HISTÓRIA CRÍTICA O Professor de História e a História do Seu Tempo
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HISTÓRIA CRÍTICAO Professor de História e a História do Seu Tempo
Valmir CardosoProf. Orientador: Daniela Sema Hoffmann
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVICurso Licenciatura em História (HID0213) – Trabalho de Graduação
30/11/2013
RESUMO
Como mediadores de História, o professor desta doutrina deve se preocupar com osconteúdos a serem ministrados em sala de aula. Sabemos que enquanto contamos aHistória pretérita, uma nova História está ocorrendo onde nós mesmos somos agentes esujeitos nela. E, no que se refere aos conteúdos da História do tempo presente, quandonossa única fonte de informações são os meios jornalísticos, devemos estar atentos epreocupados com a deturpação que pode acontecer com os fatos que nos sãotransmitidos a todo momento. Podem estar contaminados. Por isto, enquantoprofessores, devemos nos certificar de tudo o que a mídia nos transmite, pois nem semprerecebemos uma notícia imparcial e verdadeira. Muitas vezes as notícias chegam até nóscom vícios de origem, pelo fato de que, há muitos interesses por detrás dos jornalismos.Na área da História do tempo presente, nossos alunos esperam de nós, mais quesimplesmente repetidores de informações jornalísticas. Eles esperam que estejamos lhespassando, um conteúdo puro, rico e imparcial. E sem pesquisar, isto se torna impossível. Ésabido que as grandes corporações midiáticas, muitas vezes não nos transmitem os fatosconforme aconteceram. Por detrás das notícias há muitos interesses que podem modifica-las ao gosto do financiador e o professor de História, deve estar atento a isto.
Palavras-chave: mídia; notícia; interesses.
1 INTRODUÇÃO
Quando nos aprofundamos em conhecer os elementos que compõem a
disciplina de História, dentro da área de conhecimento das
Ciências Humanas, com todas suas variantes e implicações, erros e
acertos, vícios e virtudes, é quase impossível não perceber a
importância desta matéria para a formação de conceitos sociais,
2
políticos e culturais dos estudantes. Dentro deste entendimento,
Nadai (1992/93, p.143-162) assim pontuou:
Apesar de ainda existirem ‘adolescentes que detestam aHistória’ ou que não saibam tantos nomes e datas comoantigamente, dificilmente encontraremos quem desconheça opapel da História para ajudá-lo na compreensão de si, dosoutros e do lugar que ocupamos na sociedade e no deverhistórico.
Não temos dúvidas de que hoje está acontecendo a História que
será contada amanhã. Certamente haverá algumas versões para os
mesmos fatos históricos, mas a História do nosso tempo
inexoravelmente será contada. Hoje temos muitos meios para
conhecer, com razoável precisão, sobre tudo o que está acontecendo
ao nosso redor, sendo nós mesmos, muitas vezes, sujeitos nestes
acontecimentos. Portanto, não é necessário esperar para ler o que
os historiadores escreverão no futuro, pois os fatos estão diante
de nós e podemos historicizá-los, bem como posicionarmos dentro
do nosso próprio tempo histórico. Quando nos apropriamos deste
saber, podemos modificar o presente e preparar o futuro. Este
entendimento é corroborado por Souza (2007, p.72) quando diz que
“O professor deve ter consciência de que os seus alunos são
sujeitos históricos e possuem especificidades históricas
relacionadas à sua cultura”.
Se nossos professores de Estudos Sociais ou Educação Moral e
Cívica, adotassem tal postura na década de 70 do século passado,
certamente já saberíamos naquele tempo que a tão ensinada
“Revolução de 64” era na verdade o “Golpe Militar de 64”.1 Tal
1 Mesmo após o advento do retorno da democracia, após o fim da Ditadura Militar,ainda encontramos artigos defendendo a expressão “Revolução de 64” para os acontecimentos de 31 de Março a 1º de Abril de 1964.
3
atitude, poderia contribuir para apressar a chegada da democracia.
Entretanto, tivemos que esperar algumas décadas, até que os fatos
históricos, acerca daquele tempo, fossem desvelados.
A ideia central deste Trabalho de Graduação, foi selecionada
por ocasião dos preparativos do Estágio I, a partir do Caderno das
Diretrizes e Regulamento de Estágio e Trabalho de Graduação da
UNIASSELVI. Nele, escolhemos como Área de Concentração, a
História do Tempo Presente.
Dentro da área selecionada, resolvemos falar sobre o papel do
professor dentro da História do seu tempo, por entendermos que,
juntamente com os mediadores de sociologia, filosofia, geografia e
artes 2, o professor da História pode contribuir em sala de aula
para que – no mínimo – os alunos tenham noções claras sobre os
aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais da sociedade
em que estão inseridos, capacitando-os para o pleno exercício da
cidadania, visto que, quando bem instruídos, saberão fazer
escolhas, promover ações e contribuir para uma sociedade cada vez
melhor.
E dentro deste entendimento, escolhemos um foco para
problematiza-lo. Queremos saber qual o grau crítico que nossos
professores possuem quando as notícias veiculadas pela mídia lhe
chegam ao conhecimento. Que filtros utilizam? Que base de
conhecimento possuem para contestarem os meios de comunicação,
sabendo que nem sempre a notícia é fiel aos fatos?2 Dentro dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), história, sociologia, filosofia e geografia, pertencem a Área de Conhecimento das Ciências Humanas e suas Tecnologias. A disciplina de Artes pertence às Linguagens, Códigos e suas tecnologias.
4
Para pesquisar esta temática, tomamos como base as nações Cuba
e Venezuela, por entendermos que há uma campanha deliberada – e
por muitos desconhecida - da grande mídia nacional e estrangeira
contra estes países.
Não se trata de um Trabalho feito para a defesa ideológica ou
política dos governos que hoje estão no comando destas nações
soberanas, visto que temos sérios questionamentos aos regimes por
eles adotados. No entanto, será que a mídia cumpre com seu papel
de bem informar, quando noticia fatos sobre estes países? O que
nossos professores de História sabem sobre o que realmente está
acontecendo dentro destas nações? Será que os mediadores de
História, fazendo uso do conhecimento adquirido ao longo do curso
de licenciatura, são críticos a tudo o que a mídia propaga? Estão
sabendo filtrar o grande volume de informações que lhes chegam à
mente? Estão preparados para separarem uma notícia de uma campanha
caluniosa? Sabem discernir o que é jornalismo puro do que é
jornalismo pago? Será que nossos professores estão ao menos,
pesquisando o outro lado da questão, quando notícias contra Cuba e
Venezuela são veiculadas3?
Reforçando: Será que podemos confiar, sem questionamentos, em
tudo o que nos transmitem as rádios, os jornais, os semanários,
as TVs, os e-mails, os blogs, os vlogs, os grandes portais de
internet e as redes sociais4, quando se referem à estes países?
