PODER JUDICIÁRIO FEDERAL TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO
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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO
ACÓRDÃO0000596-16.2013.5.04.0026 RO Fl. 1
JUIZ CONVOCADO ROBERTO ANTONIO CARVALHO ZONTAÓrgão Julgador: 6ª Turma
Recorrente: EMÍLIO CARLOS SALES PEDROSO - Adv. Alexandre Takeo Sato
Recorrente: RBS ZERO HORA EDITORA JORNALÍSTICA S.A. - Adv. Cláudio Dias de Castro
Recorrido: OS MESMOS
Origem: 26ª Vara do Trabalho de Porto AlegreProlator da Sentença: JUIZ GUSTAVO JAQUES
E M E N T A
JORNALISTA. AUMENTO DA JORNADA. ALTERAÇÃO LESIVA DO CONTRATO. AUSÊNCIA DE ACORDO ESCRITO. O artigo 304 da CLT autoriza o aumento da jornada especial do jornalista de 5 (cinco) horas, prevista no artigo 303 da mesma Consolidação, para 7 (sete) horas, "mediante acordo escrito, em que se estipule aumento de ordenado, correspondente ao excesso do tempo de trabalho". A ausência do acordo escrito torna irregular a contratação de jornalista para cumprir carga horária superior à legalmente instituída, de modo que o salário pago remunera somente a jornada de 5 horas diárias. Entendimento contrário implicaria em admitir-se o "salário complessivo", que engloba numa única prestação pecuniária o pagamento de diferentes verbas, o que é vedado pelo ordenamento jurídico. Hipótese em que o reclamante (jornalista) foi admitido pela reclamada para cumprir jornada de 7 horas, sem acordo por escrito estabelecendo a remuneração pelo excesso de tempo de trabalho, em situação irregular. Assim, num segundo momento, quando a reclamada buscou corrigir a irregularidade mediante acordo por escrito, desmembrando o valor do salário do reclamante,
Documento digitalmente assinado, nos termos da Lei 11.419/2006, pelo Exmo. Juiz Convocado Roberto Antônio Carvalho Zonta.
Confira a autenticidade do documento no endereço: w w w .trt4.jus.br. Identificador: E001.5076.1755.1016.
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para atribuir um montante para o salário relativo às 150 horas mensais (5 horas diárias) inferior à quantia até então paga a título de "salário", e outro montante para remunerar a rubrica "Hora Extra Contratual" referente às 2 horas suplementares, configurou-se a redução salarial. A alteração contratual que buscou reduzir a carga horária do reclamante de 7 (sete) horas para 5 (cinco) horas diárias, na realidade, acabou por reduzir o próprio salário, hipótese de alteração lesiva ao contrato, expressamente vedada no artigo 468 da CLT. Diferenças salariais devidas, em razão do princípio da irredutibilidade salarial.
A C Ó R D Ã O
Vistos, relatados e discutidos os autos.
ACORDAM os Magistrados integrantes da 6ª Turma do Tribunal
Regional do Trabalho da 04ª Região: preliminarmente, por unanimidade
REJEITAR A PRELIMINAR DE CONTRADITA DA TESTEMUNHA
arguida pela reclamada. No mérito, por unanimidade, DAR PROVIMENTO
AO RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMANTE para declarar nula a
alteração contratual efetuada a partir de 01/08/2005 e condenar a
reclamada ao pagamento de diferenças salariais pela redução de R$
578,10 do salário do reclamante, observando-se o percentual de reajustes
previstos nas normas coletivas da categoria, até a rescisão, com reflexos
em férias com 1/3, 13º salário, e FGTS com multa de 40%. Por
unanimidade, DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO ORDINÁRIO
DA RECLAMADA para determinar que, na apuração das diferenças
salariais advindas da equiparação salarial, sejam deduzidas as diferenças
salariais decorrentes da recomposição do salário do autor, por conta da
declaração de nulidade da alteração contratual levada a efeito a partir de
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agosto de 2005. Valor da condenação que se eleva para R$ 380.000,00
(trezentos e oitenta mil reais). Custas que se elevam para R$ 7.600,00 (sete
mil e seiscentos reais), parcialmente satisfeitas por ocasião da interposição
do recurso.
Intime-se.
Porto Alegre, 22 de abril de 2015 (quarta-feira).
R E L A T Ó R I O
A sentença de origem deferiu ao reclamante o pagamento de diferenças
salariais por equiparação aos paradigmas com repercussões em 13°
salários, férias com 1/3, adicional por tempo de serviço, horas extras
pagas, adicional noturno pago e FGTS com 40%; horas extras, com
repercussões em repousos semanais remunerados, feriados, férias com
1/3, 13° salários, aviso-prévio e FGTS com 40%; 01 hora extra por dia
efetivamente trabalhado, decorrente da não concessão integral do intervalo
intrajornada mínimo, observados os critérios de cálculo fixados na
fundamentação, com repercussões em repousos semanais remunerados,
feriados, férias com 1/3, 13° salários, aviso-prévio e FGTS com 40%;
PLR/PPR proporcional relativa ao ano de 2013, na razão de 6/12.
