EquipePégasus Lançamentos - Google Groups
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Equipe Pégasus Lançamentos
Tradução: Mariana Candemil
Revisão Inicial: Camila Alves, Erica
Ribeiro, Sandra Vigario, Marluci,
Natalia Marques.
Revisão Final: Nilde Soares, Ju Cedro,
Paixão
Leitura Final: Juliane Lima., Su
Pinheiro
Formatação: Lola
Verificação: Anna Azulzinha, Sisley
Sinopse Sob o poder sedutor e de imensa riqueza
encontram-se... Segredos escuros.
Devastadoramente lindo, o bilionário Blake
Law Barrington foi o primeiro e único amor de
Lana Bloom. A partir do momento em que se
tocaram, o seu poder foi esmagador. O seu acordo
rapidamente evoluiu para um romance
apaixonado, que cativou o coração dela e a levou
para uma jornada sexual incrível que nunca quis
terminar.
O futuro juntos parecia brilhante, até que
Lana cometeu um terrível erro. Então, ela fez a
única coisa que podia... Ela fugiu.
Longe de sua vida incrível, longe do homem
dos seus sonhos, ela devia saber que fugir de um
homem como Blake Law Barrington era
impossível. Agora, ele está de volta em sua vida
e determinado a fazê-la sentir o gosto amargo de
sua dor.
Chocada com o quão áspero o sexo se tornou e
humilhada por estar realmente participando de
bom grado de sua punição, ela se desespera... E se
nunca mais voltar a sentir o calor de seu toque, a
solidez de sua confiança de novo? E mesmo que
ela possa ganhar a sua confiança, sua lealdade
ainda será posta à prova e segredos serão
revelados...segredos que irão levar os dois ao
limite.
Será que Lana será capaz de derrubar os
muros que cercam o coração de Blake, e libertá-lo
do poder brutal de sua imensa riqueza?
Blake pode conquistar o coração de Lana
quando ela descobrir a enormidade dos segredos
obscuros que possuem a família Barrington?
Lana sempre acreditou que o amor conquista
tudo. Ela está prestes a testar essa crença...
Um
Seguro a borda do balcão, minhas mãos estão
pegajosas, meu estômago em um nó apertado. A mulher da
recepção sorri de forma eficiente. Ela está vestindo uniforme
do banco: uma camisa listrada, um blazer azul marinho e a
saia combinando. Uma mulher negra cuja identificação em
seu crachá dizia Susan Bradley, impresso em branco.
— Obrigada por esperar. — Sua voz era como um gelo
cortante.
— Em que posso ajudá-la hoje?
Passo minhas mãos para baixo da saia social cinza.
— Tenho um horário agendado para ver um funcionário
sobre um empréstimo. Meu nome é Lana Bloom.
Ela consulta a tela de seu computador.
— Ah! Senhorita Bloom. — Seus olhos se movem para
cima. Encontrando o meu. Sem nenhum sorriso. Apenas
curiosidade.
— Sente-se, vou avisar que você já está aqui.
— Obrigada. — Ando em direção ao bloco de cadeiras
azuis acinzentadas que ela indica. Sento na beirada e a
observo.
— Ela está aqui. — Ouço-a anunciar ao telefone, e
retornar para sua cadeira. Então ela faz uma coisa estranha,
virando o rosto em minha direção, e me olhando de canto de
olho, e quando percebe que estou observando, olha para
longe rapidamente, quase culpada.
Sinto o nó no estômago crescer com mais força. Alguma
coisa está errada. Talvez o gerente da minha conta tenha
decidido negar o empréstimo. Não deveria ser uma surpresa.
Eu não tenho nenhuma experiência e nenhuma garantia e,
como minha mãe costumava dizer, os bancos só emprestam
um guarda-sol quando não está chovendo.
Aperto minha bolsa com minhas mãos, que estão
escorregadias de suor, respiro fundo e muito firmemente para
tentar ficar calma. Há sempre o plano B. Billie e eu vamos
simplesmente começar, de forma singela e pequena, a
construir tijolo por tijolo de um negócio. Nosso progresso será
muito lento, mas nós vamos sobreviver. E talvez, se
trabalharmos muito duramente, um dia vamos prosperar.
Com ou sem o dinheiro que vou tentar conseguir. Meu queixo
se eleva um pouco.
Uma senhora asiática em um terno escuro sai de uma
porta fechada. Ela olha para mim, dá um sorriso fácil, que
não chega a atingir os olhos, e pergunta:
— Senhorita Bloom?
Fico nervosa e aliso minha saia. Aqui vamos nós. Eu
toco o meu cabelo conscientemente. Espero que o vento lá
fora não o tenha bagunçado muito. Em uma tentativa de me
fazer parecer mais velha e mais profissional, Billie colocou
meu cabelo para trás em um coque e pintou meus lábios com
um batom de cor ameixa escuro. Ela disse que tinha o poder
de me tornar parecida com uma dançarina de flamenco
sofisticada, mas acho que ela simplesmente me deixou
parecendo pálida e magra.
— Por aqui, por favor. — A mulher acena com a mão na
direção da escada e começa a caminhar em direção a ela. Eu
franzo a testa. Todas as outras pessoas que estavam
esperando na minha frente foram encaminhadas para um
cubículo do andar de baixo. Eu não vi ninguém ir para o
andar de cima. Por que estavam me levando para lá? Os
saltos desajeitados da mulher fazem um som oco na escada
não atapetada. O som reverbera no meu peito. O sentimento
de medo na boca do estômago só aumenta.
Passamos por uma porta que precisava de um código, e
percebo que nós entramos na área que apenas os membros
da equipe estão autorizados a entrar. Outro funcionário
passa por nós e olha para mim com curiosidade. Nós
andamos por um corredor de escritórios. Perto do fim, a
mulher se vira e me encara. Há uma expressão
estranhamente especulativa em seu rosto.
— Pronta? — Ela pergunta.
Uma coisa estranha de se perguntar.
Surpresa, eu aceno.
Ela bate uma vez, puxa a porta e a deixa entreaberta
para mim.
Entro com um sorriso brilhante fixado por todo o meu
rosto, e congelo. O meu queixo cai, o meu estômago dá uma
guinada. Estou em um pesadelo. Ah, mas eu não esperava
por isso há muito tempo? Meu coração sabia que não acabou.
Um dia iria vê-lo novamente. Eu não sabia como ou quando
ou por que, só sabia que veria.
E ensaiei esse cenário em minha cabeça inúmeras vezes,
mas em circunstâncias diferentes. Onde eu estaria vestida
sedutoramente e me deparando com ele em uma boate ou
enquanto estou, acidentalmente, de forma proposital vagando
pelo One Hyde Park, onde ele me disse uma vez que morava.
Mas nunca, nunca aqui no meu banco local. Nem em um
milhão de anos. Estou tão chocada, que a minha mente na
verdade fica em branco. Eu pisco.
Oh! Tanta elaboração, para ser pega despreparada desta
forma!
— Espere! — Eu quero gritar para a senhora asiática
que houve um engano, mas minha boca está congelada e
entreaberta. Nesse momento, o meu cérebro lento percebe
que não há erro. Eu não fui levada para esta sala por
acidente. Estou aqui porque este homem me quer aqui.
Dois
— Olá, Lana. — Diz Blake, por trás de uma mesa. Sua
voz ainda é a mesma. Jack Daniels no gelo. Sutil. Como um
detalhe escondido em algum lugar, nas suas profundezas de
âmbar.
Um arrepio percorre minha espinha.
Ele olha para mim com a cara fechada e os olhos
ilegíveis. Ele é ainda mais bonito e cru do que eu me lembro.
Incrivelmente esplêndido, um Deus impessoal. Mas há algo
de diferente nele também. Uma dureza que não estava lá e foi
arrastada para aqueles intensos olhos entreabertos. Algumas
linhas suaves sobre sua boca.
O choque ao vê-lo dessa forma tão inesperada é tão
grande, que sou incapaz de dizer ou fazer qualquer coisa.
Roubaram todos os meus pensamentos coerentes, e eu
simplesmente fiquei ali de boca aberta: uma tola,
ansiosamente bebendo da visão dele. Porque eu já passei por
muitas noites longas e solitárias, o calor do deserto em volta
de mim, em uma busca pela internet, à procura de qualquer
menção a este homem.
Durante meses, e nada.
Então um dia, em um artigo pequeno de um site de
fofoca, vi que ele ficou noivo de Victoria Montgomery, filha do
quarto conde de Hardwick. O meu corpo e mente estão em
uma confusão inacreditável. O ciúme insano era como lava
incandescente. Ele se derramou em meu sangue, levando
consigo a terrível sensação de que eu perdi algo
insubstituível.
Tinha uma pequena foto deles sentando juntos em um
restaurante. A foto era tão granulada que não havia nada que
pudesse identificar que era ele, mas olhei para ela por um
longo tempo naquele dia, e voltei a olhar novamente e
novamente. Como se investigasse alguma pista de um
mistério que eu não entendia. Lentamente, comecei a
perceber as coisas - a xícara de café, a mão sobre a mesa
perto, mas não tocando a dela. O rosto de Victoria virado
para ele, difícil dizer sua expressão, mas dava a impressão de
ser determinada e intensamente devotada. Eu esfreguei a
minha barriga de sete meses lentamente. O círculo em minha
mão me confortou. Que aquela não era minha vida. Esse
homem não era meu. Nunca foi. Mas este bebê era todo meu.
O ventilador zumbia. Na sala ao lado, minha mãe dormia
felizmente, sem saber da minha profunda tristeza.
— Sente-se. — Ele convidou, suavemente.
Mas não me atrevo a me mover. Minhas pernas estão
bambas. Fecho e depois abro a boca, mas as palavras não
saem. Engulo e tento novamente. A canção Baby Did A Bad,
Bad Thing, começa a tocar na minha cabeça. Merda. Eu
estou em apuros. Coisas ruins sempre acontecem quando
essa música começa a tocar na minha cabeça.
— O que você está fazendo aqui? — Minha voz é apenas
um sussurro.
— Cuidando do seu pedido de empréstimo.
— O quê? — Sei que minha expressão não deve
aparentar nenhuma inteligência, como aquelas usadas por
animais de carga, mas não posso conter a fraqueza das
minhas palavras.
— Estou aqui cuidando do seu pedido de empréstimo. —
Ele repete pacientemente.
Parece lógico, mas suas palavras são pedras no meu
cérebro. Cuidando do meu pedido de empréstimo? Eu
balancei minha cabeça para expulsar as pedras.
— Você não trabalha aqui. Você não lida com
empréstimos minúsculos.
— Estou aqui para cuidar do seu.
— Por quê? — E então um pensamento estúpido me
ocorre. Mais tarde vou pensar e bater na testa por minha
ingenuidade, mas naquele momento me forço a sair da
inércia. — Para me atingir? Não se incomode. Eu acho o
caminho da saída. — Digo com veemência, começando a girar
em direção a porta.
Ele fica em pé.
— Lana, espere!
Eu volto e olho para ele. Estranho... Ele até parece
maior, mais alto.
— Sou o único que pode conceder este empréstimo
bancário.
Continuo olhando estupidamente para ele. Como eu
desejei colocar os olhos novamente sobre este homem. E
como senti falta da visão dele. Como ele é realmente bonito.
— Por favor, sente.
Aturdida, olho para as duas cadeiras na frente dele, mas
não me movo. Meus pensamentos se arrastam através do
medo. Nada faz sentido.
— Como você sabia que eu estaria aqui hoje?
— Um software bacana que aciona um alerta quando
seu nome e a data de seu nascimento vêm para o sistema
bancário, e, é claro, o fato de que você começou a usar a sua
conta novamente menos de uma semana atrás.
Eu não consigo pensar direito.
— Todo o dinheiro na conta da Suíça se foi?
Eu aceno.
— Mas por que você está aqui? — Pergunto, apesar de
eu já saber a resposta para isso.
— Pela mesma razão de antes.
— Por sexo.
— Sexo? — Ele sussurra. — Deus! Você não tem ideia,
não é?
Ele está com raiva. Mais irritado do que jamais vi. Eu
fico olhando para a transformação com descrença. O que me
choca mais é a expressão em seu rosto desenhado, duro e o
seu queixo apertado com tanta força, que os músculos de seu
pescoço se destacam. Suas sobrancelhas são duas linhas
retas. O homem humano que me alimentou com caviar e
silenciosamente trocou a passagem da minha mãe para a
primeira classe se foi, desapareceu, substituído por este
estranho com olhos furiosos e desconfiados. Sua respiração
parece acelerar à medida que ele avança na minha direção.
Ele para a um passo diante de mim.
Naquele momento, ele emana um tremendo poder.
Eletricidade crepita entre nós. Ele segura o meu olhar a
ponto de fazer meu coração parar alguns momentos e eu ver
a batalha em seus olhos. As emoções se reajustavam para
retomar o controle. Eu vacilo quando ele chega ainda mais
perto. Até que estejamos a centímetros de distância e o cheiro
dele invade os meus sentidos. Ninguém mais que eu conheço
cheira como ele. O cheiro de dinheiro velho, como Rupert
disse. Em um descuido, a luxúria carnal reluz por um
instante em seus olhos. Em seguida, ele desvia o olhar,
mascarando-a. Mas eu já vi a potência do seu desejo por
mim. Ela reforça as minhas percepções, me encharcando com
tesão e desejo.
Sinto minha pele formigar em resposta. Meus lábios
ficam dormentes e minha garganta fica tão seca, que apenas
uma palavra pode rasgá-la. O que eu poderia ter dito de
qualquer maneira? Oh, Blake, eu sinto muito? Eu estendo a
mão trêmula para ele.
Sua reação é instantânea.
— Não! — ele enrijece.
Chocada, retiro a minha mão. Eu o quebrei. O
conhecimento se espalha com uma dor surda no meu peito.
— Por favor. — Eu sussurro, estupidamente, sem poder
fazer nada.
Ele inclina a cabeça em direção ao meu rosto. Meus
olhos estão fixos em seus lábios pecaminosamente sensuais.
Lembro-me de seu gosto, da sua paixão.
— Pequena desonesta, Lana. — ele murmura, sua
respiração quente contra a minha pele. Ele passa as mãos
para baixo do meu pescoço para a gola da minha blusa.
Eu começo a tremer. Ele observa seus próprios dedos
desabotoar um botão e depois outro. Ele espalha a minha
blusa aberta no peito até que o topo do meu sutiã rendado
está exposto. Seus olhos insensíveis e furiosos voltam aos
meus. As respirações escapavam de meus lábios de repente,
superficiais e rápidas. Ele sorri possessivo. Ele sabe o efeito
que tem sobre mim.
— Você foi longe, quando se espremeu no vestido laranja
minúsculo e naquele sapato ridículo de prostituta, e foi à
procura de dinheiro. Olhe para você agora; ao redor de
homens que usam ternos de duzentos mil e não pode nem
comprar um belo terno.
Ele pega meu coque.
— E isso... — Ele levanta a mão para o meu cabelo — É
um coque tão feio. O que você estava pensando? — Pergunta
baixinho, enquanto ele arranca os prendedores do meu
cabelo, deixando-os cair no tapete azul. Pouco a pouco meu
cabelo cai sobre os meus ombros. Sem mover os pés ele
alcança uma caixa de lenços em cima da mesa. Pega um e
começa a tirar meu batom. Meticulosamente. Ele joga o
tecido manchado no chão. — Assim é melhor. — ele declara.
Eu fico olhando-o sem dizer nada. Ele me olha como se
quisesse me devorar. Todo o tempo em que estivemos
separados está apagado. É como se nós nunca tivéssemos
ficado longe um do outro. Este é o homem ao qual meu
coração e minha alma pertencem. Sem ele eu sou uma
concha vazia, apenas atravessando as ondas.
— Lamba seus lábios. — ele ordena.
— O quê? — Estou assustada com o comando frio, e
ainda eletrificada pelo calor sexual que a sua ordem desperta
em mim. Meus nervos gritam.
Sua mandíbula endurece, seus olhos são de aço.
— Você me ouviu.
A tensão em seu corpo se comunica comigo. Ela ferve
entre nós. O desejo ondula através de mim. Minhas coxas se
apertam com a emoção e o meu coração palpita com loucura.
É assim que ele está em minhas fantasias recorrentes.
Exigente, possessivo e furioso com a necessidade sexual. Mas
a parte lógica e sã que existe em mim, não quer obedecer. A
discussão entre o meu cérebro e o meu corpo é quase uma
tortura. No final - sim, como se houvesse alguma dúvida -
meu corpo ganha. Então, cedo e caio na estrada escorregadia.
É só mais uma vez.
Lambo meus lábios lentamente.
Ele olha para a minha língua, que se comporta
avidamente.
— Isso é mais parecido com você. Essa é a puta
mercenária que conheço.
Em um momento ele está lá, frio e insultando, e no
outro ele enfia a mão áspera no meu cabelo e puxa minha
cabeça para trás. Eu suspiro em choque, com os olhos
arregalados pela melancolia do momento. Como uma
tempestade do deserto, ele desceu na minha boca, que se
abriu. Não tive tempo de me afastar. Foi tão súbito. Tão
inesperado. Ele tinha um gosto selvagem, exatamente como
as primeiras gotas de chuva no deserto. Cheio de minerais.
Dando vida a tudo o que toca.
Ele me beijou como nunca havia beijado.
Grosseiramente, dolorosamente, violentamente e
machucando propositalmente meus lábios. Sua boca tão
selvagem que eu me engasguei em um grito silencioso. A
mudança, assim como sua raiva, é impossível de
compreender. Ele está diferente. Não há saudade. Apenas um
intenso desejo de me machucar e se vingar. Este não é o
mesmo homem. As minhas ações desencadearam algo
incontrolável. Algo que quer me machucar. Sirenes de alarme
soam na minha cabeça. Ela toca em meu cérebro febril,
enquanto ele é voraz e faminto. Em seguida, por alguma
razão estranha, uma imagem dele comendo fatias finas,
quase transparentes, de queijo com biscoitos pisca na minha
mente. Ele era tão civilizado. Era. Antes de eu ter que traí-lo.
Eu gosto da fúria de seu beijo: O sangue.
E minha mente grita que isso é um abuso. Um gemido
fica preso na minha garganta, que luta em vão e então foge.
Minha mão o atinge até afastá-lo, mas minhas palmas
tateiam seu peito de pedra, e é como se elas tivessem vida
própria, afastando as lapelas de seu terno para o lado e
pegando a sua camisa. Eu sei o que tem sob a camisa e eu o
quero. Eu sempre quis este homem. Como se minhas mãos
espalmadas sobre o peito dele comunicassem a minha
submissão total, o beijo muda. Sua língua, agora gentil, exige
mais rendição.
Os dedos agarrando meu cabelo machucam meu couro
cabeludo. Sinto uma dor sutil, contudo mais do que isso, me
sinto afogar nesse turbilhão de desejo sexual. A necessidade
violenta e latejante entre as minhas pernas encontra seu
caminho em minhas veias e carne. Cada célula minha o quer
dentro de mim. Estou pegando fogo. Um ano de espera me fez
ter fome dele. Eu o quero. Quero ele enfiando aquele pau
enorme dentro de mim. Durante um ano eu tenho sonhado
com ele dentro de mim, me enchendo. Sei o quão bem ele
pode me fazer sentir. Meu corpo tenta cavar mais perto dele,
mas eu não posso chegar mais perto; o controle sobre o meu
cabelo é implacável. Desesperadamente, tento empurrar meu
quadril em direção a ele para o que eu sei que vai ser uma
dureza deliciosa.
Como se isso fosse algum sinal silencioso, ele se afasta
casualmente de mim e eu sou empurrada de volta, em um
escritório de merda em Kilburn High Street. Que porra é essa
que estou fazendo? Ele casualmente sentou contra a mesa,
cruzou os braços sobre o peito e olhou para mim com calma.
Eu não posso devolver o insulto. Eu sou uma bagunça.
Fico lá, frustrada além da crença, respirando com
dificuldade, o sangue batendo como um tambor africano na
minha cabeça. Minha calcinha está molhada e minha boceta
dói e pulsa por ele. Com cada parte fraca e trêmula de mim,
quero que ele termine o que começou. Eu o quero tanto que é
chocante. Aperto minhas mãos na lateral da minha cintura,
tentando recuperar o controle. Olho para ele e vejo quão
controlado e calmo está, enquanto me observa lutando para
recuperar a compostura.
Em seguida, ele sorri. Oh! Arrogante. Ele não deveria ter
feito isso. Sinto-me enlouquecida pela provocação do sorriso.
Como ele se atreve? Ele só queria me humilhar.
E então entendo. Não tão rápido Sr. Blake Law
Barrington.
Eu dou dois passos para frente, levantando a mão e
colocando um dedo na veia pulsando loucamente em seu
pescoço, batendo como um tambor sob meus dedos. A batida
frenética é levada pelo meu sangue até meu braço, meu
coração e meu cérebro. Anos mais tarde eu vou me lembrar
deste momento quando estávamos conectados pela sua
pulsação. Nós não quebramos o contato visual. Seus olhos
escurecem. Agora ele sabe que sei, minha necessidade pode
ser óbvia e fácil de explorar, mas ele está tão afetado quanto
eu, só que finge melhor. Ele estava testando seus próprios
limites de controle, mas não foi tão fácil como esperava.
— É sexo que eu quero? — Pergunta ele, amargamente.
A respiração morre em meu peito. Tiro a mão de seu
pescoço.
— O que você quer Blake?
— Quero que você termine o seu contrato.
Abaixo o rosto em minhas mãos
— Eu não posso. — Sussurro.
— Por que não? Porque você pegou o dinheiro e saiu
correndo, enquanto eu estava em uma cama de hospital?
Respiro fundo e não olho para cima. Não posso olhar
para cima. Não posso enfrentar a condenação em seus olhos.
Não mantive a minha palavra. Mas eu tinha uma razão, que
ele nunca vai poder saber.
— Eu estava arrasado no começo. — Ele diz.
Olho para cima, chocada e hipnotizada. Ao contrário de
suas palavras, seu rosto é imparcial, calmo e frio. Muito frio.
Eu tremo.
— Você estava arrasado?
— Engraçado isso, mas sim, eu estava. — Ele balança a
cabeça, como se estivesse com nojo. Se era de mim, dele
mesmo, ou de nós dois, eu não sabia dizer.
— Pensei que era apenas uma coisa sexual para você. —
Murmuro. Meu mundo vacila um pouco. Ele ficou arrasado!
Por quê?
— Se você queria dinheiro, por que não me pediu? —
Sua voz é áspera.
— Eu... — Balancei minha cabeça em derrota. Eu não
posso me redimir.
—Você cometeu um grave erro de cálculo, não é, Lana,
meu amor. O pote de mel está bem aqui. — Ele dá um
tapinha no meio do próprio peito.
Olho para a grande mão masculina. Algo dentro de mim
se contorce. Uma vez aquelas mãos bonitas e de unhas bem
cuidadas percorreram meu corpo, espalharam minhas pernas
e ele me penetrou. Querido Deus!
— Mas não se preocupe. Nem tudo está perdido.
Meu olhar se eleva até sua boca. É fina, cruel e
impressionante.
— Você me fez um favor. Você abriu meus olhos. Vejo
agora o que você era... o que é. Eu estava cego por você.
Cometi um erro clássico. Eu me apaixonei por uma ilusão de
pureza e lealdade.
Eu levanto o meu rosto para ele. Cego? Apaixonado? Por
mim?
— Se eu não tivesse te comprado naquela noite, você iria
com qualquer um, não é? Você não é admirável. Você é
desprezível.
— Então, por que você quer que eu termine o contrato?
— Eu respiro.
— Sou como um viciado em drogas, que reconhece que o
seu medicamento é o próprio veneno. Ele o despreza, mas
não consegue evitar. É assim que eu vejo, é perfeitamente
claro que ele se detesta. Tenho vergonha da minha
necessidade por você.
— As... As.... pessoas com quem falei.
— Minha família não pode fazer nada com você.
Eu interrompo.
— E Victoria?
Um súbito lampejo de raiva brilha em seus olhos.
— O fato de que eu preciso da sensação e do gosto da
sua pele, é a minha vergonha e o meu inferno particular. Eu
nunca a traria para o nosso arranjo sórdido. O nome dela em
seus lábios me faz sentir doente. Ela é a única coisa pura que
tenho na minha vida. Ela ficou comigo... depois de tudo. —
Ele faz uma pausa, os lábios contorcidos. — Na verdade, eu
contei a ela sobre você e lhe dei a opção de me deixar, mas
ela recusou. Ela é mais sábia do que eu. Muito mais sábia do
que eu achei que era. Ela disse que você é apenas uma
doença e que um dia vou acordar e esse problema terá
desaparecido. Até lá... você me deve 42 dias, Lana.
Meu Deus, ele realmente me odeia. Fecho meus olhos
incapazes de enfrentar seu olhar de censura e repulsa. Ele
não pode saber o quanto suas palavras cheias de ódio me
cortam e ferem. Eu imaginei que ele pensaria mal de mim,
mas nunca imaginei que me detestaria. Eu nunca achei que o
feri tão profundamente. Sinceramente, pensei que era uma
coisa sexual para ele. Que eu era apenas mais uma, dentre
muitas outras. Em minha defesa, ele nunca deu a entender
de outra forma.
Agora ele me odeia com paixão. E não há uma única
coisa que eu possa fazer sobre isso. Victoria mostrou ser uma
adversária formidável. Eu nunca direi a ele o que realmente
aconteceu. Estou em um terreno muito instável. Vou ter que
ter muito cuidado. Tenho muito a perder. Abaixo a minha
cabeça. Eu preciso pensar.
— Diga o seu preço.
Minha mente trava.
— Não. — eu me ouço dizer. Desta vez minha voz é
muito forte e segura. — Você não tem que me pagar de novo.
Eu vou terminar o contrato.
— Bom. — Ele diz, mas franze a testa, e por um segundo
eu não vejo apenas a confusão causada pela minha recusa de
do dinheiro, mas por algo mais parecido com alívio? Não, isso
seria muito fraco, era uma emoção selvagem pulsando em
seus olhos. Em seguida, ela vai embora, sem problemas. Um
selo que salta e desaparece no oceano azul.
— Voltamos aos negócios então. — ele murmura e vai
para longe de mim, passando ao redor da mesa e retomando
sua posição por trás dela. Voltando para o lugar em que eu o
encontrei.
Três Eu o assisto sentar suavemente na cadeira giratória
preta e abrir o arquivo na sua frente.
— Então, você quer abrir uma empresa? — O
profissionalismo repentino em sua voz é como um balde de
água fria na minha cara. Dou um passo para trás, chocada.
Estávamos em algum lugar totalmente diferente há um
momento atrás. A consciência de sua masculinidade potente
naquela pequena sala ainda está formigando pela minha pele.
Então, ele quer jogar. Gato e rato. Primeiro, o queijo e, em
seguida, a garra e os dentes.
Eu iria em frente. Posicionei-me em uma das cadeiras
em frente à mesa. Enquanto eu sentava na beirada, encostei
a parte de trás dos meus joelhos.
— Sim, Bill... Billie e eu vamos.
— Ah, a inigualável Billie. — Ele diz, olhando para cima,
o olhar aquecido totalmente substituído por uma máscara
sem remorsos.
— Por que ela não veio com você?
— Ela pensou que as tatuagens poderiam fazer com que
recusassem o empréstimo.
Ele deu um sorriso torto.
— Vocês, meninas têm tudo coberto, não é? — Diz ele,
mas posso dizer de imediato que ele tem um fraquinho por
Billie. Isso toca o meu coração. Eu queria que meu nome
também pudesse suavizar seu rosto assim. — Isso me
lembra. Como está sua mãe?
A respiração é sugada para fora de mim.
— Ela faleceu.
Ele se acalma, estreitando os olhos.
— Eu pensei que o tratamento estava funcionando.
Engulo a pedra pressionando na minha garganta.
— O tratamento funcionou. — As palavras grudam na
minha garganta. — Um carro. Atropelaram-na e fugiram.
Um flash de emoção passa em seus olhos. Por um
instante, estou olhando para o passado. Estamos todos
sentados em torno da mesa de jantar da minha mãe. Há
flores frescas na mesa e os pratos estão cheios de comida
persa. Frango com frutas e arroz. Minha boca está cheia do
sabor defumado de pimentas secas. Blake é charmoso e
minha mãe está rindo. Sua risada enche a sala e meu
coração. Mal a ouvi rindo na minha vida. Eu não percebi o
quão feliz eu era até então.
— Desculpe-me. Sinto muito em ouvir isso, Lana.
Sua pena é a minha perdição. A cena diante de mim
borra. Pisco furiosamente. Não vou desmoronar na frente
dele. Posso sentir o início das ondas de tristeza pelo meu
corpo. Eu ainda não chorei. Oh merda. Agora não... Por favor.
Eu fico em pé de repente. O mesmo acontece com ele.
Levanto a mão, dando um aviso para ele não chegar mais
perto e eu corro para a porta. Eu preciso sair. Meu único
pensamento é escapar. Não deixar que ele me veja quebrar,
mas ele já está ao meu lado. Ele agarra meu braço. Eu forço
para longe dele, mas ele é muito mais forte. Ele não sabe,
mas é parte da minha terrível dor.
— Por aqui. Há um banheiro particular. — diz ele em
voz baixa, e abre a porta me levando para o corredor. Ele não
olha para mim, e eu sou grata por isso. Lágrimas quentes e
incontroláveis estão escorrendo pelo meu rosto. Eu não
chorei quando minha mãe morreu. Durante três meses
inteiros eu não fui capaz de chorar. Havia tanta coisa para
fazer, mas agora as lágrimas silenciosas estavam fluindo sem
controle, e enormes soluços estão a caminho. Eu posso senti-
los em minhas entranhas, ameaçando explodir.
Ele mantém a porta do banheiro aberta e eu corro. A
porta se fecha atrás de mim. No interior dos cubículos feitos
de madeira compensada, há paredes de azulejos brancos. Um
lugar feio. Perfeito para o que tenho que fazer. Eu aperto a
bacia de cerâmica, mordo a mão em punho na minha boca e,
me dobrando, aguardo os soluços. Eles não me decepcionam
em sua ferocidade. Eles são longos, implacáveis e feios. Cheio
de pesar, recriminação e culpa. Por muito tempo eu
acreditava que minha mãe morreria de câncer. Ano após ano,
vendo ela sofrer e ainda não ser capaz de deixá-la ir em paz, e
então, quando ela está brilhante e cheia de vida novamente, e
quando eu menos esperava, ela se foi. Simples assim. Sem
aviso. Nunca tive a chance de dizer adeus. No final, ela foi
cruelmente arrancada de mim. Eu não sei quanto tempo
fiquei lá dentro, mas enterrei a minha mãe ali.
Sozinha, num banheiro fedendo a lixívia industrial.
Finalmente me inclino contra a pia, esgotada. Olho no
espelho. Que bagunça. Reparo em como estou horrível.
Assoei o nariz, lavei o rosto inchado. Meus olhos e lábios
estão vermelhos e inchados. Eu me arrumo. Abotoo minha
blusa até o meu pescoço. Sei que é covarde, mas decidi,
naquele momento, me afundar na distância. Basta caminhar
pelo corredor e sair. O banco tem o meu endereço e ele vai me
encontrar, mas então eu vou estar diferente. Vou ter reparado
as paredes da minha fortaleza. Eu vou ser forte. Ele não pode
me machucar. Mas então eu me lembro de Billie me
esperando em casa.
— Bem, você conseguiu? — Ela vai perguntar.
Fecho meus olhos. Não vou desapontá-la. Eu vou dizer:
— Sim, eu consegui.
Abro a porta e ele está lá em pé no corredor do lado de
fora, olhando para o chão, com as mãos nos bolsos da calça.
É a coisa mais estranha. Isso me lembra da primeira vez
que nos encontramos. Quando chorei em um banheiro e saí
para encontrá-lo ali, esperando por mim. Ele olha para cima,
ainda franzindo a testa. A porta se fecha atrás de mim
enquanto ele caminha em minha direção.
— Você está bem?
Eu aceno.
— Tom vai levá-la para casa.
Levanto os meus olhos para os dele. Eles são estranhos,
com alguma emoção que não consigo compreender.
— Não. — Digo. Minha voz sai estranhamente concisa.
Eu não tinha a intenção de que fosse assim. — Vamos
terminar esse empréstimo, para encerrar esse assunto.
Uma sombra vem sobre seu rosto. Então percebo que
apenas confirmei os seus pensamentos sobre mim. Eu sou a
interesseira que fará qualquer coisa por dinheiro. Qualquer
outra pessoa exploraria esta oportunidade para dar mais
suavidade. Estou arrependida, mas é tarde demais. Ele é
como a maré que está baixando e não pode ser recuperada.
Seus olhos retornam ao modo insensível e distante.
Ele balança a cabeça e voltamos para o escritório. Sento
em frente a ele, que assume a cadeira giratória. É uma
paródia. Ele sabe disso e eu também.
Ele olha novamente para o meu formulário de pedido de
empréstimo.
— Baby Sorab?
Oh. Meu. Deus. O que estou fazendo? Estou brincando
com fogo. Sinto meu coração bater tão forte no meu peito, ele
certamente também deve ouvi-lo. A névoa na minha cabeça
limpa. Já não é só comigo. Gato e rato? Eu posso jogar este
jogo. Ele não tem nada a perder. Eu tenho tudo. Então eu
vou ser a vencedora. Ele não vai me derrubar. Estudei meus
recursos, dou de ombros despreocupadamente. E então as
mentiras começam a cair da minha boca, tão facilmente que
até eu fiquei surpresa. Até hoje eu nunca percebi que era
uma eximia mentirosa.
— Sim. Nós pensamos que era um bom nome para o
nosso negócio.
— Por que roupa de bebê?
— Billie sempre foi boa com as cores. Ela pode colocar
vermelho e rosa junto e criar um look divino. Como Billie teve
um bebê neste ano, decidimos apostar em roupas de bebê.
— Billie teve um bebê? — Pergunta ele, obviamente
surpreso.
Eu olho nos olhos dele.
— Sim, um menino lindo. — eu minto sem interrupção.
Seus lábios se torcem ironicamente.
— Vocês com certeza pensaram em tudo. Suponho que
agora está sobre a cuidado de algum contribuinte britânico?
Eu faço um pedido silencioso de desculpas para Billie.
— Eu acredito que nós já tivemos essa conversa antes.
— OK! — ele diz.
—OK, o que?
—OK, você tem o empréstimo.
— Só isso?
— Há uma condição.
Prendo a respiração.
— Você não vai ter o dinheiro pelos próximos 42 dias.
— Por quê?
— Porque. — ele diz, em voz baixa. — Pelos próximos 42
dias você vai existir apenas para o meu prazer. Eu pretendo
devorar seu corpo até enjoar dele...
Engulo em seco.
— Você vai me prender em algum novo apartamento?
— Não em qualquer apartamento, no mesmo de antes.
Eu me surpreendo ao lamber os lábios. Nunca soube
que poderia pensar tão rápido. Que viria tão facilmente para
mim.
— Existe uma pequena complicação. Billie vê sua
namorada três, na verdade, quatro noites por semana e eu
cuido do seu filho.
Ele nem pisca.
— Diga a Laura que você precisa de um berço, carrinho
de bebê, aquecedores de mamadeiras e qualquer outra coisa
que seja. O bebê pode ficar no apartamento.
Eu fico olhando para ele.
— Você está falando sério?
— Você tem um plano melhor?
Faço uma pausa. Minha mente dá algumas voltas.
— Só mais uma coisa. Billie deve ter permissão de ir ao
apartamento.
— Feito.
— E Jack. Ele é o padrinho do bebê.
Ele parece entediado.
— Algo mais?
— Não.
— Bem. Você tem planos para amanhã?
Eu balanço minha cabeça.
— Bom. Fique livre amanhã. Laura vai ligar para você
para poder providenciar as coisas necessárias.
— OK, se não há mais nada...
— Eu vou acompanhá-la para fora.
Cabeças viraram para nos assistir. Seus olhos desviam
quando eles encontram os meus. Sinto em meu rosto o rubor.
Merda, eu nunca vou ser capaz de voltar aqui novamente. Eu
vejo o gerente do banco correndo em nossa direção, o tecido
das pernas de sua calça batendo contra seus tornozelos.
Blake levanta um dedo e ele para abruptamente. Blake abre a
pesada porta e saímos para o ar de fim do verão. É um dia
cinzento e está chuviscando um pouco.
Encaramos um ao outro.
— Por que Billie colocou o nome do bebê de Sorab?
— Por causa do grande épico Rustam e Sorab.
— Sim, estou ciente de que é por isso, mas por que ela
escolheu?
— Foi uma homenagem a minha mãe. Era a minha
história favorita dela.
— Hmmm... Essa é a qualidade mais admirável em você.
Sua lealdade inabalável com a sua mãe.
Por um momento, olhamos um para o outro. Percebo
que nunca o vi na luz do dia. Nem mesmo sob essa luz sem
brilho. Estranho. Nós sempre nos encontramos durante o dia
no apartamento e nunca saímos até o entardecer ou à noite.
E, à luz do dia, seus olhos são azul tempestade com cinza
mal-humorado e manchas pretas. Uma rajada de vento
espalha seu cabelo em sua testa. Sem pensar, levanto a mão
para tocar a mecha indisciplinada, mas ele sacode a cabeça
para trás, como se estivesse se esquivando de uma vespa.
— Desta vez você não vai me enganar. — ele cospe.
Nós olhamos um para o outro. Surpreendeu-me a
maneira como ele mantém a raiva perto da superfície e com
ela, seu desprezo. Minha mão caiu. Sinto-me exausta. Há
uma tonelada de tijolos dentro do meu peito. Eu não consigo
pensar direito. Olho para baixo. Para o ponto de ônibus.
— Vejo você amanhã, então. — eu digo.
— Tom está aqui. — diz ele, apontando para um Bentley
ao longo do meio-fio.
Eu balancei minha cabeça.
— Obrigada, mas vou de ônibus.
— Tom vai levá-la. — insiste ele, e eu tenho um
flashback da primeira noite em que nos conhecemos no
restaurante. Desse mesmo jeito, naturalmente confiante e
com ar de superioridade.
— Não. — eu continuo — Nosso contrato não começará
até amanhã. Então, hoje eu vou decidir o meu meio de
transporte. — e me movo para longe dele.
Sua mão agarra meu pulso.
— Eu vou pegá-la e colocá-la no carro, se for necessário.
Você decide.
Sinto a raiva borbulhando dentro de mim.
— Ah, é? Eu vou chamar a polícia
Na verdade, ele ri.
— Depois de tudo o que eu disse sobre o sistema. Essa é
a sua resposta?
Eu cedo.
Claro, quem vai acreditar em mim se eu afirmar que um
Barrington tentou me forçar a aceitar uma carona?
— Por favor, Blake.
— Muito bem. Tom vai com você de ônibus.
Não discuto. Simplesmente me viro, abro a porta do
carro, entro, bato a porta com força e fico olhando para
frente.
— Bom dia, senhorita Bloom. É bom te ver de novo. —
Tom cumprimenta, fingindo não perceber minha cara
inchada.
— É bom ver você também, Tom.
— Como tem passado? — Ele pergunta quando o carro
se afasta.
— Tudo bem. — respondo, e torço o pescoço para olhar
para Blake. Ele está de pé na calçada, onde eu o deixei. Suas
mãos estão soltas nos lados, e ele está olhando para o carro
em movimento. Na rua repleta de algumas das pessoas mais
desprovidas da Grã-Bretanha, ele se destaca. Alto,
impressionante, separado da multidão, e ainda assim ele
parece sozinho e abandonado. Lembro-me do que ele me
disse há muito tempo.
Não confio em ninguém. Em ninguém.
Quatro
O tráfego é ruim e o carro se arrasta lentamente pela
Kilburn High Street. Olho fixamente pela janela. Eu sei que
não estou sonhando com isso. Isso está realmente
acontecendo e ainda assim... Parece um sonho. A rua parece
a mesma, há apenas muitas pessoas olhando para o carro e
para mim. Seus olhos parecem hostis. Os ricos não são bem-
vindos aqui. Eu me sinto inquieta e perturbada. Preciso de
um pouco de tempo para pensar. Andar sempre me ajuda.
Peço que Tom me deixe nas lojas.
— Você tem certeza, senhorita? Eu não me importo de
esperar, até que você esteja segura. Estou livre até muito
mais tarde.
— Obrigada, mas vou ficar bem, Tom. Eu provavelmente
vou vê-lo amanhã, de qualquer maneira.
Tom concorda.
— Tudo bem então. Cuidado.
Entro no quiosque e compro uma garrafa de vodca e um
maço de cigarros para Billie. Então vou a pé para casa
devagar, tomando o caminho mais longo para, assim passar
por minha antiga casa. Estou na rua, na garoa e olho para
ela. Na porta azul onde vivemos uma vez, minha mãe e eu,
por tantos anos. Alguns deles felizes, mas a maioria repleto
de estresse, preocupação e medo. Agora, ela se foi.
Por um momento fico lá, meu rosto levantado, fingindo
que minha mãe ainda está lá. Que eu poderia, se quisesse, ir
até a escada, colocar a chave na porta, abri-la e encontrá-la
na cozinha. Careca e magra, como um fino esqueleto, mas
feliz em me ver. Então a porta azul se abre e uma criança
com cerca de sete anos sai. Ela tem cabelo castanho cortado
muito curto.
Uma voz de mulher grita lá de dentro:
— E eu quero o troco de cinco libras.
A menina não responde. Simplesmente bate à porta,
fechando-a, e corre para o topo da escada. Ela é tão arrogante
que me lembra de Billie. Ouço seu sapato tinindo, descendo a
escada. Ela corre atrás de mim, com o top manchado, shorts
amarelo e pernas sujas de terra. E de repente, estou
atormentada por um sentimento de profunda nostalgia por
aqueles momentos em que Billie e eu corríamos livres. Os
dias de verão. Com dedos pegajosos de picolés. Nem uma
única responsabilidade à vista. Eu vejo a menina virar para
baixo na estrada, em direção às lojas. Então eu lentamente
começo a caminhar em direção as casas, no bloco da torre,
onde Billie e eu vivemos agora.
É um lugar horrível, muito, muito pior do que este
pequeno bloco amigável. Se Blake visse onde vivo agora, ele
iria, literalmente, ter um ataque cardíaco. Todos os seus
piores pesadelos acontecem aqui. Prostitutas trabalham no
metrô e há brigas e facadas quando os bares abrem, à noite.
O som dos bêbados gritando e xingando flutuam até nosso
apartamento. Dentro do nosso condomínio não é melhor. Os
elevadores perpetuamente cheiram a urina velha e as escadas
estão cheias de seringas hipodérmicas cheias de sangue e
preservativos usados. Crianças brincam entre as agulhas, na
parte da manhã.
