FATORES CRÍTICOS E CRONOLÓGICOS DA EVOLUÇÃO E DELIMITAÇÃO DOS CICLOS ECONOMICOS DO ESTADO DE...

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FATORES CRÍTICOS E CRONOLÓGICOS DA EVOLUÇÃO E DELIMITAÇÃO DOS CICLOS ECONOMICOS DO ESTADO DE RONDONIA. Marcus Roberto Ribeiro 1 Resumo O estudo tem como o objetivo, a partir de levantamentos bibliográficos, fazer uma análise tendo como base os acontecimentos históricos através de uma cronologia que permite evidenciar a evolução e a delimitação dos ciclos econômicos que ocorreram no Estado de Rondônia. Com os ciclos econômicos estudados pôde-se perceber que a região passou por momentos de crises que foram agravados pelo próprio perfil dos migrantes, onde a maioria era aventureiro, trabalhador braçal e refugiado da seca e da fome que no final de suas atividades econômicas ou voltavam para suas regiões, ou permaneciam no local sem perspectivas. A ausência de previsão era ocasionada pela falta formação dos cidadãos que migravam para Rondônia, causando o aumento da crise social e econômica com o fim de cada ciclo. Rondônia sofreu no passado com a falta de interesse político e políticas públicas, que privilegiassem o seu desenvolvimento regional sustentável, priorizando apenas a geração e a manutenção de emprego e de renda através dos investimentos em infra- estrutura básica e logística. Com base nos fatos históricos e nas experiências regionais vividas através dos ciclos econômicos do Estado de Rondônia espera-se motivar o interesse da sociedade 1 Bacharel em Administração de Empresas pela Universidade de Taubaté – UNITAU. Especialista em Administração e Estratégia Empresarial pela ULBRA/PVH, e Mestrando em Gestão e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Taubaté – UNITAU. E-mail: [email protected]

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FATORES CRÍTICOS E CRONOLÓGICOS DA EVOLUÇÃO E DELIMITAÇÃO DOS CICLOS ECONOMICOS DO ESTADO DE RONDONIA.

Marcus Roberto Ribeiro1

Resumo

O estudo tem como o objetivo, a partir de levantamentos

bibliográficos, fazer uma análise tendo como base os

acontecimentos históricos através de uma cronologia que permite

evidenciar a evolução e a delimitação dos ciclos econômicos que

ocorreram no Estado de Rondônia. Com os ciclos econômicos

estudados pôde-se perceber que a região passou por momentos de

crises que foram agravados pelo próprio perfil dos migrantes,

onde a maioria era aventureiro, trabalhador braçal e refugiado da

seca e da fome que no final de suas atividades econômicas ou

voltavam para suas regiões, ou permaneciam no local sem

perspectivas. A ausência de previsão era ocasionada pela falta

formação dos cidadãos que migravam para Rondônia, causando o

aumento da crise social e econômica com o fim de cada ciclo.

Rondônia sofreu no passado com a falta de interesse político e

políticas públicas, que privilegiassem o seu desenvolvimento

regional sustentável, priorizando apenas a geração e a manutenção

de emprego e de renda através dos investimentos em infra-

estrutura básica e logística. Com base nos fatos históricos e

nas experiências regionais vividas através dos ciclos econômicos

do Estado de Rondônia espera-se motivar o interesse da sociedade

1 Bacharel em Administração de Empresas pela Universidade de Taubaté – UNITAU.Especialista em Administração e Estratégia Empresarial pela ULBRA/PVH, e Mestrando emGestão e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Taubaté – UNITAU. E-mail:[email protected]

para evitar os problemas ocorridos anteriormente com este novo

momento econômico pelo qual o Estado de Rondônia está passando,

fomentado pelos investimentos do PAC (Programa de Aceleração do

Crescimento).

Palavras-Chave: Ciclo Econômico, Desenvolvimento Regional,Políticas Públicas, História de Rondônia.

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CRITICAL AND CHRONOLOGICAL FACTORS OF EVOLUTION AND DELIMITATIONSABOUT ECONOMIC CYCLES OF RONDONIA STATE

Abstract

The study has as objective, from researches review, make an

analysis based on the historical events through a chronology

which emphasize the development and definition of economic cycles

that have occurred in the state of Rondônia. With economic cycles

could be studied to see that the region went through times of

crises that were exacerbated by the profile of migrants, which

was most adventurous, brassard worker and refugee from the

drought and famine, at the end of their economic activities or

returned for their regions, or remained in place without

prospects. The absence of estimates was caused by lack of

training citizens who migrated to Rondônia, causing the increase

of social and economic crisis with the end of each cycle.

Rondônia has experienced in the past with the lack of political

interest and public policies that privilege the regional

sustainable development, focusing only in the generation and

maintenance of employment and income through investments in basic

infrastructure and logistics. Based on historical facts and

regional experiences lived through the economic cycles of the

State of Rondônia is expected to motivate the interest of society

to prevent problems before with this new economic time by which

the State of Rondônia is going, encouraged by investments of PAC

(Growth Acceleration Program).

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Keywords: Economic cycle, Regional Development, Public Policy,

History of Rondônia.

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1. INTRODUÇÃO

O Mundo apresenta uma nova realidade, que tem com base atransformação e o desenvolvimento, impulsionados pelos desafiosde sobrevivência e crescimento, num contexto de globalização eelevado nível competitividade. Considerando essa nova realidade,a geração, manutenção e disseminação do conhecimento passam a serconsiderados imprescindíveis para a criação e estabelecimento docrescimento e desenvolvimento econômico regional. As modernaseconomias são cada vez mais dirigidas e influenciadas peloconhecimento, possibilitando o aumento da capacidade demanutenção e geração de empregos, como também a melhoria daqualidade de vida e maior governança do Estado em relação àscrises que se abatem sempre após um crescimento econômico.

