Leonor de Habsburgo, a terceira mulher de D. Manuel

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III CONGRESSO HISTÓRICO DE GUIMARÃES ■ ■ ■ D. MANUEL E A SUA ÉPOCA

Leonor de Habsburgo, a terceira mulherde D. Manuel

porPaulo Drumond Braga

(Escola Superior de Educação de Almeida Garrett - Lisboa)

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III CONGRESSO HISTÓRICO DE GUIMARÃES D. MANUEL E A SUA EPOCA

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LEONOR DE HABSBURGO, A TERCEIRA MULHER DE D. MANUEL

Leonor de Habsburgo, a terceira mulher de D. Manuel, nasceu em Lovaina, a 15 de Novembro de 1498. Era a filha mais velha de Filipe, o «Formoso», soberano dos Países Baixos e, mais tarde, rei de Castela, e de Joana, a «Louca», rainha de Castela e de Aragão. Por via paterna, era neta do im perador Maximiliano I e, por via materna, de Fernando de Aragão e Isabel de Castela, os «Reis Católicos». Leonor foi criada na Flandres, ali tendo vivido até aos 19 anos. Teve cinco irmãos, nascidos entre 1500 e 1505, Carlos, Isabel, Fernando, Maria e Catarina '. Sempre que o pai, a mãe, ou ambos, se ausentaram, por motivos políticos, para a Península Ibérica, Leonor permaneceu na Flandres.

Deslocou-se pela primeira vez a Castela e a Aragão em 1517, acompanhando seu irmão Carlos. Meses antes morrera o avô de ambos, Fernando, o «Católico», rei de Aragão e também regente de Castela, devido à alegada loucura de Joana. O filho desta, pressionado pelos seus conselheiros flamengos, assumiu o título de rei de Castela e Aragão, protagonizando um verdadeiro golpe de Estado, já que a mãe nunca fora oficialmente declarada incapaz, devendo limitar-se a governar como regente. Carlos deslocou-se então aos seus novos senhorios e, junto com Leonor, visitou Joana, a «Louca», que não via desde 1504, e a irm ã mais nova, Catarina, que nunca tinha conhecido 2.

Alguns meses antes desta vinda à Península Ibérica, Leonor era descrita por D. Pedro de Mascarenhas, embaixador de D. Manuel junto da corte do futuro impe­rador Carlos V, da seguinte forma: «Madama lianor nom he muy fremosa nem lhe podem cham ar feea teem booa graça e bom despeyo e pareçe me de comdiçam bramda e avysada nom teem boons dentes e he pequena de corpo e pareçe o ajnda majs porque qua nom trazem chapyns que pasem d altura de dous dedos he gramde damçadeira e folgua de ho fazer» 3.

Por esses meses, algo se passou que veio a m arcar o destino da irmã mais velha do futuro imperador: o rei de Portugal, D. Manuel, projectava então realizar dois enlaces com a casa Habsburgo, em concreto, o do príncipe herdeiro de Portugal, futuro D. João III, com Leonor e o de sua filha mais velha, D. Isabel, com Carlos. Para isso, enviara já três embaixadas a Maximiliano 14. A morte da segunda mulher

O mais velho (1500-1558) foi rei de Castela e Aragão com o nome de Carlos I e sacro imperador romano germânico com o nome de Carlos V. Isabel (1501-1529) casou com Cristiano II, rei da Dinamarca. Fernando (1503-1564) sucedeu ao irmão como imperador, tendo sido anteriormente rei da Boémia e da Hungria. Maria (1505-1558) foi rainha da Boémia e da Hungria pelo seu casamento com Luís II. Final­mente, Catarina (1506-1578) desposou D. João III, rei de Portugal.

2 Para um enquadramento destas questões, cfr. Joseph Pérez, Carlos V Madrid, Temas de Hoy, 1999.3 Lisboa, A.N.T.T., Corpo Cronológico, parte I, maço 21, doc. 24.4 Damião de Góis, Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel, nova edição, conforme a l.a, de 1566,

parte IV, Coimbra, Universidade de Coimbra, 1955, pp. 1-2 e 82.

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de D. Manuel, a 7 de Março de 1517, fez com que o soberano optasse por m udar de planos: assim, em Outubro, enviou a Saragoça, como embaixador, Álvaro da Costa. A missão nada tinha, aparentemente, de estranha: visitar em nome do rei de Portugal o novo soberano da vizinha monarquia. Mas, secretamente, D. Manuel encarregara o seu enviado de contratar o seu próprio matrimónio, o terceiro, com D. Leonor, tendo a proposta sido aceite em Maio de 1518 5.

