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173 LAGOSTAS CAPTURADAS NA PLATAFORMA CONTINENTAL DO ESTADO DO AMAPÁ (CRUSTACEA... Bol Bol BBol Bol. Téc. Cient. Cepnor, Belém, v. 7, n. 1, p. 173 - 184 NOT A CIENTÍFICA LAGOSTAS CAPTURADAS NA PLATAFORMA CONTINENTAL DO ESTADO DO AMAPÁ (CRUSTACEA, NEPHROPOIDEA, PALINUROIDEA) Kátia Cristina de Araújo Silva 1 Israel Hidenburgo Aniceto Cintra 2 Marilena Ramos-Porto 3 Girlene Fábia Segundo Viana 3 RESUMO Neste trabalho constam informações sobre as lagostas coletadas durante as campanhas de prospecção de recursos demersais para crustáceos, objetivando- se o levantamento do Potencial dos Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva no Setor Norte do Brasil (Revizee/Norte), assim como informações sobre lagostas coletadas no âmbito do projeto Lagosta do CEPNOR. As coletas referentes ao programa Revizee/Norte foram realizadas a bordo do “Navio de Pesquisa Almirante Paulo Moreira” - CEPNOR, no período de agosto de 1996 a junho de 1998, utilizando uma rede de arrasto de fundo. Aquelas que subsidiaram o Projeto Lagosta foram coletadas a bordo de embarcações da frota artesanal, em dezembro de 2001, com a utilização de rede caçoeira. Dentre o material examinado foram identificadas na plataforma continental do estado do Amapá seis espécies de lagosta: Acanthacaris caeca (A. Milne Edwards, 1881), Nephropsis rosea Bate, 1888, Palinustus truncatus A. Milne Edwards, 1880, Panulirus argus (Latreille, 1804), Parribacus antarcticus (Lund, 1793) e Scyllarides delfosi Holthuis, 1960. P. argus foi a espécie mais abundante. Palavras-chave: REVIZEE, prospecção, lagostas, Nephropoidea, Palinuroidea, Estado do Amapá. ABSTRACT Lobsters captured at the continental shelf of the Amapá state (Crustacea, Nephropoidea, Palinuroidea). The present paper makes available information about the lobster species collected by means of surveys for crustacean demersal stocks, as part of REVIZEE Program/ Northern Sector, with the aim of estimating the potential of living resources in Brazil’s Exclusive Economic Zone. The sampling activities were carried out on board R.V. Almirante Paulo Moreira in the period from August, 1996 to June, 1998, by making use of a trawl net. Data were also provided by CEPNOR’s Lobster Project and, in __________________________ 1 Professora UFRA. Pesquisadora CEPNOR 2 Doutorando em Engenharia de Pesca DEP/UFC. Professor UFRA. Pesquisador CEPNOR. 3 Professora UFRPE

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NOTA CIENTÍFICA

LAGOSTAS CAPTURADAS NA PLATAFORMA CONTINENTAL DO ESTADODO AMAPÁ (CRUSTACEA, NEPHROPOIDEA, PALINUROIDEA)

Kátia Cristina de Araújo Silva1

Israel Hidenburgo Aniceto Cintra2

Marilena Ramos-Porto3

Girlene Fábia Segundo Viana3

RESUMONeste trabalho constam informações sobre as lagostas coletadas durante ascampanhas de prospecção de recursos demersais para crustáceos, objetivando-se o levantamento do Potencial dos Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusivano Setor Norte do Brasil (Revizee/Norte), assim como informações sobre lagostascoletadas no âmbito do projeto Lagosta do CEPNOR. As coletas referentes aoprograma Revizee/Norte foram realizadas a bordo do “Navio de Pesquisa AlmirantePaulo Moreira” - CEPNOR, no período de agosto de 1996 a junho de 1998, utilizandouma rede de arrasto de fundo. Aquelas que subsidiaram o Projeto Lagosta foramcoletadas a bordo de embarcações da frota artesanal, em dezembro de 2001,com a utilização de rede caçoeira. Dentre o material examinado foram identificadasna plataforma continental do estado do Amapá seis espécies de lagosta:Acanthacaris caeca (A. Milne Edwards, 1881), Nephropsis rosea Bate, 1888,Palinustus truncatus A. Milne Edwards, 1880, Panulirus argus (Latreille, 1804),Parribacus antarcticus (Lund, 1793) e Scyllarides delfosi Holthuis, 1960. P. argusfoi a espécie mais abundante.Palavras-chave: REVIZEE, prospecção, lagostas, Nephropoidea, Palinuroidea,Estado do Amapá.