3 O mesmo é válido para Coréia do Norte, China, Irã. Enfim, qualquer país que não esteja se dobrando ante ao poderio dos EUA e seus muitos aliados.4 Um eufemismo para Facebook;
5
Assim, procurando enriquecer este Trabalho, e focados neste
tema, lançaremos mão de uma entrevista que realizamos com dois
professores de História, estando eles em plena atividade no Ensino
Médio.
Buscaremos também, descobrir qual o grau de independência que
há nas opiniões emitidas por nossos professores de História,
quando o tema em sala de aula versar sobre as questões históricas,
sociais e políticas das Américas.
Para ajudar na formação do entendimento objeto deste Trabalho,
resolvemos, identificar os grandes grupos midiáticos, tecendo
alguns comentários, ainda que superficiais, sobre os mesmos.
Com o mesmo objetivo, faremos um breve resumo histórico sobre
Cuba e Venezuela. Na sequência deste histórico, procuraremos
suscintamente elencar algumas percepções que hoje temos sobre
estes dois países, indicando provável influência dos noticiários,
pois certamente são quase que exclusivamente, as únicas fontes
de informações que temos, quando queremos nos atualizar sobre os
acontecimentos políticos e econômico no mundo que nos rodeia.
Apresentamos logo após, embasados em fontes seguras - e indicadas
nas referências -, algumas informações positivas acerca destas
nações, que a grande mídia, intencionalmente, nega ao seu
público.
Não é propósito deste trabalho, esgotar todas as questões
que envolve este vasto assunto. No entanto, nele apresentamos
argumentos que já são suficientes para orientar nossos
6
professores de História, no sentido de colocarem à prova tudo o
que a mídia lhes transmite. Neste sentido, Jakobskind (2010) diz
que:
É importante que os leitores e telespectadores brasileirostenham acesso a outros canais de informação e não aos desempre, apresentados diariamente pelos grandes meios decomunicação vinculados à Sociedade Interamericana de Imprensa(SIP). Em outros termos: que seja ouvido o outro lado, paraque não prevaleça, como tem acontecido, o esquema dopensamento único.
Nossa proposta para este Trabalho de Graduação é, no mínimo,
chamar a atenção dos professores de História, para que tomem posse
da importância do seu papel como mediadores desta disciplina, que
é viva e se move no tempo. Se por um lado, conhecer o passado é
importante, muito mais importante ainda, é se apropriar do teor
dos fatos reais do presente, transformando-os em História.
2 O PROFESSOR DE HISTÓRIA DIANTE DA HISTÓRIA DE HOJE
Por sua significativa importância, como educadora e formadora
de opinião, a História enquanto disciplina dentro de um sistema
educativo, muitas vezes é adaptada para atender os interesses
ideológicos, religiosos, sociais e econômicos do governo ao qual
está submetida. Nestes casos, o objetivo, é não permitir que o
aluno chegue a um real conhecimento de alguns fatos históricos,
seus atores, classes e nações envolvidas, pois alguns fatos
históricos, se conhecidos, poderiam denunciar o regime. Usando
uma linguagem do direito “nemo tenetur se detegere” ou “ninguém é
obrigado a produzir provas contra si”. Decorre disto, que a
formação política dos cidadãos é afetada, pois a luz do
7
conhecimento estaria sendo ofuscada pelo véu da ignorância, em
favor dos interesses dos dominadores.
Ao longo da história da educação, encontramos muitos exemplos
destas interpolações nos conteúdos de História.
Durante o regime nazista, na Alemanha, a historiografiaforjou um discurso histórico que legitimava a perseguição aosjudeus. Segundo esse discurso, o povo judeu era responsávelpor diversos problemas que afligiam a Alemanha a partir dofinal do século XIX. Esse discurso abriu precedentes a um dosmaiores crimes já cometidos contra um povo na História dahumanidade: o holocausto. (SOUZA, 2007, p.33)
Na História recente do Brasil, esta disciplina não foi apenas
manipulada, ela foi também cortada dos currículos escolares por
longos anos durante o Regime Militar.5 De acordo com Brasil
(1997):
Com a substituição por Estudos Sociais, os conteúdos deHistória e Geografia foram esvaziados ou diluídos, ganhandocontornos ideológicos de um ufanismo nacionalistadestinado a justificar o projeto nacional organizado pelogoverno militar implantado no País a partir de 1964.
Mas, além das conhecidas interpolações dos governos nos
conteúdos disciplinares, há outras influências que um professor de
História recebe e muitas vezes não reage diante disto. Estamos
falando das informações jornalísticas, as “do tempo presente”. Em
tese, nossas agencias noticiosas, deveriam refletir, próximo da
realidade, os fatos históricos do nosso tempo. Mas nem sempre é
assim.
5 Regime imposto pelos militares, com apoio de alguns civis. A educação foi fortemente afetada. Durou de 1964 a 1985.
8
O professor de História, é um agente importante para a
transformação da sociedade. Sua preocupação deve ir além do ensino
das produções historiográficas anteriores. Ele deve se antecipar e
problematizar o presente, ligando ou não ao passado, construindo
junto com os alunos o conhecimento de hoje, que será a História
escrita do amanhã.
É necessário que sejam argutos, críticos e que ousem conhecer
os fatos reais de nossa própria História, pois só assim, estarão
capacitados para filtrarem as informações e com isto se
habilitarem para mediarem uma aula rica em conhecimentos, que
possam beneficiar nossos alunos e nossa sociedade. Ele, o
mediador, deve saber claramente seu papel no sistema educativo e
cumprir sua missão. Martins e Martino (2011, p.4), corroboram com
este entendimento, quando dizem que:
[...] tudo isso seria insuficiente se o professor não tivesseclaras as finalidades da educação. E isso transcende o espaçoda sala de aula e da escola. Tem a ver com opções políticas,sociológicas, filosóficas. A seleção de conteúdos, asescolhas de métodos de ensino e de formas de avaliação estãointimamente ligadas a determinadas convicções e visões demundo.
3 OS GRUPOS MIDIÁTICOS
Teoricamente, as empresas de jornalismo deveriam ser
imparciais, desprovidas de ideologias, opções políticas ou
partidárias. Deveriam ser incorruptíveis. Infelizmente, quando nos
detemos em confrontar o que nos é informado pela imprensa, com dos
dados coletados em outras fontes, descobrimos que, a
9
imparcialidade é a primeira sacrificada quando há interesses por
detrás das notícias.
Isto ocorre no Brasil e também em muitas outras nações. Não
esqueçamos de que, a esmagadora quantidade de notícias
internacionais que a imprensa brasileira propaga, vem de fontes
norte-americanas ou europeias. Se por acaso, a fonte está
contaminada, não podemos esperar que jorre notícias puras dos
canais midiáticos nacionais.
