pierre-vidal-naquet-o-mundo-de-homero.pdf - iedamagri
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PIERRE
VIDAL-NAQUET
"
on1undo
deHOll1ero
TTadu~ao
JonatasBatista
Neto
SBD-FFLC
H-USP
1111//11111111/11111/111111111111111111125927"1• COMPANHIA
DASLETR
AS
nt/liooriginal
Lcmonde
d'l!omere
CapaEUore
Bottini
Fotoriacapa
Vaso
deEufr6nio
(dctalhe),;he
Metropolitan
Museum
ofArt
/'''''/,0111("110
EliancdcAhrcu
Santoro
Rc\,isi1o
Claudia
Cantarin
Rcnalo
!'otcmalcodri!'ucs
DadoslntcrnaCIOl1,llSde
Catalot,<l<;Jo11<1Puhlicl<;:l0
(Ul')
(C1l1lara
Brasilcir,l
do[,1\'1"0,
SI',Brasil)
Vid,d-N
aqud,Pierre,
1930-
()Illundo
deIlolllcw!Picrre
Vidal--Naquct;tradu~ao
J()natasBatista
Ncto.
-San
Paulo:Companhia
dasLetras,
Tit\lloorigin,lI:
1.('ll1011dcd'!
!Oll1Crc.
["I\:'JBs
J59-02fl5-X
I.Civiliza\~lcl
hOlllerica
2.Gcografia
antiganilliteratura
3.Crecia
--Antiguidades
4.Hom
CTo-
Conhecim
ento-
Geografia
5.HOlllcro
-Hahita<;6es
eabrigos
--Crccia
6.
PoesiJ.epica
grega---Hist{)ria
ccritica
I.Titulo.
DEDALUS-Acervo
-FFLC
H-LE
1111111111111111'111111111111/11111111111111111/1/1111/11
11111111
Indicespara
catalogosistcm
<itico:
1.Poesiagrcga
epicaclassica
:Hist6ria
ecritica
883·0109
2.Foesia
cpicaclassica
grega:Hist()ria
ecritica
883.0109
[20021
'IodosOSdireitos
dcstaedi~ilo
reservadosit
FD!TORA
SCIlWARCZ
LTDA,
Rllallalldcira
Palliisia702ej,V
o4532~002,~Silo
Pallio-
SP
Telefone(11)3167~o801
Fax(11)3167~0814
WW\\,.({)11111;111
11i<1i..1'ISlct!";lS.C
{l111.111"
1.Pequenahistoria
dedois
poemas
.2.Ahistoria
eageografia
.3.G
regosetroianos
.4.A
guerra,amorte
eapaz
.5.C
idadedos
dClIses,cidade
doshom
ens.
6.Homcns
emulheres,
jovensevelhos
.7.0
rei,0mendigo
e0artesao
.8.Poesia
.9.A
sqllest6es
homericas
.
Agradecimentos
.Credito
dasilustra~oes
.Indice
onomastico
.
'IIf
~tl'9,.Wi
...~•••,;,+(..~.fl\
•••""9
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13,1
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121
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\)
133,)
135t")
"\
.\
.l•I
Quando
eracrian<;:a,em
Paris,antes
daSegunda
Guer-
ra,eupossula
umaantologia
delendas
daguerra
deTr6ia
eseus
desdobramentos.
0livro
come<;:ava
comahist6ria
dopastor
Paris,l(que
tevedeescolher
umadas
tresdeusas
-Hera,
Atena
(figura16)
eAfrodite
-para
concederuma
ma<;:ana
qualestava
escrito:"A
mais
bela".Hera
Ihepropt)s
podereAtena,
sabedoria,masAfroditc
ganhou0concurso
oferecendo-Iheajovem
mais
lindadetodo
0mundo:
Hele-
nadeEsparta.
P<lrisraptouHelena,
0que
provocou0deslo-
camento
deum
exercitogrego
paraTr6ia,
namargem
asia-tica
doestreito
deDardanelos.
Dezanosdepois,
osgregos,
escondidosnum
enormecavalo
demadeira
(figura29),
con-seguiram
penetrarna
cidadcdo
reiPriam
ocainccndia-
ram.S6um
grupodetroianos
conduzidopOl'Eneias,
filho
,Osnom
cspr6prios
(antrop6nimos,
top6nimos
enom
esde
etnias)foram
normal
izadosCOIllbase
nosfl/dices
deIIOllles
pnipriosgregos
eliltillos
deMaria
lleknadeTeves
Costa
liref\aPrieto
etalii.
Lisboa,FlInda,,'Jo
Calollste
ClIlbcn-
kian,1993.
(N.T)
deAfrodite,
conseguiuescapar
echegar
aItalia,
ondeum
descendentesell
fLlndouacidade
deRoma.Osgregos,
pOl'
suavez,
encontrarambastante
dificuldadepara
voltarasua
terra.Umdeles
emparticular,
Ulisses
(emgrego
Odysseus),
erroudurante
dezanos
peIoMediterraneo
antesdereen-
contrarftaca,
ailha
daqual
erarei.
Emftaca,
Penelope,sua
mulher,
eradisputada
porumaserie
de"pretendentes",
jo-yens
quedilapidavam
0palacio
deU1isses
enquantoespe-
ravampela
respostadela
aospedidos
decasam
ento.Ahis-
toriadaguerra
deTroia
eracontada
(assimeupensava)
naIliada
deHomero,
enquanto0retorno
deUlisses
era0as-
suntodaOdisseia,
domesm
opoeta.
Euestava
certoquanta
aosegundo
ponto,mas,
poucodepois
desseprim
eirocontato
comahistoria
grega,minha
avopaterna
mepresenteou
comumatradu<;:ao
francesada
Iliada.Inicialm
entepensei
que0livreiro
quethe
haviaven-
dido0livro
ativesse
enganado.Anarrativa
come<;:ava
comTroia
cercadahavia
jamais
denove
anoseterm
inavasem
nenhumcavalo
demadeira
ecom
aseguinte
Frase:"Assim
foramosfunerais
deHeitor,
domador
decavalos':
Heitor
era0principal
defensordeTroia
-isso
eujasabia
-efo-
ramorto
porAquiles,
0mais
valorosodos
guerreirosgregos.
Mais
tardeaprendi
aconhecer
melhor
aIliada
eaOdis-
seia,essesdois
maravilhosos
poemas
de,respectivamente,
14mile12milversos;
passeiasaborea-Ios
natradu<;:ao
france-sabem
comonotexto
original.Aprendi
tambcm
tudo0que
podiasobre
ahistoria
dopovo
gregoesua
literatura,que
deuorigem
aIiteratura
ocidental.Andr6m
aca,esposa
doheroi
troianoHeitor,
foiainspira<;:ao
para0titulo
eapersona
gemprincipal
deumadas
tragediasmais
celebresdeRacine
-eIa
Figuratambem
numdos
mais
belospoem
asdeBaude-
laire.Nada
dissoteria
sidopossivel
semaIliada.
Quanto
a
Odisseia,
fizemos
dotitulo
dessepoem
aurn
substantivoco-
mum.Fala-se
normalmente,
porexem
plo,da
odisseiade
umciclista
duranteasua
corridano
TourdeFrance.
Meu
desejo,com
estelivro,
etentar
fazercom
quelei-
toresdetodas
asidades
partilhemaalegria
queessas
duasepopeias
mederam
-esem
premedao
-,aocontar
cer-tos
episodios,enaturalm
entetambem
tentarsitua-Ios
noseu
contexto,tanto
noespa<;:ocom
onotempo.
Tereiatingi-
do0meu
objetivose,apos
teremlido
estevolum
e,sentirem
odesejo
demergulhar
notexto
integral,atraves
deuma
tradu<;:aoou,
meIhor
ainda,naversao
original.
\!c{/;1.Pequena
hist6riadedois
poernas
obusto
deHomero
nosebastante
familiar:
umho-
mem
cabeludo,barbudo
ecego.
Masnao
setrata
deurn
re-
trato.Essa
escultura,conservada
nomuseu
deMuniqlle,
na
Baviera,
datadaepoca
romana.
F,Illuitoprovavel
quccia
(c-
nhasido
inspiradaem
urnIllodelo
doseculo
va.c.,a
cro-
caaurea
daarte
grega(figura1).Existem
hist6riassobre
a
vidadeHomero,
maselas
saototalm
entelendarias.
Seeleera
tidocom
ocego
eporqlle
osantigos
consideravam,
talvez
naosem
razao,que
amem6ria
deurn
homem
eramais
ex-
traordinariaquando
eleseencontrava
desprovidodevisao.
Setecidades
daGrccia
asiatica,mais
precisamente
daJ6-
niaedaE6lida,
sitlladasnaarea
quehoje
abrangeacosta
da
Turquiaealgum
asilhas
gregasdas
proximidades,
disputa-
vamahom
adelhc
(eremdado
nascimenlo:
enlreebs
Esmir-
na,no
contincnte,eailha
dcQuios,
ondeainda
hojenos
mostram
a"pecha
deHomcro",
chamada
tambcm
de"pedra
Confesso,
fon,que,pormaisdeumavez,invejeia
vossaarte
eados
demais
rapsodos!Ela
vosobriga
aestarem
sempre
arrllmados,
mostrando-vos
taobelos
quantopassivel;
'10
mesm
otempo,
soiscom
pelidosaviver
nacom
panhiade
llmaIJlllltiltio
debOilspoetas,
sobretlldonadeHomen),
0
melhor
eomaisdivino
detodos.
vra,que
vemdogrego
aoid6s,significa
"cantor':Ospoem
ashom
ericoseram
compostos
ecantados
poraedos
quese
acompanhavam
comum
pequenoinstrum
entodecordas,
aph6rm
inx.Em
queepoca
viveuHomero?
Conform
eaopiniao
ge-ral,
aIliada
eaOdisseia
datamdos
derradeirosanos
dose-
culoIXa.C.oujado
seculoVIII,
sendoaIliada
anteriora
Odisseia
poralguns
decenios.0.~~"~JJJg,,_Y
IILeurnperiodo
muito
importante
nahist6ria
domundo
gregoe,alias,
domundo
mediterraneo
emgeral
(Roma,por
exemplo,
foifun-dada
em753
a.C.).Trata-se
deuma.~Q
QS_;:t}],~Lqtl~Ls,~..f2,!l-
sillida,n4Grecia
ellI'opeia,insular
easiatica,
umaform
;t2Xi-
giuaLdevidileI11.socieciade:
<lp6li~.Urngrupo
dehom
enslivres
diz"n6s"
aofalar
emnom
edetodos.
Osreis
janao
existemou
enUiotem
apenaspapel
simb6lico.
Ascidades
sangovernadas
naopelo
povo,maspor
homens
(relativa-mente)
ricos,possuidores
deterras,
queobtem
arenda
des-sas
terrasmastambem
,asvezes,
entregam-se
aogrande
co-mercio
mariti
mo.
Quando
lemos
aIliada
eaOdisseia,
naopodem
oses-
quecerque
essespoem
aseram
destinados
aserem
recitadospara
umaudit6rio
dehom
ensricos
epoderosos,
capazesde
iraguerra
armados
dacabe<;:aaos
pes:capacete,
coura<;:a,grevas,
comosepodever
naarmadura
doseculo
VIII(figu-
ra12),
encontradaquase
intactanum
atum
badeArgos,
aonorte
doPeloponeso.
Ascidades,
noseculo
VIII,eram
capa-zes
detom
arcoletivam
entedecisoes
importantes
como,por
exemplo,
enviarpara
alemdos
mares,
paraaItalia
meridio-
naleaSicilia,
gruposdeemigrantes
com0objetivo
defun-
darco16nias,
istoe,cidades
novascom
oCumas,
naolonge
deNapoles,
ouSiracusa,
naSicilia.
domestre-escola",
umrochedo
noqual
foitalhado
umas-
sentodeonde
0poeta
recitavaseus
versospara
ascrian<;:as.
1;1sesonholl
bastante~easvezes
atesedelirnll--
so-bre
0poeta
cego.Existiu
umHomero,
doisHomeros
eate,
comoalguns
pensaram,umamultidao
deHomerns?
Nailha
deQuios
haviaoscham
adoshom
eridas,que
sediziam
des-cendentes
deHomern
econstituiam
umgrupo
dempsodos
quecantavam
ospoem
asdeseu
pretensoantepassado.
Mas0que
eum
rapsodo?Voces
podemvel'
umdeIes
numvasa
aticodoseculo
va.C.(figura
2).Eleestende
0bra-
<;:0,segurandourn
bastao,num
gestoorat6rio,
edesua
bocaescaparn,
talcom
onas
nossashist6rias
emquadrinhos,
pa-lavras
ouversos
deurn
poernaepico.
Noseculo
seguinte,0
fi16sofoPlatao
poeem
cenanum
dosseus
dialogosseu
mes-
tre,oateniense
S6crates(que
foicondenadoamorte
em399),
dirigindo-seaurn
dessesrapsodos,
IondeEfeso
(cidadeda
16nia):
Ionvivia
nacom
panhiadeHomero,
outramaneira
dedizer
queeIe
sabiaospoem
ashom
ericos,aIliada
eaOdis-
seia,de
cor.Aprendera
essespoem
aspOl'm
eioda
leituraou,
talvez,escutando-os
seremrecitados
poroutros.
HOI] ler: ona()
.eraurnJaps()do,
era..1lI11aed9..:.Essa
pala-
•),))•t"••),,••t,,,,,•,t••,•,•••••
Foinum
atum
badeIschia,
ilhadabaia
deNapoles,
queseencontrou,
em1955,
umatac;:adatavel
deaproxim
ada-mente
720a.C
.eque
contemap~i.!l1:~ir<lalusag_escrita
_<:t0S
~J2.Q~}]1~§Jlom
¢Ii~Q.s.Trata-se
deurn
"obi~lQf<!hm
J~::-eco-
moseapr6pria
tac;:asedirigisse
aquem
bebe:
Eusou
ata<;:ade
Nestor,
aque
eboa
parabeber.A
queleque
daquibeber
seraimediatam
entearrebatado
pelodesejo
queinspira
Afrodite,
adeusa
dabela
coroa.
serespeito
ospr6prios
poemas?
Nocanto
VIda
Iliada,0he-
r6iGlauco,
quecom
bateaolado
dostroianos,
contaaoher6i
aqueuDiom
edesahist6ria
deseu
antepassadoBelerofonte,
personagembem
conhecidoda
mitologia
grega,especial-
mente
porter
liquidadourn
sermonstruoso,
aQuim
era.Belerofcm
tefora
enviadoaopalacio
deurn
reidaLlcia
(naAsia
Menor)
comumamensagem
quecontinha
"sinaisas-
sassinos':Diriam
oshoje
quesctrata
deumacarta
escritaem
linguagcmcifrada
pedindoaodestinatario
paramatar
omensageiro.
Esseepis6dio
ebastante
reveladorde
uma
£Q!1_<;&
tLC;:_~Qum
tantodiab6li
cada.~jfL!la
:.1i£:lL12J:QJ2J21ilW
na0
~Jegistrarpoem
asnem
(comojaocone
desde0secul9yoK
II)leis,
massim,,£,<l!:gg<lIu111a!n~Ilgzt;:!}l.Sl~..g}gEtS';
(~t(:)---Tanto
noinicio
daIliada
comono
daOdisseia,oi;oe-
tasedirige
aumadivindade,
aMusa,
quesabe
tudoetudo
podeexpressar:
'\::anta,6deusa,
ac6lera
deAquiles,
filhodePeleu
...","Esobre
0hom
emdas
milastllC
ias[Ulisses
1quetu,o
Musa,
devesmedizer...".A
sMusas,
filhasdadeusa
Me-
m6ria,
saopOl"tanto
asdepositarias
dapocsia.
NaWoefo,()
unicoher6i
capazdecantar,
acompanhando-se
comumad-
tara,eAquiles,
0her6i
porexcelencia,
0"melhor
dosaqueu(
NaOdisseia,
aocontrario,
osaedos
semultiplicam
.Haum
entreosfeaces,
0povo
navegadorque
conduziraUlisses
aItaca.
Haum
nopalacio
deUlisses,
0qual
epoupado
quan-do0heroi
decidevingar-se
dospretendentes.
0proprio
Ulis-
seseum
aedoque
cantaassuas
viagens.Finalm
ente,entre
osseres
maletlcos
queele
encontrano
caminho
deTroia
aFeacia,
hatambem
assereias,
quenao
saoseres
hibridosde
111111heresCOI11peixes,
l11assil11
de11111lheres
COI11p;\ssaros
(figura33).
Ulisses
sabeque,
sefor
enfeitic;:adopor
elas,mor-
Afrodite
eadeusa
doamor.
Quanto
aNestor,
urnan-
ciao,eum
personagem
importante
daIliada
edaOdisseia.
Elepossui
umatac;:acuja
descric;:aoseencontra
nocanto
XI
daIliada.
Essainscric;:ao
estaredigida
emversos.
Podemos
assimestar
certosdeque
ostemas
emesm
o...9c.Lt01:J:l1<l?cl.'!.
.PQ~.~i(l.~pi<::~~E~g!lj~.~xjgiam
numaversao
escritano
secu-10V
IIIantes
daera
crista.-",,",-~
~~~=
••_,-,~,~-~,-~~-"~_.,~.•~-.,.~
..~,•.~,,"><~•.._.~."~'.=•.,-".~
'--
Como,
nessecontexto,
situa-seHomero
-ou,
mais
exatamente,
ospoetas
que,sob
essenom
e,nos
legarama
IliadaeaOdisseia?
Sevoces
quiseremasobras
deHomero,
certamente
iraoaumalivraria.
Sevoces
escrevemversos,
poderaoconfia-los
aum
editor,que,
porsua
vez,osenca-
minhara
aumagrafica.
Noseculo
VIIIa.C
.naohavia
nemlivrarias,
nemeditores
nemmesm
o,evidentem
ente,grafi-
cas.Aimprensa
apareceudeinicio
naChina
e,depois,
noOcidente,
noseculo
xv,com
Gutenberg.
Foiem
1488que,
pe1aprim
eiravez,
ospoem
ashom
ericosforam
impressos,
eisso
sedeu
emFlorenc;:a,na
Halia.
l'Enaepoca
deHomero?
Havia
umvinculo
efetivoen-
treapratica
docanto
poeticoeaescrita?
0que
dizemaes-
rera..Seuscom
panheirosvedaram
osouvidos;
elepr6prio
foiamarrado
aomastro
donavio.
AJ2oesia,
talcom
oaes-
,,'",,=~.~.,~,==-""",
..,=,.=~<~=-.,..",c.=.",,,,,,,.==r-..>~,,_===,,,,~.'_~
j,TLt~IL~_CQj::;jLPrLigg.~'l·oque
cantamassereias?
Aguerra
deTr6ia,
compre-
cisao:
dos.Bern
cedo,segundo
algunsespecialistas,
enquantopara
outrosnao
antesde560
a.c.,quandoPisistrato,
urn"tira-
no"-
istoe,govern
antenao
eleitodeAtenas
-,decidiu
realizarumaedi<;:ao
oficial.Sao
duaship6teses
opostas.0
certoeque
essestextos,
entre0momento
ef!lqueforam
fi-xados
e0ana
de1488,
noqual
foramimpressos,
variaram
pouco.Tanto
aIliada
comoaOdisseia
levamamarca
deum
autor"monumental",.<!1l!:~~~1?~_g
..9!!_~.Y~L£L~~~~S
t2,_,~.9E!}~f,q
i:!-.Q.Jim
.Adivisao
emcantos,
combase
nomodelo
dasletras
doalfabeto,
deIaXXIV,etardia;
remonta
aepoca
alexan-
drina,provavelm
enteaoseculo
IIIa.C.
Emque
idiomaforam
redigidos?Numalingua
parcial-mente
artificialque
repousasobre
doisdialetos
faladosso-
bretudonaAsia
Menor
(hojeaTurquia):
0j6nio
eoe6lio.
Esses26milversos
ternumaform
acham
adadehexam
etrodactilico.
Cada
versoeform
adopor
seismedidas
(hexsig-
--='~-~="''-'=
$
niflca"seis",
emgrego,
ernetron,
"medida").
Cada
medida
ecom
postapor
umasilaba
longaeduas
silabasbreves
(e0
quesecham
aurn
dactilo)ou
entaopor
duaslongas
(nessecaso
urnespondeu).
Nao
existeapenas
umacento
deinten-
sidade,com
oem
portugues,num
adas
tresultim
assilabas
dapalavra,
mashatambem
urnacento
"tonal",quer
dizer,mel6dico.
Paraentender,
bastadizer
0nom
ede
Homero
utilizandopara
asduas
primeiras
silabas,respectivam
ente,as
notassole
ld.Passem
os,pois,
aoutra
questao:0que
ocorreuentre
aepoca
dePisistrato,
porvolta
de560
a.c.,eaprim
eiraedi-
<;:aodotexto
em1488?
Paraosgregos,
Homero
era0poeta
porexcelencia,
assimcom
oaBiblia
e0livro
dosjudeus
edos
cristaos,ecom
oDante,
autorda
Divinacornedia,
e0
Com
efeito,n6ssabernos
tudo0que,
naplanicie
deTr6ia,
Argivos
etroianos
sofrerarnpor
orderndos
deuses.Sabernos
tudo0que
ocorreunaquela
terrafecunda.
Eosque
seaproxim
amdem
aisdessas
mulheres-passa-
roscorrem
urnperigo
terrivel:
Poisassereias
enfeiti~arn-noscom
urncanto
cristalino,Elasque
estaopousadas
nurnprado,
enquantoarnontoarn-se[ao
seuredor
Ossos
decorpos
decornpostoscujas
carnessedesf~lzem
.
AOdissba
contem,portanto,
umaespecie
dereflexao
sobreafun<;:3odo
aedo,sobre
asua
grandezaeosperigos
queele
poderepresentar.
Osaedos
eramcapazes,
comum
intervalodepoucos
anos,dereproduzir,
quasesem
variantes,asepopeias
pura-mente
orais.0mesm
ofen6m
enofoi
observadonaAfrica,
naOceania
eem
outrassociedades
como,por
exemplo)
noCurdistao.
Dito
isso,edificil,
poroutro
lado,ignorar
oy1n-
.S;lllg.,<:!1.t~~~§~~\~g.,__.d...pscantosepico~
~()desenvo
...l..v..l,'.m..,....e....n.t.og5L~~f[i!~.~If<l))~1.i.f'l,J~~1L~i~~~~i;t~d~·-~~1;s~;~~~~'
'p~;';;=it;de900
a.C~/
Agrande
questaoesaber
quandoostextos
foramfixa-
poetados
italianosdeontem
edehoje.
Osjovens
gregosaprendiam
aler'comHomero.
0texto
eraapresentado
sobaform
aderolos
-em
latim,volum
ina(dai
0term
o"vo-
lume")
-,pouco
c6modos
demanusear.
Porisso,utiliza-
vam-se,
comfrequencia,
osserviyos
deurn
escravo.Aolado
dotexto
deHomero,
haviafelizm
enteaimagem
deHome-
ro,adosvasos
eesculturas.
Osvolum
inapodiam
serfeitosdepapiro
oudeperga-
minho
(peledecarneiro
curtidaepreparada).
ComoaWada
eaOdisseia
saoabase
dacultura
ocidental,bem
cedosur-
giuapreocupayao
deestuda-las
demaneira
critica,deter
certezadeque
0texto
eradefato
autentico.6p6s
ascon-
quistasdeAlexandre
(morto
naBabil6nia
em323
a.C.)'C?_
gregosetom
oualingua
decultura
doMediterd'l11eo
edo
Oriente,
esurgiram
escolasimportantes
portoda
parte,es-
pecialmente
emAlexandria,
capitaldos
soberanosgregos
cIoEgito,e
tambem
emPergam
o,naAsiaMenor.
Naote-
mosasediy 6es
preparadaspeIos
eruditosdaquele
tempo,
masmuitas
desuas
observay6esestao
registradasem
co-ment<iriosm
aistardios,
especialmente
osdeEl.lstaciQ
,_arce-bispo
deTessal6nica
no§.~<:;I!IQ
~IIdanossa
era.Podia-seser
cristaoeapaixonar-se
porHomero
emBizancio,
masisso
naoocorria,
namesm
aepoca,
noOcidente.
Nenhum
rolodepapiro
resistiuintacto
aotempo;
ape-nas
fragmentos
foramencontrados,
osmaisantigos
(osdos
desertosdoEgito)
re~lOntando
aoseculo
IIIa.C.Noen-
tanto,umainvenyao
capitalperm
itiusalvar
umaparte
cIalitcratura
grcga:aorolo
sucedeu0codex,
istoe,a
livroem
formadebrachura,
talcom
oaconhecem
oshoje.
Apartir
doseculo
IIId.c.,essainvenyao
sedifunde
pelabacia
do
Mediterraneo,
aquelaaltura
jaunificada
peloImperio
Ro-
nlano.Noentanto,
eprecisolembrar
queosnossos
manuscri-
tossao
bemposteriores
aesses
fatos,jaque
cIatamapenas
cIaseculoxem
diante.Eles
saoobras
dosatelies
doImpe-
rioBizantino
(cujacapitalera
Constantinopla,
anteriormen-
techam
adadeBizancio)
-quer
dizer,doImperio
Roma-
nodoOriente
--,Estado
que,cIepois
detersicIo
reduzidoterritorial
mente
pebsinvas6es
persas,,irabes
eturcas,desa-
pareceem
1453,data
emque
Constantinopla
cainasmaos
dosultao
Maom
eII.Este
ultimoera,alias,grande
admirador
deI-Iom
ero,identificando-seentretanto
maiscom
ostroia-
nosdo'que
comosgregos.
EnoOcidente?
Ap6s
aqueda
doImperio
Romano,
0
m'rmero
depessoas
quesabiam
lergrego
sereduziu
poucoaPOlICOatetornar-se
infimo,com
umacuriosa
exce<;:ao:osmonges
irlandeses.Apesar
disso,asrela<;:6escom
0Imperio
doOriente
naodesapareceram
completam
ente.E0caso
deVeneza,especialm
ente,onde
sempre
existiuumacom
uni-dade
grega.Noseculo
XIV,0grande
poetaItaliano
Petrarcatinha,a
suadisposi<;:ao,urn
Homero
manuscrito
que,paraseu
grandedesespero,
e1eeraincapaz
deler.D
oisseculos
mais
tarde,contudo,
0poeta
francesRonsard
escrevia:"Quero
leraIliada
deHomero
emtres
dias"-lerem
gre-go,bem
entendido.Oshum
anistas,eruditos
como0bizan-
tinoBessarion
ou0t1orentino
Marsilio
Ficino,haviampre-
parada0cam
inho.Quem
leuUnehistoire
delaRenaissance,
deJean
Dclum
eau,entende
0que
euquero
dizer.Nomomento
emque
secom
c~ouautilizar
aimprcll-
sa,ascapias
manuscritas
detextos
gregasnao
foraminter-
'5'.'PSi!rompidas.
Seainda
sedizia
decertos
escritoresque
eleses-
creviamcom
o"anjos",nao
eporque
imitassem
osseres
ce-lestes,m
asporque,
sem0saber,escreviam
taobem
quantoocretense
Angelo
Vergecio,que,no
quedizrespeito
aosma-
nuscritosgregos,foi
0copista
favoritodeFrancisco
I,coroa-doreida
Fran~aem
1515,poucoantes
devencer
abatalha
deMarignan.
2.Ahist6ria
eageografia
Aguerra
deTroia
realmente
aconteceu?Osgregos
daepoca
classica(500-323
a.C)emesm
odaepoca
helenis,ti-ca(331-23
a.C)erom
ananaotinham
duvidaalgum
acorn
rela<;:aoalocaliza<;:aode
Troia-que
elescham
avamtam-
bern,com
oHomero
0faz,de
Won.
Eraperto
dolugar
noqual
seerguia,
desde0seculo
VIII,
umacidade
gre'gaque
mais
tardeentrou
para0patrim
oniorom
ano.Nosaco-
nhecemospor
descri<;:6es,inscri<;:6es,testemunhos
arqueolo-gicose
moedas.
SegundoEstrabao,geografo
contemporaneo
deVirgilio
edeAugusto
(seculoIa.C
),aTroia
deHomero
situava-seapenas
aalguns
quilometros
daqueleponto.
0tu-
mulo
deAquiles
eate
mesm
ourn
santu<irioconsagrado
aHeitor
costumavam
sermostrados
aosviajantes.
Naepoca
helenistica,haviaainda
urncurio
socostum
e:contava-se
queCassandra,
filhadePriam
o,reideTroia,
foramolestada,
.''-,_.-
....__.-._.._.".~
_.__..
--
juntoaoaltar
deAtena,por
urngrego
deLocride
chamado
Ajax,filho
deOileu,
eque,com
openalidade,
oshabitantes
dasua
cidade(situada
namargem
nortedogolfo
deCorin-
to)deviam
enviartodo
anaduas
jovensafim
deservirem
deescravas
paraAtena
Hia,a
divindadeofendida.
0grande
historiadoritaliano
Arnaldo
Momigliano
diziacom
humor
queessapnitica
eraa(micaprova
daguerra
deTr6ia.
AAsiaMenor
acaboupor
setornar
turca,eacolina
so-bre
aqual
seencontrava
Hion
recebeu0nom
edeHissarlik.
Heinrich
Schliemann,
umcom
erciantealem
aorico
eentu-
siasta,quesetornara
americano
ap6svender
indigohaRus-
sia,decidiuresolver
essaquestao
pOl'meio
deescava~6es
arqueol6gicas.Ap6s
tresanos,
nodia
14dejulho
de1873,
navespera
doencerram
entodos
trabalhos,eledescobriu
umobjeto
deouro
e,depois,diverso~
outrosartefatos,
igual-mente
deaura:
diademas,
brincos,aneis
ebrace1etes.Era
0
"TesourodePriam
o".Umpouco
mais
tarde,Schliem
annadornou
suaesposa
gregacom
as"j6iasdeHecuba",asquais
aparentemente
osaqueushaviam
esquecidodecarregar.So-
phiaSchliem
anndeua
luzumaAndr6m
acaem
1871eum
Agam
emnon
em1878.A
ssimsereconciliavam
osadversa-
riosque,na
guerradeTr6ia,tinham
seenfrentado.
Quanto
aotesouro
dePriam
o,oudeHecuba,
deperm
aneceupor
umtempo
emBerlim
.Em
1945,ap6stel'desaparecido,
osrussos
revelaramque
essapresa
deguerra
seencontrava
emMoscou.
