DANO MORAL EM FAVOR DA PESSOA JURÍDICA: MÉTODOS DE AFERIÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

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DANO MORAL EM FAVOR DA PESSOA JURÍDICA: MÉTODOS DE AFERIÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO Luca Celane de Abreu Dias 1 Orientado por Carlos Alberto José Barbosa Coutinho 2 RESUMO: Este trabalho analisa os critérios utilizados na quantificação da indenização por danos morais em prol da pessoa jurídica. Aborda o conceito de pessoa jurídica, incluindo a sua capacidade jurídica, bem como a sua classificação e a formação, que ocorre através de registro no órgão competente. Em seguida, apresenta um breve histórico dos direitos de personalidade, a sua definição e características, evidenciando a sua importância no ordenamento jurídico brasileiro. Trata sobre o dano moral, explicitando seu conceito, métodos de quantificação e os critérios utilizados pelos julgadores para aferir o quantum indenizatório. Por fim, apresenta a problemática, tendo em vista a imprecisão legislativa sobre o tema. PALAVRAS-CHAVE: Quantificação; Dano Moral; Pessoa Jurídica; Quantum Indenizatório; Métodos de Aferição; 1. Introdução Sabe-se que o dano moral pode ser conceituado como “ a lesão de interesses não patrimoniais de pessoa física ou jurídica, provocada pelo ato lesivo” (DINIZ, 2010, p. 97), e 1 Acadêmico do10 0 semestre noturno do curso de Direito da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC- Salvador). E-mail: <[email protected]>. 2 Graduado em Direito pela Universidade Católica de Salvador (UCSAL). Mestre em Estudos Interdisciplinares (EISU/UFBA). Pós-Graduado em Processo Civil (Jus Podivum). Professor de Direito na Faculdade de Tecnologias e Ciências (FTC-Salvador). Advogado. E-mail: <[email protected]>.

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DANO MORAL EM FAVOR DA PESSOA JURÍDICA: MÉTODOS DE

AFERIÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

Luca Celane de Abreu Dias1

Orientado por Carlos Alberto José Barbosa Coutinho2

RESUMO: Este trabalho analisa os critérios utilizados naquantificação da indenização por danos morais em prol dapessoa jurídica. Aborda o conceito de pessoa jurídica,incluindo a sua capacidade jurídica, bem como a suaclassificação e a formação, que ocorre através de registro noórgão competente. Em seguida, apresenta um breve histórico dosdireitos de personalidade, a sua definição e características,evidenciando a sua importância no ordenamento jurídicobrasileiro. Trata sobre o dano moral, explicitando seuconceito, métodos de quantificação e os critérios utilizadospelos julgadores para aferir o quantum indenizatório. Por fim,apresenta a problemática, tendo em vista a imprecisãolegislativa sobre o tema.

PALAVRAS-CHAVE: Quantificação; Dano Moral; Pessoa Jurídica;

Quantum Indenizatório; Métodos de Aferição;

1. Introdução

Sabe-se que o dano moral pode ser conceituado como “a

lesão de interesses não patrimoniais de pessoa física ou

jurídica, provocada pelo ato lesivo” (DINIZ, 2010, p. 97), e

1 Acadêmico do100 semestre noturno do curso de Direito da Faculdade deTecnologia e Ciências (FTC- Salvador). E-mail: <[email protected]>.2 Graduado em Direito pela Universidade Católica de Salvador (UCSAL). Mestreem Estudos Interdisciplinares (EISU/UFBA). Pós-Graduado em Processo Civil(Jus Podivum). Professor de Direitona Faculdade de Tecnologias e Ciências (FTC-Salvador). Advogado. E-mail:<[email protected]>.

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que atualmente as pessoas jurídicas vêm sofrendo diversos

prejuízos em sua imagem.

Diante desse panorama, surge a necessidade de se

apresentar um estudo acerca do dano moral sofrido pela pessoa

jurídica, bem como os critérios utilizados na mensuração do

quantum indenizatório. Demonstrar-se-á também no decorrer deste

artigo, os métodos e conceitos a serem utilizados no

arbitramento da reparação pleiteada, levando em consideração a

extensão do dano moral provocado.

Impera-se a possibilidade da pessoa jurídica pleitear a

indenização por danos morais, sendo esta a posição majoritária

da doutrina e da jurisprudência. Tal entendimento é reforçado

pela Súmula nº 227 do Superior Tribunal de Justiça, editada em

setembro de 1999, por decisão da 2ª turma, que dispõe: “A

pessoa jurídica pode sofrer dano moral”.A súmula foi criada a

partir do voto do ministro Néri da Silveira, no qual se

entende que o artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal de

1988, que dispõe ser “(...) invioláveis a intimidade, a vida

privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito

à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua

violação”, se aplica também à pessoa jurídica.

Entretanto, inexistem critérios na legislação a serem

utilizados pelo magistrado para a sua quantificação, visto que

não há o aspecto subjetivo, ou psíquico, para que se mensure a

extensão do abalo da pessoa jurídica.

A pessoa jurídica é ente capaz de adquirir direitos e de

contrair obrigações, podendo, consequentemente, sofrer danos

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morais, seja por mácula a sua imagem, seja por restrição

indevida do seu nome em cadastros restritivos de crédito.

Estes e outros fatos geram transtornos de ordem patrimonial e

extrapatrimonial, podendo aventar-se ainda a responsabilidade

civil pela perda da chance, gerando assim a tarefa de

estabelecer critérios de como seria possível mensurar a

extensão do abalo sofrido pelas pessoas jurídicas.

Levando em consideração o fato de que o dano é o prejuízo

sofrido pela pessoa, com repercussões negativas sobre a sua

vida, e atingindo bem jurídico, este necessita de reparação. A

legislação brasileira estabeleceu no artigo 52 do Código Civil

de 2002, que se aplica às pessoas jurídicas a proteção dos

seus direitos de personalidade.

A presença das pessoas jurídicas no cotidiano é de suma

importância nos dias atuais, mas há entendimentos divergentes

sobre a possibilidade dessas pleitearem a indenização por

danos morais.

Para a doutrina que se manifesta contrariamente à

possibilidade da pessoa jurídica sofrer dano moral, “utiliza-

se o argumento da sua falta de subjetividade, o que impediria

que esta não pudesse sofrer dano moral que consista em

incômodo à segurança pessoal, ao gozo de seus bens ou que fira

os seus sentimentos” (SANTOS, 2003, p. 301); ou na opinião de

ALSINA (1993, p. 88), o qual afirma que as pessoas jurídicas

não podem, em nenhum caso, sofrer dano moral porque não têm

sentimentos passíveis de serem lesionados, nem podem sofrer

ataque à incolumidade do espírito, porque não podem sentir

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desequilíbrio emocional.

Por outro lado, a doutrina favorável à caracterização do

dano moral sofrido pela pessoa jurídica, a qual se apresenta

como majoritária e abarcada pela jurisprudência, aduz que as

pessoas jurídicas podem sofrer o dano moral, quando a lesão

atinja indiretamente o seu patrimônio, por meio de ataque aos

pressupostos pessoais atinentes às pessoas jurídicas, por

possuírem direitos extrapatrimoniais que integram a

personalidade moral dos sujeitos de direitos (SANTOS,2003).

Em se tratando de pessoa jurídica, o dano moral de que é

vítima pode atingir seu nome e sua tradição no mercado, e

sendo assim terá sempre repercussão econômica, ainda que

indireta. De qualquer forma, a reparabilidade do dano moral

causado à pessoa jurídica ainda sofre certas restrições na

doutrina e na jurisprudência, tendo em vista a complexidade de

aferir a extensão deste dano.