Inconformadas, recorrem ordinariamente o reclamante e a reclamada.
O reclamante insurge-se quanto à redução salarial em decorrência da
alteração lesiva do contrato de trabalho, postulando, assim, os reflexos
decorrentes.
A reclamada recorre alegando, preliminarmente, cerceamento de defesa
pelo indeferimento da contradita da testemunha, equiparação salarial, horas
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extras e intervalos intrajornada. Postula que seja considerada a jornada do
reclamante como de 7 horas e por entender não haver horas extras
habituais, que seja afastada a repercussão sobre os repousos semanais
remunerados, feriados, férias com 1/3, 13º salários, aviso prévio e FGTS
com 40%. Pretende a reforma do julgado para que seja declarado válido o
registro de ponto por exceção e, sucessivamente, a aplicação da Súmula nº
85 do TST. Ainda, requer que seja aplicado o entendimento das
Orientações Jurisprudenciais 415 e 394 da SBDI-1 do TST.
Com contrarrazões das partes, os autos são remetidos a este Tribunal para
julgamento.
É o relatório.
V O T O
JUIZ CONVOCADO ROBERTO ANTONIO CARVALHO ZONTA
(RELATOR):
I - PRELIMINARMENTE
1. CONTRADITA DE TESTEMUNHA
A reclamada insurge-se quanto à rejeição da contradita das testemunhas
do reclamante, sob o argumento de elas serem suspeitas, por possuírem
ações trabalhistas contra a recorrente, sendo, conforme seu entendimento,
inaplicável a Súmula 357 do TST.
Examino.
O juízo de origem rejeitou as contraditas formuladas pelo reclamado na
audiência de instrução, em razão de as testemunhas convidadas pelo
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reclamante possuírem ação contra o ora reclamado. Entendo que não torna
suspeita a testemunha o simples fato de estar litigando ou de ter litigado
contra o mesmo empregador.
A Súmula 357 do TST dispõe:
AÇÃO CONTRA A MESMA RECLAMADA. SUSPEIÇÃO
(mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003.
Não torna suspeita a testemunha o simples fato de estar
litigando ou de ter litigado contra o mesmo empregador
A jurisprudência majoritária entende que o fato de a testemunha possuir
ação contra o mesmo reclamado não a torna suspeita, salvo quando restar
caracterizada a ocorrência de troca de favores entre a testemunha e o
reclamante, como no caso de cada um prestar depoimento como
testemunha na ação movida pelo outro.
No caso dos autos, o reclamante não prestou depoimento como testemunha
no processo movido pelas ora testemunhas, restando afastada a hipótese
de troca de favores. Não havendo elementos que comprovem a suspeição
da testemunha, mantenho a decisão do juízo de origem.
Rejeito.
II - MÉRITO
RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMANTE
1. NULIDADE DA ALTERAÇÃO CONTRATUAL LESIVA. REDUÇÃO DA
CARGA HORÁRIA
A sentença indeferiu o pedido do reclamante quanto à declaração de
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nulidade da alteração contratual lesiva correspondente à redução da carga
horária, porquanto foi ajustada pela via coletiva. Ponderou que não houve
prejuízo pecuniário ao reclamante, nem havendo ofensa aos arts. 468 da
CLT e 7º, VI, da CF/88, sendo plenamente válida a alteração contratual.
O reclamante inconforma-se e recorre neste tópico, argumentando que a
alteração deve ser declarada nula, pois somente a aceitou por ter se
sentido coagido.
Ao exame.
O reclamante afirma que sofreu redução do salário em agosto de 2005,
pois até então recebia R$ 1.638,10, e passou a receber R$ 1.060,00.
Afirma, ainda, que trabalhava 7 horas diárias em período de escala, embora
a jornada do profissional jornalista fosse de 5 horas diárias.
Na defesa, a reclamada sustenta que o reclamante foi admitido para laborar
7 horas diárias, conforme autorizavam as normas coletivas vigentes naquela
época. Diz que, em 2005, firmou acordo coletivo de trabalho, no qual foi
estabelecida a autorização para que formalizasse aditivos contratuais com
os seus atuais e futuros empregados jornalistas, estabelecendo jornada de
5 horas diárias, mais 2 horas, "mantida a atual contraprestação
pecuniária".
Nas razões recursais, o reclamante alega que houve coação dos
empregados para aceitação da redução da jornada, de 7 para 5 horas,
porquanto havia o temor de perder o emprego. Ressalta que somente a
testemunha ROBINSON LUÍS ESTRASULAS permaneceu laborando sem
que seu contrato fosse alterado, por gozar de estabilidade provisória, na
condição de sindicalista.
