Configurações e Dinâmicas do Território: O Caso em Torno do Cabeço do Vouga

43
Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território 2013 1 Configurações e Dinâmicas do Território: O Caso em Torno do Cabeço do Vouga Trabalho realizado por: Luís Fareleira Ano Lectivo: 2012 - 2013

Transcript of Configurações e Dinâmicas do Território: O Caso em Torno do Cabeço do Vouga

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

1

Configurações e Dinâmicas do Território: O

Caso em Torno do Cabeço do Vouga

Trabalho realizado por: Luís Fareleira

Ano Lectivo: 2012 - 2013

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

2

Índice Introdução ..................................................................................................................................... 3

Contextualização Geográfica ......................................................................................................... 4

Contextualização Arqueológica ..................................................................................................... 7

Configurações e Dinâmicas de Território: A Implantação Pré- Romana e Romana ...................... 9

Configurações e Dinâmicas de Território: A Implantação Medieval ........................................... 14

O Castelo do Marnel................................................................................................................ 17

O Mosteiro de Santa Maria de Lamas ..................................................................................... 19

As dinâmicas entre comunidades e os Rios ............................................................................ 21

Conclusão: ................................................................................................................................... 25

Bibliografia .................................................................................................................................. 27

Anexos ......................................................................................................................................... 29

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

3

Introduçã o

O presente estudo irá centrar-se nas Configurações e Dinâmicas de Territórios em torno

do Cabeço do Vouga. Este situa-se na Freguesia de Lamas do Vouga, no Concelho de

Águeda, Distrito de Aveiro.

Desde logo a escolha do tema prende-se com a sua área geográfica, uma vez que

somos naturais da Cidade de Aveiro. Apesar deste caso de estudo não se centrar

propriamente na nossa área de residência, temos todo o interesse e orgulho no

património da região. Contudo, parece haver uma enorme vontade de ignorar a cultura e

a arqueologia, já que, na verdade, este é o único caso onde se assiste a um estudo

arqueológico mais denso, que mesmo assim carece ainda de muito trabalho no que toca

ao estudo dos materiais provenientes das suas escavações.

Outro grande motivo, que serve igualmente de motivação, é o facto de não se

conhecer quase nada acerca das configurações e dinâmicas no espaço de estudo. Assim,

esta abordagem tem o carácter introdutório, onde o objectivo passará, principalmente,

por levantar questões, hipóteses e lançar propostas.

O Cabeço do Vouga (denominação geralmente atribuída para o espaço de

estudo) teve desde sempre uma história bastante conturbada. As primeiras abordagens

de carácter arqueológico começaram em 1941 com as intervenções de Rocha Madahil e

Sousa Baptista, ilustres pensadores Aveirenses. Contudo, só no final da década de

noventa é que Fernando Silva recomeça a estudar o Cabeço do Vouga de uma forma

verdadeiramente metódica, rigorosa e científica, apoiando-se em metodologias bem

aplicadas, bem como uma grande noção de Arqueologia. Infelizmente, faleceu sem

conseguir terminar o seu trabalho.

Assim, com toda estas informações e dados tentaremos revitalizar o interesse

pelo estudo desta região. Não só porque arqueologicamente é altamente interesse, como

pelo grande esforço que foi feito ao longo dos anos para que o projecto se mantenha

vivo.

Só entendendo o espaço é que poderemos entender as comunidades e as suas

dinâmicas, por isso este trabalho terá sempre esse carácter ligado com as transformações

do espaço, sejam elas de caracter natural ou antrópico, uma vez que o Homem e o

Espaço moldam-se, um ao outro.

Gostaríamos ainda de agradecer, principalmente, ao Dr. Carlos Dias, actual

arqueólogo responsável pelo projecto do Sítio da Mina, não só pela vontade e o trabalho

que tem feito pela arqueologia da região, mas também pela grande ajuda e paciência que

gentilmente, e de uma forma muito prestável nos concedeu.

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

4

Contextuãlizãçã o Geogrã ficã

O Cabeço do Vouga é constituído por dois cabeços: O Cabeço da Mina e o Cabeço

Redondo, sendo que o primeiro se situa a uma cota de sessenta e nove metros, e o

segundo a oitenta e três metros acima do nível do mar. Entre estes dois espaços existe

um pequeno vale onde actualmente se instala a Capela do Espirito Santo (Carta Militar

186 1/25000). (Anexo 1)

É no Cabeço da Mina onde se instala o assentamento arqueológico melhor

conhecido da região, o Sítio da Mina – escavado desde 1941 por Rocha Madahil.

Apesar disso, há muito trabalho que está ainda por fazer, sendo que se conhece pouco

sobre as suas dinâmicas. Já o Cabeço Redondo, foi intervencionado no mesmo ano,

desta vez por Sousa Baptista, mas o seu estudo e publicações dão-nos, em boa verdade,

muito pouca informação sobre a sua realidade arqueológica. Todo este espaço está

densamente coberto por um grande eucaliptal, tornando-se extremamente difícil

perceber a dispersão (e existência) de algum tipo de registo arqueológico à superfície.

O Cabeço do Vouga encontra-se numa posição estratégica, uma vez que se encontra

numa zona de confluência entre dois Rios: O Vouga, a Norte e Oeste e o Marnel a Sul.

Desde logo percebe-se que esta região poderá ser altamente irrigada, e visto dada a

grande deposição de sedimentos, os terrenos de cultivo acabam por se tornar altamente

férteis.

O Vouga, sendo o Rio principal de toda esta malha fluvial, nasce na Serra da

Lapa e estende-se em cento e trinta e cinco quilómetros desde a sua nascente até à foz –

sendo esta em Aveiro. Desde a sua nascente, o Vouga caracteriza-se por um caudal

relativamente pequeno, uma vez que atravessa zonas montanhosas e graníticas. Os

últimos cinquenta quilómetros do seu curso, “o Vouga muda por completo: estende-se

por um mais vasto álveo, tornando-se navegável, e começa o seu trabalho de

sedimentação, deixando lateralmente línguas de areia e campos cultivados, por onde as

aguas se espraiam na época das cheias. (GIRÃO, 1922,p. 46).

Achamos que este último ponto poderá ser bastante pertinente para a nossa

abordagem. Segundo Amorim Girão, as cheias são fenómenos frequentes, embora de

pouca duração, chegando a alturas bastante consideráveis – tornando-se num “elemento

importante na fertilização do solo”. (GIRÃO,1922,p. 49). Por outro lado, durante a

estação seca o seu caudal pode mesmo ficar quase inexistente.

Para o Rio Marnel, a informação é altamente escassa. Apenas conseguimos

identificar o que será, possivelmente, a sua nascente, sendo na Frágua – que dista cerca

de onze quilómetros da região estudada.

A região do Cabeço do Vouga é composta por terrenos secundários, terciários e

quaternários – linha divisória que começa em Espinho e vai até Albergaria – a –Velha,

integrados na orla mesozóica portuguesa (pág. 1) Perto de Águeda podemos observar

também um importante desenvolvimento de arenitos triássicos, que podem apresentar a

cor vermelha ou cinzenta (GIRÃO, 1922,p. 11).

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

5

A zona do Castelo Marnel assenta principalmente em formações plistocénicas

(GIRÃO; 1922,p 13), o que de certa forma vem confirmar a grande evolução ou

alteração da morfologia e geologia da região – dado que é corroborado pela grande

presença de depósitos quaternários.

Em termos geográficos, podemos descrever a orla mesozóica e cenozóica como

sendo uma região com “um acentuado carácter de homogeneidade” (sendo caracterizado

por grandes planícies, em contraste com regiões mais a Norte e a Este, onde se

encontram formações importantes tal como a Serra da Freita ou o Caramulo). Assim, “a

variedade de elementos que constituem esses terrenos, em que o calcário e a argila

predominam, dá origem ao aparecimento de solos com múltiplas aptidões agrícolas”

(GIRÃO, 1922,p. 18).

Temos assim como que uma zona marcada por grandes planícies, marcada por

uma grande paisagem de aluvião, “irrigada” por canais e afluentes do Vouga, delimitada

por várias formações montanhosas a Norte o Maciço da Gralheira e a Serra de Côta; a

Este a Serra da Lapa e Caramulo, e a Sul a Serra de Buarcos (GIRÃO, 1922,p. 22).

Segundo o Amorim Girão, são os ditos arenitos vermelhos referidos anteriormente que

acabam por ser os mais utilizados, quase exclusivamente, para a construção na região.

De facto, para se fazer uma análise séria e concreta de toda esta região do Baixo

Vouga, onde se insere o Castelo Marnel, é necessário ter em conta a grande evolução da

costa marcada principalmente por uma forte transgressão marinha.

Segundo J. Alveirinho Dias1, há cerca de dezoito mil anos o encontrar-se-ia a

uma cota de cento e vinte metros abaixo do nível actual, o que representaria uma faixa

de costa mais extensa, “entre vinte e cinco e quarenta e cinco quilómetros para Oeste”

(DIAS,1987, p. 322). Desta forma existiria uma grande faixa de terra (hoje engolida

pelo mar), o que desde logo nos alerta para o facto da grande alteração geográfica que a

alteração dos seus níveis pode causar.

