COLECÇÃO D. MANUEL DE SOUZA E HOLSTEIN BECK, CONDE DA PÓVOA

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PRO PHALARIS 3 COLECÇÃO D. MANUEL DE SOUZA E HOLSTEIN BECK, CONDE DA PÓVOA José Vicente Pinheiro de Melo de Bragança Nos dias 19 e 20 de Junho de 2012 a pres- giada firma leiloei- ra Palácio do Correio Velho, procedeu ao Leilão 284, pondo em praça a Colecção D. Manuel de Souza e Holstein Beck, Con- de da Póvoa, tendo editado um luxuoso e bem ilustrado Catálo- go. Evento com audiência bastante concorrida dada a qualidade e, nalguns casos, rarida- de das peças postas em leilão e que trouxe a Lisboa reputados co- leccionadores estran- geiros, mormente de falerísca, sendo esta uma oportunidade única para a aquisição de peças de grande raridade e qualidade arsca, já que se tra- tava de ínsígnias-jóias. O Conde Póvoa - mem- bro fundador da Acade- mia Falerísca de Portu- gal, que uma vez mais se evoca e homenageia - foi um grande e requintado coleccionador, designa- damente de insígnias das angas ordens mili- tares portuguesas – Cris- to, Avis e Sanago da Espada -, da ordem de Santa Isabel e da or- dem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. O Leilão incluiu assim, um notável e invulgar conjunto de 74 insíg- nias em ouro/prata com pedras preciosas, datadas dos séculos XVII, XVIII e XIX, com destaque para insíg- nias da Ordem de Cris- to. Dada a sua natureza de peças de joalharia, estas insígnias – ou há- bitos como, por tradi- ção, são vulgarmente designadas - têm sido sobretudo enquadra- das nos estudos de ourivesaria e joalharia publicados nas úlmas décadas 1 . 1 Cf. Nuno Vassallo e Silva. Joalharia Portuguesa – Potuguese Jewel- lery. Lisboa, Bertrand Editora, 1995, e Os Pollet, Joalheiros de D. Maria I. Comunicação apresentada ao Encontro «Os Imigrados na sociedade Portuguesa. Homenagem ao Conde de Oyenhausen», Fundação das Casas de Fronteira e Alorna; bem como, os vários estudos do nosso Académico fundador Gonçalo de Vasconcelos e Sousa: A Joalharia em Portugal (1750-1825). Porto, Civilização Editora, 1999; Catálogo da Ex- posição Reais Jóias no Norte de Portugal, Porto, Associação Comercial do Porto, 1995; Opulência, riqueza e poder: aspectos da joalharia da nobreza da corte portuguesa de Setecentos. In Rivas Carmona, Jesús (coord.) – Estudios de Platería. Murcia: Universidade de Murcia, 2009, pp. 765-776, com especial relevo para 3. A Encomenda de Hábitos das Ordens Militares, pp. 775-776; Jóias, retratos e a iconografia das elites portuguesas de Oitocentos. Revista de História da Arte. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas-UNL, 5 (2008), pp. 259-271; A cruz de Mal- ta na joalharia portuguesa. Filermo. Porto: Assembleia Portuguesa dos Cavaleiros da Ordem Soberana e Militar de Malta. 5-6 (1996-1997),

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COLECÇÃO D. MANUEL DE SOUZA E HOLSTEIN BECK,

CONDE DA PÓVOA

José Vicente Pinheiro de Melo de Bragança

Nos dias 19 e 20 de Junho de 2012 a pres-tigiada firma leiloei-ra Palácio do Correio Velho, procedeu ao Leilão 284, pondo em praça a Colecção D. Manuel de Souza e Holstein Beck, Con-de da Póvoa, tendo editado um luxuoso e bem ilustrado Catálo-go.

Evento com audiência bastante concorrida dada a qualidade e, nalguns casos, rarida-de das peças postas em leilão e que trouxe a Lisboa reputados co-leccionadores estran-geiros, mormente de falerística, sendo esta uma oportunidade única para a aquisição de peças de grande raridade e qualidade artística, já que se tra-tava de ínsígnias-jóias.