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Nos termos do art. 468 da CLT, só é lícita a alteração das respectivas
condições de trabalho por mútuo consentimento e que não resultem, direta
ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da
cláusula infringente desta garantia.
Já o inciso VI do art. 7º da CF/88 assegura a irredutibilidade do salário,
salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo.
O acordo coletivo das fls. 477-480 estabeleceu o seguinte:
(...)
II) a formalização da jornada de 5 (cinco horas) mais 2 (duas)
horas, mantida a atual contraprestação pecuniária, observando-
se o intervalo de 1 (uma hora) e o disposto no item VI, infra, para
os admitidos antes de 1º de junho de 2005;
(...)
VI) Visando conceder homogeneidade de tratamento aos atuais
integrantes do quadro de jornalistas, admitidos até 31 de maio
de 2005, o jornal ZERO HORA promoverá, a partir da geração
de efeitos do presente clausulamento, na forma da lei, o
realinhamento salarial de todos os jornalistas que para ela
laborem e que venham a receber abaixo do piso salarial,
considerando a data base de junho de 2004 com vigência até
maio de 2005, para o patamar de R$ 1.696,00 (hum mil
seiscentos e noventa e seis reais), para os jornalistas da Capital
(...) , destinado ao labor de 5 (cinco) horas mais 2 (duas) horas,
totalizando 7 (sete horas).
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Ou seja, o acordo tinha o intuito de adequar os contratos vigentes à
legislação, reduzindo formalmente a carga-horária pactuada de 7 (sete)
para 5 (cinco) horas, sendo que parte do salário até então pago seria
desmembrado, de modo a configurar a remuneração de 2 (duas) horas
suplementares.
O primeiro aspecto a ser examinado diz respeito à possibilidade de
contratação de jornada de 7 (sete) horas para jornalistas, bem como, se a
contratação originária do reclamante em 25/06/1990 obedeceu aos
pressupostos legais.
Na Consolidação das Leis do Trabalho, há normas específicas sobre a
jornada dos profissionais jornalistas, conforme segue:
Art. 303 - A duração normal do trabalho dos empregados
compreendidos nesta Seção não deverá exceder de 5 (cinco)
horas, tanto de dia como à noite.
Art. 304 - Poderá a duração normal do trabalho ser elevada a 7
(sete) horas, mediante acordo escrito, em que se estipule
aumento de ordenado, correspondente ao excesso do tempo de
trabalho, em que se fixe um intervalo destinado a repouso ou a
refeição.
É fato incontroverso que o reclamante laborou por 7 horas diárias desde a
sua admissão. Resta verificar se a reclamada cumpriu os requisitos
previstos: contrato por escrito elevando a jornada de 5 para 7 horas diárias,
respectivo aumento de salário e a fixação de um intervalo intrajornada.
Na cópia da CTPS do obreiro (fl. 35 dos autos), denoto que a reclamada
contratou o reclamante para laborar "1/7 h", como "repórter fotográfico",
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com salário de R$ 16.692,39). Na verdade, a reclamada não anexa o
contrato de trabalho escrito, para comprovar que estipulou aumento da
duração normal do trabalho de 5 para 7 horas diárias.
Em suma, não há "acordo escrito" (de que trata o artigo 304 da CLT)
celebrado no momento da contratação em 1990, ou posteriormente,
elevando a duração normal do trabalho para 7 horas, com o correspondente
aumento da remuneração do obreiro.
Feitas essas considerações, ressalto que a jurisprudência dominante do
TST tem considerado indispensável a celebração de acordo por escrito,
estabelecendo a elevação da jornada e o aumento salarial, conforme
segue:
RECURSO DE REVISTA DA RECLAMANTE - HORAS
EXTRAORDINÁRIAS - JORNALISTA - JORNADA DIÁRIA DE
CINCO HORAS. Nos termos do art. 303 da CLT, em regra, a
duração do trabalho dos jornalistas não deverá exceder de cinco
horas diárias. Todavia, em conformidade com o art. 304 da
CLT, mediante acordo individual por escrito, a jornada diária
do jornalista pode ser elevada para sete horas, desde que
haja a remuneração dessas horas excedentes de trabalho e
seja concedido intervalo intrajornada. Na situação, após
1/2/2007, a autora continuou a exercer a função de jornalista,
mas a reclamada deixou de pagar a gratificação pelas horas
adicionais. Logo, deve ser reconhecida a jornada diária de cinco
horas, sendo devidas como extraordinárias as trabalhadas além
da quinta. (Proc. ARR - 1557-35.2011.5.10.0001 - Relator
Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, 7ª Turma, Data de
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Julgamento: 04/06/2014, Data de Publicação: DEJT 01/07/2014
- grifei).
HORAS EXTRAS. JORNALISTA. AUMENTO DA JORNADA.
ACORDO ESCRITO. Constatado pelo Tribunal Regional que as
partes firmaram acordo escrito para o elastecimento da
jornada para sete horas, nos termos previstos no artigo 304
da Consolidação das Leis do Trabalho, não há falar em
pagamento das sexta e sétima horas como extraordinárias.
