-tures and preventing lesions (14). Kinesiology is anarea which provides a deep understanding about thehuman movement. The kinesiologic analysis allowsto know the acting muscles in certain movements,as well as distinguishing the agonists, the antago-nists and the synergists of the movement (12).Kinesiologic analysis intends to determine the char-acteristic muscular activity during the specific phas-es of the acting and the movements of the joints.One of the methods applied on this analysis is theuse of kinematics joined to videography. The digitali-zation of these recorded images allows the dataobtaining which provides subsidies for a full andobjective description of the movement (8, 22, 11).The human body movements work through a bio-crowbars system which is established according tophysical principles (2,4). The angular variations or thewidth degree adopted in certain exercises can exertinfluence on the training in REW regarding the mus-cular action and also the strength production (15).The shoulder adduction on the vertical pullerreferred as “back pull with high pulley” (6) is one ofthe more frequently applied exercises inside theREW room. Thus, we can observe the importance ofbiomechanics/kinesiologic analysis for the efficiencyand safety of this exercise. According to the litera-ture (18) this exercise intends to develop the latis-simus dorsi muscle but not involving the wholefibers of this muscle, emphasizing that the variation

of the “handle” techniques (the way of holding thebar) would be an option for the strengthening of acertain muscular group as a whole.The extant theoretical references about REW oftenprovide contradictory information with insufficientscientific bases. Frequently, the literature showssimple introductions without wider and deeperexplanations. The variations on the execution technique due to theadoption of different joint angles can exert influenceon the training in REW (19, 7). Thus, taking in toaccount that the movement width is an importantintensity variable (1, 3, 5, 23, 24), the purpose of thisstudy has been to determining the kinematic patternof the movement developed during the concentricphase of the back pull exercise, when it is accom-plished behind the head, verifying if there is anyangular difference in the joint (shoulder and elbow)involved with the open and closed “handle” tech-niques relating with the individuals’ span. Besides,we have observed the behavior of the maximumdynamic strength and the located muscular resistancestrength in relation to the different types of handle.

MATERIALS AND METHODSThe present research has been developed in twostages, in order to attend to the proposed objectives.The first one was the determination of a movementpattern for the analyzed exercise. The second wasthe accomplishment of a maximum dynamicstrength protocol (1RM test) (16) and located muscu-lar resistance strength protocol (RMs test) (11).Aiming to determine the angles of the joints of theshoulder and of the elbow during the accomplish-ment of the exercise, took part voluntarily in thatresearch 26 individuals of both sexes (5 females and21 males) already introduced in the REW with aver-age age 22 ± 4,42 years. The trained/not trained fac-tor has been unconsidered for not being an interven-ing variable. For the application of the oneMaximum Repetition Test (1RM), were selected 11male with average age 24,3 ± 5,2 years and forapplication of the Maximum Repetitions test (RMs),were selected 10 male individuals with average age22,64 ± 3,64 years, being both groups consideredtrained and with at least one year of continued prac-tice in REW.

Luciano P. da Silva, Juliano Dal Pupo, Josiele V. Alves, Carlos B. Mota

Rev Port Cien Desp 7(2) 167–173 169

Each individual was invited to take part in theresearch with a previously established schedule andthey were asked to wear training clothes with menwearing no shirts and women wearing tops allowing,thus, the specific demarcations in the establishedareas to be done.During the first stage, an angular pattern of move-ment for the joint of the shoulder and elbow wasdetermined along the concentric phase (determinedas a complete cycle) of the “Back pull exercise withhigh pulley” (6) by using two different “handle” tech-niques denominated opened and closed (figure1).The images captured in this stage have been madethrough the bidimensional videography with a cam-era operating in the frequency of images acquisitionof 60Hz. The position angle of the camera was per-pendicular to the front plan (posterior view) inwhich the movement took place. From these images,a process of reconstruction of the movement wasmade through the digitalization of the referringanatomical references. The variables have been ana-lyzed through the Peak Motus system (PeakPerformance Inc 5.0, USA). The calibration has beenmade starting from an aluminum scale with twodemarcations of one meter between them.After the explanations about the procedures, theindividual’s span was verified by using measuringribbon with 1mm of resolution, according por-tuguese protocol (9). Subsequently, external reflexivemarkers were fixed in the following anatomical ref-erences: medial point between the styloid process ofthe radio and of the ulna, right and left, lateralcondile of the right and left humerus, right and leftacromial process, 7th cervical vertebra, vertebralocated in the medial line between the lower anglesof the scapulas and right and left iliac crests.The figure 1 shows the reflexive marks on theanatomical references, the delimiting point of theend of the movement besides the location of the“handles” for the two techniques. The elbow jointangle was defined between the markers of styloidprocess of the radio and of the ulna and the shoul-der joint angle was defined between the markers oflateral epicondile of elbow, acromial process andiliac crests.

Figure 1. Illustration of the back pull exercise

Firstly, each individual has accomplished 30 com-plete back pull movements with an inferior load inrelation to the usual training load in order to estab-lish that as a slight load (23) starting from this num-ber of repetitions. If the individual has been making30 repetitions, this same load was used for recordthe movement. In case the individuals did not tocarry 30 repetitions, the procedure with a lesser loadwas repeated. Soon after a small recovery interval,the individual has accomplished five complete backpull movements with a wider “handle” in theextremities of the bar, here referred as open “han-dle”. After such repetitions were made without anyinterval the “handle” type was changed. Now theindividual had to hold the bar more internally(closed “handle”) for the accomplishment of morefive complete repetitions. It is worthwhile to emphasize that the end of theconsidered movement (6) (end of the concentricphase) has been predetermined through the markplaced in each individual’s higher nape line, beingthis point aligned with the inferior lobes of the earsin the Frankfurt’s plan (see figure 1).In the second stage of the research the protocol ofmaximum neuromuscular progressive effort, the testof one Maximum Repetition (1RM) and theMaximum Repetitions test (RMs) has been applied,for obtaining the Maximum Dynamic Strength (MDS)and located muscular resistance strength, respectively.In the RMs test, the execution speed was controlledby one metronome in the cadence of 60 bpm.

Kinematic analyses of the back pull exercise

Rev Port Cien Desp 7(2) 167–173170

In order to accomplish the movement of back pullthe chosen equipment was the High Pulley machineof the INBAF model with lowest load of 07 kg andthe maximum load of 96 kg. The bar used in thisequipment is the same that is usually seen in acade-mies (figure 1). An average has been made for every situation ofeach variable movement for all individuals. Thus,average data was obtained on the way as the move-ment has occurred in every moment. Soon after, aStudent “t” test has been applied to verify the ex i s-tence of an angular difference between the rightand the left upper limbs for the shoulder and elbowjoints. Once there has been no significant differ-ence we worked with the averages of the right andleft joint.The Shapiro-Wilk test showed that the dates present-ed normal distribution. The comparisons betweenthe joints angles of different “handles”, results ofthe 1RM and RMs tests were analyzed through theparametric paired “t” test. Aiming to analyze theinfluence of the spans related to different “handles”,an average was made for the span of the 26 individu-als and the value found was 1,80m. Thus, the groupbecame separated in two: higher than 1,80m andlower than 1,80m. Afterwards, an analysis has beenaccomplished through the paired t test in order toverify possible differences between groups regardingthe spans and the final and initial angles of move-ment in both techniques.

RESULTSAccording to the figure 2, referring to the movementpattern for the elbow, an initial medial angulation of150.46º was evidenced for the open “handle” tech-nique while 148.22º was the value of the angle forthe closed “handle” technique. We can notice that inthe beginning of the movement the angular values ofboth elbow techniques were similar with a variationof 2.24º (without statistic difference).However, the final pattern of the concentric phaseshows a difference of 24.4º between the two “han-dle” types. The final value found for the elbow jointduring the open “handle” was 83.55º, which is sig-nificantly larger (p<0.01) than those 59.21º foundin the closed “handle”.

Figure 2. Movement pattern for the elbow in both “handle” techniques during the concentric phase of the exercise

On the other hand, for the shoulder joint, as it maybe seen in figure 3, the movement pattern of theopen “handle” exercise began with an angulation of119.4º, unlike the closed “handle” which began witha value of 128.9º. An angular variation of 9.5º,which statistically differs to p<0.01, can be observedfor the shoulder joint in the beginning of the exer-cise.Nevertheless, the final pattern of this movement forthe shoulder joint during the concentric phase wasshown similar between the two adopted techniques(without statistic difference). For the open “handle”the value found was 42.64º, while in the closed“handle” was 43.82º occurring, thus, a variation ofonly 1.18°.

Figure 3. Movement pattern for the shoulder in both “handle” techniques during the concentric phase of the exercise

The values of the angular variables referring to thedifferent spans in the exercise are shown bellow inthe table 1.

Luciano P. da Silva, Juliano Dal Pupo, Josiele V. Alves, Carlos B. Mota

55

75

95

115

135

155

1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78 85 92 99% of cycle

An

gle

s (

°)

Open Handle Closed handle

40

60

80

100

120

140

1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78 85 92 99% of cycle

An

gle

s (

°)

Open Handle Closed Handle

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Table 1. Angulations of the shoulder along thedifferent spans in the beginning of the movement

Spans O.H. C.H.

<1.80 m (n=13) 117.62° ±3.14º 126.74° ±4.35º>1.80 m (n=13) 120.96°*±4.12º 131.28°** ±3.78º

*statistic difference between columns *p< 0,05 ; **p< 0,01O.S.( open handle); C.S.(closed handle)

The elbow angle joint was not presented in table 1because that in the beginning of the movement allindividuals had the elbows in complete extension,not suffering angular alterations related to the sizeof span.

Table 2. Angulations of the shoulder and elbowalong the different spans at the end of the movement

Spans O.H. C.H. O.H. C.H.Shoulder Elbow

<1,80m (n=13) 44,27° 43,82° 87,17° 63,43°± 9,67° ± 6,28° ± 6,63° ± 5,57°

>1,80m (n=13) 41,01° 43,81° 79,93°* 55,00°**± 2,74° ± 3,93° ± 8,11° ± 6,91°

*statistic difference between columns *p< 0,05 ; **p< 0,01O.H.( open Handle); C.H.(closed Handle)

In relation to the individuals’ spans, regarding thedifferent “handles”, we can observed that there wassignificant discrepancy between two groups (higherthan 1,80m and lower than 1.80m).Those ones withspan higher than 1.80m have presented an angula-tion of the elbow joint smaller at the end of themovement in relation to the ones lower than that.Thus, the elbow reaches a larger flexion during theconcentric phase of the exercise for those ones withspans higher than 1.80m. For the shoulder joint thisangular variation has occurred in the beginning ofthe movement (table 1), however, at the end of themovement that discrepancy didn’t occur (table 2). Tests of 1RM developed with different “handle”types in the back pull exercise have shown higherperformance results (p<0,001) by using the closed“handle” technique according to the table 3. On theother hand, regarding the RMs tests, the resultshave shown that the individuals accomplished a larg-er number of repetitions in the open “handle”(p<0,001).

Table 3. Values of 1RM and RMs from both “handle” techniques

Closed handle Open handle

1RM (n=11) 76 ±11.89 kg 70.7±11.44 kg *RMs (n=10) 23 ±2.16 RMs 26.7 ±2.21 RMs *

* p < 0,05 (level of significance)1RM: one maximum repetition

RMs: number of maximum repetitions at 60% of 1RM

The maximum strength has presented higher valuesin an average of 7.5% in the closed “handle” in rela-tion to the open one. It means about 5 kg heavier(or one plate of the equipment). On the other hand,the values of the located muscular resistancestrength were larger in an average of 13.8% for theopen “handle” technique.

DISCUSSIONStarting from the obtained results we can state thatduring the closed “handle” technique there has beenan angular displacement in the joint of the higherelbow in relation to the other analyzed technique.This larger width of movement allows us to inferthat has been occurred a larger work of the actingmuscles in this joint during the movement (flexorsof the elbow).In a physical analysis we can state that with thelargest movement arch traveled (angular distance),since the force (external resistance) is maintained,the largest will be the work developed once W = f xd. That verification exerts straight influence on theintensity of the exercise once that the movementwidth is one of the variables of training (24).Physiologically, the largest width of the muscularmovement in the exercise results in a larger crossedbridges recruitment of the antagonists muscles ofmovement as well as in a largest shortening of thesarcomeres allowing, thus, the development of thismusculature in its whole width (13).One factor that has influenced on this larger dis-placement during the closed “handle” is the verifica-tion that in the movement pattern for the open“handle” there is an instant when the elbow stopspresenting constant angular alteration or, in otherwords, still there is movement in the shoulder jointbut in the elbow joint occurs a stagnation of the dis-placement. From this moment on the muscles start

Kinematic analyses of the back pull exercise

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acting in an almost isometric way. That apparentisometry occurs in the last 15% of the cycle whenthe angulation stabilize near to the value of 85º (seefigures 2 and 3). In relation to the shoulder, the results have shown astatistically significant difference only for the begin-ning of the movement. That is due to the type of theadopted “handle”, once in the closed “handle” theshoulder starts from a more abducted position thanin the open one. Thus, the muscular action of theadductors muscles of the shoulder produce differen-tiated displacements in the segments with the varia-tion of the “handle”.In relation to the spans, regarding the different han-dles in the bar, we have verified, that according tothe tables 1 and 2, keeping the same bar and thesame handle places for all the individuals it wouldhappen different angular courses for the same ana-lyzed joint. In relation to the tests of maximum dynamicstrength (1RM) and Maximum Repetitions (RMs),the results suggest that the use of the different tech-niques can exert influence on the appropriate pre-scription in REW when that has been based onthese tests. The largest results obtained for theMDS, as it may be seen in the table 3, were alwaysobserved in the closed “handle” technique that wasexactly the one that presented a largest course of theagonists muscles of each joint. The resistancestrength (table 3) has presented an opposite behav-ior to the MDS, once the largest number of repeti-tions has been reached through the open “handle”.Regarding the shoulder joint there is a pre-stretch-ing of the adductor musculature which due to thelength-strain curve of the skeletal muscle (21) it willbe able to develop a better performance. On theother hand, for the elbow joint, that largest courseof the flexor musculature as it was already seendoesn’t necessarily implicate in a largest productionof strength for contributing in the exercise, once forthis muscular group the leverage factor overlaps thelength-strain curve where the musculature generatesa larger torque (articular useful strength) in themiddle of the movement or, in other words, 90° (21).Thus, the pre-stretching of the adductor muscula-ture of the shoulder seems to be the best explana-tion for the superior performance of the closed “han-

dle” technique in the test of maximum dynamicstrength. A similar phenomena has been alreadyshown for the horizontal adductors of the shoulder,prone-supinators of the forearm, and flexors andabductors/adductors of the hips (21). On the otherhand, in the located muscular resistance strengthtest, what seems best explain the performance onthe open “handle” technique is the possible fatigueof the flexor muscles of the elbow by being a smallmusculature tends to resist for less time to thework, disabling, thus, a largest performance in theexercise.

CONCLUSIONThe obtained results have allowed us to observe thatthe type of adopted “handle” exerts straight influ-ence on the exercise. The results generate analyzesallowing us to state that the articular angles whichsuffer these variations (elbow and shoulder) arelinked to the type of “handle”, the size of the bar aswell as to the spans of the individual . In this way, ifthe individual’s span increases it generates, in thejoint angles, the same result that if the size of thebar was reduced or if the “handle” was more closed.We have observed that the individuals with thelargest spans present a larger flexion their elbows atthe end of the concentric phase in relation to theones with smaller span. Besides, they start from amore prolonged position of the shoulder adductorsconcluding, thus, that the flexors muscles of theelbow work harder and that the shoulder adductorsmuscles have a larger useful force. It was verified that in the application of the closed“handle” technique there was more efficient for towork the flexor muscles of the elbow. Besides modi-fying the muscular action, still in this technique,there have been higher performance results in the1RM test showing, thus, that is possible to achieve alarger performance through the closed “handle”when the maximum dynamic strength is the analyzedstrength. However, when the located muscular resist-ance strength is analyzed, the best performance isreached through the open “handle” because theaction of the elbow flexors muscles is smaller in thiscase, once that the precocious muscular fatigue ofthese muscles is a limiting factor on the performanceof the shoulder adductors muscles in the exercise.

Luciano P. da Silva, Juliano Dal Pupo, Josiele V. Alves, Carlos B. Mota

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Considering and in according the literature, theapplication of different REW execution techniquesor the change of implements and machines in orderto modify the articular angles must be carefully ana-lyzed and applied in the daily occupation.

CORRESPONDENCEJosiele Vanessa AlvesUniverstity of Santa Catarina State – UDESCPhysical Education, Fisioterapy and Sports -CEFIDLaboratory of BiomechanicsStreet: Pascoal Simone, 358 – Coqueiros, ZIPCODE:88080-350Florianópolis – SC - Brazile-mail: [email protected]

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Kinematic analyses of the back pull exercise

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Características dinâmicas de movimentos seleccionados do basquetebol

Fernanda M. AcquestaGermano M. PeneireiroRoberto BiancoAlberto C. Amadio Júlio C. Serrão

Laboratório de BiomecânicaEscola de Educação Física e EsporteUniversidade de São Paulo

RESUMOO objectivo do estudo se pautou em determinar as característi-cas de parâmetros das forças de reacção do solo (FRS) emmovimentos típicos do basquetebol executados por jogadoresprofissionais. Também se objectivou determinar correlaçõesentre o desempenho nos saltos e sua carga mecânica durante asaterrissagens. Oito atletas realizaram cinco tentativas em seismovimentos: arremesso em suspensão (jump), salto com con-tramovimento (jump & reach), bandeja, rebote e corrida combola rápida (v=6m/s) e lenta (v=4m/s). Os parâmetros dinâ-micos da FRS foram colectados através de uma plataforma deforça (KISTLER AG 9287). Os resultados do primeiro pico daforça vertical na aterrissagem, do tempo para o para o pico e doimpulso foram: no jump 4,54 ± 1,10 PC, 0,08 ± 0,01s, 0,13 ±0,04 PC.s; no rebote 5,39 ± 1,26 PC, 0,07 ± 0,01s, 0,18 ±0,04 PC.s; e na bandeja 7,27 ± 2,71 PC, 0,08 ± 0,13 s, 0,24 ±0,04 PC.s. Os resultados evidenciam que o aparelho locomotoré submetido a uma carga mecânica relativamente alta duranteos movimentos. As baixas correlações entre o desempenho dosalto e o primeiro pico da força vertical na aterrissagem (0,44no jump; 0.22 no rebote; e 0.34 na bandeja) sugerem que odesempenho do salto não tem influência determinante na cargagerada.

Palavras-chave: biomecânica, basquetebol, força de reacção dosolo, carga, desempenho

ABSTRACTDynamical characteristics of basketball specific movements

The purpose of this study was to evaluate dynamical parameters of theground reaction force (GRF) in specific basketball movements per-formed by Brazilian professional players. It was also aimed to deter-mine correlations between jump performance and its impact shock dur-ing landings. Eight athletes performed 5 trials in each movement: jumpshot, jump and reach, layup, rebound and dribble at two differentspeeds (control: v=4m/s and speed: v=6m/s). Dynamical parametersof GRF were sampled by a force platform (KISTLER AG 9287).Results of the first peak of vertical force in landing, peak rise time andimpulse were, respectively: in jump shot 4.54 ± 1.10 BW, 0.08 ±0.01s, and 0.13 ± 0.04 BW.s; in rebound 5.39 ± 1.26 BW, 0.07 ±0.01s, and 0.18 ± 0.04 BW.s; and in layup 7.27 ± 2.71 BW, 0.08± 0.13 s, and 0.24 ± 0.04 BW.s. These results showed that the play-er´s body is submitted to a relatively high impact shock during basket-ball movements. The low correlations between jump high and the firstpeak of vertical force (r=0.44 in jump shot, r=0.22 in rebound, andr=0.34 in layup) demonstrated that jump performance did not have arelevant influence on impact shock during landings.

Key-words: biomechanics, basketball, ground reaction force, load, performance.

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INTRODUÇÃOO basquetebol é uma modalidade esportiva queenvolve corridas, saltos, mudanças de direcção. Taismovimentos condicionam a geração de cargas exter-nas, cuja aplicação está relacionada com o surgimen-to de lesões por estresse em modalidades esportivascomo a corrida (17, 29, 26, 9). No entanto, essa relaçãoainda não foi bem determinada para o basquetebol.Apesar da popularidade do basquetebol, raros são osestudos que abordam questões relativas aos parâme-tros mecânicos que regem os movimentos típicos damodalidade. Como exemplo, tem-se o estudo deMcClay et al. (18) e de Miller e Bartlett (22), que abor-dam características cinemáticas dos movimentosusuais do basquetebol. Dados relativos a parâmetroseletromiográficos são raros, bem como aqueles quedescrevem os parâmetros dinâmicos dos movimen-tos, como o trabalho de McClay et al. (19).Torna-se interessante observar que apesar do peque-no número de estudos que caracterizam as respostasdinâmicas, e que em ultima instância poderiam con-tribuir no entendimento da relação entre a cargamecânica e seu potencial lesivo, muitos são os estu-dos que descrevem as lesões mais comuns na moda-lidade. Segundo Henry et al. (11), Zelisko et al. (33),Colliander et al. (8), Apple (5), Iwamoto e Takeda (13),Arena (4), Harmer (10), Junge et al. (15) e Major (16), osestudos apontam uma prevalência das lesões no bas-quetebol nas extremidades inferiores. O joelho e tor-nozelo são as articulações mais frequentemente lesa-das por torções, luxações e tendinites. Os pés, espe-cificamente o quinto metatarso, são os mais acome-tidos por fracturas por estresse. Segundo esses estu-dos, a maioria das lesões no basquetebol, está asso-ciada ao excesso de treinamento, condicionado pelacombinação entre a intensidade e o volume em queos movimentos são realizados. Haas1 apud McClay etal. (19) reportou, no período entre 1983 e 1987, umtotal de 44 lesões em 36 jogadores da liga profissio-nal norte-americana de basquete. Estimou-se umaincidência de uma fractura por estresse a cada 32jogadores. Zelisko et al. (33) apontam um índice de0,7%, enquanto Junge (15) estimou que, durante osjogos olímpicos de 2004, houve um índice de 0,65lesões por partida de basquetebol (ou 65 lesões acada 1000 partidas). Têm-se na literatura evidênciasapontando que alterações no padrão de movimento

de corredores correspondem a uma das causas asso-ciadas a fracturas por estresse e outras lesões porexcesso de treinamento (7, 21, 14, 27), no entanto rela-ções similares precisam de ser melhor determinadasno basquetebol. Valiant e Cavanagh (28) afirmam queforças aplicadas em grande magnitude e repetida-mente podem representar uma condição suficiente-mente crítica para o desenvolvimento de lesões porestresse nos jogadores de basquetebol.Um outro factor que necessita de mais estudos dizrespeito à influência do desempenho do salto nadeterminação da sobrecarga gerada nas aterrissa-gens. Em estudo sobre a influência do uso de instru-ções relacionadas à cinemática das articulações pararedução do impacto, McNair et al. (20) concluíramque técnicas de aterrissagem mais eficientes resul-tam em atenuações na magnitude da força de reaçãodo solo (FRS). Hoffman et al. (12), concluíram que adiferença na FRS encontrada na aterrissagem de sal-tadores experientes e inexperientes pode ser devidoà utilização mais eficiente da capacidade de atenua-ção de carga por parte da musculatura esquelética.Para que uma eventual relação entre as demandas dobasquetebol e a incidência de lesões possa ser esta-belecida, são necessários estudos preliminares sobreas características de dados dinâmicos dos movimen-tos usuais do jogo. Neste contexto, este estudo tevecomo objectivo central determinar características deparâmetros da FRS em seis movimentos típicos dobasquetebol: arremesso em suspensão (jump), saltocom contramovimento (jump & reach), bandeja, rebo-te e corrida com bola rápida e lenta, em jogadoresbrasileiros profissionais. Teve-se como objetivo espe-cífico do estudo a análise da influência do desempe-nho do salto nas características da carga gerada nasaterrissagens.

MATERIAIS E MÉTODOSAmostraConsiderando o interesse em estudar atletas profis-sionais, a amostra foi seleccionada intencionalmentedentre os jogadores que integravam a seleção brasi-leira de basquetebol. Como membros da selecção, osvoluntários participaram do Torneio Pr é -Olimpico edo Campeonato Brasileiro de Basquete no ano de2003. Atletas que nos últimos seis meses tivessemsofrido lesões ósteo- m i o-articulares que os incapaci-tasse a participar de sua rotina de treinamento e

Características dinâmicas do basquetebol

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competição, foram excluídos da amostra. A avaliaçãoda condição ósteo- m i o-articular do aparelho locomo-tor e do histórico de lesões foi determinada por inter-médio de exames clínicos e anamnese ortopédica. Em função dos critérios de inclusão estabelecidos, aamostra foi composta por oito jogadores. Os volun-tários seleccionados para o estudo apresentam24±2,8 anos de idade, 92±13,5 kg, e estatura de1,96±0,09 m. Todos foram informados acerca dospropósitos e procedimentos adoptados e assinaramum termo de concordância, no qual afirmaram esta-rem cientes e de acordo com os procedimentosempregados no estudo.

Instrumentos Para determinação das variáveis dinâmicas dos movi-mentos selecionados, utilizou-se uma plataforma deforça (KISTLER AG, 9287 A). Esta plataforma possuitransdutores de força do tipo piezoelétricos localiza-dos nos cantos da superfície de medição (0,6x0,9m).Os sinais obtidos pelos transdutores são enviadospor intermédio de cabos e interruptores a um ampli-ficador de sinais (KISTLER AG, 9865 B), programa-dos automaticamente para obtenção dos valores dastrês componentes da força de reacção do solo. O con-trole sobre a aquisição, análise e armazenamento dosdados foi realizado pelo programa de funções BIO-WARE (282A1-20). Na execução das colectas utili-zou-se frequência de amostragem igual a 1 kHz.

Variáveis analisadasAs variáveis dinâmicas da FRS seleccionadas para aanálise dos saltos e da corrida encontram-se descri-tas nas Tabelas 1 e 2 e representadas graficamentenas Figuras 1 e 2.

Tabela 1. Variáveis analisadas para os movimentos de salto.

Va r i á vei s S í m bolo

a) Menor valor da força vertical na decolagem (PC) Fy Mi nb) Ma ior valor da força vertical na decolagem (PC) Fy max Dc) Tempo pa ra ati ngir o Fy máximo na decolagem (s) "t Fy max Dd) Impu l so pa ra a decolagem (PC. s ) I mp _ De) Tempo de fase aérea (s) "t f aerf) Ma ior valor da força vertical na ater r i ssagem (PC) Fy ma x _ Ag) Tempo pa ra ati ngir o Fy máximo na ater r i ssagem ( s ) "t Fy ma x _ Ah) Impu l so nos pr i mei ros 75 ms da ater r i ssagem (PC. s ) I mp _ 75i) Altu ra dos sa ltos (m) A lt _ sa lto

Figura 1. Curva representativa dos parâmetros da componente vertical daFRS seleccionados para a análise, para o movimento da bandeja.

Tabela 2. Variáveis analisadas para os movimentos de deslocamento.

Va r i á vei s S í m bolo

a) Pr i mei ro pico da força vertical (PC) Fy max 1b) Tempo pa ra ati ngir Fy max 1 (s) "t Fy max 1c) Seg u ndo pico da força vertical (PC) Fy max 2 d) Tempo pa ra ati ngir Fy max 2 (s) "t Fy max 2 e) Impu l so nos pr i mei ros 75 ms da ater r i ssagem (PC. s ) I mp _ 75 f) Ma ior mag n itude da força de fr enagem (PC) Fx min g) Tempo pa ra ati ngir Fx mínima (s) "tFx min h) Ma ior mag n itude força de propulsão (PC) Fx max i) Tempo pa ra ati ngir Fx máxima (s) "tFx max j) Impu l so de fr enagem (PC. s ) I mp _ fr enl) Impu l so de Propulsão (PC. s ) I mp _ prop

Fernanda M. Acquesta, Germano M. Peneireiro, Roberto Bianco, Alberto C. Amadio, Júlio C. Serrão

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Figura 2. Curva representativa dos parâmetros seleccionados das compo-nentes vertical e horizontal da FRS para os deslocamentos com bola. A figura(1) representa a corrida lenta, a uma velocidade média de 4m.s-1 e a figura

(2) representa a corrida rápida, a uma velocidade média de 6m.s-1.

Os principais indicadores das cargas externas podemser obtidos pela análise da componente vertical daFRS. Entre eles, o primeiro pico de força (Fy max_A)e o tempo para alcançar Fy max_A ("t Fy max_A) sãode reconhecida relevância para análise dos movimen-tos por permitirem a quantificação do impacto aplica-do ao aparelho locomotor ( 2 ). Considerando que a res-posta muscular dos membros inferiores não ocorreantes de 40 ms ( 3 2 ), optou-se por determinar o impul-so nos primeiros 75 ms (Imp_75), como parâmetroindicador da carga externa aplicada num momentocrítico para o aparelho locomotor. Dessa forma, pode-se dizer que as variáveis da FRSreferentes à aterrissagem dos saltos servem comoindicadores da carga mecânica dos saltos, enquantoque a altura do salto e as variáveis referentes à deco-lagem servem como parâmetros indicadores dodesempenho do salto.A altura dos saltos (Alt_salto) foi determinada atra-vés da fórmula:

, onde:

h = Altura em metros;TV = Tempo de vôo em segundos;g = aceleração da gravidade (9,81 m.s2)

Apesar da força reactiva médio-lateral ter sido colecta-da, não foram evidenciados resultados significantes,uma vez que no protocolo não foram executados movi-mentos com mudanças bruscas de direcção. Dessaforma, optou-se pela omissão desses dados.

P rocedimento ExperimentalOs movimentos seleccionados para analise foram oarremesso em suspensão (jump), a bandeja, o rebote eo deslocamento com bola a duas velocidades (4 e6 m . s- 1). Tais movimentos foram seleccionados em fun-ção da importância que desempenham na consecuçãodas acções ofensivas e defensivas que caracterizam oBasquete. Além destes que são movimentos típicos dobasquete, optou-se por analisar ainda o salto com con-tramovimento ( j u m p & re a c h), que apesar de não comporos movimentos fundamentais do basquete, é um bomindicador das características do salto dos jogadores ( 6 ).Todas as colectas de dados foram realizadas emambiente de laboratório. Objectivando a redução dapotencial influência que a ausência de importantesreferenciais de jogo, como a tabela e as marcações dequadra, poderiam exercer na realização dos movimen-tos a serem analisados, buscou-se a adequação doambiente no qual a colecta dos dados foi realizada.Para tanto, delimitou-se uma área com as mesmasdimensões do garrafão no qual foi montada, tambémem acordo com as dimensões oficiais, uma tabela. Aplataforma de força encontrava-se fixada no chão, e atabela era movimentada de acordo com o movimentorealizado. Ainda que tais adaptações não tenham per-mitido reproduzir com a necessária fidelidade as carac-terísticas de uma quadra de basquete, pode-se conside-rar que os voluntários executaram os movimentos pla-nejados numa condição bastante próxima da condiçãoreal. Para a execução do j u m p solicitou-se que o voluntárioexecutasse o arremesso na linha de lance livre. Fo r a manalisados apenas os dados relativos aos arremessosbem sucedidos. Para a execução do rebote, o voluntá-rio era instruído a retomar a posse de uma bola arre-messada por um auxiliar na altura do aro. Para tantosolicitava-se que o voluntário executasse o salto na suaexpressão máxima de rendimento. Foram consideradasapenas as tentativas nas quais o voluntário conseguiurecuperar a posse de bola. A bandeja foi executada apartir da recepção da bola, passada por um auxiliar,para o voluntário já em movimento. A bola era recebi-

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2

2

).2/1(

g

gTVh =

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da na proximidade da área de lance livre para que ovoluntário pudesse realizar a bandeja. Foram avaliadasapenas as tentativas que resultaram em arremessosbem sucedidos. A condução de bola foi realizada emdirecção a tabela, com uma distância mínima de parti-da da ordem de 10 m. Os voluntários foram instruídosa realizar o movimento em duas velocidades, umarepresentando sua velocidade típica de condução debola em situação de armação de jogadas (4m.s- 1). e aoutra numa condição típica de contra ataque (6m.s- 1) .O J u m p & Re a c h foi executado estando o voluntário comas mãos na cintura. Após o comando o voluntáriodeveria flexionar os segmentos do membro inferior,caracterizando um movimento de preparação que ante-cede o salto final. Solicitou-se ao voluntário executar osalto empregando a sua maior capacidade de geraçãode força. Todos os voluntários executaram todos os movimentosseleccionados para análise até se atingisse um númeromínimo de dez tentativas válidas. A ordem de ex e c u-ção dos movimentos foi determinada por intermédiode sorteio. Os movimentos foram executados sem apresença de nenhuma espécie de marcação adversária. Durante a realização da colecta de dados, os voluntá-rios utilizaram os calçados esportivos que usualmenteutilizam em suas rotinas de treinamento e competição.Apesar de serem de marcas distintas, as característicasde construção dos calçados utilizados eram acentuada-mente semelhantes.

Tratamento dos dados e análise estatísticaPara eliminar ruídos provenientes de factores exter-nos aos movimentos realizados, os dados provenien-tes da plataforma de forças foram filtrados através de

um filtro butterworth recursivo de 2ª. ordem passa-baixa de 40 Hz. Após a normalização dos dados pelo peso corporal decada atleta, esses foram submetidos a um tratamentoestatístico através do programa S t a t i s t i c a (versão 5.1,StatSoft, Inc.). A estatística descritiva foi baseada naapresentação dos valores médios e respectivos desvios-padrão para cada movimento realizado. Através deuma correlação de Pearson, realizou-se as correlaçõesentre a altura dos saltos e as variáveis indicadoras dacarga mecânica.

R E S U LTADOS E DISCUSSÃOMovimentos de salto Os valores médios de pico da componente vertical daFRS relatados nos movimentos de salto do basquete-bol se assemelham aos encontrados por McClay et al.( 1 9 ), que oscilam de 2,7 vezes o peso corporal (PC) a8,9 PC. Os valores médios de pico obtidos para acomponente vertical da FRS nos movimentos de salto( Tabela 3, Figura 3), oscilam entre os 2,7 PC na deco-lagem do jump & re a c h aos 7,27 PC na aterrissagem dabandeja. O valor mais alto do impulso 75 ms (0,24Peso Corporal segundo – PC.s), também foi encontra-do na bandeja. O rebote apresentou as maiores magni-tudes médias para o Impulso para a decolagem (0,90PC.s) e o jump a p r e s e n t o u os menores valores médios(0.55 PC.s).Esses valores (Tabela 3) correspondem a uma cargaexterna que se pode caracterizar como de média mag-nitude, levando em consideração a carga mecânicarelatada na literatura (1, 24, 25, 30) em outras activi-dades, como a marcha (1,2 PC), a corrida (2,3 PC), osalto em altura (11 PC) e o salto triplo (20 PC).

Fernanda M. Acquesta, Germano M. Peneireiro, Roberto Bianco, Alberto C. Amadio, Júlio C. Serrão

Tabela 3. Média e desvio-padrão dos parâmetros relativos à componente vertical da Força de Reacção do Solo para os movimentosjump and reach, jump, rebote e bandeja, para os oito voluntários estudados. Os picos de força são apresentados na unidade peso corporal (PC),

os intervalos de tempo em segundos (s), e a altura dos saltos em metros (m).

Variáveis Movimentos analisadosJump & Reach Jump Rebote Bandeja

Fy max_A (PC) 5,05 ± 0,87 4,54 ± 1,10 5,39 ± 1,26 7,27 ± 2,71"t Fy max_A (s) 0,07 ± 0,04 0,08 ± 0,01 0,07 ± 0,01 0,08 ± 0,13Imp_75 (PC.s) 0,17 ± 0,03 0,13 ± 0,04 0,18 ± 0,04 0,24 ± 0,04Fy Min (PC) 0,45 ± 0,24 0,54 ± 0,20 — —Fy max_D (PC) 2,7 ± 0,42 2,96 ± 0,32 3,19 ± 0,78 —"tFymax_D (s) 0,43 ± 0,09 0,34 ± 0,06 0,46 ± 0,22 —Imp_prop (PC.s) 0,7 ± 0,11 0,55 ± 0,07 0,90 ± 0,19 0,61 ± 0,04Alt_salto (m) 0,63 ± 0,20 0,33 ± 0,06 0,51 ± 0,06 0,44 ± 0,02

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Figura 3. Curva representativa da componente vertical da FRS para o movi-mento da bandeja (a), do rebote (b), do jump (c) e do jump & reach (d).

Uma possível relação entre essas forças ex t e r n a s ,caracterizadas como de média magnitude, e o índicede lesões, pode ser estabelecida levando-se em consi-deração a frequência em que o aparelho locomotordos atletas é submetido a elas. Além disso, torna-seimportante ressaltar que é altamente provável queem situações reais de jogo a carga seja maior do queas reportadas, dada a dificuldade de motivar atletascompetitivos a desempenhar os movimentos a níveismáximos em situação não competitiva.

Deslocamentos com bolaOs valores médios da componente vertical da FRSencontrados para os movimentos de corrida com bola( Tabela 4) são similares às magnitudes reportadas naliteratura ( 2 4 ). Para a corrida rápida com bola (6m.s- 1)encontrou-se o valor médio de 2,16 PC para o pri-meiro pico da componente vertical da FRS (Fy max1)e o tempo para o pico (DtFy max1) foi de 0,03s. Ovalor do Imp_75 foi de 0,10 PC.s. Para a componentehorizontal antero-posterior (Fx), encontrou-se umpico de desaceleração (Fx min) de 0,48 PC e o tempopara esse pico foi de 0,05s. O impulso de frenagemfoi de 0,02 PC.s. Na corrida lenta (4m.s- 1), os valores médios para Fymax1, DtFy max 1 e Imp_75 foram, respectivamente,1,85 PC, 0,03s e 0,09 PC.s. Para a Fx min e DtFxmin, encontrou-se valores médios de 0,42 PC e0,06s. O impulso de frenagem foi de 0,02 PC.s. As variáveis acima citadas indicam as condições dedesaceleração do membro inferior e a consequentetransmissão do choque mecânico ao aparelho loco-motor durante a corrida. A analise dos dados e con-sequente comparação com dados da literatura (9, 19, 24)

evidenciou que a condução de bola não afectou deforma significativa nenhuma dessas variáveis. Os valores médios encontrados para as variáveis indi-cadoras dos eventos relacionados à fase propulsiva nacorrida com bola rápida (6m.s- 1) foram: 2,48 PC parao segundo pico da força vertical (Fy max2), 0,09spara o tempo para o pico (DtFy max2), 0,35 PC parao pico da componente antero-posterior (Fx Max),0,17s para o tempo para esse pico (DtFx Max) e de0,02 PC.s para o impulso de propulsão (Imp_prop). Para a corrida com bola lenta (4m.s- 1), os valoresmédios para Fy max2, DtFy max2, Fx Max, DtFxMax e Imp_prop foram, respectivamente, 2,52 PC,0,11s, 0,30 PC, 0,19s e 0,02 PC.s.

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Esses resultados sugerem que, bem como as variá-veis relacionadas à desaceleração do membro infe-rior, as variáveis relacionadas à fase propulsiva dacorrida também não foram influenciadas pela condu-ção da bola, evidenciando que tanto o controle dochoque mecânico quanto a produção de força pro-pulsiva não foram afectadas pela execução da tarefaem questão.

Tabela 4. Média e desvio-padrão dos parâmetros relativos à componente ver-tical e ântero-posterior da Força de Reacção do Solo para a corrida rápida

(v=6m.s-1) e lenta com bola (v=4m.s-1) para os oito voluntários estudados.Os picos de força são apresentados na unidade peso corporal (PC), os inter-

valos de tempo em segundos (s).

Variáveis Movimentos analisadosCorrida Rápida Corrida Lenta

com Bola com Bola

Fy max 1(PC) 2,16 ± 0,37 1,85 ± 0,28"tFy max 1(s) 0,03 ± 0,008 0,03 ± 0,009Fy max 2 (PC) 2,48 ± 0,37 2,52 ± 0,42"tFy max 2 (s) 0,09 ± 0,02 0,11 ± 0,02Imp_75 (PC.s) 0,10 ± 0,02 0,09 ± 0,02Fx min (PC) 0,48 ± 0,14 0,42 ± 0,10"tFx min (s) 0,05 ± 0,01 0,06 ± 0,01Fx max (PC) 0,35 ± 0,08 0,30 ± 0,12"tFx max (s) 0,17 ± 0,03 0,19 ± 0,04Imp_fren (PC.s) 0,02 ± 0,01 0,02 ± 0,005Imp_prop (PC.s) 0,02 ± 0,003 0,02 ± 0,004

Correlação entre o desempenho do salto e a FRS na aterrissagemConforme considerado anteriormente, outro objecti-vo desse estudo foi determinar a influência dodesempenho do salto, traduzido pela altura do salto,na determinação da sobrecarga externa gerada nasaterrissagens. Nesse sentido, é interessante destacar que a aterris-sagem da bandeja, embora correspondesse à maiormédia de magnitude de pico da força reactiva vertical(7,27 ± 2,71 PC) e do Imp 75 (0,24 ± 0,04 PC.s),não resultou de saltos com as médias mais elevadasdas alturas atingidas (0,44 ± 0,02m - Tabela 3), con-dicionando a baixa correlação encontrada (r=0,34 e0,44) entre as duas variáveis e a altura do salto(Tabela 5). Esse fato evidencia uma considerávelindependência entre indicadores de carga e a alturade queda.

As correlações (r) entre a altura do salto no jump &reach e a Fy max_A e Imp 75 foram, respectivamente,0,36 e 0,58. Para a altura do jump, as correlaçõesforam de 0,44 para a Fy max_A e de 0,62 para o Imp75. No rebote, as correlações entre a altura do saltoe Fy max_A e o Imp 75 foram de 0,22 e 0,43, respec-tivamente.

Tabela 5. Correlação (r) entre altura dos saltos realizados e as variáveis indicadoras da carga e do rendimento (*p<0,05, **p<0,001).

Altura salto Altura salto Altura salto Altura saltono ju mp & r each no jump no rebote na bandeja

Fy max_A 0,36* 0,44** 0,22 0,34Imp 75 0,58* 0,62** 0,43* 0,44

Os dados evidenciam que a baixa correlação encon-trada para o movimento da bandeja também ocorrepara os outros movimentos seleccionados para oestudo (Tabela 5), fato que corrobora a ideia de quea técnica de movimento possui maior influência naatenuação das forças externas do que a altura dequeda isoladamente. O estudo de Zhang et al. (34)

suporta esta hipótese. Os resultados apresentadospor estes autores sugerem que os extensores do joe-lho desempenham importante papel na atenuação dasobrecarga mecânica gerada durante as aterrissagens.

CONCLUSÕESOs resultados obtidos evidenciam que o aparelholocomotor experiencia cargas relativamente altasdurante a realização dos movimentos típicos do bas-quetebol, fato que, quando associado à frequência deexposição dos atletas, pode explicar as lesões carac-terísticas da modalidade. Deve-se considerar que ummelhor entendimento acerca desta questão aindadepende de uma análise do volume de aplicação des-tas cargas.Foi verificado, também, que o desempenho do saltonão possui influência determinante na carga geradanas aterrissagens, o que nos permite concluir que aestrutura de movimento pode desempenhar papel dedestaque no controle das forças externas geradas nasaterrissagens. Novos estudos são necessários paraidentificar as características cinemáticas, dinâmicas eeletromiográficas empregadas nessa condição decontrole.

