Percepção e uso do espaço em Arquitetura e Urbanismo
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Percepção e uso do espaço em Arquitetura e Urbanismo: um ensaio no Ambiente Construído
raquel cristina laki*
alexandre emilio lipai**
“É um lugar para se experimentar. Arquitetura é uma experiência que deve provocar emoção”
(Massimiliano Fuksas)
Resumo l A pesquisa propõe-se a investigar como as pessoas percebem e interagem com os elementos ar-
quitetônicos ao utilizarem ambientes projetados por arquitetos e urbanistas. Este projeto é parte integrante
do Grupo de Pesquisa “Níveis de percepção e uso do espaço em Arquitetura e Urbanismo”, coordenado
pelo orientador. Com base no estudo teórico das relações interdisciplinares entre os Fundamentos da
Arquitetura com outras áreas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas – dando ênfase às contribuições
da área de Psicologia Social –, procurou-se compreender como estímulos gerados por influências do
espaço construído possibilitam observar formas de perceber e de construir sentidos (criar significados)
de uso pelo ser humano. O objeto-ambiente de estudo é a Praça de Alimentação da Universidade São
Judas Tadeu – e os instrumentos utilizados são a observação, a aplicação de questionários e entrevistas
com grupo de voluntários formado por alunos de primeiro ao quinto ano e professores do curso de
Arquitetura e Urbanismo.
Palavras-chave l arquitetura e urbanismo, uso do espaço construído, estudo interdisciplinar.
* Aluna de graduação em Arquitetura e Urbanismo e Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) na USJT.E-mail: [email protected]** Professor da USJT, Doutor em Arquitetura e Urbanismo e orien-tador da pesquisa.E-mail: [email protected]
1. introdução
Espaço, tempo e matéria constituem os elementos
básicos com que o arquiteto-urbanista pensa e
concebe um espaço. O inter-relacionamento entre
estes componentes determina a essência e a qua-
lidade de um projeto e representa três importan-
tes estímulos para que se tenha consciência do uso
de ambientes como experiência.
A forma, definida pela geometria, constrói
ambientes extraídos da matéria (substância, tex-
tura e cor). E esta se traduz em elementos que, em
conjunto, vão oferecer condições (adequadas ou
não) para que um espaço possa ser percebido pelo
ser humano, estimulando respostas positivas ou
negativas diante do mesmo.
Percepções captadas pelos sentidos e condicio-
nadas pelo ambiente vivenciado são o foco deste
estudo, que tencionou avaliar os níveis objetivos e
subjetivos da percepção como conhecimento a ser
incorporado na formação e na aplicação em pro-
jetos de Arquitetura e Urbanismo.
Contando com fundamentação em teorias re-
lacionadas à área citada e às Ciências Humanas e
Sociais Aplicadas, para habilitar uma pesquisado-
ra-observadora treinada em explorar os aspectos
perceptivos do ambiente, investigaram-se hipóte-
ses num estudo de caso, que é um espaço já exis-
tente, por meio da aplicação de questionário,
entrevista e observação.
Propõe-se, com esse percurso, realizar o ensaio
de um método que poderá ser aplicado a outros
estudos de ambientes construídos.
2. conceitos e hipóteses
Conceitua-se Arquitetura nos dizeres de Lúcio
Costa, arquiteto e urbanista brasileiro (citado em
lemos, 1980, p. 38-9), como aquela construção que,
“enquanto satisfaz apenas às exigências técnicas e
funcionais – não é ainda arquitetura; quando se
perde em intenções meramente decorativas – tudo
não passa de cenografia; mas quando – popular ou
erudita – aquele que a ideou pára e hesita ante a
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simples escolha de um espaçamento de pilar ou de
relação entre altura e a largura de um vão e se detém
na procura obstinada da justa medida entre cheios
e vazios, na fixação dos volumes e subordinação
deles a uma lei e se demora atento ao jogo de ma-
teriais e seu valor expressivo – quando tudo isso se
vai pouco a pouco somando, obedecendo aos mais
severos preceitos técnicos e funcionais, mas tam-
bém àquela intenção superior que seleciona, coor-
dena e orienta em determinado sentido toda essa
massa confusa e contraditória de detalhes, trans-
mitindo assim ao conjunto ritmo, expressão, uni-
dade e clareza – o que confere à obra o seu caráter
de permanência, isto sim é arquitetura”.
Entendendo essa profissão como o processo do
pensar que planeja o espaço construído, Hertzber-
ger (1999) apresenta o principal instrumento do
arquiteto: tudo o que é absorvido e registrado pela
nossa mente soma-se à coleção de idéias armazena-
das na memória: uma espécie de biblioteca que se
pode consultar toda vez que surge um problema.
Prosseguindo na consolidação de conceitos que
definem o significado de projetar em arquitetura,
Kahn (1964) fala sobre partido e estética. Revela
que “a primeira linha no papel é sempre menos”,
referindo-se ao trabalho dos arquitetos. Segundo
ele, a imaginação do profissional, na qual tudo é
possível, quando desenhada restringe-se por traços,
medidas, programa, custo, entre muitos outros
fatores mensuráveis.
Por isso, Louis I. Kahn agrega o que é mensu-
rável (físico) ao que define como incomensurável,
ou seja, o desejo (do cliente e do arquiteto).
O princípio do criar está, então, na psique. E
a Existência-Vontade, definida pelo arquiteto
como a filosofia do espaço ou ainda por aquilo
que o espaço deseja ser, é a parte mensurável do
criar, quando a arquitetura inicia seu processo de
materialização.
