Revista Memória LGBT Edição 04

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www.memorialgbt.com Especial : Ciclo Transgressões no Museu: Educação, Cultura e Direitos Humanos Homo Rebelde : Com quantas derrotas se faz uma luta Exclusivo : Presidente do Instituto Brasileiro de Museus – Ibram, Angelo Oswaldo conversa com a Revista Memória LGBT Memórias : Ditadura e Homossexualidades ISSN 2318‑6275 Revista Memória LGBT – Edição 4 Ano 2 – Junho / Julho 2014 Capa : O Museu da Diversidade

Transcript of Revista Memória LGBT Edição 04

www.memorialgbt.com

Especial: Ciclo Transgressões no Museu: Educação,

Cultura e Direitos Humanos

Homo Rebelde: Com quantas derrotas se

faz uma luta

Exclusivo: Presidente do Instituto Brasileiro de Museus – Ibram, Angelo Oswaldo conversa com a Revista Memória LGBT

Memórias: Ditadura e Homossexualidades

ISSN 2318 ‑6275Re

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Ano

2 –

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Capa: O Museu da Diversidade

EditorialTony Boita

ExpedienteRevista Memória LGBT

Ano 2 No 1 – Ed. 4 Junho / Julho de 2014

ISSN 2318 ‑6275www.memorialgbt.com

[email protected]

Editor Tony Boita

RedaçãoAline Inforsato, Bárbara de Freitas

e Tony Boita

Assessoria de ComunicaçãoBárbara de Freitas

Direção de ArteAline Inforsato

Corpo EditorialDanielle Agostinho

Jean BaptistaTony Boita

Treyce Ellen GoulartWellington Pedro da Silva

Seção Homo RebeldeCristiano Lucas Ferreira

Fotos Capa Malcon

WebsiteAham! Comunicação Interativa

[email protected]

[email protected]

Redaçã[email protected]

Assessoria de Comunicaçã[email protected]

AgradecimentosCesar Perez, Leandro Escobar, Leonardo Lopes, Marcelo Arthur, Malcon e a Rede LGBT de Memória e Museologia Social

Todos os direitos reservados a Tony Willian Boita.

Distribuição Gratuita.Você poderá pesquisar, comunicar e estudar a Revista Memória LGBT desde que autorizado.

Entre em contato:[email protected]

Como combater a homolesbotransfobia nos museus e espaços de memória?

Este questionamento irá conduzir toda a reflexão desta edição. Em sua quarta edição a Revista Memória LGBT inaugura seu novo website, bem como uma nova linguagem visual. Neste periódico vocês poderão conferir memórias, debates e artigos exclusivos, além de uma entrevista inédita.

A Revista Memória LGBT é uma revista bimestral e vinculada ao projeto Patrimônio Cultural LGBT e museus: mapeamento e potencialidades de memórias negligenciadas. É apoiada pela Rede LGBT de Memória e Museologia Social.

Para tal, esta revista é autônoma, colaborativa e democrática. E com isso pretendemos agregar, disseminar e salvaguarda a memória, história, o patrimônio cultural e ações de museologia social da comunidade LGBT.

Ressaltamos também que a Revista Memória LGBT é um espaço aberto para a população LGBT, bem como redes, coletivos, cooperativas, comunidades, grupos, militantes, projetos, pesquisas, boletins e outras ações que promovam a memória, história e o patrimônio cultural de nossa comunidade LGBT.

Um beijo!

Tony Boita

Acesse: memorialgbt.com

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DepoimentosPalavra d@s LeitorXs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .04

MemóriasDitadura & Homossexualidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .06

Vista sua camisa com orgulho: Por um futebol mais colorido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .10

EntrevistaEntrevista: Angelo Oswaldo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14

Combate a Homolesbotransfobia (...)Ciclo Transgressões no Museu: Educação, Cultura e Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17

O Museu da Diversidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .22

Memória e Identidade LGBT do Cinema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26

Racismo, Machismo ou Homofobia? O que dói mais? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .30

Homo RebeldeÀs bichas que resistiram . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32

Com quantas derrotas se faz uma luta? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .34

DebatesA Influência do Jornalismo Policial Televisivo na Reprodução da Homotransfobia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .36

Assexualidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42

A História da homofobia e os Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .44

Lançamentos“Segredos de uma Crossdresser – Cdzinha” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .50

Novo aplicativo, Flavor, traça roteiro de festas, clubes, bares e restaurantes mais disputados pelo público gay . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52

AconteceuAconteceu ‑ 18o Mês do Orgulho LGBTs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .56

Nome Social: Entidades educacionais garantem a utilização desse direito a alunos e colaboradores trans . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .60

Positivos ‑ 3a Temporada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .62

AconteceráFique ligado e levante sua bandeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .64

SUMÁRIO

4 | MEMÓRIA LGBT

A edição desse mês tá EXCELENTE!

Danielle Agostinho

Parabéns a equipe, muito boa a edição.

Edilson David

Parabéns para equipe!!! Maravilhosa edição.

Alexsandro De Oliveira Fernandes

O site da revista está muito bom, parabéns!

Manuelina Duarte

Em meio a correria só hoje eu tive tempo de parar para ler a revista desse mês. Tá linda, além de mega afirma‑tiva. Parabéns a quem tem trabalhado para isso. beijos

Cláudia Feijó

Palavra d@s LeitorXsA última edição da Revista Memória LGBT foi um sucesso. A cada edição

aumenta o número de visualizações e colaborações. Tem gente do mundo todo lendo e comentando. Colabore você também enviando sua mensagem,

artigos e relatos sobre a memória e a história LGBT.

DEPOIMENTOS

4 | MEMÓRIA LGBT

Mais uma boa revista! Eu apoio.

Renata Peron

Leiam, curtam e compartilhem!

Thays Lourrane

Show... Adorei!

Rose Cerqueira

Gente, posso me exibir aqui? Sou a diagramadora da revista. Mas claro que, se não fosse o conteúdo MARA que ela tem, nada disso existiria. Então, parabéns pra toda a galera que eu ainda não conheço e que está

fazendo esse projeto rolar tão lindamente.

Aline Inforsato

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MEMÓRIA LGBT | 5

No dia 19 de agosto comemora ‑se o dia do orgulho lésbico. Mas a Revista Memória LGBT irá dedicar uma edição exclusiva a esta comunidade.

Envie sua históriaConte suas memóriasDenuncie a discriminação

Envie também depoimentos, contos, relatos, fotos e o que mais quiser

Envie sua contribuição até25 de Julho

[email protected]

Tema da próxima edição da

ORGULHO LéSBICO

6 | MEMÓRIA LGBT

A convite da Comissão Nacional da Verdade estive no Memorial da Resistência de São Paulo em 29 de março, para falar sobre a repressão às homossexuali‑dades (bichas, bonecas e travestis) na ditadura, fruto de minha pesquisa no doutorado.

Era uma Audiência Pública. Realizava ‑se no âmbito do evento intitulado #SabadosResistentes. Foi orga‑nizada em conjunto pela Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva” e pela Comis‑são Nacional da Verdade (CNV).

As matérias que li a respeito do evento ou aborda‑ram minha fala omitindo o mais relevante ou, pior, afirmaram que falei o que não disse. Assim uso este espaço para tentar esclarecer aquilo que efetivamen‑te eu falei. Sem dúvida lamentando a minha incapa‑cidade de comunicação, visto tratar ‑se de ocorrência unânime (ver as referências, ao final):

Boa tarde a todas e a todos. Agradeço às comissões Nacional da Verdade e do Estado de São Paulo "Ru‑bens Paiva" o convite para estar aqui hoje. E cumpri‑mento a Mesa na pessoa do Dr. Paulo Sérgio Pinheiro, Representante da Comissão Nacional da Verdade.

A minha fala aqui hoje traz os achados da pesqui‑sa realizada durante o meu doutoramento em His‑tória Social pela Universidade Federal Fluminense, concluído em 2012.

Nessa pesquisa contei com a socialização de fontes de jornais mineiros e soteropolitanos, respectivamen‑te por Luiz Morando e Luís Mott, e da reportagem inédita sobre o Caso Chrysóstomo, pelo jornalista Isaque Criscuolo, aos quais agradeço.

Como é sabido a instauração do regime de exceção em 1964 hegemonizou a ideologia autoritária e con‑servadora presente na sociedade.

MEMÓRIAS

Rita Colaço

Ditadura & Homossexualidades

Charge de Nani publicada no Jornal de Minas em 05/05/1972, sobre a expulsão dos homossexuais ("bonecas") da televisão

No que toca aos homossexuais, eles, que vinham se organizando, foram forçados a recuar. Os chama‑dos jornais de turmas – publicações existentes em torno de turmas, grupos ou redes de homossexuais – já principiavam a migrar de uma pauta exclusiva‑mente recreativa para a adoção de enfoques críticos da realidade (nacional e internacional), da homos‑sexualidade e deles próprios.

Em 1969, com a entrada em vigor do AI ‑5, O Snob do Rio de janeiro – o mais importante desses jornaizi‑nhos – deixa de circular. Seu Editor, Agildo Guimarães, relata que eles passaram a ser interpelados quando de sua distribuição, por agentes da repressão. Com receio de ser confundido com os que militavam contra o regi‑me, Agildo decide interromper a sua produção.

Em maio de 1970 entra em vigor a Censura Prévia e, em 1972, a proibição de aparição de homossexuais na televisão, juntamente com a temática da injustiça social e da discriminação racial. Homossexuais famosos como Dener, Clodovil e Clóvis Bornay, utilizados como clowns

MEMÓRIA LGBT | 7

Ditadura & Homossexualidades

Dener e o Comissário de Menores de Belo Horizonte Anael Pereira então com 43 anos. Fotos publicadas em Veja, p. 86, 17/05/1972

Celso

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Abril

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para alavancar audiência da televisão, foram demitidos, atendendo a pedidos de várias pessoas da sociedade.

Em 1972 também é a data da tentativa de reali‑zação do Congresso de Homossexuais em caruaru, Pernambuco, organizado por padres da Igreja Católi‑ca Ortodoxa Italiana e tendo como ativista a travesti Daniele – que apresenta uma agenda de reivindica‑ções que somente na primeira década do século XXI o Movimento LGBT conseguirá equiparar.

Após o Delegado de costumes de Recife haver de‑clarado à imprensa que "enquanto estivesse à frente da Delegacia não permitiria em hipótese alguma a realização de reuniões de anormais, que tentam inver‑ter nossos costumes e degenerar nossas tradições", em 17/04/1972 é preso o Padre Henrique Monteiro, transformando ‑se em extorsão a campanha de doação espontânea de recursos para a produção do Congresso.

Outra forma de repressão documentada no pe‑ríodo – mas que possivelmente não foi inaugurada por ele – eram as "caçadas" – operações policiais

de caráter higienista, atendendo a reclamações de determinados setores da sociedade – que não raro incluiam, além da prisão por "atentado ao pudor", (no caso das travestis) a violência sexual praticada no interior das delegacias por agentes do Estado.

Tais "caçadas" comandadas pelo Delegado Wilson Richetti, levou à realização da 1a Passeata do Movi‑mento Homossexual Brasileiro (MHB), em conjunto com outros movimentos sociais, em 13/06/1980.

A doutrina da "moral pública e bons costumes", presente na Lei de Imprensa (de 09/11/1967, arti‑go 17), servirá de fundamento para que Delegados e Promotores Públicos de São Paulo e Rio de Janei‑ro tentem criminalizar jornalistas que pautassem o tema da homossexualidade.

Foi assim em 1977 com Celso Curi, por asisnar a "Coluna do meio" no jornal Última Hora de São Paulo; em 1978 com os 11 jornalistas da ISTOÉ que assina‑ram a matéria "O Poder Homossexual"; e, em 1979, com os editores do Jornal Lampião da Esquina.

As acusações eram:1. Fazer apologia da homossexualismo – O Poder

Homossexual; IstoÉ2. Promover a licença dos costumes e o homosse‑

xualismo – Coluna do Meio; Celso Curi3. Atentar contra a moral e os bons costumes –

LampiãoElas não foram acolhidas pelo Judiciário. Enquanto o artigo 17 da Lei de Imprensa falava

em moral e bons costumes, o artigo 14 definia como crime fazer propaganda de preconceitos de raça ou classe; o artigo 19 vedava a incitação à qualquer in‑fração às leis penais; e o artigo 22 proibia a injúria. No entanto, ao contrário de matérias abordando a ho‑

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ARTIGOS

Daniele. Foto publicada no jornal Tribuna da Bahia, 05/05/1972

mossexualidade fora da lógica des‑qualificante, abordagens injuriosas e ostensivas campanhas de exter‑mínio – sobretudo protagonizadas pelo do radialista Afanázio Jazadji em São Paulo e pelo jornalista José Augusto Berbert, em Salvador ‑, atravessaram décadas sem qual‑quer sanção (aquelas inda hoje se vê; ao passo que essas, pelo menos de 1980 a 1990). – Ao contrário. Mereceram aplauso pela via da vo‑tação maciça em seus autores.

Essa forma diferenciada de se aplicar a lei será encontrada tam‑bém no Judiciário. Casos onde homossexuais apareçam como ví‑timas – assim como com negros e pobres – merecerão tratamento punitivo não do delito descrito no Registro de Ocorrência, mas da

homossexualidade e dos homos‑sexuais em si mesmos.

Os antropólogos Sérgio Carrara e Adriana Vianna e o jornalista Rol‑dão Arruda o comprovam. As repre‑sentações dos agentes do campo judiciário a respeito das homosse‑xualidades e dos homossexuais de‑terminarão o modo de funcionar do próprio campo em relação a eles.

O resultado é que um número muito baixo de inquérito se trans‑formará em ações criminais, em re‑lação aos Registros de Ocorrênca onde figuram como vítimas – traço ainda hoje persistente.

Dos autos de processos que examinei, é possível afirmar uma tendência punitivista na primei‑ra instância – que não se repe‑tia junto aos Desembargadores (grau de Recurso).

Três casos exemplificam essa ân‑sia punitivista:

I. Um roubo em que o acusado é preso em flagrante com o objeto roubado e confessa é transformado pela Defensoria Pública em JUSTA DEFESA DA HONRA diante de uma proposta de sexo homossexual em grupo. – O Juiz acolhe a tese da De‑fensoria afirmando que "trata ‑se da palavra da vítima, um homossexual‑confesso, contra a palavra do Réu, cujos antecedentes criminais não recomendam, dirimida, apenas, pelo depoimento do policial testemu‑nha" (destaque de minha autoria). Assim entendendo, o absolve.

O Tribunal, porém, reforma a a sen‑tença, afirmando que a materialida‑

de e a autoria estão provadas e que o Réu é reincidente. Concordando com o Promotor, afirma que a Sen‑tença foi uma indisfarçada discrimi‑nação, comparando o homossexual ao delinquente, como se fosse crime.

[É de memória que descrevo os dois casos seguintes]

II. O Segundo é o caso de um servidor do Judiciário processado seis vezes por usar roupas em de‑sacordo com o seu sexo.

III. O terceiro é o Caso Chrysós‑tomo – o jornalista, produtor e crí‑tico de teatro de notório reconhe‑cimento, editor do jornal Lampião da Esquina – acusado de abusar sexualmente da menina que, junto com a mãe, mendigava na porta do prédio onde funcionava a reda‑ção do jornal e de quem obtivera a Guarda Provisória.

Por meio de uma alentada intriga de vizinhas e da filha de uma babá da criança, Chrysóstomo é acusa‑do de maus tratos e abuso sexual continuados contra a criança.

O curioso é o ritmo acelerado im‑primido ao processo após a inquiri‑ção do Réu, realizada pelo Promo‑tor, na Delegacia, numa sexta ‑feira,

Clodovil (1972). Extraida do site: memoriamhb.blogspot.com.br

MEMÓRIA LGBT | 9

retomando ao ritmo lento usual após o cumprimento do mandado de prisão.

O Promotor é apontado por uma das pessoas que funcionou na defesa de Chrysóstomo como ex ‑escrivão do Dops recém ingresso na carreira do Ministério Público utilizando ‑se do caso para se pro‑mover. como recém numa sexta ‑feira, realiza a inqui‑rição do Réu – função (função do Delegado).

O fato é que inquirir o Réu na Delegacia é função do Delegado, mas ele, Promotor, não apenas acompa‑nha a inquirição, mas a realiza ele próprio. Findo o de‑poimento pede ao Delegado que remeta os autos do processo ao Juiz. Nos autos, no entanto, é aberta vista a ele, Promotor, no dia seguinte, sábado. Sua peça de Denúncia data de domingo. O pedido de prisão pre‑ventiva também apresenta a mesma data. Procura re‑tratar Chrysóstomo como uma pessoa integrante de um segmento que tem sempre estado acima da lei.

Embora possuindo emprego e residência certos, tendo comparecido espontaneamente aos atos do processo, o Promotor requereu sua prisão preventiva. Sustentava que ele era uma pessoa imoral, portadora de vícios (o al‑coolismo) e uma tara (a homossexualidade, que – como tantos ainda hoje – tratava como sinônimo de pedofilia). Como prova do seu péssimo caráter, fez juntar um dos exemplares do jornal Lampião da Esquina. Sustentava ainda o MP que o denunciado oferecia perigo à socie‑dade: "numa cidade onde existem milhares de menores abandonados [...] tudo leva a crer que o Denunciado vá repetir a operação que realizou com a menor."

O Juiz acolheu a tese da Promotoria de que o Réu recolhera a criança das ruas para com ela praticar toda a sorte de abusos sexuais, utilizando ‑a em or‑gias das quais participavam outros homossexuais; decreta a prisão. Era quatro de julho de 1981. A partir daí o processo volta a tramitar no tempo lento usual.

Embora provisória a prisão Chrysóstomo passou cen‑to e oitenta dias preso até a decretação da sentença, condenatória.Todos os pedidos de habeas corpus foram indeferidos – cinco dão notícia os autos. Todos alegan‑do excesso de prazo. Cartas e depoimentos de pessoas

suas conhecidas testemunhando sua idoneidade e se‑riedade não mereceram qualquer ponderação.