Fernanda M. Acquesta, Germano M. Peneireiro, Roberto Bianco, Alberto C. Amadio, Júlio C. Serrão

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NOTA1 Médico do time de basquete norte-americano WashingtonBullets.

CORRESPONDÊNCIA Fernanda Michelone AcquestaRua do Manifesto, 2810 – IpirangaCEP 04209-003 São Paulo SP, BrasilouLaboratório de Biomecânica da Escola de EducaçãoFísica e Esporte da Universidade de São PauloAv. Mello Moraes, 65 - Cidade UniversitáriaCEP 05508-900 São Paulo SP, Brasile-mail: [email protected]

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Fernanda M. Acquesta, Germano M. Peneireiro, Roberto Bianco, Alberto C. Amadio, Júlio C. Serrão

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Efeito da posição da omoplata na força máxima isométrica de flexão do ombro

Otília Sousa1

Fernando Ribeiro2

Mário Leite1

Francisco Silva1

Ana Paula Azevedo1

1 Departamento de OrtofisiatriaServiço de FisiatriaHospital Geral de Santo AntónioPortoPortugal

2 Centro de Investigação em Actividade Física, Saúde e LazerFaculdade de DesportoUniversidade do PortoPortugal

RESUMOPelo crescente ênfase colocado na avaliação, prevenção e reabi-litação de disfunções da omoplata e pela importância atribuídaà omoplata e aos seus músculos motores na biomecânica doombro, os objectivos do nosso estudo foram avaliar o efeito dasposições de abdução e adução da omoplata na força máximaisométrica de flexão do ombro medida no plano sagital, e testara hipótese de que esta é significativamente menor nas posiçõesde adução e abdução comparativamente à posição neutra.Participaram no estudo dezoito sujeitos aparentemente saudá-veis (10 mulheres e 8 homens), com idade compreendida entreos 20 e 24 anos. Os sujeitos realizaram 3 contracções isométri-cas máximas de flexão do ombro a 90º no plano sagital com aomoplata em posição neutra, abdução e adução. Para compara-ção dos valores médios de força isométrica foi utilizada a análi-se de variância a um factor. A força isométrica foi significativa-mente superior na posição neutra da omoplata quando compa-rada com a força medida com a omoplata na posição de abdu-ção (10,09±2,41vs.8,14±2,31; p=0,047) e adução(10,09±2,41vs.8,11±2,31; p=0,043). Os nossos resultadosdemonstraram que a produção de força isométrica de flexão doombro é significativamente reduzida nas posições de abdução eadução da omoplata comparativamente à posição neutra.

Palavras-chave: ombro, posição da omoplata, força máxima iso-métrica

ABSTRACTEffect of scapular position on shoulder flexion maximal isometric strength

Because of the increased emphasis on assessing, preventing and rehabili-tating scapular dysfunctions and because of the great importance givento scapula and to scapular muscles in the shoulder kinetics, the purpos-es of our study were to assess the effect of scapular abduction andscapular adduction on maximal isometric shoulder elevation strengthmeasured in the sagittal plane, and to test the hypothesis that isometricshoulder strength would be significantly less in the scapular abdutionand adduction positions relative to the neutral position. Eighteenhealthy volunteers (8 men, 10 women) ages 20 to 24 years wererecruited to participate in the study. Subjects completed 3 maximal iso-metric shoulder elevation contractions at 90° of sagittal plane elevationin the scapular neutral, abduction and adduction positions. Mean iso-metric strength values were compared using One-way anova. Isometricstrength was significantly higher for the neutral position comparedwith the scapular abduction (10,09 ± 2,41 vs. 8,14 ± 2,31; p =0,047) and adduction positions (10,09 ± 2,41 vs. 8,11 ± 2,31; p =0,043). Our results showed that the production of shoulder flexion iso-metric strength is significantly lower in scapular abduction and adduc-tion positions compared with scapular neutral position.

Key-Words: shoulder, scapular position, maximal isometric strength

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INTRODUÇÃODor e disfunção do complexo articular do ombro sãocausas comuns em sujeitos que recorrem aos servi-ços de saúde. Nos últimos anos, têm-se dado parti-cular ênfase ao papel da omoplata e dos seus múscu-los motores na génese e perpetuação da patologia doombro. A omoplata desempenha um importantepapel na funcionalidade do complexo articular doombro, sendo a ponte de ligação que assegura atransferência de forças de alta intensidade dos mem-bros inferiores e tronco para os membros superiores(7). É também um ponto de ancoragem de váriosmúsculos (1), uns com actuação na omoplata eoutros com actuação ao nível da articulação gleno-umeral. Alterações na função dos músculos estabilizadoresda omoplata podem-se traduzir em alterações na suaposição de repouso, condicionando desta formatodos os parâmetros de movimento do complexoarticular do ombro. Diminuição da força dos múscu-los motores da omoplata pode exercer efeito deleté-rio na sua cinemática (1), alterando a função doombro e o seu centro de rotação instantânea e destaforma conduzir à lesão e à incapacidade (7, 11).Alguns autores (2, 3, 7) têm relacionado as disfunçõesda omoplata, fisiologia e biomecânica anormal indu-zida por comprometimento da sua função muscular,com a predisposição para lesões de sobrecarga doombro. Pelo crescente ênfase colocado na avaliação, prevençãoe reabilitação de disfunções da omoplata e pela impor-tância que lhe é atribuída e aos seus músculos moto-res na biomecânica do ombro, foi realizado um estudopara investigar a relação entre a posição da omoplatae a função muscular do ombro. Desta forma, os objec-tivos do estudo foram: examinar o efeito da posiçãode abdução e de adução da omoplata na força máximaisométrica de flexão do ombro medida no plano sagi-tal; e testar a hipótese de que a força é significativa-mente menor nas posições de adução e abdução com-parativamente à posição neutra. Esta hipótese baseia-se na suposição de que as posições de adução e abdu-ção da omoplata ao alterarem a relação de tensão-alongamento dos seus estabilizadores mediais (mús-culo trapézio e rombóides) induzem uma redução naefectividade do par déltoide-coifa dos rotadores nomovimento de flexão do ombro.

MATERIAL E MÉTODOSParticipantesA amostra foi constituída por 18 sujeitos aparente-mente saudáveis, 10 do sexo feminino e 8 do sexomasculino, com idade compreendida entre os 20 e24 anos (idade média ± desvio padrão: 22,2 ± 1,4anos). Os sujeitos foram recrutados por conveniên-cia na Escola Superior de Tecnologias da Saúde doPorto. Para inclusão no estudo os sujeitos deveriamapresentar amplitude articular do ombro completa(flexão 180º; rotação externa 90º; rotação interna70º), sem dor e simétrica, e não apresentar nenhumdos seguintes critérios de exclusão: dor actual naregião cervical ou ombro; história de fractura, luxa-ção ou cirurgia na região cervical, torácica e ombro;escoliose ou cifose dorsal superior a 30º; patologiadegenerativa ou congénita da coluna cervical; altera-ção congénita da omoplata; patologia neuromuscularconhecida; instabilidade do ombro conhecida ou sus-peita; com o membro superior na posição anatómicaa omoplata apresentar-se em abdução ou adução;história de patologia cardiopulmonar; gravidez (11).Todos os sujeitos completaram a recolha de dadosnuma única sessão matinal, após familiarização como protocolo experimental e com os instrumentos deavaliação. Foi testado o membro superior dominan-te, o direito em todos os sujeitos. Todos os sujeitosderam o seu consentimento informado por escrito etodos os procedimentos foram efectuados de acordocom a declaração de Helsínquia. O estudo foi apro-vado pela comissão de ética local.

Avaliação da força muscular dos flexores do ombroA força máxima isométrica dos flexores do ombro foimedida com recurso a um dinamómetro (Globus ErgoMeter, Globus Itália) em três posições diferentes daomoplata: posição neutra, abdução e adução. Foipedido aos sujeitos para não praticarem actividadefísica com o tronco superior nas 48 horas preceden-tes à avaliação. Todos os testes de avaliação da forçamuscular foram realizados pelo mesmo investigador.Na posição de teste o sujeito estava sentado numacadeira, sob uma gaiola de R o c h e r, com encosto rígidoe sem limitação dos movimentos de abdução e adu-ção da omoplata. O tronco foi imobilizado ao encostoda cadeira por meio de bandas estabilizadoras paraevitar movimentos de flex ã o / extensão e/ou rotaçãodo tronco durante a avaliação. Todos os testes de ava-

Otília Sousa, Fernando Ribeiro, Mário Leite, Francisco Silva, Ana P. Azevedo

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liação da força muscular foram efectuados com omembro superior posicionado a 90º de elevação noplano sagital, ou seja 90º de flexão, com o cotoveloem extensão e a mão fechada. Apesar do plano daomoplata permitir uma medição mais funcional, oplano sagital foi escolhido para permitir maior sim-plicidade na determinação das três posições da omo-plata, pela maior amplitude de movimento de abdu-ção da omoplata disponível e pela definição de abdu-ção da omoplata mais comummente usada determi-nar a posição com o membro superior a 90 de eleva-ção no plano sagital. O membro foi suportado poruma suspensão axial, permitindo a manutenção daposição de teste e o descanso do membro durante osperíodos de repouso. A célula de força do dinamóme-tro foi fixada ao sujeito e à gaiola de R o c h e r por umsistema que permitia redireccionar a linha de tensãoquando o sujeito obtinha as diferentes posições daomoplata, mantendo um ângulo de 90º entre o mem-bro do sujeito e o dinamómetro durante as 3 posi-ções de teste. As três posições de teste da omoplata(neutra, abdução e adução) foram obtidas activamen-te pelos sujeitos. A posição neutra foi definida comoa posição de repouso mais confortável entre os ex t r e-mos de abdução e adução activas, subjectivamentedeterminadas pelos sujeitos. As posições de abduçãoe adução foram determinadas como sendo a máximaadução e abdução que os sujeitos eram capazes deobter e manter activamente, tendo como distânciamínima da posição neutra 5 cm para a abdução e 3cm para a adução (Figura 1), sendo a ex t r e m i d a d edistal do terceiro metacarpo o ponto de referência. Aposição do membro superior e tronco foi confirmadacom recurso a um goniómetro universal, tendo asdistâncias de abdução e adução da omoplata sidoconfirmadas através de uma fita métrica.

Antes da avaliação da força máxima isométrica ossujeitos realizaram um breve aquecimento compostopor 5 movimentos de amplitude total do ombro emtodas as direcções e por 2 contracções isométricassub-máximas durante cinco segundos na posição de90º de elevação do ombro no plano sagital para cadauma das três posições da omoplata avaliadas. Apósum minuto de repouso, foi pedido aos sujeitos querealizassem 3 contracções isométricas máximas, com5 segundos de duração, para cada uma das posiçõesde teste da omoplata, sendo escolhido para análise ovalor mais elevado resultante das três medições. Otempo de repouso entre contracções foi de umminuto e o tempo de repouso entre posições deteste foi de dois minutos, repousando o membrosuperior suspenso pela suspensão axial. Para minimizar os efeitos da fadiga e de aprendiza-gem sobre a última posição de teste, cada uma daspossíveis sequências das posições de teste foi efec-tuada a igual número de sujeitos. Durante o teste aposição do sujeito foi constantemente monitorizadapor um fisioterapeuta. Após a mudança de posiçãoda omoplata todos os ângulos eram verificados e odinamómetro isométrico ajustado, para asseguraconsistência na posição de teste.

Análise EstatísticaFoi utilizada a estatística descritiva para calcular amédia e o desvio padrão dos valores da força isomé-trica em cada uma das 3 posições de teste da omo-plata. Foi utilizado o teste de Shapiro-Wilk para testara normalidade de distribuição dos dados. Para com-paração de médias foi utilizada a análise de variânciaa um factor. O teste de Bonferroni foi usado paraidentificar entre que posições de teste se verificaramdiferenças significativas. O nível de significância foiestabelecido em 5%.

Efeito da posição da omoplata na força muscular

1 2 3

Figura 1. Sujeito naposição de teste coma omoplata em posi-ção de abdução (1),posição neutra (2) e adução (3)

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RESULTADOSTodos os sujeitos que participaram no estudo com-pletaram com sucesso as tarefas que lhes foramdeterminadas.

* diferença estatisticamente significativa para a posição neutra; p! 0,05Figura 1. Média e desvio padrão da força máxima

isométrica para as posições da omoplata testadas

A força máxima isométrica dos flexores do ombro ésignificativamente superior na posição neutra daomoplata quando comparada com a força medidacom a omoplata na posição de abdução (10,09 ±2,41 vs. 8,14 ± 2,31; p = 0,047) e adução (10,09 ±2,41 vs. 8,11 ± 2,31; p = 0,043). Não se verificaramdiferenças estatisticamente significativas entre aforça máxima isométrica produzida pelos flexores doombro com a omoplata na posição de adução e naposição de abdução (Figura 1 e Quadro 1).A produção de força isométrica pelos flexores doombro com a omoplata em abdução e adução é apro-ximadamente 20% inferior à força produzida quandoa omoplata se encontra na posição neutra (Quadro 1).

Quadro 1. Valores de força máxima isométrica (Kg) e percentagem de diminuição comparativamente à posição neutra

Posição da n Força máxima % deomoplata isométrica diminuição

Neutra 18 10,09 ± 2,41 —Abdução 18 8,14 ± 2,31* 19,82 ± 9,55Adução 18 8,11 ± 2,31** 19,97 ± 9,05

* diferença estatisticamente significativa para a posição neutra; p= 0,047** diferença estatisticamente significativa para a posição neutra; p= 0,043

DISCUSSÃOEste estudo vem na linha dos estudos iniciados em2002 por Smith e colaboradores (11) na Clínica Mayo,Rochester, Minessota, no qual se verificou que a fun-ção muscular do ombro é significativamente alteradapela posição da omoplata. Os resultados do correnteestudo indicam que a posição da omoplata altera sig-nificativamente a função muscular do ombro naposição de 90º de flexão, suportando a nossa hipóte-se de que a força produzida pelos flexores do ombroé significativamente menor nas posições de adução eabdução da omoplata comparativamente à posiçãoneutra. Tendo-se verificado uma diminuição de cercade 20% na produção de força isométrica pelos flexo-res do ombro com a omoplata em posição de aduçãoe abdução comparativamente à posição neutra.Utilizando um protocolo idêntico ao usado nesteestudo, Smith et al. (11) reportaram redução de 30%na força máxima isométrica dos flexores do ombrocom a omoplata em adução e 23% com a omoplataem abdução. Da mesma forma Kebaetse et al. (5)

encontraram uma redução de 16% da força máximaisométrica de abdução em sujeitos saudáveis comuma postura ligeiramente cifótica; a medição daforça foi efectuada a 90º de elevação do ombro noplano escapular. Recentemente, Smith et al. (10) veri-ficaram que a posição de abdução da omoplata redu-zia significativamente a força isométrica dos rotado-res internos e externos do ombro em diversos ângu-los articulares. Estes dados indicam que a funçãomuscular do ombro pode estar comprometida quan-do a omoplata se desvia da sua posição neutra. Osresultados deste estudo reforçam a importância daposição da omoplata na função e na reabilitação docomplexo articular ombro tal como sugerido emestudos anteriores (6, 7, 9, 13).O desvio da omoplata, em relação à sua posição neu-tra, pode comprometer a capacidade desta forneceruma base de suporte estável e colocar os músculosestabilizadores da mesma em posição desvantajosana sua curva de comprimento- tensão (10-12). Defacto, a modificação na relação comprimento-tensãoou sinergias musculares verificadas no desvio daomoplata da posição neutra, parece ser uma hipóteseplausível para explicar os resultados deste estudo.Ellenbecker e Mattalino (4) demonstraram que aforça muscular do ombro é alterada em função do

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plano em que este está posicionado. Da mesmaforma que a posição de abdução e adução da omo-plata induz desvantagem nos seus músculos estabili-zadores, o desvio desta da sua posição neutra tam-bém reduz a capacidade de gerar força por parte dacoifa dos rotadores, comprometendo desta forma ageração de força de todo o complexo articular doombro (7, 8). Neste caso particular o desvio da omo-plata da posição neutra parece reduzir a eficácia dopar deltóide-coifa dos rotadores durante o movimen-to de flexão do ombro (11).Este estudo apresenta algumas limitações: (i) foraminvestigados jovens aparentemente saudáveis semalterações no complexo articular do ombro. A opçãofoi feita para diminuir a presença de factores clínicospotencialmente confundidores tais como a etiologiado sintoma, a duração e a severidade; (ii) a avaliaçãoisométrica da força muscular pode não se correlacio-nar com a maioria das actividades da vida diária ecom as actividades laborais. No entanto, face ásopções disponíveis, este método de avaliação daforça muscular foi o que se revelou mais útil na rea-lização deste estudo; (iii) a posição da omoplatarelativamente ao seu movimento de rotação supe-rior/inferior não foi objectivamente monitorizada.Apesar da posição inicial do membro superior e dotronco ter sido confirmada com recurso a um gonió-metro universal, sugere-se que futuros estudosmonitorizem objectivamente os movimentos de rota-ção superior/inferior da omoplata.Apesar das limitações do nosso estudo os nossosresultados indicam que a força isométrica máximados flexores do ombro, a 90º de flexão, é dependenteda posição da omoplata. É importante realçar que oefeito deletério exercido pela posição da omoplata nacapacidade de gerar força foi similar para a posiçãode abdução e adução. Estes resultados têm impor-tantes implicações para todos aqueles que previnem,avaliam e tratam patologias do ombro. Especial aten-ção deve ser dada ao impacto que a posição da omo-plata exerce na função dos músculos do ombro.Várias actividades desportivas, tais como a natação,voleibol, ténis, andebol, colocam o complexo articu-lar do ombro em posições vulneráveis possibilitandoa ocorrência de patologias inerentes à realização deesforços repetidos. A diminuição na produção deforça de flexão do ombro induzida por alterações na

posição de repouso da omoplata poderá desta forma,para além de predispor a lesões de sobre-uso (6,7),diminuir a qualidade e eficiência do gesto desporti-vo. Os resultados deste estudo realçam a importân-cia dos profissionais da área das ciências do desportoe educação física na prevenção de alterações na posi-ção de repouso da omoplata secundárias à diminui-ção da capacidade muscular dos seus músculos esta-bilizadores, procurando não só optimizar o gestotécnico como também prevenir a ocorrência delesões. Da mesma forma, em contexto clínico, a ava-liação funcional do complexo articular do ombro rea-lizada por médicos e fisioterapeutas a atletas demodalidades que incluem frequentemente movimen-tos das extremidades superiores acima da cabeça,deverá contemplar a avaliação da posição de repousoda omoplata.Futuros estudos são necessários para elucidar sobreo impacto da posição da omoplata na função muscu-lar do ombro em sujeitos com patologia sintomáticado ombro, bem como em atletas de modalidades nosquais o uso do membro superior seja preponderante.Este estudo demonstrou que a produção de forçaisométrica de flexão do ombro é significativamentereduzida nas posições de abdução e adução da omo-plata comparativamente à posição neutra.

AGRADECIMENTOSEste estudo foi parcialmente apresentado nas 1ªsJornadas de Fisioterapia em Saúde Ocupacional, quese realizaram de 17 a 18 de Fevereiro de 2006, emCoimbra, Portugal, sendo de inteira justiça agradeceras contribuições que nessa ocasião foram feitas paraa melhoria da redacção final deste trabalho.

CORRESPONDÊNCIAFisioterapeuta Otília SousaServiço de Fisiatria, Hospital Geral de Santo AntónioLargo Prof. Abel Salazar4099-001 Porto, Portugale-mail: [email protected]

Efeito da posição da omoplata na força muscular

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Otília Sousa, Fernando Ribeiro, Mário Leite, Francisco Silva, Ana P. Azevedo

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Análise das componentes da prova como ponto de partida paraa definição de objectivos na natação na categoria de cadetes

António Silva1,2

Filipa Silva1

António Reis1

Victor Reis1

Daniel Marinho1

André Carneiro1

Felipe Aidar1

1 Departamento de Desporto Universidade de Trás-os-Montes e Alto DouroVila RealPortugal

2 Centro de Estudos de Tecnologia, Ambiente e Vida(CETAV)Vila RealPortugal

RESUMOOs objectivos do presente trabalho foram: (i) determinar asexpressões preditivas para as diferentes variáveis cronométricaspara os 400 e os 200 metros livres e para os 100 metros mari-posa, costas, bruços e livres; por género e por prova; (ii) desen-volver normativas para cada uma das variáveis cronométricasestudadas, por género e por prova; (iii) operacionalizar ummodelo para a definição de objectivos do processo, de acordocom os dois objectivos anteriores. Para o efeito, foram estuda-dos 446 nadadores (230 do sexo feminino e 216 do sexo mas-culino) portugueses da categoria cadetes. Através da estatísticadedutiva foi possível determinar os valores de A (declive) e deB (ordenada na origem), de forma a construir as equações deregressão lineares para o Tempo de Partida (TP), Tempo deViragem (TV), Tempo de Chegada (TChg) e Tempo de Nado(TN), nas diferentes provas. As principais conclusões do estu-do foram: (i) todas as variáveis cronométricas obtiveram rela-ções estatisticamente significativas com o Tempo Total de Prova(TTP) e foram estabelecidas as respectivas expressões de predi-ção de rendimento; (ii) com o aumento da distância de provahouve uma diminuição da importância relativa do TP e umaumento da importância relativa do TV; (iii) para a generalida-de das provas estudadas, os nadadores do G5/G6 masculinosão mais rápidos a partir, a virar e a chegar do que as nadado-ras pertencentes ao G4/G5 feminino.

Palavras-chave: natação, análise cronométrica, definição deobjectivos

ABSTRACT Chronometric analyses of swimming events in infantile swimmers: An objective model for goal setting

The aims of the present work were: (i) to determine for each genderpredictive equations for the different chronometric variables in 400 and200 m freestyle and in 100 m butterfly, backstroke, breaststroke andfreestyle; (ii) to develop models for each of the chronometric variablesthat were studied in the two genders; (iii) to construct an objectivemodel for goal setting. For this purpose, 446 Portuguese swimmers(230 female and 216 male) belonging to the infant age group categorywere studied. Through deductive statistic procedures it was possible todetermine linear regression equations to predict the Starting Time (ST),the Turning Time (TT), the Finishing Time (FT) and the SwimmingTime (SwT) in each studied event. The major findings of this studywere: (i) all the chronometric variables were significantly related toTotal Race Time and the respective performance predictive equationswere established; (ii) with the increase of the race distance a decreasein the relative importance of ST and an increase in the relative impor-tance of TT were observed; (iii) to the majority of the studied events,male swimmers were faster to start, to turn and to finish than femaleswimmers.

Key-words: swimming, chronometric analyses, goal setting

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INTRODUÇÃOProgramar significa sistematizar os conteúdos doprocesso de treino, segundo objectivos, bem defini-dos, da preparação de um atleta e dos princípiosespecíficos que determinam a forma racional deorganização das cargas de treino (25) num período detempo bem definido (28). Com o objectivo de elevarao máximo a prestação do atleta, maximizar o seurendimento desportivo e consolidar essas melhorias,torna-se necessário ao treinador observar o compor-tamento do seu atleta e/ou equipa em competição(33), de modo a obter os instrumentos necessáriospara o treino específico, permitindo assim: (i) elabo-rar simuladores com tempos parciais, frequências edistâncias de ciclo específicas da competição; (ii)comparar os tempos individuais de partida e viragemcom os tempos realizados em competição e com osvalores da norma (8, 22); (iii) determinar o número derepetições para o treino da força-resistência, espe-cialmente nos desportos cíclicos. Actualmente, em natação, existem várias metodolo-gias de observação da competição que avaliam odesempenho do nadador (27). Cada metodologia ousistema de análise orienta-se segundo um protocolode observação, de forma a determinar parâmetroscinemáticos julgados convenientes para avaliar ocomportamento e desempenho do nadador (33).As competições constituem um terreno de observa-ção privilegiado, que não pode ser nem minimizadonem negligenciado na análise dos factores que con-correm para a optimização da prestação desportiva(24). É possível e desejável recolher certas informa-ções relativas ao desenrolar cronológico e técnico dediferentes provas (10, 11, 13, 18, 21, 32).Segundo Reischle (21), para se poder treinar especifi-camente para a competição são necessários os dadosobtidos nesta. Dois nadadores podem realizar omesmo tempo em determinada prova, mas os meios,as soluções motoras, tácticas, técnicas, etc., podemser diametralmente opostas. É difícil quantificar deque modo os vários factores da prova sobressaemrelativamente a outros.No entanto, Haljand e Saagpakk (14) referem que,quando se pretende realizar a análise da competição,tem que se decompô-la nos seus elementos consti-tuintes. Assim sendo, entendemos que a análise dacompetição consiste em medir as diferentes compo-

nentes do tempo total de prova, ou seja, o tempo departida (TP), o tempo de nado (TN), o tempo deviragem (TV) e o tempo de chegada (TChg).Neste sentido, e sempre tendo como base estas qua-tro componentes de prova, diversos foram os estu-dos efectuados até à data. Arellano (4), no seu estudosobre a variabilidade entre as variáveis cronométri-cas, concluiu que: (i) a importância da partida e dachegada diminui percentualmente à media que a dis-tância de prova aumenta; (ii) a importância dotempo relativo de viragem aumenta à medida queaumenta a distância das provas; e (iii) o tempo rela-tivo de nado aumenta à medida que a distância daprova aumenta.Arellano et al. (4), nos seus estudos sobre as provasde 50 e 100 metros dos Jogos Olímpicos de 1992,obtiveram coeficientes de correlação e equações depredição lineares, como sendo o resultado de a(declive) e b (ordenada na origem). O tipo de equa-ções que obtiveram foi (equação 1):

Componente da Prova = (a x tempo da prova) + b(equação 1)

Neste sentido, o problema central deste trabalho resi-de na normalização de cada uma das componentes daprova do calendário nacional português para nadadoresda categoria cadetes face ao Tempo Total de Pr o v a(TTP), de forma a poder ser utilizado como um meioindispensável para a definição de objectivos de proces-so, com implicações na programação e execução doprograma de treino à qual o nadador está submetido.Assim, o propósito deste trabalho foi o de: (i) determi-nar as expressões preditivas para as diferentes variá-veis cronométricas, tendo em conta o conhecimentodo TTP para os 400 e os 200 metros livres e para os100 metros mariposa, costas, bruços e livres; por géne-ro e por prova; (ii) desenvolver normativas para cadauma das variáveis cronométricas estudadas, por géneroe por prova; (iii) operacionalizar um modelo para adefinição de objectivos orientado para a prestação, deacordo com os dois objectivos anteriores.

MATERIAL E MÉTODOSAmostraParticiparam neste estudo 446 nadadores portugue-ses (230 do sexo feminino e 216 do sexo masculino)

António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis, Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais, Felipe Aidar

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da categoria cadetes (10-11 anos nadadoras e 11-12anos nadadores), que participaram no TorneioRegional da Associação de Natação do Norte dePortugal (ANNP) de piscina curta. No Quadro 1 apresentamos a distribuição absolutade casos observados por prova e por género.

Quadro 1. Distribuição absoluta do número de nadadores por género pelasdiferentes provas em estudo, que fazem parte da amostra.

400 m 200 m 100 m 100 m 100 m 100 mLivres Livres Livres Bruços Mariposa Costas

Femininos 40 35 38 52 18* 47Masculinos 31 14 34 57 23* 57

* O número de atletas na prova de 100m Mariposa foi menor que nas demaisprovas corroborando para estudo anterior feito por Barbosa et al. (7) onde o

número de nadadores de mariposa foi menor que os demais estilos.

MetodologiaProcedimentos para captação e registo de imagensA recolha de imagens para posterior tratamento rea-lizou-se numa piscina de 25,0 x 12,5 x 2,0 metros, ecom água à temperatura ambiente. Os registos devídeo dos nadadores foram feitos em simultâneoatravés da colocação de três sistemas de captação deimagens aéreas (JVC-SVHS). Todas as câmarasforam apoiadas em suportes de fixação vertical (tri-pés) e sincronizadas em tempo real com uma mesade mistura (Panasonic WJMX50). Os sistemas foramcolocados na parte superior das bancadas destinadasao público, no prolongamento de uma linha relativaa um par de marcas de referência, colocadas nas

paredes laterais da piscina, que permitiram o registode imagens aéreas dos nadadores. Estas marcasforam colocadas, paralelamente, aos 7,5m de cadaum dos lados da piscina. Os sistemas de captação de imagem n.º1 e n.º 3 per-mitiram integrar respectivamente no campo de cap-tação a totalidade do corpo do nadador durante arealização da partida (7,5 m iniciais – sistema decaptação n.º1), a viragem (7,5 m de aproximação e7,5 m de separação – sistemas de captação n.º1 e 3)e a chegada (últimos 5 m – sistema de captaçãon.º1). O sistema de captação de imagem n.º2, porsua vez, permitiu integrar no campo de captação atotalidade do corpo do nadador durante a realizaçãodo percurso central da piscina (distância entre os 7,5metros iniciais e os 7,5 metros finais) (Figura 1).Todas as câmaras, foram sincronizadas utilizando umsistema visual (foco) tradicional, visível por todas ascâmaras.

Procedimentos após a realização da prova As características cinemáticas dos registos de ima-gem efectuados foram determinadas a partir daintrodução de um cronómetro no filme e utilizandoo dispositivo de “frame by frame”, para a cronometra-gem dos diversos tempos efectuada. Foi consideradocomo referencial anatómico a passagem da cabeça,porção Frontal (vertex), do nadador por uma linhavertical traçada no ecrã, desde a base de uma marcade referência até à outra (29).A velocidade média de nado foi deduzida a partir dodesenvolvimento da diferença expressa pela equação 2.

Definição de objectivos na natação

25 m

TV 7,5 m

TChg

5 m TV

7,5 m

/ TP

Figura 1. Ilustração Esquemática do Modelo de Observação (TChg – Tempo de chegada, TV – Tempo de viragem, TP – Tempo de partida).

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(equação 2)

Redução dos resultados dos dados, obtidos pelo software de análise cronométricaA redução dos dados, obtidos pelo s o f t w a re adobe pre m i e r,2 0 0 6, para parâmetros estatísticos de tendência central,foi efectuada em folha de cálculo “Excel”. Nesta folhade cálculo foram introduzidos os valores absolutos detempo em cada instante de avaliação. A diferença entreos diferentes instantes consecutivos, foram calculadosobtendo assim os valores de cada uma das componen-tes da prova. Estes valores foram utilizados para o cál-culo dos parâmetros normativos desejados.

)().(1

1 #=

$+$=

n

i

iTVTPTTPsmVr Procedimentos estatísticos

Com o intuito de avaliar as associações entre asvariáveis em estudo, efectuámos uma análise explo-ratória das matrizes de correlação. Para o efeito,recorremos aos coeficientes de correlação simples dePearson (r), para a totalidade das variáveis. A porçãode variância comum, associada a ambas as variáveis,foi avaliada pelo coeficiente de determinação (r2

ajustado). O nível de significância foi mantido em5%. Através da estatística dedutiva foi possíveldeterminar os valores de B (declive) e de A (ordena-da na origem), de forma a ser possível construir asequações de regressão lineares para o TP, TV, TChg eTN, nas diferentes provas (20).O Quadro 2 pretende apresentar o conjunto de parâ-metros analisados.

António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis, Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais, Felipe Aidar

i 1

Quadro 2. Parâmetros cronométricos globais, determinados a partir dos procedimentos de software de analise [adaptado de Vicente (17)].

Acção Parâmetro Abreviatura e Caracterização e meios de determinaçãoUnidade de medida

Tempo total de prova

Partida

Viragem

Chegada

Nado

Medida composta pela TP, TN, TV e TChgTTP= % variáveis cronométricas

Valor determinado a partir do tempo cronometrado, automaticamente e equi-vale ao somatório das variáveis cronométricas utilizadas (11).

Valor determinado a partir do tempo cronometrado, automaticamente, desdeo sinal de partida até que a cabeça do nadador passe uma marca colocada a7,5 metros do topo da parede onde se encontram os blocos de partida (4).

Valor determinado a partir do tempo cronometrado, automaticamente, parapercorrer os 7,5 metros antes da parede (tempo de aproximação) e os 7,5metros depois (tempo de separação), medido a partir da cabeça do nadador(2, 4, 15, 17).

Valor determinado a partir do tempo cronometrado, automaticamente, parapercorrer os últimos 5 m, medido a partir do momento que a cabeça do nada-dor passa esta linha (15).

Medida composta pela TTP, TP e TV.TN = TTP – (TP + % TV)

TTP (s)

TP (s)

TV (s)

TChg (s)

TN (s)

Tempo de partida

Tempo de viragem

Tempo de chegada

Tempo de nado

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Variáveis Dependentes: Tempo de Partida, Tempo deNado, Tempo de Viragem, Tempo de Chegada.Variável Independente: Tempo Total de Prova.O estudo apresentou algumas limitações com relaçãoa idade e a colecta de dados no que se refere aotamanho da piscina. Assim, a pesquisa foi realizadapara um determinado grupo etário, a recolha dedados se deu em piscina de 25,0 x 12,5 x 2,0m.Neste sentido, os resultados se limitam inicialmenteao factor etário e a predições em piscinas curtas.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOSDe seguida, vamos apresentar o perfil das provas doG4/G5 feminino (Quadros 3, 4 e 5).Na prova dos 100 m nas diferentes técnicas, o com-portamento dos parâmetros de tendência centralconfirma os valores descritos na literatura, nomeada-mente a importância relativa do TN e do TV e ummenor contributo relativo do TChg. e TP respectiva-mente (Quadro 4). Na prova dos 200 m livres, verifi-cou-se que o aumento na distância de prova se tra-

Definição de objectivos na natação

Quadro 3. Média (x) e respectivos desvios padrão (DP) de cada uma das componentes cronométricas da prova dos 100 m mariposa, costas, bruços e livres; paraa categoria G4/G5 feminino. M - mariposa; C - costas; B - bruços; L - livres; TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg –tempo de chegada; TN – tempo de nado; % - percentagem relativa do tempo total que os nadadores demoram a cumprir determinada componente da prova.

G4/G5 – FEMININOProva TTP TP TV TChg TN100 m X±DP % X±DP % X±DP % X±DP % X±DP %

M 101.18 ±10.56 100 4.45 ±0.58 4.39 44.92 ±4.68 44.40 5.62 ±0.63 5.55 51.81 ±5.66 51.19

C 101.67 ±10.89 100 5.67 ±0.58 5.58 45.77 ±5.68 45.02 5.59 ±0.68 5.50 50.24 ±5.54 49.41

B 110.75 ±10.91 100 4.98 ±0.65 4.50 48.25 ±5.47 43.57 6.04 ±1.56 5.45 57.52 ±5.21 51.94

L 85.29 ±7.89 100 4.12 ±0.53 4.83 34.65 ±5.17 40.63 5.09 ±1.94 5.97 46.52 ±3.48 54.54

x 99.72 100 4.81 4.83 43.40 43.52 5.59 5.62 51.52 51.77

DP ±10.58 - ± 0.68 ±0.01 ± 6.00 ±0.02 ±0.39 ±0.00 ± 4.57 ±0.02

Quadro 4. Média (X) e respectivos desvios padrão (DP) de cada uma das componentes cronométricas da prova dos 200m livres, para a categoria G4/G5 femini-no. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado; % - percentagem relativa do tempo

total que os nadadores demoram a cumprir determinada componente da prova.

G4/G5 – FEMININOProva TTP TP TV TChg TN200 m X±DP % X±DP % X±DP % X±DP % X±DP %

Livres 196.47 100 4.15 2.11 94.03 47.86 5.39 2.74 89.28 45.44±16.20 ±0.34 ±7.68 ±0.71 ± 7.94

Quadro 5. Média (X) e respectivos desvios padrão (DP) de cada uma das componentes cronométricas da prova dos 400m livres, para a categoria G4/G5 femini-no. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado; % - percentagem relativa do tempo

total que os nadadores demoram a cumprir determinada componente da prova.

G4/G5 – FEMININOProva TTP TP TV TChg TN400 m X±DP % X±DP % X±DP % X±DP % X±DP %

Livres 378.85 100 3.92 1.03 210.37 55.53 4.91 1.30 164.56 43.44±31.72 ± 0.52 ±20.12 ±0.80 ±12.65

Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201194

duziu, comparativamente às provas mais curtas,numa maior duração no TN e nas competênciasmotoras associadas à viragem (Quadro 5).Tal como já havíamos observado na prova dos 200 mlivres também aqui na prova dos 400 m livres seacentua o crescente contributo relativo nas compe-tências motoras associadas às viragens e uma dimi-nuição relativamente uniforme nas restantes compo-nentes. As viragens apresentam uma acção diferen-ciada, uma vez que estão condicionadas à visualiza-ção da borda da piscina, noção de espaço e umaacção motora diferenciada dos gestos cíclicos presen-tes na natação pura desportiva.

De seguida, apresentaremos o perfil das provas dacategoria G5/G6 masculino (Quadros 6, 7 e 8).A distribuição relativa do contributo das diferentescomponentes nos nadadores evidencia a mesma ten-dência já observada para as nadadoras (Quadro 7).Tal como já havíamos verificado para o género femi-nino, existe uma prevalência relativa da TV face àsrestantes componentes em estudo para a prova dos200 livres (quadro 7) e 400 livres (Quadro 8).Também o caso dos nadadores demonstra a impor-tância relativa que o domínio específico das compo-nentes motoras associadas às viragens parece ter naprestação destes sujeitos (Quadro 8).

António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis, Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais, Felipe Aidar

Quadro 6. Média (x) e respectivos desvios padrão (DP) de cada uma das componentes cronométricas da prova dos 100 m mariposa, costas, bruços e livres; paraa categoria G5/G6 masculino. M - mariposa; C - costas; B - bruços; L - livres; TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg –

tempo de chegada; TN – tempo de nado; % - percentagem relativa do tempo total que os nadadores demoram a cumprir determinada componente da prova.

G5/G6 – MASCULINOProva TTP TP TV TChg TN100 m X±DP % X±DP % X±DP % X±DP % X±DP %

M 93.03 ±8.87 100 4.05 ±0.47 4.35 41.66 ±4.53 44.78 5.35 ±0.56 5.75 47.32 ±5.11 50.87

C 94.72 ±8.92 100 5.20 ±0.63 5.49 41.35 ±4.24 43.65 5.45 ±1.37 5.75 48.17 ±4.73 50.86

B 104.78 ±9.46 100 4.48 ±0.52 4.28 45.87 ±4.40 43.78 5.68 ±0.72 5.42 54.43 ±5.43 51.95

L 80.40 ±7.33 100 3.84 ±0.43 4.78 36.07 ±6.22 44.86 4.56 ±1.31 5.67 41.47 ±4.19 51.58

x 93.23 100 4.39 4.73 41.24 44.27 5.26 5.65 47.85 51.32

DP ± 10 ± 0.0 ± 0.60 ±0.01 ±4.01 ±0.64 ±0.49 ±0.00 ± 5.30 ± 0.01

Quadro 7. Média (x) e respectivos desvios padrão (DP) de cada uma das componentes cronométricas da prova dos 200m livres, para a categoria G5/G6 masculi-no. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado; % - percentagem relativa do tempo

total que os nadadores demoram a cumprir determinada fase da prova.

G5/G6 – MASCULINOProva TTP TP TV TChg TN200 m X±DP % X±DP % X±DP % X±DP % X±DP %

Livres 188.14 100 4.29 2.28 89.95 47.81 5.21 2.77 85.3 45.34± 9.05 ± 0.14 ± 4.90 ± 0.45 ± 3.92

Quadro 8. Média (x) e respectivos desvios padrão (DP) de cada uma das componentes cronométricas da prova dos 400m livres, para a categoria G5/G6 masculi-no. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado; % - percentagem relativa do tempo

total que os nadadores demoram a cumprir determinada fase da prova.

G5/G6 – MASCULINOProva TTP TP TV TChg TN400 m X±DP % X±DP % X±DP % X±DP % X±DP %

Livres 360.74 100 3.66 1.01 205.50 56.97 4.67 1.29 151.58 42.02±21.18 ±0.37 ±24.03 ±0.67 ±17.75

Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201 195

Na perspectiva da determinação das equações deregressão linear das componentes TP, TV, TChg e TNnas diferentes provas, fomos calcular os valores de A(declive) e de B (ordenada na origem) através deprocedimentos estatísticos inferenciais.Nos quadros que se seguem (Quadros 9, 10 e 11)encontram-se descritos os valores de A e de B, e ovalor do erro relativo de cada uma das componentesda prova, para o G4/G5 feminino e G5/G6 masculi-

no, relativamente às provas de 100 m (mariposa,costas, bruços e livres), 200 m e 400 m livres.Nateoria da probabilidade e na estatística, a variânciade uma variável aleatória é uma medida da sua dis-persão estatística, indicando quão longe em geral osseus valores se encontram do valor esperado. Avariância é o valor esperado do quadrado do desviode X da sua própria média (Quadro 12).

Definição de objectivos na natação

Quadro 9. Valores de A (declive) e de B (ordenada na origem) para cada uma das componentes da prova 100 m (mariposa, costas, bruços e livres); e respectivoerro relativo para categoria de cadetes - G4/G5 femininos e G5/G6 masculinos. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg –

tempo de chegada; TN – tempo de nado.

Prova MASCULINO FEMININO100m Componentes A B Erro Relativo A B Erro relativo

M TP 0.0329 0.989 9.27% 0.04957 -0.566 5.66%TV 0.445 0.267 5.45% 0.427 1.718 5.76%

TChg 0.0517 0.544 6.09% 0.0474 0.826 7.12%TN 0.523 -1.297 4.68% 0.523 -1.151 2.38%

C TP 0.0529 0.189 8.11% 0.04346 1.249 6.09%TV 0.448 -1.047 3.47% 0.487 -3.730 4.51%

TChg 0.07667 -1.814 22.08% 0.0455 0.967 8.41%TN 0.499 0.858 3.36% 0.470 2.481 4.26%

B TP 0.0473 -0.475 5.77% 0.0473 -0.260 8.06%TV 0.418 2.114 4.27% 0.491 -6.084 2.53%

TChg 0.05 0.438 9.64% 0.0618 -0.808 23.51%TN 0.535 -1.639 3.64% 0.462 6.344 2.28%

L TP 0.04194 0.466 7.81% 0.04939 -0.0913 8.9%TV 0.347 8.182 2.69% 0.200 -5.511 6.06%

TChg 0.09186 -2.825 25.04% 0.127 -5.726 33.08%TN 0.557 -3.266 2.41% 0.350 16.622 10.31%

Quadro 10. Valores de A (declive) e de B (ordenada na origem) para cada uma das componentes da prova 200m livres, e respectivo erro relativo para a categoriade cadetes - G4/G5 femininos e G5/G6 masculinos. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN –

tempo de nado.