Quando se soube da novidade, estalou um conflito entre o rei de Portugal e o herdeiro do trono. Aquele chamou os filhos e demais cortesãos à sua presença, expli­cando-lhes as razões para um terceiro enlace, «de que todos ficaram satisfeitos, saluo ho Prinçipe, que nunqua disto mostrou ter gosto, nem contentamento» 6. Damião de Góis, Francisco de Andrada e Frei Luís de Sousa, compreenderam o cerne da questão: D. Manuel sabia como eram comuns os dissídios entre reis e príncipes herdeiros. Assim acontecera em Portugal no século XIV, entre D. Dinis e o futuro D. Afonso IV e entre este e o futuro D. Pedro I. Para além disso, não ignorava D. Ma­nuel as maquinações do filho e dos seus conselheiros. Assim, em caso de conflito aberto, o monarca de Castela e Aragão - força não despicienda e que, para além do mais, muitos intuíam já como o futuro imperador - apoiaria sempre o marido de sua irmã. Era, por isso, preferível que este fosse o rei de Portugal e não o príncipe herdeiro7. Os cronistas dizem, explicitamente, que alguns dos que rodeavam o futuro D. João III pretenderam colocá-lo contra o pai, sobrevalorizando o incidente. Entre eles, Luís da Silveira e D. António de Ataíde. Quanto ao primeiro, D. Manuel mandou que se afastasse da corte, situação que se manteve até à subida ao trono de D. João III. Francisco de Andrade refere ainda que, devido a este mal-estar, D. Manuel começou a preferir o filho segundo, o infante D. Luís, mas nunca o deixou transparecer em termos públicos 8. Parece evidente que o monarca receava a formação de uma liga de resistência à sua política, centrada na pessoa do príncipe herdeiro.

5 Gaspar Correia, Crónicas de D. Manuel e de D. João III (até 1533), leitura, introdução, notas e índice por José Pereira da Costa, [Lisboa], Academia das Ciências de Lisboa, 1992, pp. 125-132; Damião de Góis, Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel [...], parte IV, pp. 82-89; Francisco de Andrada, Crónica de D. João III, introdução e revisão de M. Lopes de Almeida, Porto, Lello & Irmão, 1976, pp. 9-12; Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III, com prefácio e notas de M. Rodrigues Lapa, vol. I, 2.a edição, Lisboa, Sá da Costa, 1951, pp. 23-27.

6 Damião de Góis, Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel [...], parte IV, p. 84.7 Damião de Góis, Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel [...], parte IV, p. 69; Francisco de Andrade,

Crónica de D. João III [...], p. 10; Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III [...], vol. I, p. 25. Não tem, por isso, qualquer cabimento a explicação avançada por Domingos Maurício, «João III (D.)», in Verbo. Enci­clopédia Luso-Brasileira de Cultura, vol. XI, Lisboa, Verbo, 1971, col. 599; «seria devido à princesa ter mais quatro anos que o príncipe». Podem, de facto, ser dados vários exemplos de princesas mais velhas do que os maridos; D. Isabel, filha dos Reis Católicos, cinco anos mais velha do que o marido, D. Afonso, filho de D. João II (casaram em 1490); D. Joana, filha de Carlos V, e D. João, filho de D. João III, dois anos (1552); Maria Tudor, rainha de Inglaterra e o futuro Filipe II de Espanha, 11 anos (1554); D. Catarina, neta de D. Manuel I, e D. João, duque de Bragança, três anos (1563); D. Maria, neta da anterior, e o príncipe de Parma, Alexandre Farnese, sete anos (1565); etc.

s Francisco de Andrada, Crónica de D. João III [...], pp. 11-12; Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III [...], vol. I, pp. 26-27.

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Entretanto, tudo se consumara. O contrato de casamento foi assinado em Sara­goça, a 22 de Maio, e confirmado por D. Manuel a 2 de Junho. Negociaram-no, pela parte portuguesa, Álvaro da Costa e pela castelhana, o cardeal Adriano de Utreque, futuro Papa Adriano VI, então inquisidor geral, Guillaume de Croy, senhor de Chiè- vres e Jean Sauvage, chanceler mor. O mesmo era altamente vantajoso para a noiva, pois além de estabelecer aquilo que era comum em situações idênticas, acrescentava algo da maior importância: o primogénito varão que nascesse do enlace receberia 800 mil dobras de ouro castelhanas, pagas quatro anos depois da morte do pai, desde que o infante tivesse já atingido 16 anos de idade, caso contrário, esperar-se-ía por tal, sem se descontar nada à quantia. Quanto às eventuais filhas, a mais velha rece­beria 400 mil dobras, pagas de forma idêntica à anteriormente exposta mas, se não houvesse varões, cada filha receberia apenas 200 mil dobras. Era um contrato típico de um segundo casamento real. Pelo mesmo contrato, Carlos I dava a sua irmã um dote 200 mil dobras de ouro castelhanas e uma renda anual vitalícia de 2 000 000 reais. D. Manuel, por seu turno, estabelecia, em arras, à sua nova mulher, a terça parte do dote, além de uma pensão anual de 15 mil dobras de ouro castelhanas, isto enquanto a rainha não pudesse ocupar as terras a que tinha direito e que ainda se achavam na posse da viúva de D. João II. Se o marido morresse antes da mulher, o dote seria devolvido num prazo de quatro anos 9.

