DANO MORAL EM FAVOR DA PESSOA JURÍDICA: MÉTODOS DE AFERIÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO
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DANO MORAL EM FAVOR DA PESSOA JURÍDICA: MÉTODOS DE
AFERIÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO
Luca Celane de Abreu Dias1
Orientado por Carlos Alberto José Barbosa Coutinho2
RESUMO: Este trabalho analisa os critérios utilizados naquantificação da indenização por danos morais em prol dapessoa jurídica. Aborda o conceito de pessoa jurídica,incluindo a sua capacidade jurídica, bem como a suaclassificação e a formação, que ocorre através de registro noórgão competente. Em seguida, apresenta um breve histórico dosdireitos de personalidade, a sua definição e características,evidenciando a sua importância no ordenamento jurídicobrasileiro. Trata sobre o dano moral, explicitando seuconceito, métodos de quantificação e os critérios utilizadospelos julgadores para aferir o quantum indenizatório. Por fim,apresenta a problemática, tendo em vista a imprecisãolegislativa sobre o tema.
PALAVRAS-CHAVE: Quantificação; Dano Moral; Pessoa Jurídica;
Quantum Indenizatório; Métodos de Aferição;
1. Introdução
Sabe-se que o dano moral pode ser conceituado como “a
lesão de interesses não patrimoniais de pessoa física ou
jurídica, provocada pelo ato lesivo” (DINIZ, 2010, p. 97), e
1 Acadêmico do100 semestre noturno do curso de Direito da Faculdade deTecnologia e Ciências (FTC- Salvador). E-mail: <[email protected]>.2 Graduado em Direito pela Universidade Católica de Salvador (UCSAL). Mestreem Estudos Interdisciplinares (EISU/UFBA). Pós-Graduado em Processo Civil(Jus Podivum). Professor de Direitona Faculdade de Tecnologias e Ciências (FTC-Salvador). Advogado. E-mail:<[email protected]>.
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que atualmente as pessoas jurídicas vêm sofrendo diversos
prejuízos em sua imagem.
Diante desse panorama, surge a necessidade de se
apresentar um estudo acerca do dano moral sofrido pela pessoa
jurídica, bem como os critérios utilizados na mensuração do
quantum indenizatório. Demonstrar-se-á também no decorrer deste
artigo, os métodos e conceitos a serem utilizados no
arbitramento da reparação pleiteada, levando em consideração a
extensão do dano moral provocado.
Impera-se a possibilidade da pessoa jurídica pleitear a
indenização por danos morais, sendo esta a posição majoritária
da doutrina e da jurisprudência. Tal entendimento é reforçado
pela Súmula nº 227 do Superior Tribunal de Justiça, editada em
setembro de 1999, por decisão da 2ª turma, que dispõe: “A
pessoa jurídica pode sofrer dano moral”.A súmula foi criada a
partir do voto do ministro Néri da Silveira, no qual se
entende que o artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal de
1988, que dispõe ser “(...) invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito
à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação”, se aplica também à pessoa jurídica.
Entretanto, inexistem critérios na legislação a serem
utilizados pelo magistrado para a sua quantificação, visto que
não há o aspecto subjetivo, ou psíquico, para que se mensure a
extensão do abalo da pessoa jurídica.
A pessoa jurídica é ente capaz de adquirir direitos e de
contrair obrigações, podendo, consequentemente, sofrer danos
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morais, seja por mácula a sua imagem, seja por restrição
indevida do seu nome em cadastros restritivos de crédito.
Estes e outros fatos geram transtornos de ordem patrimonial e
extrapatrimonial, podendo aventar-se ainda a responsabilidade
civil pela perda da chance, gerando assim a tarefa de
estabelecer critérios de como seria possível mensurar a
extensão do abalo sofrido pelas pessoas jurídicas.
Levando em consideração o fato de que o dano é o prejuízo
sofrido pela pessoa, com repercussões negativas sobre a sua
vida, e atingindo bem jurídico, este necessita de reparação. A
legislação brasileira estabeleceu no artigo 52 do Código Civil
de 2002, que se aplica às pessoas jurídicas a proteção dos
seus direitos de personalidade.
A presença das pessoas jurídicas no cotidiano é de suma
importância nos dias atuais, mas há entendimentos divergentes
sobre a possibilidade dessas pleitearem a indenização por
danos morais.
Para a doutrina que se manifesta contrariamente à
possibilidade da pessoa jurídica sofrer dano moral, “utiliza-
se o argumento da sua falta de subjetividade, o que impediria
que esta não pudesse sofrer dano moral que consista em
incômodo à segurança pessoal, ao gozo de seus bens ou que fira
os seus sentimentos” (SANTOS, 2003, p. 301); ou na opinião de
ALSINA (1993, p. 88), o qual afirma que as pessoas jurídicas
não podem, em nenhum caso, sofrer dano moral porque não têm
sentimentos passíveis de serem lesionados, nem podem sofrer
ataque à incolumidade do espírito, porque não podem sentir
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desequilíbrio emocional.
Por outro lado, a doutrina favorável à caracterização do
dano moral sofrido pela pessoa jurídica, a qual se apresenta
como majoritária e abarcada pela jurisprudência, aduz que as
pessoas jurídicas podem sofrer o dano moral, quando a lesão
atinja indiretamente o seu patrimônio, por meio de ataque aos
pressupostos pessoais atinentes às pessoas jurídicas, por
possuírem direitos extrapatrimoniais que integram a
personalidade moral dos sujeitos de direitos (SANTOS,2003).
Em se tratando de pessoa jurídica, o dano moral de que é
vítima pode atingir seu nome e sua tradição no mercado, e
sendo assim terá sempre repercussão econômica, ainda que
indireta. De qualquer forma, a reparabilidade do dano moral
causado à pessoa jurídica ainda sofre certas restrições na
doutrina e na jurisprudência, tendo em vista a complexidade de
aferir a extensão deste dano.
O presente artigo tem o ponto crucial de analisar os
critérios objetivos para quantificação dos danos morais da
pessoa jurídica, quando da aplicação do Direito ao caso
concreto, pois a falta de legislação específica nessa senda
tem gerado, todavia, decisões díspares e incongruentes.
2. Pessoa Jurídica
A necessidade da criação de uma unidade coletiva e o
desenvolvimento econômico dos povos deu origem à pessoa
jurídica, a qual careceu de personalizar os grupos para
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participar do comércio jurídico como individualidade, adotando
personalidade própria, com a reunião de pessoas utilizando
recursos coletivos para a realização de objetivos comuns, com
uma mesma pretensão.
Destarte, o direito conferiu personalidade jurídica a
esses grupos, criados na forma da lei, o que facilitou a sua
atuação no comércio e na sociedade, levando-os a praticar atos
e negócios jurídicos em geral.
2.1 Definição
A pessoa jurídica “consiste num conjunto de pessoas ou de
bens, dotado de personalidade jurídica própria e constituído
na forma da lei, para a consecução de fins comuns” (GONÇALVES,
2013, p. 192). Sua personalidade permite que atue em nome
próprio, diante de uma vontade coletiva que emana dos
indivíduos que fazem integram esta pessoa jurídica, além de
ter autorização genérica para a prática de atos jurídicos, bem
como de qualquer ato, exceto o expressamente proibido
(GONÇALVES, 2013).