O presente artigo tem o ponto crucial de analisar os

critérios objetivos para quantificação dos danos morais da

pessoa jurídica, quando da aplicação do Direito ao caso

concreto, pois a falta de legislação específica nessa senda

tem gerado, todavia, decisões díspares e incongruentes.

2. Pessoa Jurídica

A necessidade da criação de uma unidade coletiva e o

desenvolvimento econômico dos povos deu origem à pessoa

jurídica, a qual careceu de personalizar os grupos para

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participar do comércio jurídico como individualidade, adotando

personalidade própria, com a reunião de pessoas utilizando

recursos coletivos para a realização de objetivos comuns, com

uma mesma pretensão.

Destarte, o direito conferiu personalidade jurídica a

esses grupos, criados na forma da lei, o que facilitou a sua

atuação no comércio e na sociedade, levando-os a praticar atos

e negócios jurídicos em geral.

2.1 Definição

A pessoa jurídica “consiste num conjunto de pessoas ou de

bens, dotado de personalidade jurídica própria e constituído

na forma da lei, para a consecução de fins comuns” (GONÇALVES,

2013, p. 192). Sua personalidade permite que atue em nome

próprio, diante de uma vontade coletiva que emana dos

indivíduos que fazem integram esta pessoa jurídica, além de

ter autorização genérica para a prática de atos jurídicos, bem

como de qualquer ato, exceto o expressamente proibido

(GONÇALVES, 2013).

A denominação pessoa jurídica é utilizada também em países

como a Alemanha, Espanha e Itália, porém existem diversos

outros países que utilizam outras expressões, tais como:

pessoas morais, pessoas coletivas, entes de existência ideal

etc. (GONÇALVES, 2013, p.180).

De fato, a pessoa jurídica engloba a maioria dos direitos

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fundamentais constitucionais, tendo poderes para atuar no

plano jurídico e reclamar a proteção jurídica oferecida pelos

direitos da personalidade, assim como ocorre com as pessoas

naturais.

Segundo Farias e Rosenvald (2008, p. 104):

A personalidade jurídica é, assim, muito mais do que,simplesmente, poder ser sujeito de direitos. Étitularizar uma tutela jurídica especial consistente emreclamar direitos fundamentais, imprescindíveis aoexercício de uma vida digna.

Ademais, a personalidade civil traduz em um dos maiores

valores do ordenamento jurídico, a capacidade jurídica

concerne uma possibilidade daqueles que são dotados de

personalidade a serem sujeitos de direito e poderem exercitá-

los pessoalmente.

A capacidade jurídica da pessoa, natural ou jurídica,

figura-se na possibilidade do exercício dos atos da vida

civil, adquirindo direitos e contraindo deveres em nome

próprio. Dentro do conceito de capacidade existem dois

aspectos que devem ser observados, a capacidade de direito e a

capacidade de fato (VENOSA, 2011, p.21).

A capacidade de direito, conhecida também como capacidade

de gozo, pode ser entendida como a medida da intensidade da

personalidade. Todo ente com personalidade jurídica possui

também capacidade de direito, tendo em vista que não se nega

ao indivíduo a qualidade para ser sujeito de direito. 

Já a capacidade de fato, também chamada de capacidade de

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exercício, nada mais é do que a habilidade para praticar de

forma autônoma, ou seja, sem a interferência de terceiros na

qualidade de representantes ou assistentes, seus direitos

civis. Essa capacidade, ao contrário da capacidade de direito,

possui estágios definidos no próprio Código Civil, das quais

existem duas modalidades de incapacidade, a saber: a

incapacidade absoluta e a relativa (VENOSA, 2011).

2.2 Classificação

A classificação da pessoa jurídica pode se dar quanto à

nacionalidade, à estrutura interna e à função. Quanto à sua

nacionalidade, a pessoa jurídica se qualifica como nacional ou

estrangeira, considerando sua articulação e subordinação à

ordem jurídica que lhe conferiu personalidade, sem

desconsiderar a nacionalidade dos membros que a compõem e à

origem do controle financeiro (GONÇALVES, 2013, p 191).

A sociedade nacional é a sociedade organizada de

conformidade com a lei brasileira, e que tenha no país a sua

sede de administração. A sociedade estrangeira, independente

de seu objeto, não poderá, sem autorização do Poder Executivo,

funcionar no País, ainda que por estabelecimento subordinados,

podendo, entretanto, ressalvados os casos previstos em lei,

ser acionista de sociedade anônima brasileira. Se esta for

autorizada a funcionar no Brasil, deverá se sujeitar às leis e

aos tributos brasileiros, devendo ter seus atos praticados e

representados no Brasil, podendo nacionalizar-se, transferindo

sua sede para o Brasil, conforme exposto no artigo 1.134 a

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1.141 do Código Civil. (GONÇALVES, 2013).

Quanto à estrutura interna, poderá ser a pessoa jurídica:

corporação e fundação. A corporação se caracteriza pelo seu

aspecto pessoal, constituída por um conjunto de pessoas,

reunidas para melhor consecução de seus objetivos, tendo sua

origem romana. As corporações se dividem em associações e

sociedades, podendo ser simples (que tem fim econômico e visa

o lucro) e empresárias (que também visam o lucro), denominadas

antigamente em civis e comerciais, bem como partidos

políticos, organizações religiosas e empresas individuais

(GONÇALVES, 2013).

Nas fundações, o aspecto dominante é o material, compondo-

se de um patrimônio personalizado, destinado a determinado

fim, sendo originada na época medieval, portanto, “As

fundações constituem um acervo de bens, que recebe

personalidade para a realização de fins determinados,

compondo-se de dois elementos: o patrimônio e o fim

(estabelecido pelo instituidor e não econômico)” (GONÇALVES,

2013, p. 197), sendo fiscalizada pelo órgão do Ministério

Público Estadual em que estiver situada.

Caso os bens destinados à fundação não se apresentem

suficientes para o atendimento de suas finalidades, poderão

ser incorporados em outra fundação que se destine a um fim

igual ou semelhante, exceto se o instituidor houver disposto

de maneira diversa, à luz do artigo 32 do Código Civil.

Quanto às funções e capacidade, a partir do artigo 40 do

Estatuto Civil, é possível estruturá-las em: a) pessoa

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jurídica de direito público ou b) pessoa jurídica de direito

privado.

As pessoas jurídicas de direito público são marcadas pela

presença preponderante do Poder Público, se subdividindo,

dependendo do seu âmbito de atuação funcional, em pessoas de

direito público interno, dispostas no artigo 21 do CC, no qual

engloba os órgãos da administração direta (União, Estados

federados, Distrito Federal e Municípios) e da administração

indireta (autarquias e Fundações Públicas), e de direito

externo, dirigidas pelo Direito Internacional Público, tendo a

UNESCO e ONU como exemplos (GONÇALVES, 2013).

As pessoas jurídicas de direito público externo estão

submetidas ao Direito Internacional Público, enquanto as de

direito público interno são reguladas pelo Direito

Administrativo.

Vale ressaltar que as organizações religiosas são livres a

sua criação, organização, estruturação interna e

funcionamento, vedando-se ao Estado negar reconhecimento ou

registro aos seus atos constitutivos, conforme artigo 44 do

Código Civil. Diferente destas, os partidos políticos, a sua

estruturação e sua disciplina estão contempladas na Lei. Nº

9.096/95.

3 Formação

A pessoa jurídica terá o início de sua personalidade

distinta das pessoas naturais ocorre através da inscrição do

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ato constitutivo em registro competente, pois para estas

ocorrerá em razão de sua estrutura biopsicológica, tendo

inicio com seu nascimento (GONÇALVES, 2013). A pessoa jurídica

adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro

próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos,

conforme dispõe os artigos 45 e 985 do Código Civil de 2002.

