II SIMPÓSIO FORMAÇÃO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL EM TURISMO, LAZER E HOSPITALIDADE - Configurações...

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Organizadores Cynthia Harumy Watanabe Corrêa Marcelo Vilela de Almeida EACH/USP CONFIGURAÇÕES DA FORMAÇÃO EM DIFERENTES CONTEXTOS: Modelos, experiências e resultados

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Organizadores Cynthia Harumy Watanabe Corrêa

Marcelo Vilela de Almeida

EACH/USP

CONFIGURAÇÕES DA FORMAÇÃO EM DIFERENTES CONTEXTOS:

Modelos, experiências e resultados

II SIMPÓSIO FORMAÇÃO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL EM TURISMO, LAZER E

HOSPITALIDADE

Configurações da formação em diferentes contextos: Modelos, experiências e resultados

Organizado pelo Grupo de Pesquisa sobre “Pesquisa, Educação e Atuação Profissional em Turismo e

Hospitalidade”

Evento realizado na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH/USP) de 23 a 25 de maio de 2011.

Com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

São Paulo EACH/USP

2011

Organização da publicação : Profa. Dra. Cynthia Harumy Watanabe Corrêa Prof. Dr. Marcelo Vilela de Almeida Promoção e organização do evento : Grupo de Pesquisa sobre “Pesquisa, Educação e Atuação Profissional em Turismo e Hospitalidade" (Escola de Artes, Ciências e Humanidades/Universidade de São Paulo) Coordenação : Prof. Dr. Marcelo Vilela de Almeida Comissão científica : Prof. Dr. Alexandre Panosso Netto Profa. Dra. Cynthia Harumy Watanabe Corrêa Profa. Dra. Karina Toledo Solha Prof. Dr. José Roberto Yasoshima Prof. Dr. Luiz Gonzaga Godói Trigo Profa. Ms. Mariana Aldrigui Carvalho Prof. Dr. Sidnei Raimundo Profa. Dra. Valéria Barbosa de Magalhães

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO-NA-PUBLICAÇÃO

(Universidade de São Paulo. Escola de Artes e Ciências e Humanidades. Biblioteca)

Autorizo a reprodução parcial ou total desta obra, para fins acadêmicos, desde que citada a fonte.

Simpósio Formação e Atuação Profissional em Turismo, Lazer e Hospitalidade (2. : 2011 : São Paulo, SP).

Configurações da formação em diferentes contextos [recurso eletrônico] : modelos, experiências e resultados / II Simpósio Formação e Atuação Profissional em Turismo, Lazer e Hospitalidade ; organização do evento pelo Grupo de Pesquisa sobre “Pesquisa, Educação e Atuação Profissional em Turismo e Hospitalidade. – São Paulo : EACH/USP, 2011. 60 p.

Evento realizado na EACH/USP, de 23 a 25 de maio de 2011. Com o apoio do CNPq.

Modo de acesso ao texto : <http://www.each.usp.br/turismo/faptur/>. ISBN : 978-85-64842-00-7

1. Turismo – Estudo e ensino. 2. Turismo – Formação profissional. 3. Lazer. 4. Hospitalidade. I. Universidade de São Paulo. Escola de Artes, Ciências e Humanidades. Grupo de Pesquisa sobre “Pesquisa, Educação e Atuação Profissional em Turismo e Hospitalidade, org. II. Título.

CDD 22. ed. - 910.7

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.................................................................................................. 4

EIXO 1:

Formação Profissional em Turismo, Lazer, Hospitalidade e Gastronomia............

5

Uso da EaD nos Cursos de Turismo: blog e Twitter.............................................. 6

Turismo na Educação Básica: o diálogo entre a extensão e o estágio: uma experiência em Aquidauana - MS..........................................................................

10

O Ofício do Educador e os Cursos Superiores de Turismo................................... 14

A Dádiva da Hospitalidade na Grade Curricular: estudo de caso na Universidade Anhembi Morumbi............................................................................

17

Hospitalidade, Lazer e Formação Profissional....................................................... 19

Formação e Atuação Profissional em Agências de Viagens: relato de experiência sobre as práticas pedagógicas desenvolvidas na disciplina de Agências de Viagens e Turismo do curso de Turismo da Unesp..........................

23

Consumo Consciente de Alimentos na Formação Tecnológica em Gastronomia: realidade e tendências de propostas formativas....................................................

26

Os Parques Urbanos e a Aprendizagem Ativa em Planejamento do Lazer na Formação em Turismo e Hospitalidade.................................................................

29

A Articulação da Pesquisa e da Extensão como Estratégia para o Amadurecimento do Grande Dourados Convention & Visitors Bureau.................

34

EIXO 2:

Educação para o Turismo e Lazer / Educação pelo Turismo e Lazer...................

38

Educação e Turismo: abrangência e efetividade de práticas turístico-educacionais não-formais em fazendas históricas paulistas ................................

39

Um Novo Olhar para a Apropriação da Cidade: análise do Turismo Pedagógico em Belo Horizonte..................................................................................................

42

Lazer e Formação Cidadã para Jovens Ribeirinhos.............................................. 46

EIXO 3: Outras Abordagens sobre Turismo, Lazer e Hospitalidade...................... 48

A Realidade para a Pessoa com Deficiência enquanto Turista............................. 49

Panorama Turístico do Município de Ribeirão Pires - SP...................................... 53

Turismo Cultural Urbano: Abordagens e Dimensões de Pesquisa........................ 57

APRESENTAÇÃO

Profa. Dra. Cynthia Harumy Watanabe Corrêa1 Prof. Dr. Marcelo Vilela de Almeida2

O ensino superior de Turismo inicia-se no Brasil na década de 1970, marcado

por forte influência de um modelo espanhol de ensino para a área, como uma opção diferenciada de profissionalização a fim de atender as necessidades profissionais de um mercado ainda em formação, tendo passado, ao longo de 40 anos, por diversas transformações no sentido de acompanhar tanto a conjuntura geral do país quanto as mudanças nas políticas educacionais e a própria estruturação da atividade turística (ainda em curso no país), passando a incorporar (e, às vezes, a ser incorporado) pelos estudos do Lazer e da Hospitalidade.

Assim, percebe-se a necessidade da refletir sobre as formas de ensino, bem como sobre os resultados obtidos e sua correspondência com os novos desafios que se impõem à inserção profissional e à prática laboral, cada vez mais exigente face aos atuais paradigmas que orientam estas áreas do conhecimento – razão pela qual foi criado, em 2008, o grupo de pesquisa sobre “Pesquisa, Educação e Atuação Profissional em Turismo e Hospitalidade”, composto por docentes do Curso de Lazer e Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo (USP).

Como resultado da atuação do grupo, destaca-se a organização do I e do II Simpósios sobre Formação e Atuação Profissional em Turismo, Lazer e Hospitalidade, realizados na EACH/USP em abril de 2009 e maio de 2011, respectivamente. Os trabalhos aprovados – que, na primeira edição do evento, foram apresentados em formato de pôsteres – são, a seguir, reproduzidos, de modo a permitir a disseminação deste importante conteúdo elaborado por pesquisadores que compartilham conosco inquietações em busca de novas e mais adequadas concepções e ações de educação para e pelo turismo, e de formação, por meio do ensino, da pesquisa e da extensão.

Por fim, o grupo de pesquisa agradece à EACH/USP por todo o apoio fornecido; ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) pela concessão de recursos financeiros que possibilitaram a presença dos conferencistas convidados; e a todos os autores e participantes do evento.

1 Docente do Curso de Lazer e Turismo/EACH/USP. E-mail: [email protected].

2 Docente do Curso de Lazer e Turismo/EACH/USP. E-mail: [email protected].

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EIXO 1:

Formação Profissional em

Turismo, Lazer, Hospitalidade e Gastronomia

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Uso da EaD nos Cursos de Turismo: blog e Twitter

Graziela da Silva Suzuki1 Rodrigo Burkowski2

O uso de Novas Tecnologias de Informação (NTI) na educação representa

uma inovação nos processos educacionais ou um modismo que pouco contribuirá para o processo de ensino-aprendizagem? Apesar de incipientes as pesquisas sobre os resultados destes usos, percebemos um modismo no uso dessas NTI’s, assim como um desconhecimento teórico do real potencial e formas de aproveitamento, mas também evidências de ganhos ao adotar tais tecnologias. O presente trabalho apresenta os resultados parciais de uma pesquisa, já concluída, sobre Educação a Distância (EaD) e Turismo desenvolvida no curso de especialização em educação a distância da Universidade Gama Filho. A pesquisa teve como objetivo principal analisar o uso de ferramentas de EaD no ensino superior de Turismo. Apresentamos neste artigo os resultados do uso de blogs e da rede social Twitter. O universo da pesquisa foi composto pelos membros do grupo de discussão da Associação Nacional de Pós-Graduação em Turismo (ANPTUR). A lista conta com 404 membros e desde sua criação, em julho de 2008, foram postadas 2799 mensagens, sendo que os 10 participantes mais ativos postaram 1105 mensagens. Foi disponibilizado um survey com 11 questões fechadas e 1 questão aberta, por meio da plataforma-web enquetefacil.com. A pesquisa ficou disponível no período 08/02/2011 a 30/02/2011 e recebeu 58 visitas que resultaram em 25 questionários respondidos. O erro amostral apresentado foi de 16% e um nível de confiança de 90%. Contudo, percebemos que a lista possui uma baixa participação efetiva – considerando o número de participantes, total de mensagens postadas, número de participantes efetivos, entre outros; e ao utilizar um corte de 10% de participantes ativos, teríamos um erro amostral de 10% e 90% de confiança. Sendo assim, apesar de acreditarmos nos resultados, pois foi aplicada outra pesquisa em grupo similar com resultados aproximados, não podemos considerar a amostra representativa, sendo os resultados válidos apenas para o grupo em questão. Dentre os recursos avaliados, o blog é um dos mais utilizados para EaD nos cursos de Turismo. Trata-se de uma ferramenta simples, mas que pode ser muito eficiente para o processo de ensino-aprendizagem. Segundo Mantovani (2005, p.12), “[...] weblog ou blog é um tipo de publicação on-line que tem origem no hábito de alguns pioneiros de logar (entrar, conectar ou gravar) à web, fazer anotações, transcrever, comentar os caminhos percorridos pelos espaços virtuais”, porque permite de forma assíncrona a construção coletiva de saberes. De acordo com o blog “prof2000”, um blog é um registro publicado na Internet relativo a algum assunto e organizado cronologicamente (como um diário). Pode ainda permitir comentários

1 Fundação Mineira de Educação e Cultura (FUMEC), Programa de Pós-Graduação em

Administração (PPGA). E-mail: [email protected]. 2 Universidade Federal de Lavras (UFLA), Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA).

E-mail: [email protected].

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dos leitores aos textos publicados. Tem como grande vantagem o fato de que o autor do blog não necessita saber construir páginas para a Internet. Boeira (2008) defende que esta ferramenta é um importante instrumento de comunicação, interação e compartilhamento de ideias, informações e conhecimentos de forma colaborativa, e, por estas características, torna-se uma importante ferramenta a ser explorada potencialmente na área educacional. Dessa forma, existe uma discussão proposta por Gomes (2005) sobre o uso do blog como recurso pedagógico ou como estratégia pedagógica. Enquanto recurso pedagógico, os blogs podem ser um espaço de acesso à informação especializada e/ou um espaço de disponibilização de informação por parte do professor. O blog passa a ser, então, um “repositório” de informações, tendo o professor um papel ativo e o aluno um papel passivo. É o docente quem escolhe o conteúdo, levando muito das vezes à repetição do conteúdo desenvolvido de forma presencial. Enquanto estratégia pedagógica, os blogs podem assumir a forma de um portfólio digital; um espaço de intercâmbio e colaboração; um espaço de integração. Sendo assim, os blogs adquirem uma dinâmica própria, revelando conteúdos que muitas vezes extrapolam o objetivo proposto, sem que isto seja prejudicial para o processo. Em uma perspectiva freiriana, temos os alunos como construtores e autores de seu próprio saber e, dessa forma, tem-se um ganho, a nosso ver, qualitativo na prática docente. Corroborando com Boeira (2008), os alunos não devem ser apenas responsáveis pela sua conexão, mas também devem contribuir com o processo de aprendizagem, pois aprender é um processo ativo, do qual tanto professor quanto aluno devem participar. De acordo com a definição do Wikipédia, Twitter é uma rede social e ainda servidor para microblogging que permite aos usuários enviar e receber atualizações pessoais de outros contatos, em textos de até 140 caracteres, conhecidos como tweets. Desde sua criação em 2006 por Jack Dorsey, o Twitter ganhou extensa notabilidade e popularidade por todo mundo. Estima-se em 105 milhões de perfis criados, que atraem 190 milhões de visitantes únicos por mês, gerando 65 milhões de tweets por dia (LEAL, 2010). O potencial do Twitter na educação começa a ser demonstrado por meio de pesquisas como a realizada nos Estados Unidos e publicada no Journal of Computer Assisted Learning em agosto de 2010 (BENNETT; MATON, 2010). O uso da EaD no ensino superior, modalidade presencial, está regulamentado pela portaria 4.059/2004 do Ministério da Educação. Ela prevê a adoção de até 20% da carga horária do curso na modalidade a distância. Esse uso pode ser distribuído de acordo com a necessidade de cada curso, sendo possível o desenvolvimento de disciplinas completamente em EaD ou apenas parte do conteúdo programático por essa modalidade. Todavia, para que seu uso esteja institucionalizado e formalizado dentro do projeto pedagógico, é necessário que os professores conheçam os fundamentos dessa metodologia para potencializar os resultados. Os dados da pesquisa apontam que 52% dos entrevistados não conhecem ou conhecem pouco a portaria ministerial que regulamenta a EaD nos cursos superiores. Acreditamos que este índice contribui para o baixo uso das ferramentas nos cursos presenciais. Coerente com este resultado, 74% dos projetos pedagógicos não preveem o uso da EaD e quando utilizam, o fazem com uma ou duas disciplinas. Esse pouco uso

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formalizado pode ter como uma das explicações a burocracia das instituições e o conservadorismo das universidades públicas, uma vez que 64% dos respondentes são oriundos de instituições de ensino superior públicas. Contudo, apesar de não formalizado no projeto político pedagógico dos cursos, 65% dos professores afirmaram utilizar alguma forma de EaD, mesmo que não previsto no programa da disciplina (50% afirmam que não preveem o uso) o que demonstra que os docentes estão “experimentando” novas formas de estratégias e recursos para a educação. Questionamos o porquê de não formalizar essa prática, buscando assim validar a EaD como recurso pedagógico e/ou estratégia de ensino. No caso dos blogs, os dados apontam para um potencial uso, pois 43% utilizam com certa frequência essa ferramenta (17% - muito e 26% - às vezes). Esse resultado é próximo do uso pessoal, no qual 57% dos professores afirmaram utilizar. O blog como espaço de difusão de informação ou como recurso ou estratégia pedagógica é um fenômeno recente, mas que apresenta certo desgaste ou estagnação. Durante a pesquisa, foi possível identificar alguns blogs de disciplinas do curso de Turismo que foram criados e depois abandonados. Apesar desse problema, acreditamos que a ferramenta possui valor para ser usada nos cursos presenciais de Turismo. O Twitter é a ferramenta mais recente a ser avaliada. Os dados apontam que 70% dos professores não usam esse microblog no âmbito profissional, ao passo que 43% não o fazem no âmbito pessoal. Apesar do estudo feito nos Estados Unidos, acreditamos que, por ser uma ferramenta nova, os professores ainda não sabem como utilizá-la nos cursos. Um ponto relevante é que 22% dos professores criaram um perfil no Twitter, mas não o utilizam. Esse também é um fenômeno das NTI's, ou seja, as pessoas criam um perfil por modismo ou pressão e logo abandonam a plataforma. Percebemos que as NTI’s fazem parte da realidade educacional dos cursos de Turismo no Brasil, mesmo que não sendo formalizados junto aos colegiados dos cursos. Um grande número de usuários de tecnologias acaba utilizando por curiosidade ou experimentação, podendo não ter passado por uma capacitação que permita o uso real das potencialidades destas tecnologias. Um questionamento que surgiu durante a pesquisa foi se o uso pessoal condiciona o uso profissional? Pois percebemos que existe uma relação entre o maior uso pessoal e o profissional. Isso permite questionar se o professor irá adotar as ferramentas que possui maior afinidade e facilidade para uso ou aquelas que apresentam maior efetividade. Desta forma, podemos afirmar que a modalidade EaD está presente nos cursos de Turismo, sendo necessária a capacitação dos profissionais para o seu uso, bem como a formalização dessa prática nos projetos pedagógicos.

Referências

ANPTUR. Associação Nacional de Pós-Graduação em Turismo. Disponível em: <www.anptur.org.br>. Acesso em: 07 abr. 2011. BENNETT, S.; MATON, K. Beyond the ‘digital natives’ debate: Towards a more nuanced understanding of students' technology experiences. Journal of Computer Assisted Learning, 26: 321–331. Doi: 10.1111/j.1365-2729.2010.00360.x. 2010

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BOEIRA, A. F. Blogs na educação: Blogando algumas possibilidades pedagógicas. Disponível em: <http://tecnologiasnaeducacao.pro.br/revista/a1n1/art10.pdf >. Acesso em: 10 jan. 2011. GOMES, M. J. Blogs: um recurso e uma estratégia pedagógica. Disponível em: <http://blog.educacional.com.br/dicasinfo/files/2010/04/blog.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2011. LEAL, R. Direto do Twitter. Revista INFO Exame. São Paulo: Ed. Abril, n. 294, ago. 2010. MANTOVANI, A. M. Weblogs na educação: construindo novos espaços de autonomia na prática pedagógica. Disponível em: <http://www.tise.cl/archivos/tise2005/02.pdf>. Acesso em: 07 jan. 2010. PROF2000. Disponível em: <http://blogs.prof2000.pt/blogseduc/>. Acesso em: 01 abr. 2011.