O Brasil apresenta uma diversidade muito grande quando sefala de desenvolvimento regional, a disparidade de realidaderegional é significativa e interfere de forma decisiva nocrescimento das regiões menos favorecidas tanto geograficamente,quanto politicamente. Essa discrepância entre regiões aconteceprincipalmente a partir das políticas públicas, quehistoricamente, sempre foram formuladas distintamente para cadaregião, considerando que quanto menos desenvolvida,desprivilegiada geograficamente e com fatores locaisrestringentes, como clima, perfil demográfico, dentre outros,menor seriam as preocupações em políticas sustentáveis a longoprazo.

Rondônia traz em sua historia uma serie de problemasrelacionados a manutenção do desenvolvimento econômico e social,seu desenvolvimento foi embasado numa serie de ciclos econômicosque lhe permitiram crescimento, mas sempre seguidosposteriormente de crises econômicas e sociais.

A história de Rondônia evidencia uma realidade que leva areflexão sobre as possíveis soluções para a falta de perspectivasde médio e longo prazo das políticas públicas de fomento aodesenvolvimento regional, quando se refere a regiões semdesenvolvimento industrial e sem grupo de interesses.

Desta forma, este estudo tem como objetivo fazer umaanalise, tomando como base os acontecimentos históricos, partindode uma cronologia que permita evidenciar de forma clara a

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evolução e delimitação dos ciclos econômicos ocorridos no Estadode Rondônia.

Com base nos fatos históricos e nas experiências econômicasregionais vividas nos ciclos de crescimento e desenvolvimento doEstado de Rondônia, esperasse motivar o interesse da sociedade emevitar os problemas ocorridos anteriormente, neste novo momentoeconômico que o Estado está passando, fomentado pelosinvestimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

2. METODOLOGIA DA PESQUISA

A pesquisa científica é baseada num processo de inferênciausado para desenvolver e testar proposições através de umpensamento reflexivo (COOPER; SCHINDLER, 2003). Lakatos (1986),corrobora o com a afirmação quando diz que a pesquisa enquantométodo de pensamento reflexivo requer um tratamento científico,levando ao conhecimento ou descoberta das realidades, na busca deresposta ou solução para um problema, implicando no levantamentode dados de varias fontes.

A metodologia a utilizada neste estudo classificar-se doponto de vista de sua natureza como aplicada, pois, segundo Silvae Menezes (2005, p.20) "objetiva gerar conhecimento paraaplicação prática e dirigidos à solução de problemas específicos.Envolvem verdades e interesses locais".

Quanto à abordagem do estudo está classificada como umapesquisa qualitativa, pois a pesquisa busca profunda compreensãodo contexto da situação.

Do ponto de vista dos objetivos e delineamento da pesquisa édo tipo, exploratória, pois, conforme apregoa Gil (1999, p.65)que a mesma "[...] visa proporcionar maior familiaridade com oproblema com vistas a torná-lo explícito ou a construirhipóteses..." assumiu, também a forma de pesquisa descritiva,pois, conforme ensina Gil (1991, p.21) "[...] visa descrever ascaracterísticas de determinada população ou fenômeno ou oestabelecimento de relações entre variáveis..." e Bibliográficapois utilizou fontes bibliográficas para apresentar os fenômenosda historia e da realidade local. O universo da pesquisa foi o Estado de Rondônia e suahistoria econômica, quanto aos instrumentos de coleta de dados

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foi utilizado o levantamento bibliográfico e a pesquisahistórica.

3. REVISÃO DA LITERATURA

Considerando o Tema em estudo, será apresentado um brevehistórico sobre o desenvolvimento do Estado de Rondônia atravésde uma revisão da literatura sobre como as questões relativas àspolíticas públicas e os efeitos destas influenciaram namanutenção do desenvolvimento econômico e na geração de emprego erenda.

3.1 Histórico de Atividades Econômicas do Estado de RondôniaO desenvolvimento do Estado de Rondônia foi marcado por

varias atividades econômicas que determinaram característicasespecificas de crescimento em épocas distintas e sempre seguidasde crises que impactaram na manutenção desse desenvolvimento.Crises estas em sua grande maioria geradas por políticas públicasextremamente voltadas para interesses políticos e preocupaçãovoltada para a solução de problemas regionais alheios a realidadedo Estado, tais como a briga por terras no sul do País, comotambém a fuga da seca e da fome no Nordeste.

3.1.1 Primeiro Ciclos da Borracha

Oliveira (2001) relata que entre 1828 a 1835, surgiram asprimeiras instalações fabris que produziam produtos de borrachana America do Norte e Europa, proporcionando uma elevação dademanda de extração de látex na Amazônia, intensificado aindamais em 1839 com a descoberta de Charles Goodyer, tornando aborracha mais resistente e, em 1842 com Thomas Hancookdescobrindo o processo de vulcanização. A demanda continuou aaumentar na década de 1850, com a introdução da navegação avapor, seguida da internacionalização da navegação pelo RioAmazonas.

Segundo Silva (1991), a imensa Amazônia passara a ser palcode aventureiros e heróis que enfrentavam os mais distantesrecantos, invadindo todas as terras banhadas por rios e riachostemporários percorriam terra firme, baixos alagadiços e por lá

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permaneciam trabalhando dia e noite na extração da seiva daseringa.