A denominação pessoa jurídica é utilizada também em países
como a Alemanha, Espanha e Itália, porém existem diversos
outros países que utilizam outras expressões, tais como:
pessoas morais, pessoas coletivas, entes de existência ideal
etc. (GONÇALVES, 2013, p.180).
De fato, a pessoa jurídica engloba a maioria dos direitos
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fundamentais constitucionais, tendo poderes para atuar no
plano jurídico e reclamar a proteção jurídica oferecida pelos
direitos da personalidade, assim como ocorre com as pessoas
naturais.
Segundo Farias e Rosenvald (2008, p. 104):
A personalidade jurídica é, assim, muito mais do que,simplesmente, poder ser sujeito de direitos. Étitularizar uma tutela jurídica especial consistente emreclamar direitos fundamentais, imprescindíveis aoexercício de uma vida digna.
Ademais, a personalidade civil traduz em um dos maiores
valores do ordenamento jurídico, a capacidade jurídica
concerne uma possibilidade daqueles que são dotados de
personalidade a serem sujeitos de direito e poderem exercitá-
los pessoalmente.
A capacidade jurídica da pessoa, natural ou jurídica,
figura-se na possibilidade do exercício dos atos da vida
civil, adquirindo direitos e contraindo deveres em nome
próprio. Dentro do conceito de capacidade existem dois
aspectos que devem ser observados, a capacidade de direito e a
capacidade de fato (VENOSA, 2011, p.21).
A capacidade de direito, conhecida também como capacidade
de gozo, pode ser entendida como a medida da intensidade da
personalidade. Todo ente com personalidade jurídica possui
também capacidade de direito, tendo em vista que não se nega
ao indivíduo a qualidade para ser sujeito de direito.
Já a capacidade de fato, também chamada de capacidade de
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exercício, nada mais é do que a habilidade para praticar de
forma autônoma, ou seja, sem a interferência de terceiros na
qualidade de representantes ou assistentes, seus direitos
civis. Essa capacidade, ao contrário da capacidade de direito,
possui estágios definidos no próprio Código Civil, das quais
existem duas modalidades de incapacidade, a saber: a
incapacidade absoluta e a relativa (VENOSA, 2011).
2.2 Classificação
A classificação da pessoa jurídica pode se dar quanto à
nacionalidade, à estrutura interna e à função. Quanto à sua
nacionalidade, a pessoa jurídica se qualifica como nacional ou
estrangeira, considerando sua articulação e subordinação à
ordem jurídica que lhe conferiu personalidade, sem
desconsiderar a nacionalidade dos membros que a compõem e à
origem do controle financeiro (GONÇALVES, 2013, p 191).
A sociedade nacional é a sociedade organizada de
conformidade com a lei brasileira, e que tenha no país a sua
sede de administração. A sociedade estrangeira, independente
de seu objeto, não poderá, sem autorização do Poder Executivo,
funcionar no País, ainda que por estabelecimento subordinados,
podendo, entretanto, ressalvados os casos previstos em lei,
ser acionista de sociedade anônima brasileira. Se esta for
autorizada a funcionar no Brasil, deverá se sujeitar às leis e
aos tributos brasileiros, devendo ter seus atos praticados e
representados no Brasil, podendo nacionalizar-se, transferindo
sua sede para o Brasil, conforme exposto no artigo 1.134 a
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1.141 do Código Civil. (GONÇALVES, 2013).
Quanto à estrutura interna, poderá ser a pessoa jurídica:
corporação e fundação. A corporação se caracteriza pelo seu
aspecto pessoal, constituída por um conjunto de pessoas,
reunidas para melhor consecução de seus objetivos, tendo sua
origem romana. As corporações se dividem em associações e
sociedades, podendo ser simples (que tem fim econômico e visa
o lucro) e empresárias (que também visam o lucro), denominadas
antigamente em civis e comerciais, bem como partidos
políticos, organizações religiosas e empresas individuais
(GONÇALVES, 2013).
Nas fundações, o aspecto dominante é o material, compondo-
se de um patrimônio personalizado, destinado a determinado
fim, sendo originada na época medieval, portanto, “As
fundações constituem um acervo de bens, que recebe
personalidade para a realização de fins determinados,
compondo-se de dois elementos: o patrimônio e o fim
(estabelecido pelo instituidor e não econômico)” (GONÇALVES,
2013, p. 197), sendo fiscalizada pelo órgão do Ministério
Público Estadual em que estiver situada.
Caso os bens destinados à fundação não se apresentem
suficientes para o atendimento de suas finalidades, poderão
ser incorporados em outra fundação que se destine a um fim
igual ou semelhante, exceto se o instituidor houver disposto
de maneira diversa, à luz do artigo 32 do Código Civil.
Quanto às funções e capacidade, a partir do artigo 40 do
Estatuto Civil, é possível estruturá-las em: a) pessoa
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jurídica de direito público ou b) pessoa jurídica de direito
privado.
As pessoas jurídicas de direito público são marcadas pela
presença preponderante do Poder Público, se subdividindo,
dependendo do seu âmbito de atuação funcional, em pessoas de
direito público interno, dispostas no artigo 21 do CC, no qual
engloba os órgãos da administração direta (União, Estados
federados, Distrito Federal e Municípios) e da administração
indireta (autarquias e Fundações Públicas), e de direito
externo, dirigidas pelo Direito Internacional Público, tendo a
UNESCO e ONU como exemplos (GONÇALVES, 2013).
As pessoas jurídicas de direito público externo estão
submetidas ao Direito Internacional Público, enquanto as de
direito público interno são reguladas pelo Direito
Administrativo.
Vale ressaltar que as organizações religiosas são livres a
sua criação, organização, estruturação interna e
funcionamento, vedando-se ao Estado negar reconhecimento ou
registro aos seus atos constitutivos, conforme artigo 44 do
Código Civil. Diferente destas, os partidos políticos, a sua
estruturação e sua disciplina estão contempladas na Lei. Nº
9.096/95.
3 Formação
A pessoa jurídica terá o início de sua personalidade
distinta das pessoas naturais ocorre através da inscrição do
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ato constitutivo em registro competente, pois para estas
ocorrerá em razão de sua estrutura biopsicológica, tendo
inicio com seu nascimento (GONÇALVES, 2013). A pessoa jurídica
adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro
próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos,
conforme dispõe os artigos 45 e 985 do Código Civil de 2002.
No que se refere à pessoa jurídica de direito público, sua
personalidade é conferida pela norma jurídica conforme extrai-
se do artigo 43, do Código Civil de 2002. Já a pessoa jurídica
de direito privado, será através de registro no órgão
competente, necessitando obedecer quatro requisitos: a vontade
humana criadora, a elaboração do ato constitutivo (devendo ser
formalizado, por estatuto ou contrato social), o registro do
ato constitutivo no órgão competente e a liceidade de seu
objetivo (GONÇALVES, 2013).