O Conde Póvoa - mem-bro fundador da Acade-mia Falerística de Portu-gal, que uma vez mais se evoca e homenageia - foi um grande e requintado coleccionador, designa-damente de insígnias das antigas ordens mili-tares portuguesas – Cris-

to, Avis e Santiago da Espada -, da ordem de Santa Isabel e da or-dem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.

O Leilão incluiu assim, um notável e invulgar conjunto de 74 insíg-nias em ouro/prata com pedras preciosas, datadas dos séculos XVII, XVIII e XIX, com destaque para insíg-nias da Ordem de Cris-to.

Dada a sua natureza de peças de joalharia, estas insígnias – ou há-bitos como, por tradi-ção, são vulgarmente designadas - têm sido sobretudo enquadra-das nos estudos de ourivesaria e joalharia publicados nas últimas décadas1.

1 Cf. Nuno Vassallo e Silva. Joalharia Portuguesa – Potuguese Jewel-lery. Lisboa, Bertrand Editora, 1995, e Os Pollet, Joalheiros de D. Maria I. Comunicação apresentada ao Encontro «Os Imigrados na sociedade Portuguesa. Homenagem ao Conde de Oyenhausen», Fundação das Casas de Fronteira e Alorna; bem como, os vários estudos do nosso Académico fundador Gonçalo de Vasconcelos e Sousa: A Joalharia em Portugal (1750-1825). Porto, Civilização Editora, 1999; Catálogo da Ex-posição Reais Jóias no Norte de Portugal, Porto, Associação Comercial do Porto, 1995; Opulência, riqueza e poder: aspectos da joalharia da nobreza da corte portuguesa de Setecentos. In Rivas Carmona, Jesús (coord.) – Estudios de Platería. Murcia: Universidade de Murcia, 2009, pp. 765-776, com especial relevo para 3. A Encomenda de Hábitos das Ordens Militares, pp. 775-776; Jóias, retratos e a iconografia das elites portuguesas de Oitocentos. Revista de História da Arte. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas-UNL, 5 (2008), pp. 259-271; A cruz de Mal-ta na joalharia portuguesa. Filermo. Porto: Assembleia Portuguesa dos Cavaleiros da Ordem Soberana e Militar de Malta. 5-6 (1996-1997),

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Ano 3 / 2º Semestre, nº 6

Lote 100 - Ordem de Cristo em pra-ta e ouro craveja-da com granadas e diamantes em talhe antigo de brilhante, tendo o diamante central do laço o peso aproximado de 1 ct., do séc. XIX . Peso aprox.: 20,2 gr.; Alt. aprox.: 5,3 cm - € 12.000.

Lote 103 - Cruz de Comendador da Ordem de Cristo, séc. XVIII, em pra-ta cravejada com vidros, granadas e topázios incolo-res. Cruz encima-da por laço com flores, com passa-dor de fita. Peso aprox.: 50,8 gr.; Alt. aprox.: 12,5 cm - € 9.000 .

Nuno Vassalo e Silva qualificou este exemplar, como sendo «…um dos mais grandiosos conhecidos»3 e em nosso entender certamente mais elaborado que o hábito que figurou na Exposição Reais Jóias no Norte de Portugal4.

Lote 132 - Ordem de Cristo do séc. XVIII, em prata e ouro, en-volta em elementos entrelaçados, encima-da por laço e florão com Sagrado Cora-ção, de fabrico pos-terior, com esmaltes, cravejada com dia-mantes em talhe anti-go de brilhante. Estrutura rígida montada no verso. Restauros. Peso aprox.: 22,9 gr.; Alt. aprox.: 5,8 cm - € 11.000

3 Ibidem, p. 117.4 Catálogo da Exposição Reais Jóias no Norte de Portugal,…, [p. 108], pertencente à colecção da Ourivesaria Luís Ferreira, Porto.

Sendo estatutariamente obrigatório, por parte dos cavaleiros e comendadores das ordens militares, o uso diário e a exibição pública dos “hábitos” da or-dem à qual pertenciam, não é pois de estranhar a profusão de encomendas a ourives do ouro em ac-tividade no nosso país, de insígnias, sob a forma de peças de joalharia em diamantes, rubis, esmeraldas e outras pedras preciosas de menor valor.

E, após a descoberta do ouro e das minas de dia-mantes no Brasil, a feitura de insígnias-jóias atingiu o auge no século XVIII, inserindo-se naquilo a que o reputado investigador Nuno Vassallo e Silva chamou a “jóia-espectáculo”2.

