ARTIGO vivi (1)
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ATIVISMO JUDICIAL: APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA
PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE OU CRIAÇÃO
JURISDICIONAL DE NOVOS DIREITOS.
JUDICIAL ACTIVISM: APPLYING THE PRINCIPLES OFPROPORTIONALITY AND REASONABLENESS OR CREATION OF NEW
CONSTITUTIONAL RIGHTS.
Viviane Tereza pereira1
Catia Rejane Liczbinski Sarreta2
RESUMO: O presente artigo dispõe sobre o ativismo judicial,realizando uma breve reflexão acerca da tripartição dospoderes adotada pela Constituição brasileira, bem como suaTeoria de Freios e Contrapesos desenvolvida por Montesquieu,às implicações do Estado Democrático de Direito. De forma aanalisar a incorporação do ativismo judicial no Brasil, assimcomo sua gênese no direito americano, e sua demasiadainfluência na atividade judiciária. O estudo do temaenfrentado a partir de pesquisas bibliográficas, examedoutrinário e legal, remete-se a sua devida importância, vezque já é fato notório as decisões polêmicas em nos Tribunaisem nome do ativismo judicial. O tema em questão aborda o usodos princípios da proporcionalidade e razoabilidade comojustificativa da postura ativista que vem se mostrando osTribunais, havendo então a necessidade de questionamentossobre essa justificativa. Sendo assim questiona-se, há limitesno ativismo judicial. Em resposta ao problema, se perfaz opresente artigo com uma análise da aplicação da Constituição1 Acadêmica do Curso de Direito da UNIVEL – Faculdade de Ciências SociaisAplicadas de Cascavel. 2 Advogada, Doutora em Ciências Sociais pela UNISINOS. Graduação em Direito.Especialista em Direito Privado. Mestre Pesquisadora do CNPQ. Professora doCurso de Direito da UNIVEL – Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas deCascavel. Coordenadora dos Grupos de Pesquisa: “Consumidor Consciente:Direito e Deveres” e “O Direito Humano Fundamental a cultura, suadiversidade e efetivação”.
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ao caso concreto, uma vez que a norma constitucional deve serlimite a ser respeitado pelo magistrado em suas decisões. Suaelaboração se deu sob o método dedutivo.
PALAVRAS-CHAVE: Ativismo. Limites. Constituição. Legislação.Estado.
ABSTRACT: This article provides for judicial activism,performing a brief reflection on the tripartition of powersadopted by the Brazilian Constitution. Besides the theory ofchecks and balances developed by Montesquieu, the implicationsof democratic law state. In order to analyze the incorporationof judicial activism in Brazil, as well as its genesis inAmerican law, and its too much influence in judicial activity.The study topic was faced from literature searches, doctrinaland legal discuss, refers to its importance, since it isalready known the controversial decisions in the courts in thename of judicial activism. The subject matter covers the useof the principles of proportionality and reasonableness as ajustification for activist approach that has been proven tothe courts. So there is the need of questions about thisjustification. Therefore the question is, if there are limitson judicial activism. Replying the problem, it makes up thisarticle with an analysis of the application of theConstitution to the case, since the constitutional norms mustbe limit to be respected by the judges in their decisions. Itspreparation was made under the deductive method.
KEYWORDS: Activism. Limits. Constitution. Legislation. State.
1 INTRODUÇÃO
Com as divergências doutrinárias com relação as
atividades do Poder Judiciário, se faz necessário o debate e a
busca de reflexões a despeito do tema em destaque.
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Muito se tem falado sobre Ativismo Judicial e Poder
Criativo do Judiciário, mas para tanto será de suma
importância indagações pertinentes ao tema.
Sabe-se, portanto que a Constituição pátria adotou o Princípio
da Tripartição de Poderes de Montesquieu, determinando a
divisão dos poderes em sua nação.
Contudo as mudanças sociais e necessidades da sociedade levam
a uma exigência maior dos poderes elencados na Constituição.
Para tanto é de suma importância a devida valorização do texto
normativo de forma a aplicá-lo no caso concreto.
No entanto a devida interpretação do mesmo não se
limitando ao eu conteúdo mas também abarcando o caso concreto.
Aí que se encontra a necessidade da devida reflexão sobre a
existência ou não de limites a essa interpretação.
Muitos doutrinadores entendem que existe a necessidade de
se fazer valer na interpretação da norma constitucional ao
caso concreto, atribuindo a tanto papel fundamental do
judiciário, denominando ainda como criação livre do direito.
Para a doutrina Constituição do Estado consolida-se em lei
fundamental, a organização de seus elementos essenciais,
abarcando as normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que
regulam a forma do Estado e a forma de seu governo, bem como o
modo de aquisição e exercício do poder, além dos direitos
fundamentais humanos e suas garantias.
Nosso sistema jurídico constitucional deve-se de forma
objetiva assegurar a observância das normas constitucionais,
consequentemente, a sua estabilidade e preservação. No
entanto, mais do que preservar as normas constitucionais, a
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finalidade precípua da jurisdição constitucional perfaz a
proteção e efetivação dos direitos e garantias fundamentais.
Sendo assim para a efetividade desses direitos substancias
ao indivíduo se dá a necessidade de uma atividade judiciária
pró ativa. Porém com a devida cautela com o afinco de
assegurar a aplicação texto constitucional aos casos
concretos.
Diante desse paradigma tem-se um movimento que está
ganhando força e grande aplicação nos Tribunais e juizados em
todo país, o Ativismo Judicial.
A ideia desse movimento está associada a uma participação
mais ampla e intensa do Judiciário na concretização dos
valores e fins constitucionais, com maior interferência no
espaço de atuação dos outros dois Poderes.
Com origem na jurisprudência norte-americana, vem ganhando
força e adeptos no Brasil.
Nesse sentido o judiciário brasileiro vem manifestando-se
claramente como ativistas em decisões nos Tribunais. Com a
bandeira dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade e
o discurso de se extrair o máximo das potencialidades do texto
constitucional aplica-se o ativismo judicial com grande
frequência.
Para a abordagem do tema no primeiro segundo será
explanado sobre os Princípios Constitucionais enfatizando sua
importância nas demandas sociais bem como a incorporação do
Princípio da Separação dos Poderes pela Constituição
brasileira, sua relevância para Estado Democrático de Direito
e críticas doutrinárias. No terceiro capítulo inicia-se a
abordagem do ativismo Judicial, trazendo sua origem, sua
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aplicação no Brasil, esclarecendo a diferença entre os
movimentos do Ativismo Judicial e Judicialização. Já no
quarto capítulo se dará a exploração dos limites do Ativismo
Judicial defendidos pela doutrina, em seguida uma reflexão
sobre a aplicação dos Princípios da Proporcionalidade e
Razoabilidade e aplicação desses princípios no Ativismo
Judicial. Ainda será neste capítulo abordado a criação
jurisdicional de novos direitos e por fim posições
doutrinárias e aplicação jurisprudencial sobre o tema
abordado. Encerrando o artigo com as considerações finais.
O fenômeno do Ativismo Judicial busca a efetivação dos
direitos, atendendo as necessidades da sociedade, posição de
parte da doutrina, já outra parte da doutrina se posiciona no
sentido que o Ativismo Judicial nos apresenta uma criação
livre do poder judiciário. Então se questiona: Em nome do
ativismo judicial, qual é o limite dessa atuação do
judiciário?