Recurso de revista não conhecido. (Proc. RR - 226200-
48.2009.5.02.0201 - Relator Ministro: Lelio Bentes Corrêa, 1ª
Turma, Data de Julgamento: 21/05/2014, Data de Publicação:
DEJT 30/05/2014 - grifei).
Considerando, pois, que a reclamada não logrou provar que firmou acordo
escrito com o demandante (requisito formal segundo a norma consolidada),
é forçoso reconhecer que o salário estipulado na sua admissão remunera
exclusivamente a jornada de 5 horas diárias, prevista no artigo 303 da CLT.
Isto porque, embora houvesse a intenção de ajustar a jornada de 7 horas
diárias, não houve especificação em acordo escrito dos valores relativos à
remuneração da jornada de cinco horas e o montante acrescido, para a
remuneração das duas horas suplementares pré-contratadas. Sobre essa
questão, já se manifestou o TST, no aresto a seguir colacionado:
RECURSO DE REVISTA. JORNALISTA. JORNADA DE
TRABALHO. MAJORAÇÃO. FORMA DE PAGAMENTO.
VALIDADE DA PACTUAÇÃO. Desatendido um dos requisitos
formais previstos art. 304 da CLT, para validar a realização de
jornada regular de sete horas por empregado jornalista, há que
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se considerar que o valor até então pago ao Obreiro remunerou
apenas a jornada de cinco horas prevista no artigo 303 da CLT.
Considerando-se que o Reclamante fora contatado inicialmente
para jornada de 7 horas, considerada normal pelo art. 304 da
CLT, o vício procedimental da Reclamada - ao não especificar
que valores pagos remuneravam a jornada de cinco horas e
quais outros remuneravam a majoração de duas horas diárias -
pode ser corrigido com a determinação de pagamento, de forma
simples, da aludida majoração de jornada. Recurso de Revista
conhecido e provido. (Proc. RR - 45500-77.2003.5.02.0075 -
Relator Ministro: José Simpliciano Fontes de F. Fernandes, 2ª
Turma, Data de Julgamento: 23/05/2007, Data de Publicação:
DJ 15/06/2007.
Nessa linha de raciocínio, denoto que, em meados de 2005, quando a
reclamada buscou "regularizar" uma configuração salarial que representava
"salário complessivo", formalizando um acordo por escrito, a partir do qual
passaria a discriminar separadamente o valor do salário correspondente às
5 horas e o montante correspondente às 2 horas excedentes,
inequivocamente houve uma alteração lesiva para o reclamante, à luz do
artigo 468 da CLT.
Explico: até então, adotando-se a mesma linha de raciocínio exposta com
clareza no julgado do TST acima, o salário do reclamante remunerou
somente a jornada de 5 horas diárias. Por isso, no momento em que a
reclamada desmembrou o valor do salário do reclamante, atribuindo um
montante para o salário relativo às 150 horas mensais (5 horas diárias)
inferior à quantia até então paga a título de "salário", e outro montante para
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remunerar a rubrica "Hora Extra Contratual" para as 2 horas diárias
restantes, houve redução salarial. Consoante se observa à fl. 41, o
reclamante percebia o salário mensal de R$ 1.638,10 em 01/08/2004. Já
em 01/08/2005, após a alteração contratual, seu salário mensal foi alterado
para R$ 1.060,00. O mesmo pode ser verificado à fl. 204.
Em síntese, a alteração contratual reduziu o salário do reclamante. O salário
percebido pelo reclamante antes da referida alteração remunerava, de fato,
as 5 (cinco) horas diárias - jornada estabelecida no art. 303 da CLT para
jornalistas profissionais. Não poderia a reclamada elastecer a jornada até 7
horas, sem celebrar acordo por escrito com o reclamante.
Assim, caso a reclamada pretendesse regularizar a situação, deveria ter
procedido somente à redução da jornada, sem que houvesse redução
salarial ou, ao formalizar acordo escrito com o reclamante, buscando
elastecer a jornada até 7 horas, acrescentar a correspondente remuneração
das 2 horas excedentes.
Sobre o tema, já houve manifestação da 7ª Turma deste Tribunal:
Ao contrário do que quer fazer crer a reclamada, a alteração
supra não representou o mero desmembramento do salário até
então pago que já remunerava as cinco horas contratadas mais
duas horas extras contratuais.
(...)
Ou seja, o salário originalmente contratado remunerava cinco
horas de trabalho e, caso fosse necessário o trabalho em horário
extraordinário, no limite de duas horas, este teria uma
remuneração correspondente, não estando incluído no salário
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ajustado.
Nem poderia ser diferente, uma vez que o salário complessivo é
vedado nos termos da Súmula 91 do TST:
"SALÁRIO COMPLESSIVO (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19,
20 e 21.11.2003
Nula é a cláusula contratual que fixa determinada importância
ou percentagem para atender englobadamente vários direitos
legais ou contratuais do trabalhador."