Um espaço arquitetônico precisa revelar em si
mesmo o testemunho de sua criação. Precisa
começar na imaginação e no sonho do cliente
interpretado pelo arquiteto (campo incomensu-
rável), ser projetado, racionalizado ou desenhado
(campo mensurável), para que, após construído,
retorne ao incomensurável: o campo da sensação
e da percepção.
Para compreender melhor e atuar com alguma
segurança nesse processo de concepção de ambien-
tes, necessita-se desenvolver e aprofundar conhe-
cimentos de caráter interdisciplinar.
Associa-se, assim, às ciências humanas e sociais
aplicadas, em que outras dimensões (além das fí-
sicas: comprimento, altura e largura) integram-se
na reflexão e produção de projetos de arquitetura.
São elas: a quarta dimensão, que é o tempo; a quin-
ta, a proxêmia, também denominada dimensão
cultural; e a sexta, que é a percepção individual.
Uma dessas áreas, a Psicologia da Percepção,
oferece-nos subsídios por meio de conceitos da
Gestalt e a interpretação de significados pela Psi-
cologia da Forma. Gestalt, termo alemão corres-
pondente na língua portuguesa à forma ou
configuração (bock, 1991), é a arte que se funda
no princípio da pregnância da forma e suas leis,
ou seja, na formação de imagens, fatores como
orientação, equilíbrio, clareza e harmonia visual
participam das relações entre o ser humano e o
ambiente (gomes filho, 2000).
Na arquitetura o conceito é encontrado em
obras significativas, como o Museu de Arte de São
Paulo (Masp), projetado por Lina Bo Bardi, cujo
destaque na paisagem da Avenida Paulista em São
Paulo pode ser explicado por algumas leis gestál-
ticas, como contraste (sua cor, sua horizontalida-
de), unidade, continuidade, ritmo etc.
De acordo com Zevi (2002), um pintor pari-
siense em 1912 produziu o seguinte raciocínio: eu
vejo e represento um objeto; vejo-o de um ponto
de vista e faço a perspectiva. Mas, se girar o objeto
ou me mexer, a cada movimento mudo meu pon-
to de vista e, por isso, devo fazer uma nova pers-
pectiva. Conseqüentemente, perceber a realidade
de um objeto não se esgota nas três dimensões;
para apreendê-lo integralmente eu deveria fazer
no mínimo um número infinito de perspectivas
de infinitos pontos de vista. Existe, pois, outro
elemento além das três dimensões tradicionais, e
é precisamente o deslocamento sucessivo do ân-
gulo visual, caracterizado pelo tempo, definido
como a quarta dimensão.
Em ambientes construídos, é o homem que,
movendo-se em um espaço, estudando-o de pon-
tos de vista sucessivos, utiliza a quarta dimensão,
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o que lhe possibilita perceber neste espaço a sua
realidade mais completa. A consciência deste fe-
nômeno tem uma relação decisiva com a arquite-
tura, porque propicia uma sustentação teórica à
exigência crítica de distinguir a arquitetura cons-
truída da desenhada (zevi, 2002).
Tudo o que o homem é e faz está associado à sua
experiência do espaço construído. O sentido que o
ser humano confere ao ambiente é uma síntese de
muitos estímulos sensoriais, associados à sua cultu-
ra. Ou seja, é aos sentidos (visão, audição, paladar,
olfato, tato e equilíbrio) – base fisiológica compar-
tilhada por todos os seres humanos – que a cultura
fornece estrutura e significado (hall, 2005)
Assim, pessoas pertencentes a culturas diferen-
tes vivem em mundos sensoriais diferentes.
Proxêmia ou proxêmica é o termo – desenvolvi-
do pelo antropólogo americano, formado em
Humanidades, Edward T. Hall – que explica a inter-
relação entre observações e teorias do uso que o
homem faz do espaço com uma elaboração espe-
cializada da cultura.
O estudo da cultura, como “filtro” da percepção
e comportamento diante de ambientes em uso no
senso da proxêmica, é fundamentado na aplicação
do aparelho sensorial do ser humano em diferen-
tes estados emocionais e em contextos e ambientes
diversos, o que explica, assim, o fato de pessoas de
culturas desiguais equivocarem-se na interpretação
de dados psicológicos umas das outras (hall, 2005).
Além da cultura, essa interpretação depende de
outras relações, como a que Yi-fu Tuan – teórico
da Geografia Humana – formula: o conceito de
topofilia, ou seja, o estudo de relações que criam
um elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambien-
te físico com o qual interage.
A partir da experiência (captada pelos órgãos
dos sentidos), nossa mente agrega valores culturais
e pessoais para gerar uma percepção. Por isso,
apesar de os seres humanos terem os mesmos ór-
gãos dos sentidos, o modo com que suas capaci-
dades são usadas e desenvolvidas divergem e
transformam-se ao longo do tempo. O que resul-
ta em diferentes atitudes em relação ao ambiente
(tuan, 1980).
Há ainda uma outra dimensão, neste traba-lho
denominada sexta dimensão, sugerida pela Psico-
física, que estuda o quanto um organismo é capaz
de responder a um estímulo ou quando a intensi-
dade desses estímulos suscita nos organismos res-
postas mais rápidas, amplas e intensas (reuchlin,
1979).
Pertence ao domínio da psicofísica, a análise de
como pessoas de uma mesma cultura e com as
mesmas possibilidades de captação de estímulos
podem perceber um espaço de maneiras diversas,
devido a sua psicofísica individual.
Suas emoções e percepções podem divergir, pois
os níveis de sensibilidade de seus sentidos e emo-
ções não são os mesmos.