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Turismo na Educação Básica: o diálogo entre a extensão e o estágio: Uma experiência em Aquidauana - MS

Bruna Barba Algarve1 Luciana Correia Diettrich2

Patrícia Zaczuk Bassinello3

O presente estudo procura compartilhar uma experiência realizada pelo curso de Turismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o qual integra o estágio a um projeto de extensão desenvolvido pelo curso.

O curso de Turismo da UFMS é ofertado há mais de dez anos pelo Campus de Aquidauana, cujo município localiza-se a 120 km da capital sul matogrossense. Embora possua características singulares (fauna e flora do Pantanal Sul) e localização privilegiada (proximidade da capital e parte do Pantanal), Aquidauana não é considerada um destino eminentemente turístico. A cidade possui infraestrutura turística muito incipiente e conta atualmente com 36 meios de hospedagem (sendo 14 na área urbana, de pequeno porte), 2 agências de viagens, nenhuma locadora de automóveis e nenhuma agência organizadora de eventos. Ressalte-se que, dentre as empresas de turismo mencionadas, algumas não podem firmar convênio de estágio com a UFMS por não possuírem documentação necessária.

Desta forma, um dos desafios do curso de Turismo da UFMS é proporcionar aos acadêmicos oportunidades de vivenciar o conhecimento teórico adquirido, através de estágios na área, sejam eles obrigatórios ou não, pois se sabe que esta atividade (estágio) é “[...] uma etapa no processo de aprendizagem, parte obrigatória no currículo universitário, da verdadeira formação profissional” (ANTONIO; ANTONIO; CHEHADE, 2008, p.1).

Conforme mencionado, em Aquidauana as oportunidades de estágio na área de Turismo apresentam-se restritas – concentradas em sua maior parte na rede hoteleira - pois o número de “empresas/instituições” e, consequentemente, de vagas é pequena em relação à demanda de acadêmicos no curso que vem, nos últimos anos, preenchendo o número de vagas ofertado pela instituição - 30 vagas.

Esta dificuldade levava, muitas vezes, o acadêmico a estagiar nas escolas públicas e particulares do município com a alegação de se envolver em atividades de recreação (conteúdo da disciplina de Lazer e Entretenimento), proporcionadas pelas aulas de Educação Física e/ou Artes. Porém, nestes casos, não se podia afirmar a relação existente entre as atividades desenvolvidas pelo acadêmico 1

Discente do curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campus de Aquidauana (CPAQ), Departamento de Geociências (DGC). E-mail: [email protected]. 2

Docente do curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campus de Aquidauana (CPAQ), Departamento de Geociências (DGC). E-mail: [email protected]. 3

Docente do curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campus de Aquidauana (CPAQ), Departamento de Geociências (DGC). E-mail: [email protected].

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estagiário e o conhecimento acerca do Turismo, fundamental para sua formação. Vale ressaltar que o fato de a maioria dos cursos do campus de Aquidauana ser de licenciatura, justifica também o número de convênios com as escolas do município e, consequentemente, do envolvimento do curso de Turismo com algumas delas, através do estágio.

Considerando o que afirmam Fernandes et al. (2005) no que se refere à formação, os profissionais devem ser resultantes de um processo que vise a profissionais críticos, criativos, reflexivos, com compromisso político e capazes de enfrentar os problemas complexos que se apresentam na sociedade, por meio de metodologias ativas de ensino aprendizagem que possibilitem aos estudantes ocuparem o lugar de sujeitos na construção da sua aprendizagem, tendo o professor como facilitador e orientador. Assim, na tentativa de minimizar a problemática enfrentada sobre oportunidades de estágios na área de Turismo em Aquidauana, propôs-se, em 2010, um projeto de extensão nas escolas do município como atividade para os alunos estagiários do curso, intitulado “O Turismo na Educação Básica”.

“O Turismo na Educação Básica” diz respeito a uma atividade educativa voltada para a sensibilização da importância da atividade turística para o desenvolvimento de um município como tema transversal na Educação Básica, através de estratégias didáticas lúdicas envolvendo questões, como ética, hospitalidade, meio ambiente, cultura e cidadania, entre outros, desenvolvidos pelos acadêmicos de Turismo da UFMS de Aquidauana, juntamente com as crianças do sexto e sétimo ano do ensino básico em uma instituição de ensino municipal e em uma particular.

Conforme Ruschmann (1997), a educação para o turismo seria uma forma de se auxiliar e garantir o sucesso de um planejamento turístico sustentável, formando uma consciência turística junto aos moradores locais e aos turistas, tornando-os responsáveis por uma atividade turística controlada e de baixo impacto ao meio ambiente natural e à cultura local. Somado a isso, a educação turística pode ser compreendida como um processo educativo onde a finalidade é de difundir conhecimentos sobre a atividade turística em cidades turísticas ou com potencial turístico.

Fúster (apud FONSECA FILHO, 2007, p.13), neste sentido, sugere duas abordagens para a prática do ensino do Turismo, sendo uma a de formação profissional, e a outra como uma prática educativa que pode influenciar positivamente na formação da personalidade do indivíduo, estimulando nos alunos a compreensão da atividade e de seu papel como cidadãos responsáveis.

Como projeto de extensão, “O Turismo na Educação Básica” procura cumprir seu papel na formação do bacharel em Turismo que, de acordo com Scheidemantel et al. (2004), possibilita a formação do profissional cidadão e se credencia, cada vez mais, junto à sociedade, como espaço privilegiado de produção do conhecimento significativo para a superação das desigualdades sociais existentes. Conforme os autores, “o projeto de extensão oportuniza aos acadêmicos prestarem serviços que beneficiam as comunidades, promove a sua reflexão sobre os problemas sociais existentes e preparação profissional para o mercado.” (SCHEIDEMANTEL et al., 2004, p. 1).

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Em 2010 os acadêmicos de Turismo se envolveram com o projeto e para apenas um destes a atividade não era cumprida como estágio obrigatório: era aluno matriculado no segundo semestre do curso.

No desenvolvimento do projeto “Turismo na Educação Básica”, o envolvimento e comprometimento efetivo dos acadêmicos de Turismo foram sendo demonstrados através das diversas metodologias (criativas) propostas que conseguiram motivar e envolver as crianças. Pode-se citar, dentre outras dinâmicas utilizadas, as aulas de campo (estudo do meio) que proporcionaram o contato direto com locais de relevante potencialidade turística de Aquidauana.

Acredita-se que os produtos criados e gerados a partir do projeto podem ser também elementos que demonstram o envolvimento dos alunos de Turismo com a atividade como: logomarca do projeto, banner de divulgação e camisetas para os monitores.

No que se refere à relação do projeto de extensão como atividade e oportunidade de estágio e à formação e atuação profissional em Turismo, proporcionou aos acadêmicos da UFMS interesse de aprofundamento da teoria já adquirida em aula, a fim de subsidiar as dinâmicas realizadas culminando na produção de artigos científicos apresentados em eventos em nível estadual. Destaca-se ainda que no V Encontro de Extensionistas da UFMS (V ENEX), evento realizado anualmente abrangendo todos os campi da instituição, o projeto “Turismo na Educação Básica” foi classificado em 4º lugar.

Ao final do ano letivo, os alunos de Turismo, aos responderem um questionário avaliativo que buscou identificar os motivos, as formas, opiniões e conhecimentos adquiridos por eles com o “Turismo na Educação Básica”, apontaram que: - Para a maioria (60%), foi a primeira experiência de participação em projeto de extensão; - Como motivação, a maioria respondeu que o objetivo do projeto e a oportunidade de melhorar os conhecimentos sobre Turismo foram as principais razões. Alguns (25%) dos alunos afirmaram, porém, que o interesse foi a oportunidade de cumprirem o estágio obrigatório; - Em relação à maneira de participação, exceto um dos alunos que atuou como vice-coordenador, os demais informaram que atuaram na elaboração e efetivação das atividades propostas. - No que se refere às opiniões dos alunos de Turismo sobre o projeto, todos o consideraram muito importante tanto para a autoformação, como modo de aprendizado, quanto como experiência na docência, além de considerarem ainda relevante para o município de Aquidauana em se tratando de desenvolvimento turístico. - Ao serem questionados se o projeto “Turismo na Educação Básica” havia contribuído de alguma forma para a formação, os alunos de Turismo foram unânimes em afirmar que, através dele, puderam: melhorar a didática e aprender sobre a carreira docente, acrescentar e atualizar conhecimentos sobre o Turismo e as diversas temáticas abordadas pelo projeto, aprofundar os conhecimentos acerca da educação e turismo, além de entenderem as operações e procedimentos para organização de atividades em campo.

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Desta forma, considera-se que a experiência aqui apresentada traz resultados positivos na medida em que duas práticas pedagógicas cumprem efetivamente, e de forma otimizada, seus papéis no que se refere à formação profissional dos bacharéis em Turismo.

Referências

ANTONIO, F.; ANTONIO, L.; CHEHADE, M. Estágio supervisionado e desenvolvimento profissional. In: Revista Científica Eletrônica de Turismo, Garça, v 5, n.8, jan. 2008. Disponível em: <http://www.editorafaef.com.br>. Acesso em: 27 mar. 2011. FERNANDES, J.D. et al. Dimensão ética do fazer cotidiano no processo de formação do enfermeiro. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v.42, n.2, p. 396-403, jun. 2008. FONSECA FILHO, A. S. Educação e Turismo – reflexões para a elaboração de uma Educação Turística. In: Revista Brasileira de Turismo, Brasil, v.1, n.1, p.5-33, 2007. Disponível em: <http://www.revistas.univerciencia.org/turismo/index.php/rbtur>. Acesso em: 21 maio 2009. RUSCHMANN, D. Turismo e planejamento sustentável: a proteção do meio ambiente. Campinas, SP: Papirus, 1997. (Coleção Turismo). SCHEIDEMANTEL, S. E. et al . A importância da extensão universitária: o Projeto Construir. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA BELO HORIZONTES, 2., 2004, Belo Horizonte. Anais eletrônicos... Belo Horizonte, UFMG, 2004. Disponível em: <http://www.ufmg.br/congrext/Direitos/Direitos5.pdf>. Acesso em: 03 set. 2009.

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O Ofício do Educador e os Cursos Superiores de Turismo

Danielle Aparecida Batista1 Raíssa de Keller e Costa2

Leandro Benedini Brusadin3

Este trabalho é resultado da disciplina Educação no Turismo, ministrada no curso de Turismo, durante o 2º semestre de 2010, na Universidade Federal de Ouro Preto. Traz para o bojo das discussões, paralelamente entre o ofício do professor e do aluno, situando-as como imprescindíveis para o desenvolvimento desse curso.

Ainda que se pense que a própria vida é a maior responsável pelas lições que ensinam a lidar com determinadas situações ou evitar situações indesejadas, as escolas enquanto instituições de ensino representam uma fonte de conhecimento capaz de trabalhar o desenvolvimento intelectual e reflexivo. Portanto, torna-se relevante analisar o papel e a forma pela qual essa educação vem sendo trabalhada no Brasil, e especialmente no ensino superior, em que a educação reflete intimamente no desempenho dos alunos por meio do seu rendimento profissional.

Neste sentido, o objetivo deste artigo é propor uma reflexão sobre a educação de ensino superior no Brasil, delimitada no âmbito dos cursos de graduação em Turismo. E para isso, o trabalho se valeu principalmente da pesquisa bibliográfica, como instrumento metodológico, a qual permitiu o debate das ideias diante dessa realidade.

Por meio de revisão da literatura acerca do tema educação, é possível perceber que, no Brasil, o processo de construção do sistema educativo esteve ligado a questões econômicas, e à mercê de interesses “políticos”. Desse modo, “[...] a criação da universidade, em particular, e do sistema educativo, de modo geral, deveu-se a necessidades imediatas da realidade socioeconômica do país.” (BARRETO; TAMANINI; PEIXER, 2004, p.11) Apesar de muitas universidades estrangeiras, pontualmente as escolas alemãs, indicarem a possibilidade desse nível de ensino focalizar-se em uma abordagem social, no Brasil, a tendência se concentrou na formação baseada nos moldes econômicos.

Neste contexto se insere o surgimento dos cursos de Turismo no Brasil, relacionado com a demanda crescente do mercado de turismo por profissionais da área. No entanto, julgou-se que a mão-de-obra técnica não era suficiente e tornou-se necessária e oportuna a implantação dos cursos superiores de Turismo.

Esse processo de crescimento da oferta de serviços destinados ao lazer, turismo, hotelaria, gastronomia e entretenimento tem seus reflexos na área da educação, porque o mercado tornou-se carente de mão-de-obra qualificada para

1

Graduanda em Turismo, Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). E-mail: [email protected]. 2

Graduanda em Turismo, Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). E-mail: [email protected]. 3

Professor assistente do curso de Turismo, Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). E-mail: [email protected].

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atender a esse ramo em desenvolvimento (MARTINS, 2002, apud BRUSADIN, 2007).

Contudo, a concepção dos cursos de Turismo baseada em planos pedagógicos tecnológicos sem uma visão voltada ao humanismo, acabou desde seu início estabelecendo uma dicotomia entre o pensar e o fazer, em que o saber interessado, regido pelo mercado se afasta do saber desinteressado, voltado aos aspectos humanistas.

A partir deste impasse, surgiu uma problemática que nos parece, até o presente momento, factível para essas discussões: como equilibrar a balança do aparato intelectual, proveniente do pensamento humanista, e do conhecimento tecnicista exigido pelo mercado? Uma alternativa possível talvez resida no estreitamento da relação entre aluno e professor, muito mais do que em uma reforma das grades curriculares dos cursos de Turismo. Recorremos a Paulo Freire (2005) quando diz que a comunhão educacional deve-se sobressair ao individualismo. Superação do intelectualismo alienante e do educador “bancário”, a falta de consciência do mundo.

Para tratar da relação entre educador e educando, Paulo Freire (2005, p. 67) também coloca que “[...] essas relações apresentam um caráter especial e marcante – o de serem relações fundamentalmente narradoras, dissertadoras”. E nesta perspectiva parece improvável a superação do conhecimento, em que um conteúdo permeie na narração de educadores e educandos: “[...] nesta distorcida visão da educação, não há criatividade, não há transformação, não há saber”.

Em contrapartida, a proposta de educação libertadora traz à luz uma relação dialógica em que educadores e educandos têm a função de construir o conhecimento. Um educador humanista se vê identificado com os educandos e, assim, é capaz de promover a humanização de ambos, passando a um pensar autêntico, no caminho da superação da falta de consciência. Dessa forma, o objeto não é propriedade exclusiva do educador, mas sim uma incidência da reflexão de ambos.

No entanto, ainda que aclarada esta relação educador - educando, parece distante o momento em que esse ideal estará concretizado em nosso sistema educacional, mesmo no ensino superior. Entende-se que reside na relação dicotômica entre teoria e prática, nas disciplinas dos cursos de Turismo, o próprio impasse da educação libertadora e da relação educador - educando. Logo, o desafio que se estabelece é superar a relação de transferência e depósito, peculiar à concepção bancária de ensino, e incorporar-lhe uma interdisciplinaridade entre teoria e prática, ciência e mercado.

Esta não é uma tarefa fácil e, tampouco um fim que termine em si mesmo. A proposta de uma interpolação efetiva entre prática e teoria requer uma discussão para além das questões do ensino em Turismo. No entanto, o próprio debate entre teoria e prática tende a abordar uma infinidade de questões, que permeiam o status de qual seria mais significativa, o qual é antecedente: a teoria ou a prática? Mas neste sentido, Terribili Filho (2008) defende o seguinte:

[...] o aprendizado só ocorre quando há uma situação de problema real para se resolver. Com base nos conhecimentos teóricos e na experiência prática é possível solucionar o problema passando por cinco fases: caracterização

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da situação problemática; desenvolvimento da sugestão, observação e experiência; reelaboração intelectual; e verificação dos resultados [...]. A fase mais relevante neste processo é a reelaboração intelectual, por se caracterizar pela formulação de novas idéias, cuja riqueza é diretamente proporcional aos conhecimentos, vivência e experiência da pessoa.

Assim, na interpolação da prática e da teoria, o educador se propõe a

despertar em seus alunos curiosidade, discussão e interesse pela busca de novas ideias e conceitos. E não só isso, de forma também que a reflexão crítica extrapole os limites da sala de aula, e contemple o universo social em que está inserido em busca de transformar os seus educandos, a si mesmo e, consequentemente, a própria sociedade.

A formação social e profissional de uma pessoa está diretamente relacionada à sua educação, especificamente, nas experiências obtidas nas relações de ensino aprendizagem. A ideia é pensar a educação para o curso de Turismo em um objeto intelectual por meio do oficio do educador e das contrapartidas dos educandos em um processo dialógico transformador para a universidade e a atividade turística.

Essa realidade altera a posição do estudante no ensino universitário, já que suas bases fundamentais são voltadas para uma metodologia técnico-científica, ou seja, a informação sólida e propagada aos ouvintes sem a participação dos mesmos. Esses ingressam em universidades sem o desenvolvimento de um censo crítico, o que dificulta a aprendizagem nessas instituições que possibilitam, ainda que pouco, as discussões e explanações sobre os temas propostos pela grade curricular.

A proposta de uma concepção mais harmoniosa entre educador e educando requer dos primeiros uma percepção da importância de atrelar o ensino humano com o ensino para o mercado, em um contexto interdependente dos nossos tempos, e ainda possibilitar que o processo didático seja passível de uma troca de saber entre os envolvidos.

