Olimpíadas de Londres de 2012: conside-rações sobre a questão regional e a orga-nização da...
Transcript of Olimpíadas de Londres de 2012: conside-rações sobre a questão regional e a orga-nização da...
Novos elementos são trazidos para se compreender a
participação das empresas envolvidas nas obras de
reforma da Arena da Baixada, permitindo conhecer
sua origem e os produtos fornecidos, essa é uma tare-
fa árdua, pois o conjunto das empresas interessadas
nunca é apresentado em sua totalidade, mas possível
apenas por meio de levantamentos parciais.
Esperamos que novos elementos interpretativos sejam
acrescentados à sua compreensão dos megaeventos
na atualidade!
Boa leitura,
Olga Firkowski
Prosseguindo com o nosso compromisso de produzir
e/ou divulgar informações sobre a realização da Copa
de 2014 no Brasil, em especial em Curitiba, veicula-
mos, nessa edição do Boletim Copa em Discussão, um
resumo das principais notícias sobre o tema, que fo-
ram objeto de inserção nos jornais locais, dentre elas,
a sugestão, feita pela Secretaria de Educação, de in-
serção de conteúdos sobre a Copa no âmbito das dis-
ciplinas escolares no ano de 2013. Se trata de uma
dimensão importante que deve ser observada, seja
pelo seu potencial impacto na carga horária já restrita
de certas disciplinas escolares, seja no âmbito do tipo
de informação que será objeto de trabalho em sala de
aula...
Além das indicações contidas no Copa Acadêmica, há
importante análise sobre as Olimpíadas de Londres
(2012), com detalhes de certas articulações locais que
devem ser conhecidas pelos interessados no tema.
Boletim eletrônico editado pelos Núcleos Curitiba e Porto Alegre do Observatório das Metrópoles, LaDiMe e Projeto Cidade em Debate
Ano II, n. 15, Curitiba, 30 de novembro de 2012 www.copaemdiscussao.com.br E-mail: [email protected]
Copa em Discu$S/Ao
Editorial
Nesta edição
Copa em Notícias
2 Copa 2014: o que foi notícia em novembro
Aline Ferreira Martins, Cléverson José dos
Santos
Copa em Análise
4 Olimpíadas de Londres de 2012: conside-
rações sobre a questão regional e a orga-
nização da comunidade à luz dos debates
acerca dos megaeventos
Alceli Ribeiro Alves
Copa Acadêmica
8 Resultados de pesquisas relativas a mega-
eventos, desenvolvidas e publicadas por
integrantes dos núcleos de Curitiba e Porto
Alegre, do Observatório das Metrópoles
Copa em Debate
8 Agenda de dezembro de 2012: eventos e
reuniões relacionadas à discussão dos me-
gaeventos
Copa em Dados
9 As empresas envolvidas na reforma da A-
rena da Baixada (levantamento preliminar)
Patricia Baliski
Depois de meses de discussão, o Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR) decidiu que os títulos de potencial
construtivo destinados ao Clube Atlético Paranaense configuram-se como recurso público e, como tal, devem
ser fiscalizados, ficando, então, a cargo do Ministério Público do Paraná (MP-PR) e do TCE-PR a realização des-
sa fiscalização. O primeiro ato do MP-PR, atrelado ao Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Prote-
ção ao Patrimônio Público (CAOP), foi a requisição, junto aos órgãos públicos, de documentos referentes às
obras na Arena da Baixada. Apenas após a avaliação de tais documentos o Ministério Público poderá definir se
houve ou não alguma ilegalidade por parte do Clube.
O Secretário Municipal da Copa 2014, Luiz de Carvalho, afirmou no dia 07 de novembro, ao Jornal Gazeta do
Povo, que a mudança na lei que instaurava como limite máximo de repasse de Potencial Construtivo pela Pre-
feitura ao Clube Atlético Paranaense R$ 90 milhões, seria realizada por meio de um decreto assinado pelo pre-
feito Luciano Ducci (PSB). A afirmação de Carvalho gerou muita polêmica entre os vereadores, já que muitos
deles são contra a alteração na legislação.
