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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS IBIRAJARA AUGUSTO LOPES BRAÚNA AVALIAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DO TELETRABALHO NO DOMICÍLIO EM CONSULTORIAS DE PROJETOS DE ENGENHARIA E SUA INFLUÊNCIA NA GESTÃO DE PROJETOS São Paulo, 2010

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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

IBIRAJARA AUGUSTO LOPES BRAÚNA

AVALIAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DO TELETRABALHO NO DOMICÍLI O EM CONSULTORIAS DE PROJETOS DE ENGENHARIA E SUA

INFLUÊNCIA NA GESTÃO DE PROJETOS

São Paulo, 2010

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IBIRAJARA AUGUSTO LOPES BRAÚNA

AVALIAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DO TELETRABALHO NO DOMICÍLI O EM CONSULTORIAS DE PROJETOS DE ENGENHARIA E SUA

INFLUÊNCIA NA GESTÃO DE PROJETOS

Monografia apresentada à Fundação Getúlio Vargas, como parte das exigências do curso

de MBA Executivo Internacional em Gerenciamento de Projetos, para obtenção

do título de Especialista.

Orientador: Prof. Álvaro Antônio Bueno de Camargo

São Paulo, 2010

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IBIRAJARA AUGUSTO LOPES BRAÚNA

AVALIAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DO TELETRABALHO NO DOMICÍLI O EM CONSULTORIAS DE PROJETOS DE ENGENHARIA E SUA

INFLUÊNCIA NA GESTÃO DE PROJETOS

Monografia apresentada à Fundação Getúlio Vargas, como parte das exigências do curso

de MBA Executivo Internacional em Gerenciamento de Projetos, para obtenção

do título de Especialista.

Orientador: Prof. Álvaro Antônio Bueno de Camargo

BANCA EXAMINADORA

___________________________ _______________________________

Prof. André Baptista Barcaui Prof. Álvaro Antônio Bueno de Camargo

São Paulo, 2010

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TERMO DE COMPROMISSO

Eu, Ibirajara Augusto Lopes Braúna, aluno regularmente matriculado no curso

MBA Executivo Internacional em Gerenciamento de Projetos da Escola Brasileira de

Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, declaro que o

conteúdo deste trabalho de conclusão de curso, intitulado Avaliação da Utilização

do Teletrabalho no Domicílio em Consultorias de Pro jetos de Engenharia e sua

Influência na Gestão de Projetos , é autêntico, original e de minha autoria

exclusiva.

São Paulo, 09 de Agosto de 2010.

________________________________________ Ibirajara Augusto Lopes Braúna

4

RESUMO

Palavras Chaves: Teletrabalho, projetos de engenharia, escritório de projetos,

gerência de projetos.

Esta monografia analisa a implantação do teletrabalho em consultorias de

projetos de engenharia e o impacto desta ação na gerência dos projetos, avaliando

vantagens e desvantagens, buscando traçar um paralelo com as práticas adotadas

em outros segmentos, que passaram a utilizar o teletrabalho como uma forma de

reduzir custos de instalação, atrair e reter mão-de-obra qualificada, aumentar a

produtividade e proporcionar melhoria na qualidade de vida de seus funcionários.

Este trabalho inicia descrevendo o contexto em que se dará a análise, em

ralação a evolução das relações de trabalho e da tecnologia e sua relação com a

utilização do teletrabalho. Relacionado a este tema, será feita uma revisão da

literatura existente, conceituando o teletrabalho e detalhando aspectos relevantes.

Para avaliar a viabilidade de implantação do teletrabalho em consultorias de

projetos de engenharia, será feita uma análise das atividades desenvolvidas por

essas empresas, considerando também os fatores referentes à gestão de equipes

trabalhando remotamente.

5

ABSTRACT

Key Words: Telework, engineering projects, projects offices, projects managing.

This monograph analyses the implementation of the telework in project

engineering consultancy and the consequences of this fact in project managing,

evaluating its advantages and disadvantages, trying to make correspondences with

the practices adopted in other segments, which decided to use telework as a way of

reducing installation costs, attracting and keeping qualified employees, increasing the

productivity and providing improvements in employees life quality.

This text begins describing the context in what analyses will be done, related to

the evolution of labour relationships and technology and their relation with the use of

telework. Regarding this matter, it will be done a review of the state of the art,

including a definition of telework and its most relevant aspects.

In order to consider the viability of the implementation of telework in engineering

project offices, a review of the activities developed by the main functions will be

performed, considering the factors related to managing teams working remotely.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...............................................................................................9

1.1. APRESENTAÇÃO DO TEMA .......................... .............................................9

1.2. QUESTÃO DA PESQUISA........................... ...............................................11

1.3. METODOLOGIA................................... .......................................................12

1.4. OBJETIVOS ..................................... ...........................................................12

1.4.1. OBJETIVO FINAL .............................. .........................................................12

1.4.2. OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS .................... ............................................12

1.5. RELEVÂNCIA.................................... ..........................................................13

2. CONTEXTO.................................................................................................14

2.1. A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E A GLOBALIZAÇÃO.... ....................14

2.2. EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO ............. ...........................15

2.3. TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO....... ....................16

2.3.1. COMPUTADOR COMO FERRAMENTA DE TRABALHO...... ....................19

2.4. CONSULTORIAS EM PROJETOS DE ENGENHARIA NO BRAS IL..........19

3. TELETRABALHO.................................... ....................................................24

3.1. O TRABALHO REMOTO ............................. ...............................................24

3.2. TELETRABALHO.................................. ......................................................25

3.3. TELETRABALHO NO MUNDO......................... ..........................................28

3.4. TELETRABALHO NO BRASIL ........................ ...........................................29

3.5. TELETRABALHO NO DOMICÍLIO ..................... ........................................31

3.5.1. VANTAGENS DO TELETRABALHO NO DOMICÍLIO...... ..........................31

3.5.2. DESVANTAGENS DO TELETRABALHO NO DOMICÍLIO ... .....................34

3.5.3. INFRAESTRUTURA DO TELETRABALHO NO DOMICÍLIO . ....................36

3.5.4. SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO NO TELETRABALHO NO D OMICÍLIO39

3.6. ASPECTOS LEGAIS REFERENTES AO DIREITO DO TRABA LHO NO

DOMICÍLIO ...............................................................................................................42

3.7. TELETRABALHADOR............................... .................................................46

3.7.1. ATIVIDADES E ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS ADEQ UADAS AO

TELETRABALHO ....................................... ..............................................................46

7

3.7.2. PERFIL DO TELETRABALHADOR................... .........................................49

4. PROJETOS .................................................................................................50

4.1. DEFINIÇÃO DE PROJETO .......................... ...............................................50

4.2. GESTÃO DE PROJETOS CONFORME PMI ............... ...............................50

4.3. GESTÃO DE EQUIPES QUE TRABALHAM REMOTAMENTE ... ..............56

4.4. IMPACTOS DA UTILIZAÇÃO DO TELETRABALHO NO DOMI CÍLIO NA

GESTÃO DE PROJETOS................................. ........................................................59

4.4.1. IMPACTOS NA GESTÃO DA COMUNICAÇÃO ........... ..............................60

4.4.2. IMPACTOS NA GESTÃO DOS RECURSOS HUMANOS ..... .....................64

4.4.3. IMPACTOS NA GESTÃO DE OUTRAS ÁREAS DO CONHEC IMENTO EM

PROJETOS...............................................................................................................70

5. CONSULTORIAS EM PROJETOS DE ENGENHARIA .......... ....................71

5.1. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E BREVE HISTÓRICO NO BRASIL .....71

5.2. CONCORRÊNCIAS COM BASE NO MENOR PREÇO ......... .....................74

5.3. CUSTOS EM EMPRESAS DE CONSULTORIA DE ENGENHARI A ..........75

6. TELETRABALHO NO DOMICÍLIO EM UMA CONSULTORIA DE

PROJETOS DE ENGENHARIA............................. ...................................................77

7. CONCLUSÃO....................................... .......................................................82

7.1. CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO E DOS TRABALHADORE S..........82

7.2. INTERAÇÃO DO TIME DE PROJETO.................. ......................................83

7.3. RECURSOS HUMANOS .............................................................................84

7.4. SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO ....................... .......................................85

7.5. QUESTÕES LEGAIS............................... ....................................................85

7.6. CONSIDERAÇOES FINAIS.......................... ...............................................86

7.7. DIRECIONAMENTO PARA NOVOS TRABALHOS ........... ........................87

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Descrição dos serviços prestados por empr esas de engenharia.

Fonte: Academia Nacional de Engenharia ( www.anebrasil.org.br). ...................21

Tabela 2: Níveis de segurança das informações para empresas utilizando o

sistema de teletrabalho no domicílio. (Adaptado de Machado, 2002) ................41

Tabela 3: Profissões e atividades adequadas ao tele trabalho. Fonte: Lemesle e

Marot (1994) apud Freitas (2008, p. 70). ........... .....................................................46

Tabela 4: Fatores críticos para o sucesso do teletr abalho. Fonte: Kowalski e

Swanson (2005, p.240) adaptado por Freitas (2008, p . 74). .................................58

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1. INTRODUÇÃO

1.1. APRESENTAÇÃO DO TEMA

A estrutura das relações de trabalho modificou-se bastante ao longo da história

da humanidade. A princípio todo o trabalho era artesanal, quando vida e trabalho

confundiam-se completamente, já que as oficinas normalmente ficavam nas próprias

casas e os trabalhadores eram todos da família. Entre os séculos XVIII e XIX, com a

revolução industrial, desenvolveu-se a sociedade industrial, em que as várias

pequenas unidades artesanais transformaram-se em poucas grandes empresas, os

artesãos tornaram-se operários e os locais de vida e trabalho não mais coincidiam.

Uma mudança radical no modo de vida dos trabalhadores, que passam a ter de se

deslocar, muitas vezes grandes distâncias, até o seu local de trabalho, além de

cumprir jornadas fixas de trabalho. Obviamente uma mudança tão profunda não se

deu de modo espontâneo e sem traumas. No entanto, uma vez concretizadas as

mudanças, o novo modo de trabalho transformou-se rapidamente em hábito (De

Masi, 1999).

As grandes transformações ocorridas na área de Tecnologia da Informação e

Comunicação, especialmente nos últimos trinta anos, e a expansão das

telecomunicações, devendo-se destacar o advento da Internet, têm potencial para

levar a mudanças nas organizações e nas relações de trabalho de proporções não

vistas desde a revolução industrial. A massificação dos computadores pessoais e

mais recentemente a popularização da internet representam um grande avanço no

campo da comunicação, eliminando totalmente a barreira da distância.

Todos esses avanços e transformações abrem possibilidades, para que várias

profissões realizem seus trabalhos de forma remota, em um ambiente externo ao

escritório. Apesar disso, atualmente, pela força do hábito, muitos profissionais

consideram perfeitamente normal o fato de precisarem se deslocar de casa ao

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trabalho, enfrentando muitas vezes várias horas de trânsito nas grandes cidades,

para desempenharem uma tarefa, que poderia ser perfeitamente realizada em um

computador em casa, contando com o auxílio de ferramentas de Tecnologia da

Informação (De Masi, 1999). Conforme afirma De Masi, “nas organizações os

hábitos se transformam em praxe; as praxes viram dogmas; os dogmas, por sua vez,

passam a se constituir em tenazes baluartes contra as mudanças”. No entanto, à

medida que esses avanços tecnológicos tornam-se cada vez mais disponíveis no

dia-a-dia das organizações e das pessoas, é normal que se busque alternativas para

os problemas inerentes aos grandes centros urbanos, especialmente os

relacionados às grandes distâncias entre residência e local de trabalho e o trânsito

caótico, que implicam na qualidade de vida do trabalhador e consequentemente em

sua produtividade. É de se esperar que ocorra com o trabalho nas organizações algo

semelhante ao que se passa nas instituições de ensino, onde existe uma oferta cada

vez maior de cursos à distância, com qualidade equivalente aos cursos presenciais,

que objetivam principalmente resolver os problemas de tempo e deslocamentos dos

estudantes.

O teletrabalho é a modalidade de trabalho em que os colaboradores da empresa

desempenham suas tarefas remotamente, pois sua função independe de localização

geográfica, utilizando recursos de tecnologia da informação para estabelecer contato

com o empregador (NILLES, 1997, p.35). Esse teletrabalho pode ocorrer todos os

dias, em apenas parte dos dias da semana, ou de maneira ocasional a depender de

determinadas circunstâncias pré-estabelecidas.

Embora a adesão a essa forma de trabalho em todo o mundo apresente-se mais

lenta do que o esperado inicialmente, vários autores a colocam como uma

modalidade de trabalho do futuro, destacando suas vantagens para os

colaboradores, para a empresa, para o governo e para a sociedade. De imediato, ao

tratar dessa modalidade de trabalho, pode-se pensar na redução de custos de

instalação para as empresas, na melhoria da qualidade de vida dos colaboradores

com a redução dos deslocamentos no trânsito caótico das grandes cidades, na

diminuição do número de veículos circulando e a consequente redução na emissão

de poluentes.

11

Tratando da importância dessa nova forma de trabalhar, Lojkine, apud Sakuda,

afirma que

(...) o teletrabalho precisa ser compreendido no contexto de um amplo processo de transição, que tem um potencial diferente das outras revoluções: uma mutação revolucionária para toda humanidade, mutação só comparável à invenção da ferramenta e da escrita, no labor das sociedades de classes, e que ultrapassa largamente a da revolução industrial do século XVIII. (Lojkine, 1995, apud Sakuda, 2005)

A área de consultoria de projetos de engenharia, pela grande utilização de

ferramentas de tecnologia da informação, apresenta-se com potencial para a

utilização do teletrabalho. A partir dos anos 90, a simplificação das interfaces e a

diminuição dos custos de computadores e softwares possibilitaram a disseminação

da informática como ferramenta de trabalho nos mais variados campos. A área de

projetos de engenharia, pela complexidade dos trabalhos desenvolvidos, foi uma das

pioneiras nessa ação. Atualmente, quem entra em escritórios de projetos de

engenharia já não encontra pranchetas, folhas de papel vegetal, normógrafos ou

canetas nanquim (ferramentas comuns no passado), já que todos os trabalhos são

desenvolvidos através de computadores. O desenvolvimento da internet possibilitou

ainda a troca de arquivos eletrônicos com clientes e fornecedores e até mesmo

reuniões por videoconferência, o que leva a gradativa redução da necessidade de

deslocamentos entre escritório de projeto, clientes e fornecedores. O uso dos

computadores como ferramentas de trabalho e da tecnologia como meios de

comunicação possibilita que várias funções na área de projetos de engenharia não

necessitem da presença física daqueles que as executam em tempo integral nos

escritórios.

1.2. QUESTÃO DA PESQUISA

Identificados os aspectos de evolução das relações de trabalho, rápido

desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação, grande utilização

de tecnologia no desenvolvimento dos projetos de engenharia chegou-se ao objeto

12

de pesquisa deste trabalho. Desta forma, o foco deste trabalho será direcionado

para responder às seguintes questões: “Quais os pontos relevantes a serem

considerados para a implantação da sistemática do teletrabalho no domicílio em

consultorias de projetos de engenharia no Brasil e qual o impacto disto na gestão

dos projetos?”

1.3. METODOLOGIA

Este trabalho buscará analisar o teletrabalho no domicílio, fenômeno recente,

que ganha destaque com a consolidação da sociedade da informação, e que, apesar

do desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação, ainda apresenta

tímida utilização, em especial no Brasil. Buscar-se-á também concluir sobre a

possibilidade de utilização dessa modalidade de trabalho em consultorias de

projetos de engenharia, avaliando seus impactos na gestão de projetos. Com esses

objetivos, o presente estudo estará embasado em pesquisa bibliográfica nos

assuntos que serão aqui discutidos, considerando livros e trabalhos publicados no

Brasil e no exterior.

1.4. OBJETIVOS

1.4.1. OBJETIVO FINAL

Analisar a possibilidade de utilização do sistema de teletrabalho no domicílio nas

atividades executadas em consultorias de projetos de engenharia, bem como o

impacto desse fato na gerência de projetos.

1.4.2. OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS

Para atingir o objetivo final a que este trabalho se propõe, foram estabelecidos

os seguintes objetivos intermediários:

a) Pesquisar na literatura existente sobre o tema quais os principais pontos que

devem ser considerados a respeito do sistema de teletrabalho no domicílio.

13

b) Analisar empresas de outros setores que já possuem sistemas de teletrabalho

no domicílio implantados.

c) Analisar as atividades executadas nas empresas de projetos de engenharia,

bem como sua estrutura.

d) Verificar os impactos da utilização do teletrabalho no domicílio para a gerência

de projetos.

1.5. RELEVÂNCIA

A utilização de ferramentas de tecnologia da informação nas mais variadas

atividades aumenta a cada ano. Atualmente, em consultorias de projetos de

engenharia, a grande maioria das atividades e uma parcela considerável da

comunicação são realizadas através dessas ferramentas, facilitando o trabalho e

eliminando a barreira da distância. Apesar disso, nas grandes empresas brasileiras

do setor, os funcionários ainda precisam se deslocar diariamente até seus escritórios

para desempenhar suas atividades. Considerando que os deslocamentos nas

grandes metrópoles, onde se situam a maioria das sedes dessas empresas, torna-se

cada vez mais complicado, impactando diretamente na qualidade de vida das

pessoas, o teletrabalho apresenta-se como uma alternativa a ser avaliada.

Outro aspecto a ser considerado é a possibilidade na redução dos custos de

instalação por parte das empresas que empregarem o teletrabalho, já que não

precisarão disponibilizar espaços em suas sedes para aqueles funcionários que

estiverem em regime de teletrabalho. Se for levado em conta que, por causa da

grande ocupação, os preços dos imóveis nos grandes centros aumentam a cada

ano, esse aspecto apresenta-se como mais um ponto relevante.

A relevância deste trabalho reside, portanto, na possível utilização do

teletrabalho no domicílio em uma área em que ainda não é largamente utilizado, o

que trará vantagens benefícios tanto para os colaboradores, com melhoria da

qualidade de vida, quanto para as empresas, com a redução de gastos com infra-

estrutura. Este trabalho será importante também por buscar avaliar a influência do

teletrabalho na gerência de projetos.

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2. CONTEXTO

2.1. A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E A GLOBALIZAÇÃO

As grandes evoluções tecnológicas ocorridas recentemente, em especial na área

das Tecnologias de Informação e Comunicação, introduziram transformações

significativas em todo o mundo. O termo Sociedade da Informação surge no final do

século XX, com o objetivo de caracterizar o novo modelo de organização das

sociedades, onde a informação assume papel fundamental no desenvolvimento

econômico e na vida dos cidadãos. Uma característica essencial dessa nova

sociedade é que as interações sociais não se limitam mais somente aos ambientes

natural e cultural, passando a existir também o ambiente virtual, que elimina a

barreira das distâncias, através de equipamentos cada vez mais sofisticados.

Nessa nova organização, com a exigência de novas capacidades e habilidades,

surge o conceito de capital intelectual , que é determinado pelo capital humano,

medido através do nível de qualificação, habilidades, conhecimentos, e capacidade

de geração de idéias de cada indivíduo, fato que leva as empresas a valorizarem os

recursos humanos.

Crawford (1994), apud Freitas (2008), afirma que

[...] quatro características inerentes ao conhecimento e à informação os tornam recursos únicos e capazes de criar uma nova economia: o conhecimento é passível de difusão e se auto-reproduz; o conhecimento é substituível; o conhecimento é transportável e o conhecimento pode ser compartilhado (2008, p.21).

O grande desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação

contribuiu fortemente para outro fenômeno: a globalização, que se caracteriza por

uma reestruturação global da economia, possibilitada em grande parte justamente

por esses avanços tecnológicos.

15

Conforme destaca Tenório, apud Freitas (2008), dentro da sociedade moderna,

[...] a dimensão econômica constitui um aspecto crucial, e certamente o mais aparente da globalização. Esse aspecto é claramente percebido dentro desse processo através da transnacionalização da produção e do comércio mundiais; da expansão e aceleração dos fluxos financeiros internacionais; e da rapidez e intensidade dos avanços tecnológicos puxados pelos setores das telecomunicações e da informática (2007, p.10).

Os avanços tecnológicos eliminam a barreira da distância e criam a possibilidade

do desenvolvimento de relações no mundo virtual. Essa nova organização leva as

atividades humanas a se desenvolverem em um ritmo cada vez mais intenso,

gerando a necessidade de constante readaptação das pessoas. Os efeitos dessas

mudanças são sentidos em todos os campos da vida social, incluindo o trabalho.