Referências BARRETO, M.; TAMANINI, E.; PEIXER, M. I. S. Discutindo o ensino universitário de turismo. Campinas, SP: Papirus, 2004. BRUSADIN, L. B. A formação do bacharel em turismo com base nas estruturas curriculares e nos docentes dos cursos de graduação. In: SEMINÁRIO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM TURISMO, 4., 2007, São Paulo. Anais... São Paulo, Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo, 2007. 1 CD-ROM. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. TERRIBILI FILHO, A. Teoria e prática são duas faces da mesma moeda. Disponível em: <http://webinsider.uol.com.br/2008/01/15/teoria-e-pratica-sao-duas-faces-da-mesma-moeda>. Acesso em: 10 out. 2010.

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A Dádiva da Hospitalidade na Grade Curricular: Estudo de caso na Universidade Anhembi Morumbi

Andréa Nakane1 Francisco de Canindé Gentil Vieira2

Conforme apontamentos do ensaio de Nakane e Vieira intitulado

Hospitalidade – Talentos Cobiçados no Mundo Contemporâneo, apresentado no I Simpósio Formação e Atuação Profissional em Turismo, Lazer e Hospitalidade, em abril de 2009, na EACH-USP, a abordagem hospitalidade é atualmente um tema em grande vigor e discussão, pela visibilidade que provoca nos ambientes da hotelaria e do turismo.

Neste trabalho foi demonstrada a relevância do ensinamento da hospitalidade de forma mais ampla e dirigida nos ambientes universitários, no sentido de despertar nos indivíduos que almejam ingressar na área a verdadeira essência da responsabilidade e comprometimento hospitaleiro.

A proposta conclusiva desde ensaio passado reconheceu que o mundo contemporâneo solicita formação especializada na arte de receber e servir, fator que apontava a necessidade da inclusão de uma disciplina exclusiva nas grades curriculares dos cursos em questão, para incitar uma maior compreensão e aprofundamento dos conceitos clássicos, teóricos e coloquiais.

Com base nesse estudo, a Escola de Turismo e Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi, após estudos mais consistentes, introduziu na grade curricular vigente dos cursos de Bacharelado em Turismo e Hotelaria e os de Tecnologia em Eventos e Gastronomia duas disciplinas com as seguintes nomenclaturas: Turismo, Hospitalidade e Competências e Comportamento, Cerimonial, Protocolo e Etiqueta, integrantes da estrutura curricular do primeiro semestre da cada curso.

Segundo Castelli (2010), um dos principais condutores para o entendimento do significado da hospitalidade é a percepção do outro. Porém, na prática das relações humanas, torna-se muito difícil essa visão espontânea, sem uma autoavaliação e compreensão do seu real papel enquanto profissional e cidadão.

Essa identidade é estimulada e reforçada com o desenvolvimento das disciplinas acima mencionadas, cujos conteúdos circulam sobre as fundamentações e segmentações do Turismo, amparados por um cenário social de civilidade, onde há um pleno reconhecimento dos papéis aos quais os discentes irão futuramente desempenhar funções, de forma não mecanicista, mas sim compreendendo o tangente da emoção que integra a atividade. Tal referendo encontra apoio na fundamentação de Castelli (2010), que afirma que “O educar para a Hospitalidade funciona como uma espécie de alfabetização social”. Em alguns casos a Hospitalidade é carregada como bagagem vivencial, herdada do berço familiar,

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Docente e coordenadora do curso de Turismo, da Universidade Anhembi Morumbi. E-mail: [email protected] 2

Docente e coordenador do curso de Hotelaria, Campus Centro, e do curso de Tecnologia em Eventos, da Universidade Anhembi Morumbi. E-mail: [email protected]

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porém, adormecida, e em outros não há referências, sendo então uma seara a ser adquirida.

Reconhecendo a importância da lapidação desses talentos com o intuito de oferecer ao mercado profissionais de cultura ampla e diversificada, ambas disciplinas foram formatadas obedecendo carga horária de 80 horas/aula. Os conteúdos são apresentados de forma expositiva e prática, favorecendo condutas internas de valorização e respeito ao cerne da hospitalidade, difundida por Marcel Mauss por meio da teoria do dar, receber e retribuir.

Essa compilação didática permite a criação de uma cultura não só de habilidades, mas principalmente de atitudes, competência almejada intensamente pelo mercado. Conforme Alberto (2011), o profissional de turismo e hospitalidade deverá preparar-se para qualquer posição, ação, reação, dúvida ou certeza, fatores que não se alcançam com modelos pré-fixados, pois os mesmos não podem atingir a diversificação das manifestações particulares e coletivas dos indivíduos. É preciso ter mentes abertas e vocação estimulada para tais finalidades.

Ao completar 40 anos da introdução do primeiro curso superior de Turismo no Mundo, a Universidade Anhembi Morumbi, através da Escola de Turismo e Hospitalidade, evoca a continuidade de seu pioneirismo ao incitar reflexões sobre condutas atualizadas de ações que englobam o ensinar e o ser, colaborando para uma maior excelência do panorama da hospitalidade no Brasil.

Referências ALBERTO, L. O fator humano: fator de estratégia competitiva e segmentação do turismo. In: FURTADO, S.; VIEIRA, F. (Org.) Hospitalidade, turismo e estratégias segmentadas. São Paulo: Cengage Learning, 2011. CASTELLI, G. Hospitalidade – A inovação na gestão das organizações Prestadoras de Serviços. São Paulo: Saraiva, 2010. NAKANE, A.; VIEIRA, F. C. G. Ensaio Hospitalidade – Talentos Cobiçados no Mundo Contemporâneo. In: SIMPÓSIO FORMAÇÃO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL EM TURISMO, LAZER E HOSPITALIDADE, 1., 2009, São Paulo. Pôster... São Paulo, Escola de Artes, Ciências e Humanidades, 2009.

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Hospitalidade, Lazer e Formação Profissional

Prof. Dr. Luiz Octávio de Lima Camargo1

Para inter-relacionar os conceitos acima, proponho a seguinte questão: como pensar a formação para o trabalho em espaços hospitaleiros de lazer, como centros culturais, museus, parques verdes etc.? A hipótese a ser defendida aqui é que a hospitalidade é condição para atuação no lazer e mesmo ao turismo, se este não fosse tão contaminado pela noção de negócio.

Dividirei este ensaio nos seguintes três tópicos: a noção de hospitalidade (começar por hospitalidade é uma forma de homenagear os organizadores deste evento, que, pela primeira vez, trazem o tema para discussão). Em seguida, discutiremos a noção de lazer não no significado ou na sua gênese, mas na dinâmica de consumo que lhe é subjacente e peculiar. Antes das considerações finais, trataremos da questão da formação para uma animação que podemos chamar de hospitaleira. Hospitalidade

A palavra tem sido mencionada em pelo menos dois sentidos: o da chamada hospitalidade genuína e da comercial. Comecemos pela dita genuína.

A noção remete à ideia de um encontro ritualizado, regulado por leis explícitas, cuja observância é condição para que se estabeleça o vínculo humano. Na cena hospitaleira, aquele que recebe, o anfitrião, deve honrar seu visitante, atender às suas necessidades de acolhimento, hospedagem, alimentação e entretenimento, convidando-o a desfrutar daquilo de que gostar ou necessitar (“faça de conta que está em sua casa”), mas delimitando o espaço destinado a este encontro e, ao mesmo tempo, vigiando-o para que os limites sejam respeitados. Este hóspede, por sua vez, deve honrar seu anfitrião com palavras e presentes, sempre tendo consciência do espaço que lhe é reservado e fora do qual todo uso necessita de permissão.

É uma cena complexa, na qual anfitrião e hóspede equilibram-se numa corda bamba, na qual toda hesitação, deslize ou mesmo qualquer mau desempenho pode dar lugar à hostilidade ou a hostipitalidade, a hospitalidade interrompida. O estudo da hospitalidade é, também, paradoxalmente, o estudo de seu verso, a hostilidade.

A hospitalidade doméstica, matriz da hospitalidade, desde o início da Modernidade, vem tendo seu prestígio solapado pela hospitalidade urbana e seus equipamentos, sejam públicos, como albergues, hospitais, cadeias, hospícios, terminais de transporte etc., sejam comerciais como hotéis, restaurantes, que, doravante assumem cada vez mais o acolhimento de estranhos, viajantes cujo número cresce em virtude da expansão do comércio, da industrialização e da urbanização. Esse fluxo migratório teve como contrapartida, desde o século XIX, a 1

Professor do curso de Lazer e Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades, da Universidade de São Paulo. Mestrado em Hospitalidade, da Universidade Anhembi Morumbi. E-mail: [email protected].

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atual formatação do receptivo turístico de cidades e países. À diferença dos migrantes pobres, os turistas “compram” hospitalidade. Talvez por falta de um termo correspondente à hotelaria, nos países anglo-saxões adotou-se o termo hospitality como sinônimo de receptivo turístico, acepção que se difundiu hoje em todos os cantos do planeta. De qualquer forma, a hospitalidade de profissionais de equipamentos públicos e comerciais é a mesma genuína hospitalidade cantada em prosa e verso ou o termo é apenas um recurso para disfarçar o objeto financeiro oculto de cidades que desejam a receita adicional do turismo?

Não há dúvidas de que se trata de uma hospitalidade encenada, na qual expressões verbais e não verbais da hospitalidade genuína são incorporadas e traduzidas em protocolos a serem obedecidos pelos que assumem a recepção do estranho, com o objetivo não raro explícito de impedir o vínculo humano.

De um lado, é bem verdade que o dinheiro interrompe a dádiva, tornando a relação humana impessoal, simétrica e finita.

O sistema comercial substitui o sistema da dádiva. De outro, observa-se que, mesmo em contextos comerciais, submersa em meio a regulamentos explícitos que substituem o vínculo humano, cuja inobservância gera recurso a leis positivas e não às ancestrais da dádiva, a noção de hospitalidade ainda tem lugar. Tal como ocorre com os profissionais da ajuda em geral (médicos, psicólogos, assistentes sociais etc.), também na hospitalidade urbana e comercial o contato pessoa a pessoa pode impor-se sobre a etiqueta profissional de distanciamento. Nesse caso, a hospitalidade genuína transborda da hospitalidade encenada Lazer

Colocado na perspectiva da hospitalidade, a prática do lazer moderno também nos coloca diante de duas situações: a do lazer vivido sob o sistema da dádiva e o vivido sob a égide do consumo simbólico de signos, marcas, grifes e sua tradução monetizada. Se Marcel Mauss iniciou seu ensaio clássico sobre a dádiva, lamentando que o sistema da dádiva estava em extinção diante do avanço do sistema comercial, o mesmo se pode dizer do que chamaremos aqui de lazer-dádiva e lazer consumo. Este também é hegemônico, de tal forma que, para muitos, a sociologia do lazer encerrou-se com Veblen e sua assertiva de que o lazer nada mais é que um tempo e espaço de um consumo com vistas à exibição da distinção social.

Não há, pois, como estranhar que os estudos do lazer centrem-se na temática do consumo e que, para muitos, lazer seja sinônimo de shopping center. Pierre Bourdieu foi especialmente impiedoso neste ponto de vista. Seu capítulo sobre o tênis é especialmente ilustrativo: sua prática é puro exibicionismo de classe social. Ao final da vida, Joffre Dumazedier escreveu uma carta que consta de dossiê preparado após sua morte, dirigida a Pierre Bourdieu, na qual lamenta que tanto se estude a distinção social e não as estratégias de resistência de indivíduos que buscam no lazer a criação de laços pessoais genuínos? Acredito que essa carta seja mais importante do que a resposta protocolar de Pierre Bourdieu, também no final de sua vida.

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A frequência a um shopping pode ser movida apenas pelo desejo de ver e ser visto por pessoas e, quem sabe, estabelecer contatos que, em princípio, nada tem de utilitários. Assistir a um programa de tevê pode ser submissão ao Grande-Irmão de George Orwell, mas pode ser um encontro de amigos para assistir a um jogo de futebol. O segundo exemplo é o mais importante, na medida em que nos dará as pistas para o entendimento do que seja um lazer hospitaleiro. É a questão da festividade.

Em outros textos, tenho afirmado que a diversão está na lógica da busca do lazer, mas sua concretização pode acontecer ou não. O sistema comercial, com o poderoso braço da publicidade, nos diz que sim. Usar determinado perfume, determinado endereço, determinada grife, determinado carro, é garantia de um lazer esplendoroso.

Na verdade, como lembraram Harvey Cox e Roger Caillois, o Iluminismo e a Revolução Industrial possibilitaram o progresso material humano, mas eliminaram nossa capacidade de viver a festividade, o êxtase cuja vivência teve na Idade Média o seu apogeu. Festividade exige certa ingenuidade, uma capacidade viver a fantasia, às quais o utilitarismo moderno nos veda o acesso. Também aqui o consumo tem um papel destacado. Para mais uma vez colocar na perspectiva da hospitalidade, trata-se de uma festividade encenada, um mostrar-se feliz, um exigir-se feliz, o que parece uma forma de matar a sede com a água do mar. Costumo dizer, como piada, que uma das patologias dos condomínios horizontais, no qual todos se situam nos mesmos segmentos sócio-econômicos e são mais submetidos a contatos interpessoais, é a importância desmesurada do consumo ostentatório. Formação profissional

A entrada no campo do lazer de profissionais da gestão tem produzido algumas aberrações: centros de lazer com animadores sem alma, orientados a manter um distanciamento asséptico dos clientes.

Atenção: o vocábulo profissional é mais ambíguo do que parece. É ao mesmo tempo, arrogante e limitador. Quando dizemos que alguém é profissional tanto podemos falar do portador de know-how, superior a quem não o tem, como daquele que não se envolve pessoalmente, um mero executor de tarefa.

Pelo que se viu acima, o “profissional” que interessa é aquele que conhece o seu metiê, mas também quer e sabe criar vínculo humano, ainda que no fio da navalha entre o distanciamento e o coração. Joffre Dumazedier dizia que o animador é alguém que tem ciência (do seu metiê), empatia (consciência da exclusão de amplas parcelas da população) e capacidade de agir (no sentido de minorar tais condições).

Acolhimento, animação, entretenimento dos usuários de centros de lazer devem ser objeto de uma ciência da gestão específica, anterior àquela criada pela revolução industrial capitalista, em que, ao invés da relação autoritária, sujeito e objeto, e, por extensão, animador e usuário se confundem.

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Considerações finais

Claro que se pode falar de hospitalidade à moda anglo-saxônica e, neste caso, tudo o que aqui se disse pouco importa. Mas se considerarmos a noção genuína de hospitalidade, veremos que os conteúdos das ciências aplicadas à gestão são eficientes no campo da logística, dos recursos financeiros e materiais, mas não para as relações humanas, sobretudo com os usuários de centros de lazer.

Nesse caso, a formação do profissional de lazer deve priorizar o desenvolvimento não apenas da ciência embutida no metiê como da empatia, da capacidade de criação de vínculo humano com os usuários, substituindo o autoritarismo e a repressão e pela persuasão e pela dissuasão.

Assim, talvez, um dia, sejamos capazes de produzir um domínio inovador das ciências aplicadas da gestão, específicas do campo do lazer, especialmente da formação profissional no lazer.

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Formação e Atuação Profissional em Agências de Viagens: Relato de experiência sobre as práticas pedagógicas desenvolvidas na

disciplina de Agências de Viagens e Turismo do curso de Turismo da Unesp

Fernando Protti Bueno1

Ao considerar a importância do setor de agenciamento de viagens no desenvolvimento do mercado turístico, mediante sua ação prioritária de intermediação de relações comerciais entre fornecedores e consumidores finais, e por se evidenciar neste setor a alta competitividade e o constante processo de mudança, notadamente marcados pela influência exercida pela globalização e pelas tecnologias da informação, além de uma série de outros fatores de ordem política, social, econômica e ambiental que também exercem influência direta e indireta sobre a atividade, reconhece-se a necessidade e a importância da atuação profissional para o funcionamento deste setor.

O setor de agenciamento de viagens tem ao longo dos últimos anos passado por um processo de mudança caracterizado pela desintermediação dos produtos e serviços turísticos, já que muitos dos fornecedores do turismo têm optado por canais diretos de distribuição de seus produtos como forma de redução de custos e suposto aumento da rentabilidade, destituindo assim, a função de intermediação das agências de viagens.

Em contrapartida, influenciadas pelas tecnologias da informação e por uma nova postura empresarial as agências de viagens têm encontrado soluções para reafirmar sua importância no funcionamento do mercado e gerenciar sua manutenção e continuidade no processo de intermediação de produtos e serviços turísticos, sendo caracterizado pelo processo de reintermediação – notadamente marcado pelo aparecimento das agências virtuais e pela revolução no perfil e na postura dos agentes de viagens.

Nesse sentido, o mercado exige que as ‘novas’ agências e, consequentemente, seus profissionais, os agentes de viagens, passem a atuar como consultores de viagens, tendo seu reconhecimento e remuneração advindos dos serviços prestados aos consumidores. Isto faz com que os agentes necessitem ainda mais desenvolver competências para o alcance dos resultados esperados pelas agências de viagens, por meio de: conhecimentos sobre o produto, os procedimentos de operação e a utilização de recursos multimídias; habilidades para comunicação, planejamento e tomada de decisões; e atitudes como dinamismo, atenção e empatia. Categoricamente estes profissionais dispõem da possibilidade de desenvolver e aprimorar estas competências a partir do ensino (superior ou profissional) e da prática de mercado.

Considerando estas exposições, a disciplina de Agências de Viagens e Turismo do curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), desenvolvido no Campus de Rosana, em São

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Curso de Turismo, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). E-mail: [email protected].

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Paulo, tem visado o oferecimento de uma formação acadêmico-profissional aos egressos da mesma, tendo por base o pressuposto de que o conhecimento e o aprendizado desenvolvido nas aulas da disciplina podem incitar e gerar competências para a atuação profissional deste alunado.