A terceira m ulher de D. Manuel e nova rainha de Portugal atravessou a fronteira a 23 de Novembro de 1518. O monarca e o príncipe foram recebê-la ao Crato. A comi­tiva chegou, dias depois, a Almeirim, onde se achava a corte, prosseguindo as festas. Talvez só o príncipe herdeiro, embora não o demonstrando, é que não partilhava da alegria geral. Até em termos simbólicos, contrariou o ambiente geral. Em todas as cerimónias, D. Manuel e a corte vestiram-se à flamenga, como homenagem a D. Leonor. Apenas o futuro D. João III se apresentou em trajes portugueses ,0.

A irmã do futuro Carlos V não terá deixado de lam entar a troca de noivos. De facto, para a convencerem, haviam-lhe dito o pior possível do príncipe herdeiro. Frei Luís de Sousa conta uma anedota que ouviu a uma das damas da rainha: «A boa senhora, vendo o príncipe, como espantada do que lhe tinham dito e do que via por seus olhos, dizia para as damas com ironia e ao parecer não sem mágoa: Este es el bovo ? » 11

Acompanhando seu marido e toda a corte, D. Leonor começou por viver em Almerim, passou depois a Évora e, em Janeiro de 1521, a Lisboa. O casal teve dois filhos. O primogénito, Carlos, assim chamado, sem dúvida alguma, em homenagem

9 As Gavetas da Tone do Tombo, vol. VI, Lisboa, Centro de Estudos de Históricos Ultramarinos, 1967, pp. 660-671.

10 Damião de Góis, Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel [...], parte IV, p. 87; Gaspar Correia, Crónicas de D. Manuel e de D. João III [...], p. 126; Francisco de Andrada, Crónica de D. João III [...], p. 8; Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III [...], vol. I, p. 26.

11 Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III [...], vol. I, pp. 25-26. Sobre todos estes acontecimentos, veja-se ainda o meu livro D. João III, Lisboa, Hugin, 2002, pp. 43-45.

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ao poderoso tio materno 12, nasceu em Évora, a 18 de Fevereiro de 1520 e faleceu a 15 (ou a 16) de Abril do ano seguinte ,3. A 8 de Junho do mesmo ano de 1521, D. Leonor deu à luz D. Maria. Sabe-se que pretendeu chamar-lhe Joana, como sua mãe, mas o rei impôs a sua vontade 14. A infanta seria uma das mais cultas e ricas figuras femininas do século XVI, um verdadeiro exemplo de princesa do Renascimento I:>.

O casamento de D. Leonor durou apenas três anos. Assim sendo, pouco há a registar da sua actividade como rainha consorte de Portugal. A título de exemplo, recorde-se um documento publicado por Fonseca Benevides, datado de 10 de Novembro de 1519, em que a mulher de D. Manuel mandava que a câmara de Lisboa investisse Estêvão Pais no ofício de corrector I6.

A 13 de Dezembro de 1521, morreu D. Manuel. Nos seus últimos dias de vida não esqueceu D. Leonor. Assim, a 11, sentindo a morte próxima, aditara um codicilo ao seu testamento, ali recomendando ao sucessor particular cuidado com a rainha sua m adrasta 17. A 12, confessou-se e conversou largamente com a mulher. Esta, aliás, estivera desde a primeira hora na câm ara do moribundo, juntando-se-lhe, com frequência, a filha mais velha do monarca, D. Isabel, futura mulher de Carlos V. Ambas «vemdo o mall e tam anha falta que se lhe vynha chegamdo faziam cousas de tamto semtymento que parecyam molheres fora de syso» 18. A situação chegou a

12 Paulo Drumond Braga, «Apontamentos sobre a antroponímia da família real portuguesa (séculos XV e XVI)», Brigantia, vol. XV, n.° 2-3-4, Bragança, Abril-Dezembro de 1995, p. 51.

13 Damião de Góis, Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel [...], parte IV, p. 180; Relações de Pero de Alcáçova Carneiro, Conde da Idanha, do tempo que Êle e seu Pai, António Carneiro, serviram de Secretários (1515 a 1568), revistas e anotadas por Ernesto de Campos de Andrada, Lisboa, Imprensa Nacional, 1937, pp. 202 e 204.