O registro dos atos constitutivos da pessoa jurídica
deverá ser realizado no Cartório de Registro das Pessoas
Jurídicas (quando se tratar de sociedade simples ou
associações) ou na Junta Comercial (quando se tratar de
sociedade empresária ou EIRELI). Destaca-se que somente
adquire personalidade jurídica no momento em que for realizado
o referido registro.
Este registro civil da pessoa jurídica tem prazo
retroativo de 30 dias, exatamente para conferir regularidade
aos atos praticados pela empresa neste período, consoante Lei
nº 8.934/94, de maneira que vinculem os sócios. (GONÇALVES,
2013).
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Conforme salienta Farias e Rosenvald (2008),
diferentemente das pessoas naturais (cujo registro civil tem
natureza puramente declaratória), o registro dos atos
constitutivos da pessoa jurídica tem natureza constitutiva,
sendo verdadeiro instrumento de reconhecimento de sua
personalidade jurídica, que inexiste antes disso. A partir do
registro, a pessoa jurídica disporá de personalidade jurídica
e estrutura patrimonial própria.
4 Direitos da Personalidade
Segundo Maria Helena Diniz, (2010), “os direitos da
personalidade são aqueles subjetivos e que têm como ponto
central os bens e valores intrínsecos da pessoa, nos seus
aspectos físicos, morais e intelectuais”.
Incorpora-se nos direitos da personalidade a necessidade
de defender o que lhe é próprio frente a qualquer dano que
venha a ameaçar a sua integridade intelectual de liberdade de
pensamento, autoria científica, artística e literária ou a sua
integridade moral, referente à honra, recato, segredo
profissional e doméstico, identidade pessoal, familiar e
social (DINIZ, 2010).
4.1 Breve Histórico
Os direitos da personalidade formam uma construção
jurídica recente, fruto da preocupação da doutrina germânica e
francesa, especialmente após a II Guerra Mundial. De fato, os
gregos não estruturavam uma categoria jurídica específica para
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tutelar a personalidade, mas, existia somente, uma ação
denominada dike kakegoric, no qual resultava em punição a quem
violava algum interesse físico ou moral (DINIZ, 2010).
A Magna Charta da Inglaterra, de 1215, foi quem estabeleceu
a proteção de aspectos fundamentais da personalidade humana,
como por exemplo, a liberdade, vindo, reconhecer os direitos
de personalidade. Mais na frente, a Declaração dos Direitos
dos Homens, em 1789, foi quem valorizou a tutela da
personalidade humana e a defesa dos direitos individuais
(DINIZ, 2010).
Contudo, somente após as atrocidades praticadas pelo
nazismo após a II Guerra Mundial contra a individualidade das
pessoas e a humanidade como um todo, foi que surgiu a
necessidade de dar uma proteção para uma categoria básica de
direitos reconhecidos à pessoa humana. Foi estabelecida então
a necessidade de assegurar uma tutela fundamental, elementar,
em favor da personalidade humana (DINIZ, 2010).
A discussão sobre esses direitos que se fizeram
necessários após a II Guerra mundial, foram levados à
Assembleia Geral da ONU, em 1948, na Convenção Européia de
1950 e no Pacto Internacional das Nações Unidas. Apesar
disso, seu avanço no âmbito do direito privado tenha sido
muito lento, embora contemplados constitucionalmente (DINIZ,
2010).
Antes do Código Civil de 2002, esses direitos de
personalidade eram concedidos por leis extravagantes e pela
Constituição Federal de 1988, que se ocupou no seu artigo 5º,
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em vários incisos, especialmente no seu inciso XLI, que
garante a tutela genérica ao prescrever que a lei punirá
qualquer discriminação atentatória dos direitos e das
liberdades fundamentais.
Os direitos da personalidade somente puderam construir-se
no fim do século XX, ante o redimensionamento da noção de
respeito à dignidade da pessoa humana, que pode ser expressado
com a lembrança acerca da responsabilidade do Estado em
assegurar que o indivíduo tenha as condições mínimas
necessárias para sua sobrevivência, sendo inclusive esta
finalidade assegurada na Constituição Federal de 1988 como
sendo um princípio fundamental do Estado Democrático de
Direito conforme previsto no artigo 1º, III da CRFB/88.
(SANTOS, 2011). Isto se faz de tanta importância que uma
ofensa a tais direitos, caracterizaria dano moral e
patrimonial indenizável (DINIZ, 2010).
Ademais, o Código Civil de 2002 reconheceu expressamente
os direitos da personalidade, nos artigos 11 a 21. Contudo,
muitos ordenamentos jurídicos entendem que o melhor caminho
seria a inscrição dos direitos da personalidade no texto
constitucional, o que elevaria ao status de princípio
fundamental, tornando mais efetiva a dignidade da pessoa
humana (DINIZ, 2010).
4.2 Definição
Com o intento de satisfazer suas necessidades sociais, o
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homem adquire direitos e assume obrigações, podendo ser
sujeito ativo ou passivo dessas relações. Pode-se assegurar
que os direitos da personalidade são aqueles direitos
subjetivos reconhecidos à pessoa, são direitos essenciais ao
crescimento e ao desenvolvimento da pessoa humana, onde se
convertem as projeções físicas, psíquicas e intelectuais do
seu titular, individualizando-o de forma a lhe conceder uma
avançada e segura tutela jurídica, possibilitando a atuação na
defesa de sua própria pessoa (NICOLODI, 2003).
Conceituam-se os direitos da personalidade como aqueles
que têm por objeto os atributos físicos, psíquicos e morais da
pessoa em si e em suas projeções sociais. Esses direitos da
personalidade compõem todo um conjunto de faculdades jurídicas
reconhecidas à pessoa humana, onde o objeto são os bens
jurídicos caracterizados pelos diferentes aspectos, sendo
compreendidos como direitos essenciais à pessoa humana, a fim
de resguardar sua própria dignidade (NICOLODI, 2003).
Diniz (2010, p. 120) conceitua os direitos da
personalidade como:
Direitos subjetivos da pessoa de defender o que lhe épróprio, ou seja, a sua integridade física (vida,alimentos, próprio corpo vivo ou morto, corpo alheiovivo ou morto, partes separadas do corpo vivo ou morto);a sua integridade intelectual (liberdade de pensamento,autoria científica, artística e literária); e a suaintegridade moral ( honra, recato, segredo profissionale doméstico, identidade pessoal, familiar e social)
O Código Civil dedicou um capítulo novo aos direitos da
personalidade, visando salvaguardá-los sob múltiplos aspectos,
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desde a proteção dispensada ao nome e à imagem até o direito
de se dispor do próprio corpo para fins científicos ou
altruísticos.
4.3 Características
Dentre as características elencadas nos direitos da
personalidade, essas são definidas como: ilimitadas,
absolutas, imprescritíveis, impenhoráveis, não expropriáveis e
vitalícios, além do que já dispõe no próprio artigo 11 do
Código Civil pátrio, no quais são intransmissíveis e
irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação
voluntária (DINIZ, 2010, p. 120).
A intransmissibilidade e irrenunciabilidade são as duas
características que estão expressamente no Código Civil, e
ocasionam a indisponibilidade dos direitos da personalidade.