No que se refere à pessoa jurídica de direito público, sua

personalidade é conferida pela norma jurídica conforme extrai-

se do artigo 43, do Código Civil de 2002. Já a pessoa jurídica

de direito privado, será através de registro no órgão

competente, necessitando obedecer quatro requisitos: a vontade

humana criadora, a elaboração do ato constitutivo (devendo ser

formalizado, por estatuto ou contrato social), o registro do

ato constitutivo no órgão competente e a liceidade de seu

objetivo (GONÇALVES, 2013).

O registro dos atos constitutivos da pessoa jurídica

deverá ser realizado no Cartório de Registro das Pessoas

Jurídicas (quando se tratar de sociedade simples ou

associações) ou na Junta Comercial (quando se tratar de

sociedade empresária ou EIRELI). Destaca-se que somente

adquire personalidade jurídica no momento em que for realizado

o referido registro.

Este registro civil da pessoa jurídica tem prazo

retroativo de 30 dias, exatamente para conferir regularidade

aos atos praticados pela empresa neste período, consoante Lei

nº 8.934/94, de maneira que vinculem os sócios. (GONÇALVES,

2013).

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Conforme salienta Farias e Rosenvald (2008),

diferentemente das pessoas naturais (cujo registro civil tem

natureza puramente declaratória), o registro dos atos

constitutivos da pessoa jurídica tem natureza constitutiva,

sendo verdadeiro instrumento de reconhecimento de sua

personalidade jurídica, que inexiste antes disso. A partir do

registro, a pessoa jurídica disporá de personalidade jurídica

e estrutura patrimonial própria.

4 Direitos da Personalidade

Segundo Maria Helena Diniz, (2010), “os direitos da

personalidade são aqueles subjetivos e que têm como ponto

central os bens e valores intrínsecos da pessoa, nos seus

aspectos físicos, morais e intelectuais”.

Incorpora-se nos direitos da personalidade a necessidade

de defender o que lhe é próprio frente a qualquer dano que

venha a ameaçar a sua integridade intelectual de liberdade de

pensamento, autoria científica, artística e literária ou a sua

integridade moral, referente à honra, recato, segredo

profissional e doméstico, identidade pessoal, familiar e

social (DINIZ, 2010).

4.1 Breve Histórico

Os direitos da personalidade formam uma construção

jurídica recente, fruto da preocupação da doutrina germânica e

francesa, especialmente após a II Guerra Mundial. De fato, os

gregos não estruturavam uma categoria jurídica específica para

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tutelar a personalidade, mas, existia somente, uma ação

denominada dike kakegoric, no qual resultava em punição a quem

violava algum interesse físico ou moral (DINIZ, 2010).

A Magna Charta da Inglaterra, de 1215, foi quem estabeleceu

a proteção de aspectos fundamentais da personalidade humana,

como por exemplo, a liberdade, vindo, reconhecer os direitos

de personalidade. Mais na frente, a Declaração dos Direitos

dos Homens, em 1789, foi quem valorizou a tutela da

personalidade humana e a defesa dos direitos individuais

(DINIZ, 2010).

Contudo, somente após as atrocidades praticadas pelo

nazismo após a II Guerra Mundial contra a individualidade das

pessoas e a humanidade como um todo, foi que surgiu a

necessidade de dar uma proteção para uma categoria básica de

direitos reconhecidos à pessoa humana. Foi estabelecida então

a necessidade de assegurar uma tutela fundamental, elementar,

em favor da personalidade humana (DINIZ, 2010).

A discussão sobre esses direitos que se fizeram

necessários após a II Guerra mundial, foram levados à

Assembleia Geral da ONU, em 1948, na Convenção Européia de

1950 e no Pacto Internacional das Nações Unidas. Apesar

disso, seu avanço no âmbito do direito privado tenha sido

muito lento, embora contemplados constitucionalmente (DINIZ,

2010).

Antes do Código Civil de 2002, esses direitos de

personalidade eram concedidos por leis extravagantes e pela

Constituição Federal de 1988, que se ocupou no seu artigo 5º,

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em vários incisos, especialmente no seu inciso XLI, que

garante a tutela genérica ao prescrever que a lei punirá

qualquer discriminação atentatória dos direitos e das

liberdades fundamentais.

Os direitos da personalidade somente puderam construir-se

no fim do século XX, ante o redimensionamento da noção de

respeito à dignidade da pessoa humana, que pode ser expressado

com a lembrança acerca da responsabilidade do Estado em

assegurar que o indivíduo tenha as condições mínimas

necessárias para sua sobrevivência, sendo inclusive esta

finalidade assegurada na Constituição Federal de 1988 como

sendo um princípio fundamental do Estado Democrático de

Direito conforme previsto no artigo 1º, III da CRFB/88.

(SANTOS, 2011). Isto se faz de tanta importância que uma

ofensa a tais direitos, caracterizaria dano moral e

patrimonial indenizável (DINIZ, 2010).

Ademais, o Código Civil de 2002 reconheceu expressamente

os direitos da personalidade, nos artigos 11 a 21. Contudo,

muitos ordenamentos jurídicos entendem que o melhor caminho

seria a inscrição dos direitos da personalidade no texto

constitucional, o que elevaria ao status de princípio

fundamental, tornando mais efetiva a dignidade da pessoa

humana (DINIZ, 2010).

4.2 Definição

Com o intento de satisfazer suas necessidades sociais, o

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homem adquire direitos e assume obrigações, podendo ser

sujeito ativo ou passivo dessas relações. Pode-se assegurar

que os direitos da personalidade são aqueles direitos

subjetivos reconhecidos à pessoa, são direitos essenciais ao

crescimento e ao desenvolvimento da pessoa humana, onde se

convertem as projeções físicas, psíquicas e intelectuais do

seu titular, individualizando-o de forma a lhe conceder uma

avançada e segura tutela jurídica, possibilitando a atuação na

defesa de sua própria pessoa (NICOLODI, 2003).

Conceituam-se os direitos da personalidade como aqueles

que têm por objeto os atributos físicos, psíquicos e morais da

pessoa em si e em suas projeções sociais. Esses direitos da

personalidade compõem todo um conjunto de faculdades jurídicas

reconhecidas à pessoa humana, onde o objeto são os bens

jurídicos caracterizados pelos diferentes aspectos, sendo

compreendidos como direitos essenciais à pessoa humana, a fim

de resguardar sua própria dignidade (NICOLODI, 2003).

Diniz (2010, p. 120) conceitua os direitos da

personalidade como:

Direitos subjetivos da pessoa de defender o que lhe épróprio, ou seja, a sua integridade física (vida,alimentos, próprio corpo vivo ou morto, corpo alheiovivo ou morto, partes separadas do corpo vivo ou morto);a sua integridade intelectual (liberdade de pensamento,autoria científica, artística e literária); e a suaintegridade moral ( honra, recato, segredo profissionale doméstico, identidade pessoal, familiar e social)

O Código Civil dedicou um capítulo novo aos direitos da

personalidade, visando salvaguardá-los sob múltiplos aspectos,

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desde a proteção dispensada ao nome e à imagem até o direito

de se dispor do próprio corpo para fins científicos ou

altruísticos.

4.3 Características

Dentre as características elencadas nos direitos da

personalidade, essas são definidas como: ilimitadas,

absolutas, imprescritíveis, impenhoráveis, não expropriáveis e

vitalícios, além do que já dispõe no próprio artigo 11 do

Código Civil pátrio, no quais são intransmissíveis e

irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação

voluntária (DINIZ, 2010, p. 120).