Em razão desta reflexão o presente trabalho busca
apresentar a origem do ativismo judicial, sua aplicação,
culminado com os princípios da proporcionalidade e
razoabilidade, dentro da esfera do Direito, bem como, suas
consequências e em especial evidenciando seus limites, ou
seja, até onde o judiciário poderá chegar em nome de um
ativismo.
2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
Com o desenvolver da sociedade e significativas mudanças
de suas necessidades, novos valores foram introduzidos na
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prática jurídica, não sendo mais possível apenas a aplicação
da lei, aquela que outrora era idolatrada passou a ser
complementada por princípios para atingir o caso concreto,
buscando solucionar conflitos que a letra rígida da lei não
abarcava.
Nesse sentido em razão de atender as demandas
jurisdicionais, surge a aplicação dos princípios
constitucionais, trazendo consigo um fundamental papel do
legislador.
2.1 O Princípio da Separação dos Poderes.
Muito se tem falado em Estado Democrático de Direito,
porém para que haja essa legitimação deve se manifestar
plenamente os poderes que dele são emanados. Nesse sentido
então pensa-se que, quanto menor for a centralização, maior
será a garantia de que não haverá arbitrariedades. Assim, a
maioria das Constituições modernas adotou a Teoria da
Tripartição dos Poderes, desenvolvida por Montesquieu.
O princípio da separação de poderes já se manifestava no
pensamento de Aristóteles, John Locke e Rosseau, a qual veio a
ser definida e divulgada por Montesquieu e que foi difundida
nas Constituições das ex- colônias inglesas da América,
concretizando-se em definitivo na Constituição dos Estados
Unidos de 17.9.1787. Tornou-se, com a Revolução Francesa, um
dogma constitucional, ao ponto de o Art. 16 da Declaração de
Direitos do homem e do Cidadão de 1789 declarar que não teria
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constituição a sociedade que não assegurasse a separação de
poderes, tal compreensão de que ela constitui técnica de
extrema relevância para a garantia de direitos do homem, como
ainda o é.
No mundo contemporâneo, pode-se dizer que o princípio não
configura mais aquela rigidez. A ampliação das atividades do
Estado moderno impôs uma nova visão da teoria da separação de
poderes e novas formas de relacionamento entre os órgãos
legislativo e executivo e deste com o judiciário, tanto que
atualmente prefere-se falar em colaboração de poderes, que é
característica do parlamentarismo, desenvolveram-se as
técnicas de independência orgânica e harmônica dos poderes.
(SILVA, 2005, p.112).
Nesse contexto surgem novas perspectivas de um Estado
Democrático de Direto e questionamentos acerca da efetivação
dos Direitos Fundamentais e real efetivação da Constituição.
2.2 Independência e Harmonia Nos Diferentes Poderes.
A constituição manteve a cláusula independentes e
harmônicos ente si, própria da divisão de poderes no
presidencialismo, deixando claro a incorporação do princípio
ora abordado.
A independência dos poderes significa:
a) Que a investidura e permanência das pessoas num dos órgãos
do governo não dependem da confiança nem da vontade dos
outros;
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b) Que no exercício das atribuições que lhes sejam próprias,
não precisam os titulares consultar os outros e nem necessitam
de sua autorização;
c) Que na organização de respectivos serviços, cada um é
livre, observadas apenas as condições constitucionais e
legais; assim é que cabe ao Presidente da República promover e
extinguir cargos públicos da Administração Federal, bem como
exonerar e demitir seus ocupantes, enquanto é de competência
do Congresso Nacional e dos Tribunais promover os cargos dos
respectivos serviços administrativos, exonerar ou demitir seus
ocupantes; as Câmaras e do Congresso e os Tribunais competente
para elaborar os respectivos regimentos internos, em que
consubstanciam as regras de seu funcionamento, sua
organização, direção e policia, ao passo que ao Chefe do
Executivo incube a organização da administração pública,
estabelecer seus regimentos e regulamentos. Agora, a
independência e autonomia do Poder Judiciário se tornaram
ainda mais pronunciadas, pois passou para a sua competência
também a nomeação de juízes e tomar outras providências
referentes a sua estrutura e funcionamento, inclusive em
matéria orçamentária. (SILVA, 2005, p.110).
A harmonia entre os poderes se verifica pela relação de
cortesia recíproca e respeito pelas prerrogativas e faculdades
que todos têm direito. Para tanto vale ressaltar que a
independência entre os órgãos não é absoluta, há
interferências que visam equilibrar as suas devidas
atividades, os chamados freios e contrapesos. A busca do
equilíbrio necessário a realização do bem da coletividade e
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indispensável para evitar o arbítrio e o desmando de um em
detrimento do outro e especialmente dos governados.
Se ao Legislativo cabe a edições de normas gerais e
impessoais, estabelece-se um processo para a sua formação em
que o Executivo tem participação importante, quer pela
iniciativa das Leis, quer pela sanção e pelo veto. Mas a
iniciativa legislativa do Executivo é contrabalançada pela
possibilidade que o Congresso tem de modificar-lhe o projeto
por via de emendas e até de rejeitá-lo. Por outro lado, o
presidente da República tem o poder do veto, que poder exercer
em relação a projetos de sua iniciativa dos congressistas como
em relação às emendas aprovadas a projetos de sua iniciativa.
Em compensação, o Congresso, pelo voto da maioria absoluta de
seus membros, poderá rejeitar o veto, e, pelo Presidente do
Senado, promulgar a lei, se o Presidente da República, não o
fizer no prazo previsto. Conforme o Artigo 66 Constituição
Federal3.
3 Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.
§ 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto.
§ 2º - O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea.
§ 3º - Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República importará sanção.
§ 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 76, de 2013)
§ 5º - Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação, ao Presidente da República.
§ 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no § 4º, o veto será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação final. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
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Se o Presidente da República não pode interferir nos
trabalhos legislativos, pode obter aprovação rápida de seus
projetos, nesse caso lhe é facultado marcar prazo para a sua
apreciação, nos termos dos parágrafos do Art. 64 Constituição
Federal4.
Se os Tribunais não podem influir no Legislativo, são
autorizados a declarar inconstitucionalidade das leis, já que
cabe a ele guardião da Constituição preservar a sua aplicação.
O Presidente da República não interfere nas atividades
jurisdicionais, em compensação os Ministros dos Tribunais
Superiores são por ele nomeados, sob controle do Senado
Federal, a que cabe aprovar o nome escolhido, diante o
disposto no Artigo 52.III, a Constituição Federal5.
§ 7º - Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da República, nos casos dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo.
4 Art. 64. A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da República, do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores terão início na Câmara dos Deputados.
§ 1º - O Presidente da República poderá solicitar urgência para apreciação de projetos de sua iniciativa.
§ 2º Se, no caso do § 1º, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal nãose manifestarem sobre a proposição, cada qual sucessivamente, em até quarenta e cinco dias, sobrestar-se-ão todas as demais deliberações legislativas da respectiva Casa, com exceção das que tenham prazo constitucional determinado, até que se ultime a votação. (Redação dada pelaEmenda Constitucional nº 32, de 2001)
§ 3º - A apreciação das emendas do Senado Federal pela Câmara dos Deputados far-se-á no prazo de dez dias, observado quanto ao mais o disposto no parágrafo anterior.