ABSTRACTLobsters captured at the continental shelf of the Amapá state

(Crustacea, Nephropoidea, Palinuroidea).The present paper makes available information about the lobster species collectedby means of surveys for crustacean demersal stocks, as part of REVIZEE Program/Northern Sector, with the aim of estimating the potential of living resources in Brazil’sExclusive Economic Zone. The sampling activities were carried out on board R.V.Almirante Paulo Moreira in the period from August, 1996 to June, 1998, by makinguse of a trawl net. Data were also provided by CEPNOR’s Lobster Project and, in

__________________________1 Professora UFRA. Pesquisadora CEPNOR2 Doutorando em Engenharia de Pesca DEP/UFC. Professor UFRA. PesquisadorCEPNOR.3 Professora UFRPE

Kátia Cristina de Araújo Silva, Israel Hidenburgo Aniceto Cintra, Marilena Ramos-Porto, GirleneFábia Segundo Viana

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this case, sampling was carried out on board commercial boats having gill nets asfishing gear, on December, 2001. Among the examined material from the continentalshelf of Amapá State, six species were identified: Acanthacaris caeca (A. MilneEdwards, 1881), Nephropsis rosea Bate, 1888, Palinustus truncatus A. MilneEdwards, 1880, Panulirus argus (Latreille, 1804), Parribacus antarcticus (Lund,1793) e Scyllarides delfosi, 1960. P. argus was the most abundant species.Key words: REVIZEE Program, lobsters, survey, Nephropoidea, Palinuroidea,Amapá State.

INTRODUÇÃOSegundo Bueno (2007), o sub-filo Crustacea Brünnich, 1772 conta com

67.829 espécies, das quais cerca de 14.500 são integrantes da ordem Decapoda.A lagosta sapateira (Parribacus antarcticus (Lund, 1793) e Scyllarides delfosi, 1960)e a lagosta espinhosa ou verdadeira (Panulirus argus (Latreille, 1804)) pertencemà subordem Pleocyemata Burkenroad, 1963 e infra-ordens Astacidea Latreille, 1802e Palinura Latreille, 1802, respectivamente (MARTINS; DAVIS, 2001).

Os crustáceos representam um dos mais importantes recursos marinhosem todo o mundo e, em algumas regiões, várias populações capturadascomercialmente encontram-se em situação crítica de equilíbrio biológico devido àsobrepesca, da qual as lagostas do gênero Panulirus são um bom exemplo.

Apesar do elevado nível de explotação a que estão submetidos alguns dosestoques de crustáceos em todo mundo, no Brasil, no ano de 2005 esse grupocontribuiu com 60.292 t da produção nacional de pescado oriundo do extrativismomarinho. A região Norte do Brasil ocupou o 3° lugar na produção nacional decrustáceos, com 9.227,5 t; o estado do Pará participou com 9.049,0 t dessaprodução e o estado do Amapá, com 178,5 t. As lagostas contribuíram com 222,5t do total de crustáceos capturados na costa Norte brasileira (IBAMA, 2007).

Este trabalho tem por objetivo reunir as informações sobre as espécies delagostas que foram capturadas em campanhas de prospecção pesqueira para oREVIZEE/Norte e pela frota lagosteira artesanal em frente ao estado do Amapá,contribuindo assim para o conhecimento da carcinofauna marinha ocorrente emáguas brasileiras.

MATERIAL E MÉTODOSO N.Pq. Almirante Paulo Moreira - CEPNOR realizou cruzeiros de prospecção

ao longo da área definida para o REVIZEE/Norte, utilizando como apetrecho depesca, rede de arrasto comercial para camarão, no período de agosto de 1996 ajunho de 1998. Na frota artesanal foram empregadas embarcações de madeira erede tipo caçoeira como apetrecho de pesca, em dezembro de 2001.

As espécies foram identificadas nos Laboratórios de Carcinologia doCEPNOR e do Departamento de Pesca da Universidade Federal Rural dePernambuco, utilizando-se os trabalhos de Holthuis (1974, 1991), Fausto-Filho

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(1977), Cervigón et al., (1978), Takeda (1983), Griffin e Stoddart (1984), Williams(1984), e Melo (1999).

A classificação das espécies está de acordo com Martin e Davis (2001); asfamílias estão dispostas em ordem sistemática, e suas espécies em ordemalfabética.

Parte dos indivíduos estudados estão depositados na coleção de Carcinologiado CEPNOR, acondicionados em recipientes etiquetados e conservados em álcoola 70% ou glicerina líquida.