Para tanto, a referida disciplina tem se utilizado, em conjunto com as aulas expositivas, de diferentes práticas pedagógicas na tentativa de aproximação teórico-prática para a formação do aluno e sua consequente atuação profissional. Assim, conforme são desenvolvidos os conteúdos programáticos da disciplina, também são atrelados a estes as práticas de: - Saída Técnica: que consiste na visita a diferentes agências de viagens e turismo, com o intuito de conhecer a realidade das empresas e do setor de agenciamento de determinada localidade, bem como em observar a prática de funcionamento e operação de uma agência, e de atuação do profissional agente de viagens; - Simulação de Agências Virtuais: consiste em simular um processo de prestação de serviços de agenciamento de viagens por meio eletrônico, compreendendo a assessoria e a intermediação de produtos turísticos a determinados consumidores; - Curso de Reservas: realização de um curso básico de reservas de um GDS (Global Distribution Systems), com o intuito de instrumentalizar noções de uso deste programa.

Além destas práticas, a disciplina também se utiliza das estratégias de leitura programada, seminário, relatório e avaliação como elementos racionais para desenvolver o processo de ensino aprendizagem e evidenciar atos de compreensão acerca das relações teórico-práticas proporcionadas.

Como um dos critérios de avaliação, e se pensando em um duplo viés para avaliar as competências desenvolvidas ou aprimoradas, a disciplina se utiliza da Avaliação de Desempenho Individual, para por meio de características objetivas e subjetivas, professor e aluno, avaliarem o desempenho perante as práticas pedagógicas desenvolvidas e as competências teórico-práticas desenvolvidas ou aprimoradas, refletindo as condições para uma futura atuação profissional.

A partir disso, tem sido possível identificar o desenvolvimento e o aprimoramento de competências relacionadas aos conteúdos teóricos e suas aplicações na atuação prática de uma agência de viagens – agente de viagens, bem como visualizar a melhora na compreensão acerca do setor de agenciamento de viagens.

Ademais, os relatos colhidos por meio de questionários com perguntas abertas aplicados aos alunos das disciplinas ofertadas nos anos de 2009 e 2010 evidenciam como salutar a inserção destas práticas pedagógicas na disciplina, enfatizando a necessidade de se ter experiências que coloquem o aluno na posição profissional, pois facilita e amplia a compreensão e a avaliação da teoria, aprimora a formação acadêmica e auxilia na tomada de decisões profissionais. Relatam ainda que estas práticas contribuíram para a formação acadêmica e profissional, pois geraram maior interesse pela temática e pela profissão, expandiram os campos de visão da área – interagindo as agências com o trade turístico, e simularam a prática.

Além disso, colocam que a realização destas práticas pedagógicas proporcionou o desenvolvimento de habilidades para o domínio de ferramentas de busca de informações, a operação de sistema de reservas, a comunicação e o

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atendimento a clientes, a organização, o planejamento e o gerenciamento de produtos e de procedimentos de rotina, o trabalho em equipe e lidar com situações problemas, vistas como importantes a suas atuações profissionais. Em complemento a isso, os alunos identificaram a necessidade de se ter atitudes como criatividade, agilidade, perspicácia e postura profissional para atuarem no setor de agenciamento.

Por fim, subentende-se que a tentativa de aproximar teoria e prática para a formação e atuação profissional, especificamente no turismo, e, claramente nas agências de viagens, torna-se essencial aos futuros profissionais, bem como gera ainda uma melhor compreensão do conteúdo. E isto ressalta a importância e a necessidade, assim como contribui para a evolução do perfil do profissional agente de viagens, diante das tendências e perspectivas em relação às agências de viagens.

Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15080: turismo – agente de viagens. Rio de Janeiro, 2004. BENI, M. C. Globalização do turismo: megatendências do setor e a realidade brasileira. São Paulo: Aleph, 2003. BRAGA, D. (Org.). Agências de viagens e turismo: prática de mercado. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. COSTA, J. I. P.; FLECHA, A. C. O impacto das novas tecnologias nos canais de distribuição turística um estudo de caso em agência de viagens. Caderno Virtual de Turismo, Rio de Janeiro, v. 4, n. 4, p. 44-56, 2004. Disponível em: <http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/ojs/include/getdoc.php?id=953&article=71&mode=pdf>. Acesso em: 13 maio 2009. ISSN: 1677-6976. LAGO, R.; CANCELLIER, E. L. P. L. Agências de viagens: desafios de um mercado em reestruturação. Revista Turismo - Visão e Ação, Balneário Camboriú, v.07, n.3, p. 495-502. Set./dez. 2005. Disponível em: <http://siaiweb06.univali.br/seer/index.php/rtva/article/view/512/443>. Acesso em: 17 fev. 2009. ISSN: 1983-7151. MARÍN, A. Tecnologia da informação nas agências de viagens: em busca da produtividade e do valor agregado. São Paulo: Aleph, 2004. TOMELIM, C. A. Mercado de agências de viagens e turismo: como competir diante das novas tecnologias. São Paulo: Aleph, 2001.

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Consumo Consciente de Alimentos na Formação Tecnológica em Gastronomia: realidade e tendências de propostas formativas

Rebeca Elster Rubim1 Prof. Dra. Mirian Rejowski2

Na sociedade atual, a questão do pensamento ecológico - que é entender o

eu na natureza e não mais o eu que domina a natureza - se posiciona contra o movimento de individualização exacerbada e o consumo ilimitado que coloca em risco as relações dos homens tanto com a natureza, como entre si. Já se tornou evidente que este padrão de consumo observado nas sociedades ocidentais modernas, não só é socialmente injusto, como também ambientalmente insustentável – o sistema não consegue incorporar todos, pois os recursos naturais são finitos; o consumismo é, então, excludente e assombra os direitos das futuras gerações (PORTILHO, 2005).

Dentre as várias definições do que seria o Desenvolvimento Sustentável, é possível resumir o conceito na proposta de que as sociedades possam crescer e satisfazer suas necessidades do presente, sem colocar em risco este mesmo direito das sociedades futuras (GRINOVER, 2007); e ainda deve ser socialmente justo, propiciando igualdade de acesso e oportunidades a todos. Neste ponto crucial reside uma das preocupações que move o homem desde as primeiras sociedades: como alimentar a todos de maneira satisfatória? A relação do homem com seu alimento – e sua obtenção – é até hoje uma preocupação real e importante quando se leva em consideração o desenvolvimento sustentável.

Sendo assim, o acesso a uma alimentação completa é fundamental. No entanto, com o crescimento das áreas urbanas e a distribuição desigual de riquezas, este direito básico é negado a várias populações do mundo. E, mais ainda, o direito das futuras sociedades se alimentarem também não é garantido, pois a maneira pela qual boa parte dos alimentos é obtida não sustenta a “saúde” da natureza, que é a fornecedora primária para esse fim.

Considera-se que as condições atuais de redução de recursos naturais impõem a necessidade de oferecer aos alunos do ensino superior tecnológico em Gastronomia uma educação que contemple essa questão. Nesse sentido, é preciso despertar nos graduandos a atenção para o impacto que a produção e a transformação do alimento causam no planeta e no cotidiano dos seres humanos.

Um conceito que cresceu em interesse desde então e surgiu como eixo central desta pesquisa é o consumo consciente de alimentos. Refletindo sobre essa

1

Graduada em Tecnologia em Gastronomia e pós-graduada em Docência para o ensino superior com ênfase em Gastronomia, Turismo e Hotelaria pelo Centro Universitário Senac. Mestranda em Hospitalidade na Universidade Anhembi Morumbi. Bolsista Prosup Institucional da CAPES. E-mail: [email protected]. 2

Bacharel em Turismo, Mestre e Doutora em Ciências da Comunicação e Livre Docente em Teoria do Turismo e do Lazer pela Universidade de São Paulo. Professora associada (aposentada) da Universidade de São Paulo. Docente do Mestrado em Hospitalidade, da Universidade Anhembi Morumbi. E-mail: [email protected].

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questão, percebeu-se o profissional da gastronomia como personagem atuante no ciclo do alimento, capaz de gerar mudanças, assim como o que é defendido pela ideia da Ecogastronomia3 do Slow Food.

A problemática central que conduz a pesquisa pode ser apresentada nas seguintes questões: Que conteúdos formativos, práticos e teóricos, acerca do consumo consciente de alimentos (ecogastronomia) se apresentam na formação atual de tecnólogos em Gastronomia no Brasil? Haverá no futuro um realinhamento das propostas formativas desse profissional face ao consumo consciente de alimentos?

Segundo as regulamentações do Ministério da Educação (MEC, 2002), a educação profissional de nível tecnológico, no caso da Gastronomia, indica que as atividades envolvidas nesses cursos devem ser integradas ao contexto das relações humanas em diferentes espaços geográficos e dimensões socioculturais, econômicas e ambientais.

Com base na literatura sobre o tema e na vivência da mestranda como docente e profissional da área, formularam-se três hipóteses desta pesquisa: 1) As propostas dos cursos de Tecnologia em Gastronomia no Brasil contemplam a sustentabilidade ambiental e social conforme os regulamentos do MEC. 2) Essa preocupação com a sustentabilidade se traduz em ações greenwashing4 e não assume a concepção da ecogastronomia. 3) A pressão da sociedade pelo consumo consciente de alimentos levará em curto prazo à oferta de disciplinas específicas em ecogastronomia.

A dissertação tem, portanto, por objetivo primário demonstrar a inserção presente e futura de conteúdos sobre ecogastronomia na formação do tecnólogo em Gastronomia no Brasil, a partir das propostas pedagógicas e da visão de coordenadores de cursos superiores. E por objetivos secundários descrever as propostas pedagógicas dos cursos superiores em Gastronomia no Brasil, identificando focos de formação sobre sustentabilidade ambiental e social; levantar e categorizar a presença de conteúdos teóricos e práticos sobre o consumo consciente de alimentos nessa formação; e verificar se a preocupação com o consumo consciente de alimentos indica tendências no futuro a serem incorporadas na formação desse profissional.

Esta pesquisa configura-se como bibliográfica na primeira fase de revisão de literatura, formulação do problema e das hipóteses e definição e operacionalização de variáveis, e na segunda, como pesquisa documental de caráter qualitativo, embora também abranja dados quantitativos na fase de levantamento.

Inicialmente foi necessário delimitar o objeto de estudo, a partir de levantamento realizado no site do Ministério da Educação (e-MEC) com todos os cursos de tecnologia em Gastronomia no Brasil. Dos 107 cursos que retornaram na pesquisa realizada em outubro de 2010, foram selecionados apenas os 22 cursos

3

Este é um movimento internacional que defende a necessidade e importância dos consumidores estarem bem informados sobre o “que chega às suas mesas”, conhecendo todo o ciclo do alimen to, valorizando ingredientes artesanais de qualidade, tornando-se parceiros no processo como um todo. 4

Segundo o Greenpeace, o termo greenwash é utilizado para descrever o ato de enganar consumidores em relação às ações ambientais de uma empresa através de seu produto (embalagem) ou serviço (propagandas etc). Disponível em: <http://stopgreenwash.org/>.

II SIMPÓSIO FORMAÇÃO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL EM TURISMO, LAZER E HOSPITALIDADE

9 28

reconhecidos e autorizados pelo MEC iniciados a partir de 2005, completando, portanto, em 2010, pelo menos cinco anos de existência.

No tocante à pesquisa empírica, pretende-se coletar dados sobre os cursos de acordo com instrumento específico, realizar contatos iniciais com coordenadores para finalizar e legitimar a coleta dos dados iniciais e, finalmente, realizar contato final com os mesmos sujeitos, aplicando entrevista semiestruturada a fim de discutir as temáticas do consumo consciente de alimentos na formação atual e futura do tecnólogo em Gastronomia.

Os resultados preliminares obtidos referem-se à construção da fundamentação teórica que sustenta esta pesquisa, voltada, em um primeiro momento, à conceituação, ciclo do alimento e problemática ambiental no contexto da Gastronomia, e especificamente à Ecogastronomia, discorrendo sobre o movimento Slow Food, o consumo consciente de alimento e alguns casos particulares dessa temática. Em um segundo momento está-se concentrando esforços também em relação ao levantamento do histórico e situação do ensino profissional e superior de Gastronomia no Brasil, assim como as disposições legais e regulamentos dessa formação e, ainda, a compreensão do paradigma da formação por competências.

Ao se aprofundar a discussão e levantar a opinião de profissionais direta ou indiretamente ligados à formação superior na área de Gastronomia, poder-se-á auxiliar e enriquecer o conhecimento científico desse recente campo de estudo e pesquisa que ainda caminha a pequenos passos, buscando sua sistematização e consolidação. Finalmente, os resultados desta pesquisa certamente oferecerão subsídios para que as instituições formadoras analisem e reformulem as suas propostas de formação alinhadas ao consumo consciente de alimentos, em prol da melhoria da qualidade do tecnólogo em Gastronomia, diferenciando-o e preparando-o para os desafios futuros.

Referências GRINOVER, L. A hospitalidade, a cidade e o turismo. São Paulo: Aleph, 2007. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno - Parecer número: CNE/CP: 29/2002 - Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Profissional de Nível Tecnológico. Aprovado em: 03/12/2002. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno - RESOLUÇÃO CNE/CP 3, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2002 - Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a organização e o funcionamento dos cursos superiores de tecnologia. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Superior - Parecer número: CNE/CES Nº: 277/2006 - Nova forma de organização da Educação Profissional e Tecnológica de graduação. Aprovado em: 07/12/2006. PORTILHO, F. Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania. São Paulo: Cortez, 2005. Slow Food Brasil. Disponível em: <http://www.slowfoodbrasil.com/>. Acesso em: 05 out. 2010.

II SIMPÓSIO FORMAÇÃO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL EM TURISMO, LAZER E HOSPITALIDADE

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Os Parques Urbanos e a Aprendizagem Ativa em Planejamento do Lazer

na Formação em Turismo e Hospitalidade

Prof. Dr. Reinaldo Pacheco3

Profa. Dra. Juliana Rodrigues4

O Curso de Lazer e Turismo da EACH-USP se propõe a formar um

profissional capaz de entender o significado do lazer na sociedade contemporânea e

as necessárias formas de intervenção neste campo, tanto por parte do Estado, da

iniciativa privada e do terceiro setor. Neste sentido, no planejamento inicial do curso

havia a ideia de criação de um “laboratório de observação e simulação”, que

pudesse sistematizar estratégias de ensino de graduação que usassem outras

metodologias ativas, além daquelas que estão sendo desenvolvidas internamente ao

currículo do Ciclo Básico e dos cursos, como as disciplinas de Resolução de

Problemas (RP) e de Estudos Diversificados (ED). Desta forma, os projetos de

extensão comunitária podem se configurar em excelentes ferramentas de

aprendizado, articulados aos programas curriculares desenvolvidos na unidade.

Embora esta primeira experiência de aproximação com o Parque Ecológico do Tietê

(PET) ainda não seja um projeto de extensão comunitária formalizado

institucionalmente, as estratégias de aproximação aqui relatadas apontam para a

necessidade de formalização destas possibilidades de intervenção no formato de um

projeto de extensão que possa inclusive permitir a participação de outros cursos da

unidade. Embora este relato seja realizado com foco no significado da formação em

Lazer e Turismo, vários campos de intervenção profissional da própria EACH

poderiam contribuir para ampliar a visão de uso público de um espaço como o PET.

Pode-se entender a aprendizagem ativa como aquela que se propõe a colocar

o estudante em situações concretas de contato com determinada realidade

profissional, estimulando-os a criar respostas concretas às demandas emergentes

apresentadas. (ROGERS, 1972; TORRES et al., 2004; MARIN et al., 2010).

Defende-se, portanto, a ideia de que diversos parques urbanos podem ser usados

como campo de aprendizagem para os estudantes de cursos no campo do Turismo

e Hospitalidade. Verifica-se, na realidade concreta da formação profissional neste

campo, um distanciamento destas potenciais parcerias com gestores de espaços

públicos, especialmente os parques urbanos, o que poderia contribuir com a

integração dos serviços de extensão universitária, formação acadêmica e pesquisa.

3 Professor do Curso de Lazer e Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da

Universidade de São Paulo: [email protected]. 4 Professora do Curso de Lazer e Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da

Universidade de São Paulo: [email protected].

II SIMPÓSIO FORMAÇÃO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL EM TURISMO, LAZER E HOSPITALIDADE

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Pode-se considerar esta vasta possibilidade de uso dos parques urbanos como

laboratório de ensino, pesquisa e extensão na medida em que, nas diversas cidades

brasileiras onde estão situados os cursos de turismo e hospitalidade, os parques

urbanos configuram-se como importante espaço público para as comunidades

anfitriãs e para visitantes.

Primeira aproximação: o evento “Qualidade de Vida e Saúde no Parque”

No início de 2011, fomos procurados pela direção do Parque Ecológico do

Tietê (PET), por intermédio do setor de Recursos Humanos do Departamento de

Águas e Energia Elétrica (DAEE), órgão do governo do estado responsável pela

gestão deste espaço público de lazer. Havia uma demanda de realização de um

evento focado no tema da “Qualidade de Vida e Saúde”. Existia, portanto, uma

possibilidade de iniciarmos um trabalho junto ao Parque Ecológico que não fosse

apenas um atendimento pontual, focado em demandas emergentes de eventos

planejados pela direção do parque ou pelo DAEE, mas que pudéssemos, a partir

destas primeiras aproximações, construir de fato uma proposta de integração entre a

formação que queremos para nossos estudantes e as possibilidades de atendimento

qualificado do direito ao lazer da população da Zona Leste.

Nossas primeiras reuniões de preparação do evento revelaram um Parque

que já oferece um serviço de ótima qualidade, com diversos tipos de atividades

livres podendo ser realizadas nos seus espaços, especialmente no campo das

atividades físico-esportivas. Além disso, há um trabalho extremamente consolidado

e de qualidade dentro da temática da Educação Ambiental que pode ser referência

para outros parques do gênero. Toda esta riqueza está, portanto, ao alcance dos

nossos estudantes. No entanto, como contrapartida às possibilidades de

aprendizado em campo, a EACH, por intermédio de seus estudantes e professores,

pode contribuir para que o planejamento de uso público deste espaço se consolide

com ainda maior qualidade, explorando todas as possíveis atividades e conteúdos

culturais de lazer que se coadunem com o tipo de atendimento proposto no PET.