Essa característica não permite que seu titular transmita a
terceiros, renunciando o seu uso ou abandonando-os, pelo fato
de nascer e morrer com ele, sendo inseparável.
Contudo, os atributos que admitem a cessão de seu uso são
a imagem e os direitos autorais, que podem ser explorados
comercialmente, com algum tipo de retribuição. Além destes, é
permitido também a cessão gratuita de órgãos do corpo humano,
para fins altruísticos e terapêuticos, sem esquecer de que se
pode autorizar, contratualmente, não só a edição de obra
literária, como também a inserção, em produtos, marcas,
desenhos ou qualquer ou criação intelectual, conforme explica
Diniz (2010, p.121).
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Importante ressaltar, que apesar dos direitos da
personalidade serem personalíssimos, como já supracitado, a
pretensão ou direito de exigir sua reparação pecuniária, em
caso de ofensa, transmite-se aos sucessores, nos termos do
artigo 943 do Código Civil de 2002. Nessa linha, já decidiu
percucientimente, o Superior Tribunal de Justiça, na decisão
RSTJ 71/183: “O direito de ação por dano moral é de natureza
patrimonial e, como tal, transmite-se aos sucessores da
vítima.” (GONÇALVES, 2013, p. 158).
Existe entre as características dos direitos de
personalidade o absolutismo, que se manifesta em um caráter de
generalidade, pelo fato de envolver toda a pessoa humana,
sendo erga omnes. Isso dá importância maior, sendo relevante e
fundamental para o direito da personalidade.
Também são Ilimitados os direitos de personalidade, pois,
o Código Civil não os relaciona expressamente nos seus arts.
11 a 21, se referindo apenas a alguns, podendo ser apontado
ainda, como exemplo, o direito a alimentos, ao planejamento
familiar, ao leite materno, culto religioso, à identidade
pessoal, velhice digna, entre outros (DINIZ, 2010).
Além do mais, o desenvolvimento econômico e científico em
que vivemos atualmente, pode trazer ocasiões em que necessitem
a criação de novos direitos, e que futuramente deverão
integrar tanto o Código Civil quanto a Constituição Federal.
São imprescritíveis por não se extinguirem pelo decurso de
tempo, nem pela inércia na pretensão de buscá-lo
judicialmente, ressaltando que a pretensão reparatória
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prescreve em três anos. Além de impenhoráveis, por serem
inseparáveis da pessoa humana trazem a ele a característica de
serem indisponíveis, ou seja, é um direito que não poderá ser
penhorado para terceiro (DINIZ, 2010).
Entretanto, sua indisponibilidade não é absoluta, como já
fora supracitado, sendo que alguns desses direitos poderão ser
cedidos comercialmente, mediante retribuição pecuniária.
Os direitos da personalidade, como também já assinalado,
são inatos, vitalícios, adquiridos no instante do nascimento
com vida e acompanham a pessoa até sua morte (DINIZ, 2010 apud
GONÇALVES, 2013).
Muito embora o ordenamento pátrio e a doutrina esbocem
diversas características frente aos direitos de personalidade,
existe a possibilidade de alguma disponibilidade de tais
direitos, levando-se em conta a autonomia jurídica individual
e a autonomia privada. Dessa forma, as características do
direito de personalidade devem ser analisadas, com alguma
discricionariedade, pois admiti-las como absolutas e
intangíveis, é não enxergar a realidade social.
5 Dano Moral
Os primeiros indícios do surgimento dos danos
extrapatrimoniais no direito positivado surgiram através do
Código de Hamurabi, que foi elaborado por volta de 1700 a.C.
pelo próprio rei Hamurabi, no qual se preocupou em proteger os
indivíduos, para que fosse mantida a ordem social (REIS,
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2008).
O código estabelecia como compensação ao ofendido, uma
diminuição patrimonial do seu ofensor, servindo como uma forma
de vingança. Este meio de reparação, se fazia presente nos
artigos 209, 211 e 212 do citado código.
No direito brasileiro, os danos extrapatrimoniais tiveram
o seu reconhecimento antes mesmo do Código Civil, no período
da Consolidação de Teixeira de Freitas, existindo movimentos
para sua admissão no primeiro projeto de Código Civil do país
(REIS, 2008). Observa-se no art. 800 da Consolidação, em que
dizia: “A indenização será sempre a mais completa possível; no
caso de dúvida, será a favor do ofendido”.
Apesar de ter surgido há muito tempo, mostrou-se ausente
no Código Civil de 1916, sendo que sua introdução no projeto
do Código Civil de 2002 ainda se fazia incerta, tendo em vista
que o autor do mesmo considerava que o dano extrapatrimonial
não tinha muita amplitude, passando, somente, a ser aceita num
segundo momento, onde se entendeu que a regra geral no Código
Civil seria o dano, seja ele moral ou extrapatrimonial (REIS,
2008).
O dano extrapatrimonial, corresponde aos danos centrados
na pessoa e não no seu patrimônio, no qual atinge uma ordem de
ideia, moral e espiritual, e ainda aspectos íntimos e
pessoalíssimos do constrangido (REIS, 2008). Em outras
palavras, vale dizer que o dano extrapatrimonial afeta o
patrimônio moral do individuo.
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O dano moral é o que atinge o ofendido como pessoa, não
lesando seu patrimônio. É lesão de bem que integra os direitos
da personalidade, como a honra, a dignidade, a intimidade, a
imagem e o bom nome, como se infere dos artigos 1º, III e 5º,
V e X, da Constituição Federal de 1988, e que acarreta ao
lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação.
Ou seja, o dano sofrido não poderá ser direcionado a bens
materiais ou patrimoniais, deve-se englobar os sentimentos
alcançados pela vítima, ou quem sofre por conta daquele dano,
como o dano reflexo, por exemplo, que pode ser o sofrimento
dos pais causado pela perda trágica do filho. Esses poderão
reclamar reparação pecuniária em razão do dano moral sofrido.
O que vem acontecendo atualmente no direito brasileiro, é
a chamada Indústria do Dano Moral, no qual, qualquer simples e
ínfima lesão já dá ensejo para se pleitear a indenização em
comento (REIS, 2008).
A doutrina é pacífica e uníssona quando se trata da
Indústria do dano moral, apresenta-se na Constituição Federal
de 1988 de forma extensa e trazendo em seu bojo um rol
exemplificativo e não exaustivo das hipóteses em que se
configuram o dano moral, ensejando assim na vasta
possibilidade de se pleitear a indenização fundada muitas
vezes em motivos ínfimos, situações corriqueiras e que geram
constantes discussões na doutrina acerca da banalização do
instituto do dano moral (REIS, 2008).
Para Celso Cavalieri (2012), para se evitar esses excessos
e abusos outrora citados, deve-se reputar único e
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exclusivamente como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou
humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente
no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe
aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar.
Válido ressaltar, que os doutrinadores subdividem o dano
moral em direto e indireto. Carlos Roberto Gonçalves (2013)
conceitua o dano moral direto e indireto da seguinte forma:
O dano moral direto, que resume- se na lesão a uminteresse que visa satisfazer um bem jurídicoextrapatrimonial contido nos direitos da personalidade,como a honra, intimidade, imagem, entre outros. Já odano moral indireto, consiste na lesão a um interessetendente à satisfação ou gozo de bens jurídicospatrimoniais, que produz um desprezo a um bemextrapatrimonial devido a uma lesão a um bem patrimonialdo ofendido.