Ademais, a sentença destaca ainda a que a "alteração contratual
datada de 01.08.2004 prevê remuneração de R$ 2.776,31, e
duração mensal do trabalho de 150 horas (fl. 88)". (TRT da 04ª
Região, 7A. TURMA, 0000783-86.2011.5.04.0028 RO, em
13/11/2014, Juiz Convocado Manuel Cid Jardon - Relator.
Participaram do julgamento: Desembargadora Denise Pacheco,
Desembargador Wilson Carvalho Dias)
Assim, a alteração contratual que supostamente reduziu a carga horária de
7 (sete) horas para 5 (cinco) horas, acabou por reduzir, na realidade, o
próprio salário, hipótese de alteração lesiva ao contrato, expressamente
vedada no art. 468 da CLT. Houve ofensa ao princípio da irredutibilidade
salarial
Dessa forma, entendo ser lesiva a alteração realizada pela reclamada por
ter reduzido a remuneração do reclamante a partir do acordo coletivo de
01/08/2005.
Dou provimento ao recurso do reclamante para declarar nula a alteração
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contratual efetuada a partir de 01/08/2005 e condenar a reclamada ao
pagamento de diferenças salariais pela redução de R$ 578,10 do salário
do reclamante, observando-se o percentual de reajustes previstos nas
normas coletivas da categoria, até a rescisão, com reflexos em férias com
1/3, 13º salário, e FGTS com multa de 40%.
RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA
1. NULIDADE DO PONTO POR EXCEÇÃO. REGIME
COMPENSATÓRIO. HORAS EXTRAS. SÚMULA Nº 85 DO TST
A sentença declarou a invalidade do chamado "ponto por exceção", por
não atender à exigência do art. 74, §2º da CLT, embora exista previsão
normativa do sistema alternativo de controle de jornada. Por consequência,
condenou a reclamada ao pagamento de horas extras relativas a todo o
período imprescrito com repercussões em repousos semanais
remunerados, feriados, férias com 1/3, 13° salários, aviso-prévio e FGTS
com 40%.
A reclamada inconforma-se, alegando haver autorização para utilização do
ponto por exceção, por meio da Portaria nº 1.120/95 do Ministério do
Trabalho e Emprego e previsão em norma coletiva. Pretende a reforma do
julgado para que seja declarado válido o registro de ponto por exceção e,
sucessivamente, o reconhecimento do regime compensatório e a aplicação
da Súmula nº 85 do TST. Postula que seja considerada a jornada do
reclamante como de 7 horas e, por entender não haver horas extras
habituais, seja afastada a repercussão sobre os repousos semanais
remunerados, feriados, férias com 1/3, 13º salários, aviso-prévio e FGTS
com 40%.
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Analiso.
Em relação à validade do controle de horários por exceção - em que
registrado somente as horas extras laboradas - verifico que há autorização
em norma coletiva para adoção de tal controle de horários (cláusula 3ª, item
III, do ACT 2009-2010 - fls. 467-468), na forma como possibilita a Portaria
nº 1.120/95, do Ministério do Trabalho e Emprego. Todavia, em que pese a
existência de autorização, não foram observados todos os procedimentos
determinados pela referida portaria ministerial.
Dispõe o § 2º do art. 1º da Portaria em comento, verbis:
§ 2º O empregado será comunicado antes de efetuado o
pagamento da remuneração referente ao período em que está
sendo aferida a frequência de qualquer ocorrência que ocasione
alteração de sua remuneração em virtude da adoção de sistema
alternativo.
No caso, a reclamada não comprova ter efetuado a comunicação ao
empregado, em que pese haver o registro de horas extraordinárias, a qual
ocasiona alteração da remuneração do autor. Citam-se como exemplos os
documentos das fls. 352 (6 horas extras), 353 (saldo de 7 horas extras), 355
(5,5 horas extras).
Assim, mesmo que por fundamento diverso, deve ser declarado inválido o
regime de ponto por exceção.
Quanto à jornada desempenhada pelo reclamante, cabe, ainda, tecer
alguns comentários acerca da prova oral produzida nos autos. A
testemunha ROBINSON LUÍS ESTRASULAS informou que "o reclamante
começava a trabalhar em torno das 08h e trabalhava até às 17h ou mais;
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às vezes passava uma hora ou duas, dependendo do trabalho que
estivesse fazendo, sendo isso relativo". Já a testemunha ARIVALDO
CHAVES DE OLIVEIRA relatou que "o reclamante iniciava a jornada às
08h e saía por volta das 17h". Por sua vez, a testemunha MARLISE
VIEGAS BRENOL THORMANN alegou que "o horário do reclamante era
às 08h, mas os horários não são muito fixos, poderia ser às 07h, às 10h; a
jornada do reclamante é de 07 horas, então poderia ir até às 15h".