Foram observados por prospecção: local de captura, data, número deindivíduos capturados por sexo, tipo de fundo e profundidade do local de captura.

O dimorfismo sexual foi verificado por meio da presença de pleópodosunirremes e aberturas genitais na base da coxa do quinto par de pereiópodos nosmachos, e pleópodos birremes e aberturas genitais na base da coxa do terceiropar de pereópodos, nas fêmeas.

Para cada indivíduo identificado foi tomado o comprimento standard - LS (damargem anterior entre os espinhos rostrais ao extremo posterior do telso), emmilímetros, e o peso total (WT em gramas) apenas dos indivíduos provenientesdas campanhas experimentais.

RESULTADOS E COMENTÁRIOSDurante as campanhas de prospecção pesqueira foram capturados 42

exemplares de lagostas, distribuídos em três famílias, seis gêneros e seis espécies,identificadas como a seguir:

Sub-filo Crustacea Brünnich, 1772Infraordem Astacidea Latreille, 1802

Superfamília Nephropoidea Dana, 1852Família Nephropidae Dana, 1852

Subfamília Neophoberinae Glaessner, 1969

1 – Acanthacaris caeca (A. Milne Edwards, 1881)

Descrição – Carapaça coberta densamente com finos espinhos, direcionados àfrente; carena dorsal mediana com uma fileira distinta de espinhos na região anteriore duas fileiras indistintas na posterior; carena submediana disposta ao longo damargem lateral do rostro, portando quatro ou cinco grandes espinhos; espinhoantenal distinto. Rostro cerca da metade do comprimento da carapaça; regiãoproximal com um espinho lateral em cada lado; margem superior com dois outrês dentes, inferior com seis a nove. Primeiro par de pereiópodo longo,densamente coberto com espínulos; mero com espinhos na margem inferior;margens cortantes dos dedos com espinhos afiados. Abdômen recoberto por finosespinhos, direcionados para trás (TAKEDA, 1983) (Figura 1).

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Figura 1 – Vista lateral da Acanthacaris caeca (A. Milne Edwards, 1881).

Material Examinado – Dois exemplares, sendo uma fêmea e um macho.Prospecção III - 03°43’N, 48°53’W, 15/11/1996, 1 macho (240 mm e 118,2 g), emfundo de cascalho, a 187 m de profundidade.Prospecção VIII - 04o09’N, 49o22’W, 31/03/1998, 1 fêmea (300mm e 293,2g), fundonão identificado, a 421m de profundidade.

Distribuição e Habitat – Golfo do México, estreitos da Flórida, Antilhas, Brasil(Amapá). Habitam profundidades compreendidas entre 293 e 878 m, porém sãomais comuns entre 500 e 825 m; vivem em tocas, fundos de lama (TAKEDA,1983; HOLTHUIS, 1991; SILVA et al., 1999).

Subfamília Thymopinae Holthuis, 1974

2 – Nephropsis rosea Bate, 1888

Descrição – Carapaça e abdômen recobertos com grânulos e pequenas cerdasflexíveis; grânulos da carapaça proeminentes e distintamente perceptíveis.Carapaça com sulco pós-cervical profundo, região branquial com uma forte carenalongitudinal. Rostro com um par de espinhos laterais, direcionados obliquamentepara frente e para cima; margem dorsal distintamente carenada, com um sulcolinear mediano. Primeiro pereiópodo com cerdas flexíveis; margem superior einferior do mero com espinhos distais; carpo com espinhos. Abdômen com linhamédia carenada; pleuras posteriores mais estreitas do que as precedentes(TAKEDA, 1983) (Figura 2).

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Figura 2 – Vista dorsal da Nephropsis rosea Bate, 1888.

Material Examinado – Quatro indivíduos, representando os dois sexos.Prospecção VII - 02o43’N, 47o39’W, 20/03/1998, 3 fêmeas e 1 macho, fundo nãoidentificado, a 626 m de profundidade.

Distribuição e Habitat – Atlântico Ocidental - Bermudas, Golfo do México, Antilhas,Guiana Francesa, Brasil (Amapá). Com registros entre 421 e 1.262 m deprofundidade, porém é mais comum entre 500 e 800m em fundo lamoso ou arenoso(TAKEDA, 1983; HOLTHUIS, 1991; SILVA et al., 1999).

