Conceito de sistema internacional

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Conceito de sistema internacional O conceito de sistema internacional está intrinsecamente ligado à idéia de Estados soberanos – necessariamente mais de um – estabelecendo entre si relações de cooperação (em oposição às relações de subordinação vigentes no interior das nações), em virtude da inexistência de um órgão hierárquico superior. Dessa forma, vigora um sistema anárquico no qual prevalece a política de poder, ou seja, a capacidade de um Estado impor seus interesses egoísticos e sua visão própria de mundo aos demais. Dito isso, a formação de um império ou de uma democracia universal decretaria o fim desse sistema, uma vez que um único Estado estabeleceria uma única nacionalidade e uma única forma de governo, formando, assim, um sistema mundial de âmbito nacional e não internacional. Importante lembrar que o sistema internacional é um conceito que não existe fisicamente, uma vez que se apresenta como construção teórica e abstrata, elaborada com a finalidade precípua de se produzir um entendimento minimamente coerente das causas e conseqüências das ações externas dos Estados e de suas interações mútuas. Ademais, a teoria das relações internacionais toma como ponto de partida a pluralidade dos centros autônomos de decisão, admitindo o risco de guerra e deste risco deduz a necessidade de calcular os meios. Para Raymond Aron, o sistema internacional é o “conjunto constituído pelas unidades políticas que mantêm relações regulares entre si e que são suscetíveis de entrar em uma guerra geral”. Sua característica principal é a configuração de relações de força. O pensador distingue sistemas homogêneos, onde prevalece o reconhecimento mútuo dos atores políticos, de sistemas heterogêneos, como o caso da Guerra Fria, em que não há o reconhecimento da legitimidade do outro bloco político. Lafer acrescenta uma nova desigualdade nos dias atuais, qual seja, o fenômeno do terrorismo contemporâneo.

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Conceito de sistema internacionalO conceito de sistema internacional está intrinsecamenteligado à idéia de Estados soberanos – necessariamente maisde um – estabelecendo entre si relações de cooperação (emoposição às relações de subordinação vigentes no interiordas nações), em virtude da inexistência de um órgãohierárquico superior. Dessa forma, vigora um sistemaanárquico no qual prevalece a política de poder, ou seja, acapacidade de um Estado impor seus interesses egoísticos esua visão própria de mundo aos demais. Dito isso, aformação de um império ou de uma democracia universaldecretaria o fim desse sistema, uma vez que um único Estadoestabeleceria uma única nacionalidade e uma única forma degoverno, formando, assim, um sistema mundial de âmbitonacional e não internacional.Importante lembrar que o sistema internacional é umconceito que não existe fisicamente, uma vez que seapresenta como construção teórica e abstrata, elaborada coma finalidade precípua de se produzir um entendimentominimamente coerente das causas e conseqüências das açõesexternas dos Estados e de suas interações mútuas. Ademais,a teoria das relações internacionais toma como ponto departida a pluralidade dos centros autônomos de decisão,admitindo o risco de guerra e deste risco deduz anecessidade de calcular os meios.Para Raymond Aron, o sistema internacional é o “conjuntoconstituído pelas unidades políticas que mantêm relaçõesregulares entre si e que são suscetíveis de entrar em umaguerra geral”. Sua característica principal é aconfiguração de relações de força. O pensador distinguesistemas homogêneos, onde prevalece o reconhecimento mútuodos atores políticos, de sistemas heterogêneos, como o casoda Guerra Fria, em que não há o reconhecimento dalegitimidade do outro bloco político. Lafer acrescenta umanova desigualdade nos dias atuais, qual seja, o fenômeno doterrorismo contemporâneo.

Celso Lafer aponta o consenso fundador do sistemainternacional na natureza dos atores. Há um reconhecimentomútuo dos Estados, cuja motivação psicológica original é ointeresse. Ressalte-se que os objetivos das nações, deacordo com Aron, dividem-se em eternos – segurança,potência e glória – e históricos, objetivos concretosfixados que evoluem com as técnicas de guerra e de produçãoe com as idéias que presidem à organização, ao governo dascoletividades (idéia de nação e de igualdade jurídica) e aocostum

TEXTO Nº 01

Teorias das Relações Internacionais

Autor: Demétrio magnoli

Estado é uma criação recente dahistória humana. Embora esse termo sejacomumente usado para fazer referência ainúmeras formas de articulação do poderem sociedades antigas e medievais, elesó ganha sentido e conteúdo noRenascimento europeu. A Europa pós-medieval inventou o Estado, sob a formadas monarquias absolutas.