Do respectivo Catálogo respigámos os seguintes da-dos que incluem os preços de arrematação (de mar-telo) dos lotes:

Lote 97 - Cruz de Comendador da Ordem de Cris-to, séc. XVIII, em prata cravejada com minas-novas (quartzos) e granadas forradas c/estojo. Peso aprox.: 36,6 gr.; Comp. aprox.: 9 cm - € 8.000.

pp. 109-121; O testamento de Adam Gottlieb Pollet, «Engastador da Pedraria» da Casa Real. In Museu. Porto: Círculo Dr. José de Figueire-do, 4.ª s., 6 (1997), pp. 233-239 e, A joalharia portuguesa dos séculos XVIII e XIX à luz da documentação. Museu. Porto: Círculo Dr. José de Figueiredo, 4.ª s., 3 (1995), pp. 115-186; e, Leonor d’ Orey, dir. - Cinco séculos de joalharia: Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa. London: Zwemmer, 1995.2 Joalharia Portuguesa – Potuguese Jewellery…, op. Cit., p. 24; neste livro o Autor elabora uma excelente síntese sobre a história da ourive-saria e joalharia em Portugal desde a Idade Média até ao início do século passado, com a descrição e análise de várias insígnias de ordens militares consideradas de exemplar excelência e qualidade, algumas das quais incluídas neste leilão.

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Lote 135 - Cruz de Comenda-dor da Ordem de Cristo, séc. XIX em prata, com argola em ouro, cravejada com grana-das e minas-novas (topázios), sendo a pedra central um strass. Marcas de controlo francesas, do séc. XIX. Peso aprox.: 46,5 gr.; Alt. aprox.: 10 cm - € 5.000.

Lote 175 –Placa das Três Ordens em ouro decorado com esmaltes policromos, do séc. XIX, com fita da época; Peso aprox.: 67,4 gr.; Alt. aprox.: 9.5 cm - € 5.000.

Descrito erradamente pois trata-se da medalha como se dizia na época da criação desta insígnia régia ou, distintivo ou pendente, como hoje diríamos, da Ban-da de Grã-Cruz das Três Ordens Militares, não sendo a fita de origem.

Lote 177 - Insígnia da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa em ouro e esmaltes, séc. XIX, cravejada com 69 diamantes em talhe rosa e 242 em talhe antigo de brilhante, com o peso aproximado de 11 ct. Peso aprox.: 38,1 gr.; Comp. aprox. total: 10 cm - € 11.000.

Trata-se de uma peça de excepcional qualidade, extrema raridade e beleza. E atentos os preços atingidos, na última década em leilões internacio-nais de insígnias de ordens europeias, em ouro, e ornadas de pedras preciosas, designadamente russas, e face ao preço estimado, pode-se ainda assim considerar ter sido adquirida por um valor abaixo do previsível, por confronto com os valores que vêm sendo praticados internacionalmente.

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Lote 179 - Placa da Ordem de Aviz em prata e ouro decorado com esmaltes policromados. Falhas no es-malte. Peso aprox.: 24,1 gr.; Comp. aprox.: 6,5 cm. - € 1.000.

Lote 269 - Placa e Banda das Duas ordens, Ordem de Cristo e Ordem de Avis, em prata parcialmente dou-rada, séc. XIX, decorada com esmaltes policromos. Placa contendo no verso placa de fabricante da Casa

Halley, fran-cesa. Faltas e pequenas falhas no es-malte. Peso aprox.: 72,4 gr. e 43,5 gr.; Comp. aprox.: 9 cm. e 8.5 cm. - € 3.000

De novo com descrição er-rada do pon-to de vista da falerística, pois trata--se do pen-dente e placa da Banda de Grã-Cruz das Duas Ordens,

de Cristo e de Avis. O pendente tem a particularidade de, segundo o catálogo, ser em prata dourada – ver-meil –, e, de ostentar as cruzes das ordens na vertical e em formato maior do que em épocas anteriores, tendo no topo uma meia flor-de-lis, encimada por uma bola, donde prende o anel de suspensão. Assim, tudo parece apontar para uma peça feita a partir de inícios do terceiro quartel do século XIX, época em que as peças em ouro maciço começaram a rarear devido ao elevado preço desse metal. O confronto com a lista de agraciados com esta condecoração, concedida a príncipes estrangeiros, poderá vir a per-mitir um esclarecimento sobre quem foi o agraciado e a data aproximada de fabrico.

