FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS IBIRAJARA AUGUSTO LOPES BRAÚNA AVALIAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DO...
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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
IBIRAJARA AUGUSTO LOPES BRAÚNA
AVALIAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DO TELETRABALHO NO DOMICÍLI O EM CONSULTORIAS DE PROJETOS DE ENGENHARIA E SUA
INFLUÊNCIA NA GESTÃO DE PROJETOS
São Paulo, 2010
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IBIRAJARA AUGUSTO LOPES BRAÚNA
AVALIAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DO TELETRABALHO NO DOMICÍLI O EM CONSULTORIAS DE PROJETOS DE ENGENHARIA E SUA
INFLUÊNCIA NA GESTÃO DE PROJETOS
Monografia apresentada à Fundação Getúlio Vargas, como parte das exigências do curso
de MBA Executivo Internacional em Gerenciamento de Projetos, para obtenção
do título de Especialista.
Orientador: Prof. Álvaro Antônio Bueno de Camargo
São Paulo, 2010
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IBIRAJARA AUGUSTO LOPES BRAÚNA
AVALIAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DO TELETRABALHO NO DOMICÍLI O EM CONSULTORIAS DE PROJETOS DE ENGENHARIA E SUA
INFLUÊNCIA NA GESTÃO DE PROJETOS
Monografia apresentada à Fundação Getúlio Vargas, como parte das exigências do curso
de MBA Executivo Internacional em Gerenciamento de Projetos, para obtenção
do título de Especialista.
Orientador: Prof. Álvaro Antônio Bueno de Camargo
BANCA EXAMINADORA
___________________________ _______________________________
Prof. André Baptista Barcaui Prof. Álvaro Antônio Bueno de Camargo
São Paulo, 2010
iv
TERMO DE COMPROMISSO
Eu, Ibirajara Augusto Lopes Braúna, aluno regularmente matriculado no curso
MBA Executivo Internacional em Gerenciamento de Projetos da Escola Brasileira de
Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, declaro que o
conteúdo deste trabalho de conclusão de curso, intitulado Avaliação da Utilização
do Teletrabalho no Domicílio em Consultorias de Pro jetos de Engenharia e sua
Influência na Gestão de Projetos , é autêntico, original e de minha autoria
exclusiva.
São Paulo, 09 de Agosto de 2010.
________________________________________ Ibirajara Augusto Lopes Braúna
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RESUMO
Palavras Chaves: Teletrabalho, projetos de engenharia, escritório de projetos,
gerência de projetos.
Esta monografia analisa a implantação do teletrabalho em consultorias de
projetos de engenharia e o impacto desta ação na gerência dos projetos, avaliando
vantagens e desvantagens, buscando traçar um paralelo com as práticas adotadas
em outros segmentos, que passaram a utilizar o teletrabalho como uma forma de
reduzir custos de instalação, atrair e reter mão-de-obra qualificada, aumentar a
produtividade e proporcionar melhoria na qualidade de vida de seus funcionários.
Este trabalho inicia descrevendo o contexto em que se dará a análise, em
ralação a evolução das relações de trabalho e da tecnologia e sua relação com a
utilização do teletrabalho. Relacionado a este tema, será feita uma revisão da
literatura existente, conceituando o teletrabalho e detalhando aspectos relevantes.
Para avaliar a viabilidade de implantação do teletrabalho em consultorias de
projetos de engenharia, será feita uma análise das atividades desenvolvidas por
essas empresas, considerando também os fatores referentes à gestão de equipes
trabalhando remotamente.
5
ABSTRACT
Key Words: Telework, engineering projects, projects offices, projects managing.
This monograph analyses the implementation of the telework in project
engineering consultancy and the consequences of this fact in project managing,
evaluating its advantages and disadvantages, trying to make correspondences with
the practices adopted in other segments, which decided to use telework as a way of
reducing installation costs, attracting and keeping qualified employees, increasing the
productivity and providing improvements in employees life quality.
This text begins describing the context in what analyses will be done, related to
the evolution of labour relationships and technology and their relation with the use of
telework. Regarding this matter, it will be done a review of the state of the art,
including a definition of telework and its most relevant aspects.
In order to consider the viability of the implementation of telework in engineering
project offices, a review of the activities developed by the main functions will be
performed, considering the factors related to managing teams working remotely.
6
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...............................................................................................9
1.1. APRESENTAÇÃO DO TEMA .......................... .............................................9
1.2. QUESTÃO DA PESQUISA........................... ...............................................11
1.3. METODOLOGIA................................... .......................................................12
1.4. OBJETIVOS ..................................... ...........................................................12
1.4.1. OBJETIVO FINAL .............................. .........................................................12
1.4.2. OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS .................... ............................................12
1.5. RELEVÂNCIA.................................... ..........................................................13
2. CONTEXTO.................................................................................................14
2.1. A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E A GLOBALIZAÇÃO.... ....................14
2.2. EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO ............. ...........................15
2.3. TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO....... ....................16
2.3.1. COMPUTADOR COMO FERRAMENTA DE TRABALHO...... ....................19
2.4. CONSULTORIAS EM PROJETOS DE ENGENHARIA NO BRAS IL..........19
3. TELETRABALHO.................................... ....................................................24
3.1. O TRABALHO REMOTO ............................. ...............................................24
3.2. TELETRABALHO.................................. ......................................................25
3.3. TELETRABALHO NO MUNDO......................... ..........................................28
3.4. TELETRABALHO NO BRASIL ........................ ...........................................29
3.5. TELETRABALHO NO DOMICÍLIO ..................... ........................................31
3.5.1. VANTAGENS DO TELETRABALHO NO DOMICÍLIO...... ..........................31
3.5.2. DESVANTAGENS DO TELETRABALHO NO DOMICÍLIO ... .....................34
3.5.3. INFRAESTRUTURA DO TELETRABALHO NO DOMICÍLIO . ....................36
3.5.4. SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO NO TELETRABALHO NO D OMICÍLIO39
3.6. ASPECTOS LEGAIS REFERENTES AO DIREITO DO TRABA LHO NO
DOMICÍLIO ...............................................................................................................42
3.7. TELETRABALHADOR............................... .................................................46
3.7.1. ATIVIDADES E ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS ADEQ UADAS AO
TELETRABALHO ....................................... ..............................................................46
7
3.7.2. PERFIL DO TELETRABALHADOR................... .........................................49
4. PROJETOS .................................................................................................50
4.1. DEFINIÇÃO DE PROJETO .......................... ...............................................50
4.2. GESTÃO DE PROJETOS CONFORME PMI ............... ...............................50
4.3. GESTÃO DE EQUIPES QUE TRABALHAM REMOTAMENTE ... ..............56
4.4. IMPACTOS DA UTILIZAÇÃO DO TELETRABALHO NO DOMI CÍLIO NA
GESTÃO DE PROJETOS................................. ........................................................59
4.4.1. IMPACTOS NA GESTÃO DA COMUNICAÇÃO ........... ..............................60
4.4.2. IMPACTOS NA GESTÃO DOS RECURSOS HUMANOS ..... .....................64
4.4.3. IMPACTOS NA GESTÃO DE OUTRAS ÁREAS DO CONHEC IMENTO EM
PROJETOS...............................................................................................................70
5. CONSULTORIAS EM PROJETOS DE ENGENHARIA .......... ....................71
5.1. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E BREVE HISTÓRICO NO BRASIL .....71
5.2. CONCORRÊNCIAS COM BASE NO MENOR PREÇO ......... .....................74
5.3. CUSTOS EM EMPRESAS DE CONSULTORIA DE ENGENHARI A ..........75
6. TELETRABALHO NO DOMICÍLIO EM UMA CONSULTORIA DE
PROJETOS DE ENGENHARIA............................. ...................................................77
7. CONCLUSÃO....................................... .......................................................82
7.1. CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO E DOS TRABALHADORE S..........82
7.2. INTERAÇÃO DO TIME DE PROJETO.................. ......................................83
7.3. RECURSOS HUMANOS .............................................................................84
7.4. SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO ....................... .......................................85
7.5. QUESTÕES LEGAIS............................... ....................................................85
7.6. CONSIDERAÇOES FINAIS.......................... ...............................................86
7.7. DIRECIONAMENTO PARA NOVOS TRABALHOS ........... ........................87
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Descrição dos serviços prestados por empr esas de engenharia.
Fonte: Academia Nacional de Engenharia ( www.anebrasil.org.br). ...................21
Tabela 2: Níveis de segurança das informações para empresas utilizando o
sistema de teletrabalho no domicílio. (Adaptado de Machado, 2002) ................41
Tabela 3: Profissões e atividades adequadas ao tele trabalho. Fonte: Lemesle e
Marot (1994) apud Freitas (2008, p. 70). ........... .....................................................46
Tabela 4: Fatores críticos para o sucesso do teletr abalho. Fonte: Kowalski e
Swanson (2005, p.240) adaptado por Freitas (2008, p . 74). .................................58
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1. INTRODUÇÃO
1.1. APRESENTAÇÃO DO TEMA
A estrutura das relações de trabalho modificou-se bastante ao longo da história
da humanidade. A princípio todo o trabalho era artesanal, quando vida e trabalho
confundiam-se completamente, já que as oficinas normalmente ficavam nas próprias
casas e os trabalhadores eram todos da família. Entre os séculos XVIII e XIX, com a
revolução industrial, desenvolveu-se a sociedade industrial, em que as várias
pequenas unidades artesanais transformaram-se em poucas grandes empresas, os
artesãos tornaram-se operários e os locais de vida e trabalho não mais coincidiam.
Uma mudança radical no modo de vida dos trabalhadores, que passam a ter de se
deslocar, muitas vezes grandes distâncias, até o seu local de trabalho, além de
cumprir jornadas fixas de trabalho. Obviamente uma mudança tão profunda não se
deu de modo espontâneo e sem traumas. No entanto, uma vez concretizadas as
mudanças, o novo modo de trabalho transformou-se rapidamente em hábito (De
Masi, 1999).
As grandes transformações ocorridas na área de Tecnologia da Informação e
Comunicação, especialmente nos últimos trinta anos, e a expansão das
telecomunicações, devendo-se destacar o advento da Internet, têm potencial para
levar a mudanças nas organizações e nas relações de trabalho de proporções não
vistas desde a revolução industrial. A massificação dos computadores pessoais e
mais recentemente a popularização da internet representam um grande avanço no
campo da comunicação, eliminando totalmente a barreira da distância.
Todos esses avanços e transformações abrem possibilidades, para que várias
profissões realizem seus trabalhos de forma remota, em um ambiente externo ao
escritório. Apesar disso, atualmente, pela força do hábito, muitos profissionais
consideram perfeitamente normal o fato de precisarem se deslocar de casa ao
10
trabalho, enfrentando muitas vezes várias horas de trânsito nas grandes cidades,
para desempenharem uma tarefa, que poderia ser perfeitamente realizada em um
computador em casa, contando com o auxílio de ferramentas de Tecnologia da
Informação (De Masi, 1999). Conforme afirma De Masi, “nas organizações os
hábitos se transformam em praxe; as praxes viram dogmas; os dogmas, por sua vez,
passam a se constituir em tenazes baluartes contra as mudanças”. No entanto, à
medida que esses avanços tecnológicos tornam-se cada vez mais disponíveis no
dia-a-dia das organizações e das pessoas, é normal que se busque alternativas para
os problemas inerentes aos grandes centros urbanos, especialmente os
relacionados às grandes distâncias entre residência e local de trabalho e o trânsito
caótico, que implicam na qualidade de vida do trabalhador e consequentemente em
sua produtividade. É de se esperar que ocorra com o trabalho nas organizações algo
semelhante ao que se passa nas instituições de ensino, onde existe uma oferta cada
vez maior de cursos à distância, com qualidade equivalente aos cursos presenciais,
que objetivam principalmente resolver os problemas de tempo e deslocamentos dos
estudantes.
O teletrabalho é a modalidade de trabalho em que os colaboradores da empresa
desempenham suas tarefas remotamente, pois sua função independe de localização
geográfica, utilizando recursos de tecnologia da informação para estabelecer contato
com o empregador (NILLES, 1997, p.35). Esse teletrabalho pode ocorrer todos os
dias, em apenas parte dos dias da semana, ou de maneira ocasional a depender de
determinadas circunstâncias pré-estabelecidas.
Embora a adesão a essa forma de trabalho em todo o mundo apresente-se mais
lenta do que o esperado inicialmente, vários autores a colocam como uma
modalidade de trabalho do futuro, destacando suas vantagens para os
colaboradores, para a empresa, para o governo e para a sociedade. De imediato, ao
tratar dessa modalidade de trabalho, pode-se pensar na redução de custos de
instalação para as empresas, na melhoria da qualidade de vida dos colaboradores
com a redução dos deslocamentos no trânsito caótico das grandes cidades, na
diminuição do número de veículos circulando e a consequente redução na emissão
de poluentes.
11
Tratando da importância dessa nova forma de trabalhar, Lojkine, apud Sakuda,
afirma que
(...) o teletrabalho precisa ser compreendido no contexto de um amplo processo de transição, que tem um potencial diferente das outras revoluções: uma mutação revolucionária para toda humanidade, mutação só comparável à invenção da ferramenta e da escrita, no labor das sociedades de classes, e que ultrapassa largamente a da revolução industrial do século XVIII. (Lojkine, 1995, apud Sakuda, 2005)
A área de consultoria de projetos de engenharia, pela grande utilização de
ferramentas de tecnologia da informação, apresenta-se com potencial para a
utilização do teletrabalho. A partir dos anos 90, a simplificação das interfaces e a
diminuição dos custos de computadores e softwares possibilitaram a disseminação
da informática como ferramenta de trabalho nos mais variados campos. A área de
projetos de engenharia, pela complexidade dos trabalhos desenvolvidos, foi uma das
pioneiras nessa ação. Atualmente, quem entra em escritórios de projetos de
engenharia já não encontra pranchetas, folhas de papel vegetal, normógrafos ou
canetas nanquim (ferramentas comuns no passado), já que todos os trabalhos são
desenvolvidos através de computadores. O desenvolvimento da internet possibilitou
ainda a troca de arquivos eletrônicos com clientes e fornecedores e até mesmo
reuniões por videoconferência, o que leva a gradativa redução da necessidade de
deslocamentos entre escritório de projeto, clientes e fornecedores. O uso dos
computadores como ferramentas de trabalho e da tecnologia como meios de
comunicação possibilita que várias funções na área de projetos de engenharia não
necessitem da presença física daqueles que as executam em tempo integral nos
escritórios.
1.2. QUESTÃO DA PESQUISA
Identificados os aspectos de evolução das relações de trabalho, rápido
desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação, grande utilização
de tecnologia no desenvolvimento dos projetos de engenharia chegou-se ao objeto
12
de pesquisa deste trabalho. Desta forma, o foco deste trabalho será direcionado
para responder às seguintes questões: “Quais os pontos relevantes a serem
considerados para a implantação da sistemática do teletrabalho no domicílio em
consultorias de projetos de engenharia no Brasil e qual o impacto disto na gestão
dos projetos?”
1.3. METODOLOGIA
Este trabalho buscará analisar o teletrabalho no domicílio, fenômeno recente,
que ganha destaque com a consolidação da sociedade da informação, e que, apesar
do desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação, ainda apresenta
tímida utilização, em especial no Brasil. Buscar-se-á também concluir sobre a
possibilidade de utilização dessa modalidade de trabalho em consultorias de
projetos de engenharia, avaliando seus impactos na gestão de projetos. Com esses
objetivos, o presente estudo estará embasado em pesquisa bibliográfica nos
assuntos que serão aqui discutidos, considerando livros e trabalhos publicados no
Brasil e no exterior.
1.4. OBJETIVOS
1.4.1. OBJETIVO FINAL
Analisar a possibilidade de utilização do sistema de teletrabalho no domicílio nas
atividades executadas em consultorias de projetos de engenharia, bem como o
impacto desse fato na gerência de projetos.
1.4.2. OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS
Para atingir o objetivo final a que este trabalho se propõe, foram estabelecidos
os seguintes objetivos intermediários:
a) Pesquisar na literatura existente sobre o tema quais os principais pontos que
devem ser considerados a respeito do sistema de teletrabalho no domicílio.
13
b) Analisar empresas de outros setores que já possuem sistemas de teletrabalho
no domicílio implantados.
c) Analisar as atividades executadas nas empresas de projetos de engenharia,
bem como sua estrutura.
d) Verificar os impactos da utilização do teletrabalho no domicílio para a gerência
de projetos.
1.5. RELEVÂNCIA
A utilização de ferramentas de tecnologia da informação nas mais variadas
atividades aumenta a cada ano. Atualmente, em consultorias de projetos de
engenharia, a grande maioria das atividades e uma parcela considerável da
comunicação são realizadas através dessas ferramentas, facilitando o trabalho e
eliminando a barreira da distância. Apesar disso, nas grandes empresas brasileiras
do setor, os funcionários ainda precisam se deslocar diariamente até seus escritórios
para desempenhar suas atividades. Considerando que os deslocamentos nas
grandes metrópoles, onde se situam a maioria das sedes dessas empresas, torna-se
cada vez mais complicado, impactando diretamente na qualidade de vida das
pessoas, o teletrabalho apresenta-se como uma alternativa a ser avaliada.
Outro aspecto a ser considerado é a possibilidade na redução dos custos de
instalação por parte das empresas que empregarem o teletrabalho, já que não
precisarão disponibilizar espaços em suas sedes para aqueles funcionários que
estiverem em regime de teletrabalho. Se for levado em conta que, por causa da
grande ocupação, os preços dos imóveis nos grandes centros aumentam a cada
ano, esse aspecto apresenta-se como mais um ponto relevante.
A relevância deste trabalho reside, portanto, na possível utilização do
teletrabalho no domicílio em uma área em que ainda não é largamente utilizado, o
que trará vantagens benefícios tanto para os colaboradores, com melhoria da
qualidade de vida, quanto para as empresas, com a redução de gastos com infra-
estrutura. Este trabalho será importante também por buscar avaliar a influência do
teletrabalho na gerência de projetos.
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2. CONTEXTO
2.1. A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E A GLOBALIZAÇÃO
As grandes evoluções tecnológicas ocorridas recentemente, em especial na área
das Tecnologias de Informação e Comunicação, introduziram transformações
significativas em todo o mundo. O termo Sociedade da Informação surge no final do
século XX, com o objetivo de caracterizar o novo modelo de organização das
sociedades, onde a informação assume papel fundamental no desenvolvimento
econômico e na vida dos cidadãos. Uma característica essencial dessa nova
sociedade é que as interações sociais não se limitam mais somente aos ambientes
natural e cultural, passando a existir também o ambiente virtual, que elimina a
barreira das distâncias, através de equipamentos cada vez mais sofisticados.
Nessa nova organização, com a exigência de novas capacidades e habilidades,
surge o conceito de capital intelectual , que é determinado pelo capital humano,
medido através do nível de qualificação, habilidades, conhecimentos, e capacidade
de geração de idéias de cada indivíduo, fato que leva as empresas a valorizarem os
recursos humanos.
Crawford (1994), apud Freitas (2008), afirma que
[...] quatro características inerentes ao conhecimento e à informação os tornam recursos únicos e capazes de criar uma nova economia: o conhecimento é passível de difusão e se auto-reproduz; o conhecimento é substituível; o conhecimento é transportável e o conhecimento pode ser compartilhado (2008, p.21).
O grande desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação
contribuiu fortemente para outro fenômeno: a globalização, que se caracteriza por
uma reestruturação global da economia, possibilitada em grande parte justamente
por esses avanços tecnológicos.
15
Conforme destaca Tenório, apud Freitas (2008), dentro da sociedade moderna,
[...] a dimensão econômica constitui um aspecto crucial, e certamente o mais aparente da globalização. Esse aspecto é claramente percebido dentro desse processo através da transnacionalização da produção e do comércio mundiais; da expansão e aceleração dos fluxos financeiros internacionais; e da rapidez e intensidade dos avanços tecnológicos puxados pelos setores das telecomunicações e da informática (2007, p.10).
Os avanços tecnológicos eliminam a barreira da distância e criam a possibilidade
do desenvolvimento de relações no mundo virtual. Essa nova organização leva as
atividades humanas a se desenvolverem em um ritmo cada vez mais intenso,
gerando a necessidade de constante readaptação das pessoas. Os efeitos dessas
mudanças são sentidos em todos os campos da vida social, incluindo o trabalho.
