EquipePégasus Lançamentos - Google Groups

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K

Equipe Pégasus Lançamentos

Tradução: Mariana Candemil

Revisão Inicial: Camila Alves, Erica

Ribeiro, Sandra Vigario, Marluci,

Natalia Marques.

Revisão Final: Nilde Soares, Ju Cedro,

Paixão

Leitura Final: Juliane Lima., Su

Pinheiro

Formatação: Lola

Verificação: Anna Azulzinha, Sisley

Sinopse Sob o poder sedutor e de imensa riqueza

encontram-se... Segredos escuros.

Devastadoramente lindo, o bilionário Blake

Law Barrington foi o primeiro e único amor de

Lana Bloom. A partir do momento em que se

tocaram, o seu poder foi esmagador. O seu acordo

rapidamente evoluiu para um romance

apaixonado, que cativou o coração dela e a levou

para uma jornada sexual incrível que nunca quis

terminar.

O futuro juntos parecia brilhante, até que

Lana cometeu um terrível erro. Então, ela fez a

única coisa que podia... Ela fugiu.

Longe de sua vida incrível, longe do homem

dos seus sonhos, ela devia saber que fugir de um

homem como Blake Law Barrington era

impossível. Agora, ele está de volta em sua vida

e determinado a fazê-la sentir o gosto amargo de

sua dor.

Chocada com o quão áspero o sexo se tornou e

humilhada por estar realmente participando de

bom grado de sua punição, ela se desespera... E se

nunca mais voltar a sentir o calor de seu toque, a

solidez de sua confiança de novo? E mesmo que

ela possa ganhar a sua confiança, sua lealdade

ainda será posta à prova e segredos serão

revelados...segredos que irão levar os dois ao

limite.

Será que Lana será capaz de derrubar os

muros que cercam o coração de Blake, e libertá-lo

do poder brutal de sua imensa riqueza?

Blake pode conquistar o coração de Lana

quando ela descobrir a enormidade dos segredos

obscuros que possuem a família Barrington?

Lana sempre acreditou que o amor conquista

tudo. Ela está prestes a testar essa crença...

Um

Seguro a borda do balcão, minhas mãos estão

pegajosas, meu estômago em um nó apertado. A mulher da

recepção sorri de forma eficiente. Ela está vestindo uniforme

do banco: uma camisa listrada, um blazer azul marinho e a

saia combinando. Uma mulher negra cuja identificação em

seu crachá dizia Susan Bradley, impresso em branco.

— Obrigada por esperar. — Sua voz era como um gelo

cortante.

— Em que posso ajudá-la hoje?

Passo minhas mãos para baixo da saia social cinza.

— Tenho um horário agendado para ver um funcionário

sobre um empréstimo. Meu nome é Lana Bloom.

Ela consulta a tela de seu computador.

— Ah! Senhorita Bloom. — Seus olhos se movem para

cima. Encontrando o meu. Sem nenhum sorriso. Apenas

curiosidade.

— Sente-se, vou avisar que você já está aqui.

— Obrigada. — Ando em direção ao bloco de cadeiras

azuis acinzentadas que ela indica. Sento na beirada e a

observo.

— Ela está aqui. — Ouço-a anunciar ao telefone, e

retornar para sua cadeira. Então ela faz uma coisa estranha,

virando o rosto em minha direção, e me olhando de canto de

olho, e quando percebe que estou observando, olha para

longe rapidamente, quase culpada.

Sinto o nó no estômago crescer com mais força. Alguma

coisa está errada. Talvez o gerente da minha conta tenha

decidido negar o empréstimo. Não deveria ser uma surpresa.

Eu não tenho nenhuma experiência e nenhuma garantia e,

como minha mãe costumava dizer, os bancos só emprestam

um guarda-sol quando não está chovendo.

Aperto minha bolsa com minhas mãos, que estão

escorregadias de suor, respiro fundo e muito firmemente para

tentar ficar calma. Há sempre o plano B. Billie e eu vamos

simplesmente começar, de forma singela e pequena, a

construir tijolo por tijolo de um negócio. Nosso progresso será

muito lento, mas nós vamos sobreviver. E talvez, se

trabalharmos muito duramente, um dia vamos prosperar.

Com ou sem o dinheiro que vou tentar conseguir. Meu queixo

se eleva um pouco.

Uma senhora asiática em um terno escuro sai de uma

porta fechada. Ela olha para mim, dá um sorriso fácil, que

não chega a atingir os olhos, e pergunta:

— Senhorita Bloom?

Fico nervosa e aliso minha saia. Aqui vamos nós. Eu

toco o meu cabelo conscientemente. Espero que o vento lá

fora não o tenha bagunçado muito. Em uma tentativa de me

fazer parecer mais velha e mais profissional, Billie colocou

meu cabelo para trás em um coque e pintou meus lábios com

um batom de cor ameixa escuro. Ela disse que tinha o poder

de me tornar parecida com uma dançarina de flamenco

sofisticada, mas acho que ela simplesmente me deixou

parecendo pálida e magra.

— Por aqui, por favor. — A mulher acena com a mão na

direção da escada e começa a caminhar em direção a ela. Eu

franzo a testa. Todas as outras pessoas que estavam

esperando na minha frente foram encaminhadas para um

cubículo do andar de baixo. Eu não vi ninguém ir para o

andar de cima. Por que estavam me levando para lá? Os

saltos desajeitados da mulher fazem um som oco na escada

não atapetada. O som reverbera no meu peito. O sentimento

de medo na boca do estômago só aumenta.

Passamos por uma porta que precisava de um código, e

percebo que nós entramos na área que apenas os membros

da equipe estão autorizados a entrar. Outro funcionário

passa por nós e olha para mim com curiosidade. Nós

andamos por um corredor de escritórios. Perto do fim, a

mulher se vira e me encara. Há uma expressão

estranhamente especulativa em seu rosto.

— Pronta? — Ela pergunta.

Uma coisa estranha de se perguntar.

Surpresa, eu aceno.

Ela bate uma vez, puxa a porta e a deixa entreaberta

para mim.

Entro com um sorriso brilhante fixado por todo o meu

rosto, e congelo. O meu queixo cai, o meu estômago dá uma

guinada. Estou em um pesadelo. Ah, mas eu não esperava

por isso há muito tempo? Meu coração sabia que não acabou.

Um dia iria vê-lo novamente. Eu não sabia como ou quando

ou por que, só sabia que veria.

E ensaiei esse cenário em minha cabeça inúmeras vezes,

mas em circunstâncias diferentes. Onde eu estaria vestida

sedutoramente e me deparando com ele em uma boate ou

enquanto estou, acidentalmente, de forma proposital vagando

pelo One Hyde Park, onde ele me disse uma vez que morava.

Mas nunca, nunca aqui no meu banco local. Nem em um

milhão de anos. Estou tão chocada, que a minha mente na

verdade fica em branco. Eu pisco.

Oh! Tanta elaboração, para ser pega despreparada desta

forma!

— Espere! — Eu quero gritar para a senhora asiática

que houve um engano, mas minha boca está congelada e

entreaberta. Nesse momento, o meu cérebro lento percebe

que não há erro. Eu não fui levada para esta sala por

acidente. Estou aqui porque este homem me quer aqui.

A porta se fecha silenciosamente atrás de mim.

Dois

— Olá, Lana. — Diz Blake, por trás de uma mesa. Sua

voz ainda é a mesma. Jack Daniels no gelo. Sutil. Como um

detalhe escondido em algum lugar, nas suas profundezas de

âmbar.

Um arrepio percorre minha espinha.

Ele olha para mim com a cara fechada e os olhos

ilegíveis. Ele é ainda mais bonito e cru do que eu me lembro.

Incrivelmente esplêndido, um Deus impessoal. Mas há algo

de diferente nele também. Uma dureza que não estava lá e foi

arrastada para aqueles intensos olhos entreabertos. Algumas

linhas suaves sobre sua boca.

O choque ao vê-lo dessa forma tão inesperada é tão

grande, que sou incapaz de dizer ou fazer qualquer coisa.

Roubaram todos os meus pensamentos coerentes, e eu

simplesmente fiquei ali de boca aberta: uma tola,

ansiosamente bebendo da visão dele. Porque eu já passei por

muitas noites longas e solitárias, o calor do deserto em volta

de mim, em uma busca pela internet, à procura de qualquer

menção a este homem.

Durante meses, e nada.

Então um dia, em um artigo pequeno de um site de

fofoca, vi que ele ficou noivo de Victoria Montgomery, filha do

quarto conde de Hardwick. O meu corpo e mente estão em

uma confusão inacreditável. O ciúme insano era como lava

incandescente. Ele se derramou em meu sangue, levando

consigo a terrível sensação de que eu perdi algo

insubstituível.

Tinha uma pequena foto deles sentando juntos em um

restaurante. A foto era tão granulada que não havia nada que

pudesse identificar que era ele, mas olhei para ela por um

longo tempo naquele dia, e voltei a olhar novamente e

novamente. Como se investigasse alguma pista de um

mistério que eu não entendia. Lentamente, comecei a

perceber as coisas - a xícara de café, a mão sobre a mesa

perto, mas não tocando a dela. O rosto de Victoria virado

para ele, difícil dizer sua expressão, mas dava a impressão de

ser determinada e intensamente devotada. Eu esfreguei a

minha barriga de sete meses lentamente. O círculo em minha

mão me confortou. Que aquela não era minha vida. Esse

homem não era meu. Nunca foi. Mas este bebê era todo meu.

O ventilador zumbia. Na sala ao lado, minha mãe dormia

felizmente, sem saber da minha profunda tristeza.

— Sente-se. — Ele convidou, suavemente.

Mas não me atrevo a me mover. Minhas pernas estão

bambas. Fecho e depois abro a boca, mas as palavras não

saem. Engulo e tento novamente. A canção Baby Did A Bad,

Bad Thing, começa a tocar na minha cabeça. Merda. Eu

estou em apuros. Coisas ruins sempre acontecem quando

essa música começa a tocar na minha cabeça.

— O que você está fazendo aqui? — Minha voz é apenas

um sussurro.

— Cuidando do seu pedido de empréstimo.

— O quê? — Sei que minha expressão não deve

aparentar nenhuma inteligência, como aquelas usadas por

animais de carga, mas não posso conter a fraqueza das

minhas palavras.

— Estou aqui cuidando do seu pedido de empréstimo. —

Ele repete pacientemente.

Parece lógico, mas suas palavras são pedras no meu

cérebro. Cuidando do meu pedido de empréstimo? Eu

balancei minha cabeça para expulsar as pedras.

— Você não trabalha aqui. Você não lida com

empréstimos minúsculos.

— Estou aqui para cuidar do seu.

— Por quê? — E então um pensamento estúpido me

ocorre. Mais tarde vou pensar e bater na testa por minha

ingenuidade, mas naquele momento me forço a sair da

inércia. — Para me atingir? Não se incomode. Eu acho o

caminho da saída. — Digo com veemência, começando a girar

em direção a porta.

Ele fica em pé.

— Lana, espere!

Eu volto e olho para ele. Estranho... Ele até parece

maior, mais alto.

— Sou o único que pode conceder este empréstimo

bancário.

Continuo olhando estupidamente para ele. Como eu

desejei colocar os olhos novamente sobre este homem. E

como senti falta da visão dele. Como ele é realmente bonito.

— Por favor, sente.

Aturdida, olho para as duas cadeiras na frente dele, mas

não me movo. Meus pensamentos se arrastam através do

medo. Nada faz sentido.

— Como você sabia que eu estaria aqui hoje?

— Um software bacana que aciona um alerta quando

seu nome e a data de seu nascimento vêm para o sistema

bancário, e, é claro, o fato de que você começou a usar a sua

conta novamente menos de uma semana atrás.

Eu não consigo pensar direito.

— Todo o dinheiro na conta da Suíça se foi?

Eu aceno.

— Mas por que você está aqui? — Pergunto, apesar de

eu já saber a resposta para isso.

— Pela mesma razão de antes.

— Por sexo.

— Sexo? — Ele sussurra. — Deus! Você não tem ideia,

não é?

Ele está com raiva. Mais irritado do que jamais vi. Eu

fico olhando para a transformação com descrença. O que me

choca mais é a expressão em seu rosto desenhado, duro e o

seu queixo apertado com tanta força, que os músculos de seu

pescoço se destacam. Suas sobrancelhas são duas linhas

retas. O homem humano que me alimentou com caviar e

silenciosamente trocou a passagem da minha mãe para a

primeira classe se foi, desapareceu, substituído por este

estranho com olhos furiosos e desconfiados. Sua respiração

parece acelerar à medida que ele avança na minha direção.

Ele para a um passo diante de mim.

Naquele momento, ele emana um tremendo poder.

Eletricidade crepita entre nós. Ele segura o meu olhar a

ponto de fazer meu coração parar alguns momentos e eu ver

a batalha em seus olhos. As emoções se reajustavam para

retomar o controle. Eu vacilo quando ele chega ainda mais

perto. Até que estejamos a centímetros de distância e o cheiro

dele invade os meus sentidos. Ninguém mais que eu conheço

cheira como ele. O cheiro de dinheiro velho, como Rupert

disse. Em um descuido, a luxúria carnal reluz por um

instante em seus olhos. Em seguida, ele desvia o olhar,

mascarando-a. Mas eu já vi a potência do seu desejo por

mim. Ela reforça as minhas percepções, me encharcando com

tesão e desejo.

Sinto minha pele formigar em resposta. Meus lábios

ficam dormentes e minha garganta fica tão seca, que apenas

uma palavra pode rasgá-la. O que eu poderia ter dito de

qualquer maneira? Oh, Blake, eu sinto muito? Eu estendo a

mão trêmula para ele.

Sua reação é instantânea.

— Não! — ele enrijece.

Chocada, retiro a minha mão. Eu o quebrei. O

conhecimento se espalha com uma dor surda no meu peito.

— Por favor. — Eu sussurro, estupidamente, sem poder

fazer nada.

Ele inclina a cabeça em direção ao meu rosto. Meus

olhos estão fixos em seus lábios pecaminosamente sensuais.

Lembro-me de seu gosto, da sua paixão.

— Pequena desonesta, Lana. — ele murmura, sua

respiração quente contra a minha pele. Ele passa as mãos

para baixo do meu pescoço para a gola da minha blusa.

Eu começo a tremer. Ele observa seus próprios dedos

desabotoar um botão e depois outro. Ele espalha a minha

blusa aberta no peito até que o topo do meu sutiã rendado

está exposto. Seus olhos insensíveis e furiosos voltam aos

meus. As respirações escapavam de meus lábios de repente,

superficiais e rápidas. Ele sorri possessivo. Ele sabe o efeito

que tem sobre mim.

— Você foi longe, quando se espremeu no vestido laranja

minúsculo e naquele sapato ridículo de prostituta, e foi à

procura de dinheiro. Olhe para você agora; ao redor de

homens que usam ternos de duzentos mil e não pode nem

comprar um belo terno.

Ele pega meu coque.

— E isso... — Ele levanta a mão para o meu cabelo — É

um coque tão feio. O que você estava pensando? — Pergunta

baixinho, enquanto ele arranca os prendedores do meu

cabelo, deixando-os cair no tapete azul. Pouco a pouco meu

cabelo cai sobre os meus ombros. Sem mover os pés ele

alcança uma caixa de lenços em cima da mesa. Pega um e

começa a tirar meu batom. Meticulosamente. Ele joga o

tecido manchado no chão. — Assim é melhor. — ele declara.

Eu fico olhando-o sem dizer nada. Ele me olha como se

quisesse me devorar. Todo o tempo em que estivemos

separados está apagado. É como se nós nunca tivéssemos

ficado longe um do outro. Este é o homem ao qual meu

coração e minha alma pertencem. Sem ele eu sou uma

concha vazia, apenas atravessando as ondas.

— Lamba seus lábios. — ele ordena.

— O quê? — Estou assustada com o comando frio, e

ainda eletrificada pelo calor sexual que a sua ordem desperta

em mim. Meus nervos gritam.

Sua mandíbula endurece, seus olhos são de aço.

— Você me ouviu.

A tensão em seu corpo se comunica comigo. Ela ferve

entre nós. O desejo ondula através de mim. Minhas coxas se

apertam com a emoção e o meu coração palpita com loucura.

É assim que ele está em minhas fantasias recorrentes.

Exigente, possessivo e furioso com a necessidade sexual. Mas

a parte lógica e sã que existe em mim, não quer obedecer. A

discussão entre o meu cérebro e o meu corpo é quase uma

tortura. No final - sim, como se houvesse alguma dúvida -

meu corpo ganha. Então, cedo e caio na estrada escorregadia.

É só mais uma vez.

Lambo meus lábios lentamente.

Ele olha para a minha língua, que se comporta

avidamente.

— Isso é mais parecido com você. Essa é a puta

mercenária que conheço.

Em um momento ele está lá, frio e insultando, e no

outro ele enfia a mão áspera no meu cabelo e puxa minha

cabeça para trás. Eu suspiro em choque, com os olhos

arregalados pela melancolia do momento. Como uma

tempestade do deserto, ele desceu na minha boca, que se

abriu. Não tive tempo de me afastar. Foi tão súbito. Tão

inesperado. Ele tinha um gosto selvagem, exatamente como

as primeiras gotas de chuva no deserto. Cheio de minerais.

Dando vida a tudo o que toca.

Ele me beijou como nunca havia beijado.

Grosseiramente, dolorosamente, violentamente e

machucando propositalmente meus lábios. Sua boca tão

selvagem que eu me engasguei em um grito silencioso. A

mudança, assim como sua raiva, é impossível de

compreender. Ele está diferente. Não há saudade. Apenas um

intenso desejo de me machucar e se vingar. Este não é o

mesmo homem. As minhas ações desencadearam algo

incontrolável. Algo que quer me machucar. Sirenes de alarme

soam na minha cabeça. Ela toca em meu cérebro febril,

enquanto ele é voraz e faminto. Em seguida, por alguma

razão estranha, uma imagem dele comendo fatias finas,

quase transparentes, de queijo com biscoitos pisca na minha

mente. Ele era tão civilizado. Era. Antes de eu ter que traí-lo.

Eu gosto da fúria de seu beijo: O sangue.

E minha mente grita que isso é um abuso. Um gemido

fica preso na minha garganta, que luta em vão e então foge.

Minha mão o atinge até afastá-lo, mas minhas palmas

tateiam seu peito de pedra, e é como se elas tivessem vida

própria, afastando as lapelas de seu terno para o lado e

pegando a sua camisa. Eu sei o que tem sob a camisa e eu o

quero. Eu sempre quis este homem. Como se minhas mãos

espalmadas sobre o peito dele comunicassem a minha

submissão total, o beijo muda. Sua língua, agora gentil, exige

mais rendição.

Os dedos agarrando meu cabelo machucam meu couro

cabeludo. Sinto uma dor sutil, contudo mais do que isso, me

sinto afogar nesse turbilhão de desejo sexual. A necessidade

violenta e latejante entre as minhas pernas encontra seu

caminho em minhas veias e carne. Cada célula minha o quer

dentro de mim. Estou pegando fogo. Um ano de espera me fez

ter fome dele. Eu o quero. Quero ele enfiando aquele pau

enorme dentro de mim. Durante um ano eu tenho sonhado

com ele dentro de mim, me enchendo. Sei o quão bem ele

pode me fazer sentir. Meu corpo tenta cavar mais perto dele,

mas eu não posso chegar mais perto; o controle sobre o meu

cabelo é implacável. Desesperadamente, tento empurrar meu

quadril em direção a ele para o que eu sei que vai ser uma

dureza deliciosa.

Como se isso fosse algum sinal silencioso, ele se afasta

casualmente de mim e eu sou empurrada de volta, em um

escritório de merda em Kilburn High Street. Que porra é essa

que estou fazendo? Ele casualmente sentou contra a mesa,

cruzou os braços sobre o peito e olhou para mim com calma.

Eu não posso devolver o insulto. Eu sou uma bagunça.

Fico lá, frustrada além da crença, respirando com

dificuldade, o sangue batendo como um tambor africano na

minha cabeça. Minha calcinha está molhada e minha boceta

dói e pulsa por ele. Com cada parte fraca e trêmula de mim,

quero que ele termine o que começou. Eu o quero tanto que é

chocante. Aperto minhas mãos na lateral da minha cintura,

tentando recuperar o controle. Olho para ele e vejo quão

controlado e calmo está, enquanto me observa lutando para

recuperar a compostura.

Em seguida, ele sorri. Oh! Arrogante. Ele não deveria ter

feito isso. Sinto-me enlouquecida pela provocação do sorriso.

Como ele se atreve? Ele só queria me humilhar.

E então entendo. Não tão rápido Sr. Blake Law

Barrington.

Eu dou dois passos para frente, levantando a mão e

colocando um dedo na veia pulsando loucamente em seu

pescoço, batendo como um tambor sob meus dedos. A batida

frenética é levada pelo meu sangue até meu braço, meu

coração e meu cérebro. Anos mais tarde eu vou me lembrar

deste momento quando estávamos conectados pela sua

pulsação. Nós não quebramos o contato visual. Seus olhos

escurecem. Agora ele sabe que sei, minha necessidade pode

ser óbvia e fácil de explorar, mas ele está tão afetado quanto

eu, só que finge melhor. Ele estava testando seus próprios

limites de controle, mas não foi tão fácil como esperava.

— É sexo que eu quero? — Pergunta ele, amargamente.

A respiração morre em meu peito. Tiro a mão de seu

pescoço.

— O que você quer Blake?

— Quero que você termine o seu contrato.

Abaixo o rosto em minhas mãos

— Eu não posso. — Sussurro.

— Por que não? Porque você pegou o dinheiro e saiu

correndo, enquanto eu estava em uma cama de hospital?

Respiro fundo e não olho para cima. Não posso olhar

para cima. Não posso enfrentar a condenação em seus olhos.

Não mantive a minha palavra. Mas eu tinha uma razão, que

ele nunca vai poder saber.

— Eu estava arrasado no começo. — Ele diz.

Olho para cima, chocada e hipnotizada. Ao contrário de

suas palavras, seu rosto é imparcial, calmo e frio. Muito frio.

Eu tremo.

— Você estava arrasado?

— Engraçado isso, mas sim, eu estava. — Ele balança a

cabeça, como se estivesse com nojo. Se era de mim, dele

mesmo, ou de nós dois, eu não sabia dizer.

— Pensei que era apenas uma coisa sexual para você. —

Murmuro. Meu mundo vacila um pouco. Ele ficou arrasado!

Por quê?

— Se você queria dinheiro, por que não me pediu? —

Sua voz é áspera.

— Eu... — Balancei minha cabeça em derrota. Eu não

posso me redimir.

—Você cometeu um grave erro de cálculo, não é, Lana,

meu amor. O pote de mel está bem aqui. — Ele dá um

tapinha no meio do próprio peito.

Olho para a grande mão masculina. Algo dentro de mim

se contorce. Uma vez aquelas mãos bonitas e de unhas bem

cuidadas percorreram meu corpo, espalharam minhas pernas

e ele me penetrou. Querido Deus!

— Mas não se preocupe. Nem tudo está perdido.

Meu olhar se eleva até sua boca. É fina, cruel e

impressionante.

— Você me fez um favor. Você abriu meus olhos. Vejo

agora o que você era... o que é. Eu estava cego por você.

Cometi um erro clássico. Eu me apaixonei por uma ilusão de

pureza e lealdade.

Eu levanto o meu rosto para ele. Cego? Apaixonado? Por

mim?

— Se eu não tivesse te comprado naquela noite, você iria

com qualquer um, não é? Você não é admirável. Você é

desprezível.

— Então, por que você quer que eu termine o contrato?

— Eu respiro.

— Sou como um viciado em drogas, que reconhece que o

seu medicamento é o próprio veneno. Ele o despreza, mas

não consegue evitar. É assim que eu vejo, é perfeitamente

claro que ele se detesta. Tenho vergonha da minha

necessidade por você.

— As... As.... pessoas com quem falei.

— Minha família não pode fazer nada com você.

Eu interrompo.

— E Victoria?

Um súbito lampejo de raiva brilha em seus olhos.

— O fato de que eu preciso da sensação e do gosto da

sua pele, é a minha vergonha e o meu inferno particular. Eu

nunca a traria para o nosso arranjo sórdido. O nome dela em

seus lábios me faz sentir doente. Ela é a única coisa pura que

tenho na minha vida. Ela ficou comigo... depois de tudo. —

Ele faz uma pausa, os lábios contorcidos. — Na verdade, eu

contei a ela sobre você e lhe dei a opção de me deixar, mas

ela recusou. Ela é mais sábia do que eu. Muito mais sábia do

que eu achei que era. Ela disse que você é apenas uma

doença e que um dia vou acordar e esse problema terá

desaparecido. Até lá... você me deve 42 dias, Lana.

Meu Deus, ele realmente me odeia. Fecho meus olhos

incapazes de enfrentar seu olhar de censura e repulsa. Ele

não pode saber o quanto suas palavras cheias de ódio me

cortam e ferem. Eu imaginei que ele pensaria mal de mim,

mas nunca imaginei que me detestaria. Eu nunca achei que o

feri tão profundamente. Sinceramente, pensei que era uma

coisa sexual para ele. Que eu era apenas mais uma, dentre

muitas outras. Em minha defesa, ele nunca deu a entender

de outra forma.

Agora ele me odeia com paixão. E não há uma única

coisa que eu possa fazer sobre isso. Victoria mostrou ser uma

adversária formidável. Eu nunca direi a ele o que realmente

aconteceu. Estou em um terreno muito instável. Vou ter que

ter muito cuidado. Tenho muito a perder. Abaixo a minha

cabeça. Eu preciso pensar.

— Diga o seu preço.

Minha mente trava.

— Não. — eu me ouço dizer. Desta vez minha voz é

muito forte e segura. — Você não tem que me pagar de novo.

Eu vou terminar o contrato.

— Bom. — Ele diz, mas franze a testa, e por um segundo

eu não vejo apenas a confusão causada pela minha recusa de

do dinheiro, mas por algo mais parecido com alívio? Não, isso

seria muito fraco, era uma emoção selvagem pulsando em

seus olhos. Em seguida, ela vai embora, sem problemas. Um

selo que salta e desaparece no oceano azul.

— Voltamos aos negócios então. — ele murmura e vai

para longe de mim, passando ao redor da mesa e retomando

sua posição por trás dela. Voltando para o lugar em que eu o

encontrei.

Três Eu o assisto sentar suavemente na cadeira giratória

preta e abrir o arquivo na sua frente.

— Então, você quer abrir uma empresa? — O

profissionalismo repentino em sua voz é como um balde de

água fria na minha cara. Dou um passo para trás, chocada.

Estávamos em algum lugar totalmente diferente há um

momento atrás. A consciência de sua masculinidade potente

naquela pequena sala ainda está formigando pela minha pele.

Então, ele quer jogar. Gato e rato. Primeiro, o queijo e, em

seguida, a garra e os dentes.

Eu iria em frente. Posicionei-me em uma das cadeiras

em frente à mesa. Enquanto eu sentava na beirada, encostei

a parte de trás dos meus joelhos.

— Sim, Bill... Billie e eu vamos.

— Ah, a inigualável Billie. — Ele diz, olhando para cima,

o olhar aquecido totalmente substituído por uma máscara

sem remorsos.

— Por que ela não veio com você?

— Ela pensou que as tatuagens poderiam fazer com que

recusassem o empréstimo.

Ele deu um sorriso torto.

— Vocês, meninas têm tudo coberto, não é? — Diz ele,

mas posso dizer de imediato que ele tem um fraquinho por

Billie. Isso toca o meu coração. Eu queria que meu nome

também pudesse suavizar seu rosto assim. — Isso me

lembra. Como está sua mãe?

A respiração é sugada para fora de mim.

— Ela faleceu.

Ele se acalma, estreitando os olhos.

— Eu pensei que o tratamento estava funcionando.

Engulo a pedra pressionando na minha garganta.

— O tratamento funcionou. — As palavras grudam na

minha garganta. — Um carro. Atropelaram-na e fugiram.

Um flash de emoção passa em seus olhos. Por um

instante, estou olhando para o passado. Estamos todos

sentados em torno da mesa de jantar da minha mãe. Há

flores frescas na mesa e os pratos estão cheios de comida

persa. Frango com frutas e arroz. Minha boca está cheia do

sabor defumado de pimentas secas. Blake é charmoso e

minha mãe está rindo. Sua risada enche a sala e meu

coração. Mal a ouvi rindo na minha vida. Eu não percebi o

quão feliz eu era até então.

— Desculpe-me. Sinto muito em ouvir isso, Lana.

Sua pena é a minha perdição. A cena diante de mim

borra. Pisco furiosamente. Não vou desmoronar na frente

dele. Posso sentir o início das ondas de tristeza pelo meu

corpo. Eu ainda não chorei. Oh merda. Agora não... Por favor.

Eu fico em pé de repente. O mesmo acontece com ele.

Levanto a mão, dando um aviso para ele não chegar mais

perto e eu corro para a porta. Eu preciso sair. Meu único

pensamento é escapar. Não deixar que ele me veja quebrar,

mas ele já está ao meu lado. Ele agarra meu braço. Eu forço

para longe dele, mas ele é muito mais forte. Ele não sabe,

mas é parte da minha terrível dor.

— Por aqui. Há um banheiro particular. — diz ele em

voz baixa, e abre a porta me levando para o corredor. Ele não

olha para mim, e eu sou grata por isso. Lágrimas quentes e

incontroláveis estão escorrendo pelo meu rosto. Eu não

chorei quando minha mãe morreu. Durante três meses

inteiros eu não fui capaz de chorar. Havia tanta coisa para

fazer, mas agora as lágrimas silenciosas estavam fluindo sem

controle, e enormes soluços estão a caminho. Eu posso senti-

los em minhas entranhas, ameaçando explodir.

Ele mantém a porta do banheiro aberta e eu corro. A

porta se fecha atrás de mim. No interior dos cubículos feitos

de madeira compensada, há paredes de azulejos brancos. Um

lugar feio. Perfeito para o que tenho que fazer. Eu aperto a

bacia de cerâmica, mordo a mão em punho na minha boca e,

me dobrando, aguardo os soluços. Eles não me decepcionam

em sua ferocidade. Eles são longos, implacáveis e feios. Cheio

de pesar, recriminação e culpa. Por muito tempo eu

acreditava que minha mãe morreria de câncer. Ano após ano,

vendo ela sofrer e ainda não ser capaz de deixá-la ir em paz, e

então, quando ela está brilhante e cheia de vida novamente, e

quando eu menos esperava, ela se foi. Simples assim. Sem

aviso. Nunca tive a chance de dizer adeus. No final, ela foi

cruelmente arrancada de mim. Eu não sei quanto tempo

fiquei lá dentro, mas enterrei a minha mãe ali.

Sozinha, num banheiro fedendo a lixívia industrial.

Finalmente me inclino contra a pia, esgotada. Olho no

espelho. Que bagunça. Reparo em como estou horrível.

Assoei o nariz, lavei o rosto inchado. Meus olhos e lábios

estão vermelhos e inchados. Eu me arrumo. Abotoo minha

blusa até o meu pescoço. Sei que é covarde, mas decidi,

naquele momento, me afundar na distância. Basta caminhar

pelo corredor e sair. O banco tem o meu endereço e ele vai me

encontrar, mas então eu vou estar diferente. Vou ter reparado

as paredes da minha fortaleza. Eu vou ser forte. Ele não pode

me machucar. Mas então eu me lembro de Billie me

esperando em casa.

— Bem, você conseguiu? — Ela vai perguntar.

Fecho meus olhos. Não vou desapontá-la. Eu vou dizer:

— Sim, eu consegui.

Abro a porta e ele está lá em pé no corredor do lado de

fora, olhando para o chão, com as mãos nos bolsos da calça.

É a coisa mais estranha. Isso me lembra da primeira vez

que nos encontramos. Quando chorei em um banheiro e saí

para encontrá-lo ali, esperando por mim. Ele olha para cima,

ainda franzindo a testa. A porta se fecha atrás de mim

enquanto ele caminha em minha direção.

— Você está bem?

Eu aceno.

— Tom vai levá-la para casa.

Levanto os meus olhos para os dele. Eles são estranhos,

com alguma emoção que não consigo compreender.

— Não. — Digo. Minha voz sai estranhamente concisa.

Eu não tinha a intenção de que fosse assim. — Vamos

terminar esse empréstimo, para encerrar esse assunto.

Uma sombra vem sobre seu rosto. Então percebo que

apenas confirmei os seus pensamentos sobre mim. Eu sou a

interesseira que fará qualquer coisa por dinheiro. Qualquer

outra pessoa exploraria esta oportunidade para dar mais

suavidade. Estou arrependida, mas é tarde demais. Ele é

como a maré que está baixando e não pode ser recuperada.

Seus olhos retornam ao modo insensível e distante.

Ele balança a cabeça e voltamos para o escritório. Sento

em frente a ele, que assume a cadeira giratória. É uma

paródia. Ele sabe disso e eu também.

Ele olha novamente para o meu formulário de pedido de

empréstimo.

— Baby Sorab?

Oh. Meu. Deus. O que estou fazendo? Estou brincando

com fogo. Sinto meu coração bater tão forte no meu peito, ele

certamente também deve ouvi-lo. A névoa na minha cabeça

limpa. Já não é só comigo. Gato e rato? Eu posso jogar este

jogo. Ele não tem nada a perder. Eu tenho tudo. Então eu

vou ser a vencedora. Ele não vai me derrubar. Estudei meus

recursos, dou de ombros despreocupadamente. E então as

mentiras começam a cair da minha boca, tão facilmente que

até eu fiquei surpresa. Até hoje eu nunca percebi que era

uma eximia mentirosa.

— Sim. Nós pensamos que era um bom nome para o

nosso negócio.

— Por que roupa de bebê?

— Billie sempre foi boa com as cores. Ela pode colocar

vermelho e rosa junto e criar um look divino. Como Billie teve

um bebê neste ano, decidimos apostar em roupas de bebê.

— Billie teve um bebê? — Pergunta ele, obviamente

surpreso.

Eu olho nos olhos dele.

— Sim, um menino lindo. — eu minto sem interrupção.

Seus lábios se torcem ironicamente.

— Vocês com certeza pensaram em tudo. Suponho que

agora está sobre a cuidado de algum contribuinte britânico?

Eu faço um pedido silencioso de desculpas para Billie.

— Eu acredito que nós já tivemos essa conversa antes.

— OK! — ele diz.

—OK, o que?

—OK, você tem o empréstimo.

— Só isso?

— Há uma condição.

Prendo a respiração.

— Você não vai ter o dinheiro pelos próximos 42 dias.

— Por quê?

— Porque. — ele diz, em voz baixa. — Pelos próximos 42

dias você vai existir apenas para o meu prazer. Eu pretendo

devorar seu corpo até enjoar dele...

Engulo em seco.

— Você vai me prender em algum novo apartamento?

— Não em qualquer apartamento, no mesmo de antes.

Eu me surpreendo ao lamber os lábios. Nunca soube

que poderia pensar tão rápido. Que viria tão facilmente para

mim.

— Existe uma pequena complicação. Billie vê sua

namorada três, na verdade, quatro noites por semana e eu

cuido do seu filho.

Ele nem pisca.

— Diga a Laura que você precisa de um berço, carrinho

de bebê, aquecedores de mamadeiras e qualquer outra coisa

que seja. O bebê pode ficar no apartamento.

Eu fico olhando para ele.

— Você está falando sério?

— Você tem um plano melhor?

Faço uma pausa. Minha mente dá algumas voltas.

— Só mais uma coisa. Billie deve ter permissão de ir ao

apartamento.

— Feito.

— E Jack. Ele é o padrinho do bebê.

Ele parece entediado.

— Algo mais?

— Não.

— Bem. Você tem planos para amanhã?

Eu balanço minha cabeça.

— Bom. Fique livre amanhã. Laura vai ligar para você

para poder providenciar as coisas necessárias.

— OK, se não há mais nada...

— Eu vou acompanhá-la para fora.

Cabeças viraram para nos assistir. Seus olhos desviam

quando eles encontram os meus. Sinto em meu rosto o rubor.

Merda, eu nunca vou ser capaz de voltar aqui novamente. Eu

vejo o gerente do banco correndo em nossa direção, o tecido

das pernas de sua calça batendo contra seus tornozelos.

Blake levanta um dedo e ele para abruptamente. Blake abre a

pesada porta e saímos para o ar de fim do verão. É um dia

cinzento e está chuviscando um pouco.

Encaramos um ao outro.

— Por que Billie colocou o nome do bebê de Sorab?

— Por causa do grande épico Rustam e Sorab.

— Sim, estou ciente de que é por isso, mas por que ela

escolheu?

— Foi uma homenagem a minha mãe. Era a minha

história favorita dela.

— Hmmm... Essa é a qualidade mais admirável em você.

Sua lealdade inabalável com a sua mãe.

Por um momento, olhamos um para o outro. Percebo

que nunca o vi na luz do dia. Nem mesmo sob essa luz sem

brilho. Estranho. Nós sempre nos encontramos durante o dia

no apartamento e nunca saímos até o entardecer ou à noite.

E, à luz do dia, seus olhos são azul tempestade com cinza

mal-humorado e manchas pretas. Uma rajada de vento

espalha seu cabelo em sua testa. Sem pensar, levanto a mão

para tocar a mecha indisciplinada, mas ele sacode a cabeça

para trás, como se estivesse se esquivando de uma vespa.

— Desta vez você não vai me enganar. — ele cospe.

Nós olhamos um para o outro. Surpreendeu-me a

maneira como ele mantém a raiva perto da superfície e com

ela, seu desprezo. Minha mão caiu. Sinto-me exausta. Há

uma tonelada de tijolos dentro do meu peito. Eu não consigo

pensar direito. Olho para baixo. Para o ponto de ônibus.

— Vejo você amanhã, então. — eu digo.

— Tom está aqui. — diz ele, apontando para um Bentley

ao longo do meio-fio.

Eu balancei minha cabeça.

— Obrigada, mas vou de ônibus.

— Tom vai levá-la. — insiste ele, e eu tenho um

flashback da primeira noite em que nos conhecemos no

restaurante. Desse mesmo jeito, naturalmente confiante e

com ar de superioridade.

— Não. — eu continuo — Nosso contrato não começará

até amanhã. Então, hoje eu vou decidir o meu meio de

transporte. — e me movo para longe dele.

Sua mão agarra meu pulso.

— Eu vou pegá-la e colocá-la no carro, se for necessário.

Você decide.

Sinto a raiva borbulhando dentro de mim.

— Ah, é? Eu vou chamar a polícia

Na verdade, ele ri.

— Depois de tudo o que eu disse sobre o sistema. Essa é

a sua resposta?

Eu cedo.

Claro, quem vai acreditar em mim se eu afirmar que um

Barrington tentou me forçar a aceitar uma carona?

— Por favor, Blake.

— Muito bem. Tom vai com você de ônibus.

Não discuto. Simplesmente me viro, abro a porta do

carro, entro, bato a porta com força e fico olhando para

frente.

— Bom dia, senhorita Bloom. É bom te ver de novo. —

Tom cumprimenta, fingindo não perceber minha cara

inchada.

— É bom ver você também, Tom.

— Como tem passado? — Ele pergunta quando o carro

se afasta.

— Tudo bem. — respondo, e torço o pescoço para olhar

para Blake. Ele está de pé na calçada, onde eu o deixei. Suas

mãos estão soltas nos lados, e ele está olhando para o carro

em movimento. Na rua repleta de algumas das pessoas mais

desprovidas da Grã-Bretanha, ele se destaca. Alto,

impressionante, separado da multidão, e ainda assim ele

parece sozinho e abandonado. Lembro-me do que ele me

disse há muito tempo.

Não confio em ninguém. Em ninguém.

Quatro

O tráfego é ruim e o carro se arrasta lentamente pela

Kilburn High Street. Olho fixamente pela janela. Eu sei que

não estou sonhando com isso. Isso está realmente

acontecendo e ainda assim... Parece um sonho. A rua parece

a mesma, há apenas muitas pessoas olhando para o carro e

para mim. Seus olhos parecem hostis. Os ricos não são bem-

vindos aqui. Eu me sinto inquieta e perturbada. Preciso de

um pouco de tempo para pensar. Andar sempre me ajuda.

Peço que Tom me deixe nas lojas.

— Você tem certeza, senhorita? Eu não me importo de

esperar, até que você esteja segura. Estou livre até muito

mais tarde.

— Obrigada, mas vou ficar bem, Tom. Eu provavelmente

vou vê-lo amanhã, de qualquer maneira.

Tom concorda.

— Tudo bem então. Cuidado.

Entro no quiosque e compro uma garrafa de vodca e um

maço de cigarros para Billie. Então vou a pé para casa

devagar, tomando o caminho mais longo para, assim passar

por minha antiga casa. Estou na rua, na garoa e olho para

ela. Na porta azul onde vivemos uma vez, minha mãe e eu,

por tantos anos. Alguns deles felizes, mas a maioria repleto

de estresse, preocupação e medo. Agora, ela se foi.

Por um momento fico lá, meu rosto levantado, fingindo

que minha mãe ainda está lá. Que eu poderia, se quisesse, ir

até a escada, colocar a chave na porta, abri-la e encontrá-la

na cozinha. Careca e magra, como um fino esqueleto, mas

feliz em me ver. Então a porta azul se abre e uma criança

com cerca de sete anos sai. Ela tem cabelo castanho cortado

muito curto.

Uma voz de mulher grita lá de dentro:

— E eu quero o troco de cinco libras.

A menina não responde. Simplesmente bate à porta,

fechando-a, e corre para o topo da escada. Ela é tão arrogante

que me lembra de Billie. Ouço seu sapato tinindo, descendo a

escada. Ela corre atrás de mim, com o top manchado, shorts

amarelo e pernas sujas de terra. E de repente, estou

atormentada por um sentimento de profunda nostalgia por

aqueles momentos em que Billie e eu corríamos livres. Os

dias de verão. Com dedos pegajosos de picolés. Nem uma

única responsabilidade à vista. Eu vejo a menina virar para

baixo na estrada, em direção às lojas. Então eu lentamente

começo a caminhar em direção as casas, no bloco da torre,

onde Billie e eu vivemos agora.

É um lugar horrível, muito, muito pior do que este

pequeno bloco amigável. Se Blake visse onde vivo agora, ele

iria, literalmente, ter um ataque cardíaco. Todos os seus

piores pesadelos acontecem aqui. Prostitutas trabalham no

metrô e há brigas e facadas quando os bares abrem, à noite.

O som dos bêbados gritando e xingando flutuam até nosso

apartamento. Dentro do nosso condomínio não é melhor. Os

elevadores perpetuamente cheiram a urina velha e as escadas

estão cheias de seringas hipodérmicas cheias de sangue e

preservativos usados. Crianças brincam entre as agulhas, na

parte da manhã.