Com o Estado, surgiram teoriaspolíticas sobre o Estado. NicolauMaquiavel (1469-1527), funcionário dogoverno de Medice de Florença e autorde O Príncipe, postulou a separação entre a

moral e a política como fundamento da razãode Estado. O Estado deve afirmar a suasoberania contra os interessesparticularistas. As idéias deMaquiavel, profundamente influenciadaspela divisão da Itália, representaramum dos pilares do absolutismo.

Thomas Hobbes (1588-1679), autordo Leviatã, foi o principal teórico doabsolutismo. O Estado nasce do interiorda sociedade, mas ele se eleva acimadela. Antes do seu advento imperava o"estado de natureza", a guerra de todoscontra todos. Assim, ele surge comomanifestação da evolução humana, cujosinal é a consciência da necessidade deum poder superior, absoluto edespótico, voltado para a defesa dasociedade. Essa consciência originaum contrato pelo qual os homens abdicamda sua liberdade anárquica em favor doEstado, afim de evitar o caos. A figurabíblica do Leviatã representa o Estado:um monstro cruel que, no entanto,impede que os peixes pequenos sejamdevorados pelos maiores.

A transição do absolutismo para oliberalismo processou-se por viasdiferentes e contrastantes. Na Grã-Bretanha, resultou da progressiva egradual limitação do poder monárquicoatravés da afirmação do parlamento. NaFrança, da irrupção revolucionária de1789, que destruiu os fundamentos dopoder real e instaurou a soberaniapopular. As teorias sobre o Estadorefrataram essa transição.

John Locke (1632-1704), autorde Dois tratados sobre o governo civil, retomouas idéias do "estado natureza" e docontrato de Hobbes, revisando-as paradefender a limitação do poder real. Aliberdade original dos homens não seperde na instituição do Estado, massubsiste como contraponto do poder dosoberano. No limite, é essaliberdadeoriginal que prevalece, pelo direito àressurreição. Em Locke, fica estabelecida aseparação entre a sociedade civil ea sociedade política, ou seja, entre a esferaprivada e a pública. O podercircunscrito à esfera pública, não podeser transmitido por herança ou proceder

da propriedade territorial - só podeser gerado por consentimento político.

O Barão de Montesquieu (1689-1755),autor de O espírito das leis, desenvolveu ateoria da separação dos poderes, cujosfundamentos encontram-se em Locke. OEstado liberal assenta-se sobre oequilíbrio dos poderes de produção dasleis (legislativo), execução das leis(Executivo) e controle da sua aplicação(judiciário). Essa estrutura terrena doEstado deveria substituir o poderdivino dos reis, a fim de defender osinteresses e a liberdade dos homens. Ocontrato político ganhava assim o seudetalhamento, sob a forma da democraciarepresentativa.

Jean-jacques Rousseau (1712-1778),filósofo do grupo enciclopedista eautor da obra Do contrato social, inverteua noção hobbesiana do "estado denatureza". Onde Hobbes enxergou aguerra e a anarquia, Rousseau encontroua felicidade e a harmonia da vidaselvagem. O advento da propriedadeprivada rompe o equilíbrio e introduz aviolência e a escravidão. Superar essa

situação é superar o absolutismo,substituindo-o por um contratolegítimo fundado na soberania popular. Aassembléia dos cidadãos, a democraciadireta, esse é o único Estado legítimoe um reflexo do caráter superior elivre do ser humano. Nessa linha,Rousseau investia não apenas contra oabsolutismo, mas também contra ademocracia representativa e a delegaçãode poderes, elevando-se à condição deprecursor das utopias comunistas.

O Estado territorial nasceu com asmonarquias absolutistas, que investiramcontra os interesses particularistas eas prerrogativas aristocráticas dofeudalismo. Essa primeira forma doEstado contemporâneo gerou corpos estáveisde funcionários burocráticos e exércitos regulares ecentralizados, unificando o poderpolítico. O poder político medieval,fragmentado em mosaicos de soberaniasentrelaçadas, era dissolvido sob osgolpes centralistas da realeza. Um novopoder político emergia, baseadoem fronteiras geográficas definidas e nacobrança generalizada de impostos. Comoconseqüência, apareciam capitais

permanentes, materializadas em cidadesque se tornavam sede dos órgãos doEstado.