2.2. EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO
As relações de trabalho sofreram profundas mudanças ao longo da história da
humanidade. A revolução tecnológica faz com que as mudanças ocorridas
atualmente difiram profundamente daquelas que aconteceram no passado. A
respeito dessas diferenças, Dowbor afirma que
A revolução atual não é mais de infraestruturas como ferrovia ou telégrafo, ou de máquinas como o automóvel e o torno, mas de sistemas de organização do conhecimento. É a própria máquina de inventar e de renovar tecnologias que está sendo revolucionada. Isto gera um deslocamento acelerado das formas como nos vinculamos com o processo de mudar o mundo. Muda o próprio conceito de trabalho. (2001, p.3).
Conforme afirma Dowbor (2001), essas mudanças no trabalho não são
instantâneas e, além disso, ocorrem em velocidades diferentes nas várias
dimensões envolvidas (as transformações institucionais e jurídicas, por exemplo,
costumam ocorrer de forma bastante lenta), gerando tensões entre segmentos que
buscam mudanças mais rápidas, e aqueles que se sentem seguros na condição
vigente e temem transformações. Esse temor será ainda maior se forem ouvidos
aqueles que maximizam o problema, afirmando que a tecnologia suprimirá o
emprego de forma generalizada, simplificando uma dinâmica mais complexa em que
na verdade parte dos empregos está na verdade sendo substituída, bem como
16
sofrendo mudanças segundo os setores, regiões, níveis de formação da mão de
obra e outras variáveis.
Bridges (1994), apud Freitas (2008), afirma que
[...] o emprego não existirá na realidade econômica do futuro. O que existirá será trabalho, e muito, a ser feito de novas formas. O futuro do trabalho seria a substituição de empregos por situações de trabalho temporárias, pois em uma economia em rápida mutação, o emprego tradicional com suas tarefas pré-definidas, é uma solução rígida para um problema elástico. (1994, p.64)
O que se pode observar atualmente no mundo, em relação às mudanças nas
relações de trabalho, é uma flexibilização das relações trabalhistas. Freitas (2008),
entretanto, adverte que deve-se ter atenção com a aplicação desta flexibilidade, para
que ela não seja utilizada apenas com o objetivo de “denominar a estratégia adotada
na globalização da economia para disfarçar o objetivo principal: a maximização do
lucro”.
Sobre a utilização do teletrabalho com uma das formas de flexibilização do
trabalho, Freitas afirma que esta modalidade de trabalho
[...] surge como alternativa viável uma vez que os aspectos de local e tempo de trabalho, inescapáveis na sociedade industrial, deixaram de ser relevantes na sociedade pós-industrial, com seus arranjos dinâmicos, organizações virtuais, esquemas de trabalho em rede e utilização da tecnologia (2008, p.24).
2.3. TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
O princípio da utilização da computação como ferramenta de trabalho se deu
através da automatização de determinadas tarefas em grandes empresas e nos
meios governamentais. O rápido avanço tecnológico, aliado ao desenvolvimento das
telecomunicações, possibilitou que essa utilização se expandisse, relacionando-se
17
prioritariamente à informação, relegando a automatização de tarefas a uma menor
importância. (Freitas, 2008, p.24)
Rezende (2000), apud Freitas (2008), define o termo Tecnologia da Informação
como
[...] o conjunto de recursos tecnológicos e computacionais para geração e uso da informação. A TI está fundamentada nos seguintes componentes: hardware e seus dispositivos periféricos; software e seus recursos, sistemas de telecomunicações e gestão de dados e informações. (2008, p.25)
Atualmente o foco da Tecnologia da Informação expandiu-se e passou-se a
utilizar o termo TIC - Tecnologia da Informação e Comunicação. Os sistemas de
informação e as redes de computadores tornaram-se ferramentas importantíssimas
na comunicação corporativa. Lévy (1999), apud Oliveira, afirma que novas maneiras
de pensar e de conviver estão sendo desenvolvidas no mundo das tecnologias da
informação e comunicação. “As relações entre os homens, o trabalho, a própria
inteligência dependem na verdade, da metamorfose incessante de dispositivos
informacionais de todos os tipos”. (Oliveira, 2006)
As tecnologias da informação e comunicação evoluem em grande escala e de
forma bastante rápida. Essa evolução tem contribuído largamente para a
comunicação corporativa, com a criação de sistemas, como por exemplo o e-mail, a
agenda de grupo online, os sistemas de compartilhamento de arquivos e as
videoconferências.
Como forma de avaliar a posição de Brasil em relação ao restante do mundo, no
que diz respeito à possibilidade de participar e se beneficiar dos desenvolvimentos
das tecnologias da informação e comunicação, foi consultado o “Global Information
Technology Report”, relatório que tem sido publicado anualmente a partir de 2002,
em uma parceria entre o Banco Mundial, o Fórum Econômico Mundial e o “Institut
Européen d’Administration des Affaires”. Além de índices específicos para vários
assuntos, esse relatório apresenta um índice principal, chamado de "Networked
Readiness Index” (NRI), que objetiva mostrar o grau de desenvolvimento e utilização
18
das tecnologias da informação e comunicação. O NRI brasileiro vinha apresentando
crescimento desde 2003 até 2008, passando de 3.67 para 3.87. No último relatório
publicado (2009-2010), contudo, houve uma queda para 3.80, dando ao país a 61º
posição no ranking de 133 países. Considerando que o país foi classificado no ano
de 2009 como oitava economia do mundo, segundo dados do “World Bank”,
constata-se que o Brasil ainda tem muito a evoluir em relação à utilização das
tecnologias da informação e comunicação. A tabela abaixo apresenta alguns dados
do país, segundo o mais recente “Global Information Technology Report”.
Variáveis Valor Posição no Ranking
Computadores pessoais (por 100 habitantes) 16.12 50 Leis relacionadas às tecnologias da informação e comunicação Essas leis (comércio eletrônico, assinatura digital, proteção ao consumidor são: (1 = inexistentes, 7 = bem elaboradas e aplicadas)
4.43 41
Assinantes de banda larga (por 100 habitantes) 5.26 58 Usuários de Internet (por 100 habitantes) 37.52 50 Mensalidade de assinatura de banda-larga Valor (US$) como percentagem da renda per capita mensal 56.50 76
Acesso a conteúdo digital O conteúdo digital (produtos de conteúdo audiovisual ou de texto) é amplamente acessível via múltiplas plataformas (linhas fixas, internet wireless, internet móvel, etc..): (1 = nenhum conteúdo é acessível, 7 = conteúdo digital é acessível via diversas plataformas).
4.85 58
Visão governamental em relação às tecnologias da informação e comunicação O governo possui um plano de implementação claro para utilizar as TICs para aumentar a competitividade do país. (1 = Nenhum plano, 7 = Plano Claro)
4.15 64
Prioridade governamental em relação a TI (1 = Baixa prioridade plenamente, 7 = Alta prioridade)
4.44 75
Utilização da Internet pelas empresas para as atividades relativas aos seus negócios (1 = Nenhuma, 7 = Extensivamente)
5.44 26
Tabela 1: Alguns índices brasileiros com relação às TICs e suas posições no ranking entre 133 países. Fonte: “Global Information Technology Report” (www.weforum.org/documents/GITR10/index.html).
Considerando a abrangência das aplicações das tecnologias da informação e
comunicação, deve-se buscar utilizá-las de forma inteligente, de modo que possam
colaborar para o desenvolvimento dos trabalhos. A esse respeito, Freitas afirma que
[...] é preciso utilizar ferramentas, sistemas ou outros meios que tornem as informações disponíveis de maneira não apenas mais eficiente, mas também de forma a tornar a experiência do trabalho como algo não sacrificante, mais multidimensional, ao eliminar o trabalho repetitivo e sem sentido. O trabalho se torna mais substantivo. A reengenharia de processos, possibilitada pela utilização de TI, elimina não apenas o desperdício, como também o trabalho não-adicionador de valor. (2008, p.26)
19
2.3.1. COMPUTADOR COMO FERRAMENTA DE TRABALHO
A massificação dos computadores pessoais e mais recentemente a
popularização da internet representam um grande avanço no campo da
comunicação, eliminando totalmente a barreira da distância. Mesmo indivíduos de
gerações nascidas muito antes dessas transformações sentem-se a vontade com a
comunicação via internet.
A partir dos anos 90, a simplificação das interfaces e a diminuição dos custos de
computadores e softwares possibilitaram a disseminação da informática como
ferramenta de trabalho nos mais variados campos. O desenvolvimento da internet
possibilitou ainda a troca de arquivos eletrônicos com clientes e fornecedores e até
mesmo reuniões por videoconferência, o que leva a gradativa redução da
necessidade de deslocamentos entre escritório de projeto, clientes e fornecedores.
A evolução da tecnologia levou o computador a praticamente todas as atividades
e todos os setores da sociedade. A capacidade e velocidade de processamento e a
grande oferta de ferramentas fazem dele um equipamento indispensável para as
atividades profissionais. A oferta de softwares cada vez mais abrangentes e
complexos colabora para a utilização do computador como ferramenta de trabalho.
Recentemente teve início uma nova revolução. A redução dos preços dos
notebooks fez com que o computador se tornasse, nos países desenvolvidos,
realmente pessoal e não mais uma máquina de família, caminho que também tem
sido trilhado nos países em desenvolvimento. As famílias trocam seus desktops
familiares por notebooks individuais. As organizações também trilham esse caminho,
buscando tirar proveito da mobilidade possibilitada pelo notebook, em especial para
aquelas funções que requerem essa mobilidade.
2.4. CONSULTORIAS EM PROJETOS DE ENGENHARIA NO BRAS IL
20
As empresas de serviços de engenharia têm a capacidade de oferecer uma
grande quantidade de serviços a seus clientes, a saber: projeto conceitual, estudo
de viabilidade, projeto básico, projeto executivo, construção civil, fabricação de
equipamentos, montagem industrial e gerenciamento de empreendimentos.
De acordo com a Academia Nacional de Engenharia, considera-se a existência
de quatro setores distintos de serviços de engenharia. O quadro abaixo apresenta
esses setores, a descrição dos serviços realizados, bem como as empresas
prestadoras.
Setor Descrição do Serviço Empresa Prestadora
I
Aquele associado aos serviços que precedem à
construção do empreendimento, ou seja: o que
leva um empreendimento desde a fase de
concepção até a fase de projeto executivo (ou
equivalente, se não for empreendimento
industrial), o pré-investimento.
Empresa de consultoria
II
Aquele associado à construção propriamente
dita, montagem industrial, pré- operação e
colocação em marcha (os dois últimos, no caso
de empreendimento industrial).
Empresas de construção
civil, fábricas de
equipamentos e
empresas de montagem
industrial.
III
Aquele associado a serviços especiais de
engenharia: geotécnica, topografia, hidrologia,
etc.
Empresas
especializadas.
IV
Aquele associado a serviços de gerenciamento,
supervisão e/ou fiscalização e assistência
técnica: gerência de empreendimento, de projeto
e de obras, gerência (e execução se for o caso)
de compras técnicas (procurement), supervisão e
/ou fiscalização (projeto, obras, e/ou compras
técnicas) e assistência técnica (vistorias, laudos,
Empresas de
gerenciamento.
21
avaliações, perícias, etc.).
Tabela 1: Descrição dos serviços prestados por empresas de engenharia. Fonte: Academia Nacional de Engenharia (www.anebrasil.org.br).
De acordo com Coordenação de Comércio e Serviços da Diretoria de Pesquisas
do IBGE a área de Consultoria de Engenharia ou Engenharia Consultiva
[...] é a área da Engenharia que desenvolve e realiza serviços técnicos especializados de natureza predominantemente intelectual, com equipes profissionais multidisciplinares, para a concretização de empreendimentos públicos e privados, atuando nas sucessivas fases ou etapas de sua realização. Fonte: IBGE – Diretoria de Pesquisas – DPE – Coordenação de Comércio e Serviços.
Visto dessa forma, é possível entender as empresas de engenharia consultiva
como importantes polos de concentração de grande parte da competência e da
memória técnica de um país, o que as coloca em uma posição capital no sistema
nacional de inovação.
No Brasil, desde o período pós Segunda Guerra Mundial até a primeira metade
dos anos oitenta, graças ação do Estado como grande investidor e a política
industrial de substituição das importações, o setor de engenharia no país ganhou
importância e cresceu significativamente. O setor de engenharia consultiva
beneficiou-se, dessas ações do Estado, experimentando um crescimento
significativo no final dos anos sessenta e começo dos anos setenta, período do
chamado Milagre Econômico no Brasil e os consequentes investimentos públicos em
infra-estrutura e na indústria de base.
Esse protecionismo do Estado, no entanto, gerava críticas, que incidiam
principalmente nas ineficiências e na má gestão das empresas nacionais, assim
como no gigantismo do Estado, levando a ascensão de novas idéias ao final dos
anos oitenta, que culminaram com a abertura da economia brasileira nos anos
noventa. Reduziu-se, assim, a presença do estado seja como protetor, ou regulador.
22
Com a crise fiscal do País, a segunda metade dos anos oitenta e boa parte dos
anos noventa foram marcadas por uma paralisação quase que completa dos
investimentos públicos, com consequente encolhimento do mercado, impactando
diretamente no setor de engenharia consultiva, que sofreu drástica redução, levando
a dispersão de profissionais e perdas de conhecimento e de competências
essenciais.
O final dos anos noventa trouxe uma nova visão, adotando um meio termo entre
o protecionismo do Estado e a total liberalidade econômica, levando à retomada dos
conceitos de desenvolvimento econômico e social. A volta dos investimentos, no
entanto, não livrou o setor de engenharia consultiva das consequências dos vários
anos de quase total paralisação. As empresas desse setor já tinham sofrido uma
desmobilização irreparável, com a consequente perda de um patrimônio intelectual
inestimável. Como consequência dessa paralisação dos anos oitenta e noventa, o
setor permaneceu sem formar novos profissionais nesse período, de modo que as
empresas de engenharia consultiva no Brasil, de um modo geral, caracterizam-se
por ter uma lacuna de profissionais, que deveriam ter sido formados naquele
período.
Conforme o relatório “Os Serviços de Engenharia no Brasil: Diagnóstico 2004“ da
Academia Nacional de Engenharia – ANE, a Associação Brasileira de Consultores
de Engenharia - ABCE - realiza, desde 1985, levantamentos anuais do mercado
brasileiro de consultoria de engenharia. Observando os números apresentados por
esses relatórios, é possível constatar forte a retração do setor no período 1988 –
2003. Nesse período, enquanto houve uma redução de US$180 bilhões (26,26%) no
PIB brasileiro, ocorreu um decréscimo de 51,92% no patrimônio líquido das
empresas do setor, de 76,57% no seu faturamento e de 68,23% na participação do
faturamento do setor sobre o PIB. Simultaneamente, foram eliminadas 119
empresas do mercado (63,98%) e 47.610 postos de trabalho (79,35%), dos quais,
11.606 de nível superior (para efeito de comparação das variações ocorridas no
período, os valores observados em 1988 foram corrigidos para o ano de 2003 pelo
23
índice de inflação norte-americana). Em 2003, o faturamento das empresas de
consultoria em engenharia brasileiras foi de US$ 530 milhões, com um patrimônio
líquido de US$ 195 milhões, o que revela a grande retração, se comparados com
US$ 2,262 milhões e US$ 406 milhões em 1988, respectivamente.
As limitações fiscais do Estado levaram o Governo Federal a buscar uma nova
forma de realizar os investimentos em infraestrutura demandados pelo
desenvolvimento econômico, sobretudo para atender à esperada retomada do
crescimento. A decisão tomada foi a viabilização de investimentos privados na
implantação e operação dos serviços públicos necessários, o que ocorreu a partir da
criação das chamadas Parcerias Público-Privadas, abrindo novas perspectivas para
a engenharia nacional. Embora empresas de engenharia consultiva, em geral, não
tenham capacidade financeira para assumir isoladamente uma PPP, elas se
beneficiam de parcerias com empreiteiras, operadores dos empreendimentos,
eventuais usuários e instituições financeiras. Outra ação do Estado que contribui
para o aumento de demanda por serviços de engenharia é a chamada Lei de
Licitações (Lei Nº 8.666 de 21/6/1993), que condiciona a execução de obras e
serviços à existência de projeto básico e previsão de recursos orçamentários.
Uma mudança relativamente recente no mercado, que impõe ao setor de
engenharia novos requisitos, inclusive gerenciais e de sistemas, refere-se à
demanda cada vez maior de integração dos serviços de engenharia, englobando
num só pacote a engenharia consultiva, gerenciamento, compras, construção e
posta-em-marcha, além da engenharia financeira (o chamado EPC - Engineering,
Procurement, and Construction).
Mudanças nos mercados, na sociedade, nas políticas públicas, na tecnologia,
entre outros fatores, sempre afetaram e continuarão afetando os chamados serviços
de engenharia. Atualmente um novo desafio que se impõe refere-se à velocidade
com que novos conhecimentos científicos e tecnológicos são gerados, difundidos e
aplicados pelo setor produtivo e pela sociedade em geral. A engenharia, ao mesmo
tempo em que é grande responsável pela concretização das inovações tecnológicas,
24
também é a área que mais sofre os impactos das mudanças por elas provocadas,
seja devido às contínuas exigências de qualificação dos profissionais envolvidos,
seja pelas alterações no ambiente em que se desenvolvem suas atividades.
3. TELETRABALHO
3.1. O TRABALHO REMOTO
Não é possível precisar quando surgiu o conceito de trabalho remoto. Lemesle
(1994), apud Freitas (2008), afirma que, na ficção, o primeiro registro que se tem
conhecimento de trabalho à distância utilizando ferramentas de tecnologia da
informação e comunicação se deu em 1950 na obra intitulada The Human Use of
Human Being – Cybernetics and Society do autor sueco Norbert Wiener. Nessa
obra, o autor apresenta a história de um arquiteto supervisionando uma obra à
distância, através do uso de um fac-símile.
Ainda no campo da literatura de ficção científica, outro autor a escrever sobre o
assunto foi o russo Isaac Asimov, sendo que o caso mais extremo ocorre em sua
obra Naked Sun, em que o isolamento foi levado às últimas consequências, já que
os habitantes do planeta Solaria, não apenas trabalham em casa, mas vivem em
total isolamento, jamais vêem sequer seus vizinhos, mantendo contato com o mundo
apenas através de aparelhos de vídeos holográficos.
Saindo do campo da ficção científica e entrando no mundo real, Kugelmass
(1996), apud Pinto (2003), afirma que o primeiro registro de trabalho à distância
utilizando uma forma de tecnologia de comunicação ocorreu em 1857. Nessa
oportunidade o empresário J. Edgard Thompson descobriu que era possível gerir
suas equipes de trabalho de unidades distantes utilizando o sistema privado de
telégrafo de sua empresa “Penn Railroad”.
25
A respeito do trabalho remoto da forma como é conhecido atualmente, Freitas
afirma que sua origem
[...] ocorreu em 1973, resultado de uma investigação prática sobre a substituição dos transportes pela telecomunicação. Com a crise do petróleo, soluções que reduzissem seu consumo eram amplamente pesquisadas. Jack Nilles é apontado, em todas as publicações que descrevem as origens do teletrabalho como “pai do teletrabalho”, tendo cunhado os termos teleworking e telecommuting, tornando-se um de seus grandes defensores. (2008, p.34)
3.2. TELETRABALHO
Não existe consenso entre os autores sobre uma definição do que pode ser
considerado teletrabalho, mesmo porque o surgimento de novas formas dessa
modalidade de trabalho é frequente. Considerando a definição daquele que é tido
como o “pai do teletrabalho”, pode-se afirmar que essa modalidade de trabalho “é
todo aquele tipo de função que independe de localização geográfica. Utiliza de
ferramentas telecomunicacionais e de informação para assegurar um contato direto
entre o teletrabalhador e o empregador”. (Nilles, 1997, p. 35)
Um dos fortes fatores motivadores para o início do interesse pelos estudos de
teletrabalho refere-se às grandes transformações ocorridas na área de Tecnologia
da Informação, especialmente nos últimos trinta anos, e a expansão das
telecomunicações, devendo-se destacar o advento da Internet, e todas as grandes
transformações para o mundo dos negócios trazidas por este fato.