Eu moro aqui, mas no meu coração, estou

absolutamente determinada de que seja temporário. Pretendo

trabalhar duro, abrir nosso negócio e, esperançosamente,

antes que Sorab seja velho o suficiente para andar, nós três

estaremos longe daqui. A placa dizia para não brincar de

jogar bola e não despejar lixo. Desafiando a placa, o lugar

estava cheio de latas vazias e alguém havia simplesmente

deixado um colchão muito manchado sobre uma das longas

passarelas das varandas da torre.

Eu passo pelas crianças brincando no pátio.

— Ei, Lana, vimos que você saiu de um grande carro. De

quem é?

— Não importa. — eu digo a eles, asperamente.

— Alguém aqui tem um papaizinho... — eles cantam, e

estou surpresa de novo por ver o quão cruéis são essas

crianças. Na idade delas, a minha inocência era completa, a

minha infância era totalmente imaculada por qualquer

conhecimento de um adulto.

Uma delas sai do grupo e vem até mim.

— Vamos lá, nos dê uma libra para comprar alguns

doces. — ela persuade. Ela tem a cabeça cheia de cachos

castanhos.

Eu olho para ela.

— Sua mãe sabe que você está pedindo dinheiro?

— Sim. — ela diz imediatamente, de pé e sem o menor

traço de embaraço.

Eu olho em seus olhos e sinto tristeza. Eu sei quem é a

mãe dela. Uma mulher de rosto rígido, com seis filhos. Cada

um de um pai diferente, todos sujos e despenteados. Por uma

fração de segundo considero ensiná-la a não pedir esmolas,

para ter orgulho, e então desisto. Sei que no meu coração não

faz sentido. Eu desejo um futuro diferente para ela, mas ela

já está infectada pela geração antes dela. A chaga da

sociedade, e não por culpa dela própria. Abro minha bolsa e

dou a ela uma libra. Ela agarra com a sua pequena palma

quente e sai correndo na direção das lojas.

— Obrigada, Lana.

Eu me afasto das ervas daninhas e passo pelo concreto

rachado do chão. Triste, eu chuto uma lata de Coca do meu

caminho e em volta do bloco. Olho para o segundo andar do

bloco cinza feio e vejo Billie de pé na longa passarela da

varanda à nossa porta. Ela está fumando um cigarro,

encostada na grade de metal. Um de seus pés descalços está

em torno de uma barra de metal. Seu cabelo já não é branco,

mas vermelho flamejante. Ela mudou a cor e o estilo na

semana passada, quando terminou com Letícia. Ele agora

está cortado muito rente de sua cabeça de um lado e maior

do outro. Ela deve ter acabado de sair do banho, seu cabelo

ainda está molhado e penteado. Ela não me vê.

Eu corro até as escadas mau cheirosas e piso no nosso

andar. Ela olha para cima, com seu olhar contemplativo e me

observa. Passo por brinquedos descartados, um triciclo, um

balde de plástico e pá, e então estou em pé na frente dela.

Eu sorrio. Ela apaga o cigarro no corrimão de metal. Eu

pego a vodca. Ela sorri de volta. O dela é real, o meu não é.

Ela toma a garrafa da minha mão.

— Sério?

— Sério. — eu digo.

Ela coloca a garrafa no chão, me agarra em torno dos

quadris, e me levanta, rindo. Sua alegria é tão contagiante

que tenho que rir.

— Ponha-me no chão antes que você me deixe cair!

Ao invés de me abaixar, ela me gira várias vezes, me

carregando sobre nosso limite e chutando a porta como um

homem, antes de me jogar sobre a mesa de jantar.

—Você. É. Um. Caralho. De. Um. Gênio — diz ela. Em

seguida, o rosto passa por uma mudança repentina.

— Oh, merda. — ela xinga e entra.

Cheguei bem a tempo.

— Oi você! — eu a ouvi gritar. — Toque naquela garrafa

e você está morta.

Há o som de pezinhos à distância e Billie volta à vista

segurando a garrafa de vodca.

Eu escorrego da mesa.

— Como foi com Sorab?

— O de sempre, você sabe; comer, cagar, dormir e em

seguida, tudo novamente — ela diz, e bate a garrafa sobre a

mesa.

— Deixe-me dar uma espiada. — digo, e vou para meu

quarto. Eu fiquei na frente de seu berço, o meu coração

pesado de tristeza. Ele não tem nenhuma, mas eu sim. Ele

nunca vai saber quem é seu pai. Eu vou negar a ele um pai e

uma vida de riquezas inimagináveis. Empurro a culpa para

longe. Não agora. Ainda não. Por um momento, lembro de

Blake sozinho no meio da multidão. Somos todos solitários,

presos em nossa própria versão do inferno. Traço

delicadamente meu dedo em seu braço dorminhoco e vou

para fora.

Billie está sentada. A garrafa de vodca está fechada.

Tiro minha jaqueta. É muito grande para mim e balança

no meu ombro. Abro a geladeira.

— Vou fazer macarrão. Quer?

— Não, tinha um pouco de manjar turco.

— Bill, você não pode sobreviver com restos de pizza,

doces, chocolates.

— Não sou eu que pareço um esqueleto ambulante. —

Ela olha para mim me desafiando a contradizê-la.

Fecho a porta da geladeira e a encaro.

—Você sabe, quando te vi vindo para casa não me atrevi

a acreditar, porque pude ver que você esteve chorando.

Gostaria de pensar que você chorou porque estava feliz, mas

não é isso, não é? Quer me contar o que realmente

aconteceu?

Sento na sua frente.

— Blake estava lá.

Billie franze a testa.

— Lá onde?

— No banco. Ele estava cuidando do nosso pedido de

empréstimo.

— Não. Você vai me fazer chorar.

— Você pode segurar os comentários sarcásticos por um

momento?

Ela levanta as mãos, com as palmas de frente para mim.

— Aparentemente, ele estava acompanhando minha

conta, com a intenção de fazer contato.

Billie arregala os olhos.

— Uau! Isso é inteligente.

— Ele quer que eu termine o contrato.

Billie fecha os olhos em um gesto de extrema irritação.

— Oh Deus! Você concordou ou não conseguiria o

empréstimo, não foi isso?

— Sim! — digo, mas antes que eu possa dizer mais

alguma coisa, ela se inclina para frente de forma agressiva.

— Lana. Você está completamente louca? Você esqueceu

que os trolls querem derramamento de sangue? Ele é

controlado pelas entidades reptilianas que parecem ser da

família. Lembra o que eles fizeram com você da última vez?

Eles cruzaram a linha e chutaram você para fora da porra do

país! De qualquer forma, ela vai fazer você pagar com sangue

se chegar perto dele de novo?

— Simplesmente nunca mais fiz contato com ele. Não fui

eu.

— Sim, ela vai apreciar a diferença.

— Só pra constar, Blake disse que contou a ela sobre

mim e ela está preparada para esperar até que ele sacie seu

vício por mim.

— E você acredita nisso?

— Bem, foi algo parecido com o que ela me disse.

— Se você acredita nisso, então definitivamente deve

ficar longe dele. Você não está preparada para lidar com esse

tipo de astúcia letal.

— Eu não vou entrar em contato com ela. São apenas

42 dias.

— não precisamos desse dinheiro, sabia? Sempre

podemos começar de baixo. Nós conversamos sobre isso. Na

verdade, era improvável que você conseguisse o dinheiro sem

garantia real ou experiência em negócios. Foi apenas uma

chance. Nós vamos fazer acontecer sem ele. Na verdade, isso

será mais divertido.

— Eu não fiz isso por dinheiro. — digo baixinho.

Há um momento chocante de silêncio. Billie me olha

como se eu tivesse perdido a cabeça. E, de certa forma, ela

está certa. Estou arriscando tudo.

— Porra, Lana! Você esqueceu como foi difícil para você?

Você está apaixonada por ele?

— Eu não estou apaixonada por ele.

— Exatamente. Então, por que entrar na cova do leão de

novo? Olhe para você! Você é apenas uma sombra de si

mesma. Por que ir até ele? Além do sexo espetacular, por

quê?

Eu tento sorrir e não consigo. Sinto meu queixo e lábio

inferior começar a tremer. Eu pressiono meus lábios.

— Você não entende. Eu devo a ele. Ele era bom para

minha mãe e para mim, mas não mantive minha palavra. Eu

nunca deveria ter aceitado o dinheiro de Victoria. Estava

errada. Eu sabia, no momento em que a vi sentada e toda

alegre sobre a conta bancária na Suíça. Eu não tenho uma

conta bancária pessoal na suíça. Foi só quando eu dei tudo

para o hospital que me senti melhor. Eu apenas vou terminar

o que comecei, de novo. Caso contrário eu nunca vou ser

capaz de fechar essa porta.

— E Sorab? Você vai contar a ele?

— Claro que não. Eles levariam meu filho para longe de

mim e o transformariam em um predador de olhos

insensíveis, como o pai e o irmão de Blake.

— Então, o que acontece com Sorab?

Eu me contorço um pouco.

— Disse a Blake que Sorab era seu filho.

— Certo. — ela diz lentamente, obviamente incapaz de

aceitar essa ideia como realidade.

— Ele acha que você fez isso para furar a fila de adoção

e obter ajuda assistencial.

Billie sorri de repente.

— Então você não contou para ele que, quando criança

eu queria que meu sistema reprodutor fosse removido e

substituído por um conjunto extra de pulmões para que eu

pudesse fumar mais?

Balancei minha cabeça.

— O que tudo isso significa, afinal?

— Você cuida de Sorab aqui por três dias da semana e

eu o levarei para o apartamento nos outros quatro dias.

Billie dá uma respiração profunda.

— O que ele acha que eu estou fazendo nos outros

quatro dias?

— Passando a noite na casa de sua namorada.

— Jesus, eu sou uma mãe de merda, não é?

— E por acaso você se importa?

— Não dou a mínima pelo o que ele pensa de mim, mas

você ficará bem em estar longe de Sorab três dias por

semana?

Meu pequeno coração está partido com o pensamento,

mas eu coloquei uma máscara determinada.

— Bem, são apenas por 42 dias e eu estava pensando

que, daqui a três semanas, eu poderia dizer que você está de

férias e Sorab é muito jovem para ir com você.

— E você acha que ele vai acreditar nisso?

— Francamente, não acho que ele se importe o

suficiente para refletir sobre o assunto muito profundamente.

— Eu não quero tirar vantagem filosófica aqui, mas se

essa história vai acabar em 42 dias, isso tudo não é um

pouco... desnecessário?

Arrasto a minha unha ao longo do grão de madeira da

nossa mesa de cozinha. Nós compramos em uma loja de

caridade, por 20 libras. Tem duas marcas de queimadura de

cigarro na superfície, mas eu gosto bastante. Ela tem

personalidade, uma história para contar.

— Eu sei que acha que estou sendo boba, mas você

nunca teve alguém que ao te tocar, te deixa em chamas? Ou

aquela sensação estranha, como se os seus ossos estivessem

derretendo e seus ouvidos tilintando em sua cabeça?

— Não. — ela diz, sem rodeios. — E a julgar pelo que ele

fez com você... Não, obrigada. Gosto muito do meu

autocontrole. Da minha capacidade de dizer não e me afastar

de uma situação que grita perigo ou abuso, pela frente.

— Você não sente falta da Leticia, Billie?

— Sim, eu sei, mas... — Ela olha para mim de forma

significativa. — Ao contrário de você, nunca tive que rastejar

por sentir falta dela.

Abaixo os olhos. Meses atrás, quando deixei o país, fui

reduzida a rastejar, mas a dor intensa passou. Seu

reaparecimento, no entanto, tem despertado novos reinos de

necessidade e desejo.

— Posso dizer que não, mas ainda sinto falta dele, Bill.

Sinto falta dele como uma louca. Mesmo não tendo

esperança, ainda quero o que puder ter. Eu o quero em

quaisquer condições. Realmente acho que é impossível

resistir a ele.

Ela suspira.

— OK, é a sua vida. Quando é que essa charada começa

então?

— Amanhã.

— Acho que não vai precisar de uma babá para sexta-

feira à noite, vai?

Faço uma cara de desculpas.

— Desculpe. Você pode tomar conta dele amanhã?

— Enquanto você fode com o Menino Banqueiro? Claro,

porque não? Espero que o garoto se lembre o que eu fiz para

ele quando crescer.

Sorrio agradecida.

Ela enche dois copos com vodca e empurra um para

mim.

— Por Sorab. — Eu não quero uma bebida. Estou toda

remexida, mas nós bebemos. O álcool queima o fundo da

minha garganta. Esta não é uma celebração. Não para mim e

não para Billie. Quando nossos olhos se encontram

novamente, ela não sorri, seus olhos me avisam que estou

cometendo um grande erro.

Cinco Por volta das nove horas da manhã seguinte, Sorab está

alimentado e banhado, e eu estou nervosa, checando o meu

celular para ver se a bateria está fraca, mas ela está

totalmente carregada e a recepção é boa. A voz eficiente e

rápida da secretária de Blake vem às 09h05min.

— Bom dia, senhorita Bloom.

— Oi, Sra. Arnold.

— Este é um bom momento para falar?

— Sim.

— Bom. — diz ela rapidamente, e depois vacila por um

segundo.

— Eu... uh... Como tem passado?

— Muito bem, obrigada.

— Isso é bom. Você ainda está usando contraceptivos?

— Não.

— Oh! — É claro que ela não consegue entender por que

parei com eles.

Mais uma vez as mentiras viajam da minha boca tão

facilmente que me surpreende.

— Eu estava no Iran. Não havia necessidade deles. Além

disso, eles são difíceis de comprar por lá.

— Vou agendar uma consulta para uma renovar sua

prescrição.

— OK.

— Em seguida, você se encontrará com o advogado e,

em seguida, Fleury irá levá-la para as compras, e depois você

terá um compromisso com o cabeleireiro, seguido do

compromisso com a manicure e a depilação.

De repente, eu estava inundada com uma sensação de

déjà vu. Já fiz isso antes. Definitivamente. Na primeira vez eu

era ingênua. Estúpida. Aquele primeiro beijo, ele me

surpreendeu, mas agora eu sei... Sou a indesejada, a

desnecessária. O homem que tem sede de mim também me

despreza.

Mas então, eu pensava que era tudo uma aventura

fantástica. Um sonho romântico. Entrei com os dois pés.

Tudo o que eu sabia sobre ele e sua família era o que Bill leu

para mim da Internet. Agora eu fiz minha pesquisa, sentada

sozinha e grávida em um computador no Irã e eu sei mais,

muito, muito mais sobre o grande clã Barrington.

Eu sei, por exemplo, que há nada menos de cento e

cinquenta e três espécies ou subespécies de insetos que

carregam o nome de Barrington - cinquenta e oito aves,

dezoito mamíferos e quatorze plantas, incluindo uma

orquídea rara chinesa, três peixes, duas aranhas e dois

répteis. Várias ruas ao redor do mundo e pratos foram

nomeadas em homenagem a eles também. O único prato que

eu ainda me lembro é o com camarões, conhaque e Gruyère

(queijo francês) com torradas.

Eles são os Médicis1 do século 21, oferecendo patrocínio

para artistas, escritores e arquitetos. Eu aprendi sobre as

casas que doaram ao povo e as quantidades enormes de

dinheiro que eles têm investido em beneficiários que vão

desde universidades, hospitais, bibliotecas públicas,

instituições de caridade, instituições sem fins lucrativos e

escavações arqueológicas. O objetivo disto Blake já explicou

para mim, como os muito ricos jogam o jogo filantrópico.

Roubam milhões durante um longo período e dão uma

pequena porção de volta como presentes tributáveis.

Eu percebi que as palavras de Blake eram verdade. Se

você procurar na Wikipédia as notícias de ouro foram

convencionalmente plantadas. Isso tudo que vi e li sobre a

família Barrington era história, que fazia parte de uma

imagem, uma imagem falsa. Eles queriam que o mundo

acreditasse nas biografias falsas que encomendaram. Tudo

que declararam que a sua família fez, a dinastia que dominou

1 Família rica e poderosa de banqueiros e comerciantes. Tiveram seu apogeu nos

séculos XV e XVI, quando dominaram Florença, na Itália, e acabaram por estender

seu poder por toda a Toscana, a região onde fica essa cidade.

desde riqueza e influência perdida. Eles eram a imagem de

uma família benigna, com uma almejada privacidade.

Então me deparei com um vídeo do Youtube do pai de

Blake. Lá, ele não era o homem de olhar frio que me mandou

ir, arbitrariamente, ao banheiro para que ele pudesse falar

com seu filho. Vestido com um caro casaco de cashmere e

óculos com aros de metal, ele se preocupava com a economia

mundial de uma forma leve e educada. Sua opinião: mais

medidas de austeridade devem ser implementadas em todo o

mundo, antes que qualquer recuperação pudesse ser

alcançada. Seu cabelo prateado fazia parecer o avô de

alguém, mas quando eu o vi, senti um calafrio subir pela

espinha.

Ele estava completamente diferente. Nesse papel

benevolente que ele tão facilmente e efetivamente

desempenhou.

Se eu não tivesse visto a arrogância gelada, com o qual

os olhos azuis me esnobaram, nunca acreditaria que estes

dois homens eram a mesma pessoa. Mas eu dou crédito ao

arrepiante aviso de Blake, de que nada em seu mundo é o

que parece para aqueles no meu mundo. Foi quando comecei

a pesquisar nos sites de conspiração. E eles estavam cheios

de informação.

Os Barringtons foram acusados de tudo; desde

secretamente começar a guerra civil americana - a fim de

capturar o sistema monetário e precipitar o pânico no banco

americano de 1907, para enganar o Congresso - a aprovar o

Fed (Sistema de reserva federal) em 1913, por financiar os

bolcheviques e Hitler. Eles foram ainda acusados de ter uma

mão no assassinato de Kennedy.

Havia uma coisa que eles fizeram direito, no entanto.

Eles se recusavam a acreditar que o conto de fadas dos

Barringtons eram uma dinastia em declínio, cujos membros

não poderiam mesmo fazer a lista dos mais ricos da Forbes.

Na medida em que estavam em causa, os Barringtons foram

uma das treze famílias antigas. Através de estruturas

complicadas de empresas off-shores (contas e empresas

abertas em paraísos fiscais) que possuíam toda a dívida de

todos os países. Eles eram trilionários e os verdadeiros

governantes por trás dos governos e organizações mundiais.

Por que ser um Barrington é ser um Creso2 moderno, um

Midas do século XX.

— Está tudo bem, se Tom chegar em sua porta, às 10h?

— Laura Arnold pergunta.

O aviso do elevador quebrado pisca em minha mente e

eu me sinto envergonhada.

— Não, basta pedir para ele me ligar no celular quando

chegar, que eu desço.

— Tudo bem, então. Tenha um bom dia, senhorita

Bloom.

2 Creso foi o último rei da Lídia, da dinastia Mermnada, filho e sucessor de Aliates que

morreu em 560 A.C.

Agradeço a ela e termino a chamada. Quando coloco o

telefone na mesa de jantar, Billie entra. Seus olhos estão

quase fechados. Ela vai para a geladeira, toma um gole de

suco de laranja direto da caixa e se vira para mim. Seu rosto

está sério.

— Que horas você vai embora?

— Em menos de uma hora.

— Certo. — ela diz.

— O que você faria se fosse eu, Bill?

— Eu não sei, por que não tenho todos os fatos, não é?

— O que você quer dizer?

— Você pegou o dinheiro e desapareceu com ele, sem

deixar nenhuma nota e nem se despedir, enquanto ele estava

inconsciente no hospital, depois de ter arriscado - se o que

você me disse é verdade - a sua preciosa vida, para salvar a

sua humilde. Então, aos olhos dele, você deve ser o pior tipo

de vagabunda interesseira que já andou em solo Inglês. Em

vez de saltar sobre você e querer agarrá-la para uns dias de

aventura, ele não deveria te detestar agora?

Abaixei minha cabeça. Sinto-me envergonhada por não

ter contado toda verdade a Bill.

— Você está certa, ele deveria me detestar, sou como

uma coceira que deve ser coçada.

— Hmmm... Há algo de errado com esta explicação, por

que coçar demais apenas piora.

— Está bem. Ele chamou isso de doença.

— Pelo amor de Deus, Lana. No que você está se

metendo?

Fecho meus olhos. Só estou piorando tudo.

— Olha, Bill, não é tão ruim quanto parece.

— Melhore o cenário, então.

— Eu não posso. Tudo o que posso dizer é que eu tenho

que fazer isso. Eu sei que o deixei, mas nunca parei de

desejá-lo. Não teve um único dia em que eu não pensei e

ansiei por ele. Não tenho ilusões de que eu possa tê-lo. Eu sei

que não posso, mas estes 42 dias são meus e nada e nem

ninguém vai tirar isso de mim. Então, ele quer me punir?

Tudo bem. Um tapa dele é melhor do que nada.

Bill está boquiaberta com o choque. Ela olha para mim

como se não me conhecesse.

— Você está em algum tipo de relação sadomasoquista?

Desta vez é fácil de encontrar seus olhos.

— Blake não sabe como me machucar. Mesmo que eu

pedisse, ele não conseguiria. Ele acha que pode, mas não

pode. Eu sei. Você já o conheceu. O que você acha?

Bill suspira.

— Eu gostava dele. — Ela admite, finalmente.

Sorrio, mas por dentro estou incrivelmente triste. Eu

sinto como se nunca pudesse tocar a verdadeira felicidade.

Tudo é levado para longe.

— Sim, eu tenho a impressão de que ele gosta de você

também.

Bill fica vermelha.

— Você está corando, Bill?

— Se ele tentar alguma coisa ruim, você vai abandonar

esse contrato doente num piscar de olhos. — Ela diz

rispidamente.

Concordo com a cabeça. Ela acaba de garantir que eu

nunca conte a ela a história toda.

Seis A consulta com a médica foi rápida e indolor.

Próxima parada: escritório do advogado. Entro no

escritório do Mr. Jay Benby com seu secretário. Ele fica na

porta. Eu olho em volta. Tudo é exatamente do mesmo jeito.

— Como vai, senhorita Bloom? — ele diz, meio

levantando da cadeira, o mesmo ar de confie-em-mim-eu-sei-

o-que-é-melhor-para-você. O sorriso lentamente aparece em

seu rosto enquanto ele mostra sua cobra de estimação.

Abaixo meus olhos para o seu anel de turquesa e

pergunto:

— Onde eu assino?

Ele fica em alerta.

— Devo lembrá-la, senhorita Bloom, sobre a importância

e as graves implicações do que você está prestes a assinar? —

ele começa com uma arrogância hipócrita, mas eu o

interrompo. Da última vez em que entrei nesse escritório, era

uma novata de olhos arregalados e intimidados pelos seus

jargões jurídicos. Dessa vez, não.

— Mr. Benby, ambos estamos sendo pagos para estar

aqui. Podemos fingir que você é melhor do que eu, mas por

que perder tempo?

Seus olhos se estreitaram perigosamente.

Ah, eu o ofendi. Boa.

Seus movimentos são afiados e bruscos quando ele abre

o contrato em sua mesa até a página desejada, coloca uma

caneta-tinteiro preta e dourada no topo da página, e empurra

a coisa toda para o final da mesa para mim. A verdade é que

nós dois sabemos que eu não tinha que estar aqui. O

contrato já assinado é valido. Claro, ele não consegue

descobrir por que estou aqui, vejo em seus olhos

especulativos, mas sei exatamente o porquê que estou aqui.

Isso faz parte da minha humilhação.

Tomo a caneta. É fria e suave em meus dedos. Eu

desaperto a tampa, assino e dato o documento, em seguida,

empurro de volta para ele.

— Já terminamos por aqui?

Ele balança a cabeça com firmeza, sua raiva muito

firmemente colocada em cheque. Eu sou a mulher de Blake

Law Barrington, ao menos pelos próximos 42 dias. Intocável.

Viro e saio.

Um pequeno saco de papel está colocado no banco de

trás do Bentley. Agradeço a Tom, guardo os contraceptivos na

minha bolsa e viro a cabeça para olhar pela janela. Londres

tem um ar diferente de Kilburn. Menos desespero, mais

agitação. As pessoas são diferentes também. Eles não

desistiram, ainda acreditam em suas buscas. Isso dificulta a

visão deles. É assim que os olhos de todas as pessoas da

cidade são, frios. Pressiono a mão no meu estômago. Estou

nervosa. Não sei o que esperar desta noite. Até agora parece

que Blake recriou o dia da nossa primeira noite juntos. Nossa

primeira noite juntos ainda queima na minha memória. Eu a

reproduzi em minha mente e fiz com que minhas coxas se

apertassem com uma mistura de excitação e antecipação.

Vou me segurar dessa vez, eu acho.

Fleury está esperando por mim na área de recepção. Ela

caminha em minha direção, sorrindo, polida e elegante,

exatamente como eu me lembro dela. Ela me abraça

calorosamente.

Então, ela me abraça longe dela e diz:

— É maravilhoso vê-la novamente, mas você está tão

magra. Você está bem?

De repente, quero chorar. Eu não consegui chorar

durante semanas, mas desde ontem os menores atos de

bondade fazem meus olhos arderem em agonia. Mordo meu

lábio e pisco as lágrimas.

Por um momento, Fleury registra uma expressão de

surpresa, mas ela não é uma executiva de relações públicas

por nada. Ela sorri brilhantemente, fazendo uma curva em

seu braço esquerdo, me convidando a colocar o meu braço

através do dela. Caminhamos juntas para fora das portas de

vidro.

— Vamos começar com alguns cosméticos?

— Não preciso de novos cosméticos, Fleury. Eu quase

não uso o que você me comprou da última vez. Não há como

comprar isso no Irã.

Ela vira o rosto para mim.

— É ruim o suficiente que as mulheres tenham que

colocar produtos químicos em seus rostos, pelo menos, não

deixe que fique vencido e tóxico. Seis meses é o máximo que

você deve manter seus cosméticos depois de aberto. — diz ela

com firmeza, quando sai para a luz fraca.

Compramos novos cosméticos no piso térreo do Harvey

Nichols. Além dos nudes e rosas suaves, Fleury escolheu um

batom vermelho escarlate.

— Fui informada de que você irá assistir a uma ópera.

Esse vai ser perfeito para o vestido preto que tenho em

mente. — Ela passa um cartão de crédito para o assistente de

vendas e se vira para mim. — Você já foi a ópera antes?

Eu balanço minha cabeça.

Fleury sorri.

— Bem, então vai ser uma experiência nova e

maravilhosa para você.

Nós entramos no elevador.

— Há um vestido aqui que você absolutamente deve

experimentar. É um sonho.

Estávamos passando por uma vitrine de vidro quando

Fleury para, tão de repente que bato nela. Pegando minha

mão, ela me puxa para baixo em uma posição agachada. Olho

para ela sem entender porque agachar atrás da vitrine. Ela

coloca o dedo em seus lábios, sorri fracamente e dá um

encolher de ombros despreocupado.

Meu primeiro pensamento é de que ela viu alguém que

queria evitar, mas no momento seguinte, ouço um sotaque

esnobe perguntar:

— Você não tem isso na cor cereja?

Uma garra de gelo e horror rasga meu estômago. Devo

ter empalidecido ou parecido assustada, porque os dedos de

Fleury apertaram a minha mão e seus olhos se arregalam em

um aviso silencioso, mas claro para não fazer barulho.

Eu engoli a seco.

A voz está dizendo outra coisa que eu não entendo, mas

está se afastando. Fleury puxa minha mão e começa a

rastejar para longe. Se eu não estivesse tão abalada, seria

engraçado. Por nós estarmos de joelhos na Harvey Nichols!

Uma vez, quando Billie veio aqui descalça no auge do verão, o

segurança a retirou a força. Mas Fleury não é qualquer uma.

Fleury representa um grande negócio, um negócio em que os

clientes eram fiéis.

Uma mulher matrona nos olha com os olhos arregalados

de desaprovação, mas ela reconhece Fleury, que dá um

pequeno cumprimento. Ela acena com a cabeça quase

imperceptivelmente e olha a frente. Assim que chegamos ao

fim da longa vitrine, Fleury se levanta e me puxando com ela,

caminhamos rapidamente para fora do departamento.

Descemos as escadas e saímos da loja. Fleury não esperou

por Tom, chamou um táxi preto. Nós entramos e ela disse ao

motorista para nos levar a Kings Road (rua dos Reis).

Em seguida, ela enviou uma mensagem de texto para

Tom, para nos encontrar lá e se virou para mim.

— Eu realmente sinto muito sobre isso, mas é melhor

vocês não se encontrarem. Acho que você a conhece.

Minhas mãos estão tremendo. Concordo com a cabeça.

Estou em estado de choque. De todas as milhões de pessoas

em Londres que eu poderia encontrar, por que ela? E no

primeiro dia do meu contrato. Entendo que seja um mau

presságio, um aviso de que estou cometendo um erro terrível.

As mãos bem cuidadas de Fleury agarram as minhas.

— Não se preocupe com isso. Foi apenas um pouco de

azar. Nós vamos fazer compras em Kings Road. Há lugares

maravilhosos lá também. Na verdade, às vezes eu acho que

prefiro ir lá.

Eu balancei minha cabeça.

— Eu não quero mais ir às compras, Fleury. Eu só

quero ir para casa.

Os olhos de Fleury mudam. Vejo determinação pura

brilhando entre seus cílios extravagantes. Esta é uma mulher

que não vai permitir que nada fique em seu caminho. Eu

começo a admirá-la de novo. Ela é resistente de uma forma

que eu não sou.

— Você não pode ir para casa, Lana. Você está

comprometida com este dia. Temos compromissos que temos

de cumprir. Victoria não é tão poderosa quanto você acredita.

Ela não pode tirar de você o que é realmente seu.

— O que você quer dizer? — Pergunto trêmula. Na

verdade, estou cheia de medo. Perdi tanta coisa. Tudo o que

me resta é Sorab e se por qualquer impulso eu for

descuidada, ele irá desaparecer também, como uma miragem

no deserto.

— A minha posição não permite que eu diga, mas não

subestime Blake Law Barrington. Ele pode surpreendê-la.

Além disso, você não acha que as mulheres que culpam a

outra mulher são estúpidas? A outra mulher não deve

nenhuma lealdade. Olhe para o seu próprio homem. Ele é o

traidor. Fique brava com ele, se tiver coragem.

Concordo com a cabeça. Fleury está certa. Eu não fiz

nada de errado. Cumpri com minha parte no acordo. Eu

deixei o país por um ano. Eu não procurei Blake. Ele que me

procurou.

— Bom. — Fleury diz com um sorriso encorajador. —

Aqui está o que vamos fazer; Iremos à boutique do meu amigo

e encontraremos algo para você usar hoje à noite. Amanhã eu

vou pegar algumas roupas que acho que vão ficar perfeitas

em você e vou enviar para o seu apartamento. Então, você

pode escolher o que quiser e devolver o resto, ok?

— Ok.

— Eu vou reagendar seu horário com o cabeleireiro e

Laura vai, consequentemente, reagendar todos os outros

compromissos.

Em um instante eu a ouvi chamar o cabeleireiro de

celebridades e facilmente levá-lo a entrar no salão, com

quatro horas de antecedência. Pessoas se desdobram para

satisfazer as necessidades de um Barrington. Depois, ela

ligou para Laura.

— Pequena mudança de planos. — Ela disse. — Mmnn.

Conversamos sobre isso mais tarde. Estamos indo para o

cabeleireiro às 13h00. Reagende todos os outros

compromissos em conformidade. — Ela fez uma pausa

enquanto escutava e então disse: — Certo. Isso é bom para

mim. Falaremos mais tarde. — Ela se vira para mim. — Tudo

certo?

— Tudo certo.

— Vamos almoçar primeiro?

Eu não estou com fome, mas aceno infeliz.

Ela respira fundo.

— Se prometer que nunca irá contar a ninguém o que

estou prestes a te revelar, então vou te contar um segredo.

Prometo rapidamente.

— É muito importante que você não conte a ninguém,

especialmente para Blake, ou podem cair sobre mim e Laura

algumas coisas extremamente podres.

— Eu não contarei a ninguém. Principalmente ao Blake.

— Você é mais importante para o Blake do que pensa.

Algum tempo depois que te conheceu no ano passado,

quando estava prestes a entrar em uma reunião importante,

ele chamou por cima do ombro e disse a Laura para reter

todas as ligações. Mas então ele se virou e disse: 'com

exceção de Lana.' Laura ficou muito surpresa com o pedido.

Você vê, ele nunca havia dado uma instrução dessas a ela.

Nem mesmo por seu pai ou irmão. ‗Isso vale apenas para esta

reunião ou é para o dia todo?‘ ela perguntou. ‗Vale até que eu

diga o contrário.‘ ele respondeu. Mas, eis a coisa mais

surpreendente de tudo: Blake Barrington nunca disse o

contrário.

A primeira coisa que vem à minha mente é ‗isso foi

antes‘.

— Não cometa o erro de pensar que foi porque ele se

esqueceu. Blake nunca se esquece de nada. Nem mesmo dos

menores detalhes.

Concordo com a cabeça. Talvez ele se importasse. Talvez

ele vá aprender a me amar novamente.

— Eu não queria que nós encontrássemos Victoria. Não

porque tenho medo dela, mas porque acho que é

desnecessário. É desnecessário para você e desnecessário

para ela. Ela superestimou sua importância; você se

subestimou. Seja confiante. As coisas nem sempre são o que

parecem.

Uma chamada de negócios vem para Fleury. Ela

pergunta se eu me importo por ela atender. Digo que não e

gasto o meu tempo olhando para os compradores na rua,

meu estômago rola com ansiedade.

O carro para na frente de uma loja chamada Bijou.

Fleury abre uma porta antiga e um pitoresco sino tilinta.

Uma lufada de perfume sai correndo para nos receber. A

pequena loja é tão abarrotada de roupas, joias, chapéus,

bolsas e sapatos, e tão diferente do que se presume ser uma

loja habitual de designer nas quais Fleury normalmente me

leva, que eu realmente tenho a impressão de ter tropeçado na

caverna secreta de Aladdin.

Uma pequena mulher bem conservada, de idade

indeterminada fica atrás de uma mesa ornamentada e vem

para frente para cumprimentar e beijar Fleury em ambas as

faces. Seu riso é sofisticado e rouco, de uma fumante

inveterada. Ela tem um estilo europeu chique, que combina

camisas com cores ousadas e inúmeros cordões de pérolas.

Sou apresentada a Regine.

Ela sorri para mim mais uma vez, e indica para Fleury e

eu duas cadeiras de veludo vermelho. Quando estamos

sentadas, ela vira a placa na porta para fechado e começa a

correr em torno de sua loja superlotada, cantarolando. Ela

volta com três roupas diferentes.

— Experimente esse primeiro. — sugere Fleury,

apontando para um vestido branco fabuloso na altura do

joelho, com uma gola alta mandarim, três recortes de joias

em forma de folhas no peito e na altura das coxas. Eu o pego

da Madame. O tecido é de lã muito macia.

— Somente meninas com braços muito finos podem

usar o cheongsam3 — diz Fleury.

— Sim. — concorda Madame Regine.

Eu vou atrás de uma cortina de veludo pesado, onde há

três espelhos de corpo inteiro. Não temos grandes espelhos

em casa. Billie vai para os vestiários da Marks e Spencer para

se ver. Tiro minha calcinha. Posso ver que estou muito

magra. Minhas costelas e ossos do quadril estão à mostra.

Não é uma boa aparência. Eu costumava ser melhor de se

olhar antes. Imediatamente começo a me preocupar se vou

agradar a Blake. Eu me lembro de como ele era atraído por

meu corpo. Como costumava me dizer para tirar a roupa, e

me observar. Bastava me ver para seus olhos ficarem

3 Vestido clássico da China.

fascinados, como se eu fosse a coisa mais bonita que ele já

viu. E se o meu corpo já não o excitasse mais?

— Ei, nós queremos ver. — Fleury me chama com uma

risada.

— Estou indo. — digo, e coloco o vestido. Fecho atrás e

olho para meu reflexo. Uau! Eu não posso acreditar o quão

bem o vestido ficou. Isso faz parecer que tenho curvas. Eu

viro minha cabeça para olhar para o lado da fenda, que vem

até o meio da coxa, o que é ao mesmo tempo sutil e sexy.

Sentindo-me mais tranquila, puxo a cortina.

— Magnifique! — Suspira a voz rouca.

Fleury sorri como o gato Cheshire.

— Você está linda, Lana. — diz ela, e sei que está sendo

sincera.

— Mas espere... Eu tenho o sapato perfeito. — Diz a

Madame, e corre para a parte de trás da loja.

Ela volta com um sapato que é incrustado com pedras

semelhantes às que bordam os buracos em forma de folha no

decote. Ele é como o sapato de vidro da Cinderela. Apenas a

garota certa pode calçá-lo. Pego e calço. O sapato se encaixa

perfeitamente, ela deve ter um excelente olho.

O rosto carregado de maquiagem sorri astuciosamente.

— Aaa..., mas espere... Você precisa arrumar o cabelo

para cima.

Ela arranca três grampos de joias de um vaso e

segurando meu cabelo habilmente, insere-os nele. A senhora

europeia, cuja idade estou tendo que aumentar mentalmente,

bate palmas e declara finalmente que é ―Absolutamente

fabuloso.‖

Olho para o espelho e tenho que concordar.

Absolutamente fabuloso. O vestido é realmente incrível.

Nunca me senti tão glamorosa ou sexy em toda a minha vida.

Olho para Fleury e ela está sorrindo.

— Ninguém pode levar o que é verdadeiramente seu

para longe. — diz ela, e eu sorrio.

Saímos da Bijou e Tom está esperando por nós. Ele

coloca todos os nossos pacotes no porta-malas e nos leva ao

cabeleireiro das celebridades.

— Você deixou sua franja crescer. — Bruce, o

cabeleireiro de celebridades, diz em tom acusatório.

— Eu estava vivendo no Irã. As mulheres não têm

permissão para mostrar os cabelos em público. Era mais fácil

deixá-lo crescer, puxar todo para trás em um coque e jogar

um lenço sobre a cabeça. — explico.

— Ah, isso responde perfeitamente à minha próxima

pergunta, que seria ―Você já foi a algum lugar bacana?‖.

Eu ri. Gosto dele. Ele é raro, um cabeleireiro durão com

senso de humor britânico. E ele tem um queixo determinado

e forte, e olhos que são sutis, mas com certeza me despiram.

Se não estivesse totalmente apaixonada por Blake eu poderia

gostar dele.

— Mas, honestamente. — continua ele — o que deu em

você para ir viver naquele país esquecido por Deus?

— Minha mãe é de lá.

— Ah! Ouvi dizer que tem muitos banheiros com aqueles

azulejos lindos.

— Tem.

Ele levanta a mão e toca minhas bochechas.

— Você perdeu peso. A franja só vai acentuar sua

magreza. Vou desfiar o cabelo perto de sua boca para retomar

essa suavidade perdida.

E ele faz.

Fleury dá as presilhas para a garota que assume o

trabalho de secar meu cabelo e a instrui para colocar o meu

cabelo para cima.

— Mas não coloque laque. — ele diz e pisca para mim.

— Homens não gostam do cabelo duro.

A menina está acabando e eu estou maravilhosamente

diferente.

Também é hora de Fleury dizer adeus. Sinto-me quase

chorosa. Ela é a única que parece estar do meu lado,

torcendo por mim. Ela me beija no rosto.

— Tudo vai ficar bem. Basta ser você mesma e nada

poderá ser mais bonito.

De volta ao salão de depilação, soube que Rosa se

mudou para a Espanha. Uma mulher alemã robusta, com as

mãos avermelhadas e unhas roídas até o final, me leva para

uma sala de depilação. Não há nenhuma conversa sobre

sanduíches já consumidos na frente da TV ou de um filho

inteligente que está na escola de arte, apenas uma dedicação

implacável e silenciosa por uma pele depilada. Gertrude tira

cada fio de cabelo do meu corpo. Quando estou toda em um

tom forte de vermelho e o último pelo ofensivo se foi, ela solta

um grande suspiro de satisfação. Ao contrário de Rosa, ela

não se oferece para fazer as sobrancelhas de forma gratuita.

Isso era de outro tempo. Quando a vida era generosa comigo.

Minhas unhas estão muito curtas para uma manicure

francesa. A menina me pergunta se eu gostaria de unhas

acrílicas e por um momento me sinto tentada, nunca tive e

elas parecem bastante divertidas, mas então eu acho que,

acidentalmente, aranhariam a pele macia de Sorab, quando

estiver trocando suas fraldas e recuso. Ela vai em direção a

uma prateleira cheia de esmalte de unha.

— Escolha a sua cor.

— Branco. — eu digo. — Quero o esmalte branco.

No carro eu admiro minhas unhas, olhando para elas

bonitas e limpas.

— Tom. — digo. — Se me der à chave do apartamento,

você pode me deixar na minha casa, depois eu pego um táxi

pra lá.

— Oh não senhorita Bloom, isso vale mais do que

apenas o meu trabalho. Fiquei com meus ouvidos vermelhos

por deixá-la no centro, da última vez. Eu posso levá-la para

onde quiser e esperar lá embaixo, até que você esteja pronta

para ir para o apartamento.

Ele senta na entrada, de frente para o parque na escada

escura e espera meu retorno.

Sete Billie está sentada na nossa mesa de jantar quando

entro. A cesta de bebê está na mesa ao lado dela. Cercada por

canetas, aquarelas e lápis de cor, ela está dobrada em cima

de um grande bloco de notas, profundamente concentrada.

Seu cabelo está caindo sobre a testa e sinto uma grande onda

de amor por ela. Ela olha e sorri.

— Uau! Esse penteado está legal. — ela exclama, ficando

de pé e segurando a minha mão, me fazendo rodopiar.

— Então, você gostou? — Sondo, conscientemente

tocando minha franja.

— Sim. — ela diz enfaticamente. — Se ele não gostar de

você, eu gosto.

Eu rio e vou para o berço.

— Ele está dormindo?

— Não.

Sorab está agitando os bracinhos. Chego ao berço e o

pego no colo. Ele está vestindo algo projetado e feito por

Billie, tipo um terno vermelho e amarelo, com grandes botões

de pano azul que se parecem com flores.

— Olá, querido. — Digo, meu rosto se desfaz no primeiro

sorriso cheio de alegria, desde que saí da casa.

Ele olha para mim com seus olhos azuis intensos

durante alguns segundos, antes de quebrar em um de seus

sorrisos desdentados e deliciosos.

Por cima do meu ombro, Billie diz:

— Pena que ele vai ter que crescer e se tornar um

homem.

Viro e olho para ela de forma significativa.

— O quê? — ela pergunta.

— O seu pai é um homem.

— Isso ainda não se sabe. — diz ela, e movendo-se em

direção aos seus desenhos, diz: —Venha e veja isso.