Segundo o mesmo autor, esta subida do nível do mar deve ter estabilizado entre

cinco mil, e dois mil e quinhentos anos atrás, criando condições para uma constituição

dos depósitos litorais (DIAS,1987, p. 333). No entanto, “indícios vários apontam para a

possibilidade do nível do mar ter estado ligeiramente abaixo do actual há cerca de dois

mil anos (Baixo nível Romano) ” (IDEM).

Neste âmbito, Conceição Freitas e Carlos Andrade lembram-nos de que é

possível observar as mudanças que se verificaram ao longo dos tempos. Por um lado, as

cotas, em período romano, estão a dois metros do actual. Isto significa que durante o

período em que estas cotas seriam inferiores, a morfologia dos terrenos poderiam ser

significativamente diferente. (ANDRADE, FREITAS, 1998)

Esta flutuação constante das águas do mar alerta-nos para estas pequenas

variações: é que apenas com estas pequenas alterações, a área de terra ocupada poderá

ser dramaticamente maior, bem como a profundidade de zonas de água, representando

1 Especialista relacionado com as áreas de Ciências Marinhas, Geologia Costeira, Dinâmicas

Sedimentares, Ordenamento da Costeiro e Impactes das Alterações Climáticas – Faculdade de Ciências

do Mar e do Ambiente, Universidade do Algarve

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

6

quase mar aberto, zonas que hoje correspondem a terra firme. Exemplo disso será a

armadilha de pesca encontrada na praia de Espinho.

A armadilha foi encontrada numa área de marés vivas a 2,5 metros de

profundidade, ficando a “descoberto da areia em resultado do acentuado recuo na linha

de costa nesta zona; recuo que cifrará em cerca de 500 metros no prazo de um século”

(ALVES, et al; 1988-1989, p. 187).

Todos estes dados levam-nos a questionar como seria então o estuário do Vouga

no passado – bem como a sua foz. Sabemos que em meados do Século XVI o cordão

litoral tornou-se de tal forma uma realidade, que o contacto entre o curso fluvial e o mar

acabou por ficar completamente obstruído – daí a construção da Barra de Aveiro.

A este respeito, ao consultar alguns trabalhos de geografia da região percebemos

que há propostas, mas não existe, ainda, consenso. Decidimos assim recorrer ao estudo

mais recente, onde foi registada a aplicação de novas metodologias com o auxílio de

novas tecnologias. Assim, em 1997, Francisco Teixeira2 diz-nos que “o espaço

actualmente ocupado pela Ria de Aveiro foi há muitos séculos atrás um pronunciado

golfo, onde desembocava, orientado a Noroeste, um vasto estuário comum aos Rios

Vouga, Águeda e Cértima. Este golfo formou-se já no plistocénico, após a modificação

do relevo dos rios que a regressão vilafranquina (1,5 M.a) proporcionou. A região foi

afectada por sucessivas regressões e transgressões que tiveram um enorme impacto na

foz do Rio Vouga, passando o seu curso a correr de Sudoeste para Noroeste.”

(TEIXEIRA; 1997, p 8).

Este enquadramento é absolutamente imperativo, uma vez que o processo de

assoreação é bastante veemente na região de estudo. Para perceber as dinâmicas do

povoamento há que entender (ou neste caso, ter consciência da sua existência) das

dinâmicas deste processo de deposições sedimentares, uma vez que acaba por criar

novos espaços, com condições de implementação diferentes, obrigando as comunidades

a se adaptarem às novas realidades.

2 Investigador do Pós – Doutoramento na Universidade de Aveiro

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

7

Contextuãlizãçã o Arqueolo gicã

Como foi referido, tanto o Cabeço da Mina como o Cabeço Redondo sofreram

intervenções arqueológicas, e será por isso necessário (e imperativo) dar a conhecer, de

uma forma muito geral, o que se sabe sobre as ocupações do passado.

O Cabeço da Mina foi escavado, pela primeira vez, em 1941 por Rocha Madahil.

Sabemos que durante os anos sessenta, o Doutor Mário de Castro Hipólito realizou uma

intervenção, mas que infelizmente, os registos dessa escavação acabaram por se perder.

No final da década de noventa até 2010, o Doutor Fernando Silva protagonizou o

período em que este sítio sofreu as maiores intervenções arqueológicas, com

metodologias bem aplicadas. Infelizmente, os relatórios nunca foram publicados, nem o

estudo dos materiais provenientes desses mesmos trabalhos. Assim, tudo o que sabemos

continua ainda a ser muito pouco, uma vez que o sítio não está totalmente escavado,

nem os seus materiais estão ainda estudados. (Anexo 2)

Em relação às questões arqueológicas do Cabeço da Mina podemos dizer, com

relativa certeza, que existe uma ocupação pré – romana e romana do espaço. Isto porque

foi possível escavar estruturas de planta circular, em que nalguns casos houve claros

acrescentos à estrutura inicial podendo-se registar três tipos de implantação, onde se

observam então muros onde o seu assentamento foi feito a partir da abertura de valas,

estruturas que foram edificadas directamente em cima do afloramento, e outras

edificações que foram construídas sob um enchimento de terras, revelando assim a

regularização prévia do terreno a construir. De facto, assiste-se a “grandes

sobreposições entre os vários tramos de muros detectados, os quais, na sua grande

maioria – dentro da área escavada – se interrompem abruptamente ou então, são

cortados transversalmente por outros, definindo, em alguns casos, espaços exíguos”

(SILVA; 1999, p. 40) (Anexo:3)

Em relação à ocupação romana talvez o que seja importante realçar a escavação

de quatro tanques de forma quadrangular, onde dentro destes se observou a presença de

Terra Sigillata (onde o Doutor Fernando Silva não avança com nenhuma cronologia),

bem como o revestimento de opus latercium num caso, e noutro a presença de opus

signinum. Contudo, o autor propõe que estes tanques possam confirmar a presença de

uma indústria ligada à produção do célebre Garum.

No entanto, o estudo encontra-se numa fase muito embrionária, uma vez que dos

quatro tanques um está bastante destruído e outro não foi ainda sujeito a um processo de

escavação completa, tendo sido apenas identificado. Contudo, no território português, as

produções deste tipo de preparados são feitas em tanques com muito maior dimensão.

Talvez, e aqui a interpretação é nossa, associado ao buraco de poste, estas perfurações

no subsolo estejam mais ligadas a um tipo de alicerce, visto que o opus signinum apesar

de ser uma argamassa extremamente impermeável, é também altamente resistente.

(Anexo 4)

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

8

Durante as escavações de Rocha Madahil foram identificadas e escavadas

muralhas deste assentamento, de onde se identificou “uma série de bastiões semi-

circulares” (MADAHIL; 1941, p. 356), que uma destas estruturas possuí 2,9 metros de

diâmetro, e 1,6 metros de profundidade, contando ainda com 0,5 metros de espessura.

Foram identificadas quatro estruturas, se bem que uma quinta estaria presente de uma

forma vestigial.

Contudo, nos trabalhos de Fernando Silva percebeu-se que os ditos “bastiões”

seriam afinal contrafortes da muralha romana, uma vez que esta estaria implementada

numa zona irregular, obrigando a construção destas estruturas de forma a consolidar a

sustentação da muralha.

Em relação a ocupações posteriores ao período romano, identificaram-se quatro

estruturas de planta sub-quandragular sendo constituídas “por elementos pétreos que

dispostos em cutelo, encostados uns aos outros e sem qualquer aglutinante” (SILVA,

2001, p. 13). Estavam assentes sobre um nível de pedra miúda, que por sua vez se

encontravam sobre uma argamassa de argila inserida numa vala no afloramento

rochoso.

Acto contínuo, estas deveriam suportar uma estrutura, que se desconhece a sua

tipologia, mas que o autor avança para a possibilidade de ser uma fachada porticada,

uma vez que estas são equidistantes (registando-se 2,5 metros entre cada uma). Tal

como a estratigrafia nos diz, estas construções devem ser posteriores à ocupação

romana. (Anexo 5).

Em relação ao Cabeço Redondo, apenas temos as informações das escavações

levadas a cabo por Sousa Baptista em 1941. Esta plataforma apresenta uma forma

elipsoidal irregular, tendo uma área de cerca de um hectare. Segundo o autor, observa-se

um talude de três a quatro metros de altura. Aqui a plataforma “alarga mais de trinta

metros” e surge “um novo talude para o Norte e Poente” (BAPTISTA, 1950. P. 82).

Refere ainda a existência de uma plataforma ainda mais alargada do que a descrita, onde

o talude ainda supera em altura o anterior.

Estando na presença de um cabeço com tal área, com a presença de três taludes

(identificados por Sousa Baptista), é possível estarmos na presença de um sítio com

características defensivas complexas, não só pela sua implementação, mas também pela

sua localização – e evidentemente pelas descrições dadas pelos autores.

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

9

Configurãço es e Dinã micãs de Territo rio: A Implãntãçã o Pre -

Romãnã e Romãnã

O Cabeço da Mina assume-se, desde logo, como o arqueossítio mais importante do

Distrito de Aveiro, uma vez que é o único que sofreu uma intervenção arqueológica

mais extensa e profunda.

Desde logo percebemos que há uma continuidade de ocupação naquele sítio, o

que se traduz certamente numa grande dinâmica de ocupações. O Cabeço da Mina situa-

se no extremo Oeste do Cabeço do Vouga, onde a sua cota mais alta ronda os 69 metros

de altura.