[...] o papel exercido pela mídia oligopólica não épropriamente informar, conforme tenta fazer crer, masdefender uma ordem política, econômica e social, utilizando apropaganda, a desinformação, a censura e a mentira pura esimples. [...] o mercado global da comunicação é dominado, emúltima análise, por não mais de dez enormes conglomerados,que cobrem todas as regiões do planeta. No escalão seguinteoperam outras 40 empresas, também oligopolistas, caudatáriasdaqueles. A maioria dessas corporações é da América do Nortee da Europa Ocidental, mas há também algumas da Ásia e daAmérica Latina. Todas defendem o domínio do poder econômico edas potências imperialistas [...] Recente relatório de umacomissão especial da ONU sustenta que 85% das notícias quecirculam no mundo são geradas nos EUA. (SAITO;HADDAD, 2012,p.20).
Os grandes grupos de comunicação brasileiros, seguem o padrão
mundial dos oligopólios midiáticos. Ao longo dos anos, nossos
grandes canais de rádio e TV, que são concessões públicas, bem
como a imprensa escrita, vão tomando quase que todos os espaços e
horários noticiosos, tornando-se quase que únicas fontes de
notícias para os brasileiros. Neste sentido, Borges (2009, p.21)
diz que:
Ela nunca foi tão poderosa no mundo e no Brasil, emdecorrência dos avanços tecnológicos nos ramos dascomunicações e das telecomunicações, do intenso processo de
10
concentração e monopolização do setor nas últimas décadas eda criminosa desregulamentação do mercado que a deixou livrede qualquer controle público. Atualmente, ela exerce a suabrutal ditadura midiática, manipulando informações emanipulando comportamentos. [..] No caso do Brasil, a mídiacontrolada por meia dúzia de famílias, também esbanja poder,mas dá vários sinais de fragilidade. [...] Atualmente osimpérios midiáticos, que unem informação, entretenimento ecultura, e concentram inúmeros veículos – jornais, revistas,emissoras de televisão, rádios, internet, etc. – colocam-seacima das leis e constituições, atacam os movimentos sociaise os governos progressistas e tentam sabotar a democracia.
Consequentemente, nossos mestres de História e seus alunos,
são consumidores das informações que estas mídias comercializam.
Tornar-se necessário portanto, que os professores, tenham um
mínimo de desconfiança das informações que estão recebendo, para
que possam mediar bons conhecimentos em sala de aula.
4 VENEZUELA
Antes da chegada de Cristóvão Colombo em 1498, a região que
hoje conhecemos por Venezuela era habitada por índios caraíbas e
arauaques. Os espanhóis fundaram ali uma colônia e passaram a
explorar o cacau e o café pelas mãos dos escravos africanos. E foi
pela liderança de Simon Bolívar, que os venezuelanos conseguiram a
independência em 1819. Porém, muitas ditaduras, guerras civis e
disputas nas fronteira aconteceram a partir desta data. Veio
então, no início do século XX, a descoberta do petróleo em grande
quantidade. A partir daí, a Venezuela, que já estava incluída na
"Doutrina Monroe" dos norte-americanos, passou a ter mais atenção
ainda pelos imperialistas, pois o "ouro negro" era precioso demais
para ficar nas mãos dos antigos "colonizados". Somente a partir
de 1947 é que teve a primeira eleição presidencial. No fim da
década de 80, tiveram grandes levantes populares, derivados da
11
corrupção no governo e pelas medidas adotadas para combater a
crise econômica.
O presidente Andrés Pérez, foi afastado em 1993 devido a
acusações sobre o desvio de um grande montante de dinheiro
público. Em 1998, Hugo Chávez, foi eleito presidente, as medidas
apresentadas por Chavez conquistaram o apoio da população mais
pobre, no entanto desagradaram os empresários. Então começaram as
campanhas de desestabilização do governo, com greves gerais e
falta de produtos essenciais, além de forte oposição midiática.
Por causa das grandes agitações, inclusive com mortes nas ruas, em
2002 golpistas invadiram o Palácio do Governo e retiraram Chavez
à força, conduzindo-o para um lugar incerto.
Nomearam apressadamente um representante dos empresários,
Pedro Carmona, como novo presidente. Dois dias depois, milhares de
cidadãos venezuelanos, com a constituição nas mãos, marcharam para
o centro de Caracas, em direção ao Palácio do Governo e com a
ajuda dos militares, conseguiram expulsar Pedro Carmona e trazer
de volta o presidente eleito Hugo Chavez (PERCÍLIA, 2013).
Todos estes episódios, enfraqueceram ainda mais a economia
venezuelana, servindo aos propósitos das forças estrangeiras com
interesses naquele país . Em 5 de Março de 2013, Hugo Chavez, após
intensa luta contra o câncer, veio à óbito. Assumiu seu vice
Nícolas Maduro, que sob forte pressão midiática, empresarial e
estrangeira, governa a Venezuela até esta data (MARQUEZ, 2013).
4.1 A PERCEPÇÃO QUE TEMOS SOBRE A VENEZUELA ATUAL
12
É notório e incontestável de que quando lemos alguma notícia
sobre o governo da Venezuela, nos grandes jornais de nosso país,
na maioria esmagadora das vezes o conteúdo é negativo. Sobre isto,
em um artigo eletrônico de sua lavra, Jakobskind (2010) considerou
que:
A República Bolivariana da Venezuela segue na ordem do dia da
mídia. Quem acompanha o noticiário diário das TVs brasileiras
e alguns dos jornalões tem a impressão que o país está à
beira do caos e por lá vigora a mais ferrenha obstrução aos
órgãos de imprensa privados.
Vários jornalistas, especialistas e formadores de opinião,
tentam arrazoar sobre os possíveis motivos que levam os grandes
grupos midiáticos mundiais, portanto os grupos brasileiros
também, a se lançarem nesta campanha de oposição contra o governo
da Venezuela.
Mas qual será o motivo para a demonização de Chávez pelas
forças conservadoras e reacionárias? Talvez a resposta para
esse questionamento esteja na riqueza natural mais importante
do mundo, o petróleo, na forma como Hugo Chávez conduziu seu
governo alicerçado na doutrina bolivariana ou então porque o
presidente venezuelano foi o primeiro [daquela nação] a se
preocupar com os pobres. (TARGINO, 2013).
Um cidadão comum, hoje, que apenas se alimenta dos noticiários
dos grandes grupos jornalísticos de nosso país, terá a seguinte
percepção sobre a Venezuela:
13
Há uma ditadura implantada por Chavez;
Não houve melhoras sociais na era Chavez;
Não há liberdade de expressão e de imprensa na
Venezuela;
A economia está um caos;
Há fraudes nas eleições;
Os adversários são perseguidos pelo regime;
Há muita corrupção no país.
4.2 O QUE REALMENTE ESTÁ ACONTECENDO NA VENEZUELA
Em um artigo para o Portal Vermelho, Galeano (2013),
ironicamente diz que Chavez é um demônio porque utilizou o
dinheiro da venda do petróleo para alfabetizar 2 milhões de
venezuelanos que estavam impedidos de estudar, por não terem
documentos.