2 Copa em Discu$S/Ao
Copa 2014: o que foi notícia no mês de novembro
Copa em Notícias
Por Aline Ferreira Martins e Cléverson José dos Santos Bolsistas permanência junto ao LaDiMe
A inauguração da Arena da Baixada pode ter mais um adia-
mento. Segundo o relatório do Tribunal de Contas da União
(TCU) divulgado dia 08 de novembro, o estádio do Atlético
Paranaense só será entregue em agosto de 2013 (o prazo
anterior era junho do mesmo ano). A alteração na data tem
relação com mudanças no projeto da obra, porém o presi-
dente do clube, Mario Celso Petraglia, afirmou que, apesar
dos ajustes, todos os esforços estão voltados para que a o-
bra seja entregue em junho.
Foi instalada a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) so-
bre as obras da Copa de 2014 em Curitiba, na Assembleia
Legislativa do Paraná. O primeiro a ser ouvido foi o ex-vice-
presidente jurídico do Clube Atlético Paranaense, José Cid
Câmpelo Filho, responsável pela denúncia contra Mario Celso
Petraglia. Câmpelo apresentou documentos e argumentou
que os valores de alguns contratos extrapolaram o previsto inicialmente. Pôs-se a favor da decisão do TCE-PR
de considerar como recurso público o montante investido na Arena da Baixada. Após, no dia 20 de novembro,
Petraglia compareceu à CPI. O presidente do Clube Atlético Paranaense colocou em dúvida o término das o-
bras a tempo do Mundial, pois, segundo Petraglia, se não houver repasse de recursos pelo poder público, a
obra poderá ser freada ou até parar, afirmando ainda que se os custos ultrapassarem o valor orçado atual-
mente (R$184,6 milhões) o Atlético cobrirá a diferença.
Porém, parece que não é necessária a preocupação com os recursos públicos, já que a próxima parte do em-
préstimo do Clube será enviada no início do mês de dezembro. O montante está relacionado com a quantidade
concluída da obra, que segundo os diretores da Agência Fomento Paraná é de, ao menos, 50%. Portanto, pelo
menos R$ 59 milhões poderão ser retirados pelo Atlético nos próximos dias. É necessário, apenas, que se con-
clua uma auditoria físico-financeira da obra. E, para agilizar a conclusão do estádio, o Ministério Público autori-
zou que as obras da Arena sejam realizadas inclusive em domingos e feriados nos próximos dois anos.
No dia 25 de novembro foi anunciado o pôster oficial da cidade de Curitiba para a Copa do Mundo de 2014.
Trata-se do desenho de uma Araucária, árvore símbolo da cidade, na qual seus galhos abrigam bolas de fute-
bol. Neste mesmo dia, os cartazes das outras cidades-sede também foram apresentados (todos os cartazes
estão ilustrados no final desta seção).
Em sua primeira visita oficial à Curitiba (27 de novembro), o secretário-geral da FIFA, Jérôme Valcke, mostrou
-se confiante com as obras na cidade, afirmando que ―não há motivo para preocupação‖, além disso o francês
ficou entusiasmado com o projeto do estádio do Atlético Paranaense e com as obras de infraestrutura da cida-
de.
O jornal Gazeta do Povo publicou no dia 25 de novembro uma reportagem especial sobre a percepção de turis-
tas estrangeiros na cidade. A reportagem acompanhou dois turistas – um francês e um argentino – por diver-
sos locais da cidade: aeroporto, rodoviária, bares, restaurantes, transporte coletivo, etc. De maneira geral,
ambos os estrangeiros relataram que a cidade é agradável, com um transporte público bom, se comparado
com outras cidades do país. A maior dificuldade encontrada por eles foi se localizar e pedir informações, pois,
segundo eles, há poucas placas indicativas e mapas em Curitiba; além disso, há grande dificuldade com a lín-
gua, já que até mesmo nos pontos de informação turística os atendentes não dominam outros idiomas como
Danie
l Caste
llano /
Gazeta
do P
ovo
Mario Celso Petraglia presta esclarecimentos na CPI instalada na Assembleia Legislativa do Paraná
3 Copa em Discu$S/Ao
inglês, francês e espanhol. O breve panorama apresentado pela reportagem aponta os caminhos que a admi-
nistração municipal deve seguir para atender melhor os turistas que virão à cidade em função do mundial de
2014.
A partir do próximo ano, a Copa do Mundo deve fazer parte também do currículo escolar. A Secretaria de Es-
tado da Educação do Paraná (SEED-PR) já encaminhou às escolas um caderno de orientação pedagógica para
que os professores incluam atividades relacionadas ao megaevento em suas aulas. Segundo o secretário Fla-
vio Arns, essa política não é impositiva, mas simplesmente tem o intuito de nortear práticas relacionadas à
Copa.