Masnao
eradefato
0tesouro
dePriam
o.Aarqueologia
progrediumuito
depoisdeSchliem
ann.Onze
"Tr6ias"sesucederam
sobreacolina
deHissarlik,sen-
doaoitava
gregaeadecim
aprim
eirarom
ana.ATroia
do"Tesouro
dePriam
o"caTr6ia
II,que
prosperounos
Dar-
danelosentre
2500e2200
a.C.Umbom
milenio
antesda
guerradeTr6ia,segundo
adata~ao
dosantigos.A
Tr6iaque
existiunoscculo
XIlIOUXIIa.C
.eque
foidestruidapelos
homens
eaquela
querecebeu
0nom
edeTr6ia
VIIA,depois
desuas
ruinasterem
sidominuciosam
enteexam
inadaspe-
losarque61ogos:trala-se
deumacidade
deimportancia
me-
diocre,cujas
muralhas
naoteriam
condi~6esderesistir
du-rante
dezanos.E
ditlcilimaginar
queosaqueus
precisassemjuntar
for~asparaseapossar
daquelesitio
poucoimpressio-
nante.Tr6ia
VIemaisatraente
etem
muros
queainda
cum-
prem,decerto
modo,
suafun~ao
(figura5).Infelizm
enteessa
cidade,arruinada
porum
terremoto
porvolta
de1275
a.c.,naopode
tel'sidodestruida
nofinalde
umcerco,pois,
entao,teriam
osdenos
entregaracontor~6es
intelectuaisabsurdas,
imaginando,
porexem
plo,que
Posidon,0deus
domarque
osgregos
chamavam
de"aquele
queagita
0so-
lo",teriadestruido
acidade
eosassaltantes
Iheteriam
con-sagrado
umex-voto
emform
adecavalo!
Eimpossivel
fazercoincidir
umaepopeia
comumaes-
cava~ao.Etao
razoavelbuscar
aTroia
deHomero
emTroia
quantoesperar
encontraratrom
padeRolando
emROllces-
vales.Sevoces
queremfazer
umaidcia
daTroia
deHome-
ro,naodevem
iracolina
deHissarlik.
Mesm
o0Guide
bleudaTurquia
eobrigado
aconstatar
que0sitio
edecepcio-
nante.Emelhor
leraIlfada
oucontem
plarumacole~ao
devasos
gregosnos
quaisserepresentaram
diversosepisodios
daguerra
legendaria.Entlm
,Heinrich
Schliemann
aindaviria
aespantar
emaravilhar
0mundo.
Em187fi
e l"descobre
emMicenas,
anordeste
doPeloponeso,
llmLUII)L1lltOde
tllmbas
reaisem
formadefossos.N
llmtlos
esqLlelctoshaviaLIm
andscarade
ouroque
0pesquisador
atribuiudeimediato
aAgam
em-
non.Logo
aseguir,telegrafou
aoreiJorge
IdaGrecia
parainform
a-Iodeque
identificaraatum
badoseu
lendariopre-
decessor.Assim
comoem
'lr6ia,aspesquisas
quesesucederam
pormaisdeurn
seculo-nao
apenasemMicenas
mastam-
bemem
muitos
outrosshios
doPeloponeso,
daGrecia
cen-tral,e
aindadeCreta
edas
ilhas-vieram
acom
plicaresse
quadro.Comoaevolu\ao
hist6ricadessas
regioeseretratada
hojeem
dia?Admite-se
que,nofim
doterceiro
milenio
an-tesda
eracrista,entre
2200e2000,um
anova
popula\aote-
nhainvadido
aGrecia.Essa
popula\aofala
umalingua
que,com
0tempo,
setransformaria
nogrego.Sofrendo
ainfluen-
ciadaciviliza\ao
minoica,
quesedesenvolvera
anteriormen-
teem
Creta,
elacria
umacultura
cujosvestigios
materiais
remontam
a1600a.C
.aproxjmadam
ente.Fortalezassan
cons-truidas,
tumbas
reaissan
cavadas-asque
Schliemann
des-cobriu
-,eaparece
umavariedade
deobjetos
dearte:afres-
cos,ceramica,
objetosdebronze
edeouro.
Trata-sedeuma
civiliza\aomilitar
quecontrasta
comCreta,onde
ascidadeseospalacios
naosan
fortificados.Por
voltade1300
apare-cern
astum
basreais
monum
entais,em
formadecolm
eia,com
o,por
exemplo,
0"Tesouro
deAtreu"
emMicenas,tum
-bas
quepodem
serencontradasnum
aboa
partedaGrecia,
inclusiveem
Cefalonia,no
reinodeUlisses.O
sautores
mo-
dernosseviram
frequentemente
tentadosaidentificar
astum
basreais
comumanova
dinastia,ados
atridas,cujoper-
sonagemmais
conhecidoeAgam
emnon,
0chefe
daexpe-
di\aodeTroia,segundo
aIliada
eaOdissCia.
Essaciviliza\ao(que
foibatizadade"micenica")
desapa-
receupor
voltade1200
a.c.,nomomento
dagrande
criseque
sacudiu0Mediterraneo
orientaleque
echam
ada,nos
documentos
egipcios,deinvasao
dos"povos
domar."
As-
sim,por
exemplo,
desembarcam
,noterritorio
queviria
asera
Palestina,bandos
dehorn
ensvindos,
aoque
parece,de
Creta
eque
sanconhecidos
comofilisteus.
Quando
digoque
essaciviliza\ao
"desapareceu':nao
me
refiroaos
homens,
massim
atodas
asestruturas
economi-
casesociais.N
ocentro
decada
urndos
sitiosdaciviliza\ao
micenica,
haviaurn
palaciogovernado
porurn
soberano(em
gregoanax),
assistidotalvez
porurn
chefedos
guerrei-ros.0
soberanoexercia
umaautoridade
absoluta,inclusive
nodom
inioreligioso.
Elecontrolava
osrecursos
agricolase
oconjunto
dorebanho
deumaregiao
etinha,a
suadispo-
si\ao,armasecarros
deguerra.
Essasestruturas
eramfra-
geisporquecareciam
dosrecursos
espaciaisehidraulicos
quehaviam
permitido
aciviliza\ao
egipciadurar
porvarios
mi-
lenios.E0que
demonstra,
porexem
plo,0carater
monum
en-taldas
tumbas
deMicenas,
queevocam
mais
aspiram
idesdoEgito
doque
asnecropoles
daGrecia
arcaicaeclassica.
Somente
noseculo
IVantes
daera
cristaeque
reaparece-rao,
emregioes
distantesdas
principaiscidades
gregas,0$
monum
entosfunerarios
degrande
extensao:emHalicarnas-
so,naAsiaMenor,
com0tum
ulodoreiM
ausolo(0"mau-
soleu"),enaMacedonia,
comanecropole
realdeVergina.
Eesse
mundo
micenico
queHomero
descreve?ATroia
dePriam
o,aPilo
deNestor,a
EspartadeMenelau,
aMice-
nasdeAgam
emnon,
aItaca
deUlisses,por
fim,san
todaselas
realidadeshistoricas
dosegundo
miIenio?
Nem
todososeruditos
estaodeacordo
quantaaesse
ponto.Por
issodarei
aminha
opiniaodaform
amais
clarapossive!.
Talcomoseveem
,nascam
pinasdaAsia,as
margens
doCaistro,passarosalados,gansosou
cisnesdelongo
pescoyo,em
bandosnum
erosos,voarpara
todososlados,batendo
altivamente
asasas,unsafrente
dosoutros
e,depois,pou-sar,com
alarido,fazendotodo
0prado
ressoar.
IIdaIliada,
masapenas
comourn
paiscari~,cujos
comba-
tentessesituam
nocam
potroiano.
Ailha
deSam
oseuma
simples
referenciageografica
relacionadacom
Iris,mensa-
geirados
dellses,etun
localdevenda
deprisioneiros
como
escravos.Esm
irnaeQuios
estaoausentes
dageografia
ho-merica.Mas0bto
deHomero
terdesejadoevocar
aGrecia
mi-
cenicanao
significaque
eleatenha
efetivamente
descrito.Para
come<;:arest.i
tlltando,entre
outrascoisas,
aescrita
dosescribas
etoda
asociedade
queelaimplica:
sociedadedom
inadapelo
palaciodorei.Evidentem
enteAgam
emnon
e0reidos
reis,eUlisses
e0reideItaca
edealgum
asilhas
queacercam
,maseles
naosan
soberanosabsolutos.
Aga-
memnon
naotom
adecisao
semreunir
aassem
bleiados
guerreirose0conselho
dosreis.D
amesm
aform
a,Alcinoo,
reidosfeaces,e
Priamoconvocam
osseus
aliados.Pode-se
falar,dolado
aqueu,deumasociedade?
Temosapenas
0qua-
drodeurn
exercitoem
campanha,
doqual
asmulheres
eas
crian<;:asestaolonge
-com
o,porexem
plo,Telem
aco,filhodeUlisses.,m
encionadoduas
vezesna
Iliadamasque
ter,,'!um
papelcapitalna
OdissCia.Dolado
aqueu,ainda,
umllni-
covelho:
Nestor;
osoutros,
comoPeleu,
paideAquiles,
eLaertes,pai
deUlisses,esU
olonge.
Urnexercito
cobertode
bronze-0que,na
epocadeHomero,
homem
daIdade
doFerro,tinha
urnsabor
exotico-,
masum
excrcitocom
ple-tamente
imaginario,
assimcom
o0muro
construidopelos
aqueuspara
protegerosseus
barcos(que
Homero
tern0
cuidadodeinform
arque
veioadesaparecer
inteiramente).
Quanto
aoscam
poneses,ell'S
debto
existemna
Ilfildil,mas
unicamente
nascom
para<;:oes.Homero
nadadiz,na
Iliada,
Tomemos
0exem
ploda
Can~aode
Rolando.Naoha
dtividadeque
0seu
autor(que
secham
avaprovavelm
enteTuroldo
esobre
0qual
naosabem
osnada)
acreditavaestar
descrevendo0tempodeCarlos
Magno.
Arealidade
eintei-
ramente
outra,eosseus
guerreirosestao
bemmais
proxi-mosdos
guerreirosdomundo
feudal.Alcm
disso,habastan-
tecam
podeixado
para0imagin"lrio.
Semduvida
Homero,
autordos
doispoem
ascpicos,
quiserapintar
umasociedade
muito
antiga.Agrande
maio-
riados
lugaresque
evocasesitua
naGrecia
propriamente
ditaounas
ilhas,incluindoCreta,
que,paraeIe,e
urnmun-
doaparte,bem
complexo.Esseslugares
correspondem,com
frequencia,alocalidades
ondeosarqueologos
identifica-ram
sHios"m
icenicos".Alguns
chegaramasustentar
que0
"Catalogo
dosbarcos':
nocanto
IIdaIliada,
eraumaespc-
ciedequadro
geograficodomundo
micenico,
0que
ebas-
tanteduvidoso.
0que
cnotavel
constatareque
.~.Grec:ig_
asi_*t}S~J__<:!.<:_<'?_12<:!.~_l:!g_!~~£..~I~,"9E!gi!~~Ei.9L!:.~!~
..EE<l!!~<l!l1.~nt~..,
~l.1ie!1!<:_<:!(l£lfi:l.4a,:.0valedoCaistro
sofigura
numatinica
imagem
,alias
magnifica:
Mileto,
0vale
doMeandro
e0monte
Micale
-que
sepode
avistarapartir
dolitoral
deSam
oscom
oseFosse
0
fronUodeurn
templo
-estao
defato
presentesnocanto
acercadotempo,
comexce<;:aodas
compara<;:6esou,
como
nocanto
XIIdomesm
opoem
a,deumanarrativa
quesesi-
tuafora
dotempo;
ese0~scam
androtransborda,
nocan-
toXXI,nao
eporqueesteja
chovendo,masporque
0riaten-
.taafogar
Aquiles.M
aisumavez,sao
ascom
para<;:6esenao
arelato
epicoque
abremumajanela
para0mundo
"real':Entretanto,
segundoasarqueologos,
algunsobjetos
des-critos
porHomero
jahaviam
desaparecidocom
pletamente
naepoca
emque
elecom
posseus
poemas.0exem
plomais
notavele0docapacete
que0cretense
Meriones,
nocanto
X
daIliada,
colocasobre
acabe<;:ade
Ulisses.
P()e-lhe,nacabe<;:a,urn
capaceterecortadonocom
odeurn
boi.Nointerior,eleesustentado
porrntiltiplascorreias.No
exterior,estaocoJocadas,em
grandenurnero
ecomexcelen-
tearte,aspresasalvase
luzentesdeurnjavali.
Objetos
assimforam
encontradosnas
escava<;:6esdemo-
numentos
daera
micenica,
sobaform
adecapacetes
oude
modelos
reduzidos.0poeta
teriavisto
taisobjetos?
Naoes-
que<;:amosque
eleressalta
asua
antiguidade,umavez
que,segundo
0texto,quatro
personagens,antes
deMeriones,
jaohaviam
usado.Edificilsaber.O
utraexplica<;:ao,evidente-
mente,
eque
elesoubesse
desua
existenciapor
tradi<;:aooral.
Masessa
naoeumahipotese
quesepossa
formular
comfreqiiencia.
Nocanto
XVIIIdaIliada,
Homero
descre-velongam
ente0escudo
que0deus
ferreiroHefesto
fabri-cou
paraAquiles.N
enhumobjeto
dessegenero
-noqual
seveem
,aomesm
otempo,
0mundo
inteiroeduas
cidadesbastante
diferentes-jamais
existiu,eseria
vaoimaginar
queHomero
tenhaseinspirado
nummodelo.
ocaso
dt6diSSeifsuscitaproblem
asmaiscom
plexos.Desde
aAntiguidade,
identificou-seailha
dosfeacesa
Cor-
cira,hojeCorfu,nas
ilhasjonias,aoeste
daGrecia.Em
1797,quando
Napoleao
Bonaparte
seapossou
deCorfu,
queper-
tenciaentao
aRepublica
deVeneza,observou
que"ailha
deCorcira
foi,segundoHomero,
apatria
daprincesa
Nausi-
caa"eque
0bispo
dailha,
aoreceber
0oficial
francesque
comandava
astropas
dedesem
barque,entregou-Ihe,
sole-nem
ente,urn
exemplar
daOdisseia.
Desde
aAntiguidade
tambem
,asetapas
daviagem
deUlissesentre
Troiaeailha
dosfeaceseram
consideradaslen-
darias.E0que
sepensa
hoje?Esfor<;:osenorm
esforam
rea-lizados
porinum
erosestudiosos
paraidentificar
atemes-
mo0menor
rochedoencontrado
porUlisses
entreTroia
eItaca,na
suaviagem
deretorno.
Urnerudito
frances,Victor
Berard
(quefoitam
bemurn
politico),traduziu
aOdisseia
eseesfor<;:oupor
demonstrar
que,portras
dessaobra,
revela-va-se
urndocum
entodeorigem
fenicia-osfenicios
habi-tavam
0litoral
doatual
Ubano
-eque
cadaetapa
davia-
gemcorrespondia
aumalocalidade
assinaladanomapa.
0resultado
mais
concretodessa
pesquisafoium
acole<;:aode
fotosque
nosdao
aconhecer
numerosos
sitiosdoMediter-
raneodignos
deserem
admirados,
masque
nemUlisses,
nemHomero,
0poeta
daOdisseia,
jamais
visitaram.
oque
complica
aindamaisascoisas
eque
ha,naOdis-
seia,diversasnarrativas
diretasdeviagens
-quando
0pro-
priopoeta
asrelata
-eindiretas,
quandourn
personagemtom
aapalavra.
Diretas
saoasviagens
doproprio
Ulisses
entreailha
deCalipso
eados
feacese,depois,
entreesta
(11-
timaeItaca.D
iretatambem
eaviagem
deseu
filhoTelem
a-
codesde
ItacaatePilo
eLacedem
onia,com
retornoaItaca.
Indiretaeanarrativa
queUlisses
faz,nacasa
deAlcinoo,
desuasviagens
entreTr6ia
eailha
deCalipso,a
qualpodem
osacrescentar
0relato,
porparte
deMenelau,
desua
viagemaoEgito,onde
0mago
ProteuIheinform
a0destino
deUlis-
seseonde
tambem
Iheerevelado
0sinistro
destinodeAga-
memnon
-assassinado
porsua
esposaepelo
amante
desta,Egisto
-,bem
como0deAjax,filho
deOileu,
precipitadonomarpor
Posidon.Podem
osacrescentar
aindaosrelatos,
teoricamente
falsos,deum
Ulisses
transformado
emcreten-
seque
eontaaEum
eu,0guardador
deporcos
deItaca,suas
aventurasem
Creta,na
Troade,noEgito,na
LibiaenoEpi-
ro-relatos
repetidospor
Ulisses
disfanradoaPenelope.
Eisso
semfalarde
Eumeu,
quetern
assuaspr6prias
aventurasnas
quaisosfenicios
desempenham
umpapel
importante.
Assim
comonao
ehistoriador,
Homero
tambem
naoe
ge6grafo,mesm
oseeonsiden!veis
esfor<;:oscontinuamaser
feitosnos
nossosdias,
aexem
plodoque
tambem
ocorreunaAntiguidade,
nosentido
dereconstituir
0mundo
talqualell.'0
imagina.
Saoraras
asindica<;:6estopognificas
naOdis-
seia.Ainda
assim,0pais
dosmortos
estasituado
nonorte,
terradofrio,
0que
ebastante
naturalpara
urnautor
medi-
terraneo.Naoelevantando
essetipodequestao
quesepode,pen-
soeu,explicar
aOdisseia.
Existeefetivam
enteurn
mundo
que,aosolhos
deHomero,
eurn
mundo
real.0indicio
quedenota
a"realidade"desse
mundo
e0fato
deque
oshomens
cultivamaterra
eque
estaproduz
trigopara
fazerpao.Bern
entendido,Itaca
perteneeaomundo
doshom
ens.Aimen-
samaioria
doseruditos
identifica-aailha
joniadeThiaki,
cujonom
eoficialejustam
enteItaea.A
iseencontrou
urnan-
tigoeulto
doher6i
Ulissese
tambem
sedescobriu
umagru-
taonde
haviamsido
conservadosnum
erosostripes
debron-
ze.Noentanto,
oshabitantes
deumailha
vizinha,denom
eCefalonia,que
segundoHomero
faziaparte
doreino
deUlis-
ses,temfeito
umacam
panhaencarni<;:adapara
convencer-nos
deque
s6ailha
deles,emvirtude
deseu
tamanho,
pai-sagens
ebeleza,e
dignadetersido
aftaea
deI-Iom
ero.Telem
acos6viaja
nummundo
"real".Deltaca,
elega-
nhaPilo,onde
reina0velho
Nestor;
depoisEsparta,
reina-dodeMenelau
edasem
prebcla
rainhaHelena.
Menclau
eHelena
ficaramretidos
noEgito
duranteaviagem
deretor-
F"
1"I"
.,t
tl'
no.,sse
palSe)astante
rea,p
queasua
erraam
)('mproduz
trigo,mase,alem
disso,umlugar
magico.M
enelauconsulta
0feiticeiro
Proteu,eHelena
consegueurn
remedio
perfeitopara
ainsonia.
Quando
Ulisses,fingindo
sercreten-se,relata
asdiversas
provaspor
quepassou
emCreta,
naTroade,
noEgito
enoEpiro,ell.'se
inspiranomlnim
o,evi-
dentemente,
nummuneIo
"real".Nomundo
dasviagens
narradaspor
Ulisses
emterra
fdeia,haver,!um
poucodoque
0poeta
JacquesPrevert
cha-mava
de"as
terrificantespercal<;:osda
realidade"?0ponto
departida,
Tr6ia,eimaginado
como"real",da
mesm
aform
aque
0povo
doscicones,
naTraeia,contra
0qual
Ulisses
sebate
edequem
obtem0vinho
queembriagara
0cic10pePo-
Memo.D
epoisUlissescosteia0
litoraldaGrecia
oriental.Apos
oeabo
M,lIea,no
extremosuIdo
Peloponeso,enfrenta
uma
tempestade
epassa
aolargo
dailha
deCitera.
S6ap6s
dezdias
deborrasca
eque
entranum
mundo
totalmente
dife-rente,
0daf~lbL1la,0do
nao-humann.
Acultura
dotrigo
eurn
criterioabsoluto.
Setomarmos
asduas
outrasplantas
quefazem
partedacham
ada"trilo-
giamediterranica"
-avinha
eaoliveira
-,constatarem
osque
elaspodem
estarpresentes
nomundo
selvagem,0que
naoocorre
com0trigo.A
setapasdas
viagensdeUlisses
nosperm
itemverificar
queeleencontra
orapersonagens
supe-rioresa
humanidade
vivaemortal,
oraproxim
osdahum
a-nidade,
orafinalm
entealem
dela.Alem
dassereias,
cujocanto
mortal
jamencionei,
h,ioutras
deusas,comoCirce
eCalipso,que
receberamUlisses
noseu
leito.Circe
eumamaga
quetransform
aoscom
pa-nheiros
deUlisses
emporcos
(figura32).A
visadopelo
deusHermes,
Ulisses
evitaesse
desastre,recupera
osseus
cama-
radaseconsegue
queadeusa
Ihedeconselhos
deviagem
bemuteis
(figura31).Q
uantoaCalipso,ela
Iheoferece,alem
doseu
leito,0que
sepoderia
chamaI'de
"naturalizac;:aodivina':Ulisses
recusa,preferindo
permanecer
humano
erecncon-
trarPenelope.
Eessa
opc;:aopelahum
anidadeque
dasigni-
ficadoaopoem
a.Uma(mica
divindadeemasculina:
Eolo,senhor
dosventos,que
osencerranum
odre,0qual,pO
l'uma
imprudencia
fataldoscom
panheirosdeUlisses,e
abertonas
proximidades
deItaca.Eolo
ecasado:
ternseis
filhoseseis
filhas.Cada
filhohom
emecasado
comairma.Entre
osho-mens
issoeconsiderado
incesto,masosdeuses
naotem
taislimitaC
;:6es.J__\
Imortais
saotambem
asvacas
doSol,anim
aisdivinos
""queoscom
panheirosdeUlisses
cortamempedac;:ose
cozi-nham
.Elespagarao
essecrimecom
apropria
vida,esoUlis-
sessobrevivera.Apos
atempestade,
Ulissesdesem
barcanaterra
dosco-
medores
deIot6s,os10tO
fagos.Trata-sedeum
frutoque
fazperder
jL!1].o~mQJiflo~Q
oQ~_~~jQ
og~Y"Qlt('l.r
('lgJi.l.!.Amemori<!~
.apam
l~Qs..hom
ens,eUlissess.eabstern
de('::Qm~IIQ
JQs._
ociclope
Polifemoeum
canibal,com
edoI'dehom
ens.Ele
devoravarios
doscom
panheirosdeUlisses
inteiramen-
tecrus
eevencido
somente
pelaembriaguez.
Sabe-sequ~
Polifemoeum
monstro
deurn
olhoso,m
as,mais
doque
isso,fazparte
deum
povoque
naoconhece
nemaagricul-
turanem
avida
emsociedade.
Osciclopes
saocriadores
deanim
ais,nam
ades,pastores.
Jaoslestrigones,
canibaistal11-
bern,saopescadores
quecapturam
oscompanheiros
deUlis-
sesdamesm
aform
aque
ospescadores
gregos,italianosou
arabespegam
atumnas
redesdeumaalmadrava.
Mencio-
nemosfinalm
enteCgriEJ:!~s;C
ila,quemuito
cedovieram
asimbolizar
0estreito
deMessina,
entreaSicilia
eaCalabria,
ouseja,
aponta
dabota
italiana,onde
aindahoje
existeumacidade
denom
eScilla.Sao
elastambem
seresmons-
truososque
naohesitam
emdevorar
homens
quandoaoca-
siaoseapresenta.
"Aolado
dahum
anidadeviva,
haosmortos
aosquais
Uiisses
temacesso
sacrificandoumaovelha
negra.Osmor-
tosnao
comem
pao,masbebem
sangue.Ulisses
encontra,nopais
dosmortos,
0adivinho
Tiresias,que
Iheanuncia
suasfuturas
viagens,asom
braimpalpavel
desua
maeetam
-bem
asdos
seuscom
panheirosdecom
bate,bem
comoas
deumaserie
demulheres
ilustres.Esem
duvida0momen-
todaviagem
emque
0heroi
estamais
afastadodahum
a-nidade,
jique
0sacrificio
realizado0distanciou
davida,)
Entreosdeuses,
osmonstros,
osmortos
eaterra
doshom
ens"com
edoresdepao",hi
personagensinterm
ediarios
comooshabitantes
dailha
dosfeaces.PO
l'umlado
saoho-
mens,
jaque
conhecemavide,
aoliveira
e0cultivo
dotri-
go,mas,pOI'outro,
costumam
recebervisitas
dosdeuses
eforam
outroravizinhos
doscielopes.
Saonavegadores
pro-fissionais,porem
fingemdesprezar
oscom
erciantes.Vivem
perpetuamente
emfesta,
damesm
aform
aque
ospreten-
dentesinstalados
emItaca,no
palaciodeUlisses.
Inicialmente,
Ulisses
foiretratado
comonavegador.
Eassim
que0veDante
noInferno,
etamb6n
0escritor
gre-goKazantzakis,
nacontinua<;:ao
queelaborou
paraaOdis-
seia.Oshabitantes
gregosoubarbaros
daItalia
bemcedo
fizeramdeUlisses
umdeseus
herois.Eletem,por
exemplo,
umpapel
muito
importante
entreosetruscos,
povoque
ocupavaaarea
quehoje
chamamos
Toscana.Em
resumo:
_OrUlissese
consideradoum
intermediario,
eisso
eledeveaque-
lesque
nos_transmitiram
oscontos
easlendas
daOdissCia.
Ora,quanto
aoUlisses
deHomero,
elesonavega
eexplora
foryado.Num
determinado
momento,
0adivinho
Tiresiaslhe
anuncia,nos
Infernos,que
eleencontrara
amorte
-umamorte
longedomar,um
amorte
tranqUila-quando,
aposumaultim
aaventura,
umviajante,
aoencontra-lo
nu-maestrada,
tomar0remoque
eleestara
carregandoaoom-
bropor
umapeneira
dejoeirar
trigo.Esta
ai0simbolo
deque
0seu
destinosevincula
naoexatam
enteaomar,mas
simaterra
"queda0trigo".
3.Gregos
etroianos
Noseculo
va.c.,que
seconvencionou
chamaI'de
epo-caelassica
(aque
esimbolizada
pelosmonum
entosdaAcro-
poledeAtenas),
oshom
enscostum
avamserdivididos
emduas
categorias:osgregos,
chamados
dehelen
os-ainda
hoje0nom
eque
prevalecenaGrecia
._,cosb<.l1'ba1'os.Apa-
lavra"lxlrbaro"
temce1'tam
enteumaconota<;ao
pcjorativa,mas0seu
sentidoinicialsignifica
simplesm
ente"aquc!c
quenao
fala0grego
eque
pareceestar
balbuciando':Naoset1'a-
tadeumaoposi<;:aode
"ra<;:as".Muitos
g1'egosescreve1'am:
torna-segrego
pelaeduca<;:ao,apaideia,
enaopelo
nascimen-
to.AGrecia
sefezGrecia.E
0que
Tuddidesexplica
jano
iniciodasua
obra-prima,
Hist6riadaguerra
doPeloponeso.
Essaoposi<;:aoentre
gregosebarbaros
apareceaolon-
godas
Hist6riasdeHe1'odoto,
0historiador
queprecedeu
Tllcidides.Her6doto
desejavasaber
deonde
vinha0contli-
toentre
gregosepersas
-0que
noscham
amos
deguerras
medicas
-e,entre
osantecedentes
desseconflito,
ineluiu0
raptodeHelena
pOl'Paris,epis6dio
quedesencadeou
aguer-
radeTr6ia.PO
l"tanto,paraele,os
troianossaD
barbaros,e0
mesrno
ocorrecom
rela<;:aoaosgrandcs
poetastdgicos
doscculo
v:Esquilo,
SMocks
eEuripides.
Tr6iae,para
eles,umacidade
barbara,ainda
queEuripedes
sequestione,
cla-ramente,
sobre0valor
dessaoposi<;:ao.
Equanta
aHomero?
Tuddidesjahavia
observadoque,
naIliada,
Helade
naoe0nom
egenerico
doque
n6scham
a-mosGrecia.
Helade
e0nom
edeumaparte
daTessalia,na
areacentral
daGrecia
continental,e,no
"Catalogo
dosbar-
cos':nocanto
IIdaIliada,
e,juntocom
aFtia
(0pais
dosmir-
midones),
aregiao
deonde
vemosguerreiros
comandados
parAquiles,"0
melhar
dosguerreiros':
Quando
Homero
quersereferir
aosque
sitiam'1'r6ia,em
pregaindiferentem
ente,aoque
parece,tres
termos:
aqueus,danaos
(descendentesdeurn
dosreis
miticos
quecriaram
aGrecia)
ouargivos.
Argos
eumacidade
aonorte
doPeloponeso,
edom
iniode
Agam
emnon,
semserverdadeiram
entedistinta
deMicenas
(daqual
estadistante
apenasuns
oitoquilom
etros).Mas
houveoutras
Argos,na
Grecia
setentrional,eapalavra
sig-nifica
provavelmente
"planiciebem
visivel".Osaqueus,
emepoca
classica,eramoshabitantes
deumaparte
doPelopo-
neso,mashamen<;:aoa
eles,aoque
parece,emdocum
entoshititas
daAsiaMenor,
nofinal
dosegundo
milenio.
l.Qque
acabeidedizer
sobreoshelenos
eaHelade
s6vale
paraaIliada.
0term
oHelade
naOdisseia
jaesta
pr6-xim
odeseu
sentidoclassico,0
queeumaprova
suplemen-
tardoseu
caratertardio
edeque,
nasua
elabora<;ao,haa
maodeurn
outropoet~j
Eostroianos?
Para0
daIliada
elessaD
"barba-
ros"?Naverdade,
essapalavra
edesconhecida
deHomero.
M~i~"~~;t~~~~te,"
quandotrata
doscarios
deMileto
-quer
dizer,osvizinhos
bempr6xim
osdos
jonios-,
eleos
chamade"barbar6fonos':.
Seassim
possodizer,
(0j{mio
quefala
dessaform
a,enao
0aqueu,
0qual
ocupa,noseu
texto,umlugar
deprotagonista.
Nada
maisnatural.
0"bar-
baro"esem
pre0vizinho
quenao
falaanossa
lingua.Os
russos,por
exemplo,
chamam
osseus
vizinhosalem
aesde
"mudos",isto
e,aquelesque
naofalam
russo.Troianos
eaqueus
naosediferenciam
maisclaram
entedoque,por
exemplo,
oscristaos
eossarracenos
daCant;aO
deRolando.
Veneram
osmesnios
deuseselhes
fazemsacrifi-
cios.Haurn
santuariodeAtena
emTr6ia,apesar
deessa
deu-sasertotalm
entehostil
aostroianos.