Sobre a questão da democracia na Venezuela, tudo depende do
que significa esta palavra, pois ela pode ser adaptável ao gosto
do usuário. Por exemplo, para muitos brasileiros não há
democracia nos Estados Unidos da América, tão somente porque
naquele país, o presidente não é eleito diretamente pela força
dos votos dos cidadãos e sim pelos votos dos delegados de cada
estado.
14
Sobre o verbete “democracia”, Bresser-Pereira (2007),
analisando o regime político que governa hoje a Venezuela, diz
que:
[...] segundo a definição que hoje existe em qualquer bomlivro de teoria política, o regime político existente naVenezuela é democrático. Ali há o Estado de Direito, aliberdade de pensamento e de imprensa e eleições livres -ostrês requisitos essenciais de uma democracia.
A Venezuela tem uma das maiores reservas de petróleo do mundo
e também figura entre os grandes exportadores desta importante
fonte de energia. Desde que assumiu o poder, Chavez priorizou
utilizar os recursos obtidos com a venda do petróleo, para
diminuir as desigualdades sociais do país. Segundo o jornalista
Pimenta (2013):
Por exemplo, de 1999 até hoje, período do comando do líderpopular, o PIB per capita (por pessoa) do País cresceu de US$8,2 mil para US$ 13,2 mil. [...] A taxa de desemprego naVenezuela passou de 14,5%, antes de Chávez, para apenas 8% noano passado. [...] Desde 2005, segundo a Unesco, não existemmais analfabetos na Venezuela, que tem um dos melhoressistemas de educação pública e gratuita da América Latina.[...] Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI),em 1999, nossos vizinhos tiveram US$ 22,3 bilhões emexportações, enquanto em 2010, foram US$ 67,5 bilhões em2010. Crescimento de 66%. As importações também avançaram em61% no mesmo período, saltando de US$ 18,7 bilhões há 14 anospara US$ 49,2 bilhões, em 2010.
Até mesmo, a grande mídia brasileira reconhece os avanços
sociais e econômicos, que foram obtidos na Venezuela dentro da era
Chavez, apesar de que não divulgam com tanta ênfase quanto o fazem
para as notícias ruins sobre aquela nação.
15
De 2003 para cá, quando passou 100% para o controle estatal,a petroleira PDVSA6 passou a financiar a maioria dosprogramas sociais. Desde então, US$ 300 bilhões foraminvestidos em programas sociais, segundo o governo — valorsuperestimado para os críticos. As missões bolivarianas, quelevam saúde, educação e alimentos em casa, atendem hoje 20milhões de venezuelanos — ou seja, 60% da população. [...]Em 1999, 29% dos venezuelanos viviam na pobreza extrema. Hojesão 7%. A Unesco declarou a Venezuela país livre doanalfabetismo. O salário mínimo é o maior da região: US$ 414.O desemprego é de 7,9%. Segundo a ONU, a Venezuela é o paísmenos desigual da América Latina. (COMO..., 2013).
A conhecida rede de comunicação inglesa, a BBC de Londres,
também reconhece as conquistas sociais e econômicas da era Chavez,
quando afirma em um artigo que:
Na era Chávez, a pobreza na Venezuela caiu mais de 20%, deacordo com a Cepal (Comissão Econômica para América Latina eCaribe), e o país passou a registrar a menor desigualdadeentre ricos e pobres entre nações latino-americanas, deacordo com relatório da ONU, com 0,41 no índice de Gini quemede o grau de desigualdade na distribuição da rendadomiciliar per capita entre os indivíduos de um país, quantomais próximo de zero menor a desigualdade. (JARDIM, 2013).
No campo da liberdade de expressão, a maior crítica está no
cancelamento da concessão pública do canal de televisão RCTV, o
mais antigo do país, que fazia oposição declarada ao governo e
comprovadamente participou da tentativa de golpe contra Chavez em
2002. Na Venezuela, como é no Brasil, cabe ao governo renovar as
concessões de telecomunicações, ou não, pois a comunicação
pública é questão de Estado. Por entender que aquele canal
específico era contra a democracia do país, pois recebeu dinheiro
de estrangeiros e participou ativamente da tentativa de golpe de
estado em 2002, sua concessão não foi renovada quando o contrato
terminou em 2007. A negativa de renovação da concessão, foi
6 Estatal venezuelana do petróleo.
16
embasada na lei daquele país, portanto, não houve ilegalidade,
muito menos atentado à liberdade de expressão.
Esta mesma rede de TV, já possuía em sua ficha, algumas
infrações antes do governo Chavez, pelas quais já houvera sido
severamente punida. Conforme Carvalho (2007):
No tempo em que governavam na Venezuela os presidentes amigosdos EUA e das democracias europeias, a RCTV foi suspensavárias vezes. Em 1980, por sensacionalismo. Em 1981, pordifusão de programas pornográficos. Em 1984, acabou condenadapor ridicularizar o Presidente da República.
Interessante notar, que a mesma mídia que fez campanha mundial
contra o cancelamento da concessão deste canal venezuelano,
silenciou quando outros canais foram fechados em países
“democráticos”.
Podemos citar, aqui, exemplos de concessões não renovadas acanais de televisão, em vários países. Em 2004, a Francasuspendeu a concessão da TV Al Manar, porque se considerouque este canal do Hezbolla libanês 'pregava o ódio'. NaInglaterra, Margaret Thatcher cancelou a concessão de uma dasgrandes cadeias de televisão por ter difundido notícias nãogratas, ainda que verídicas. No mesmo Reino Unido asautoridades dispuseram, em marco de 1999, o fechamentotemporário deMed-TV-Canal 22; em agosto de 2006 revogaram alicença da One TV; em novembro do mesmo ano, a daStarDate TV24 e em dezembro a do canal de televendas Auction World.(RAMONET, 2007).
Apesar da campanha midiática contra a Venezuela, patrocinada
por nações de política imperialista, podemos constatar através das
pesquisas que neste país a liberdade de expressão está em
patamares aceitáveis pelos órgãos mundiais. Isto é confirmado nas
palavras de Jakobskind (2013) onde afirma que:
17
Ele baseia as suas informações em números. Segundo Nieves ,há atualmente um total de 282 meios alternativos de rádios etelevisões onde a população que não tinha voz agora tem.Houve, inclusive, um aumento da democratização do acesso aosmeios de comunicação. [...] No país existiam apenas 33radiodifusores privados e 11 públicos, todos eles avaliadospela Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel).Hoje,ainda segundo informação prestada por Nieves a representantesda UE, as concessões privadas em FM chegam a 471 emissoras,sendo 245 comunitárias e 82 de caráter público. Na área datelevisão, o total de canais abertos privados até 1998 era de31 particulares e oito públicos. Atualmente, a Conatelconcedeu concessões a 65 canais privados, 37 comunitários e12 públicos. A lógica desses números contradiz, na prática, acampanha midiática de denúncia de falta de liberdade deimprensa.