De acordo com levantamento realizado pelo TCU, apenas 8% das obras já receberam recursos públicos. As
obras de mobilidade urbana, em sua maioria, estão em situação alarmante: boa parte dos projetos de implan-
tação de metrô e VLT’s nas cidades-sede não serão concluídos antes da abertura do mundial. No caso dos ae-
roportos, também há grande preocupação já que boa parte deles estão com o cronograma atrasado ou ainda
nem começaram.
Na última quarta-feira, dia 28 de novembro, a FIFA, através do secretário geral Jérôme Valcke, doou para o
Brasil 50 mil ingressos destinados a indígenas e beneficiários do Programa Bolsa Família. O ministro Aldo Re-
belo não explicou como serão distribuídos os ingressos, mas admitiu que a prioridade serão as crianças das
famílias que fazem parte do Programa Bolsa Família. Com essa doação, a FIFA marca uma nova fase no rela-
cionamento com o Brasil, que já teve um período conturbado na discussão sobre a existência de meia-entrada
nas partidas.
Em visita ao Itaquerão, no dia 28 de novembro, Valcke prometeu também que todos os operários que traba-
lham na obra do estádio receberão dois ingressos cada para assistirem um jogo da Copa. Durante a visita, as
autoridades presentes enfatizaram a importância do estádio para o desenvolvimento da Zona Leste de São
Paulo. Nesse mesmo dia, a cervejaria AMBEV, divulgou que irá financiar a arquibancada móvel do Estádio Ita-
querão. A decisão ocorreu após a recusa do governo do estado de São Paulo em financiar obras do estádio pri-
vado. A arquibancada terá 20 mil lugares e será retirada após o torneio.
Fortaleza será a primeira cidade-sede a concluir seu estádio. O Castelão já tem abertura marcada para 16 de
dezembro. Cinco dias depois, o Mineirão será inaugurado. Ambos os estádios sediarão a Copa das Confedera-
ções em 2013, ao lado de Recife, Salvador, Brasília e Rio de Janeiro.
Cartazes oficiais das doze cidades-sede da Copa 2014 (*)
É absolutamente inegável a atual ênfase dada aos
impactos dos megaeventos na produção e transfor-
mação das cidades e das economias urbano-
regionais. Sem dúvida, os megaeventos têm um pa-
pel significativo no estimulo à criação de projetos
destinados à geração de empregos e investimentos e,
consequentemente para a idealização de modelos
regionais que poderiam servir, presumidamente, para
promover o desenvolvimento das unidades territoriais
participantes desses grandes empreendimentos.
Nesse sentido, as Olimpíadas de 2012 realizadas em
Londres nos fornece o contexto ideal para analisar-
mos algumas características pertinentes aos proces-
sos acima mencionados. Certamente a partir, e mes-
mo antes, da escolha de Londres como cidade anfitriã
das Olimpíadas de 2012 havia um grande consenso
por parte de gestores públicos e empreendedores lo-
cais e estrangeiros acerca da importância de apre-
sentar a cidade como um grande cenário para a reali-
zação de megaeventos, tais como as Olimpíadas.
