pierre-vidal-naquet-o-mundo-de-homero.pdf - iedamagri

85
I~ I , I , I , I , I , I I , I I , I , I , I I I , I , I I , I t I , I t ------------------------_ ... PIERRE VIDAL-NAQUET " o n1undo de HOll1ero TTadu~ao Jonatas Batista Neto SBD-FFLCH-USP 1111//11111111/11111/1111111111111111111 25927"1 COMPANHIA DAS LETRAS

Transcript of pierre-vidal-naquet-o-mundo-de-homero.pdf - iedamagri

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Lcmonde

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CapaEUore

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Fotoriacapa

Vaso

deEufr6nio

(dctalhe),;he

Metropolitan

Museum

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EliancdcAhrcu

Santoro

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Claudia

Cantarin

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!'otcmalcodri!'ucs

DadoslntcrnaCIOl1,llSde

Catalot,<l<;Jo11<1Puhlicl<;:l0

(Ul')

(C1l1lara

Brasilcir,l

do[,1\'1"0,

SI',Brasil)

Vid,d-N

aqud,Pierre,

1930-

()Illundo

deIlolllcw!Picrre

Vidal--Naquct;tradu~ao

J()natasBatista

Ncto.

-San

Paulo:Companhia

dasLetras,

Tit\lloorigin,lI:

1.('ll1011dcd'!

!Oll1Crc.

["I\:'JBs

J59-02fl5-X

I.Civiliza\~lcl

hOlllerica

2.Gcografia

antiganilliteratura

3.Crecia

--Antiguidades

4.Hom

CTo-

Conhecim

ento-

Geografia

5.HOlllcro

-Hahita<;6es

eabrigos

--Crccia

6.

PoesiJ.epica

grega---Hist{)ria

ccritica

I.Titulo.

DEDALUS-Acervo

-FFLC

H-LE

1111111111111111'111111111111/11111111111111111/1/1111/11

11111111

Indicespara

catalogosistcm

<itico:

1.Poesiagrcga

epicaclassica

:Hist6ria

ecritica

883·0109

2.Foesia

cpicaclassica

grega:Hist()ria

ecritica

883.0109

[20021

'IodosOSdireitos

dcstaedi~ilo

reservadosit

FD!TORA

SCIlWARCZ

LTDA,

Rllallalldcira

Palliisia702ej,V

o4532~002,~Silo

Pallio-

SP

Telefone(11)3167~o801

Fax(11)3167~0814

WW\\,.({)11111;111

11i<1i..1'ISlct!";lS.C

{l111.111"

1.Pequenahistoria

dedois

poemas

.2.Ahistoria

eageografia

.3.G

regosetroianos

.4.A

guerra,amorte

eapaz

.5.C

idadedos

dClIses,cidade

doshom

ens.

6.Homcns

emulheres,

jovensevelhos

.7.0

rei,0mendigo

e0artesao

.8.Poesia

.9.A

sqllest6es

homericas

.

Agradecimentos

.Credito

dasilustra~oes

.Indice

onomastico

.

'IIf

~tl'9,.Wi

...~•••,;,+(..~.fl\

•••""9

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13,1

23•••

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109..)

121

"131

\)

133,)

135t")

"\

.\

.l•I

Quando

eracrian<;:a,em

Paris,antes

daSegunda

Guer-

ra,eupossula

umaantologia

delendas

daguerra

deTr6ia

eseus

desdobramentos.

0livro

come<;:ava

comahist6ria

dopastor

Paris,l(que

tevedeescolher

umadas

tresdeusas

-Hera,

Atena

(figura16)

eAfrodite

-para

concederuma

ma<;:ana

qualestava

escrito:"A

mais

bela".Hera

Ihepropt)s

podereAtena,

sabedoria,masAfroditc

ganhou0concurso

oferecendo-Iheajovem

mais

lindadetodo

0mundo:

Hele-

nadeEsparta.

P<lrisraptouHelena,

0que

provocou0deslo-

camento

deum

exercitogrego

paraTr6ia,

namargem

asia-tica

doestreito

deDardanelos.

Dezanosdepois,

osgregos,

escondidosnum

enormecavalo

demadeira

(figura29),

con-seguiram

penetrarna

cidadcdo

reiPriam

ocainccndia-

ram.S6um

grupodetroianos

conduzidopOl'Eneias,

filho

,Osnom

cspr6prios

(antrop6nimos,

top6nimos

enom

esde

etnias)foram

normal

izadosCOIllbase

nosfl/dices

deIIOllles

pnipriosgregos

eliltillos

deMaria

lleknadeTeves

Costa

liref\aPrieto

etalii.

Lisboa,FlInda,,'Jo

Calollste

ClIlbcn-

kian,1993.

(N.T)

deAfrodite,

conseguiuescapar

echegar

aItalia,

ondeum

descendentesell

fLlndouacidade

deRoma.Osgregos,

pOl'

suavez,

encontrarambastante

dificuldadepara

voltarasua

terra.Umdeles

emparticular,

Ulisses

(emgrego

Odysseus),

erroudurante

dezanos

peIoMediterraneo

antesdereen-

contrarftaca,

ailha

daqual

erarei.

Emftaca,

Penelope,sua

mulher,

eradisputada

porumaserie

de"pretendentes",

jo-yens

quedilapidavam

0palacio

deU1isses

enquantoespe-

ravampela

respostadela

aospedidos

decasam

ento.Ahis-

toriadaguerra

deTroia

eracontada

(assimeupensava)

naIliada

deHomero,

enquanto0retorno

deUlisses

era0as-

suntodaOdisseia,

domesm

opoeta.

Euestava

certoquanta

aosegundo

ponto,mas,

poucodepois

desseprim

eirocontato

comahistoria

grega,minha

avopaterna

mepresenteou

comumatradu<;:ao

francesada

Iliada.Inicialm

entepensei

que0livreiro

quethe

haviaven-

dido0livro

ativesse

enganado.Anarrativa

come<;:ava

comTroia

cercadahavia

jamais

denove

anoseterm

inavasem

nenhumcavalo

demadeira

ecom

aseguinte

Frase:"Assim

foramosfunerais

deHeitor,

domador

decavalos':

Heitor

era0principal

defensordeTroia

-isso

eujasabia

-efo-

ramorto

porAquiles,

0mais

valorosodos

guerreirosgregos.

Mais

tardeaprendi

aconhecer

melhor

aIliada

eaOdis-

seia,essesdois

maravilhosos

poemas

de,respectivamente,

14mile12milversos;

passeiasaborea-Ios

natradu<;:ao

france-sabem

comonotexto

original.Aprendi

tambcm

tudo0que

podiasobre

ahistoria

dopovo

gregoesua

literatura,que

deuorigem

aIiteratura

ocidental.Andr6m

aca,esposa

doheroi

troianoHeitor,

foiainspira<;:ao

para0titulo

eapersona

gemprincipal

deumadas

tragediasmais

celebresdeRacine

-eIa

Figuratambem

numdos

mais

belospoem

asdeBaude-

laire.Nada

dissoteria

sidopossivel

semaIliada.

Quanto

a

Odisseia,

fizemos

dotitulo

dessepoem

aurn

substantivoco-

mum.Fala-se

normalmente,

porexem

plo,da

odisseiade

umciclista

duranteasua

corridano

TourdeFrance.

Meu

desejo,com

estelivro,

etentar

fazercom

quelei-

toresdetodas

asidades

partilhemaalegria

queessas

duasepopeias

mederam

-esem

premedao

-,aocontar

cer-tos

episodios,enaturalm

entetambem

tentarsitua-Ios

noseu

contexto,tanto

noespa<;:ocom

onotempo.

Tereiatingi-

do0meu

objetivose,apos

teremlido

estevolum

e,sentirem

odesejo

demergulhar

notexto

integral,atraves

deuma

tradu<;:aoou,

meIhor

ainda,naversao

original.

\!c{/;1.Pequena

hist6riadedois

poernas

obusto

deHomero

nosebastante

familiar:

umho-

mem

cabeludo,barbudo

ecego.

Masnao

setrata

deurn

re-

trato.Essa

escultura,conservada

nomuseu

deMuniqlle,

na

Baviera,

datadaepoca

romana.

F,Illuitoprovavel

quccia

(c-

nhasido

inspiradaem

urnIllodelo

doseculo

va.c.,a

cro-

caaurea

daarte

grega(figura1).Existem

hist6riassobre

a

vidadeHomero,

maselas

saototalm

entelendarias.

Seeleera

tidocom

ocego

eporqlle

osantigos

consideravam,

talvez

naosem

razao,que

amem6ria

deurn

homem

eramais

ex-

traordinariaquando

eleseencontrava

desprovidodevisao.

Setecidades

daGrccia

asiatica,mais

precisamente

daJ6-

niaedaE6lida,

sitlladasnaarea

quehoje

abrangeacosta

da

Turquiaealgum

asilhas

gregasdas

proximidades,

disputa-

vamahom

adelhc

(eremdado

nascimenlo:

enlreebs

Esmir-

na,no

contincnte,eailha

dcQuios,

ondeainda

hojenos

mostram

a"pecha

deHomcro",

chamada

tambcm

de"pedra

Confesso,

fon,que,pormaisdeumavez,invejeia

vossaarte

eados

demais

rapsodos!Ela

vosobriga

aestarem

sempre

arrllmados,

mostrando-vos

taobelos

quantopassivel;

'10

mesm

otempo,

soiscom

pelidosaviver

nacom

panhiade

llmaIJlllltiltio

debOilspoetas,

sobretlldonadeHomen),

0

melhor

eomaisdivino

detodos.

vra,que

vemdogrego

aoid6s,significa

"cantor':Ospoem

ashom

ericoseram

compostos

ecantados

poraedos

quese

acompanhavam

comum

pequenoinstrum

entodecordas,

aph6rm

inx.Em

queepoca

viveuHomero?

Conform

eaopiniao

ge-ral,

aIliada

eaOdisseia

datamdos

derradeirosanos

dose-

culoIXa.C.oujado

seculoVIII,

sendoaIliada

anteriora

Odisseia

poralguns

decenios.0.~~"~JJJg,,_Y

IILeurnperiodo

muito

importante

nahist6ria

domundo

gregoe,alias,

domundo

mediterraneo

emgeral

(Roma,por

exemplo,

foifun-dada

em753

a.C.).Trata-se

deuma.~Q

QS_;:t}],~Lqtl~Ls,~..f2,!l-

sillida,n4Grecia

ellI'opeia,insular

easiatica,

umaform

;t2Xi-

giuaLdevidileI11.socieciade:

<lp6li~.Urngrupo

dehom

enslivres

diz"n6s"

aofalar

emnom

edetodos.

Osreis

janao

existemou

enUiotem

apenaspapel

simb6lico.

Ascidades

sangovernadas

naopelo

povo,maspor

homens

(relativa-mente)

ricos,possuidores

deterras,

queobtem

arenda

des-sas

terrasmastambem

,asvezes,

entregam-se

aogrande

co-mercio

mariti

mo.

Quando

lemos

aIliada

eaOdisseia,

naopodem

oses-

quecerque

essespoem

aseram

destinados

aserem

recitadospara

umaudit6rio

dehom

ensricos

epoderosos,

capazesde

iraguerra

armados

dacabe<;:aaos

pes:capacete,

coura<;:a,grevas,

comosepodever

naarmadura

doseculo

VIII(figu-

ra12),

encontradaquase

intactanum

atum

badeArgos,

aonorte

doPeloponeso.

Ascidades,

noseculo

VIII,eram

capa-zes

detom

arcoletivam

entedecisoes

importantes

como,por

exemplo,

enviarpara

alemdos

mares,

paraaItalia

meridio-

naleaSicilia,

gruposdeemigrantes

com0objetivo

defun-

darco16nias,

istoe,cidades

novascom

oCumas,

naolonge

deNapoles,

ouSiracusa,

naSicilia.

domestre-escola",

umrochedo

noqual

foitalhado

umas-

sentodeonde

0poeta

recitavaseus

versospara

ascrian<;:as.

1;1sesonholl

bastante~easvezes

atesedelirnll--

so-bre

0poeta

cego.Existiu

umHomero,

doisHomeros

eate,

comoalguns

pensaram,umamultidao

deHomerns?

Nailha

deQuios

haviaoscham

adoshom

eridas,que

sediziam

des-cendentes

deHomern

econstituiam

umgrupo

dempsodos

quecantavam

ospoem

asdeseu

pretensoantepassado.

Mas0que

eum

rapsodo?Voces

podemvel'

umdeIes

numvasa

aticodoseculo

va.C.(figura

2).Eleestende

0bra-

<;:0,segurandourn

bastao,num

gestoorat6rio,

edesua

bocaescaparn,

talcom

onas

nossashist6rias

emquadrinhos,

pa-lavras

ouversos

deurn

poernaepico.

Noseculo

seguinte,0

fi16sofoPlatao

poeem

cenanum

dosseus

dialogosseu

mes-

tre,oateniense

S6crates(que

foicondenadoamorte

em399),

dirigindo-seaurn

dessesrapsodos,

IondeEfeso

(cidadeda

16nia):

Ionvivia

nacom

panhiadeHomero,

outramaneira

dedizer

queeIe

sabiaospoem

ashom

ericos,aIliada

eaOdis-

seia,de

cor.Aprendera

essespoem

aspOl'm

eioda

leituraou,

talvez,escutando-os

seremrecitados

poroutros.

HOI] ler: ona()

.eraurnJaps()do,

era..1lI11aed9..:.Essa

pala-

•),))•t"••),,••t,,,,,•,t••,•,•••••

Foinum

atum

badeIschia,

ilhadabaia

deNapoles,

queseencontrou,

em1955,

umatac;:adatavel

deaproxim

ada-mente

720a.C

.eque

contemap~i.!l1:~ir<lalusag_escrita

_<:t0S

~J2.Q~}]1~§Jlom

¢Ii~Q.s.Trata-se

deurn

"obi~lQf<!hm

J~::-eco-

moseapr6pria

tac;:asedirigisse

aquem

bebe:

Eusou

ata<;:ade

Nestor,

aque

eboa

parabeber.A

queleque

daquibeber

seraimediatam

entearrebatado

pelodesejo

queinspira

Afrodite,

adeusa

dabela

coroa.

serespeito

ospr6prios

poemas?

Nocanto

VIda

Iliada,0he-

r6iGlauco,

quecom

bateaolado

dostroianos,

contaaoher6i

aqueuDiom

edesahist6ria

deseu

antepassadoBelerofonte,

personagembem

conhecidoda

mitologia

grega,especial-

mente

porter

liquidadourn

sermonstruoso,

aQuim

era.Belerofcm

tefora

enviadoaopalacio

deurn

reidaLlcia

(naAsia

Menor)

comumamensagem

quecontinha

"sinaisas-

sassinos':Diriam

oshoje

quesctrata

deumacarta

escritaem

linguagcmcifrada

pedindoaodestinatario

paramatar

omensageiro.

Esseepis6dio

ebastante

reveladorde

uma

£Q!1_<;&

tLC;:_~Qum

tantodiab6li

cada.~jfL!la

:.1i£:lL12J:QJ2J21ilW

na0

~Jegistrarpoem

asnem

(comojaocone

desde0secul9yoK

II)leis,

massim,,£,<l!:gg<lIu111a!n~Ilgzt;:!}l.Sl~..g}gEtS';

(~t(:)---Tanto

noinicio

daIliada

comono

daOdisseia,oi;oe-

tasedirige

aumadivindade,

aMusa,

quesabe

tudoetudo

podeexpressar:

'\::anta,6deusa,

ac6lera

deAquiles,

filhodePeleu

...","Esobre

0hom

emdas

milastllC

ias[Ulisses

1quetu,o

Musa,

devesmedizer...".A

sMusas,

filhasdadeusa

Me-

m6ria,

saopOl"tanto

asdepositarias

dapocsia.

NaWoefo,()

unicoher6i

capazdecantar,

acompanhando-se

comumad-

tara,eAquiles,

0her6i

porexcelencia,

0"melhor

dosaqueu(

NaOdisseia,

aocontrario,

osaedos

semultiplicam

.Haum

entreosfeaces,

0povo

navegadorque

conduziraUlisses

aItaca.

Haum

nopalacio

deUlisses,

0qual

epoupado

quan-do0heroi

decidevingar-se

dospretendentes.

0proprio

Ulis-

seseum

aedoque

cantaassuas

viagens.Finalm

ente,entre

osseres

maletlcos

queele

encontrano

caminho

deTroia

aFeacia,

hatambem

assereias,

quenao

saoseres

hibridosde

111111heresCOI11peixes,

l11assil11

de11111lheres

COI11p;\ssaros

(figura33).

Ulisses

sabeque,

sefor

enfeitic;:adopor

elas,mor-

Afrodite

eadeusa

doamor.

Quanto

aNestor,

urnan-

ciao,eum

personagem

importante

daIliada

edaOdisseia.

Elepossui

umatac;:acuja

descric;:aoseencontra

nocanto

XI

daIliada.

Essainscric;:ao

estaredigida

emversos.

Podemos

assimestar

certosdeque

ostemas

emesm

o...9c.Lt01:J:l1<l?cl.'!.