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Lote 281 - Placa de Comendador da Ordem de Cristo, séc. XIX, em prata e ouro decorada com esmaltes policromados. Falhas no esmalte. Peso aprox.: 23,3 gr.; Comp. aprox.: 7,5 cm - € 1.200.

Peças, de formato não conforme com o modelo oficial estabelecido na lei que aprovou a Reforma de 1789 para as placas das ordens militares, com o medalhão central com fundo em prata e, de que se conhecem outros exemplares em colecções por-tuguesas e estrangeiras. Segundo D. Vasco Telles da Gama, em artigo publicado neste Boletim, a ausência de esmalte no medalhão central denunciaria a sua data de fabrico para o primeiro quartel do século XIX. São conhecidas peças de provável fabrico português e outras de fabrico francês.

Lote 180 - Insígnia da Real Ordem da Rainha Santa Isabel em ouro e esmaltes, séc. XIX. Medalhão enci-mado por coroa real fechada, com frente esmaltada e decorada com cena do milagre das rosas e legen-

da “Pauperum Solatio”; verso com monograma da Fundadora, um «C» e um «J» entrelaçados (Carlota Joaquina), tendo em baixo, num listel, a data ro-mana de MDCCCI (1801). Falhas no esmalte, falta na coroa e listel solto. Peso aprox.: 54,6 gr.; Comp. aprox.: 9,2 cm - € 9.500. Outra insígnia desta Ordem proveniente da Casa dos Duques de Palmela, consta do Catálogo - # 66 - da Exposição Uma Família de Coleccionadores – Poder e Cultura – Antiga Colec-ção Palmela, Maria Antónia Pinto de Matos e Ma-ria de Sousa e Holstein Campilho (coord.), Instituto Português de Museus e Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, Lisboa, Fevereiro de 2001, p. 254, com interessante entrada da autoria de Nuno Vassalo e Silva.

Lote 181 - Invulgar insígnia da Ordem de Cristo em ouro cravejado com rubis, séc. XVII, com cruz ao cen-tro esmaltada. Restauros e faltas no esmalte. Peso aprox.: 36,4 gr.; Comp. aprox.: 6,7 cm- € 15.000.

Trata-se de uma das peças de maior qualidade ar-tística e raridade deste leilão, obra certamente de manufactura portuguesa. Esta magnífica peça da jo-alharia portuguesa de setecentos consta igualmen-te do Catálogo - # 64 - da Exposição acima citada, tendo sido descrita e avaliada enquanto rara peça de joalharia também por Nuno Vassalo e Silva (ibi-dem, p. 250).

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Ano 3 / 2º Semestre, nº 6

Lote 283 - Placa de Comendador da Ordem de Cris-to com Sagrado Coração de Jesus, séc. XIX, em prata e ouro, decorada com esmaltes policromos. Peso aprox.: 54,5 grs. Alt. aprox.: 7,8 cm - € 1.300.

Lote 284 - Placa de Comendador da Ordem de Cristo, séc. XIX/XX, em prata e ouro decora-da com esmaltes policromados. Com marca de contraste (Javali II), em uso de 1887 a 1938. Si-nais de uso e pequenas falhas no esmalte. Peso aprox.: 62,4 gr.; Comp. aprox.: 8 cm - € 850.

Entre a Pintura, com interesse para a Falerística, além de vários retratos em miniatura de D. Miguel I, de D. Maria II e do rei D. Manuel II, são de destacar pela sua importância e valor como fonte iconográfi-ca, os seguintes retratos:

Lote – 193 - Escola portuguesa, séc. XIX - D. João VI - Miniatura sobre marfim. Moldura em madeira com aro de metal dourado. Dim. aprox.: 6,5 x 5 cm - € 1.700.

Neste belíssimo retrato, o Infante D. João ostenta as Bandas e Placas de Grã-Cruz da Três Ordens Milita-res, da Ordem de Carlos III e de Grande-Aigle da Le-gião de Honra (1805), podendo portanto ser datado de entre 1805-1807.