4 Copa em Discu$S/Ao
Mais informações: http://www.gazetadopovo.com.br/copa2014/arena/conteudo.phtml?tl=1&id=1314006&tit=TC-PR-vota-relatorio-e-traca-estrategia-para-controlar-obra
http://www.gazetadopovo.com.br/copa2014/arena/conteudo.phtml?tl=1&id=1316142&tit=Ministerio-Publico-comeca-fiscalizacao-sobre-a-Arena
http://www.gazetadopovo.com.br/copa2014/arena/conteudo.phtml?tl=1&id=1316140&tit=Repasse-municipal-a-Arena-sera-definido-por-decreto-do-prefeito
http://www.gazetadopovo.com.br/copa2014/arena/conteudo.phtml?tl=1&id=1316476&tit=TCU-aponta-ineficiencia-em-obras-e-cobra-o-governo-federal
http://www.gazetadopovo.com.br/copa2014/arena/conteudo.phtml?tl=1&id=1319859&tit=Petraglia-vai-a-CPI-na-Assembleia
http://www.gazetadopovo.com.br/copa2014/arena/conteudo.phtml?tl=1&id=1322030&tit=Ministerio-do-Trabalho-autoriza-obras-na-Arena-em-domingos-e-feriados
http://www.gazetadopovo.com.br/copa2014/curitiba/conteudo.phtml?tl=1&id=1320742&tit=Visita-da-Fifa-a-Curitiba-sera-na-proxima-terca-feira
http://www.gazetadopovo.com.br/copa2014/politica/conteudo.phtml?tl=1&id=1315727&tit=CPI-da-Copa-quer-ouvir-primeiro-Cid-Campelo
http://www.gazetadopovo.com.br/copa2014/estrutura/conteudo.phtml?tl=1&id=1316436&tit=TCU-aponta-que-apenas-8-das-obras-de-
transporte-tem-verba-liberada
http://www.gazetadopovo.com.br/copa2014/estrutura/conteudo.phtml?tl=1&id=1320118&tit=Estado-cria-caderno-com-orientacoes-para-aulas-sobre-a-Copa-na-rede-escolar
http://www.gazetadopovo.com.br/copa2014/estrutura/conteudo.phtml?tl=1&id=1321487&tit=Curitiba-a-prova
http://www.gazetadopovo.com.br/copa2014/sedes/conteudo.phtml?tl=1&id=1320855&tit=Castelao-sera-primeiro-estadio-oficialmente-inaugurado
http://www.gazetadopovo.com.br/copa2014/sedes/conteudo.phtml?tl=1&id=1321990&tit=Confira-os-12-cartazes-oficiais-das-sedes-da-Copa
(*) Todas as imagens dos cartazes oficiais estão disponíveis em <http://www.copa2014.gov.br/pt-br/noticia/doze-sedes-da-copa-do-mundo-lancam-cartazes-do-evento>.
Copa em Análise Olimpíadas de Londres de 2012: considerações sobre a questão regional e a
organização da comunidade à luz dos debates acerca dos megaeventos
Por Alceli Ribeiro Alves
Geógrafo, MSc. Geography pela Queen Mary University (2011) e Doutorando em Geografia/UFPR
em determinadas localidades de Londres.
O minimum wage é o salário mínimo adotado por ho-
ra no Reino Unido. Atualmente ele é de £6.19. Já o
living wage em Londres é de £8.55, enquanto que no
Reino Unido ele é de £7.45. Essas distinções são im-
portantes, pois que as campanhas promovidas pelas
comunidades localizadas no Leste de Londres tenta-
ram convencer empregadores a adotarem o living
wage de Londres como o salário mais adequado para
suportar os custos de se viver e trabalhar em Lon-
dres. Certamente, tal estratégia visa também estimu-
lar o consumo, a criação de empregos e, principal-
mente, colocar dinheiro no bolso das pessoas mais
pobres.
O fato é que, através da campanha organizada em
2001 pelo London Citizens (uma ampla aliança for-
mada por escolas, sindicatos, grupos comunitários,
etc...), vários trabalhadores na cidade de Londres
conquistaram o direito ao living wage. Essa campa-
nha se espalhou por hospitais, escritórios de finan-
ças, universidades, lojas, etc... e, devido a excitação
causada pelas Olimpíadas de 2012, a campanha con-
seguiu assegurar que todos os novos empregos gera-
dos nos locais dos jogos (Leste de Londres) receberi-
am os salários de acordo com o living wage.
Mas as reivindicações dessas comunidades não re-
presentam somente uma ideologia de contestação e
um movimento popular em busca da redução das de-
sigualdades sociais, elas também estavam presentes
nos discursos proferidos por partes de entidades go-
vernamentais com o escopo de promover a excelên-
cia em determinadas áreas de interesse como o es-
porte e a cultura, além de outras promessas que, se
efetivadas, simbolizariam o grande legado deixado
pelas Olimpíadas de 2012 em Londres. (ver carta pu-
blicada pelo DCMS (Department for Culture, Media
and Sport) e redigida por Tessa Jowell, então minis-
tra das Olimpíadas de Londres).
Mas, conforme mencionado, é o caráter regional que
essas políticas deixam transparecer durante esse
processo. Basta analisar os sites e documentos ofici-
ais que buscaram promover o sucesso dos empreen-
dimentos realizados no Leste de Londres para perce-
ber que existe um caráter bastante regional na orga-
nização do território, na busca por investimentos e
na possibilidade de reduzir as desigualdades socioe-
conômicas.