14 Paulo Drumond Braga, «Apontamentos sobre a antroponímia [...]», p. 51.15 Damião de Góis, Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel [...], parte IV, p. 180; Relações de Pero de

Alcáçova Carneiro [...], pp. 204-205. Sobre esta infanta existem variadíssimos estudos, salientando-se os seguintes: Carolina Michaélis de Vasconcelos, A Infanta D. Maria de Portugal (1521-1577) e as suas Damas, edição fac-similada, prefácio de Américo da Costa Ramalho, Lisboa, Biblioteca Nacional, 1994; Joaquim Veríssimo Serrão, A Infanta Dona Mana (1521-1577) e a sua Fortuna no Sul da França, Lisboa, Álvaro Pinto, 1955; Américo da Costa Ramalho, «A infanta D. Maria e o seu tempo», in id., Para a História do Humanismo em Portugal, vol. I, Coimbra, Instituto Nacional de Investigação Científica, Universidade de Coimbra, Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos, 1988, pp. 87-103; António de Oliveira, «A infanta D. Maria e o senhorio de Viseu. Uma precisão cronológica», Revista Portuguesa de História, tomo XXVII, Coimbra, Universidade de Coimbra, Faculdade de Letras, Instituto de História Económica e Social, 1992, pp. 215-220; Carla Alferes Pinto, A Infanta Dona Maria de Portugal (1521-1577). O Mecenato de uma Princesa Renascentista, Lisboa, Fundação Oriente, 1998; Isabel M. R. Mendes Drumond B raga, Um Espaço, duas Monarquias (Interrelações na Península Ibérica no Tempo de Carlos V), Lisboa, Hugin, Universidade Nova de Lisboa, Centro de Estudos Históricos, 2001, pp. 223-243.

16 Francisco de Fonseca Benevides, Rainhas de Portugal. Estudo Historico, tomo I, Lisboa, Castro Irmão, 1878, p. 358.

17 As Gavetas da Torre do Tombo [...], vol. VI, pp. 133-137.Gaspar Correia, Crónicas de D. Manuel e de D. João III [...], pp. 161-162.18

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um ponto que o príncipe teve de m andar D. Leonor recolher à sua câmara, onde permaneceu junto da enteada l9.

Passadas as cerimónias fúnebres e as da entronização do novo monarca, D. João III, das quais a agora viúva de D. Manuel esteve ausente, conforme era habitual, foi visitada, a 26 de Dezembro, pelo novo rei. À noite, foi levada, bem como à infanta D. Isabel, ao mosteiro da Madre de Deus. Ali permaneceram ambas, ao passo que o monarca se transferia para Santos-o-Velho20. Quando D. João III saiu de Lisboa fugindo da peste, em Janeiro de 1523, Leonor acompanhou-o ao Barreiro e depois a Almeirim21.

Entretanto, Carlos V requeria o regresso a Castela da irmã dilecta, que o foi atrasando, conforme pode, fundamentalmente por duas razões: a primeira, porque D. João III se opunha à saída da infanta D. Maria, único fruto do enlace entre D. Manuel e D. Leonor; a segunda, porque estava convencida que o enteado, ainda solteiro, a viria a desposar. O novo monarca era, de facto, aconselhado, pelo duque de Bragança e pela câm ara de Lisboa, por exemplo, a não deixar sair nem a rainha viúva nem a infanta, bem como a desposar a primeira. Conseguir-se-ía, assim, não devolver o avultado dote de Leonor nem deixar que a grande fortuna a que D. Maria tinha direito pelo contrato de casamento de seus pais ficasse sob tutela de mãos estrangeiras.

E D. João III agiu nesse sentido. A ideia de casar com a m adrasta não seria do desagrado de nenhum a das partes interessadas e sabe-se que, em Janeiro de 1522, o rei de Portugal havia pedido a Carlos V a mão de uma das suas irmãs. Em Setembro, enviou Luís da Silveira ao imperador para apressar a celebração do consórcio. Em fins do ano, o César parecia ter concordado com o enlace de D. João III com D. Leonor e no mês seguinte já se falava no pedido da dispensa papal de parentesco. Em Fevereiro de 1523, o embaixador inglês em Castela, escrevia a Henrique VIII que «the king of Portugal is in great love with her» [D. Leonor] e um diplomata eslavo fazia eco do boato de que a rainha viúva estaria grávida do enteado. Em Março, um outro diplomata considerava altamente improvável a ida da viúva de D. Manuel para junto do irmão.