Eu a sigo em torno da mesa. Coloco Sorab na dobra do

meu braço, para ter uma visão melhor do seu trabalho. Ela

chamou de vestido da menina. Não é na cor rosa pálido

habitual, normalmente reservada para os bebés, mas é

amarelo banana, com maçãs verdes por todo o lado. Eu

nunca vi nada parecido nas lojas. Ela realmente tem um

talento único.

— Bem, o que você acha?

— Ele é tão bonito, eu quase desejaria que Sorab fosse

uma menina, apenas para usá-lo

Billie sorri.

— Você tem tempo para uma xícara de chá?

— Eu tenho. — digo.

Ela põe a chaleira no fogo e nós nos sentamos e

conversamos. Nós não tocamos no nome de Blake. Até que dá

quatro e meia, eu beijo Sorab e saio pela nossa porta da

frente. Tom sai do carro e abre a porta quando ele me vê

descer as escadas. Olho para cima e Billie está de pé na

varanda olhando para mim. Ela ondula o bebê e muda para

um lado. Aceno, com um sentimento de pavor no meu

estômago.

Não deixo Tom carregar minhas malas ou me

acompanhar. Eu sei o caminho. Além disso, estou morrendo

de vontade de ficar sozinha, apenas com meus pensamentos

caóticos. Atravesso a porta de vidro e o Sr. Nair salta de pé,

em sua posição atrás do balcão da recepção, como um

suricato assustado. Ele vem em minha direção sorrindo.

— Senhorita Bloom, senhorita Bloom, — ele chora. —

Você está de volta na cobertura. Eu vi todos os produtos de

limpeza, malas e móveis novos que foram lá pra cima e eu me

perguntava de quem seriam.

— Que bom te ver de novo, Sr. Nair.

Ele estende as mãos.

— Aqui, me deixe ajudá-la com suas malas.

Eu puxo as malas de seu alcance.

— Está tudo bem, Sr. Nair. Elas são muito leves. Eu

posso levá-las. Por que você não vem amanhã de manhã para

um café e então podemos ter uma conversa agradável.

— Ah, sim, senhorita Bloom. Isso vai ser maravilhoso.

Nada é o mesmo desde que você foi embora.

Sorrio. Na verdade, também tenho saudades dele e de

suas histórias fantásticas do tempo em que passou na Índia.

— Eu vou chamá-lo amanhã.

— Boa noite, senhorita Bloom. É realmente bom ter você

de volta.

Desejo boa noite, entro no elevador e coloco meu cartão

em seu compartimento. As portas se fecham e eu subo.

Estranho, nunca pensei que voltaria aqui novamente e ainda

assim, aqui estou. A porta se abre e é tudo a mesma coisa.

Nada, nada mudou.

Abro a porta da frente. A mesma fragrância fraca de

lírios que sempre associei a este apartamento flutua no ar.

Esse sentimento de nostalgia corre sobre mim e eu sinto

meus joelhos fraquejarem. Fecho a porta, coloco minhas

malas na mesa do lado, e ando pelo longo corredor

esmaltado. Passo meus dedos ao longo da parede lisa,

daquele jeito que eu fiz há mais de um ano atrás.

Eu não vou para a sala, mas me desligo e vou para o

quarto. Um soluço sobe na minha garganta. Nada mudou,

nem mesmo aqui. É como se eu estivesse aqui ontem e não

há mais de um ano atrás. Vou para a sala ao lado e, como

Laura prometeu, estava arrumada para parecer um quarto de

bebê. Há um belo berço branco e azul, todos os tipos de

brinquedos, um carrinho de bebê muito elegante e latas de

fórmulas de leite infantil. Eu vou até elas. Eu as reconheço.

Eu as vi em anúncios, são todas naturais e feitas de leite de

cabra, mas eu não podia comprá-las. Pego uma e olho,

experimentando a culpa.

Neguei tudo isso a Sorab. Estou realmente fazendo a

coisa certa por ele? Será que ele vai me agradecer um dia por

privá-lo de uma vida que 99,99% das pessoas só podem

sonhar? A resposta é confusa e eu não penso nisso agora. Sei

que terei que pensar sobre isso, é muito importante, mas

ainda não. Não hoje. O relógio já marca 18h.

Fecho a porta, vou para o banheiro e ligo as luzes.

Naquele espaço imaculado, sou uma estranha com um belo

penteado. Fico olhando para mim mesma. A noite se estende

diante de mim. Estou animada e com medo do que ela vai

trazer. Sento no vaso sanitário por um momento, para me

recompor.

Pego o vestido de Regine do saco exclusivo em que

estava embalado e penduro no quarto. Então corro para um

banho, adiciono óleo de lavanda. Deito de costas, fecho os

olhos, mas estou muito nervosa e excitada para relaxar e

depois de alguns minutos saio, me envolvendo em um roupão

macio, que cheira a frutas amassadas e vou para a cozinha.

Na geladeira encontro duas garrafas de champanhe

deitadas de lado. Eu me lembro da última vez, quando estava

na varanda e bebi pela saúde da minha mãe. Este tempo não

parecia adequado para champanhe. Fecho a porta

impacientemente e vou ao armário de bebidas. Derramo uma

grande dose de vodca. De pé, perto do bar, eu bebo. O liquido

corre como fogo em meu estômago vazio, mas tem o efeito

desejado de quase imediatamente acalmar meus nervos. Olho

para as minhas mãos. Elas pararam de tremer.

Volto para o banheiro e cuidadosamente aplico a

maquiagem. Duas camadas de rímel, um toque de blush e o

gloss nude. Afasto-me do espelho.

— Não está ruim, Bloom. Fez um bom trabalho.

Volto para o bar e bebo outra grande dose de vodka, me

sentindo definitivamente com a cabeça mais leve e vou para o

quarto. Coloco meu lindo vestido branco. Quando gentilmente

o passo sobre a minha cabeça, um gancho pega no meu

cabelo e puxa um grampo fora do lugar. Eu fico olhando com

horror para o grampo oscilando. Xingando, eu tento torcê-lo e

empurrá-lo de volta no lugar. Meus esforços têm sucesso e eu

suspiro aliviada. Eu fecho o zíper, calço meu sapato e me

olho no espelho.

Uma mulher sofisticada, com olhos brilhantes e

bastante corada. Passei blush demais. Pego um algodão e

removo tudo. O calor e o álcool já deixam as minhas

bochechas rosadas naturalmente. Não há necessidade de

blush. Passo o perfume nos dedos e aplico atrás das orelhas.

Aqui estou eu, pronta para o grande Barrington.

Oito Fico os meus 10 minutos de espera na varanda, com o

meu sapato de Cinderela. Exatamente às 08h05min, Tom

toca a campainha. Seus olhos se arregalam quando abro a

porta.

— Essa é uma linda roupa, senhorita Bloom. — diz ele,

com uma tosse envergonhada. Ele está segurando uma caixa

de papelão comprida, que desajeitadamente desliza na mesa.

Olho para ele e me sinto corar. Meu Deus! Porque Blake fez

disso uma recriação da nossa primeira noite juntos?

À medida que o elevador desce, já sei onde Tom está me

levando. Madame Yula está cheio com o mesmo tipo de

pessoas que estavam da última em vez que estive lá. Se esta é

uma recriação da nossa primeira noite juntos, então sei

exatamente onde vou encontrar Blake. Esperando no bar.

Viro-me para ele e mesmo que eu saiba o que vou ver, meu

coração para. Ele está vestindo um terno escuro, camisa

preta e uma gravata branca e é o homem mais bonito do

lugar..., Mas não é só isso... Estou sendo comida viva por

seus olhos. Por um longo momento fico congelada,

simplesmente paralisada, olhando para a fome em seus olhos

azuis tempestuosos. É tão exposto e cru, que me choca.

— Mademoiselle, — diz alguém, perto do meu ouvido.

Vou na direção da voz, minha expressão vazia, distraída e

talvez até confusa. — Posso ajuda-la? — Pergunta o garçom.

Antes que eu possa responder, Blake está lá.

— Ela está comigo. — diz ele, sem problemas, e o

garçom se afasta, da forma como os garçons fazem nos

filmes. Viro a cabeça e olho para o rosto de Blake. No brilho

suave da iluminação das velas, ele parece sombrio e

incrivelmente misterioso. Por um momento, nenhum de nós

fala. Nunca terminamos. Está tudo lá, crepitando entre nós.

Os lençóis amassados, os quadris estreitos envoltos apenas

em uma toalha, a boca faminta, e as horas e horas de sexo.

Tremo com as memórias. Meus lábios se abrem. Um convite

que não pode ser desperdiçado. Mas uma máscara vem sobre

seus olhos.

— Quão completa é a ilusão de que a beleza é bondade.

— ele murmura. Vagamente registro que é uma citação, mas

meu cérebro atordoado não consegue localizar a fonte. Ele

levanta uma das mãos para pegar a mecha de cabelo que

escapou, mesmo com o trabalho e os esforços que fiz para

mantê-la no lugar. Delicadamente, ele gira os fios entre os

dedos e cuidadosamente o coloca no lugar. E então se afasta.

— Gostaria de uma bebida? — Acho que já estava um

pouco bêbada.

— Não, tomei algumas no apartamento. — Um lampejo

passa em seus olhos.

— Champanhe. — Ele lembrou.

Balanço a minha cabeça.

— Vodka.

Ele acena.

— Comida para você, então.

O cardápio que nos mostram é o mesmo. Olho

atentamente para ele. Tentei ver além da máscara, mas seu

rosto está deliberadamente inexpressivo. Em um torpor, peço

a comida. Ela chega. Pego a minha faca e garfo. Coloco entre

meus lábios. Não sinto nada. Levanto meus olhos para ele e o

pego me observando. Seus olhos são vorazes. Sua comida

está intocada. Entre as minhas pernas, estou dolorida.

Engulo a comida. Um caroço surge na minha garganta.

Estendo a mão para a taça de vinho e tomo um gole, mas isso

só me sufoca. Começo a tossir. Meus olhos se enchem de

água. Porra. Só eu mesma para fazer algo tão sexualmente

desagradável.

— Você está bem?

— Tudo bem. — digo ruborizando de vergonha. Preciso

ir ao banheiro e colocar tudo para fora.

— Com licença. — quase grito, colocando o guardanapo

na mesa e ficando de pé.

Ele se levanta ao mesmo tempo que eu. Deixo a mesa e

sinto seus olhos me perfurando até virar a curva do banheiro.

Entro e me olho no espelho. E mais uma vez estou surpresa

com o meu reflexo. Sinceramente, mal posso me reconhecer,

o novo penteado, as roupas, a maquiagem, mas mais do que

tudo isso, é o meu olhar. Selvagem.

— Eu sou Lana, moradora do conjunto habitacional e a

mãe de Sorab. — digo em voz alta.

Aquele pedaço de cabelo solta novamente.

Cuidadosamente puxo um dos grampos e enrolo o cabelo em

torno dele. Parece que consegui prendê-lo. Respiro fundo e

volto para o restaurante. Enquanto estive fora, Blake não

tocou em sua comida. Ao invés disso, ele terminou seu

uísque e pediu outro. Ele me olha por cima da borda do copo.

— Não está com fome? — Eu pergunto. Ele coloca o copo

na mesa e pega meus dedos. Suas mãos são exatamente

como me lembro - firmes, quentes e fortes. Ele vira minhas

mãos e olha para minhas unhas.

— Muito bom. — diz ele em voz baixa, e as leva aos

lábios, beijando. É um gesto debochado, mas com o toque de

seus lábios frios, tremo com antecipação. Lembro dele

sorrindo com um convite sexual. Ele permite que os dedos

passeiem até a pele do meu pulso.

— Seda pura do caralho. — Seus olhos se levantam para

encontrar os meus. Entre os cílios grossos que são poderosos

e convincentes. — Você sentiu um pouco minha falta, Lana?

Por um instante eu me esqueço de tudo e respondo à

emoção que vejo fervendo em seus olhos.

— Nem por um dia deixei de desejar você. —Sussurro.

Como se tomasse um tapa, ele arranca a mão e começa a rir

amargamente. Ele balança a cabeça, como se estivesse

maravilhado.

— Agora vejo por que fui enganado por você. Você é

absolutamente letal. Tão sedutora, tão perigosa e eu fui pego

na sua rede.

Ele bebe todo o liquido do copo e olha para longe de

mim, fazendo gestos para um garçom. Quando ele se vira

para me encarar, seus olhos estão brilhando.

— Então, quanto foi que meu pai te pagou? — Faço uma

pausa. Estou em território perigoso. Meu contrato com

Victoria não me permite revelar a soma ou mesmo contar a

ninguém que foi ela quem me pagou. O garçom chega e ele

pede novamente. — Outro. — Blake diz. O garçom acena

discretamente e tira o copo vazio, em um movimento suave.

Blake não tira os olhos de mim.

Billie está certa. A minha posição é insustentável. Aos

seus olhos devo ser o pior tipo de vagabunda. Ficar na frente

dele só gera mais incompreensão e dor para nós dois. A dor já

começou, uma dor física. Ela enche meu peito. E eu nunca

vou poder dizer a verdade. Na cabeça dele, sempre vou ser o

seu romance ruim. Lady Gaga está cantando: ―Eu quero a

sua feiura. Eu quero a sua doença.‖

— Desculpe, mas tive que assinar um acordo de não

divulgação. — Digo, plenamente consciente de que, sem a

verdade, ele sempre vai me desprezar. Eu me inclino para

trás em minha cadeira, me sentindo suja. Nunca mais vou

estar limpa a seus olhos. E não há absolutamente nada que

eu possa fazer sobre isso. O garçom retorna com mais uísque.

— Eu sei que você está com raiva, mas...

— Cale a boca. Você não sabe de nada. — ele diz com os

dentes cerrados.

Fecho minha boca. Eu nunca o vi com raiva tão

abertamente. Ele é sempre tão controlado, tão suave. Mesmo

quando estava irritado com alguém no telefone, sua fúria era

tão fortemente controlada, de modo assustadoramente

tranquilo, que eu ficava imóvel atrás da porta, apenas

escutando. Ele toma seu uísque de forma agressiva, virando

tudo e batendo o copo vazio em cima da mesa.

— Você quer mais comida?

Balanço a minha cabeça, miseravelmente. Isto não

estava indo do jeito eu não imaginei. Um músculo em seu

rosto se contrai. Ele pede a conta.

Alguém em um terno vem correndo para o seu lado.

— Algum problema? — O garçom pergunta, preocupado.

— Está tudo bem. — Ele olha para mim intensa e

profundamente.

— Mas o prato principal...

Blake não tira os olhos de mim.

— Tenho negócios inacabados para cuidar, Anton. — Eu

dou um suspiro pesado e Anton sai com uma velocidade

impressionante, pois aquilo não tem nada a ver com ele.

Outro garçom, de rosto educado e com profissionalismo

impassível, vem com a conta. Blake se levanta de sua cadeira

e vem para ficar ao meu lado. Levanto e ele me leva para fora

do restaurante. Não nos tocamos, com exceção de sua mão

espalmada na parte inferior das minhas costas de um jeito

possessivo. O típico comportamento de um marido.

Nem uma palavra é dita por qualquer um de nós no

carro, mas cada célula do meu corpo está respondendo a sua

proximidade. Meu desejo por ele é grande, minhas mãos

estão apertadas fortemente contra minhas coxas e minha

boceta está realmente palpitante. Na verdade, a necessidade é

tão excessiva, que é quase violenta. Roubo um olhar para ele

que está olhando para frente, as maçãs do rosto esculpidas

como pedra, mas o músculo em sua garganta está pulsando

como uma bomba relógio. Reconheço esse tique nervoso. Isso

me mostra o que ele não quer admitir, que quer me foder,

rápido e intensamente. Ele está se debatendo consigo mesmo

o tempo inteiro, preso dentro de seu próprio romance ruim.

— O que aconteceu com todas as roupas que deixei para

trás? — Pergunto no elevador.

— Você está perguntando sobre a moda da última

temporada? E sobre as pessoas que você deixou para trás,

Lana? Por que você não quer saber sobre elas? Sobre mim,

por exemplo.

— Como tem passado, Blake?

— Você está prestes a descobrir. — ele responde, com

um sorriso desagradável.

Nove Ouço o clique suave da porta espessa atrás de mim, e

me viro para encará-lo. Ele está lá - alto, moreno e com uma

latejante tensão sexual. Deus! Como eu quero esse homem.

Ouço um som áspero de burburinhos na garganta. Eu

reconheço isso. Um desejo cego, de abalar a terra. Faz um

longo tempo desde que o ouvi. Tropeço. Ele estende a mão e

me puxa com força. Meu corpo bate no dele.

Tenho a impressão de que ele está imóvel como uma

pedra. Ele nunca vai dar o braço a torcer. Mas eu posso

ajudar. Moldo meu quadril ao dele. Sua ereção é grossa e

quente contra o meu estômago. A crueza dela desperta a

grande fera dentro de mim, uma fera implacavelmente

gananciosa. Ele quer mais, quer tudo e quer agora.

Intoxicada pelo fogo ardente em seus olhos, as minhas mãos

cobrem o peito e enredam em volta do pescoço, mas ele pega

minhas mãos e as coloca para trás em minhas costas. Seu

aperto é uma algema firme.

Propositalmente, ele me mantém longe dele e deixa os

olhos entreabertos passearem pela minha boca aberta, vagam

pelos meus seios que quase encostam nele, arfando. Descem

por todo o meu corpo, para as minhas pernas. Seus olhos

levantam novamente para encontrar os meus. Estou

incrivelmente excitada.

— Eu tinha meia dúzia de fantasias, coisas que queria

fazer com você, quando tivesse nua. E sexo inofensivo não é

uma delas. — diz ele, quando arranca os grampos no meu

cabelo e os arremessa longe. Liberado, meu cabelo cai por

todo o meu rosto e ombros.

— Minha bela prostituta. Uma vez fui bom para você e

você me chutou quando eu estava para baixo, agora você vai

ter o que merece. — Sem aviso, ele agarra os dois lados da

gola alta do meu lindo vestido e o rasga em dois. Pego as

pontas rasgadas do meu vestido arruinado e olho para ele,

em choque.

Ele olha para mim, respirando com dificuldade.

Estranhamente, é frio como gelo. Minha mente está em um

caos inacreditável. Eu julguei mal a extensão de sua raiva.

Debaixo da fachada de calma ele está fervendo de ódio, com o

que acha ser a minha falsidade. Quero chorar com a

destruição gratuita de algo tão bonito, mas na verdade, estou

chocada demais para isso.

— Vista apenas o que está na caixa e me encontre no

quarto. — ele comanda secamente, e se afasta de mim.

Fico ali mais um pouco, atordoada demais para me mover.

Vislumbrei a fome feroz, a necessidade, mas agora tudo o que

vejo é o controle de ferro em seus ombros tensos. Ele para em

frente ao bar e se serve de um uísque. Pego a caixa pela

abertura lateral e vou ao banheiro.

Rapidamente, tiro o vestido rasgado e o coloco na lixeira

de alumínio debaixo da pia. Quando a tampa fecha sobre ele,

um soluço escapa dos meus lábios. Nunca tive uma coisa tão

bonita antes. Fez eu me sentir tão elegante e sofisticada. Eu

ainda podia ver Fleury sorrindo com prazer e Madame Regine

rindo asperamente. — Único para o seu tipo. Você não vai

encontrar outro como ele.

Pressiono minha mão na boca para evitar um soluço.

Eu não vou chorar. Serei forte, digo a mim mesma, enquanto,

outra parte de mim fica chocada com minha determinação.

Sei o que está na caixa. Eu puxo as fitas de cetim, levanto a

tampa e franzo a testa. Não é lingerie branca e sapatos.

Como se estivesse em transe, eu pego a caixa de veludo

familiar e abro. Sob as luzes amarelas do banheiro, surge um

colar com dois diamantes, o brilho do colar de safira era

como os ostentados por um cantor de rap. A outra coisa que

eu encontro na caixa é ainda mais surpreendente. O short de

Billie, o que eu peguei emprestado para usar na festa. Devo

ter esquecido aqui. Eu esqueci completamente dele. Lembro

da noite novamente. O que isso significa? Que ele deu todas

as minhas coisas e guardou isso? Que esta peça de roupa

significa algo para ele? Abro o último item, uma caixa de

sapato. Um sapato Christian Louboutin, mas

surpreendentemente semelhante ao que eu usava na primeira

noite em que nos conhecemos, feito de pele de cobra laranja.

Tento imaginar como ele os encontrou. Ele os descreveu

para Laura? Daí ela pesquisou na net e deu uma lista para

ele escolher? Eu penso rapidamente. Considero deixar minha

calcinha, mas me lembro de seus olhos quando ele segurou

minhas mãos atrás das minhas costas e me disse que tudo o

que eu deveria usar estava dentro da caixa.

O colar é frio na minha pele. Eu pego o short, fechando

o zíper e botões. Calço o sapato e olho para mim mesma no

espelho. Oh céus. O shorts pairam sobre os meus ossos do

quadril e minhas costelas ficam à mostra. Olho para mim no

espelho e estou tão sexy como uma vassoura de shorts. Meu

consolo é que as luzes do quarto estarão apagadas. Fico

olhando para os meus seios. Os mamilos estão duros. Esta

manhã, eu ainda poderia tê-los coberto com o meu cabelo,

mas agora que a parte da frente se foi, essa opção não existe

mais.

Eu toco o interruptor e apago a luz, na esperança de que

ele não vá ver a silhueta do meu corpo magro e seminu sair

do banheiro. Meus passos vacilam e eu fico insegura com

meu salto alto. Meio escondida nas sombras do canto da sala,

estou de pé e olho para o espécime magnífico sentado sem

camisa, em uma piscina de luz sobre a cama.

Suas pernas estão cruzadas nos tornozelos e os braços

estão cruzados sobre o peito. Os músculos de seus braços

parecem ainda mais definidos do que me lembro. Ele deve ter

malhado, expulsando suas frustrações no exercício. Ele se

move ligeiramente e a ação ondula da linha dourada da sua

barriga definida. Minha boca fica seca. De repente, eu me

sinto exposta e com vergonha do meu corpo, da minha

excitação. Minhas mãos se levantam para cobrir meus seios.

Meus mamilos são pedras duras contra as palmas das

minhas mãos.

— Venha. — ele ronrona. Sua voz é sedosa, mas seus

olhos estão sombreados e seu rosto é inexpressivo.

Impenetrável.

Ele começa a desabotoar a calça. Fico olhando para a

barriga lisa, o corpo bonito que eu desejava. A calça cai no

chão. Cueca preta. Seu pau está claramente visível. Meu

Deus, ele já deve estar assim há algum tempo. Sinto meu

corpo molhado de excitação, se preparando para a doce

invasão. Ele tira a cueca. Uau! Nada mudou. Ele está tão

lindo como sempre.

Mas não me movo. Eu não posso. Minha alma se recusa

a ir para frente. Não para esse castigo humilhante

novamente. Eu me lembro como se fosse ontem. Ir para o

meio da sala, virar, abrir as minhas pernas tão separadas

quanto puder, e me curvar para tocar o chão. Antes foi

estranhamente excitante, mas agora parece sórdido. Não

estou aqui porque ele me pagou para estar. Estou aqui por

vontade própria. Estou aqui para reparar um erro que cometi.

Estou aqui porque, apesar dele não acreditar, sou

loucamente apaixonada por ele.

— Novos jogos, Lana? — Ele zomba, quando não faço

nenhum movimento em direção a ele, mas sua voz é

diferente. A suavidade se foi. Agora ela é torcida e viva, com o

tipo de cobiça irrefletida, que só um homem sabe quando

usar. Eu o vejo sair da cama e vir em minha direção, alto,

moreno, perigoso e à procura de problemas. Ele para na

minha frente. O calor emana de seu corpo. O ar engrossa. Eu

quero provar a pele dourada. Pisco para quebrar o feitiço.

Assuma o controle, Lana. Seus olhos vingativos estão em

mim.

A estranha fascinação com o perigo corre pela minha

espinha. Quero fechar os olhos e tentar imaginar como ele

era antes, mas não posso. Um movimento errado e ele vai me

tomar agora, grosseiramente, e o abismo entre nós vai se

tornar ainda maior, impossível de atravessar. Mas uma

mulher nunca fica sem opções, minha mãe sempre disse.

Comece do jeito que você quer continuar. Eu não preciso ser

submissa. Posso ser tão poderosa como Billie, tão poderosa

como minha mãe.

Afasto minhas mãos dos meus seios, pego no botão do

meu short e o abro perante seus olhos. Lentamente eu o tiro.

Seus olhos não seguem os meus dedos, mas o meu rosto.

Mesmo assim, meus dedos estão tremendo com uma espécie

de excitação selvagem. Eu não tenho que empurrá-los para

baixo das minhas pernas. Eles estão tão largos que

escorregam facilmente. Por um tempo, fico apenas com meu

colar e meu sapato alto.

Quando levanto uma perna para sair do short, ele pega

a minha perna firmemente sob o joelho me obrigando a ficar

no lugar, espalhada e aberta para ele. Eu sinto uma brisa de

ar por todo meu corpo. Meu gesto de submissão não faz nada

para diminuir seu desprezo. Seus olhos são selvagens. Eu me

pergunto como alguém pode estar tão excitado como ele está,

obviamente, e ainda ter um olhar tão frio e distante.

Sua mão agarra possessivamente minha bunda nua e a

outra cobre minha boceta, já molhada, inundada e apertada

com antecipação. Ele brinca com a umidade que despertou.

Um prazer delicioso corre entre nós. É assim por muito

tempo. Meu corpo não se importa como ele faz isso ou porque

quer fazer. Só o quero dentro de mim. Sempre desse jeito

para mim. Meu corpo chora por ele. Ele permite que seus

dedos deslizem ao longo da minha boceta e os leva à boca,

chupando.

— Mmnnn você ainda tem gosto de céu. —

Choramingo e o som tem um efeito eletrizante sobre ele. Com

um grunhido, ele empurra os dedos dentro de mim. Uma vez.

E outra. Mais forte. Rápido. Um som escapa dos meus lábios.

Minha cabeça pressiona contra a parede e meu quadril

empurra em direção à sua mão. Ele é rude, mas depois de

todo esse tempo eu gozo. O gozo da minha boceta vem com

força. Sinto o excesso de líquido escorrer por minhas coxas.

Mas não é o suficiente.

Balanço meu quadril sem pensar. Procurando preencher

essa dor. Onde os dedos não podem alcançar. Estou

implorando com o meu corpo, com cada solavanco e cada

suspiro, mas ele não vai me dar isso. Seus dedos bombeiam

com um ritmo forte, constante, me empurrando em direção a

um clímax humilhante. Que vem enquanto estou em pé como

uma cegonha, meu corpo torto e espalhado. O arrebatamento

é explosivo. Meus músculos perdem toda a sua força e eu

cedo contra a parede atrás de mim. O rugido estonteante do

meu próprio sangue diminui para um baque surdo. Ele olha

para mim com os olhos frios. Ele quer que eu abaixe a minha

cabeça de vergonha, enquanto ele finge que não sentiu nada.

Mas não faço. Meus olhos são desafiadores, fecho as mãos

em torno da sua ereção.

— Você está tão excitado quanto eu.

Ele sorri.

— Com certeza. — ele ronrona. — Quero te foder. Que

homem não gostaria? Para dizer a verdade, querida, estou me

afogando na luxúria.

Ele solta minha perna e com as mãos ásperas me agarra

pelos braços, me gira ao redor, e me empurra para frente.

Minhas mãos e antebraços batem na parede. Minha bochecha

direita é pressionada contra a superfície fria da parede e

meus seios são esmagados. Ele pega o cabelo que cobre meu

rosto de seu olhar e prende atrás da minha orelha. Ele quer

me ver. Meus olhos giram desesperadamente para o lado para

olhar para ele, mas não consigo vê-lo.

— Você tem o mesmo gosto e o mesmo cheiro, vamos ver

se ainda me dá a mesma sensação. — diz ele, me levantando

um pouco do chão, agarrando minhas coxas e as abrindo.

Meu sapato cai no chão. Ele coloca meus pés descalços no

chão, sem fazer barulho. Suas mãos grandes agarram meu

quadril e inclino a parte inferior do corpo para que ele esteja

perfeitamente alinhado com a cabeça do seu pau. Por um

segundo eu o sinto me provocar, esfregando seu pau por todo

meu clitóris e, em seguida, ele o enfia em mim.

O impacto me faz tremer e minha respiração para na

garganta. Minha boca se abre em um grito silencioso. Eu

respiro rapidamente. Preparo-me para o próximo impulso

rápido de prazer, que vem antes que eu esteja pronta. Desta

vez não posso colaborar, solto um grito estranho, mas meus

músculos já estão se apertando e o sugando ainda mais

fundo dentro do meu corpo.

Ele estabelece um ritmo rápido. Cada mergulho é

selvagem dentro de mim, me empurrando em resposta.

Lentamente sou elevada, cada vez mais alto, até que estou

desconfortavelmente na ponta dos meus dedos dos pés, meu

quadril inclinando mais e mais, querendo mais e mais da

invasão gloriosamente espessa. Minhas coxas e músculos da

panturrilha estão tão tensos que começam a doer e meu

coração está batendo tão rápido que parece um tambor

dentro do meu peito. Minha boceta se torna uma boca

faminta, sugando avidamente.

Forço para manter o meu corpo na mesma posição,

enquanto ele martela em mim até que, com um último

impulso doloroso, que atinge profundamente dentro de mim,

ele chama meu nome e goza. Seu gozo é quente. Por um

segundo, o nariz dele fuça na curva do meu pescoço e, em

seguida, ele desperta e se afasta. Eu me viro para encará-lo,

mas lentamente ponho meus calcanhares no chão e me

afasto da parede. Vou me recompor um pouco mais antes de

virar para enfrentar sua condenação. Sinto-me fraca, crua,

ferida, maltratada, vulnerável, mas... Satisfeita. Eu deveria

sentir vergonha, mas não sinto. Eu amo este homem.

Viro devagar. Ele está se vestindo rapidamente.

Enquanto abotoa a camisa, de costas para mim, diz:

— Vou mandar Laura enviar uma pílula do dia seguinte.

Meu pensamento voa. Um pouco tarde para isso,

companheiro. Se ele soubesse. Ah, se ele soubesse. Eu não

digo nada, de repente sinto minha nudez. Logo ele vai estar

vestido e eu serei a única nua no quarto. Começo a caminhar

até o banheiro.

— Espere. — ele ordena. Anseio para me cobrir, mas eu

não faço isso. Ele não pode me humilhar. Eu não vou deixar.

Quando ele está completamente vestido, ele se vira e

olha para o meu corpo exposto. Ele está bem mascarado, mas

ela ainda está lá, a fome. Mesmo agora. Quando ele acaba de

ser saciado. Tanto é que os meus olhos se arregalam. É o

mesmo para mim: Eu o quero de novo. Eu sou tão impotente

por aquilo que meu corpo anseia. Mas ele se afasta de mim.

Eu o vejo ir para o armário lateral e retirar um livro. Ele está

coberto em couro. Parece uma revista. Ele joga na cama ao

meu lado.

— Isto é para você. Quero que você mantenha um

registro de tudo o que faço com você.

— Por quê? — Eu sussurro.

— Para o meu prazer da leitura?

— Isso é doentio. Eu não vou fazer isso. — digo.

Como se eu fosse uma boneca de tamanho real ele me

pega e me joga na cama. Eu caio de costas, mas olho para ele

desafiadoramente.

Ele fica em cima de mim. Seu rosto é duro e ameaçador.

Muito gentilmente, ele toca o colar.

— Você não é nada mais que pele e osso. — diz ele,

quase para si mesmo. Suas mãos alcançam meus tornozelos

e ele os levanta e abre minhas pernas em um V. Virando a

cabeça para um lado ele beija meu tornozelo direito e passa

sua língua quente e aveludada ao longo da minha

panturrilha. Minha respiração se acelera. No meu joelho ele

para e suga a pele macia na parte de trás, e então sua língua

lambe com astúcia minha coxa.

— Você quer muito que eu te prove? — Ele sussurra.

Eu gemo em resposta e tento empurrar minhas pernas

pegajosas mais distantes.

— Não! Eu fiz uma pergunta.

— Sim, por favor. — eu imploro.

— Por favor, o quê? — Pergunta ele, desfrutando de sua

dominação e controle. Seu dedo circula levemente na minha

boceta molhada.

— Oh Deus... por favor, por favor... Prove-me. — imploro

descaradamente.

— Você vai escrever no diário?

— Sim, sim, eu vou.

Ele endireita os braços e segura minhas pernas

trêmulas abertas, para olhar para minha boceta inchada e

encharcada com os nossos prazeres, um tesouro reluzente.

— Vagabunda... — ele me rejeita, solta as minhas

pernas e deixa o quarto.

Eu o ouvi dizer para Tom esperar lá embaixo, então eu

sabia que ele não passaria a noite, mas eu ainda balancei

quando ouvi a porta da frente. Coloco minhas mãos entre as

minhas pernas. Escorregadia, dolorida e insatisfeita. Eu

quero mais.

Dez Nessa noite, sonhei com minha mãe. No meu sonho,

estávamos numa loja. Era muito parecida com a loja da

Madame Regine, mas estava cheia de vestidos de noiva. A

minha mãe apontou para um vestido que estava rasgado ao

meio. — É perfeito para você. — disse ela.

— Mas está rasgado. — eu disse.

— É como a Victoria gosta. — disse ela tristemente.

Acordei perturbada e infeliz. Nunca passei uma noite

longe de Sorab e sinto saudade dele. São quatro horas da

manhã e ainda está escuro lá fora. Vesti a mesma roupa,

calça de Yoga e camiseta, e saí do apartamento. Saí do

elevador e o porteiro acenou. Retribui o gesto e abri as portas.

O ar da rua estava fresco. Caminhei pelo quarteirão,

atravessei a estrada e entrei no parque. Depois comecei a

correr. Não há mais ninguém e corro até ficar sem fôlego e tão

cansada, que mal consigo andar. Então tropecei num ramo e

vi o sol nascer. Os meus pensamentos estão confusos.

Recuso-me a colocá-los em ordem. Aliás, tenho medo deles.

Medo do futuro.

Um homem e seu pastor alemão entraram no parque.

Ele sai de perto do dono e corre em grande velocidade em

direção a mim.

— Não tenha medo. — ele grita.

— Ela não vai fazer mal. É só uma cachorrinha. Quer

fazer amigos.

Ela salta nos meus joelhos e começa a me lamber. A sua

exuberância é tanta, que começo a rir. Oh, se ao menos a

vida fosse assim tão simples. Olho para os seus olhos

dourados e passo os meus dedos pelo seu pelo sedoso,

sentido seu lado selvagem. Em compensação, me sinto

esgotada e cansada. Como se fosse uma casca deixada no

chão. Passado um tempo, o homem assobia e ela sai

correndo, mas a mudança me fez ficar de pé e caminho até o

apartamento. O porteiro noturno se prepara para ir para

casa. Em breve começará o turno do Sr. Nair.

Fico no chuveiro por muito tempo. Quando saio, reparo

que o meu celular estava piscando. Fleury deixou uma

mensagem que, às 10 horas da manhã, iriam chegar duas

entregas de roupas, calçados e acessórios. Tenho de escolher

o que quero e alguém virá buscar o que não quero, às 5 horas

da tarde. Fiquei de ligar se precisasse de ajuda. Agradeci.

Depois enviei uma mensagem para Billie.

Está acordada?

Billie liga de volta.

— Hey.

— Oh muito bom, está acordada. — digo, feliz por ouvir

a sua voz.

— Yeah, o pequeno monstrinho acordou bem cedo.

— Ele está bem?

— Não deveria ter perguntando se eu estou bem?

Rindo pergunto:

— Hey, quer aparecer aqui por volta das dez. Fleury vai

me mandar algumas roupas para experimentar. Pode me

ajudar a decidir com quais fico.

— Vai ser divertido.

— Mando um táxi à dez.

— Tenho de ir. A criatura começou a gemer novamente.

— disse ela. — Mas nos vemos por volta das dez.

Ouvi o choro do Sorab mesmo antes dela desligar e

senti uma pontada aguda de perda. Deveria ter sido eu. É a

minha vida. Não ficar sozinha num apartamento vazio. Eu sei

que Billie está gostando de ficar com Sorab. Com ela, as

verdadeiras emoções são mascaradas com insultos. Talvez

amanhã diga ao Blake que é a minha vez de tomar conta do

Sorab. E tê-lo por mais dois dias.

Às nove e meia, convido o Sr. Nair para um café. Ele

entra pela porta com a sua caneca que diz: ―Eu sou o chefe‖,

com os olhos salientes de curiosidade.

Sentando no balcão da cozinha ele dispara:

— O que aconteceu, senhorita Bloom? — pergunta ele.

— Tive uma emergência e precisei ir ao Irã.

— Oh! Agora entendo. Pobre Sr. Barrington. Partiu o

coração dele. — ele afirma, arregalando dramaticamente os

olhos. Observei ele quebrar um biscoito. As migalhas caíram

no seu casaco. Olhei para elas, mas tinha a cabeça girando.

— Porque diz isso? — Perguntei casualmente.

— Porque... — ele disse — Fui eu que entregou a sua

carta.

— A minha carta?

— Sim. Esqueceu? Enviou uma carta ao porteiro, para

que entregasse o envelope ao Sr. Barrington. Era uma carta

estranha, muito formal. Nada parecido com você, mas eu

sabia que era sua porque conheço sua letra.

Tomo um gole de café, engulo e lambo os lábios.

— O que o Sr. Barrington disse quando você entregou o

envelope?

— Eu te digo, senhorita Bloom, que foi a coisa mais

estranha. Ele praticamente arrancou das minhas mãos,

rasgou o envelope e leu na minha frente. O conteúdo o

chocou tanto que vi os seus olhos voltarem para o início, para

ler mais uma vez. Então ele amassou a carta e saiu do

edifício... E nunca mais o vi, desde então.

Mordo o lábio. O passado... Não posso mudá-lo, mas

mudaria? Como posso lamentar? Sorab saiu do meu passado

lamentável.

Sr. Nair colocou o último pedaço de biscoito na boca e

pulou agilmente do banco.

— Acabaram os meus dez minutos. É melhor eu ir.

— A minha amiga Billie vai aparecer esta manhã. Ligue

para me informar quando ela chegar?

— Farei melhor que isso, senhorita Bloom. Eu mesmo

mostrarei o caminho a ela.

Agradeço e fecho a porta.

Uma hora depois de terem chegado às coisas de Fleury,

Billie aparece com o Sr. Nair.

— Obrigada, Sr. Nair. — Eu disse, aliviando o peso da

mala do bebê.

— Fico satisfeito em ajudá-la, senhorita Bloom. — e em

seguida, acena feliz para Sorab. — Ele é a cara do pai. Um

lindo menino.

Congelo.

Mas Billie é mais rápida. Ela sorri largamente.

— Lamento companheiro, mas este bebê é meu. Não

acha que se parece comigo? Todo mundo diz.

Os olhos confusos do Sr. Nair me encaram.

— Sou só a madrinha. — Eu disse fracamente, sendo

atingida por uma dor aguda. Tenho muito orgulho de Sorab,

e não ser vista como sua mãe é mais difícil do que esperava.

— Oh, lamento muito. Falei demais. — Se desculpou.

Pobre homem. Ficou sem jeito e incomodado.

— Não se preocupe Sr. Nair. Sei que não disse por mal.

— É melhor ir. Não tem ninguém na recepção. — O Sr.

Nair murmurou qualquer coisa estranha e saiu

apressadamente.

Fechei a porta e virei para Billie.

— Oh meu Deus, Billie. Ele sabe.

— Claro que sim. Ele é indiano. Eles sabem de

astrologia e essas merdas, não é?

— Billie! — choraminguei. — Reconhecer as

semelhanças genéticas não tem nada a ver com astrologia.

Billie cruzou os braços.

— Eu sei disso! Estava sendo sarcástica. Pelo amor de

Deus, Lana, o que é que te deu? Sorab é um bebê de três

meses e todos os bebês de três meses são parecidos. Eu não

seria capaz de reconhecê-lo numa fila de seis bebês.

Franzi a testa sem estar convencida. Acredito que Sorab

é uma daquelas crianças que têm as feições definidas. Ele

tem os olhos do pai.

— Olha, a secretária de Blake mandou uma série de

coisas de bebês, incluindo um carrinho e um berço para o

apartamento, certo? É óbvio que ele viu tudo que entrou no

elevador, então somou dois mais dois e descobriu o resultado.

Infelizmente para ele, a resposta certa é cinco. Agora, pare de

se preocupar com coisas que não valem a pena e me mostre o

apartamento.

Sorri. Sou mesmo paranoica. Claro, ela tem razão. Dou

a eles dois uma boa visita guiada.

— Wow! — ela se entusiasmou.

— Adivinha quanto custou este berço?

— Não sei. Quinhentas libras?

— Acrescente mais um zero e estará quase lá.

— Sério?

Ela agarrou a etiqueta do preço e me mostrou.

— Cinco mil quinhentos e cinquenta e nove libras por

esta merda, quando um terço do planeta está morrendo de

fome. — Abanou a cabeça.

— Ele ainda é muito vaidoso por ser tão imensamente

rico, não é?

Meu telefone toca. É Laura. Ligando para me dizer que

Tom está a caminho com o meu comprimido da manhã e para

estar pronta às oito horas da noite. Ela fez uma reserva para

o jantar. Seremos Blake e eu no The Fat Duck.

— É muito bonito por fora. — disse Billie, depois de

ouvir a minha conversa com a Laura.

Billie encontrou uma caixa de chocolates na cozinha e

depois se deitou na cama, toda esparramada como um

sultão, experimentando as roupas uma por uma. Ela insistiu

para eu ficar com uns collants cor de rosa.

— Tem que ficar com eles. Te deixa com uma bunda

muito sexy e precisa se bronzear. Blake é um homem de

bunda, certo?

— Como sabe?

— Só um palpite. Agora, vai experimentar o vestido

longo preto. — mandou.

O vestido preto a fez ofegar.

— Muito, muito sexy.

Eu ri.

— Com quantos pode ficar?

— Com quantos quiser, eu acho.

— Sério? Como se sente com isso?

Por alguma razão, pensei no vestido branco.

— Acho que bem.

— O que aconteceu ontem à noite?

— Ele está zangado comigo, Bill. Muito zangado.

— Ele não te machucou, não é? — Senti uma raiva

protetora na voz da Billie. Ela é tão intrigante.

— Não! — Digo, mas acho que é quase impossível

discutir com Billie o que sinto por Blake.

Para a Billie o sexo é divertido, algo para fazer quando

está excitada. Para mim, e suspeito que para Blake também,

é uma necessidade básica. Eu sei que é a razão pela qual ele

está zangado. Ele odeia perder o controle. Controle é

importante para ele. Aliás, se eu descrevesse a sua

personalidade numa só palavra, teria de utilizar a palavra

controlado. Toda a sua vida é baseada em controlar a si

mesmo e aos outros. Ele é controlado em tudo o que faz, o

que come, como administra todos os seus negócios, a gestão

do seu tempo, a sua aparência perfeita. Acho que nunca vi

uma mancha nos seus sapatos.