Dessa maneira, a arquitetura não pode dotar-se
de elementos concretos que atendam unanimemen-
te às necessidades de uso em espaços projetados,
sem considerar também a presença do componen-
te subjetivo relacionado à percepção individual de
cada usuário.
3. o método: um estudo deambiente
Com base em conceitos de autores de diversas
disciplinas, optou-se por um estudo de caso em
ambiente real, que permitisse uma análise objetiva
e subjetiva dos dados, além da construção de um
modelo estruturado para ensaio de pesquisa explo-
ratório-qualitativa, proposto no gráfico a seguir.
• Objeto-ambiente
O objeto-ambiente de estudo, ou o laborató-
rio de observação1, é a Praça de Alimentação da
Figura 1. Síntese do Método. Diagrama de Procedimentos e Etapas da Pesquisa. Fonte: Elaborado pela Pesquisadora
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Universidade São Judas Tadeu e seus ambientes,
conforme planta parcial, apresentada a seguir.
• Instrumentos e forma de coleta dos dados
Utilizaram-se enquetes exploratórias para inves-
tigar variáveis de observação, interpretação e uso
dos ambientes da Praça de Alimentação da USJT.
As questões, formuladas aos 60 voluntários por
escrito no formato de questionário2, foram respon-
didas em dois momentos distintos:
º No primeiro, os sujeitos não estavam presentes
nesses ambientes e, portanto, deveriam imaginar-se
neles (referenciando-se em um exercício de memó-
ria), o que se denominou espaço imaginado;
º No segundo, os mesmos sujeitos estavam pre-
sentes nos espaços, respondendo às mesmas ques-
tões, fase que se denominou espaço real.
As respostas obtidas foram anotadas pela pes-
quisadora ou pelos próprios voluntários, sem uso
de outros equipamentos.
Atendendo a normas da Universidade, o pro-
jeto foi previamente submetido à aprovação do
Comitê de Ética em Pesquisa/USJT (Coep/USJT),
por envolver pesquisa com seres humanos. Na
aplicação dos questionários, os voluntários rece-
beram para leitura e aprovação um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Decorrido um ano desse processo, aplicou-se
entrevista com perguntas abertas3 a alguns dos vo-
luntários, registradas por gravador digital de voz. A
necessidade desta complementação por entrevistas
ocorreu devido a dúvidas geradas por respostas
“vagas” ou, incompreensíveis quanto a seu signifi-
cado quando da primeira coleta por questionário.
Como complementação dos dados levantados com
os sujeitos da pesquisa, aplicou-se a observação treina-
da da pesquisadora que incluiu a medição e registro
dos níveis de conforto dos ambientes (relacionados à
iluminação, acústica e temperatura), utilizando os
aparelhos luxímetro, decibilímetro e termômetro-
digital (temperatura e grau de umidade).
• Método
Em geral, dos três possíveis modelos de estudo,
os exploratórios, os descritivos e os experimentais
(triviños, 1987), dois deles foram utilizados nes-
ta pesquisa:
º Estudo exploratório, que permite ao inves-
tigador aumentar sua experiência em torno de
determinado problema e testar preliminarmente
Figura 2. Planta parcial do Objeto-Ambiente de Estudo: Praça de Alimentação USJT – Trecho do Pavimento Térreo (Acesso Principal: Rua Taquari, Mooca, S.P.). Fonte: Desenho com base no Projeto de Prefeitura da USJT.
• Definição da amostragem
Como delimitação inicial da amostra, restrin-
giu-se a análise a um recorte específico no univer-
so de pessoas constituído pelo corpo de
professores, funcionários e alunos da Universidade.
Este recorte compreende apenas o universo do
curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
estabelecendo um critério de inclusão para a aná-
lise. Todos os demais cursos estão excluídos nessa
etapa do projeto.
Assim sendo, os sujeitos da pesquisa são 60
pessoas que, após solicitação, apresentaram-se
como voluntários, sendo 50 discentes e 10 docen-
tes, assim distribuídos: 50 alunos (10 de cada
turma, do primeiro ao quinto ano, num total de 5
turmas); e 10 professores da área – o que represen-
ta 10% do corpo docente –, possibilitando, destar-
te, a diferenciação da percepção em diferentes
níveis de conhecimento.
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uma hipótese inicial. Parte-se de uma questão e
aprofunda-se seu estudo nos limites de uma rea-
lidade específica, buscando maior conhecimento
para, em seguida, planejar uma pesquisa descriti-
va ou de tipo experimental (triviños, 1987).
Esse tipo de estudo foi utilizado na delimitação
do problema, na revisão de literatura, nos exercí-
cios de treinamento de observação da pesquisadora4,
e na aplicação dos questionários pilotos, experi-
mentando o método científico.
º Estudo descritivo, que pretende descrever com
exatidão os fatos e fenômenos de determinada
realidade, exigindo do pesquisador uma série de
informações sobre o que se deseja pesquisar (tri-
viños, 1987). O foco essencial desse estudo reside
no desejo de conhecer, no caso de concepção de
projetos de arquitetura, o ser humano, suas carac-
terísticas, os elementos definidores do espaço
projetado, seus problemas etc.
Alguns estudos descritivos denominam-se es-
tudos de caso, e têm por objetivo aprofundar a
descrição de determinada realidade, analisando
todas as suas variáveis. O grande valor desse mo-
delo de estudo é fornecer um conhecimento apro-
fundado de uma realidade delimitada que os
resultados atingidos podem permitir e formular
hipóteses para o encaminhamento de outras pes-
quisas (triviños, 1987).
Esse modelo foi utilizado na coleta e análise dos
dados do objeto-ambiente em estudo.