Portanto, se quisermos ter uma percepção isenta sobre o que
está acontecendo na Venezuela, temos que pesquisar em diversas
fontes, pois já está provado que nossas empresas jornalísticas
distorcem os verdadeiros fatos e até mesmo os esconde, pois estão
à serviço do grande capital.
5 CUBA
Havia índios habitando Cuba antes da chegada de Cristóvão
Colombo, em 1492. A partir daí, por aproximadamente 400 anos, a
ilha ficou sobre o domínio espanhol. Cultivavam o tabaco e a cana-
de-açúcar, pelas mãos dos escravos africanos. (PERCÍLIA, 2013).
Em 1898, os norte-americanos ajudaram os cubanos a expulsarem
os espanhóis da ilha. Com isto, saíram da dominação espanhola e
passaram para a norte-americana. Alguns anos depois, os
estadunidenses lhes concederam a independência, sob a condição de
que permitissem uma base militar norte-americana na ponta sudeste
18
da ilha, na cidade de Guantánamo. A base está lá até os dias de
hoje.
Fulgencio Batista, um militar, no ano de 1933 instalou um
regime de colaboração com os Estados Unidos e até 1959, exceto por
um breve período, comandou o destino da ilha. A presidência de
Batista trouxe grandes problemas para a população. O desemprego
era alto. Neste tempo, Cuba se transformou numa espécie de "ilha
dos prazeres" dos turistas americanos. Somando-se a tudo isto,
havia a corrupção governamental, jogatina de cassinos, uso
indiscriminado de drogas e incentivo à prostituição.
A classe média, cada vez mais insatisfeita com a queda no
nível de qualidade de vida, se opôs cada vez mais a Batista.
Reagindo a essa situação de desigualdade, um grupo de
guerrilheiros comandado por Fidel Castro começou a lutar contra o
governo cubano em 1956. Após dois anos de combate, a guerrilha
havia conquistado a simpatia popular. Em 1° de janeiro de 1959,
conseguiu derrubar o governo de Batista. Após a tomada do poder, a
revolução tomou rumos socialistas. O novo governo fez reforma
agrária, nacionalizou empresas e fuzilou colaboradores dos Estados
Unidos. Cresceram, então, os conflitos entre o novo governo e os
interesses norte-americanos.
Os Estados Unidos decidiram combater o governo socialista.
Para isso cortou relações econômicas e diplomáticas com Cuba. Para
a sobrevivência do país, tiveram que depender da ajuda financeira,
militar e técnica da União Soviética. Porém em 1991, com o fim da
URSS, Cuba entrou numa crise econômica. Segundo Moraes (2001,
19
p.13), a União das Repúblicas Soviéticas investia cerca de 800
milhões de dólares por mês na economia cubana.
E para agravar a situação social e econômica de Cuba, os
Estados Unidos decretam a partir 1962 o embargo econômico,
comercial e financeiro, o qual perdura até a presente data. As
nações na ONU vem condenando este bloqueio desde 1982, através de
votações com quase unanimidade à favor do desbloqueio, porém, sem
sucesso. (SAITO;HADDAD, 2012, p.144).
Se por um lado, Cuba pós-Fidel alcançou bons índices em saúde
e educação, todavia economicamente a população atravessa por
sérias dificuldades, tendo como um dos grandes culpados, o
Bloqueio Econômico imposto pelos Estados Unidos.
5.1 A PERCEPÇÃO QUE TEMOS SOBRE CUBA ATUAL
A perseguição dos grandes grupos midiáticos mundiais contra
Cuba, está relacionada à 1959, ano em que Fidel Cadastro assumiu o
poder desta nação, pela ação vitoriosa de uma revolução de
guerrilhas.
Os motivos que levam as grandes corporações de mídia a
perseguirem Cuba são muitos, porém o maior deles é que os Estados
Unidos da América, se sentiram traídos e prejudicados com o rumo
ideológico, político e econômico que Cuba tomou sob a batuta de
Fidel Castro. O governo revolucionário desapropriou muitas terras
que pertenciam a latifundiários norte-americanos ou ligados a
eles, bem como nacionalizou algumas empresas multinacionais.
20
Agravou também, o fato de que poucos anos após a revolução, tendo
problemas insolúveis com os EUA, Fidel resolveu levar Cuba para o
lado soviético, desembocando na “crise dos mísseis” de 19627.
É somente quando nos propomos lançar uma lupa sobre o assunto,
quando resolvemos, enquanto mediadores de História, contestar as
informações jornalísticas que recebemos, que podemos identificar
uma orquestração por detrás desta campanha de desinformação sobre
Cuba. Neste sentido, Saito e Haddad (2012, p. 9-10) comentam que:
O tratamento dado a Cuba pela mídia dominante poderia serobjeto de um estudo sobre o uso da desinformação como pressãopolítica, tal a discrepância existente entre a realidade dopaís e sua representação, transmitida por esses meios.
Falando sobre a relação da mídia com Cuba, Saito e Haddad
(2012, p.19) afirmam que:
[...] fica claro que o papel exercido pela mídia oligopólicanão é propriamente informar, conforme tenta fazer crer, masdefender uma ordem política, econômica e social, utilizando apropaganda, a desinformação, a censura e a mentira pura esimples. Ela o faz mediante subterfúgios.
Como fizemos com a Venezuela, podemos também relacionar alguns
itens, das percepções gerais que um professor de História pode
ter, caso sua única fonte de informações sobre Cuba, seja apenas
nossas empresas jornalísticas:
Há uma ditadura implantada por Fidel;
7 A “crise dos mísseis” ocorrido em 1962, desencadeou-se quando os EUA descobriram que secretamente a URSS havia instalado em Cuba, bases para lançamento de mísseis nucleares, tendo o próprio EUA como principal alvo. Isto quase detonou a III Guerra Mundial. Foi resolvida através de acordos e a URSS retirou sua base da ilha.
21
Não houve melhoras sociais na era Fidel;
Não há liberdade de expressão e de imprensa em Cuba;
A economia está um caos;
Os adversários são perseguidos pelo regime;
Há muita corrupção no país;
Todos cidadãos de Cuba são prisioneiros e querem sair de
lá.
5.2 O QUE REALMENTE ESTÁ ACONTECENDO EM CUBA
Para conhecermos um pouco sobre a situação social e econômica
de Cuba, antes da Revolução, vamos lançar mão de uma entrevista do
então presidente dos EUA, John Fitzgerald Kennedy, feita a um
jornalista francês em 1963, fazendo um mea culpa:
Penso que não há nenhum país no mundo, incluindo regiões daÁfrica e qualquer outro país sob domínio colonial, onde acolonização econômica, a humilhação e a exploração tenhamsido piores do que as que devastaram Cuba, algo que resulta,em parte, da política do meu país. (FANTOVA, 2012, p.80).
Quaisquer leituras que possamos daqui em diante fazer
honestamente sobre Cuba, devemos levar em consideração o bloqueio
econômico imposto sobre eles pelos Estados Unidos a partir de 1962
e agravado ano após ano, mesmo após a própria URSS ter que deixar
Cuba em 1991 à deriva, sozinha, em um mundo capitalista. A cada
ano, bilhões de dólares deixam de girar na economia cubana, devido
ao bloqueio e isto limita quaisquer tentativas de crescimento
econômico e social.