Naoha,entre
aqueusetroianos,
0menor
problemadecom
unica<;ao,amenor
alu-SaD
aofato
deque
elesnao
poderiamfalar
amesm
alingua.
Com
certezaisso
decorredasconven<;6esdo
generoepico.N
ofim
dascontas,
tambem
Polifemo,na
Odisseia,
falagrego.
Heitor
naoera,absolutam
ente,nos
tempos
posterioresaHomero,
0nom
edeum
barbaro.Sem
duvidaalgum
a,um
Heitor
foireiem
Quios.
Havia
umcuho
deHeitor
emTe-
base,em
Taso,ilhavizinha
dascostas
daTracia,
umacir-
cunscri<;aodacidade
levava0nom
ede"Priam
ides",0que
espantou0arque610go
quedescobriu
asua
existencianu-
mainscri<;ao
lapidar.Nocanto
IVdaIliada
haumapassagem
acercadoexer-
citotroiano:
Nern
todastern
amesm
asataque
auidiam
asem
elhante:as
IinguassemisturaJ?;
egente
vindadepaises
diversas.
MasHomero
toma0cuidado
dedistinguir
ostroianos
propriamente
ditosdeseus
aliados.Isso
ocorre,por
exem-
1'10,nocanto
x:
Nossos
ilustresaliados,
diz0troiano
0610n,dorm
em;no
quediz
respeitoaguarda,
fiam-se
nostroianos;
eporque
naotern
crian<;:asnemmulheres
vivendoaolado
deles.
Aiesta,
efetivamente,
amaior
diferen~a.Ostroianos
formam
aquiloque
secham
acidade:
homens,
mulheres,
ve-Ihos,
crian~as.Asmulheres
sao-nem
todas-esposas
le-gitim
as.Assim
,Andr6m
acacom
Heitor,
Hecuba
cornPria-
mo.Nosleitos
dosaqueus
sodorm
emconcubinas.
Paraurn
periododedez
anosdesitio,
Homero
naofaz
alusaoaonas-
cimento
deumaunica
crian~a.Quando
Patroclomorre,
Bri-
seida,com
panheiradeAquiles,
explicademaneira
tocante(embora
0poeta
tenhaposto
nessapassagem
urnpouco
dehum
or)que
0jovem
thehavia
prometido
fazerdela
aesposa
legitimadodivino
Aquiles,
0qual
aleva-
riaabordo
desua
naupara
aFtia,onde
seriamcelebradas
asbodas
napresen<;:ados
mirmidones.
Essasnupcias,
queimplicavam
0retorno
deAquiles
aoseu
pais,nao
aconteceram,
tampouco
foramrealizadas
asbodas
domesm
oAquiles
comIfigenia,
filhadeAgam
em-
noneClitem
nestra.0pai
prometera
Ifigeniaaoheroi
emtroca
doretorno
destealuta.
Asbodas
sao,tambem
,para
Homero,
umaocasiao
depraticar
0que
sepoderia
chamar
dehum
ornegro.
Nocan-
toIII,Idom
eneu,cretense
j,iidoso,mata
Otrioneu,
quefora
socorrerTroia
comaesperan~a
dedesposar
Cassandra,
fi-Iha
dePriam
o,"aprim
eiraem
beleza".Triunfante,
Idome-
neucarrega
0cadaver,
proclamando
que0noivQ
deCas-
sandravai
entaocasar-se
comumafilha
deAgam
emnon,
elatambem
"aprim
eiraem
beleza".Entre
osdanaos
eosque
combatem
porTr6ia,
asrel'1-
~i)es,sobreum
panodefundo
deguerra
deaniquilam
entQ,
podonter
momentos
decortesia.
E0que
sepassa
nocan-
toVIquando
seencontram
Diom
edeseGlauco,
originariodaLlcia.
Osdois
homens
comparam
assuas
genealogiase
c1escobremque
saohospecles
hereditariosum
dooutro.
Essarela~ao
dehospitalidade
reciprocaetao
fortequanta
umarela~ao
deparentesco.
Osdois
homens
permutam
assuas
armaduras,
mas,
aquinovam
ente,Homero
mostra
0
seuhum
oreasua
ironia:
Mas,nesse
momento,
Zeus,filho
deCrono,
retiratambcm
deGlauco
arazao
jaque,ao
carnbiarassuas
armascom
Dio-
medes,
0filho
deTideu,
elethe
daOllro
erntroca
debronze
-0valor
decern
boiscontra
0denove!
Heitor
eAjax
tambem
permutam
presentes,mas
em
condi~oesmais
eqiiitativas.Aimparcialidade
deHomero
ernrela~ao
aosherois
dosdais
campos
quesedefrontam
etotal?
Trata-sedeumaques-
taodificil.
Alguns
leitoresacham
ateque
0poeta
emais
fa-vodvel
aostroianos
doque
aosaqueus.
Earesposta
instin-tiva
damaio
riados
leitores
modern
os.Umcritico
britanicochegou
mesm
oasugerir,
haurn
seculo,que
Homero
deve
Magnim
imofilho
deTideu,
porque
meperguntas
sobre0
meunascim
ento?Assim
comonascem
asfolhas,
assimfa-
zemoshom
ens.Asfolhas,
umaauma,0vento
asespalha
pelosolo,enquanto
eafloresta
verdejanteque
asfaznascer,
quandochegam
osdias
deprim
avera.Damesm
aform
aos
homens:
umagera<;:aonasce
noinstante
mesm
oem
queClU-
traseapaga.
Pobretolo!
0ouro
naoafastara
deleamorte
cruel:caini
pertodorio
sobosgolpes
doEacida
depes
ligeiros[Aqui-
les1esera
0belicoso
Aquiles
quemganhara
todoesse
ouro.
tersido
troianoou,
pelomenos,
filhodeumatroiana.
Nada
emais
comovente
paran6s,
leitoresmodernos,
doque
osencontros
entrelIeitor
eAndr6m
aca,0doce
di,ilogodocan-
toVI,na
presel1<;:adofilho
Astianax,
e0desespero
daviuva
nocanto
XXII.Indigna-se
0leitor
moderno
aoconstatar
queAquiles
mata
Heitor
com0auxilio
deAtena,
quenao
hesi-taem
tomar
aaparencia
doirmao
deHeitor
paraconduzi-
10,mais
rapidamente,
amCHte.Masesquece
que,quando
Heitor
mata
Patroclo,isso
efeito
com0concurso
diretode
umaoutra
divindade,Apolo
empessoa
(figura15).
Finalmente,
comoesquecer
queaIliada
termina
comosfunerais
deHeitor,
depoisque
Priamosuplica
aAquiles
adevolu<;:ao
docorpo
deseu
filho(figura
20)?
Todososhom
enssao
mortais,
inclusiveosfilhos
dedi-
vindadescom
o,por
exemplo,
Eneias,filho
deAfrodite,
eSarpedon,
filhodeZeus;
edo
!adogrego,
Aquiles,
filhode
Tetis.Todos
oshom
enssao
mortais,
inclusive,bem
cnten-dido,
Heitor,
0qual,
segundoposidon,
gaba-sedeser"0fi-
IhodeZeus,
0forte",
masisso
naoquer
dizerque
todosos
homens
sejamiguais,
muito
pelocontnirio.
Issovale
para
osdoiscam
pos,eeuvoltarei
aoassunto.
ComoTr6ia
sedistingue
dossitiantes?
Elatern,
aos
olhosdos
gregos,alguns
tra<;:osorientais:apresenya
abun-dante
doouro
nacidade,
porexem
plo,etambem
nosador-
nosdos
guerreirosaliados
deTr6ia.
Javim
os0caso
deGlau-
co,mas0deReso,
reitnicio,
emais
notavelainda:
Seucarro
eornado
deouro
edeprata.
Chego u
aquitrazen-
doarm
asdeouro
gigantescas.Tao
maravilhosas
quepare-
cernapropriadas
paradeuses
enao
parasimples
mortais.
'Hmtoosaqllclls
comoostroianos
sao,igualm
ente,hc-
r6ismortais,
her6isque
sabemque
saodestinados
amorte.
Assim
,nocanto
VI,Glauco,
licioaservi<;:ode
Tr6ia,questio-
nadopor
Diom
edcssobre
asua
genealogia,Ihe
responde:
Umdos
aliadosdeTr6ia,
nofinal
docanto
II,"marcha
para0com
batecoberto
deouro,
comoumamo<;:a";0
co-
mentario
esarcastico:
Haouro,
certamente,
noescudo
queHefesto
forjara
paraAquiles
nocanto
XVIII,
depoisque
Heitor
seapossa
desuas
armas
juntoaocadaver
depatroclo.
Masnao
setrata
deumaarmadura
deouro.
Outro
tra<;:ocaracteristicodeTroia
eapresen<;:ado
pa1<i-ciodePriam
o,0velho
rei.Homero
mostra
Heitor
chegandoohom
emmaisfeio
queveio
paraTr6ia.M
anco,defeituoso,
aindapor
cimaecorcunda
e,no
seucranio
pontudo,ha
muito
poucocabelo.
diantedopalacio
dePrfam
o,ornado
dep6rticos
refinados.Laestao
oscinqiienta
quartosdepedra
polida,construidos
emseqikncia,
ondedorm
emosfilhos
dePriam
o,aolado
desuas
legitimasesposas.D
ooutro
lado,em{i'ente,estao
osquar-tos
dasfilhas,doze
camaras
depedra
polida,U
1umteto
emform
adeterra<;:o,construidas
emseqiiencia,
ondedor-
mem
osgenros
dePriam
o,aolado
desuas
dignasesposas.
Naoeurn
retratolisonjeiro.
Mas,nesse
cantoII,que
faz0catalogo
dosguerreiros
gregosetroianos,
eum
exem-
ploquase
unicodeluta
declasses.Ele
investecontra
Aga-
memnon:
CinqU
entafilhos
edoze
filhas.Isso,evidentemente,
naotern
nenhumsentido
"realista".Priam
opossui
numerosas
esposas,masosseus
filhossan
monogam
os.Osaqueus
naosan
maridos
fieis,porem,em
regra,san
monogam
os.Troia
eumacidade
quenao
conhecearebeliao.
Mas
podehaver,na
agora,lugardedelibera~ao,
certatensao.
No
cantoXIII,
Polidamas,
queencarna
apruden
ciadiante
daloucura
guerreiradeHeitor,representa
tambem
0bom
sen-sodopovo
diantedotirano.
Priamotern
urnfilho
quese
chamaPolites
(Cidadao),
eacidade
ficaunida
ateosfune-
raisdeHeitor.
Noseculo
v,osgregos
utilizavamurn
tennopara
in-dicar
adivisao
noseio
dacidade,
apalavra
stasis.MasHo-
mero
naoaconhece.
Troianao
eumacidade
dividida.E0
campo
aqueu,onde
existemassem
bleiaseconselhos,
podeserconsiderado
uma"cidade"
nosentido
politicodoterm
o?Acontesta~ao
apareceai,de
formaseria,
umasovez,para
sercondenada
semdem
ora.Umguerreiro
denom
eTersi-
tes"piacom
ourn
gaio",eleque
e
Ora,vam
os,filho
deAtreu,
deque
tequeixas?
Deque
aindatens
necessidade?Tuas
barracasesUiocheias
debronze
ede
mulheres,
presasdequalidade
quen6s,
aqueus,te
COilcede-
mos,em
primeiro
lugar,todavez
queumacidadee
tomada.
Ou,por
acaso,precisas
deouro
-doOllro
vindodeIlion
trazidopor
umtroiano
domador
decavalos
pararesgatar
0
filho,capturado
eamarrado
pormim
ouqllalqller
outroaqueu
-ou
aindadeumajovem
cativapara
saborear0
amornos
seusbra<;:ose
guarda-lasom
entepara
Ii?
Tersitespaga
caroessa
independencia.Ulisses
0gol-
peia,etodos
sedivertem
.Nada
destasis,
portanto,nosentido
literaldapalavra,
mas,dequalquer
forma,()cam
poaqueu
seveatravessado
porumaquerela
epela
c6lera,adeAquilescontra
Agam
em-
non,desde
0prim
eirocanto
dalliada.
Obrigado
porApolo
aentregar
aopaisua
cativaeconcubina
Criseida,
Agam
em-
nonseapossa
deBriseida,
acornpanheira
deAquiles.
Im-
pedido,por
Atena,de
matar
Agam
emnon,
Aquiles
serelira
daguerra,
proclamando
queelanao
lhediz
mais
respeito,que
naovemais
asua
necessidade.Assim
,seapalavra
sta-
Masexiste,
entreaqueus
etroianos,
umadiferen~a
mui-
tomais
grave,muito
mais
fundamental,
eque
sera,naAte-
nasdo
seculov,um
dostemas
datragedia.
Alguns
aqueusmorrem
,outros
sabemque
estaodestinados
amorte.
E0
casodeAquiles,
queteve
deescolher
entreumavida
longaeobscura
eumavida
breveeheroica.
Inversamente,
obser-va-se,
entreostroianos,
umaconsciencia
agudade
quea
desgra~asera
coletiva,deque
Troiaesta
destinadaaodesa-
parecimento
edeque,
dealgum
amaneira,
elajaincorpo-
rouamorte.
Agam
emnon
e0prim
eiroaproclam
ar,no
cantoIV:
sisnao
ehom
erica,aideia
deguerra
civil,deguerra
intes-tina,
estahem
presente.Econtra
elaque,
nocanto
IX,argu-
menta
Nestor,
0anci,10
sabiodo
campo
aqueu:"Nao,
n,10tem
cia,nem
lei,nem
laraquele
quedeseja
aguerra
intes-tina,
aguerra
quegela
oscora~6es':
E,comurn
hornconse-
Iho,Nestor
continua:
Naotenho
nenhumaduvida,
tantonaalmacom
onocora-
<;:ao:cheganl0dia
emque
elasucum
bira,asanta
Ilion,e
tambem
Priamoe0seu
povodiante
denossas
lan<;:as.
Analisem
osaoposi~ao
entregregos
etroianos
porurn
outroangulo.
Tratando-sedacapacidade
guerreirae,espe-
cialmente,
domimero
devitim
as,nao
haduvida
deque
Heitor
soeultrapassado
porAquiles,
mas,
noconjunto,
osaqueus
superamostroianos.
Ascom
para<;:(lescoletivas
1110S-tram
isto:osaqueus
sanahelhas,
eostroianos
sangafanho-
tos.Procurariam
osem
vao,no
quediz
respeitoaos
aqueus,U111aC
0111para<;:aocomcarneiros
balindo,com
oaque
cfei-
ta,nocanto
IV,em
detrimento
dostroianos.
Demodo
geral,eaordem
eaefidcia
militar
quecaracterizam
ossitiantes,
enquantoadesordem
eomedo
estaopersonificados
nossi-
tiados.Poder-se-ia
acrescentarque
muitos
troianosdirigem
suplicasaseus
adversariosvencedores.
E0caso
deHeitor
diantedeAquiles
oudePriam
oquando
redama0corpo
dofilho
(figura20).
Poremeo
proprioHeitor
quemrepete
essesversos
nocanto
VI,nacena
famosa
deseu
reencontrocom
Androm
a-
ca,acrescentando:
Preocupo-memenos
comador
queespreita
ostroianos,
apr6pria
Hecuba
e0reiPriam
o,ouainda
osmeus
irmaos,
numerosos
cbravos,
quepoderao
cair'10solo
sobosgolpes
denossoS
inimigos,
doque
comatua,
quandoum
aqueu,coberto
debronze,
encontraraatiem
prantosetearrastara
paralonge,
retirando-tealuz
ealiberdade.
Talvez,entao,em
Argos,
tuteceras
paraumaoutra;
talveztraras
aguada
fonteMesseis
oudoHipereu,
sofrendoinum
erosconstran-
gimentos,
porqueurn
destinobrutal
pesarasobre
ti.Eurn
dia,vendo-techorar,
oshorn
ensdirao:"E
amulher
deHei-
tor,0prim
eiroem
combate
entreostroianos
quandoselu-
tavaem
tornodeIlion".
onosso
valoreanossa
resolw;:ao
perdem-se;
anossa
almafica
alterada,paralisa;
eem
redordas
muralhas
corremos
aprocura
de110Ssalvarm
ospela
fuga.Porem
anossa
quedaecerta.
Emcima,
nasmuralhas
jncom
e<;:ou0pranto.
Choram
pelasmem6rias
eossel1tim
enlosdos
110SS0Sdias.Amargam
entechoram
pOl'n6s
PriamoeHecuba.
AAndrom
acadeRacine,
quealguns
demeus
leitorescertam
enteconhecem
,jaesta
emgerm
enesses
versosfa-
mosos.Todo
grego,ouvinte
ouleitor
dopoem
ahom
erico,sa-
biaque
Troiaestava
destinadaamorte,
assimcom
onos
sa-bem
os,quando
lemos
umrelato
dabatalha
deWaterloo,
queNapoleao
seravencido.
Inumeras
imagens
ilustravam,
nosvasos
aticos,0fim
deTroia.
Noentanto,
ninguemexpri-
miumelhor
essesentim
entodo
inelutaveldo
que0poeta
gregoConstantino
Cavafis,
nopoem
aTroianos,
noinicio
doseculo
xx:*
Saonossos
esfor<;:ososdos
infortunados;sao
nossosesfor<;:oscom
oosdos
troianos.Conseguim
osurn
pouco;um
poucolevantam
osacabe<;:a;e
come<;:am
osatercoragem
eboas
esperan<;:as.Massem
presurge
algumacoisa
quenos
para.Aquiles
juntodofossoa
nossafrente
surgeecom
grcindesgritos
assusta-nos.Sao
nossosesfor<;:oscom
oosdos
troianos.Cuidam
osque
mudarem
oscom
resolu<;:aoevalor
acontrariedade
dasorte,
eestam
oscafora
paralutar.
Mas,quando
vier0momento
decisivo,
*TradU
l;aode)oaquim
Manuel
Magalhaes
eNikos
Pratsinis,em
C.Cavafis,
Paemaseprasas,
Lisboa,Rel6gio
d'Agua,
1994,p.33.(N.T.)
4.Aguerra,a
fiorteeapaz
AIliada
e0poem
adaguerra.
Emcaso
denecessidade,
ospr6priosdeuses
intervempara
contrariarosprocessos
depaz.
Assim
,nocanto
III,osadversarios
tentamresolver
aquerela
pormeio
deurn
dueloentre
oscampeoes
PariseMe-
nelau,osdois
quedisputam
Helena.
Afrodite
arrancaParis
doamplexo
mortal
deMenelau
e0conduz,
empleno
dia,para
0leito
deHelena,
0que
eurn
erro:0amorsefaza
noi-te;a
guerra,dedia.N
ocanto
IV,Atena
eHera
sugeremque
oarqueiro
Pandarolance
trai<;:oeiramente
umaflecha
nadire<;:aode
MeneJau.
Eimediatam
enteaguerra
recome<;:a.
Decerta
maneira,
aOdisseia
e0poem
adapaz,
aindaque
porvezes
ocorramJutas.D
iferentemente
daIliada,
con-duida
comatregua
queperm
itearealiza<;:aodos
funeraisdeHeitor,a
Odisseiaterm
inacom
umapaz
estabelecidaen-
treUlisses
easfamilias
dospretendentes
mortos
porele.
Atena
ordena:
Interrompei
essaguerra
cruel![...]
entreasduas
partesaconcordia
estaselada.
Aolongo
deseu
periplo,Ulisses
naosepreocupa
emguerrear,
pensaapenas
emreencontrar
asua
esposae0seu
lar,esse
lugardeestabilidade
simbolizado
peloleito
conju-gal
fixadonum
aoliveira
quenao
sepocle
arrancar.Entre
osf~aces,
sualtltim
aetapa,
eleencontra
urnpovo
entreguenao
asartes
daluta
edaguerra,
massim
asalegrias
dapaz
edobanquete.Essa
oposi<;:aoentre
aguerra
eapaz
aparece,com
todooseu
significadosimbolico,
nocanto
XVIIIdaIliada.
Noes-
cudoforjadopor
Hefesto
paraAquiles,
opoem-se
duascida-
des:adapaz,
docasam
ento,das
dan<;:as,dosdebates
judicia-rios
-eapenas
emtempos
depaz
queosjuizes
podementregar-se
asalegrias
daarb
itragem
-,eadaguerra,
sitia-daepreparando
umaemboscada.
Umvelho
tema,portan-
to,pois
jafigura
noestandarte
deUr,na
Mesopotam
ia,no
terceiromilenio
antesdanossa
era.Eborn
lembrar
queninguem
jamais
lutoucom
ooshe-
roisdeHomero.
Elessan
conduzidosdecarro
abatalha
edescem
paraenfrentar
0inim
igo.So0velho
Nestor
naodei-
xa0seu
carropara
combater
ape.Tudo
0que
sabemos
so-bre
0carro
decom
batenoMediterraneo
orientalenoOrien-
teProxim
ocontradiz
essavisao
dascoisas.
0aedo
sabiaque
ocarro
foraurn
instrumento
deguerra
-0que
janao
ocor-ria
noseu
tempo.
Portanto,ele
associouosseus
heroisaos
carros,masestes
naoservem
mais
paraaluta.
Dealgum
amaneira,
foramtransform
adoem
taxis!~Nafalta
deumaguerra
deverdade,
0que
podemos
de-!
cifrarna
Ilfadaeumaideologia
daguerra,
damais
belaguerra
-porque
haumabela
guerraassim
comohauma
belamorte.
0troiano
Heitor
daamelhor
defini<;:aodisso
nocanto
VII,diante
deAjax
(figura14):
Ajax,divino
filhodeTelam
6nio,chefe
guerreiro,nao
tentemesondar
comoseeufosse
umacrian<;:afraca
ouumamu-
Iherignorante
daarte
militar.
Ellentendo
decom
bateede
carnificinas.Sei
mover
paraadireita
epara
aesquerda
0
meu
resistenteinstrurnento
deguerra.
Seiatacarno
meio
doscarros
rapidos.Seidan<;:<u,no
corpoacorpo,
adan<;:ado
cruelAres.M
asum
homem
comotu,eunao
queroesprei-
taregolpear
desurpresa,
massim
abertal1lente,procuran-
doteatingir.
Aperfidia
deAtena
conduz0proprio
Heitor
aafron-
tarAquiles
numcara
acara
mortal.
Elatom
aaform
ade
Deifobo,
irmao
deHeitor,
epropoe-Ihe:
esperepOI'Aquiles
ecom
bata.Depois
disso,desaparece.
AAquiles,
Heitor
su-gere
umpacto:
emcaso
devitoria,
elenao
ultrajara0cor-
podeAquiles,
epede
reciprocidade.MasAquiles
responde:
Malclito,nao
venhasmefalar
deacordo.
Naohapacto
lealentre
oshom
enseosleaes,
damesm
aform
aque
oslobos
eoscordeiros
naotem
cora<;:aesfeitospara
seentendcr.
Apos
0sucesso,
Aquiles
ata0corpo
deHeitor
aoseu
carroe0arrasta,
coma"sua
cabe<;:aoutroraatraente",
emtom
odatum
badePMroclo,
emtributo
aoamigo
defunto
(figura24).
f-Llnessaguerra
momentos
decortesia,
regrasque
Hei-
torprecisam
enteconvida
arespeitar.
EnU10a
guerradeTroia
eum
conjuntodedueIos?
Certam
entenao.
Excetuando-seocom
batedo
cantoXXII,entre
Aquiles
eHeitor,
soh,lum
duelocom
morte,
0duelo
antigonarrado
pelovelho
Nes-
tor,entre
ell'mesm
oe0gigante
Ereutaliao,nocanto
VII.0
dueloentre
Diom
edeseGlauco
naoacontece,
0deMene-
IaueParis
einterrom
pidopOI'Afrodite,
0deHeitor
eAjax
termina
comumatroca
depresentes;
quantoaoque
opoeEneias
aAquiles,
nocanto
XIX,ePosidon
empessoa,
0"agi-
tadordo
solo"(favorave!,
noentanto,
aosaqueus),
quem0
fazmudar
repentinamente,
aoenvolver
Eneiasnum
nevoei-rooSem
duvidaHomero
estclquerendodizer
quesobreviver
l~lZparledodeslino
deEneias.
Deresto,
naIliada,
algunsferidos
saocurados,
eamor-
tejamais
elenta.
Aimensa
maioria
dosque
saoabatidos
naomorre
noc1ecorrer
deurn
c1uelo,masno
quesecostu-
mach,lm
,Hde
Ilristhil(valentia),
umaserie
deproezas
nocursa
dasquais
aguerreiro,
tornadopelo
furor,adquire
uma
for~asobre-hum
anaeabate
tudoaque
est,lnasua
passa-gem
.AI/rist(;il/
pOl'cxcelc'ncia
eadcAquilcs,
noscantos
xxeXXI,
aposamork
dcP,ltroelo.
0pr(lprio
Patroelomatou,
nocanto
XVI,Sarpedon,
0filho
liciodcZeus
queeste,
compcsar,
dcixoll!l1orrcr.Pdo
!l1cnosZcus
hlZCO!l1quc
0SClicor-
poseja
retiradopelo
Sanaepela
Morte,
asquais
0trans-
portarnpara
aLfcia...A
iesta
umexernplo
extraordinariodabela
rnorte.Assim
juigou0oleiro
epintar
chicoEufr6-
nio,jaque,
numdos
rnaisbelos
vasosdesua
autoria,repre-
sentou0arrebatam
entodo
corpodeSarpedon
(figurada
capa).
S6osgrandes
heroisrnorrern
-Sarpedon,
Heitor,
pa-ranao
falardeAquiIes,
cujamorte
proxima
eanunciada
parHeitor
moribundo?
Naverdade,
todasasform
asdemor-
teimaginaveis
saorepresentadas.
Apresentarei,
comoexem
-plo,
arnorte
deCebrion,
filhodePriam
oecocheiro
deHei-
tor,no
cantoXVI.EPatroclo,
usandoasarm
asdeAquiIes,
quem0rnata,
comumapedrada.
Apedra
agw;:adagolpeia-o
nafronte,
esmagando
assobran-
celhas;0osso
naoadetem
,eosolhos
caempOl'terra,
napoeira.
Comoum
mergulhador,
Cebriones
despencadocar-
roornam
entado.
Ah,com
oedestro
esseailQ
uedesem
bara<;:onosseus
saltos!Sese
encontrasseum
dianomarpiscoso,esse
catadordeos-
trasalim
entariamuita
genteaopular
assimdecimadeuma
nau,mesm
oem
tempoborrascoso,
taleafacilidade
comque
saltadeum
carrodeguerra
para0chao.O
stroianos
temmes-
1110excelentes
sallarilhos!
Porque
escolhiesse
exemplo?
Porc1uas
razoes.Apri-
meira
eagra<;a
ir6nicadaimagem
.0temadomcrgulho
noHades
(0reino
dodeus
dosmortos),
relativarnentecornum
,nao
edesenvolvido
assimcom
muita
frequencia.Alem
dis-so,
urndos
rarosafrescos
gregosdaepoca
classicaque
che-gou
aten6s
-amergulhador
dePaestum
,naItatia
meridio-
nal-mostra
urnhom
emque
mergulha
nomar(figura
11).Ele
domina
urnmonum
entoque
foiinterpretado
comoas
portasdoHades
ouentao
comoasColunas
deHercules
( 0
estreitode
Gibraltar).
Assim
,Homero
permite,
umavez
mais,
compreender
umaimagem
muito
posterioreque
ele,
semduvida,
inspirou.Trata-se
deumaguerra
sempiedade,
umaguerra
deaniquiiam
cnto?Aresposta
eambigua.
Estacla:o
queosob-
jetivosdaguerra
naosao
osmesm
ospara
osdois
ladosem
combate.
Paraostroianos,
0importante
etranspor
0muro
construidopelos
aqueusequeim
arosseus
navios.Eles
teraosucesso
noque
dizrespeito
aomuro
sem,no
entanto,reali-
zarafa<;:anha
subseqiiente.Urn(mico
her6igrego
emorto:
patroclo.Amorte
deurn
outro,Aquiles,
estaprogram
ada.Muitos
guerreirosanonim
ossao
mortos
pe1asflechas
deApolo,
comorelata
0canto
I,0que
querdizer
quee1es
morrem
depeste.
Aepidem
iacom
e<;:apelosjum
entosecaes
_umaepizootia,
diriamos
hoje-
e,depois,atinge
osho-
mens.
Masadoen<;:anao
edescrita
emnenhum
dosseus
sin-tom
as.Homero
naoeTucidides,
querelatara,
noseculo
v,a
pestedeAtenas,
ap6ster
sidoatingido
eter
sobrevivido.Por
outrolado,
elanao
seespalha
entreostroianos.
Apolo
resol-veu
visarexclusivam
enteaos
homens.
Artem
is,que
ternpo-
derdemorte
sobreasmulheres,
naointervem
.SeCriseida
fordevolvida
aopai,
queesacerdote
deApolo,
aepidem
iase
interrompera
imediatam
ente.Par
certoApolo
exclamano
cantoIV:"A
peledos
aqueusnao
edepedra
edeferro",
mas
assuas
patriasnao
arriscamnada.
/>0indicio
docarater
impiedoso
daguerra
residenare-
I('usa
emfazer
prisioneiros.Essa
recusaeexpressa
duasve-
zes.Nocanto
VI,0troiano
Adrasto
ecapturado
vivopar
Menelau.
Suplicaque
0poupem
,prom
etendoque
seupai,
queerico,
estaradisposto
aentregar
urnimenso
resgate"em
ouro,em
bronzeeem
ferrotrabalhado".
Menelau
estaquase
sedeixando
persuadir,masAgam
emnon
intervem:
Naotelembras
doque
essestroianos
fizeramJtua
familia?
Nao,
quenenhum
delesescape
aosnossos
br,l<;os,aoabis-
mociam
orle,nem
mesm
oacrian<;a
noventre
desua
mac,
nemmesm
o0desertor!
Que
todososdeIlion
pete<;amjuntos!
Nocanto
XXI,outro
epis6diomostra
queaguerra
j<lsetonlO
Uimpladvel.
Lidon,filho
dePriam
o-
Priamotem
tantosfilhos
queeles
chegamaform
al'umaespecie
de"re-
serva"para
0poeta
-,ecapturado
pOl'Aquiles.
Easegun-
davez.
Elejafora
capturadocInoite
parAquiles,
vendidocom
oescravo
emLem
noscdepois
resgatadoercstituido
aosseus.
SuplicaaAquiles
argumentando
queelenao
efilho
deHecuba
eque
nao"saiu
domesm
oventre
queHeitor':
Aresposta
deAquiles
eperturbadora
esem
compaixao.
Sim,
antesdamorte
dePatroclo,
0seu
cora<;:aosecom
praziaem
pouparostroianos.