Só eram conhecidos do grande público, até à data, dois outros retratos do Príncipe-Regente osten-tando a placa de Grande Aigle da Legião de Hon-ra: o retrato a óleo do Museu de Arte de S. Paulo e, a gravura de Francesco Bartolozzi, segundo pin-tura de Domenico Pellegrini, ambos reproduzidos no artigo publicado no nº 1 deste Boletim, pp. 15 e 23.

Lote 194 - Oficina portuguesa séc. XVII - Retrato de D. Ma-ria I. Óleo sobre tela. Dim. aprox.: 114 x 79 cm - € 4.600.

A Rainha ostenta uma rica insígnia da Ordem de Cristo pendente, a meio do peito, de uma faixa de vermelho posta a tiracolo, semelhante a outros re-tratos conhecidos da rainha anteriores a 1789, antes portanto da criação da Banda de Grã-Cruz das Três Ordens Militares.

Lote 195 – Escola portuguesa do séc. XIX - atribuível a José Sampaio (1770-1824). Retrato do Rei D. João VI. Óleo sobre tela. Atribuído segundo placa a José Sam-paio (1770-1824). Não assinado. Atribuído segundo placa a José Sampaio (1770-1824). Dim. aprox.: 198 x 122 cm - € 10.000.

Trata-se de um retrato verdadeiramente singular, dado o Rei D. João VI ostentar a Liga da Ordem da Jarreteira, com que foi investido em 1823, no Palácio Real da Ajuda, para além da insígnia da Ordem do To-são de Ouro e das insígnias das ordens com que habi-tualmente foi retratado após finais de 1808 – Banda e Placa de Grã-Cruz das Três Ordens Militares; Banda e Placa de Grã-Cruz da Ordem de Carlos III e Banda e Placa de Grã-Cruz da Ordem da Torre e Espada, por ele restaurada em 1808.

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Todas as fotografias por cortesia da firma Palácio do Correio Velho, a quem agradecemos.

Quanto à placa não identificada no Catálogo, por se encontrar escondida sob as Bandas, poderá tratar-se de qualquer das outras ordens europeias recebidas na mesma época pelo Rei Dom João VI – como por exemplo a do Espírito Santo, de França, de Santo André, de Rússia ou a de S. Fernando ou Isabel, a Católica, concedidas por seu cunhado o rei Fernando VII.

Contudo atendendo ao seu formato e importância histórica, atrevo-me a pensar, que poderá ser a pla-ca da ordem de Santo Estêvão da Hungria, conferi-da a D. João VI, em 1818, pelo Imperador Francisco I, por ocasião da troca de condecorações realizada entre os dois soberanos, aquando da celebração da aliança matrimonial entre as Casas de Bragança e Habsburgo.

Com efeito, o casamento da Arquiduquesa D. Leo-poldina, filha do Imperador, com o Infante D. Pe-dro, Príncipe Real, havia-se realizado em 1817.

Só é de lamentar que o património português e a fa-lerística nacional, em particular, tenha ficado empo-brecido com a saída para o estrangeiro de algumas destas magníficas peças da joalharia portuguesa de setecentos e oitocentos.

Bibliografia:José Vicente de Bragança. L’Empereur Napoléon I - Grand Cordon des Trois Ordres Militaires – du Christ, d’Avis et de St. Jacques, in Catalogue de l’exposition « La Berline de Napoléon», Musée Na-tional de la Légion d’honneur, Paris, Albin Michel, 2012, pp. 185-188._______ A evolução da Banda das Três Ordens Mili-tares (1789-1826), in Revista «Lusíada História n.º 8 / 2011, pp. 259-284._______ El-Rei D. João VI e a Ordem da Torre e Espa-da (1808-1826), Lisboa, Ed do Autor, 2011._______ As ordens militares portuguesas até ao reinado de D. João VI - Bosquejo Histórico, in Pau-lo Estrela, «Ordens e Condecorações Portuguesas (1801-1826)», Lisboa, Tribuna da História, 2009, pp. 19-32.José Vicente de Bragança e Paulo Estrela. A Falerís-tica nas Relações Diplomáticas Luso-Francesas no I Império, in Boletim «Pro Phalaris», # 1, [Janeiro – Junho, 2010], Academia Falerística de Portugal, Lis-boa, 2010.

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