.PQ~.~i(l.~pi<::~~E~g!lj~.~xjgiam

numaversao

escritano

secu-10V

IIIantes

daera

crista.-",,",-~

~~~=

••_,-,~,~-~,-~~-"~_.,~.•~-.,.~

..~,•.~,,"><~•.._.~."~'.=•.,-".~

'--

Como,

nessecontexto,

situa-seHomero

-ou,

mais

exatamente,

ospoetas

que,sob

essenom

e,nos

legarama

IliadaeaOdisseia?

Sevoces

quiseremasobras

deHomero,

certamente

iraoaumalivraria.

Sevoces

escrevemversos,

poderaoconfia-los

aum

editor,que,

porsua

vez,osenca-

minhara

aumagrafica.

Noseculo

VIIIa.C

.naohavia

nemlivrarias,

nemeditores

nemmesm

o,evidentem

ente,grafi-

cas.Aimprensa

apareceudeinicio

naChina

e,depois,

noOcidente,

noseculo

xv,com

Gutenberg.

Foiem

1488que,

pe1aprim

eiravez,

ospoem

ashom

ericosforam

impressos,

eisso

sedeu

emFlorenc;:a,na

Halia.

l'Enaepoca

deHomero?

Havia

umvinculo

efetivoen-

treapratica

docanto

poeticoeaescrita?

0que

dizemaes-

rera..Seuscom

panheirosvedaram

osouvidos;

elepr6prio

foiamarrado

aomastro

donavio.

AJ2oesia,

talcom

oaes-

,,'",,=~.~.,~,==-""",

..,=,.=~<~=-.,..",c.=.",,,,,,,.==r-..>~,,_===,,,,~.'_~

j,TLt~IL~_CQj::;jLPrLigg.~'l·oque

cantamassereias?

Aguerra

deTr6ia,

compre-

cisao:

dos.Bern

cedo,segundo

algunsespecialistas,

enquantopara

outrosnao

antesde560

a.c.,quandoPisistrato,

urn"tira-

no"-

istoe,govern

antenao

eleitodeAtenas

-,decidiu

realizarumaedi<;:ao

oficial.Sao

duaship6teses

opostas.0

certoeque

essestextos,

entre0momento

ef!lqueforam

fi-xados

e0ana

de1488,

noqual

foramimpressos,

variaram

pouco.Tanto

aIliada

comoaOdisseia

levamamarca

deum

autor"monumental",.<!1l!:~~~1?~_g

..9!!_~.Y~L£L~~~~S

t2,_,~.9E!}~f,q

i:!-.Q.Jim

.Adivisao

emcantos,

combase

nomodelo

dasletras

doalfabeto,

deIaXXIV,etardia;

remonta

aepoca

alexan-

drina,provavelm

enteaoseculo

IIIa.C.

Emque

idiomaforam

redigidos?Numalingua

parcial-mente

artificialque

repousasobre

doisdialetos

faladosso-

bretudonaAsia

Menor

(hojeaTurquia):

0j6nio

eoe6lio.

Esses26milversos

ternumaform

acham

adadehexam

etrodactilico.

Cada

versoeform

adopor

seismedidas

(hexsig-

--='~-~="''-'=

$

niflca"seis",

emgrego,

ernetron,

"medida").

Cada

medida

ecom

postapor

umasilaba

longaeduas

silabasbreves

(e0

quesecham

aurn

dactilo)ou

entaopor

duaslongas

(nessecaso

urnespondeu).

Nao

existeapenas

umacento

deinten-

sidade,com

oem

portugues,num

adas

tresultim

assilabas

dapalavra,

mashatambem

urnacento

"tonal",quer

dizer,mel6dico.

Paraentender,

bastadizer

0nom

ede

Homero

utilizandopara

asduas

primeiras

silabas,respectivam

ente,as

notassole

ld.Passem

os,pois,

aoutra

questao:0que

ocorreuentre

aepoca

dePisistrato,

porvolta

de560

a.c.,eaprim

eiraedi-

<;:aodotexto

em1488?

Paraosgregos,

Homero

era0poeta

porexcelencia,

assimcom

oaBiblia

e0livro

dosjudeus

edos

cristaos,ecom

oDante,

autorda

Divinacornedia,

e0

Com

efeito,n6ssabernos

tudo0que,

naplanicie

deTr6ia,

Argivos

etroianos

sofrerarnpor

orderndos

deuses.Sabernos

tudo0que

ocorreunaquela

terrafecunda.

Eosque

seaproxim

amdem

aisdessas

mulheres-passa-

roscorrem

urnperigo

terrivel:

Poisassereias

enfeiti~arn-noscom

urncanto

cristalino,Elasque

estaopousadas

nurnprado,

enquantoarnontoarn-se[ao

seuredor

Ossos

decorpos

decornpostoscujas

carnessedesf~lzem

.

AOdissba

contem,portanto,

umaespecie

dereflexao

sobreafun<;:3odo

aedo,sobre

asua

grandezaeosperigos

queele

poderepresentar.

Osaedos

eramcapazes,

comum

intervalodepoucos

anos,dereproduzir,

quasesem

variantes,asepopeias

pura-mente

orais.0mesm

ofen6m

enofoi

observadonaAfrica,

naOceania

eem

outrassociedades

como,por

exemplo)

noCurdistao.

Dito

isso,edificil,

poroutro

lado,ignorar

oy1n-

.S;lllg.,<:!1.t~~~§~~\~g.,__.d...pscantosepico~

~()desenvo

...l..v..l,'.m..,....e....n.t.og5L~~f[i!~.~If<l))~1.i.f'l,J~~1L~i~~~~i;t~d~·-~~1;s~;~~~~'

'p~;';;=it;de900

a.C~/

Agrande

questaoesaber

quandoostextos

foramfixa-

poetados

italianosdeontem

edehoje.

Osjovens

gregosaprendiam

aler'comHomero.

0texto

eraapresentado

sobaform

aderolos

-em

latim,volum

ina(dai

0term

o"vo-

lume")

-,pouco

c6modos

demanusear.

Porisso,utiliza-

vam-se,

comfrequencia,

osserviyos

deurn

escravo.Aolado

dotexto

deHomero,

haviafelizm

enteaimagem

deHome-

ro,adosvasos

eesculturas.

Osvolum

inapodiam

serfeitosdepapiro

oudeperga-

minho

(peledecarneiro

curtidaepreparada).

ComoaWada

eaOdisseia

saoabase

dacultura

ocidental,bem

cedosur-

giuapreocupayao

deestuda-las

demaneira

critica,deter

certezadeque

0texto

eradefato

autentico.6p6s

ascon-

quistasdeAlexandre

(morto

naBabil6nia

em323

a.C.)'C?_

gregosetom

oualingua

decultura

doMediterd'l11eo

edo

Oriente,

esurgiram

escolasimportantes

portoda

parte,es-

pecialmente

emAlexandria,

capitaldos

soberanosgregos

cIoEgito,e

tambem

emPergam

o,naAsiaMenor.

Naote-

mosasediy 6es

preparadaspeIos

eruditosdaquele

tempo,

masmuitas

desuas

observay6esestao

registradasem

co-ment<iriosm

aistardios,

especialmente

osdeEl.lstaciQ

,_arce-bispo

deTessal6nica

no§.~<:;I!IQ

~IIdanossa

era.Podia-seser

cristaoeapaixonar-se

porHomero

emBizancio,

masisso

naoocorria,

namesm

aepoca,

noOcidente.

Nenhum

rolodepapiro

resistiuintacto

aotempo;

ape-nas

fragmentos

foramencontrados,

osmaisantigos

(osdos

desertosdoEgito)

re~lOntando

aoseculo

IIIa.C.Noen-

tanto,umainvenyao

capitalperm

itiusalvar

umaparte

cIalitcratura

grcga:aorolo

sucedeu0codex,

istoe,a

livroem

formadebrachura,

talcom

oaconhecem

oshoje.

Apartir

doseculo

IIId.c.,essainvenyao

sedifunde

pelabacia

do

Mediterraneo,

aquelaaltura

jaunificada

peloImperio

Ro-

nlano.Noentanto,

eprecisolembrar

queosnossos

manuscri-

tossao

bemposteriores

aesses

fatos,jaque

cIatamapenas

cIaseculoxem

diante.Eles

saoobras

dosatelies

doImpe-

rioBizantino

(cujacapitalera

Constantinopla,

anteriormen-

techam

adadeBizancio)

-quer

dizer,doImperio

Roma-

nodoOriente

--,Estado

que,cIepois

detersicIo

reduzidoterritorial

mente

pebsinvas6es

persas,,irabes

eturcas,desa-

pareceem

1453,data

emque

Constantinopla

cainasmaos

dosultao

Maom

eII.Este

ultimoera,alias,grande

admirador

deI-Iom

ero,identificando-seentretanto

maiscom

ostroia-

nosdo'que

comosgregos.

EnoOcidente?

Ap6s

aqueda

doImperio

Romano,

0

m'rmero

depessoas

quesabiam

lergrego

sereduziu

poucoaPOlICOatetornar-se

infimo,com

umacuriosa

exce<;:ao:osmonges

irlandeses.Apesar

disso,asrela<;:6escom

0Imperio

doOriente

naodesapareceram

completam

ente.E0caso

deVeneza,especialm

ente,onde

sempre

existiuumacom

uni-dade

grega.Noseculo

XIV,0grande

poetaItaliano

Petrarcatinha,a

suadisposi<;:ao,urn

Homero

manuscrito

que,paraseu

grandedesespero,

e1eeraincapaz

deler.D

oisseculos

mais

tarde,contudo,

0poeta

francesRonsard

escrevia:"Quero

leraIliada

deHomero

emtres

dias"-lerem

gre-go,bem

entendido.Oshum

anistas,eruditos

como0bizan-

tinoBessarion

ou0t1orentino

Marsilio

Ficino,haviampre-

parada0cam

inho.Quem

leuUnehistoire

delaRenaissance,

deJean

Dclum

eau,entende

0que

euquero

dizer.Nomomento

emque

secom

c~ouautilizar

aimprcll-

sa,ascapias

manuscritas

detextos

gregasnao

foraminter-

'5'.'PSi!rompidas.

Seainda

sedizia

decertos

escritoresque

eleses-

creviamcom

o"anjos",nao

eporque

imitassem

osseres

ce-lestes,m

asporque,

sem0saber,escreviam

taobem

quantoocretense

Angelo

Vergecio,que,no

quedizrespeito

aosma-

nuscritosgregos,foi

0copista

favoritodeFrancisco

I,coroa-doreida

Fran~aem

1515,poucoantes

devencer

abatalha

deMarignan.

2.Ahist6ria

eageografia

Aguerra

deTroia

realmente

aconteceu?Osgregos

daepoca

classica(500-323

a.C)emesm

odaepoca

helenis,ti-ca(331-23

a.C)erom

ananaotinham

duvidaalgum

acorn

rela<;:aoalocaliza<;:aode

Troia-que

elescham

avamtam-

bern,com

oHomero

0faz,de

Won.

Eraperto

dolugar

noqual

seerguia,

desde0seculo

VIII,

umacidade

gre'gaque

mais

tardeentrou

para0patrim

oniorom

ano.Nosaco-

nhecemospor

descri<;:6es,inscri<;:6es,testemunhos

arqueolo-gicose

moedas.

SegundoEstrabao,geografo

contemporaneo

deVirgilio

edeAugusto

(seculoIa.C

),aTroia

deHomero

situava-seapenas

aalguns

quilometros

daqueleponto.

0tu-

mulo

deAquiles

eate

mesm

ourn

santu<irioconsagrado

aHeitor

costumavam

sermostrados

aosviajantes.

Naepoca

helenistica,haviaainda

urncurio

socostum

e:contava-se

queCassandra,

filhadePriam

o,reideTroia,

foramolestada,

.''-,_.-

....__.-._.._.".~

_.__..

--

juntoaoaltar

deAtena,por

urngrego

deLocride

chamado

Ajax,filho

deOileu,

eque,com

openalidade,

oshabitantes

dasua

cidade(situada

namargem

nortedogolfo

deCorin-

to)deviam

enviartodo

anaduas

jovensafim

deservirem

deescravas

paraAtena

Hia,a

divindadeofendida.

0grande

historiadoritaliano

Arnaldo

Momigliano

diziacom

humor

queessapnitica

eraa(micaprova

daguerra

deTr6ia.

AAsiaMenor

acaboupor

setornar

turca,eacolina

so-bre

aqual

seencontrava

Hion

recebeu0nom

edeHissarlik.

Heinrich

Schliemann,

umcom

erciantealem

aorico

eentu-

siasta,quesetornara

americano

ap6svender

indigohaRus-

sia,decidiuresolver

essaquestao

pOl'meio

deescava~6es

arqueol6gicas.Ap6s

tresanos,

nodia

14dejulho

de1873,

navespera

doencerram

entodos

trabalhos,eledescobriu

umobjeto

deouro

e,depois,diverso~

outrosartefatos,

igual-mente

deaura:

diademas,

brincos,aneis

ebrace1etes.Era

0

"TesourodePriam

o".Umpouco

mais

tarde,Schliem

annadornou

suaesposa

gregacom

as"j6iasdeHecuba",asquais

aparentemente

osaqueushaviam

esquecidodecarregar.So-

phiaSchliem

anndeua

luzumaAndr6m

acaem

1871eum

Agam

emnon

em1878.A

ssimsereconciliavam

osadversa-

riosque,na

guerradeTr6ia,tinham

seenfrentado.

Quanto

aotesouro

dePriam

o,oudeHecuba,

deperm

aneceupor

umtempo

emBerlim

.Em

1945,ap6stel'desaparecido,

osrussos

revelaramque

essapresa

deguerra

seencontrava

emMoscou.

Masnao

eradefato

0tesouro

dePriam

o.Aarqueologia

progrediumuito

depoisdeSchliem

ann.Onze

"Tr6ias"sesucederam

sobreacolina

deHissarlik,sen-

doaoitava

gregaeadecim

aprim

eirarom

ana.ATroia

do"Tesouro

dePriam

o"caTr6ia

II,que

prosperounos

Dar-

danelosentre

2500e2200

a.C.Umbom

milenio

antesda

guerradeTr6ia,segundo

adata~ao

dosantigos.A

Tr6iaque

existiunoscculo

XIlIOUXIIa.C

.eque

foidestruidapelos

homens

eaquela

querecebeu

0nom

edeTr6ia

VIIA,depois

desuas

ruinasterem

sidominuciosam

enteexam

inadaspe-

losarque61ogos:trala-se

deumacidade

deimportancia

me-

diocre,cujas

muralhas

naoteriam

condi~6esderesistir

du-rante

dezanos.E

ditlcilimaginar

queosaqueus

precisassemjuntar

for~asparaseapossar

daquelesitio

poucoimpressio-

nante.Tr6ia

VIemaisatraente

etem

muros

queainda

cum-

prem,decerto

modo,

suafun~ao

(figura5).Infelizm

enteessa

cidade,arruinada

porum

terremoto

porvolta

de1275

a.c.,naopode

tel'sidodestruida

nofinalde

umcerco,pois,

entao,teriam

osdenos

entregaracontor~6es

intelectuaisabsurdas,

imaginando,

porexem

plo,que

Posidon,0deus

domarque

osgregos

chamavam

de"aquele

queagita

0so-

lo",teriadestruido

acidade

eosassaltantes

Iheteriam

con-sagrado

umex-voto

emform

adecavalo!

Eimpossivel

fazercoincidir

umaepopeia

comumaes-

cava~ao.Etao

razoavelbuscar

aTroia

deHomero

emTroia

quantoesperar

encontraratrom

padeRolando

emROllces-

vales.Sevoces

queremfazer

umaidcia

daTroia

deHome-

ro,naodevem

iracolina

deHissarlik.

Mesm

o0Guide

bleudaTurquia

eobrigado

aconstatar

que0sitio

edecepcio-

nante.Emelhor

leraIlfada

oucontem

plarumacole~ao

devasos

gregosnos

quaisserepresentaram

diversosepisodios

daguerra

legendaria.Entlm

,Heinrich

Schliemann

aindaviria

aespantar

emaravilhar

0mundo.

Em187fi

e l"descobre

emMicenas,

anordeste

doPeloponeso,

llmLUII)L1lltOde

tllmbas

reaisem

formadefossos.N

llmtlos

esqLlelctoshaviaLIm

andscarade

ouroque

0pesquisador

atribuiudeimediato

aAgam

em-

non.Logo

aseguir,telegrafou

aoreiJorge

IdaGrecia

parainform

a-Iodeque

identificaraatum

badoseu

lendariopre-

decessor.Assim

comoem

'lr6ia,aspesquisas

quesesucederam

pormaisdeurn

seculo-nao

apenasemMicenas

mastam-

bemem

muitos

outrosshios

doPeloponeso,

daGrecia

cen-tral,e

aindadeCreta

edas

ilhas-vieram

acom

plicaresse

quadro.Comoaevolu\ao

hist6ricadessas

regioeseretratada

hojeem

dia?Admite-se

que,nofim

doterceiro

milenio

an-tesda

eracrista,entre

2200e2000,um

anova

popula\aote-

nhainvadido

aGrecia.Essa

popula\aofala

umalingua

que,com

0tempo,

setransformaria

nogrego.Sofrendo

ainfluen-

ciadaciviliza\ao

minoica,

quesedesenvolvera

anteriormen-

teem

Creta,

elacria

umacultura

cujosvestigios

materiais

remontam

a1600a.C

.aproxjmadam

ente.Fortalezassan

cons-truidas,

tumbas

reaissan

cavadas-asque

Schliemann

des-cobriu

-,eaparece

umavariedade

deobjetos

dearte:afres-

cos,ceramica,

objetosdebronze

edeouro.

Trata-sedeuma

civiliza\aomilitar

quecontrasta

comCreta,onde

ascidadeseospalacios

naosan

fortificados.Por

voltade1300

apare-cern

astum

basreais

monum

entais,em

formadecolm

eia,com

o,por

exemplo,

0"Tesouro

deAtreu"

emMicenas,tum

-bas

quepodem

serencontradasnum

aboa

partedaGrecia,

inclusiveem

Cefalonia,no

reinodeUlisses.O

sautores

mo-

dernosseviram

frequentemente

tentadosaidentificar

astum

basreais

comumanova

dinastia,ados

atridas,cujoper-

sonagemmais

conhecidoeAgam

emnon,

0chefe

daexpe-

di\aodeTroia,segundo

aIliada

eaOdissCia.

Essaciviliza\ao(que

foibatizadade"micenica")

desapa-

receupor

voltade1200

a.c.,nomomento

dagrande

criseque

sacudiu0Mediterraneo

orientaleque

echam

ada,nos

documentos

egipcios,deinvasao

dos"povos

domar."

As-

sim,por

exemplo,

desembarcam

,noterritorio

queviria

asera

Palestina,bandos

dehorn

ensvindos,

aoque

parece,de

Creta

eque

sanconhecidos

comofilisteus.

Quando

digoque

essaciviliza\ao

"desapareceu':nao

me

refiroaos

homens,

massim

atodas

asestruturas

economi-

casesociais.N

ocentro

decada

urndos

sitiosdaciviliza\ao

micenica,

haviaurn

palaciogovernado

porurn

soberano(em

gregoanax),

assistidotalvez

porurn

chefedos

guerrei-ros.0

soberanoexercia

umaautoridade

absoluta,inclusive

nodom

inioreligioso.

Elecontrolava

osrecursos

agricolase

oconjunto

dorebanho

deumaregiao

etinha,a

suadispo-

si\ao,armasecarros

deguerra.

Essasestruturas

eramfra-

geisporquecareciam

dosrecursos

espaciaisehidraulicos

quehaviam

permitido

aciviliza\ao

egipciadurar

porvarios

mi-

lenios.E0que

demonstra,

porexem

plo,0carater

monum

en-taldas

tumbas

deMicenas,

queevocam

mais

aspiram

idesdoEgito

doque

asnecropoles

daGrecia

arcaicaeclassica.

Somente

noseculo

IVantes

daera

cristaeque

reaparece-rao,

emregioes

distantesdas

principaiscidades

gregas,0$

monum

entosfunerarios

degrande

extensao:emHalicarnas-

so,naAsiaMenor,

com0tum

ulodoreiM

ausolo(0"mau-

soleu"),enaMacedonia,

comanecropole

realdeVergina.

Eesse

mundo

micenico

queHomero

descreve?ATroia

dePriam

o,aPilo

deNestor,a

EspartadeMenelau,

aMice-

nasdeAgam

emnon,

aItaca

deUlisses,por

fim,san

todaselas

realidadeshistoricas

dosegundo

miIenio?

Nem

todososeruditos

estaodeacordo

quantaaesse

ponto.Por

issodarei

aminha

opiniaodaform

amais

clarapossive!.

Talcomoseveem

,nascam

pinasdaAsia,as

margens

doCaistro,passarosalados,gansosou

cisnesdelongo

pescoyo,em

bandosnum

erosos,voarpara

todososlados,batendo

altivamente

asasas,unsafrente

dosoutros

e,depois,pou-sar,com

alarido,fazendotodo

0prado

ressoar.

IIdaIliada,

masapenas

comourn

paiscari~,cujos

comba-

tentessesituam

nocam

potroiano.

Ailha

deSam

oseuma

simples

referenciageografica

relacionadacom

Iris,mensa-

geirados

dellses,etun

localdevenda

deprisioneiros

como

escravos.Esm

irnaeQuios

estaoausentes

dageografia

ho-merica.Mas0bto

deHomero

terdesejadoevocar

aGrecia

mi-

cenicanao

significaque

eleatenha

efetivamente

descrito.Para

come<;:arest.i

tlltando,entre

outrascoisas,

aescrita

dosescribas

etoda

asociedade

queelaimplica:

sociedadedom

inadapelo

palaciodorei.Evidentem

enteAgam

emnon

e0reidos

reis,eUlisses

e0reideItaca

edealgum

asilhas

queacercam

,maseles

naosan

soberanosabsolutos.

Aga-

memnon

naotom

adecisao

semreunir

aassem

bleiados

guerreirose0conselho

dosreis.D

amesm

aform

a,Alcinoo,

reidosfeaces,e

Priamoconvocam

osseus

aliados.Pode-se

falar,dolado

aqueu,deumasociedade?

Temosapenas

0qua-

drodeurn

exercitoem

campanha,

doqual

asmulheres

eas

crian<;:asestaolonge

-com

o,porexem

plo,Telem

aco,filhodeUlisses.,m

encionadoduas

vezesna

Iliadamasque

ter,,'!um

papelcapitalna

OdissCia.Dolado

aqueu,ainda,

umllni-

covelho:

Nestor;

osoutros,

comoPeleu,

paideAquiles,

eLaertes,pai

deUlisses,esU

olonge.

Urnexercito

cobertode

bronze-0que,na

epocadeHomero,

homem

daIdade

doFerro,tinha

urnsabor

exotico-,

masum

excrcitocom

ple-tamente

imaginario,

assimcom

o0muro

construidopelos

aqueuspara

protegerosseus

barcos(que

Homero

tern0

cuidadodeinform

arque

veioadesaparecer

inteiramente).

Quanto

aoscam

poneses,ell'S

debto

existemna

Ilfildil,mas

unicamente

nascom

para<;:oes.Homero

nadadiz,na

Iliada,

Tomemos

0exem

ploda

Can~aode

Rolando.Naoha

dtividadeque

0seu

autor(que

secham

avaprovavelm

enteTuroldo

esobre

0qual

naosabem

osnada)

acreditavaestar

descrevendo0tempodeCarlos

Magno.

Arealidade

eintei-

ramente

outra,eosseus

guerreirosestao

bemmais

proxi-mosdos

guerreirosdomundo

feudal.Alcm

disso,habastan-

tecam

podeixado

para0imagin"lrio.

Semduvida

Homero,

autordos

doispoem

ascpicos,

quiserapintar

umasociedade

muito

antiga.Agrande

maio-

riados

lugaresque

evocasesitua

naGrecia

propriamente

ditaounas

ilhas,incluindoCreta,

que,paraeIe,e

urnmun-

doaparte,bem

complexo.Esseslugares

correspondem,com

frequencia,alocalidades

ondeosarqueologos

identifica-ram

sHios"m

icenicos".Alguns

chegaramasustentar

que0

"Catalogo

dosbarcos':

nocanto

IIdaIliada,

eraumaespc-

ciedequadro

geograficodomundo

micenico,

0que

ebas-

tanteduvidoso.

0que

cnotavel

constatareque

.~.Grec:ig_

asi_*t}S~J__<:!.<:_<'?_12<:!.~_l:!g_!~~£..~I~,"9E!gi!~~Ei.9L!:.~!~

..EE<l!!~<l!l1.~nt~..,

~l.1ie!1!<:_<:!(l£lfi:l.4a,:.0valedoCaistro

sofigura

numatinica

imagem

,alias

magnifica:

Mileto,

0vale

doMeandro

e0monte

Micale

-que

sepode

avistarapartir

dolitoral

deSam

oscom

oseFosse

0

fronUodeurn

templo

-estao

defato

presentesnocanto

acercadotempo,

comexce<;:aodas

compara<;:6esou,

como

nocanto

XIIdomesm

opoem

a,deumanarrativa

quesesi-

tuafora

dotempo;

ese0~scam

androtransborda,

nocan-

toXXI,nao

eporqueesteja

chovendo,masporque

0riaten-

.taafogar

Aquiles.M

aisumavez,sao

ascom

para<;:6esenao

arelato

epicoque

abremumajanela

para0mundo

"real':Entretanto,

segundoasarqueologos,

algunsobjetos

des-critos

porHomero

jahaviam

desaparecidocom

pletamente

naepoca

emque

elecom

posseus

poemas.0exem

plomais

notavele0docapacete

que0cretense

Meriones,

nocanto

X

daIliada,

colocasobre

acabe<;:ade

Ulisses.

P()e-lhe,nacabe<;:a,urn

capaceterecortadonocom

odeurn

boi.Nointerior,eleesustentado

porrntiltiplascorreias.No

exterior,estaocoJocadas,em

grandenurnero

ecomexcelen-

tearte,aspresasalvase

luzentesdeurnjavali.

Objetos

assimforam

encontradosnas

escava<;:6esdemo-

numentos

daera

micenica,

sobaform

adecapacetes

oude

modelos

reduzidos.0poeta

teriavisto

taisobjetos?

Naoes-

que<;:amosque

eleressalta

asua

antiguidade,umavez

que,segundo

0texto,quatro

personagens,antes

deMeriones,

jaohaviam

usado.Edificilsaber.O

utraexplica<;:ao,evidente-

mente,

eque

elesoubesse

desua

existenciapor

tradi<;:aooral.

Masessa

naoeumahipotese

quesepossa

formular

comfreqiiencia.

Nocanto

XVIIIdaIliada,

Homero

descre-velongam

ente0escudo

que0deus

ferreiroHefesto

fabri-cou

paraAquiles.N

enhumobjeto

dessegenero

-noqual

seveem

,aomesm

otempo,

0mundo

inteiroeduas

cidadesbastante

diferentes-jamais

existiu,eseria

vaoimaginar

queHomero

tenhaseinspirado

nummodelo.

ocaso

dt6diSSeifsuscitaproblem

asmaiscom

plexos.Desde

aAntiguidade,

identificou-seailha

dosfeacesa

Cor-

cira,hojeCorfu,nas

ilhasjonias,aoeste

daGrecia.Em

1797,quando

Napoleao

Bonaparte

seapossou

deCorfu,

queper-

tenciaentao

aRepublica

deVeneza,observou

que"ailha

deCorcira

foi,segundoHomero,

apatria

daprincesa

Nausi-

caa"eque

0bispo

dailha,

aoreceber

0oficial

francesque

comandava

astropas

dedesem

barque,entregou-Ihe,

sole-nem

ente,urn

exemplar

daOdisseia.

Desde

aAntiguidade

tambem

,asetapas

daviagem

deUlissesentre

Troiaeailha

dosfeaceseram

consideradaslen-

darias.E0que

sepensa

hoje?Esfor<;:osenorm

esforam

rea-lizados

porinum

erosestudiosos

paraidentificar

atemes-

mo0menor

rochedoencontrado

porUlisses

entreTroia

eItaca,na

suaviagem

deretorno.

Urnerudito

frances,Victor

Berard

(quefoitam

bemurn

politico),traduziu

aOdisseia

eseesfor<;:oupor

demonstrar

que,portras

dessaobra,

revela-va-se

urndocum

entodeorigem

fenicia-osfenicios

habi-tavam

0litoral

doatual

Ubano

-eque

cadaetapa

davia-

gemcorrespondia

aumalocalidade

assinaladanomapa.

0resultado

mais

concretodessa

pesquisafoium

acole<;:aode

fotosque

nosdao

aconhecer

numerosos

sitiosdoMediter-

raneodignos

deserem

admirados,

masque

nemUlisses,

nemHomero,

0poeta

daOdisseia,

jamais

visitaram.

oque

complica

aindamaisascoisas

eque

ha,naOdis-

seia,diversasnarrativas

diretasdeviagens

-quando

0pro-

priopoeta

asrelata

-eindiretas,

quandourn

personagemtom

aapalavra.

Diretas

saoasviagens

doproprio

Ulisses

entreailha

deCalipso

eados

feacese,depois,

entreesta

(11-

timaeItaca.D

iretatambem

eaviagem

deseu

filhoTelem

a-

codesde

ItacaatePilo

eLacedem

onia,com

retornoaItaca.

Indiretaeanarrativa

queUlisses

faz,nacasa

deAlcinoo,

desuasviagens

entreTr6ia

eailha

deCalipso,a

qualpodem

osacrescentar

0relato,

porparte

deMenelau,

desua

viagemaoEgito,onde

0mago

ProteuIheinform

a0destino

deUlis-

seseonde

tambem

Iheerevelado

0sinistro

destinodeAga-

memnon

-assassinado

porsua

esposaepelo

amante

desta,Egisto

-,bem

como0deAjax,filho

deOileu,

precipitadonomarpor

Posidon.Podem

osacrescentar

aindaosrelatos,

teoricamente

falsos,deum

Ulisses

transformado

emcreten-

seque

eontaaEum

eu,0guardador

deporcos

deItaca,suas

aventurasem

Creta,na

Troade,noEgito,na

LibiaenoEpi-

ro-relatos

repetidospor

Ulisses

disfanradoaPenelope.

Eisso

semfalarde

Eumeu,

quetern

assuaspr6prias

aventurasnas

quaisosfenicios

desempenham

umpapel

importante.

Assim

comonao

ehistoriador,

Homero

tambem

naoe

ge6grafo,mesm

oseeonsiden!veis

esfor<;:oscontinuamaser

feitosnos

nossosdias,

aexem

plodoque

tambem

ocorreunaAntiguidade,

nosentido

dereconstituir

0mundo

talqualell.'0

imagina.

Saoraras

asindica<;:6estopognificas

naOdis-

seia.Ainda

assim,0pais

dosmortos

estasituado

nonorte,

terradofrio,

0que

ebastante

naturalpara

urnautor

medi-

terraneo.Naoelevantando

essetipodequestao

quesepode,pen-

soeu,explicar

aOdisseia.

Existeefetivam

enteurn

mundo

que,aosolhos

deHomero,

eurn

mundo

real.0indicio

quedenota

a"realidade"desse

mundo

e0fato

deque

oshomens

cultivamaterra

eque

estaproduz

trigopara

fazerpao.Bern

entendido,Itaca

perteneeaomundo

doshom

ens.Aimen-

samaioria

doseruditos

identifica-aailha

joniadeThiaki,

cujonom

eoficialejustam

enteItaea.A

iseencontrou

urnan-

tigoeulto

doher6i

Ulissese

tambem

sedescobriu

umagru-

taonde

haviamsido

conservadosnum

erosostripes

debron-

ze.Noentanto,

oshabitantes

deumailha

vizinha,denom

eCefalonia,que

segundoHomero

faziaparte

doreino

deUlis-

ses,temfeito

umacam

panhaencarni<;:adapara

convencer-nos

deque

s6ailha

deles,emvirtude

deseu

tamanho,

pai-sagens

ebeleza,e

dignadetersido

aftaea

deI-Iom

ero.Telem

acos6viaja

nummundo

"real".Deltaca,

elega-

nhaPilo,onde

reina0velho

Nestor;

depoisEsparta,

reina-dodeMenelau

edasem

prebcla

rainhaHelena.

Menclau

eHelena

ficaramretidos

noEgito

duranteaviagem

deretor-

F"

1"I"

.,t

tl'

no.,sse

palSe)astante

rea,p

queasua

erraam

)('mproduz

trigo,mase,alem

disso,umlugar

magico.M

enelauconsulta

0feiticeiro

Proteu,eHelena

consegueurn

remedio

perfeitopara

ainsonia.

Quando

Ulisses,fingindo

sercreten-se,relata

asdiversas

provaspor

quepassou

emCreta,

naTroade,

noEgito

enoEpiro,ell.'se

inspiranomlnim

o,evi-

dentemente,

nummuneIo

"real".Nomundo

dasviagens

narradaspor

Ulisses

emterra

fdeia,haver,!um

poucodoque

0poeta

JacquesPrevert

cha-mava

de"as

terrificantespercal<;:osda

realidade"?0ponto

departida,

Tr6ia,eimaginado

como"real",da

mesm

aform

aque

0povo

doscicones,

naTraeia,contra

0qual

Ulisses

sebate

edequem

obtem0vinho

queembriagara

0cic10pePo-

Memo.D

epoisUlissescosteia0

litoraldaGrecia

oriental.Apos

oeabo

M,lIea,no

extremosuIdo

Peloponeso,enfrenta

uma

tempestade

epassa

aolargo

dailha

deCitera.

S6ap6s

dezdias

deborrasca

eque

entranum

mundo

totalmente

dife-rente,

0daf~lbL1la,0do

nao-humann.

Acultura

dotrigo

eurn

criterioabsoluto.

Setomarmos

asduas

outrasplantas

quefazem

partedacham

ada"trilo-

giamediterranica"

-avinha

eaoliveira

-,constatarem

osque

elaspodem

estarpresentes

nomundo

selvagem,0que

naoocorre

com0trigo.A

setapasdas

viagensdeUlisses

nosperm

itemverificar

queeleencontra

orapersonagens

supe-rioresa

humanidade

vivaemortal,

oraproxim

osdahum

a-nidade,

orafinalm

entealem

dela.Alem

dassereias,

cujocanto

mortal

jamencionei,

h,ioutras

deusas,comoCirce

eCalipso,que

receberamUlisses

noseu

leito.Circe

eumamaga

quetransform

aoscom

pa-nheiros

deUlisses

emporcos

(figura32).A

visadopelo

deusHermes,

Ulisses

evitaesse

desastre,recupera

osseus

cama-

radaseconsegue

queadeusa

Ihedeconselhos

deviagem

bemuteis

(figura31).Q

uantoaCalipso,ela

Iheoferece,alem

doseu

leito,0que

sepoderia

chamaI'de

"naturalizac;:aodivina':Ulisses

recusa,preferindo

permanecer

humano

erecncon-

trarPenelope.

Eessa

opc;:aopelahum

anidadeque

dasigni-

ficadoaopoem

a.Uma(mica

divindadeemasculina:

Eolo,senhor

dosventos,que

osencerranum

odre,0qual,pO

l'uma

imprudencia

fataldoscom

panheirosdeUlisses,e

abertonas

proximidades

deItaca.Eolo

ecasado:

ternseis

filhoseseis

filhas.Cada

filhohom

emecasado

comairma.Entre

osho-mens

issoeconsiderado

incesto,masosdeuses

naotem

taislimitaC

;:6es.J__\

Imortais

saotambem

asvacas

doSol,anim

aisdivinos

""queoscom

panheirosdeUlisses

cortamempedac;:ose

cozi-nham

.Elespagarao

essecrimecom

apropria

vida,esoUlis-

sessobrevivera.Apos

atempestade,

Ulissesdesem

barcanaterra

dosco-

medores

deIot6s,os10tO

fagos.Trata-sedeum

frutoque

fazperder

jL!1].o~mQJiflo~Q

oQ~_~~jQ