"Patroclo,que
valiamais
doque
tu,esti
morto."
Elepr6prio,
Aquiles,
estadestinado
amorte.
Mata,
portallto,Lidon
-cujo
nomesiginifica
"Homem-
lobo"-eexclam
aaseguir:
"Vaidescansar
alhures,entre
ospeixes
[...].Marte
atodos1':
E,no
entanto,aIlf(/(ia
termina
comum
epis6diono
qualjorra
aquiloque
Shakespearecham
ade"leite
daternu-
rahum
ana".Gra<;:asa
intervcn<;aodos
deuses-
Apolo,
Zeus,apr6pria
Tetis,Iris
-,0velho
Priamo,
acompallha-
dopor
Hermcs,
vaisuplicar
queAquiles
thedevolva
0filho
Imorto.
Traz-lheum
re5gate.Naoapenas
Aquiles
aceita,co-motambem
partilhaarefei~ao
comPdam
o,lembrando-lhe
queamaior
detodas
asdores
-adeNiobe,
porexem
plo,CU!OSfilhos,em
nllIl1erodedoze,foram
morto5
porApolo
eArtem
is-nao
con5tituiobstaculo
itnecessidadedeali-
mentar-se.
SeNiobe
comeu,
antesdepetrificar-se,
entaoPdam
opode
tambem
comer.0cadaver
ultrajadodeHei-
torpassa
aser
um"belo
morto",
eaIliada
termina
coma
majestosa
narrativados
seusfunerais.
Naturalm
ente,com
oefacil
il1laginar,0cOl1lbate
ea
morte
naosao
necessarial1lenteher6icos.
Nem
todasasar-
masseeq~valem
,nem
todasasguerras
sandignas
dosmaio-
resher6is,
Aquiles
eHeitor.
Assim
tambem
comrela~ao
aoarco.Ele
e,semdllvida,
aanlla
dodeus
Apolo,
0que
0dis-
tinguedas
armasutilizadas
pelos,simples
mortais.
Dames-
maform
a,quando
deseu
retornoaftaca,U
lissesfaradoseu
area,que
e!ehavia
deixadola,0
instrumento
dasua
sobe-rania.
S6ele
t:capazderetesa-Io.D
iantedeTr6ia,oslocren-
sessaoarqueiros.
Teucro,irmaq,de
Ajax,tam
bemearquei-
roe~eabriga
portras
doescudo
deseu
irmao.A
p6sMomero,
noAjax
deS6focles,por
exemplo,
elesetom
araum
irmao
bastardo.Ele
earqueiro
porqueebastardo
ouebastardo
porqueearqueiro?
Dolado
troiano,alem
deParis,de
quemvoltarei
atratar,
P[lI1daro,filhodeLidon
(outrohom
em-
lobo),eum
arqueirocujo
arco-um
presentedeApolo-
temtoda
umahist6ria.
EssePandaro
faz0pape!
dotraidor,
jaque
eelequem
,instigado
porApolo,
lan<;aumaflecha
contraMene!au
paramata-lo
(masconsegue
apenasferi-Io),
oque
permite
assimaos
aqueusrom
per0acordo
conclui-doentre
Menelau
eParis
eretom
araofensiva.
Edificil
encontrarum
melhor
exemplo
decom
oeram
consideradosperversos
0arco
e0arqueiro
nomundo
daguerra
her6ica.Tratando
daprim
eiracaptura
deLiclon,
filhodePda;
mo,eusublinhei
queAquiles
aexecutara
itnoite.
Anoite
naoe0momento
daguerra
heroica.E0momento
dodis-
farce,daastucia,
daemboscada.
Tudoisso
estailustrado
namais
estranhapassagem
daIliada,
chamada
de"Dolonia";
emoutras
palavras:0canto
x.Esseepisodio
seinterpoe
noinstante
emque
osaqueus
estaoitbeira
dodesastre.
Emvao
Ajax
eUlisses
tentaramconvencer
Aquiles
aretom
ar0seu
Iugar-0prim
eiro-nocom
bate.Ostroianos
sairamde
suasmuralhas
eacam
paramnaplanicie.
Deambos
osla-
dos,espioessan
enviadositcata
deinform
a~oes.Heitor
en-viaDolon,
cujonom
esignifica
"0Astuto",arm
adocom
umdardo
eum
area.Por
suaparte,
Agam
emnon
eoschefes
aqueus,especialm
enteNestor,
confiamamissao
aUlisses
eDiom
edes.Ambos
oslados
utilizamdisfarces
animais:
Do-
Iontem
umbarrete
demarta
eesta
revestidocom
umapele
delobo;
Diom
edestem,nos
ombros,
umape!e
deleao,en-
quantaUlisses
usa0seu
capacetecom
presasdejavali.
oleao
e0javalivencem
0lobo,
0que
naoedeestra-
nhar.D610ne
capturadoerevela
apresen~a,
nocam
pode
Heitor,
doreitr"lcio
Reso,dos
seuscom
panheiros,doseu
carromagnifico
edos
seuscavalos
esplendidos.Todos
saoassassinados,
incluindoD61on,e
oscavalos
sanroubados.
Aseguir,U
lisseseDiom
edessepurificam
nomar.0
epis6dioepraticam
entelmico;m
ostraque
umaoutra
formadeguer-
raexistia
noimagim
lriodos
aedos.Essa
outraform
anao
eaunica,
eellterei
devoltar
aoassunto.
Ora,esse
episodio,
excepcionalnaIliada,
vai,peIocontnlrio,
tornar-seanor-
mana
Odisseia.
Selerm
osatentam
enteasnarrativas
feitasem
casadeAlcinoo,
docanto
VIIIaocanto
XII,constatare-
mosque
Ulisses
-0hom
emda
metis,
palavragrega
quedesign
aaastucia
-soemprega
umavez,por
ocasiaode
seuretorno
deTroia,
aform
adeguerra
predominante
naIliada.
Deixando
Troia,ele
enfrentaoscicones
(povotra-
~io)eederrotado
espetacularmente.
Urnaurn,todos
osseuscOll1panheiros
1l10rrem,mas,
comexce\ao
dosque
forammortos
nessabatalha,
ninguemmorre
naguerra.
Saodevo-
radospeIo
cic10pePolifem
ooupelos
lestrigones,morrem
acidentalmente
ouainda,
nofim
dascontas,
afogadosapos
oepisodio
dasvacas
doSol.
Todo0poem
afoicom
postosob
0signo
dodisfarce
edaastucia.E
pelaastucia
queUlisses
selivra
deapuros
nahabita\ao
dePolifem
oedeixa
0antro
docic10pe
presoao
tosaodeum
carneiro(figura
35).Quando
Helena,
emEs-
parta,fazaTeIem
aco0elogio
domerito
deUlisses
duran-teaguerra
deTroia,
explicaque
eleestivera
nacidade
emmissao
secreta,disfar\adodemendigo.E
comamesm
a"in-
dumentaria"
queelevolta
aoseu
palaciopara
reconquistarsua
mulher
eseu
poder,com
oseHomero
quisesseretratar,
nopersona
gemdeUlisses,todas
asvariantes
possiveisda
condi\aohum
ana,desde
0mendigo
ate0rei.
Quando
voltaaser
elemesm
o,dec1aradam
ente,Ulis-
sesmata
ospretendentesum
pOl'um
,comflechadas,
ajuda-dopor
Telemaco,
seufilho,por
Eumeu,
0porqueiro
tIel,epor
Filecio,0boieiro
igualmente
fiel.0com
batenao
eurn
modelo
deafrontam
entoleal
-Telem
aco,por
exemplo,
golpeiaAnfinom
opor
tnls.Mase0com
batedaminoria
contraamaioria.
Ospretendentes
sao,delonge,
mais
nu-merosos.
Aluta
termina
comepisodios
atrozes(figura
37).MeLlncio,0
cabreirotraidor
(seunom
esignifica
"Homem
daflor
negra"),emutilado,
esua
genitaliaejogada
paraos
caes.Quanto
ascriadas
infieis,quehaviam
deitadocom
ospretendentes,
naotem
direitoauma"morte
pura".Telema-
coasenforca
nop<ltiodo
pahlcio.Amorte
delas(hiorigem
aumadas
mais
be1as-mastambem
umadas
maissinis-
tras--imagens
dopoell1a,no
cantoXXII:
Assim
comoostordos
deasas
compridas
easpom
bas,
Aovoltar
para0ninho,
prendem-se
nasredes
erguidas
[sobreasmoitas
(funestoe0leito
emque
seencontrarn!),
assirnsuas
[cabeyassealinhavarn,
comurn
n6em
cadapescoyo,
6morte
lamentavel!
Seuspes
tiverarnurn
levesobressalto,
efoi
tudo.
Trata-sedocontrario
da"bela
morte",
taopresente
naIliada.
1.BustodeHomero.
Copiaromana
deum
originalgrego
doperiodo
helenistico.oaedo
cegovisto
pelosgregos
eromanos.
Nota:
Ospintores
grcgosnao
teminten~ao
deilustrar
umtexto
-mesm
oum
famoso
como
aIliada
aua(Jibsiiil
,mas
simdeencam
inhar,com
imagens,
asua
pr6prianarrativa.
Ailustra<,:aovir,\""IlO
is,"111
<'"oearom
anae,principalm
ente,nomundo
1l10derno.
2.Um
rapsodo.Anfora
aticacom
figurasvermelhas
atribuidaaopintor
deCleofrades,
c.480a.C.
3.Detalhedeuma
placaem
terracota,com
inscriraoem
linearB,
provenientedePila,
c.1200
a.C.
5.RuinasdeTroia
VI;amuralha
doperiodo
micenico
porocasiao
dasescavaroes
deSchliem
ann(Joto
de1875).
4.PlanodeTirinto
noperiodo
miccnico:
1.rampa
deacesso
2.salaodeentrada
3.galerias4.prop
ileus5.vestibulo6.patio
comaltar
circular7.sala
principal8.parte
privativa
7.Edi~aoprinceps
deHomero,
impressa
emFloren~a
em1488.Podem
osler
0inicio
daOdisseia;
nessaepoca
oscaracteres
impressos
imitavam
asmanuscritos.
6.Carregador
depeixe.
Afrescl',I,"'utoc';ni,
sew!"XVIa.C.
UmaGrecia
que05
'.J(onheceram
.
8.Mulheres
fiandoetecendo:
urnasegura
urnobjeto
redondo,espelho
ouroea,a
outra,urn
pequenotear.Pixide
titieacorn
figurasverrnelhas,
c.440a.C.
10.(;nli/d"Ul\wJa
aUlvalo.
HEdria
joniadita
deCaere
(Etruria),c.520
a.C.
11.Mergulhador
dePaestum
:um
saItopara
0Hades.
Tampa
detumba
(Italiameridional),
c.480a.C.
12.Couraraecapacete
deumatumba
deArgos.Chapa
metalica
emrelevo,segunda
metade
doseculo
VIIIa.C.
13.Duelo
deher6issabre
acorpo
deurn
guerreiromarta.
Hidria
aticacom
figurasnegras,c.560
a.C.
14.Combate
deAjax
eHeitor,
enquadradospar
AtenaeArtem
is.Tara
aticacom
figurasverm
elhascom
aassinatura
deDuris,
c.480a.C.
16.Atenapronta
para0com
bateentre
duascolunas
coroadascom
galos(vaso
dadocom
oprem
ioaos
vencedoresdejogos
emAtenas).
Anforaittica
comfiguras
negrasatribuida
aEzequias,
c.540a.C.
15.Apolo,0jovem
guerreiroideal.
Estittuaarcaizante
encontradaem
Piombino,
seculoIa.c.
5.Cidade
dosdeuses,cidade
doshom
ens
Para0leitor
moderno,
nadaemaissurpreendente,
mais
desconcertante,doque
apresen~a
constante
dedeuses
edeusas
naIliada
ena
Odisseia.Eaumadivindade,
aMusa,
/'
que0aedo
solicitaque
conteahist6ria
dac6lera
deAqui-
lesnaIliada
easaventuras
quemarcam
0retorno
deUlis-
sesnaOdisseia;
alemdisso,
0poeta
naocessa
defazerdescer
deusesedeusasa
terra.Ele
osfaz
combater
naIliada
emcam
posopostos,(figura
23).Atena,H
eraePosidon
estaodo
~.-
ladodos
aqueus,que
acabaraopor
veneer,enquanto
Apo-
10,Ares
eAfrodite
sanpartidarios
decididosdos
troianos.Duas
deusastern
filhosentre
osher6is
envolvidos.Afrodi-
teemilede
Enejas;seduziuAnquises,prim
odePriam
o;alem
disso,deveaParis-A
lexandreterrecebido
0porno
queafez
suplantarem
belezatanto
Hera
comoAtena.
Tetiseuma
dasNereidas,
divindadesmarinhas
que0poeta
seperm
iteenum
erarnoinicio
docanto
XVIIIdaIliada.
Maselagoza
deum
estaIul0InUi10diferente
dodeAfrodite.
Seufilho
18,ApoloeArtem
isfazendo
liba~oes.Hidria
aticacom
figurasverm
elhasatribuida
aopintor
deBerlim
,c.490
a.C.
Aquiles
elegitim
o.Tetis
desposoUurn
mort.al,
Peleu,por-
quethefoiprofetizado
queteria
urnfil~o
mars~oderos~
doque
seupai.Zeus,reidos
deuses,e0palde
Sarpedon,re~dos
liciosengaJ'ado
nocam
potroiano.
Seuescan<;:ao,G
amme-
,'d"'''\
des,eurn
principetroiano.
Amaiori~
dosher6rs;
~srers,
(descende
deform
amaisoumenos
drreta,dopropno
Zeus.Naoapenas
osdeuses
tomam
partidocom
otambem
seenvolvem
fisicamente.
Afrodite
eAres
SaDferidos,
nocanto
y,por
Diom
edes,filho
deTideu;
Atena
estaaolado
dektU-iles
porocasiao
doepis6dio
decisivododU~lo~om
Heitor.Ela
engana0her6i
troianoassum
indoaaparenoa
deDeifobo,
irmao
deHeitor.
Atena
ap6iaUlisses
eTelem
acodurante
todaaOdisseia.
Detodos
essesencontros,detodos
esseschoques
entrehom
ensedeuses,
0mais
espan~osoe,
semduvida,
abatalha
impiedosa
travadacontra
Aqmles,no
canto..JQ(LdaIliada,
pelorio
Escamandro,
cansadodecar-
regaroscadaveres
dasvitim
asdofilho
dePeleu.0
rioten-
taafogar
0her6i.E
necessarioque
0pr6prio
deusHefesto
venhaaoseu
socorro,com
0fogo
dasua
forja.Com
aguer-
radofogo
contraaagua,ja
estamosbem
pr6ximosdas.cos-
mclQgias
que,noseculo
Vlantes
daera
crista,serao
cnadaspelos
primeiros
fil6sofos.Devem
osacrescentar
que,entreos
deuses,asinjurias
"homericas"
saocorrentes?
Nocanto
XXI,
Afrodite
eamave1m
entecham
adade"mosca
decao".
Entreosdeuses
eoshom
ens,alem
dealian<;:ase
com-
bateshatambem
amor.
Ulisses
ternliga<;:oescom
Circe
ecali~so
_esta
ultimathe
propoeaim.ortalida~e.
Elanao
ficamuito
satisfeitaquando
Hermesexrge
quehbere
0ho-
mem
deItaca
elamenta
queaspobres
deusasnao
tenham,
defato,0
direitodeamarurn
mortal.
Naotentarei
definiraqui
0que
secostum
acham
arde
politeismohelenico.
Paraoshistoriadores
dasreligioes,H
o-mero
eumafonte
importante,
aolado
demuitas
outras.Nao
esque<;:amosque
Homero
-ou,antes,
osHomeros
(nahi-
p6tesemaisdoque
provaveldeque
0poeta
daOdisseia
naoseja
0mesm
odaWada)
-nao
eurn
te610go,massim
umaedo.
Elebusca
seduzirseus
ouvintes.Ele
0faz,por
vezes,especialm
entequando
setrata
dosdeuses,
comhum
or,sa-
bendomuito
bemque
osseus
ouvintessabem
quemelee,
ouseja:um
narrador.Saber
qualera
asua
pr6priareligiao
etarefaimpossive!.0
poetadaCa1u;iiode
Rolandoeurn
cris-tao
confirmado,
quedivide
0mundo
doshornens
entreos
quetern
averdadeiraft:'e
osoutros,devotos
deMaom
eede
Apolo
(sic),mas0poeta
homerico
naoesta
ligadopor
ne-nhum
aortodoxia.
Elepode
gracejarcom
osdeuses
e,paradizer
averdade,
naodeixa
defaze-Io.
-Osdeuses
intervemconstantem
entenanarrativa.
Dis-
far<;:am-seas
vezes.Atena,
porexem
plo,aparece
aUlisscs
sob0disfarce
deum
jovempastor.
Posidontom
aatiJrm
;ldoadivinho
Calcas.Elespodem
tambem
transformarosho-
mens.
Dependendo
davontade
deAtena,
Ulisses
podeser
urnmendigo
velhissimoouum
hornem
forte,emplena
ju-ventude.
Oshom
enspodem
aparecercom
odeuses
aosolhos
closoutroshom
ens:Ulisses
sepasm
adiante
deNausicaa,
evice-versa,
masisso
naosignifica
quetenham
ultrapassacloafronteira.Ultrapassar
afronteira:
e0que
Calipso
propoeaUlis-
seseelerecusa,
nuncaedem
aisinsistir.
0Hercules
men-
cionadonocanto
XIdaOdisseia
naoaultrapassou.
Emcon-
trapartida,dois
principestroianos
setornaram
imortais:
Ganim
edeseTitono,
esposoda"Aurora
domanto
deouro".
AAurora
esqueceudepedir
para0marido
ajllventude
eterna,eopobre
Titono,imortal,
enve1heceuateadecrepi-
tudemaiscom
pleta.0mitoacrescenta
quee1efoitransfor-
mado
emcigarra.
Mortalidade,
imortalidade:
alestiafronteira
essencial.Osdeuses
naot€~m
0mesm
osangue
queoshom
ens-0de-
lessechamaichor.N
aoconsom
emnem
vinhonem
pao,mas
simnectar
eambrosia,
termoque
aliassignifica
"bebidada
imortalidade".
Deslocam
-semuito
mais
facilmente
doque
oshom
ens,contudo
naosan
verdadeiramente
onipresen-tes.Enquanto
Posldonesta
entreosetlopes,os"rostos-quei-
Inados"-ouseja,os
negros,que
estaotanto
noextrem
oOriente
comonoextrem
oOcidente
-,Ulisses
podedeslo-
car-seem
seguran<;:a.Nocanto
IVdaIliada,
adeusa
Hera,
ainc6m
odaesposa
deZeus,
leva0marido
parafazer
amor
nocum
edomonte
Ida.Estamunida
detoda
asedu<;:aoob-
tidacom
Afrodite,a
qualexplicou
queOceano
esua
espo-saTetis,la
nofim
domundo,
estaoevitando
osprazeres
doleito
eque
pretendereconcilia-los.
Durante
essetempo,
acausa
dosaqueus
poderaprogredir,
eZeus
ficarafurioso
portersido
enganadopor
suaastuciosa
esposa,que
Iherecor-
dou,gentilmente,
0tempoemque
seentregavamaessespra-
zeresem
segredo,semospais
saberem.
Nocanto
XV,Posidon,
intimado
porZeus,por
interme-
diodeIris,a
cessardeintervir
emfavordos
aqueus,dauma
respostaviolenta
quenos
esclareceapartilha
dospoderes:
EntaoZeus
pretendemedom
inarpela
for<;a,contraami-
nhavontade,
euque
souiguala
ele?N6ssom
ostres
irmaos,
geradospor
Crono
econcebidos
porReia:
Zeus,eue,em
terceirolugar,
Hades,
0monarca
dosmortos.
0mundo
foidividido
emtres:
cadaurn
teveasua
parte.Tendo
tiradoa
sorte,consegui
0direito
dehabitar
0argenteo
mareterna-
mente.
Hades
tevepor
quinhaoasom
brabrum
osa,eZeus,
ovasto
ceu,em
plenoeter,
naspr6prias
nuvens.Para
n6stres
aterra
eurn
bemcom
um,assim
como0alto
Olimpo.
Naopretendo
viversubm
issoaZeus.
Queeleviva
tranqiii-10,com
todaasua
for<;a,noseu
lote,0terceiro;
eque
defor-
maalgum
atente
meaterrorizar
comoseeuFosseurn
vilao!
Outras
passagensda
Iliadaeda
Odisseianao
seguemnessa
dire<;:aoeinsistem
nasoberania
deZeus.
Deresto,ha
nessetexto
tresideias
essenciais.Aprim
ei-raeadosorteio.E
eleque
permite
aatribui<;:aodos
lotese,
conseqiientemente,
dasfun<;:6es.A
segundaeadeurn
"do-mlnio
comum".A
terrae0monte
Olimpo,
morada
dosdeu-
ses,naoestao
sobasoberania
deZeus.Ele
devecontar
comasoutras
potenciasdivinas,
inclusivePosldon,
que,apartir
domar,pode
"agitar0solo",etam
bem,demaneira
surpreen-dente,H
ades,senhordoreino
dosmortos,
aondeoshom
enssochegam
sobaform
adesom
brasimpalpaveis.A
terceirae
aexpressa
peloterm
o"vilao".Ela
impliea
umanos:ao
dehie-
L------.
----.---------
•rarquia.Hacertam
enteosiguais
(ou"pares"),
eesse
e0ca-
so,nessecontexto,
dostres
filhosdeCrono,
mashatambem
osseres
inferiores,radicalm
enteafastados
dapartilha,
co-mo,por
exemplo,
0proprio
paideZeus,seus
irmaos
esua
esposa.Crono
erelegado
aoTartaro,
entreos"deuses
debai-
xo".Ora,essastres
ideiassao
constitutivasdapolis
grega,e
asua
presen<;:anotexto,
diga-sedepassagem
,torna
il1liteis
r"III,I,,J,,,,,.,••ffttf,,•,,,t,tf,f•,i
aspolem
icassobre
0nascim
entodap6lis
antesoudepois
deHomero.
AIliada
naoeconcebivel
semumacerta
pre-sen<;:ada
polis.Acidade
dosdeuses
nosperm
itesaber
como
sedesenvolveu
acidade
doshorn
ensnoperiodo
arcaico.Expliquem
osmelhor.
0sorteio
e,em
Atenas,
muito
tempo
ap6saepoca
daJliada,
ainstitui<;:aosobre
aqual
re-pousa
adem
ocracia.Naturalm
entenao
setrata
deuma10-
teriaentre
irmaos,
massim
deum
sarteiodas
fun<;:oesquenao
santecnicas
(estassan
atribuidaspar
elei<;:ao).Dominio
comum?Tal
e0estatuto,
parexem
plo,da
Acr6pole
edaagora
deAtenas.
Osarque610gos
queescava-
ramapra<;:apublica
(aagara)
deMegara
Hibleia
naSicilia,
coloniafundada
nofim
doseculo
VIIIa.C,constataram
que,desde0inicio,um
espa<;:ocomum
forareservado
como
dominio
coletivodacidade.
Finalmente,
apresen<;:ado
"vi-lao"
entreosdeuses
nosrecorda
quecertas
pessoassan
ex-cluidas
dap6lis.E
0caso,em
Esparta,dos
hilotas,categaria
servilquecultiva
aterra,
e,emAtenas,
dosmetecos,
estran-geiros
domiciliados
quenao
tem0direito
devoto,
e,mais
ainda,dos
escravos,propriedade
doscidadaos
oudapr6-
priacidade.Partanto,
osaqueus,
quesan
urnexercito
decoalizao,
naoconstituem
umacidade
nosentido
classicodapalavra.
Possuem,noentanto,
asduas
institui<;:oesessenciais:aas-
sembleia,
quereune
todososguerreiros
eeconvocada
parAgam
emnon
desde0inicio
daIliada,
e0conselho,
quereu-
neumaelite
deguerreiros
dentreosmais
idosos.Nestor
esem
pre0prim
eiroausar
dapalavra.
EmTr6ia,
0Conse1ho
dosAnciaos
circunda0reiPria-
mo,eHeitor,
numadeterm
inaclaocasiao,
reuneaassem
-
bleiageral
dosguerreiros.
Nota-se
igualmente
apresen<;:a,
nospoem
ashom
ericos,dano<;:aode
maioria.
NaIliada,
osembaixadores
quevan
pediraAquiles
queretorne
aocom
-bate
(cantoIX)afirm
amestar
falandoem
nomedamaioria
dosdanaos.
Inversamente,
Telemaco
constata,em
ltaca,que
ospretendentes
saoapenas
umaminoria.
Elemesm
oetra-
taclo,porseus
inimigos,
como"arador
daagora'~
Alguns
se-cuJos
l11aistarde,seria
"del11agogo'~Ora,essas
cluasinstitui-<;:oesexistem
nouniverso
dosdeuses.
0inicio
docanto
xxda
Iliadaoferece
urnexem
plonotavel.
Segue-seimecliata-
mente
aoespantoso
epis6diododiscurso
queacavalo
Xan-
to,que
eimortal,
fazaseu
donoAquiles,
noqual
prediza
marte
pr6ximadeste:
Zeusentao,
doalto
doescarpado
Olimpo,
daordem
aTe-
mis[deusa
quesimboliza
aordem
civicaIparaconvocar
osdeuses
aassem
bleia.Ela
segue,portanto,
emtodas
asdirc-
<;:oes,divulgando0cham
adoque
implica
aida
aop<lLicio
de
Z~us.Nem
U111rio
falta-
C0111
exce<;:aodeOceano,
ncnhll-madas
ninfasque
habitamosbosques
encantadores,ason-
dasdos
riosouosprados
herbosos.1'odos
vemaopalacio
deZeus,
senhordas
nuvens,todos
sesentam
sobosreflna-
dosp6rticos
construidos,para
Zeuspai,pelo
sabioHefesto.
Detalhe
interessante:essa
assembleia
dedeuses
sucedeaumaassem
bleiadeguerreiros
paraaqual
saoconvocados
"atemesm
oosdistribuidores
depao'~
Partanto"Homero
retrataasinstitui<[oes
divinasaimagem
doque
decO~1hecs
dasinstituis:oes
humanas.
Zeus(figura
17)e,para
acidade
dosdeuses,
sil11ples-
mente
0que
Agam
emnon
epara
0exercito
dosaqueus
ePriam
opara
acidade
dostroianos?
Naodevem
oslevar
esseparalclo
longedem
ais.0certo
eque
0Olimpo
emarcado,
durantetoda
aIliada,
peladivisao,
0que
secham
aramais
tardestasis,
comojamencionei.
Zeusintervem
,varias
ve-zes,para
impedir
osdeuses
decom
baterou,
aocontrario,
paradar-lhes
todaaliberdade.
Quando
Aquiles
fazaseces-
sao,apedido
deTetis
(suamae)
Zeusfavorece
ostroianos.
Quando
Aquiles
retornaaocom
bate,eleinverte
asua
posi-<;ao.Zeus
amaseu
filhoSarpedon,
mas,a
pedidodoclapr()-
aqueu,deixa-o
morrer.
Damesm
aform
a,tem
simpatia
porHeitor,
quefezmuitos
sacrificiosem
suahom
enagem,po-
remseinclina
diantedo"dia
fatal"marcado
paraasua
mor-
te.Emolltras
palavras,elesabe
quenao
eonipotent~C
on-tudo,
naocessa
delembrar
que,sozinho,
emais
fortedo
quetodos
osoutros
deusesrellnidos
eque
temcondi<;6es
deexpulsa-los
doOlimpo.
Nesse
sentido,emais
poderosodoque
Agam
emnon
entreoshom
ens.Emuito
dificilinterpretar
historicamente
esseparale-
10.Naepoca
emque
(conformeaavalia<;aogeral)
"Home-
ro"criou
aIliada
eaOdisseia,
amonarqllia
desaparecerada
maioria
dascidades
gregas.Dando
cursoacom
para<;aocom
Acatzpio
deRolondo,
naopodem
osmais
falar,comrela<;ao
aofinal
doseculo
IXouaocom
e<;odo
XII,deumamonar-
quiacom
oadeCarlos
Magno.
Arealeza
sefragm
entarana
feudalidadeeja
existiamsenhores
maispoderosos
doque
0
reidaFran<;a.0
quenao
impede
Carlos
Magno
deserapre-
sentadona
Ca11i;aocom
oum
poderosissimosoberano,
emcontato
diretocom
0Deus
doscristaos.
Ebem
possivelque
osreis
daIliada
sejammais
uma
lembran<;a
-fantasiada,
evidentemente
-doque
umarea-
lidadecontem
p0l"<lnea.Micenas
naoera
mais
acidade
"ri-caem
ouro"evocada
porHomero;
elanao
passavadeum
pequenoburgo.
0centro
domundo
gregosedeslocara
daEuropa
paraaAsia.A
liasedificil
determinar
0que
consti-tuia
aestrutura
dominante:
apolis
propriamente
dita,com
osseus
6rgaosdedelibera<;ao
ededecisao,
ou06ikos,
istoe,0dom
inioterritorial
sobre0qual
seapoiava
0poder
doschefes
deguerra?
Umapassagem
docanto
XIIdaIliada
eca-
pitalaesse
respeito.Sarpedon,
reidosHciose
filhodeZeus,
dirige-seaoprim
oGlauco:
Glauco,
porque
nosdao
tantosprivilegios
naLicia:lugares
dehonra,
boascarnes
etac;:ascheias?
Porque
somosolhados
comodeuses?
Porque
gozamos,
juntoamargem
doXanto,
deum
imenso
dominio,
adequadotanto
paraospom
arescom
opara
oscam
posdetrigo?
Nosso
devernao
e,entao,ocupar
hoje,com
oseespera,
0prim
eirolugar
entreosHcios
eresponder
aoapelo
dabatalha
ardente?
Quanto
aUlisses,nao
eap6lisdeItaca
quevem
osnoen-
tantofuncionar
noinicio
enofim
daOdisseia,
nomomento
daguerra
civiledareconcilia<;aofinal,m
assim
06ikos
(apro-
priedadeprivada)
deUlisses
queepilhado
pelospretenden-
tes.Paravence-los,
elenao
seap6ia
naassem
bleiadeItaca;
pelocontrario,
ap6ia-senoseu
filho,noseu
porqueiroeno
seuboieiro.odestino
dacidade
dosdeuses
emaiscom
plexo:deini-
cioporque
emuito
dificilretirar
osdeuses
gregosdanarra-
tivanaqual
0poeta
osencerra;
emseguida
porqueaevo-
,;-It)
I1
IJ
I1
lU'rao
dareligiao
grega,talcom
opodem
osimagina-la,
re-f
)for'ra
0poderio
deZeus
aoinves
deenfraquece-lo.