Sobre a ocupação pré-romana temos, ainda, dados pouco claros. Sabemos da

existência de uma ocupação, dada a existência de estruturas circulares que,

estratigraficamente, são anteriores às estruturas romanas.

Através dos registos de Sousa Baptista, parece-nos plausível afirmar que no

Cabeço Redondo poderia existir uma estrutura defensiva, e quiçá monumental. Porém,

não há quaisquer dados que nos possam dar datações, ou cronologias para a sua

ocupação. Na nossa opinião, é perfeitamente possível que este tenha sido ocupado por

comunidades pré – romanas, pelo menos numa primeira fase. Isto porque o dito Cabeço

encontra-se a uma cota de 82 metros, o que permitiria uma grande visibilidade para todo

o território envolvente, bem como estaria defendido a Este e Norte pelo Rio Vouga.

Segundo Fernando Silva, toda esta área deveria ter uma ocupação desde o Paleolítico.

Há um outro dado que nos deixa bastante atento às dinâmicas destas comunidades: A

Capela do Espirito Santo. Aparentemente parece uma capela completamente

abandonada no Espaço, e no Tempo. Principalmente por se encontrar num espaço de

difícil acesso, numa depressão entre dois cabeços. Contudo, inúmeros exemplos

mostram-nos que este tipo de implementações ligadas ao mundo religioso têm uma

génese muitíssimo anterior, recuando exactamente a estas comunidades indígenas e pré-

romanas. Seria fantástico escavar toda aquela área, uma vez que nos poderia dar uma

ideia muito clara da funcionalidade daquele espaço. (Anexo 6)

Na publicação mais recente relativa ao sítio da Mina, são revelados alguns

materiais que nos deixam bastante um sinal bastante claro de que toda esta região

deveria ter um dinamismo e importância elevada. De facto, são nos apresentados alguns

materiais de origem Fenícia, o que poderá indicar contactos directos com estas

comunidades do Oriente. No entanto, os níveis proto-históricos são ainda mal

conhecidos, e por isso não podemos avançar com nenhum tipo de especulações. (Anexo

7)

No entanto, gostaríamos de deixar uma nota importante: O paleo-estuário do Vouga é

extremamente mal conhecido, bem como as suas dinâmicas intrínsecas, quer naturais

como humanas. Assim, podemos colocar a questão: terá havido algum contacto directo

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

10

com estas comunidades? Será que estas chegaram via fluvial até ao Cabeço do Vouga?

Para terem chegado a este lugar, deveriam certamente estar à espera de encontrar algum

tipo de produtos que pudessem ser comercializados, ou por outro, este poderia ser o

ponto de contacto e de trocas entre comunidades.

Em relação à ocupação romana podemos dizer algo mais.

Segundo Vasco Mantas, trata-se de um “Hill-fort compreendendo dois terraços

naturais, (…) protegido a norte pela curva do Vouga e a sul pelos pântanos do marnel.”

(Mantas, 1996, p. 621). Dada a monumentalidade do sítio, a sua implementação, é

plausível assumir a “existência de uma civitas sediada no Cabeço do Vouga, a qual, de

acordo com o Itinerário e com os miliários, não pode ser Talábriga” (Mantas, 1996, p.

623).

De facto, só trabalhos de escavação poderão nos elucidar sobre a questão da

identificação deste assentamento. Contudo, mais do que identificar a sua designação, o

nosso objectivo passa por entender as suas dinâmicas. No entanto, Vasco Mantas

assume que o Cabeço Redondo teve uma ocupação romana, o que é perfeitamente

possível, no entanto ainda não há dados que permitam uma reflexão mais extensa sobre

essa possibilidade. No nosso entender, esta ocupação não só se situaria no sítio da Mina,

mas também mais para Oeste. De facto, parece existir algumas formas que acabam por

delimitar e caracterizar um espaço que foi, em tempos, ocupado. (Anexo 8 e 9)

Uma vez que a escavação apenas se circunscreve a uma parte do sítio da Mina,

não temos mais dados arqueológicos sobre a ocupação romana neste espaço. Assim, na

nossa opinião, a melhor forma de abordar as dinâmicas deste território, no que toca à

ocupação romana, é analisar o traçado das vias construídas por estas comunidades.

Neste sentido, Vasco Mantas publicou um excelente trabalho de analise, e é a

partir daqui que iremos fazer a nossa analise. Segundo este autor, dada localização

geográfica do Cabeço do Vouga(estando entre o litoral e a zona montanhosa) seria um

local com uma dinâmica viária bastante acentuada, uma vez que a sua posição de

charneira lhe concedia condições para ter um carácter de “distribuição” de bens quer

para Aeminium quer para Cale, mas também poderia funcionar perfeitamente como

ponto de paragem e repouso para quem ali passasse.

No entanto, temos de considerar que cerca de 5 quilómetros para Norte se

localiza Albergaria – a- Velha. Desde logo sabemos que durante a Idade Média se

mandou instalar uma Albergaria para quem viajava, o que pode perfeitamente ser a

continuação de exploração de uma zona onde poderia ter existido uma Mansione em

tempo romano.

Ainda segundo Vasco Mantas, O traçado romano entre Olissipo e

Talábriga passaria pelo Oppdium Vacca, uma vez que este considera que o Cabeço do

Vouga não se reporta a Talábriga.

De facto, ao ler a excelente compilação feita por Rocha Madahil, acerca do que

foi discutido sobre o Cabeço do Vouga, desde o século XVI reparamos que é raro os

autores utilizarem o nome “Talábriga” quando se reportavam ao Cabeço do Vouga.

Isto é, durante os seus comentários e propostas, recorriam sempre a autores

clássicos como Estrabão ou Plínio. Segundo Duarte Nunes Leão (obra de 1610), o Rio

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

11

Vouga poderia ter designações ligeiramente diferentes consoante os autores: Plínio

utilizava o nome Vacca e Estrabão, referia-o como Vaccuam, já Ptolomeu usava Vacum.

(Madahil, 1941, p. 236). Ora, Sousa Baptista diz-nos que tudo o que foi dito sobre o

Cabeço do Vouga, tendo em conta as fontes clássicas, reduzem-se a dois autores: Plínio

e Aéthico (sendo este de origem grega). Assim, na sua visão, o que foi dito tem por base

o relato feito no Século IV, embora que fugaz, por este escritor helénico – onde se poder

ler “« occenus occidentalis habet formosa oppida – Bracara – Iacusa Augusta – Vacca»

(Bapitista, 1950, p. 81)

Assim, se existisse uma Civitas denominada Talábriga nas margens do Vouga,

não faria sentido ter sido mencionada aquando a descrição do dito Rio? Ou será que, o

assentamento acabou por adoptar o mesmo nome que o Rio Vouga (Vacca, Vaccuam,

Vacum), e por isso nunca ter aparecido com outra denominação. Neste ponto

concordamos inteiramente com Vasco Mantas.

Voltando às vias, o mais interessante é perceber que de facto, entre a mourisca e

Campelinho, existe um traçado, hoje traduzindo-se numa aldeia – rua, em que o seu

traçado é perfeitamente rectilíneo, encaixando-se geograficamente no traçado proposto

pelo autor. (Mantas, 1996, p. 814). De facto, esta estrada é também conhecida por

Estrada Mourisca, o que nos pode dar uma pista importante no que toca à importância

deste troço.

Temos de ter em consideração que todos estes traçados foram calculados a partir do

Itinerário de Antonino, identificação de restos de traçados romanos, dos marcos

miliários encontrados em vários locais, associado a algumas escavações e prospecções

que foram feitas de forma a perceber as dinâmicas de ocupações em torno das vias, e

claro, a análise das cartas militares e fotografia aérea.

Em termos da transposição do Vouga e do Marnel, Vasco Mantas propõe alguns

cenários possíveis, se bem que, dada a ausência de vestígios ou estudos mais

aprofundados nesta área, as suas conclusões acabam por ser algo vagas.

Justamente, quando a estrada passa por Pedaçães, dirige-se para Norte,

transpondo o Marnel. Toda esta zona é pantanosa, e seguramente poderia ser transposta

por pequenas embarcações, embora não sabemos até que ponto estas não poderiam

encalhar nos seus períodos de menos caudal.

A ponte existente na travessia do Marnel é, de uma forma geral, datada do

Século XII (por Sousa Baptista), deixando-nos assim na ignorância sobre o modo o qual

o rio seria atravessado na época romana. Em relação à travessia do Rio Vouga a Norte,

existe uma ponte com alguma envergadura, e sabemos que teve uma intervenção no

século XII (tendo sido reparada), e depois uma nova vaga de trabalhos já no Século

XVIII por D. João V. Vasco Mantas fez uma pequena análise morfológica aos pegões

que conseguiu observar (visto que outros estavam submersos), e propôs uma cronologia

romana para a sua construção. (Mantas, 1996, pp. 815 – 817).

No entanto, o autor propõe ainda outra travessia que passaria pela transposição

do Rio Vouga a Oeste, entre Lamas e Vila Verde, talvez usada apenas durante as

estações onde o caudal fosse mais baixo, permitindo uma circulação através de

pequenas embarcações. (Mantas, 1996, p.818).

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

12

Temos de ter em consideração que todos estes traçados foram calculados a partir

do Itinerário de Antonino, identificação de restos de traçados romanos, dos marcos

miliários encontrados em vários locais, associado a algumas escavações e prospecções

que foram feitas de forma a perceber as dinâmicas de ocupações em torno das vias, e

claro, a análise das cartas militares e fotografia aérea.

