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Adriano Codato, Luiz Domingos Costa e Lucas Massimo (eds.)

Retratos da classe política brasileira:

estudos de ciência política

Novas Edições

Acadêmicas

2015

Sumário

Introdução 1Adriano Codato e Luiz Domingos Costa 1

1. Classificando ocupações prévias à política 19Adriano Codato, Luiz Domingos Costa e Lucas Massimo 19

2. Profissionalização ou popularização da classe política brasileira? 49Luiz Domingos Costa e Adriano Codato 49

3. Os empresários no Senado 79Luiz Domingos Costa, Paulo R. N. Costa e Wellington Nunes 79

4. Sucesso eleitoral nas disputas para a Câmara dos Deputados 110Renato Perissinotto e Bruno Bolognesi 110

5. Dinheiro, profissão e partido nas eleições legislativas 144Emerson U. Cervi, Luiz Domingos Costa, Adriano Codato e Renato Perissinotto 144

6. O recrutamento político e a questão de gênero no Parlamento brasileiro 170Luiz Domingos Costa, Bruno Bolognesi e Adriano Codato 170

7. Onde estão os trabalhadores nos partidos brasileiros? 193Luiz Domingos Costa, Bruno Bolognesi e Adriano Codato 193

8. Quem se elege prefeito no Brasil 208Adriano Codato, Emerson Cervi e Renato Perissinotto 208

9. Determinantes da seleção de candidatos 239Bruno Bolognesi 239

10. As motivações no recrutamento político no Brasil 288Bruno Bolognesi e Pedro Medeiros 288

Sobre os autores 319

1

Introdução

Adriano Codato e Luiz Domingos Costa

Este livro compreende trabalhos publicados separadamente em

periódicos, boletins ou anais de eventos especializados entre 2010 e 2015.

Além de permitir o acesso a um público maior, potencialmente interessado

na formação e transformação da classe política brasileira, a compilação de

um material até então disperso se deve a três razões.

Os trabalhos aqui reunidos guardam entre si uma unidade teórica

básica. Estão filiados à tradição da Sociologia Política, cujo espírito se define

por mobilizar, ao mesmo tempo, variáveis sociais e políticas no estudo dos

processos de reprodução e transformação do campo do poder. Em outros

termos, os autores consideram conjuntamente a dimensão sócio-estrutural e

a dimensão político-institucional que produzem, por exemplo, a liderança

política.

Em segundo lugar, os objetos de investigação são entendidos como

partes de um assunto mais geral inspirado pelo conceito de classe política de

Gaetano Mosca. Essa inspiração não é mera celebração de um autor clássico,

pois agrega todo o debate contemporâneo ao estudo do tema. A classe

política é um conjunto ampliado de atores políticos e não apenas a elite

2

política (termo mais adequado ao topo de uma cadeia política determinada,

como os deputados federais ou os ministros) e permite transcender diferenças

entre grupos sociais ou institucionais e que nem sempre estão atados ao poder

político formal (Borchert 2003, p. 3). Estudar o entorno da elite política tem

sido uma estratégia muito utilizada para entender a própria elite política. Daí

ser adequado pesquisar tanto candidatos (e não apenas os eleitos) como

minorias politicamente interessadas (como mulheres ou trabalhadores).

Por último, Retratos da classe política brasileira integra uma área de

estudos em expansão no Brasil, cuja audiência é crescente entre os

acadêmicos e o público não universitário. Em especial nos últimos quinze

anos, aumentou o volume de trabalhos sobre o assunto na Ciência Política

brasileira1. Na verdade, esse movimento é fruto do próprio crescimento da

disciplina e da percepção de que não basta saber como os operadores do

sistema político agem num dado ambiente institucional, mas também o que

eles pensam (Power & Zucco Jr 2011) e, caso deste livro, quais os perfis

sócio-políticos desses atores.

Incipiente nos anos 1990, esse domínio de estudos é, hoje, uma das

subáreas em consolidação na politologia brasileira. As contribuições

recentes nesse campo já produziram teses celebradas, desencontros de

interpretação e novas oportunidades de pesquisa com base na identificação

de lacunas nas cadeias de exploração científica. Não obstante, como toda

agenda que se expandiu muito rápido, sugiram algumas dificuldades quando

pensamos na conexão entre os problemas postos pela pesquisa local e as

vertentes do debate internacional, nas defasagens entre modelos teóricos e

evidência empíricas (cada vez mais robustas), ou na ausência de

1 Consultar, por exemplo, as coletâneas recentes sobre diversos grupos de elites políticas (Marenco dos

Santos 2013)e (Marenco et al. 2012).