A intransmissibilidade e irrenunciabilidade são as duas

características que estão expressamente no Código Civil, e

ocasionam a indisponibilidade dos direitos da personalidade.

Essa característica não permite que seu titular transmita a

terceiros, renunciando o seu uso ou abandonando-os, pelo fato

de nascer e morrer com ele, sendo inseparável.

Contudo, os atributos que admitem a cessão de seu uso são

a imagem e os direitos autorais, que podem ser explorados

comercialmente, com algum tipo de retribuição. Além destes, é

permitido também a cessão gratuita de órgãos do corpo humano,

para fins altruísticos e terapêuticos, sem esquecer de que se

pode autorizar, contratualmente, não só a edição de obra

literária, como também a inserção, em produtos, marcas,

desenhos ou qualquer ou criação intelectual, conforme explica

Diniz (2010, p.121).

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Importante ressaltar, que apesar dos direitos da

personalidade serem personalíssimos, como já supracitado, a

pretensão ou direito de exigir sua reparação pecuniária, em

caso de ofensa, transmite-se aos sucessores, nos termos do

artigo 943 do Código Civil de 2002. Nessa linha, já decidiu

percucientimente, o Superior Tribunal de Justiça, na decisão

RSTJ 71/183: “O direito de ação por dano moral é de natureza

patrimonial e, como tal, transmite-se aos sucessores da

vítima.” (GONÇALVES, 2013, p. 158).

Existe entre as características dos direitos de

personalidade o absolutismo, que se manifesta em um caráter de

generalidade, pelo fato de envolver toda a pessoa humana,

sendo erga omnes. Isso dá importância maior, sendo relevante e

fundamental para o direito da personalidade.

Também são Ilimitados os direitos de personalidade, pois,

o Código Civil não os relaciona expressamente nos seus arts.

11 a 21, se referindo apenas a alguns, podendo ser apontado

ainda, como exemplo, o direito a alimentos, ao planejamento

familiar, ao leite materno, culto religioso, à identidade

pessoal, velhice digna, entre outros (DINIZ, 2010).

Além do mais, o desenvolvimento econômico e científico em

que vivemos atualmente, pode trazer ocasiões em que necessitem

a criação de novos direitos, e que futuramente deverão

integrar tanto o Código Civil quanto a Constituição Federal.

São imprescritíveis por não se extinguirem pelo decurso de

tempo, nem pela inércia na pretensão de buscá-lo

judicialmente, ressaltando que a pretensão reparatória

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prescreve em três anos. Além de impenhoráveis, por serem

inseparáveis da pessoa humana trazem a ele a característica de

serem indisponíveis, ou seja, é um direito que não poderá ser

penhorado para terceiro (DINIZ, 2010).

Entretanto, sua indisponibilidade não é absoluta, como já

fora supracitado, sendo que alguns desses direitos poderão ser

cedidos comercialmente, mediante retribuição pecuniária.

Os direitos da personalidade, como também já assinalado,

são inatos, vitalícios, adquiridos no instante do nascimento

com vida e acompanham a pessoa até sua morte (DINIZ, 2010 apud

GONÇALVES, 2013).

Muito embora o ordenamento pátrio e a doutrina esbocem

diversas características frente aos direitos de personalidade,

existe a possibilidade de alguma disponibilidade de tais

direitos, levando-se em conta a autonomia jurídica individual

e a autonomia privada. Dessa forma, as características do

direito de personalidade devem ser analisadas, com alguma

discricionariedade, pois admiti-las como absolutas e

intangíveis, é não enxergar a realidade social.

5 Dano Moral

Os primeiros indícios do surgimento dos danos

extrapatrimoniais no direito positivado surgiram através do

Código de Hamurabi, que foi elaborado por volta de 1700 a.C.

pelo próprio rei Hamurabi, no qual se preocupou em proteger os

indivíduos, para que fosse mantida a ordem social (REIS,

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2008).

O código estabelecia como compensação ao ofendido, uma

diminuição patrimonial do seu ofensor, servindo como uma forma

de vingança. Este meio de reparação, se fazia presente nos

artigos 209, 211 e 212 do citado código.

No direito brasileiro, os danos extrapatrimoniais tiveram

o seu reconhecimento antes mesmo do Código Civil, no período

da Consolidação de Teixeira de Freitas, existindo movimentos

para sua admissão no primeiro projeto de Código Civil do país

(REIS, 2008). Observa-se no art. 800 da Consolidação, em que

dizia: “A indenização será sempre a mais completa possível; no

caso de dúvida, será a favor do ofendido”.

Apesar de ter surgido há muito tempo, mostrou-se ausente

no Código Civil de 1916, sendo que sua introdução no projeto

do Código Civil de 2002 ainda se fazia incerta, tendo em vista

que o autor do mesmo considerava que o dano extrapatrimonial

não tinha muita amplitude, passando, somente, a ser aceita num

segundo momento, onde se entendeu que a regra geral no Código

Civil seria o dano, seja ele moral ou extrapatrimonial (REIS,

2008).

O dano extrapatrimonial, corresponde aos danos centrados

na pessoa e não no seu patrimônio, no qual atinge uma ordem de

ideia, moral e espiritual, e ainda aspectos íntimos e

pessoalíssimos do constrangido (REIS, 2008). Em outras

palavras, vale dizer que o dano extrapatrimonial afeta o

patrimônio moral do individuo.

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O dano moral é o que atinge o ofendido como pessoa, não

lesando seu patrimônio. É lesão de bem que integra os direitos

da personalidade, como a honra, a dignidade, a intimidade, a

imagem e o bom nome, como se infere dos artigos 1º, III e 5º,

V e X, da Constituição Federal de 1988, e que acarreta ao

lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação.

Ou seja, o dano sofrido não poderá ser direcionado a bens

materiais ou patrimoniais, deve-se englobar os sentimentos

alcançados pela vítima, ou quem sofre por conta daquele dano,

como o dano reflexo, por exemplo, que pode ser o sofrimento

dos pais causado pela perda trágica do filho. Esses poderão

reclamar reparação pecuniária em razão do dano moral sofrido.

O que vem acontecendo atualmente no direito brasileiro, é

a chamada Indústria do Dano Moral, no qual, qualquer simples e

ínfima lesão já dá ensejo para se pleitear a indenização em

comento (REIS, 2008).

A doutrina é pacífica e uníssona quando se trata da

Indústria do dano moral, apresenta-se na Constituição Federal

de 1988 de forma extensa e trazendo em seu bojo um rol

exemplificativo e não exaustivo das hipóteses em que se

configuram o dano moral, ensejando assim na vasta

possibilidade de se pleitear a indenização fundada muitas

vezes em motivos ínfimos, situações corriqueiras e que geram

constantes discussões na doutrina acerca da banalização do

instituto do dano moral (REIS, 2008).

Para Celso Cavalieri (2012), para se evitar esses excessos

e abusos outrora citados, deve-se reputar único e

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exclusivamente como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou

humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente

no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe

aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar.

Válido ressaltar, que os doutrinadores subdividem o dano

moral em direto e indireto. Carlos Roberto Gonçalves (2013)

conceitua o dano moral direto e indireto da seguinte forma:

O dano moral direto, que resume- se na lesão a uminteresse que visa satisfazer um bem jurídicoextrapatrimonial contido nos direitos da personalidade,como a honra, intimidade, imagem, entre outros. Já odano moral indireto, consiste na lesão a um interessetendente à satisfação ou gozo de bens jurídicospatrimoniais, que produz um desprezo a um bemextrapatrimonial devido a uma lesão a um bem patrimonialdo ofendido.