Eu moro aqui, mas no meu coração, estou
absolutamente determinada de que seja temporário. Pretendo
trabalhar duro, abrir nosso negócio e, esperançosamente,
antes que Sorab seja velho o suficiente para andar, nós três
estaremos longe daqui. A placa dizia para não brincar de
jogar bola e não despejar lixo. Desafiando a placa, o lugar
estava cheio de latas vazias e alguém havia simplesmente
deixado um colchão muito manchado sobre uma das longas
passarelas das varandas da torre.
Eu passo pelas crianças brincando no pátio.
— Ei, Lana, vimos que você saiu de um grande carro. De
quem é?
— Não importa. — eu digo a eles, asperamente.
— Alguém aqui tem um papaizinho... — eles cantam, e
estou surpresa de novo por ver o quão cruéis são essas
crianças. Na idade delas, a minha inocência era completa, a
minha infância era totalmente imaculada por qualquer
conhecimento de um adulto.
Uma delas sai do grupo e vem até mim.
— Vamos lá, nos dê uma libra para comprar alguns
doces. — ela persuade. Ela tem a cabeça cheia de cachos
castanhos.
Eu olho para ela.
— Sua mãe sabe que você está pedindo dinheiro?
— Sim. — ela diz imediatamente, de pé e sem o menor
traço de embaraço.
Eu olho em seus olhos e sinto tristeza. Eu sei quem é a
mãe dela. Uma mulher de rosto rígido, com seis filhos. Cada
um de um pai diferente, todos sujos e despenteados. Por uma
fração de segundo considero ensiná-la a não pedir esmolas,
para ter orgulho, e então desisto. Sei que no meu coração não
faz sentido. Eu desejo um futuro diferente para ela, mas ela
já está infectada pela geração antes dela. A chaga da
sociedade, e não por culpa dela própria. Abro minha bolsa e
dou a ela uma libra. Ela agarra com a sua pequena palma
quente e sai correndo na direção das lojas.
— Obrigada, Lana.
Eu me afasto das ervas daninhas e passo pelo concreto
rachado do chão. Triste, eu chuto uma lata de Coca do meu
caminho e em volta do bloco. Olho para o segundo andar do
bloco cinza feio e vejo Billie de pé na longa passarela da
varanda à nossa porta. Ela está fumando um cigarro,
encostada na grade de metal. Um de seus pés descalços está
em torno de uma barra de metal. Seu cabelo já não é branco,
mas vermelho flamejante. Ela mudou a cor e o estilo na
semana passada, quando terminou com Letícia. Ele agora
está cortado muito rente de sua cabeça de um lado e maior
do outro. Ela deve ter acabado de sair do banho, seu cabelo
ainda está molhado e penteado. Ela não me vê.
Eu corro até as escadas mau cheirosas e piso no nosso
andar. Ela olha para cima, com seu olhar contemplativo e me
observa. Passo por brinquedos descartados, um triciclo, um
balde de plástico e pá, e então estou em pé na frente dela.
Eu sorrio. Ela apaga o cigarro no corrimão de metal. Eu
pego a vodca. Ela sorri de volta. O dela é real, o meu não é.
Ela toma a garrafa da minha mão.
— Sério?
— Sério. — eu digo.
Ela coloca a garrafa no chão, me agarra em torno dos
quadris, e me levanta, rindo. Sua alegria é tão contagiante
que tenho que rir.
— Ponha-me no chão antes que você me deixe cair!
Ao invés de me abaixar, ela me gira várias vezes, me
carregando sobre nosso limite e chutando a porta como um
homem, antes de me jogar sobre a mesa de jantar.
—Você. É. Um. Caralho. De. Um. Gênio — diz ela. Em
seguida, o rosto passa por uma mudança repentina.
— Oh, merda. — ela xinga e entra.
Cheguei bem a tempo.
— Oi você! — eu a ouvi gritar. — Toque naquela garrafa
e você está morta.
Há o som de pezinhos à distância e Billie volta à vista
segurando a garrafa de vodca.
Eu escorrego da mesa.
— Como foi com Sorab?
— O de sempre, você sabe; comer, cagar, dormir e em
seguida, tudo novamente — ela diz, e bate a garrafa sobre a
mesa.
— Deixe-me dar uma espiada. — digo, e vou para meu
quarto. Eu fiquei na frente de seu berço, o meu coração
pesado de tristeza. Ele não tem nenhuma, mas eu sim. Ele
nunca vai saber quem é seu pai. Eu vou negar a ele um pai e
uma vida de riquezas inimagináveis. Empurro a culpa para
longe. Não agora. Ainda não. Por um momento, lembro de
Blake sozinho no meio da multidão. Somos todos solitários,
presos em nossa própria versão do inferno. Traço
delicadamente meu dedo em seu braço dorminhoco e vou
para fora.
Billie está sentada. A garrafa de vodca está fechada.
Tiro minha jaqueta. É muito grande para mim e balança
no meu ombro. Abro a geladeira.
— Vou fazer macarrão. Quer?
— Não, tinha um pouco de manjar turco.
— Bill, você não pode sobreviver com restos de pizza,
doces, chocolates.
— Não sou eu que pareço um esqueleto ambulante. —
Ela olha para mim me desafiando a contradizê-la.
Fecho a porta da geladeira e a encaro.
—Você sabe, quando te vi vindo para casa não me atrevi
a acreditar, porque pude ver que você esteve chorando.
Gostaria de pensar que você chorou porque estava feliz, mas
não é isso, não é? Quer me contar o que realmente
aconteceu?
Sento na sua frente.
— Blake estava lá.
Billie franze a testa.
— Lá onde?
— No banco. Ele estava cuidando do nosso pedido de
empréstimo.
— Não. Você vai me fazer chorar.
— Você pode segurar os comentários sarcásticos por um
momento?
Ela levanta as mãos, com as palmas de frente para mim.
— Aparentemente, ele estava acompanhando minha
conta, com a intenção de fazer contato.
Billie arregala os olhos.
— Uau! Isso é inteligente.
— Ele quer que eu termine o contrato.
Billie fecha os olhos em um gesto de extrema irritação.
— Oh Deus! Você concordou ou não conseguiria o
empréstimo, não foi isso?
— Sim! — digo, mas antes que eu possa dizer mais
alguma coisa, ela se inclina para frente de forma agressiva.
— Lana. Você está completamente louca? Você esqueceu
que os trolls querem derramamento de sangue? Ele é
controlado pelas entidades reptilianas que parecem ser da
família. Lembra o que eles fizeram com você da última vez?
Eles cruzaram a linha e chutaram você para fora da porra do
país! De qualquer forma, ela vai fazer você pagar com sangue
se chegar perto dele de novo?
— Simplesmente nunca mais fiz contato com ele. Não fui
eu.
— Sim, ela vai apreciar a diferença.
— Só pra constar, Blake disse que contou a ela sobre
mim e ela está preparada para esperar até que ele sacie seu
vício por mim.
— E você acredita nisso?
— Bem, foi algo parecido com o que ela me disse.
— Se você acredita nisso, então definitivamente deve
ficar longe dele. Você não está preparada para lidar com esse
tipo de astúcia letal.
— Eu não vou entrar em contato com ela. São apenas
42 dias.
— não precisamos desse dinheiro, sabia? Sempre
podemos começar de baixo. Nós conversamos sobre isso. Na
verdade, era improvável que você conseguisse o dinheiro sem
garantia real ou experiência em negócios. Foi apenas uma
chance. Nós vamos fazer acontecer sem ele. Na verdade, isso
será mais divertido.
— Eu não fiz isso por dinheiro. — digo baixinho.
Há um momento chocante de silêncio. Billie me olha
como se eu tivesse perdido a cabeça. E, de certa forma, ela
está certa. Estou arriscando tudo.
— Porra, Lana! Você esqueceu como foi difícil para você?
Você está apaixonada por ele?
— Eu não estou apaixonada por ele.
— Exatamente. Então, por que entrar na cova do leão de
novo? Olhe para você! Você é apenas uma sombra de si
mesma. Por que ir até ele? Além do sexo espetacular, por
quê?
Eu tento sorrir e não consigo. Sinto meu queixo e lábio
inferior começar a tremer. Eu pressiono meus lábios.
— Você não entende. Eu devo a ele. Ele era bom para
minha mãe e para mim, mas não mantive minha palavra. Eu
nunca deveria ter aceitado o dinheiro de Victoria. Estava
errada. Eu sabia, no momento em que a vi sentada e toda
alegre sobre a conta bancária na Suíça. Eu não tenho uma
conta bancária pessoal na suíça. Foi só quando eu dei tudo
para o hospital que me senti melhor. Eu apenas vou terminar
o que comecei, de novo. Caso contrário eu nunca vou ser
capaz de fechar essa porta.
— E Sorab? Você vai contar a ele?
— Claro que não. Eles levariam meu filho para longe de
mim e o transformariam em um predador de olhos
insensíveis, como o pai e o irmão de Blake.
— Então, o que acontece com Sorab?
Eu me contorço um pouco.
— Disse a Blake que Sorab era seu filho.
— Certo. — ela diz lentamente, obviamente incapaz de
aceitar essa ideia como realidade.
— Ele acha que você fez isso para furar a fila de adoção
e obter ajuda assistencial.
Billie sorri de repente.
— Então você não contou para ele que, quando criança
eu queria que meu sistema reprodutor fosse removido e
substituído por um conjunto extra de pulmões para que eu
pudesse fumar mais?
Balancei minha cabeça.
— O que tudo isso significa, afinal?
— Você cuida de Sorab aqui por três dias da semana e
eu o levarei para o apartamento nos outros quatro dias.
Billie dá uma respiração profunda.
— O que ele acha que eu estou fazendo nos outros
quatro dias?
— Passando a noite na casa de sua namorada.
— Jesus, eu sou uma mãe de merda, não é?
— E por acaso você se importa?
— Não dou a mínima pelo o que ele pensa de mim, mas
você ficará bem em estar longe de Sorab três dias por
semana?
Meu pequeno coração está partido com o pensamento,
mas eu coloquei uma máscara determinada.
— Bem, são apenas por 42 dias e eu estava pensando
que, daqui a três semanas, eu poderia dizer que você está de
férias e Sorab é muito jovem para ir com você.
— E você acha que ele vai acreditar nisso?
— Francamente, não acho que ele se importe o
suficiente para refletir sobre o assunto muito profundamente.
— Eu não quero tirar vantagem filosófica aqui, mas se
essa história vai acabar em 42 dias, isso tudo não é um
pouco... desnecessário?
Arrasto a minha unha ao longo do grão de madeira da
nossa mesa de cozinha. Nós compramos em uma loja de
caridade, por 20 libras. Tem duas marcas de queimadura de
cigarro na superfície, mas eu gosto bastante. Ela tem
personalidade, uma história para contar.
— Eu sei que acha que estou sendo boba, mas você
nunca teve alguém que ao te tocar, te deixa em chamas? Ou
aquela sensação estranha, como se os seus ossos estivessem
derretendo e seus ouvidos tilintando em sua cabeça?
— Não. — ela diz, sem rodeios. — E a julgar pelo que ele
fez com você... Não, obrigada. Gosto muito do meu
autocontrole. Da minha capacidade de dizer não e me afastar
de uma situação que grita perigo ou abuso, pela frente.
— Você não sente falta da Leticia, Billie?
— Sim, eu sei, mas... — Ela olha para mim de forma
significativa. — Ao contrário de você, nunca tive que rastejar
por sentir falta dela.
Abaixo os olhos. Meses atrás, quando deixei o país, fui
reduzida a rastejar, mas a dor intensa passou. Seu
reaparecimento, no entanto, tem despertado novos reinos de
necessidade e desejo.
— Posso dizer que não, mas ainda sinto falta dele, Bill.
Sinto falta dele como uma louca. Mesmo não tendo
esperança, ainda quero o que puder ter. Eu o quero em
quaisquer condições. Realmente acho que é impossível
resistir a ele.
Ela suspira.
— OK, é a sua vida. Quando é que essa charada começa
então?
— Amanhã.
— Acho que não vai precisar de uma babá para sexta-
feira à noite, vai?
Faço uma cara de desculpas.
— Desculpe. Você pode tomar conta dele amanhã?
— Enquanto você fode com o Menino Banqueiro? Claro,
porque não? Espero que o garoto se lembre o que eu fiz para
ele quando crescer.
Sorrio agradecida.
Ela enche dois copos com vodca e empurra um para
mim.
— Por Sorab. — Eu não quero uma bebida. Estou toda
remexida, mas nós bebemos. O álcool queima o fundo da
minha garganta. Esta não é uma celebração. Não para mim e
não para Billie. Quando nossos olhos se encontram
novamente, ela não sorri, seus olhos me avisam que estou
cometendo um grande erro.
Cinco Por volta das nove horas da manhã seguinte, Sorab está
alimentado e banhado, e eu estou nervosa, checando o meu
celular para ver se a bateria está fraca, mas ela está
totalmente carregada e a recepção é boa. A voz eficiente e
rápida da secretária de Blake vem às 09h05min.
— Bom dia, senhorita Bloom.
— Oi, Sra. Arnold.
— Este é um bom momento para falar?
— Sim.
— Bom. — diz ela rapidamente, e depois vacila por um
segundo.
— Eu... uh... Como tem passado?
— Muito bem, obrigada.
— Isso é bom. Você ainda está usando contraceptivos?
— Não.
— Oh! — É claro que ela não consegue entender por que
parei com eles.
Mais uma vez as mentiras viajam da minha boca tão
facilmente que me surpreende.
— Eu estava no Iran. Não havia necessidade deles. Além
disso, eles são difíceis de comprar por lá.
— Vou agendar uma consulta para uma renovar sua
prescrição.
— OK.
— Em seguida, você se encontrará com o advogado e,
em seguida, Fleury irá levá-la para as compras, e depois você
terá um compromisso com o cabeleireiro, seguido do
compromisso com a manicure e a depilação.
De repente, eu estava inundada com uma sensação de
déjà vu. Já fiz isso antes. Definitivamente. Na primeira vez eu
era ingênua. Estúpida. Aquele primeiro beijo, ele me
surpreendeu, mas agora eu sei... Sou a indesejada, a
desnecessária. O homem que tem sede de mim também me
despreza.
Mas então, eu pensava que era tudo uma aventura
fantástica. Um sonho romântico. Entrei com os dois pés.
Tudo o que eu sabia sobre ele e sua família era o que Bill leu
para mim da Internet. Agora eu fiz minha pesquisa, sentada
sozinha e grávida em um computador no Irã e eu sei mais,
muito, muito mais sobre o grande clã Barrington.
Eu sei, por exemplo, que há nada menos de cento e
cinquenta e três espécies ou subespécies de insetos que
carregam o nome de Barrington - cinquenta e oito aves,
dezoito mamíferos e quatorze plantas, incluindo uma
orquídea rara chinesa, três peixes, duas aranhas e dois
répteis. Várias ruas ao redor do mundo e pratos foram
nomeadas em homenagem a eles também. O único prato que
eu ainda me lembro é o com camarões, conhaque e Gruyère
(queijo francês) com torradas.
Eles são os Médicis1 do século 21, oferecendo patrocínio
para artistas, escritores e arquitetos. Eu aprendi sobre as
casas que doaram ao povo e as quantidades enormes de
dinheiro que eles têm investido em beneficiários que vão
desde universidades, hospitais, bibliotecas públicas,
instituições de caridade, instituições sem fins lucrativos e
escavações arqueológicas. O objetivo disto Blake já explicou
para mim, como os muito ricos jogam o jogo filantrópico.
Roubam milhões durante um longo período e dão uma
pequena porção de volta como presentes tributáveis.
Eu percebi que as palavras de Blake eram verdade. Se
você procurar na Wikipédia as notícias de ouro foram
convencionalmente plantadas. Isso tudo que vi e li sobre a
família Barrington era história, que fazia parte de uma
imagem, uma imagem falsa. Eles queriam que o mundo
acreditasse nas biografias falsas que encomendaram. Tudo
que declararam que a sua família fez, a dinastia que dominou
1 Família rica e poderosa de banqueiros e comerciantes. Tiveram seu apogeu nos
séculos XV e XVI, quando dominaram Florença, na Itália, e acabaram por estender
seu poder por toda a Toscana, a região onde fica essa cidade.
desde riqueza e influência perdida. Eles eram a imagem de
uma família benigna, com uma almejada privacidade.
Então me deparei com um vídeo do Youtube do pai de
Blake. Lá, ele não era o homem de olhar frio que me mandou
ir, arbitrariamente, ao banheiro para que ele pudesse falar
com seu filho. Vestido com um caro casaco de cashmere e
óculos com aros de metal, ele se preocupava com a economia
mundial de uma forma leve e educada. Sua opinião: mais
medidas de austeridade devem ser implementadas em todo o
mundo, antes que qualquer recuperação pudesse ser
alcançada. Seu cabelo prateado fazia parecer o avô de
alguém, mas quando eu o vi, senti um calafrio subir pela
espinha.
Ele estava completamente diferente. Nesse papel
benevolente que ele tão facilmente e efetivamente
desempenhou.
Se eu não tivesse visto a arrogância gelada, com o qual
os olhos azuis me esnobaram, nunca acreditaria que estes
dois homens eram a mesma pessoa. Mas eu dou crédito ao
arrepiante aviso de Blake, de que nada em seu mundo é o
que parece para aqueles no meu mundo. Foi quando comecei
a pesquisar nos sites de conspiração. E eles estavam cheios
de informação.
Os Barringtons foram acusados de tudo; desde
secretamente começar a guerra civil americana - a fim de
capturar o sistema monetário e precipitar o pânico no banco
americano de 1907, para enganar o Congresso - a aprovar o
Fed (Sistema de reserva federal) em 1913, por financiar os
bolcheviques e Hitler. Eles foram ainda acusados de ter uma
mão no assassinato de Kennedy.
Havia uma coisa que eles fizeram direito, no entanto.
Eles se recusavam a acreditar que o conto de fadas dos
Barringtons eram uma dinastia em declínio, cujos membros
não poderiam mesmo fazer a lista dos mais ricos da Forbes.
Na medida em que estavam em causa, os Barringtons foram
uma das treze famílias antigas. Através de estruturas
complicadas de empresas off-shores (contas e empresas
abertas em paraísos fiscais) que possuíam toda a dívida de
todos os países. Eles eram trilionários e os verdadeiros
governantes por trás dos governos e organizações mundiais.
Por que ser um Barrington é ser um Creso2 moderno, um
Midas do século XX.
— Está tudo bem, se Tom chegar em sua porta, às 10h?
— Laura Arnold pergunta.
O aviso do elevador quebrado pisca em minha mente e
eu me sinto envergonhada.
— Não, basta pedir para ele me ligar no celular quando
chegar, que eu desço.
— Tudo bem, então. Tenha um bom dia, senhorita
Bloom.
2 Creso foi o último rei da Lídia, da dinastia Mermnada, filho e sucessor de Aliates que
morreu em 560 A.C.
Agradeço a ela e termino a chamada. Quando coloco o
telefone na mesa de jantar, Billie entra. Seus olhos estão
quase fechados. Ela vai para a geladeira, toma um gole de
suco de laranja direto da caixa e se vira para mim. Seu rosto
está sério.
— Que horas você vai embora?
— Em menos de uma hora.
— Certo. — ela diz.
— O que você faria se fosse eu, Bill?
— Eu não sei, por que não tenho todos os fatos, não é?
— O que você quer dizer?
— Você pegou o dinheiro e desapareceu com ele, sem
deixar nenhuma nota e nem se despedir, enquanto ele estava
inconsciente no hospital, depois de ter arriscado - se o que
você me disse é verdade - a sua preciosa vida, para salvar a
sua humilde. Então, aos olhos dele, você deve ser o pior tipo
de vagabunda interesseira que já andou em solo Inglês. Em
vez de saltar sobre você e querer agarrá-la para uns dias de
aventura, ele não deveria te detestar agora?
Abaixei minha cabeça. Sinto-me envergonhada por não
ter contado toda verdade a Bill.
— Você está certa, ele deveria me detestar, sou como
uma coceira que deve ser coçada.
— Hmmm... Há algo de errado com esta explicação, por
que coçar demais apenas piora.
— Está bem. Ele chamou isso de doença.
— Pelo amor de Deus, Lana. No que você está se
metendo?
Fecho meus olhos. Só estou piorando tudo.
— Olha, Bill, não é tão ruim quanto parece.
— Melhore o cenário, então.
— Eu não posso. Tudo o que posso dizer é que eu tenho
que fazer isso. Eu sei que o deixei, mas nunca parei de
desejá-lo. Não teve um único dia em que eu não pensei e
ansiei por ele. Não tenho ilusões de que eu possa tê-lo. Eu sei
que não posso, mas estes 42 dias são meus e nada e nem
ninguém vai tirar isso de mim. Então, ele quer me punir?
Tudo bem. Um tapa dele é melhor do que nada.
Bill está boquiaberta com o choque. Ela olha para mim
como se não me conhecesse.
— Você está em algum tipo de relação sadomasoquista?
Desta vez é fácil de encontrar seus olhos.
— Blake não sabe como me machucar. Mesmo que eu
pedisse, ele não conseguiria. Ele acha que pode, mas não
pode. Eu sei. Você já o conheceu. O que você acha?
Bill suspira.
— Eu gostava dele. — Ela admite, finalmente.
Sorrio, mas por dentro estou incrivelmente triste. Eu
sinto como se nunca pudesse tocar a verdadeira felicidade.
Tudo é levado para longe.
— Sim, eu tenho a impressão de que ele gosta de você
também.
Bill fica vermelha.
— Você está corando, Bill?
— Se ele tentar alguma coisa ruim, você vai abandonar
esse contrato doente num piscar de olhos. — Ela diz
rispidamente.
Concordo com a cabeça. Ela acaba de garantir que eu
nunca conte a ela a história toda.
Seis A consulta com a médica foi rápida e indolor.
Próxima parada: escritório do advogado. Entro no
escritório do Mr. Jay Benby com seu secretário. Ele fica na
porta. Eu olho em volta. Tudo é exatamente do mesmo jeito.
— Como vai, senhorita Bloom? — ele diz, meio
levantando da cadeira, o mesmo ar de confie-em-mim-eu-sei-
o-que-é-melhor-para-você. O sorriso lentamente aparece em
seu rosto enquanto ele mostra sua cobra de estimação.
Abaixo meus olhos para o seu anel de turquesa e
pergunto:
— Onde eu assino?
Ele fica em alerta.
— Devo lembrá-la, senhorita Bloom, sobre a importância
e as graves implicações do que você está prestes a assinar? —
ele começa com uma arrogância hipócrita, mas eu o
interrompo. Da última vez em que entrei nesse escritório, era
uma novata de olhos arregalados e intimidados pelos seus
jargões jurídicos. Dessa vez, não.
— Mr. Benby, ambos estamos sendo pagos para estar
aqui. Podemos fingir que você é melhor do que eu, mas por
que perder tempo?
Seus olhos se estreitaram perigosamente.
Ah, eu o ofendi. Boa.
Seus movimentos são afiados e bruscos quando ele abre
o contrato em sua mesa até a página desejada, coloca uma
caneta-tinteiro preta e dourada no topo da página, e empurra
a coisa toda para o final da mesa para mim. A verdade é que
nós dois sabemos que eu não tinha que estar aqui. O
contrato já assinado é valido. Claro, ele não consegue
descobrir por que estou aqui, vejo em seus olhos
especulativos, mas sei exatamente o porquê que estou aqui.
Isso faz parte da minha humilhação.
Tomo a caneta. É fria e suave em meus dedos. Eu
desaperto a tampa, assino e dato o documento, em seguida,
empurro de volta para ele.
— Já terminamos por aqui?
Ele balança a cabeça com firmeza, sua raiva muito
firmemente colocada em cheque. Eu sou a mulher de Blake
Law Barrington, ao menos pelos próximos 42 dias. Intocável.
Viro e saio.
Um pequeno saco de papel está colocado no banco de
trás do Bentley. Agradeço a Tom, guardo os contraceptivos na
minha bolsa e viro a cabeça para olhar pela janela. Londres
tem um ar diferente de Kilburn. Menos desespero, mais
agitação. As pessoas são diferentes também. Eles não
desistiram, ainda acreditam em suas buscas. Isso dificulta a
visão deles. É assim que os olhos de todas as pessoas da
cidade são, frios. Pressiono a mão no meu estômago. Estou
nervosa. Não sei o que esperar desta noite. Até agora parece
que Blake recriou o dia da nossa primeira noite juntos. Nossa
primeira noite juntos ainda queima na minha memória. Eu a
reproduzi em minha mente e fiz com que minhas coxas se
apertassem com uma mistura de excitação e antecipação.
Vou me segurar dessa vez, eu acho.
Fleury está esperando por mim na área de recepção. Ela
caminha em minha direção, sorrindo, polida e elegante,
exatamente como eu me lembro dela. Ela me abraça
calorosamente.
Então, ela me abraça longe dela e diz:
— É maravilhoso vê-la novamente, mas você está tão
magra. Você está bem?
De repente, quero chorar. Eu não consegui chorar
durante semanas, mas desde ontem os menores atos de
bondade fazem meus olhos arderem em agonia. Mordo meu
lábio e pisco as lágrimas.
Por um momento, Fleury registra uma expressão de
surpresa, mas ela não é uma executiva de relações públicas
por nada. Ela sorri brilhantemente, fazendo uma curva em
seu braço esquerdo, me convidando a colocar o meu braço
através do dela. Caminhamos juntas para fora das portas de
vidro.
— Vamos começar com alguns cosméticos?
— Não preciso de novos cosméticos, Fleury. Eu quase
não uso o que você me comprou da última vez. Não há como
comprar isso no Irã.
Ela vira o rosto para mim.
— É ruim o suficiente que as mulheres tenham que
colocar produtos químicos em seus rostos, pelo menos, não
deixe que fique vencido e tóxico. Seis meses é o máximo que
você deve manter seus cosméticos depois de aberto. — diz ela
com firmeza, quando sai para a luz fraca.
Compramos novos cosméticos no piso térreo do Harvey
Nichols. Além dos nudes e rosas suaves, Fleury escolheu um
batom vermelho escarlate.
— Fui informada de que você irá assistir a uma ópera.
Esse vai ser perfeito para o vestido preto que tenho em
mente. — Ela passa um cartão de crédito para o assistente de
vendas e se vira para mim. — Você já foi a ópera antes?
Eu balanço minha cabeça.
Fleury sorri.
— Bem, então vai ser uma experiência nova e
maravilhosa para você.
Nós entramos no elevador.
— Há um vestido aqui que você absolutamente deve
experimentar. É um sonho.
Estávamos passando por uma vitrine de vidro quando
Fleury para, tão de repente que bato nela. Pegando minha
mão, ela me puxa para baixo em uma posição agachada. Olho
para ela sem entender porque agachar atrás da vitrine. Ela
coloca o dedo em seus lábios, sorri fracamente e dá um
encolher de ombros despreocupado.
Meu primeiro pensamento é de que ela viu alguém que
queria evitar, mas no momento seguinte, ouço um sotaque
esnobe perguntar:
— Você não tem isso na cor cereja?
Uma garra de gelo e horror rasga meu estômago. Devo
ter empalidecido ou parecido assustada, porque os dedos de
Fleury apertaram a minha mão e seus olhos se arregalam em
um aviso silencioso, mas claro para não fazer barulho.
Eu engoli a seco.
A voz está dizendo outra coisa que eu não entendo, mas
está se afastando. Fleury puxa minha mão e começa a
rastejar para longe. Se eu não estivesse tão abalada, seria
engraçado. Por nós estarmos de joelhos na Harvey Nichols!
Uma vez, quando Billie veio aqui descalça no auge do verão, o
segurança a retirou a força. Mas Fleury não é qualquer uma.
Fleury representa um grande negócio, um negócio em que os
clientes eram fiéis.
Uma mulher matrona nos olha com os olhos arregalados
de desaprovação, mas ela reconhece Fleury, que dá um
pequeno cumprimento. Ela acena com a cabeça quase
imperceptivelmente e olha a frente. Assim que chegamos ao
fim da longa vitrine, Fleury se levanta e me puxando com ela,
caminhamos rapidamente para fora do departamento.
Descemos as escadas e saímos da loja. Fleury não esperou
por Tom, chamou um táxi preto. Nós entramos e ela disse ao
motorista para nos levar a Kings Road (rua dos Reis).
Em seguida, ela enviou uma mensagem de texto para
Tom, para nos encontrar lá e se virou para mim.
— Eu realmente sinto muito sobre isso, mas é melhor
vocês não se encontrarem. Acho que você a conhece.
Minhas mãos estão tremendo. Concordo com a cabeça.
Estou em estado de choque. De todas as milhões de pessoas
em Londres que eu poderia encontrar, por que ela? E no
primeiro dia do meu contrato. Entendo que seja um mau
presságio, um aviso de que estou cometendo um erro terrível.
As mãos bem cuidadas de Fleury agarram as minhas.
— Não se preocupe com isso. Foi apenas um pouco de
azar. Nós vamos fazer compras em Kings Road. Há lugares
maravilhosos lá também. Na verdade, às vezes eu acho que
prefiro ir lá.
Eu balancei minha cabeça.
— Eu não quero mais ir às compras, Fleury. Eu só
quero ir para casa.
Os olhos de Fleury mudam. Vejo determinação pura
brilhando entre seus cílios extravagantes. Esta é uma mulher
que não vai permitir que nada fique em seu caminho. Eu
começo a admirá-la de novo. Ela é resistente de uma forma
que eu não sou.
— Você não pode ir para casa, Lana. Você está
comprometida com este dia. Temos compromissos que temos
de cumprir. Victoria não é tão poderosa quanto você acredita.
Ela não pode tirar de você o que é realmente seu.
— O que você quer dizer? — Pergunto trêmula. Na
verdade, estou cheia de medo. Perdi tanta coisa. Tudo o que
me resta é Sorab e se por qualquer impulso eu for
descuidada, ele irá desaparecer também, como uma miragem
no deserto.
— A minha posição não permite que eu diga, mas não
subestime Blake Law Barrington. Ele pode surpreendê-la.
Além disso, você não acha que as mulheres que culpam a
outra mulher são estúpidas? A outra mulher não deve
nenhuma lealdade. Olhe para o seu próprio homem. Ele é o
traidor. Fique brava com ele, se tiver coragem.
Concordo com a cabeça. Fleury está certa. Eu não fiz
nada de errado. Cumpri com minha parte no acordo. Eu
deixei o país por um ano. Eu não procurei Blake. Ele que me
procurou.
— Bom. — Fleury diz com um sorriso encorajador. —
Aqui está o que vamos fazer; Iremos à boutique do meu amigo
e encontraremos algo para você usar hoje à noite. Amanhã eu
vou pegar algumas roupas que acho que vão ficar perfeitas
em você e vou enviar para o seu apartamento. Então, você
pode escolher o que quiser e devolver o resto, ok?
— Ok.
— Eu vou reagendar seu horário com o cabeleireiro e
Laura vai, consequentemente, reagendar todos os outros
compromissos.
Em um instante eu a ouvi chamar o cabeleireiro de
celebridades e facilmente levá-lo a entrar no salão, com
quatro horas de antecedência. Pessoas se desdobram para
satisfazer as necessidades de um Barrington. Depois, ela
ligou para Laura.
— Pequena mudança de planos. — Ela disse. — Mmnn.
Conversamos sobre isso mais tarde. Estamos indo para o
cabeleireiro às 13h00. Reagende todos os outros
compromissos em conformidade. — Ela fez uma pausa
enquanto escutava e então disse: — Certo. Isso é bom para
mim. Falaremos mais tarde. — Ela se vira para mim. — Tudo
certo?
— Tudo certo.
— Vamos almoçar primeiro?
Eu não estou com fome, mas aceno infeliz.
Ela respira fundo.
— Se prometer que nunca irá contar a ninguém o que
estou prestes a te revelar, então vou te contar um segredo.
Prometo rapidamente.
— É muito importante que você não conte a ninguém,
especialmente para Blake, ou podem cair sobre mim e Laura
algumas coisas extremamente podres.
— Eu não contarei a ninguém. Principalmente ao Blake.
— Você é mais importante para o Blake do que pensa.
Algum tempo depois que te conheceu no ano passado,
quando estava prestes a entrar em uma reunião importante,
ele chamou por cima do ombro e disse a Laura para reter
todas as ligações. Mas então ele se virou e disse: 'com
exceção de Lana.' Laura ficou muito surpresa com o pedido.
Você vê, ele nunca havia dado uma instrução dessas a ela.
Nem mesmo por seu pai ou irmão. ‗Isso vale apenas para esta
reunião ou é para o dia todo?‘ ela perguntou. ‗Vale até que eu
diga o contrário.‘ ele respondeu. Mas, eis a coisa mais
surpreendente de tudo: Blake Barrington nunca disse o
contrário.
A primeira coisa que vem à minha mente é ‗isso foi
antes‘.
— Não cometa o erro de pensar que foi porque ele se
esqueceu. Blake nunca se esquece de nada. Nem mesmo dos
menores detalhes.
Concordo com a cabeça. Talvez ele se importasse. Talvez
ele vá aprender a me amar novamente.
— Eu não queria que nós encontrássemos Victoria. Não
porque tenho medo dela, mas porque acho que é
desnecessário. É desnecessário para você e desnecessário
para ela. Ela superestimou sua importância; você se
subestimou. Seja confiante. As coisas nem sempre são o que
parecem.
Uma chamada de negócios vem para Fleury. Ela
pergunta se eu me importo por ela atender. Digo que não e
gasto o meu tempo olhando para os compradores na rua,
meu estômago rola com ansiedade.
O carro para na frente de uma loja chamada Bijou.
Fleury abre uma porta antiga e um pitoresco sino tilinta.
Uma lufada de perfume sai correndo para nos receber. A
pequena loja é tão abarrotada de roupas, joias, chapéus,
bolsas e sapatos, e tão diferente do que se presume ser uma
loja habitual de designer nas quais Fleury normalmente me
leva, que eu realmente tenho a impressão de ter tropeçado na
caverna secreta de Aladdin.
Uma pequena mulher bem conservada, de idade
indeterminada fica atrás de uma mesa ornamentada e vem
para frente para cumprimentar e beijar Fleury em ambas as
faces. Seu riso é sofisticado e rouco, de uma fumante
inveterada. Ela tem um estilo europeu chique, que combina
camisas com cores ousadas e inúmeros cordões de pérolas.
Sou apresentada a Regine.
Ela sorri para mim mais uma vez, e indica para Fleury e
eu duas cadeiras de veludo vermelho. Quando estamos
sentadas, ela vira a placa na porta para fechado e começa a
correr em torno de sua loja superlotada, cantarolando. Ela
volta com três roupas diferentes.
— Experimente esse primeiro. — sugere Fleury,
apontando para um vestido branco fabuloso na altura do
joelho, com uma gola alta mandarim, três recortes de joias
em forma de folhas no peito e na altura das coxas. Eu o pego
da Madame. O tecido é de lã muito macia.
— Somente meninas com braços muito finos podem
usar o cheongsam3 — diz Fleury.
— Sim. — concorda Madame Regine.
Eu vou atrás de uma cortina de veludo pesado, onde há
três espelhos de corpo inteiro. Não temos grandes espelhos
em casa. Billie vai para os vestiários da Marks e Spencer para
se ver. Tiro minha calcinha. Posso ver que estou muito
magra. Minhas costelas e ossos do quadril estão à mostra.
Não é uma boa aparência. Eu costumava ser melhor de se
olhar antes. Imediatamente começo a me preocupar se vou
agradar a Blake. Eu me lembro de como ele era atraído por
meu corpo. Como costumava me dizer para tirar a roupa, e
me observar. Bastava me ver para seus olhos ficarem
3 Vestido clássico da China.
fascinados, como se eu fosse a coisa mais bonita que ele já
viu. E se o meu corpo já não o excitasse mais?
— Ei, nós queremos ver. — Fleury me chama com uma
risada.
— Estou indo. — digo, e coloco o vestido. Fecho atrás e
olho para meu reflexo. Uau! Eu não posso acreditar o quão
bem o vestido ficou. Isso faz parecer que tenho curvas. Eu
viro minha cabeça para olhar para o lado da fenda, que vem
até o meio da coxa, o que é ao mesmo tempo sutil e sexy.
Sentindo-me mais tranquila, puxo a cortina.
— Magnifique! — Suspira a voz rouca.
Fleury sorri como o gato Cheshire.
— Você está linda, Lana. — diz ela, e sei que está sendo
sincera.
— Mas espere... Eu tenho o sapato perfeito. — Diz a
Madame, e corre para a parte de trás da loja.
Ela volta com um sapato que é incrustado com pedras
semelhantes às que bordam os buracos em forma de folha no
decote. Ele é como o sapato de vidro da Cinderela. Apenas a
garota certa pode calçá-lo. Pego e calço. O sapato se encaixa
perfeitamente, ela deve ter um excelente olho.
O rosto carregado de maquiagem sorri astuciosamente.
— Aaa..., mas espere... Você precisa arrumar o cabelo
para cima.
Ela arranca três grampos de joias de um vaso e
segurando meu cabelo habilmente, insere-os nele. A senhora
europeia, cuja idade estou tendo que aumentar mentalmente,
bate palmas e declara finalmente que é ―Absolutamente
fabuloso.‖
Olho para o espelho e tenho que concordar.
Absolutamente fabuloso. O vestido é realmente incrível.
Nunca me senti tão glamorosa ou sexy em toda a minha vida.
Olho para Fleury e ela está sorrindo.
— Ninguém pode levar o que é verdadeiramente seu
para longe. — diz ela, e eu sorrio.
Saímos da Bijou e Tom está esperando por nós. Ele
coloca todos os nossos pacotes no porta-malas e nos leva ao
cabeleireiro das celebridades.
— Você deixou sua franja crescer. — Bruce, o
cabeleireiro de celebridades, diz em tom acusatório.
— Eu estava vivendo no Irã. As mulheres não têm
permissão para mostrar os cabelos em público. Era mais fácil
deixá-lo crescer, puxar todo para trás em um coque e jogar
um lenço sobre a cabeça. — explico.
— Ah, isso responde perfeitamente à minha próxima
pergunta, que seria ―Você já foi a algum lugar bacana?‖.
Eu ri. Gosto dele. Ele é raro, um cabeleireiro durão com
senso de humor britânico. E ele tem um queixo determinado
e forte, e olhos que são sutis, mas com certeza me despiram.
Se não estivesse totalmente apaixonada por Blake eu poderia
gostar dele.
— Mas, honestamente. — continua ele — o que deu em
você para ir viver naquele país esquecido por Deus?
— Minha mãe é de lá.
— Ah! Ouvi dizer que tem muitos banheiros com aqueles
azulejos lindos.
— Tem.
Ele levanta a mão e toca minhas bochechas.
— Você perdeu peso. A franja só vai acentuar sua
magreza. Vou desfiar o cabelo perto de sua boca para retomar
essa suavidade perdida.
E ele faz.
Fleury dá as presilhas para a garota que assume o
trabalho de secar meu cabelo e a instrui para colocar o meu
cabelo para cima.
— Mas não coloque laque. — ele diz e pisca para mim.
— Homens não gostam do cabelo duro.
A menina está acabando e eu estou maravilhosamente
diferente.
Também é hora de Fleury dizer adeus. Sinto-me quase
chorosa. Ela é a única que parece estar do meu lado,
torcendo por mim. Ela me beija no rosto.
— Tudo vai ficar bem. Basta ser você mesma e nada
poderá ser mais bonito.
De volta ao salão de depilação, soube que Rosa se
mudou para a Espanha. Uma mulher alemã robusta, com as
mãos avermelhadas e unhas roídas até o final, me leva para
uma sala de depilação. Não há nenhuma conversa sobre
sanduíches já consumidos na frente da TV ou de um filho
inteligente que está na escola de arte, apenas uma dedicação
implacável e silenciosa por uma pele depilada. Gertrude tira
cada fio de cabelo do meu corpo. Quando estou toda em um
tom forte de vermelho e o último pelo ofensivo se foi, ela solta
um grande suspiro de satisfação. Ao contrário de Rosa, ela
não se oferece para fazer as sobrancelhas de forma gratuita.
Isso era de outro tempo. Quando a vida era generosa comigo.
Minhas unhas estão muito curtas para uma manicure
francesa. A menina me pergunta se eu gostaria de unhas
acrílicas e por um momento me sinto tentada, nunca tive e
elas parecem bastante divertidas, mas então eu acho que,
acidentalmente, aranhariam a pele macia de Sorab, quando
estiver trocando suas fraldas e recuso. Ela vai em direção a
uma prateleira cheia de esmalte de unha.
— Escolha a sua cor.
— Branco. — eu digo. — Quero o esmalte branco.
No carro eu admiro minhas unhas, olhando para elas
bonitas e limpas.
— Tom. — digo. — Se me der à chave do apartamento,
você pode me deixar na minha casa, depois eu pego um táxi
pra lá.
— Oh não senhorita Bloom, isso vale mais do que
apenas o meu trabalho. Fiquei com meus ouvidos vermelhos
por deixá-la no centro, da última vez. Eu posso levá-la para
onde quiser e esperar lá embaixo, até que você esteja pronta
para ir para o apartamento.
Ele senta na entrada, de frente para o parque na escada
escura e espera meu retorno.
Sete Billie está sentada na nossa mesa de jantar quando
entro. A cesta de bebê está na mesa ao lado dela. Cercada por
canetas, aquarelas e lápis de cor, ela está dobrada em cima
de um grande bloco de notas, profundamente concentrada.
Seu cabelo está caindo sobre a testa e sinto uma grande onda
de amor por ela. Ela olha e sorri.
— Uau! Esse penteado está legal. — ela exclama, ficando
de pé e segurando a minha mão, me fazendo rodopiar.
— Então, você gostou? — Sondo, conscientemente
tocando minha franja.
— Sim. — ela diz enfaticamente. — Se ele não gostar de
você, eu gosto.
Eu rio e vou para o berço.
— Ele está dormindo?
— Não.
Sorab está agitando os bracinhos. Chego ao berço e o
pego no colo. Ele está vestindo algo projetado e feito por
Billie, tipo um terno vermelho e amarelo, com grandes botões
de pano azul que se parecem com flores.
— Olá, querido. — Digo, meu rosto se desfaz no primeiro
sorriso cheio de alegria, desde que saí da casa.
Ele olha para mim com seus olhos azuis intensos
durante alguns segundos, antes de quebrar em um de seus
sorrisos desdentados e deliciosos.
Por cima do meu ombro, Billie diz:
— Pena que ele vai ter que crescer e se tornar um
homem.
Viro e olho para ela de forma significativa.
— O quê? — ela pergunta.
— O seu pai é um homem.
— Isso ainda não se sabe. — diz ela, e movendo-se em
direção aos seus desenhos, diz: —Venha e veja isso.