Ora, a reclamada alega ter contratado o reclamante para jornada de 7
(sete) horas. Após, informa que reduziu para 5 horas com pré-contratação
de 2 horas extras, para mantê-lo trabalhando as 7 (sete) horas. Contudo,
com base nos depoimentos, o juízo de origem fixou a jornada de segunda-
feira a sábado, exceto feriados, das 08h às 17h, com 20 minutos de
intervalo intrajornada. Ou seja, um total de mais de 8 (oito) horas diárias de
trabalho, não obstante a jornada legal de 5 (cinco) horas.
Assim, tendo em vista a prestação habitual de horas extras, deve ser
mantida a nulidade do ponto por exceção.
Em relação ao regime compensatório, deve ser mantida a sentença, pois
havia prestação de horas extras excedentes a 5 (cinco) diárias, isto é, 2
(duas) horas extras pré-contratadas, além de horas excedentes à sétima
diária, conforme jornada arbitrada. Nessa senda, considerando que a
jornada normal é de cinco horas, com prorrogação até o limite legal de mais
duas horas (pré-contratadas), entendo inviável considerar válido regime de
compensação para as horas excedentes à sétima diária. Note-se que a
pré-contratação de horas extras não equivale à adoção de regime
compensatório.
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Portanto, correta a sentença ao determinar que as horas excedentes à
jornada de cinco horas sejam remuneradas como horas
extraordinárias.Saliento, ainda, que a sentença autorizou a dedução dos
valores já pagos sob o mesmo título.
Em relação à integração das horas extras em demais verbas
remuneratórias e FGTS, a sentença não merece reparo, pois restou
comprovada a habitualidade na prestação da jornada suplementar.
Nego provimento ao recurso, neste tópico.
2. INTERVALO INTRAJORNADA
A sentença condenou a reclamada ao pagamento de 01 hora extra por dia
efetivamente trabalhado durante o período imprescrito, decorrente da não
concessão integral do intervalo intrajornada mínimo, observados os critérios
de cálculo fixados na fundamentação, com repercussões em repousos
semanais remunerados, feriados, férias com 1/3, 13° salários, aviso-prévio
e FGTS com 40%.
A reclamada recorre alegando que o reclamante laborava
predominantemente das 9h às 13h e das 14h às 17h, com pelo menos uma
hora de intervalo intrajornada, entendendo ser dele o ônus para
comprovação da supressão das horas extras. Sucessivamente, pleiteia o
pagamento somente do período não usufruído e não do intervalo inteiro.
Ao exame.
Considerando-se a invalidade do controle de ponto, conforme item acima,
há presunção de veracidade da jornada narrada na inicial confrontada com
a prova oral.
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Assim, correta a jornada arbitrada na sentença: de segunda-feira a sábado,
exceto feriados, das 08h às 17h, com 20 minutos de intervalo intrajornada.
Portanto, nego provimento ao recurso da reclamada, uma vez que a prova
nos autos corrobora para a jornada arbitrada em sentença.
Em relação ao pleito sucessivo, razão também não lhe assiste.
Como mencionado na sentença e com base na jornada arbitrada, o
reclamante gozava somente de 20 minutos de intervalo intrajornada.
O art. 71 da CLT estabelece o seguinte:
Em qualquer trabalho contínuo, cuja duração exceda de 6 (seis)
horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para repouso
ou alimentação, o qual será, no mínimo, de 1 (uma) hora e, salvo
acordo escrito ou contrato coletivo em contrário, não poderá
exceder de 2 (duas) horas.
Com base na jornada arbitrada, o reclamante trabalhava por mais de 6
horas, fazendo jus, portanto a intervalo de 1 hora.
O item I da Súmula 437 do TST dispõe:
INTERVALO INTRAJORNADA PARA REPOUSO E
ALIMENTAÇÃO. APLICAÇÃO DO ART. 71 DA CLT (conversão
das Orientações Jurisprudenciais nºs 307, 342, 354, 380 e 381
da SBDI-1) - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e
27.09.2012
I - Após a edição da Lei nº 8.923/94, a não-concessão ou a
concessão parcial do intervalo intrajornada mínimo, para
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repouso e alimentação, a empregados urbanos e rurais, implica
o pagamento total do período correspondente, e não apenas
daquele suprimido, com acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o
valor da remuneração da hora normal de trabalho (art. 71 da
CLT), sem prejuízo do cômputo da efetiva jornada de labor para
efeito de remuneração.
Portanto, a situação nos autos atrai a hipótese prevista na Súmula 437, I do
TST, razão pela qual deve ser mantida a sentença.
Nego provimento.
3. EQUIPARAÇÃO SALARIAL
A sentença condenou a reclamada ao pagamento de diferenças salariais
por equiparação aos paradigmas GENARO ANTÔNIO JONER e
ADRIANA FRANCIOSI, relativas a todo o período imprescrito do contrato,
observado o modelo mais favorável ao reclamante e o critério de cálculo
fixado na fundamentação, com repercussões em 13° salários, férias com
1/3, adicional por tempo de serviço, horas extras pagas, adicional noturno
pago e FGTS com 40%.