Ferreira (1987) relata que no período de 1870 a 1873, iniciae fracassa a primeira tentativa de construção de estrada de ferroMadeira-Mamoré, assim como também fracassa a tentativa deretomada entre 1875 a 1877.

Diante da demanda do látex, a região tornou-se pólo atrativoprincipalmente para os nordestinos, que migraram para a Amazôniaem busca de trabalho na extração do látex. A ocupação do Vale doMadeira ocorreu basicamente por três grupos: os nativos emamelucos, que já eram da região; os bolivianos que percorriam osRios Beni e Mamoré chegando ao Madeira e por último osnordestinos, principalmente cearenses que adentraram a foz doMadeira basicamente pela sua foz. Com a elevada comercializaçãodo látex na região dos rios Madeira, Mamoré e Guaporé, o governobrasileiro promoveu a integração dessa região com o resto doPaís, surgindo assim, em 1907, a Comissão Rondon que integrou aregião através da construção das linhas telegráficas (MEDEIROS,2004).

Aquele movimento pelos rios da região rondoniana teriasustentação até o surgimento da produção dos seringais daMalásia, plantados com sementes que fora levada do Brasil deforma ilegal. Entre 1910 e 1914, findara o primeiro ciclo daborracha, embora a extração do látex continuasse em menor escalaaté os a segunda guerra mundial (SILVA, 1997).

Deve-se evidenciar que neste ciclo econômico fica bemcaracterizado pelo processo de migração que se deu de formadesordenada e tendo como principal agente fomentador anecessidade fuga dos nordestinos da seca e da fome que atingiamaquela região, trazendo assim, para o Vale do Madeira um povoaventureiro atrás de melhores oportunidades e sem nenhuma infra-estrutura.

3.1.2 Estrada de Ferro Madeira-MamoréNos idos de 1797, Dom Francisco de Souza Coutinho, em viagem

pelo rio Madeira teve a idéia de construir uma estrada paratranspor os trechos encachoeirados deste rio. Já em 1861, JoãoMartins da Silva Coutinho em viagem pelo rio Madeira a serviço doGoverno do Amazonas também idealizou a construção de uma estrada.

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Somente no final do século XIX, após realizar descida pelo rioMadeira O general boliviano Quentin Quevedo, apontou duasalternativas para vencer os trechos encachoeirados do rioMadeira, que seriam: canalizar o rio ou construir uma estrada deferro (OLIVEIRA, 2001).

Até a guerra do Paraguai, em 1866, não havia grandesnecessidades de escoar produtos pelo Madeira, pois se utilizava aBacia do Prata. Com a guerra esta opção se tornou inviável,surgindo então a necessidade de encontrar novas rotas. Em 1870, oBrasil e a Bolívia celebram o tratado diplomático e comercial,para construírem uma ferrovia no trecho das cachoeiras dos riosmadeira e Mamoré, iniciando as obras em 1872 com a construtoraPublic Works, contratada para realizar a obra, abandonando já noano seguinte (SILVA, 1997).

Com a assinatura do Tratado de Petrópolis entre Brasil eBolívia em 1903, onde houve a incorporação do Acre ao Brasil,coube ao Brasil alem da indenização de dois milhões de librasesterlinas a construção da ferrovia que viabilizaria oescoamento dos produtos do centro-oeste boliviano para oatlântico. A reconstrução da ferrovia foi iniciada em 1907 pelaempresa May, Jekyll & Randolph e em 1909 o governo brasileiroaprovou o arrendamento da ferrovia para Raiway Company por umprazo de 60 anos a partir de 1912, mesma época da inauguração doultimo trecho da ferrovia (FERREIRA, 1987).

O povoado de Porto Velho surgiu a partir da retomada daconstrução da estrada de ferro Madeira Mamoré em 1907, já em1913 criava-se a Vila de Porto Velho e posteriormente em 1914 foicriado o Município de Porto velho, também em 1912 com a conclusãodo ultimo trecho da ferrovia surge o povoado de Guajara Mirim quese localizava na outra extremidade da ferrovia (OLIVEIRA, 2001;SILVA,1991; BORZACOV, 2007).

Os tempos áureos da ferrovia foram curtos, visto que doisanos depois da inauguração a ferrovia passou a trabalhar comdéficit em função da queda de preço da borracha, ocasionada peladesvalorização da borracha no mercado internacional, conseqüênciado surgimento dos seringais na Malásia. Com a recessão de 1929,deixa de existir qualquer esperança de alavancar a estrada deferro, e por conta das dificuldades em 1937 foi rescindido ocontrato de arrendamento da Railway Company, assumindo a

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administração da ferrovia partir de então o 5º batalhão deEngenharia e Construção (5º BEC), até 1972 quando da desativaçãodefinitiva da ferrovia (FERREIRA, 1987; OLIVEIRA, 2001).

Evidencia-se o inicio de um novo ciclo econômico que surgecom a retomada da construção da ferrovia Madeira-Mamoré, destavez marcada por um processo de migração tendo como agentefomentador alem da situação da região nordeste do territórionacional, também a necessidade de um grande contingente de mão-de-obra disposta a correr os riscos que rodeavam a construção daestrada de ferro e também uma visão um pouco mais estratégica,pois a região passou a ser vistas como uma rota de escoamentopara o atlântico.