O dano moral somente ingressará no mundo jurídico, com a
subsequente obrigação de indenizar, devendo anteriormente ter
existido alguma grandeza no ato ofensivo a direito
personalíssimo, pois a principal característica que se percebe
no instituto do dano moral é a proteção dos bens jurídicos de
ordem extrapatrimonial, contidos nos direitos de
personalidade.
Em síntese, não se deve reputar o simples aborrecimento ou
irritação, como margem ao dano moral, por fazerem parte do
nosso cotidiano, na vida pessoal e profissional.
6 Quantificação do Dano Moral
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No dano material, a quantificação do ressarcimento busca
trazer ao ofendido a condição que existia antes do fato,
considerando a fórmula dos danos emergentes e lucros
cessantes, ao passo que no dano moral há mais complexidade
para a quantificação e arbitramento, isso porque o objetivo do
dano moral consiste em um consolo a vitima, inexistindo
critérios definidos para arbitramento desse valor adequado
(GONÇALVES, 2013).
Importante salientar que não existe no Brasil qualquer
critério de tarifação, pelo qual, o montante da indenização
seria pré-fixado, o que poderia dar valores a serem pagos
antecipadamente de acordo com o dano. Essa falta de critério
dá ao Juiz o poder de escolha livre sobre qual critério
adotará, mas em concordância com a lei e a jurisprudência,
sendo fixado logo na sentença, sem se remeter a sua apuração
para o juízo de execução (GONÇALVES, 2013).
6.1 Métodos utilizados na quantificação do dano moral
Existem na doutrina brasileira de forma geral duas
correntes para a fixação do quantum indenizatório. Uma
denominada de sistema aberto ou ilimitado, que atribui ao
prudente arbítrio do juiz a fixação da indenização pelo dano
moral, e a outra, denominada de sistema fechado ou tarifado, a
qual estabelece que os valores sejam “predeterminados pela lei
ou pela aplicação da analogia e da integração analógica”
(STOCO, p 1.670, 2004).
22
O juiz, ao fixar o quantum indenizatório, utilizando-se
do sistema aberto deverá analisar as peculiaridades advindas
do caso concreto, os elementos probatórios trazidos aos autos
de forma prudente e justa, fundamentando a sua decisão no
princípio do livre convencimento motivado, disposto no artigo
131, do Código de Processo Civil. Em contrapartida, não poderá
determinar um valor que traduza um enriquecimento sem causa,
nem tampouco que represente algo inexpressivo, à luz do
princípio da razoabilidade e do princípio da equidade
(GARBELLINI, 2010).
Já no sistema fechado ou tarifado, são estabelecidos
valores mínimos e máximos a título de indenização em favor da
vítima, valores esses fixados pela lei ou em virtude da
analogia ou da integração analógica.
No direito brasileiro, tenham-se como exemplos as tarifas
máximas previstas pela Lei de Imprensa (200 salários mínimos),
pela Lei de Direitos Autorais (3.000 exemplares), pelo Código
Brasileiro de Aeronáutica (3.500 OTN por morte e 150 OTN por
morte) e pelo próprio Código Civil de 2002, em seu art. 940
(aquele que demandar por dívida já paga deverá pagar o dobro
do que houver cobrado).
Para Gonçalves (2013), na indenização por dano moral, o
grau de culpa e a extensão do dano devem ser levados em conta,
juntamente com a gravidade, repercussão da ofensa, intensidade
do sofrimento, ressalvando que a culpa concorrente do lesado
constitui fator de atenuação da responsabilidade do ofensor.
Não se trata então de aplicação inflexível, mas de mera
23
base de raciocínio do Juiz, que não está vinculado a qualquer
regra neste campo, pois, com frequência há necessidade de
serem fixados valores estratosféricos frente ao dano causado.
Portanto, devem ser sempre sopesadas as situações no caso
concreto, onde o Juiz avaliará a magnitude da lesão sofrida
pela vítima, analisando as provas e a realidade encontrada nos
dias atuais.
6.2 Critérios utilizados para quantificar a indenização
por dano moral sofrido pela Pessoa Jurídica
Reparar o dano moral, qualquer que seja sua natureza,
significa indenizar o ofendido pelo dano sofrido, observando
que tal reparação deve possuir um caráter de cunho
compensatório, fazendo-se retornar ao ofendido a situação que
lhe era confortável, somando ainda a este caráter, o aspecto
punitivo com a finalidade de abster-se o ofensor na prática
reiterada destes atos.
Vale salientar a lição de Sergio Cavalieri Filho (2012, p.81) quanto ao caráter da fixação do valor indenizatório dodano moral:
Creio que na fixação do quantum debeatur da indenização,mormente tratando-se de lucro cessante e dano moral,deve o juiz ter em mente o princípio de que o dano moral não podeser fonte de lucro. A indenização não há dúvida, deve sersuficiente para reparar o dano, o mais completamentepossível, e nada mais. Qualquer quantia a maiorimportará enriquecimento sem causa, ensejador de novodano.
Conforme anteriormente exposto, em que a pessoa jurídica
24
possui legítimo interesse de ordem imaterial, fazendo jus à
indenização por dano moral, conforme previsto no artigo 5º, X,
da Carta Magna, assim como entendimento consolidado pelos
tribunais superiores de acordo com a Súmula 227 do STJ,
geralmente nos casos onde seu conceito no mercado seja abalado
por qualquer ato que enseje a fato danoso (MACKENZIE, 2007, p.
357), irá lhe representar um abalo financeiro e a moral dos
membros que a compõem.
Se tratando da reparação do dano moral sofrido pela pessoa
jurídica, diferente da pessoa natural, inexiste o critério
subjetivo, ou seja, a perturbação, que cause alteração do bem
estar psicológico, ou que afetem a dignidade humana, o
sofrimento ou a dor, critérios estes inerentes à personalidade
humana.
No campo da pessoa jurídica, o que se leva em conta na
quantificação do dano moral é o ataque à honra objetiva, ou
seja, à sua reputação e ao seu renome.
Portanto, há de se diferenciar o abalo moral sofrido pela
pessoa jurídica, tendo em vista as repercussões que o ato
lesivo gerou. De acordo com a classificação de Yussef Said
Cahili (2011, p. 316), os atos lesivos à personalidade da
pessoa jurídica classificam-se em abalos de crédito e abalos
de credibilidade.
O crédito representa um bem imaterial que integra o
patrimônio econômico e moral das pessoas jurídicas, de modo
que a sua proteção não pode ficar restrita àqueles que dele
fazem uso em suas atividades. O abalo de crédito gera por
25
extensão danos patrimoniais por seus patentes reflexos na
ordem econômica da pessoa jurídica, como por exemplo, a
paralização de negócios, retratação de fornecedores ou de
clientela e desamparo de recursos bancários (CAHILI, 2011, p.
318).