A declaração feita pelo Mayor de Londres (nível de
maior escalão no governo da Cidade de Londres) de-
monstra que o plano principal a ser considerado pe-
las futuras gestões é o de fazer com que o Parque
Olímpico, e as áreas circundadas por ele, formem um
arranjo espacial de ―prioridade e de regeneração de
Londres pelos próximos 25 anos‖ (GLA, 2012). Esse
arranjo espacial, que aqui denominamos simples-
mente como região, representaria o conjunto das u-
nidades territoriais nas quais as atividades produtivas
e de regeneração urbana deveriam se concentrar.
Essa região compreende, sobretudo, seis Boroughs
(distritos), a saber: Barking and Dagenham, Green-
wich, Hackney, Newham, Tower Hamlets e Waltham
Forest (Mapa 1, próxima página).
Por exemplo, a campanha que busca incenti-
var a adoção do living wage1 por parte de em-
pregadores e empresas localizadas em Londres
comprova os benefícios da coalizão de classes
sociais menos favorecidas em torno de um mes-
mo propósito (WILLS, 2004; WILLS 2006). Nesse
sentido, torna-se relevante fazer a distinção en-
tre o minimum wage e o living wage para me-
lhor compreendermos como a adoção do living wa-
ge pode reduzir as desigualdades socioeconômicas
Contudo, a cidade como um local de entretenimento,
de espetáculos gigantescos e de atração para ativida-
des esportivas está muito além de sua apresentação
como um cenário fantástico para a realização de me-
gaeventos. Dentre os vários motivos que induzem a
melhoria das cidades e das infraestruturas urbanas
com o intuito de atrair grandes projetos e empreendi-
mentos destacam-se a noção de que essas atitudes
podem criar oportunidades para a geração de empre-
gos, melhoria nas indústrias de construção e de turis-
mo, além de investimentos de médio e longo prazo.
(ver também GOLD e GOLD, 2008).
O que cabe ressaltar, porém, é a necessidade de se
refletir sobre o caráter socioespacial de como as ati-
vidades produtivas e de regeneração nas cidades-
sede desses megaeventos são pensadas através de
uma perspectiva que não privilegia a cidade-sede co-
mo um todo ou somente seu núcleo, mas considera
também o planejamento de unidades territoriais com
fins específicos e tipicamente regionais.
Da mesma forma, acredita-se que parcelas significa-
tivas da sociedade organizada estão cada vez mais
atentas acerca da ideia de que os megaeventos po-
dem ser fatores propulsores não só de crescimento
econômico, mas também da redução das desigualda-
des sociais encontradas em determinadas regiões da
cidade e/ou das grandes aglomerações urbanas mun-
diais. As comunidades que vivem no leste de Londres
(região muito desigual sob o ponto de vista econômi-
co-social se comparada a regiões mais ricas de Lon-
dres), onde as Olimpíadas de 2012 foram realizadas,
é um grande exemplo de como a organização da so-
ciedade civil, das igrejas e da união da classe traba-
lhadora em torno de campanhas, ideais e interesses
comuns podem reivindicar e viabilizar mudanças que
afetam salários, empregos, condições de trabalho e
moradia (MAYOR OF LONDON, 2004).
5 Copa em Discu$S/Ao
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Campanha pelo Living Wage
É inquestionável que essas políticas públicas visando
a melhoria nas condições socioeconômicas da popula-
ção representam apenas parte de todo um processo
de planejamento e gestão do território, pré e pós-
megaevento. Sem dúvida, elas devem ainda ser fis-
calizadas e acompanhadas ao longo do tempo para
mensurar as mudanças nas variáveis selecionadas
durante o planejamento; para analisar a eficácia da
gestão e para verificar a realização dos compromis-
sos assumidos junto às comunidades.
Por último, porém não menos importante, essas ob-
servações reafirmam também a importância da ques-
tão regional e da ressurgência da região como um
recorte espacial de grande interesse para os geógra-
fos, economistas, gestores, etc... e, evidenciam a
abrangência e o valor desse recorte espacial para a
análise dos impactos dos megaeventos na produção e
transformação das cidades e das economias urbano-
regionais. Através das considerações feitas no decor-
rer do texto, seja possível, talvez, analisarmos de
que forma a mobilização da comunidade no Leste de
Londres e das políticas regionais poderiam ser repen-
sadas para o cenário brasileiro de um modo geral e
para as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, em
particular.