No Tribunal Chrysóstomo foi absolvido por maioria com um acórdão sucinto e lapidar: "[...] O exame dos autos revela a completa precariedade da prova. [...]" Era 17 de março de 1983. Mas sua carreira profissio‑nal e sentido de vida já estavam destruídos.

Referências: http://www.pstu.org.br/node/20522http://www.brasildefato.com.br/node/27949http://www.ebc.com.br/cidadania/2014/03/comissao ‑nacional ‑da‑‑verdade ‑vai ‑propor ‑criminalizacao ‑da ‑homofobia http://www.cartacapital.com.br/sociedade/perseguicao ‑do ‑estado ‑e‑‑desprezo ‑da ‑esquerda ‑prejudicaram ‑movimento ‑gay ‑9956.html http://oglobo.globo.com/pais/comissao ‑da ‑verdade ‑investiga‑‑perseguicao ‑homossexuais ‑12031793 http://blogs.estadao.com.br/roldao ‑arruda/membro ‑da ‑comissao‑‑nacional ‑da ‑verdade ‑defende ‑a ‑criminalizacao ‑da ‑homofobia/http://revistavaidape.com.br/2014/04/07/ditadura ‑militar ‑encarava‑‑homossexualidade ‑como ‑nociva ‑ao ‑regime/ Texto extraído do blog Memória/História MHB ‑MLGBThttp://memoriamhb.blogspot.com.brhttp://memoriamhb.blogspot.com.br/2014/04/ditadura‑‑homossexualidades.html

Chrysóstomo. Extraida do site: memoriamhb.blogspot.com.br

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Desde a nossa infância, os meninos estão acostuma‑dos a ganhar bolas de futebol e meninas a ganhar qual‑quer outra coisa. A partir dessa ideia binária de mundo, justificada a partir da existência de dois sexos biológi‑cos, construímos dois sexos sociais – os gêneros – e, separamos tudo o que o ser humano poderia ser, ter e amar em dois pólos opostos e complementares. E sa‑bem quem ficou com o futebol? Os homens. E tudo o que for relacionado ao chamado universo masculino. Ou seja, o futebol é um espaço dominantemente masculino e por isso, heteronormativo e machista. Gostar de fute‑bol em particular, mas também de outros esportes, se torna um ingrediente, desde cedo, da construção de um

ideal de masculinidade.Quando falamos em

machismo e hetero‑normatividade

no futebol, estamos

falando de práticas discriminatórias e pejorativas em relação as mulheres e às pessoas que tem uma orien‑tação diferente da heterossexual, arraigadas profun‑damente neste esporte. Isto se baseia na ideia que relações sexuais são normais somente entre pessoas de sexos diferentes; e que cada sexo têm certos pa‑péis naturais na vida, um discurso estigmatizado que estimula o preconceito.

Sabemos que hoje, essa categorização binária, res‑tritiva a dois gêneros sociais, além de antiquada e preconceituosa, não dá conta de nossa realidade hu‑mana. A ideia de que existe uma orientação se‑xual adequada para cada gênero parece cada vez mais caduca diante da diversidade. É neste contexto que a 18a Parada LGBT da cidade de São Paulo, uma das maio‑res do mundo, ocorreu na Avenida Paulista no último dia 4 de maio, colocando como tema central o combate a homolesbotransfobia – fobia em relação as diversas orientações afetivas.

O futebol, esporte que ocupa um lugar central na sociedade brasileira, se apresenta como um dos espaços mais intolerantes que existem hoje. A heteronormatividade e o preconceito caminham de mãos dadas com esse esporte; onde se valorizam aspectos relacionados ao gênero masculino, como virilidade, força, brutalidade, em detrimento de determinados atributos, categorias e qualidades socialmente

MEMÓRIAS

Vista sua camisa com orgulho: Por um futebol mais colorido

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Texto: Aline Pizzol e Caio Reina LotufoFotos: Max Rocha

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gitimidade da diversidade sexual sem violência, sem intolerância, sem preconceito.

A campanha aconte‑ceu durante a semana da 18a Parada do Or‑gulho LGBT em São Paulo. Na quinta feira, 1o de maio, durante a Feira Cultural LGBT, situada na Pra‑ça da República, organizamos um pequeno estúdio de fotografia na tenda da Prefeitura de São Paulo, onde os frequentadores da feira eram convida‑dos a posarem para fotos com as camisas de clubes e seleções de

Vista sua camisa com orgulho: Por um futebol mais colorido

entendidas como femininas que se tornaram excluden‑tes a pratica esportiva e profissional do futebol, per‑meado pelas rivalidades, pelas provocações que muitas vezes desembocam em xingamentos racistas, machistas e homofóbicos, expressa de uma forma mais evidente certos problemas da sociedade brasileira, conhecida por frequentar o topo da lista nos rankings que mostram agressões contra o setor LGBT.

De um lado, dispositivos legais desportivos que du‑rante a historia do futebol no Brasil não abriram espa‑ço para o futebol feminino, e, de outro, a sua associa‑ção às praticas socialmente aceitas como masculinas pelos veículos de comunicação e pela mídia esportiva, são elementos constitutivos desta imagem excluden‑te do futebol que transformaram as arquibancadas, e o vestiário, em um espaço desconfortável tanto para jogadores quanto para torcedores saírem do armário. As torcidas de futebol com seus códigos, rituais sim‑bólicos e comportamentais sempre utilizaram o termo gay com uma conotação pejorativa e as características comportamentais associadas a ele como uma grande ofensa aos torcedores e ao time adversário.

Em meio a esse cenário, o LUDENS – USP (Núcleo In‑terdisciplinar de Pesquisa sobre Futebol e Modalidades Lúdicas da Universidade de São Paulo), em parceria com a prefeitura do município de São Paulo decidiu realizar a campanha intitulada "Vista sua camisa com orgulho", com o objetivo de retratar pessoas de to‑das as orientações sexuais, mas, sobretudo do público LGBT, vestindo a camisa dos seus clubes e seleções, convocando os participantes a mostrarem o cartão vermelho para a homofobia, difundindo a ideia de uma arquibancada onde predomine o orgulho e a le‑

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MEMÓRIAS

sua preferência, tendo como pano de fundo a bandeira do movimento LGBT. Reunimos para esta ação, através de empréstimos e doações, diversas camisas de sele‑ções nacionais, clubes grandes, pequenos e até ama‑dores que ficavam expostas para o público escolher. Neste dia a tenda ficou lotada, centenas de pessoas posaram com as camisas dos times escolhidos, porém, observamos as mais diversas reações ao contar um pouco sobre o projeto e seus objetivos. Percebemos a dificuldade de debater essa questão, de aproximar o tema da homofobia com o futebol, espaço histori‑camente opressor para este setor. Foi possível obser‑var desde a homofobia velada do setor heterossexual identificado com o futebol, até o desconforto de quem ainda não conseguiu “sair do armário” e discutir aber‑tamente a sua orientação. Por outro lado, percebemos que, para muitos, ali se constituiu um espaço onde o amor a camisa e a paixão pelo futebol estavam intrin‑secamente ligados a auto ‑afirmação do indivíduo em relação a sua orientação, sem correr riscos de sofrerem violência ou rechaço, ao contrário do que acontece nas arquibancadas dos estádios brasileiros.

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No dia 4 de maio, quando ocorreu na Avenida Paulista a 18a Parada do Orgulho LGBT, montamos no camarote da parada o mesmo estúdio, semelhante ao da feira cul‑tural do dia 1o de maio, convidando as personalidades que lá estavam para participar da campanha, vestindo, com orgulho da sua orientação sexual, a camisa do seu clube de coração. Em uma ação paralela, nossa equipe se dividiu em pequenos grupos itinerantes que percorre‑ram a Parada para fotografar os participantes do even‑to que utilizavam camisas de times e seleções. Durante esta ação, localizamos um número significativo de hete‑roafetivos simpatizantes ao movimento com camisas de clubes e também um número significativo de pessoas e casais homoafetivos, lesbioafetivos e trans, trajando as referidas camisas. Camisas da seleção brasileira eram comuns. A Parada Gay, enquanto espaço seguro e de expressão de orgulho em relação orientação afetiva, se caracteriza pela quebra do cotidiano, onde tradições he‑teronormativas podem ser ressignificadas dando voz a diversidade e a tolerância, como foi o caso do futebol.

No ano da Copa do Mundo, existe uma visibilidade maior em relação a tudo o que cerca o futebol, sendo

assim não poderíamos deixar de debater um assunto tão emergente quanto o combate a violência e a homofobia no futebol. Em vista disso, planejamos, ainda este ano, expor as fotos que conseguimos nesses dois dias durante a Fan Fest, realizada em São Paulo por ocasião dos jogos da Copa do Mundo da Fifa. Estamos, ainda, avaliando a possibilidade de lançar um livro com este material.

Avaliando os resultados de nossa campanha, jul‑gamos, que, embora seja uma discussão incipiente e tratada com muito descaso, muitas vezes abafada pela mídia, ela se faz cada vez mais necessária. A ini‑ciativa do Ludens entende que o combate a violência homolesbotransfóbica deve perpassar a discussão a respeito da legitimidade de tomadas de espaços his‑toricamente excludentes, sem qualquer tipo de cons‑trangimento ou retaliação. A tolerância, o respeito e o combate ao preconceito só se tornam possíveis através da expansão do debate e da conscientização acerca dos direitos fundamentais dos seres humanos, em todos os âmibitos da vida social, inclsuive no fu‑tebol. Afinal, o futebol e a sociedade sempre cami‑nham de mãos dadas.

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ENTREVISTA

Tony Boita

Angelo OswaldoEntrevista:

Angelo Oswaldo de Araújo Santos, mais conhecido como Angelo Oswaldo. Nascido em Belo Horizonte, Minas Gerais. Vinculou ‑se a cidade de Ouro Preto onde foi prefeito três ve‑zes. Em seu currículo Angelo, sempre atuou com o patrimônio cultural brasileiro, é Jornalista profissional, escritor, advogado e gestor público. Foi secretário de Estado da Cultura de Minas Gerais, presidente do IPHAN, chefe de gabinete e ministro interino do professor Celso Fur‑tado na pasta da Cultura. Seus principais trabalhos foram ao lado dos ministrxs José Apareci‑do de Oliveira e Celso Furtado, hoje com a ministra Marta Supli‑cy, e o presidente Itamar Franco, no Governo de Minas. Hoje com 66 anos Angelo Oswaldo é o Presidente do Instituto Brasilei‑ro de Museus – Ibram

Angelo Oswaldo de Araujo Santos – Presidente do Instituto Brasileiro de Museus – Ibram

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MemóriaLGBT: Quais são suas principais ações e estratégias como Presidente do Instituto Brasileiro de Museus?

Angelo: O IBRAM surgiu há apenas cinco anos. É uma instituição nova, que se consolida rapida‑mente, mas requer estratégias que possam valo‑rizar seu desempenho, tornar paradigmáticos os museus vinculados, ampliar o diálogo e viabilizar a comunicação permanente com os 3.300 museus existentes no Brasil.

MemóriaLGBT: Quais foram suas principais conquistas como Presidente do Instituto Brasileiro de Museus?

Angelo: Sou presidente do IBRAM há cerca de um ano. Em outubro, a presidente Dilma Rousseff regu‑lamentou o Estatuto de Museus e garantiu o amplo funcionamento do IBRAM e da política pública de museus. Com o apoio da ministra Marta Suplicy, defi‑nimos obras importantes, graças ao PAC das Cidades Históricas e recursos da Petrobras.

MemóriaLGBT: Quais são as ações que o IBRAM vem pensando em prol da memória LGBT?

Angelo: O IBRAM tem seus programas, mas é uma instituição aberta ao diálogo, sem ações pre‑viamente definidas para as interlocuções que se proponham. Acolhemos sugestões, projetos e pro‑gramas e, em conjunto, verificamos como se pode concretizar uma parceria ou colaboração. É assim que somamos esforços com as expressões da cida‑dania e da sociedade.

MemóriaLGBT: É possível que nós LGBT's te‑nhamos uma Primavera de Museus que visibilize nossa memória, patrimônio e história, colaborando, assim com a superação da homo ‑lesbo ‑transfobia existente no Brasil?

Angelo: O tema da Semana Brasileira de Museus é sempre proposto pelo ICOM (Conselho Interna‑cional de Museus), com vistas à celebração do dia mundial, 18 de maio. A Primavera de Museus, na metade do segundo semestre, contribui para sus‑tentar a dinâmica das instituições. Seus temas são amplos e nascem de sugestões apuradas coletiva‑mente dentro dos museus do IBRAM. Muitas ações tanto na Semana quanto na Primavera já trataram da memória LGBT.

MemóriaLGBT: A promoção, salvaguarda e co‑municação da memória LGBT é mais uma ferramen‑ta para o combate a homo ‑lesbo ‑transfobia nos museus e espaços de memória. O que você acha desta afirmação?

Angelo: O reconhecimento do valor da memória. É fundamental em todos os campos. Em especial, a memória LGBT ilumina a grande evolução e as con‑quistas atuais.

MemóriaLGBT: A Rede LGBT de Memória e Museologia Social foi criada no último Fórum Nacional de Museus, em Petrópolis, apresentan‑do algumas demandas ao Ibram como a geração de canais claros sobre uma política inclusiva nos Museus. Como você vê a possibilidade de atuação uma rede que tenha como recorte a orientação se‑xual, ao contrário das demais redes, oriundas de enfoques territoriais e étnicos?

Angelo: O IBRAM mantém interlocução com a Rede LGBT de Memória e Museologia Social. Este é o nosso papel: sempre abrir diálogo e multiplicar canais.

MemóriaLGBT: 17 de maio é considerado o dia

internacional de combate a homofobia. No dia se‑guinte, 18 de maio é o dia Internacional dos Mu‑seus. Datas próximas, mas debates distantes. É

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possível perceber um silenciamento da memória de nossa comunidade, uma vez que, os museus são es‑paços que representam a sociedade?

Angelo: O importante é que cidadãos e comuni‑dades façam valer seus direitos e projetem seu pen‑samento, suas ideias. Há doze anos, ninguém se lem‑braria de comemorar os museus no dia 18 de maio ou durante uma semana inteira.

MemóriaLGBT: Na museologia, existe hoje a ideia de que os museus no Brasil estão incluindo grupos discriminados. Embora já tenha nascido museus de comunidades indígenas, quilombolas ou outras mo‑dalidades de sociedades periféricas, temos procurado notícias sobre os museus que se preocupam com a memória da comunidade LGBT. Você tem alguma no‑tícia de algum museu assim?

Angelo: Tenho notícia de exposições, estudos, projetos, em museus e pontos de memória. O Ca‑dastro Nacional de Museus também tem mapea‑das duas instituições com temática relacionada: o Centro de Cultura e Memória da Diversidade Se‑

ENTREVISTA

Angelo Oswaldo de Araujo Santos – Presidente do Instituto Brasileiro de Museus – Ibram

xual, em São Paulo e o Museu da Sexualidade da Bahia, em Salvador.

MemóriaLGBT: Não havendo notícias, a que você acha que se deve essa ausência da história e memó‑ria LGBT em museus?

Angelo: Se não há mais, deve ‑se à falta de ini‑ciativa de pessoas e grupos diretamente interes‑sados.

MemóriaLGBT: Nos museus estão representados memórias e histórias da sociedade brasileira. De que forma os museus brasileiros poderiam aproximar ‑se da questão LGBT?

Angelo: Os museus têm procurado inovar e tratar dos mais variados temas. É importante que a comu‑nidade LGBT dialogue com os museus. A iniciativa dependerá sempre da convergência e articulação de ambos os lados.

MemóriaLGBT: Qual (Quais) memória(s), histó‑

ria(s) e objeto(s) você gostaria de expor em um museu?

Angelo: O museu é o mundo, disse Hélio Oiticica. Tudo cabe nos museus.

MemóriaLGBT: Qual memória você jamais gosta‑ria de esquecer?

Angelo: Memória é história, e história não se es‑quece, por ser ciência viva.

MemóriaLGBT: Qual o recado que você deixa para a Revista Memória LGBT?

Angelo: A revista é um espaço de memória de significado muito especial. Ela consolida grande parte do desejo expresso nas perguntas a mim diri‑gidas, ou seja, é memória viva e memorial do movi‑mento LGBT.

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Ciclo Transgressões no Museu: Educação, Cultura

e Direitos Humanos

COMBATE A HOMOLESBOTRANSFOBIANOS MUSEUS E ESPAÇOS DE MEMÓRIA

Cláudio Eduardo Resende Alves* Wagner Tameirão**

IntroduçãoO “Ciclo Transgressões no Mu‑

seu: Educação, Cultura e Direitos Humanos”, realizado nos dias 9, 10 e 11 de abril de 2014, é fruto da parceria exitosa entre o espa‑ço museol ógico Memorial Minas Gerais Vale e a Secretaria Muni‑cipal de Educação, por meio do Núcleo de Gênero e Diversidade Sexual. Desde o ano de 2013, as instituições referidas desenvolvem ações conjuntas a fim de promo‑ver interfaces profícuas entre as áreas da Educação e da Cultura. A primeira ação articulada foi o “Percurso Museológico História de Mulheres: vozes e silêncios” que teve como objetivo valorizar a mu‑lher em diferentes dimensões da vida, numa perspectiva histórica e na contemporaneidade, destacan‑do seu papel na política, ciências e tecnologias, arte, cultura, história, literatura, economia e nas relações de trabalho da sociedade brasilei‑ra. No ano de 2014, foi a vez do

Ciclo Transgressões no Museu que teve como objetivo discutir, repen‑sar e refletir sobre a acessibilidade social dos sujeitos travestis e tran‑sexuais aos equipamentos públi‑cos de saúde, educação, cultura, assistência social e segurança da cidade de Belo Horizonte.