3

conhecimento histórico adequando sobre a evolução da classe política

brasileira.

Há pouco consenso entre especialistas sobre o perfil social dominante

e a carreira política padrão de senadores e deputados federais no Brasil. E

como e por que isso tem se transformado ao longo do tempo.

Quando se confrontam os inúmeros estudos sobre a classe política nos

Estados Unidos, na Grã-Bretanha ou na França, para não mencionar os

esforços comparativos e de longo alcance realizados em diferentes

momentos2, conclui-se que os profissionais da política ainda são, entre nós,

senão um enigma completo a ser decifrado, ao menos um problema em

aberto.

Isso porque a história social da classe política brasileira contraria, à

primeira vista, a tendência observada nas democracias tradicionais. Nessas

últimas, com a universalização dos direitos e o aumento da participação

política, assistiu-se à substituição gradual do político diletante e do notável,

ou seja, aquele indivíduo que se encontrava numa posição superior na

hierarquia social, para o qual a política era uma ocupação secundária e os

cargos no Estado tinham uma função mais honorífica que executiva, pelo

político profissional (Weber 1994; Phélippeau 2001; Cotta & Best 2000). No

caso do Brasil, esse caminho nem foi tão direto, nem tão automático3.

Tome-se, por exemplo, o caso dos membros da Câmara Alta brasileira.

Tendo por referência dois indicadores, a extensão da carreira

política/trajetória partidária e a ocupação profissional prévia à atividade

2 (Aberbach et al. 1981; Suleiman & Mendras 1997; Norris 1997; Best & Cotta 2000).

3 Quando se considera detidamente cada história política nacional essa transição também não foi

unidirecional. Para o caso da França, ver o já clássico estudo de (Charle 2006). Para uma discussão

contemporânea, ver (Kreuzer & Stephan 2003). Mas, de toda forma, houve, efetivamente, uma diminuição

importante, ao longo do tempo, de notáveis no Parlamento. Ver, a propósito, (Bécarud 1973), para a França,

e (Guttsman 1951), para o Reino Unido.

4

parlamentar, estudos disponíveis constataram que, com o passar do tempo,

os senadores tenderam cada vez mais a serem recrutados não na classe

política, mas no mundo dos negócios privados. Esses senadores possuem,

hoje, carreiras menos extensas e menos estruturadas que os representantes

eleitos na I República (1889-1930)4. Ou seja, as instituições democráticas

pós-ditadura não exigiram (ou não produziram) uma profissionalização dos

agentes políticos. Antes, o contrário. No caso dos deputados federais,

Marenco dos Santos revelou que no fim do século XX havia mais outsiders

na Câmara Baixa do que políticos experientes (Marenco dos Santos 1997) e

que essa era a realidade não apenas nos diferentes estados da federação, mas

valia para todos partidos políticos (Marenco dos Santos 2005)5.

Duas explicações diferentes podem ser mobilizadas para o que está

ocorrendo na classe política brasileira: ou o Brasil seria um caso atípico de

curtas, noviciado político, recrutamento lateral); ou os achados dessas

pesquisas refletiriam uma imagem distorcida, produto de categorização

inadequada e mensuração equivocada dos atributos sociais e dos perfis de

carreira dos políticos brasileiros. Em suma, a questão aqui é se a percepção

dessa contradição entre democratização e profissionalização é função da

realidade ou de predisposições erradas dos observadores.

As respostas disponíveis sobre a evolução da classe política no Brasil

estiveram muito circunscritas a momentos políticos específicos, a estudos de

4 (Perissinotto & Costa 2013) analisaram a trajetória dos senadores brasileiros entre 1918 e 1937. Tomando

como parâmetro o intervalo 1918-1930, o tempo de carreira médio variou de 25,5 anos a 30 anos até se

chegar ao Senado Federal. O número médio de cargos até se atingir a posição de senador cresceu de 7,7 em

1918 para 9 em 1930.

5 Em 1990 58% dos deputados federais estavam no primeiro mandato. Em 1994, semente 9,6% dos

representantes possuía uma carreira de mais de 15 anos na política (Marenco dos Santos 1997), em especial

Tabela 1 e Gráfico 1.

5

poucos estados da federação, a eleições individuais ou a intervalos de tempo

reduzidos. Em segundo lugar, há muito mais investigações sobre o

funcionamento institucional da Câmara Federal, a produção legislativa, os

processos de migração partidária, as estratégias eleitorais ou o financiamento

das campanhas do que sobre os processos de recrutamento das elites

políticas. Isso produz consequências importantes, e a menor delas pode ser a

dificuldade em produzir pesquisas comparativas do Brasil com outras

realidades nacionais6.