O Estado nacional surgiu da decadênciado absolutismo e da substituição peloliberalismo. Essa segunda forma doEstado contemporâneo gerou a soberanianacional, expressa na eleição dosgovernantes e na limitação do PoderExecutivo por representantes tambémeleitos. A soberania deslizou da figurado monarca para o conceito de nação. Opoder despersonificou-se,identificando-se com o povo. O poderdivino deu lugar ao consenso popular.

A noção de consenso já aparecia emMaquiavel, que postulava a necessidadede o soberano conseguir apoio popular.Contudo, o consenso maquiavélicodependia da virtude do príncipe e daorientação da sua ação política. Lockee montesquieu fizeram do consenso abase do Estado e a razão de ser dassuas engrenagens de poder. Rousseaulevou a idéia até o seu limite,assentando o consenso na participaçãoativa e permanente dos cidadãos. A

nação tornava-se a fonte do poder, e aesfera da política passava a refletir oconsenso geral.

TRÊS ENFOQUES DAS RELAÇÕESINTERNACIONAIS

As teorias políticas clássicasconcentraram seu interesse sobre asrelações internas aos Estadosestabelecidas entre governantes e asociedade em geral. O estudo dasrelações internacionais, ou seja, dasrelações estabelecidas entre osEstados, é muito mais recente, e sóganhou o estatuto de disciplinaacadêmica no século XX. A preocupaçãocom sistema internacional de Estadosfoi estimulada pela constituiçãoprogressiva de uma economia integrara,de âmbito mundial. As transformações naprodução e na circulação de mercadoriastípicas do século XVIII e XIX - épocada Revolução Industrial - aumentaram arelevância desses estudos. A própriaanálise do Estado foi cada vez maisinfluenciada pelasconsiderações relacionais, ou seja, pelainvestigação da posição ocupada e do

papel desempenhado pelo Estado nosistema geral e nos subsistemasparticulares em que está inserido.

O vasto campo de estudo das relaçõesinternacionais não é definido de formaconsensual. Diferentes autores encaramde modo divergente - e muitas vezesconflitante - o objeto das relaçõesinternacionais. Grosso modo, é possívelidentificar três tradições divergentesque informam a produção acadêmica deteorias sobre as relaçõesinternacionais.

Escola idealista

Oriunda do pensamento iluminista, aescola idealista enfatizaa comunidade de normas, regra e idéiasque sustenta o sistema de Estados. Suafonte é a noção de direito natural queaplicada ao sistema internacional,implica a definição da justiça comoarcabouço das relações entre osEstados. De certa forma, os ecos davisão rousseauniana do contrato socialressurgem aqui em um contextoespecífico. Essa tradição, que se

desenvolveu e se reforçou no mundoanglo-saxão sob a forma de uma reaçãomoral aos horrores da Primeira GuerraMundial (1914-1918), forneceu osparâmetros para a escola idealista.

Ainda hoje, a escola idealista assenta-se sobre a idéia iluminista ancestralda possibilidade de uma sociedadeperfeita. Essa meta moral condiciona ocaráter francamente reformista dosautores, que se preocuparam em adaptaro sistema internacional às exigênciasdo direito e da justiça. Os célebres"Quatorze Pontos", do presidenteamericano Woodrow Wilson - a propostade uma paz sem vencidos ou vencedoresao final da Primeira Guerra Mundial - ,bem como nos princípios fundadores daLiga das Nações, de 1920, inscreveram-se como exemplos da influênciaidealista na diplomacia do século XX..

Até certo ponto a "política doapaziguamento" de Chamberlain eDeladier - que multiplicou asconcessões na vã esperança de acalmar obelicismo de Hitler - foi tributáriadessa corrente de idéias.

Escola realista

A segunda tradição, que informa a escolarealista, enfatiza não a comunidadeideológica do sistema internacional,mas seu potencial conflitivo. As raízesdesse estilo encontram-seessencialmente em Maquiavel e Hobbes.

