Direitos implicados na construção participada de audiovisuais – dois contextos, dois exemplos

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Direitos implicados na construção participada de audiovisuais – dois exemplos, dois contextos Introdução O estudo dos direitos de imagem, de autor e conexos, no âmbito do Mestrado em Comunicação Audiovisual 1 , fez-nos questionar a conformidade de alguns procedimentos que temos adoptado na nossa prática profissional, em actividades que podemos descrever sumariamente como construção participada de audiovisuais. O estudo das questões referentes a esta temática é relevante para todos os objectos audiovisuais produzidos pelo projecto dimensão, desenvolvido no âmbito da Agência Piaget para o Desenvolvimento (APDES) 2 , entre 2007 e 2011. Procurou-se fazer a aplicação dos conhecimentos adquiridos a uma preocupação que decorre da prática profissional, dando aqui conta de dois exemplos que apresentam uma diferença importante quanto ao modo de lidar com os direitos de imagem. Germinado na confluência dos campos da psicologia e do cinema, o projecto 7ª dimensão conceptualizou e dinamizou actividades que conjugaram o desenvolvimento humano com a produção de audiovisuais. Os diferentes contextos em que se realizou (escola, formação, reabilitação, lares de acolhimento, estabelecimento prisional) são ora sócio-pedagógicos, ora especificamente terapêuticos Os audiovisuais construídos pretendem ser, num primeiro momento e antes de mais, altamente significativos para os seus construtores e que quer o processo, quer o resultado constituam uma mais-valia para os participantes. 1 Este artigo é uma adaptação de um dos trabalhos que constituiu a prova para a avaliação da UC Políticas do Audiovisual, do Mestrado em Comunicação Audiovisual da ESMAE/IPP, leccionada pela Dra. Cristina Susigan. 2 A APDES é uma associação sem fins lucrativos, fundada em 2004, para promover o desenvolvimento integrado. Trabalha com comunidades e públicos em situação de vulnerabilidade, com o objectivo de melhorar o acesso à saúde, ao emprego e à educação, capacitando as populações e reforçando a coesão social. Para informações mais detalhadas ver www.apdes.pt

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Direitos implicados na construção participada de audiovisuais –dois exemplos, dois contextos

Introdução

O estudo dos direitos de imagem, de autor e conexos, no âmbitodo Mestrado em Comunicação Audiovisual1, fez-nos questionar aconformidade de alguns procedimentos que temos adoptado na nossaprática profissional, em actividades que podemos descreversumariamente como construção participada de audiovisuais. Oestudo das questões referentes a esta temática é relevante paratodos os objectos audiovisuais produzidos pelo projecto 7ªdimensão, desenvolvido no âmbito da Agência Piaget para oDesenvolvimento (APDES)2, entre 2007 e 2011. Procurou-se fazer aaplicação dos conhecimentos adquiridos a uma preocupação quedecorre da prática profissional, dando aqui conta de doisexemplos que apresentam uma diferença importante quanto ao modode lidar com os direitos de imagem.

Germinado na confluência dos campos da psicologia e do cinema, oprojecto 7ª dimensão conceptualizou e dinamizou actividades queconjugaram o desenvolvimento humano com a produção deaudiovisuais. Os diferentes contextos em que se realizou(escola, formação, reabilitação, lares de acolhimento,estabelecimento prisional) são ora sócio-pedagógicos, oraespecificamente terapêuticos Os audiovisuais construídospretendem ser, num primeiro momento e antes de mais, altamentesignificativos para os seus construtores e que quer o processo,quer o resultado constituam uma mais-valia para osparticipantes.

1 Este artigo é uma adaptação de um dos trabalhos que constituiu aprova para a avaliação da UC Políticas do Audiovisual, do Mestrado emComunicação Audiovisual da ESMAE/IPP, leccionada pela Dra. CristinaSusigan.2 A APDES é uma associação sem fins lucrativos, fundada em 2004, parapromover o desenvolvimento integrado. Trabalha com comunidades epúblicos em situação de vulnerabilidade, com o objectivo de melhorar oacesso à saúde, ao emprego e à educação, capacitando as populações ereforçando a coesão social. Para informações mais detalhadas verwww.apdes.pt

O que aqui se propõe é o estudo de dois objectos, construídos emdiferentes contextos:

- “Voltar a ver-me”, trabalho documental com a duração de18’30’’, realizado em 2009, com um grupo de pessoas em processode reabilitação neuropsicológica, no Centro de ReabilitaçãoProfissional de Gaia (CRPG)3;

e

- “Misturada de fruta”, animação de volumes, com uma duração de2’54’’, realizada em 2010, com um grupo de reclusos doEstabelecimento Prisional da Guarda.