Há, contudo, algumas considerações que achamos necessárias tecer. Por um

lado, a Ponte do Marnel traduz-se numa construção essencial para a transposição do rio

Marnel, mas principalmente para as populações que ali se implantaram. Não terá esta

ponte uma génese romana, ou mesmo anterior? A sua envergadura é bastante pequena,

sendo bastante rudimentar, onde com certeza que, dada a falta de matéria – prima na

zona (onde o saibro acaba por ser o mais abundante), a sua planificação teve de ter em

conta exactamente esta falta de recursos. É certo que as pontes de madeira acabam por

não chegar aos nossos dias, dada a sua perenidade, mas achamos que é arriscado afirmar

que esta ponte tem uma origem medieval, quando a ocupação deste território (pelo

menos no Cabeço da Mina), faz-nos recuar até à época pré-romana.

Outra questão que temos de colocar é a própria morfologia deste último troço do

Marnel. Qualquer um que observe a carta militar (1/25000; folha 186), percebe que

parte do seu curso foi drasticamente alterada pela mão do Homem. A partir da Boiça

(mais concretamente, da linha férrea que por ali passa), o seu caudal torna-se mais

volumoso, uma vez que a distância entre as suas margens aumenta. Daqui até à

povoação de Lamas (onde se encontra a actual E.N 1, e a ponte anteriormente referida),

temos um curso de água perfeitamente rectilíneo, com uma extensão de cerca de 1500

metros. Até agora, não encontramos quaisquer referências ou informações em relação às

intervenções neste rio. Voltaremos a este tópico mais adiante.

De qualquer forma, concordamos com Vasco Mantas quando diz que o Cabeço

do Vouga existiria “seguramente uma importante estação viária” (Mantas, 1996,p. 813).

(Anexo 10)

Delfim Bismark Ferreira, na sua obra “A terra de Vouga nos séculos IX

a XIV”, diz-nos que seria um território, onde a “a sede de Talábriga, segundo os mais

recentes estudos, corresponderia ao topónimo Marnel, na actual freguesia de Lamas do

Vouga, situado em plena terra de Vouga” (Ferreira, 2008, p. 19). Avança também como

a “hipótese de que a civitas Marnele pudesse ter assumido o papel centralizador como

“capital” da terra de Vouga.

No nosso entender, o sítio da Mina, ou seja, o Oppdium Vacca como refere Vasco

Mantas, poderá ter sido abandonado, e as comunidades poderão ter migrado para Oeste,

junto do Vouga. Isto porque, até ao momento, as escavações não revelaram a existência

de uma ocupação Baixo Medieval para o assentamento, apenas quatro sapatas, que até

ao momento, a única coisa que poderemos afirmar com certeza é que, tendo em conta

“os escassos vestígios arqueológicos associados e o posicionamento estratigráfico que

tais estruturas de alicerce ocupam, deixem antever que se trata de uma construção

tardia, posterior à ocupação romana do sítio.” (Silva, 2001, p. 13)

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

13

De certa forma, esta realidade poderá explicar a deslocação do topónimo “Vouga”,

como também poderá ser um dado importante para o entendimento da denominação do

assentamento romano, uma vez que, ao longo do tempo, este topónimo é continuamente

usado, e sempre associado a centros administrativos – Vacca, Vaccuam, Vacum, Vouga.

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

14

Configurãço es e Dinã micãs de Territo rio: A Implãntãçã o Medievãl

Como vimos, a zona entre o Vouga e o Marnel teve seguramente uma

importância estratégica no controlo desta área, bem como uma grande dinâmica no que

toca às suas gentes. Assim, não será de descabido propor uma complexa organização de

todo este espaço, embora em moldes diferentes, uma vez que os centros administrativos

não seriam os mesmos.

De facto, as escavações até agora efectuadas no Cabeço da Mina não revelaram,

até ao momento, qualquer ocupação de carácter medievo, o que nos pode indicar que

este sítio possa ter sido abandonado, ou, tenha perdido consideravelmente a importância

estratégica que se verificou durante a ocupação romana do espaço.

Contudo, a documentação parece só começar a aparecer a partir do século X,

com uma doação de Inderquina Pala ao Mosteiro de São Salvador de Sperandei, donde,

entre outras doações, é referido o mosteiro do Marnel. (Ferreira, 2008, p. 241). Mas a

questão impõe-se: como terão sido as dinâmicas de ocupação da Alta Idade Média?

Na Obra “Município de Águeda” do Padre Francisco Dias Ladeira, escrito em 1982, o

autor propõe que durante século V, a invasão Godo-Alana tenha destruído o

assentamento romano então instalado no Marnel – no entanto, não é possível verificar

de forma alguma a veracidade desta proposta. (Ladeira, 1982, p. 27, Vol I)

Segundo José Mattoso, “Durante os séculos V e seguintes, verifica-se, pois, a

progressiva deterioração do sistema administrativo imperial, que os Germanos não

destroem, mas ignoram ou paralisam, e a constante apropriação de poderes de natureza

não militar pelos guerreiros, que frequentemente procuram imitar os imperadores ou,

melhor, os seus representantes provinciais e locais”. (Mattoso, 1992, p. 302).

De facto, a historiografia diz-nos que, após o suicídio de Gerôncio, “os

Germanos puseram muitas cidades a ferro e fogo, espalhando o terror por toda a parte”.

Esta narrativa parece transversal a todos os discursos e opiniões. Contudo, haverá

decerto algum exagero no que toca as fontes literárias romanas, mas de facto, a

Arqueologia tem vindo a mostrar que houve (pelo menos) um abandono de alguns

assentamentos romanos, sendo que as suas construções mais tardias acabam por não

ultrapassar este Século V. O caso do Cabeço do Vouga parece não fugir a esta regra,

face aos dados analisados não podemos admitir uma destruição do sítio como a

historiografia defende.

É já no século VI que assistimos a uma importante reorganização

administrativa de todo este território Suevo, uma vez que Martinho de Dume

protagoniza a fixação das paróquias em todo o território Suevo, bem como mecanismos

para combater as crenças e superstições ditas pagãs, que se encontravam no seio das

comunidades sob a sua alçada. Este processo acaba por ser fundamental no nosso caso

de estudo, uma vez que depois de incertezas, lutas e um clima de grande instabilidade,

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

15

chega finalmente uma verdadeira organização administrativa, que acabaria por regular a

vida das comunidades.

Segundo o esquema apresentado por José Mattoso, existem duas paróquias de grande

importância que se encontram perto do Cabeço do Vouga: Conímbriga e Viseo.

Certamente que o território em estudo faria parte de uma das duas. Em 911, Enderquina

Pala doa o Mosteiro de Santa Maria de Lamas ao Mosteiro de Lorvão. Apesar de haver

um grande distanciamento cronológico, talvez não seja absurdo de todo assumir que a

zona em questão pertenceria, de facto, à Paroquia de Conímbriga

É já em 589 que Recaredo, sucessor de Leovigildo, se converte ao

Cristianismo, deixando para trás as tradições arianas, herdadas do seu Pai – tendo como

consequência a adopção desta tradição religiosa a todo o território Visigodo. Contudo,

entre a morte de Leovigildo (586) e a Invasão Muçulmana “pouco se sabe do que vai

acontecendo na Galécia e Lusitânia” perfazendo um período de 130 anos. (Mattoso,

1992, p. 316).

De qualquer forma, o Cabeço Redondo assume-se como um forte marco em toda

esta paisagem de aluvião, e justamente, através da fotografia aérea bem como dos

relatos das escavações de Sousa Baptista, poderemos estar na presença de um sítio de

altura, possivelmente fortificado.

Todo o processo de ocupação do espaço por parte destas comunidades exógenas,

é ainda um grande obstáculo na investigação arqueológica, ora por desconhecimento das

dinâmicas destes contextos durante a escavação, ora por uma clara falta de dados

durante a investigação. No entanto, apesar da grande falta de informação, relembramos

diz José Avelino Gutiérrez González, quando este nos avisa que “Una característica

general de esta transición es su heterogeneidad, la gran diversidad de situaciones, casos

y soluciones regionales y locales” (GONZÁLEZ, 2010, p. 5). De facto, podemos ter

umas vilas (e o seu territorium) que são anexadas por um senhor a outros territórios

seus, criando um grande latifúndio, como podemos encontrar uma situação de

desagregação destas estruturas sociopolíticas em pequenos casais.

Segundo ainda Francisco Ladeira, Marnel é um termo islâmico, significando

Lamas. De facto, à volta da zona a sul do Sitio da Mina, segundo a carta Militar,

verifica-se uma zona de cotas muito baixas, a rondar os 8 metros, onde toda a zona

envolvente se traduz numa área pantanosa e lamacenta. Daí, talvez, a origem deste

nome.

Lamas é “identificada no documento de 957, pela padroeira Santa Maria e, de

novo, em 961: «Mosteiro de Marnel, que chamam Santa Maria», expressão toponímica

Lamas, denota a proximidade com a pateira” (Ladeira, 1982, p. 85, Vol II).

Sabemos hoje que toda esta zona entre o Douro e Mondego acabou por ser um

território de fronteira, isto é, um espaço onde comunidades cristãs e islâmicas

coexistiam. De facto, Delfim Ferreira cita um texto de Al – Idrisi (geografo árabe, que

viveu no século XII) para nos dar a entender este conceito de “Território de Fronteira”.