Contudo, a 15 de Junho, D. Leonor, constantemente pressionada pelo embai­xador de Carlos V, Cristobal Barroso, que foi ao seu encontro em Almeirim, saiu de Portugal, dirigindo-se a Medina del Campo, onde se achava o imperador. Ao que

19 Para o conhecimento dos pormenores relativos à morte de D. Manuel, cfr. Gaspar Correia, Crónicas de D. Manuel e de D. João III [...], pp. 159-169; Damião de Góis, Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel [...], parte IV, pp. 221-223; Relações de Pero de Alcáçova Carneiro [...], pp. 205-206; D. António Caetano de Sousa, Provas de História Genealógica da Casa Real Portuguesa, tomo II, I parte, Coimbra, Atlântida, 1947, pp. 383-384; Francisco de Andrada, Crónica de D. João III [...], pp. 13-14; Frei Luís de Sousa, Anais de D. João III, vol. I [...], pp. 28-29. Posso ainda referir um artigo que, há já alguns anos, redigi com Isabel M. R. Mendes Drumond Braga, «As duas mortes de D. Manuel: o rei e o homem», Pené- lope, n.° 14, Lisboa, 1994, pp. 11-22.

20 Gaspar Correia, Crónicas de D. Manuel e de D. João III [...], pp. 187-188.21 Anselmo Braamcamp Freire, Vida e Obras de Gil Vicente, «Trovador e Mestre da Balança», Porto,

Empresa Literária e Tipográfica, 1919, p. 128.

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parece, alguns dos que a acom panharam tinham a intenção de a reconduzir a Portugal. Em Abril e em Maio de 1524, D. João III voltou a insistir com as negocia­ções matrimoniais em Castela, enviando novos embaixadores. Por seu lado, Carlos V deu, em Julho, poderes a dois emissários, no mesmo sentido. O rei de Portugal explicou aos embaixadores que não fossem claros acerca de qual das irmãs do impe­rador desejava casar. E em Julho, assinou-se finalmente o contrato. D. João III matrimoniar-se-ía, não com D. Leonor, mas com D. Catarina, a irmã mais nova de Carlos V 22.

Tendo deixado Portugal com ideias de voltar, agora como mulher de D. João III, a verdade é que D. Leonor não mais regressaria. Teve, para além do mais, de deixar a sua única filha, D. Maria, aos cuidados do enteado que, mau grado o contrato do terceiro casamento de D. Manuel, não autorizou a saída. Com a infanta, que não viu crescer e que só reveria dias antes da morte, terá mantido contactos frequentes por via epistolar, tendo ficado para a posteridade uma missiva em latim que D. Maria enviou a sua mãe, reveladora dos seus progressos no estudo do idioma 23.

Embora nunca lhe tenha sido devolvido o dote, D. João III, pouco antes da sua partida, em Fevereiro de 1523, fizera-lhe mercê de metade do que rendesse a corre­tagem dos cavalos vendidos em G oa24. A viúva de D. Manuel continuou também a receber um assentamento em Portugal que era, em 1527, 5 450 000 reais, mais do que qualquer outra figura da casa real (por exemplo, a irmã, a rainha D. Catarina, recebia 4 000 000)25.

O casamento de D. João III com a irmã de Leonor colocou ainda outra questão: em termos de jurisdições territoriais, D. Catarina tinha direito àquelas que então ainda detinha a rainha D. Leonor, viúva de D. João II, e que deveriam, depois da morte desta, passar para a viúva de D. Manuel. A «rainha velha» faleceu ainda em 1525 e, três anos depois, as duas irmãs chegaram a acordo: Catarina ficaria com as terras em causa e Leonor passaria a gozar da tença que Carlos V pagava à primeira. As jurisdições reportavam-se à cidade de Silves e às vilas de Aldeia Galega, Aldeia Gavinha, Alenquer, Alvor, Faro, Óbidos e Sintra 26.

Em 1530, D. Leonor, que continuava a viver junto de Carlos V, casou com Fran­cisco I, rei de França, no âmbito de dois tratados de paz entre o im perador e o seu maior inimigo, os tratados de Madrid (1526) e de Cambrai (1529), que estabeleceram o enlace de Francisco I com a irmã do imperador e o do delfim de França, homónimo do rei, com a filha de Leonor, a infanta D. Maria, o qual nunca se veio a efectuar.

22 Para tudo isto, cfr. Isabel M. R. Mendes Drumond Braga, Um Espaço, duas Monarquias [...], pp. 37-46.

23 Princesas de Portugal. Contratos Matrimoniais dos Séculos XV e XVI, edição do texto latino e tradução de Aires A. Nascimento, Maria Filomena Andrade e Maria Teresa Rebelo da Silva, Lisboa, Cosmos, 1992, pp. 106-107.

24 As Gavetas da Tone do Tombo vol. XII, p. 488.25 João Cordeiro Pereira, «O orçamento do Estado português no ano de 1527», Nova História, n.° 1,

Lisboa, Estampa, Maio de 1984, p. 54.26 Isabel M. R. Mendes Drumond Braga, Um Espaço, duas Monarquias [...], pp. 43-44.