Infraordem Palinura Latreille, 1802Superfamília Palinuroidea Latreille, 1802

Família Palinuridae Latreille, 1802

3 – Palinustus truncatus A. Milne Edwards, 1880

Descrição – Carapaça recoberta por cerdas curtas; região anterior com espinhos,posterior, com grânulos de aparência escamosa; espinhos dispostos mais oumenos em uma fileira longitudinal, em frente ao sulco cervical; espinhos supra-orbitais distintamente truncados, com alguns dentes diminutos em sua regiãoanterior; margem anterior da carapaça, entre os dentes supraorbitais, com algunsespinhos medianos e submedianos. Segmentos abdominais com sulco transversalinterrompido na região mediana. Pereiópodos cerdosos; mero com fileiras de

LS (mm) WT (g)min max min max min max78 115 7,7 25,1 13 32,4

BiometriaFêmeas Macho

LS (mm) WT (g)

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espinhos em ambas as margens; carpo com espinhos na margem anterior; últimopar com uma subquela distinta (Takeda, 1983) (Figura 3).

Figura 3 – Palinustus truncatus A. Milne Edwards, 1880.

Material Examinado – Foram analisadas duas fêmeas.Prospecção II - 04o07’N, 049o21’W, 06/10/1996, 2 fêmeas, fundo não identificado,330 m de profundidade.

Distribuição e Habitat – Atlântico Ocidental - Antilhas, desde o Suriname até afoz do rio Amazonas. Vivem em regiões com profundidades entre 100 e 1.000 m(TAKEDA, 1983). Holthuis (1991) registra 4.122 m como profundidade máxima deocorrência da espécie; tipo de fundo variado: areia e coral, areia calcária, lama.

4 – Panulirus argus (Latreille, 1804)

Diagnose – Carapaça cilíndrica, recoberta por fortes espinhos, distribuídos deforma irregular, em fileiras longitudinais, porém lisa, nos indivíduos de grande porte.Espinhos supra-orbitais fortes e curvos. Placa antenal com dois pares de fortesespinhos, par anterior sendo o maior. Pereiópodos com dáctilos agudos; nasfêmeas o quinto par é subquelado. Abdômen liso; segmentos abdominaispercorridos por um sulco distintamente interrompido na região mediana. Primeirosegmento com pleópodos ausentes em ambos os sexos; exopoditos dos pleópodos

min max min max44 45 1,52 1,55

LS (mm) WT (g)fêmeas

Biometria

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largos; endopoditos ausentes nos machos e presentes nas fêmeas. Segundo equarto segmentos com duas manchas amarelas, uma em cada lado. Leque caudalbem desenvolvido (TAKEDA, 1983; WILLIAMS, 1984; MELO, 1999) (Figura 4).

Figura 4 – Vista dorsal da Panulirus argus (Latreille, 1804)

Interesse na Pescaria – Explorada, praticamente em toda a sua área dedistribuição (HOLTHUIS, 1991). A partir do ano de 1998 a pesca na costa Norte doBrasil passou a ser mais intensa e neste ano foram capturadas 126 t, com umauma sensível elevação no ano seguinte, para 640 t (IBAMA, 2000). Porto; Cintra eSilva (2005) mencionam a existência de um banco lagosteiro entre as latitudes01°30’N e 03°50’N. O estoque localizado nos estados do Amapá e Pará nãoapresenta sinal de sobrepesca (OLIVEIRA 2005). A produção capturada nos estadoscitados é desembarcada no estado do Pará e em outros estados, onde estãolocalizadas empresas processadoras deste recurso. Implantação de empresasprocessadoras de pescado seria uma iniciativa importante para o desenvolvimentodesta atividade no estado do Amapá.

Material Examinado – Foram estudados trinta e um exemplares dos dois sexos.Frota artesanal (02o32’N, 048o13’W), 01/12/01, 22 fêmeas e 9 machos, cascalho,81 m de profundidade.

Distribuição e Habitat – Atlântico Ocidental - Carolina do Norte, Bermudas, Golfodo México, Antilhas, Brasil (desde o Amapá até São Paulo; Fernando de Noronha).Encontrada desde águas rasas até 90m de profundidade (TAKEDA, 1983);

LS (mm) WT (g)min max min max9,3 38,9 14,2 42,5

Biometriafêmeas machos

LS (mm)

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(COELHO; RAMOS-PORTO, 1998); (PORTO; CINTRA & SILVA, 2005). SegundoHolthuis (1991), esta espécie ocorre entre rochas e recifes, em pradarias defanerógamas e em qualquer habitat que ofereça proteção. Coelho et al. (1996)mencionam, também, fundos arenosos e cascalhosos da plataforma continental.