Prova MASCULINO FEMININO200m Variáveis A B Erro Relativo A B Erro relativo

Livres TP 0.00918 2.56 2.65% 0.00961 2.257 7.29%TV 0.514 -6.684 1.60% 0.466 2.489 1.39%

TChg 0.0375 -1.835 5.98% 0.03498 -1.478 8.08%TN 0.398 10.486 1.89% 0.482 -5.384 1.67%

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Na prova dos 100 m mariposa, o TTP está mais con-dicionado ao TN, com 95% e 81%, para os génerosfeminino e masculino respectivamente e grupos(G4/G5 e G5/G6). Em relação à prova dos 100 m costas, também paraambos os géneros (feminino e masculino) e grupos(G4/G5 e G5/G6) é o TV com 87% e 89% do TTP avariável que melhor explica o TTP. De referir aindaque a percentagem do TChg assume uma importân-cia substancialmente diferente em cada um dosgéneros. Para o G4/G5 feminino, 52% do TTP éexplicado pelo TChg, enquanto que para o G5/G6masculino, o TCgh representa apenas 23% do TTP.Relativamente aos 100 m bruços, verifica-se umadiferença entre os dois géneros relativamente àimportância do TChg. Para as provas do grupo femi-nino, 17% do TTP é explicado por esta componente.Em contrapartida, para as provas do grupo masculi-no, a percentagem explicativa do TChg. no TTP é de42%. Ainda respeitante a esta prova, a variável queexplica melhor o TTP para o G4/G5 é o TV e para oG5/G6 é o TN com 95% e 87%, respectivamente.

De todas as provas, é nos 100m livres que o G5/G6obteve uma percentagem maior nas variáveis explica-tivas do TTP. Verifica-se que 94% do TTP é explicadopelo TN, o que significa que esta variável assumegrande importância nas provas masculinas. No grupofeminino, a variável que melhor explica o TTP é oTV (84%).Ainda com base no quadro 12, podemos verificar quepara o G4/G5 feminino, na prova dos 200m livres,97% do TTP é explicado pela variável TV. Ainda namesma prova, a variável que melhor explica o TTPpara o G5/G6 masculino é também o TV, o qual assu-me uma importância igualmente elevada, 92%. Por último, temos a prova dos 400m livres, na qualexiste uma maior discrepância entre os valores doG4/G5 e do G5/G6. Em ambos os grupos, é o TVque melhor explica o TTP. No entanto, para o grupofeminino, a percentagem é bastante maior, 94%,enquanto que para o grupo masculino, o TV apenasconsegue explicar 47% do TTP. De referir ainda queas percentagens explicativas do TP e do TN entre osgéneros são bastante diferentes, sendo que no

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Quadro 11. Valores de A (declive) e de B (ordenada na origem) para cada uma das componentes da prova 400m livres, e respectivo erro relativo para a categoriade cadetes - G4/G5 femininos e G5/G6 masculinos. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN –

tempo de nado.

Prova MASCULINO FEMININO400m Componentes A B Erro Relativo A B Erro relativo

Livres TP 0.009639 0.186 8.55% 0.01405 -1.4 6.85%TV 0.792 -80.19 8.52% 0.616 -23.049 2.30%

TChg 0.02072 -2.8 10.94% 0.0154 -0.921 13.02%TN 0.198 80.005 11.57% 0.370 24.449 2.91%

Quadro 12. Percentagem das variâncias de cada uma das componentes da prova dos 100 metros (mariposa, costas, bruços e livres) e 200 e 400 metros livres,para cada um dos géneros ( - género feminino, - género masculino); e respectivas diferenças entre os géneros ( / ). TTP - tempo total de prova; TP –

tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado.

Prova Téc. TP TV TChg TN" " " "

( / ) ( / ) ( / ) ( / )

100m M 81 36 45 92 75 17 60 66 6% 95 81 14C 65 55 10 87 89 2 52 23 29 85 88 3B 62 75 13 95 80 15 17 42 25 94 87 7L 52 51 2 84 91 7 25 24 1 62 94 32

200m L 19 32 12 97 92 5 62 53 10 97 83 13

400m L 73 28 45 94 47 47 36 41 6 86 2 83

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G4/G5 as percentagens são bastante mais significati-vas. No que respeita ainda aos 400m livres femini-nos, 86% do TTP é explicado pelo TN, enquanto quepara o género masculino, a mesma variável explicaapenas 2,4% do TTP.

Exemplo concreto para a definição de objectivosEste tópico tem por objectivo apresentar um exem-plo prático relativo a uma situação hipotética - pre-paração de um nadador para uma competição impor-tante. A prova a que nos reportamos será a dos 100m livres e os tempos que aqui apresentamos refe-rem-se a um caso real de uma nadadora, que acom-panhamos ao longo das nossas filmagens. Assim, no seguimento da metodologia preconizada,a primeira etapa será a de se proceder a uma análisediagnóstico relativamente às diferentes componentesda prova, padrão que se quer programar, face aosvalores reais de uma nadadora pertencente à amostrade estudo (Quadro 13).

Quadro 13. Tempos absolutos efectivos que uma nadadora da categoria decadetes - G4/G5 femininos - apresentou na prova de 100 m livres. TTP -

tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg –tempo de chegada; TN – tempo de nado.

TTP TP TV TChg TN(s) (s) (s) (s) (s)

72,57 3,07 28,24 3,81 37,45

A segunda etapa a ser efectuada é a de, com basenos valores de A e de B obtidos, e com base noobjectivo de prestação da nadadora em questão (TTPde 68 segundos), definir os tempos preditos paracada uma das componentes da prova (Quadro 14).A terceira e última etapa será a de com base na aná-lise comparativa entre os valores reais e os valorespreditos da prestação objectivo (TTP de 68 segun-dos) definir as componentes prioritárias a desenvol-ver (Quadro 15).

Definição de objectivos na natação

Quadro 14. Tempos (em segundos) a realizar pela nadadora da categoria cadete - G4/G5 femininos, na prova de 100 m livres, nas diferentes componentes deprova, de acordo com a aplicação das equações de regressão. TTP – tempo total de prova; TP – tempo de partida; TVs – tempo das viragens; TChg – tempo de

chegada; s – segundos.

G4/G5 – Feminino

Valores de A e B Desenvolvimento das equações de regressãoDeterminados para a categoria de Cadetes (2ª etapa)

TP= 0,04939xTTP + (-0,0913) TP = 0,04939 * 68 + (-0,0913) 3,26 sTV = 0,600xTTP + (-16,531) TV = 0,600 * 68 + (-16,531) 24,26 sTChg = 0,127xTTP + (-5,726) TChg = 0,127*68 + (-5,756) 2,88 sTN = 0,350xTTP + 16,622 TN = 0,350 * 68 + 16,622 37,58 s

TTP = 68 segundos

Quadro 15. Comparação entre os valores referentes ao processo de definição de objectivos e os valores obtidos na avaliação diagnóstico pela nadadora da cate-goria cadete - G4/G5 femininos, na prova de 100 m livres, nas diferentes componentes de prova, de acordo com a aplicação das equações de regressão. TTP –

tempo total de prova; TP – tempo de partida; TVs – tempo das viragens; TChg – tempo de chegada; s – segundos.

100 metros Livres – G4/G5 FemininoComponentes (s) Modelo Real Modelo Ideal Diferenças Componentes Prioritárias a Trabalhar

TP 3,07 3,26 - 0,19 3ªTV 28,24 24,26 + 3,98 1ªTChg 3,81 2,88 + 0,93 2ªTN 37,45 37,58 - 0,13 4ªTTP 72,57 67,98 + 4,59

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Com base nos dados, podemos verificar que o mode-lo real não está muito desfasado do modelo ideal. Anadadora possui um tempo de partida e de nadoinferior ao do modelo ideal. Tal acontece, porque uti-lizamos a melhor nadadora para efectuar a demons-tração. Contudo, através deste exemplo, sabemosque alguns aspectos devem ser melhorados duranteo treino, ou seja, sabemos que a viragem e a chegadasão as componentes prioritárias a serem trabalhadas.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOSTendo em consideração que os objectivos deste tra-balho se centraram: (i) na determinação das expres-sões preditivas para as diferentes variáveis cronomé-tricas, tendo em conta o conhecimento do TTP paraos 400 e os 200 metros livres e para os 100 metrosmariposa, costas, bruços e livres; por género e porprova; (ii) no desenvolvimento das normativas paracada uma das variáveis cronométricas estudadas, porgénero e por prova; (iii) e na operacionalização deum modelo para a definição de objectivos orientadopara a prestação, podemos verificar que os resulta-dos demonstraram diferenças entre as diversas pro-vas e distâncias estudas, havendo uma variação daimportância das diferentes componentes de nado deacordo com a prova, o género e a técnica de nado. Quando efectuámos uma comparação entre as váriasprovas estudadas e analisamos os valores expressosnos Quadros 3, 4, 5, 6, 7 e 8, verificou-se que àmedida que a distância de prova aumenta a impor-tância do TP diminuiu enquanto que a do TVaumenta. Estes dados vêm confirmar os resultadosobtidos por diferentes autores (1, 4, 15, 31, 32), que afir-mam que com o aumento da distância de prova, éprevisível a ocorrência de uma diminuição da impor-tância do TP e, inversamente, um aumento daimportância relativa do somatório do TV.A par desta situação, verificou-se também uma dimi-nuição percentual da importância da chegada, àmedida que a distância de prova aumenta, o que vaiao encontro das conclusões retiradas do estudosobre a variabilidade entre as variáveis cronométri-cas preconizadas por Arellano (4). No entanto, ovalor percentual para cada uma das variáveis é dife-rente, o que é perfeitamente normal, já que os auto-res realizaram os seus estudos a partir de provas dis-putadas em piscinas de 50 metros (22, 27). Como este

estudo foi elaborado numa piscina de 25 metros, osvalores obtidos para o TN são claramente inferiorese os obtidos para o TV são claramente superiores,comparando com os resultados publicados pelosautores acima referenciados (9).Na análise comparativa entre o G4/G5 feminino e oG5/G6 masculino, verificámos que os parâmetros TP,TChg, TN e TV são consideravelmente inferiores nosnadadores quando comparados com as nadadoras.Isto talvez possa ser explicado pelo facto da amostraapresentar uma idade em que o nível maturacionaltende a ser diferenciado com repercussões nas carac-terísticas antropométricas (12, 17).No entanto, não se verifica o mesmo para o TP naprova dos 200 metros livres e para o TV na provados 100 metros livres. Estes dados não são total-mente concordantes com a análise pormenorizadaefectuada por Arellano et al. (5) nos Jogos Olímpicosde Barcelona, uma vez que demonstraram que asmesmas variáveis, incluindo também a distância porciclo, são significativamente maiores em homens doque em mulheres. Também o estudo de Arellano etal. (6), realizado com os nadadores que participaramno dia olímpicos da juventude em 2001, concluiuque os nadadores do género masculino são maisrápidos em cada uma das fases da prova, e demons-traram um maior índice de nado e distância porciclo, enquanto que a frequência gestual é idêntica.A diferença do TP em cada um dos géneros é, emmédia, de 1 segundo para as provas de 100 metros.O mesmo acontece no estudo realizado por Arellanoet al. (6), realizado com nadadores cujas idades esta-vam compreendidas entre os 15 os 16 anos, e comnadadoras com 13 e 14 anos.A diferença do TV entre os dois géneros para a provade 100 metros mariposa é de 1,08 segundos, para aprova dos 100m costas é de 1,48 segundos, para aprova dos 100m bruços é de 0,82 segundos, e para aprova dos 100 m livres é de 0,14 segundos. Osdados do estudo realizado por Arellano et al. (6)

demonstram que a diferença entre o TV para os doisgéneros, nas provas dos 100 m mariposa e bruços, éde 1,4 segundos, e nas provas de 100 m costas elivres é de 1 segundo.Relativamente aos coeficientes de correlação e àsequações de predição lineares obtidas no nosso estu-do, podemos desde já referir que não temos termo

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de comparação, uma vez que não foram encontradosestudos realizados para esta categoria de nadadores.Podemos analisar os dados obtidos pelo estudo reali-zado por Arellano et al. (5). No entanto receamosque não seja uma comparação muito válida, uma vezque a nossa amostra é de uma categoria bastantemais jovem e, para além disso, os autores analisaramapenas provas de 50 e 100 metros livres, realizadasnuma piscina de 50 metros. Por tudo isto, julgamosque se compreende o facto de as diferenças seremnotórias.O desenvolvimento da equação 1, para a prova dos100 metros livres, permitiu obter para os dois géne-ros os seguintes valores de cada uma das componen-tes da prova.

Quadro 16. Valores de A (declive) e B (ordenada na origem), para as diferen-tes componentes de prova dos dois géneros na prova de 100 m livres, em

nadadores da categoria de cadetes - G4/G5 femininos e G5/G6 masculinos.TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem;

TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado.

G4/G5 – Feminino G5/G6 MasculinoTempo médio efectivo (s) Tempo médio efectivo (s)

TP = 4.81 TP = 4.39TV = 43.40 TV = 41.24

TChg = 5.59 TChg = 5.26TN = 51.52 TN = 47.85

Para além das diferenças existentes entre o estudode Arellano et al. (6) e o nosso relativamente ao nívelprestativo dos nadadores da amostra, as quais jáforam acima referenciadas, convém mencionar aindaque a metodologia relativa aos procedimentos paracaptação e registo de imagens foi diferente, atenden-do a que se tratava de uma piscina de 50 m (marcasde referência utilizadas foram: (i) o TP foi medidoaos 10m, (ii) a marca de referência para calcular oTV foi de 7,5m, (iii) o TChg foi medido aos 10 m.Em relação ao objectivo geral deste trabalho, pode-mos concluir que todas as variáveis cronométricasobtiveram relações estatisticamente significativascom o TTP e foram estabelecidas as respectivasequações de predição de rendimento. Deste modo,com a elaboração deste estudo, pensamos ter contri-buído para o desenvolvimento da natação emPortugal, uma vez que tornamos possível aos treina-

dores saberem quais as componentes de prova quedeverão em cada momento ser prioritariamente tra-balhadas, bem como a modelação da prestação espe-rada para os mesmos nadadores. Esta tarefa foi con-seguida tendo como base não só o tempo final daprova, mas também o tempo de cada uma das variá-veis constituintes da mesma. Segundo Arellano (4), otreinador deve elaborar o modelo de competiçãomais conveniente para cada um dos seus nadadores,fazendo adaptações baseadas nas características indi-viduais de cada um. A análise das componentes daprova durante a época ajudará a monitorizar o planode treino, e a fazer as respectivas adaptações neces-sárias ao modelo de treino proposto.Tal como foi apresentado no modelo para a definiçãode objectivos orientado para a prestação, concluímosque este modelo oferece algumas vantagens para oplaneamento do treino, pois permite aos treinadoressaberem se os objectivos parciais e gerais para a provaem questão foram conseguidos ou não. Pe r m i t e - l h e sainda saber quais as etapas prioritárias a serem traba-lhadas, para que se possa atingir o objectivo previa-mente estabelecido. Com o nosso exemplo, podemosconcluir ainda que a nadadora precisa de melhorar aexecução das viragens e da chegada ( 2 6 ). Os resultados apurados no decurso do presente estu-do permitem-nos o estabelecimento ainda dasseguintes conclusões:(i) Verificou-se, para a generalidade dos parâmetrosestudados, variação entre géneros;(ii) Com o aumento da distância de prova houveuma diminuição da importância relativa do TP e,inversamente, um aumento da importância relativado TV. Assim, é indiscutível a influência que amelhoria de qualquer um destes segmentos de provapode ter sobre a prestação final, tal como corroboracom outros estudos (2, 22, 26). Aliás, os resultadossugerem-nos que do ponto de vista do modelo habi-tual de preparação utilizado para esta categoria denadadores, provavelmente os técnicos deverão darmaior ênfase a este segmento de prova.Relativamente ainda a este parâmetro, concluiu-setambém que, a prova dos 100 metros livres é a queapresenta partidas mais rápidas, tanto no G4/G5feminino como no G5/G6 masculino;(iii) O estilo de bruços é aquele em que o tempo deviragem é superior;

Definição de objectivos na natação

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(iv) As provas de maior distância (200 e 400metros) apresentam uma percentagem de nadomenor, enquanto que as provas de 100 metros(livres e bruços) são as que apresentam a percenta-gem mais elevada. Estes dados parecem-nos impor-tantes, na medida em que nos levam a crer que osnadadores passam mais tempo a nadar nas provas de100m (livres e bruços), do que nas provas dos 200 e400m livres. Assim, pensamos que durante o proces-so de treino dos nadadores, se deve dar mais ênfaseà técnica de nado nas provas de distância mais curta.Por outro lado, nas provas de maior distância o trei-no das viragens deve assumir maior relevância (8);(v) Foi ainda possível verificar que, para todas asprovas à excepção do TP nos 200m livres e do TVnos 100m livres, os nadadores do G5/G6 masculinosão mais rápidos a partir, a virar e a chegar do que asnadadoras pertencentes ao G4/G5.Tendo como base as conclusões apresentadas, esteestudo tende a apresentar-se como uma boa formade predizer os tempos de cada uma das componen-tes da prova, para as faixas etárias, géneros sexuais eprovas realizadas em piscina curta (25 m), não gene-ralizáveis para outras condições uma vez que a pres-tação depende de uma multiplicidade de factores (3,

19, 30).

CORRESPONDÊNCIAAntónio José SilvaUniversidade de Trás-os-Montes e Alto Douro,Departamento de DesportoCIFOPRua Dr. Manuel Cardona5000 Vila Real, Portugale-mail: [email protected]

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Definição de objectivos na natação

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Ritmo dos jogos das finais das competições europeias de basquetebol (1988-2006) e as estatísticas que discriminam os jogos mais rápidos dos jogos mais lentos

Jorge Malarranha1

Jaime Sampaio2

1 Comissão Instaladora dos Ensinos na Área da Saúde e do Bem EstarUniversidade de Évora

2 Departamento de DesportoUniversidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

RESUMOO objectivo deste estudo foi caracterizar o ritmo dos jogos deBasquetebol, medido pelo número de posses de bola, e identifi-car diferenças nas variáveis estatísticas entre os jogos realiza-dos a ritmos mais elevados e os jogos realizados a ritmos maisreduzidos. Os dados utilizados reportam-se aos registos estatís-ticos colectivos dos jogos das finais das três competições euro-peias de clubes referentes às épocas entre 1987-88 e 2005-06(Euroliga, ULEBCUP e FIBACUP, n=27). Foram constituídosdois grupos de análise a partir do número de posses de bolapor jogo: jogos mais rápidos e jogos mais lentos. Os resultadossugerem uma tendência para um aumento do número de pos-ses de bola e pontos marcados e uma diminuição da eficáciaofensiva nos jogos analisados. Por outro lado, a eficácia ofensi-va dos jogos mais lentos foi significativamente superior à eficá-cia ofensiva dos jogos mais rápidos (p�0,05). A função discri-minante obtida foi baseada na análise dos coeficientes canóni-cos estruturais (CCE) e identificou as faltas cometidas(CCE=0,44), as faltas sofridas (CCE=0,43), os ressaltos defen-sivos (CCE=0,38) e os lançamentos livres falhados(CCE=0,37) como as estatísticas que melhor discriminam osjogos mais lentos dos mais rápidos (p!0,05). Os treinadorespodem utilizar estes resultados na selecção dos jogadores e napreparação das suas equipas, decidindo o ritmo de jogo a impordurante os jogos e os jogadores mais adequados para desempe-nhar essas tarefas.

Palavras-chave: Basquetebol, estatísticas, ritmo de jogo.

ABSTRACT Basketball game rhythm in the European Competitions Finals’(1988-2006) and the game-related statistics that discriminatebetween fast and slow paced games

The aim of this study was to characterize Basketball game rhythm, asmeasured by ball possessions, and to identify the differences in game-related statistics between high and low rhythm games. Archival datareport to team game-related statistics from the final games of the threeEuropean competitions for clubs from 1987-88 to 2005-06 season(Euroleague, ULEBCUP and FIBACUP, n=27). Two groups weremade according to the number of ball possessions per game: fastestgames and slowest games. The results seem to suggest an increase inball possessions per game and a decrease in points per game and offen-sive rating. Slowest games’ offensive ratings were significantly superiorto the fastest games’ ratings (p!0,05). The analysis of the discrimi-nant function was based on the observation of the structure coefficients(SC), and identified committed fouls (SC=0,44), received fouls(SC=0,43), defensive rebounds (SC=0,38) and unsuccessful free-throws (SC=0,37) as the game-related statistics that best discriminatefastest from slowest games. Coaches can use these results in players’selection and to prepare the team, deciding which game rhythm toimpose during games and which players’ are best prepared to performthese tasks.

Key-words: Basketball, statistics, game rhythm

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INTRODUÇÃONos jogos desportivos colectivos, o processo de pre-paração desportiva das equipas de alto-nível centra-se no objectivo de preparar a equipa para ser capazexecutar, em situação de competição, acções tácticasque corporizam uma estratégia colectiva para defron-tar determinado adversário, no sentido de vencer ojogo. Este processo de preparação é complexo eimplica cada vez mais que as equipas técnicas neces-sitem da contribuição de especialistas nos domíniosda análise do jogo, no sentido de melhor caracteriza-rem os adversários e consequentemente, melhordefinirem e prepararem a estratégia para os defron-tar. Particularmente no jogo de Basquetebol, os estu-dos que recorrem às estatísticas dos jogos têm sidoutilizados e explorados, quer na investigação quer noprocesso de treino, porque permitem que se realizeuma caracterização dos adversários na perspectiva devárias dimensões – táctica, técnica, psicológica,física(1, 2, 5, 13,14).O controlo do ritmo do jogo, entendido como o con-trolo da velocidade a que decorre o jogo nas suasdiferentes fases (transições defesa-ataque e ataque-defesa, ataque e defesa organizados) é um dos aspec-tos que os treinadores consideram como mais rele-vantes para o desfecho final dos jogos(4, 9). Contudo,a investigação científica não tem tratado deste pro-blema de acordo com a sua importância. De facto,apenas existe a ideia de que os jogos mais decisivosdecorrem a ritmos mais lentos. No Basquetebol profissional norte-americano,Oliver(4) estudou a variação das posses de bola, pon-tos marcados e eficácia ofensiva (pontos marcadosdivididos pelas posses de bola) nos jogos da faseregular referentes às épocas entre 1973 e 1995. Osresultados encontrados revelaram um decréscimo donúmero de posses de bola e pontos marcados, masrevelam, simultaneamente, um aumento da eficáciaofensiva das equipas. O número de posses de bola éuma medida válida do ritmo do jogo(4). Este autoridentificou também uma diminuição do número deperdas de bola e de lançamentos durante os jogos,enquanto que o número de lançamentos livres e deressaltos ofensivos permanece semelhante. As referências disponíveis na literatura que tratamdestes objectivos procuraram analisar as diferençasentre os valores das posses de bola(que representam o ritmo

de jogo - 4, 5) em jogos disputados na fase regular e noplayoff da liga portuguesa de Basquetebol(6). Osresultados obtidos pelos autores permitiram sugerirque, face à importância diferenciada dos jogos (osjogos do playoff são mais importantes), as equipasem confronto dispuseram de um menor número deposses de bola nos jogos do playoff, o que sugere umritmo de jogo mais lento e, consequentemente,resultou em valores mais baixos de pontosmarcados(6). Este estudo acrescenta ainda que nestesjogos de playoff realizados a ritmos mais lentos, asequipas cometeram mais faltas, converteram maislançamentos-livres e menos lançamentos de 2 pon-tos(6). Neste domínio particular, as faltas cometidas,os ressaltos ofensivos, os lançamentos livres conver-tidos e falhados foram identificados como as estatís-ticas do jogo que melhor discriminam as equipasque vencem das equipas que perdem os jogos doplayoff(5). Por outro lado, Sampaio(9) apresentou umestudo sobre o ritmo dos jogos da equipa do LecheRio Breogán realizados durante a 1ª e a 2ª voltas dafase regular da liga espanhola de Basquetebol (LigaACB). Neste trabalho, foram definidos dois gruposde jogos (mais rápidos e mais lentos) através deuma análise de classificação automática (cluster analy-sis) e analisaram-se as posses de bola e a eficáciaofensiva em função dos grupos resultantes dessaanálise estatística prévia. Os resultados encontradosevidenciaram uma diminuição do ritmo da 1ª para a2ª volta (menor número de posses de bola) e, simul-taneamente, um aumento na percentagem de vitó-rias sempre que o jogo decorria de forma mais lenta(valores superiores na eficácia ofensiva). Acrescente-se ainda que a estatística do jogo que discriminoucada tipo de jogos (mais rápidos vs. mais lentos)foram os lançamentos de 3 pontos convertidos(9).Este estudo foi realizado com uma amostra de jogosdisputados numa fase regular e sempre pela mesmaequipa. Neste sentido, a validade de generalizaçãodos resultados é limitada a esse mesmo contextoestratégico-táctico e daqui decorre a necessidade deconfirmar estes resultados noutros contextos de aná-lise mais diversificados e abrangentes. Neste quadro operativo, o objectivo do presente tra-balho é caracterizar o ritmo dos jogos deBasquetebol e identificar as estatísticas que melhordiscriminam os jogos de ritmo mais elevado dos

Estatísticas discriminantes do ritmo do jogo de Basquetebol

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Considerou-se que uma equipa tem a posse da bolaquando tem um controlo ininterrupto e completo dabola. As posses de bola, que representam o ritmo dojogo, foram calculadas através da seguinteequação(4):

Posses de bola = (lançamentos de campo tentados)– (ressaltos ofensivos) + (perdas de bola)

– 0,4 x (lançamentos livres tentados)

Os lançamentos tentados representam o númerototal de vezes que os jogadores de uma equipa exe-cutam uma tentativa para lançar ao cesto, que termi-nará com sucesso ou insucesso.Segundo este conceito, considera-se a conquista doressalto ofensivo não como uma nova posse de bolamas como um “reavivar” da posse de bola anterior.Desta forma, poderemos constatar que no final dosjogos, as equipas em confronto, usufruíram aproxi-madamente do mesmo número de posses de bola,uma vez que uma equipa não pode dispor de possesde bola consecutivas(4).

Tratamento dos dadosNo sentido de dar resposta ao objectivo formulado, otratamento dos dados iniciou-se pela identificação dejogos outliers de acordo com a diferença pontualfinal. De seguida procedeu-se à análise de clustersonde se constituíram 2 grupos de jogos, em funçãodo número de posses de bola do jogo. Estes doisgrupos foram categorizados como jogos mais rápidose jogos mais lentos. Posteriormente passou-se à aná-lise da função discriminante no sentido de identifi-car, através dos coeficientes canónicos estruturais(CCE) superiores a |0,30|, as estatísticas do jogoque mais contribuem para separar os jogos mais len-tos dos jogos mais rápidos. A análise estatística foirealizada através do software estatístico SPSS versão13.0 e o nível de significância foi mantido em 5%.

RESULTADOSNa Figura 1 encontram-se os resultados da variaçãodo número de posses de bola, pontos marcados e efi-cácia ofensiva das finais europeias realizadas entre1988 e 2006. Nestes resultados pode-se identificaruma tendência para a diminuição da eficácia ofensivadas equipas desde a época de 2002.

Jorge Malarranha, Jaime Sampaio

jogos de ritmo mais lento. Este tipo de informaçãopoderá constituir-se de elevada importância para queas equipas se preparem melhor para este tipo deconfrontos.

METODOLOGIAAmostraOs dados utilizados neste estudo foram recolhidosatravés dos registos estatísticos oficiais das trêscompetições europeias por clubes (Euroliga, ULEB-CUP e FIBA CUP). Foram utilizados os registos dojogo final de cada competição em cada época despor-tiva, o que constituiu uma amostra total de 27 jogos(Quadro 1). Esta opção foi tomada devido à elevadaimportância atribuída aos jogos finais, dado que ovencedor se torna campeão europeu. Neste sentido,é provável que os cuidados a ter na preparação des-tas competições sejam incrementados e que aumentea importância que se coloca nas decisões dos treina-dores e dos jogadores.

Quadro 1. Distribuição da amostra por competição disputadae caracterização da diferença pontual final dos jogos.

Competição Épocas Desportivas n Diferença pontual(x±sd)

Euroliga 1987-88 a 2005-06 19 7±4,5ULEBCUP 2002-03 a 2005-06 5 8±4,7FIBACUP 2003-04 a 2005-06 3 18±7,5

TOTAL 1987-88 a 2005-06 27 8±5,4

ProcedimentosAs estatísticas dos jogos foram recolhidas por técni-cos especializados da FIBA (Fédération Internationale deB a s k e t b a l l) e consistiram no registo de frequênciasdas seguintes acções técnico-tácticas: lançamentos de2 e 3 pontos (convertidos e falhados), lançamentoslivres (convertidos e falhados), ressaltos defensivos eofensivos, assistências, roubos de bola, desarmes delançamento, perdas de bola, faltas cometidas e sofri-das. Posteriormente, todas as estatísticas recolhidasforam divididas pelos valores das posses de bola dojogo, no sentido de as normalizar à medida padrão de100 posses de bola e assim garantir que a análiseposterior dos dados não sofre contaminação do ritmode jogo( 4 ). Depois de normalizadas, todas as estatísti-cas de jogo foram multiplicadas por 100( 5 ).

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Os valores médios decada grupo de jogosproduzidos pela análisede classificação automá-tica foram para os jogosmais rápidos de49,4±5,02 posses debola e para os jogosmais lentos de40,5±5,63 posses debola. As diferenças naeficácia ofensiva dasequipas destes dois con-textos foram estatistica-mente significativas,com valores de 149±19nos jogos mais rápidose de 167±28 nos jogosmais lentos. No Quadro2 encontram-se os valo-res médios das estatísti-cas dos jogos para cadagrupo de jogos (maisrápidos e mais lentos),bem como os resultadosda comparação demédias.

Estatísticas discriminantes do ritmo do jogo de Basquetebol

Figura 1. Variação do número de posses de bola, pontos marcados e eficácia ofensiva desde 1988 até 2006

Quadro 2. Médias e desvios-padrão dos indicadores estatísticos dos jogos mais rápidos e jogos mais lentos.

Estatísticas dos jogos Jogos mais rápidos Jogos mais lentos(45,1!PB!54,4) (34,9!PB<45,1)

Lançamentos de 2 pontos Convertidos 37,95 ± 09,14 43,93 ± 09,88Lançamentos de 2 pontos Falhados 42,19 ± 11,66 46,00 ± 10,42Lançamentos de 3 pontos Convertidos 12,49 ± 04,58 12,15 ± 05,09Lançamentos de 3 pontos Falhados 22,58 ± 10,83 25,27 ± 09,21Lançamentos Livres Convertidos 35,75 ± 13,55 42,84 ± 17,79Lançamentos Livres Falhados* 12,82 ± 06,12 19,33 ± 09,46Ressaltos Defensivos* 40,53 ± 10,06 50,27 ± 10,86Ressaltos Ofensivos 22,46 ± 09,63 24,54 ± 06,38Assistências 22,93 ± 11,17 18,86 ± 06,75Roubos de Bola 16,52 ± 07,80 17,82 ± 10,12Desarmes de Lançamento 5,46 ± 05,39 5,28 ± 05,15Perdas de Bola 26,57 ± 08,06 22,06 ± 07,26Faltas Sofridas* 49,40 ± 08,98 61,04 ± 15,30Faltas Cometidas* 49,36 ± 08,97 61,04 ± 15,30

* p � 0 , 0 5 (ANOVA)

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A função discriminante obtida para diferenciar osjogos mais lentos dos jogos mais rápidos foi estatis-ticamente significativa (p!0,05). Os CCE mais rele-vantes para o compósito linear desta função foramos das faltas cometidas e sofridas, dos ressaltosdefensivos e dos lançamentos livres falhados (verQuadro 3).

Quadro 3. Estatísticas do jogo que discriminam os jogos mais rápidos dos jogos mais lentos.

Estatísticas dos jogos CCE

Faltas Sofridas* 0,44Faltas Cometidas* 0,43Ressaltos Defensivos* 0,38Lançamentos Livres Falhados* 0,37Lançamentos de 2 pontos Convertidos 0,26Perdas de Bola -0,23Lançamentos Livres Convertidos 0,19Assistências -0,16Lançamentos de 2 pontos Falhados 0,13Lançamentos de 3 pontos Falhados 0,10Ressaltos Ofensivos 0,09Roubos de Bola 0,06Lançamentos de 3 pontos Convertidos -0,03Desarmes de Lançamento -0,01

Wilks’ Lambda 0,46Qui-Quadrado 31,82P <0,05Eigenvalue 1,17Correlação Canónica 0,74

* |CCE| # 0,30

DISCUSSÃOO objectivo do presente trabalho foi caracterizar oritmo dos jogos de Basquetebol e identificar as estatís-ticas que melhor discriminam os jogos de ritmo maiselevado dos jogos de ritmo mais lento. Existem opi-niões de que os jogos mais lentos são característicosdas fases mais decisivas das épocas desportivas, comopor exemplo os jogos da 2ª volta da fase regular (quedecidem a classificação para os p l a y o f fs, ou a manuten-ção na divisão) e os jogos dos p l a y o f fs (que decidem acontinuação ou não na luta pelo título de campeão oupelo acesso às competições europeias)(6, 9).

Os valores de corte apresentados para o presenteestudo que permitiram diferenciar os jogos disputa-dos a ritmos lentos dos jogos disputados a ritmosrápidos, devem ser entendidos no contexto particu-lar da amostra estudada. De facto, os valores médiosobtidos para os jogos da presente amostra são subs-tancialmente inferiores aos obtidos em estudos querecorreram à mesma metodologia realizados noutroscontextos(4, 9). Contudo, estes valores sugerem quetodos os jogos da presente amostra decorreram a rit-mos mais lentos, facto que confirma as opiniões pre-viamente apresentadas.Na literatura científica internacional, estes assuntostêm sido tratados exclusivamente em jogos da LigaProfissional Norte-Americana (NBA) por Oliver(4).Neste diferente contexto, o autor identificou umaumento na eficácia ofensiva e uma diminuição nasposses de bola e nos pontos marcados por jogo.Grosso modo, os resultados encontrados no presenteestudo parecem distintos das opiniões apresentadase dos estudos disponíveis, porque sugerem uma ten-dência recente para a diminuição da eficácia ofensivae dos pontos marcados. Por outro lado, o número deposses de bola por jogo tem aumentado. O sentidode variação deste conjunto de macro-estatísticas dojogo de Basquetebol sugere que os jogos das finaismais recentes são disputados a ritmos mais eleva-dos, mas com prejuízo nos pontos marcados e na efi-cácia ofensiva. O facto destes jogos serem decisivospara a atribuição dos títulos de campeão europeu,provavelmente reflectir-se-á numa percepção diferen-te do jogo pelos jogadores, que lhe atribuirão maisimportância porque todas as acções que executempodem ser decisivas para o resultado final do con-fronto(3, 7). Provavelmente, este é um aspecto que sevai reflectir mais no seu desempenho ofensivo, ondeé necessária mais concentração na execução dasestratégias colectivas e na conversão de lançamen-tos(10, 12, 13). Em caso contrário, podem ocorrer selec-ções de lançamento pouco favoráveis e com poucaspossibilidades de conquista do ressalto ofensivo. Éneste sentido que se verifica a superioridade dasdefesas sobre os ataques, levando à consequentediminuição dos pontos marcados e ao aumento donúmero de posses de bola por jogo. Este aumentodas posses de bola não é necessariamente positivopara as equipas pois, no presente estudo, foram

Jorge Malarranha, Jaime Sampaio

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identificadas diferenças estatisticamente significati-vas entre o ritmo dos jogos e a eficácia ofensiva, comvalores superiores para os jogos mais lentos (jogosmais rápidos 149±19 vs. jogos mais lentos 167±28).Neste sentido, tentar disputar um destes jogos finaisde forma mais lenta, explorando constantemente assituações de ataque organizado de modo a colocar osjogadores nas suas posições de melhor eficácia indi-vidual de lançamento e de maiores possibilidades dedisputa dos ressaltos ofensivos, pode ajudar a obtermelhores eficácias ofensivas. Neste assunto particu-lar, a literatura sugere que, nestes momentos, seexplorem os jogadores que desempenham funçõesmais próximo do cesto(11, 12). Por outro lado, tam-bém se diminui as hipóteses da equipa adversáriaexplorar situações de transição defesa-ataque emsuperioridade numérica, caracterizadas pelas eleva-das probabilidades de sucesso (5, 8, 14).No que diz respeito à identificação das estatísticasque melhor discriminam os jogos de ritmo mais ele-vado (45,1 ! posses de bola ! 54,4) dos jogos deritmo mais lento (34,9 ! posses de bola <45,1), osresultados do presente estudo identificaram as faltas(cometidas e sofridas), os ressaltos defensivos e oslançamentos livres falhados como as estatísticas quemelhor discriminaram estes dois contextos. Alguns estudos(9, 10) indicam que o aumento da fre-quência e do poder discriminante do número de fal-tas cometidas e de lançamentos livres tem caracteri-zado estes jogos decisivos onde o ritmo é mais lento.S a m p a i o( 9 ) refere o número de lançamentos de 3 pon-tos convertidos como o indicador estatístico que maisdiferencia os jogos mais lentos dos mais rápidos. O poder discriminante das faltas sugere que o ritmode jogo pode ser imposto (acelerado ou desacelera-do) pelo recurso a esta estratégia. Ou seja, as equi-pas que participaram nestes confrontos recorreramàs faltas, como meio de impedir a realização de lan-çamentos fáceis, por exemplo parar as situações desuperioridade numérica do adversário, parar asrecepções de bola em espaços de elevada eficáciaofensiva (i.e., a zona mais próxima do cesto habi-tualmente ocupada pelos postes baixos) e mesmoparar jogadores de elevada eficácia ofensiva(11). Destaforma, aumenta o número de faltas cometidas esofridas nestes jogos e diminui o seu ritmo. Estasituação implica, também, um aumento do número

de lançamentos livres (quer seja como consequênciadas faltas em acto de lançamento, quer seja comoresultado do acumular de faltas). O aumento donúmero de lançamentos livres tentados e a impor-tância de converter pontos nestes jogos, é uma expli-cação provável para o aumento do número de lança-mentos livres falhados. Este facto, pode favorecer aconquista da posse de bola por parte da equipadefensora. Os resultados do presente estudo realçam igualmen-te o poder discriminante dos ressaltos defensivos.Este aspecto pode resultar do facto de ocorreremmais lançamentos livres falhados, o que aumenta aspossibilidades de conquistar mais ressaltos, emespecial da equipa que está a defender (devido à van-tagem posicional da defesa no lançamento livre). Em suma, os jogos das finais das competições euro-peias de Basquetebol estão a decorrer a ritmos maiselevados, mas com menor eficácia e menos pontosmarcados. O ritmo dos jogos é essencialmente con-trolado pelas faltas cometidas e sofridas, facto quetambém é a expressão da estratégia preconizadapelos treinadores.

CORRESPONDÊNCIAJaime SampaioUniversidade de Trás-os-Montes e Alto DouroQuinta de Prados, Ap. 2025000-911 Vila Reale-mail: [email protected]

Estatísticas discriminantes do ritmo do jogo de Basquetebol

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Jorge Malarranha, Jaime Sampaio

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Efeito da complexidade da tarefa na direção da transferência bilateral em habilidades motoras seriadas

Dayane M. Pinho1

Guilherme M. Lage1,2

Herbert Ugrinowitsch3

Rodolfo N. Benda3

1 Laboratório do Comportamento Humano (LACOH)Faculdades Unidas do Norte de MinasBrasil

2 Faculdade de Ciências da Saúde (FCS)Universidade FUMECBrasil

3 Grupo de Estudo em Desenvolvimento e Aprendizagem Motora (GEDAM)Universidade Federal de Minas GeraisBrasil

RESUMOO efeito da complexidade da tarefa na direção da transferênciabilateral em habilidades motoras seriadas foi investigado atra-vés de dois experimentos. Vinte participantes praticaram umatarefa de menor complexidade (digitação de uma seqüência deteclas) no primeiro experimento, e outros vinte participantespraticaram uma tarefa de maior complexidade (posicionamentode bolas de tênis entre recipientes) no segundo experimento. Ameta para ambas as tarefas foi executar os movimentos namaior velocidade possível. Em ambos os experimentos, ossujeitos foram designados aleatoriamente para: 1) grupo desujeitos que praticou com a mão preferida e foi testado com amão não-preferida (GMP) e outro grupo que praticou com amão não-preferida e foi testado com a mão preferida (GMNP).Os experimentos constaram de pré-teste, aquisição e pós-teste.As análises entre o pré e o pós-teste indicaram que, indepen-dente da direção da transferência e complexidade da tarefa, osdois grupos se beneficiaram da transferência bilateral, tanto emtermos de desempenho quanto de consistência. A análise dosresultados entre o fim da aquisição e o pós-teste permitiuobservar uma relação inversa entre a direção da transferência ecomplexidade da tarefa. Os resultados são discutidos em ter-mos do tipo de processamento requerido nas tarefas.

Palavras-chave: aprendizagem motora, efeito de transferência,transferência bilateral, complexidade da tarefa

ABSTRACT Effect of task complexity in the bilateral transfer direction inserial motor skills

The effect of task complexity in the bilateral transfer direction in serialmotor skills was investigated through two experiments. In the first,twenty participants performed a less complex task (typing a keysequence) and in the second, another group of twenty participants per-formed a more complex task (positioning). The goal in both tasks wasto perform the movements as quickly as possible. In both experiments,the subjects were randomly assigned 1) to the group that practicedwith the preferred hand (GPH) and was tested with the non-preferredhand or 2) to the group that practiced with the non-preferred hand(GNPH) and was tested with the preferred hand. The experiment phas-es consisted of pre-test, acquisition and post-test. The analysis betweenpre and post-test indicated that independently of the direction of bilat-eral transfer and task complexity, all groups had the benefits of bilater-al transfer in terms of performance and consistency. The analysisbetween the end of acquisition and the post-test pointed out an inverserelation between the direction of transfer and task complexity. Theresults are discussed in terms of the kind of processing required in thetasks.