A ideia do Ciclo surgiu em uma atividade de formação com os edu‑cadores do Memorial Minas Ge‑rais Vale, na qual foi questionada

a ausência do público de travestis e transexuais no espaço museoló‑gico. Por que este público não fre‑quenta o espaço? O que é preciso fazer para garantir o acesso social de todos? Caso este público esteja presente, a visita guiada deve ser diferenciada? Como fica a utiliza‑ção dos banheiros nesses espaços? Banheiro feminino ou banheiro masculino? Estas e outras questões nos instigaram a pensar estratégias

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metodológicas de alcance, acesso e acolhimento dos sujeitos trans não somente em museus, galerias e tea‑tros, mas também em escolas, postos de saúde, repar‑tições públicas, delegacias entre outros.

O Memorial Minas Gerais Vale foi inaugurado em 30 de novembro de 2010 como parte integrante do Circuito Cultural Praça da Liberdade, complexo de cen‑tros culturais que funcionam em edifícios públicos do entorno da Praça da Liberdade, o equipamento ocupa o prédio da antiga Secretaria de Estado da Fazenda. Caracterizado como museu de experiência, o Memorial instiga o visitante a descobrir a história e os costumes mineiros, do século XVIII ao momento atual, de uma forma diferente e interativa. Personagens ilustres, vilas barrocas, grandes autores, cidadãos comuns, moda, co‑mida típica estão representados nas 31 salas que com‑põem o equipamento. Em todas elas, a tecnologia é utilizada em conjunto com objetos e cenários tradicio‑nais para criar um espaço rico e futurista, que ressalte as experiências propostas pelo espaço. Além da visi‑tação às exposições permanentes o Memorial possui uma ampla programação cultural gratuita com grande

envolvimento com a cultura local e com a comunidade. Performances, exposições de jovens artistas, exposições de fotografias, saraus poéticos, leitura de textos dramá‑ticos, apresentações musicais e de dança e seminários compõem a programação do espaço.

O Núcleo de Gênero e Diversidade Sexual da Secre‑taria Municipal de Educação desenvolve ações, desde 2008, de enfrentamento às práticas sexistas, homofóbi‑cas e transfóbicas nas escolas junto ao corpo docente e discente, como, por exemplo: rodas de conversa, sessões de filmes comentados, seminários temáticos para gesto‑res da educação, mediação de conflitos nas escolas, pa‑lestras para comunidade e articulação com o Conselho Municipal de Educação, por meio da qual foi aprovada a Resolução CME/BH no 002/2008 que legaliza o uso do nome social de travestis e transexuais nos documen‑tos internos escolares. A legitimação do nome social1 se configura como uma política pública de acesso à escola para esse público, entretanto, não garante a permanên‑

1 A expressão Nome Social designa o nome pelo qual travestis e transexuais preferem ser chamados cotidianamente, uma vez que o nome civil ou de registro não reflete sua identidade de gênero.

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cia, nem a conclusão dos estudos em função das práti‑cas discriminatórias ainda presentes nas escolas.

O planejamento e a construção coletiva do evento

Um integrante primordial na construção do Ciclo foi o fotógrafo e jornalista Lucas Ávila que, desde 2011, desenvolve um projeto fotográfico sobre tra‑vestis, transexuais, drag quens e andróginos em cenas domésticas do cotidiano como lendo livros, varrendo casa, se arrumando no banheiro, praticando esportes, fazendo yoga, falando ao telefone, brincando com o cachorro e se penteando em frente o espelho. As imagens feitas durante o dia nas próprias casas das fotografadas e em espaços públicos urbanos, além de promover um estranhamento sobre as múltiplas iden‑tidades de gênero e a diversidade sexual, são atraves‑sadas pelo recorte geracional (existem fotos de sujei‑tos trans jovens, adultos e idosos) com destaque para diferentes ocupações profissionais e condições eco‑nômicas. O título da exposição “Elas, Madalenas” faz uma referência à controversa imagem bíblica de Ma‑ria Madalena. Para alguns pesquisadores dos evange‑lhos apócrifos ela foi considerada esposa e cúmplice de Jesus Cristo, para outros ela é a prostituta arrepen‑dida, salva momentos antes do apedrejamento. Por mais que os registros bíblicos não citem ou relacio‑nem Maria Madalena à prática da prostituição, seu nome se tornou popularmente associado ao pecado, arrependimento ou negação da moralidade vigente na sociedade ocidental. Assim como ela, a imagem de travestis e transexuais no Brasil também está popular‑mente relacionada à marginalidade em muitos casos por desconhecimento e preconceito.

A exposição foi composta por 10 fotografias im‑pressas em totens de 1,70m X 78cm, localizados nas escadas do Memorial Minas Gerais Vale, e outras 10 fotografias de tamanho 10cm X 15cm impressas em formato “pop ‑card” e disponíveis para o público em uma penteadeira vintage na entrada do Memorial. Foram 6 fotografias impressas em preto e branco e

outras 14 coloridas, conforme a estética escolhida pela curadora da exposição, Amanda Alves. Parale‑lamente à exposição, foram concebidas mesas de debates com profissionais de equipamentos públicos da cidade com o propósito de discutir as políticas pú‑blicas de inclusão da diversidade sexual durante os três dias do evento. Tomou ‑se o cuidado de sempre convidar uma travesti ou transexual para participar das mesas, ora como palestrante, ora como debate‑dora e mestre de cerimônias.

Antes do Ciclo, foram realizados encontros de for‑mação com todos os profissionais que trabalham no espaço museológico, equipe da limpeza, portaria, administrativo, lanchonete, recepção, além de toda a equipe do setor educativo. A intencionalidade desses encontros foi capacitar os profissionais para o atendi‑mento e acolhimento do público ‑alvo do evento, con‑textualizando e discutindo a diversidade sexual pelo viés dos direitos humanos amparados em diversos marcos legais brasileiros, inaugurado com a Constitui‑

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ção Federal de 1988. O uso do banheiro foi um dos destaques da formação e a fim efetivar realmente o acesso da população trans, foram confeccionadas no‑vas placas identificatórias para as portas dos banhei‑ros em que constavam a imagem de uma mulher ao lado de um homem, ou seja, banheiros unissex.

A divulgação do evento foi outro aspecto importante a ser destacado. Foram elaborados cartazes, folders, “pop ‑cards” e peças de divulgação virtual com a pro‑gramação para distribuição nos equipamentos públi‑cos da cidade, nas redes sociais, nos bares e centros de referência LGBT, nas universidades locais e nas escolas municipais de Educação de Jovens e Adultos (EJA) do noturno, por ser essa modalidade de ensino a mais procurada por sujeitos trans que retomam os estudos. Além disso, foram enviadas cartas nominais de convite para todas as fotografadas, afinal não há sentido fazer um evento para travestis e transexuais sem a presença e participação das mesmas.

O evento e seus desdobramentosO primeiro dia do Ciclo se iniciou com a exposi‑

ção fotográfica seguida de um coquetel e um show da performática Dolly Piercing. Cerca de 300 pes‑soas compareceram nesta primeira noite do evento que finalizou com a mesa de debate “Visibilidades Transgressoras: travestis e transexuais em foco” no auditório do espaço museológico, logo após a mesa institucional de abertura. Dessa primeira rodada de discussão, fizeram parte Anyky Lima, Presidente do CELLOS/MG – Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais, Lucas Ávila, fotógrafo res‑ponsável pela exposição “Elas, Madalenas”, e Raul Capistrano, integrante da ABHT – Associação Brasi‑leira de Homens Trans. A mestre de cerimônias, Gi‑sella Lima, conduziu os debates enriquecedores e polêmicos que ultrapassaram o horário previsto de término do evento, qual seja, 22h00.

O segundo dia do Ciclo foi iniciado com uma visi‑ta guiada pelo espaço museológico para um grupo de travestis e transexuais convidadas. A equipe do

educativo se organizou de forma a atender o públi‑co que, embora pequeno, se envolveu sensivelmen‑te com o acervo e a proposta museal. Na sequência, foi realizada a segunda mesa de debates “Direitos Humanos e Políticas Públicas de Diversidade Se‑xual” que contou com a participação de Walkíria La Roche, Coordenadora Especial de Diversidade Sexual da Secretaria de Estado de Trabalho e De‑senvolvimento Social de Minas Gerais, Dra. Beatriz Santana Soares, médica endocrinologista e profes‑sora da UFMG com grande experiência no processo de hormonoterapia trans, Sílvia Helena, Secretária Municipal Adjunta de Direitos de Cidadania e Mar‑garet de Freitas Assis Rocha, Delegada de Polícia e Coordenadora do Núcleo de Atendimento e Cidada‑nia LGBT de Minas Gerais.

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O terceiro e último dia do Ciclo contou com um pú‑blico majoritariamente do campo da educação, os professores da Educação de Jovens e Adultos da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte encheram o auditório. A mesa de debates intitulada “O uso do nome social: direitos e práticas identitárias” apresentou e discutiu o uso legítimo do nome social por traves‑tis e transexuais na perspectiva dos convidados: José Wilson Ricardo, Gerente Regional de Educação e ex‑‑Conselheiro Municipal de Educação, Anna Christina Pi‑nheiro, Psicóloga da Secretaria Municipal de Saúde e a Dra. Flávia Marcele Torres Ferreira de Morais, Defensora Pública do Estado de Minas Gerais. A última convidada a fazer sua apresentação foi Patrícia Augusto, psicóloga e ex ‑integrante do Centro de Referência LGBT que fez um significativo relato pessoal dos desafios enfrenta‑

dos por ela para usar o nome social na instituição aca‑dêmica em que se graduou e no mercado de trabalho.

Considerações finais: desafios permanentesO evento foi um sucesso, a cobertura na mídia – pro‑

grama de televisão, entrevista em rádio, fotos e ma‑térias nos principais jornais locais e muitas postagens em sites, blogs e redes sociais – foi muito acima do esperado, considerando a peculiaridade da temática e o grande tabu que ainda é falar de diversidade sexual em um país homofóbico, sexista e heteronormativo como o Brasil. A grande repercussão do evento propi‑ciou o convite para a realização do 2o Ciclo Transgres‑sões no Museu, desta vez no Museu de Artes e Ofícios, localizado na Praça da Estação no centro da cidade de Belo Horizonte, no segundo semestre de 2014.

A Secretaria Municipal de Educação avaliou como extremamente positiva e exitosa a ação articulada com os espaços culturais, uma vez que a educação se faz não apenas na instituição escola, mas também nos museus, nos parques, nas ruas, nos clubes, nos centros culturais enfim na apropriação qualificada dos espaços públicos urbanos.

Foi extremamente gratificante para o Memorial rece‑ber travestis, transexuais e um diverso público interes‑sado em ver a exposição “Elas Madalenas” e partici‑par do Ciclo Transgressões no Museu. Muito se fala em acessibilidade, por isso a importância de ações para acolher bem os diversos públicos ainda à margem da sociedade ou esquecidos por ela. O museu também é espaço de discussão e de inclusão e não pode virar as costas para uma vida pulsante e seus atores sociais. Ele deve estar enfronhado com as questões sociais e culturais para trazê ‑las para o seu dia a dia.

*Doutorando no Programa de Pós ‑Graduação em Psicologia da PUC Minas e integrante do Núcleo de Gênero e Diversidade Sexual da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte/[email protected]

**Gestor do Memorial Minas Gerais Vale que integra o Circuito Cultural Praça da Liberdade, em Belo Horizonte/ [email protected]

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O Museu da DivErSidade

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Texto: Barbára Freitas Fotos: Malcon

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Mais conhecido como “Museu gay” ou “Museu da Diversidade”, o Centro de Cultura, Memórias e Estudos da Diver‑sidade Sexual do Estado de São Paulo

se localiza dentro da estação de metrô República na cidade de São Paulo, local especialmente escolhido por, dentre outros motivos, ter sido palco de históricos movimentos e celebrações LGBTs, reunião diária desse público na famosa e boêmia noite paulistana, incluin‑do a era dourada das divas da noite gay nas décadas de 60, 70 e 80 e o inesquecível assassinato do homos‑sexual Edison Néris que foi barbaramente espancado e morto por um grupo denominado Carecas do ABC na madrugada do dia 6 de dezembro de 2000, quando andava de mãos dadas com seu namorado Dario.

No último dia 4 de dezembro, celebração da, atual‑mente, maior Parada Gay do mundo, superando a de São Francisco – EUA, o Governo do Estado de São Paulo, através do governador Geraldo Alckimin, anunciou que o museu será ampliado em um novo espaço de acordo com o projeto já existente na Re‑pública e que continuará ativo.

O abandonado e desocupado casarão Franco de Mello, localizado na famosa Avenida Paulista, centro empresarial, cultural e de diversos movimentos so‑ciais será o palco da ampliação dessa iniciativa.

O museu original foi inaugurado no dia 10 de ju‑nho de 2013 e foi internacionalmente repercutido e aplaudido por se tratar de uma iniciativa única em todo o hemisfério sul (apenas São Francisco nos Esta‑dos Unidos e Berlim na Alemanha possuem um cen‑tro cultural e museológico semelhante).

O objetivo, segundo o próprio governo, é resgatar, unir e preservar todo o acervo histórico e o rico patri‑mônio cultural LGBT brasileiro através da disponibili‑zação pública e popularizada de referências materiais e imateriais, bem como ser um centro informativo e de valorização da diversidade sexual, de forma a ser

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mais uma ferramenta de combate à homolesbitransfobia.

Apesar do louvor de suas expo‑sições, que cumprem com a inicia‑tiva proposta, estruturalmente, o museu é precário, pequeno (possuí apenas 150 m²), escuro e pouco conhecido até entre o heterogê‑neo público interessado em tal proposta e patrimônio.

Diante disso, o museu esteve fechado por aproximadamente 2 meses no ano de 2013 para reformas e reinaugurado com a majestosa exposição Crisálidas no dia 30 de junho de 2013, a qual resgatava a obra fotográfica da húngara Madalena Schwartz (1921 ‑1993).

A fotógrafa se encantou com artistas, transformistas, travestis e transexuais que abrilhantavam a noite paulistana durante as déca‑das de 70 e 80. Em plena ditadura militar, @s protagonistas das líri‑cas fotos de Schwartz utilizavam

seu trabalho artístico como forma de resistência e reflexões.

O anúncio de um novo, refor‑mulado e bem estruturado museu causou alvoroço nas mídias e entre as pessoas interessadas pelo as‑sunto e sua repercussão nacional e internacional promete incentivar outros países e estados brasileiros à criação de projetos semelhantes.

A nova sede será no casarão Franco de Mello localizado na Avenida Paulista, 1.919. O terreno possui um total de 2,7 mil metros quadrados e cerca de 600 de área construída em 1905. Entretanto, segundo Geraldo Alckimin, o pré‑dio sequer fora desapropriado, uma vez que é privado e tombado por órgãos de defesa do patrimô‑nio histórico e está em “péssimas condições”, de forma que o anún‑cio não prevê qualquer data de concretização e inauguração, pois passará por medidas burocráticas e políticas, será completamente

restaurado e ainda não possui ma‑peamento, projeto ou orçamento.

O discurso e proposta do Go‑vernador, apesar de empolgante, causa desconfiança e, para alguns, pode soar como oportunista e po‑pulista diante da atual conjuntura política do Estado de São Paulo e do Brasil às vésperas das eleições, uma vez que o partido de Geraldo Alckimin, o PSDB, perde, a cada ano, mais poder no Estado onde sempre tivera maior representati‑vidade e tenta, agora, se reinven‑tar com fins políticos.

Há muito, casarões tombados da cidade de São Paulo têm sido transformados em centros culturais, museus e casas de oficinas culturais e educativas. A Oficina da Palavra Casa Mario de Andrade é apenas um dos exemplos. Tombada em 1975, tinha a intenção de abrigar um acer‑vo completo do escritor modernista Mario de Andrade que viveu quase toda sua vida no imóvel, porém mui‑to do acervo do espaço fora doado e o projeto não pode ser concluído como esperado e hoje é um espaço de atividades artísticas e culturais não menos valorizado.

Outro exemplo mais recente e bem sucedido é o da Casa das Rosas, também localizado na avenida paulista e famosa pela sua arquitetura e construção terminada em 1935. Em 2004 a casa se tornou o Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Litera‑tura e oferece diversos eventos

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culturais, cursos e exposições relacionados à lite‑ratura e, também, abriga a primeira biblioteca do país especializada em poesia além de uma livraria da imprensa oficial do Estado de São Paulo. Além disso, o espaço recebeu um acervo completo de livros do poeta Haroldo de Campos e pretende disponibilizá ‑lo ao público.

A partir dessas perspectivas, vemos claramente que o patrimônio cultural e histórico LGBT é negligencia‑do, desvalorizado, ignorado e, naturalmente, perdido não só no âmbito regional do Estado de São Paulo, mas em todo o mundo, patrimônios estes que não possuem o mesmo espaço social e político de outros, também, importantes.

Obviamente, como todos os assuntos que envol‑vem a comunidade LGBT, a medida é polemizada, expressando a sociedade homolesbitransfóbica em que estamos inseridos, suas consequências, como

a desigualdade de direitos, violência, segregação social e etc.

Especialmente nas mídias sociais, muitas foram as repercussões de apoio, repúdio e manifestações de caráter político, em se tratando de uma iniciativa governamental, mas, considerando ser mais uma promessa sem data definida, o diálogo e discussão é afagado por outras questões de maior repercus‑são e, em geral, se restringe à ambientes univer‑sitários, pessoas interessadas e ligadas ao assunto acadêmica, política e/ou pessoalmente e de manei‑ra elitizada, o que concorre com a proposta de po‑pularização dessa memória através do museu.

Ainda assim, devemos celebrar tal anúncio, cobrar sua efetivação, esperar pela concretização e consequências do mesmo, repercutir e divulgar esse importante avan‑ço e, claro, continuar prestigiando o “museu gay” que disponibiliza preciosidades gratuitamente para tod@s!