og~Y"Qlt('l.r

('lgJi.l.!.Amemori<!~

.apam

l~Qs..hom

ens,eUlissess.eabstern

de('::Qm~IIQ

JQs._

ociclope

Polifemoeum

canibal,com

edoI'dehom

ens.Ele

devoravarios

doscom

panheirosdeUlisses

inteiramen-

tecrus

eevencido

somente

pelaembriaguez.

Sabe-sequ~

Polifemoeum

monstro

deurn

olhoso,m

as,mais

doque

isso,fazparte

deum

povoque

naoconhece

nemaagricul-

turanem

avida

emsociedade.

Osciclopes

saocriadores

deanim

ais,nam

ades,pastores.

Jaoslestrigones,

canibaistal11-

bern,saopescadores

quecapturam

oscompanheiros

deUlis-

sesdamesm

aform

aque

ospescadores

gregos,italianosou

arabespegam

atumnas

redesdeumaalmadrava.

Mencio-

nemosfinalm

enteCgriEJ:!~s;C

ila,quemuito

cedovieram

asimbolizar

0estreito

deMessina,

entreaSicilia

eaCalabria,

ouseja,

aponta

dabota

italiana,onde

aindahoje

existeumacidade

denom

eScilla.Sao

elastambem

seresmons-

truososque

naohesitam

emdevorar

homens

quandoaoca-

siaoseapresenta.

"Aolado

dahum

anidadeviva,

haosmortos

aosquais

Uiisses

temacesso

sacrificandoumaovelha

negra.Osmor-

tosnao

comem

pao,masbebem

sangue.Ulisses

encontra,nopais

dosmortos,

0adivinho

Tiresias,que

Iheanuncia

suasfuturas

viagens,asom

braimpalpavel

desua

maeetam

-bem

asdos

seuscom

panheirosdecom

bate,bem

comoas

deumaserie

demulheres

ilustres.Esem

duvida0momen-

todaviagem

emque

0heroi

estamais

afastadodahum

a-nidade,

jique

0sacrificio

realizado0distanciou

davida,)

Entreosdeuses,

osmonstros,

osmortos

eaterra

doshom

ens"com

edoresdepao",hi

personagensinterm

ediarios

comooshabitantes

dailha

dosfeaces.PO

l'umlado

saoho-

mens,

jaque

conhecemavide,

aoliveira

e0cultivo

dotri-

go,mas,pOI'outro,

costumam

recebervisitas

dosdeuses

eforam

outroravizinhos

doscielopes.

Saonavegadores

pro-fissionais,porem

fingemdesprezar

oscom

erciantes.Vivem

perpetuamente

emfesta,

damesm

aform

aque

ospreten-

dentesinstalados

emItaca,no

palaciodeUlisses.

Inicialmente,

Ulisses

foiretratado

comonavegador.

Eassim

que0veDante

noInferno,

etamb6n

0escritor

gre-goKazantzakis,

nacontinua<;:ao

queelaborou

paraaOdis-

seia.Oshabitantes

gregosoubarbaros

daItalia

bemcedo

fizeramdeUlisses

umdeseus

herois.Eletem,por

exemplo,

umpapel

muito

importante

entreosetruscos,

povoque

ocupavaaarea

quehoje

chamamos

Toscana.Em

resumo:

_OrUlissese

consideradoum

intermediario,

eisso

eledeveaque-

lesque

nos_transmitiram

oscontos

easlendas

daOdissCia.

Ora,quanto

aoUlisses

deHomero,

elesonavega

eexplora

foryado.Num

determinado

momento,

0adivinho

Tiresiaslhe

anuncia,nos

Infernos,que

eleencontrara

amorte

-umamorte

longedomar,um

amorte

tranqUila-quando,

aposumaultim

aaventura,

umviajante,

aoencontra-lo

nu-maestrada,

tomar0remoque

eleestara

carregandoaoom-

bropor

umapeneira

dejoeirar

trigo.Esta

ai0simbolo

deque

0seu

destinosevincula

naoexatam

enteaomar,mas

simaterra

"queda0trigo".

3.Gregos

etroianos

Noseculo

va.c.,que

seconvencionou

chamaI'de

epo-caelassica

(aque

esimbolizada

pelosmonum

entosdaAcro-

poledeAtenas),

oshom

enscostum

avamserdivididos

emduas

categorias:osgregos,

chamados

dehelen

os-ainda

hoje0nom

eque

prevalecenaGrecia

._,cosb<.l1'ba1'os.Apa-

lavra"lxlrbaro"

temce1'tam

enteumaconota<;ao

pcjorativa,mas0seu

sentidoinicialsignifica

simplesm

ente"aquc!c

quenao

fala0grego

eque

pareceestar

balbuciando':Naoset1'a-

tadeumaoposi<;:aode

"ra<;:as".Muitos

g1'egosescreve1'am:

torna-segrego

pelaeduca<;:ao,apaideia,

enaopelo

nascimen-

to.AGrecia

sefezGrecia.E

0que

Tuddidesexplica

jano

iniciodasua

obra-prima,

Hist6riadaguerra

doPeloponeso.

Essaoposi<;:aoentre

gregosebarbaros

apareceaolon-

godas

Hist6riasdeHe1'odoto,

0historiador

queprecedeu

Tllcidides.Her6doto

desejavasaber

deonde

vinha0contli-

toentre

gregosepersas

-0que

noscham

amos

deguerras

medicas

-e,entre

osantecedentes

desseconflito,

ineluiu0

raptodeHelena

pOl'Paris,epis6dio

quedesencadeou

aguer-

radeTr6ia.PO

l"tanto,paraele,os

troianossaD

barbaros,e0

mesrno

ocorrecom

rela<;:aoaosgrandcs

poetastdgicos

doscculo

v:Esquilo,

SMocks

eEuripides.

Tr6iae,para

eles,umacidade

barbara,ainda

queEuripedes

sequestione,

cla-ramente,

sobre0valor

dessaoposi<;:ao.

Equanta

aHomero?

Tuddidesjahavia

observadoque,

naIliada,

Helade

naoe0nom

egenerico

doque

n6scham

a-mosGrecia.

Helade

e0nom

edeumaparte

daTessalia,na

areacentral

daGrecia

continental,e,no

"Catalogo

dosbar-

cos':nocanto

IIdaIliada,

e,juntocom

aFtia

(0pais

dosmir-

midones),

aregiao

deonde

vemosguerreiros

comandados

parAquiles,"0

melhar

dosguerreiros':

Quando

Homero

quersereferir

aosque

sitiam'1'r6ia,em

pregaindiferentem

ente,aoque

parece,tres

termos:

aqueus,danaos

(descendentesdeurn

dosreis

miticos

quecriaram

aGrecia)

ouargivos.

Argos

eumacidade

aonorte

doPeloponeso,

edom

iniode

Agam

emnon,

semserverdadeiram

entedistinta

deMicenas

(daqual

estadistante

apenasuns

oitoquilom

etros).Mas

houveoutras

Argos,na

Grecia

setentrional,eapalavra

sig-nifica

provavelmente

"planiciebem

visivel".Osaqueus,

emepoca

classica,eramoshabitantes

deumaparte

doPelopo-

neso,mashamen<;:aoa

eles,aoque

parece,emdocum

entoshititas

daAsiaMenor,

nofinal

dosegundo

milenio.

l.Qque

acabeidedizer

sobreoshelenos

eaHelade

s6vale

paraaIliada.

0term

oHelade

naOdisseia

jaesta

pr6-xim

odeseu

sentidoclassico,0

queeumaprova

suplemen-

tardoseu

caratertardio

edeque,

nasua

elabora<;ao,haa

maodeurn

outropoet~j

Eostroianos?

Para0

daIliada

elessaD

"barba-

ros"?Naverdade,

essapalavra

edesconhecida

deHomero.

M~i~"~~;t~~~~te,"

quandotrata

doscarios

deMileto

-quer

dizer,osvizinhos

bempr6xim

osdos

jonios-,

eleos

chamade"barbar6fonos':.

Seassim

possodizer,

(0j{mio

quefala

dessaform

a,enao

0aqueu,

0qual

ocupa,noseu

texto,umlugar

deprotagonista.

Nada

maisnatural.

0"bar-

baro"esem

pre0vizinho

quenao

falaanossa

lingua.Os

russos,por

exemplo,

chamam

osseus

vizinhosalem

aesde

"mudos",isto

e,aquelesque

naofalam

russo.Troianos

eaqueus

naosediferenciam

maisclaram

entedoque,por

exemplo,

oscristaos

eossarracenos

daCant;aO

deRolando.

Veneram

osmesnios

deuseselhes

fazemsacrifi-

cios.Haurn

santuariodeAtena

emTr6ia,apesar

deessa

deu-sasertotalm

entehostil

aostroianos.

Naoha,entre

aqueusetroianos,

0menor

problemadecom

unica<;ao,amenor

alu-SaD

aofato

deque

elesnao

poderiamfalar

amesm

alingua.

Com

certezaisso

decorredasconven<;6esdo

generoepico.N

ofim

dascontas,

tambem

Polifemo,na

Odisseia,

falagrego.

Heitor

naoera,absolutam

ente,nos

tempos

posterioresaHomero,

0nom

edeum

barbaro.Sem

duvidaalgum

a,um

Heitor

foireiem

Quios.

Havia

umcuho

deHeitor

emTe-

base,em

Taso,ilhavizinha

dascostas

daTracia,

umacir-

cunscri<;aodacidade

levava0nom

ede"Priam

ides",0que

espantou0arque610go

quedescobriu

asua

existencianu-

mainscri<;ao

lapidar.Nocanto

IVdaIliada

haumapassagem

acercadoexer-

citotroiano:

Nern

todastern

amesm

asataque

auidiam

asem

elhante:as

IinguassemisturaJ?;

egente

vindadepaises

diversas.

MasHomero

toma0cuidado

dedistinguir

ostroianos

propriamente

ditosdeseus

aliados.Isso

ocorre,por

exem-

1'10,nocanto

x:

Nossos

ilustresaliados,

diz0troiano

0610n,dorm

em;no

quediz

respeitoaguarda,

fiam-se

nostroianos;

eporque

naotern

crian<;:asnemmulheres

vivendoaolado

deles.

Aiesta,

efetivamente,

amaior

diferen~a.Ostroianos

formam

aquiloque

secham

acidade:

homens,

mulheres,

ve-Ihos,

crian~as.Asmulheres

sao-nem

todas-esposas

le-gitim

as.Assim

,Andr6m

acacom

Heitor,

Hecuba

cornPria-

mo.Nosleitos

dosaqueus

sodorm

emconcubinas.

Paraurn

periododedez

anosdesitio,

Homero

naofaz

alusaoaonas-

cimento

deumaunica

crian~a.Quando

Patroclomorre,

Bri-

seida,com

panheiradeAquiles,

explicademaneira

tocante(embora

0poeta

tenhaposto

nessapassagem

urnpouco

dehum

or)que

0jovem

thehavia

prometido

fazerdela

aesposa

legitimadodivino

Aquiles,

0qual

aleva-

riaabordo

desua

naupara

aFtia,onde

seriamcelebradas

asbodas

napresen<;:ados

mirmidones.

Essasnupcias,

queimplicavam

0retorno

deAquiles

aoseu

pais,nao

aconteceram,

tampouco

foramrealizadas

asbodas

domesm

oAquiles

comIfigenia,

filhadeAgam

em-

noneClitem

nestra.0pai

prometera

Ifigeniaaoheroi

emtroca

doretorno

destealuta.

Asbodas

sao,tambem

,para

Homero,

umaocasiao

depraticar

0que

sepoderia

chamar

dehum

ornegro.

Nocan-

toIII,Idom

eneu,cretense

j,iidoso,mata

Otrioneu,

quefora

socorrerTroia

comaesperan~a

dedesposar

Cassandra,

fi-Iha

dePriam

o,"aprim

eiraem

beleza".Triunfante,

Idome-

neucarrega

0cadaver,

proclamando

que0noivQ

deCas-

sandravai

entaocasar-se

comumafilha

deAgam

emnon,

elatambem

"aprim

eiraem

beleza".Entre

osdanaos

eosque

combatem

porTr6ia,

asrel'1-

~i)es,sobreum

panodefundo

deguerra

deaniquilam

entQ,

podonter

momentos

decortesia.

E0que

sepassa

nocan-

toVIquando

seencontram

Diom

edeseGlauco,

originariodaLlcia.

Osdois

homens

comparam

assuas

genealogiase

c1escobremque

saohospecles

hereditariosum

dooutro.

Essarela~ao

dehospitalidade

reciprocaetao

fortequanta

umarela~ao

deparentesco.

Osdois

homens

permutam

assuas

armaduras,

mas,

aquinovam

ente,Homero

mostra

0

seuhum

oreasua

ironia:

Mas,nesse

momento,

Zeus,filho

deCrono,

retiratambcm

deGlauco

arazao

jaque,ao

carnbiarassuas

armascom

Dio-

medes,

0filho

deTideu,

elethe

daOllro

erntroca

debronze

-0valor

decern

boiscontra

0denove!

Heitor

eAjax

tambem

permutam

presentes,mas

em

condi~oesmais

eqiiitativas.Aimparcialidade

deHomero

ernrela~ao

aosherois

dosdais

campos

quesedefrontam

etotal?

Trata-sedeumaques-

taodificil.

Alguns

leitoresacham

ateque

0poeta

emais

fa-vodvel

aostroianos

doque

aosaqueus.

Earesposta

instin-tiva

damaio

riados

leitores

modern

os.Umcritico

britanicochegou

mesm

oasugerir,

haurn

seculo,que

Homero

deve

Magnim

imofilho

deTideu,

porque

meperguntas

sobre0

meunascim

ento?Assim

comonascem

asfolhas,

assimfa-

zemoshom

ens.Asfolhas,

umaauma,0vento

asespalha

pelosolo,enquanto

eafloresta

verdejanteque

asfaznascer,

quandochegam

osdias

deprim

avera.Damesm

aform

aos

homens:

umagera<;:aonasce

noinstante

mesm

oem

queClU-

traseapaga.

Pobretolo!

0ouro

naoafastara

deleamorte

cruel:caini

pertodorio

sobosgolpes

doEacida

depes

ligeiros[Aqui-

les1esera

0belicoso

Aquiles

quemganhara

todoesse

ouro.

tersido

troianoou,

pelomenos,

filhodeumatroiana.

Nada

emais

comovente

paran6s,

leitoresmodernos,

doque

osencontros

entrelIeitor

eAndr6m

aca,0doce

di,ilogodocan-

toVI,na

presel1<;:adofilho

Astianax,

e0desespero

daviuva

nocanto

XXII.Indigna-se

0leitor

moderno

aoconstatar

queAquiles

mata

Heitor

com0auxilio

deAtena,

quenao

hesi-taem

tomar

aaparencia

doirmao

deHeitor

paraconduzi-

10,mais

rapidamente,

amCHte.Masesquece

que,quando

Heitor

mata

Patroclo,isso

efeito

com0concurso

diretode

umaoutra

divindade,Apolo

empessoa

(figura15).

Finalmente,

comoesquecer

queaIliada

termina

comosfunerais

deHeitor,

depoisque

Priamosuplica

aAquiles

adevolu<;:ao

docorpo

deseu

filho(figura

20)?

Todososhom

enssao

mortais,

inclusiveosfilhos

dedi-

vindadescom

o,por

exemplo,

Eneias,filho

deAfrodite,

eSarpedon,

filhodeZeus;

edo

!adogrego,

Aquiles,

filhode

Tetis.Todos

oshom

enssao

mortais,

inclusive,bem

cnten-dido,

Heitor,

0qual,

segundoposidon,

gaba-sedeser"0fi-

IhodeZeus,

0forte",

masisso

naoquer

dizerque

todosos

homens

sejamiguais,

muito

pelocontnirio.

Issovale

para

osdoiscam

pos,eeuvoltarei

aoassunto.

ComoTr6ia

sedistingue

dossitiantes?

Elatern,

aos

olhosdos

gregos,alguns

tra<;:osorientais:apresenya

abun-dante

doouro

nacidade,

porexem

plo,etambem

nosador-

nosdos

guerreirosaliados

deTr6ia.

Javim

os0caso

deGlau-

co,mas0deReso,

reitnicio,

emais

notavelainda:

Seucarro

eornado

deouro

edeprata.

Chego u

aquitrazen-

doarm

asdeouro

gigantescas.Tao

maravilhosas

quepare-

cernapropriadas

paradeuses

enao

parasimples

mortais.

'Hmtoosaqllclls

comoostroianos

sao,igualm

ente,hc-

r6ismortais,

her6isque

sabemque

saodestinados

amorte.

Assim

,nocanto

VI,Glauco,

licioaservi<;:ode

Tr6ia,questio-

nadopor

Diom

edcssobre

asua

genealogia,Ihe

responde:

Umdos

aliadosdeTr6ia,

nofinal

docanto

II,"marcha

para0com

batecoberto

deouro,

comoumamo<;:a";0

co-

mentario

esarcastico:

Haouro,

certamente,

noescudo

queHefesto

forjara

paraAquiles

nocanto

XVIII,

depoisque

Heitor

seapossa

desuas

armas

juntoaocadaver

depatroclo.

Masnao

setrata

deumaarmadura

deouro.

Outro

tra<;:ocaracteristicodeTroia

eapresen<;:ado

pa1<i-ciodePriam

o,0velho

rei.Homero

mostra

Heitor

chegandoohom

emmaisfeio

queveio

paraTr6ia.M

anco,defeituoso,

aindapor

cimaecorcunda

e,no

seucranio

pontudo,ha

muito

poucocabelo.

diantedopalacio

dePrfam

o,ornado

dep6rticos

refinados.Laestao

oscinqiienta

quartosdepedra

polida,construidos

emseqikncia,

ondedorm

emosfilhos

dePriam

o,aolado

desuas

legitimasesposas.D

ooutro

lado,em{i'ente,estao

osquar-tos

dasfilhas,doze

camaras

depedra

polida,U

1umteto

emform

adeterra<;:o,construidas

emseqiiencia,

ondedor-

mem

osgenros

dePriam

o,aolado

desuas

dignasesposas.

Naoeurn

retratolisonjeiro.

Mas,nesse

cantoII,que

faz0catalogo

dosguerreiros

gregosetroianos,

eum

exem-

ploquase

unicodeluta

declasses.Ele

investecontra

Aga-

memnon:

CinqU

entafilhos

edoze

filhas.Isso,evidentemente,

naotern

nenhumsentido

"realista".Priam

opossui

numerosas

esposas,masosseus

filhossan

monogam

os.Osaqueus

naosan

maridos

fieis,porem,em

regra,san

monogam

os.Troia

eumacidade

quenao

conhecearebeliao.

Mas

podehaver,na

agora,lugardedelibera~ao,

certatensao.

No

cantoXIII,

Polidamas,

queencarna

apruden

ciadiante

daloucura

guerreiradeHeitor,representa

tambem

0bom

sen-sodopovo

diantedotirano.

Priamotern

urnfilho

quese

chamaPolites

(Cidadao),

eacidade

ficaunida

ateosfune-

raisdeHeitor.

Noseculo

v,osgregos

utilizavamurn

tennopara

in-dicar

adivisao

noseio

dacidade,

apalavra

stasis.MasHo-

mero

naoaconhece.

Troianao

eumacidade

dividida.E0

campo

aqueu,onde

existemassem

bleiaseconselhos,

podeserconsiderado

uma"cidade"

nosentido

politicodoterm

o?Acontesta~ao

apareceai,de

formaseria,

umasovez,para

sercondenada

semdem

ora.Umguerreiro

denom

eTersi-

tes"piacom

ourn

gaio",eleque

e

Ora,vam

os,filho

deAtreu,

deque

tequeixas?

Deque

aindatens

necessidade?Tuas

barracasesUiocheias

debronze

ede

mulheres,

presasdequalidade

quen6s,

aqueus,te

COilcede-

mos,em

primeiro

lugar,todavez

queumacidadee

tomada.

Ou,por

acaso,precisas

deouro

-doOllro

vindodeIlion

trazidopor

umtroiano

domador

decavalos

pararesgatar

0

filho,capturado

eamarrado

pormim

ouqllalqller

outroaqueu

-ou

aindadeumajovem

cativapara

saborear0

amornos

seusbra<;:ose

guarda-lasom

entepara

Ii?

Tersitespaga

caroessa

independencia.Ulisses

0gol-

peia,etodos

sedivertem

.Nada

destasis,

portanto,nosentido

literaldapalavra,

mas,dequalquer

forma,()cam

poaqueu

seveatravessado

porumaquerela

epela

c6lera,adeAquilescontra

Agam

em-

non,desde

0prim

eirocanto

dalliada.

Obrigado

porApolo

aentregar

aopaisua

cativaeconcubina

Criseida,

Agam

em-

nonseapossa

deBriseida,

acornpanheira

deAquiles.

Im-

pedido,por

Atena,de

matar

Agam

emnon,

Aquiles

serelira

daguerra,

proclamando

queelanao

lhediz

mais

respeito,que

naovemais

asua

necessidade.Assim

,seapalavra

sta-

Masexiste,

entreaqueus

etroianos,

umadiferen~a

mui-

tomais

grave,muito

mais

fundamental,

eque

sera,naAte-

nasdo

seculov,um

dostemas

datragedia.

Alguns

aqueusmorrem

,outros

sabemque

estaodestinados

amorte.

E0

casodeAquiles,

queteve

deescolher

entreumavida

longaeobscura

eumavida

breveeheroica.

Inversamente,

obser-va-se,

entreostroianos,

umaconsciencia

agudade

quea

desgra~asera

coletiva,deque

Troiaesta

destinadaaodesa-

parecimento

edeque,

dealgum

amaneira,

elajaincorpo-

rouamorte.

Agam

emnon

e0prim

eiroaproclam

ar,no

cantoIV:

sisnao

ehom

erica,aideia

deguerra

civil,deguerra

intes-tina,

estahem

presente.Econtra

elaque,

nocanto

IX,argu-

menta

Nestor,

0anci,10

sabiodo

campo

aqueu:"Nao,

n,10tem

cia,nem

lei,nem

laraquele

quedeseja

aguerra

intes-tina,

aguerra

quegela

oscora~6es':

E,comurn

hornconse-

Iho,Nestor

continua:

Naotenho

nenhumaduvida,

tantonaalmacom

onocora-

<;:ao:cheganl0dia

emque

elasucum

bira,asanta

Ilion,e

tambem

Priamoe0seu

povodiante

denossas

lan<;:as.

Analisem

osaoposi~ao

entregregos

etroianos

porurn

outroangulo.

Tratando-sedacapacidade

guerreirae,espe-

cialmente,

domimero

devitim

as,nao

haduvida

deque

Heitor

soeultrapassado

porAquiles,

mas,

noconjunto,

osaqueus

superamostroianos.

Ascom

para<;:(lescoletivas

1110S-tram

isto:osaqueus

sanahelhas,

eostroianos

sangafanho-

tos.Procurariam

osem

vao,no

quediz

respeitoaos

aqueus,U111aC

0111para<;:aocomcarneiros

balindo,com

oaque

cfei-

ta,nocanto

IV,em

detrimento

dostroianos.

Demodo

geral,eaordem

eaefidcia

militar

quecaracterizam

ossitiantes,

enquantoadesordem

eomedo

estaopersonificados

nossi-

tiados.Poder-se-ia

acrescentarque

muitos

troianosdirigem

suplicasaseus

adversariosvencedores.

E0caso

deHeitor

diantedeAquiles

oudePriam

oquando

redama0corpo

dofilho

(figura20).

Poremeo

proprioHeitor

quemrepete

essesversos

nocanto

VI,nacena

famosa

deseu

reencontrocom

Androm

a-

ca,acrescentando:

Preocupo-memenos

comador

queespreita

ostroianos,

apr6pria

Hecuba

e0reiPriam

o,ouainda

osmeus

irmaos,

numerosos

cbravos,

quepoderao

cair'10solo

sobosgolpes

denossoS

inimigos,

doque

comatua,

quandoum

aqueu,coberto

debronze,

encontraraatiem

prantosetearrastara

paralonge,

retirando-tealuz

ealiberdade.

Talvez,entao,em

Argos,

tuteceras

paraumaoutra;

talveztraras

aguada

fonteMesseis

oudoHipereu,

sofrendoinum

erosconstran-

gimentos,

porqueurn

destinobrutal

pesarasobre

ti.Eurn

dia,vendo-techorar,

oshorn

ensdirao:"E

amulher

deHei-

tor,0prim

eiroem

combate

entreostroianos

quandoselu-

tavaem

tornodeIlion".

onosso

valoreanossa

resolw;:ao

perdem-se;

anossa

almafica

alterada,paralisa;

eem

redordas

muralhas

corremos

aprocura

de110Ssalvarm

ospela

fuga.Porem

anossa

quedaecerta.

Emcima,

nasmuralhas

jncom

e<;:ou0pranto.

Choram

pelasmem6rias

eossel1tim

enlosdos

110SS0Sdias.Amargam

entechoram

pOl'n6s

PriamoeHecuba.

AAndrom

acadeRacine,

quealguns

demeus

leitorescertam

enteconhecem

,jaesta

emgerm

enesses

versosfa-

mosos.Todo

grego,ouvinte

ouleitor

dopoem

ahom

erico,sa-

biaque

Troiaestava

destinadaamorte,

assimcom

onos

sa-bem

os,quando

lemos

umrelato

dabatalha

deWaterloo,

queNapoleao

seravencido.

Inumeras

imagens

ilustravam,

nosvasos

aticos,0fim

deTroia.

Noentanto,

ninguemexpri-

miumelhor

essesentim

entodo

inelutaveldo

que0poeta

gregoConstantino

Cavafis,

nopoem

aTroianos,

noinicio

doseculo

xx:*

Saonossos

esfor<;:ososdos

infortunados;sao

nossosesfor<;:oscom

oosdos

troianos.Conseguim

osurn

pouco;um

poucolevantam

osacabe<;:a;e

come<;:am

osatercoragem

eboas

esperan<;:as.Massem

presurge

algumacoisa

quenos

para.Aquiles

juntodofossoa

nossafrente

surgeecom

grcindesgritos

assusta-nos.Sao

nossosesfor<;:oscom

oosdos

troianos.Cuidam

osque

mudarem

oscom

resolu<;:aoevalor

acontrariedade

dasorte,

eestam

oscafora

paralutar.

Mas,quando

vier0momento

decisivo,

*TradU

l;aode)oaquim

Manuel

Magalhaes

eNikos

Pratsinis,em

C.Cavafis,

Paemaseprasas,

Lisboa,Rel6gio

d'Agua,

1994,p.33.(N.T.)

4.Aguerra,a

fiorteeapaz

AIliada

e0poem

adaguerra.

Emcaso

denecessidade,

ospr6priosdeuses

intervempara

contrariarosprocessos

depaz.

Assim

,nocanto

III,osadversarios

tentamresolver

aquerela

pormeio

deurn

dueloentre

oscampeoes

PariseMe-

nelau,osdois

quedisputam

Helena.

Afrodite

arrancaParis

doamplexo

mortal

deMenelau

e0conduz,

empleno

dia,para

0leito

deHelena,

0que

eurn

erro:0amorsefaza

noi-te;a

guerra,dedia.N

ocanto

IV,Atena

eHera

sugeremque

oarqueiro

Pandarolance

trai<;:oeiramente

umaflecha

nadire<;:aode

MeneJau.

Eimediatam

enteaguerra

recome<;:a.

Decerta

maneira,

aOdisseia

e0poem

adapaz,

aindaque

porvezes

ocorramJutas.D

iferentemente

daIliada,

con-duida

comatregua

queperm

itearealiza<;:aodos

funeraisdeHeitor,a

Odisseiaterm

inacom

umapaz

estabelecidaen-

treUlisses

easfamilias

dospretendentes

mortos

porele.

Atena

ordena:

Interrompei

essaguerra

cruel![...]

entreasduas

partesaconcordia

estaselada.

Aolongo

deseu

periplo,Ulisses

naosepreocupa

emguerrear,

pensaapenas

emreencontrar

asua

esposae0seu

lar,esse

lugardeestabilidade

simbolizado

peloleito

conju-gal

fixadonum

aoliveira

quenao

sepocle

arrancar.Entre

osf~aces,

sualtltim

aetapa,

eleencontra

urnpovo

entreguenao

asartes

daluta

edaguerra,

massim

asalegrias

dapaz

edobanquete.Essa

oposi<;:aoentre

aguerra

eapaz

aparece,com

todooseu

significadosimbolico,

nocanto

XVIIIdaIliada.

Noes-

cudoforjadopor

Hefesto

paraAquiles,

opoem-se

duascida-

des:adapaz,

docasam

ento,das

dan<;:as,dosdebates

judicia-rios

-eapenas

emtempos

depaz

queosjuizes

podementregar-se

asalegrias

daarb

itragem

-,eadaguerra,

sitia-daepreparando

umaemboscada.

Umvelho

tema,portan-

to,pois

jafigura

noestandarte

deUr,na

Mesopotam

ia,no

terceiromilenio

antesdanossa

era.Eborn

lembrar

queninguem

jamais

lutoucom

ooshe-

roisdeHomero.

Elessan

conduzidosdecarro

abatalha

edescem

paraenfrentar

0inim

igo.So0velho

Nestor

naodei-

xa0seu

carropara

combater

ape.Tudo

0que

sabemos

so-bre

0carro

decom

batenoMediterraneo

orientalenoOrien-

teProxim

ocontradiz

essavisao

dascoisas.

0aedo

sabiaque

ocarro

foraurn

instrumento

deguerra

-0que

janao

ocor-ria

noseu

tempo.

Portanto,ele

associouosseus

heroisaos

carros,masestes

naoservem

mais

paraaluta.

Dealgum

amaneira,

foramtransform

adoem

taxis!~Nafalta

deumaguerra

deverdade,

0que

podemos

de-!

cifrarna

Ilfadaeumaideologia

daguerra,

damais

belaguerra

-porque

haumabela

guerraassim

comohauma

belamorte.

0troiano

Heitor

daamelhor

defini<;:aodisso

nocanto

VII,diante

deAjax

(figura14):

Ajax,divino

filhodeTelam

6nio,chefe

guerreiro,nao

tentemesondar

comoseeufosse

umacrian<;:afraca

ouumamu-

Iherignorante

daarte

militar.

Ellentendo

decom

bateede

carnificinas.Sei

mover

paraadireita

epara

aesquerda

0

meu

resistenteinstrurnento

deguerra.

Seiatacarno

meio

doscarros

rapidos.Seidan<;:<u,no

corpoacorpo,

adan<;:ado

cruelAres.M

asum

homem

comotu,eunao

queroesprei-

taregolpear

desurpresa,

massim

abertal1lente,procuran-

doteatingir.

Aperfidia

deAtena

conduz0proprio

Heitor

aafron-

tarAquiles

numcara

acara

mortal.

Elatom

aaform

ade

Deifobo,

irmao

deHeitor,

epropoe-Ihe:

esperepOI'Aquiles

ecom

bata.Depois

disso,desaparece.

AAquiles,

Heitor

su-gere

umpacto:

emcaso

devitoria,

elenao

ultrajara0cor-

podeAquiles,

epede

reciprocidade.MasAquiles

responde:

Malclito,nao

venhasmefalar

deacordo.

Naohapacto

lealentre

oshom

enseosleaes,

damesm

aform

aque

oslobos

eoscordeiros

naotem

cora<;:aesfeitospara

seentendcr.

Apos

0sucesso,

Aquiles

ata0corpo

deHeitor

aoseu

carroe0arrasta,

coma"sua

cabe<;:aoutroraatraente",

emtom

odatum

badePMroclo,

emtributo

aoamigo

defunto

(figura24).

f-Llnessaguerra

momentos

decortesia,

regrasque

Hei-

torprecisam

enteconvida

arespeitar.

EnU10a

guerradeTroia

eum

conjuntodedueIos?

Certam

entenao.

Excetuando-seocom

batedo

cantoXXII,entre

Aquiles

eHeitor,

soh,lum

duelocom

morte,

0duelo

antigonarrado

pelovelho

Nes-

tor,entre

ell'mesm

oe0gigante

Ereutaliao,nocanto

VII.0

dueloentre

Diom

edeseGlauco

naoacontece,

0deMene-

IaueParis

einterrom

pidopOI'Afrodite,

0deHeitor

eAjax

termina

comumatroca

depresentes;

quantoaoque

opoeEneias

aAquiles,

nocanto

XIX,ePosidon

empessoa,

0"agi-

tadordo

solo"(favorave!,

noentanto,

aosaqueus),

quem0

fazmudar

repentinamente,

aoenvolver

Eneiasnum

nevoei-rooSem

duvidaHomero

estclquerendodizer

quesobreviver

l~lZparledodeslino

deEneias.

Deresto,

naIliada,

algunsferidos

saocurados,

eamor-

tejamais

elenta.

Aimensa

maioria

dosque

saoabatidos

naomorre

noc1ecorrer

deurn

c1uelo,masno

quesecostu-

mach,lm

,Hde

Ilristhil(valentia),

umaserie

deproezas

nocursa

dasquais

aguerreiro,

tornadopelo

furor,adquire

uma

for~asobre-hum

anaeabate

tudoaque

est,lnasua

passa-gem

.AI/rist(;il/

pOl'cxcelc'ncia

eadcAquilcs,

noscantos

xxeXXI,

aposamork

dcP,ltroelo.

0pr(lprio

Patroelomatou,

nocanto

XVI,Sarpedon,

0filho

liciodcZeus

queeste,

compcsar,

dcixoll!l1orrcr.Pdo

!l1cnosZcus

hlZCO!l1quc

0SClicor-

poseja

retiradopelo

Sanaepela

Morte,

asquais

0trans-

portarnpara

aLfcia...A

iesta

umexernplo

extraordinariodabela

rnorte.Assim

juigou0oleiro

epintar

chicoEufr6-

nio,jaque,

numdos

rnaisbelos

vasosdesua

autoria,repre-

sentou0arrebatam

entodo

corpodeSarpedon

(figurada

capa).

S6osgrandes

heroisrnorrern

-Sarpedon,

Heitor,

pa-ranao

falardeAquiIes,

cujamorte

proxima

eanunciada

parHeitor

moribundo?

Naverdade,

todasasform

asdemor-

teimaginaveis

saorepresentadas.

Apresentarei,

comoexem

-plo,

arnorte

deCebrion,

filhodePriam

oecocheiro

deHei-

tor,no

cantoXVI.EPatroclo,

usandoasarm

asdeAquiIes,

quem0rnata,

comumapedrada.

Apedra

agw;:adagolpeia-o

nafronte,

esmagando

assobran-

celhas;0osso

naoadetem

,eosolhos

caempOl'terra,

napoeira.

Comoum

mergulhador,

Cebriones

despencadocar-

roornam

entado.

Ah,com

oedestro

esseailQ

uedesem

bara<;:onosseus

saltos!Sese

encontrasseum

dianomarpiscoso,esse

catadordeos-

trasalim

entariamuita

genteaopular

assimdecimadeuma

nau,mesm

oem

tempoborrascoso,

taleafacilidade

comque

saltadeum

carrodeguerra

para0chao.O

stroianos

temmes-

1110excelentes

sallarilhos!

Porque

escolhiesse

exemplo?

Porc1uas

razoes.Apri-

meira

eagra<;a

ir6nicadaimagem

.0temadomcrgulho

noHades

(0reino

dodeus

dosmortos),

relativarnentecornum

,nao

edesenvolvido

assimcom

muita

frequencia.Alem

dis-so,

urndos

rarosafrescos

gregosdaepoca

classicaque

che-gou

aten6s

-amergulhador

dePaestum

,naItatia

meridio-

nal-mostra

urnhom

emque

mergulha

nomar(figura

11).Ele

domina

urnmonum

entoque

foiinterpretado

comoas

portasdoHades

ouentao

comoasColunas

deHercules

( 0

estreitode

Gibraltar).

Assim

,Homero

permite,

umavez

mais,

compreender

umaimagem

muito

posterioreque

ele,

semduvida,

inspirou.Trata-se

deumaguerra

sempiedade,

umaguerra