No primeiro semestre de 2011, os estudantes de Ciências da Atividade Física

e de Lazer e Turismo, do primeiro ano, realizam de forma conjunta uma disciplina do

Ciclo Básico chamada Estudos Diversificados (ED) que apresenta dentre seus

objetivos a ideia de possibilitar o trabalho e o aprendizado sistematizado sobre

conteúdos em que estudantes e professores proporcionem o enriquecimento da vida

acadêmica, por meio de diversas estratégias. Numa primeira experiência de

aproximação concreta do curso de Lazer e Turismo com o curso de Ciências da

Atividade Física, propôs-se que a disciplina de ED fosse realizada conjuntamente

pelos estudantes de ambos os cursos e tivesse como temática “Políticas Públicas

para o Lazer e as Atividades Físicas”. Foram construídos os seguintes objetivos

II SIMPÓSIO FORMAÇÃO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL EM TURISMO, LAZER E HOSPITALIDADE

9 31

pelos professores responsáveis5 1. Conscientizar sobre a relevância do lazer e da

prática de atividades físicas para promoção da saúde e da qualidade de vida. 2.

Divulgar conhecimentos científicos sobre Lazer e Atividade Física. 3. Promover

interações entre Lazer, Atividade Física e outras áreas do conhecimento. 4.

Introduzir noções de Políticas Públicas para o lazer, esportes e atividades físicas. 5.

Introduzir noções de estratégias de intervenção das políticas públicas no nível

federal, estadual e local, assim como em instituições privadas e organizações do

terceiro setor. 6. Permitir que os alunos observassem locais, instituições, projetos

relacionados ao Lazer e AF, e apresentem os resultados de tais observações. Desta

maneira, estes estudantes da disciplina de ED foram convidados a participar desta

experiência de planejamento conjunto de um evento no PET.

Realização do evento

O evento ocorreu no dia 09/04/2011, das 8 às 17h. No entanto, algumas

reuniões preparatórias foram realizadas, tanto internamente na EACH quanto no

PET, com a equipe de professores e de gestão da unidade, com a participação ativa

de alguns estudantes. Definiram-se, no âmbito da EACH, os seguintes objetivos:

1) Realizar, de forma prática, a necessária aproximação da EACH com a estrutura administrativa do Parque Ecológico.

2) Proporcionar aos estudantes oportunidades de construção de conhecimentos mediante intervenções concretas.

3) Iniciar um processo de observação das potencialidades de desenvolvimento de projetos de extensão em parceria com o Parque Ecológico.

No evento, houve a participação final de 55 estudantes dos cursos de

Ciências da Atividade Física (CAF) e de Lazer e Turismo (LZT) realizando as

seguintes atividades, supervisionadas pelos professores e pela equipe de gestão do

PET. Além disso, o evento contou com a parceria de outras instituições que

conduziram diversas atividades com foco específico na saúde, desde palestras,

controle de diabetes, pressão arterial, exames oftalmológicos, dentre outras.

1) Caminhada monitorada com foco na atividade física. 2) Caminhada monitorada no espaço de educação ambiental, monitorada

em conjunto com os educadores ambientais locais. 3) Oficina de jogos de correr. 4) Oficina de jogos com bola. 5) Oficina de brinquedos artesanais. 6) Aula aberta de Dança. 7) Aula aberta de Alongamento.

5A disciplina de ED - “Políticas Públicas para o Lazer e as Atividades Físicas” foi construída pelos

Prof. Dr. Reinaldo Pacheco, Prof. Dra. Cristina Landgraf Lee e Prof. Dr. Douglas Roque Andrade. Foram fundamentalmente os estudantes desta disciplina que participaram desta primeira experiência didática no PET.

II SIMPÓSIO FORMAÇÃO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL EM TURISMO, LAZER E HOSPITALIDADE

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8) Aula aberta de Ginástica. 9) Oficina de rodas cantadas e brincadeiras musicadas. 10) Festival de Street Ball: Basquete em trios. 11) Festival de Rebatidas de duplas: futebol. 12) Festival de Vôlei em duplas. 13) Gincana e/ou Caça ao tesouro. 14) Oficina de brincadeiras e brinquedos populares: corda, pião,

amarelinhas e outros. 15) Tenda de relaxamento: automassagem, do-in e outras técnicas. 16) Atividades aquáticas: hidroginástica, brincadeiras. Foi oferecido aos estudantes participantes um certificado de participação

(20h, compreendendo planejamento, execução e avaliação das atividades),

camiseta do evento e alimentação. Deve-se destacar que o certificado de

participação de 20 horas está vinculado a participação do estudante em todas as

etapas do projeto: planejamento, execução e avaliação. As reuniões de avaliação

ocorreram exclusivamente na EACH, mas contaram com a participação de gestores

do parque.

Considerações finais

Após esta primeira experiência, embora ainda haja demandas para realização

de eventos, pretende-se propor uma agenda integrada entre PET e EACH no

sentido de que os eventos sejam parte de uma programação que possa ser

desenvolvida de forma continuada e que possibilite o planejamento de outros tipos

de atividade de lazer no parque, diversificando os conteúdos a serem desenvolvidos.

Tal como assinala Canton (2004), os eventos de lazer são ferramentas importantes

de desenvolvimento comunitário. Deve-se considerar ainda que o PET passará a ser

uma unidade de uso público dentro de uma unidade-parque muito maior. Ainda em

maio de 2011 foram visitadas as instalações da unidade da Vila Jacuí, que também

integrará o complexo Parque Várzeas do Tietê que até a sua consolidação alcançará

mais de setenta quilômetros de parque linear, com diversas unidades de uso

público, possibilitando até mesmo o deslocamento por ciclovia desde o PET até a

nascente do Rio Tietê, em Salesópolis. Desta forma, não há como fechar os olhos

para esta realidade: serão necessários profissionais do campo de Lazer e Turismo

capazes de gerir e de planejar o uso destes espaços e haverá uma demanda de uso

destas áreas de proteção ambiental situadas dentro de regiões metropolitanas

densamente povoadas cada vez maior. Deve-se considerar, portanto, não apenas os

eventos como fator de desenvolvimento para estes espaços públicos, bem como as

diversas possibilidades de atividades permanentes. Os estudantes do curso de

Lazer e Turismo, bem como de outros cursos da EACH tais como Gestão de

Políticas Públicas, Gerontologia, Ciências da Atividade Física, Gestão Ambiental,

II SIMPÓSIO FORMAÇÃO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL EM TURISMO, LAZER E HOSPITALIDADE

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Licenciatura em Ciências da Natureza – para ficarmos apenas com aqueles mais

diretamente relacionados com esta problemática – poderão se beneficiar bastante

com projetos de extensão desta natureza que se vinculam diretamente às

estratégias para formação de profissionais capazes de intervenções qualificadas na

numa realidade social em constante transformação.

Referências

BRANDON, Katrina. Etapas básicas para incentivar a participação local em projetos

de turismo de natureza. In: LINDBERG, Kreg; HAWKINS, Donald (org). Ecoturismo,

Um guia para planejamento e gestão. São Paulo: Senac, 1995, p. 225-256.

CANTON, Antonia Marisa. Eventos. In: ANSARAH, Marilia. (org). Turismo: como

aprender, como ensinar - 2. São Paulo: Senac, 2004, p. 305-330.

CERVANTES, Ana Lucia; Bergarmasco, Airtton; Cardoso, Cássia. Diretrizes para o

programa de uso público do Instituto Florestal do Estado de São Paulo – SMA. IN

Anais do 2° Congresso Nacional sobre Essências Nativas. Revista do Instituto

Florestal, Parte 4, Ed. Especial, março de 1992, pp.1076-1080

MARIN, Maria José S. et all. Aspectos das fortalezas e fragilidades no uso das

metodologias ativas de aprendizagem. Revista Brasileira de Educação Médica. 34

(1): 13-20, 2010.

MILANO, Miguel S. Unidades de Conservação. Conceitos básicos e princípios gerais

de planejamento, manejo e administração. In: Curso de Manejo de Áreas Naturais

Protegidas. Curitiba: UNILIVRE. 1997, pp.1-60.

REJOWSKI, Mirian. Turismo e pesquisa científica. Campinas: Papirus, 1996.

RICOUER, Paul. Reconstruir a universidade. Revista Paz e Terra, Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira, n.9, 1969.

ROBIM, Maria de Jesus. Análise das características do uso recreativo do Parque

Estadual da Ilha Anchieta: uma contribuição ao manejo. (Tese de doutorado).

Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. Universidade Federal de São Carlos, São

Carlos (SP), 1999, 161p.

ROGERS, Carl. Liberdade para aprender. Belo Horizonte: Interlivros, 1972.

TORRES, Patrícia L.; ALCANTARA, Paulo R.; IRALA, Esrom A. F. Grupos de

consenso: uma proposta de aprendizagem colaborativa para o processo de ensino-

aprendizagem. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v.4, n.13, p-129-145,

set/dez. 2004.

TRIGO, Luiz Gonzaga G. (org). Turismo: como aprender, como ensinar. São

Paulo: Senac, 2003.

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A Articulação da Pesquisa e da Extensão como Estratégia para o Amadurecimento do Grande Dourados Convention & Visitors Bureau

Patrícia Cristina Statella Martins1 Daniele Moraes Ebehardt2

O presente trabalho trata dos resultados de dois projetos desenvolvidos no âmbito do curso de Turismo, ênfase em Ambientes Naturais, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) de Dourados, a respeito do Grande Dourados Convention & Visitors Bureau (GDC&VB).

O GDC&VB foi criado em maio de 2005 e é uma associação sem fins lucrativos, com caráter misto e gestão empresarial. Possui como missão a promoção, a comercialização e a gestão da oferta de instalações e serviços da região da Grande Dourados3 (GDC&VB, 2006). A missão vem sendo cumprida com o apoio da UEMS via Projeto de Extensão e da Associação Comercial e Empresarial de Dourados (ACED), que é a principal mantenedora, fornecendo espaço físico, equipamentos de comunicação e de informática. Mais recentemente, a extensão indicou lacunas nas informações sobre o Convention que deram suporte para um projeto de pesquisa. Os resultados permitiram que se fizessem novas propostas à entidade.

Acredita-se que a necessidade de aprofundamento de alguns dados após a execução de um projeto de extensão é um caminho natural e necessário para a articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão que, certamente, refletirá na formação profissional dos acadêmicos envolvidos:

Processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável, e viabiliza a ralação transformadora entre a universidade e sociedade. Essa relação estabelece o fluxo de troca de saberes sistematizados, acadêmico e popular, que tem como consequências a produção do conhecimento resultante do confronto com a realidade, com a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação da Universidade (PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO, CULTURA E ASSUNTOS COMUNITÁRIOS, 2007, p.13).

Os projetos desenvolvidos serão apresentados em seções distintas para que fiquem claros os objetivos, métodos utilizados, bem como resultados alcançados em cada um.

1

Mestre pela Universidade Federal do Mato Grasso do Sul (UFMS). Docente e atualmente coordenadora do curso de Turismo com ênfase em ambientes naturais da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). Membro dos grupos de pesquisa Centro de Análise e Difusão do Espaço Fronteiriço (CADEF) e Políticas Públicas em Turismo e Lazer. Participa do COMTUR de Dourados/MS e do Fórum de Turismo de MS. E-mail: [email protected]. 2

Bacharel em Turismo pela UEMS. Atuou no Programa Institucional de Bolsas de Extensão como bolsista no Grande Dourados Convention & Visitors Bureau. E-mail: [email protected]. 3

A região é formada por 13 municípios do Estado de Mato Grosso do Sul escolhidos com base em critérios de ordem econômica, geográfica, histórica e social (MATO GROSSSO DO SUL, 2006).

II SIMPÓSIO FORMAÇÃO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL EM TURISMO, LAZER E HOSPITALIDADE

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O Projeto “Assessoria ao Grande Dourados Convention & Visitors Bureau” atendeu aos objetivos de assessorar a entidade; estimular a discussão sobre as ações a serem cobradas do poder público municipal e estadual a curto, a médio e longo prazo; mapear futuros mantenedores; sugerir alternativas de fontes de receitas; auxiliar na implementação da estrutura funcional; elaborar um cronograma de ações de sensibilização do empresariado a respeito do papel e da importância do mesmo para a cidade. Ao longo de seis anos - 2005 a 2011, a instituição contou com bolsistas, alunas do curso de Turismo, que desenvolveram subprojetos complementares focando a assessoria e o fortalecimento da associação.

Atendendo ao Projeto Pedagógico do Curso que, dentre os objetivos, deve demonstrar capacidade para desenvolver a cultura do Turismo como um diferencial de qualidade na atividade turística, por meio de parcerias com a comunidade e o mercado de trabalho contribuindo para o desenvolvimento da região (UEMS, 2010), sentiu-se que seria necessário oferecer auxílio técnico até que a instituição se estruturasse para a contratação de um executivo.

A execução dos objetivos dos trabalhos perpassou diferentes atividades: pesquisa bibliográfica e documental; estudo em grupo; estabelecimento de procedimentos legais como a formalização de convênio; elaboração de um manual de procedimentos das ações de responsabilidade para os acadêmicos do curso de Turismo, bolsistas; participação e observação em reuniões com registro sistemático; treinamentos e aplicação de questionário no caso de levantamento da oferta turística municipal; entrevistas com o trade turístico, com o presidente da ACED, bem como com executivos de outros Convention em cidades similares a Dourados, visando estudos de caso; realização de palestras juntamente com o presidente do GD&VB, demais parceiros do Conselho Municipal de Turismo para sensibilização a respeito da associação.

Como resultados destacam-se: levantamento da oferta turística local (hotéis, restaurantes, equipamentos para eventos, empresas organizadoras de eventos) que, inclusive, foram utilizados para o link de turismo do município; apoio e organização de 15 eventos; treinamento e capacitação de outros acadêmicos do curso de Turismo para a área de eventos; realização do planejamento estratégico da entidade; diversas ações de sensibilização incluindo visitas aos empresários do ramo turístico e palestras; visitas aos Conventions de Florianópolis/SC; Londrina/PR e Maringá/PR; participação ativa na conquista de um Centro de Convenções para Dourados; criação de um site em parceria com o curso de Ciências da Computação da UEMS.

Porém, ao longo desses anos, o trabalho operacional do GDC&VB ficou restrito aos alunos do curso de Turismo. Percebeu-se a ausência dos empresários em questões importantes e inerentes à associação e, em diversos momentos, eles transferiam as responsabilidades para os alunos. Nesse sentido, surgiu a necessidade de se pesquisar a visibilidade da instituição junto ao poder público municipal e junto aos empresários ligados ao trade turístico. A pesquisa intitulada “Considerações sobre o Grande Dourados Convention & Visitors Bureau” buscou a origem do desinteresse de muitos empresários do trade e até do poder público. Objetivou ainda levantar o trabalho realizado pelo Convention desde sua criação, segundo a ótica dos associados; levantar sua história e as

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atividades desenvolvidas; conhecer o nível de satisfação dos associados em relação às ações realizadas; levantar sugestões dos associados para dinamizar o trabalho da entidade.

O levantamento histórico foi feito por meio de pesquisas nos arquivos do GDC&VB; nos projetos de extensão executados e por meio de entrevistas informais com associados, parceiros, ACED e, ainda, com ex-bolsistas. Com o intuito de identificar o grau de conhecimento e de satisfação dos associados em relação às ações realizadas pela entidade, aplicou-se um questionário com 16 questões abertas e fechadas aos associados. As perguntas versavam sobre o conhecimento que os mesmos tinham sobre as ações já realizadas e, também, sobre a opinião, aceitação e satisfação em relação a essas atividades. Além disso, o questionário continha um espaço para sugestões que pudessem apoiar o crescimento e fortalecimento da instituição.

Os dados levantados demonstraram que a maioria, 70%, está filiada desde a constituição do GDC&VB. Para 80% dos entrevistados, o mesmo não estava cumprindo sua função. Porém, desconheciam as principais ações já realizadas justamente por não terem participado e/ou apoiado. Os associados não percebem a relação direta entre o sucesso de um Convention e o interesse de seus associados. Também foi constatado que a atuação do curso do Turismo estava sendo mal interpretada; ele passava a ser o responsável direto pelas principais decisões e atividades assumindo um papel que cabe aos empresários.

As sugestões apresentadas pelos entrevistados demonstram que se houver articulação e interesse por parte dos empresários a associação pode se fortalecer. Os resultados da pesquisa foram divulgados em Assembléia com a presença dos associados, Diretor de Turismo do Município, Presidente da ACED, professores do curso de Turismo da UEMS e membros do COMTUR. A pesquisa mostrou um retrato da associação e apontou para a urgência de uma reestruturação focada principalmente no real interesse e articulação dos associados, em uma gestão estratégica em sintonia com o poder público e, principalmente, no papel do curso de Turismo restrito a coadjuvante e não mais protagonista do processo. Caberá aos empresários definirem novas metas que fortaleçam o GDC&VB, implementando inclusive estratégias para arrecadação de fundos.

A experiência de promover a extensão e a pesquisa no âmbito do curso atendendo a instituições, empresas e mesmo ao poder público reforça a necessidade da academia se articular permanentemente com os diversos setores produtivos das áreas de Turismo, Lazer e Hospitalidade.