Até eu chegar, tudo estava em ordem, compartimentado.

Havia lugar para uma noiva e para uma amante. Agora, está

tudo uma bagunça. Sou como uma mexa de cabelo que

insiste em não ser domada. Ele quer ir embora e sentir nojo

de mim, mas não consegue. Olho nos olhos de Billie.

— A sua raiva não está direcionada apenas para mim,

mas para ele próprio, por ainda me desejar.

— Eu não tenho problemas com ele. Só tenho medo de

que toda essa merda vá explodir e ele não será capaz de te

proteger contra sua família e a cadela louca.

Não vou contar sobre o meu encontro com Victoria em

Harvey Nichols. Isso apenas colocaria mais lenha na fogueira.

Ela fica até às seis horas. Mando-a para casa com o coração

pesado e duas latas de leite em pó.

Às sete horas saio do banho e coloco um vestido azul. É

comprido e justo, com um decote decente, que aprofunda

dramaticamente o azul dos meus olhos e insinua as curvas

que já não tenho. Coloco o sapato azul quando ouço ele

chegar. Olho para o relógio. Chegou mais cedo. Surpreendo-

me quando ele entra diretamente no quarto. Nós olhamos por

um momento. Ele usa um terno prateado, uma camisa

branca e uma gravata preta, com riscas vermelhas.

— Espero que não tenha vestido o hábito de freira por

minha causa, porque irá sair na primeira oportunidade que

eu tiver. — disse ele.

Noutra ocasião, teria vindo para cima de mim e dito

quão bonita eu estava. As minhas mãos se agitaram

inutilmente para cima e pararam dos lados do meu corpo.

Agora ele não admite nada, exceto aquilo que acha que eu

sou - uma vagabunda. Ele caminha em direção à cama. O

diário está na mesinha de cabeceira. Ele pega e o abre na

primeira página em branco. Sem expressão, caminha na

minha direção. Coloca a mão no bolso do casaco e tira uma

caneta preta. Suíça. Muito cara. Ele entrega o diário e a

caneta, sem palavras.

Aceito a oferta e vou para a sala de estar. Sento na longa

e polida mesa e escrevo.

Dia 1

Blake rasgou o primeiro vestido que realmente gostei e

me fodeu com força contra a parede do quarto. Depois me

empurrou para a cama, não fez o que prometeu e disse a

palavra que começa com V.

Volto para a sala de estar onde Blake se serve uma dose

de whisky tão grande, que os meus olhos se esbugalharam.

Entreguei o diário e a caneta. Ele abriu o diário, leu as duas

frases que escrevi e olhou para mim com divertimento.

— A palavra com V? Preciso te lembrar de onde você

veio? Onde a palavra com P é quase um adjetivo?

Levantei o queixo.

— Ouvi essa palavra pela primeira vez no recreio,

quando tinha seis anos. Uma mãe sentou nos bancos ao lado

dos meninos e descreveu a sua filhinha como uma putinha

esperta. Então fui para casa e utilizei essa palavra na frente

da minha mãe. Ela não me repreendeu e nem lavou a minha

boca com sabão.

— Obviamente falhei no meu dever de mãe quando você

se sente confortável em dizer tal palavra na minha frente. Não

comerei mais até perceber onde errei. — ela disse. Ela colocou

o jantar na mesa e se recusou a comer.

— Claro que tem que comer. A senhora não fez nada de

errado. — eu disse a ela. Tive que me sentar e terminar toda a

comida. Ela não me deixaria levantar se deixasse uma ervilha

no prato. Ela fez isso de novo no café da amanhã. Na hora do

lanche, eu estava tão desesperada que não consegui comer

mais nada. Prometi que nunca mais diria tal palavra. E não

disse, até hoje.‟

Ele se afastou de mim, como que se ele me conhecesse

mais um pouco, envenenaria a sua sanidade ou bem-estar.

— Se estiver pronta, devemos ir agora.

Na rua, ele destrancou remotamente um Lamborghini

branco. As portas abriram para cima. É o tipo de carro a que

associo os filhos mimados dos barões do petróleo da Arábia

Saudita.

— O que aconteceu ao Aston?

— Bateu contra uma árvore.

Rodei a cabeça.

— Com você dentro?

— Sim, quebrei duas costelas, mas, como pode ver, saí

ileso. É difícil me machucar.

Há algo na sua voz. Claro. Está me dizendo que o

magoei.

O Fat Duck está do mesmo jeito que me lembro. Bom

serviço e comida divina, mas há uma grande diferença que eu

não consigo perceber. Blake está bebendo mais do que é de

costume. Ele pediu o vinho que se encaixa perfeitamente na

nossa refeição, mas mal o tocou. Em vez disso, ele prefere o

whisky. Já contei sete.

— Estava completamente bêbado quando se acidentou,

não estava?

— Sim. Miss Marple resolveu outro mistério.

O álcool relaxou seus ombros tensos. Ele riu e eu quis

pressionar a minha boca naqueles lábios.

— Esqueceu de tudo o que te disse, querida Lana? Os

Barringtons estão acima da lei. A nata fica sempre acima da

superfície.

— Assim como a merda.

Ele levanta o copo e ri sem alegria.

— Vamos ver o quão brilhante você consegue ser

quando estiver nua na minha cama.

— Depende do quão cheia estiver a minha boca. —

respondi imprudentemente.

— Até explodir, querida.

Senti as minhas bochechas aquecerem.

— Vai dirigir esta noite?

Ele pega o copo e engole tudo de uma vez.

— Não arriscaria ter a tua bonita cara no meu para-

brisa por nada. Tom vem nos buscar.

No carro, não nos tocamos. A nossa conversa é

superficial, insustentável.

— O que você fez hoje?

— Billie apareceu aqui com o bebê.

— Divertido?

— Sim.

Ambos pensamos em quando estivéssemos sozinhos.

Quando só os nossos corpos falarem. Há algo neste homem

que me dá coceira nas mãos para tocar no seu corpo, sugar a

sua boca firme, me fundir nele... para sempre. O desejo

embaça meu cérebro.

Finjo deixar cair a minha bolsa. Ele se dobra para

apanhá-la, mas eu chego primeiro e me esfrego na sua coxa.

O sinto tenso imediatamente.

— Não me provoque Lana. Já estou no meu limite. — ele

avisa.

Somos como pavio e pólvora.

Onze

No elevador, o olho no olho.

Porra. Mas que merda?

A porta abre rapidamente.

Ele agarra minha mão e me arrasta atrás dele. Abre a

porta e me empurra, me encostando até que fico esmagada

contra ele. Minha bolsa cai no tapete, abrindo e espalhando

tudo. A sua boca quente encontra a minha. O beijo é duro,

muito intenso e cheio de necessidade. Foi o que vi nos seus

olhos. Perdi-me. Não queria isso novamente. Sua mão

encontrou o zíper na parte de trás do meu pescoço. Aquele

zíper infeliz desceu e o hábito de freira caiu aos meus pés.

As suas mãos experientes abrem o colchete do meu

sutiã. Um puxão e ele saiu como o vestido. Estou tão perdida

no desejo, que mal consigo ouvir o rasgar da renda da

calcinha. Mais uma vez, estou nua e ele está completamente

vestido.

Por um momento, ele se afasta só para me olhar, como

fazia no início. Depois me leva para o espelho dourado na

parede.

— Olha para você. — ele rosna. — As suas pupilas estão

à procura de alguém que te dê prazer. Qualquer um serve.

Quero me afastar do que vejo. Os meus olhos estão

vidrados em luxuria. Eu olho… esfomeada, selvagem…

eletrificada. Mas ele está errado. Não é qualquer um que me

serve.

Ele acaricia minhas bochechas aquecidas, inclina a

cabeça e seus fortes e brancos dentes brincam com os

lóbulos das minhas orelhas.

— Nata, açúcar e veneno. — diz ele e morde o meu

pescoço.

No espelho, meus olhos abrem em choque e prazer. A

sensação é única. A pressa faz eu me sentir imprudente. Ele

começa gentilmente a sugar minha a pele. Gemo. A sua boca

foi para meu mamilo. A precisão hábil da sua boca inicia uma

dor que passa para o meu âmago. Estou em um frenesi

induzido por sexo sedento, para ele entrar em mim. O sabor

do verdadeiro desejo é sufocante. Empurro o meu traseiro

para a grossa e dura ereção entre nós e anseio para que entre

dentro de mim. Ele coloca um dedo no meu lábio inferior e o

empurra para dentro da minha boca.

— Chupa.

Recebo o dedo na minha boca e, a princípio, chupo

gentilmente e depois com força. Ele começa a tirar o cinto.

Fico de joelhos. O tapete escava na minha pele. Abro a

braguilha, tiro a camisa e beijo aquele corpo duro. Ele ficou

quieto. A minha língua saiu. Explorativa, mas não por muito

tempo. Lambi a pele dourada, encontrei a fina linha de pelos

e segui o caminho até à o elástico de sua cueca boxer. Os

meus dentes encontraram o material e puxaram. O seu pénis

ficou livre e solto, inchado e nervoso contra a minha boca.

Peguei seu pau latejante. A cabeça inchou, aumentou, pulsou

e ficou viva na minha mão.

Usei as duas mãos para puxar rapidamente a boxer

pelas coxas abaixo, enquanto a minha boca recebia aquele

grande e maravilhoso pénis. Olhei para ele e o vi respirar

pesadamente. Lentamente, me movi para frente para deixá-lo

ver cada centímetro do seu pénis entre meus lábios. Pulsou

na minha boca, o que fez com que eu chupasse

gananciosamente a cabeça da sua ereção. Devorei-o cada vez

mais fundo na minha boca.

Ele empurrou o quadril para frente, se prendendo na

minha garganta. Parecia uma mordaça, mas era bom. Seu

pénis deveria estar sempre dentro de mim. É onde ele

pertence. Qualquer outra coisa seria errada. Estou

impressionada pela potência da minha obsessão.

—Sim. Sim, assim… Exatamente assim.

Ele manteve a minha cabeça entre as suas mãos

enquanto as suas investidas aumentavam cada vez mais, até

que com um grunhido, ele gozou e senti a sua porra quente

descer na minha garganta. Era pegajoso e deixou um traço

picante na minha língua enquanto ia engolindo. Ele ficou na

minha boca, por mais alguns momentos, deixou a cabeça

inclinada para trás. Olhei para ele, à espera do que, eu não

sabia. Ele abaixou cabeça para frente, para olhar para mim e

para a minha boca, ainda cheia com seu pau.

— Tão bonita. — disse ele, suavemente. — Nasceu para

chupar um pau. Estou surpreso que nunca tivesse me dado

isso. — Ele sai de mim. — Agora se sente na cama.

Fiquei de pé e só olhei para ele. Ele quer me humilhar.

O inferno irá congelar antes que eu o permita fazer isso. Nua

e descalça, mas de cabeça erguida, caminhei para o quarto.

Fui para a cama e, como instruída, sentei na beirada. Ele

apareceu à porta. Mais uma vez, ele está totalmente vestido e

no controle, enquanto estou nua e indefesa.

— Não, encoste na cabeceira da cama.

Subi na cama e sentei nas almofadas fofas.

Ele chegou e sentou na cama ao meu lado. A sua voz é

casual, em tom de conversa.

— O que você fez para transar no último ano?

Corei.

A sua voz tinha alguma dureza mal controlada.

— Arranjou um amante?

Balancei a cabeça.

— Tinha um vibrador? — Pressiona ele, curioso.

Balancei a cabeça novamente.

— Mostre-me o que você fez.

— Não posso. — Sussurrei.

— Mostre. — Ordenou.

Abri a boca, mas ele me silenciou com um dedo na

minha boca, balançando a cabeça lentamente.

— Obviamente você ainda não entendeu como isto

funciona. — explicou. — As únicas palavras que eu quero que

saiam dessa deliciosa boca são sim, por favor, e mais. — Ele

tirou o dedo da minha boca. — Alguma dessas palavras ou

uma combinação delas?

Balancei a cabeça lentamente.

— Foi o que eu pensei. Mostre-me. — disse ele, mas com

a voz mais autoritária.

Pressionei meus lábios. Sinto que o desafio retornou. É

o que ele quer. Ele quer que eu me masturbe na frente dele.

Muito bem. Ele que veja. Já viu todo o resto. Abri as pernas

lentamente. Ele esboçou um sorriso à minha submissão.

Levei os dedos ao clitóris e fechei os olhos.

— Abra os olhos.

Meus olhos se abriram de imediato. Olhando fixamente

para seus olhos brilhantes, movi um dedo para a abertura da

minha boceta. Os lábios estão cheios de líquidos

escorregadios e lambuzando um pouco o dedo, passei para o

clitóris, provocando lentamente.

Seus olhos nunca me deixaram.

— Em que você pensava quando se tocava?

— Em você.

A sua expressão não mudou, mas os seus olhos

pestanejaram.

— Não sentiu falta do meu pau te fodendo?

— Muito.

Ele fez um pequeno som de descrença e alcançou a

mesinha de cabeceira. Abriu a gaveta e fiquei surpresa ao ver

a quantidade de brinquedos sexuais. Todos eles ainda nas

embalagens. Ainda consegui ver algemas. Remexendo nos

brinquedos, ele tirou um vibrador. Era preto e laranja claro e

grande. Assustadoramente grande. Fechei as pernas com

horror. Isto não tem nada a ver com sexo. Isto é ele me

castigando. Enchendo-me com um grande objeto preto e

laranja. Reduzindo-me a um pedaço de carne. Deixando-me

saber que não significo nada para ele. Minha determinação

em ser forte e a minha convicção de que ele nunca poderia

me humilhar se eu não permitisse, se transformou em pó.

— Não se preocupe. Isto não dói nada. — Ele prometeu e

ligou. Começou um zumbido.

Abro os olhos e vejo o objeto na sua mão.

— Não, Blake. Por favor, não! — suplico.

— Abra as pernas.

Balanço a cabeça.

— Por favor. Se insistir em me castigar assim… eu vou

embora.

— Você não vai embora. Lembra que te paguei por isto?

Minha para fazer o que eu quiser. Temos um acordo. Você me

dá o que eu quiser e eu dou o que você quer. Eu te dei o que

queria. Agora é sua vez de me dar o que eu quero. E eu quero

ver este aparelho grande, preto e laranja, enterrado dentro

dessa doce e apertada bocetinha.

Engoli o nó da minha garganta e molhei os lábios.

— Para que precisa disso quando você tem seu pau?

— Porque... — Ele explicou pacientemente, como se

estivesse falando com uma criança. — Nem sempre você terá

o meu pau.

Olhei nos seus olhos. Estou à procura do amante que eu

adoro, mas os seus olhos estão vazios. Sei que farei tudo para

trazê-lo de volta. Vou encontrar forças dentro de mim. Ele

quer que eu enfie aquele objeto dentro de mim. Vamos dar o

que ele quer e ver no que vai dar. Vamos ver como ele reage!

— Está bem. — digo e abro bem minhas pernas.

Se ele ficou surpreso com minha submissão desafiante,

não mostrou. Ele deixa o vibrador tocar no clitóris. Dou um

salto.

— Muito sensível? — pergunta suavemente e o move

ligeiramente.

Passa a ponta do vibrador pela abertura muito

lentamente, enquanto me olha, introduz em mim. Enquanto

me engasgo com o choque do seu tamanho, ele empurra até o

punho.

— Bom? — pergunta.

— Bom. — respondo, erguendo o queixo, arregalando os

olhos e agarrando o edredom de seda por baixo.

Então ele me fode com aquilo e apesar de eu implorar

para não olhar para mim enquanto me parto ao meio, ele olha

possessivamente para mim enquanto gozo.

Depois se levanta e me abandona.

Fico ali toda aberta, olhando para o teto, com o vibrador

ainda dentro de mim. O aparelho faz um som abafado

durante minha humilhação, que não me dei conta. Quero

tirá-lo de mim, mas meus membros estão muito pesados.

Estou apaixonada por ele, mas ele me odeia. Se ele gostasse

de mim, teria visto nos seus olhos, mas nada! Finalmente

compreendi. Sou um demónio que precisa ser exorcizado

antes dele casar com a filha do Earl. Ouvi a porta da frente

fechar e foi então que o primeiro soluço escapou. Tentei ser

forte, controlá-los, mas eles não podiam ser parados.

De repente ele está na porta. Vi ele se aproximar através

de olhos lacrimejados. Ele sentou ao meu lado, tirou o

vibrador, que fez um barulho de sucção. Desligou e,

inclinando à cabeça, lambeu uma lágrima da minha

bochecha.

— Vai se ferrar, Blake. — sussurrei.

Ele enterrou o rosto no meu cabelo.

— Desculpa. — Ele disse.

Olho fixamente para o teto. Estou mais triste do que

alguma vez estive.

— Você está recriando tudo para me destruir, Blake?

— Não.

— Então, o que você quer?

— Eu achei que sabia, mas já não sei mais. —

Confessou com honestidade.

— O que você queria?

— Vingança. Queria castigar você. Tinha todos os tipos

de humilhação planejados para você, mas não consigo te ferir

sem ferir a mim mesmo. Talvez você seja mesmo o que o meu

pai disse, a minha maior inimiga.

Automaticamente eu levanto os braços e me abraço

protetoramente. Eu sabia que ele estava sofrendo também. Só

não sei como melhorar as coisas. Queria contar sobre

Victoria, mas de que serviria? Ela faria um inimigo novo e

supremo.

— Não sou sua inimiga, Blake. Nunca tive a intenção de

magoar você.

Ele ri. Mais uma vez, é amargo.

— Então você é o que? Uma amiga?

Suspirei. Tanta tristeza naquele som. Será que ele

ouviu? Possivelmente, não. Na sua cabeça eu sou uma

interesseira. Peguei o dinheiro e fugi. Agora represento sexo

sujo. Há um abismo entre nós, que parece impossível

ultrapassar. Da sua torre de marfim, Victoria sorri triunfante

e diz que eu não consto nos planos dele. Nunca constarei.

— E então, como ficamos agora?

Ele não responde. Ao invés disso, me abraça e esconde o

rosto na curva do meu pescoço. Lentamente começa a me

beijar. Automaticamente, minha cabeça se inclina. Não em

rejeição, mas em convite. A dedicação dos seus lábios macios

é deliciosa. Sua língua traça um caminho quente no meu

mamilo. Ele o toma na boca e toda a humilhação e sofrimento

desaparecem. Tudo o que acontece entre um homem e uma

mulher é uma viagem sagrada, dizia a minha mãe.

Ela disse isso quando o meu pai a deixou.

Deixo escapar um som da minha boca. Silenciosamente,

solenemente, ele vai para o outro seio. Seus dentes agarram

um mamilo e puxam ligeiramente. Contorço-me. Ele levantou

a cabeça e olhou para mim enquanto a palma da mão

passava suavemente pelo mamilo endurecido. Sofro por ele.

De repente, ele se ajoelha e enfia a língua na minha boceta

dolorida. Aperto seu cabelo sedoso, enquanto a sua língua

quente investe dentro e fora de mim, com perícia. E então

começa a sugar…

Ah, o prazer... o prazer!

De repente, ele pressiona meu clitóris inchado e sou

percorrida por uma intensa corrente elétrica. Grito e gozo em

uma explosão irracional. As ondas batem nas rochas, mas eu

estou voando. Quando regresso ao quarto e à cama, Blake

continua a lamber os lábios molhados do meu sexo. Nunca

haverá ninguém como ele, penso preguiçosamente sonolenta

e triste. Ele fez o que foi talhado para fazer. Arruinou-me para

os outros homens.

Estou tão consumida e exausta que fecho os olhos e

adormeço, com a sensação da sua cabeça sedosa nas minhas

coxas.

Doze Acordo coberta com o edredom, mas sozinha. Viro a

cabeça e olho para a vastidão da cama que está ao meu lado

e os travesseiros não usados, suspiro. Libertando as minhas

pernas do edredom, saboreio o ar fresco. Depois saio da

cama. Ouço os sons abafados de Francesca, a personal

shopper de Blake, vasculhando a cozinha. Ela é sempre

muito silenciosa. Coloco alguma roupa, escovo os dentes e

vou para a cozinha. Ela está atualizando a lista no Ipad.

— Ciao. — Cumprimenta-me alegremente. Ela é de

Nápoles. — Eu lembrei que você gosta de geleia e trouxe dois

frascos a mais. — Ela os segura nas mãos expressivas. —

Você gosta?

Aproximo-me e pego os frascos.

— Gosto. Muito. Obrigada, Francesca.

Tom leva Billie, Sorab e eu para The Royal China em

Bayswater. Encontramos uma mesa e pedimos nossos

almoços.

Levo os meus frascos de geleia na minha mochila e

coloco na parte de traz do carrinho de bebé de Sorab e Billie

sorri.

— As vantagens do negócio. — disse ela.

— Por falar nisso, Jack me ligou te procurando. Seu

celular devia estar desligado.

— Oh! O que você falou pra ele?

— A verdade, claro. Que você estava com Blake.

— E o que ele disse?

— Ficou mudo por um momento, e depois me perguntou

se você estava em segurança. Respondi que não sabia, mas

que você achava que estava. Depois ele desligou.

Mordi o lábio inferior.

— Você devia ligar para ele. Ele se preocupa com você.

— Vou ligar. Esta tarde.

— Então, como vão as coisas na casa de Blake?

Soltei rapidamente o ar.

— Não sei Billie. Acho que sou uma boneca inflável, pelo

jeito que ele me trata. É somente sexo. Ele é tão reservado,

está tão zangado e tão magoado. Não acredito que alguma vez

o alcance. Ele quer vingança, mas não tem coragem para

isso.

— Que tipo de vingança? — A voz de Billie se

transformou num fio.

— Humilhação sexual. A noite passada ele utilizou um…

vibrador em mim. — Corei. Era quase impossível pronunciar

aquelas palavras.

Billie riu.

— Você é tão estranha. Isso não é humilhação sexual.

Muitas pessoas usam. Se alguém se oferecer para usar um

em mim, eu deitaria, abriria bem minhas pernas e diria para

ir fundo.

— Você não entende Billie. Ele fez isso porque sabe que

sou sexualmente reprimida.

— Oh pelo amor de Deus. Você chorou, não foi?

Encolhi-me e brinquei com uma costeleta.

— O que você faria se fosse eu, Billie?

— Primeiro, não sou você. Acho que nunca estaria numa

situação tão fodida.

— Mas e se estivesse? — insisti.

— Então, eu beberia pelo menos meia garrafa de vodca e

o desafiaria a fazer o seu pior. Aguçaria todos os seus

sentidos sem piedade, até ele se descontrolar. Então acabava

tudo num instante. Mas, não esqueça que eu não faria isso se

soubesse que ele poderia mesmo me machucar. Mas você tem

certeza de que ele não quer te machucar, certo?

— Cem por cento. Ele é frio, não é cruel.

Paguei a conta com o meu novo cartão de crédito

Platinum, um que eu não pedi, mas que chegou esta manhã.

Billie ergueu uma sobrancelha, impressionada, mas não fez

nenhum comentário.

Afinal, passamos uma tarde agradável no Whiteley‘s

Shopping Center. Não tinha nada que eu quisesse, mas

presenteei Billie com uma bota de cowboy, que ela adorou e

compramos roupas de cama divinas para Sorab. Coisas para

as quais eu nunca tive dinheiro.

Coloquei tudo no cartão de crédito. Tinha um crédito de

noventa mil libras.

Depois de Tom deixar Billie e Sorab, liguei para Jack.

— Você está bem? — É a primeira coisa que Jack me

pergunta.

— Ele não é capaz de me machucar, Jack. — Respondo.

— Não é com ele que eu estou preocupado.

— Victoria não me fará nada.

— Lana, ela te deu duzentas mil libras para

desaparecer. Você aceitou o dinheiro e agora está de volta,

com o homem dela, e acha que ela não vai fazer nenhuma

retaliação?

Oh Deus! Colocando as coisas dessa maneira, eu estava

sendo muito estúpida.

— Eu não o procurei, Jack. Ele me procurou. Além

disso, são só por 42 dias.

— 42 dias?

— Ele só quer que eu termine o contrato. Ainda faltam

42 dias. Bem, 40 agora.

— Lana, eu sou homem e digo que nenhum homem quer

uma mulher só por 42 dias. Não vai terminar em 42 dias.

Posso te garantir. Você vai ser amante dele até o dia que ele

se cansar do seu corpo. É isso que quer para você?

Foi um golpe baixo, mas ainda assim, era verdade.

— Já não sei mais o que quero Jack. Tudo o que sei é

que neste momento estou com Blake por quarenta dias. Eu

estou muito confusa.

Jack suspira pesadamente.

— Está bem, Lana, mas prometa que tomará cuidado.

Ao primeiro sinal de que as coisas não estão indo bem, você

vai me ligar.

— Eu prometo. Jack?

— Sim?

— Não se preocupe comigo, por favor. Já sou crescida.

Sei tomar conta de mim.

— Tome cuidado, OK? — Ele disse asperamente e depois

desligou. Inclinei-me para trás, mas não pensei em Jack e no

seu aviso. Outra coisa estava me incomodando.

Assim que chego ao apartamento, vou para o

computador. Na barra de busca, coloco a palavra boceta.

E fico chocada de saber que a palavra ―boceta‖ é a mais

ofensiva da língua inglesa, com o maior poder de impacto,

mas só se tornou obscena no tempo de Shakespeare. Antes

disso, era referida a uma rainha que inventou a escrita

cuneiforme, a maneira mais antiga de escrever. A palavra

deriva de kunta, que significa genital feminino na Suméria.

Então, quando um homem diz boceta, para uma

mulher, na verdade está a chamando de rainha que inventou

a escrita e os numerais, um dos melhores elogios que uma

mulher pode receber. Os irlandeses até a usam

carinhosamente!

Também percebi que boceta é a única palavra na língua

inglesa que descreve toda a genital feminina. Vagina se refere

somente à entrada interior e vulva ao clitóris, grandes e

pequenos lábios. Para falar de toda a incrível orquestra

sexual feminina, em toda a sua estupenda glória, precisamos

da palavra boceta!

No momento, clamo a palavra só para mim.

Quando Blake me chamou de boceta, só fingi que estava

ofendida. Na verdade, depois de tantos anos evitando a

palavra e desprezando os outros por permitir que algo tão

sujo e nojento saísse de suas bocas, isso se perdeu e tudo

que eu sentia era a sua pura atração sexual. Sim, sou uma

boceta e quero teu grande e rígido pau bem dentro da minha

boceta. Percebi que, independentemente do que Blake

dissesse, suas ações me ensinavam que o meu corpo é meu

templo. Aquilo entre as minhas pernas, é um altar chamado

boceta e ele adora.

Agora tenho um plano. Um plano que envolve minha

boceta.

Treze Blake enviou uma mensagem dizendo que chegará às

20h.

Às 19h30 estou de banho tomado e usando cinta liga e

meia preta. Cuidadosamente, coloco o vestido preto que a

Fleury me deu para usar na Ópera e aperto a fileira de botões

de pérolas negras. Olhei-me no espelho e observei

maravilhada a complexidade da beleza do vestido. Deve ter

custado uma pequena fortuna.

O peito e as costas eram feitos de renda preta

trabalhada, levemente polvilhada com strass, mas a renda é

tão delicada que parece uma tatuagem na minha pele. Ajusto

o material no meu corpo e quadril, depois me viro para ver o

efeito na parte de trás. Parece muito bem, e até sexy. Ajeito o

cabelo e sento para me maquiar. Quando termino, calço meu

salto agulha e vou para a sala, o vestido se agita suavemente

nos meus pés.

Sirvo-me de uma dose tripla de vodca e bebo em quatro

goles. Wow! Faz até as minhas veias cantarem. Sirvo outro

duplo, coloco um pouco de laranja e caminho até à varanda.

Estou realmente muito nervosa. Pior ainda, muito, mas muito

nervosa. Esta noite vou vê-lo sem a máscara. Irei provocá-lo

até não restar nada dele. Olho para as horas. 19h59. Quando

me viro, ele está na porta. Ele me olha silenciosamente.

Tentando desvendar o que está vendo.

Viro totalmente.

— Olá.

— Vamos sair ou está vestida assim para mim?

— Não vamos sair.

Ele ergue uma sobrancelha. Um sorriso torto. Ele

caminha para mim.

— Não vamos?

Lentamente, abano a cabeça.

— Preciso de um favor seu.

— Tem permissão para pedir favores?

— Você vai gostar deste.

— Tudo bem, você tem a minha atenção.

— Você quer me machucar?

Ele enrijece. Por um momento, nenhum de nós diz nada.

Simplesmente nós olhamos. Depois ele diz:

— Não.

— Porque não? Pensei que quisesse vingança.

— Tentei sexo duro e não gostei.

Estou chocada com o ciúme ardente que me atravessa.

Ele já fez isto com alguém. Não há nenhum território que eu

possa chamar de meu.

— Talvez eu goste.

Seus olhos se estreitaram. Ficaram como pedras. Frios.

Intocáveis. Fazem-me lembrar dos olhos do seu pai.

Estremeci involuntariamente. Senti medo. E se eu estiver

errada? E se ele tiver mesmo a capacidade de me machucar?

— O que sabe de sexo duro?

— Ensine-me o que há para saber.

— É isso mesmo que você quer? — Sua voz é suave,

perigosamente suave.

— Sim.

Suas mãos tocam a minha face. Não pude evitar.

Estremeci e ele sorriu. Um sorriso frio e sábio.

Cuidadosamente, ele esfrega as mãos nas minhas bochechas.

— Você é uma criança. Não sabe o que quer. — disse ele

e estava prestes a ir embora, quando ergui meu braço com

toda determinação e a palma da minha mão colidiu com a

sua face. Bati com tanta força que a cabeça dele virou para o

lado e a minha mão latejou de dor. O álcool me deixou

estranhamente tonta. Nem estava pensando nas minhas

ações. Olhei com fascinação para a sua bochecha, para as

marcas deixadas pelos meus dedos. Os meus olhos

encontraram os dele. Estavam tempestuosos e furiosos.

— Se sente melhor por isso? — ele pergunta.

Em resposta, balanço novamente minha mão, mas,

desta vez, ele está preparado e a agarra com facilidade. Corro

em direção a ele e mordo seu pescoço. Com força. O seu

grunhido é irritado.

— Herdou todo este dinheiro para que todos te

tratassem como uma espécie de Deus, mas é apenas um

covarde que se esconde por trás da máscara da

superioridade, um menino rico e mimado que não tem de

fazer nada a não ser o que o Papai diz.

Ele começou a rir, a rir com vontade e de repente

percebi que nunca o vi feliz. Nunca vi sua cabeça ir para trás,

nem a sua boca aberta e vulnerável.

— Imaginou o que seria sem o dinheiro do seu bisavô?

— O insulto.

— Ainda iria querer te foder enlouquecidamente.

— Vai se foder! — grito e, como se estivesse possuída

por um demónio louco, começo a dar pontapés nas pernas e a

bater no seu corpo com a minha mão livre. Como um saco de

batatas, sou levantada pela força pura de um macho e

colocada no seu ombro. Por um momento, o choque de ser

virada de cabeça para baixo me acalma e depois continuo a

esmurrar suas costas enquanto ele me leva para nosso

quarto.

— Você não confia em ninguém, você não ama ninguém.

— grito.

Ele me lança na cama. Caio do meu lado, sem fôlego,

mas ilesa. Minha cabeça está parada, mas raios surgem, o

quarto está às voltas como se fosse um carrossel. Ainda

assim, o importante é que eu perdi todo o medo e apreensão.

Meu único objetivo é incitá-lo a perder esse controle que

determina todos os seus movimentos. Olho para ele, com os

meus olhos a insultá-lo.

— Com medo de uma boceta, Barrington?

A sua cabeça se inclina com surpresa.

— Você realmente quer sexo duro? — Ele pergunta.

Eu aceno.

A sua boca torce. Ele desabotoa a camisa e tira a calça.

Abre a braguilha, lança a cueca para trás dele e dá um passo

para a beira da cama.

— Aqui está, meu amor. — diz ele, irritado.

Num momento bom, ele me puxa para cima, pega a

barra do meu vestido longo e o puxa sobre a minha cabeça.

Ele continua olhando para mim, tapada da cintura para

cima, mas a parte inferior obscenamente à vista, com cinta

liga, meias e pernas abertas sem elegância. Então, antes que

eu consiga recuperar meu equilíbrio, ele agarra meu quadril,

seus dedos agarram dolorosamente a minha carne e ele me

põe de quatro. Ele segura minha bunda e afasta as duas

bandas muito grosseiramente, amassando-as como se fossem

dois pedaços de massa, e conduz seu pau na minha boceta

molhada, tão selvagem que eu realmente chorei com o choque

do impacto. Isso o impede de continuar, como se ele também

estivesse perturbado pela ferocidade e violência de seu

próprio impulso.

— Não pare. — Ouço-me dizer, numa voz que não

reconheço.

E ele me atinge novamente. Desta vez ele não para,

mesmo quando eu choro. Meu corpo parece com o de uma

boneca de pano, tremendo e balançando, com as suas

investidas. Quero gritar, mas não me atrevo, com receio dele

parar. O seu estômago continua batendo no meu rabo

afastado. As suas mãos pelo meu corpo suado, escavando e

agarrando, num esforço de se enterrar o mais fundo que

conseguir. Ele investe com tanta força, que o sinto no meu

estômago.

Cada investida é uma tortura, mas em cada dor há um

estranho e delicado prazer. Depois de gozar, ele se dobra para

frente, beija meu ombro e suavemente, sai de mim.

A minha boceta está tão sensível que a sinto picar, arder

e pulsar dolorosamente, enquanto ele se retira. Já acabou, eu

acho. Depois, sinto a sua língua lamber a vermelhidão da

minha boceta. Ele enfia a língua suave dentro de mim, mas

mesmo assim, dói horrores. Gemo e ele retira a língua e

começa a sugar o clitóris. Esqueço da dor e gozo rápido, com

um prazer intenso. Com meus nervos aflorados pela dor, o

prazer é o mais poderoso que alguma vez experimentei.

Caio de cara. O meu corpo dói inteiro e está tão mole,

que acho que não vou conseguir dormir de costas. O meu

último pensamento, antes de adormecer, era que não jantei e

ele nunca perdeu o controle. Apesar de todos os meus

esforços, ele nunca quebrou a sua fachada, para revelar o

verdadeiro homem que existe por dentro. Agora sei que, o que

quer que seja que ele guarde cuidadosamente no seu interior,

deve ser realmente precioso ou hediondo.

Catorze Acordo sentindo a boca amarga, seca e rígida. Sair da

cama é um suplício. Mal consigo chegar ao banheiro. Uma

mulher desgrenhada me cumprimenta no espelho. Olho com

fascinação para meu reflexo. Devagar e com muita

dificuldade, desabotoo a fileira de botões de pérolas pretas

nas costas do vestido e retiro os ombros. Vou para o fim do

quarto, onde se encontram dois espelhos e suspiro, chocada

com meu reflexo.

As minhas costas, quadril, nádegas e coxas, estão com

manchas negras. Parece que fui atropelada por um

caminhão.

Cuidadosamente, sento no vaso. O fluxo urinário arde e

toda a área está tão dolorida que mal consigo me limpar.

Tomar a vodka sem ter comido nada me deixou com uma dor

de cabeça latejante. Vou para o chuveiro. Boa jogada, Lana.

Relaxar os músculos me faz parecer um pouco mais normal.

Depois disso, tomarei alguns analgésicos. Em quinze

minutos, o Sr. Nair e eu, estamos sentados na cozinha

tomando café. Sinto-me bem normal.

Depois do café, ligo para Tom e peço que ele traga Sorab

para ficar comigo. Desço a escada às 9:30 da manhã. E Tom

abaixa o jornal que está lendo.

— Bom dia.

— Bom dia, Tom.

Ele abre a porta do carro, mas fica segurando.

— Está tudo bem? — Tom questiona, com um ar

preocupado.

— Apenas dores de estômago. — digo.

Ele vai para o lugar do condutor.

Billie está secando pratos. Coloca o pano de pratos no

ombro e vira para mim.

— Você parece um pouco acabada. — disse.

— Tentei usar o seu conselho. Bebi meia garrafa de

vodca e testei ele, ontem à noite.

— Ah, foi? E aí?

— Ele não queria brincar.

— Então porque está toda dolorida?

— Quero dizer, tive sexo duro, mas nada mais. — digo.

— Ele não disse nada que não deveria ter dito ou brigou por

não querer sexo duro. — Sentei cuidadosamente, numa das

cadeiras enquanto Billie olha para mim com uma expressão

que não consigo decifrar.

Fico toda a tarde com Billie, fazendo planos para o

nosso novo negócio.

Blake me manda uma mensagem dizendo que chegará

atrasado, por isso eu saio pontualmente, às seis. Janto

sozinha. Uma refeição simples com queijo derretido numa

torrada, com uma fatia de salmão defumado por cima. É

maravilhoso ter Sorab comigo. O apartamento não parece tão

estranho nem tão solitário. Depois temos uma grande sessão

no banheiro, ele brincando alegremente e eu rindo. É neste

momento que Blake entra pela porta.

— Olá! — Eu digo. Estou realmente muito nervosa. No

meu pensamento, ainda acho Sorab muito parecido com

Blake.

— Quem é que temos aqui? — Ele diz e entra no

banheiro. Olho para ele com surpresa. Ele se aproxima de

nós e olha para Sorab por um longo tempo. Sorab abana

excitadamente as mãos para o novo rosto, mas eu tenho o

coração na boca. Para onde raios ele está olhando?

Naturalmente, há alguma maneira dele descobrir que é filho

dele? Quando olha para mim, tem um olhar neutro. Olhamos

um para o outro.

— Será que ele chora muito? — finalmente pergunta.

—Não. Na maioria das noites, dorme direto. — digo

rapidamente, com a respiração voltando ao normal.

— Bom. — Ele diz e sai. Atiro a esponja para dentro de

água. Merda. Por um momento, fico preocupada de verdade.

Muito mesmo. Retiro Sorab da água e enquanto o visto e

coloco talco, consigo ouvir Blake na sala de jantar. Ele está

falando com alguém ao telefone. Ele trabalha de forma

constante e quando chega ao quarto, estou quase dormindo.

Ao meu lado, sinto o colchão ceder ao seu peso e abro

meus olhos sonolentos. Ele está sentado no escuro. Inclina a

cabeça e me beija. Estou tão assustada que acordo logo. O

beijo é suave e gentil. Abro minha boca e o beijo se

aprofunda. Pura fome começa a me atingir. Estou toda

dolorida, mas ainda assim, anseio por ele. Sinto seus dedos

percorrerem meu corpo. Os seus dedos pressionam minha

boceta.

— Está tão molhada. — Ele sussurra e coloca um dedo

dentro de mim.

Arde demais e eu me afasto involuntariamente.

Ele para imediatamente.

— Qual é o problema?

— Nada. — murmuro. Pisco os olhos. As mãos do Blake

levantam minha camisola. A minha calcinha é retirada e

estou sendo virada.

— Jesus Lana! — ele ofega. Mãos gentis viram meu

rosto. — Eu fiz isto? — Ele está chocado, pálido, e consumido

pelo remorso. Nunca pensei que ele pudesse ficar tão

abalado. Este é um novo Blake. Um que não consigo conciliar

com o homem que conheço. A mudança no seu rosto e olhos

é tão nítida, é como da noite para o dia. Será que alguns

hematomas negros têm realmente tanto efeito num homem

como ele? Não gostei da resposta. Havia mais com esta

mudança. Ainda não sabia o que era.

— Fico assim facilmente. — explico cautelosamente. —

Não é permanente.

Ele não responde a isso.

— Eu sinto muito… Desculpe-me. Não acredito que fiz

isto com você.

Eu me encolhi, ainda suspeitando da sua bondade.

— Não é tão ruim quanto parece. Hey, eu o incentivei a

isto, lembra?

Ele olha para mim com a testa franzida.

— Porque fez isso?

Baixei o olhar.

— Conhece aquela canção ‗Wrecking Ball‘ da Miley

Cryus? Sou eu. Queria quebrar suas paredes. Você é tão frio

e distante comigo, o tempo todo. Usei o meu corpo como se

fosse uma bola demolidora…

— Há muitas coisas que você não entende, mas acredite

em mim quando digo que você é meu alicerce, meu oxigênio.

Preciso desesperadamente de você. Aliás, agora mesmo, o que

sinto por você é a única coisa que me faz parecer humano.

Olho para ele chocada.

— O que sente por ...

Ele colocou os dedos na minha boca.

— Shhh. E acredite em mim quando digo que gosto de

você, sempre gostei… e não é do seu interesse saber mais do

que já sabe.

Fico infeliz com esta resposta misteriosa, mas aceno em

concordância. Que escolha tenho?

— Preciso que me prometa uma coisa.

— Que tipo de promessa?

— Que não vai me deixar antes dos 42 dias acabarem.

Independentemente do que ouça ou veja, ou de quem te pedir

para fazê-lo, não me deixe.

— Por quê?

— Porque estou te pedindo. Pode fazer isso por mim?

Dei de ombros.

— OK.

— Não! Diga as palavras. — diz ele. — É muito

importante que você perceba a importância da promessa que

estou pedindo que faça.

— Prometo não te deixar antes dos 42 dias acabarem.

— Não se esqueça desta promessa.

— Não esqueço, mas o que acontece quando os 42 dias

acabarem?

Ele sorri. É um sorriso triste.

— Aí é você quem vai decidir.

— Eu que vou decidir? O que isso quer dizer?

— Acabou a conversa por hoje. Va para o seu lado da

cama.

Eu arregalo os olhos.

— Você vai ficar esta noite?

— Mmnnn.

Ao invés de reclamar, suavemente vou para o meu lado

da cama, e me apoio no meu cotovelo.

— Quer que te faça um boquete?

Ele balança a cabeça.

— Quer o meu rabo? — digo provocadoramente.

— Terei o seu rabo, brevemente. Quero conhecer o seu

corpo todo. Mas hoje não. Hoje só quero que se enrosque em

mim e durma.

E é o que fazemos. Adormecemos entrelaçados, como

duas serpentes.

Quinze No momento em que eu acordo Blake não está lá. Eu

trago Sorab para a cama e deito olhando para ele, que bebe

seu leite enquanto meu cérebro repete incessantemente as

intrigantes e confusas palavras de Blake na noite anterior.

Você tem que acreditar em mim quando digo que você é o

meu alicerce, meu oxigênio. Na verdade, agora, o que eu sinto

por você é a única parte de mim que parece ser humana.