O próprio tema definiu esta como uma pesqui-
sa qualitativa: era preciso analisar a qualidade dos
espaços projetados pelos arquitetos, e ainda veri-
ficar em um caso real as hipóteses obtidas na
fundamentação teórica.
Para isso, determinou-se que um “laboratório
interno” (a própria Universidade em que o estudo
se desenvolvia) seria o mais adequado para o de-
senvolvimento de um modelo de método.
• Coleta de dados
Os dados foram coletados por meio de buscas
de voluntários, durante dois a três meses. Nesta
etapa, deparou-se com a dificuldade de recursos,
como a não-colaboração de alguns voluntários,
que solicitavam um tempo maior para responde-
rem aos questionários, e não o devolviam.
Houve ainda casos de respostas insuficientes
para a análise. Com isso, os números da amostra
variavam.
Enfim, com os dados obtidos, percebeu-se a
necessidade da elaboração de um método de análi-
se com orientação externa à área de Arquitetura.
Estabeleceu-se uma associação interdisciplinar
com a área de Psicologia Social, para que a análise
possuísse fundamentação substancial, e não apenas
intuitiva.
Dessa maneira, com apoio em trabalho de
Bardin (citado em triviños, 1987), adotou-se o
seguinte método de análise de conteúdo (desen-
volvido em parceria com a profª Carla Witter,
pesquisadora da área de Psicologia Social):
Em uma primeira etapa, os dados são tabulados
do modo pelo qual aparecem descritos pelos vo-
luntários (pré-análise, ou organização do mate-
rial), conforme mostra a tabela da figura
apresentada a seguir:
Figura 3. Exemplo da Tabela de Pré-Análise: registro de dados que se apresentaram dispersos. Fonte: Elaborada pela Pesquisadora
Com base nesta tabela, as respostas são agru-
padas em categorias, definidas por aproximação
de significados como um critério de aglutinação
inicial adotado pela pesquisadora; surgindo daí
uma segunda tabela (descrição analítica, ou seja,
o estudo aprofundado dos dados), conforme é
apresentado na próxima figura.
Para aferir a precisão da análise e validar as
categorias, após cerca de um mês sem olhar a pes-
quisa, a própria autora (intrajuiz) reavalia a segun-
da tabela.
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Esse modelo de análise apresentou conveniên-
cia quanto à estruturação de dados e prossegui-
mento da pesquisa devido ao fato de o tamanho
da amostra ser restrito. No entanto, possivelmen-
te, esta segunda tabela (de agrupamento) não seria
a mesma para uma coleta de dados mais ampla, na
qual a primeira tabela poderia ser suficiente para
a obtenção de conclusões de caráter qualitativo.
A elaboração de categorias foi necessária, neste
caso específico, devido à dispersão e à diversidade
das respostas.
Sendo assim, respostas como conversar, encontrar
amigos, encontrar pessoas, esperar por alguém, ficar
com os amigos, interagir com as pessoas; marcar en-
contros, reunir pessoas foram agrupadas na categoria
de uso denominada “Relacionamento humano”.
Dessa maneira, puderam-se constatar os resul-
tados com maior apuração.
As intenções de ampliação da pesquisa incluin-
do sujeitos (alunos) de outras categorias de cursos
da Universidade, bem como para outros ambientes
construídos, foram consideradas prematuras
nesta etapa, de acordo com uma avaliação em
conjunto com outros especialistas das áreas de
Arquitetura e Urbanismo e Psicologia Social. A
razão desta mudança de diretriz foi a necessidade
de concluir-se um ciclo de aprendizado, treina-
mento, experimentação da pesquisadora, que re-
sultou na construção de um método de
conhecimento importante, para, a partir de então,
aplicá-lo de forma mais completa e abrangente.
Concluiu-se que a consolidação do método
seria o percurso mais indicado.
A pesquisa mostrou, em seu decorrer, que alguns
procedimentos e hipóteses iniciais apresentaram-se
de forma incompleta ou gerando dúvidas quanto à
classificação e interpretação dos dados. Um dos ca-
minhos possíveis para eliminar dúvidas foi a inclusão
de ajustes e correções de procedimentos de coleta.
Para a concretização de tal objetivo, aprimora-
ram-se os resultados por meio de entrevistas com
alguns dos voluntários visando o esclarecimento
de possíveis equívocos de interpretação.
Além disso, aferiram-se os dados subjetivos
coletados relacionando-os a dados objetivos: me-
dições dos ambientes da Praça de Alimentação da
Universidade São Judas Tadeu quanto a suas di-
mensões físicas e seus níveis de conforto ambien-
tal (iluminação, acústica e térmica).
4. resultados e análises
A organização dos dados possibilitou a constru-
ção de algumas considerações sobre os ambientes
estudados.
A análise subjetiva (dada pelas respostas dos
voluntários) selecionou os seguintes espaços da
Praça de Alimentação, assim denominados pelos
próprios sujeitos da pesquisa: a área externa, o
ambiente ao lado do café “Mate.com”, sob o meza-
nino, ao lado do “Café do Jorge”, em frente ao “Café
do Jorge” e ao “Bello’s”, a área em frente ao restau-
rante japonês, o palco, o Ponto de Encontro.
Houve citações que qualificavam a Praça de
Alimentação da USJT como um espaço excessiva-
mente impessoal e sem ambientes que inspirassem
satisfação.
Entre as áreas mencionadas, as mais freqüentes
foram o espaço sob o mezanino, citado como o mais
utilizado; a área externa, apresentando as qualida-
des mais agradáveis; o restaurante japonês, citado
como o melhor ambiente para permanência pro-
longada; o palco, situado como espaço de relaxa-
mento; e, o Ponto de Encontro, como o lugar mais
adequado para estudos.