O abalo da credibilidade da pessoa jurídica segundo Cahili
molesta igualmente no particular da visão social da sua
honorabilidade, a sua imagem, a qual reduz o seu conceito
perante os concidadãos, colocando em dúvida a sua probidade e
conceito no mercado. A credibilidade representa um cartão que
estampa a personalidade, em suma, trata-se da reputação que
integra o direito da personalidade.
Consoante o Superior Tribunal de Justiça (RSTJ 71/184 e
JTARS, 27/251), deve o juiz, ao fixar o valor, e à falta de
critérios objetivos, agir com prudência, atendendo, em cada
caso, às suas peculiaridades e à repercussão econômica da
indenização, de modo que o valor da mesma não deve ser nem tão
grande que se converta em fonte de enriquecimento sem causa,
nem tão pequeno que se torne inexpressivo.
Após a análise da classificação do dano moral sofrido pela
pessoa jurídica, o magistrado atentar-se a alguns critérios
para determinar a fixação do valor indenizatório.
Um dos critérios pertinentes para estabelecer o quantum
indenizatório é a condição financeira do ofensor. Neste
critério observa-se uma ideia de proporcionalidade do poder
financeiro do causador do dano com a valoração da sua punição,
ou seja, o valor atribuído à indenização será igualmente
26
proporcional ao seu poder econômico, onde, quem tem mais poder
aquisitivo paga maiores indenizações e os que possuem baixo
poder econômico pagariam menos.
Este critério tem como finalidade, punir o ofensor com
maior ou menor rigor, conforme sua condição financeira, posto
que um valor acima do que o ofensor poderá pagar, muito
provavelmente não será cumprido, podendo causar um prejuízo
descabido, em contrapartida, se o agente causador é uma grande
empresa que pratica reiteradamente o mesmo tipo de evento
danoso, eleva-se o valor da indenização ensejando-lhe um
gravame patrimonial.
A função punitiva da indenização por danos morais, também
funciona como critério de aferição indenizatória, encontrando
vasto arcabouço na doutrina, Venosa (2011, p. 340), em sua
obra explica esta tal peculiaridade, “deve ter uma função de
pena privada, mais ou menos acentuada, na indenização por dano
moral, como reconhece o direito comparado tradicional, não se
tratando de mero ressarcimento de danos”, esta referência da
qual trata o doutrinador traduz-se no sentido de que parte do
critério da condenação imposta ao ofensor é de caráter
punitivo, no sentido de inibir a reincidência de futuros atos
danosos.
Na indenização do dano moral pleiteado pela pessoa
jurídica, além do caráter ressarcitório, esta deve servir como
sanção exemplar. A determinação do montante indenizatório deve
ser fixada tendo em vista a gravidade objetiva do dano causado
e a repercussão que o dano gerou para o prejudicado, o valor
27
que faça com que o ofensor se evada de novas indenizações,
evitando outras infrações danosas, conjugando também uma
sanção exemplar ao caráter ressarcitório, para que tenha
esboço na fixação do dano moral (SANTOS, p. 177, 2003).
O nível cultural do agente causador do dano moral, também
deve ser levado em consideração nos critérios utilizados para
mensurar o quantum, pois é de extrema importância que o
magistrado tenha o conhecimento de que o ofensor possui um
padrão cultural inerente ao homem médio. Para tanto, serão
analisados o seu grau de escolaridade, o conhecimento de cunho
geral, social e político, com o intuito de verificar o
discernimento do causador acerca dos prejuízos imateriais a
que deu origem (SILVEIRA, 2013).
Outro critério importante a ser ressaltado é o grau de
culpa e a intensidade do dolo do ofensor ou culpabilidade do
ofensor, de acordo com o quanto disposto no artigo 944
parágrafo único, do Código Civil de 2002, o ofensor deve
pagar menos se sua culpa foi leve ou levíssima, pois “se
houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o
dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização”
aventa-se a possibilidade do juiz averiguar a intensidade do
dolo ou grau de culpa do ofensor, consubstanciando-se nas
provas trazidas aos autos do caso concreto, podendo-se reduzir
o valor da indenização, quando houver uma desproporção entre a
culpa do ofensor e o dano.
Consoante o Superior Tribunal de Justiça, onde o Ministro
Luis Felipe Salomão, relator, em seu voto destacou que a
28
Súmula 227 do STJ preconiza que a pessoa jurídica reúne
potencialidade para experimentar dano moral, podendo, assim,
pleitear a devida compensação quando for atingida em sua honra
objetiva.
Afirmou Salomão que, “no tocante à pessoa jurídica,
impende destacar a necessidade de que a violação ao seu
direito personalíssimo esteja estreita e inexoravelmente
ligada à sua honra objetiva, haja vista não ser ela dotada de
elemento psíquico” (REsp 1022522/RS).
As repercussões econômicas sofridas pelo ofendido também
devem ser levadas em consideração como critério de valoração
da indenização do dano moral, pois nos casos em que a pessoa
jurídica sofre lesão provocada por dano moral este atinge a
sua honra objetiva, que se reflete na sua reputação, no seu
renome e na sua imagem social, afetando obviamente a tradição
de mercado e que ocasionará em repercussão econômica ainda que
indireta, a ser demonstrada por meio de prova do abalo, como
pressuposto do ressarcimento pretendido.
A aplicação do critério do justum ante as circunstâncias
particulares do caso sub júdice, padece de uma análise
criteriosa do magistrado, e em consonância com os princípios
da razoabilidade, proporcionalidade e equidade.
Luís Roberto Barroso (2005, p. 106) explica o conceito do
princípio da razoabilidade como:
O Princípio Constitucional da Razoabilidade se baseianos princípios gerais da justiça e liberdade. Busca ojusto equilíbrio entre o exercício do poder e apreservação dos direitos dos cidadãos, trazendo uma
29
harmonia e bem estar sociais, evitando dessa forma atosarbitrários. O razoável traduz-se na conformidade comrazão, moderação, equilíbrio e harmonia. Este princípiovisa auferir a justiça como valor máximo conferido peloordenamento jurídico.
Outrossim, há outras formas no direito de compensar o
ofendido além da obrigação pecuniária, quais sejam a
retratação e divulgação imediata da resposta ou a publicação
da sentença condenatória, ou ficando a critério do julgado,
quaisquer outras formas que possam satisfazer à vítima.
A indenização não poderá ter valor superior ao dano, nem
deverá subordinar-se à situação de penúria do lesado, tampouco
poderá conceder a uma empresa de grande porte uma indenização
inferior ao prejuízo sofrido, alegando que seu patrimônio o
permitiria suportar o excedente do menoscabo.
Yussef Cahali (2011, p. 637) em sua obra relaciona alguns
dos critérios que devem ser especificadamente considerados
quanto à violação dos direitos de personalidade:
“A natureza da lesão e a extensão do dano; as condiçõespessoais do ofendido, mormente a repercussão do dano esuas novas condições; as condições econômicas doresponsável pelo dano; a equidade, cautela e prudência(a indenização não pode ensejar em enriquecimento semcausa); a gravidade da culpa (se houver); o arbitramentoem função da natureza e finalidade da indenização.”