A maior parte estudos sobre teletrabalho já realizados tomaram como base os
conceitos definidos por Jack Nilles. A grande questão que ele buscou responder
refere-se ao porquê dos trabalhadores precisarem ir ao trabalho, quando, para boa
parte deles, o tipo de trabalho e a tecnologia permitem que estes trabalhem em suas
residências (ou próximo a elas), pelo menos por uma parte do tempo.
26
O sociólogo Domenico de Masi aponta como um obstáculo à implantação do
teletrabalho a dificuldade de romper paradigmas dentro das organizações. Segundo
ele, é este fato que leva um trabalhador a considerar perfeitamente normal o seu
deslocamento diário ao trabalho, enfrentando o trânsito e perdendo inúmeras horas,
para executar no escritório um trabalho que poderia ser realizado em casa. É
justamente este tempo perdido nos deslocamentos, associado a outras questões
como segurança e estresse por conta do trânsito, que se apresentam como fatores
determinantes para implantação de programas de teletrabalho. Esse mesmo
sociólogo afirma que as organizações devem ser reestruturar, com o objetivo de
reduzir esses deslocamentos. Ele afirma que, em muitos casos, não existem
grandes dificuldades em atingir este objetivo, já que
(...) “para milhões de empregados que até hoje chegam diariamente aos escritórios (isto é, um equipamento perfeitamente similar àquele que se pode ter em casa) para gerir as informações que atendem às suas funções, seria fácil reorganizar o trabalho de modo que as informações chegassem ao seu domicílio (ou a uma sede contígua) e não vice-versa” (2000, p. 263).
A relevância do tema teletrabalho pode ser observada pelo interesse em
regulamentar esta modalidade de trabalho dado pela Organização Internacional do
Trabalho (OIT), bem como pelos governos de vários países do mundo. A OIT trata
do tema em sua Convenção nº 177/96, adotada na 83ª Conferência Internacional do
Trabalho, que serve de guia para o reconhecimento do teletrabalho em vários países
do mundo.
Seguindo a tendência mundial, o governo brasileiro publicou, em setembro de
2000, o chamado “Livro Verde”, com o objetivo de alavancar o desenvolvimento da
Sociedade da Informação no país, incluindo ações para acelerar a introdução das
novas tecnologias da informação no ambiente empresarial brasileiro. Esta
publicação é resultado do Programa Sociedade da Informação no Brasil, gerido pelo
Ministério da Ciência e Tecnologia, que iniciou atividades em agosto de 1999 e foi
oficialmente lançado pela Presidência da República em 15 de dezembro daquele
ano. No capítulo 2 dessa publicação, intitulado “Mercado, Trabalho e
27
Oportunidades”, o “Livro Verde” traz as seguintes considerações sobre o
teletrabalho:
“O mercado virtual demanda organizações cada vez mais flexíveis, atuando em redes. O teletrabalho vai ao encontro do desenvolvimento dessas novas modalidades de organização produtiva. Condição para haver teletrabalho é a separação do trabalhador do ambiente tradicional, ou seja, do local físico do escritório, o que desestrutura também o tempo de trabalho: esses trabalhadores passam a dispor de horários flexíveis para realização de suas tarefas. O teletrabalho constitui, também, uma nova abordagem do trabalho por parte dos indivíduos diante da possibilidade de se estabelecerem novos tipos de vínculos e relações de trabalho com os empregadores”. (Brasil, Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000, p. 21)
Nilles (1997) sugere a classificação do teletrabalho em quatro formas, de acordo
com os recursos utilizados e os locais onde as atividades são desempenhadas. Se o
teletrabalho for desenvolvido na própria residência do trabalhador, ter-se-á o
Teletrabalho no Domicílio, em que o escritório do trabalhador em seu domicílio
estará ligando a uma base de dados, que o permitirá comunicar-se com o escritório
por meio de uma tecnologia de comunicação.
Outra forma de teletrabalho se dá através dos centros-satélites de telesserviço,
que são centros de trabalho remoto, reunindo trabalhadores de um só empregador.
Esses centros vão de encontro à necessidade de descentralização, observada por
algumas empresas em grandes metrópoles, como forma de diminuir os
deslocamentos. A diferença desses centros em relação aos escritórios tradicionais
reside na preocupação com a geografia das cidades, para determinar suas
localizações e a composição das equipes que neles trabalharão. Diferentemente dos
centros satélites, os centros locais de telesserviço representam uma forma de
teletrabalho, em que os centros abrigam pessoas trabalhando para diferentes
empregadores, que formam uma parceria para estruturar e manter as instalações de
trabalho remoto.
O teletrabalhador pode ainda trabalhar utilizando uma combinação de trabalho
convencional e uma das formas de teletrabalho, por exemplo trabalhando em seu
domicílio apenas parte dos dias da semana.
28
3.3. TELETRABALHO NO MUNDO
Dimitrova (2003), apud Freitas (2008), afirma ser de difícil avaliação a adoção do
teletrabalho no mundo, dadas as inúmeras definições e classificações que esta
modalidade de trabalho admite. Pyöriä (2003), apud Freitas (2008), considera que a
utilização do teletrabalho atualmente se dá de forma muito mais tímida, do que
aquilo que era esperado nos anos 70.
Os Estados Unidos, em parte pelo desenvolvimento das tecnologias da
informação e comunicação nesse país, estão bem avançados na adoção do
teletrabalho. Conforme Echols (2009), embora com menos intensidade do que se
previa no passado, a utilização do teletrabalho naquele país tem crescido. O autor
cita um levantamento feito pela WorldatWork1, que mostra um crescimento de 43 por
cento no número de teletrabalhadores nos Estados Unidos, atingindo o número de
33,7 milhões de americanos. Deve-se ressaltar que esse levantamento considera
como teletrabalhadores qualquer pessoa trabalhando remotamente pelo menos uma
vez ao mês.
Os Estados Unidos, em relação ao teletrabalho, destacam-se ainda pelo
incentivo dado por seu governo à adoção dessa modalidade de trabalho por
funcionários dos órgãos federais. O Office of Personnel Management (OPM), órgão
federal norte-americano, publica periodicamente um relatório2 sobre o teletrabalho na
administração pública apresentando grande quantidade de informações relevantes.
O relatório mais recente, por exemplo, publicado em Agosto de 2009, mostra que, no
ano de 2008, 102.900 funcionários desenvolveram suas atividades como
teletrabalhadores e que 64 por cento desses funcionários o fizeram com relativa
freqüência (entre um e dois dias por semana ou três ou mais dias por semana).
1 Associação global de recursos humanos, que tem como foco o estudo de compensações financeiras, benefícios, vida no trabalho e outras gratificações, com o objetivo de atrair, motivar e reter talentos (fonte: http://www.worldatwork.org). 2 Disponível em: http://www.telework.gov/documents/tw_rpt05/
29
Dimitrova (2003), apud Freitas (2008), destaca que os números, apresentados
por diversos estudos, sobre teletrabalho no mundo diferem. No entanto, destaca que
em todos os lugares, embora a utilização do teletrabalho ainda seja bastante tímida,
o assunto tem recebido destaque considerável tanto na literatura acadêmica quanto
na popular.
3.4. TELETRABALHO NO BRASIL
O teletrabalho no Brasil não se encontra no mesmo nível de utilização que em
países como os Estados Unidos e os membros da Comunidade Européia. Santos
(2002) afirma que, nesses países,
[...] o teletrabalho é visto como modalidade comum de trabalho e não apenas como alternativa, contando com incentivos e legislação específica. No Brasil ainda não temos uma estatística nacional abrangente e precisa sobre o contingente de teletrabalhadores, sendo que alguns levantamentos foram efetuados de forma isolada. (2002, p. 26).
Di Martino (2004), apud Freitas (2008), sobre as origens do teletrabalho formal
no Brasil, afirma que foram as grandes empresas multinacionais, que já adotavam
programas semelhantes em outros países, que iniciaram a prática dessa modalidade
de trabalho no Brasil. O autor cita como exemplos casos como Kodak, Dupont,
Xerox, Nortel, Semco, Siemens, Alcoa, W/Brazil, AT & T, Price Waterhouse Coopers,
entre outras.
Uma pesquisa publicada pela empresa Market Analysis em Junho de 2008, com
345 trabalhadores em nove capitais, incluindo São Paulo, revela que o teletrabalho
já é adotado por 23% dos funcionários do setor privado. Segundo essa pesquisa,
são 10,6 milhões de teletrabalhadores no País - em 2001, eram apenas 500 mil.
Santos (2002) destaca várias empresas que adotam o teletrabalho no Brasil, das
quais alguns exemplos seguem abaixo:
30
IBM Brasil – No Brasil, a execução das atividades através do teletrabalho pode
se dar de três formas. No mais radical deles, todo o trabalho deve ser desenvolvido
pelos colaboradores em seus domicílios. Na segunda forma, chamada de Projeto
Mobility, os funcionários ficam a maior parte do tempo em campo, mas têm uma
base na empresa. Na terceira forma de teletrabalho aplicada na IBM, os funcionários
possuem celulares e laptops que podem levar para casa e trabalhar à distância, de
acordo com a conveniência do trabalho. (Santos, 2002)
Compaq Brasil – O caso da Compaq é importante, já que sua filial brasileira foi a
primeira unidade da Compaq Corp. a adotar o teletrabalho. Seu programa,
implantado no segundo semestre de 2001, compreende três formas de teletrabalho:
a do trabalho remoto, com obrigatoriedade de presença no escritório uma vez ao
mês; do horário flexível, desde que o funcionário esteja presente no escritório entre
10 horas e 16 horas; e a do escritório virtual, mais direcionado a profissionais das
áreas de vendas, de suporte e de todo o trabalho que mantém contato com os
clientes. (Santos, 2002)
SIEMENS – A empresa iniciou seu projeto-piloto de teletrabalho em 2001. Nesse
programa os funcionários são pré-selecionados, a partir de critérios como: infra-
estrutura da residência, tempo de empresa e cargo. Eles trabalharam 80% do tempo
em suas residências, reservando 20% de seu tempo para realizar atividades
presenciais na empresa, com o objetivo de preservar o vínculo com o grupo.
(Santos, 2002)
Shell - A Shell implantou o teletrabalho no país através do que denominou
“Projeto Office 2001”, com 260 funcionários da área de vendas e de engenharia. A
idéia do projeto surgiu da constatação de que os deslocamentos entre as
residências dos funcionários e o escritório representavam um grande número de
horas improdutivas. Os funcionários designados para participar do projeto
receberam, através de um sistema de comodato, todos os equipamentos
necessários, além de uma verba para ajudar na adaptação física do espaço onde
seria instalado o futuro escritório. Após a validação deste projeto inicial, a Shell
31
fechou todos os escritórios regionais no Brasil, centralizando a administração na sua
sede no Rio de Janeiro. Com a implantação do projeto de teletrabalho, a empresa
conseguiu uma economia anual de aproximadamente um milhão de Reais.
Atualmente, dos 1.600 funcionários da Shell Brasil, cerca 400 funcionários não se
deslocam à sede da empresa. (Santos, 2002)
3.5. TELETRABALHO NO DOMICÍLIO
Essa é a forma de teletrabalho mais difundida. Nesse caso, os suportes de
tecnologia da informação e comunicação devem ser instalados na casa do
trabalhador. Este tipo de trabalho pode ser desenvolvido em diferentes modalidades:
exclusivamente no domicílio do trabalhador, com idas regulares ou irregulares ao
escritório sede, ou alternando períodos entre o trabalho na empresa e na residência
do teletrabalhador, de acordo com as exigências do trabalho.
A maior difusão dessa modalidade de teletrabalho deve-se aos benefícios
oriundos do seu emprego tanto para empresas, quanto para funcionários. Entre
esses benefícios pode-se citar: reduções de custos significativas para a empresa e
para o funcionário; possibilidade de acesso a empregos que, de outro modo,
poderiam não estar disponíveis; ganhos de produtividade e de qualidade de vida
para os funcionários.
Para Nilles (1997), para que uma empresa seja bem sucedida na implantação de
um programa de teletrabalho no domicílio, ela deve buscar definir os seguintes
pontos essenciais: perfil do teletrabalhador domiciliar; período da execução das
atividades na modalidade teletrabalho; departamentos ou seções que farão parte do
programa; condições da implantação do sistema.
3.5.1. VANTAGENS DO TELETRABALHO NO DOMICÍLIO
Sendo uma perspectiva relativamente nova nas relações de trabalho, o
teletrabalho no domicílio ainda não oferece muitos parâmetros para avaliações
aprofundadas sobre suas vantagens e desvantagens, seja para os trabalhadores,
32
organizações, ou governo. No entanto, nas avaliações já realizadas, é possível
observar algumas tendências apontadas pelos autores.
A respeito das vantagens da implantação de programas de teletrabalho no
domicílio nas empresas Domenico de Masi afirma que
(...) para as empresas há benefícios em termos de flexibilidade, produtividade e criatividade; para os trabalhadores há benefícios em termos de autonomia, condições físicas, relações familiares, boa vizinhança e acesso ao trabalho (sobretudo para deficientes físicos,anciãos, donas de casa); para a coletividade, há benefícios em termos de redistribuição geográfica e social do trabalho, redução do volume de trânsito estímulos à criação de novos trabalhos, revitalização dos bairros, redução da poluição e das despesas de manutenção viária, eliminação das horas de pico etc. (Masi, 2001, p.212).
A seguir estão descritas as principais vantagens do teletrabalho para os
trabalhadores, empresas e governo, nos pontos em que existe uma convergência de
idéias por parte dos principais autores.
Vantagens para o trabalhador – Um dos pontos de consenso entre os
estudiosos do teletrabalho refere-se ao aumento de produtividade dos
teletrabalhadores. Santos (2002) informa que a Sociedade Brasileira de Teletrabalho
e Teleatividade - SOBRATT aponta um aumento de produtividade em 30% dos
profissionais brasileiros que aderiram ao teletrabalho, sendo que a causa deste
ganho foi apontada como sendo a melhoria da qualidade de vida que esta
sistemática lhes propicia. Além disso, Kugelmass (1996), apud Santos (2002),
aponta o absenteísmo como uma das causas da baixa produtividade, o que não
ocorre com os funcionários envolvidos com o teletrabalho, pois as maiores causas
das ausências estão relacionadas aos transtornos com deslocamentos e pequenos
contratempos domésticos.
Outra vantagem dessa modalidade de trabalho apontada pelos estudiosos está
no fato de não haver necessidade do deslocamento casa-trabalho-casa, livrando o
trabalhador do estresse e da perda de tempo causados pelo trânsito dos grandes
33
centros urbanos. A flexibilidade de horários também apresenta-se como um atrativo
do teletrabalho no domicílio, contribuindo tanto para o ganho de tempo, quanto para
a produtividade do teletrabalhador. Vendramin & Valenduc (1989), apud Pinto
(2003), por exemplo, apontam como principal vantagem dessa modalidade de
trabalho a possibilidade de melhor gerenciamento do próprio tempo por parte dos
trabalhadores, resultando em mais horas disponíveis para atividades pessoais. Essa
possibilidade de gerenciar melhor o próprio tempo permite que os indivíduos
trabalhem nos seus momentos mais produtivos do dia.
Em resumo, Steil & Barcia (2001), apud Pinto (2003), relatam que as vantagens
potenciais do teletrabalhador são:
- Diminuição dos deslocamentos residência-escritório central, aspecto particular
a grandes metrópoles.
- Maior flexibilidade para coordenar horários de trabalho com prioridades
pessoais e familiares.
- Possibilidades de aproveitar integralmente os períodos de pico individuais de
trabalho (relógio biológico).
- Redução nos custos com transporte, estacionamento e vestuário.
Vantagens para o empregador – Os autores, de um modo geral, colocam a
redução dos custos como a vantagem mais óbvia para a organização que adota o
sistema de teletrabalho. O principal fator observado para essa redução de custos
refere-se à diminuição do tamanho dos escritórios, resultando em menores despesas
com imóveis e mobiliários. Além disso, atrasos são desconsiderados e o
absenteísmo diminui.
Além da redução de custos, a empresa também torna-se mais capaz de
responder a situações de emergência. Mesmo em casos de catástrofes, desde que
as telecomunicações não sejam afetadas, o teletrabalhador não interrompe suas
atividades. A maior flexibilidade organizacional é representada também pela
34
possibilidade de contratação de pessoas qualificadas, independentemente de suas
localizações. Santos (2002) aponta ainda que o teletrabalho possibilita uma melhor
conciliação entre vida pessoal e o trabalho, permitindo a conservação do quadro
funcional, evitando assim custos com recrutamento e treinamento de novos
empregados. Além disso, o mesmo autor afirma que as empresas que adotam o
teletrabalho têm observado maior facilidade em montar equipes de especialistas, por
conta da flexibilidade de local e horário (Santos, 2002, p. 21). O aumento da
produtividade dos trabalhadores, apontada anteriormente, também apresenta-se
como uma vantagem para o empregador.
Vantagens para a sociedade e governo - Os autores apontam também
vantagens para a coletividade pela utilização do teletrabalho. A eliminação dos
deslocamentos casa-trabalho-casa contribui para a redução dos congestionamentos,
da poluição e do consumo de combustíveis. Esse mesmo fator contribuir para um
melhor aproveitamento da mão-de-obra de deficientes físicos ou de incapacitados
temporários. Além disso, a flexibilidade geográfica possibilita a contratação de mão-
de-obra fora dos grandes centros, incentivando também os trabalhadores a viver fora
desses centros, contribuindo assim para uma melhor distribuição geográfica da
renda, além de contribuir para a redução dos preços dos imóveis nas grandes
cidades. (Santos, 2002 p. 22)
3.5.2. DESVANTAGENS DO TELETRABALHO NO DOMICÍLIO
A adoção de um sistema de teletrabalho no domicílio não traz apenas vantagens.
O fato das atividades profissionais serem realizadas na residência do trabalhador
gera também vários problemas, que serão tratados adiante.
Desvantagens para o trabalhador – O primeiro ponto de consenso entre os
estudiosos do teletrabalho diz respeito ao isolamento social do teletrabalhador, que
perde o contato físico com os seus colegas de trabalho. Shamir & Salomon (1985),
apud Pinto (2003), afirmam que, em certos casos, somente os colegas de trabalho
são capazes de entender os problemas enfrentados no escritório e dar o apoio
35
necessário. Por mais que a família do teletrabalhador esteja presente, a
compreensão dos problemas não será a mesma. Como forma de resolver esse
problema de isolamento, algumas organizações têm optado por adotar um sistema
misto, onde os períodos de teletrabalho são intercalados com deslocamentos ao
escritório sede, por exemplo, em uma semana, o trabalhador ficaria quatro dias em
teletrabalho no seu domicílio e um dia no escritório, para resolver problemas que
necessitassem de contato direto com seus colegas.
Outro ponto relevante, relacionado à inexistência do contato humano, refere-se à
perda de qualidade na comunicação, considerando a relevância das comunicações
não-verbal e informal.
Para Grize (1985), apud Pinto (2003),
[...] reduzir a comunicação humana nas empresas a uma simples transmissão de informações corresponde a elidir todo problema do sentido e das significações. Corresponde a esquecer que todo discurso, toda palavra pronunciada ou todo documento escrito se inserem, em maior ou menor grau, na esfera do agir, do fazer, do pensar e do sentir. Significa condenar-se a não poder apreender em profundidade, nem o simbólico organizacional nem a identidade individual e coletiva (2003, p.22).
É necessário observar ainda a importância do espaço destinado ao teletrabalho
no domicílio do trabalhador, principalmente no que diz respeito à adequação desse
espaço ao trabalho e à interferência do trabalho na vida pessoal e vice-versa. Em
relação à fusão entre lar e local de trabalho, Salomon & Salomon (1984), apud Pinto
(2003), destacam que
[...] o fato de não ocorrer o deslocamento do trabalhador de casa para o local de trabalho pode não ser favorável para o indivíduo, pois o deslocamento entre o trabalho e a casa apresenta-se psicologicamente salutar no trajeto, tem-se tempo para se desligar de uma situação (trabalho) e se concentrar em outra situação (casa), ou vice-versa, correspondendo, portanto a uma quebra de possíveis tensões enfrentadas em um local ou em outro (2003, p.21).
36
É necessário ainda destacar que, em muitos casos, os custos de infra-estrutura
(energia elétrica, material de expediente, assistência técnica do equipamento) ficam
por conta do próprio trabalhador.