Exceto a minha tentativa frustrada de ser uma bola de

demolição, posso ver que nada mudou entre nós. Ainda

assim, o estranho insensível e furioso, que mal podia

suportar meu toque, estava, de repente, professando uma

emoção tão profunda que me fez contrair os dedos dos pés. E

o que foi a insistência de que eu prometesse nunca deixá-lo

até que os 42 dias tivessem terminado? Quais eram as coisas

que eu não compreendia, as quais ele se referia e que,

obviamente, não queria me contar? Lembro novamente de

seus olhos intensos. Ele parecia estar implorando por alguma

coisa e me pedindo outra, ao mesmo tempo? Seriam outros

38 dias comigo? Por quê? Nada fazia sentido.

Eu me lembro das palavras de Jack.

Nenhum homem quer uma mulher por apenas 42 dias.

Quando Blake disse que seria a minha escolha, o que

ele quis dizer? Que seria minha escolha ser a sua amante? E

que Victoria seria seu modelo virtuoso de perfeição paciente e

impecável? Eu lidei com ela e sei, sem qualquer sombra de

dúvida, que não permitirá tal cenário.

Eu beijo a cabeça de Sorab.

— O que seu pai está fazendo, Sorab? — Pergunto, mas

ele apenas suga solenemente sua mamadeira com leite.

O dia passa lentamente após esse incidente. Meus

movimentos são lentos e langorosos. A dor está começando a

sumir. Quando uso o banheiro, não existe mais a queimação.

Estou animada com a ideia de ter Blake dentro do meu corpo

novamente. Reconheço que estou em estado de excitação

constante.

Laura liga para dizer que Blake irá para casa para o

jantar, porém não era para preparar nada. Ela está

encomendando para nós. Comida chinesa.

— Qualquer coisa em especial que você queira?'

— Pato de Pequim picante. — digo.

Ouço-a sorrir.

— Sim, esse é o meu favorito também, senhorita Bloom.

É um belo dia, com apenas um pouco de vento e às

quatro da tarde carrego um livro e coloco Sorab em seu novo

carrinho de passeio, para ir ao parque tomar um pouco de ar

fresco. O banco onde tive a companhia do exuberante

cachorro estava vazio e então vou até ele. O sol está

deliciosamente suave, mas mesmo assim coloco a capa do

carrinho para baixo. No próximo verão ele já vai poder brincar

no sol.

Eu o olho com orgulho e ele sopra bolinhas e balança o

chocalho violentamente. Estou tão incrivelmente apaixonada

por ele. Eu olho em volta. Não há praticamente ninguém por

perto, pego meu livro e começo a ler. Não se passaram mais

do que 10 minutos com Sorab contente, brincando com seus

pequenos brinquedos pendurados na cobertura de seu

carrinho de bebê, quando uma mulher vem até nós.

— Ah, mas ele é tão lindoooo. — ela canta.

Eu olho para cima do meu livro de bolso sorrindo.

— Obrigada.

— Qual é o nome dele?

— Sorab.

Ela oscila a cabeça de repente para mim e eu estou

espantada com o flash de alarme em seus olhos.

— Por que você deu esse nome ao seu filho?

Então eu me lembro.

— Ele não é meu filho. Estou de babá para a minha

amiga.

— Oh. — ela diz e se endireita e assim eu consigo vê-la

melhor. Ela tem cabelo castanho médio, bochechas rosadas e

olhos azuis, e estava vestindo um casaco discreto, mas,

obviamente, muito caro. Seu sotaque era de alguém de classe

muito alta, mas tinha algo estridente em seus olhos. Isso me

faz ter comichões para me levantar e me colocar entre ela e o

meu filho. Eu me levanto e nós estamos encarando uma à

outra.

— Por que ela deu a ele esse nome?

— Foi em homenagem a lenda de Rustam e Sorab.

— Você conhece a história de Rustam e Sorab?

— Não. — eu minto, imediatamente.

— É a lenda de um grande guerreiro que mata

acidentalmente o próprio filho no campo de batalha, porque

quando o menino nasceu a sua mãe mentiu. Ela disse ao pai

que ele não tinha um filho, que deu à luz a uma menina.

Eu fico olhando para a mulher tentando controlar meu

horror, mas com a expressão em seu rosto eu não estou

conseguindo ter êxito. Essa ironia não me atingiu antes. O

que foi que ela fez, inconscientemente? Quem é essa mulher?

O que ela é para Blake, meu filho e eu?

— Quem é você?

— Quem eu sou não é importante. Não fique tentada a

ficar mais tempo do que está disponível. Você e seu filho

estão em grave perigo. E pode até já ser tarde demais. Não

confie em ninguém.

— Do que você está falando?

— Cuidado com o Cronos. — Ela diz, com a voz seca

como poeira, e começa a se afastar.

— Ei, volte! — eu chamo, mas ela anda mais rápido,

aumenta sua velocidade, e rapidamente desaparece da minha

vista. Sento novamente, porque meus joelhos já não me

apoiam. Eu sei quem é essa mulher. Uma brisa da noite

passa correndo por mim. Eu me forço a empurrar o carrinho

tão rápido quanto possível para voltar ao apartamento. Lá

dentro, corro para o computador e para o google, procurando

pelo quarto conde de Hardwicke e sua família. Encontro a

imagem de uma mulher.

Sento. A memória de seu perfume flutua por mim. O

resto é um borrão cru de medo. Claro, eu a reconheço. A

semelhança é pequena, mas notável. Ela é a mãe de Victoria,

mas há algo miserável sobre ela. Ela perdeu algo precioso. É

verdade, os olhos perspicazes traíam a fúria, mas sob a raiva,

ela estava essencialmente dizendo que ela teve que sofrer

insuportavelmente. Mas ao contrário de sua filha, ela não

estava me ameaçando, mas me avisando para que eu pudesse

evitar um sofrimento similar em meu próprio futuro. Cuidado

com Cronos. Volte para trás agora, Lana. Antes que seja tarde

demais.

Meu telefone toca. É Blake.

— Oi. — eu murmuro.

— Você parece estranha. Está tudo bem?

— Sim, estou bem. — eu digo.

— Estou voltando para casa mais cedo. Espere por mim.

— Estarei aqui. — eu digo.

No momento em que Blake chega em casa, eu paro de

andar de um lado para o outro sem descanso e acalmo o

tremor das minhas mãos, mas não o medo terrível em meu

coração. Estou em pé no meio da sala de estar, perdida por

conta de algum medo desconhecido, quando Blake aparece

na porta. Eu me viro para ele e de repente estou cheia de um

novo medo. Posso mesmo confiar nele? Sinto-me confusa e

com medo do que eu não saiba a resposta.

Em poucos passos, ele cobriu o espaço entre nós.

— O que foi?

Eu balancei a cabeça.

— Por que você está de volta tão cedo?

— Estamos indo para Veneza.

— Veneza? — Repito estupidamente.

— Você gosta disso?

— Eu não posso. Tenho Sorab.

— Ele vai com a gente. Laura arranjou cinco babás para

você entrevistar esta noite. Elas vêm com a mais alta

recomendação das melhores agências de babá de Londres. A

babá pode ajudá-la aqui também, até o momento em que você

não precisar mais dela.

Por que ninguém me avisou sobre isso? Minhas mãos

sobem até as minhas têmporas.

— Uma babá? — É uma palavra estranha na minha

língua. A ideia é intimidante. Outra mulher cuidando de

Sorab.

— A primeira babá vai chegar as sete e uma a cada meia

hora depois, até que você encontre uma que você acha que é

a mais adequada. Eu pensei que nós poderíamos jantar mais

cedo. Laura encomendou comida chinesa para seis horas, eu

acho.

Concordo com a cabeça distraidamente e percebo o

alívio que banha seu rosto e seus ombros tensos, mas eu não

posso imaginar o motivo pelo qual ele está aliviado.

— Posso pegar uma bebida pra você? — Pergunta ele, se

movendo para o bar. Fico olhando quando fica de costas. De

repente, tenho a nítida impressão que ele está preocupado

com alguma coisa. Algo importante. Algo sobre mim. Mas ele

não quer falar sobre isso. Ainda não. Faz parte daquelas

coisas secretas que eu não entendo.

— Um brandy. — respondo.

Ele empurra uma taça para minha mão e beija

suavemente a minha testa.

— Eu vou acompanhá-la para um banho depois. Apenas

relaxe. Volto daqui a pouco.

— Por que iremos para Veneza?

— Você irá assistir ao verdadeiro musical de Veneza, o

original. Leve seu vestido preto. — diz ele, com os olhos

ardentes.

Ele planejou uma aventura em Veneza para mim. Eu

vago meus olhos pelo chão. Não me atrevo a olhar em seus

olhos, ainda não. Eu pretendo contar sobre a mãe de Victoria.

Não hoje, no entanto. Não até eu descobrir quem é Cronos. E

em quem eu posso confiar. Quem é amigo e quem é meu

inimigo?

As babás chegam pontualmente. Quando a terceira

mulher entra pela porta eu sei que ela é a única. Ela tem um

rosto agradável e alegre, com os olhos suaves. O nome dela é

Geraldine Dooley. Ela é da Irlanda. Eu coloco o bebê em seus

braços.

— Tudo bem, rapaz, qual é a história?

Sorab balbucia para ela.

— Com certeza. — ela concorda solenemente.

Eu consigo cancelar as duas últimas candidatas ligando

para seus celulares, mas a próxima candidata já está me

esperando na sala de estar. Eu saio para conhecê-la.

— Eu sinto muito por ter feito você perder o seu tempo.

Eu já encontrei a babá perfeita para o meu filho.

Ela sorri e puxa luvas de algodão impecavelmente

brancas.

— Você não tem que sentir, minha querida. — Eu fui

paga consideravelmente bem para participar desta entrevista

rápida.

Um pensamento me ocorre.

— Que horas você foi agendada?

— Eu não posso dizer com certeza. Mas talvez 16h30.

— Oh. — Isso foi logo após a mãe de Victoria se

aproximar de mim no parque. Pode ser apenas uma

coincidência, o fato de que estou - do nada - levada para

Veneza? Suas palavras, “não confie em ninguém”, ainda

ecoam na minha cabeça. Talvez seja ingênua, mas estou sem

medo. Acreditei quando ele me pediu para confiar nele para

fazer aquilo que era do meu interesse. E ainda confio.

Com as mãos cobrindo minha cintura um pouco acima

dos meus hematomas e com os seus olhos nunca deixando os

meus, Blake me abaixa suavemente sobre sua ereção

latejante. Os músculos de sua mandíbula se contorcem e

traem sua falta de desinteresse. Eu sei que ele está

preocupado em me machucar, mas estou tão escorregadia,

molhada e pronta, que o primeiro dedo desliza facilmente,

enchendo e me abrindo lindamente. É tão bom que eu me

dirijo para baixo e de repente ele me enche profundamente,

me esticando ainda mais. Clamo involuntariamente e sinto as

mãos erguendo o meu corpo para fora do eixo. Estou

empalada.

— Jesus, Lana! Se acalme. — ele fala.

Mas agora que o primeiro lampejo de dor se foi, estou

em chamas com a necessidade. Quero esquecer Cronos e

Victoria, e todas as coisas confusas que ainda não descobri e

sei que não há nenhuma maneira melhor do que esta. Coloco

minhas mãos em cada lado dele e o empurro lentamente,

vacilante, puxando para baixo até que as feridas do meu

traseiro tocassem suas coxas. Eu paro e me movo para cima.

Este requintado mix de dor e prazer é o que eu tenho

desejado todo o dia. Desta vez, desço um pouco mais rápido.

Meu sexo encharcado paira um instante na ponta da sua

ereção e, em seguida, eu desço. E grito. Ele tenta me segurar.

Balanço a cabeça e digo:

— Não, isso é bom. Eu posso aguentar.

Ele reforça seu aperto na minha cintura.

— Não! Sem mais dor para você. — diz ele com firmeza,

e gentilmente me rola sobre as minhas costas. Ele cobre todo

o meu corpo com beijos rastejantes até que eu me sinto como

se estivesse flutuando. E quando gozo, me sinto como se

fosse uma lagoa, em um dia em que a luz do sol é tão branca

que é impossível olhar para ele. Então, alguém vai e joga uma

pedra no lago do meu estômago, as ondulações brilhantes se

espalham para fora e transbordam.

Dezesseis

Estou na proa da embarcação negra que se movimenta

pelo Grand Canal para capturar a plena opulência da

majestosa cúpula branca da igreja pela luz do sol brilhante.

Grande decoração, enorme. Uma gôndola fúnebre passa por

nós. Tremo ao tocar a fita azul que Blake colocou no meu

cabelo. Aqui até mesmo a decadência e a morte são lindas.

Casas pobres estão ao lado de palácios gloriosos.

Blake estende o seu forte braço para me segurar quando

paramos na Piazza de San Marco. Ele está vestido com uma

camisa de brim preta, com as mangas enroladas, calça jeans

e botas de lenhador, e é muito mais alto do que a maioria dos

moradores. Diabolicamente sexy, com seus óculos escuros

que não me permitem ver seus olhos. Eu olho para ele com a

mesma sensação de admiração que ele olha para mim. Ele me

ajuda a sair do barco e segura minha mão enquanto

andamos até a praça.

Eu imediatamente caio de amor pelos grandes arcos que

circundam a praça, que é incrivelmente esplêndida. Os

grandes bandos de pombos que se empoleiram nos telhados

estupendos voam baixo para interagir amistosamente com os

turistas que se agarravam a seus guias e câmeras. Eles

vibram em torno de nós e me fazem sorrir.

Nós paramos para tomar um café. O garçom traz

biscotti 4 de acompanhamento. Blake empurra os óculos

escuros acima da cabeça, estendendo suas longas pernas

para frente, e fecha os olhos quando vira o rosto para o sol.

Eu mergulho um biscotti em meu cappuccino. O biscotti

mergulhado me lembra das marcas da maré sobre as paredes

manchadas e quebradiças.

— A laguna está comendo a cidade viva. — eu digo.

Blake me olha.

— Considerando os prazeres da maré, é uma

consumação de boa vontade. Do mesmo jeito que eu rastejo

por você, desde a primeira noite em que te vi.

Por um momento, estamos ambos perdidos olhando um

para o outro. E eu simplesmente não posso deixá-lo ir. Eu

sussurro:

— Mas o que vai acontecer depois que os 42 dias

acabarem?

Uma estranha emoção cruza seus olhos. Dor? Aflição?

— Eu não quero mentir nunca mais para você. A

verdade é que não sei. Existem forças poderosas em jogo,

previsíveis apenas em sua capacidade impiedosa de acumular

e recriar o mundo à sua imagem. E eu faço parte desse

quadro.

Eu franzo a testa. Estes enigmas. O que ele quer dizer?

4 Biscoito italiano de nozes e uvas-passas

— Que forças?

— Forças que são estranhas, sem princípios e

extremamente perigosas. Quanto menos você souber, mais

segura você estará. Eu nunca poderei falar sobre eles. Eu

poderia te dizer de bom grado, mas eu corro o risco de te

perder. A única maneira de você me ajudar é manter a sua

promessa. Não importa o que você escute, veja ou o que

alguém diga, não se esqueça de sua promessa. — Então a

sua boca se estende em um sorriso brilhante. É aquele

sorriso que me tira o fôlego. — Você vai confiar em mim se eu

me assegurar que você será cuidada por toda a vida?

—Dinheiro! Eu não quero seu dinheiro. — Quero saber

aquilo que ele sabe. Eu quero tê-lo para sempre.

Eu o contemplo em queda, quando ele se inclina para

frente e cobre a minha mão com a sua. Sua mão irradia calor.

Passando a palma da mão para cima e entrelaçando os dedos

com os dele. Percebo que este é um momento de grande

importância. Eu olho para cima. Estou olhando para os olhos

de um homem que quase parece estar se afogando e eu sou a

boia que ele encontrou para se agarrar. Pela primeira vez eu

percebo que sob o frio de um exterior distante há muito,

muito mais na sua profundidade. Eu sorrio de repente.

— Tudo bem. — eu digo. — Vamos viver como se tudo o

que nos resta são esses 37 dias. Não vamos perder um

segundo deles.

— Essa é minha garota. — diz ele, levantando e puxando

a minha mão. — Vamos lá. — ele insiste. — Para conhecer

Veneza é preciso vagar por suas pontes estreitas e becos

desconcertantes a pé.

Nós deixamos as vielas sinuosas para almoçar em uma

velha ostraria que aparentemente parece ter sido construída

em torno do século XIX. Blake e eu pedimos macarrão na

tinta de lula como entrada, seguido de peixe-espada cozido e

polenta, que o garçom nos diz que são a especialidade da

casa. Pasta na tinta de lula é algo que eu nunca experimentei

antes, e gostei bastante, mas as porções são muito grandes e

eu deixo quase metade do meu prato principal para trás.

Blake faz uma careta.

— Seu apetite era melhor antes. Você perdeu muito

peso. Por quê?

Eu dou de ombros.

— Sinto muito. A comida é deliciosa, mas eu realmente

não consigo comer mais.

Ele olha para mim, coloca o garfo cuidadosamente na

posição de quatro horas em seu prato, à espera de uma

explicação.

Eu olho para as minhas mãos. Elas estão enroladas

apertado.

— Durante semanas, depois do que aconteceu com

mamãe, eu não pude comer nada. Toda vez que eu pensava

em comida eu via a mesa do café da manhã novamente. É

quase como se o meu estômago tivesse diminuído e só

consigo comer pequenas quantidades.

— Que mesa de café?

Eu abro as minhas mãos e flexiono os dedos. Eu não

contei para ninguém, nem mesmo para Billie, sobre o dia em

que eu abri a porta da frente e até mesmo as paredes

estavam gritando silenciosamente com a minha mãe. Eu olho

para cima.

— Eu tinha uma consulta com o médico naquele dia.

Minha mãe queria ir, mas eu disse a ela:

— Não, eu vou ficar bem. — Deus, eu desejo nunca ter

dito essas palavras. Se eu deixasse minha boca fechada e ela

me acompanhasse, poderia estar viva hoje.

Eu balancei a minha cabeça com pesar.

— Eu ainda posso ver seu rosto. 'Você tem certeza? ' Ela

perguntou. Mesmo assim, eu poderia ter dito: 'Tudo bem,

vamos lá. Você pode me fazer companhia. ' Mas eu não fiz. Ao

invés disso, eu disse:

‗Absolutamente. Fique em casa e descanse. Os hospitais

estão cheios de bactérias.‟

— Quando eu voltei, eu abri a porta da frente e liguei

para ela. Ela não atendeu, então fui para a cozinha, e eu

soube imediatamente que algo estava muito errado quando vi

a mesa da cozinha. Devia estar preparando o almoço, mas

estava cheio de sobras de nosso café da manhã. Tomates

cortados, pão pita, azeitonas, azeite. E.... moscas. — Eu cobri

minha boca. — Moscas zumbiam ao redor dos ovos fritos

gelados.

A imagem é surpreendentemente clara e faz com que eu

me sinta enjoada novamente e eu empurro o prato de comida

para longe de mim, respirando fundo. Não disse a ele que foi

naquele dia que o meu leite secou. Nem uma gota foi deixada

para Sorab. Uma mulher gentil, a duas portas de distância se

tornou sua ama de leite, até o dia em que deixei o Irã.

Olho para seus olhos e eles são suaves e repletos de dor.

Em seu mundo de fundos ilimitados quase tudo pode ser

melhorado com um pouco de aplicação e astúcia. Isto não

pode. Até mesmo ele é impotente diante da morte.

— Ela era uma pessoa tão incrivelmente pura. Eu sabia

que algo terrível aconteceu. Minha mãe saiu para ir à loja em

frente, para comprar um pouco de açúcar para o café e foi

atropelada ao atravessar a estrada que dava para a nossa

casa. Por muitas semanas eu acordava com sonhos com

moscas em minha comida. Talvez fosse o choque da rapidez

com que assumi a cozinha da minha mãe, depois de seus

esforços incansáveis de me manter longe.

Meu peito abre de supressa. Um pequeno soluço escapa.

Ah, não, com certeza eu não vou gritar novamente. Eu

engulo, enquanto as lágrimas correm pelo meu rosto. Eu

sinto os olhos do garçom em mim. Blake pega a minha mão.

— Sinto muito. — eu peço desculpas, apertando a sua

mão.

— Eu sei, isso vai passar e tudo isso também, mas

simplesmente não consigo superar sua perda.

Depois do almoço voltamos para o palazzo que pertence

à família de Blake. Congelado como uma filigrana de pedra

branca e construída em três andares que me faz lembrar um

bolo de casamento. No interior, é tão bonito como qualquer

palácio com mosaico brilhante, estátuas de mármore de seres

humanos, estátuas douradas de animais, afrescos

detalhados, tetos decorados, antiguidades de valor

inestimável, tapeçaria de ouro rico e tranças vermelhas, e

criados vestidos a rigor.

Gerry está sentado na varanda sob um guarda-chuva.

Sorab grita de prazer com a minha presença. A tarde é

passada na varanda com Sorab. Agradável. Raro. Eu nunca

vou esquecer.

Naquela noite eu vou para o piso superior. Um lugar

estranho. Degraus de mármore liso. Bem no meio de um

enorme espaço, há um lugar para uma antiga banheira com

uma torneira de ouro. Tiro meu roupão e entro na água

perfumada. Aqui, os servos têm os pés leves como fantasmas.

São discretos e quase invisíveis. Eu descanso minha cabeça

contra o mármore quente.

Bem acima da minha cabeça, aparecendo fora da

escuridão do espaço de uma abóbada está uma corrente de

ferro a partir da qual um candelabro de vidro de beleza

inigualável está suspenso. Sua torção de vidro se transforma

em copos de cristal delicados que seguram velas reais. Blake

me disse que ele foi feito para a Igreja de Santa Maria della

Pietà, mas um dos seus antepassados mais extravagantes

adquiriu para si mesmo. Ele queria olhar para a obra de arte

quando se banhava. Nas centenas de frutas de diamante e

lágrimas de cristal.

Olho para eles com admiração. Cada gota, por causa de

sua posição sobre o lustre e a sua distância de cada vela, foi

explodido uma forma um pouco diferente, a fim de transmitir

a mesma luminosidade de todos os ângulos, como elas

capturam as chamas bruxuleantes dentro de seus prismas.

Blake aparece na porta. Ele está enorme nas sombras

das velas. Silencioso, cheio de uma emoção selvagem que faz

meu rosto queimar.

— Eu já sonhei em ver você tomando banho sob este

lustre. — ele diz com voz rouca e se aproxima até estar sob a

luz, tirando o pano de minhas mãos e começando a lavar

minhas costas.

Eu sinto sua boca na parte de trás do meu pescoço, a

barba por fazer raspa minha pele. Arrepios sobem na minha

pele exposta. Involuntariamente arqueio a cabeça para trás,

expondo toda a minha garganta para ele. Ele beija meu

pescoço suavemente, delicadamente. Suas mãos grandes

pegam os meus seios. Imediatamente, o desejo por ele cresce

dentro de mim. Eu o quero, mas ele balança a cabeça

levemente.

— Não, não, tenho outros planos para você. — Ele se

levanta e traz a toalha. Eu me levanto, a espuma escorre pelo

meu corpo. Esperando que ele vá mudar de ideia. Seus olhos

escurecem, mas ele enrola a toalha em volta de mim com

cuidado e me vira em seus braços.

— Eu te amo. — eu digo.

Ele se acalma. Algo de uma beleza indescritível entra em

seus olhos.

— Eu sei. — ele diz suavemente. — É o que me faz

continuar. — Mas ele não diz que me ama de volta. Em vez

disso, ele me ajuda com o meu roupão.

— Fabíola está esperando lá fora para fazer o seu

cabelo.

— Ah.

Alguém de fora para fazer o meu cabelo. Eu olho para

ele com admiração, com a precisão de seus planos. Existe

alguma coisa que ele não pensou? Fabiola entra com uma

caixa de madeira rosewood. No interior dos seus

compartimentos ela mantém todos os seus apetrechos. Ela é

jovem, mantém seus olhos escuros para baixo a maior parte

do tempo quando está comigo, e não fala Inglês, mas ela é

nada menos do que um gênio do cabelo. Ela entrelaça botões

de rosa vermelho-sangue em meu cabelo. É o tipo de

penteado que você vê na noite do Oscar. Ia ser difícil pra mim

ter que desfazê-lo.

Quando ela sai, visto meu vestido preto. Apenas uma

contusão amarelada é visível através da rede nas minhas

costas. Aplico o batom escarlate em meus lábios. Coloco meu

sapato alto e no espelho uma mulher me olha, muito corada,

de olhos arregalados, e mais do que um pouco libertina, mas

ao mesmo tempo, bastante bonita. Ainda estou olhando para

meu reflexo quando Blake entra na sala. Minha respiração

trava. Ele está vestido com um smoking preto. Eu nunca o vi

parecer tão vital e bonito. Seu cabelo brilha. Com esse nariz

aristocrático... Parece que ele acabou de sair de uma pintura.

Ele está carregando dois pacotes nas mãos. Ele vem e

fica atrás de mim. No reflexo do espelho fazemos um par

deslumbrante. Eu não faço movimentos bruscos; não quero

estragar a surpresa dessa mulher no universo paralelo.

Talvez ela vá ficar com seu homem. Durante o dia todo, as

pessoas olharam para nós. Agora eu sei o porquê. Ele abre o

primeiro pacote e tira um colar. É incrivelmente simples. É

formado por anéis de rubis com uma peça central, preta e

ovalada.

— É um diamante negro. — diz ele.

— É lindo. — respiro, levantando os olhos para

encontrar os dele.

— Algo para você lembrar de Veneza. — Ele coloca o

colar em volta do meu pescoço. As pedras vermelhas cercam

minha garganta como fitas de fogo. Ele faz a volta e olha para

mim. Há um brilho de orgulho possessivo em seus olhos. E

eu me sinto possuída.

Em seguida, ele abre a caixa seguinte.

Inclino a minha cabeça para frente, curiosa.

— O que são? — Pergunto. Não consigo fazer com que

me mostre. Sobre uma base de material preto estão alguns

gadgets5 coloridos feitos de plástico ou silicone.

Sua resposta é sucinta.

— Abra as suas pernas.

A reação do meu corpo é imediata. Uma onda de

excitação sexual. Essas coisas se encaixam em meu corpo.

Eu obedeço. Ele se inclina, levantando o vestido longo,

inserindo um deles em mim, o ajustando até o final côncavo

que se encaixa perfeitamente em volta do meu clitóris e puxa

minha calcinha para cima sobre ele. É uma sensação

estranha e suave dentro de mim. Do bolso da calça ele tira

um pequeno aparelho. Ele não é maior do que uma chave de

carro de controle remoto. Ele aperta e a coisa dentro de mim

começa a vibrar.

— Ooooh... — eu ri.

Quando ele vira o dial às vibrações ficam mais violenta

até que eu grito

— Ei! 5 Dispositivo eletrônico portátil.

Ele vira a direita para baixo.

— Música veneziana em sua setlist6 original e o mais

recente vibrador. — Eu provoco, mas estou fascinada com a

ideia de colocar o controle total das minhas sensações em

suas mãos.

— É o toque perfeito. — diz ele em voz baixa.

— A música é a paixão. Vamos assistir a L'Incoranazione

di Poppea. A coroação de Poppea é uma ópera veneziana de

sensualidade insuportável, e os frissons que você vai

experimentar no exterior serão refletidos dentro do seu corpo.

6 É um documento que lista a ordem das canções que uma banda musical, cantor solo

ou qualquer artista musical pretende tocar durante um concerto musical específico.

Dezessete

O sol está sangrando sob a laguna enquanto descemos a

escada e subimos para a gôndola. É um começo de noite fria

e o seu braço vem ao meu redor. Eu me deleito com seu

toque. Sei que Cronos está esperando por mim na Inglaterra,

mas esta é a minha noite, minha aventura. Ele não é

permitido aqui, nesta cidade que está inundando.

O teatro é muito velho e cheio de encanto decadente.

Não tem turistas presentes. Os outros clientes que

apareceram são na sua maioria idosos e vestidos com roupas

finas. Eles têm uma espécie de dignidade antiga que me faz

lembrar de uma época passada. Todo mundo parecia

conhecer todo mundo e um ou dois deles ainda acenam

seriamente para Blake. É quase como se fosse uma exibição

privada. Tomamos o nosso lugar em uma das cabines.

— Este teatro proporciona uma acústica divinamente

superior em comparação com alguns dos mais glamorosos. —

Blake explica, antes da cortina subir e o vibrador começa a

sua pulsação quase constante. No início, me contorço sem

jeito, julgando como uma distração indesejada que vai reduzir

o meu prazer da experiência de estar em uma ópera, mas

então começo a reparar no seu ritmo.

Ele sobe com a música.

A ópera é cantada em italiano, mas tenho Blake

sussurrando ao meu ouvido cada cena e até mesmo

apontando o significado de algumas árias. A coroação de

Poppea traça o percurso da atmosfera opulenta de sua

jornada, da amante do imperador romano Nero, que em

busca de seu desejo de ser a imperatriz de Roma abandonou

o amor pelo poder. Como Blake advertiu, a história é erótica e

decadente. Combinado com o vibrador entre as minhas

pernas a experiência é indescritível e apenas não me deixa

incrivelmente excitada, mas também emocionalmente

esgotada e além disso talvez confusa.

Durante o dueto de amor arrebatador quando Nero

mantém Poppea em seus braços enquanto ela acaricia sua

coroa de joias, o vibrador se tornou pleno, me viro para olhar

para Blake perguntando por que ele me trouxe para ver uma

ópera, onde os virtuosos são punidos ou condenados à morte

e o ganancioso e sem escrúpulos é recompensado. É uma

dica nada sutil para mim? Eu sou a mulher gananciosa do

seu mundo?

Como se ele lesse a minha mente, ele diz.

— A música gloriosa vai além das fragilidades humanas.

É verdade que me sinto animada e tonta. A experiência

foi profunda. Preciso ir ao banheiro e ver como minha

aparência está. Sinto-me como se tivesse sido alterada esta

noite. Toco o seu pulso levemente.

— Indo para o banheiro. Encontre-me no final da

escada.

Ele balança a cabeça. Entre as minhas pernas o

vibrador está pulsando. Eu não sei se ele pode ver o desejo

nos meus olhos. Não quero ir para o jantar. Eu só quero ir

para casa e tê-lo dentro de mim.

No reflexo do espelho não me reconheço. Meus olhos

estão estranhos. Estou mudando diante dos meus olhos. Eu

toco ligeiramente a protuberância do corpo no meu clitóris e

penso em tirá-lo, mas no meu coração esse privilégio só

pertence a Blake. Foi ele que colocou lá e é ele que tem o

direito de tirá-lo quando convier.

Descendo a escada curva de mármore que dava para os

banheiros, encontro-o conversando com um dos guias. Uma

garota de cabelos negros. De costa para mim, ele está falando

com ela em italiano. Eu vejo o seu rosto animado e uma

estranha garra do medo desconhecido agarra meu estômago.

Imediatamente, agarro o ferro forjado do corrimão, de repente

insegura, meu coração bate dolorosamente contra as minhas

costelas. Tudo o que ele disse a fez rir timidamente, e vejo

seus grandes olhos escuros acenderem com interesse

ardente.

Coloco a palma da mão na minha barriga quase sem

acreditar. Estou com ciúmes. Estou e sem razão,

incontrolavelmente ciumenta por um homem que não posso

reclamar publicamente. Mas o pensamento dele com mais

alguém faz-me sentir mal do estômago.

Será que vai ser sempre assim de agora em diante?

Os encontros mais inocentes e ansiosos, de tempos em

tempos, remoendo internamente, enquanto brincava de cego,

surdo e mudo para o exterior? Então ele se vira, seus olhos

buscam por mim, e eu dou um passo à frente, um suspiro

escapa dos meus lábios, aliviada por estar de volta na

maravilhosa luz do seu olhar. E está tudo bem de novo; o

medo se vai, se afastando momentaneamente.

— Eu não sabia que você falava italiano.

Ele sorri.

— Não, mas eu estudei latim na escola, por isso não é

difícil descobrir como pedir indicações.

Com a água escura lambendo os degraus da Palazzo, eu

sussurro.

— Blake podemos ir lá para cima... primeiro, antes de

comer?

Ele balança a cabeça com um sorriso.

— Ainda não, principessa7. — Ele põe a mão no bolso e

a pequena máquina vibra em vida. Mas agora a taça de

sucção está me lambendo quase como uma língua.

— Oh, Blake. — Suspiro. — Não posso aguentar mais.

— Sim, você pode. — diz ele.

7 Princesa em italiano

Engulo seco. Como posso pensar em comida enquanto

minha boceta está latejando por uma língua de silicone que

está lambendo o meu clitóris? O único pensamento em minha

mente é a liberação. Eu já estou muito perto do clímax.

— E se eu tiver um orgasmo na mesa de jantar?

— Você não vai. Vou parar enquanto você come.

Fiquei de boca aberta para ele.

— Eu já te disse senhorita Bloom, você é um espetáculo

para ser visto. — diz ele descaradamente, e me puxa para

começar a andar.

Ele passa pelas portas duplas do salão e eu dou uma

olhada para ver como Sorab está. Felizmente o vibrador para

quando estou subindo a escada. Sorab está dormindo. A

porta de Gerry está entreaberta e a luz está na penumbra. Eu

bato suavemente.

— Entre. — diz ela.

Eu entro. Ela está na cama lendo. Seu rosto está em um

típico sorriso acolhedor.

— Como ele foi?

— Tão bom como o ouro.

— Ficarei com ele amanhã de manhã assim você terá

um tempo livre. Para visitar alguns pontos turísticos da

cidade.

— Não há necessidade para isso, amor. Estive aqui há

vinte anos. E fico com o coração partido.

E me ocorre que é impossível saber as nuances da

história de alguém apenas olhando para elas ou conhecê-las

por alguns dias. Minha mãe costumava dizer:

— Você pode comer caviar com alguém por cinco anos e

nunca conhecê-lo.

Acho Blake na maravilhosa sala de jantar pintada de

vermelho cavernoso. Ele está em pé ao lado da lareira,

olhando para um retrato enorme de um homem arrogante em

roupas finas. Ele se vira para me abordar. A semelhança

entre ele e o homem do retrato é impressionante. É

imediatamente evidente que é um antepassado seu. É ali no

arco aristocrático de sua bochecha ou no conjunto de seu

rosto. Da mesma forma que encontrei Victoria em sua mãe.

Essas famílias que não misturavam seu sangue facilmente e

a sua pegada genética estão claramente em seus rostos e no

seu comportamento.

O zumbido entre as minhas pernas começa quando eu

ando em direção a ele.

— Sua família sempre possuiu esta casa?

Ele franze a testa. As discussões sobre a sua família

sempre o levava a se distanciar.

— Sim, nós somos descendentes dos Black venezianos.

Nós nos ramificamos na Alemanha, antes de cruzar o

Atlântico.

— É muito bonito. Você vem sempre aqui?

— Eu não venho para esta casa há anos. — ele

responde, e liga a função lamber.

Eu me contorço.

— Vamos comer?

O jantar é servido por um homem, que na maioria das

vezes é de um silêncio melancólico, com uma jaqueta branca

cujo nome era Enzo. Acho que é quase impossível comer. Fiel

à sua palavra Blake desligou o dispositivo, mas estou tão

excitada que mal posso esperar para acabar a refeição.

Quando Blake afasta a sua xícara de café eu pulo.

— Qual é a pressa? Você só estaria trocando a língua de

silicone por mim.

Solto um som estrangulado e viro suplicante para ele.

— Por favor, podemos ir agora?

— Não, eu quero ver você completamente perdida hoje à

noite. — diz ele, levantando a garrafa de champanhe e

enchendo nossos copos.

— Eu vou fazer você gozar com mais força do que você já

fez antes. — ele promete, aumentando o ritmo enquanto o

dispositivo me lambe e vibra na minha calcinha.

Sento e levo a taça aos lábios. É uma bela obra de arte,

soprada à mão. A haste longa e fina sobe em uma figura

decorativa do Leão de São Marcos antes de encontrar a flauta

delicada.

— Mmnnn. — Ele pega meu pulso com as mãos e passa

o dedo levemente ao longo do interior, até a dobra do meu

cotovelo. A sensação está insuportavelmente sensual. O

desejo de ficar em cima dele na vasta sala vermelha é

inegável.

— Eu nunca conheci uma mulher com a pele como a

sua. — ele ronrona. Ele me olha nos olhos. — Você tem

alguma ideia de quão desejável está agora?

Aperto minhas coxas e balanço a cabeça.

Subimos a escadaria curva para o nosso quarto. O luar

está inundando através das janelas altas. Há longos

retângulos de luz no chão.

Ele se vira para mim e gentilmente tira meu vestido.

Joga atrás dele e cai em uma cadeira brocada verde e

dourada. Ele desce até meu quadril, se inclina para a frente e

beija o volume fortemente ligado a minha boceta. O gesto é

tão inesperadamente carregado com possibilidades eróticas

que meu corpo grita por ele. Ele tira minha calcinha.

— Abras suas pernas. — Obedeço imediatamente. Ele

remove o aparelho e eu realmente sinto meu corpo ceder em

alívio. Ele permite que seus dedos passeiem na abertura

pegajosa.

— Você está tão, tão molhada... — diz ele.

Concordo com a cabeça impotente. Minhas mãos estão

na forma de um punho frustrado, esperando por ele.

— O que você quer, Principessa?

— Você.

Ele balança suavemente a cabeça. Os olhos me

encarando são quase pretos.

— Preciso de mais detalhes do que você quer.

— Eu preciso de você dentro de mim. — murmuro.

Mais uma vez a cabeça se move de forma negativa.

— Detalhes, Lana. Detalhes.

E assim ele me convence a descrever em detalhes

exatamente o que quero, para usar as palavras que teriam em

qualquer outro momento feito com que corasse furiosamente.

— Isso, o seu pau grosso, grande e grosso,

profundamente em minha boceta, me fodendo com força ...

Ele me amordaça.

— As paredes são finas e podem até ter ouvidos. — ele

sussurra. Ele destoa na minha cabeça, mas só um pouco, eu

estou longe demais para procurar implicações escondidas.

Suas mãos grandes agarram meu quadril e me

pressionam contra seu pau.

Ao invés de me mover para cima e para baixo em seu

comprimento duro, ele me puxa para frente e para trás, me

fazendo montá-lo, como um touro. Estou me esfregando nele.

Meu corpo é empurrado para a frente como um daqueles

ciclistas na corrida do Tour the France, de modo que sua

boca tem fácil acesso aos meus seios.

Ele agarra duro as minhas coxas suadas escorregando e

deslizando contra o seu quadril, o pau grosso dentro de mim

agindo sem freios. É muito intenso para durar. Em segundos

eu me perco. Gritando como uma alma penada, gozando

rápido e com força. Dou graças a Deus pela mordaça. Eu

teria me perdido. Completamente. Até os meus dentes, dedos

das mãos e pés estão vibrando.

Descanso meus lábios na sua testa úmida. Satisfeita.

Ele ainda está duro como uma rocha dentro de mim. Meus

mamilos ainda estão presos entre seus polegares e

indicadores. Eles latejam dolorosamente, primorosamente.

Agora é a sua vez. E então ele vai ser meu novamente. Vai

chegar o dia em que tudo que eu vou ter serão as memórias

do que fizemos juntos.

Estou acordada nas primeiras horas da manhã. Deve

ser o desconhecimento do que me rodeia. São duas horas e

parece que todos em Veneza estão dormindo. Saio da cama e

ando descalça pelo chão polido de madeira escura, em

direção às janelas com vista para os canais interligados e vias

de paralelepípedos. Tremendo um pouco, porque estou com

frio do amanhecer e ouvindo os sons das águas turvas que

banham as pedras antigas, cobertas de musgo. O cheiro

sulfúrico como o de ovos podres sobe lentamente dos canais e

me atinge. Não que isso me incomode. Para mim, estar com

Blake nesta cidade, com toda a sua glória, desmoronando

pela bela pedra, parece um sonho.

E então um pensamento surge. Quem é ou onde está

esse tal de Cronos?

Eu ouvi um barulho e virei a cabeça para ver Blake,

levantando sobre os cotovelos e me observando. À luz

prateada do luar, ele é Atlas ou Marte ou Apolo. Um deus. Ele

sai da cama nu, e com a graça ágil de um belo animal, anda

até mim. Ele se inclina e me beija. Eu me deleito com o calor

que emana do seu corpo. Mas meus pensamentos me beijam

em um toque muito desesperado.

Ele levanta a cabeça e olha para mim. À luz da lua em

seus olhos são poços escuros de curiosidade.

— Qual é o problema? — pergunta ele, agachando ao

meu lado.

— Nada. — minto. Acho que estou muito agitada para

dormir.

Ele suspira e insiste.

— O que há de errado, Lana?

— O que você disse para a guia do teatro?

Ele se senta sobre os calcanhares.

— A guia?

— Você sabe, quando fui ao banheiro.

— Ah... Eu estava perguntando se havia uma soverteria

nas proximidades. Por quê?

Olho para baixo, incapaz de encontrar seus olhos,

incapaz de ajudar a tristeza que se arrasta em minha voz.

— Eu só queria saber se você... se você a achava

atraente.

— O quê?

Eu olho para ele.

Ele leva meus dedos frios em suas grandes mãos

quentes.

— Quer que eu te conte um segredo?

Concordo com a cabeça. Essa será a primeira vez.

— Desde o primeiro momento que te vi, eu te quis. Não

da maneira compartimentada que eu queria as outras, pelo

comprimento da perna, a saliência de um bumbum ou o

tesão do material causado por um seio bem formado. Quando

eu te vi, quis você para mim. Eu teria pago qualquer preço

naquela noite para comprá-la.

—Oh, Blake — Suspiro. Quero que ele diga que me ama,

mesmo que seja apenas um pouco, mas não vou pressionar

mais, eu poderia ouvir alguma coisa que não quero. É sempre

mais inteligente parar enquanto se está ganhando.

— Quer que eu te mostre o quanto te quero? — ele

pergunta baixinho.

Concordo com a cabeça e ele se levanta. Estendo meus

braços para ele como se eu fosse uma criança, e ele me pega,

me levando para a cama. Suspiro profundamente do prazer

de estar sob ele. Por um tempo, há apenas o farfalhar suave

de linho branco e um suspiro ocasional. Em seguida, um

ritmo rápido feroz. Até que um tremor como uma explosão de

prata treme por mim, e eu estou a volta entre estrelas

cintilantes. Aqui eu posso me esconder do Cronos. Seguro as

suas nádegas com uma firmeza emocionante, quando ele

encontra a sua liberação e derrama sua semente dentro do

meu corpo.

Sonhadora, me aconchego mais em seu corpo e logo

estou dormindo profundamente, como todos os outros dessa

cidade fedorenta e afundada.