A reclamada inconforma-se alegando que os paradigmas exerciam funções
diferentes na empresa, elencando a nomenclatura dos cargos, aduzindo,
ainda que os modelos possuírem maior técnica, razão pela qual Adriana era
"repórter C3" e que Genaro era "chefe de reportagem".
Analiso.
O juízo de origem assim decidiu:
Nesse contexto, entendo comprovada a existência de identidade
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de funções entre o autor e os paradigmas GENARO ANTÔNIO
JONER e ADRIANA FRANCIOSI, durante todo o período
imprescrito da contratualidade.
Saliento que o fato de o cargo ao qual o autor foi enquadrado ser
diferente daquele ocupado pelos modelos apontados não
evidencia a existência de diferença de funções, uma vez que a
prova oral produzida demonstra com clareza que, na prática, as
atividades desenvolvidas pelo autor e pelos paradigmas eram
idênticas. Aplicável, ao caso, o entendimento consubstanciado
no item III da Súmula 06 do E. TST.
Os documentos das fls. 204-205, 445 e 449 demonstram que o
salário percebido pelos modelos era superior àquele adimplido
ao autor, evidenciando a existência de diferenças salariais.
Assim, caracterizada a identidade de funções e a existência de
diferenças salariais entre o autor e os paradigmas apontados,
entendo comprovado o fato constitutivo do direito pleiteado,
revertendo para a reclamada o ônus da prova dos fatos
impeditivos, modificativos ou extintivos do direito à equiparação
salarial pleiteado pelo empregado, conforme inteligência do art.
818 da CLT, do art. 333, II, do CPC e da Súmula 06, VIII, do E.
TST, ora adotada.
Ocorre que a demandada não comprova eficazmente a
existência de qualquer fato impeditivo, modificativo ou extintivo
do direito à equiparação salarial pleiteado pelo empregado.
Esclareço que o depoimento prestado pela testemunha
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convidada pela demandada e os documentos das fls. 453-465
não possuem o condão de comprovar que o trabalho prestado
pelo modelo ADRIANA FRANCIOSI possui maior perfeição
técnica do que aquele realizado pelo autor.
Pelas razões expostas, entendo configurado o direito do autor
à percepção de diferenças salariais por equiparação aos
paradigmas GENARO ANTÔNIO JONER e ADRIANA
FRANCIOSI, observado àquele mais favorável ao
reclamante, durante todo o período imprescrito da
contratualidade, nos termos do art. 461 da CLT.
O art. 461 da CLT estabelece que prevê o seguinte:
Art. 461 - Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor,
prestado ao mesmo empregador, na mesma localidade,
corresponderá igual salário, sem distinção de sexo,
nacionalidade ou idade.
A reclamada sustenta que havia distinção entre as funções desempenhadas
pelos paradigmas em relação à do autor: "o recorrido exercia a função de
“repórter fotográfico A”, o paradigma Genaro Antonio Joner era “chefe de
reportagem” e a paradigma Adriana Franciosi possuía como função
“repórter fotográfico C2”. Alega, ainda que “os repórteres fotográficos da
reclamada são promovidos, ao longo da carreira, de acordo com a sua
técnica, experiência e capacidade, iniciando pelo 'repórter fotográfico A',
passando pelo 'repórter fotográfico B' (e seus níveis), depois 'C' e assim
sucessivamente".
A testemunha ROBINSON LUÍS ESTRASULAS afirmou que: "(...) trabalha
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na reclamada há 13 anos (...); trabalhou com o reclamante na função de
repórter fotográfico; Adriana era repórter fotográfica; não sabe por que
serviam as letras de repórter fotográfico (A, B, C ou C2), pois todos faziam
a mesma coisa".
Já a testemunha ARIVALDO CHAVES DE OLIVEIRA mencionou que "(...)
o depoente entrou na reclamada em 1971 e saiu em 2013; o reclamante
entrou em 1990; o depoente era repórter fotográfico (...); Genaro, Adriana e
o reclamante exerciam as mesmas funções; dentro do horário do
reclamante poderia fazer qualquer coisa, o repórter fotográfico faz o que é
mandado (...)"