Desvantagens para o empregador – Os problemas de comunicação,
identificados anteriormente como uma desvantagem para o trabalhador, também
funcionam dessa forma para a organização, no que diz respeito ao feedback,
podendo haver dificuldades dos funcionários na compreensão do que a organização
espera deles. Além disso, existe a questão da supervisão dos teletrabalhadores,
que, em geral, se dá por meio da análise de desempenho do trabalhador na
execução de suas tarefas, devendo haver um bom nível de confiança da chefia no
trabalhador, já que deixa de existir o controle de frequência.
Além das questões relacionadas à relação com o trabalhador, existem também
aquelas referentes à infraestrutura. Normalmente as empresas que adotam o
teletrabalho precisam investir em segurança para o tráfego de informações via
internet ou em sistemas dedicados de comunicação. Além disso, na fase de
implantação de um sistema de teletrabalho, existe um aumento dos custos da
empresa, relacionados à montagem da infra-estrutura necessária para a gestão e
execução de tarefas remotas. A forte dependência tecnológica pode também
apresentar-se como um problema, já que a indisponibilidade de qualquer das
ferramentas utilizadas pode tornar as atividades de teletrabalho temporariamente
inexequíveis.
3.5.3. INFRAESTRUTURA DO TELETRABALHO NO DOMICÍLIO
O objetivo do teletrabalho no domicílio está relacionado à substituição dos meios
de transporte (que conduzem o indivíduo até o trabalho), pelas tecnologias da
informação e comunicação (que levam o trabalho até o indivíduo). São essas
tecnologias que possibilitam a transferência eletrônica do trabalho, comutando o que
se deve realizar e enviando o resultado do trabalho para o escritório central ou para
outros locais de interesse do empregador (Oliveira, 1997, apud Pinto, 2003).
37
Para que uma organização adote um programa de teletrabalho no domicílio é
necessário que os potenciais teletrabalhadores tenham acesso a uma série de
tecnologias, que vão desde o telefone, até o computador (preferencialmente
notebook, para trabalhos externos), acesso a internet rápida, monitor, nobreak, além
de uma grande variedade de aplicativos de groupware.
O conceito de groupware diz respeito a softwares para trabalho colaborativo,
implementados em redes de computadores, de forma a possibilitar que grupos de
pessoas trabalhem à distância, em um mesmo documento ou projeto. Com essa
finalidade, vários fabricantes de softwares têm incluído em seus produtos acesso a
Internet/intranet, criação de documentos conjuntos e outras facilidades,
fundamentadas nos conceitos de groupware, de forma a possibilitar a comunicação
e coordenação das atividades dos grupos de trabalho e a cooperação entre os
usuários finais, onde quer que os membros de uma equipe estejam localizados.
Outra vantagem dessas ferramentas é que os membros de uma equipe podem
colaborar em projetos conjuntos, no mesmo momento ou em momentos diferentes,
e, no mesmo lugar ou em lugares diferentes (O’Brien, 2001, p. 230-231, apud
Santos, 2002, p. 81).
O teletrabalho impõe também a utilização de um eficiente sistema de
comunicação entre os teletrabalhadores e seus gestores. A esse respeito das
ferramentas de comunicação eletrônica, Santos (2002) ressalta a importância de se
evitar a utilização excessiva do correio eletrônico (e-mail), que gera gasto exagerado
de tempo tanto dos teletrabalhadores, quanto dos seus gestores, no controle do
fluxo de mensagens, bem como na identificação e acompanhamento de tarefas, se o
e-mail for utilizado para esse fim. Santos (2002) sugere a utilização do e-mail apenas
como ferramenta de comunicação, ficando a inclusão, execução e acompanhamento
de tarefas a cargo de um sistema corporativo alternativo (utilizando ferramentas
disponíveis no mercado de softwares), que permita a inclusão de eventos, com a
possibilidade de anexação de arquivos, que estando armazenados nos servidores,
38
poderiam ser acessados e trabalhados a partir de qualquer equipamento conectado
à rede corporativa.
Ainda com relação à utilização de ferramentas de comunicação eletrônica no
teletrabalho, Santos (2002) ressalta a importância da utilização de boletins
eletrônicos, transmitidos via e-mail de forma sistemática e periódica, como forma de
transmitir notícias da empresa, instruções gerais e mostrar para o teletrabalhador
que ele faz parte de uma equipe.
Além dessas, Santos (2002) menciona ainda as ferramentas de conferências
eletrônicas, que objetivam ajudar os membros da equipe a se comunicarem e
colaborarem enquanto trabalham conjuntamente, além dos fóruns de discussão,
através dos quais os membros da equipe podem trocar informações, divulgar textos,
realizar votações e brainstorms, entrelaçando as cadeias de contribuições sobre um
mesmo tema.
Outra ferramenta de comunicação eletrônica que torna-se cada vez mais
acessível e que é de grande importância para o teletrabalho é a videoconferência,
que é uma conferência de vídeo e áudio em tempo real, através da internet, com a
utilização de webcams (câmeras digitais acopladas aos computadores). Além da
importância de se ter a imagem da pessoa com quem se fala, podendo avaliar seus
gestos e expressões, essa ferramenta torna-se ainda mais importante devido à
possibilidade de alguns softwares da utilização de recursos de whiteboarding
(quadro branco), permitindo que os membros da conferência possam compartilhar,
marcar e revisar desenhos, documentos e outros materiais exibidos em seus
monitores.
Finalmente, para o sucesso do teletrabalho no domicílio, o ideal é que os
teletrabalhadores possuam em suas residências uma boa infraestrutura, com locais
bem definidos para realização do trabalho, de modo a separar as atividades
profissionais das familiares. Esses espaços devem contar com mobiliário equivalente
39
àquele disponível nos escritórios da empresa, ergonomicamente ajustados para
cada teletrabalhador.
3.5.4. SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO NO TELETRABALHO NO
DOMICÍLIO
Uma das preocupações das empresas para implantação de programas de
teletrabalho no domicílio diz respeito à questão da segurança das informações, ou
seja, a mesma tecnologia que viabiliza o teletrabalho pode ser a fonte de problemas,
já que existem riscos referentes à integridade, confidencialidade e disponibilidade
das informações das organizações. No que diz respeito à segurança das
informações e a questões de hardware e software, os computadores dos
teletrabalhadores geralmente recebem pouco ou nenhum acompanhamento por
parte dos empregadores (Oliveira, 1996, apud Machado, 2002).
A tecnologia dispõe de ferramentas para aumentar a segurança das informações
em situações de teletrabalho no domicílio. Machado (2002) propõe um modelo com
três níveis de segurança, com base nas diferentes necessidades das empresas,
considerando também os custos de implementação e gerenciamento. Esses níveis
são definidos pelo autor de acordo com o quadro abaixo:
NÍVEL DE
SEGURANÇA EMPRESA ALVO
CARACTERÍSTICAS E
FERRAMENTAS
1
Destinado a empresas
com baixo índice de
riscos e ameaças.
- Nível básico de segurança.
- Arquitetura de segurança simples na
empresa.
- Ferramentas de uso mais freqüente e
de mais fácil implementação.
- Não existe grande diferença entre um
40
sistema de teletrabalho e uma típica
Intranet corporativa.
- Presença de um firewall e um antivírus
na empresa e no computador do
teletrabalhador.
- Uso de VPN para criptografia das comunicações.
2
Destinado a
organizações
governamentais, bancos
e instituições financeiras,
teletrabalhadores móveis
e suporte remoto ao
sistema.
- Exige maior investimento financeiro e
operacional.
- Inclui todos os itens previstos para o
Nível 1, além de outros mais
complexos, tais como:
• DMZ (Demiliteried Zone – Zona
Desmilitarizada) para
disponibilização de serviços
pouco seguros;
• Sistema de detecção de intrusos
(IDS);
• Sistema de certificação digital
(PKI).
3
Destinado a
organizações militares,
comunidades de
inteligência e
organizações policiais.
- Valor das informações e o grau de
risco justificam a aplicação de
ferramentas extras de forma a
maximizar a segurança.
- Maior custo de implementação e
gerenciamento.
- Inclui todos os itens previstos para o
Nível 2, além de outros mais
complexos, tais como:
• Mais de um firewall entre a rede
interna e a rede externa.
41
Tabela 2: Níveis de segurança das informações para empresas utilizando o sistema de teletrabalho no domicílio. (Adaptado de Machado, 2002)
Estabelecido o nível de segurança, Machado (2002) define ainda uma série de
medidas a serem tomadas para garantia da segurança da informação em um
sistema de teletrabalho no domicílio. No que diz respeito aos recursos, é importante
que seja definido se os equipamentos básicos e o canal de comunicação, que serão
utilizados para o desempenho das atividades de teletrabalho no domicílio, serão
fornecidos pela empresa ou devem ser disponibilizados pelo teletrabalhador, sendo
recomendável que esses itens sejam de uso exclusivo para as atividades
profissionais do teletrabalhador. Além disso, deve-se especificar as inspeções que
serão realizadas pela equipe de segurança no sistema do teletrabalhador e com que
frequência isso será feito, com objetivo principal de localizar e eliminar vírus e outras
ameaças semelhantes. Os aplicativos necessários às atividades do teletrabalhador,
incluindo os aplicativos de segurança e comunicação, devem ser instalados pela
equipe de segurança das informações do empregador. Se os equipamentos forem
fornecidos pela empresa para uso exclusivo nas atividades profissionais do
teletrabalhador, a equipe de segurança das informações deve limitar a interferência
do usuário, bloqueando, por exemplo, a instalação de softwares.
Independentemente da procedência dos equipamentos, o suporte ao teletrabalhador
deve ser fornecido pela equipe de informática ou pela equipe de segurança do
empregador, conforme a necessidade, devendo o teletrabalhador reportar
imediatamente à equipe de segurança, quaisquer ocorrências que possam estar
relacionadas a riscos para a segurança da informação no sistema. Adicionalmente, o
teletrabalhador deve preencher relatórios periódicos, informando eventuais
ocorrências no sistema relacionadas à segurança, desempenho e funcionalidade,
com o objetivo de aperfeiçoar o sistema. Com relação ao acesso do teletrabalhador
à rede do empregador, deve ser especificado o período e os direitos de acesso,
assim como a política de senhas. Em caso de indisponibilidade do sistema, seja por
falhas no computador do teletrabalhador, no sistema da empresa ou no canal de
comunicação devem existir procedimentos de contingência, definindo o que deve ser
feito. Seguidos esses procedimentos, é de se esperar que as informações em um
sistema de teletrabalho não estejam sujeitas a riscos maiores do que aqueles
existentes em um sistema convencional de trabalho.
42
3.6. ASPECTOS LEGAIS REFERENTES AO DIREITO DO TRABA LHO NO
DOMICÍLIO
Um dos pontos comuns de preocupação entre os autores a respeito da adoção
do teletrabalho, refere-se à inexistência de tratamento específico sobre o assunto na
legislação trabalhista. Lavinas et al (1998), apud Freitas (2008), apresentam os
resultados de um relatório elaborado pela Organização Internacional do Trabalho
(OIT) sobre trabalho no domicílio, no qual buscou-se analisar a proteção dada pela
legislação aos trabalhadores sob essa condição em mais de cento e cinquenta
países. Freitas (2008) afirma que nesse documento
[...] OIT não se furta a reconhecer que as legislações analisadas são, de modo geral, muito imprecisas quanto à condição jurídica dos trabalhadores a domicílio, enfatizando o vazio jurídico no que se refere à relação entre o empregador e esse tipo de trabalhador. (2008, p. 63)
O referido documento aponta o Brasil como um país em que a legislação
trabalhista se estende aos trabalhadores no domicílio, visto que não se distingue o
trabalhador por seu local de trabalho. Em relação ao local de trabalho, o artigo 6° da
CLT - Consolidação das Leis do Trabalho – dispõe o seguinte:
Art. 6°- Não se distingue entre o trabalho realizad o no estabelecimento do empregador e o executado no domicílio do empregado, desde que esteja caracterizada a relação de emprego.
No que diz respeito à definição da condição de empregado, dispõe o artigo 3° da
CLT:
Art. 3°- Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.
43
A partir da análise desses dois artigos, Freitas (2008) depreende que a relação
de emprego é caracterizada por três fatores, quais são: 1- Prestação de serviços de
natureza não eventual; 2- Relação de subordinação ao empregador e 3- Trabalho
executado mediante pagamento.
No entanto, apesar daquilo que dispõem os artigos 3º e 6º da CLT, Freitas
(2008) afirma que
[...] o assalariamento formal em domicílio não está previsto ou mesmo regulamentado no restante da lei. O emprego independente de um local de trabalho é causa de grande insegurança jurídica tanto para o trabalhador quanto para a empresa. (2008, p. 63)
As conclusões a que se chega em relação a todo e qualquer trabalho no
domicílio podem ser estendidas ao teletrabalho. É necessário ressalvar, no entanto,
que enquanto o primeiro já é reconhecido, ainda que por comparação, na legislação
trabalhista brasileira, o segundo ainda é considerado matéria nova e polêmica no
direito do trabalho.
Analisando a situação jurídica do teletrabalho em outros países, Souza (2009)
reconhece os Estados Unidos como estando “deveras adiantados em se tratando de
legislação acerca do teletrabalho”. Essa autora afirma que, naquele país,
[...] os trabalhadores, telecommuters, estão protegidos pelas maiores leis trabalhistas americanas, a saber: a Lei Federal ou Ato de Normas de Trabalho Justas – FLSA (Fair Labor Standards Act), o Código de Trabalho da Califórnia e o Ato de Segurança e Saúde Ocupacional – OSHA (Occupational Safetyand Health Act). (SOUZA, 2009, p. 20)
Em relação aos países da União Européia, estes assinaram, em Julho de 2002,
um acordo sobre as condições para regularização do teletrabalho naqueles países.
Tal acordo estabelece o teletrabalho como sendo a atividade na qual o funcionário
trabalha de forma regular fora das bases do empregador, fazendo uso de
tecnologias da informação e comunicação. Esse acordo afirma ainda que o
teletrabalho deve ser voluntário, podendo o teletrabalhador voltar a forma
44
convencional de trabalho a qualquer momento, sob solicitação do funcionário ou do
empregador. Além disso, os teletrabalhadores se beneficiarão dos mesmos direitos e
condições daqueles que trabalham na forma convencional, o que significa que os
empregadores permanecem responsáveis pela saúde e segurança dos
trabalhadores sob essa modalidade de trabalho, em conformidade com a legislação
convencional vigente. Também os empregadores devem prover os teletrabalhadores
de todos os equipamentos necessários ao trabalho, além de serem os responsáveis
pela segurança dos dados 3.
Freitas (2008) afirma que, nos países que definem apenas regras gerais para a
atividade laboral, as condições para o teletrabalho são definidas por contratos de
trabalho negociados entre as partes, citando como exemplo o celebrado pela IBM
Deutshland Gmbh. Sobre esse acordo, a autora afirma que
[...] é composto por um corpo principal, um anexo e uma “circular”. O acordo propriamente dito contém um preâmbulo – que enfatiza valores empresariais, pessoais e ecológicos – e oito capítulos relativos, respectivamente, a condições gerais (regras salariais em caso de criação de um posto de trabalho externo); condições de participação (regras de formalização do acordo individual); horário e local de trabalho (divisão das horas de trabalho entre instalações do empregador e domicílio); registro das horas de trabalho (previsão de um livro especial para a inscrição dos períodos de atividade); equipamentos de trabalho (regras de aquisição e manutenção); contatos com a empresa (medidas suplementares de interação social); reembolso de despesas (quantias indenizatórias de gastos domésticos); e cessação da relação de teletrabalho (limites compensatórios). O anexo refere-se a temas como privacidade, proteção de informações, responsabilidade civil da empresa, etc. Finalmente, através de circular interna são especificadas as condições físicas do posto laboral deslocalizado, regras de utilização de equipamentos instalados no domicílio, entre outras informações necessárias para que o funcionário opte por candidatar-se ao teletrabalho. (Freitas, 2008, p. 64)
O Brasil é reconhecido por ter uma legislação trabalhista ultrapassada e pouco
maleável, o que representa uma grande barreira diante da necessidade do país
acompanhar as mudanças que caracterizam a economia moderna, assim como as
3 Telework Agreement No. 44, September/October 2002. Acesso em 26/04/2010. www.ilo.org/public/english/bureau/inf/magazine/44/news.htm
45
modificações necessárias para fazer frente à crescente concorrência gerada pela
globalização.
Tratando da relação entre a falta de regulamentação especifica para o
teletrabalho e o impacto disso na difusão dessa modalidade de trabalho no Brasil,
Freitas (2008) afirma que
[...] como teletrabalhadores e empregadores não são adequadamente amparados pela legislação atual, sentem-se inseguros e em vários casos, injustiçados. O empregado sofre uma série de riscos, como a precariedade do trabalho, possibilidades de abuso por parte do empregador, não pagamento de horas extras efetivamente trabalhadas, etc.. Já os empresários temem ser acionados na justiça, pois consideram que a legislação brasileira beneficia muito o trabalhador.
[...] Devido a essa deficiência em nosso arcabouço legal, as empresas que decidem adotar programas de teletrabalho utilizam-se de contratos de trabalhos específicos, os contratos por atividade, nos quais são determinados quais os direitos e deveres de ambas a partes. Conforme Lavinas et al. (1998, p.9), “a noção de contrato implica duas retóricas contraditórias de liberdade. Por um lado, restringe liberdades por delimitar reciprocidades que cada parte compromete-se a respeitar. Por outro, garante um espaço de segurança no interior das relações sociais”. (2008, p. 66)
Apesar dessa rigidez, o Brasil mostra sinais de mudanças para o futuro com o
reconhecimento formal do teletrabalho. Em andamento no Congresso nacional, o
projeto de lei (PL) 4.505/08, do deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB/ES),
objetiva regulamentar o trabalho à distância, caracterizando como teletrabalho a
utilização de mais de quarenta por cento do tempo de trabalho fora dos locais
regulares.
Conforme Souza (2009), pela proposta, a relação de emprego no teletrabalho
será regida pela CLT, concedendo ao teletrabalhador direitos, tais como salário,
férias, feriados, licenças e faltas por doença. O projeto estabelece também que não
são cabíveis horas extras para teletrabalhadores, visto que os mesmos exercem
jornada livre.
46
Em consulta ao sistema de acompanhamento de projetos de lei no Congresso
em 26/04/2010, verificou-se que o PL 4505/08 encontra-se em análise pela
Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público, apresentando seguinte
status: “Parecer da Relatora, Dep. Manuela D'ávila (PCdoB-RS), pela aprovação,
com emendas”.
3.7. TELETRABALHADOR
3.7.1. ATIVIDADES E ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS ADEQ UADAS
AO TELETRABALHO
A respeito das profissões e atividades adequadas ao teletrabalho, Freitas (2008)
afirma que, em princípio, ele pode ser adotado por todas aquelas que não se refiram
à produção e distribuição de bens materiais. Lemesle e Marot (1994), apud Freitas
(2008), classificam essas profissões de acordo com a tabela abaixo:
Tipo de trabalho Área de atuação profissional
Produção da informação Profissões científicas e técnicas; compilação de informação e consultoria.
Tratamento da informação
Digitação; secretariado; tratamento de texto e edição eletrônica; corretagem; programação; realização de relatórios e controle e supervisão.
Distribuição da informação Educação; espetáculos; "media"; publicidade; vendas e marketing.
Exploração e manutenção dos sistemas de informação
Informática; "hot line" e exploração e manutenção das telecomunicações.
Tabela 3: Profissões e atividades adequadas ao teletrabalho. Fonte: Lemesle e Marot (1994) apud Freitas (2008, p. 70).
Mesmo nessas profissões, é preciso considerar que, conforme afirma Nilles
(1997), para que um programa de teletrabalho no domicílio em organização tenha
sucesso é necessário que, entre outras coisas, seja analisado o grau de eficiência
com que as atividades desempenhadas por determinada função podem ser
realizadas no domicílio e quanto desse trabalho precisa ser feito na empresa,
estabelecendo uma divisão do tempo do trabalho nesses dois locais.
47
Além da análise de profissões e tarefas, Cardoso (2000) afirma que deve ser
observada também a estrutura organizacional. Mintzberg (1995), apud Cardoso
(2000), define a estrutura de uma organização como “a soma total das maneiras
pelas quais o trabalho é dividido em tarefas distintas e como é feita a coordenação
entre essas tarefas”. Cardoso (2000) adota o modelo de Mintzberg (1995), que
especifica cinco estruturas organizacionais, quais são: a estrutura simples, a
burocracia mecanizada, a burocracia profissional, a forma divisionalizada e a
adhocracia.