Qualquer outro país no mundo, socialista ou capitalista, que
sofressem o mesmo embargo dos EUA, padeceria das mesmas
22
dificuldades que hoje Cuba padece, pela falta de recursos
financeiros.
E mais: as leis Torricelli e Hems-Burton estenderam a vedaçãode comerciar com Cuba às subsidiárias de empresasestadunidenses no exterior, às companhias que tenhamparticipação acionária ou cujos produtos contenham pelo menos10% de peças, componentes ou tecnologia estadunidense e, deforma ampla e irrestrita, a todas as firmas que pretendamnegociar com os EUA. Mas ainda: o navio mercante que entrarno país caribenho não poderá utilizar portos estadunidensesdurante os seis meses seguintes. [...] O bloqueio proíbequalquer organização que recebe fundos estadunidense, deabrir crédito a Cuba, além de impedir o país de utilizar odólar em suas transações internacionais, de operar por meiode bancos que mantenham negócios com os Estados Unidos e deempregar a rede de fibra ótica para a internet. [...] Aextraterritorialidade da aplicação do bloqueio tem-seexpressado por meio de pressões e multas contra bancos,empresas, organismos internacionais e entidades de caráterprivado em todo o mundo, para que excluam Cuba de seusnegócios. Em consequência, bancos suíços, britânicos,canadenses, austríacos, australianos e outros , cancelaramsuas operações com cidadãos ou com o governo cubano.(SAITO;HADDAD, 2012, p. 137-141).
Agrava-se a isto, o fato de que a CIA8 não cessou um momento
sequer, em tentar desestabilizar esta nação.
Em uma guerra não declarada, na qual a cúpula do governoestadunidense se comportou como uma famiglia mafiosa,recorrendo aos ardis mais sujos e inominiosos, não vacilandodiante de crime, inclusive terrorismo de todo tipo, com a afinalidade de estabelecer o caos em Cuba, gerar um revoltainterna e possibilitar a intervenção armada dos EstadosUnidos. (BANDEIRA, 2007, p.187-191 apud SAITO;HADDAD, 2012,p. 102).
8 Agência Central de Inteligência. Foi criada pelos Estados Unidos em 1947, apósa Segunda Guerra Mundial, para, entre outras funções, trabalhar secretamente dentro das nações, levando seus governos a tomarem ações que possam beneficiar, de alguma forma, o Estado e as empresas norte-americanas.
23
Um relatório colocado diante do então presidente dos EUA,
Eisenhower, em 1960, que discutia o processo revolucionário
cubano, ocorrido no ano anterior, dizia abertamente que:
O único meio previsível que temos hoje para minar o apoiointerno à revolução é [fomentar] o desencanto e o desânimo,baseados na insatisfação e nas dificuldades econômicas. Deve-se utilizar prontamente qualquer meio concebível paradebilitar a vida econômica de Cuba. Negar dinheiro eabastecimento a Cuba, para reduzir salários reais, a fim deprovocar fome, desespero e a queda do governo. (SAITO;HADDAD,2012, p.135).
Isto posto, passamos a elencar, ainda que resumidamente,
algumas realidades vivenciadas pelo povo cubano.
A mídia brasileira, quando fala sobre Cuba, sempre trata o
governante como “ditador” e o regime como uma “ditadura”. Uma das
características de um regime ditatorial é a ausência de eleições.
Mas Cuba tem eleições regulares, como quaisquer países
democráticos.
Todos os cargos diretivos dos órgãos que representam o podero Estado cubano são preenchidos por eleições. [...] O voto éfacultativo e antes de cada eleição são publicadas relaçõesoficiais de eleitores, para eventual correção de falhas ou deomissões. [...] Há eleições a cada cinco anos para deputadosda Assembleia Nacional e para delegados das AssembleiasProvinciais, e a cada dois anos e meio para delegados das 169Assembleias Municipais. Os pleitos são convocados peloConselho de Estado, que designa uma comissão eleitoralnacional responsável pela sua organização. [...] Qualquerparticipante pode sugerir candidato, mas não é permitida aauto indicação, nem a proposição de alguém ausente. [...]Desde 1976, o índice médio de participação nas eleiçõesmunicipais tem sido de 97,1%. [..] São números nadadesprezíveis se considerarmos que o voto em Cuba éfacultativo e que setores da comunidade no exílio e daoposição interna organizam sistemáticas campanhas pelaabstenção ou pelo voto nulo. [...] Os representanteseleitos, em todos os níveis de governo, permanecem com o
24
mesmo salário de seus empregos e ocupações anteriores àeleição. [...] Cabe à Assembleia Nacional [...] designar,entre seus membros, os componentes do Conselho de Estado.(SAITO; HADDAD, 2012, p. 209-211).
Sobre a sucessão presidencial em Cuba, a percepção que os
consumidores das informações jornalísticas brasileiras possuem,
é radicalmente diversa da realidade . A impressão que a mídia
transmite, é de um país onde um ditador chamado Fidel Castro, faz
suas leis, emite ordens de prisão, manda torturar, faz sucessores,
etc. Na verdade, Fidel, apesar de líder da Revolução que levou-os
ao poder, não seria nada, caso não fosse eleito pelo Conselho de
Estado. O presidente deste Conselho de Estado (que foram
escolhidos por voto em uma Assembleia Nacional de delegados, estes
eleitos pelo povo), composto por 31 integrantes, é escolhido por
voto entre seus membros. Ele exerce simultaneamente as chefias de
Estado e de Governo. Foi assim que Fidel foi eleito sucessivas
vezes. No seu impedimento, o vice assume, como aconteceu com Raul
Castro em 2006 quando Fidel Castro renunciou.
O embaixador do Brasil em Havana entre 1999 e 2003 (nogoverno do Presidente Fernando Henrique Cardoso), o sociólogoLuciano Martins, mostrou os ‘equívocos de interpretação’ quecercaram o episódio da sucessão cubana. Ele observou que atransmissão de poder ocorreu de forma constitucional, pelofato de Raúl ser vice-presidente do Conselho de Estado,eleito pela Assembleia Nacional, graças à sua indiscutívelcredencial na luta revolucionária cubana. (SAITO;HADDAD,2012, p.44).
Após a Revolução Cubana, houve melhorias sociais em Cuba.