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Museu lugar de memória, e para trazer essa me‑mória à tona ele narra. Ao propor uma exposição, ele conta uma história, seja de forma meramente infor‑mativa, ou com algo a mais, trazendo o poético para sua narrativa. Segundo Meneses (2010, p.14):

"O museu é ainda lugar de oportunidade de de‑vaneio, de sonho, de evasão do imaginário, que são funções psíquicas extremamente importantes para promover equilíbrios e liberar tensões, assumir confli‑tos, desenvolver capacidade crítica, reforçar e alimen‑tar energias, projetar o futuro e assim por diante."

O cinema não é diferente, sua função é narrar seja de forma histórica, poética, informativa ou mesmo a comunhão de todas elas. Como arte, objeto de flui‑ção, "devaneio, sonho, evasão do imaginário“. En‑tendido como fonte de pesquisa, ao ser questionado, analisado, torna ‑se um artefato poderoso de regis‑tro de memória e identidade, reflexo da sociedade que o produziu. Desta forma a arte como objeto de memória e identidade de uma sociedade, invoca ‑nos a reflexão. Ao fazer esse registro cinematográfico, e narrar uma história seja ela baseada em fatos reais, uma ficção, ou um documentário, o cinema se torna um agente que preserva e que ao mesmo tempo é difusor e criador de memórias e imaginários.

Existem diversas possibilidades de relacionar o ci‑nema para o levantamento de hipóteses de estudo. Dentre tantas questões com potencial de análise através desta ferramenta, estão: “pintura e cinema”; “infância e cinema”; “mulher e cinema”, seja por um viés do imaginário, psicanalítico, gênero, entre

outros, o cinema nos dá uma gama de possibilidades para exploramos diversos aspectos de uma sociedade e de sua cultua. Sendo o filme o espelho de uma de‑terminada cultura, de uma época em que foi gerado, é necessário que se leve em conta diversos fatores de análise, como ideologias, hábitos, crenças, tradições.

O que proponho com este trabalho é perceber quais filmes têm um potencial de análise abordan‑do as questões LGBT. Para tanto elenco alguns fil‑mes que tratam do assunto. Sexualidade e adoles‑cência, transgênero e histórias reais de luta contra o preconceito.

Cinema e a temática LGBTA adolescência fase das descobertas, das incertezas

da vida, das inseguranças, a busca pela aceitação. Onde um simples ato pode marcar para sempre uma vida, seja positivo ou negativo. Neste viés dois filmes icônicos, numa linha mais cult movies abordam as questões do adolescer de uma forma poética, leve e ao mesmo tempo profunda.

C.R.A.Z.Y Loucos de Amor (2005) – C.R.A.Z.Y – Filme franco canadense com roteiro e direção de Jean ‑Marc Vallée. Traz a história de Zachary desde seu nascimento, passando por sua infância momen‑to em que se quebra a relação com seu pai, quando este percebe o comportamento, que para ele, seria inadequado para um menino. Entretanto é na ado‑lescência que surge a descoberta de uma sexualida‑de diferente, e com ela a negação, as dificuldades em manter isso escondido para não decepcionar a

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MEMÓRIA E IDENTIDADE LGBT NO CINEMARosângela Broch Veiga*

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família. É através de uma viagem mística para Je‑rusalém, que Zachary busca esse encontro com seu próprio “eu”, e é lá que surge a libertação. Trilha sonora maravilhosa com David Bowie. Sensível, in‑teligente, enfim, imperdível.

As vantagens de ser invisível (2012) – The Perks of Being a Wallflower – Neste filme o personagem gay interpretado pelo ator Ezra Miller, não é o principal, porém, não só por sua atuação, como também pelo carisma do personagem, ganha a cena. Uma produ‑ção indie, divertido, que revela dramas adolescentes com clareza e sensibilidade.

As histórias reais de pessoas que lutaram por seus direitos, e pelo direito de ser aceito, em um mundo preconceituoso, que dita regras arcaicas em nome de uma falsa moral. Através destes filmes uma gama imensa de possibilidades de análise e apre‑ciação. São eles:

Milk – a voz da igualdade (2002) – Milk – Sean Penn mais uma vez mostrando ao que veio. Com direção de Gus van Sant, o filme conta a história de Harvey Milk, o primeiro gay assumido a alcançar um cargo público de importância nos Estados Unidos. Foi eleito para o Qua‑dro de Supervisor da cidade de São Francisco no ano

MEMÓRIA E IDENTIDADE LGBT NO CINEMA

de 1977. Em 1972 Milk se muda de Nova York para a cidade de São Francisco com seu namorado, para jun‑tos abrirem uma loja. Em um bairro onde sua opção sexual não era bem vista, porém ele luta, e resiste. Em pouco tempo o bair‑ro Castro, local onde ele escolheu para viver e trabalhar, se torna re‑ferência da luta pelos di‑reitos dos homossexuais.

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Filadélfia (1993) – Philadelphia – É um drama de 1993, com Tom Hanks, Antônio Bandeiras e Denzel Washington, com direção de Jonathan Demme. Ba‑seado em fatos reais, é um dos primeiros filmes co‑merciais de Hollywood que aborda as questões de homofobia, homossexualidade e HIV. Conta à histó‑ria de Andrew Beckett, um advogado que tem sua vida pessoal e profissional destruída, quando não consegue mais esconder dos colegas de trabalho, que é portador do vírus HIV. É demitido e daí em diante começa sua batalha pelos direitos, e a luta contra o preconceito.

O transexual e transgênero. Dentro desta catego‑ria fílmica, elenco três películas imperdíveis: Prisci‑la a Rainha do deserto (1994) – The Adventures of

Priscilla, Queen of the Desert – Um filme divertido, que conta a história de duas drag queens, Anthony e Adam, interpretados respectivamente por Hugo Weaving e Guy Pearce, e da transexual Bernadette – Terence Stamp – que são contratadas para realizar um show em Alice Springs, uma cidade localizada no deserto australiano. Eles então partem de Syd‑

ney a bordo do Priscilla. Nesta travessia além

da fantástica trilha sonora e da pai‑sagem belíssima da Austrália, eles vivem aventuras, e dramas, se de‑

param com preconceito, mas também encontram novas amizades. Um verdadeiro road movie.

Transamérica (2005) – Transamerica – Filme in‑die norte americano, drama, dirigido por Duncan Tucker, conta a história de Bree uma mulher tran‑

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sexual, que descobre que tem um filho de 17 anos, pouco tempo antes de fazer sua cirurgia genital. Devido a isso, sua psicóloga a proíbe de se sub‑meter ao procedimento cirúrgico sem que antes resolva esse assunto pendente. Bree viaja a Nova Iorque pra conhecer seu filho. Também do gênero road movie, uma viagem imperdível.

Má educação (2004) – La mala educación – Um filme espanhol de Pedro Almodóvar, com Gael Gar‑cia Bernal. Um drama, polêmico, traz uma crítica direta à Igreja Católica. Os personagens Ignacio e Enrique entram em contato com o amor, o cinema e o medo num colégio tradicional religioso no iní‑cio dos anos 60. Manolo o padre e professor dos meninos é responsável por acontecimentos que

marcarão para sempre a vida desses personagens. Não é um filme de fácil acesso a compreensão, a narrativa é labiríntica, e ao contrario dos outros fil‑mes de Almodóvar, não há humor, vemos um clima melancólico e depressivo.

*Museóloga pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Fez Especialização em Literatura Brasileira, também pela UFRGS.

REFERÊNCIAS

MENESES, Ulpiano Bezerras. As múltiplas funções do museu. In: Futuro do Pretérito: escrita da história e história do museu. GUIMARÃES, Manoel L. S.; RAMOS, Francisco R. L. (orgs). Fortaleza: Instituto Frei Tito de Alencar, 2010

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Qual deles consegue massacrar mais um ser humano? Que manifestação de ódio é capaz de transformar uma pessoa num farrapo, num arremedo de gente, capaz

de matá ‑lo em vida? É possível mensurar as lágrimas daqueles e daquelas que na escola, ou fora dela, fo‑ram apontados/as como diferentes, por isso, merece‑dores do escárnio, do desprezo, da apartação?

No dia em que deveríamos celebrar a Consciência Negra e pensar nas formas de reparar a desgraça que foi a escravidão nesse país, e mais do que isso, se envergonhar diante do que nossos antepassados fizeram com milhões de africanos e africanas, o dis‑curso racista ainda é extremamente forte entre nós, cada vez mais presente e o mais assustador, cada vez mais livre, principalmente quando a internet fa‑vorece os/as covardes.

É comediante racista fazendo piadas com bananas, é médico que humilha a atendente no cinema chique

Cristiano Lucas Ferreira*

O que dói mais? ou

Racismo, machismo homofobia?

de Brasília, é gente que fala que cotas são privilégios, que acredita que mulher preta é pra trabalhar, a mu‑lata pra trepar e a branca pra casar e que crianças pretas são sujas e adolescentes pretos são futuros traficantes, ladrões, estupradores ou vagabundos que lotarão a Papuda ou o CAJE.

Pois que hoje, no dia da Consciência Negra, no Congresso, sofremos quatro chibatadas. O PLC 122, que propõe a criminalização da homofobia não foi apreciado no Senado por falta de quórum e por causa dos/as parlamentares fundamentalistas. Além disso, de forma sorrateira, Feliciano e seus compar‑sas conseguiram aprovar na Câmara, a proposta que exige a suspensão da decisão do CNJ que aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo e outra que solicita a realização de um plebiscito que questionará se a população é ou não favorável às nossas uniões além de barrar o projeto que garantiria direitos previ‑denciários igualitários.

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COMBATE A HOMOLESBOTRANSFOBIANOS MUSEUS E ESPAÇOS DE MEMÓRIA

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O que dói mais? machismo

homofobia?

A cada discurso de ódio, a cada piada racista, a cada interferência fundamentalista no debate sobre nossos direitos, a cada notícia de estupro ou pe‑dofilia, fico aqui pensando... Onde é que estamos errando? Será que é isso mesmo? Que não há jeito, que lutamos uma luta já vencida pelo outro lado e que só a gente sai machucado/a, fragilizado/a? Enquanto mulheres continuam sendo estupradas e morrendo em clínicas clandestinas de aborto, enquanto bichas, sapas e travas continuam sendo assassinados/as e levando lâmpadas fluorescentes pela vida e negros e negras na parte mais baixa da sociedade, nossos adversários continuam lá, firmes e fortes, no camarote, na Casa Grande, por cima do púlpito, mais pertos de deus.

É por isso que quando bate o desânimo, a resig‑nação e a ideia de que as coisas são assim e assim permanecerão começa a rondar meus pensamen‑tos, eu me viro para a vida de tantos negros e ne‑

gras, que um dia foram obri‑gados a atravessar o Atlântico. É por isso que me inspiro nos tantos gays, nas sapas e travas que foram e continuam sendo assassinados/as brutal‑mente. É por isso que me inspiro nas tantas Marias da Penha, brasileiras ou não. Se não fossem por eles e elas, pelo que passaram e ainda passam, confesso que já teria desistido!

Podem vir fundamentalistas, machistas, racistas e homofóbicos/as.

Correm, em nossas veias, além de um pouco de purpurina, a história dos que tombaram em nome da liberdade!

*Ativista da Cia. Revolucionária Triângulo Rosa, de Brasília, profes‑sor e atualmente na chefia do Núcleo de Diversidade e Educação Inclusiva da Escola de Formação de Professores/as da SEDF.

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HOMO REBELDE

Era muito criança para entender o que “aquilo” significava. A bicha que trabalhava num salão perto de minha casa era pra mim, um mistério, algo fasci‑nante, que me chamava atenção, me deixava curio‑so. Porque será que aquele homem não se parecia com homem, pensava eu. O seu andado, sua voz, suas roupas, suas mãos esvoaçantes eram comple‑tamente diferentes do andado, da voz, da roupa e das mãos de mecânico de meu pai. Evidentemen‑te que naquela altura, não conseguia dar sentido àquela diversa expressão da masculinidade que por vezes, observava, mas uma coisa era certa: eu me identificava muito mais com a pintosa do salão do que com meu pai ou qualquer outra de minhas refe‑rências masculinas, tão brutas, tão rudes.

Para além das questões biológicas ou das origens da homossexualidade, o fato é que muito, muito me‑nino, percebi que de alguma forma, me sentia dife‑rente dos outros meninos e eles, claro, também per‑cebiam que eu era diferente. A aproximação com as garotas acabou sendo inevitável até mesmo porque o universo feminino me parecia mais acolhedor, me‑nos agressivo, mais tolerante.

Era com as meninas que passava a maior parte do tempo, seja na escola ou em casa, com minhas duas irmãs. Envolvia ‑me com suas manias, suas belezas, suas roupas, suas brincadeiras, suas idios‑sincrasias.

Excluídos dos clãs masculinos, juntar ‑se com as me‑ninas parece ter sido uma estratégia comum entre os outros garotos gays que moravam perto de casa ou que estudavam no Anhanguera lá na Vila Formosa em Anápolis. E foi dessa forma, entre as meninas da rua que em 1983 eu conheci o Márcio, irmão de uma amiga de minha irmã. “Instintivamente” um se reco‑nheceu no outro. Naquele momento percebi que eu não estava, enfim, sozinho. O Márcio foi o primeiro menino que conheci, que assim como eu, arrasava no elástico e nas coreografias dos Menudos. O primeiro de tantos grandes amigos gays que nestes quase 40 anos, tive o prazer de conhecer.

Antes daquela década terminar, tive meus primeiros amores platônicos e imaginários, meu primeiro beijo e

minhas primeiras experiências sexuais. No meu peque‑no e solitário mundo, fui construindo minha identidade.

Na adolescência, outros amigos gays foram che‑gando, se aproximando e por algum motivo, eram também tão pintosas, tão fechativas e como não poderia deixar de ser, machucadas pelo ódio e pelo preconceito tão corriqueiros, numa cidade longe de‑mais das capitais, como a minha. Mas, repetindo o que fizeram nossas ancestrais madrinhas, fizemos da fechação uma arte e assim como elas, ocupamos os espaços da cidade.

Num lugar sem boates, cinemão, parque, shopping, Grindr e outras facilidades da vida da bicha moderna,

Às bichas que resistiram

Cristiano Lucas Ferreira*

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foram nos bancos da Praça Bom Jesus que descobri‑mos que tínhamos um vocabulário próprio (aquen‑dar o pajubá era fundamental), que o candomblé e a umbanda nos aceitavam, que tinham os ocós que aquendavam (mesmo que mediante pagamento), que a “taba” e a “angélica” circulavam facilmente, que havia um concurso de Miss onde as bonitas (e outras nem tanto) passarelavam e que uma doença (a prima) começava a matar alguns de nossos ami‑gos, transformando ‑os em purpurina.

Quando sai de Anápolis e fui pra UFG lá também, estavam eles. Na Casa de Estudantes onde morei, por pouco, não éramos a maioria. E foi na universidade que minha sexualidade, tornou ‑se mais do que mero prazer; tornou ‑se um elemento político. No final dos

anos 90, junto com tantos outros caras gays da cida‑de, militávamos no movimento estudantil além de ter ocupado as ruas nas primeiras paradas de Goiânia.

E foi dando pinta, dublando, montados e equilibrando‑‑se em cima de saltos que fizemos política, exigimos direitos e enfrentamos nossos adversários. Não mais perderíamos a autonomia sobre nossos próprios cor‑pos tão dificilmente conquistada.

Juro que pensei que não chegaria vivo até aqui. Vi tantos iguais a mim serem simplesmente dizimados que realmente acreditava que não passaria da adoles‑cência. Ser pintosa numa cidade de machões funda‑mentalistas, e sobreviver, definitivamente, é ter sorte.

Evidentemente que poderia ter feito como tantos caras gays, ficando quietinho no armário, arrumar uma namorada, casar, ter filhos, reprimindo ao má‑ximo o desejo. Ou então poderia forjar um compor‑tamento digamos, mais discreto, me afastando da Madonna, dos saltos da minha mãe e dos shows de transformistas do Bolinha ou do Sílvio Santos, a pon‑to de ser confundido com hetero.

Já me mandaram engrossar a voz, já me manda‑ram andar como homem, já mandaram eu segurar minhas mãos enquanto falo, já pediram pra não dar pinta, já cortaram meu cabelo por achar que era de viado, já me ameaçaram cortar a orelha por causa dos brincos. Já falaram pra eu dar um neto pra minha mãe, para experimentar transar com

mulheres, para procurar um psicólogo. Já receita‑ram remédios, já indicaram orações e penitências, já disseram que com o tempo passaria.

Preferi, orgulhosamente, dar liberdade ao meu corpo.

*Ativista da Cia. Revolucionária Triângulo Rosa, de Brasília, profes‑sor e atualmente na chefia do Núcleo de Diversidade e Educação Inclusiva da Escola de Formação de Professores/as da SEDF.

Às bichas que resistiram

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HOMO REBELDE

Ainda criança, ouvia as notícias das atrocidades co‑metidas contra as travestis, viados e sapas de Anápo‑lis. Lembro quando os programas policiais das rádios da cidade noticiaram que alguns caras, depois de terem espancado uma travesti, usaram Superbonder para colar seu cu. E como não poderia deixar de ser, isso virou piada, motivo de risos. Tempos depois, ou‑tra travesti foi esquartejada e jogada numa daquelas caçambas de entulho. Seu corpo ficou ali por dias e só foi descoberto no lixão da cidade, onde os peda‑ços de seu corpo foram despejados. Mas entre tantas notícias, que pareciam se repetir e repetir e repetir, a mais trágica (se é que é possível) e a que mais me chocou foi quando pegaram um cara gay leva‑ram para um posto de gasolina e enfiaram em seu cu aquela mangueira de encher pneu de caminhão. O seu intestino rompeu e ele morreu ali, sem com‑paixão, esvaindo em sangue, sem motivar qualquer indignação entre as pessoas. Durante anos aquela imagem não saia de minha cabeça.

O que será que ele pensava quando via sua vida indo embora? Será que esse era o destino reservado

pra mim? Será que quando descobrissem que eu era gay fariam o mesmo comigo? Essas e tantas outras notícias eram tão comuns que pra mim, declarar ‑me gay era como assinar o meu atestado de óbito.