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Segundo confessou Carlos V depois da morte da irmã, esta é que desejou o enlace: «lo del casamiento del rey de Françia y lo de la dicha dotte, la Reyna lo quiso y tuvo por mejor que el de duque de Borbón que yo hauía trattado» 27.

Ficou estipulado que D. Leonor renunciaria a favor de Carlos V à legítima a que tinha direito das heranças de seus pais e avô paterno. O dote, que começou por ser de 200 mil escudos, foi depois elevado para 300. Embora o tratado de Madrid tivesse prescrito que D. Leonor receberia de Francisco I os condados de Masconnois e Auxerrois e o senhorio de Bar-su-Seine, na Borgonha, o de Cambrai anulou tal promessa. Mas a rainha ficou com direitos sobre Quercy, Agenais e Villefranche, o senescalado de Rouergue e as judicaturas de Rieux, Rivière, Verdun e Albigeois, todas no senescalado de Toulouse. Se enviuvasse, tinha direito à devolução do dote e a uma renda anual de 60 mil francos 28.

A 3 de Julho de 1530, Leonor encontrou-se com o seu segundo marido em Roquefort-de-Marsan. A 7, no mosteiro de Beyries, celebrou-se a cerimónia religiosa de recepção dos noivos. A 5 de Março do ano seguinte, foi coroada em Saint-Denis e dois dias depois entrou solenemente em P aris29.

Leonor não foi feliz no seu novo reino, onde apenas era apreciada pelo condes- tável Montmorency, que a definiu como «si belle est vertueuse dame». Já Francisco I, segundo relatava o embaixador de Henrique VIII em França, evitava partilhar o leito nupcial, fazendo-o apenas duas vezes por semana, isto quando não se afastava quatro ou cinco dias, para junto de alguma das amantes. Em público, Francisco I raramente dirigia a palavra à mulher e, nas festas ou banquetes, acabava sempre por ir para a mesa da sua amante oficial, Anne de Pisseleu. Esta, aliás, tornou-se cada vez mais importante na corte, tendo recebido, após a morte da rainha-mãe, Luísa de Sabóia, o encargo de dirigir a educação das filhas do monarca. Em 1534, foi feita duquesa de Étampes e o seu ascendente continuou até ao fim do reinado de Francisco 130.

Entretanto, enquanto rainha de França, D. Leonor continuou a m anter con- tactos com Portugal. D. João III, que lhe dera os parabéns pelo seu segundo casa­mento 31, recomendava sempre aos seus embaixadores que a visitassem e dela procurou servir-se como medianeira nos eternos conflitos entre Portugal e a França, motivados pelo corso e pela pirataria. Assim, por exemplo, em 1531, dizia o monarca a D. António de Ataíde: «Á Rainha, m inha madre, dares conta de tudo, asy como pasar, e asy de vosa vinda quando ouver de ser, dizemdolhe a rezam que tendes de vir descontente delRey, pelo modo que teve ê cousa tam justa e tam amiguavel-

27 Corpus Documental de Carlos V, edição crítica dirigida, prologada e anotada por Manuel Fernández Álvarez, vol. IV, Salamanca, Universidade de Salamanca, 1979, p. 409.

28 Joaquim Veríssimo Serrão, A Infanta Dona Maria [...], pp. 13-23.29 Robert J. Knecht, Un Prínce de la Renaissance. François I et son Royaume, tradução, [Paris],

Fayard, 1998, pp. 284-285.30 Robert J. Knecht, Un Prince de la Renaissance [...], pp. 285-286.

Relações de Pero de Alcáçova Carneiro [...], pp. 60-61.31

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mente Requerida»32. O rei de Portugal não deixou também de presentear a madrasta, prática extremamente comum na época entre os diferentes príncipes da Europa. Em data incerta, dizia a Honoré du Caix que enviaria «cousas da yndia pera madama», das «melhores que se acharem», «pella booa contade que eu tenho ha lhe comprazer em todas suas cousas» 33. Por seu lado, D. Leonor não deixava de fazer pedidos ao enteado, como aconteceu em data incerta, provavelmentes antes do matrimónio francês, em que lhe recomendava o seu antigo capelão mor, D. Manuel de Sousa, que entretanto passara para o serviço da nova rainha de Portugal34. Seriam também comuns as trocas de presentes com a sua família em Portugal. Assim acon­teceu em 1536, quando enviou a D. Catarina botões, pulseiras e pentes de ouro 3;).

Leonor enviuvou pela segunda vez em 1547 e novamente foi viver para junto de Carlos V, que então se achava na Flandres. Esteve presente num a das cerimónias de abdicação do imperador, concretamente, das Coroas de Castela e Aragão, que ocorreu em Bruxelas, a 16 de Janeiro de 1556. Mais tarde, em Setembro do mesmo ano, acompanhou-o quando definitivamente se mudou para Castela36.