Com base nessas constatações, analisaram-se
essas preferências de maneira objetiva (mensuran-
do as características do espaço quanto aos níveis
de conforto), comparando-as às subjetivas.
Os resultados iniciais demonstraram, ainda,
que os primeiros anos do curso de Arquitetura e
Urbanismo revelam estar mais atentos aos espaços
Figura 4. Exemplo da Tabela de Descrição Analítica: categorização. Fonte: elaborada pela pesquisadora.
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da Universidade, sugerindo a hipótese de uma
curiosidade maior pelo curso e pelos ambientes
que utilizarão durante os próximos anos. Em con-
trapartida, os alunos do terceiro ao quinto ano,
demonstraram um crescente desinteresse por esses
espaços (o que se reflete até mesmo no modo de
estes participarem da pesquisa).
A análise indicou a preferência das séries iniciais
do curso por ambientes mais agitados e movimen-
tados, em que se busca contato e relacionamento
humano – como o espaço sob o mezanino –; já as
séries finais preferem espaços mais tranqüilos, com
menor quantidade de pessoas e ruídos – como, por
exemplo, o restaurante japonês.
Em relação aos docentes, há um alto índice de
preferência pelo espaço lateral ao “Café do Jorge”,
não escolhido por outro grupo. Este dado sugere
a existência de ambientes selecionados por deter-
minados grupos, delimitado por uma hierarquia,
explicada por Edward T. Hall como dimensão
oculta (as pessoas ajustam as distâncias físicas de
umas em relação às outras, insinuando seu grau
de intimidade, hierarquia etc.).
Dessa forma, a seguir encontram-se as caracte-
rísticas bem ou malsucedidas5 de cada um dos
ambientes analisados.
• Área externa
Segundo Marcus (1998), espaços abertos de
universidades necessitam dispor de áreas livres
para circulação, estudo e relaxamento, e que seu
melhor trato é o condicionamento da oportuni-
dade de encontros casuais e de entretenimento.
A USJT dispõe desse ambiente ao ar livre, que
propõe o estar, o relacionamento humano, encon-
tros, além da transição física e psicológica (enfati-
zada pelo contato com a natureza), designando a
diminuição da tensão mental dos alunos, funcio-
nários e professores.
Esse é o fator basal para o lugar ser muito uti-
lizado para reunir amigos, esperar o horário da
aula ou ainda para distração dos estudos.
A arborização diminui a radiação solar, pro-
porcionando áreas sombreadas, nas quais brisas
garantem o deleite agradável de espaços abertos.
Os ruídos da Praça de Alimentação são reduzi-
dos em cerca de 5 ou mais decibéis, além de serem
mascarados ou diminuídos, psicologicamente,
pelos estímulos agradáveis que se dão em maior
número nesta área.
Características malsucedidas
Espaço tênue se relacionado ao número de
pessoas que gostariam de desfrutar deste lugar. Não
utiliza toda sua potencialidade de espaço livre de
uma universidade, que poderia propor locais para
leitura, estudo, estar ao ar livre (gramado passível
Figura 5. Planta da USJT – Trecho do pavimento Térreo: Área externa. Fonte: desenho com base no projeto de Prefeitura da USJT (revisão da pesquisadora).
Características bem-sucedidas
A principal característica citada sobre esse es-
paço é sua relação com os componentes da paisa-
gem natural (transformada pelo homem).
Figuras 6 e 7. Área externa – Acesso principal. Fonte: registro da pesquisadora (setembro/2006).
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de sentar, mesas para jogos ou alimentação), en-
globando tais atividades em uma área de paisagis-
mo mais ampla.
Soube-se que o projeto original desta Univer-
sidade previa uma área de paisagem com jardim
projetado para a área hoje ocupada pelo estacio-
namento de autos de professores, o que demonstra
que as sugestões e desejos dos voluntários são
condizentes com as idéias originais do arquiteto-
autor do projeto.
Outra desqualificação desse espaço construído
é a escassa quantidade de luz no período noturno,
em que a iluminação artificial é ineficiente, não
possibilitando atividades como leitura, estudo etc.
• Ao lado do "Mate.com"
Características malsucedidas
É um espaço de dimensões restritas que confli-
ta com a circulação (acesso da quadra esportiva
com a Praça de Alimentação).
O conflito ocorre, ainda, no campo da acústica,
em que os ruídos da quadra esportiva interferem
intensa e negativamente nesse ambiente.
No período noturno, o local fica prejudicado
pela inexistência de um projeto luminotécnico que
valorize a vista da paisagem exterior.
• Sob o mezanino
Figura 8. Ao lado do “Mate.com” – Planta – Trecho do pavimento Térreo. Fonte: desenho com base no projeto de Prefeitura da USJT (revisão da pesquisadora).
Características bem-sucedidas
A principal característica desse espaço é o con-
tato visual com o ambiente externo e com a natu-
reza, além da penetração da luz natural, consentidos
pela presença do pano de vidro da fachada.
É utilizado para alimentação e relacionamento
humano.
Figura 9. Ao lado do “Mate.com”. Fonte: Registro da Pesquisadora (Setembro/2006).
Figura 10. Sob o mezanino: Planta – Trecho do pavimento Tér-reo. Fonte: desenho com base no projeto de Prefeitura da USJT (revisão da pesquisadora).
Figuras 11 e 12. Foto: Sob o Mezanino. Fonte: Registro da Pesquisadora (Setembro/2006).