Key-words: motor learning, transfer effect, bilateral transfer,task complexity

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INTRODUÇÃOAprendizagem motora é o conjunto de processosassociados com a prática ou a experiência, conduzin-do a mudanças relativamente permanentes na capa-cidade de executar performance habilidosa(16).Mudanças são observadas no eixo temporal e podemser caracterizadas como fruto da crescente interaçãoentre vários elementos envolvidos no desempenhomotor. De acordo com Manoel(11), esses elementoscorrespondem aos órgãos sensoriais, à percepção, àtomada de decisão, à programação, ao sistema defeedback e ao sistema muscular. Através do fortaleci-mento dessa interação, ocorre uma gradativa trans-posição de estados desorganizados para estadosorganizados, emergindo assim, comportamentos quepodem ser distinguidos por padrões espaço-tempo-rais bem definidos, com metas no ambiente, caracte-rizados como habilidades ou tarefas motoras. Dentre os estudos sobre habilidades motoras, umtema que tem despertado interesse dos pesquisado-res é como uma habilidade aprendida com um mem-bro pode ser transferida para o outro, o que é conhe-cido como transferência bilateral. Estudos sobre atransferência bilateral indicam que a aprendizagem éindependente do membro efetor(5, 7, 8, 13). Em outraspalavras, o desempenho de um membro pode serotimizado pela prática do membro homólogo. Deforma geral, as explanações sobre a transferênciabilateral se baseiam na aprendizagem de elementoscognitivos envolvidos na execução das habilidades(7,

8) e nos mecanismos de controle motor, como pro-gramação motora, que definem os aspectos tempo-rais e espaciais requeridos nos movimentos(5, 13).De acordo com Wr i s b e r g( 2 4 ), o achado mais significan-te sobre transferência bilateral é que essa transferênciaé assimétrica entre os membros, ou seja, existem dife-renças em termos de direção da transferência. Emsituações práticas em que a preferência manual não érestringida, observa-se uma tendência de utilizaçãoinicial do lado preferencial1, para posteriormente prati-car com o lado não preferencial. Este comportamentopode estar relacionado à maior segurança e confortogerados na execução com o membro preferido.Entretanto, resultados de pesquisa são contraditóriosem relação a melhor direção da transferência. Resultados de pesquisas têm demonstrado que amelhor direção da transferência pode ocorrer do

membro preferido para o não-preferido(2, 6, 23) ou domembro não-preferido para o preferido(9, 10, 15, 17) eainda, que a direção da transferência entre membrosdepende de parâmetros específicos da tarefa, comoforça e timing(18, 19, 20). Como exemplo, Thut, Cook,Regard, Leenders, Haslband e Landis(20) utilizaramuma tarefa de desenho de padrões geométricos eobservaram que, para a medida de tempo de movi-mento, a direção da transferência mais efetiva foi domembro preferencial para o membro não-preferen-cial, enquanto para a medida de precisão espacial amelhor direção ocorreu no sentido contrário. Diferentes hipóteses explanativas são encontradassobre os níveis de ativação hemisférica gerados pelomembro praticado, preferencial ou não-preferencial,e pela característica das tarefas. Taylor e Heilman(17)

afirmam que a prática com a mão não-preferencialleva a uma ativação cerebral bihemisférica, facilitan-do assim a transferência para o membro preferencial.Por outro lado, a prática com a mão preferenciallevaria a uma maior ativação do hemisfério esquerdolevando a um menor grau de transferência para omembro não-preferencial. Já para Teixeira(19), deter-minados componentes da tarefa como o controle deforça e timing coincidente são controlados com amesma proficiência por ambos os hemisférios cere-brais, o que gera uma transferência simétrica entreos membros nesses parâmetros.Em uma análise restrita aos estudos que utilizaramtarefas de natureza seriada, a direção mais efetiva datransferência entre membros foi do membro não-preferencial para o membro preferencial(9, 10, 15, 17).Esses resultados suportam a hipótese de Taylor eHeilman(17) sobre os diferentes níveis de processa-mento gerados pela prática com o membro preferen-cial ou não-preferencial. Resultados de estudos recentes que utilizaram medi-das obtidas por neuroimagem e eletromiografia,apontam para uma relação entre complexidade datarefa e ativação entre os hemisférios. Tinazzi eZanette(21) encontraram uma maior ativação bihe-misférica, em movimentos mais complexos. Assim,uma maior complexidade geraria maiores interaçõesinter-hemisféricas trazendo maiores vantagens parao sistema(4, 14). Apoiado nos achados descritosacima, pode-se esperar que em tarefas de maiorcomplexidade, a transferência entre membros seja

Dayane M. Pinho, Guilherme M. Lage, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda

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simétrica. Isto contraria a hipótese de que em movi-mentos complexos a melhor direção da transferênciaé do membro não-preferencial para o preferencial(15).Entende-se o aumento da complexidade da tarefacomo o aumento do número de elementos(3), oumais especificamente, um maior número de graus deliberdade envolvidos na execução da habilidade(1, 22).Em suma, resultados de estudos que utilizaram tare-fas de natureza seriada sugerem que a direção maisefetiva da transferência entre membros parte domembro não-preferencial para o membro preferen-cial. Entretanto, a possibilidade de diferentes níveisde ativação hemisférica emergir não só pela práticade um determinado membro( 1 7 ), mas também pelac o m p l exidade da tarefa(4, 14, 21), justifica a realizaçãode novas pesquisas sobre a direção da transferênciaentre membros. Dessa forma, foi objetivo deste estu-do investigar o efeito da complexidade da tarefa nadireção da transferência bilateral em habilidadesseriadas. Para isso, foram realizados dois ex p e r i m e n-tos com tarefas seriadas de diferentes complexidades.

EXPERIMENTO 1 - TAREFA DE MENOR COMPLEXIDADE MÉTODOAmostraVinte sujeitos universitários, de ambos os sexos, nafaixa etária entre 18 e 35 anos, participaram comovoluntários desse experimento. Todos os sujeitoseram inexperientes na tarefa e participaram comconsentimento livre e esclarecido.

Instrumentos e TarefaPara a determinação do índice de dominância lateral,foi empregado o Inventário de Dominância Lateralde Edimburgo(12) e uma pergunta sobre a auto-clas-sificação do lado preferencial. A tarefa consistiu emdigitar uma seqüência de teclas pré-determinadas(2, 8,

6 e 4), com o dedo Indicador, na região alfanuméricade um teclado. A tarefa teve como meta realizar osmovimentos em maior velocidade possível. Foi utili-zado um software desenvolvido especificamente parao controle de tarefas seriadas no teclado do compu-tador e o armazenamento de dados sobre o tempototal. O tempo total foi definido pelo momento entreo pressionamento da primeira tecla e o pressiona-mento da última tecla. Os dados foram registradosno microcomputador ao final de cada tentativa.

Delineamento ExperimentalOs participantes foram designados aleatoriamentepara dois grupos de prática: 1) Grupo Mão-Preferencial (GMP) e 2) Grupo Mão Não-Preferencial (GMNP). O experimento constou detrês fases: 1) pré-teste com cinco tentativas de práti-ca, 2) fase de aquisição com 30 tentativas de práticacom o membro contrário ao utilizado no pré-teste e,cinco minutos após a aquisição, 3) pós-teste comcinco tentativas de prática com a mão utilizada nopré-teste. A denominação GMP ou GMNP relaciona-se à mão que executou a tarefa na fase de aquisição.O GMP realizou o pré-teste com a mão não-prefe-rencial, a fase de aquisição com a mão preferencial eo pós-teste com a mão não-preferencial. O tratamen-to inverso foi aplicado ao GMNP, ou seja, os sujeitosiniciaram com a mão preferencial, praticaram com amão não-preferencial e foram testados novamentecom a mão preferencial.

ProcedimentosInicialmente, os sujeitos preencheram o Inventáriode Dominância Lateral de Edimburgo e responderama questão sobre auto-definição da dominância late-ral. Análises indicaram o lado direito como o prefe-rido a todos os sujeitos. Em seguida, foram forneci-das instruções padronizadas sobre a tarefa. A infor-mação “inicie a tentativa” era fornecida na tela domicrocomputador e o sujeito iniciava a seqüência dedigitação. Cinco segundos após o término de cadatentativa foi fornecido aos sujeitos o conhecimentode resultados (CR) em relação ao tempo total demovimento. O CR não foi fornecido durante o pré-teste e o pós-teste.

Tratamento dos DadosOs dados foram organizados em blocos de 5 tentati-vas em todas as fases do experimento, tanto para amedida de desempenho quanto para a medida dodesvio padrão do desempenho. O teste deKolmogorov-Smirnov foi aplicado para verificar anormalidade dos dados, o qual indicou uma distri-buição normal dos mesmos. As análises inferenciaisforam realizadas através de três Anovas two-way (2grupos X 2 blocos no pré-teste e pós-teste; 2 gruposX 6 blocos na fase de aquisição; 2 grupos X 2 blocosentre o último bloco da aquisição e o bloco do pó-

Direção da transferência bilateral

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teste). Para análises Post Hoc, foi utilizado o teste deTukey, quando necessário. O valor de significânciaadotada foi de p<0,05. Essas análises foram realiza-das para permitir inferências sobre a transferência daaprendizagem entre membros e a melhor direção datransferência (pré e pós-teste), as mudanças no com-portamento durante a prática em relação ao membropraticado (aquisição) e a direção da transferênciaentre membros do final da prática para o pós-teste(último bloco da aquisição e bloco do pós-teste).

RESULTADOSAnálise entre o pré e o pós-testeA análise do desempenho entre o pré e pós-teste(Figura 1) não indicou diferença significativa entreGrupos [F(1,18)=0,42, p=0,52], assim como nainteração Grupos X Blocos [F(1,18)=0,12, p=0,72].Foi encontrada uma diferença significativa para ofator Blocos [F(1,18)= 14, 65, p<0,01]. O teste PostHoc de Tukey indicou que o bloco do pré-teste apre-sentou maior tempo de resposta comparado ao blocodo pós-teste (p<0,01).

Figura 1. Médias dos tempos de resposta dos gruposexperimentais em todas as fases do experimento 1.

A análise do desvio padrão do desempenho não indi-cou diferença significativa entre Grupos[F(1,18)=0,005, p=0,94], Blocos [F(1,18)=1,66,p=0,21] e na interação entre Grupos X Blocos[F(1,18)=1,98, p=0,17].

Análise da fase de aquisiçãoA análise do desempenho na fase de aquisição(Figura 1) indicou diferença significante para o fator

Grupos [F(1,18)=4,57, p<0,05], Blocos[F(5,90)=2,43, p<0,05] e na interação entre GruposX Blocos [F(5,90)=2,91, p<0,01]. O teste Post Hocde Tukey conduzido no fator Grupos indicou que oGMP apresentou menor tempo de resposta compara-do ao GMNP (p<0,05). Na análise do fator Blocos, o1o bloco da fase de aquisição apresentou maiortempo de resposta comparado ao 6o bloco (p<0,05).A análise da interação entre Grupos X Blocos mos-trou que o 1o bloco do GMNP apresentou maiortempo de resposta comparado ao 1o bloco do GMP(p<0,01).Na análise do desvio padrão do desempenho da fasede aquisição (Figura 2) não houve diferença entreGrupos [F(1,18)=0,16, p=0,68], Blocos[F(5,90)=1,21, p=0,30] e na interação entre GruposX Blocos [F(5,90)=1,02, p=0,4].

Análise entre o último bloco da aquisição e o bloco do pós-testeA análise de desempenho (Figura 1) não indicoudiferença significante para o fator Grupos[F(1,18)=0,02, p=0,88]. Entretanto, foi detectadadiferença para o fator Blocos [F(1,18)=8,88,p<0,01] e na interação entre Grupos X Blocos[F(1,18)=17,23, p<0,01]. O teste Post Hoc de Tukeyconduzido entre os blocos indicou que o últimobloco da aquisição apresentou menor tempo de res-posta comparado ao bloco do pós-teste (p<0,01). Naanálise da interação entre Grupos X Blocos, o últimobloco da aquisição do GMNP apresentou maiortempo de resposta comparado ao último bloco daaquisição do GMP (p<0,01). O último bloco daaquisição do GMP apresentou menor tempo de res-posta comparado ao bloco do pós-teste do mesmogrupo (p<0,01). A análise do desvio padrão do desempenho (Figura2) não indicou diferença significante para o fatorGrupos [F(1,18)=0,11, p=0,74], assim como nainteração entre Grupos X Blocos [F(1,18)=3,26,p=0,08]. Foi encontrada diferença significante parao fator Blocos [F(1,18)=4,37, p=0,05]. O últimobloco da aquisição apresentou menor variabilidadecomparado ao bloco do pós-teste (p<0,05).

DISCUSSÃOO objetivo do presente experimento foi investigar adireção da transferência bilateral em uma tarefa

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seriada considerada de menor complexidade. Osresultados indicaram que houve efeito de transferên-cia bilateral para ambos os grupos de prática. Tantoo GMP quanto o GMNP apresentaram uma melhorado desempenho do pré-teste para o pós-teste, o quecorrobora a proposição de que transferência bilateralindica que a aprendizagem é independente do mem-bro efetor(4, 7, 8, 13). Em relação à variabilidade dodesempenho, ambos os grupos apresentaram maiorconsistência ao final da prática comparado ao blocodo pós-teste.Entretanto, em relação à direção da transferência,houve uma deterioração do desempenho por partedo GMP do último bloco da aquisição para o blocodo teste, o mesmo não ocorrendo para o GMNP. Esteresultado sugere uma melhor transferência da mãonão-preferencial para a mão preferencial em umatarefa de menor complexidade. Este resultado corro-bora prévios achados sobre a direção da transferên-cia mais eficaz em tarefas seriadas(9, 10, 15, 17).

EXPERIMENTO 2 - TAREFA DE MAIOR COMPLEXIDADEMÉTODOAmostraVinte sujeitos universitários, de ambos os sexos, nafaixa etária entre 18 e 35 anos, participaram comovoluntários deste experimento. Todos os sujeitoseram inexperientes na tarefa, não foram voluntáriosdo experimento anterior, e participaram com consen-timento livre e esclarecido.

Instrumentos e TarefaPara a determinação do índice de dominância lateralfoi empregado o Inventário de Dominância Lateralde Edimburgo(12) e uma pergunta sobre a auto-clas-sificação do lado dominante. A tarefa consistiu emsoltar uma chave pressionada e transportar duasbolas de tênis em uma seqüência pré-definida entrequatro recipientes numerados de uma caixa demadeira (comprimento: 1m; largura: 0,66m; Altura:0,10m). A tarefa teve como meta realizar os movi-mentos de posicionamento em maior velocidadepossível. Foi utilizado um software desenvolvidoespecificamente para o controle de tempo e armaze-namento de dados sobre o tempo total. O instru-mento consistiu de um conjunto de diodos emisso-res de luz, uma chave de resposta para controlar o

início da tarefa e uma segunda chave de respostapara marcar o final da mesma. O tempo total foidefinido a partir da soltura da primeira chave e opressionamento da segunda chave. Os dados foramregistrados em um microcomputador ao final decada tentativa.

Delineamento ExperimentalO delineamento experimental foi o mesmo do pri-meiro experimento.

ProcedimentosInicialmente, os sujeitos preencheram o Inventáriode Dominância Lateral de Edimburgo e responderama questão sobre auto-definição da dominância late-ral, os quais indicaram o lado direito como o preferi-do a todos os sujeitos. Em seguida, foram fornecidasinstruções padronizadas sobre a tarefa. Ao sinal“prepara”, fornecido pelo experimentador, o sujeitopressionava a chave de resposta e, após um estímulovisual (acendimento dos diodos), a chave deveria sersolta para iniciar o transporte das bolas de tênis,uma a uma, com a mão pré-determinada, na seqüên-cia pré-definida no menor tempo possível. Ao repou-sar a segunda bola sobre o último recipiente, umasegunda chave era acionada medindo o tempo totalde movimento e caracterizando o fim da tarefa.Cinco segundos após o término de cada tentativa foifornecido aos sujeitos o conhecimento de resultados(CR) em relação ao tempo total de movimento. OCR não foi fornecido no pré-teste e no pós-teste.

Tratamento dos DadosO tratamento de dados foi o mesmo ao realizado noexperimento 1. O teste de Kolmogorov-Smirnovindicou uma distribuição normal dos dados.

RESULTADOSAnálise entre o pré e o pós-testeA análise do desempenho entre o pré e pós-teste(Figura 3) não indicou diferença significativa entreGrupos [F(1,18)=0,39, p=0,53], assim como nainteração entre Grupos X Blocos [F(1,18)=0,42,p=0,72]. Foi encontrada uma diferença significativapara o fator Blocos [F(1,18)=13, 36, p<0,01]. Oteste Post Hoc de Tukey indicou que o bloco do pré-teste apresentou maior tempo de resposta compara-do ao bloco do pós-teste (p<0,01).

Direção da transferência bilateral

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Figura 3. Médias dos tempos de resposta dos gruposexperimentais em todas as fases do experimento 2.

A análise do desvio padrão do desempenho (Figura4) não indicou diferença significativa entre Grupos[F(1,18)=0,005, p=0,94], assim como na interaçãoentre Grupos X Blocos [F(1,18)=0,05, p=0,81]. Foiencontrada uma diferença significativa para o fatorBlocos [F(1,18)=8,17, p<0,01]. O teste Post Hoc deTukey indicou que o bloco do pré-teste apresentoumaior variabilidade comparado ao bloco do pós-teste(p<0,01).

Figura 4. Desvio padrão das médias dos tempos de respostados grupos experimentais em todas as fases do experimento 2.

Análise da fase de aquisiçãoA análise do desempenho da fase de aquisição(Figura 3) indicou diferença significante para o fatorGrupos [F(1,18)=4,59, p<0,05], Blocos

[F(5,90)=4,70, p<0,01] e na interação entre GruposX Blocos [F(5,90)=3,72, p<0,01]. O teste Post Hocde Tukey indicou que o GMNP apresentou menortempo de resposta comparado ao GMP (p<0,05). Naanálise do fator Blocos, o 1o bloco da fase de aquisi-ção apresentou maior tempo de resposta comparadoao 2o (p<0,05), 3o, 4o, e 6o blocos (p<0,01, respecti-vamente). A análise da interação entre Grupos XBlocos mostrou que o 5o bloco do grupo GMP apre-sentou maior tempo de resposta que o 2o, 3o, 4o e 6o

blocos (p<0,01).A análise do desvio padrão do desempenho (Figura4) indicou diferença significante para o fator Grupos[F(1,18)=0,53, p<0,05] e na interação entre GruposX Blocos [F(5,90)=3,35, p<0,01]. O teste Post Hocde Tukey indicou que o GMP apresentou maiorvariabilidade comparado ao GMNP (p<0,05). A aná-lise da interação entre Grupos X Blocos mostrou queo 5o bloco do GMP apresentou maior variabilidadeque o 2o, 3o, 4o e 6o blocos do mesmo grupo(p<0,01). Não houve diferença significativa para ofator Blocos [F(5,90)=2,19, p=0,06].

Análise entre o último bloco da aquisição e o bloco do pós-testeA análise do desempenho não indicou diferença sig-nificante entre Grupos [F(1,18)=0,05, p=0,82].Entretanto, foi detectada diferença para o fatorBlocos [F(1,18)=7,83, p<0,01] e na interação entreGrupos X Blocos [F(1,18)=5,28, p<0,05]. Na análi-se do fator Blocos, o teste Post Hoc de Tukey indicouque o último bloco da aquisição apresentou menortempo de resposta comparado ao bloco do pós-teste(p<0,01). Na análise da interação entre Grupos XBlocos, o último bloco da aquisição do GMNP apre-sentou menor tempo de resposta comparado aobloco do pós-teste do mesmo grupo (p<0,01).A análise do desvio padrão do desempenho não indi-cou diferença significante para o fator Grupos[F(1,18)=0,11, p=0,74], Blocos [F(1,18)=0,21,p=0,64] e na interação entre Grupos X Blocos[F(1,18)=0,92, p=0,34].

DISCUSSÃO O objetivo do experimento 2 foi investigar a direçãoda transferência bilateral em uma tarefa seriada demaior complexidade. Os resultados indicaram que

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houve efeito de transferência bilateral para ambos osgrupos de prática. Tanto o GMP quanto o GMNPapresentaram uma melhora do desempenho e de suaconsistência do pré-teste para o pós-teste. Na fase deaquisição, o grupo que praticou com a mão não-pre-ferencial obteve melhor desempenho e consistênciacomparado ao grupo que praticou com a mão prefe-rencial. Esse resultado não esperado, pode ter sidogerado mais pelos altos níveis de variabilidadeencontrados no bloco 5 da fase de aquisição do quepela maior proficiência geral em todos os blocos porparte do sujeitos do GMNP.O resultado mais interessante refere-se à indicaçãode uma melhor transferência na direção oposta àobservada na tarefa de menor complexidade do pri-meiro experimento. O GMNP apresentou uma dete-rioração do desempenho do último bloco da aquisi-ção para o bloco do pós-teste, o mesmo não ocorren-do para o GMP. Este resultado sugere uma melhortransferência da mão preferencial para a mão não-preferencial em uma tarefa de maior complexidade.Este resultado contraria a hipótese que a melhordireção da transferência ocorre do membro não-pre-ferencial para o preferencial(17), principalmente emtarefas complexas(15).

DISCUSSÃO FINAL E CONCLUSÃOA análise conjunta dos resultados dos dois experi-mentos possibilita inferir que, independente do nívelde complexidade das tarefas seriadas utilizadas noestudo, o efeito da transferência bilateral é observa-do. Esses achados corroboram os resultados de estu-dos que encontraram efeitos positivos da prática deum determinado membro sobre o membro contrala-teral(2, 5, 6, 7, 8, 13, 23).Apesar de não ter havido diferença no desempenhoentre os grupos no pós-teste, as análises realizadasentre o final da prática e a transferência para omembro homólogo mostraram um efeito da comple-xidade da tarefa na direção da transferência. Natarefa de menor complexidade, os sujeitos que pra-ticaram com a mão não-preferencial mantiveram omesmo desempenho com a mão preferencial natransferência (pós-teste). Para a tarefa de maiorc o m p l exidade, a melhor direção da transferênciaocorreu no sentido contrário, ou seja, os sujeitos

que iniciaram a prática com a mão preferencialmantiveram, na transferência, o mesmo desempe-nho com o membro contralateral.O resultado encontrado na tarefa de maior complexi-dade contraria a hipótese de Puretz(15), que em tare-fas mais complexas, a melhor direção para a transfe-rência entre membros ocorre na direção não-prefe-rencial para a preferencial. Apoiado nos achados dePassarotti, Banich, Sood e Wang(14) e Tinazzi eZanette(21), é possível inferir que uma maior comple-xidade leva a uma maior ativação bihemisférica,tendo o sistema se beneficiado desse processo natransferência da aprendizagem do membro preferen-cial para o não-preferencial. Na direção contrária,esse benefício pode não ser tão claro. Seria possívelsugerir que o hemisfério esquerdo (responsável pelocontrole da mão preferencial direita) não se beneficiedo processamento gerado pelo hemisfério direito aomesmo nível que o hemisfério direito (responsávelpelo controle da mão não-preferencial esquerda) sebeneficia do processamento mais especializado naprodução de movimentos do hemisfério esquerdo.De acordo com Passarotti, Banich, Sood e Wand(14),os hemisférios cerebrais são dois diferentes proces-sadores que podem acoplar ou desacoplar os seusprocessos para aumentar as funções cerebrais depen-dendo das demandas específicas da tarefa.A análise do ocorrido na tarefa de menor complex i-dade pode ser realizada no mesmo sentido discuti-do acima. A prática com o membro preferencialdireito pode ter levado a ativação somente dohemisfério esquerdo(4, 17) não otimizando assim atransferência para o membro não- p r e f e r e n c i a l .Níveis iniciais de assimetria de desempenho entreos membros podem ter sido mantidos durantetodas as fases do experimento. A análise conjuntados resultados nos dois experimentos sugere umarestrição na hipótese de Taylor e Heilman( 1 7 ) s o b r eos diferentes níveis de ativação hemisférica geradospela prática de um determinado membro. Devido àsevidências, o fator complexidade da tarefa pode tertambém um papel decisivo na ativação bihemisféri-c a( 4 ) em habilidades seriadas. Em suma, os presen-tes achados apontam para um efeito da complex i d a-de da tarefa na direção da transferência bilateral emhabilidades motoras seriadas.

Direção da transferência bilateral

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NOTA1 No presente estudo assume-se que o membro direito é omembro preferencial e o membro não-preferencial é o esquer-do. Os resultados de estudos discutidos se referem aos dadosobtidos com sujeitos destros.

CORRESPONDÊNCIAProf. Guilherme LageUniversidade FUMEC / FCSFaculdade de Ciências da SaúdeDepartamento de Educação FísicaRua da Paisagem, 240 – Vila da SerraNova Lima – Minas Gerais, BrasilCEP 34000-000e-mail: [email protected]

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Dayane M. Pinho, Guilherme M. Lage, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda

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O efeito da interferência contextual em idosos

Wesley R. Gonçalves1,3

Guilherme M. Lage2,3

Alexandro B. da Silva3

Herbert Ugrinowitsch3

Rodolfo N. Benda3

1 Universidade Presidente Antonio Carlos (UNIPAC)Conselheiro Lafaiete, MG, Brasil

2 Universidade FUMECBelo Horizonte, MG, Brasil

3 Gedam (Grupo de Estudos em Desenvolvimento eAprendizagem Motora)Escola de Educação Física,Fisioterapia e Terapia OcupacionalUniversidade Federal de Minas Gerais (UFMG)Brasil

RESUMOO presente estudo teve como objetivo verificar o efeito da inter-ferência contextual (EIC) na aquisição de habilidades motorasem idosos. Foi utilizada uma tarefa de posicionamento manual,caracterizada pelo transporte de três bolas de tênis em u m aseqüência e tempo alvo pré-determinados. O experimento cons-tou de 4 fases: 1) aquisição, 2) transferência 1 (T1), 3) transfe-rência 2 (T2) e 4) retenção da aquisição. Os sujeitos foram divi-didos aleatoriamente em quatro grupos (n=12): grupo de práti-ca aleatória-aleatória (A-A), que realizou a tarefa de forma alea-tória na aquisição e na retenção; grupo de prática aleatória-blo-cos (A-B), que realizou a aquisição de forma aleatória e a reten-ção em blocos; grupo de prática em blocos-blocos (B-B), querealizou a aquisição e a retenção em blocos; grupo de prática emblocos-aleatória (B-A), que realizou a aquisição em blocos e aretenção de forma aleatória. Os resultados mostraram que umdos grupos que praticou em regime aleatório apresentou-semais variável durante a fase de aquisição que os grupos que pra-ticaram em blocos. Entretanto, este mesmo grupo aleatório, noprimeiro bloco do teste de retenção da aquisição, mostrou-semais preciso que um dos grupos em blocos. Esses resultadosconfirmaram parcialmente o EIC em idosos.

Palavras-chave: aprendizagem motora, estrutura de prática, inter-ferência contextual.

ABSTRACTThe contextual interference effect in elderly people

The purpose of this study was to investigate the contextual interferenceeffect (CIE) in the acquisition of motor skills in elderly people. A man-ual positioning task was used, it was characterized by the transport ofthree tennis ball in a movement sequence and predetermined targettimes. The experiment consisted of 4 phases: 1) acquisition, 2) trans-fer 1 (T1), 3) transfer 2 (T2) and 4) retention of the acquisition. Thesubjects were randomly distributed into four groups: random-randomgroup (R-R), which performed the tasks in a random order in theacquisition and retention; random-blocked group (R-B), which per-formed the acquisition in a random order and the retention in a blockedorder; blocked-blocked group (B-B), which performed the tasks in ablocked order in the acquisition and retention; blocked-random group(B-R), which performed the acquisition in a blocked order and theretention in a random order. The results showed that one of the ran-dom groups was more variable during the acquisition compared to theboth blocked groups. However, this random group, in the first block ofthe retention was more precise than one of the blocked groups. Theseresults partially confirm the CIE in elderly people.

Key-words: motor learning, structure of practice, contextual interfer-ence

Rev Port Cien Desp 7(2) 217–224218

INTRODUÇÃOUma das variáveis de maior influência na aprendiza-gem motora é a estruturação da prática. A formacomo a prática é organizada interfere na qualidade ena quantidade de informações recebidas, processadase geradas através das restrições impostas ao apren-diz. A área de estudo que investiga os efeitos daordem de execução de duas ou mais habilidades naaprendizagem motora é conhecida como interferên-cia contextual. A interferência contextual foi primeiramente defini-da por Battig(2), como a interferência produzida poroutras tarefas e as formas pelas quais elas são pro-cessadas. De forma geral, os estudos sobre interfe-rência contextual comparam os efeitos das práticasvariadas em blocos e aleatória(18, 19, 22, 24). A práticaem blocos, considerada de baixa interferência con-textual, caracteriza-se pela execução de todas as ten-tativas de uma determinada habilidade para entãoiniciar-se as execuções da seguinte (ex. WWW XXXYYY). Já a prática aleatória, considerada de altainterferência contextual, é baseada em uma ordemde execução não sistemática das habilidades a serempraticadas (ex. X W Y W X Y X W Y)(5). Apesar de aprática em blocos produzir melhor performancedurante a fase de aquisição, quando a performancedos grupos é comparada nos testes de retenção etransferência, a prática aleatória conduz a ummelhor desempenho que a prática em blocos(14).A maioria dos estudos que investigou o efeito dainterferência contextual (EIC) contou com crianças,adolescentes ou adultos como sujeitos(1, 22, 24). Dick,Beth, Shankle, Dick-Muehlke, Cotman e Kean(7) eDick, Hsieh, Dick-Muehlke, Daves e Cotman(8)

investigaram a hipótese da variabilidade de práticaentre idosos saudáveis e portadores do mal deAlzeimer. Entretanto, apenas o trabalho de Dick,Hsieh, Dick-Muehlke, Daves e Cotman(8) seguiu osdelineamentos dos estudos da área de aprendizagemmotora, incluindo os testes de retenção e transferên-cia e permitiu, devido ao delineamento utilizado eresultados encontrados, fazer algumas inferênciasquanto ao EIC em idosos. Participaram desse traba-lho 56 idosos saudáveis e 56 idosos portadores domal de Alzeimer distribuídos em grupos controle, deprática constante, prática em blocos e prática aleató-ria consistindo de fases de aquisição, transferência

próxima, transferência distante ou intermediária eretenção, em uma tarefa de arremessar a um alvo adiferentes distâncias. Os resultados mostraram queos sujeitos portadores do mal de Alzeimer se benefi-ciaram apenas da prática constante e não consegui-ram em nenhum outro regime de prática uma trans-ferência para uma nova tarefa com um nível de difi-culdade intermediário. Entre os sujeitos saudáveis, ogrupo de prática aleatória apresentou melhor perfor-mance que o grupo em blocos na fase de retenção efoi o único grupo a apresentar desempenho superiorao grupo controle durante a fase de transferênciadistante. No trabalho de Dick, Hsieh, Dick-Muehlke,Daves e Cotman(8) o grupo de prática aleatória nãoalternava a distância de lançamento a cada tentativadevido à dificuldade de entendimento apresentadapelo grupo portador do mal de Alzeimer. O grupo deprática aleatória limitou-se então, em alternar as dis-tâncias de forma não hierárquica depois de um quar-to das tentativas. Esse procedimento pode ter contri-buído para um enfraquecimento do efeito da interfe-rência contextual. Dois estudos encontrados preocuparam-se especifi-camente em investigar o EIC em idosos(4, 6). DelRey(6) verificou a relação entre nível de atividade físi-ca e interferência contextual. O estudo contou com48 mulheres idosas, distribuídas em grupos de prati-cantes e não praticantes de atividade física, que rea-lizaram uma tarefa de timing coincidente em regimede prática aleatória e em blocos. Na fase de aquisi-ção, os grupos que praticaram em blocos apresenta-ram-se mais precisos e menos variáveis. Na intera-ção entre velocidade do estímulo, nível de atividadee contexto de aquisição, para análise do erro cons-tante, verificou-se que nos sujeitos ativos a aquisiçãode forma aleatória facilitou a retenção da aquisiçãonas velocidades consideradas mais difíceis (as veloci-dades mais baixas) para aprendizagem da tarefainvestigada (5 e 7 mph) Esses resultados deramsuporte para o EIC entre idosos ativos e para relaçãoentre nível de atividade física e função cognitiva emidosos. Nesse trabalho não foi aplicado teste detransferência, o que não permitiu verificar a capaci-dade de adaptação dessa população a uma nova tare-fa, considerando o regime de prática. Carnahan, Va n d e rvoort e Swanson( 4 ), com o objetivode discutir o EIC em função dos efeitos da idade na

Wesley R. Gonçalves, Guilherme M. Lage, Alexandro B. da Silva, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda

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aquisição de habilidades, contaram com um grupo dejovens além de um grupo de idosos com 24 sujeitosdivididos em grupos de prática aleatória e em blocos.A tarefa do estudo foi pressionar, o mais rápido o pos-sível, três diferentes seqüências pré-determinadas deum conjunto de quatro teclas na região alfanuméricade um computador. O teste de retenção da aquisiçãofoi aplicado com metade das tentativas executadas deforma aleatória e metade de forma em blocos. O testede transferência, como no estudo de Del Re y( 6 ), tam-bém não foi aplicado por Carnahan e colegas( 4 ). Osresultados apontaram para um limitado efeito da inter-ferência contextual em idosos, pois apenas na fase deretenção e apenas em uma seqüência de movimentos,na seqüência teoricamente mais difícil segundo osautores do estudo, foi verificado o EIC, com o grupode prática aleatória executando a tarefa mais rápidoque o grupo de prática em blocos.Com o avanço da idade, o desempenho motor e cog-nitivo decresce e a prática de atividade física podeinterferir positivamente, minimizando as perdasdecorrentes da terceira idade(20, 21). Apesar de seremmais lentos nas medidas de desempenho, devidopossivelmente a déficits de processamento central,como dificuldade na seleção das informações, dificul-dades em ignorar informações irrelevantes e natomada de decisão, os idosos apresentam capacidadede se adaptar tanto às demandas ambientais quantoà aprendizagem motora(9, 12). Todavia, pouco sesabe como a estruturação da prática pode contribuirpara a aprendizagem nessa população.Assim, o objetivo deste estudo é verificar o EIC naaprendizagem de uma tarefa de posicionamentomanual em idosos.

MATERIAL E MÉTODOA amostra foi constituída por 48 sujeitos de ambosos sexos, com idade média de 66,45 ± 4,89 anos,todos participantes de um programa de atividadesfísicas da Escola de Educação Física, Fisioterapia eTerapia Ocupacional (UFMG). Os sujeitos não rela-taram qualquer patologia e nunca haviam tido conta-to com a tarefa utilizada. Todos assinaram um termode consentimento livre e esclarecido para participa-rem do estudo.Foi utilizada uma tarefa de posicionamento manual,caracterizada pelo transporte de três bolas de tênis

em uma seqüência e tempo alvo pré-determinadosentre 3 conjuntos de 2 recipientes de uma platafor-ma identificados com as letras A, B e C. Uma centralde controle ligada a um microcomputador, constituí-da por um conjunto de diodos (estímulo visual parao início da tarefa) e uma chave de respostas (contro-le dos tempos para início e fim da tarefa) foi contro-lada por um software que mediu os tempos de rea-ção, de movimento e de resposta em cada tentativa earmazenou esses dados (Figura 1).Antes de cada tentativa, era fornecida a informaçãoda seqüência de movimentos a ser realizada atravésda apresentação de um cartão de 8 x 11 cm. Ao sinal“prepara”, fornecido pelo ex p e r i m e n t a d o r, a chave erapressionada, e, após um estímulo visual (acendimen-to dos diodos), a chave era solta, medindo o tempode reação, devendo então se iniciar o transporte dasbolas de tênis com a mão dominante na seqüênciapré-definida em determinado tempo alvo. Ao términoda seqüência de posicionamento das bolas, a chaveera pressionada novamente medindo o tempo demovimento e caracterizando o fim da tarefa.

Figura 1. Esquema do aparelho utilizado no experimento.

Os sujeitos foram designados aleatoriamente paraquatro grupos experimentais (n=12): grupo de prá-tica aleatória-aleatória (A-A), que realizou a tarefade forma aleatória na aquisição e na retenção daaquisição; grupo de prática aleatória-blocos (A-B),que realizou a aquisição de forma aleatória e a reten-ção da aquisição em blocos; grupo de prática em blo-cos-blocos (B-B), que realizou a aquisição e a reten-ção da aquisição em blocos; grupo de prática em blo-cos-aleatória (B-A), que realizou a aquisição em blo-cos e a retenção da aquisição de forma aleatória.

Efeito da interferência contextual em idosos

Rev Port Cien Desp 7(2) 217–224220

O experimento constou de quatro fases: 1) aquisi-ção, 2) transferência 1 (T1), 3) transferência 2 (T2)e 4) retenção da aquisição (R). Na aquisição, os gru-pos praticaram 45 tentativas de três diferentesseqüências de movimento (A/B/C; C/B/A; B/C/A)em um tempo alvo de 3.500ms, sendo que os gruposB-B e B-A praticaram em blocos, executando 15 ten-tativas consecutivas de cada tarefa, na ordem apre-sentada acima, e os grupos A-A e A-B praticaramaleatoriamente, não repetindo consecutivamente amesma tarefa ao longo da fase de aquisição. Antesde iniciar a fase de prática, cada sujeito, sem restri-ção de tempo, realizou uma tentativa de cadaseqüência de movimentos para familiarização com oequipamento e os procedimentos.Foi fornecido feedback qualitativo em direção e mag-nitude para todos os sujeitos cinco segundos após ofinal de cada tentativa válida durante a fase de aqui-sição. Se o sujeito realizou a tarefa exatamente notempo alvo foi dito: “você acertou”, se o sujeitoapresentou o erro absoluto até 100ms, foi dito:“você está próximo”, se o erro absoluto foi entre 100e 250ms foi dito, conforme o caso: “você está umpouco atrasado” ou “você está um pouco adiantado”e caso o erro absoluto tenha sido superior a 250msdo tempo alvo, foi dito, de acordo com a direçãodesse erro: “você está muito atrasado” ou “você estámuito adiantado”. O teste de transferência (T1) foi realizado três minu-tos após a aquisição, no qual os sujeitos realizaram 12tentativas de uma nova tarefa (C/A/B), com complex i-dade similar, em termos de números de componentesenvolvidos na execução, às tarefas da aquisição e nomesmo tempo alvo, sem fornecimento de f e e d b a c k. O segundo teste de transferência (T2) foi realizadotrês minutos após o término do primeiro, no qual ossujeitos realizaram 12 tentativas de uma novaseqüência (C/A/B/A), sem fornecimento de feed-back, com um tempo alvo de 4.500ms e complexida-de maior que as anteriores, pois possuía quatro com-ponentes, consistindo no retorno da bola do reci-piente A para sua posição original.No teste de retenção da aquisição foram realizadas12 tentativas das mesmas seqüências (A/B/C;C/B/A; B/C/A) praticadas na fase de aquisição, como mesmo tempo alvo e sem o fornecimento de feed-

back. Ressalta-se que, apesar das seqüências da fasede retenção da aquisição serem as mesmas da fasede aquisição, os grupos B-A e A-B realizaram a fasede retenção da aquisição com um regime de práticainverso ao que tinham praticado na aquisição (Tabela1). Esse procedimento foi aplicado no sentido deanalisar a influência da especificidade da práticadurante o teste de retenção e a capacidade de adap-tação de um regime de prática a outro(18).

Tabela 1. Regime de prática dos grupos experimentais nas fases de aquisição e retenção da aquisição.

Grupos experimentais Ordem de execução das tarefas na fasede aquisição e teste de retenção

Aquisição Retenção

A-A Aleatória AleatóriaA-B Aleatória BlocosB-B Blocos BlocosB-A Blocos Aleatória

As variáveis dependentes analisadas nesse estudoforam as médias do erro absoluto (ms) e as médiasdo desvio-padrão do erro absoluto (ms).Os dados da fase de aquisição foram organizados emnove blocos de cinco tentativas cada. Os testes detransferência e retenção da aquisição foram organiza-dos em blocos com média de seis tentativas cada.Isto se justifica pela escolha da execução de duastentativas de cada uma da seqüências de movimento,tanto na estrutura de prática que foi aplicada na fasede aquisição, como na estrutura de prática nãovivenciada na aquisição.

RESULTADOSErro AbsolutoPara a fase de aquisição (Figura 1), foi conduzidauma ANOVA two-way (4 grupos x 9 blocos) commedidas repetidas no segundo fator que não indicoudiferença significante entre grupos [F(3,44)=0,44,p=0,72], assim como não indicou interação entregrupos e blocos [F(24,352)=1,25, p=0,19]. Houvediferença significante entre blocos [F(8,24)=24,08,p<0,001] e o teste Post Hoc de Tukey registrou dife-rença entre o primeiro e os demais blocos de tentati-vas (p<0,001).

Wesley R. Gonçalves, Guilherme M. Lage, Alexandro B. da Silva, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda

Rev Port Cien Desp 7(2) 217–224 221

Para comparação entre o último bloco de tentativasda fase de aquisição e os testes foi conduzida umaANOVA two-way (4 grupos x 7 blocos) com medi-das repetidas no segundo fator que não indicou dife-renças entre grupos [F(3,44)=1,05,p=0,38].Observou-se diferença significante entre blocos[F(6,18)=13,12,p<0,001] e o teste Post Hoc deTukey registrou as seguintes diferenças: o últimobloco de tentativas da fase de aquisição foi mais pre-ciso que os primeiros blocos dos testes T1 e T2,segundo bloco do teste T2 e que os dois blocos daretenção (p<0,05); o primeiro bloco do T1 foimenos preciso que o segundo bloco do T1, segundobloco do T2 e que os dois blocos da fase de retenção(p<0,001); o primeiro bloco do T2 foi menos preci-so que o segundo bloco do T2 e que os dois blocosda retenção (p<0,001). Foi também observada interação entre grupos e blo-cos [F(18,264)=1,68,p<0,05] e o teste Post Hoc deTukey registrou as seguintes diferenças: o grupo B-Afoi mais preciso no último bloco de tentativas dafase de aquisição que em seu primeiro bloco do testede retenção (p<0,01); o grupo A-B foi mais precisoque o grupo B-A no primeiro bloco do teste deretenção (p<0,01); o primeiro bloco do T1 do grupoB-B foi mais preciso que o seu segundo bloco(p<0,05); o segundo bloco do T2 do grupo B-B foimais preciso que o seu primeiro bloco (p<0,01).

Figura 2. Erro absoluto dos gruposexperimentais nas fases de aquisição e testes.

Desvio-padrão do erro absolutoPara fase de aquisição (Figura 2), foi conduzida umaANOVA two-way (4 grupos x 9 blocos) com medi-das repetidas no segundo fator que indicou diferençasignificante entre grupos [F(3,44)=3,24,p<0,05] e oteste Post Hoc de Tukey registrou maior variabilida-de do grupo A-B sobre B-B (p<0,05). Observou-setambém diferença significante entre blocos[F(8,24)=4,25,p<0,01] e o teste Post Hoc de Tukeyindicou maior variabilidade, com exceção do 4º blocode tentativas, do primeiro para os demais blocos(p<0,01). Houve ainda interação entre grupos e blo-cos [F(24,352)=2,06,p<0,01] e o teste de Post HocTukey registrou as seguintes diferenças: maior varia-bilidade do grupo A-B sobre os grupos B-A(p<0,001) e B-B (p<0,05) no terceiro bloco de ten-tativas; maior variabilidade do primeiro sobre o últi-mo bloco do grupo A-A (p<0,01); maior variabilida-de do primeiro sobre o 2º, 3º, 5º, 6º, 8º e últimobloco do grupo B-B (p<0,01).Para a comparação entre o último bloco de tentativasda fase de aquisição e os testes foi conduzida umaANOVA two-way (4 grupos x 7 blocos) com medi-das repetidas no segundo fator que não encontroudiferença significante para grupos[F(3,44)=1,57,p=0,209]. Entretanto, observou-sediferença para blocos [F(6,18)=9,08,p<0,001] e oteste Post Hoc de Tukey registrou as seguintes dife-renças:o último bloco de tentativas da fase de aquisi-ção apresentou menor variabilidade que os primeirosblocos de tentativas dos testes T1 e T2 (p<0,01); oprimeiro bloco do T1 apresentou maior variabilidadeque o segundo bloco desse mesmo teste, primeiro esegundo blocos do T2 e que os dois blocos da reten-ção (p<0,01); o segundo bloco do T1 apresentoumenor variabilidade que o primeiro bloco do T2(p<0,01); o primeiro bloco do T2 foi mais variávelque o segundo bloco desse mesmo teste e que osdois blocos da retenção (p<0,01). Houve também interação entre grupos e blocos[F(18,264)=2,12, p<0,01] e o teste Post Hoc deTukey indicou as seguintes diferenças: maior variabi-lidade do primeiro sobre o segundo bloco de tentati-vas no T1 do grupo A-A (p<0,001) e grupo B-B(p<0,05); maior variabilidade do primeiro sobre osegundo bloco do T2 no grupo B-B (p<0,001).