3.1.3 Linhas Telegráficas Em 1909 no mesmo período do re-inicio da construção da

Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, Rondon chegava às beiras do rioMadeira, em Santo Antonio após atravessar uma extensão de 1415quilômetros desde Tapirapoã, em Mato Grosso abrindo picadas paratrazer a linha telegráfica pontilhada de pequenos núcleos depovoação que prosperaram e mais tarde se transformaram emmunicípios, a partir da abertura da BR-364 (SILVA, 1991).

Em 1915, tem-se, de fato, a inauguração da linha telegráficaunindo Cuiabá ao então Município de Porto velho, nessa época, otelegrafo a fio já era obsoleto, entretanto, a instalação depostos telegráficos deu origem a cidade de Vilhena e contribuipara o desenvolvimento de outras como Pimenta Bueno, Ji-Paraná,Jaru, Ariquemes, que atualmente são municípios do Estado deRondônia, bem como serviram de referencia para o Traçado daestrada BR-364 (FONSECA, 2003).

Entre 1910 – 1940 Rondon, serviu-se de mão-de-obra demigrantes do sul do país. Esses trabalhadores juntamente com osdemais migrantes atraídos pelo avanço da construção da linhatelegráfica, foram aos poucos se fixando ao longo do traçado,formando pequenos povoamentos, principalmente nos postostelegráficos que ofereciam melhores condições de infra-estrutura,comunicações com os demais locais. As clareiras abertas pelaexpedição Rondon contribuíram para a migração e povoamento daregião e seu desenvolvimento econômico (CIM, 2002; MEDEIROS,2004).

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A construção das Linhas telegráficas concomitante com areconstrução da estrada de ferro, inicia um ciclo econômico,desta vez, direcionado para o restante do Estado onde passam asurgir outros povoamentos que não os povoados relacionados aferrovia. Este ciclo acaba absorvendo ou amenizando a crisegerada com o término do primeiro ciclo da borracha, que gerougrande número de mão-de-obra sem atividade econômica, alem deampliar a ocupação geográfica do Estado.

3.1.4 O segundo ciclo da BorrachaConforme Medeiros (2004), o segundo ciclo da borracha fora

propiciado com a eclosão da segunda guerra mundial, pois osseringais ingleses situados na Malásia foram ocupados pelastropas Japonesas que faziam parte dos países do eixo, causandouma situação muito desconfortável para a Inglaterra que estava emGuerra com a Alemanha e demandava borracha para a fabricação dosequipamentos bélicos.

Com a segunda guerra mundial, foram feitos os acordos deWashington, em 1942, que incluía a compra de toda a borrachabrasileira que a ser produzida, como também possibilitou ainda acriação do Território Federal do Guaporé. Em conseqüência doacordo de Washington o governo brasileiro recrutou mais vinte edois mil homens nordestinos, convocados como “Soldados daBorracha”, uma saída do governo para os problemas da seca e dafome no nordeste brasileiro, para viabilizar a produção daborracha para o cumprimento do acordo (MEDEIROS, 2004; SILVA,1997).

O segundo ciclo da borracha foi bem mais curto que oprimeiro, pois iniciou com a guerra e findou praticamente comela, embora Rondônia o tenha mantido a produção da borracha atéos idos de 1960 (SILVA, 1997).

Conforme Silva (1984), o acontecimento de maior relevâncianesse período para a região foi a criação do Território Federaldo Guaporé, alem de Porto velho ser elevada a categoria decapital do território, como também o grande numero de obrasrecebidas pela Capital entre 1943 e 1950, como escolas, centroadministrativo político, aeroporto, hotel dentre outras.

Novamente Rondônia vive um ciclo econômico que tem comoprincipal causa de migração a mão-de-obra barata para atender as

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necessidades de produção de borracha estabelecida no tratado comos Estados Unidos da America, assim como, novamente tem em suaforça de trabalho, nordestinos incentivados pelo governo a migrarpara região de Rondônia para fugir da seca e da fome que assolavaaquela região do nordeste.

3.1.5 A CassiteritaSegundo Alguns autores, o processo de garimpagem era

clandestino, pois não havia um reconhecimento por parte dasautoridades locais. A Lavra Econômica iniciou-se em 1959,começando em Rondônia um período de fartura, com intensacirculação de dinheiro. O período áureo da garimpagem manual sedeu entre 1968 a 1972, nessa época vinha garimpeiros de todo opaís. A desativação do garimpo manual ocorreu em 1971, causandograndes revoltas à população de garimpeiros que, a partir deentão, tornaram-se ilegais, tendo seu direito cassado pelogoverno federal (OLIVEIRA, 2001; SILVA, 1991).

Nessa época a atividade econômica estabelecida no Estado temcomo base a exploração, desta vez, mineral. Atraídos pelo sonhode riqueza fácil, mais uma vez chega ao Estado um contingente demigrantes formados por aventureiros de todas as partes do País.Desta vez por motivo de lei, a atividade econômica deixa de sermanual e como outrora fecha-se um ciclo econômico seguido crisesocial e econômica.

3.1.6 A BR-364 e a ColonizaçãoEm 1956, foi criado o 5º BEC, que no ano seguinte já

iniciava os trabalhos de complementação da estrada, anteriormentedenominada BR-29, que vinha a ser concluída em 1966 e agoradenominada BR-364, mais tarde vindo a ser conhecida como RodoviaMarechal Rondon, tendo seu movimento intensificado na década de1970 (SILVA, 1997).