Eu a sigo em torno da mesa. Coloco Sorab na dobra do
meu braço, para ter uma visão melhor do seu trabalho. Ela
chamou de vestido da menina. Não é na cor rosa pálido
habitual, normalmente reservada para os bebés, mas é
amarelo banana, com maçãs verdes por todo o lado. Eu
nunca vi nada parecido nas lojas. Ela realmente tem um
talento único.
— Bem, o que você acha?
— Ele é tão bonito, eu quase desejaria que Sorab fosse
uma menina, apenas para usá-lo
Billie sorri.
— Você tem tempo para uma xícara de chá?
— Eu tenho. — digo.
Ela põe a chaleira no fogo e nós nos sentamos e
conversamos. Nós não tocamos no nome de Blake. Até que dá
quatro e meia, eu beijo Sorab e saio pela nossa porta da
frente. Tom sai do carro e abre a porta quando ele me vê
descer as escadas. Olho para cima e Billie está de pé na
varanda olhando para mim. Ela ondula o bebê e muda para
um lado. Aceno, com um sentimento de pavor no meu
estômago.
Não deixo Tom carregar minhas malas ou me
acompanhar. Eu sei o caminho. Além disso, estou morrendo
de vontade de ficar sozinha, apenas com meus pensamentos
caóticos. Atravesso a porta de vidro e o Sr. Nair salta de pé,
em sua posição atrás do balcão da recepção, como um
suricato assustado. Ele vem em minha direção sorrindo.
— Senhorita Bloom, senhorita Bloom, — ele chora. —
Você está de volta na cobertura. Eu vi todos os produtos de
limpeza, malas e móveis novos que foram lá pra cima e eu me
perguntava de quem seriam.
— Que bom te ver de novo, Sr. Nair.
Ele estende as mãos.
— Aqui, me deixe ajudá-la com suas malas.
Eu puxo as malas de seu alcance.
— Está tudo bem, Sr. Nair. Elas são muito leves. Eu
posso levá-las. Por que você não vem amanhã de manhã para
um café e então podemos ter uma conversa agradável.
— Ah, sim, senhorita Bloom. Isso vai ser maravilhoso.
Nada é o mesmo desde que você foi embora.
Sorrio. Na verdade, também tenho saudades dele e de
suas histórias fantásticas do tempo em que passou na Índia.
— Eu vou chamá-lo amanhã.
— Boa noite, senhorita Bloom. É realmente bom ter você
de volta.
Desejo boa noite, entro no elevador e coloco meu cartão
em seu compartimento. As portas se fecham e eu subo.
Estranho, nunca pensei que voltaria aqui novamente e ainda
assim, aqui estou. A porta se abre e é tudo a mesma coisa.
Nada, nada mudou.
Abro a porta da frente. A mesma fragrância fraca de
lírios que sempre associei a este apartamento flutua no ar.
Esse sentimento de nostalgia corre sobre mim e eu sinto
meus joelhos fraquejarem. Fecho a porta, coloco minhas
malas na mesa do lado, e ando pelo longo corredor
esmaltado. Passo meus dedos ao longo da parede lisa,
daquele jeito que eu fiz há mais de um ano atrás.
Eu não vou para a sala, mas me desligo e vou para o
quarto. Um soluço sobe na minha garganta. Nada mudou,
nem mesmo aqui. É como se eu estivesse aqui ontem e não
há mais de um ano atrás. Vou para a sala ao lado e, como
Laura prometeu, estava arrumada para parecer um quarto de
bebê. Há um belo berço branco e azul, todos os tipos de
brinquedos, um carrinho de bebê muito elegante e latas de
fórmulas de leite infantil. Eu vou até elas. Eu as reconheço.
Eu as vi em anúncios, são todas naturais e feitas de leite de
cabra, mas eu não podia comprá-las. Pego uma e olho,
experimentando a culpa.
Neguei tudo isso a Sorab. Estou realmente fazendo a
coisa certa por ele? Será que ele vai me agradecer um dia por
privá-lo de uma vida que 99,99% das pessoas só podem
sonhar? A resposta é confusa e eu não penso nisso agora. Sei
que terei que pensar sobre isso, é muito importante, mas
ainda não. Não hoje. O relógio já marca 18h.
Fecho a porta, vou para o banheiro e ligo as luzes.
Naquele espaço imaculado, sou uma estranha com um belo
penteado. Fico olhando para mim mesma. A noite se estende
diante de mim. Estou animada e com medo do que ela vai
trazer. Sento no vaso sanitário por um momento, para me
recompor.
Pego o vestido de Regine do saco exclusivo em que
estava embalado e penduro no quarto. Então corro para um
banho, adiciono óleo de lavanda. Deito de costas, fecho os
olhos, mas estou muito nervosa e excitada para relaxar e
depois de alguns minutos saio, me envolvendo em um roupão
macio, que cheira a frutas amassadas e vou para a cozinha.
Na geladeira encontro duas garrafas de champanhe
deitadas de lado. Eu me lembro da última vez, quando estava
na varanda e bebi pela saúde da minha mãe. Este tempo não
parecia adequado para champanhe. Fecho a porta
impacientemente e vou ao armário de bebidas. Derramo uma
grande dose de vodca. De pé, perto do bar, eu bebo. O liquido
corre como fogo em meu estômago vazio, mas tem o efeito
desejado de quase imediatamente acalmar meus nervos. Olho
para as minhas mãos. Elas pararam de tremer.
Volto para o banheiro e cuidadosamente aplico a
maquiagem. Duas camadas de rímel, um toque de blush e o
gloss nude. Afasto-me do espelho.
— Não está ruim, Bloom. Fez um bom trabalho.
Volto para o bar e bebo outra grande dose de vodka, me
sentindo definitivamente com a cabeça mais leve e vou para o
quarto. Coloco meu lindo vestido branco. Quando gentilmente
o passo sobre a minha cabeça, um gancho pega no meu
cabelo e puxa um grampo fora do lugar. Eu fico olhando com
horror para o grampo oscilando. Xingando, eu tento torcê-lo e
empurrá-lo de volta no lugar. Meus esforços têm sucesso e eu
suspiro aliviada. Eu fecho o zíper, calço meu sapato e me
olho no espelho.
Uma mulher sofisticada, com olhos brilhantes e
bastante corada. Passei blush demais. Pego um algodão e
removo tudo. O calor e o álcool já deixam as minhas
bochechas rosadas naturalmente. Não há necessidade de
blush. Passo o perfume nos dedos e aplico atrás das orelhas.
Aqui estou eu, pronta para o grande Barrington.
Oito Fico os meus 10 minutos de espera na varanda, com o
meu sapato de Cinderela. Exatamente às 08h05min, Tom
toca a campainha. Seus olhos se arregalam quando abro a
porta.
— Essa é uma linda roupa, senhorita Bloom. — diz ele,
com uma tosse envergonhada. Ele está segurando uma caixa
de papelão comprida, que desajeitadamente desliza na mesa.
Olho para ele e me sinto corar. Meu Deus! Porque Blake fez
disso uma recriação da nossa primeira noite juntos?
À medida que o elevador desce, já sei onde Tom está me
levando. Madame Yula está cheio com o mesmo tipo de
pessoas que estavam da última em vez que estive lá. Se esta é
uma recriação da nossa primeira noite juntos, então sei
exatamente onde vou encontrar Blake. Esperando no bar.
Viro-me para ele e mesmo que eu saiba o que vou ver, meu
coração para. Ele está vestindo um terno escuro, camisa
preta e uma gravata branca e é o homem mais bonito do
lugar..., Mas não é só isso... Estou sendo comida viva por
seus olhos. Por um longo momento fico congelada,
simplesmente paralisada, olhando para a fome em seus olhos
azuis tempestuosos. É tão exposto e cru, que me choca.
— Mademoiselle, — diz alguém, perto do meu ouvido.
Vou na direção da voz, minha expressão vazia, distraída e
talvez até confusa. — Posso ajuda-la? — Pergunta o garçom.
Antes que eu possa responder, Blake está lá.
— Ela está comigo. — diz ele, sem problemas, e o
garçom se afasta, da forma como os garçons fazem nos
filmes. Viro a cabeça e olho para o rosto de Blake. No brilho
suave da iluminação das velas, ele parece sombrio e
incrivelmente misterioso. Por um momento, nenhum de nós
fala. Nunca terminamos. Está tudo lá, crepitando entre nós.
Os lençóis amassados, os quadris estreitos envoltos apenas
em uma toalha, a boca faminta, e as horas e horas de sexo.
Tremo com as memórias. Meus lábios se abrem. Um convite
que não pode ser desperdiçado. Mas uma máscara vem sobre
seus olhos.
— Quão completa é a ilusão de que a beleza é bondade.
— ele murmura. Vagamente registro que é uma citação, mas
meu cérebro atordoado não consegue localizar a fonte. Ele
levanta uma das mãos para pegar a mecha de cabelo que
escapou, mesmo com o trabalho e os esforços que fiz para
mantê-la no lugar. Delicadamente, ele gira os fios entre os
dedos e cuidadosamente o coloca no lugar. E então se afasta.
— Gostaria de uma bebida? — Acho que já estava um
pouco bêbada.
— Não, tomei algumas no apartamento. — Um lampejo
passa em seus olhos.
— Champanhe. — Ele lembrou.
Balanço a minha cabeça.
— Vodka.
Ele acena.
— Comida para você, então.
O cardápio que nos mostram é o mesmo. Olho
atentamente para ele. Tentei ver além da máscara, mas seu
rosto está deliberadamente inexpressivo. Em um torpor, peço
a comida. Ela chega. Pego a minha faca e garfo. Coloco entre
meus lábios. Não sinto nada. Levanto meus olhos para ele e o
pego me observando. Seus olhos são vorazes. Sua comida
está intocada. Entre as minhas pernas, estou dolorida.
Engulo a comida. Um caroço surge na minha garganta.
Estendo a mão para a taça de vinho e tomo um gole, mas isso
só me sufoca. Começo a tossir. Meus olhos se enchem de
água. Porra. Só eu mesma para fazer algo tão sexualmente
desagradável.
— Você está bem?
— Tudo bem. — digo ruborizando de vergonha. Preciso
ir ao banheiro e colocar tudo para fora.
— Com licença. — quase grito, colocando o guardanapo
na mesa e ficando de pé.
Ele se levanta ao mesmo tempo que eu. Deixo a mesa e
sinto seus olhos me perfurando até virar a curva do banheiro.
Entro e me olho no espelho. E mais uma vez estou surpresa
com o meu reflexo. Sinceramente, mal posso me reconhecer,
o novo penteado, as roupas, a maquiagem, mas mais do que
tudo isso, é o meu olhar. Selvagem.
— Eu sou Lana, moradora do conjunto habitacional e a
mãe de Sorab. — digo em voz alta.
Aquele pedaço de cabelo solta novamente.
Cuidadosamente puxo um dos grampos e enrolo o cabelo em
torno dele. Parece que consegui prendê-lo. Respiro fundo e
volto para o restaurante. Enquanto estive fora, Blake não
tocou em sua comida. Ao invés disso, ele terminou seu
uísque e pediu outro. Ele me olha por cima da borda do copo.
— Não está com fome? — Eu pergunto. Ele coloca o copo
na mesa e pega meus dedos. Suas mãos são exatamente
como me lembro - firmes, quentes e fortes. Ele vira minhas
mãos e olha para minhas unhas.
— Muito bom. — diz ele em voz baixa, e as leva aos
lábios, beijando. É um gesto debochado, mas com o toque de
seus lábios frios, tremo com antecipação. Lembro dele
sorrindo com um convite sexual. Ele permite que os dedos
passeiem até a pele do meu pulso.
— Seda pura do caralho. — Seus olhos se levantam para
encontrar os meus. Entre os cílios grossos que são poderosos
e convincentes. — Você sentiu um pouco minha falta, Lana?
Por um instante eu me esqueço de tudo e respondo à
emoção que vejo fervendo em seus olhos.
— Nem por um dia deixei de desejar você. —Sussurro.
Como se tomasse um tapa, ele arranca a mão e começa a rir
amargamente. Ele balança a cabeça, como se estivesse
maravilhado.
— Agora vejo por que fui enganado por você. Você é
absolutamente letal. Tão sedutora, tão perigosa e eu fui pego
na sua rede.
Ele bebe todo o liquido do copo e olha para longe de
mim, fazendo gestos para um garçom. Quando ele se vira
para me encarar, seus olhos estão brilhando.
— Então, quanto foi que meu pai te pagou? — Faço uma
pausa. Estou em território perigoso. Meu contrato com
Victoria não me permite revelar a soma ou mesmo contar a
ninguém que foi ela quem me pagou. O garçom chega e ele
pede novamente. — Outro. — Blake diz. O garçom acena
discretamente e tira o copo vazio, em um movimento suave.
Blake não tira os olhos de mim.
Billie está certa. A minha posição é insustentável. Aos
seus olhos devo ser o pior tipo de vagabunda. Ficar na frente
dele só gera mais incompreensão e dor para nós dois. A dor já
começou, uma dor física. Ela enche meu peito. E eu nunca
vou poder dizer a verdade. Na cabeça dele, sempre vou ser o
seu romance ruim. Lady Gaga está cantando: ―Eu quero a
sua feiura. Eu quero a sua doença.‖
— Desculpe, mas tive que assinar um acordo de não
divulgação. — Digo, plenamente consciente de que, sem a
verdade, ele sempre vai me desprezar. Eu me inclino para
trás em minha cadeira, me sentindo suja. Nunca mais vou
estar limpa a seus olhos. E não há absolutamente nada que
eu possa fazer sobre isso. O garçom retorna com mais uísque.
— Eu sei que você está com raiva, mas...
— Cale a boca. Você não sabe de nada. — ele diz com os
dentes cerrados.
Fecho minha boca. Eu nunca o vi com raiva tão
abertamente. Ele é sempre tão controlado, tão suave. Mesmo
quando estava irritado com alguém no telefone, sua fúria era
tão fortemente controlada, de modo assustadoramente
tranquilo, que eu ficava imóvel atrás da porta, apenas
escutando. Ele toma seu uísque de forma agressiva, virando
tudo e batendo o copo vazio em cima da mesa.
— Você quer mais comida?
Balanço a minha cabeça, miseravelmente. Isto não
estava indo do jeito eu não imaginei. Um músculo em seu
rosto se contrai. Ele pede a conta.
Alguém em um terno vem correndo para o seu lado.
— Algum problema? — O garçom pergunta, preocupado.
— Está tudo bem. — Ele olha para mim intensa e
profundamente.
— Mas o prato principal...
Blake não tira os olhos de mim.
— Tenho negócios inacabados para cuidar, Anton. — Eu
dou um suspiro pesado e Anton sai com uma velocidade
impressionante, pois aquilo não tem nada a ver com ele.
Outro garçom, de rosto educado e com profissionalismo
impassível, vem com a conta. Blake se levanta de sua cadeira
e vem para ficar ao meu lado. Levanto e ele me leva para fora
do restaurante. Não nos tocamos, com exceção de sua mão
espalmada na parte inferior das minhas costas de um jeito
possessivo. O típico comportamento de um marido.
Nem uma palavra é dita por qualquer um de nós no
carro, mas cada célula do meu corpo está respondendo a sua
proximidade. Meu desejo por ele é grande, minhas mãos
estão apertadas fortemente contra minhas coxas e minha
boceta está realmente palpitante. Na verdade, a necessidade é
tão excessiva, que é quase violenta. Roubo um olhar para ele
que está olhando para frente, as maçãs do rosto esculpidas
como pedra, mas o músculo em sua garganta está pulsando
como uma bomba relógio. Reconheço esse tique nervoso. Isso
me mostra o que ele não quer admitir, que quer me foder,
rápido e intensamente. Ele está se debatendo consigo mesmo
o tempo inteiro, preso dentro de seu próprio romance ruim.
— O que aconteceu com todas as roupas que deixei para
trás? — Pergunto no elevador.
— Você está perguntando sobre a moda da última
temporada? E sobre as pessoas que você deixou para trás,
Lana? Por que você não quer saber sobre elas? Sobre mim,
por exemplo.
— Como tem passado, Blake?
— Você está prestes a descobrir. — ele responde, com
um sorriso desagradável.
Nove Ouço o clique suave da porta espessa atrás de mim, e
me viro para encará-lo. Ele está lá - alto, moreno e com uma
latejante tensão sexual. Deus! Como eu quero esse homem.
Ouço um som áspero de burburinhos na garganta. Eu
reconheço isso. Um desejo cego, de abalar a terra. Faz um
longo tempo desde que o ouvi. Tropeço. Ele estende a mão e
me puxa com força. Meu corpo bate no dele.
Tenho a impressão de que ele está imóvel como uma
pedra. Ele nunca vai dar o braço a torcer. Mas eu posso
ajudar. Moldo meu quadril ao dele. Sua ereção é grossa e
quente contra o meu estômago. A crueza dela desperta a
grande fera dentro de mim, uma fera implacavelmente
gananciosa. Ele quer mais, quer tudo e quer agora.
Intoxicada pelo fogo ardente em seus olhos, as minhas mãos
cobrem o peito e enredam em volta do pescoço, mas ele pega
minhas mãos e as coloca para trás em minhas costas. Seu
aperto é uma algema firme.
Propositalmente, ele me mantém longe dele e deixa os
olhos entreabertos passearem pela minha boca aberta, vagam
pelos meus seios que quase encostam nele, arfando. Descem
por todo o meu corpo, para as minhas pernas. Seus olhos
levantam novamente para encontrar os meus. Estou
incrivelmente excitada.
— Eu tinha meia dúzia de fantasias, coisas que queria
fazer com você, quando tivesse nua. E sexo inofensivo não é
uma delas. — diz ele, quando arranca os grampos no meu
cabelo e os arremessa longe. Liberado, meu cabelo cai por
todo o meu rosto e ombros.
— Minha bela prostituta. Uma vez fui bom para você e
você me chutou quando eu estava para baixo, agora você vai
ter o que merece. — Sem aviso, ele agarra os dois lados da
gola alta do meu lindo vestido e o rasga em dois. Pego as
pontas rasgadas do meu vestido arruinado e olho para ele,
em choque.
Ele olha para mim, respirando com dificuldade.
Estranhamente, é frio como gelo. Minha mente está em um
caos inacreditável. Eu julguei mal a extensão de sua raiva.
Debaixo da fachada de calma ele está fervendo de ódio, com o
que acha ser a minha falsidade. Quero chorar com a
destruição gratuita de algo tão bonito, mas na verdade, estou
chocada demais para isso.
— Vista apenas o que está na caixa e me encontre no
quarto. — ele comanda secamente, e se afasta de mim.
Fico ali mais um pouco, atordoada demais para me mover.
Vislumbrei a fome feroz, a necessidade, mas agora tudo o que
vejo é o controle de ferro em seus ombros tensos. Ele para em
frente ao bar e se serve de um uísque. Pego a caixa pela
abertura lateral e vou ao banheiro.
Rapidamente, tiro o vestido rasgado e o coloco na lixeira
de alumínio debaixo da pia. Quando a tampa fecha sobre ele,
um soluço escapa dos meus lábios. Nunca tive uma coisa tão
bonita antes. Fez eu me sentir tão elegante e sofisticada. Eu
ainda podia ver Fleury sorrindo com prazer e Madame Regine
rindo asperamente. — Único para o seu tipo. Você não vai
encontrar outro como ele.
Pressiono minha mão na boca para evitar um soluço.
Eu não vou chorar. Serei forte, digo a mim mesma, enquanto,
outra parte de mim fica chocada com minha determinação.
Sei o que está na caixa. Eu puxo as fitas de cetim, levanto a
tampa e franzo a testa. Não é lingerie branca e sapatos.
Como se estivesse em transe, eu pego a caixa de veludo
familiar e abro. Sob as luzes amarelas do banheiro, surge um
colar com dois diamantes, o brilho do colar de safira era
como os ostentados por um cantor de rap. A outra coisa que
eu encontro na caixa é ainda mais surpreendente. O short de
Billie, o que eu peguei emprestado para usar na festa. Devo
ter esquecido aqui. Eu esqueci completamente dele. Lembro
da noite novamente. O que isso significa? Que ele deu todas
as minhas coisas e guardou isso? Que esta peça de roupa
significa algo para ele? Abro o último item, uma caixa de
sapato. Um sapato Christian Louboutin, mas
surpreendentemente semelhante ao que eu usava na primeira
noite em que nos conhecemos, feito de pele de cobra laranja.
Tento imaginar como ele os encontrou. Ele os descreveu
para Laura? Daí ela pesquisou na net e deu uma lista para
ele escolher? Eu penso rapidamente. Considero deixar minha
calcinha, mas me lembro de seus olhos quando ele segurou
minhas mãos atrás das minhas costas e me disse que tudo o
que eu deveria usar estava dentro da caixa.
O colar é frio na minha pele. Eu pego o short, fechando
o zíper e botões. Calço o sapato e olho para mim mesma no
espelho. Oh céus. O shorts pairam sobre os meus ossos do
quadril e minhas costelas ficam à mostra. Olho para mim no
espelho e estou tão sexy como uma vassoura de shorts. Meu
consolo é que as luzes do quarto estarão apagadas. Fico
olhando para os meus seios. Os mamilos estão duros. Esta
manhã, eu ainda poderia tê-los coberto com o meu cabelo,
mas agora que a parte da frente se foi, essa opção não existe
mais.
Eu toco o interruptor e apago a luz, na esperança de que
ele não vá ver a silhueta do meu corpo magro e seminu sair
do banheiro. Meus passos vacilam e eu fico insegura com
meu salto alto. Meio escondida nas sombras do canto da sala,
estou de pé e olho para o espécime magnífico sentado sem
camisa, em uma piscina de luz sobre a cama.
Suas pernas estão cruzadas nos tornozelos e os braços
estão cruzados sobre o peito. Os músculos de seus braços
parecem ainda mais definidos do que me lembro. Ele deve ter
malhado, expulsando suas frustrações no exercício. Ele se
move ligeiramente e a ação ondula da linha dourada da sua
barriga definida. Minha boca fica seca. De repente, eu me
sinto exposta e com vergonha do meu corpo, da minha
excitação. Minhas mãos se levantam para cobrir meus seios.
Meus mamilos são pedras duras contra as palmas das
minhas mãos.
— Venha. — ele ronrona. Sua voz é sedosa, mas seus
olhos estão sombreados e seu rosto é inexpressivo.
Impenetrável.
Ele começa a desabotoar a calça. Fico olhando para a
barriga lisa, o corpo bonito que eu desejava. A calça cai no
chão. Cueca preta. Seu pau está claramente visível. Meu
Deus, ele já deve estar assim há algum tempo. Sinto meu
corpo molhado de excitação, se preparando para a doce
invasão. Ele tira a cueca. Uau! Nada mudou. Ele está tão
lindo como sempre.
Mas não me movo. Eu não posso. Minha alma se recusa
a ir para frente. Não para esse castigo humilhante
novamente. Eu me lembro como se fosse ontem. Ir para o
meio da sala, virar, abrir as minhas pernas tão separadas
quanto puder, e me curvar para tocar o chão. Antes foi
estranhamente excitante, mas agora parece sórdido. Não
estou aqui porque ele me pagou para estar. Estou aqui por
vontade própria. Estou aqui para reparar um erro que cometi.
Estou aqui porque, apesar dele não acreditar, sou
loucamente apaixonada por ele.
— Novos jogos, Lana? — Ele zomba, quando não faço
nenhum movimento em direção a ele, mas sua voz é
diferente. A suavidade se foi. Agora ela é torcida e viva, com o
tipo de cobiça irrefletida, que só um homem sabe quando
usar. Eu o vejo sair da cama e vir em minha direção, alto,
moreno, perigoso e à procura de problemas. Ele para na
minha frente. O calor emana de seu corpo. O ar engrossa. Eu
quero provar a pele dourada. Pisco para quebrar o feitiço.
Assuma o controle, Lana. Seus olhos vingativos estão em
mim.
A estranha fascinação com o perigo corre pela minha
espinha. Quero fechar os olhos e tentar imaginar como ele
era antes, mas não posso. Um movimento errado e ele vai me
tomar agora, grosseiramente, e o abismo entre nós vai se
tornar ainda maior, impossível de atravessar. Mas uma
mulher nunca fica sem opções, minha mãe sempre disse.
Comece do jeito que você quer continuar. Eu não preciso ser
submissa. Posso ser tão poderosa como Billie, tão poderosa
como minha mãe.
Afasto minhas mãos dos meus seios, pego no botão do
meu short e o abro perante seus olhos. Lentamente eu o tiro.
Seus olhos não seguem os meus dedos, mas o meu rosto.
Mesmo assim, meus dedos estão tremendo com uma espécie
de excitação selvagem. Eu não tenho que empurrá-los para
baixo das minhas pernas. Eles estão tão largos que
escorregam facilmente. Por um tempo, fico apenas com meu
colar e meu sapato alto.
Quando levanto uma perna para sair do short, ele pega
a minha perna firmemente sob o joelho me obrigando a ficar
no lugar, espalhada e aberta para ele. Eu sinto uma brisa de
ar por todo meu corpo. Meu gesto de submissão não faz nada
para diminuir seu desprezo. Seus olhos são selvagens. Eu me
pergunto como alguém pode estar tão excitado como ele está,
obviamente, e ainda ter um olhar tão frio e distante.
Sua mão agarra possessivamente minha bunda nua e a
outra cobre minha boceta, já molhada, inundada e apertada
com antecipação. Ele brinca com a umidade que despertou.
Um prazer delicioso corre entre nós. É assim por muito
tempo. Meu corpo não se importa como ele faz isso ou porque
quer fazer. Só o quero dentro de mim. Sempre desse jeito
para mim. Meu corpo chora por ele. Ele permite que seus
dedos deslizem ao longo da minha boceta e os leva à boca,
chupando.
— Mmnnn você ainda tem gosto de céu. —
Choramingo e o som tem um efeito eletrizante sobre ele. Com
um grunhido, ele empurra os dedos dentro de mim. Uma vez.
E outra. Mais forte. Rápido. Um som escapa dos meus lábios.
Minha cabeça pressiona contra a parede e meu quadril
empurra em direção à sua mão. Ele é rude, mas depois de
todo esse tempo eu gozo. O gozo da minha boceta vem com
força. Sinto o excesso de líquido escorrer por minhas coxas.
Mas não é o suficiente.
Balanço meu quadril sem pensar. Procurando preencher
essa dor. Onde os dedos não podem alcançar. Estou
implorando com o meu corpo, com cada solavanco e cada
suspiro, mas ele não vai me dar isso. Seus dedos bombeiam
com um ritmo forte, constante, me empurrando em direção a
um clímax humilhante. Que vem enquanto estou em pé como
uma cegonha, meu corpo torto e espalhado. O arrebatamento
é explosivo. Meus músculos perdem toda a sua força e eu
cedo contra a parede atrás de mim. O rugido estonteante do
meu próprio sangue diminui para um baque surdo. Ele olha
para mim com os olhos frios. Ele quer que eu abaixe a minha
cabeça de vergonha, enquanto ele finge que não sentiu nada.
Mas não faço. Meus olhos são desafiadores, fecho as mãos
em torno da sua ereção.
— Você está tão excitado quanto eu.
Ele sorri.
— Com certeza. — ele ronrona. — Quero te foder. Que
homem não gostaria? Para dizer a verdade, querida, estou me
afogando na luxúria.
Ele solta minha perna e com as mãos ásperas me agarra
pelos braços, me gira ao redor, e me empurra para frente.
Minhas mãos e antebraços batem na parede. Minha bochecha
direita é pressionada contra a superfície fria da parede e
meus seios são esmagados. Ele pega o cabelo que cobre meu
rosto de seu olhar e prende atrás da minha orelha. Ele quer
me ver. Meus olhos giram desesperadamente para o lado para
olhar para ele, mas não consigo vê-lo.
— Você tem o mesmo gosto e o mesmo cheiro, vamos ver
se ainda me dá a mesma sensação. — diz ele, me levantando
um pouco do chão, agarrando minhas coxas e as abrindo.
Meu sapato cai no chão. Ele coloca meus pés descalços no
chão, sem fazer barulho. Suas mãos grandes agarram meu
quadril e inclino a parte inferior do corpo para que ele esteja
perfeitamente alinhado com a cabeça do seu pau. Por um
segundo eu o sinto me provocar, esfregando seu pau por todo
meu clitóris e, em seguida, ele o enfia em mim.
O impacto me faz tremer e minha respiração para na
garganta. Minha boca se abre em um grito silencioso. Eu
respiro rapidamente. Preparo-me para o próximo impulso
rápido de prazer, que vem antes que eu esteja pronta. Desta
vez não posso colaborar, solto um grito estranho, mas meus
músculos já estão se apertando e o sugando ainda mais
fundo dentro do meu corpo.
Ele estabelece um ritmo rápido. Cada mergulho é
selvagem dentro de mim, me empurrando em resposta.
Lentamente sou elevada, cada vez mais alto, até que estou
desconfortavelmente na ponta dos meus dedos dos pés, meu
quadril inclinando mais e mais, querendo mais e mais da
invasão gloriosamente espessa. Minhas coxas e músculos da
panturrilha estão tão tensos que começam a doer e meu
coração está batendo tão rápido que parece um tambor
dentro do meu peito. Minha boceta se torna uma boca
faminta, sugando avidamente.
Forço para manter o meu corpo na mesma posição,
enquanto ele martela em mim até que, com um último
impulso doloroso, que atinge profundamente dentro de mim,
ele chama meu nome e goza. Seu gozo é quente. Por um
segundo, o nariz dele fuça na curva do meu pescoço e, em
seguida, ele desperta e se afasta. Eu me viro para encará-lo,
mas lentamente ponho meus calcanhares no chão e me
afasto da parede. Vou me recompor um pouco mais antes de
virar para enfrentar sua condenação. Sinto-me fraca, crua,
ferida, maltratada, vulnerável, mas... Satisfeita. Eu deveria
sentir vergonha, mas não sinto. Eu amo este homem.
Viro devagar. Ele está se vestindo rapidamente.
Enquanto abotoa a camisa, de costas para mim, diz:
— Vou mandar Laura enviar uma pílula do dia seguinte.
Meu pensamento voa. Um pouco tarde para isso,
companheiro. Se ele soubesse. Ah, se ele soubesse. Eu não
digo nada, de repente sinto minha nudez. Logo ele vai estar
vestido e eu serei a única nua no quarto. Começo a caminhar
até o banheiro.
— Espere. — ele ordena. Anseio para me cobrir, mas eu
não faço isso. Ele não pode me humilhar. Eu não vou deixar.
Quando ele está completamente vestido, ele se vira e
olha para o meu corpo exposto. Ele está bem mascarado, mas
ela ainda está lá, a fome. Mesmo agora. Quando ele acaba de
ser saciado. Tanto é que os meus olhos se arregalam. É o
mesmo para mim: Eu o quero de novo. Eu sou tão impotente
por aquilo que meu corpo anseia. Mas ele se afasta de mim.
Eu o vejo ir para o armário lateral e retirar um livro. Ele está
coberto em couro. Parece uma revista. Ele joga na cama ao
meu lado.
— Isto é para você. Quero que você mantenha um
registro de tudo o que faço com você.
— Por quê? — Eu sussurro.
— Para o meu prazer da leitura?
— Isso é doentio. Eu não vou fazer isso. — digo.
Como se eu fosse uma boneca de tamanho real ele me
pega e me joga na cama. Eu caio de costas, mas olho para ele
desafiadoramente.
Ele fica em cima de mim. Seu rosto é duro e ameaçador.
Muito gentilmente, ele toca o colar.
— Você não é nada mais que pele e osso. — diz ele,
quase para si mesmo. Suas mãos alcançam meus tornozelos
e ele os levanta e abre minhas pernas em um V. Virando a
cabeça para um lado ele beija meu tornozelo direito e passa
sua língua quente e aveludada ao longo da minha
panturrilha. Minha respiração se acelera. No meu joelho ele
para e suga a pele macia na parte de trás, e então sua língua
lambe com astúcia minha coxa.
— Você quer muito que eu te prove? — Ele sussurra.
Eu gemo em resposta e tento empurrar minhas pernas
pegajosas mais distantes.
— Não! Eu fiz uma pergunta.
— Sim, por favor. — eu imploro.
— Por favor, o quê? — Pergunta ele, desfrutando de sua
dominação e controle. Seu dedo circula levemente na minha
boceta molhada.
— Oh Deus... por favor, por favor... Prove-me. — imploro
descaradamente.
— Você vai escrever no diário?
— Sim, sim, eu vou.
Ele endireita os braços e segura minhas pernas
trêmulas abertas, para olhar para minha boceta inchada e
encharcada com os nossos prazeres, um tesouro reluzente.
— Vagabunda... — ele me rejeita, solta as minhas
pernas e deixa o quarto.
Eu o ouvi dizer para Tom esperar lá embaixo, então eu
sabia que ele não passaria a noite, mas eu ainda balancei
quando ouvi a porta da frente. Coloco minhas mãos entre as
minhas pernas. Escorregadia, dolorida e insatisfeita. Eu
quero mais.
Dez Nessa noite, sonhei com minha mãe. No meu sonho,
estávamos numa loja. Era muito parecida com a loja da
Madame Regine, mas estava cheia de vestidos de noiva. A
minha mãe apontou para um vestido que estava rasgado ao
meio. — É perfeito para você. — disse ela.
— Mas está rasgado. — eu disse.
— É como a Victoria gosta. — disse ela tristemente.
Acordei perturbada e infeliz. Nunca passei uma noite
longe de Sorab e sinto saudade dele. São quatro horas da
manhã e ainda está escuro lá fora. Vesti a mesma roupa,
calça de Yoga e camiseta, e saí do apartamento. Saí do
elevador e o porteiro acenou. Retribui o gesto e abri as portas.
O ar da rua estava fresco. Caminhei pelo quarteirão,
atravessei a estrada e entrei no parque. Depois comecei a
correr. Não há mais ninguém e corro até ficar sem fôlego e tão
cansada, que mal consigo andar. Então tropecei num ramo e
vi o sol nascer. Os meus pensamentos estão confusos.
Recuso-me a colocá-los em ordem. Aliás, tenho medo deles.
Medo do futuro.
Um homem e seu pastor alemão entraram no parque.
Ele sai de perto do dono e corre em grande velocidade em
direção a mim.
— Não tenha medo. — ele grita.
— Ela não vai fazer mal. É só uma cachorrinha. Quer
fazer amigos.
Ela salta nos meus joelhos e começa a me lamber. A sua
exuberância é tanta, que começo a rir. Oh, se ao menos a
vida fosse assim tão simples. Olho para os seus olhos
dourados e passo os meus dedos pelo seu pelo sedoso,
sentido seu lado selvagem. Em compensação, me sinto
esgotada e cansada. Como se fosse uma casca deixada no
chão. Passado um tempo, o homem assobia e ela sai
correndo, mas a mudança me fez ficar de pé e caminho até o
apartamento. O porteiro noturno se prepara para ir para
casa. Em breve começará o turno do Sr. Nair.
Fico no chuveiro por muito tempo. Quando saio, reparo
que o meu celular estava piscando. Fleury deixou uma
mensagem que, às 10 horas da manhã, iriam chegar duas
entregas de roupas, calçados e acessórios. Tenho de escolher
o que quero e alguém virá buscar o que não quero, às 5 horas
da tarde. Fiquei de ligar se precisasse de ajuda. Agradeci.
Depois enviei uma mensagem para Billie.
Está acordada?
Billie liga de volta.
— Hey.
— Oh muito bom, está acordada. — digo, feliz por ouvir
a sua voz.
— Yeah, o pequeno monstrinho acordou bem cedo.
— Ele está bem?
— Não deveria ter perguntando se eu estou bem?
Rindo pergunto:
— Hey, quer aparecer aqui por volta das dez. Fleury vai
me mandar algumas roupas para experimentar. Pode me
ajudar a decidir com quais fico.
— Vai ser divertido.
— Mando um táxi à dez.
— Tenho de ir. A criatura começou a gemer novamente.
— disse ela. — Mas nos vemos por volta das dez.
Ouvi o choro do Sorab mesmo antes dela desligar e
senti uma pontada aguda de perda. Deveria ter sido eu. É a
minha vida. Não ficar sozinha num apartamento vazio. Eu sei
que Billie está gostando de ficar com Sorab. Com ela, as
verdadeiras emoções são mascaradas com insultos. Talvez
amanhã diga ao Blake que é a minha vez de tomar conta do
Sorab. E tê-lo por mais dois dias.
Às nove e meia, convido o Sr. Nair para um café. Ele
entra pela porta com a sua caneca que diz: ―Eu sou o chefe‖,
com os olhos salientes de curiosidade.
Sentando no balcão da cozinha ele dispara:
— O que aconteceu, senhorita Bloom? — pergunta ele.
— Tive uma emergência e precisei ir ao Irã.
— Oh! Agora entendo. Pobre Sr. Barrington. Partiu o
coração dele. — ele afirma, arregalando dramaticamente os
olhos. Observei ele quebrar um biscoito. As migalhas caíram
no seu casaco. Olhei para elas, mas tinha a cabeça girando.
— Porque diz isso? — Perguntei casualmente.
— Porque... — ele disse — Fui eu que entregou a sua
carta.
— A minha carta?
— Sim. Esqueceu? Enviou uma carta ao porteiro, para
que entregasse o envelope ao Sr. Barrington. Era uma carta
estranha, muito formal. Nada parecido com você, mas eu
sabia que era sua porque conheço sua letra.
Tomo um gole de café, engulo e lambo os lábios.
— O que o Sr. Barrington disse quando você entregou o
envelope?
— Eu te digo, senhorita Bloom, que foi a coisa mais
estranha. Ele praticamente arrancou das minhas mãos,
rasgou o envelope e leu na minha frente. O conteúdo o
chocou tanto que vi os seus olhos voltarem para o início, para
ler mais uma vez. Então ele amassou a carta e saiu do
edifício... E nunca mais o vi, desde então.
Mordo o lábio. O passado... Não posso mudá-lo, mas
mudaria? Como posso lamentar? Sorab saiu do meu passado
lamentável.
Sr. Nair colocou o último pedaço de biscoito na boca e
pulou agilmente do banco.
— Acabaram os meus dez minutos. É melhor eu ir.
— A minha amiga Billie vai aparecer esta manhã. Ligue
para me informar quando ela chegar?
— Farei melhor que isso, senhorita Bloom. Eu mesmo
mostrarei o caminho a ela.
Agradeço e fecho a porta.
Uma hora depois de terem chegado às coisas de Fleury,
Billie aparece com o Sr. Nair.
— Obrigada, Sr. Nair. — Eu disse, aliviando o peso da
mala do bebê.
— Fico satisfeito em ajudá-la, senhorita Bloom. — e em
seguida, acena feliz para Sorab. — Ele é a cara do pai. Um
lindo menino.
Congelo.
Mas Billie é mais rápida. Ela sorri largamente.
— Lamento companheiro, mas este bebê é meu. Não
acha que se parece comigo? Todo mundo diz.
Os olhos confusos do Sr. Nair me encaram.
— Sou só a madrinha. — Eu disse fracamente, sendo
atingida por uma dor aguda. Tenho muito orgulho de Sorab,
e não ser vista como sua mãe é mais difícil do que esperava.
— Oh, lamento muito. Falei demais. — Se desculpou.
Pobre homem. Ficou sem jeito e incomodado.
— Não se preocupe Sr. Nair. Sei que não disse por mal.
— É melhor ir. Não tem ninguém na recepção. — O Sr.
Nair murmurou qualquer coisa estranha e saiu
apressadamente.
Fechei a porta e virei para Billie.
— Oh meu Deus, Billie. Ele sabe.
— Claro que sim. Ele é indiano. Eles sabem de
astrologia e essas merdas, não é?
— Billie! — choraminguei. — Reconhecer as
semelhanças genéticas não tem nada a ver com astrologia.
Billie cruzou os braços.
— Eu sei disso! Estava sendo sarcástica. Pelo amor de
Deus, Lana, o que é que te deu? Sorab é um bebê de três
meses e todos os bebês de três meses são parecidos. Eu não
seria capaz de reconhecê-lo numa fila de seis bebês.
Franzi a testa sem estar convencida. Acredito que Sorab
é uma daquelas crianças que têm as feições definidas. Ele
tem os olhos do pai.
— Olha, a secretária de Blake mandou uma série de
coisas de bebês, incluindo um carrinho e um berço para o
apartamento, certo? É óbvio que ele viu tudo que entrou no
elevador, então somou dois mais dois e descobriu o resultado.
Infelizmente para ele, a resposta certa é cinco. Agora, pare de
se preocupar com coisas que não valem a pena e me mostre o
apartamento.
Sorri. Sou mesmo paranoica. Claro, ela tem razão. Dou
a eles dois uma boa visita guiada.
— Wow! — ela se entusiasmou.
— Adivinha quanto custou este berço?
— Não sei. Quinhentas libras?
— Acrescente mais um zero e estará quase lá.
— Sério?
Ela agarrou a etiqueta do preço e me mostrou.
— Cinco mil quinhentos e cinquenta e nove libras por
esta merda, quando um terço do planeta está morrendo de
fome. — Abanou a cabeça.
— Ele ainda é muito vaidoso por ser tão imensamente
rico, não é?
Meu telefone toca. É Laura. Ligando para me dizer que
Tom está a caminho com o meu comprimido da manhã e para
estar pronta às oito horas da noite. Ela fez uma reserva para
o jantar. Seremos Blake e eu no The Fat Duck.
— É muito bonito por fora. — disse Billie, depois de
ouvir a minha conversa com a Laura.
Billie encontrou uma caixa de chocolates na cozinha e
depois se deitou na cama, toda esparramada como um
sultão, experimentando as roupas uma por uma. Ela insistiu
para eu ficar com uns collants cor de rosa.
— Tem que ficar com eles. Te deixa com uma bunda
muito sexy e precisa se bronzear. Blake é um homem de
bunda, certo?
— Como sabe?
— Só um palpite. Agora, vai experimentar o vestido
longo preto. — mandou.
O vestido preto a fez ofegar.
— Muito, muito sexy.
Eu ri.
— Com quantos pode ficar?
— Com quantos quiser, eu acho.
— Sério? Como se sente com isso?
Por alguma razão, pensei no vestido branco.
— Acho que bem.
— O que aconteceu ontem à noite?
— Ele está zangado comigo, Bill. Muito zangado.
— Ele não te machucou, não é? — Senti uma raiva
protetora na voz da Billie. Ela é tão intrigante.
— Não! — Digo, mas acho que é quase impossível
discutir com Billie o que sinto por Blake.
Para a Billie o sexo é divertido, algo para fazer quando
está excitada. Para mim, e suspeito que para Blake também,
é uma necessidade básica. Eu sei que é a razão pela qual ele
está zangado. Ele odeia perder o controle. Controle é
importante para ele. Aliás, se eu descrevesse a sua
personalidade numa só palavra, teria de utilizar a palavra
controlado. Toda a sua vida é baseada em controlar a si
mesmo e aos outros. Ele é controlado em tudo o que faz, o
que come, como administra todos os seus negócios, a gestão
do seu tempo, a sua aparência perfeita. Acho que nunca vi
uma mancha nos seus sapatos.