Efeito da interferência contextual em idosos

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700

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 T1 T1 T2 T2 R R

Blocos de Tentativas

Err

o A

bso

luto

(m

s)

A-A

A-B

B-B

B-A

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Figura 3. Desvio-padrão do erro absoluto nas fases de aquisição e testes.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃOO objetivo do estudo foi verificar o efeito da interfe-rência contextual na aprendizagem de uma tarefa deposicionamento manual em idosos.Os resultados mostraram que houve considerávelqueda no erro absoluto e aumento na consistênciaentre os grupos no decorrer da fase de aquisição,confirmando a melhora no desempenho já observadaem outros estudos(6, 8, 9).Em relação à variabilidade, os grupos apresentaramconsistência semelhante no último bloco de tentati-vas da fase de aquisição. Entretanto, na análise detoda a fase de aquisição, o grupo A-B apresentou-semais variável que o grupo B-B. Assim como mos-trou-se mais variável que os grupos que praticaramem blocos, B-B e B-A, no terceiro bloco de tentati-vas, resultado que está de acordo com Del Rey(6) eos pressupostos do EIC de forma geral.Nos estudos que confirmam o EIC, o grupo de práti-ca aleatória apresenta melhor desempenho nos tes-tes, principalmente naqueles em que é exigida umamaior complexidade da tarefa(3, 4, 6, 8, 18). No presenteestudo os grupos apresentaram desempenho seme-lhante durante os testes de transferência. Em relação à igualdade de desempenho verificadanos testes de transferência, vale ressaltar que houveuma tendência entre os sujeitos, quando foi retiradoo feedback e apresentado novas tarefas, de focaliza-rem a atenção na correta execução da seqüência,sacrificando a precisão temporal em prol da precisãoespacial. Segundo Larish e Stelmach(9) essa popula-ção tende a valorizar aspectos espaciais, como a cor-

reta seqüência, em detrimento da precisão temporalou velocidade de execução. Logo, essa estratégiapode ter contribuído para igualar os grupos duranteos testes de transferência.A interpretação dos resultados dos testes de trans-

ferência, quando utilizados nos estudos, ainda nãoestá clara. Segundo Schmidt(13), os efeitos da mani-pulação da prática poderiam influenciar os aspectosda aprendizagem tanto na retenção quanto na trans-ferência. Magill e Hall(10) confirmam que quando osefeitos do EIC são encontrados na retenção tendema aparecer também nos testes de transferência. Porsua vez, Sekiya e Magill(15) confirmaram o EIC nostestes de retenção e transferência, somente quandohouve manipulação de parâmetros. Eles afirmam queseus resultados são limitados ao delineamento utili-zado, pois a transferência carece de mais estudos epode depender do que está sendo variado na práticae mensurado no estudo, como parâmetros ou pro-gramas. O presente estudo variou programas duran-te a prática e segundo Magill e Hall(10), o EIC tendea ser confirmado quando se procede dessa maneira.Entretanto, uma série de trabalhos tem contestadoessa afirmação, sugerindo que a variação de parâme-tros seria a condição mais provável para verificar osefeitos da interferência contextual(15, 16, 17, 19).Mesmo assim, os resultados mostraram uma dificul-dade de adaptação do grupo que praticou em blocosdurante a aquisição e foi exigido em um regime alea-tório na fase de retenção, grupo B-A. Este grupoapresentou uma queda no desempenho durante oprimeiro bloco da retenção, quando comparado comseu último bloco de tentativas da fase de aquisição.Observou-se também superioridade do grupo A-Bsobre o B-A no primeiro bloco do teste de retenção.Esses resultados estão de acordo com o trabalho deShea e Morgan(18) e Carnahan, Vandervoort eSwanson(4) e demonstram certa rigidez da estruturade prática em blocos para se adaptar a uma novacondição de prática. No sentido contrário, observa-seuma maior capacidade do grupo de prática aleatóriaem se ajustar a uma nova condição de prática. DelRey(6), ao contrário do presente estudo, verificou nafase de retenção uma menor precisão e consistênciado grupo que praticou de forma aleatória durante aaquisição. Os resultados do teste de retenção contri-buem para conclusão de um efeito parcial da interfe-

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rência contextual e vai ao encontro de outros resul-tados observados na literatura(4, 11, 23).Sob uma perspectiva de desenvolvimento, o EIC emidosos não tem sido consistentemente investigado.De forma geral, os poucos estudos realizados com-provaram parcialmente(4, 6, 8) os efeitos benéficos daprática aleatória para essa população. A análise dosresultados dos estudos encontrados na literatura eos do presente estudo não apresenta evidências cla-ras do EIC em idosos em todos os contextos de tes-tes. Pode-se destacar os efeitos positivos da práticaaleatória em idosos em alguns aspectos dos testes deretenção. Dele Rey(6) e Carnahan e colegas(4) encon-traram um maior efeito de aprendizagem por partedos sujeitos do grupo de prática aleatória somentenas tarefas que esses autores definiram como asmais difíceis. Esses aspectos foram a velocidade doestímulo(6) e a ordem espacial dos eventos(4). Nopresente estudo, um fator que confirma parcialmen-te os efeitos da interferência contextual em idososem aspectos de maior exigência, foi a melhor adapta-ção do grupo A-B comparado ao B-A no 1º bloco daretenção quando os mesmos praticaram as mesmashabilidades exigidas na aquisição, porém em umaoutra estrutura de prática. Resultados inconsistentes sobre o EIC vêm tambémsendo encontrados quando os sujeitos analisados seencontram em outros níveis de desenvolvimento. Deacordo com Ugrinowitsch e Manoel(22), estudos rea-lizados com crianças tendem a não confirmar o EIC,enquanto um maior número de confirmações éencontrado em pesquisas com sujeitos adultos.Esses resultados sugerem que muito por ser esclare-cido em relação ao EIC e níveis de desenvolvimento.Em suma, o presente estudo fornece subsídios parase confirmar parcialmente o efeito da interferênciacontextual em idosos, mostrando maior potencial deadaptação a um novo regime de prática do grupo quepraticou de forma aleatória. Seria interessante ainvestigação de outras questões envolvendo o EIC eidosos, como distinção na aprendizagem de parâme-tros e programas e complexidade da tarefa. Assimsendo, novos estudos que investiguem o EIC comidosos precisam ser realizados.

CORRESPONDÊNCIAWesley Rodrigo GonçalvesRua Monsenhor João Martins, 2144 Bairro Novo Progresso – Contagem / MG 32140-470 Brasil e-mail: [email protected]

Efeito da interferência contextual em idosos

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Actividade física, equilíbrio e medo de cair.Um estudo em idosos institucionalizados

Joana CarvalhoJoana PintoJorge Mota

Centro de Investigação em Actividade Física,Saúde e LazerFaculdade de DesportoUniversidade do PortoPortugal

RESUMO O objectivo deste trabalho foi determinar qual a relação entre omedo de cair, o equilíbrio e a prática de actividade física emidosos institucionalizados.A amostra foi constituída por 56 idosos institucionalizados (65e 95 anos) divididos em função do padrão de prática de activi-dade física e do sexo. O equilíbrio, o medo de cair e a ocorrên-cia de quedas nos últimos 12 meses foram estudados como fac-tores de risco para as quedas. Os resultados mostraram que: i)não se verificaram diferenças estatisticamente significativas noequilíbrio em função do sexo; ii) os idosos do sexo masculinoapresentaram menor medo de cair que os do sexo feminino; iii)os praticantes de actividade física apresentaram maior equilí-brio e menor medo de cair do que os não praticantes; iv) verifi-cou-se uma associação positiva entre o medo de cair e o equilí-brio, entre o medo de cair e a prática de actividade física eentre o equilíbrio e a prática de actividade física. Conclui-seque, em idosos institucionalizados, o sexo não influencia oequilíbrio mas influencia negativamente o medo de cair e que aocorrência de quedas não parece ter grande impacto no medode cair. Os resultados deste trabalho sugerem ainda que a práti-ca de actividade física está associada a um maior equilíbrio e aum menor medo de cair.

Palavras-chave: envelhecimento, quedas, equilíbrio, medo decair, actividade física.

ABSTRACT Physical activity, balance and fear of falling. A study with institutionalized older people

The aim of the present study was to investigate the relationshipbetween fear of falling, balance and physical activity in institutional-ized older adults. Fifty six subjects aged 65 or older living in nursing homes participatedin this study. Balance, fear of falling and the occurrence of falls duringthe last 12 months were assessed as risk factors for falls. The resultsshowed: (i) no significant differences in balance according to gender;(ii) men reported less fear of falling than women; (iii) active elderlysubjects showed significantly higher values of balance and less fear offalling compared to non-participants peers; (iv) a positive associationwas observed between fear of falling and balance, between fear offalling and physical activity and between balance and physical activity.We concluded that gender did not influence balance but negativelyaffects fear of falling. Participation in physical activity programs seemsto be associated and to have positive effects on balance and fear offalling.

Key-words: aging, falls, balance, fear of falling, physical activity

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INTRODUÇÃOA população idosa é, actualmente, uma realidadedemográfica cada vez mais significativa na populaçãomundial. Por exemplo, em Portugal, entre 1960 e2001, o fenómeno do envelhecimento demográficotraduziu-se por um incremento de 140% da popula-ção idosa com decréscimo de cerca de 36% na popu-lação jovem(12).O número de idosos institucionalizados tem vindo aaumentar, quer em lares, centros de dia ou casas derepouso. Em Portugal, cerca de 33% dos utentesligados a estabelecimentos de segurança social, sãoidosos, nomeadamente 12% em lares, 11% em apoiodomiciliário e 10% em centros de dia(12).Viver na comunidade ou em instituições são duascondições de vida distintas geralmente associadas adiferenças nos índices de actividade física e níveis deincapacidade(10). Apesar de, muitas vezes, os idososserem institucionalizados ainda com um nível deautonomia bastante elevado, a habitual desobrigaçãoda realização de várias das tarefas do dia a dia nestecontexto, contribui para o aumento da inactividade,para a redução da aptidão física e consequentemen-te, para o aumento do risco de quedas, da morbilida-de e mortalidade(10).As quedas são um dos mais sérios problemas asso-ciados com a idade e um dos maiores problemas deSaúde Pública(3, 13). Vários trabalhos mostram que40 a 60 % dos indivíduos acima dos 65 anos já expe-rimentaram pelo menos uma queda, sendo esta maisfrequente nos utentes de lares e nas mulheres (23).São vários os factores relacionados com a maior sus-ceptibilidade de ocorrência de quedas e consequen-tes fracturas, facilitadas pela desmineralização ósseacomum neste escalão etário(3, 6). Entre outros, adiminuição do equilíbrio e o medo de cair são aspec-tos determinantes em todo este quadro(3). Estudoscomo os de Tinetti et al.(29) e MacAuley et al.(16)

referem o medo de cair como um factor psicológicopresente em 50% das pessoas idosas reportandouma experiência prévia de queda.As alterações do equilíbrio e o medo de cair afectama auto-confiança, repercutindo-se negativamente naquantidade de actividade física diária, nos níveis deaptidão física e no envolvimento das actividades davida diária (AVD), factos estes que por sua vez con-tribuem para o isolamento social e aumento da

dependência de outrem(14, 27, 3). Assim, parece existirum ciclo vicioso negativo entre a inactividade, ofraco equilíbrio, o medo de cair e a maior probabili-dade de ocorrência de quedas(3).A prática de actividade física regular tem sido referi-da como uma importante e eficaz estratégia de pre-venção das quedas(15) ao promover o aumento dosníveis de aptidão física e de auto-confiança na reali-zação de tarefas do dia a dia, particularmente nosidosos com maior grau de incapacidade(4).Tomando em consideração o atrás exposto, o objecti-vo deste estudo consistiu em determinar qual a rela-ção entre o medo de cair, o equilíbrio e a prática deactividade física em idosos institucionalizados. Paraalém disso, este trabalho procurou analisar ainfluência das variáveis sexo e prática de actividadefísica regular sobre o equilíbrio e o medo de cair. Porfim, pretendeu-se observar de que forma é que a his-tória de quedas nos últimos doze meses influenciamo medo de cair.

MATERIAL E MÉTODOS AmostraParticiparam voluntariamente 58 voluntários resi-dentes em 2 lares da região de Guimarães. A presen-ça de patologias crónicas e o uso de medicamentosforam obtidos através de informação reportada pelossujeitos da amostra e pelo médico assistente docorpo clínico das instituições a que pertenciam,mediante autorização prévia dos idosos.Pelas próprias características dos sujeitos, a amostrainicial foi alterada de forma a serem controladastodas as variáveis que poderiam influenciar nosresultados finais. Assim, foram excluídos 2 indiví-duos, um por apresentar problemas de visão e outropelo facto de se encontrar sob efeito farmacológicode anti-depressivos.Assim, a amostra final passou a ser constituída por56 indivíduos com idades compreendidas entre os 65e os 95 anos (idade média=77.5±7.8 anos), dosquais 32 do sexo feminino e 24 do sexo masculino. A avaliação da prática regular de actividade físicaestruturada (no período de 12 meses prévios ao ini-cio do presente estudo) para posterior classificação ealocação dos idosos em grupos, foi efectuada atravésde um questionário que incluiu questões referentesao tipo de atividade física praticada, a freqüência

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semanal de tal prática e a duração das sessões detreinamento. Consideraram-se praticantes os indiví-duos que participavam regularmente em, pelomenos, sessões bissemanais de actividade físicaestruturada, com uma duração de pelo menos 50minutos e dirigidas para várias componentes de apti-dão física (treino de resistência aeróbia, força mus-cular, equilíbrio, flexibilidade e coordenação).Os idosos foram assim subdivididos em dois gruposem função dos hábitos de prática actividade físicaregular: P - praticantes de actividade física envolven-do 28 sujeitos com idades compreendidas entre os65 e os 92 anos (idade média=77.1±7.2 anos), dosquais 16 mulheres e 12 homens e NP - não pratican-tes de actividade física compreendendo 28 indiví-duos com idades compreendidas entre os 65 e os 95anos (idade média=79.4±8.1 anos), dos quais 16mulheres e 12 homens. Através do questionário determinou-se, também, aocorrência de quedas no período de doze mesesanteriores ao estudo.Foram considerados os aspectos éticos referidos naDeclaração de Helsínquia (1986) da AssociaçãoMédica Mundial, incluindo a adequada informaçãodos participantes em relação ao estudo, a manuten-ção da sua confidencialidade e anonimato através dacodificação dos participantes, assim como, a obten-ção do seu consentimento informado escrito antesde se efectuar a recolha de dados.

Avaliação do medo de cairPara avaliar o medo de cair utilizou-se a versão por-tuguesa da Falls Efficacy Scale (FES). Este instrumen-to foi desenvolvido para medir o medo de cair porTinetti et al.(29), tendo sido validado para a popula-ção portuguesa por Melo(17). É baseado na definiçãooperacional de medo como “percepção de diminutaauto-confiança para evitar quedas durante tarefasessenciais, potencialmente não lesivas”(29). Estaescala mede o medo de cair, perguntando-se ao indi-viduo qual o grau de confiança que tem na realizaçãode determinadas tarefas sem cair ou perder o equilí-brio. É constituída por um questionário com 10 tare-fas (vestir e despir; preparar uma refeição ligeira;tomar um banho ou duche; sentar/levantar da cadei-ra; deitar/levantar da cama; atender a porta ou otelefone; chegar aos armários; trabalho doméstico

ligeiro; fazer pequenas compras) que são avaliadasnuma escala de 10 pontos, onde o zero (0) represen-ta nenhuma confiança e o 10 muito confiante.Assim, após somatório dos valores, aqueles maisbaixos significam pouca confiança ou maior medo decair, e aqueles mais altos significam muita confiançaou menor medo de cair.

Avaliação do equilíbrioPara a avaliação do equilíbrio utilizou-se a versãoportuguesa da Performance-Oriented Mobility Assessment(POMA I). Este instrumento foi desenvolvido porTinetti(28) e validado para a população portuguesapor Petiz(21). Estima a predisposição para quedas emidosos institucionalizados através da avaliação quan-titativa de um conjunto de tarefas relacionadas coma mobilidade e o equilíbrio.Está dividido em duas partes que totalizam 28 pon-tos onde quanto mais alto o valor melhor o equilí-brio. A primeira parte diz respeito à avaliação doequilíbrio estático, com 9 itens, dos quais dois sãopontuáveis de 0 a 1 e sete de 0 a 2, permitindo ummáximo de 16 pontos. A segunda parte avalia oequilíbrio dinâmico e envolve 10 itens dos quais oitosão pontuáveis de 0 a 1 e dois de 0 a 2 num total de12 pontos. De acordo com Petiz(21), a versão portuguesa daPOMA I apresenta elevada homogeneidade de con-teúdo (&=0,97) e fiabilidade após teste-reteste (r dePearson=0,96). A validade de critério deste teste deequilíbrio foi, também, estudada, tendo sido utiliza-dos, para o efeito, o functional reach test e o timed upand go test, para o equilíbrio estático e dinâmico, res-pectivamente(21). A autora descreveu elevadas corre-lações entre os testes anteriormente referidos, com-provando a validade de critério, quer da sub-escalade equilíbrio estático (r=0,78), quer do equilíbriodinâmico (r=0,89).

Procedimentos estatísticosA descrição das variáveis em estudo foi efectuada apartir das medidas descritivas média e desvio-padrão. Procedeu-se a uma análise exploratória dos dados(Shapiro-Wilk) com o objectivo de averiguar a norma-lidade da distribuição correspondente a cada umadas variáveis em estudo, assim como a presença de

Actividade física e quedas em idosos

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“outliers”. A análise das diferenças entre os gruposfoi efectuada a partir do t-teste de medidas indepen-dentes e do teste Mann-Whitney. De forma a averi-guar o grau de correlação existente entre as variáveismedo de cair, equilíbrio e prática de actividade físicautilizamos o coeficiente de correlação de Spearman.Foi seleccionado um nível de significância de 5%.

RESULTADOSInfluência do sexo no equilíbrio e medo de cairO quadro 1 representa os valores relativos ao testede equilíbrio (POMA) e ao medo de cair (FES) deacordo com a variável sexo.

Quadro 1. Valores médios do equilíbrio e medo de cair em função do sexo (média± desvio padrão).

Sexo Equilíbrio Medo de cair

Homens 23.5±4.15 68,79±15,99*Mulheres 20.94±6.54 51,72±23,18

*Homens vs. Mulheres (p<0.05)

Podemos constatar que não foram encontradas dife-renças com significado estatístico entre homens emulheres no equilíbrio (Mann-Whitney U=303.50,p=0.18), apresentando, no entanto, os homens pon-tuações médias na FES significativamente superiorescomparativamente com as mulheres (Mann-WhitneyU=225, p=0.01), sugerindo que estas apresentamum maior medo de cair.

Influência da actividade física no equilíbrio e medo de cairNo quadro 2 podemos visualizar a comparação entreidosos praticantes e não praticantes de actividadefísica relativamente ao equilíbrio e medo de cair.

Quadro 2. Valores médios do equilíbrio e medo de cair em função da prática de actividade física (média± desvio padrão).

Praticantes Não praticantes

Equilíbrio 25.68 ± 2.78 18.39 ± 5.65Medo de cair 69.14 ±16.45 48.93 ± 22.37

A análise do quadro anterior mostra que os valoresmédios do POMA e FES dos praticantes de activida-de física são significativamente superiores aos dos

não praticantes (t(39.34)=-6.13, p<0.001 e t(54)=-3.85, p<0.001, respectivamente), sugerindo que osidosos que praticam actividade física têm maiorequilíbrio e menor medo de cair comparativamenteaos não praticantes.

Relação entre o medo de cair, equilíbrio e prática deactividade físicaO quadro 3 representa a matriz de correlação dasdiferentes variáveis analisadas.

Quadro 3. Matriz de correlação entre o equilíbrio,o medo de cair e a prática de actividade física.

Medo de cair Equilíbrio Actividade física

Medo de cair 1 0.76** 0.47**Equilíbrio 0.76** 1 0.67**Actividade Física 0.47** 0.67** 1

**p<0.01

Verifica-se uma associação positiva e estatisticamen-te significativa (r=0.76; p<0.01) entre as variáveismedo de cair (pontuação da FES) e equilíbrio (pon-tuação do POMA). É possível verificar que umaumento ao nível da pontuação da FES, que indiciaum menor medo de cair, é, tendencialmente, acom-panhado por um maior equilíbrio. Constata-se aexistência de uma associação positiva e estatistica-mente significativa (r=0.47; p<0.01), entre as variá-veis medo de cair e prática de actividade física.Existe, igualmente, uma associação positiva e esta-tisticamente significativa (r=0.67; p<0.01) entre asvariáveis equilíbrio e a prática de actividade física.O quadro 4 apresenta os resultados obtidos na FES,relativos ao medo de cair, em função da história dequedas anteriores (últimos 12 meses).

Quadro 4. Medo de cair em função dahistória de quedas (média± desvio padrão).

Ocorrência de quedas n Medo de cair

Sim 21 49.33±22.87Não 35 64.86±19.49

Podemos constatar que não foram encontradas dife-renças com significado estatístico no medo de cairem função da história de quedas recentes.

Joana Carvalho, Joana Pinto, Jorge Mota

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DISCUSSÃOUm dos objectivos deste trabalho foi identificar oefeito da variável género sobre o equilíbrio e medode cair em sujeitos idosos institucionalizados comofactor importante para o risco de quedas. Os resulta-dos deste estudo mostraram não existirem diferen-ças entre homens e mulheres na capacidade de equi-líbrio. Embora a maioria dos estudos descreva aexistência de diferenças no equilíbrio entre homense mulheres, a ausência de diferenças observadas nopresente estudo têm também sido descritas poroutros autores. Por exemplo, Hageman et al.(9) nãorelataram nenhuma diferença entre homens emulheres idosos (60-75 anos) nas medidas de con-trolo postural observadas, quer mediante a utilizaçãode uma plataforma de forças, quer no teste de “func-tional reach”. Mais recentemente, Musselman eBrouwer(19) também não encontraram diferençasentre géneros nos limites de estabilidade. Contudo,a comparação destes resultados com estudos anterio-res é, de certo modo, limitada dadas as diferençasnas metodologias, amostra e protocolos utilizados.Os estudos que reportam diferenças entre homens emulheres na capacidade de equilíbrio justificam osseus resultados, quer em factores músculo-esqueléti-cos nomeadamente ao nível dos membros inferio-res(5), quer nos diferentes padrões de actividade físi-ca(32). Assim, e considerando que os idosos da nossaamostra são institucionalizados, onde as diferençasnos índices de actividade física em função do géneronão são tão evidentes, este facto poderá justificar osnossos resultados. De facto, nenhum dos estudosque refere o maior equilíbrio dos homens foi efec-tuado em idosos institucionalizados ao contrário dapresente investigação. No que respeita ao medo de cair, os resultados donosso estudo estão de acordo com diferentes traba-lhos que referem que as mulheres idosas apresentammais medo de cair do que os homens idosos(14, 25).Autores como Tinetti et al.(30) e McAuley et al.(16)

sugerem que o menor medo de cair nos indivíduosdo sexo masculino comparativamente aos do sexofeminino, poderá estar relacionado com o facto de oshomens não reconhecerem esse medo, evitando umpotencial estigma. De facto, a quantificação do medode cair, através da escala FES, depende da respostados indivíduos em estudo a uma série de questões e,

consequentemente, os resultados poderão ser mani-pulados por estes, no caso de não responderem comsinceridade às perguntas que lhes são colocadas. Para além destes factores, alguns estudos justificamo facto de as mulheres apresentarem um maiormedo de cair dado o seu maior declínio na funciona-lidade do sistema muscular esquelético comparativa-mente aos homens(18, 14).Outro dos objectivos do presente estudo está rela-cionado com a influência da actividade física formalsobre o equilíbrio e o medo de cair dos idosos insti-tucionalizados. Os nossos resultados sugerem queos idosos que praticam actividade física apresentammelhores resultados no POMA, ou seja, melhormobilidade e equilíbrio, quando comparados comaqueles que não praticam actividade física. Este factoestá de acordo com a literatura, onde a maioria dosestudos sugere que a prática de actividade físicaregular é eficaz no aumento de equilíbrio(20, 1, 7) eque, pelo contrário, um estilo de vida sedentárioassociado com o envelhecimento leva à sua conse-quente diminuição(24). Isto significa que, as estraté-gias que induzam melhorias a este nível são funda-mentais para a prevenção de quedas. O equilíbrio é,então, uma capacidade que deverá ser desenvolvidanestes escalões etários mais velhos, particularmentenaqueles mais inactivos e mais incapacitados como éo caso da maioria dos idosos institucionalizados(10).No que diz respeito ao medo de cair, e em concor-dância com estudos anteriores(16, 26, 2, 22) o b s e rv a m o sno presente estudo que os indivíduos praticantes deactividade física apresentavam valores mais altos daFES, isto é, menor medo de cair comparativamentecom aqueles que não praticavam actividade física.Recentemente, Schoenfelder e Ru b e n s t e i n( 2 2 ) v e r i f i c a-ram que um programa de exercícios com duração detrês meses induziu melhorias significativas no equilí-brio e na diminuição do medo de cair avaliada, talcomo no presente estudo, através da escala da FES.Ta g g a r t( 2 6 ) obteve resultados semelhantes, tendodemonstrado o efeito benéfico observado peloaumento do equilíbrio e uma diminuição do medo decair que um programa de actividade física baseado noTai Chi teve em mulheres idosas institucionalizadas. O medo de cair é comum entre os idosos, particular-mente entre os idosos institucionalizados, sendo con-siderado como um factor de risco independente para

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a redução da mobilidade e da qualidade de vida(2, 8).Neste sentido, o medo da queda é uma barreira psi-cológica importante que necessita de ser vencida deforma a favorecer estilos de vida mais activos.No presente trabalho foi possível verificar a existên-cia de uma associação positiva e significativa entre apontuação da FES, que indicia um menor medo decair, com um maior equilíbrio.Suzuki et al.(25) verificaram que ter muito medo decair estava fortemente associado não apenas comuma diminuição do equilíbrio mas igualmente com aredução da mobilidade, da actividade física e com oaumento de quedas.De igual modo, Brouwer et al.(2) sugerem que indiví-duos que apresentam reduzidos níveis de equilíbrioapresentam uma elevada preocupação com a ocor-rência de quedas e pouca confiança no seu próprioequilíbrio, limitando, por consequência, as suas acti-vidades. Ou seja, existe um ciclo vicioso onde a inac-tividade acentua a perda funcional determinante namanutenção do equilíbrio postural e, por seu lado,esta perda de equilíbrio e o medo de cair restringema actividade quotidiana do idoso(2).A actividade física, pelo contrário, ao influenciarpositivamente capacidades como a força muscular eo equilíbrio e reduzir o medo de cair poderá ajudar a“quebrar” este ciclo, devolvendo a funcionalidade, aautonomia e a qualidade de vida aos idosos(15).Por fim no nosso estudo não foram encontradas dife-renças com significado estatístico no medo de cairentre idosos com e sem história de quedas recentes(12 meses). Tinetti e Williams(31) relatam uma pre-valência do medo de cair em cerca de 50- 60% dosidosos com história de queda recente e 20-46%naqueles que não tem história de queda. Em oposi-ção ao nosso estudo, diversos estudos retrospectivosdemonstram que, após ocorrências de uma queda, sedesenvolve um maior medo de cair(11, 14). Todavia,escasseiam estudos prospectivos que determinemcom clareza qual o risco de ocorrência de quedas emidosos que apresentem medo de cair.Os resultados deste estudo sugerem que: i) apesardos homens apresentarem menor medo de cair, nãoexistem diferenças na capacidade de equilíbrio entrehomens e mulheres; ii) a prática de actividade físicaestá associada a um maior equilíbrio e menor medode cair; iii) a história de quedas recentes não

influência sobremaneira o medo de cair de idososinstitucionalizados.O presente estudo reforça a importância da práticade actividade física como uma estratégia preventivapara a menor ocorrência de quedas, uma vez queparece influenciar positivamente o equilíbrio e omedo de cair em idosos institucionalizados.

CORRESPONDÊNCIAJoana CarvalhoFaculdade de DesportoUniversidade do PortoRua Plácido Costa, 914200 Porto, PortugalTelefone: 351-22-5074785Fax: 351-22-5500689e-mail: [email protected]

Joana Carvalho, Joana Pinto, Jorge Mota

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Situações de estresse no vôlei de praia de alto rendimento: um estudo de caso com uma dupla olímpica

Joice Stefanello Departamento de Educação FísicaUniversidade Federal do ParanáBrasil

RESUMOO estresse competitivo é um dos factores psicológicos maisdeterminantes para o desempenho esportivo no alto rendimen-to, pois, neste contexto, os atletas são submetidos às maisdiversas pressões competitivas. Este estudo, realizado com umadupla masculina do vôlei de praia brasileiro, primeira colocadano ranking nacional/internacional da modalidade (2003), pre-tendeu analisar as situações geradoras de estresse aos atletasnas etapas do circuito mundial 2004 que antecederam sua par-ticipação nos Jogos Olímpicos de Atenas, como os atletasvivenciaram o estresse competitivo e que técnicas de controledo estresse utilizaram. Para a coleta de dados, usou-se um seg-mento específico do instrumento de feedback de execução(adaptado de Ravizza, 1991), onde os atletas registravam assituações estressantes de cada partida, o modo como vivencia-vam o estresse e as técnicas de controle empregadas. Os resul-tados demonstraram que os fatores situacionais foram os maisdeterminantes e, dentre estes, os aspectos relacionados ao jogoforam os fatores específicos mais influentes, tendo na facilida-de/dificuldade da partida a principal fonte de estresse para osatletas. Os pensamentos e as emoções/sensações corporais cor-responderam ao principal modo como o estresse foi vivenciado;e as técnicas cognitivas (auto-informe, concentração, imagina-ção), as mais empregadas pelos atletas.

Palavras-chave: estresse competitivo, vôlei de praia, alto rendi-mento

ABSTRACTSituations of stress in high performance beach volley: a case study with an olympic pair

Competitive stress is one of the most determining psychological factorsto high performance sport, for, in that context, the athletes face allkinds of competitive pressure. This research, done with a brasilianbeach volley Olympic pair, first on the national/international ranking(2003), intends to analyse the stress-generator situations for athletesin the 2004 World Tour, which preceded their participation on theAthens Olympic Games, how the athletes lived competitive stress andwhat stress-controlling techniques they used. The data were collectedwith a specific performance feedback instrument (adapted fromRavizza, 1991), in which the athletes registered their every-gamestressing situations, how they lived them and the controlling techniquesused. Results show that situational elements were the most determina-ting and, among them, the game-related aspects were the most influentspecific factors, being the difficulty/easyness of the match the mainsource of stress for the athletes. Thoughts and body emotions/sensationscorrespond to the main way through which athletes face stress; the cog-nitive techniques (self-information, concentration, imagination), themost used by the athletes.

Key-words: competitive stress, beach volley, high performance

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INTRODUÇÃOO estresse competitivo tem sido considerado um dosfactores psicológicos mais determinantes para odesempenho esportivo, especialmente no alto rendi-mento. Nesse contexto, os atletas são, frequentemen-te, submetidos aos mais diversos tipos de pressãocompetitiva, tendo de superar limites de forma vigo-rosa e manter a efectividade e a regularidade do seudesempenho diante dos mais elevados níveis de ex i-gências físicas, técnicas, tácticas e psicológicas(8, 32, 36). Os diferentes tipos de pressão que o atleta sofredurante a competição podem gerar altos níveis deestresse, transformando-se em factores negativos eredutores do desempenho. Níveis elevados de estres-se, em geral, aumentam a tensão muscular e criamdéficits de atenção. Uma tensão muscular excessivareduz a flexibilidade, a coordenação motora e a efi-ciência muscular, impedindo que os atletas adoptemrápidos comportamentos e padrões motores paraevitar situações perigosas ou agir de maneira apro-priada a um bom rendimento. Os déficits de atençãocausam redução da capacidade de atenção, dúvidasacerca da capacidade pessoal, maior vulnerabilidadeou predisposição para a distracção e maior atenção aaspectos irrelevantes à tarefa(5, 17, 19, 25, 34).A competição esportiva, contudo, nem sempre repre-senta uma fonte de estresse para o atleta. A ex p e r i ê n-cia prática e a pesquisa empírica têm demonstradoque para alguns atletas a competição esportiva poderepresentar uma forte ameaça ao seu bem estar físico,psicológico e social e, para outros, pode ter um carác-ter desafiador e motivador. Compreende-se, assim,que o estresse pode ser gerado por situações directaou indirectamente relacionadas a elas ou por situa-ções inerentes ao processo competitivo, dependendodo próprio indivíduo e/ou do meio ambiente (10, 32, 33).Uma situação de estresse, portanto, só irá se manifes-tar quando houver um desequilíbrio entre a condiçãoda acção individual e a condição situacional; isto é,quando ocorrer uma discrepância entre as capacidadesda pessoa e as exigências da situação, ou entre as suasnecessidades e as possibilidades de satisfazê-las, comimportantes consequências para o indivíduo(35, 36). As respostas dos atletas para os eventos competiti-vos parecem, pois, depender da avaliação da deman-da e da qualidade de recursos que o indivíduo dispõepara lidar com cada situação. Assim, da mesma

forma que situações já vivenciadas poderão influen-ciar as respostas dos atletas, novos conhecimentos eexperiências poderão fazer com que o atleta desen-volva um sistema integrado de estruturas e conteú-dos que irão interferir na sua análise. Por outro lado,as características e especificidades da modalidadeesportiva também exercem um importante papel nacompreensão do estresse competitivo, pois quandoas características da modalidade são aliadas à pres-são da competição, as situações geradoras de estres-se para o atleta poderão assumir uma proporçãoainda maior(8, 9, 27).Nessa perspectiva, a compreensão do estresse com-petitivo num contexto específico torna-se fundamen-tal para que o atleta aprenda a manter o controle e oestado de fluidez e equilíbrio necessários para serbem sucedido. O conhecimento das situações gera-doras de estresse e do modo como os atletas viven-ciam essas situações em diferentes contextos sãopartes importantes do processo de tomada de cons-ciência, considerado um elemento crítico para que oatleta obtenha o necessário autocontrole para actuarnum alto nível de rendimento(34). A tomada de cons-ciência, além de permitir que o atleta reconheça seuspontos fortes e frágeis para potencializar suas capaci-dades e corrigir seus déficits, permite que o atleta seprepare mentalmente para a competição e desenvol-va estratégias apropriadas para fazer frente àquelassituações que podem afectar negativamente a suaactuação esportiva. Contudo, apesar de o vôlei de praia de alto rendi-mento ser um esporte extremamente dinâmico, noqual o atleta precisa desenvolver e colocar à provaum repertório de padrões e estratégias adequados aosmais elevados níveis de exigências competitivas,ainda há uma grande carência de investigações acercadas variáveis que predispõem atletas dessa modalida-de a experimentarem uma maior ou menor percepçãode ameaça na competição e, consequentemente,maior ou menor estresse, embora muitas investiga-ções tenham examinado a natureza e a intensidadedas respostas de estresse durante a competição emdiferentes modalidades esportivas(7, 17, 23, 28, 41). Assim, baseado no trabalho de suporte psicológicodesenvolvido com uma dupla masculina de atletasprofissionais do vôlei de praia brasileiro, este estudo

Situações de estresse no vôlei de praia

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procurou analisar as situações geradoras de estressepara os atletas nas etapas do circuito mundial queantecederam a sua participação nos Jogos Olímpicosde 2004, como os atletas vivenciaram o estresse com-petitivo nessas situações e quais as técnicas mais efi-cientes de controle do estresse utilizadas pela duplapara eliminar ou minimizar os efeitos das situaçõesestressantes sobre seu rendimento esportivo.

METODOLOGIAParticipantes do estudoEste estudo de caso descritivo foi realizado com umadupla masculina de atletas profissionais do vôlei depraia, primeira colocada no ranking nacional (cam-peã do circuito brasileiro) e internacional (campeãdo circuito mundial e campeã mundial) em 2003,tendo por base o trabalho de suporte psicológicodesenvolvido, por cerca de dois anos, durante a suapreparação para as Olimpíadas de Atenas (2004). Asidades dos atletas eram de 29 e 31 anos (Atletas A eB, respectivamente) e ambos já haviam participadode olimpíadas anteriores: em 1996 (Atleta B) e 2000(Atletas A e B). Importante ressaltar que não sãoconhecidos dados de atletas de alto rendimentonessa modalidade.

Cuidados éticosInicialmente, atletas e comissão técnica foram infor-mados a respeito do trabalho a ser realizado (aprova-do pelo Comitê de Ética em Pesquisa de umaUniversidade Federal) e das formas de divulgaçãodos resultados. Foi assegurado aos atletas que pode-riam afastar-se do estudo no momento em que dese-jassem, obtendo-se, assim, o consentimento, a ade-são e o comprometimento do grupo para o trabalhopretendido.

Coleta de dadosÉ importante ressaltar que o período referente àcolecta dos dados tratados especificamente nesteestudo (Maio a Agosto) correspondeu, apenas, auma das fases do programa de treinamento de com-petências psicológicas, contemplando seis etapas docircuito mundial que antecederam os JogosOlímpicos de 2004 (etapas da China, Sérvia eMontenegro, Portugal, Suíça, Alemanha e Noruega),totalizando 26 jogos. Durante essa fase do treina-

mento psicológico (fase de prática), os atletas deve-riam reconhecer seus pontos fortes e frágeis frenteàs diversas situações de pressão competitiva, procu-rando integrar, em situações competitivas reais e deforma sistemática na sua actuação esportiva, as com-petências psicológicas treinadas na fase anterior(fase de aquisição de técnicas e estratégias psicológi-cas), a fim de potencializar suas capacidades (pontosfortes) e corrigir seus déficits (pontos fracos), demodo a obter o necessário autocontrole para actuarno seu mais alto nível de rendimento.O treinamento psicológico envolveu várias competên-cias psicológicas, porém apenas os aspectos relacio-nados ao estresse competitivo foram abordados nopresente estudo. Dessa forma, um segmento específi-co do instrumento f e e d b a c k de execução, adaptado deRa v i z z a( 3 4 ), destinado à avaliação do estresse compe-titivo em situações competitivas reais, foi empregado.O instrumento f e e d b a c k de execução (modelo comple-to em anexo) é uma técnica que auxilia o atleta areconhecer as situações que tendem a afectar negati-vamente o seu rendimento, aumentando a sua cons-cientização acerca da sua própria actuação e permi-t i n d o-lhe desenvolver estratégias de confronto paraenfrentá-las apropriadamente. No segmento específi-co do f e e d b a c k de execução utilizado no presente estu-do, os atletas deveriam registrar as situações gerado-ras de estresse em cada partida, o modo como viven-ciavam o estresse (pensamentos, ações e/ou sensa-ções) e as técnicas e/ou estratégias psicológicas utili-zadas para manter ou recuperar o autocontrole diantedos diferentes agentes estressantes. O preenchimentoda ficha era feito por escrito pelos próprios atletas 30minutos após o encerramento de cada partida, paraque pudessem reflectir sobre os acontecimentos dojogo e sobre a sua actuação.

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOSDe acordo com os objectivos propostos, serão apre-sentados, primeiramente, os resultados referentes àssituações consideradas pelos atletas como geradorasde estresse; em seguida, os dados relativos ao modocomo os atletas experimentaram as situações estres-santes (pensamentos, acções e/ou sensações) e, porfim, as técnicas psicológicas utilizadas pelos atletaspara eliminar ou minimizar os efeitos dos factoresestressantes sobre seu rendimento esportivo.

Joice Stefanello

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Os dados de cada atleta foram analisados, individual-mente, de acordo com os procedimentos propostospor Giglione e Matalon(11) para a análise de conteú-do. Dessa forma, inicialmente, os indicadores referi-dos pelos atletas em cada jogo (situações geradorasde estresse, modo como o estresse foi experimenta-do e estratégias utilizadas) foram listados tal comoexpressos pelos atletas, sem excluir ou agrupar qual-quer item. Em seguida, considerando os 26 jogosdisputados pela dupla, juntaram-se num único indi-cador os itens referidos pelos atletas que apresenta-vam significados comuns (proposições idênticas oucom o mesmo complemento), obtendo-se, assim, opercentual com que cada indicador foi apontadopelos atletas nos 26 jogos analisados. Todos essesindicadores foram, posteriormente, analisados e dis-cutidos conjuntamente com os atletas (uma vez quefaziam parte do trabalho de suporte psicológicodesenvolvido com a dupla), assegurando-se, assim, asua confiabilidade.

Situações causadoras de estresseTomando por base o estudo desenvolvido por DeRose Junior, Deschamps e Ko r s a kas com atletasprofissionais de basquetebol( 8 ), as situações consi-deradas pelos atletas do vôlei de praia como gera-doras de estresse que apresentavam característicassimilares foram agrupadas em fontes específicas deestresse (lesões, competência, conduta dos adversá-rios, facilidade/dificuldade da partida, arbitragem,torcida, condições climáticas, equipe, organizaçãodos jogos), que, por sua vez, foram classificadas emfactores específicos de estresse (aspectos físicos,estados psicológicos, jogo, planejamento/organiza-ção), que, quando novamente agrupados em funçãoda sua origem e/ou características, foram categori-zados em factores gerais de estresse (individuais es i t u a c i o n a i s ) .Os Quadros 1 e 2 mostram as situações, as fontes eos factores (específicos e gerais) de estresse viven-ciados pelos Atletas A e B, respectivamente.

Situações de estresse no vôlei de praia

Quadro 1. Situações, fontes e factores (específicos e gerais) de estresse vivenciados pelo Atleta A

O percentual apresentado entre parêntese no Quadro 1 corresponde ao número de jogos em que cada situação, fontee factores (específicos e gerais) de estresse foram vivenciados pelo atleta A, considerando os 26 jogos disputados.

Fatores

Situacionais

(61,3%)

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Conforme indicam os Quadros 1 e 2, os factoressituacionais predominaram em relação aos indivi-duais. Os factores situacionais, referindo-se aosaspectos objectivos do evento, estão relacionadoscom a natureza imediata da situação estressante eocorrem a partir de situações que são comuns ao

contexto competitivo. Os factores pessoais ou indivi-duais, voltados às tentativas individuais de resoluçãode um problema, dependem quase exclusivamentedo indivíduo(8). Apesar de representarem situaçõesdiferenciadas, vale ressaltar que ambos os factoresestão intimamente relacionados, isto é, a avaliação

Joice Stefanello

Quadro 2. Situações, fontes e factores (específicos e gerais) de estresse vivenciados pelo Atleta B

O percentual apresentado entre parêntese no Quadro 2 corresponde ao número de jogos em que cada situação,fonte e factores (específicos e gerais) de estresse foram vivenciados pelo atleta B, considerando os 26 jogos disputados.

