O Conceito de Esfera Pública Interconectada e o Site Webcidadania no Brasil

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97 Eduardo Henrique Diniz e Manuella Maia Ribeiro Gestão & Regionalidade - Vol. 28 - Nº 83 - mai-ago/2012 O CONCEITO DE ESFERA PÚBLICA INTERCONECTADA E O SITE “WEBCIDADANIA” NO BRASIL THE CONCEPT OF NETWORKED PUBLIC SPHERE AND THE WEBCIDADANIA WEBSITE IN BRASIL Eduardo Henrique Diniz Professor da EAESP/FGV - Escola de Administração de Empresas de São Paulo - Fundação Getulio Vargas. Manuella Maia Ribeiro Mestre em Administração Pública e Governo, EAESP/FGV - Escola de Administração de Empresas de São Paulo - Fundação Getulio Vargas. Eduardo Henrique Diniz é membro do Conselho Editorial Científico da Gestão e Regionalidade e o artigo passou pelo processo de avaliação Blint Review. Endereços dos autores: Eduardo Henrique Diniz [email protected] Manuella Maia Ribeiro [email protected] Recebido em: 03/05/2012 Aceito em: 13/08/2012 The biggest change of the information society in the public sphere is to provide tools that allow a citizen to be active in the search for information, because he can participate in the construction of information and thus be active in the process of accounting a democratic course for his country, state or city. The aim of this paper is to analyze citizen participation via web in Brazil by analyzing the Webcidadania. This article contains: a review literature on virtual public sphere; an exploratory case study on the movement of webcitizenship in Brazil, and a classification of the cases according to the characteristics of the networked public sphere. The article highlights and aims to test the concept of a public sphere related to the use of new technologies that allow citizens to participate actively in the public sphere and thereby generate impact in the public administration. Keywords: information society; networked public sphere; citizen participation; webcitizenship. ABSTRACT RESUMO A grande modificação da economia informacional em rede na esfera pública é disponibilizar ferramentas que permitam que um cidadão não seja passivo na busca pela informação, mas possa participar da construção desta e, com isso, ser ativo no processo de fiscalizar e garantir um rumo democrático para seu país, estado ou cidade. O objetivo deste artigo é fazer uma análise da participação cidadã via web no Brasil por meio da análise do site “Webcidadania”. Para isso, este artigo contém revisão de literatura sobre esfera pública virtual; estudo de caso exploratório sobre o movimento de webcidadania no Brasil; e classificação dos casos de acordo com as características da esfera pública interconectada. O artigo destaca e se propõe a testar o conceito de uma esfera pública relacionada ao uso das novas tecnologias, que permita aos cidadãos participarem ativamente da esfera pública e, dessa maneira, gerar algum tipo de impacto na Administração Pública. Palavras-chave: sociedade da informação; esfera pública interconectada; participação cidadã; webcidadania.

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Eduardo Henrique Diniz e Manuella Maia Ribeiro

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O CONCEITO DE ESFERA PÚBLICA INTERCONECTADA E O SITE“WEBCIDADANIA” NO BRASILTHE CONCEPT OF NETWORKED PUBLIC SPHERE AND THE WEBCIDADANIAWEBSITE IN BRASIL

Eduardo Henrique DinizProfessor da EAESP/FGV - Escola de Administração de Empresas de São Paulo - Fundação Getulio Vargas.

Manuella Maia RibeiroMestre em Administração Pública e Governo, EAESP/FGV - Escola de Administração de Empresas de São Paulo - Fundação Getulio Vargas.

Eduardo Henrique Diniz é membro do Conselho Editorial Científico da Gestão e Regionalidade e o artigo passou pelo processo deavaliação Blint Review.

Endereços dos autores:

Eduardo Henrique [email protected]

Manuella Maia [email protected]

Recebido em: 03/05/2012Aceito em: 13/08/2012

The biggest change of the information society in the public sphere is to provide tools that allow a citizen to be active in thesearch for information, because he can participate in the construction of information and thus be active in the process ofaccounting a democratic course for his country, state or city. The aim of this paper is to analyze citizen participation via webin Brazil by analyzing the Webcidadania. This article contains: a review literature on virtual public sphere; an exploratorycase study on the movement of webcitizenship in Brazil, and a classification of the cases according to the characteristics ofthe networked public sphere. The article highlights and aims to test the concept of a public sphere related to the use of newtechnologies that allow citizens to participate actively in the public sphere and thereby generate impact in the publicadministration.

Keywords: information society; networked public sphere; citizen participation; webcitizenship.

ABSTRACT

RESUMO

A grande modificação da economia informacional em rede na esfera pública é disponibilizar ferramentas que permitam queum cidadão não seja passivo na busca pela informação, mas possa participar da construção desta e, com isso, ser ativo noprocesso de fiscalizar e garantir um rumo democrático para seu país, estado ou cidade. O objetivo deste artigo é fazer umaanálise da participação cidadã via web no Brasil por meio da análise do site “Webcidadania”. Para isso, este artigo contémrevisão de literatura sobre esfera pública virtual; estudo de caso exploratório sobre o movimento de webcidadania no Brasil;e classificação dos casos de acordo com as características da esfera pública interconectada. O artigo destaca e se propõe atestar o conceito de uma esfera pública relacionada ao uso das novas tecnologias, que permita aos cidadãos participaremativamente da esfera pública e, dessa maneira, gerar algum tipo de impacto na Administração Pública.

Palavras-chave: sociedade da informação; esfera pública interconectada; participação cidadã; webcidadania.

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1. INTRODUÇÃO

Mais de mil relatos sobre irregularidades naseleições foram enviados por cidadãos na plataformaon-line “Eleitor 2010”, criada por voluntários paramonitorar as eleições brasileiras de outubro de 2010.Na China, mesmo com o monitoramento da Internet,diversos cidadãos burlaram as proibições para garantirtransparência por meio do site criado para investigara identidade dos estudantes mortos no terremotoocorrido em maio de 2008, já que o governo chinêsnegou a divulgação do nome das vítimas. Com a redesocial “Cidade Democrática”, o movimento “VotoConsciente Jundiaí” discutiu e aprovou uma agendacidadã com 12 ações apresentadas ao Poder Públicomunicipal e já garantiu verbas na Câmara Municipalpara a construção de 25 quilômetros de ciclovias nacidade, que era uma das ações propostas na agenda(TECHNOLOGY FOR TRANSPARENCY, 2010). Estes são algunsexemplos de uso da Internet pela sociedade civil,disponíveis no site da Rede Technology for Transpa-rency (2012), iniciativa criada pela ONG internacionalGlobal Voices com o objetivo de mapear experiênciascidadãs de uso das novas tecnologias da informaçãoe comunicação (TICs) para a promoção de transpa-rência, accountability e engajamento cívico.

As possibilidades do uso das novas tecnologiaspelos governos e cidadãos para a promoção detransparência, controle social e participação cidadãsão apresentados na literatura constantemente(PINHO, 2008; WELP, 2007; PRADO & LOUREIRO, 2006; FREY,2005). Cabe ressaltar, entretanto, que os exemplosmencionados correspondem mais a exceções, pois opotencial das TICs como promotoras de mudançasainda não está sendo completamente explorado.

Apesar do crescente número de experiências co-mo as relatadas acima, Welp (2007) entendeu que ain-da existem poucos estudos sobre TICs e governos paramelhorar o funcionamento do sistema políticodemocrático, especialmente pesquisas que analisemos reais impactos destas experiências nos governos ena vida das pessoas. A disseminação do uso das TICspela Administração Pública e pelos cidadãos propiciouo desenvolvimento de um espaço virtual na relaçãoentre governo e sociedade. Em outras palavras, umnovo campo de disputas e conflitos sociais foiestabelecido, com possibilidades de ampliação daparticipação cidadã e do controle social sobre as

atividades governamentais através do uso das novastecnologias, especialmente no ambiente da Internet.

No que tange à participação cidadã via canais ele-trônicos, ainda há poucos estudos sobre processosparticipativos, especialmente no Brasil, o que gerauma lacuna de conhecimento sobre tais possibili-dades. A dificuldade de mensurar as implicaçõesdesses projetos, seja devido ao fato de serem re-centes, seja por sua complexidade inerente, podeexplicar a inexistência de tais estudos. Contudo, nãoé possível negar a emergência e a relevância de pro-jetos oriundos tanto do setor governamental, comoo orçamento participativo digital e as consultas públi-cas on-line, quanto da sociedade civil, como sites comdados abertos e de denúncias, dentre outros, quedirecionam a Internet como instrumento para promo-ver participação civil e controle social (LOGOLINK, 2010).

Além disso, os estudos de caso realizados sobreexperiências brasileiras se referem, na maior partedas vezes, às iniciativas criadas pelo poder público,especialmente os poderes Legislativo e Executivo.Assim, iniciativas da sociedade civil estão surgindono País sem que ainda haja uma relação desta comestudos teóricos que investiguem seu potencial parainfluenciar uma mudança na relação entre governoe sociedade civil, e suas possíveis implicações.

Em janeiro de 2010, a organização não governa-mental Global Voices criou a rede Technology forTransparency (T4T) em conjunto com outros patroci-nadores, como o Open Society Institute e o OmyidarNetwork. O objetivo da rede é ser um mapa cola-borativo para documentar e avaliar projetos que usama tecnologia com o propósito de promover transpa-rência, accountability e engajamento cívico no mun-do. Entre janeiro e setembro de 2010, a rede mapeouaproximadamente 40 experiências de uso da Internetpela sociedade civil em todos os continentes.

Apesar de admitir projetos que organizam infor-mações para fornecer transparência no setor privado,a maioria dos casos documentados pelo T4T visava agarantir maior transparência, accountability e partici-pação no setor público. No Brasil, o T4T realizou seisestudos de caso de iniciativas cidadãs de uso da In-ternet para melhorar a transparência, a accountabi-lity e o engajamento cívico. Todas essas experiênciasfocaram governos nos seus diferentes níveis.

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Uma destas iniciativas foi a criação do site“Webcidadania”1, uma rede que reúne as experiên-cias brasileiras de uso da Internet para promoção detransparência, accountability e engajamento cívico.Também se incentiva a divulgação de ações doscidadãos no Twitter. Atualmente, estão disponíveisno site 21 projetos. Dentre as atividades realizadaspor este movimento, estão as seguintes: mostrar aoscidadãos as possibilidades das novas tecnologias parafiscalizar os governos e deles participar; utilizar osdados públicos; e promover causas para influenciarnas políticas públicas, dentre outras. Devido à recentecriação dessas iniciativas (a maioria entre 2006 e2010), ainda é complicado mensurar seus impactose sua influência na Administração Pública.

O objetivo deste artigo é fazer uma análise teóricada participação cidadã através da web, utilizandocomo conceito de partida o termo “esfera públicavirtual”. Assim, a pergunta a que este artigo pretenderesponder é esta: como interpretar os casos brasilei-ros a partir da literatura de esfera pública virtual?

O ponto de partida do artigo é a realização de umapesquisa bibliográfica sobre esfera pública virtual, coma identificação das possibilidades da Internet natransformação do conceito de esfera pública de Ha-bermas (2003) e sua variação para o ambiente digital,a esfera pública interconectada proposta por Benkler(2006). A seguir, será feita uma análise dos casosempíricos apresentados no site “Webcidadania”.

2. REVISÃO DA LITERATURA

Na literatura sobre a participação cidadã e as TICs,com frequência se discutem as possibilidades e oslimites da tecnologia para modificar as relações entrea sociedade civil e a esfera governamental.

No intuito de compreender estas possibilidades doponto de vista teórico, poderiam ser adotados diversosposicionamentos e conceitos, como e-democracia,governança eletrônica, participação eletrônica e so-ciedade em rede, dentre outros. Entretanto, o focodeste trabalho são as iniciativas cidadãs, ou seja, as

experiências de uso das TICs criadas pela sociedadecivil. Assim, o conceito escolhido neste artigo parafazer a leitura das experiências realizadas pelos cida-dãos que utilizam as novas tecnologias a fim depromover o diálogo com o governo, exigir dados pú-blicos ou, até mesmo, participar das decisões gover-namentais é o de esfera pública virtual. O desafiodesse estudo é explicar como as experiências dewebcidadania no Brasil se relacionam (ou não) coma noção de esfera pública virtual.

2.1 Esfera pública virtual

O conceito de esfera pública virtual, como nãopoderia deixar de ser, está relacionado ao conceitode esfera pública proposto por Jürgen Habermas(2003). Da construção histórica que culmina noconceito de esfera pública burguesa, construído apartir das mudanças oriundas do surgimento novasociedade burguesa e do Estado de Direito no séculoXVIII, Habermas (2003) entendeu a esfera públicacomo “(...) a linha divisória entre Estado e sociedade(...). A esfera pública política (...) intermedeia, atra-vés da opinião pública2, o Estado e as necessidadesda sociedade” (HABERMAS, 2003: 45-46). Portanto, aesfera pública é o espaço em que a sociedade, atravésda opinião pública, assegura que o Estado agirá deacordo com esta, asseverando institucionalmente“(...) o vínculo entre lei e opinião pública” (p. 101).

Este conceito excluía então diversos grupos, comoos pobres e as mulheres, por exemplo. Citando Kant,o referido autor afirmou que os não proprietáriosestavam excluídos do conjunto de pessoas politi-camente pensantes, condição essencial para a parti-cipação na esfera pública, pois não possuíam nemformação nem informação.

A interpenetração do poder público no setor pri-vado com a ampliação do primeiro em diversosambientes do segundo, como a ampliação das polí-ticas de bem-estar social e o desenvolvimento dapublicidade comercial e das estratégias de mercado,fez com que Habermas reformulasse seu conceito

1 A expressão “webcidadania”, iniciada com minúsculas, foi usadaao longo do texto para descrever atividades de cidadania viaweb. Disponível em: <http://www.webcidadania.org.br>.

2 Para Habermas (2003), opinião pública “(...) se constitui emdiscussões públicas, depois que o público, por formação einformação, torna-se apto a formular uma opinião funda-mentada” (p. 85).

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(BARROS, 2008). Em sua revisão, Habermas abandonou“o modelo bipolar que colocava a sociedade civil emcontraposição ao Estado, e optou pela consideraçãode diversos públicos ou arenas discursivas espalhadospela sociedade” (BARROS, 2008: 28). Mesmo que aindadependa “de garantias providas pelo Estado paraexercer sua liberdade comunicativa” em sociedadescomplexas, o público passa a ocupar um espaço dediscussão onde pode exercer sua liberdade comu-nicativa, a esfera pública.

A partir desse momento, o conceito de esferapública para Habermas (2003 pode ser entendido co-mo: “uma estrutura intermediária que faz a mediaçãoentre o sistema político, de um lado, e os setores pri-vados do mundo da vida e sistemas de ação especia-lizados em termos de funções, de outro” (p. 103).

O conceito de esfera pública virtual, portanto,designa a relação entre governo e sociedade civil atra-vés de web, denotando as possibilidades de os cida-dãos participarem da Administração Pública por meiodeste canal eletrônico. Este conceito de esfera públicavirtual, para grande parte dos autores, situa-se entreas possibilidades ou não da maior participação cidadãna esfera política3 através do uso dos TICs, cada umapresentando uma maior ou menor potencialidadepara o uso da Internet na promoção da participaçãoe, consequentemente, no entendimento sobre o queé a esfera pública virtual.

De forma geral, os teóricos sobre a esfera públicavirtual podem ser divididos em otimistas, pessimistase moderados ou ponderados. Os otimistas4 defendemque a Internet superou diversas limitações da esferapública, como o acesso aos mais diversos gruposdevido ao baixo custo e à difusão das novas tecno-logias; à ampla disponibilização de informação; e à

facilidade da comunicação, dentre outros aspectos.As principais argumentações dos teóricos otimistassobre o entendimento que as novas TICs, em especialInternet, podem constituir uma esfera pública virtualencontram-se resumidas abaixo.

1. Possibilidade de dar voz aos segmentosmarginalizados da sociedade sem barreirasimpostas pela censura governamental oupelos interesses das indústrias do entrete-nimento e da informação (GOMES, 2005; MAR-QUES, 2008; SAMPAIO, 2010).

2. Reciprocidade do discurso, ou seja, o cida-dão não é um mero leitor como ocorre nodomínio dos meios de comunicação de mas-sa, mas também pode participar e produzirconteúdo (comunicação em mão dupla,diferente da comunicação unidirecional dosmeios de comunicação de massa) (FREY, 2003;SILVA, 2005; GOMES, 2005; BENKLER, 2006; MAR-QUES, 2008; SAMPAIO, 2010).

3. Ampla disponibilidade de informação narede mundial de computadores (GOMES, 2005;BORGES & JAMBEIRO, 2010; SAMPAIO, 2010).

4. Facilidade de comunicação direta, rápida esem obstáculos entre cidadãos e políticoscom maior interatividade entre os mesmos(GOMES, 2005; MARQUES, 2008; BORGES & JAMBEIRO,2010; SAMPAIO, 2010).

5. Facilidade de comunicação direta, rápidae sem obstáculos entre cidadãos para deba-ter assuntos de interesse e maior interativi-dade entre eles (GOMES, 2005; SAMPAIO, 2010).

6. Baixo custo para participação e obtençãoda informação, principalmente com o bara-teamento e a difusão das novas tecnologias(GOMES, 2005; BENKLER, 2006; MARQUES, 2008;SAMPAIO, 2010).

7. Existência de maior velocidade para aces-sar, reunir e transmitir informações (MARQUES,2008).

8. Término das dificuldades referentes à dis-tância geográfica e aos limites de tempo(GOMES, 2005; MARQUES, 2008; SAMPAIO, 2010).

9. Ocorrência de discussão em bases igualitá-rias entre os participantes, ou seja, todos têm

3 O conceito de esfera política nos textos está associado àAdministração Pública no contexto de países democráticos (GOMES,2005; MARQUES, 2009; SAMPAIO, 2010). Habermas (2003) definiu aesfera do poder público como a atividade estatal (p. 32).

4 Os teóricos otimistas quanto ao uso das TICs para a promoçãoda participação cidadã normalmente são associados aos teóricosda democracia deliberativa. Para eles, a democracia represen-tativa se caracterizaria pela segunda melhor opção de modelodemocrático porque não há a possibilidade de todos deliberaremsobre os negócios públicos no contexto das sociedades demassa. Entretanto, com as possibilidades apresentadas pelasnovas tecnologias, os cidadãos poderiam decidir mais facilmentena deliberação dos assuntos públicos (GOMES, 2005).

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espaço para discutir e opinar através daInternet. Inclui-se nessa vantagem a possi-bilidade do anonimato, que garantiria ainexistência de discriminação de determina-das opiniões (GOMES, 2005; SAMPAIO, 2010).

10. Comodidade, conforto e conveniênciapelo uso das TICs (GOMES, 2005).

11. Inexistência de filtros e controles na rede,garantindo a liberdade de expressão (GOMES,2005; SAMPAIO, 2010).

12. Acesso universal às informações e àsnovas tecnologias (GOMES, 2005; SAMPAIO,2010).

13. Possibilidade de o cidadão influenciar osistema político através da democraciadigital direta (GOMES, 2005; SAMPAIO, 2010).

Enquanto os otimistas defendem a Internet comoa esfera pública por excelência, os pessimistas apre-sentam as restrições e os déficits do próprio meiotecnológico para a participação dos cidadãos, bemcomo as restrições e as dificuldades impostas no pró-prio ambiente democrático para a garantia da partici-pação. As principais críticas apresentadas pelos teó-ricos pessimistas estão enumeradas a seguir.

1. Exclusão digital, que não permite o acessode todos às novas tecnologias e à partici-pação dos mesmos (GOMES, 2005; MARQUES,2006; BEZERRA, 2008; MARQUES, 2008; SAMPAIO,2010).

2. Ausência de racionalidade (como a Internetnão possui uma ordem, os debates se reali-zariam de maneira pouco precisa) e de civi-lidade (o anonimato e outros elementos daInternet, permitindo que as pessoas não serevelem, podem gerar agressões entre usuá-rios, por exemplo) (GOMES, 2005; MARQUES,2006; SAMPAIO, 2010).

3. Desorganização do ambiente digital(MARQUES, 2006).

4. Falta de competência dos cidadãos co-muns para discutirem temas específicos quenecessitem de especialização e usarem asnovas tecnologias (MARQUES, 2006; BORGES &JAMBEIRO, 2010).

5. Percepção de que a formação da opiniãopública no ambiente digital não tem omesmo aprofundamento que pessoal-mente (MARQUES, 2006).

6. Dificuldade de formar laços de confiançae solidariedade através da Internet devidoà falta de contato físico (MARQUES, 2006).

7. Constatação de que não é apenas o meio quefacilita a participação, mas também a von-tade de os cidadãos participarem, algo quenão é garantido mesmo que haja possibi-lidades na Internet (GOMES, 2005; BEZERRA,2008; SAMPAIO, 2010).

8. Qualidade duvidosa das informações dis-poníveis na Internet (GOMES, 2005; MARQUES,2008).

9. Consciência de que os meios de comu-nicação de massa e os grupos de podertambém se transferem para a rede econtinuam as mesmas disparidades que jáocorrem no mundo off-line (GOMES, 2005;MARQUES, 2008; SAMPAIO, 2010).

10. Confirmação de que o sistema políticocontinua fechado, ou seja, mesmo com aspossibilidades da Internet, há poucas expe-riências de uso da Internet para a democraciadireta pelos governos (GOMES, 2005).

11. Excesso de informações (BENKLER, 2006;SAMPAIO, 2010).

12. Possibilidade de a Internet ser monitoradapor empresas e governos, como o que ocor-re na China, por exemplo, para garantir opoder autoritário sobre os cidadãos (SAMPAIO,2010).

13. Probabilidade de a Internet encorajar es-colhas baseadas no interesse privado,acabando com a interação entre os indi-víduos na tomada de decisão (SAMPAIO,2010).

14. Fragmentação da esfera pública (EISENBERG,2003; BENKLER, 2006; SAMPAIO, 2010).

A posição moderada ou ponderada analisa opotencial da Internet sem a visão dos otimistas, que

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entende que a Internet solucionará todos os proble-mas da democracia contemporânea. O discurso dosmoderados não apresenta a empolgação dos oti-mistas, que veem na Internet resolução dos imbrógliosda democracia e sequer acreditam numa simplesmudança das esferas de poder e de seus problemasdo “mundo real” para o “mundo virtual”, como fa-zem os pessimistas. Para esses moderados, a Internetnão é um caminho para a “democracia direta”, mas,por permitir discussões a qualquer tempo, possibilitaa construção de conteúdos pelos cidadãos, o quepode ter impacto nas ações dos governantes. Nogeral, os moderados admitem o potencial da Internet,porém acreditam que o problema da ampliação daparticipação não é tecnológico, e sim político, assu-mindo as TICs como instrumento, e não como propi-ciador da reestruturação da esfera pública (GOMES,2005; PINHO, 2008).

Da literatura consultada pode-se admitir que aInternet possui algum potencial para expandir a parti-cipação e aprimorar a esfera pública. Contudo, estepotencial é limitado, seja por problemas encontradosno mundo “real”, como a exclusão digital, seja porproblemas inerentes à própria tecnologia, que nãoseria adequada para a deliberação plena, por exem-plo, mas apenas para complementar a formaçãocívica. Na revisão da literatura brasileira sobre o tema,a maioria dos autores adota uma posição interme-diária, que não vai além das possibilidades e poten-cialidades do uso das TICs para o aprimoramento daesfera pública. Não se encontrou entre os textospesquisados uma teoria que analise experiênciasbrasileiras originadas na sociedade civil e que dêconta de um novo conceito de esfera pública baseadano uso massivo das novas tecnologias interativas daInternet. Como apontou Silva (2010):

(...) as tecnologias da informação e da comuni-cação em rede inauguram formas inéditas deinteração, de existência e de debate público,inaugurando, portanto, formas inéditas de açãona esfera pública, que, enquanto conceito, paraincorporar essas características, passa a carecerde novas definições.

2.2 Esfera pública interconectada

Uma definição de esfera pública virtual que chamamais a atenção é aquela que relaciona os meios de

comunicação de massa com a esfera pública haber-masiana, buscando novos entendimentos sobre elaa partir das possibilidades apresentadas pelas novastecnologias. O conceito de networked public sphere(ou esfera pública interconectada) criado por YochaiBenkler, professor da Escola de Direito de Harvard,foi defendido por Silveira (2009), Silva (2010) e Jos-grilberg (2008) como uma nova definição de esferapública condizente com as mudanças do mundocontemporâneo, especialmente caracterizada pelaintrodução das novas tecnologias na vida cotidiana.

Após a Segunda Guerra Mundial, a esfera públicaburguesa foi modificada pelos meios de comunicaçãode massa, como jornal, rádio e televisão. Esta mudan-ça da esfera pública burguesa para a esfera públicadominada pela mídia foi denominada por Habermas(2003b) “esfera pública abstrata”. Benkler (2006)afirmou que a emergência da Internet propiciou amudança da estrutura de uma esfera pública domi-nada pela mídia para outra que possibilita aos cida-dãos não só receberem conteúdos, mas tambémconstruí-los: uma esfera pública interconectada.

Benkler (2006) defendeu que há uma mudançaem curso de substituição da economia industrial dainformação pela economia informacional em rede.Essa mudança foi gerada pela introdução das novasTICs e de suas possibilidades de troca de informações,cultura e conhecimento. Segundo Benkler (2006), épossível observar uma mudança estrutural e profundaprovocada pelo ambiente de informação em rede nasociedade contemporânea:

Na última década e meia, nós começamos aver uma mudança radical na organização daprodução de informação. Habilitados pela mu-dança tecnológica, nós estamos começando aver uma série de adaptações econômicas, so-ciais e culturais que tornam possível uma trans-formação radical de como tornar o ambienteinformacional que ocupamos como indivíduosautônomos, cidadãos e membros de gruposculturais e sociais (BENKLER, 2006).

Portanto, a grande mudança proporcionada pelaintrodução das novas tecnologias são as possibilida-des de os indivíduos agirem individual ou coopera-tivamente para fazer e trocar informações, conheci-mentos e cultura. Ao mesmo tempo, as novas TICs

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permitiram aumentar a produção dessas ações cola-borativas entre os indivíduos, ou seja, os sujeitos sãolivres e têm a chance de assumir um papel mais ativodo que podiam na economia industrial da informaçãono século passado. Essa liberdade traz o potencialdessa nova economia informacional em rede comouma plataforma para garantir uma melhor participa-ção democrática, um meio de fomentar uma culturamais crítica e autorreflexiva, dentre outras possibili-dades (BENKLER, 2006).

A economia da informação em rede emergiu se-gundo duas mudanças paralelas ocorridas do finaldo século XX: (1) a economia tornou-se “(...) centradana informação (serviços financeiros, contabilidade,software, ciência), produção cultural (filmes, música)e manipulação de símbolos (fabricação de tênis demarca, por exemplo)” (BENKLER, 2006) e (2) o ambientede comunicação passou a ser construído a partir deprocessadores baratos de alta capacidade compu-tacional com uma rede interconectada (Internet). Estaúltima modificação foi responsável por um padrãode produção altamente influenciado pelos meios decomunicação de massa.

A descentralização da criação de conteúdo e dis-tribuição da informação em rede pelos indivíduos,cooperando entre si ou não, é a principal caracte-rística da economia da informação em rede. O cata-lisador dessa característica são as novas tecnologiasatravés do acesso à Internet cada vez mais disse-minado entre os cidadãos no mundo inteiro. Astecnologias de comunicação mais comuns do séculopassado, como a televisão, o rádio e os jornais, dentreoutros, não permitem uma comunicação a baixo custoe ainda dependem muitas vezes de autorização go-vernamental para poder operar. Os altos custos e ocontrole governamental concentraram os meios decomunicação de massa em grandes grupos eco-nômicos. As novas TICs e a Internet são caracte-rizadas pelo baixo custo e grande distribuição decapacidade comunicativa, que está disponível a todosos usuários da Internet.

Como segunda característica da economia dainformação em rede, Benkler (2006) dispôs sobre oaumento de atividades que não têm como fim aprodução para o mercado. Essa produção se refere àpossibilidade de os indivíduos ou grupos utilizarem arede para alcançar, informar ou trocar informaçõescom milhões de pessoas ao redor do mundo sem

necessariamente objetivarem o lucro. De maneiraindividualizada ou cooperativamente, as pessoas po-dem utilizar a rede para disponibilizar e encontrarinformações:

O fato de que cada tal esforço é disponível paraqualquer pessoa conectada à rede, de qualquerlugar, levou ao surgimento de efeitos coorde-nados, onde o efeito agregado da ação indi-vidual, mesmo quando não é conscientementecooperativo, produz o efeito coordenado de umnovo ambiente rico informação (BENKLER, 2006).

Além disso, o autor partiu do pressuposto de queos seres humanos não se motivam apenas por inte-resses econômicos, mas também pelo bem-estar psi-cológico, por gratificação e união social.

Assim, podem ser explicadas as experiências cola-borativas que são realizadas por centenas de pessoastal qual a participação de voluntários na construçãoda enciclopédia on-line Wikipedia. Essa é outra mu-dança dessa nova economia: há um aumento dosesforços de produção em pares (colaborativa) de infor-mação, conhecimento e cultura. Benkler (2006) partiudo pressuposto de que a economia da informaçãoproduz efeitos sobre a autonomia do indivíduo. Omaior acesso às tecnologias em rede permite quequalquer pessoa, caso queira, possa utilizar sua cria-tividade para produzir informações, cultura e conhe-cimento: (1) os indivíduos podem fazer mais por simesmos, independentemente de autorização oucooperação de outros (criar seus próprios textos, pro-curar informações de outros lugares etc.); (2) eles têmaumentada sua capacidade de fazer mais em coope-ração com outros sem serem obrigados a organizarsuas relações através de um sistema de preços outradicionais modelos de organização social e eco-nômica; e (3) as pessoas estão usando sua liberdadepara agir e cooperar com os outros de modo a me-lhorar a experiência prática da justiça, de democraciae desenvolvimento de comunidades virtuais. Os re-centes episódios de manifestações, chegando à der-rubada de governos no Oriente Médio, podem repre-sentar a emergência de uma cultura crítica propiciadapelos meios de comunicação e TICs modernos.

Além da autonomia individual, cabe ressaltar amudança da esfera pública midiática, característicado último século, para a networked public sphere. A

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economia da informação em rede superaria a esferapública dos meios de comunicação de massa porque

(...) possibilita muitos mais indivíduos paracomunicar suas observações e pontos de vistapara muitos outros, e fazê-lo de uma formaque não pode ser controlada pelos donos damídia e não é é facilmente corrompida pelodinheiro, como foram os meios de comunicaçãode massa (BENKLER, 2006).

Em contraponto aos meios de comunicação demassa, as novas plataformas tecnológicas permitemque os indivíduos não sejam apenas passivos à infor-mação, isto é, eles podem se tornar participantes maisengajados no debate através das suas observações:“(...) networked public sphere fornece a qualquer um(...) um canal para ‘falar’, inquirir, investigar, sem preci-sar acessar os recursos de uma organização dos gran-des meios de comunicação” (BENKLER, 2006).

Assim, é perceptível uma mudança das formas devigilância e de envolvimento político dos cidadãos.Eles não precisam mais se basear apenas nos meiosde comunicação de massa, muitas vezes cooptadospor grupos econômicos, nem ao menos necessitamsomente receber a informação, mas também produzirconteúdo. As principais diferenças entre a comu-nicação em rede e a comunicação pelos meios decomunicação de massa foram exemplificadas porSilveira (2010) e reproduzidas na Tabela 1 abaixo.

Dentre essas diferenças, duas foram destacadaspor Benkler (2006): a arquitetura de rede e os custospara o sujeito se tornar um falante na rede (BENKLER,2006). O primeiro elemento se refere à mudança dos

links unidirecionais para conexões multidirecionaisentre todos os nós do ambiente de informação emrede: “A arquitetura distribuída da rede desloca oscentros de poder por diversos nós, de forma que quemmais ganha com a concepção de uma esfera públicabaseada nesses novos meios de comunicação são osatores da periferia” (SILVA, 2010), enquanto os baixoscustos da prática da comunicação eliminam barreiraspara o cidadão interagir com a esfera pública e delaparticipar. Em conjunto, esses dois elementos alterama capacidade dos indivíduos, tanto no plano individualquanto no coletivo, de modo a torná-los participantesativos na esfera pública em oposição à figura deouvintes, leitores passivos ou telespectadores. Apesarde ser um otimista, Benkler (2006) não compartilhoude maneira irrestrita da visão dos teóricos que colocama Internet como a resolução de todos os problemas. AInternet ainda pode ser monitorada por governosautoritários ou pelos donos da mídia. Entretanto, osmecanismos de controles são mais difíceis do que nopassado devido à arquitetura da rede, ou seja, oscustos para controlar o acesso à rede são mais altos.

Para Benkler (2006), a Internet democratiza por-que, nesse ambiente, “(...) todos são livres para ob-servar, questionar e debater” através de blogs ou departicipação em grupos de discussão, dentre outrosrecursos. Portanto, a grande modificação da econo-mia informacional em rede na esfera pública é possi-bilitar que o cidadão não seja passivo na busca pelainformação, mas que possa participar da construçãoda informação: “(...) a rede permite que todos oscidadãos mudem sua relação com a esfera pública.Eles já não precisam ser consumidores e especta-dores passivos. Eles podem se tornar criadores efontes primárias dos assuntos” (BENKLER, 2006).

3. METODOLOGIA

As etapas da construção do artigo foram as se-guintes: (1) revisão literatura sobre esfera públicavirtual; (2) realização um estudo de caso exploratóriosobre o movimento de webcidadania no Brasil a partirdos casos empíricos apresentados no site “Webcida-dania”; (3) classificação dos casos brasileiros deacordo com as características da esfera pública in-terconectada definida por Benkler (2006); (4) verifi-cação da relação entre os casos brasileiros e oconceito de esfera pública virtual adotado.

Tabela 1: Características da comunicação em rede edos meios de comunicação de massaRádios-TV-jornais Internet

Unidirecional Multidirecional

Baixa interatividade Alta interatividade

Hierárquica Enredada

Verticalizada Horizontalizada

Linear Hipertextual

Analógica Digital

Nacional/local Transnacional/local

Fonte: Silveira (2010).

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Foi realizado um estudo de caso exploratório edescritivo sobre as experiências brasileiras apresen-tadas no site “Webcidadania”. Esse método de pes-quisa foi escolhido porque o estudo de caso é passívelde ser utilizado na realização de pesquisas queinvestiguem um fenômeno contemporâneo dentro deseu contexto real; em razão de as fronteiras entre ofenômeno e o contexto não serem claramente evi-dentes; e em virtude de múltiplas fontes de evidênciasserem utilizadas (YIN, 2005). O movimento de webci-dadania constitui uma experiência que se iniciou emmaio de 2010. Assim, ainda são pouco claras suaspossibilidades e seus efeitos na mudança das relaçõesentre governo e sociedade civil. Foram utilizados, parao estudo de caso exploratório e descritivo, os se-guintes critérios metodológicos:

1) observação estruturada dos sites das experiên-cias para verificar seus objetivos e seu funcio-namento entre os meses de julho de 2011 efevereiro de 2012 com o propósito de mapearas iniciativas de uso da web pela sociedade civil;

2) classificação das experiências brasileiras deacordo com as características apresentadas nateoria de Benkler (2006), visando a apontarquantos tipos de iniciativas já existem no Brasil.

O marco teórico para analisar os estudos de casosbrasileiros é a teoria da networked public sphere, deBenkler (2006). Finalmente, foi verificada a relaçãoentre a esfera pública virtual proposta por Benkler eo movimento de webcidadania no Brasil.

Para classificar os projetos, foram criadas três ca-tegorias a partir da teoria de networked publicsphere: criação de conteúdo; discussão e colabora-ção; e disponibilização de informação. Cabe ressaltarque alguns projetos se encaixam em mais de umacategoria, como a plataforma “Cidade Democrática”,por exemplo, que permite aos usuários tanto relata-rem problemas e soluções para estes em suas cidadescomo apresentar opiniões e discutir sobre as ideiasde outros participantes. A separação dos projetos foidefinida a partir do objetivo preponderante de cadaum deles, ou seja, se focam mais a criação de con-teúdo, a discussão e a colaboração ou a disponi-bilização de informação. Como o foco deste artigosão experiências brasileiras de uso da Internet paraa promoção da participação cidadã na AdministraçãoPública, dos 21 sites disponíveis foram analisados 19.Um deles não foi examinado por não ser umaexperiência criada no Brasil e o outro, por restringir ouso da Internet para envio de mensagens de apoio apessoas com câncer. A Tabela 2 abaixo resume astrês categorias.

4. O MOVIMENTO DE WEBCIDADANIA NOBRASIL

No Brasil, já é possível encontrar uma série deexemplos oriundos da sociedade civil que objetivamo uso da Internet para promover transparência, con-trole social e participação. Silva (2010) corroborouessa afirmação:

Tabela 2: Classificação dos projetos brasileiros disponíveis na rede de webcidadaniaCategoria Descrição Exemplo

Criação de conteúdo Sites que permitem ou incentivam que O projeto “Viva Favela” incentiva que moradoresqualquer usuário produza e publique de favela atuem como correspondentesconteúdo na Internet. jornalísticos e produzam matérias para a Internet,

que são disponibilizadas no próprio site.

Discussão e colaboração Sites que permitem e incentivam a discussão Transparência Hack Day é um grupo on-line quee produção colaborativa entre os usuários. discute ações para promover a transparência da

Administração Pública e cria aplicativoscolaborativamente para ampliar essa transparência.

Disponibilização de informação Sites que produzem conteúdo para A ONG Voto Consciente utiliza a Internet parainformar o cidadão. publicar conteúdos e campanhas a fim de

fortalecer a participação política.

Fonte: RIBEIRO & DINIZ (2011)

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Exemplos de como posições particulares setornam ações importantes dentro da esferapública estão pulsando na Internet, inclusive naInternet brasileira. Podem não ter o mesmoalcance de massa do que os conteúdos e posi-cionamentos veiculados pela mídia de massa,mas conseguem ganhar relevância dentro depequenos grupos, e, por conta da ação cole-tiva e da articulação, podem alcançar relevan-tes conquistas políticas (SILVA, 2010).

Benkler (2006) caracterizou como possibilidade donetworked public sphere o uso das novas tecnologiaspor qualquer cidadão, de maneira isolada ou colabo-rativamente, de modo a que se produzam ou rece-bam informações, cultura e conhecimentos. Esse novopadrão de participação possibilitado pela disse-minação dessas tecnologias, em especial a Internet,permite que os cidadãos tenham maiores possibili-dades de participar da decisão dos negócios públicose exercer a função de controle e vigilância sobre oEstado, situações que Benkler (2006) denominou co-mo exercício da função democrática.

As experiências brasileiras classificadas neste arti-go estão disponíveis no site do Movimento Webcida-dania. Este movimento surgiu a partir da criação dosite, em maio de 2010, para discutir como a Internetpoderia ser usada em relação à esfera pública noBrasil. O site disponibiliza projetos no Brasil que

promovem controle social, transparência e enga-jamento cívico através da web, e também incentivaa participação dos usuários nesse movimento atravésda divulgação da webcidadania no Twitter (TECHNOLOGY

FOR TRANSPARENCY, 2010). Dentre as atividades realizadaspor este movimento, estão as seguintes: mostrar aoscidadãos as possibilidades das novas tecnologias parafiscalizar e participar nos governos; utilizar os dadospúblicos; e promover causas para influenciar naspolíticas públicas, dentre outros.

Benkler (2006) colocou como uma das principaiscaracterísticas dessa nova esfera pública orientadapelas TICs a possibilidade de os cidadãos criarem oconteúdo, disponibilizando-o especialmente na Inter-net. Os sites brasileiros que se enquadram nessacategoria são aqueles que oferecem espaço para osusuários criarem seu próprio conteúdo ou incentivamque estes produzam conteúdo sobre assuntos rela-cionados à participação, à transparência, ao controlesocial e ao engajamento cívico (Tabela 3):

Outro ponto ressaltado por Benkler (2006) são aspossibilidades de a Internet fomentar a discussão entreos cidadãos e a produção colaborativa. São classifica-dos nesta categoria os exemplos brasileiros quepromovem a opinião e a discussão dos usuários sobredeterminados assuntos previamente estabelecidos(como uma notícia sobre o governo) e os que estimulama produção colaborativa de conteúdo (Tabela 4).

Tabela 3: Iniciativas brasileiras que incentivam a criação de conteúdo pelo usuárioExperiência Objetivo

Adote um Vereador Projeto que incentiva os cidadãos a criarem um blog sobre o trabalho dos vereadores para aumentar atransparência e o controle sobre as suas ações.

Eleitor 2010 Plataforma que permitiu o envio de denúncias sobre irregularidades na campanha eleitoral ocorrida emoutubro de 2010.

Cidade Democrática Rede social que permite aos cidadãos que documentem e discutam os problemas na sua região e proponhamsoluções para estas questões.

Urbanias Plataforma que incentiva os usuários a reclamarem sobre os problemas na cidade. Além disso, eles enviamos problemas dos usuários para os órgãos competentes.

Movimento Super Ação Evento que surgiu com a proposta de reivindicar a pauta das pessoas com deficiência e de seus direitos.O site permite o cadastramento para criação de perfil e conteúdo sobre a temática.

Viva Favela Moradores de favela são convidados a criar o conteúdo da revista on-line Viva Favela através de textos, fotose vídeos, dentre outros recursos.

Criticar BH Cidadãos podem criticar problemas de Belo Horizonte (capital do Estado de Minas Gerais), como os serviçospúblicos, por exemplo, através do Twitter.

Bovap Sistema de negociação on-line de valores políticos com a lógica do mercado financeiro. Quem negocia osvalores dos políticos são os próprios usuários.

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Grupos que não fazem parte dos meios de comu-nicação de massa também podem criar conteúdo edisponibilizá-los on-line para informar os demaisusuários. São os sites que produzem conteúdo parafornecer dados e esclarecimentos aos cidadãos sempermitir que os mesmos possam também disponi-bilizar informações. Na teoria de Benkler (2006),representam as possibilidades de os cidadãos aces-sarem conteúdos que não sejam exclusivos dos meiosde comunicação de massa (Tabela 5).

Benkler (2006) também analisou as ferramentasda web que podem ser usadas pela sociedade civil.Todos os projetos divulgados na rede “Webcidadania”utilizam várias ferramentas, como Twitter, Facebook,

Wikis ou e-mail, dentre outras. Normalmente, elesempregam mais de uma ferramenta. Todos possuemcontas de e-mail e Twitter. Isso permite o aumentode canais para participação, o que pode atrair dife-rentes cidadãos que preferem determinadas ferra-mentas, por exemplo. Quanto à participação volun-tária nesses projetos, que é uma das característicasbásicas da ideia de participação sem objetivar o lucro,proposta por Benkler (2006), algumas experiênciasadotam este modelo – por exemplo, os projetos“Adote um Vereador” e “Políticos” são mantidos porvoluntários. Já o “Vote na Web” e o “Cidade Demo-crática” possuem suporte institucional da Webcitizen(empresa) e o Instituto Seva (organização não gover-

Tabela 4: Iniciativas brasileiras que incentivam a discussão e a colaboração, dentre outras possibilidadesExperiência Objetivo

Transparência Hack Day Grupo on-line composto por jornalistas, desenvolvedores de tecnologia e estudantes, dentre outrosinteressados, que discute ações para promover a transparência da Administração Pública e criar aplicativosem colaboração para a ampliação dessa transparência.

Vote na Web Site em que os projetos de lei são reproduzidos de uma maneira mais simples e objetiva para incentivar oscidadãos a participarem das atividades diárias do Congresso. Os usuários registrados podem interagir como cenário político votando simbolicamente contra ou a favor do projeto de lei e podem comentar suaopinião sobre o projeto em questão.

Políticos Ferramenta que agrega todos os políticos que possuem conta no microblog Twitter.

10 perguntas Iniciativa que permitiu que os cidadãos questionassem os candidatos à Presidência da República nas eleiçõesde outubro de 2010.

Tabela 5: Iniciativas brasileiras que disponibilizam informaçõesExperiência Objetivo

Congresso em Foco Site jornalístico que faz uma cobertura analítica, independente e crítica do Congresso Nacional e dos principaisfatos políticos da capital federal. Seu objetivo central é auxiliar o leitor a acompanhar o desempenho dosrepresentantes eleitos, contribuindo assim para melhorar a qualidade da representação política no País.

SAC SP Espaço que agrega dados governamentais sobre as reclamações dos munícipes recebidas pela Prefeitura deSão Paulo, dividindo-as por região, tipos de queixas, órgãos, número de reclamações e período de recebimento.

Voto Consciente Site que publica conteúdos e campanhas para fortalecer a participação política.

Ficha Limpa Site lançado após a implementação da Lei Ficha Limpa nas últimas eleições para monitorar os candidatos àseleições de outubro de 2010. Os nomes dos candidatos “ficha suja” e “ficha limpa” são disponibilizados nosite.

Voto Aberto Movimento da sociedade civil, que tem como objetivo pôr fim ao voto secreto na Câmara Federal e noSenado. Informa sobre a posição dos congressistas nos projetos de lei.

Políticos Ferramenta que agrega todos os políticos que possuem conta no microblog Twitter.

Rede Jovem Iniciativa de promoção da participação social e cidadã da juventude através do acesso às novas tecnologias dacomunicação e informação, especialmente a Internet e o celular.

Movimento Boa Praça Iniciativa que informa e mobiliza as pessoas para que revitalizem, ocupem e exijam que os parques nascidades funcionem como o uso originalmente previsto desses espaços: um lugar de encontro e lazer.

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namental), respectivamente. Ou seja, além de as pes-soas voluntariamente participarem dos projetos, quercomentando, quer recebendo informações dessescanais, os próprios canais foram construídos, em suamaioria, por cidadãos sem interesses comerciais ouorganizações sem fins lucrativos. Dentre as caracte-rísticas propostas por Benkler (2006) na esfera públicainterconectada, encontram-se, nos casos brasileiros,algumas explicitadas nos itens abaixo.

• Experiências produzidas em colaboração com osmais diversos cidadãos que desejem participar.Por exemplo, as pessoas se cadastram se quise-rem no site “Cidade Democrática” para proporsoluções e debater os problemas das cidades(TECHNOLOGY FOR TRANSPARENCY, 2010).

• Espaços abertos de vigilância do setor públicoque não se caracterizam apenas pela opiniãodos criadores do site, mas também pela disponi-bilização dos arquivos públicos que dão aoportunidade de o cidadão analisar por si mesmoos dados apresentados. O “Congresso Aberto”e o “Vote na Web” oferecem acesso aos dadospúblicos do Congresso Nacional em formatosmais acessíveis e também disponibilizam as suasfontes (TECHNOLOGY FOR TRANSPARENCY, 2010).

• Os cidadãos, normalmente, podem apresentaropiniões e agregar novas informações ao site.O espaço disponível no site “Cidade Democrá-tica” permite so cidadão, por exemplo, criar de-mandas para o setor público (TECHNOLOGY FOR

TRANSPARENCY, 2010).

• A inexistência de uma hierarquização entre oscidadãos. Por exemplo, os participantes doprojeto “Adote um Vereador” sequer gostam deser chamados de grupo organizado. Eles se veemcomo cidadãos que, por dever cívico, acham quedevem realizar o controle social para tentargarantir políticos mais honestos nos cargos eleti-vos através da publicidade sobre os vereadoresadotados (TECHNOLOGY FOR TRANSPARENCY, 2010).

No conceito de esfera pública proposto por Ben-kler (2006), os cidadãos têm possibilidades, por si sóou juntamente com outros, de utilizar as tecnologiasda informação e comunicação para debater, inves-tigar ou disponibilizar informações referentes ao

interesse público. Os casos brasileiros objetivam essaspossibilidades. Todas as experiências têm comopropósito controlar e promover a transparência daAdministração Pública, além de expor opiniões doscidadãos sobre os negócios públicos. Entretanto, osexemplos brasileiros, apesar do seu potencial, aindaapresentam poucos impactos no âmbito de mudançasnas relações entre governo e sociedade civil. Osexemplos mais relevantes são oriundos do projeto“Cidade Democrática”. O movimento “Voto Cons-ciente Jundiaí” utilizou esta rede social para convocaros munícipes a construírem uma agenda cidadã on-line com propostas para o poder público municipal.O debate realizado na plataforma “Cidade Democrá-tica” culminou no documento que foi entregue àsautoridades públicas. Dentre os resultados obtidospor este debate, estão as seguintes ações: umaemenda de 200 mil reais para construção de cicloviasde um deputado da região; um plano diretor paradesenhar ciclovias para a cidade; a mudança dohorário das audiências públicas (de 9h para 19h); e ofim das votações secretas na Câmara de Vereadores(TECHNOLOGY FOR TRANSPARENCY, 2010).

As questões levantadas aqui – e nos estudos decaso aprofundados na pesquisa da rede – não sãoproblemas apenas tecnológicos, mas também políti-cos. A Internet, como qualquer outra tecnologia, nãopode ser considerada desconectada do processosocial e político em que ela opera. Entretanto, nãose descaracteriza o potencial da Internet de pro-mover a participação política, mas tenta-se “atacar”as dificuldades oriundas das problemáticas sociais,da falta de participação e da ausência de capacidadetecnológica adequada. Por exemplo, o “Adote umVereador” criou um site para explicar como usar asferramentas da web, como blogs para escrever sobreo vereador, e o “Cidade Democrática” criou um cursopara incentivar e ensinar os cidadãos a criarem umacausa e influenciarem as ações públicas (TECHNOLOGY

FOR TRANSPARENCY, 2010). Apesar de ser um otimista,Benkler (2006) não dissociou a plataforma tecnológicana esfera pública do conteúdo e de seu uso peloscidadãos. Logicamente, é essencial para essa esferapública a função com base no conteúdo e na cadên-cia, isto é, não na plataforma tecnológica em si. As-sim, ele também concordou com os autores que dis-correm sobre a ideia de que há superações políticasalém das tecnológicas.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das mudanças apresentadas pela intro-dução das novas TICs, também emerge a necessidadede um novo conceito de esfera pública (SILVA, 2010).Como contribuição teórica, o artigo destaca e sepropõe a testar o conceito de uma esfera públicarelacionada ao uso das novas tecnologias, que per-mita aos cidadãos a participação na esfera públicaativamente através da criação de blogs, páginas naweb etc., gerando com isso algum tipo de impactona sociedade. A Internet abre um espaço para que ocidadão possa investigar, debater e controlar aAdministração Pública. Para Benkler (2006), a esferapública democratiza, pois permite a ação individuale colaborativa entre cidadãos como jamais visto. Por-tanto, a grande modificação da economia informa-cional em rede é possibilitar que o cidadão não sejapassivo na busca pela informação, mas possa parti-cipar da construção da mesma: “(...) a rede permiteque todos os cidadãos mudem sua relação com aesfera pública. Eles já não precisam ser consumidorese espectadores passivos. Eles podem se tornar criado-res e fontes primárias dos assuntos” (BENKLER, 2006).

O artigo analisou casos brasileiros que parecemdemonstrar o alinhamento com as característicaspropostas por Benkler (2006): caracterizar-se por seruma atuação voluntária; permitir a participação dequalquer cidadão; disponibilizar os documentos paraanálise do cidadão; e não ser uma ação hierarquizada.Apesar de não ter sido feita nenhuma abordagemdireta das equipes dos sites analisados, entrevistasrealizadas pela Rede Technology for Transparency(TECHNOLOGY FOR TRANSPARENCY, 2010) com seis expe-

riências no Brasil mostraram que ainda há uma sériede dificuldades para que essas experiências atinjamo máximo de seu potencial, algo que exige a mobi-lização cidadã também no mundo real.

A importância de Benkler (2006) para a análisedessas novas possibilidades que a Internet promovepara aumentar a participação pública é que esteautor, diferentemente da grande maioria que divideos estudos da esfera pública em pessimistas e oti-mistas e mantém a discussão acerca das possibili-dades e potencialidades das TICs com vistas à parti-cipação cidadã, expôs uma teoria sobre essas possi-bilidades, em que levou em conta uma nova formade produção. Uma produção, especialmente deinformação, em que os cidadãos, de maneira indivi-dualizada ou de modo colaborativo, podem agir efe-tivamente na esfera pública com maior acesso, de-vido à disseminação, ao barateamento e às fun-cionalidades presentes nas TICs.

Diversos outros estudos podem ser desenvolvidospara complementar o que está apresentado nesteartigo. O presente trabalho baseou-se apenas na ob-servação estruturada do site “Webcidadania”, semfazer qualquer contato com seus organizadores, o quepoderia ser feito para analisar as dificuldades de suaimplantação e operação, além de checar o possívelalinhamento consciente com os princípios da esferapública interconectada de Benkler. O próprio conceitode esfera pública virtual merece uma discussão maisampla, de sorte que as definições e característicasapontadas neste artigo podem ser aprofundadas eavaliadas em outros tipos de sites que tenham algumarelação com o conceito de cidadania pela web.

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