deaniquiiam

cnto?Aresposta

eambigua.

Estacla:o

queosob-

jetivosdaguerra

naosao

osmesm

ospara

osdois

ladosem

combate.

Paraostroianos,

0importante

etranspor

0muro

construidopelos

aqueusequeim

arosseus

navios.Eles

teraosucesso

noque

dizrespeito

aomuro

sem,no

entanto,reali-

zarafa<;:anha

subseqiiente.Urn(mico

her6igrego

emorto:

patroclo.Amorte

deurn

outro,Aquiles,

estaprogram

ada.Muitos

guerreirosanonim

ossao

mortos

pe1asflechas

deApolo,

comorelata

0canto

I,0que

querdizer

quee1es

morrem

depeste.

Aepidem

iacom

e<;:apelosjum

entosecaes

_umaepizootia,

diriamos

hoje-

e,depois,atinge

osho-

mens.

Masadoen<;:anao

edescrita

emnenhum

dosseus

sin-tom

as.Homero

naoeTucidides,

querelatara,

noseculo

v,a

pestedeAtenas,

ap6ster

sidoatingido

eter

sobrevivido.Por

outrolado,

elanao

seespalha

entreostroianos.

Apolo

resol-veu

visarexclusivam

enteaos

homens.

Artem

is,que

ternpo-

derdemorte

sobreasmulheres,

naointervem

.SeCriseida

fordevolvida

aopai,

queesacerdote

deApolo,

aepidem

iase

interrompera

imediatam

ente.Par

certoApolo

exclamano

cantoIV:"A

peledos

aqueusnao

edepedra

edeferro",

mas

assuas

patriasnao

arriscamnada.

/>0indicio

docarater

impiedoso

daguerra

residenare-

I('usa

emfazer

prisioneiros.Essa

recusaeexpressa

duasve-

zes.Nocanto

VI,0troiano

Adrasto

ecapturado

vivopar

Menelau.

Suplicaque

0poupem

,prom

etendoque

seupai,

queerico,

estaradisposto

aentregar

urnimenso

resgate"em

ouro,em

bronzeeem

ferrotrabalhado".

Menelau

estaquase

sedeixando

persuadir,masAgam

emnon

intervem:

Naotelembras

doque

essestroianos

fizeramJtua

familia?

Nao,

quenenhum

delesescape

aosnossos

br,l<;os,aoabis-

mociam

orle,nem

mesm

oacrian<;a

noventre

desua

mac,

nemmesm

o0desertor!

Que

todososdeIlion

pete<;amjuntos!

Nocanto

XXI,outro

epis6diomostra

queaguerra

j<lsetonlO

Uimpladvel.

Lidon,filho

dePriam

o-

Priamotem

tantosfilhos

queeles

chegamaform

al'umaespecie

de"re-

serva"para

0poeta

-,ecapturado

pOl'Aquiles.

Easegun-

davez.

Elejafora

capturadocInoite

parAquiles,

vendidocom

oescravo

emLem

noscdepois

resgatadoercstituido

aosseus.

SuplicaaAquiles

argumentando

queelenao

efilho

deHecuba

eque

nao"saiu

domesm

oventre

queHeitor':

Aresposta

deAquiles

eperturbadora

esem

compaixao.

Sim,

antesdamorte

dePatroclo,

0seu

cora<;:aosecom

praziaem

pouparostroianos.

"Patroclo,que

valiamais

doque

tu,esti

morto."

Elepr6prio,

Aquiles,

estadestinado

amorte.

Mata,

portallto,Lidon

-cujo

nomesiginifica

"Homem-

lobo"-eexclam

aaseguir:

"Vaidescansar

alhures,entre

ospeixes

[...].Marte

atodos1':

E,no

entanto,aIlf(/(ia

termina

comum

epis6diono

qualjorra

aquiloque

Shakespearecham

ade"leite

daternu-

rahum

ana".Gra<;:asa

intervcn<;aodos

deuses-

Apolo,

Zeus,apr6pria

Tetis,Iris

-,0velho

Priamo,

acompallha-

dopor

Hermcs,

vaisuplicar

queAquiles

thedevolva

0filho

Imorto.

Traz-lheum

re5gate.Naoapenas

Aquiles

aceita,co-motambem

partilhaarefei~ao

comPdam

o,lembrando-lhe

queamaior

detodas

asdores

-adeNiobe,

porexem

plo,CU!OSfilhos,em

nllIl1erodedoze,foram

morto5

porApolo

eArtem

is-nao

con5tituiobstaculo

itnecessidadedeali-

mentar-se.

SeNiobe

comeu,

antesdepetrificar-se,

entaoPdam

opode

tambem

comer.0cadaver

ultrajadodeHei-

torpassa

aser

um"belo

morto",

eaIliada

termina

coma

majestosa

narrativados

seusfunerais.

Naturalm

ente,com

oefacil

il1laginar,0cOl1lbate

ea

morte

naosao

necessarial1lenteher6icos.

Nem

todasasar-

masseeq~valem

,nem

todasasguerras

sandignas

dosmaio-

resher6is,

Aquiles

eHeitor.

Assim

tambem

comrela~ao

aoarco.Ele

e,semdllvida,

aanlla

dodeus

Apolo,

0que

0dis-

tinguedas

armasutilizadas

pelos,simples

mortais.

Dames-

maform

a,quando

deseu

retornoaftaca,U

lissesfaradoseu

area,que

e!ehavia

deixadola,0

instrumento

dasua

sobe-rania.

S6ele

t:capazderetesa-Io.D

iantedeTr6ia,oslocren-

sessaoarqueiros.

Teucro,irmaq,de

Ajax,tam

bemearquei-

roe~eabriga

portras

doescudo

deseu

irmao.A

p6sMomero,

noAjax

deS6focles,por

exemplo,

elesetom

araum

irmao

bastardo.Ele

earqueiro

porqueebastardo

ouebastardo

porqueearqueiro?

Dolado

troiano,alem

deParis,de

quemvoltarei

atratar,

P[lI1daro,filhodeLidon

(outrohom

em-

lobo),eum

arqueirocujo

arco-um

presentedeApolo-

temtoda

umahist6ria.

EssePandaro

faz0pape!

dotraidor,

jaque

eelequem

,instigado

porApolo,

lan<;aumaflecha

contraMene!au

paramata-lo

(masconsegue

apenasferi-Io),

oque

permite

assimaos

aqueusrom

per0acordo

conclui-doentre

Menelau

eParis

eretom

araofensiva.

Edificil

encontrarum

melhor

exemplo

decom

oeram

consideradosperversos

0arco

e0arqueiro

nomundo

daguerra

her6ica.Tratando

daprim

eiracaptura

deLiclon,

filhodePda;

mo,eusublinhei

queAquiles

aexecutara

itnoite.

Anoite

naoe0momento

daguerra

heroica.E0momento

dodis-

farce,daastucia,

daemboscada.

Tudoisso

estailustrado

namais

estranhapassagem

daIliada,

chamada

de"Dolonia";

emoutras

palavras:0canto

x.Esseepisodio

seinterpoe

noinstante

emque

osaqueus

estaoitbeira

dodesastre.

Emvao

Ajax

eUlisses

tentaramconvencer

Aquiles

aretom

ar0seu

Iugar-0prim

eiro-nocom

bate.Ostroianos

sairamde

suasmuralhas

eacam

paramnaplanicie.

Deambos

osla-

dos,espioessan

enviadositcata

deinform

a~oes.Heitor

en-viaDolon,

cujonom

esignifica

"0Astuto",arm

adocom

umdardo

eum

area.Por

suaparte,

Agam

emnon

eoschefes

aqueus,especialm

enteNestor,

confiamamissao

aUlisses

eDiom

edes.Ambos

oslados

utilizamdisfarces

animais:

Do-

Iontem

umbarrete

demarta

eesta

revestidocom

umapele

delobo;

Diom

edestem,nos

ombros,

umape!e

deleao,en-

quantaUlisses

usa0seu

capacetecom

presasdejavali.

oleao

e0javalivencem

0lobo,

0que

naoedeestra-

nhar.D610ne

capturadoerevela

apresen~a,

nocam

pode

Heitor,

doreitr"lcio

Reso,dos

seuscom

panheiros,doseu

carromagnifico

edos

seuscavalos

esplendidos.Todos

saoassassinados,

incluindoD61on,e

oscavalos

sanroubados.

Aseguir,U

lisseseDiom

edessepurificam

nomar.0

epis6dioepraticam

entelmico;m

ostraque

umaoutra

formadeguer-

raexistia

noimagim

lriodos

aedos.Essa

outraform

anao

eaunica,

eellterei

devoltar

aoassunto.

Ora,esse

episodio,

excepcionalnaIliada,

vai,peIocontnlrio,

tornar-seanor-

mana

Odisseia.

Selerm

osatentam

enteasnarrativas

feitasem

casadeAlcinoo,

docanto

VIIIaocanto

XII,constatare-

mosque

Ulisses

-0hom

emda

metis,

palavragrega

quedesign

aaastucia

-soemprega

umavez,por

ocasiaode

seuretorno

deTroia,

aform

adeguerra

predominante

naIliada.

Deixando

Troia,ele

enfrentaoscicones

(povotra-

~io)eederrotado

espetacularmente.

Urnaurn,todos

osseuscOll1panheiros

1l10rrem,mas,

comexce\ao

dosque

forammortos

nessabatalha,

ninguemmorre

naguerra.

Saodevo-

radospeIo

cic10pePolifem

ooupelos

lestrigones,morrem

acidentalmente

ouainda,

nofim

dascontas,

afogadosapos

oepisodio

dasvacas

doSol.

Todo0poem

afoicom

postosob

0signo

dodisfarce

edaastucia.E

pelaastucia

queUlisses

selivra

deapuros

nahabita\ao

dePolifem

oedeixa

0antro

docic10pe

presoao

tosaodeum

carneiro(figura

35).Quando

Helena,

emEs-

parta,fazaTeIem

aco0elogio

domerito

deUlisses

duran-teaguerra

deTroia,

explicaque

eleestivera

nacidade

emmissao

secreta,disfar\adodemendigo.E

comamesm

a"in-

dumentaria"

queelevolta

aoseu

palaciopara

reconquistarsua

mulher

eseu

poder,com

oseHomero

quisesseretratar,

nopersona

gemdeUlisses,todas

asvariantes

possiveisda

condi\aohum

ana,desde

0mendigo

ate0rei.

Quando

voltaaser

elemesm

o,dec1aradam

ente,Ulis-

sesmata

ospretendentesum

pOl'um

,comflechadas,

ajuda-dopor

Telemaco,

seufilho,por

Eumeu,

0porqueiro

tIel,epor

Filecio,0boieiro

igualmente

fiel.0com

batenao

eurn

modelo

deafrontam

entoleal

-Telem

aco,por

exemplo,

golpeiaAnfinom

opor

tnls.Mase0com

batedaminoria

contraamaioria.

Ospretendentes

sao,delonge,

mais

nu-merosos.

Aluta

termina

comepisodios

atrozes(figura

37).MeLlncio,0

cabreirotraidor

(seunom

esignifica

"Homem

daflor

negra"),emutilado,

esua

genitaliaejogada

paraos

caes.Quanto

ascriadas

infieis,quehaviam

deitadocom

ospretendentes,

naotem

direitoauma"morte

pura".Telema-

coasenforca

nop<ltiodo

pahlcio.Amorte

delas(hiorigem

aumadas

mais

be1as-mastambem

umadas

maissinis-

tras--imagens

dopoell1a,no

cantoXXII:

Assim

comoostordos

deasas

compridas

easpom

bas,

Aovoltar

para0ninho,

prendem-se

nasredes

erguidas

[sobreasmoitas

(funestoe0leito

emque

seencontrarn!),

assirnsuas

[cabeyassealinhavarn,

comurn

n6em

cadapescoyo,

6morte

lamentavel!

Seuspes

tiverarnurn

levesobressalto,

efoi

tudo.

Trata-sedocontrario

da"bela

morte",

taopresente

naIliada.

1.BustodeHomero.

Copiaromana

deum

originalgrego

doperiodo

helenistico.oaedo

cegovisto

pelosgregos

eromanos.

Nota:

Ospintores

grcgosnao

teminten~ao

deilustrar

umtexto

-mesm

oum

famoso

como

aIliada

aua(Jibsiiil

,mas

simdeencam

inhar,com

imagens,

asua

pr6prianarrativa.

Ailustra<,:aovir,\""IlO

is,"111

<'"oearom

anae,principalm

ente,nomundo

1l10derno.

2.Um

rapsodo.Anfora

aticacom

figurasvermelhas

atribuidaaopintor

deCleofrades,

c.480a.C.

3.Detalhedeuma

placaem

terracota,com

inscriraoem

linearB,

provenientedePila,

c.1200

a.C.

5.RuinasdeTroia

VI;amuralha

doperiodo

micenico

porocasiao

dasescavaroes

deSchliem

ann(Joto

de1875).

4.PlanodeTirinto

noperiodo

miccnico:

1.rampa

deacesso

2.salaodeentrada

3.galerias4.prop

ileus5.vestibulo6.patio

comaltar

circular7.sala

principal8.parte

privativa

7.Edi~aoprinceps

deHomero,

impressa

emFloren~a

em1488.Podem

osler

0inicio

daOdisseia;

nessaepoca

oscaracteres

impressos

imitavam

asmanuscritos.

6.Carregador

depeixe.

Afrescl',I,"'utoc';ni,

sew!"XVIa.C.

UmaGrecia

que05

'.J(onheceram

.

8.Mulheres

fiandoetecendo:

urnasegura

urnobjeto

redondo,espelho

ouroea,a

outra,urn

pequenotear.Pixide

titieacorn

figurasverrnelhas,

c.440a.C.

10.(;nli/d"Ul\wJa

aUlvalo.

HEdria

joniadita

deCaere

(Etruria),c.520

a.C.

11.Mergulhador

dePaestum

:um

saItopara

0Hades.

Tampa

detumba

(Italiameridional),

c.480a.C.

12.Couraraecapacete

deumatumba

deArgos.Chapa

metalica

emrelevo,segunda

metade

doseculo

VIIIa.C.

13.Duelo

deher6issabre

acorpo

deurn

guerreiromarta.

Hidria

aticacom

figurasnegras,c.560

a.C.

14.Combate

deAjax

eHeitor,

enquadradospar

AtenaeArtem

is.Tara

aticacom

figurasverm

elhascom

aassinatura

deDuris,

c.480a.C.

16.Atenapronta

para0com

bateentre

duascolunas

coroadascom

galos(vaso

dadocom

oprem

ioaos

vencedoresdejogos

emAtenas).

Anforaittica

comfiguras

negrasatribuida

aEzequias,

c.540a.C.

15.Apolo,0jovem

guerreiroideal.

Estittuaarcaizante

encontradaem

Piombino,

seculoIa.c.

5.Cidade

dosdeuses,cidade

doshom

ens

Para0leitor

moderno,

nadaemaissurpreendente,

mais

desconcertante,doque

apresen~a

constante

dedeuses

edeusas

naIliada

ena

Odisseia.Eaumadivindade,

aMusa,

/'

que0aedo

solicitaque

conteahist6ria

dac6lera

deAqui-

lesnaIliada

easaventuras

quemarcam

0retorno

deUlis-

sesnaOdisseia;

alemdisso,

0poeta

naocessa

defazerdescer

deusesedeusasa

terra.Ele

osfaz

combater

naIliada

emcam

posopostos,(figura

23).Atena,H

eraePosidon

estaodo

~.-

ladodos

aqueus,que

acabaraopor

veneer,enquanto

Apo-

10,Ares

eAfrodite

sanpartidarios

decididosdos

troianos.Duas

deusastern

filhosentre

osher6is

envolvidos.Afrodi-

teemilede

Enejas;seduziuAnquises,prim

odePriam

o;alem

disso,deveaParis-A

lexandreterrecebido

0porno

queafez

suplantarem

belezatanto

Hera

comoAtena.

Tetiseuma

dasNereidas,

divindadesmarinhas

que0poeta

seperm

iteenum

erarnoinicio

docanto

XVIIIdaIliada.

Maselagoza

deum

estaIul0InUi10diferente

dodeAfrodite.

Seufilho

18,ApoloeArtem

isfazendo

liba~oes.Hidria

aticacom

figurasverm

elhasatribuida

aopintor

deBerlim

,c.490

a.C.

Aquiles

elegitim

o.Tetis

desposoUurn

mort.al,

Peleu,por-

quethefoiprofetizado

queteria

urnfil~o

mars~oderos~

doque

seupai.Zeus,reidos

deuses,e0palde

Sarpedon,re~dos

liciosengaJ'ado

nocam

potroiano.

Seuescan<;:ao,G

amme-

,'d"'''\

des,eurn

principetroiano.

Amaiori~

dosher6rs;

~srers,

(descende

deform

amaisoumenos

drreta,dopropno

Zeus.Naoapenas

osdeuses

tomam

partidocom

otambem

seenvolvem

fisicamente.

Afrodite

eAres

SaDferidos,

nocanto

y,por

Diom

edes,filho

deTideu;

Atena

estaaolado

dektU-iles

porocasiao

doepis6dio

decisivododU~lo~om

Heitor.Ela

engana0her6i

troianoassum

indoaaparenoa

deDeifobo,

irmao

deHeitor.

Atena

ap6iaUlisses

eTelem

acodurante

todaaOdisseia.

Detodos

essesencontros,detodos

esseschoques

entrehom

ensedeuses,

0mais

espan~osoe,

semduvida,

abatalha

impiedosa

travadacontra

Aqmles,no

canto..JQ(LdaIliada,

pelorio

Escamandro,

cansadodecar-

regaroscadaveres

dasvitim

asdofilho

dePeleu.0

rioten-

taafogar

0her6i.E

necessarioque

0pr6prio

deusHefesto

venhaaoseu

socorro,com

0fogo

dasua

forja.Com

aguer-

radofogo

contraaagua,ja

estamosbem

pr6ximosdas.cos-

mclQgias

que,noseculo

Vlantes

daera

crista,serao

cnadaspelos

primeiros

fil6sofos.Devem

osacrescentar

que,entreos

deuses,asinjurias

"homericas"

saocorrentes?

Nocanto

XXI,

Afrodite

eamave1m

entecham

adade"mosca

decao".

Entreosdeuses

eoshom

ens,alem

dealian<;:ase

com-

bateshatambem

amor.

Ulisses

ternliga<;:oescom

Circe

ecali~so

_esta

ultimathe

propoeaim.ortalida~e.

Elanao

ficamuito

satisfeitaquando

Hermesexrge

quehbere

0ho-

mem

deItaca

elamenta

queaspobres

deusasnao

tenham,

defato,0

direitodeamarurn

mortal.

Naotentarei

definiraqui

0que

secostum

acham

arde

politeismohelenico.

Paraoshistoriadores

dasreligioes,H

o-mero

eumafonte

importante,

aolado

demuitas

outras.Nao

esque<;:amosque

Homero

-ou,antes,

osHomeros

(nahi-

p6tesemaisdoque

provaveldeque

0poeta

daOdisseia

naoseja

0mesm

odaWada)

-nao

eurn

te610go,massim

umaedo.

Elebusca

seduzirseus

ouvintes.Ele

0faz,por

vezes,especialm

entequando

setrata

dosdeuses,

comhum

or,sa-

bendomuito

bemque

osseus

ouvintessabem

quemelee,

ouseja:um

narrador.Saber

qualera

asua

pr6priareligiao

etarefaimpossive!.0

poetadaCa1u;iiode

Rolandoeurn

cris-tao

confirmado,

quedivide

0mundo

doshornens

entreos

quetern

averdadeiraft:'e

osoutros,devotos

deMaom

eede

Apolo

(sic),mas0poeta

homerico

naoesta

ligadopor

ne-nhum

aortodoxia.

Elepode

gracejarcom

osdeuses

e,paradizer

averdade,

naodeixa

defaze-Io.

-Osdeuses

intervemconstantem

entenanarrativa.

Dis-

far<;:am-seas

vezes.Atena,

porexem

plo,aparece

aUlisscs

sob0disfarce

deum

jovempastor.

Posidontom

aatiJrm

;ldoadivinho

Calcas.Elespodem

tambem

transformarosho-

mens.

Dependendo

davontade

deAtena,

Ulisses

podeser

urnmendigo

velhissimoouum

hornem

forte,emplena

ju-ventude.

Oshom

enspodem

aparecercom

odeuses

aosolhos

closoutroshom

ens:Ulisses

sepasm

adiante

deNausicaa,

evice-versa,

masisso

naosignifica

quetenham

ultrapassacloafronteira.Ultrapassar

afronteira:

e0que

Calipso

propoeaUlis-

seseelerecusa,

nuncaedem

aisinsistir.

0Hercules

men-

cionadonocanto

XIdaOdisseia

naoaultrapassou.

Emcon-

trapartida,dois

principestroianos

setornaram

imortais:

Ganim

edeseTitono,

esposoda"Aurora

domanto

deouro".

AAurora

esqueceudepedir

para0marido

ajllventude

eterna,eopobre

Titono,imortal,

enve1heceuateadecrepi-

tudemaiscom

pleta.0mitoacrescenta

quee1efoitransfor-

mado

emcigarra.

Mortalidade,

imortalidade:

alestiafronteira

essencial.Osdeuses

naot€~m

0mesm

osangue

queoshom

ens-0de-

lessechamaichor.N

aoconsom

emnem

vinhonem

pao,mas

simnectar

eambrosia,

termoque

aliassignifica

"bebidada

imortalidade".

Deslocam

-semuito

mais

facilmente

doque

oshom

ens,contudo

naosan

verdadeiramente

onipresen-tes.Enquanto

Posldonesta

entreosetlopes,os"rostos-quei-

Inados"-ouseja,os

negros,que

estaotanto

noextrem

oOriente

comonoextrem

oOcidente

-,Ulisses

podedeslo-

car-seem

seguran<;:a.Nocanto

IVdaIliada,

adeusa

Hera,

ainc6m

odaesposa

deZeus,

leva0marido

parafazer

amor

nocum

edomonte

Ida.Estamunida

detoda

asedu<;:aoob-

tidacom

Afrodite,a

qualexplicou

queOceano

esua

espo-saTetis,la

nofim

domundo,

estaoevitando

osprazeres

doleito

eque

pretendereconcilia-los.

Durante

essetempo,

acausa

dosaqueus

poderaprogredir,

eZeus

ficarafurioso

portersido

enganadopor

suaastuciosa

esposa,que

Iherecor-

dou,gentilmente,

0tempoemque

seentregavamaessespra-

zeresem

segredo,semospais

saberem.

Nocanto

XV,Posidon,

intimado

porZeus,por

interme-

diodeIris,a

cessardeintervir

emfavordos

aqueus,dauma

respostaviolenta

quenos

esclareceapartilha

dospoderes:

EntaoZeus

pretendemedom

inarpela

for<;a,contraami-

nhavontade,

euque

souiguala

ele?N6ssom

ostres

irmaos,

geradospor

Crono

econcebidos

porReia:

Zeus,eue,em

terceirolugar,

Hades,

0monarca

dosmortos.

0mundo

foidividido

emtres:

cadaurn

teveasua

parte.Tendo

tiradoa

sorte,consegui

0direito

dehabitar

0argenteo

mareterna-

mente.

Hades

tevepor

quinhaoasom

brabrum

osa,eZeus,

ovasto

ceu,em

plenoeter,

naspr6prias

nuvens.Para

n6stres

aterra

eurn

bemcom

um,assim

como0alto

Olimpo.

Naopretendo

viversubm

issoaZeus.

Queeleviva

tranqiii-10,com

todaasua

for<;a,noseu

lote,0terceiro;

eque

defor-

maalgum

atente

meaterrorizar

comoseeuFosseurn

vilao!

Outras

passagensda

Iliadaeda

Odisseianao

seguemnessa

dire<;:aoeinsistem

nasoberania

deZeus.

Deresto,ha

nessetexto

tresideias

essenciais.Aprim

ei-raeadosorteio.E

eleque

permite

aatribui<;:aodos

lotese,

conseqiientemente,

dasfun<;:6es.A

segundaeadeurn

"do-mlnio

comum".A

terrae0monte

Olimpo,

morada

dosdeu-

ses,naoestao

sobasoberania

deZeus.Ele

devecontar

comasoutras

potenciasdivinas,

inclusivePosldon,

que,apartir

domar,pode

"agitar0solo",etam

bem,demaneira

surpreen-dente,H

ades,senhordoreino

dosmortos,

aondeoshom

enssochegam

sobaform

adesom

brasimpalpaveis.A

terceirae

aexpressa

peloterm

o"vilao".Ela

impliea

umanos:ao

dehie-

L------.

----.---------

•rarquia.Hacertam

enteosiguais

(ou"pares"),

eesse

e0ca-

so,nessecontexto,

dostres

filhosdeCrono,

mashatambem

osseres

inferiores,radicalm

enteafastados

dapartilha,

co-mo,por

exemplo,

0proprio

paideZeus,seus

irmaos

esua

esposa.Crono

erelegado

aoTartaro,

entreos"deuses

debai-

xo".Ora,essastres

ideiassao

constitutivasdapolis

grega,e

asua

presen<;:anotexto,

diga-sedepassagem

,torna

il1liteis

r"III,I,,J,,,,,.,••ffttf,,•,,,t,tf,f•,i

aspolem

icassobre

0nascim

entodap6lis

antesoudepois

deHomero.

AIliada

naoeconcebivel

semumacerta

pre-sen<;:ada

polis.Acidade

dosdeuses

nosperm

itesaber

como

sedesenvolveu

acidade

doshorn

ensnoperiodo

arcaico.Expliquem

osmelhor.

0sorteio

e,em

Atenas,

muito

tempo

ap6saepoca

daJliada,

ainstitui<;:aosobre

aqual

re-pousa

adem

ocracia.Naturalm

entenao

setrata

deuma10-

teriaentre

irmaos,

massim

deum

sarteiodas

fun<;:oesquenao

santecnicas

(estassan

atribuidaspar

elei<;:ao).Dominio

comum?Tal

e0estatuto,

parexem

plo,da

Acr6pole

edaagora

deAtenas.

Osarque610gos

queescava-

ramapra<;:apublica

(aagara)

deMegara

Hibleia

naSicilia,

coloniafundada

nofim

doseculo

VIIIa.C,constataram

que,desde0inicio,um

espa<;:ocomum

forareservado

como

dominio

coletivodacidade.

Finalmente,

apresen<;:ado

"vi-lao"

entreosdeuses

nosrecorda

quecertas

pessoassan

ex-cluidas

dap6lis.E

0caso,em

Esparta,dos

hilotas,categaria

servilquecultiva

aterra,

e,emAtenas,

dosmetecos,

estran-geiros

domiciliados

quenao

tem0direito

devoto,

e,mais

ainda,dos

escravos,propriedade

doscidadaos

oudapr6-

priacidade.Partanto,

osaqueus,

quesan

urnexercito

decoalizao,

naoconstituem

umacidade

nosentido

classicodapalavra.

Possuem,noentanto,

asduas

institui<;:oesessenciais:aas-

sembleia,

quereune

todososguerreiros

eeconvocada

parAgam

emnon

desde0inicio

daIliada,

e0conselho,

quereu-

neumaelite

deguerreiros

dentreosmais

idosos.Nestor

esem

pre0prim

eiroausar

dapalavra.

EmTr6ia,

0Conse1ho

dosAnciaos

circunda0reiPria-

mo,eHeitor,

numadeterm

inaclaocasiao,

reuneaassem

-

bleiageral

dosguerreiros.

Nota-se

igualmente

apresen<;:a,

nospoem

ashom

ericos,dano<;:aode

maioria.

NaIliada,

osembaixadores

quevan

pediraAquiles

queretorne

aocom

-bate

(cantoIX)afirm

amestar

falandoem

nomedamaioria

dosdanaos.

Inversamente,

Telemaco

constata,em

ltaca,que

ospretendentes

saoapenas

umaminoria.

Elemesm

oetra-

taclo,porseus

inimigos,

como"arador

daagora'~

Alguns

se-cuJos

l11aistarde,seria

"del11agogo'~Ora,essas

cluasinstitui-<;:oesexistem

nouniverso

dosdeuses.

0inicio

docanto

xxda

Iliadaoferece

urnexem

plonotavel.

Segue-seimecliata-

mente

aoespantoso

epis6diododiscurso

queacavalo

Xan-

to,que

eimortal,

fazaseu

donoAquiles,

noqual

prediza

marte

pr6ximadeste:

Zeusentao,

doalto

doescarpado

Olimpo,

daordem

aTe-

mis[deusa

quesimboliza

aordem

civicaIparaconvocar

osdeuses

aassem

bleia.Ela

segue,portanto,

emtodas

asdirc-

<;:oes,divulgando0cham

adoque

implica

aida

aop<lLicio

de

Z~us.Nem

U111rio

falta-

C0111

exce<;:aodeOceano,

ncnhll-madas

ninfasque

habitamosbosques

encantadores,ason-

dasdos

riosouosprados

herbosos.1'odos

vemaopalacio

deZeus,

senhordas

nuvens,todos

sesentam

sobosreflna-

dosp6rticos

construidos,para

Zeuspai,pelo

sabioHefesto.

Detalhe

interessante:essa

assembleia

dedeuses

sucedeaumaassem

bleiadeguerreiros

paraaqual

saoconvocados

"atemesm

oosdistribuidores

depao'~

Partanto"Homero

retrataasinstitui<[oes

divinasaimagem

doque

decO~1hecs

dasinstituis:oes

humanas.

Zeus(figura

17)e,para

acidade

dosdeuses,

sil11ples-

mente

0que

Agam

emnon

epara

0exercito

dosaqueus

ePriam

opara

acidade

dostroianos?

Naodevem

oslevar

esseparalclo

longedem

ais.0certo

eque

0Olimpo

emarcado,

durantetoda

aIliada,

peladivisao,

0que

secham

aramais

tardestasis,

comojamencionei.

Zeusintervem

,varias

ve-zes,para

impedir

osdeuses

decom

baterou,

aocontrario,

paradar-lhes

todaaliberdade.

Quando

Aquiles

fazaseces-

sao,apedido

deTetis

(suamae)

Zeusfavorece

ostroianos.

Quando

Aquiles

retornaaocom

bate,eleinverte

asua

posi-<;ao.Zeus

amaseu

filhoSarpedon,

mas,a

pedidodoclapr()-

aqueu,deixa-o

morrer.

Damesm

aform

a,tem

simpatia

porHeitor,

quefezmuitos

sacrificiosem

suahom

enagem,po-

remseinclina

diantedo"dia

fatal"marcado

paraasua

mor-

te.Emolltras

palavras,elesabe

quenao

eonipotent~C

on-tudo,

naocessa

delembrar

que,sozinho,

emais

fortedo

quetodos

osoutros

deusesrellnidos

eque

temcondi<;6es

deexpulsa-los

doOlimpo.

Nesse

sentido,emais

poderosodoque

Agam

emnon

entreoshom

ens.Emuito

dificilinterpretar

historicamente

esseparale-

10.Naepoca

emque

(conformeaavalia<;aogeral)

"Home-

ro"criou

aIliada

eaOdisseia,

amonarqllia

desaparecerada

maioria

dascidades

gregas.Dando

cursoacom

para<;aocom

Acatzpio

deRolondo,

naopodem

osmais

falar,comrela<;ao

aofinal

doseculo

IXouaocom

e<;odo

XII,deumamonar-

quiacom

oadeCarlos

Magno.

Arealeza

sefragm

entarana

feudalidadeeja

existiamsenhores

maispoderosos

doque

0

reidaFran<;a.0

quenao

impede

Carlos

Magno

deserapre-

sentadona

Ca11i;aocom

oum

poderosissimosoberano,

emcontato

diretocom

0Deus

doscristaos.

Ebem

possivelque

osreis

daIliada

sejammais

uma

lembran<;a

-fantasiada,

evidentemente

-doque

umarea-

lidadecontem

p0l"<lnea.Micenas

naoera

mais

acidade

"ri-caem

ouro"evocada

porHomero;

elanao

passavadeum

pequenoburgo.

0centro

domundo

gregosedeslocara

daEuropa

paraaAsia.A

liasedificil

determinar

0que

consti-tuia

aestrutura

dominante:

apolis

propriamente

dita,com

osseus

6rgaosdedelibera<;ao

ededecisao,

ou06ikos,

istoe,0dom

inioterritorial

sobre0qual

seapoiava

0poder

doschefes

deguerra?

Umapassagem

docanto

XIIdaIliada

eca-

pitalaesse

respeito.Sarpedon,

reidosHciose

filhodeZeus,

dirige-seaoprim

oGlauco:

Glauco,

porque

nosdao

tantosprivilegios

naLicia:lugares

dehonra,

boascarnes

etac;:ascheias?

Porque

somosolhados

comodeuses?

Porque

gozamos,

juntoamargem

doXanto,

deum

imenso

dominio,

adequadotanto

paraospom

arescom

opara

oscam

posdetrigo?

Nosso

devernao

e,entao,ocupar

hoje,com

oseespera,

0prim

eirolugar

entreosHcios

eresponder

aoapelo

dabatalha

ardente?

Quanto

aUlisses,nao

eap6lisdeItaca

quevem

osnoen-

tantofuncionar

noinicio

enofim

daOdisseia,

nomomento

daguerra

civiledareconcilia<;aofinal,m

assim

06ikos

(apro-

priedadeprivada)

deUlisses

queepilhado

pelospretenden-

tes.Paravence-los,

elenao

seap6ia

naassem

bleiadeItaca;

pelocontrario,

ap6ia-senoseu

filho,noseu

porqueiroeno

seuboieiro.odestino

dacidade

dosdeuses

emaiscom

plexo:deini-

cioporque

emuito

dificilretirar

osdeuses

gregosdanarra-

tivanaqual

0poeta

osencerra;

emseguida

porqueaevo-

,;-It)

I1

IJ

I1

lU'rao

dareligiao

grega,talcom

opodem

osimagina-la,

re-f

)for'ra

0poderio

deZeus

aoinves

deenfraquece-lo.

Areli-

IJ

giaogrega

daepoca

arcaicaeclassica

conhece,aomesm

oI•

tempo,

0fracionam

ento(toda

cidadetern

osseus

deusese

I•

osseus

cultos:Atena,

porexem

plo,esoberana

emAtenas)

Itea

pan-helenismo

(0Zeus

deOlimpia

e0Apolo

deDelfos

saodeuses

queatraem

todososgregos).

Poucosgregos

ti-t

veram(nas

epocasmencionadas)

afamiliaridade

comosdeu-

..•sesque

caracterizaosher6is

deHomero

(ressalve-se,entre-

~tanto,

queestam

oslidando

comumaobra

literaria).Para

•aproxim

ardeuses

ehom

ens,sera

precisoinventar

novasfor-

tmasdeculto,

masisso

eoutra

hist6ria..•

0paradoxo

dopoem

ahom

ericoreside

nofato

deque

I'osdeuses

-gra'ras

aepopeia

-estao

aurn

tempo

pr6xi-I..•

mosedistantes.

EsUiopr6xim

osporque

certosher6is

-I.•

nemtodos

-falam

comeles,m

asnem

sempre,

seassim

I'posso

dizer,comrespeito

econsidera'rao.Apolo

enganaAqui-

I•

leses6serevela

ap6ste-lo

desviadodeseu

caminho.

Atena

I11

ternafei'rao

porDiom

edeseUlisses

naIliada,

e,noque

diz

I~

respeitoaeste

ultimo,durante

todo0transcorrer

daOdis-

.•seia.Posidon

naoperdoou

Priamo,filho

deLaom

edonte-

I.,

e,portanto,atodos

ostroianos

-,pela

injusti'raque

sofreuI

.,por

partedeseu

pai.Naoesteve

Posidonaservi'ro

deLao-

Imedonte

durantetodo

urnano?

Naoconstruiu

eleasmu-

.,Iralhas

deTr6ia?

E,nofim

dascontas,

naoacabou

sendopri-

""I,

vadodosalario?

I1

Esseexem

ploilustra

bastantebem

asrela'r0es

comple-

II

xasque

existementre

osdeuses

doOlimpo

eosprincipes

;•

II'I

troianos.Zeus

recrutouentredes

aseu

escan'rao(Ganim

e-I

I.,

des),Afrodite

umamante

(Anquiscs),

Posidonurn

patrao,I

I»72

,