Em outro documento, intitulado ―Convergence Fra-
mework and Action Plan‖, torna-se ainda mais evi-
dente a intenção de considerar essa região para fins
de planejamento e gestão. Nesse documento, há u-
ma ênfase na ideia de se fazer com que as comuni-
dades do Leste de Londres, que receberam os Jogos
Olímpicos de 2012, tenham, em 20 anos, as mesmas
condições socioeconômicas apresentadas por outros
distritos da cidade. Para os residentes isso inclui, por
exemplo, a redução nos níveis de violência e pobre-
za, aumento na expectativa de vida, além da aquisi-
ção de altos níveis de qualificação e ensino.
Porém, o que é menos publicizado e politizado, den-
tro e fora dos seis distritos anfitriões, são os impac-
tos para o mercado de trabalho de um modo geral e
para os trabalhadores, em particular. Na tentativa de
se fazer com que essa região alcance níveis equiva-
lentes e satisfatórios de igualdade socioeconômica
nos próximos 20 anos, os gestores buscaram implan-
tar um plano de ação, talvez questionável e contradi-
tório, que incluía a redução de salários e também no
número de empregos no setor público (tabela 1, pró-
xima página). A justificativa fornecida para tais medi-
das seria a hipótese de que a redução no número de
empregos no setor público iria incentivar a criação de
empregos no setor privado.
6 Copa em Discu$S/Ao
Mapa 1 - Distritos anfitriões das Olimpíadas de Londres de 2012
Assim, conclui-se que a análise desses impactos, através da perspectiva regional e da participação popular, é
uma área de pesquisa com tendências bastante positivas sob o ponto de vista da evolução de repertórios con-
ceituais, metodologias técnicas e analíticas e, particularmente, para a análise das disparidades socioeconômi-
cas, urbano-regionais e dos possíveis legados que possam ser deixados pelos megaeventos.
7 Copa em Discu$S/Ao
Tabela 1 - Cenários de redução do emprego no setor público e no total de empregos
Boroughs (Distritos)
AP & D 2011
(ano-base)
AP & D Redução
(15%)*
RTE 2011
(ano-base)
RTE Redução
(15%)*
Barking and Dagenham 1.800 -270 50.580 -370
Greenwich 7.100 -1.065 81.880 -1.450
Hackney 3.300 -495 97.070 -710
Newham 5.900 -885 83.660 -1.160
Tower Hamlets 8.000 -1.200 230.330 -1.530
Waltham Forest 2.500 -375 70.820 -560
Total 6 Host Boroughs 28.600 -4.290 614.600 -5.780
Fonte: Oxford Economics Host Borough Development Model, 2011; GLA. AP & D=Administração Pública e Defesa- Perda total de empregos RTE= Redução Total de Empregos * A taxa de redução de empregos é baseada em estimativas do Oxford Economics Model (2011)
Referências:
DCMS (Department for Culture, Media and Sport). Our promise for 2012. Carta redigida pela Ministra Tessa
Jowell tratando sobre os possíveis benefícios a serem deixados pelas olimpíadas e paraolimpíadas de 2012 em
Londres. Disponível em: <Ourpromise2012Forword.pdf;jsessionid=7957BEAB59AE1A1D9C4E2A00C7C2D7EC?
sequence=1>. Acesso em 04/11/2012.
GLA (Greater London Authority). Strategic Regeneration Framework - East London. Disponível em: <http://
www.london.gov.uk/publication/strategic-regeneration-framework-east-london>. Acesso em: 05/11/2012
— (Greater London Authority). Convergence Framework and Action Plan, 2011-2015. Disponível em: <http://
www.london.gov.uk/publication/strategic-regeneration-framework-east-london>. Acesso em: 05/11/2012
GOLD, Jr. and GOLD, M (2008) Olympic cities: regeneration, city branding and changing urban agendas. Ge-
ography Compass 2(1), 300–318.