O dano moral somente ingressará no mundo jurídico, com a

subsequente obrigação de indenizar, devendo anteriormente ter

existido alguma grandeza no ato ofensivo a direito

personalíssimo, pois a principal característica que se percebe

no instituto do dano moral é a proteção dos bens jurídicos de

ordem extrapatrimonial, contidos nos direitos de

personalidade.

Em síntese, não se deve reputar o simples aborrecimento ou

irritação, como margem ao dano moral, por fazerem parte do

nosso cotidiano, na vida pessoal e profissional.

6 Quantificação do Dano Moral

21

No dano material, a quantificação do ressarcimento busca

trazer ao ofendido a condição que existia antes do fato,

considerando a fórmula dos danos emergentes e lucros

cessantes, ao passo que no dano moral há mais complexidade

para a quantificação e arbitramento, isso porque o objetivo do

dano moral consiste em um consolo a vitima, inexistindo

critérios definidos para arbitramento desse valor adequado

(GONÇALVES, 2013).

Importante salientar que não existe no Brasil qualquer

critério de tarifação, pelo qual, o montante da indenização

seria pré-fixado, o que poderia dar valores a serem pagos

antecipadamente de acordo com o dano. Essa falta de critério

dá ao Juiz o poder de escolha livre sobre qual critério

adotará, mas em concordância com a lei e a jurisprudência,

sendo fixado logo na sentença, sem se remeter a sua apuração

para o juízo de execução (GONÇALVES, 2013).

6.1 Métodos utilizados na quantificação do dano moral

Existem na doutrina brasileira de forma geral duas

correntes para a fixação do quantum indenizatório. Uma

denominada de sistema aberto ou ilimitado, que atribui ao

prudente arbítrio do juiz a fixação da indenização pelo dano

moral, e a outra, denominada de sistema fechado ou tarifado, a

qual estabelece que os valores sejam “predeterminados pela lei

ou pela aplicação da analogia e da integração analógica”

(STOCO, p 1.670, 2004).

22

O juiz, ao fixar o quantum indenizatório, utilizando-se

do sistema aberto deverá analisar as peculiaridades advindas

do caso concreto, os elementos probatórios trazidos aos autos

de forma prudente e justa, fundamentando a sua decisão no

princípio do livre convencimento motivado, disposto no artigo

131, do Código de Processo Civil. Em contrapartida, não poderá

determinar um valor que traduza um enriquecimento sem causa,

nem tampouco que represente algo inexpressivo, à luz do

princípio da razoabilidade e do princípio da equidade

(GARBELLINI, 2010).

Já no sistema fechado ou tarifado, são estabelecidos

valores mínimos e máximos a título de indenização em favor da

vítima, valores esses fixados pela lei ou em virtude da

analogia ou da integração analógica.

No direito brasileiro, tenham-se como exemplos as tarifas

máximas previstas pela Lei de Imprensa (200 salários mínimos),

pela Lei de Direitos Autorais (3.000 exemplares), pelo Código

Brasileiro de Aeronáutica (3.500 OTN por morte e 150 OTN por

morte) e pelo próprio Código Civil de 2002, em seu art. 940

(aquele que demandar por dívida já paga deverá pagar o dobro

do que houver cobrado).

Para Gonçalves (2013), na indenização por dano moral, o

grau de culpa e a extensão do dano devem ser levados em conta,

juntamente com a gravidade, repercussão da ofensa, intensidade

do sofrimento, ressalvando que a culpa concorrente do lesado

constitui fator de atenuação da responsabilidade do ofensor.

Não se trata então de aplicação inflexível, mas de mera

23

base de raciocínio do Juiz, que não está vinculado a qualquer

regra neste campo, pois, com frequência há necessidade de

serem fixados valores estratosféricos frente ao dano causado.

Portanto, devem ser sempre sopesadas as situações no caso

concreto, onde o Juiz avaliará a magnitude da lesão sofrida

pela vítima, analisando as provas e a realidade encontrada nos

dias atuais.

6.2 Critérios utilizados para quantificar a indenização

por dano moral sofrido pela Pessoa Jurídica

Reparar o dano moral, qualquer que seja sua natureza,

significa indenizar o ofendido pelo dano sofrido, observando

que tal reparação deve possuir um caráter de cunho

compensatório, fazendo-se retornar ao ofendido a situação que

lhe era confortável, somando ainda a este caráter, o aspecto

punitivo com a finalidade de abster-se o ofensor na prática

reiterada destes atos.

Vale salientar a lição de Sergio Cavalieri Filho (2012, p.81) quanto ao caráter da fixação do valor indenizatório dodano moral:

Creio que na fixação do quantum debeatur da indenização,mormente tratando-se de lucro cessante e dano moral,deve o juiz ter em mente o princípio de que o dano moral não podeser fonte de lucro. A indenização não há dúvida, deve sersuficiente para reparar o dano, o mais completamentepossível, e nada mais. Qualquer quantia a maiorimportará enriquecimento sem causa, ensejador de novodano.

Conforme anteriormente exposto, em que a pessoa jurídica

24

possui legítimo interesse de ordem imaterial, fazendo jus à

indenização por dano moral, conforme previsto no artigo 5º, X,

da Carta Magna, assim como entendimento consolidado pelos

tribunais superiores de acordo com a Súmula 227 do STJ,

geralmente nos casos onde seu conceito no mercado seja abalado

por qualquer ato que enseje a fato danoso (MACKENZIE, 2007, p.

357), irá lhe representar um abalo financeiro e a moral dos

membros que a compõem.

Se tratando da reparação do dano moral sofrido pela pessoa

jurídica, diferente da pessoa natural, inexiste o critério

subjetivo, ou seja, a perturbação, que cause alteração do bem

estar psicológico, ou que afetem a dignidade humana, o

sofrimento ou a dor, critérios estes inerentes à personalidade

humana.

No campo da pessoa jurídica, o que se leva em conta na

quantificação do dano moral é o ataque à honra objetiva, ou

seja, à sua reputação e ao seu renome.

Portanto, há de se diferenciar o abalo moral sofrido pela

pessoa jurídica, tendo em vista as repercussões que o ato

lesivo gerou. De acordo com a classificação de Yussef Said

Cahili (2011, p. 316), os atos lesivos à personalidade da

pessoa jurídica classificam-se em abalos de crédito e abalos

de credibilidade.

O crédito representa um bem imaterial que integra o

patrimônio econômico e moral das pessoas jurídicas, de modo

que a sua proteção não pode ficar restrita àqueles que dele

fazem uso em suas atividades. O abalo de crédito gera por

25

extensão danos patrimoniais por seus patentes reflexos na

ordem econômica da pessoa jurídica, como por exemplo, a

paralização de negócios, retratação de fornecedores ou de

clientela e desamparo de recursos bancários (CAHILI, 2011, p.

318).

O abalo da credibilidade da pessoa jurídica segundo Cahili

molesta igualmente no particular da visão social da sua

honorabilidade, a sua imagem, a qual reduz o seu conceito

perante os concidadãos, colocando em dúvida a sua probidade e

conceito no mercado. A credibilidade representa um cartão que

estampa a personalidade, em suma, trata-se da reputação que

integra o direito da personalidade.

Consoante o Superior Tribunal de Justiça (RSTJ 71/184 e

JTARS, 27/251), deve o juiz, ao fixar o valor, e à falta de

critérios objetivos, agir com prudência, atendendo, em cada

caso, às suas peculiaridades e à repercussão econômica da

indenização, de modo que o valor da mesma não deve ser nem tão

grande que se converta em fonte de enriquecimento sem causa,

nem tão pequeno que se torne inexpressivo.

Após a análise da classificação do dano moral sofrido pela

pessoa jurídica, o magistrado atentar-se a alguns critérios

para determinar a fixação do valor indenizatório.