Por seu ambiente de atuação simples e dinâmico, a organização empreendedora
representa o melhor exemplo da estrutura simples. Normalmente apresentam
estrutura administrativa simplificada, centralizada no principal executivo. Wright e
Oldford (1995), apud Cardoso (2000), colocam as pequenas empresas como
provavelmente as mais adequadas para a implantação de programas de
teletrabalho.
Mintzberg (1995), apud Cardoso (2000), considera as burocracias mecanizadas
como estruturas funcionando como máquinas reguladas e integradas, dominadas
pela mentalidade controladora, onde se executa trabalho rotineiro e altamente
padronizado, sendo caracterizadas por ambientes simples e estáveis. Cardoso
(2000) aponta o fato de o trabalho ser rotineiro como um aspecto positivo à adoção
do teletrabalho. Por sua vez, a característica controladora representa um obstáculo a
essa modalidade de trabalho, pela resistência das lideranças em gerenciar pessoas
fora do seu campo de visão. Analisando as características dessa estrutura, Cardoso
(2000) conclui que nela os fatores impeditivos à adoção do teletrabalho superam
aqueles considerados favoráveis.
A burocracia profissional é um arranjo estrutural encontrado em organizações
caracterizadas, segundo Mintzberg (1995), apud Cardoso (2000), “por atuarem em
ambiente estável, mas complexo, pela padronização de habilidades de seus
profissionais, que possuem considerável controle sobre seu trabalho, com processos
48
de trabalho que não são planejados ou padronizados e pela descentralização
horizontal e vertical”. Entre essas organizações estariam universidades, escolas,
hospitais, firmas de auditoria, entre outras. Cardoso (2000) considera essas
organizações como tendo a possibilidade de adoção do teletrabalho, porém com
restrições, dada a necessidade de contato pessoal na execução das atividades.
Cardoso (2000) estende as suas conclusões sobre teletrabalho em organizações
estruturadas como burocracias mecanizadas para aquelas sob a forma
divisionalizada, proposta por Mintzberg (1995), uma vez que esta estrutura se
caracteriza por divisões, acopladas por meio de uma estrutura central administrativa,
sendo que essas divisões normalmente estruturam-se como na configuração
presente na burocracia mecanizada.
Mintzberg (1995), apud Cardoso (2000), descreve a adhocracia como
“a estrutura para uma população crescentemente mais bem instruída e mais especializada, e ainda sob constante exortação de adotar a abordagem de ‘sistemas’ [...]. É a estrutura para ambientes que cada vez se tornam mais complexos e demandam por inovações e, também, para sistemas técnicos mais sofisticados e grandemente automatizados” (Mintzberg, p. 271, apud Cardoso, p. 26).
Essa estrutura caracteriza-se principalmente por um ambiente complexo e
dinâmico, que não utiliza formas de padronização e divisão do trabalho, havendo
grande especialização do trabalho. Para efeito de administração interna, Cardoso
(2000) afirma que os especialistas são agrupados em unidades funcionais, enquanto
que para realização do trabalho, agrupam-se os especialistas em equipes de projeto,
que duram somente o tempo de execução destes intentos. Em relação às
organizações sob essa estrutura, Morgan (1996) afirma que
[...] as adhocracias atualmente proliferam em empresas inovadoras, nas indústrias aeroespacial e eletrônica, bem como em todos os tipos de companhias orientadas por projetos, tais como firmas de consultoria, agências de propaganda e indústria cinematográfica” (Morgan, p.59, apud Cardoso, p. 27).
49
Por suas características, Cardoso (2000) destaca as organizações estruturadas
sob a forma de adhocracia como sendo as mais propícias para a adoção do
teletrabalho.
3.7.2. PERFIL DO TELETRABALHADOR
Freitas (2008) destaca que são necessárias qualificações específicas, para que
um trabalhador tenha sucesso no sistema de teletrabalho. Entre as características
importantes, que definem o perfil do teletrabalhador, destacam-se: motivação,
disciplina, organização, adaptabilidade para trabalhar com isolamento social,
capacidade de equilibrar o trabalho com outras responsabilidades, determinação,
capacidade de decisão, desenvoltura para lidar com as tecnologias da informação e
comunicação, planejamento, comprometimento com prazos, confiança e iniciativa
(Freitas, 2008, p. 71).
Belanger e Collins, apud Guedert (2005), apresentam três características, que
consideram essenciais para o sucesso de um teletrabalhador. Em primeiro lugar
colocam a capacidade de o indivíduo trabalhar isolado do mundo, resolvendo
problemas e concentrando-se no trabalho. Em seguida destacam a automotivação e
autodisciplina para a execução do trabalho sem a supervisão direta. Por fim,
consideram também de extrema importância a habilidade de comunicação para
manter contato com clientes, fornecedores e colegas de trabalho, reduzindo dessa
forma o sentido de isolamento.
Além dessas características, outras apresentam-se na literatura como fatores
importantes para a adaptação do teletrabalhador, tais como: o fato dele ser
voluntário e não obrigado a aderir a essa modalidade de trabalho; a familiariedade
com as políticas e procedimentos da organização; tempo mínimo de experiência em
suas funções (a ser definido de acordo com a complexidade das funções); ter boas
50
habilidades de administração de tempo; capacidade de trabalhar sem feedback
constante.
4. PROJETOS
Para a avaliação da utilização do teletrabalho no domicílio na atividade de
consultorias de projetos de engenharia, será feito um breve estudo sobre projetos e
sua gestão conforme PMI (Project Management Institute) e sobre as particularidades
da gestão de equipes que trabalham remotamente.
4.1. DEFINIÇÃO DE PROJETO
O guia PMBOK (Project Management Body of Knowledge), publicado pelo PMI
(Project Management Institute) define projetos como empreendimentos temporários
realizados para criar um produto, serviço ou resultado único (PMI, 2008). Por
temporário entende-se que um projeto deve ter início e fim definidos,
independentemente de sua duração, que pode ser de alguns dias, ou vários anos.
Uma equipe de projeto é formada com o único propósito de trabalhar, para que os
objetivos daquele projeto específico sejam atingidos. Com o fim do projeto, seja pela
consecução de seus objetivos ou por qualquer outra razão, a equipe do projeto é
desmobilizada, sendo seus membros envolvidos em um novo projeto ou devolvidos
às suas atribuições originais na organização. A unicidade de um projeto faz com que
existam inúmeras incertezas em sua execução, levando a necessidade de uma série
de medidas, para que seja bem sucedido, tais como: a definição de objetivos; a
realização de um planejamento de execução; a estimativa dos custos e dos recursos
humanos e materiais e a elaboração de um cronograma, delimitando o ciclo de vida
do projeto.
4.2. GESTÃO DE PROJETOS CONFORME PMI
51
O guia PMBOK define o gerenciamento de projetos como aplicação de
conhecimento, habilidades, ferramentas e técnicas às atividades do projeto, de
forma a fazer com que seus objetivos sejam alcançados (PMI, 2008). A fim de que o
gerenciamento eficaz de um projeto seja alcançado, o PMI define ainda grupos de
processos que devem ser aplicados, quais são: Iniciação; Planejamento; Execução;
Monitoramento e Controle; Encerramento. Abaixo estão brevemente descritos cada
um desses grupos de processos de acordo com o PMBOK (2008).
O grupo de processos de iniciação está relacionado à obtenção de autorização
para início de um novo projeto ou de uma nova fase de um projeto existente. É
nesses processos que o gerente do projeto é selecionado, ocorrendo também a
definição inicial do escopo, resultando em uma visão macro de tempo e custos.
Todas essas definições compõem o Termo de Abertura do Projeto, cuja aprovação
marca o início do projeto.
Os processos de planejamento desenvolvem o plano de gerenciamento do
projeto e outros documentos que serão utilizados na condução do projeto. Os
processos de planejamento são iterativos e ocorrem durante todo o ciclo de vida do
projeto. À medida que o projeto avança, o seu grau de detalhamento aumenta,
podendo também ocorrer mudanças, que são fatores que podem levar a
necessidade de reavaliação de um ou mais processos de planejamento, gerando a
revisão dos documentos atingidos e, consequentemente, do plano de gerenciamento
do projeto.
O grupo de execução engloba todos aqueles processos que são necessários
para completar os trabalhos definidos no plano de gerenciamento, de forma a
satisfazer os requisitos do projeto. Esse grupo de processos envolve a coordenação
de pessoas e recursos, bem como a integração e execução de atividades do projeto
de acordo com o plano de gerenciamento do projeto.
52
Os processos de monitoramento e controle envolvem seguir, revisar e regular a
evolução e o desempenho do projeto. Para isso, todas as áreas do projeto devem
ser acompanhadas, de forma a identificar possíveis necessidades de mudanças nos
planos, para então elaborar um plano de ação e executá-lo. Resumidamente, esse
grupo de processos deve acompanhar e medir de forma regular e consistente o
desempenho do projeto, com o objetivo de identificar possíveis variações em relação
ao plano de gerenciamento do projeto. Essas variações, podem incluir mudanças
nas durações esperadas das atividades, na disponibilidade e produtividade dos
recursos, ou na lista de riscos previamente identificados. Tudo isso pode levar a
necessidade de mudanças no plano de gerenciamento ou em outros documentos do
projeto, existindo a possibilidade de ser necessária a definição de novas linhas de
base para o projeto.
O grupo de encerramento envolve os processos realizados para finalizar todas
as atividades, de modo a encerrar formalmente uma fase ou todo o projeto. Esse
grupo de processos verifica se os processos de todos os grupos estão concluídos
para fechar oficialmente o projeto ou uma fase dele. Os seguintes resultados são
esperados nesse grupo de processos: obter a aceitação do cliente ou patrocinador;
rever o projeto após o seu fim a decisão, avaliando decisões tomadas; documentar
lições aprendidas; atualizar os ativos de processos e o arquivo de dados históricos
da organização; encerrar os contratos.
Além de definir os cinco grupos de processos, o PMI divide o gerenciamento de
projetos em nove áreas do conhecimento, quais são: Integração; Escopo; Tempo;
Custos; Qualidade; Recursos Humanos; Comunicação; Riscos; Aquisições. Essas
áreas estão brevemente descritas abaixo de acordo com o PMBOK (2008).
A Gerência de Integração do Projeto inclui os processos e atividades
necessárias para identificar, definir, combinar, unificar e coordenar as várias
atividades dos grupos de processos de gerenciamento do projeto. Tudo isso é
essencial para a conclusão do projeto, atendendo com êxito às expectativas das
partes interessadas e atingindo os requisitos planejados, uma vez que, embora
53
sejam normalmente apresentados como ocorrências isoladas e com interfaces
definidas, os processos de gerenciamento do projeto se sobrepõem e interagem
entre si de maneira complexa. A Gerência de Integração do Projeto requer fazer
escolhas sobre a alocação de recursos, decidir sobre compensações entre objetivos
e alternativas eventualmente concorrentes e gerenciar as interdependências entre
as áreas do conhecimento em gerenciamento de projetos.
A Gerência do Escopo do Projeto inclui os processos necessários para garantir
que o projeto contemple todo o trabalho requerido, e nada mais além disso, para
completar o projeto com sucesso. O gerenciamento do escopo deve preocupar-se
fundamentalmente com a definição e o controle do que está e o que não está
incluído no projeto. Essa área do conhecimento deve estar integrada com as demais,
para que o trabalho definido para o projeto resulte na entrega do escopo do produto
especificado.
A Gerência do Tempo do Projeto inclui os processos necessários para assegurar
que o projeto termine dentro do prazo previsto. Esses processos, bem como as
ferramentas e técnicas associadas a eles, são documentados no plano de
gerenciamento do tempo (parte integrante do plano de gerenciamento do projeto),
cujo nível de detalhamento dependerá das necessidades do projeto. Entre esses
processos está a definição do cronograma do projeto, que utiliza a definição e
seqüenciamento das atividades, a estimativa dos recursos e das durações das
atividades, combinadas com a ferramenta definida pela organização para produzir o
cronograma do projeto, que, uma vez finalizado e aprovado, dará ao projeto a linha
de base para os processos de controle do cronograma.
A Gerência do Custo do Projeto inclui os processos envolvidos na estimativa,
orçamentação e controle dos custos, para que o projeto possa ser concluído dentro
do orçamento previsto. Esses processos são os seguintes: Estimativa dos Custos,
Orçamentação e Controle dos Custos. Em projetos com escopos não muito grandes,
a estimativa dos custos e a orçamentação estão de tal forma relacionadas que
podem ser vistas com um único processo. Os processos de gerenciamento dos
54
custos, bem como suas ferramentas e técnicas associadas, são normalmente
determinadas durante a definição do ciclo de vida do projeto e são documentadas no
plano de gerenciamento dos custos. A gerência do custo do projeto deve considerar
as necessidades de informações das partes envolvidas do projeto – diferentes
interessados podem avaliar os custos do projeto de maneiras diferentes e em
diferentes tempos. Esses processos consistem, fundamentalmente, na definição dos
custos dos recursos necessários para completar as atividades definidas no escopo
do projeto. No entanto, deve considerar também os efeitos das decisões do projeto
no custo de utilização, manutenção e suporte do produto, serviço ou resultado do
projeto.
A Gerência da Qualidade do Projeto inclui os processos e atividades da
organização, que determinam políticas, objetivos e responsabilidades da qualidade,
para que o projeto satisfaça as necessidades para as quais foi empreendido. Esses
processos são os seguintes: Planejamento da Qualidade, Garantia da Qualidade e
Controle da Qualidade. A gerência da qualidade do projeto aplica-se tanto para a
gerência do projeto, quanto do seu produto. Seus processos aplicam-se a todos os
projetos, independentemente da natureza do seu produto. O fracasso em se atingir
os requisitos de qualidade em qualquer das dimensões pode trazer consequências
negativas sérias para uma ou até mesmo para todas as partes envolvidas do projeto.
O custo total de todos os esforços relacionados à qualidade durante o ciclo de vida
do projeto é chamado de custo da qualidade. Decisões do projeto podem impactar
em custos operacionais de qualidade como resultado de devolução de produtos,
reclamações de garantia e campanhas de recall. Portanto, devido à natureza
temporária dos projetos, a organização executora pode escolher investir em melhoria
da qualidade do produto para reduzir custos externos de qualidade.
A Gerência dos Recursos Humanos do Projeto inclui os processos para
organizar, gerenciar e liderar a equipe do projeto, que compreende as pessoas com
funções e responsabilidades designadas para concluir o projeto. Esses processos
são os seguintes: Planejar os recursos humanos, Mobilizar a equipe do projeto,
Desenvolver a equipe do projeto e Gerenciar a equipe do projeto. Lidar com pessoas
exige que equipe de gerenciamento do projeto esteja familiarizada com conceitos,
55
tais como liderança, comunicação, negociação, motivação, delegação,
monitoramento, tratamento de conflitos, entre outros. Além disso, a equipe de
gerenciamento do projeto deve estar atenta às características específicas dos
projetos, que influenciam nas relações interpessoais, como o caráter temporário
dessas relações, já que, em geral, as equipes são constituídas apenas por
determinado tempo para a execução do projeto.
A Gerência das Comunicações do Projeto inclui os processos necessários para
garantir que a geração, captura, distribuição, armazenamento e pronta apresentação
das informações do projeto sejam feitas de forma apropriada e no tempo certo.
Gerentes de projetos ocupam a maior parte dos seus tempos em comunicação com
os membros de suas equipes ou com outras partes envolvidas dos projetos, sejam
elas internas ou externas à organização. Os processos de gerenciamento das
comunicações são os seguintes: Identificar as partes interessadas, Planejar as
Comunicações, Distribuir as informações, Gerenciar as partes interessadas e Relatar
o desempenho. A comunicação requer um conjunto de habilidades e conhecimentos
relacionados, por exemplo, a escolha dos meios de comunicação (escrita ou oral,
formal ou informal); técnicas de apresentação; técnicas de gerenciamento de
reuniões; como transmitir pensamentos ou idéias (codificação, meios, ruídos, etc).
A Gerência dos Riscos do Projeto inclui os processos que dizem respeito à
identificação, análise, respostas, monitoramento, controle e planejamento do
gerenciamento dos riscos do projeto, com o objetivo de maximizar as probabilidades
de ocorrência e os impactos dos eventos positivos e minimizar os mesmos pontos
para os eventos negativos. Os processos de gerenciamento dos riscos são os
seguintes: Planejar o gerenciamento de riscos, Identificar os riscos, Realizar a
análise qualitativa dos riscos, Realizar a análise quantitativa dos riscos, Planejar as
respostas aos riscos, Monitorar e controlar os riscos. O risco do projeto é definido
como um evento ou condição incerta que, se ocorrer, terá um efeito positivo ou
negativo sobre pelo menos um dos objetivos do projeto, como tempo, custo, escopo
ou qualidade. Os riscos têm suas origens nas incertezas inerentes a todos os
projetos. Para os riscos que são previamente identificados é possível estabelecer um
56
plano de respostas. Para aqueles que são desconhecidos a equipe do projeto deve
estabelecer um plano de contingências.
O gerenciamento de aquisições do projeto inclui os processos para comprar ou
adquirir os produtos, serviços ou resultados necessários de fora da equipe do projeto
para realizar o trabalho. Esses processos incorporam tudo aquilo que é necessário
para administrar os contratos ou pedidos de compra emitidos por membros da
equipe do projeto autorizados, bem como os contratos emitidos por uma organização
que adquire o projeto da organização executora, além da administração de
obrigações contratuais estabelecidas para a equipe do projeto pelo contrato. Os
processos de gerenciamento de aquisições são os seguintes: Planejar aquisições,
Realizar aquisições, Administrar aquisições e Encerrar aquisições. Esses processos
envolvem contratos que são documentos legais entre um fornecedor e um
comprador, que geram a obrigação da primeira parte fornecer os produtos, serviços
ou resultados especificados e da segunda parte a fornecer compensação monetária
ou outra compensação de valor. É responsabilidade da equipe de gerenciamento de
projetos ajudar a adaptar o contrato às necessidades específicas do projeto.
4.3. GESTÃO DE EQUIPES QUE TRABALHAM REMOTAMENTE
Uma organização que deseje começar a utilizar um sistema de teletrabalho
precisa encontrar uma nova forma de fazer velhas atividades de acordo com a nova
realidade organizacional. Os novos desafios envolvem principalmente as questões
de supervisão, coordenação e motivação dos funcionários dispersos, além de
problemas relacionados à comunicação, diálogo, feedback e lealdade à empresa.
Di Martino (1990) sugere várias mudanças no estilo de gerenciamento, de forma
que ele se adapte ao teletrabalho. Essencialmente essas mudanças devem se dar
na supervisão e controle das atividades, resultando em mais autonomia para o
trabalhador. A esse respeito, esse autor afirma que
57
[...] o teletrabalho requer um sistema de gerenciamento que supervisione a saída (resultados do trabalho), ao invés da entrada (forma de trabalho, tempo trabalhado, etc.), concentrando-se na descentralização e no envolvimento, em oposição à centralização e controle. (DI MARTINO, 1990)
Freitas (2008) destaca a necessidade de a organização passar de um sistema
que gerencia tempo (baseado nos processos) para um que gerencia projetos
(baseado nos resultados). Além disso, a autora coloca como importante que as
gerências tenham habilidade de lidar com uma organização virtual, a fim de manter a
coesão, o espírito de equipe e de colaboração entre os trabalhadores, apesar da
dispersão geográfica. Outra questão a ser superada, colocada pela autora, diz
respeito ao receio das gerências de desvalorização frente a seus empregadores, por
estarem gerenciando pessoas que não estão fisicamente presentes.
Di Martino (1990) destaca a importância das novas tecnologias na gestão de
equipes de teletrabalho, no sentido de facilitar a descentralização, a comunicação e
o diálogo com os teletrabalhadores e aumentar a confiança, lealdade e
responsabilidade do funcionário.
Santos (2002) também coloca a tecnologia como fator essencial para uma
gestão eficiente dos trabalhadores remotos. Dentre essas tecnologias, o autor
destaca o uso dos recursos de softwares baseados no conceito de groupware,
definidos no item 3.5.3 deste trabalho. O’Brien (2001), apud Santos (2002), destaca
que a vantagem dessas ferramentas é a possibilidade dos membros de uma equipe
poderem “colaborar em projetos conjuntos, no mesmo momento ou em momentos
diferentes, e no mesmo lugar ou em lugares diferentes”.