§ 4º - Os prazos do § 2º não correm nos períodos de recesso do Congresso Nacional, nem se aplicam aos projetos de código.
5 Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:[…]
III - aprovar previamente, por voto secreto, após argüição pública, a escolha de:
a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição;
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Dados os exemplos de mecanismo de freios e contrapesos,
caracterizador da harmonia entre os poderes, percebe-se a
incorporação da teoria de Montesquieu na Carta Magna
brasileira.
Conforme o exposto, entende-se que os trabalhos do
Legislativo e do Executivo, e do Judiciário, só se
desenvolverão a bom termo, se esses órgãos se subordinarem ao
princípio da harmonia, que não significa nem o domínio de um
pelo outro nem a sujeição de atribuições, mas sim deve haver a
consciente colaboração e controle recíproco visando o bem da
coletividade.
A desarmonia, porém, se dá sempre que, se aumenta atribuições,
faculdades e prerrogativas de um em detrimento de outro.
2.3 Crítica ao Sistema de Separação Dos Poderes
A exigência social de que o Estado desempenhasse suas
atribuições com maior eficiência fez com que houvesse uma
ampliação da esfera de ação estatal, o que intensificou sua
participação nos diversos setores da sociedade.
b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Presidente daRepública;
c) Governador de Território;d) Presidente e diretores do banco central;e) Procurador-Geral da República;f) titulares de outros cargos que a lei determinar;
[…]
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A clássica Teoria da Separação dos Poderes, proposta com o fim
exclusivo de enfraquecer o poder concentrado do Estado no
século XVIII, passou então a ser alvo de várias críticas.
Uma rígida separação entre os poderes do Estado e suas
funções passou a ser vista como fato inviável dentro da
engenharia constitucional de determinada sociedade. Por outro
lado, percebia-se que seria incoerente suprimir o Princípio de
Tripartição da estrutura organizacional de um Estado
Democrático de Direito, uma vez que isto representaria um
risco e uma afronta expressa às conquistas alcançadas através
da legitimidade liberal, nas quais estão assentados os pilares
da democracia.
Dessa forma, foi a necessidade de aliar a democracia da
tradicional separação dos poderes à eficiência do sistema
político que impôs nova visão à Teoria. Esta nova visão
começou a ser suscitada ao longo do Estado Social e conserva
aplicabilidade ainda hoje, em tempos de neoliberalismo.
Para permitir a adequação do Princípio de Tripartição dos
Poderes ao bom desempenho das atividades do Estado, surgiram
novas formas de relacionamento entre os órgãos legislativo,
executivo e judiciário.
Os poderes do Estado deixaram de ser interpretados como
efetivamente separados e rigidamente especializados, para
serem compreendidos como distintos e coordenados. Fez-se
necessária a interpenetração entre os poderes, com o intuito
de viabilizar a prática governamental, em oposição à
intangibilidade recíproca que antes os caracterizava.
Assim, a Teoria da Separação dos Poderes teve que passar
por uma revisão, através da ampliação de seus conceitos e da
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sua adaptação à realidade sociopolítica, permanecendo nas
Constituições democráticas com a ideia de colaboração de
poderes.
A colaboração entre os poderes do Estado tornou-se
possível através de técnicas que coadunaram a autonomia
organizacional de cada poder com a possibilidade de
intercomunicação de funções, desempenhadas sistematicamente em
cooperação mútua.
Desse modo, a nova acepção da divisão de poderes
materializou-se por meio da independência orgânica e da
harmonia entre os órgãos legislativo, executivo e judiciário,
especialmente nos sistemas presidencialistas.
Segundo José Afonso da Silva (2004, p. 110), atualmente,
a independência dos poderes significa:
(a) que a investidura e a permanência das pessoas numdos órgãos do governo não depende da confiança nem da vontade dosoutros; (b) que, no exercício das atribuições que lhessejam próprias, não precisam os titulares consultar osoutros nem necessitam de sua autorização; (c) que, naorganização dos respectivos serviços, cada um é livre,observadas apenas as disposições constitucionais elegais.
Percebe-se, portanto, que a independência orgânica é
entendida como a possibilidade de cada poder se auto-organizar
e desempenhar suas funções típicas sem se subordinar aos
outros, estando apenas sujeitos aos ditames legais.
Hoje, o princípio não configura mais aquela rigidez de
outrora. A ampliação das atividades do Estado contemporâneo
impôs nova visão da teoria da separação de poderes e novas
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formas de relacionamento entre os órgãos legislativo e
executivo e deste com o judiciário, tanto que atualmente
prefere-se falar em colaboração de poderes, que é
característica do parlamentarismo, desenvolveram-se as
técnicas de independência orgânica e harmônica dos poderes.
2.4 O Princípio do Estado Democrático
O Estado democrático de direito se funda na soberania
popular que impõe a participação efetiva do povo na coisa
pública, condição essa que não se exauri na simples
representação. Visa realizar o princípio democrático como
garantia geral dos direitos fundamentais da pessoa humana.
Estado Democrático de Direito, possui tarefas eprincípios. Conforme José Afonso da Silva (2004, p. 110), “atarefa fundamental do Estado Democrático de Direito consisteem superar as desigualdades sociais e regionais e instaurar umregime democrático que realize a justiça social”.
Neste contexto cumpre ressaltar, que os princípios doEstado Democrático de Direito são: da constitucionalidade,democrático, da justiça social, da igualdade, da divisão dospoderes, da legalidade, da segurança jurídica e o sistema dedireitos fundamentais. (SILVA, 2004)
A Constituição Brasileira, visa garantir um EstadoDemocrático de Direito, e para tanto garante, a DignidadeHumana, por meio de uma sociedade justa e solidária,prevalecendo os Direitos Humanos, e tantos outros acobertadospela Carta Magna.
3 O ATIVISMO JUDICIAL
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É comum o debate em relação a atuação do judiciário, em
pouco tempo o Supremo Tribunal Federal julgou temas de
interesse público ocupando um espaço na política, diante da
inércia do Parlamente, casos como Lei da ficha limpa, uniões
homoafetivas, estudos com células tronco, aborto de feto
anencefálico, foram debatidos e decididos no Plenário. Ainda,
se tornou comum nos noticiários de rede nacional, decisões
polêmicas do judiciário que foge a letra da Lei, em busca de
soluções de conflitos ainda não normatizados.
A intensa atividade judiciária assume um papel interativo
chamado pela doutrina de postura pró ativa, com interferência
do judiciário em variados temas não abraçados pelas normas.
Essa atividade jurisdicional chama-se Ativismo Judicial.
Ativismo e judicialização são temas que frequentam as grandes
discussões da teoria jurídica brasileira no mundo acadêmico. O
acentuado protagonismo do Poder Judiciário vem despertando,
não só no Brasil, um conjunto de pesquisas que buscam a
explicação da aplicação desse fenômeno, bem como suas
consequências para a segurança jurídica e sua sujeição ao
texto constitucional.
3.1 A Origem do Ativismo Judicial
Não há que se falar em Estado de Direito sem que se
aprofunde no estudo constitucional. É da constituição que se
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deriva todos os outros diplomas legais. Surge então o
demasiado interesse de se estudar as grandes discussões que
cercam os textos constitucionais, sua interpretação, bem como,
as tendências que envolvem as aplicações dos enunciados da
Carta Magna nos casos concretos.