Mesmo que tenhamos tantas demandas, mesmo sa‑bendo que ainda há tanto por fazer, nós, do movimen‑to LGBT, elegemos como prioridade a criminalização da homofobia. A duras penas, conseguimos minima‑mente articular uma Frente Parlamentar com repre‑sentantes da Câmara e do Senado, construímos um movimento capaz de aglutinar artistas, educadores/as, juristas, nossas famílias, com o objetivo de dar uma resposta à naturalização da violência homofóbica.

Mas como resposta, fundamentalistas religio‑sos (católicos e evangélicos) se uniram aos setores mais conservadores da sociedade para barrar toda e qualquer discussão que defenda direitos iguais. Lado a lado, pastores, padres, nazistas, defensores da ditadura militar, integralistas, Opus Dei, Tradição, Família e Propriedade, Associação para Defesa da Heterossexualidade, do Casamento e da Família Tra‑dicional, partidos políticos ligados às igrejas evangé‑licas (principalmente o PSC, o PP, o PRB, o PTN e o

Com quantasderrotasse faz uma luta?

MEMÓRIA LGBT | 35 MEMÓRIA LGBT | 35

PROS) incluindo claro, alguns parlamentares de antigos alia‑dos como o PT, PSB, PC do B e PDT articularam ‑se dentro e fora do Congresso para criar um am‑biente de guerra santa: Eles (os elei‑tos, santos, defensores das leis de deus) contra nós (promíscuos/as, disseminadores da AIDS, destruidores da família, da espécie humana e contrários a deus).

Esse discurso que saiu dos púl‑pitos e chegou com intensa força nos plenários do Con‑gresso, das Assembleias Estaduais e Câmaras Mu‑nicipais conseguiu hoje sua mais importante vitória. Em sessão no Senado, foi aprovada a transferência da questão da criminalização da ho‑mofobia para a Reforma do Código Penal. E porque isso

nos preocupa? Se por um lado essa Reforma deve se arrastar por anos, por outro e mais grave ainda, os conservadores já to‑maram conta da Comissão de Constituição e Justiça, por onde o projeto de reforma deverá passar. Se conseguir passar pela CCJ, a proposta deve ir ao plenário do Senado e da Câmara onde, claro, não temos apoios necessários à sua aprovação.Por isso, corremos seriamente o risco de ver nossa luta de tantos anos ser simplesmente desconsiderada.

Quantas vezes seremos obrigados/as a ouvir um sonoro e gigante NÃO às nossas propostas? É impossível não

ficar indignado. Impossível não se sentir incapaz de lutar contra essas forças tão poderosas,

cada vez mais ricas, cada vez mais pro‑prietárias dos meios de comunicação e das mentes e corações de milhões de pessoas. Mas eles ainda pagarão por cada um e cada uma dos nossos que fo‑ram, são e serão vítimas de homofobia.

Ao contrário daquelas travestis de Aná‑polis que relatei no início, nós AINDA es‑tamos vivos/as. Enquanto correr sangue

em nossas veias, não podemos desistir. Por nós e por tantos e tantas que já tombaram.

Perdoem ‑nos, queridos e queridas. Ainda não foi dessa vez!

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A Influência do Jornalismo Policial Televisivo na Reprodução da Homotransfobia

Mesmo com diversas vitórias garantidas aos LGBTs no Brasil, ainda é possível encontrar nos grandes meios de comunicação discursos conservadores, es‑tigmatizantes e que colocam este grupo em posições inferiores à chamada heteronormatividade.

Como agente de socialização e construtora da rea‑lidade social, a mídia tem mostrado categoricamente representações negativas das lésbicas, gays, bissexuais e trans*, violando os direitos humanos, reforçando estereótipos e fugindo da sua função social de infor‑mar com responsabilidade, transparência e objetivi‑dade. Entendendo que o jornalismo é um meio onde evidencia ‑se a construção da realidade social, seu posicionamento acerca de determinados assuntos e a forma como estes são tratados, podem influenciar a opinião pública interferindo na representação de “mi‑norias” que acabam sendo estigmatizadas.

Em “Análise do Discurso”, Orlandi atenta para a relação da ideologia com o homem: a relação ima‑ginária com suas condições materiais de existência. Segundo ele, o que acontece é que

"Naturaliza ‑se o que é produzido na relação do his‑tórico e do simbólico. Por esse mecanismo – ideológico – de apagamento da interpretação, há transposição de formas imateriais em outras, construindo ‑se transparên‑cias – como se a linguagem e a história não tivessem sua espessura, sua opacidade – para serem interpre‑tadas por determinações históricas que se apresentam como imutáveis, naturalizadas." (ORLANDI, 1984,)

Dessa forma, os discursos sedimentam ‑se na so‑ciedade de maneira que à medida que forem sen‑do repetidos e passados de geração para geração, os preconceitos e discriminações também o são. Os meios de comunicação são em si formadores de dis‑cursos e opiniões, portanto o que por eles são ditos, podem ser classificados por muitos como ‘verdade’. Assim, se este discurso for conservador e discrimi‑nante, reforçando os estereótipos já conhecidos, com certeza fará com que o imaginário popular mantenha aquelas mesmas ideias sem que sejam confrontadas.

LGBTs e MídiaNa animação Homo Erectus (2009), feita por Rodri‑

go Burdman baseada em um conto de Marcelino Freire, o diretor deixa claro que a homossexualidade sempre existiu. Apresentando o tema de forma lúdica e irôni‑ca ao mesmo tempo, Homo Erectus, abre a seguinte discussão: se a homossexualidade é tão antiga quan‑to à existência do homem, se algumas pessoas tinham relações afetivas com pessoas do mesmo sexo, o que outras tem a ver com isso? Por que será que as relações sexuais interferem sobremaneira nas relações interpes‑soais? Ou, como perguntaria pertinentemente Jurandir Freire Costa, em A Ética e o Espelho da Cultura:

"Que direito temos nós, sociedade, grupos ou indi‑víduos, de obrigar quem quer que seja a ser sociomo‑ralmente identificado em sua aparência pública por suas preferências eróticas?" (COSTA, 1994, p.173)

DEBATES

Stam Lagos*

MEMÓRIA LGBT | 37 MEMÓRIA LGBT | 37

Ao longo dos anos a religião, a família e a mídia (os chamados agentes de socialização), foram estigmati‑zando a concepção de homossexualidade principalmen‑te após a chegada do cristianismo. Enquanto na Anti‑guidade Clássica, as relações homoeróticas (masculinas e diga ‑se de passagem, ‘pederastas’) eram recebidas com certa tolerância, na Idade Média, Moderna e ainda na Contemporânea, a homossexualidade estaria ligada a um pecado abominável, ao crime, sem ‑vergonhice, à doença, a desvios de comportamento entre outras aber‑rações. No entanto mesmo com o preconceito sempre legitimado pelas instituições sociais, os homossexuais lutaram por seus direitos como cidadãos:

"As influências da revolução sexual do fim da década de 1960 e o movimento gay internacional ofereciam formas diferentes de pensar sobre os papéis sexuais e de posicionar ‑se perante os modelos hegemônicos, e ajudaram as pessoas a agir com mais abertura em relação à sua sexualidade." (GREEN, 2000, p. 424)

Dessa forma, o movimento LGBT foi ganhando espaço jurídico e visibilidade midiática. A chamada imprensa gay, com publicações como o jornal Lam‑pião de Esquina, voltado para o “gueto” foi funda‑mental nesse processo.

"O movimento de gays, lésbicas e travestis surgiu em 1978 no meio da abertura política e da oposi‑ção à ditadura militar. A publicação do jornal mensal Lampião da Esquina voltado aos homossexuais, e as influências de movimentos políticos e sociais nacionais e o movimento gay ‑lésbicas internacional inspiraram a formação em São Paulo do Grupo So‑mos: Grupo de Afirmação Homossexual – a primeira organização política dos gays e lésbicas duradoura e bem ‑sucedida no país." (GREEN, 2000, p.1)

A televisão também foi um dos meios mais in‑fluentes para que houvesse essa ‘abertura’ da vi‑sibilidade dos LGBTs. Com a redemocratização do Brasil, a mídia televisiva passou a mostrar indiví‑duos que antes eram ignorados:

"De repente, o nu apareceu na televisão brasileira. Nos filmes, seriados e telenovelas, (...) práticas se‑

xuais minoritárias, como o homoerotismo, o sadoma‑soquismo e o incesto deixaram o espaço do segredo e ganharam o da exibição." (COSTA, 1994, p.107)

Mas, é importante lembrar que apesar de ganha‑rem espaço na mídia, os LGBTs, na maioria das vezes, apareciam como indivíduos que iam de encontro às normas sociais vigentes. Isso ainda pode ser visto em diversos personagens de telenovelas, por exemplo. Eles normalmente eram, e ainda continuam sendo, taxados como seres suspeitos, afetados e de pouca confiança por causa de uma ideologia discriminatória baseada no machismo e no patriarcalismo em nossa sociedade. Podemos evidenciar isso em notícias do jornalismo policial, por exemplo.

No Brasil, o gênero jornalismo policial (caracteri‑zado, muitas vezes, pelo sensacionalismo, visão de‑turpada dos fatos e conservadorismo), começou a ser bastante focado a partir da década de 70. Com a massificação da televisão já na década de 80, o jornalismo policial foi sendo levado às “telinhas” e tem pelo menos um programa reservado para si em cada emissora do país nos dias atuais. Apenas na Rede Bandeirantes e em sua afiliada pernambuca‑na, a TV Tribuna, estão no ar quatro programas ex‑clusivamente policialescos: Polícia 24 horas, Brasil Urgente, Brasil Urgente PE e Ronda Geral.

Análise do Discurso do Programa Ronda GeralCom base na fundamentação teórica a qual to‑

mamos referência desenvolvemos uma análise crítica do programa jornalístico do gênero policial Ronda Geral, à época apresentado pelo jornalista Eduardo Moura e exibido de segunda a sexta ‑feira no horário das 12:20 às 13:30 pela TV Tribuna, afi‑liada local da Rede Bandeirantes. Para tal análise, utilizamos de gravações do programa referentes ao período de 15 de março de 2012 a 15 de maio de 2012, separando as que os LGBTs foram noti‑ciados. Isso resultou num total de nove vídeos, que revela o tipo de jornalismo homotransfóbico ainda presente no Brasil.

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Título Data de veiculação Resumo

Reportagem 1

Polícia divulga resulta‑do das investigações de homem morto por homofobia.

14 de março de 2012

A Polícia apresentou a conclusão do inquérito da causa morte de um rapaz homossexual. De acordo com as investigações o homem foi morto por dois suspeitos motivados por homofobia.

Reportagem 2Casal é preso suspeito de tráfico.

20 de março de 2012

Uma travesti e seu companheiro foram detidos acu‑sados de portarem 100 pedras de crack. O relacio‑namento do casal durara 26 anos, fato ridicularizado pela reportagem

Reportagem 3

Dois homens presos e um adolescente apreendido suspeitos de tráfico.

23 de março de 2012

Suspeitos foram detidos portando papelotes de ma‑conha e crack. Um dos homens que é pai de santo, usava um tipo de calcinha à época da apreensão. Além disso mantinha relações sexuais com o adoles‑cente de 17 anos que também fora apreendido.

Reportagem 4Dupla é presa suspeita de tráfico de drogas.

05 de abril de 2012

Uma travesti e um garoto de programa foram detidos pela polícia portando pedras de crack. Durante a veiculação da matéria, o travesti chora negando o crime e acusando os policiais de preconceito e de terem forjado a apreensão. No dia seguinte à essa reportagem a dupla foi liberada, apesar da prévia ‘condenação’ do programa.

Reportagem 5Homossexual é encon‑trado morto no interior do estado.

10 de abril de 2012Designer gráfico foi encontrado morto com quatro tiros na cabeça em Agrestina, no Sertão.

Reportagem 6Homem preso em Paulista acusado de apropriação indébita.

17 de abril de 2012

Um homossexual foi preso suspeito de se apropriar de objetos que não eram seus. Além disso, o suspeito é acusado de ter ajudado um adolescente colocando‑‑o em sua casa. A reportagem dá ênfase a essa segunda suspeita, chamando o caso de aliciamento de menor e dando dúvidas quanto a relação entre o adolescente e o suspeito.

Reportagem 7Comerciante assassina‑do dentro de um bar em Paulista

19 de abril de 2012Um homem foi morto com várias facadas em Maran‑guape I, Paulista. A suspeita é de que o comerciante teria tido uma discussão com o parceiro.

Reportagem 8Duas travestis presas acusados de furto

11 de maio de 2012Dupla é detida acusada de furto no centro de Petro‑lina.

Reportagem 9

Estudante presta queixa contra homem acusando ‑o de homo‑fobia

11 de maio de 2012

Um estudante prestou queixa acusando um homem de homofobia. Segundo ele, o suspeito entrou no ônibus e o agrediu pela sua preferência sexual. O suspeito não foi localizado.

DEBATESDEBATESDEBATES

MEMÓRIA LGBT | 39 MEMÓRIA LGBT | 39

Baseando ‑se na recorrência de discursos precon‑ceituosos encontrados nos vídeos, que reforçam a ideologia discriminatória contra lésbicas, gays, bisse‑xuais e trans*, categorizamos alguns trechos:

Ridicularização quanto às roupas dos sujeitos em questão

A reportagem 3 mostra um pai de santo, seu amigo e um adolescente apreendidos, acusados de tráfico de drogas. O pai de santo, que é homosse‑xual, trajava uma calcinha durante a detenção e foi completamente ridicularizado por sua vestimenta durante a matéria.

“[...] O pai de santo não tava nem de calcinha, ele tava de tanga![...]” diz o apresentador do programa na chamada da matéria.

“[...] e deixa a tanga voar, ôôô [...]” canta o apre‑sentador antes da veiculação da reportagem. Baru‑lhos de risadas e piadas pouco audíveis se ouvem antes da matéria ir ao ar.

“ [...] Sempre usa calcinha, nada de cueca? [...]” pergunta o repórter ao suspeito do crime.

“[...] É verdade que o Jurandir tava só de calci‑nha quando foi preso?[...]” pergunta o repórter ao policial.

Questiona ‑se aqui a relevância dessa última per‑gunta feita pelo repórter. Qual a importância desse tipo de questionamento para a reportagem e para o telespectador do programa senão o de ridiculari‑zar? A satirização e a exacerbação do voyeurismo trazem o cômico à tona com o intuito de menos‑prezar o sujeito LGBT.

Naturalização da homotransfobiaApós uma fala anti ‑homofóbica da travesti que ha‑

via sido presa sob suspeita de tráfico de drogas, na reportagem 4, o apresentador reage:

“[...] Ele tá emocionado, mas ele falou daquilo que a gente já sabe: dos abusos que os travestis sofrem do meio da rua. Ele tá com medo de sofrer dentro do presídio [...]”

Aqui encontramos a naturalização do discurso da homofobia e da transfobia. O apresentador trata como normal os abusos sofridos pelos LGBTs nas ruas e nos presídios, sem fazer maiores questiona‑mentos sobre esse tipo de violência gerada pelo dis‑curso de ódio.

Ridicularização de relacionamentos homoafetivos

Durante toda a reportagem 2, há comentários sar‑cásticos, sons de fundo e jargões que ridicularizam a relação amorosa do casal.

“Agora uma coisa eles fizeram questão de não ne‑gar: o amor (sons irônicos ao fundo). Um homem e um travesti: um amor de 26 anos” diz o apresentador antes da reportagem.

Importante ressaltar neste caso como há elementos do machismo nessa transposição da fala do apresen‑tador. Mesmo com toda a ironia utilizada, provavel‑mente pela figura da travesti, ele parece reforçar o sentido de que um casal sempre tem que ter uma figura feminina e uma masculina, ou seja, dentro do padrão da chamada ‘heteronormatividade’. Peter Fry e Edward MacRae já comentavam sobre como o Bra‑sil enxerga relacionamentos afetivos dessa forma:

Podemos dizer que a concepção popular brasileira da sexualidade fala mais de “masculinidade” e “feminili‑dade”, de “atividade” e de “passividade”, de “quem está por cima” e de “quem está por baixo” do que so‑bre a heterossexualidade e a homossexualidade, que são aspectos que entram sorrateiramente no esquema, por assim dizer. Se este esquema desse importância à homossexualidade propriamente dita, então o homem que “transasse” com a bicha (sic) certamente teria que ser chamado de “homossexual” ou algo parecido. Nem sempre isto acontece. (FRY, 1991, p.50)

Criminalização de sujeitos LGBTsApós a veiculação da reportagem 5, que discorre

sobre a morte de um homossexual no interior do es‑tado o apresentador do programa comenta:

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“Foi execução. O motivo, aí só sabendo. Geral‑mente execução é o quê? Pode ser crime passional? Muito raramente. Mas divida de droga? Muito fre‑quentemente.”

Ele antecipa o desfecho do caso que ainda não foi solucionado pela polícia e criminaliza o sujeito.

Comentários sarcásticos / trejeitos irônicos sobre codinomes trans*

Nas reportagens 2 e 8, percebemos ênfase irôni‑ca quando o apresentador ou o repórter citara os codinomes dos trans*, atenuando e desmerecendo a identidade daqueles indivíduos que assim se re‑conhecem.

“Conhecido como Alicia Perfect (ênfase)” diz o re‑pórter quando apresenta a suspeita na reportagem 2.

ConclusãoÉ sabido que os meios de comunicação funcionam com dupla lógica: a lógica econômica, cujo

objetivo é fabricar um produto; e uma lógica simbólica, cuja função é participar da construção social da realidade e consequentemente da opinião pública. Mesmo com essa amibiguidade, os meios de comunicação devem manter sua postura diante da democracia e dos direitos humanos, atentando sempre para seu compromisso com a sociedade. Pois, entendendo que a concretização da violência, exclusão e opressão das minorias sociais se dá pelo discurso, o incentivo ao ódio e à intolerância deve ser rejeitado à medida que as vozes destes grupos não sejam silenciadas.