Até eu chegar, tudo estava em ordem, compartimentado.
Havia lugar para uma noiva e para uma amante. Agora, está
tudo uma bagunça. Sou como uma mexa de cabelo que
insiste em não ser domada. Ele quer ir embora e sentir nojo
de mim, mas não consegue. Olho nos olhos de Billie.
— A sua raiva não está direcionada apenas para mim,
mas para ele próprio, por ainda me desejar.
— Eu não tenho problemas com ele. Só tenho medo de
que toda essa merda vá explodir e ele não será capaz de te
proteger contra sua família e a cadela louca.
Não vou contar sobre o meu encontro com Victoria em
Harvey Nichols. Isso apenas colocaria mais lenha na fogueira.
Ela fica até às seis horas. Mando-a para casa com o coração
pesado e duas latas de leite em pó.
Às sete horas saio do banho e coloco um vestido azul. É
comprido e justo, com um decote decente, que aprofunda
dramaticamente o azul dos meus olhos e insinua as curvas
que já não tenho. Coloco o sapato azul quando ouço ele
chegar. Olho para o relógio. Chegou mais cedo. Surpreendo-
me quando ele entra diretamente no quarto. Nós olhamos por
um momento. Ele usa um terno prateado, uma camisa
branca e uma gravata preta, com riscas vermelhas.
— Espero que não tenha vestido o hábito de freira por
minha causa, porque irá sair na primeira oportunidade que
eu tiver. — disse ele.
Noutra ocasião, teria vindo para cima de mim e dito
quão bonita eu estava. As minhas mãos se agitaram
inutilmente para cima e pararam dos lados do meu corpo.
Agora ele não admite nada, exceto aquilo que acha que eu
sou - uma vagabunda. Ele caminha em direção à cama. O
diário está na mesinha de cabeceira. Ele pega e o abre na
primeira página em branco. Sem expressão, caminha na
minha direção. Coloca a mão no bolso do casaco e tira uma
caneta preta. Suíça. Muito cara. Ele entrega o diário e a
caneta, sem palavras.
Aceito a oferta e vou para a sala de estar. Sento na longa
e polida mesa e escrevo.
Dia 1
Blake rasgou o primeiro vestido que realmente gostei e
me fodeu com força contra a parede do quarto. Depois me
empurrou para a cama, não fez o que prometeu e disse a
palavra que começa com V.
Volto para a sala de estar onde Blake se serve uma dose
de whisky tão grande, que os meus olhos se esbugalharam.
Entreguei o diário e a caneta. Ele abriu o diário, leu as duas
frases que escrevi e olhou para mim com divertimento.
— A palavra com V? Preciso te lembrar de onde você
veio? Onde a palavra com P é quase um adjetivo?
Levantei o queixo.
— Ouvi essa palavra pela primeira vez no recreio,
quando tinha seis anos. Uma mãe sentou nos bancos ao lado
dos meninos e descreveu a sua filhinha como uma putinha
esperta. Então fui para casa e utilizei essa palavra na frente
da minha mãe. Ela não me repreendeu e nem lavou a minha
boca com sabão.
— Obviamente falhei no meu dever de mãe quando você
se sente confortável em dizer tal palavra na minha frente. Não
comerei mais até perceber onde errei. — ela disse. Ela colocou
o jantar na mesa e se recusou a comer.
— Claro que tem que comer. A senhora não fez nada de
errado. — eu disse a ela. Tive que me sentar e terminar toda a
comida. Ela não me deixaria levantar se deixasse uma ervilha
no prato. Ela fez isso de novo no café da amanhã. Na hora do
lanche, eu estava tão desesperada que não consegui comer
mais nada. Prometi que nunca mais diria tal palavra. E não
disse, até hoje.‟
Ele se afastou de mim, como que se ele me conhecesse
mais um pouco, envenenaria a sua sanidade ou bem-estar.
— Se estiver pronta, devemos ir agora.
Na rua, ele destrancou remotamente um Lamborghini
branco. As portas abriram para cima. É o tipo de carro a que
associo os filhos mimados dos barões do petróleo da Arábia
Saudita.
— O que aconteceu ao Aston?
— Bateu contra uma árvore.
Rodei a cabeça.
— Com você dentro?
— Sim, quebrei duas costelas, mas, como pode ver, saí
ileso. É difícil me machucar.
Há algo na sua voz. Claro. Está me dizendo que o
magoei.
O Fat Duck está do mesmo jeito que me lembro. Bom
serviço e comida divina, mas há uma grande diferença que eu
não consigo perceber. Blake está bebendo mais do que é de
costume. Ele pediu o vinho que se encaixa perfeitamente na
nossa refeição, mas mal o tocou. Em vez disso, ele prefere o
whisky. Já contei sete.
— Estava completamente bêbado quando se acidentou,
não estava?
— Sim. Miss Marple resolveu outro mistério.
O álcool relaxou seus ombros tensos. Ele riu e eu quis
pressionar a minha boca naqueles lábios.
— Esqueceu de tudo o que te disse, querida Lana? Os
Barringtons estão acima da lei. A nata fica sempre acima da
superfície.
— Assim como a merda.
Ele levanta o copo e ri sem alegria.
— Vamos ver o quão brilhante você consegue ser
quando estiver nua na minha cama.
— Depende do quão cheia estiver a minha boca. —
respondi imprudentemente.
— Até explodir, querida.
Senti as minhas bochechas aquecerem.
— Vai dirigir esta noite?
Ele pega o copo e engole tudo de uma vez.
— Não arriscaria ter a tua bonita cara no meu para-
brisa por nada. Tom vem nos buscar.
No carro, não nos tocamos. A nossa conversa é
superficial, insustentável.
— O que você fez hoje?
— Billie apareceu aqui com o bebê.
— Divertido?
— Sim.
Ambos pensamos em quando estivéssemos sozinhos.
Quando só os nossos corpos falarem. Há algo neste homem
que me dá coceira nas mãos para tocar no seu corpo, sugar a
sua boca firme, me fundir nele... para sempre. O desejo
embaça meu cérebro.
Finjo deixar cair a minha bolsa. Ele se dobra para
apanhá-la, mas eu chego primeiro e me esfrego na sua coxa.
O sinto tenso imediatamente.
— Não me provoque Lana. Já estou no meu limite. — ele
avisa.
Somos como pavio e pólvora.
Onze
No elevador, o olho no olho.
Porra. Mas que merda?
A porta abre rapidamente.
Ele agarra minha mão e me arrasta atrás dele. Abre a
porta e me empurra, me encostando até que fico esmagada
contra ele. Minha bolsa cai no tapete, abrindo e espalhando
tudo. A sua boca quente encontra a minha. O beijo é duro,
muito intenso e cheio de necessidade. Foi o que vi nos seus
olhos. Perdi-me. Não queria isso novamente. Sua mão
encontrou o zíper na parte de trás do meu pescoço. Aquele
zíper infeliz desceu e o hábito de freira caiu aos meus pés.
As suas mãos experientes abrem o colchete do meu
sutiã. Um puxão e ele saiu como o vestido. Estou tão perdida
no desejo, que mal consigo ouvir o rasgar da renda da
calcinha. Mais uma vez, estou nua e ele está completamente
vestido.
Por um momento, ele se afasta só para me olhar, como
fazia no início. Depois me leva para o espelho dourado na
parede.
— Olha para você. — ele rosna. — As suas pupilas estão
à procura de alguém que te dê prazer. Qualquer um serve.
Quero me afastar do que vejo. Os meus olhos estão
vidrados em luxuria. Eu olho… esfomeada, selvagem…
eletrificada. Mas ele está errado. Não é qualquer um que me
serve.
Ele acaricia minhas bochechas aquecidas, inclina a
cabeça e seus fortes e brancos dentes brincam com os
lóbulos das minhas orelhas.
— Nata, açúcar e veneno. — diz ele e morde o meu
pescoço.
No espelho, meus olhos abrem em choque e prazer. A
sensação é única. A pressa faz eu me sentir imprudente. Ele
começa gentilmente a sugar minha a pele. Gemo. A sua boca
foi para meu mamilo. A precisão hábil da sua boca inicia uma
dor que passa para o meu âmago. Estou em um frenesi
induzido por sexo sedento, para ele entrar em mim. O sabor
do verdadeiro desejo é sufocante. Empurro o meu traseiro
para a grossa e dura ereção entre nós e anseio para que entre
dentro de mim. Ele coloca um dedo no meu lábio inferior e o
empurra para dentro da minha boca.
— Chupa.
Recebo o dedo na minha boca e, a princípio, chupo
gentilmente e depois com força. Ele começa a tirar o cinto.
Fico de joelhos. O tapete escava na minha pele. Abro a
braguilha, tiro a camisa e beijo aquele corpo duro. Ele ficou
quieto. A minha língua saiu. Explorativa, mas não por muito
tempo. Lambi a pele dourada, encontrei a fina linha de pelos
e segui o caminho até à o elástico de sua cueca boxer. Os
meus dentes encontraram o material e puxaram. O seu pénis
ficou livre e solto, inchado e nervoso contra a minha boca.
Peguei seu pau latejante. A cabeça inchou, aumentou, pulsou
e ficou viva na minha mão.
Usei as duas mãos para puxar rapidamente a boxer
pelas coxas abaixo, enquanto a minha boca recebia aquele
grande e maravilhoso pénis. Olhei para ele e o vi respirar
pesadamente. Lentamente, me movi para frente para deixá-lo
ver cada centímetro do seu pénis entre meus lábios. Pulsou
na minha boca, o que fez com que eu chupasse
gananciosamente a cabeça da sua ereção. Devorei-o cada vez
mais fundo na minha boca.
Ele empurrou o quadril para frente, se prendendo na
minha garganta. Parecia uma mordaça, mas era bom. Seu
pénis deveria estar sempre dentro de mim. É onde ele
pertence. Qualquer outra coisa seria errada. Estou
impressionada pela potência da minha obsessão.
—Sim. Sim, assim… Exatamente assim.
Ele manteve a minha cabeça entre as suas mãos
enquanto as suas investidas aumentavam cada vez mais, até
que com um grunhido, ele gozou e senti a sua porra quente
descer na minha garganta. Era pegajoso e deixou um traço
picante na minha língua enquanto ia engolindo. Ele ficou na
minha boca, por mais alguns momentos, deixou a cabeça
inclinada para trás. Olhei para ele, à espera do que, eu não
sabia. Ele abaixou cabeça para frente, para olhar para mim e
para a minha boca, ainda cheia com seu pau.
— Tão bonita. — disse ele, suavemente. — Nasceu para
chupar um pau. Estou surpreso que nunca tivesse me dado
isso. — Ele sai de mim. — Agora se sente na cama.
Fiquei de pé e só olhei para ele. Ele quer me humilhar.
O inferno irá congelar antes que eu o permita fazer isso. Nua
e descalça, mas de cabeça erguida, caminhei para o quarto.
Fui para a cama e, como instruída, sentei na beirada. Ele
apareceu à porta. Mais uma vez, ele está totalmente vestido e
no controle, enquanto estou nua e indefesa.
— Não, encoste na cabeceira da cama.
Subi na cama e sentei nas almofadas fofas.
Ele chegou e sentou na cama ao meu lado. A sua voz é
casual, em tom de conversa.
— O que você fez para transar no último ano?
Corei.
A sua voz tinha alguma dureza mal controlada.
— Arranjou um amante?
Balancei a cabeça.
— Tinha um vibrador? — Pressiona ele, curioso.
Balancei a cabeça novamente.
— Mostre-me o que você fez.
— Não posso. — Sussurrei.
— Mostre. — Ordenou.
Abri a boca, mas ele me silenciou com um dedo na
minha boca, balançando a cabeça lentamente.
— Obviamente você ainda não entendeu como isto
funciona. — explicou. — As únicas palavras que eu quero que
saiam dessa deliciosa boca são sim, por favor, e mais. — Ele
tirou o dedo da minha boca. — Alguma dessas palavras ou
uma combinação delas?
Balancei a cabeça lentamente.
— Foi o que eu pensei. Mostre-me. — disse ele, mas com
a voz mais autoritária.
Pressionei meus lábios. Sinto que o desafio retornou. É
o que ele quer. Ele quer que eu me masturbe na frente dele.
Muito bem. Ele que veja. Já viu todo o resto. Abri as pernas
lentamente. Ele esboçou um sorriso à minha submissão.
Levei os dedos ao clitóris e fechei os olhos.
— Abra os olhos.
Meus olhos se abriram de imediato. Olhando fixamente
para seus olhos brilhantes, movi um dedo para a abertura da
minha boceta. Os lábios estão cheios de líquidos
escorregadios e lambuzando um pouco o dedo, passei para o
clitóris, provocando lentamente.
Seus olhos nunca me deixaram.
— Em que você pensava quando se tocava?
— Em você.
A sua expressão não mudou, mas os seus olhos
pestanejaram.
— Não sentiu falta do meu pau te fodendo?
— Muito.
Ele fez um pequeno som de descrença e alcançou a
mesinha de cabeceira. Abriu a gaveta e fiquei surpresa ao ver
a quantidade de brinquedos sexuais. Todos eles ainda nas
embalagens. Ainda consegui ver algemas. Remexendo nos
brinquedos, ele tirou um vibrador. Era preto e laranja claro e
grande. Assustadoramente grande. Fechei as pernas com
horror. Isto não tem nada a ver com sexo. Isto é ele me
castigando. Enchendo-me com um grande objeto preto e
laranja. Reduzindo-me a um pedaço de carne. Deixando-me
saber que não significo nada para ele. Minha determinação
em ser forte e a minha convicção de que ele nunca poderia
me humilhar se eu não permitisse, se transformou em pó.
— Não se preocupe. Isto não dói nada. — Ele prometeu e
ligou. Começou um zumbido.
Abro os olhos e vejo o objeto na sua mão.
— Não, Blake. Por favor, não! — suplico.
— Abra as pernas.
Balanço a cabeça.
— Por favor. Se insistir em me castigar assim… eu vou
embora.
— Você não vai embora. Lembra que te paguei por isto?
Minha para fazer o que eu quiser. Temos um acordo. Você me
dá o que eu quiser e eu dou o que você quer. Eu te dei o que
queria. Agora é sua vez de me dar o que eu quero. E eu quero
ver este aparelho grande, preto e laranja, enterrado dentro
dessa doce e apertada bocetinha.
Engoli o nó da minha garganta e molhei os lábios.
— Para que precisa disso quando você tem seu pau?
— Porque... — Ele explicou pacientemente, como se
estivesse falando com uma criança. — Nem sempre você terá
o meu pau.
Olhei nos seus olhos. Estou à procura do amante que eu
adoro, mas os seus olhos estão vazios. Sei que farei tudo para
trazê-lo de volta. Vou encontrar forças dentro de mim. Ele
quer que eu enfie aquele objeto dentro de mim. Vamos dar o
que ele quer e ver no que vai dar. Vamos ver como ele reage!
— Está bem. — digo e abro bem minhas pernas.
Se ele ficou surpreso com minha submissão desafiante,
não mostrou. Ele deixa o vibrador tocar no clitóris. Dou um
salto.
— Muito sensível? — pergunta suavemente e o move
ligeiramente.
Passa a ponta do vibrador pela abertura muito
lentamente, enquanto me olha, introduz em mim. Enquanto
me engasgo com o choque do seu tamanho, ele empurra até o
punho.
— Bom? — pergunta.
— Bom. — respondo, erguendo o queixo, arregalando os
olhos e agarrando o edredom de seda por baixo.
Então ele me fode com aquilo e apesar de eu implorar
para não olhar para mim enquanto me parto ao meio, ele olha
possessivamente para mim enquanto gozo.
Depois se levanta e me abandona.
Fico ali toda aberta, olhando para o teto, com o vibrador
ainda dentro de mim. O aparelho faz um som abafado
durante minha humilhação, que não me dei conta. Quero
tirá-lo de mim, mas meus membros estão muito pesados.
Estou apaixonada por ele, mas ele me odeia. Se ele gostasse
de mim, teria visto nos seus olhos, mas nada! Finalmente
compreendi. Sou um demónio que precisa ser exorcizado
antes dele casar com a filha do Earl. Ouvi a porta da frente
fechar e foi então que o primeiro soluço escapou. Tentei ser
forte, controlá-los, mas eles não podiam ser parados.
De repente ele está na porta. Vi ele se aproximar através
de olhos lacrimejados. Ele sentou ao meu lado, tirou o
vibrador, que fez um barulho de sucção. Desligou e,
inclinando à cabeça, lambeu uma lágrima da minha
bochecha.
— Vai se ferrar, Blake. — sussurrei.
Ele enterrou o rosto no meu cabelo.
— Desculpa. — Ele disse.
Olho fixamente para o teto. Estou mais triste do que
alguma vez estive.
— Você está recriando tudo para me destruir, Blake?
— Não.
— Então, o que você quer?
— Eu achei que sabia, mas já não sei mais. —
Confessou com honestidade.
— O que você queria?
— Vingança. Queria castigar você. Tinha todos os tipos
de humilhação planejados para você, mas não consigo te ferir
sem ferir a mim mesmo. Talvez você seja mesmo o que o meu
pai disse, a minha maior inimiga.
Automaticamente eu levanto os braços e me abraço
protetoramente. Eu sabia que ele estava sofrendo também. Só
não sei como melhorar as coisas. Queria contar sobre
Victoria, mas de que serviria? Ela faria um inimigo novo e
supremo.
— Não sou sua inimiga, Blake. Nunca tive a intenção de
magoar você.
Ele ri. Mais uma vez, é amargo.
— Então você é o que? Uma amiga?
Suspirei. Tanta tristeza naquele som. Será que ele
ouviu? Possivelmente, não. Na sua cabeça eu sou uma
interesseira. Peguei o dinheiro e fugi. Agora represento sexo
sujo. Há um abismo entre nós, que parece impossível
ultrapassar. Da sua torre de marfim, Victoria sorri triunfante
e diz que eu não consto nos planos dele. Nunca constarei.
— E então, como ficamos agora?
Ele não responde. Ao invés disso, me abraça e esconde o
rosto na curva do meu pescoço. Lentamente começa a me
beijar. Automaticamente, minha cabeça se inclina. Não em
rejeição, mas em convite. A dedicação dos seus lábios macios
é deliciosa. Sua língua traça um caminho quente no meu
mamilo. Ele o toma na boca e toda a humilhação e sofrimento
desaparecem. Tudo o que acontece entre um homem e uma
mulher é uma viagem sagrada, dizia a minha mãe.
Ela disse isso quando o meu pai a deixou.
Deixo escapar um som da minha boca. Silenciosamente,
solenemente, ele vai para o outro seio. Seus dentes agarram
um mamilo e puxam ligeiramente. Contorço-me. Ele levantou
a cabeça e olhou para mim enquanto a palma da mão
passava suavemente pelo mamilo endurecido. Sofro por ele.
De repente, ele se ajoelha e enfia a língua na minha boceta
dolorida. Aperto seu cabelo sedoso, enquanto a sua língua
quente investe dentro e fora de mim, com perícia. E então
começa a sugar…
Ah, o prazer... o prazer!
De repente, ele pressiona meu clitóris inchado e sou
percorrida por uma intensa corrente elétrica. Grito e gozo em
uma explosão irracional. As ondas batem nas rochas, mas eu
estou voando. Quando regresso ao quarto e à cama, Blake
continua a lamber os lábios molhados do meu sexo. Nunca
haverá ninguém como ele, penso preguiçosamente sonolenta
e triste. Ele fez o que foi talhado para fazer. Arruinou-me para
os outros homens.
Estou tão consumida e exausta que fecho os olhos e
adormeço, com a sensação da sua cabeça sedosa nas minhas
coxas.
Doze Acordo coberta com o edredom, mas sozinha. Viro a
cabeça e olho para a vastidão da cama que está ao meu lado
e os travesseiros não usados, suspiro. Libertando as minhas
pernas do edredom, saboreio o ar fresco. Depois saio da
cama. Ouço os sons abafados de Francesca, a personal
shopper de Blake, vasculhando a cozinha. Ela é sempre
muito silenciosa. Coloco alguma roupa, escovo os dentes e
vou para a cozinha. Ela está atualizando a lista no Ipad.
— Ciao. — Cumprimenta-me alegremente. Ela é de
Nápoles. — Eu lembrei que você gosta de geleia e trouxe dois
frascos a mais. — Ela os segura nas mãos expressivas. —
Você gosta?
Aproximo-me e pego os frascos.
— Gosto. Muito. Obrigada, Francesca.
Tom leva Billie, Sorab e eu para The Royal China em
Bayswater. Encontramos uma mesa e pedimos nossos
almoços.
Levo os meus frascos de geleia na minha mochila e
coloco na parte de traz do carrinho de bebé de Sorab e Billie
sorri.
— As vantagens do negócio. — disse ela.
— Por falar nisso, Jack me ligou te procurando. Seu
celular devia estar desligado.
— Oh! O que você falou pra ele?
— A verdade, claro. Que você estava com Blake.
— E o que ele disse?
— Ficou mudo por um momento, e depois me perguntou
se você estava em segurança. Respondi que não sabia, mas
que você achava que estava. Depois ele desligou.
Mordi o lábio inferior.
— Você devia ligar para ele. Ele se preocupa com você.
— Vou ligar. Esta tarde.
— Então, como vão as coisas na casa de Blake?
Soltei rapidamente o ar.
— Não sei Billie. Acho que sou uma boneca inflável, pelo
jeito que ele me trata. É somente sexo. Ele é tão reservado,
está tão zangado e tão magoado. Não acredito que alguma vez
o alcance. Ele quer vingança, mas não tem coragem para
isso.
— Que tipo de vingança? — A voz de Billie se
transformou num fio.
— Humilhação sexual. A noite passada ele utilizou um…
vibrador em mim. — Corei. Era quase impossível pronunciar
aquelas palavras.
Billie riu.
— Você é tão estranha. Isso não é humilhação sexual.
Muitas pessoas usam. Se alguém se oferecer para usar um
em mim, eu deitaria, abriria bem minhas pernas e diria para
ir fundo.
— Você não entende Billie. Ele fez isso porque sabe que
sou sexualmente reprimida.
— Oh pelo amor de Deus. Você chorou, não foi?
Encolhi-me e brinquei com uma costeleta.
— O que você faria se fosse eu, Billie?
— Primeiro, não sou você. Acho que nunca estaria numa
situação tão fodida.
— Mas e se estivesse? — insisti.
— Então, eu beberia pelo menos meia garrafa de vodca e
o desafiaria a fazer o seu pior. Aguçaria todos os seus
sentidos sem piedade, até ele se descontrolar. Então acabava
tudo num instante. Mas, não esqueça que eu não faria isso se
soubesse que ele poderia mesmo me machucar. Mas você tem
certeza de que ele não quer te machucar, certo?
— Cem por cento. Ele é frio, não é cruel.
Paguei a conta com o meu novo cartão de crédito
Platinum, um que eu não pedi, mas que chegou esta manhã.
Billie ergueu uma sobrancelha, impressionada, mas não fez
nenhum comentário.
Afinal, passamos uma tarde agradável no Whiteley‘s
Shopping Center. Não tinha nada que eu quisesse, mas
presenteei Billie com uma bota de cowboy, que ela adorou e
compramos roupas de cama divinas para Sorab. Coisas para
as quais eu nunca tive dinheiro.
Coloquei tudo no cartão de crédito. Tinha um crédito de
noventa mil libras.
Depois de Tom deixar Billie e Sorab, liguei para Jack.
— Você está bem? — É a primeira coisa que Jack me
pergunta.
— Ele não é capaz de me machucar, Jack. — Respondo.
— Não é com ele que eu estou preocupado.
— Victoria não me fará nada.
— Lana, ela te deu duzentas mil libras para
desaparecer. Você aceitou o dinheiro e agora está de volta,
com o homem dela, e acha que ela não vai fazer nenhuma
retaliação?
Oh Deus! Colocando as coisas dessa maneira, eu estava
sendo muito estúpida.
— Eu não o procurei, Jack. Ele me procurou. Além
disso, são só por 42 dias.
— 42 dias?
— Ele só quer que eu termine o contrato. Ainda faltam
42 dias. Bem, 40 agora.
— Lana, eu sou homem e digo que nenhum homem quer
uma mulher só por 42 dias. Não vai terminar em 42 dias.
Posso te garantir. Você vai ser amante dele até o dia que ele
se cansar do seu corpo. É isso que quer para você?
Foi um golpe baixo, mas ainda assim, era verdade.
— Já não sei mais o que quero Jack. Tudo o que sei é
que neste momento estou com Blake por quarenta dias. Eu
estou muito confusa.
Jack suspira pesadamente.
— Está bem, Lana, mas prometa que tomará cuidado.
Ao primeiro sinal de que as coisas não estão indo bem, você
vai me ligar.
— Eu prometo. Jack?
— Sim?
— Não se preocupe comigo, por favor. Já sou crescida.
Sei tomar conta de mim.
— Tome cuidado, OK? — Ele disse asperamente e depois
desligou. Inclinei-me para trás, mas não pensei em Jack e no
seu aviso. Outra coisa estava me incomodando.
Assim que chego ao apartamento, vou para o
computador. Na barra de busca, coloco a palavra boceta.
E fico chocada de saber que a palavra ―boceta‖ é a mais
ofensiva da língua inglesa, com o maior poder de impacto,
mas só se tornou obscena no tempo de Shakespeare. Antes
disso, era referida a uma rainha que inventou a escrita
cuneiforme, a maneira mais antiga de escrever. A palavra
deriva de kunta, que significa genital feminino na Suméria.
Então, quando um homem diz boceta, para uma
mulher, na verdade está a chamando de rainha que inventou
a escrita e os numerais, um dos melhores elogios que uma
mulher pode receber. Os irlandeses até a usam
carinhosamente!
Também percebi que boceta é a única palavra na língua
inglesa que descreve toda a genital feminina. Vagina se refere
somente à entrada interior e vulva ao clitóris, grandes e
pequenos lábios. Para falar de toda a incrível orquestra
sexual feminina, em toda a sua estupenda glória, precisamos
da palavra boceta!
No momento, clamo a palavra só para mim.
Quando Blake me chamou de boceta, só fingi que estava
ofendida. Na verdade, depois de tantos anos evitando a
palavra e desprezando os outros por permitir que algo tão
sujo e nojento saísse de suas bocas, isso se perdeu e tudo
que eu sentia era a sua pura atração sexual. Sim, sou uma
boceta e quero teu grande e rígido pau bem dentro da minha
boceta. Percebi que, independentemente do que Blake
dissesse, suas ações me ensinavam que o meu corpo é meu
templo. Aquilo entre as minhas pernas, é um altar chamado
boceta e ele adora.
Agora tenho um plano. Um plano que envolve minha
boceta.
Treze Blake enviou uma mensagem dizendo que chegará às
20h.
Às 19h30 estou de banho tomado e usando cinta liga e
meia preta. Cuidadosamente, coloco o vestido preto que a
Fleury me deu para usar na Ópera e aperto a fileira de botões
de pérolas negras. Olhei-me no espelho e observei
maravilhada a complexidade da beleza do vestido. Deve ter
custado uma pequena fortuna.
O peito e as costas eram feitos de renda preta
trabalhada, levemente polvilhada com strass, mas a renda é
tão delicada que parece uma tatuagem na minha pele. Ajusto
o material no meu corpo e quadril, depois me viro para ver o
efeito na parte de trás. Parece muito bem, e até sexy. Ajeito o
cabelo e sento para me maquiar. Quando termino, calço meu
salto agulha e vou para a sala, o vestido se agita suavemente
nos meus pés.
Sirvo-me de uma dose tripla de vodca e bebo em quatro
goles. Wow! Faz até as minhas veias cantarem. Sirvo outro
duplo, coloco um pouco de laranja e caminho até à varanda.
Estou realmente muito nervosa. Pior ainda, muito, mas muito
nervosa. Esta noite vou vê-lo sem a máscara. Irei provocá-lo
até não restar nada dele. Olho para as horas. 19h59. Quando
me viro, ele está na porta. Ele me olha silenciosamente.
Tentando desvendar o que está vendo.
Viro totalmente.
— Olá.
— Vamos sair ou está vestida assim para mim?
— Não vamos sair.
Ele ergue uma sobrancelha. Um sorriso torto. Ele
caminha para mim.
— Não vamos?
Lentamente, abano a cabeça.
— Preciso de um favor seu.
— Tem permissão para pedir favores?
— Você vai gostar deste.
— Tudo bem, você tem a minha atenção.
— Você quer me machucar?
Ele enrijece. Por um momento, nenhum de nós diz nada.
Simplesmente nós olhamos. Depois ele diz:
— Não.
— Porque não? Pensei que quisesse vingança.
— Tentei sexo duro e não gostei.
Estou chocada com o ciúme ardente que me atravessa.
Ele já fez isto com alguém. Não há nenhum território que eu
possa chamar de meu.
— Talvez eu goste.
Seus olhos se estreitaram. Ficaram como pedras. Frios.
Intocáveis. Fazem-me lembrar dos olhos do seu pai.
Estremeci involuntariamente. Senti medo. E se eu estiver
errada? E se ele tiver mesmo a capacidade de me machucar?
— O que sabe de sexo duro?
— Ensine-me o que há para saber.
— É isso mesmo que você quer? — Sua voz é suave,
perigosamente suave.
— Sim.
Suas mãos tocam a minha face. Não pude evitar.
Estremeci e ele sorriu. Um sorriso frio e sábio.
Cuidadosamente, ele esfrega as mãos nas minhas bochechas.
— Você é uma criança. Não sabe o que quer. — disse ele
e estava prestes a ir embora, quando ergui meu braço com
toda determinação e a palma da minha mão colidiu com a
sua face. Bati com tanta força que a cabeça dele virou para o
lado e a minha mão latejou de dor. O álcool me deixou
estranhamente tonta. Nem estava pensando nas minhas
ações. Olhei com fascinação para a sua bochecha, para as
marcas deixadas pelos meus dedos. Os meus olhos
encontraram os dele. Estavam tempestuosos e furiosos.
— Se sente melhor por isso? — ele pergunta.
Em resposta, balanço novamente minha mão, mas,
desta vez, ele está preparado e a agarra com facilidade. Corro
em direção a ele e mordo seu pescoço. Com força. O seu
grunhido é irritado.
— Herdou todo este dinheiro para que todos te
tratassem como uma espécie de Deus, mas é apenas um
covarde que se esconde por trás da máscara da
superioridade, um menino rico e mimado que não tem de
fazer nada a não ser o que o Papai diz.
Ele começou a rir, a rir com vontade e de repente
percebi que nunca o vi feliz. Nunca vi sua cabeça ir para trás,
nem a sua boca aberta e vulnerável.
— Imaginou o que seria sem o dinheiro do seu bisavô?
— O insulto.
— Ainda iria querer te foder enlouquecidamente.
— Vai se foder! — grito e, como se estivesse possuída
por um demónio louco, começo a dar pontapés nas pernas e a
bater no seu corpo com a minha mão livre. Como um saco de
batatas, sou levantada pela força pura de um macho e
colocada no seu ombro. Por um momento, o choque de ser
virada de cabeça para baixo me acalma e depois continuo a
esmurrar suas costas enquanto ele me leva para nosso
quarto.
— Você não confia em ninguém, você não ama ninguém.
— grito.
Ele me lança na cama. Caio do meu lado, sem fôlego,
mas ilesa. Minha cabeça está parada, mas raios surgem, o
quarto está às voltas como se fosse um carrossel. Ainda
assim, o importante é que eu perdi todo o medo e apreensão.
Meu único objetivo é incitá-lo a perder esse controle que
determina todos os seus movimentos. Olho para ele, com os
meus olhos a insultá-lo.
— Com medo de uma boceta, Barrington?
A sua cabeça se inclina com surpresa.
— Você realmente quer sexo duro? — Ele pergunta.
Eu aceno.
A sua boca torce. Ele desabotoa a camisa e tira a calça.
Abre a braguilha, lança a cueca para trás dele e dá um passo
para a beira da cama.
— Aqui está, meu amor. — diz ele, irritado.
Num momento bom, ele me puxa para cima, pega a
barra do meu vestido longo e o puxa sobre a minha cabeça.
Ele continua olhando para mim, tapada da cintura para
cima, mas a parte inferior obscenamente à vista, com cinta
liga, meias e pernas abertas sem elegância. Então, antes que
eu consiga recuperar meu equilíbrio, ele agarra meu quadril,
seus dedos agarram dolorosamente a minha carne e ele me
põe de quatro. Ele segura minha bunda e afasta as duas
bandas muito grosseiramente, amassando-as como se fossem
dois pedaços de massa, e conduz seu pau na minha boceta
molhada, tão selvagem que eu realmente chorei com o choque
do impacto. Isso o impede de continuar, como se ele também
estivesse perturbado pela ferocidade e violência de seu
próprio impulso.
— Não pare. — Ouço-me dizer, numa voz que não
reconheço.
E ele me atinge novamente. Desta vez ele não para,
mesmo quando eu choro. Meu corpo parece com o de uma
boneca de pano, tremendo e balançando, com as suas
investidas. Quero gritar, mas não me atrevo, com receio dele
parar. O seu estômago continua batendo no meu rabo
afastado. As suas mãos pelo meu corpo suado, escavando e
agarrando, num esforço de se enterrar o mais fundo que
conseguir. Ele investe com tanta força, que o sinto no meu
estômago.
Cada investida é uma tortura, mas em cada dor há um
estranho e delicado prazer. Depois de gozar, ele se dobra para
frente, beija meu ombro e suavemente, sai de mim.
A minha boceta está tão sensível que a sinto picar, arder
e pulsar dolorosamente, enquanto ele se retira. Já acabou, eu
acho. Depois, sinto a sua língua lamber a vermelhidão da
minha boceta. Ele enfia a língua suave dentro de mim, mas
mesmo assim, dói horrores. Gemo e ele retira a língua e
começa a sugar o clitóris. Esqueço da dor e gozo rápido, com
um prazer intenso. Com meus nervos aflorados pela dor, o
prazer é o mais poderoso que alguma vez experimentei.
Caio de cara. O meu corpo dói inteiro e está tão mole,
que acho que não vou conseguir dormir de costas. O meu
último pensamento, antes de adormecer, era que não jantei e
ele nunca perdeu o controle. Apesar de todos os meus
esforços, ele nunca quebrou a sua fachada, para revelar o
verdadeiro homem que existe por dentro. Agora sei que, o que
quer que seja que ele guarde cuidadosamente no seu interior,
deve ser realmente precioso ou hediondo.
Catorze Acordo sentindo a boca amarga, seca e rígida. Sair da
cama é um suplício. Mal consigo chegar ao banheiro. Uma
mulher desgrenhada me cumprimenta no espelho. Olho com
fascinação para meu reflexo. Devagar e com muita
dificuldade, desabotoo a fileira de botões de pérolas pretas
nas costas do vestido e retiro os ombros. Vou para o fim do
quarto, onde se encontram dois espelhos e suspiro, chocada
com meu reflexo.
As minhas costas, quadril, nádegas e coxas, estão com
manchas negras. Parece que fui atropelada por um
caminhão.
Cuidadosamente, sento no vaso. O fluxo urinário arde e
toda a área está tão dolorida que mal consigo me limpar.
Tomar a vodka sem ter comido nada me deixou com uma dor
de cabeça latejante. Vou para o chuveiro. Boa jogada, Lana.
Relaxar os músculos me faz parecer um pouco mais normal.
Depois disso, tomarei alguns analgésicos. Em quinze
minutos, o Sr. Nair e eu, estamos sentados na cozinha
tomando café. Sinto-me bem normal.
Depois do café, ligo para Tom e peço que ele traga Sorab
para ficar comigo. Desço a escada às 9:30 da manhã. E Tom
abaixa o jornal que está lendo.
— Bom dia.
— Bom dia, Tom.
Ele abre a porta do carro, mas fica segurando.
— Está tudo bem? — Tom questiona, com um ar
preocupado.
— Apenas dores de estômago. — digo.
Ele vai para o lugar do condutor.
Billie está secando pratos. Coloca o pano de pratos no
ombro e vira para mim.
— Você parece um pouco acabada. — disse.
— Tentei usar o seu conselho. Bebi meia garrafa de
vodca e testei ele, ontem à noite.
— Ah, foi? E aí?
— Ele não queria brincar.
— Então porque está toda dolorida?
— Quero dizer, tive sexo duro, mas nada mais. — digo.
— Ele não disse nada que não deveria ter dito ou brigou por
não querer sexo duro. — Sentei cuidadosamente, numa das
cadeiras enquanto Billie olha para mim com uma expressão
que não consigo decifrar.
Fico toda a tarde com Billie, fazendo planos para o
nosso novo negócio.
Blake me manda uma mensagem dizendo que chegará
atrasado, por isso eu saio pontualmente, às seis. Janto
sozinha. Uma refeição simples com queijo derretido numa
torrada, com uma fatia de salmão defumado por cima. É
maravilhoso ter Sorab comigo. O apartamento não parece tão
estranho nem tão solitário. Depois temos uma grande sessão
no banheiro, ele brincando alegremente e eu rindo. É neste
momento que Blake entra pela porta.
— Olá! — Eu digo. Estou realmente muito nervosa. No
meu pensamento, ainda acho Sorab muito parecido com
Blake.
— Quem é que temos aqui? — Ele diz e entra no
banheiro. Olho para ele com surpresa. Ele se aproxima de
nós e olha para Sorab por um longo tempo. Sorab abana
excitadamente as mãos para o novo rosto, mas eu tenho o
coração na boca. Para onde raios ele está olhando?
Naturalmente, há alguma maneira dele descobrir que é filho
dele? Quando olha para mim, tem um olhar neutro. Olhamos
um para o outro.
— Será que ele chora muito? — finalmente pergunta.
—Não. Na maioria das noites, dorme direto. — digo
rapidamente, com a respiração voltando ao normal.
— Bom. — Ele diz e sai. Atiro a esponja para dentro de
água. Merda. Por um momento, fico preocupada de verdade.
Muito mesmo. Retiro Sorab da água e enquanto o visto e
coloco talco, consigo ouvir Blake na sala de jantar. Ele está
falando com alguém ao telefone. Ele trabalha de forma
constante e quando chega ao quarto, estou quase dormindo.
Ao meu lado, sinto o colchão ceder ao seu peso e abro
meus olhos sonolentos. Ele está sentado no escuro. Inclina a
cabeça e me beija. Estou tão assustada que acordo logo. O
beijo é suave e gentil. Abro minha boca e o beijo se
aprofunda. Pura fome começa a me atingir. Estou toda
dolorida, mas ainda assim, anseio por ele. Sinto seus dedos
percorrerem meu corpo. Os seus dedos pressionam minha
boceta.
— Está tão molhada. — Ele sussurra e coloca um dedo
dentro de mim.
Arde demais e eu me afasto involuntariamente.
Ele para imediatamente.
— Qual é o problema?
— Nada. — murmuro. Pisco os olhos. As mãos do Blake
levantam minha camisola. A minha calcinha é retirada e
estou sendo virada.
— Jesus Lana! — ele ofega. Mãos gentis viram meu
rosto. — Eu fiz isto? — Ele está chocado, pálido, e consumido
pelo remorso. Nunca pensei que ele pudesse ficar tão
abalado. Este é um novo Blake. Um que não consigo conciliar
com o homem que conheço. A mudança no seu rosto e olhos
é tão nítida, é como da noite para o dia. Será que alguns
hematomas negros têm realmente tanto efeito num homem
como ele? Não gostei da resposta. Havia mais com esta
mudança. Ainda não sabia o que era.
— Fico assim facilmente. — explico cautelosamente. —
Não é permanente.
Ele não responde a isso.
— Eu sinto muito… Desculpe-me. Não acredito que fiz
isto com você.
Eu me encolhi, ainda suspeitando da sua bondade.
— Não é tão ruim quanto parece. Hey, eu o incentivei a
isto, lembra?
Ele olha para mim com a testa franzida.
— Porque fez isso?
Baixei o olhar.
— Conhece aquela canção ‗Wrecking Ball‘ da Miley
Cryus? Sou eu. Queria quebrar suas paredes. Você é tão frio
e distante comigo, o tempo todo. Usei o meu corpo como se
fosse uma bola demolidora…
— Há muitas coisas que você não entende, mas acredite
em mim quando digo que você é meu alicerce, meu oxigênio.
Preciso desesperadamente de você. Aliás, agora mesmo, o que
sinto por você é a única coisa que me faz parecer humano.
Olho para ele chocada.
— O que sente por ...
Ele colocou os dedos na minha boca.
— Shhh. E acredite em mim quando digo que gosto de
você, sempre gostei… e não é do seu interesse saber mais do
que já sabe.
Fico infeliz com esta resposta misteriosa, mas aceno em
concordância. Que escolha tenho?
— Preciso que me prometa uma coisa.
— Que tipo de promessa?
— Que não vai me deixar antes dos 42 dias acabarem.
Independentemente do que ouça ou veja, ou de quem te pedir
para fazê-lo, não me deixe.
— Por quê?
— Porque estou te pedindo. Pode fazer isso por mim?
Dei de ombros.
— OK.
— Não! Diga as palavras. — diz ele. — É muito
importante que você perceba a importância da promessa que
estou pedindo que faça.
— Prometo não te deixar antes dos 42 dias acabarem.
— Não se esqueça desta promessa.
— Não esqueço, mas o que acontece quando os 42 dias
acabarem?
Ele sorri. É um sorriso triste.
— Aí é você quem vai decidir.
— Eu que vou decidir? O que isso quer dizer?
— Acabou a conversa por hoje. Va para o seu lado da
cama.
Eu arregalo os olhos.
— Você vai ficar esta noite?
— Mmnnn.
Ao invés de reclamar, suavemente vou para o meu lado
da cama, e me apoio no meu cotovelo.
— Quer que te faça um boquete?
Ele balança a cabeça.
— Quer o meu rabo? — digo provocadoramente.
— Terei o seu rabo, brevemente. Quero conhecer o seu
corpo todo. Mas hoje não. Hoje só quero que se enrosque em
mim e durma.
E é o que fazemos. Adormecemos entrelaçados, como
duas serpentes.
Quinze No momento em que eu acordo Blake não está lá. Eu
trago Sorab para a cama e deito olhando para ele, que bebe
seu leite enquanto meu cérebro repete incessantemente as
intrigantes e confusas palavras de Blake na noite anterior.
Você tem que acreditar em mim quando digo que você é o
meu alicerce, meu oxigênio. Na verdade, agora, o que eu sinto
por você é a única parte de mim que parece ser humana.