Um dos critérios pertinentes para estabelecer o quantum

indenizatório é a condição financeira do ofensor. Neste

critério observa-se uma ideia de proporcionalidade do poder

financeiro do causador do dano com a valoração da sua punição,

ou seja, o valor atribuído à indenização será igualmente

26

proporcional ao seu poder econômico, onde, quem tem mais poder

aquisitivo paga maiores indenizações e os que possuem baixo

poder econômico pagariam menos.

Este critério tem como finalidade, punir o ofensor com

maior ou menor rigor, conforme sua condição financeira, posto

que um valor acima do que o ofensor poderá pagar, muito

provavelmente não será cumprido, podendo causar um prejuízo

descabido, em contrapartida, se o agente causador é uma grande

empresa que pratica reiteradamente o mesmo tipo de evento

danoso, eleva-se o valor da indenização ensejando-lhe um

gravame patrimonial.

A função punitiva da indenização por danos morais, também

funciona como critério de aferição indenizatória, encontrando

vasto arcabouço na doutrina, Venosa (2011, p. 340), em sua

obra explica esta tal peculiaridade, “deve ter uma função de

pena privada, mais ou menos acentuada, na indenização por dano

moral, como reconhece o direito comparado tradicional, não se

tratando de mero ressarcimento de danos”, esta referência da

qual trata o doutrinador traduz-se no sentido de que parte do

critério da condenação imposta ao ofensor é de caráter

punitivo, no sentido de inibir a reincidência de futuros atos

danosos.

Na indenização do dano moral pleiteado pela pessoa

jurídica, além do caráter ressarcitório, esta deve servir como

sanção exemplar. A determinação do montante indenizatório deve

ser fixada tendo em vista a gravidade objetiva do dano causado

e a repercussão que o dano gerou para o prejudicado, o valor

27

que faça com que o ofensor se evada de novas indenizações,

evitando outras infrações danosas, conjugando também uma

sanção exemplar ao caráter ressarcitório, para que tenha

esboço na fixação do dano moral (SANTOS, p. 177, 2003).

O nível cultural do agente causador do dano moral, também

deve ser levado em consideração nos critérios utilizados para

mensurar o quantum, pois é de extrema importância que o

magistrado tenha o conhecimento de que o ofensor possui um

padrão cultural inerente ao homem médio. Para tanto, serão

analisados o seu grau de escolaridade, o conhecimento de cunho

geral, social e político, com o intuito de verificar o

discernimento do causador acerca dos prejuízos imateriais a

que deu origem (SILVEIRA, 2013).

Outro critério importante a ser ressaltado é o grau de

culpa e a intensidade do dolo do ofensor ou culpabilidade do

ofensor, de acordo com o quanto disposto no artigo 944

parágrafo único, do Código Civil de 2002, o ofensor deve

pagar menos se sua culpa foi leve ou levíssima, pois “se

houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o

dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização”

aventa-se a possibilidade do juiz averiguar a intensidade do

dolo ou grau de culpa do ofensor, consubstanciando-se nas

provas trazidas aos autos do caso concreto, podendo-se reduzir

o valor da indenização, quando houver uma desproporção entre a

culpa do ofensor e o dano.

Consoante o Superior Tribunal de Justiça, onde o Ministro

Luis Felipe Salomão, relator, em seu voto destacou que a

28

Súmula 227 do STJ preconiza que a pessoa jurídica reúne

potencialidade para experimentar dano moral, podendo, assim,

pleitear a devida compensação quando for atingida em sua honra

objetiva.

Afirmou Salomão que, “no tocante à pessoa jurídica,

impende destacar a necessidade de que a violação ao seu

direito personalíssimo esteja estreita e inexoravelmente

ligada à sua honra objetiva, haja vista não ser ela dotada de

elemento psíquico” (REsp 1022522/RS).

As repercussões econômicas sofridas pelo ofendido também

devem ser levadas em consideração como critério de valoração

da indenização do dano moral, pois nos casos em que a pessoa

jurídica sofre lesão provocada por dano moral este atinge a

sua honra objetiva, que se reflete na sua reputação, no seu

renome e na sua imagem social, afetando obviamente a tradição

de mercado e que ocasionará em repercussão econômica ainda que

indireta, a ser demonstrada por meio de prova do abalo, como

pressuposto do ressarcimento pretendido.

A aplicação do critério do justum ante as circunstâncias

particulares do caso sub júdice, padece de uma análise

criteriosa do magistrado, e em consonância com os princípios

da razoabilidade, proporcionalidade e equidade.

Luís Roberto Barroso (2005, p. 106) explica o conceito do

princípio da razoabilidade como:

O Princípio Constitucional da Razoabilidade se baseianos princípios gerais da justiça e liberdade. Busca ojusto equilíbrio entre o exercício do poder e apreservação dos direitos dos cidadãos, trazendo uma

29

harmonia e bem estar sociais, evitando dessa forma atosarbitrários. O razoável traduz-se na conformidade comrazão, moderação, equilíbrio e harmonia. Este princípiovisa auferir a justiça como valor máximo conferido peloordenamento jurídico.

Outrossim, há outras formas no direito de compensar o

ofendido além da obrigação pecuniária, quais sejam a

retratação e divulgação imediata da resposta ou a publicação

da sentença condenatória, ou ficando a critério do julgado,

quaisquer outras formas que possam satisfazer à vítima.

A indenização não poderá ter valor superior ao dano, nem

deverá subordinar-se à situação de penúria do lesado, tampouco

poderá conceder a uma empresa de grande porte uma indenização

inferior ao prejuízo sofrido, alegando que seu patrimônio o

permitiria suportar o excedente do menoscabo.

Yussef Cahali (2011, p. 637) em sua obra relaciona alguns

dos critérios que devem ser especificadamente considerados

quanto à violação dos direitos de personalidade:

“A natureza da lesão e a extensão do dano; as condiçõespessoais do ofendido, mormente a repercussão do dano esuas novas condições; as condições econômicas doresponsável pelo dano; a equidade, cautela e prudência(a indenização não pode ensejar em enriquecimento semcausa); a gravidade da culpa (se houver); o arbitramentoem função da natureza e finalidade da indenização.”

Para melhores esclarecimentos a respeito dos critérios

utilizados na quantificação da indenização por danos morais em

favor da pessoa jurídica, faz-se pertinente a exemplificação

com trechos de sentença em que se reconhece o dano moral à

pessoa jurídica autora que teve seus dados pessoais incluídos

30

indevidamente em órgão de restrição ao crédito.

A sentença de lavra da M.M Juíza de Primeiro Grau, a Dr.ª

Rita de Cássia Ramos de Carvalho, titular da 8ª Vara dos

Feitos de Relações de Consumo Cíveis e Comerciais da Comarca

de Salvador- BA, proferida nos autos do processo de nº 152204-

12.2003.8.05.001 (ANEXO 01), utiliza diversos critérios para

realizar a quantificação do dano moral.

Dentre eles, se identifica o principio da razoabilidade,

já devidamente mencionado no presente trabalho, tendo em vista

que o referido principio norteia a metodologia da

quantificação da indenização por dano moral. Observe-se o

seguinte trecho: “Quanto ao quantum da indenização pelos danos

morais, tem-se que o juiz deve observar os critérios de

razoabilidade e moderação, a fim de que o ofensor seja

apenado, mas também que se evite o enriquecimento ilícito”.