DEBATES

“E Alexia Nicole (ênfase) pagou fiança...” diz o apresentador do programa dando o desfecho do caso da reportagem 8.

Culpabilização dos homossexuais nos casos de homofobia

Na reportagem 9, um estudante acusa um homem de homofobia após este agredi ‑lo em um ônibus da Região Metropolitana do Recife. Ao que segue a sa‑batina de perguntas, o repórter pergunta:

“Você provocou essa situação de alguma forma?” pergunta o repórter.

Percebemos aqui não só um discurso de homofobia mas também de machismo: a culpabilização da víti‑ma de alguma forma, simplesmente pela sua condi‑ção sexual ou de gênero.

*Estudante do 7o período de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo da UFPE

REFERÊNCIASCOSTA, B.C. Estética da Violência: Jornalismo e Produção de Senti‑dos. 1a edição. São Paulo: FAPESP, 2002. 187 p. COSTA, J.F. A Ética e o Espelho da Cultura. 3a edição. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. 180p.FRY, P; MACRAE, E. O que é homossexualidade?. 1a edição. São Paulo: Editora Brasiliense, 1991. 125 p. Coleção Primeiros Passos.GREEN, J.N. Mais amor e mais tesão: a construção de um movimen‑to brasileiro de gays, lésbicas e travestis. – São Paulo, 2000. 25 p.ORLANDI, E.P. Análise do Discurso: princípios e procedimentos. 8a edição. Campinas, SP: Pontes, 2009. 100 p.

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DEBATES

O que você pensa quando alguém fala sobre assexualidade?

Muita gente acha que se uma pessoa se declara assexual (notem: assexual e não assexuada) ela está querendo aparecer ou mesmo só o faz por não ter tido uma boa experiência sexual. Isso não é verdade. Muitas pessoas que hoje se identificam como as‑sexuais tiveram vidas sexuais plenas, mas simplesmente não gostavam da ideia de fazer sexo. Muitas pessoas acham também que assexualidade é uma total ausência de sexualidade. En‑quanto é verdade que muitas vezes é esse o caso mesmo, ela tem seus espectros que podem chegar a envolver sexualidade sob algum aspecto.

Percebam que assexualidade nada tem a ver com traumas, ex‑periências ruins, votos de castidade ou mesmo com ideias de "moral" e "ética". É uma orientação, no caso, não ‑sexual.

E nada impede que essas pessoas assexuais tenham relacionamentos românticos. Existem inúmeros relacio‑namentos apenas românticos/afetivos entre pessoas assexuais e mesmo entre pessoas assexuais e sexuais. E essas pessoas podem se relacionar com homens, mu‑lheres, pessoas de gênero neutro... Não são necessaria‑mente relacionamentos hetero ou cisnormativos.

Dentro da assexualidade existem alguns espectros que aparecem mais costumeiramente. São eles: asse‑xualidade "plena", assexualidade cinzenta ou gray ‑a, demissexualidade e arromantismo (e seus espectros). O último, em especial, não é limitado aos assexuais, mas falaremos mais sobre ele em seguida.

Sobre a assexualidade plena:

É a assexualidade mais po‑pularmente conhecida. Não há envolvimento sexual com ninguém de forma alguma. Pessoas com essa forma de assexualidade, quando não são arromânticas, se relacio‑nam com pessoas normal‑mente, com relacionamentos voltados apenas pro lado emocional. Lembrando que esses relacionamentos, assim

como quaisquer outros aqui citados, podem ser com pessoas de qualquer gênero.

Assexualidade cinzenta ou gray ‑a:É quando existe uma flutuação entre a assexuali‑

dade e a sexualidade. Mas essa flutuação não é sim‑plesmente como ter um dia que a pessoa não quer sexo e portanto ela se define assexual naquele dia. Essa identidade é mais longa. A maioria das pessoas gray ‑a's são assexuais na maior parte do tempo, mas

... assexualidade nada tem a ver com traumas,

experiências ruins, votos de castidade ou mesmo com ideias de "moral" e "ética". é uma orientação, no caso, não ‑sexual."

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sentem atração ou vontade sexual em momentos es‑pecíficos e com pessoas específicas. Não é necessário ter envolvimento amoroso com a pessoa pra isso.

Demissexualidade:Assim como o gray ‑a, há uma flutuação entre a asse‑

xualidade e a sexualidade. Entretanto, essa flutuação é ainda mais limitada. A pessoa demissexual só sen‑te alguma atração ou vontade sexual em momentos específicos, com pessoas específicas e que, além disso tudo, tenham muita intimidade e envolvimento amoroso. Ou seja: é necessário ter uma con‑fiança forte pela pessoa, além de um sentimento intenso, para que o desejo seja despertado.

Arromantismo:É quando não existe um interesse em se relacio‑

nar romanticamente com alguém. Muitos assexuais se identificam como arromânticos mas não é algo exclusivamente de pessoas assexuais. Existem pes‑soas sexuais arromânticas que tem relacionamen‑tos voltados apenas pro sexo. Alguns poucos arro‑mânticos tentam manter um relacionamento afetivo (que envolve só carinho e abraços) com algumas pessoas, mas não é algo muito comum, assim como os arromânticos que até se interessam por relacio‑namentos mas só não gostam de romantismo. São casos específicos que ainda não existem muitas in‑formações precisas. Há de se notar que existem as

classificações "demirromantismo" e "romantismo cinzento" também. No caso do romantismo cinzen‑to, é quem, em situações muito específicas, sente atração romântica por alguém, mas na maior parte do tempo é arromântico.

No demirromantismo é ainda mais limitado, sendo que se sente atração romântica por alguém em situa‑ções específicas também, mas esse alguém precisa ser uma pessoa muito íntima e querida pela pessoa.

Muitas pessoas dentro de qualquer uma das classificações citadas se descobrem em algum espectro de assexualidade ou ar‑romantismo depois que já estão em um relacionamento. Essas pessoas muitas vezes se veem obrigadas a permanecer no re‑

lacionamento porque ficam com receio de magoar a pessoa com quem estão envolvidas. Em outros casos podem ser forçadas também, através de chantagens e agressões, a permanecer em relacionamentos abusivos.

A falta de conscientização sobre o tema ainda faz com que sejam muito atacadas. E muitas vezes pes‑soas de outras sexualidades também marginaliza‑das é que excluem ou trivializam a experiência das pessoas assexuais.

Esse artigo foi escrito a partir de experiências pessoais e entrevistas com pessoas assexuais e arromânticas do Fórum Assexual (http://www.forumassexual.org/)

AssexuAlidAdesRita Elizabeth Criscoullo Fernandez

Muitos assexuais se identificam como arromânticos mas não é algo exclusivamente de pessoas assexuais.."

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DEBATES

A História da homofobia e os Direitos HumanosDeisy Christine Boscaratto*

A homofobia na história A palavra homofobia surgiu, primei‑

ramente, nos Estados Unidos em 1970, vinte anos após seu surgimento, foi espa‑lhada mundialmente, em 1990. O surgi‑mento tardio da palavra, que caracteriza, hoje, tantos atos de violência contra a co‑munidade LGBT, se deve ao fato de que nos tempos primórdios, a homossexuali‑dade era vista como mais uma caracte‑rística do ser humano apenas. Em certas tribos, há dez mil anos antes de Cristo, por exemplo, a penetração homossexual era vista como prática de iniciação de um jovem para a vida adulta. O esperma do tio materno era essencial para que esses jovens, de 12, 13 anos, aproximadamen‑te, ganhassem a força necessária para a transição à vida adulta.1

O passar dos anos e as mudanças nas formas como os homens se relacionavam influenciou, também, na maneira como os homens se relacionavam com a homosse‑xualidade. Na Grécia Antiga, as relações homossexuais eram adaptadas ao contexto de cada cidade ‑estado

1 Informações baseadas em pesquisas antropólogas presentes no livro de Colin Spencer: Homossexualidade – uma história em 1999, publicado, no Brasil, pela editora Record.

(adaptadas, não excluídas). Nas duas principais cidades ‑estado, Atenas e Esparta, a homossexualida‑de era tratada de maneiras bem diferentes. Em Atenas, por exemplo, a relação homossexual entre homens de idades iguais era condenada, pois esta implicaria em uma passividade de um dos envolvidos, o que os tor‑

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A História da homofobia e os Direitos Humanos

naria equivalentes às mulheres, que não faziam parte dos cidadãos atenienses. Todavia, uma relação homos‑sexual entre um homem mais velho e um mais jovem era bem quista, se tratava de uma relação de amizade e educação entre os envolvidos. O mais velho passaria a ser o amigo e o educador do mais novo. Já em Es‑

parta, cidade ‑estado voltada para a guerra, a relação homossexual era estimulada entre os membros das tropas como forma de for‑talecimentos dos soldados.

Segundo William Naphy, autor do livro “Born to be gay: história da homossexua‑lidade”, com o surgimento do cristianis‑mo, há uma mudança de percepção da homossexualidade. Apesar do tardio nas‑cimento da palavra que caracteriza o pre‑conceito, já no século III depois de Cristo há relatos que cristãos condenavam a homossexualidade e viam a sexualidade apenas como um meio para um fim espe‑cífico, a reprodução. A partir daí, começa‑‑se uma perseguição ao homossexual, a homossexualidade é identificada e vista como doença (“homossexualismo”) até que, dando um salto consideravelmente grande na história, a homofobia é levada ao extremo na Alemanha Hitlerista do sé‑culo XX, caracterizando, certamente, um genocídio contra os homossexuais e um crime contra a humanidade.

Em prol da conservação da raça ariana, a “raça perfeita”, Hitler levou mais de trezentos mil ho‑mossexuais aos campos de concentração e/ou extermínio. Segundo a ideologia nazista, o fato dos homossexuais não poderem procriar, passar seus genes a outros indivíduos, era inaceitável e

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DEBATES

ia de encontro a ideia da perpetuação dos arianos pelo mundo. Aqueles que não eram mortos ou pre‑sos nos campos de concentração, viviam em uma sociedade alemã que os colocava à margem da civilização. De acordo com o grupo Pink Triangle Coalition, houve:

“A supressão de todos os direitos homossexuais pela Alemanha; O fechamento do Instituto de Ciên‑cia Sexual em Berlim e total destruição de suas bi‑bliotecas e arquivos; A proibição e o fechamento de todos os estabelecimentos homossexuais virtuais; A deportação para campos de concentração dos ho‑mens sexuais conhecidos como tais [Pierre Seel é um dos exemplos que conseguiu sobreviver a época, porém estima ‑se a morte de 3000 a 9000 homosse‑xuais homens mortos no nazismo]; Todo ato sexual consciente, abraçar, e até mesmo olhar para outro homem tornou ‑se ilegal. Homossexuais começaram a ser sentenciados a dez anos de servidão penal e trinta anos de prisão.(...)”2

Não foram apenas centros de pesquisa que fo‑ram destruídos ou bibliotecas e arquivos, os sol‑dados hitleristas destruíram toda a comunidade homossexual ao legalizar e legitimar as leis anti‑‑homossexuais. No país, antes da ascensão do Na‑zismo, todos os serviços relacionados ao público homossexual estavam em plena fase de crescimen‑to, tais como: restaurantes, livrarias, organizações sociais como esportes e clubes. Todos esses negó‑cios fizeram com que os homossexuais pudessem socializar ‑se com o ambiente de forma não preju‑dicial e criou estruturas socais que os abrigavam.3 Depois da entrada de Adolf Hitler no poder da Ale‑manha, toda a comunidade LGBT criada até então desmoronou, a homossexualidade foi colocada na ilegalidade.

2 COALITION, Pink Triangle: Cy Pres Allocation. Nova Iorque. 2001. p.103 COALITION, Pink Triangle: Cy Pres Allocation. p 16

Atos homossexuais ilegais (80 países)

África

Argélia, Angola, Botsuana, Burundi, Camarões, Comores, Egito, Eritréia, Etiópia, Gâmbia, Gana, Guiné, Quênia, Lesoto, Libéria, Líbia, Malaui, Mauritânia (pena de morte), Maurício, Marrocos, Moçambique, Namíbia, Nigéria (pena de morte em alguns estados), São Tomé e Príncipe, Senegal, Ilhas Seychelles, Serra Leoa, Somália, Sudão (pena de morte), Suazilândia, Tanzânia, Togo, Tunísia, Uganda, Zâmbia, Zimbabue

Asia

Afeganistão, Bangladesh, Butão, Brunei, Bruma, Índia, Irã (pena de morte), Kuwait, Líbano, Malásia, Maldivas, Omã, Paquistão, Qatar, Arábia Saudita (pena de morte), Cingapura, Sri Lanka, Síria, Turcomenistão, Emirados Árabes Unidos, Uzbequistão, Iêmen (pena de morte), assim como a Faiza de Gaza, na região da Palestina

EuropaRepública Turca do Chipre do Norte (não reconhecida internacionalmente)

América do Norte

Antígua e Barbuda, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Jamaica, São Cristóvão e Nevis, Santa Lúcia, São vicente & Granadinas, Trinidad e Tobago

Oceania

Kiribati, Nauru, Palau, Papua Nova Guiné, Samoa, Ilhas Salomão, Tonga, Tuvalu, assim como as Ilhas Cook, associadas à Nova Zelândia

América do Sul

Guiana

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A Segunda Guerra Mundial, a difusão dos ideais nazi ‑fascistas, a existência de campos de extermínio de fato representou um marco, não só na história mundial, mas também na história dos homosse‑xuais e da própria homofobia. Foi a partir deste ins‑tante que grandes avanços no campo dos Direitos Humanos começaram a ser feitos concretizados na Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948. Todavia, os vários papéis assinados a partir de ’48, como a Convenção de eliminação de todas as for‑mas de descriminação racial em 1969, a Convenção de eliminação de todas as formas de descriminação contra a mulher 1981, a Convenção contra a tortura ou outro tratamento degradante, cruel e desumano de 1987 e, a mais recente, a Convenção dos direi‑tos das crianças em 1990, não impediram nenhum desses tipos de preconceitos, inclusive a homofobia, de chegarem ao século XXI como atores principais de graves crimes contra os indivíduos e, em alguns casos, como principais agentes impulsionadores de leis que, claramente, ferem os Direitos Humanos.

A homofobia no século XXIA homofobia, diferentemente dos regimes fas‑

cista, na Itália, e nazista, na Alemanha, sobreviveu à Segunda Guerra Mundial sem muitas dificulda‑des. A Declaração Universal dos Direitos Huma‑nos pode ser considerada uma ferramenta para impedir que o genocídio generalizado voltasse a acontecer, mas individualmente o preconceito con‑tinuou a ser cultivado.

Raros não foram os casos de violência contra os homossexuais no mundo. No Brasil, por exemplo, nú‑meros levantados pelo Grupo Gay da Baia (GGB)4, em 2008, 190 homossexuais foram assassinados de‑

4 O link do grupo está mencionado em sitiografia. Este é o link de referência no Brasil porque não existem, no país, estatísticas gover‑namentais que mostrem os casos de violências impulsionadas pela homofobia.

vido, somente, sua orientação sexual. Esse número, em comparação com os levantamentos feitos no ano anterior pelo GGB, sofreu um aumento de 55%, per‑mitindo afirmar ‑se que, no país, um homossexual é morto a cada dois dias.

Em geral, no mundo, o contexto em que a homo‑fobia é apresentada não difere muito da situação do Brasil:

Em vista do crescimento da violência homofóbica, não só no Brasil, mas mundialmente, a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2011, condenou ofi‑cialmente a homofobia por violações aos direitos humanos e declarou que os países deveriam agir contra a discriminação, já que os crescentes casos de suicídios derivados deste contexto podem carac‑terizar uma crise de saúde pública. Ainda assim, dos 197 países reconhecidos pela ONU, em 80 deles a homossexualidade é ilegal e possui status indefini‑do em dois deles, Iraque e Djibuti. Nas duas ima‑gens a seguir, dar ‑se ‑á um cenário geral do grau da homofobia no mundo e, ao mesmo tempo, do reconhecimento dos direitos do grupo LGBT:

Em vista da separação dos 80 países por continen‑te, é visível que na África e na Ásia localizam ‑se os países que mais condenam a homossexualidade. Por motivos religiosos ou por motivos de ignorância, o fato é que Mauritânia, Nigéria, Sudão, Irã, Arábia Saudita e Iêmen têm a homofobia assinada, institu‑cionalizada e manifestada pela pena de morte. Mais recentemente, em fevereiro de 2014 a Uganda en‑trou nesta lista de países.

Por fim, o mapa abaixo mostra o panorama mun‑dial em relação à homossexualidade. É importante perceber que é quase nulo o número de país nos quais nos quais os homossexuais são protegidos le‑galmente, ou seja, em todos os países onde a homo‑fobia é penalizada, a violação aos Direitos Humanos é institucionalizada, sem que haja um movimento efetivo para ir de encontro contra tal crime:

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*Deisy Boscaratto: Bacharel em Relações Internacionais pela PUC ‑SP; bacharelanda em Ciências Socias da Universidade de São Paulo (USP) e assistente da Universitas Paulo Freire do Instituto Paulo Freire

BIBLIOGRAFIABRAZDA, Rudolf. Triângulo Rosa: Um homossexual no Campo de Concentração Nazista. São Paulo. Mescla Editorial, 2010.COALITION TRIANGLE, Pink: Proposal for a Cy Pres Allocation for homosexual Victims of Nazis. August 2, 2001SEEL, Pierre; LE BITOUX, Jean. Moi, Pierre Seel, déporté homosexuel. Paris: Éditions Calman ‑Lévy, 1994SPENCER, Colin. Homossexualidade: uma história. Rio de Janeiro: Record, 1999.