Exceto a minha tentativa frustrada de ser uma bola de
demolição, posso ver que nada mudou entre nós. Ainda
assim, o estranho insensível e furioso, que mal podia
suportar meu toque, estava, de repente, professando uma
emoção tão profunda que me fez contrair os dedos dos pés. E
o que foi a insistência de que eu prometesse nunca deixá-lo
até que os 42 dias tivessem terminado? Quais eram as coisas
que eu não compreendia, as quais ele se referia e que,
obviamente, não queria me contar? Lembro novamente de
seus olhos intensos. Ele parecia estar implorando por alguma
coisa e me pedindo outra, ao mesmo tempo? Seriam outros
38 dias comigo? Por quê? Nada fazia sentido.
Eu me lembro das palavras de Jack.
Nenhum homem quer uma mulher por apenas 42 dias.
Quando Blake disse que seria a minha escolha, o que
ele quis dizer? Que seria minha escolha ser a sua amante? E
que Victoria seria seu modelo virtuoso de perfeição paciente e
impecável? Eu lidei com ela e sei, sem qualquer sombra de
dúvida, que não permitirá tal cenário.
Eu beijo a cabeça de Sorab.
— O que seu pai está fazendo, Sorab? — Pergunto, mas
ele apenas suga solenemente sua mamadeira com leite.
O dia passa lentamente após esse incidente. Meus
movimentos são lentos e langorosos. A dor está começando a
sumir. Quando uso o banheiro, não existe mais a queimação.
Estou animada com a ideia de ter Blake dentro do meu corpo
novamente. Reconheço que estou em estado de excitação
constante.
Laura liga para dizer que Blake irá para casa para o
jantar, porém não era para preparar nada. Ela está
encomendando para nós. Comida chinesa.
— Qualquer coisa em especial que você queira?'
— Pato de Pequim picante. — digo.
Ouço-a sorrir.
— Sim, esse é o meu favorito também, senhorita Bloom.
É um belo dia, com apenas um pouco de vento e às
quatro da tarde carrego um livro e coloco Sorab em seu novo
carrinho de passeio, para ir ao parque tomar um pouco de ar
fresco. O banco onde tive a companhia do exuberante
cachorro estava vazio e então vou até ele. O sol está
deliciosamente suave, mas mesmo assim coloco a capa do
carrinho para baixo. No próximo verão ele já vai poder brincar
no sol.
Eu o olho com orgulho e ele sopra bolinhas e balança o
chocalho violentamente. Estou tão incrivelmente apaixonada
por ele. Eu olho em volta. Não há praticamente ninguém por
perto, pego meu livro e começo a ler. Não se passaram mais
do que 10 minutos com Sorab contente, brincando com seus
pequenos brinquedos pendurados na cobertura de seu
carrinho de bebê, quando uma mulher vem até nós.
— Ah, mas ele é tão lindoooo. — ela canta.
Eu olho para cima do meu livro de bolso sorrindo.
— Obrigada.
— Qual é o nome dele?
— Sorab.
Ela oscila a cabeça de repente para mim e eu estou
espantada com o flash de alarme em seus olhos.
— Por que você deu esse nome ao seu filho?
Então eu me lembro.
— Ele não é meu filho. Estou de babá para a minha
amiga.
— Oh. — ela diz e se endireita e assim eu consigo vê-la
melhor. Ela tem cabelo castanho médio, bochechas rosadas e
olhos azuis, e estava vestindo um casaco discreto, mas,
obviamente, muito caro. Seu sotaque era de alguém de classe
muito alta, mas tinha algo estridente em seus olhos. Isso me
faz ter comichões para me levantar e me colocar entre ela e o
meu filho. Eu me levanto e nós estamos encarando uma à
outra.
— Por que ela deu a ele esse nome?
— Foi em homenagem a lenda de Rustam e Sorab.
— Você conhece a história de Rustam e Sorab?
— Não. — eu minto, imediatamente.
— É a lenda de um grande guerreiro que mata
acidentalmente o próprio filho no campo de batalha, porque
quando o menino nasceu a sua mãe mentiu. Ela disse ao pai
que ele não tinha um filho, que deu à luz a uma menina.
Eu fico olhando para a mulher tentando controlar meu
horror, mas com a expressão em seu rosto eu não estou
conseguindo ter êxito. Essa ironia não me atingiu antes. O
que foi que ela fez, inconscientemente? Quem é essa mulher?
O que ela é para Blake, meu filho e eu?
— Quem é você?
— Quem eu sou não é importante. Não fique tentada a
ficar mais tempo do que está disponível. Você e seu filho
estão em grave perigo. E pode até já ser tarde demais. Não
confie em ninguém.
— Do que você está falando?
— Cuidado com o Cronos. — Ela diz, com a voz seca
como poeira, e começa a se afastar.
— Ei, volte! — eu chamo, mas ela anda mais rápido,
aumenta sua velocidade, e rapidamente desaparece da minha
vista. Sento novamente, porque meus joelhos já não me
apoiam. Eu sei quem é essa mulher. Uma brisa da noite
passa correndo por mim. Eu me forço a empurrar o carrinho
tão rápido quanto possível para voltar ao apartamento. Lá
dentro, corro para o computador e para o google, procurando
pelo quarto conde de Hardwicke e sua família. Encontro a
imagem de uma mulher.
Sento. A memória de seu perfume flutua por mim. O
resto é um borrão cru de medo. Claro, eu a reconheço. A
semelhança é pequena, mas notável. Ela é a mãe de Victoria,
mas há algo miserável sobre ela. Ela perdeu algo precioso. É
verdade, os olhos perspicazes traíam a fúria, mas sob a raiva,
ela estava essencialmente dizendo que ela teve que sofrer
insuportavelmente. Mas ao contrário de sua filha, ela não
estava me ameaçando, mas me avisando para que eu pudesse
evitar um sofrimento similar em meu próprio futuro. Cuidado
com Cronos. Volte para trás agora, Lana. Antes que seja tarde
demais.
Meu telefone toca. É Blake.
— Oi. — eu murmuro.
— Você parece estranha. Está tudo bem?
— Sim, estou bem. — eu digo.
— Estou voltando para casa mais cedo. Espere por mim.
— Estarei aqui. — eu digo.
No momento em que Blake chega em casa, eu paro de
andar de um lado para o outro sem descanso e acalmo o
tremor das minhas mãos, mas não o medo terrível em meu
coração. Estou em pé no meio da sala de estar, perdida por
conta de algum medo desconhecido, quando Blake aparece
na porta. Eu me viro para ele e de repente estou cheia de um
novo medo. Posso mesmo confiar nele? Sinto-me confusa e
com medo do que eu não saiba a resposta.
Em poucos passos, ele cobriu o espaço entre nós.
— O que foi?
Eu balancei a cabeça.
— Por que você está de volta tão cedo?
— Estamos indo para Veneza.
— Veneza? — Repito estupidamente.
— Você gosta disso?
— Eu não posso. Tenho Sorab.
— Ele vai com a gente. Laura arranjou cinco babás para
você entrevistar esta noite. Elas vêm com a mais alta
recomendação das melhores agências de babá de Londres. A
babá pode ajudá-la aqui também, até o momento em que você
não precisar mais dela.
Por que ninguém me avisou sobre isso? Minhas mãos
sobem até as minhas têmporas.
— Uma babá? — É uma palavra estranha na minha
língua. A ideia é intimidante. Outra mulher cuidando de
Sorab.
— A primeira babá vai chegar as sete e uma a cada meia
hora depois, até que você encontre uma que você acha que é
a mais adequada. Eu pensei que nós poderíamos jantar mais
cedo. Laura encomendou comida chinesa para seis horas, eu
acho.
Concordo com a cabeça distraidamente e percebo o
alívio que banha seu rosto e seus ombros tensos, mas eu não
posso imaginar o motivo pelo qual ele está aliviado.
— Posso pegar uma bebida pra você? — Pergunta ele, se
movendo para o bar. Fico olhando quando fica de costas. De
repente, tenho a nítida impressão que ele está preocupado
com alguma coisa. Algo importante. Algo sobre mim. Mas ele
não quer falar sobre isso. Ainda não. Faz parte daquelas
coisas secretas que eu não entendo.
— Um brandy. — respondo.
Ele empurra uma taça para minha mão e beija
suavemente a minha testa.
— Eu vou acompanhá-la para um banho depois. Apenas
relaxe. Volto daqui a pouco.
— Por que iremos para Veneza?
— Você irá assistir ao verdadeiro musical de Veneza, o
original. Leve seu vestido preto. — diz ele, com os olhos
ardentes.
Ele planejou uma aventura em Veneza para mim. Eu
vago meus olhos pelo chão. Não me atrevo a olhar em seus
olhos, ainda não. Eu pretendo contar sobre a mãe de Victoria.
Não hoje, no entanto. Não até eu descobrir quem é Cronos. E
em quem eu posso confiar. Quem é amigo e quem é meu
inimigo?
As babás chegam pontualmente. Quando a terceira
mulher entra pela porta eu sei que ela é a única. Ela tem um
rosto agradável e alegre, com os olhos suaves. O nome dela é
Geraldine Dooley. Ela é da Irlanda. Eu coloco o bebê em seus
braços.
— Tudo bem, rapaz, qual é a história?
Sorab balbucia para ela.
— Com certeza. — ela concorda solenemente.
Eu consigo cancelar as duas últimas candidatas ligando
para seus celulares, mas a próxima candidata já está me
esperando na sala de estar. Eu saio para conhecê-la.
— Eu sinto muito por ter feito você perder o seu tempo.
Eu já encontrei a babá perfeita para o meu filho.
Ela sorri e puxa luvas de algodão impecavelmente
brancas.
— Você não tem que sentir, minha querida. — Eu fui
paga consideravelmente bem para participar desta entrevista
rápida.
Um pensamento me ocorre.
— Que horas você foi agendada?
— Eu não posso dizer com certeza. Mas talvez 16h30.
— Oh. — Isso foi logo após a mãe de Victoria se
aproximar de mim no parque. Pode ser apenas uma
coincidência, o fato de que estou - do nada - levada para
Veneza? Suas palavras, “não confie em ninguém”, ainda
ecoam na minha cabeça. Talvez seja ingênua, mas estou sem
medo. Acreditei quando ele me pediu para confiar nele para
fazer aquilo que era do meu interesse. E ainda confio.
Com as mãos cobrindo minha cintura um pouco acima
dos meus hematomas e com os seus olhos nunca deixando os
meus, Blake me abaixa suavemente sobre sua ereção
latejante. Os músculos de sua mandíbula se contorcem e
traem sua falta de desinteresse. Eu sei que ele está
preocupado em me machucar, mas estou tão escorregadia,
molhada e pronta, que o primeiro dedo desliza facilmente,
enchendo e me abrindo lindamente. É tão bom que eu me
dirijo para baixo e de repente ele me enche profundamente,
me esticando ainda mais. Clamo involuntariamente e sinto as
mãos erguendo o meu corpo para fora do eixo. Estou
empalada.
— Jesus, Lana! Se acalme. — ele fala.
Mas agora que o primeiro lampejo de dor se foi, estou
em chamas com a necessidade. Quero esquecer Cronos e
Victoria, e todas as coisas confusas que ainda não descobri e
sei que não há nenhuma maneira melhor do que esta. Coloco
minhas mãos em cada lado dele e o empurro lentamente,
vacilante, puxando para baixo até que as feridas do meu
traseiro tocassem suas coxas. Eu paro e me movo para cima.
Este requintado mix de dor e prazer é o que eu tenho
desejado todo o dia. Desta vez, desço um pouco mais rápido.
Meu sexo encharcado paira um instante na ponta da sua
ereção e, em seguida, eu desço. E grito. Ele tenta me segurar.
Balanço a cabeça e digo:
— Não, isso é bom. Eu posso aguentar.
Ele reforça seu aperto na minha cintura.
— Não! Sem mais dor para você. — diz ele com firmeza,
e gentilmente me rola sobre as minhas costas. Ele cobre todo
o meu corpo com beijos rastejantes até que eu me sinto como
se estivesse flutuando. E quando gozo, me sinto como se
fosse uma lagoa, em um dia em que a luz do sol é tão branca
que é impossível olhar para ele. Então, alguém vai e joga uma
pedra no lago do meu estômago, as ondulações brilhantes se
espalham para fora e transbordam.
Dezesseis
Estou na proa da embarcação negra que se movimenta
pelo Grand Canal para capturar a plena opulência da
majestosa cúpula branca da igreja pela luz do sol brilhante.
Grande decoração, enorme. Uma gôndola fúnebre passa por
nós. Tremo ao tocar a fita azul que Blake colocou no meu
cabelo. Aqui até mesmo a decadência e a morte são lindas.
Casas pobres estão ao lado de palácios gloriosos.
Blake estende o seu forte braço para me segurar quando
paramos na Piazza de San Marco. Ele está vestido com uma
camisa de brim preta, com as mangas enroladas, calça jeans
e botas de lenhador, e é muito mais alto do que a maioria dos
moradores. Diabolicamente sexy, com seus óculos escuros
que não me permitem ver seus olhos. Eu olho para ele com a
mesma sensação de admiração que ele olha para mim. Ele me
ajuda a sair do barco e segura minha mão enquanto
andamos até a praça.
Eu imediatamente caio de amor pelos grandes arcos que
circundam a praça, que é incrivelmente esplêndida. Os
grandes bandos de pombos que se empoleiram nos telhados
estupendos voam baixo para interagir amistosamente com os
turistas que se agarravam a seus guias e câmeras. Eles
vibram em torno de nós e me fazem sorrir.
Nós paramos para tomar um café. O garçom traz
biscotti 4 de acompanhamento. Blake empurra os óculos
escuros acima da cabeça, estendendo suas longas pernas
para frente, e fecha os olhos quando vira o rosto para o sol.
Eu mergulho um biscotti em meu cappuccino. O biscotti
mergulhado me lembra das marcas da maré sobre as paredes
manchadas e quebradiças.
— A laguna está comendo a cidade viva. — eu digo.
Blake me olha.
— Considerando os prazeres da maré, é uma
consumação de boa vontade. Do mesmo jeito que eu rastejo
por você, desde a primeira noite em que te vi.
Por um momento, estamos ambos perdidos olhando um
para o outro. E eu simplesmente não posso deixá-lo ir. Eu
sussurro:
— Mas o que vai acontecer depois que os 42 dias
acabarem?
Uma estranha emoção cruza seus olhos. Dor? Aflição?
— Eu não quero mentir nunca mais para você. A
verdade é que não sei. Existem forças poderosas em jogo,
previsíveis apenas em sua capacidade impiedosa de acumular
e recriar o mundo à sua imagem. E eu faço parte desse
quadro.
Eu franzo a testa. Estes enigmas. O que ele quer dizer?
4 Biscoito italiano de nozes e uvas-passas
— Que forças?
— Forças que são estranhas, sem princípios e
extremamente perigosas. Quanto menos você souber, mais
segura você estará. Eu nunca poderei falar sobre eles. Eu
poderia te dizer de bom grado, mas eu corro o risco de te
perder. A única maneira de você me ajudar é manter a sua
promessa. Não importa o que você escute, veja ou o que
alguém diga, não se esqueça de sua promessa. — Então a
sua boca se estende em um sorriso brilhante. É aquele
sorriso que me tira o fôlego. — Você vai confiar em mim se eu
me assegurar que você será cuidada por toda a vida?
—Dinheiro! Eu não quero seu dinheiro. — Quero saber
aquilo que ele sabe. Eu quero tê-lo para sempre.
Eu o contemplo em queda, quando ele se inclina para
frente e cobre a minha mão com a sua. Sua mão irradia calor.
Passando a palma da mão para cima e entrelaçando os dedos
com os dele. Percebo que este é um momento de grande
importância. Eu olho para cima. Estou olhando para os olhos
de um homem que quase parece estar se afogando e eu sou a
boia que ele encontrou para se agarrar. Pela primeira vez eu
percebo que sob o frio de um exterior distante há muito,
muito mais na sua profundidade. Eu sorrio de repente.
— Tudo bem. — eu digo. — Vamos viver como se tudo o
que nos resta são esses 37 dias. Não vamos perder um
segundo deles.
— Essa é minha garota. — diz ele, levantando e puxando
a minha mão. — Vamos lá. — ele insiste. — Para conhecer
Veneza é preciso vagar por suas pontes estreitas e becos
desconcertantes a pé.
Nós deixamos as vielas sinuosas para almoçar em uma
velha ostraria que aparentemente parece ter sido construída
em torno do século XIX. Blake e eu pedimos macarrão na
tinta de lula como entrada, seguido de peixe-espada cozido e
polenta, que o garçom nos diz que são a especialidade da
casa. Pasta na tinta de lula é algo que eu nunca experimentei
antes, e gostei bastante, mas as porções são muito grandes e
eu deixo quase metade do meu prato principal para trás.
Blake faz uma careta.
— Seu apetite era melhor antes. Você perdeu muito
peso. Por quê?
Eu dou de ombros.
— Sinto muito. A comida é deliciosa, mas eu realmente
não consigo comer mais.
Ele olha para mim, coloca o garfo cuidadosamente na
posição de quatro horas em seu prato, à espera de uma
explicação.
Eu olho para as minhas mãos. Elas estão enroladas
apertado.
— Durante semanas, depois do que aconteceu com
mamãe, eu não pude comer nada. Toda vez que eu pensava
em comida eu via a mesa do café da manhã novamente. É
quase como se o meu estômago tivesse diminuído e só
consigo comer pequenas quantidades.
— Que mesa de café?
Eu abro as minhas mãos e flexiono os dedos. Eu não
contei para ninguém, nem mesmo para Billie, sobre o dia em
que eu abri a porta da frente e até mesmo as paredes
estavam gritando silenciosamente com a minha mãe. Eu olho
para cima.
— Eu tinha uma consulta com o médico naquele dia.
Minha mãe queria ir, mas eu disse a ela:
— Não, eu vou ficar bem. — Deus, eu desejo nunca ter
dito essas palavras. Se eu deixasse minha boca fechada e ela
me acompanhasse, poderia estar viva hoje.
Eu balancei a minha cabeça com pesar.
— Eu ainda posso ver seu rosto. 'Você tem certeza? ' Ela
perguntou. Mesmo assim, eu poderia ter dito: 'Tudo bem,
vamos lá. Você pode me fazer companhia. ' Mas eu não fiz. Ao
invés disso, eu disse:
‗Absolutamente. Fique em casa e descanse. Os hospitais
estão cheios de bactérias.‟
— Quando eu voltei, eu abri a porta da frente e liguei
para ela. Ela não atendeu, então fui para a cozinha, e eu
soube imediatamente que algo estava muito errado quando vi
a mesa da cozinha. Devia estar preparando o almoço, mas
estava cheio de sobras de nosso café da manhã. Tomates
cortados, pão pita, azeitonas, azeite. E.... moscas. — Eu cobri
minha boca. — Moscas zumbiam ao redor dos ovos fritos
gelados.
A imagem é surpreendentemente clara e faz com que eu
me sinta enjoada novamente e eu empurro o prato de comida
para longe de mim, respirando fundo. Não disse a ele que foi
naquele dia que o meu leite secou. Nem uma gota foi deixada
para Sorab. Uma mulher gentil, a duas portas de distância se
tornou sua ama de leite, até o dia em que deixei o Irã.
Olho para seus olhos e eles são suaves e repletos de dor.
Em seu mundo de fundos ilimitados quase tudo pode ser
melhorado com um pouco de aplicação e astúcia. Isto não
pode. Até mesmo ele é impotente diante da morte.
— Ela era uma pessoa tão incrivelmente pura. Eu sabia
que algo terrível aconteceu. Minha mãe saiu para ir à loja em
frente, para comprar um pouco de açúcar para o café e foi
atropelada ao atravessar a estrada que dava para a nossa
casa. Por muitas semanas eu acordava com sonhos com
moscas em minha comida. Talvez fosse o choque da rapidez
com que assumi a cozinha da minha mãe, depois de seus
esforços incansáveis de me manter longe.
Meu peito abre de supressa. Um pequeno soluço escapa.
Ah, não, com certeza eu não vou gritar novamente. Eu
engulo, enquanto as lágrimas correm pelo meu rosto. Eu
sinto os olhos do garçom em mim. Blake pega a minha mão.
— Sinto muito. — eu peço desculpas, apertando a sua
mão.
— Eu sei, isso vai passar e tudo isso também, mas
simplesmente não consigo superar sua perda.
Depois do almoço voltamos para o palazzo que pertence
à família de Blake. Congelado como uma filigrana de pedra
branca e construída em três andares que me faz lembrar um
bolo de casamento. No interior, é tão bonito como qualquer
palácio com mosaico brilhante, estátuas de mármore de seres
humanos, estátuas douradas de animais, afrescos
detalhados, tetos decorados, antiguidades de valor
inestimável, tapeçaria de ouro rico e tranças vermelhas, e
criados vestidos a rigor.
Gerry está sentado na varanda sob um guarda-chuva.
Sorab grita de prazer com a minha presença. A tarde é
passada na varanda com Sorab. Agradável. Raro. Eu nunca
vou esquecer.
Naquela noite eu vou para o piso superior. Um lugar
estranho. Degraus de mármore liso. Bem no meio de um
enorme espaço, há um lugar para uma antiga banheira com
uma torneira de ouro. Tiro meu roupão e entro na água
perfumada. Aqui, os servos têm os pés leves como fantasmas.
São discretos e quase invisíveis. Eu descanso minha cabeça
contra o mármore quente.
Bem acima da minha cabeça, aparecendo fora da
escuridão do espaço de uma abóbada está uma corrente de
ferro a partir da qual um candelabro de vidro de beleza
inigualável está suspenso. Sua torção de vidro se transforma
em copos de cristal delicados que seguram velas reais. Blake
me disse que ele foi feito para a Igreja de Santa Maria della
Pietà, mas um dos seus antepassados mais extravagantes
adquiriu para si mesmo. Ele queria olhar para a obra de arte
quando se banhava. Nas centenas de frutas de diamante e
lágrimas de cristal.
Olho para eles com admiração. Cada gota, por causa de
sua posição sobre o lustre e a sua distância de cada vela, foi
explodido uma forma um pouco diferente, a fim de transmitir
a mesma luminosidade de todos os ângulos, como elas
capturam as chamas bruxuleantes dentro de seus prismas.
Blake aparece na porta. Ele está enorme nas sombras
das velas. Silencioso, cheio de uma emoção selvagem que faz
meu rosto queimar.
— Eu já sonhei em ver você tomando banho sob este
lustre. — ele diz com voz rouca e se aproxima até estar sob a
luz, tirando o pano de minhas mãos e começando a lavar
minhas costas.
Eu sinto sua boca na parte de trás do meu pescoço, a
barba por fazer raspa minha pele. Arrepios sobem na minha
pele exposta. Involuntariamente arqueio a cabeça para trás,
expondo toda a minha garganta para ele. Ele beija meu
pescoço suavemente, delicadamente. Suas mãos grandes
pegam os meus seios. Imediatamente, o desejo por ele cresce
dentro de mim. Eu o quero, mas ele balança a cabeça
levemente.
— Não, não, tenho outros planos para você. — Ele se
levanta e traz a toalha. Eu me levanto, a espuma escorre pelo
meu corpo. Esperando que ele vá mudar de ideia. Seus olhos
escurecem, mas ele enrola a toalha em volta de mim com
cuidado e me vira em seus braços.
— Eu te amo. — eu digo.
Ele se acalma. Algo de uma beleza indescritível entra em
seus olhos.
— Eu sei. — ele diz suavemente. — É o que me faz
continuar. — Mas ele não diz que me ama de volta. Em vez
disso, ele me ajuda com o meu roupão.
— Fabíola está esperando lá fora para fazer o seu
cabelo.
— Ah.
Alguém de fora para fazer o meu cabelo. Eu olho para
ele com admiração, com a precisão de seus planos. Existe
alguma coisa que ele não pensou? Fabiola entra com uma
caixa de madeira rosewood. No interior dos seus
compartimentos ela mantém todos os seus apetrechos. Ela é
jovem, mantém seus olhos escuros para baixo a maior parte
do tempo quando está comigo, e não fala Inglês, mas ela é
nada menos do que um gênio do cabelo. Ela entrelaça botões
de rosa vermelho-sangue em meu cabelo. É o tipo de
penteado que você vê na noite do Oscar. Ia ser difícil pra mim
ter que desfazê-lo.
Quando ela sai, visto meu vestido preto. Apenas uma
contusão amarelada é visível através da rede nas minhas
costas. Aplico o batom escarlate em meus lábios. Coloco meu
sapato alto e no espelho uma mulher me olha, muito corada,
de olhos arregalados, e mais do que um pouco libertina, mas
ao mesmo tempo, bastante bonita. Ainda estou olhando para
meu reflexo quando Blake entra na sala. Minha respiração
trava. Ele está vestido com um smoking preto. Eu nunca o vi
parecer tão vital e bonito. Seu cabelo brilha. Com esse nariz
aristocrático... Parece que ele acabou de sair de uma pintura.
Ele está carregando dois pacotes nas mãos. Ele vem e
fica atrás de mim. No reflexo do espelho fazemos um par
deslumbrante. Eu não faço movimentos bruscos; não quero
estragar a surpresa dessa mulher no universo paralelo.
Talvez ela vá ficar com seu homem. Durante o dia todo, as
pessoas olharam para nós. Agora eu sei o porquê. Ele abre o
primeiro pacote e tira um colar. É incrivelmente simples. É
formado por anéis de rubis com uma peça central, preta e
ovalada.
— É um diamante negro. — diz ele.
— É lindo. — respiro, levantando os olhos para
encontrar os dele.
— Algo para você lembrar de Veneza. — Ele coloca o
colar em volta do meu pescoço. As pedras vermelhas cercam
minha garganta como fitas de fogo. Ele faz a volta e olha para
mim. Há um brilho de orgulho possessivo em seus olhos. E
eu me sinto possuída.
Em seguida, ele abre a caixa seguinte.
Inclino a minha cabeça para frente, curiosa.
— O que são? — Pergunto. Não consigo fazer com que
me mostre. Sobre uma base de material preto estão alguns
gadgets5 coloridos feitos de plástico ou silicone.
Sua resposta é sucinta.
— Abra as suas pernas.
A reação do meu corpo é imediata. Uma onda de
excitação sexual. Essas coisas se encaixam em meu corpo.
Eu obedeço. Ele se inclina, levantando o vestido longo,
inserindo um deles em mim, o ajustando até o final côncavo
que se encaixa perfeitamente em volta do meu clitóris e puxa
minha calcinha para cima sobre ele. É uma sensação
estranha e suave dentro de mim. Do bolso da calça ele tira
um pequeno aparelho. Ele não é maior do que uma chave de
carro de controle remoto. Ele aperta e a coisa dentro de mim
começa a vibrar.
— Ooooh... — eu ri.
Quando ele vira o dial às vibrações ficam mais violenta
até que eu grito
— Ei! 5 Dispositivo eletrônico portátil.
Ele vira a direita para baixo.
— Música veneziana em sua setlist6 original e o mais
recente vibrador. — Eu provoco, mas estou fascinada com a
ideia de colocar o controle total das minhas sensações em
suas mãos.
— É o toque perfeito. — diz ele em voz baixa.
— A música é a paixão. Vamos assistir a L'Incoranazione
di Poppea. A coroação de Poppea é uma ópera veneziana de
sensualidade insuportável, e os frissons que você vai
experimentar no exterior serão refletidos dentro do seu corpo.
6 É um documento que lista a ordem das canções que uma banda musical, cantor solo
ou qualquer artista musical pretende tocar durante um concerto musical específico.
Dezessete
O sol está sangrando sob a laguna enquanto descemos a
escada e subimos para a gôndola. É um começo de noite fria
e o seu braço vem ao meu redor. Eu me deleito com seu
toque. Sei que Cronos está esperando por mim na Inglaterra,
mas esta é a minha noite, minha aventura. Ele não é
permitido aqui, nesta cidade que está inundando.
O teatro é muito velho e cheio de encanto decadente.
Não tem turistas presentes. Os outros clientes que
apareceram são na sua maioria idosos e vestidos com roupas
finas. Eles têm uma espécie de dignidade antiga que me faz
lembrar de uma época passada. Todo mundo parecia
conhecer todo mundo e um ou dois deles ainda acenam
seriamente para Blake. É quase como se fosse uma exibição
privada. Tomamos o nosso lugar em uma das cabines.
— Este teatro proporciona uma acústica divinamente
superior em comparação com alguns dos mais glamorosos. —
Blake explica, antes da cortina subir e o vibrador começa a
sua pulsação quase constante. No início, me contorço sem
jeito, julgando como uma distração indesejada que vai reduzir
o meu prazer da experiência de estar em uma ópera, mas
então começo a reparar no seu ritmo.
Ele sobe com a música.
A ópera é cantada em italiano, mas tenho Blake
sussurrando ao meu ouvido cada cena e até mesmo
apontando o significado de algumas árias. A coroação de
Poppea traça o percurso da atmosfera opulenta de sua
jornada, da amante do imperador romano Nero, que em
busca de seu desejo de ser a imperatriz de Roma abandonou
o amor pelo poder. Como Blake advertiu, a história é erótica e
decadente. Combinado com o vibrador entre as minhas
pernas a experiência é indescritível e apenas não me deixa
incrivelmente excitada, mas também emocionalmente
esgotada e além disso talvez confusa.
Durante o dueto de amor arrebatador quando Nero
mantém Poppea em seus braços enquanto ela acaricia sua
coroa de joias, o vibrador se tornou pleno, me viro para olhar
para Blake perguntando por que ele me trouxe para ver uma
ópera, onde os virtuosos são punidos ou condenados à morte
e o ganancioso e sem escrúpulos é recompensado. É uma
dica nada sutil para mim? Eu sou a mulher gananciosa do
seu mundo?
Como se ele lesse a minha mente, ele diz.
— A música gloriosa vai além das fragilidades humanas.
É verdade que me sinto animada e tonta. A experiência
foi profunda. Preciso ir ao banheiro e ver como minha
aparência está. Sinto-me como se tivesse sido alterada esta
noite. Toco o seu pulso levemente.
— Indo para o banheiro. Encontre-me no final da
escada.
Ele balança a cabeça. Entre as minhas pernas o
vibrador está pulsando. Eu não sei se ele pode ver o desejo
nos meus olhos. Não quero ir para o jantar. Eu só quero ir
para casa e tê-lo dentro de mim.
No reflexo do espelho não me reconheço. Meus olhos
estão estranhos. Estou mudando diante dos meus olhos. Eu
toco ligeiramente a protuberância do corpo no meu clitóris e
penso em tirá-lo, mas no meu coração esse privilégio só
pertence a Blake. Foi ele que colocou lá e é ele que tem o
direito de tirá-lo quando convier.
Descendo a escada curva de mármore que dava para os
banheiros, encontro-o conversando com um dos guias. Uma
garota de cabelos negros. De costa para mim, ele está falando
com ela em italiano. Eu vejo o seu rosto animado e uma
estranha garra do medo desconhecido agarra meu estômago.
Imediatamente, agarro o ferro forjado do corrimão, de repente
insegura, meu coração bate dolorosamente contra as minhas
costelas. Tudo o que ele disse a fez rir timidamente, e vejo
seus grandes olhos escuros acenderem com interesse
ardente.
Coloco a palma da mão na minha barriga quase sem
acreditar. Estou com ciúmes. Estou e sem razão,
incontrolavelmente ciumenta por um homem que não posso
reclamar publicamente. Mas o pensamento dele com mais
alguém faz-me sentir mal do estômago.
Será que vai ser sempre assim de agora em diante?
Os encontros mais inocentes e ansiosos, de tempos em
tempos, remoendo internamente, enquanto brincava de cego,
surdo e mudo para o exterior? Então ele se vira, seus olhos
buscam por mim, e eu dou um passo à frente, um suspiro
escapa dos meus lábios, aliviada por estar de volta na
maravilhosa luz do seu olhar. E está tudo bem de novo; o
medo se vai, se afastando momentaneamente.
— Eu não sabia que você falava italiano.
Ele sorri.
— Não, mas eu estudei latim na escola, por isso não é
difícil descobrir como pedir indicações.
Com a água escura lambendo os degraus da Palazzo, eu
sussurro.
— Blake podemos ir lá para cima... primeiro, antes de
comer?
Ele balança a cabeça com um sorriso.
— Ainda não, principessa7. — Ele põe a mão no bolso e
a pequena máquina vibra em vida. Mas agora a taça de
sucção está me lambendo quase como uma língua.
— Oh, Blake. — Suspiro. — Não posso aguentar mais.
— Sim, você pode. — diz ele.
7 Princesa em italiano
Engulo seco. Como posso pensar em comida enquanto
minha boceta está latejando por uma língua de silicone que
está lambendo o meu clitóris? O único pensamento em minha
mente é a liberação. Eu já estou muito perto do clímax.
— E se eu tiver um orgasmo na mesa de jantar?
— Você não vai. Vou parar enquanto você come.
Fiquei de boca aberta para ele.
— Eu já te disse senhorita Bloom, você é um espetáculo
para ser visto. — diz ele descaradamente, e me puxa para
começar a andar.
Ele passa pelas portas duplas do salão e eu dou uma
olhada para ver como Sorab está. Felizmente o vibrador para
quando estou subindo a escada. Sorab está dormindo. A
porta de Gerry está entreaberta e a luz está na penumbra. Eu
bato suavemente.
— Entre. — diz ela.
Eu entro. Ela está na cama lendo. Seu rosto está em um
típico sorriso acolhedor.
— Como ele foi?
— Tão bom como o ouro.
— Ficarei com ele amanhã de manhã assim você terá
um tempo livre. Para visitar alguns pontos turísticos da
cidade.
— Não há necessidade para isso, amor. Estive aqui há
vinte anos. E fico com o coração partido.
E me ocorre que é impossível saber as nuances da
história de alguém apenas olhando para elas ou conhecê-las
por alguns dias. Minha mãe costumava dizer:
— Você pode comer caviar com alguém por cinco anos e
nunca conhecê-lo.
Acho Blake na maravilhosa sala de jantar pintada de
vermelho cavernoso. Ele está em pé ao lado da lareira,
olhando para um retrato enorme de um homem arrogante em
roupas finas. Ele se vira para me abordar. A semelhança
entre ele e o homem do retrato é impressionante. É
imediatamente evidente que é um antepassado seu. É ali no
arco aristocrático de sua bochecha ou no conjunto de seu
rosto. Da mesma forma que encontrei Victoria em sua mãe.
Essas famílias que não misturavam seu sangue facilmente e
a sua pegada genética estão claramente em seus rostos e no
seu comportamento.
O zumbido entre as minhas pernas começa quando eu
ando em direção a ele.
— Sua família sempre possuiu esta casa?
Ele franze a testa. As discussões sobre a sua família
sempre o levava a se distanciar.
— Sim, nós somos descendentes dos Black venezianos.
Nós nos ramificamos na Alemanha, antes de cruzar o
Atlântico.
— É muito bonito. Você vem sempre aqui?
— Eu não venho para esta casa há anos. — ele
responde, e liga a função lamber.
Eu me contorço.
— Vamos comer?
O jantar é servido por um homem, que na maioria das
vezes é de um silêncio melancólico, com uma jaqueta branca
cujo nome era Enzo. Acho que é quase impossível comer. Fiel
à sua palavra Blake desligou o dispositivo, mas estou tão
excitada que mal posso esperar para acabar a refeição.
Quando Blake afasta a sua xícara de café eu pulo.
— Qual é a pressa? Você só estaria trocando a língua de
silicone por mim.
Solto um som estrangulado e viro suplicante para ele.
— Por favor, podemos ir agora?
— Não, eu quero ver você completamente perdida hoje à
noite. — diz ele, levantando a garrafa de champanhe e
enchendo nossos copos.
— Eu vou fazer você gozar com mais força do que você já
fez antes. — ele promete, aumentando o ritmo enquanto o
dispositivo me lambe e vibra na minha calcinha.
Sento e levo a taça aos lábios. É uma bela obra de arte,
soprada à mão. A haste longa e fina sobe em uma figura
decorativa do Leão de São Marcos antes de encontrar a flauta
delicada.
— Mmnnn. — Ele pega meu pulso com as mãos e passa
o dedo levemente ao longo do interior, até a dobra do meu
cotovelo. A sensação está insuportavelmente sensual. O
desejo de ficar em cima dele na vasta sala vermelha é
inegável.
— Eu nunca conheci uma mulher com a pele como a
sua. — ele ronrona. Ele me olha nos olhos. — Você tem
alguma ideia de quão desejável está agora?
Aperto minhas coxas e balanço a cabeça.
Subimos a escadaria curva para o nosso quarto. O luar
está inundando através das janelas altas. Há longos
retângulos de luz no chão.
Ele se vira para mim e gentilmente tira meu vestido.
Joga atrás dele e cai em uma cadeira brocada verde e
dourada. Ele desce até meu quadril, se inclina para a frente e
beija o volume fortemente ligado a minha boceta. O gesto é
tão inesperadamente carregado com possibilidades eróticas
que meu corpo grita por ele. Ele tira minha calcinha.
— Abras suas pernas. — Obedeço imediatamente. Ele
remove o aparelho e eu realmente sinto meu corpo ceder em
alívio. Ele permite que seus dedos passeiem na abertura
pegajosa.
— Você está tão, tão molhada... — diz ele.
Concordo com a cabeça impotente. Minhas mãos estão
na forma de um punho frustrado, esperando por ele.
— O que você quer, Principessa?
— Você.
Ele balança suavemente a cabeça. Os olhos me
encarando são quase pretos.
— Preciso de mais detalhes do que você quer.
— Eu preciso de você dentro de mim. — murmuro.
Mais uma vez a cabeça se move de forma negativa.
— Detalhes, Lana. Detalhes.
E assim ele me convence a descrever em detalhes
exatamente o que quero, para usar as palavras que teriam em
qualquer outro momento feito com que corasse furiosamente.
— Isso, o seu pau grosso, grande e grosso,
profundamente em minha boceta, me fodendo com força ...
Ele me amordaça.
— As paredes são finas e podem até ter ouvidos. — ele
sussurra. Ele destoa na minha cabeça, mas só um pouco, eu
estou longe demais para procurar implicações escondidas.
Suas mãos grandes agarram meu quadril e me
pressionam contra seu pau.
Ao invés de me mover para cima e para baixo em seu
comprimento duro, ele me puxa para frente e para trás, me
fazendo montá-lo, como um touro. Estou me esfregando nele.
Meu corpo é empurrado para a frente como um daqueles
ciclistas na corrida do Tour the France, de modo que sua
boca tem fácil acesso aos meus seios.
Ele agarra duro as minhas coxas suadas escorregando e
deslizando contra o seu quadril, o pau grosso dentro de mim
agindo sem freios. É muito intenso para durar. Em segundos
eu me perco. Gritando como uma alma penada, gozando
rápido e com força. Dou graças a Deus pela mordaça. Eu
teria me perdido. Completamente. Até os meus dentes, dedos
das mãos e pés estão vibrando.
Descanso meus lábios na sua testa úmida. Satisfeita.
Ele ainda está duro como uma rocha dentro de mim. Meus
mamilos ainda estão presos entre seus polegares e
indicadores. Eles latejam dolorosamente, primorosamente.
Agora é a sua vez. E então ele vai ser meu novamente. Vai
chegar o dia em que tudo que eu vou ter serão as memórias
do que fizemos juntos.
Estou acordada nas primeiras horas da manhã. Deve
ser o desconhecimento do que me rodeia. São duas horas e
parece que todos em Veneza estão dormindo. Saio da cama e
ando descalça pelo chão polido de madeira escura, em
direção às janelas com vista para os canais interligados e vias
de paralelepípedos. Tremendo um pouco, porque estou com
frio do amanhecer e ouvindo os sons das águas turvas que
banham as pedras antigas, cobertas de musgo. O cheiro
sulfúrico como o de ovos podres sobe lentamente dos canais e
me atinge. Não que isso me incomode. Para mim, estar com
Blake nesta cidade, com toda a sua glória, desmoronando
pela bela pedra, parece um sonho.
E então um pensamento surge. Quem é ou onde está
esse tal de Cronos?
Eu ouvi um barulho e virei a cabeça para ver Blake,
levantando sobre os cotovelos e me observando. À luz
prateada do luar, ele é Atlas ou Marte ou Apolo. Um deus. Ele
sai da cama nu, e com a graça ágil de um belo animal, anda
até mim. Ele se inclina e me beija. Eu me deleito com o calor
que emana do seu corpo. Mas meus pensamentos me beijam
em um toque muito desesperado.
Ele levanta a cabeça e olha para mim. À luz da lua em
seus olhos são poços escuros de curiosidade.
— Qual é o problema? — pergunta ele, agachando ao
meu lado.
— Nada. — minto. Acho que estou muito agitada para
dormir.
Ele suspira e insiste.
— O que há de errado, Lana?
— O que você disse para a guia do teatro?
Ele se senta sobre os calcanhares.
— A guia?
— Você sabe, quando fui ao banheiro.
— Ah... Eu estava perguntando se havia uma soverteria
nas proximidades. Por quê?
Olho para baixo, incapaz de encontrar seus olhos,
incapaz de ajudar a tristeza que se arrasta em minha voz.
— Eu só queria saber se você... se você a achava
atraente.
— O quê?
Eu olho para ele.
Ele leva meus dedos frios em suas grandes mãos
quentes.
— Quer que eu te conte um segredo?
Concordo com a cabeça. Essa será a primeira vez.
— Desde o primeiro momento que te vi, eu te quis. Não
da maneira compartimentada que eu queria as outras, pelo
comprimento da perna, a saliência de um bumbum ou o
tesão do material causado por um seio bem formado. Quando
eu te vi, quis você para mim. Eu teria pago qualquer preço
naquela noite para comprá-la.
—Oh, Blake — Suspiro. Quero que ele diga que me ama,
mesmo que seja apenas um pouco, mas não vou pressionar
mais, eu poderia ouvir alguma coisa que não quero. É sempre
mais inteligente parar enquanto se está ganhando.
— Quer que eu te mostre o quanto te quero? — ele
pergunta baixinho.
Concordo com a cabeça e ele se levanta. Estendo meus
braços para ele como se eu fosse uma criança, e ele me pega,
me levando para a cama. Suspiro profundamente do prazer
de estar sob ele. Por um tempo, há apenas o farfalhar suave
de linho branco e um suspiro ocasional. Em seguida, um
ritmo rápido feroz. Até que um tremor como uma explosão de
prata treme por mim, e eu estou a volta entre estrelas
cintilantes. Aqui eu posso me esconder do Cronos. Seguro as
suas nádegas com uma firmeza emocionante, quando ele
encontra a sua liberação e derrama sua semente dentro do
meu corpo.
Sonhadora, me aconchego mais em seu corpo e logo
estou dormindo profundamente, como todos os outros dessa
cidade fedorenta e afundada.