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situacional está relacionada com a selecção indivi-dual de respostas para um dado problema(24).Dessa forma, o presente estudo dá ênfase aos pro-cessos de avaliação cognitiva, que, de acordo comalguns estudiosos(5, 14, 38), assumem o papel demediador entre as circunstâncias ambientais enfren-tadas, os objectivos e as crenças pessoais dos atletase sua resposta emocional, sendo considerados o pri-meiro estágio no processo de resolução de um pro-blema. De acordo com essa perspectiva teórica, oestresse competitivo depende da avaliação que oatleta faz das exigências, dos recursos que julga dis-por para lidar com essas exigências, da avaliação dasconseqüências se essas exigências não forem corres-pondidas e do significado que as possíveis conse-quências terão para ele(14). Assim, tal como se pode-rá perceber nos dados analisados a seguir, a avalia-ção de uma circunstância como ameaçadora, pare-cem não depender apenas do perigo objectivo ine-rente a cada situação, mas também das característi-cas individuais da pessoa, das suas experiências pas-sadas e da sua própria capacidade de controle.

Fatores competitivos situacionaisO jogo foi o principal factor específico situacional deestresse vivenciado pelos atletas, aparecendo em53,6% das partidas disputadas pelo Atleta A e em80,6% das partidas disputadas pelo Atleta B. Comofontes de estresse mais significativas relacionadas aesse factor, encontrou-se a facilidade/dificuldade dapartida, a competência dos atletas e a conduta dosadversários. A facilidade/dificuldade da partida pare-ceu ser a fonte de estresse mais influente, sendoreferida em 15,3% e 34,6% dos jogos, respectiva-mente, para os Atletas A e B e decorreram do bomdesempenho dos adversários, por um lado, e da infe-rioridade técnica destes, por outro. A facilidade/dificuldade da tarefa/jogo como fontede estresse também foi encontrada num estudo con-duzido com atletas adultos masculinos de basquete-bol, todos com participação em Jogos Olímpicose/ou Campeonatos Mundiais(8). Para os autoresdesse estudo, a displicência gerada em jogos consi-derados mais fáceis, leva muitas vezes a um aumen-to dos níveis de estresse e a um mau desempenho,ocasionando, inclusive, derrotas inesperadas.

Contrariamente, tem-se constatado que quando odesafio é maior do que a percepção da capacidade doatleta em superá-lo, sua preocupação poderá condu-zi-lo a um excesso de inquietude e ansiedade, impe-dindo-o de actuar no seu nível potencial(19), tal comopareceu ocorrer com os atletas do vôlei de praiadiante da inferioridade técnica dos adversários. A competência, envolvendo capacidades e habilida-des no desempenho de movimentos específicos,pareceu ser responsável pelo estresse competitivo doAtleta A em 11,5% dos jogos, sendo decorrente doserros de passe/levantamento e da dificuldade emmarcar pontos. No caso do Atleta B (15,3%), deu-sedevido aos erros cometidos (ataque/levantamento) eà ineficácia do ataque (ataque defendido consecuti-vamente). Em jogadores olímpicos de basquetebol(8),a competência também demonstrou ser uma impor-tante fonte de estresse. Os atletas desse estudo reco-nheceram que errar, repetir os mesmos erros ou nãotentar, omitindo-se no jogo, são situações comunsde estresse durante as partidas. Também, num estu-do sobre o estresse psíquico em atacantes de volei-bol(32), não superar uma marcação específica de umjogador durante uma partida constituiu-se numasituação muito estressante para os atletas, assimcomo a falha do levantador, colocando o atacante emuma situação de pressão e cobrança.A conduta dos adversários teve nas provocações/ati-tudes desafiadoras dos oponentes as situações deestresse mais significativas para ambos os atletas dovôlei de praia (em 11,5% e 15,4% dos jogos, respecti-vamente, para os Atletas A e B). Em atletas olímpicosde basquetebol( 8 ), os adversários também tiveram suaparcela de contribuição para elevar os níveis deestresse dos atletas. Para os autores desse estudo,isso ocorre mais em função de comportamentoscomo provocar e usar de deslealdade para tentarparar um jogador, do que da capacidade técnica ou daameaça que os adversários representam para a equi-pe. Estudos com jogadores de voleibol(29, 32) d e m o n s-traram que as intimidações ou provocações dosadversários partem de gestos, palavras e olhares,muitas vezes, sutis e imperceptíveis para a arbitra-gem e, em outras vezes, acontecem de forma maisacintosa e directa, podendo, inclusive, levar o atleta auma atitude mais agressiva. Tem-se evidenciado,

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ainda, que o uso sistemático, intencional e planejadoda guerra psicológica pelo adversário( 5 ) visa a debili-tar o rendimento do atleta, através do aumento daansiedade e/ou nervosismo, da diminuição da auto-confiança e dos consequentes erros e dificuldades,pois quebra a atenção/concentração, perturba a pre-paração psicológica e mental do atleta, quebra o ren-dimento e provoca estados emocionais e psicológicosextremamente vulneráveis e pouco adequados àstomadas de decisão ou processamento da informação. As condições climáticas (vento/frio durante as parti-das) também foram fontes de estresse para os atletasdo vôlei de praia (11,5% dos jogos), assim como oserros de arbitragem (para o Atleta A) e a torcidacontra (para o Atleta B), presentes em 3,8% dosjogos. O planejamento/organização, por sua vez, repre-sentando o segundo factor competitivo situacionalencontrado para os atletas dessa modalidade, tevecomo fonte de estresse mais significativa a organiza-ção dos jogos (7,7%), especialmente, devido a demo-ra em iniciar a partida.Tanto as condições climáticas quanto o planejamen-to/organização dos jogos, parecem constituir-se empotenciais fontes de estresse para os atletas do vôleide praia, por ocasionar alguma influência na actua-ção dos atletas e na sua preparação para a competi-ção, impedindo-os de actuar no seu nível potencial.Alguns autores(31, 35, 39, 40) têm referido que variaçõesclimáticas, ruídos/estímulos visuais (movimentaçãoe agitação da torcida), fadiga, pressão dos adversá-rios e arbitragem constituem distracções característi-cas de determinadas modalidades, podendo influen-ciar nos níveis de activação e de ansiedade dos atle-tas. Em outros estudos, englobando situações rela-cionadas à estrutura administrativa das equipes ouentidades esportivas, o planejamento/organizaçãodos jogos(8) e as situações ou acontecimentos impre-vistos(5, 21) também representaram significativassituações de estresse para os atletas.

Fatores competitivos individuaisNessa categoria, os aspectos físicos foram os factoresespecíficos de estresse encontrados para ambos osatletas do vôlei de praia, assim como os estados psico-lógicos para o Atleta B. Quanto aos aspectos físicos,as lesões pareceram ser as principais fontes de estres-

se para ambos os atletas (11,5% e 3,8% dos jogos,respectivamente para os Atletas A e B) e os estadosfísicos (para o Atleta B em 11,5% dos jogos), repre-sentados pelo desconforto muscular/corporal e cansa-ço físico. Por outro lado, a pressão interna (para oAtleta B, em 3,8% dos jogos), teve nas reacções dopróprio atleta frente aos erros cometidos a principalfonte específica de estresse. Os aspectos físicos, também para atletas olímpicosde basquetebol(8), têm sido apontados como umimportante factor individual de estresse, estandorelacionados às condições físicas dos atletas (talcomo jogar mal preparado) e às contusões.Resultados semelhantes também foram encontradosem esportes como atletismo, patinação artística,futebol, handebol e natação(1, 14, 21, 22).Os estados psicológicos, representados por fontescomo medos/inseguranças, expectativas/objectivos epressões internas, também corresponderam a facto-res específicos de estresse para atletas olímpicos debasquetebol(8). Nesse estudo, as pressões internastiveram destaque e mostraram que a maioria dosatletas tinha muita responsabilidade, conhecendoseu papel como atleta de alto nível, apresentandoum nível de autocobrança muito elevado e não acei-tando o erro. Ainda, as expectativas dos níveis derendimento esperados e exigidos (preocupação como fato de ter que render em nível de suas capacida-des; preocupação com companheiros e/ou expectati-vas dos outros; dúvidas pessoais quanto à actuaçãofísica, técnica e/ou psicológica; medo ou receio defalhar numa situação importante e/ou de ter um ren-dimento inadequado; medo ou receio de lesões)também foram apontados por diferentes estudio-sos(5, 13, 18) como principais factores geradores deestresse no esporte de alto rendimento. Esses dados parecem reforçar a ideia de que o graude ameaça percebido (do qual se originam os senti-mentos de preocupação e ansiedade, característicosde uma situação de estresse) depende da avaliaçãoque o atleta faz do contexto global da situação, ouseja, da comparação que ele estabelece entre as exi-gências da situação e a relevância, a congruênciamotivacional, as opções, os recursos pessoais e asperspectivas de confronto que o atleta julga disporpara conseguir o êxito desejado(5).

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Modo como os atletas vivenciaram o estresseNo presente estudo, o modo como os atletas viven-ciaram o estresse competitivo corresponde às conse-quências por eles percebidas como decorrentes dassituações geradoras de estresse. Dessa maneira, asrespostas dos atletas do vôlei de praia às situaçõesgeradoras de estresse foram agrupadas, tal comosugere Ravizza(34), em três categorias gerais: pensa-mentos, emoções/sensações corporais e acções(Quadro 3).Os pensamentos pareceram representar o principalmodo pelo qual o Atleta A vivenciou o estresse com-petitivo (38,4% dos jogos), enquanto as emoções/sen-sações corporais foram a forma como o estresse pare-ceu se manifestar no caso do Atleta B (61,5%). Ospensamentos voltados para a preocupação com aprópria actuação (15,4%) e com a necessidade debuscar novamente a concentração (11,5%) foram

comuns a ambos os atletas. Por outro lado, enquan-to o pensamento do Atleta A esteve voltado para oreceio de lesões (11,5%), os pensamentos do AtletaB estiveram centrados na necessidade de buscarnovos meios para pontuar (7,7%) e na dor originadapela contusão (3,8%). As emoções e/ou sensações corpo-rais pareceram estar, no caso do Atleta A, relaciona-das à irritação com erros, adversários e arbitragem(15,4%) e à falta de ânimo/motivação diante da infe-rioridade dos adversários (15,4%). Para o Atleta B, oestresse competitivo pareceu manifestar-se por meioda ira/irritação diante das provocações ou atitudesdesafiadoras dos adversários (15,4%), da impaciên-cia diante dos erros cometidos (7,7%), da falta demotivação (11,5%) e apatia (7,7%) diante dos adver-sários mais fracos, do cansaço/desconforto corporal(11,5%) e do despreparo no início do set (7,7%). Noque diz respeito às acções, o estresse competitivo

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Quadro 3. Modo como o estresse foi vivenciado pelos Atletas

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vivenciado pelo Atleta A manifestou-se na poucaagressividade de algumas jogadas (11,7%), na suapassividade em outras (7,7%) e numa maior agressi-vidade em 7,7% das suas ações. No caso do AtletaB, o estresse competitivo tornou-o pouco agressivoem 11,5% dos jogos, displicente em 7,7% das parti-das e calado diante das provocações dos adversáriosem 7,7% dos jogos disputados. Alguns estudos também têm demonstrado que oestresse competitivo pode apresentar sintomas negati-vos na área mental, física e comportamental, manifes-t a n d o-se por meio da preocupação, medo, ansiedade,dificuldade de concentração(3, 31), confusão, esqueci-mento de detalhes, volta a antigos hábitos e incapaci-

dade para tomar decisões(5, 19), oscilação nos níveis dea c t i v a ç ã o(15, 37), sensação de fadiga, sensação de frio,aceleração do ritmo cardíaco, aumento da tensão arte-rial, respiração mais rápida(5, 19), perda da motivação,agressividade, nervosismo, irritabilidade (15), falta deconfiança e performances fracas(12, 30, 35). O que se percebe, é que pensamentos pouco apro-priados ou erróneos, geralmente, conduzem a senti-mentos negativos e a uma execução pobre e que ospensamentos que se centram na pessoa, especifica-mente, são os que causam maiores problemas aosatletas(20). Quando os indivíduos se orientam nosentido interno, preocupando-se demasiadamentecom o seu próprio bem-estar e sentimentos, a sua

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Quadro 4. Técnicas utilizadas pelos atletas para o controle do estresse.

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preocupação poderá conduzir a reacções físicas ementais aumentadas, interferindo consideravelmentena actuação dos atletas: a sua capacidade de prever einterpretar estímulos externos e informações rele-vantes reduz-se; a sua inquietude acerca de umaactuação iminente gera ansiedade (somática e/oucognitiva); a sua tolerância diante da frustração e dador diminui (tendendo à irritação e à queixa); e osseus erros são maximizados e interpretados comomais desastrosos do que na realidade o são(19, 20).A oscilação nos níveis de activação dos atletasdurante uma partida, por sua vez, tem sido referi-do(37) como um factor que pode levar um atleta des-tacado a performances fracas. Alguns estudiosos(2, 19,

31) têm constatado que as motivações para a compe-tição e as sensações positivas que acompanham asrealizações esportivas podem levar a um aumento daactivação positiva, promovendo um estado ideal deexecução, enquanto que a ansiedade, o aborrecimen-to, a raiva e o medo do fracasso parecem repercutirnum aumento da activação negativa, deteriorando odesempenho do atleta. Além disso, estados emocio-nais, como euforia, raiva, irritabilidade, entre outros,especialmente quando intensos e persistentes, pare-cem consumir rapidamente a energia do atleta, con-tribuindo para o surgimento de um estado de fadiga(cansaço físico ou emocional)(12, 30).Diante desses achados, parece ser plausível que oestresse competitivo não depende apenas do perigoobjectivo inerente à situação, mas também do modocomo o atleta o percebe e a ele reage.

Técnicas para o controle do estresseAs técnicas para o controle do estresse correspon-dem às estratégias de intervenção utilizadas cons-cientemente pelos atletas diante das situações gera-doras de estresse e das suas consequências sobre aactuação do esportista. Essas técnicas objectivamauxiliar o atleta a obter o necessário autocontrolepara actuar no seu mais alto nível de rendimentoesportivo, evitando interferências provenientes dedistracções internas e externas sobre o seu desempe-nho. No presente estudo, as técnicas ou estratégiasreferidas pelos atletas do vôlei de praia para mantere/ou recuperar o seu autocontrole foram agrupadasem técnicas cognitivas e somáticas.

As técnicas cognitivas, as mais utilizadas por ambos osatletas, baseiam sua acção na modificação ou noajuste dos principais determinantes do comporta-mento (pensamento, percepção, memória, afecto,linguagem). Essas técnicas ressaltam que, para ocor-rer uma melhora na conduta ou nos estados emocio-nais, o sujeito deve promover uma mudança nospensamentos subjacentes a esses comportamentos(5,

35). Essa ideia reforça o entendimento de que os pro-cessos de avaliação cognitiva cumprem um impor-tante papel como mediadores do estresse e da ansie-dade no contexto esportivo, auxiliando os atletas amanter o autocontrole e o equilíbrio necessários auma boa actuação.Dentre as técnicas cognitivas referidas pelos atletasdo vôlei de praia, o auto-informe ou monólogo inter-no foi a mais utilizada. O Atleta A valeu-se do auto-informe em 30,7% dos jogos, recorrendo à estratégiade pensamento positivo para a manutenção da tran-quilidade e autoconfiança. O Atleta B utilizou-se doauto-informe em 42,2% dos jogos, recorrendo aopensamento positivo (23%) e a mudança de pensa-mento para esquecer os erros cometidos (19,2%). O auto-informe, conversa interna do praticante comele mesmo(2), objectiva bloquear ou modificar pensa-mentos e estados emocionais negativos, compreen-dendo desde experiências silenciosas até vocaliza-ções em voz baixa. Alguns estudiosos(4, 20, 30) tam-bém têm apontado que o auto-informe pode ser uti-lizado para a reprogramação de técnicas/estratégias afim de evitar a repetição de erros, para manter amente focalizada, para o controle do esforço e manu-tenção do estado de ânimo e para apromoção/manutenção da autoconfiança e expectati-va de êxito. Dentre as estratégias mais referidas naliteratura(4, 20, 34) para manutenção do autocontroleestão também a interrupção de pensamentos negati-vos ou contraproducentes, a manutenção de pensa-mentos positivos e a mudança de pensamento. Os atletas do vôlei de praia fizeram, ainda, uso dastécnicas cognitivas de concentração e de imaginação.O Atleta A recorreu à técnica de concentração em11,5% dos jogos, voltando seu pensamento para apróxima acção. O Atleta B utilizou-se da técnica deconcentração em 24,5% dos jogos, procurando focarsua atenção nas próprias acções/jogo (7,7%), pensarno próximo ponto (11,5%), não ouvir as provoca-

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ções dos adversários (11,5%) e descobrir as falhasou os pontos fracos dos adversários (3,8%). As técnicas de concentração objectivam ajudar o atletaa desenvolver a conscientização sobre factores que des-viam sua atenção e por que o fazem, permitindo- l h emodificar aspectos do seu rendimento e/ou trabalhoque são ineficientes e distanciar-se de padrões de com-portamento e pensamentos negativos ou não produti-v o s( 3 1 ). Usar palavras-chave para focalizar a atenção,c o n c e n t r a r-se na situação presente, na tarefa a realizar,nos momentos decisivos da actuação esportiva e napróxima acção também foram algumas das estratégiasreferidas na literatura científica(31, 35, 40) para auxiliar osatletas diante dos agentes estressantes.A técnica de imaginação foi utilizada pelo Atleta Aem 11,5% dos jogos, por meio damentalização/visualização dos movimentos antes decada acção. O Atleta B usou a imaginação em 23%dos jogos para lembrar dos gestos (3,8%) e dasmelhores acções (11,5%) e vivenciar os bonsmomentos (7,7%). A técnica da imaginação consiste na repetição plane-jada da imaginação consciente de uma acção esporti-va, sendo apontada(6, 20, 35, 39, 40) como uma importan-te ferramenta psicológica para melhorar o rendimen-to dos atletas e utilizada com sucesso para a manu-tenção de competências motoras, para a regulação daactivação, para o controle de respostas emocionais epara a promoção da autoconfiança. As técnicas somáticas, embora num menor percentual,também foram empregadas pelos atletas do vôlei depraia (Atleta A em 19,2% dos jogos e Atleta B, em38,4% dos jogos). A técnica somática mais utilizadapelos atletas foi a respiração, em 19,2% dos jogos(diminuição da frequência respiratória, com umaexpiração mais forte). O Atleta B fez uso também domovimento para melhorar o seu nível de activação,movimentando-se mais rapidamente em 11,5% dosjogos e procurou extravasar a tensão e a raiva viven-ciadas durante alguns jogos, gritando (7,7%). As técnicas somáticas são intervenções voltadas parao ajuste de reacções corporais como tensão muscu-lar, frequência cardíaca e frequência respiratória, afim de oportunizar maior controle sobre o estresse, aansiedade e o aperfeiçoamento motor(2).Alguns estudos(2, 19, 35) também têm evidenciado queo aumento da frequência respiratória (com uma ins-

piração mais forte) é bastante eficiente diante desituações que requerem aumento nos níveis de acti-vação do atleta, assim como a diminuição da frequên-cia respiratória (com uma expiração mais forte) temconseguido reduzir os níveis de activação dos atletas,propiciando o relaxamento e a diminuição da tensãogerada pela pressão competitiva. Por outro lado, oaumento da intensidade do movimento (movimenta-ção mais rápida) tem sido eficaz para aumentar osníveis de activação dos atletas, na intenção de auxiliá-los a actuar mais proximamente ao seu estado idealde execução em diferentes momentos da competição,assim como a diminuição da intensidade do movi-mento (movimentação mais lenta) tem contribuídopara reduzir os seus níveis de activação, quando estesdemonstram ser ex c e s s i v o s( 2 ).

CONCLUSÃONo presente estudo, para ambos os atletas, as situa-ções geradoras de estresse relacionadas aos factoressituacionais predominaram em relação aos fatoresindividuais. Dentre os factores competitivos situa-cionais, o factor jogo foi o principal factor específicode estresse vivenciado pelos atletas, tendo na facili-dade/dificuldade da partida a fonte de estresse maisinfluente, devido, especialmente, ao bom desempe-nho dos adversários e à inferioridade técnica destes.A competência, a conduta dos adversários e as con-dições climáticas foram as demais fontes de estresserelacionadas ao factor jogo que se mostraram signifi-cativas aos atletas. A competência esteve associada,principalmente, aos erros cometidos; a conduta dosadversários, às provocações/atitudes desafiadorasdestes; e, as condições climáticas, ao vento/friodurante as partidas. Por outro lado, os factores com-petitivos individuais mais influentes para os atletasforam os aspectos físicos. Destes, o medo/receio delesões foi a fonte de estresse mais evidente para oAtleta A, enquanto os estados físicos, como descon-forto muscular/corporal e cansaço físico, foram osmais significativos para o Atleta B.O modo como os atletas vivenciaram o estresse com-petitivo manifestou-se nos seus pensamentos, nassuas emoções e/ou sensações corporais e nas suasações durante a partida. Os pensamentos decorren-tes das situações de estresse, comuns a ambos osatletas, centraram-se na preocupação com a própria

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actuação e perda da concentração. As emoções e/ousensações corporais originadas a partir do estressepercebido foram a ira ou irritação com os próprioserros, com os erros da arbitragem e com as provoca-ções/atitudes desafiadoras dos adversários, além dafalta de ânimo ou motivação diante dos oponentesmais fracos. No que diz respeito às acções, as res-postas às situações de estresse mais evidentes paraambos os atletas foram a pouca agressividade nasjogadas e a passividade ou displicência dos atletasnas acções.Para o controle do estresse, os atletas recorreram,predominantemente, às técnicas cognitivas, fazendouso, especialmente, do auto-informe para a manuten-ção do pensamento positivo ou mudança do pensa-mento. As técnicas de concentração (focalização daatenção nas próximas acções ou no próximo ponto) ede imaginação (visualização dos movimentos antesde cada acção e lembrança das melhores acções) tam-bém foram utilizadas pelos atletas. Em muitos casos,ambos os atletas recorreram, ainda, ao uso de técni-cas somáticas, sendo a respiração a mais empregada. Tal como se pode constatar no presente estudo, mui-tos factores, internos (pessoais ou individuais) eexternos (situacionais), foram responsáveis peloestresse competitivo no vôlei de praia de alto rendi-mento, sendo de fundamental importância que oatleta aprenda a lidar eficazmente com esses facto-res, a fim de conseguir recuperar e/ou manter onecessário autocontrole para actuar no seu mais altonível de rendimento esportivo. De tal modo, comono esporte de alto rendimento sempre existirão for-mas reais de pressão, mais importante do que elimi-nar totalmente o estresse competitivo (o que é prati-camente improvável), a preparação psicológica dosatletas deve procurar auxiliar o esportista a adquirirconhecimentos e estratégias mentais e físicas quelhe permitam responder de forma adaptativa àsdiversas situações de pressão que são inerentes aoprocesso competitivo. O reconhecimento das situa-ções geradoras de estresse que podem afectar negati-vamente a sua actuação esportiva e dos efeitos queessas situações exercem na sua conduta, poderá aju-dar o atleta a desenvolver a conscientização necessá-ria acerca do seu próprio padrão de comportamento,permitindo-lhe usar estratégias de confronto apro-priadas para enfrentá-las.

A utilização de técnicas cognitivas e somáticas, orade forma isolada, ora conjuntamente, buscou atenderas necessidades pessoais dos atletas, da equipe ousituacionais, compreendendo uma interessante pos-sibilidade de abordagem para o estresse competitivono vôlei de praia de alto rendimento. Contudo, valeressaltar que o seu uso requer cautela, pois as técni-cas e estratégias psicológicas antes de serem aplica-das em situações competitivas reais, necessitam serbem aprendidas e treinadas adequadamente, consi-derando a que se propõem e para quais situações eindivíduos adaptam-se melhor.Espera-se, por fim, que os resultados do presenteestudo sejam de grande valia para todos os profissio-nais envolvidos na prática esportiva (treinadores,atletas, preparadores físicos etc.). Contudo, paraampliar a compreensão do estresse competitivo,recomenda-se, que estudos com outros atletas,outras modalidades esportivas e níveis competitivossejam também realizados.

CORRESPONDÊNCIAJoice Mara Facco StefanelloRua Alferes Ângelo Sampaio, 2125 – Aptº 703Bigorrilho – Curitiba – ParanáCep: 80730-460 Brasile-mail: [email protected]

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Joice Stefanello

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Torcida familiar: a complexidade das inter-relações na iniciação esportiva ao futebol

Fabrício M. FilgueiraGisele M. Schwartz

LEL – Laboratório de Estudos do LazerDEF/IB/UNESPRio Claro SPBrasil

RESUMO Este estudo, de carácter qualitativo, discutiu a efectividade dasinteracções pessoais e os aspectos intervenientes da torcida emrelação à criança, na prática competitiva do futebol, em fase deiniciação esportiva. O estudo constou da união entre pesquisabibliográfica e de campo, utilizando-se um questionário mistocomo instrumento para colecta dos dados. Esse instrumento foiaplicado a 20 crianças, do sexo masculino, matriculadas emuma escola especializada no ensino do futebol, com faixa etáriaentre 11 e 12 anos. Os dados foram analisados de forma descri-tiva, pela Técnica de Análise de Conteúdo Temático e identifi-cam a grande participação dos pais na torcida, durante os jogosde futebol dessas crianças; a aceitação das crianças em relação àpresença de seus pais nos jogos; os efeitos negativos da críticada torcida; as influências da torcida sobre a forma de jogar dascrianças e o papel importante do incentivo da torcida comofator motivacional. Com base nos resultados da pesquisa, suge-re-se que novos estudos sejam elaborados, para implementa-rem a preparação psicológica de crianças nesta fase de aprendi-zado esportivo.

Palavras-chave: relacionamento interpessoal, iniciação esportiva,futebol, psicologia do esporte

ABSTRACTParental support: inter-relationships complexity in football sportive initiation

This study, with a qualitative trait, discussed the usefulness of personalinteractions and the interventional aspects of cheerers in relation tochildren, in the competitive practice of soccer, when initiating in sports.The study consisted of an alliance between a bibliographic research andfield research, using an assorted questionnaire as an instrument of datacollection. This instrument was applied to 20 male children, betweenthe ages of 11 and 12, enrolled in a specialized soccer school. The datawere analyzed in a descriptive way by the Analysis Technique ofThematic Content and they identify a great participation of parentswhen cheering in these children’s soccer matches; children’s approval oftheir parents’ presence in the games; the negative effects when thecheerers criticize, the cheerer’s influence on the way these children play;and the important role of cheerers’ incentive as a motivational factor.Basing on the research results, it is suggested that new studies shouldbe elaborated to implement the children psychological preparation inthis stage of sport learning.

Key-words: interpersonal relationship, sport initiation, soccer, sportpsychology

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INTRODUÇÃONas relações humanas, as influências interpessoaisdesenvolvem-se como um processo que envolvecomponentes como os modos de ser, de pensar, desentir, de agir e de mudança de comportamento(11).Dentre as relações mais primárias encontra-se ocomplexo processo que é a relação entre pais efilhos, especialmente quando se focaliza directamen-te o âmbito da iniciação esportiva.Tanto a criança como os pais possuem valores, atitu-des, condutas e expectativas semelhantes, os quaissão resultados da qualidade dessa interacção. Assim,compreender-se a qualidade do relacionamentointerpessoal entre os envolvidos é de crucial impor-tância no esporte, especialmente no que tange aomodo como os iniciantes percebem e interpretam aparticipação de seus pais durante a sua práticaesportiva.A psicologia do esporte tornou-se cada vez maisimportante no desenvolvimento dos programas atlé-ticos a fim de promover um desenvolvimento físico epsicológico saudável de iniciantes(16). Sendo estas asbases de sustentação para este estudo, a fim deentender melhor como os iniciantes recebem e secomportam, diante das atitudes e comportamentosda torcida durante os jogos, composta, nesta faseinicial, basicamente pelos pais, e os caminhos deinfluência directa na condução e orientação deacções que norteiam a qualidade desses relaciona-mentos entre os envolvidos, a fim de contribuir paraa reflexão sobre as estratégias para minimizar seusefeitos negativos.Um programa de treinamento projectado para ajudartécnicos nos esportes na juventude a relacionar-semais eficazmente com seus jogadores(16), onde a ini-ciação esportiva é um fenómeno humano absoluta-mente complexo, especialmente no que concerne aosaspectos envolvendo as interacções pessoais e aindaa presença da torcida. Para tanto, cabe evidenciar as influências paternaissobre o processo linear de desenvolvimento edesempenho esportivo dos participantes iniciantesem uma modalidade esportiva.O crescimento e o desenvolvimento da criançasofrem influências culturais, sociais e biológicasdirecta dos pais, desde os primeiros anos de vida.Especialmente quando se focaliza o aspecto esporti-

vo, no caso o futebol, essas interferências são ine-quívocas, principalmente quando se trata de criançasdo sexo masculino.Em relação ao esporte infantil, verifica-se que a tor-cida é composta, em sua maioria, por pais(15), o quereforça a necessidade de se analisar a participaçãodesses no contexto do futebol infantil, tanto noâmbito da aprendizagem, quanto no contexto com-petitivo.A competição é alvo deste estudo, uma vez que podegerar inúmeros efeitos sobre o comportamento dascrianças, como atletas, nesses eventos. Além disso,pesquisas mostram que quanto mais jovem e menosexperiente o atleta, maior será o efeito da torcidasobre seu comportamento(7).Na literatura ainda são tímidos os estudos relacio-nados aos efeitos da torcida sobre o comportamen-to das crianças, uma vez que existem relatos desentimentos positivos (competência, orgulho, moti-vação, etc.) e sentimentos negativos (fracasso, aba-timento, etc.).A presença dos pais nos treinos, nos jogos, ou emqualquer outro lugar vai despertar alguma reacçãono atleta/criança, seja ela de contentamento ouconstrangimento, de aprovação ou desaprovação(10).Segundo estudos da psicologia do esporte(6, 8, 10) rela-ta-se que algumas crianças podem se sentir incomo-dadas com a presença dos pais, enquanto outras sesentem bem com a presença dos familiares.Portanto, o relacionamento que o atleta tem e tevecom os pais, o modo como este atleta foi criado, aslembranças, os acontecimentos, os fatos que marca-ram sua vida, tudo isto pode exercer influênciadirecta sobre o atleta e seu modo de agir, do inícioda actividade física até o treinamento e acompetição(10).Algumas centenas de milhões de crianças estãoenvolvidas na prática de uma modalidade esportivaem todo o mundo(1).No Brasil, o futebol é um fenómeno cultural quecativa e impressiona pela sua grandeza, e cuja práticatem crescido rapidamente, envolvendo um númerosignificativo de participantes, desde a infância até aidade adulta.Especificamente, na iniciação esportiva ao futebol,em um país como o Brasil, em que um único esporte

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merece a esmagadora atenção da mídia, é complica-do mostrar às crianças que, muitas vezes, a escolhapor esta modalidade esportiva é muito mais umaquestão cultural do que um gosto pessoal. Atémesmo os pais são influenciados por isso, já quemuitos pais, fanáticos por futebol, têm dificuldadesem permitir que seus filhos optem por outro cami-nho para a prática esportiva. Porém, o esporte na infância deve ser tratado demaneira adequada, respeitando-se a individualidadeda criança, independente dos interesses ou objecti-vos das instituições formais ou informais.O esporte deve se adaptar às condições técnica, físicae psíquica da criança de forma compatível com suasnecessidades e possibilidades, adequando-se à suamaturação orgânica funcional.Um dos primeiros passos a serem dados é perguntaràs crianças se é isso mesmo que elas querem, aten-dendo as suas próprias expectativas e necessidades,não às dos pais, técnicos, dirigentes ou de outrosinteresses alheios aos dos agentes principais: ascrianças(5).Em fase de iniciação, a criança precisa aprender econviver com o esporte, vivenciar diferentes situa-ções, construir ideias e valores, descobrir sentimen-tos e incorporar transformações sociais, afectivas,intelectuais e motoras essenciais para a formação docarácter do indivíduo e para o seu futuro esportivo.Todo esse processo de transferência e formação ocor-re de forma natural e envolve a genética e a inter-relação social(6).O sistema humano é considerado como grupo depessoas que interagem com crianças, em função defins e objectivos comuns, englobando essa interac-ção, inclusive, no esporte(14). Entre os principais pro-tagonistas das relações interpessoais na fase de ini-ciação esportiva estão os familiares, os quais com-põem o que se convencionou chamar de “torcidafamiliar”. Este tipo de torcida está envolvida nocomplexo processo que é a relação entre os pais e ascrianças no âmbito da iniciação esportiva ao futebol.Os pais são pessoas importantes, não apenas nocotidiano da criança, mas, de uma forma ou deoutra, estão inseridos no processo de iniciaçãoesportiva. Existe então, nesse contexto, uma relaçãodialéctica entre esses elementos:

Muito mais que um simples aprendizado técnico,nesta complexa relação existe factores intervenientesque asseveram a necessidade de compreensão destequadro, de maneira a perceber o envolvimento direc-to da criança neste processo.Destarte, para melhor penetrar neste universo, estapesquisa se restringe, apenas, a um determinadopúblico, as crianças e pais, como familiares e torce-dores inter-relacionados directamente com a forma-ção esportiva, já que estes podem ter influênciadirectamente no comportamento das crianças, emseus valores e atitudes e em suas relações. As atitudes e condutas dos pais podem exercer refle-xos e influenciar a participação da criança no espor-te, inclusive nos campos de futebol. A esse respeito, Machado(10) evidencia que a interac-ção da criança na sociedade sofre influências, em pri-meira instância dos pais, depois, ao iniciar a vidaescolar, sofre influências dos professores e de outrosgrupos, como por exemplo, de uma equipe esportiva.A partir dessas inter-relações, a criança vai cons-truindo sua subjectividade e moldando suas condu-tas, daí advindo a necessidade de análises aprofunda-das sobre as influências destes segmentos e, maisespecificamente, da torcida, procurando investigarsobre como as crianças recebem e se comportamdiante da “torcida familiar”, dentro da prática espor-tiva do futebol. Segundo Filgueira(3) os professores, os técnicos, ospais e os dirigentes esportivos estão mais preocupa-dos com seus anseios e pensando na sua satisfaçãoem ver a criança jogar, ser titular, ser melhor que osoutros, em vencer, ser campeão, do que com o pró-prio aprendizado daí advindo. Em estudos realizados por Smith e Smoll(16) foramencontrados que os resultados os mais positivosocorreram quando as crianças jogaram para os técni-

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cos que acoplaram em níveis elevados do reforçopositivo para o desempenho desejável e o esforço, eainda que respondessem aos erros com incentivo einstrução técnica, e que enfatizaram a importânciado divertimento e da melhoria pessoal excedente aacção de vencer.Exactamente esta satisfação pessoal dos técnicos enão a satisfação e prazer da criança é que gera inú-meros conflitos, fazendo desta um instrumento deautopromoção ou vaidade.A torcida familiar, que está presente no âmbito doprocesso de formação esportiva no futebol, passa aser aceita como um possível e importante factor deinfluência sobre atitudes e comportamentos dascrianças envolvidas nesse processo.Neste texto, pretende-se identificar o significado dapresença dos pais e da torcida familiar para as crian-ças, durante os jogos, evidenciando como elas consi-deram esta participação da torcida e as influências desuas atitudes e comportamentos sobre a forma dejogar das crianças envolvidas, a fim de compreendermelhor o envolvimento das inter-relações neste pro-cesso, no âmbito da iniciação esportiva ao futebol.Para tanto, foi desenvolvida a pesquisa exploratória,no sentido de se penetrar neste universo.

METODOLOGIAEste estudo está restrito à análise qualitativa refe-rente aos dados colectados, adequando-os ao contex-to das inter-relações entre os alunos-atletas “mirins”e a torcida. A pesquisa qualitativa adequa-se a esta finalidade,tendo em vista suas características e seu poder depenetração no âmago dos fenómenos sociais, confor-me salienta Richardson(12).O estudo foi realizado com base em duas etapascomplementares, sendo a primeira referente a umapesquisa bibliográfica, sobre as temáticas em foco ea segunda relativa a uma pesquisa exploratória, utili-zando-se como instrumento para a colecta de dadosum questionário misto.Também segundo apregoa Richardson( 1 2 ), esta técnicapermite maior facilidade de apreensão dos resultados,tendo em vista que este tipo de questões favorece afluência e a participação efectiva dos participantes.O estudo foi desenvolvido utilizando-se como instru-mento para colecta de dados um questionário conten-

do perguntas mistas, as quais se caracterizamem abertas, fechadas e/ou de múltipla escolha. Asquestões mistas ampliam e enriquecem a maneira departicipação do sujeito, adequando-se ao tipo de pes-quisa proposta no estudo. Ruiz(13), assim como Filho e Santos(4) consideram oquestionário misto favorável para a colecta de infor-mações desta natureza, pelo fato dequestões deste tipo seguirem uma linha menos rígi-da ou fechada, ampliandoa perspectiva de respostas mais directas dos sujeitose fomentando dadosmais aprofundados. Uma outra justificativa para autilização do questionário misto para este estudorecai na perspectiva de que o entrevistado podeexpressar suas colocações de forma mais espontâneae livre durante a colecta dos dados.O instrumento foi composto por cinco questões mis-tas, ressaltando-se os factores de relações interpes-soais e foi aplicado a uma amostra intencional, com-posta por vinte alunos-atletas participantes, de sexomasculino, iniciantes de futebol, na faixa etária entre11 e 12 anos, de uma escola especializada de futebol,a Escola de Futebol Oficial do São Paulo FutebolClube, da cidade de Ribeirão Preto-SP, sendo que osalunos-atletas realizam treinamentos de uma hora emeia, duas vezes por semana. O questionário foi aplicado, com a autorização dotécnico da categoria, antes dos treinamentos, nolocal onde os mesmos estavam sendo realizados. Asinstruções para preencher o questionário foramcomentadas, como também, as dúvidas dos alunos-atletas foram esclarecidas antes de se iniciar as res-postas em forma de questões abertas.Os dados obtidos por meio do instrumento propostoforam analisados descritivamente, por meio da utili-zação da técnica de Análise de Conteúdo Temático, aqual(12) permite obter, diretamente, a informaçãorelativa ao tema da pesquisa, eliminando-se outraspossíveis variáveis intervenientes.Deste modo, para facilitar a análise das respostas,foram formulados indicadores, os quais congregavama incidência de elementos comuns entre as respostasdos participantes. Esses indicadores levaram em consideração as pes-soas que mais assistem aos jogos; a reacção dos atle-tas sobre a presença dos pais nos jogos; os senti-

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mentos dos atletas perante a crítica da torcida; asinfluências da torcida na sua forma de jogar e, final-mente, os aspectos motivacionais resultantes doincentivo da torcida.

RESULTADOS E DISCUSSÃOAs ordens de apresentação dos resultados encon-tram-se, respectivamente, na forma das respostascomuns relacionadas aos factores acima menciona-dos. Cada resposta é agrupada em indicadorescomuns relatados pelos atletas e exemplificados apartir da pergunta a que pertence (Quadro 1).Os relatos apontam a presença dos pais como um

factor importante, pois são os integrantes da famíliaque mais assistem aos jogos de futebol, conformeresposta à questão 1.O crescimento e o desenvolvimento da criançasofrem influência directa dos pais, independente dequal sociedade se insere a família(10). Esta relaçãopais-crianças é bastante evidente no esporte, espe-cialmente em fase inicial, o que se confirmou com oresultado deste estudo. Entretanto, esta presença dos pais que acompanhamos filhos na prática esportiva pode gerar problemasde efeitos positivos, neutros ou negativos em treina-mentos e competições.

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Quadro I . Respostas dos atletas.

Resposta à questão1: Meu Pai (14)Quem assiste mais aos seus jogos de futebol? Meus Pais (3)

Meu Técnico (3)

Resposta à questão 2: Sim (17): incentivam; motivam; jogar melhor.Você gosta que seus pais assistam aos seus jogos de futebol? Por quê? Não (3): gritando; falando muito.

Resposta à questão 3: Mal (18): “me sinto mal”Como você se sente quando a torcida o critica? Triste (1)

Com mais responsabilidade (1)

Resposta à questão 4: Sim (9):“posso melhorar”Você acha que a torcida pode influenciar sua forma de jogar? Explique. Sim (2):“fico abatido”

Não (9):“não dou atenção para torcida”(2)“não dou ouvido”(2)“não ligo para o que as pessoas falam de mim”(1)“falam mal das pessoas”(1)“eles só atrapalham”(1)“jogo do meu jeito”(1)“ignoro a torcida”(1)

Resposta à questão 5: Sim (17):Você se motiva mais com o incentivo da torcida? Explique. “jogar melhor”(4)

“é um incentivo”(3)“não estou jogando mal”(2)“torce para mim”(2)“motivado” (2)“me sinto mais a vontade”(1)“ajuda dentro de campo”(1)“não esta tudo perdido”(1)“dão força”(1)Não (3): “não escuto”

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Segundo Cratty(2), o atleta nunca deixa de sofrerinfluência de alguma assistência, em qualquer etapade seu envolvimento esportivo. Os pais sempre estarão interagindo ou interferindocom a criança em sua vida e, quando estes fazemparte da torcida, há a influência sobre o desempenhodo atleta. Vale ressaltar que outros elementos sãotambém intervenientes nesse processo, como aidade, a experiência e a importância do jogo, osquais representam factores que podem agravar ouaprimorar o desempenho do atleta. Deste modo, a reacção da criança perante a presençados pais em seus jogos dependerá da maneira comoesta foi educada, do tipo de sua personalidade e,ainda, das ressonâncias das experiências anterior-mente vivenciadas. Segundo alguns estudos(8, 9) existem crianças que sesentem incomodadas com a presença dos pais,enquanto algumas se sentem bem, podendo haver,inclusive, uma melhoria em seu desempenho. Tu d ovai depender da qualidade do relacionamento entrepais e filhos, influenciando directamente na maneirada criança agir durante o treinamento e a competição.Quando um pai faz um comentário durante umacompetição, sua intenção, na maioria das vezes, émotivar o filho e conduzi-lo a um desempenho maisadequado ou à vitória; no entanto, nem sempre aforma empregada para fazê-lo é a mais adequada(15).Em se tratando do processo de iniciação esportiva,pode-se constatar que a torcida, na sua maioria, écomposta pelos pais. Os pais são um dos elementosdo grupo de pessoas que acompanham e interagemcom a criança na iniciação esportiva e como agentesenvolvidos influenciam directamente no seu desen-volvimento.De acordo com os relatos, resposta 2, as crianças sesentem motivadas e incentivas, favorecendo, destamaneira, um melhor desempenho. Porém, em algunscasos, as crianças se sentiram incomodadas, em vir-tude dos gritos dos pais.A actuação da torcida poderá ser um factor que alte-ra a performance do atleta ou atinja o atleta de algu-ma maneira(10).Nesta questão, as respostas demonstram a presençados pais durante os jogos de futebol com efeitospositivos para o desempenho das crianças, comoforma de incentivo, motivação ou como influência

para jogar melhor, resultados que corroboram com oestudo realizado por Isler( 6 ), no qual o autor apontaa presença dos pais nos jogos como um fato impor-tante para o desempenho positivo ou o bem-estardo filho.Os relatos evidenciaram a significância da presençados pais como um factor que altera o desempenhoda criança para níveis melhores de desempenho. Ter uma experiência mais positiva com o esporte éimportante(15), visto que a prática de uma actividadefísica bem conduzida propicia melhoria da condiçãonos níveis físicos e motor, aprimorando a auto-ima-gem e a autoconfiança e contribuindo para uma vidamais saudável.Ao contrário, alguns relatos caminham para o des-conforto mediante acções por meio de gritos e verba-lizações constrangedoras para as crianças. Sobre a presença dos pais, Filgueira(3) salienta queestes deveriam passar tranquilidade aos filhos e sedivertirem, o que, geralmente, não acontece, já queficam nervosos, gritam, criticam e alguns são, inclu-sive, violentos. O fato é que, com base nos resultados do estudo,pode-se afirmar que, para algumas crianças, a pre-sença dos pais é importante para o seu desenvolvi-mento no processo ensino-aprendizagem-treinamen-to, contrariando alguns posicionamentos de sensocomum, de que seria melhor se os pais não estives-sem presentes durante as actividades esportivas dascrianças, para se evitar esses constrangimentosacima relatados.Na resposta 3, as crianças demonstram, de forma bemclara, suas reacções perante a crítica. As criticastransmitidas pela torcida, muitas vezes vindas depais autoritários, geram influências negativas sobre ocomportamento das crianças.Referenciado por diferentes autores(10), a proximida-de do público, a maneira como o atleta o encara ecomo recebe os elogios e as criticas, vai influenciarsua conduta no jogo e suas reacções frente à torcida.De certa forma, os pais acreditam que as críticaspodem melhorar o desempenho da criança durante acompetição, no entanto, se forem feitas de maneiraagressiva ou em forma de cobranças violentas, aocontrário, podem alterar negativamente a sua auto-imagem, implementando sentimentos de inferiorida-de e de medo do fracasso.