Kowalski e Swanson (2005), apud Freitas (2008), apresentam um quadro de
fatores críticos para o sucesso do teletrabalho, relacionados tanto aos
teletrabalhadores, quanto aos empregadores, incluindo aí a questão da gestão das
equipes remotas. Os autores dividem esses fatores de sucesso em três categorias:
(suporte/apoio, comunicação e confiança), dentro das quais há processos
específicos que se aplicados aos níveis organizacional, gerencial e o do empregado.
58
Suporte / Apoio Comunicação Confiança
Organizacional
- Apoio da alta
gerência
- Tecnologia /
ferramentas.
Política formal
- Sistema gerencial
de desempenho
baseado em
resultados
- Cultura baseada na
confiança.
Gerencial
- Apoio do supervisor
- Treinamento
gerencial
Habilidades de
comunicação
formais e
informais
- Confiança gerencial
Empregado
- Apoio familiar
- Estabelecimento de
fronteiras entre o
trabalho e a família
- Treinamento do
empregado
Interação social - Confiança do
empregado.
Tabela 4: Fatores críticos para o sucesso do teletrabalho. Fonte: Kowalski e Swanson (2005, p.240) adaptado por Freitas (2008, p. 74).
As linhas abaixo explicam, conforme Freitas (2008), o sentido de cada uma das
categorias dos fatores críticos de sucesso da tabela acima.
Suporte / Apoio – O apoio deve vir de todos os níveis na organização, em
especial dos níveis mais altos. Além disso, é essencial que haja suporte em termos
de equipamentos e ferramentas tecnológicas. Cascio (2000), apud Freitas (2008),
destaca a necessidade de investimento em treinamento adequado para os
empregados e gerentes, tanto no que diz respeito às mudanças relativas a tarefas e
equipamentos, quanto às alterações psicológicas e sociais nas vidas dos envolvidos,
não podendo ser esquecidas também as mudanças em suas famílias.
Comunicação – Esse é um grande desafio para equipes dispersas
geograficamente. É necessário que a gerência tenha a habilidade de comunicar-se à
59
distância tanto de maneira formal, quanto informal, a fim de evitar o isolamento
social, criando relacionamentos e integrando os teletrabalhadores à organização
(Cascio, 2000, apud Freitas, 2008).
Confiança – Esse é o mais crítico de todos os fatores para o sucesso do
teletrabalho. Tratando deste fator, Freitas afirma que
[...] a confiança é necessária nos três níveis da organização. Gerentes devem confiar que seus subordinados podem e estão fazendo seu trabalho; os teletrabalhadores devem confiar que seus supervisores vão tratá-los com igualdade, e a cultura da organização deve ser baseada em confiança. (2008, p. 74)
Para Cascio (2000), apud Freitas (2008), o teletrabalho não terá sucesso, se não
houver confiança, ainda que todos os outros fatores contribuam favoravelmente.
Desta forma, conforme Di Martino (2004), é necessário que todos os aspectos
envolvidos (custos com equipamento, alterações no espaço físico da residência do
funcionário, alteração nos benefícios, metas e resultados esperados) estejam claros
para todas as partes antes da adoção do teletrabalho.
4.4. IMPACTOS DA UTILIZAÇÃO DO TELETRABALHO NO DOMI CÍLIO NA
GESTÃO DE PROJETOS
Conforme visto no item 4.2 o PMI divide a gestão de projetos em nove áreas do
conhecimento, quais são: Integração; Escopo; Tempo; Custos; Comunicações;
Recursos Humanos; Aquisições; Qualidade e Riscos. Nos subitens abaixo serão
descritas as consequências da utilização de um sistema de teletrabalho no domicílio
em projetos na gestão das duas áreas que sofrerão os maiores impactos, conforme
descrito no item 4.3, que são: comunicações e recursos humanos. Entende-se que
outras áreas serão afetadas pela utilização dessa modalidade de trabalho, porém,
principalmente, como consequência dos impactos nessas duas áreas.
60
4.4.1. IMPACTOS NA GESTÃO DA COMUNICAÇÃO
Diante do que foi colocado no item 4.3, é fácil perceber que a comunicação é um
fator que sofre impactos diretos pela utilização do teletrabalho. O sistema de
comunicação formal e informal é claramente diferente em uma organização que
utiliza o teletrabalho intensamente (Sakuda, 2005). Raghuram (1996), apud Sakuda
(2005) trata desta questão avaliando as diferenças entre a comunicação através de
e-mails e voice-mails em contraste com a complexidade das comunicações diretas e
coletivas do local de trabalho tradicional, destacando a importância da comunicação
informal.
De acordo com o PMI, para atingir os seus objetivos de assegurar a geração,
disseminação e arquivamento das informações do projeto de forma oportuna e
adequada o gerenciamento das comunicações de um projeto pode incluir, conforme
a necessidade, os seguintes processos: Planejamento das Comunicações;
Distribuição das Informações; Relato de Desempenho; Gerenciamento das Partes
Interessadas. O processo de distribuição das informações, sendo utilizado para
disponibilizar as informações às partes interessadas do projeto na forma e no
momento adequados, será afetado diretamente pela utilização de equipes de
teletrabalhadores, já que a comunicação com a equipe será dificultada pela
distância.
A palavra comunicar vem do latim “comunicare” com o sentido de “pôr em
comum”. A comunicação é um requisito fundamental para a realização de trabalhos
em grupo. O envio de mensagens na comunicação se dá por meio de canais
escolhidos pela fonte emissora. O telefone, o e-mail, a correspondência, a televisão,
o rádio, são exemplos de canais por onde se enviam as mensagens. Esses canais
podem ser formais ou informais. Canais formais são determinados pela organização
para transmitir mensagens relacionadas ao ambiente de trabalho. Os canais
informais, por sua vez, são utilizados para transmitir as mensagens pessoais ou
sociais, dentro da organização, sem compromisso com o ambiente organizacional.
61
A comunicação pode fluir verticalmente para baixo ou para cima, ou ainda
horizontalmente. Denomina-se “para baixo” a comunicação das lideranças das
organizações com os seus liderados, a fim de estabelecer metas, dar instruções de
trabalhos, informar sobre políticas e procedimentos organizacionais, apontar
problemas e soluções ou ainda relatar desempenhos individuais e das equipes. Os
canais geralmente utilizados nesse tipo de comunicação são as cartas, o e-mail, a
linguagem oral, sendo esta de uso mais frequente, ou quadros de avisos.
A comunicação “para cima” é aquela que flui dos níveis hierárquicos inferiores
para os superiores (dos liderados para os líderes), com o objetivo de manter os
líderes informados sobre o andamento do trabalho e outros aspectos gerais da
organização. Para isso, os canais normalmente utilizados são relatórios de
desempenho preparados pelas gerências mais próximas dos níveis operacionais,
caixas de sugestões, pesquisas de satisfação dos funcionários, além de reuniões
entre trabalhadores e superiores para discutir problemas na execução de suas
tarefas.
A comunicação horizontal é aquela que se dá dentro de um mesmo nível
hierárquico. Esse tipo de comunicação em geral se dá de maneira informal, com o
objetivo de facilitar e agilizar a resolução de problemas. Essa comunicação tende a
ser a mais afetada pela distância resultante da adoção de sistemas de teletrabalho.
A convivência das equipes de trabalho em um mesmo ambiente possibilita a
comunicação face a face, que é enriquecida pela linguagem do corpo. Os gestos e
movimentos inconscientes presentes em uma comunicação face a face facilitam a
transmissão e a compreensão das mensagens. De acordo com Proetti
O contato visual possibilita o “olhar nos olhos” e permite ao receptor da mensagem avaliar as intenções, sentimentos e os propósitos das mensagens assim como os sinais não-verbais que colaboram para aumentar a eficácia da comunicação e, também, o interesse por parte do receptor. Os movimentos de cabeça – afirmativos e negativos – e as expressões faciais apropriadas facilitam a compreensão da mensagem e colaboram com o contato visual, pois acrescentam conteúdo na forma de
62
expressão da mensagem e ajudam a esclarecer – decodificar – as mensagens recebidas. (Proetti, 2003, p. 64)
A importância da comunicação informal e do contato direto para o
desenvolvimento do trabalho leva a crer que a ausência desses fatores em tempo
integral em sistemas de teletrabalho prejudica o fluxo de informações, o que seria
bastante danoso no processo de distribuição das informações em um projeto. É
necessário observar, no entanto, que, mesmo em ambientes convencionais de
trabalho, a comunicação face a face tem diminuído, à medida que as pessoas se
habituam cada vez mais à utilização da comunicação eletrônica. A respeito da
facilidade de comunicação por e-mail, Proetti afirma que ela
(...) tem atraído muitas pessoas, não só no mundo corporativo, mas também nos lares. A evolução dos meios de comunicação permitiu uma velocidade maior no envio de mensagens verbais ou escritas. Mais recentemente – fim da década de 90 – o uso de e-mails por intranet (correio eletrônico interno) nos escritórios substituiu quase que completamente os memorandos, cartas, telex (que não se usa mais) e fax (que tem seu uso em constante diminuição). O e-mail possibilita o envio de mensagens escritas, sons e imagens de forma mais rápida. Esse meio de comunicação tem mantido as pessoas mais tempo na frente do microcomputador verificando e enviando mensagens. As comunicações eletrônicas aumentam e facilitam a capacidade de acesso entre empresas e pessoas, dentro ou fora delas. (Proetti, 2003, p. 75)
No que diz respeito à distribuição das informações, deve ser observado ainda
que, atualmente, muitos projetos são desenvolvidos por equipes virtuais, que são
aquelas em que os profissionais são alocados no mesmo projeto, porém fisicamente
em locais distintos. Isso se dá pela necessidade de se desenvolver um projeto
simultaneamente nas várias filiais de uma empresa, ou, como é o caso de muitos
projetos de engenharia, pela conveniência de se alocar parte da equipe do projeto
nas instalações do cliente. A respeito da comunicação em equipes virtuais, Cossulin
afirma que
(...) a conexão nas equipes virtuais é a utilização intensa da tecnologia de comunicação em substituição da interação face a face. Os múltiplos meios e canais de comunicação, em rápida expansão e cada vez mais disponíveis às corporações, permitem a transferência de mensagens, relatórios,
63
imagens conduzindo a um viável acesso às informações e a novas formas de interação entre as pessoas. (Cossulin, 2007, p. 4)
Do ponto de visa exclusivo da gestão da comunicação, a adoção de um sistema
de teletrabalho no domicílio para equipes que já desenvolvem projetos de forma
virtual representaria simplesmente uma mudança nos locais de trabalho dos
membros dessas equipes.
De tudo o que foi observado acima, percebe-se que a comunicação, inclusive a
informal, é essencial para que se alcance os objetivos de um projeto. A comunicação
via e-mail, bastante utilizada em ambientes de teletrabalho, por não possibilitar a
utilização do componente de comunicação não-verbal, não proporciona a riqueza de
informações gerada pela comunicação face a face. Sobre as distinções entre esses
tipos de comunicação, Proetti afirma que quando
(...) se trata de comunicação face a face, as palavras, os movimentos corporais e os gestos facilitam na comunicação de mensagens. Entretanto, quando se pensa na comunicação on-line entre as pessoas no ambiente de trabalho, e fora dele, tem-se dificuldades na transmissão de mensagens, pois, pelo fato da distância, os atores/interlocutores deverão se utilizar de palavras que expressem, de forma mais aproximada, o que querem transmitir. É uma tarefa difícil, porém as habilidades poderão ser desenvolvidas à medida que as pessoas se depararem com essas situações na forma de comunicação a distância (on-line). (Proetti, 2003, p. 112)
É necessário adaptar-se às novas tecnologias de informação e comunicação,
pois sua utilização é um processo irreversível no mundo globalizado. A esse
respeito, conta pontos a favor da utilização do teletrabalho em projetos, o fato das
comunicações eletrônicas serem cada vez mais utilizadas, mesmo escritórios
convencionais e quase que exclusivamente em projetos desenvolvidos por equipes
virtuais. Além disso, as comunicações eletrônicas evoluíram, de forma que
videoconferências e reuniões eletrônicas, embora não substituam o contato pessoal,
representam um passo adiante da utilização do e-mail, pois permitem a avaliação do
comportamento dos interlocutores durante a comunicação. Essas ferramentas são
cada vez mais acessíveis e possibilitam conferências de vídeo e áudio em tempo
real, através da internet, além de alguns softwares possuírem recursos de
64
whiteboarding (quadro branco), permitindo que os membros da conferência possam
compartilhar, marcar e revisar desenhos, documentos e outros materiais exibidos em
seus monitores.
Uma alternativa importante utilizada pelas organizações que já adotam o
teletrabalho no domicílio, a fim de driblar a falta de contato pessoal proveniente da
adoção dessa modalidade de trabalho, é o regime de teletrabalho no domicílio em
que alternam-se dias de trabalho em casa com outros no escritório formal, onde são
feitas reuniões, garantindo-se a comunicação face a face. A respeito dessa
comunicação na gestão de equipes virtuais, fato válido também para
teletrabalhadores no domicílio, Cossulin afirma que
(...) a habilidade específica de um líder de uma equipe virtual é importante para saber a importância de usar a comunicação face a face estrategicamente. Esta é uma escolha importante quando os membros do time precisam estabelecer e construir confiança. Esta é uma escolha importante também quando mudanças sensíveis ou ‘feedback’ precisam ser divulgados a um indivíduo ou à equipe. A comunicação face a face pode ser utilizada também como um antídoto à ansiedade, perda de aderência do grupo, hiper-sensibilidade a casos específicos, falta de compromisso ou integração do time, assim como outros problemas gerados pela distância entre os membros. Esta comunicação é especialmente importante e útil para desenvolver o espírito de equipe e a sensibilidade entre os integrantes do time. O contato pessoal desenvolve benefícios humanos que melhoram a performance e criam um ambiente de integração entre os integrantes da equipe criando um contexto de uma ligação emocional positiva para o trabalho em equipe. (Cossulin, 2007, p. 20)
4.4.2. IMPACTOS NA GESTÃO DOS RECURSOS HUMANOS
De acordo com o PMI, para garantir a forma mais efetiva de utilização de todos
os envolvidos com o projeto, incluindo patrocinadores, clientes, equipe do projeto,
entre outros, o gerenciamento dos recursos humanos de um projeto pode incluir, de
acordo com a necessidade, os seguintes processos: Planejar os Recursos Humanos
do Projeto; Mobilizar a Equipe do Projeto; Desenvolver a Equipe do Projeto;
Gerenciar a Equipe do Projeto.
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O processo de desenvolver a equipe do projeto sofrerá consequências da
utilização de um sistema de teletrabalho, já que é utilizado para o aprimoramento
das competências e construção das relações entre os integrantes do projeto,
transformando a equipe em um time, a fim de aprimorar o desempenho do projeto.
O desenvolvimento da equipe do projeto é responsabilidade do seu gerente, que
deve ter habilidades interpessoais, tais como empatia, influência, criatividade,
capacidade integração e motivação a fim de conseguir bom desempenho e efetiva
condução do time do projeto. A consecução desses objetivos em equipes com
sistema de teletrabalho no domicílio torna-se mais complexa, devido à falta de
contato face a face frequente. Para compensar essa falta de contato utiliza-se de
forma intensa as tecnologias da informação e comunicação em substituição à
interação face a face. As tecnologias da informação e comunicação permitem novas
formas de interação entre as pessoas. Essas tecnologias não são as únicas formas
de conexão entre as pessoas, devendo existir uma relação de confiança para suprir
a escassez de contato pessoal. Para tanto, recomenda-se uma reunião inicial
presencial, a fim de orientar os membros na direção e intenção de construir uma
comunidade e um ambiente de confiança. Além dessa reunião inicial, outros
encontros presenciais esporádicos devem ser marcados com o mesmo propósito.
No que tange ao desenvolvimento de equipes, é também função do gerente do
projeto fazer com que todos os membros do time compreendam perfeitamente os
objetivos do projeto, bem como seus papéis e responsabilidades nos pacotes de
trabalho, fato que também será afetado pela falta de contato pessoal. O objetivo é o
motivo pelo qual um grupo de indivíduos se dispõe a trabalhar em equipe,
constituindo-se no principal fator de envolvimento das pessoas. Um objetivo comum,
definido de forma clara e coerente, é essencial para toda atividade em equipe,
especialmente em projetos desenvolvidos sob o sistema de teletrabalho no domicílio,
dado o isolamento de parte dos membros do time. O claro entendimento do objetivo
da equipe e o compartilhamento da mesma visão que os demais integrantes da
equipe estão entre os fatores mais importantes para o sucesso de projetos sob o
sistema de teletrabalho no domicílio. Esses fatores são essenciais, para que a
gerência possa administrar as expectativas e o comprometimento das pessoas com
66
a equipe. A clara compreensão dos objetivos também é importante para a
automotivação e criação de um senso de contribuição individual.
Quando se trata do desenvolvimento da equipe de projeto, também a motivação
é um elemento crítico, merecendo bastante atenção, especialmente em um ambiente
de teletrabalho no domicílio. Os problemas de comunicação, causados pela
distância, prejudicam tanto a motivação dos membros da equipe, quanto à
identificação de possíveis problemas de falta de motivação. Em projetos sob o
sistema de teletrabalho no domicílio, os membros da equipe, que estiverem em
teletrabalho, estarão sujeitos ao isolamento social, que é um fato agravante para
problemas de falta de motivação. É importante determinar se um membro da equipe
está desmotivado antes que isto cause impactos no desempenho e no
comprometimento da equipe. Levin (2002), apud Balestrin, classifica as pessoas em
três perfis principais, em relação ao fator motivacional: 1- Pessoas orientadas a
realizações; 2- Pessoas orientadas a relacionamento; 3- Pessoas orientadas a
poder. De acordo com Balestrin, cada um desses perfis motiva-se através de
situações distintas, fato que deve ser observado pela gerência na determinação de
tarefas, especialmente em relacionamentos à distância. Pessoas orientadas a
realizações têm as suas ações guiadas pelo desafio do sucesso e pelo medo de
falhar. São pessoas que assumem riscos calculados, estabelecem objetivos com um
alto grau de desafio para elas próprias e gostam de ver evidências concretas da
conclusão dos seus trabalhos. A fim de que estejam permanentemente motivadas,
tais pessoas devem receber tarefas desafiadoras dentro da equipe, para que
possam testar suas habilidades e capacidades. Pessoas orientadas a
relacionamentos encontrarão dificuldade para trabalhar em tarefas que não
requeiram contato pessoal. Pessoas com esse perfil motivam-se quando designados
a tarefas que requeiram um envolvimento amigável e cooperativo. Pessoas
orientadas ao poder gostam de tomar decisões e são altamente persuasivas e
pessoas competitivas. Elas assumem riscos e gostam de ser reconhecidas por suas
contribuições. Teletrabalhando no domicílio, pessoas com esse perfil serão melhor
aproveitadas em tarefas como liderar reuniões, determinar objetivos estratégicos ou
apontar oportunidades onde outros enxergam apenas os riscos.
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O desenvolvimento da equipe deve contar também com os treinamentos
necessários para a execução das atividades, sendo que estes podem ocorrer de
modo informal, através de explicações por parte de um próprio membro da equipe de
projeto ou ser formal com a realização de palestras, workshops ou cursos, quase
sempre custeados pela organização executora. A compreensão da criação e
transmissão do conhecimento em projetos sob o sistema de teletrabalho no domicílio
requer a distinção entre tipos de conhecimento. DeLong e Fahey (2000), apud
Balestrin, reconhecem a existência de três tipos de conhecimento: 1- Conhecimento
humano, 2- Conhecimento social e 3- Conhecimento estruturado. O conhecimento
humano é constituído pelo know-how dos indivíduos, sendo manifestado por
importantes habilidades, compreendendo os conhecimentos tácito e explícito. O
conhecimento social está relacionado às relações entre indivíduos ou entre grupos.
Segundo Bhagat et al. (2002), apud Balestrin, “o conhecimento social ou coletivo é
amplamente tácito e arraigado em normas culturais”. Já o conhecimento estruturado
diz respeito às rotinas, às normas, aos processos e aos sistemas organizacionais.
Glazer (1998), apud Balestrin, afirma que esse tipo de conhecimento é explícito e
pode existir independentemente dos indivíduos.