Dezoito
Depois de uma rápida viagem voltamos pelo mesmo
caminho. De avião particular: sem filas, sem checagem de
passaporte ou à espera na fila da bagagem. Blake não foi no
mesmo carro com a gente. Ele tinha uma reunião de negócios
inadiável. Ele tenta me convencer a deixar a babá voltar para
o apartamento comigo, mas eu me recuso. E ela é colocada
em um táxi.
Prendo Sorab no meu colo e olho para fora da janela.
Não consigo deixar de me sentir um pouco deprimida.
Enquanto estava fora temporariamente coloquei de lado as
coisas que a mãe de Victoria disse, mas agora elas voltaram
com toda força. Seus sussurros são altos no apartamento
silencioso. Eu me sinto muito sozinha e assustada.
Quando Jack me liga, imediatamente o convido para me
fazer uma visita.
— Você acabou de voltar de férias. Você deve ter
milhares de coisas para fazer. Não vou incomodá-la. Irei
amanhã. — diz ele.
— Não, não mesmo. Não, por favor, venha hoje, agora,
se puder. Adoraria vê-lo novamente.
— Está tudo bem, Lana?
Eu rio.
— Claro. Eu só quero ver o padrinho do meu filho
novamente. Há algo de errado nisso?
Ele ri. O som é familiar.
— Não, mas você vai me contar se houver, não é?
— Sim, sim, sim. Agora, quanto tempo vai demorar para
chegar aqui?
— Meia hora.
— Vejo você daqui a pouco. — Termino a chamada
sentindo alívio.
— O Sr. Jack Irish está na recepção para vê-la, Srta.
Lana! — O Sr. Nair chama 30 minutos mais tarde.
— Ótimo. Deixe-o subir. — digo, e abro a porta da frente
para esperar sua saída do elevador e em instantes Jack
aparece. Ele não parece confortável. Posso ver que ele está
intimidado com o ambiente ao seu redor.
— Ora, ora, Jack. — eu digo — Camisa nova? Acho que
nunca te vi usando vermelho.
Ele fica entusiasmado.
— Alison que escolheu. — ele murmura, dando passos
para fora do elevador.
— Hey, isso é bom. Sério. Muito requintado, na verdade.
— E você está um pouco cuidadosa com os seus elogios
hoje.
— Estou. — concordo indo para seus braços. É tão
familiar. Tão bom. Amo Jack. Eu realmente amo. Ele é como
os primeiros raios de sol após uma chuva torrencial e
particularmente pesada. Um convite simplesmente delicioso
para sair e brincar. Eu dou um passo para longe.
— Venha e conheça o lugar.
Abro a porta e viro.
— Wow! — diz Jack. — Este lugar deve ter custado
bastante.
— Sim, espere até ver a vista. — Eu o puxo pela mão em
direção à varanda.
— Surpreendente, não é?
— Vistas como estas certamente deve induzir ataques de
megalomania. — diz ele em voz baixa. Ficamos em silêncio
por um minuto, e então ele se vira para mim.
— Onde está o pirralho?
— Dormindo.
— De novo?
Eu sorrio. É tão fácil com Jack.
— Quer um café de verdade?
— Que tipo de pergunta é essa?
— Vamos lá.
Eu coloquei uma música e nós nos sentamos no sofá
com os nossos cappuccinos.
— É só um pensamento aleatório que veio na minha
cabeça mas, o que você sabe sobre Cronos?
— Essa é uma pergunta estranha.
Tomo um gole do líquido quente.
— Eu ouvi sobre isso no outro dia e percebi que não sei
nada sobre ele.
— Meu conhecimento sobre a mitologia grega é muito
instável, mas acredito que ele foi um deus que comia seus
próprios filhos. Ele também é um dos outros nomes para
Saturno ou Senhor do Tempo.
— Um deus que come seus próprios filhos?
— Sim, era para garantir uma profecia que dizia que seu
próprio filho iria derrubá-lo. Algo assim, de qualquer
maneira.
Concordo com a cabeça tristemente. Não gosto nada de
como isso soa. Depois que Jack for embora pretendo fazer
minha própria pesquisa.
— Você é feliz, Lana?
— Não. — eu disse antes que pudesse me conter.
Sua xícara de café congela a caminho de seus lábios.
Cubro minha boca com a ponta dos meus dedos. Não
consigo contar sobre Cronos, então começo a falar:
—Não, espere. Isso saiu errado. Eu não estou
ativamente infeliz. — Fecho minhas mãos embaixo do meu
queixo. — Mas você sabe como me sinto sobre ele. É uma
espécie de tortura ser tão apaixonada por alguém que não te
ama. Sou a vespa morta, flutuando em sua taça de
champanhe. Eu arruíno a sua vida perfeita. Seus planos
perfeitos. E isso também é verdade. Blake não é feliz. Há algo
que está rasgando suas entranhas, mas ele não vai me dizer
o que é.
Jack coloca a xícara de café sobre a mesa baixa.
— Você, pobre patinha. — Ele diz com tanta compaixão,
que estou de repente inundada com auto piedade mórbida.
Eu pisco as lágrimas. Jack estende a mão para mim.
— Não a toque.
A violência nas palavras me assusta. Viro minha cabeça
e encontro Blake em pé, na porta da sala de estar. Nós não o
ouvimos entrar. Deve ter sido os tapetes grossos e a música.
Seu rosto é uma nuvem de tempestade. Salto para cima
com culpa, com meu rosto em chamas. E então percebo que
não fiz nada de errado. Não fizemos nada de errado. Minha
inocência faz minha voz forte.
— Nós estávamos conversando, Blake. Jack é meu
irmão.
Blake não olha para mim.
— Ele não é seu irmão. Ele está apaixonado por você.
—Oh! Pelo amor de Deus. — Explodo com raiva, e viro
para Jack, irritada e em busca por apoio contra essa visão
distorcida do nosso relacionamento, e então eu congelo.
Jack está olhando para mim com tanta dor em seus
olhos de artista torturados. Isso por que Blake está certo.
Meu Jack está apaixonado por mim. Profundamente.
Desesperadamente. Talvez por anos. Parece impossível. Eu
fui tão cega, tão estúpida. Ambas as nossas mães sabiam.
— Jack? — sussurro. Eu quero que ele negue e que faça
tudo ser como era antes – simples e bonito - mas ele
pressiona seus lábios em uma linha fina e começa a andar
em direção à porta. Congelada no lugar eu o sigo com os
olhos, quando ele passa por Blake seus ombros quase se
encostam, mas não completamente. Ele já está no corredor
quando sinto novamente minhas pernas e começo a correr
atrás dele. Blake me pega pelo braço.
— Deixe-me passar. — Eu rosno.
Ele olha para mim implacável, com os olhos brilhando.
— Eu não compartilho. — ele fala grosso.
— Por favor... Ele precisa de mim agora.
— Sua compaixão é a última coisa da qual ele precisa.
— Eu não estava oferecendo piedade. Estava oferecendo
amizade.
— Ele não quer sua amizade também. Ele quer você em
seus braços, em sua cama. Você pode dar para ele o que ele
quer, Lana?
Ficamos ali olhando um para o outro, com o ar
eletrizado. Em seguida, ele libera meu braço e se afasta de
mim. Eu abaixo a cabeça. Como se estivesse lá esmagada
pela minha perda, ele coloca os braços em volta de mim e me
chama para o seu corpo.
— Sinto muito, baby.
Coloco minha bochecha contra seu peito duro. Com os
olhos secos. Quando a perda é grande demais, as lágrimas
não vêm. Eu sei, percebi no momento em que perdi a minha
mãe. Lágrimas vêm quando você libera essa pessoa e eu me
recuso a perder Jack. Ele vai se apaixonar por outra pessoa.
Ele vai esquecer esse amor que tem por mim e então seremos
irmão e irmã. Sinto os lábios de Blake em meu cabelo.
E eu começo a chorar. Não pela perda de Jack, porque
nunca perderei Jack, mas pela perda de Blake, porque eu sei
que no fundo do meu coração, não conseguirei ficar com ele.
Devido a Cronos, porque tudo o que eu realmente amo está
sempre sendo tirado de mim. Blake não entende o porquê de
eu estar sempre chorando ou agarrando ou sendo insaciável.
Estou bebendo o resto do vinho de verão. Naquela noite, me
permiti ficar bêbada como um gambá.
Dezenove
Quando vou visitar Billie ela tem uma surpresa para
Sorab. Um cavalo de balanço bonito do Mamas & Papas.
— Oh meu Deus! — Exclamo.
— Você não precisava. Isso deve ter custado uma
fortuna. — vou até ele, tocando o material marrom suave da
boca do cavalo.
— Não, eu o roubei.
Eu me viro para encará-la. Tentando imaginá-la saindo
de uma loja com um grande item em seus braços.
— Por que, Billie?
Ela encolhe os ombros.
— Não é um grande negócio. Essas grandes corporações
dão subsídios para os furtos. É parte de seus custos
operacionais.
— Quando tivermos o nosso negócio vamos dar
subsídios para furtos também?
— Claro que não.
Levanto as sobrancelhas e cruzo os braços sobre o peito.
— Tudo bem. — diz ela. — Mas não vou devolvê-lo.
Eu ri. Billie é incorrigível. Às vezes, queria ser como ela.
A vida é uma aventura tão abundante. Ela leva tudo com as
duas mãos.
— Escute, Billie, sei por que fez isso, mas você não tem
que competir com Blake. Você é a tia de Sorab. Você sempre
vai estar lá. — e as palavras são como estacas na minha
garganta, mas eu o cuspo. — Blake não vai.
— Sinto muito, Lana.
— Você não tem que pedir desculpas para mim.
— Sinto muito por você não poder ter Blake.
— É.... É um saco.
— Tenho uma garrafa de vodca. — ela sugere,
brilhantemente.
Eu sorrio.
— Não, mas no entanto, vou tomar uma xícara de chá.
Estamos sentadas à mesa da cozinha com o nosso chá,
quando a campainha toca.
— Esperando alguém?
— Sim, Jack disse que poderia passa por aqui.
— Oh!
Ela vai abrir a porta.
— Hei, você.
— Ei, você também. — Jack diz ao entrar.
— Olá, Jack. — Saúdo suavemente.
— Olá, Lana. — Ele fica surpreso ao me ver. Seus olhos
parecem tristes. Tão tristes. Não acho que já o vi desse jeito.
Agora que o seu segredo foi desvendado ele parece sem
propósito, vazio e derrotado. Parece um homem que teve
todos os seus sonhos e esperanças quebrados, e está
simplesmente parado lá, olhando para os cacos em
descrença.
Eu segui em frente e ele olha para mim com uma
expressão torturada.
— Vou deixar vocês dois sozinhos. — Billie diz e
caminha rapidamente para o quarto dela.
— Temos que conversar. — eu digo.
— Não há nada a dizer. — ele responde. No entanto,
seus olhos estão ardendo em seu rosto. Não é algo que ele
quer dizer. Isso é difícil.
— Fala comigo.
— Estou indo para a África em breve. Eu me ofereci.
Vou trabalhar para uma instituição médica de caridade.
Suspiro. Já existem lágrimas se formando no fundo dos
meus olhos.
— Onde na África?
— Sudão.
— Por quanto tempo?
Ele encolhe os ombros. Um meio sorriso. O velho Jack
ressurgindo.
— Até que eu me sinta melhor, acho.
Concordo com a cabeça. Não vou chorar. Eu vou ser
forte por ele. Tornar mais fácil para ele. Vou desejar o melhor.
— Antes de ir embora, você me... beijaria, Lana?
Minha boca fica aberta. Fico olhando para ele. O
primeiro pensamento: Eu amo Jack. Não consigo recusar-lhe
uma coisa tão pequena. Pensando bem: minha boca pertence
a Blake. Escuto Blake dizendo: “Eu não compartilho...”
— Deixa pra lá, esqueça que eu disse isso. — Ele diz e
dá meia volta, indo para a porta. Por alguns segundos eu
estou congelada e então corro para fora da porta, chamando
por ele. Ele se vira no corredor e me olha.
— Sim. — eu sussurro.
Devo isso a ele. Este é o meu Jack. Ele daria a sua vida
por mim. Eu o amo. Eu o amei por toda minha vida. Um beijo
de despedida. Que mal pode fazer? O beijo já está condenado.
Ele caminha na minha direção, de ombros largos,
confiante e seguro. É o velho Jack, em cada detalhe. Ele para
na minha frente. Encaro seus olhos azuis brilhantes,
totalmente diferente de Blake ou de mim. ―Clássicos olhos
azuis‖, era assim que minha mãe costumava chamá-lo. Ele
poderia ter qualquer menina. Todas as meninas na escola
costumavam chamá-lo de Sr. Conquistador, só que ele esteve
apaixonado por mim o tempo todo.
Ele pega meu rosto entre as mãos. Não há fogo em seus
olhos. Não há luxúria. Há apenas a luz do amor, um amor
que trava a respiração na minha garganta. Ele derrama pelos
seus olhos, me afogando, me deixando sem palavras e de
boca aberta. Ele tem cheiro de sabonete e loção pós-barba
barata. Mas limpa. E boa. E saudável.
Suavemente, muito suavemente, seus lábios descem aos
meus.
E quando eles chegam, tremo na surpresa do que Jack
representa. Toda a minha vida ele tem constantemente me
surpreendido, pelas suas profundezas insondáveis. Ele é
realmente incompreensível.
Seu beijo começa suavemente e sem qualquer
esperança, mas há tanta habilidade e tanta técnica, que em
um nível puramente físico meu corpo começa a reagir a ele.
Onde você aprendeu a beijar assim? Minha mente pergunta
distraidamente. E de repente, eu não estou de pé em um
corredor de concreto em um bloco de apartamentos do
município, beijando meu irmão. Estou fazendo amor com um
homem bonito e surpreendente, que está apaixonado por
mim, e pelo qual eu poderia ter me apaixonado, se ele tivesse
me beijado assim, há um ano e meio atrás.
Merda, o que estou fazendo?
Coloco as minhas mãos em seu peito para afastá-lo.
Imediatamente ele se move para trás.
— Por que você não me contou? — Sussurro.
— Eu não achei que você estivesse pronta. — diz ele
amargamente, e começa a se afastar.
— Jack.
Ele se vira ligeiramente.
— Por favor, se cuide.
Ele não responde. Simplesmente vai embora. Eu o
observo até que ele desaparece no corredor. Então eu
gentilmente fecho a porta da frente de Billie e começo a
andar. Sorab estará seguro com ela por algumas horas. Eu
não tenho um destino. Simplesmente caminho na direção de
St. John‘s Wood. Sinto-me destroçada. Realmente nunca
suspeitei. Agora, ele está indo para um país perigoso e
devastado pela guerra e pode nunca mais voltar. Não sei
quanto tempo ando, mas, de repente, estou muito perto do
apartamento e tediosamente cansada. Não posso encarar a
caminhada de volta para pegar meu filho. Sei que o meu
celular e minha bolsa estão no carrinho do bebê.
Acho um orelhão e faço uma chamada a cobrar para
Billie e ela concorda em ficar com Sorab por mais uma hora.
Eu vou voltar para o apartamento. Descansar por meia hora
e, em seguida, voltar para buscar Sorab. Aceno para o Sr.
Nair e vou para o elevador e me encosto contra a parede. Eu
costumava ser capaz de caminhar por quilômetros e nunca
me sentir tão cansada. Billie está certa. Sou apenas uma
sombra do que costumava ser.
Abro a porta da frente do apartamento e Blake está em
pé no corredor. Paro e fico olhando para ele. Por que ele está
em casa? Há uma expressão no rosto dele que nunca vi
antes.
Num piscar de olhos, ele atravessa a sala e fecha a
porta. Ele inclina a cabeça para me beijar e eu recuo, como se
fosse queimada. Seus olhos brilham no meu. Então, as coisas
acontecem tão rápido que elas são um borrão em minha
mente cansada. Ele me agarra pelos braços e no momento
seguinte sou levantada do chão e estou atordoada e de costas
para ele, agachado sobre mim como um predador, com um
olhar tão feroz que não o reconheço. Ele puxa a minha saia
para cima e rasga minha calcinha. Em seguida, ele pega as
minhas pernas pelos joelhos abrindo-as amplamente. Ele
empurra o rosto entre as minhas pernas, e para meu horror,
me cheira. Como um animal.
Estou tão chocada e humilhada, que congelo.
Quando ele levanta a cabeça e olha para mim, estou
olhando-o, sem palavras, horrorizada. A expressão selvagem e
agressiva em seu rosto desapareceu tão rapidamente quanto
chegou. Olho para ele, quase sem acreditar. Acabo de vê-lo
perder o controle. Encontro a minha força e luto para me
levantar, coloco meus pés no tapete e o empurro com força e
para longe de mim. Ele agarra o meu pé. Eu o chuto para
longe com o outro. Ele pega esse também e me puxa para ele.
Eu arrasto, impotente ao longo do tapete, como uma boneca
de pano em sua direção.
— Não. — ele rosna. — Senti um cheiro de homem em
você.
Estou no chão. Seu rosto está muito perto do meu. Eu
fecho meus olhos.
— Beijei Jack.
— Por quê?
— Porque ele está indo embora, está indo para um país
devastado pela guerra. Porque posso nunca mais vê-lo
novamente. Porque ele me pediu. Porque nunca me pediu
nada antes. — soluço. As lágrimas estão correndo pelo meu
rosto, até meu cabelo. Sinto-me chocada e ferida. Estou
amando um homem que me atirou no chão e cheirou minhas
partes intimas para sentir o cheiro de outro homem. Cheiro
de outro homem que me levou para fora dos instintos
territoriais e de proteção dormentes desse banqueiro. Os
instintos são destrutivos e ferozes.
Ele me apanha em seus braços.
— Shhh... Eu sinto muito, sinto muito. Eu não queria te
assustar. — ele fala.
Mas eu não consigo parar de chorar.
— Por favor, não chore. Você não fez nada de errado.
Simplesmente não posso suportar o pensamento de você com
qualquer outra pessoa. Eu não quero que fique nem na
mesma sala com outros homens. — ele confessa.
— O que está acontecendo conosco, Blake? — Sussurro.
— Nada está acontecendo conosco. Só perdi a cabeça
por um momento. Eu acho. Foi instinto puro.
— O que vai acontecer quando os 42 dias acabarem,
Blake?
Ele parece triste.
— Não sei, mas você vai ter que confiar que tudo o que
eu faço é pensando no seu melhor interesse.
— E o que é do meu interesse, Blake?
Ele suspira pesadamente.
— Em 31 dias você vai saber.
Suavemente, ele começa a beijar minhas pálpebras,
bochechas. Termina em minha boca. Ele beija com força,
força meus lábios abertos e deixa sua língua fazer uma
varredura na minha boca. Possessivo, apostando
reivindicação sobre o que é seu, apagando a marca, até a
memória da boca de outro homem. Suas mãos estão
desabotoando minha blusa, cobrindo meus seios. Sou
elevada e o fecho do sutiã se abre. A blusa está sendo puxada
para fora da minha saia. Ela cai facilmente dos meus ombros.
A saia a segue.
Transamos no chão, ao lado da porta da frente. O
choque e a emoção reprimida fazem o clímax ser mais
explosivo, e depois, sinto-me tão exausta que desejo poder
dormir onde estou. Ele me pega e me leva para a cama.
— Tenho que ir buscar Sorab com Billie. — eu sussurro.
— Tom já está a caminho. Durma.
Durmo por muitas horas. Quando acordo já são 19h. Eu
vejo a luz debaixo da porta que liga o nosso quarto com o de
Sorab. Coloco um roupão e me escoro na porta. Eu a abro e
fico desorientada por um momento. Amarras de aço em volta
do meu coração. Blake está segurando Sorab nos braços e
balançando. Neguei um pai a Sorab. Neguei a Blake seu filho.
Nunca pensei que veria Blake tão domesticado. Ele olha pra
mim e sorri.
— Ah, você está acordada?
Eu sorrio.
— Você dormiu bem?
— Sim, obrigada. — digo, mas não dormi. Esses dias
estou acordando cansada, cansada demais. Espero não estar
adoecendo.
— Aqui, dê ele para mim. Ele provavelmente precisa ser
trocado agora.
— Não precisa, eu cuidei de tudo.
— Você trocou a fralda dele?
— Não é exatamente uma ciência especial.
Eu vou para Sorab e coloco um dedo na fralda em torno
de sua barriga. A fralda está perfeitamente confortável. Ele
fez um bom trabalho.
— Quando você aprendeu a colocar uma fralda em um
bebê?
— Observei você.
— Hmnnn... Acho que é melhor eu preparar uma
mamadeira para ele.
— Não, eu já dei a ele.
— Você aprende rápido, não é?
— Você nem imagina. — diz ele, sorrindo como um
menino e lindo. Como se eu não o tivesse me atacando no
chão e cheirando minha boceta para sentir o cheiro de outro
homem.
Ele coloca Sorab em minhas mãos surpresas.
— Espero que você esteja com fome. O jantar será
servido em meia hora.
— Estou morrendo de fome. — digo recuando.
O vinho é um vintage antigo, da propriedade de
Barrington na França, as carnes são perfeitamente
suculentas e macias e a salada é simples, mas perfeitamente
temperada e salgada. Olho para ele com admiração enquanto
ele se senta à minha frente com uma camisa preta, calça
desbotada e pés descalços. Como você não acreditaria, de
fato.
Ele aprendeu a cozinhar enquanto estávamos
separados!
Vinte Billie liga no início da manhã. Ela tem algo a me dizer.
— O que é? — Eu falo.
— Conto quando você chegar aqui — diz ela, com a voz
cheia de algo delicioso, algo que ela mal consegue manter
reprimido.
Apresso-me. Quando chego com Sorab, ela está no
banho.
— Aqui. — ela chama. Eu vou e sento no assento do
vaso. Há sombra verde-brilhante em suas pálpebras.
— Meu Deus, parece que você teve uma noite divertida.
Ela sorri amplamente.
— Fui até o The Fridge na noite passada.
— Com quem?
— Sozinha.
Franzo a testa.
— Porque?
— Por que eu quis.
— Bem, e aí?
— Deixei um homem me pegar.
— O quê? — Estou tão surpresa que minha boca
realmente trava.
— O que posso dizer? Este homem enorme, quer dizer,
realmente enorme, com músculos saindo de suas orelhas,
veio até mim e me disse que as tatuagens no meu pescoço
eram as coisas mais linda que ele já havia visto.
Eu sorrio.
— Tudo certo. É possível ele ter feito esse mesmo elogio
a todas. Mas ninguém nunca disse que minhas tatuagens são
lindas. Nem mesmo você. Nem mesmo Leticia. E isso me
deixou curiosa sobre ele.
— Mas você não flerta com homens.
— Eu sei. Obrigada, mas sou lésbica, amigo! Foi o que
eu disse a ele também.
— E aí? — Perguntei.
— Isso é porque você ainda não foi para a cama comigo,
ele disse. E eu estava tão bêbada, que fiquei realmente
impressionada com esse nível de confiança arrogante. Então
respondi: Eu vou foder você, mas não vou chupar seu pau ou
fazer qualquer outra coisa desse tipo.
— Billie! — Eu grito.
— Não tenho motivos para ficar envergonhada. Eu não
vou chupar pau de homem nenhum. Enfim, ele disse que
também não estava interessado em fazer isso e fomos para a
casa dele.
— E? — Eu mal posso acreditar no que estou ouvindo.
— E... foi realmente muito emocionante. Você sabe como
sempre assumo o controle? Ele não deixou. Ele era muito
rigoroso e magistral, e fodia forte também. Eu nunca tive
alguém tão... bem... autoritário na cama antes. Era algo novo,
algo que não estou acostumada.
— Então você gostou de transar com um homem?
— Odeio dizer que sim, isso mexe com a minha
identidade, mas sim. De manhã, ele me fez café da manhã,
eca, ele trouxe salsichas e ovos.
Estou quase rindo.
— O que você fez?
— Comi.
— O quê???
— Não estava ruim.
— Billie, você não tomava um bom café da manhã desde
que tinha dois anos!
Ela ri.
— Você vai vê-lo novamente?
— Talvez. Ele pegou meu número, mas vai ficar fora por
um mês. Se eu o vir novamente, tudo bem. Se não, então
não.
— Mas você quer...
— É... Acho que sim. Há algo intrigante sobre ele.
— Isso significa que você já não é mais lésbica?
— Não me entenda mal. Ainda gosto de você mais do
que dele, mas talvez eu não seja apenas DC, mas AC
também.
— Qual o nome dele?
— Rose, Jaron Rose.
Eu mordo meu lábio.
— Na verdade, tenho algo para dizer também.
— Vamos logo com isso então.
— Não quero que você surte, mas...
— Eu não vou surtar. O que é?
— A mãe de Victoria veio me ver.
— Merda. Isso foi rápido. Deixe-me adivinhar. Ela avisou
para deixar Blake sozinho?
— Sim, ela me avisou, mas o engraçado é que eu acho
que ela pensou que estava me avisando para o meu próprio
bem.
Billie bufa incrédula.
— Você é fraca da cabeça.
— Apenas me escute, OK?
— Sou toda ouvidos.
— Foi tudo muito vago e misterioso mas, basicamente,
ela me disse que eu estava em perigo.
— Agora você está me assustando. Que tipo de perigo?
— Não disse, mas algo sobre a maneira como disse me
fez perceber que era ela quem estava assustada. Ela não
deveria vir me ver. Mas veio, mesmo assim.
— Então, o que exatamente ela disse?
— Disse que eu deveria tomar cuidado com Cronos.
— Quem é esse?
— Eu também não sabia. Mas ele é o Deus do tempo.
Geralmente descrito como um homem velho com uma barba
grisalha. Segundo a mitologia grega Cronos depôs seu pai e,
com medo de uma profecia de que ele sofreria o mesmo
destino, começou a engolir cada um de seus filhos assim que
eles nasceram.
— Encantador. O que isso tem a ver com você?
— Não sei. Estou tentando descobrir.
— Por que você não pergunta para Blake?
— Porque ela me disse para não confiar em ninguém e
eu não tenho certeza.
— Você não confia em Blake! — Os olhos de Billie estão
enormes com o choque.
— Não é que eu não confie nele. Confio nele com a
minha vida, mas ele está definitivamente escondendo algo
importante de mim. Além disso, ele já me disse que quanto
menos eu souber mais segura estarei.
— Jesus, Lana, em que tipo de merda que você está se
metendo?
Vinte e
Um
Acordei exausta.
Na verdade, ontem à noite eu estava tão morta para o
mundo, que nem acordei de madrugada para cuidar de
Sorab. Blake fez isso. Antes de sair para o trabalho, ele
gentilmente me sacudiu, me acordando e disse:
— Devo pedir a Gerry para vir cuidar de Sorab hoje?
Mas eu sacudi minha cabeça.
— Não, eu estou bem.
— OK, eu te ligo no meio da manhã.
Eu saí da cama. Estou tão cansada que me sinto quase
chorosa. Ouço o choro de Sorab e dou um passo
instintivamente em direção ao som. Eu o pego e coloco no
berço. Ele me olha com seus grandes olhos azuis e
choraminga suavemente. Eu sei o que ele quer. Ele quer que
eu o pegue no colo. Mas não posso. Não hoje.
Hoje eu só quero voltar para a cama e dormir. Passo a
mão pelo meu rosto. Vou até a lata de biscoitos. Sabores de
suco de uva orgânicos são o seu favorito. Empurro um na sua
mão. Ele começa a mordiscá-lo e eu tropeço para fora da sala.
Eu tenho um plano. Vou deixá-lo com Billie e vou ter um bom
sono. Eu preciso disso.
Até o momento que chego em Billie eu realmente sinto
tonturas.
— Qual é o problema com você? — Billie diz.
— Cansada. — eu digo. — Você poderia cuidar dele, só
enquanto volto e durmo por algumas horas?
— Eeeii. — diz ela. Sua voz soa distante. — Você não irá
para lugar nenhum assim, venha aqui.
Obediente sigo sua voz. Ela me leva para a cama. Eu
caio, agradecida, sentindo o cheiro de seu spray de cabelo e
perfume. Familiar. Eu viro meu rosto para isso.
Sinto uma mão fria na minha testa.
— Merda. — eu a ouço dizer. — Você está queimando
em febre.
Eu durmo e quando acordo, ouço a voz de Blake, alto,
irritado.
— Por que você não me ligou?
— Não é como se ela estivesse morrendo. Está com uma
maldita gripe. Todo mundo pega isso.
— Vou chamar o médico.
— Quem está te impedindo?
Sinto Blake sentando na cama ao meu lado. Ele parece
estranho, angustiado.
— Estou bem. É só uma gripe.
— O médico estará aqui em breve.
O médico confirma o diagnóstico de Billie.
— Gripe, mas... — ele adverte — ela parece desnutrida.
Talvez até anêmica. Recomendo um check-up completo.
Outros médicos vêm e injetam em mim um coquetel de
vitaminas, C, complexo B. Devo admitir que me senti melhor
depois das injeções. Estou me alimentando com a sopa de
tomate que Laura me enviou. Não parece em nada como a
sopa de tomate Heinz enlatada que estou acostumada. Eu
faço uma careta.
— Está faltando apenas o remédio. — Blake comenta
secamente. Ele me faz terminar tudo.
Estou em seguida, me mudando para o meu antigo
quarto. Os lençóis foram trocados. Eles parecem frios contra
a minha pele. É um alívio cair na escuridão suave, mas eu
durmo mal. Sacudindo e virando a noite toda. Às vezes abro
meus olhos e Blake está sempre lá. Acordado e trabalhando.
Ele trouxe uma mesa para meu quarto. A febre acaba nas
primeiras horas da manhã. Sento na cama e como um copo
cheio de Gelatina. A Gelatina tem um gosto engraçado. Eu
reclamo e resmungo.
— Você é uma paciente tão terrível. Coma tudo. É tudo
bom. Seu corpo está clamando por minerais e vitaminas. —
Blake repreende.
Para meu horror absoluto sou colocada em uma cadeira
de rodas no dia seguinte e ando no corredor e no elevador.
Ele fede a urina e eu vejo a boca de Blake se estabelecer em
uma linha dura. Ele odeia sujeira, caos, desordem, feiura.
Durante uma semana, estou inválida, mas as
dispendiosas injeções diárias e copos de gelatina vermelha,
verde e amarela são úteis, e logo me sinto como eu mesma.
Meu apetite retorna e me sinto bem novamente.
Mas perdi cinco dias de meus 42.
Vinte e
Dois
Encontro Blake para o almoço em Maide Vale, em um
restaurante que reflete o estilo descontraído da área.
— Por que nos encontramos aqui? — Pergunto.
— Tenho algo para te mostrar. — diz ele.
— O quê? — pergunto curiosa. Seus olhos estão
brilhando, ele ri de minha impaciência.
— Por que estragar a surpresa?
— Está bem.
Após o almoço, Tom nos leva a um bloco de
apartamentos no centro de Little Venice. Nós saímos e
pegamos o elevador para o quinto andar. Blake pega uma
chave do bolso e, com um sorriso torto para mim que estou
sem entender e coloca a chave na porta, abrindo-a. Entramos
num apartamento vazio. Sou imediatamente atraída para a
varanda. Tem uma vista maravilhosa de todas as vias fluviais
e canais que compõem Little Venice. Muito surpreendente.
— Você gostou?
— Sim. — digo com cuidado, não sei onde isso vai dar.
E, de repente me bate. Este é o meu beijo de despedida,
presente do final dos nossos 42 dias. Eu mantenho um
sorriso brilhante no rosto, espero que isso não pareça muito
falso, e me viro.
Ele pegou Sorab do parque e está vindo em minha
direção com ele em seus braços.
— Ele vai babar em todo seu terno. — digo, tentando
parecer normal.
— Venha, vou te mostrar o resto. — diz ele. Ele parece
quase animado. Isso meio que me irrita. Lembro-me de Jack
dizendo, nenhum homem quer uma mulher por apenas 42
dias. Você vai acabar como sua amante.
Silenciosamente, eu o sigo ao redor do apartamento de
dois quartos. O quarto principal é ensolarado e espaçoso,
mas meu coração está partido por dentro. Ele quer me
esconder aqui!
— Você acha que Billie vai gostar?
— Billie? — Pergunto confusa.
Ele balança a cabeça.
— Você conhece o gosto dela, você acha que ela vai
gostar?
Eu franzo a testa.
— Por quê?
— É para ela.
— O quê? — Eu ri. Uma gargalhada louca.
— Bem?
Eu ri novamente. O alívio está ressoando dentro de mim.
A alegria nos meus olhos.
— Ela vai adorar.
— Está resolvido, então. — diz ele, em tom satisfeito.
— Está no seu nome, é claro, desde que eu sei que ela
guarda... hum... arranjos financeiros complicados com o
governo de Sua Majestade, mas desde que ela se torne
financeiramente independente, você pode transferi-lo para o
nome dela.
— Por que você está fazendo isso?
— Eu não quero que você vá visitá-la naquele lugar
horrível. Toda vez que você me diz que está indo lá eu quase
tenho urticárias.
Não consigo parar de sorrir.
— Obviamente precisa de um banheiro novo e uma
cozinha, mas as meninas podem redecorá-lo de qualquer
maneira que você quiser. Apenas ligue para Laura e ela vai
abrir contas onde quiser.
Estou tão cheia de alegria que estou quase em lágrimas.
— É a coisa mais maravilhosa que alguém já fez para
Billie.
Ele se tornou subitamente brusco de vergonha.
— Bem, tenho que voltar para o escritório. Tom vai
deixá-la onde quer que você vá. Vejo você em casa, à noite.
Eu jogo meus braços ao redor de seu pescoço. Sinto
tanto amor por ele que estou quase em lágrimas.
— Obrigada! — sussurro. — Muito obrigada. — Eu movo
a cabeça para trás e olho profundamente em seus olhos
bonitos. — Eu realmente, realmente, realmente amo você,
sabia? Com todo o meu coração.
Ele inclina a cabeça e me beija com ternura. Por que ele
não diz que me ama? Eu sei que ele me ama. Alguém que não
está apaixonado jamais poderia fazer algo tão generoso.
Eu vou com ele até a porta. Ele para.
— Para quem você achava que o apartamento era?
— Para mim.
— Para você? — Ele parecia genuinamente confuso. —
Por que você acharia isso?
— Eu pensei que era o meu presente de despedida.
Ele acaricia meu rosto com as costas da mão.
— Você não tem ideia, não é? Os papeis estão no balcão,
perto da lareira. — diz ele, e então sai.
Eu fico na varanda e o vejo sair do prédio, atravessar a
rua e entrar na parte de trás de um Rolls-Royce azul escuro,
com capô prata que estava esperando. Então ligo para Billie.
— Billie, o que você está fazendo agora?
— Observando as minhas unhas secarem.
— Você pode pegar um táxi e me encontrar em Maida
Vale.
— Ué, o que tem em Maida Vale?
— Você quer estragar a surpresa?
— Por que eu iria querer fazer isso?
A campainha toca em menos de meia hora.
Abro a porta com um sorriso estúpido no meu rosto. Eu
não posso evitar. Estou muito feliz e animada por ela.
— Eu já borrei minha unha, então é melhor que seja
bom. — diz ela, acenando com as unhas arruinadas na frente
do meu rosto.
— Desculpe. — digo e ela passa pela soleira da porta.
Assim como eu, ela vai imediatamente para a varanda.
— Uau, isso é que é uma vista, não é? De quem é esse
apartamento?
— Seu.
Ela se vira lentamente.
— Desculpe, o que?
— É seu. Blake comprou para você.
— Para mim? — Ela está franzindo a testa.
— Sim.
Ela aperta os olhos.
— Por quê?
— Acho que ele odeia que a madrinha de Sorab viva em
um conjunto habitacional. Ele estava meio que preocupado
por causa das seringas e o cheiro nas escadas.
— O que você quer dizer com ‗comprou para mim‘? O
que acontece quando os 42 dias acabarem?
— Ainda será seu.
Ela dá um sorriso louco.
— Um Flat em meio à classe média de Little Venice,
apenas para euzinha? Uau. Quer saber, se ele não fosse tão
completamente transparente em todas as negociações que fez
com você, desde que te conheceu, eu nunca acreditaria.
— Bem, está em meu nome no momento, mas assim que
o nosso negócio decolar e você deixar de ser desempregada,
vou transferi-lo para o seu.
Entrego os papéis.
Ela olha para eles.
— Uau, quem diria? — Ela levanta o rosto para o meu.
Há lágrimas nos olhos. Ela pisca orgulhosamente.
Eu sorrio para ela.
— E você sabe o que é ainda mais emocionante? Blake
concordou em pagar a decoração. Você tem carta branca para
decorá-lo da maneira que você quiser.
— Eu só não sei o que dizer Lana — diz ela, de repente.
— Valeu a pena estragar suas unhas? — Provoco.
— Você pode colocar o pirralho no chão por um
momento? — ela pergunta rispidamente.
Coloquei Sorab em seu carrinho de bebê e ela me
envolveu em um abraço de urso.
— Obrigada, Lana. Eu sei que você não reza, por isso
todos os dias eu fico de joelhos e rezo para que tudo vá dar
certo para você. — ela sussurra em meu ouvido.
Eu me afasto um pouco.
— Você reza?
Ela acena com a cabeça solenemente.
— Obrigada. — Digo e sorrio, agradecendo que ela seja
minha amiga.
Vinte e Três Dia 17
Ele me fez deitar no chão do banheiro e me lavou com
água quente. Duas vezes. Era desconfortável. E por duas
vezes eu me sentei no vaso sanitário até que não houvesse
mais nada, e eu me senti estranhamente leve e limpa.
Na borda da cama, ele me empurrou para trás e
segurando em minhas coxas ele espalhou minhas pernas
bem abertas e as prendeu em ambos os lados da minha
cabeça. Minha parte inferior do corpo enrolada para
acomodar suas necessidades. Agora, nada foi escondido de
seus olhos. Completamente exposta a ele, olhei em seus olhos
mascarados.
Ele colocou a mão na minha boceta exposta.
— Você está muito molhada. — disse ele, e
imediatamente depois se afundou em minha boceta.
Ele se enterrou ainda mais profundo. Gritei, mas ele
apenas disse:
— Você foi feita para mim. Este corpo foi feito para mim
e só para mim. Quando eu terminar com você, não haverá
parte do seu corpo que não provei. Cada centímetro seu é
meu e só meu.
Ele saiu de mim e sem deixar de me encarar untou seu
polegar com lubrificante.
—Agora deite de bruços e fique de quatro.
Virei e me deitei com meu rosto apoiado no colchão e
meu bumbum arredondado empinado para cima, em direção
a ele.
— Abra suas pernas para mim. — Obedeci e ele inseriu
lentamente o polegar no anel de meus músculos apertados.
— Eu sou o dono disso. — disse ele, mergulhando
dentro e fora. Dentro e fora.
Estranho, mas não doloroso. Prazeroso, até. Eu sabia o
que ele estava fazendo. Estava me esticando. Tocando as
paredes sensíveis, pressionando as terminações nervosas
vitais até que meu corpo começou a se mover inquieto na
cama. Agora ele sabia que eu estava animada e pronta.
Ele cobriu sua ereção com lubrificante e começou a
pressioná-lo contra mim.
Desta vez, gritei em protesto. Uma dor aguda
desconhecida. Um frisson de pânico no meu ventre. Ele é
muito grande. Eu não vou ser capaz de aguentar.
— Você tem que relaxar. — Ele disse. — Deixe-me
entrar... A dor tem possibilidades, tem um tipo diferente de
prazer. — Sua voz era baixa e sedutora.
Eu queria levá-lo, mas meus músculos permaneciam
apertados, não cooperativos. Ele não podia se mover um
centímetro a mais.
— Você tem que confiar em mim, Lana — disse ele e
chegando a mim começou a acariciar meu clitóris. Eu
comecei a tremer. Se aproveitando do meu estado distraído,
ele empurrou de repente em mim.
A dor foi imediata e forte, e eu gritei, mas ele ficou
imóvel, para permitir que o meu corpo absorvesse a invasão
de fora, a estranha sensação de plenitude quente. Quando
julgou que o meu corpo aceitou, ele empurrou.
Eu gemia, inquieta.
Ainda havia dor, mas mais do que a dor era o prazer de
ser levada por ele. Nessa posição que eu deveria ter
considerado degradante e humilhante, encontrei prazer.
Ele começou a se mover dentro de mim e eu não podia
deixar de emitir os sons de animais estranhos que saíram de
minha boca. Firmemente presa pela bunda e pela estranheza
do que estávamos fazendo, ele gozou rápido, derramando sua
semente dentro de mim, gritando meu nome. Ele se dobrou
contra mim, mas ele não se retirou. Ao contrário, ele se
aproximou e começou a dar prazer ao meu clitóris.
— Aperte os músculos — Ele disse e eu obedeci.
As sensações desconhecidas de pressão e prazer
percorreram meu corpo. Cheguei ao clímax, tremendo e
tremendo, tão rapidamente quanto ele. Por algum tempo ele
permaneceu dentro de mim. Quando saiu, eu senti, pois o
queria de volta, dentro de mim. O seu lugar era dentro de
mim.
Cada parte de mim chora por ele, quando ele sai.
Coloquei a caneta para baixo e fechei meu diário. Hoje
em dia, escrevo sem ressentimento, ansiosamente, porque é a
única comunicação verdadeira e honesta que tenho com ele.
Eu o senti distante. Se afastando de mim. Alguma coisa o
está incomodando. Os dias passam em uma névoa de sexo,
me parece mais como um desejo desesperado de se fundir
fisicamente comigo, para esquecer por um tempo tudo o que
o incomoda.
Uma vez ele acordou, encharcado de suor, gritando com
a voz rouca, quase soluçando.
— Ela não, por favor.
Quando toquei nele, ele se virou para mim com os olhos
selvagens, e me reconhecendo, caiu na curva do meu pescoço
com gratidão, e me abraçou com tanta força, que gemi. Mas
quando perguntei a ele sobre seu pesadelo, ele sussurrou em
meu ouvido:
— Só não me deixe.
Como se eu alguma vez fosse deixá-lo. Como se fosse eu
que tivesse definido um limite de 42 dias em nosso tempo
juntos.
Vinte e
Quatro
Billie me liga. Ela quer que eu deixe Sorab com ela à
tarde. Ela está solitária e sente falta dele. Deixo Sorab com
ela e vou para a Sloane Square. Quero comprar uma camisa
rosa para Blake. É uma espécie de piada. Ele acha que
camisas rosas são para maricas, e eu acho que elas são um
tesão e só homens machos realmente podem usá-las. Acho a
camisa que quero e estou prestes a voltar para casa quando
de repente paro.
Rupert Lothian.
Há dois homens com ele, homens de negócios em ternos
escuros. Ele deve ter almoçado com eles. Por um momento,
nós dois estamos tão surpresos que nenhum de nós fala, mas
ele é o primeiro a se recuperar.