Vamos começar falando sobre a saúde pública. Na era Castro, Moraes
(2001, p.35-36) pontua que:
Apesar do impacto provocado pela crise econômica no setor[...] Cuba conseguiu não só manter, mas melhorar os índices de
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desempenho na saúde pública. Segundo dados da OMS (OrganizaçãoMundial da Saúde), a taxa de mortalidade infantil do país[...] caíra [...] para espantosos 7,1/1000 no final do século,o que coloca Cuba entre os dez países do mundo com menormortalidade infantil (no Brasil, por exemplo, a taxa é de 35óbitos por mil nascidos vivos). A expectativa de vida [...]subiu para 77 anos durante a crise e chegou a 79 anos no ano2000. E mesmo com cortes no orçamento e com a falta derecursos, na década que se seguiu à queda da URSS, Cubaconseguiu formar nada menos que 30 mil novos médicos defamília [...] um dos mais baixos índices de incidência de Aidspor habitante em todo o mundo: 0,0007 casos de contaminaçãopor grupo de 10 mil habitantes (para se ter uma idéia dosignificado desse número, essa taxa, no Brasil, é de 1,5 casopor 10 mil habitantes).
Na área da educação, Cuba é uma vitrine para o mundo inteiro.
Os índices de analfabetos no país tinham sido reduzidos de35% para 5% - e hoje é de cerca de 2% [...] Aresponsabilidade pela educação passou a ser inteiramente doEstado. O ensino tornou-se, então, gratuito em todos osníveis – do pré-escolar ao curso superior – e obrigatório atéo sexto-grau. A gratuidade da educação compreendealimentação, (café da manhã, almoço e jantar) e todo omaterial escolar. (MORAES, 2001, p.85).
Frequentemente assistimos noticiários sobre a violação dos
direitos humanos em Cuba. Falam de torturas, prisões políticas e
tantas outras violações. Caso um professor de História não se
dedique a pesquisar em diversas fontes, tenderá a pensar sempre –
e equivocadamente – que em Cuba há violência contra seus próprios
cidadãos. Mediante acurada pesquisa, Saito e Haddad (2012, p.114)
comentam que:
A verdade é que Cuba sempre colaborou com a ONU em matériade direitos humanos. Quando foi criada a hoje extintaComissão, em 1988, o governo cubano foi o primeiro a convidarseus integrantes para que visitassem o país. A viagem foiefetivada nesse mesmo ano e a delegação, de cincoespecialistas, produziu um relatório (incluído na Decisão1988/106), informando não ter encontrado anomalia quejustificasse acompanhamento especial da situação em Cuba. Em
26
dezembro de 1993, com a criação do cargo de alto comissáriopara Direitos Humanos, o país novamente tomou a iniciativa dese oferecer para ser supervisionado. Em 1995, foi a vez deuma delegação composta por representantes da France Libertés, daFederação Internacional de Ligas de Direitos Humanos, dosMédicos do Mundo e da Human Rights Watch. A comitiva,presidida por Danielle Mitterrand, cumpriu extensa agenda devisitas a presídios e entrevistou presos e funcionários. Aofinal, reconheceu a cooperação das autoridades cubanas e aliberdade de movimento que tiveram, assegurando terencontrado no país, uma situação de normalidade em relação adireitos humanos.
A liberdade de expressão e imprensa em Cuba é uma de suas
partes mais delicadas. Muitos admiradores de Cuba, não concordam
com o pensamento único da mídia naquele país. Porém, os dirigentes
cubanos justificam dizendo que, mesmo nas nações que alegam ter
liberdade de imprensa, na verdade não há, pois a imprensa é
manipulada por quem detém o poder.
As vezes, nossa mídia veicula abertamente que o governo de
Cuba proíbe o uso de internet por seus cidadãos. Na verdade, a
história é outra.
Nem mesmo a internet cubana escapa ao bloqueio. Asdificuldades não decorrerem apenas do veto[pelos EUA] àimportação de equipamentos e de softwares indispensáveis paraa conexão à rede. O principal obstáculo é a vedação de uso dosistema Arcos, rede submarina de cabos de fibra óptica quecircunda o Caribe. Por isso, o país é obrigado a usarinternet via satélite, mais cara e mais lenta, desde queWashington autorizou sua conexão à rede, em 1996. Issosegundo o ministro de Informática e Comunicações, RamiroValdéz, explica as restrições para o acesso à internet nopaís. A esses problemas, somam-se outros: os usuários cubanosestão proibidos de descarregar [baixar] programas gratuitosou mesmo comprar softwares, graças ao controle exercido pelosEUA através do endereço IP9. (SAITO;HADDAD, 2012, p.143-144).
9 Internet Protocol ou Protocolo de Internet. É um número atribuído a cada computador que se conecta à rede. Por ele, sabe-se exatamente a localização de quem o está usando naquele momento.
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Os dirigentes cubanos afirmam publicamente que em Cuba não há
liberdade de imprensa. Sempre o fazem, comparando com o padrão
adotado pelo chamado mundo livre. Angel Guerra, um importante
revolucionário e jornalista, afirma que “Liberdade de imprensa
para atacar um governo voltado para o proletariado? Isso nós não
temos. E nos orgulhamos muito de não ter”. (MORAES, 2001, p.105).
Quando perguntei a um influente jornalista cubano se láexiste liberdade de imprensa, ele deu uma gargalhada erespondeu: ‘Claro que não’. E completou, com naturalidade:‘Liberdade de imprensa é apenas um eufemismo burguês. Só umidiota não é capaz de ver que a imprensa está sempre aserviço de quem detém o poder. E aqui em Cuba quem detém opoder é o proletariado. Estamos todos os jornalista cubanosportanto, a serviço do proletariado’. [...] Hoje existem emCuba oito jornais diários, sete estações de televisão,cinquenta estações de rádio, duas revistas semanais e umtabloide semanal humorístico. (MORAES, 2001, p.101).
Mas, se por um lado há muitas limitações de informações na
mídia escrita, o mesmo não se pode dizer das rádios e tvs.
Conforme Saito e Haddad (2012, p.50):
O rádio, por exemplo, apresenta programas jornalísticos degrande popularidade, como o ‘Falando Claro’, da RádioRebelde, e o ‘Alta Tensão’, da CMHW de Santa Clara, naprovíncia de Villa Clara, em que a realidade aparece semretorques e a participação dos ouvintes é um constante. Atelevisão cubana, igualmente exibe programas que enfocamcriticamente a realidade nacional. Em 2007 houve ainauguração de novos cais educativos e emissoras provinciais,que trouxeram programas de opinião de grande sucesso como o‘Triangulo da Confiança’, do Canal Havana.
Uma das mais conhecidas proibições aos cidadãos cubanos, que
ouvimos exaustivamente em nossa mídia, diz que “os cubanos não
podem sair da ilha”. Isto não diz toda a verdade. A frase correta
seria: Os cubanos não podem sair da ilha, caso não consigam uma
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carta convite do país para onde pretendem ir e não consigam uma
autorização das autoridades cubanas.