Determinados tipos de conhecimentos adaptam-se melhor à utilização das
tecnologias da informação e comunicação em seus processos de criação e
transmissão. De acordo com Balestrin, essas tecnologias tendem a facilitar o
processo, a armazenagem e a transmissão de conhecimentos estruturados. No
entanto, quando se trata de conhecimentos desestruturados, essas tecnologias
dificilmente substituirão a necessidade da comunicação face a face entre os
indivíduos. A respeito da utilização dessas tecnologias na transmissão de
conhecimento, Symon (2000), apud Balestrin, afirma que elas não podem ser
totalmente efetivas,
(...) pois existem alguns elementos tácitos do conhecimento, como as habilidades e as experiências pessoais, que podem apresentar dificuldades de serem comunicados através delas. Mesmo com a alta qualidade multimídia das novas tecnologias, elas dificilmente conseguirão replicar o processo face a face da comunicação. Symon (2000), apud Balestrin, p. 10)
68
Por outro lado, a adesão das pessoas aos cursos à distância, utilizando
tecnologias da informação e comunicação, em especial cursos de pós-graduação,
aumenta a cada dia, tornando os indivíduos mais adaptados ao aprendizado por
esses meios. O que mostra que a criação e transmissão de conhecimento à
distância por meios tecnológicos são viáveis e cada vez mais comuns na sociedade,
o que conta pontos a favor do desenvolvimento de equipes de teletrabalhadores no
domicílio.
Além do processo de desenvolver a equipe do projeto, também o gerenciamento
dessa equipe sofrerá impactos da utilização do sistema de teletrabalho no domicílio
em projetos. Gerenciar a Equipe do Projeto é o processo necessário para
acompanhar o desempenho de membros da equipe, fornecer feedback, resolver
conflitos e gerenciar mudanças para otimizar o desempenho do projeto. Gerenciar
equipes requer o estabelecimento de um sentimento de confiança mútua entre as
pessoas, em especial quando se trata de equipes dispersas geograficamente, em
que o contato pessoal é esporádico. Recomenda-se uma reunião inicial face a face,
aliada a outras reuniões no decorrer do projeto, a fim de orientar os membros da
equipe na direção de construir e manter uma comunidade e um ambiente de
confiança, que são essenciais à troca de informações e experiências dentro da
equipe, bem como para a manutenção de um ambiente de trabalho saudável.
A distância entre os membros da equipe, consequência do teletrabalho no
domicílio, pode contribuir para a redução de conflitos dentro do time. Entretanto, a
dificuldade de comunicação, em especial no que diz respeito a diferentes
interpretações dadas a mensagens de e-mails, pode ser um fator gerador desses
conflitos. Cabe ao gerente do projeto a identificação e prevenção dessas
ocorrências, utilizando-se inclusive das reuniões presenciais para esclarecer pontos
causadores de divergências.
Cabe lembrar que as características importantes para um gerente de projetos no
trato com a sua equipe em um ambiente convencional de trabalho permanecem tão
ou mais importantes com a aplicação de um sistema de teletrabalho no domicílio, em
69
que não há contato direto frequente entre o gerente e o seu time. Assim,
permanecem importantes, na gestão de equipes de projetos com teletrabalhadores
no domicílio, a flexibilidade, para adaptar-se às diversas situações; a integridade e a
credibilidade, a fim de poder liderar pelo exemplo; entusiasmo e comprometimento
com o trabalho, com o objetivo de motivar sua equipe; a clareza na comunicação,
fazendo-se compreender por todos; imparcialidade e humildade, sabendo ouvir a
todos, dando e recebendo feedback, conseguindo ouvir e processar.
Para transmitir determinações e dar feedback a teletrabalhadores no domicílio,
os gerentes de projetos devem lembrar que colaboradores não estão recebendo
essas diretrizes em um contato face a face com seus gestores, devendo cuidar para
que essas atitudes não pareçam muito mais frias e impessoais, do que ocorreria em
uma equipe com contato pessoal permanente. Por esse motivo, o gerente de
projetos deve buscar as reuniões e encontros esporádicos para, pessoalmente,
elogiar, dar feedback, ou chamar a atenção de algum aspecto a ser aprimorado. O
gerente de projetos não deve permitir que a ausência do contato pessoal com os
profissionais no dia-a-dia do projeto seja sentida no acompanhamento da execução
das atividades, na ausência do elogio, na crítica construtiva, no modo impessoal de
solicitar a execução de um trabalho e na falta de observância da qualidade das
entregas efetuadas. Obviamente esse conjunto de fatores terá diferenças
consideráveis entre um escritório de projetos convencional e outro em que os
membros do time teletrabalhem em seus domicílios. No entanto, é trabalho do
gerente de projetos não permitir que esses fatores influenciem negativamente na
motivação dos profissionais geograficamente dispersos. O gerente de projetos deve
saber utilizar os recursos tecnológicos disponíveis (sites de projetos, utilização de
conference call, videoconferência, e-mails, comunicadores instantâneos, videochats,
telefonia móvel, softwares de gerenciamento de projetos que permitem a atualização
compartilhada de informações) em seu favor, buscando dessa forma compensar a
distância.
A gestão dos recursos humanos em projetos que utilizem o sistema de
teletrabalho no domicílio não pode ignorar a questão do isolamento social dos
teletrabalhadores. O bem-estar físico e psicológico dos teletrabalhadores pode ser
70
significativamente afetado pela separação dos seus colegas de trabalho, gerando
situações de estresse para os teletrabalhadores. A falta das interações do dia-a-dia
podem gradualmente isolar o teletrabalhador, tanto do ponto de vista profissional,
quanto social, impactando no desenvolvimento de suas carreiras. As organizações
devem trabalhar para que isso não ocorra, acompanhando seus trabalhadores no
domicílio de forma constante, disponibilizando ferramentas para contato on-line com
seus colegas de trabalho e criando formas para o contato pessoal entre os
teletrabalhadores e os demais profissionais da empresa, seja por motivos
profissionais ou em confraternizações.
Um ponto positivo a ser considerado na gestão dos recursos humanos em
projetos que utilizem o sistema de teletrabalho no domicílio é que a flexibilidade
proporcionada por essa modalidade de trabalho contribuirá para a retenção dos
membros da equipe ao longo do projeto. A perda de componentes importantes do
time durante um projeto é sempre um fator crítico, pois gera gastos extraordinários
de tempo e recurso, devido à perda de carga que o novo membro terá para
acompanhar o ritmo do projeto já em andamento.
4.4.3. IMPACTOS NA GESTÃO DE OUTRAS ÁREAS DO CONHEC IMENTO
EM PROJETOS
Conforme já mencionado neste trabalho, os mais variados estudos sobre
teletrabalho apontam o aumento da produtividade, principalmente porque há menos
distrações e interrupções, como uma das vantagens do teletrabalho no domicílio.
Isso trará consequências para a gestão do tempo, em projetos que utilizem essa
modalidade de trabalho, visto que a estimativa de duração das atividades de um
projeto está relacionada à produtividade da equipe, que será composta por
teletrabalhadores e trabalhadores convencionais, que terão produtividades médias
distintas.
Quanto à questão da gestão dos custos em projetos que utilizem o teletrabalho
no domicílio, além de se esperar uma diminuição dos custos diretos, consequência
71
da maior produtividade dos teletrabalhadores, deve se considerar também que a
parte da equipe do projeto que estiver teletrabalhando não ocupará
permanentemente espaços físicos nas instalações da empresa, o que resultará em
alterações no rateio dos custos indiretos nos projetos.
No que diz respeito à gestão de riscos, os aspectos dispostos nos itens acima
sobre comunicação e recursos humanos devem ser considerados como riscos
positivos ou negativos para o projeto. A dificuldade de comunicação entre as partes;
o isolamento social dos teletrabalhadores; a carência de comunicação informal e do
contato direto para o desenvolvimento do trabalho; a dificuldade de fornecer
feedback; os problemas encontrados no desenvolvimento da equipe, entre outros
fatores devem ser considerados entre os riscos negativos de um projeto, que utilize
a modalidade de teletrabalho no domicílio. Existem também riscos positivos a serem
considerados pela implantação dessa modalidade de trabalho em projetos, entre os
quais pode-se citar: maior concentração e a conseqüente melhor produtividade na
execução do trabalho; redução de conflitos no escritório formal; menor probabilidade
de perda de recursos humanos durante o projeto, devido à flexibilidade
proporcionada pelo teletrabalho, entre outros.
5. CONSULTORIAS EM PROJETOS DE ENGENHARIA
5.1. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E BREVE HISTÓRICO NO BRASIL
Conforme descrito no item 2.4 deste trabalho, as empresas de consultoria de
engenharia trabalham nas fases que precedem à construção do empreendimento,
levando-o desde a fase de concepção até a fase de projeto executivo.
A participação dos serviços das consultorias de engenharia no valor total dos
empreendimentos pode variar bastante em função do porte e da natureza do
empreendimento. Com o objetivo de apresentar uma estimativa dessa participação,
a Associação Brasileira de Consultores de Engenharia (ABCE) disponibiliza o gráfico
apresentado na figura abaixo, que mostra o valor percentual do projeto em função
72
do porte do empreendimento. Esses valores podem variar em função da
complexidade do empreendimento. Observa-se pelo gráfico que os custos dos
serviços de engenharia são pouco relevantes, quando comparados ao valor global
do investimento.
Figura 1 - Valor Estimativo do Projeto em Função do Valor do Empreendimento.
A atividade das empresas de engenharia de projetos no Brasil tem início na
década de 40, com o aparecimento dos escritórios monodisciplinares, capitaneados,
na maioria dos casos, por professores das principais Escolas de Engenharia do país.
Historicamente não existiu no Brasil uma política deliberada de fortalecimento das
empresas de engenharia consultiva, como ocorreu em países desenvolvidos, apesar
da importância do setor para o desenvolvimento do país. Embora não tenha existido
uma política de incentivos, o setor beneficiou-se de ações do Estado, em especial de
fases de expansão econômica impulsionadas pela ação do poder público. Foi dessa
forma que o setor experimentou grande crescimento no período conhecido por
73
Milagre Econômico, no final dos anos sessenta e começo dos anos setenta, fase de
significativa aceleração nos investimentos públicos em infra-estrutura e em indústria
básica.
A partir dos anos noventa, o mercado para as empresas de engenharia
consultiva no Brasil mudou bastante. Até os anos oitenta, o ambiente de negócios
para essas empresas era relativamente protegido, sendo o Estado o grande
demandante de serviços. Nesse período, as fases do empreendimento eram
claramente separadas, não havendo envolvimento entre o projeto e o
empreendimento propriamente dito. Havia uma nítida separação entre as empresas
de engenharia consultiva e fornecedores de equipamento, empreiteiros e
empreendedores de modo geral.
Os anos noventa trouxeram consigo a concorrência de empresas estrangeiras de
engenharia consultiva, que muitas vezes oferecem seus serviços com condições de
financiamento privilegiadas. Além disso, o cliente também mudou. Desde então, o
empreendedor que contrata engenharia consultiva em grande parte é privado ou
empresa produtiva estatal, o que, consequentemente, levou a mudanças nos
requisitos dos serviços. Esses clientes trabalham com a contratação de serviços em
forma de um pacote fechado, o chamado EPC - Engineering, Procurement, and
Construction. Nessa modalidade de contratação, o cliente requer que um único
contratado seja responsável pela engenharia, compra dos equipamentos e
construção propriamente dita, incluindo montagem industrial, pré-operação e
colocação em marcha. Essas exigências impõem ao setor novos requisitos, inclusive
gerenciais e de sistemas. Concomitantemente o serviço de engenharia de
detalhamento é cada vez mais afetado pelas novas ferramentas da tecnologia da
informação e comunicação.
Cientes da importância do setor de engenharia consultiva, reconhecendo que
investimentos nessa área têm retorno garantido em todas as fases do
empreendimento, os países desenvolvidos costumam respaldar essas empresas
com esquemas bastante vantajosos de financiamento ao cliente, o que fortalece o
74
setor nesses países. Para exportar serviços é importante que se consiga
inicialmente um bom nível de competitividade no mercado interno. Conforme
relatório ANE, “se a posição das empresas de engenharia no mercado doméstico é
frágil, elas não desenvolverão massa crítica que lhes dê a necessária
competitividade para concorrer fora do País”. (Academia Nacional de Engenharia,
2005, p. 6)
De fato, de acordo com o mesmo relatório da ANE, apenas três países exercem
uma hegemonia sobre o comércio internacional de serviços de engenharia: EUA,
França e Grã-Bretanha. No ano 2000, das 200 maiores empresas de engenharia
115 eram britânicas, norte-americanas ou francesas, correspondendo a 57,5% do
total.
Apesar da falta de uma política deliberada de fortalecimento do setor, a
engenharia consultiva no Brasil sempre esteve presente na concepção dos grandes
empreendimentos nacionais, com destaque para aqueles que constituem a infra-
estrutura física do país: o sistema elétrico brasileiro (geração, transmissão e
distribuição de energia), instalações de exploração, produção (on-shore e off-shore)
e refino de petróleo, sistemas de transportes, instalações do setor de mineração,
sistemas de desenvolvimento urbano, e todos os demais empreendimentos públicos
e privados brasileiros.
5.2. CONCORRÊNCIAS COM BASE NO MENOR PREÇO
Embora, conforme mencionado no item anterior, os custos dos serviços
consultoria de engenharia sejam pouco relevantes, quando comparados ao valor
global do investimento, a maior parte dos clientes no Brasil, quer por força de lei, ou
pelo hábito arraigado de se adquirir sempre o produto ou serviço mais barato,
acabam por aplicar a regra do menor preço também para a contratação de serviços
de engenharia, tratando esses serviços como commodities, não considerando o
capital intelectual envolvido neles.
75
A qualidade técnica dos serviços de consultoria de engenharia é importante para
a consecução dos empreendimentos projetados. Essa qualidade garantirá a
minimização dos custos de execução, operação e manutenção das obras e
instalações do empreendimento. Daí a importância de se contratar serviços de
consultoria de engenharia, que tenham experiência e qualidade comprovada, de
forma a garantir a segurança e maior lucro ao contratante. Esses detalhes, no
entanto, não têm sido observados no Brasil. Serviços de consultoria de melhor
qualidade devem custar mais, porque envolvem profissionais de maior capacidade,
além de uma gestão mais experiente com a utilização de recursos técnicos e
métodos de gerência mais avançados. Entretanto, tratando esses serviços como
commodities, os clientes brasileiros, em geral, não se dispõem a pagar mais por
essa diferenciação.
A redução de custos dos serviços consultoria de engenharia também pode levar
a aumento de lucro e de qualidade, possibilitando a utilização de profissionais de
maior qualificação, tanto na parte técnica, quanto na gestão, ou seja, como se tem
custos menores, pode-se trabalhar com preços competitivos, mas com maior
margem de lucro e/ou oferta de um serviço de melhor qualidade.
Da análise disposta acima resulta a importância da redução de custos para as
empresas de consultoria de engenharia. A implantação do teletrabalho no domicílio
nesse ramo de serviço seria uma solução nesse sentido, visto que as experiências
das organizações brasileiras com a implantação dessa modalidade de trabalho
apontam para reduções significativas de custos, seja pelos menores gastos com
manutenção de estrutura física, ou pelo aumento da produtividade de seus
colaboradores.
5.3. CUSTOS EM EMPRESAS DE CONSULTORIA DE ENGENHARI A
Segundo Fitzsimmons (2000), apud Orige, o ambiente econômico em que se dá
a competição entre as empresas de serviços é marcado por dificuldades, devido
especialmente às seguintes razões: poucas barreiras à entrada de concorrentes;
76
oportunidades mínimas para economias de escala; flutuações erráticas das vendas;
desvantagens em negociações, em função do porte de muitas empresas; produtos
substitutos; fidelidade dos clientes; barreiras à saída de concorrentes. De acordo
com Pompermayer e Lima (2002), apud Orige, diante desse cenário, o lucro passa a
ser função, principalmente, dos custos incorridos, de modo que conseguir lucro é
conter custos. Com esse objetivo, torna-se importante a distinção entre custos e
despesas, sendo os gastos incorridos com a atividade fim da empresa classificados
como custos, enquanto os gastos com as atividades meio são classificados como
despesas.
Os custos podem ser diretos ou indiretos. Na prestação de serviços de
consultoria, os custos diretos podem ser atribuídos a quatro fatores básicos, a saber:
1- Recursos Humanos – Equipe Permanente: componente referente aos
profissionais, alocados para o trabalho, que integram a equipe técnica permanente
da empresa; 2- Recursos Humanos – Consultores: componente referente aos
profissionais, alocados para o trabalho, que não fazem parte da equipe técnica
permanente da empresa, ou seja, são consultores externos; 3-Serviços de Apoio
Técnico:levantamentos, análises, ensaios, testes, laudos e demais serviços técnicos
que subsidiam o trabalho da consultoria; 4- Despesas Diretas: recursos financeiros,
materiais, equipamentos e serviços de terceiros, não submetidos à responsabilidade
técnica da consultoria, e despendidos exclusivamente na execução do trabalho. No
que diz respeito aos custos indiretos na prestação de serviços de consultoria, pode-
se afirmar que, embora sejam indispensáveis para a execução dos trabalhos, não
estão diretamente vinculados ao trabalho em questão, já que são decorrentes do
fornecimento, manutenção e utilização de recursos e serviços, os quais são
compartilhados na consecução e realização de múltiplos trabalhos da consultoria,
devendo esses custos ser rateados (suportados) por todos os contratos da empresa.
A concorrência com base no menor preço leva muitas empresas a praticar uma
política de descontos com o objetivo de eliminar a concorrência ou não perder a
venda, diminuindo a margem de lucro sobre o serviço, em alguns casos, a ponto de
inviabilizar a manutenção da empresa. A forma de se evitar essa “guerra” em um
mercado em que o preço se sobrepõe à diferenciação do serviço, a empresa deve
77
buscar reduzir os custos de produção, operacionalização e comercialização do
serviço, o que possibilitará ao empresário repassar a redução de custos para o preço
final de venda sem, contudo, reduzir a margem de lucro, melhorando a
competitividade da empresa no mercado.
Os autores, de um modo geral, colocam a redução dos custos como a vantagem
mais óbvia para a organização que adota o sistema de teletrabalho, indicando como
principal fator para que isso ocorra à redução do tamanho dos escritórios, resultando
em menores despesas com imóveis e mobiliários. Além disso, outro ponto de
consenso entre os estudiosos do teletrabalho refere-se ao aumento de produtividade
dos teletrabalhadores, por conta da melhoria da qualidade de vida que esta
sistemática lhes propicia. Além disso, conforme apontado no item 3.5.1 desse
trabalho, também a redução do absenteísmo contribui para o aumento da
produtividade, já que as maiores causas das ausências ao trabalho estão
relacionadas aos transtornos com deslocamentos e pequenos contratempos
domésticos.
6. TELETRABALHO NO DOMICÍLIO EM UMA CONSULTORIA DE PROJETOS
DE ENGENHARIA
A evolução da tecnologia levou o computador a praticamente todas as atividades
e todos os setores da sociedade. A capacidade e velocidade de processamento e a
grande oferta de ferramentas fazem dele um equipamento indispensável para o
engenheiro. O computador trouxe consigo mais produtividade, precisão e rapidez na
elaboração de projetos de engenharia. Os softwares disponíveis são cada vez mais
abrangentes e complexos. De acordo com Longo (2006), analisando a utilização do
computador na área de projetos de engenharia, pode-se perceber facilmente que ele
trouxe inúmeras vantagens, tais como: Cálculos mais rápidos e precisos; Estudo de
várias concepções de projeto em pouco tempo; Possibilidade de uso de modelos
tridimensionais; Solução de problemas mais complexos; Aumento da produtividade
do trabalho do engenheiro; Menor custo de mão-de-obra especializada; Melhoria na
qualidade do projeto; Melhor apresentação de desenhos, plantas, gráficos,
78
diagramas e memórias de cálculo; Armazenamento de todo o projeto em
arquivos; Facilidade de transmissão de arquivos via Internet.