Conforme Cim (2002), o ciclo da agricultura cronologicamentesucede ao ciclo da cassiterita, obtendo benefícios dos agregadospopulacionais de todos os anteriores, projetando Rondônia nocenário nacional e internacional com um Estado produtor da regiãonorte do país. Ao mesmo tempo, o governo federal preocupado comuma evasão em massa de população, passa a fazer investimentosatravés de seus órgãos deliberativos, maciços em projetos de

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colonização, contribuindo não para o influxo da migração, maspara o refluxo do migrante para a região. Esses migrantesprecisavam de moradias, de abrigos e longe de qualquerplanejamento, formaram-se povoamentos, pequenos aglomerados depessoas, de vilarejos e conseqüentemente a ocupação efetiva dasterras ao longo do traçado da Br-364.

Na mesma época o governo federal com o argumento de“integrar para não entregar” resolveu promover a colonização doterritório federal de Rondônia através do Instituto Nacional deColonização e Reforma Agrária (INCRA), que iniciou a implantaçãode grandes projetos de integração de colonização, cominvestimentos expressivos para demarcação e distribuição de lotesde terras rurais, aberturas de estradas, construção de pontes,implantação de infra-estrutura básica e atendimentos aos colonos(OLIVEIRA, 2001)

Os projetos Integrados de colonização (PIC), se desenrolaramno período de 1970 a 1978, época de grande crescimentopopulacional e surgimento dos principais municípios as margens daBR-364 (FONSECA, 2003).

De acordo com Bassegio e Perdigão (1992), apesar de o PICter Sido extinto em 1975, o governo federal deu continuidade asua política de colonização através de outros Projetos deAssentamentos, que mesmo com menor intensidade perduraram ate oano de 1988.

De acordo com o quadro 1 apresentado por Bassegio ePerdigão (1992), pode-se perceber que apesar de o PIC ter Sidoextinto em 1975, o governo federal deu continuidade a suapolítica de colonização através de outros Projetos deAssentamentos, que mesmo com menor intensidade perduraram ate oano de 1988.

Quadro 1 - Projetos de AssentamentosPROJETOS SUPERFÍCIE

háCRIAÇÃOANO

PARCELAMÉDIA -

ha

FAMÍLIASASSENTADAS

PIC Ouro Preto 512.585 1970 100 5.162PIC Sidney Girão 60.000 1971 100 638PIC Ji-Paraná 486.137 1972 100 4.756PIC Paulo Assis 293.580 1973 100 3.353

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Rib.PIC Padre A. Rohi 407.219 1975 100 3.786PAD Mal. Dutra 494.661 1975 100 4.767PAD Burareiro 304.925 1975 100 a 250 1.640PA Urupá 75.460 1981 30 1.246PA Machadinho 382.940 1982 42 2.836PA Conjubim 204.395 1984 40 501PA Bom Princípio 190.000 1983 65 797PAR Gleba G 33.944 1982 50 1.200PAR BR-364 921.487 1980 50 12.213PAR Gleba Jacundá 620.880 1982 50 2.587PA São Felipe (*) 19.100 1986 --- 409 (**)PA Vitória da União (*)

21.027 1986 --- 400 (**)

PA Vale do Jamary (*)

12.000 1986 --- 240 (**)

PA D´Jaru Uaru (*) 21.000 1986 --- 552 (**)PA Rio P. Candeias(*)

33.000 1986 --- 526 (**)

PA Pyrineos (*) 5.261 1987 --- 175 (**)PA Zeferino (*) 7.545 1987 --- 237 (**)PA Tancredo Neves (*)

33.000 1987 --- 1.010 (**)

PA Itapirema (*) 6.345 1987 --- 211 (**)PA Jatuarana (*) 41.530 1987 --- 690 (**)PA Verde seringal (*)

14.900 1988 --- 370 (**)

PA Marcos Freire (*)

11.052 1988 --- 300 (**)

PA Buriti (*) 25.000 1988 --- 818

TOTAL 5.893.793 56.800

Fonte: (BASSEGIO; PERDIGÃO,1992) INCRA 1988 e 1989; Mirad 1989

3.1.7 O OuroA corrida do ouro na historia do Estado de Rondônia existe

desde o século XVII, no entanto, a verdadeira corrida iniciou em

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1978, sendo que na década de 1980 Rondônia vive o seu apogeu naextração do ouro, e na década de noventa inicia o declínio dessaextração (SILVA, 1997).

Segundo Cim (2002), o ouro encontrado no Rio Madeira,juntamente com a Cassiterita, em meados de 1980 eram osprincipais produtos de Rondônia, responsáveis por grandecontingente de migrantes e garimpeiros e a vinda de inúmerasfamílias de todo o país. Por volta de 1987, a produção atinge oseu “ápice”, chegando a casa de 8.000 toneladas do minério. Noinício de 1990, a produção entrou em declínio e foi praticamenteinterrompida. Fonseca (2003), afirma que este ciclo produziumuita riqueza, seus reflexos em termos de benefícios foram quasenulos. Foi uma extração predatória e de alto impacto ambientalpara a região e toda a comunidade. A exploração do ouro deixoucomo herança: poluição ambiental, contaminação do lençolfreático, nos peixes, enormes erosões do leito e das margens dosrios, destruição ambiental, poluição por óleo combustível,rejeitos lançados nas águas, equipamentos abandonados esedimentação do canal navegável, violência no seu mais amplosentido, além de muitas famílias destruídas, tudo isso somado amuitos problemas sociais, hoje existentes, fruto da ganância, dolucro fácil e “status” social.