2.2. EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO

As relações de trabalho sofreram profundas mudanças ao longo da história da

humanidade. A revolução tecnológica faz com que as mudanças ocorridas

atualmente difiram profundamente daquelas que aconteceram no passado. A

respeito dessas diferenças, Dowbor afirma que

A revolução atual não é mais de infraestruturas como ferrovia ou telégrafo, ou de máquinas como o automóvel e o torno, mas de sistemas de organização do conhecimento. É a própria máquina de inventar e de renovar tecnologias que está sendo revolucionada. Isto gera um deslocamento acelerado das formas como nos vinculamos com o processo de mudar o mundo. Muda o próprio conceito de trabalho. (2001, p.3).

Conforme afirma Dowbor (2001), essas mudanças no trabalho não são

instantâneas e, além disso, ocorrem em velocidades diferentes nas várias

dimensões envolvidas (as transformações institucionais e jurídicas, por exemplo,

costumam ocorrer de forma bastante lenta), gerando tensões entre segmentos que

buscam mudanças mais rápidas, e aqueles que se sentem seguros na condição

vigente e temem transformações. Esse temor será ainda maior se forem ouvidos

aqueles que maximizam o problema, afirmando que a tecnologia suprimirá o

emprego de forma generalizada, simplificando uma dinâmica mais complexa em que

na verdade parte dos empregos está na verdade sendo substituída, bem como

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sofrendo mudanças segundo os setores, regiões, níveis de formação da mão de

obra e outras variáveis.

Bridges (1994), apud Freitas (2008), afirma que

[...] o emprego não existirá na realidade econômica do futuro. O que existirá será trabalho, e muito, a ser feito de novas formas. O futuro do trabalho seria a substituição de empregos por situações de trabalho temporárias, pois em uma economia em rápida mutação, o emprego tradicional com suas tarefas pré-definidas, é uma solução rígida para um problema elástico. (1994, p.64)

O que se pode observar atualmente no mundo, em relação às mudanças nas

relações de trabalho, é uma flexibilização das relações trabalhistas. Freitas (2008),

entretanto, adverte que deve-se ter atenção com a aplicação desta flexibilidade, para

que ela não seja utilizada apenas com o objetivo de “denominar a estratégia adotada

na globalização da economia para disfarçar o objetivo principal: a maximização do

lucro”.

Sobre a utilização do teletrabalho com uma das formas de flexibilização do

trabalho, Freitas afirma que esta modalidade de trabalho

[...] surge como alternativa viável uma vez que os aspectos de local e tempo de trabalho, inescapáveis na sociedade industrial, deixaram de ser relevantes na sociedade pós-industrial, com seus arranjos dinâmicos, organizações virtuais, esquemas de trabalho em rede e utilização da tecnologia (2008, p.24).

2.3. TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

O princípio da utilização da computação como ferramenta de trabalho se deu

através da automatização de determinadas tarefas em grandes empresas e nos

meios governamentais. O rápido avanço tecnológico, aliado ao desenvolvimento das

telecomunicações, possibilitou que essa utilização se expandisse, relacionando-se

17

prioritariamente à informação, relegando a automatização de tarefas a uma menor

importância. (Freitas, 2008, p.24)

Rezende (2000), apud Freitas (2008), define o termo Tecnologia da Informação

como

[...] o conjunto de recursos tecnológicos e computacionais para geração e uso da informação. A TI está fundamentada nos seguintes componentes: hardware e seus dispositivos periféricos; software e seus recursos, sistemas de telecomunicações e gestão de dados e informações. (2008, p.25)

Atualmente o foco da Tecnologia da Informação expandiu-se e passou-se a

utilizar o termo TIC - Tecnologia da Informação e Comunicação. Os sistemas de

informação e as redes de computadores tornaram-se ferramentas importantíssimas

na comunicação corporativa. Lévy (1999), apud Oliveira, afirma que novas maneiras

de pensar e de conviver estão sendo desenvolvidas no mundo das tecnologias da

informação e comunicação. “As relações entre os homens, o trabalho, a própria

inteligência dependem na verdade, da metamorfose incessante de dispositivos

informacionais de todos os tipos”. (Oliveira, 2006)

As tecnologias da informação e comunicação evoluem em grande escala e de

forma bastante rápida. Essa evolução tem contribuído largamente para a

comunicação corporativa, com a criação de sistemas, como por exemplo o e-mail, a

agenda de grupo online, os sistemas de compartilhamento de arquivos e as

videoconferências.

Como forma de avaliar a posição de Brasil em relação ao restante do mundo, no

que diz respeito à possibilidade de participar e se beneficiar dos desenvolvimentos

das tecnologias da informação e comunicação, foi consultado o “Global Information

Technology Report”, relatório que tem sido publicado anualmente a partir de 2002,

em uma parceria entre o Banco Mundial, o Fórum Econômico Mundial e o “Institut

Européen d’Administration des Affaires”. Além de índices específicos para vários

assuntos, esse relatório apresenta um índice principal, chamado de "Networked

Readiness Index” (NRI), que objetiva mostrar o grau de desenvolvimento e utilização

18

das tecnologias da informação e comunicação. O NRI brasileiro vinha apresentando

crescimento desde 2003 até 2008, passando de 3.67 para 3.87. No último relatório

publicado (2009-2010), contudo, houve uma queda para 3.80, dando ao país a 61º

posição no ranking de 133 países. Considerando que o país foi classificado no ano

de 2009 como oitava economia do mundo, segundo dados do “World Bank”,

constata-se que o Brasil ainda tem muito a evoluir em relação à utilização das

tecnologias da informação e comunicação. A tabela abaixo apresenta alguns dados

do país, segundo o mais recente “Global Information Technology Report”.

Variáveis Valor Posição no Ranking

Computadores pessoais (por 100 habitantes) 16.12 50 Leis relacionadas às tecnologias da informação e comunicação Essas leis (comércio eletrônico, assinatura digital, proteção ao consumidor são: (1 = inexistentes, 7 = bem elaboradas e aplicadas)

4.43 41

Assinantes de banda larga (por 100 habitantes) 5.26 58 Usuários de Internet (por 100 habitantes) 37.52 50 Mensalidade de assinatura de banda-larga Valor (US$) como percentagem da renda per capita mensal 56.50 76

Acesso a conteúdo digital O conteúdo digital (produtos de conteúdo audiovisual ou de texto) é amplamente acessível via múltiplas plataformas (linhas fixas, internet wireless, internet móvel, etc..): (1 = nenhum conteúdo é acessível, 7 = conteúdo digital é acessível via diversas plataformas).

4.85 58

Visão governamental em relação às tecnologias da informação e comunicação O governo possui um plano de implementação claro para utilizar as TICs para aumentar a competitividade do país. (1 = Nenhum plano, 7 = Plano Claro)

4.15 64

Prioridade governamental em relação a TI (1 = Baixa prioridade plenamente, 7 = Alta prioridade)

4.44 75

Utilização da Internet pelas empresas para as atividades relativas aos seus negócios (1 = Nenhuma, 7 = Extensivamente)

5.44 26

Tabela 1: Alguns índices brasileiros com relação às TICs e suas posições no ranking entre 133 países. Fonte: “Global Information Technology Report” (www.weforum.org/documents/GITR10/index.html).

Considerando a abrangência das aplicações das tecnologias da informação e

comunicação, deve-se buscar utilizá-las de forma inteligente, de modo que possam

colaborar para o desenvolvimento dos trabalhos. A esse respeito, Freitas afirma que

[...] é preciso utilizar ferramentas, sistemas ou outros meios que tornem as informações disponíveis de maneira não apenas mais eficiente, mas também de forma a tornar a experiência do trabalho como algo não sacrificante, mais multidimensional, ao eliminar o trabalho repetitivo e sem sentido. O trabalho se torna mais substantivo. A reengenharia de processos, possibilitada pela utilização de TI, elimina não apenas o desperdício, como também o trabalho não-adicionador de valor. (2008, p.26)

19

2.3.1. COMPUTADOR COMO FERRAMENTA DE TRABALHO

A massificação dos computadores pessoais e mais recentemente a

popularização da internet representam um grande avanço no campo da

comunicação, eliminando totalmente a barreira da distância. Mesmo indivíduos de

gerações nascidas muito antes dessas transformações sentem-se a vontade com a

comunicação via internet.

A partir dos anos 90, a simplificação das interfaces e a diminuição dos custos de

computadores e softwares possibilitaram a disseminação da informática como

ferramenta de trabalho nos mais variados campos. O desenvolvimento da internet

possibilitou ainda a troca de arquivos eletrônicos com clientes e fornecedores e até

mesmo reuniões por videoconferência, o que leva a gradativa redução da

necessidade de deslocamentos entre escritório de projeto, clientes e fornecedores.

A evolução da tecnologia levou o computador a praticamente todas as atividades

e todos os setores da sociedade. A capacidade e velocidade de processamento e a

grande oferta de ferramentas fazem dele um equipamento indispensável para as

atividades profissionais. A oferta de softwares cada vez mais abrangentes e

complexos colabora para a utilização do computador como ferramenta de trabalho.

Recentemente teve início uma nova revolução. A redução dos preços dos

notebooks fez com que o computador se tornasse, nos países desenvolvidos,

realmente pessoal e não mais uma máquina de família, caminho que também tem

sido trilhado nos países em desenvolvimento. As famílias trocam seus desktops

familiares por notebooks individuais. As organizações também trilham esse caminho,

buscando tirar proveito da mobilidade possibilitada pelo notebook, em especial para

aquelas funções que requerem essa mobilidade.

2.4. CONSULTORIAS EM PROJETOS DE ENGENHARIA NO BRAS IL

20

As empresas de serviços de engenharia têm a capacidade de oferecer uma

grande quantidade de serviços a seus clientes, a saber: projeto conceitual, estudo

de viabilidade, projeto básico, projeto executivo, construção civil, fabricação de

equipamentos, montagem industrial e gerenciamento de empreendimentos.

De acordo com a Academia Nacional de Engenharia, considera-se a existência

de quatro setores distintos de serviços de engenharia. O quadro abaixo apresenta

esses setores, a descrição dos serviços realizados, bem como as empresas

prestadoras.

Setor Descrição do Serviço Empresa Prestadora

I

Aquele associado aos serviços que precedem à

construção do empreendimento, ou seja: o que

leva um empreendimento desde a fase de

concepção até a fase de projeto executivo (ou

equivalente, se não for empreendimento

industrial), o pré-investimento.

Empresa de consultoria

II

Aquele associado à construção propriamente

dita, montagem industrial, pré- operação e

colocação em marcha (os dois últimos, no caso

de empreendimento industrial).

Empresas de construção

civil, fábricas de

equipamentos e

empresas de montagem

industrial.

III

Aquele associado a serviços especiais de

engenharia: geotécnica, topografia, hidrologia,

etc.

Empresas

especializadas.

IV

Aquele associado a serviços de gerenciamento,

supervisão e/ou fiscalização e assistência

técnica: gerência de empreendimento, de projeto

e de obras, gerência (e execução se for o caso)

de compras técnicas (procurement), supervisão e

/ou fiscalização (projeto, obras, e/ou compras

técnicas) e assistência técnica (vistorias, laudos,

Empresas de

gerenciamento.

21

avaliações, perícias, etc.).

Tabela 1: Descrição dos serviços prestados por empresas de engenharia. Fonte: Academia Nacional de Engenharia (www.anebrasil.org.br).

De acordo com Coordenação de Comércio e Serviços da Diretoria de Pesquisas

do IBGE a área de Consultoria de Engenharia ou Engenharia Consultiva

[...] é a área da Engenharia que desenvolve e realiza serviços técnicos especializados de natureza predominantemente intelectual, com equipes profissionais multidisciplinares, para a concretização de empreendimentos públicos e privados, atuando nas sucessivas fases ou etapas de sua realização. Fonte: IBGE – Diretoria de Pesquisas – DPE – Coordenação de Comércio e Serviços.

Visto dessa forma, é possível entender as empresas de engenharia consultiva

como importantes polos de concentração de grande parte da competência e da

memória técnica de um país, o que as coloca em uma posição capital no sistema

nacional de inovação.

No Brasil, desde o período pós Segunda Guerra Mundial até a primeira metade

dos anos oitenta, graças ação do Estado como grande investidor e a política

industrial de substituição das importações, o setor de engenharia no país ganhou

importância e cresceu significativamente. O setor de engenharia consultiva

beneficiou-se, dessas ações do Estado, experimentando um crescimento

significativo no final dos anos sessenta e começo dos anos setenta, período do

chamado Milagre Econômico no Brasil e os consequentes investimentos públicos em

infra-estrutura e na indústria de base.

Esse protecionismo do Estado, no entanto, gerava críticas, que incidiam

principalmente nas ineficiências e na má gestão das empresas nacionais, assim

como no gigantismo do Estado, levando a ascensão de novas idéias ao final dos

anos oitenta, que culminaram com a abertura da economia brasileira nos anos

noventa. Reduziu-se, assim, a presença do estado seja como protetor, ou regulador.

22

Com a crise fiscal do País, a segunda metade dos anos oitenta e boa parte dos

anos noventa foram marcadas por uma paralisação quase que completa dos

investimentos públicos, com consequente encolhimento do mercado, impactando

diretamente no setor de engenharia consultiva, que sofreu drástica redução, levando

a dispersão de profissionais e perdas de conhecimento e de competências

essenciais.

O final dos anos noventa trouxe uma nova visão, adotando um meio termo entre

o protecionismo do Estado e a total liberalidade econômica, levando à retomada dos

conceitos de desenvolvimento econômico e social. A volta dos investimentos, no

entanto, não livrou o setor de engenharia consultiva das consequências dos vários

anos de quase total paralisação. As empresas desse setor já tinham sofrido uma

desmobilização irreparável, com a consequente perda de um patrimônio intelectual

inestimável. Como consequência dessa paralisação dos anos oitenta e noventa, o

setor permaneceu sem formar novos profissionais nesse período, de modo que as

empresas de engenharia consultiva no Brasil, de um modo geral, caracterizam-se

por ter uma lacuna de profissionais, que deveriam ter sido formados naquele

período.

Conforme o relatório “Os Serviços de Engenharia no Brasil: Diagnóstico 2004“ da

Academia Nacional de Engenharia – ANE, a Associação Brasileira de Consultores

de Engenharia - ABCE - realiza, desde 1985, levantamentos anuais do mercado

brasileiro de consultoria de engenharia. Observando os números apresentados por

esses relatórios, é possível constatar forte a retração do setor no período 1988 –

2003. Nesse período, enquanto houve uma redução de US$180 bilhões (26,26%) no

PIB brasileiro, ocorreu um decréscimo de 51,92% no patrimônio líquido das

empresas do setor, de 76,57% no seu faturamento e de 68,23% na participação do

faturamento do setor sobre o PIB. Simultaneamente, foram eliminadas 119

empresas do mercado (63,98%) e 47.610 postos de trabalho (79,35%), dos quais,

11.606 de nível superior (para efeito de comparação das variações ocorridas no

período, os valores observados em 1988 foram corrigidos para o ano de 2003 pelo

23

índice de inflação norte-americana). Em 2003, o faturamento das empresas de

consultoria em engenharia brasileiras foi de US$ 530 milhões, com um patrimônio

líquido de US$ 195 milhões, o que revela a grande retração, se comparados com

US$ 2,262 milhões e US$ 406 milhões em 1988, respectivamente.

As limitações fiscais do Estado levaram o Governo Federal a buscar uma nova

forma de realizar os investimentos em infraestrutura demandados pelo

desenvolvimento econômico, sobretudo para atender à esperada retomada do

crescimento. A decisão tomada foi a viabilização de investimentos privados na

implantação e operação dos serviços públicos necessários, o que ocorreu a partir da

criação das chamadas Parcerias Público-Privadas, abrindo novas perspectivas para

a engenharia nacional. Embora empresas de engenharia consultiva, em geral, não

tenham capacidade financeira para assumir isoladamente uma PPP, elas se

beneficiam de parcerias com empreiteiras, operadores dos empreendimentos,

eventuais usuários e instituições financeiras. Outra ação do Estado que contribui

para o aumento de demanda por serviços de engenharia é a chamada Lei de

Licitações (Lei Nº 8.666 de 21/6/1993), que condiciona a execução de obras e

serviços à existência de projeto básico e previsão de recursos orçamentários.

Uma mudança relativamente recente no mercado, que impõe ao setor de

engenharia novos requisitos, inclusive gerenciais e de sistemas, refere-se à

demanda cada vez maior de integração dos serviços de engenharia, englobando

num só pacote a engenharia consultiva, gerenciamento, compras, construção e

posta-em-marcha, além da engenharia financeira (o chamado EPC - Engineering,

Procurement, and Construction).

Mudanças nos mercados, na sociedade, nas políticas públicas, na tecnologia,

entre outros fatores, sempre afetaram e continuarão afetando os chamados serviços

de engenharia. Atualmente um novo desafio que se impõe refere-se à velocidade

com que novos conhecimentos científicos e tecnológicos são gerados, difundidos e

aplicados pelo setor produtivo e pela sociedade em geral. A engenharia, ao mesmo

tempo em que é grande responsável pela concretização das inovações tecnológicas,

24

também é a área que mais sofre os impactos das mudanças por elas provocadas,

seja devido às contínuas exigências de qualificação dos profissionais envolvidos,

seja pelas alterações no ambiente em que se desenvolvem suas atividades.

3. TELETRABALHO

3.1. O TRABALHO REMOTO

Não é possível precisar quando surgiu o conceito de trabalho remoto. Lemesle

(1994), apud Freitas (2008), afirma que, na ficção, o primeiro registro que se tem

conhecimento de trabalho à distância utilizando ferramentas de tecnologia da

informação e comunicação se deu em 1950 na obra intitulada The Human Use of

Human Being – Cybernetics and Society do autor sueco Norbert Wiener. Nessa

obra, o autor apresenta a história de um arquiteto supervisionando uma obra à

distância, através do uso de um fac-símile.

Ainda no campo da literatura de ficção científica, outro autor a escrever sobre o

assunto foi o russo Isaac Asimov, sendo que o caso mais extremo ocorre em sua

obra Naked Sun, em que o isolamento foi levado às últimas consequências, já que

os habitantes do planeta Solaria, não apenas trabalham em casa, mas vivem em

total isolamento, jamais vêem sequer seus vizinhos, mantendo contato com o mundo

apenas através de aparelhos de vídeos holográficos.

Saindo do campo da ficção científica e entrando no mundo real, Kugelmass

(1996), apud Pinto (2003), afirma que o primeiro registro de trabalho à distância

utilizando uma forma de tecnologia de comunicação ocorreu em 1857. Nessa

oportunidade o empresário J. Edgard Thompson descobriu que era possível gerir

suas equipes de trabalho de unidades distantes utilizando o sistema privado de

telégrafo de sua empresa “Penn Railroad”.

25

A respeito do trabalho remoto da forma como é conhecido atualmente, Freitas

afirma que sua origem

[...] ocorreu em 1973, resultado de uma investigação prática sobre a substituição dos transportes pela telecomunicação. Com a crise do petróleo, soluções que reduzissem seu consumo eram amplamente pesquisadas. Jack Nilles é apontado, em todas as publicações que descrevem as origens do teletrabalho como “pai do teletrabalho”, tendo cunhado os termos teleworking e telecommuting, tornando-se um de seus grandes defensores. (2008, p.34)

3.2. TELETRABALHO

Não existe consenso entre os autores sobre uma definição do que pode ser

considerado teletrabalho, mesmo porque o surgimento de novas formas dessa

modalidade de trabalho é frequente. Considerando a definição daquele que é tido

como o “pai do teletrabalho”, pode-se afirmar que essa modalidade de trabalho “é

todo aquele tipo de função que independe de localização geográfica. Utiliza de

ferramentas telecomunicacionais e de informação para assegurar um contato direto

entre o teletrabalhador e o empregador”. (Nilles, 1997, p. 35)

Um dos fortes fatores motivadores para o início do interesse pelos estudos de

teletrabalho refere-se às grandes transformações ocorridas na área de Tecnologia

da Informação, especialmente nos últimos trinta anos, e a expansão das

telecomunicações, devendo-se destacar o advento da Internet, e todas as grandes

transformações para o mundo dos negócios trazidas por este fato.