— Que agradável surpresa — diz ele sem problemas, e
coloca uma mão pesada, no meu braço e agarra. Tento me
livrar dele discretamente, mas ele aperta mais forte. Ele se
vira para os dois homens e diz a eles que vai ligar mais tarde.
Eles se despedem e saem juntos, e Rupert volta sua atenção
para mim.
— Estava pensando, outro dia, o que aconteceu com
você. Como você está linda!
— Estou bem, mas estou atrasada e realmente preciso
ir. No entanto foi bom vê-lo novamente.
— Qual é a pressa? Venha tomar um café comigo. — ele
convida. A voz dele é gentil e adulada, mas ainda tenho a
memória de sua saliva com sabor de ostra escorrendo pelo
meu pescoço, o dedo cavando minha virilha, tentando me
penetrar. Se ao menos eu fosse grande e forte o suficiente
para ser capaz de dizer: ―Não, pare. Não olhe para mim, não
me toque. Se afaste de mim.‖ Mas eu não sou forte o
suficiente e me lembro da força masculina pura das suas
mãos de jogador de rúgbi, quando ele me prendeu contra a
parede e abusou de mim.
— Talvez em outro momento. — Dou um passo para
trás, mas ele se recusa a abrir mão de seu poder sobre a
minha mão.
— Você ainda está com ele?
— Isso realmente não é da sua conta.
— Por uma questão de fato, estou procurando um novo
negócio. Você está disponível? Mesmas condições que antes?
Eu torço meu braço e tento me livrar, mas seu aperto é
como uma braçadeira de ferro. A fúria que eu nunca
expressei antes aumentou como bile dentro de mim. Sem
pensar levanto meu outro braço e bato nele, e
instantaneamente ele me solta e dá um soco em minha
direção. Deveria ter me acertado direto na cara, mas ele só
raspa meu queixo. Olho de surpresa quando ele cai no chão.
Deitado de costas. Apagado. Olho para cima, atordoada. Um
homem está de pé na minha frente. Fico olhando para ele. O
sangue ressoa em meus ouvidos.
— Você está bem? — Pergunta solícito. Ele está olhando
para o meu queixo.
— Sim, acho que sim.
—Bom. É melhor você ir, então.
— E ele? — Olho para Rupert, estatelado, sem se mover.
Ele poderia até mesmo estar morto, pelo que eu sei.
— Não se preocupe com ele. Vou ter certeza que ele está
bem.
Concordo com a cabeça, mas a coisa toda é surreal. A
velocidade com que este homem entrou em cena e o rápido
movimento, totalmente profissional que derrubou um homem
enorme como Rupert. Olho de novo para o homem. Ele tem
cabelo cor de areia, corpo magro e olhos duros. Vestido com
uma camisa preta, jaqueta de couro e calça jeans, ele poderia
ser qualquer um na rua, mas sei que não é. Ele não apareceu
aqui por acaso.
Sua bondade é uma miragem. Pague o dinheiro certo e
ele facilmente quebraria meu pescoço. Dou um passo para
longe dele.
— Não se esqueça de suas compras. — ele me lembra
educadamente.
Viro e olho para a sacola de compras caída na calçada. A
camisa rosa está fora da sacola. Pego e, sem uma palavra,
sem agradecer a ele, me afasto rapidamente. Como se eu
estivesse fugindo da cena de um crime. Talvez eu esteja.
Ando por Deus sabe quanto tempo, minha mente em um
turbilhão. Passo sobre passarelas lotadas onde as pessoas
esbarram em mim, mas não sinto nada. Quando finalmente
acordo, paro de repente. Uma mulher bate em mim e
pragueja deselegante. Ela perde sua raiva quando eu me viro
para me desculpar. Ela olha para o meu queixo, resmunga
algo e continua a andar.
Eu ando em direção à parede de um edifício e encosto
nele.
Por fim, mais uma peça se ajusta na quebra-cabeça
louco. É por isso que Blake, de repente apareceu no
apartamento quando Jack veio me visitar. É por isso que ele
apareceu de forma tão inesperada, o seu comportamento tão
estranho e reservado no dia em que a mãe de Victoria fez
contato e ele de repente me levou para Veneza para se
esconder, para pensar, e se reagrupar. E isso também é como
ele sabia ver na minha cara o dia que beijei Jack.
Ele sempre me seguiu. A porra do tempo todo.
Sinto raiva e confusão. Por quê? Por que ele me
espionava? Ele é tão cheio de segredos. Tão misterioso.
Até o momento que eu chego ao apartamento me sinto
perdida e insuportavelmente triste. Minha vida inteira é uma
mentira bagunçada. Ser secretamente seguida e observada
parece uma extensão de todas as outras mentiras que meu
relacionamento com Blake implica. Abro a porta da frente e
Blake vem caminhando em minha direção. Claro. Ele já sabe
sobre Rupert. Estou na porta e olho para ele. Seu cabelo está
desgrenhado, a gravata foi tirada e está pendurada a poucos
centímetros de sua garganta. Mas são dos olhos que eu não
consigo desviar o olhar. Eu nunca vi os seus olhos tão
selvagens e com medo.
Ele coloca a mão suavemente no meu queixo latejante.
Recuo ligeiramente. Imediatamente, ele retira a mão, e eu
juro que vi lágrimas nadando em seus olhos. Então, ele me
puxa para seus braços e me aperta. Eu o ouço respirar
fundo.
— Eu estava apavorado. Onde você esteve esse tempo
todo? — Ele pergunta em voz baixa.
— Estava andando.
— Por que você desligou o telefone?
— Eu não desliguei. Tinha pouca bateria. Deve ter
acabado.
— Oh meu Deus, Lana. Não faça isso comigo de novo. —
Ele dá um passo para longe de mim. — Ele te agarrou. Ele
machucou você em outro lugar?
Balancei minha cabeça, mas ele puxa as mangas do
meu casaco e examina meus braços. Ele toca as contusões
leves e olha para mim. Há dor em seus olhos.
— Eu cuidei do filho da puta. Ele nunca mais vai
machucar outra mulher em sua vida.
Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo tanto que
nada mais importa. Eu penso, mas não digo. Eu não posso.
Algo está muito errado. Eu não posso só pensar em mim. Há
mais do que apenas eu nesta equação. Há Sorab. E eu vou
amá-lo do jeito que minha mãe me amava. Vou dar tudo. E
tudo poderia significar nenhum Blake para SEMPRE. As
palavras da mãe de Victoria ainda estão frescas. “Você e seu
filho estão em grave perigo.” Parece que ela estava certa.
Engoli o caroço na minha garganta. Estou com tanta dor
que me sinto doente.
— O quê? — Ele pergunta preocupado.
— Nada — digo. Mas eu realmente sinto tonturas. Se ele
não estivesse aqui, eu me jogaria na cama e gritaria, porque
não posso ter esse homem. Eu aperto os dentes.
— Venha. — diz ele pegando minha mão e me levando
para o quarto. Seu plano é simples. Como Billie diria, ele é
um homem, o que se pode esperar? Ele quer que eu durma.
Quando eu acordar tudo estará OK.
Então eu deixei ele me colocar na cama. Eu o olho com
os olhos em branco. Sei que ele não entende. E que ele nunca
entenderá. Homens são fortes de uma forma física, eles não
sabem como serem fortes de forma emocional. Ele acha que
se eu não tenho contusões, não tenho nenhuma dor. Agarro
sua mão.
— Por que você tem me seguido?
Ele passa a mão pelo cabelo. Ele se afasta de mim. Anda
pelo tapete do quarto como uma criatura enjaulada. Em
seguida, se senta ao meu lado.
— Você realmente quer a verdade, Lana?
— Sempre.
— Mesmo que isso faça você parecer uma mentirosa?
— Sim. Mesmo assim.
— Porque eu não podia confiar em você com meu filho.
Não naquele lugar horrível em que vivia.
Meu queixo cai.
— Jesus, Lana, o que você espera que eu faça? Esse
lugar está cheio de viciados em drogas e canalhas. Eu não
posso suportar quando você vai lá e muito menos uma
coisinha indefesa como ele.
Eu suspiro.
— Você sabia? O tempo todo?
— Oh, Lana, Lana, Lana. Você deve me achar um bobo.
Você realmente acha que não sei que ele é meu filho? Eu
sabia, desde o momento em que coloquei os olhos nele.
Estou tão chocada que não posso dizer nada. Então, eu
me lembro de como ele ficou quieto quando olhou para Sorab.
E então ele fechou os olhos e casualmente me perguntou:
— Será que ele chora muito?
E esse foi o primeiro dia que ele passou a noite inteira
comigo. Esse foi o primeiro dia em que ele parou de beber
exageradamente e foi o primeiro dia em que começou a olhar
para mim, sem ódio. Foi o dia em que entendeu que eu o
deixei não porque fui paga, mas porque estava grávida. No
dia seguinte, as coisas dele chegaram e ele começou a viver
no apartamento comigo.
— Esta charada elaborada... Era para você. Para o que
você estava jogando. Eu queria saber que tipo de mulher você
era. Que tipo de mulher você é, Lana? Você deita comigo
todas as noites e nunca pensou em me dizer que eu tenho
um filho?
Eu me sento.
— Eu estava com medo.
— De quê? De mim?
— Estava com medo de que você ou sua família fossem
tirá-lo mim.
— Do que você está falando? Eu nunca o levaria para
longe de você.
— Não é o que diz o acordo de confidencialidade que
assinei. Se eu tivesse seu filho, teria que desistir dele.
Ele se senta na cama e encosta a testa na mão.
— Isso tudo é tão fodido. — Ele se vira para mim. —
Sinto muito, Lana. Eu era tão estúpido.
— O que acontece agora?
— Nada. Por enquanto.
Um pensamento de repente me ocorre.
— Então você estava me seguindo porque você está
preocupado com a segurança de Sorab?
Ele balança a cabeça, mas seus olhos são cuidadosos,
vigilantes.
— Eu não estava com Sorab hoje. — Minha voz é neutra.
— Você tem sua própria sombra. Você acha que eu iria
proteger meu filho, mas não sua mãe? — Seu olhar é duro,
intransigente, se recusando a ter vergonha por seus métodos
desleais.
— Não gosto de ser vigiada. Você poderia tirar o meu
vigia?
— Depois de hoje? Você está brincando comigo? — Ele
se levanta e coloca alguma distância entre nós. Ele se vira
para olhar para mim. — É para sua própria proteção, Lana.
— Hoje foi uma exceção. Eu não preciso ser protegida.
— Qual é o ponto, Lana? Não é como se isso estivesse na
sua cara, não é? Você não sabia até hoje que o Brian era sua
sombra.
— Isso não significa que seja melhor.
Sua mandíbula tenciona.
— Eu não posso trabalhar. Não consigo me concentrar.
Na verdade, eu acho que realmente fico muito louco quando
não sei se você está bem. Você não pode simplesmente me
deixar feliz com esta merda?
— Por que você é tão paranoico? Existe algo que eu
deveria temer?
Ele vem para mim.
— Tenho minhas razões. Você e Sorab são minha
prioridade.
Eu olho para ele com teimosia.
— É realmente pedir muito, Lana?
— Está bem.
Ele respira, com um grande suspiro de alívio.
— Obrigado.
Eu toco sua mão.
— Houve um tempo em que eu costumava pensar que os
homens árabes eram loucos por manter suas mulheres
cobertas e escondidas. Agora sei de onde a necessidade vem.
— Ele enfia o dedo na parede dura de seu estômago. —
Daqui.
Deus, eu amo esse homem. Tanto que dói. Realmente
dói.
Vinte e
Cinco
Acordei na luz fria e azulada da aurora. Por um
momento pensei estar na talhada cama de dossel, confusa
pelo ambiente, e então eu me lembro. Estamos em
Bedfordshire, na propriedade dos Harrington onde a irmã de
Blake vive. Chegamos às portas elétricas de ferro forjado no
escuro, e corremos até as escadas curvas à luz da lua. Era
como eu imaginava jovens amantes dos tempos antigos que
se encontravam, em segredo e na calada da noite. Nós caímos
na cama e eu violei Blake depois de beber uma garrafa inteira
de champanhe vintage diretamente da garrafa.
Enterro-me no delicioso calor de seu corpo. Ele não
acordou, mas colocou uma mão pesada no meu estômago.
Viro a cabeça e sinto o cheiro das folhas. Lençóis engomados.
Minha avó costumava ter lençóis engomados em sua casa.
Blake disse que eu poderia explorar a casa e o jardim,
enquanto ficasse longe da ala oeste, onde sua irmã vive.
E agora desejo ir para o extenso jardim. Eu levanto a
mão de Blake e saio de debaixo dela. O ar da manhã está
surpreendentemente frio. Eu me visto rapidamente. Há um
grande cobertor dobrado ao pé da cama. Eu o jogo sobre
meus ombros e saio do quarto. Toda a casa está escura e
silenciosa. Ando pelo corredor e fico no topo da bela
escadaria. Eu sou atraída por uma pintura.
A família em cena no café da manhã. Provavelmente
vitoriana. Chego mais perto. Um homem com as bochechas
rosadas está colocando ovo em sua boca; alguns pedaços
estão caindo de sua colher. Ele está segurando o copo de ovos
muito perto de seu queixo. Percebo que não é uma imagem
que pretende retratar a família como digna ou grandiosa, mas
é uma paródia grosseira da ganância sem precedentes. É
também, ironicamente, uma celebração da ganância.
Minhas mãos correm pelo corrimão polido.
Tento imaginar Blake quando era criança, correndo
nesses espaços, enquanto passo pela sala de música com seu
mobiliário de valor inestimável antigo, suas raras obras de
arte, e suas tabelas de orquídeas exóticas e sinto uma espécie
de tristeza persistente. Nada realmente feliz aconteceu nesta
casa. Nem mesmo as crianças que corriam por estas salas
eram felizes. Toda a casa está clamando pelo som de uma
risada.
Passo por outra sala, onde as cortinas pesadas ainda
estão fechadas e envolvida no mesmo tipo de tristeza
desesperada. Através dessa sala posso ver a sala de recepção
principal. No hall de entrada, que se parece com o interior de
um caracol, paira um Salvador Dali, azul com dançarinos em
rituais nus. Parece quase como uma orgia para mim.
Atravesso o piso de mármore preto e branco e saio pela porta
da frente.
Lá fora está mais quente do que dentro de casa. O sol
está se infiltrando através das árvores. A vista é tão magnífica
como a de qualquer antiga casa senhorial. Ando ao redor da
lateral do edifício, admirando a terra. Lá vejo uma estufa, de
tamanho industrial. Flor, legumes, ervas e frutas são
abundantes. Alguns atingem o teto. No meio há um grande
lago hidropônico.
Ao lado da estrutura de vidro, eu me encontro com um
pavão. Nunca vi um pavão antes e ando lentamente
centímetros mais perto. De repente, ele abre a cauda e eu
estou chocada com o quão bonito ele é. Um pavão branco
puro vem participar. Eu gostaria que abrisse sua cauda
também, mas isso não acontece. O Instinto me faz olhar para
cima e vejo Blake, de pé na porta que dava para a varanda de
pedra, fora do quarto em que dormia.
Ele está olhando para mim.
Aceno para ele. Ele não acena de volta, mas abre a porta
e sai para a varanda. Sem camisa, ele está olhando para
mim. Suspiro com a visão. A maneira como a casa emoldura
seu corpo. Sinto o turbilhão de privilégios em torno dele,
como uma mão invisível que o captura com suas garras. Ele
pertence a este ambiente esplêndido. Em todos os sentidos,
ele é diferente de mim. Imagino o que ele deve ver. Uma
mulher envolta em um cobertor. Eu não sou real ou
imponente. Eu sou aquela que não se encaixa. A estranha.
Depois de um grande café da manhã, Blake me leva
para conhecer sua irmã.
A sala de recepção na qual ela espera foi pintada em
rosa suave. Ela está acompanhada de uma mulher em um
uniforme de enfermeira e está vestida com um longo vestido
azul e camisola. Um prendedor de borboleta está em seu
cabelo. Seus olhos são azuis como os de Blake, mas por outro
lado ela não é nada como ele. Sua testa é baixa e se projeta
para fora e sua pele é muito pálida.
— Olá, Bunny. — Blake diz em voz baixa.
Ela deixa cair o queixo timidamente e aponta para ele.
— Está certo. Seu irmão veio para vê-la. Isso não é legal
da parte dele? — Diz a enfermeira.
Ela acena com a cabeça vigorosamente.
— Gostaria de mostrar o jardim zoológico?
Mais uma vez ela balança a cabeça e sorri.
— Talvez você também goste de mostrar alguns dos
truques que ensinou a seus animais.
Ela sorri de emoção.
Blake caminha até ela.
— Você vai mostrar seus animais para a minha amiga
também?
Pela primeira vez, seus olhos reparam em mim. Eu
sorrio.
— Olá! — eu digo.
Ela começa a balançar a cabeça e sorrir timidamente.
— Vamos lá, então. — Blake diz e estica a mão para ela.
Ela coloca sua mão pálida na dele, e saímos em direção
a uma tenda branca, onde existem cadeiras ao redor dela e
um gabinete de areia no meio. Tomamos nossos lugares e
Elizabeth vai ao pódio como a estrutura na entrada do recinto
de areia. Ela bate a mão e um cavalo corre. Ele galopa em
torno do recinto algumas vezes e chega a parar alguns metros
à sua frente. Ela levanta a mão e o cavalo sobe nas patas
traseiras, com as dianteiras no ar. Ela deixa cair à mão e o
cavalo passeia em direção a ela. De seu bolso, ela pega um
cubo de açúcar e segura em sua mão. O animal o aceita com
delicadeza e ela se vira para sorrir com orgulho para nós.
— Muito bem. — felicita Blake.
Elizabeth bate palmas de alegria.
Estou verdadeiramente espantada. É muito
impressionante ver uma mulher com a capacidade mental de
uma criança treinar com sucesso animais para executarem
truques e obedecê-la. Depois vemos o elefante indiano de
Elizabeth sentar em um banquinho e girar em torno de um
círculo sobre as patas traseiras, uma dança de um cãozinho
bonito ao seu comando, e seu macaco de estimação andar de
bicicleta.
Quando o show acaba, Elizabeth agarra a mão de Blake
e começa a puxá-lo para fora da tenda. Blake faz gestos com
a outra mão para eu segui-los. Ela o leva para seu quarto,
uma sala cor de rosa cheio de bonecas, livros infantis e um
cavalo de balanço especialmente feito para acomodar um
adulto. Tomando uma escova de cabelo de sua penteadeira,
ela coloca em sua mão e como uma criança corre
ansiosamente para a cama e se senta de lado na borda.
Primeiro Blake parece surpreso dela se lembrar de um
ritual de tantos anos atrás, mas então ele vai e se senta atrás
dela. Com mãos suaves ele tira o prendedor de borboleta do
cabelo dela, e começa a escovar o cabelo exuberante, escuro
com longos movimentos certeiros.
A menina agarra em sua camisa e soluça, quando é hora
de ir. Ela fica histérica quando a enfermeira e um funcionário
tentam segurá-la para longe e eles têm que sedá-la. No carro
Blake estava muito calado e perdido em seus próprios
pensamentos. O jeito que ela se agarrou desesperadamente a
ele havia me angustiado muito.
— É incrível como ela treinou todos os animais, não é?
— Digo, na tentativa de afastá-lo de seus pensamentos
infelizes.
— Ela não os treinou. Um treinador de animais trabalha
com eles e todo mundo finge que é ela que os tem treinado.
— Oh! De quem foi à ideia de fazer isso?
— Da minha mãe.
A brevidade da sua resposta me diz para não ir lá. Como
sempre, qualquer conversa de sua família faz com que ele se
cale. Viro a cabeça e olho para o campo e penso na criança
totalmente trancada naquela casa triste, e a mulher que não
vai reconhecer a existência de sua filha, mas que vai elaborar
maneiras para criar um circo privado, em que sua filha pode
ser a apresentadora.
Vinte e Seis
É uma noite de segunda-feira. Blake já telefonou para
dizer que vai se atrasar. Ele tem uma reunião. Estou na cama
lendo quando ele entra. Ele para pôr um momento na porta,
simplesmente olhando para mim. Ele parece diferente.
— Qual é o problema? — Pergunto. Ele se senta na
cama ao meu lado e sua respiração embriagada me atinge
instantaneamente. Eu prendo minha respiração.
Ele acena com conhecimento de causa, sabiamente.
— É isso mesmo... estive bebendo.
E, em seguida, sob o cheiro da bebida, o perfume. Caro.
A flor e a erva almiscarada. Senti esse cheiro antes. Mais de
um ano atrás. Quando ele voltou de sua festa de aniversário.
A realização me atinge como um soco no estômago. Victoria.
Eu paro de pensar. Dor e fúria estão correndo no meu
cérebro. Levanto minhas mãos e o empurro. Ele não está
esperando essa reação, então cai para trás, sem jeito, no
chão. Eu ouvi o baque de seu corpo caindo.
— Que porra é essa? — Ele xinga.
Eu voo em direção ao seu corpo de bruços e com as
mãos rápidas eu desabotoo a braguilha e puxo a calça para
baixo de seu quadril. Rasgo furiosamente sua cueca. Eu
curvo a cabeça e sinto o cheiro de sua virilha. Mas o odor é
familiar. Só dele. Sento para trás em meus calcanhares e olho
para ele. Ele levanta a cabeça do chão e está olhando para
mim, espantado.
— O que vale para um... Você estava com uma mulher.
Senti o perfume dela em você.
Ele deixa sua cabeça cair para o tapete e suspira
pesadamente.
— Sim, minha mãe.
Merda. É claro que a mãe estava na festa de aniversário
no ano passado também. Desviro seu corpo de bruços, e
estudo seu rosto.
— Ops... Desculpe.
— Por que você não termina o que começou Lana?
— Sim, senhor. — respondo, e começo a puxar a calça.
— Tire a roupa e sente-se em mim, mas de costas. Eu
quero ver meu pau desaparecer dentro de você, e o seu
bumbum bonito bater na minha virilha.
Tiro minha camisola.
— Cavalgue-me forte e rápido. — diz ele e eu bato em
cima dele.
—Ah, sim. — ele geme.
Ele está bêbado e leva mais tempo do que o habitual
para gozar. No momento em que ele goza, estou suando e
exausta. Eu não gozei, mas tudo que quero fazer é deitar ao
lado dele no chão. Saio dele e estou prestes a cair para o lado
quando ele me pega.
— Quero que você se esfregue na minha coxa até gozar,
mas desta vez de frente para mim, para que eu possa te ver.
Sento, nossas essências se misturando debaixo de mim.
Os pelos em sua coxa me agradam, e parecem estranhos em
minha boceta aberta. Começo a me esfregar sobre ele
enquanto ele me olha, com olhos ávidos. O espasmo do gozo
vem rapidamente para meu corpo exausto. Caio contra seu
corpo, meu peito esmagado contra os ossos da sua costela,
meu rosto pressionado em seu peito.
— Como uma mulher que teve um bebê tem uma boceta
tão apertada? — Sua voz é desmedida, sonolenta.
Eu sorrio para mim mesma.
— A médica que fez o parto de Sorab disse que sempre
coloca alguns pontos extras. Para o marido. — disse ela.
Blake ri.
— Isso deveria ser uma prática padrão.
Descanso meu queixo em seu peito.
— Por que você ficou bêbado hoje?
Ele suspira pesadamente.
— Porque hoje tive que tomar uma decisão muito, muito
difícil.
Eu levanto minha cabeça por sobre a palma da mão e
olho nos olhos dele.
— Envolvendo sua mãe?
Ele traz um dedo em meus lábios.
— Shhh...
Suas palavras... eu suspiro e solto a cabeça para trás
para baixo. Todos esses segredos. Por que ele não pode
simplesmente confiar em mim e me dizer.
Sua voz é um sussurro.
— Uma coisa engraçada, não é? Você sabe a coisa que
eu mais senti falta depois que você saiu?
— Sexo?
— Sexo? Eu dormi com centenas de mulheres.
Sinto uma dor lancinante com suas palavras.
— No começo, eu tinha todas elas; morenas, negras,
pardas, ruivas, loiras, para poder escolher. Perdi-me na cama
de todas elas. Então comecei a ser um pouco mais exigente.
Elas tinham que parecer com você, pelo menos, a parte de
trás. Se eu bebesse o suficiente e mantivesse as luzes
apagadas, então eu poderia enganar a mim mesmo que era
você, mas no segundo que eu acordava, sabia: não era você.
Todas, cada uma delas, cheirava a sexo barato. Ninguém
tinha o seu cheiro. E eu praticamente corria porta afora.
Se foi para me consolar ou lisonjear, tem o efeito oposto.
Não gosto da ideia de todas as mulheres com as quais ele
esteve desfilando diante de meus olhos. Tudo o que ele teve
comigo, teve com outras pessoas. Não há nada de especial
entre nós.
— Foda-se o meu cheiro! Não há nada que possamos
fazer juntos, que você não tenha feito com outra pessoa?
Por um momento, ele simplesmente olha para mim como
se estivesse implorando para eu me desculpar. Não me
desculpo. A expressão amarga cruza seu rosto. Ele senta.
Quase posso acreditar que ele não está mais bêbado, e sim
sobriamente frio.
— Suba na cama. — diz ele.
Obedeço imediatamente. Este Blake me lembra muito do
velho Blake. Longe e distante. Frio. Um estranho. Estou
quase lamentando minha pergunta. Ele se levanta, vai para a
gaveta aonde todos os brinquedos sexuais que nunca cheguei
a usar são mantidos, e tira um vibrador. Este não é grande,
como o preto e laranja com o qual ele me humilhou. É
branco, em forma de um míssil, e de um tamanho modesto.
Ele tira a camisa.
— Deite-se. — diz ele. Sua voz está cortada e muito
assustadora. Este não é o meu Blake. No entanto, ele é meu.
Este Blake vive dentro do Blake que eu quero, então quero
este Blake também. Este é meu adversário, mas também
guarda segredos. Segredos que quero desvendar. Não sou
toda luz e ele não é todo escuridão. Para ser completo,
conhecê-lo completamente, só tenho que abraçar a sua
escuridão e torná-la minha.
Se tenho coragem suficiente?
Claro que sim.
Vou aonde o amor me levar.
Ele coloca o vibrador na mesa de cabeceira perto dele.
Em seguida, se posiciona de modo que seu pênis está sobre a
minha boca. E noto a coisa mais surpreendente de tudo. Seu
pênis está flácido. Isso não o excita, no mínimo. Ele está
fazendo isso por mim. Lentamente, ele baixa seu pau em
minha boca. Nunca o tive meio mole antes e é estranho. Mas
isso me faz determinada.
Começo a chupar tão forte e tão bem que ele cresce
rapidamente na minha boca, dobrando de tamanho. Ele pega
o vibrador e o insere em minha vagina escorregadia. Ele torce
dentro das paredes úmidas, em seguida, o remove, e põe na
minha mão. Eu o seguro, surpresa. Não está ligado.
— Vá em frente. Foda-me. — ele ordena.
Mas estou paralisada. Isto não é nem sexy e nem erótico
para mim. Não quero fazer isso, e eu posso ver em seus olhos
que se trata de um território desconhecido para ele. Ele pega
minha mão e, a posicionando sobre o reto, empurra minha
mão com força para cima. Não há nenhuma lubrificação real.
Apenas os sucos do meu próprio sexo. O vejo com uma careta
de dor.
— Chupe-me e me foda com força. Use as duas mãos. —
ele ordena, sua voz entrecortada, estranha.
Mas eu não posso. É quase impossível para mim feri-lo.
— Mais forte. — ele rosna os olhos duros, irreconhecível.
Desta vez, obedeço. Com ambas as mãos. O mais forte que eu
posso. Apenas para abraçar a sua escuridão... Eu o vejo se
esforçando com a dor e o prazer sombrio e inegável. Eu sei,
por que já experimentei.
Eu o sugo tão forte em meus lábios que o machuco, mas
sei que de alguma forma isso é muito importante. Uma ou
duas vezes ele empurra tão profundamente em minha
garganta, quase vomito e engasgo. Finalmente, vejo que ele
está próximo. Ele vai gozar. Ele começa a esticar e apertar.
Aumento minha velocidade, e ele está quase lá. Sempre, no
auge do clímax, ele fala meu nome. Desta vez, ele não diz.
— Não, pai. — ele grita em seu lugar. Sua voz é alta e
estranha, como de uma criança assustada.
Congelo, com seu pau ainda enchendo a minha boca.
Vinte e
Sete
O mesmo acontece com ele, mas o clímax é maior do que
nós – do que seu horror, sua vergonha, seus segredos, seu
orgulho ou do que meu choque. Ele se curva enquanto atira
seu esperma quente em minha garganta. Eu tiro o vibrador
dele, e ele sai da minha boca. Ele está se afastando de mim.
Mas pego sua mão. Ele para, ainda de joelhos, e olha para
baixo, para mim. A arrogância está escrita em cada linha de
seu rosto.
— Blake?
— O quê?
— Sinto muito.
— Não sinta. Você queria algo que nunca fiz com
qualquer outra mulher. Agora você tem.
— Não, eu quero dizer sobre o seu pai. — Ainda me
lembro de nossa conversa um ano atrás, quando ele se
recusou a condenar os pedófilos, dizendo que Deus os fez
dessa maneira e somente Deus pode condená-los.
— Seu pai abusou sexualmente de você, não foi?
— Meu pai não fez isso pela gratificação sexual.
Franzo a testa.
— O que você quer dizer?
— Ele fez isso para consolidar seu controle sobre mim.
— O quê?
— Ele fez de mim a pessoa que sou hoje. Ele teve de me
ensinar disciplina. Nossos costumes são diferentes dos seus.
Minha boca fica aberta. Ele está no mesmo planeta que
eu? Ensinar? Disciplinar? Nossos costumes são diferentes?
— Que porra é essa que você está falando, Blake?
— Você não vai entender.
— Droga, eu não sei. Seu pai te estuprou e te brutalizou
quando era uma criança, e você acha que é uma forma de
disciplina?
— Minha educação foi... vigorosa e difícil, muito difícil.
Não desejo isso a ninguém mais, mas sem ela eu não estaria
apto a implementar a agenda.
— Que agenda?
— Sem os nossos serviços bancários, o tráfico ilegal de
drogas pararia em um piscar de olhos. Sem nossas políticas
econômicas, não haveria pobreza ou fome. Sem nosso
dinheiro, guerras nunca seriam travadas. Temos que ser frios
e insensíveis por necessidade.
Por alguns segundos, minha mente fica vazia. Essas
pessoas são monstros, que deliberadamente treinam seus
filhos para serem monstros também.
— O seu pai disciplinou seus dois irmãos também?
— Não. Quinn, não.
— Por que não o Quinn?
— Quinn nunca foi concebido para liderar. Só Marcus e
eu iremos assumir o comando do império.
— Você está planejando fazer isso com nosso filho?
— Não. Nunca. — Seus olhos estavam cheios dor, mas,
novamente, ele se fechou para mim. Os segredos estão
nadando na superfície. Eu não posso compreendê-los. Há
mais. O que mais ele está escondendo?
Jogo minha última carta.
— Cronos é seu pai?
A mudança nele é tão imediata e tão violenta, que mal
posso acreditar nos meus olhos. Ele se agacha sobre as
quatro patas, como um gato, com o rosto muito próximo ao
meu, e seus dedos apertam contra a minha boca, mas é o que
está em seus olhos que me faz sentir o primeiro frisson real
do rastreamento do medo. Eles estão desesperadamente
suplicando, quando ele balança a cabeça. Eu entendo o apelo
silencioso.
— Não diga mais nada.
Começo a tremer de medo real. O que é que é tão
terrível que colocou aquela expressão em seus olhos?
Que segredos perigosos meu amante está escondendo?
Eu me recordo novamente de quando ele disse em
Veneza que as paredes são finas e podem até ter ouvidos. Ele
ainda está olhando para mim, com a mesma expressão de
ansiedade, temendo que eu possa decidir não obedecer ao
seu apelo silencioso. Quando aceno um pouco, ele diz
friamente, insensivelmente,
— MeineEhreheißtTreue.
— O que isso significa?
— Minha honra é a lealdade.
E eu sei imediatamente que essas palavras não são para
mim. As paredes têm ouvidos. Franzo a testa. Tentando
descobrir o que está acontecendo. E então pego meu diário da
mesa de cabeceira e rabisco rapidamente nele.
— Este quarto está grampeado?
Ele balança a cabeça lentamente e eu entendo que não é
uma resposta, mas um lembrete do seu fundamento de
antes. Não diga mais nada.
— Estou cansado. — diz ele em voz baixa. — Vamos
dormir. — Ele levanta os dedos dos meus lábios.
— Sim, vamos dormir. As coisas sempre parecem
melhores na parte da manhã. — consinto, minha voz
trêmula, quase um sussurro.
Ele sorri para mim. Com gratidão. Pelo quê? Por quê?
Então ele me beija na boca.
— Boa noite, minha querida.
— Eu te amo. Eu mexo a boca silenciosamente.
Ele sorri tristemente e cobre nossos corpos com o
edredom. Durmo com seu corpo curvado firmemente em
torno do meu, mas durmo mal. Sonhos, pesadelos. Todos
quebrados e desconexos. Estou chamando-o, mas ele tem seu
rosto virado para ventos fortes e pedras irregulares. Sempre
estou com medo por ele. Nunca sou eu em perigo, mas ele.
Acordei quando Blake, de repente, saltou e se sentou. O
amanhecer está surgindo no céu.
— Tenho que ir para o trabalho. — diz ele.
— Tudo bem. — Eu me sinto muito pequena e perdida.
Fico parada na porta do quarto de vestir assistindo-o se
arrumar para o trabalho.
— Você sabia que nos restam apenas dez dias?
Ele me olha no espelho.
— Sim. — ele diz e continua a atar o nó da gravata.
— A máquina de café deve estar ligada a esta hora. Quer
um?
— Obrigado. — diz ele, com um sorriso.
Quando estou colocando o pires sob seu expresso, Blake
entra na cozinha. Mesmo hoje, com meu coração tão pesado,
ele faz meu coração pular uma batida. Ele parece um pouco
pálido, mas é tão masculino, tão lindo. Eu quase posso
esquecer o que aconteceu ontem à noite. A voz da criança
magra, implorando para o pai parar. Eu vejo o movimento
que sua garganta faz quando ele bebe o café. É incrível
pensar que dentro deste homem realizado e totalmente
confiante, vive uma criança danificada, da qual até a voz é
um pouco assustadora. Mas hoje também é diferente de
qualquer outro dia, por um motivo diferente. Ele está
mudado. Eu posso sentir isso. Não a maneira como se sente
em relação a mim, mas por dentro. A determinação de aço.
Ele termina o café e vem até mim.
— O que você vai fazer hoje?
— Eu não sei. Provavelmente, um monte de coisas.
Ele acena com a cabeça distraidamente. Ele já está em
outro lugar. Tomado pela determinação de aço. Me beija. Em
seguida, abre a boca como se quisesse dizer alguma coisa,
mas fecha.
— Você confia em mim, Lana?
A pequena pergunta está carregada de significado.
— Sim, confio em você.
Ele sorri ternamente. Em seguida, sai.
O dia se estende à frente interminavelmente. Ele vai
ficar fora o dia todo. Eu me sinto inquieta e estranhamente...
Assustada. Sento em frente ao computador e pesquiso no
Google sobre Cronos. Tem algo que deixei passar? Um deus
que comia seus próprios filhos. Pai do tempo. Outro nome
para Saturno. O que estou perdendo? Começo a mergulhar
mais fundo nas páginas do Google. Sites de conspirações
absurdas começam a aparecer.
Desisto e digito 'Blake Law Barrington primeiros anos‘.
Nada. Não há uma única fotografia ou um pedaço de alguma
notícia sobre ele. Tento imaginá-lo como uma criança. Um
pouco mais velho que Sorab e de repente lágrimas aparecem
nos meus olhos. Pobrezinho. Eu nunca me deparei com isso.
Quando uma criança que foi abusada por seu pai cresce e se
torna um homem e protege o seu agressor de uma forma tão
leal. Como se o que seu pai fez estivesse certo. Será que sua
mãe sabe? O pensamento me enoja.
Eu não entendo no que estou metida.
Passei a manhã e a maior parte da tarde, vagando sem
rumo ao redor do apartamento. A verdade é que estou presa
em um torpor de incompreensão. Estou mesmo tentada a
arriscar um contato com a mãe de Victoria. Mas a lembrança
do olhar aguçado em seus olhos me assusta. Como se ela
estivesse oscilando na fronteira da loucura. É como se ela
estivesse presa em seu próprio inferno.
Às quatro horas, ouço a porta da frente abrir. Blake
chegou cedo. Corro para recebê-lo. Sinto tanta falta dele. Paro
abruptamente no meio do corredor. Não é Blake em pé, ao
lado da porta olhando para mim. É seu pai.
Vinte e
Oito
— O mundo é governado por personagens muito
diferentes do que é imaginado por aqueles que não estão nos
bastidores.
Benjamin Disraeli - Primeiro Ministro da Inglaterra de 1844
— Olá, senhorita Bloom.
— Olá. — sussurro.
— Posso entrar?
— Você já entrou.
Sua boca se contorce com altivez.
— É verdade.
— Blake não está aqui.
— Eu não vim para vê-lo.
Ele passa por mim a caminho da sala de estar, para a
poucos metros de distância, e fala:
— Vamos?
Eu o sigo. Estou tão furiosa com este homem que estou
com minhas mãos em punhos e com as juntas brancas.
Realmente acho que o odeio. Na verdade, este é o primeiro ser
humano que conheço, que me faria sentir bem por cometer
homicídio. Este é o homem que atacou uma criança e o
moldou em uma pessoa fria, uma máquina de fazer dinheiro.
Mas sei que não posso expulsá-lo ou mostrar minha fúria.
Reconheço que ele está no final do labirinto, no qual estou
perdida.
Ele para no meio da sala de estar, não se senta e eu
também não ofereço hospitalidade.
— O que você quer?
— Você pegou algo muito precioso para mim e eu vim
pedir para devolvê-lo.
Balancei minha cabeça.
— Eu não tenho nada seu.
— Não brinque comigo, senhorita Bloom. Não tenho
tempo ou inclinação para tolices. Quero que você deixe meu
filho.
— O que há com vocês? Você não acha que Blake tem
idade suficiente para decidir com quem quer estar?
— Eu a tenho observado. Assisti você implorar ao meu
filho para te machucar. — ele disse em voz baixa. Mas o
veneno em suas palavras calmas me choca muito mais do
que se ele gritasse comigo. Dou um passo para trás. Seus
olhos frios não piscam. Eles me observam como uma cobra
faz com sua presa. Ele dá um passo para a frente.
— Esta foi a primeira vez que vi uma mulher implorando
a um homem para abusar dela. Tenho que admitir, gostei,
mesmo que o meu filho não tenho feito. Da próxima vez que
você quiser se machucar, me chame. Sei exatamente como
fazer você gritar.
Fico olhando para ele fixamente. As paredes não só têm
ouvidos, elas também têm olhos, Blake. Você não sabia disso,
não é? Minha mente se arrasta para uma escapatória desse
pesadelo. O que este homem viu? Ele me assistiu com as
pernas abertas, o vibrador preto e laranja enterrado em mim.
Mas não sinto vergonha ou humilhação. Sinto medo. Para
derrubar o medo, simulo coragem. Eu levanto o meu queixo
para ignorar sua postura.
— Se você acha que seu filho não deveria estar comigo,
por que você não o aborda diretamente?
Ele olha para mim de forma estranha. Como se eu fosse
uma criatura de muito pouca inteligência, a qual ele está se
esforçando muito para tentar se comunicar.
— Porque eu não preciso. Tenho o que você quer.
— Prefiro morrer a aceitar um centavo de você.
Ele sorri.
— Eu não a insultaria com dinheiro. Você é sutil demais
para isso. Ao invés disso, estou te dando uma nova
oportunidade de ser altruísta e fazer algo maravilhoso.
Fico olhando-o sem dizer nada, enquanto ele tece a rede
em que acredita que vai me pegar.
— Vejo um futuro brilhante e glorioso para meu filho,
mas você está no caminho. Sua genética, a sua falta de
educação, sua... sua falta de posição social, isso vai acabar
rebaixando ele com você. O que estou oferecendo é um lugar
no campo, perto de uma boa escola, uma bela casa, um
carro, dinheiro é claro, e a introdução em uma sociedade que
agora você conhece.
— Não posso tomar essa decisão por Blake. Ele tem
idade suficiente para escolher o que quer.
Ele levanta a mão.
— Deixe-me terminar. Sei que você está apaixonada pelo
meu filho. E, acredite, isso é algo nobre a seu favor. Sei o
quão difícil deve ser para você, mas as consequências, se não
deixá-lo, são enormes, incalculáveis..., Mas, apenas para
Blake.
— O que você quer dizer?
— Se você não deixá-lo, vou destruí-lo.
Eu ri. Um riso incrédulo e selvagem.
— Você destruiria seu próprio filho só porque ele não se
casará com a mulher que quer para ele?
— De que serve um filho se não tenho nenhum uso para
ele? — ele perguntou. Sua lógica é tão simples, tão direta, tão
dolorosamente sócio pata, que eu suspirei.
— Você não faria isso.
— Faria. Eu o destruiria num piscar de olhos.
— Você não pode.
— Você acha que não? — diz ele, em tom de conversa —
escolha um político, um líder de um país, um homem
importante em qualquer esfera, e amanhã o transformarei em
nada.
— Eu não vou ser responsável por destruir ninguém
para que você possa provar o seu poder.
— Se você não escolher vou ter que fazer, o que vai ser
um pouco menos espetacular para você, porque então você
pode fingir que eu não tinha o poder de destruir, apenas o
conhecimento de antemão, de algo que já estava no percurso
de acontecer. Escolha qualquer um. É claro que eu preferiria
que você não escolhesse os primeiros-ministros ou
presidentes de países. É sempre caro e demorado para
manobrá-los em suas posições de poder e todos, exceto um
ou dois, estão sendo ótimos marionetes no momento. Mas, se
isso é o que é preciso para convencê-la, então que assim seja.
Ou talvez você prefira um bilionário que particularmente a
irrita. Bill Gates? Warren Buffet?
Balancei minha cabeça.
— Eu não vou jogar seu jogo.
— Tudo bem, eu vou escolher. O chefe do FMI
atualmente está um pouco menos obediente do que o
habitual. Eu o escolho. Diga que tipo de desgraça você
gostaria de ver passar sobre a sua cabeça desavisada.
— Nenhuma.
— Nesse caso, o deixe ser acusado de estupro. Não
apenas qualquer estupro, mas o estupro de uma camareira,
em um quarto de hotel. Que ela seja de origem asiática.
Tailandesa seria muito comum. Você ficaria feliz com o
birmanês?
Eu não digo nada. Apenas olho para ele.