3.1.8 Sistema Energético – Usina Hidrelétrica de SamuelSegundo Fearnside (2004), a construção começou em março de

1982 e a ELETRONORTE esperava ter todas as 5 turbinas instaladasaté 1990. Demoras sucessivas devido a restrições orçamentárias,indubitavelmente, aumentaram os custos reais. A primeira turbinafoi instalada em 24 de julho de 1989 e a última no dia 02 deagosto de 1996.

A construção da Usina Hidrelétrica de Samuel, propiciou pararegião de Porto Velho uma demanda de mão-de-obra para aconstrução da mesma, demanda esta que foi suprimida por migrantesde outros Estado trazidos pelas empresas responsáveis pelaconstrução da usina. Desta vez, houveram investimento em conjuntohabitacional, escola e hospital para atende os funcionários dausina. Com o termino da obras os investimento foram transferidospara o Estado e para população.

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3.2 Teoria dos Ciclos EconômicosCosta (2006) ao fazer uma análise acerca da Teoria do Ciclo

Econômico de Schumpeter, indaga que apesar do largoreconhecimento dos ciclos econômicos pelos agentes econômicos,especialmente os ciclos mais extremos que são, por esse motivo,facilmente identificáveis, a definição acerca do que é de fato umciclo econômico não é assim tão fácil, considerando que sãosérias as limitações quanto aos dados disponíveis, já que leva-sealguns meses para que cada fase do ciclo espalhe-se pela economiae ainda mais tempo para que façam sentirem-se seus efeitos.

Ainda Costa (2006), acerca da Teoria do Ciclo Econômico deSchumpeter, traz a definição de que ciclos econômicos englobam osvários tipos de flutuação na atividade econômica agregada de umanação. Um ciclo consiste numa expansão ocorrida quase ao mesmotempo nas mais diversas atividades econômicas, seguida degeneralizadas recessão, contração e recuperação, conduzindo,assim, à fase de expansão do próximo ciclo. A natureza do cicloeconômico depende e muda com a maioria das característicaseconômicas como também sociais e políticas. Percebe-se então quea interdependência entre os vários setores econômicos tornou ateoria dos ciclos econômicos mais agregativa e menos dinâmica.

Segundo Mitchell (1988), a Teoria dos Ciclos Econômicosapresenta-se através de um período de depressão, ou seja, combaixa atividade econômica, redução de demanda com preços a níveisbem inferiores ao normalmente praticados, alem da redução doscustos das atividades econômicas e encolhimento das margens delucro. Contudo, essa situação é capaz de promover o aumento dovolume físico das vendas, lenta no início, porém com uma expansãoacumulativa. Cada aumento da atividade acarreta outros aumentos,cada conversão ao otimismo enseja outras conversões e cadaelevação dos preços oferece um incentivo para novas elevações,que irá se desdobrar em uma situação de prosperidade a qualengendra uma crise que por sua vez se transforma em depressão eessa após se tornar mais intensa por algum tempo, conduzfinalmente a uma reativação das atividades, como a que iniciou ociclo.

Pode-se observar que o ciclo econômico é composto demovimentos periódicos que refletem a elevação e redução daprodução, dos níveis de empregos, de consumos, dos níveis de

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preços e atividades econômicas, ou seja, são flutuações daatividade econômica, através expansões e contrações com padrõesregulares e previsíveis ao longo do ciclo.

Segundo Ekerman (1984), um ciclo econômico pode se dividirem quatro fases, sendo a prosperidade com a inovação e despesasempresariais; a recessão com a resposta do sistema ao impacto deprodutos de novas plantas e auto-deflação; a depressão com oímpeto de liquidações anormais e antecipações depressivasderivadas e a recuperação com a resposta do sistema a desviosnegativos do equilíbrio.

4. ANALISE DOS RESULTADOS

O objetivo desta etapa do estudo é fazer uma analise,tomando como base os acontecimentos históricos, partindo de umacronologia que permita evidenciar de forma clara a evolução edelimitação dos ciclos econômicos vividos pelo Estado deRondônia.

4.1 Ciclo econômico de 1850 a 1910 (1º Ciclo da Borracha)A partir das descobertas para aumento da resistência da

borracha, assim como do processo de vulcanização, e ainda, com aintrodução da navegação a vapor, seguida da internacionalizaçãoda navegação pelo Rio Amazonas a região amazônica passa a terimportância impar no cenário mundial, pois através de seusseringais passou a ser uma fonte inesgotável do látex para todo omundo. Essa situação levou a região a passar e viver algumasparticularidades níveis políticos internacionais, neste caso, narelação comercial e política com a Bolívia como a nível nacional,partindo de algumas influências externas, tais como a guerra doParaguai que possibilitou a região uma nova perspectiva de olhardo governo, se relacionava a modelos de escoamento da produção dolátex amazônico. Propiciando a partir de acordos e tratados com aBolívia, investimentos em três tentativas de construção de umaferrovia que ligasse a região noroeste da Bolívia ao vale domadeira possibilitando o escoamento da produção através da baciado madeira, tendo como objetivo atingir o oceano atlântico viaManaus e Pará.

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Esse ciclo econômico durou exatamente 60 anos, nesse períodoa região sofreu um processo de transformação e migração marcadopelo sacrifício de vidas, como também sacrifício econômico, ambosocasionados pela realidade e situação que propiciaram as tomadasde decisões, voltadas sempre para resolver problemas externos aregião e não de estruturação para um crescimento sustentável. Aofinal desse ciclo econômico, pode-se afirmar que apesar dodesenvolvimento precário, mais visível da região, asconseqüências sofridas e deixadas, foram imensuráveis,considerando os números de vidas perdidas, a precária qualidadede vida propiciada e o preço pago, por resultados não alcançados,afinal, fechou-se o ciclo e a solução para escoamento proposta,ou seja, a ferrovia não foi concluída até então.