A maior parte estudos sobre teletrabalho já realizados tomaram como base os

conceitos definidos por Jack Nilles. A grande questão que ele buscou responder

refere-se ao porquê dos trabalhadores precisarem ir ao trabalho, quando, para boa

parte deles, o tipo de trabalho e a tecnologia permitem que estes trabalhem em suas

residências (ou próximo a elas), pelo menos por uma parte do tempo.

26

O sociólogo Domenico de Masi aponta como um obstáculo à implantação do

teletrabalho a dificuldade de romper paradigmas dentro das organizações. Segundo

ele, é este fato que leva um trabalhador a considerar perfeitamente normal o seu

deslocamento diário ao trabalho, enfrentando o trânsito e perdendo inúmeras horas,

para executar no escritório um trabalho que poderia ser realizado em casa. É

justamente este tempo perdido nos deslocamentos, associado a outras questões

como segurança e estresse por conta do trânsito, que se apresentam como fatores

determinantes para implantação de programas de teletrabalho. Esse mesmo

sociólogo afirma que as organizações devem ser reestruturar, com o objetivo de

reduzir esses deslocamentos. Ele afirma que, em muitos casos, não existem

grandes dificuldades em atingir este objetivo, já que

(...) “para milhões de empregados que até hoje chegam diariamente aos escritórios (isto é, um equipamento perfeitamente similar àquele que se pode ter em casa) para gerir as informações que atendem às suas funções, seria fácil reorganizar o trabalho de modo que as informações chegassem ao seu domicílio (ou a uma sede contígua) e não vice-versa” (2000, p. 263).

A relevância do tema teletrabalho pode ser observada pelo interesse em

regulamentar esta modalidade de trabalho dado pela Organização Internacional do

Trabalho (OIT), bem como pelos governos de vários países do mundo. A OIT trata

do tema em sua Convenção nº 177/96, adotada na 83ª Conferência Internacional do

Trabalho, que serve de guia para o reconhecimento do teletrabalho em vários países

do mundo.

Seguindo a tendência mundial, o governo brasileiro publicou, em setembro de

2000, o chamado “Livro Verde”, com o objetivo de alavancar o desenvolvimento da

Sociedade da Informação no país, incluindo ações para acelerar a introdução das

novas tecnologias da informação no ambiente empresarial brasileiro. Esta

publicação é resultado do Programa Sociedade da Informação no Brasil, gerido pelo

Ministério da Ciência e Tecnologia, que iniciou atividades em agosto de 1999 e foi

oficialmente lançado pela Presidência da República em 15 de dezembro daquele

ano. No capítulo 2 dessa publicação, intitulado “Mercado, Trabalho e

27

Oportunidades”, o “Livro Verde” traz as seguintes considerações sobre o

teletrabalho:

“O mercado virtual demanda organizações cada vez mais flexíveis, atuando em redes. O teletrabalho vai ao encontro do desenvolvimento dessas novas modalidades de organização produtiva. Condição para haver teletrabalho é a separação do trabalhador do ambiente tradicional, ou seja, do local físico do escritório, o que desestrutura também o tempo de trabalho: esses trabalhadores passam a dispor de horários flexíveis para realização de suas tarefas. O teletrabalho constitui, também, uma nova abordagem do trabalho por parte dos indivíduos diante da possibilidade de se estabelecerem novos tipos de vínculos e relações de trabalho com os empregadores”. (Brasil, Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000, p. 21)

Nilles (1997) sugere a classificação do teletrabalho em quatro formas, de acordo

com os recursos utilizados e os locais onde as atividades são desempenhadas. Se o

teletrabalho for desenvolvido na própria residência do trabalhador, ter-se-á o

Teletrabalho no Domicílio, em que o escritório do trabalhador em seu domicílio

estará ligando a uma base de dados, que o permitirá comunicar-se com o escritório

por meio de uma tecnologia de comunicação.

Outra forma de teletrabalho se dá através dos centros-satélites de telesserviço,

que são centros de trabalho remoto, reunindo trabalhadores de um só empregador.

Esses centros vão de encontro à necessidade de descentralização, observada por

algumas empresas em grandes metrópoles, como forma de diminuir os

deslocamentos. A diferença desses centros em relação aos escritórios tradicionais

reside na preocupação com a geografia das cidades, para determinar suas

localizações e a composição das equipes que neles trabalharão. Diferentemente dos

centros satélites, os centros locais de telesserviço representam uma forma de

teletrabalho, em que os centros abrigam pessoas trabalhando para diferentes

empregadores, que formam uma parceria para estruturar e manter as instalações de

trabalho remoto.

O teletrabalhador pode ainda trabalhar utilizando uma combinação de trabalho

convencional e uma das formas de teletrabalho, por exemplo trabalhando em seu

domicílio apenas parte dos dias da semana.

28

3.3. TELETRABALHO NO MUNDO

Dimitrova (2003), apud Freitas (2008), afirma ser de difícil avaliação a adoção do

teletrabalho no mundo, dadas as inúmeras definições e classificações que esta

modalidade de trabalho admite. Pyöriä (2003), apud Freitas (2008), considera que a

utilização do teletrabalho atualmente se dá de forma muito mais tímida, do que

aquilo que era esperado nos anos 70.

Os Estados Unidos, em parte pelo desenvolvimento das tecnologias da

informação e comunicação nesse país, estão bem avançados na adoção do

teletrabalho. Conforme Echols (2009), embora com menos intensidade do que se

previa no passado, a utilização do teletrabalho naquele país tem crescido. O autor

cita um levantamento feito pela WorldatWork1, que mostra um crescimento de 43 por

cento no número de teletrabalhadores nos Estados Unidos, atingindo o número de

33,7 milhões de americanos. Deve-se ressaltar que esse levantamento considera

como teletrabalhadores qualquer pessoa trabalhando remotamente pelo menos uma

vez ao mês.

Os Estados Unidos, em relação ao teletrabalho, destacam-se ainda pelo

incentivo dado por seu governo à adoção dessa modalidade de trabalho por

funcionários dos órgãos federais. O Office of Personnel Management (OPM), órgão

federal norte-americano, publica periodicamente um relatório2 sobre o teletrabalho na

administração pública apresentando grande quantidade de informações relevantes.

O relatório mais recente, por exemplo, publicado em Agosto de 2009, mostra que, no

ano de 2008, 102.900 funcionários desenvolveram suas atividades como

teletrabalhadores e que 64 por cento desses funcionários o fizeram com relativa

freqüência (entre um e dois dias por semana ou três ou mais dias por semana).

1 Associação global de recursos humanos, que tem como foco o estudo de compensações financeiras, benefícios, vida no trabalho e outras gratificações, com o objetivo de atrair, motivar e reter talentos (fonte: http://www.worldatwork.org). 2 Disponível em: http://www.telework.gov/documents/tw_rpt05/

29

Dimitrova (2003), apud Freitas (2008), destaca que os números, apresentados

por diversos estudos, sobre teletrabalho no mundo diferem. No entanto, destaca que

em todos os lugares, embora a utilização do teletrabalho ainda seja bastante tímida,

o assunto tem recebido destaque considerável tanto na literatura acadêmica quanto

na popular.

3.4. TELETRABALHO NO BRASIL

O teletrabalho no Brasil não se encontra no mesmo nível de utilização que em

países como os Estados Unidos e os membros da Comunidade Européia. Santos

(2002) afirma que, nesses países,

[...] o teletrabalho é visto como modalidade comum de trabalho e não apenas como alternativa, contando com incentivos e legislação específica. No Brasil ainda não temos uma estatística nacional abrangente e precisa sobre o contingente de teletrabalhadores, sendo que alguns levantamentos foram efetuados de forma isolada. (2002, p. 26).

Di Martino (2004), apud Freitas (2008), sobre as origens do teletrabalho formal

no Brasil, afirma que foram as grandes empresas multinacionais, que já adotavam

programas semelhantes em outros países, que iniciaram a prática dessa modalidade

de trabalho no Brasil. O autor cita como exemplos casos como Kodak, Dupont,

Xerox, Nortel, Semco, Siemens, Alcoa, W/Brazil, AT & T, Price Waterhouse Coopers,

entre outras.

Uma pesquisa publicada pela empresa Market Analysis em Junho de 2008, com

345 trabalhadores em nove capitais, incluindo São Paulo, revela que o teletrabalho

já é adotado por 23% dos funcionários do setor privado. Segundo essa pesquisa,

são 10,6 milhões de teletrabalhadores no País - em 2001, eram apenas 500 mil.

Santos (2002) destaca várias empresas que adotam o teletrabalho no Brasil, das

quais alguns exemplos seguem abaixo:

30

IBM Brasil – No Brasil, a execução das atividades através do teletrabalho pode

se dar de três formas. No mais radical deles, todo o trabalho deve ser desenvolvido

pelos colaboradores em seus domicílios. Na segunda forma, chamada de Projeto

Mobility, os funcionários ficam a maior parte do tempo em campo, mas têm uma

base na empresa. Na terceira forma de teletrabalho aplicada na IBM, os funcionários

possuem celulares e laptops que podem levar para casa e trabalhar à distância, de

acordo com a conveniência do trabalho. (Santos, 2002)

Compaq Brasil – O caso da Compaq é importante, já que sua filial brasileira foi a

primeira unidade da Compaq Corp. a adotar o teletrabalho. Seu programa,

implantado no segundo semestre de 2001, compreende três formas de teletrabalho:

a do trabalho remoto, com obrigatoriedade de presença no escritório uma vez ao

mês; do horário flexível, desde que o funcionário esteja presente no escritório entre

10 horas e 16 horas; e a do escritório virtual, mais direcionado a profissionais das

áreas de vendas, de suporte e de todo o trabalho que mantém contato com os

clientes. (Santos, 2002)

SIEMENS – A empresa iniciou seu projeto-piloto de teletrabalho em 2001. Nesse

programa os funcionários são pré-selecionados, a partir de critérios como: infra-

estrutura da residência, tempo de empresa e cargo. Eles trabalharam 80% do tempo

em suas residências, reservando 20% de seu tempo para realizar atividades

presenciais na empresa, com o objetivo de preservar o vínculo com o grupo.

(Santos, 2002)

Shell - A Shell implantou o teletrabalho no país através do que denominou

“Projeto Office 2001”, com 260 funcionários da área de vendas e de engenharia. A

idéia do projeto surgiu da constatação de que os deslocamentos entre as

residências dos funcionários e o escritório representavam um grande número de

horas improdutivas. Os funcionários designados para participar do projeto

receberam, através de um sistema de comodato, todos os equipamentos

necessários, além de uma verba para ajudar na adaptação física do espaço onde

seria instalado o futuro escritório. Após a validação deste projeto inicial, a Shell

31

fechou todos os escritórios regionais no Brasil, centralizando a administração na sua

sede no Rio de Janeiro. Com a implantação do projeto de teletrabalho, a empresa

conseguiu uma economia anual de aproximadamente um milhão de Reais.

Atualmente, dos 1.600 funcionários da Shell Brasil, cerca 400 funcionários não se

deslocam à sede da empresa. (Santos, 2002)

3.5. TELETRABALHO NO DOMICÍLIO

Essa é a forma de teletrabalho mais difundida. Nesse caso, os suportes de

tecnologia da informação e comunicação devem ser instalados na casa do

trabalhador. Este tipo de trabalho pode ser desenvolvido em diferentes modalidades:

exclusivamente no domicílio do trabalhador, com idas regulares ou irregulares ao

escritório sede, ou alternando períodos entre o trabalho na empresa e na residência

do teletrabalhador, de acordo com as exigências do trabalho.

A maior difusão dessa modalidade de teletrabalho deve-se aos benefícios

oriundos do seu emprego tanto para empresas, quanto para funcionários. Entre

esses benefícios pode-se citar: reduções de custos significativas para a empresa e

para o funcionário; possibilidade de acesso a empregos que, de outro modo,

poderiam não estar disponíveis; ganhos de produtividade e de qualidade de vida

para os funcionários.

Para Nilles (1997), para que uma empresa seja bem sucedida na implantação de

um programa de teletrabalho no domicílio, ela deve buscar definir os seguintes

pontos essenciais: perfil do teletrabalhador domiciliar; período da execução das

atividades na modalidade teletrabalho; departamentos ou seções que farão parte do

programa; condições da implantação do sistema.

3.5.1. VANTAGENS DO TELETRABALHO NO DOMICÍLIO

Sendo uma perspectiva relativamente nova nas relações de trabalho, o

teletrabalho no domicílio ainda não oferece muitos parâmetros para avaliações

aprofundadas sobre suas vantagens e desvantagens, seja para os trabalhadores,

32

organizações, ou governo. No entanto, nas avaliações já realizadas, é possível

observar algumas tendências apontadas pelos autores.

A respeito das vantagens da implantação de programas de teletrabalho no

domicílio nas empresas Domenico de Masi afirma que

(...) para as empresas há benefícios em termos de flexibilidade, produtividade e criatividade; para os trabalhadores há benefícios em termos de autonomia, condições físicas, relações familiares, boa vizinhança e acesso ao trabalho (sobretudo para deficientes físicos,anciãos, donas de casa); para a coletividade, há benefícios em termos de redistribuição geográfica e social do trabalho, redução do volume de trânsito estímulos à criação de novos trabalhos, revitalização dos bairros, redução da poluição e das despesas de manutenção viária, eliminação das horas de pico etc. (Masi, 2001, p.212).

A seguir estão descritas as principais vantagens do teletrabalho para os

trabalhadores, empresas e governo, nos pontos em que existe uma convergência de

idéias por parte dos principais autores.

Vantagens para o trabalhador – Um dos pontos de consenso entre os

estudiosos do teletrabalho refere-se ao aumento de produtividade dos

teletrabalhadores. Santos (2002) informa que a Sociedade Brasileira de Teletrabalho

e Teleatividade - SOBRATT aponta um aumento de produtividade em 30% dos

profissionais brasileiros que aderiram ao teletrabalho, sendo que a causa deste

ganho foi apontada como sendo a melhoria da qualidade de vida que esta

sistemática lhes propicia. Além disso, Kugelmass (1996), apud Santos (2002),

aponta o absenteísmo como uma das causas da baixa produtividade, o que não

ocorre com os funcionários envolvidos com o teletrabalho, pois as maiores causas

das ausências estão relacionadas aos transtornos com deslocamentos e pequenos

contratempos domésticos.

Outra vantagem dessa modalidade de trabalho apontada pelos estudiosos está

no fato de não haver necessidade do deslocamento casa-trabalho-casa, livrando o

trabalhador do estresse e da perda de tempo causados pelo trânsito dos grandes

33

centros urbanos. A flexibilidade de horários também apresenta-se como um atrativo

do teletrabalho no domicílio, contribuindo tanto para o ganho de tempo, quanto para

a produtividade do teletrabalhador. Vendramin & Valenduc (1989), apud Pinto

(2003), por exemplo, apontam como principal vantagem dessa modalidade de

trabalho a possibilidade de melhor gerenciamento do próprio tempo por parte dos

trabalhadores, resultando em mais horas disponíveis para atividades pessoais. Essa

possibilidade de gerenciar melhor o próprio tempo permite que os indivíduos

trabalhem nos seus momentos mais produtivos do dia.

Em resumo, Steil & Barcia (2001), apud Pinto (2003), relatam que as vantagens

potenciais do teletrabalhador são:

- Diminuição dos deslocamentos residência-escritório central, aspecto particular

a grandes metrópoles.

- Maior flexibilidade para coordenar horários de trabalho com prioridades

pessoais e familiares.

- Possibilidades de aproveitar integralmente os períodos de pico individuais de

trabalho (relógio biológico).

- Redução nos custos com transporte, estacionamento e vestuário.

Vantagens para o empregador – Os autores, de um modo geral, colocam a

redução dos custos como a vantagem mais óbvia para a organização que adota o

sistema de teletrabalho. O principal fator observado para essa redução de custos

refere-se à diminuição do tamanho dos escritórios, resultando em menores despesas

com imóveis e mobiliários. Além disso, atrasos são desconsiderados e o

absenteísmo diminui.

Além da redução de custos, a empresa também torna-se mais capaz de

responder a situações de emergência. Mesmo em casos de catástrofes, desde que

as telecomunicações não sejam afetadas, o teletrabalhador não interrompe suas

atividades. A maior flexibilidade organizacional é representada também pela

34

possibilidade de contratação de pessoas qualificadas, independentemente de suas

localizações. Santos (2002) aponta ainda que o teletrabalho possibilita uma melhor

conciliação entre vida pessoal e o trabalho, permitindo a conservação do quadro

funcional, evitando assim custos com recrutamento e treinamento de novos

empregados. Além disso, o mesmo autor afirma que as empresas que adotam o

teletrabalho têm observado maior facilidade em montar equipes de especialistas, por

conta da flexibilidade de local e horário (Santos, 2002, p. 21). O aumento da

produtividade dos trabalhadores, apontada anteriormente, também apresenta-se

como uma vantagem para o empregador.

Vantagens para a sociedade e governo - Os autores apontam também

vantagens para a coletividade pela utilização do teletrabalho. A eliminação dos

deslocamentos casa-trabalho-casa contribui para a redução dos congestionamentos,

da poluição e do consumo de combustíveis. Esse mesmo fator contribuir para um

melhor aproveitamento da mão-de-obra de deficientes físicos ou de incapacitados

temporários. Além disso, a flexibilidade geográfica possibilita a contratação de mão-

de-obra fora dos grandes centros, incentivando também os trabalhadores a viver fora

desses centros, contribuindo assim para uma melhor distribuição geográfica da

renda, além de contribuir para a redução dos preços dos imóveis nas grandes

cidades. (Santos, 2002 p. 22)

3.5.2. DESVANTAGENS DO TELETRABALHO NO DOMICÍLIO

A adoção de um sistema de teletrabalho no domicílio não traz apenas vantagens.

O fato das atividades profissionais serem realizadas na residência do trabalhador

gera também vários problemas, que serão tratados adiante.

Desvantagens para o trabalhador – O primeiro ponto de consenso entre os

estudiosos do teletrabalho diz respeito ao isolamento social do teletrabalhador, que

perde o contato físico com os seus colegas de trabalho. Shamir & Salomon (1985),

apud Pinto (2003), afirmam que, em certos casos, somente os colegas de trabalho

são capazes de entender os problemas enfrentados no escritório e dar o apoio

35

necessário. Por mais que a família do teletrabalhador esteja presente, a

compreensão dos problemas não será a mesma. Como forma de resolver esse

problema de isolamento, algumas organizações têm optado por adotar um sistema

misto, onde os períodos de teletrabalho são intercalados com deslocamentos ao

escritório sede, por exemplo, em uma semana, o trabalhador ficaria quatro dias em

teletrabalho no seu domicílio e um dia no escritório, para resolver problemas que

necessitassem de contato direto com seus colegas.

Outro ponto relevante, relacionado à inexistência do contato humano, refere-se à

perda de qualidade na comunicação, considerando a relevância das comunicações

não-verbal e informal.

Para Grize (1985), apud Pinto (2003),

[...] reduzir a comunicação humana nas empresas a uma simples transmissão de informações corresponde a elidir todo problema do sentido e das significações. Corresponde a esquecer que todo discurso, toda palavra pronunciada ou todo documento escrito se inserem, em maior ou menor grau, na esfera do agir, do fazer, do pensar e do sentir. Significa condenar-se a não poder apreender em profundidade, nem o simbólico organizacional nem a identidade individual e coletiva (2003, p.22).

É necessário observar ainda a importância do espaço destinado ao teletrabalho

no domicílio do trabalhador, principalmente no que diz respeito à adequação desse

espaço ao trabalho e à interferência do trabalho na vida pessoal e vice-versa. Em

relação à fusão entre lar e local de trabalho, Salomon & Salomon (1984), apud Pinto

(2003), destacam que

[...] o fato de não ocorrer o deslocamento do trabalhador de casa para o local de trabalho pode não ser favorável para o indivíduo, pois o deslocamento entre o trabalho e a casa apresenta-se psicologicamente salutar no trajeto, tem-se tempo para se desligar de uma situação (trabalho) e se concentrar em outra situação (casa), ou vice-versa, correspondendo, portanto a uma quebra de possíveis tensões enfrentadas em um local ou em outro (2003, p.21).

36

É necessário ainda destacar que, em muitos casos, os custos de infra-estrutura

(energia elétrica, material de expediente, assistência técnica do equipamento) ficam

por conta do próprio trabalhador.