Para tanto remete-se suas implicações versadas com o
Estado Democrático de Direito, Separação dos Poderes e
movimentos que influenciam a sua aplicação no sistema
judiciário atual.
O Estado Democrático de Direito como já mencionado,
representa o advento estabelecido pela modernidade, adequando-
se as Constituições Modernas e elas a ele, o qual se
normatizou via de regras e princípios, trazendo uma grande
carga de valores assim por meio dos Direitos Fundamentais, a
realização e efetivação da proteção de direitos individuais,
difusos e coletivos, visando a proteção das minorias frente às
maiorias.
Apesar, de o Brasil ter uma Constituição rígida, seus
conteúdos vem sofrendo diversas alterações através de Emendas,
agregando-se os princípios democráticos, momento em que a
democracia passa a se vincular inteiramente ao Estado de
Direito. Nas palavras de Canotilho, apresenta-se uma definição
de Constituição.
Constituição é uma ordenação sistemática e racional dacomunidade política, plasmada num documento escrito,mediante o qual se garantem os direitos fundamentais ese organiza, de acordo com o princípio da divisão depoderes, o poder político.
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Como dispõe o doutrinador, a Constituição é dotada de
garantias fundamentais, emanada de questões políticas e de
acordo com a divisão de poderes.
Assim, neste modelo de Estado, se estabelece o Princípio da
Supremacia Constitucional, que visa amplamente as garantias e
liberdades de direitos individuais e sociais, visando sempre o
bem comum, por meio de preceitos de justiça social e
substancial, e sempre com a consonância dos Direitos
Fundamentais.
Para que haja essa efetivação de direitos, tão importante
para o bem comum e assegurada pelo Estado Social de Direito,
surgem movimentos que ganham força a medida que vão se
aplicando a casos concretos no sistema judiciário do país. A
esse movimento dá-se o nome de Ativismo Judicial.
A sua origem remonta à jurisprudência norte-americana.
Registre-se que o ativismo foi, em um primeiro momento, de
natureza conservadora. Foi na atuação proativa da Suprema
Corte que os setores mais reacionários encontraram amparo para
a segregação racial. Logo após produziu jurisprudência
progressista em matéria de direitos fundamentais, sobretudo
envolvendo negros, mulheres, assim como no tocante ao direito
de privacidade e de interrupção da gestação. (BARROSO, 2008,
p.8).
Como exposto o nascimento do Ativismo Judicial já se deu
diante da necessidade de se atender as demandas sociais em que
a própria Lei até então, não atendia. Esse contexto traz um
olhar positivo para essa nova forma de se efetivar e atingir
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direitos. Remonta-se ao pensamento de desejo de justiça, a
questão que assombra é, a que preço?
Porém, foi com o historiador Arthur Schlesinger Jr., em
uma matéria da revista Fortune intitulada The Supreme Court:
1947, que o termo judicial activism entrou no léxico não apenas
jurídico, mas, sobretudo para o mundo político e
popular. Referindo à capacidade de desempenhar um papel
afirmativo na promoção do bem-estar social, Schlesinger chamou
de "ativistas judiciais" (judicial activists) os juízes Hugo Black,
Willian O. Douglas, Frank Murphy e Wiley Rutledge. (TEIXEIRA,
2012).
Desde então o movimento da Suprema Corte ganhou espaço e
diversos simpatizante em todo mundo, no Brasil o Ativismo
Judicial ganha força com a Carta Magna de 1988, a qual atribui
uma série de prerrogativas ao magistrado.
3.2 O Ativismo Judicial no Brasil
O Brasil vem manifestando um posicionamento ativista em
decisões nos Tribunais. Em prol dos princípios da
proporcionalidade e razoabilidade e o discurso de se extrair o
máximo das potencialidades do texto constitucional aplica-se o
ativismo judicial com grande frequência nas decisões
jurisdicionais.
A ideia de Ativismo Judicial está associada a uma
participação mais ampla e intensa do Judiciário na
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concretização dos valores e fins constitucionais, com maior
interferência no espaço de atuação dos outros dois Poderes.
A postura ativista se manifesta por meio de diferentes
condutas, que incluem: a aplicação direta da Constituição a
situações não expressamente contempladas em seu texto e
independentemente de manifestação do legislador ordinário; a
declaração de inconstitucionalidade de atos normativos
emanados do legislador, com base em critérios menos rígidos
que os de patente e ostensiva violação da Constituição; a
imposição de condutas ou de abstenções ao Poder Público,
notadamente em matéria de políticas públicas. (BARROSO, 2008,
p.6)
No Brasil, sob o manto do ativismo judicial, a doutrina
produziu diferentes posicionamentos acerca da atividade
jurisdicional, de forma a manifestar oscilações de aproximação
e afastamento entre a cultura jurídica do Brasil e Estados
Unidos. Diante disso se formou muitas especulações sobre o
assunto e divergências doutrinárias, as quais influenciaram
diretamente a atuação dos juízes e tribunais. Sendo o atual
contexto denominado por Streck como ativismo judicial à
brasileira.
Para o doutrinador o ativismo judicial a brasileira é a
incorporação do movimento norte americano no contexto
brasileiro que difere daquele, tornando a sua aplicação
perigosa caso não se observe os critérios que a norma nos
impõe. Para ele a forma à brasileira, vincula um ato de
vontade do julgador. Para Streck (2013), “o ativismo
é behaviorista, porque depende da vontade do poder, portanto, da
pura subjetividade do julgador (é, pois, comportamental)”.
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Diante de tais informações, questiona-se, quais as
consequências do movimento do Ativismo Judicial no Brasil,
seus limites de atuação adstritos aos princípios da
Razoabilidade e Proporcionalidade ou ainda se esse movimento
extrapola esses princípios e o que isso reflete no panorama
judiciário.
3.3 Ativismo Judicial e Judicialização
Ativismo Judicial e Judicialização, apesar de comumente se
tratarem como sinônimos não são a mesma coisa.
A judicialização é um fenômeno que independe da vontade do
Poder Judiciário, está diretamente envolvida por uma
transformação cultural profunda pela qual passaram os países
que se organizam politicamente em torno do regime democrático
como o Brasil.
Barroso (2009) dispõe que a judicialização representa em
grande parte a transferência de poder político para o
Judiciário, principalmente, para o Supremo Tribunal Federal.
“A judicialização é fato”, Para o constitucionalista há três
causas para incorporação da judicialização em nosso país. São
elas: a redemocratização do país, que levou as pessoas a
procurarem mais o Judiciário; a constitucionalização, que fez
com que a Constituição de 1988 tratasse de inúmeros assuntos;
e o sistema de controle de constitucionalidade.
Sendo assim o fenômeno da Judicialização ocorre quando na
existência de uma norma constitucional presume-se uma
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pretensão objetiva ou subjetiva que é pleiteada, e neste
sentido cabe ao juiz decidir. Em que pese à pretensão objetiva
de acesso a educação, por exemplo, quando o poder judiciário é
chamado a conhecer o fato, este não poderá negar a emitir uma
decisão, seja ela qual for, uma vez que a Constituição a
garante para todos.
No que diz respeito ao Ativismo Judicial, esse possui suas
raízes, completamente diversa de judicialização, nesse
movimento, liga-se a um desejo do órgão judicante com relação
à possibilidade de alteração dos contextos político-sociais.