Areli-
IJ
giaogrega
daepoca
arcaicaeclassica
conhece,aomesm
oI•
tempo,
0fracionam
ento(toda
cidadetern
osseus
deusese
I•
osseus
cultos:Atena,
porexem
plo,esoberana
emAtenas)
Itea
pan-helenismo
(0Zeus
deOlimpia
e0Apolo
deDelfos
saodeuses
queatraem
todososgregos).
Poucosgregos
ti-t
veram(nas
epocasmencionadas)
afamiliaridade
comosdeu-
..•sesque
caracterizaosher6is
deHomero
(ressalve-se,entre-
~tanto,
queestam
oslidando
comumaobra
literaria).Para
•aproxim
ardeuses
ehom
ens,sera
precisoinventar
novasfor-
tmasdeculto,
masisso
eoutra
hist6ria..•
0paradoxo
dopoem
ahom
ericoreside
nofato
deque
I'osdeuses
-gra'ras
aepopeia
-estao
aurn
tempo
pr6xi-I..•
mosedistantes.
EsUiopr6xim
osporque
certosher6is
-I.•
nemtodos
-falam
comeles,m
asnem
sempre,
seassim
I'posso
dizer,comrespeito
econsidera'rao.Apolo
enganaAqui-
I•
leses6serevela
ap6ste-lo
desviadodeseu
caminho.
Atena
I11
ternafei'rao
porDiom
edeseUlisses
naIliada,
e,noque
diz
I~
respeitoaeste
ultimo,durante
todo0transcorrer
daOdis-
.•seia.Posidon
naoperdoou
Priamo,filho
deLaom
edonte-
I.,
e,portanto,atodos
ostroianos
-,pela
injusti'raque
sofreuI
.,por
partedeseu
pai.Naoesteve
Posidonaservi'ro
deLao-
Imedonte
durantetodo
urnano?
Naoconstruiu
eleasmu-
.,Iralhas
deTr6ia?
E,nofim
dascontas,
naoacabou
sendopri-
""I,
vadodosalario?
I1
Esseexem
ploilustra
bastantebem
asrela'r0es
comple-
II
xasque
existementre
osdeuses
doOlimpo
eosprincipes
;•
II'I
troianos.Zeus
recrutouentredes
aseu
escan'rao(Ganim
e-I
I.,
des),Afrodite
umamante
(Anquiscs),
Posidonurn
patrao,I
I»72
,
~~~~-~~--~--~---
queacabei
decitar
(Laomedonte).
Essessinais
debenevo-
lenciados
deusespara
comostroianos
sao,narealidade,
ambiguos.
Naogarantirao
asalva'rao
deTr6ia.
Aproxim
i-dade
comosdeuses
eateperigosa
paraostroianos.
Noma-
ximo,Sarpedon
eHeitor
setom
arao"belos
mortos",
enao
cMLlveresultrajados
comoteriam
desejadoaqueles
queos
mataram
.
Jadisse,acerca
dosdeuses,
queeles
estavampr6xim
osedistantes.
Arela~ao
normale,com
efeito,distante.Osdeu-
sessecom
unicamcom
oshom
enspor
meio
desonhos,
osquais
podemser,as
vezes,enganadores,com
osevenoini-
ciodocanto
IIda
lliada,quando
Zeusinfonna
Agam
em-
non,em
umsonho,
quechegou
ahora
detom
arTr6ia!
Ha
tambem
ospressagios
quepodem
serveridicos,
desdeque
seencontre
uminterprete
qualificado,com
o0adivinho
Calcas.
Homero
0recorda
nocanto
IIdaIliada.
EmAulis,
diantedos
gregos,umaserpente
devorouoito
passarosjun-
tamente
comamaedeles
antesdetransform
ar-seem
pe-dra.
Issosignifica,explica
0adivinho,
quedurante
nove'1nos
osaqueus
sitiaraoTr6ia
eque
tomarao
acidade
nodecor-
rerdodecim
oano.D
olado
troiano,eHeleno,
irmaodeHei-
tor,quem
compreende
0plano
dosdeuses
esugere
que0
her6i(cuja
horaainda
naochegou)
lanceum
desafioaos
che-fes
dosaqueus.
Elepode
agirassim
porqueAquiles
aindanao
retomou,
es6Aquiles
podevence-lo.
NaOdim£ia
hatres
adivinhos.Nocanto
XI,no
Hades,
Tiresiase,entre
osmortos,
0equivalente
deCalcas
entreos
vivos.Telemaco
trazconsigo,
nasua
cmbarca<;ao,Teodim
c-no,
0qual
acompanhara
Ulisses
nareconquista
deseu
do-minio.
E,finalmente,
Haliterses,
quevive
emItaca:"D
entre
oshom
ensdeseu
tempo,
eleera
0melhor
paraadivinhar
asarte
pelovoo
dospassaros".
Eborn
lembrar
queospassa-
rosS,1O
intcrmcdi,lrios
"nalurais"porquc
frcqlicnlam0ceu
ehabitam
aterra,
situando-seentre
osdeuses
eoshom
ens.Haliterses
e0prim
eiroaanunciar
aospretendentes,
nocan-
toII,que
0retorno
deUlisses
eiminente
eque
esseretor-
nonao
pressagianada
deborn
paraeles.
Mas0modo
normal
decom
lmica~ao
entrehom
ense
deusese0sacrifieio
sangrento,desde
amodesta
oferendadeurn
carneiroate
ahecatom
benaqual
perecemcern
boiscuja
carneedistribuida
aosparticipantes.
Parque
razaoHei-
toracaba
recebendoashonras
f(mebres?
Parque
Aquiles
devolve0seu
carpo,que
osdeuses
haviammantido
intac-toadespeito
dosultrajes
infligidosaocadaver?
Osdeuses
dclibcramsobre
0destino
dessemarta
nocanto
XXIVeul-
timo.Apolo
eHera
desenvolvemosseus
argumentos:
queciadas
oferendasque
meagradam
.Havia
sempre
ban-quetes
nomeualtar
etodos
partilhavamdas
liba~6esedas
espessasfum
aradasquc
S,10
0quinh,lo
delodos
n()s.
Durante
todaaOdisseia,
adiferen~a
entre0mundo
sel-vagem
e0mundo
civilizado(0grego
basicamen
te)eesta-
belecidapela
possibilidadeou
naodo
sacrificio.Em
Pilo,Nestor
e0sacrificadar
parexcelencia,
dourandooscornos
dasvacas
queoferece
aosdeuses.
JaPolifem
o,que
comeos
homens
semcozinha-los,
faz0contrario
deurn
sacrifieio.
Diante
deTroia,
0sacritkio
humano
eexcepcional,
masexis-
te.Aquiles
oferecedoze
jovenstroianos
porocasiao
dosfu-
neraisdepatroclo.
Masosdeuses
estaolivres
paraaceitar
ourecusar
0sa-
crifieio.Apedido
deHeitar
ede
Helena,
Hecuba
ofereceurn
veumagnifico
aAtena
efaz
voto"de
theimolar,
noseu
templo,
dozevitelas
deurn
ano,seadeusa
sedignar
ater
compaixao
dacidade".
Asacerdotisa
pousa0veu
"sobreos
joelhosda
divindade",isto
e,desua
efigie,erepete
0voto,
"masaresposta
deAtena
e:Nao".
Essarecusa
eurn
anuncio
dedesastre
paraostroianos.
Nesse
particularosdeuses
nao
podemser
coagidos.
Poracaso
Heitor
naoassou,
emvossa
honra,alguns
bonspeda~os
decarne
deboi
ecabras
semmacula?
Eisumaideia
tipicamente
tua,deus
cujoarea
edeprata!
Pretendeshom
arHeitor
tantoguanto
honrariasAguiles?
Jleitorcapcnas
UlllIllortal,
quemalllou
nllmscio
dcIllU
-Iher,enquanto
ALjuilese
filhodeumadcusa
...
Heitor
era,paraosdeuses,
amaiscaro
dosmortais
guenas-
ceramem
ilion.Era
earntambem
amim,pais
jamais
secs-
6.I-Iomens
emulheres,
jovensevelhos
Acidade
gregaera
urn"dube
dehorn
ens",0que
querdizer
queasmulheres
estavamexduidas.
Nadem
ocniticaAtenas,
elasnao
tinham,evidentem
ente,0direito
devoto.
Entretanto,apartir
de451,
paraser
atenienseera
precisonascer
demulher
ateniense.Esse
modelo,
noentanto,
naoera
unico.Em
Esparta,asm
o<;:as,semque
guerreas'3em,cram
educadascom
orapazes
emostravam
ascoxas,
0que
choca-vamuito
osatenienses.
0imaginario
grego,contudo,
crioumulheres
guerreiras,iguais
aoshom
enseate
superiores:as
Amazonas.
Porduas
vezeselas
aparecemna
Iliada:Priam
oserecorda,
nocanto
III,dete-Ias
combatido
nasua
distan-tejuventude,
eGlauco
explicaaDiom
edes,nocanto
VI,que
seuancestral
Belerofonte
asexterm
inouem
massa.N
ospoe-
masque
daraoseqU
enciaaIliada,
0destino
deumaama-
zona,Pentesileia,
erelatado:
depoisdemata-Ia,
Aquiles
seenam
oradela.
Ospintores
eosescultores
gregosreprcsen-
taraminum
erasvezes
0duelo
entreAquiles
ePentesileia
(figura25)"A
lgunsalltores
modernos
forambastante
inge-nuos
paraacreditar
queesse
"povodemulheres"
realmente
existiu,ecertas
feministas
adotaram-nas
comoprecursoras,
oque
eumanova
provadaint1uencia
doimagin,irio
gregoem
nossopensam
ento.Asmulheres
SaDpOllCOnum
erosasnaIliada,
aindaque
aguerra
tenhasido
desencadeadapelo
raptodeHelena
ede
sellStesouroseque
possaser
interrompida
aqualquer
mo-
mento
seostroianos
decidiremdevolver
ajovemgrega.O
u-troindicio
interessante:aIliada
come<;:acom
0confronto
en-treAquiles
eAgam
emnon
arespeito
deCriseida
eBriseida.
Eradesejo
deAgam
emnon
queaprim
eiraenvelheces-
senoseu
palacio,com
ocriada
etambem
comoconcubina.
For<;:adoadevolve-la
aseu
pai,eleconfisca
acativa
deAqui-
Ics,Briseida,
"debelas
faces",masrevela,
nocanto
IX,que
"naoseuniu
aelacom
oenorm
alque
aconte<;:aentreho-
mens
emulheres'~
Criseida
eBriseida
SaDpresas
deguerra
como,deresto,a
maioria
dosescravos.C
onvemrepetir:
"naoha,no
campoaqueu,
umallI1icaesposa
legftima.Recebi,um
dia,avisita
deumajovem
professorauniversitaria
quede-
sejavaestudar
adem
ografiahom
erica.Fuifor<;:adoa
Ihein-
formarque,
emdez
anosdesftio,
Homero
naomencion
allIn
lllliconascim
cntonocam
poaquell.
Outros
poctasepi-
cose,sobretudo,
ostragicos
corrigiraoessa
lacuna.Darao
aAjaxurn
filhodacativa
Tecmessa.M
asisso
naoe0suficien-
tepara
justificarurn
estudodem
ografico!Dolado
troiano,Hecuba
eumarainha
idosa.Em
vaoelasuplica,
nocanto
XXII,que
Heitor
naoenfrente
Aquiles
eque
busquerefugio
nointerior
dasmuralhas.
Cassandra,
filhadeHecuba
edePdam
o,esem
elhantea"aurea
Afrodi-
te".0canto
XIda
Odisseia,0qual
sepassa
noHades,
0pais
dosmartos,
nosrevelara
comofoi
0seu
tlm:elafoimorta
porClitem
nestrajunto
aocorpo
deAgam
emnon,
queatrou-
xerapara
casacom
opresa
deguerra.
Esquilo,noseu
Aga-memrwn,fara
umaevoca<;:aonotave1
dessecrim
e.ACassan-
dradeEsquilo
edemuitos
outrosautores
eumaprofetisa
naqual
ninguemcre.Ela
recebeuesse
domingrato
deApo-
10,aquem
naoquis
ceder.NaIliada,
elanao
eumaadivi-
nha,masesta
proximadeserumavidente.
Empoleirada
noalto
dacidadela
deTroia,
Pergamo,ealwica
areconhecer
seupai
empenocarro
quetraz
devolta
0corpo
deBeitor.
Fazumcham
adoretum
banteaoshom
ensemulheres
deTroia
paraque
venhamintegrar
0cortejo
daque1e"belo
morto".
Visao
evoz:podem
osnos
perguntarseaCassandra
profeti-canao
eurn
desenvolvimento
dessadupla
nota<;:aodaIliada.
Dessa
"multidao
detroianas,
Androm
acae,com
exce-<;:aode
Hecuba,
a(mica
aseridentificada
pelopoeta
daIlia-
dacom
oesposa
emae.
Seunom
erdm
e0hom
em(aruir;
nogenitivo:
andr6s)eo
combate
(nuiche).Filha
deEecion,
reideTebas
naCilfcia,ela
perdeu0pai
eossete
irmaos,
todosmartos
parAquiles.
Este,noentanto,
respeitou0cadaver
deEecion
enem
mesm
othe
retirouasarmas,
comoreve!a
asua
filhanocanto
VI.Im
possive!nao
ligar0seu
nomeao
quesepode
chamardesuperm
asculinidadedoseu
circulo.Tanto
mais
queHomero
nosdaurn
exemplo
inverso:Do-
Ion_0astuto
-,0espiao
poucoglorioso
epouco
respei-
tadoque
sedisfar<;:ade
lobonocanto
x:
Hacerta
masculinidade
emAndrom
aca,assim
como
hacerta
feminilidade
emD610n.
Masamulher
mais
celebreda
IliadaeHelena
(figura27).
Nopoem
a,ela
naogera
filhoscom
Paris,porem
temumafilha
cujonom
enao
ecitado.
Eapenas
naOdisseia
queconhecerem
ossua
filha(mica,
Hermione,
queRacine,
de-pois
deEuripides,
transforma
empersonagem
terriveLHe-
lenae,na
Iliada,exatam
enteaque
seraovarias
mulheres
naOdisseia:
umainterm
ediariaentre
daismundos.
Nocanto
Ill,durante
atregua
queprecede
aduel
aentre
PariseMe-
nelau,Helena,
convocadapor
his,amensageira
deZeus,
aparecesabre
asmuralhas,
ondesereline
aConselho
dosAnciaos,
composto
dePriam
oemais
setehom
ensidosos,
"cigarrasque,
naarvore
deum
bosque,fazem
ouvirasua
vozagradavel".
Emvan
Helena
secobre
comurn
longoveu;
mesm
oassim
elaimpressiona
asvelhos:
Quepor
talbeldade
soframos
tantapena.
Nosso
malnao
valeum
sodos
seusolhares.
Todaviaemelhor,
paranao
irritarmais
aAres,
Devolve-la
aseu
esposo...
Nao
edeespantar,
dizial1lessesbons
velhinhosNoalto
domuro
troiano,aovercm
passarHelena,
Nadata
emque
nosencontram
os,no
tempo
dospoe-
mashom
ericos,abeleza
quepenetrara
nocora<;:ao
dacivi-
liza<;:aogrega,
queserevelara
napoesia
deSafo,
nosvasos
deEzequias
enas
esculturasdeFidias,
expressa-separ
meio
deurn
personagemsedutor
eperigoso
comoHelena.
Mas
esseassunto
naoterm
inaai,pais
Priamosolicita
queHele-
nanom
eie,em
ordemhierarquica,
aschefes
aqueusque
po-dem
servistos
doalto
dasmuralhas:
Agam
emnon;
Ulisses,
oqual,
urnpouco
menor,
ecom
paradoaurn
carneiroresis-
tente;Ajax,
filhodeTelam
onioeIdom
eneu,rci
dcCrcta.
Elaamite,
noentanto,
Menelau,
0marido
enganado,cas
sinalaque,
daLacedem
onia(Esparta),
deveriamtcr
vindo
osseus
irmaos:
Castor
eP6lux.
Helena
eapr6pria
beleza,
massecom
portavulgarm
ente...Para
muitas
gera<;:6es,an-
tigasemodernas,
elaencarna,
assim,nas
suascontradi<;:6es,
"0etem
ofeminino':
Nomundo
daOdisseia,
apresen<;:a
dasmulheres
equa-
se0oposto
doque
sepode
encontrarnaIliada.
Jaern
1713,aingles
Richard
Bentley,
urndos
fundadoresda
tllologiamodem
a,havia
sugeridoque
aOdisseia
foracom
postapara
urnpllblico
ferninino.Urnescritor
Inglesdaepoca
vitoria-na,
Samuel
Butler,
chegaraapropor
aideia
dcque
aOdis-
seiafoi
escritapor
umarnulher,
eque
essamulher
naopode
Nao,
naoepossivel
censurarostroianos
nemosaqueus
deboas
grevasse,por
talmulher,
sofremtao
longosmales.
Elatem
mesm
oaaparencia,
quandoavem
osdeperto,
dasdeu-
sasimortais
...Mas,apesar
detudo,
mesm
osendo
assim,que
elaembarque,
queela
parta!Naoadeixem
aquicom
ourn
flagelopara
nose,m
aistarde,
paranossos
filhos!
Um
poetaque
citeino
primeiro
capitulodeste
livro,aquele
mesm
oque
queria"ler
emtres
diasaIliada
deHo-
mero",
PierredeRonsard,
adaptoumaravilhosam
enteesses
versos;estava
enamorado
entaodeumaoutra
Helena:
mulher
[que]h
"cora
0seu
esposo,abra<;:ando-o,apos
ve-Iotom
bardiante
dacidade
ed,eseu
povodefendendo
apatria
eosfilhosdo
diafatal
'Damesm
at
'VI',
...orm
a,lssesderram
avalagrim
asdepiedade.
Imagem
extraordimiria,
dequalquer
forma;um
dosmo-
mentos
mais
elevadosdapoesia
homerica,
jaque
Ulisses,
0
"her6idapersistencia",
ecom
paradoimplicitam
enteaAn-
dromaca.Tudo
sepassa,
naOdisseia,
comose0mundo
femini-
nofosse
duplo:acolhedor
eperigos o.
Assereias
sancantoras
destrutivas.Caribdis
eCila,m
onstrosfemininos,
destroemoudevoram
osque
seaproxim
amdem
ais.Guardam
os,ate
hoje,aexpressao
proverbial:"Cair
entreCilaeCaribdis".
Num
certopais
imaginario,
Ulisses
eseus
companheiros
saoacolhidos
porumajovem
quetirava
aguadafonte
-um
poucocom
oNausicaa,
quelavava
asua
roupa-,
mas
essajovem
encantadora,que
mostra
0cam
inhodopalacio
doseu
pai,eafilha
doreidos
lestrigo nes,ospescadores
cani-bais
dosquais
trateinocapitulo
2.EmItaca,
asservas
fieissedefrontam
comasservas
infieis,que
sao,comojaexpli-
quei,crue1m
entecastigadas.
Massera
quesetrata
deumaoposi<;:aobanal
entre0bem
eomal?Naverdade,
essaoposi<;:aoexiste,e
demaneira
exem-
plar.Durante
quasetoda
anarrativa,
desde0inicio
dopoe-
ma,Penelope
ediferenciada
damulher
adultera,aquela
quetom
ouum
amante
naausencia
domarido
eque,quando
doretorno
desteultim
o,fazcom
queseja
assassinado:Clitem
-nestra,
aesposa
maldita
deAgam
emnon.
Zeusevoca
asua
hist6rianoinicio
dopoem
apara
isentarosdeuses
detoda
responsabilidadenesse
crime,e0pr6prio
Agam
emnon,
noHades,
faz0relato
dessedram
apara
Ulisses,que
naoconhe-
cia0seu
fim.Ele
foimorto
"comosemata
umboi
noma-
tadouro",isto
e,comoum
animaldea<;:ougue:
seroutra
senaoN'
'.com
o"AB'
.~~lsIC
aa,cUJOnom
epode
sertraduzido
a.Jquelra,pseudonim
oque
ocultariaum'
.cesa
gred,S'
'1'~
apnn-
gaa
L1C1la.C
omoesquecer
comefeit
.:Itar
''t'1'
1"'
0,senl
al0-
<esautlmallpotese
umtanto
d'.'I'
..
d.
esvalraca,que
0obJetl-
~o1avlagem
deVlisses
ereencoJ1trar
Penelope,amulher
Ie,aquela
queenganou
durantequatro
anosd
tospreten-
enes,tecendo
dedia
umamanta
quedesfaziaa
noite?Co-
moesquecer
asfiguras
quesem
preestendem
amaoa'Vlis-
ses,socorrendo-o'In
L'
'd
".
0-eucotea,
mortal
transformada
emeusa
l~ue,duranteatempestade
descritanocanto
ventre-
gaaVlsses
0veu
magico
lU·II
..,
'F''.?
'l1eleperm
ltlradesem
barcarna
eaCla.E
Nauslcaa,
lavandoarouIJa
queIhe
c'onfi.(
IOU0seu
papal0term
oest,,}no
textogrego)
eq
d'1
.I.N'
"ue
esco)re
Vhsses
HI,
,ltlSIUa,que
pensaem
casamento
eque
expl''<
,VI'
0
seslea
aIS-
o,quc,
paraganhar
aconfianra
doreiAl'
,.
•C11100,e
l11elhorconqlllstar
primeiro
aconfianra
de'0
•
Arete
E"
_T
suaesposa,
aral11ha
...,pO
lacaso,nao
eavelha
amadelTl'
'd,'fi.
Issesquem
01entl
1e<1,noseu
pr6prioIJahicio
nel'l,'"t.',
.d'
't
<CICdIIZ
quedctcm
aClma0Joelho
(figura36)?
Enao
hafi'1
1 .'namente,
noIIades
umaonga
dlgr'-
1'
essaosoJreasmulheres
celebresque
v1''.
encontrouncssc
lugarsubterraneo
alem'I'}S11'1I~"
.'IS~.es
N'
L<.
<}1°IJILal11ae(
averd
d.
-<
•ae,as
cOlsassao
mais
compIe
.0
Od'"
_,
xas.autor
d,}lsseza
naoecertam
enteuma
ll··(
..
muleI,
esena
umanacro-
nlSITIOsl11gularfaze'd1
I:'(1eeum
1eml11ista,no
sentidomoder-
nodapalavra.
Noentanto,
Ulisses
ecom
paradonoClllto
VIII,a
Ul1la
'<
rr..•..•--------------------------•~.-,•,,t•t,,,,,,,)l,,•,,•,,1t•
Assim
foiaminha
lamentavelm
orte;eosm
eusforam
abatidosjunto
amim,
comoporcos
dealvaspresas,
nacasa
dehornem
ricoepoderoso
paraasbodas,urn
encontroouurn
festim.
naoderram
avauma1<igrim
anajornada,
mesm
oque
perdesse0paie
amae,
mesm
oque
tivessevisto,diantedos
pr6priosolhos,
seuirmaoou0filho
amado
sucumbirpela
espada!
umadroga
queadorm
ecetoda
iraetoda
pena;quem
querque
atom
asse,misturada
aovinho
dacratera,*
Homero
aindaesclarece
queesse
es6um
exemplo,
en-tre
outros,dos
"astutosencantos"
deque
dispoearainha
maga.
Esseexem
plobasta
ejafaz
deHelena
urnpersona-
gemsem
elhanteaos
lot6fagos,aqueles
queadorm
ecemos
companheiros
deUlisses
eosprivam
demem6ria.
IHainda
asduas
"terriveisdeusas
comvoz
humana":
Circe
ea"inteiram
entedivina"
Calipso.
Ambas
oferecem0
leitoaUlisses;
Circe,provisoriam
ente,eCalipso,
a"oculta-
dora",comvontade
defazer
deleseu
esposoeconceder-Ihe
aimortalidade.
Circe
seencontra
cercadadeanim
aisselva-
gensque
foramoutrora
homens
edecide
transformar
emporcos
oscom
panheirosdeUlisses,
eeem
porcoque
cia0
teriatransform
adose0deus
Hermesnao
houvessemuni-
do0her6i
deurn
antidoto,afamosa
plantamoly,
deraizes
negraseflores
brancas.D
efeiticeira
elasetorna
amante
eate
mesm
oguia,ja
queajuda
Ulisses
aencontrar
0seu
ca-minho
deretorno.
Decididam
ente,ambiguidade
doestatu-
tofeminino
naOdisseia.
Encontramos
umaambiguidade
comparavel
naevoca-
~aodos
ritosdaadolescencia.
NaAtenas
classica,osjovens
levavamdois
anospara
ultrapassaraetapa
queosconduzia
aplena
cidadania.Cham
avam-nos
entaodeefebos.O
ra,des-sesritos
deadolescencia
dosrapazes
n6snelotem
os,com
re-la~aoa
epocaarcaica,
nenhumconhecim
entodireto.
Somos
obrigadosapassar
pelasform
asliterarias
ouartfsticas
e,pa-
Agam
emnon
termina
comparando
essamorte
parti-cularm
enteabjeta
-imposta
porEgisto
(urnefem
inado,segundo
todaatradi~ao
posterior)eauxiliada
diretamente
porClitem
nestra-com
amorte
emcom
bate,a{micadig-
nadoguerreiro
queele
haviasido.
Damesm
aform
a,ha
servas£leis,com
oaamadeUlisses,
etambem
in£leis.As-
sim,acriada
quehavia
sidoencarre
gadadetom
arconta
deEum
eurapta
0"divino
porqueiro"porque
foraseduzida
pOl'urn
marinheiro
fenicio.Aculpada,
entretanto,nao
tira-riaproveito
doseu
crimepor
muito
tempo.
Morreu
duran-teaviagem
e"foijogada
aomarpara
alimentar
ospeixes".
Examinem
osagora
astres
mulheres
singularesencon-
tradaspor
Telemaco
eUlisses.
Helena
permaneceu
"seme-
lhanteaaurea
deusaArtem
is",adespeito
deterem
sepassado
unsvinte
anosdesde
0seu
raptopor
Paris.Essa
permanen-
ciadabeleza
farasorrir
muitos
espiritosracionalistas,
como,
porexem
plo,0caricaturista
Honore
Daum
ier,que
arepre-
sentaracom
oumahorrenda
megera
(£lgura26).
Mas,
nocanto
IVdaOdisseia,H
elenasetransform
anum
amaga
be-ne£lca
quedispoe
deumadroga
poderosa,trazida
doEgito,
racOl1le~ar,
naturall1lente,pelos
poemas
homericos.
Mas
sempre
econveniente
lembrar
queesses
poemas
naosan
m;ll1u,lis
eque
1:11ampor
allls;\odaqllilo
quelodos
conheciam
porexperiencia.
Todorito
depassagel1l
supGeduas
al-ternativas:
0sucesso
ou0fracasso.
Passardainfancia
para
aidade
adultasupG
eumatransi<;:ao
queosritos
tempor
fun<;:ao,justamente,
dral1latizar.Umdos
modos
favoritos
dadram
atiza<;:aoeainversao:
apassagem
porum
mundo
feminino
eselva
gem.Ena
medida
emque
0jovem
soubeafrontar
0mundo
selvagemque
eleedigno
deser
integra-doa
sociedadedos
adultoscivilizados.
Masele
podefalhar
nasua
inicia<;:aoeperder-se
"naselva".
Muito
frequente-mente,
nostextos
gregos,umacerta
formadeca<;:a(ou
de
guerra)marca
apassagem
paraaidade
adulta.oLmico
personagemque
vemos
entrarnaidade
adul-tadurante
0tempo
danarrativa
eTelem
aco,cujo
nomesig-
nifica"aquele
quecom
batedelonge)),
0que
sugeremais
um
arqueirodoque
umcom
batenteque
enfrenta0inim
igoca-
raacara.
Telemaco
temagora
unsvinte
anos,pois
erabebe
quandoseu
paideixou
Itaca.Ospretendentes
tematen-
dencia
detratcl-lo
comoum
garoto,mas
elerebate
jano
cantoII:
Naovos
bastater-m
eoutrora
(onsumido
tantasriquezas,
quandoellera
aindacrian<;a?
Mas,hoje
quesou
urnhornern,
queou<;:o
oque
sediza
minha
volta,que
rninh'almaevollliu,
tentareilan<;:arsobre
vastoda
arna
sorte.
vemateniense
daepoca
classicasetornava
membro
daas-
sembleia.
Ora,
naoapenas
Telemaco
afirmaasua
identidadedeadulto
comotambem
restabeleceapeSlis,ao
convocar,pe-
laprim
eiravez,
aassem
bleiae0conselho.
Comparece
nu-mavestim
entacuriosa,
comumalan<;:a-
algunstraduzem
:
umchu<;:o-
debronze
e,sobretudo,acom
panhadopor
doiscaes.E
mais
umtraje
dejovem
ca<;:adordo
quedecidadao.
Senta-senapoltrona,
0trono
deUlisses,
marcando
assim0
seudireito
aheran<;:a.M
as,segundo
aregra
classica,0deca-
nodaassem
bleia,"um
heroicurvado
pelaidade
ecom
mui-
taexperiencia)),
tomaapalavra
primeiro
efaz
0leitor
saber
que"desde
que0divino
Ulisses
partiu,afrente
dosseus
con-
cavosnavios,
nuncamais
tivemos
Hem
conselhonem
as-
sembleia".Eaviagem
deTelem
aco,com
e<;:adaeterm
inadacom
umardil,
umafuga
eum
retornoclandestino,
quemarca
asua
fa<;:anliadeefebo.
Seuprim
eirocom
batesedara
nacom
pa-nhia
dopai,
nabatalha
contraospretendentes.
Quando
se
trata,nocanto
XXI,deretesar
0arco
deUlisses,
Telemaco
e0
unicoque,
aexce<;:ao
dodono,
tinhacondi<;:G
esderealizar
essaproeza.
Seupai,
noentanto,
0impede
deprosseguir
natentativa.
Nofinal
daOdisseia,
quandotres
gera<;:oessanpos-
taslado
alado,
representadaspor
Laertes,Ulisses
eTelem
a-
co,este
ultimojaeum
adultocom
pleto.osegundo
exemplo
deumainicia~ao
bem-sucedida
eretrospectivo,
poisenarrado
pelovelho
Nestor,
nocanto
XI
daIliada.