Dezoito

Depois de uma rápida viagem voltamos pelo mesmo

caminho. De avião particular: sem filas, sem checagem de

passaporte ou à espera na fila da bagagem. Blake não foi no

mesmo carro com a gente. Ele tinha uma reunião de negócios

inadiável. Ele tenta me convencer a deixar a babá voltar para

o apartamento comigo, mas eu me recuso. E ela é colocada

em um táxi.

Prendo Sorab no meu colo e olho para fora da janela.

Não consigo deixar de me sentir um pouco deprimida.

Enquanto estava fora temporariamente coloquei de lado as

coisas que a mãe de Victoria disse, mas agora elas voltaram

com toda força. Seus sussurros são altos no apartamento

silencioso. Eu me sinto muito sozinha e assustada.

Quando Jack me liga, imediatamente o convido para me

fazer uma visita.

— Você acabou de voltar de férias. Você deve ter

milhares de coisas para fazer. Não vou incomodá-la. Irei

amanhã. — diz ele.

— Não, não mesmo. Não, por favor, venha hoje, agora,

se puder. Adoraria vê-lo novamente.

— Está tudo bem, Lana?

Eu rio.

— Claro. Eu só quero ver o padrinho do meu filho

novamente. Há algo de errado nisso?

Ele ri. O som é familiar.

— Não, mas você vai me contar se houver, não é?

— Sim, sim, sim. Agora, quanto tempo vai demorar para

chegar aqui?

— Meia hora.

— Vejo você daqui a pouco. — Termino a chamada

sentindo alívio.

— O Sr. Jack Irish está na recepção para vê-la, Srta.

Lana! — O Sr. Nair chama 30 minutos mais tarde.

— Ótimo. Deixe-o subir. — digo, e abro a porta da frente

para esperar sua saída do elevador e em instantes Jack

aparece. Ele não parece confortável. Posso ver que ele está

intimidado com o ambiente ao seu redor.

— Ora, ora, Jack. — eu digo — Camisa nova? Acho que

nunca te vi usando vermelho.

Ele fica entusiasmado.

— Alison que escolheu. — ele murmura, dando passos

para fora do elevador.

— Hey, isso é bom. Sério. Muito requintado, na verdade.

— E você está um pouco cuidadosa com os seus elogios

hoje.

— Estou. — concordo indo para seus braços. É tão

familiar. Tão bom. Amo Jack. Eu realmente amo. Ele é como

os primeiros raios de sol após uma chuva torrencial e

particularmente pesada. Um convite simplesmente delicioso

para sair e brincar. Eu dou um passo para longe.

— Venha e conheça o lugar.

Abro a porta e viro.

— Wow! — diz Jack. — Este lugar deve ter custado

bastante.

— Sim, espere até ver a vista. — Eu o puxo pela mão em

direção à varanda.

— Surpreendente, não é?

— Vistas como estas certamente deve induzir ataques de

megalomania. — diz ele em voz baixa. Ficamos em silêncio

por um minuto, e então ele se vira para mim.

— Onde está o pirralho?

— Dormindo.

— De novo?

Eu sorrio. É tão fácil com Jack.

— Quer um café de verdade?

— Que tipo de pergunta é essa?

— Vamos lá.

Eu coloquei uma música e nós nos sentamos no sofá

com os nossos cappuccinos.

— É só um pensamento aleatório que veio na minha

cabeça mas, o que você sabe sobre Cronos?

— Essa é uma pergunta estranha.

Tomo um gole do líquido quente.

— Eu ouvi sobre isso no outro dia e percebi que não sei

nada sobre ele.

— Meu conhecimento sobre a mitologia grega é muito

instável, mas acredito que ele foi um deus que comia seus

próprios filhos. Ele também é um dos outros nomes para

Saturno ou Senhor do Tempo.

— Um deus que come seus próprios filhos?

— Sim, era para garantir uma profecia que dizia que seu

próprio filho iria derrubá-lo. Algo assim, de qualquer

maneira.

Concordo com a cabeça tristemente. Não gosto nada de

como isso soa. Depois que Jack for embora pretendo fazer

minha própria pesquisa.

— Você é feliz, Lana?

— Não. — eu disse antes que pudesse me conter.

Sua xícara de café congela a caminho de seus lábios.

Cubro minha boca com a ponta dos meus dedos. Não

consigo contar sobre Cronos, então começo a falar:

—Não, espere. Isso saiu errado. Eu não estou

ativamente infeliz. — Fecho minhas mãos embaixo do meu

queixo. — Mas você sabe como me sinto sobre ele. É uma

espécie de tortura ser tão apaixonada por alguém que não te

ama. Sou a vespa morta, flutuando em sua taça de

champanhe. Eu arruíno a sua vida perfeita. Seus planos

perfeitos. E isso também é verdade. Blake não é feliz. Há algo

que está rasgando suas entranhas, mas ele não vai me dizer

o que é.

Jack coloca a xícara de café sobre a mesa baixa.

— Você, pobre patinha. — Ele diz com tanta compaixão,

que estou de repente inundada com auto piedade mórbida.

Eu pisco as lágrimas. Jack estende a mão para mim.

— Não a toque.

A violência nas palavras me assusta. Viro minha cabeça

e encontro Blake em pé, na porta da sala de estar. Nós não o

ouvimos entrar. Deve ter sido os tapetes grossos e a música.

Seu rosto é uma nuvem de tempestade. Salto para cima

com culpa, com meu rosto em chamas. E então percebo que

não fiz nada de errado. Não fizemos nada de errado. Minha

inocência faz minha voz forte.

— Nós estávamos conversando, Blake. Jack é meu

irmão.

Blake não olha para mim.

— Ele não é seu irmão. Ele está apaixonado por você.

—Oh! Pelo amor de Deus. — Explodo com raiva, e viro

para Jack, irritada e em busca por apoio contra essa visão

distorcida do nosso relacionamento, e então eu congelo.

Jack está olhando para mim com tanta dor em seus

olhos de artista torturados. Isso por que Blake está certo.

Meu Jack está apaixonado por mim. Profundamente.

Desesperadamente. Talvez por anos. Parece impossível. Eu

fui tão cega, tão estúpida. Ambas as nossas mães sabiam.

— Jack? — sussurro. Eu quero que ele negue e que faça

tudo ser como era antes – simples e bonito - mas ele

pressiona seus lábios em uma linha fina e começa a andar

em direção à porta. Congelada no lugar eu o sigo com os

olhos, quando ele passa por Blake seus ombros quase se

encostam, mas não completamente. Ele já está no corredor

quando sinto novamente minhas pernas e começo a correr

atrás dele. Blake me pega pelo braço.

— Deixe-me passar. — Eu rosno.

Ele olha para mim implacável, com os olhos brilhando.

— Eu não compartilho. — ele fala grosso.

— Por favor... Ele precisa de mim agora.

— Sua compaixão é a última coisa da qual ele precisa.

— Eu não estava oferecendo piedade. Estava oferecendo

amizade.

— Ele não quer sua amizade também. Ele quer você em

seus braços, em sua cama. Você pode dar para ele o que ele

quer, Lana?

Ficamos ali olhando um para o outro, com o ar

eletrizado. Em seguida, ele libera meu braço e se afasta de

mim. Eu abaixo a cabeça. Como se estivesse lá esmagada

pela minha perda, ele coloca os braços em volta de mim e me

chama para o seu corpo.

— Sinto muito, baby.

Coloco minha bochecha contra seu peito duro. Com os

olhos secos. Quando a perda é grande demais, as lágrimas

não vêm. Eu sei, percebi no momento em que perdi a minha

mãe. Lágrimas vêm quando você libera essa pessoa e eu me

recuso a perder Jack. Ele vai se apaixonar por outra pessoa.

Ele vai esquecer esse amor que tem por mim e então seremos

irmão e irmã. Sinto os lábios de Blake em meu cabelo.

E eu começo a chorar. Não pela perda de Jack, porque

nunca perderei Jack, mas pela perda de Blake, porque eu sei

que no fundo do meu coração, não conseguirei ficar com ele.

Devido a Cronos, porque tudo o que eu realmente amo está

sempre sendo tirado de mim. Blake não entende o porquê de

eu estar sempre chorando ou agarrando ou sendo insaciável.

Estou bebendo o resto do vinho de verão. Naquela noite, me

permiti ficar bêbada como um gambá.

Dezenove

Quando vou visitar Billie ela tem uma surpresa para

Sorab. Um cavalo de balanço bonito do Mamas & Papas.

— Oh meu Deus! — Exclamo.

— Você não precisava. Isso deve ter custado uma

fortuna. — vou até ele, tocando o material marrom suave da

boca do cavalo.

— Não, eu o roubei.

Eu me viro para encará-la. Tentando imaginá-la saindo

de uma loja com um grande item em seus braços.

— Por que, Billie?

Ela encolhe os ombros.

— Não é um grande negócio. Essas grandes corporações

dão subsídios para os furtos. É parte de seus custos

operacionais.

— Quando tivermos o nosso negócio vamos dar

subsídios para furtos também?

— Claro que não.

Levanto as sobrancelhas e cruzo os braços sobre o peito.

— Tudo bem. — diz ela. — Mas não vou devolvê-lo.

Eu ri. Billie é incorrigível. Às vezes, queria ser como ela.

A vida é uma aventura tão abundante. Ela leva tudo com as

duas mãos.

— Escute, Billie, sei por que fez isso, mas você não tem

que competir com Blake. Você é a tia de Sorab. Você sempre

vai estar lá. — e as palavras são como estacas na minha

garganta, mas eu o cuspo. — Blake não vai.

— Sinto muito, Lana.

— Você não tem que pedir desculpas para mim.

— Sinto muito por você não poder ter Blake.

— É.... É um saco.

— Tenho uma garrafa de vodca. — ela sugere,

brilhantemente.

Eu sorrio.

— Não, mas no entanto, vou tomar uma xícara de chá.

Estamos sentadas à mesa da cozinha com o nosso chá,

quando a campainha toca.

— Esperando alguém?

— Sim, Jack disse que poderia passa por aqui.

— Oh!

Ela vai abrir a porta.

— Hei, você.

— Ei, você também. — Jack diz ao entrar.

— Olá, Jack. — Saúdo suavemente.

— Olá, Lana. — Ele fica surpreso ao me ver. Seus olhos

parecem tristes. Tão tristes. Não acho que já o vi desse jeito.

Agora que o seu segredo foi desvendado ele parece sem

propósito, vazio e derrotado. Parece um homem que teve

todos os seus sonhos e esperanças quebrados, e está

simplesmente parado lá, olhando para os cacos em

descrença.

Eu segui em frente e ele olha para mim com uma

expressão torturada.

— Vou deixar vocês dois sozinhos. — Billie diz e

caminha rapidamente para o quarto dela.

— Temos que conversar. — eu digo.

— Não há nada a dizer. — ele responde. No entanto,

seus olhos estão ardendo em seu rosto. Não é algo que ele

quer dizer. Isso é difícil.

— Fala comigo.

— Estou indo para a África em breve. Eu me ofereci.

Vou trabalhar para uma instituição médica de caridade.

Suspiro. Já existem lágrimas se formando no fundo dos

meus olhos.

— Onde na África?

— Sudão.

— Por quanto tempo?

Ele encolhe os ombros. Um meio sorriso. O velho Jack

ressurgindo.

— Até que eu me sinta melhor, acho.

Concordo com a cabeça. Não vou chorar. Eu vou ser

forte por ele. Tornar mais fácil para ele. Vou desejar o melhor.

— Antes de ir embora, você me... beijaria, Lana?

Minha boca fica aberta. Fico olhando para ele. O

primeiro pensamento: Eu amo Jack. Não consigo recusar-lhe

uma coisa tão pequena. Pensando bem: minha boca pertence

a Blake. Escuto Blake dizendo: “Eu não compartilho...”

— Deixa pra lá, esqueça que eu disse isso. — Ele diz e

dá meia volta, indo para a porta. Por alguns segundos eu

estou congelada e então corro para fora da porta, chamando

por ele. Ele se vira no corredor e me olha.

— Sim. — eu sussurro.

Devo isso a ele. Este é o meu Jack. Ele daria a sua vida

por mim. Eu o amo. Eu o amei por toda minha vida. Um beijo

de despedida. Que mal pode fazer? O beijo já está condenado.

Ele caminha na minha direção, de ombros largos,

confiante e seguro. É o velho Jack, em cada detalhe. Ele para

na minha frente. Encaro seus olhos azuis brilhantes,

totalmente diferente de Blake ou de mim. ―Clássicos olhos

azuis‖, era assim que minha mãe costumava chamá-lo. Ele

poderia ter qualquer menina. Todas as meninas na escola

costumavam chamá-lo de Sr. Conquistador, só que ele esteve

apaixonado por mim o tempo todo.

Ele pega meu rosto entre as mãos. Não há fogo em seus

olhos. Não há luxúria. Há apenas a luz do amor, um amor

que trava a respiração na minha garganta. Ele derrama pelos

seus olhos, me afogando, me deixando sem palavras e de

boca aberta. Ele tem cheiro de sabonete e loção pós-barba

barata. Mas limpa. E boa. E saudável.

Suavemente, muito suavemente, seus lábios descem aos

meus.

E quando eles chegam, tremo na surpresa do que Jack

representa. Toda a minha vida ele tem constantemente me

surpreendido, pelas suas profundezas insondáveis. Ele é

realmente incompreensível.

Seu beijo começa suavemente e sem qualquer

esperança, mas há tanta habilidade e tanta técnica, que em

um nível puramente físico meu corpo começa a reagir a ele.

Onde você aprendeu a beijar assim? Minha mente pergunta

distraidamente. E de repente, eu não estou de pé em um

corredor de concreto em um bloco de apartamentos do

município, beijando meu irmão. Estou fazendo amor com um

homem bonito e surpreendente, que está apaixonado por

mim, e pelo qual eu poderia ter me apaixonado, se ele tivesse

me beijado assim, há um ano e meio atrás.

Merda, o que estou fazendo?

Coloco as minhas mãos em seu peito para afastá-lo.

Imediatamente ele se move para trás.

— Por que você não me contou? — Sussurro.

— Eu não achei que você estivesse pronta. — diz ele

amargamente, e começa a se afastar.

— Jack.

Ele se vira ligeiramente.

— Por favor, se cuide.

Ele não responde. Simplesmente vai embora. Eu o

observo até que ele desaparece no corredor. Então eu

gentilmente fecho a porta da frente de Billie e começo a

andar. Sorab estará seguro com ela por algumas horas. Eu

não tenho um destino. Simplesmente caminho na direção de

St. John‘s Wood. Sinto-me destroçada. Realmente nunca

suspeitei. Agora, ele está indo para um país perigoso e

devastado pela guerra e pode nunca mais voltar. Não sei

quanto tempo ando, mas, de repente, estou muito perto do

apartamento e tediosamente cansada. Não posso encarar a

caminhada de volta para pegar meu filho. Sei que o meu

celular e minha bolsa estão no carrinho do bebê.

Acho um orelhão e faço uma chamada a cobrar para

Billie e ela concorda em ficar com Sorab por mais uma hora.

Eu vou voltar para o apartamento. Descansar por meia hora

e, em seguida, voltar para buscar Sorab. Aceno para o Sr.

Nair e vou para o elevador e me encosto contra a parede. Eu

costumava ser capaz de caminhar por quilômetros e nunca

me sentir tão cansada. Billie está certa. Sou apenas uma

sombra do que costumava ser.

Abro a porta da frente do apartamento e Blake está em

pé no corredor. Paro e fico olhando para ele. Por que ele está

em casa? Há uma expressão no rosto dele que nunca vi

antes.

Num piscar de olhos, ele atravessa a sala e fecha a

porta. Ele inclina a cabeça para me beijar e eu recuo, como se

fosse queimada. Seus olhos brilham no meu. Então, as coisas

acontecem tão rápido que elas são um borrão em minha

mente cansada. Ele me agarra pelos braços e no momento

seguinte sou levantada do chão e estou atordoada e de costas

para ele, agachado sobre mim como um predador, com um

olhar tão feroz que não o reconheço. Ele puxa a minha saia

para cima e rasga minha calcinha. Em seguida, ele pega as

minhas pernas pelos joelhos abrindo-as amplamente. Ele

empurra o rosto entre as minhas pernas, e para meu horror,

me cheira. Como um animal.

Estou tão chocada e humilhada, que congelo.

Quando ele levanta a cabeça e olha para mim, estou

olhando-o, sem palavras, horrorizada. A expressão selvagem e

agressiva em seu rosto desapareceu tão rapidamente quanto

chegou. Olho para ele, quase sem acreditar. Acabo de vê-lo

perder o controle. Encontro a minha força e luto para me

levantar, coloco meus pés no tapete e o empurro com força e

para longe de mim. Ele agarra o meu pé. Eu o chuto para

longe com o outro. Ele pega esse também e me puxa para ele.

Eu arrasto, impotente ao longo do tapete, como uma boneca

de pano em sua direção.

— Não. — ele rosna. — Senti um cheiro de homem em

você.

Estou no chão. Seu rosto está muito perto do meu. Eu

fecho meus olhos.

— Beijei Jack.

— Por quê?

— Porque ele está indo embora, está indo para um país

devastado pela guerra. Porque posso nunca mais vê-lo

novamente. Porque ele me pediu. Porque nunca me pediu

nada antes. — soluço. As lágrimas estão correndo pelo meu

rosto, até meu cabelo. Sinto-me chocada e ferida. Estou

amando um homem que me atirou no chão e cheirou minhas

partes intimas para sentir o cheiro de outro homem. Cheiro

de outro homem que me levou para fora dos instintos

territoriais e de proteção dormentes desse banqueiro. Os

instintos são destrutivos e ferozes.

Ele me apanha em seus braços.

— Shhh... Eu sinto muito, sinto muito. Eu não queria te

assustar. — ele fala.

Mas eu não consigo parar de chorar.

— Por favor, não chore. Você não fez nada de errado.

Simplesmente não posso suportar o pensamento de você com

qualquer outra pessoa. Eu não quero que fique nem na

mesma sala com outros homens. — ele confessa.

— O que está acontecendo conosco, Blake? — Sussurro.

— Nada está acontecendo conosco. Só perdi a cabeça

por um momento. Eu acho. Foi instinto puro.

— O que vai acontecer quando os 42 dias acabarem,

Blake?

Ele parece triste.

— Não sei, mas você vai ter que confiar que tudo o que

eu faço é pensando no seu melhor interesse.

— E o que é do meu interesse, Blake?

Ele suspira pesadamente.

— Em 31 dias você vai saber.

Suavemente, ele começa a beijar minhas pálpebras,

bochechas. Termina em minha boca. Ele beija com força,

força meus lábios abertos e deixa sua língua fazer uma

varredura na minha boca. Possessivo, apostando

reivindicação sobre o que é seu, apagando a marca, até a

memória da boca de outro homem. Suas mãos estão

desabotoando minha blusa, cobrindo meus seios. Sou

elevada e o fecho do sutiã se abre. A blusa está sendo puxada

para fora da minha saia. Ela cai facilmente dos meus ombros.

A saia a segue.

Transamos no chão, ao lado da porta da frente. O

choque e a emoção reprimida fazem o clímax ser mais

explosivo, e depois, sinto-me tão exausta que desejo poder

dormir onde estou. Ele me pega e me leva para a cama.

— Tenho que ir buscar Sorab com Billie. — eu sussurro.

— Tom já está a caminho. Durma.

Durmo por muitas horas. Quando acordo já são 19h. Eu

vejo a luz debaixo da porta que liga o nosso quarto com o de

Sorab. Coloco um roupão e me escoro na porta. Eu a abro e

fico desorientada por um momento. Amarras de aço em volta

do meu coração. Blake está segurando Sorab nos braços e

balançando. Neguei um pai a Sorab. Neguei a Blake seu filho.

Nunca pensei que veria Blake tão domesticado. Ele olha pra

mim e sorri.

— Ah, você está acordada?

Eu sorrio.

— Você dormiu bem?

— Sim, obrigada. — digo, mas não dormi. Esses dias

estou acordando cansada, cansada demais. Espero não estar

adoecendo.

— Aqui, dê ele para mim. Ele provavelmente precisa ser

trocado agora.

— Não precisa, eu cuidei de tudo.

— Você trocou a fralda dele?

— Não é exatamente uma ciência especial.

Eu vou para Sorab e coloco um dedo na fralda em torno

de sua barriga. A fralda está perfeitamente confortável. Ele

fez um bom trabalho.

— Quando você aprendeu a colocar uma fralda em um

bebê?

— Observei você.

— Hmnnn... Acho que é melhor eu preparar uma

mamadeira para ele.

— Não, eu já dei a ele.

— Você aprende rápido, não é?

— Você nem imagina. — diz ele, sorrindo como um

menino e lindo. Como se eu não o tivesse me atacando no

chão e cheirando minha boceta para sentir o cheiro de outro

homem.

Ele coloca Sorab em minhas mãos surpresas.

— Espero que você esteja com fome. O jantar será

servido em meia hora.

— Estou morrendo de fome. — digo recuando.

O vinho é um vintage antigo, da propriedade de

Barrington na França, as carnes são perfeitamente

suculentas e macias e a salada é simples, mas perfeitamente

temperada e salgada. Olho para ele com admiração enquanto

ele se senta à minha frente com uma camisa preta, calça

desbotada e pés descalços. Como você não acreditaria, de

fato.

Ele aprendeu a cozinhar enquanto estávamos

separados!

Vinte Billie liga no início da manhã. Ela tem algo a me dizer.

— O que é? — Eu falo.

— Conto quando você chegar aqui — diz ela, com a voz

cheia de algo delicioso, algo que ela mal consegue manter

reprimido.

Apresso-me. Quando chego com Sorab, ela está no

banho.

— Aqui. — ela chama. Eu vou e sento no assento do

vaso. Há sombra verde-brilhante em suas pálpebras.

— Meu Deus, parece que você teve uma noite divertida.

Ela sorri amplamente.

— Fui até o The Fridge na noite passada.

— Com quem?

— Sozinha.

Franzo a testa.

— Porque?

— Por que eu quis.

— Bem, e aí?

— Deixei um homem me pegar.

— O quê? — Estou tão surpresa que minha boca

realmente trava.

— O que posso dizer? Este homem enorme, quer dizer,

realmente enorme, com músculos saindo de suas orelhas,

veio até mim e me disse que as tatuagens no meu pescoço

eram as coisas mais linda que ele já havia visto.

Eu sorrio.

— Tudo certo. É possível ele ter feito esse mesmo elogio

a todas. Mas ninguém nunca disse que minhas tatuagens são

lindas. Nem mesmo você. Nem mesmo Leticia. E isso me

deixou curiosa sobre ele.

— Mas você não flerta com homens.

— Eu sei. Obrigada, mas sou lésbica, amigo! Foi o que

eu disse a ele também.

— E aí? — Perguntei.

— Isso é porque você ainda não foi para a cama comigo,

ele disse. E eu estava tão bêbada, que fiquei realmente

impressionada com esse nível de confiança arrogante. Então

respondi: Eu vou foder você, mas não vou chupar seu pau ou

fazer qualquer outra coisa desse tipo.

— Billie! — Eu grito.

— Não tenho motivos para ficar envergonhada. Eu não

vou chupar pau de homem nenhum. Enfim, ele disse que

também não estava interessado em fazer isso e fomos para a

casa dele.

— E? — Eu mal posso acreditar no que estou ouvindo.

— E... foi realmente muito emocionante. Você sabe como

sempre assumo o controle? Ele não deixou. Ele era muito

rigoroso e magistral, e fodia forte também. Eu nunca tive

alguém tão... bem... autoritário na cama antes. Era algo novo,

algo que não estou acostumada.

— Então você gostou de transar com um homem?

— Odeio dizer que sim, isso mexe com a minha

identidade, mas sim. De manhã, ele me fez café da manhã,

eca, ele trouxe salsichas e ovos.

Estou quase rindo.

— O que você fez?

— Comi.

— O quê???

— Não estava ruim.

— Billie, você não tomava um bom café da manhã desde

que tinha dois anos!

Ela ri.

— Você vai vê-lo novamente?

— Talvez. Ele pegou meu número, mas vai ficar fora por

um mês. Se eu o vir novamente, tudo bem. Se não, então

não.

— Mas você quer...

— É... Acho que sim. Há algo intrigante sobre ele.

— Isso significa que você já não é mais lésbica?

— Não me entenda mal. Ainda gosto de você mais do

que dele, mas talvez eu não seja apenas DC, mas AC

também.

— Qual o nome dele?

— Rose, Jaron Rose.

Eu mordo meu lábio.

— Na verdade, tenho algo para dizer também.

— Vamos logo com isso então.

— Não quero que você surte, mas...

— Eu não vou surtar. O que é?

— A mãe de Victoria veio me ver.

— Merda. Isso foi rápido. Deixe-me adivinhar. Ela avisou

para deixar Blake sozinho?

— Sim, ela me avisou, mas o engraçado é que eu acho

que ela pensou que estava me avisando para o meu próprio

bem.

Billie bufa incrédula.

— Você é fraca da cabeça.

— Apenas me escute, OK?

— Sou toda ouvidos.

— Foi tudo muito vago e misterioso mas, basicamente,

ela me disse que eu estava em perigo.

— Agora você está me assustando. Que tipo de perigo?

— Não disse, mas algo sobre a maneira como disse me

fez perceber que era ela quem estava assustada. Ela não

deveria vir me ver. Mas veio, mesmo assim.

— Então, o que exatamente ela disse?

— Disse que eu deveria tomar cuidado com Cronos.

— Quem é esse?

— Eu também não sabia. Mas ele é o Deus do tempo.

Geralmente descrito como um homem velho com uma barba

grisalha. Segundo a mitologia grega Cronos depôs seu pai e,

com medo de uma profecia de que ele sofreria o mesmo

destino, começou a engolir cada um de seus filhos assim que

eles nasceram.

— Encantador. O que isso tem a ver com você?

— Não sei. Estou tentando descobrir.

— Por que você não pergunta para Blake?

— Porque ela me disse para não confiar em ninguém e

eu não tenho certeza.

— Você não confia em Blake! — Os olhos de Billie estão

enormes com o choque.

— Não é que eu não confie nele. Confio nele com a

minha vida, mas ele está definitivamente escondendo algo

importante de mim. Além disso, ele já me disse que quanto

menos eu souber mais segura estarei.

— Jesus, Lana, em que tipo de merda que você está se

metendo?

Vinte e

Um

Acordei exausta.

Na verdade, ontem à noite eu estava tão morta para o

mundo, que nem acordei de madrugada para cuidar de

Sorab. Blake fez isso. Antes de sair para o trabalho, ele

gentilmente me sacudiu, me acordando e disse:

— Devo pedir a Gerry para vir cuidar de Sorab hoje?

Mas eu sacudi minha cabeça.

— Não, eu estou bem.

— OK, eu te ligo no meio da manhã.

Eu saí da cama. Estou tão cansada que me sinto quase

chorosa. Ouço o choro de Sorab e dou um passo

instintivamente em direção ao som. Eu o pego e coloco no

berço. Ele me olha com seus grandes olhos azuis e

choraminga suavemente. Eu sei o que ele quer. Ele quer que

eu o pegue no colo. Mas não posso. Não hoje.

Hoje eu só quero voltar para a cama e dormir. Passo a

mão pelo meu rosto. Vou até a lata de biscoitos. Sabores de

suco de uva orgânicos são o seu favorito. Empurro um na sua

mão. Ele começa a mordiscá-lo e eu tropeço para fora da sala.

Eu tenho um plano. Vou deixá-lo com Billie e vou ter um bom

sono. Eu preciso disso.

Até o momento que chego em Billie eu realmente sinto

tonturas.

— Qual é o problema com você? — Billie diz.

— Cansada. — eu digo. — Você poderia cuidar dele, só

enquanto volto e durmo por algumas horas?

— Eeeii. — diz ela. Sua voz soa distante. — Você não irá

para lugar nenhum assim, venha aqui.

Obediente sigo sua voz. Ela me leva para a cama. Eu

caio, agradecida, sentindo o cheiro de seu spray de cabelo e

perfume. Familiar. Eu viro meu rosto para isso.

Sinto uma mão fria na minha testa.

— Merda. — eu a ouço dizer. — Você está queimando

em febre.

Eu durmo e quando acordo, ouço a voz de Blake, alto,

irritado.

— Por que você não me ligou?

— Não é como se ela estivesse morrendo. Está com uma

maldita gripe. Todo mundo pega isso.

— Vou chamar o médico.

— Quem está te impedindo?

Sinto Blake sentando na cama ao meu lado. Ele parece

estranho, angustiado.

— Estou bem. É só uma gripe.

— O médico estará aqui em breve.

O médico confirma o diagnóstico de Billie.

— Gripe, mas... — ele adverte — ela parece desnutrida.

Talvez até anêmica. Recomendo um check-up completo.

Outros médicos vêm e injetam em mim um coquetel de

vitaminas, C, complexo B. Devo admitir que me senti melhor

depois das injeções. Estou me alimentando com a sopa de

tomate que Laura me enviou. Não parece em nada como a

sopa de tomate Heinz enlatada que estou acostumada. Eu

faço uma careta.

— Está faltando apenas o remédio. — Blake comenta

secamente. Ele me faz terminar tudo.

Estou em seguida, me mudando para o meu antigo

quarto. Os lençóis foram trocados. Eles parecem frios contra

a minha pele. É um alívio cair na escuridão suave, mas eu

durmo mal. Sacudindo e virando a noite toda. Às vezes abro

meus olhos e Blake está sempre lá. Acordado e trabalhando.

Ele trouxe uma mesa para meu quarto. A febre acaba nas

primeiras horas da manhã. Sento na cama e como um copo

cheio de Gelatina. A Gelatina tem um gosto engraçado. Eu

reclamo e resmungo.

— Você é uma paciente tão terrível. Coma tudo. É tudo

bom. Seu corpo está clamando por minerais e vitaminas. —

Blake repreende.

Para meu horror absoluto sou colocada em uma cadeira

de rodas no dia seguinte e ando no corredor e no elevador.

Ele fede a urina e eu vejo a boca de Blake se estabelecer em

uma linha dura. Ele odeia sujeira, caos, desordem, feiura.

Durante uma semana, estou inválida, mas as

dispendiosas injeções diárias e copos de gelatina vermelha,

verde e amarela são úteis, e logo me sinto como eu mesma.

Meu apetite retorna e me sinto bem novamente.

Mas perdi cinco dias de meus 42.

Vinte e

Dois

Encontro Blake para o almoço em Maide Vale, em um

restaurante que reflete o estilo descontraído da área.

— Por que nos encontramos aqui? — Pergunto.

— Tenho algo para te mostrar. — diz ele.

— O quê? — pergunto curiosa. Seus olhos estão

brilhando, ele ri de minha impaciência.

— Por que estragar a surpresa?

— Está bem.

Após o almoço, Tom nos leva a um bloco de

apartamentos no centro de Little Venice. Nós saímos e

pegamos o elevador para o quinto andar. Blake pega uma

chave do bolso e, com um sorriso torto para mim que estou

sem entender e coloca a chave na porta, abrindo-a. Entramos

num apartamento vazio. Sou imediatamente atraída para a

varanda. Tem uma vista maravilhosa de todas as vias fluviais

e canais que compõem Little Venice. Muito surpreendente.

— Você gostou?

— Sim. — digo com cuidado, não sei onde isso vai dar.

E, de repente me bate. Este é o meu beijo de despedida,

presente do final dos nossos 42 dias. Eu mantenho um

sorriso brilhante no rosto, espero que isso não pareça muito

falso, e me viro.

Ele pegou Sorab do parque e está vindo em minha

direção com ele em seus braços.

— Ele vai babar em todo seu terno. — digo, tentando

parecer normal.

— Venha, vou te mostrar o resto. — diz ele. Ele parece

quase animado. Isso meio que me irrita. Lembro-me de Jack

dizendo, nenhum homem quer uma mulher por apenas 42

dias. Você vai acabar como sua amante.

Silenciosamente, eu o sigo ao redor do apartamento de

dois quartos. O quarto principal é ensolarado e espaçoso,

mas meu coração está partido por dentro. Ele quer me

esconder aqui!

— Você acha que Billie vai gostar?

— Billie? — Pergunto confusa.

Ele balança a cabeça.

— Você conhece o gosto dela, você acha que ela vai

gostar?

Eu franzo a testa.

— Por quê?

— É para ela.

— O quê? — Eu ri. Uma gargalhada louca.

— Bem?

Eu ri novamente. O alívio está ressoando dentro de mim.

A alegria nos meus olhos.

— Ela vai adorar.

— Está resolvido, então. — diz ele, em tom satisfeito.

— Está no seu nome, é claro, desde que eu sei que ela

guarda... hum... arranjos financeiros complicados com o

governo de Sua Majestade, mas desde que ela se torne

financeiramente independente, você pode transferi-lo para o

nome dela.

— Por que você está fazendo isso?

— Eu não quero que você vá visitá-la naquele lugar

horrível. Toda vez que você me diz que está indo lá eu quase

tenho urticárias.

Não consigo parar de sorrir.

— Obviamente precisa de um banheiro novo e uma

cozinha, mas as meninas podem redecorá-lo de qualquer

maneira que você quiser. Apenas ligue para Laura e ela vai

abrir contas onde quiser.

Estou tão cheia de alegria que estou quase em lágrimas.

— É a coisa mais maravilhosa que alguém já fez para

Billie.

Ele se tornou subitamente brusco de vergonha.

— Bem, tenho que voltar para o escritório. Tom vai

deixá-la onde quer que você vá. Vejo você em casa, à noite.

Eu jogo meus braços ao redor de seu pescoço. Sinto

tanto amor por ele que estou quase em lágrimas.

— Obrigada! — sussurro. — Muito obrigada. — Eu movo

a cabeça para trás e olho profundamente em seus olhos

bonitos. — Eu realmente, realmente, realmente amo você,

sabia? Com todo o meu coração.

Ele inclina a cabeça e me beija com ternura. Por que ele

não diz que me ama? Eu sei que ele me ama. Alguém que não

está apaixonado jamais poderia fazer algo tão generoso.

Eu vou com ele até a porta. Ele para.

— Para quem você achava que o apartamento era?

— Para mim.

— Para você? — Ele parecia genuinamente confuso. —

Por que você acharia isso?

— Eu pensei que era o meu presente de despedida.

Ele acaricia meu rosto com as costas da mão.

— Você não tem ideia, não é? Os papeis estão no balcão,

perto da lareira. — diz ele, e então sai.

Eu fico na varanda e o vejo sair do prédio, atravessar a

rua e entrar na parte de trás de um Rolls-Royce azul escuro,

com capô prata que estava esperando. Então ligo para Billie.

— Billie, o que você está fazendo agora?

— Observando as minhas unhas secarem.

— Você pode pegar um táxi e me encontrar em Maida

Vale.

— Ué, o que tem em Maida Vale?

— Você quer estragar a surpresa?

— Por que eu iria querer fazer isso?

A campainha toca em menos de meia hora.

Abro a porta com um sorriso estúpido no meu rosto. Eu

não posso evitar. Estou muito feliz e animada por ela.

— Eu já borrei minha unha, então é melhor que seja

bom. — diz ela, acenando com as unhas arruinadas na frente

do meu rosto.

— Desculpe. — digo e ela passa pela soleira da porta.

Assim como eu, ela vai imediatamente para a varanda.

— Uau, isso é que é uma vista, não é? De quem é esse

apartamento?

— Seu.

Ela se vira lentamente.

— Desculpe, o que?

— É seu. Blake comprou para você.

— Para mim? — Ela está franzindo a testa.

— Sim.

Ela aperta os olhos.

— Por quê?

— Acho que ele odeia que a madrinha de Sorab viva em

um conjunto habitacional. Ele estava meio que preocupado

por causa das seringas e o cheiro nas escadas.

— O que você quer dizer com ‗comprou para mim‘? O

que acontece quando os 42 dias acabarem?

— Ainda será seu.

Ela dá um sorriso louco.

— Um Flat em meio à classe média de Little Venice,

apenas para euzinha? Uau. Quer saber, se ele não fosse tão

completamente transparente em todas as negociações que fez

com você, desde que te conheceu, eu nunca acreditaria.

— Bem, está em meu nome no momento, mas assim que

o nosso negócio decolar e você deixar de ser desempregada,

vou transferi-lo para o seu.

Entrego os papéis.

Ela olha para eles.

— Uau, quem diria? — Ela levanta o rosto para o meu.

Há lágrimas nos olhos. Ela pisca orgulhosamente.

Eu sorrio para ela.

— E você sabe o que é ainda mais emocionante? Blake

concordou em pagar a decoração. Você tem carta branca para

decorá-lo da maneira que você quiser.

— Eu só não sei o que dizer Lana — diz ela, de repente.

— Valeu a pena estragar suas unhas? — Provoco.

— Você pode colocar o pirralho no chão por um

momento? — ela pergunta rispidamente.

Coloquei Sorab em seu carrinho de bebê e ela me

envolveu em um abraço de urso.

— Obrigada, Lana. Eu sei que você não reza, por isso

todos os dias eu fico de joelhos e rezo para que tudo vá dar

certo para você. — ela sussurra em meu ouvido.

Eu me afasto um pouco.

— Você reza?

Ela acena com a cabeça solenemente.

— Obrigada. — Digo e sorrio, agradecendo que ela seja

minha amiga.

Vinte e Três Dia 17

Ele me fez deitar no chão do banheiro e me lavou com

água quente. Duas vezes. Era desconfortável. E por duas

vezes eu me sentei no vaso sanitário até que não houvesse

mais nada, e eu me senti estranhamente leve e limpa.

Na borda da cama, ele me empurrou para trás e

segurando em minhas coxas ele espalhou minhas pernas

bem abertas e as prendeu em ambos os lados da minha

cabeça. Minha parte inferior do corpo enrolada para

acomodar suas necessidades. Agora, nada foi escondido de

seus olhos. Completamente exposta a ele, olhei em seus olhos

mascarados.

Ele colocou a mão na minha boceta exposta.

— Você está muito molhada. — disse ele, e

imediatamente depois se afundou em minha boceta.

Ele se enterrou ainda mais profundo. Gritei, mas ele

apenas disse:

— Você foi feita para mim. Este corpo foi feito para mim

e só para mim. Quando eu terminar com você, não haverá

parte do seu corpo que não provei. Cada centímetro seu é

meu e só meu.

Ele saiu de mim e sem deixar de me encarar untou seu

polegar com lubrificante.

—Agora deite de bruços e fique de quatro.

Virei e me deitei com meu rosto apoiado no colchão e

meu bumbum arredondado empinado para cima, em direção

a ele.

— Abra suas pernas para mim. — Obedeci e ele inseriu

lentamente o polegar no anel de meus músculos apertados.

— Eu sou o dono disso. — disse ele, mergulhando

dentro e fora. Dentro e fora.

Estranho, mas não doloroso. Prazeroso, até. Eu sabia o

que ele estava fazendo. Estava me esticando. Tocando as

paredes sensíveis, pressionando as terminações nervosas

vitais até que meu corpo começou a se mover inquieto na

cama. Agora ele sabia que eu estava animada e pronta.

Ele cobriu sua ereção com lubrificante e começou a

pressioná-lo contra mim.

Desta vez, gritei em protesto. Uma dor aguda

desconhecida. Um frisson de pânico no meu ventre. Ele é

muito grande. Eu não vou ser capaz de aguentar.

— Você tem que relaxar. — Ele disse. — Deixe-me

entrar... A dor tem possibilidades, tem um tipo diferente de

prazer. — Sua voz era baixa e sedutora.

Eu queria levá-lo, mas meus músculos permaneciam

apertados, não cooperativos. Ele não podia se mover um

centímetro a mais.

— Você tem que confiar em mim, Lana — disse ele e

chegando a mim começou a acariciar meu clitóris. Eu

comecei a tremer. Se aproveitando do meu estado distraído,

ele empurrou de repente em mim.

A dor foi imediata e forte, e eu gritei, mas ele ficou

imóvel, para permitir que o meu corpo absorvesse a invasão

de fora, a estranha sensação de plenitude quente. Quando

julgou que o meu corpo aceitou, ele empurrou.

Eu gemia, inquieta.

Ainda havia dor, mas mais do que a dor era o prazer de

ser levada por ele. Nessa posição que eu deveria ter

considerado degradante e humilhante, encontrei prazer.

Ele começou a se mover dentro de mim e eu não podia

deixar de emitir os sons de animais estranhos que saíram de

minha boca. Firmemente presa pela bunda e pela estranheza

do que estávamos fazendo, ele gozou rápido, derramando sua

semente dentro de mim, gritando meu nome. Ele se dobrou

contra mim, mas ele não se retirou. Ao contrário, ele se

aproximou e começou a dar prazer ao meu clitóris.

— Aperte os músculos — Ele disse e eu obedeci.

As sensações desconhecidas de pressão e prazer

percorreram meu corpo. Cheguei ao clímax, tremendo e

tremendo, tão rapidamente quanto ele. Por algum tempo ele

permaneceu dentro de mim. Quando saiu, eu senti, pois o

queria de volta, dentro de mim. O seu lugar era dentro de

mim.

Cada parte de mim chora por ele, quando ele sai.

Coloquei a caneta para baixo e fechei meu diário. Hoje

em dia, escrevo sem ressentimento, ansiosamente, porque é a

única comunicação verdadeira e honesta que tenho com ele.

Eu o senti distante. Se afastando de mim. Alguma coisa o

está incomodando. Os dias passam em uma névoa de sexo,

me parece mais como um desejo desesperado de se fundir

fisicamente comigo, para esquecer por um tempo tudo o que

o incomoda.

Uma vez ele acordou, encharcado de suor, gritando com

a voz rouca, quase soluçando.

— Ela não, por favor.

Quando toquei nele, ele se virou para mim com os olhos

selvagens, e me reconhecendo, caiu na curva do meu pescoço

com gratidão, e me abraçou com tanta força, que gemi. Mas

quando perguntei a ele sobre seu pesadelo, ele sussurrou em

meu ouvido:

— Só não me deixe.

Como se eu alguma vez fosse deixá-lo. Como se fosse eu

que tivesse definido um limite de 42 dias em nosso tempo

juntos.

Vinte e

Quatro

Billie me liga. Ela quer que eu deixe Sorab com ela à

tarde. Ela está solitária e sente falta dele. Deixo Sorab com

ela e vou para a Sloane Square. Quero comprar uma camisa

rosa para Blake. É uma espécie de piada. Ele acha que

camisas rosas são para maricas, e eu acho que elas são um

tesão e só homens machos realmente podem usá-las. Acho a

camisa que quero e estou prestes a voltar para casa quando

de repente paro.

Rupert Lothian.

Há dois homens com ele, homens de negócios em ternos

escuros. Ele deve ter almoçado com eles. Por um momento,

nós dois estamos tão surpresos que nenhum de nós fala, mas

ele é o primeiro a se recuperar.