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A criança pode gerar um sentimento de que não écompetente o suficiente, desistindo de tentar ouesquivando-se de situações nas quais possa ser ava-liada negativamente e criticada(15).Os pais devem entender que as criticas, muitasvezes, ao invés de ajudarem, acabam atrapalhando.Nas melhores das intenções, os pais querem tantoajudar e fazer com que seus filhos tenham um bomdesempenho, que se esquecem que não dependeapenas deles, e sim, muito mais dos próprios filhosse tornarem bons jogadores.Deste mesmo modo(6), a maneira como o atletaencara o público, como ele o valoriza ou como rece-be as críticas são factores que influenciam seudesempenho e suas reacções diante dos torcedores.De uma forma bem clara: ser deselegante comoutros pais, com seus filhos, com a arbitragem,supervalorizar a vitória ou a derrota da criança, sãoequívocos e tendem a atrapalhar, não só a criança,mas também o meio esportivo(14).Vale ressaltar que a escolha pela prática de uma acti-vidade esportiva pelos filhos se deve muito aoambiente social vivido pela família. A família tempapel primordial no envolvimento das crianças como esporte, reproduzindo suas características culturaiseconómicas como factores do ambiente físico e emo-cional, atitudinal e de condutas dos filhos, durante aprática de actividades esportivas.Para Isler( 6 ), a presença da família, como de toda a tor-cida, inibe ou estimula a actuação da criança, depen-dendo do nível de habilidade em que se encontra.O potencial de avaliação de uma torcida é um dosfactores mais importantes que se acredita existiremcomo modificador do desempenho do atleta, segun-do estudos realizados por Cratty(2).Não procede haver tantas criticas na maneira dejogar da criança, tendo a preocupação imediata como desempenho. Exactamente nessa inter-relaçãocomeçam a surgir questões passíveis de questiona-mentos, como o efeito do comportamento dos pais,e, também dos outros elementos como: técnicos,dirigentes, organizadores, árbitros, já que, muitasvezes, as críticas são destrutivas e não são posiciona-das em momento adequado, para servirem, talvez,como incentivo a mudanças. Para algumas crianças, a torcida exerce uma influênciapositiva para o seu desempenho, enquanto paraoutras essa influência não é percebida ou é prejudicial

a sua forma de jogar, conforme relatos da resposta 4. A torcida, através de seus artifícios, certamenteactuará sobre o desempenho do atleta de algumamaneira sendo que a experiência de vida, a idade epersonalidade são variáveis importantes no desem-penho da criança iniciante.O relacionamento que o atleta tem e teve com ospais, o modo como ele foi criado, as lembranças, osacontecimentos, os fatos que marcaram sua vida,tudo isto vai influenciar o atleta e seu modo de agir,do início da actividade física até o treinamento e acompetição(10).Ainda segundo o autor, consequentemente, cada umvai reagir ou agir de formas diferentes a mesmasituação. A questão é que nem todos estão conscien-tes disto, bem como, do risco que isto provoca.Neste contexto, o professor, o técnico ou a torcidafamiliar são pessoas inconscientes de seus deveres eresponsabilidades sobre suas atitudes e comporta-mentos, para que não se tornem exigentes demais, aponto de estragarem o prazer da criança em jogarfutebol, ou, o que é mais trágico, interferirem napossibilidade de esta criança ter aversão ao esporte,entrando em um processo sedentário. Conforme o resultado do estudo, a torcida podeinfluenciar ou não a forma de jogar e o desempenhoda criança durante a partida, uma vez que as respos-tas foram muito próximas, sendo 11 afirmativas con-tra 9 negativas. Esta comparação é importante por-que evidencia a presença de outras variáveis, asquais dizem respeito a que, dependendo da persona-lidade do aluno-atleta, a torcida pode representar,tanto estímulo positivo como negativo para a criançaem seu desempenho.Ao contrário, em relação ao incentivo, este indubita-velmente é extremamente necessário aos iniciantesfutebolistas, uma vez que os tornam mais motiva-dos, modificando ou influenciando seu comporta-mento e desempenho durante a prática esportiva,conforme observado nas respostas 5.Para os autores(10), o incentivo pode tomar a formade um impulso interno para o sucesso, para provarou conseguir algo para se auto-realizar.Nestes casos, os incentivos se tornam efeitos demotivação positivos, potencializando o desempenhodo indivíduo, tornando-se um apoio à aquisição desegurança e um estado motivacional que o despertapara jogar melhor.

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Sobre os elogios e incentivos(15), os autores comple-mentam que, com comentários de natureza positiva,os pais mostram que valorizam o que a criança fazde bom. Por sua vez, as crianças se sentem maisvalorizadas, seguras e competentes.No entanto, os mesmos autores(15, 3) comentamsobre alguns cuidados necessários para utilizaçãodos recursos que incentivam como os elogios, pala-vras de apoio, sinceridade e encorajamento, são eles: 1 — Descontrair a criança antes da competição;2 — Evitar críticas e ofensas durante a competição;3 — Não exceder na quantidade de instruções;4 — Não depreciar outras crianças ou equipes;5 — Valorizar as acções positivas com sinceridade. Sobre a presença da família, como de toda at o r c i d a( 6 ), o efeito da inibição ou estimulação seráproporcional à importância que a torcida tem navida do atleta.O mesmo autor defende que, considerando-se opapel fundamental da família na vida da criança,quanto maior apoio familiar, maior será o empenhoda criança dentro da actividade.Sendo assim, quando uma criança, além de ser moti-vada extrinsecamente pelos pais ou pela torcida, demodo geral, torna-se extrinsecamente motivada parao futebol, ela o faz pelo simples prazer e satisfaçãoobtidos pela prática da actividade, tendo neste bojotodos os factores anteriormente apontados, comoelementos capazes de gerar, não só a aderência aoesporte, mas a forma consciente de introjeção nomesmo.A torcida pode ser um factor de cobranças e exigên-cias, mas, aparentemente, conforme os dados obti-dos pelos instrumentos aplicados, os alunos-atletasse sentem motivados por esta forma de pressãosocial no esporte.

CONSIDERAÇÕES FINAISOs dados decorrentes deste estudo evidenciamalguns indicadores importantes das inter-relaçõesentre torcida e atletas iniciantes, como a importânciado papel do pai na relação da criança com o futebol;a dinamização propiciada pela presença dos pais nosjogos, tornando-se um factor de motivação paracriança; os aspectos negativos causados pela críticada torcida, em que os iniciantes se sentem malquando recebem a desaprovação da torcida; e, porfim, o incentivo da torcida como sendo um recurso

motivacional positivo para a actuação da criança. As atitudes e comportamentos das crianças futebo-listas recorrentes das interferências da torcidadurante os jogos são efectivamente influenciadas,com base nos diversos níveis de interpretação pes-soal, o que tem directa relação com as vivênciasanteriores de uma criança, assim como, com seuenredo psicológico.Como sugestões advindas com base nos resultadosdesta pesquisa, têm-se a importância de o técnico,assim com o professor envolvido no processo deacompanhamento das crianças iniciantes no esporte,promover encontros e reuniões periódicas com ospais e com os próprios alunos-atletas, evidenciandotodas estas questões que permearam as discussõesneste estudo.De igual importância são as preparações psicológicae pedagógica do professor ou técnico, para lidar comos estados subjectivos que envolvem a dinâmica daprática profissional, salientando estas temáticas noscursos de formação nas Ciências da Motricidade,além da necessidade de se implementar a leitura debibliografia actualizada.Os resultados apontam para uma relação mais har-moniosa entre os alunos-atletas e os pais e a com-preensão por parte desses de que o esporte praticadopelas crianças, no caso o futebol, têm sua finalidadena socialização, e ainda, a torcida, composta namaioria pelos pais, tem papel extremamente impor-tante para que, cada vez mais, se possa interagir coma criança de maneira saudável. Os pais que convivem com ela diariamente e a acom-panham no esporte influenciam directamente, assimcomo os professores e técnicos e outros elementos,especialmente àquelas crianças mais sensíveis e compersonalidade mais vulnerável a criticas. À medida que todos os elementos envolvidos pude-rem interagir de forma mais positiva e equilibrada,pensando, não apenas no momento do afã do jogo,mas sim, na possibilidade de concretização de objecti-vos educacionais, acompanhando e apoiando as crian-ças, estes poderão efectivamente fazer a diferença,investindo em uma formação mais autónoma e moti-vada, impelindo-as a incorporarem o esporte em suasvidas de maneira prazerosa e por opção própria, trans-formando a simples experiência corporal, na perspec-tiva de assimilação de valores existenciais qualitativos.

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Torna-se importante a elaboração de novos estudos,capazes de levar em consideração a pedagogia doesporte, bem como a psicologia do esporte, envol-vendo a iniciação esportiva do futebol em suas rela-ções com uma rede de evidências de complexidades,as quais devem ser melhor discutidas, tendo emvista a decisiva e directa influência no que concer-nem às relações interpessoais pertinentes ao esportee, especificamente, à formação esportiva da criança,em fase inicial.

CORRESPONDÊNCIAFabrício Moreira FilgueiraRua Dr. João Palma Travassos, 576 apt. 42Jardim Macedo – Ribeirão Preto/SPCep: 14.091-18e-mail: [email protected]

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Becker BJ, Teloken E (2000). A Criança no Esporte. In:

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A complexidade das relações na iniciação ao futebol

ARTIGOS DEREVISÃO

[REVIEWS]

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Stress oxidativo e dano oxidativo muscular esquelético: influência do exercício agudo inabitual e do treino físico

Filipe Ferreira Rita Ferreira José Alberto Duarte

Centro de Investigação em Actividade Física, Saúde e Lazer Faculdade de DesportoUniversidade do PortoPortugal

RESUMOA designação “espécies reactivas” (ER) é utilizada para englo-bar os radicais livres e outras moléculas, as quais, apesar denão possuírem átomos com electrões desemparelhados, sãopotencialmente geradoras desses radicais. Estas substâncias,naturalmente formadas em situações basais pelo metabolismocelular, são capazes, devido à sua elevada reactividade, demodificar a maioria das moléculas biológicas, colocando emrisco a funcionalidade e a viabilidade celular. Particularmente anível muscular esquelético, a mitocôndria parece constituir aprincipal fonte e, simultaneamente, o principal alvo das ER. Noentanto, a Xantina Oxidase, a Fosfolipase A2, a desaminaçãodas catecolaminas, assim como a infiltração tecidual pós-exercí-cio de leucócitos, poderão contribuir também como fontes adi-cionais de ER nos músculos exercitados. A ocorrência e aintensidade do resultante dano oxidativo, tanto no músculoesquelético, como nos restantes órgãos e tecidos corporais,para além da taxa de síntese de ER, estão também dependenteda capacidade antioxidante que o tecido expressa, quer à custade antioxidantes endógenos, quer exógenos provenientes dadieta. Essa capacidade antioxidante depende não só do papelespecífico de cada um dos mecanismos antioxidantes, enzimáti-cos e não enzimáticos, como também da cooperação entre osmesmos. Como resultado do exercício físico agudo, as taxas deprodução de ER de oxigénio aumentam, tal como o dano mus-cular causado por estes mesmos compostos. Contudo, com arepetição regular do exercício físico (treino), os resultados daliteratura mostram que os músculos aumentam a sua capacida-de antioxidante, tornando-os mais protegidos contra as ER for-madas, não só em repouso, como também durante os exercí-cios agudos subsequentes.

Palavras-chave: radicais livres, espécies reactivas, antioxidantes,lesão oxidativa, exercício exaustivo, exercício regular

ABSTRACTOxidative stress and damage in skeletal muscle: Influence of unusual acute exercise and physical conditioning

The designation “reactive species” (RS) is currently used to classify thefree radicals and other kind of molecules that despite not containingatoms with unpaired electrons are potentially producers of those radi-cals. These substances are naturally created at basal conditions by thecellular metabolism, and due to its high reactivity are able of modifyingthe structure of most of the biological molecules, placing in risk the cel-lular functionality and viability. Particularly in the skeletal muscle, themitochondria seem to be the main source of RS and, simultaneously,the main target of these compounds. Xanthine Oxidase, thePhospholipase A2, the catecholamine deamination, as well as the tissueinfiltration by leukocytes after exercise, may also contribute as addi-tional sources of RS in exercised muscles. The occurrence and the inten-sity of the RS-induced oxidative damage in the skeletal muscle or in theremaining organs and tissues, behind the rate of RS synthesis, are alsodependent of the antioxidant capacity of the tissue carried out byendogenous and exogenous substances. This antioxidant capacity, per-formed by enzymatic and non-enzymatic mechanisms, is dependent ofthe specific paper of each antioxidant and, moreover, also depends ofthe cooperation between them. As a consequence of the acute andunusual exercise, the production rate of RS of oxygen in skeletal muscleincreases severely as well as the oxidative damage caused by these com-pounds. However, with the regular practice of physical exercise therecruited skeletal muscles increase their antioxidant capacity, becomingmore protected against RS, not only at rest conditions but also duringthe subsequent practice of acute exercises.

Key-words: free radicals, reactive species, antioxidants, oxidativedamage, exhaustive exercise, physical training

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INTRODUÇÃOHoje é unanimemente aceite que o exercício físico,quando praticado de forma regular, é determinantepara a aquisição de um estilo de vida saudável, com-portando-se como um agente terapêutico e/ou deprevenção para numerosas situações de morbilidade,com a consequente diminuição da mortalidade quelhes está associada(18, 75). No entanto, em franca opo-sição aos seus potenciais efeitos benéficos, o exercí-cio físico agudo pode, sobretudo se inabitual eexaustivo, também induzir alterações orgânicasnefastas, especialmente quando os diferentes teci-dos, órgãos ou sistemas não se encontram suficien-temente adaptados para suportar, sem grandes alte-rações homeostáticas, os diferentes tipos de sobre-carga que lhes são exigidas(75, 92, 99, 100). De facto,para além do aumento do stress mecânico imposto,por exemplo, às fibras musculares esqueléticas soli-citadas e às células dos sistemas osteo-articular ecardiovascular, também as elevações da temperaturacorporal e da taxa metabólica, que se fazem sentirquer a nível muscular esquelético quer sistémico,ocorrem durante o exercício agudo(99, 100, 101). Paraalém destas solicitações orgânicas, há cada vez maisevidências de que, durante o exercício físico agudo,tal como em qualquer outra situação que envolvaum aumento súbito do metabolismo celular, ocorretambém uma concomitante sobrecarga orgânica oxi-dativa, com a consequente lesão oxidativa(7, 29, 31, 36,

41, 49, 67, 82, 89, 92, 93, 95, 98, 111, 117), cuja magnitude pareceser dependente da intensidade, da duração e do tipode exercício realizado(107). Esta sobrecarga oxidativa,normalmente designada por stress oxidativo, paraalém de se fazer sentir mais intensamente nos mús-culos esqueléticos, tem sido relatada também emmuitos outros órgãos e sistemas corporais responsá-veis pela regulação e manutenção da homeostasiaorgânica(7, 8, 10, 17, 29, 64), cuja funcionalidade se encon-tra igualmente aumentada durante o exercício(99).Estando o stress oxidativo fortemente associado àfisiopatologia de numerosas patologias e doenças decarácter crónico/degenerativo, assim como às altera-ções degenerativas teciduais que caracterizam oenvelhecimento orgânico(2, 15, 51, 52, 53), poderá serdifícil, numa primeira análise, conciliar o incrementodo stress oxidativo induzido pelo exercício agudocom os seus potenciais efeitos benéficos para a

saúde de quem o pratica. Contudo, a prática regularde exercício físico (o treino físico), pode, quando efi-cazmente adaptado para cada indivíduo, aumentar acapacidade de defesa orgânica contra a ocorrênciadessas lesões oxidativas em diferentes órgãos e teci-dos corporais, dando uma maior protecção celular etecidual aos indivíduos treinados, a qual se faz sentirquer em situações de repouso, quer durante a práti-ca do exercício agudo(41, 61, 62, 65, 84).Com o presente trabalho pretende-se mostrar que asevidências quanto à ocorrência de stress oxidativocom o exercício físico e à influência do treino físico,não só não são contraditórias como se encontramem perfeita sintonia. Para esse fim, serão analisadosnos músculos esqueléticos, especialmente em situa-ções fisiológicas, quer seja em repouso, quer sejadurante ou após o exercício agudo, as principais fon-tes de radicais livres e de espécies reactivas de oxigé-nio, as suas repercussões moleculares bem como osmecanismos de defesa antioxidante de que as fibrasmusculares estão munidas. Será também analisado opotencial efeito benéfico do treino físico na capacida-de antioxidante muscular esquelética e as suasrepercussões na magnitude do stress oxidativo e dalesão oxidativa, quer em situação de repouso, querdurante o exercício físico agudo.

RADICAIS LIVRES VS. ESPÉCIES REACTIVASEm 1954, a argentina Rebeca Gerschman sugeria,pela primeira vez, que os radicais livres (RL) eramagentes tóxicos e potencialmente geradores de con-dições patológicas ou de doenças(para refs. ver 46). Estesagentes constituem um grupo de substâncias quími-cas que se caracterizam por possuírem um ou maiselectrões desemparelhados numa das suas orbitaisexternas(32, 43, 51, 61, 102, 110). É esta particularidade quelhes confere a reactividade e a instabilidade químicaque os caracterizam, tendendo a interagir comoutras moléculas na sua proximidade, através dacaptação (comportando-se como oxidantes) ou dacedência (actuando como redutores) de electrõese/ou de átomos de hidrogénio(44, 109, 125). Destemodo, particularmente quando presentes em eleva-das concentrações, eles podem induzir alteraçõesseveras na estrutura de moléculas fundamentais paraa manutenção da homeostasia celular, resultandonuma possível perda de funcionalidade ou até

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mesmo na perda de viabilidade da célula(38, 51, 74, 86).Contudo, para além desta potencial acção nefastasobre a integridade e a funcionalidade das diferentesmoléculas, os RL e outras substâncias com eles rela-cionadas, têm também sido responsabilizados pelaregulação de importantes mecanismos fisiológicos,tais como a sinalização celular, a regulação daexpressão de alguns genes(32, 66, 85, 124), a mediação dareacção inflamatória e a potenciação dos mecanis-mos de defesa orgânica, uma vez que fazem parteintegrante do arsenal de armas letais leucocitárias(32,

56, 102). A nível muscular esquelético, estas substân-cias têm sido largamente estudadas, quer em situa-ções de patologia ou de doença (local ou sistémicacom repercussões musculares), quer em situaçõesfisiológicas (em condição basal ou durante o exercí-cio físico). Assim, é hoje unanimemente aceite que ataxa de produção de RL a nível muscular esqueléticose encontra elevada em algumas situações de doençaou patologia(28, 37, 51, 114) e que, em indivíduos saudá-veis, em situações fisiológicas, pode ser incrementa-da, comparativamente às situações de repouso, emfunção da intensidade, duração e tipo de exercíciofísico efectuado (107).Os RL podem ser encontrados em grande quantida-de na natureza associados aos átomos de carbono,enxofre, azoto e de oxigénio(51, 102), sendo classifica-dos em função do átomo portador do(s)electrão(ões) desemparelhado(s) (Figura 1).

Figura 1. Classificação dos radicais livres de acordo com o átomo que con-tém o(s) electrão(ões) desemparelhado(s). Por norma, a existência desteselectrões é assinalada na fórmula química da molécula com a colocação de

um ponto (.) no átomo em causa, tal como assinalado na figura.

Todavia, os radicais livres de oxigénio (RLO),nomeadamente o radical superóxido (O2

•–) e o radi-cal hidroxilo (HO•), são aqueles que possuem umamaior relevância biológica, não só devido à sua ele-vada toxicidade, mas também pelo facto de serem os

mais prevalentes nos organismos vivos que utilizamo oxigénio como comburente(51, 102). Existem, contu-do, outras moléculas altamente reactivas e potencial-mente tóxicas para o organismo, as quais, pelo factode não conterem qualquer electrão desemparelhadonas suas orbitais, não se enquadram na definição deRL(102). Apesar de não serem verdadeiros radicais,estas moléculas, onde se incluem o peróxido dehidrogénio (H2O2) e o ácido hipocloroso (HOCl),são potenciais geradoras de RL e, por essa razão, assuas repercussões orgânicas, fisiológicas ou tóxicas,devem ser igualmente tidas em consideração(43, 51, 61,

74, 102, 109). Por essa razão, em detrimento da designa-ção RL, passou a utilizar-se a designação “espéciesreactivas”, para englobar os RL e também essasmoléculas que, apesar de não possuírem átomoscom electrões desemparelhados, são potencialmentegeradoras desses radicais (Figura 2). À semelhançado assumido para os RLO, as espécies reactivas deoxigénio (ERO) parecem ser aquelas com maiorexpressão e com maiores repercussões orgânicas,apesar de algumas espécies reactivas de nitrogéniopoderem também desempenhar importantes funçõesna sinalização celular, quer em situações fisiológicas,quer patológicas(19).

F ig u ra 2. Esp é cies reacti vas de ox ig é n io, radicais e não radica i s, po tencia l men-te sintetizadas nos or ga n i s mos que uti l izam o ox ig é n io como com bu rente.

O O2•– é a forma reduzida do oxigénio molecular

formado através da captação de um electrão(32, 51, 74,

102). Esta molécula não consegue atravessar facilmen-te as membranas celulares, ficando normalmenteconfinada ao compartimento onde é produzida(habitualmente na matriz mitocondrial)(38). Pode, noentanto, desencadear uma série de reacções químicascom os ácidos gordos dos fosfolípidos e, dessaforma, comprometer a organização membranar, a

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qual é fundamental para o normal funcionamentocelular(38, 48, 61, 62, 63, 102). O O2

•– pode sofrer dismuta-ção, espontaneamente ou por acção enzimática,motivando a formação de H2O2

(32, 44, 74). Ao contrá-rio do O2

•–, o H2O2 possui a capacidade de atravessarfacilmente as membranas biológicas, apresentando-se como a ERO menos reactiva da sua espécie e cujaestabilidade está dependente, entre outros factores,da presença de iões metálicos livres nas suas proxi-midades(32, 51, 74, 102). De facto, esta espécie podecomportar-se como um intermediário decisivo para asíntese de ERO mais reactivas, como o HO•, a partirda oxidação de metais de transição que se encon-trem na sua forma livre, nomeadamente, o ferro(Fe2+) e o cobre (Cu+)(24, 32, 74, 104). O principal metalde transição responsável pela transformação do H2O2

em HO• é o Fe2+, através da reacção de Fenton, queocorre, basicamente, através da reacção de umátomo de Fe2+ e uma molécula de H2O2, com a con-sequente produção de uma molécula de HO• (Figura3). O Fe3+ pode ser novamente reduzido a Fe2+, soba acção do O2

•– (51, 102).

Figura 3. Reacções de Fenton e de Haber-Weiss,com a formação do radical hidroxilo.

O HO• possui uma elevada reactividade para com asbiomoléculas adjacentes, sendo, provavelmente, aERO que mais alterações estruturais induz nos siste-mas biológicos(61, 74, 102, 109). Esta ERO, ao retirar umátomo de hidrogénio aos ácidos gordos poli-insatura-dos das membranas celulares, inicia o processo deperoxidação lipídica, com as consequentes alteraçõesestruturais e funcionais membranares(102, 107, 114). Areacção de uma ERO com uma outra molécula adja-cente pode produzir uma ERO diferente, podendo,esta última, ser mais ou menos reactiva do que a EROinicial. Este processo tende a repetir-se continuamen-

te, terminando apenas quando a extremidade radicalque contém o electrão desemparelhado formar umaligação covalente com o electrão desemparelhado deoutro radical(32, 80, 102). As principais alterações estru-turais e funcionais induzidas pelas ERO nos diferen-tes componentes orgânicos, assim como as suas con-sequentes repercussões na funcionalidade celular,estão ilustradas, de forma resumida, na figura 4.

FONTES DE PRODUÇÃO DE ERO Pelo simples facto de consumir oxigénio, o metabo-lismo celular, mesmo em situações basais, promoveuma contínua formação de ERO, através da reduçãoda molécula de oxigénio(15, 32, 41, 43, 58, 85, 86). EstasERO podem ser produzidas em vários locais da célu-la, nomeadamente nas mitocôndrias, no retículoendoplasmático, nos lisossomas, nas membranascelulares, nos peroxissomas e no citosol(2, 15, 72, 74, 85).Contudo, de todas as fontes referidas, a mitocôndriaparece constituir a principal fonte de ERO no mús-culo esquelético, quer em repouso, quer durante oexercício agudo(2, 15, 16, 31, 72, 115). Estima-se que esteorganelo consuma cerca de 90% da totalidade dooxigénio utilizado pelo organismo, constituindo-secomo a principal fonte de energia das células euca-rióticas através da fosforilação oxidativa(30, 31, 72, 99).Neste processo, a mitocôndria utiliza a energia obti-da nas transferências de electrões entre os comple-xos da cadeia de transporte de electrões (CTE) parabombear protões da matriz para o espaço intermem-branar(30, 31, 58). Deste processo, para além da criaçãode um gradiente electroquímico transmembranar(entre a matriz e o espaço intermembranar), origina-se também um produto final inócuo para as células:a água(30, 31, 43, 46, 51, 58). Todavia, o transporte de elec-trões na CTE pode não ser totalmente canalizadopara o transporte transmembranar de protões e paraformação de água, podendo haver uma pequena por-ção de electrões que reage directamente com o oxi-génio molecular, conduzindo à formação de ERO(Figura 5)(51, 58, 61, 102). De acordo com a configuraçãoelectrónica da sua molécula, o oxigénio pode serconsiderado um bi-radical uma vez que possui nasua orbital externa dois electrões desemparelhadoscom spins paralelos, sendo dessa forma consideradauma molécula potencialmente oxidativa pela suatendência para captar electrões(80, 85). Assim, através

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da redução do oxigéniomolecular com um, doisou três electrões, origi-na-se, respectivamente,o O2

•–, o H2O2 ou oHO• (Figura 5)(85).Estima-se que cerca de2 a 5% do oxigéniototal consumido origi-ne, por este processo, asíntese de ERO, parti-cularmente nos comple-xos I e III (46, 58, 74, 87,

121). Uma vez que taxade formação destescompostos na mitocôn-dria parece ser propor-cional à quantidade deoxigénio aí consumidopor unidade de tempo,com o aumento da con-tracção muscular e como consequente aumentoda taxa do consumo deoxigénio, é aumentadatambém a taxa de sínte-se de ERO, agravandodesse modo a agressãooxidativa muscular(61, 62,

65, 86, 119). Como já refe-rido, devido à sua eleva-da reactividade, as EROsão capazes de modifi-car a maioria das molé-culas biológicas(50, 52, 53,

85, 102). Por exemplo, areacção do HO• com outras moléculas biológicas ébastante lesiva para a estrutura e funcionalidadecelular, sendo responsável por alterações estruturaisnas moléculas de ADN (reagindo, quer com as basespúricas, quer com as pirimídicas), nas proteínas epor destruição das membranas, fruto da sua reacçãocom os ácidos gordos poli-insaturados, dando ori-gem a uma série de reacções em cadeia de peroxida-ção lípidica (Figura 4)(58, 74, 80, 112). A elevação demarcadores indirectos de peroxidação lipídica emmitocôndrias isoladas com perturbações homeostáti-

cas, sugere que este organelo é, não só, o principallocal de formação de ERO nas células em geral mas,possivelmente também, o maior alvo da acção nefas-ta destes compostos(80).Apesar da mitocôndria se apresentar como o princi-pal local de produção de ERO, existem, contudo,outras fontes celulares para a sua formação(15, 72),estando algumas activas em condições fisiológicasbasais, enquanto outras são activadas apenas em cir-cunstâncias especiais, tais como durante o exercíciofísico exaustivo e inabitual(2, 3, 23, 26, 44). À semelhança

Exercício agudo e stress oxidativo muscular esquelético

Figura 4. Mecanismos indutores de lesão celular motivados pela interacção das espécies reactivas de oxigénio com os

diferentes componentes da célula (DNA – Ácido desoxirribonucleico; AGEP – Produtos de glicação avançada).

Figura 5. Distribuição dos electrões na orbital externa da molécula de oxigénio e redução da molécula a água, com oconjunto de reacções intermédias não enzimáticas que justificam a formação de espécies reactivas de oxigénio na

cadeia de transporte de electrões.

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do verificado nas situações de isquemia/reperfusãomuscular(3), supõe-se que a Xantina Oxidase (XO)possa também contribuir para a exagerada produçãotecidual de ERO motivada pelo exercício físicoagudo(20, 32, 34, 49, 54, 55). Esta enzima está presente emgrandes quantidades no endotélio vascular dos mús-culos esqueléticos e é responsável pela conversão daHipoxantina em Xantina e esta em Ácido Úrico(Figura 6)(20, 91, 122). Apesar da designação, a XO, invivo, e em condições homeostáticas, actua quimica-mente como uma desidrogenase, utilizando aNicotinamida Adenina-dinucleótido (NAD+) comoreceptor de átomos de hidrogénio. No entanto, emcircunstâncias especiais, tais como as que ocorremem situações de isquemia/reperfusão ou durante oexercício físico agudo exaustivo, a XO pode conver-ter-se, por acção proteolítica, numa oxidase oxigé-nio-dependente, passando a utilizar o oxigénio adja-cente como receptor de electrões, motivando, assim,a formação de ERO (Figura 6)(20, 34, 49, 55, 91). Na basedesta alteração funcional da XO pensa-se estar aactivação das calpaínas, uma família de proteasescitoplasmáticas especialmente estimuladas pela ele-vação térmica tecidual e/ou pelas elevadas concen-trações intracelulares do ião cálcio na sua formalivre(20, 54, 59, 91). A conversão da XO, da forma dedesidrogenase para a forma de oxidase oxigénio-dependente, associada a situações de grande disponi-bilidade dos substratos desta enzima, decorrentes dofacto da elevada taxa de utilização de AdenosinaTrifosfato (ATP) ser, pelo menos nos momentos deajuste metabólico, superior à sua taxa de resíntese(99), constituem situações propícias para a sínteseadicional de ERO no músculo esquelético exercitado(Figura 6)(20, 54, 55, 59).Também a Fosfolipase A2 (PLA2) muscular, particu-larmente activada durante o exercício físico, poderáconstituir outra fonte importante para a produção deERO(4, 59, 61, 76). Esta enzima, localizada no sarcole-ma, na membrana dos diferentes organelos, no sar-coplasma e no interior dos lisossomas, utiliza os fos-folípidos das membranas para a síntese de ÁcidoAraquidónico, o qual é substrato para a acção subse-quente da Ciclo-oxigenase e da Lipo-oxigenase moti-vando a formação de prostaglandinas, leucotrienos,tromboxanos e, concomitantemente, ERO(76). Se,por um lado, a PLA2 parece ter algum papel protec-

tor nas membranas celulares, pela remoção doshidroperóxidos resultantes da peroxidação lipídica,por outro, os lisofosfolípidos e o ácido araquidónicoresultantes da acção desta enzima, têm um efeitodetergente nas membranas celulares podendo,assim, motivar a perda da permeabilidade selectivado sarcolema, favorecendo a perda da homeostasiacelular ao ião cálcio e a difusão de compostos sarco-plasmáticos para o espaço intercelular(4, 32, 67, 76).Este fenómeno poderá explicar a forte correlação,descrita em humanos, entre a concentração sérica desubstâncias reactivas ao ácido tiobarbitúrico(TBARS), um marcador indirecto de peroxidaçãolipídica, e a actividade plasmática da Creatina Kinase(CK) após situações de exercício agudo exaustivo(90).São muitas as evidências do aumento da actividadeda PLA2 durante e/ou após o exercício físico agudo.Por exemplo, Symons et al.(113) demonstraram a acu-mulação de prostaglandina E2 (PGE2) no músculoesquelético após um breve período de electro-esti-mulação e, também em situação de estimulaçãomecânica passiva, Vandenburgh et al.(116) observaramnas fibras musculares um aumento da produção dePGE2 e da proteólise tecidual(para mais refs. ver 6).Não é, por isso, de surpreender que, após a realiza-ção de um exercício físico, particularmente se estefor inabitual, efectuado com elevada intensidadee/ou com elevada percentagem de contracçõesexcêntricas, se observem alterações degenerativasdas células musculares nos músculos exercitados,quer em animais de laboratório, quer em humanos(Figura 7)(para refs. ver 4, 6, 38, 62, 119).Muitos trabalhos têm sugerido que entre as causasdestas alterações degenerativas, para além daexcessiva tensão exercida sobre os sarcómeros( 7 9 ) edo aumento da temperatura corporal, esteja tam-bém a lesão oxidativa tecidual motivada pela pro-dução exagerada de ERO(36, 79, 82). Estas situaçõesfavorecem a desregulação homeostática ao ião cál-cio, a qual é especialmente sensível à acção dasE R O, seja pelo facto destas interagirem negativa-mente com a actividade de muitas enzimas envol-vidas no metabolismo daquele ião, nomeadamenteas AT Pases transportadoras de cálcio(47, 121), sejapelo facto de induzirem disfunção membranar porperoxidação lipídica(51, 58). Ao criar condições favo-ráveis à acumulação intracelular exagerada e pro-

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Exercício agudo e stress oxidativo muscular esquelético

Figura 6. Produção de espécies reactivas de oxigénio pela Xantina Oxidase durante o exercício agudo (NADPH/NADP+ – Formas reduzidae oxidada da Nicotinamida Adenina-dinucleótido; ATP – Adenosina Trifosfato; ADP – Adenosina Difosfato; AMP – Adenosina Monofosfato).

Figura 7. Fotografia demicroscopia óptica de um

corte transversal do múscu-lo soleus de ratinho sacrifi-

cado 24 horas após um exer-cício físico exaustivo. Para

além do alargamento doespaço intersticial, é notória

uma área de necrose cominfiltração adjacente de

fagócitos, sugerindo a pre-sença de uma reacção infla-

matória muscular.

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longada do ião cálcio livre nas fibras musculares, oexercício físico excessivo pode, assim, induzir umaactivação de enzimas proteolíticas dependentes doião cálcio, as quais poderão comprometer a viabili-dade das células ou, como no caso das fibras mus-culares, de algumas das suas áreas( 4 7 ). Assim, paraalém da hipotética contribuição dos detritos celula-res, resultantes destes processos degenerativosmotivados pelo ex e r c í c i o(4, 33), também os leucóci-tos que posteriormente se infiltram no tecidopodem ser uma importante fonte muscular adicio-nal de produção de ERO, contribuindo, dessaforma, para a agressão oxidativa associada aoaumento agudo da actividade muscular(33, 54, 55, 59),especialmente algumas horas após o término doex e r c í c i o( 3 3 ). Um a três dias após o ex e r c í c i oagudo, a resposta inflamatória nos músculos agre-didos parece estar completamente estabelecida( 4 ,

3 3 ), com alguns polimorfonucleares e numerososmononucleares dispersos pelo endomísio e nointerior de algumas fibras lesadas( 4 ). Para além dostrabalhos realizados com animais de laboratório, ainfiltração muscular de leucócitos tem tambémsido descrita em humanos, particularmente apósexercícios realizados com grande percentagem decontracções ex c ê n t r i c a s(40, 82, 83). De facto, durantea resposta de fase aguda, os neutrófilos são atraí-dos para a área lesada, libertando enzimas lisossó-micas e ERO(32, 54, 59, 83). Na presença de agentesperturbadores da estabilidade da membrana cito-plasmática dos neutrófilos, é estimulada a produ-ção de O2• – por acção da enzima NADPHO x i d a s e(54, 59), a qual, na presença de Ad e n o s i n aDifosfato (ADP) e Fe3 +, cataliza a transferência deum electrão da forma reduzida da NicotinamidaAdenina-dinucleótido Fosfato (NADPH+H+) parao O2, dando origem à formação do radical superó-x i d o( 1 6 ). Para além do O2

• –, os neutrófilos têm sidotambém referidos como fonte de um conjunto deoutras ER, incluindo o H2O2 e o HOCl, as quais setêm mostrado decisivas para um eficaz combate aagentes patogénicos invasores (Figura 8)(54, 59).Tendo em consideração os tempos de maior oumenor actividade das fontes de ERO atrás referi-das, a figura 9 ilustra, de forma grosseira, a hipoté-tica contribuição relativa de cada uma dessas fon-tes, durante e após o exercício físico agudo(4, 33, 34).

Figura 8. Vias de produção de espécies reactivas de oxigénio pelos fagócitosque infiltram o tecido (SOD – Superoxido Dismutase; MPO – Mieloperoxidase;NADPH/NADP+ – Formas reduzida e oxidada da Nicotinamida Adenina-dinu-

cleótido Fosfato).

Figura 9. Hipotética contribuição relativa das principais fontes muscularesesqueléticas de produção de espécies reactivas de oxigénio durante e após

o exercício físico agudo (PLA2 – Fosfolipase A2).

Um outro possível mecanismo de formação de EROdurante a contracção muscular esquelética podeestar relacionado com a oxidação das catecolaminascirculantes(23, 35). Estas hormonas são normalmenteinactivadas in vivo de duas formas: i) ou por via enzi-mática, pela acção da Monoamina Oxidase (MAO) eda Catecol-O-Metiltransferase (COMT), ou então ii)por via não enzimática, pela sua própria auto-oxida-ção, que ocorre normalmente quando as vias enzi-máticas estão saturadas(121). Por cada molécula oxi-dada pela MAO origina-se uma molécula de H2O2.Na sua auto-oxidação, a formação de derivados qui-nónicos, a partir das catecolaminas, leva também àformação de ERO(23, 42, 91, 121). Assim, como resulta-do do aumento da estimulação do sistema nervosoautónomo simpático, durante o exercício físicoagudo há um aumento das concentrações de cateco-laminas circulantes, o qual parece ser proporcional àintensidade do exercício efectuado(99). Esta situaçãomotiva o incremento da taxa de oxidação das aminas

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biogénicas, podendo resultar numa formação acresci-da de ERO, em particular de H2O2. Resultados expe-rimentais sugerem que o metabolismo destas aminastambém pode ocorrer no músculo esquelético(35),especialmente em situações onde as suas concentra-ções séricas estão elevadas, tal como ocorre duranteo exercício físico agudo, uma vez que a inibição daMAO pela pargilina, motiva uma diminuição acen-tuada da taxa de produção muscular de H2O2.Para além da MAO e à semelhança do ocorrido nou-tros tecidos, é possível que outros sistemas enzimá-ticos possam também participar activamente na pro-dução de H2O2 no músculo esquelético em situaçõesbasais e durante o exercício físico(1, 74, 123). Contudo,nestas situações fisiológicas, acredita-se que a dis-mutação do O2

•–, de forma espontânea ou por acçãoda superóxido dismutase (SOD), deva ser a maisimportante fonte de produção de H2O2 no músculoesquelético(74).

SISTEMA DE DEFESA ANTIOXIDANTE Devido ao elevado potencial de toxicidade do oxigé-nio e à sua grande utilização pelos organismos aeró-bios, torna-se necessário que estes estejam suficien-temente munidos de uma diversidade de sistemasantioxidantes para proteger as suas células dos efei-tos nocivos das ERO(14, 38, 70, 74). Com o aumentoagudo da taxa de produção de ERO, não só nos mús-culos recrutados mas também no organismo emgeral, o exercício físico pode estar a comprometer, alongo prazo, a funcionalidade dos diferentes órgãos esistemas e, dessa forma, a longevidade dos indiví-duos que o praticam(86). Contudo, apesar da lógicadeste pressuposto, numerosos trabalhos realizadoscom Drosophila, submetidas ao exercício físico regu-lar, e com ratos, submetidos a restrição calórica einactividade física, têm evidenciado um efeito benéfi-co notório da actividade física regular, quer na longe-vidade dos animais quer nos marcadores de lesãooxidativa tecidual em situações basais e de exercícioagudo(para refs. ver 80, 86, 119). De facto, o aumento, emsituações basais, da actividade dos sistemas celularesde defesa directamente relacionados com a inactiva-ção das ERO, parecem constituir adaptações crónicasinduzidas por um período prévio de treino físico, asquais atenuam a agressividade das ERO para com asestruturas biológicas(17, 86). Tais adaptações parecem

conferir às células uma maior resistência ao poten-cial efeito nefasto das ERO, não só para as que sãoformadas normalmente em repouso, atenuandoassim as lesões oxidativas diárias e, hipoteticamente,os fenómenos degenerativos associados ao envelhe-cimento orgânico(2, 15), mas também para aquelasoriginadas mais intensamente pelo exercício agudo,protegendo os atletas da sobrecarga oxidativa induzi-da pelos seus exercícios diários e, dessa forma, favo-recendo a sua recuperação orgânica(24, 41, 99, 100).Um antioxidante é, por definição, qualquer substân-cia que, quando presente em baixas concentraçõesrelativamente às dos potenciais substratos oxidáveis,atrasa significativamente, ou inibe, a oxidação dessessubstratos pelas ERO(32, 51, 110). Estas substânciaspossuem a capacidade de fornecer electrões/átomosde hidrogénio às ERO sem se transformarem emmoléculas instáveis. Os mecanismos de defesa anti-oxidante nos diferentes tecidos compreendem siste-mas enzimáticos e não enzimáticos(48) e podem serclassificados em função do seu mecanismo de acçãopredominante (antioxidantes de prevenção, de inter-cepção e de reparação), da sua localização orgânica(antioxidantes intracelulares e extracelulares) e dasua proveniência, seja da dieta (antioxidantes exóge-nos), seja da síntese endógena (antioxidantes endó-genos) (Tabela 1). Os antioxidantes de prevençãosão aqueles que criam condições favoráveis para evi-tar a formação de ERO, e dos quais são exemplos asproteínas que se ligam aos iões metálicos de transi-ção, prevenindo a sua presença na forma livre ou,então, as enzimas responsáveis pela manutenção doequilíbrio redox da célula e pela redução de antioxi-dantes de intercepção previamente oxidados, como éo caso da glutationa; o zinco e o selénio, provenien-tes da dieta, apesar de não terem, por si só, umaacção antioxidante directa, estão englobados nogrupo dos antioxidantes de prevenção porque sãoimprescindíveis para a correcta funcionalidade dealgumas enzimas antioxidantes; os antioxidantes deintercepção são todos aqueles que reagindo directa-mente com as ERO, as transformam em substânciasmenos reactivas ou até não reactivas, impedindodessa forma o seu ataque às estruturas celulares; osantioxidantes de reparação favorecem a remoção dosdanos moleculares causados pelas ERO e a reconsti-tuição da estrutura e da homeostasia celular(32, 45, 60).