— Agora que jornal você escolhe para a desgraça dele?
Ele fala sério. Ele realmente vai arruinar a carreira e
vida de um homem inocente, apenas para provar um ponto.
Balancei minha cabeça.
— Eu não vou fazer parte disso.
— O que acha do The Guardian? Talvez você queira
mais de um jornal para publicar a história? E um canal de
televisão? BBC? Ou todos eles?
E de repente meu cérebro entra em ação. Ele está
blefando.
— A BBC. Eu quero que a história seja noticiada pela
BBC. — digo. Certamente, ele não pode ter influência na
corporação Britânica de jornalismo!
Mas ele sorri confiante.
— Feito!
Eu não deveria ter falado. Agora ele sabe que me tem.
— Quando a história surgir amanhã você vai entender a
extensão do meu alcance. Vou fazer o mesmo com meu filho.
Aqui estão as fotos que enfeitariam a mídia mundial, se você
se recusar a ser razoável.
Percebo que ele estava segurando um envelope todo esse
tempo. Ele dá dois passos em minha direção, joga na mesa de
café e sai pelo outro lado, parando na minha frente. Ele está
tão perto que agora noto seus olhos. Os olhos são geralmente
chamados de janelas da alma, mas no seu caso, ou as janelas
estão fechadas ou não há alma para olhar. Não há sequer um
fio de luz no interior vazio.
Agarro o envelope com as mãos tremulas. Fotografias
minhas. Com o meu cabelo desgrenhado, meus lábios
entreabertos, minhas pernas abertas. As fotos são claras e
gráficas. Olho para elas. As fotos daquela noite, quando eu
provoquei Blake para que ele me machucasse são tão
horríveis, que não posso continuar. Elas não refletem o que
realmente aconteceu. Eles fazem parecer que era um estupro
da pior espécie. Eu não preciso ver todas. Coloco-as
cuidadosamente de volta no envelope e atiro-as de volta, ao
longo da mesa. Meu rosto não está ardendo de vergonha, está
paralisado com o choque.
— Não, fique com elas, de recordação... — ele diz.
Como um fantoche, ele se vira de volta para mim.
— Há também fitas de vídeo de você e... Outras
mulheres. Receio que o meu filho foi bastante indiscriminado
quando você o deixou pela última vez. Elas serão liberadas
alguns dias depois, na Internet, como elementos de prova.
Meu filho vai se tornar um criminoso comum. Um predador
sexual.
Preciso pensar. Estou paralisada. Meu adversário é
muito grande.
— O que acontece se eu concordar?
— Você pode escolher um subúrbio arborizado Inglês
ou, se preferir, até mesmo em outro país. Talvez você goste de
viver ao sol. — Balancei minha cabeça. — Não, você precisa
escolher. Que tal algum lugar como Weybridge, talvez?
— O que vai acontecer com Blake?
— Absolutamente nada. Ele vai chorar por você... por
um tempo, então vai se casar com Victoria e ter uma família,
e a vida será boa de novo.
— E se ele vier me procurar?
— Ele não vai saber onde procurar. Você terá outra
identidade. Você vai ter que desistir de seus amigos, é claro.
Mas você vai fazer novos, e melhores.
— Por que você está tendo tanto trabalho para me
manter longe dele?
Algo pisca em seus olhos. Tão rapidamente, que é quase
como se eu estivesse em um estado entorpecido. Mas faz
minha pele esfriar. Não é tão simples como ele faz parecer
ser. Há mais. Muito mais.
Fecho minhas mãos congeladas. Por um momento,
nenhum de nós fala.
— Há outra coisa que você deve considerar. Meu pai era
um banqueiro, eu sou um banqueiro, e meu filho vai ser um
banqueiro.
— O que você quer dizer?
— Posso ver o meu neto?
Eu entendo imediatamente e o medo de antes não é
nada comparado a esse. Oh Deus! Ele está se referindo ao que
ele fez com seu filho. Ele está dando a entender que isso é o
que Blake vai fazer para Sorab.
— Blake nunca vai fazer isso com o próprio filho.
— É à nossa maneira. Se você optar por viver em nosso
mundo, então você deve respeitar nossas regras.
Eu não quero esse homem perto do meu bebê.
— Ele está dormindo. — falo com os lábios congelados.
— Eu não vou acordá-lo. Basta uma olhada rápida. —
diz ele, com um sorriso doentio.
Desajeitadamente, comecei a andar com dificuldade em
direção à porta. Ele me seguiu ao quarto de Sorab.
Protetoramente, fiquei ao lado do berço. Ele parou a um
passo de distância do berço e acenou com a cabeça, como se
estivesse satisfeito. Do quê? Eu não sei e não perguntei. Ele
se afasta e eu o sigo, fraca com o alívio, até a porta da frente.
— Leia os jornais amanhã de manhã. Vou entrar em
contato no final do dia. — Ele abre a porta.
— Sr. Barrington?
Ele se vira um pouco para mim.
— Sim?
— Quem é Cronos?
Ele se vira completamente para mim, e sorri. Naquele
momento, a coisa mais estranha acontece. Naqueles olhos
mortos acontece alguma coisa. O olhar mais inquisitivo que
eu já vi, com um interesse ávido que você jamais poderia ter
imaginado ser possível naqueles olhos cor de chumbo. É
como se já não fosse o mesmo homem. Sinto uma onda
gelada por dentro.
— Quando você fizer suas buscas pela Internet, procure
pelo nome certo. Encontre o caminho encoberto sob o nome
de El. — Ele diz, abrindo a porta e deixando o apartamento.
Vinte e
Nove
Eu não ando, corro para o meu laptop para digitar El na
barra de busca do Google.
El, eu aprendo, é uma divindade que remonta aos
tempos fenícios. Ele acreditava ser o pai da humanidade e de
todas as criaturas. Ele é um ancião antigo de barba cinza,
cheio de sabedoria. O touro é um símbolo para ele. El se
distingue de todos os outros deuses, como sendo o deus
supremo, ou, num sentido monoteísta. — O único Deus.
Através dos tempos, ele está listado na cabeça de muitos
panteões. Ele é o Pai supremo entre os cananeus. No texto
hebraico, El se torna um nome genérico para qualquer deus,
incluindo Baal, Moloch e Yahweh. Finalmente, no final do
texto me deparo com a referência a Cronos.
Aparentemente, era o costume dos antigos durante a
grande crise, o governante de uma cidade ou nação, sacrificar
o mais amado de seus filhos aos demônios vingadores, para
evitar a ruína comum. Assim, aqueles que estão quase
desistindo são sacrificados com rituais místicos, vestidos de
trajes reais e sacrificados no altar. Aqueles que seguem esse
caminho são chamados de filhos de El.
Um artigo aponta que El é a raiz da palavra elite.
Digito El e Cronos e vejo que ElCronos é um brinquedo
sexual para homens.
Eu digito Saturno e El e descubro que El é outro nome
para Saturno. E Saturno é intercambiável com Cronos.
Sento-me. Para evitar a ruína, os homens dão o seu filho
mais amado como sacrifício a seu grande deus El. Será que
isso significa o que eu penso que significava? Que o pai de
Blake estaria disposto a sacrificar seu filho em troca de mais
poder?
Ouço alguém na porta e rapidamente fecho as páginas
que estou vendo. Vou para a porta com cautela, mas é
apenas Blake.
— Oi. — diz. Ele parece normal.
— Oi.
— Está tudo bem?
— Ótimo.
Ando até ele e o beijo. Seu beijo desmente sua atitude
casual. É o beijo de um homem que está bebendo água doce
de uma fonte antes de uma longa viagem para o
deserto. Minhas mãos se entrelaçam em seu cabelo. Eu
quero que o beijo continue sem parar, mas meu cérebro não
permite. Agora que eu tenho a prova de que as paredes têm
olhos e ouvidos eu não posso ser eu mesma. Retiro a minha
língua lentamente, desço as minhas mãos até seu peito e dou
um leve empurrão.
Ele olha para mim, seus olhos escuros e selvagens.
— Podemos sair para jantar hoje à noite? — Eu
pergunto, forçando um sorriso.
— Claro. Onde você gostaria de ir?
— Aquele lugar indiano que você me levou no ano
passado. Esqueci o nome. O com o nome do mercado de
ladrões.
— Ah, Chor Bizzare.
— Esse mesmo. Nós podemos deixar Sorab na casa da
Billie.
— Não deveríamos chamar a senhora Dooley?
— Não! — falo, e depois sorrio rapidamente para tirar o
ferrão. — Billie estava reclamando que ela não tem ficado
muito com Sorab.
— Está bem.
— Ei, eu sempre tive curiosidade. Quando você pega os
relatórios de suas sombras o que eles dizem?
— Apenas uma lista de seus movimentos.
— Você já recebeu o seu relatório de hoje?
— Sim, quando eu estava a caminho de casa.
— O que ele diz?
— Por quê?
— Só quero saber como funciona.
— Está bem. Hoje você ficou dentro de casa até 15h50,
quando levou Sorab no carrinho de bebê para a cafeteria da
esquina. Você comeu um bolo e tomou um café, depois
voltaram por volta das 17h00.
Tento manter meu rosto neutro. Eu nunca saí de casa!
Em seguida, isso me atinge. Uma sósia atraiu o guarda
costa para longe e o pai dele entrou no edifício para me ver.
Quando o pai dele foi embora, a sósia voltou a entrar no
edifício. Agora eu sei. Tenho certeza. Blake não pode me
proteger, ou a si mesmo, de seu pai.
Seu pai foi mais esperto que ele.
Trinta
— Nós somos as ferramentas e os receptáculos dos
homens ricos por trás das cenas. Nós somos as marionetes -
eles dão corda e nós dançamos. Nossos talentos, nossas
possibilidades e vidas são de propriedade de outros homens.
Nós somos prostitutas intelectuais.
John Swinton, chefe de Redação, New York Times, Em
um banquete feito em sua homenagem, 1880.
O pai de Blake é leal à sua maldade. O Independent e o
The Guardian são os primeiros a relatar que o CEO do Fundo
Monetário Internacional, Sebastian Straus Khan, estava
envolvido em um escândalo. Uma empregada birmanesa que
trabalha em um hotel em Nova York o acusou de estupro. Ele
foi preso no aeroporto. A BBC passa a história na hora do
almoço. À noite, todos os canais de TV estão passando a
história. Não parece haver nenhuma investigação.
Simplesmente uma história que se repete, quase palavra por
palavra, por todos os diferentes canais de notícias. Cada um
alegremente convencido de seu crime.
Naquela noite, quando Blake chegou em casa, eu me
maquiei e me vesti com a roupa mais sexy que Fleury já viu.
A calça justa de couro rosa que Billie me disse, fazem o meu
bumbum parecer firme e maduro, com a necessidade de ser
resgatado. Finalizo com um top que deixa meus ombros e
costas nuas.
Seus olhos se iluminam.
— Uau, qual é a ocasião? — Ele respira contra a minha
orelha.
— Não iremos passar a noite aqui. — digo a ele.
— Eu já reservei um quarto no Ritz.
Ele sorri lentamente. Ele não tem ideia. Por dentro estou
morrendo. É a nossa última noite juntos, uma noite que
nunca vou esquecer. Nós jantamos, não sinto gosto de nada,
e então subimos a escada. Há champanhe à espera, em um
balde de prata. Cortesia da casa. Não bebo. Não quero que
nada me deixe zonza. Eu quero lembrar de todos os detalhes.
Esta noite, eu sou insaciável.
Uma e outra vez nós fazemos amor, até que ele me diz:
— Vá dormir, Lana, eu não quero que você adoeça
novamente. — Mesmo assim, estendo a mão e tomo o seu
grande e belo pênis na minha boca e murmuro.
— Use-me para o seu prazer. Você pagou por isso.
Ele olha profundamente em meus olhos e diz:
— Considere a dívida paga. — A ironia me apunhala no
coração. Ele não faz ideia.
Quando a manhã chega, eu o puxo para perto e
sussurro,
— Eu te amo. Eu sempre vou te amar.
E quando ele está saindo, ele diz, com a voz rouca de
emoção.
— Vou sentir sua falta terrivelmente, até que eu possa
ver você de novo... hoje à noite.
E eu quase quebro. Ele nunca vai me ver de novo.
Lágrimas borram meus olhos.
— Ei! — ele fala bem baixinho. — Nada pode nos
separar.
Um soluço rompe. Ele não entende.
Quando ele está vestido e de saída, eu o seguro firme.
Ele olha para mim, com determinação e um olhar firme.
— Nada pode nos separar. — diz ele novamente. E então
a porta se fecha atrás dele e eu afundo no chão. Choro como
se eu fosse me partir ao meio. Quando já não aguento mais
chorar no chão do Hotel Ritz, me levanto entorpecida, mas
pronta. Isto é por ele e por Sorab. Isso vai manter ambos
seguros. Entro no elevador, estou dolorida entre minhas
pernas e as pontas dos meus seios estão sensíveis de serem
sugados e mordidos a noite toda. Tom está esperando no
saguão por mim. Meu casaco grosso está dobrado sobre o seu
braço.
— Sr. Barrington me pediu para pegar isto do
apartamento para você. É uma manhã fria.
Mais uma vez fiquei impressionada com o quão
atencioso e cuidadoso Blake é. Ele está sempre um passo à
frente. Exceto para a coisa mais importante de todas. Tiro
meu casaco leve e visto o casaco que Tom trouxe para mim.
Viro a cabeça e percebo um homem me olhando. Nossos
olhos se encontram. Ele não desvia o olhar. Eu olho para
longe. O mundo mudou para mim. Alguns meses atrás, eu
pensaria que ele me achou atraente, agora não sei, ele pode
ter sido pago para me vigiar.
Do lado de fora, um vento gelado me atinge. Estou feliz
com o casaco.
No carro olho pela janela. Na verdade, estou em estado
de choque. A ideia de deixar Blake é tão dolorosa que me
recuso a pensar nisso. É quase como se eu estivesse no piloto
automático. Há um acidente a frente e Tom toma a rota mais
longa através da South Kensington. Passamos por uma
antiga igreja. A porta está entreaberta e eu me lanço para a
frente.
— Pare o carro, Tom.
Tom para o carro ao lado da estrada.
— Vou entrar nessa igreja.
Tom olha para mim, preocupado.
— Não posso estacionar aqui.
— Eu não vou demorar muito. — digo, e saio
rapidamente do carro. Atravesso as portas de madeira gótica,
e é como se eu pisasse em outra dimensão. É fresco e
silencioso, o som da rua permanece do lado de fora. A
construção de pedra é linda. Vejo a água benta, mas eu não
faço o sinal da cruz com ela, como minha mãe costumava
fazer. Sigo o brilho das velas até o centro da igreja. Não há
mais ninguém lá. Meus passos ecoam no espaço crescente.
Vou até a frente da igreja e sento em um banco de madeira.
Fecho meus olhos. Não sei por que eu vim aqui. Eu não
acredito em Deus e Ele não fez nada para mim. Tudo o que
Ele já fez é tomar e tomar, cada coisa que eu já tive. Sinto-me
incrivelmente triste e derrotada. Eu gostaria de não ter que
partir deste santuário tranquilo. Lágrimas quentes estão
espetando os meus olhos. A vida é tão injusta.
De repente, sinto uma rajada de ar frio. Abro os olhos e
olho ao redor. Não há ninguém aqui. Seria uma alucinação?
E então eu tenho a estranha sensação de que a minha mãe
está lá comigo. Eu me levanto.
— Mãe? — Eu chamo.
Minha voz soa estranha e alta naquele espaço vazio.
— Mãe. — chamo de novo, desta vez mais
desesperadamente.
Nada. Sento novamente e fecho os olhos e logo a
sensação de que a minha mãe está comigo retorna. A
sensação me acalma.
— Eu te amo, mamãe. — sussurro. — Você me deixou
muito rápido. Não tive a chance de dizer adeus.
Um sentimento de paz se instala em mim. Não há
palavras para descrever a sensação. Foi um momento que
pareceu eterno. Não sei por quanto tempo fiquei sentada lá. E
é apenas o som de passos que me desperta. Olho para trás.
Tom está de pé, apoiado em um dos pilares na entrada. Eu
me levanto e vou até ele.
Nós caminhamos em silêncio até o carro. Há um bilhete
amarelo de estacionamento preso ao para-brisa.
— Desculpe. — eu digo.
— Laura vai cuidar disso. Minhas instruções são claras.
Nós entramos no carro e Tom me leva até Billie.
— Podemos fazer uma pequena caminhada pelo canal?
— Digo a ela.
— O que está errado?
Coloco um dedo em meus lábios.
— Eu só estou com vontade de caminhar.
— Tudo bem. — ela diz, franzindo a testa.
— Está frio lá fora. Vista seu casaco.
Ela pega seu casaco e me segue. Quando estamos no ar
revigorante eu conto tudo. Algumas vezes, ela se vira, para de
repente e olha para mim de boca aberta, e então tomo seu
braço na curva do meu e continuamos em nosso caminho. Eu
nunca vi Billie parecer tão branca ou totalmente séria. Isso
serve para destacar o quão chocada devo estar, para ela ser
capaz de agir tão normalmente.
Após a caminhada, dou um beijo de adeus a uma Billie
de rosto atordoado, e ela me puxa com força contra seu
corpo, como se pudesse me passar um pouco de sua força.
Ambas sabemos exatamente como entrar em contato uma
com a outra. Ela está piscando para conter as lágrimas.
— Fique segura. — ela fala, enquanto levo Sorab para
longe dela.
Então vou para casa para aguardar minhas próximas
instruções.
Quando a chamada é feita, deixo meu celular na mesa
de jantar e empurro o carrinho para frente. Aceno para o Sr.
Nair e ele olha para mim, confuso. Eu sei que, apenas alguns
minutos atrás, ele deve ter visto minha sósia empurrar um
carrinho de bebê idêntico para fora da porta, talvez para a
cafeteria onde ela vai comer bolo e beber café. Do lado de fora
da porta da frente, um carro está esperando por mim. Um
homem salta do banco da frente. Tiro Sorab do seu carrinho.
Ele mantém a porta de trás aberta, enquanto eu entro.
Quando estou instalada, ele a fecha com um clique suave. Ele
dobra o carrinho rapidamente, o guarda na porta mala, e vai
para o banco da frente. Nenhuma palavra foi trocada por
qualquer um de nós. O carro se afasta.
Penso na minha sósia. Ela deve ter chegado à pâtisserie
agora e provavelmente terminou com sua fatia de bolo.
Imagino que ela deva ser uma atriz. Paga para interpretar um
papel e depois desaparecer. Ela provavelmente vai empurrar
seu carrinho de bebê de volta para o prédio. Talvez o pai de
Blake tenha outro apartamento onde ela pode deixar o
carrinho e trocar de roupa. Um chapéu, um lenço, uma
peruca, antes que ela saia do edifício para sempre.
E Blake, meu pobre e querido amor, vai voltar para
casa, para o seu ninho vazio.
Trinta e
Um
Nós viajamos por muitas horas, parando apenas para
descansar. Finalmente chegamos a uma fazenda no pântano.
Aqui a paisagem é selvagem e deserta. Um forte vento está
soprando enquanto saio do carro.
— Onde estamos? — Pergunto.
Mas os homens simplesmente sorriem educadamente.
— Eles vão te dizer quando chegar a hora.
Lá dentro está quente. O fogo já está aceso na lareira.
Da cozinha, vem um delicioso cheiro de carne assada. Levam-
me ao meu quarto no andar de cima. É bem agradável, com
papel de parede azul estampado e uma cama de casal com
um colchão confortável. Há um berço nele também. Como
instruído eu não trouxe roupa para Sorab ou para mim. O
homem me diz que tudo o que preciso está nas gavetas e
armários. Eu já posso ver exatamente a mesma marca de
produtos que eu uso para Sorab sobre a cômoda.
Ele sai e eu vou ficar perto da janela. A floresta parece
se estender em direção ao horizonte. Nem uma única casa à
vista. O medo me corroeu. Por que estou aqui? Sei que o pai
de Blake disse que esta é minha casa temporária até que
tudo esteja organizado, mas algo parece muito errado.
Outra voz em minha cabeça me perturba „você não
manteve sua promessa a Blake‟. Mas não tive escolha. Protegi
Blake com meu próprio corpo. Afasto da janela e me deito na
cama, enrolando meu corpo em torno de Sorab que está
dormindo. Fecho os olhos e finjo que estou na minha cama
em St. John‘s Wood, até que escuto uma batida na porta.
— O jantar está pronto. — alguém informa.
Lavo as mãos e me refresco antes de descer. Coloco
Sorab no cercadinho e um dos homens coloca um prato de
comida na mesa e se retira da sala. Eu o ouço abrir a porta
da frente e sair e como sozinha. A comida é saudável e
quente, e eu como tudo. Algo me diz que vou precisar de toda
a minha força.
Caio no sono enquanto assisto TV no meu quarto.
Sou despertada por uma mão sobre minha boca. Meus
olhos abrem de repente. Uma voz de homem sussurra
urgentemente.
— Por favor, não faça barulho. — Uma pequena tocha é
acesa. — Blake nos enviou aqui. — ele oscila sobre meus
olhos, à luz da tocha, o colar de rubis de diamantes negro
que Blake colocou no meu pescoço, em Veneza. Olho para ele
como se estivesse hipnotizada, mas na verdade não preciso
do colar. Reconheço o homem. Brian, o que abateu Rupert. —
Posso tirar minha mão agora?
Aceno com a cabeça.
— Não leve nada. Basta pegar o bebê e o mantenha o
mais quieto possível. — ele instrui.
Cuidadosamente, levanto Sorab de seu berço e o coloco
em meu peito. Ele faz um pequeno som, mas não acorda.
Descemos as escadas. A casa é escura e silenciosa. À medida
que contornamos o canto da sala de jantar, vejo um sapato
inerte e rapidamente desvio o olhar. Sabia que cometi um
erro no momento em que entrei no carro com esses homens.
Agora sei que estou no caminho certo. Aconteça o que
acontecer. Nós entramos no carro e ele se afasta. Não olho
para trás. Olho para baixo para o rosto adormecido de Sorab,
ele não acordou, mas o barulho das hélices do helicóptero o
acorda. Ele grita chorando com toda força e não para até que
pousamos em um heliporto em uma parte totalmente
diferente da Inglaterra.
Trinta e
Dois
— Ponha a mão para ela cheirar você. — diz Brian.
O pastor alemão olha para mim com cautela. Não há um
pingo de simpatia nele. Esta é a versão canina do Sr.
Barrington mais velho.
Estendo a minha mão.
— Guarda. — Brian comanda. O cão fareja a minha mão
e volta para sua posição sentada.
— Agora, estenda a mão do seu filho.
Hesito. As mãos de Sorab são tão pequenas e há algo
sobre o cão que não confio o bastante. Ele foi treinado para
matar sob um comando.
Brian se vira para um dos homens e diz:
— Dê-me seu sapato.
O homem tira o seu sapato e entrega para Brian. Ele
permite que todos os quatro cães cheirem.
— Guarda! — ele diz, e joga o sapato para o ar. Ele cai
cerca de trinta metros de distância. Todos os quatro cães
correm até o sapato e formam um círculo em torno dele, de
costas para ele.
— Vá buscar o sapato de volta. — diz ao homem.
O homem começa a caminhar em direção ao sapato.
Cinco metros de distância de seu sapato, os cães rosnam
violentamente e mostram os dentes. Seus corpos são
agachados, prontos para atacar. O homem para em seu
caminho.
— À vontade! — diz Brian, e em uníssono os cães
deixam o sapato que foi posto em guarda tão ferozmente e
trotam de volta para ele. Ele os elogia, em seguida, dá
guloseimas.
— Deixe-os sentir o cheiro do garoto.
Eu me curvo e seguro a mão de Sorab estendida na
frente de suas faces negras. Um por um eles cheiram sua
mão e vão se sentar ao lado do seu mestre.
— Guarda! — seu mestre diz.
Imediatamente suas orelhas ficam em pé em atenção.
Brian desaparece e os cães ficam comigo enquanto
aproveitamos os últimos raios de sol do dia. Assim que
passamos pela porta da frente, os cães param de nos seguir e
começam a patrulhar o terreno.
Já faz dois dias que estamos vivendo nesta casa. É
cercada por muros altos, um portão maciço e equipado, e as
equipes de cães patrulham os jardins incessantemente. Há
sistema de câmeras de segurança em todos os poucos metros
e o pessoal de segurança vigia suas telas 24 horas por dia.
Gostaria de saber onde Blake está e por que ele não veio
até mim, mas eu não sinto medo. Sei que Sorab e eu estamos
seguros aqui. Penso em Billie. Não há nenhuma maneira de
contatá-la também. Não há Internet ou uma linha telefônica.
Naquela noite, jantei sozinha e fui para a cama cedo. Eu me
sinto sozinha, mas não estou entediada. Sei que em algum
lugar lá fora, Blake está executando os planos que eu vi
tantas vezes em seus olhos.
É 02h da manhã quando sinto o colchão ceder ao meu
lado.
— Blake?
— Quem mais você esperava?
Trinta e
Três
Eu pulo em seus braços com um grito de pura alegria e
o cubro de beijos, seus lábios, as bochechas, pálpebras, suas
mãos.
— Sinto muito, sinto muito, eu fugi. Pensei que estava
fazendo a coisa certa.
— Está tudo bem. Eu sabia que você faria isso. Uma vez
você se vendeu por sua mãe. Sabia que você faria o mesmo
por mim.
Não consigo segurar as lágrimas. Ele entendia. Eu não
tive escolha. Tive que quebrar a promessa que fiz a ele.
— Eu te amo, Lana Bloom, eu te amo mais do que a
minha própria vida.
— Oh, meu amor. Esperei tanto tempo para ouvir você
dizer isso.
— Eu te amo há um longo tempo. Pensei que você
saberia. Cada ação minha gritava isso. Mesmo quando pensei
que você foi embora, não consegui te esquecer. Nós temos
esta conexão inquebrável. Não importa o que você faça, ainda
anseio por você. Eu sempre amei e sempre amarei. Você não
sabia?
— Talvez, mas eu não tinha certeza. Por que você não
me contou?
— Porque queria que meu pai pensasse que nosso
relacionamento era temporário. Isso me deu tempo para
acertar meus planos.
— Se tivesse me dito, eu não contaria a ninguém.
— E correr o risco de que você deixasse escapar
acidentalmente em uma conversa com Billie ou Jack? Não, as
apostas eram altas demais. Se tratava de você.
— Você vai me contar tudo agora?
Por um momento, ele hesita.
— Por favor.
Ele balança a cabeça e acende a lâmpada da cabeceira,
e de repente vejo quão desgastado ele está. Também tem
alguma coisa em seus olhos, um olhar diferente. Um que eu
queria que não estivesse lá. É o olhar de um homem que teve
que dizer ao veterinário para acabar com o sofrimento de seu
amado cão. Coloco a palma da mão em seu rosto.
— Você está bem?
— Sim. Eu estava seguro. Você era a única em perigo.
— Como você pode ver, estou bem.
Ele respira fundo, o peito entrando em colapso.
— Oh, Deus, o pensamento de que você poderia não
estar.
— Como você sabia onde enviar Brian?
— Nosso apartamento estava grampeado, não só pelo
meu pai, mas por mim também. Eu sabia que esteve por
perto e também o que disse a você.
— Então, quando estávamos no Ritz, você sabia que eu
iria deixá-lo no dia seguinte.
Ele balança a cabeça.
— Por que você não tentou me impedir?
— A única coisa que eu tinha do meu lado era o
elemento surpresa.
— Onde o seu pai está agora?
Seus olhos endurecem.
— Morto. Há 15 minutos, vítima de um acidente de
avião.
— Você o matou. — Suspiro totalmente horrorizada.
— Sim. — ele admite, sem rodeios.
— Por quê? — Minha voz não é mais do que um
sussurro.
— Porque ele queria exterminar a coisa que eu mais amo
no mundo. E o que o meu pai quer, meu pai consegue.
— Você matou o seu pai por mim? — Minha voz é
incrédula, descrente. As palavras que esperei tanto tempo
para ouvir, contaminadas.
— O verdadeiro teste de amor não é estar disposto a
matar alguém, mas ser capaz de desistir da sua própria vida
por eles. Eu acho que provei o meu amor por você há mais de
um ano atrás.
— Oh não, o que você fez? — Fecho meus olhos,
horrorizada. — Ele não ia me matar, só queria que eu
estivesse fora da sua vida. Iria apenas me arrumar uma nova
identidade.
— Minha pequena inocente. Quão pouco você nos
conhece... É mais barato e muito menos problemático matar
alguém de pouco valor, do que dar uma nova identidade e
sustentá-los pelo resto da vida.
Balanço minha cabeça. Estou em estado de choque.
Blake matou o próprio pai. Eu não posso aceitar. As coisas
estão tão confusas.
— Você vai ter que ir para a prisão?
Ele sorri tristemente.
— Quantos bilionários definhando em celas de prisão
você conhece?
— Então, você o matou. — digo novamente. Como se
repetir de alguma forma fizesse isso desaparecer.
— E faria de novo.
— Por que ele me odiava tanto?
— Ele não te odiava, Lana. Você simplesmente estava no
caminho. Ele queria Sorab.
Trinta e
Quatro
Eu uso essa coroa de espinhos
Sob meu assento de mentiroso
Cheio de pensamentos quebrados
Que não posso reparar.
Hurt, A versão de Johnny Cash
— Sorab? — Suspiro, totalmente, completamente
confusa.
— Você estava pesquisando por Cronos. Você o achou?
— Ele pergunta.
— Seu pai disse que eu deveria procurar por El.
— E você procurou?
Balancei minha cabeça. Não me lembro dos detalhes.
Todos os meus pensamentos estão espalhados e perturbados.
— Só por alguns instantes. Não houve tempo suficiente.
Costumava ser o nome do Deus Supremo, antes de se tornar
um nome genérico para Deus.
— Mmnnn. — Mas ele não está realmente me ouvindo.
Ele se afasta de mim, e descansa a testa na palma da mão. —
Você lembra quando o meu pai disse, que seu pai era um
banqueiro, que ele era um banqueiro, e que seu filho seria
um banqueiro? Bem, aqui está algo que ele não disse. Meu
pai tem um irmão morto, eu tenho um irmão morto e o irmão
de Sorab teria tido um irmão morto também.
Sinto o sangue drenar do meu rosto. Eu agarro o braço
dele e o forço a virar para me encarar.
— O que você está me dizendo?
Seus olhos. Aqueles olhos. Eu fico apavorada. Não por
causa dele, mas por ele.
— O que a Wikipédia mostrou pra você sobre a busca do
Deus Altíssimo?
Meus dedos estão gelados.
— Sacrifício do primogênito. — Estreito os olhos. —
Você está tentando me dizer que sua família é satanista?
— Não, isso é para os brutos e simplórios. Um show.
Nós somos os filhos de El.
Eu me encolho, sentindo como se fosse um daqueles
meninos que mergulham atrás de pérolas, se enrolam em
algas, e ficam sem fôlego.
— Espere, espere um segundo. Eu não posso aguentar
mais nada disso. Sinto muito, simplesmente não posso. Isso
está me deixando doente. — E isso é demais. Sinto meu
estômago se revirando, embora não tenha nada nele.
— Contamos com as pessoas para serem incrédulas, se
afastarem, porque é terrível demais para sequer contemplar.
É a nossa proteção. Ainda quer a verdade, Lana? Você quer
saber o monstro que sou, ou vamos voltar ao que éramos?
Podemos fingir que sou o seu cavaleiro de armadura
brilhante. Que você fez a escolha certa quando aceitou a
minha oferta, acima da de Rupert. Foi sua escolha.
Respiro fundo. O choque me fez reagir dessa forma. Eu
quero a verdade. Toda a verdade. Sem mais mentiras. Sem
mais pretensões. Se eu nadar forte o suficiente vou alcançar
a superfície e a luz.
— Quero a verdade, seja ela qual for. — digo a ele.
— As pessoas pensam que eles não são diferentes de
nós, que estamos todos jogando os mesmos desafios. Que por
um processo de aspiração e trabalho duro, talvez um golpe de
sorte, eles podem se tornar um de nós. Nada poderia estar
mais longe da verdade. Não somos apenas diferentes, somos
uma espécie inteiramente diferente. Estamos dispostos a ir
mais longe do que qualquer outra pessoa. A nossa ambição
crua é como uma braçadeira fria em torno de nossos
corações, que nos leva a nos alinhar a uma escuridão terrível.
E a escuridão anseia poder sobre os outros e se mantém
sugando as energias de inocentes.
Meu coração está batendo tão forte no meu peito, que
posso ouvir seu rugido em meus ouvidos.
— Uma criança desaparece a cada três minutos, apenas
aqui no Reino Unido. E em todo o mundo, milhões de pessoas
desaparecem todos os anos. Eles nunca mais são vistos,
ouvidos ou encontrados. O que você acha que acontece com
eles?
Estou muito chocada para responder.
— Em alguns dias do ano, mas especialmente em oito
datas, dezenas de milhares de crianças são sacrificadas. Não
apenas pelos filhos de El, obviamente, mas pelos satanistas e
outros cultos ao redor do mundo. Na noite do equinócio de
outono, 21 de setembro, três dias a partir de hoje, Sorab
seria ritualmente assassinado. Como meu irmão, meu tio e
seu tio antes dele.
Minhas mãos estão entrelaçadas na frente da minha
boca, como se estivesse rezando.
— Eu tive que parar com isso. — diz ele, com o rosto
pálido.
— Por que não podíamos apenas ter fugido? Por que ter
o sangue dele em nossas mãos?
— Não há lugar na Terra, onde Sorab ou você estariam a
salvo. E esta é a razão. Apenas comigo à frente da ordem do
dia, as forças podiam ser detidas.
— Mas não quero você no comando de uma religião tão
doentia e distorcida. — eu choro.
— Não tem outro caminho. Não é um clube. Somos
escolhidos para governar. Nasci e devo morrer nisso. — Eu
estremeço.
— Por favor. — ele continua. — não chore por mim. Fiz
as pazes com isso, eu tenho consciência do que isso
representa para mim... um inferno, por toda a eternidade. Só
o que importa agora é que, Sorab ou qualquer outra criança
que nasça a partir de agora, não serão iniciados. Eles serão
livres. Do jeito que meu irmão Quinn é livre.
Minha cabeça dói.
— Marcus está envolvido na... morte de seu pai?
— Não. Eu agi sozinho. Para proteger o que é meu.
Um soluço desesperado escapa de mim.
— Por que não podemos fugir e deixar Marcus assumir?
Ele é mais velho do que você.
— Marcus não é forte. Meu pai sempre soube disso. O
plano sempre me incluiu. Era pra ser eu. Tenho que estar à
frente desse império de sujeira.
— Porque você não pode expô-los? Diga ao mundo toda
a verdade.
— A quem eu diria Lana? Ao longo dos anos, centenas
de crianças que escaparam contaram a mesma história, com
os mesmos detalhes das câmaras subterrâneas, figuras
encapuzadas, orgias e assassinatos em sacrifício, e todas elas
foram descartadas como fantasiosas, não confiáveis.
Nenhuma única figura de destaque real jamais foi levada à
justiça.
— Mas você é um Barrington, é poderoso e tem
informação privilegiada. Você conhece pessoas e não é uma
testemunha não confiável.
— As outras famílias imediatamente se fechariam em
fileiras. O que meu pai disse que faria comigo, seria feito. Eu
seria destruído. Você e Sorab desapareceriam sem deixar
vestígios.
Estou com medo de fazer a minha próxima pergunta,
minha garganta parece estar rasgando. Eu engulo.
— Você também participa destes... rituais?
— Não, os rituais não são para nós. Nós flutuamos
acima deles. Eles são para o comprometimento e para
aqueles que gostam de tais perversões. Eu não.
— Você não pode parar a ordem do dia, de dentro para
fora?
— Você pode parar a segunda-feira de passar para
terça-feira? Ninguém pode parar a agenda, Lana. Ela vai
acontecer, não importa o que eu faça.
Trinta e
Cinco
Eu caí em um círculo queimando no fogo
Fui para baixo, para baixo, para baixo, enquanto as
chamas ficavam mais altas.
E ela queima, queima, queima,
O anel de fogo, o anel de fogo.
The Ring of Fire, de Johnny Cash.
Naquela noite, nós não fizemos amor.
Nós nos amontoamos, como os sobreviventes em estado
de choque nas brasas de uma batalha terrível. Todos ao
nosso redor estão mortos e só há os terríveis gritos e gemidos
dos moribundos. Suas mãos se agarram a minha.
Sua voz é um sussurro no meu cabelo.
— Eu sei que deveria te mandar embora, mas não
posso. Até você aparecer eu vivia uma vida sem alegria. Você
vai ter que decidir. Caberá a você a decisão de me deixar.
Finalmente, entendo por que a escolha de ficar será
minha.
É apenas nas primeiras horas da manhã que suas mãos
param de nos segurar, relaxam e ele cai no sono, exausto.
Mas para mim, o sono nunca chegou. Deito no meu lado, seu
corpo quente enrolado em torno do meu e penso na mãe de
Victoria. Aquele olhar estampado em seus olhos, que tanto
me assustava. Ela estava certa, já era tarde demais para mim
no momento em que veio me ver.
Quando os primeiros raios de luz atravessam a abertura
das cortinas, eu o vejo dormir. Seu rosto está relaxado e
vulnerável. Tremo, não de desejo, mas com a memória do
meu desejo por este homem, por este corpo. Parece outra
vida. Outra encarnação. Penso no que ele fez por Sorab e por
mim, e estou cheia de tristeza com o pensamento dos
segredos e pecados que carrega em sua alma. Entendo que
ele está tão preso como eu, quando escorreguei em um
vestido laranja provocante e fui vender o meu corpo pelo
maior lance.
Billie, Jack, e provavelmente até você... Você achou que
era demais para sacrificar, por uma pequena percentagem de
sucesso, não é? Mas eu não. Faria qualquer coisa pela minha
mãe. Mataria por ela? Se alguém subisse para o quarto dela e
ameaçasse sua sobrevivência, sim, sem nem mesmo
pestanejar. Blake e eu somos de mundos diferentes e ainda
assim, somos farinha do mesmo saco.
Silenciosamente, coloquei meu filho em sua cadeirinha.
Ele sorri para mim. Olho em seus olhos azuis claros e me
pego soluçando. Como ele é sortudo. Ele é puro. Não fez nada
de errado, ainda.
Desço as escadas.
Brian está sentado na mesa da cozinha assistindo TV.
Está passando a notícia do acidente de avião do pai de Blake.
Quando me vê na porta, ele desliga a televisão e se levanta.
Algo mudou em seus olhos. Um novo respeito. É em
reconhecimento de minha associação com o novo chefe do
império Barrington.
— Bom dia, senhora.
Senhora? Até essa é novidade.
— Bom dia, Brian. Existe uma igreja próxima?
— Claro, mas não está aberta ainda. Está um pouco
cedo.
— Podemos tentar, de qualquer maneira?
— Claro. Você gostaria de ir agora?
— Sim.
— Eu vou avisar Steve.
Do lado de fora, Tom está cuidadosamente polindo o
Bentley.
— Bom dia, Srta. Bloom. — ele fala.
Eu aceno.
Brian me leva para a igreja e, por sorte, um homem está
fechando as grandes portas. Corro até ele, com o Bebê
Conforto na mão.
— Oh, por favor, por favor. Posso entrar e fazer uma
oração rápida?
Ele olha para mim, olha para a criança. Atrás de seus
óculos de aros dourados seus olhos são gentis, inocentes,
sem a menor consciência de que fui tocada pelo pecado. Será
que ele acreditaria em mim, se eu dissesse sobre o mundo
secreto dos filhos de El? O que eles fazem por poder e
dominação? Mesmo para mim, à luz fria do dia, tudo parece
ser um pesadelo fantástico ou um roteiro de filme
particularmente ruim.
Ele sorri gentilmente, e abre a porta.
— Obrigada. Muito obrigada.
— Estarei lá fora. Vá com Deus, minha criança.
Dentro é muito tranquilo. Primeiro, eu me consagro com
a água benta, então ando na antiga igreja. A luz está
infiltrando através dos vitrais, um aspecto magnífico na
escuridão de pedra cinzenta. Ela navega em uma grande
estatua da morte de Cristo, suspensa, se lamentando acima
do altar. E ao redor, o cheiro de flores e samambaias.
Fico admirada, em silêncio, no meio da casa de Deus.
Uma ovelha perdida retornando ao seu rebanho. Sozinha, eu
vou para o lado do salão, onde há uma estátua de Maria
carregando o bebê Jesus em seus braços. Abro uma caixa de
madeira e tiro quatro velas. Elas custam uma libra cada, mas
não tenho dinheiro comigo. Vou voltar amanhã e colocar as
quatro libras em sua caixa de doação. Acendo as velas e as
coloco em seus suportes de metal. Uma para Jack, uma para
Sorab, uma para Blake e uma para todas as crianças
pequenas.
As chamas lançam sua luz quente para as sombras.
Lembro da minha avó dizendo, Deuses não são seres
como pessoas. São apenas os seres humanos que deram a
eles braços, pernas e rostos. Eles são metáforas, para todas
as coisas que a consciência humana pode aspirar. Se há uma
escuridão chamada El, então deve haver outra metáfora para
descrever a consciência de luz e bondade. Vou orar para esse
Deus, em cada templo, mesquita, sinagoga e igreja que
encontrar.
Eu caio de joelhos, cruzo as mãos e oro.
— Querido Deus, cuide de Jack enquanto ele está na
África devastada pela guerra e o traga de volta a esta terra
bondosa, o mais rápido possível.
Eu me levanto e coloco a cadeirinha, com Sorab nela, na
frente do altar e me ajoelho no chão de pedra fria.
— Te entrego o meu filho, para mantê-lo em segurança
sempre e.... em troca, prometo fazer para as crianças tudo o
que estiver ao meu alcance... até o meu último suspiro. Não
sou uma peça dessa máquina. Eu não venho de uma
linhagem. Posso fazer a diferença. Nada está escrito em
pedra. Nem mesmo a agenda.
Então eu me curvo e oro pela alma atormentada de
Blake. Com a pedra inflexível, fria contra meus joelhos, digo a
Deus:
— Querido Deus, esta é a minha oração mais sincera e
fervorosa, se Blake deve queimar no inferno por toda a
eternidade, então devo queimar com ele. Porque nós somos
duas almas que jamais devem se separar.
Continua...
Alguns dos maiores homens nos Estados Unidos, no
campo do comércio e da indústria, têm medo de alguém ou
estão com medo de alguma coisa. Eles sabem que há um
poder em algum lugar tão organizado, tão sutil, tão atento,
tão interligado, tão completo, tão penetrante, que é melhor
não falar mais alto do que sua respiração, quando falarem
condenando isto.
Thomas Woodrow Wilson
28º Presidente dos Estados Unidos (1913—1921)