Suaprim
eiraguerra
sedesenrolou
anoite,
porocasiao
deumaquerela
em(orno
deum
rebanhodevacas,
duranteaqual
0entao
jovemNestor
enfrentoucam
pone-ses
enao
guerreiros.Fie
IllalaIJIlldos
seusinim
igosetem
ocuidado
deregistrar
area<;:aode
seupai,
Neleu,
dequem
era0unico
filhosobrevivente:
omeuterceiro
eultim
oexem
plodeinicia<;:aobem
-su-cedida
tambem
eretrospectivo
eserefere
aUlisses
empes-
soa.Estamosnocanto
XIXda
Odisseia,eavelha
amaEuri-
cleia,aolaval'os
pesdeUlisses,reconhece
acicatriz
queele
ternacim
adojoelho
eidentifica
assimasua
antigacria.0
poetarelata
entao,deform
aum
tantolonga
aosolhos
de
II
888_ 9
---',
alguns(nao
aosmeus),
comoUlisses
foiferido.Elevivia
nacasa
deseu
avomaterna
Aut6lico,
"mestre
emfurtos
eem
perjlIrios",eque
haviaescolhido
0nom
edeUlisses:
Odys-
seus,"0Irado".
Pr6ximodaidade
adulta,Ulisses
estaca<;:ando,de
dia,noParnasso,
comosseus
tiosmaternos,
detalheque
indicaaidade
dosca<;:adores(figura
10).Aparece
umjavali,
quee
logoabatido
porUlisses.M
asantes
demorrer
0anim
alse
antecipolleconseguill
feli-Iobem
acimadojoelho.
Seustios
maternos
cuidamdele
"edetem
0sangue
escuropor
meio
deum
encanto".Ulisses
podeentao
retornara1taca,e
eessa
feridaque,
muitos
anosdepois,
avelha
Euricleiavem
are-
conhecer.Ca<;:ae
retornoaopalS:eis
aiossinais
segurosde
umanarrativa
iniciatica.Umdos
her6isda
Iliada,contudo,
naoconseguiu
sail'totalm
entedaadolescencia.
Trata-sedeParis-A
lexandre,ir-
maodeHeitor
eamante
deHelena,
queP,lris
raptaran3La-
cedemonia.
Eprovavel
quealenda
deParis
n;10estivcssc
inteiramente
formada
porocasiao
dacom
posi~aoda
Ilia-da.D
oseu
passado,Homero
s6evoca
rapidamente
0julga-
mento
envolvendoastres
deusas.Saberemos,
maistarde,
queP,lrisveio
aomundo
compressagios
dedestrui~;1opara
Tr6ia,que
foiexposto
nomonte
Ida,assim
comoEdipo
noCite-
ron,que
foirecolhidoeque
regressouafamilia
ap6sganhar
umconcurso
juvenil.Contentem
o-nos,todavia,
com0que
dizHomero
nocanto
IIIdaIliada.
P,lriseum
homem
duplo.Ele
temum
nomeduplo:
P,lris-Alexandre;
0lmico
otltrocaso
e0bebe
deHeitor
eAndrom
aca:Escam
andropara
osseus
pais,As-
tianax("0
Reida
Cidade")
paraostroianos.
Comoedes-
E0cora~ao
deNeleu
encheu-sedealegria
com0sucesso
queeutivera,
euque
partiratao
jovempara
aguerra.
Masessa
guerrajuvenil
emeSillO
aguerra?
Nao,
jaque
inimigos
verdadeiros,nao
camponeses
massim
guerreirosmunidos
decavalos
edecarros,
aparecemdiante
dePilo.
Nestor
querlutar,
masseu
pai0impede
e"esconde
osca-
valos".Euignorava
tudoainda,
diziaele,da
artedaguerra.
Aguerra
noturna,contra
oscam
poneses,nao
era,por-tanto,
aguerra.
Essanova
guerra,Nestor
afara,
entretanto,clandestinam
entee,de
inkio,com
oinfante.
Eumag~erra
inteiramente
diurnae,por
isso,perfeitamente
regular.Nes-
torjae
umadulto.
E0anciao
podeconcluir,
comumapon-
tadehum
orhom
erico:
Eis0que
euera,outrora,
entreoshom
ens-seesse
passa-
doalgum
diafoiverdade.
critoParis
quandoosdois
exercitossedefrontam
noinicio
docanto
III?
bundo,
sabeque
Aquiles
seramorto
pelat1echa
deParis.
Portanto,ele
continuousendo
umarqueiro,
0q~~
fazdele
d,.
dedaguerra
Pans,perso-
mais
umhom
emaastuC
la0qu
.nagem
meio
feminino,
belodem
aispara
umrapaz
-,seus
cabelosesua
belezasao
"dadivasencantadoras
daaurea
Afrodite"
-,eum
efeboincom
pleto.
Dolado
troiano,urn
campeao
seapresenta:
Alexandre,
se-
melhante
aosdeuses.Tern
umapele
depantera
sabreosom-
bros,urn
areaencurvado,
umaespada,
emaneja
duaslan-
<,:ascompontas
debronze.
E0retrato
deum
homem
dividido:apele
depantera
oremete
aomundo
selvagem.Ele
e,aomesm
otempo,
umarqueiro
-fun<;:ao
quemantera
-eum
combatente
clas-sico.
Ateaslan<;:assan
duplas.Quando
veMenelau,
Paris
conduz-secom
oum
covarde:
Comourn
homem
queveumaserpente
numdesfiladeiro,
recuarapidam
enteeseafasta,
tornadopor
urncalafrio,
ebate
emretirada,
enquantoapalidez
invadesuas
faces...
Heitor
seirrita
comesse
recuoeinsulta
0irmao,
mos-
trandoque
elenao
atingiuaidade
adulta:
Ah,Paris
doinfortunio!
Ah,sedutor
vaidosoesubornador!
Porque
nasceste?Por
quenao
morreste
antesdeconhecer
mulher?
Ellteria
preferidoassim
!Seria
melhor
doque
tever
hojedesprezado
eobjeto
devergonha
detodos!
Paristenta
reagireseprop6e
enfrentarMenelau.
Mas
oduelo,
gra<;:as(?)aAfrodite,
mudara
derepente,
e0belo
Alexandre
severa
transportadopara
0leito
deHelena.
Emvarias
ocasi6es,ele
reaparecerano
combate.
Heitor,
mori-
7.0rei,0rnendigo
e0artesao
Maspor
poucoque
osplanetas
ousemperder-se
emcondenavel
confusao,entao,
quantosflagelos!
Quantas
monstruosidades!
Quantas[sedi<;:()es!
Quantos
furoresagitam
0mar!
Quantos
terrelllotos!
Quecom
o<;:6esdosventos!
Ascatastrofes,
asmudan<;:as,os
horroresdestroem
erom
pem,arrancam
edesarraigam
,[com
pletamente,
daposi<;:aofixa
ondeseencontram
,aunidade
eacalm
aharm
oniosados
Estados!
Oh!quando
ahierarquia
eabalada,
,elaque
servedeescada
paratodos
osaltos
prop6sitos,
ve-sepadecer
0empreendim
entohum
ano.Comoas
[comunidades,
osgraus
nasescolas,
asfraternidades
nascidades,
otr<lficopacifico
entreaslongitudes,
osdireitos
deprim
ogenituraedenascen<;:a,
asprerrogativas
daidade,
ascoroas,
oscetros,
oslaureis
conservariamseus
titulosautenticos
semahierarquia?
Suprimiahierarquia,
desafinaisom
enteesta
cordaeescutai
quedissonancia!
Todososseres
sechocam
numaIuta
aberta.
Qual
dosdois
Ulisses
falaassim
?0da
Iliadaou
0da
Odisseia?0vocabulario
(com0emprego
doterm
o"longi-
tude)))eo
estilodao
aresposta:
trata-sedoUlisses
deShakes-
peare(1564-1616),
numape<;:aintitulada
TroiloeCressida.
'+
Agam
emnon,
Priamo,
Heitor,
Menelau,
TersitesePatroclo
figuramentre
ospersonagens
dessatragicom
edia,escrita
provavelmente
bemno
inlciodo
seculoXVII.
Costum
a-sevcr,
nessalonga
tiradasobre
ahierarquia,
umaespecie
deelogio
funebredasociedade
medieval
aqual
0Renascim
en-toeaorganiza<;:ao
doabsolutism
otinham
dadoum
golpefa-
tal.Masn30
enesse
planoque
elameinteressa.
Shakespea-relera
umatradu<;:ao
inglesada
Wada,
acfelllcride
daguerra
de7hSia,
dopseudo-
Dfctis
deCreta,
eAhist6ria
dadestrui-
r;aodeTr6ia,
dopretenso
Dares,
0Frigio,
antoresdaepoca
imperial
romana.
Enesses
textos,enao
naIliadCl,que
apa-reel'
0personagem
deTroilo,
filhodePriam
o.Quando
pensamos
nahierarquia,
n6slhe
costumamos
opora110<;:<\0de
igualdadc,que,
junlamcl1le
comalibcrda-
de,figura
naDec!arar;ao
dosdireitos
dohOlllelll
de1789.
Aideia
deigualdade
naoera
desconhecidano
mundo
grego,que
inventouadem
ocracia,masessa
igualdadefoi
sempre
;Atraduyao
edeOscar
Mendes;
W.Shakespeare,
Obra
(ompleta,
RiodeJanei-
ro,Nova
Aguilar,
1988,vol.I,p.77.(N
.T.)
reservada,mesm
oem
Atenas,
apenasaos
cidadaosdo
sexomasculino,
istoe,aumaminoria.
Nesse
particularanossa
civiliza<;:30jamudou
muito,
apesardeainda
existirgrande
mimero
deexcluidos
nassociedades
contemporaneas.
oque
haviapressentido
Shakespeareeconfirm
adope-
laanalise
deum
grandehistoriador
anglo-americano,
Mo-
sesFinley:
Vmaprofunda
clivagemhorizontal,
escreveuell',estratifica-
va0mundo
dospoem
ashom
ericos.Acima,osaristoi,
lite-ralm
ente"os
melhores"
[emportugues
dizemososaristocra-
tas],umanobreza
hereditariaque
possuiaamaior
partedas
riquezasetodo
0poder,
tantonapaz
quantonaguerra.
Abai-
xoestavam
todososoutros,
amultidao
quenenhum
termo
tecnicodefinia
coletivamente.
0fosso
queseparava
osdois
estatutosraram
enteera
ultrapassado,anao
sercom
oconse-
qiienciadeacidentes
devidosaguerra
easrapinas.
Epreciso
acrescentarainda
queospoem
ashom
ericosnos
daomais
exemplos
dequedas
doque
deascensao
social.As-
sim,por
exemplo,
Eumeu,
0porqueiro
deItaca,
foifilho
derei,
antesdeser
comprado
porLaertes,
e0pretenso
creten-se,por
trasdecuja
mascara
seesconde
Ulisses,
erafilho
deum
homem
ricoedeumaconcubina,
tendoconhecido
su-
cessivamente
ariqueza
eamiseria.
Retornem
osagora
aIliada,
aocanto
I."Umrei
sempre
estaem
vantagemquando
enfrentaum
plebeu)),esclarece
0
adivinhoCalcas,
especialistadas
rela<;:6esentre
osdeuses
eoshom
ens.Ell'solicita
aprote<;:ao
eventualdeAquiles
casoviesse
aser
necessariaaconvoca<;:ao
dorei
dosreis,
Aga-
memnon.
Noque
concerneaclasse
dominante,
noalto
daescahi,
semdtivida
alguma,esUioaqueles
aque
Homero
chamade"reis
nascidosdeZeus".Todos
temumagenealo-
giae,com
muita
freqiiencia,elaremonta
aum
deuse,por-
tanto,mais
oumenos
diretamente,
aZeus,
que,elemesm
o,epai
denum
erososdeuses
edeusas.
Atemesm
o0ciclope
Polifemoefilho
dePosidon,
"0agitador
dosolo".
Osreis,
tantoAgam
emnon
comoUlisses,
possuemumaarmasimb61ica,
0cetro,
quetem
suapropria
genealo-gia.Q
uandoAgam
emnon
selevanta,
nocanto
IIdaWada,
tera,um
cora\=aodebronze
110meupeito,
al1ao
serque
asfilhas
deZeus,
detentordaegide,
asMusas
doOlimpo,
co-
mecem
anom
ear,elas
mesm
as,todos
aquelesque
vieram
paraDiem
.
Damultidao
naoconsigo
falar,naoconsigo
darnom
es,mes-
moque
tivessedez
linguas,dez
bocas,umavoz
quenada
al-
Almica
exce~aoeum
homem
cujacaricatura
eujaIhes
apresenteinocapitulo
3:Iersites-0nom
edoseu
painao
ecitado,
0que
eum
sinalcaracteristico.
0poeta
quissalvar
doesquecim
ento0sold
adoraso
Tersites?Ele
eantes
0eco ,
desf~lVoravel,da
existencia,diante
dosaristoi,
declasses
so-ciais
menosgloriosas.
Umdos
poetasdociclo,
0autor
daEtieSpida,
poemacentrado
nospersonagens
deMemnon,
fi-Iho
daAurora,
edePentesileia,
arainha
dasAmazonas,
ima-
ginaniamorte
deTersites,abatido
porAquiles
comum
tini-cosoco.osoci610go
francesMarcel
Mauss
escrevell,noinicio
doseculo
xx,um
ensaiofamoso
sobre"0
dom,form
apri-
mitiva
datroca".N
aofaltam
exemplos
depresentes
recipro-cos
nospoem
ashom
ericos.Jalhes
faleidatroca
desigllalentre
Diom
edeseGlauco
nocanto
VIda
Iliada;no
cantoVII,Heitor
ofereceaAjax
umaespada
erecebe
deleurn
bol-drie.
Ospoetas
tragicosfarao
dessatroca
urnuso
sinistro.Com
aespada
deHeitor,
Ajax
sesuicidara
e,com0boldrie
deAjax,
Heitor
seraarrastado,
porAquiles,
emtorno
deTr6ia.
Trata-seaideumatroca
entreinim
igos.Nocanto
XXIV
daOdisseia,
Ulisses,
passando-sepor
urnforasteiro,
vaiverseu
pai,Laertes;
0filho
0encontra
todosujo
nojar-
dimethe
dizque
tllndia
recebcraUlisses
comoh6spede
eque
Ihedera
suntuosospresentes,
analogosaos
queAga-
memnon
oferece,no
cantoIXcIa
Iliada,aAquiles:
ouro,
estasegurando
0cetro
outroratrabalhado
peloesfonro
de
Hefesto.
Este0entregou
aosoberano
Zeus,filho
deCrono.
Zeusentao
0confiau
aomensageiro
deslumbrante.
Hermes
passau-oaPelope,
acavalari<;:a.Pelope,
porsua
vez,trans-
feriu-aaAtreu,
0pastor
dehom
ens.Aomoner,
Atreu
dei-
xou-opara
Tiestes,rico
emrebanhos.
ETiestes,
finalmente,
apas
nasmaos
deAgam
emnon,
escolhidopara
reinarsabre
inlunerasilhas
etoda
aArg6lida.
Essatransm
issaodosimbolo
dopoder,
queinclui
tantoquem
fabricou0objeto
comoospersonagens,
deusesouho-
mens,
quereinaram
comele,e
evidentemente
excepcional.Quando
Agam
emnon
sedirige
aoexercito,
elefala
deseus
"parentes,osher6is
dfmaos,
osservidores
deAres".M
asHomero
chegaasereferir
aossimples
soldados?Certam
en-teque
nao,eeleseexplica
nocanto
II:
Infelizmente
desperdi<rasteaspresentes:
seativessesencontrado
vivoaquiem
ftaca,elenao
teriadeixado
quepartisses
semcobrir-te
dedons...
paisejusti<radevolveraquem
da.
evocat6riosque
oscolocam
nacategoria
dosarmadores
oudos
especialistasdanavega<,:ao.Em
contrapartida,asalusoes
aoscom
erciantessan
quaseobscenas.
Assim
,por
exemplo,
Eurialo("0
homem
doalto-m
ar"),nocanto
VIII,
ignoran-doainda
aidentidade
realdeUlisses,
diz-lhe0seguinte:
prata,vestes
emulheres
"peritasem
trabalhosperfeitos".
LaertesIhe
respondecom
estaspalavras:
Essasdoa<,:oessao
feitasno
interiordacategoria
dosaristoi.
Ulisses,pO
l'exemplo,
recebeuvaliosos
presentesdos
feaces,osquais
n30pode,
retribuir,pois
haviachegado
ailha
inteiramente
nu.Noentanto,
essesaristoi,
doadorese
recebedoresdeobjetos
deluxo,
naoconstituem
,noimagi-
n,iriohom
erico,umaclasse
seguradeseus
direitosedeseus
valores.Oque
podeserafirm
adonocontexto
daIliada
cer-tamente
naovale
paraaOdissCia.
Poracaso
Ulisses
naofaz
alian<,:acomurn
porqueiroeurn
boieirocontra
uma"elite"
formada
pOl'rapinantes
queelepretende
exterminar?
Alem
disso,nessa
sociedadeem
parteimagin,lria,
osbens
naocirculam
s6por
trocadepresentes.
0com
ercioexiste:
naIliada,
ailha
deLem
nosexporta
vinhopara
con-sum
odos
guerreirosaqueus
eetambem
urnlugar
ondese
vendemesecom
pramescravos,
especialmente
prisioneirosdeguerra.
Foi1<1queLidon,
filhodePriam
o,foivendido
e,para
desgra<,:asua,resgatadopelos
parentes.NaOdissCia,
osespecialistas
docom
ercioaparecem
:osfenicios
etambem
os"tafios",
habitantesdeum
lugarinteiram
cntedcsconhe-
cido.Por
acasooscom
crciantessao
tratadoscom
conside-ra<,:ao?C
ertamente
quen50.0
paradoxofica
patentenailha
dosfeaces,
ondes6osaristocratas
falam.Estes
t€~mnom
es
Decididam
cnte,estrangeiro,tu
naotens
nadadaquele
quesedestaca
emqualquer
umdosnum
erososesportes
doslhom
ens,
mas,pelo
contnirio,viajando
noseu
naviodecem
toletes,tenstudo
deurn
senhordeumatripula<raode
comerciantes;
preocupa-secom
acarga,vigia
amercadoria,
asriquezasroubadas;de
umatleta
tunao
tensnada!
Nem
epreciso
dizerque
Eurialopedira,
maistarde,
des-
culpasaUlisses.
Quando
Ulisses
eseus
companheiros
chegamaterra
dociclope
Polifemo,este
lhespergunta
seeles
saomercado-
resoupilatas,
naotendo
entaoapalavra
"pirata"nenhum
aconota<,:ao
pcjorativa,prova
evidentedeque,
nasrepresen-
ta-;:oesdospoetas
homericos,
aatividade
comerciante
eraperfeitam
ente"natural",
assimcom
oapirataria.
Dito
isso,umaoutra
pergunta:com
quevalores
seavaliavam
osbens
quecirculavam
?Amoeda
naoexistia.
Elas6aparecera
noinicio
doseculo
VIantes
daera
crista.Ora,
nessemomen-
to,aspe<,:astrarao,
comfreqiiencia,
arepresenta<,:ao
detri-
pesecaldeiroes,
valoressem
prepresentes
nospoem
asho-
mericos,
assimcom
oasmulheres,
asvacas
easbarras
deouro.
Tudoisso
estaincluido
naoferta
queAgam
emnon
fazaAquiles
paraque
esteretom
e0seu
lugarnocom
bate.
Entreesse
gado,esses
escravos,esses
objetose0culto
dosdeuses
existeumarela<;:aoque
merece
aten<;:ao.Tripese
caldeiroesfazem
partedos
objetosconsagrados
nostem-
plosdaGrecia
arcaica,eosbois
easvacas
saosacrificados
aosdeuses,
antesque
asua
carneseja
repartidaentre
osho-
mens
eafum
a<;:aseeleve
paradeliciar
osdeuses.
Seoses-
cravoscapturados
duranteasincursoes
ouosprisioneiros
degucrra
fazempartc
dariqueza
dosreis
edos
nobres,de-
vemosconcluir
queariqueza
econstituida
essencialmente
poresses
bens"moveis"
eque
asociedade
imaginada
apar-
tirdorealpelos
poetashom
ericosrepousa
sobreaoposi<;:ao
entrehorn
enslivres
eescravos?
Naverdade,
ascoisas
sanum
pOlleO
mais
complexas.
Antes
detudo,
porque0imagi-
nariopoetico,
epicoourom
anesco,por
mais
proximoque
sequeira
do"real",
nunca0recobre
porcom
pleto.Balzac
passa,noseculo
XIX,por
urnescritor
realistapor
exce1enciae,nesse
particular,despertava
aadm
ira<;:aoatedeKarlM
arx,adespeito
desuas
opinioespoliticas
"legitimistas".
Ora,ele
escrevenomomenta
emque
seconstitui
0proletariado
ope-rario
e,noentanto,
osproletarios
estaoausentes
desua
obra.Naohamuita
duvidadeque
apropriedade
territorial,direta
ouindireta,
fosse0fundam
entodariqueza
naepoca
emque
Homero
recitavaosseus
poemas.
Maselepouco
serefere
aela,preferindo
evocarosrebanhos,
enao
oscam
-pos.
Eisai,sem
duvida,urn
ecodoreal,
namedida
emque
oconflito
entreoscriadores
eosagricultores
ternsido,
hamuito
tempo,
quaseate
osnossos
dias,um
dostra<;:osdo-
minantes
daeconom
iameditem
lnea.Acria<;:aode
animais
exigeespa<;:osm
uitomais
vastosdoque
aagricultura
oua
jardinagem.
Antes
deserproprietario
territorial,Agam
emnon
eurn
"pastordehom
ens':eostroianos
san"dom
adoresdecava-
los".Mas0mundo
doscam
postambem
eevocado
porHo-
mero.
Estamesm
obem
presentenas
compara<;:oes
emque
aparecemleoes
ejavalis
amea<;:ando
camponeses,
simbolo
talvezdas
raziasaque
seentregavam
,nornundo
real,osno-
bresguerreiros
deHomero.
Nocanto
XIdaIliada,
lernosesta
magnifica
imagem
:
Assim
comoosceifeirosque,frente
afrente,cam
inhamse-
guindoasua
linhaatravesdo
campodetrigo
oudecevada
deum
felizardodeste
mundo
efazem
cairabundantesgave-
las,assimtroianos
eaqueus,lan~ando-se
unssobre
osou-
tros,procuramsem
assacrar,semque
ncnhumdosdoispar-
tidosatemesm
ocogite
aderrota
hedionda.
Alguns
versosdepois
ee0rnundo
dafloresta
quefaz
asua
repentinaapari<;:ao:
Maschega
ahora
emque
0lenhador
pensaempreparar
suarefei~aono
desfiladeiro.SellSbra~osestao
cansadosdecor-
tarosaltosrustcs:a
lassidfloentraemseu
cora~ao,e0dese-
jodeprovar
0delicioso
alimento
seapodera
deleinteira-
mente.
Eudisse,
nocapitulo
2deste
livro,que
a"terra
queda
otrigo"e
0indicio
segurodapresen<;:ados
homens.
Eaela
queUlisses
seentrega
quandoretorna
a1taca.
0ciclope,
essecriador
decarneiros,
naoeverdadeiram
enteum
ho-l11em
,mesl110
quef~l\aqueijo
eproduza
UI11vinho
quenao
passadeumamediocre
zurrapa.Mas
S,lOraras
asrefcrcll-
ciasaomundo
agricola.Nalista
dosbens
ofereciclos(no
cantoIX)por
Agam
cmllon
aAquilcs,
h,lsell'
aldeiasque
contem,entre
outrascoisas,"pastagens",
"ferteispradarias"
eum
vinhedo."Alihabitam
homens
ricosem
carneiroseri-
cosem
bois,que
tehonrarao
comoferendas
comoaurn
deuseque,
vivendosob
0teu
cetro,pagar-te-ao
impostos
proveitosos."Contudo,
naosefaz
men<;:aoa
umaterra
queproduza
trigo.Asitua<;:aoe
umpouco
diferentenaOdisseia.
Nocan-
teIV,Telem
acoop6e
ariqueza
agricoladeEsparta
apobre-
zadeftaca,
ondenao
sepodem
erial'cavalos,apenascabras.
DizaMenelau:
"Tureinas
sobreimensas
planiciesonde
crescemcom
facilidade0trevo,
ajun<;:a,a
espeltaeaceva-
dabranca".
Podemosconduir
quejaocorreu
atransi<;:aodo
mundo
dospastores
para0dos
cultivadores?Melhor
ain-da:ha,na
Odisseia,duas
descri<;:6esdejardins,
lugaresonde
aterra
etrabalhada
comarte.
0jardim
dosfeaces,no
cantoVII,eurn
jardim111<lgico:auva
boapara
avindim
avizinha
comavinha
emflor,"todo
0ano
osarbustos
produzeme,
semdescanso,
urndoce
zeflrofazgerm
inal'eamadurecer
osfrutos".
0jardim
deLacrtes,
nocanto
XXIV,eum
jardim"real",m
asbem
cuidado:figueiras,
oliveiras,videiras,
perei-ras,m
acieiraselegum
esfazem
partedele,de
acordocom
0
ritmodas
esta<;(les.Alimpeza
dessejardim
contrastacom
amiseria
doseu
proprietario:
luvasnas
maos
contraosespinheiros
e,nacabe<;a,
umgorro
depela
decabra.
Essamiseria
chocaUlisses:"N
aoh,lnada
emtique
de-note
urnescravo,
nemaestatura
nem0aspecto:
tensmais
oardeum
rei".Ulisses
ficaainda
mais
espantadoaovel'que
essenobre
anciaotrabalha:
0trabalho
naoeumavirtude
realnomundo
homerico,
eavelhice
etempo
derepouso.
Quais
SaDoshom
ensque
fazemparte
dascategorias
sociaismais
baixas?Osescravos?
Masexistem
variostipos
deles.Eum
eu,0"divino
porqueiro",efilho
dereieelepro-
priotern
urnescravo.
Arespeito
deEurideia,
acriada,
aamaque
reconheceuUlisses,
podemos
lerno
cantoIque
Laertesacom
prouquando
aindaera
jovem,masque
nun-cafez
amorcom
ela,"temendo
aIra
desua
esposa".Num
mundo
como0deHomero,
eisaiumaprova
degrande
mo-
dera<;:ao!0porqueiro
eoboieiro
serao,deresto,
libertados:eles
entraraopara
afamilia,
quasenosentido
estritodapa-
lavra.Lem
osnocanto
XXI:
Dareia
cadaum
devas
urnarnulher,bens
eumaboa
casaperto
darninha;eu
vostratareiC0l110parentes
eirl11aosde
Telemaco.
Nocanto
XI,no
paisdos
mortos,
Ulisses
encontraa
almadeAquiles
elhe
diz:"Aqui,
entreosmortos,
tureinas
denovo;
portanto,nao
lastimeavida!".A
respostadeAqui-
lesecelebre:
ell'usavaurn
casacosujo,
vagabundoeremendado;
haviaenfiado
naspernas
velhasgrevasdepele
deboipara
naosecsfolar,
Naotentes
suavizararnorte,nobre
Ulisses!
Prefeririaserurn
tetenaterra,a
servi<;odeurn
carnpones,
Estrangeiro,naoqueresserum
teteameuservi<;:o,
dooutro
ladodailha?Teriasum
bomsahirio
paracortar
espinhoseplantar
arvoresgrandes.
Laeutedaria
pao0ano
todoetambem
roupasecal<;:ados.
Mas,nao
sabendofazernada,tu
naovaisquerer
trabalhar
epreferiras
mendigar
pOI'ai,
buscandosem
prealgo
paraforrar
esseventrejamaissaciado.
lugarpara
doismendigos,
masIra
naoI~da
mesm
aopiniao
edesafia
0reidisfan;:ado.
Naturalm
ente,Ulisses
vencede
maneira
esmagadora,
mesm
osecon
tendoum
pouco:ele
naomata
0verdadeiro
mendigo.
Constatem
osque,
talco-
moem
Tr6ia,Ulisses
percorreosdois
extremos
daescala
socialrom
anesca.Ele
ereiemendigo.
Ha,ainda,
umacategoria
socialcujo
estatutoeequivo-
co:osartesaos.
Jasedisse
delesque
foramosher6is
dacul-
turagrega,
masherc)is
secretos.Poucas
SaGasrealiz<H
;:oesdessa
culturaque
naoestao
ligadasaoartesanato.
Saoarte-
saososaedos,
osmedicos,
osescultores,
ospintores,
osmll-
sicose,no
entanto,asua
condi<;:aoePOllCOreverenciada.
Admira-se
aobra,
enao
0autor.
Emque
medida
ospoem
ashom
ericosconfinnam
esseparadoxo?
NaIliadll,
h<1nomes
significativosealgum
asindica<;:oesde
profissoes.Assim
,por
exemplo,
nocanto
v,Meriones
mata
Fereclo,«61ho
deTectones
['0Carpinteiro'],
que,pOI'SW
1vez,efilho
deIIar-
monides
['0Montador'],
cujasmaos
sabiamf~lZ(_T
obrasprim
asdetodo
tipo".Aprote<;:aode
PalasAtena,
deusados
artesaos,nao
esuficiente.
Vemossurgir,
aquieali,
imagens
evocandoprafissoes
(figuras8e9)com
o,por
exemplo,
adecarpinteiro.
Assim
,
nocanto
XII,
mesm
asem
patrimonio
equase
semrecursas,
areinar
aquientresom
brasconsum
idas.
oque
eum
tete?NaAtenas
doseculo
VIa.c.,os
tetesform
avamallltim
aclasse
doscidadaos.
ForneciamaAte-
nasgrande
partedos
seusremadores.
S6eram
mobilizados
comohoplitas
(infantespesadam
entearmados)
excepcio-nalm
entee,nesse
caso,acidade
Ihesproporcionava
0equi-
pamento
pelosquais
elesnao
tinhamcondi<;:oesde
pagar.Trata-se,
defato,
dograu
mais
baixo?Foi
0que
sempre
sedisse,
masbasta
leI'Homero
paralevan
tarumaobje<;:ao
evidente:aUlisses
disfar<;:adodemendigo
eque
acabade
darprova
desua
for<;:afisica,0pretendente
Eurimaco
pro-poe,
nocanto
XVIII,para
hilaridadegeral,
0seguinte:
Naopiniao
deEurim
aco,emelhor,
paraum
homem
dopovo,
trabalhardoque
mendigar.
Deresto,
entreospre-
tendentes,nocanto
XVIII,
naohas6um
mendigo,
massim
dois,jaque,
aolado
doUlisses
disfar<;:ado,estaaquele
queecham
adodelro,
porque,assim
comohis
nomundo
divino,serve
demensageira
aospretendentes.
Ulisses
afirmaque
ha
Taofirm
equanta
0cordelque
serveparabem
talharaqui-
Ihadeumanau
nasmaos
deum
carpinteiroexperiente,as-
simearetesada
frentedeluta
edebatalba
entreosdoispar-
tidos.