Desvantagens para o empregador – Os problemas de comunicação,

identificados anteriormente como uma desvantagem para o trabalhador, também

funcionam dessa forma para a organização, no que diz respeito ao feedback,

podendo haver dificuldades dos funcionários na compreensão do que a organização

espera deles. Além disso, existe a questão da supervisão dos teletrabalhadores,

que, em geral, se dá por meio da análise de desempenho do trabalhador na

execução de suas tarefas, devendo haver um bom nível de confiança da chefia no

trabalhador, já que deixa de existir o controle de frequência.

Além das questões relacionadas à relação com o trabalhador, existem também

aquelas referentes à infraestrutura. Normalmente as empresas que adotam o

teletrabalho precisam investir em segurança para o tráfego de informações via

internet ou em sistemas dedicados de comunicação. Além disso, na fase de

implantação de um sistema de teletrabalho, existe um aumento dos custos da

empresa, relacionados à montagem da infra-estrutura necessária para a gestão e

execução de tarefas remotas. A forte dependência tecnológica pode também

apresentar-se como um problema, já que a indisponibilidade de qualquer das

ferramentas utilizadas pode tornar as atividades de teletrabalho temporariamente

inexequíveis.

3.5.3. INFRAESTRUTURA DO TELETRABALHO NO DOMICÍLIO

O objetivo do teletrabalho no domicílio está relacionado à substituição dos meios

de transporte (que conduzem o indivíduo até o trabalho), pelas tecnologias da

informação e comunicação (que levam o trabalho até o indivíduo). São essas

tecnologias que possibilitam a transferência eletrônica do trabalho, comutando o que

se deve realizar e enviando o resultado do trabalho para o escritório central ou para

outros locais de interesse do empregador (Oliveira, 1997, apud Pinto, 2003).

37

Para que uma organização adote um programa de teletrabalho no domicílio é

necessário que os potenciais teletrabalhadores tenham acesso a uma série de

tecnologias, que vão desde o telefone, até o computador (preferencialmente

notebook, para trabalhos externos), acesso a internet rápida, monitor, nobreak, além

de uma grande variedade de aplicativos de groupware.

O conceito de groupware diz respeito a softwares para trabalho colaborativo,

implementados em redes de computadores, de forma a possibilitar que grupos de

pessoas trabalhem à distância, em um mesmo documento ou projeto. Com essa

finalidade, vários fabricantes de softwares têm incluído em seus produtos acesso a

Internet/intranet, criação de documentos conjuntos e outras facilidades,

fundamentadas nos conceitos de groupware, de forma a possibilitar a comunicação

e coordenação das atividades dos grupos de trabalho e a cooperação entre os

usuários finais, onde quer que os membros de uma equipe estejam localizados.

Outra vantagem dessas ferramentas é que os membros de uma equipe podem

colaborar em projetos conjuntos, no mesmo momento ou em momentos diferentes,

e, no mesmo lugar ou em lugares diferentes (O’Brien, 2001, p. 230-231, apud

Santos, 2002, p. 81).

O teletrabalho impõe também a utilização de um eficiente sistema de

comunicação entre os teletrabalhadores e seus gestores. A esse respeito das

ferramentas de comunicação eletrônica, Santos (2002) ressalta a importância de se

evitar a utilização excessiva do correio eletrônico (e-mail), que gera gasto exagerado

de tempo tanto dos teletrabalhadores, quanto dos seus gestores, no controle do

fluxo de mensagens, bem como na identificação e acompanhamento de tarefas, se o

e-mail for utilizado para esse fim. Santos (2002) sugere a utilização do e-mail apenas

como ferramenta de comunicação, ficando a inclusão, execução e acompanhamento

de tarefas a cargo de um sistema corporativo alternativo (utilizando ferramentas

disponíveis no mercado de softwares), que permita a inclusão de eventos, com a

possibilidade de anexação de arquivos, que estando armazenados nos servidores,

38

poderiam ser acessados e trabalhados a partir de qualquer equipamento conectado

à rede corporativa.

Ainda com relação à utilização de ferramentas de comunicação eletrônica no

teletrabalho, Santos (2002) ressalta a importância da utilização de boletins

eletrônicos, transmitidos via e-mail de forma sistemática e periódica, como forma de

transmitir notícias da empresa, instruções gerais e mostrar para o teletrabalhador

que ele faz parte de uma equipe.

Além dessas, Santos (2002) menciona ainda as ferramentas de conferências

eletrônicas, que objetivam ajudar os membros da equipe a se comunicarem e

colaborarem enquanto trabalham conjuntamente, além dos fóruns de discussão,

através dos quais os membros da equipe podem trocar informações, divulgar textos,

realizar votações e brainstorms, entrelaçando as cadeias de contribuições sobre um

mesmo tema.

Outra ferramenta de comunicação eletrônica que torna-se cada vez mais

acessível e que é de grande importância para o teletrabalho é a videoconferência,

que é uma conferência de vídeo e áudio em tempo real, através da internet, com a

utilização de webcams (câmeras digitais acopladas aos computadores). Além da

importância de se ter a imagem da pessoa com quem se fala, podendo avaliar seus

gestos e expressões, essa ferramenta torna-se ainda mais importante devido à

possibilidade de alguns softwares da utilização de recursos de whiteboarding

(quadro branco), permitindo que os membros da conferência possam compartilhar,

marcar e revisar desenhos, documentos e outros materiais exibidos em seus

monitores.

Finalmente, para o sucesso do teletrabalho no domicílio, o ideal é que os

teletrabalhadores possuam em suas residências uma boa infraestrutura, com locais

bem definidos para realização do trabalho, de modo a separar as atividades

profissionais das familiares. Esses espaços devem contar com mobiliário equivalente

39

àquele disponível nos escritórios da empresa, ergonomicamente ajustados para

cada teletrabalhador.

3.5.4. SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO NO TELETRABALHO NO

DOMICÍLIO

Uma das preocupações das empresas para implantação de programas de

teletrabalho no domicílio diz respeito à questão da segurança das informações, ou

seja, a mesma tecnologia que viabiliza o teletrabalho pode ser a fonte de problemas,

já que existem riscos referentes à integridade, confidencialidade e disponibilidade

das informações das organizações. No que diz respeito à segurança das

informações e a questões de hardware e software, os computadores dos

teletrabalhadores geralmente recebem pouco ou nenhum acompanhamento por

parte dos empregadores (Oliveira, 1996, apud Machado, 2002).

A tecnologia dispõe de ferramentas para aumentar a segurança das informações

em situações de teletrabalho no domicílio. Machado (2002) propõe um modelo com

três níveis de segurança, com base nas diferentes necessidades das empresas,

considerando também os custos de implementação e gerenciamento. Esses níveis

são definidos pelo autor de acordo com o quadro abaixo:

NÍVEL DE

SEGURANÇA EMPRESA ALVO

CARACTERÍSTICAS E

FERRAMENTAS

1

Destinado a empresas

com baixo índice de

riscos e ameaças.

- Nível básico de segurança.

- Arquitetura de segurança simples na

empresa.

- Ferramentas de uso mais freqüente e

de mais fácil implementação.

- Não existe grande diferença entre um

40

sistema de teletrabalho e uma típica

Intranet corporativa.

- Presença de um firewall e um antivírus

na empresa e no computador do

teletrabalhador.

- Uso de VPN para criptografia das comunicações.

2

Destinado a

organizações

governamentais, bancos

e instituições financeiras,

teletrabalhadores móveis

e suporte remoto ao

sistema.

- Exige maior investimento financeiro e

operacional.

- Inclui todos os itens previstos para o

Nível 1, além de outros mais

complexos, tais como:

• DMZ (Demiliteried Zone – Zona

Desmilitarizada) para

disponibilização de serviços

pouco seguros;

• Sistema de detecção de intrusos

(IDS);

• Sistema de certificação digital

(PKI).

3

Destinado a

organizações militares,

comunidades de

inteligência e

organizações policiais.

- Valor das informações e o grau de

risco justificam a aplicação de

ferramentas extras de forma a

maximizar a segurança.

- Maior custo de implementação e

gerenciamento.

- Inclui todos os itens previstos para o

Nível 2, além de outros mais

complexos, tais como:

• Mais de um firewall entre a rede

interna e a rede externa.

41

Tabela 2: Níveis de segurança das informações para empresas utilizando o sistema de teletrabalho no domicílio. (Adaptado de Machado, 2002)

Estabelecido o nível de segurança, Machado (2002) define ainda uma série de

medidas a serem tomadas para garantia da segurança da informação em um

sistema de teletrabalho no domicílio. No que diz respeito aos recursos, é importante

que seja definido se os equipamentos básicos e o canal de comunicação, que serão

utilizados para o desempenho das atividades de teletrabalho no domicílio, serão

fornecidos pela empresa ou devem ser disponibilizados pelo teletrabalhador, sendo

recomendável que esses itens sejam de uso exclusivo para as atividades

profissionais do teletrabalhador. Além disso, deve-se especificar as inspeções que

serão realizadas pela equipe de segurança no sistema do teletrabalhador e com que

frequência isso será feito, com objetivo principal de localizar e eliminar vírus e outras

ameaças semelhantes. Os aplicativos necessários às atividades do teletrabalhador,

incluindo os aplicativos de segurança e comunicação, devem ser instalados pela

equipe de segurança das informações do empregador. Se os equipamentos forem

fornecidos pela empresa para uso exclusivo nas atividades profissionais do

teletrabalhador, a equipe de segurança das informações deve limitar a interferência

do usuário, bloqueando, por exemplo, a instalação de softwares.

Independentemente da procedência dos equipamentos, o suporte ao teletrabalhador

deve ser fornecido pela equipe de informática ou pela equipe de segurança do

empregador, conforme a necessidade, devendo o teletrabalhador reportar

imediatamente à equipe de segurança, quaisquer ocorrências que possam estar

relacionadas a riscos para a segurança da informação no sistema. Adicionalmente, o

teletrabalhador deve preencher relatórios periódicos, informando eventuais

ocorrências no sistema relacionadas à segurança, desempenho e funcionalidade,

com o objetivo de aperfeiçoar o sistema. Com relação ao acesso do teletrabalhador

à rede do empregador, deve ser especificado o período e os direitos de acesso,

assim como a política de senhas. Em caso de indisponibilidade do sistema, seja por

falhas no computador do teletrabalhador, no sistema da empresa ou no canal de

comunicação devem existir procedimentos de contingência, definindo o que deve ser

feito. Seguidos esses procedimentos, é de se esperar que as informações em um

sistema de teletrabalho não estejam sujeitas a riscos maiores do que aqueles

existentes em um sistema convencional de trabalho.

42

3.6. ASPECTOS LEGAIS REFERENTES AO DIREITO DO TRABA LHO NO

DOMICÍLIO

Um dos pontos comuns de preocupação entre os autores a respeito da adoção

do teletrabalho, refere-se à inexistência de tratamento específico sobre o assunto na

legislação trabalhista. Lavinas et al (1998), apud Freitas (2008), apresentam os

resultados de um relatório elaborado pela Organização Internacional do Trabalho

(OIT) sobre trabalho no domicílio, no qual buscou-se analisar a proteção dada pela

legislação aos trabalhadores sob essa condição em mais de cento e cinquenta

países. Freitas (2008) afirma que nesse documento

[...] OIT não se furta a reconhecer que as legislações analisadas são, de modo geral, muito imprecisas quanto à condição jurídica dos trabalhadores a domicílio, enfatizando o vazio jurídico no que se refere à relação entre o empregador e esse tipo de trabalhador. (2008, p. 63)

O referido documento aponta o Brasil como um país em que a legislação

trabalhista se estende aos trabalhadores no domicílio, visto que não se distingue o

trabalhador por seu local de trabalho. Em relação ao local de trabalho, o artigo 6° da

CLT - Consolidação das Leis do Trabalho – dispõe o seguinte:

Art. 6°- Não se distingue entre o trabalho realizad o no estabelecimento do empregador e o executado no domicílio do empregado, desde que esteja caracterizada a relação de emprego.

No que diz respeito à definição da condição de empregado, dispõe o artigo 3° da

CLT:

Art. 3°- Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.

43

A partir da análise desses dois artigos, Freitas (2008) depreende que a relação

de emprego é caracterizada por três fatores, quais são: 1- Prestação de serviços de

natureza não eventual; 2- Relação de subordinação ao empregador e 3- Trabalho

executado mediante pagamento.

No entanto, apesar daquilo que dispõem os artigos 3º e 6º da CLT, Freitas

(2008) afirma que

[...] o assalariamento formal em domicílio não está previsto ou mesmo regulamentado no restante da lei. O emprego independente de um local de trabalho é causa de grande insegurança jurídica tanto para o trabalhador quanto para a empresa. (2008, p. 63)

As conclusões a que se chega em relação a todo e qualquer trabalho no

domicílio podem ser estendidas ao teletrabalho. É necessário ressalvar, no entanto,

que enquanto o primeiro já é reconhecido, ainda que por comparação, na legislação

trabalhista brasileira, o segundo ainda é considerado matéria nova e polêmica no

direito do trabalho.

Analisando a situação jurídica do teletrabalho em outros países, Souza (2009)

reconhece os Estados Unidos como estando “deveras adiantados em se tratando de

legislação acerca do teletrabalho”. Essa autora afirma que, naquele país,

[...] os trabalhadores, telecommuters, estão protegidos pelas maiores leis trabalhistas americanas, a saber: a Lei Federal ou Ato de Normas de Trabalho Justas – FLSA (Fair Labor Standards Act), o Código de Trabalho da Califórnia e o Ato de Segurança e Saúde Ocupacional – OSHA (Occupational Safetyand Health Act). (SOUZA, 2009, p. 20)

Em relação aos países da União Européia, estes assinaram, em Julho de 2002,

um acordo sobre as condições para regularização do teletrabalho naqueles países.

Tal acordo estabelece o teletrabalho como sendo a atividade na qual o funcionário

trabalha de forma regular fora das bases do empregador, fazendo uso de

tecnologias da informação e comunicação. Esse acordo afirma ainda que o

teletrabalho deve ser voluntário, podendo o teletrabalhador voltar a forma

44

convencional de trabalho a qualquer momento, sob solicitação do funcionário ou do

empregador. Além disso, os teletrabalhadores se beneficiarão dos mesmos direitos e

condições daqueles que trabalham na forma convencional, o que significa que os

empregadores permanecem responsáveis pela saúde e segurança dos

trabalhadores sob essa modalidade de trabalho, em conformidade com a legislação

convencional vigente. Também os empregadores devem prover os teletrabalhadores

de todos os equipamentos necessários ao trabalho, além de serem os responsáveis

pela segurança dos dados 3.

Freitas (2008) afirma que, nos países que definem apenas regras gerais para a

atividade laboral, as condições para o teletrabalho são definidas por contratos de

trabalho negociados entre as partes, citando como exemplo o celebrado pela IBM

Deutshland Gmbh. Sobre esse acordo, a autora afirma que

[...] é composto por um corpo principal, um anexo e uma “circular”. O acordo propriamente dito contém um preâmbulo – que enfatiza valores empresariais, pessoais e ecológicos – e oito capítulos relativos, respectivamente, a condições gerais (regras salariais em caso de criação de um posto de trabalho externo); condições de participação (regras de formalização do acordo individual); horário e local de trabalho (divisão das horas de trabalho entre instalações do empregador e domicílio); registro das horas de trabalho (previsão de um livro especial para a inscrição dos períodos de atividade); equipamentos de trabalho (regras de aquisição e manutenção); contatos com a empresa (medidas suplementares de interação social); reembolso de despesas (quantias indenizatórias de gastos domésticos); e cessação da relação de teletrabalho (limites compensatórios). O anexo refere-se a temas como privacidade, proteção de informações, responsabilidade civil da empresa, etc. Finalmente, através de circular interna são especificadas as condições físicas do posto laboral deslocalizado, regras de utilização de equipamentos instalados no domicílio, entre outras informações necessárias para que o funcionário opte por candidatar-se ao teletrabalho. (Freitas, 2008, p. 64)

O Brasil é reconhecido por ter uma legislação trabalhista ultrapassada e pouco

maleável, o que representa uma grande barreira diante da necessidade do país

acompanhar as mudanças que caracterizam a economia moderna, assim como as

3 Telework Agreement No. 44, September/October 2002. Acesso em 26/04/2010. www.ilo.org/public/english/bureau/inf/magazine/44/news.htm

45

modificações necessárias para fazer frente à crescente concorrência gerada pela

globalização.

Tratando da relação entre a falta de regulamentação especifica para o

teletrabalho e o impacto disso na difusão dessa modalidade de trabalho no Brasil,

Freitas (2008) afirma que

[...] como teletrabalhadores e empregadores não são adequadamente amparados pela legislação atual, sentem-se inseguros e em vários casos, injustiçados. O empregado sofre uma série de riscos, como a precariedade do trabalho, possibilidades de abuso por parte do empregador, não pagamento de horas extras efetivamente trabalhadas, etc.. Já os empresários temem ser acionados na justiça, pois consideram que a legislação brasileira beneficia muito o trabalhador.

[...] Devido a essa deficiência em nosso arcabouço legal, as empresas que decidem adotar programas de teletrabalho utilizam-se de contratos de trabalhos específicos, os contratos por atividade, nos quais são determinados quais os direitos e deveres de ambas a partes. Conforme Lavinas et al. (1998, p.9), “a noção de contrato implica duas retóricas contraditórias de liberdade. Por um lado, restringe liberdades por delimitar reciprocidades que cada parte compromete-se a respeitar. Por outro, garante um espaço de segurança no interior das relações sociais”. (2008, p. 66)

Apesar dessa rigidez, o Brasil mostra sinais de mudanças para o futuro com o

reconhecimento formal do teletrabalho. Em andamento no Congresso nacional, o

projeto de lei (PL) 4.505/08, do deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB/ES),

objetiva regulamentar o trabalho à distância, caracterizando como teletrabalho a

utilização de mais de quarenta por cento do tempo de trabalho fora dos locais

regulares.

Conforme Souza (2009), pela proposta, a relação de emprego no teletrabalho

será regida pela CLT, concedendo ao teletrabalhador direitos, tais como salário,

férias, feriados, licenças e faltas por doença. O projeto estabelece também que não

são cabíveis horas extras para teletrabalhadores, visto que os mesmos exercem

jornada livre.

46

Em consulta ao sistema de acompanhamento de projetos de lei no Congresso

em 26/04/2010, verificou-se que o PL 4505/08 encontra-se em análise pela

Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público, apresentando seguinte

status: “Parecer da Relatora, Dep. Manuela D'ávila (PCdoB-RS), pela aprovação,

com emendas”.

3.7. TELETRABALHADOR

3.7.1. ATIVIDADES E ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS ADEQ UADAS

AO TELETRABALHO

A respeito das profissões e atividades adequadas ao teletrabalho, Freitas (2008)

afirma que, em princípio, ele pode ser adotado por todas aquelas que não se refiram

à produção e distribuição de bens materiais. Lemesle e Marot (1994), apud Freitas

(2008), classificam essas profissões de acordo com a tabela abaixo:

Tipo de trabalho Área de atuação profissional

Produção da informação Profissões científicas e técnicas; compilação de informação e consultoria.

Tratamento da informação

Digitação; secretariado; tratamento de texto e edição eletrônica; corretagem; programação; realização de relatórios e controle e supervisão.

Distribuição da informação Educação; espetáculos; "media"; publicidade; vendas e marketing.

Exploração e manutenção dos sistemas de informação

Informática; "hot line" e exploração e manutenção das telecomunicações.

Tabela 3: Profissões e atividades adequadas ao teletrabalho. Fonte: Lemesle e Marot (1994) apud Freitas (2008, p. 70).

Mesmo nessas profissões, é preciso considerar que, conforme afirma Nilles

(1997), para que um programa de teletrabalho no domicílio em organização tenha

sucesso é necessário que, entre outras coisas, seja analisado o grau de eficiência

com que as atividades desempenhadas por determinada função podem ser

realizadas no domicílio e quanto desse trabalho precisa ser feito na empresa,

estabelecendo uma divisão do tempo do trabalho nesses dois locais.

47

Além da análise de profissões e tarefas, Cardoso (2000) afirma que deve ser

observada também a estrutura organizacional. Mintzberg (1995), apud Cardoso

(2000), define a estrutura de uma organização como “a soma total das maneiras

pelas quais o trabalho é dividido em tarefas distintas e como é feita a coordenação

entre essas tarefas”. Cardoso (2000) adota o modelo de Mintzberg (1995), que

especifica cinco estruturas organizacionais, quais são: a estrutura simples, a

burocracia mecanizada, a burocracia profissional, a forma divisionalizada e a

adhocracia.