SITIOGRAFIAhttp://www.brasilescola.com/psicologia/homofobia.htmhttp://www.revistaladoa.com.br/2007/10/para ‑pensar/historia‑

‑homossexualidade ‑parte ‑ihttp://www.revistaladoa.com.br/2007/10/para ‑pensar/historia‑‑homossexualidade ‑parte ‑2http://www.revistaladoa.com.br/2007/11/para ‑pensar/historia‑‑homossexualidade ‑parte ‑3http://cadernosociologia.blogspot.com.br/2008/09/homossexualidade ‑na ‑grcia ‑antiga.htmlhttp://www.ggb.org.br/assassinatosHomossexuaisBrasil_2008_pres‑sRelease.htmlhttp://www.cartacapital.com.br/sociedade/um ‑panorama ‑da‑‑violencia ‑homofobica ‑no ‑brasil/http://www.onu.org.br/onu ‑condena ‑homofobia ‑e ‑diz ‑que ‑paises‑‑devem ‑agir ‑contra ‑discriminacao/http://tecnoartenews.com/noticias/infografico ‑o ‑retrato ‑da‑‑homofobia ‑no ‑mundo/http://www.viomundo.com.br/voce ‑escreve/o ‑mapa ‑da ‑homofobia‑‑no ‑mundo.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/pdf/cj037967.pdf

DEBATES

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O que é?

A Rede LGBT de Memória e Museologia Social comemorou no último dia 22 de novembro um ano de ações e atividades em prol da memória da comunidade LGBT. Criada em 2013 durante o V Fórum Nacional de Museus na cidade de Pe‑trópolis – RJ, a iniciativa tem como objetivo ma‑pear, identificar, registrar, salvaguardar, fomentar, promover, comunicas a memória e a história da comunidade LGBT.

Principais Ações:

2013

Boletim da Rede LGBT de Memória e Museologia Social ‑ Com duas edições independentes, passou a compor a Revista Memória LGBT desde sua pri‑meira edição.

Semana do babado ‑ Realizada em parceria com o Museu das Bandeiras na Cidade de Goiás ‑ GO

Participação em Eventos ‑ Participação no Encon‑tro Nacional dos Estudandes de Museologia, na Cidade de Cachoeira ‑ BA. Participação do III MusCon ‑ Museologia e Con‑temporaneidade, realizado em Recife ‑ PE; Partici‑pação II Festival Anual de Múltiplas Sexualidades da UFRB, em Cachoeira ‑ BA.

Criação de uma equipe nacional de trabalho: Com representação de todas as regiões do Brasil. Hoje a Rede LGBT de Memória e Museologia Social possui 52 membros.

2014

Estímulo para a criação de redes LGBTs estaduais de Memória e Museologia Social ‑ Para 2014 a propos‑ta é estimular a criação de redes LGBTs em todo os estados do Brasil. Entre em contato conosco.

Carta de Fundação da Rede LGBT de Memória e Museologia Social

A Rede LGBT de Memória e Museologia Social nasce no 5o Fórum Nacional de Museus em Petrópolis – RJ, 22 de novembro de 2012, em busca de reconheci‑mento e da salvaguarda da memória e luta da comu‑nidade LGBT.Com representações regionais e estaduais, o co‑letivo reporta ao ponto de memória LGBT como central nacional. A rede possui como intuiti a gera‑ção de políticas, programas, encontros, espaço no Fórum Nacional de Museus e inclusão da Temática e práticas LGBT nos museus brasileiros.Nós da Rde Nacional LGBT de Memória e Museo‑logia Social estamos em busca de:

1. Um programa específico dentro do IBRAM en‑fatizando as políticas públicas voltadas para as ações museológicas de gênero – políticas de estí‑mulo – como editais/premiações;2. Espaços, principalmente nos museus tradicio‑nais, para a exploração de acervos já existentes nos musus brasileiros, propondo um trabalho vol‑tado para a perspectiva de gênero;3. Problematização no interior dos musesus a par‑tir da perspectiva LGBT, tendo em vista que, em sua maior parte, os museus trabalham a questão de gênero pelo ponto da heteronormatividade; 4. Que os pontos de memória, pontos de cultura, instituiçõs culturais, museus comunitários, ecomu‑seus e museus tradicionais se articulem, ao menos uma semana ao ano, para divulgar e enfatizar o movimento LGBT e as questões de gênero nas ins‑tituições brasileiras. Junte ‑se a nós!

Acesse: www.memorialgbt.com/rede‑[email protected]/redememorialgbt

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LANÇAMENTOS

Bruninha Loira Sapeka, militante do movimento crossdressing, blogueira e autora de: “Segredos de uma Crossdresser – Cdzinha”, livro que se tornou re‑ferência no segmento que vem ganhando cada vez mais adeptos pelo mundo: o crossdressing. É um dos livros pioneiros no Brasil sobre o tema se tornando um manual para crossdressers.

Ao explorar o novo modelo de transgênero do século XXI e sob o pseudônimo de Bruninha Loira

Sapeka, tornei ‑me a personalidade mais influen‑te do segmento, sendo requisitada para realizar encontros e eventos artísticos em todo o Brasil. Sou convidada por crossdressers, que se reúnem em casas, apartamentos, chácaras, resorts, em sua maioria pessoas com alto poder aquisitivo, para dar aulas de como se tornar uma crossdresser de sucesso (bate ‑papo, dicas de produção, maquia‑gem & roupas, criação de rede social, comporta‑mento e muito mais). Nascendo assim a fabrica de crossdresser que hoje é um estúdio que viaja o Brasil prestando assessoria às crossdressers;

São médicos, empresários, magnatas, professores, advogados, enfim, homens com fetiche, admiração, desejo, atração pelo universo feminino e se vestem como tal, sem que isso afete necessariamente sua orientação sexual (podem ser homossexuais, heteros‑sexuais ou bissexuais). Tais encontros (sem qualquer conotação sexual) são realizados em locais fechados, secretos, com total sigilo dos participantes.

É um novo olhar sobre a sexualidade e o livro de minha autoria expõe esse tema ainda pouco debati‑do nos meios de imprensa. Atualmente, está sendo comercializado em grandes editoras brasileiras, como Saraiva, Siciliano, Perse, Clube de Autores, e em nível mundial, Amazon.

É um livro autobiográfico, com as mais variadas dicas para crossdressers e também com uma pitada de erotismo através de contos eróticos, pois foi uma forma de conscientização do sexo seguro.

Com o auge do sucesso do meu blog na inter‑net, alcancei público notável também em Portugal,

“Segredos de uma Crossdresser – Cdzinha”Bruninha Loira Sapeka

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sendo sucesso de vendas e, por isso, intensamente questionada quando desembarcaria em terras lu‑sitanas para eventos relacionados ao livro, encon‑tros e/ou palestras.

Editoras/sites do livro :“Segredos de Crossdresser – Cdzinha”

Saraiva: http://www.livrariasaraiva.com.br/ Siciliano: http://www.siciliano.com.br/ Perse: www.perse.com.br Clube de Autores: www.clubedeautores.com.br/ Amazon (para o público internacional)

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LANÇAMENTOS

Dois jovens empreendedores de São Paulo, Paulo Silva e Leandro Bertini, acabam de lançar o Flavor, aplicativo de roteiro de bares, restaurantes, clubes e festas para o público gay. O aplicativo é gratuito e já está disponível para ser baixado nas versões para Iphone e Android.

A versão de lançamento traz roteiros de quatro cidades em três países: São Paulo e Rio de Janeiro,

Novo aplicativo, Flavor, traça roteiro de festas, clubes, bares e restaurantes mais disputados pelo público gay

Jovens empreendedores lançam app com roteiros de São Paulo, Rio de Janeiro, Nova York e Londres, em português e inglês. Com atualização dinâmica e serviço de GPS que funciona offline, Flavor apresentará roteiros de 50 cidades em 25 países em um ano

no Brasil, Nova York, nos Estados Unidos e Londres, na Inglaterra. As cidades estão dividas em catego‑rias que agregam dos mais tradicionais e renoma‑dos aos lugares mais alternativos escolhidos pelo publico GLS, envolvendo centenas de opções.

O aplicativo traz uma breve descrição dos espa‑ços, endereços e horários de funcionamento, em português e inglês. Em cada uma das listas, o apli‑cativo indica ao usuário os principais destaques. O Flavor é o aplicativo mais completo para o público, segundo os seus criadores. “Ao contrário dos de‑mais, é atualizado diariamente e ainda possui um recurso para ser utilizado em modo offline, para atender às pessoas que viajam, sem ter que usar os seus serviços de roaming para acessá ‑lo”, ex‑plica Silva.

Além disso, o app dispõe de um sistema de locali‑zação que mostra as opções mais próximas do usuá‑rio e traça rotas até o estabelecimento desejado, a partir do local em que ele se encontra. Este sistema também funciona offline.

A ideia do aplicativo nasceu em uma viagem de Paulo Silva à Europa onde observou muita dificulda‑de de se encontrar bares e clubes direcionados ao público gay pela internet. “A informação é desor‑ganizada e desatualizada. Como acredito que onde há dificuldade, há oportunidade, surgiu a ideia do Flavor”, conta.

O desenvolvimento do projeto, que recebeu re‑cursos dos próprios empreendedores, durou seis meses. O negócio envolve cinco pessoas, incluindo os dois sócios, os promoters que geram os conteú‑

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Novo aplicativo, Flavor, traça roteiro de festas, clubes, bares e restaurantes mais disputados pelo público gay

dos de cada cidade e os responsáveis por tecnolo‑gia e design.

“O Flavor também é inovador como negócio. O público gay é exigente e usa o seu poder aquisitivo para se divertir, viajar, ir a restaurantes e comprar moda. Mas as empresas interessadas nesta clien‑tela têm dificuldades para encontrar um canal de comunicação com este público que seja exclusivo e sofisticado, sem estereótipos, para que possam veicular a sua marca. O nosso aplicativo vem aten‑der a esta demanda do mercado também”, afirma Leandro Bertini.

O mercado de consumo do público GLS é altamen‑te promissor, segundo estudos internacionais. Pesqui‑sa apresentada no World Travel Market aponta que este público poderá gastar mais de US$ 200 bilhões

em viagens durante este ano. O Brasil é o segundo país em que haverá mais gastos destes turistas (US$ 23,5 bilhões), depois dos Estados Unidos (US$ 56,5 bilhões), de acordo com o relatório LGBT 2020.

A LGBT Capital, empresa especializada na admi‑nistração de ativos e consultoria para negócios vol‑tados para o público gay, do grupo internacional Galileo (Londres/Hong Kong), avalia que este mer‑cado tem um poder de compra de US$ 3 trilhões por ano no mundo, sendo que o potencial do mercado brasileiro é de R$ 300 bilhões.

A expectativa dos empreendedores é que o Fla‑vor atinja 50 cidades em 25 países até junho de 2015. A meta é alcançar inicialmente um fatura‑mento entre R$ 4 milhões e R$ 5 milhões nos pró‑ximos três anos.

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LANÇAMENTOS

Os empreendedores

Paulo Silva – 29 anosGraduado e pós ‑graduado em Administração pela

Fundação Getúllio Vargas (FGV).Vivencia internacional, 3 anos nos Estados Unidos,

parte da graduação realizada em Nova York/EUA.8 anos de atuação no mercado financeiro.

Leandro Bertini – 37 anosGraduado em Publicidade e Propaganda pela PUC‑

‑PR e pós ‑ graduado em Administração e Marketing pela FGV e UFPR

Vivencia internacional, 4 anos na Europa (Norte Europeu e Mediterrâneo). Possui cidadanias italiana e brasileira.

14 anos de atuação e destaque no segmento de ali‑mentos (vendas e marketing) com vasta experiência em grandes redes.

Leandro Bertini – 37 anos

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Esse ano, no dia 04/05 na cidade de São Paulo, o orgulho que sentimos não foi apenas de nossas sexualidades. A 18o Parada Gay é, hoje, a maior do mundo (superando São Francisco – EUA), cada ano mais organizada, bem estruturada, valorizada e “barulhenta”. O som do evento alcançou até os ouvidos mais surdos.

A temática “País vencedor é país sem homolesbo‑transfobia”, em uma analogia a polêmica Copa do Mundo que será realizada no Brasil e tendo como foco principal a aprovação da lei de identidade de gêneros, pressionou o plenário que tomou conheci‑mento da força política e social LGBT e, desde então, já tivemos algumas históricas conquistas.

A forte presença de políticos e representantes do governo demonstra o aumento do barulho das rei‑vindicações por direitos iguais, segurança, valoriza‑ção da diversidade sexual e seu patrimônio histórico‑‑cultural, dentre outros, mesmo que, por vezes, faça parte de campanhas políticas, uma vez que estamos às vésperas das eleições.

No mesmo dia, o governador de São Paulo fez um pronunciamento em apoio ao movimento e prometendo ações afirmativas e políticas em prol

ACONTECEU

ACO NTE ‑ ‑CEU

Barbara Freitas

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das reivindicações LGBT como, por exemplo, a ampliação do Museu da Diversidade (vide repor‑tagem da capa). Além disso, o ENEM, que ocorrerá nos dias 08 e 09 de dezembro e é, hoje, a principal prova de acesso às universidades, declarou que @s candidatos transexuais e transgêneros pode‑rão usar seus nomes sociais para evitar possíveis constrangimentos e serem respeitad@s como se reconhecem e são.

Outras questões que chamaram a atenção na Pa‑rada do Orgulho LGBT de 2014 foi a organização de grupos que se uniram em prol de campanhas especi‑ficas como, por exemplo, a campanha “Vista sua ca‑misa com orgulho!”, que buscou chamar a atenção para a homofobia no futebol e o combate a tamanho preconceito e violência.

Apesar disso, problemas são sempre detectados e, além da segurança e o alto número de furtos, comuns em eventos públicos, o grande problema que preju‑dicou a organização da celebração e mobilização foi justamente questões burocráticas e políticas. A APOGLBT, organizadora deste e outros eventos LGBT (www.paradasp.org.br), publicou um manifesto so‑bre os impasses causados pela Prefeitura Municipal de São Paulo, por meio da Coordenadoria de Políticas LGBT que não cumpriram com a parceria prevista e

que fora muito bem sucedida nas outras 17 Paradas Gay. A APOGLBT declarou que fora excluída da or‑ganização e planejamento do evento idealizado por eles. Segundo a associação, o movimento fora pre‑judicado e muitas foram as acusações à prefeitura, seus representantes e à polícia militar e levantaram questionamentos acerca das verdadeiras intenções de tal posicionamento que prejudicaram muito a rea‑lização do evento e sua programação.

Com ou sem problemas, lamentamos o fato de o evento ser anual. Sugiro uma mobilização midiática pela Parada do Orgulho LGBT mensal. Quem está comigo?

Entre os dias 27 e 30 de maio, um importante semi‑nário ocorreu na região centro ‑oeste do Brasil, des‑centralizando os principais eventos que ocorrem na região sudeste do país e chamando a atenção para as regiões de menor visibilidade midiática mostrando que essas possuem importantes movimentos acadê‑micos, patrimônios culturais e históricos LGBT e in‑crível potencial e força para o desenvolvimento de mudanças e transformações sócio ‑políticas.

A Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás ofereceu uma rica programação

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de debates, oficinas, conferências unindo represen‑tantes dos mais distintos segmentos da sociedade brasileira e internacional e que se interessam e/ou trabalham com a temática. Entre os principais nomes estava o professor norte ‑americano George Yúdice, importante nome na construção de políticas culturais na América Latina.

A Revista Memória LGBT se orgulha da grandeza do evento e compartilha o ideal do levantamento de patrimônios culturais e museológicos como ferra‑menta de mudanças sociais.

ACONTECEU

arte, documentários, reportagens e etc. e todos os dias fora realizado um exercício prático em aula e um exercício a ser executado em casa.

A iniciativa é mais uma ferramenta para envolver a sociedade de forma criativa e artística e, ao mesmo tempo, levantando debates acerca da comunidade LGBT, seu patrimônio cultural e material e a proble‑mática homolesbitransfobia.

Além disso, informar e conscientizar aqueles que serão a próxima geração do país e representará o pensamento e senso comum da sociedade, o governo e suas políticas e os profissionais de todas as áreas é uma inteligente estratégia de revolução social, natu‑ralização da homossexualidade e transexualidade e inclusão social dos últimos.

A Revista Memória LGBT aplaude tal interven‑ção sócio ‑cultural e aguarda ansiosamente por

O Centro Cultural da Juventude localizado no Embu das Artes na cidade de São Paulo realizou gratuita‑mente nos dias 20, 21, 22 e 23 de maio uma oficina literária voltada à temática LGBT.

Foram apresentados fundamentos técnicos para o desenvolvimento de obras em estilos lírico (poe‑sia), narrativo (contos e crônicas) e dramático (rotei‑ro para peças de teatro). Durante os encontros, os participantes tiveram contato com algumas obras de

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mais iniciativas do gênero em todo o território nacional.

Entre os dias 26 de abril e 2 maio, São Paulo teve o privilégio de assistir gratuitamente o documentá‑rio do diretor Lufe Steffen sobre a era de ouro da noite gay paulistana nas décadas de 60, 70 e 80.

O filme São Paulo em HI ‑FI resgata todo esse patri‑mônio, a beleza d@s protagonista@s, @s testemu‑nh@s dessa era bem como os problemas, as barbari‑dades da ditadura militar e a devastação da AIDS na década de 1980.

Para ilustrar e rechear os depoimentos, o diretor recorreu a um vasto material de arquivo, que reúne imagens de arquivos pessoais e outras garimpadas nos acervos de jornais e revistas, além de trechos de VHS e até material rodado originalmente em Super ‑8.

Entre os entrevistados, surgem figur@s famos@s como o escritor João Silvério Trevisan e o jornalis‑ta Celso Curi, além de veteran@s estrelas da noite como Gretta Starr e Miss Biá.

Na pesquisa, vieram à tona casas noturnas lendárias como Medieval, Nostro Mondo, Homo Sapiens, Corintho e Village Station Cabaret. Ba‑res também foram lembrados, como os alternati‑vos Val Improviso e Cowboy, e os points lésbicos Moustache e Ferro’s Bar.