“Da fortaleza de Montemor à foz do Vouga vão 70 milhas. É aqui que começa a terra

de Portugal” (Ferreira, 2008, p. 21). Esta passagem demonstra uma grande ligação entre

o Mondego e o Vouga, como também uma certa indefinição no que toca aos seus

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

16

próprios limites, tendo sido uma região dominada por cristão e muçulmanos. Ainda hoje

é possível perceber alguns vestígios desta ocupação através da rede viária. A Sul do

Cabeço do Vouga encontra-se um troço da possível antiga via romana, que ficou

conhecida como “A Estrada Mourisca”. (Anexo 11)

Na verdade, a historiografia portuguesa assume a possibilidade de, durante a

reconquista, pudesse ter existido “uma rede de fortificações ou de pequenos castelos

que, na região do Vale do Vouga, fizesse de guarda avançada de um sistema defensivo-

militar” de forma a proteger o castelo de Santa Maria. (Ferreira, 2008, p. 90).

Para a transição da Alta Idade Média, para a Baixa Idade Média existem mais

alguns dados, se bem que investigação está, ainda, num ponto muito embrionário.

Segundo Delfim Bismark Ferreira, toda esta zona do vale do Vouga faria parte

de uma Terra, sendo esta uma nova modalidade de organização administrativa, tendo

“tido a sua origem na reestruturação administrativa e militar levada a cabo por Fernando

Magno na sequência das suas conquistas” (Ferreira, 2008, p 19), sendo identificada pela

primeira vez em documentos datados do século XI.

A Obra Portugaliae Monunta Historica, tal como o Livro Preto da Sé Velha,

acabam por ser referências essenciais para este tipo de análise. Justamente na

compilação feita por Alexandre Herculano, podemos encontrar um testamento feito por

D. Gonçalo Veigas que nos fala precisamente da nossa região de estudo.

Esta fonte escrita acaba por nos dar informações altamente preciosas para

começar a entender as dinâmicas desta zona entre o Vouga e o Marnel. No dito

testamento, são referidos alguns aspectos essenciais para a reflexão das dinâmicas do

território, e por isso parece-nos importante transcrever uma pequena passagem deste

documento.

“Lali quomodo diuide per illa insula de pingero et de saualanes per ut illa

conbona solent facere sancta maria de lamas mediate integra per suos terminos per ut

sparte per illa petra de contensa et de alia parte per illa lagona sub porto de belli et

quomodo diuide de alia parte uauga per cima de illa lagona de sub porto de belli in suo

directo duide cum belli. Et de faraganes mediatate. Et medietate de castrello et tercia de

arraual”.3

Desde logo podemos reflectir alguns aspectos que nos parecem ser

extremamente importantes. Em 1050, data do referido testamento, o topónimo este

território seria Santa Maria de Lamas, nome que deve estar associado ao conhecido

mosteiro de Santa Maria de Lamas.

Por duas vezes é referido “Porto de Belli”. Sabemos que o topónimo “Belli”

sofreu uma evolução e o Padre Francisco Ladeira refere-o como “Belhe”. Segundo a

Revisão do Plano Director Municipal de Águeda (2010), o actual topónimo de Vila

Verde corresponde à antiga “Villa de Belhe”. Esta localiza-se a Oeste da actual vila de

Lamas, isto é, na margem Oeste do Rio Vouga – sendo que o território em estudo se

localiza na margem Este do mesmo Rio).

3 DC, CCCLXXVIII – Folha 231

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

17

No final da transcrição apresentada, é mencionado um “castrello”. Delfim

Ferreira também faz uma pequena observação a este dado, adiantando ainda que este se

localiza “junto ao Vouga e ao burgo que foi capital de todo este território” (Ferreira,

2008, p. 91).

Para tentar compreender melhor estas realidades decidimos abordar cada um

destes temas de uma forma individualizada, de forma a analisar cada problemática de

uma forma mais organizada. Desta forma, o nosso objectivo máximo passará por

apresentar problemáticas, e principalmente, levantar questões.

O Castelo do Marnel

Do nosso ponto de vista, é imperativo em primeiro lugar tentar localizar o

Castelo, uma vez que este seria o centro nevrálgico de toda a dinâmica do povoamento.

As inquirições de 1758 já não referem a existência de nenhum castelo, sendo mesmo de

pequenas dimensões. Sabemos portanto, que até a esta data, este já deveria estar em

ruinas

Segundo Francisco Ladeira, “No ano de 981 a vila de Lamas confinava com

Padasanes, Palatiollo, Belli e Christovalães ou seja Pedaçães, Paçô, Bêlhe e

Crastovães. Palaciolo corresponde ao actual topónimo de Paçô – o que talvez se possa

ter traduzido num pequeno paço, possivelmente residência militar do Marnel e

descendência.” (Ladeira, 1982, Vol II, p 93)

Desta forma, décimos criar um esquema perfeitamente teórico a partir das

informações obtidas pelo Padre Francisco Ladeira. Ao analisar a carta militar,

percebemos que quase todos os topónimos ainda estão presentes no território actual –

sendo que Bêlhe corresponde ao actual topónimo de Vila Verde

Assim sendo, começamos por analisar todo o espaço a partir da sua topografia, e

desde logo percebemos existirem duas zonas onde se poderia implementar uma

estrutura de carácter defensivo: A primeira localiza-se no Cabeço do Vouga, a segunda

localiza-se a Sul do Topónimo Toural. (Anexo 12)

Desde logo os dois topónimos têm um carácter bastante sugestivo. O Cabeço do

Vouga localiza-se num Cabeço no topo Norte desta proposta de território, onde a sua

altitude máxima ronda os 82 metros – correspondendo ao Cabeço Redondo. Em termos

defensivos, é defendido a Norte e a Oeste pelo Rio Vouga (uma vez que este circunda o

cabeço nas referidas orientações). O Vouga corre a 470 metros a Norte, e a cerca de

1150 metros a Este do sítio em questão. Em termos geoestratégicos acaba por ser uma

escolha bastante fácil de entender, uma vez que teria controlo visual sobre grande parte

do território, bem como sobre o Rio.

Entre o Cabeço da Mina e o Cabeço Redondo encontra-se uma depressão que

acaba por ser uma divisão natural entre estas duas formações. Precisamente aqui

encontra-se uma pequena capela, a Capela do Espírito Santo. Sabemos que associada à

implantação de castelos, costuma estar uma Igreja ou Capela, o que nos pode dar uma

pista importante sobre o paredeiro do Castelo do Marnel.

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

18

Uma das hipóteses que avançamos para a identificação desta estrutura

situa-se então, no Cabeço Redondo. Este foi intervencionado por Sousa Batista (sem

qualquer tipo de resultados conclusivos, e diríamos até bastante especulativos) resultou

na confirmação da existência de uma estrutura amuralhada.

Sousa Baptista descreve o sítio como sendo um maciço que se ergue sobre uma

plataforma de forma quadrangular, onde se situam dois cabeços distintos. O Cabeço

Redondo apresenta uma forma elipsoidal irregular, enquanto o cabeço da mina “foi

cortado em circunferência” (SOUSA BAPTISTA (1950): Considerações sobre a

Cidade Luso – Romana de Vacca, o Julgado, e o Burgo de Vouga. Arquivo do Distrito

de Aveiro, Vol. XVI, p. 82 )

Este espaço tem uma área aproximada a um hectare. Segundo a sua descrição,

observa-se um talude de três a quatro metros de altura. Aqui a plataforma “alarga mais

de trinta metros” e surge “um novo talude para o Norte e Poente” (Idem ). Refere ainda

a existência de uma plataforma ainda mais alargada do que a descrita, onde o talude

ainda supera em altura o anterior. (Anexo 13)

Estando na presença de um cabeço com tal área, com a presença de três taludes

(identificados pelo autor), é possível estarmos na presença de um sítio com

características defensivas complexas, não só pela sua implementação, mas também pela

sua localização. (Anexo 14 e 15)

Como foi referido, Sousa Baptista fala de uma segunda plataforma no Cabeço

Redondo, com uma largura de cerca de trinta metros foi identificada a Este, Oeste e

Norte do primeiro. O autor avança assim com a possibilidade de um segundo patamar,

que no entanto, poderá ter sido destruído. Este talude deveria envolver toda esta

plataforma. Actualmente é possível observar-se um muro, embora este possa ser

bastante recente de forma a conter o deslizamento de terras.

Em relação ao Cabeço da Mina, como foi anteriormente referido, inclinamo-nos

para um abandono e transição do povoamento para Oeste, junto do Vouga.

Justamente, a partir da análise da carta militar, como a análise da fotografia

aérea, é possível perceber que existe de facto alguma estrutura, ou conjunto de

estruturas no Cabeço Redondo.

Como vimos anteriormente, a localização das vias seria igualmente junto a esta

zona do Cabeço do Vouga, e assim, pelos registos arqueológicos, podemos dizer que

toda esta zona teve uma ocupação relativamente continua.

Ainda segundo Francisco Ladeira, O Castelo do Marnel ainda manteria as suas

muralhas intactas até ao século XV – Sejam do cabeço redondo como do cabeço na

mina, sendo a Alcáçova Grande e Alcáçova Pequena. (Ladeira, 1982, p. 86 e 87, Vol II)

Contudo, não há ainda nenhum trabalho de escavação ou prospecção mais

recentes que nos possam dar dados mais fidedignos sobre estas questões.