Em termos muito gerais, as pesquisas sobre elites políticas eletivas no

Brasil (mas não só) podem ser divididas em duas grandes famílias de

abordagens: de um lado, análises com foco nos agentes políticos (via

Sociologia Política); e de outro, análises com foco nas carreiras políticas (via

Ciência Política). Estudos históricos, por sua vez, são basicamente estudos

de elites políticas focados em elites do passado e não análises sobre a

transformação do perfil social e da trajetória política ao longo do tempo7. Há,

evidentemente, estudos pioneiros sobre o assunto, e que dizem respeito ao

XIX e ao início do XX8, mas falta uma sociogênese da profissão política que

integre, numa explicação histórica, diferentes tipos sociais: o coronel, o

bacharel, o notável de aldeia, o diletante, o adventício, o semiprofissional, o

profissional, etc.9

6 Mesmo com o volume de estudos empíricos acumulados nos últimos trinta anos sobre as elites políticas

da Europa Ocidental e do Leste, da América Latina e da América do Norte, Blondel e Müller-Rommel são

céticos em relação às possibilidades dessas pesquisas produzirem uma visão global da natureza e do papel

das elites políticas no mundo contemporâneo. Ver (Blondel & Muller-Rommel 2007, p.819).

7 A única exceção é (Neiva & Izumi 2014)

8 Ver, principalmente, (Carvalho 1996; Barman & Barman 1976; Love & Barickman 1986; Pang &

Seckinger 1972; Flory 1975; Carvalho 1982; Wirth 1982; Levine 1980; Love 1982).

9 Para um desenvolvimento da oposição entre o coronel e o bacharel no estudo sobre a profissão política

no Estado Novo ver (Codato 2008).

6

estuda-se origem de classe dos representantes, tipo e tamanho do patrimônio

herdado ou construído, acesso à educação superior e posse de títulos

escolares, habilidades profissionais, gênero, origem étnica e outros

indicadores de posição social. No caso das análises mais tipicamente dos

cientistas políticos, o foco está nas carreiras. Estuda-se idade de ingresso no

mundo política, número de mandatos antes de chegar a posições superiores

na hierarquia política, quantidade de partidos por que passou, cargos que

dirigiu, estratégias de ambição política e direção da carreira (progressiva,

estática, etc.).

Quando se leem os estudos nacionais concentrados nos perfis dos

agentes políticos, o que se vê é que há basicamente três grandes perguntas

que orientam toda a literatura: 1) está em curso uma popularização

(Rodrigues 2002; Rodrigues 2006; Rodrigues 2014) ou uma

profissionalização da classe política brasileira?10; 2) o perfil social atual da

classe política brasileira estaria de acordo com a tese da convergência (Cotta

& Best 2000), isto é, a maioria convergindo para um perfil padrão como nos

parlamentos da Europa ocidental (homens, brancos, de classe média, de meia

idade, etc.)?; e 3) qual seria o peso específico e a utilidade analítica de se

considerar, nas análises, determinados recursos sociais e marcações de

gênero para impulsionar a carreira política no Brasil?11

10 Essa questão se desdobra em outras duas: caso se aceite a tese da profissionalização, ela seria ainda baixa

e incipiente (Marenco dos Santos 2000; Miguel 2003; Marenco dos Santos 2005; Marenco dos Santos 1997)

ou alta, sendo a classe política nacional formada em sua maioria por parlamentares experientes (Perissinotto

& Bolognesi 2010; Codato et al. 2013; Perissinotto & Miríade 2009)?

11 Para educação superior, ver (Coradini 2010; Unzué 2012; Carvalho 1996); sobre formação profissional,

(Codato et al. 2014; Costa et al. 2014); sobre associativismo (Almeida et al. 2012; Coradini 2011;

Bordignon 2011) e gênero (Araújo 2005; Araújo & Alves 2007; Araújo 2009; Codato et al. 2014).

7

Já quando se consideram as análises sobre carreiras, as questões que

têm organizado o campo de discussões podem ser assim resumidas: 1) a

carreira política no Brasil pode ser analiticamente previsível já que estaria

centrada no indivíduo, em seus recursos pessoais e seria pouco controlada

pelos partidos ou, por outro lado, obedeceria ao cálculo estratégico que

candidatos fariam entre os custos e os benefícios de se lançar ou não numa

nova empresa eleitoral?12; 2) a senioridade e a ocupação de postos e funções

no interior do Legislativo como comissões (Araújo & Silva 2013),

liderança parlamentar (Pereira & Mueller 2003; Soares 2013; Miranda

2010), e o ativismo legislativo (Silva & Araújo 2013; Neiva 2011) é

importante ou não?; e 3) como afinal candidatos são selecionados pelos

partidos políticos?13

Esses debates têm como pano de fundo uma diferença importante a

relação com a democratização das oportunidades de participação e qual a sua

relação com a institucionalização dos aparelhos de representação (partidos

políticos e rotinas parlamentares).