Entretanto, não conseguiu obter a devolução do dote do seu segundo casamento, como não obtivera já a do primeiro. Como contrapartida, e também para cum prir a cláusula da renda anual de 60 mil francos, o seu enteado, Henrique II, novo rei de França, outorgou-lhe o domínio do ducado de Touraine e do condado de Poitou, incluindo neste último o condado de Civray. Manteve ainda todas as jurisdições que detinha por concessão de Francisco I. Em 1551 ou 1552, Henrique II tirou à m adrasta parte desses bens, como represália por Carlos V ter confiscado as terras que dera na região da Toscana e no reino de Nápoles a sua filha Margarida, casada com um príncipe Farnese, inesperadamente tornado aliado de França. Leonor tê-los- á conseguido reaver em 1556, após o tratado de Vaucelles 37.

Não cessaram, nesta fase da sua vida, os contactos com Portugal. Escrevendo de Bruxelas, a 17 de Maio de 1554, D. Leonor dizia a D. Catarina, sua irmã: «plaga a Nuestro Senor que guarde al nuevo prynsype que los a dado para que sea alguna parte de consuelo de tal perdyda» 38. Referia-se ao recém nascido D. Sebastião, cujo nascimento fora precedido, de alguns dias, pela morte do pai, o príncipe herdeiro, D. João, filho dos reis de Portugal.

Um caso que importa analisar com algum pormenor é o da infanta D. Maria, a única filha de Leonor. Já se viu que, quando D. Leonor deixou Portugal, em 1523,

’’2 Letters of John III King of Portugal. 1521-1557, texto português, publicado com uma introdução por J. B. M. Ford, Cambridge (Massachusetts), Harvard University Press, 1931, pp. 28-29.

33 Lisboa, A.N.T.T., Núcleo Antigo, n.° 871, doc. 81.34 Letters of the Court o f John III King o f Portugal, texto português, publicado com uma introdução

por J. D. M. Ford e L. G. Moffatt, Cambridge (Massachusetts), Harvard University Press, 1933, p. 168.35 Isabel Maria Ribeiro Mendes, «O 'deve' e o 'haver' da casa da rainha D. Catarina», Arquivos do

Centro Cultural Português, vol. XXVIII, Lisboa-Paris, Fundação Calouste Gulbenkian, 1990, pp. 190-191.36 Agustín Garcia S imón, El Ocaso del Emperador Carlos V en Yuste, Madrid, Nerea, 1995, pp. 37-39.37 Joaquim Veríssimo Serrào, A Infanta Dona Maria [...], pp. 23-31.38 As Gavetas da Torre do Tombo [...], vol. XI, p. 74.

III CONGRESSO HISTÓRICO DE GUIMARÃES D. MANUEL E A SUA ÉPOCA

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pretendeu levá-la consigo, mas D. João III não a autorizou a fazê-lo. O rei fez abortar alguns dos projectos de casamento da meia-irmã, que levaria a fortuna como dote, por exemplo, com príncipes da casa real francesa e da família Habsburgo, para não falar já da mera hipótese, ventilada mais do que uma vez, de Henrique VIII de Ingla­terra. Numa dessas ocasiões, a própria Leonor, pressionada por Carlos V, agiu contra a opinião de Francisco I, já que enviou um emissário secreto à filha, tentando neutra­lizar os efeitos da embaixada do rei de França (1542). D. João III acabou por concordar que D. Maria desposasse o futuro Filipe II de Espanha, quando este, viúvo de outra portuguesa, procurou segunda mulher no reino de seu tio e sogro. Mas a súbita morte de Eduardo VI, rei de Inglaterra, e a subida ao trono de sua irmã Maria Tudor, levou a que Carlos V tenha preferido casar o filho com esta, em vez da sua homónima portuguesa (1553).

Entretanto, mantinha-se o braço de ferro entre o imperador e sua irmã, por um lado, e D. João III, por outro, para deixar sair a infanta de Portugal. O monarca não hesitou em m andar dizer a Leonor que «viese ela por algum tempo para omde ela [a infanta] esta poys he para terra de que ja foy rainha e senhora e em que agora tem por rei dela hum filho e servidor e hua irma por rainha». Mais tarde, escreveu pala­vras magoadas a Filipe II: «nam poso deixar de me espantar muito querer ela [Leonor] que a infante minha irmã que eu atte gora criey como filha própria e a que tenho o mesmo am or aja de sayr de m inha casa se nam como sempre foy costume sayrem as filhas dela. Nem vejo como posa ver honrra da infamte e minha deixar esta criaçam e o am or com que he tratada de mim e servida e acatada de meus vassalos e naturays pera em tal idade prim cipiar hua vida tam diferente em tudo em tam desacostumada dela e da sua natureza». Em Abril de 1557, D. João III acabou por concordar com a ida da infanta para junto de D. Leonor, mas a partida definitiva transformou-se, com a morte do monarca, em simples entrevista. D. Maria avistou-se com a mãe e com a tia materna, a rainha Maria da Hungria, em Badajoz, nos primeiros dias de 1558, regressando depois a Portugal39.