Pode ser conservador ou progressista. No final, o resultado é
o mesmo, ou seja, o Judiciário agindo por motivos de
convicção e crença pessoal do magistrado, e não em face da
moralidade instituidora da comunidade política.
Segundo Barroso (2009), o ativismo, ao contrário da
judicialização, não é fato, mas atitude. Acontece quando há um
déficit de outros Poderes e o Judiciário aplica princípios a
situações não previstas em leis. Ele cita como exemplo a
fidelidade partidária, quando o Tribunal Superior Eleitoral
estabeleceu, e o Supremo confirmou, norma não prevista na
Constituição em nome do princípio democrático. A demanda para
acabar com o troca-troca de partido, diz, não foi atendida
pelas instâncias políticas competentes.
Com atuação, diversa os dois movimentos que envolvem a
atividade jurisdicional buscam o mesmo intuito, qual seja, a
efetivação dos direitos e o bem comum, historicamente tão
desejado por todos.
22
4 LIMITES DO ATIVISMO JUDICIAL
No contexto em que se encontra as atividade e decisões do
Poder Judiciário, espera-se a resposta no texto
constitucional, com uma interpretação proativa, que visa
extrair o máximo das potencialidades do texto constitucional
propagando seu sentido e extensão. No entanto questiona-se se
esse fenômeno busca a efetivação dos direitos, atendendo as
necessidades da sociedade ou nos apresenta uma criação livre
do poder judiciário?
Em nome do ativismo judicial, qual é o limite dessa
atuação do judiciário? Para responder esse questionamento se
faz necessário uma análise de diferentes posicionamentos de
doutrinadores do mundo jurídico, sendo que todos buscam a
mesma coisa, explicar o cenário judicial em que estamos
vivendo, qual seja com diferentes decisões sobre o mesmo tema,
com a interferência do judiciário naquilo que o Parlamento
deveria decidir e ainda com argumentos que decido conforme a
minha consciência.
Para tanto, há diferentes posicionamentos em relação ao
tema em comento, chamado de atividade pró ativa jurisdicional.
Para alguns, o julgador a frente do caso concreto pode se
valer de Princípios para a resolução do mesmo, em busca de
atender as demandas sociais que já extrapolam os textos
normativos, nesse prisma os Princípios da Proporcionalidade e
Razoabilidade podem auxiliar o julgador diante de tais
situações.
23
Também há o posicionamento que entende que o ativismo
judicial procura extrair o máximo das potencialidades do texto
constitucional, para assim atingir as necessidades sociais.
Para esse corrente não se quer com este fenômeno invadir o
campo da criação livre do Direito, papel típico do Poder
Legislativo, e sim tornar acessível o bem estar social.
Contudo em uma terceira corrente prevalece o entendimento
que o judiciário não pode interferir nas outras esferas visto
que a Constituição Federal Brasileira adotou o Princípio de
Separação dos Poderes. Em sua atividade não se pode admitir a
criação de novos direitos, uma interpretação criativa do texto
constitucional. O que levaria a um abalo ao Estado Democrático
de Direito.
Ainda conforme uma quarta posição, os limites para a
subjetividade nas decisões é e sempre será a Constituição. As
decisões dos tribunais não podem e não deve estar pautada na
vontade e na subjetividade do julgador, a Lei limita essa
subjetividade possibilitando uma maior segurança nas decisões.
4.1 Princípios da Proporcionalidade e Razoabilidade
Os princípios são mandamentos de otimização em face às
possibilidades jurídicas e fáticas. É possível afirmar que os
princípios estão enraizados nos corações das constituições
após longos debates em relação as suas respectivas
normatividades.
24
Dentre os princípios que iluminam o novo Direito
Constitucional, ganha cada vez mais relevo, inclusive na
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o princípio da
proporcionalidade.
É possível vislumbrar duas funções distintas desempenhadas
pelo referido princípio no sistema normativo. Na primeira
delas, o princípio da proporcionalidade configura instrumento
de salvaguarda dos direitos fundamentais contra a ação
limitativa que o Estado impõe a esses direitos.
Em outro olhar, tal princípio, também cumpre a relevante
missão de funcionar como critério para solução de conflitos de
direitos fundamentais, através de juízos comparativos de
ponderação dos interesses envolvidos no caso concreto.
Esta função é ressaltada por Bonavides (2007 p. 259).
Uma das aplicações mais proveitosas contidaspotencialmente no princípio da proporcionalidadeé aquela que o faz instrumento de interpretaçãotoda vez que ocorre antagonismo entre direitosfundamentais e se busca daí soluçãoconciliatória, para a qual o princípio éindubitavelmente apropriado. As cortesconstitucionais europeias, nomeadamente oTribunal de Justiça da Comunidade Europeia, jáfizeram uso frequente do princípio para diminuirou eliminar a colisão de tais direitos.
Para a devida aplicação dos princípios se faz necessário
observar a teoria da máxima proporcionalidade, ou seja, a
proporcionalidade aplicada sobre o rol das três máximas, da
adequação, da necessidade (mandamento do mio menos gravoso) e
25
da proporcionalidade em sentido estrito (mandamento do
sopesamento propriamente dito). Ao observar a máxima da
proporcionalidade se justifica a aplicação ao caso concreto e
a adequação do principio.
Para Alexi, a aplicação do princípio depende dessa devida
e criteriosa observação, e dela se extrai a essência da
aplicação do princípio.
O Princípio da Proporcionalidade é uma máxima, um
parâmetro valorativo que permite aferir a idoneidade de uma
dada medida legislativa, administrativa ou judicial. Pelos
critérios da proporcionalidade pode-se avaliar a adequação e a
necessidade de certa medida, bem como, se outras menos
gravosas aos interesses sociais não poderiam ser praticadas em
substituição àquela empreendida pelo Poder Público.
O critério da proporcionalidade exige um olhar atento ao
para a justiça do caso concreto ou particular. Segundo
Bonavides, (2007 p. 262), "é um eficaz instrumento de apoio às
decisões judiciais que, após submeterem o caso a reflexões
prós e contras, a fim de averiguar se na relação entre meios e
fins não houve excesso, concretizam assim a necessidade do ato
decisório de correção."
A aplicação do princípio da proporcionalidade demanda dois
enfoques. Há simultaneamente a obrigação de fazer uso de meios
adequados e interdição quanto ao uso de meios
desproporcionais. Desta forma, a proporção adequada torna-se
condição de legalidade. Portanto, a inconstitucionalidade
ocorre quando a medida é excessiva, injustificável, ou seja,
não cabe na moldura da proporcionalidade.
A adoção do princípio da proporcionalidade representa a
26
afirmação do Estado de Direito, o qual, com a aplicação desse
princípio, saiu notadamente fortalecido. Converteu-se em
princípio constitucional, por obra da doutrina e da
jurisprudência, sobretudo na Alemanha e Suíça.
O princípio da razoabilidade por vezes tratado como
sinônimo de proporcionalidade, surgiu a partir do principio
do devido processo legal.
Tal princípio não se encontra expressamente previsto na
Constituição de 1988, porém este princípio está norteando
decisões estando implicitamente compondo o sistema
constitucional pátrio em seus dispositivos, bem como do
histórico de sua elaboração. Sendo amplamente utilizado o
princípio mostra-se eficaz para a avaliação de medidas dentro
do processo, sendo mister verificar se tais medidas são ou não
razoáveis.