MAYOR of LONDON (2004) Carta do Mayor of London endereçada ao Reverendo Paul Regan, tratando sobre as
garantias solicitadas pelas comunidades do Leste de Londres através da campanha gerida pela London Citi-
z e n s . D i s p o n í v e l e m : < h t t p : / / w w w . c i t i z e n s u k . o r g / w p - c o n t e n t /
uploads/2011/02/2005_Pledge_LDA_ODA_Mayor_office1.pdf>. Acesso em 04/11/2012.
WILLS, J.; 2004: Campaigning for low paid workers: The East London Communities Organization (TELCO) Liv-
ing Wage Campaign. In Brown, W., Healy, G., Heery, E. and Taylor, P., editors, The future of worker represen-
tation, Oxford: Oxford University Press, 264–82.
— 2006: The Left, its crisis and rehabilitation. Antipode 38, 907–15.
1 Living wage é um valor calculado e que representa o custo mínimo de se viver em Londres e/ou Reino Unido. No Reino Unido o living wage é calculado pelo Centre for Research in Social Policy, já o living wage de Londres é calculado pela Gre-
ater London Authority.
03 - Reunião da Câmara Temática de Meio Ambiente e
Sustentabilidade
Horário: 14 horas
Local: Secretaria Municipal de Meio Ambiente - Av. Ma-
noel Ribas,2727 - Curitiba/PR
05 - Reunião Comitê Popular da Copa de Curitiba
Horário: 18:30 horas
Local: CRESS/PR - Rua Monsenhor Celso, 154 (Centro) -
Curitiba/PR
07 - Reunião da Câmara Temática de Esporte e Ação So-
cial
Horário: 14 horas
Local: Palácio das Araucárias, mini-auditório, térreo
(Centro Cívico) - Curitiba/PR
13 e 14 - Oficina Regional do Projeto Metropolização e
Megaeventos
Local: a definir, Porto Alegre/RS
18 - Reunião Comitê Popular da Copa de Curitiba
Horário: 18:30 horas
Local: a definir - Curitiba/PR
20 – Reunião local do Projeto Metropolização e Megae-
ventos
Horário: 14 horas
Local: Sala PH05, Centro Politécnico/UFPR (Jardim das
Américas) - Curitiba/PR
Nesta edição do boletim Copa em Discu$S/Ao apresentamos alguns resultados de pesquisas relativas a me-
gaeventos, desenvolvidas e publicadas por integrantes dos núcleos de Curitiba e Porto Alegre, do Observatório
das Metrópoles.
A construção da miragem: a gestão empresarial da cidade e os megaeventos (A Copa do Mundo de
2014 em São Paulo e Curitiba).
De Fernanda Keiko Ikuta. In: Anais do II PPLA 2010: Seminário Política e Planejamento. Curitiba: Ambiens Co-
operativa/FAE Centro Universitário, 2010. Cidade conectada, movimentos controlados: tecnologia, espaço e megaeventos.
De Rodrigo José Firmino. In: Ciência e Cultura, v. 64, p. 4-5, 2012. Disponível em <http://
cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252012000300002&script=sci_arttext>
Do campo à arena: a transformação do papel dos estádios de futebol na dinâmica urbana em Porto
Alegre, dos anos 1950 aos dias de hoje.
De Eduardo Minossi de Oliveira (monografia de conclusão de Curso de Geografia - Bacharelado, UFRGS, 2010
– Orientado por Paulo Roberto Rodrigues Soares).
Governança e gestão urbana: Copa do Mundo FIFA 2014 em Porto Alegre.
De Lucimar Fátima Siqueira e Mário Leal Lahorgue. In: Anais do III Encontro Internacional de Ciências Sociais.
Pelotas. 2012.
Grandes projetos urbanos e megaeventos esportivos.
De Fernanda Keiko Ikuta. In: Anais da XIII Jornada do Trabalho, Presidente Prudente. , 2012. Legado da infraestrutura da Copa 2014 em Porto Alegre: “Bus Rapid Transit Avenida Bento Gonçal-
ves”
De Thays Regina Gonçalves (monografia de conclusão de Curso de Geografia - Bacharelado, UFRGS, 2012 –
Orientado por Paulo Roberto Rodrigues Soares)
Nem o Estado, nem o estádio: uma análise das estratégias político-territoriais para a recepção da
Copa do Mundo na cidade de Curitiba.
De Thiago Hoshino e Fernanda Keiko Ikuta. In: Anais da XII Jornada do Trabalho. Curitiba, 2011.