Em relação ao Toural, não há dados nem arqueológicos, nem fontes históricas

que nos remetam para qualquer tipo de estrutura naquela área. No entanto, este é o

ponto mais alto de todo este suposto território, elevando-se a 85 metros acima do nível

do mar localizado perto do extremo Sudeste. Trata-se de um pequeno planalto, com a

presença de alguns canais de água, mas pouco mais se pode dizer sobre esta zona, uma

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

19

vez que, actualmente, se encontra densamente ocupada, tornando assim muito mais

difícil qualquer tipo de análise espacial. No entanto, seria interessante abordar esta

região de um ponto de vista arqueológico, uma vez que nos poderia ajudar a dissipar

algumas dúvidas em relação ao centro administrativo deste território, para este período.

Assim, pelos registos arqueológicos, e pela historiografia, parece-nos ser

bastante plausível que a localização do Castelo do Marnel se localize no actual Cabeço

Redondo. Desde a implantação geográfica e as suas vantagens, a implementação da

Capela do Espirito Santo, dos registos arqueológicos e fontes bibliográficas, tudo aponta

que este tenha sido o centro administrativo desta região, tal como aconteceu durante o

período Romano.

O Mosteiro de Santa Maria de Lamas

Em relação a este Mosteiro, Rocha Madahil foi pioneiro no estudo desta questão. No

seu artigo sobre o Cabeço do Vouga, são igualmente apresentados as conclusões sobre

as escavações no Mosteiro de Santa Maria de Lamas. Contudo, a sua descrição

geográfica é imprecisa: “ Um dos vales confluentes do Rio Vouga é o vale do Marnel,

que próximo à sua foz tinha uma antiga ponte d’arcos, há poucos anos abandonada por

utilidade da estrada real; fazendo-se logo abaixo outra ponte com a mesma denominação

de «ponte do Marnel», por onde passa a mesma estrada. Pouco acima da ponte velha, na

encosta esquerda do monte lateral deste vale, em lugar elevado, se vêm os restos ou

ruinas do afamado Mosteiro de Santa Maria de Lamas ou do Marnel” – (Madahil, 1941,

p. 251).

Contudo, o autor chama-nos a uma questão bastante pertinente. Como sabemos,

em 961, Enderquina Pala doou a sua Igreja de Santa Maria de Lamas ao Mosteiro de

Lorvão. Porém, só existem registos na sua consagração em 1170, quase duzentos anos

depois da sua doação ao dito Mosteiro.

José Mattoso diz-nos que, ao analisar o “Pacto de s. Frutuoso” (onde defendia a

ideia dos monges obedecerem ao Abade do seu mosteiro, desde que este não abusasse

da sua autoridade), é possível perceber que “era frequente famílias inteiras tornarem-se

dependentes dos mosteiros e que os monges praticavam muitas vezes o oficio de

pastores” (Mattoso, 1992, p. 344). Apesar de existir uma Regula communis que

condenava esta tradição monástica, estes “multiplicaram-se durante os séculos VIII e

IX; [e] só foram desaparecendo nos séculos XI e XII, combatidos de novo pelos

reformadores eclesiásticos da época gregoriana”. (IDEM)

Não sabemos até que ponto é que poderemos aplicar esta regra ao Mosteiro de

Santa Maria de Lamas uma vez que ele foi consagrado, precisamente, no século XII,

não fazendo por isso grande sentido ele ter sido abandonado neste século. Contudo,

ainda continua por perceber qual foi a época da sua fundação, se bem que esta linha de

raciocínio poderá ser uma pista importante para responder a esta problemática.

.

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

20

Pensa-se que o século X e meados do século XI foram particularmente

turbulentos nesta região, uma vez que, dada a ausência de registos documentais neste

período, é possível que toda a zona tenha sido assolada por ataques e pilhagens

muçulmanas.

De qualquer forma, “ conclui-se que ou D. Enderquina Pala fez a doação da

Igreja antes de Sagrada (o que não parece credível), ou que a Igreja doada por ela era

muito antiga, e se achava ameaçando ruina, precisando de ser reformada ou reedificada,

como foi; fazendo-se por isso a sagração no ano de 1170” (Madahil, 1941,p. 252). Desta

forma, será que a implantação do castelo se situaria junto a esta Igreja? Por um lado,

apenas supomos que o Castelo Marnel se situasse no Cabeço redondo, o que se traduz

numa grande incerteza; por outro se este se situasse nas suas imediações não nos parece

provável que os seus proprietários deixassem esta Igreja em ruínas, ao ponto de ter de

ser edificada – ou que a sua implementação se desse ao pé de uma Igreja em ruínas.

Segundo Francisco Ladeira, existiu uma ermida perto do castro do Marnel

dedicada a Santa Maria, existindo ai uma igreja conventual. Com a ocupação islâmica

esta foi destruída, mas em 1170 deu-se a sua reconstrução. A lápide de sagração “fixada

inicialmente nesta igreja, foi levada para a actual Igreja de Lamas” (Ladeira, 1982,p.

102, Vol II). Desta primitiva Igreja restam “paredes altas, …, azulejos hispano-arabes,

ou sevilhanos, séc. XVI, ossadas á vista na pedra cimeira” (IDEM), sendo este um sítio

de romaria por alguns de Lamas, que ainda hoje lhe chamam de Almas. “É o que resta

do Mosteiro do Marnel”. (IDEM). A Igreja de Santa Maria de Lamas foi consagrada a

10 de Maio de 1170.

Santa Maria de Lamas estará certamente associado ao Mosteiro de Santa Maria –

sendo também a igreja primitiva do território de estudo. “Também a Idade Média se

encontra aqui bem representada (desde a Alta Idade Média), com a documentação mais

antiga a referir, já pelo ano de 961, uma doação feita por Enderquina Pala, da sua Igreja

de Santa Maria de Lamas, ao Mosteiro de Lorvão” (Silva, 1996,p. 14). No entanto,

pelos trabalhos arqueológicos realizados, o que se sabe até hoje centra-se na existência

de uma Necrópole.

No nosso entender, bem como no entender do arqueólogo responsável pelo sítio

da Mina, o Dr. Carlos Maia, o Mosteiro de Santa Maria de Lamas dever-se-á ter situado

exactamente nesta localização.

Ainda sobre o modo de vida dos monges durante os conturbados períodos da

Alta Idade Média, José Mattoso diz-nos que organizavam a sua vida longe das cidades,

tendo contacto directo com a Natureza, tendo como principal actividade o trabalho nos

campos. Adianta ainda que, “quando acumulam abundantes terras oferecidas pelos

benfeitores, como acontece frequentemente nesta época, podem possuir centenas ou ate

milhares de camponeses na sua dependência”. (Mattoso, 1992, p. 351).

Estas informações são bastante pertinentes para o território de estudo. Por um

lado temos este espaço perfeitamente dividido pelo Marnel, existindo ocupações quer a

Norte e a Sul. Como foi dito anteriormente, apontamos o Cabeço Redondo como a

localização para o Castelo do Marnel (a Norte do Marnel), e segundo o que foi estudado

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

21

por outros autores, o Mosteiro de Santa Maria de Lamas deveria localizar-se no Passal,

a Sul do dito Rio.

À luz destas novas interpretações, será que poderemos encarar o povoamento a

Norte do Marnel directamente ligado ao Castelo, e a Sul, ligado ao Mosteiro? Parece

haver aqui uma correlação lógica, o que evidenciaria uma clara estrutura administrativa

do território ligada, por um lado ao poder senhorial das elites administrativas e

militares, e por outro, ao poder religioso (que não deixava de ser, também ele,

senhorial). (Anexo 16)

Assim, criamos um esquema perfeitamente teórico tentando mostrar esta mesma

realidade, sendo que o seu objectivo máximo é o de tentar levantar questões e identificar

problemáticas sobre o território em estudo.

Desta forma, será que estas áreas influência existiam de uma forma marcante?

Ou não existiriam de todo? Uma vez que o nosso esquema é perfeitamente teórico e

algo arbitrário, não sabemos quais seriam as reais áreas de influência dos Castelo e dos

Mosteiros, e mesmo até quando é que estas poderiam estar efectivamente marcadas no

território – o que obriga a um estudo mais complexo e profundo sobre este território

De qualquer forma, o actual topónimo de Lamas poderá estar intimamente

ligado a esta “deslocalização” do Mosteiro de Santa Maria de Lamas, para a Igreja que

actualmente fica no coração da freguesia de Lamas do Vouga. (Anexo 17).

Segundo a opinião do Dr. Carlos Maia, a população pode-se ter vista obrigada a

transferir este centro religioso, devido às inundações e aos processos de assoreação do

Marnel, tornando todo aquela zona altamente instável. E de facto, concordamos

inteiramente com esta posição, uma vez que esta região é marcada por grandes

assoreações, bem como a períodos de cheias, tal como nos diz Amorim Girão. O que

nos leva a outra questão pertinente: Qual terá sido o papel do Marnel e do Vouga nestas

dinâmicas de povoamento?

As dinâmicas entre comunidades e os Rios

Como já foi referido, o Cabeço do Vouga situa-se numa zona de aluvião, onde a Norte e

Oeste corre o Rio Vouga, e a Sul corre o Rio Marnel. Certamente que, neste espaço, as

comunidades deveriam tomar partido destas excelentes condições hídricas para a prática

agrícola, sendo estes terrenos extremamente férteis.