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No interior da célula, a eliminação dos compostosreactivos, efectuada quer por antioxidantes exóge-nos, quer endógenos, constitui um pré requisito paraa sobrevivência celular, sendo normalmente efectua-da por: 1) sistemas enzimáticos, englobados nosantioxidantes classificados de prevenção, tais como aSOD, a Catalase (CAT) e a Glutationa Peroxidase(GPx); 2) moléculas que neutralizam os radicais nomeio aquoso, classificadas como antioxidantes deintercepção, como o Ascorbato, Urato e a Glutationareduzida (GSH); 3) moléculas que neutralizam osradicais no interior das membranas, classificadascomo antioxidantes de intercepção, como osTocoferois, Flavonoides, Carotenoides e Ubiquinol;4) enzimas envolvidas na redução de formas oxida-das de pequenos antioxidantes moleculares, tambémconsideradas antioxidantes de prevenção, tais como,a Glutationa Redutase (GR), a DihidroascorbatoRedutase (DR) ou aqueles que são responsáveis pelamanutenção dos grupos tiol das proteínas, como aTioredoxina Redutase (TR); e 5) mecanismos celula-res que mantêm um meio reduzido, nomeadamente,a Glucose-6-fosfato Desidrogenase, que regenera aforma oxidada da Nicotinamida Adenina-dinucleóti-do Fosfato(15, 51, 74, 108, 110). Destes, os agentes queapresentam um papel mais preponderante dentrodos sistemas intracelulares de defesa antioxidantesão a SOD, a GPx e a CAT(14, 32, 48, 51, 74, 108, 110). Em

situações de produção exagerada de ERO, cada umadestas enzimas possui a capacidade de catalizar reac-ções que conduzem à produção de espécies menosreactivas ou de neutralizar metabolitos do oxigénioreactivo(100). A capacidade antioxidante de um orga-nismo depende não só do papel específico de cadamecanismo antioxidante, como também da coopera-ção entre os mesmos (Figuras 10 e 11). A formacomo as defesas se complementam difere não sóentre os organismos ou tecidos, mas também entreos compartimentos celulares(108). Não parece poishaver dúvidas de que, para além da taxa de produçãode ERO, o nível de lesão celular oxidativa motivadapelas ERO está também intimamente dependente dacapacidade de defesa orgânica dos diferentes agentesantioxidantes de prevenção ou de intercepção, assimcomo da capacidade celular de reparação do hipotéti-co dano sofrido.

Mecanismos enzimáticosA GPx tem um papel determinante nos mamíferos enos processos de neutralização das ERO(14, 86) pois éconsiderada a enzima mais importante para a oxida-ção do H2O2 a água(74). A GPx dos mamíferos temuma maior afinidade pelo H2O2 do que a CAT, o quesignifica que em concentrações baixas de H2O2, aGPx apresenta um papel muito mais activo na suaremoção celular(74, 85, 103). O seu correcto funciona-

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Antioxidantes Exógenos Antioxidantes Endógenos Prevenção Extracelulares Intracelulares

Zinco Prevenção Prevenção Selénio Albumina Glutationa Peroxidase

Bilirrubina Superóxido Dismutase Ceruloplasmina Catalase

Intercepção Ferritina Glutationa Redutase Ácido Ascórbico Mioglobina

Alfa-tocoferol Metalotioneína Intercepção Carotenoides Haptoglobina Glutationa

Ácido Úrico Coenzima Q Reparação Metaloenzimas

Tabela 1. Origem (endógena ou exógena), localização (intracelular ou extracelular) e mecanismosde acção (prevenção, intercepção ou reparação) dos principais antioxidantes orgânicos.

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mento está dependente da presença de selénio nasua constituição e da disponibilidade de H2O2 e deoutros hidroperóxidos, utilizando a GSH como dadorde electrões/hidrogénios, formando Glutationa oxi-dada (GSSH) e água (Figura 10)(14, 51, 85, 86, 120, 125).Este funcionamento atribui à GPx um papel impor-tante na protecção celular das membranas lipídicas,proteínas e ácidos nucleicos contra os ERO(86).Contrastando com a sua elevada actividade noutrosórgãos, nos músculos esqueléticos dos mamíferos aactividade da GPx é muito reduzida(51) e varia emfunção do tipo de fibra muscular, sendo as fibrascom características mais oxidativas, em oposição àsfibras glicolíticas, aquelas que apresentam umamaior actividade desta enzima(98).A GPx celular distribui-se pela mitocôndria e pelocitosol(86). No músculo-esquelético, aproximadamen-te 45% da actividade da GPx é encontrada no citosol,estando os restantes 55% na mitocôndria(63). Estalocalização mitocondrial e citoplasmática da GPxpermite a sua proximidade às diversas fontes de for-mação de hidroperóxidos, fazendo desta enzima umdos principais neutralizadores de hidroperóxidosprovenientes das diferentes fontes celulares(86). Amitocôndria possui dois tipos de enzimas com a fun-ção de peroxidase, a GPx clássica e a GPx dos hidro-peróxidos lipídicos, sendo esta a única enzima intra-celular capaz de reduzir directamente os hidroperó-xidos de fosfolípidos e colesterol das membranas(5).Devido ao facto da GSH ser oxidada pela GPx con-vertendo-se em GSSG, as células deverão possuiruma via de regeneração de GSH. Esta reacção é cata-lisada pela enzima GR, que utiliza a NicotinamidaAdenina-dinucleótido Fosfato na sua forma reduzida(NADPH) como cofactor, transformando a GSSGnovamente em GSH(32, 51). Os níveis intracelularesde GSH estão, deste modo, dependentes da interac-ção das enzimas GPx e GR, bem como dos mecanis-mos de resíntese intracelular e de captação de GSH apartir do meio extracelular (Figura 11)(98). Por seulado, a GR não possui características antioxidantesdirectas, sendo porém muito importante para o nor-mal funcionamento do sistema antioxidante(86), umavez que a funcionalidade da GPx está dependentedos níveis de GSH como dador de hidrogénios/elec-trões (Figura 10). Para além disso, a presença deGSH em quantidades adequadas é também determi-

nante para a manutenção da homeostasia orgânica,tendo em consideração a sua participação na síntesede ADN e proteínas, na actividade de numerosasenzimas intracelulares, na libertação de neurotrans-missores no sistema nervoso e na eliminação hepáti-ca de compostos carcinógenicos(16, 32). Em condiçõesfisiológicas normais, a GR mantém mais de 98% daGSH intracelular no estado reduzido, contribuindo,assim, para a manutenção do meio intracelular emestado reduzido(98). Para além da GPx, a redução doshidroperóxidos orgânicos com recurso à GSH podetambém ser catalisada por uma enzima independen-te do selénio, a Glutationa-S-Transferase (GST), aqual pode actuar, quer como uma peroxidase, quercomo uma transferase(103, 109, 120). A actividade daGPx parece ser particularmente importante na redu-ção de hidroperóxidos orgânicos, enquanto que aactividade da GST parece amplamente envolvida naeliminação de compostos, particularmente a nívelhepático, através da conjugação com a glutationa(51).A SOD, como já referido, metaboliza o O2

•– com for-mação de H2O2 (Figura 10)(74, 85, 86). Nos mamíferos,existem três isoenzimas da SOD, codificadas e regu-ladas de forma independente: a citosólica (Cu,Zn-SOD ou SOD1), a mitocondrial (Mn-SOD ou SOD2)e uma forma extracelular da Cu,Zn-SOD ou(SOD3)(44, 105). A actividade da SOD total no múscu-lo esquelético é inferior à do fígado e do rim, seme-lhante à do cérebro, coração e pâncreas e superior àdos eritrócitos(para refs. ver 51). No músculo-esquelético,15 a 35% da actividade total da SOD está localizadanas mitocôndrias, estando as restantes 65 a 85% nocitosol(77). A actividade total desta enzima varia tam-bém com as características histoquímicas do múscu-lo-esquelético, sendo os músculos com maior per-centagem de fibras oxidativas aqueles que eviden-ciam uma maior percentagem desta enzima, compa-rativamente aos músculos com menor capacidadeoxidativa(25, 98).A CAT é uma enzima presente na maioria dos orga-nismos aeróbios e é responsável pela conversão doH2O2 intracelular em água e oxigénio (Figura 10)(57,

74, 81, 86, 97), estando a maior parte da actividade destaenzima localizada nos peroxissomas, tanto nos teci-dos animais como nas plantas(51). As mitocôndrias eo retículo endoplasmático contêm também algumaactividade da CAT, embora muito reduzida, pelo que

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qualquer H2O2 formado in vivo nestes organelos nãodeverá ser degradado expressivamente por esta via(51,

62). Na generalidade dos animais, a CAT está presen-te em praticamente todos os órgãos, estando particu-larmente concentrada no fígado e nos eritrócitos(51).O cérebro, o coração, e os músculos esqueléticoscontêm pequenas quantidades, porém, a sua activi-dade é muito variável nos diversos músculos e emdiferentes regiões do mesmo músculo(51). Tal como aSOD e a GPx, a actividade da CAT é mais elevadanos músculos com predominância de fibras oxidati-vas e mais reduzida nos músculos com uma grandepercentagem de fibras glicolíticas(98).Pelo exposto, fica claro que o organismo possui acapacidade de oxidar o H2O2 a água, através de reac-ções catalizadas por duas enzimas: a CAT e aGPx(57). Esta conversão é efectuada predominante-mente pela GPx, estando a contribuição relativadesta enzima na dependência das concentrações deH2O2

(57). De facto, a partir do momento em que ataxa de H2O2 se eleva, podendo esta molécula cons-tituir de substrato, via reacção de Fenton, para for-mar o HO•, acredita-se que a CAT adquira um papelimportante como um mecanismo adicional de defesaantioxidante celular, limitando a acumulação intrace-lular de H2O2

(57).

Figura 10. Reacções catalizadas pelas enzimas antioxidantes (GPx –Glutationa Peroxidase; SOD – Superóxido Dismutase; CAT - Catalase; GR –

Glutationa Redutase; GSH e GSSG – Formas reduzida e oxidada da Glutationa;NADPH e NADP+ - Formas reduzida e oxidada da Nicotinamida Adenina-dinu-

cleótido Fostato).

No que respeita à influência imediata do exercíciofísico agudo sobre a actividade destas enzimas anti-oxidantes, os resultados da literatura são confusos emuitas vezes contraditórios(14, 70, 84), havendo neces-sidade de estudos adicionais esclarecedores daqueleefeito no tecido muscular esquelético. De facto, ape-

sar de se esperar que, devido à oxidação das proteí-nas musculares pelas elevadas taxas de formação deERO(21, 71, 96), a actividade enzimática em geralpudesse ficar negativamente afectada, com diminui-ção simultânea da funcionalidade das diferentesenzimas antioxidantes, nem todos os trabalhos expe-rimentais o têm revelado(82). Independentemente dopotencial efeito negativo imediato sobre a capacida-de antioxidante, é consensual que algumas ERO,particularmente o H2O2, desempenham um impor-tante papel na indução celular da expressão denumerosos genes, entre os quais se encontram osresponsáveis pela síntese das enzimas antioxidan-tes(para mais refs. ver 14, 65, 66, 80, 88, 107). Assim, com o trei-no físico, à medida que os picos de produção deERO motivados pelo exercício agudo se vão suce-dendo no tempo, será de esperar que a taxa de sínte-se dos antioxidantes vá também aumentando, pro-porcionando às células uma maior capacidade dedefesa contra esse tipo de situações agudas futu-ras(84, 111). Por essa razão, a quantificação da activida-de das enzimas antioxidantes em situações basaistem também permitido, de forma indirecta, inferirsobre o nível de agressão oxidativa a que o músculofoi sujeito em cada exercício agudo efectuado(71).Os resultados da literatura são consensuais quanto aeste assunto, evidenciando um aumento da activida-de do sistema de defesa antioxidante muscular apósum programa de treino físico(84, 117). Importa salien-tar que esta maior capacidade antioxidante não se fazsentir apenas durante os momentos de exercício físi-co agudo, estando presente durante todas as restan-tes horas do dia onde a actividade contráctil muscu-lar é mais reduzida (Figuras 12 e 13). Talvez estefacto explique a maior longevidade demonstrada nosanimais treinados, provavelmente pela maior atenua-ção das lesões oxidativas normalmente induzidaspelo metabolismo basal das células(65, 86). Esteaumento da capacidade de defesa contra as ERO nãose faz sentir apenas no músculo esquelético, estandopresente em numerosos órgãos e tecidos. Por ex e m-plo, em indivíduos treinados, comparativamente aossedentários, está descrita uma maior capacidade anti-oxidante no plasma(22, 94) e nos eritrócitos( 1 0 6 ). Emanimais, tem sido demonstrado que o coração, o fíga-do e o pulmão evidenciam também melhorias na suacapacidade anti-oxidante após treino físico(8, 10, 17, 117).

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Mecanismos não-enzimáticos Conforme já referido,para além das enzimasantioxidantes, os orga-nismos aeróbios pos-suem outras substânciasantioxidantes não enzi-máticas, umas de carac-terísticas lipofílicas(Vitamina E, b-carote-nos, ubiquinona e ubi-quinol e flavonóides) eoutras hidrofílicas(Vitamina C e GSH)(41,

51, 61, 62). Todas as referi-das actuam por inter-cepção das ERO (Tabela1), convertendo-as emespécies menos reacti-vas, e participam nareparação das alteraçõesestruturais da célula, iniciadas pelas ERO, contri-buindo em conjunto com os outros agentes antioxi-dantes, para a manutenção do equilíbrio do estadoredox da célula (Figura 11)(108, 118). Outros agentesantioxidantes não enzimáticos, também referidos natabela 1, actuam por prevenção, evitando a presençade metais de transição na sua forma livre (prevenin-do a ocorrência de reacções de Fenton e de Haber-Weiss). Para além destes compostos, também osestrogénios parecem aumentar a capacidade celularde resistência à formação de ERO, funcionando deuma forma cooperativa entre si, embora independen-te dos restantes antioxidantes(11, 69, 118).Em consequência do exercício físico agudo, é deesperar que muitos dos antioxidantes de intercepçãodiminuam as suas concentrações musculares. Porexemplo, a nível muscular esquelético, numerosostrabalhos têm analisado as concentrações de GSH ede antioxidantes de intercepção exógenos (vitami-nas) no músculo esquelético após exercício físicoagudo(para refs. ver 61, 66). Assim, no músculo esqueléti-co, a demonstração de uma acentuada redução dasconcentrações de GSH (com a concomitante elevaçãodas concentrações de GSSG) assim como uma redu-ção dos níveis de vitamina E tecidual, comparativa-

mente à situação de repouso, constituem bons indi-cadores dos níveis de stress oxidativo surgido duran-te e/ou logo após o exercício(12).

STRESS OXIDATIVOPor definição, a situação de stress oxidativo (SO)ocorre quando existe um desequilíbrio entre a acçãodos agentes oxidantes e dos antioxidantes, a favor dosprimeiros (Figura 12)(43, 46, 50, 85, 102, 104, 109, 110, 119). Emtermos gerais, o estado de SO orgânico parece variarcom a concentração de oxigénio envolvente, com otipo de tecido analisado e com o seu estado fisiológico(incluindo aqui as situações de repouso e de ex e r c í c i ofísico agudo), com a dieta e a idade do indivíduo, coma ingestão de fármacos, com a exposição a condiçõesambientais impróprias, tais como radiação ultra viole-ta, a poluição, a humidade relativa e a temperaturaambiente e com o stress emocional( 8 0 ).Esta situação de SO traduz-se, de forma imediata, naincapacidade de impedir ou reparar as repercussõesnefastas das ERO sobre as estruturas celulares e éassumido que ocorra em todos os seres biológicos,mesmo em situações de funcionalidade basal, isto é,em repouso (Figura 12)(86). Aumentos do SO podemdever-se não só a um aumento da taxa de produção

Exercício agudo e stress oxidativo muscular esquelético

Figura 11. Acção integrada dos diferentes mecanismos antioxidantes, enzimáticos e não enzimáticos (SOD –Superoxido Dismutase; GR – Glutationa Redutase; GSH e GSSG – Formas reduzida e oxidada da Glutationa; CAT –

Catalase; DNA – Ácido Desoxirribonucleico; RNA – Ácido Ribonucleico).

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de ERO, mas também a uma redução da capacidadeantioxidante ou, ainda, à conjugação destes dois fac-tores(16, 104).No que diz respeito ao músculo esquelético, tendoem consideração que este parece ser muito maisdependente da GSH para a neutralização das ERO doque o fígado e o rim(9), a medição das concentraçõesde GSH e GSSG e/ou da actividade das enzimas rela-cionadas com a sua homeostasia, é considerada omelhor meio de quantificação indirecta do SO nestetecido(62, 63, 109). Apesar dos marcadores utilizadosnem sempre revelarem alterações significativas apósexercícios suaves (habituais)(para refs. ver 107, 108, 119), agrande maioria dos trabalhos efectuados tem relata-do um incremento dos indicadores de stress e delesão oxidativa no músculo esquelético durante ouapós o exercício físico intenso, quer em animais(95),quer em humanos(13), estando a magnitude do fenó-meno intimamente dependente das características doexercício efectuado(107).

REPERCUSSÕES OXIDATIVAS SISTÉMICAS DO EXERCÍCIO AGUDO Em humanos, por razões éticas e logísticas, associa-das aos necessários métodos invasivos, as evidênciasde stress e de lesão oxidativa motivados pelo exercí-cio agudo têm sido essencialmente estudadas a nívelsanguíneo, quer no plasma, quer nas células circu-lantes(27, 39, 89). A ocorrência de lesão oxidativa noorganismo em geral, particularmente de peroxidaçãolipídica, foi também testemunhada em humanoscom indicadores indirectos obtidos por meios nãoinvasivos de fiabilidade duvidosa, tais como a quan-tificação da excreção pulmonar de hidrocarbonetos

voláteis(73), um poten-cial indicador dos níveisde peroxidação lipídica.À semelhança do descri-to para o músculoesquelético, é hoje una-nimemente aceite que oexercício agudo, sobretu-do se exaustivo, induztambém a nível cardíacoum aumento dos marca-dores de lesão oxidati-v a( 6 2 ), sugestivo da ele-vação do SO tecidual. De

facto, o miocárdio parece ser particularmente suscep-tível a todas as situações que promovam uma elevaçãodo seu metabolismo, nas quais se incluem o ex e r c í c i ofísico agudo, uma vez que a sua capacidade metabóli-ca oxidativa é muito elevada e, simultaneamente, pos-sui uma actividade relativamente baixa das enzimasque compõe o seu sistema antioxidante(17, 64). Defacto, existem evidências directas de que o ex e r c í c i oagudo aumenta de forma significativa, comparativa-mente às situações de repouso, a taxa de produção doradical hidroxilo neste órgão( 9 3 ). Os dados ex i s t e n t e ssugerem que as principais fontes desta taxa aumenta-da de ERO no coração são semelhantes às do músculoesquelético: a mitocôndria e a xantina oxidase(para mais

refs. ver 17, 64). Para além do músculo esquelético e docoração, a elevação dos níveis de SO e de lesão oxida-tiva têm também sido descritas em muitos outrosórgãos e tecidos(8, 10, 17, 20, 22, 29, 67, 68, 78, 92, 93). Estasituação não será de estranhar se tiver em considera-ção que, durante o exercício físico agudo, as altera-ções metabólicas não se restringem apenas ao sistemamuscular esquelético ou ao sistema cardiovascular( 7 ,

29, 67, 68, 89, 92, 99, 117). De facto, as acentuadas alteraçõeshormonais, assim como as alterações térmicas, asso-ciadas ao exercício intenso e exaustivo far-se-ão sentir,de forma mais ou menos intensa, na maior parte dascélulas corporais, tais como no pulmão, no rim e nof í g a d o(8, 10, 17, 29, 67, 78, 92, 93).

CONCLUSÕESPelo exposto, não parece haver dúvidas que a realiza-ção de exercício físico agudo, especialmente seexaustivo e inabitual, agrava os níveis de SO, quernos músculos esqueléticos recrutados, quer nos dife-

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Figura 12. Conceito de stress oxidativo baseado no desequilíbrio entre as acções pró-oxidante e antioxidante teciduais.

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rentes órgãos e tecidos associados com a regulaçãoda homeostasia orgânica. A magnitude deste proces-so está intimamente dependente da duração, daintensidade e do tipo de exercício efectuado. Poroutro lado, o exercício físico quando praticado deforma regular induz um aumento crónico da activi-dade do sistema de defesa antioxidante, protegendoo músculo esquelético do ataque das ERO, quer emsituações de repouso, quer durante o exercícioagudo. Pelo facto de, no dia-a-dia dos atletas, otempo passado em situações basais ser manifesta-mente superior aquele dispendido em exercícioagudo, é possível que, pelo aumento dos sistemas dedefesa antioxidante, os níveis basais de SO nestessujeitos sejam bem mais reduzidos do que nossedentários, dando-lhes assim mais protecção contraos processos degenerativos decorrentes do seu pró-prio metabolismo basal, os quais estão intimamenteassociados ao processo de envelhecimento biológico.Esta hipótese é suportada pelo aumento da longevi-dade observado em animais treinados, sujeitos ounão à restrição calórica.

CORRESPONDÊNCIAJosé Alberto DuarteCIAFEL, FADEUPR. Dr. Plácido Costa, 914200-450 PortoTel: 225074784; Fax: 225500689e-mail: [email protected]

Exercício agudo e stress oxidativo muscular esquelético

Figura 13. Comparação dos níveis de stress oxidativo entre indivíduos sedentários e treinados, em situações de repouso e de exercício físico agudo.

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122.White C, Shelton J, Moellering D, Jo H, Patel R, Darley-Usmar V (2000). Exercise and xantine oxidase in the vas-culature: superoxide and nitric oxide interactions. In: SenC, Packer L & Hanninen, (Eds.) Handbook of Oxidants andAntioxidants in Exercise. Basel: Elsevier Science. pp: 69-86.

123.Yeldandi A, Rao M, Reddy J (2000). Hydrogen peroxidegeneration in peroxisome proliferator-induced oncogene-sis. Mutat Res. 448(2): 159-177.

124.Yildiz O (2007). Vascular smooth muscle and endothelialfunctions in aging. Ann N Y Acad Sci. 1100: 353-360.

125.Yu B (1994). Cellular defenses against damage from reacti-ve oxygen species. Physiol Rev. 74(1): 139-162.

Exercício agudo e stress oxidativo muscular esquelético

Tipos de publicação

Investigação originalA RPCD publica artigos origi-nais relativos a todas as áreasdas ciências do desporto.

Revisões da investigaçãoA RPCD publica artigos desíntese da literaturaque contribuam para a gene-ralização do conhecimentoem ciências do desporto.Artigos de meta-análise erevisões críticas de literaturasão dois possíveismodelos de publicação.Porém, este tipo de publica-ção só estará aberto aespecialistas convidadospela RPCD.

ComentáriosComentários sobre artigosoriginais e sobre revisões dainvestigação são, não sópublicáveis, como são fran-camente encorajados pelocorpo editorial.

Estudos de casoA RPCD publica estudos decaso que sejam consideradosrelevantes para as ciências dodesporto. O controlo rigoro-so da metodologia é aqui umparâmetro determinante.

EnsaiosA RPCD convidará especia-listas a escreverem ensaios,ou seja, reflexões profundassobre determinados temas,sínteses de múltiplas abor-dagens próprias, onde àargumentação científica, filo-sófica ou de outra naturezase adiciona uma forte com-ponente literária.

Revisões de publicaçõesA RPCD tem uma secçãoonde são apresentadas revi-sões de obras ou artigospublicados e que sejam con-siderados relevantes para asciências do desporto.

Regras gerais de publicação

Os artigos submetidos àRPCD deverão conter dadosoriginais, teóricos ou experi-mentais, na área das ciênciasdo desporto. A parte subs-tancial do artigo não deveráter sido publicada em maisnenhum local. Se parte doartigo foi já apresentadapublicamente deverá serfeita referência a esse factona secção deAgradecimentos.Os artigos submetidos àRPCD serão, numa primeirafase, avaliados pelos edito-res-chefe e terão como crité-rios iniciais de aceitação:normas de publicação, rela-ção do tópico tratado comas ciências do desporto emérito científico. Depoisdesta análise, o artigo, sefor considerado previamenteaceite, será avaliado por 2“referees” independentes esob a forma de análise“duplamente cega”. A acei-tação de um e a rejeição deoutro obrigará a uma 3ªc o n s u l t a .

Preparação dos manuscritos

Aspectos geraisCada artigo deverá seracompanhado por umacarta de rosto que deveráconter:

– Título do artigo e nomesdos autores;

– Declaração de que o artigonunca foi previamentepublicado;

Formato– Os manuscritos deverão

ser escritos em papel A4com 3 cm de margem, letra12 e com duplo espaço enão exceder 20 páginas;

– As páginas deverão sernumeradas sequencialmen-te, sendo a página de títuloa nº1;

Dimensões e estilo– Os artigos deverão ser o

mais sucintos possível; Aespeculação deverá ser ape-nas utilizada quando osdados o permitem e a lite-ratura não confirma;

– Os artigos serão rejeitadosquando escritos em portu-guês ou inglês de fracaqualidade linguística;

– As abreviaturas deverãoser as referidas internacio-nalmente;

Página de títuloA página de título deveráconter a seguinte informação:

– Especificação do tipo detrabalho (cf. Tipos depublicação);

– Título conciso mas sufi-cientemente informativo;

– Nomes dos autores, com aprimeira e a inicial média(não incluir graus acadé-m i c o s )

– “Running head” concisanão excedendo os 45 carac-teres;

– Nome e local da institui-ção onde o trabalho foir e a l i z a d o ;

– Nome e morada do autorpara onde toda a corres-pondência deverá serenviada, incluindo endere-ço de e-mail;

Página de resumo– Resumo deverá ser infor-

mativo e não deverá refe-rir-se ao texto do artigo;

– Se o artigo for em portu-guês o resumo deverá serfeito em português e eminglês;

– Deve incluir os resultadosmais importantes quesuportem as conclusões dotrabalho;Deverão ser incluídas 3 a 6palavras-chave;

– Não deverão ser utilizadasabreviaturas;

– O resumo não deverá exce-der as 200 palavras;

Introdução– Deverá ser suficientemente

compreensível, explicitan-do claramente o objectivodo trabalho e relevando aimportância do estudo faceao estado actual do conhe-cimento;

– A revisão da literatura nãodeverá ser exaustiva;

Material e métodos– Nesta secção deverá ser

incluída toda a informaçãoque permite aos leitoresrealizarem um trabalho coma mesma metodologia semcontactarem os autores;

– Os métodos deverão serajustados ao objectivo doestudo; deverão ser replicá-veis e com elevado grau defidelidade;

– Quando utilizados huma-nos deverá ser indicadoque os procedimentos uti-lizados respeitam as nor-mas internacionais deexperimentação comhumanos (Declaração deHelsínquia de 1975);

Revista Portuguesa de Ciências do Desporto

NORMAS DE PUBLICAÇÃO

– Quando utilizados animaisdeverão ser utilizadostodos os princípios éticosde experimentação animale, se possível, deverão sersubmetidos a uma comis-são de ética;

– Todas as drogas e químicosutilizados deverão serdesignados pelos nomesgenéricos, princípios acti-vos, dosagem e dosagem;

– A confidencialidade dossujeitos deverá ser estrita-mente mantida;

– Os métodos estatísticosutilizados deverão ser cui-dadosamente referidos;

Resultados– Os resultados deverão ape-

nas conter os dados quesejam relevantes para adiscussão;

– Os resultados só deverãoaparecer uma vez not exto: ou em quadro ouem figura;

– O texto só deverá servirpara relevar os dados maisrelevantes e nunca duplicarinformação;

– A relevância dos resultadosdeverá ser suficientementeexpressa;

– Unidades, quantidades efórmulas deverão ser utili-zados pelo SistemaInternacional (SI units).

– Todas as medidas deverãoser referidas em unidadesmétricas;

Discussão– Os dados novos e os aspec-

tos mais importantes doestudo deverão ser relevadosde forma clara e concisa;

– Não deverão ser repetidosos resultados já apresen-t a d o s ;

– A relevância dos dadosdeverá ser referida e a com-paração com outros estu-dos deverá ser estimulada;

– As especulações nãosuportadas pelos métodos

estatísticos não deverão serevitadas;

– Sempre que possível, deve-rão ser incluídas recomen-dações;

– A discussão deverá sercompletada com um pará-grafo final onde são realça-das as principais conclu-sões do estudo;

AgradecimentosSe o artigo tiver sido par-cialmente apresentadopublicamente deverá aquiser referido o facto;Qualquer apoio financeirodeverá ser referido;

Referências– As referências deverão ser

citadas no texto por núme-ro e compiladas alfabetica-mente e ordenadas nume-ricamente;

– Os nomes das revistasdeverão ser abreviadosconforme normas interna-cionais (ex: IndexMedicus);

– Todos os autores deverãoser nomeados (não utilizaret al.)

– Apenas artigos ou obrasem situação de “in press”poderão ser citados. Dadosnão publicados deverão serutilizados só em casosexcepcionais sendo assina-lados como “dados nãopublicados”;

– Utilização de um númeroelevado de resumos ou deartigos não “peer-revie-wed” será uma condição denão aceitação;

Exemplos de referênciasARTIGO DE REVISTA

1 Pincivero DM, LephartSM, Karunakara RA(1998). Reliability and pre-cision of isokineticstrength and muscularendurance for the quadri-ceps and hamstrings. Int JSports Med 18: 113-117

LIVRO COMPLETOHudlicka O, Tyler KR(1996). Angiogenesis. Thegrowth of the vascular sys-tem. London: AcademicPress Inc. Ltd.

CAPÍTULO DE UM LIVROBalon TW (1999).Integrative biology of nitricoxide and exercise. In:Holloszy JO (ed.). Exerciseand Sport Science Reviewsvol. 27. Philadelphia:Lippincott Williams &Wilkins, 219-254

FIGURASFiguras e ilustrações deve-rão ser utilizadas quandoauxiliam na melhor com-preensão do texto;As figuras deverão sernumeradas em numeraçãoárabe na sequência em queaparecem no texto;As figuras deverão serimpressas em folhas sepa-radas daquelas contendo ocorpo de texto do manus-crito. No ficheiro informá-tico em processador detexto, as figuras deverãotambém ser colocadasseparadas do corpo detexto nas páginas finais domanuscrito e apenas umaúnica figura por página;As figuras e ilustraçõesdeverão ser submetidascom excelente qualidadegráfico, a preto e branco ecom a qualidade necessáriapara serem reproduzidasou reduzidas nas suasdimensões;As fotos de equipamentoou sujeitos deverão ser evi-tadas;

QUADROSOs quadros deverão serutilizados para apresentaros principais resultados dainvestigação.Deverão ser acompanhadosde um título curto;Os quadros deverão serapresentados com as mes-mas regras das referidas

para as legendas e figuras;Uma nota de rodapé doquadro deverá ser utilizadapara explicar as abreviatu-ras utilizadas no quadro.

Formas de submissão

A submissão de artigos paraa RPCD poderá ser efectua-da por via postal, através doenvio de 1 exemplar domanuscrito em versãoimpressa em papel, acompa-nhada de versão gravada emsuporte informático (CD-ROM ou DVD) contendo oartigo em processador det exto Microsoft Wo r d( * . d o c ) .Os artigos poderão igual-mente ser submetidos via e-mail, anexando o ficheirocontendo o manuscrito emprocessador de tex t oMicrosoft Word (*.doc) e adeclaração de que o artigonunca foi previamentep u b l i c a d o .

E n d e reços para envio de artigos

Revista Portuguesa deCiências do DesportoFaculdade de Desporto da Universidade do Po r t oRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 Po r t oPo r t u g a lE-mail: r p c d @ f a d e . u p . p t

Working materials (manuscripts)

Original investigationThe PJSS publishes originalpapers related to all areas ofSport Sciences.

Reviews of the literature(state of the art papers)State of the art papers orcritical literature reviews arepublished if, and only if,they contribute to the gener-alization of knowledge.Meta-analytic papers or gen-eral reviews are possiblemodes from contributingauthors. This type of publi-cation is open only to invit-ed authors.

CommentariesCommentaries about pub-lished papers or literaturereviews are highly recom-mended by the editorialboard and accepted.

Case studiesHighly relevant case studiesare favoured by the editorialboard if they contribute tospecific knowledge withinthe framework of SportSciences research. Themeticulous control ofresearch methodology is afundamental issue in termsof paper acceptance.

EssaysThe PJSS shall invite highlyregarded specialists to writeessays or careful and deepthinking about severalthemes of the sport sciencesmainly related to philosophyand/or strong argumentationin sociology or psychology.

Book reviewsThe PJSS has a section forbook reviews.

General publication rules

All papers submitted to thePJSS are obliged to haveoriginal data, theoretical orexperimental, within therealm of Sport Sciences. It ismandatory that the submit-ted paper has not yet beenpublished elsewhere. If aminor part of the paper waspreviously published, it hasto be stated explicitly in theacknowledgments section.All papers are first evaluatedby the editor in chief, andshall have as initial criteriafor acceptance the following:fulfilment of all norms, clearrelationship to SportSciences, and scientificmerit. After this first screen-ing, and if the paper is firstlyaccepted, two independentreferees shall evaluate itscontent in a “double blind”fashion. A third referee shallbe considered if the previoustwo are not in agreementabout the quality of thepaper.After the referees receive themanuscripts, it is hoped thattheir reviews are posted tothe editor in chief in nolonger than a month.

Manuscript preparation

General aspectsThe first page of the manu-script has to contain:

– Title and author(s)name(s)

– Declaration that the paperhas never been published

Format– All manuscripts are to be

typed in A4 paper, withmargins of 3 cm, usingTimes New Roman stylesize 12 with double space,and having no more than20 pages in length.

– Pages are to be numberedsequentially, with the titlepage as nr.1.

Size and style– Papers are to be written in

a very precise and clearlanguage. No place isallowed for speculationwithout the boundaries ofavailable data.

– If manuscripts are highlyconfused and written in avery poor Portuguese orEnglish they are immedi-ately rejected by the editorin chief.

– All abbreviations are to beused according to interna-tional rules of the specificfield.

Title page– Title page has to contain

the following information:– Specification of type of

manuscript (but see work-ing materials-manu-scripts).

– Brief and highly informa-tive title.

– Author(s) name(s) withfirst and middle names (donot write academic degrees)

– Running head with nomore than 45 letters.

– Name and place of the aca-demic institutions.

– Name, address, fax num-ber and email of the per-son to whom the proof isto be sent.

Abstract page– The abstract has to be very

precise and contain nomore than 200 words,including objectives,design, main results andconclusions. It has to beintelligible without refer-ence to the rest of thepaper.

– Portuguese and Englishabstracts are mandatory.

– Include 3 to 6 key words.– Do not use abbreviations.

Introduction– Has to be highly compre-

hensible, stating clearly thepurpose(s) of the manu-script, and presenting theimportance of the work.

– Literature review includedis not expected to beexhaustive.

Material and methods– Include all necessary infor-

mation for the replicationof the work without anyfurther information fromauthors.

– All applied methods areexpected to be reliable andhighly adjusted to theproblem.

– If humans are to be usedas sampling units in exper-imental or non-experimen-tal research it is expectedthat all procedures followHelsinki Declaration ofHuman Rights related toresearch.

– When using animals allethical principals related toanimal experimentation areto be respected, and whenpossible submitted to anethical committee.

– All drugs and chemicalsused are to be designatedby their general names,

Portuguese Journal of Sport Sciences

PUBLICATION NORMS

active principles anddosage.

– Confidentiality of subjectsis to be maintained.

– All statistical methodsused are to be preciselyand carefully stated.

Results– Do provide only relevant

results that are useful fordiscussion.

– Results appear only oncein Tables or Figures.

– Do not duplicate informa-tion, and present only themost relevant results.

– Importance of main resultsis to be explicitly stated.

– Units, quantities and for-mulas are to be expressedaccording to theInternational System (SIunits).

– Use only metric units.

Discussion– New information coming

from data analysis shouldbe presented clearly.

– Do no repeat results.– Data relevancy should be

compared to existing infor-mation from previousresearch.

– Do not speculate, other-wise carefully supported,in a way, by insights fromyour data analysis.

– Final discussion should besummarized in its majorpoints.

Acknowledgements– If the paper has been part-

ly presented elsewhere, doprovide such information.

– Any financial supportshould be mentioned.

References– Cited references are to be

numbered in the text, andalphabetically listed.

– Journals’ names are to becited according to general

abbreviations (ex: IndexMedicus).

– Please write the names ofall authors (do not use etal.).

– Only published or “inpress” papers should becited. Very rarely areaccepted “non publisheddata”.

– If non-reviewed papers arecited may cause the rejec-tion of the paper.

ExamplesPEER-REVIEW PAPER

1 Pincivero DM, LephartSM, Kurunakara RA(1998). Reliability and pre-cision of isokineticstrength and muscularendurance for the quadri-ceps and hamstrings. In JSports Med 18:113-117

COMPLETE BOOKHudlicka O, Tyler KR(1996). Angiogenesis. Thegrowth of the vascular sys-tem. London:AcademicPress Inc. Ltd.

BOOK CHAPTERBalon TW (1999).Integrative biology of nitricoxide and exercise. In:Holloszy JO (ed.). Exerciseand Sport Science Reviewsvol. 27. Philadelphia:Lippincott Williams &Wilkins, 219-254

FIGURESFigures and illustrationsshould be used only for abetter understanding of themain text.Use sequence arabic num-bers for all Figures.Each Figure is to be pre-sented in a separated sheetwith a short and precisetitle.In the back of each Figuredo provide informationregarding the author andtitle of the paper. Use apencil to write this infor-mation.

All Figures and illustra-tions should have excellentgraphic quality I black andwhite.Avoid photos from equip-ments and human subjects.

TABLESTables should be utilizedto present relevant numeri-cal data information.Each table should have avery precise and short title.Tables should be presentedwithin the same rules asLegends and Figures.Tables’ footnotes should beused only to describeabbreviations used.

Manuscript submission

The manuscript submissioncould be made by post sen-ding one hard copy of thearticle together with an elec-tronic version [MicrosoftWord (*.doc)] on CD-ROMor DVD.Manuscripts could also besubmitted by e-mail atta-ching an electronic file ver-sion [Microsoft Word(*.doc)] together with thedeclaration that the paperhas never been previouslypublished.

Address for manuscript submission

Revista Portuguesa deCiências do DesportoFaculdade de Desporto da Universidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 PortoPortugalE-mail: [email protected]

revista portuguesa de

ciências do desporto

revista portuguesa de ciências do desporto [portuguese journal of sport sciences]

Volume 7 · Nº 2Maio·Agosto 2007

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Publicação quadrimestralVol. 7, Nº 2, Maio·Agosto 2007ISSN 1645–0523Dep. Legal 161033/01

Vol. 7, Nº 2

A RPCD tem o apoio da FCTPrograma Operacional

Ciência, Tecnologia, Inovaçãodo Quadro Comunitário

de Apoio III

ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO[RESEARCH PAPERS]

Determinação da gemelaridade: do questionário de Peetersaos micro-satélites aleatórios espalhados pelo DNAZygosity determination: From Peeters’ questionnaire to DNA microsatelitesJosé Maia, Sónia Fernandes, António Amorim,Cíntia Alves, Leonor Gusmão, Luísa Pereira

Aceleração e tempo de duração de impacto emsegmentos corporais do judoca durante a realizaçãode ukemi em diferentes tipos de tatamesAcceleration and impact time on judo’s athlete body segmetsduring ukemi movement on different tatame typesSaray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto M.Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis

Effects of different handle techniques during the back pullexercise on the angular kinematic and production of strengthAnálise cinemática de duas técnicas de “pegada” no exercício puxada altaLuciano P. da Silva, Juliano Dal Pupo, Josiele V. Alves,Carlos B. Mota

Características dinâmicas de movimentosseleccionados do basquetebolDynamical characteristics of basketball specific movementsFernanda M. Acquesta, Germano M. Peneireiro,Roberto Bianco, Alberto C. Amadio, Júlio C. Serrão

Efeito da posição da omoplata na força máximaisométrica de flexão do ombroEffect of scapular position on shoulder flexion maximum isometric strengthOtília Sousa, Fernando Ribeiro, Mário Leite,Francisco Silva, Ana P. Azevedo

Análise das componentes da prova como ponto de partidapara a definição de objectivos na natação na categoria decadetesChronometric analyses of swimming events in infantile swimmers:An objective model for goal settingAntónio Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis,Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais,Felipe Aidar

Ritmo dos jogos das finais das competições europeias debasquetebol (1988-2006) e as estatísticas que discriminamos jogos mais rápidos dos jogos mais lentosBasketball game rhythm in the European Competitions Finals’ (1988-2006) andthe game-related statistics that discriminate between fast and slow paced gamesJorge M. Malarranha, Jaime Sampaio

Efeito da complexidade da tarefa na direção da transferênciabilateral em habilidades motoras seriadasEffect of task complexity in the bilateral transfer direction in serial motor skillsDayane M. Pinho, Guilherme M. Lage,Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda

O efeito da interferência contextual em idososThe contextual interference effect in elderly peopleWesley R. Gonçalves, Guilherme M. Lage, Alexandro B.da Silva, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda

Actividade física, equilíbrio e medo de cair.Um estudo em idosos institucionalizadosPhysical activity, balance and fear of falling.A study with institutionalized older peopleJoana Carvalho, Joana Pinto, Jorge Mota

Situações de estresse no vôlei de praia de alto rendimento:um estudo de caso com uma dupla olímpicaSituations of stress in high performance beach volley:a case study with an olympic pairJoice Stefanello

Torcida familiar: a complexidade das inter-relaçõesna iniciação esportiva ao futebolParental support: inter-relationships complexity in football sportive initiationFabrício M. Filgueira, Gisele M. Schwartz

ARTIGOS DE REVISÃO[Reviews]

Stress oxidativo e dano oxidativo muscular esquelético:influência do exercício agudo inabitual e do treino físicoOxidative stress and damage in skeletal muscle: influence of unusual acuteexercise and physical conditioningFilipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte