IDENTIDADE DE GÊNERO PLENA: UMA PROPOSTA DE RESSIGNIFICAÇÃO DO CONCEITO DE MULHER PARA O DIREITO

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www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depósito legal: 2005-5822 1 Derecho y Cambio Social IDENTIDADE DE GÊNERO PLENA: UMA PROPOSTA DE RESSIGNIFICAÇÃO DO CONCEITO DE MULHER PARA O DIREITO André Porto 1 Andrea dos Santos Nascimento 2 Jorge Luis Windler 3 Júlio César Pompeu 4 Raphael de Angelo Jogaib Bomfim 5 Fecha de publicación: 01/07/2015 SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Violência, violência doméstica e familiar contra a mulher e violência de gênero. 3. Qual mulher sou eu? Qual mulher é você? Quais mulheres somos nós? 4. O reconhecimento brasileiro dos direitos de todos e todas à igualdade, independentemente de sua orientação sexual e identidade de gênero. 5. O compromisso brasileiro de combater a violência contra a mulher. 6. O Direito, suas significações e a 1 Aluno de graduação do curso de Direito da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). [email protected] 2 Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Professora Substituta do Departamento de Psicologia Social e Desenvolvimento da UFES. Professora da Faculdade Multivix. [email protected] 3 Aluno de graduação do curso de Direito da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). [email protected] 4 Doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professor de Ética e Teoria do Estado do Departamento de Direito da Universidade Federal do Espírito Santo. [email protected] 5 Aluno de graduação do curso de Direito da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). [email protected]

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Derecho y Cambio Social

IDENTIDADE DE GÊNERO PLENA:

UMA PROPOSTA DE

RESSIGNIFICAÇÃO DO CONCEITO DE MULHER

PARA O DIREITO

André Porto1

Andrea dos Santos Nascimento2

Jorge Luis Windler3

Júlio César Pompeu4

Raphael de Angelo Jogaib Bomfim5

Fecha de publicación: 01/07/2015

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Violência, violência doméstica e

familiar contra a mulher e violência de gênero. 3. Qual mulher

sou eu? Qual mulher é você? Quais mulheres somos nós? 4. O

reconhecimento brasileiro dos direitos de todos e todas à

igualdade, independentemente de sua orientação sexual e

identidade de gênero. 5. O compromisso brasileiro de combater

a violência contra a mulher. 6. O Direito, suas significações e a

1 Aluno de graduação do curso de Direito da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

[email protected]

2 Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Professora

Substituta do Departamento de Psicologia Social e Desenvolvimento da UFES. Professora da

Faculdade Multivix. [email protected]

3 Aluno de graduação do curso de Direito da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

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4 Doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professor de Ética e

Teoria do Estado do Departamento de Direito da Universidade Federal do Espírito Santo.

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5 Aluno de graduação do curso de Direito da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

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jurisprudência 7. Considerações finais 8. Referências

bibliográficas.

RESUMO:

O Brasil é signatário de todos os acordos internacionais que

asseguram de forma direta ou indireta os direitos humanos das

mulheres bem como a eliminação de todas as formas de

discriminação e violência baseadas no gênero. Além disso, tem

contribuído para o reconhecimento internacional dos direitos de

todos e todas à igualdade, independentemente de sua orientação

sexual e identidade de gênero. Dissonante a essas afirmações,

encontra-se a realidade de milhares de mulheres biológicas,

travestis e transexuais que sofrem, diariamente, algum tipo de

violência, seja a doméstica e familiar, seja a negação estatal de

exercício pleno de suas identidades de gênero, como ocorrido na

cidade de Vitória/ES, onde uma mulher transexual, ao procurar

atendimento em uma Delegacia Especializada de Atendimento à

Mulher, teve seu acolhimento negado. Se há um descompasso

entre as demandas sociais e as legislações, pois essas estão

relativamente “obsoletas” em relação ao dinamismo das

sociedades, promover uma revisão de conceitos apresenta-se

como uma possível alternativa em estabelecer um equilíbrio

entre o “dever-ser” (Direito) e o “ser” (realidade social), a

exemplo das diversas mudanças nas significações do instituto

“família” ocorridas no direito brasileiro. A partir de um

importante diálogo entre o Direito, suas leis, pesquisadores e

jurisprudência, e a Psicologia no seu saber sobre violência, sexo,

gênero e sexualidade (desejo), discute-se, sem a pretensão de

encerrar o assunto, mas sim para introduzi-lo, o conceito de

mulher e sua possível ressignificação no Direito, acreditando-se

na possibilidade de promoção de uma verdadeira justiça social.

Palavras-chave: Violência. Identidade de gênero. Direitos

humanos. Lei Maria da Penha.

COMPLETE GENDER IDENTITY: A

RESSIGNIFICATION PROPOSAL ABOUT THE

CONCEPT OF WOMAN IN LAW

ABSTRACT

Brazil is signer to all international agreements that provide

directly or indirectly human rights to women and the foreclosure

of all sorts of discrimination and violence based on gender.

Moreover, Brazil has contributed to the international recognition

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of the rights of all people to equality, regardless of their sexual

orientation and gender identity. Dissonant to these assertions lies

the reality of thousands of biological women, transvestites and

transsexuals who suffer daily many sorts of violence in their

house, families or by the state denial of full exercise of their

gender identities, as occurred in Vitória/ES, where a transgender

woman, seeking care in a specialized Police Service to Women,

had her order denied. If there is a mismatch between social

demands and the law, because there are relatively "outdated"

compared to social, to foster a review of concepts is itself a

possible alternative to equalize the balance between "should be"

(law) and "being" (social reality), such as the various changes in

the meanings of the institute "family" occurred in Brazilian law.

From an important dialogue between law, jurisprudence and

researchers, and psychology in their knowledge about violence,

sex, gender and sexuality (desire), it is argued, without intending

to finish this debate, but to introducing it, the concept of a

woman and her possible ressignification by the law, believing in

the possibility to foster a true social justice.

Key words: Violence. Gender identity. Human Rights. Law

Maria da Penha.

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1. INTRODUÇÃO

A luta por direitos perpassa praticamente toda a história da humanidade.

Esses direitos variam de acordo com as sociedades em que se encontram,

sendo o resultado de suas transformações, de novas necessidades sociais,

declínio e ascensão de paradigmas, como também de uma releitura de seus

princípios e seus valores morais.

No entanto, excetuando-se as situações de revolução, há certo atraso

entre as demandas sociais e as legislações, geralmente atrasadas em relação

ao dinamismo das sociedades porque apesar da diversidade de interesses e

valores característicos de qualquer sociedade complexa, tanto a produção

legislativa quanto a jurisprudência encontram-se nas mãos de grupos

sociais específicos cujos valores e interesses nem sempre coincidem com

os dos demais segmentos dessa mesma sociedade. No caso brasileiro, o

ordenamento jurídico é falho ao defender os direitos daqueles considerados

hipossuficientes nas relações jurídicas, em prover tutela abrangendo a

diversidade de identidades que compõe grande parte das sociedades

contemporâneas.

Entre as alterações ocorridas no ordenamento jurídico brasileiro, ao

longo de sua história, buscando uma adequação da lei à realidade social,

está a progressiva conquista de direitos pela mulher. A luta histórica pela

plena emancipação e plena igualdade social da mulher tem como objetivo

eliminar do imaginário social representações machistas, impeditivo

simbólico da assunção pelas mulheres do papel de protagonistas de sua

própria vida. Essa luta causou significativas mudanças no direito brasileiro

como a consolidação do direito ao voto sem restrições em 1934 (Pereira;

Daniel, 2009); em 1962, a sanção da lei 4.121, conhecida como o Estatuto

da Mulher Casada que garantia, entre outros direitos, que a mulher não

precisaria mais pedir autorização ao marido para poder trabalhar, receber

herança e no caso de separação poderia solicitar a guarda dos filhos

(Miranda, 2013); tendo como o ápice dessas conquistas a Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988 que em seu artigo 5º, inciso I,

proclamou a total igualdade de gênero no ordenamento jurídico brasileiro,

tornando não recepcionadas pela nova ordem constitucional todas as

normas que estabeleciam diferenças de direitos entre homens e mulheres ao

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afirmar que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”

(Brasil, 1998, sp).

Porém, se por um lado houve profundas mudanças formais no mundo

do “dever-ser”, a realidade social da mulher no Brasil ainda está muito

longe de ser aquela descrita na Carta Magna nacional, principalmente

quando se verificam os números de mulheres que sofrem algum tipo de

violência relacionada ao gênero. Conforme apresentado no relatório da

pesquisa do Instituto Avon/Data Popular – “Percepções dos homens sobre a

violência doméstica contra a mulher” (2013), a cada quatro minutos uma

mulher é vítima de agressão no Brasil e a cada uma hora e meia ocorre um

feminicídio, morte de mulher por conflito de gênero.

Na tentativa de uma maior proteção à mulher e combater esse tipo de

violência destacam-se duas ações vigentes: a primeira foi a instituição das

Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM), sendo que

no Espírito Santo ocorreu por meio do Decreto nº 2.170-N, de 24 de

outubro de 1985. De acordo com o Portal do Governo do Espírito Santo6,

“o ato de criação da DEAM 7 , no ES, foi baseado na preocupação do

governo Estadual em oferecer atendimento específico à classe feminina

vítima de violência, que em muitas oportunidades não procurava uma

unidade de polícia judiciária para denunciar seus agressores por se sentirem

constrangidas”. A segunda foi a criação, em 2006, da lei federal nº 11.340,

conhecida como lei Maria da Penha – LMP – reconhecida pela

Organização das Nações Unidas (ONU) como uma das três melhores

legislações do mundo no enfrentamento à violência contra as mulheres8.

Essa lei foi editada com o objetivo expresso de criar mecanismos para

coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher,

definindo conceitos importantes como as modalidades de violência e

gerando uma sistematização dos mecanismos de prevenção e punição da

violência no ambiente familiar ou em qualquer relação íntima de afeto

6 Disponível em: <http://www.es.gov.br/Cidadao/paginas/mulher_delegacia_direitos.aspx>.

Acesso em: 21 jul. 2014.

7 De acordo com a Lei Complementar n° 756 de 27 de dezembro de 2013 da Assembleia

Legislativa do estado do ES que “dispõe sobre a divisão das circunscrições da Polícia Civil do

Estado do Espírito Santo e dá outras providências”, fazem parte da estrutura da referida polícia:

as Delegacias Especializadas de Homicídio Contra a Mulher, os Distritos Policiais de

Atendimento à Mulher, os Plantões Especiais da Mulher, e as Delegacias de Polícia de

Atendimento à Mulher.

8 Sítio Compromisso e Atitude. Disponível em:

<http://www.compromissoeatitude.org.br/sobre/legislacao-sobre-violencia-contra-as-mulheres-

no-brasil/>. Acesso em: 24 jul. 2014.

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contra a mulher, baseado na igualdade material preconizada pela

Constituição.

O texto do Decreto nº 2.170-N e a redação da LMP são claros no

sujeito tutelado, ou seja, a mulher, ainda que o Art. 44 da Lei inclua os

parágrafos 9° e 11° ao Art. 129 do Código Penal, agravando as penas para

crimes de lesão corporal não somente contra a mulher, mas a todos aqueles

que se valem de relações domésticas ou da convivência para praticá-la. No

entanto, surgem dúvidas quanto aos casos concretos que são apresentados

na realidade social cotidiana, considerando-se, para fins desse trabalho,

como principal pergunta a ser respondida qual o conceito de mulher a que

se referem aquelas legislações, pois não há a definição expressa em seus

dispositivos legais.

Tal indagação, motivação principal deste trabalho, surgiu a partir do

caso concreto de uma mulher transexual que teve atendimento negado em

uma Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) na cidade

de Vitória, ES, pelo fato de seu registro civil ainda constar o seu sexo

biológico masculino, embora já tivesse realizado a cirurgia de

transgenitalização.

Como consequência desse questionamento, outros surgem. As

mulheres transexuais e as mulheres travestis podem ser protegidas pelas

mesmas ações que as mulheres biológicas ao se encontrarem em situações

de violência de gênero? Essa tutela estaria condicionada à cirurgia de

redesignação genital? A formalidade documental pode ser mitigada em face

da dignidade da pessoa humana?

2. VIOLÊNCIA, VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR

CONTRA A MULHER E VIOLÊNCIA DE GÊNERO

O conceito de violência pode ser definido, segundo Strey (2004, p.14)

como sendo “qualquer comportamento que vise a satisfação própria em

detrimento de outra pessoa”. Isto é, qualquer comportamento que intente

em satisfazer a vontade própria contrariamente a vontade alheia é

considerado violência. Essa característica, conforme Souza (2004, p.58),

representa o caráter anti-humano da violência, pois não é aquela exercida

contra a natureza (caráter humano da violência), mas “se dirige contra

outros homens, não contra seus corpos apenas, mas contra o seu existir

social”.

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A violência doméstica e familiar contra a mulher pode ser entendida,

conforme o artigo 5º da LMP qualquer ação ou omissão baseada no gênero

que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano

moral ou patrimonial no âmbito da unidade doméstica, no âmbito da

família ou em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva

ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Essa lei, também determina em seu artigo 7º que são formas de

violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras a violência

física, a violência psicológica, a violência sexual, a violência patrimonial e

a violência moral.

Sobre violência de gênero Strey (2004, p.13) afirma que “incide,

abrange e acontece sobre/com as pessoas em função do gênero ao qual

pertencem. Isto é, a violência acontece porque alguém é homem ou

mulher”. Contudo, o conceito de violência de gênero a ser adotado nesse

trabalho é o apresentado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), sendo a

violência sofrida pelo fato de se ser mulher, sem distinção de raça, classe

social, religião, idade ou qualquer outra condição, produto de um sistema

social que subordina o sexo feminino9.

3. QUAL MULHER SOU EU? QUAL MULHER É VOCÊ? QUAIS

MULHERES SOMOS NÓS?

Vaitsman afirma que “A crise da família e do casamento modernos foi

provocada pelo abalo de seus fundamentos: a divisão sexual do trabalho e a

dicotomia entre público e privado atribuída segundo o gênero” (Vaitsman,

2001, p.16), onde o espaço público era ocupado pelos homens e o privado,

restrito ao seio familiar, ocupado pelas mulheres.

Com o avançar das sociedades, e a busca de direitos para as

mulheres, a igualdade sexual fez despontar as fragilidades da antiga

configuração familiar. O matrimônio alicerçado no amor singular do

outrora romantismo burguês cede lugar ao dinamismo das relações da

sociedade contemporânea. Com isso, a tradicional formatação de família e

sua imobilidade ou falta dela foi levada para um novo patamar em que não

mais se enfrenta um casamento para a “vida toda”, um relacionamento

baseado apenas no amor romântico à moda moderna (Vaitsman, 2001).

9 Formas de violência contra a mulher. Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/programas-de-a-

a-z/pj-lei-maria-da-penha/formas-de-violencia>. Acesso em: 22 jul. 2014.

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Todo esse dinamismo social resultou em uma crise do papel

masculino na sociedade, em que um homem oitocentista comedido nas suas

emoções, viril, forte, másculo, dá lugar a um homem mais dinâmico, que

também possui características outrora somente femininas, saindo de um

caráter mais rígido para uma definição mais ampla do que é ser homem e

como ser homem.

Segundo Silva,

A crise da masculinidade contemporânea se configura a partir de

um conflito identitário vivido pelo homem. No nosso entender,

esse conflito se constitui a partir de dois momentos distintos:

primeiro, a partir da tentativa de se manter um modelo de

identidade de gênero hegemônico e, ao mesmo tempo, pluralista,

ora baseado em modelos tradicionais ora em modelos modernos

de masculinidade, e segundo, a partir da impossibilidade de

sustentar essa hegemonia no que se refere às subjetividades da

maioria dos homens (Silva, 2006, p.121).

Ainda segundo o autor, esse novo homem estaria pautado na

possibilidade de demonstrar seus sentimentos, de expressar-se

emocionalmente sem se constranger, de realizar tarefas domésticas, de

participar da educação dos filhos, de assumir posições que pertenciam

somente às mulheres numa sociedade moderna burguesa.

Dentro dessa crise, libertam-se das amarras aquelas pessoas que não

se identificam com o binarismo homem/mulher, masculino/feminino. Não

supre mais, para a nossa sociedade contemporânea, apenas um parâmetro

biológico e anatômico para definir a identidade de uma pessoa – se nasceu

com pênis é homem, se não, é mulher. Não existe mais uma definição

estática, mas dinâmica de acordo com as necessidades e anseios sociais

atuais.

Consequentemente, se anteriormente havia uma suposta ordem

compulsória natural entre sexo, gênero e sexualidade (desejo), atualmente

pode-se afirmar que não há.

Jesus afirma que o

sexo é biológico, gênero é social, construído pelas diferentes

culturas. E o gênero vai além do sexo: o que importa, na definição

do que é ser homem ou mulher, não são os cromossomos ou a

conformação genital, mas a autopercepção e a forma como a

pessoa se expressa socialmente. Se adotamos ou não

determinados modelos e papeis de gênero, isso pode independer

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de nossos órgãos genitais, dos cromossomos ou de alguns níveis

hormonais (Jesus , 2012, p.8).

Butler aponta seus estudos na mesma direção de forma a defender

que a distinção entre sexo e gênero atende à tese de que, por mais que

o sexo pareça intratável em termos biológicos, o gênero é

culturalmente construído: consequentemente, não é nem o

resultado causal do sexo, nem tampouco tão aparentemente fixo

quanto ao sexo (Butler, 2003, p.24).

Para essa pesquisadora, supor um binarismo de gênero, masculino e

feminino, seria correlacioná-lo, implicitamente ao sexo, não havendo razão

para supor que os gêneros também devam permanecer em número de dois.

Na legislação brasileira encontra-se definido gênero apenas como

masculino e feminino. O direito Alemão, por exemplo, contempla um

terceiro gênero (indefinido) para ser utilizado em certos casos previstos em

sua legislação e, na Austrália, um caso de uma pessoa que não se identifica

com o gênero masculino e feminino, decidindo-se por um gênero neutro,

foi reconhecido pela justiça australiana, conforme noticiado pela BBC

Brasil em seu sítio eletrônico10.

Quanto ao desejo, no exercício da sexualidade, pode ser

compreendido como

as práticas erótico-sexuais nas quais as pessoas se envolvem, bem

como pelo desejo e atração que leva a sua expressão (ou não)

através de determinadas práticas. Esse dado também é chamado

por alguns/as de “orientação sexual”, e comumente classifica as

pessoas em “heterossexuais”, “homossexuais” e “bissexuais”

(Musskopf, 2008, sp).

Diante da pluralidade de possibilidades de sujeitos ao se “combinar”

sexo, gênero e desejo, faz-se necessária uma identificação do conceito de

mulher a ser adotado nesse estudo.

É importante esclarecer que a escolha realizada e nomenclatura

adotada foram meramente didáticas, a fim de proporcionar um melhor

entendimento a respeito dos indivíduos objetos desse trabalho,

problematizando-os. Em nenhum momento objetivou-se categorizar os

10 Alemanha cria “terceiro gênero” para registro de recém-nascidos. Disponível em:

<http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/08/130820_alemanha_terceirosexo_dg.shtml>.

Acesso em: 22 jul. 2014.

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tipos de mulher, muito menos sugerir uma qualificação (ou distinção) onde

se pudesse deduzir que uma seria melhor (ou “mais” mulher) que a outra.

A partir desse corte metodológico tem-se: a mulher como conceito já

culturalmente construído a partir da ciência biológica, ou seja, aquela

identificada pela genitália de nascimento (vagina) e por seus cromossomos

(xx). A mulher travesti, que para fins desta discussão será entendida como

aquela que irá alterar (definitivamente ou provisoriamente) o seu corpo,

suas vestimentas e seu comportamento social de forma a obter

características representadas socialmente como do universo feminino e

mesmo ser identificada visualmente como uma mulher. Desta forma a

travesti é aquela que

promove modificações nas formas de seu corpo visando deixá-lo

o mais parecido possível com o das mulheres; vestem-se e vivem

cotidianamente como pessoas pertencentes ao gênero feminino

sem, no entanto, desejar explicitamente recorrer a cirurgia de

transgenitalização para retirar o pênis (Benedetti apud Carrieri,

Souza & Aguiar, 2013, p. 81).

Já as mulheres transexuais são aquelas que abandonam o sexo

original (pênis) e realizam a cirurgia de transgenitalização, são

as que nascem em um sexo, mas que se identificam como

membro do sexo oposto, tomam hormônios e submetem-se a

intervenções cirúrgicas para remodelar a genitália (Namaste apud

Carrieri, Souza & Aguiar, 2013, p. 81). As mulheres transexuais

reivindicam a cirurgia de mudança de sexo como condição sine

qua non da sua transformação, sem a qual permaneceriam em

sofrimento e desajuste subjetivo e social (Benedetti apud Carrieri;

Souza; Aguiar, 2013, p. 81).

Outra consideração importante a se fazer é que, nesse trabalho,

desconsiderou-se o desejo/sexualidade das mulheres, sejam as biológicas,

as travestis ou as transexuais, uma vez que não é objetivo desse estudo

relacionar o desejo sexual à questão da mulher. O que está sendo discutido

é a LMP e a possibilidade de sua aplicabilidade para os casos de violência

doméstica e ou familiar, independente da genitália, tal como se observa no

parágrafo único do artigo 5º da LMP, “as relações pessoais enunciadas

neste artigo independem de orientação sexual” (Brasil, 1998, sp).

A discussão sobre o tema não se pode restringir a conceitos somente,

mas principalmente na inclusão desses grupos na sociedade de forma geral,

na quebra de preconceitos e na liberdade das pessoas viverem sem anular

sua individualidade em favorecimento de uma falsa tranquilidade com o

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ambiente social a sua volta. O tema só será extinto quando a violência não

mais for algo já internalizado e que se perpetua culturalmente através das

gerações como a imposição do forte sobre o fraco, do rico sobre o pobre,

do homem sobre a mulher, do masculino sobre o feminino e o respeito ao

outro for algo “natural”.

Por fim, intencionando-se consubstanciar a discussão, transcreve-se

o discurso extraído de uma publicação da página de internet “Travesti

Reflexiva”11 (2014) onde, a administradora do sítio, ao ser questionada se

já havia mudado de sexo, responde:

Muita gente me pergunta: "Sofia, você já mudou de sexo?" Pra

sanar as dúvidas... Eu já mudei de sexo. Na realidade, terceiros

mudaram o meu sexo no dia que eu nasci, eu não fui consultada.

Nasci menina, mas me designaram menino. Ocorreu uma série de

mudanças de sexo nesse dia, primeiro teve a verbal, o médico

comunicou que eu era um menino por causa de um pênis... E com

isso, teve a mental, os meus pais construíram uma teia de

significados masculinos após essa notícia. Depois teve a escrita,

algum funcionário anotou que eu era um menino... Alguns dias

depois, teve a institucional, a receita federal me intitulou "Sexo:

Masculino" e com tudo isso, eu havia sofrido a minha primeira

metamorfose compulsória logo no primeiro mês de vida. Se

alguém tivesse esperado pra me perguntar, eu não teria dito "Sou

menino". Só eu poderia responder essa pergunta.

4. O RECONHECIMENTO BRASILEIRO DOS DIREITOS DE

TODOS E TODAS À IGUALDADE, INDEPENDENTEMENTE

DE SUA ORIENTAÇÃO SEXUAL E IDENTIDADE DE

GÊNERO

O Ministro Antonio de Aguiar Patriota, em seu discurso no ano de 2013,

durante o lançamento do Sistema Nacional de Promoção de Direitos e

Enfrentamento à Violência contra Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e

Transgêneros declarou que “de forma consistente, o Brasil tem contribuído

para o reconhecimento internacional dos direitos de todos e todas à

igualdade, independentemente de sua orientação sexual e identidade de

gênero”, conforme transcrito no sítio do Ministério das Relações

Exteriores12. No seu pronunciamento, também relacionou diversas ações

11 Disponível em: <https://www.facebook.com/TReflexiva?fref=ts>. Acesso em: 20 jul. 2014.

12 Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/discursos-artigos-entrevistas-

e-outras-comunicacoes/ministro-estado-relacoes-exteriores/discurso-do-ministro-antonio-de-

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que endossavam sua afirmação como a proposta realizada pelo Brasil, em

2003, à antiga Comissão de Direitos Humanos da ONU de uma resolução

sobre o tema, então intitulada "Direitos Humanos e Orientação Sexual".

Que em 2008, durante as comemorações do 60º Aniversário da Declaração

Universal dos Direitos Humanos, o Brasil, junto com outros 66 países,

apresentou ao plenário da Assembleia Geral da ONU a "Declaração sobre

Direitos Humanos, Orientação Sexual e Identidade de Gênero" e entre

outras atuações, copatrocinou a resolução 17/19, intitulada Human rights,

sexual orientation and gender identity aprovada durante a durante a 17ª

Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU no ano de 2011.

Além dessas ações, citou que em 2007, Brasil, Argentina e Uruguai,

juntamente com organizações da sociedade civil, promoveram o

lançamento, na sede das Nações Unidas, dos Princípios de Yogyakarta. A

partir da crença da integralidade que todos os seres humanos nascem livres

e iguais em dignidade e direitos, mas que grande parte desses direitos ainda

são violados, e dentro desse rol de violações destacam-se os abusos e as

discriminações sofridas em decorrência da orientação sexual e identidade

de gênero, a fim de sanar, ou pelo menos minimizar essas violações, surgiu

um movimento internacional que buscou junto às legislações

internacionais, princípios, projetos e programas voltados à equivalência de

direitos com atenção voltada à diversidade de orientações e identidades

sexuais. O constatado foi o grande atraso dos países em relação a esse

tema, quase a totalidade das nações não apresentava sequer estudos ou

estatísticas específicas, e as que apresentavam uma atenção especial,

apresentavam-na de forma desconexa.

Com o propósito de enfrentar as deficiências encontradas, um grupo

de especialistas em direitos humanos, sem a participação de Estados, cria

em 2006 uma série de princípios – os Princípios de Yogyakarta. Em suma,

são 29 princípios vinculantes que tratam de um amplo espectro de normas

de direitos humanos e de sua aplicação a questões de orientação sexual e

identidade de gênero que devem ser seguidas por todas as nações.

Diante do rol de direitos prescritos no documento, destacam-se:

Princípio 1: Direito ao gozo universal dos direitos humanos.

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e

direitos. Os seres humanos de todas as orientações sexuais e

identidades de gênero têm o direito de desfrutar plenamente de

aguiar-patriota-durante-o-lancamento-do-sistema-nacional-de-promocao-de-direitos-e-

enfrentamento-a-violencia-contra-lesbicas-gays-bissexuais-travestis-e-transgeneros>. Acesso

em: 22 jul. 2014.

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todos os direitos humanos. Princípio 2: Direito à igualdade e a

não-discriminação. Todas as pessoas têm o direito de desfrutar

de todos os direitos humanos livres de discriminação por sua

orientação sexual ou identidade de gênero. Todos e todas têm

direito à igualdade perante à lei e à proteção da lei sem qualquer

discriminação, seja ou não também afetado o gozo de outro

direito humano. A lei deve proibir qualquer dessas discriminações

e garantir a todas as pessoas proteção igual e eficaz contra

qualquer uma dessas discriminações. A discriminação com base

na orientação sexual ou identidade gênero inclui qualquer

distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada na orientação

sexual ou identidade de gênero que tenha o objetivos ou efeito de

anular ou prejudicar a igualdade perante à lei ou proteção igual da

lei, ou o reconhecimento, gozo ou exercício, em base igualitária,

de todos os direitos humanos e das liberdades fundamentais.

Princípio 5: Direito à segurança pessoal. Toda pessoa,

independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero,

tem o direito à segurança pessoal e proteção do Estado contra a

violência ou dano corporal, infligido por funcionários

governamentais ou qualquer indivíduo ou grupo.

A partir dos Princípios de Yogyakarta, o caso concreto, motivador

desse estudo, apresenta-se como um verdadeiro fato violador do documento

em que o Brasil é signatário. A recusa do atendimento à mulher transexual

na DEAM vai de encontro a todos os esforços empenhados na consolidação

do direito individual à identidade de gênero, compreendida como

a profundamente sentida experiência interna e individual do

gênero de cada pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo

atribuído no nascimento, incluindo o senso pessoal do corpo (que

pode envolver, por livre escolha, modificação da aparência ou

função corporal por meios médicos, cirúrgicos ou outros) e outras

expressões de gênero, inclusive vestimenta, modo de falar e

maneirismos (Princípios de Yogyakarta, 2006, p.7).

A mulher transexual que relatou13 sua experiência encontrou-se, no

mínimo, em duas situações de violência. A primeira, aquela cujo autor foi

seu companheiro – a violência doméstica; a segunda pelo Estado, que por

meio de seu agente público, não a reconheceu como mulher e negou-lhe

atendimento na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher.

13 Relato realizado durante evento na faculdade MULTIVIX na cidade de Vitória em 2014.

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5. O COMPROMISSO BRASILEIRO DE COMBATER A

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Conforme a publicação “Instrumentos Internacionais de Direitos das

Mulheres” da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (2006, p.9),

o Brasil é signatário de todos os acordos internacionais que asseguram de

forma direta ou indireta os direitos humanos das mulheres bem como a

eliminação de todas as formas de discriminação e violência baseadas no

gênero. Desses, destacam-se a Convenção sobre a Eliminação de todas as

Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW, 1979), a Convenção

Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a

Mulher (Convenção de Belém do Pará, 1994), a Declaração de Pequim

(1995) e a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento

(CIPD), mais conhecida como Conferência do Cairo (1994).

Entre as ações governamentais direcionadas a combater a violência

contra a mulher, uma das primeiras foi a criação das Delegacias

Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM’s), ainda na década de

1980. “Foi criada com o objetivo de assegurar atendimento digno à

população feminina, vítima de violência doméstica e familiar. O serviço é

oferecido por meio das atividades de investigação, prevenção e repressão

aos delitos praticados contra a mulher”, conforme apresentado no sítio

Portal do Governo do Estado do Espírito Santo14. Porém, os números da

violência, desde o início de suas atividades até a atualidade, demonstram

que seu objetivo, até então, não foi alcançado.

Em 2006, tem-se outro importante marco brasileiro no combate à

violência contra a mulher, a edição da LMP, que

cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar

contra a mulher, nos termos do § 8o do artigo 226 da Constituição

Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de

Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana

para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher;

dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e

Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o

Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências

(Brasil, 2006).

A partir das determinações da LMP, alguns instrumentos foram

reestruturados e outros foram criados compondo a Rede de Atendimento às

14 Disponível em: <http://www.es.gov.br/Cidadao/paginas/mulher_delegacia_direitos.aspx>.

Acesso em: 21 jul. 2014.

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Mulheres em Situação de Violência que reúne ações e serviços das áreas da

assistência social, justiça, segurança pública e saúde, integrando a Rede de

Enfrentamento, ao contemplar o eixo de assistência previsto na Política

Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres. Entre as

instituições e serviços cadastrados estão: Delegacias Especializadas de

Atendimento à Mulher (DEAMs); Centros de Referência de Atendimento à

Mulher (CRAMs); Casas Abrigo; Centros de Referência da Assistência

Social (CRAS); Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a

Mulher; Órgãos da Defensoria Pública; Serviços de Saúde Especializados

para o Atendimento dos Casos de Violência Contra a Mulher.

Dentre aqueles que foram reestruturados, encontram-se as DEAM’S.

Conforme apresentado no sítio Compromisso e Atitude, objetivando uma

atualização do atendimento nas DEAM’s com o determinado pela LMP, o

governo federal revisou, em 2010, a Norma Técnica de Padronização das

Delegacias Especializadas de Atendimento às Mulheres (DEAMs)15,

reforçando a importância destes equipamentos como espaços

públicos para enfrentamento da violência contra a mulher e

atualiza o seu funcionamento, conforme determina a referida lei e

os tratados e convenções internacionais dos quais o Estado

brasileiro é signatário, entre os quais a Convenção sobre a

Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher

(CEDAW, 1979) e a Convenção Interamericana para Prevenir,

Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de

Belém do Pará, 1994).

No Brasil, nos 30 anos decorridos entre 1980 e 2010, foram

assassinadas no país acima de 92 mil mulheres, 43,7 mil só na última

década (2000-2010). O número de mortes nesse período passou de 1.353

para 4.465, que representa um aumento de 230%, mais que triplicando o

quantitativo de mulheres vítimas de assassinato no país, posicionando o

Brasil, entre 84 países, em 7º colocado no ranking de feminicídios de

acordo com o Mapa da Violência 2012 (Waiselfisz, 2012).

O relatório da pesquisa “Instituto Avon/Data Popular – Percepções

dos homens sobre a violência doméstica contra a mulher de 2013” aponta

que, desde a sanção da LMP, a Central de Atendimento à Mulher atendeu

três milhões de denúncias, mas estima-se que mais de 13 milhões e 500 mil

brasileiras já sofreram algum tipo de agressão de um homem, sendo que

15 Norma Técnica de Padronização das Delegacias Especializadas de Atendimento às Mulheres.

Disponível em: <http://www.compromissoeatitude.org.br/norma-tecnica-de-padronizacao-das-

delegacias-especializadas-de-atendimento-as-mulheres/?print=1>. Acesso em: 22 jul. 2014.

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31% destas mulheres ainda convivem com o agressor e 14% continuam a

sofrer violências. Isso significa que 700 mil brasileiras são alvo de

agressões cotidianamente.

É importante destacar que esses valores representam a violência

sofrida pelas mulheres “biológicas”, não sendo encontradas estatísticas

sobre essa forma de agressão contra as mulheres travestis e as mulheres

transexuais. Identifica-se, assim, outra violência a que as mulheres travestis

e transexuais são submetidas, negando-lhes, inclusive, a visibilidade

necessária para que medidas específicas e efetivas sejam tomadas para

promover a sua proteção.

Uma vez que o Brasil promove, até internacionalmente, o

reconhecimento da identidade de gênero, deve garantir, prioritariamente,

que suas instituições e seus agentes públicos sejam ativos promotores, na

realidade social, desse preceito, sendo contraditória e violadora de direitos

qualquer recusa de tutela, que normalmente é concedida às mulheres

biológicas, às mulheres travestis e transexuais, seja o atendimento nas

DEAM’s, nos Centros de Referência de Atendimento à Mulher, o amparo

pela LMP, a possibilidade de acolhimento nas Casas Abrigo ou qualquer

outro mecanismos de proteção existente.

A realização plena do direito à identidade de gênero pressupõe o

exercício de todos os direitos e deveres relacionados não apenas ao

indivíduo, mas também ao gênero que se identifica. Sempre que houver no

ordenamento jurídico especificidades relacionadas ao gênero, essas devem

alcançar todos e todas que se sentem pertencentes aquele gênero.

6. O DIREITO, SUAS SIGNIFICAÇÕES E A JURISPRUDÊNCIA

Em uma leitura da Constituição da República Federativa do Brasil, ou de

qualquer outro texto legal nacional onde se encontra a palavra “mulher”,

será constatado que, em momento algum, será encontrado sua

definição/conceito. É certo que, historicamente, foi consolidada a

significação da mulher biológica, mas isso não se traduz na certeza que

essa seja a única possível ou que atenda, plenamente, às necessidades da

sociedade contemporânea nacional.

Se, por um lado, o Direito pode ser um instrumento de manutenção

do status quo, é urgente que ele, cada vez mais, seja um instrumento de

transformação social, de construção da autonomia e cidadania da sociedade

como um todo, principalmente, daqueles em situação de vulnerabilidade

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social (Montoro apud Rocha, 2012), promovendo, verdadeiramente, uma

justiça social. E, é esse contexto um dos que possibilita sua mudança, seja

por meio do processo legislativo (edição e revogação de leis), seja através

do poder judiciário (sentenças, acórdãos, súmulas vinculantes, decisões

interpretativas, entre outros).

Essa expressão do Direito pode ser verificada, entre tantas outras, nas

ressignificações ocorridas nos conceitos de família, ao longo da história

brasileira, buscando uma adequação do mundo do dever-ser à realidade

social. Se família já foi compreendida apenas como o núcleo formado a

partir do casamento (em um primeiro momento apenas o religioso,

posteriormente aceito o civil) monogâmico entre homem e mulher e seus

filhos “legítimos”, a Constituição da República Federativa do Brasil de

1988 trouxe mais dois novos modelos de família: a união estável e a

monoparental. Em 2011, o Superior Tribunal Federal, ao reconhecer a

união estável homoafetiva nos julgamentos da Ação Direta de

Inconstitucionalidade nº 4277 e da Arguição de Descumprimento de

Preceito Fundamental nº 132, introduziu no Direito outro modelo de

família, estendendo a essas relações a mesma proteção destinada à união

estável prevista no artigo 226, §3º da Constituição da República Federativa

do Brasil, e no artigo 1723 do Código Civil (Miranda, 2011), sendo uma

das sustentações do Ministro Ricardo Lewandowski em seu voto que “a

união homoafetiva estável no tempo e pública é hoje uma realidade, tanto

que, no último senso, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) apurou a existência de 60 mil casais em união homoafetiva no

Brasil”, conforme o Supremo Tribunal Federal16. O referido argumento

baseia-se, inegavelmente, na constante necessidade de atualização do

Direito em face às novas demandas sociais. Cabe ressaltar que o exemplo

citado não é exceção, essa dinâmica é característica essencial do Direito,

possibilitando sua renovação e sua manutenção ao longo do tempo.

As referidas decisões, devido à natureza das ações e à competência

legal do tribunal que as julgou, foram proferidas com eficácia vinculante à

Administração Pública e aos demais órgãos do Poder Judiciário. Decisão

semelhante ainda se aguarda do Supremo Tribunal Federal garantindo

igualdade de direitos e deveres a todas as mulheres, independente de serem

biológicas, mulheres transexuais ou mulheres travestis.

16 Ministro Ricardo Lewandowski inclui união homoafetiva no conceito de família. Disponível

em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=178876>. Acesso

em: 23 jul. 2014.

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Entretanto, uma jurisprudência começa a se formar, mesmo que de

forma modesta, como se pode constatar no julgamento do processo nº

201103873908, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Anápolis, Tribunal de

Justiça do Estado de Goiás, onde a juíza Ana Cláudia Veloso Magalhães,

em 2011, proferiu favorável a aplicação da LMP no caso de Alexandre

Roberto Kley vítima de violência doméstica, que embora fizera a cirurgia

de mudança de sexo há mais de 17 anos, ainda mantinha seu nome de

nascimento. Segundo a juíza, tal condição não a excluiria da proteção

decorrente da LMP. Durante toda a sentença a juíza enfatizou o fato de a

vítima ser reconhecida perante a sociedade como mulher, e se sentir como

tal. Conclui afirmando:

A mulher Alexandre Roberto Kley, independentemente de sua

classe social, de sua raça, de sua orientação sexual, renda, cultura,

nível educacional, idade e religião, goza dos direitos

fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas

as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar

sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual

e social17 (Magalhães, 2011, p.10).

Identifica-se uma grande semelhança entre esse caso e o ocorrido na

cidade de Vitória (ES), mas com resultados completamente diferentes. Em

ambos, embora as mulheres agredidas tivessem realizado a “mudança de

sexo”, ainda constavam no documento civil o nome e o sexo registrados no

nascimento. No fato julgado em Anápolis, devido a sua profunda percepção

sobre a atual realidade social e os fins a que se destina o Direito, a juíza foi

capaz de tomar medidas efetivas que contemplassem tanto o

reconhecimento da identidade de gênero quanto a proteção à mulher

agredida. Em Vitória (ES), ao negar atendimento à mulher transexual na

DEAM o agente público foi, em realidade, autor de nova violência àquela

cidadã.

Recentemente, em 2013, com base no entendimento que

[...] a identificação sexual é um estado mental que preexiste à

nova forma física resultante da cirurgia. Não permitir a mudança

registral de sexo com base em uma condicionante meramente

cirúrgica equivale a prender a liberdade desejada pelo transexual

às amarras de uma lógica formal que não permite a realização

17 Decisão do processo nº 201103873908. 1ª Vara Criminal da Comarca de Anápolis. Tribunal

de Justiça do Estado de Goiás. Disponível em: <http://s.conjur.com.br/dl/homologacao-

flagrante-resolucao-cnj.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2014.

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daquele como ser humano [...]18 (17ª Câmara Cível do Tribunal de

Justiça do Rio de Janeiro, 2013, p.10),

a 17ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro reformou a

sentença do juízo de primeiro grau e, por unanimidade, deu provimento ao

recurso da autora que requeria autorização para alterar seu nome civil e

adotar o sexo feminino, independentemente de realização de cirurgia de

transgenitalização uma vez que optou por não realizá-la devido os riscos

envolvidos no procedimento. Segundo o relator do acórdão,

Desembargador Edson Aguiar de Vasconcelos,

não permitir a mudança de sexo no registro civil com base em

condicionante meramente cirúrgica equivale a prender nas

amarras de uma lógica formal a liberdade que clama o transexual

de ser e de realizar-se como ser humano, constituindo mais um

obstáculo a que o indivíduo venha a ser o que sempre foi, sendo

ainda uma resistência ao convite ético feito pelo poeta grego

Píndaro: “torna-te o que já és, aprendendo com a experiência da

vida” 19 (17ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de

Janeiro, 2013, p.1).

Também sobre a temática, tramita no Superior Tribunal de Justiça a

Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4275 ajuizada pela Procuradoria

Geral da República em 2009 visando

a que seja proferida decisão de interpretação conforme a

Constituição do art. 58 da Lei 6.015/7320, na redação que lhe foi

conferida pela Lei 9.708/98, reconhecendo o direito dos

transexuais, que assim o desejarem, à substituição de prenome e

sexo no registro civil, independentemente da cirurgia de

transgenitalização21.

18 Acórdão da Apelação Cível nº 0013986-23.2013.8.19.0208. Décima Sétima Câmara Cível.

Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Disponível em:

<http://s.conjur.com.br/dl/alteracao-nome-nao-condicionada-mudanca.pdf>. Acesso em: 24 jul.

2014.

19 Acórdão da Apelação Cível nº 0013986-23.2013.8.19.0208. Décima Sétima Câmara Cível.

Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Disponível em:

<http://s.conjur.com.br/dl/alteracao-nome-nao-condicionada-mudanca.pdf>. Acesso em: 24 jul.

2014.

20 Dispõe sobre os registros públicos, e dá outras providências.

21 ADI 4275. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/>. Acesso em: 24 jul. 2014.

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Na seara do Direito Penal, o Projeto de Lei do Senado nº 236 de

201222, que intenciona reformar o Código Penal Brasileiro, prevê a inclusão

da identidade de gênero em vários dispositivos, como no artigo 121 que

prevê o crime de homicídio, inserindo na forma qualificada (§1º, inciso I)

se o crime for cometido por preconceito de identidade de gênero.

Embora de forma lenta, mudanças podem ser observadas no Direito.

Deve ser recorrente a afirmação que nunca bastará, como direito do

indivíduo à identidade de gênero, apenas a alteração de seu registro civil

para ser “reconhecida formalmente” como mulher. A diretriz 7, do

Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) 23 estabelece a

“Garantia dos Direitos Humanos de forma universal, indivisível e

interdependente, assegurando a cidadania plena”. A plena cidadania,

princípio fundamental da Carta Magna, das mulheres travestis e das

mulheres transexuais somente será realizada quando elas forem

reconhecidas, apenas, como mulheres, e puderem assumir todas as

obrigações e usufruir todos os direitos que o ordenamento jurídico

brasileiro reserva às mulheres.

Torna-se imperioso, portanto, diante da ausência de uma restrição

literal do texto ao conceito de mulher (visto que em nenhum momento se

aborda o aspecto biológico), bem como visando a atender a finalidade

social a que o Direito se destina – como assevera Karl Larenz (1997,

p.531), a teleologia da lei deve ser considerada em sentido amplo,

abarcando os propósitos e as decisões conscientemente tomadas pelo

legislador, bem como os fins objetivos do Direito e princípios jurídicos

gerais – cabe à comunidade jurídica promover a ressignificação de seus

conceitos, em especial o conceito de mulher que se impõe na realidade

social contemporânea.

22 Disponível em: <http://www12.senado.gov.br/noticias/Arquivos/2013/08/veja-a-integra-do-

relatorio>. Acesso em 24 jul. 2014.

23 O terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) foi instituído pelo Decreto nº

7.037, de 21 de Dezembro de 2009 e Atualizado pelo Decreto nº 7.177, de 12 de maio de 2010.

“O PNDH-3 representa um verdadeiro roteiro para seguirmos consolidando os alicerces desse

edifício democrático: diálogo permanente entre Estado e sociedade civil; transparência em todas

as esferas de governo; primazia dos Direitos Humanos nas políticas internas e nas relações

internacionais; caráter laico do Estado; fortalecimento do pacto federativo; universalidade,

indivisibilidade e interdependência dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e

ambientais; opção clara pelo desenvolvimento sustentável; respeito à diversidade; combate às

desigualdades; erradicação da fome e da extrema pobreza”. Disponível em: < http://portal.mj.gov.br/sedh/pndh3/pndh3.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2014.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As sociedades e suas legislações não evoluem na mesma velocidade. O

Direito sempre está e (provavelmente) estará atrasado em relação ao

dinamismo social como uma consequência dele ser o produto de uma

comunidade específica (a dos juristas e daqueles que podem de alguma

maneira influenciá-los) e não de toda a sociedade (Bourdieu, 1986).

O caso inicialmente relatado, embora viole, entre tantos outros, o

princípio basilar constitucional da dignidade da pessoa humana, ainda não

pode ser considerado como uma exceção, mas reproduz, essencialmente, o

comportamento diário de agentes públicos no atendimento às mulheres que

não correspondem ao “modelo padrão biológico”, como também pode ser

observado na maioria dos julgados24 relacionados ao tema. Corroborando

este fato, o relatório de Santos e Pompeu (2014) baseado em pesquisa

etnográfica em delegacias de atendimento à mulher da Grande Vitória

aponta que o não atendimento de mulheres que se enquadrem no “padrão

biológico” é uma regra nos procedimentos policiais. Ademais, o mesmo

relatório aponta que mesmo algumas mulheres que não se enquadram no

“perfil” da “boa mãe” ou da “mulher direita” de família também são muitas

vezes desestimuladas a noticiar crimes dos quais são vítimas.

O presente escrito não pretende esgotar o assunto, mas fomentar a

discussão sobre crise das referências tradicionais, no caso desse trabalho,

sobre identidade de gênero. Promover o reconhecimento da identidade de

gênero, mas negar seu pleno exercício é sujeitar à violência,

cotidianamente, não apenas as mulheres travestis e as mulheres transexuais,

mas todos aqueles e aquelas que fazem parte do seu convívio.

Se, ao longo de sua existência, o Direito não tem se demonstrado

propulsor de grandes mudanças sociais, faz-se necessário, atualmente, que

seus operadores busquem mecanismos para diminuir a lacuna entre a

realidade social apresentada e o direito positivado nos códigos,

contribuindo com uma reconstrução da dogmática jurídica e possibilitando

o Direito assumir, definitivamente, a sua função de promoção, mais do que

24 A Diretriz 17 – Promoção de sistema de justiça mais acessível, ágil e efetivo, para o

conhecimento, a garantia e a defesa dos direitos do Programa Nacional de Direitos Humanos

(PNDH-3), recomenda ao Poder Judiciário, entre outras ações programáticas, “a promoção de

cursos regulares de formação dos servidores da Justiça em Direitos Humanos, com recortes de

gênero e raça, que contemplem as demandas específicas dos segmentos sociais em situação de

vulnerabilidade ou historicamente vulnerabilizados”. Disponível em: <

http://portal.mj.gov.br/sedh/pndh3/pndh3.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2014.

www.derechoycambiosocial.com │ ISSN: 2224-4131 │ Depósito legal: 2005-5822 22

a de sanção. A interpretação dos dispositivos infraconstitucionais [e

inclusive da própria Constituição, pelo STF] “norteada” pelos conteúdos

sociais, objetivos, valores e princípios constitucionais faz do Direito um

instrumento de verdadeira transformação da realidade social (Radaelli,

2008, p.68).

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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