~~~~-~~--~--~---

queacabei

decitar

(Laomedonte).

Essessinais

debenevo-

lenciados

deusespara

comostroianos

sao,narealidade,

ambiguos.

Naogarantirao

asalva'rao

deTr6ia.

Aproxim

i-dade

comosdeuses

eateperigosa

paraostroianos.

Noma-

ximo,Sarpedon

eHeitor

setom

arao"belos

mortos",

enao

cMLlveresultrajados

comoteriam

desejadoaqueles

queos

mataram

.

Jadisse,acerca

dosdeuses,

queeles

estavampr6xim

osedistantes.

Arela~ao

normale,com

efeito,distante.Osdeu-

sessecom

unicamcom

oshom

enspor

meio

desonhos,

osquais

podemser,as

vezes,enganadores,com

osevenoini-

ciodocanto

IIda

lliada,quando

Zeusinfonna

Agam

em-

non,em

umsonho,

quechegou

ahora

detom

arTr6ia!

Ha

tambem

ospressagios

quepodem

serveridicos,

desdeque

seencontre

uminterprete

qualificado,com

o0adivinho

Calcas.

Homero

0recorda

nocanto

IIdaIliada.

EmAulis,

diantedos

gregos,umaserpente

devorouoito

passarosjun-

tamente

comamaedeles

antesdetransform

ar-seem

pe-dra.

Issosignifica,explica

0adivinho,

quedurante

nove'1nos

osaqueus

sitiaraoTr6ia

eque

tomarao

acidade

nodecor-

rerdodecim

oano.D

olado

troiano,eHeleno,

irmaodeHei-

tor,quem

compreende

0plano

dosdeuses

esugere

que0

her6i(cuja

horaainda

naochegou)

lanceum

desafioaos

che-fes

dosaqueus.

Elepode

agirassim

porqueAquiles

aindanao

retomou,

es6Aquiles

podevence-lo.

NaOdim£ia

hatres

adivinhos.Nocanto

XI,no

Hades,

Tiresiase,entre

osmortos,

0equivalente

deCalcas

entreos

vivos.Telemaco

trazconsigo,

nasua

cmbarca<;ao,Teodim

c-no,

0qual

acompanhara

Ulisses

nareconquista

deseu

do-minio.

E,finalmente,

Haliterses,

quevive

emItaca:"D

entre

oshom

ensdeseu

tempo,

eleera

0melhor

paraadivinhar

asarte

pelovoo

dospassaros".

Eborn

lembrar

queospassa-

rosS,1O

intcrmcdi,lrios

"nalurais"porquc

frcqlicnlam0ceu

ehabitam

aterra,

situando-seentre

osdeuses

eoshom

ens.Haliterses

e0prim

eiroaanunciar

aospretendentes,

nocan-

toII,que

0retorno

deUlisses

eiminente

eque

esseretor-

nonao

pressagianada

deborn

paraeles.

Mas0modo

normal

decom

lmica~ao

entrehom

ense

deusese0sacrifieio

sangrento,desde

amodesta

oferendadeurn

carneiroate

ahecatom

benaqual

perecemcern

boiscuja

carneedistribuida

aosparticipantes.

Parque

razaoHei-

toracaba

recebendoashonras

f(mebres?

Parque

Aquiles

devolve0seu

carpo,que

osdeuses

haviammantido

intac-toadespeito

dosultrajes

infligidosaocadaver?

Osdeuses

dclibcramsobre

0destino

dessemarta

nocanto

XXIVeul-

timo.Apolo

eHera

desenvolvemosseus

argumentos:

queciadas

oferendasque

meagradam

.Havia

sempre

ban-quetes

nomeualtar

etodos

partilhavamdas

liba~6esedas

espessasfum

aradasquc

S,10

0quinh,lo

delodos

n()s.

Durante

todaaOdisseia,

adiferen~a

entre0mundo

sel-vagem

e0mundo

civilizado(0grego

basicamen

te)eesta-

belecidapela

possibilidadeou

naodo

sacrificio.Em

Pilo,Nestor

e0sacrificadar

parexcelencia,

dourandooscornos

dasvacas

queoferece

aosdeuses.

JaPolifem

o,que

comeos

homens

semcozinha-los,

faz0contrario

deurn

sacrifieio.

Diante

deTroia,

0sacritkio

humano

eexcepcional,

masexis-

te.Aquiles

oferecedoze

jovenstroianos

porocasiao

dosfu-

neraisdepatroclo.

Masosdeuses

estaolivres

paraaceitar

ourecusar

0sa-

crifieio.Apedido

deHeitar

ede

Helena,

Hecuba

ofereceurn

veumagnifico

aAtena

efaz

voto"de

theimolar,

noseu

templo,

dozevitelas

deurn

ano,seadeusa

sedignar

ater

compaixao

dacidade".

Asacerdotisa

pousa0veu

"sobreos

joelhosda

divindade",isto

e,desua

efigie,erepete

0voto,

"masaresposta

deAtena

e:Nao".

Essarecusa

eurn

anuncio

dedesastre

paraostroianos.

Nesse

particularosdeuses

nao

podemser

coagidos.

Poracaso

Heitor

naoassou,

emvossa

honra,alguns

bonspeda~os

decarne

deboi

ecabras

semmacula?

Eisumaideia

tipicamente

tua,deus

cujoarea

edeprata!

Pretendeshom

arHeitor

tantoguanto

honrariasAguiles?

Jleitorcapcnas

UlllIllortal,

quemalllou

nllmscio

dcIllU

-Iher,enquanto

ALjuilese

filhodeumadcusa

...

Heitor

era,paraosdeuses,

amaiscaro

dosmortais

guenas-

ceramem

ilion.Era

earntambem

amim,pais

jamais

secs-

6.I-Iomens

emulheres,

jovensevelhos

Acidade

gregaera

urn"dube

dehorn

ens",0que

querdizer

queasmulheres

estavamexduidas.

Nadem

ocniticaAtenas,

elasnao

tinham,evidentem

ente,0direito

devoto.

Entretanto,apartir

de451,

paraser

atenienseera

precisonascer

demulher

ateniense.Esse

modelo,

noentanto,

naoera

unico.Em

Esparta,asm

o<;:as,semque

guerreas'3em,cram

educadascom

orapazes

emostravam

ascoxas,

0que

choca-vamuito

osatenienses.

0imaginario

grego,contudo,

crioumulheres

guerreiras,iguais

aoshom

enseate

superiores:as

Amazonas.

Porduas

vezeselas

aparecemna

Iliada:Priam

oserecorda,

nocanto

III,dete-Ias

combatido

nasua

distan-tejuventude,

eGlauco

explicaaDiom

edes,nocanto

VI,que

seuancestral

Belerofonte

asexterm

inouem

massa.N

ospoe-

masque

daraoseqU

enciaaIliada,

0destino

deumaama-

zona,Pentesileia,

erelatado:

depoisdemata-Ia,

Aquiles

seenam

oradela.

Ospintores

eosescultores

gregosreprcsen-

taraminum

erasvezes

0duelo

entreAquiles

ePentesileia

(figura25)"A

lgunsalltores

modernos

forambastante

inge-nuos

paraacreditar

queesse

"povodemulheres"

realmente

existiu,ecertas

feministas

adotaram-nas

comoprecursoras,

oque

eumanova

provadaint1uencia

doimagin,irio

gregoem

nossopensam

ento.Asmulheres

SaDpOllCOnum

erosasnaIliada,

aindaque

aguerra

tenhasido

desencadeadapelo

raptodeHelena

ede

sellStesouroseque

possaser

interrompida

aqualquer

mo-

mento

seostroianos

decidiremdevolver

ajovemgrega.O

u-troindicio

interessante:aIliada

come<;:acom

0confronto

en-treAquiles

eAgam

emnon

arespeito

deCriseida

eBriseida.

Eradesejo

deAgam

emnon

queaprim

eiraenvelheces-

senoseu

palacio,com

ocriada

etambem

comoconcubina.

For<;:adoadevolve-la

aseu

pai,eleconfisca

acativa

deAqui-

Ics,Briseida,

"debelas

faces",masrevela,

nocanto

IX,que

"naoseuniu

aelacom

oenorm

alque

aconte<;:aentreho-

mens

emulheres'~

Criseida

eBriseida

SaDpresas

deguerra

como,deresto,a

maioria

dosescravos.C

onvemrepetir:

"naoha,no

campoaqueu,

umallI1icaesposa

legftima.Recebi,um

dia,avisita

deumajovem

professorauniversitaria

quede-

sejavaestudar

adem

ografiahom

erica.Fuifor<;:adoa

Ihein-

formarque,

emdez

anosdesftio,

Homero

naomencion

allIn

lllliconascim

cntonocam

poaquell.

Outros

poctasepi-

cose,sobretudo,

ostragicos

corrigiraoessa

lacuna.Darao

aAjaxurn

filhodacativa

Tecmessa.M

asisso

naoe0suficien-

tepara

justificarurn

estudodem

ografico!Dolado

troiano,Hecuba

eumarainha

idosa.Em

vaoelasuplica,

nocanto

XXII,que

Heitor

naoenfrente

Aquiles

eque

busquerefugio

nointerior

dasmuralhas.

Cassandra,

filhadeHecuba

edePdam

o,esem

elhantea"aurea

Afrodi-

te".0canto

XIda

Odisseia,0qual

sepassa

noHades,

0pais

dosmartos,

nosrevelara

comofoi

0seu

tlm:elafoimorta

porClitem

nestrajunto

aocorpo

deAgam

emnon,

queatrou-

xerapara

casacom

opresa

deguerra.

Esquilo,noseu

Aga-memrwn,fara

umaevoca<;:aonotave1

dessecrim

e.ACassan-

dradeEsquilo

edemuitos

outrosautores

eumaprofetisa

naqual

ninguemcre.Ela

recebeuesse

domingrato

deApo-

10,aquem

naoquis

ceder.NaIliada,

elanao

eumaadivi-

nha,masesta

proximadeserumavidente.

Empoleirada

noalto

dacidadela

deTroia,

Pergamo,ealwica

areconhecer

seupai

empenocarro

quetraz

devolta

0corpo

deBeitor.

Fazumcham

adoretum

banteaoshom

ensemulheres

deTroia

paraque

venhamintegrar

0cortejo

daque1e"belo

morto".

Visao

evoz:podem

osnos

perguntarseaCassandra

profeti-canao

eurn

desenvolvimento

dessadupla

nota<;:aodaIliada.

Dessa

"multidao

detroianas,

Androm

acae,com

exce-<;:aode

Hecuba,

a(mica

aseridentificada

pelopoeta

daIlia-

dacom

oesposa

emae.

Seunom

erdm

e0hom

em(aruir;

nogenitivo:

andr6s)eo

combate

(nuiche).Filha

deEecion,

reideTebas

naCilfcia,ela

perdeu0pai

eossete

irmaos,

todosmartos

parAquiles.

Este,noentanto,

respeitou0cadaver

deEecion

enem

mesm

othe

retirouasarmas,

comoreve!a

asua

filhanocanto

VI.Im

possive!nao

ligar0seu

nomeao

quesepode

chamardesuperm

asculinidadedoseu

circulo.Tanto

mais

queHomero

nosdaurn

exemplo

inverso:Do-

Ion_0astuto

-,0espiao

poucoglorioso

epouco

respei-

tadoque

sedisfar<;:ade

lobonocanto

x:

Hacerta

masculinidade

emAndrom

aca,assim

como

hacerta

feminilidade

emD610n.

Masamulher

mais

celebreda

IliadaeHelena

(figura27).

Nopoem

a,ela

naogera

filhoscom

Paris,porem

temumafilha

cujonom

enao

ecitado.

Eapenas

naOdisseia

queconhecerem

ossua

filha(mica,

Hermione,

queRacine,

de-pois

deEuripides,

transforma

empersonagem

terriveLHe-

lenae,na

Iliada,exatam

enteaque

seraovarias

mulheres

naOdisseia:

umainterm

ediariaentre

daismundos.

Nocanto

Ill,durante

atregua

queprecede

aduel

aentre

PariseMe-

nelau,Helena,

convocadapor

his,amensageira

deZeus,

aparecesabre

asmuralhas,

ondesereline

aConselho

dosAnciaos,

composto

dePriam

oemais

setehom

ensidosos,

"cigarrasque,

naarvore

deum

bosque,fazem

ouvirasua

vozagradavel".

Emvan

Helena

secobre

comurn

longoveu;

mesm

oassim

elaimpressiona

asvelhos:

Quepor

talbeldade

soframos

tantapena.

Nosso

malnao

valeum

sodos

seusolhares.

Todaviaemelhor,

paranao

irritarmais

aAres,

Devolve-la

aseu

esposo...

Nao

edeespantar,

dizial1lessesbons

velhinhosNoalto

domuro

troiano,aovercm

passarHelena,

Nadata

emque

nosencontram

os,no

tempo

dospoe-

mashom

ericos,abeleza

quepenetrara

nocora<;:ao

dacivi-

liza<;:aogrega,

queserevelara

napoesia

deSafo,

nosvasos

deEzequias

enas

esculturasdeFidias,

expressa-separ

meio

deurn

personagemsedutor

eperigoso

comoHelena.

Mas

esseassunto

naoterm

inaai,pais

Priamosolicita

queHele-

nanom

eie,em

ordemhierarquica,

aschefes

aqueusque

po-dem

servistos

doalto

dasmuralhas:

Agam

emnon;

Ulisses,

oqual,

urnpouco

menor,

ecom

paradoaurn

carneiroresis-

tente;Ajax,

filhodeTelam

onioeIdom

eneu,rci

dcCrcta.

Elaamite,

noentanto,

Menelau,

0marido

enganado,cas

sinalaque,

daLacedem

onia(Esparta),

deveriamtcr

vindo

osseus

irmaos:

Castor

eP6lux.

Helena

eapr6pria

beleza,

massecom

portavulgarm

ente...Para

muitas

gera<;:6es,an-

tigasemodernas,

elaencarna,

assim,nas

suascontradi<;:6es,

"0etem

ofeminino':

Nomundo

daOdisseia,

apresen<;:a

dasmulheres

equa-

se0oposto

doque

sepode

encontrarnaIliada.

Jaern

1713,aingles

Richard

Bentley,

urndos

fundadoresda

tllologiamodem

a,havia

sugeridoque

aOdisseia

foracom

postapara

urnpllblico

ferninino.Urnescritor

Inglesdaepoca

vitoria-na,

Samuel

Butler,

chegaraapropor

aideia

dcque

aOdis-

seiafoi

escritapor

umarnulher,

eque

essamulher

naopode

Nao,

naoepossivel

censurarostroianos

nemosaqueus

deboas

grevasse,por

talmulher,

sofremtao

longosmales.

Elatem

mesm

oaaparencia,

quandoavem

osdeperto,

dasdeu-

sasimortais

...Mas,apesar

detudo,

mesm

osendo

assim,que

elaembarque,

queela

parta!Naoadeixem

aquicom

ourn

flagelopara

nose,m

aistarde,

paranossos

filhos!

Um

poetaque

citeino

primeiro

capitulodeste

livro,aquele

mesm

oque

queria"ler

emtres

diasaIliada

deHo-

mero",

PierredeRonsard,

adaptoumaravilhosam

enteesses

versos;estava

enamorado

entaodeumaoutra

Helena:

mulher

[que]h

"cora

0seu

esposo,abra<;:ando-o,apos

ve-Iotom

bardiante

dacidade

ed,eseu

povodefendendo

apatria

eosfilhosdo

diafatal

'Damesm

at

'VI',

...orm

a,lssesderram

avalagrim

asdepiedade.

Imagem

extraordimiria,

dequalquer

forma;um

dosmo-

mentos

mais

elevadosdapoesia

homerica,

jaque

Ulisses,

0

"her6idapersistencia",

ecom

paradoimplicitam

enteaAn-

dromaca.Tudo

sepassa,

naOdisseia,

comose0mundo

femini-

nofosse

duplo:acolhedor

eperigos o.

Assereias

sancantoras

destrutivas.Caribdis

eCila,m

onstrosfemininos,

destroemoudevoram

osque

seaproxim

amdem

ais.Guardam

os,ate

hoje,aexpressao

proverbial:"Cair

entreCilaeCaribdis".

Num

certopais

imaginario,

Ulisses

eseus

companheiros

saoacolhidos

porumajovem

quetirava

aguadafonte

-um

poucocom

oNausicaa,

quelavava

asua

roupa-,

mas

essajovem

encantadora,que

mostra

0cam

inhodopalacio

doseu

pai,eafilha

doreidos

lestrigo nes,ospescadores

cani-bais

dosquais

trateinocapitulo

2.EmItaca,

asservas

fieissedefrontam

comasservas

infieis,que

sao,comojaexpli-

quei,crue1m

entecastigadas.

Massera

quesetrata

deumaoposi<;:aobanal

entre0bem

eomal?Naverdade,

essaoposi<;:aoexiste,e

demaneira

exem-

plar.Durante

quasetoda

anarrativa,

desde0inicio

dopoe-

ma,Penelope

ediferenciada

damulher

adultera,aquela

quetom

ouum

amante

naausencia

domarido

eque,quando

doretorno

desteultim

o,fazcom

queseja

assassinado:Clitem

-nestra,

aesposa

maldita

deAgam

emnon.

Zeusevoca

asua

hist6rianoinicio

dopoem

apara

isentarosdeuses

detoda

responsabilidadenesse

crime,e0pr6prio

Agam

emnon,

noHades,

faz0relato

dessedram

apara

Ulisses,que

naoconhe-

cia0seu

fim.Ele

foimorto

"comosemata

umboi

noma-

tadouro",isto

e,comoum

animaldea<;:ougue:

seroutra

senaoN'

'.com

o"AB'

.~~lsIC

aa,cUJOnom

epode

sertraduzido

a.Jquelra,pseudonim

oque

ocultariaum'

.cesa

gred,S'

'1'~

apnn-

gaa

L1C1la.C

omoesquecer

comefeit

.:Itar

''t'1'

1"'

0,senl

al0-

<esautlmallpotese

umtanto

d'.'I'

..

d.

esvalraca,que

0obJetl-

~o1avlagem

deVlisses

ereencoJ1trar

Penelope,amulher

Ie,aquela

queenganou

durantequatro

anosd

tospreten-

enes,tecendo

dedia

umamanta

quedesfaziaa

noite?Co-

moesquecer

asfiguras

quesem

preestendem

amaoa'Vlis-

ses,socorrendo-o'In

L'

'd

".

0-eucotea,

mortal

transformada

emeusa

l~ue,duranteatempestade

descritanocanto

ventre-

gaaVlsses

0veu

magico

lU·II

..,

'F''.?

'l1eleperm

ltlradesem

barcarna

eaCla.E

Nauslcaa,

lavandoarouIJa

queIhe

c'onfi.(

IOU0seu

papal0term

oest,,}no

textogrego)

eq

d'1

.I.N'

"ue

esco)re

Vhsses

HI,

,ltlSIUa,que

pensaem

casamento

eque

expl''<

,VI'

0

seslea

aIS-

o,quc,

paraganhar

aconfianra

doreiAl'

,.

•C11100,e

l11elhorconqlllstar

primeiro

aconfianra

de'0

Arete

E"

_T

suaesposa,

aral11ha

...,pO

lacaso,nao

eavelha

amadelTl'

'd,'fi.

Issesquem

01entl

1e<1,noseu

pr6prioIJahicio

nel'l,'"t.',

.d'

't

<CICdIIZ

quedctcm

aClma0Joelho

(figura36)?

Enao

hafi'1

1 .'namente,

noIIades

umaonga

dlgr'-

1'

essaosoJreasmulheres

celebresque

v1''.

encontrouncssc

lugarsubterraneo

alem'I'}S11'1I~"

.'IS~.es

N'

L<.

<}1°IJILal11ae(

averd

d.

-<

•ae,as

cOlsassao

mais

compIe

.0

Od'"

_,

xas.autor

d,}lsseza

naoecertam

enteuma

ll··(

..

muleI,

esena

umanacro-

nlSITIOsl11gularfaze'd1

I:'(1eeum

1eml11ista,no

sentidomoder-

nodapalavra.

Noentanto,

Ulisses

ecom

paradonoClllto

VIII,a

Ul1la

'<

rr..•..•--------------------------•~.-,•,,t•t,,,,,,,)l,,•,,•,,1t•

Assim

foiaminha

lamentavelm

orte;eosm

eusforam

abatidosjunto

amim,

comoporcos

dealvaspresas,

nacasa

dehornem

ricoepoderoso

paraasbodas,urn

encontroouurn

festim.

naoderram

avauma1<igrim

anajornada,

mesm

oque

perdesse0paie

amae,

mesm

oque

tivessevisto,diantedos

pr6priosolhos,

seuirmaoou0filho

amado

sucumbirpela

espada!

umadroga

queadorm

ecetoda

iraetoda

pena;quem

querque

atom

asse,misturada

aovinho

dacratera,*

Homero

aindaesclarece

queesse

es6um

exemplo,

en-tre

outros,dos

"astutosencantos"

deque

dispoearainha

maga.

Esseexem

plobasta

ejafaz

deHelena

urnpersona-

gemsem

elhanteaos

lot6fagos,aqueles

queadorm

ecemos

companheiros

deUlisses

eosprivam

demem6ria.

IHainda

asduas

"terriveisdeusas

comvoz

humana":

Circe

ea"inteiram

entedivina"

Calipso.

Ambas

oferecem0

leitoaUlisses;

Circe,provisoriam

ente,eCalipso,

a"oculta-

dora",comvontade

defazer

deleseu

esposoeconceder-Ihe

aimortalidade.

Circe

seencontra

cercadadeanim

aisselva-

gensque

foramoutrora

homens

edecide

transformar

emporcos

oscom

panheirosdeUlisses,

eeem

porcoque

cia0

teriatransform

adose0deus

Hermesnao

houvessemuni-

do0her6i

deurn

antidoto,afamosa

plantamoly,

deraizes

negraseflores

brancas.D

efeiticeira

elasetorna

amante

eate

mesm

oguia,ja

queajuda

Ulisses

aencontrar

0seu

ca-minho

deretorno.

Decididam

ente,ambiguidade

doestatu-

tofeminino

naOdisseia.

Encontramos

umaambiguidade

comparavel

naevoca-

~aodos

ritosdaadolescencia.

NaAtenas

classica,osjovens

levavamdois

anospara

ultrapassaraetapa

queosconduzia

aplena

cidadania.Cham

avam-nos

entaodeefebos.O

ra,des-sesritos

deadolescencia

dosrapazes

n6snelotem

os,com

re-la~aoa

epocaarcaica,

nenhumconhecim

entodireto.

Somos

obrigadosapassar

pelasform

asliterarias

ouartfsticas

e,pa-

Agam

emnon

termina

comparando

essamorte

parti-cularm

enteabjeta

-imposta

porEgisto

(urnefem

inado,segundo

todaatradi~ao

posterior)eauxiliada

diretamente

porClitem

nestra-com

amorte

emcom

bate,a{micadig-

nadoguerreiro

queele

haviasido.

Damesm

aform

a,ha

servas£leis,com

oaamadeUlisses,

etambem

in£leis.As-

sim,acriada

quehavia

sidoencarre

gadadetom

arconta

deEum

eurapta

0"divino

porqueiro"porque

foraseduzida

pOl'urn

marinheiro

fenicio.Aculpada,

entretanto,nao

tira-riaproveito

doseu

crimepor

muito

tempo.

Morreu

duran-teaviagem

e"foijogada

aomarpara

alimentar

ospeixes".

Examinem

osagora

astres

mulheres

singularesencon-

tradaspor

Telemaco

eUlisses.

Helena

permaneceu

"seme-

lhanteaaurea

deusaArtem

is",adespeito

deterem

sepassado

unsvinte

anosdesde

0seu

raptopor

Paris.Essa

permanen-

ciadabeleza

farasorrir

muitos

espiritosracionalistas,

como,

porexem

plo,0caricaturista

Honore

Daum

ier,que

arepre-

sentaracom

oumahorrenda

megera

(£lgura26).

Mas,

nocanto

IVdaOdisseia,H

elenasetransform

anum

amaga

be-ne£lca

quedispoe

deumadroga

poderosa,trazida

doEgito,

racOl1le~ar,

naturall1lente,pelos

poemas

homericos.

Mas

sempre

econveniente

lembrar

queesses

poemas

naosan

m;ll1u,lis

eque

1:11ampor

allls;\odaqllilo

quelodos

conheciam

porexperiencia.

Todorito

depassagel1l

supGeduas

al-ternativas:

0sucesso

ou0fracasso.

Passardainfancia

para

aidade

adultasupG

eumatransi<;:ao

queosritos

tempor

fun<;:ao,justamente,

dral1latizar.Umdos

modos

favoritos

dadram

atiza<;:aoeainversao:

apassagem

porum

mundo

feminino

eselva

gem.Ena

medida

emque

0jovem

soubeafrontar

0mundo

selvagemque

eleedigno

deser

integra-doa

sociedadedos

adultoscivilizados.

Masele

podefalhar

nasua

inicia<;:aoeperder-se

"naselva".

Muito

frequente-mente,

nostextos

gregos,umacerta

formadeca<;:a(ou

de

guerra)marca

apassagem

paraaidade

adulta.oLmico

personagemque

vemos

entrarnaidade

adul-tadurante

0tempo

danarrativa

eTelem

aco,cujo

nomesig-

nifica"aquele

quecom

batedelonge)),

0que

sugeremais

um

arqueirodoque

umcom

batenteque

enfrenta0inim

igoca-

raacara.

Telemaco

temagora

unsvinte

anos,pois

erabebe

quandoseu

paideixou

Itaca.Ospretendentes

tematen-

dencia

detratcl-lo

comoum

garoto,mas

elerebate

jano

cantoII:

Naovos

bastater-m

eoutrora

(onsumido

tantasriquezas,

quandoellera

aindacrian<;a?

Mas,hoje

quesou

urnhornern,

queou<;:o

oque

sediza

minha

volta,que

rninh'almaevollliu,

tentareilan<;:arsobre

vastoda

arna

sorte.

vemateniense

daepoca

classicasetornava

membro

daas-

sembleia.

Ora,

naoapenas

Telemaco

afirmaasua

identidadedeadulto

comotambem

restabeleceapeSlis,ao

convocar,pe-

laprim

eiravez,

aassem

bleiae0conselho.

Comparece

nu-mavestim

entacuriosa,

comumalan<;:a-

algunstraduzem

:

umchu<;:o-

debronze

e,sobretudo,acom

panhadopor

doiscaes.E

mais

umtraje

dejovem

ca<;:adordo

quedecidadao.

Senta-senapoltrona,

0trono

deUlisses,

marcando

assim0

seudireito

aheran<;:a.M

as,segundo

aregra

classica,0deca-

nodaassem

bleia,"um

heroicurvado

pelaidade

ecom

mui-

taexperiencia)),

tomaapalavra

primeiro

efaz

0leitor

saber

que"desde

que0divino

Ulisses

partiu,afrente

dosseus

con-

cavosnavios,

nuncamais

tivemos

Hem

conselhonem

as-

sembleia".Eaviagem

deTelem

aco,com

e<;:adaeterm

inadacom

umardil,

umafuga

eum

retornoclandestino,

quemarca

asua

fa<;:anliadeefebo.

Seuprim

eirocom

batesedara

nacom

pa-nhia

dopai,

nabatalha

contraospretendentes.

Quando

se

trata,nocanto

XXI,deretesar

0arco

deUlisses,

Telemaco

e0

unicoque,

aexce<;:ao

dodono,

tinhacondi<;:G

esderealizar

essaproeza.

Seupai,

noentanto,

0impede

deprosseguir

natentativa.

Nofinal

daOdisseia,

quandotres

gera<;:oessanpos-

taslado

alado,

representadaspor

Laertes,Ulisses

eTelem

a-

co,este

ultimojaeum

adultocom

pleto.osegundo

exemplo

deumainicia~ao

bem-sucedida

eretrospectivo,

poisenarrado

pelovelho

Nestor,

nocanto

XI

daIliada.