Porto Alegre e a Copa Do Mundo de 2014: a questão da moradia.
De Mariana Aita Dadda, Ludmila Losada, Paulo Roberto Rodrigues Soares. In: XXXI Encontro Estadual de Geo-
grafia- O Professor, o Bacharel e o Estudante: diferentes ações, as mesmas geografias? Rio Grande, 2012.
8 Copa em Discu$S/Ao
Copa Acadêmica
Copa em Debate
Agenda de Dezembro de 2012
9 Copa em Discu$S/Ao
Copa em Dados
Na seção Copa em Dados desta edição apresentamos um levantamento preliminar das empresas envolvidas
na reforma da Arena da Baixada, do Clube Atlético Paranaense. Até o momento foram identificadas nove em-
presas, envolvidas nos projetos, terraplenagem, demolição, gestão das obras, etc. As principais fontes de in-
formação têm sido as notícias divulgadas pelos jornais locais, em especial, Gazeta do Povo. Como pode ser
observado, as empresas são nacionais em sua maioria, com destaque para as localizadas em Curitiba e Região
Metropolitana.
As empresas envolvidas na reforma da Arena da Baixada
(levantamento preliminar)
Por Patricia Baliski Núcleo Curitiba do Observatório das Metrópoles / Bolsista Extensão CNPq
3
1
5
7
8
2
4 9
6
A posição dos números é meramente ilustrativa
Carlos A
rcos A
rquite(c
)tura
- d
ivulg
ação
Número Empresa Sede Serviço prestado
1 Carlos Arcos Arquite(c)tura Montevideo/Uruguai
Curitiba/PR/Brasil
1) Projeto do estádio, fiscalização arquitetônica, planejamento, controle e aquisições referentes às obras. 2) Projeto arquitetônico da cobertura retrátil.
2 Demolidora Santos Ltda. São Paulo/SP/Brasil Demolição das áreas que serão adaptadas e revi-talizadas para adequação ao projeto.
3 TECTER Terraplenagem e
Construção Civil
São José dos Pinhais/PR/
Brasil
Terraplenagem, escavação, preparação de base
do estacionamento, demolições, etc.
4 DORIA Construções Civis
Ltda. Curitiba/PR/Brasil
Fornecimento dos serviços de construção civil da infra e super estruturas da Arena da Baixada.
5 Empresa de Engenharia An-
drade Rezende Curitiba/PR/Brasil Projeto estrutural da cobertura retrátil.
6 Engevix Engenharia S/A São Paulo/SP/Brasil Gerenciadora da obra do estádio.
7 Brafer Construções Metáli-
cas S.A. Araucária/PR/Brasil
1) Estruturas metálicas. 2) Estrutura da cobertura retrátil.
8 Kango Brasil Ltda. Curitiba/PR/Brasil Cadeiras.
9 Petinelli Inc. Curitiba/PR/Brasil Consultoria em Green Buildings – Certificação Sustentável.
10 Copa em Discu$S/Ao
Patricia Baliski - Bolsista CNPq pelo Observatório das Metrópoles
Olga L. C. de Freitas Firkowski - UFPR / Observatório das Metrópoles
Leandro Franklin Gorsdorf - UFPR / Observatório das Metrópoles
Responsáveis pela edição
Paulo Roberto Rodrigues Soares - UFRGS / Observatório das Metrópoles
Lucimar Fátima Siqueira - Bolsista CNPq pelo Observatório das Metrópoles
Alceli Ribeiro Alves - Doutorando em Geografia (UFPR)
Aline Ferreira Martins - Estudante do Curso de Geografia (UFPR)
Cléverson José dos Santos - Estudante do Curso de Geografia (UFPR)
Vinícius Zanona - Bolsista CNPq pelo Observatório das Metrópoles
Colaboraram nesta edição
Copa em Discu$S/Ao é uma iniciativa do Núcleo Curitiba do Observatório das Metrópoles, do Projeto de Ex-
tensão Cidade em Debate (UFPR/Direito - Universidade Positivo - Ministério Público do Estado do Paraná) e do
LaDiMe – Laboratório de Dinâmicas Metropolitanas do Departamento de Geografia da UFPR. É um meio de di-
vulgação das ações relativas ao desenvolvimento do projeto Metropolização e Megaeventos esportivos, coor-
denado pelo Observatório das Metrópoles e financiado pela FINEP.