— Que agradável surpresa — diz ele sem problemas, e

coloca uma mão pesada, no meu braço e agarra. Tento me

livrar dele discretamente, mas ele aperta mais forte. Ele se

vira para os dois homens e diz a eles que vai ligar mais tarde.

Eles se despedem e saem juntos, e Rupert volta sua atenção

para mim.

— Estava pensando, outro dia, o que aconteceu com

você. Como você está linda!

— Estou bem, mas estou atrasada e realmente preciso

ir. No entanto foi bom vê-lo novamente.

— Qual é a pressa? Venha tomar um café comigo. — ele

convida. A voz dele é gentil e adulada, mas ainda tenho a

memória de sua saliva com sabor de ostra escorrendo pelo

meu pescoço, o dedo cavando minha virilha, tentando me

penetrar. Se ao menos eu fosse grande e forte o suficiente

para ser capaz de dizer: ―Não, pare. Não olhe para mim, não

me toque. Se afaste de mim.‖ Mas eu não sou forte o

suficiente e me lembro da força masculina pura das suas

mãos de jogador de rúgbi, quando ele me prendeu contra a

parede e abusou de mim.

— Talvez em outro momento. — Dou um passo para

trás, mas ele se recusa a abrir mão de seu poder sobre a

minha mão.

— Você ainda está com ele?

— Isso realmente não é da sua conta.

— Por uma questão de fato, estou procurando um novo

negócio. Você está disponível? Mesmas condições que antes?

Eu torço meu braço e tento me livrar, mas seu aperto é

como uma braçadeira de ferro. A fúria que eu nunca

expressei antes aumentou como bile dentro de mim. Sem

pensar levanto meu outro braço e bato nele, e

instantaneamente ele me solta e dá um soco em minha

direção. Deveria ter me acertado direto na cara, mas ele só

raspa meu queixo. Olho de surpresa quando ele cai no chão.

Deitado de costas. Apagado. Olho para cima, atordoada. Um

homem está de pé na minha frente. Fico olhando para ele. O

sangue ressoa em meus ouvidos.

— Você está bem? — Pergunta solícito. Ele está olhando

para o meu queixo.

— Sim, acho que sim.

—Bom. É melhor você ir, então.

— E ele? — Olho para Rupert, estatelado, sem se mover.

Ele poderia até mesmo estar morto, pelo que eu sei.

— Não se preocupe com ele. Vou ter certeza que ele está

bem.

Concordo com a cabeça, mas a coisa toda é surreal. A

velocidade com que este homem entrou em cena e o rápido

movimento, totalmente profissional que derrubou um homem

enorme como Rupert. Olho de novo para o homem. Ele tem

cabelo cor de areia, corpo magro e olhos duros. Vestido com

uma camisa preta, jaqueta de couro e calça jeans, ele poderia

ser qualquer um na rua, mas sei que não é. Ele não apareceu

aqui por acaso.

Sua bondade é uma miragem. Pague o dinheiro certo e

ele facilmente quebraria meu pescoço. Dou um passo para

longe dele.

— Não se esqueça de suas compras. — ele me lembra

educadamente.

Viro e olho para a sacola de compras caída na calçada. A

camisa rosa está fora da sacola. Pego e, sem uma palavra,

sem agradecer a ele, me afasto rapidamente. Como se eu

estivesse fugindo da cena de um crime. Talvez eu esteja.

Ando por Deus sabe quanto tempo, minha mente em um

turbilhão. Passo sobre passarelas lotadas onde as pessoas

esbarram em mim, mas não sinto nada. Quando finalmente

acordo, paro de repente. Uma mulher bate em mim e

pragueja deselegante. Ela perde sua raiva quando eu me viro

para me desculpar. Ela olha para o meu queixo, resmunga

algo e continua a andar.

Eu ando em direção à parede de um edifício e encosto

nele.

Por fim, mais uma peça se ajusta na quebra-cabeça

louco. É por isso que Blake, de repente apareceu no

apartamento quando Jack veio me visitar. É por isso que ele

apareceu de forma tão inesperada, o seu comportamento tão

estranho e reservado no dia em que a mãe de Victoria fez

contato e ele de repente me levou para Veneza para se

esconder, para pensar, e se reagrupar. E isso também é como

ele sabia ver na minha cara o dia que beijei Jack.

Ele sempre me seguiu. A porra do tempo todo.

Sinto raiva e confusão. Por quê? Por que ele me

espionava? Ele é tão cheio de segredos. Tão misterioso.

Até o momento que eu chego ao apartamento me sinto

perdida e insuportavelmente triste. Minha vida inteira é uma

mentira bagunçada. Ser secretamente seguida e observada

parece uma extensão de todas as outras mentiras que meu

relacionamento com Blake implica. Abro a porta da frente e

Blake vem caminhando em minha direção. Claro. Ele já sabe

sobre Rupert. Estou na porta e olho para ele. Seu cabelo está

desgrenhado, a gravata foi tirada e está pendurada a poucos

centímetros de sua garganta. Mas são dos olhos que eu não

consigo desviar o olhar. Eu nunca vi os seus olhos tão

selvagens e com medo.

Ele coloca a mão suavemente no meu queixo latejante.

Recuo ligeiramente. Imediatamente, ele retira a mão, e eu

juro que vi lágrimas nadando em seus olhos. Então, ele me

puxa para seus braços e me aperta. Eu o ouço respirar

fundo.

— Eu estava apavorado. Onde você esteve esse tempo

todo? — Ele pergunta em voz baixa.

— Estava andando.

— Por que você desligou o telefone?

— Eu não desliguei. Tinha pouca bateria. Deve ter

acabado.

— Oh meu Deus, Lana. Não faça isso comigo de novo. —

Ele dá um passo para longe de mim. — Ele te agarrou. Ele

machucou você em outro lugar?

Balancei minha cabeça, mas ele puxa as mangas do

meu casaco e examina meus braços. Ele toca as contusões

leves e olha para mim. Há dor em seus olhos.

— Eu cuidei do filho da puta. Ele nunca mais vai

machucar outra mulher em sua vida.

Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo tanto que

nada mais importa. Eu penso, mas não digo. Eu não posso.

Algo está muito errado. Eu não posso só pensar em mim. Há

mais do que apenas eu nesta equação. Há Sorab. E eu vou

amá-lo do jeito que minha mãe me amava. Vou dar tudo. E

tudo poderia significar nenhum Blake para SEMPRE. As

palavras da mãe de Victoria ainda estão frescas. “Você e seu

filho estão em grave perigo.” Parece que ela estava certa.

Engoli o caroço na minha garganta. Estou com tanta dor

que me sinto doente.

— O quê? — Ele pergunta preocupado.

— Nada — digo. Mas eu realmente sinto tonturas. Se ele

não estivesse aqui, eu me jogaria na cama e gritaria, porque

não posso ter esse homem. Eu aperto os dentes.

— Venha. — diz ele pegando minha mão e me levando

para o quarto. Seu plano é simples. Como Billie diria, ele é

um homem, o que se pode esperar? Ele quer que eu durma.

Quando eu acordar tudo estará OK.

Então eu deixei ele me colocar na cama. Eu o olho com

os olhos em branco. Sei que ele não entende. E que ele nunca

entenderá. Homens são fortes de uma forma física, eles não

sabem como serem fortes de forma emocional. Ele acha que

se eu não tenho contusões, não tenho nenhuma dor. Agarro

sua mão.

— Por que você tem me seguido?

Ele passa a mão pelo cabelo. Ele se afasta de mim. Anda

pelo tapete do quarto como uma criatura enjaulada. Em

seguida, se senta ao meu lado.

— Você realmente quer a verdade, Lana?

— Sempre.

— Mesmo que isso faça você parecer uma mentirosa?

— Sim. Mesmo assim.

— Porque eu não podia confiar em você com meu filho.

Não naquele lugar horrível em que vivia.

Meu queixo cai.

— Jesus, Lana, o que você espera que eu faça? Esse

lugar está cheio de viciados em drogas e canalhas. Eu não

posso suportar quando você vai lá e muito menos uma

coisinha indefesa como ele.

Eu suspiro.

— Você sabia? O tempo todo?

— Oh, Lana, Lana, Lana. Você deve me achar um bobo.

Você realmente acha que não sei que ele é meu filho? Eu

sabia, desde o momento em que coloquei os olhos nele.

Estou tão chocada que não posso dizer nada. Então, eu

me lembro de como ele ficou quieto quando olhou para Sorab.

E então ele fechou os olhos e casualmente me perguntou:

— Será que ele chora muito?

E esse foi o primeiro dia que ele passou a noite inteira

comigo. Esse foi o primeiro dia em que ele parou de beber

exageradamente e foi o primeiro dia em que começou a olhar

para mim, sem ódio. Foi o dia em que entendeu que eu o

deixei não porque fui paga, mas porque estava grávida. No

dia seguinte, as coisas dele chegaram e ele começou a viver

no apartamento comigo.

— Esta charada elaborada... Era para você. Para o que

você estava jogando. Eu queria saber que tipo de mulher você

era. Que tipo de mulher você é, Lana? Você deita comigo

todas as noites e nunca pensou em me dizer que eu tenho

um filho?

Eu me sento.

— Eu estava com medo.

— De quê? De mim?

— Estava com medo de que você ou sua família fossem

tirá-lo mim.

— Do que você está falando? Eu nunca o levaria para

longe de você.

— Não é o que diz o acordo de confidencialidade que

assinei. Se eu tivesse seu filho, teria que desistir dele.

Ele se senta na cama e encosta a testa na mão.

— Isso tudo é tão fodido. — Ele se vira para mim. —

Sinto muito, Lana. Eu era tão estúpido.

— O que acontece agora?

— Nada. Por enquanto.

Um pensamento de repente me ocorre.

— Então você estava me seguindo porque você está

preocupado com a segurança de Sorab?

Ele balança a cabeça, mas seus olhos são cuidadosos,

vigilantes.

— Eu não estava com Sorab hoje. — Minha voz é neutra.

— Você tem sua própria sombra. Você acha que eu iria

proteger meu filho, mas não sua mãe? — Seu olhar é duro,

intransigente, se recusando a ter vergonha por seus métodos

desleais.

— Não gosto de ser vigiada. Você poderia tirar o meu

vigia?

— Depois de hoje? Você está brincando comigo? — Ele

se levanta e coloca alguma distância entre nós. Ele se vira

para olhar para mim. — É para sua própria proteção, Lana.

— Hoje foi uma exceção. Eu não preciso ser protegida.

— Qual é o ponto, Lana? Não é como se isso estivesse na

sua cara, não é? Você não sabia até hoje que o Brian era sua

sombra.

— Isso não significa que seja melhor.

Sua mandíbula tenciona.

— Eu não posso trabalhar. Não consigo me concentrar.

Na verdade, eu acho que realmente fico muito louco quando

não sei se você está bem. Você não pode simplesmente me

deixar feliz com esta merda?

— Por que você é tão paranoico? Existe algo que eu

deveria temer?

Ele vem para mim.

— Tenho minhas razões. Você e Sorab são minha

prioridade.

Eu olho para ele com teimosia.

— É realmente pedir muito, Lana?

— Está bem.

Ele respira, com um grande suspiro de alívio.

— Obrigado.

Eu toco sua mão.

— Houve um tempo em que eu costumava pensar que os

homens árabes eram loucos por manter suas mulheres

cobertas e escondidas. Agora sei de onde a necessidade vem.

— Ele enfia o dedo na parede dura de seu estômago. —

Daqui.

Deus, eu amo esse homem. Tanto que dói. Realmente

dói.

Vinte e

Cinco

Acordei na luz fria e azulada da aurora. Por um

momento pensei estar na talhada cama de dossel, confusa

pelo ambiente, e então eu me lembro. Estamos em

Bedfordshire, na propriedade dos Harrington onde a irmã de

Blake vive. Chegamos às portas elétricas de ferro forjado no

escuro, e corremos até as escadas curvas à luz da lua. Era

como eu imaginava jovens amantes dos tempos antigos que

se encontravam, em segredo e na calada da noite. Nós caímos

na cama e eu violei Blake depois de beber uma garrafa inteira

de champanhe vintage diretamente da garrafa.

Enterro-me no delicioso calor de seu corpo. Ele não

acordou, mas colocou uma mão pesada no meu estômago.

Viro a cabeça e sinto o cheiro das folhas. Lençóis engomados.

Minha avó costumava ter lençóis engomados em sua casa.

Blake disse que eu poderia explorar a casa e o jardim,

enquanto ficasse longe da ala oeste, onde sua irmã vive.

E agora desejo ir para o extenso jardim. Eu levanto a

mão de Blake e saio de debaixo dela. O ar da manhã está

surpreendentemente frio. Eu me visto rapidamente. Há um

grande cobertor dobrado ao pé da cama. Eu o jogo sobre

meus ombros e saio do quarto. Toda a casa está escura e

silenciosa. Ando pelo corredor e fico no topo da bela

escadaria. Eu sou atraída por uma pintura.

A família em cena no café da manhã. Provavelmente

vitoriana. Chego mais perto. Um homem com as bochechas

rosadas está colocando ovo em sua boca; alguns pedaços

estão caindo de sua colher. Ele está segurando o copo de ovos

muito perto de seu queixo. Percebo que não é uma imagem

que pretende retratar a família como digna ou grandiosa, mas

é uma paródia grosseira da ganância sem precedentes. É

também, ironicamente, uma celebração da ganância.

Minhas mãos correm pelo corrimão polido.

Tento imaginar Blake quando era criança, correndo

nesses espaços, enquanto passo pela sala de música com seu

mobiliário de valor inestimável antigo, suas raras obras de

arte, e suas tabelas de orquídeas exóticas e sinto uma espécie

de tristeza persistente. Nada realmente feliz aconteceu nesta

casa. Nem mesmo as crianças que corriam por estas salas

eram felizes. Toda a casa está clamando pelo som de uma

risada.

Passo por outra sala, onde as cortinas pesadas ainda

estão fechadas e envolvida no mesmo tipo de tristeza

desesperada. Através dessa sala posso ver a sala de recepção

principal. No hall de entrada, que se parece com o interior de

um caracol, paira um Salvador Dali, azul com dançarinos em

rituais nus. Parece quase como uma orgia para mim.

Atravesso o piso de mármore preto e branco e saio pela porta

da frente.

Lá fora está mais quente do que dentro de casa. O sol

está se infiltrando através das árvores. A vista é tão magnífica

como a de qualquer antiga casa senhorial. Ando ao redor da

lateral do edifício, admirando a terra. Lá vejo uma estufa, de

tamanho industrial. Flor, legumes, ervas e frutas são

abundantes. Alguns atingem o teto. No meio há um grande

lago hidropônico.

Ao lado da estrutura de vidro, eu me encontro com um

pavão. Nunca vi um pavão antes e ando lentamente

centímetros mais perto. De repente, ele abre a cauda e eu

estou chocada com o quão bonito ele é. Um pavão branco

puro vem participar. Eu gostaria que abrisse sua cauda

também, mas isso não acontece. O Instinto me faz olhar para

cima e vejo Blake, de pé na porta que dava para a varanda de

pedra, fora do quarto em que dormia.

Ele está olhando para mim.

Aceno para ele. Ele não acena de volta, mas abre a porta

e sai para a varanda. Sem camisa, ele está olhando para

mim. Suspiro com a visão. A maneira como a casa emoldura

seu corpo. Sinto o turbilhão de privilégios em torno dele,

como uma mão invisível que o captura com suas garras. Ele

pertence a este ambiente esplêndido. Em todos os sentidos,

ele é diferente de mim. Imagino o que ele deve ver. Uma

mulher envolta em um cobertor. Eu não sou real ou

imponente. Eu sou aquela que não se encaixa. A estranha.

Depois de um grande café da manhã, Blake me leva

para conhecer sua irmã.

A sala de recepção na qual ela espera foi pintada em

rosa suave. Ela está acompanhada de uma mulher em um

uniforme de enfermeira e está vestida com um longo vestido

azul e camisola. Um prendedor de borboleta está em seu

cabelo. Seus olhos são azuis como os de Blake, mas por outro

lado ela não é nada como ele. Sua testa é baixa e se projeta

para fora e sua pele é muito pálida.

— Olá, Bunny. — Blake diz em voz baixa.

Ela deixa cair o queixo timidamente e aponta para ele.

— Está certo. Seu irmão veio para vê-la. Isso não é legal

da parte dele? — Diz a enfermeira.

Ela acena com a cabeça vigorosamente.

— Gostaria de mostrar o jardim zoológico?

Mais uma vez ela balança a cabeça e sorri.

— Talvez você também goste de mostrar alguns dos

truques que ensinou a seus animais.

Ela sorri de emoção.

Blake caminha até ela.

— Você vai mostrar seus animais para a minha amiga

também?

Pela primeira vez, seus olhos reparam em mim. Eu

sorrio.

— Olá! — eu digo.

Ela começa a balançar a cabeça e sorrir timidamente.

— Vamos lá, então. — Blake diz e estica a mão para ela.

Ela coloca sua mão pálida na dele, e saímos em direção

a uma tenda branca, onde existem cadeiras ao redor dela e

um gabinete de areia no meio. Tomamos nossos lugares e

Elizabeth vai ao pódio como a estrutura na entrada do recinto

de areia. Ela bate a mão e um cavalo corre. Ele galopa em

torno do recinto algumas vezes e chega a parar alguns metros

à sua frente. Ela levanta a mão e o cavalo sobe nas patas

traseiras, com as dianteiras no ar. Ela deixa cair à mão e o

cavalo passeia em direção a ela. De seu bolso, ela pega um

cubo de açúcar e segura em sua mão. O animal o aceita com

delicadeza e ela se vira para sorrir com orgulho para nós.

— Muito bem. — felicita Blake.

Elizabeth bate palmas de alegria.

Estou verdadeiramente espantada. É muito

impressionante ver uma mulher com a capacidade mental de

uma criança treinar com sucesso animais para executarem

truques e obedecê-la. Depois vemos o elefante indiano de

Elizabeth sentar em um banquinho e girar em torno de um

círculo sobre as patas traseiras, uma dança de um cãozinho

bonito ao seu comando, e seu macaco de estimação andar de

bicicleta.

Quando o show acaba, Elizabeth agarra a mão de Blake

e começa a puxá-lo para fora da tenda. Blake faz gestos com

a outra mão para eu segui-los. Ela o leva para seu quarto,

uma sala cor de rosa cheio de bonecas, livros infantis e um

cavalo de balanço especialmente feito para acomodar um

adulto. Tomando uma escova de cabelo de sua penteadeira,

ela coloca em sua mão e como uma criança corre

ansiosamente para a cama e se senta de lado na borda.

Primeiro Blake parece surpreso dela se lembrar de um

ritual de tantos anos atrás, mas então ele vai e se senta atrás

dela. Com mãos suaves ele tira o prendedor de borboleta do

cabelo dela, e começa a escovar o cabelo exuberante, escuro

com longos movimentos certeiros.

A menina agarra em sua camisa e soluça, quando é hora

de ir. Ela fica histérica quando a enfermeira e um funcionário

tentam segurá-la para longe e eles têm que sedá-la. No carro

Blake estava muito calado e perdido em seus próprios

pensamentos. O jeito que ela se agarrou desesperadamente a

ele havia me angustiado muito.

— É incrível como ela treinou todos os animais, não é?

— Digo, na tentativa de afastá-lo de seus pensamentos

infelizes.

— Ela não os treinou. Um treinador de animais trabalha

com eles e todo mundo finge que é ela que os tem treinado.

— Oh! De quem foi à ideia de fazer isso?

— Da minha mãe.

A brevidade da sua resposta me diz para não ir lá. Como

sempre, qualquer conversa de sua família faz com que ele se

cale. Viro a cabeça e olho para o campo e penso na criança

totalmente trancada naquela casa triste, e a mulher que não

vai reconhecer a existência de sua filha, mas que vai elaborar

maneiras para criar um circo privado, em que sua filha pode

ser a apresentadora.

Vinte e Seis

É uma noite de segunda-feira. Blake já telefonou para

dizer que vai se atrasar. Ele tem uma reunião. Estou na cama

lendo quando ele entra. Ele para pôr um momento na porta,

simplesmente olhando para mim. Ele parece diferente.

— Qual é o problema? — Pergunto. Ele se senta na

cama ao meu lado e sua respiração embriagada me atinge

instantaneamente. Eu prendo minha respiração.

Ele acena com conhecimento de causa, sabiamente.

— É isso mesmo... estive bebendo.

E, em seguida, sob o cheiro da bebida, o perfume. Caro.

A flor e a erva almiscarada. Senti esse cheiro antes. Mais de

um ano atrás. Quando ele voltou de sua festa de aniversário.

A realização me atinge como um soco no estômago. Victoria.

Eu paro de pensar. Dor e fúria estão correndo no meu

cérebro. Levanto minhas mãos e o empurro. Ele não está

esperando essa reação, então cai para trás, sem jeito, no

chão. Eu ouvi o baque de seu corpo caindo.

— Que porra é essa? — Ele xinga.

Eu voo em direção ao seu corpo de bruços e com as

mãos rápidas eu desabotoo a braguilha e puxo a calça para

baixo de seu quadril. Rasgo furiosamente sua cueca. Eu

curvo a cabeça e sinto o cheiro de sua virilha. Mas o odor é

familiar. Só dele. Sento para trás em meus calcanhares e olho

para ele. Ele levanta a cabeça do chão e está olhando para

mim, espantado.

— O que vale para um... Você estava com uma mulher.

Senti o perfume dela em você.

Ele deixa sua cabeça cair para o tapete e suspira

pesadamente.

— Sim, minha mãe.

Merda. É claro que a mãe estava na festa de aniversário

no ano passado também. Desviro seu corpo de bruços, e

estudo seu rosto.

— Ops... Desculpe.

— Por que você não termina o que começou Lana?

— Sim, senhor. — respondo, e começo a puxar a calça.

— Tire a roupa e sente-se em mim, mas de costas. Eu

quero ver meu pau desaparecer dentro de você, e o seu

bumbum bonito bater na minha virilha.

Tiro minha camisola.

— Cavalgue-me forte e rápido. — diz ele e eu bato em

cima dele.

—Ah, sim. — ele geme.

Ele está bêbado e leva mais tempo do que o habitual

para gozar. No momento em que ele goza, estou suando e

exausta. Eu não gozei, mas tudo que quero fazer é deitar ao

lado dele no chão. Saio dele e estou prestes a cair para o lado

quando ele me pega.

— Quero que você se esfregue na minha coxa até gozar,

mas desta vez de frente para mim, para que eu possa te ver.

Sento, nossas essências se misturando debaixo de mim.

Os pelos em sua coxa me agradam, e parecem estranhos em

minha boceta aberta. Começo a me esfregar sobre ele

enquanto ele me olha, com olhos ávidos. O espasmo do gozo

vem rapidamente para meu corpo exausto. Caio contra seu

corpo, meu peito esmagado contra os ossos da sua costela,

meu rosto pressionado em seu peito.

— Como uma mulher que teve um bebê tem uma boceta

tão apertada? — Sua voz é desmedida, sonolenta.

Eu sorrio para mim mesma.

— A médica que fez o parto de Sorab disse que sempre

coloca alguns pontos extras. Para o marido. — disse ela.

Blake ri.

— Isso deveria ser uma prática padrão.

Descanso meu queixo em seu peito.

— Por que você ficou bêbado hoje?

Ele suspira pesadamente.

— Porque hoje tive que tomar uma decisão muito, muito

difícil.

Eu levanto minha cabeça por sobre a palma da mão e

olho nos olhos dele.

— Envolvendo sua mãe?

Ele traz um dedo em meus lábios.

— Shhh...

Suas palavras... eu suspiro e solto a cabeça para trás

para baixo. Todos esses segredos. Por que ele não pode

simplesmente confiar em mim e me dizer.

Sua voz é um sussurro.

— Uma coisa engraçada, não é? Você sabe a coisa que

eu mais senti falta depois que você saiu?

— Sexo?

— Sexo? Eu dormi com centenas de mulheres.

Sinto uma dor lancinante com suas palavras.

— No começo, eu tinha todas elas; morenas, negras,

pardas, ruivas, loiras, para poder escolher. Perdi-me na cama

de todas elas. Então comecei a ser um pouco mais exigente.

Elas tinham que parecer com você, pelo menos, a parte de

trás. Se eu bebesse o suficiente e mantivesse as luzes

apagadas, então eu poderia enganar a mim mesmo que era

você, mas no segundo que eu acordava, sabia: não era você.

Todas, cada uma delas, cheirava a sexo barato. Ninguém

tinha o seu cheiro. E eu praticamente corria porta afora.

Se foi para me consolar ou lisonjear, tem o efeito oposto.

Não gosto da ideia de todas as mulheres com as quais ele

esteve desfilando diante de meus olhos. Tudo o que ele teve

comigo, teve com outras pessoas. Não há nada de especial

entre nós.

— Foda-se o meu cheiro! Não há nada que possamos

fazer juntos, que você não tenha feito com outra pessoa?

Por um momento, ele simplesmente olha para mim como

se estivesse implorando para eu me desculpar. Não me

desculpo. A expressão amarga cruza seu rosto. Ele senta.

Quase posso acreditar que ele não está mais bêbado, e sim

sobriamente frio.

— Suba na cama. — diz ele.

Obedeço imediatamente. Este Blake me lembra muito do

velho Blake. Longe e distante. Frio. Um estranho. Estou

quase lamentando minha pergunta. Ele se levanta, vai para a

gaveta aonde todos os brinquedos sexuais que nunca cheguei

a usar são mantidos, e tira um vibrador. Este não é grande,

como o preto e laranja com o qual ele me humilhou. É

branco, em forma de um míssil, e de um tamanho modesto.

Ele tira a camisa.

— Deite-se. — diz ele. Sua voz está cortada e muito

assustadora. Este não é o meu Blake. No entanto, ele é meu.

Este Blake vive dentro do Blake que eu quero, então quero

este Blake também. Este é meu adversário, mas também

guarda segredos. Segredos que quero desvendar. Não sou

toda luz e ele não é todo escuridão. Para ser completo,

conhecê-lo completamente, só tenho que abraçar a sua

escuridão e torná-la minha.

Se tenho coragem suficiente?

Claro que sim.

Vou aonde o amor me levar.

Ele coloca o vibrador na mesa de cabeceira perto dele.

Em seguida, se posiciona de modo que seu pênis está sobre a

minha boca. E noto a coisa mais surpreendente de tudo. Seu

pênis está flácido. Isso não o excita, no mínimo. Ele está

fazendo isso por mim. Lentamente, ele baixa seu pau em

minha boca. Nunca o tive meio mole antes e é estranho. Mas

isso me faz determinada.

Começo a chupar tão forte e tão bem que ele cresce

rapidamente na minha boca, dobrando de tamanho. Ele pega

o vibrador e o insere em minha vagina escorregadia. Ele torce

dentro das paredes úmidas, em seguida, o remove, e põe na

minha mão. Eu o seguro, surpresa. Não está ligado.

— Vá em frente. Foda-me. — ele ordena.

Mas estou paralisada. Isto não é nem sexy e nem erótico

para mim. Não quero fazer isso, e eu posso ver em seus olhos

que se trata de um território desconhecido para ele. Ele pega

minha mão e, a posicionando sobre o reto, empurra minha

mão com força para cima. Não há nenhuma lubrificação real.

Apenas os sucos do meu próprio sexo. O vejo com uma careta

de dor.

— Chupe-me e me foda com força. Use as duas mãos. —

ele ordena, sua voz entrecortada, estranha.

Mas eu não posso. É quase impossível para mim feri-lo.

— Mais forte. — ele rosna os olhos duros, irreconhecível.

Desta vez, obedeço. Com ambas as mãos. O mais forte que eu

posso. Apenas para abraçar a sua escuridão... Eu o vejo se

esforçando com a dor e o prazer sombrio e inegável. Eu sei,

por que já experimentei.

Eu o sugo tão forte em meus lábios que o machuco, mas

sei que de alguma forma isso é muito importante. Uma ou

duas vezes ele empurra tão profundamente em minha

garganta, quase vomito e engasgo. Finalmente, vejo que ele

está próximo. Ele vai gozar. Ele começa a esticar e apertar.

Aumento minha velocidade, e ele está quase lá. Sempre, no

auge do clímax, ele fala meu nome. Desta vez, ele não diz.

— Não, pai. — ele grita em seu lugar. Sua voz é alta e

estranha, como de uma criança assustada.

Congelo, com seu pau ainda enchendo a minha boca.

Vinte e

Sete

O mesmo acontece com ele, mas o clímax é maior do que

nós – do que seu horror, sua vergonha, seus segredos, seu

orgulho ou do que meu choque. Ele se curva enquanto atira

seu esperma quente em minha garganta. Eu tiro o vibrador

dele, e ele sai da minha boca. Ele está se afastando de mim.

Mas pego sua mão. Ele para, ainda de joelhos, e olha para

baixo, para mim. A arrogância está escrita em cada linha de

seu rosto.

— Blake?

— O quê?

— Sinto muito.

— Não sinta. Você queria algo que nunca fiz com

qualquer outra mulher. Agora você tem.

— Não, eu quero dizer sobre o seu pai. — Ainda me

lembro de nossa conversa um ano atrás, quando ele se

recusou a condenar os pedófilos, dizendo que Deus os fez

dessa maneira e somente Deus pode condená-los.

— Seu pai abusou sexualmente de você, não foi?

— Meu pai não fez isso pela gratificação sexual.

Franzo a testa.

— O que você quer dizer?

— Ele fez isso para consolidar seu controle sobre mim.

— O quê?

— Ele fez de mim a pessoa que sou hoje. Ele teve de me

ensinar disciplina. Nossos costumes são diferentes dos seus.

Minha boca fica aberta. Ele está no mesmo planeta que

eu? Ensinar? Disciplinar? Nossos costumes são diferentes?

— Que porra é essa que você está falando, Blake?

— Você não vai entender.

— Droga, eu não sei. Seu pai te estuprou e te brutalizou

quando era uma criança, e você acha que é uma forma de

disciplina?

— Minha educação foi... vigorosa e difícil, muito difícil.

Não desejo isso a ninguém mais, mas sem ela eu não estaria

apto a implementar a agenda.

— Que agenda?

— Sem os nossos serviços bancários, o tráfico ilegal de

drogas pararia em um piscar de olhos. Sem nossas políticas

econômicas, não haveria pobreza ou fome. Sem nosso

dinheiro, guerras nunca seriam travadas. Temos que ser frios

e insensíveis por necessidade.

Por alguns segundos, minha mente fica vazia. Essas

pessoas são monstros, que deliberadamente treinam seus

filhos para serem monstros também.

— O seu pai disciplinou seus dois irmãos também?

— Não. Quinn, não.

— Por que não o Quinn?

— Quinn nunca foi concebido para liderar. Só Marcus e

eu iremos assumir o comando do império.

— Você está planejando fazer isso com nosso filho?

— Não. Nunca. — Seus olhos estavam cheios dor, mas,

novamente, ele se fechou para mim. Os segredos estão

nadando na superfície. Eu não posso compreendê-los. Há

mais. O que mais ele está escondendo?

Jogo minha última carta.

— Cronos é seu pai?

A mudança nele é tão imediata e tão violenta, que mal

posso acreditar nos meus olhos. Ele se agacha sobre as

quatro patas, como um gato, com o rosto muito próximo ao

meu, e seus dedos apertam contra a minha boca, mas é o que

está em seus olhos que me faz sentir o primeiro frisson real

do rastreamento do medo. Eles estão desesperadamente

suplicando, quando ele balança a cabeça. Eu entendo o apelo

silencioso.

— Não diga mais nada.

Começo a tremer de medo real. O que é que é tão

terrível que colocou aquela expressão em seus olhos?

Que segredos perigosos meu amante está escondendo?

Eu me recordo novamente de quando ele disse em

Veneza que as paredes são finas e podem até ter ouvidos. Ele

ainda está olhando para mim, com a mesma expressão de

ansiedade, temendo que eu possa decidir não obedecer ao

seu apelo silencioso. Quando aceno um pouco, ele diz

friamente, insensivelmente,

— MeineEhreheißtTreue.

— O que isso significa?

— Minha honra é a lealdade.

E eu sei imediatamente que essas palavras não são para

mim. As paredes têm ouvidos. Franzo a testa. Tentando

descobrir o que está acontecendo. E então pego meu diário da

mesa de cabeceira e rabisco rapidamente nele.

— Este quarto está grampeado?

Ele balança a cabeça lentamente e eu entendo que não é

uma resposta, mas um lembrete do seu fundamento de

antes. Não diga mais nada.

— Estou cansado. — diz ele em voz baixa. — Vamos

dormir. — Ele levanta os dedos dos meus lábios.

— Sim, vamos dormir. As coisas sempre parecem

melhores na parte da manhã. — consinto, minha voz

trêmula, quase um sussurro.

Ele sorri para mim. Com gratidão. Pelo quê? Por quê?

Então ele me beija na boca.

— Boa noite, minha querida.

— Eu te amo. Eu mexo a boca silenciosamente.

Ele sorri tristemente e cobre nossos corpos com o

edredom. Durmo com seu corpo curvado firmemente em

torno do meu, mas durmo mal. Sonhos, pesadelos. Todos

quebrados e desconexos. Estou chamando-o, mas ele tem seu

rosto virado para ventos fortes e pedras irregulares. Sempre

estou com medo por ele. Nunca sou eu em perigo, mas ele.

Acordei quando Blake, de repente, saltou e se sentou. O

amanhecer está surgindo no céu.

— Tenho que ir para o trabalho. — diz ele.

— Tudo bem. — Eu me sinto muito pequena e perdida.

Fico parada na porta do quarto de vestir assistindo-o se

arrumar para o trabalho.

— Você sabia que nos restam apenas dez dias?

Ele me olha no espelho.

— Sim. — ele diz e continua a atar o nó da gravata.

— A máquina de café deve estar ligada a esta hora. Quer

um?

— Obrigado. — diz ele, com um sorriso.

Quando estou colocando o pires sob seu expresso, Blake

entra na cozinha. Mesmo hoje, com meu coração tão pesado,

ele faz meu coração pular uma batida. Ele parece um pouco

pálido, mas é tão masculino, tão lindo. Eu quase posso

esquecer o que aconteceu ontem à noite. A voz da criança

magra, implorando para o pai parar. Eu vejo o movimento

que sua garganta faz quando ele bebe o café. É incrível

pensar que dentro deste homem realizado e totalmente

confiante, vive uma criança danificada, da qual até a voz é

um pouco assustadora. Mas hoje também é diferente de

qualquer outro dia, por um motivo diferente. Ele está

mudado. Eu posso sentir isso. Não a maneira como se sente

em relação a mim, mas por dentro. A determinação de aço.

Ele termina o café e vem até mim.

— O que você vai fazer hoje?

— Eu não sei. Provavelmente, um monte de coisas.

Ele acena com a cabeça distraidamente. Ele já está em

outro lugar. Tomado pela determinação de aço. Me beija. Em

seguida, abre a boca como se quisesse dizer alguma coisa,

mas fecha.

— Você confia em mim, Lana?

A pequena pergunta está carregada de significado.

— Sim, confio em você.

Ele sorri ternamente. Em seguida, sai.

O dia se estende à frente interminavelmente. Ele vai

ficar fora o dia todo. Eu me sinto inquieta e estranhamente...

Assustada. Sento em frente ao computador e pesquiso no

Google sobre Cronos. Tem algo que deixei passar? Um deus

que comia seus próprios filhos. Pai do tempo. Outro nome

para Saturno. O que estou perdendo? Começo a mergulhar

mais fundo nas páginas do Google. Sites de conspirações

absurdas começam a aparecer.

Desisto e digito 'Blake Law Barrington primeiros anos‘.

Nada. Não há uma única fotografia ou um pedaço de alguma

notícia sobre ele. Tento imaginá-lo como uma criança. Um

pouco mais velho que Sorab e de repente lágrimas aparecem

nos meus olhos. Pobrezinho. Eu nunca me deparei com isso.

Quando uma criança que foi abusada por seu pai cresce e se

torna um homem e protege o seu agressor de uma forma tão

leal. Como se o que seu pai fez estivesse certo. Será que sua

mãe sabe? O pensamento me enoja.

Eu não entendo no que estou metida.

Passei a manhã e a maior parte da tarde, vagando sem

rumo ao redor do apartamento. A verdade é que estou presa

em um torpor de incompreensão. Estou mesmo tentada a

arriscar um contato com a mãe de Victoria. Mas a lembrança

do olhar aguçado em seus olhos me assusta. Como se ela

estivesse oscilando na fronteira da loucura. É como se ela

estivesse presa em seu próprio inferno.

Às quatro horas, ouço a porta da frente abrir. Blake

chegou cedo. Corro para recebê-lo. Sinto tanta falta dele. Paro

abruptamente no meio do corredor. Não é Blake em pé, ao

lado da porta olhando para mim. É seu pai.

Vinte e

Oito

— O mundo é governado por personagens muito

diferentes do que é imaginado por aqueles que não estão nos

bastidores.

Benjamin Disraeli - Primeiro Ministro da Inglaterra de 1844

— Olá, senhorita Bloom.

— Olá. — sussurro.

— Posso entrar?

— Você já entrou.

Sua boca se contorce com altivez.

— É verdade.

— Blake não está aqui.

— Eu não vim para vê-lo.

Ele passa por mim a caminho da sala de estar, para a

poucos metros de distância, e fala:

— Vamos?

Eu o sigo. Estou tão furiosa com este homem que estou

com minhas mãos em punhos e com as juntas brancas.

Realmente acho que o odeio. Na verdade, este é o primeiro ser

humano que conheço, que me faria sentir bem por cometer

homicídio. Este é o homem que atacou uma criança e o

moldou em uma pessoa fria, uma máquina de fazer dinheiro.

Mas sei que não posso expulsá-lo ou mostrar minha fúria.

Reconheço que ele está no final do labirinto, no qual estou

perdida.

Ele para no meio da sala de estar, não se senta e eu

também não ofereço hospitalidade.

— O que você quer?

— Você pegou algo muito precioso para mim e eu vim

pedir para devolvê-lo.

Balancei minha cabeça.

— Eu não tenho nada seu.

— Não brinque comigo, senhorita Bloom. Não tenho

tempo ou inclinação para tolices. Quero que você deixe meu

filho.

— O que há com vocês? Você não acha que Blake tem

idade suficiente para decidir com quem quer estar?

— Eu a tenho observado. Assisti você implorar ao meu

filho para te machucar. — ele disse em voz baixa. Mas o

veneno em suas palavras calmas me choca muito mais do

que se ele gritasse comigo. Dou um passo para trás. Seus

olhos frios não piscam. Eles me observam como uma cobra

faz com sua presa. Ele dá um passo para a frente.

— Esta foi a primeira vez que vi uma mulher implorando

a um homem para abusar dela. Tenho que admitir, gostei,

mesmo que o meu filho não tenho feito. Da próxima vez que

você quiser se machucar, me chame. Sei exatamente como

fazer você gritar.

Fico olhando para ele fixamente. As paredes não só têm

ouvidos, elas também têm olhos, Blake. Você não sabia disso,

não é? Minha mente se arrasta para uma escapatória desse

pesadelo. O que este homem viu? Ele me assistiu com as

pernas abertas, o vibrador preto e laranja enterrado em mim.

Mas não sinto vergonha ou humilhação. Sinto medo. Para

derrubar o medo, simulo coragem. Eu levanto o meu queixo

para ignorar sua postura.

— Se você acha que seu filho não deveria estar comigo,

por que você não o aborda diretamente?

Ele olha para mim de forma estranha. Como se eu fosse

uma criatura de muito pouca inteligência, a qual ele está se

esforçando muito para tentar se comunicar.

— Porque eu não preciso. Tenho o que você quer.

— Prefiro morrer a aceitar um centavo de você.

Ele sorri.

— Eu não a insultaria com dinheiro. Você é sutil demais

para isso. Ao invés disso, estou te dando uma nova

oportunidade de ser altruísta e fazer algo maravilhoso.

Fico olhando-o sem dizer nada, enquanto ele tece a rede

em que acredita que vai me pegar.

— Vejo um futuro brilhante e glorioso para meu filho,

mas você está no caminho. Sua genética, a sua falta de

educação, sua... sua falta de posição social, isso vai acabar

rebaixando ele com você. O que estou oferecendo é um lugar

no campo, perto de uma boa escola, uma bela casa, um

carro, dinheiro é claro, e a introdução em uma sociedade que

agora você conhece.

— Não posso tomar essa decisão por Blake. Ele tem

idade suficiente para escolher o que quer.

Ele levanta a mão.

— Deixe-me terminar. Sei que você está apaixonada pelo

meu filho. E, acredite, isso é algo nobre a seu favor. Sei o

quão difícil deve ser para você, mas as consequências, se não

deixá-lo, são enormes, incalculáveis..., Mas, apenas para

Blake.

— O que você quer dizer?

— Se você não deixá-lo, vou destruí-lo.

Eu ri. Um riso incrédulo e selvagem.

— Você destruiria seu próprio filho só porque ele não se

casará com a mulher que quer para ele?

— De que serve um filho se não tenho nenhum uso para

ele? — ele perguntou. Sua lógica é tão simples, tão direta, tão

dolorosamente sócio pata, que eu suspirei.

— Você não faria isso.

— Faria. Eu o destruiria num piscar de olhos.

— Você não pode.

— Você acha que não? — diz ele, em tom de conversa —

escolha um político, um líder de um país, um homem

importante em qualquer esfera, e amanhã o transformarei em

nada.

— Eu não vou ser responsável por destruir ninguém

para que você possa provar o seu poder.

— Se você não escolher vou ter que fazer, o que vai ser

um pouco menos espetacular para você, porque então você

pode fingir que eu não tinha o poder de destruir, apenas o

conhecimento de antemão, de algo que já estava no percurso

de acontecer. Escolha qualquer um. É claro que eu preferiria

que você não escolhesse os primeiros-ministros ou

presidentes de países. É sempre caro e demorado para

manobrá-los em suas posições de poder e todos, exceto um

ou dois, estão sendo ótimos marionetes no momento. Mas, se

isso é o que é preciso para convencê-la, então que assim seja.

Ou talvez você prefira um bilionário que particularmente a

irrita. Bill Gates? Warren Buffet?

Balancei minha cabeça.

— Eu não vou jogar seu jogo.

— Tudo bem, eu vou escolher. O chefe do FMI

atualmente está um pouco menos obediente do que o

habitual. Eu o escolho. Diga que tipo de desgraça você

gostaria de ver passar sobre a sua cabeça desavisada.

— Nenhuma.

— Nesse caso, o deixe ser acusado de estupro. Não

apenas qualquer estupro, mas o estupro de uma camareira,

em um quarto de hotel. Que ela seja de origem asiática.

Tailandesa seria muito comum. Você ficaria feliz com o

birmanês?

Eu não digo nada. Apenas olho para ele.