A nossa análise passará por descrever quer os objectos, quer ascondições em que se desenvolveram, procurando tornar claros osprocedimentos que visam assegurar o respeito pelos direitos deimagem. O âmbito mais geral deste exercício é o questionamentoético implicado nas situações que se colocam no decorrer doprocesso de interacção e de recolha de imagens. Procuramosreflectir sobre as nossas práticas, recorrendo ao acontecido,com o objectivo de promovermos uma prática ética, que permita aconstrução de trabalhos que respeitem os direitos implicados.

1. “Voltar a ver-me”

“Voltar a ver-me” é constituído por imagens realizadas no âmbitode um processo de reabilitação neuropsicológica no CRPG, queenvolveu 8 participantes, entre Outubro de 2008 e Março de 2009.

A reabilitação neuropsicológica é uma etapa da reabilitaçãodirigida a pessoas com lesão cerebral; é normalmente uma faseinicial do processo de reabilitação, que deverá ocorrer após aalta hospitalar, em casos de AVC, traumatismo craniano, entreoutros. O CRPG define um “programa integrado visando reabilitaras capacidades afectadas por lesão cerebral adquirida, atravésda estimulação e da aprendizagem de estratégias compensadorasdos défices adquiridos ao nível cognitivo e funcional”4. É um

3 Para informações mais detalhadas ver http://www.crpg.pt 4 In http://www.crpg.pt/solucoes/reab_reint/Paginas/reabilitacaoneuropsicologica.aspx

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processo quer formativo, quer terapêutico. No nosso casoorientamos uma das sessões colectivas semanais, acompanhadaspelas duas psicólogas responsáveis, ao longo dos 6 meses deduração do processo.

O sentimento de normalidade perdido é um tema de granderelevância para o sujeito com lesão cerebral adquirida, e queexige uma abordagem terapêutica multidimensional. O corpo e aimagem de si são centrais para a relação e comunicação da pessoacom o mundo e consigo própria, tem funções essenciais para asaúde mental e para a vida relacional. O processo de luto “doque se foi” é crucial para a construção da nova identidadeconduzindo ao reconhecimento de que apesar de ter perdidocapacidades, na sua essência, a pessoa continua a mesma. O usoda arte – e do cinema/vídeo - como terapia pode contribuir parareconciliar conflitos emocionais e facilitar a auto-percepção. Ouso da imagem adquire uma importância singular quandotrabalhamos com pessoas afásicas – em que a palavra é de difícilevocação e por vezes incompreendida. A identidade é uma temáticacrucial na reabilitação neuropsicológica e a reconstrução de umanova identidade é o objectivo último do processo de reabilitaçãoapós uma lesão cerebral.

Com este enquadramento conceptual foi negociada uma estratégiade intervenção que se centraria na (re)construção da auto-imagemutilizando tecnologias vídeo e a que se chamou “7ª dimensão nareabilitação neuropsicológica”. Tratou-se da introdução do vídeonum processo estruturado, numa abordagem que torna o vídeo umaferramenta de trabalho. A captura de imagens é entendida comoparte de um processo mais global, de construção de umaexpressão, a qual tem algo de importante a devolver, no que tocaa um processo que tem muito de simbólico.

Foi celebrado um protocolo entre a APDES e o CRPG deformalização da colaboração institucional, onde foramcontratualizados os seguintes aspectos: periodicidade e duração,autoria dos produtos (metodologia e filme), monitorização eavaliação.

Ao longo de cerca de 6 meses, uma vez por semana, encontraríamosum grupo de oito pessoas, com idades entre os 17 e os 42 anos,que possuíam em comum o facto de terem sofrido uma lesão

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cerebral, que ora afecta a mobilidade, a fala, o domínio sobreos gestos, ora competências propriamente cognitivas como amemória.

O trabalho com pessoas vulneráveis deu um particular destaqueaos direitos de personalidade em causa; talvez devido a essafragilidade, sentimos de forma mais crucial a responsabilidadeética implicada na situação. No primeiro contacto directo quetivemos com o grupo esclarecemos os objectivos e promovemos oseu debate, após o que obtivemos o consentimento informado detodos os elementos.

“Voltar a ver-me” inclui imagens desenvolvidas utilizandodiferentes dispositivos, sucessivamente utilizados ao longo dassessões que animamos, a saber:

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Fotogramas de “Voltar a

- entrevistas;

- videoativo5;

- filmagens em circuito fechado (com projecção do que está a serfilmado);

- pixilação e time-lapse.

Apesar da ideia inicial ser a utilização exclusivamente dasimagens animadas (pixilação ou animação de objectos), asentrevistas recolhidas ganharam um valor de representação quenão foi considerado inicialmente.