Cronologia:- Auge da produção e comercialização da Borracha

1850 a 1900- Guerra do Paraguai 1864 a

1870- Tratado da amizade (Brasil x Bolívia)

1867- 1ª tentativa de construção da ferrovia Madeira-Mamoré

1870 a 1873- 2ª tentativa de construção da ferrovia Madeira-Mamoré

1875 a 1877- Migração dos Nordestinos cearenses para região.

1875 a 1879- 3ª tentativa de construção da ferrovia Madeira-Mamoré

1878 a 1881

4.2 Ciclo econômico de 1912 a 1940 (Ciclo EFMM e Telégrafos)Com a reconstrução da estrada de ferro Madeira-Mamoré entre

1907 e 1912, ocorreu um aumento das atividades econômicasrelacionadas a própria movimentação da produção da borracha comotambém aquecimento da atividade econômica em função dascontratação de mão-de-obra para a ferrovia e desenvolvimento dopróprio povoamento das cidades de Porto Velho e Guajara Mirimatravés da construção da ferrovia Madeira-Mamoré.

Com o fim do 1º ciclo da borracha entre 1910 a 1914, aregião do Madeira continuou com um ritmo de crescimento mais

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lento, principalmente para a região da ferrovia, pois apesar daredução e da queda da produção e do preço da borracha, a Estradade Ferro Madeira-Mamoré continuou atendendo a finalidade deescoar a produção e ligar a região do Mamoré ao Madeira.

A partir de 1915 começa um momento de recessão na região dePorto Velho em função das demissões ocasionadas pelos déficitsapresentados pela empresa que administrava a ferrovia, chegando auma redução de até 2/3 da renda da Estrada de Ferro, agravadopela quebra da bolsa de Nova York em 1929, culminado na rescisãodo contrato de arrendamento em 1937.

Em contrapartida à recessão instalada na região da Estradade Ferro Madeira Mamoré, o interior do Estado começou a sedesenvolver a partir das instalações das linhas telegráficas, noperíodo de 1910 a 1940 os migrantes do sul do país que serviramcomo mão-de-obra para a construção das linhas telegráficas, assimcomo os que vieram atraídos pelo próprio desbravamento da regiãoforam se instalando ao longo do traçado dando inicio a novospovoamentos, as clareiras abertas pela expedição contribuírampara a migração e povoamento da região e seu desenvolvimentoeconômico.

Percebe-se que no mesmo período o Estado passou por duasatividades econômicas que compuseram um ciclo econômico, quediferente do anterior, deflagrou tanto o desenvolvimentoeconômico quanto o desenvolvimento geográfico e ocupacional degrande parte do Estado. Como citado anteriormente, surge outrospovoamentos que não os povoados relacionados a ferrovia, mas simrelacionados as linhas telegráficas.

Cronologia: - Reconstrução da EFMM 1907 a 1912- Fim do 1º ciclo da borracha 1910 a

1914- Instalação das linhas telegráficas

1909 a 1915- Déficit da EFMM (redução de 2/3 da renda da EFMMM)

1915 a 1934- Crack da Bolsa de Nova York 1929- Rescisão do arrendamento e Transferência p/ 5º BEC

1937

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- Povoamento do traçado das linha telegráficas 1910 a 1940

4.3 Ciclo econômico de 1943 a 1950 (2º ciclo da borracha)Com a segunda guerra mundial a borracha do Brasil passa a

ser valorizada novamente, principalmente para os aliados, pois osseringais da Malásia deixam de ser fornecedores de borracha paraos países aliados. Diante desta situação os Estados Unidos daAmerica e Brasil fecham o acordo de Washington que permite que aRegião do Guaporé novamente viva um momento de grande atividadeeconômica, a chegada dos soldados da borracha, novamente mão-de-obra migrada da região nordeste, para trabalha na produção daborracha.

Neste período cria-se o Território Federal do Guaporé, assimcomo sua Capital, Porto Velho, ainda nesse período acontece umgrande numero de obras na Capital do Território, tais comoescolas, aeroporto, hotel, centro político entre outras obras.

Mais uma vez a grande característica desse ciclo econômicoestá na grande migração de mão-de-obra barata para o trabalhabraçal nos seringais da região.

Cronologia: - Criação do Território Federal do Guaporé

1943- Porto velho como capital do território

1943- Obras recebidas pela Capital

1943 a 1950- Migração dos Soldados da Borracha 1943 a

19504.4 Ciclo econômico de 1956 a 1972 (Ciclo da Cassiterita)

O período de 1956 a 1972 foi um período muito rico para oEstado, nessa época ocorre à construção da BR-360, que seria aprincipal meio ligação do Estado com o resto do País, assim comoo processo de garimpagem de cassiterita, que iniciou em 1959, deforma clandestina e manual. Neste período o Estado de Rondôniavivenciou um momento de abundancia com volumosa movimentação dedinheiro. Essa fase de fartura durou até a extinção do garimpomanual, fato que ocorreu em 1972, trazendo ao Estado um momentode grande revolta e crise por parte dos garimpeiros que se viram

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impedidos de garimpar e por conseqüência passando a agir de formailegal, somando-se a essa situação a extinção da Estrada de FerroMadeira Mamoré.