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Características bem-sucedidas
É um espaço central na Praça de Alimentação,
com maiores dimensões físicas se comparado aos
demais ambientes. Além disso, é próximo à maio-
ria das lanchonetes e possui mobiliário apropriado
para alimentação.
Tais características garantem o intenso fluxo de
pessoas e encontros de todos os cursos da Universi-
dade, proporcionando o relacionamento humano.
É o espaço de preferência dos iniciantes que se
interessam pela interação, agitação e convívio.
A flexibilidade do mobiliário permite um ar-
ranjo democrático do espaço.
Características malsucedidas
O espaço estreito, indicado por suas relações di-
mensionais físicas, juntamente com o excessivo mobi-
liário, transmite a sensação de apertado ou sufocante.
Sua dimensão vertical (pé-direito com 2,20 m
sob o mezanino) incomodamente restrita, somada
à grande quantidade de pessoas que lá se aglome-
ram, a alta luminosidade e a aparência de cor das
lâmpadas utilizadas no ambiente, produz a sensa-
ção de temperatura desagradável (calor).
O que se comprova objetivamente com as me-
dições realizadas no local, as quais demonstram
uma variação de até meio grau Celsius se compa-
rado à mesma localidade, mas com pé-direito
elevado (4,30 m), ou seja, sem o mezanino.
É o ambiente com mais alto nível sonoro entre os
estudados, com uma média de 74 decibéis (bastante
barulhento, considerando-se que um ambiente mo-
derado com relação à acústica teria 40-50 decibéis).
Tais fatores condizem com as sugestões de al-
terações citadas pelos voluntários, como a maior
circulação entre mesas, o aumento da altura ver-
tical, a potencialização da iluminação natural e a
interação desse local de alimentação a elementos
de paisagens naturais.
• Ao lado do "Café do Jorge"
Características bem-sucedidas
É o local de preferência dos docentes, bem
como, em horários vagos, de alguns grupos distin-
tos, que intencionam isolamento ou restrição à
circulação, aos ruídos e ao excesso de pessoas.
O local proporciona a vista do exterior e possui
intensa iluminação natural, devido à proximidade
da fachada envidraçada.
Suas relações dimensionais físicas produzem a
sensação de aconchego, e sua localização permite uma
fácil apreensão da Praça de Alimentação em geral.
Possui uma acústica melhor que a dos demais
ambientes analisados, com menos cerca de 5 deci-
béis em relação ao espaço sob o mezanino.
Seu mobiliário é adequado ao uso para alimen-
tação e relacionamento humano.
Características malsucedidas
Em alguns momentos conflita-se com a circu-
lação (ligação entre o saguão de entrada e o espa-
ço do restaurante japonês), e com as filas dos
caixas eletrônicos.
O pano de vidro da fachada permite o contato
visual com o exterior, mas é prejudicado pela lo-
calização do estacionamento. Além disso, não há
possibilidade de transposição física da fachada nem
de ter contato com o jardim.
A não abertura determina também o calor
excessivo em dias de verão, pois há sempre forte
incidência de sol da tarde sobre as mesas nesse local
Figura 13. Ao lado do “Café do Jorge” – Planta – Trecho do pavimento Térreo. Fonte: desenho com base no projeto de Prefeitura da USJT (revisão da pesquisadora).
Figura 14. Foto: Ao lado do “Café do Jorge”.Fonte: Registro da Pesquisadora (Setembro/2006).
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(o pano de vidro da fachada produz um efeito es-
tufa parcial e localizado na área das mesas).
• Em frente ao "Café do Jorge" e ao "Bello's"
Sua disposição de alinhamento em relação à por-
ta de entrada põe o ambiente na corrente de ventila-
ção, o que pode causar incômodo em dias frios.
Nesse local também há a interferência do esta-
cionamento na vista exterior.
• Restaurante japonês
Figura 15. Em frente ao “Café do Jorge” e ao “Bello’s” – Planta – Trecho do pavimento Térreo. Fonte: desenho com base no projeto de Prefeitura da USJT (revisão da pesquisadora).
Características bem-sucedidas
A disposição do mobiliário faz desse um espa-
ço descontraído, que proporciona dinamismo às
atividades que nele ocorrem.
Está próximo à entrada, entre a circulação
principal e a distribuição para os elevadores, sendo,
portanto, um local estratégico para encontros.
Características malsucedidas
Em alguns casos há conflito devido a não ser
evidente a separação entre os espaços de circulação
e permanência.
Figura 16. Foto: Em frente ao “Café do Jorge” e ao “Bello’s”. Fonte: Registro da Pesquisadora (Setembro/2006).
Figura 17. Espaço do restaurante japonês – Planta – Trecho do pavimento Térreo. Fonte: desenho com base no projeto de Prefeitura da USJT (revisão da pesquisadora).
Características bem-sucedidas
Espaço reservado, com separação nítida da cir-
culação, o que garante privacidade aos usuários.
Espaços “fechados” trazem a sensação de segu-
rança, tranqüilidade e resguardo, ainda que o es-
paço físico (bem como seus níveis de acústica) seja
semelhante aos dos espaços abertos.
As barreiras (escada, elevador) não isolam o
espaço em sua totalidade. O som consegue transpô-
las. A não apreensão visual do fluxo de pessoas faz,
entretanto, com que o usuário tenha a sensação de
reserva.
Figura 18. Foto: Restaurante japonês. Fonte: registro da pesquisadora (setembro/2006).
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Os níveis de acústica diminuem comprovada-
mente (conforme indicam as medições, a média é
de 67 decibéis neste ambiente, cerca de 3 decibéis
menos que no saguão de entrada e 7 decibéis me-
nos que sob o mezanino). A principal contribuição
para a sensação de silêncio neste local é a compo-
nente psicológica (sensação desagradável masca-
rada pela maior quantidade de sensações
agradáveis), como já explicitado.