Por seu ambiente de atuação simples e dinâmico, a organização empreendedora

representa o melhor exemplo da estrutura simples. Normalmente apresentam

estrutura administrativa simplificada, centralizada no principal executivo. Wright e

Oldford (1995), apud Cardoso (2000), colocam as pequenas empresas como

provavelmente as mais adequadas para a implantação de programas de

teletrabalho.

Mintzberg (1995), apud Cardoso (2000), considera as burocracias mecanizadas

como estruturas funcionando como máquinas reguladas e integradas, dominadas

pela mentalidade controladora, onde se executa trabalho rotineiro e altamente

padronizado, sendo caracterizadas por ambientes simples e estáveis. Cardoso

(2000) aponta o fato de o trabalho ser rotineiro como um aspecto positivo à adoção

do teletrabalho. Por sua vez, a característica controladora representa um obstáculo a

essa modalidade de trabalho, pela resistência das lideranças em gerenciar pessoas

fora do seu campo de visão. Analisando as características dessa estrutura, Cardoso

(2000) conclui que nela os fatores impeditivos à adoção do teletrabalho superam

aqueles considerados favoráveis.

A burocracia profissional é um arranjo estrutural encontrado em organizações

caracterizadas, segundo Mintzberg (1995), apud Cardoso (2000), “por atuarem em

ambiente estável, mas complexo, pela padronização de habilidades de seus

profissionais, que possuem considerável controle sobre seu trabalho, com processos

48

de trabalho que não são planejados ou padronizados e pela descentralização

horizontal e vertical”. Entre essas organizações estariam universidades, escolas,

hospitais, firmas de auditoria, entre outras. Cardoso (2000) considera essas

organizações como tendo a possibilidade de adoção do teletrabalho, porém com

restrições, dada a necessidade de contato pessoal na execução das atividades.

Cardoso (2000) estende as suas conclusões sobre teletrabalho em organizações

estruturadas como burocracias mecanizadas para aquelas sob a forma

divisionalizada, proposta por Mintzberg (1995), uma vez que esta estrutura se

caracteriza por divisões, acopladas por meio de uma estrutura central administrativa,

sendo que essas divisões normalmente estruturam-se como na configuração

presente na burocracia mecanizada.

Mintzberg (1995), apud Cardoso (2000), descreve a adhocracia como

“a estrutura para uma população crescentemente mais bem instruída e mais especializada, e ainda sob constante exortação de adotar a abordagem de ‘sistemas’ [...]. É a estrutura para ambientes que cada vez se tornam mais complexos e demandam por inovações e, também, para sistemas técnicos mais sofisticados e grandemente automatizados” (Mintzberg, p. 271, apud Cardoso, p. 26).

Essa estrutura caracteriza-se principalmente por um ambiente complexo e

dinâmico, que não utiliza formas de padronização e divisão do trabalho, havendo

grande especialização do trabalho. Para efeito de administração interna, Cardoso

(2000) afirma que os especialistas são agrupados em unidades funcionais, enquanto

que para realização do trabalho, agrupam-se os especialistas em equipes de projeto,

que duram somente o tempo de execução destes intentos. Em relação às

organizações sob essa estrutura, Morgan (1996) afirma que

[...] as adhocracias atualmente proliferam em empresas inovadoras, nas indústrias aeroespacial e eletrônica, bem como em todos os tipos de companhias orientadas por projetos, tais como firmas de consultoria, agências de propaganda e indústria cinematográfica” (Morgan, p.59, apud Cardoso, p. 27).

49

Por suas características, Cardoso (2000) destaca as organizações estruturadas

sob a forma de adhocracia como sendo as mais propícias para a adoção do

teletrabalho.

3.7.2. PERFIL DO TELETRABALHADOR

Freitas (2008) destaca que são necessárias qualificações específicas, para que

um trabalhador tenha sucesso no sistema de teletrabalho. Entre as características

importantes, que definem o perfil do teletrabalhador, destacam-se: motivação,

disciplina, organização, adaptabilidade para trabalhar com isolamento social,

capacidade de equilibrar o trabalho com outras responsabilidades, determinação,

capacidade de decisão, desenvoltura para lidar com as tecnologias da informação e

comunicação, planejamento, comprometimento com prazos, confiança e iniciativa

(Freitas, 2008, p. 71).

Belanger e Collins, apud Guedert (2005), apresentam três características, que

consideram essenciais para o sucesso de um teletrabalhador. Em primeiro lugar

colocam a capacidade de o indivíduo trabalhar isolado do mundo, resolvendo

problemas e concentrando-se no trabalho. Em seguida destacam a automotivação e

autodisciplina para a execução do trabalho sem a supervisão direta. Por fim,

consideram também de extrema importância a habilidade de comunicação para

manter contato com clientes, fornecedores e colegas de trabalho, reduzindo dessa

forma o sentido de isolamento.

Além dessas características, outras apresentam-se na literatura como fatores

importantes para a adaptação do teletrabalhador, tais como: o fato dele ser

voluntário e não obrigado a aderir a essa modalidade de trabalho; a familiariedade

com as políticas e procedimentos da organização; tempo mínimo de experiência em

suas funções (a ser definido de acordo com a complexidade das funções); ter boas

50

habilidades de administração de tempo; capacidade de trabalhar sem feedback

constante.

4. PROJETOS

Para a avaliação da utilização do teletrabalho no domicílio na atividade de

consultorias de projetos de engenharia, será feito um breve estudo sobre projetos e

sua gestão conforme PMI (Project Management Institute) e sobre as particularidades

da gestão de equipes que trabalham remotamente.

4.1. DEFINIÇÃO DE PROJETO

O guia PMBOK (Project Management Body of Knowledge), publicado pelo PMI

(Project Management Institute) define projetos como empreendimentos temporários

realizados para criar um produto, serviço ou resultado único (PMI, 2008). Por

temporário entende-se que um projeto deve ter início e fim definidos,

independentemente de sua duração, que pode ser de alguns dias, ou vários anos.

Uma equipe de projeto é formada com o único propósito de trabalhar, para que os

objetivos daquele projeto específico sejam atingidos. Com o fim do projeto, seja pela

consecução de seus objetivos ou por qualquer outra razão, a equipe do projeto é

desmobilizada, sendo seus membros envolvidos em um novo projeto ou devolvidos

às suas atribuições originais na organização. A unicidade de um projeto faz com que

existam inúmeras incertezas em sua execução, levando a necessidade de uma série

de medidas, para que seja bem sucedido, tais como: a definição de objetivos; a

realização de um planejamento de execução; a estimativa dos custos e dos recursos

humanos e materiais e a elaboração de um cronograma, delimitando o ciclo de vida

do projeto.

4.2. GESTÃO DE PROJETOS CONFORME PMI

51

O guia PMBOK define o gerenciamento de projetos como aplicação de

conhecimento, habilidades, ferramentas e técnicas às atividades do projeto, de

forma a fazer com que seus objetivos sejam alcançados (PMI, 2008). A fim de que o

gerenciamento eficaz de um projeto seja alcançado, o PMI define ainda grupos de

processos que devem ser aplicados, quais são: Iniciação; Planejamento; Execução;

Monitoramento e Controle; Encerramento. Abaixo estão brevemente descritos cada

um desses grupos de processos de acordo com o PMBOK (2008).

O grupo de processos de iniciação está relacionado à obtenção de autorização

para início de um novo projeto ou de uma nova fase de um projeto existente. É

nesses processos que o gerente do projeto é selecionado, ocorrendo também a

definição inicial do escopo, resultando em uma visão macro de tempo e custos.

Todas essas definições compõem o Termo de Abertura do Projeto, cuja aprovação

marca o início do projeto.

Os processos de planejamento desenvolvem o plano de gerenciamento do

projeto e outros documentos que serão utilizados na condução do projeto. Os

processos de planejamento são iterativos e ocorrem durante todo o ciclo de vida do

projeto. À medida que o projeto avança, o seu grau de detalhamento aumenta,

podendo também ocorrer mudanças, que são fatores que podem levar a

necessidade de reavaliação de um ou mais processos de planejamento, gerando a

revisão dos documentos atingidos e, consequentemente, do plano de gerenciamento

do projeto.

O grupo de execução engloba todos aqueles processos que são necessários

para completar os trabalhos definidos no plano de gerenciamento, de forma a

satisfazer os requisitos do projeto. Esse grupo de processos envolve a coordenação

de pessoas e recursos, bem como a integração e execução de atividades do projeto

de acordo com o plano de gerenciamento do projeto.

52

Os processos de monitoramento e controle envolvem seguir, revisar e regular a

evolução e o desempenho do projeto. Para isso, todas as áreas do projeto devem

ser acompanhadas, de forma a identificar possíveis necessidades de mudanças nos

planos, para então elaborar um plano de ação e executá-lo. Resumidamente, esse

grupo de processos deve acompanhar e medir de forma regular e consistente o

desempenho do projeto, com o objetivo de identificar possíveis variações em relação

ao plano de gerenciamento do projeto. Essas variações, podem incluir mudanças

nas durações esperadas das atividades, na disponibilidade e produtividade dos

recursos, ou na lista de riscos previamente identificados. Tudo isso pode levar a

necessidade de mudanças no plano de gerenciamento ou em outros documentos do

projeto, existindo a possibilidade de ser necessária a definição de novas linhas de

base para o projeto.

O grupo de encerramento envolve os processos realizados para finalizar todas

as atividades, de modo a encerrar formalmente uma fase ou todo o projeto. Esse

grupo de processos verifica se os processos de todos os grupos estão concluídos

para fechar oficialmente o projeto ou uma fase dele. Os seguintes resultados são

esperados nesse grupo de processos: obter a aceitação do cliente ou patrocinador;

rever o projeto após o seu fim a decisão, avaliando decisões tomadas; documentar

lições aprendidas; atualizar os ativos de processos e o arquivo de dados históricos

da organização; encerrar os contratos.

Além de definir os cinco grupos de processos, o PMI divide o gerenciamento de

projetos em nove áreas do conhecimento, quais são: Integração; Escopo; Tempo;

Custos; Qualidade; Recursos Humanos; Comunicação; Riscos; Aquisições. Essas

áreas estão brevemente descritas abaixo de acordo com o PMBOK (2008).

A Gerência de Integração do Projeto inclui os processos e atividades

necessárias para identificar, definir, combinar, unificar e coordenar as várias

atividades dos grupos de processos de gerenciamento do projeto. Tudo isso é

essencial para a conclusão do projeto, atendendo com êxito às expectativas das

partes interessadas e atingindo os requisitos planejados, uma vez que, embora

53

sejam normalmente apresentados como ocorrências isoladas e com interfaces

definidas, os processos de gerenciamento do projeto se sobrepõem e interagem

entre si de maneira complexa. A Gerência de Integração do Projeto requer fazer

escolhas sobre a alocação de recursos, decidir sobre compensações entre objetivos

e alternativas eventualmente concorrentes e gerenciar as interdependências entre

as áreas do conhecimento em gerenciamento de projetos.

A Gerência do Escopo do Projeto inclui os processos necessários para garantir

que o projeto contemple todo o trabalho requerido, e nada mais além disso, para

completar o projeto com sucesso. O gerenciamento do escopo deve preocupar-se

fundamentalmente com a definição e o controle do que está e o que não está

incluído no projeto. Essa área do conhecimento deve estar integrada com as demais,

para que o trabalho definido para o projeto resulte na entrega do escopo do produto

especificado.

A Gerência do Tempo do Projeto inclui os processos necessários para assegurar

que o projeto termine dentro do prazo previsto. Esses processos, bem como as

ferramentas e técnicas associadas a eles, são documentados no plano de

gerenciamento do tempo (parte integrante do plano de gerenciamento do projeto),

cujo nível de detalhamento dependerá das necessidades do projeto. Entre esses

processos está a definição do cronograma do projeto, que utiliza a definição e

seqüenciamento das atividades, a estimativa dos recursos e das durações das

atividades, combinadas com a ferramenta definida pela organização para produzir o

cronograma do projeto, que, uma vez finalizado e aprovado, dará ao projeto a linha

de base para os processos de controle do cronograma.

A Gerência do Custo do Projeto inclui os processos envolvidos na estimativa,

orçamentação e controle dos custos, para que o projeto possa ser concluído dentro

do orçamento previsto. Esses processos são os seguintes: Estimativa dos Custos,

Orçamentação e Controle dos Custos. Em projetos com escopos não muito grandes,

a estimativa dos custos e a orçamentação estão de tal forma relacionadas que

podem ser vistas com um único processo. Os processos de gerenciamento dos

54

custos, bem como suas ferramentas e técnicas associadas, são normalmente

determinadas durante a definição do ciclo de vida do projeto e são documentadas no

plano de gerenciamento dos custos. A gerência do custo do projeto deve considerar

as necessidades de informações das partes envolvidas do projeto – diferentes

interessados podem avaliar os custos do projeto de maneiras diferentes e em

diferentes tempos. Esses processos consistem, fundamentalmente, na definição dos

custos dos recursos necessários para completar as atividades definidas no escopo

do projeto. No entanto, deve considerar também os efeitos das decisões do projeto

no custo de utilização, manutenção e suporte do produto, serviço ou resultado do

projeto.

A Gerência da Qualidade do Projeto inclui os processos e atividades da

organização, que determinam políticas, objetivos e responsabilidades da qualidade,

para que o projeto satisfaça as necessidades para as quais foi empreendido. Esses

processos são os seguintes: Planejamento da Qualidade, Garantia da Qualidade e

Controle da Qualidade. A gerência da qualidade do projeto aplica-se tanto para a

gerência do projeto, quanto do seu produto. Seus processos aplicam-se a todos os

projetos, independentemente da natureza do seu produto. O fracasso em se atingir

os requisitos de qualidade em qualquer das dimensões pode trazer consequências

negativas sérias para uma ou até mesmo para todas as partes envolvidas do projeto.

O custo total de todos os esforços relacionados à qualidade durante o ciclo de vida

do projeto é chamado de custo da qualidade. Decisões do projeto podem impactar

em custos operacionais de qualidade como resultado de devolução de produtos,

reclamações de garantia e campanhas de recall. Portanto, devido à natureza

temporária dos projetos, a organização executora pode escolher investir em melhoria

da qualidade do produto para reduzir custos externos de qualidade.

A Gerência dos Recursos Humanos do Projeto inclui os processos para

organizar, gerenciar e liderar a equipe do projeto, que compreende as pessoas com

funções e responsabilidades designadas para concluir o projeto. Esses processos

são os seguintes: Planejar os recursos humanos, Mobilizar a equipe do projeto,

Desenvolver a equipe do projeto e Gerenciar a equipe do projeto. Lidar com pessoas

exige que equipe de gerenciamento do projeto esteja familiarizada com conceitos,

55

tais como liderança, comunicação, negociação, motivação, delegação,

monitoramento, tratamento de conflitos, entre outros. Além disso, a equipe de

gerenciamento do projeto deve estar atenta às características específicas dos

projetos, que influenciam nas relações interpessoais, como o caráter temporário

dessas relações, já que, em geral, as equipes são constituídas apenas por

determinado tempo para a execução do projeto.

A Gerência das Comunicações do Projeto inclui os processos necessários para

garantir que a geração, captura, distribuição, armazenamento e pronta apresentação

das informações do projeto sejam feitas de forma apropriada e no tempo certo.

Gerentes de projetos ocupam a maior parte dos seus tempos em comunicação com

os membros de suas equipes ou com outras partes envolvidas dos projetos, sejam

elas internas ou externas à organização. Os processos de gerenciamento das

comunicações são os seguintes: Identificar as partes interessadas, Planejar as

Comunicações, Distribuir as informações, Gerenciar as partes interessadas e Relatar

o desempenho. A comunicação requer um conjunto de habilidades e conhecimentos

relacionados, por exemplo, a escolha dos meios de comunicação (escrita ou oral,

formal ou informal); técnicas de apresentação; técnicas de gerenciamento de

reuniões; como transmitir pensamentos ou idéias (codificação, meios, ruídos, etc).

A Gerência dos Riscos do Projeto inclui os processos que dizem respeito à

identificação, análise, respostas, monitoramento, controle e planejamento do

gerenciamento dos riscos do projeto, com o objetivo de maximizar as probabilidades

de ocorrência e os impactos dos eventos positivos e minimizar os mesmos pontos

para os eventos negativos. Os processos de gerenciamento dos riscos são os

seguintes: Planejar o gerenciamento de riscos, Identificar os riscos, Realizar a

análise qualitativa dos riscos, Realizar a análise quantitativa dos riscos, Planejar as

respostas aos riscos, Monitorar e controlar os riscos. O risco do projeto é definido

como um evento ou condição incerta que, se ocorrer, terá um efeito positivo ou

negativo sobre pelo menos um dos objetivos do projeto, como tempo, custo, escopo

ou qualidade. Os riscos têm suas origens nas incertezas inerentes a todos os

projetos. Para os riscos que são previamente identificados é possível estabelecer um

56

plano de respostas. Para aqueles que são desconhecidos a equipe do projeto deve

estabelecer um plano de contingências.

O gerenciamento de aquisições do projeto inclui os processos para comprar ou

adquirir os produtos, serviços ou resultados necessários de fora da equipe do projeto

para realizar o trabalho. Esses processos incorporam tudo aquilo que é necessário

para administrar os contratos ou pedidos de compra emitidos por membros da

equipe do projeto autorizados, bem como os contratos emitidos por uma organização

que adquire o projeto da organização executora, além da administração de

obrigações contratuais estabelecidas para a equipe do projeto pelo contrato. Os

processos de gerenciamento de aquisições são os seguintes: Planejar aquisições,

Realizar aquisições, Administrar aquisições e Encerrar aquisições. Esses processos

envolvem contratos que são documentos legais entre um fornecedor e um

comprador, que geram a obrigação da primeira parte fornecer os produtos, serviços

ou resultados especificados e da segunda parte a fornecer compensação monetária

ou outra compensação de valor. É responsabilidade da equipe de gerenciamento de

projetos ajudar a adaptar o contrato às necessidades específicas do projeto.

4.3. GESTÃO DE EQUIPES QUE TRABALHAM REMOTAMENTE

Uma organização que deseje começar a utilizar um sistema de teletrabalho

precisa encontrar uma nova forma de fazer velhas atividades de acordo com a nova

realidade organizacional. Os novos desafios envolvem principalmente as questões

de supervisão, coordenação e motivação dos funcionários dispersos, além de

problemas relacionados à comunicação, diálogo, feedback e lealdade à empresa.

Di Martino (1990) sugere várias mudanças no estilo de gerenciamento, de forma

que ele se adapte ao teletrabalho. Essencialmente essas mudanças devem se dar

na supervisão e controle das atividades, resultando em mais autonomia para o

trabalhador. A esse respeito, esse autor afirma que

57

[...] o teletrabalho requer um sistema de gerenciamento que supervisione a saída (resultados do trabalho), ao invés da entrada (forma de trabalho, tempo trabalhado, etc.), concentrando-se na descentralização e no envolvimento, em oposição à centralização e controle. (DI MARTINO, 1990)

Freitas (2008) destaca a necessidade de a organização passar de um sistema

que gerencia tempo (baseado nos processos) para um que gerencia projetos

(baseado nos resultados). Além disso, a autora coloca como importante que as

gerências tenham habilidade de lidar com uma organização virtual, a fim de manter a

coesão, o espírito de equipe e de colaboração entre os trabalhadores, apesar da

dispersão geográfica. Outra questão a ser superada, colocada pela autora, diz

respeito ao receio das gerências de desvalorização frente a seus empregadores, por

estarem gerenciando pessoas que não estão fisicamente presentes.

Di Martino (1990) destaca a importância das novas tecnologias na gestão de

equipes de teletrabalho, no sentido de facilitar a descentralização, a comunicação e

o diálogo com os teletrabalhadores e aumentar a confiança, lealdade e

responsabilidade do funcionário.

Santos (2002) também coloca a tecnologia como fator essencial para uma

gestão eficiente dos trabalhadores remotos. Dentre essas tecnologias, o autor

destaca o uso dos recursos de softwares baseados no conceito de groupware,

definidos no item 3.5.3 deste trabalho. O’Brien (2001), apud Santos (2002), destaca

que a vantagem dessas ferramentas é a possibilidade dos membros de uma equipe

poderem “colaborar em projetos conjuntos, no mesmo momento ou em momentos

diferentes, e no mesmo lugar ou em lugares diferentes”.