Cronologia:- Construção da BR-364 1956 a

1966- Extração da Cassiterita

1959 a 1972- Extinção da EFMM 1972

4.5 Ciclo econômico de 1970 a 1988 (Ciclo de Colonização)O governo federal preocupado com a evasão da população da

região em função da crise que se abateu no Estado a partir daextinção do garimpo de cassiterita manual, resolveu promover acolonização do Território Federal de Rondônia através doInstituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), queiniciou a implantação de grandes projetos de integração decolonização que aconteceram entre 1970 a 1978, com investimentosexpressivos para demarcação e distribuição de lotes de terrasrurais, aberturas de estradas, construção de pontes, implantaçãode infra-estrutura básica e atendimentos aos colonos. Estesprojetos promoveram a ocupação em grande escala das regiões doEstado de Rondônia e fortaleceram e fomentaram o desenvolvimentoda atividade agrícola e posteriormente a pecuária, principalmentedepois do asfaltamento da BR-364 em 1983, conforme observa-se noQuadro 2. Mesmo depois da extinção do PIC o Governo Brasileirodeu continuidade a sua política de colonização através de outrosProjetos de Assentamentos, que mesmo com menor intensidadeperduraram até o ano de 1988

Quadro 2 – População Rural e Urbana

ANO POPULAÇÃORURAL

POPULAÇÃOURBANA TOTAL

1950 23.119 13.816 36.9351960 36.606 30.935 70.2321970 51.500 59.564 111.0641980 267.940 235.212 503.142

Fonte: (BASSEGIO; PERDIGÃO,1992)Cronologia:

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- PIC (surgimento dos principais municípios)1970 a 1978

- PA (Projetos de Assentamentos - menor intensidade)1981 a 1988

- Asfaltamento da BR-364 1983 a1984

4.6 Ciclo econômico de 1980 a 1990 (Ciclo do Ouro)A verdadeira corrida iniciou em 1978, sendo que em meados de

1980 o ouro era a principal atividade econômica do Estado deRondônia, responsáveis por grande contingente de migrantes egarimpeiros e da vinda de inúmeras famílias de todo o País.

Na década de oitenta, Rondônia teve seu apogeu na extraçãode ouro, tendo seu declínio já no inicio da década de noventa.

Nessa época, alem das riquezas geradas pelo garimpo de ouro,o Estado sofreu os reflexos de uma corrida desenfreada pelo ouro,que teve reflexos extremamente negativos para a região. Aexploração do ouro deixou como herança: poluição e destruiçãoambiental, equipamentos abandonados e sedimentação do canalnavegável, violência no seu mais amplo sentido, alem dos muitosproblemas sociais.

Alem do garimpo de ouro, na década de oitenta teve inicio aconstrução da Usina Hidrelétrica de Samuel, que também propiciouao Estado um nível elevado de investimentos federais assim comoa geração de postos de empregos e instalações de infra-estruturascomo conjuntos habitacionais, escola e hospital para a Capital.

Cronologia:- Extração do Ouro 1980 a

1990- Sistema energético 1982 a 1990

5. CONCLUSÃOPode-se observar que os principais fatos históricos do

Estado de Rondônia coincidem na grande maioria com os cicloseconômicos e de desenvolvimento ocorridos. Diante da história deRondônia ficam alguns questionamentos relacionados à origem, meioe fim destes ciclos econômicos, pois, como se percebe, todos osciclos foram cercados pelo incentivo a migração, principalmentede pessoas da região nordeste em função da seca e da fome. Não há

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evidencia de nenhuma política de planejamento, apoio e infra-estrutura a estes migrantes e a região, muito menos políticas quevislumbrasse a preocupação com a manutenção do desenvolvimentoregional, partindo dos princípios de ciclos econômicos edesenvolvimento regional.

Desta forma, ao final dos ciclos aqui estudados, pôde-seperceber que a região passou por momentos de crises agravadospelo próprio perfil dos migrantes, que na grande maioria eramaventureiros, trabalhadores braçais e refugiados da seca e dafome, que ao fim das atividades econômicas envolvidas pelosciclos econômicos, voltavam para suas regiões de origem oupermaneciam na região sem perspectivas, aumentando assim a crisesocial e econômica estabelecida com o fim de cada ciclo.

Esta situação se repetiu por todos os ciclos econômicosocorridos no Estado de Rondônia, devendo-se abrir um parêntesepara o ciclo econômico de colonização, pois este ocorreualicerçado por políticas públicas com base em planejamento eapoio de infra-estrutura para os migrantes. Mesmo assim, pelaprópria característica dos migrantes, que desta vez se originavamde todo o País, muitos destes vieram, se estabeleceram por algumtempo no Estado e depois venderam suas terras para voltar parasuas regiões de origem.

Rondônia sofreu no passado pela falta de interesse políticoe políticas públicas que privilegiassem o desenvolvimentoregional sustentável, priorizando a geração e manutenção deemprego e renda, através dos investimentos em infra-estruturabásica e logística.

Com os investimentos do Programa de Aceleração doCrescimento – PAC, Rondônia inicia um novo ciclo econômico e dedesenvolvimento, e espera-se com esse estudo fomentar interessesmais aprofundados a respeito da interação entre as políticaspúblicas e ciclo econômico, para que estas políticas atuem deforma pró-ativa embasadas nos conceitos de ciclos econômicos,possibilitando o entendimento de que as políticas públicas devemconsiderar o aumentos das atividades econômicas durante o ciclo,como também o fim do ciclo econômico que deverá aconteceracompanhado por um a crise econômica e social.

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