A ideia do documentário aconteceu durante a produção do filme A Volta da Pauliceia Desvairada em 2012, o qual retrata o cenário da noite LGBT nos dias atuais.

Para os que compartilham da luta de resgate e va‑lorização da memória e cultura LGBT, esse foi um pra‑to muito bem recheado e emocionante.

Nos dias 16,17 e 18 de maio a Frente LGBT da USP realizou seu 1o Encontro LGBT da USP e teve como tema “Diversidade é o Poder”.

A amplitude do tema foi proposital para que se iniciasse um ciclo de debate e um evento como um

espaço/momento de sociabilidade e integração entre universitári@s LGBT de todo o estado, para levantar as problemáticas, como a opressão no ambiente uni‑versitário e para divulgar e debater os avanços nos estudos acadêmicos que envolvam as LGBT (estudos de trans/homocultura).

Esses coletivos são cada vez mais comuns nos ambientes universitários e partem dos próprios alu‑nos sem qualquer vínculo com a instituição. Ainda assim, o poder político e o alcance de suas iniciati‑vas são cada vez mais relevantes e enriquecedores, tanto academicamente quanto socialmente quando une diversos grupos sociais e buscam promover a cultura LGBT e reivindicar direitos.

Na página da Frente LGBT da USP (facebook.com/FrenteLgbttUsp) você ficará a par dos próxi‑mos eventos e, provavelmente, impressionado com a organização, estrutura e propósitos do coletivo. Esperamos que sirva de exemplo para novas inicia‑tivas do gênero, sejam elas no ambiente acadêmi‑co ou não.

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Nome Social: Entidades educacionais garantem a utilização desse direito a alunos e colaboradores trans

ACONTECEU

O reitor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), Eduardo Antonio Modena, assinou a Portaria no 2.102/2014, que assegura o

uso do nome social, no âmbito da Instituição, aos servidores, estudantes e trabalhadores terceirizados que se identificam como lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros.

O IFSP entende que é papel da Educação reconhe‑cer, valorizar e assegurar a esses indivíduos tanto o respeito à identidade de gênero quanto o seu livre desenvolvimento da personalidade, garantindo ‑lhes acesso à educação, sem qualquer tipo de constran‑gimento e discriminação.

Ao editar a portaria, o IFSP oferece sua contribui‑ção ao Dia Mundial de Combate à Homofobia, come‑morado no dia 17 de maio.

O documento é um compromisso real e prático da Instituição, visando a oferecer mecanismos que po‑nham fim a qualquer tipo de cerceamento aos di‑reitos humanos, independentemente da orientação sexual de cada indivíduo.

Na Universidade Federal de Goiás (UFG) a deci‑são foi aprovada por unanimidade pela Consuni.A intenção é diminuir a discriminação a pessoas tran‑sexuais e travestis, assegurra a servidores (técnico‑‑administrativos e professores), estudantes e usuá‑rios da Universidade Federal de Goiás (UFG), cujo nome de registro civil não reflita a sua identidade de gênero, a possibilidade de uso e de inclusão do seu nome social nos registros oficiais e acadêmicos. Esta é a intenção da resolução aprovada no dia 23 de maio pelo Conselho Universitário, que dá direito a

pessoas travestis e transexuais a utilizar nome social dentro da UFG. A proposta foi aprovada por unanimi‑dade pelos membros do Conselho Universitário.

O pró ‑reitor de graduação da UFG, Luiz Mello, re‑lator do processo no Conselho, explicou que a UFG hoje já possui diversos estudantes que vivem o cons‑trangimento de serem chamados pelo seu nome de registro dentro da universidade, um nome que não condiz com sua imagem pessoal. A resolução visa di‑minuir esse mal ‑estar, dando assim condições para que eles possam finalizar suas graduações com maior chance de sucesso.

Durante a discussão diversos conselheiros se ma‑nifestaram, parabenizando pela iniciativa da UFG e mostrando a necessidade de promover a diversidade e o combate ao preconceito. O reitor Orlando Ama‑ral destacou que este é um momento histórico que sinaliza o respeito que a universidade tem com essas pessoas, mas alertou que ainda há uma longa discus‑são que precisa ser trabalhada na comunidade para diminuir a intolerância e o preconceito.

Funcionamento A resolução garante aos estudantes transexuais e tra‑

vestis o direito de sempre serem chamados oralmente pelo nome social, sem menção ao nome civil, inclusive na frequência de classe e em solenidades como colação de grau, defesa de monografia, dissertação ou tese, en‑trega de certificados e eventos congêneres, entre outras situações da vida acadêmica. Os documentos com efei‑tos externos, como histórico escolar e certificados, no entanto, serão emitidos com o nome do registro civil, já que a resolução é interna à UFG.

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E tem mais novidade: Na edição do ENEM de 2014, travestis e transexuais poderão ser identificados pelo nome social nos dias e locais de realização das provas.

Para isso, o interessado precisava fazer sua solicitação ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) pelo telefone 0800 ‑616161.

O exame também terá novidades na aces‑sibilidade. O hotsite do Enem também se preparou para ampliar o público: a página agora oferece o edital do exa‑me em formato de leitura compatível com o Dosvox, um sistema para de‑ficientes visuais, e um vídeo na língua brasileira de sinais (libras) para os defi‑cientes auditivos. Além disso, todos aqueles que necessitarem de atendimento específico ou especializado devem ficar atentos e fazer o pedido no ato da inscrição.

Nome Social: Entidades educacionais garantem a utilização desse direito a alunos e colaboradores trans

Fontes: Ivan da Conceição ‑ IFSPKharen Stecca ‑ UFG

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ACONTECEU

No dia 05 de maio, estreiou a ter‑ceira temporada da websérie “Po‑sitivos”. A produção independente e sem patrocínio, já ultrapassou a marca de mais de 2 milhões de aces‑sos e virou um fenômeno de reper‑cussão na rede ao tratar de temas referentes ao vírus HIV e a AIDS. A série mostra a vida de personagens soropositivos e as consequências da doença, além combater o preconcei‑to e a discriminação através de cam‑panhas reais inseridas no enredo e com a interação com o público a partir das redes sociais.

A campanha “Adote um Positi‑vo” que propõe a adoção de uma série de atitudes de acolhimento ao portador do vírus HIV foi res‑ponsável por conscientizar milha‑

res de pessoas a respeito do tema, além de incentivar a volta de pa‑cientes ao uso da medicação, ade‑são ao tratamento e a realização do exame que diagnostica o vírus.

A trama da série, que tem uma temática voltada para o público gay e apresenta questões universais em torno da AIDS, explora temas po‑lêmicos nesta nova temporada. O enredo começa a ser destrinchado a partir de um encontro sexual e cada um dos participantes terá sua histó‑ria contada depois da “suruba”.

A terceira fase mostrará a des‑pedida de personagens marcantes da produção, a partir do casamen‑to de Guilherme (Hugo Carvalho) e Bernardo (Pedro Quevedo), que enfrentaram as dificuldades de uma

relação em que um é soropositivo e o outro não. A vida do casal Laila (Diana Werneck) e João (Donni Ro‑drigues), que mostraram as possibi‑lidades de uma gravidez quando um dos parceiros possui o vírus e outros desdobramentos da trama serão fi‑nalizados nesta fase.

A história ainda mostrará como o HIV é visto sob o ponto de vista da religião, das festas bareback que as‑solam as capitais, além de abordar a criminalização do contágio através de “quadrilhas” especializadas e do HIV em mulheres e crianças.

O projeto é produzido sem apoio financeiro e conta com a colabo‑ração da equipe, já que os atores não recebem cachê e os gastos são custeados através de doações. Os episódios têm duração média de 30 min e são exibidos semanalmente. A cantora Lorena Simpson é uma das madrinhas oficiais da série, que conta também com o apoio de Ju‑lie Vasconcelos, ex ‑participante do “The Voice Brasil”.

Escrita por Daniel Sena, com di‑reção de Tainã Freitas, a série tem o apoio da "Arlequim Produções" e da "Cerejeira Produções" que auxiliam na parte técnica.

Positivos 3a TemporadaSérie ultrapassa 2 milhões de acessos e falará sobre surubas, festas barebacks, transexualismo,

mulheres com HIV e adoção de crianças soropositivas na sua terceira temporada

Confira o trailler da 3a temporada em youtube.com/watch?v=zz8ySqMfCpU

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Baixe o Livro

Organizadores: Jean Baptista e Cláudia Feijó

no site daGratuitamente

Práticas Comunitárias e Educativas em Memória e Museologia Social

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ACONTECERÁ

Fique ligado e levante sua bandeira

Barbara Freitas

29/06Nova Iguaçu – RJ10a Parada da Diversidade de Nova IguaçuConcentração: Via Light – 14hRealização: AGANIMInfo: Neno Ferreira (21) 7708 ‑1020, Eugênio Ibiapino (21) 98630 ‑0431

20/07Armação de Búzios – RJ1a Parada do Orgulho LGBT de Armação de Búzios – 14hLocal: Campo da SebRealização Grupo Freedom BúziosInfo: Hector Fly (22) 99955 ‑0252

20/07Candeias – BA6a Parada LGBT de Candeias – BAConcentração: Praça Irmã Dulce, próx. à Rodoviária – 14 hOrganização: Grupo Gay de Candeias Somos Assim e DaíInfo: Richard (71) 9258 ‑3099

27/07Dias d'Ávila – BA9a Parada Gay de Dias d'Ávila – Tema: País Humano se constrói sem homofobiaLocal: Rio Imbassay, 14hRealização: Grupo Gay de Dias d'Ávila e Liberos AvanteOrganização: Rony Gomes e Israylla DrumondInfo:(71) 8265 ‑0534, (71) 9247 ‑8547

03/08Gama – DF1a Parada do Orgulho LGBTS de Gama ‑ 15h Local: Estacionamento Estádio BezerrãoInfo: Baby de Brasilia (61) 9605 ‑9705 [email protected] – Grupo Amizade LGBTS ‑DF

10/08Belo Horizonte – MG17a Parada do Orgulho LGBT de BHfacebook.com/events/1483034271915474

16/08Juiz de Fora – MGParada GayInfo: MGM – (32) 3213 ‑0848

17/08Ananindeua – PA9a Parada da Diversidade Sexual de AnanindeuaRealização: ALESSAInfo: Heloísa Freitas (91) 8087 ‑2405

17/08Betim – MG13a Parada do Orgulho LGBT de BetimConcentração: Praça Márcia Martinelli (SENAI) – 13hOrganização: Movimento Gay de Betim – MGB – Cléber Eduardo

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Fique ligado e levante sua bandeira

17/08Macaé – RJParada LGBT de MacaéConcentração: Praia Campista – 15hRealização: Grupo GDM e MDSInfo: Celicio Aguiar (22) 99979 ‑5101

24/08Alagoinhas – BA8a Parada Homossexual LGBTI e da Diversidade de Alagoinhas – Cidadania e Inclusão para os LGBTI's e Políticas Públicas Eficazes no Combate à Homofobia e Prevenção de DST's AIDSOrganização: Grupo OHGA e AAPHAL Coordenação Geral: Tarcilla Cavalcante. Apoio: Marcos dos Santos.Info: (75) 9999 ‑9730 (71) 9370 ‑7693

24/08Nova Serrana – MG1a Parada LGBT de Nova SerranaIguais nas diferenças Local: Jardins do Lago – 14h

24/08Alagoinhas – BA1a Caminhada da Diversidade Inclusiva de AlagoinhasConcentração: Av. Juracy Magalhães – 15hRealização: Grupo Humanizar ‑se de Alagoinhas – GHACoordenação: Domingos Souza (Doda) Info: (75) 9936 ‑0497, François (75) 8843 ‑0208

24/08Votuporanga – SP1a Parada LGBT "Porque Viver é para Todos"

31/08Conceição do Almeida – BA3a Parada do Orgulho LGBT da Cidade de Conceição do AlmeidaConcentração: Praça Multiuso – 14 hRealização: Associação de Resistência Gay Liberdade Igualdade Almeidense – ARGILA Contatos: Júlio Marthan (75) 8242 ‑5060, Abusada (75) 8124 ‑423

31/08Feira de Santana – BA13a Parada do Orgulho LGBT de Feira de SantanaConcentração: Pça Alim – Av. Getúlio Vargas – 14hRealiz.: GLICH, Coletivo Quitérias e Pref. Feira de SantanaInfo: Tiago (75) 8185 ‑5385, Leo (75) 9203 ‑7657, Fábio (75) 9217 ‑0944

31/08Mata de São João – BAParada Gay de Mata de São João – Tema: Direito à Vida, Direitos IguaisConcentração: Sissi Bar, R. Artur Torres – 14hRealização: Grupo GritteCoord: Bira LopesInfo: (71) 8649 ‑2357, 8779 ‑[email protected]

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ACONTECERÁ

07/09Cabo Frio – RJ10a Parada do Orgulho LGBT de Cabo FrioOrganização: Grupo Iguais Info: (22)2645 ‑2023 / (22)[email protected]

07/09Rio de Janeiro – RJParada LGBT da MaréGrupo Conexão G de Cidadania LGBT Moradoras de FavelasInfo: (21) 3104 ‑2998 Cel: 7782 ‑6728

14/09São Pedro da Aldeia – RJ5a Parada do Orgulho LGBT de São Pedro da AldeiaLocal: Centro de Eventos (Próx. Teatro Municipal)Grupo Aldeia DiversidadeInfo: (22) 99914 ‑9500, (21) 7871 ‑0825 Id 112*[email protected]

14/09Salvador – BA1a Parada Gay da BahiaConcentração: Campo Grande – 11hRealização: Grupo Gay da Bahia – GGBContatos: Marcelo CerqueiraInfo: (71) 3322 ‑2552 e 9989 ‑[email protected]

14/09Monte Alto – SP9a Parada LGBTT de Monte AltoConcentração: 14h30minInfo: (16) 99324 ‑5207, (16) 99327 ‑0480

14/09Magé – RJ5a Parada LGBT de MagéConcentração: Fragoso – Magé – 13hRealização: Grupo Cores de Magé

Info: (21) 98841 ‑0531 / 97605 ‑[email protected]

14/09Jundiaí – SP9a Parada do Orgulho LGBT de Jundiaí – Tema: "BASTA! País vencedor é país sem homotransfobia. Chega de Precon‑ceito! Sigamos com resistência pelo voto com consciência!"Info: Rodrigo Alex (11) 9 ‑9542 ‑1933 / Rose Gouvêa (11) 9 ‑9247 ‑2374www.facebook.com/paradagayjundiai

21/09Camaçari – BA13a Parada do Orgulho LGBT de CamaçariRealização: Grupo Gay de CamaçariInfo: Paulo Paixão (71) 8786 ‑9698 / 8206 ‑4012 / 9967‑‑4002 / 9140 ‑0706 / 4111 ‑[email protected]

28/09Estância – SE4a Parada do Orgulho LGBT de Estância – "SEM MEDO, SEM PRECONCEITO, SÓ RESPEITO"Organização: ASTRAES ‑POR DIREITOS HUMANOS E VISIBILIDADE LGBTInfo: (79) 9911 ‑0594

28/09Castro Alves – BA10a Parada LGBT de Castro AlvesLocal: Estádio – 15hRealização: Grupo Cavaleiros de ShangrilahCoord: Sec. Mun. de Cultura e Valdir Jubiabá Info: (71)8113 ‑5150 / (75)8205 ‑[email protected]

28/09Ilhéus – BA10a Parada LGBT de IlhéusConcentração: Praça da Irene – 13h

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Realização: Grupo Eros e SaphosCoord. e contato: Waltécio (73) 8801 ‑2717 e Diala (73) 8881 ‑4287

28/09Rio de Janeiro – RJParada LGBT do AlemãoRealização: Grupo Conexão G de Cidadania LGBT Moradoras de FavelasInfo: (21) 3104 ‑2998 / 7782 ‑6728

04/10Muriaé – MG5a Parada do Orgulho LGBTOrganização: LGBT de Muriaé (Carlos Henriques)[email protected]

09/11Caxias do Sul – RS14a Parada Livre de Caxias do Sul – RSOrganização: Blitz CaxiasContato Jair (54) 9966 [email protected]

09/11Itabirito – MG2a Parada do Orgulho LGBTl de Itabirito/MGConcentração: Largo Municipal Prof. Alirio Ferreira Vaz, bairro Santo AntônioInfo: (31) 3561 ‑1697, 9354 ‑6714, 8555 ‑[email protected]

09/11Piracicaba – SP8a Parada LGBT de PiracicabaLocal: Pça. S. Vicente de Paula (Centro), próx. Walmart – 13hOrganizaçã: ONG CASVICoord. Geral Anselmo FigueiredoInfo: (19) 3302 ‑5906www.casvi.org

14/11Balneário de Camboriú – SC3a Parada da Diversidade de Balneário de CamboriúRealização: APDBC – Associação Parada da Diversidade de Balneário de CamboriúApoio: Secretaria de Turismo de Balneário de Camboriú

15/11Touros – RN2a Parada Gay de Touros – RN: "Independence Gay"Concentração: Praça Bom Jesus – 15h

16/11Serra – ES7a Parada Gay de Serra – ESLocal: Praia de Jacaraípe – 14hInfo: (27) 3291 ‑2444 / 99630 ‑[email protected]

23/11Limeira – SP5a Parada LGBT de LimeiraRealização: CAD – Centro de Apoio à DiversidadeInfo: Laercio Baraldi (19) [email protected]

30/11Mauá – SPParada de Mauá e III Semana da Diversidade de MauáRealização: ELO LGBT (Expressão Livre do Orgulho LGBT)[email protected] d' [email protected]

Maiores informações em: www.abglt.org.br

A próxima edição da

Terá como tema:

Orgulho Lésbico

No dia 19 de agosto comemora ‑se o dia do orgulho lésbico. Mas a Revista Memória LGBT irá dedicar uma

edição exclusiva a esta comunidade.

Envie sua históriaConte suas memórias

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Envie também depoimentos, contos, relatos, fotos e o que mais quiser

Envie sua contribuição até o dia 25 de Julho

[email protected]