Referências GRANDE DOURADOS CONVENTION & VISITORS BUREAU. Estatuto Social. Alteração consolidada e aprovada durante Assembléia Geral realizada em 03/10/2006. MATO GROSSO DO SUL. Secretaria de estado de Planejamento e de Ciência e Tecnologia. Plano Regional de Desenvolvimento Sustentável da Grande Dourados. MS 2025. 2 ed. Campo Grande: SEPLANCT, 2006.

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PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO, CULTURA E ASSUNTOS COMUNITÁRIOS. Extensão Universitária em foco: políticas, normas e procedimentos. UEMS. Dourados, MS: UEMS/PROEC, 2007. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL. Projeto Pedagógico do Curso de Turismo com ênfase em Ambientes Naturais, 2010. Dourados, 2010.

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EIXO 2:

Educação para o Turismo e Lazer /

Educação pelo Turismo e Lazer

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Educação e Turismo: abrangência e efetividade de práticas turístico-educacionais não-formais em fazendas históricas paulistas

Lívia Morais Garcia Lima1 Olga Rodrigues de Moraes von Simson2

Esta proposta de pesquisa busca preencher lacunas da literatura existente sobre educação patrimonial no contexto rural e sua ligação com o Turismo. Examina experiências educacionais não-formais, envolvendo os patrimônios materiais e imateriais de seis fazendas históricas paulistas selecionadas entre as participantes do projeto PPPP/FAPESP (07/55999-1), realizado em parceria com o Centro de Memória UNICAMP. Este projeto já em sua segunda fase e serão analisados, agora, os dados levantados em campo.

O projeto PPPP/FAPESP reúne dezoito propriedades em regiões significativas do Estado de São Paulo, sendo essas definidas pelos núcleos regionais compostos pelas cidades de Campinas, Limeira-Rio Claro; São Carlos-Araraquara; Itu; Mococa- Casa Branca e Vale do Paraíba. O projeto tem como objetivo principal disponibilizar um conjunto de instrumentos e de metodologias de gestão, de conservação e de difusão do patrimônio cultural rural, tanto para os proprietários quanto para os responsáveis pelas propriedades, assim como para as respectivas instâncias públicas pertinentes à área da cultura, da educação e do turismo.

Segundo o coordenador do projeto, Tognon (2007):

[...] o Patrimônio Cultural Rural pode ser definido como o conjunto de registros materiais e imateriais decorrentes das práticas, dos costumes e das iniciativas produtivas que se estabelecem, historicamente e territorialmente, na área rural.

Por se tratar de um quadro complexo de questões que exigem uma abordagem

ampla e multidisciplinar, o projeto propõe um grupo de pesquisa estruturado em três núcleos temáticos: Inventário e Catalogação, Preservação e Sustentabilidade e Educação Patrimonial e Turismo. A atual pesquisa está vinculada ao núcleo temático Educação Patrimonial e Turismo.

Serão pesquisados dois de cada um dos tipos de fazendas, detectados pela primeira fase do projeto e trabalhados em pesquisa anterior de mestrado: 1º tipo - fazendas em processo de preparação para assumir atividades turísticas, 2º tipo - fazendas realizando turismo de habitação e 3º tipo - fazenda voltada para o turismo/empresa através de um hotel - fazenda. Primeiramente foi realizado um levantamento documental nas seis propriedades rurais selecionadas para a verificação de como foi desenvolvida e o porquê da transição de uma fazenda

1

Bacharel em Turismo pela UNESP. Mestre em Gerontologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e atualmente é doutoranda em Educação pela Faculdade de Educação da UNICAMP. E-mail: [email protected]. 2

Socióloga pela Universidade de São Paulo (USP). Doutora em Sociologia da Cultura pela USP. Atualmente é professora colaboradora da Faculdade de Educação da UNICAMP e pesquisadora do Centro de Memória da UNICAMP. E-mail: [email protected].

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economicamente voltada para atividades agro-pecuárias, para uma propriedade que combina atividades agrícolas com outras de caráter turístico-rural. Para a realização das investigações que contemplem os objetivos específicos da pesquisa, foi feito um amplo levantamento bibliográfico sobre os temas da pesquisa. Ele alimentou o roteiro para a realização de entrevistas com os seis responsáveis pelas propriedades históricas selecionadas e com os monitores e visitantes/turistas. Esse processo realizado a partir de uma metodologia de caráter qualitativo (História Oral) enfatizou a técnica da entrevista aberta. Dessa forma, com o método da História Oral, buscou-se conhecer o passado recorrendo à memória dos narradores. Nesse método, a rememoração de fatos é empregada no processo de reconstrução da realidade sociocultural (SIMSON, 1997). Essa rememoração pode ter um caráter mais pessoal e afetivo, mas pode ser também um instrumento político ou um critério de definição de versões sobre o passado, sendo a memória uma ligação entre passado e presente (BRITO, 1989). As fontes orais, segundo Simson (1997), podem assumir a forma de histórias de vida, relatos orais de vida, entrevista aberta e depoimentos orais. Dessa forma, a presente pesquisa fez uso da entrevista aberta em que o entrevistado tem a liberdade de falar, mas através de temas definidos pelo entrevistador. Em uma segunda fase da pesquisa, os responsáveis pelas seis propriedades selecionadas serão novamente ouvidos, enfatizando se agora os temas da educação patrimonial e do turismo voltados tanto para o patrimônio material como para o imaterial, e realizado visando diferentes grupos etários. Posteriormente o conteúdo das entrevistas realizadas será organizado tematicamente e analisado à luz das produções mais recentes de Educação Patrimonial, comparando seus resultados com aqueles da análise da bibliografia específica. As atividades de educação patrimonial geralmente se desenvolvem em espaços escolares sob a égide das disciplinas de Estudos Sociais, História, Geografia e Ciências, portanto, com maior frequência em espaços urbanos e voltados preferencialmente para crianças e adolescentes. Desse modo, as preocupações com o turismo cultural em espaço rural e a educação patrimonial e suas possibilidades de desenvolvimento via educação não-formal, como um aspecto da chamada educação continuada e permanente3, surgiram a partir de um desdobramento de estudo anterior, a dissertação de mestrado4, que configurou uma base para os novos estudos do doutorado.

Neste sentido, segundo Gohn (1999), a educação não-formal aborda experiências educativas que ocorrem fora das escolas, em processos organizativos

3Educação continuada é o nome dado ao processo globalizado e contínuo que visa à formação

integral da pessoa, para o atendimento de necessidades e aspirações de natureza pessoal, profissional e ou social, englobando tanto o percurso pelos níveis de ensino (educação escolar) como o atendimento dessas necessidades acima mencionadas pela variada oferta da educação não-formal. Educação permanente é o nome dado ao a educação de jovens e adultos que se destina aos que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio e deve ser apropriada às características do alunado, a seus interesses, condições de vida e de trabalho. Disponível em: <http://ww.inep.gov.br/pesquisa/thesaurus/>. Thesaurus Brasileiro da Educação. Acesso em: 10 jan. 2011. 4Desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Gerontologia da Faculdade de Ciências

Médicas, da UNICAMP.

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da sociedade civil, ao redor de ações coletivas do chamado terceiro setor da sociedade. Portanto, a realização de atividades de educação patrimonial não-formal nas fazendas históricas paulistas pressupõe um reconhecimento do valor histórico, tanto do imóvel rural e seu entorno, quanto dos bens materiais móveis e dos fragmentos de memória do patrimônio imaterial encontrado em tais propriedades. Ela também permite reconhecer os atributos de tais propriedades rurais, sua excepcionalidade e sua historicidade, tornando-os valorizados como bens culturais. Esse processo possibilita, a partir da recuperação das propriedades rurais como bens culturais, resignificar práticas e representações sociais que nelas ocorrem. Complementando essa ideia, Rosada e Bortolucci (2007) afirmam que o desenvolvimento das atividades turísticas mantidas nas antigas fazendas de café do Estado de São Paulo traz divisas que permitem a conservação desse patrimônio. Em muitos casos, os edifícios históricos só continuam existindo devido à sua nova destinação econômica, pois poderiam ter sido eliminados se não houvesse atividade que justificasse sua manutenção. A meta da interpretação sociocultural desse rico patrimônio rural paulista, outrora restrito ao uso da família e de seus amigos, abre-se agora para o grande público ao integrar-se às atividades turísticas permitindo estabelecer uma rede de descobertas para o visitante, estimulando o seu olhar, provocando a sua curiosidade e levando-o a descobrir muito mais sobre o lugar e seus habitantes. A história do tempo presente desses locais (com suas lendas, causos, festas e modinhas) passa a valorizar tanto as atrações naturais como as culturais ainda preservadas nas fazendas históricas, concretamente ou na memória de seus habitantes.

Assim, entre as possibilidades que contribuem para o desenvolvimento de um processo educacional desenvolvido nas fazendas históricas paulistas, estão o turismo cultural no espaço rural e a educação patrimonial não-formal, focos dessa pesquisa em andamento.

Referências

ROSADA, M; BORTOLUCCI, M. A. P. C. S. Velhas fazendas cafeeiras: patrimônio e turismo em espaços esvaziados. In: CONGRESO LATINOAMERICANO DE CIENCIAS SOCIALES, 2008, Quito. Anais..., Quito, 2008, p. 309-324, BRITO, M. Memória e cultura. Rio de Janeiro: Centro de Memória da Eletricidade no Brasil, 1989. GOHN, M. G. Educação não-formal e cultura política: impactos sobre o associativismo do terceiro setor. São Paulo: Cortez, 1999. SIMSON O. R. M. (Org). Os desafios contemporâneos da história oral. Campinas (SP): UNICAMP/ Associação Brasileira de História Oral; 1997 TOGNON, M. Patrimônio cultural rural paulista: espaço para pesquisa, educação e turismo (oitava chamada para o Programa de Pesquisas em Políticas Públicas da FAPESP – PPPP/2007). Cidade Universitária Zeferino Vaz, Campinas, SP: Centro de Memória – UNICAMP, 2007.

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Um Novo Olhar para a Apropriação da Cidade: Análise do Turismo Pedagógico em Belo Horizonte

Camila Tamires Moutinho de Castro1 Thiago Lima de Almeida2

Prof. Mariana de Oliveira Lacerda3

O presente trabalho tem como proposta contribuir para a discussão e consolidação do conceito de turismo na própria cidade. A importância desta pesquisa está em explanar acerca da necessidade dos moradores se apropriarem dos equipamentos turísticos de sua localidade. Para tanto, a análise se restringe a museus da cidade de Belo Horizonte, tais equipamentos turísticos seriam potenciais instrumentos de fomento ao Turismo Pedagógico. E, por fim, dialogar com uma nova perspectiva de turismo praticado dentro da própria cidade. Objetivamos esclarecer a seguinte problemática: Como as visitações a museus, praticadas por escolas municipais de Belo Horizonte, podem contribuir para a construção de um novo olhar sobre o Turismo Pedagógico na cidade? O turismo na própria cidade é a oportunidade de vivenciar momentos de prazer sem que para isso o turista esteja em períodos de férias, viajando. Abrir o olhar para novas experiências é fundamental para os turistas cidadãos, afinal o território das cidades possibilita uma imensa gama de atrativos turísticos que não são explorados pelos seus habitantes.

Pretendemos, através dessa pesquisa, discutir a prática do turismo na cidade pelos próprios moradores, com um enfoque especial para o turismo pedagógico. As principais definições de turismo afirmam que a atividade somente ocorre quando há um afastamento do entorno habitual, contudo, a experiência turística pode ocorrer quando as pessoas estão dispostas a terem uma leitura diferenciada e distante da visão trivial.

Para tanto, foi realizado um estudo de caso de visitas das escolas públicas municipais a museus da cidade de Belo Horizonte. Assim, será abordada a relevância das visitas escolares para o Turismo Pedagógico em Belo Horizonte, culminando assim, em discussões sobre possibilidades de fortalecimento deste na cidade, bem como o papel do bacharel em Turismo no planejamento de ações futuras.

Outro ponto abordado nessa pesquisa diz respeito às práticas e ideias relacionadas ao Turismo Pedagógico, atividade que promove a aglutinação entre teorias e práticas de educação e turismo, sendo apresentado também um panorama da atual relação existente entre as escolas municipais de Belo Horizonte e os museus da cidade, a partir do resultado de entrevistas.

1

Graduando em Turismo, departamento de Geografia pela Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]. 2

Graduando em Turismo, departamento de Geografia pela Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]. 3

Professora assistente de Turismo, departamento de Geografia pela Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected].

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E, por fim, a pesquisa levanta o questionamento sobre as práticas de turismo realizadas na própria cidade, caracterizando o morador como sujeito do processo, ressaltando assim, a relevância da valorização por parte da população no que diz respeito aos valores materiais e culturais da cidade onde reside.

A primeira etapa da metodologia compreendeu uma revisão bibliográfica acerca do histórico da museologia, das temáticas de museografia e de turismo dentro da própria cidade e Turismo Pedagógico. Em seguida, houve o levantamento de dados secundários sobre a área de estudo4, a partir de pesquisa documental em sites institucionais5 com objetivo de subsidiar uma caracterização geral dos objetos de pesquisa. A terceira etapa envolveu a realização de entrevistas semiestruturadas que foram aplicadas em três escolas de cada regional de Belo Horizonte, totalizando 27 entrevistas, as entrevistas estruturadas foram direcionadas às diretoras das escolas. Os dados levantados abrangeram aspectos que ressaltam as motivações e os objetivos durante as visitas pedagógicas a museus, as principais dificuldades encontradas em realizar esta atividade, quais os museus mais procurados e quais representantes da escola propõem as visitas.

Após a aplicação das entrevistas, os resultados foram compilados em gráficos para promover maior agilidade e melhor compreensão dos relatos dos entrevistados. Foram escolhidos três museus, partindo do pressuposto de que são baseados em temáticas distintas, sendo selecionados para pesquisa o Museu de Artes e Ofícios, o Museu de Ciências Naturais da PUC Minas e o Museu Mineiro. Como forma de coleta de dados, foi realizada a consulta de materiais do Projeto LEME6.

A sistematização destes dados permitiu diagnosticar e analisar a relevância das visitas aos museus para o Turismo Pedagógico na cidade, com o objetivo de explicitar quantitativamente o panorama atual do fluxo de visitação nas três instituições pesquisadas, bem como uma compreensão das propostas do educador e as possibilidades oferecidas pelos museus. Tais aspectos são fundamentais para se pensar em um plano de desenvolvimento de Turismo Pedagógico a partir do olhar turístico dentro da própria cidade.

O turismo dentro da própria cidade é uma possibilidade pouco explorada pelo turista cidadão, este termo é utilizado por Gastal e Moesch (2007) para descrever a pessoa que procura ter uma experiência turística em sua cidade. Gastal e Moesch (2007, p. 65) apresentam a diversidade que pode ser explorada no ambiente cotidiano:

O turista cidadão é aquele morador da localidade que vivencia práticas sociais, no seu tempo rotineiro, dentro de sua cidade, de forma não rotineira, onde é provado em relação à cidade. Turista cidadão é aquele que resgata a cultura de sua cidade, fazendo uso do estranhamento da mesma. Este estranhamento inicia no momento em que o indivíduo descobre, no espaço cotidiano, outras culturas, outras formas étnicas e outras oportunidades de lazer e entretenimento. Quando se encontra na situação de turista cidadão, este sujeito aprende a utilizar os espaços ambientais,

4

Definida como sendo os museus de Belo Horizonte e as escolas municipais da capital. 5

Sites: Instituto Brasileiro de Museus, Superintendência de Museus e Prefeitura de Belo Horizonte. 6 Laboratório de Estudos Museu e Educação. A equipe integra membros do programa de pós-

graduação da FAE-UFMG e do CEFOR da PUC-Minas.

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culturais, históricos, comerciais e de entretenimento com uma percepção diferenciada de seu cotidiano.

Gastal (2005) explica que este turismo dentro da própria cidade acontece de

maneira semelhante àquele em que o deslocamento vai além das fronteiras municipais, pois o estranhamento, o prazer de conhecer algo novo e a ansiedade diante do desconhecido é o mesmo, e estes são atributos fundamentais para a atividade turística.

Quando pensadas de maneira interdisciplinar, ações educativas associadas ao turismo apresentam-se como uma possibilidade do indivíduo valorizar seu local, sua história, sua cultura, sua própria gente. A partir do desenvolvimento de ações educativas em turismo, o processo de ensino ganha um poderoso aliado no fomento ao conhecimento. Em consequência, o aluno passa para uma etapa de apropriação e valorização de seu bairro, da sua cidade, de sua herança cultural, capacitando-os para o melhor exercício da cidadania.

Com estudos mais recentes e específicos sobre turismo, Beni (2001, p. 157) assim define Turismo Pedagógico:

Retomada da antiga prática amplamente utilizada na Europa e principalmente nos Estados Unidos por colégios e Universidade articulares, e também adotada no Brasil por algumas escolas de elite, que consistia na organização de viagens culturais mediante o acompanhamento de professores especializados da própria instituição de ensino com programa de aulas e visitas a pontos históricos ou de interesse para o desenvolvimento educacional dos estudantes.

O Turismo Pedagógico propõe articular a prática educacional com as relações

sociais, pois a socialização não é levada em conta na sala de aula, o mais importante é a memorização e a aprendizagem mecânica dos conteúdos escolares (FREIRE, 1996). Para a superação desse paradigma, o Turismo Pedagógico propõe a viagem como o elemento motivador para dar encanto à educação. Já os diversos saberes e realidades são articulados como necessidades de reconhecer e conhecer os problemas do mundo, em um ambiente propício a integração e troca de experiências onde os diversos conteúdos que compõe o currículo podem ser direcionados a uma problemática concreta.

Portanto, o Turismo Pedagógico assim como o processo educacional – ao qual faz parte – é uma construção dialética, pois possibilita ao educador levar os debates e estudos da sala de aula para a prática incentivando um processo de descobrimento/choque do educando com a realidade à sua volta. Assim sendo, favorece o desenvolvimento da interdisciplinaridade. O conhecimento rompe as paredes da sala de aula e coloca o estudante em contato com um mundo novo de possibilidades de trocas infinitas.