Noutro ponto do referido decisum, nota-se expressamente a

análise criteriosa realizada pela magistrada quanto aos

critérios objetivos, sendo eles, a repercussão da ofensa

(abalo ao crédito), o grau de culpa do ofensor, assim como a

sua capacidade econômica e a posição social do ofendido (abalo

à credibilidade). Verbis:

Ademais, segundo orientação do egrégio STJ, noarbitramento do dano moral, faz-se necessário considerara gravidade do dano e a repercussão da ofensa, osofrimento suportado pelo autor, o grau de culpa, alémda capacidade econômica do infrator e a posição socialdo ofendido, e as circunstâncias em que ocorrido oevento.

Observa-se que a M.M. Juíza quantificou o dano moral

31

sofrido pela pessoa jurídica, utilizando-se de critérios

objetivos, e o seu convencimento deu-se através da análise

detalhada do lastro probatório trazido aos autos pelo Autor.

7 Considerações Finais

A doutrina e jurisprudência são tranquilas quanto à

possibilidade de reparação por dano moral em prol da pessoa

jurídica, entretanto, inexistem critérios específicos para a

aferição do quantum indenizatório.

Em face da inexistência de legislação que aborde os

critérios a serem utilizados na quantificação do dano moral,

fica ao livre arbítrio do juiz o papel de aferição do valor da

indenização, peculiaridade esta que tem gerado disparidade

entre as decisões judiciais acerca da problemática em questão.

A quantificação da indenização em favor da pessoa jurídica

deve obedecer aos princípios constitucionais da

proporcionalidade e da razoabilidade, respeitando também ao

disposto no artigo 944, do Código Civil, buscando não trazer à

vítima um enriquecimento sem causa, tampouco dever ser

irrisória, pois não abarcaria o caráter punitivo ao ofensor,

que é uma das finalidades da indenização.

Deve então o julgador apreciar os critérios objetivos em

que trata cada caso concreto, no qual, a reparação não poderá

buscar uma igualdade com o prejuízo sofrido, mas o necessário

para reestabelecer ao ofendido o conforto diante do dano

sofrido e ao ofensor uma punição para que o ato causador do

32

dano não se repita, enquadrando-se no caráter punitivo.

A existência de critérios normativos acerca da

quantificação do dano moral em favor da pessoa jurídica

acarretaria em uma unicidade na metodologia utilizada pelos

magistrados. Entretanto tal regulação não pode ser limitativa,

restritiva ou imperativa e sim condutora e indicativa. Um

sistema de tal natureza tornaria a quantificação do dano moral

em pleiteado pela pessoa jurídica mais equitativa e justa,

assim como estipularia um parâmetro objetivo na fixação do

dano moral pelo magistrado.

O juiz, ao fixar o quantum indenizatório, utilizando um

sistema ilimitado, ou seja, desvinculado de qualquer tarifação

como o que ocorre no sistema fechado de arbitramento de

valores, deve seguir a seu critério, as peculiaridades

objetivas advindas do caso concreto, como, por exemplo, o

nível cultural do agente causador do dano moral, a condição

socioeconômica do ofensor e do ofendido, a intensidade do dolo

ou grau de culpa do agente causador; efeitos do dano no

contexto em que se encontra a ofendida, devendo ainda,

estabelecer o valor da indenização com o intuito de

desestimular a repetição de fatos lesivos semelhantes

futuramente.

33

REFERÊNCIAS

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DINIZ, H. Curso de Direito Civil Brasileiro. Parte Geral, SãoPaulo, 15ª Edição. Editora Saraiva. 2010

34

FARIAS; Rosenvald. Direito Civil – Teoria Geral. 7ª edição,Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2008.

GAGLIANO; Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. 5ª Edição. Partegeral v.1, São Paulo, Saraiva, 2007.

GARBELLINI, Luis Henrique. Critérios de fixação do dano moralno Judiciário estadual e federal. Jus Navigandi, Teresina, ano15, n. 2680, 2 nov. 2010. Disponívelem: <http://jus.com.br/artigos/17748/criterios-de-fixacao-do-dano-moral-no-judiciario-estadual-e-federal>. Acesso em: 19 denov. de 2014

GONÇALVES. R. Direito Civil Brasileiro. 13ª Edição V. 1 ParteGeral. São Paulo. 2013.

MAKENZIE, Busa. Do Dano moral. 1ª Edição. São Paulo. EditoraLexbook. 2007.

NICOLODI, Márcia. A legitimidade "ad causam" nas ações parareparação de dano extrapatrimonial. Jus Navigandi,Teresina, ano 8, n. 113, 25 out. 2003. Disponívelem: <http://jus.com.br/revista/texto/4384>. Acesso em 13 deout. de 2014.

REIS, Clayton. A Reparação do Dano Moral no Direito ClaytonReis. Revista dos Tribunais. TRT 9ª, Curitiba, a. 33, n. 60,p. ,jan./jun. 2008. Disponível em<http://www.ambitojuridico.com.br/site;?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11819. Acesso em 13de nov. de 2014.

RAMOS. Rita de Cássia Juíza titular da 8ª Vara dos Feitos deRelações de Consumo Cíveis e Comerciais da Comarca deSalvador- BA. Sentença de mérito. Ação Declaratória deInexistência de Débito cumulada com Indenização por Danos

35

Morais  processo nº 152204-12.2003.8.05.001.

SANTOS, J. Dano Moral Indenizável. 4ª Edição. São Paulo.Editora Lejus. 2003.

SILVEIRA, R. Quantificação do Dano Moral. Revista Ideias &Inovação. Vol. 01 ,N 3, Aracajú, Nov. de 2013. Disponível em<https://periodicos.set.edu.br/index.php/ideiaseinovacao/article/download/1243/631>. Acesso em 21 de Nov. de 2014.

STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil:Responsabilidade Civil e sua Interpretação Doutrinária eJurisprudencial. 5ª Edição. São Paulo. Editora Revista dosTribunais. 2001.

Superior Tribunal de Justiça. Súmula 227. DJ 20.10.1999.Disponível em<http://www.dji.com.br/normas_inferiores/regimento_interno_e_sumula_stj/stj__0227.htm> Acesso em 22 de set. de 2014.

Superior Tribunal de Justiça, REsp nº 1022522/RS, Disponívelem <h ttps://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/? componente=ATC&sequencial=29502218&num_registro=200800097611&data=20130801&tipo=91&formato=PDF>. Acesso em 18 de out. de2014.

VENOSA, S. Direito Civil Vol. 4, Responsabilidade Civil. 11ªEdição. São Paulo. , Editora Atlas. 2011.

ANEXO 01

36

SENTENÇA PROCESO Nº: 015204-12.203.8.05.001 CLASE ASUNTO:

DECLARATORIA AUTOR: MERCADAO DOS COSMETICOS E MIUDEZAS LTDA

RÉU: SANTA CLARA MANUFATURA E COSMETICOS LTDA. Vistos, etc...

I - R E L A T Ó R I O MERCADÃO DOS COSMÉTICOS E MIUDEZAS LTDA,

qualificado na inicial de fls. 02/05, ajuizou a presente Ação

Ordinária para declaração de inexistência de título, cumulada

com pedido de danos morais contra SANTA CLARA MANUFATURA E

COSMÉTICO LTDA, igualmente qualificada na exordial,

sustentando que foi surpreendido com um protesto de título

representativo de crédito, no valor de R$ 896,33, em

20/03/2003, apontada pela ré, de forma indevida, haja vista

ter efetuado pagamento de tal valor através de depósito em

conta corrente, conforme documento de fls. 10. Lastreou a ação

em documentação de fls. 06/11, pedindo o cancelamento do

protesto, a declaração de inexigibilidade do título e a

condenação da ré em danos morais. Devidamente citada, a parte

ré ofereceu contestação com documentos de fls. 16/39, aduzindo

em defesa: que tem sede comercial em São Paulo, mas vende e

entrega mercadoria em todo território nacional; que os

pagamentos realizados são feitos através de boletos bancários

emitidos pelo Banco do Brasil, banco conveniado com a ré; que

o banco emitiu o boleto com vencimento no dia 20/03/2003, no

valor de R$ 896,33, com advertência de que se não houvesse

pagamento do título no prazo de 05 dias o documento seria

protestado; que o autor efetuou o pagamento no dia 09/04/2003,

vinte dias após o vencimento da fatura, no valor de R$ 896,05,

na conta do Banco Bradesco, o que impossibilitou de saber se

37

tal depósito referia-se ao título protestado; a inexistência

do dano moral, por falta de prova. Pugnou pela improcedência

da ação. Designada audiência de conciliação às fls. 42, esta

restou infrutífera. Réplica às fls. 47/49, com documentos de

fls. 50/57, transcorrendo in albis o prazo para a parte ré se

manifestar a respeito destes, conforme certidão de fls. 72.