Há, ademais, a vista do exterior e iluminação
natural complementada pela artificial.
O espaço é muito utilizado para alimentação
pelos grupos de séries mais elevadas e para estudo.
Características malsucedidas
Em alguns períodos de eventos (como formatu-
ras ou simpósios), as intervenções decorativas colo-
cadas na entrada do auditório dividem esse espaço
e limitam a iluminação natural em parte dele.
Nesses casos, a iluminação artificial torna-se
insuficiente para as atividades ocorridas, princi-
palmente para estudo. De acordo com as medições,
a média nessas ocasiões é de 150 lux (consideran-
do-se cerca de 300-500 lux ideal para estudo).
Em contraposição, a proximidade da fachada
garante luz natural, mas também ofuscamento,
visto que em dias ensolarados podem-se ter mais
de 2.000 lux.
Esse fator, somado à não abertura da fachada
noroeste envidraçada (e a conseqüente não venti-
lação e produção de calor), poderia levar a que se
preveja uma proteção a esta fachada com a inclu-
são de brises (quebra-sóis), por exemplo.
A visão do exterior é desqualificada pela pre-
sença do estacionamento, e este ambiente não
possui contato com as demais lanchonetes.
• Palco/Palquinho Tablado
Características bem-sucedidas
O Tablado, devido a seu desnível e conseqüentes
bordas (utilizadas como bancos), possui uma flexi-
bilidade de uso desejável em espaços de estar (po-
dendo-se sentar, deitar, subir, encostar). Por esse
motivo, é utilizado para descansar, ler e relaxar.
Possui, ademais, iluminação natural zenital (o
que determina o dinamismo de seus estímulos,
variando conforme a luz solar emitida em um mo-
mento distinto) e proporções físicas agradáveis
(relações entre dimensões verticais e horizontais).
Situando-se em posição central da Praça de
Alimentação, permite a visibilidade de todos os
ambientes e da circulação. Em alguns momentos,
torna-se um espaço cultural para exposições.
Características malsucedidas
Apesar de seu uso como praça (local de estar,
permanência, lazer), omite-se a relação da Praça
com elementos naturais, sugeridas pela maioria
dos voluntários.
• Ponto de encontro
Características bem-sucedidas
Espaço amplo e independente dos demais é ci-
tado como o mais adequado para o estudo. Mesmo
Figura 19. Palco – Planta – Trecho do pavimento Térreo. Fonte: desenho com base no projeto de Prefeitura da USJT (revisão da pesquisadora).
Figura 20. Foto: Palco. Fonte: Registro da pesquisadora (setembro/2006).
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com uma média de 72 decibéis (bastante descon-
fortável para concentração).
Esse fato é explicado por sua situação em rela-
ção à Praça de Alimentação, tendo como barreiras
o Palco e os pilares do pavimento Térreo, que o
desconectam da circulação.
Usufrui, parcialmente, da iluminação natural
zenital que decorre da cobertura do Palco.
Características malsucedidas
Em dias pouco ensolarados possui escassa lu-
minosidade, visto que a iluminação artificial não
compensa a natural.
Conta com uma média de 130 lux (enfatizando-
se que em locais usados para atividades de estudo,
o ideal é 300-500 lux).
5. conclusão
• Sobre o método
O levantamento de opiniões dos usuários de
espaços projetados e construídos por arquitetos-
urbanistas fornece indicadores que permitem es-
tabelecer diretrizes para aprimorar a concepção de
projetos. O método em questão procurou detectar
a proposição de algumas diretrizes que, analisadas
e aprofundadas com a comparação de dados ob-
jetivos e subjetivos, permitem maiores possibili-
dades de acertos nos projetos de arquitetura e
urbanismo.
A pesquisa comprovou a necessidade da associa-
ção interdisciplinar no processo de projeto, bem
como na pesquisa, para tornar completa uma reflexão
sobre a proposição de ambientes arquitetônicos.
Dessa forma, acredita-se em uma conscientiza-
ção e inserção de conceitos de percepção nos estu-
dos dessa área.
O objetivo desta pesquisa pode ser considerado
alcançado, nesta fase, ao responder a questões le-
vantadas pela hipótese inicial: as percepções esti-
muladas pelo espaço arquitetônico interferem no
comportamento do ser humano, no uso do am-
bientes construído. Outra constatação que se
apresentou como inesperada foi o fato de surgirem
diferenças significativas de escolha de lugares por
um mesmo sujeito, dependendo da situação em
que se encontra: a escolha feita de “memória” (sem
estar presente no espaço real) transforma-se ou
modifica-se quando o sujeito está presente no es-
paço que escolheu!
No escopo deste estudo está um método que
permite aplicação em outras situações, podendo
ser utilizado, com ajustes de especificidades, em
outros espaços de uso e aprofundado em outras
linhas de pesquisas.
• Sobre o objeto-ambiente
Unificando as diretrizes sugeridas no trabalho
de Marcus (1998) com os resultados deste estudo, é
possível constatar algumas características importan-
tes para a qualidade de um projeto como o da Praça
de Alimentação/Espaço Livre de Universidades.
Figura 21. Ponto de encontro – Planta – Trecho do pavimento Térreo. Fonte: desenho com base no projeto de Prefeitura da USJT (revisão da pesquisadora).
Figuras 22 e 23. Foto: Ponto de encontro. Fonte: registro da pesquisadora (setembro/2006).