Considerando os direitos de personalidade (consignados nosartigos 70-80 do Código Civil), especificamente ao consignado noartº 79 sobre o direito à imagem, foi introduzida a questãoformal da cedência de direitos de imagem. Adaptamos uma minutade contrato de cedência de imagens e com o conhecimento ecolaboração das técnicas do CRPG, num dos encontros fizemos aleitura conjunta das cláusulas principais e esclarecemos todasas questões que então surgiram. Em mais do que uma situação foinecessário solicitar a autorização aos tutores, ou num caso, daencarregada de educação. O processo de assinatura dasautorizações foi levada a cabo pelas responsáveis técnicas, oque facilitou todo o processo, que nesta fase poderia mudar ascondições de utilização das imagens…

A montagem organizou-se num primeiro momento em torno dasquestões que são relevantes para as próprias pessoas e para oseu processo de reabilitação. Por exemplo, o destaque dado aopapel da família relaciona-se com o papel central assumido noprocesso de recuperação de cada uma das pessoas. Foi realizadauma projecção do trabalho no âmbito do encontro final doprocesso de reabilitação, dirigida à comunidade (técnicos,famílias e amigos dos participantes) e distribuído um dvd a cadaum dos participantes. O trailer está disponível paravisionamento em https://www.youtube.com/watch?v=fJeOn8IXN_Q.

E em relação aos direitos conexos? Uma das actividades quedesenvolvemos com o grupo partiu do poema de Mário de Sá-5 Técnica que conhecemos através da AVISCO, estudada por Elena Pasetti, queconsiste num dispositivo fechado de vídeo que captura imagens por baixo de umamesa de vidro e as devolve num ecrã à frente do utilizador.

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Carneiro “eu não sou eu nem sou o outro”, que parece adquirir umnovo significado quando visto à luz da experiência de uma pessoacom lesão cerebral. Esse mesmo poema que foi musicado e cantadopor Adriana Calcanhotto e que utilizamos na montagem do vídeo. Éneste ponto que este trabalho falha o cumprimento legal. Emaberto continua a possibilidade de adquirir os direitos deutilização.

Todavia este trabalho tem sido mostrado, embora de uma formalimitada, por exemplo em aulas leccionadas na Faculdade dePsicologia e de Ciências da Educação directamente relacionadascom a reabilitação neuropsicológica, ou congressos da área.

2. “Misturada de frutas”

Esta curta de animação de volumes foi desenvolvido no âmbito deum projecto financiado pelo Instituto da Droga e daToxicodependência (IDT), promovido pelo projecto Vanguarda daAPDES, no Estabelecimento Prisional da Guarda (EPG), desde 2009.

As imagens foram capturadas no decorrer da “Oficina de Imagem ede Desenvolvimento Pessoal”, parte integrante de um conjunto deacções de formação no contexto daquele estabelecimento prisional(EP), visando a prevenção do consumo de substâncias psicoactivase da reinserção sócio-profissional, após a saída do EPG.

Os objectivos foram formulados no sentido da promoção do auto-conhecimento, e numa versão inicial propôs-se trabalhar sobre oauto-retrato. No entanto, esta estratégia revelou-se desadequadaao contexto ou, pelo menos, à dinâmica do grupo que encontramosnessa primeira vez. As tensões entre os diferentes elementos, osassuntos “quentes”, as relações de oposição/hostilidade entrealguns elementos levaram a que as imagens recolhidas fossemarquivadas… Dessa primeira experiência partimos para areformulação da nossa proposta; nos grupos seguintes

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desenvolvemos um trabalho de expressão através da pixilação6. Atécnica foi demonstrada e aplicada em diversos exercícios decariz lúdico-pedagógico. Numa das sessões os ânimos estavamdivertidos e proporcionou-se a participação de um guarda que“assistia” à formação e com quem existia uma boa relação. O sr.X logo acedeu aos pedidos de participação e num momento de“subversão simbólica”, a massa de gente expulsou o sr. X, quetentava organizar o trânsito…

Os evidentes constrangimentos colocados pela captura de imagensdirectas, que incluíam corpo e rosto levaram-nos a procuraroutras técnicas mais “abstractas” e certamente mais anónimas,como a animação de recortes e de volumes. Este foi o cenário quelevou à realização da animação “Misturada de frutas”. Depois determos trabalhado com alguns grupos, com cerca de 8/10participantes, mas com uma participação variável, tivemos aoportunidade de trabalhar com um grupo de 8 reclusos, que semostraram muito motivados com a proposta da oficina. Nessaaltura andávamos influenciados pela ideia da criatividadeenquanto ponto de fuga, convencidos que enquanto mantivermos umanoção do que é a liberdade, algures na nossa mente, nãoestaremos “completamente” fechados; e essa foi uma ideia quesentimos como necessária, talvez devido à opressão que sentíamosnaquele contexto. O tema que propusemos para a animação foi “Aliberdade”. Surgiram várias ideias e alguns textos que falavamsobretudo da espera, da ânsia pelo dia que chegará em que sevoltará a estar em “liberdade”. A proposta de pensar a“liberdade” não era obviamente indiferente a muitas das pessoascom quem contactamos.