Masaimagem
mais
espantosaseencontra,
naminha
Dir-se-ia
umacuidadosa
obreiraque,
segurandoumaba-
lan<;aquetem
deum
ladoum
pesoedooutro
ala,procura
equilibrarosdois,
afim
deconseguir
paraseus
filhosum
miser,ivel
saLirio.
Com
efeito,quem
iriaprocurar
umh6spede
amais
seelenao
fizesseparte
dosartesaos*
ounao
fosseadivinho,
curandeirooucarpinteiro
ouainda
aedodivinam
enteinspirado,
cujoscantos
nos[encantam
.
Essassao
aspessoas
quevam
osbuscar
pelaterra
infinita.Ninguem
iriaconvidar
ummendigo
parapiorar
asua
[situa<;ao.
opiniao,num
outrotrecho
domesm
ocanto.
Trata-seuma
vezmais
dafrente
debatalha.
Acom
para<;aoecuriosa
porque,entre
0equilibrio
da
frentee0de
umabalan<;a,
arela<;ao
naoeevidente.
Mas,
comcerteza,
Homero
era0melhor
interpreteda
realidade
deseu
tempo!
olmico
verdadeiroartesao
daIliada,
ferreiroefabri-
cantede
automatos
como,
porexem
plo,tripes
comrodi-
nhasque
poderaosozinhos
"entrarnaassem
bleiados
deu-
sesedepois
voltarpara
casa",e0deus
manco
Hefesto.
Eele
quem,no
cantoXVIII,
t~lbricaaobra
dearte
quee0escudo
deAquiles.
Suapresen<;a
emais
discretana
OdissCia.Noen-
tanto,quando
Menelau,
nocanto
IV,troca
0cavalo
queTe-
Icmaco
serecusoll
alevar,
0mais
preciosodesellS
tesollros,
eleescolhe
"umacratera
trabalhada,toda
deprata
ecom
asbeiradas
deouro,
limaverdadeira
obradeHefesto",
naodei-
xandodelembrar,
nomesm
oinstantc,
quearecebeu
dorei
feniciodeSidon.
NaOdisseia,
aimportlncia
atribuidaaos
artesaose
aindamais
paradoxal.Acusado,
pelopretendente
Antinoo,
detel'
conduzidoao
palacioum
mendigo
amais,
Eumeu
responde(no
cantoXVII):
E,entretanto,
0mendigo,
cujapresen<;a
edeplorada
porAntinoo,
e0proprio
Ulisses.
Certam
enteUlisses
naoe
umartesao,
mas,
sendohom
emdetodo
tipodedissim
ula-<;ao,dom
inatodas
astecnicas.
Eleproprio
fabricou,apar-
tirdeum
troncodeoliveira,
0leito
quesera,
comPenelo-
pe,seu
sinalde
reconhecimento.
AEurim
aco,ele
explica,em
respostaasua
ofertadeemprego,
quesabe
fazertudo.
E,no
cantoIX,ao
furar0unico
olhodo
ciclope,trabalha
"comoseperfura
umaviga
paraaconstru<;ao
deum
barco"
(figura34):
Assim
como,quando
0ferreiro
mergulha
umgrande[machado
auumaenxada
naagua
friapara
Ihedar
tempera,
ametal
chia,eda!
surgeafor<;ado
ferro,assim
tambem
0seu
olho**chiava
sobaa<;aoda
estacade
[oliveira.
Acom
para<;aoebastante
extraordinaria,ate
porqueUlisses
soutiliza
madeira,
naorecorrendo
ametal
algum.
NaOdisseia,
tambem
,0artesao
eum
heroisecreto.
,.Literalm
enteos"dem
iurgos",osque
trabalhampara
0povo.
**0dePolifem
o.
8.Poesia
omundo
homerico
eum
mundo
poetico.Oshistaria-
dores,ossoci610gos,
osfil6sofos
seapropriaram
dele,0que
enorm
aleatelegitim
o,mas,com
frequencia,querendo
ul-trapassar
assuas
possibilidades.Sabem
osque,
desdeaAn-
tiguidade,osge6grafo$
seesfor~arn
emvan
parcartograhlr,
demaneira
segura,asviagens
deUlisses.E
preciso,portan-
to,retornar
apoesia.
Paraconcluir
-ouquase
-este
livro,eupartirei
dotexto
deum
grandepoeta
francesdoseculo
xx,Rene
Char:
"Homero,
deusplural,
trabalharasem
rasuras,em
variasdire~6es,
permitindo-nos
contemplar,
porinteiro,
aterra
doshom
ensedos
deuses".Cada
palavramereceria
umco-
mentario.
Porque
"deusplural"?
PorqueRene
Char
sabetao
bemquanto
todomundo
quenao
h,lums6Homero
eque,
pelomenos,
0poeta
daIliada
edistinto
doda
OdissCia.Par
que"sem
rasuras"?Para
distanciar-se,com
umpouco
deironia,
dosque
(sendocham
adosde"analistas")
fi-agmen-
tamospoem
asem
peda<,:ospequenosegran
deseque
bus-earn,
portoda
parte,aquilo
aque
chamamos
deinterpola-
<,:6es,procurandoate
mesm
opor
interpola<,:6esdentro
dasinterpola<,:6es.U
mpapiro
nosacrescentou,
porexem
plo,no,
interiordocanto
XIda
Odisseia,avisita
deUlisses
aoreino
doHades,
umalonga
listadedeuses
egfpcios,que,
eviden-temente,
naotern
nada0que
fazerem
Homero,
masque
estaoperfeitam
enteavontade
nomeio
alexandrinodeon-
deprovem
essaenum
era<,:ao.Tais"hom
erismos",
comodi-
ziaVictor
Berard,
existiram,porem
estaoausentes
danos-
satradi<,:aom
anuscrita,aque
eurn
sinaltranquilizadar.
Porultim
o,averdadeiro
assuntodeHomero
eaterra
dosham
ense,acim
adela,
0mundo
dosdeuses.
Quanta
apoesia,
elasemanifesta,
porexem
plo,nadescri<,:aonoturna
docam
potroiano
nofinal
docanto
VIIIdaIliada:
Depois
disso,cheios
desoberba,
todossepreparam
paraa
noite.Seus
fogosbrilham
,inum
eraveis,assim
como,nofir-
mamento,
emt0rI10
dalua
luminosa,
asestrelas
resplande-cem
,faiscantes,
nosdias
emque
0ceu
estLlsemvento.
Brus-
camente
todososcLIm
esserevelam
,osaltos
prom'ont6rios,
asvales.R
asga-se0imenso
eter,eacora<;:aodo
pastorseen-
chedealegria.
Assim
,entre
asnaLlse
0curso
doXanto,~
lll-
zemasfogos
que,diante
defIion,
astroianos
acenderam.
Aimagem
partedas
fogueirasdoacam
pamento
ere-
..tornaasmesm
asfogueiras.E
0que
osespecialistas
chamam
decom
posi<,:aocircular.
Mas,de
repente,passam
osdaterra
"'\~
20.Priamosuplicando
aAquiles
quethe
devolva0cadaver
deHeitor,
quejazsob
0leito
dobanquete.
Ta~aaticacom
figurasvermelhas
atribuidaaopintor
deBrigos,c.480
a.C.
21.AjaxeAquiles
jogando.Anfora
dticacom
figurasvcrmelhas
a's;nada(JOrEzcqllias,
c.540
a.C.
23.Combate
entredois
her6is(Aquiles
eMemnon?)
enquadradospor
duasdivindades
(ThiseEos?).Altar
votivo,L6cride
Epizefiriana(Itdlia
meridional),
c.530a.C.
24.Aquilesnoseu
carroarrasta
0corpo
deHeitor;
asom
bradePdtroclo
apareceadireita.
Relevorom
anodoseculo
IId.C.
encaixadonomuro
exteriordaigreja
deMaria
Saal(Austria).
25.Pentesileia,
rainhadas
Amazonas,
sendomorta
porAquiles.
Anforadtica
comfiguras
negrasassinada
porEzequias,
c.540
a.C.
26.Helena
eMenelau
caricaturadospor
Daum
ier.
27.Helena
eMenelau.
Espelhoetrusco
debronze,
simlo
IVa.C.
28.Neopt6lem
outiliza
0menino
Astianax,segurando-o
pelotornozelo,
paramatar
0velho
1'rlo1110
,tombado
sobre0altar
dosdeuses.An(ora
liticacom
figura,negras.
c.540
a.C.
34.Polifem
osendo
cegadopor
Ulisses.
Fragmento
decratera
policromaargiva,
meados
dosewloVIIa.C.
,,•,•,,/
","~"••""."~,..
para0ceu,para
0"eter"
quecircunda
0mundo,
queosgre-
goscham
avamde
k6smosecuja
belezaosencantava,
e,deurn
espetaculodeguerra,
paraumaimagem
pastoral.0pas-
torseregozija
com0aparecim
entodas
estrelas.Edificil
escolher.Entre
tantosesplendores,
minha
pre-ferencia
vaipara
aspassagens
docanto
XXIIque
relatam0
ultimocom
bateeamorte
deHeitor.
Heitor
foge,dando,
portres
vezes,avolta
asmuralhas
deTroia.
Antes
defugir,
elefala
consigomesm
o,perguntando-se
se,emvez
deen-
frentarAquiles,
naoteria
sidomelhor
ficarnointerior
dasmuralhas,
comothe
aconselhara0sabio
Polidamas.
Pois0
monologo
interior-figura
deestilo
detantos
poetas,ate
queJam
esJoyce
fac;adele0proprio
centrodoseu
roman-
ce,intitulado...Ulisses!
-,0
monologo
interior,dizia
eu,ateem
suarepetic;ao,e
umainvenc;ao
deHomero.
Ah!Miseria!
Seeuatravessar
aporta
damuralha,
Polida-mas,
quemeaconselhou
adirigir
ostroianos
paraacidade
nestanoite
maldita
queviu
erguer-se0divino
Aquiles,
sera
oprim
eirodiante
doqual
meenvergonharei.
Erguer-se...com
oseergue
aaurora
doseio
danoite.
EHeitor
prossegue:
Eeunao
acrediteinele...Teria
sidomuito
melhor,
noentan-
to!Eagora
que,com
oconseqtiencia
daminha
loucura,per-
di0meuexercito,
sintovergonha
diantedos
troianosedas
troianasdelongos
vestidos.Nao
queroque
alguemmenos
corajosodoque
eupossa
dizerurn
dia:"Porterconfiado
de-mais
emsua
forya,Heitor
perdeu0seu
povodeguerreiros".
Maspor
quemeucora<;:aose
perturbadesse
modo?
Nao
devotemer,caso
vaateele,que
elenao
sintapor
mimnem
piedadenem
respeitoeque
memate
comoaumamulher
desprotegida,nomomento
emque
metiverdespojado
dasarmas?
Essaestranha
associa<;:ao,essasimagens
quesesobre-
poemsem
seanular,
tudoisso
tornaHomero
quaseunico.
Heitor
decideentao
combater,
mas,
antesdeenfrentar
0
grandeperigo
queseapresenta
sobaform
adeAquiles,
eIefoge,perseguido
peIofilho
dePeleu.
0poeta
usaessa
oca-siao
paraevocar
brevemente
algumaspaisagens:
aqui"afi-
gueirabatida
pelosventos",
ali"asduas
fontesdoimpetuo-
soEscam
andro",umaquente
eaoutra
geIida,imagem
queatravessara
osseculos,
imagem
presentena
Odisseia,
norei-
nodos
feaces,naAtLlntida
dePlatao,
eque
daraatemesm
ootitulo
doultim
olivro
deBergson:
Asduas
[antesdamoral
eda
rcligil1o.0passado
evocado,nesse
ponto,efeliz,com
esses
Umaautra
solu<;:aoseapresenta
aoespirito:
deporas
armas,
esperarAquiles
ethe
proporarestitui<;:aode
Helena
edeseus
tesourose,se
naofor0bastante,
entregar
aosatri-
dasmetade
doque
existeem
Troia.
Essadisputa
interiore0equivalente
deurn
debate,tal
comoconhecem
asassem
bleiasdas
cidadesno
tempo
daoligarquia
bemcom
onodadem
ocraciatriunfante.
EHei-
torconclui:
Nao,nao
ehora
devoltar
aocarvalho
eaorochedo
ede
conversardocem
entecom
ofaz
0jovem
comanam
orada[...]
Emelhor
quenos
encontremos
0mais
cedopossivel
pararesolvernossa
querela.
grandesebelos
lavadourosdepedra,
ondeasm
ulhereseas
belasjovens
deTroia
lavavamosseus
vestidosbrilhantes,
outrora,nos
diasdepaz,antes
quechegassem
osaqueus.
Espantosaassocia<;:aode
imagens:
"0carvalho
e0ro-
chedo".E,comonos
diriamos
hoje,voltar
aodiluvio,
quan-dooshom
ensnao
estavamainda
naterra
ouhaviam
quasedesaparecido;
eumesm
oconheci
umpre-historiador
cele-bre
queacreditava
queHomero
mostrava
assim0seu
pro-fundo
conhecimento
dapre-historia!
Quanto
aoterno
en-contro
dojovem
comanam
orada,apalavra
gregaque
0
designa,recuperada
pelopoeta
francesdoseculo
XVIIIAn-
dreChenier,
eoaristys,
quepodem
ostraduzir
por"colo-
quiosentim
ental".
Corrida
terrivel,sob
0olhar
deZeus,
corridaem
quese
decidenao
0destino
deHeitor
ou0deAquiles
(comopen-
saHeitor),
masso0destino
deHeitor,
derrotadodeante-
mao.
E,noentanto,
esseconfronto,
esseligon,
comosediz
emgrego
-edoqual
tiramos
0term
o"agonistico"
-,e,
defato,
umconcurso,
como0serao
essascom
peti<;:6esquenos
chamamos
incorretamente
de"jogos"
olimpicos
oupi-
ticos,ecom
o0serao
tambem
esses"jogos"
funebresreali-
zadosnocanto
XXIII,
parahom
enagearamemoria
dePa-
troclo.E0pr6prio
Bomero
quemfazacom
para<;:ao:
Pareciamcorceis
decascos
espessos,javencedores
outrasvezes,que,
atoda
avelocidade,
contornavam0marco:~
urnprem
iovalioso
Ihesfora
oferecido:urn
tripe,umamulher;
tudoisso
parahonrar
urnguerreiro
morto.
Afrente
doconselho
dosdeuses,
Zeusatua
comojuiz
desseconcurso.
Atena
tomaapalavra,
depoisdeZeus,
parapedir
amorte
deHeitor,
eZeus,nao
sempesar,lha
concede.Nada
faltaraaessa
corrida-persegui~ao,nem
0sonho
nemofantasm
a:
Assim
comourn
homem,num
sonho,nao
conseguealcan-
<;:arurnfugitivo
eeste,
porsua
vez,tambem
naoconsegue
alcan<;:ar0outro
emsua
persegui<;:ao,damesm
aform
aAqui-
les,nessedia,
naoconseguia
atingirHeitor
duranteacorri-
da,eeste
naoconseguia
escapar-Ihe.
Dois
seculosmais
tarde,Pindaro
dira:"0
homem
e0
sonhodasom
bra".Eis
0fantasm
a:Atena
tomaaform
adeDeifobo,
0que-
ridoirmao
deHeitor.
Elathe
propoeenfrentar
Aquiles
emsua
companhia.
Deifobo
("Aquele
quenao
ternmedo")
rea-pareccd
naOdisst'ill.
Eleacom
panhaHelena
numacircl1ns-
t<lnciabemestranha,
segundoanarrativa
docanto
IV:ela
daumavolta
emtom
odocavalo
demadeira
e,receosa,cha-
ma,urn
porurn,
osherois
aqueus,imitando
avoz
desuas
esposas.Acasa
deDeifobo
eaprim
eiraaser
saqueada,de
acordocom
0relato
deUlisses
nocanto
VIII,
quandoele
~Aestela
depedra
quemarca
0limite
docam
podeconida
equee
precisocon-
tornarpara
retornar.
evoca,entre
osfeaces,a
tomada
deTroia.
Porfim,segundo
umatradi~ao
epicaque
dasequencia
aHomero,
eelequem
desposaHelena
aposamorte
deParis-A
lexandre.oDeifobo
docanto
XXIIdaIliada
naopassa,
portan-to,deurn
fantasma.Quando
Heitor
tivernecessidade
dele,jatera
desaparecido,eassim
0destino
fataldeHeitor
secum
pre,com
oprevisto,
paragrande
alegriados
aqueus:
Oh!Oh!Esse
Heitor
a1emesm
obem
mais
docedeapalpar
doque
aqueleque
outroraentregava
asnossas
nausacha-
maardente.
Nu~
certosentido,
aIliada
poderiaintitular-se
''Atra-
gediadeHeitor"
(aexpressao
edoerudito
americanoJam
esRedfield),
ateporque
asorte
deAquiles
naoesta
aindasela-
daquando
termina
0poem
a.Esquilo,
S6focleseEuripides
nutriram-se
deHomero,
particularmente
daIliada.
0mo-
nologointerior,
inven~aodopoeta
daIliada
-retom
adapelo
poetadaOdisseia:
"Paciencia,meucora~ao
...",dizUlis-
sesnocanto
xx-,
reaparececom
destaquenatragedia:
as-sim
Ajax,na
pe<;:aquethe
consagraS6focles,
explicaem
ter-mosambiguos
porque
naopode
viver-
ele,urn
heroicantado
porHomero
-no
mundo
dacidade
ondetudo
muda,
tantoasesta<;:oescom
oascircunstfm
ciaspoH
ticas.Atragedia
poeem
cenaoshero
isdaIliada,
com0objetivo
dedestrui-Ios.
E,noentanto,
Heitor,
noconjunto
dastrage-
diasconservadas,
naoaparece
comourn
heroitragico,
sem"b/b
"Aduvida
porque,nesse
meio
tempo,
tomou-se
araro.
unicatragedia
naqual
eletern
urnpapel
e0Reso
quenos
chegoucom
asobras
deEuripides,
masque
datamuito
pro-
vavelmente
doseculo
IVa.C.Aquiles
acaboupor
veneer
Heitor
definitivamente.
EaOdisseia?
Osadm
iradoresdeStendhal
sedividem
,por
vezes,em
"Vermelhistas"
e"Cartuxistas",
unscolocan-
doem
primeiro
lugar0vermelho
eanegro,
outrosAcartu-
xadePanna.
0mesm
oocorre
comosadoradores
dalliada
quesao
indiferentesaleitura
daOdisseia
evice-versa.
Entreosprim
eiros,lembrem
osSim
oneWeit,para
quemaIliada
era"alinica
epopeiaverdadeira
que0Ocidente
possui.A
Odisseiaparece
serapenas
umaexcelente
imita<;:ao,ora
daIliada,
oradepoem
asorientais".
oque
nosfascina
naIliada
eque
elaeurn
come<;:o.E
provavelque
tenham
existidopoetas
epicosantes
deHome-
rooMasn6s
naoosconhecem
osenao
osconhecerem
osja-
mais.A
sareiasdoEgito
nosdevolvem
,pouco
apouco,
asco-medias
deMenandro,
autordoseculo
IV.Elas
podem,even-
tualmente,
nosrestituir
umatragedia
inteiradeEuripides,
masjamais
nosrevelarao
umaepopeia
anterioraIliada.
Eumaepopeia
posterior?Isso,pelo
menos,
naoeimpossivel.
Nossas
bibliotecasseenriqueceram
comoutras
epopeias,deorigem
oriental,com
oadeGilgamesh,
her6idaMesopo-
tamia,que
etambem
umareflexao
sobreacondi<;:aohum
a-naem
rela<;:aoaomundo
divino.Porem
,Gilgamesh
s6nos
foirestituidogra<;:asas
escava<;:oesfeitasnos
tells,colinasda
Mesopotam
ia(hoje
Iraque),no
seculoXIX.Essa
epopeianao
podeter,portanto,
sobreanossa
cultura,afabulosa
in-flucncia
dal1fada
-nem
ada
Odissha.Pois
sealliada
eurn
livrodeorigem
,com
aOdisseia
ealiteratura
quecom
e<;:a,comtudo
0que
issosupoe
deimi-
ta<;:ao-em
grego,mimesis.
Simone
Weiltinha,
defato,
ra-
zaoaoescrever
queaOdisseia
eumaimita<;:aoda
lliada.Uma
imita<;:aoironica,
diriaeu.Q
uandoAquiles
explicaaUlisses
quepreferiria
"serum
teteaservi<;:ode
umcam
pones"a
reinarsobre
0imperio
dosmortos,
depoe
emduvida
0
idealdamorte
her6ica,que
eprecisam
ente0ideal
daIlia-
dl/.Abela
morte
e0valor
exemplar
daWada.
AOdissCio
nosensina,
magnificam
ente,aarte
dasobrevivencia.
Amorte,
naocusta
lembrar,
seradoce
paraUlisses,
eeisso
queelefi-
casabendo
noreill()de
Hades,no
cantoXl.A
l!iada,naOdis-
sCia,tornou-sepoesia;
elaecantada
pdassereias,
porurn
aedonaterra
dosfeaces
eem
Itaca.Agrande
originalidadeda
Odisseia,em
rela<;:aoaIlia-
da,residenaintegra<;:aodo
tempo
nointerior
danarrativa.
Naohadlivida
deque
sesabe,
naIliada,
que0cerco
daci-
dadejaesta
noseu
decimoano.
Masnenhum
acrian<;:ade
dezanos
entranahist6ria,
ninguemficou
velhooumorreu
develhice.E
verdadeque,
naOdisseia,
algunspersonagens
naomudam
:Nestor
esem
preurn
anciaoeHelena
eslasem
-pre
bela.Emelhor
nemcalcular
aidade
deles!Quanto
aUlisses,
eledispoe
doauxilio
magico
deAtena,
quepode,
aseu
bel-prazer,rejuvenesce-Io
ouenvelhece-Io.
Atena
chegamesm
oaproJongar
anoite
doreencontro
deUlisses
comPenelope
paraque
0her6i
possareJatar,
nocanto
XXIV,as
suasaventuras
epara
que0casaJpossa
entregar-seaoamor
(figura38).
E,noentanto,
doispersonagens
encarnamadura<;:ao.
Tclemaco,
crian<;adeben,-o
quandodapartida
deUlisses,
agoraj,item
barba.Mas0serque,
melhor
doque
todos,da
amedida
dotempo
naoeum
homem,esim
umcao.Q
uan-doUlisses,no
C,lI1to
XVII,sob
aaparencia
deum
anciao,CI1-
traem
seupahicio,"um
caoestendido
nochao
esticaasore-
lhas".EArgo,
0caozinho
queUlisses
alimentaia,
semter
padidafazcr
dcleaSCllcam
panhcirodcCl<;a.O
sprclcn-
dentes0haviam
utilizadopara
ca<;arcabrasselvagens,
le-bres
egam
os.Agora,
0velho
dio,cheio
decarrapatos,
viveperto
dolixo,diante
daporta
dopalacio.
Ulisses
0reconhe-
cee,com
emo<;ao,faz
algumasperguntas
sobreeleaopor-
queiroEum
eu,que
aindanao
identificara0seu
senhor.Eu-
meuexplica:
Argo
eraum
galgoinfalivel
naca<;a.A
goraseu
donomorreu,
eelenao
passadeum
caoescravo.
Osservidores,desde
0momenta
emque
naotem
maisum
[senhor,nao
queremmaistrabalhar
comoepreciso.
EZeus,
0ensurdecedar,tira
ametade
dovalor
deum
homem,apartir
dodiaemque
eentregue
a[escravidao.
Masa
marte
negraseapossou
deArgo
Assim
quereconheceu
0d()Ilo,que
partirahavia
vinteanos.
Prolonguemos
agoraareflexao
quehaviam
osesbo<;a-
doarespeito
dasrela<;6esentre
aIliada
eatragedia
atenien-se.Sim
oneWeilescreveu:
Atragedia
Mica,peIo
menos
adeEsquilo
edeSOfocles,e
averdadeira
continua<;:aodaepopeia.A
ideiadejusti<;:aa
ilu-mina
semjamais
intervirdiretam
ente;afar<;:aaparece
na
suafria
dureza,sempre
acompanhada
dosefeitos
funestosaos
quaisnao
escapamnem
quemausa
nemquem
eopri-
mido
pOI'ela.
Deixem
osdelado
osaspectos
simplificados
dessaava-
lia<;ao.Poracaso
eafor<;apura
queaparece
nasuplica
dePriam
operante
Aquiles?
Permanece,
noentanto,
aideia
fun-dam
entaldeque
atragedia
aticaeum
derivadoda
Iliada.Mas,e
quantoaOdisseia?
Suaform
aatom
amais
teatralainda
doque
aIliada,
atemesm
opor
causadamultiplicidade
dosnarradores:
0
propriopoeta,
Ulisses
nosseus
relatosem
casadeAlcinoo,
Ulisses
aindasob
amascara
deum
cretense,Menelau,
He-
lena,Eum
eu...e
muita
genteem
compara<;ao
aonarrador
quaseunico
daIliada.
Mastrata-se
deurn
teatrotragico?
Eudiria,
antes,que
aOdisseia
estanaorigem
dacom
ediaou
dodram
asatirico.
Acom
edia,adeArist6fanes
noseculo
v,esempre
umaespecie
depastiche
datragedia.
Arist6fancs
ridicularizasistem
aticamente
0Euripides
queele
enccna,que
eleconhece
decor
eque
admira
infinitamente
mesm
oquando
estazom
bandodemaneira
feroz.Quanto
aosdra-
massatiricos
queconcluiam
numtom
semic6m
icoastrilo-
gias(conjunto
detres
p~<;astnigicas),eles
punhamem
cc-na,
numquadro
denatureza
selvagem,alguns
personagensdaepopeia
dialogandocom
umcora
des3iiros,
istoe,figu-
rasmeio
humanas,
meio
animais,
aurn
tempo
homens
ebodes,
conduzidospor
Sileno-que,
porsua
vez,estaen-
tre0hom
eme0cavalo.
ounico
dramasatirico
quechegou
inteiroate
nosea
ciclopedeEuripides
que,bementendido,
derivadocanto
IX
daOdisseia.
Eimportante
ressaltarque
essecanto
IX,ades-
peitodas
circunsHincias
horriveisdamorte
doscom
panhei-ros
deUlisses,
devoradospelo
monstro,
contempassagens
claramente
comicas:
Polifemobebendo
"umpouco
devinho
comessas
carneshum
anas",Ulisses
eseus
amigos
fugindoagarrados
nopelo
degrandes
egordos
carneiros(figura
35)e,sobretudo,
0epis6dio
famoso
deNinguem
,nom
eadota-
dopor
Ulisses,que
daorigem
aumacena
celebre:"Quem
teferiu?",perguntam
osoutroscidopes
aPolifem
o."Ninguem
!':responde
ainfeliz
criatura.Nessas
condi<;:aes,"seninguem
tefezviolencia
eestavas
sozinho,0mal,que
naosepode
evi-tar,vem
deZeus!
Dirige,
entao,atua
ora<;:aoaPosidon".
EUlisses
sepae
a"rir
comgosto".Esta
claro,portanto,
quea
comedia
devealgo
aoautor
daOdisseia.
Mass6acom
edia?0relato
deaventura
e,ainda,0que
chamamos
derom
anescoprovem
diretamente
daOdisseia.
Issoeseguro
noque
dizrespeito
aorom
ancegrego
oulati-
noque
conhecemos
sobretudopor
meio
deumaliteratura
quedata
daepoca
imperial
romana,
masnaqual
ainfluen-
ciada
Odisseia
ebem
visivel.Mais
adiantenotempo,
pode-mosseguir
amarca
daOdissC
iaaolongo
detoda
aIdade
Media
edoRenascim
ento,encontrando-a,
porexem
plo,no
romanesco
elizabetano,no
roman
francesenopicaro
espa-nhol.
0Dam
Quixote
deCervantes
naoseria
nemmesm
oimaginavel
senao
tivesseexistido,
numtempo
longinquo,ocontista
ironicoda
Odisseia.
Eispor
quetodo
aqueleque
amaoslivros
embarca
umdia
naleitura
deHomero.
9.Asquestoes
homericas
Jaforneci,
noprim
eirocapitulo
destelivro,
algumas
informa<;:aes
sobre0problem
aque,
hamuito,
echam
adode"questao
homerica".
Etempo
agoradeser
mais
preciso.Osantigos
naoahaviam
propriamente
levantado.Elcs
s6tinham
postoem
duvidaaautenticidade
deum
oudeOlltro
verso.Querem
umexem
plo?Nocanto
XIdamada,
()her()iaqueu
Ajax,
filhodeTelam
onio,seencontra
excepcional-mente
nadefensiva.
Eleecom
paradosucessivam
enteaum
leaoexpulso
dopatio
deumaherdade
peloscam
ponesescujas
vacasqueria
devorare,depois,
aum
asnoque
"empa-
cadofazfrente
aum
grupodecrian<;:as".U
mcritico
deno-
meZen6doto
quissuprim
iresses
versosmagnificos
sob0
pretextodeque
naoera
razoavelfazer
deAjax
sucessiva-mente
umleao
eum
asno.Por
suaparte,
0poeta
latinoHo-
rJcio,contell1porttneo
deAugusto
(see.I<1.C
.),dizia
que,em
algunsmomentos,
0bom
Homero
chegavaa"toscane-
jar":quandoque
bonusdorm
itatHomerus
("Asvezes
0bom
Homero
cochiIa").Dito
deoutra
maneira,
Homero
e,porvezes,inferior
asim
esmo.
Naoera
absolutamente
essetipo
deproblem
aque
en-frentava,
nofinal
doseculo
va.c.,
0historiador
atenienseTucidides.
Preocupadoem
mostrar
queaguerra
doPelo-
poneso(431-404)
foraum
eventocapital,
eleminim
izoua
importancia
daguerra
deTroia.
Quando
0cristianism
ocom
e~ouatom
arconta
domundo
romano,
apartir
doseculo
IIIdaera
crista,surgiu
oproblem
adesituar
aguerra
deTroia
eHomero
emrela-
~aoaoque
relatavaaBfblia,
0livro
sagradodos
judeus.En-
controu-seentao
umaespecie
decom
promisso
quesituou
Moises
antesdaguerra
deTroia,
masque
naoelim
inouesta
ultimatotalm
entedahistoria.
Quanto
aHomero,
senao
seacreditava
mais
emseus
deuses,pelo
menos
continuavaa
serlido.Entretanto,
muito
mais
tarde,nofinal
doseculo
XVIIe,
sobretudo,nasegunda
metade
doseculo
XVIII,
aEuropa
sepas
asonhar
comum
passadomais
longinquo.Ahum
ani-dade
naocantou
antesdeescrever?