Suaprim

eiraguerra

sedesenrolou

anoite,

porocasiao

deumaquerela

em(orno

deum

rebanhodevacas,

duranteaqual

0entao

jovemNestor

enfrentoucam

pone-ses

enao

guerreiros.Fie

IllalaIJIlldos

seusinim

igosetem

ocuidado

deregistrar

area<;:aode

seupai,

Neleu,

dequem

era0unico

filhosobrevivente:

omeuterceiro

eultim

oexem

plodeinicia<;:aobem

-su-cedida

tambem

eretrospectivo

eserefere

aUlisses

empes-

soa.Estamosnocanto

XIXda

Odisseia,eavelha

amaEuri-

cleia,aolaval'os

pesdeUlisses,reconhece

acicatriz

queele

ternacim

adojoelho

eidentifica

assimasua

antigacria.0

poetarelata

entao,deform

aum

tantolonga

aosolhos

de

II

888_ 9

---',

alguns(nao

aosmeus),

comoUlisses

foiferido.Elevivia

nacasa

deseu

avomaterna

Aut6lico,

"mestre

emfurtos

eem

perjlIrios",eque

haviaescolhido

0nom

edeUlisses:

Odys-

seus,"0Irado".

Pr6ximodaidade

adulta,Ulisses

estaca<;:ando,de

dia,noParnasso,

comosseus

tiosmaternos,

detalheque

indicaaidade

dosca<;:adores(figura

10).Aparece

umjavali,

quee

logoabatido

porUlisses.M

asantes

demorrer

0anim

alse

antecipolleconseguill

feli-Iobem

acimadojoelho.

Seustios

maternos

cuidamdele

"edetem

0sangue

escuropor

meio

deum

encanto".Ulisses

podeentao

retornara1taca,e

eessa

feridaque,

muitos

anosdepois,

avelha

Euricleiavem

are-

conhecer.Ca<;:ae

retornoaopalS:eis

aiossinais

segurosde

umanarrativa

iniciatica.Umdos

her6isda

Iliada,contudo,

naoconseguiu

sail'totalm

entedaadolescencia.

Trata-sedeParis-A

lexandre,ir-

maodeHeitor

eamante

deHelena,

queP,lris

raptaran3La-

cedemonia.

Eprovavel

quealenda

deParis

n;10estivcssc

inteiramente

formada

porocasiao

dacom

posi~aoda

Ilia-da.D

oseu

passado,Homero

s6evoca

rapidamente

0julga-

mento

envolvendoastres

deusas.Saberemos,

maistarde,

queP,lrisveio

aomundo

compressagios

dedestrui~;1opara

Tr6ia,que

foiexposto

nomonte

Ida,assim

comoEdipo

noCite-

ron,que

foirecolhidoeque

regressouafamilia

ap6sganhar

umconcurso

juvenil.Contentem

o-nos,todavia,

com0que

dizHomero

nocanto

IIIdaIliada.

P,lriseum

homem

duplo.Ele

temum

nomeduplo:

P,lris-Alexandre;

0lmico

otltrocaso

e0bebe

deHeitor

eAndrom

aca:Escam

andropara

osseus

pais,As-

tianax("0

Reida

Cidade")

paraostroianos.

Comoedes-

E0cora~ao

deNeleu

encheu-sedealegria

com0sucesso

queeutivera,

euque

partiratao

jovempara

aguerra.

Masessa

guerrajuvenil

emeSillO

aguerra?

Nao,

jaque

inimigos

verdadeiros,nao

camponeses

massim

guerreirosmunidos

decavalos

edecarros,

aparecemdiante

dePilo.

Nestor

querlutar,

masseu

pai0impede

e"esconde

osca-

valos".Euignorava

tudoainda,

diziaele,da

artedaguerra.

Aguerra

noturna,contra

oscam

poneses,nao

era,por-tanto,

aguerra.

Essanova

guerra,Nestor

afara,

entretanto,clandestinam

entee,de

inkio,com

oinfante.

Eumag~erra

inteiramente

diurnae,por

isso,perfeitamente

regular.Nes-

torjae

umadulto.

E0anciao

podeconcluir,

comumapon-

tadehum

orhom

erico:

Eis0que

euera,outrora,

entreoshom

ens-seesse

passa-

doalgum

diafoiverdade.

critoParis

quandoosdois

exercitossedefrontam

noinicio

docanto

III?

bundo,

sabeque

Aquiles

seramorto

pelat1echa

deParis.

Portanto,ele

continuousendo

umarqueiro,

0q~~

fazdele

d,.

dedaguerra

Pans,perso-

mais

umhom

emaastuC

la0qu

.nagem

meio

feminino,

belodem

aispara

umrapaz

-,seus

cabelosesua

belezasao

"dadivasencantadoras

daaurea

Afrodite"

-,eum

efeboincom

pleto.

Dolado

troiano,urn

campeao

seapresenta:

Alexandre,

se-

melhante

aosdeuses.Tern

umapele

depantera

sabreosom-

bros,urn

areaencurvado,

umaespada,

emaneja

duaslan-

<,:ascompontas

debronze.

E0retrato

deum

homem

dividido:apele

depantera

oremete

aomundo

selvagem.Ele

e,aomesm

otempo,

umarqueiro

-fun<;:ao

quemantera

-eum

combatente

clas-sico.

Ateaslan<;:assan

duplas.Quando

veMenelau,

Paris

conduz-secom

oum

covarde:

Comourn

homem

queveumaserpente

numdesfiladeiro,

recuarapidam

enteeseafasta,

tornadopor

urncalafrio,

ebate

emretirada,

enquantoapalidez

invadesuas

faces...

Heitor

seirrita

comesse

recuoeinsulta

0irmao,

mos-

trandoque

elenao

atingiuaidade

adulta:

Ah,Paris

doinfortunio!

Ah,sedutor

vaidosoesubornador!

Porque

nasceste?Por

quenao

morreste

antesdeconhecer

mulher?

Ellteria

preferidoassim

!Seria

melhor

doque

tever

hojedesprezado

eobjeto

devergonha

detodos!

Paristenta

reagireseprop6e

enfrentarMenelau.

Mas

oduelo,

gra<;:as(?)aAfrodite,

mudara

derepente,

e0belo

Alexandre

severa

transportadopara

0leito

deHelena.

Emvarias

ocasi6es,ele

reaparecerano

combate.

Heitor,

mori-

7.0rei,0rnendigo

e0artesao

Maspor

poucoque

osplanetas

ousemperder-se

emcondenavel

confusao,entao,

quantosflagelos!

Quantas

monstruosidades!

Quantas[sedi<;:()es!

Quantos

furoresagitam

0mar!

Quantos

terrelllotos!

Quecom

o<;:6esdosventos!

Ascatastrofes,

asmudan<;:as,os

horroresdestroem

erom

pem,arrancam

edesarraigam

,[com

pletamente,

daposi<;:aofixa

ondeseencontram

,aunidade

eacalm

aharm

oniosados

Estados!

Oh!quando

ahierarquia

eabalada,

,elaque

servedeescada

paratodos

osaltos

prop6sitos,

ve-sepadecer

0empreendim

entohum

ano.Comoas

[comunidades,

osgraus

nasescolas,

asfraternidades

nascidades,

otr<lficopacifico

entreaslongitudes,

osdireitos

deprim

ogenituraedenascen<;:a,

asprerrogativas

daidade,

ascoroas,

oscetros,

oslaureis

conservariamseus

titulosautenticos

semahierarquia?

Suprimiahierarquia,

desafinaisom

enteesta

cordaeescutai

quedissonancia!

Todososseres

sechocam

numaIuta

aberta.

Qual

dosdois

Ulisses

falaassim

?0da

Iliadaou

0da

Odisseia?0vocabulario

(com0emprego

doterm

o"longi-

tude)))eo

estilodao

aresposta:

trata-sedoUlisses

deShakes-

peare(1564-1616),

numape<;:aintitulada

TroiloeCressida.

'+

Agam

emnon,

Priamo,

Heitor,

Menelau,

TersitesePatroclo

figuramentre

ospersonagens

dessatragicom

edia,escrita

provavelmente

bemno

inlciodo

seculoXVII.

Costum

a-sevcr,

nessalonga

tiradasobre

ahierarquia,

umaespecie

deelogio

funebredasociedade

medieval

aqual

0Renascim

en-toeaorganiza<;:ao

doabsolutism

otinham

dadoum

golpefa-

tal.Masn30

enesse

planoque

elameinteressa.

Shakespea-relera

umatradu<;:ao

inglesada

Wada,

acfelllcride

daguerra

de7hSia,

dopseudo-

Dfctis

deCreta,

eAhist6ria

dadestrui-

r;aodeTr6ia,

dopretenso

Dares,

0Frigio,

antoresdaepoca

imperial

romana.

Enesses

textos,enao

naIliadCl,que

apa-reel'

0personagem

deTroilo,

filhodePriam

o.Quando

pensamos

nahierarquia,

n6slhe

costumamos

opora110<;:<\0de

igualdadc,que,

junlamcl1le

comalibcrda-

de,figura

naDec!arar;ao

dosdireitos

dohOlllelll

de1789.

Aideia

deigualdade

naoera

desconhecidano

mundo

grego,que

inventouadem

ocracia,masessa

igualdadefoi

sempre

;Atraduyao

edeOscar

Mendes;

W.Shakespeare,

Obra

(ompleta,

RiodeJanei-

ro,Nova

Aguilar,

1988,vol.I,p.77.(N

.T.)

reservada,mesm

oem

Atenas,

apenasaos

cidadaosdo

sexomasculino,

istoe,aumaminoria.

Nesse

particularanossa

civiliza<;:30jamudou

muito,

apesardeainda

existirgrande

mimero

deexcluidos

nassociedades

contemporaneas.

oque

haviapressentido

Shakespeareeconfirm

adope-

laanalise

deum

grandehistoriador

anglo-americano,

Mo-

sesFinley:

Vmaprofunda

clivagemhorizontal,

escreveuell',estratifica-

va0mundo

dospoem

ashom

ericos.Acima,osaristoi,

lite-ralm

ente"os

melhores"

[emportugues

dizemososaristocra-

tas],umanobreza

hereditariaque

possuiaamaior

partedas

riquezasetodo

0poder,

tantonapaz

quantonaguerra.

Abai-

xoestavam

todososoutros,

amultidao

quenenhum

termo

tecnicodefinia

coletivamente.

0fosso

queseparava

osdois

estatutosraram

enteera

ultrapassado,anao

sercom

oconse-

qiienciadeacidentes

devidosaguerra

easrapinas.

Epreciso

acrescentarainda

queospoem

ashom

ericosnos

daomais

exemplos

dequedas

doque

deascensao

social.As-

sim,por

exemplo,

Eumeu,

0porqueiro

deItaca,

foifilho

derei,

antesdeser

comprado

porLaertes,

e0pretenso

creten-se,por

trasdecuja

mascara

seesconde

Ulisses,

erafilho

deum

homem

ricoedeumaconcubina,

tendoconhecido

su-

cessivamente

ariqueza

eamiseria.

Retornem

osagora

aIliada,

aocanto

I."Umrei

sempre

estaem

vantagemquando

enfrentaum

plebeu)),esclarece

0

adivinhoCalcas,

especialistadas

rela<;:6esentre

osdeuses

eoshom

ens.Ell'solicita

aprote<;:ao

eventualdeAquiles

casoviesse

aser

necessariaaconvoca<;:ao

dorei

dosreis,

Aga-

memnon.

Noque

concerneaclasse

dominante,

noalto

daescahi,

semdtivida

alguma,esUioaqueles

aque

Homero

chamade"reis

nascidosdeZeus".Todos

temumagenealo-

giae,com

muita

freqiiencia,elaremonta

aum

deuse,por-

tanto,mais

oumenos

diretamente,

aZeus,

que,elemesm

o,epai

denum

erososdeuses

edeusas.

Atemesm

o0ciclope

Polifemoefilho

dePosidon,

"0agitador

dosolo".

Osreis,

tantoAgam

emnon

comoUlisses,

possuemumaarmasimb61ica,

0cetro,

quetem

suapropria

genealo-gia.Q

uandoAgam

emnon

selevanta,

nocanto

IIdaWada,

tera,um

cora\=aodebronze

110meupeito,

al1ao

serque

asfilhas

deZeus,

detentordaegide,

asMusas

doOlimpo,

co-

mecem

anom

ear,elas

mesm

as,todos

aquelesque

vieram

paraDiem

.

Damultidao

naoconsigo

falar,naoconsigo

darnom

es,mes-

moque

tivessedez

linguas,dez

bocas,umavoz

quenada

al-

Almica

exce~aoeum

homem

cujacaricatura

eujaIhes

apresenteinocapitulo

3:Iersites-0nom

edoseu

painao

ecitado,

0que

eum

sinalcaracteristico.

0poeta

quissalvar

doesquecim

ento0sold

adoraso

Tersites?Ele

eantes

0eco ,

desf~lVoravel,da

existencia,diante

dosaristoi,

declasses

so-ciais

menosgloriosas.

Umdos

poetasdociclo,

0autor

daEtieSpida,

poemacentrado

nospersonagens

deMemnon,

fi-Iho

daAurora,

edePentesileia,

arainha

dasAmazonas,

ima-

ginaniamorte

deTersites,abatido

porAquiles

comum

tini-cosoco.osoci610go

francesMarcel

Mauss

escrevell,noinicio

doseculo

xx,um

ensaiofamoso

sobre"0

dom,form

apri-

mitiva

datroca".N

aofaltam

exemplos

depresentes

recipro-cos

nospoem

ashom

ericos.Jalhes

faleidatroca

desigllalentre

Diom

edeseGlauco

nocanto

VIda

Iliada;no

cantoVII,Heitor

ofereceaAjax

umaespada

erecebe

deleurn

bol-drie.

Ospoetas

tragicosfarao

dessatroca

urnuso

sinistro.Com

aespada

deHeitor,

Ajax

sesuicidara

e,com0boldrie

deAjax,

Heitor

seraarrastado,

porAquiles,

emtorno

deTr6ia.

Trata-seaideumatroca

entreinim

igos.Nocanto

XXIV

daOdisseia,

Ulisses,

passando-sepor

urnforasteiro,

vaiverseu

pai,Laertes;

0filho

0encontra

todosujo

nojar-

dimethe

dizque

tllndia

recebcraUlisses

comoh6spede

eque

Ihedera

suntuosospresentes,

analogosaos

queAga-

memnon

oferece,no

cantoIXcIa

Iliada,aAquiles:

ouro,

estasegurando

0cetro

outroratrabalhado

peloesfonro

de

Hefesto.

Este0entregou

aosoberano

Zeus,filho

deCrono.

Zeusentao

0confiau

aomensageiro

deslumbrante.

Hermes

passau-oaPelope,

acavalari<;:a.Pelope,

porsua

vez,trans-

feriu-aaAtreu,

0pastor

dehom

ens.Aomoner,

Atreu

dei-

xou-opara

Tiestes,rico

emrebanhos.

ETiestes,

finalmente,

apas

nasmaos

deAgam

emnon,

escolhidopara

reinarsabre

inlunerasilhas

etoda

aArg6lida.

Essatransm

issaodosimbolo

dopoder,

queinclui

tantoquem

fabricou0objeto

comoospersonagens,

deusesouho-

mens,

quereinaram

comele,e

evidentemente

excepcional.Quando

Agam

emnon

sedirige

aoexercito,

elefala

deseus

"parentes,osher6is

dfmaos,

osservidores

deAres".M

asHomero

chegaasereferir

aossimples

soldados?Certam

en-teque

nao,eeleseexplica

nocanto

II:

Infelizmente

desperdi<rasteaspresentes:

seativessesencontrado

vivoaquiem

ftaca,elenao

teriadeixado

quepartisses

semcobrir-te

dedons...

paisejusti<radevolveraquem

da.

evocat6riosque

oscolocam

nacategoria

dosarmadores

oudos

especialistasdanavega<,:ao.Em

contrapartida,asalusoes

aoscom

erciantessan

quaseobscenas.

Assim

,por

exemplo,

Eurialo("0

homem

doalto-m

ar"),nocanto

VIII,

ignoran-doainda

aidentidade

realdeUlisses,

diz-lhe0seguinte:

prata,vestes

emulheres

"peritasem

trabalhosperfeitos".

LaertesIhe

respondecom

estaspalavras:

Essasdoa<,:oessao

feitasno

interiordacategoria

dosaristoi.

Ulisses,pO

l'exemplo,

recebeuvaliosos

presentesdos

feaces,osquais

n30pode,

retribuir,pois

haviachegado

ailha

inteiramente

nu.Noentanto,

essesaristoi,

doadorese

recebedoresdeobjetos

deluxo,

naoconstituem

,noimagi-

n,iriohom

erico,umaclasse

seguradeseus

direitosedeseus

valores.Oque

podeserafirm

adonocontexto

daIliada

cer-tamente

naovale

paraaOdissCia.

Poracaso

Ulisses

naofaz

alian<,:acomurn

porqueiroeurn

boieirocontra

uma"elite"

formada

pOl'rapinantes

queelepretende

exterminar?

Alem

disso,nessa

sociedadeem

parteimagin,lria,

osbens

naocirculam

s6por

trocadepresentes.

0com

ercioexiste:

naIliada,

ailha

deLem

nosexporta

vinhopara

con-sum

odos

guerreirosaqueus

eetambem

urnlugar

ondese

vendemesecom

pramescravos,

especialmente

prisioneirosdeguerra.

Foi1<1queLidon,

filhodePriam

o,foivendido

e,para

desgra<,:asua,resgatadopelos

parentes.NaOdissCia,

osespecialistas

docom

ercioaparecem

:osfenicios

etambem

os"tafios",

habitantesdeum

lugarinteiram

cntedcsconhe-

cido.Por

acasooscom

crciantessao

tratadoscom

conside-ra<,:ao?C

ertamente

quen50.0

paradoxofica

patentenailha

dosfeaces,

ondes6osaristocratas

falam.Estes

t€~mnom

es

Decididam

cnte,estrangeiro,tu

naotens

nadadaquele

quesedestaca

emqualquer

umdosnum

erososesportes

doslhom

ens,

mas,pelo

contnirio,viajando

noseu

naviodecem

toletes,tenstudo

deurn

senhordeumatripula<raode

comerciantes;

preocupa-secom

acarga,vigia

amercadoria,

asriquezasroubadas;de

umatleta

tunao

tensnada!

Nem

epreciso

dizerque

Eurialopedira,

maistarde,

des-

culpasaUlisses.

Quando

Ulisses

eseus

companheiros

chegamaterra

dociclope

Polifemo,este

lhespergunta

seeles

saomercado-

resoupilatas,

naotendo

entaoapalavra

"pirata"nenhum

aconota<,:ao

pcjorativa,prova

evidentedeque,

nasrepresen-

ta-;:oesdospoetas

homericos,

aatividade

comerciante

eraperfeitam

ente"natural",

assimcom

oapirataria.

Dito

isso,umaoutra

pergunta:com

quevalores

seavaliavam

osbens

quecirculavam

?Amoeda

naoexistia.

Elas6aparecera

noinicio

doseculo

VIantes

daera

crista.Ora,

nessemomen-

to,aspe<,:astrarao,

comfreqiiencia,

arepresenta<,:ao

detri-

pesecaldeiroes,

valoressem

prepresentes

nospoem

asho-

mericos,

assimcom

oasmulheres,

asvacas

easbarras

deouro.

Tudoisso

estaincluido

naoferta

queAgam

emnon

fazaAquiles

paraque

esteretom

e0seu

lugarnocom

bate.

Entreesse

gado,esses

escravos,esses

objetose0culto

dosdeuses

existeumarela<;:aoque

merece

aten<;:ao.Tripese

caldeiroesfazem

partedos

objetosconsagrados

nostem-

plosdaGrecia

arcaica,eosbois

easvacas

saosacrificados

aosdeuses,

antesque

asua

carneseja

repartidaentre

osho-

mens

eafum

a<;:aseeleve

paradeliciar

osdeuses.

Seoses-

cravoscapturados

duranteasincursoes

ouosprisioneiros

degucrra

fazempartc

dariqueza

dosreis

edos

nobres,de-

vemosconcluir

queariqueza

econstituida

essencialmente

poresses

bens"moveis"

eque

asociedade

imaginada

apar-

tirdorealpelos

poetashom

ericosrepousa

sobreaoposi<;:ao

entrehorn

enslivres

eescravos?

Naverdade,

ascoisas

sanum

pOlleO

mais

complexas.

Antes

detudo,

porque0imagi-

nariopoetico,

epicoourom

anesco,por

mais

proximoque

sequeira

do"real",

nunca0recobre

porcom

pleto.Balzac

passa,noseculo

XIX,por

urnescritor

realistapor

exce1enciae,nesse

particular,despertava

aadm

ira<;:aoatedeKarlM

arx,adespeito

desuas

opinioespoliticas

"legitimistas".

Ora,ele

escrevenomomenta

emque

seconstitui

0proletariado

ope-rario

e,noentanto,

osproletarios

estaoausentes

desua

obra.Naohamuita

duvidadeque

apropriedade

territorial,direta

ouindireta,

fosse0fundam

entodariqueza

naepoca

emque

Homero

recitavaosseus

poemas.

Maselepouco

serefere

aela,preferindo

evocarosrebanhos,

enao

oscam

-pos.

Eisai,sem

duvida,urn

ecodoreal,

namedida

emque

oconflito

entreoscriadores

eosagricultores

ternsido,

hamuito

tempo,

quaseate

osnossos

dias,um

dostra<;:osdo-

minantes

daeconom

iameditem

lnea.Acria<;:aode

animais

exigeespa<;:osm

uitomais

vastosdoque

aagricultura

oua

jardinagem.

Antes

deserproprietario

territorial,Agam

emnon

eurn

"pastordehom

ens':eostroianos

san"dom

adoresdecava-

los".Mas0mundo

doscam

postambem

eevocado

porHo-

mero.

Estamesm

obem

presentenas

compara<;:oes

emque

aparecemleoes

ejavalis

amea<;:ando

camponeses,

simbolo

talvezdas

raziasaque

seentregavam

,nornundo

real,osno-

bresguerreiros

deHomero.

Nocanto

XIdaIliada,

lernosesta

magnifica

imagem

:

Assim

comoosceifeirosque,frente

afrente,cam

inhamse-

guindoasua

linhaatravesdo

campodetrigo

oudecevada

deum

felizardodeste

mundo

efazem

cairabundantesgave-

las,assimtroianos

eaqueus,lan~ando-se

unssobre

osou-

tros,procuramsem

assacrar,semque

ncnhumdosdoispar-

tidosatemesm

ocogite

aderrota

hedionda.

Alguns

versosdepois

ee0rnundo

dafloresta

quefaz

asua

repentinaapari<;:ao:

Maschega

ahora

emque

0lenhador

pensaempreparar

suarefei~aono

desfiladeiro.SellSbra~osestao

cansadosdecor-

tarosaltosrustcs:a

lassidfloentraemseu

cora~ao,e0dese-

jodeprovar

0delicioso

alimento

seapodera

deleinteira-

mente.

Eudisse,

nocapitulo

2deste

livro,que

a"terra

queda

otrigo"e

0indicio

segurodapresen<;:ados

homens.

Eaela

queUlisses

seentrega

quandoretorna

a1taca.

0ciclope,

essecriador

decarneiros,

naoeverdadeiram

enteum

ho-l11em

,mesl110

quef~l\aqueijo

eproduza

UI11vinho

quenao

passadeumamediocre

zurrapa.Mas

S,lOraras

asrefcrcll-

ciasaomundo

agricola.Nalista

dosbens

ofereciclos(no

cantoIX)por

Agam

cmllon

aAquilcs,

h,lsell'

aldeiasque

contem,entre

outrascoisas,"pastagens",

"ferteispradarias"

eum

vinhedo."Alihabitam

homens

ricosem

carneiroseri-

cosem

bois,que

tehonrarao

comoferendas

comoaurn

deuseque,

vivendosob

0teu

cetro,pagar-te-ao

impostos

proveitosos."Contudo,

naosefaz

men<;:aoa

umaterra

queproduza

trigo.Asitua<;:aoe

umpouco

diferentenaOdisseia.

Nocan-

teIV,Telem

acoop6e

ariqueza

agricoladeEsparta

apobre-

zadeftaca,

ondenao

sepodem

erial'cavalos,apenascabras.

DizaMenelau:

"Tureinas

sobreimensas

planiciesonde

crescemcom

facilidade0trevo,

ajun<;:a,a

espeltaeaceva-

dabranca".

Podemosconduir

quejaocorreu

atransi<;:aodo

mundo

dospastores

para0dos

cultivadores?Melhor

ain-da:ha,na

Odisseia,duas

descri<;:6esdejardins,

lugaresonde

aterra

etrabalhada

comarte.

0jardim

dosfeaces,no

cantoVII,eurn

jardim111<lgico:auva

boapara

avindim

avizinha

comavinha

emflor,"todo

0ano

osarbustos

produzeme,

semdescanso,

urndoce

zeflrofazgerm

inal'eamadurecer

osfrutos".

0jardim

deLacrtes,

nocanto

XXIV,eum

jardim"real",m

asbem

cuidado:figueiras,

oliveiras,videiras,

perei-ras,m

acieiraselegum

esfazem

partedele,de

acordocom

0

ritmodas

esta<;(les.Alimpeza

dessejardim

contrastacom

amiseria

doseu

proprietario:

luvasnas

maos

contraosespinheiros

e,nacabe<;a,

umgorro

depela

decabra.

Essamiseria

chocaUlisses:"N

aoh,lnada

emtique

de-note

urnescravo,

nemaestatura

nem0aspecto:

tensmais

oardeum

rei".Ulisses

ficaainda

mais

espantadoaovel'que

essenobre

anciaotrabalha:

0trabalho

naoeumavirtude

realnomundo

homerico,

eavelhice

etempo

derepouso.

Quais

SaDoshom

ensque

fazemparte

dascategorias

sociaismais

baixas?Osescravos?

Masexistem

variostipos

deles.Eum

eu,0"divino

porqueiro",efilho

dereieelepro-

priotern

urnescravo.

Arespeito

deEurideia,

acriada,

aamaque

reconheceuUlisses,

podemos

lerno

cantoIque

Laertesacom

prouquando

aindaera

jovem,masque

nun-cafez

amorcom

ela,"temendo

aIra

desua

esposa".Num

mundo

como0deHomero,

eisaiumaprova

degrande

mo-

dera<;:ao!0porqueiro

eoboieiro

serao,deresto,

libertados:eles

entraraopara

afamilia,

quasenosentido

estritodapa-

lavra.Lem

osnocanto

XXI:

Dareia

cadaum

devas

urnarnulher,bens

eumaboa

casaperto

darninha;eu

vostratareiC0l110parentes

eirl11aosde

Telemaco.

Nocanto

XI,no

paisdos

mortos,

Ulisses

encontraa

almadeAquiles

elhe

diz:"Aqui,

entreosmortos,

tureinas

denovo;

portanto,nao

lastimeavida!".A

respostadeAqui-

lesecelebre:

ell'usavaurn

casacosujo,

vagabundoeremendado;

haviaenfiado

naspernas

velhasgrevasdepele

deboipara

naosecsfolar,

Naotentes

suavizararnorte,nobre

Ulisses!

Prefeririaserurn

tetenaterra,a

servi<;odeurn

carnpones,

Estrangeiro,naoqueresserum

teteameuservi<;:o,

dooutro

ladodailha?Teriasum

bomsahirio

paracortar

espinhoseplantar

arvoresgrandes.

Laeutedaria

pao0ano

todoetambem

roupasecal<;:ados.

Mas,nao

sabendofazernada,tu

naovaisquerer

trabalhar

epreferiras

mendigar

pOI'ai,

buscandosem

prealgo

paraforrar

esseventrejamaissaciado.

lugarpara

doismendigos,

masIra

naoI~da

mesm

aopiniao

edesafia

0reidisfan;:ado.

Naturalm

ente,Ulisses

vencede

maneira

esmagadora,

mesm

osecon

tendoum

pouco:ele

naomata

0verdadeiro

mendigo.

Constatem

osque,

talco-

moem

Tr6ia,Ulisses

percorreosdois

extremos

daescala

socialrom

anesca.Ele

ereiemendigo.

Ha,ainda,

umacategoria

socialcujo

estatutoeequivo-

co:osartesaos.

Jasedisse

delesque

foramosher6is

dacul-

turagrega,

masherc)is

secretos.Poucas

SaGasrealiz<H

;:oesdessa

culturaque

naoestao

ligadasaoartesanato.

Saoarte-

saososaedos,

osmedicos,

osescultores,

ospintores,

osmll-

sicose,no

entanto,asua

condi<;:aoePOllCOreverenciada.

Admira-se

aobra,

enao

0autor.

Emque

medida

ospoem

ashom

ericosconfinnam

esseparadoxo?

NaIliadll,

h<1nomes

significativosealgum

asindica<;:oesde

profissoes.Assim

,por

exemplo,

nocanto

v,Meriones

mata

Fereclo,«61ho

deTectones

['0Carpinteiro'],

que,pOI'SW

1vez,efilho

deIIar-

monides

['0Montador'],

cujasmaos

sabiamf~lZ(_T

obrasprim

asdetodo

tipo".Aprote<;:aode

PalasAtena,

deusados

artesaos,nao

esuficiente.

Vemossurgir,

aquieali,

imagens

evocandoprafissoes

(figuras8e9)com

o,por

exemplo,

adecarpinteiro.

Assim

,

nocanto

XII,

mesm

asem

patrimonio

equase

semrecursas,

areinar

aquientresom

brasconsum

idas.

oque

eum

tete?NaAtenas

doseculo

VIa.c.,os

tetesform

avamallltim

aclasse

doscidadaos.

ForneciamaAte-

nasgrande

partedos

seusremadores.

S6eram

mobilizados

comohoplitas

(infantespesadam

entearmados)

excepcio-nalm

entee,nesse

caso,acidade

Ihesproporcionava

0equi-

pamento

pelosquais

elesnao

tinhamcondi<;:oesde

pagar.Trata-se,

defato,

dograu

mais

baixo?Foi

0que

sempre

sedisse,

masbasta

leI'Homero

paralevan

tarumaobje<;:ao

evidente:aUlisses

disfar<;:adodemendigo

eque

acabade

darprova

desua

for<;:afisica,0pretendente

Eurimaco

pro-poe,

nocanto

XVIII,para

hilaridadegeral,

0seguinte:

Naopiniao

deEurim

aco,emelhor,

paraum

homem

dopovo,

trabalhardoque

mendigar.

Deresto,

entreospre-

tendentes,nocanto

XVIII,

naohas6um

mendigo,

massim

dois,jaque,

aolado

doUlisses

disfar<;:ado,estaaquele

queecham

adodelro,

porque,assim

comohis

nomundo

divino,serve

demensageira

aospretendentes.

Ulisses

afirmaque

ha

Taofirm

equanta

0cordelque

serveparabem

talharaqui-

Ihadeumanau

nasmaos

deum

carpinteiroexperiente,as-

simearetesada

frentedeluta

edebatalba

entreosdoispar-

tidos.