Codato, Costa e Massimo abrem a coletânea com uma discussão sobre

sobre a classe política. Trata-se de um indicador central para estabelecer o

12 Sobre a lógica política subjacente às carreiras dos representantes no Brasil ver em especial (Santos &

Pegurier 2011; Borchert 2009); sobre o personalismo das campanhas e o individualismo dos cálculos, ver

(Samuels 2003; Ames 2002); sobre, enfim, o cálculo estratégico que candidatos sempre fazem entre o custo

de permanecer ou não numa instituição altamente competitiva do ponto de vista eleitoral, mas com pouco

poder decisório como é a Câmara dos Deputados, ver (Pereira & Rennó 2001; Pereira & Rennó 2007;

Pereira & Rennó 2013).

13 Ver (Bolognesi 2013; Braga et al. 2009; Braga & Bolognesi 2013; Braga 2008; Veiga & Perissinotto

2011; Braga & Amaral 2013). Para uma discussão específica se gênero seria um fator preponderante,

(Araújo & Borges 2013).

8

social background dos políticos, mas que, devido ao subjetivismo no seu

emprego, tem dificultado a comparação entre diferentes trabalhos. Por isso,

defendem uma classificação menos descritiva e mais analítica, baseada nas

conexões existentes entre as disposições sociais das ocupações e a atividade

política. Em outros termos, sugerem um retorno à concepção weberiana de

políticos profissionais.

O segundo capítulo faz um apanhado panorâmico dos trabalhos sobre

o perfil dos representantes nacionais, comparando a composição do Senado

e da Câmara dos Deputados desde a Constituinte de 1987-1988. Observando

mais detidamente o caso dos senadores, sumariza parte significativa do

debate brasileiro referente ao recrutamento dos legisladores nacionais para

recolocar uma das questões centrais da área: com a democratização nos anos

1980 e com a conquista da presidência por um partido de esquerda, há uma

popularização ou uma profissionalização da classe política brasileira?

Costa, Costa e Nunes fazem um trabalho sobre os senadores egressos

do mundo dos negócios durante o regime democrático, replicando duas teses

existentes sobre esse tipo social nos estudos sobre a Câmara dos Deputados.

-

direita (Rodrigues, 2002) e se possuem carreiras políticas mais curtas quando

contrastados com as ocupações menos prestigiadas (Marenco dos Santos e

Serna, 2007). As constatações permitem confirmar a primeira assertiva e

propõem revisar a segunda. Os autores concluem haver um elevado

carreirismo político prévio entre os empresários que alcançam uma cadeira

no Senado Federal, tendência que acompanha o incremento do perfil de

carreira dos senadores em geral, representando assim um sintoma de elevada

profissionalização dos políticos no período recente.

Os dois trabalhos seguintes se valem das sugestões de Norris (1997)

ao enfocarem o estudo dos eleitos como parte do universo mais amplo dos

9

candidatos. As duas contribuições exploram, mediante técnicas estatísticas

diferentes e cada qual com distintas ênfases, quais os contrastes mais

decisivos entre os candidatos e os vencedores nas eleições para a Câmara dos

Deputados.

Perissinotto e Bolognesi, olhando as eleições de 1998, 2002 e 2006

demonstram que os filtros mais importantes que operam para selecionar os

candidatos vitoriosos à Câmara dos Deputados se referem à posse de cargos

políticos, especialmente cargos de deputado. Ainda assim, seus achados

apontam que determinadas variáveis societais (como ocupações amplamente

prestigiadas) ou demográficas (como escolaridade) também exercem

influência sobre as chances eleitorais dos postulantes à deputado federal no

Brasil.

No capítulo 5, Cervi, Costa, Codato e Perissinotto também analisam

as diferenças entre pretendentes e eleitos, mas utilizando dados das eleições

de 2010 para a Câmara federal e incorporando a variável financiamento de

campanhas conseguem ampliar as conclusões. O trabalho aponta para a

existência de três fatores decisivos para se entender o sucesso político no

Brasil: sair candidato pelos grandes partidos nacionais (aqueles com 40

cadeiras ou mais na Câmara), possuir já ocupações eletivas (especialmente

como deputados federais) e muito dinheiro para investir na campanha. Essas

são as chaves para se entender o sucesso na luta pela Câmara dos Deputados.