Apoesia
homerica
apa-rece
entaocom
oumapoesia
"primitiva':
obranao
deum
oumesm
odedois
poetas,masdebardos
popularesque
re-corriam
aum
tesourolendario.
Deimediato,
aIliada
ea
Odisseia
passamaser
encaradascom
oobras
demultipla
autoria.Umsabio
alemao,
F.A.Wolf,nos
seusProlegornenos
aHornero,
de1795,
deuform
aduravel
aessa
teoria.Nao
convenceutodo
mundo.
Assim
,0poeta
J.W.Goethe
escre-veu
aoseu
amigo
F.Schiller,nodia
17demaio
de1795:
'r0digno
demerito,m
as,pergunto,por
queessagente,para
encobrirafraquezadoseuplano,seperm
itedevastarosm
aisferteis
jardinsdoreino
esteticoetransform
a-losnum
la-mentavelbarranca?
Li0prefacio
[osProlegomenos]daIliada
deWolf;nao
edes-tituido
deinteresse.E
possivelqueaideia
sejaboaeaesfor-
Todavia,seHomero
era0bardo
primitivo
dopovo
gre-go,cada
povo(pensava-se)
tinhadireito
aoseu
proprioHo-
mero.
Come~ou-se
aredescobrir
naFran~a
ascan~6es
degesta
daIdade
Media,
eVictor
Hugo
seinteressou
porelas.
NaGra-B
retanha,um
falsario,MacPherson,
forjouinteira-
mente
umpretenso
bardobretao,
denom
eOssian,
eospoe-
mas"traduzidos"
dessebardo
conheceram,em
todaaEu-
ropa,um
imenso
sucesso,rivalizando
atecom
ospoem
ashom
ericos.0jovem
Bonaparte,
porexem
plo,adorava
Os-
sian.Essa
buscadeumapoesia
dasorigens
seestendeu
portoda
aEuropa.
Assim
,Richard
Wagner
mesclou
umacan-
~aodegesta
doseculo
XIII,
aCan~ao
dosNibelungos,
comoutros
poemas
deorigem
escandinavapara
escreverepar
emmusica
0anel
dosNibelungos,
ressuscitandoassim
0es-
piritodeHomero
e0datragedia
gregapara
fazercom
elesumaepopeia
dasorigens
germanicas.
Namesm
aepoca,
0finlandes
Lonnrotrecolheu,
noin-
teriordoseu
pais,toda
umaserie
depoem
asorais
efabri-
cou,apartir
deles,umaepopeia
dosdeuses
edos
homens:
oKalevala.
NaRussia,
umapesquisa
analogafoifeita
combase
empoesias
recolhidaspela
tradi~aooral:
asByliny.
Porem,foi
sonoseculo
xxque
sedescobriu
senao
achave
pelomenos
urnachave
para0estudo
dospoem
asho-
mericos
comopoesias
orais.Haum
pontoque
sempre
sur-preende
osleitores
deHomero.
Ospersonagens
daepopeia
naosan
citadossimplesm
ente-Heitor,N
estor,Aquiles,U
lis-ses-,
mas,pelo
contnlrio,san
sempre
acompanhados
porumaserie
deepitetos,
constantemente
repetidos,com
o,por
exemplo:
0grande
Heitor
decapacete
reluzente,0velho
con-dutor
decarros
Nestor,
0divino
Aquiles
depes
infatigaveis,oUlisses
dasmilastucias.
lssovale
tambem
paraosdeuses:
Zeustern
urnamplo
olharouumavoz
retumbante,
Atena
temolhos
decoruja,
Hefesto
e0coxa
ilustre,eCalipso
eto-
talmente
divina.Porvezes,versos
inteiroseategrupos
dever-
sossan
repetidos,eoseruditos
chegaramaficar
tentadosa
declara-los"interpolados".
(Alguns
especialistaselim
inaramassim
milhares
deversos,especialm
entepor
causadarepeti-
<;:ao.)Cham
a-sehoje
esseestilo
de"estilo
formular".
Quem
descobriu0seu
segredofoiurn
intelectualamericano,
morto
muito
jovem,que
escreviaem
franceseque
secham
avaMil-
manParry.Epitetos
eform
ulastem
umafun<;:aobem
precisa:re-
pousar0aedo
duranteasua
recita<;:ao,queadquire
assimurn
caraterauto
matico,
eIhe
fornecer"pausas"
queperm
i-tam
estenderou,
pelocontrario,
restringiranarrativa,
asua
vontade.Constatou-se
que,nos
papiros,amaioria
dosver-
sossuplem
entares,em
rela<;:aoatradi<;:ao
manuscrita,
ede
versosque
figuramalhures
notexto
homerico.
Ora,aconte-
ceuurn
fatoraro:
Milman
Parry,acom
panhadodeseu
ami-
goAlbert
Lord,teveaoportunidade
deverificar
demaneira
experimental,
nosBalcas,a
hipoteseque
formulara
apartir
apenasdotexto
deHomero.
oKosovo
eumaplanicie
habitadasobretudo
poralba-
neses,masque
temurn
papelimportante
noimaginario
dopovo
servio,com
oseverificou
recentemente,
naprim
avera
de1999.N
essaplanicie,
urnexercito
decristaos
servioseal-
baneses,dirigido
peloprincipe
servioLazaro,
defrontou-se,em
1389,numlugar
chamado
"Campo
dosmelros",com
urnexercito
turcootom
anocom
andadopdo
sultaoMurad.
Os
doischefesm
ilitaresforam
mortos,
masosturcos
sairamven-
cedores.Ora,
essabatalha
deuorigem
aumatradi<;:aoepi-
ca.Bardos
servios,nos
cafesdaregiao
deNovi
Pazar,reci-
tavamversos
aosmilhares
econheciam
decor
gigantescasepopeias
quepunham
emcena
oscom
batesentre
serviose
otomanos,
especialmente
abatalha
do"Campo
dosmel-
ros".Essespoetas
eramanalfabetos.
Urndeles
(impressio-
nente!)era
atecego.A
lemdisso,
quandoaprendiam
aler,
perdiamassuas
faculdadespoeticas.
Albert
Lordregistrou
asepopC
iasservias
-havia
tambem
,deresto,
epopeiasal-
banesas-everificou
atemesm
oque,
numintervalo
dealguns
meses
oualguns
anos,asmodifica<;:6esintroduzidas
peIosaedos
naoeram
substanciais.Asanalogias
comospoe-
mashom
ericospareciam
decisivas.];;1sepodia
entaoima-
ginarque,antes
dafixa<;:aopor
escritodas
duasepopeias
quenos
chegaramcom
0nom
edeHomero,
urnou,m
elhor,dois
poetasdegenio
haviamdado
umaestrutura
monum
entala
Iliadaea
Odisseia.
Quais
eramosaspectos
particularesdesses
genios?Nao
osbusquem
osem
algummisterioso
segredodaalmagrega.
Sehouve
urndia
"almagrega",H
omero,
mais
doque
qual-quer
Olltro,
foiquem
contribuiupara
forma-la,
e0poeta
tragicoEsquilo,
noinicio
dosecllio
va.c.,nao
estavaerra-
doaodizer
quedenao
faziamaisdoque
catcHasm
igalhasdo
grandefestim
deHomero.
Masnos
podemos
sermais
pre-cisos.
Urnestudo
atentodotexto
mostroll,
especialmente
a
Adam
Parry,filho
deMilman,
queurn
personagemcom
oAquiles,o
principalheroi
dallfarla,
usavaumalinguagern
bempeculiar.
Eleutiliza,
everdade,
0discurso
formular,
mascom
variantesproprias.
Ditodeoutra
maneira,
osma-
teriaispertencem
aoestoque
dorepertorio
epico,masacom
-bina<;:aoe
(mica.
EAquiles,
enao
Agam
emnon
ouAjax,quem
coloca,na
!liada,aquestao
decisiva,aunica
quenao
temresposta.
Os
troianosnao
Ihefizeram
nada:"Por
queentao
enecessario
queosargivos
empreendam
umaguerra
comostroianos?".
Questao
terrivel,efetivam
ente,que
tingedeumaespecie
demelancolia
fundamental
todo0poem
ae,na
qual,encon-
tramos
algounico
ou,pelo
menos,
muito
raro.Mas0seu
adversclriotroiano
Heitor
terntambem
asua
linguagempar-
ticular.Quepersonagem
alemdele
poderiadizer
asua
es-posa
Andr6m
aca,nocanto
VI,a
seguintepassagem
(eeuci-
toaqui
umatradu<;:aobaseada
nadeSim
oneWeil)?
Porqueestollseguro,nas
entranhasenocora<;ao,
deque
vini0diaemque
pereceraasanta
nion,EPriam
oeana<;aode
Priamodeboa
lan<.;a.Maseu
pensomenos
nador
queseprepara
paraostroianos,
paraapropria
Hecuba,para
0reiPriam
oEpara
osmeus
irm,losque,tao
numerosos
ebravos,
Cairao
napoeira
sobosgolpesinim
igos,Doque
emti,quando
urngrego
decoura<;ade
bronzeTearrastara,lacrim
ejante,suprimindo
atua
liberdade[...1
Quanto
amim,espero
estarmorto
erecoberto
pelaterra
Paranao
ouvir0teu
prantoever-te
dominada
[...)
Ligrimas
deHeitor,
lagrimas
deAquiles,
lagrimas
deAndr6m
aca"rindo
atravesdas
lagrimas"
quandoHeitor
Ihecoloca
0bebe
Astianax
nobra<;:os;Ligrim
asdeUlisses
cho-randocom
ooutrora
choravaAndr6m
aca...os
poetasque
criaramessas
maravilhas
naoeram
maquinas
derepetir
for-mulas,
mesm
oque
asvezes
ficassemfatigados.
Houve
poetasepicos
antesdeHomero?
Muito
prova-velm
entesim,masnos
naotemosmeio
algumdeconhece-
los.Houve
poetasepicos
contemporaneos
dosautores
daIliada
edaOdisseia?
Naohanenhum
aduvida.
Nosconhe-
cemosostitulos
deseis
epopeiasredigidas
entre800
e500
a.C.0
maisimportante
dessespoem
aseracham
adodeCan-
tosciprios
erelatava
aguerra
deTroia
desde0com
e<;:o,istoe,desde
0arbitrio
deParis,
aoqual,
naIliada,so
efeita
uma
brevealusao,
ateaentrega
aAquiles
dacativa
Briseida,
quevem
atornar-se
asua
favorita(figura
22).Comosesabe,
eosequestro
deBriseida
porAgam
emnon
quedesencadeia
acalera
deAquiles
ea!liada.
Infelizmente,
dessesCantos
ci-prios
(Chipre
eailha
deAfrodite)
naoresta
quasenada,
em-
boraumagrande
partedaobra
deEuripides
seinspire
nes-saepopeia
perdida.Tam
bemnao
sobrougrande
coisados
poemasque
daosequencia
a!liada
eaOdisseia
eque
nosso
conhecemos
poralus6es,
resumos
eimagens.
Umaepopeia,
porexem
plo,relatava
0fim
deUlisses,
morto
porTelego-
no,0filho
quetivera
comCirce.N
ostemos,
poroutro
lado,otexto
deumaContinuarao
deHomero
escritaem
hexame-
trosdactilicos
porQuinto
deEsm
irna,que
viveuno
finaldaepoca
romana.
Naopassa,
evidentemente,
deurn
exerd-cio
escolar,mastern
0merito
deregistrar
lendasque,de
ou-tramaneira,
seriampouco
conhecidas.
Aautentica
"continuas:aodeHomero"
naoseencontra
aLEla
aparecenos
vasoscorintios,
Micos
ouornam
entadosnaItalia
meridional
que,aos
milhares,
apresentamcenas
da
Iliadaeda
Odisseia.Ela
aparecenaliteratura
gregadaepo-
cachlssica
edaepoca
helenistica.Urnhistoriador
comoHe-
r6doto,no
seculova.c.,e
chamado
de"muito
homerico"
e,desde
asprim
eiraslinhas
dasua
Hist6ria,faz
alusaoao
raptodeHelena
porParis.
EmRoma,
aOdisseia
foitradu-
zida,noseculo
IIIa.c.,por
LivioAndronico,
eHomero
sepas
assimafalar
latim.0que
eaEneida
-poem
ano
qualVir-
gilio,contem
poraneodeAugusto,
daform
aa"lenda
troiana"que
fazdeRomaumacidade
fundadapor
urndescendente
deEneias
-senao
umapequena
OdiSSl:?iaseguidadeuma
pequenaIliada?
Outros
textosreescrevem
aIliada,
recons-
tituem0calendario
dosacontecim
entos,com
o,por
exem-
plo,aEfemeride
daguerra
deTr6ia,
ourelatam
aqueda
da
cidade,com
ofaz
tambem
aEneida.
Pormeio
dessestextos
eque
asaventuras
deAquiles
edeUlisses
seraoconhecidas
noOcidente
medieval.
Urn
RomancedeTr6ia
eescrito
en':'
tao,no
seculoXIII,
porBenoit
deSainte-M
aure,eesse
tex-
tosera,
porsua
vez,traduzido
para0grego.
E0que
dizerdoque
vemdepois?
Noinicio
doseculo
XIV,Dante,
quenao
leuHomero,
porquenao
sabiagrego,
naodeixa
deincluir
esse"poeta
soberano",arm
adodeumaespada,
no"lim
bo"
ondeestao
detidosospagaos
virtuososque
naoconhece-
ram0Cristo
epor
ondeele
passa,acom
panhadodeVirgi-
lio,no
cantoIVdo
Inferno.Melhor
ainda,ele
encontraDio-
medes
eUlisses
(osdois
her6isassociados
docanto
Xda
Iliada)no
cantoXXVIdesse
mesm
oInferno.
Ulisses
Ihenar-
raassuas
aventurasap6s
0retorno
aftaca.
Inversamente,
noseculo
XVII,
Fenelon,arcebispo
deCambrai,
escreveu,
para0duque
daBorgonha,
seualuno
e,alem
tEsso,neto
eherdeiro
presuntivodeLuis
XIV,As
aventurasdeTelemaco,
destinadaaapresentar
0retrato
deumacidade
ideal.Nose-
culoXVIIainda,
encontramos
aAndr6maca
deRacine
e,no
XVIII,
eavez
de0cego
deChenier.
Asvesperas
daSegunda
Guerra
Mundi21l,
0dr21m
atur-goJean
Gir21udoux
monta
Aguerra
deTr6ia
naoaCOfztccerci,
enquantoSim
oneWeil,
pacifista,escreve
em1937:
"Nao
re-
comecem
osaguerra
deTr6ia'~
Quanto
aOdisseia,
elaforne-
ce0qu21dro,
em1922,
dogig21ntesco
romance
deJam
esJoy-
ce:Ulisses.ffouve,
noseculo
xx,lun
infernomoderno
quesech21-
mou
Auschw
itz,eurn
aedodesse
inferno,0italiano
Primo
Levi,que
deveriatornar-se
urnescritor
celebre,tentou
en-sinar
0canto
deUlisses
(0deDante)
aurn
deseus
compa-
nheirosfr21ncescs.
Muito
tempo
21p6saguerra,
umescritor
anglo-antilhano,Derek
Walcott,
recebe0Prem
ioNobel
em
1992por
seupoem
aOm
eros,que
transforma
ospcrsolla-
gensdeHomero
empescadores
dasilhas
Caraibas
Ialalldo
urningles
cominfluencia
crioulaefrancesa.
Essespoucos
exemplos
daotestem
unhoda
listaimens21
d21sindag21<;:6es
queosseculos
f21zemaHomero
eque,a
nossamaneir21,
con-tinuam
osaf21zer.
Agradecim
entos
Utilizei,
noque
dizrespeito
aIliada
eaOdisseia,
astra-
dU<;:6esfrancesas
disponlveis,adePaul
Mazon
paraaIlia-
da,asdeVictor
Berard
edePhilippe
Jaccottetpara
aOdis-
seia,perm
itindo-me,
porvezes,
modiflca-Ias
umpouco.
Utilizei
tambem
abeH
ssimatradu<;:ao
decertas
passagensdaIliada
feitapor
Simone
Weil,no
seuartigo
de1941:"A
Iliadaou
0poem
adafor<;:a".*
Agrade<;:oa
Jean-Christophe
Saladin,que
aceitou0meu
texto;aseu
filhoJoseph
(deonze
anos),que
meserviu
decobaia,
bemcom
oaos
editores(especialm
enteAnthony
Ro-
wley),que
transformaram
meumanuscrito
emlivro.
Naoteria
conseguidoescrever
cstelivro
semconsultar
numerosos
trabalhosque
naoposso
enumerar
aqui.Citarei
apenasalguns
deseus
autores.Alguns
forammeus
mestres,
outros,meus
alunos,emuitos
acabarampor
setornar
meus
•Natradu<;ao,
utilizaram-se
tambem
,para
confronto,aestupenda
versaode
FredericMugler
(Iliada)eadeMederic
Dufour
(Odisseia).
(N.T.)
amigos:
ElisaAvezzu,A
nnieBonnafe,
Benedetto
Bravo,Pas-
caleBrillet-D
ubois,Philippe
Brunet,
Richard
Buxton,
Michel
Casevitz,
Maria
Grazia
Ciani,
Riccardo
DiDonato,
Herve
Duchene,
PierreEllinger,
Moses
1.Finley,Franc;ois
Fronti-si-D
ucroux,Ariane
Gartziou-Tatti,
Franc;oisHartog,
Nico-
leLoraux,
Franc;oisLissarrague,
aquem
devo(juntam
entecom
Marion
Lafouge)0essencial
dailustrac;ao,
lradMal-
kin,Helene
Monsacre,
Claude
Mosse,
Gregory
Nagy,Pietro
Pucci,Suzanne
Said,Pierre
Sauzeau,Evelyne
Scheid-Tissi-nier,
Alain
Schnapp,Annie
Schnapp-Gourbeillon,
JesperSvenbro,
Odette
Touchefeu-Meynier.
Credito
dasilustra~6es
I,3,6,
11,14,17,23,38-G.DagJi
Orti
2-Museu
Britanico
4,5,16,29,35
-AKGParis
7--Biblioteca
daUniversidade
deCambridge
8,9,13,15,18,20,22,24,27,31,32,36,37-Erich
Lessing/AK(;Paris
I()~-Louvre,
Paris,Fran~a/
Bridgem
anArtLibrary
12-Paul
Courbin,
Tomllfsgeometriqlles
d'Argos,t.I,Paris,
Vrin,
197419--Paul
Thomas,
199921-Museu
~Galerias.
~o:,aticano,
Vaticano,
Italia/Bridgem
anArtLibrary
25,28,33-Museu
Brttal1Ico,
Londres,Reino
Unido/
Bridgem
anArtLibrary
26-
Daum
ier30-Joseph
Martin/
An;Paris
34-
BulletilldecorrespolldtJllce
hellfllique,Escola
[raneesadeAtenas
Indiceonom
astico
Adrasto,troiano,
56
Afrodite,deusa
daBeleza
edoAmor,
9,16,51,54,63-4,66,73,90
Ajax,filho
deai/eu,
reidoslocrenses,
23,32,41
Ajax,filho
deTelam
onio,rei
deSa-
lamina,
53-4,58,78,81,97,
121
Albert
Lord,fJl6sofoamericano,
124-5Alexandre
III,0Grande
(356-23a.C
.),
reidaMacedonia,
20
Andromaca,
esposadeHeitor,
maede
Astianax,
10,40,
42,47,
79-80,83,89,
126-7
Anfinomo,
pretendentedePenelope,
60
Anquises,prim
odePriam
o,amante
deAfrodite,
63,73
Antinoo,pretendente
dePenelope,
106-7
Apolo,deus
daBeleza,
daLuz
edas
Artes,
42,45,56-8,63,65,72,74,
79Aquiles,
filhodeTetis
edePeleu,
10,17,
23,30,
38-46,52-59,
63-64,69,72-5,77-8,91,95-103,112-9,124-8
Ares,deusdaGuerra,
63-4,96
Arete,esposa
doreiAlcinoo,
82Arist6fanes
(445-386a.C
.),poetaco-
mico
ateniense,119
Artemis,
Irmagem
eadeApolo,
deu-sados
ca<;:adores,56,58Astianax,
filhodeHeitor
edeAndro-
maca,
42,89,127
Atena,deusa
daSabedoria,
dasArtes
edaCiencia,
9,24,39,42,45,51,53,63-5,72,75,105,114,117
Augusto
(63a.C.-14d.C
.),impera-
dorrom
ano,23,
121,128
,.-,II't•••r,'l••'l'll•••l'lll'l1Jr.•,')()
Aut6lieo,filho
deHermes,
deusdos
ladroes,
avodeUlisses,
89Balzac,
Honore
de(1799-1850),
es-critor
frances,100
Baudelaire,
Charles
(1821-67),poe-
tafrances,
10Belerofonte,
her6icorintio,
filhode
Posidon,17,77
Benoit
deSainte-M
aure(see.X
II),tro-vador
anglo-normando,
128Bentley,
Richard,
fundadordafilo-
logiamoderna,
81Berard,
Victor
(1864-1931),fil610go
epolitico
frances,31,
110,131
Bergson,
Henri
(1859-1941),fil6so-
fofrances,
113Bessarion
(14031472),hum
anistabi-
zantino,21Briseida,
companheira
deAquiles,40,
45,78,127
Butler,
Samuel,
escritoringles,
81
Calcas,adivinho,
65,73,95
Cassandra,filha
dePriam
oedeHe-
cuba,23,41,
78Castor
eP6lux,
her6isdeEsparta,
fi-Ihos
gemeos
deZeus
edeLeda,81
Cavafis,C
onstantino(1863-1933),poe-
tagrego,
48Cebriones,
filhodePriam
o,55
Cervantes
Saavedra,Miguel
de(1547-
1(16),escritor
espanhol,120
Char,
Rene
(1907-88),poeta
frances,109
Chenier,
Andre
de(1762-94),
poetafrances,
112,129
Clitemnestra,esposa
deAgam
emnon,
40,79,83Criseidtl,
coneubinadcAgam
emnon,
45,56,78Crono,
titi,pai
deZeus,
41,67,96
()()
(>oooUtJ(}
Dante
Alighieri
(1265-1321),poeta
eescritor
italiano,36,
128Daum
ier,Honore
(1808-79),carica-
turista,pintor
elit6grafo
fran-ces,84
Deifobo,irmao
deHeitor,
53,64,114
Diomedes,her6i
aqueu,17,41-2,54,
59,64,72,77,97,128D6lon,
troiano,40,
59,79
FranciscoI(1494-1547),
reidaFran-
c,:a,22
Ganimedes,principe
deTr6ia,
escan-c,:aodos
deuses,64,66,73
Giraudoux,
Jean(1882-1944),
escri-tor
frances,129
GlauCO,licio,17,41-2,54,71,77,97
Goethe,
J.w.von(]749-1832),
escri-tor
alcmao,
122Gutcnbcrg,
JohanncsGensfleiseh
(e.1400-68),im
pressoralel1lao,16
Edipo,reideTebas,
89Eeeion,
reideTebas
naCilicia,
paide
Androl1laca,
79Eneias,
principetroiano,
9,43,54,63Eolo,
deusdos
ventos,34
Ereutaliao,her6i
arcadio,54
Esquilo(525-456
a.C.),poeta
tragi-cogrego,
38,79,115,
118,125
Estrabao(58
a.C-entre
21e25d.C
),ge6grafo
grego,23
Eufronio,pintor
eoleiro
atieo,54
Eurialo,nobre
argivo,99
Euricleia,amadeUlisses,
88-9,103
Eurimaco,pretendente
dePenelope,
104,107Euripides
(480-406a.C),poeta
tragi-eogrego,
38,80,115,119,
127Eustacio,
areebispodeTessalonica,
20Ezequias,
pintoreceram
istaatenien-
se,81
Hades,deus
dosInfernos,
55,67,82-3,110,
117HalitCl-ses,
profetadeftaca,
74Heitor,
tllhodePriam
oedeHecuba,
marido
deAndr6m
aca,10,23,39-
47,51-3,57,59,64,69-75,78-9,89-90,94,97,111-5,124,126,127
HelenadeEsparta,
filhadeZeus
ede
Leda,esposa
deMenelau,
9,33,38,
51,60,
75,78,
80,84-5,
89-90,112,114
-5,117,128Helel1o,
irmao
deHeitor,
73Hera,
deusadocasam
ento,esposa
deZcus,
9,51,63,66,74
Hermes,dellS
dosviajantes,
dosmer-
cadoresedos
ladn1cs,mensagei-
rodos
deuses,34,57,64,85,96
Hermione,filha
unicadeMenclau
edeHelena,
80Her6doto
(484-20a.C
.),historiador
grego,37,
128Horacio
(65-8a.C),poeta
latino,121
Hugo,
Victor
(1802-85),escritor
fran-ces,
123
Fenelon,Franc,:ois
deSalignac
deLa
Mothe
(1651-1715),prelado
ees-
critorfrances,
129Ficino,
Marsilio
(1433-99),hUl1lanis-
taflorentino,
21Fidias,
escultor,81
Fih'cio,bojeiro
de[taea,
60,103Finley,
Moses,
historiadorbritancio,
95
1,10111('/1('11.rcidcCrcta.
41,81Ili,~':/litl,
tilhadc
Agallll'm
nonedc
Clitem
nestra,40
Ino-Leue6tea,deusa
marinha,
82Ira,m
ensageirodos
pretendentes,104
Joyce,James(1882-1941),
escritorir-
landes,III
Kazantzakis,
Nikos
(1883-]957),
es-critor
grego,36
LlOlIledo/l/(',rcidc
Tr(lia,paidcPda-
mo,72
Lazaro,principe
servio,125
Levi,Primo(19]
9-1987),cscritor
ita-liano,
]29
Liedon,filho
dePdam
o,57,98
LivioAndronico
(280-207a_C
.l,poe-talatino,
128
Lemmot,
Elias(1802-1884),
escritorfinlandes,
123
MacPherson,
falsario,123
Maom
e(570-632),
fundadordareli-
giaomLH;:ulm
ana,65Maom
eII
(J432-1481),
sult,jooto-
mano,21
Marx,
Karl
(J818-1883),
te6ricoale-
mao,
100
Mauss,
Marcel
(1872-1950),soci610-
gofrances,
97Melal1cio,
cabreirodeftaca,
61
MCIIlIlOI1,filho
daAurora
edePen-
tcsileia,97
Mena!1dro,autor
doseculo
IVa.C,116
MoisE's
(see.XIII
a.C),libertador
elcgislador
deIsrael,
122r'vlom
igli,lIlo,Arn'lldo.
historiadorita-
liallo,24Murad,
sultaootom
ano,125
Ne/eu,pai
deNestor,
88Nestor,
reidePilo,
16,27,29,33,46,52,54,59,68,75,87-8,117,124
Niobe,filha
deTi'm
talo,58
Oi/cu,filho
deHodedoco,
paideAjax,
23,32Otrioncu,
aliadodeTroia,
41
PcJndam,filho
deLiG
lon,arqueiro,
51,58Paris,
filhodePriam
oedeHecuba,
~38,
51,5~
58,63,
80,84,
89-90,
115,128
Parry,Adam
,126
,Parry,Milmann,
eruditoamericana,
124Palmc/o,
companheiro
deAqui!es,40,
42-3,46,53-56,57,75,94,113Pe/eu,
paideAquiles,
17,29,64Pemi/ope,
esposadeUlisses,
10,32,
34,82-3,107,
117Pentesileia,
rainhadas
Amazonas,
77,97
Petrarca,Francesco
(1304-1374),poe-
taehum
anistaitaliano,
21Pindaro
(518-438a,C
),poeta
gre-go,114
Pisistrato(600-527
a,C),tirano
deAtenas,
19Platao
(427-348/347,LC),filosofo
grego,14,113
Po/idamas,orador
eguerreiro
troia-nO,44,
IIIPoli(emo,
ciclope,35,
39,60,
75,96,
99,119
Polites,filho
dePriam
o,44
Priamo,ultim
oreideTroia,
9,23-4,27,29,40-9,57,69-70,72,77-8,
'81,94,119
Quinto
deEsm
irna,escritor
gregotar-
dio,127
Tideu,pai
deDiom
edes,41-2,
64Tiresias,
adivinhocego
deTebas,35-
6,73Titono,
filhodeLaom
edonte,princi-
petroiano,
66Tucidides
(460-395a,C),historiador
ateniense,37-8,
56,122
Racine,
Jean(1639-99),
poetatragi-
cofrances,
10,80,129Redfield,
James,
filologoamericano,
115Reia,
esposadeCrono,
maedeZeus
edos
deusesolim
picos,67
Reso,reidaTracia,
43,59
Ronsard,
Pierrede(1524-1585),
poe-tafrances,
21,80
Ulisscs,heroi
grego,rei
lendariode
haca,10,17,27-36,45,51-2,58-
60,63-6,71-4,
81-9,94-9,
101-4,107,110,114
-9,127-8
Safo,poetisa
grega,81
Sarpedoll,filho
deZeus,
43,54,
64,70-1,73
Schiller,F.von
(1759-1805),escritor
alemao,
122Schliem
ann,Heinrich
(1822-1890),ar-queologo
alemao,
24,26Shakespeare,W
illiam(1564-1616),poe-
tadram
aticoingles,
57,94-5Socrates
(470-399a,C
),filosofogre-
go,14
SOfocles
(495-406a.C
),poetatragi-
cogrego,
38,58,115,
118Stendhal
(Henri
Beyle;
1783-1842),escritor
frances,116
Vergecio,A
ngelo,copista
cretensedo
see.XVI,22
Virgilio
(70-19a.C),poeta
latino,23,
128
Wagner,
Richard
(1813-83),com
po-sitor
alemao,
123Walcott,
Derek,
escritoranglo-anti-
Ihano,129
Weil,
Simone
(1909-1943),filosofa
fraricesa,116,
118,126,
129Wolf,
E,A.,erudito
alemao,
122
Zenodoto,critico
alexandrino,121
Zeus,divindade
supremado
Olim-
po,filho
deCrono
edeReia,41,
54,57,
64,66,
69,73-4,
80,96,
113-4,120,
124
SBDIFFLC
HIUSP
SEC;;.ii.O
DE:
LTOMBO
259271AQUISIC
;;.ii.O:
G/RUSP
EDUSP
/NFN°
13208GUIA
REG,
DATA:
10/05/05PREC;;O:
30,4
Tecmessa,amante
deAjax,
filhoTela-
manio,78
Telamonio,pai
deAjax
deSalam
ina,53
Telegono,filho
deUlisses
edeCirce,
127Temis,
deusadaJustiya,
69Teoc/imeno,
profetaargivo,
73Tersites,guerreiro
aqueu,44-5,94,97
This,nereida,
maedeAquiles,
43,57,63,66,70
Teucro,arqueiro,
irmao
deAjax,
58