Masaimagem

mais

espantosaseencontra,

naminha

Dir-se-ia

umacuidadosa

obreiraque,

segurandoumaba-

lan<;aquetem

deum

ladoum

pesoedooutro

ala,procura

equilibrarosdois,

afim

deconseguir

paraseus

filhosum

miser,ivel

saLirio.

Com

efeito,quem

iriaprocurar

umh6spede

amais

seelenao

fizesseparte

dosartesaos*

ounao

fosseadivinho,

curandeirooucarpinteiro

ouainda

aedodivinam

enteinspirado,

cujoscantos

nos[encantam

.

Essassao

aspessoas

quevam

osbuscar

pelaterra

infinita.Ninguem

iriaconvidar

ummendigo

parapiorar

asua

[situa<;ao.

opiniao,num

outrotrecho

domesm

ocanto.

Trata-seuma

vezmais

dafrente

debatalha.

Acom

para<;aoecuriosa

porque,entre

0equilibrio

da

frentee0de

umabalan<;a,

arela<;ao

naoeevidente.

Mas,

comcerteza,

Homero

era0melhor

interpreteda

realidade

deseu

tempo!

olmico

verdadeiroartesao

daIliada,

ferreiroefabri-

cantede

automatos

como,

porexem

plo,tripes

comrodi-

nhasque

poderaosozinhos

"entrarnaassem

bleiados

deu-

sesedepois

voltarpara

casa",e0deus

manco

Hefesto.

Eele

quem,no

cantoXVIII,

t~lbricaaobra

dearte

quee0escudo

deAquiles.

Suapresen<;a

emais

discretana

OdissCia.Noen-

tanto,quando

Menelau,

nocanto

IV,troca

0cavalo

queTe-

Icmaco

serecusoll

alevar,

0mais

preciosodesellS

tesollros,

eleescolhe

"umacratera

trabalhada,toda

deprata

ecom

asbeiradas

deouro,

limaverdadeira

obradeHefesto",

naodei-

xandodelembrar,

nomesm

oinstantc,

quearecebeu

dorei

feniciodeSidon.

NaOdisseia,

aimportlncia

atribuidaaos

artesaose

aindamais

paradoxal.Acusado,

pelopretendente

Antinoo,

detel'

conduzidoao

palacioum

mendigo

amais,

Eumeu

responde(no

cantoXVII):

E,entretanto,

0mendigo,

cujapresen<;a

edeplorada

porAntinoo,

e0proprio

Ulisses.

Certam

enteUlisses

naoe

umartesao,

mas,

sendohom

emdetodo

tipodedissim

ula-<;ao,dom

inatodas

astecnicas.

Eleproprio

fabricou,apar-

tirdeum

troncodeoliveira,

0leito

quesera,

comPenelo-

pe,seu

sinalde

reconhecimento.

AEurim

aco,ele

explica,em

respostaasua

ofertadeemprego,

quesabe

fazertudo.

E,no

cantoIX,ao

furar0unico

olhodo

ciclope,trabalha

"comoseperfura

umaviga

paraaconstru<;ao

deum

barco"

(figura34):

Assim

como,quando

0ferreiro

mergulha

umgrande[machado

auumaenxada

naagua

friapara

Ihedar

tempera,

ametal

chia,eda!

surgeafor<;ado

ferro,assim

tambem

0seu

olho**chiava

sobaa<;aoda

estacade

[oliveira.

Acom

para<;aoebastante

extraordinaria,ate

porqueUlisses

soutiliza

madeira,

naorecorrendo

ametal

algum.

NaOdisseia,

tambem

,0artesao

eum

heroisecreto.

,.Literalm

enteos"dem

iurgos",osque

trabalhampara

0povo.

**0dePolifem

o.

8.Poesia

omundo

homerico

eum

mundo

poetico.Oshistaria-

dores,ossoci610gos,

osfil6sofos

seapropriaram

dele,0que

enorm

aleatelegitim

o,mas,com

frequencia,querendo

ul-trapassar

assuas

possibilidades.Sabem

osque,

desdeaAn-

tiguidade,osge6grafo$

seesfor~arn

emvan

parcartograhlr,

demaneira

segura,asviagens

deUlisses.E

preciso,portan-

to,retornar

apoesia.

Paraconcluir

-ouquase

-este

livro,eupartirei

dotexto

deum

grandepoeta

francesdoseculo

xx,Rene

Char:

"Homero,

deusplural,

trabalharasem

rasuras,em

variasdire~6es,

permitindo-nos

contemplar,

porinteiro,

aterra

doshom

ensedos

deuses".Cada

palavramereceria

umco-

mentario.

Porque

"deusplural"?

PorqueRene

Char

sabetao

bemquanto

todomundo

quenao

h,lums6Homero

eque,

pelomenos,

0poeta

daIliada

edistinto

doda

OdissCia.Par

que"sem

rasuras"?Para

distanciar-se,com

umpouco

deironia,

dosque

(sendocham

adosde"analistas")

fi-agmen-

tamospoem

asem

peda<,:ospequenosegran

deseque

bus-earn,

portoda

parte,aquilo

aque

chamamos

deinterpola-

<,:6es,procurandoate

mesm

opor

interpola<,:6esdentro

dasinterpola<,:6es.U

mpapiro

nosacrescentou,

porexem

plo,no,

interiordocanto

XIda

Odisseia,avisita

deUlisses

aoreino

doHades,

umalonga

listadedeuses

egfpcios,que,

eviden-temente,

naotern

nada0que

fazerem

Homero,

masque

estaoperfeitam

enteavontade

nomeio

alexandrinodeon-

deprovem

essaenum

era<,:ao.Tais"hom

erismos",

comodi-

ziaVictor

Berard,

existiram,porem

estaoausentes

danos-

satradi<,:aom

anuscrita,aque

eurn

sinaltranquilizadar.

Porultim

o,averdadeiro

assuntodeHomero

eaterra

dosham

ense,acim

adela,

0mundo

dosdeuses.

Quanta

apoesia,

elasemanifesta,

porexem

plo,nadescri<,:aonoturna

docam

potroiano

nofinal

docanto

VIIIdaIliada:

Depois

disso,cheios

desoberba,

todossepreparam

paraa

noite.Seus

fogosbrilham

,inum

eraveis,assim

como,nofir-

mamento,

emt0rI10

dalua

luminosa,

asestrelas

resplande-cem

,faiscantes,

nosdias

emque

0ceu

estLlsemvento.

Brus-

camente

todososcLIm

esserevelam

,osaltos

prom'ont6rios,

asvales.R

asga-se0imenso

eter,eacora<;:aodo

pastorseen-

chedealegria.

Assim

,entre

asnaLlse

0curso

doXanto,~

lll-

zemasfogos

que,diante

defIion,

astroianos

acenderam.

Aimagem

partedas

fogueirasdoacam

pamento

ere-

..tornaasmesm

asfogueiras.E

0que

osespecialistas

chamam

decom

posi<,:aocircular.

Mas,de

repente,passam

osdaterra

"'\~

20.Priamosuplicando

aAquiles

quethe

devolva0cadaver

deHeitor,

quejazsob

0leito

dobanquete.

Ta~aaticacom

figurasvermelhas

atribuidaaopintor

deBrigos,c.480

a.C.

21.AjaxeAquiles

jogando.Anfora

dticacom

figurasvcrmelhas

a's;nada(JOrEzcqllias,

c.540

a.C.

23.Combate

entredois

her6is(Aquiles

eMemnon?)

enquadradospor

duasdivindades

(ThiseEos?).Altar

votivo,L6cride

Epizefiriana(Itdlia

meridional),

c.530a.C.

24.Aquilesnoseu

carroarrasta

0corpo

deHeitor;

asom

bradePdtroclo

apareceadireita.

Relevorom

anodoseculo

IId.C.

encaixadonomuro

exteriordaigreja

deMaria

Saal(Austria).

25.Pentesileia,

rainhadas

Amazonas,

sendomorta

porAquiles.

Anforadtica

comfiguras

negrasassinada

porEzequias,

c.540

a.C.

26.Helena

eMenelau

caricaturadospor

Daum

ier.

27.Helena

eMenelau.

Espelhoetrusco

debronze,

simlo

IVa.C.

28.Neopt6lem

outiliza

0menino

Astianax,segurando-o

pelotornozelo,

paramatar

0velho

1'rlo1110

,tombado

sobre0altar

dosdeuses.An(ora

liticacom

figura,negras.

c.540

a.C.

!~",~

32.Os

comparzheirosdeUlisses

trarzsformadosem

porcos.Lecito

dticocom

figurasvermelhas,

c.480a.C.

34.Polifem

osendo

cegadopor

Ulisses.

Fragmento

decratera

policromaargiva,

meados

dosewloVIIa.C.

,,•,•,,/

","~"••""."~,..

para0ceu,para

0"eter"

quecircunda

0mundo,

queosgre-

goscham

avamde

k6smosecuja

belezaosencantava,

e,deurn

espetaculodeguerra,

paraumaimagem

pastoral.0pas-

torseregozija

com0aparecim

entodas

estrelas.Edificil

escolher.Entre

tantosesplendores,

minha

pre-ferencia

vaipara

aspassagens

docanto

XXIIque

relatam0

ultimocom

bateeamorte

deHeitor.

Heitor

foge,dando,

portres

vezes,avolta

asmuralhas

deTroia.

Antes

defugir,

elefala

consigomesm

o,perguntando-se

se,emvez

deen-

frentarAquiles,

naoteria

sidomelhor

ficarnointerior

dasmuralhas,

comothe

aconselhara0sabio

Polidamas.

Pois0

monologo

interior-figura

deestilo

detantos

poetas,ate

queJam

esJoyce

fac;adele0proprio

centrodoseu

roman-

ce,intitulado...Ulisses!

-,0

monologo

interior,dizia

eu,ateem

suarepetic;ao,e

umainvenc;ao

deHomero.

Ah!Miseria!

Seeuatravessar

aporta

damuralha,

Polida-mas,

quemeaconselhou

adirigir

ostroianos

paraacidade

nestanoite

maldita

queviu

erguer-se0divino

Aquiles,

sera

oprim

eirodiante

doqual

meenvergonharei.

Erguer-se...com

oseergue

aaurora

doseio

danoite.

EHeitor

prossegue:

Eeunao

acrediteinele...Teria

sidomuito

melhor,

noentan-

to!Eagora

que,com

oconseqtiencia

daminha

loucura,per-

di0meuexercito,

sintovergonha

diantedos

troianosedas

troianasdelongos

vestidos.Nao

queroque

alguemmenos

corajosodoque

eupossa

dizerurn

dia:"Porterconfiado

de-mais

emsua

forya,Heitor

perdeu0seu

povodeguerreiros".

Maspor

quemeucora<;:aose

perturbadesse

modo?

Nao

devotemer,caso

vaateele,que

elenao

sintapor

mimnem

piedadenem

respeitoeque

memate

comoaumamulher

desprotegida,nomomento

emque

metiverdespojado

dasarmas?

Essaestranha

associa<;:ao,essasimagens

quesesobre-

poemsem

seanular,

tudoisso

tornaHomero

quaseunico.

Heitor

decideentao

combater,

mas,

antesdeenfrentar

0

grandeperigo

queseapresenta

sobaform

adeAquiles,

eIefoge,perseguido

peIofilho

dePeleu.

0poeta

usaessa

oca-siao

paraevocar

brevemente

algumaspaisagens:

aqui"afi-

gueirabatida

pelosventos",

ali"asduas

fontesdoimpetuo-

soEscam

andro",umaquente

eaoutra

geIida,imagem

queatravessara

osseculos,

imagem

presentena

Odisseia,

norei-

nodos

feaces,naAtLlntida

dePlatao,

eque

daraatemesm

ootitulo

doultim

olivro

deBergson:

Asduas

[antesdamoral

eda

rcligil1o.0passado

evocado,nesse

ponto,efeliz,com

esses

Umaautra

solu<;:aoseapresenta

aoespirito:

deporas

armas,

esperarAquiles

ethe

proporarestitui<;:aode

Helena

edeseus

tesourose,se

naofor0bastante,

entregar

aosatri-

dasmetade

doque

existeem

Troia.

Essadisputa

interiore0equivalente

deurn

debate,tal

comoconhecem

asassem

bleiasdas

cidadesno

tempo

daoligarquia

bemcom

onodadem

ocraciatriunfante.

EHei-

torconclui:

Nao,nao

ehora

devoltar

aocarvalho

eaorochedo

ede

conversardocem

entecom

ofaz

0jovem

comanam

orada[...]

Emelhor

quenos

encontremos

0mais

cedopossivel

pararesolvernossa

querela.

grandesebelos

lavadourosdepedra,

ondeasm

ulhereseas

belasjovens

deTroia

lavavamosseus

vestidosbrilhantes,

outrora,nos

diasdepaz,antes

quechegassem

osaqueus.

Espantosaassocia<;:aode

imagens:

"0carvalho

e0ro-

chedo".E,comonos

diriamos

hoje,voltar

aodiluvio,

quan-dooshom

ensnao

estavamainda

naterra

ouhaviam

quasedesaparecido;

eumesm

oconheci

umpre-historiador

cele-bre

queacreditava

queHomero

mostrava

assim0seu

pro-fundo

conhecimento

dapre-historia!

Quanto

aoterno

en-contro

dojovem

comanam

orada,apalavra

gregaque

0

designa,recuperada

pelopoeta

francesdoseculo

XVIIIAn-

dreChenier,

eoaristys,

quepodem

ostraduzir

por"colo-

quiosentim

ental".

Corrida

terrivel,sob

0olhar

deZeus,

corridaem

quese

decidenao

0destino

deHeitor

ou0deAquiles

(comopen-

saHeitor),

masso0destino

deHeitor,

derrotadodeante-

mao.

E,noentanto,

esseconfronto,

esseligon,

comosediz

emgrego

-edoqual

tiramos

0term

o"agonistico"

-,e,

defato,

umconcurso,

como0serao

essascom

peti<;:6esquenos

chamamos

incorretamente

de"jogos"

olimpicos

oupi-

ticos,ecom

o0serao

tambem

esses"jogos"

funebresreali-

zadosnocanto

XXIII,

parahom

enagearamemoria

dePa-

troclo.E0pr6prio

Bomero

quemfazacom

para<;:ao:

Pareciamcorceis

decascos

espessos,javencedores

outrasvezes,que,

atoda

avelocidade,

contornavam0marco:~

urnprem

iovalioso

Ihesfora

oferecido:urn

tripe,umamulher;

tudoisso

parahonrar

urnguerreiro

morto.

Afrente

doconselho

dosdeuses,

Zeusatua

comojuiz

desseconcurso.

Atena

tomaapalavra,

depoisdeZeus,

parapedir

amorte

deHeitor,

eZeus,nao

sempesar,lha

concede.Nada

faltaraaessa

corrida-persegui~ao,nem

0sonho

nemofantasm

a:

Assim

comourn

homem,num

sonho,nao

conseguealcan-

<;:arurnfugitivo

eeste,

porsua

vez,tambem

naoconsegue

alcan<;:ar0outro

emsua

persegui<;:ao,damesm

aform

aAqui-

les,nessedia,

naoconseguia

atingirHeitor

duranteacorri-

da,eeste

naoconseguia

escapar-Ihe.

Dois

seculosmais

tarde,Pindaro

dira:"0

homem

e0

sonhodasom

bra".Eis

0fantasm

a:Atena

tomaaform

adeDeifobo,

0que-

ridoirmao

deHeitor.

Elathe

propoeenfrentar

Aquiles

emsua

companhia.

Deifobo

("Aquele

quenao

ternmedo")

rea-pareccd

naOdisst'ill.

Eleacom

panhaHelena

numacircl1ns-

t<lnciabemestranha,

segundoanarrativa

docanto

IV:ela

daumavolta

emtom

odocavalo

demadeira

e,receosa,cha-

ma,urn

porurn,

osherois

aqueus,imitando

avoz

desuas

esposas.Acasa

deDeifobo

eaprim

eiraaser

saqueada,de

acordocom

0relato

deUlisses

nocanto

VIII,

quandoele

~Aestela

depedra

quemarca

0limite

docam

podeconida

equee

precisocon-

tornarpara

retornar.

evoca,entre

osfeaces,a

tomada

deTroia.

Porfim,segundo

umatradi~ao

epicaque

dasequencia

aHomero,

eelequem

desposaHelena

aposamorte

deParis-A

lexandre.oDeifobo

docanto

XXIIdaIliada

naopassa,

portan-to,deurn

fantasma.Quando

Heitor

tivernecessidade

dele,jatera

desaparecido,eassim

0destino

fataldeHeitor

secum

pre,com

oprevisto,

paragrande

alegriados

aqueus:

Oh!Oh!Esse

Heitor

a1emesm

obem

mais

docedeapalpar

doque

aqueleque

outroraentregava

asnossas

nausacha-

maardente.

Nu~

certosentido,

aIliada

poderiaintitular-se

''Atra-

gediadeHeitor"

(aexpressao

edoerudito

americanoJam

esRedfield),

ateporque

asorte

deAquiles

naoesta

aindasela-

daquando

termina

0poem

a.Esquilo,

S6focleseEuripides

nutriram-se

deHomero,

particularmente

daIliada.

0mo-

nologointerior,

inven~aodopoeta

daIliada

-retom

adapelo

poetadaOdisseia:

"Paciencia,meucora~ao

...",dizUlis-

sesnocanto

xx-,

reaparececom

destaquenatragedia:

as-sim

Ajax,na

pe<;:aquethe

consagraS6focles,

explicaem

ter-mosambiguos

porque

naopode

viver-

ele,urn

heroicantado

porHomero

-no

mundo

dacidade

ondetudo

muda,

tantoasesta<;:oescom

oascircunstfm

ciaspoH

ticas.Atragedia

poeem

cenaoshero

isdaIliada,

com0objetivo

dedestrui-Ios.

E,noentanto,

Heitor,

noconjunto

dastrage-

diasconservadas,

naoaparece

comourn

heroitragico,

sem"b/b

"Aduvida

porque,nesse

meio

tempo,

tomou-se

araro.

unicatragedia

naqual

eletern

urnpapel

e0Reso

quenos

chegoucom

asobras

deEuripides,

masque

datamuito

pro-

vavelmente

doseculo

IVa.C.Aquiles

acaboupor

veneer

Heitor

definitivamente.

EaOdisseia?

Osadm

iradoresdeStendhal

sedividem

,por

vezes,em

"Vermelhistas"

e"Cartuxistas",

unscolocan-

doem

primeiro

lugar0vermelho

eanegro,

outrosAcartu-

xadePanna.

0mesm

oocorre

comosadoradores

dalliada

quesao

indiferentesaleitura

daOdisseia

evice-versa.

Entreosprim

eiros,lembrem

osSim

oneWeit,para

quemaIliada

era"alinica

epopeiaverdadeira

que0Ocidente

possui.A

Odisseiaparece

serapenas

umaexcelente

imita<;:ao,ora

daIliada,

oradepoem

asorientais".

oque

nosfascina

naIliada

eque

elaeurn

come<;:o.E

provavelque

tenham

existidopoetas

epicosantes

deHome-

rooMasn6s

naoosconhecem

osenao

osconhecerem

osja-

mais.A

sareiasdoEgito

nosdevolvem

,pouco

apouco,

asco-medias

deMenandro,

autordoseculo

IV.Elas

podem,even-

tualmente,

nosrestituir

umatragedia

inteiradeEuripides,

masjamais

nosrevelarao

umaepopeia

anterioraIliada.

Eumaepopeia

posterior?Isso,pelo

menos,

naoeimpossivel.

Nossas

bibliotecasseenriqueceram

comoutras

epopeias,deorigem

oriental,com

oadeGilgamesh,

her6idaMesopo-

tamia,que

etambem

umareflexao

sobreacondi<;:aohum

a-naem

rela<;:aoaomundo

divino.Porem

,Gilgamesh

s6nos

foirestituidogra<;:asas

escava<;:oesfeitasnos

tells,colinasda

Mesopotam

ia(hoje

Iraque),no

seculoXIX.Essa

epopeianao

podeter,portanto,

sobreanossa

cultura,afabulosa

in-flucncia

dal1fada

-nem

ada

Odissha.Pois

sealliada

eurn

livrodeorigem

,com

aOdisseia

ealiteratura

quecom

e<;:a,comtudo

0que

issosupoe

deimi-

ta<;:ao-em

grego,mimesis.

Simone

Weiltinha,

defato,

ra-

zaoaoescrever

queaOdisseia

eumaimita<;:aoda

lliada.Uma

imita<;:aoironica,

diriaeu.Q

uandoAquiles

explicaaUlisses

quepreferiria

"serum

teteaservi<;:ode

umcam

pones"a

reinarsobre

0imperio

dosmortos,

depoe

emduvida

0

idealdamorte

her6ica,que

eprecisam

ente0ideal

daIlia-

dl/.Abela

morte

e0valor

exemplar

daWada.

AOdissCio

nosensina,

magnificam

ente,aarte

dasobrevivencia.

Amorte,

naocusta

lembrar,

seradoce

paraUlisses,

eeisso

queelefi-

casabendo

noreill()de

Hades,no

cantoXl.A

l!iada,naOdis-

sCia,tornou-sepoesia;

elaecantada

pdassereias,

porurn

aedonaterra

dosfeaces

eem

Itaca.Agrande

originalidadeda

Odisseia,em

rela<;:aoaIlia-

da,residenaintegra<;:aodo

tempo

nointerior

danarrativa.

Naohadlivida

deque

sesabe,

naIliada,

que0cerco

daci-

dadejaesta

noseu

decimoano.

Masnenhum

acrian<;:ade

dezanos

entranahist6ria,

ninguemficou

velhooumorreu

develhice.E

verdadeque,

naOdisseia,

algunspersonagens

naomudam

:Nestor

esem

preurn

anciaoeHelena

eslasem

-pre

bela.Emelhor

nemcalcular

aidade

deles!Quanto

aUlisses,

eledispoe

doauxilio

magico

deAtena,

quepode,

aseu

bel-prazer,rejuvenesce-Io

ouenvelhece-Io.

Atena

chegamesm

oaproJongar

anoite

doreencontro

deUlisses

comPenelope

paraque

0her6i

possareJatar,

nocanto

XXIV,as

suasaventuras

epara

que0casaJpossa

entregar-seaoamor

(figura38).

E,noentanto,

doispersonagens

encarnamadura<;:ao.

Tclemaco,

crian<;adeben,-o

quandodapartida

deUlisses,

agoraj,item

barba.Mas0serque,

melhor

doque

todos,da

amedida

dotempo

naoeum

homem,esim

umcao.Q

uan-doUlisses,no

C,lI1to

XVII,sob

aaparencia

deum

anciao,CI1-

traem

seupahicio,"um

caoestendido

nochao

esticaasore-

lhas".EArgo,

0caozinho

queUlisses

alimentaia,

semter

padidafazcr

dcleaSCllcam

panhcirodcCl<;a.O

sprclcn-

dentes0haviam

utilizadopara

ca<;arcabrasselvagens,

le-bres

egam

os.Agora,

0velho

dio,cheio

decarrapatos,

viveperto

dolixo,diante

daporta

dopalacio.

Ulisses

0reconhe-

cee,com

emo<;ao,faz

algumasperguntas

sobreeleaopor-

queiroEum

eu,que

aindanao

identificara0seu

senhor.Eu-

meuexplica:

Argo

eraum

galgoinfalivel

naca<;a.A

goraseu

donomorreu,

eelenao

passadeum

caoescravo.

Osservidores,desde

0momenta

emque

naotem

maisum

[senhor,nao

queremmaistrabalhar

comoepreciso.

EZeus,

0ensurdecedar,tira

ametade

dovalor

deum

homem,apartir

dodiaemque

eentregue

a[escravidao.

Masa

marte

negraseapossou

deArgo

Assim

quereconheceu

0d()Ilo,que

partirahavia

vinteanos.

Prolonguemos

agoraareflexao

quehaviam

osesbo<;a-

doarespeito

dasrela<;6esentre

aIliada

eatragedia

atenien-se.Sim

oneWeilescreveu:

Atragedia

Mica,peIo

menos

adeEsquilo

edeSOfocles,e

averdadeira

continua<;:aodaepopeia.A

ideiadejusti<;:aa

ilu-mina

semjamais

intervirdiretam

ente;afar<;:aaparece

na

suafria

dureza,sempre

acompanhada

dosefeitos

funestosaos

quaisnao

escapamnem

quemausa

nemquem

eopri-

mido

pOI'ela.

Deixem

osdelado

osaspectos

simplificados

dessaava-

lia<;ao.Poracaso

eafor<;apura

queaparece

nasuplica

dePriam

operante

Aquiles?

Permanece,

noentanto,

aideia

fun-dam

entaldeque

atragedia

aticaeum

derivadoda

Iliada.Mas,e

quantoaOdisseia?

Suaform

aatom

amais

teatralainda

doque

aIliada,

atemesm

opor

causadamultiplicidade

dosnarradores:

0

propriopoeta,

Ulisses

nosseus

relatosem

casadeAlcinoo,

Ulisses

aindasob

amascara

deum

cretense,Menelau,

He-

lena,Eum

eu...e

muita

genteem

compara<;ao

aonarrador

quaseunico

daIliada.

Mastrata-se

deurn

teatrotragico?

Eudiria,

antes,que

aOdisseia

estanaorigem

dacom

ediaou

dodram

asatirico.

Acom

edia,adeArist6fanes

noseculo

v,esempre

umaespecie

depastiche

datragedia.

Arist6fancs

ridicularizasistem

aticamente

0Euripides

queele

enccna,que

eleconhece

decor

eque

admira

infinitamente

mesm

oquando

estazom

bandodemaneira

feroz.Quanto

aosdra-

massatiricos

queconcluiam

numtom

semic6m

icoastrilo-

gias(conjunto

detres

p~<;astnigicas),eles

punhamem

cc-na,

numquadro

denatureza

selvagem,alguns

personagensdaepopeia

dialogandocom

umcora

des3iiros,

istoe,figu-

rasmeio

humanas,

meio

animais,

aurn

tempo

homens

ebodes,

conduzidospor

Sileno-que,

porsua

vez,estaen-

tre0hom

eme0cavalo.

ounico

dramasatirico

quechegou

inteiroate

nosea

ciclopedeEuripides

que,bementendido,

derivadocanto

IX

daOdisseia.

Eimportante

ressaltarque

essecanto

IX,ades-

peitodas

circunsHincias

horriveisdamorte

doscom

panhei-ros

deUlisses,

devoradospelo

monstro,

contempassagens

claramente

comicas:

Polifemobebendo

"umpouco

devinho

comessas

carneshum

anas",Ulisses

eseus

amigos

fugindoagarrados

nopelo

degrandes

egordos

carneiros(figura

35)e,sobretudo,

0epis6dio

famoso

deNinguem

,nom

eadota-

dopor

Ulisses,que

daorigem

aumacena

celebre:"Quem

teferiu?",perguntam

osoutroscidopes

aPolifem

o."Ninguem

!':responde

ainfeliz

criatura.Nessas

condi<;:aes,"seninguem

tefezviolencia

eestavas

sozinho,0mal,que

naosepode

evi-tar,vem

deZeus!

Dirige,

entao,atua

ora<;:aoaPosidon".

EUlisses

sepae

a"rir

comgosto".Esta

claro,portanto,

quea

comedia

devealgo

aoautor

daOdisseia.

Mass6acom

edia?0relato

deaventura

e,ainda,0que

chamamos

derom

anescoprovem

diretamente

daOdisseia.

Issoeseguro

noque

dizrespeito

aorom

ancegrego

oulati-

noque

conhecemos

sobretudopor

meio

deumaliteratura

quedata

daepoca

imperial

romana,

masnaqual

ainfluen-

ciada

Odisseia

ebem

visivel.Mais

adiantenotempo,

pode-mosseguir

amarca

daOdissC

iaaolongo

detoda

aIdade

Media

edoRenascim

ento,encontrando-a,

porexem

plo,no

romanesco

elizabetano,no

roman

francesenopicaro

espa-nhol.

0Dam

Quixote

deCervantes

naoseria

nemmesm

oimaginavel

senao

tivesseexistido,

numtempo

longinquo,ocontista

ironicoda

Odisseia.

Eispor

quetodo

aqueleque

amaoslivros

embarca

umdia

naleitura

deHomero.

9.Asquestoes

homericas

Jaforneci,

noprim

eirocapitulo

destelivro,

algumas

informa<;:aes

sobre0problem

aque,

hamuito,

echam

adode"questao

homerica".

Etempo

agoradeser

mais

preciso.Osantigos

naoahaviam

propriamente

levantado.Elcs

s6tinham

postoem

duvidaaautenticidade

deum

oudeOlltro

verso.Querem

umexem

plo?Nocanto

XIdamada,

()her()iaqueu

Ajax,

filhodeTelam

onio,seencontra

excepcional-mente

nadefensiva.

Eleecom

paradosucessivam

enteaum

leaoexpulso

dopatio

deumaherdade

peloscam

ponesescujas

vacasqueria

devorare,depois,

aum

asnoque

"empa-

cadofazfrente

aum

grupodecrian<;:as".U

mcritico

deno-

meZen6doto

quissuprim

iresses

versosmagnificos

sob0

pretextodeque

naoera

razoavelfazer

deAjax

sucessiva-mente

umleao

eum

asno.Por

suaparte,

0poeta

latinoHo-

rJcio,contell1porttneo

deAugusto

(see.I<1.C

.),dizia

que,em

algunsmomentos,

0bom

Homero

chegavaa"toscane-

jar":quandoque

bonusdorm

itatHomerus

("Asvezes

0bom

Homero

cochiIa").Dito

deoutra

maneira,

Homero

e,porvezes,inferior

asim

esmo.

Naoera

absolutamente

essetipo

deproblem

aque

en-frentava,

nofinal

doseculo

va.c.,

0historiador

atenienseTucidides.

Preocupadoem

mostrar

queaguerra

doPelo-

poneso(431-404)

foraum

eventocapital,

eleminim

izoua

importancia

daguerra

deTroia.

Quando

0cristianism

ocom

e~ouatom

arconta

domundo

romano,

apartir

doseculo

IIIdaera

crista,surgiu

oproblem

adesituar

aguerra

deTroia

eHomero

emrela-

~aoaoque

relatavaaBfblia,

0livro

sagradodos

judeus.En-

controu-seentao

umaespecie

decom

promisso

quesituou

Moises

antesdaguerra

deTroia,

masque

naoelim

inouesta

ultimatotalm

entedahistoria.

Quanto

aHomero,

senao

seacreditava

mais

emseus

deuses,pelo

menos

continuavaa

serlido.Entretanto,

muito

mais

tarde,nofinal

doseculo

XVIIe,

sobretudo,nasegunda

metade

doseculo

XVIII,

aEuropa

sepas

asonhar

comum

passadomais

longinquo.Ahum

ani-dade

naocantou

antesdeescrever?