A testemunha GENARO ANTÔNIO JONER informou que "(...) trabalhou
com o reclamante; trabalhou na reclamada de dezembro de 1988 a maio
de 2012 na função de repórter fotográfico; no final estava como repórter
classe especial; o reclamante era repórter fotográfico; não sabe sobre as
classificações dos repórteres fotográficos; praticamente não tinha
diferenças nas funções; no final passou a ganhar mais que o reclamante;
havia classificação na editoria por qualidade e quantidade de trabalho e
pelo quantidade de horas de trabalho; a quantidade de trabalho do
depoente e do reclamante era praticamente a mesma; a qualidade o
depoente acha que era a mesma; não foi chefe de reportagem; não foi
responsável por distribuir pauta"
Por fim, a testemunha MARLISE VIEGAS BRENOL THORMANN, ouvida
a convite da reclamada, disse que "(...) trabalha na reclamada desde
agosto de 2007; trabalhou com o reclamante; o reclamante era repórter
fotográfico e atendia pautas por demanda; Genaro era chefe de
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reportagem, organizava a pauta dos repórteres fotográficos; Adriana
Franciosi é repórter fotográfica C2 e tem uma função um pouco mais
qualificada por que faz produção fotográfica para as capas dos cadernos;
o reclamante fazia a pauta do dia, mais factuais, que envolvem editora
geral, economia e esportes; não sabe se o reclamante fez os editoriais
Donna, Campo e Lavoura e Casa e Cia".
Os itens III e VIII da Súmula 06 do TST dispõem o seguinte:
III - A equiparação salarial só é possível se o empregado e o
paradigma exercerem a mesma função, desempenhando as
mesmas tarefas, não importando se os cargos têm, ou não, a
mesma denominação.
(...)
VIII - É do empregador o ônus da prova do fato impeditivo,
modificativo ou extintivo da equiparação salarial.
A reclamada não comprova de forma convincente haver diferença na função
desempenhada entre os paradigmas e o reclamante. Apenas faz menção à
diferenciação da nomenclatura dos cargos, o que, por si só, não tem o
condão de elidir a prova testemunhal, tendo em vista a aplicação do
princípio da primazia da realidade.
Saliento ainda, que pelo princípio da imediação, o juiz de origem tem
percepção privilegiada acerca dos depoimentos colhidos, razão pela qual,
convirjo com as seguintes razões de decidir lançadas na sentença:
O depoimento prestado pela testemunha convidada pela
reclamada não possui o condão de desconstituir tal informação,
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uma vez que a citada testemunha não exerceu a mesma função
desenvolvida pelo autor e pelos modelos apontados (ao
contrário das demais testemunhas), o que evidencia a ausência
de conhecimento preciso sobre as atividades realizadas por
esses empregados. Além disso, o seu depoimento está
dissociado daquele prestado pelo próprio paradigma GENARO
ANTÔNIO JONER (terceira testemunha convidada pelo
demandante), uma vez que informa o exercício de uma função
por parte deste modelo (chefe de reportagem) que é negada por
ele próprio.
(...)
Esclareço que o depoimento prestado pela testemunha
convidada pela demandada e os documentos das fls. 453-465
não possuem o condão de comprovar que o trabalho prestado
pelo modelo ADRIANA FRANCIOSI possui maior perfeição
técnica do que aquele realizado pelo autor.
Assim, pelo conjunto probatório, restou comprovado que o reclamante
desempenhava a mesma função de GENARO ANTÔNIO JONER e
ADRIANA FRANCIOSI, qual seja, repórter fotográfico.
Além disso, encontra óbice a alegação da reclamada quanto à
diferenciação nos cargos dos paradigmas em relação ao reclamante,
porquanto, a despeito de mencionar que as promoções se davam ao longo
do tempo e em virtude das habilidades, não trouxe aos autos qualquer
norma, previsão de quadro de pessoal organizado válido ou avaliações que
comprovassem objetivamente a diferenciação das habilidades dos
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paradigmas e do reclamante.
Finalmente, levando em conta o deferimento de diferenças salariais no item
"1" do recurso ordinário do reclamante (NULIDADE DA ALTERAÇÃO
CONTRATUAL LESIVA. REDUÇÃO DA CARGA HORÁRIA), impõe-se dar
provimento parcial ao recurso ordinário da reclamada para que, na
apuração das diferenças salariais devidas em virtude da equiparação, seja
considerado o salário do reclamante já recomposto pelas aludidas
diferenças salariais, de modo a evitar o enriquecimento sem causa do
demandante. Contrario sensu, o salário resultante da soma das diferenças
salariais decorrentes da declaração de nulidade da alteração contratual
lesiva, mais as diferenças salariais advindas da equiparação, seria
inequivocamente superior aos dos próprios paradigmas.
Assim, dou provimento parcial ao recurso ordinário da reclamada, para
determinar que, na apuração das diferenças salariais decorrentes da
equiparação, sejam deduzidas as diferenças salariais advindas da
recomposição do salário do autor, por conta da declaração de nulidade da
alteração contratual levada a efeito a partir de agosto de 2005.
______________________________
PARTICIPARAM DO JULGAMENTO:
JUIZ CONVOCADO ROBERTO ANTONIO CARVALHO ZONTA
(RELATOR)
JUIZ CONVOCADO JOSÉ CESÁRIO FIGUEIREDO TEIXEIRA
DESEMBARGADORA MARIA CRISTINA SCHAAN FERREIRA
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