Para melhores esclarecimentos a respeito dos critérios
utilizados na quantificação da indenização por danos morais em
favor da pessoa jurídica, faz-se pertinente a exemplificação
com trechos de sentença em que se reconhece o dano moral à
pessoa jurídica autora que teve seus dados pessoais incluídos
30
indevidamente em órgão de restrição ao crédito.
A sentença de lavra da M.M Juíza de Primeiro Grau, a Dr.ª
Rita de Cássia Ramos de Carvalho, titular da 8ª Vara dos
Feitos de Relações de Consumo Cíveis e Comerciais da Comarca
de Salvador- BA, proferida nos autos do processo de nº 152204-
12.2003.8.05.001 (ANEXO 01), utiliza diversos critérios para
realizar a quantificação do dano moral.
Dentre eles, se identifica o principio da razoabilidade,
já devidamente mencionado no presente trabalho, tendo em vista
que o referido principio norteia a metodologia da
quantificação da indenização por dano moral. Observe-se o
seguinte trecho: “Quanto ao quantum da indenização pelos danos
morais, tem-se que o juiz deve observar os critérios de
razoabilidade e moderação, a fim de que o ofensor seja
apenado, mas também que se evite o enriquecimento ilícito”.
Noutro ponto do referido decisum, nota-se expressamente a
análise criteriosa realizada pela magistrada quanto aos
critérios objetivos, sendo eles, a repercussão da ofensa
(abalo ao crédito), o grau de culpa do ofensor, assim como a
sua capacidade econômica e a posição social do ofendido (abalo
à credibilidade). Verbis:
Ademais, segundo orientação do egrégio STJ, noarbitramento do dano moral, faz-se necessário considerara gravidade do dano e a repercussão da ofensa, osofrimento suportado pelo autor, o grau de culpa, alémda capacidade econômica do infrator e a posição socialdo ofendido, e as circunstâncias em que ocorrido oevento.
Observa-se que a M.M. Juíza quantificou o dano moral
31
sofrido pela pessoa jurídica, utilizando-se de critérios
objetivos, e o seu convencimento deu-se através da análise
detalhada do lastro probatório trazido aos autos pelo Autor.
7 Considerações Finais
A doutrina e jurisprudência são tranquilas quanto à
possibilidade de reparação por dano moral em prol da pessoa
jurídica, entretanto, inexistem critérios específicos para a
aferição do quantum indenizatório.
Em face da inexistência de legislação que aborde os
critérios a serem utilizados na quantificação do dano moral,
fica ao livre arbítrio do juiz o papel de aferição do valor da
indenização, peculiaridade esta que tem gerado disparidade
entre as decisões judiciais acerca da problemática em questão.
A quantificação da indenização em favor da pessoa jurídica
deve obedecer aos princípios constitucionais da
proporcionalidade e da razoabilidade, respeitando também ao
disposto no artigo 944, do Código Civil, buscando não trazer à
vítima um enriquecimento sem causa, tampouco dever ser
irrisória, pois não abarcaria o caráter punitivo ao ofensor,
que é uma das finalidades da indenização.
Deve então o julgador apreciar os critérios objetivos em
que trata cada caso concreto, no qual, a reparação não poderá
buscar uma igualdade com o prejuízo sofrido, mas o necessário
para reestabelecer ao ofendido o conforto diante do dano
sofrido e ao ofensor uma punição para que o ato causador do
32
dano não se repita, enquadrando-se no caráter punitivo.
A existência de critérios normativos acerca da
quantificação do dano moral em favor da pessoa jurídica
acarretaria em uma unicidade na metodologia utilizada pelos
magistrados. Entretanto tal regulação não pode ser limitativa,
restritiva ou imperativa e sim condutora e indicativa. Um
sistema de tal natureza tornaria a quantificação do dano moral
em pleiteado pela pessoa jurídica mais equitativa e justa,
assim como estipularia um parâmetro objetivo na fixação do
dano moral pelo magistrado.
O juiz, ao fixar o quantum indenizatório, utilizando um
sistema ilimitado, ou seja, desvinculado de qualquer tarifação
como o que ocorre no sistema fechado de arbitramento de
valores, deve seguir a seu critério, as peculiaridades
objetivas advindas do caso concreto, como, por exemplo, o
nível cultural do agente causador do dano moral, a condição
socioeconômica do ofensor e do ofendido, a intensidade do dolo
ou grau de culpa do agente causador; efeitos do dano no
contexto em que se encontra a ofendida, devendo ainda,
estabelecer o valor da indenização com o intuito de
desestimular a repetição de fatos lesivos semelhantes
futuramente.
33
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34
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RAMOS. Rita de Cássia Juíza titular da 8ª Vara dos Feitos deRelações de Consumo Cíveis e Comerciais da Comarca deSalvador- BA. Sentença de mérito. Ação Declaratória deInexistência de Débito cumulada com Indenização por Danos
35
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Superior Tribunal de Justiça, REsp nº 1022522/RS, Disponívelem <h ttps://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/? componente=ATC&sequencial=29502218&num_registro=200800097611&data=20130801&tipo=91&formato=PDF>. Acesso em 18 de out. de2014.
VENOSA, S. Direito Civil Vol. 4, Responsabilidade Civil. 11ªEdição. São Paulo. , Editora Atlas. 2011.
ANEXO 01
36
SENTENÇA PROCESO Nº: 015204-12.203.8.05.001 CLASE ASUNTO:
DECLARATORIA AUTOR: MERCADAO DOS COSMETICOS E MIUDEZAS LTDA
RÉU: SANTA CLARA MANUFATURA E COSMETICOS LTDA. Vistos, etc...
I - R E L A T Ó R I O MERCADÃO DOS COSMÉTICOS E MIUDEZAS LTDA,
qualificado na inicial de fls. 02/05, ajuizou a presente Ação
Ordinária para declaração de inexistência de título, cumulada
com pedido de danos morais contra SANTA CLARA MANUFATURA E
COSMÉTICO LTDA, igualmente qualificada na exordial,
sustentando que foi surpreendido com um protesto de título
representativo de crédito, no valor de R$ 896,33, em
20/03/2003, apontada pela ré, de forma indevida, haja vista
ter efetuado pagamento de tal valor através de depósito em
conta corrente, conforme documento de fls. 10. Lastreou a ação
em documentação de fls. 06/11, pedindo o cancelamento do
protesto, a declaração de inexigibilidade do título e a
condenação da ré em danos morais. Devidamente citada, a parte
ré ofereceu contestação com documentos de fls. 16/39, aduzindo
em defesa: que tem sede comercial em São Paulo, mas vende e
entrega mercadoria em todo território nacional; que os
pagamentos realizados são feitos através de boletos bancários
emitidos pelo Banco do Brasil, banco conveniado com a ré; que
o banco emitiu o boleto com vencimento no dia 20/03/2003, no
valor de R$ 896,33, com advertência de que se não houvesse
pagamento do título no prazo de 05 dias o documento seria
protestado; que o autor efetuou o pagamento no dia 09/04/2003,
vinte dias após o vencimento da fatura, no valor de R$ 896,05,
na conta do Banco Bradesco, o que impossibilitou de saber se
37
tal depósito referia-se ao título protestado; a inexistência
do dano moral, por falta de prova. Pugnou pela improcedência
da ação. Designada audiência de conciliação às fls. 42, esta
restou infrutífera. Réplica às fls. 47/49, com documentos de
fls. 50/57, transcorrendo in albis o prazo para a parte ré se
manifestar a respeito destes, conforme certidão de fls. 72.