Kowalski e Swanson (2005), apud Freitas (2008), apresentam um quadro de

fatores críticos para o sucesso do teletrabalho, relacionados tanto aos

teletrabalhadores, quanto aos empregadores, incluindo aí a questão da gestão das

equipes remotas. Os autores dividem esses fatores de sucesso em três categorias:

(suporte/apoio, comunicação e confiança), dentro das quais há processos

específicos que se aplicados aos níveis organizacional, gerencial e o do empregado.

58

Suporte / Apoio Comunicação Confiança

Organizacional

- Apoio da alta

gerência

- Tecnologia /

ferramentas.

Política formal

- Sistema gerencial

de desempenho

baseado em

resultados

- Cultura baseada na

confiança.

Gerencial

- Apoio do supervisor

- Treinamento

gerencial

Habilidades de

comunicação

formais e

informais

- Confiança gerencial

Empregado

- Apoio familiar

- Estabelecimento de

fronteiras entre o

trabalho e a família

- Treinamento do

empregado

Interação social - Confiança do

empregado.

Tabela 4: Fatores críticos para o sucesso do teletrabalho. Fonte: Kowalski e Swanson (2005, p.240) adaptado por Freitas (2008, p. 74).

As linhas abaixo explicam, conforme Freitas (2008), o sentido de cada uma das

categorias dos fatores críticos de sucesso da tabela acima.

Suporte / Apoio – O apoio deve vir de todos os níveis na organização, em

especial dos níveis mais altos. Além disso, é essencial que haja suporte em termos

de equipamentos e ferramentas tecnológicas. Cascio (2000), apud Freitas (2008),

destaca a necessidade de investimento em treinamento adequado para os

empregados e gerentes, tanto no que diz respeito às mudanças relativas a tarefas e

equipamentos, quanto às alterações psicológicas e sociais nas vidas dos envolvidos,

não podendo ser esquecidas também as mudanças em suas famílias.

Comunicação – Esse é um grande desafio para equipes dispersas

geograficamente. É necessário que a gerência tenha a habilidade de comunicar-se à

59

distância tanto de maneira formal, quanto informal, a fim de evitar o isolamento

social, criando relacionamentos e integrando os teletrabalhadores à organização

(Cascio, 2000, apud Freitas, 2008).

Confiança – Esse é o mais crítico de todos os fatores para o sucesso do

teletrabalho. Tratando deste fator, Freitas afirma que

[...] a confiança é necessária nos três níveis da organização. Gerentes devem confiar que seus subordinados podem e estão fazendo seu trabalho; os teletrabalhadores devem confiar que seus supervisores vão tratá-los com igualdade, e a cultura da organização deve ser baseada em confiança. (2008, p. 74)

Para Cascio (2000), apud Freitas (2008), o teletrabalho não terá sucesso, se não

houver confiança, ainda que todos os outros fatores contribuam favoravelmente.

Desta forma, conforme Di Martino (2004), é necessário que todos os aspectos

envolvidos (custos com equipamento, alterações no espaço físico da residência do

funcionário, alteração nos benefícios, metas e resultados esperados) estejam claros

para todas as partes antes da adoção do teletrabalho.

4.4. IMPACTOS DA UTILIZAÇÃO DO TELETRABALHO NO DOMI CÍLIO NA

GESTÃO DE PROJETOS

Conforme visto no item 4.2 o PMI divide a gestão de projetos em nove áreas do

conhecimento, quais são: Integração; Escopo; Tempo; Custos; Comunicações;

Recursos Humanos; Aquisições; Qualidade e Riscos. Nos subitens abaixo serão

descritas as consequências da utilização de um sistema de teletrabalho no domicílio

em projetos na gestão das duas áreas que sofrerão os maiores impactos, conforme

descrito no item 4.3, que são: comunicações e recursos humanos. Entende-se que

outras áreas serão afetadas pela utilização dessa modalidade de trabalho, porém,

principalmente, como consequência dos impactos nessas duas áreas.

60

4.4.1. IMPACTOS NA GESTÃO DA COMUNICAÇÃO

Diante do que foi colocado no item 4.3, é fácil perceber que a comunicação é um

fator que sofre impactos diretos pela utilização do teletrabalho. O sistema de

comunicação formal e informal é claramente diferente em uma organização que

utiliza o teletrabalho intensamente (Sakuda, 2005). Raghuram (1996), apud Sakuda

(2005) trata desta questão avaliando as diferenças entre a comunicação através de

e-mails e voice-mails em contraste com a complexidade das comunicações diretas e

coletivas do local de trabalho tradicional, destacando a importância da comunicação

informal.

De acordo com o PMI, para atingir os seus objetivos de assegurar a geração,

disseminação e arquivamento das informações do projeto de forma oportuna e

adequada o gerenciamento das comunicações de um projeto pode incluir, conforme

a necessidade, os seguintes processos: Planejamento das Comunicações;

Distribuição das Informações; Relato de Desempenho; Gerenciamento das Partes

Interessadas. O processo de distribuição das informações, sendo utilizado para

disponibilizar as informações às partes interessadas do projeto na forma e no

momento adequados, será afetado diretamente pela utilização de equipes de

teletrabalhadores, já que a comunicação com a equipe será dificultada pela

distância.

A palavra comunicar vem do latim “comunicare” com o sentido de “pôr em

comum”. A comunicação é um requisito fundamental para a realização de trabalhos

em grupo. O envio de mensagens na comunicação se dá por meio de canais

escolhidos pela fonte emissora. O telefone, o e-mail, a correspondência, a televisão,

o rádio, são exemplos de canais por onde se enviam as mensagens. Esses canais

podem ser formais ou informais. Canais formais são determinados pela organização

para transmitir mensagens relacionadas ao ambiente de trabalho. Os canais

informais, por sua vez, são utilizados para transmitir as mensagens pessoais ou

sociais, dentro da organização, sem compromisso com o ambiente organizacional.

61

A comunicação pode fluir verticalmente para baixo ou para cima, ou ainda

horizontalmente. Denomina-se “para baixo” a comunicação das lideranças das

organizações com os seus liderados, a fim de estabelecer metas, dar instruções de

trabalhos, informar sobre políticas e procedimentos organizacionais, apontar

problemas e soluções ou ainda relatar desempenhos individuais e das equipes. Os

canais geralmente utilizados nesse tipo de comunicação são as cartas, o e-mail, a

linguagem oral, sendo esta de uso mais frequente, ou quadros de avisos.

A comunicação “para cima” é aquela que flui dos níveis hierárquicos inferiores

para os superiores (dos liderados para os líderes), com o objetivo de manter os

líderes informados sobre o andamento do trabalho e outros aspectos gerais da

organização. Para isso, os canais normalmente utilizados são relatórios de

desempenho preparados pelas gerências mais próximas dos níveis operacionais,

caixas de sugestões, pesquisas de satisfação dos funcionários, além de reuniões

entre trabalhadores e superiores para discutir problemas na execução de suas

tarefas.

A comunicação horizontal é aquela que se dá dentro de um mesmo nível

hierárquico. Esse tipo de comunicação em geral se dá de maneira informal, com o

objetivo de facilitar e agilizar a resolução de problemas. Essa comunicação tende a

ser a mais afetada pela distância resultante da adoção de sistemas de teletrabalho.

A convivência das equipes de trabalho em um mesmo ambiente possibilita a

comunicação face a face, que é enriquecida pela linguagem do corpo. Os gestos e

movimentos inconscientes presentes em uma comunicação face a face facilitam a

transmissão e a compreensão das mensagens. De acordo com Proetti

O contato visual possibilita o “olhar nos olhos” e permite ao receptor da mensagem avaliar as intenções, sentimentos e os propósitos das mensagens assim como os sinais não-verbais que colaboram para aumentar a eficácia da comunicação e, também, o interesse por parte do receptor. Os movimentos de cabeça – afirmativos e negativos – e as expressões faciais apropriadas facilitam a compreensão da mensagem e colaboram com o contato visual, pois acrescentam conteúdo na forma de

62

expressão da mensagem e ajudam a esclarecer – decodificar – as mensagens recebidas. (Proetti, 2003, p. 64)

A importância da comunicação informal e do contato direto para o

desenvolvimento do trabalho leva a crer que a ausência desses fatores em tempo

integral em sistemas de teletrabalho prejudica o fluxo de informações, o que seria

bastante danoso no processo de distribuição das informações em um projeto. É

necessário observar, no entanto, que, mesmo em ambientes convencionais de

trabalho, a comunicação face a face tem diminuído, à medida que as pessoas se

habituam cada vez mais à utilização da comunicação eletrônica. A respeito da

facilidade de comunicação por e-mail, Proetti afirma que ela

(...) tem atraído muitas pessoas, não só no mundo corporativo, mas também nos lares. A evolução dos meios de comunicação permitiu uma velocidade maior no envio de mensagens verbais ou escritas. Mais recentemente – fim da década de 90 – o uso de e-mails por intranet (correio eletrônico interno) nos escritórios substituiu quase que completamente os memorandos, cartas, telex (que não se usa mais) e fax (que tem seu uso em constante diminuição). O e-mail possibilita o envio de mensagens escritas, sons e imagens de forma mais rápida. Esse meio de comunicação tem mantido as pessoas mais tempo na frente do microcomputador verificando e enviando mensagens. As comunicações eletrônicas aumentam e facilitam a capacidade de acesso entre empresas e pessoas, dentro ou fora delas. (Proetti, 2003, p. 75)

No que diz respeito à distribuição das informações, deve ser observado ainda

que, atualmente, muitos projetos são desenvolvidos por equipes virtuais, que são

aquelas em que os profissionais são alocados no mesmo projeto, porém fisicamente

em locais distintos. Isso se dá pela necessidade de se desenvolver um projeto

simultaneamente nas várias filiais de uma empresa, ou, como é o caso de muitos

projetos de engenharia, pela conveniência de se alocar parte da equipe do projeto

nas instalações do cliente. A respeito da comunicação em equipes virtuais, Cossulin

afirma que

(...) a conexão nas equipes virtuais é a utilização intensa da tecnologia de comunicação em substituição da interação face a face. Os múltiplos meios e canais de comunicação, em rápida expansão e cada vez mais disponíveis às corporações, permitem a transferência de mensagens, relatórios,

63

imagens conduzindo a um viável acesso às informações e a novas formas de interação entre as pessoas. (Cossulin, 2007, p. 4)

Do ponto de visa exclusivo da gestão da comunicação, a adoção de um sistema

de teletrabalho no domicílio para equipes que já desenvolvem projetos de forma

virtual representaria simplesmente uma mudança nos locais de trabalho dos

membros dessas equipes.

De tudo o que foi observado acima, percebe-se que a comunicação, inclusive a

informal, é essencial para que se alcance os objetivos de um projeto. A comunicação

via e-mail, bastante utilizada em ambientes de teletrabalho, por não possibilitar a

utilização do componente de comunicação não-verbal, não proporciona a riqueza de

informações gerada pela comunicação face a face. Sobre as distinções entre esses

tipos de comunicação, Proetti afirma que quando

(...) se trata de comunicação face a face, as palavras, os movimentos corporais e os gestos facilitam na comunicação de mensagens. Entretanto, quando se pensa na comunicação on-line entre as pessoas no ambiente de trabalho, e fora dele, tem-se dificuldades na transmissão de mensagens, pois, pelo fato da distância, os atores/interlocutores deverão se utilizar de palavras que expressem, de forma mais aproximada, o que querem transmitir. É uma tarefa difícil, porém as habilidades poderão ser desenvolvidas à medida que as pessoas se depararem com essas situações na forma de comunicação a distância (on-line). (Proetti, 2003, p. 112)

É necessário adaptar-se às novas tecnologias de informação e comunicação,

pois sua utilização é um processo irreversível no mundo globalizado. A esse

respeito, conta pontos a favor da utilização do teletrabalho em projetos, o fato das

comunicações eletrônicas serem cada vez mais utilizadas, mesmo escritórios

convencionais e quase que exclusivamente em projetos desenvolvidos por equipes

virtuais. Além disso, as comunicações eletrônicas evoluíram, de forma que

videoconferências e reuniões eletrônicas, embora não substituam o contato pessoal,

representam um passo adiante da utilização do e-mail, pois permitem a avaliação do

comportamento dos interlocutores durante a comunicação. Essas ferramentas são

cada vez mais acessíveis e possibilitam conferências de vídeo e áudio em tempo

real, através da internet, além de alguns softwares possuírem recursos de

64

whiteboarding (quadro branco), permitindo que os membros da conferência possam

compartilhar, marcar e revisar desenhos, documentos e outros materiais exibidos em

seus monitores.

Uma alternativa importante utilizada pelas organizações que já adotam o

teletrabalho no domicílio, a fim de driblar a falta de contato pessoal proveniente da

adoção dessa modalidade de trabalho, é o regime de teletrabalho no domicílio em

que alternam-se dias de trabalho em casa com outros no escritório formal, onde são

feitas reuniões, garantindo-se a comunicação face a face. A respeito dessa

comunicação na gestão de equipes virtuais, fato válido também para

teletrabalhadores no domicílio, Cossulin afirma que

(...) a habilidade específica de um líder de uma equipe virtual é importante para saber a importância de usar a comunicação face a face estrategicamente. Esta é uma escolha importante quando os membros do time precisam estabelecer e construir confiança. Esta é uma escolha importante também quando mudanças sensíveis ou ‘feedback’ precisam ser divulgados a um indivíduo ou à equipe. A comunicação face a face pode ser utilizada também como um antídoto à ansiedade, perda de aderência do grupo, hiper-sensibilidade a casos específicos, falta de compromisso ou integração do time, assim como outros problemas gerados pela distância entre os membros. Esta comunicação é especialmente importante e útil para desenvolver o espírito de equipe e a sensibilidade entre os integrantes do time. O contato pessoal desenvolve benefícios humanos que melhoram a performance e criam um ambiente de integração entre os integrantes da equipe criando um contexto de uma ligação emocional positiva para o trabalho em equipe. (Cossulin, 2007, p. 20)

4.4.2. IMPACTOS NA GESTÃO DOS RECURSOS HUMANOS

De acordo com o PMI, para garantir a forma mais efetiva de utilização de todos

os envolvidos com o projeto, incluindo patrocinadores, clientes, equipe do projeto,

entre outros, o gerenciamento dos recursos humanos de um projeto pode incluir, de

acordo com a necessidade, os seguintes processos: Planejar os Recursos Humanos

do Projeto; Mobilizar a Equipe do Projeto; Desenvolver a Equipe do Projeto;

Gerenciar a Equipe do Projeto.

65

O processo de desenvolver a equipe do projeto sofrerá consequências da

utilização de um sistema de teletrabalho, já que é utilizado para o aprimoramento

das competências e construção das relações entre os integrantes do projeto,

transformando a equipe em um time, a fim de aprimorar o desempenho do projeto.

O desenvolvimento da equipe do projeto é responsabilidade do seu gerente, que

deve ter habilidades interpessoais, tais como empatia, influência, criatividade,

capacidade integração e motivação a fim de conseguir bom desempenho e efetiva

condução do time do projeto. A consecução desses objetivos em equipes com

sistema de teletrabalho no domicílio torna-se mais complexa, devido à falta de

contato face a face frequente. Para compensar essa falta de contato utiliza-se de

forma intensa as tecnologias da informação e comunicação em substituição à

interação face a face. As tecnologias da informação e comunicação permitem novas

formas de interação entre as pessoas. Essas tecnologias não são as únicas formas

de conexão entre as pessoas, devendo existir uma relação de confiança para suprir

a escassez de contato pessoal. Para tanto, recomenda-se uma reunião inicial

presencial, a fim de orientar os membros na direção e intenção de construir uma

comunidade e um ambiente de confiança. Além dessa reunião inicial, outros

encontros presenciais esporádicos devem ser marcados com o mesmo propósito.

No que tange ao desenvolvimento de equipes, é também função do gerente do

projeto fazer com que todos os membros do time compreendam perfeitamente os

objetivos do projeto, bem como seus papéis e responsabilidades nos pacotes de

trabalho, fato que também será afetado pela falta de contato pessoal. O objetivo é o

motivo pelo qual um grupo de indivíduos se dispõe a trabalhar em equipe,

constituindo-se no principal fator de envolvimento das pessoas. Um objetivo comum,

definido de forma clara e coerente, é essencial para toda atividade em equipe,

especialmente em projetos desenvolvidos sob o sistema de teletrabalho no domicílio,

dado o isolamento de parte dos membros do time. O claro entendimento do objetivo

da equipe e o compartilhamento da mesma visão que os demais integrantes da

equipe estão entre os fatores mais importantes para o sucesso de projetos sob o

sistema de teletrabalho no domicílio. Esses fatores são essenciais, para que a

gerência possa administrar as expectativas e o comprometimento das pessoas com

66

a equipe. A clara compreensão dos objetivos também é importante para a

automotivação e criação de um senso de contribuição individual.

Quando se trata do desenvolvimento da equipe de projeto, também a motivação

é um elemento crítico, merecendo bastante atenção, especialmente em um ambiente

de teletrabalho no domicílio. Os problemas de comunicação, causados pela

distância, prejudicam tanto a motivação dos membros da equipe, quanto à

identificação de possíveis problemas de falta de motivação. Em projetos sob o

sistema de teletrabalho no domicílio, os membros da equipe, que estiverem em

teletrabalho, estarão sujeitos ao isolamento social, que é um fato agravante para

problemas de falta de motivação. É importante determinar se um membro da equipe

está desmotivado antes que isto cause impactos no desempenho e no

comprometimento da equipe. Levin (2002), apud Balestrin, classifica as pessoas em

três perfis principais, em relação ao fator motivacional: 1- Pessoas orientadas a

realizações; 2- Pessoas orientadas a relacionamento; 3- Pessoas orientadas a

poder. De acordo com Balestrin, cada um desses perfis motiva-se através de

situações distintas, fato que deve ser observado pela gerência na determinação de

tarefas, especialmente em relacionamentos à distância. Pessoas orientadas a

realizações têm as suas ações guiadas pelo desafio do sucesso e pelo medo de

falhar. São pessoas que assumem riscos calculados, estabelecem objetivos com um

alto grau de desafio para elas próprias e gostam de ver evidências concretas da

conclusão dos seus trabalhos. A fim de que estejam permanentemente motivadas,

tais pessoas devem receber tarefas desafiadoras dentro da equipe, para que

possam testar suas habilidades e capacidades. Pessoas orientadas a

relacionamentos encontrarão dificuldade para trabalhar em tarefas que não

requeiram contato pessoal. Pessoas com esse perfil motivam-se quando designados

a tarefas que requeiram um envolvimento amigável e cooperativo. Pessoas

orientadas ao poder gostam de tomar decisões e são altamente persuasivas e

pessoas competitivas. Elas assumem riscos e gostam de ser reconhecidas por suas

contribuições. Teletrabalhando no domicílio, pessoas com esse perfil serão melhor

aproveitadas em tarefas como liderar reuniões, determinar objetivos estratégicos ou

apontar oportunidades onde outros enxergam apenas os riscos.

67

O desenvolvimento da equipe deve contar também com os treinamentos

necessários para a execução das atividades, sendo que estes podem ocorrer de

modo informal, através de explicações por parte de um próprio membro da equipe de

projeto ou ser formal com a realização de palestras, workshops ou cursos, quase

sempre custeados pela organização executora. A compreensão da criação e

transmissão do conhecimento em projetos sob o sistema de teletrabalho no domicílio

requer a distinção entre tipos de conhecimento. DeLong e Fahey (2000), apud

Balestrin, reconhecem a existência de três tipos de conhecimento: 1- Conhecimento

humano, 2- Conhecimento social e 3- Conhecimento estruturado. O conhecimento

humano é constituído pelo know-how dos indivíduos, sendo manifestado por

importantes habilidades, compreendendo os conhecimentos tácito e explícito. O

conhecimento social está relacionado às relações entre indivíduos ou entre grupos.

Segundo Bhagat et al. (2002), apud Balestrin, “o conhecimento social ou coletivo é

amplamente tácito e arraigado em normas culturais”. Já o conhecimento estruturado

diz respeito às rotinas, às normas, aos processos e aos sistemas organizacionais.

Glazer (1998), apud Balestrin, afirma que esse tipo de conhecimento é explícito e

pode existir independentemente dos indivíduos.