Maquiavel sublinhou a importância daforça na prática política liberta deconstrangimentos morais e conferiulegitimidade aos interesses do soberano.Em seu pensamento, os fins condicionamos meios. O inglês Hobbes, como oitaliano Maquiavel, nutria profundopessimismo em relação à naturezahumana. Seus comentários sobre osistema internacional traçam umparalelo entre as relaçõesestabelecidas pelas pessoas na ausênciado Leviatã. Por essa via, ele realçauma idéia que se tornou a fonte daargumentação básica da escolarealista: a ausência de um poder soberano eimperativo nas relações internacionais.

No plano acadêmico a escola realistadesenvolveu-se como reação aos

melancólicos e trágicos fracassos da"política do apaziguamento" conduzidana Europa do entreguerras. Substituindoa meta moral do sistema internacionalpela análise das condições objetivas quedeterminam o comportamento dos Estados.Os pensadores realistas ancoraram suaargumentação nas noções de anarquiainerente ao sistema e da tendênciaao equilíbrio de poder como contraponto aessa anarquia.

As divergências entre os autoresrealistas a respeito dos condicionantesdo comportamento dos Estados originarama corrente neo-realista, tambémconhecida como realismo estrutural.Contrariamente aos realistas que tentamdefinir o comportamento dos Estadospela ânsia de poder, os neo-realistaspreferiram identificar a busca dasegurança como causa última da práticapolítica no sistema internacional. Esseenfoque realça a problemática daestrutura do sistema, que define asformas e graus da insegurançaexperimentado pelos atoresisoladamente.

Escola radical

A terceira tradição tem raízes maisrecentes, situadas no pensamentomarxista. Karl Marx não produziu umateoria do sistema internacional, mas dahistória da revolução Social. Aocontrário das tradições citadasanteriormente, não é a cooperação ou oconflito entre os Estados o seu objeto,mas o conflito entre as classes sociais. O Estadoé um elemento marginal no pensamentomarxista, e o comportamento dosEstados, quando enfocado, surge apenascomo veículo para interesseseconômicos, políticos ou ideológicos deoutros atores (classes sócio-econômicas, corporações industriais efinanceiras, etc.). Contudo,principalmente por meio de Lenin, atradição marxista forjou um pensamentosobre as relações internacionais,classificado como escolaradical ou neomarxista.

O Ambiente internacional das últimasdécadas do século XIX e início doséculo XX - marcado pela expansãoneocolonial das potências européias na

Ásia e na África, por políticas semi-coloniais dos Estados Unidos no Caribee Extremo Oriente, bem como do Japãonas áreas insulares e costeiras da Ásiaoriental e do sudeste - condicionou ateorização leninista sobre oimperialismo. Apoiando-se nas teoriasdo britânico não-marxista john Hobson,Lenin adaptou o conceito deimperialismo à teoria ou à linguagemmarxista. Na sua obra O imperialismo,estágio superior do capitalismo, o líder russoestabelece interessantes conexões entreeconomia política do capitalismo, aluta pela divisão dos mercados e oimperialismo neocolonial. O argumentooriginal de Lenin, entretanto,consistiu na ligação entre a práticaimperialista e a guerra entre aspotências.

A noção de imperialismo jamais foinitidamente definida entre os autoresda escola radical. O rótulo"imperialismo" é utilizado emdiferentes contextos, designando àsvezes qualquer império, outras, apenasos impérios neocoloniais dos séculosXIX e XX. Nas obras posteriores dos

marxistas não fica claro se o termodesigna a "etapa superior docapitalismo" a que se refere Lenin ou aum sem número de relações econômicasentre países desenvolvidos esubdesenvolvidos. Contudo, apreocupação pelas relações desubordinação econômica entre estágiosdesiguais de desenvolvimento industriale tecnológico veio a formar o arcabouçodas análises radicais ou neomarxistasdo sistema internacional. Essasabordagens, sob o ponto de vistametodológico, contribuem para lançarluz sobre os atores do sistemainternacional que não são Estados:grupos econômicos e corporaçõestransnacionais, igrejas, instituiçõesprivadas multilaterais, organizaçõessindicais, ambientais e não-governamentais em geral.