Devido ao crescimento da capacidade de processamento dos computadores e a
evolução das tecnologias da informação e comunicação, atualmente, grande parte
das atividades desenvolvidas em um escritório de uma consultoria de projetos de
engenharia se dá por meio de computadores. É grande a oferta de softwares
dedicados à área. As funcionalidades vão desde ferramentas de CAD (computer
aided design); cálculos de equipamentos, instrumentos e acessórios; além de
ferramentas de modelagem 3D. A crescente informatização dos processos leva a
uma natural tendência ao desejo de integração de todo o empreendimento. As
empresas de softwares já possuem também soluções nesse sentido, permitindo a
integração desde o projeto, passando pela construção e culminando na operação e
manutenção das plantas industriais, ou seja, todo o empreendimento é desenvolvido
com base em uma única ferramenta da informática. A tendência é que os clientes
passem a exigir a utilização dessas ferramentas de integração, aumentando cada
vez mais o emprego do computador nas atividades de projetos de engenharia.
Conforme visto no item 5.1 desse trabalho, a engenharia consultiva desenvolve
serviços técnicos especializados de natureza predominantemente intelectual. Tal
fato, aliado ao uso intensivo de tecnologia no desenvolvimento do trabalho, torna os
colaboradores dessas empresas candidatos naturais a exercerem suas atividades
profissionais à distância. De acordo com relatório publicado pela Organização
Mundial do Trabalho (OIT)4, as ocupações para as quais o teletrabalho é adequado
são, principalmente, aquelas que usam extensivamente as tecnologias de escritório.
Esse relatório divide tais ocupações em dois grandes grupos: de um lado as
atividades de apoio e secretaria; de outro, as atividades técnicas e gerenciais, onde
se encaixam as atividades principais desenvolvidas em uma consultoria de projetos
de engenharia.
4 International Labour Organization. Conditions of Work Digest - Telework,. Vol. 9, No. 1, p. 8-9. Genebra, 1990.
79
Além do uso das ferramentas de informática nas atividades técnicas, conforme
observado no item 4.4.1 deste trabalho, as pessoas se habituam cada vez mais à
utilização da comunicação eletrônica, mesmo nos ambientes convencionais de
trabalho, o que também ocorre no desenvolvimento das atividades das empresas de
engenharia consultiva. A evolução das tecnologias da informação e comunicação,
cada vez mais disponíveis às corporações, permitem a transferência de mensagens,
imagens e sons, levando a novas formas de interação entre as pessoas. Conforme
observado no mesmo item deste trabalho, no que diz respeito à comunicação, o
principal problema para utilização do teletrabalho no domicílio em projetos refere-se
à perda da comunicação informal e do contato direto, fatores importantes para o
processo de distribuição das informações em projetos. Além disso, de acordo com
Whittaker e Cartmell (1996), a flexibilidade de horários proporcionada pelo
teletrabalho no domicílio, considerada uma das grandes vantagens dessa
modalidade de trabalho para os colaboradores, pode também trazer problemas para
os projetos de engenharia, face à possibilidade de dificuldade de comunicação com
os teletrabalhadores, que podem estar inacessíveis em momentos em que
ocorrerem problemas, que exijam respostas imediatas, o que pode gerar atrasos e
custos extraordinários para o projeto. Em contrapartida, justamente por conta do
desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação, atualmente muitos
projetos são desenvolvidos por equipes virtuais, ou seja, os membros da equipe
encontram-se dispersos geograficamente, comunicando-se essencialmente de
maneira eletrônica, contando com alguns poucos encontros face a face. O que se
percebe é que a comunicação eletrônica já faz parte do dia-a-dia dos projetos de
engenharia, de modo que em uma situação de teletrabalho no domicílio o uso desse
tipo de comunicação não seria uma grande diferença em relação ao
desenvolvimento de projetos com equipes virtuais, ou mesmo com equipes
convencionais.
Ainda relacionado à comunicação, conforme comentado no item 4.4.2 deste
trabalho, a utilização do teletrabalho no domicílio também trará impactos no
desenvolvimento das equipes de consultorias de projetos de engenharia. Conforme
Whittaker e Cartmell (1996), as consultorias de engenharia caracterizam-se pela
presença de profissionais em diferentes níveis habilidade e áreas de conhecimento.
80
Quando um novo profissional entra na empresa, a ele são designadas tarefas cada
vez mais complexas e com níveis cada vez menores de orientação. Dessa forma ele
desenvolve sua capacidade e aumenta o seu valor para a empresa. Esse
desenvolvimento depende bastante da habilidade do indivíduo de recorrer à
orientação dos profissionais mais experientes. Com o trabalho à distância, perde-se
a interação face a face e a oportunidade de transmissão do conhecimento. Além
disso, existe a questão do feedback oportuno dos superiores para os
teletrabalhadores, que também é prejudicado pela distância.
Analisando a natureza do trabalho da consultoria de engenharia, no que diz a
utilização do teletrabalho no domicílio, Whittaker e Cartmell (1996) afirmam que o
fato de existirem várias tarefas a serem executadas como parte de um projeto, e
sendo o trabalho conduzido pelos prazos, favorecem o controle das tarefas
executadas fora do “campo de visão” da gerência, como ocorre no teletrabalho no
domicílio. Nesse sentido, no entanto, segundo os mesmos autores, é necessário
considerar que um projeto de engenharia não é um simples conjunto de diferentes
tarefas. Esses projetos apresentam detalhes à medida que se desenvolvem e são
formados por uma série de tarefas individuais altamente interdependentes, o que faz
com que a falha no cumprimento de uma dessas tarefas afete todo o projeto. Deste
modo, não é suficiente a definição das tarefas e dos prazos para um teletrabalhador.
Os custos de trabalhos não concluídos, tarefas descoordenadas, ou retrabalho irão
anular as economias conseguidas com a utilização do teletrabalho no domicílio.
Quanto à questão da segurança da informação, essa é sempre uma
preocupação dos clientes das consultorias de projetos de engenharia, ao
disponibilizarem as informações dos seus empreendimentos a essas empresas. O
item 3.5.4 deste trabalho mostrou, no entanto, que tecnologia possui soluções para
essa questão. Para o caso de uma consultoria de projetos de engenharia, não
existiria grande diferença entre um sistema de segurança da informação de uma
situação de teletrabalho e uma típica Intranet corporativa. Além disso, com o
desenvolvimento de muitos projetos por equipes virtuais, o trânsito de informações
utilizando novas tecnologias da informação e comunicação já é uma realidade,
sendo essa mesma tecnologia utilizada no teletrabalho no domicílio.
81
No que diz respeito às qualificações específicas, para que um trabalhador tenha
sucesso no sistema de teletrabalho, conforme definido no item 3.7.2 deste trabalho,
muitas dessas características são inerentes aos profissionais que trabalham em
consultorias de projetos de engenharia, pois são também importantes para o
desempenho das funções nessa área. Os profissionais dessa área são, em geral,
organizados, disciplinados, orientados para prazos e desenvoltos para lidar com as
tecnologias da informação e comunicação. Obviamente, nem todos os profissionais
das consultorias de projetos de engenharia terão as características necessárias para
se adaptar em sistemas de teletrabalho no domicílio, mas certamente não será difícil
encontrar trabalhadores aptos para tal.
82
7. CONCLUSÃO
O teletrabalho no domicílio, que consiste em realizar em casa as tarefas que
seriam realizadas no escritório da empresa, estando os trabalhadores conectados
com a organização por meio das tecnologias da informação e comunicação,
apresenta-se como uma alternativa de flexibilização das relações de trabalho.
As consultorias de projetos de engenharia, por caracterizarem-se pelo
desenvolvimento de serviços de cunho eminentemente intelectual e pela utilização
intensiva de tecnologias da informação e comunicação, apresentam-se como
empresas altamente apropriadas para implantação de programas de teletrabalho no
domicílio.
Este trabalho buscou avaliar a utilização do teletrabalho no domicílio em
consultorias de projetos de engenharia, bem como a influência dessa modalidade de
trabalho na gestão de projetos. Nesse sentido, o que se conclui do exposto neste
trabalho, em cada um dos pontos relevantes, está exposto nos itens abaixo:
7.1. CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO E DOS TRABALHADORE S
No que diz respeito à adequação das atividades desenvolvidas nas consultorias
de engenharia ao teletrabalho, elas encaixam-se naquelas classificadas por Lemesle
e Marot (1994), apud Freitas (2008), como atividades de produção da informação,
sendo altamente apropriadas à utilização do teletrabalho. Além disso, o fato de
serem os projetos de engenharia constituídos de diversas tarefas, orientadas pelos
prazos, favorece a distribuição de atividades aos teletrabalhadores, bem como o
desenvolvimento dessas atividades, permitindo o gerenciamento por desempenho. É
necessário se destacar, no entanto, que deve haver coordenação das tarefas, uma
vez que, em geral, elas são altamente interdependentes, o que faz com que a falha
no cumprimento de uma dessas tarefas afete todo o projeto.
83
No que diz respeito às características dos trabalhadores das consultorias de
projetos de engenharia e suas aplicabilidades ao teletrabalho no domicílio, deve-se
destacar que, em geral, profissionais que trabalham na área técnica dessas
empresas são organizados, disciplinados, orientados para prazos e desenvoltos
para lidar com as tecnologias da informação e comunicação, o que favorece a
adaptação desses funcionários a sistemas de teletrabalho no domicílio. Certamente
muitos não se adaptarão, já que essa é uma análise muito simplista, face à
complexidade dos fatores envolvidos. Entretanto, é possível afirmar que, entre os
profissionais dessa área, muitos poderão desenvolver com sucesso suas atividades
profissionais em seus domicílios, através do teletrabalho.
Além disso, conforme observado neste trabalho, os profissionais das consultorias
de projetos de engenharia já vivem uma situação de quase completa informatização
de suas atividades. As tarefas já são executadas maciçamente através de
computadores e os funcionários encontram-se bastante familiarizados com o uso
das tecnologias da informação e comunicação. Do ponto de vista exclusivo do
trabalho, a transição para um sistema alternativo, com o desenvolvimento das
atividades profissionais de forma remota nos domicílios dos funcionários, não seria
grande obstáculo. Nesse sentido, deve ser ressaltado que as experiências de
teletrabalho no domicílio examinadas do desenvolvimento deste trabalho indicam
que, quanto a equipamentos e conexão necessários para o desenvolvimento do
teletrabalho no domicílio, a solução mais indicada é a sua compra/contratação pela
instituição e seu fornecimento direto aos funcionários. Conforme já mencionado
neste trabalho, recomenda-se que a utilização dos itens disponibilizados pela
empresas seja exclusiva para o desenvolvimento do trabalho, ficando sua
manutenção também por conta da empresa.
7.2. INTERAÇÃO DO TIME DE PROJETO
A principal observação, no que diz respeito à interação do time do projeto, está
relacionada à falta de contato pessoal entre os teletrabalhadores e o restante da
equipe, o que prejudicaria a distribuição das informações no projeto. Este trabalho
84
mostrou que, por mais avançadas que sejam as ferramentas das tecnologias da
informação e comunicação, elas ainda não substituem o contato face a face em
situações como a transmissão de um feedback; a orientação; a transmissão de
conhecimento; a comunicação informal, com o objetivo de facilitar e agilizar a
resolução de problemas, entre outros. As pessoas se adaptam, com uma velocidade
cada vez maior, à utilização de ferramentas de comunicações eletrônicas, tais como
e-mail, teleconferências, videoconferências e reuniões eletrônicas, mas ainda
necessitam do contato face a face em muitas situações.
Para interação do time de projeto em situações de teletrabalho no domicílio
recomenda-se a utilização de um sistema corporativo alternativo (utilizando
ferramentas disponíveis no mercado de softwares), que permita a inclusão de
eventos, com a possibilidade de anexação de arquivos, que estando armazenados
nos servidores, poderiam ser acessados e trabalhados a partir de qualquer
equipamento conectado à rede corporativa, evitando assim a utilização excessiva do
correio eletrônico (e-mail), que gera gasto exagerado de tempo tanto dos
teletrabalhadores, quanto dos seus gestores, no controle do fluxo de mensagens,
bem como na identificação e acompanhamento de tarefas.
7.3. RECURSOS HUMANOS
A realização de teletrabalho no domicílio permitirá ao trabalhador ter maior
flexibilidade da administração do seu tempo, o que lhe dará maior satisfação,
podendo gerar maior produtividade. As mudanças na rotina do trabalho e nos
modelos de gerenciamento trarão maior independência e autonomia para o
trabalhador. Essa maior independência tem potencial para gerar uma forte auto-
realização, que pode traduzir-se em maior empenho e comprometimento por parte
do trabalhador. Tudo isso contribuirá para a retenção dos membros da equipe ao
longo do projeto, evitando gastos extraordinários de tempo e recurso com a perda de
componentes importantes do time durante um projeto.
85
O empregador deve acompanhar de perto seus teletrabalhadores e estar atento
a possíveis problemas de motivação causados tanto pelo isolamento social, quanto
pela dificuldade de comunicação com os membros da equipe. Esse
acompanhamento é importante para determinar se um membro da equipe está
desmotivado, antes que isto cause impactos no desempenho e no comprometimento
da equipe. Também o desenvolvimento dos recursos humanos será prejudicado pela
distância. Os gestores precisam cuidar para que a transmissão de determinações,
orientações e feedback a teletrabalhadores no domicílio não pareçam muito mais
frias e impessoais, do que ocorreria em uma equipe com contato pessoal
permanente. É fundamental implementar investimentos na área de treinamento à
distância e capacitação específica para funcionários que pretendem trabalhar
remotamente, gestores, e também para os funcionários administrativos que se
envolverão com o sistema de teletrabalho.
O bem-estar dos funcionários teletrabalhando no domicílio depende ainda da
adequação do ambiente de trabalho no domicílio à atividade laboral. As
especificações de quem pode se candidatar a participar deverão conter as
condições necessárias à instalação do posto de trabalho. Será necessário definir as
frequências de inspeções no ambiente de teletrabalho, levando-se em consideração
que a casa do trabalhador não é uma extensão do escritório.
7.4. SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO
O nível de segurança da informação requerido para as atividades de uma
consultoria de projetos de engenharia não exige investimentos extras para utilização
do teletrabalho no domicílio, além daquilo que já é utilizado em uma típica Intranet
corporativa, bem como nos computadores dos trabalhadores no escritório. O
fornecimento dos equipamentos por parte da empresa, com uso exclusivo para as
atividades profissionais, com acompanhamento e manutenção pela equipe da
empresa, garantirá maior segurança da informação no teletrabalho no domicílio.
7.5. QUESTÕES LEGAIS
86
Este trabalho mostrou que, apesar dos esforços recentes, a legislação brasileira
ainda encontra-se atrasada em relação a outros países, no que diz respeito ao
teletrabalho no domicílio. A recomendação para essa questão é seguir o que fazem
as empresas que adotam o teletrabalho no domicílio em países em que não existem
regras claras sobre a questão, as quais elaboram contratos de trabalho negociados
entre as partes, definindo principalmente os seguintes pontos: condições de
participação dos trabalhadores no programa de teletrabalho no domicílio; condições
físicas do posto laboral remoto; regras de utilização de equipamentos instalados no
domicílio; divisão das horas de trabalho entre escritório da empresa e domicílio;
registro das horas de trabalho; equipamentos de trabalho (regras de aquisição e
manutenção); contatos com a empresa (medidas suplementares de interação social);
reembolso de despesas (quantias indenizatórias de gastos domésticos); e condições
para cessação da relação de teletrabalho no domicílio.
Vale ressaltar também que o Brasil mostra sinais de mudanças para o futuro com
o reconhecimento formal do teletrabalho, através do projeto de lei (PL) 4.505/08, em
andamento no Congresso nacional, que objetiva regulamentar o trabalho à distância,
caracterizando como teletrabalho a utilização de mais de quarenta por cento do
tempo de trabalho fora dos locais regulares.
7.6. CONSIDERAÇOES FINAIS
Por tudo o que foi apresentado, conclui-se que sistemas de teletrabalho no
domicílio são aplicáveis a consultorias de projetos de engenharia, trazendo
vantagens para os trabalhadores e para as empresas. O trabalhador teria
considerável melhoria em sua qualidade de vida, com a flexibilidade de horários para
o trabalho e o fim da necessidade do deslocamento casa-trabalho-casa, ficando livre
do estresse e da perda de tempo causados pelo trânsito dos grandes centros
urbanos, com o consequente aumento de sua produtividade. A adoção dessa
sistemática de trabalho por essas empresas possibilitaria a redução do custo direto
com mão-de-obra, resultado do aumento da produtividade dos teletrabalhadores,
87
além de diminuir também os custos indiretos, por conta da redução dos gastos com
imóveis e mobiliário. Vale ressaltar a importância da redução de custos para as
consultorias de projetos de engenharia, que, conforme mostrado neste trabalho,
concorrem em um mercado em que o preço se sobrepõe à diferenciação do serviço,
devendo a empresa buscar reduzir seus custos de produção, operacionalização e
comercialização do serviço, o que possibilitará ao empresário repassar a redução de
custos para o preço final de venda sem, contudo, reduzir a margem de lucro,
melhorando a competitividade da empresa no mercado.
Entretanto, pelos impactos apontados desta sistemática para as comunicações e
os recursos humanos, ressalva-se que essas empresas devem adotar regimes de
teletrabalho no domicílio em tempo parcial, no qual o colaborador trabalha parte do
tempo no seu domicílio e parte no escritório da empresa (por exemplo, quatro dias
da semana em casa e um no escritório), a fim de minimizar os impactos da falta de
comunicação face a face e do isolamento social do teletrabalhador. Ao contrário do
que se pode pensar, tal fato não acabaria com a redução dos custos de instalação
para as empresas, proporcionada pelo teletrabalho, já que elas poderiam substituir
os postos de trabalho individuais dos trabalhadores convencionais por postos de
trabalho coletivos, que seriam divididos por vários trabalhadores em dias alternados.
Por fim, é importante ressaltar a necessidade de mudança no estilo de gestão,
passando de um sistema de controle exclusivo de horários, com supervisão
presencial, para um controle misto de desempenho e horários, com supervisão
remota, em que o teletrabalhador continuaria tendo a flexibilidade de horários
proporcionada pelo teletrabalho, mas precisaria estar disponível para a empresa
durante parte do expediente normal de trabalho, a fim de evitar impossibilidade de
comunicação com um membro da equipe do projeto durante longos períodos.
7.7. DIRECIONAMENTO PARA NOVOS TRABALHOS
Este trabalho tratou os assuntos nele discutidos de forma abrangente, apontando
vários caminhos para novos estudos. As limitações deste trabalho devem estimular a
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realização de novos estudos, que possibilitem a ampliação do conhecimento sobre o
fenômeno do teletrabalho no domicílio, em especial em consultorias de projetos de
engenharia, e suas implicações para a gestão dos projetos. Considerando o que se
concluiu a partir deste trabalho, propõem-se os seguintes estudos futuros:
� Investigar a possível existência de programas estruturados de teletrabalho no
domicílio em empresas de projetos de engenharia no exterior e analisá-los
através de estudos de casos.
� Desenvolver instrumentos de pesquisa para avaliar as características do perfil
dos funcionários candidatos ao teletrabalho no domicílio em consultorias de
engenharia e sua adaptabilidade ao teletrabalho no domicílio, de acordo com
as características descritas na literatura.
� Desenvolver instrumentos para identificar quais os cargos teriam maiores
chances de se adaptar a programas de teletrabalho no domicílio em
consultorias de projetos de engenharia.
� Analisar, através de estudo de caso, o impacto da falta de contato pessoal
entre os teletrabalhadores e o restante da equipe nos projetos de engenharia.
� Avaliar, através de estudo de caso, os impactos nos projetos de engenharia
causados tanto pelo isolamento social dos teletrabalhadores, quanto pela
dificuldade de comunicação com os membros da equipe.
� Realizar estudos para avaliar a situação jurídica dos teletrabalhadores no
domicílio no Brasil, especialmente considerando a evolução da legislação
trabalhista no país para se adaptar a essa sistemática de trabalho, bem como
avaliando os resultados dos contratos de trabalho em vigência em empresas
que adotaram o teletrabalho no domicílio.
Apesar das limitações deste trabalho, resultado de sua abrangência, espera-se
que sirva de estímulo para futuras pesquisas sobre os temas aqui discutidos, além
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de contribuir como guia para empresas interessadas nessa forma de trabalho. A
realização deste estudo está justificada, no entanto, ao simplesmente promover a
reflexão a respeito da utilização do teletrabalho no domicílio, suas vantagens e
desvantagens, além de sua utilização em uma área que pouco o explora,
considerando uma perspectiva que associa a tecnologia da informação à tendência
de flexibilização das relações de trabalho.
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