Determinados tipos de conhecimentos adaptam-se melhor à utilização das

tecnologias da informação e comunicação em seus processos de criação e

transmissão. De acordo com Balestrin, essas tecnologias tendem a facilitar o

processo, a armazenagem e a transmissão de conhecimentos estruturados. No

entanto, quando se trata de conhecimentos desestruturados, essas tecnologias

dificilmente substituirão a necessidade da comunicação face a face entre os

indivíduos. A respeito da utilização dessas tecnologias na transmissão de

conhecimento, Symon (2000), apud Balestrin, afirma que elas não podem ser

totalmente efetivas,

(...) pois existem alguns elementos tácitos do conhecimento, como as habilidades e as experiências pessoais, que podem apresentar dificuldades de serem comunicados através delas. Mesmo com a alta qualidade multimídia das novas tecnologias, elas dificilmente conseguirão replicar o processo face a face da comunicação. Symon (2000), apud Balestrin, p. 10)

68

Por outro lado, a adesão das pessoas aos cursos à distância, utilizando

tecnologias da informação e comunicação, em especial cursos de pós-graduação,

aumenta a cada dia, tornando os indivíduos mais adaptados ao aprendizado por

esses meios. O que mostra que a criação e transmissão de conhecimento à

distância por meios tecnológicos são viáveis e cada vez mais comuns na sociedade,

o que conta pontos a favor do desenvolvimento de equipes de teletrabalhadores no

domicílio.

Além do processo de desenvolver a equipe do projeto, também o gerenciamento

dessa equipe sofrerá impactos da utilização do sistema de teletrabalho no domicílio

em projetos. Gerenciar a Equipe do Projeto é o processo necessário para

acompanhar o desempenho de membros da equipe, fornecer feedback, resolver

conflitos e gerenciar mudanças para otimizar o desempenho do projeto. Gerenciar

equipes requer o estabelecimento de um sentimento de confiança mútua entre as

pessoas, em especial quando se trata de equipes dispersas geograficamente, em

que o contato pessoal é esporádico. Recomenda-se uma reunião inicial face a face,

aliada a outras reuniões no decorrer do projeto, a fim de orientar os membros da

equipe na direção de construir e manter uma comunidade e um ambiente de

confiança, que são essenciais à troca de informações e experiências dentro da

equipe, bem como para a manutenção de um ambiente de trabalho saudável.

A distância entre os membros da equipe, consequência do teletrabalho no

domicílio, pode contribuir para a redução de conflitos dentro do time. Entretanto, a

dificuldade de comunicação, em especial no que diz respeito a diferentes

interpretações dadas a mensagens de e-mails, pode ser um fator gerador desses

conflitos. Cabe ao gerente do projeto a identificação e prevenção dessas

ocorrências, utilizando-se inclusive das reuniões presenciais para esclarecer pontos

causadores de divergências.

Cabe lembrar que as características importantes para um gerente de projetos no

trato com a sua equipe em um ambiente convencional de trabalho permanecem tão

ou mais importantes com a aplicação de um sistema de teletrabalho no domicílio, em

69

que não há contato direto frequente entre o gerente e o seu time. Assim,

permanecem importantes, na gestão de equipes de projetos com teletrabalhadores

no domicílio, a flexibilidade, para adaptar-se às diversas situações; a integridade e a

credibilidade, a fim de poder liderar pelo exemplo; entusiasmo e comprometimento

com o trabalho, com o objetivo de motivar sua equipe; a clareza na comunicação,

fazendo-se compreender por todos; imparcialidade e humildade, sabendo ouvir a

todos, dando e recebendo feedback, conseguindo ouvir e processar.

Para transmitir determinações e dar feedback a teletrabalhadores no domicílio,

os gerentes de projetos devem lembrar que colaboradores não estão recebendo

essas diretrizes em um contato face a face com seus gestores, devendo cuidar para

que essas atitudes não pareçam muito mais frias e impessoais, do que ocorreria em

uma equipe com contato pessoal permanente. Por esse motivo, o gerente de

projetos deve buscar as reuniões e encontros esporádicos para, pessoalmente,

elogiar, dar feedback, ou chamar a atenção de algum aspecto a ser aprimorado. O

gerente de projetos não deve permitir que a ausência do contato pessoal com os

profissionais no dia-a-dia do projeto seja sentida no acompanhamento da execução

das atividades, na ausência do elogio, na crítica construtiva, no modo impessoal de

solicitar a execução de um trabalho e na falta de observância da qualidade das

entregas efetuadas. Obviamente esse conjunto de fatores terá diferenças

consideráveis entre um escritório de projetos convencional e outro em que os

membros do time teletrabalhem em seus domicílios. No entanto, é trabalho do

gerente de projetos não permitir que esses fatores influenciem negativamente na

motivação dos profissionais geograficamente dispersos. O gerente de projetos deve

saber utilizar os recursos tecnológicos disponíveis (sites de projetos, utilização de

conference call, videoconferência, e-mails, comunicadores instantâneos, videochats,

telefonia móvel, softwares de gerenciamento de projetos que permitem a atualização

compartilhada de informações) em seu favor, buscando dessa forma compensar a

distância.

A gestão dos recursos humanos em projetos que utilizem o sistema de

teletrabalho no domicílio não pode ignorar a questão do isolamento social dos

teletrabalhadores. O bem-estar físico e psicológico dos teletrabalhadores pode ser

70

significativamente afetado pela separação dos seus colegas de trabalho, gerando

situações de estresse para os teletrabalhadores. A falta das interações do dia-a-dia

podem gradualmente isolar o teletrabalhador, tanto do ponto de vista profissional,

quanto social, impactando no desenvolvimento de suas carreiras. As organizações

devem trabalhar para que isso não ocorra, acompanhando seus trabalhadores no

domicílio de forma constante, disponibilizando ferramentas para contato on-line com

seus colegas de trabalho e criando formas para o contato pessoal entre os

teletrabalhadores e os demais profissionais da empresa, seja por motivos

profissionais ou em confraternizações.

Um ponto positivo a ser considerado na gestão dos recursos humanos em

projetos que utilizem o sistema de teletrabalho no domicílio é que a flexibilidade

proporcionada por essa modalidade de trabalho contribuirá para a retenção dos

membros da equipe ao longo do projeto. A perda de componentes importantes do

time durante um projeto é sempre um fator crítico, pois gera gastos extraordinários

de tempo e recurso, devido à perda de carga que o novo membro terá para

acompanhar o ritmo do projeto já em andamento.

4.4.3. IMPACTOS NA GESTÃO DE OUTRAS ÁREAS DO CONHEC IMENTO

EM PROJETOS

Conforme já mencionado neste trabalho, os mais variados estudos sobre

teletrabalho apontam o aumento da produtividade, principalmente porque há menos

distrações e interrupções, como uma das vantagens do teletrabalho no domicílio.

Isso trará consequências para a gestão do tempo, em projetos que utilizem essa

modalidade de trabalho, visto que a estimativa de duração das atividades de um

projeto está relacionada à produtividade da equipe, que será composta por

teletrabalhadores e trabalhadores convencionais, que terão produtividades médias

distintas.

Quanto à questão da gestão dos custos em projetos que utilizem o teletrabalho

no domicílio, além de se esperar uma diminuição dos custos diretos, consequência

71

da maior produtividade dos teletrabalhadores, deve se considerar também que a

parte da equipe do projeto que estiver teletrabalhando não ocupará

permanentemente espaços físicos nas instalações da empresa, o que resultará em

alterações no rateio dos custos indiretos nos projetos.

No que diz respeito à gestão de riscos, os aspectos dispostos nos itens acima

sobre comunicação e recursos humanos devem ser considerados como riscos

positivos ou negativos para o projeto. A dificuldade de comunicação entre as partes;

o isolamento social dos teletrabalhadores; a carência de comunicação informal e do

contato direto para o desenvolvimento do trabalho; a dificuldade de fornecer

feedback; os problemas encontrados no desenvolvimento da equipe, entre outros

fatores devem ser considerados entre os riscos negativos de um projeto, que utilize

a modalidade de teletrabalho no domicílio. Existem também riscos positivos a serem

considerados pela implantação dessa modalidade de trabalho em projetos, entre os

quais pode-se citar: maior concentração e a conseqüente melhor produtividade na

execução do trabalho; redução de conflitos no escritório formal; menor probabilidade

de perda de recursos humanos durante o projeto, devido à flexibilidade

proporcionada pelo teletrabalho, entre outros.

5. CONSULTORIAS EM PROJETOS DE ENGENHARIA

5.1. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E BREVE HISTÓRICO NO BRASIL

Conforme descrito no item 2.4 deste trabalho, as empresas de consultoria de

engenharia trabalham nas fases que precedem à construção do empreendimento,

levando-o desde a fase de concepção até a fase de projeto executivo.

A participação dos serviços das consultorias de engenharia no valor total dos

empreendimentos pode variar bastante em função do porte e da natureza do

empreendimento. Com o objetivo de apresentar uma estimativa dessa participação,

a Associação Brasileira de Consultores de Engenharia (ABCE) disponibiliza o gráfico

apresentado na figura abaixo, que mostra o valor percentual do projeto em função

72

do porte do empreendimento. Esses valores podem variar em função da

complexidade do empreendimento. Observa-se pelo gráfico que os custos dos

serviços de engenharia são pouco relevantes, quando comparados ao valor global

do investimento.

Figura 1 - Valor Estimativo do Projeto em Função do Valor do Empreendimento.

A atividade das empresas de engenharia de projetos no Brasil tem início na

década de 40, com o aparecimento dos escritórios monodisciplinares, capitaneados,

na maioria dos casos, por professores das principais Escolas de Engenharia do país.

Historicamente não existiu no Brasil uma política deliberada de fortalecimento das

empresas de engenharia consultiva, como ocorreu em países desenvolvidos, apesar

da importância do setor para o desenvolvimento do país. Embora não tenha existido

uma política de incentivos, o setor beneficiou-se de ações do Estado, em especial de

fases de expansão econômica impulsionadas pela ação do poder público. Foi dessa

forma que o setor experimentou grande crescimento no período conhecido por

73

Milagre Econômico, no final dos anos sessenta e começo dos anos setenta, fase de

significativa aceleração nos investimentos públicos em infra-estrutura e em indústria

básica.

A partir dos anos noventa, o mercado para as empresas de engenharia

consultiva no Brasil mudou bastante. Até os anos oitenta, o ambiente de negócios

para essas empresas era relativamente protegido, sendo o Estado o grande

demandante de serviços. Nesse período, as fases do empreendimento eram

claramente separadas, não havendo envolvimento entre o projeto e o

empreendimento propriamente dito. Havia uma nítida separação entre as empresas

de engenharia consultiva e fornecedores de equipamento, empreiteiros e

empreendedores de modo geral.

Os anos noventa trouxeram consigo a concorrência de empresas estrangeiras de

engenharia consultiva, que muitas vezes oferecem seus serviços com condições de

financiamento privilegiadas. Além disso, o cliente também mudou. Desde então, o

empreendedor que contrata engenharia consultiva em grande parte é privado ou

empresa produtiva estatal, o que, consequentemente, levou a mudanças nos

requisitos dos serviços. Esses clientes trabalham com a contratação de serviços em

forma de um pacote fechado, o chamado EPC - Engineering, Procurement, and

Construction. Nessa modalidade de contratação, o cliente requer que um único

contratado seja responsável pela engenharia, compra dos equipamentos e

construção propriamente dita, incluindo montagem industrial, pré-operação e

colocação em marcha. Essas exigências impõem ao setor novos requisitos, inclusive

gerenciais e de sistemas. Concomitantemente o serviço de engenharia de

detalhamento é cada vez mais afetado pelas novas ferramentas da tecnologia da

informação e comunicação.

Cientes da importância do setor de engenharia consultiva, reconhecendo que

investimentos nessa área têm retorno garantido em todas as fases do

empreendimento, os países desenvolvidos costumam respaldar essas empresas

com esquemas bastante vantajosos de financiamento ao cliente, o que fortalece o

74

setor nesses países. Para exportar serviços é importante que se consiga

inicialmente um bom nível de competitividade no mercado interno. Conforme

relatório ANE, “se a posição das empresas de engenharia no mercado doméstico é

frágil, elas não desenvolverão massa crítica que lhes dê a necessária

competitividade para concorrer fora do País”. (Academia Nacional de Engenharia,

2005, p. 6)

De fato, de acordo com o mesmo relatório da ANE, apenas três países exercem

uma hegemonia sobre o comércio internacional de serviços de engenharia: EUA,

França e Grã-Bretanha. No ano 2000, das 200 maiores empresas de engenharia

115 eram britânicas, norte-americanas ou francesas, correspondendo a 57,5% do

total.

Apesar da falta de uma política deliberada de fortalecimento do setor, a

engenharia consultiva no Brasil sempre esteve presente na concepção dos grandes

empreendimentos nacionais, com destaque para aqueles que constituem a infra-

estrutura física do país: o sistema elétrico brasileiro (geração, transmissão e

distribuição de energia), instalações de exploração, produção (on-shore e off-shore)

e refino de petróleo, sistemas de transportes, instalações do setor de mineração,

sistemas de desenvolvimento urbano, e todos os demais empreendimentos públicos

e privados brasileiros.

5.2. CONCORRÊNCIAS COM BASE NO MENOR PREÇO

Embora, conforme mencionado no item anterior, os custos dos serviços

consultoria de engenharia sejam pouco relevantes, quando comparados ao valor

global do investimento, a maior parte dos clientes no Brasil, quer por força de lei, ou

pelo hábito arraigado de se adquirir sempre o produto ou serviço mais barato,

acabam por aplicar a regra do menor preço também para a contratação de serviços

de engenharia, tratando esses serviços como commodities, não considerando o

capital intelectual envolvido neles.

75

A qualidade técnica dos serviços de consultoria de engenharia é importante para

a consecução dos empreendimentos projetados. Essa qualidade garantirá a

minimização dos custos de execução, operação e manutenção das obras e

instalações do empreendimento. Daí a importância de se contratar serviços de

consultoria de engenharia, que tenham experiência e qualidade comprovada, de

forma a garantir a segurança e maior lucro ao contratante. Esses detalhes, no

entanto, não têm sido observados no Brasil. Serviços de consultoria de melhor

qualidade devem custar mais, porque envolvem profissionais de maior capacidade,

além de uma gestão mais experiente com a utilização de recursos técnicos e

métodos de gerência mais avançados. Entretanto, tratando esses serviços como

commodities, os clientes brasileiros, em geral, não se dispõem a pagar mais por

essa diferenciação.

A redução de custos dos serviços consultoria de engenharia também pode levar

a aumento de lucro e de qualidade, possibilitando a utilização de profissionais de

maior qualificação, tanto na parte técnica, quanto na gestão, ou seja, como se tem

custos menores, pode-se trabalhar com preços competitivos, mas com maior

margem de lucro e/ou oferta de um serviço de melhor qualidade.

Da análise disposta acima resulta a importância da redução de custos para as

empresas de consultoria de engenharia. A implantação do teletrabalho no domicílio

nesse ramo de serviço seria uma solução nesse sentido, visto que as experiências

das organizações brasileiras com a implantação dessa modalidade de trabalho

apontam para reduções significativas de custos, seja pelos menores gastos com

manutenção de estrutura física, ou pelo aumento da produtividade de seus

colaboradores.

5.3. CUSTOS EM EMPRESAS DE CONSULTORIA DE ENGENHARI A

Segundo Fitzsimmons (2000), apud Orige, o ambiente econômico em que se dá

a competição entre as empresas de serviços é marcado por dificuldades, devido

especialmente às seguintes razões: poucas barreiras à entrada de concorrentes;

76

oportunidades mínimas para economias de escala; flutuações erráticas das vendas;

desvantagens em negociações, em função do porte de muitas empresas; produtos

substitutos; fidelidade dos clientes; barreiras à saída de concorrentes. De acordo

com Pompermayer e Lima (2002), apud Orige, diante desse cenário, o lucro passa a

ser função, principalmente, dos custos incorridos, de modo que conseguir lucro é

conter custos. Com esse objetivo, torna-se importante a distinção entre custos e

despesas, sendo os gastos incorridos com a atividade fim da empresa classificados

como custos, enquanto os gastos com as atividades meio são classificados como

despesas.

Os custos podem ser diretos ou indiretos. Na prestação de serviços de

consultoria, os custos diretos podem ser atribuídos a quatro fatores básicos, a saber:

1- Recursos Humanos – Equipe Permanente: componente referente aos

profissionais, alocados para o trabalho, que integram a equipe técnica permanente

da empresa; 2- Recursos Humanos – Consultores: componente referente aos

profissionais, alocados para o trabalho, que não fazem parte da equipe técnica

permanente da empresa, ou seja, são consultores externos; 3-Serviços de Apoio

Técnico:levantamentos, análises, ensaios, testes, laudos e demais serviços técnicos

que subsidiam o trabalho da consultoria; 4- Despesas Diretas: recursos financeiros,

materiais, equipamentos e serviços de terceiros, não submetidos à responsabilidade

técnica da consultoria, e despendidos exclusivamente na execução do trabalho. No

que diz respeito aos custos indiretos na prestação de serviços de consultoria, pode-

se afirmar que, embora sejam indispensáveis para a execução dos trabalhos, não

estão diretamente vinculados ao trabalho em questão, já que são decorrentes do

fornecimento, manutenção e utilização de recursos e serviços, os quais são

compartilhados na consecução e realização de múltiplos trabalhos da consultoria,

devendo esses custos ser rateados (suportados) por todos os contratos da empresa.

A concorrência com base no menor preço leva muitas empresas a praticar uma

política de descontos com o objetivo de eliminar a concorrência ou não perder a

venda, diminuindo a margem de lucro sobre o serviço, em alguns casos, a ponto de

inviabilizar a manutenção da empresa. A forma de se evitar essa “guerra” em um

mercado em que o preço se sobrepõe à diferenciação do serviço, a empresa deve

77

buscar reduzir os custos de produção, operacionalização e comercialização do

serviço, o que possibilitará ao empresário repassar a redução de custos para o preço

final de venda sem, contudo, reduzir a margem de lucro, melhorando a

competitividade da empresa no mercado.

Os autores, de um modo geral, colocam a redução dos custos como a vantagem

mais óbvia para a organização que adota o sistema de teletrabalho, indicando como

principal fator para que isso ocorra à redução do tamanho dos escritórios, resultando

em menores despesas com imóveis e mobiliários. Além disso, outro ponto de

consenso entre os estudiosos do teletrabalho refere-se ao aumento de produtividade

dos teletrabalhadores, por conta da melhoria da qualidade de vida que esta

sistemática lhes propicia. Além disso, conforme apontado no item 3.5.1 desse

trabalho, também a redução do absenteísmo contribui para o aumento da

produtividade, já que as maiores causas das ausências ao trabalho estão

relacionadas aos transtornos com deslocamentos e pequenos contratempos

domésticos.

6. TELETRABALHO NO DOMICÍLIO EM UMA CONSULTORIA DE PROJETOS

DE ENGENHARIA

A evolução da tecnologia levou o computador a praticamente todas as atividades

e todos os setores da sociedade. A capacidade e velocidade de processamento e a

grande oferta de ferramentas fazem dele um equipamento indispensável para o

engenheiro. O computador trouxe consigo mais produtividade, precisão e rapidez na

elaboração de projetos de engenharia. Os softwares disponíveis são cada vez mais

abrangentes e complexos. De acordo com Longo (2006), analisando a utilização do

computador na área de projetos de engenharia, pode-se perceber facilmente que ele

trouxe inúmeras vantagens, tais como: Cálculos mais rápidos e precisos; Estudo de

várias concepções de projeto em pouco tempo; Possibilidade de uso de modelos

tridimensionais; Solução de problemas mais complexos; Aumento da produtividade

do trabalho do engenheiro; Menor custo de mão-de-obra especializada; Melhoria na

qualidade do projeto; Melhor apresentação de desenhos, plantas, gráficos,

78

diagramas e memórias de cálculo; Armazenamento de todo o projeto em

arquivos; Facilidade de transmissão de arquivos via Internet.