A animação realizada para “Misturada de fruta” foi largamenteimprovisada a partir da discussão da ideia de “liberdade”,também sobre os seus limites, e uma outra ideia que seintroduziu como necessária e que foi a de “colectivo” e danecessidade de se encontrar uma forma de todos contribuírem paraum mesmo trabalho. E gostamos de acreditar que a “Misturada defrutas” o exprime de algum modo.

6 Técnica de animação de pessoas e de objectos reais. As filmagens imagem-a-imagem ou frame-a-frame, são sequências de fotografias que produzem movimentose efeitos interessantes. É aliás um dos princípios donde derivam os chamadosefeitos especiais.

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O processo de construção de objectos e de animação foi muitorápido, comparativamente aos tempos da animação profissional.Cada um desenvolveu a sua personagem – uma fruta – que tambémanimou. Este trabalho foi pensado para ser mostrado no âmbitopropriamente formativo; o entusiasmo causado levou a que fossemostrado a toda a comunidade do EPG, em situações comemorativascomo o aniversário do EPG ou a Festa de Natal.

Numa primeira versão utilizamos faixas musicais “disponíveis”para audição. Posteriormente, solicitamos a um colega músico,também contratado pela APDES, a criação da música para estetrabalho, pelo que actualmente possui música original. Estasituação trouxe à discussão a necessidade de negociar apropriedade intelectual sobre as criações realizadas nestas

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Fotogramas de “Misturada

condições. Este é aliás um ponto que deverá ser objecto dereformulação. Sugerimos que em situações futuras possa serobjecto de formalização contratual, que esclareça os termos deuso, de finalidade e de período de tempo.

Destacamos ainda que o trabalho desenvolvido não foi objecto dequalquer contratualização institucional específica… Ao abrigo deuma situação de formação que utiliza um dispositivo de capturade imagens (situação muito diferente por exemplo da defotografar ou filmar o próprio estabelecimento, o que coloca umasérie de obstáculos) não foi celebrado um protocolo específico,ao contrário do caso que vimos anteriormente.

Não se colocou nesta situação a questão da cedência de direitosde imagem. Pode-se todavia colocar a negociação da propriedadeintelectual e dos direitos de autor. A questão foi levantada, emtom de brincadeira e numa fase muito inicial do trabalho, poralguns dos elementos do grupo. Foi portanto procurada adiscussão e o acordo quanto à forma de creditar a participaçãode cada um e esclarecidos alguns aspectos sobre a divulgação dotrabalho. Os créditos do filme foram atribuídos integrando asdecisões tomadas pelo colectivo, e o vídeo foi disponibilizadopara visionamento público em https://www.youtube.com/watch?v=ezE5JMOp_R8.

Não podemos deixar de salientar que na animação “Misturada defrutas”, não é feita qualquer referência ao contexto em que otrabalho foi realizado. Porém, o trabalho realizado contém muitaprojecção dos seus construtores, apesar de não ter quase nenhumaexposição da sua própria imagem. E de igual modo, o próprioespaço do estabelecimento prisional é um lugar ausente dasimagens...

3. Conclusões

A justaposição destes dois casos permitiu-nos notar que houveuma diferença relevante relativamente ao grau de formalidade eenvolvimento institucional que ocorreu num e noutro caso.

Relativamente a um trabalho realizado numa instituiçãototalitária, como é o caso de um estabelecimento prisional, onde“todos os passos são medidos”, os espaços confinados e

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controlados, o equipamento revistado e objecto de umaautorização de entrada específica como equipamento necessário àformação, o grau de formalização foi claramente inferior aoverificado no caso do trabalho no CRPG. De algum modo ficamossurpreendidos com esta conclusão, por não esperarmos que aocontexto prisional pudesse estar associado um maior grau deinformalidade. Parece-nos agora claro que esta conclusão nos dizalgo sobre o funcionamento de cada uma das instituições, e mesmodo nosso funcionamento em cada uma delas, e sobre um diferentecuidado na defesa dos direitos dos seus “utentes”.

Por outro lado, e mais próximos da temática que despoletou estareflexão, pretendemos em situações futuras semelhantes utilizaro sistema de licenças da Creative Commons, procurando melhorar anossa prática no que se refere à regulação da propriedadeintelectual, nomeadamente quando disponibilizarmos os trabalhosem plataformas vídeo da internet.

Por último não queremos deixar de dizer que este trabalho foitambém um exercício de reflexão sobre a nossa prática, que aopretender descrever de forma clara o acontecido e o recolhido,encontra um fio de sentidos. Muitas questões continuam porresponder, algumas ficam por agora respondidas.

4. Webgrafia

http://www.verbojuridico.com/download/codigocivil2010.pdf

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