Para nós, que teoricamente vivemos em um país cuja saída ao
exterior não tem impedimentos (exceto a negação do país para onde
vamos e também o fato de que milhões de brasileiros estão presos
aqui, tão somente porque não possuem e não conseguem dinheiro para
fazer uma viagem internacional), é difícil entender a lógica do
governo cubano em dificultar a saída de seus cidadãos. Mas,
segundo o entendimento do líder Fidel, há justificativas para tais
proibições:
Fidel citou um relatório de 2005 do Banco Mundial sobre aMigração e a fuga de cérebros. Segundo o informe, nos últimos40 anos, mais de 1,2 milhões de profissionais trocaram aAmérica Latina e o Caribe por Estados Unidos, Canadá e ReinoUnido. ‘Dos 150 milhões de pessoas que participam deatividades científicas e tecnológicas no mundo, 90% seconcentram nos sete países mais industrializados’, lembrouFidel, que afirma que essas cifras ‘apenas esboçam atragédia’. ‘Não se trata só da transferência de capitais, esim da importação de massa cinzenta, cortando na raiz ainteligência e o futuro dos povos’, completou. (FIDEL, 2007)
E para criar um caos em Cuba, com propósitos também de fazer
propaganda negativa sobre o país, os EUA por diversas vezes, desde
o início da Revolução, criaram leis para incentiva a fuga,
facilitando dos cubanos em território norte-americano. Ofereciam
privilégios que jamais ofereciam aos cidadãos de outros países.
Conforme Saito e Haddad (2012, p.147):
A escritora haitiana radicada nos Estados Unidos, EdwidgeDanticat, considerada a voz dos imigrantes de seu país, dizque muitos de seus compatriotas costumam ficar presos emcentros de detenção dos EUA por mais de um ano: ‘Vejo anítida desigualdade entre o tratamento dado aos refugiadoshaitianos e aos cubanos. [...] Ao chegarem, os haitianos são
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presos e alguns, imediatamente deportados, ao passo que oscubanos permanecem e se qualificam para o pedido decidadania’.
A partir de 2013, o governo cubano liberou quase que
totalmente a saída de seus cidadãos. Porém, a partir daí, a
proibição se inverteu. As nações que antes denunciavam o governo
cubano por exigir cartas convite e autorização de saída, agora
elas mesmas estão exigindo tais documentos dos cubanos que por
acaso querem viajar.
Durante anos, as potências ocidentais criticaram asautoridades de Havana, acusando-as de frear a liberdade de ire vir dos cubanos. Agora vejam, enquanto Cuba suprimiu osobstáculos burocráticos como a permissão de saída e a carta-convite com a finalidade de facilitar as viagens de seuscidadãos, as embaixadas estrangeiras ergueram novas barreirase exigem agora dos cubanos, além dos documentos habituais...uma carta-convite. (LAMRANI, 2013).
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6 MATERIAL E MÉTODOS
A visão deste trabalho, nasceu ao longo do curso de
licenciatura de História na Uniasselvi. Foi ao perceber que grande
parte – talvez a maioria – dos colegas de sala, repetiam quase que
na íntegra tudo o que nossas empresas de comunicação lançavam no
ar acerca de Cuba e Venezuela, que desejamos investigar mais
profundamente o assunto, além de propor uma mudança de
comportamento aos mediadores de História, para que filtrem melhor
as informações midiáticas, classificando-as e confrontando-as.
Para desenvolver este trabalho, precisávamos mais do que a
simples observação do conhecimento que nossos parceiros de
faculdade detinham acerca dos aspectos políticos e econômicos
destes países. Foi então que, aproveitando a missão do Estágio I
do Curso de Licenciatura em História, resolvemos fazer uma mini
entrevista com dois professores nesta área de ensino. Entendíamos
que, apesar de ser uma coleta muito pequena, teríamos uma
confirmação ou até mesmo uma negativa, daquilo que antes já
vínhamos apurando.
Além da entrevista, adquirimos livros de vertentes ideológicas
de esquerda e de direita, para termos um mínimo de imparcialidade.
Recorremos também aos jornais, revistas, blogs, portais e diversas
outras mídias online, onde recolhemos grande parte das matérias
primas que cooperaram para dar embasamento a este texto.
7 RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Podemos constatar, ao concluir este trabalho, o que já
percebíamos de antemão. A mídia influencia fortemente seus
consumidores e os professores de História não estão isentos desta
massificação.
Em nossas entrevistas, ao perguntamos para um dos professores
que já estão lecionando História, se há liberdade de expressão na
Venezuela, a resposta foi que “a ditadura de Chavez não permite
liberdade de expressão. Ele manipula os jornais”. O outro
professor respondeu que “há liberdade, porém é limitada”.
Confrontando estas respostas, com nossas pesquisas, percebe-se
que estes mestres estão mal informados.
Perguntamos também se há eleições livres e democráticas na
Venezuela e a resposta de ambos professores foi negativa. O mesmo
aconteceu sobre Cuba.
Quando questionados sobre os benefícios sociais e econômicos
na Venezuela, eles responderam que na era Chavez houve muito
poucos benefícios sociais, pois o “governo controla tudo”. Falaram
que não houve crescimento econômico.
E por último, perguntamos a eles onde ficava a conhecida
prisão de Guantánamo, onde há denúncias de torturas. Um destes
professores não soube responder.
O resultado destas nossas entrevistas, confrontando com a
realidade dos fatos, nos leva a chamar a atenção aos professores
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de História, para que entendam a importância do papel que possuem
no campo político e cultural de nosso país, e no mínimo,
questionem tudo o que as empresas jornalísticas informam, para que
possam arrazoar, compor e mediar um conteúdo puro e livre da
contaminação perniciosa dos interesses por detrás das informações.
8 CONCLUSÃO
Este Trabalho surgiu para cooperar com a educação brasileira.
Um povo instruído, conhece sua História, a História do seu tempo.
Não a História enviesada e deturpada, mas a História real, ou
próxima da realidade.
Nossos professores precisam despertar para esta constatação,
ou seja, estão levando para dentro da sala de aula, conteúdos que
não traduzem a realidade dos acontecimentos do dia-a-dia. Para
mediarem uma bom conteúdo histórico, não podem nossos professores
confiarem apenas no que a mídia lhes informa. É necessário colocar
tudo à prova e então transmitir os conhecimentos.
Não devemos esperar apenas para que os historiadores contem
amanhã a história do hoje. Nós mesmos, enquanto professores desta
área, devemos nos preocupar com os acontecimentos no mundo ao
nosso redor, indo atrás da informação correta nas diversas fontes
que hoje estão disponíveis.
Esperar que os oligopólios de comunicação nos transmitam uma
informação correta e sem vícios é querer demais das empresas que
comercializam um produto só: a informação. Como produto, a
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informação tem preço e por isto devemos questionar as notícias que
nos são transmitidas pelas grandes companhias jornalísticas.
Um professor de História, que queira mediar bons e verdadeiros
conteúdos, no que se refere a História do seu tempo, deve
preparar-se e equipar-se através de livros, revistas, jornais e
artigos de internet, que estejam fora do domínio da grande
imprensa. Só assim, poderá ter certeza de que está contribuindo
para informar e não para desinformar seu aluno, que espera estar
recebendo uma informação verdadeira, para construir suas próprias
opiniões políticas e sociais.
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