Vieram-me os autos conclusos. II - F U N D A M E N T A Ç Ã O

II.1 - JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE Considerando

desnecessária a produção de provas em audiência, será

procedido o julgamento antecipado da lide, nos termos do art.

330, I, do Código de Processo Civil. Quanto a preliminar de

inépcia da inicial arguida pela demandada não merece

prosperar, pois os pedidos foram formulados de forma lógica,

não podendo este juízo desprezar a garantia constitucional do

acesso à justiça. Portanto, a inicial não é inepta, havendo

possibilidade de, em tese, pleitear-se em juízo o quanto

requerido, restando observados os devidos requisitos legais da

petição inicial. II.2 - MÉRITO No mérito, busca o autor a

declaração judicial de inexistência do débito e de vínculo

obrigacional para pagamento do título levado a protesto,

emitido indevidamente pela ré, com o consequente cancelamento

do protesto. Compulsando-se os autos, verifica-se ser

incontroverso o fato do autor ter realizado pagamento da

fatura com 20 dias de atraso, ou seja, em 09/04/2003, em um

banco (Bradesco) diferente daquele que emitiu o boleto

bancário (Banco do Brasil), e que tal título foi levado a

protesto após o pagamento do débito, conforme documento de

fls. 53/56. Ocorre que o pagamento realizado pela autora,

38

através de depósito em conta corrente de titularidade da ré,

se deu de forma identificada. Contudo a empresa ré protestou o

citado título que já se encontrava devidamente quitado, em

05/05/2003, agindo, assim, de forma negligente. Ademais, não

merece prosperar a alegação da ré de que não tinha

conhecimento do pagamento do título, realizado mediante

depósito identificado em sua conta corrente. O fato de ter

levado o título a protesto, sem antes verificar em suas contas

a possível quitação deste, configura a sua conduta negligente,

restando, por sua vez, o dever de indenizar. Ora, razão

assiste o autor quanto ao seu pleito inicial de indenização

por danos morais, uma vez que a ré foi negligente ao protestar

título já pago, valendo-se para tanto, da passageira

inadimplência do autor. Desta forma, significa dizer que os

pressupostos para o surgimento do dever de reparar encontram-

se presentes e demonstrados na espécie, sendo cediço ainda que

a prova do dano moral, nos casos de protesto indevido do nome

de devedor, é prescindível. Nesta enseada, diz o Código Civil

Brasileiro: "Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão

voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e

causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete

ato ilícito." Tal artigo nos fornece o arcabouço legal que

regula, em regra, a responsabilidade civil no nosso

ordenamento jurídico. Com efeito, a partir da leitura desse

artigo é possível concluir que o dever de indenizar, no

sistema do Código Civil, decorre ou assenta-se no trinômio ato

ilícito, nexo causal e dano. Segundo Carlos Alberto Bittar:

"Danos morais são lesões sofridas pelas pessoas, físicas ou

39

jurídicas, em certos aspectos de sua personalidade, em razão

de investidas injustas de outrem. São aqueles que atingem a

moralidade e a afetividade da pessoa, causando-lhe

constrangimentos, vexames, dores, enfim, sentimentos e

sensações negativas. Contrapõem-se aos danos denominados

materiais, que são prejuízos suportados no âmbito patrimonial

do lesado. Mas podem ambos conviver, em determinadas

situações, sempre que os atos agressivos alcancem a esfera

geral da vítima, como, dentre outros, nos casos de morte de

parente próximo em acidente, ataque à honra alheia pela

imprensa, violação à imagem em publicidade, reprodução

indevida de obra intelectual alheia em atividade de fim

econômico, e assim por diante. Os danos morais atingem, pois,

as esferas íntima e valorativa do lesado, enquanto os

materiais constituem reflexos negativos no patrimônio alheio.

Mas ambos são suscetíveis de gerar reparação, na órbita civil,

dentro da teoria da responsabilidade civil." O dano moral na

relação descrita nos autos, como visto, está consubstanciado

pelo sofrimento, injusto, infligido pela ré ao autor pelo

protesto indevido de seu nome, ato este de valor social

desprimoroso, ou seja, "o que a dor retira à normalidade da

vida, para pior" Quanto ao quantum da indenização pelos danos

morais, tem-se que o juiz deve observar os critérios de

razoabilidade e moderação, a fim de que o ofensor seja

apenado, mas também que se evite o enriquecimento ilícito.

Ademais, segundo orientação do egrégio STJ, no arbitramento do

dano moral, faz-se necessário considerar a gravidade do dano e

a repercussão da ofensa, o sofrimento suportado pelo autor, o

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grau de culpa, além da capacidade econômica do infrator e a

posição social do ofendido, e as circunstâncias em que

ocorrido o evento. Insta ressaltar que, o fato de existirem

outros protestos em nome do autor, não justifica, nem elide a

culpa da ré pelo não cancelamento do protesto, após a quitação

da dívida, mas influi no arbitramento do quantum

indenizatório. Nesse sentido: "COMERCIAL E PROCESSUAL CIVIL -

DANO MORAL - PROTESTO INDEVIDO DE TÍTULO - EXISTÊNCIA DE

PROTESTOS ANTERIORES - REDUÇÃO DO QUANTUM A VALOR SIMBÓLICO -

AGRAVO PARCIALMENTE PROVIDO - I - Na linha dos precedentes

desta Corte, o banco que leva a protesto título pago no

vencimento responde pelos danos morais decorrentes. II - A

existência de outros protestos em nome do postulante dos danos

morais, no momento do protesto do título já pago, não exclui,

no caso, a indenização, porém reduz esta a um valor

simbólico." Portanto, tenho que o valor de R$ 4.000,00 (quatro

mil reais) amolda à sua dupla finalidade de compensar os

dissabores experimentados pelo ofendido, também punindo a

conduta negligente da empresa, sem representar fonte de

enriquecimento sem justa causa. III - D I S P O S I T I V O

Ante o exposto e considerando o que mais dos autos consta,

JULGO PROCEDENTES os pedidos para a) decretar a nulidade do

título em questão, determinar, por consequência, o

cancelamento do protesto respectivo; b) condenar a ré ao

pagamento de indenização por danos morais no valor de R$

6.000,00 (seis mil reais) - o valor desta condenação deverá

ser acrescido, ainda, de juros de mora, de 1% ao mês, e

correção monetária que deverão ser computados a partir desta

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data, a qual foi utilizada como referência para fixação dessa

verba indenizatória. Condeno, ainda, a parte ré ao pagamento

das custas e despesas processuais, além dos honorários

advocatícios, estes arbitrados 20% do valor do montante

atualizado da condenação (CPC, art. 20, § 3º). Publique-se.

Registre-se. Intimem-se. Salvador (BA), 15 de junho de 2012.

Rita de Cassia Ramos de Carvalho Juíza de Direito.