No entanto, há alguns elementos que serão necessários ser problematizados, uma

vez que nos podem indicar a forma como as comunidades se adaptaram ao meio, e

talvez mais importante, as formas como estes foram transformados de modo a servirem

melhor estas comunidades.

Na pequena transcrição feita do Testamento de D. Gonçalo Veiga, aparece-nos

referido, por duas vezes, a expressão “Porto de Belli”. Como nos indica o Padre

Francisco Ladeira, o topónimo “Belli” sofreu uma evolução para “Bêlhe”, realidade que

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

22

o próprio Rocha Madahil também suspeitava. Actualmente, este topónimo corresponde

a Vila Verde.

Contudo, Vila Verde situa-se na margem Oeste do Vouga, enquanto, o Cabeço

do Vouga se situa na margem Este do mesmo Rio. Será que a expressão “Porto” teria

um significado de porto fluvial, ou apenas um ponto de passagem? (Anexo 18)

Conforme a proposta de Vasco Mantas, por aqui poderia passar um dos troços

possíveis da Via Romana, contudo, a principal aposta recai para a passagem mais a

Norte, onde estaria implantada uma ponte, construída também pelas comunidades

romanas. É possível por isso pensar nesta realidade como, de facto, uma via, uma zona

de circulação de pessoas e bens.

Abordemos agora a possibilidade de se tratar de um porto fluvial. Para esta

realidade se verificar todo o curso do Vouga neste espaço teria de bastante diferente,

uma vez que teria de passar mais a Oeste, de forma a tornar possível uma instalação de

uma estrutura portuária – já que Vila Verde se situa a cerca de 500 metros do Rio.

No entanto, sabemos perfeitamente que as dinâmicas de assoreação são uma

constante na Bacia do Vouga, tanto que se especula que, há dois milénios atrás, a foz do

Rio Vouga seria 20 km para Este, na confluência do Águeda e do Vouga. (Andrade e

Freitas, 1998, p. 68) Do que temos a certeza é que existiu uma espantosa evolução da

costa, traduzida numa grande regressão marina, e num grande processo de deposição de

sedimentos que poderá, perfeitamente, ter adulterado o curso dos rios.

Em termos arqueológicos não há qualquer registo de escavação deste espaço

concreto. Contudo, a partir da fotografia de satélite, “percebemos” a existência de uma

forma que, em certa medida poderá ser associada à existência de uma estrutura deste

tipo. Trata-se de uma forma oval, de onde, no seu extremo sudeste forma uma pequena

abertura. A acrescentar a isto, parece haver uma trama algo densa de vias, o que nos

poderá também indicar uma certa importância relativa a este espaço. Existem vias que

acabam por cortar esta forma que foi identificada, mas como não sabemos as suas

cronologias, é impossível de perceber se, posteriormente cortaram este espaço, ou se de

facto, a forma visível é apenas uma formação natural. O certo é que não somos, de todo,

especialistas na área da fotointerpretação, e por isso a análise vale o que vale. (Anexo

19 e 20)

Assim, não temos dados suficientes para avançar com algum tipo de

argumentação mais alongada e segura. Porém, encaramos com muitas reservas a

existência de um porto fluvial, mas dadas as grandes dinâmicas fluviais, marítimas,

sedimentares e mesmo das comunidades neste território, seria interessante, em trabalhos

futuros, abordar esta perspectiva de uma forma rigorosa e competente, visto que, ao

existir de facto ali uma infra-estrutura portuária, toda a nossa concepção do dinamismo

deste tipo de realidades teria de mudar drasticamente, uma vez que estas situações são

extremamente difíceis de detectar.

Em relação à própria morfologia do Marnel há uma observação importante que

tem de ser feita. Ao observar a carta militar, é possível perceber que no seu curso

inferior existe uma clara adulteração feita pelo homem. O Rio, ao inflectir para esta esta

zona do território, passa a ter um curso perfeitamente rectilíneo, ao invés do seu curso

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

23

natural, ou seja, serpenteado. Após a sua travessia entre a possível localização do

Castelo do Marnel e o Mosteiro de Santa Maria de Lamas, o seu curso volta a ser

natural, indo desembocar no Vouga, mais a Sul.

Esta adulteração do seu curso natural tem uma dimensão de cerca de 1,6

quilómetros. Analisando os vários elementos da carta militar, percebemos que existe

uma rede de pequenos canais que ligam o Marnel a zonas mais altas. Podem-se assim

tratar de diques de irrigação.

Ao associarmos o topónimo do território em estudo e a análise da fotografia

aérea, bem como da morfologia do próprio sitio, percebemos o porquê do seu nome: é

que de facto, à volta do Rio Marnel existe uma grande zona pantanosa e lamacenta, e

daí talvez o seu nome.

Contudo, ao observar esta realidade percebemos desde logo que esta zona se

trata de uma paleo-lagoa, isto é, o rio deveria desembocar nesta zona mais ampla, e que

posteriormente, o seu caudal reduzia drasticamente, voltando a ser um pequeno curso de

rio, que mais a Sul desagua no Vouga.

A nossa posição baseia-se num exemplo mais a Sul, a conhecida Pateira de

Fermentelos. A realidade é praticamente a mesma: neste caso, o Rio Cértima alarga,

formando uma lagoa (de dimensões bastante maiores do que o caso do Marnel),

voltando a afunilar. Neste caso, o Cértima desagua no Rio que dá nome ao Distrito, o

Rio Águeda.

Percebemos também que em certas zonas desta Pateira de Fermentelos (nome

que é dada à dita lagoa), existem algumas zonas onde parece ter havido uma assoreação

propositada, para que certas zonas pudessem ser cultivadas. Poderá haver alguma

ligação com o caso do Marnel?

De facto, depois de analisar esta realidade, acabámos por propor uma outra

realidade para os diques que são visíveis, quer na carta militar quer na fotografia aérea,

do rio em questão. Poderão estas estruturas tratarem-se de diques não só de irrigação,

mas também de drenagem. (Anexo 21, 22, 23 e 24)

Justamente, faria bastante sentido que estes ali estivessem colocados de forma a

retirar a água destas zonas mais alagadiças, para que assim fosse possível a prática

agrícola nestes terrenos, que ao sofrer uma grande assoreação, estariam certamente

bastante férteis.

A própria adulteração do curso do Marnel poder-se-á ter prendido justamente

com esse factor, isto é, ao controlar o caudal e o seu curso, seria muito mais vantajoso e

prático o cultivo de todos aqueles territórios à sua volta. Tendo como exemplo a Pateira

de Fermentelos, ainda hoje em dia se podem ver terrenos de cultivo em plena lagoa, isto

é, em zonas que foram de alguma forma drenadas, sendo assim possível a prática da

agricultura.

A drenagem do Marnel deveria também irrigar todos os campos mais altos, o

que iria certamente beneficiar o carácter de fertilidade destes terrenos.

Contudo, na nossa opinião, o Mosteiro de Santa Maria de Lamas poderá ter sido

“deslocalizado” por estes fenómenos, uma vez que estes terrenos possam ter ficado

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

24

demasiado instáveis, tornando assim inviável a sua permanência, e de facto, ainda hoje

não existem construções tão perto do Marnel.

Assim, será legítimo pensar que na altura da instalação das comunidades, nesta

zona do Marnel seria ainda uma lagoa aberta? Ou será que esta paleo-lagoa já estaria

completamente assoreada durante este período? E como seria durante a Alta Idade

Média, e períodos Romano e anteriores? Qual será a cronologia para a construção destes

canais? Como devemos encarar esta realidade, que certamente, condicionaria de uma

forma extremamente veemente as comunidades aqui implantadas? Perguntas que, no

estado actual do estudo deste espaço, são impossíveis de responder.

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

25

Conclusã o:

Com este trabalho tentámos perceber as dinâmicas do povoamento desde a época Pré –

Romana, à Baixa Idade Média, mas principalmente, o grande objectivo passou por

levantar problemáticas, questões e lançar a discussão ao resto da comunidade.

Por um lado, põe-se a possibilidade de terem existido contactos entre

comunidades indígenas e Fenícias, uma vez que os materiais provenientes da escavação

do Sítio da Mina revelaram materiais que nos remetem para essas cronologias. Por

outro, a instalação da Capela do Espírito Santo parece-nos ser claramente uma continua

sacralização de um mesmo espaço, em que esse processo poderá ser perfeitamente

associado a estas comunidades.

No que toca ao povoamento Romano, é ainda difícil perceber as suas dinâmicas.

As suas marcas foram deixadas no terreno, principalmente com a construção das vias,

da possível ponte e do grande assentamento que se instala no Cabeço do Vouga. No

entanto, a questão impõe-se: que tipo de assentamento seria? Seria uma capital de

Civitas? Seria, como propõe Vasco Mantas, uma importante estação viária? Será que o

Cabeço Redondo foi igualmente ocupado por estas comunidades? Que marcas efectivas

é que estas gentes deixaram nos terrenos à sua volta?

Ainda mais dúvidas existem sobre a transição da Alta Idade Média. Estas

comunidades poderão ter ocupado o Cabeço Redondo. Ou terão reocupado este espaço?