Vale ressaltar que a cada dia torna-se mais frequente a
alusão ao princípio ora analisado, em diversas manifestações
de nossa Corte. Muito embora como já citado, a jurisprudência
e doutrina utilizam os termos proporcionalidade e
razoabilidade de forma indistintamente, sua aplicação diante
de situações concretas não acarretam perda ao seu objetivo,
tal qual, garantir direitos ao cidadão em face de eventual
arbítrio do poder estatal.
4.2 A Aplicação dos Princípios da Proporcionalidade e
Razoabilidade em razão do Ativismo Judicial.
27
Pelas máximas da razoabilidade e proporcionalidade pode-se
avaliar a conformação das atividades legislativa,
administrativa e judicial do Estado com os valores e
interesses de forma expressa ou implicitamente, na
Constituição. Compreende-se, portanto, em verdadeiros limites
à atuação do Poder Público, exigindo-lhe a fiel observância
não apenas da lei ao observar o princípio da legalidade
estrita, mas de todo o ordenamento jurídico.
Nesse olhar, os princípios supracitados apresentam o objetivo
do seu nascedouro, quer seja, o de atender as necessidades das
demandas ainda não atendidas na norma existente.
Há quem defenda os princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade como instrumentos de manipulação do subjetivismo
individualista, passando por cima das posições fixadas pela
lei, no desejo de se fazer justiça com os próprios conceitos
de justiça. Para muitos até mesmo esse desejo de fazer justiça
é entendido como desejo de ser o dono da justiça.
Dessa forma, muitos destacaram esses princípios como
instrumentos de sustentação para uma sociedade sem leis, sem
segurança jurídica, patrocinadora por uma desconstrução da
democracia moderna, uma vez que provavelmente poderia inspirar
o surgimento de um Estado anárquico, sem leis.
É comum obervar a utilização desses princípios nas
decisões proferidas em todo território nacional, sendo de
grande reflexão para muitos doutrinadores, onde se questiona
se o demasiado uso desses princípios pode incorrer em uma
discricionariedade mascarada por parte do julgador, decidindo
28
então conforme sua convicção, num olhar completamente
subjetivo.
A esse respeito Streck (2010.p.50-51), argumenta:
É por isso que venho sustentando – inclusivealterando posição professada há alguns anos atrás– que a proporcionalidade somente tem sentido seentendida como ‘garantia de equanimidade’. Ouseja, proporcionalidade – admitindo-se-a adargumentandum tantum – não é (e não pode ser)sinônimo de equidade. Fora disso, o ‘princípio’da proporcionalidade se torna um irmão siamês dolivre convencimento, ambos frutos do casamento dopositivismo jurídico com a filosofia daconsciência, […]
Nesse entendimento os princípios em tela, são ferramentas
para se obter aquilo que a letra da lei não alcançou, ou seja
a justiça dentro do caso em concreto de forma equilibrada
garantindo a serenidade das decisões, porém diferente de livre
convencimento.
Ainda Streck, (2010.p. 48) completa na mesma obra, “a
maior parte das sentenças e acórdãos acaba utilizando tais
argumentos como um instrumento para o exercício da mais ampla
discricionariedade (para dizer o menos) e o livre cometimento
de ativismo”.
Contudo, não será coerente uma postura radical diante da
aplicação de princípios da proporcionalidade e razoabilidade,
pois os mesmos apresentam-se como instrumentos bem aceitos
pela doutrina e pelos tribunais de todo o país, em sua maioria
assegurando o sentido que lhe cabe, unindo-se ao conceito de
Estado Democrático e Humanitário de Direito.
29
4.3 Criação Jurisdicional de Novos Direitos
Com as mudanças em torno do ordenamento jurídico, após a
concretização do e Estado Social, houve segundo Cappelletti
(1999) uma aproximação do chamado Common Law6 e Civil Law7,
ocorrendo de fato uma maior interferência do judiciário no que
diz respeito, à criação de direitos. A adoção de princípios e
jurisprudência nas decisões demonstra essa aproximação nas
atividades do judiciário.
Nesse contexto ganha força a interpretação do texto
constitucional, que é a tarefa de revelar/atribuir o sentindo
e o alcance das disposições normativa, com a finalidade de
aplicá-las a situações concretas, tarefa atribuída aos
magistrados, que de certa forma amplia o papel do juiz lhe
atribuindo, além pronunciar as palavras da Lei, uma dinamismo
ou ativismo na efetivação de diretos.
Nas palavras do doutrinador perfaz esse entendimento.
Tendo em vista que a interpretação não se limita adescobrir o significado e conteúdo do texto normativo,mas também em concretizá-lo, ou seja, aplicá-lo aocaso concreto, todo texto normativo, por mais claroque ele se apresente, precisa ser interpretado,circunstancia que revela o caráter necessário dainterpretação. (CUNHA JUNIOR, p. 195, 2014)
6 Common Law é uma estrutura mais utilizada por países de origem anglo-saxônica como Estados Unidos e Inglaterra. Uma simples diferença é que lá oDireito se baseia mais na Jurisprudência que no texto da lei.Jurisprudência, caso esteja em dúvida, trata-se do conjunto deinterpretações das normas do direito proferidas pelo Poder Judiciário.7 Civil Law é a estrutura jurídica oficialmente adotada no Brasil. O quebasicamente significa que as principais fontes do Direito adotadas aqui sãoa Lei, o texto.
30
Conforme o autor existe a necessidade de se fazer valer a
interpretação da norma constitucional ao caso concreto, uma
vez que para o mesmo esse é o papel do judiciário, denominando
ainda como criação livre do direito. Para ele essa postura
dinâmica e ativista do judiciário é uma autêntica revolta
contra o formalismo que imperava os Estados de inspiração
liberal.
No entanto, a criação judicial do direito defendida por
alguns doutrinadores, deve ser vista com algumas
peculiaridades, quer seja, o juiz dinâmico e criativo deve
estar comprometido com o texto constitucional, vinculado e
limitado aos textos da Constituição.
Os efeitos dessa postura vem sendo percebida nas
atividades jurisdicionais do país. Hoje o Supremo Tribunal
Federal se manifesta de forma ativamente para a efetivação de
princípios constitucionais e da devida interpretação da lei
conforme a Constituição.
Exemplo disso ocorreu no Mandado de Injunção nº 708 (anexo
4), onde o STF reconheceu o direito de greve aos servidores
públicos civis, determinando a aplicação da lei relativa à
iniciativa privada e, ainda, pela primeira vez em sua história
concedeu efeito concretista ao mencionado remédio
constitucional.
O que percebe-se em esse contexto, é que possui um aberto
espaço para mais elevado grau de discricionariedade e, assim,
de subjetivismo dos juízes, necessitando uma reflexão no que
diz respeito ao Princípio da Tripartição dos Poderes, adotados
31
pela Carta Magna brasileira, que de certa forma vem sendo
relativizado nas práticas judiciárias pelo país.
4.4 Posições Doutrinárias e Aplicação Jurisprudencial em
Relação ao Ativismo Judicial
O ativismo judicial como já exposto, é um movimento
crescente na atividade judiciária do Brasil, ou seja, uma
realidade a ser aceita e trabalhada da melhor maneira
possível.