Vieram-me os autos conclusos. II - F U N D A M E N T A Ç Ã O
II.1 - JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE Considerando
desnecessária a produção de provas em audiência, será
procedido o julgamento antecipado da lide, nos termos do art.
330, I, do Código de Processo Civil. Quanto a preliminar de
inépcia da inicial arguida pela demandada não merece
prosperar, pois os pedidos foram formulados de forma lógica,
não podendo este juízo desprezar a garantia constitucional do
acesso à justiça. Portanto, a inicial não é inepta, havendo
possibilidade de, em tese, pleitear-se em juízo o quanto
requerido, restando observados os devidos requisitos legais da
petição inicial. II.2 - MÉRITO No mérito, busca o autor a
declaração judicial de inexistência do débito e de vínculo
obrigacional para pagamento do título levado a protesto,
emitido indevidamente pela ré, com o consequente cancelamento
do protesto. Compulsando-se os autos, verifica-se ser
incontroverso o fato do autor ter realizado pagamento da
fatura com 20 dias de atraso, ou seja, em 09/04/2003, em um
banco (Bradesco) diferente daquele que emitiu o boleto
bancário (Banco do Brasil), e que tal título foi levado a
protesto após o pagamento do débito, conforme documento de
fls. 53/56. Ocorre que o pagamento realizado pela autora,
38
através de depósito em conta corrente de titularidade da ré,
se deu de forma identificada. Contudo a empresa ré protestou o
citado título que já se encontrava devidamente quitado, em
05/05/2003, agindo, assim, de forma negligente. Ademais, não
merece prosperar a alegação da ré de que não tinha
conhecimento do pagamento do título, realizado mediante
depósito identificado em sua conta corrente. O fato de ter
levado o título a protesto, sem antes verificar em suas contas
a possível quitação deste, configura a sua conduta negligente,
restando, por sua vez, o dever de indenizar. Ora, razão
assiste o autor quanto ao seu pleito inicial de indenização
por danos morais, uma vez que a ré foi negligente ao protestar
título já pago, valendo-se para tanto, da passageira
inadimplência do autor. Desta forma, significa dizer que os
pressupostos para o surgimento do dever de reparar encontram-
se presentes e demonstrados na espécie, sendo cediço ainda que
a prova do dano moral, nos casos de protesto indevido do nome
de devedor, é prescindível. Nesta enseada, diz o Código Civil
Brasileiro: "Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete
ato ilícito." Tal artigo nos fornece o arcabouço legal que
regula, em regra, a responsabilidade civil no nosso
ordenamento jurídico. Com efeito, a partir da leitura desse
artigo é possível concluir que o dever de indenizar, no
sistema do Código Civil, decorre ou assenta-se no trinômio ato
ilícito, nexo causal e dano. Segundo Carlos Alberto Bittar:
"Danos morais são lesões sofridas pelas pessoas, físicas ou
39
jurídicas, em certos aspectos de sua personalidade, em razão
de investidas injustas de outrem. São aqueles que atingem a
moralidade e a afetividade da pessoa, causando-lhe
constrangimentos, vexames, dores, enfim, sentimentos e
sensações negativas. Contrapõem-se aos danos denominados
materiais, que são prejuízos suportados no âmbito patrimonial
do lesado. Mas podem ambos conviver, em determinadas
situações, sempre que os atos agressivos alcancem a esfera
geral da vítima, como, dentre outros, nos casos de morte de
parente próximo em acidente, ataque à honra alheia pela
imprensa, violação à imagem em publicidade, reprodução
indevida de obra intelectual alheia em atividade de fim
econômico, e assim por diante. Os danos morais atingem, pois,
as esferas íntima e valorativa do lesado, enquanto os
materiais constituem reflexos negativos no patrimônio alheio.
Mas ambos são suscetíveis de gerar reparação, na órbita civil,
dentro da teoria da responsabilidade civil." O dano moral na
relação descrita nos autos, como visto, está consubstanciado
pelo sofrimento, injusto, infligido pela ré ao autor pelo
protesto indevido de seu nome, ato este de valor social
desprimoroso, ou seja, "o que a dor retira à normalidade da
vida, para pior" Quanto ao quantum da indenização pelos danos
morais, tem-se que o juiz deve observar os critérios de
razoabilidade e moderação, a fim de que o ofensor seja
apenado, mas também que se evite o enriquecimento ilícito.
Ademais, segundo orientação do egrégio STJ, no arbitramento do
dano moral, faz-se necessário considerar a gravidade do dano e
a repercussão da ofensa, o sofrimento suportado pelo autor, o
40
grau de culpa, além da capacidade econômica do infrator e a
posição social do ofendido, e as circunstâncias em que
ocorrido o evento. Insta ressaltar que, o fato de existirem
outros protestos em nome do autor, não justifica, nem elide a
culpa da ré pelo não cancelamento do protesto, após a quitação
da dívida, mas influi no arbitramento do quantum
indenizatório. Nesse sentido: "COMERCIAL E PROCESSUAL CIVIL -
DANO MORAL - PROTESTO INDEVIDO DE TÍTULO - EXISTÊNCIA DE
PROTESTOS ANTERIORES - REDUÇÃO DO QUANTUM A VALOR SIMBÓLICO -
AGRAVO PARCIALMENTE PROVIDO - I - Na linha dos precedentes
desta Corte, o banco que leva a protesto título pago no
vencimento responde pelos danos morais decorrentes. II - A
existência de outros protestos em nome do postulante dos danos
morais, no momento do protesto do título já pago, não exclui,
no caso, a indenização, porém reduz esta a um valor
simbólico." Portanto, tenho que o valor de R$ 4.000,00 (quatro
mil reais) amolda à sua dupla finalidade de compensar os
dissabores experimentados pelo ofendido, também punindo a
conduta negligente da empresa, sem representar fonte de
enriquecimento sem justa causa. III - D I S P O S I T I V O
Ante o exposto e considerando o que mais dos autos consta,
JULGO PROCEDENTES os pedidos para a) decretar a nulidade do
título em questão, determinar, por consequência, o
cancelamento do protesto respectivo; b) condenar a ré ao
pagamento de indenização por danos morais no valor de R$
6.000,00 (seis mil reais) - o valor desta condenação deverá
ser acrescido, ainda, de juros de mora, de 1% ao mês, e
correção monetária que deverão ser computados a partir desta
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data, a qual foi utilizada como referência para fixação dessa
verba indenizatória. Condeno, ainda, a parte ré ao pagamento
das custas e despesas processuais, além dos honorários
advocatícios, estes arbitrados 20% do valor do montante
atualizado da condenação (CPC, art. 20, § 3º). Publique-se.
Registre-se. Intimem-se. Salvador (BA), 15 de junho de 2012.
Rita de Cassia Ramos de Carvalho Juíza de Direito.