Devido ao crescimento da capacidade de processamento dos computadores e a

evolução das tecnologias da informação e comunicação, atualmente, grande parte

das atividades desenvolvidas em um escritório de uma consultoria de projetos de

engenharia se dá por meio de computadores. É grande a oferta de softwares

dedicados à área. As funcionalidades vão desde ferramentas de CAD (computer

aided design); cálculos de equipamentos, instrumentos e acessórios; além de

ferramentas de modelagem 3D. A crescente informatização dos processos leva a

uma natural tendência ao desejo de integração de todo o empreendimento. As

empresas de softwares já possuem também soluções nesse sentido, permitindo a

integração desde o projeto, passando pela construção e culminando na operação e

manutenção das plantas industriais, ou seja, todo o empreendimento é desenvolvido

com base em uma única ferramenta da informática. A tendência é que os clientes

passem a exigir a utilização dessas ferramentas de integração, aumentando cada

vez mais o emprego do computador nas atividades de projetos de engenharia.

Conforme visto no item 5.1 desse trabalho, a engenharia consultiva desenvolve

serviços técnicos especializados de natureza predominantemente intelectual. Tal

fato, aliado ao uso intensivo de tecnologia no desenvolvimento do trabalho, torna os

colaboradores dessas empresas candidatos naturais a exercerem suas atividades

profissionais à distância. De acordo com relatório publicado pela Organização

Mundial do Trabalho (OIT)4, as ocupações para as quais o teletrabalho é adequado

são, principalmente, aquelas que usam extensivamente as tecnologias de escritório.

Esse relatório divide tais ocupações em dois grandes grupos: de um lado as

atividades de apoio e secretaria; de outro, as atividades técnicas e gerenciais, onde

se encaixam as atividades principais desenvolvidas em uma consultoria de projetos

de engenharia.

4 International Labour Organization. Conditions of Work Digest - Telework,. Vol. 9, No. 1, p. 8-9. Genebra, 1990.

79

Além do uso das ferramentas de informática nas atividades técnicas, conforme

observado no item 4.4.1 deste trabalho, as pessoas se habituam cada vez mais à

utilização da comunicação eletrônica, mesmo nos ambientes convencionais de

trabalho, o que também ocorre no desenvolvimento das atividades das empresas de

engenharia consultiva. A evolução das tecnologias da informação e comunicação,

cada vez mais disponíveis às corporações, permitem a transferência de mensagens,

imagens e sons, levando a novas formas de interação entre as pessoas. Conforme

observado no mesmo item deste trabalho, no que diz respeito à comunicação, o

principal problema para utilização do teletrabalho no domicílio em projetos refere-se

à perda da comunicação informal e do contato direto, fatores importantes para o

processo de distribuição das informações em projetos. Além disso, de acordo com

Whittaker e Cartmell (1996), a flexibilidade de horários proporcionada pelo

teletrabalho no domicílio, considerada uma das grandes vantagens dessa

modalidade de trabalho para os colaboradores, pode também trazer problemas para

os projetos de engenharia, face à possibilidade de dificuldade de comunicação com

os teletrabalhadores, que podem estar inacessíveis em momentos em que

ocorrerem problemas, que exijam respostas imediatas, o que pode gerar atrasos e

custos extraordinários para o projeto. Em contrapartida, justamente por conta do

desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação, atualmente muitos

projetos são desenvolvidos por equipes virtuais, ou seja, os membros da equipe

encontram-se dispersos geograficamente, comunicando-se essencialmente de

maneira eletrônica, contando com alguns poucos encontros face a face. O que se

percebe é que a comunicação eletrônica já faz parte do dia-a-dia dos projetos de

engenharia, de modo que em uma situação de teletrabalho no domicílio o uso desse

tipo de comunicação não seria uma grande diferença em relação ao

desenvolvimento de projetos com equipes virtuais, ou mesmo com equipes

convencionais.

Ainda relacionado à comunicação, conforme comentado no item 4.4.2 deste

trabalho, a utilização do teletrabalho no domicílio também trará impactos no

desenvolvimento das equipes de consultorias de projetos de engenharia. Conforme

Whittaker e Cartmell (1996), as consultorias de engenharia caracterizam-se pela

presença de profissionais em diferentes níveis habilidade e áreas de conhecimento.

80

Quando um novo profissional entra na empresa, a ele são designadas tarefas cada

vez mais complexas e com níveis cada vez menores de orientação. Dessa forma ele

desenvolve sua capacidade e aumenta o seu valor para a empresa. Esse

desenvolvimento depende bastante da habilidade do indivíduo de recorrer à

orientação dos profissionais mais experientes. Com o trabalho à distância, perde-se

a interação face a face e a oportunidade de transmissão do conhecimento. Além

disso, existe a questão do feedback oportuno dos superiores para os

teletrabalhadores, que também é prejudicado pela distância.

Analisando a natureza do trabalho da consultoria de engenharia, no que diz a

utilização do teletrabalho no domicílio, Whittaker e Cartmell (1996) afirmam que o

fato de existirem várias tarefas a serem executadas como parte de um projeto, e

sendo o trabalho conduzido pelos prazos, favorecem o controle das tarefas

executadas fora do “campo de visão” da gerência, como ocorre no teletrabalho no

domicílio. Nesse sentido, no entanto, segundo os mesmos autores, é necessário

considerar que um projeto de engenharia não é um simples conjunto de diferentes

tarefas. Esses projetos apresentam detalhes à medida que se desenvolvem e são

formados por uma série de tarefas individuais altamente interdependentes, o que faz

com que a falha no cumprimento de uma dessas tarefas afete todo o projeto. Deste

modo, não é suficiente a definição das tarefas e dos prazos para um teletrabalhador.

Os custos de trabalhos não concluídos, tarefas descoordenadas, ou retrabalho irão

anular as economias conseguidas com a utilização do teletrabalho no domicílio.

Quanto à questão da segurança da informação, essa é sempre uma

preocupação dos clientes das consultorias de projetos de engenharia, ao

disponibilizarem as informações dos seus empreendimentos a essas empresas. O

item 3.5.4 deste trabalho mostrou, no entanto, que tecnologia possui soluções para

essa questão. Para o caso de uma consultoria de projetos de engenharia, não

existiria grande diferença entre um sistema de segurança da informação de uma

situação de teletrabalho e uma típica Intranet corporativa. Além disso, com o

desenvolvimento de muitos projetos por equipes virtuais, o trânsito de informações

utilizando novas tecnologias da informação e comunicação já é uma realidade,

sendo essa mesma tecnologia utilizada no teletrabalho no domicílio.

81

No que diz respeito às qualificações específicas, para que um trabalhador tenha

sucesso no sistema de teletrabalho, conforme definido no item 3.7.2 deste trabalho,

muitas dessas características são inerentes aos profissionais que trabalham em

consultorias de projetos de engenharia, pois são também importantes para o

desempenho das funções nessa área. Os profissionais dessa área são, em geral,

organizados, disciplinados, orientados para prazos e desenvoltos para lidar com as

tecnologias da informação e comunicação. Obviamente, nem todos os profissionais

das consultorias de projetos de engenharia terão as características necessárias para

se adaptar em sistemas de teletrabalho no domicílio, mas certamente não será difícil

encontrar trabalhadores aptos para tal.

82

7. CONCLUSÃO

O teletrabalho no domicílio, que consiste em realizar em casa as tarefas que

seriam realizadas no escritório da empresa, estando os trabalhadores conectados

com a organização por meio das tecnologias da informação e comunicação,

apresenta-se como uma alternativa de flexibilização das relações de trabalho.

As consultorias de projetos de engenharia, por caracterizarem-se pelo

desenvolvimento de serviços de cunho eminentemente intelectual e pela utilização

intensiva de tecnologias da informação e comunicação, apresentam-se como

empresas altamente apropriadas para implantação de programas de teletrabalho no

domicílio.

Este trabalho buscou avaliar a utilização do teletrabalho no domicílio em

consultorias de projetos de engenharia, bem como a influência dessa modalidade de

trabalho na gestão de projetos. Nesse sentido, o que se conclui do exposto neste

trabalho, em cada um dos pontos relevantes, está exposto nos itens abaixo:

7.1. CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO E DOS TRABALHADORE S

No que diz respeito à adequação das atividades desenvolvidas nas consultorias

de engenharia ao teletrabalho, elas encaixam-se naquelas classificadas por Lemesle

e Marot (1994), apud Freitas (2008), como atividades de produção da informação,

sendo altamente apropriadas à utilização do teletrabalho. Além disso, o fato de

serem os projetos de engenharia constituídos de diversas tarefas, orientadas pelos

prazos, favorece a distribuição de atividades aos teletrabalhadores, bem como o

desenvolvimento dessas atividades, permitindo o gerenciamento por desempenho. É

necessário se destacar, no entanto, que deve haver coordenação das tarefas, uma

vez que, em geral, elas são altamente interdependentes, o que faz com que a falha

no cumprimento de uma dessas tarefas afete todo o projeto.

83

No que diz respeito às características dos trabalhadores das consultorias de

projetos de engenharia e suas aplicabilidades ao teletrabalho no domicílio, deve-se

destacar que, em geral, profissionais que trabalham na área técnica dessas

empresas são organizados, disciplinados, orientados para prazos e desenvoltos

para lidar com as tecnologias da informação e comunicação, o que favorece a

adaptação desses funcionários a sistemas de teletrabalho no domicílio. Certamente

muitos não se adaptarão, já que essa é uma análise muito simplista, face à

complexidade dos fatores envolvidos. Entretanto, é possível afirmar que, entre os

profissionais dessa área, muitos poderão desenvolver com sucesso suas atividades

profissionais em seus domicílios, através do teletrabalho.

Além disso, conforme observado neste trabalho, os profissionais das consultorias

de projetos de engenharia já vivem uma situação de quase completa informatização

de suas atividades. As tarefas já são executadas maciçamente através de

computadores e os funcionários encontram-se bastante familiarizados com o uso

das tecnologias da informação e comunicação. Do ponto de vista exclusivo do

trabalho, a transição para um sistema alternativo, com o desenvolvimento das

atividades profissionais de forma remota nos domicílios dos funcionários, não seria

grande obstáculo. Nesse sentido, deve ser ressaltado que as experiências de

teletrabalho no domicílio examinadas do desenvolvimento deste trabalho indicam

que, quanto a equipamentos e conexão necessários para o desenvolvimento do

teletrabalho no domicílio, a solução mais indicada é a sua compra/contratação pela

instituição e seu fornecimento direto aos funcionários. Conforme já mencionado

neste trabalho, recomenda-se que a utilização dos itens disponibilizados pela

empresas seja exclusiva para o desenvolvimento do trabalho, ficando sua

manutenção também por conta da empresa.

7.2. INTERAÇÃO DO TIME DE PROJETO

A principal observação, no que diz respeito à interação do time do projeto, está

relacionada à falta de contato pessoal entre os teletrabalhadores e o restante da

equipe, o que prejudicaria a distribuição das informações no projeto. Este trabalho

84

mostrou que, por mais avançadas que sejam as ferramentas das tecnologias da

informação e comunicação, elas ainda não substituem o contato face a face em

situações como a transmissão de um feedback; a orientação; a transmissão de

conhecimento; a comunicação informal, com o objetivo de facilitar e agilizar a

resolução de problemas, entre outros. As pessoas se adaptam, com uma velocidade

cada vez maior, à utilização de ferramentas de comunicações eletrônicas, tais como

e-mail, teleconferências, videoconferências e reuniões eletrônicas, mas ainda

necessitam do contato face a face em muitas situações.

Para interação do time de projeto em situações de teletrabalho no domicílio

recomenda-se a utilização de um sistema corporativo alternativo (utilizando

ferramentas disponíveis no mercado de softwares), que permita a inclusão de

eventos, com a possibilidade de anexação de arquivos, que estando armazenados

nos servidores, poderiam ser acessados e trabalhados a partir de qualquer

equipamento conectado à rede corporativa, evitando assim a utilização excessiva do

correio eletrônico (e-mail), que gera gasto exagerado de tempo tanto dos

teletrabalhadores, quanto dos seus gestores, no controle do fluxo de mensagens,

bem como na identificação e acompanhamento de tarefas.

7.3. RECURSOS HUMANOS

A realização de teletrabalho no domicílio permitirá ao trabalhador ter maior

flexibilidade da administração do seu tempo, o que lhe dará maior satisfação,

podendo gerar maior produtividade. As mudanças na rotina do trabalho e nos

modelos de gerenciamento trarão maior independência e autonomia para o

trabalhador. Essa maior independência tem potencial para gerar uma forte auto-

realização, que pode traduzir-se em maior empenho e comprometimento por parte

do trabalhador. Tudo isso contribuirá para a retenção dos membros da equipe ao

longo do projeto, evitando gastos extraordinários de tempo e recurso com a perda de

componentes importantes do time durante um projeto.

85

O empregador deve acompanhar de perto seus teletrabalhadores e estar atento

a possíveis problemas de motivação causados tanto pelo isolamento social, quanto

pela dificuldade de comunicação com os membros da equipe. Esse

acompanhamento é importante para determinar se um membro da equipe está

desmotivado, antes que isto cause impactos no desempenho e no comprometimento

da equipe. Também o desenvolvimento dos recursos humanos será prejudicado pela

distância. Os gestores precisam cuidar para que a transmissão de determinações,

orientações e feedback a teletrabalhadores no domicílio não pareçam muito mais

frias e impessoais, do que ocorreria em uma equipe com contato pessoal

permanente. É fundamental implementar investimentos na área de treinamento à

distância e capacitação específica para funcionários que pretendem trabalhar

remotamente, gestores, e também para os funcionários administrativos que se

envolverão com o sistema de teletrabalho.

O bem-estar dos funcionários teletrabalhando no domicílio depende ainda da

adequação do ambiente de trabalho no domicílio à atividade laboral. As

especificações de quem pode se candidatar a participar deverão conter as

condições necessárias à instalação do posto de trabalho. Será necessário definir as

frequências de inspeções no ambiente de teletrabalho, levando-se em consideração

que a casa do trabalhador não é uma extensão do escritório.

7.4. SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO

O nível de segurança da informação requerido para as atividades de uma

consultoria de projetos de engenharia não exige investimentos extras para utilização

do teletrabalho no domicílio, além daquilo que já é utilizado em uma típica Intranet

corporativa, bem como nos computadores dos trabalhadores no escritório. O

fornecimento dos equipamentos por parte da empresa, com uso exclusivo para as

atividades profissionais, com acompanhamento e manutenção pela equipe da

empresa, garantirá maior segurança da informação no teletrabalho no domicílio.

7.5. QUESTÕES LEGAIS

86

Este trabalho mostrou que, apesar dos esforços recentes, a legislação brasileira

ainda encontra-se atrasada em relação a outros países, no que diz respeito ao

teletrabalho no domicílio. A recomendação para essa questão é seguir o que fazem

as empresas que adotam o teletrabalho no domicílio em países em que não existem

regras claras sobre a questão, as quais elaboram contratos de trabalho negociados

entre as partes, definindo principalmente os seguintes pontos: condições de

participação dos trabalhadores no programa de teletrabalho no domicílio; condições

físicas do posto laboral remoto; regras de utilização de equipamentos instalados no

domicílio; divisão das horas de trabalho entre escritório da empresa e domicílio;

registro das horas de trabalho; equipamentos de trabalho (regras de aquisição e

manutenção); contatos com a empresa (medidas suplementares de interação social);

reembolso de despesas (quantias indenizatórias de gastos domésticos); e condições

para cessação da relação de teletrabalho no domicílio.

Vale ressaltar também que o Brasil mostra sinais de mudanças para o futuro com

o reconhecimento formal do teletrabalho, através do projeto de lei (PL) 4.505/08, em

andamento no Congresso nacional, que objetiva regulamentar o trabalho à distância,

caracterizando como teletrabalho a utilização de mais de quarenta por cento do

tempo de trabalho fora dos locais regulares.

7.6. CONSIDERAÇOES FINAIS

Por tudo o que foi apresentado, conclui-se que sistemas de teletrabalho no

domicílio são aplicáveis a consultorias de projetos de engenharia, trazendo

vantagens para os trabalhadores e para as empresas. O trabalhador teria

considerável melhoria em sua qualidade de vida, com a flexibilidade de horários para

o trabalho e o fim da necessidade do deslocamento casa-trabalho-casa, ficando livre

do estresse e da perda de tempo causados pelo trânsito dos grandes centros

urbanos, com o consequente aumento de sua produtividade. A adoção dessa

sistemática de trabalho por essas empresas possibilitaria a redução do custo direto

com mão-de-obra, resultado do aumento da produtividade dos teletrabalhadores,

87

além de diminuir também os custos indiretos, por conta da redução dos gastos com

imóveis e mobiliário. Vale ressaltar a importância da redução de custos para as

consultorias de projetos de engenharia, que, conforme mostrado neste trabalho,

concorrem em um mercado em que o preço se sobrepõe à diferenciação do serviço,

devendo a empresa buscar reduzir seus custos de produção, operacionalização e

comercialização do serviço, o que possibilitará ao empresário repassar a redução de

custos para o preço final de venda sem, contudo, reduzir a margem de lucro,

melhorando a competitividade da empresa no mercado.

Entretanto, pelos impactos apontados desta sistemática para as comunicações e

os recursos humanos, ressalva-se que essas empresas devem adotar regimes de

teletrabalho no domicílio em tempo parcial, no qual o colaborador trabalha parte do

tempo no seu domicílio e parte no escritório da empresa (por exemplo, quatro dias

da semana em casa e um no escritório), a fim de minimizar os impactos da falta de

comunicação face a face e do isolamento social do teletrabalhador. Ao contrário do

que se pode pensar, tal fato não acabaria com a redução dos custos de instalação

para as empresas, proporcionada pelo teletrabalho, já que elas poderiam substituir

os postos de trabalho individuais dos trabalhadores convencionais por postos de

trabalho coletivos, que seriam divididos por vários trabalhadores em dias alternados.

Por fim, é importante ressaltar a necessidade de mudança no estilo de gestão,

passando de um sistema de controle exclusivo de horários, com supervisão

presencial, para um controle misto de desempenho e horários, com supervisão

remota, em que o teletrabalhador continuaria tendo a flexibilidade de horários

proporcionada pelo teletrabalho, mas precisaria estar disponível para a empresa

durante parte do expediente normal de trabalho, a fim de evitar impossibilidade de

comunicação com um membro da equipe do projeto durante longos períodos.

7.7. DIRECIONAMENTO PARA NOVOS TRABALHOS

Este trabalho tratou os assuntos nele discutidos de forma abrangente, apontando

vários caminhos para novos estudos. As limitações deste trabalho devem estimular a

88

realização de novos estudos, que possibilitem a ampliação do conhecimento sobre o

fenômeno do teletrabalho no domicílio, em especial em consultorias de projetos de

engenharia, e suas implicações para a gestão dos projetos. Considerando o que se

concluiu a partir deste trabalho, propõem-se os seguintes estudos futuros:

� Investigar a possível existência de programas estruturados de teletrabalho no

domicílio em empresas de projetos de engenharia no exterior e analisá-los

através de estudos de casos.

� Desenvolver instrumentos de pesquisa para avaliar as características do perfil

dos funcionários candidatos ao teletrabalho no domicílio em consultorias de

engenharia e sua adaptabilidade ao teletrabalho no domicílio, de acordo com

as características descritas na literatura.

� Desenvolver instrumentos para identificar quais os cargos teriam maiores

chances de se adaptar a programas de teletrabalho no domicílio em

consultorias de projetos de engenharia.

� Analisar, através de estudo de caso, o impacto da falta de contato pessoal

entre os teletrabalhadores e o restante da equipe nos projetos de engenharia.

� Avaliar, através de estudo de caso, os impactos nos projetos de engenharia

causados tanto pelo isolamento social dos teletrabalhadores, quanto pela

dificuldade de comunicação com os membros da equipe.

� Realizar estudos para avaliar a situação jurídica dos teletrabalhadores no

domicílio no Brasil, especialmente considerando a evolução da legislação

trabalhista no país para se adaptar a essa sistemática de trabalho, bem como

avaliando os resultados dos contratos de trabalho em vigência em empresas

que adotaram o teletrabalho no domicílio.

Apesar das limitações deste trabalho, resultado de sua abrangência, espera-se

que sirva de estímulo para futuras pesquisas sobre os temas aqui discutidos, além

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de contribuir como guia para empresas interessadas nessa forma de trabalho. A

realização deste estudo está justificada, no entanto, ao simplesmente promover a

reflexão a respeito da utilização do teletrabalho no domicílio, suas vantagens e

desvantagens, além de sua utilização em uma área que pouco o explora,

considerando uma perspectiva que associa a tecnologia da informação à tendência

de flexibilização das relações de trabalho.

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