É unânime na doutrina o pensamento de que se faz
necessário, limites a essa atividade, mesmo que diverso um do
outro, alguns com olhares mais positivos cm relação ao tema e
outros negativos, porém num ponto todos concordam não se pode
em prol de um ativismo judicial desestabilizar a segurança
jurídica.
Para a corrente mais simpática ao movimento no Brasil, o
ativismo judicial procura extrair o máximo das potencialidades
do texto constitucional, para assim atingir as necessidades
sociais. Deste modo a interpretação irá além do texto
constitucional e atingindo a eficácia do direito em tela. Não
se quer com este fenômeno invadir o campo da criação livre do
Direito, papel típico do Poder Legislativo, e sim tornar
acessível o bem estar social. Compartilha desse entendimento o
Ministro Luís Roberto Barroso;
32
A postura ativista se manifesta por meio de diferentescondutas, que incluem: (i) a aplicação direta daConstituição a situações não expressamente contempladasem seu texto e independentemente de manifestação dolegislador ordinário; (ii) a declaração deinconstitucionalidade de atos normativos emanados dolegislador, com base em critérios menos rígidos que osde patente e ostensiva violação da Constituição; (iii) aimposição de condutas ou de abstenções ao Poder Público,notadamente em matéria de políticas públicas. (BARROSO,2008).
Para o doutrinador quando não se há regras sobre
respectivos assuntos, a exemplo o julgamento que tratou de
anencefalia, o judiciário deve criar uma regra específica que
até o momento não estava prevista. Para ele essa atitude
criativa não desrespeita o Congresso Nacional, pois no momento
em que o Congresso Nacional deliberar sobre o tema, será sua
posição que valerá.
Entende então que quando faltar uma norma que regulamente um
conflito envolvendo direito fundamental, o judiciário deve
atuar.
Diferentemente outra corrente posiciona-se no entendimento
de que o judiciário não pode interferir nas outras esferas
visto que a Constituição Federal Brasileira adotou o Princípio
de Separação dos Poderes. Em sua atividade não se pode admitir
a criação de novos direitos, uma interpretação criativa do
texto constitucional. O que levaria a um abalo ao Estado
Democrático de Direito. Compartilha desse posicionamento o
doutrinador Ronal Dwuorkin, para ele os juízes mesmo ao
decidir casos difíceis, o fazem com estrito respeito às regras
democráticas e à existência de uma Constituição escrita. Para
33
ele, os juízes devem interpretar o direito como um todo nos
casos difíceis, respeitando a legislação existente.
Dworkin 2002, afirma que "o juiz continua tendo o dever,
mesmo nos casos difíceis, de descobrir quais são os direitos
das partes, e não de inventar novos direitos retroativamente”.
Compreende o autor que o limite para o ativismo judicial esta
na lei, e sobre a interpretação da mesma deve surgir as
decisões de nossos magistrados.
Nesse sentido,
O ativismo é uma forma virulenta de pragmatismojurídico. Um juiz ativista ignoraria o texto daConstituição, a história de sua promulgação, as decisõesanteriores da Suprema Corte que buscaram interpretá-la eas duradouras tradições de nossa cultura política. Oativista ignoraria tudo isso para impor a outros poderesdo Estado seu próprio ponto de vista sobre o que ajustiça exige. O direito como integridade condena oativismo e qualquer prática de jurisdição constitucionalque lhe esteja próxima. (DWORKIN, 2007, p. 451-452).
Para essa posição mais extremista, o ativismo apresenta-se
como uma ameaça a Constituição e ao princípio da separação dos
poderes explicito na Carta Magna. Com uma visão mais
positivista, para essa corrente a prática do ativismo judicial
é um abalo a segurança jurídica.
Um pouco diverso de Ronald Dwuorkin, Lenio Streck
movimenta as reflexões acerca do ativismo judicial no Brasil.
Com argumentos fortes, revela que o julgador não deve
extrapolar seus limites. As decisões dos tribunais não podem e
não deve estar pautada na vontade e na subjetividade do
julgador, a Lei limita essa subjetividade possibilitando uma
34
maior segurança nas decisões. Segundo Lenio Streck os limites
para essa subjetividade é a própria Constituição.
Na verdade, a intensidade da judicialização dapolítica (ou de outras dimensões das relações sociais)é a contradição secundária do problema. A grandequestão não é o “quanto de judicialização”, mas “comoas questões judicializadas” devem ser decididas. Aquiestá o busílis. Este é o tipo de controle que deve serexercido. A Constituição é o alfa e o ômega da ordemjurídica. Ela oferece os marcos que devem pautar asdecisões da comunidade política. (STRECK, 2013).
Como afirma o autor, é na constituição que se apresenta os
limites dessa chamada atividade criativa do judiciário.
Esse entendimento traz um alerta à necessidade de uma reflexão
crítica sobre a prática indiscriminada do ativismo judicial.
Já se tornou comum notícias sobre decisões polêmicas e até
mesmo de difícil entendimento a luz da Constituição de 1988.
No livro “O que é isto- decido conforme a minha
consciência?” de Lenio Streck, pode se perceber uma profunda
crítica ao subjetivismo das decisões dos tribunais, que ao
pronunciar o voto, por vezes se encontram expressões do
gênero: (…) Decido, porém, conforme a minha consciência,… (…)
Não me importam o que pensam os doutrinadores…
Ainda tem aquele voto que decide pela maioria não
demonstrando sua convicção legal e nem mesmo subjetiva. Para o
autor, não se pode admitir um julgamento que seja baseado no
direito que o julgador quer que seja.
Sendo assim é de suma importância a observação da
jurisprudência. Ao analisar a Ação Penal nº 2013.01.1.076604-
6, do Distrito Federal, (Anexo 1), a qual repercutiu em todas
35
as redes de comunicação, causando grande polêmica na sociedade
e meio jurídico. Sendo a mesma se tratar da absolvição de um
homem que tentou entrar na Papuda com 51 trouxinhas da de
maconha. Nessa específica decisão, depara-se com uma situação
onde o magistrado transpareceu suas convicções subjetivas a
respeito do caso. Merece registrar parte do fundamento da
sentença:
[…] A conduta praticada pelo acusado, com efeito,parece se adequar àquela descrita no art. 33, caput,cc art. 40, da lei 11343/06.Contudo, no meu entender, há inconstitucionalidade eilegalidade nos atos administrativos que tratam damatéria. […]
Em consequência disso, a decisão do juiz foi amplamente
questionada na mídia e pelo Ministério Público, expondo as
convicções do magistrado a despeito do caso em concreto.
Outro fato que auxilia a exemplificar essa tendência do
judiciário, em decidir conforme sua convicção, é a decisão de
um Recurso de Revista n° TST-PR-258600-03.2007.5.09.0004,
(Anexo 2). O fato que surpreende na tal decisão é que no mesmo
foi reduzido o valor de dano moral, ainda que o recurso não
tenha sido conhecido.