Família Scyllaridae Latreille, 1825

5 – Parribacus antarcticus (Lund, 1793)

Diagnose – Carapaça achatada dorsoventralmente, recoberta por grânulos, maislarga do que longa; margens laterais muito finas, divididas em projeçõestriangulares dentiformes. Antenas curtas e largas, em forma de escama, flagelosausentes; margens anteriores divididas em dentes moderadamente grandes.Antênulas curtas e delgadas. Abdômen largo, leque caudal bem desenvolvido. Todosos pereiópodos de tamanho semelhantes, nenhum modificado em quelípede(CERVIGÓN et al., 1978); (MELO, 1999) (Figura 5).

Figura 5 – Vista dorsal da Parribacus antarcticus (Lund, 1793).

Material Examinado – Apenas um macho identificado.Prospecção V - 01o03’N, 46o21’W, 11/05/1997, 1 macho (63 mm e 6,1 g), cascalho,69 m de profundidade.

Distribuição e Habitat – Atlântico Ocidental - Sul da Flórida, Antilhas, AméricaCentral, Guianas, Brasil (Amapá; do Ceará até São Paulo; Fernando de Noronha).Indo-Pacífico (HOLTHUIS, 1991); (COELHO, 1998); (MELO, 1999); (SILVA et al.,1999). Em águas rasas tropicais; preferencialmente em corais e rochas com fundosarenosos. De águas muito rasas até 130 m (MELO, 1999).

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6 – Scyllarides delfosi Holthuis, 1960

Diagnose – Carapaça quadrilateral, de aparência escamosa, com comprimentoligeiramente maior do que sua largura; margem hepática com uma baixa constriçãorosa, com sete pequenos dentes em sua frente, e cerca de doze atrás; linhamediana com duas elevações anteriores ao sulco cervical; região brânquial comvários tubérculos. Abdômen um tanto escamoso na superfície dorsal, sem carenamediana ou corcova; primeiro segmento com três manchas escuras (TAKEDA,1983) (Figura 6).

Figura 6 – Vista dorsal da Scyllarides delfosi Holthuis, 1960.

Material Examinado – Dois espécimes, sendo uma fêmea e um macho.Prospecção III - 03o24’N, 49o07’W, 15/11/1996, 1 fêmea (228 mm e 407,6 g),cascalho, 93 m de profundidade.Prospecção III - 03o11’N, 48o54’W, 16/11/1996, 1 macho (234 mm e 302,5 g),cascalho, 102 m de profundidade.

Distribuição e Habitat – Atlântico Ocidental: Guiana, Suriname, Venezuela, Brasil(desde o Amapá até o Ceará). Profundidade variando entre 31 e 80 m (TAKEDA,1983; HOLTHUIS, 1991); (COELHO; RAMOS-PORTO, 1998). De águas rasas até45 m, em fundos de lama, conchas e corais (MELO, 1999).

As espécies mais freqüentes foram P. argus com 31 indivíduos (73,8%) e N.rosea com 4 indivíduos (9,5%), em relação ao total de espécimes capturados. Asdemais espécies tiveram participação pouco significativa no total das capturas;Acanthacaris caeca, Palinustus truncatus e Scyllarides delfosi todas com 4,8%, eParribacus antarcticus com 2,4% (Tabela 1). Para Silva et al. (2000), que apósanalisarem 30 exemplares coletados no âmbito do REVIZEE/Norte, as lagostas P.argus e N. rosea foram mais freqüentes no total das capturas tendo participadorespectivamente com 40,0% e 13,3%.

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Entre os indivíduos das várias espécies as fêmeas foram mais freqüentes,tendo representado 69,0% dos indivíduos amostrados (Tabela 1).

Tabela 1 – Freqüência de ocorrência por sexo das espécies de lagostas capturadasna plataforma continental do estado do Amapá, no período de agosto de 1996 ajunho de 1998.

CONCLUSÕES1. No Amapá, as três famílias de lagostas apresentaram, cada uma, duasespécies.2. A espécie mais freqüente foi Panulirus argus; Parribacus antarcticus foi a menosfreqüente.3. As fêmeas foram mais comuns.4. A produção de P. argus é desembarcada em outros estados.

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n % n %Acanthacaris caeca 1 50,0 1 50,0 2 4,8Nephropsis rosea 1 25,0 3 75,0 4 9,5Palinustus truncatus 2 100,0 2 4,8Panulirus argus 9 29,0 22 71,0 31 73,8Parribacus antarcticus 1 100,0 1 2,4Scyllarides delfosi 1 50,0 1 50,0 2 4,8Total 13 31,0 29 69,0 42 100,0

Espécie % do total

Freqüência Macho Fêmea Total

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