No estado actual dos nossos conhecimentos, é nos impossível perceber as dinâmicas

intrínsecas ao Mosteiro de Lamas, como a sua construção, que propriedades detinha, e a

razão para o seu desaparecimento. Contudo, uma pista importante para a compreensão

deste fenómeno poderá ser a análise das relações entre este, o Mosteiro de Lorvão, bem

como com a Sé de Coimbra. Seria bastante importante surgir um trabalho de

investigação dedicado a esta problemática, uma vez que talvez seja por esta pista que

poderemos compreender melhor as realidades do território na Alta Idade Média.

E em relação às marcas toponímicas deixadas pela presença Islâmica, que

poderemos dizer mais? Sabemos que no Oriente é muito comum a construção de

grandes diques e canais de forma a irrigar os terrenos à sua volta. Terão estas estruturas

uma influência Islâmica?

Quanto às terras do Vouga, estamos bastante convencidos que o centro

administrativo, o Castelo do Marnel, se localizaria no Cabeço Redondo, da mesma

forma que concordamos com as opiniões que afirmam que o Mosteiro de Santa Maria

de Lamas se encontraria onde hoje se localiza a necrópole do Passal. No entanto, não

conseguimos entender quais as reais dinâmicas destas comunidades. Onde seriam os

terrenos de cultivo? Como seria a sua circulação em todo este espaço? Haverá mesmo

um porto a Oeste do Vouga, ou a expressão “Porto” poderá reportar-se apenas à

confluência de vias?

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

26

Quanto ao Marnel, de quando será a grande construção de regularização do seu

curso? Seria toda a zona à volta do Rio, (na verdade a realidade que lhe dá o nome, uma

zona de Lamas) uma paleo-lagoa, sendo um fenómeno idêntico ao da Pateira de

Fermentelos? Se assim for, seria esta uma lagoa aberta em tempos mais recuados?

Quanto a nós, parece-nos evidente a questão das migrações toponímicas. Lamas

advém da transição do Mosteiro de Santa Maria de Lamas para a actual vila, e Vouga

advirá da antiga denominação do centro administrativo romano, Vacca, que ao ser

abandonado, o seu topónimo migrou com a sua população, instalando-se na actual

aldeia, a Norte de Lamas. Assim poderá ter nascido o topónimo Lamas do Vouga.

No final, há muito mais perguntas do que conclusões firmes ou seguras.

Contudo, parece-nos importante lançar este tipo de discussões, uma vez que as questões

que num momento parecem bastante banais, podem tornar-se numa complexa cadeia de

perguntas e dúvidas sem fim à vista.

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

27

Bibliogrãfiã

ALVES, Francisco J. S. ;DIAS, J. M. Alveirinho: ALMEIDA, M. J. Rocha;

FERREIRA, Óscar; TABORDA, Rui: A armadilha de pesca da época romana

descoberta na praia de Silvalde (Espinho). O Arqueólogo Português, Série IV: Nº 6 e 7,

1988-1989, p. 187-226.

ANDRADE, Carlos; FREITAS, Conceição: Evolução do Litoral Português nos Últimos

5000 Anos: alguns exemplos. Al-Madan. Nº 7. Centro de Arqueologia de Almada,

1998. P. 64 – 70.

DIAS, J. M Alveirinho: Dinâmica Sedimentar e Evolução Recente da Plataforma

Continental Portuguesa Setentrional. Universidade de Lisboa, 1987.

FERREIRA, Delfim Bismark: A terra de Vouga nos Séculos IX a XIV: Território e

Nobreza. ADERAV: Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e

Cultural da Região de Aveiro. Aveiro, 2008.

GIRÃO, Amorim: Bacia do Vouga: Estudo geográfico. Imprensa da Universidade de

Coimbra, 1922.

GUTIÉRREZ GONZÁLEZ, J.A: Modelos de transformación del paisaje antiguo y

configuración de los nuevos espacios de ocupación en el norte peninsular. A Limia

en época medieval, Cursos de Extensión Universitaria da Universidade de Vigo –

Campus de Ourense, 2010

HERCULANO, Alexandre: Portugaliae Monumenta Historica: Diplomata et

chartae. Volume I, Fasciculo II

LADEIRA, Francisco: Município de Águeda. Edição do Autor. Artipol, Águeda, 1982.

MADAHIL, Rocha: Estação luso romana do Cabeço do Vouga. Arquivo Distrital de

Aveiro, Volume VII, Aveiro, 1941. Páginas 227 – 258 e 313 – 369.

MATTOSO, José: “E Época Sueva e Visigótica”. In MATTOSO, J. (coord) História de

Portugal. Volume I. Círculo de Leitores, 1992. P. 300 - 359

MANTAS, Vasco Gil: A rede viária romana da faixa atlântica entre Lisboa e Braga

(Dissertação de doutoramento policopiada). Volumes I e II. Coimbra, 1996

SILVA, Fernando Pereira da (1996): Estação Arqueológica do Cabeço do Vouga.

Relatório técnico-científico da campanha 1 (96),Relatório inédito. IPA, Lisboa, 1997

SILVA, Fernando Pereira da: Estação Arqueológica do Cabeço do Vouga. Relatório

técnico-científico da campanha 3 (1998). Relatório inédito. IPA, Lisboa, 1999.

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

28

SILVA, Fernando Pereira da: Estação Arqueológica do Cabeço do Vouga. Relatório

técnico-científico da campanha 5 (2000). Relatório inédito IPA, Lisboa, 2001.

SOUSA BAPTISTA: Considerações sobre a Cidade Luso – Romana de Vacca, o

Julgado, e o Burgo de Vouga. Arquivo do Distrito de Aveiro, Vol. XVI, Aveiro 1950.

Páginas 81 – 117

TEIXEIRA, F. J. C. Mendes: Contribuição dos métodos geofísicos para o estudo da

evolução da Ria de Aveiro e da Plataforma Continental Adjacente. Universidade de

Aveiro. Licenciatura em Engª de Sistemas e Informática Universidade do Minho.

Aveiro, 1997.

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

29

Anexos

Anexo 1:

Localização dos sítios referidos na Carta Militar 1/25000 (Carta nº 186) - As

coordenadas geográficas do sítio do Cabeço do Vouga são: 40.628247 N ; 8.467006 W

(WGS84). – Dados retirados do Site do Portal do Arqueólogo.

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

30

Anexo 2

Planta das estruturas identificadas e escavadas do Sítio da Mina. (Silva, 2002, p. 27)

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

31

Anexo 3

“Vista geral da área escavada. Em primeiro plano, tramo sub-circular da

principal estrutura que domina este espaço; no “interior” vários muros, truncados,

de qualidades construtivas diversas. No canto superior direito da fotografia, canto

Noroeste da grande estrutura sub-rectangular” (Silva, 1999, p. 14)

Anexo 4

“Vista geral dos tanques e buraco de poste” (Silva, 2002, p. 27)

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

32

Anexo 5

Pormenor da Sapata.(Silva, 2001, p. 12)

Anexo 6

Distribuição espacial (provisória) de sítios e estações arqueológicas na área

do Cabeço do Vouga (Seg. a C.C.P., Esc. 1/50 000, Folha 16-B Águeda) (Silva, 1996, p.

13).

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

33

Anexo 7

Materiais provenientes do Sítio da Mina

Anexo 8

Localização do Sítio da Mina e do Possível Recinto e continuação do assentamento

Romano a Oeste.

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

34

Anexo 9

Localização do Sítio da Mina e do Possível Recinto e continuação do assentamento

Romano a Oeste. – Fotografia aérea tirada em meados dos anos noventa. Obtida no site:

http://ortos.igeo.pt/

Anexo 10

Vias Identificadas por Vasco Mantas

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

35

Anexo 11

Localização da Estrada Mourisca

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

36

Anexo 12

Carta Militar 186, 1: 25 0000

Esquema Teórico Proposto para o Território do Marnel, bem como para a localização do

Castelo do Marnel.

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

37

Anexo 13

Desenho retirado do trabalho de Sousa Baptista, aquando a escavação do Cabeço Redondo. A

– Cabeço da Mina ; B – Cabeço Redondo (Baptista, 1950, p. 83)

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

38

Anexo 14

Fotografia de Satélite Centrada no Cabeço do Vouga

Anexo 15

Ensaio de Fotointerpretação: Tentativa de Identificação de Estruturas no Cabeço Redondo

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

39

Anexo 16

Esquema Teórico de Área de Influência do Castelo do Marnel e do Mosteiro de Santa Maria de

Lamas

Anexo 17

Localizações Propostas por nós: O Castelo do Marnel e o Mosteiro de Santa Maria de Lamas.

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

40

Anexo 18

Localização do “Porto” de Bêlhe – Actual Vila Verde

Anexo 19

Ensaio de Fotointerpretação – Proposta de Localização do Porto Fluvial

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

41

Anexo 20

Ensaio de Fotointerpretação: Proposta de localização do Porto Fluvial, bem como a presença

de vias que são observadas quer da carta militar, como da própria fotografia aérea.

Anexo 21

Ensaio de Fotointerpretação: Identificação dos Canais de Drenagem e Irrigação do Marnel

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

42

Anexo 22

Fotografia de Satélite da Pateira de Fermentelos

Anexo 23

Área de Cultivo actual na Pateira de Fermentelos

Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras Configurações e Dinâmicas do Território – Mestrado em Arqueologia e Território

2013

43

Anexo 24

Área de Cultivo proposta por nós