— Agora que jornal você escolhe para a desgraça dele?

Ele fala sério. Ele realmente vai arruinar a carreira e

vida de um homem inocente, apenas para provar um ponto.

Balancei minha cabeça.

— Eu não vou fazer parte disso.

— O que acha do The Guardian? Talvez você queira

mais de um jornal para publicar a história? E um canal de

televisão? BBC? Ou todos eles?

E de repente meu cérebro entra em ação. Ele está

blefando.

— A BBC. Eu quero que a história seja noticiada pela

BBC. — digo. Certamente, ele não pode ter influência na

corporação Britânica de jornalismo!

Mas ele sorri confiante.

— Feito!

Eu não deveria ter falado. Agora ele sabe que me tem.

— Quando a história surgir amanhã você vai entender a

extensão do meu alcance. Vou fazer o mesmo com meu filho.

Aqui estão as fotos que enfeitariam a mídia mundial, se você

se recusar a ser razoável.

Percebo que ele estava segurando um envelope todo esse

tempo. Ele dá dois passos em minha direção, joga na mesa de

café e sai pelo outro lado, parando na minha frente. Ele está

tão perto que agora noto seus olhos. Os olhos são geralmente

chamados de janelas da alma, mas no seu caso, ou as janelas

estão fechadas ou não há alma para olhar. Não há sequer um

fio de luz no interior vazio.

Agarro o envelope com as mãos tremulas. Fotografias

minhas. Com o meu cabelo desgrenhado, meus lábios

entreabertos, minhas pernas abertas. As fotos são claras e

gráficas. Olho para elas. As fotos daquela noite, quando eu

provoquei Blake para que ele me machucasse são tão

horríveis, que não posso continuar. Elas não refletem o que

realmente aconteceu. Eles fazem parecer que era um estupro

da pior espécie. Eu não preciso ver todas. Coloco-as

cuidadosamente de volta no envelope e atiro-as de volta, ao

longo da mesa. Meu rosto não está ardendo de vergonha, está

paralisado com o choque.

— Não, fique com elas, de recordação... — ele diz.

Como um fantoche, ele se vira de volta para mim.

— Há também fitas de vídeo de você e... Outras

mulheres. Receio que o meu filho foi bastante indiscriminado

quando você o deixou pela última vez. Elas serão liberadas

alguns dias depois, na Internet, como elementos de prova.

Meu filho vai se tornar um criminoso comum. Um predador

sexual.

Preciso pensar. Estou paralisada. Meu adversário é

muito grande.

— O que acontece se eu concordar?

— Você pode escolher um subúrbio arborizado Inglês

ou, se preferir, até mesmo em outro país. Talvez você goste de

viver ao sol. — Balancei minha cabeça. — Não, você precisa

escolher. Que tal algum lugar como Weybridge, talvez?

— O que vai acontecer com Blake?

— Absolutamente nada. Ele vai chorar por você... por

um tempo, então vai se casar com Victoria e ter uma família,

e a vida será boa de novo.

— E se ele vier me procurar?

— Ele não vai saber onde procurar. Você terá outra

identidade. Você vai ter que desistir de seus amigos, é claro.

Mas você vai fazer novos, e melhores.

— Por que você está tendo tanto trabalho para me

manter longe dele?

Algo pisca em seus olhos. Tão rapidamente, que é quase

como se eu estivesse em um estado entorpecido. Mas faz

minha pele esfriar. Não é tão simples como ele faz parecer

ser. Há mais. Muito mais.

Fecho minhas mãos congeladas. Por um momento,

nenhum de nós fala.

— Há outra coisa que você deve considerar. Meu pai era

um banqueiro, eu sou um banqueiro, e meu filho vai ser um

banqueiro.

— O que você quer dizer?

— Posso ver o meu neto?

Eu entendo imediatamente e o medo de antes não é

nada comparado a esse. Oh Deus! Ele está se referindo ao que

ele fez com seu filho. Ele está dando a entender que isso é o

que Blake vai fazer para Sorab.

— Blake nunca vai fazer isso com o próprio filho.

— É à nossa maneira. Se você optar por viver em nosso

mundo, então você deve respeitar nossas regras.

Eu não quero esse homem perto do meu bebê.

— Ele está dormindo. — falo com os lábios congelados.

— Eu não vou acordá-lo. Basta uma olhada rápida. —

diz ele, com um sorriso doentio.

Desajeitadamente, comecei a andar com dificuldade em

direção à porta. Ele me seguiu ao quarto de Sorab.

Protetoramente, fiquei ao lado do berço. Ele parou a um

passo de distância do berço e acenou com a cabeça, como se

estivesse satisfeito. Do quê? Eu não sei e não perguntei. Ele

se afasta e eu o sigo, fraca com o alívio, até a porta da frente.

— Leia os jornais amanhã de manhã. Vou entrar em

contato no final do dia. — Ele abre a porta.

— Sr. Barrington?

Ele se vira um pouco para mim.

— Sim?

— Quem é Cronos?

Ele se vira completamente para mim, e sorri. Naquele

momento, a coisa mais estranha acontece. Naqueles olhos

mortos acontece alguma coisa. O olhar mais inquisitivo que

eu já vi, com um interesse ávido que você jamais poderia ter

imaginado ser possível naqueles olhos cor de chumbo. É

como se já não fosse o mesmo homem. Sinto uma onda

gelada por dentro.

— Quando você fizer suas buscas pela Internet, procure

pelo nome certo. Encontre o caminho encoberto sob o nome

de El. — Ele diz, abrindo a porta e deixando o apartamento.

Vinte e

Nove

Eu não ando, corro para o meu laptop para digitar El na

barra de busca do Google.

El, eu aprendo, é uma divindade que remonta aos

tempos fenícios. Ele acreditava ser o pai da humanidade e de

todas as criaturas. Ele é um ancião antigo de barba cinza,

cheio de sabedoria. O touro é um símbolo para ele. El se

distingue de todos os outros deuses, como sendo o deus

supremo, ou, num sentido monoteísta. — O único Deus.

Através dos tempos, ele está listado na cabeça de muitos

panteões. Ele é o Pai supremo entre os cananeus. No texto

hebraico, El se torna um nome genérico para qualquer deus,

incluindo Baal, Moloch e Yahweh. Finalmente, no final do

texto me deparo com a referência a Cronos.

Aparentemente, era o costume dos antigos durante a

grande crise, o governante de uma cidade ou nação, sacrificar

o mais amado de seus filhos aos demônios vingadores, para

evitar a ruína comum. Assim, aqueles que estão quase

desistindo são sacrificados com rituais místicos, vestidos de

trajes reais e sacrificados no altar. Aqueles que seguem esse

caminho são chamados de filhos de El.

Um artigo aponta que El é a raiz da palavra elite.

Digito El e Cronos e vejo que ElCronos é um brinquedo

sexual para homens.

Eu digito Saturno e El e descubro que El é outro nome

para Saturno. E Saturno é intercambiável com Cronos.

Sento-me. Para evitar a ruína, os homens dão o seu filho

mais amado como sacrifício a seu grande deus El. Será que

isso significa o que eu penso que significava? Que o pai de

Blake estaria disposto a sacrificar seu filho em troca de mais

poder?

Ouço alguém na porta e rapidamente fecho as páginas

que estou vendo. Vou para a porta com cautela, mas é

apenas Blake.

— Oi. — diz. Ele parece normal.

— Oi.

— Está tudo bem?

— Ótimo.

Ando até ele e o beijo. Seu beijo desmente sua atitude

casual. É o beijo de um homem que está bebendo água doce

de uma fonte antes de uma longa viagem para o

deserto. Minhas mãos se entrelaçam em seu cabelo. Eu

quero que o beijo continue sem parar, mas meu cérebro não

permite. Agora que eu tenho a prova de que as paredes têm

olhos e ouvidos eu não posso ser eu mesma. Retiro a minha

língua lentamente, desço as minhas mãos até seu peito e dou

um leve empurrão.

Ele olha para mim, seus olhos escuros e selvagens.

— Podemos sair para jantar hoje à noite? — Eu

pergunto, forçando um sorriso.

— Claro. Onde você gostaria de ir?

— Aquele lugar indiano que você me levou no ano

passado. Esqueci o nome. O com o nome do mercado de

ladrões.

— Ah, Chor Bizzare.

— Esse mesmo. Nós podemos deixar Sorab na casa da

Billie.

— Não deveríamos chamar a senhora Dooley?

— Não! — falo, e depois sorrio rapidamente para tirar o

ferrão. — Billie estava reclamando que ela não tem ficado

muito com Sorab.

— Está bem.

— Ei, eu sempre tive curiosidade. Quando você pega os

relatórios de suas sombras o que eles dizem?

— Apenas uma lista de seus movimentos.

— Você já recebeu o seu relatório de hoje?

— Sim, quando eu estava a caminho de casa.

— O que ele diz?

— Por quê?

— Só quero saber como funciona.

— Está bem. Hoje você ficou dentro de casa até 15h50,

quando levou Sorab no carrinho de bebê para a cafeteria da

esquina. Você comeu um bolo e tomou um café, depois

voltaram por volta das 17h00.

Tento manter meu rosto neutro. Eu nunca saí de casa!

Em seguida, isso me atinge. Uma sósia atraiu o guarda

costa para longe e o pai dele entrou no edifício para me ver.

Quando o pai dele foi embora, a sósia voltou a entrar no

edifício. Agora eu sei. Tenho certeza. Blake não pode me

proteger, ou a si mesmo, de seu pai.

Seu pai foi mais esperto que ele.

Trinta

— Nós somos as ferramentas e os receptáculos dos

homens ricos por trás das cenas. Nós somos as marionetes -

eles dão corda e nós dançamos. Nossos talentos, nossas

possibilidades e vidas são de propriedade de outros homens.

Nós somos prostitutas intelectuais.

John Swinton, chefe de Redação, New York Times, Em

um banquete feito em sua homenagem, 1880.

O pai de Blake é leal à sua maldade. O Independent e o

The Guardian são os primeiros a relatar que o CEO do Fundo

Monetário Internacional, Sebastian Straus Khan, estava

envolvido em um escândalo. Uma empregada birmanesa que

trabalha em um hotel em Nova York o acusou de estupro. Ele

foi preso no aeroporto. A BBC passa a história na hora do

almoço. À noite, todos os canais de TV estão passando a

história. Não parece haver nenhuma investigação.

Simplesmente uma história que se repete, quase palavra por

palavra, por todos os diferentes canais de notícias. Cada um

alegremente convencido de seu crime.

Naquela noite, quando Blake chegou em casa, eu me

maquiei e me vesti com a roupa mais sexy que Fleury já viu.

A calça justa de couro rosa que Billie me disse, fazem o meu

bumbum parecer firme e maduro, com a necessidade de ser

resgatado. Finalizo com um top que deixa meus ombros e

costas nuas.

Seus olhos se iluminam.

— Uau, qual é a ocasião? — Ele respira contra a minha

orelha.

— Não iremos passar a noite aqui. — digo a ele.

— Eu já reservei um quarto no Ritz.

Ele sorri lentamente. Ele não tem ideia. Por dentro estou

morrendo. É a nossa última noite juntos, uma noite que

nunca vou esquecer. Nós jantamos, não sinto gosto de nada,

e então subimos a escada. Há champanhe à espera, em um

balde de prata. Cortesia da casa. Não bebo. Não quero que

nada me deixe zonza. Eu quero lembrar de todos os detalhes.

Esta noite, eu sou insaciável.

Uma e outra vez nós fazemos amor, até que ele me diz:

— Vá dormir, Lana, eu não quero que você adoeça

novamente. — Mesmo assim, estendo a mão e tomo o seu

grande e belo pênis na minha boca e murmuro.

— Use-me para o seu prazer. Você pagou por isso.

Ele olha profundamente em meus olhos e diz:

— Considere a dívida paga. — A ironia me apunhala no

coração. Ele não faz ideia.

Quando a manhã chega, eu o puxo para perto e

sussurro,

— Eu te amo. Eu sempre vou te amar.

E quando ele está saindo, ele diz, com a voz rouca de

emoção.

— Vou sentir sua falta terrivelmente, até que eu possa

ver você de novo... hoje à noite.

E eu quase quebro. Ele nunca vai me ver de novo.

Lágrimas borram meus olhos.

— Ei! — ele fala bem baixinho. — Nada pode nos

separar.

Um soluço rompe. Ele não entende.

Quando ele está vestido e de saída, eu o seguro firme.

Ele olha para mim, com determinação e um olhar firme.

— Nada pode nos separar. — diz ele novamente. E então

a porta se fecha atrás dele e eu afundo no chão. Choro como

se eu fosse me partir ao meio. Quando já não aguento mais

chorar no chão do Hotel Ritz, me levanto entorpecida, mas

pronta. Isto é por ele e por Sorab. Isso vai manter ambos

seguros. Entro no elevador, estou dolorida entre minhas

pernas e as pontas dos meus seios estão sensíveis de serem

sugados e mordidos a noite toda. Tom está esperando no

saguão por mim. Meu casaco grosso está dobrado sobre o seu

braço.

— Sr. Barrington me pediu para pegar isto do

apartamento para você. É uma manhã fria.

Mais uma vez fiquei impressionada com o quão

atencioso e cuidadoso Blake é. Ele está sempre um passo à

frente. Exceto para a coisa mais importante de todas. Tiro

meu casaco leve e visto o casaco que Tom trouxe para mim.

Viro a cabeça e percebo um homem me olhando. Nossos

olhos se encontram. Ele não desvia o olhar. Eu olho para

longe. O mundo mudou para mim. Alguns meses atrás, eu

pensaria que ele me achou atraente, agora não sei, ele pode

ter sido pago para me vigiar.

Do lado de fora, um vento gelado me atinge. Estou feliz

com o casaco.

No carro olho pela janela. Na verdade, estou em estado

de choque. A ideia de deixar Blake é tão dolorosa que me

recuso a pensar nisso. É quase como se eu estivesse no piloto

automático. Há um acidente a frente e Tom toma a rota mais

longa através da South Kensington. Passamos por uma

antiga igreja. A porta está entreaberta e eu me lanço para a

frente.

— Pare o carro, Tom.

Tom para o carro ao lado da estrada.

— Vou entrar nessa igreja.

Tom olha para mim, preocupado.

— Não posso estacionar aqui.

— Eu não vou demorar muito. — digo, e saio

rapidamente do carro. Atravesso as portas de madeira gótica,

e é como se eu pisasse em outra dimensão. É fresco e

silencioso, o som da rua permanece do lado de fora. A

construção de pedra é linda. Vejo a água benta, mas eu não

faço o sinal da cruz com ela, como minha mãe costumava

fazer. Sigo o brilho das velas até o centro da igreja. Não há

mais ninguém lá. Meus passos ecoam no espaço crescente.

Vou até a frente da igreja e sento em um banco de madeira.

Fecho meus olhos. Não sei por que eu vim aqui. Eu não

acredito em Deus e Ele não fez nada para mim. Tudo o que

Ele já fez é tomar e tomar, cada coisa que eu já tive. Sinto-me

incrivelmente triste e derrotada. Eu gostaria de não ter que

partir deste santuário tranquilo. Lágrimas quentes estão

espetando os meus olhos. A vida é tão injusta.

De repente, sinto uma rajada de ar frio. Abro os olhos e

olho ao redor. Não há ninguém aqui. Seria uma alucinação?

E então eu tenho a estranha sensação de que a minha mãe

está lá comigo. Eu me levanto.

— Mãe? — Eu chamo.

Minha voz soa estranha e alta naquele espaço vazio.

— Mãe. — chamo de novo, desta vez mais

desesperadamente.

Nada. Sento novamente e fecho os olhos e logo a

sensação de que a minha mãe está comigo retorna. A

sensação me acalma.

— Eu te amo, mamãe. — sussurro. — Você me deixou

muito rápido. Não tive a chance de dizer adeus.

Um sentimento de paz se instala em mim. Não há

palavras para descrever a sensação. Foi um momento que

pareceu eterno. Não sei por quanto tempo fiquei sentada lá. E

é apenas o som de passos que me desperta. Olho para trás.

Tom está de pé, apoiado em um dos pilares na entrada. Eu

me levanto e vou até ele.

Nós caminhamos em silêncio até o carro. Há um bilhete

amarelo de estacionamento preso ao para-brisa.

— Desculpe. — eu digo.

— Laura vai cuidar disso. Minhas instruções são claras.

Nós entramos no carro e Tom me leva até Billie.

— Podemos fazer uma pequena caminhada pelo canal?

— Digo a ela.

— O que está errado?

Coloco um dedo em meus lábios.

— Eu só estou com vontade de caminhar.

— Tudo bem. — ela diz, franzindo a testa.

— Está frio lá fora. Vista seu casaco.

Ela pega seu casaco e me segue. Quando estamos no ar

revigorante eu conto tudo. Algumas vezes, ela se vira, para de

repente e olha para mim de boca aberta, e então tomo seu

braço na curva do meu e continuamos em nosso caminho. Eu

nunca vi Billie parecer tão branca ou totalmente séria. Isso

serve para destacar o quão chocada devo estar, para ela ser

capaz de agir tão normalmente.

Após a caminhada, dou um beijo de adeus a uma Billie

de rosto atordoado, e ela me puxa com força contra seu

corpo, como se pudesse me passar um pouco de sua força.

Ambas sabemos exatamente como entrar em contato uma

com a outra. Ela está piscando para conter as lágrimas.

— Fique segura. — ela fala, enquanto levo Sorab para

longe dela.

Então vou para casa para aguardar minhas próximas

instruções.

Quando a chamada é feita, deixo meu celular na mesa

de jantar e empurro o carrinho para frente. Aceno para o Sr.

Nair e ele olha para mim, confuso. Eu sei que, apenas alguns

minutos atrás, ele deve ter visto minha sósia empurrar um

carrinho de bebê idêntico para fora da porta, talvez para a

cafeteria onde ela vai comer bolo e beber café. Do lado de fora

da porta da frente, um carro está esperando por mim. Um

homem salta do banco da frente. Tiro Sorab do seu carrinho.

Ele mantém a porta de trás aberta, enquanto eu entro.

Quando estou instalada, ele a fecha com um clique suave. Ele

dobra o carrinho rapidamente, o guarda na porta mala, e vai

para o banco da frente. Nenhuma palavra foi trocada por

qualquer um de nós. O carro se afasta.

Penso na minha sósia. Ela deve ter chegado à pâtisserie

agora e provavelmente terminou com sua fatia de bolo.

Imagino que ela deva ser uma atriz. Paga para interpretar um

papel e depois desaparecer. Ela provavelmente vai empurrar

seu carrinho de bebê de volta para o prédio. Talvez o pai de

Blake tenha outro apartamento onde ela pode deixar o

carrinho e trocar de roupa. Um chapéu, um lenço, uma

peruca, antes que ela saia do edifício para sempre.

E Blake, meu pobre e querido amor, vai voltar para

casa, para o seu ninho vazio.

Trinta e

Um

Nós viajamos por muitas horas, parando apenas para

descansar. Finalmente chegamos a uma fazenda no pântano.

Aqui a paisagem é selvagem e deserta. Um forte vento está

soprando enquanto saio do carro.

— Onde estamos? — Pergunto.

Mas os homens simplesmente sorriem educadamente.

— Eles vão te dizer quando chegar a hora.

Lá dentro está quente. O fogo já está aceso na lareira.

Da cozinha, vem um delicioso cheiro de carne assada. Levam-

me ao meu quarto no andar de cima. É bem agradável, com

papel de parede azul estampado e uma cama de casal com

um colchão confortável. Há um berço nele também. Como

instruído eu não trouxe roupa para Sorab ou para mim. O

homem me diz que tudo o que preciso está nas gavetas e

armários. Eu já posso ver exatamente a mesma marca de

produtos que eu uso para Sorab sobre a cômoda.

Ele sai e eu vou ficar perto da janela. A floresta parece

se estender em direção ao horizonte. Nem uma única casa à

vista. O medo me corroeu. Por que estou aqui? Sei que o pai

de Blake disse que esta é minha casa temporária até que

tudo esteja organizado, mas algo parece muito errado.

Outra voz em minha cabeça me perturba „você não

manteve sua promessa a Blake‟. Mas não tive escolha. Protegi

Blake com meu próprio corpo. Afasto da janela e me deito na

cama, enrolando meu corpo em torno de Sorab que está

dormindo. Fecho os olhos e finjo que estou na minha cama

em St. John‘s Wood, até que escuto uma batida na porta.

— O jantar está pronto. — alguém informa.

Lavo as mãos e me refresco antes de descer. Coloco

Sorab no cercadinho e um dos homens coloca um prato de

comida na mesa e se retira da sala. Eu o ouço abrir a porta

da frente e sair e como sozinha. A comida é saudável e

quente, e eu como tudo. Algo me diz que vou precisar de toda

a minha força.

Caio no sono enquanto assisto TV no meu quarto.

Sou despertada por uma mão sobre minha boca. Meus

olhos abrem de repente. Uma voz de homem sussurra

urgentemente.

— Por favor, não faça barulho. — Uma pequena tocha é

acesa. — Blake nos enviou aqui. — ele oscila sobre meus

olhos, à luz da tocha, o colar de rubis de diamantes negro

que Blake colocou no meu pescoço, em Veneza. Olho para ele

como se estivesse hipnotizada, mas na verdade não preciso

do colar. Reconheço o homem. Brian, o que abateu Rupert. —

Posso tirar minha mão agora?

Aceno com a cabeça.

— Não leve nada. Basta pegar o bebê e o mantenha o

mais quieto possível. — ele instrui.

Cuidadosamente, levanto Sorab de seu berço e o coloco

em meu peito. Ele faz um pequeno som, mas não acorda.

Descemos as escadas. A casa é escura e silenciosa. À medida

que contornamos o canto da sala de jantar, vejo um sapato

inerte e rapidamente desvio o olhar. Sabia que cometi um

erro no momento em que entrei no carro com esses homens.

Agora sei que estou no caminho certo. Aconteça o que

acontecer. Nós entramos no carro e ele se afasta. Não olho

para trás. Olho para baixo para o rosto adormecido de Sorab,

ele não acordou, mas o barulho das hélices do helicóptero o

acorda. Ele grita chorando com toda força e não para até que

pousamos em um heliporto em uma parte totalmente

diferente da Inglaterra.

Trinta e

Dois

— Ponha a mão para ela cheirar você. — diz Brian.

O pastor alemão olha para mim com cautela. Não há um

pingo de simpatia nele. Esta é a versão canina do Sr.

Barrington mais velho.

Estendo a minha mão.

— Guarda. — Brian comanda. O cão fareja a minha mão

e volta para sua posição sentada.

— Agora, estenda a mão do seu filho.

Hesito. As mãos de Sorab são tão pequenas e há algo

sobre o cão que não confio o bastante. Ele foi treinado para

matar sob um comando.

Brian se vira para um dos homens e diz:

— Dê-me seu sapato.

O homem tira o seu sapato e entrega para Brian. Ele

permite que todos os quatro cães cheirem.

— Guarda! — ele diz, e joga o sapato para o ar. Ele cai

cerca de trinta metros de distância. Todos os quatro cães

correm até o sapato e formam um círculo em torno dele, de

costas para ele.

— Vá buscar o sapato de volta. — diz ao homem.

O homem começa a caminhar em direção ao sapato.

Cinco metros de distância de seu sapato, os cães rosnam

violentamente e mostram os dentes. Seus corpos são

agachados, prontos para atacar. O homem para em seu

caminho.

— À vontade! — diz Brian, e em uníssono os cães

deixam o sapato que foi posto em guarda tão ferozmente e

trotam de volta para ele. Ele os elogia, em seguida, dá

guloseimas.

— Deixe-os sentir o cheiro do garoto.

Eu me curvo e seguro a mão de Sorab estendida na

frente de suas faces negras. Um por um eles cheiram sua

mão e vão se sentar ao lado do seu mestre.

— Guarda! — seu mestre diz.

Imediatamente suas orelhas ficam em pé em atenção.

Brian desaparece e os cães ficam comigo enquanto

aproveitamos os últimos raios de sol do dia. Assim que

passamos pela porta da frente, os cães param de nos seguir e

começam a patrulhar o terreno.

Já faz dois dias que estamos vivendo nesta casa. É

cercada por muros altos, um portão maciço e equipado, e as

equipes de cães patrulham os jardins incessantemente. Há

sistema de câmeras de segurança em todos os poucos metros

e o pessoal de segurança vigia suas telas 24 horas por dia.

Gostaria de saber onde Blake está e por que ele não veio

até mim, mas eu não sinto medo. Sei que Sorab e eu estamos

seguros aqui. Penso em Billie. Não há nenhuma maneira de

contatá-la também. Não há Internet ou uma linha telefônica.

Naquela noite, jantei sozinha e fui para a cama cedo. Eu me

sinto sozinha, mas não estou entediada. Sei que em algum

lugar lá fora, Blake está executando os planos que eu vi

tantas vezes em seus olhos.

É 02h da manhã quando sinto o colchão ceder ao meu

lado.

— Blake?

— Quem mais você esperava?

Trinta e

Três

Eu pulo em seus braços com um grito de pura alegria e

o cubro de beijos, seus lábios, as bochechas, pálpebras, suas

mãos.

— Sinto muito, sinto muito, eu fugi. Pensei que estava

fazendo a coisa certa.

— Está tudo bem. Eu sabia que você faria isso. Uma vez

você se vendeu por sua mãe. Sabia que você faria o mesmo

por mim.

Não consigo segurar as lágrimas. Ele entendia. Eu não

tive escolha. Tive que quebrar a promessa que fiz a ele.

— Eu te amo, Lana Bloom, eu te amo mais do que a

minha própria vida.

— Oh, meu amor. Esperei tanto tempo para ouvir você

dizer isso.

— Eu te amo há um longo tempo. Pensei que você

saberia. Cada ação minha gritava isso. Mesmo quando pensei

que você foi embora, não consegui te esquecer. Nós temos

esta conexão inquebrável. Não importa o que você faça, ainda

anseio por você. Eu sempre amei e sempre amarei. Você não

sabia?

— Talvez, mas eu não tinha certeza. Por que você não

me contou?

— Porque queria que meu pai pensasse que nosso

relacionamento era temporário. Isso me deu tempo para

acertar meus planos.

— Se tivesse me dito, eu não contaria a ninguém.

— E correr o risco de que você deixasse escapar

acidentalmente em uma conversa com Billie ou Jack? Não, as

apostas eram altas demais. Se tratava de você.

— Você vai me contar tudo agora?

Por um momento, ele hesita.

— Por favor.

Ele balança a cabeça e acende a lâmpada da cabeceira,

e de repente vejo quão desgastado ele está. Também tem

alguma coisa em seus olhos, um olhar diferente. Um que eu

queria que não estivesse lá. É o olhar de um homem que teve

que dizer ao veterinário para acabar com o sofrimento de seu

amado cão. Coloco a palma da mão em seu rosto.

— Você está bem?

— Sim. Eu estava seguro. Você era a única em perigo.

— Como você pode ver, estou bem.

Ele respira fundo, o peito entrando em colapso.

— Oh, Deus, o pensamento de que você poderia não

estar.

— Como você sabia onde enviar Brian?

— Nosso apartamento estava grampeado, não só pelo

meu pai, mas por mim também. Eu sabia que esteve por

perto e também o que disse a você.

— Então, quando estávamos no Ritz, você sabia que eu

iria deixá-lo no dia seguinte.

Ele balança a cabeça.

— Por que você não tentou me impedir?

— A única coisa que eu tinha do meu lado era o

elemento surpresa.

— Onde o seu pai está agora?

Seus olhos endurecem.

— Morto. Há 15 minutos, vítima de um acidente de

avião.

— Você o matou. — Suspiro totalmente horrorizada.

— Sim. — ele admite, sem rodeios.

— Por quê? — Minha voz não é mais do que um

sussurro.

— Porque ele queria exterminar a coisa que eu mais amo

no mundo. E o que o meu pai quer, meu pai consegue.

— Você matou o seu pai por mim? — Minha voz é

incrédula, descrente. As palavras que esperei tanto tempo

para ouvir, contaminadas.

— O verdadeiro teste de amor não é estar disposto a

matar alguém, mas ser capaz de desistir da sua própria vida

por eles. Eu acho que provei o meu amor por você há mais de

um ano atrás.

— Oh não, o que você fez? — Fecho meus olhos,

horrorizada. — Ele não ia me matar, só queria que eu

estivesse fora da sua vida. Iria apenas me arrumar uma nova

identidade.

— Minha pequena inocente. Quão pouco você nos

conhece... É mais barato e muito menos problemático matar

alguém de pouco valor, do que dar uma nova identidade e

sustentá-los pelo resto da vida.

Balanço minha cabeça. Estou em estado de choque.

Blake matou o próprio pai. Eu não posso aceitar. As coisas

estão tão confusas.

— Você vai ter que ir para a prisão?

Ele sorri tristemente.

— Quantos bilionários definhando em celas de prisão

você conhece?

— Então, você o matou. — digo novamente. Como se

repetir de alguma forma fizesse isso desaparecer.

— E faria de novo.

— Por que ele me odiava tanto?

— Ele não te odiava, Lana. Você simplesmente estava no

caminho. Ele queria Sorab.

Trinta e

Quatro

Eu uso essa coroa de espinhos

Sob meu assento de mentiroso

Cheio de pensamentos quebrados

Que não posso reparar.

Hurt, A versão de Johnny Cash

— Sorab? — Suspiro, totalmente, completamente

confusa.

— Você estava pesquisando por Cronos. Você o achou?

— Ele pergunta.

— Seu pai disse que eu deveria procurar por El.

— E você procurou?

Balancei minha cabeça. Não me lembro dos detalhes.

Todos os meus pensamentos estão espalhados e perturbados.

— Só por alguns instantes. Não houve tempo suficiente.

Costumava ser o nome do Deus Supremo, antes de se tornar

um nome genérico para Deus.

— Mmnnn. — Mas ele não está realmente me ouvindo.

Ele se afasta de mim, e descansa a testa na palma da mão. —

Você lembra quando o meu pai disse, que seu pai era um

banqueiro, que ele era um banqueiro, e que seu filho seria

um banqueiro? Bem, aqui está algo que ele não disse. Meu

pai tem um irmão morto, eu tenho um irmão morto e o irmão

de Sorab teria tido um irmão morto também.

Sinto o sangue drenar do meu rosto. Eu agarro o braço

dele e o forço a virar para me encarar.

— O que você está me dizendo?

Seus olhos. Aqueles olhos. Eu fico apavorada. Não por

causa dele, mas por ele.

— O que a Wikipédia mostrou pra você sobre a busca do

Deus Altíssimo?

Meus dedos estão gelados.

— Sacrifício do primogênito. — Estreito os olhos. —

Você está tentando me dizer que sua família é satanista?

— Não, isso é para os brutos e simplórios. Um show.

Nós somos os filhos de El.

Eu me encolho, sentindo como se fosse um daqueles

meninos que mergulham atrás de pérolas, se enrolam em

algas, e ficam sem fôlego.

— Espere, espere um segundo. Eu não posso aguentar

mais nada disso. Sinto muito, simplesmente não posso. Isso

está me deixando doente. — E isso é demais. Sinto meu

estômago se revirando, embora não tenha nada nele.

— Contamos com as pessoas para serem incrédulas, se

afastarem, porque é terrível demais para sequer contemplar.

É a nossa proteção. Ainda quer a verdade, Lana? Você quer

saber o monstro que sou, ou vamos voltar ao que éramos?

Podemos fingir que sou o seu cavaleiro de armadura

brilhante. Que você fez a escolha certa quando aceitou a

minha oferta, acima da de Rupert. Foi sua escolha.

Respiro fundo. O choque me fez reagir dessa forma. Eu

quero a verdade. Toda a verdade. Sem mais mentiras. Sem

mais pretensões. Se eu nadar forte o suficiente vou alcançar

a superfície e a luz.

— Quero a verdade, seja ela qual for. — digo a ele.

— As pessoas pensam que eles não são diferentes de

nós, que estamos todos jogando os mesmos desafios. Que por

um processo de aspiração e trabalho duro, talvez um golpe de

sorte, eles podem se tornar um de nós. Nada poderia estar

mais longe da verdade. Não somos apenas diferentes, somos

uma espécie inteiramente diferente. Estamos dispostos a ir

mais longe do que qualquer outra pessoa. A nossa ambição

crua é como uma braçadeira fria em torno de nossos

corações, que nos leva a nos alinhar a uma escuridão terrível.

E a escuridão anseia poder sobre os outros e se mantém

sugando as energias de inocentes.

Meu coração está batendo tão forte no meu peito, que

posso ouvir seu rugido em meus ouvidos.

— Uma criança desaparece a cada três minutos, apenas

aqui no Reino Unido. E em todo o mundo, milhões de pessoas

desaparecem todos os anos. Eles nunca mais são vistos,

ouvidos ou encontrados. O que você acha que acontece com

eles?

Estou muito chocada para responder.

— Em alguns dias do ano, mas especialmente em oito

datas, dezenas de milhares de crianças são sacrificadas. Não

apenas pelos filhos de El, obviamente, mas pelos satanistas e

outros cultos ao redor do mundo. Na noite do equinócio de

outono, 21 de setembro, três dias a partir de hoje, Sorab

seria ritualmente assassinado. Como meu irmão, meu tio e

seu tio antes dele.

Minhas mãos estão entrelaçadas na frente da minha

boca, como se estivesse rezando.

— Eu tive que parar com isso. — diz ele, com o rosto

pálido.

— Por que não podíamos apenas ter fugido? Por que ter

o sangue dele em nossas mãos?

— Não há lugar na Terra, onde Sorab ou você estariam a

salvo. E esta é a razão. Apenas comigo à frente da ordem do

dia, as forças podiam ser detidas.

— Mas não quero você no comando de uma religião tão

doentia e distorcida. — eu choro.

— Não tem outro caminho. Não é um clube. Somos

escolhidos para governar. Nasci e devo morrer nisso. — Eu

estremeço.

— Por favor. — ele continua. — não chore por mim. Fiz

as pazes com isso, eu tenho consciência do que isso

representa para mim... um inferno, por toda a eternidade. Só

o que importa agora é que, Sorab ou qualquer outra criança

que nasça a partir de agora, não serão iniciados. Eles serão

livres. Do jeito que meu irmão Quinn é livre.

Minha cabeça dói.

— Marcus está envolvido na... morte de seu pai?

— Não. Eu agi sozinho. Para proteger o que é meu.

Um soluço desesperado escapa de mim.

— Por que não podemos fugir e deixar Marcus assumir?

Ele é mais velho do que você.

— Marcus não é forte. Meu pai sempre soube disso. O

plano sempre me incluiu. Era pra ser eu. Tenho que estar à

frente desse império de sujeira.

— Porque você não pode expô-los? Diga ao mundo toda

a verdade.

— A quem eu diria Lana? Ao longo dos anos, centenas

de crianças que escaparam contaram a mesma história, com

os mesmos detalhes das câmaras subterrâneas, figuras

encapuzadas, orgias e assassinatos em sacrifício, e todas elas

foram descartadas como fantasiosas, não confiáveis.

Nenhuma única figura de destaque real jamais foi levada à

justiça.

— Mas você é um Barrington, é poderoso e tem

informação privilegiada. Você conhece pessoas e não é uma

testemunha não confiável.

— As outras famílias imediatamente se fechariam em

fileiras. O que meu pai disse que faria comigo, seria feito. Eu

seria destruído. Você e Sorab desapareceriam sem deixar

vestígios.

Estou com medo de fazer a minha próxima pergunta,

minha garganta parece estar rasgando. Eu engulo.

— Você também participa destes... rituais?

— Não, os rituais não são para nós. Nós flutuamos

acima deles. Eles são para o comprometimento e para

aqueles que gostam de tais perversões. Eu não.

— Você não pode parar a ordem do dia, de dentro para

fora?

— Você pode parar a segunda-feira de passar para

terça-feira? Ninguém pode parar a agenda, Lana. Ela vai

acontecer, não importa o que eu faça.

Trinta e

Cinco

Eu caí em um círculo queimando no fogo

Fui para baixo, para baixo, para baixo, enquanto as

chamas ficavam mais altas.

E ela queima, queima, queima,

O anel de fogo, o anel de fogo.

The Ring of Fire, de Johnny Cash.

Naquela noite, nós não fizemos amor.

Nós nos amontoamos, como os sobreviventes em estado

de choque nas brasas de uma batalha terrível. Todos ao

nosso redor estão mortos e só há os terríveis gritos e gemidos

dos moribundos. Suas mãos se agarram a minha.

Sua voz é um sussurro no meu cabelo.

— Eu sei que deveria te mandar embora, mas não

posso. Até você aparecer eu vivia uma vida sem alegria. Você

vai ter que decidir. Caberá a você a decisão de me deixar.

Finalmente, entendo por que a escolha de ficar será

minha.

É apenas nas primeiras horas da manhã que suas mãos

param de nos segurar, relaxam e ele cai no sono, exausto.

Mas para mim, o sono nunca chegou. Deito no meu lado, seu

corpo quente enrolado em torno do meu e penso na mãe de

Victoria. Aquele olhar estampado em seus olhos, que tanto

me assustava. Ela estava certa, já era tarde demais para mim

no momento em que veio me ver.

Quando os primeiros raios de luz atravessam a abertura

das cortinas, eu o vejo dormir. Seu rosto está relaxado e

vulnerável. Tremo, não de desejo, mas com a memória do

meu desejo por este homem, por este corpo. Parece outra

vida. Outra encarnação. Penso no que ele fez por Sorab e por

mim, e estou cheia de tristeza com o pensamento dos

segredos e pecados que carrega em sua alma. Entendo que

ele está tão preso como eu, quando escorreguei em um

vestido laranja provocante e fui vender o meu corpo pelo

maior lance.

Billie, Jack, e provavelmente até você... Você achou que

era demais para sacrificar, por uma pequena percentagem de

sucesso, não é? Mas eu não. Faria qualquer coisa pela minha

mãe. Mataria por ela? Se alguém subisse para o quarto dela e

ameaçasse sua sobrevivência, sim, sem nem mesmo

pestanejar. Blake e eu somos de mundos diferentes e ainda

assim, somos farinha do mesmo saco.

Silenciosamente, coloquei meu filho em sua cadeirinha.

Ele sorri para mim. Olho em seus olhos azuis claros e me

pego soluçando. Como ele é sortudo. Ele é puro. Não fez nada

de errado, ainda.

Desço as escadas.

Brian está sentado na mesa da cozinha assistindo TV.

Está passando a notícia do acidente de avião do pai de Blake.

Quando me vê na porta, ele desliga a televisão e se levanta.

Algo mudou em seus olhos. Um novo respeito. É em

reconhecimento de minha associação com o novo chefe do

império Barrington.

— Bom dia, senhora.

Senhora? Até essa é novidade.

— Bom dia, Brian. Existe uma igreja próxima?

— Claro, mas não está aberta ainda. Está um pouco

cedo.

— Podemos tentar, de qualquer maneira?

— Claro. Você gostaria de ir agora?

— Sim.

— Eu vou avisar Steve.

Do lado de fora, Tom está cuidadosamente polindo o

Bentley.

— Bom dia, Srta. Bloom. — ele fala.

Eu aceno.

Brian me leva para a igreja e, por sorte, um homem está

fechando as grandes portas. Corro até ele, com o Bebê

Conforto na mão.

— Oh, por favor, por favor. Posso entrar e fazer uma

oração rápida?

Ele olha para mim, olha para a criança. Atrás de seus

óculos de aros dourados seus olhos são gentis, inocentes,

sem a menor consciência de que fui tocada pelo pecado. Será

que ele acreditaria em mim, se eu dissesse sobre o mundo

secreto dos filhos de El? O que eles fazem por poder e

dominação? Mesmo para mim, à luz fria do dia, tudo parece

ser um pesadelo fantástico ou um roteiro de filme

particularmente ruim.

Ele sorri gentilmente, e abre a porta.

— Obrigada. Muito obrigada.

— Estarei lá fora. Vá com Deus, minha criança.

Dentro é muito tranquilo. Primeiro, eu me consagro com

a água benta, então ando na antiga igreja. A luz está

infiltrando através dos vitrais, um aspecto magnífico na

escuridão de pedra cinzenta. Ela navega em uma grande

estatua da morte de Cristo, suspensa, se lamentando acima

do altar. E ao redor, o cheiro de flores e samambaias.

Fico admirada, em silêncio, no meio da casa de Deus.

Uma ovelha perdida retornando ao seu rebanho. Sozinha, eu

vou para o lado do salão, onde há uma estátua de Maria

carregando o bebê Jesus em seus braços. Abro uma caixa de

madeira e tiro quatro velas. Elas custam uma libra cada, mas

não tenho dinheiro comigo. Vou voltar amanhã e colocar as

quatro libras em sua caixa de doação. Acendo as velas e as

coloco em seus suportes de metal. Uma para Jack, uma para

Sorab, uma para Blake e uma para todas as crianças

pequenas.

As chamas lançam sua luz quente para as sombras.

Lembro da minha avó dizendo, Deuses não são seres

como pessoas. São apenas os seres humanos que deram a

eles braços, pernas e rostos. Eles são metáforas, para todas

as coisas que a consciência humana pode aspirar. Se há uma

escuridão chamada El, então deve haver outra metáfora para

descrever a consciência de luz e bondade. Vou orar para esse

Deus, em cada templo, mesquita, sinagoga e igreja que

encontrar.

Eu caio de joelhos, cruzo as mãos e oro.

— Querido Deus, cuide de Jack enquanto ele está na

África devastada pela guerra e o traga de volta a esta terra

bondosa, o mais rápido possível.

Eu me levanto e coloco a cadeirinha, com Sorab nela, na

frente do altar e me ajoelho no chão de pedra fria.

— Te entrego o meu filho, para mantê-lo em segurança

sempre e.... em troca, prometo fazer para as crianças tudo o

que estiver ao meu alcance... até o meu último suspiro. Não

sou uma peça dessa máquina. Eu não venho de uma

linhagem. Posso fazer a diferença. Nada está escrito em

pedra. Nem mesmo a agenda.

Então eu me curvo e oro pela alma atormentada de

Blake. Com a pedra inflexível, fria contra meus joelhos, digo a

Deus:

— Querido Deus, esta é a minha oração mais sincera e

fervorosa, se Blake deve queimar no inferno por toda a

eternidade, então devo queimar com ele. Porque nós somos

duas almas que jamais devem se separar.

Continua...

Alguns dos maiores homens nos Estados Unidos, no

campo do comércio e da indústria, têm medo de alguém ou

estão com medo de alguma coisa. Eles sabem que há um

poder em algum lugar tão organizado, tão sutil, tão atento,

tão interligado, tão completo, tão penetrante, que é melhor

não falar mais alto do que sua respiração, quando falarem

condenando isto.

Thomas Woodrow Wilson

28º Presidente dos Estados Unidos (1913—1921)