Ao vivenciar o turismo em sua cidade, o cidadão estabelece uma nova relação com seu lugar, reconhecendo seus valores, construindo uma relação íntima de pertencimento e identificação, passando a experimentar momentos de prazer sem que para isso tenha uma época e lugar especial – as viagens de férias. (GASTAL, MOESCH, 2007). Este processo transforma a diversidade territorial da cidade em um campo para a teoria e a prática discutidas em sala de aula.

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Experimentar a cidade de maneira prazerosa é avançar na qualidade de vida das pessoas, é apresentar um novo lugar para que os cidadãos se divirtam, troquem vivencias, conheçam lugares e pessoas, é, portanto, mostrar-lhes que o turismo está no dia a dia, e que para isso não é preciso ir longe. Basta abrir os olhos.

Em um momento em que o Turismo Pedagógico está inserido no ambiente escolar do aluno, ele passa a problematizar os desafios da cidadania. Um crescimento gradativo de pertencimento se desenvolve no aluno-turista de maneira a sensibilizá-lo com a preservação dos patrimônios históricos, culturais e sociais. Bem como o papel de diálogo entre os equipamentos turísticos, moradores locais e os desafios de cada sociedade. Portanto, o Turismo Pedagógico é uma das atividades que mais se harmonizam com os parâmetros do Turismo Sustentável, pois sua motivação é meramente educativa.

Não é preciso apenas conhecer as cidades, mas sim reconhecer os seus valores e o papel que cada cidadão tem em seu desenvolvimento. Para alcançar um horizonte de turismo dentro da própria cidade, é necessário, antes de tudo, educar os nossos olhares e fomentar a quebra de paradigmas quanto à apropriação do território.

Referências

BENI, M. C. Análise estrutural do turismo. 7ª ed. São Paulo: Senac, 2001. FREIRE, P. Educação como prática de liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 23 ed., 1999. GASTAL, S. Turismo, imagens e imaginários. São Paulo: Aleph, 2005. GASTAL, S.; MOESCH, M. Turismo, políticas públicas e cidadania. São Paulo: Aleph, 2007. INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS. Disponível em: <www.museus.gov.br/>. Acesso em: 08 jun. 2010. KRIPPENDORF, J. Sociologia do Turismo: para uma nova compreensão do lazer e das viagens. São Paulo: Aleph, 2001. NASCIMENTO, S. S. Relatório anual de pesquisas do LEME. Organizadora. Belo Horizonte, 2009. PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Disponível em: <www.pbh.gov.br>. Acesso em: 14 jun. 2010. SANTOMÉ, N. Globalização e interdisciplinaridade: O curriculum integrado. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. SANTOS, M. C. T. M. O papel dos museus na construção de uma “Identidade Nacional”. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.28,1996. SUPERINTENDÊNCIA DE MUSEUS. Disponível em: <www.cultura.mg.gov.br/sistemaestadualdemuseus/index.php>. Acesso em: 02 jun. 2010. VELHO, G. Observando o Familiar. In: NUNES, E. (Org.). A aventura antropológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

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Lazer e Formação Cidadã para Jovens Ribeirinhos

Jéssika Paiva França1

As discussões pertinentes a este resumo são resultantes do projeto de extensão vinculado à Pró-Reitoria de Extensão (PROEX), da Universidade Federal do Pará (UFPA), intitulado “Comunidades Ribeirinhas: Construindo a Democratização dos Espaços Públicos de Lazer e Turismo", o qual se encontra em fase de finalização sob minha coordenação.

As ações foram destinadas ao público de jovens e adolescentes moradores da ilha do Combu que compõe à Região Metropolitana de Belém (RMB) e possui uma área de 15 km2 (DERGAN, 2006). A economia da ilha está fundada no extrativismo, tendo no açaí a sua principal fonte de renda. Apresenta aproximadamente 227 famílias, onde uma média significativa é composta por jovens. (DERGAN, 2006).

O objetivo primeiro deste projeto foi trabalhar, junto às comunidades da ilha, noções de direito ao lazer e aos espaços públicos do município de Belém tratando o lazer como forma de humanização do homem, uma vez que é parte integrante da vida e possui relação direta com o desenvolvimento pessoal e social. Os espaços públicos, segundo Muller (2002), apresentam uma importância social por possibilitarem encontro e convívio, os quais podem despertar nas pessoas a consciência a cerca da importância da conservação bem como as suas influências diretas para a qualidade de vida. Estes espaços juntamente com as práticas de lazer contribuem ao processo de transformação social, colaborando para a obtenção de novos valores e para o desenvolvimento pessoal.

A importância do lazer em espaços públicos é significativa, seja para namorar, passear, conhecer e respeitar o outro, bem como o ambiente ou simplesmente reunir os amigos. Em especial, o público de jovens e adolescentes tem a necessidade destes espaços para efetivar suas práticas de sociabilidade. Vale ressaltar que a ilha do Combu encontra-se desprovida nas suas diversas dimensões de políticas públicas efetivas, o que dificulta o acesso de seus habitantes aos espaços públicos de lazer e turismo localizados do outro lado do rio. O transporte é considerado como principal barreira ao acesso, somado a outras, como carência de informações claras e precisas sobre formas de acesso, cobranças de taxas, dias e horários de funcionamento, localização.

De acordo com os referencias teóricos, os espaços públicos são ambientes de acesso coletivo e democrático, porém, na prática, é nítida a sua transformação em mercadorias, favorecendo o uso apenas por uma pequena parcela da sociedade. (SERPA, 2007). Neste contexto, o projeto favoreceu a disseminação sobre o direito ao lazer e ao espaço público na cidade, partindo da discussão da democratização. O espaço público foi trabalhado através de palestras e oficinas de forma lúdica e significativa, uma vez que buscou partir de temas geradores, ou seja, pertencentes à realidade dos sujeitos envolvidos.

1

Universidade Federal do Pará, Faculdade de Turismo. E-mail: [email protected].

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A metodologia utilizada envolveu desde mobilização junto às comunidades da ilha do Combu, realização de pesquisas para subsidiar as palestras e visitações aos espaços públicos de lazer e turismo na cidade de Belém. A pesquisa foi desenvolvida em três das quatro comunidades da ilha do Combu: Periquitaquara, Murutucu e ilha Grande. Objetivou analisar tanto a situação socioeconômica dos jovens e adolescentes da ilha, quanto o seu entendimento a respeito das temáticas de lazer em espaços públicos. Ao todo foram entrevistados 78 jovens com idade variando entre 12 e 24 anos, sendo 46 do sexo feminino e 32 do sexo masculino. A pesquisa serviu de base para identificar os anseios dos jovens e adolescentes, no que tange à prática do lazer e o acesso aos espaços públicos. Com os resultados da pesquisa, foi possível elaborar a parte prática do projeto, que se caracterizou por palestras e oficinas em escolas próximas à ilha, além da realização de visitas monitoradas aos espaços públicos de lazer e turismo. Estas visitas foram de fato a concretização do projeto, pois colaborou para pensar a construção da democratização dos espaços públicos que são de usufruto não apenas turístico, mas prioritariamente das pessoas que habitam as cidades.

Referências

DERGAN, J. M. B. História, memória e natureza: as comunidades da ilha do Combu – Belém – Pará. 2006. 174 f. Dissertação (Mestrado em História Social)- Universidade Federal do Pará, 2006. MARCELLINO, N. C. Lazer e humanização. Campinas, SP: Papirus, 1995. MULLER, A. Do entendimento teórico e do lugar de onde surgem as oportunidades de lazer. In: MULLER, A; DACOSTA, L. P.(Org). Lazer e desenvolvimento regional. Santa Cruz do Sul, RS: Edunisc, 2002. SERPA, A. O espaço público na cidade contemporânea. São Paulo: Contexto, 2007.

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EIXO 3:

Outras Abordagens sobre

Turismo, Lazer e Hospitalidade

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A Realidade para a Pessoa com Deficiência enquanto Turista

Bruna de Castro Mendes1 Ricardo Shimosakai2

Nos últimos anos, houve uma modificação em relação aos conceitos e pré-

conceitos referentes às pessoas com deficiência. Hoje, percebe-se que elas caracterizam uma parcela que precisa ter os seus direitos respeitados, assim como deveres, o que envolve toda a sociedade e não mais apenas a família, como ocorria no passado. Acredita-se que vem crescendo a necessidade de discussão acerca da inclusão desse segmento em decorrência das melhorias em assistência médica, do aumento do convívio social (em pequena escala), do acesso à educação e ao mercado de trabalho. Somados, esses fatores têm contribuído para um considerável aumento da expectativa de vida.

Segundo Correr (2003, p.19), “[...] a sociedade como um todo deve assumir o compromisso de construir um ambiente inclusivo, evitando que a inclusão social se transforme em mais um chavão conceitual”. Enfatiza-se ser necessário o conhecimento das diferenças para garantir a concretização do processo de inclusão, pois, conforme afirma Fávero (2004), apenas o tratamento diferenciado é que irá promover a igualdade, respeitando as diferenças e as capacidades de cada pessoa.

As mudanças enfrentadas atualmente afetam a sociedade em geral e refletem no turismo, pois a noção de hospitalidade ultrapassa as questões econômicas e os problemas de desenvolvimento e penetra no campo das ideias, religião, filosofia, tendo como pano de fundo a diversidade cultural (DENCKER, 2004). Diante desse fato exposto, é preciso permitir que as pessoas com deficiência possuam autonomia para se locomover, viajar e trabalhar, não sendo suficiente garantir apenas alguns lugares restritos para o convívio com outras pessoas. Pressupõe-se que esse fato perpassa pela eliminação de qualquer tipo de barreira, sendo que no presente estudo, destaca-se a comunicacional.

As observações apresentadas nesse presente resumo são frutos das experiências empíricas dos pesquisadores envolvidos na temática e que lutam pelo correto acesso das pessoas com deficiência ao turismo. Destaca-se o caráter descritivo desse estudo, por enfatizar itens observados de maneira assistemática.

Hoje, é ponto pacífico o direito das pessoas com deficiências às oportunidades de lazer, esporte e turismo como parte importante para o seu desenvolvimento e/ou bem-estar integral. O item primordial a ser considerado ao pensar o turismo para pessoas com deficiência é o exercício do empoderamento, pois todas as pessoas têm o direito de escolher entre as diversas opções de lazer, assumindo o controle de todo o processo de escolha e decisão, ampliando as próprias experiências e desenvolvendo as relações interpessoais e sociais.

Porém, quando se analisa o turismo, normalmente o foco principal direciona-se à economia, com informações acerca das possibilidades de geração de receita e 1

Docente do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP). E-mail: [email protected]. 2

Agente e consultor de turismo adaptado. E-mail: [email protected].

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de empregos, sem considerar o enfoque social, o que poderia garantir, além de espaços físicos adequados para todos, a aceitação e valorização da diversidade humana, assumindo um papel de reorientação dos espaços e das atitudes sociais (SILVA; BÓIA, 2006).

Em nossa realidade, o setor do turismo não está preparado para atender os turistas deficientes, principalmente pelo fato de o mercado ainda não considerar esse segmento como um campo lucrativo. Segundo Butler e Jones (2003), a população com deficiência raramente aparece em estimativas ou previsões como um grupo específico, apesar de ser um grupo grande e que tende a crescer com o aumento da expectativa de vida, além de viajarem com mais frequência. Para Trindade (2004, p.74), a pessoa com deficiência é vista como doente, sem necessidade de fazer turismo; visão que inibiu as oportunidades e os direitos desse segmento e afetou a qualidade do turismo, que passa pela adaptação e acessibilidade dos serviços existentes.

A contribuição do turismo é possibilitar que as pessoas com deficiência conheçam suas capacidades e desenvolvam suas habilidades de maneira prazerosa, em contato com ambientes diversos e pessoas fora do seu círculo habitual; é ajudá-la a compreender melhor aquilo que deseja e necessita, com vistas a um aumento na qualidade de vida e maior participação como cidadã. Em suma, é fazer com que ela migre do papel de coadjuvante para o de protagonista.

Hospitalidade, turismo e inclusão são os conceitos que devem nortear um trabalho que vise à mudança de paradigma, afinal, a hospitalidade pode ser entendida como um meio de criar e consolidar relacionamentos; o turismo, uma das atividades pelas quais os relacionamentos se fortalecem; e a inclusão, uma meta direcionadora desse envolvimento. Se bem estruturado e pesquisado, o turismo poderá se tornar o mecanismo da disseminação da sociabilidade e da inclusão social, baseado nos preceitos da hospitalidade.

As barreiras comunicacionais caracterizam-se por qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de massa (BRASIL, 2006). São empecilhos comuns a falta de intérpretes da língua de sinais e a ausência da escrita Braile em elevadores e sinalizações.

Para que o turismo seja uma atividade agradável, a informação clara e objetiva é o primeiro passo e um dos itens mais importantes. A informação está presente em diversas partes do turismo, e em todas elas há a necessidade de que a questão da acessibilidade esteja presente como conteúdo ou na própria estrutura da informação.

Contudo, há diversos casos em que a informação não é acompanhada do quesito acessibilidade. Centros de informação turística só sabem passar informações básicas sobre atrativos turísticos, como a localização de um museu, por exemplo, mas não informam se o local possui recursos de acessibilidade. O resultado é que muitas pessoas com deficiência recebem a indicação de uma visita, porém, não têm condições de entrar ou usufruir o ponto selecionado. O caso se torna um pouco mais dramático quando se pensa em um surdo: como ele irá obter informações de um atendente em um centro de informações? Seria limitado a receber os materiais impressos, sem ter a oportunidade de esclarecer qualquer outra

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dúvida através do atendimento verbal. Mas material impresso também é um problema para um cego, pois dificilmente se encontra material escrito em Braille, e muito menos quando se trata de imagens ou mapas.

Em relação aos meios de hospedagem, destaca-se que muitos estabelecimentos utilizam um critério próprio para avaliar sua acessibilidade, sendo que na maioria dos casos ela se apresenta falha e incompleta. Mesmo se julgando acessíveis, destaca-se o fato de que muitos deles também não disponibilizam essa informação em seus materiais, como a página na internet e folhetos promocionais.

A informação acessível também poderia estar presente no guia de turismo para conduzir um cego através de áudio-descrição, ou um surdo através da linguagem de sinais. Inclusive isso se torna obrigatório quando se lida com a segurança como, por exemplo, passar instruções antes de uma atividade de aventura, ou mesmo as informações passadas pela tripulação no interior de uma aeronave.

É de grande importância que sejam repassados detalhes sobre as dificuldades do turista, para que este seja bem atendido, caso contrário fica caracterizado como um cliente sem nenhuma dificuldade aparente, e, deste modo, os recursos de acessibilidade podem não estar disponíveis caso seja solicitado sem nenhuma antecedência.

A pessoa com deficiência física precisa de informações a respeito das estruturas físicas que deem condições para a locomoção. Mas quando a gente parte para o campo da deficiência visual e auditiva, a questão da informação turística acessível é extremamente ampliada, e a necessidade da informação acessível acaba acompanhando essas pessoas em praticamente todas as situações. A informação acessível também deve estar presente em museus, agências, parques, transportes, e qualquer estabelecimento ou serviço turístico.

Referências BRASIL. Lei nº 10.098. Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L10098.htm>. Acesso em: 31 jul. 2006. CORRER, R. Deficiência e inclusão social: construindo uma nova comunidade. São Paulo: Edusc, 2003. DENCKER, A. F. M. Planejamento e Gestão da hospitalidade e turismo: formulação de uma proposta. In: DECNKER, A. F. M. (Org.). Planejamento e gestão em turismo e hospitalidade. São Paulo: Thomson, 2004. FAVERO, E. A. G. Direitos das pessoas com deficiência: garantia de igualdade na diversidade. Rio de Janeiro: WVA, 2004. SASSAKI, R. K. Inclusão no lazer e turismo: em busca da qualidade de vida. São Paulo: Áurea, 2003. SILVA, Y. F.; BOIA, Y. I. K. Turismo e responsabilidade social – uma reflexão sobre os direitos das pessoas com necessidades especiais. In: RUSCHAMNN, D.; SOLHA, K. T. (Org.). Planejamento turístico. Barueri, SP: Manole, 2006.

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TRINDADE, M. N. A pessoa portadora de deficiência como turista. In: RT&D – Revista Turismo & Desenvolvimento, Lisboa, v.1, n.1, p. 73-80, 2004.

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Panorama Turístico do Município de Ribeirão Pires - SP

Gilberto Back1 Neide Silva2

Patrícia Fino3

O presente trabalho apresenta o panorama turístico de Ribeirão Pires, município da Região Metropolitana de São Paulo. O estudo foi realizado pelos alunos do curso superior de Tecnologia em Gestão de Turismo, da Faculdade Carlos Drummond de Andrade, que teve como objetivo principal a realização do diagnóstico turístico do local. Para atingir esse objetivo, os alunos foram divididos em sete grupos de pesquisa sobre assuntos distintos, conforme segue abaixo síntese do material colhido. O método utilizado no início dos trabalhos foi a pesquisa exploratória, que visa proporcionar maior familiaridade com o problema, envolvendo levantamento bibliográfico em livros, revistas e sites. Na etapa posterior, os alunos realizaram três visitas ao município para coletar dados com fichas de inventário turístico e aplicações de questionários de demanda, sendo assim possível aprofundar suas pesquisas e ter contato com a realidade local. Os resultados das pesquisas compiladas deram origem ao diagnóstico turístico que, além do inventário turístico, apontaram os pontos positivos e negativos de cada assunto. Síntese dos resultados: 1) Aspectos naturais TIPO NOME Jurisdição

Rocha natural Pedra do elefante público

Mirante com vista panorâmica de 180º Mirante de S. José público

Mirante com vista panorâmica de 360º Mirante de Sto. Antonio público

Parque Municipal localizado no centro da cidade

Pérola da Serra público

Parque Municipal localizado em área natural as margens da represa Billings

Milton Marinho de Moraes

público

Clube localizado em área natural as margens da represa Billings

Thaiti Marina Clube particular

Quadro 1: Atrativos naturais

Fonte: os autores, 2011.