O capítulo 6 enquadra o tema da sub-representação feminina nas

instituições políticas sob o ângulo do recrutamento político. Bolognesi,

Costa e Codato destacam as variáveis ocupacionais e as estratégias

partidárias de composição das listas eleitorais e o seu impacto sobre a

promoção de mulheres à Câmara dos Deputados. Destacam como as

variáveis de carreira política e organização partidária exerceram influência

10

decisiva sobre os resultados obtidos pelas mulheres nas eleições de 2002 e

2006.

No sétimo capítulo, Costa, Bolognesi e Codato se propõem a analisar

a capacidade dos partidos brasileiros de lançarem candidatos e elegerem

trabalhadores à Câmara dos Deputados entre 1998 e 2014. O objeto dos

-

sistema político aos grupos da não elite, tema esse caro à teoria dos partidos

e à teoria democrática. O trabalho constata que as candidaturas working class

brasileira migrou do PT para os partidos pequenos ou fisiológicos. Isso se

deu pari passu ao apogeu do PT na política nacional e à fragmentação do

sistema de partidos vivenciada na última década. Conclui assim que está em

curso uma espécie de aburguesamento da bancada petista, bem como a

diminuição das taxas de sucesso político daquele segmento sócio-

ocupacional nas franjas do sistema partidário.

Em seguida, Codato, Cervi e Perissinotto fazem uma contribuição ao

estudo da classe política em nível municipal ao mensurar os fatores mais

importantes para determinar o êxito eleitoral dos candidatos a prefeito em

todos municípios brasileiros em 2012. Nesse universo, assim como ocorre

com os deputados federais, as variáveis políticas pela ordem: incumbência,

fazer parte de uma coligação, pertencer a um partido com grande

desempenho e a arrecadação financeira são aquelas mais fortemente

associadas ao sucesso político. Além do mais, no agregado nacional, as

variáveis econômicas ou demográficas como patrimônio, ocupação,

escolaridade ou sexo não contribuem para prever o resultado eleitoral dos

postulantes às prefeituras municipais.

O Capítulo 9, de Bolognesi, é inédito e examina as determinantes da

seleção de candidatos a deputado federal nas eleições de 2010 nos principais

partidos brasileiros (PT, PMDB, PSDB e DEM). Sob a chave da

11

institucionalização partidária, o autor oferece um modelo para analisar a

relação entre as diversas dimensões da rotina partidária e os mecanismos de

formação das listas eleitorais. Suas conclusões indicam que a ocorrência de

maior institucionalização partidária permite à organização política maior

autonomia frente às determinantes do sistema eleitoral e do sistema

partidário. Nesse caso, o personalismo não atravessa de modo homogêneo os

partidos analisados e, portanto, a relação entre sistema eleitoral e estratégia

partidária deve ser vista com muito mais ressalvas do que supunham os

brasilianistas nos anos 1990.

Bolognesi e Medeiros, no capítulo 10, trabalharam sobre os aspectos

motivacionais do recrutamento político, tema raramente abordado na

literatura brasileira. A análise da motivação é um passo fundamental para

compreender o processo de formação da classe política, que se encontra na

fronteira entre os socialmente privilegiados e politicamente motivados

(Putnam 1976). Assim, a posse de recursos sociais, tal como abordado nos

capítulos anteriores, não nos diz nada sobre as aspirações dos agentes. Trata-

se, portanto, de valiosa contribuição por preencher uma lacuna importante

do estado da arte. Mediante um survey aplicado a 120 concorrentes a

deputado federal em 2010, Bolognesi e Medeiros indicam que o interesse

por política (em geral) se dá junto à família e ao movimento estudantil, ao

passo que o interesse pela dedicação integral à política se dá nos partidos. O

estudo conclui que é indispensável integrarmos aos estudos de recrutamento

os agentes responsáveis pelo start na carreira dos indivíduos.

Registramos aqui um agradecimento especial aos organizadores das

coletâneas e aos editores dos periódicos que autorizaram republicação dos

nossos trabalhos neste livro: Opinião Pública, da Unicamp, Revista

Brasileira de Ciência Política, do departamento de Ciência Política da UnB,

12

Brazilian Political Science Review, da Associação Brasileira de Ciência

Política, Sociedade e Estado, do departamento de Sociologia da UnB, a

Newsletter do Observatório de Elites Políticas e Sociais do Brasil, os

Cadernos Adenauer da Fundação Konrad Adenauer no Brasil, a revista

Paraná Eleitoral, do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná, e a Revista de

Sociologia e Política, da Universidade Federal do Paraná.

Paris, julho de 2015.

Adriano Codato

Luiz Domingos Costa

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