D. Leonor redigiu o seu primeiro testamento em Bruxelas, a 10 de Agosto de 1556, aditando-lhe, no mesmo dia, um codicilo. Três dias antes de morrer, em Tala- veruela, ditou um segundo codicilo. Por estes documentos, instituía como herdeira única a filha, D. Maria e, caso esta morresse antes, Carlos V e sua descendência. No primeiro codicilo estabeleceu vários legados a pessoas da sua casa e a antigos criados. Dois irmãos foram designados como executores das últimas vontades, o próprio imperador e Maria da Hungria. No codicilo de 1558, a rainha dizia-se já «apretada desta enfermidad»40.

A morte de Leonor sobreveio, em Talaveruela, a 18 de Fevereiro de 1558. A rainha, acabada a entrevista com a filha, dirigia-se para Guadalajara. Mas, sen­tindo-se mal, decidiu parar em Talaveruela. A sua morte causou vivo desgosto a Carlos V que escreveu: «lo qual senti quanto es razón, por el grande y particular amor

39 Isabel M. R. Mendes Drumond B raga, Um Espaço, duas Monarquias [...], pp. 223-243. ‘)0 Joaquim Veríssimo Serrão, A Infanta Dona Maria [...], pp. 176-183.

PAULO DRUMOND BRAGA

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que ambos nos touimos siempre» 41. Segundo a princesa D. Joana, regente de Castela, em carta a Filipe II, a causa mortis terá sido «calentura com su asma» 42.

O seu corpo, enterrado provisoriamente em M érida43, foi, em 1574, trasladado para o Escoriai, juntam ente com vários outros de familiares próximos de Filipe II. Jaz ao lado do de sua irmã, Maria da H ungria44. Em Portugal, realizaram-se ceri­mónias fúnebres, concretamente na sé de Lisboa, ordenadas por sua irmã, D. Cata­rina, então regente do reino na menoridade de D. Sebastião 45.

*

Leonor de Habsburgo foi a mais velha de seis irmãos e a preferida de Carlos V. Este casou-a, aos 19 anos, com um rei de 51, já duas vezes viúvo, carregado de filhos, e não com o herdeiro do trono, jovem de 16 anos, como começara por ser negociado. Leonor perdeu, assim, a oportunidade de poder vir a ser mãe de um futuro monarca português. Entre ela e o noivo esbulhado o relacionamento terá sido sempre muito tenso, vislumbrando-se, nas entrelinhas dos comportamentos e da correspondência oficial e privada, o sabor amargo do despeito de D. João III. Quando Leonor enviu­vou, tanto ela como o novo rei de Portugal, seu antigo noivo, terão desejado arden­temente a união matrimonial e estiveram muito próximos de a concretizar. Teriam razão as más-línguas da época, que assinalam um a relação amorosa entre ambos? Não o sabemos, mas temos alguma legitimidade para colocar a hipótese. Quando, em 1523, Leonor voltou para junto de Carlos V, acreditava ainda poder voltar ao reino de adopção. Mas as coisas passaram-se de forma diferente: D. João III casou com a irmã mais nova do César. Chegara a hora de ser rejeitada pelo antigo noivo. Anos depois e, segundo parece, por sua vontade, viria a desposar um outro rei viúvo, ainda que somente quatro anos mais velho, e já com herdeiros varões. Mais uma vez estava destinada a não ser mãe de rei. Viúva pela segunda vez, o seu destino era, de novo, a corte de Carlos V. Não nos esqueçamos ainda que se vira obrigada a deixar em Portugal a única filha que tivera e que só voltaria a ver passados 35 anos. Nessa data, estava já doente e morreu logo a seguir ao encontro, aos 59 anos de idade.

41 Corpus Documental de Carlos V [...], vol. IV, p. 412. Veja-se ainda Agustín Garcia S imón, El Ocaso del Emperador [...], pp. 115-118.

42 Cotpus Documental de Carlos V [...], vol. IV, p. 407.43 Coipus Documental de Carlos V [...], vol. IV, pp. 407 e 412.44 Javier Varela, La Muerte del Rev. El Ceremonial Funerário de la Monarquia Espanola (1500-1885),

Madrid, Turner, 1990, p. 28.43 Relações de Pero de Alcáçova Carneiro [...], p. 446.