1

Bacharel em Turismo e Mestre em Hospitalidade. Consultor turístico, professor e responsável pelo Laboratório de Planejamento Turístico da Universidade Anhembi Morumbi. Professor do Curso Superior de Tecnologia de Gestão de Turismo da Faculdade Carlos Drummond de Andrade e PUC de Campinas. E-mail: [email protected] 2

Bacharel em Turismo, Especialista em Educação, pós-graduanda em Gestão de RH, Mestranda em Educação pela UNINOVE. Professora do Curso Superior de Tecnologia de Gestão em Turismo da Faculdade Carlos Drummond de Andrade. E-mail: [email protected] 3

Bacharel em Turismo, Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, Professora e Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia de Gestão em Turismo da Faculdade Carlos Drummond de Andrade. E-mail: [email protected]

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2) Aspectos culturais TIPO NOME ESTADO DE

CONSERVAÇÃO

Religioso Igreja Nossa Senhora do Pilar Bom

Religioso Igreja Matriz de São José Bom

Religioso Capela de Santana Bom

Histórico Antigo Moinho de Trigo e Fábrica de Sal Ruim

Cultural Centro Educacional Abrahim Alves de Lima Bom

Cultural Biblioteca Olavo Bilac Bom

Cultural Museu Municipal Ruim

Cultural São José do Inox Bom

Quadro 2: Atrativos culturais Fonte: os autores, 2011

3) Eventos TIPO NOME MÊS

Popular Bloco das mocréias Fevereiro

Civil Aniversário da cidade Março

Religioso Festa nossa senhora Pilar Maio

Religioso Festa de Santo Antonio Junho

Cultural / Gastronomia Festival do chocolate Julho

Religioso Festa Nossa Senhora Aparecida Outubro

Religioso Festa de Corpus Christi Data móvel

Quadro 3: Calendário de Eventos Fonte: os autores, 2011

4) Meios de hospedagem TIPO NOME CAPACIDADE

Hotel Estância do Pilar 150 leitos

Motel Estúdio B 20 leitos

Chácara Santo Antonio 50 leitos

Quadro 4: Meios de hospedagem Fonte: os autores, 2011.

5) Equipamentos de alimentação

Ribeirão Pires possui 18 estabelecimentos de Alimentos e Bebidas, destes 2 são churrascarias, 6 pizzarias, 9 restaurantes e cantinas e 1 vila do doce que oferece 15 quiosques. Sendo que 14 localizam-se na região central e 4 nos bairros do município. 6) Agenciamento

O município possui 6 agências e todas são emissivas, destas, 5 localizam-se no centro e 1 no bairro. 7) Pesquisa de demanda turística.

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Foram aplicados 100 questionários nos pontos turísticos do município, investigando temas como transporte, motivação, meios de hospedagem, mídia, entre outros.

Este estudo demonstrou que a localidade tem potencial para desenvolvimento turístico, pois está localizada em área privilegiada, inserida em região de manancial, onde podem ser oferecidos atrativos ligados à represa. Sua localização na grande São Paulo, próximo ao principal pólo turístico emissor da América do Sul também deve ser considerado como ponto favorável.

O município detém o título de “estância turística”, que apresenta como benefício verba estadual para a aplicação no desenvolvimento do setor, porém, mesmo com a criação do Conselho de Turismo, ainda são tímidas as ações voltadas para o segmento, tanto na infraestrutura de responsabilidade pública quanto da iniciativa privada. Não existem políticas de incentivo como, por exemplo, a isenção de tributação para empresas interessadas em investir na localidade. As ações de marketing são de curto prazo, contemplando de forma pontual quando se realizam eventos, não havendo planejamento para divulgação do município além das fronteiras regionais. A estrutura organizacional do município demonstra que há, por parte do poder público, a consciência da importância do turismo no desenvolvimento econômico do município, pois as atribuições referentes ao turismo estão contempladas na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Trabalho e Renda. Contudo, dada essa importância, seria recomendável que o setor tivesse uma pasta exclusiva para seu gerenciamento.

Conclui-se que o município tem potencial turístico, porém, para o seu desenvolvimento faz-se necessária a elaboração de um planejamento estratégico voltado para este fim com a integração de todos os setores, público, privado e sociedade civil.

Referências ALDRIGUI, M. Meios de hospedagem. São Paulo: Aleph, 2007. ANDRADE, J. V. Turismo: Fundamentos e Dimensões. São Paulo: Ática, 2000. BACK, G. Sistema de Informação Geográfica no Planejamento Turístico do Núcleo Santa Virgínia do Parque Estadual da Serra do Mar, São Paulo (SP). 2009. Dissertação (Mestrado em Planejamento da Gestão Estratégica em Hospitalidade)- Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2009. BARRETO, M. Manual de iniciação ao estudo do turismo. Campinas: Papirus, 2005. BENI, M. C. Política e planejamento de turismo no Brasil. São Paulo: Aleph, 2006. BRITTO, J.; FONTES, N. Estratégias para eventos: uma ótica de Marketing e do Turismo. São Paulo: Aleph, 2002. CAMPOS, J. R. V. Introdução ao universo da hospitalidade. Campinas: Papirus, 2005. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/cidades/painel.php>. Acesso em: 10 mar. 2010.

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INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. ISA. Disponível em: <http://www.socioambiental.org.>. Acesso em: 10 maio 2010. MONTEJANO, J. M. Estrutura do mercado turístico. 2ª ed. São Paulo: Roca LTDA. POCHMANN, M.; AMORIM, R. (Org.). Atlas da exclusão social no Brasil. São Paulo: Cortez, 2003. PREFEITURA DE RIBEIRÃO PIRES. Disponível em <http://www.ribeiraopires.sp.gov.br/>. Acesso em: mar. 2010. ZANELLA, L. C. Manual de organização de eventos. Planejamento e Operacionalização. São Paulo: Atlas, 2003.

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Turismo Cultural Urbano: abordagens e dimensões de pesquisa

Prof. Dr. Paulo de Assunção1

O turismo se apresenta hoje como uma atividade importante ou primordial para alguns países que obtêm sua fonte de riquezas por meio dos seus recursos naturais e culturais. Conforme dados da Organização Mundial de Turismo (OMT), entre 2000 e 2008, as viagens internacionais cresceram 4,2% ao ano, alcançando o total de 922 milhões de turistas em 2008, gerando uma renda de aproximadamente US$ 5 trilhões.2 O processo de urbanização do século XXI reflete a mudança nos padrões e hábitos sociais; e a sociedade contemporânea se ressente cada vez mais de espaços de convivência que valorizem as relações humanas e que permitam usufruir de uma qualidade de vida. A valorização do lazer e o despertar para uma vida mais saudável fizeram muitas pessoas revisarem os seus parâmetros em relação a morar, a viajar e a usufruir espaços.

Rémy e Voyé, ao analisarem a cidade contemporânea, destacam que o espaço é um recurso para interação que necessita ser percebido tanto como um conteúdo natural, cultural e social, como nas suas dimensões estéticas afetivas e simbólicas.3 Não podemos esquecer que os seres humanos no decorrer de sua existência se apropriaram do espaço transformando-o e atribuindo-lhe diferentes significados. O conceito de patrimônio natural e cultural implica a constituição de laços de uma sociedade com o lugar e da representação social que se faz do lugar. O patrimônio preservado permite ao homem compreender o passado e como os valores da sociedade foram sendo constituídos no decorrer do tempo. Partindo deste enfoque, Choay empreende uma discussão sobre o patrimônio, ressaltando que este não pode ser dissociado de um contexto mental e de uma visão de mundo.7

Esta construção advém da vivência e, neste sentido, o lugar deve ser compreendido como uma categoria filosófica na medida em que é construída pela experiência. Como destaca Rodrigues: o lugar é o referencial da experiência vivida, pleno de significado; enquanto o espaço global é algo distante, de que se tem notícia, correspondendo a uma abstração. A ideia de espaço é ampla e depende do observador, passando a se tornar um lugar quando se integra no tempo e intensidade, e com ele se inter-relaciona. Para o autor, o espaço pode transformar-se em lugar à medida que adquire personalidade, torna-se vivido. A percepção e o intelecto, por meio da experiência vivida e compartilhada, constroem o lugar na subjetividade e na intersubjetividade.

8

Yázigi afirma que existe estreita relação entre o espaço com a formação do produto turístico, e que o espaço pode ser considerado como a matéria prima do turismo. Por conseguinte, não se pode planejar ou conceber projetos sem considerar

1

Universidade São Judas Tadeu. E-mail: [email protected]. 2

Ver site: World Travel & Tourism Council - WTTC. Disponível em: <http://www.wttc.org>. 3

RÉMY, Jean e VOYÉ, Liliane. A Cidade: rumo a uma nova definição. Lisboa: Afrontamento, 1994. 7 CHOAY, F. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade/Unesp, 2001, p. 25.

8 RODRIGUES, Adyr Balastreri (Org.). Turismo e geografia: reflexões teóricas e enfoques regionais.

3. ed. São Paulo: Hucitec, 2001, p. 32.

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as condições naturais, o patrimônio cultural e histórico. Estes elementos são importantes, além do potencial técnico e do ambiente econômico de uma localidade, uma vez que todos eles intervêm, seja sozinho, seja em combinação, nos diferentes tipos de turismo.9

Harvey ao discutir a sociedade pós-moderna chama a atenção para o fato de estar emergindo uma nova sensibilidade cultural no meio urbano, calcado nas representações estéticas da materialidade. Para o autor, por meio da aparência da cidade é possível compreender o modo como os seus espaços se organizam formam uma base material a partir da qual é possível pensar, avaliar e realizar uma gama de possíveis sensações e práticas sociais.10 A sociedade contemporânea promove mudanças culturais nos lugares de forma intensa, devido aos interesses que envolvem o contexto econômico capitalista. Novas formas surgem a fim de atender a uma demanda de mercado, nem sempre respeitando o passado histórico nem a identidade ao local.

Pensar o urbanismo, o planejamento urbano e turístico, a gestão sustentável de centros históricos de grandes cidades como locais de patrimônio natural e cultural e lazer, e o papel dos agentes públicos e privados são importantes para o desenvolvimento da atividade turística. O planejamento urbano deve levar em conta as questões de sustentabilidade, aproveitando as oportunidades que o turismo pode oferecer. Não basta apenas a cidade possuir uma ampla oferta cultural, a cidade deve estar organizada em termos urbanísticos e turísticos com todas as infraestruturas necessárias. A cidade deve ser acolhedora tanto para os habitantes como para os visitantes. Como observa Yázigi o universo do turista é inseparável do cotidiano urbano dos cidadãos comuns, onde vivem, sobrevivem, circulam, trabalham e se divertem.11

Desta maneira, é importante abordar discursos e práticas sobre o turismo cultural urbano a partir de uma leitura ampla que permita entender o fenômeno. Deve-se considerar que o turismo é caracterizado por uma estrutura transversal articulada a diversos setores da economia; liga-se a diversos segmentos, interferindo e sendo afetado por eles, o que confere a esta atividade uma natureza multidimensional e multifacetada.12 Os governos têm guindado o turismo a um plano político, elaborando estratégias para melhorar a qualidade dos serviços nesse setor, dando novos rumos à utilização insuficiente do potencial turístico de algumas regiões.13

O desenvolvimento econômico e a modernização das sociedades não ocorreram de forma homogênea e em algumas áreas a falta de sincronismo entre o desenvolvimento do turismo e a capacidade de carga gerou problemas graves. O fato é que o turismo causa impactos diretos na sociedade, sendo responsável por mudanças de estilo de vida e interferindo na identidade coletiva das cidades, dentre

9 YÁZIGI, Eduardo; CARLOS, Ana Fani Alessandri; CRUZ, Rita de Cássia Ariza (Org.). Turismo:

espaço, paisagem e cultura. São Paulo: Hucitec, 1996, p. 135. 10

HARVEY, D. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 2005, p. 69. 11

YÁZIGI, Eduardo. Civilização urbana, planejamento e turismo. São Paulo: Contexto, 2003, p. 55. 12

ACERENZA, Miguel Angel. Administração do turismo. Bauru: EDUSC, 2002. v.1. 13

SANCHO, Amparo (Dir.). Introdução ao turismo - OMT. São Paulo: Roca, 2001, pp. 323-341.

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outras alterações que pode gerar.14 Por decorrência, um planejamento urbano adequado que permita equacionar as vantagens e os riscos do desenvolvimento turístico é primordial. Conforme observa Larkham: O sistema de planejamento deve assegurar que o crescimento econômico seja capaz de prover a população com trabalho e moradia, de uma maneira que respeite a capacidade de seu meio ambiente e outros interesses conservacionistas.15

As cidades são locais privilegiados onde se cruzam memórias históricas e representações simbólicas de grande riqueza, sendo uma referência obrigatória para todos quantos vivem e um atrativo turístico para aqueles que desejam conhecer outras culturas. Lembramos que os atrativos culturais de uma cidade podem variar, de acordo com o patrimônio histórico, arquitetônico, arqueológico, artístico, museus parques recreativos de temática cultural, espaços naturais protegidos, ruas temáticas e culturais etc.

O crescimento desordenado e a degradação urbanística de algumas cidades contribuem para a perda de vitalidade de áreas centrais. Os problemas enfrentados no que diz respeito à preservação do patrimônio estão diretamente ligados, na maioria das vezes, à decadência do espaço público. Esta situação obrigou muitas políticas de governo a adotarem medidas que rompessem com a degradação dos centros das cidades, empreendendo ações de valorização cultural, recuperação de edifícios e espaços públicos, visando ao seu uso por moradores e pelos turistas.16 A preservação dos centros históricos urbanos evidencia preocupação com a identidade do grupo social que ocupou a área no decorrer do processo histórico da formação da cidade. A reabilitação e revitalização de áreas degradadas revelam que há uma crescente preocupação com a reutilização social do patrimônio. Contudo, esta reutilização exige cuidados como restauro e preservação, definição de novos usos; isto implica estudos aprofundados sobre o tema a fim de subsidiar os investimentos, normalmente vultosos para esta área.

É fundamental que o planejamento turístico estabeleça as limitações de uso, visando à preservação do patrimônio, garantindo, também, a continuidade da atividade turística. A utilização inapropriada do patrimônio pelo turismo pode gerar problemas graves como a deterioração do patrimônio e até a sua completa extinção. Por decorrência, é preciso devotar especial atenção para a forma como o patrimônio é utilizado pelo turismo. Deve-se verificar a capacidade dos locais e os meios e formas de se fazer uso do edifício, assim como a aplicação das políticas de atendimento aos visitantes, além da preservação e captação de recursos junto à iniciativa privada.

Abordar o turismo cultural urbano pressupõe um diálogo direto com a história cultural da cidade, sua memória e sua identidade social, bem como a necessidade de resgatar conceitos que permitam um enquadramento teórico do tema. Desta maneira, é preciso ter em conta o entendimento da singularidade do

14

PEREZ, Xerardo Pereiro. Turismo cultural – uma visão antropológica. Tenerife, Espanha: ACAy

Pasos, 2009, pp. 78-80. 15

LARKHAM, P. Conservation and the city. London: Routledge, 1996, p. 329. 16

VAN DER BERG, J. et al. Gestión del turismo en las grandes ciudades. In: Estudios Turísticos, n. 126, 1995, pp. 33-62.

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processo histórico do espaço urbano e do complexo jogo de interações sociais que se construíram lentamente e que fazem parte da dinâmica de uma comunidade.

O crescimento desordenado que, progressivamente, foi apagando os traços do patrimônio construído nos séculos anteriores permitiu que somente alguns vestígios sobrevivessem no meio das cidades em crescimento. Estes descompassos que interferem diretamente na vida da cidade e na sua imagem levam a discutir a questão do patrimônio e do turismo cultural urbano, trazendo para um primeiro plano a investigação sobre a essência e identidade da cidade. Tal discussão é pertinente para ser pensar: Como a cidade e a atividade turística podem caminhar para o futuro?17

Referências

ACERENZA, M. A. Administração do turismo. Bauru: EDUSC, 2002. v.1. CHOAY, F. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade/Unesp, 2001. HARVEY, D. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 2005. YÁZIGI, E.; CARLOS, A. F. A.; CRUZ, R. C. A. (Org.). Turismo: espaço, paisagem e cultura. São Paulo: Hucitec, 1996. YÁZIGI, E. Civilização urbana, planejamento e turismo. São Paulo: Contexto, 2003. LARKHAM, P. Conservation and the city. London: Routledge, 1996. MENESES, U. B. Morfologia das cidades brasileiras: introdução ao estudo histórico da iconografia urbana. In: Revista USP. São Paulo: Edusp, n. 30, 1996, pp. 144-155. PEREZ, X. P. Turismo cultural – uma visão antropológica. Tenerife, Espanha: ACAy Pasos, 2009. RÉMY, J.; VOYÉ, L. A cidade: rumo a uma nova definição. Lisboa: Afrontamento, 1994. RODRIGUES, A. B. (Org.). Turismo e geografia: reflexões teóricas e enfoques regionais. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 2001. SANCHO, A. (Dir.). Introdução ao turismo - OMT. São Paulo: Roca, 2001, pp. 323-341. VAN DER BERG, J. et al. Gestión del turismo en las grandes ciudades. In: Estudios Turísticos, n. 126, 1995.

17

MENESES, U. B. Morfologia das cidades brasileiras: introdução ao estudo histórico da iconografia urbana. In: Revista USP. São Paulo: Edusp, n. 30, 1996, pp. 144-155.