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A eficiência de espaços dessa natureza está no
estímulo da máxima quantidade de encontros
casuais ou não com os mais diversos grupos do
universo de um campus. Além disso, na união das
mais diversas atividades em um mesmo ambiente
(lazer, artes, alimentação), que possibilitam otimi-
zar o exíguo tempo disponível dos alunos, profes-
sores e funcionários.
O Espaço Livre Universitário deve ainda propor
transições físicas e psicológicas capazes de estimular
o relaxamento do ser humano, o que é conseguido
pelo contato com elementos de paisagismo.
As questões de iluminação, agregadas aos de-
mais componentes de conforto, são os definidores
freqüentes das qualidades de um espaço, entre as
quais sobressai a luz (e as conseqüentes áreas som-
breadas) como elemento basal das sensações esti-
muladas pela forma de um espaço.
• Sobre o prosseguimento
A partir da Revisão de Literatura, mostrando a
interdisciplinaridade que abrange o processo de
um projeto de arquitetura e urbanismo, viu-se a
possibilidade de inúmeros caminhos a serem se-
guidos por este estudo.
A escolha foi a de um ensaio de método que
pudesse ser mais denso e aprofundado, para ser
aplicado em estudos de outros ambientes.
Ao atingir este objetivo, compreende-se que em
estudos científicos a conclusão não necessariamen-
te é o fecho absoluto do problema, pois a questão
delimitada inicialmente é respondida, mas indica
outras direções, mostrando que a busca por novos
conhecimentos nunca cessa.
Esse mesmo estudo poderia ser aprofundado
por caminhos, tais como a elaboração de um pro-
tocolo de modificações e melhorias da Praça de
Alimentação (como, por exemplo, a colocação de
um forro, estudado com detalhes e que não inter-
ferisse de forma radical no projeto original, mini-
mizando problemas acústicos, característica
predominante na percepção da maioria dos usuá-
rios); um projeto luminotécnico para a área, con-
siderando questões de eficiência energética bem
como de qualidade de percepção estética.
A pesquisa poderia aprofundar-se na análise
das questões culturais, ao tentar identificar, por
exemplo, se grupos de pessoas com um mesmo
filtro cultural optam por ambientes semelhantes;
ou, ainda, se alunos e professores de cursos distin-
tos (como Psicologia, Educação Física, Direito,
Farmácia, Biologia, Nutrição, Filosofia, entre ou-
tros), teriam percepções com observações muito
diferentes, se comparadas com esta fase que se
restringiu aos alunos e professores de Arquitetura
e Urbanismo. Uma análise similar poderia ser ela-
borada para grupos de mesma faixa etária ou gêne-
ro; ou, ademais, na extensão e na utilização deste
método, aplicado a novos espaços construídos.
Referências bibliográficas
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Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia.
São Paulo: Saraiva, 1991. 319 p.
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Martins Fontes, 1999, 272 p.
KAHN, L. I. Estrutura e forma. In: Panorama na
arquitetura. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1964.
LEMOS, C. O que é arquitetura? São Paulo: Brasiliense,
1980, 85 p.
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Guidelines for Urban Open Space. 2nd ed. New York:
Van Nostrand Reinhold, c. 1998, 367 p.
REUCHLIN, M. Introdução à psicologia. Rio de Janeiro:
Zahar, 1979. 339 p.
TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências
sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo:
Atlas, 1987. 175 p.
TUAN, Y. Topofilia – um estudo da percepção, atitudes e
valores do meio ambiente. São Paulo: Difel, 1980. 288 p.
ZEVI, B. Saber ver a arquitetura. São Paulo: Martins Fontes,
2002. 286 p.
Notas
1 “Objeto-ambiente de estudo” e “laboratório de observação”
são termos utilizados pela pesquisadora e seu orientador para
designar esta pesquisa.
2 Optou-se pelo questionário com enquetes exploratórias,
ou perguntas abertas, devido a sua agilidade na aplicação, à
maior liberdade e à participação do sujeito (que respondia a
30 Revista Eletrônica
seu próprio questionário, no local de sua escolha).
Considerou-se, ainda, que o questionário fechado
(alternativas) delimitaria de maneira excessiva as
possibilidades de resultados. Após a elaboração de um
questionário piloto para uma primeira verificação de seu
entendimento e eficácia, com um número menor de
sujeitos, aplicaram-se os questionários a todo o grupo de
voluntários.
3 A entrevista foi um instrumento de esclarecimento de
possíveis equívocos de interpretação dos questionários. Com
o objetivo de não limitar os resultados, utilizaram-se questões
abertas (sem alternativas), entretanto direcionadas à
constatação da pré-análise. A técnica da triangulação de
dados obtidos – observação/questionários aplicados/
entrevistas –, e as medições dos níveis de conforto ambiental
dos espaços estudados (campo objetivo), possibilitou
aprofundar conclusões sobre os dados coletados.
4 No início desta investigação, passou-se a fazer exercícios
para treinamento da observação de elementos que
estimulam a percepção nos espaços arquitetônicos,
objetivando reconhecer na arquitetura os “porquês” de os
espaços serem escolhidos como mais ou menos agradáveis,
utilizados, procurados. Procurava-se relacionar os conceitos
estudados com o repertório de obras arquitetônicas,
analisando os elementos de suas composições. Ao adentrar
um ambiente, prestava-se atenção nas sensações, percepções
e comportamentos da pesquisadora e posteriormente
refletia-se sobre as causas daqueles estímulos. Observava-se,
ainda, o comportamento das demais pessoas, com o intuito
de reconhecer sinais sugeridos pelo espaço para possuir tais
qualidades.
5 Expressões extraídas dos estudos de Marcus e Francis
(1998), no livro People Places.