SISTEMA INTERNACIONAL E O EQUILÍBRIO DEPODER

A política externa consiste no conjuntode posturas, práticas e iniciativas doEstado relacionadas com o ambientepolítico que o envolve: o

sistema internacional de Estados. RaymondAron, em Paz e guerra entre as nações, defineo sistema internacional como "oconjunto constituído pelas unidadespolíticas que mantêm relações regularesentre si e que são suscetíveis deentrar numa guerra geral". Os sistemasinternacionais são constituídos,portando, de unidades separadas - istoé, Estados soberanos - que se encontramintegradas pelas relações deindependência. Na síntese de Aron:

Tomemos como ponto de partida o esquema dasrelações internacionais: orgulhosas da suaindependência, coisas da sua capacidade de tomarsozinhas as grandes decisões, as unidades políticassão rivais por que são autônomas - em últimaanálise, elas só podem contar consigo mesmas.

No ambiente de anarquia do sistemainternacional, cada uma das unidadespolíticas componentes almeja suasegurança particular e, paraincrementá-la, acumula meios e recursosde poder. O resultado da atitude decada unidade política isoladamenteconsiderada é o aprofundamento dasensação de insegurança das demais que

reagem no sentido de recobrar suasegurança, ampliando seu próprio poder.O equilíbrio de poder não se constituio alvo da atividade de qualquercomponente do sistema, mas emergeeventualmente da combinação das suasiniciativas particulares.

A anarquia básica do sistemainternacional está, contudo,circunscrita pela estrutura do sistema.Essa estrutura condiciona padrões derelações e laços de interdependênciaque limitam os conflitos de poder efornecem um certo grau de estabilidadeprovisória para o próprio sistemainternacional. A estabilidade éassegurada pelo equilíbrio de poder entre asprincipais potências.

Em primeiro lugar, a estrutura dosistema envolve a consideração dos seuslimites. Por muito tempo a distânciageográfica funcionou como fatordeterminante na delimitação dossistemas: entidades políticas muitodistantes não podiam manter relaçõesinterativas regulares. O sistema dascidades gregas na antigüidade -

ancorado na rivalidade entre Atenas eEsparta -, chegou a abranger, nomáximo, o império persa. Contudo, odomínio macedônio ampliou a unidadepolítica e acumulou recursos econômicose militares que permitiramempreendimentos distantes, dilatando oslimites do sistema.

A premissa de interdependência políticadas entidades também funcionou comofator de delimitação espacial. Asrelações estabelecidas entre aspotências mercantis européias e ascolônias no Novo Mundo, ou as relaçõesentre as potências industriais doséculo XIX e suas colônias asiáticas eafricanas , embora regulares econstantes, não exprimem um sistemamundial, em função da ausência desoberania dos territórios subordinados.

Em segundo lugar, a estrutura dosistema depende da configuração darelação de forças. Os sistemasorganizam-se em torno das grandespotências, ou seja, dos Estados quedispõem dos meios para exercer umainfluência significativa sobre todos os

demais. Apenas as entidades políticascujo poder é levado em conta pelasprincipais são participantes integraisde um sistema de Estados. Aconfiguração da relação de forças dossistemas influi decisivamente sobre ospadrões de aliança, tensão e conflitoque dinamizam.

No século XIX, após a derrota deNapoleão Bonaparte, constituiu-se umsistema europeu baseado na convivênciade cinco potências: Grã-Bretanha,França, Prússia, Rússia e Áustria-Hungria. O Congresso de Viena, de 1815,estabilizou as relações entre elas pelaconstituição da chamada Santa Aliança.O Sistema de Metternich, como ficouconhecido, refletia o equilíbrio depoder entre as potências do VelhoMundo. O sistema de Estados europeus doséculo XIX representa um exemploclássico de sistema multipolar ou pluripolar.

Esse equilíbrio, que perdurou porpraticamente um século, começou a sererodido pela unificação alemã de 1871,que gerou novas tensões em função doaumento do poderio da Alemanha e da

insegurança que ele provocou entre asdemais potências do sistema. Alémdisso, no final do século, a emergênciados Estados Unidos e do Japão comopotências internacionais começou aprovocar o alargamento dos limites dosistema, que tendia a se globalizar. APrimeira Guerra Mundial e as crises doentreguerras destruíram definitivamenteo sistema multipolar europeu do séculoXIX.

A Segunda Guerra Mundial (1939-45)originou um sistema internacional decaracterísticas completamentediferentes. A expressão GuerraFria referencia-se nesse novo sistema,de abrangência mundial, alicerçadosobre o equilíbrio entre as duassuperpotências termonucleares. Nasegunda metade do século XX,a bipolaridade de poder estruturou asrelações entre os Estados e definiu ospadrões de conflito e cooperação emescala global.