Apoesia

homerica

apa-rece

entaocom

oumapoesia

"primitiva':

obranao

deum

oumesm

odedois

poetas,masdebardos

popularesque

re-corriam

aum

tesourolendario.

Deimediato,

aIliada

ea

Odisseia

passamaser

encaradascom

oobras

demultipla

autoria.Umsabio

alemao,

F.A.Wolf,nos

seusProlegornenos

aHornero,

de1795,

deuform

aduravel

aessa

teoria.Nao

convenceutodo

mundo.

Assim

,0poeta

J.W.Goethe

escre-veu

aoseu

amigo

F.Schiller,nodia

17demaio

de1795:

'r0digno

demerito,m

as,pergunto,por

queessagente,para

encobrirafraquezadoseuplano,seperm

itedevastarosm

aisferteis

jardinsdoreino

esteticoetransform

a-losnum

la-mentavelbarranca?

Li0prefacio

[osProlegomenos]daIliada

deWolf;nao

edes-tituido

deinteresse.E

possivelqueaideia

sejaboaeaesfor-

Todavia,seHomero

era0bardo

primitivo

dopovo

gre-go,cada

povo(pensava-se)

tinhadireito

aoseu

proprioHo-

mero.

Come~ou-se

aredescobrir

naFran~a

ascan~6es

degesta

daIdade

Media,

eVictor

Hugo

seinteressou

porelas.

NaGra-B

retanha,um

falsario,MacPherson,

forjouinteira-

mente

umpretenso

bardobretao,

denom

eOssian,

eospoe-

mas"traduzidos"

dessebardo

conheceram,em

todaaEu-

ropa,um

imenso

sucesso,rivalizando

atecom

ospoem

ashom

ericos.0jovem

Bonaparte,

porexem

plo,adorava

Os-

sian.Essa

buscadeumapoesia

dasorigens

seestendeu

portoda

aEuropa.

Assim

,Richard

Wagner

mesclou

umacan-

~aodegesta

doseculo

XIII,

aCan~ao

dosNibelungos,

comoutros

poemas

deorigem

escandinavapara

escreverepar

emmusica

0anel

dosNibelungos,

ressuscitandoassim

0es-

piritodeHomero

e0datragedia

gregapara

fazercom

elesumaepopeia

dasorigens

germanicas.

Namesm

aepoca,

0finlandes

Lonnrotrecolheu,

noin-

teriordoseu

pais,toda

umaserie

depoem

asorais

efabri-

cou,apartir

deles,umaepopeia

dosdeuses

edos

homens:

oKalevala.

NaRussia,

umapesquisa

analogafoifeita

combase

empoesias

recolhidaspela

tradi~aooral:

asByliny.

Porem,foi

sonoseculo

xxque

sedescobriu

senao

achave

pelomenos

urnachave

para0estudo

dospoem

asho-

mericos

comopoesias

orais.Haum

pontoque

sempre

sur-preende

osleitores

deHomero.

Ospersonagens

daepopeia

naosan

citadossimplesm

ente-Heitor,N

estor,Aquiles,U

lis-ses-,

mas,pelo

contnlrio,san

sempre

acompanhados

porumaserie

deepitetos,

constantemente

repetidos,com

o,por

exemplo:

0grande

Heitor

decapacete

reluzente,0velho

con-dutor

decarros

Nestor,

0divino

Aquiles

depes

infatigaveis,oUlisses

dasmilastucias.

lssovale

tambem

paraosdeuses:

Zeustern

urnamplo

olharouumavoz

retumbante,

Atena

temolhos

decoruja,

Hefesto

e0coxa

ilustre,eCalipso

eto-

talmente

divina.Porvezes,versos

inteiroseategrupos

dever-

sossan

repetidos,eoseruditos

chegaramaficar

tentadosa

declara-los"interpolados".

(Alguns

especialistaselim

inaramassim

milhares

deversos,especialm

entepor

causadarepeti-

<;:ao.)Cham

a-sehoje

esseestilo

de"estilo

formular".

Quem

descobriu0seu

segredofoiurn

intelectualamericano,

morto

muito

jovem,que

escreviaem

franceseque

secham

avaMil-

manParry.Epitetos

eform

ulastem

umafun<;:aobem

precisa:re-

pousar0aedo

duranteasua

recita<;:ao,queadquire

assimurn

caraterauto

matico,

eIhe

fornecer"pausas"

queperm

i-tam

estenderou,

pelocontrario,

restringiranarrativa,

asua

vontade.Constatou-se

que,nos

papiros,amaioria

dosver-

sossuplem

entares,em

rela<;:aoatradi<;:ao

manuscrita,

ede

versosque

figuramalhures

notexto

homerico.

Ora,aconte-

ceuurn

fatoraro:

Milman

Parry,acom

panhadodeseu

ami-

goAlbert

Lord,teveaoportunidade

deverificar

demaneira

experimental,

nosBalcas,a

hipoteseque

formulara

apartir

apenasdotexto

deHomero.

oKosovo

eumaplanicie

habitadasobretudo

poralba-

neses,masque

temurn

papelimportante

noimaginario

dopovo

servio,com

oseverificou

recentemente,

naprim

avera

de1999.N

essaplanicie,

urnexercito

decristaos

servioseal-

baneses,dirigido

peloprincipe

servioLazaro,

defrontou-se,em

1389,numlugar

chamado

"Campo

dosmelros",com

urnexercito

turcootom

anocom

andadopdo

sultaoMurad.

Os

doischefesm

ilitaresforam

mortos,

masosturcos

sairamven-

cedores.Ora,

essabatalha

deuorigem

aumatradi<;:aoepi-

ca.Bardos

servios,nos

cafesdaregiao

deNovi

Pazar,reci-

tavamversos

aosmilhares

econheciam

decor

gigantescasepopeias

quepunham

emcena

oscom

batesentre

serviose

otomanos,

especialmente

abatalha

do"Campo

dosmel-

ros".Essespoetas

eramanalfabetos.

Urndeles

(impressio-

nente!)era

atecego.A

lemdisso,

quandoaprendiam

aler,

perdiamassuas

faculdadespoeticas.

Albert

Lordregistrou

asepopC

iasservias

-havia

tambem

,deresto,

epopeiasal-

banesas-everificou

atemesm

oque,

numintervalo

dealguns

meses

oualguns

anos,asmodifica<;:6esintroduzidas

peIosaedos

naoeram

substanciais.Asanalogias

comospoe-

mashom

ericospareciam

decisivas.];;1sepodia

entaoima-

ginarque,antes

dafixa<;:aopor

escritodas

duasepopeias

quenos

chegaramcom

0nom

edeHomero,

urnou,m

elhor,dois

poetasdegenio

haviamdado

umaestrutura

monum

entala

Iliadaea

Odisseia.

Quais

eramosaspectos

particularesdesses

genios?Nao

osbusquem

osem

algummisterioso

segredodaalmagrega.

Sehouve

urndia

"almagrega",H

omero,

mais

doque

qual-quer

Olltro,

foiquem

contribuiupara

forma-la,

e0poeta

tragicoEsquilo,

noinicio

dosecllio

va.c.,nao

estavaerra-

doaodizer

quedenao

faziamaisdoque

catcHasm

igalhasdo

grandefestim

deHomero.

Masnos

podemos

sermais

pre-cisos.

Urnestudo

atentodotexto

mostroll,

especialmente

a

Adam

Parry,filho

deMilman,

queurn

personagemcom

oAquiles,o

principalheroi

dallfarla,

usavaumalinguagern

bempeculiar.

Eleutiliza,

everdade,

0discurso

formular,

mascom

variantesproprias.

Ditodeoutra

maneira,

osma-

teriaispertencem

aoestoque

dorepertorio

epico,masacom

-bina<;:aoe

(mica.

EAquiles,

enao

Agam

emnon

ouAjax,quem

coloca,na

!liada,aquestao

decisiva,aunica

quenao

temresposta.

Os

troianosnao

Ihefizeram

nada:"Por

queentao

enecessario

queosargivos

empreendam

umaguerra

comostroianos?".

Questao

terrivel,efetivam

ente,que

tingedeumaespecie

demelancolia

fundamental

todo0poem

ae,na

qual,encon-

tramos

algounico

ou,pelo

menos,

muito

raro.Mas0seu

adversclriotroiano

Heitor

terntambem

asua

linguagempar-

ticular.Quepersonagem

alemdele

poderiadizer

asua

es-posa

Andr6m

aca,nocanto

VI,a

seguintepassagem

(eeuci-

toaqui

umatradu<;:aobaseada

nadeSim

oneWeil)?

Porqueestollseguro,nas

entranhasenocora<;ao,

deque

vini0diaemque

pereceraasanta

nion,EPriam

oeana<;aode

Priamodeboa

lan<.;a.Maseu

pensomenos

nador

queseprepara

paraostroianos,

paraapropria

Hecuba,para

0reiPriam

oEpara

osmeus

irm,losque,tao

numerosos

ebravos,

Cairao

napoeira

sobosgolpesinim

igos,Doque

emti,quando

urngrego

decoura<;ade

bronzeTearrastara,lacrim

ejante,suprimindo

atua

liberdade[...1

Quanto

amim,espero

estarmorto

erecoberto

pelaterra

Paranao

ouvir0teu

prantoever-te

dominada

[...)

Ligrimas

deHeitor,

lagrimas

deAquiles,

lagrimas

deAndr6m

aca"rindo

atravesdas

lagrimas"

quandoHeitor

Ihecoloca

0bebe

Astianax

nobra<;:os;Ligrim

asdeUlisses

cho-randocom

ooutrora

choravaAndr6m

aca...os

poetasque

criaramessas

maravilhas

naoeram

maquinas

derepetir

for-mulas,

mesm

oque

asvezes

ficassemfatigados.

Houve

poetasepicos

antesdeHomero?

Muito

prova-velm

entesim,masnos

naotemosmeio

algumdeconhece-

los.Houve

poetasepicos

contemporaneos

dosautores

daIliada

edaOdisseia?

Naohanenhum

aduvida.

Nosconhe-

cemosostitulos

deseis

epopeiasredigidas

entre800

e500

a.C.0

maisimportante

dessespoem

aseracham

adodeCan-

tosciprios

erelatava

aguerra

deTroia

desde0com

e<;:o,istoe,desde

0arbitrio

deParis,

aoqual,

naIliada,so

efeita

uma

brevealusao,

ateaentrega

aAquiles

dacativa

Briseida,

quevem

atornar-se

asua

favorita(figura

22).Comosesabe,

eosequestro

deBriseida

porAgam

emnon

quedesencadeia

acalera

deAquiles

ea!liada.

Infelizmente,

dessesCantos

ci-prios

(Chipre

eailha

deAfrodite)

naoresta

quasenada,

em-

boraumagrande

partedaobra

deEuripides

seinspire

nes-saepopeia

perdida.Tam

bemnao

sobrougrande

coisados

poemasque

daosequencia

a!liada

eaOdisseia

eque

nosso

conhecemos

poralus6es,

resumos

eimagens.

Umaepopeia,

porexem

plo,relatava

0fim

deUlisses,

morto

porTelego-

no,0filho

quetivera

comCirce.N

ostemos,

poroutro

lado,otexto

deumaContinuarao

deHomero

escritaem

hexame-

trosdactilicos

porQuinto

deEsm

irna,que

viveuno

finaldaepoca

romana.

Naopassa,

evidentemente,

deurn

exerd-cio

escolar,mastern

0merito

deregistrar

lendasque,de

ou-tramaneira,

seriampouco

conhecidas.

Aautentica

"continuas:aodeHomero"

naoseencontra

aLEla

aparecenos

vasoscorintios,

Micos

ouornam

entadosnaItalia

meridional

que,aos

milhares,

apresentamcenas

da

Iliadaeda

Odisseia.Ela

aparecenaliteratura

gregadaepo-

cachlssica

edaepoca

helenistica.Urnhistoriador

comoHe-

r6doto,no

seculova.c.,e

chamado

de"muito

homerico"

e,desde

asprim

eiraslinhas

dasua

Hist6ria,faz

alusaoao

raptodeHelena

porParis.

EmRoma,

aOdisseia

foitradu-

zida,noseculo

IIIa.c.,por

LivioAndronico,

eHomero

sepas

assimafalar

latim.0que

eaEneida

-poem

ano

qualVir-

gilio,contem

poraneodeAugusto,

daform

aa"lenda

troiana"que

fazdeRomaumacidade

fundadapor

urndescendente

deEneias

-senao

umapequena

OdiSSl:?iaseguidadeuma

pequenaIliada?

Outros

textosreescrevem

aIliada,

recons-

tituem0calendario

dosacontecim

entos,com

o,por

exem-

plo,aEfemeride

daguerra

deTr6ia,

ourelatam

aqueda

da

cidade,com

ofaz

tambem

aEneida.

Pormeio

dessestextos

eque

asaventuras

deAquiles

edeUlisses

seraoconhecidas

noOcidente

medieval.

Urn

RomancedeTr6ia

eescrito

en':'

tao,no

seculoXIII,

porBenoit

deSainte-M

aure,eesse

tex-

tosera,

porsua

vez,traduzido

para0grego.

E0que

dizerdoque

vemdepois?

Noinicio

doseculo

XIV,Dante,

quenao

leuHomero,

porquenao

sabiagrego,

naodeixa

deincluir

esse"poeta

soberano",arm

adodeumaespada,

no"lim

bo"

ondeestao

detidosospagaos

virtuososque

naoconhece-

ram0Cristo

epor

ondeele

passa,acom

panhadodeVirgi-

lio,no

cantoIVdo

Inferno.Melhor

ainda,ele

encontraDio-

medes

eUlisses

(osdois

her6isassociados

docanto

Xda

Iliada)no

cantoXXVIdesse

mesm

oInferno.

Ulisses

Ihenar-

raassuas

aventurasap6s

0retorno

aftaca.

Inversamente,

noseculo

XVII,

Fenelon,arcebispo

deCambrai,

escreveu,

para0duque

daBorgonha,

seualuno

e,alem

tEsso,neto

eherdeiro

presuntivodeLuis

XIV,As

aventurasdeTelemaco,

destinadaaapresentar

0retrato

deumacidade

ideal.Nose-

culoXVIIainda,

encontramos

aAndr6maca

deRacine

e,no

XVIII,

eavez

de0cego

deChenier.

Asvesperas

daSegunda

Guerra

Mundi21l,

0dr21m

atur-goJean

Gir21udoux

monta

Aguerra

deTr6ia

naoaCOfztccerci,

enquantoSim

oneWeil,

pacifista,escreve

em1937:

"Nao

re-

comecem

osaguerra

deTr6ia'~

Quanto

aOdisseia,

elaforne-

ce0qu21dro,

em1922,

dogig21ntesco

romance

deJam

esJoy-

ce:Ulisses.ffouve,

noseculo

xx,lun

infernomoderno

quesech21-

mou

Auschw

itz,eurn

aedodesse

inferno,0italiano

Primo

Levi,que

deveriatornar-se

urnescritor

celebre,tentou

en-sinar

0canto

deUlisses

(0deDante)

aurn

deseus

compa-

nheirosfr21ncescs.

Muito

tempo

21p6saguerra,

umescritor

anglo-antilhano,Derek

Walcott,

recebe0Prem

ioNobel

em

1992por

seupoem

aOm

eros,que

transforma

ospcrsolla-

gensdeHomero

empescadores

dasilhas

Caraibas

Ialalldo

urningles

cominfluencia

crioulaefrancesa.

Essespoucos

exemplos

daotestem

unhoda

listaimens21

d21sindag21<;:6es

queosseculos

f21zemaHomero

eque,a

nossamaneir21,

con-tinuam

osaf21zer.

Agradecim

entos

Utilizei,

noque

dizrespeito

aIliada

eaOdisseia,

astra-

dU<;:6esfrancesas

disponlveis,adePaul

Mazon

paraaIlia-

da,asdeVictor

Berard

edePhilippe

Jaccottetpara

aOdis-

seia,perm

itindo-me,

porvezes,

modiflca-Ias

umpouco.

Utilizei

tambem

abeH

ssimatradu<;:ao

decertas

passagensdaIliada

feitapor

Simone

Weil,no

seuartigo

de1941:"A

Iliadaou

0poem

adafor<;:a".*

Agrade<;:oa

Jean-Christophe

Saladin,que

aceitou0meu

texto;aseu

filhoJoseph

(deonze

anos),que

meserviu

decobaia,

bemcom

oaos

editores(especialm

enteAnthony

Ro-

wley),que

transformaram

meumanuscrito

emlivro.

Naoteria

conseguidoescrever

cstelivro

semconsultar

numerosos

trabalhosque

naoposso

enumerar

aqui.Citarei

apenasalguns

deseus

autores.Alguns

forammeus

mestres,

outros,meus

alunos,emuitos

acabarampor

setornar

meus

•Natradu<;ao,

utilizaram-se

tambem

,para

confronto,aestupenda

versaode

FredericMugler

(Iliada)eadeMederic

Dufour

(Odisseia).

(N.T.)

amigos:

ElisaAvezzu,A

nnieBonnafe,

Benedetto

Bravo,Pas-

caleBrillet-D

ubois,Philippe

Brunet,

Richard

Buxton,

Michel

Casevitz,

Maria

Grazia

Ciani,

Riccardo

DiDonato,

Herve

Duchene,

PierreEllinger,

Moses

1.Finley,Franc;ois

Fronti-si-D

ucroux,Ariane

Gartziou-Tatti,

Franc;oisHartog,

Nico-

leLoraux,

Franc;oisLissarrague,

aquem

devo(juntam

entecom

Marion

Lafouge)0essencial

dailustrac;ao,

lradMal-

kin,Helene

Monsacre,

Claude

Mosse,

Gregory

Nagy,Pietro

Pucci,Suzanne

Said,Pierre

Sauzeau,Evelyne

Scheid-Tissi-nier,

Alain

Schnapp,Annie

Schnapp-Gourbeillon,

JesperSvenbro,

Odette

Touchefeu-Meynier.

Credito

dasilustra~6es

I,3,6,

11,14,17,23,38-G.DagJi

Orti

2-Museu

Britanico

4,5,16,29,35

-AKGParis

7--Biblioteca

daUniversidade

deCambridge

8,9,13,15,18,20,22,24,27,31,32,36,37-Erich

Lessing/AK(;Paris

I()~-Louvre,

Paris,Fran~a/

Bridgem

anArtLibrary

12-Paul

Courbin,

Tomllfsgeometriqlles

d'Argos,t.I,Paris,

Vrin,

197419--Paul

Thomas,

199921-Museu

~Galerias.

~o:,aticano,

Vaticano,

Italia/Bridgem

anArtLibrary

25,28,33-Museu

Brttal1Ico,

Londres,Reino

Unido/

Bridgem

anArtLibrary

26-

Daum

ier30-Joseph

Martin/

An;Paris

34-

BulletilldecorrespolldtJllce

hellfllique,Escola

[raneesadeAtenas

Indiceonom

astico

Adrasto,troiano,

56

Afrodite,deusa

daBeleza

edoAmor,

9,16,51,54,63-4,66,73,90

Ajax,filho

deai/eu,

reidoslocrenses,

23,32,41

Ajax,filho

deTelam

onio,rei

deSa-

lamina,

53-4,58,78,81,97,

121

Albert

Lord,fJl6sofoamericano,

124-5Alexandre

III,0Grande

(356-23a.C

.),

reidaMacedonia,

20

Andromaca,

esposadeHeitor,

maede

Astianax,

10,40,

42,47,

79-80,83,89,

126-7

Anfinomo,

pretendentedePenelope,

60

Anquises,prim

odePriam

o,amante

deAfrodite,

63,73

Antinoo,pretendente

dePenelope,

106-7

Apolo,deus

daBeleza,

daLuz

edas

Artes,

42,45,56-8,63,65,72,74,

79Aquiles,

filhodeTetis

edePeleu,

10,17,

23,30,

38-46,52-59,

63-64,69,72-5,77-8,91,95-103,112-9,124-8

Ares,deusdaGuerra,

63-4,96

Arete,esposa

doreiAlcinoo,

82Arist6fanes

(445-386a.C

.),poetaco-

mico

ateniense,119

Artemis,

Irmagem

eadeApolo,

deu-sados

ca<;:adores,56,58Astianax,

filhodeHeitor

edeAndro-

maca,

42,89,127

Atena,deusa

daSabedoria,

dasArtes

edaCiencia,

9,24,39,42,45,51,53,63-5,72,75,105,114,117

Augusto

(63a.C.-14d.C

.),impera-

dorrom

ano,23,

121,128

,.-,II't•••r,'l••'l'll•••l'lll'l1Jr.•,')()

Aut6lieo,filho

deHermes,

deusdos

ladroes,

avodeUlisses,

89Balzac,

Honore

de(1799-1850),

es-critor

frances,100

Baudelaire,

Charles

(1821-67),poe-

tafrances,

10Belerofonte,

her6icorintio,

filhode

Posidon,17,77

Benoit

deSainte-M

aure(see.X

II),tro-vador

anglo-normando,

128Bentley,

Richard,

fundadordafilo-

logiamoderna,

81Berard,

Victor

(1864-1931),fil610go

epolitico

frances,31,

110,131

Bergson,

Henri

(1859-1941),fil6so-

fofrances,

113Bessarion

(14031472),hum

anistabi-

zantino,21Briseida,

companheira

deAquiles,40,

45,78,127

Butler,

Samuel,

escritoringles,

81

Calcas,adivinho,

65,73,95

Cassandra,filha

dePriam

oedeHe-

cuba,23,41,

78Castor

eP6lux,

her6isdeEsparta,

fi-Ihos

gemeos

deZeus

edeLeda,81

Cavafis,C

onstantino(1863-1933),poe-

tagrego,

48Cebriones,

filhodePriam

o,55

Cervantes

Saavedra,Miguel

de(1547-

1(16),escritor

espanhol,120

Char,

Rene

(1907-88),poeta

frances,109

Chenier,

Andre

de(1762-94),

poetafrances,

112,129

Clitemnestra,esposa

deAgam

emnon,

40,79,83Criseidtl,

coneubinadcAgam

emnon,

45,56,78Crono,

titi,pai

deZeus,

41,67,96

()()

(>oooUtJ(}

Dante

Alighieri

(1265-1321),poeta

eescritor

italiano,36,

128Daum

ier,Honore

(1808-79),carica-

turista,pintor

elit6grafo

fran-ces,84

Deifobo,irmao

deHeitor,

53,64,114

Diomedes,her6i

aqueu,17,41-2,54,

59,64,72,77,97,128D6lon,

troiano,40,

59,79

FranciscoI(1494-1547),

reidaFran-

c,:a,22

Ganimedes,principe

deTr6ia,

escan-c,:aodos

deuses,64,66,73

Giraudoux,

Jean(1882-1944),

escri-tor

frances,129

GlauCO,licio,17,41-2,54,71,77,97

Goethe,

J.w.von(]749-1832),

escri-tor

alcmao,

122Gutcnbcrg,

JohanncsGensfleiseh

(e.1400-68),im

pressoralel1lao,16

Edipo,reideTebas,

89Eeeion,

reideTebas

naCilicia,

paide

Androl1laca,

79Eneias,

principetroiano,

9,43,54,63Eolo,

deusdos

ventos,34

Ereutaliao,her6i

arcadio,54

Esquilo(525-456

a.C.),poeta

tragi-cogrego,

38,79,115,

118,125

Estrabao(58

a.C-entre

21e25d.C

),ge6grafo

grego,23

Eufronio,pintor

eoleiro

atieo,54

Eurialo,nobre

argivo,99

Euricleia,amadeUlisses,

88-9,103

Eurimaco,pretendente

dePenelope,

104,107Euripides

(480-406a.C),poeta

tragi-eogrego,

38,80,115,119,

127Eustacio,

areebispodeTessalonica,

20Ezequias,

pintoreceram

istaatenien-

se,81

Hades,deus

dosInfernos,

55,67,82-3,110,

117HalitCl-ses,

profetadeftaca,

74Heitor,

tllhodePriam

oedeHecuba,

marido

deAndr6m

aca,10,23,39-

47,51-3,57,59,64,69-75,78-9,89-90,94,97,111-5,124,126,127

HelenadeEsparta,

filhadeZeus

ede

Leda,esposa

deMenelau,

9,33,38,

51,60,

75,78,

80,84-5,

89-90,112,114

-5,117,128Helel1o,

irmao

deHeitor,

73Hera,

deusadocasam

ento,esposa

deZcus,

9,51,63,66,74

Hermes,dellS

dosviajantes,

dosmer-

cadoresedos

ladn1cs,mensagei-

rodos

deuses,34,57,64,85,96

Hermione,filha

unicadeMenclau

edeHelena,

80Her6doto

(484-20a.C

.),historiador

grego,37,

128Horacio

(65-8a.C),poeta

latino,121

Hugo,

Victor

(1802-85),escritor

fran-ces,

123

Fenelon,Franc,:ois

deSalignac

deLa

Mothe

(1651-1715),prelado

ees-

critorfrances,

129Ficino,

Marsilio

(1433-99),hUl1lanis-

taflorentino,

21Fidias,

escultor,81

Fih'cio,bojeiro

de[taea,

60,103Finley,

Moses,

historiadorbritancio,

95

1,10111('/1('11.rcidcCrcta.

41,81Ili,~':/litl,

tilhadc

Agallll'm

nonedc

Clitem

nestra,40

Ino-Leue6tea,deusa

marinha,

82Ira,m

ensageirodos

pretendentes,104

Joyce,James(1882-1941),

escritorir-

landes,III

Kazantzakis,

Nikos

(1883-]957),

es-critor

grego,36

LlOlIledo/l/(',rcidc

Tr(lia,paidcPda-

mo,72

Lazaro,principe

servio,125

Levi,Primo(19]

9-1987),cscritor

ita-liano,

]29

Liedon,filho

dePdam

o,57,98

LivioAndronico

(280-207a_C

.l,poe-talatino,

128

Lemmot,

Elias(1802-1884),

escritorfinlandes,

123

MacPherson,

falsario,123

Maom

e(570-632),

fundadordareli-

giaomLH;:ulm

ana,65Maom

eII

(J432-1481),

sult,jooto-

mano,21

Marx,

Karl

(J818-1883),

te6ricoale-

mao,

100

Mauss,

Marcel

(1872-1950),soci610-

gofrances,

97Melal1cio,

cabreirodeftaca,

61

MCIIlIlOI1,filho

daAurora

edePen-

tcsileia,97

Mena!1dro,autor

doseculo

IVa.C,116

MoisE's

(see.XIII

a.C),libertador

elcgislador

deIsrael,

122r'vlom

igli,lIlo,Arn'lldo.

historiadorita-

liallo,24Murad,

sultaootom

ano,125

Ne/eu,pai

deNestor,

88Nestor,

reidePilo,

16,27,29,33,46,52,54,59,68,75,87-8,117,124

Niobe,filha

deTi'm

talo,58

Oi/cu,filho

deHodedoco,

paideAjax,

23,32Otrioncu,

aliadodeTroia,

41

PcJndam,filho

deLiG

lon,arqueiro,

51,58Paris,

filhodePriam

oedeHecuba,

~38,

51,5~

58,63,

80,84,

89-90,

115,128

Parry,Adam

,126

,Parry,Milmann,

eruditoamericana,

124Palmc/o,

companheiro

deAqui!es,40,

42-3,46,53-56,57,75,94,113Pe/eu,

paideAquiles,

17,29,64Pemi/ope,

esposadeUlisses,

10,32,

34,82-3,107,

117Pentesileia,

rainhadas

Amazonas,

77,97

Petrarca,Francesco

(1304-1374),poe-

taehum

anistaitaliano,

21Pindaro

(518-438a,C

),poeta

gre-go,114

Pisistrato(600-527

a,C),tirano

deAtenas,

19Platao

(427-348/347,LC),filosofo

grego,14,113

Po/idamas,orador

eguerreiro

troia-nO,44,

IIIPoli(emo,

ciclope,35,

39,60,

75,96,

99,119

Polites,filho

dePriam

o,44

Priamo,ultim

oreideTroia,

9,23-4,27,29,40-9,57,69-70,72,77-8,

'81,94,119

Quinto

deEsm

irna,escritor

gregotar-

dio,127

Tideu,pai

deDiom

edes,41-2,

64Tiresias,

adivinhocego

deTebas,35-

6,73Titono,

filhodeLaom

edonte,princi-

petroiano,

66Tucidides

(460-395a,C),historiador

ateniense,37-8,

56,122

Racine,

Jean(1639-99),

poetatragi-

cofrances,

10,80,129Redfield,

James,

filologoamericano,

115Reia,

esposadeCrono,

maedeZeus

edos

deusesolim

picos,67

Reso,reidaTracia,

43,59

Ronsard,

Pierrede(1524-1585),

poe-tafrances,

21,80

Ulisscs,heroi

grego,rei

lendariode

haca,10,17,27-36,45,51-2,58-

60,63-6,71-4,

81-9,94-9,

101-4,107,110,114

-9,127-8

Safo,poetisa

grega,81

Sarpedoll,filho

deZeus,

43,54,

64,70-1,73

Schiller,F.von

(1759-1805),escritor

alemao,

122Schliem

ann,Heinrich

(1822-1890),ar-queologo

alemao,

24,26Shakespeare,W

illiam(1564-1616),poe-

tadram

aticoingles,

57,94-5Socrates

(470-399a,C

),filosofogre-

go,14

SOfocles

(495-406a.C

),poetatragi-

cogrego,

38,58,115,

118Stendhal

(Henri

Beyle;

1783-1842),escritor

frances,116

Vergecio,A

ngelo,copista

cretensedo

see.XVI,22

Virgilio

(70-19a.C),poeta

latino,23,

128

Wagner,

Richard

(1813-83),com

po-sitor

alemao,

123Walcott,

Derek,

escritoranglo-anti-

Ihano,129

Weil,

Simone

(1909-1943),filosofa

fraricesa,116,

118,126,

129Wolf,

E,A.,erudito

alemao,

122

Zenodoto,critico

alexandrino,121

Zeus,divindade

supremado

Olim-

po,filho

deCrono

edeReia,41,

54,57,

64,66,

69,73-4,

80,96,

113-4,120,

124

SBDIFFLC

HIUSP

SEC;;.ii.O

DE:

LTOMBO

259271AQUISIC

;;.ii.O:

G/RUSP

EDUSP

/NFN°

13208GUIA

REG,

DATA:

10/05/05PREC;;O:

30,4

Tecmessa,amante

deAjax,

filhoTela-

manio,78

Telamonio,pai

deAjax

deSalam

ina,53

Telegono,filho

deUlisses

edeCirce,

127Temis,

deusadaJustiya,

69Teoc/imeno,

profetaargivo,

73Tersites,guerreiro

aqueu,44-5,94,97

This,nereida,

maedeAquiles,

43,57,63,66,70

Teucro,arqueiro,

irmao

deAjax,

58