[…] Recurso de revista de que não se conhece. DANOMORAL. INSPEÇÃO COM DETECTOR DE METAIS. VALOR DAINDENIZAÇÃO Entende esta Corte Superior que a merarevista de bolsas e sacolas dos empregados, de formaimpessoal e sem toques, não configura dano moralpassível de indenização. […][…] Assim sendo, ante os termos do art. 5.º, V, daConstituição Federal, e reconhecendo-se adesproporcionalidade da indenização em face dos fatoscomprovados, é cabível sua redução de R$ 25.000,00(vinte e cinco mil reais) para R$ 1.000,00 (mil
36
reais). Recurso de revista de que se conhece e a quese dá provimento. […]
O caso em comento já foi matéria de grande reflexão de
Streck (2013) em sua coluna Senso Comum. Segundo ele, ficou
incompreensível a aplicação do Artigo Constitucional com o
caso em questão. Para ele esse é um exemplo claro de ativismo
judicial, e ainda complementa.
Decidir não é o mesmo que escolher. O ato de decidirpossui responsabilidade política diante da comunidade.Cada decisão — que não pode depender do solipsimo dointérprete ou do colegiado — tem efeitos colaterais.Se for mantida a nova “doutrina” estabelecida pela 6ªTurma do TST, todos os cidadãos da República poderãoinvocar uma espécie de “juízo de equity” dos tempos emque isso ocorria na Inglaterra com o Lord Chancellor.O TST e os demais Tribunais passariam a dar equitableremedies ad misericordium (ou non misericordiam) — se meentendem a ironia. O Lord Chancellor era a instânciaúltima, “resolvendo” as pendengas a partir da equity...Só que aqui não há Lord Chancellor. E nem mais lá.Isso já passou. Os ingleses evoluíram! (STRECK, 2014).
Como o exposto, admitir essa postura dos tribunais, será
um retrocesso e um verdadeiro desrespeito ao Estado
Democrático de Direito consagrado pela Constituição Federal.
Ainda a exemplo jurisprudencial, se faz necessário abarcar
mais uma polêmica decisão, no memento se faz referência a uma
decisão do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia, autos de
número 394-61.2012.6.05.0091. Sentença de 2014, (Anexo 3), na
qual, a juíza em sua argumentação, não exitou em colocar a sua
opinião pessoal, extraída de sua subjetividade de apreciação
pessoal dos fatos. Vejamos:
37
[…] Cumpre ressaltar a dicção do art. 23 da LeiComplementar nº 64/1990, que autoriza o julgador aformar sua convicção “pela livre apreciação dos fatospúblicos e notórios, dos indícios e presunções e provaproduzida, atentando para circunstâncias ou fatos,ainda que não indicados ou alegados pelas partes, masque preservem o interesse público de lisuraeleitoral.”Em sintonia com este comando legal, saliento que estajulgadora estava diuturnamente presente na Comarca e,acompanhou de perto todo o pleito eleitoral de 2012,presenciando a dificuldade dos investigantes, paracomprovar os ilícitos praticados pelos investigados,durante todo o período eleitoral, demonstrado com apropositura de várias ações cautelares.[…]
O fato da magistrada ter argumentado com suas convicções
se torna uma afronta a democracia, inclusive o referido Artigo
23 da Lei Complementar nº 64/1990, sofre questionamento na
doutrina pela ampla liberdade na decisão do magistrado.
Afirma Streck (2014) que decisão judicial é algo muito
importante para ficar ao sabor de indícios e presunções. Numa
democracia, poder público é poder fiscalizado e controlado. Do
início ao fim. Não deve importar a convicção íntima do juiz,
mas sim o que o direito como um todo apresenta como resposta
para um determinado contexto probatório.
Numa Nação em que os direitos nascem do princípio
democrático, não é possível admitir um julgamento por
presunções, o que deveras afronta os direitos do cidadão de
ter um julgamento conforme a lei, carregando consigo outros
direitos conquistados.
A cidadania é uma conquista a medida que a exclusãosocial não seja uma regra, e que todos tenham direitoa vida, é um processo de emancipação do individuo , o
38
qual é integrado e passa a ser parte da comunidade doiguais. Essa condição não é um dado pronto, mas umcontínuo desafio ao status quo. A conquista do espaçopúblico não é uma coisa de momento, mas uma lutacontinua. (SARRETA, p. 201, 2007).
Em uma democracia conquistada pelo clamor da sociedade,
deve-se respeitar a cidadania, devolvendo a sociedade uma
resposta clara do judiciário e rígida através do poder
constituinte. Não obstante o poder público é um poder
fiscalizado e controlado, não se valendo então da livre
convicção do juiz, mas sim o que o direito como um todo
apresenta como resposta para um determinado contexto
probatório. Isso seria apenas respeitar a cidadania e
prevalecer à democracia.
Em suma, direito não pode e não deve ser aquilo que o
julgador quer que seja, as decisões não podem estar pautadas
na consciência, ela deve estar moldada na lei, respaldada
pelas provas e orientada pela doutrina. Uma decisão com
respaldo legal é direito de todos aqueles que vivem no Estado
Democrático de Direito, ou ao menos deveria ser.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A interpretação constitucional, na sociedade atual, é uma
necessidade. Com a mudança nas relações, paradigmas e a
evolução da ciência, o que se busca no texto do constituinte é
a solução para os casos mesmo para aqueles até então não
previstos, ou ainda aqueles com conflitos de direitos. Porém
se faz necessário, critérios para essas decisões ao ponto de
39
não se criar uma nova legislação a partir das decisões, papel
precípuo do legislativo e não do judiciário.
Diante dessa dinâmica muito se tem falado em princípios
constitucionais os quais vêm sendo de grande uso nas decisões
judiais.
Os princípios trazem uma nova leitura da situação fática
ampliando a cobertura do direito antes enrijecido na norma.
A constituição brasileira adotou o princípio da Separação
dos Poderes, o qual surgiu a partir da teoria de Freios e
Contrapesos de Montesquieu. Diante disso, na vigência da Carta
Magna se tem os poderes divididos em Poder Executivo, Poder
Legislativo e Poder Judiciário, trabalhando de forma
independente e harmônica.
No entanto vale ressaltar que, em razão das demandas
sociais, aquela rigidez de separação dos poderes descrita por
Montesquieu, não vigora de toda sua essência, a doutrina hoje
usa o termo de colaboração dos poderes.
Para atingir as demandas sociais por vezes o judiciário
assume o papel do legislativo e executivo, incorrendo em uma
atividade mais ampla do aquela precipuamente descrita pelo
constituinte.
Nesse diapasão se instaura o movimento do Ativismo
Judicial, movimento que surgiu nos Estados Unidos na atuação
proativa da Suprema Corte em casos de conflitos de direitos
até antão não normatizados. Logo após produziu jurisprudência
progressista em matéria de direitos fundamentais, sobretudo
envolvendo negros, mulheres, assim como no tocante ao direito
de privacidade e de interrupção da gestação.
40
No Brasil o Ativismo Judicial ganha força diante das
necessidades sociais carentes de uma legislação. É comum em
casos que ainda não há uma legislação abordando determinado
tema, e que em razão de uma celeuma chegue até o Supremo
Tribunal de Justiça para então se buscar uma solução, como no
caso recente da descriminalização do aborte de anencéfalos.
No entanto ainda paira sobre a doutrina a discussão entre
Ativismo Judicial e Judicialização, ainda que muitos os
tratem-nas como sinônimos, cabe aqui, evidenciar a diferença
entre os dois movimentos. O primeiro liga-se a um desejo do
órgão judicante com relação à possibilidade de alteração dos
contextos político-sociais, sendo conservador ou progressista.
No final, o resultado é o mesmo, ou seja, o Judiciário agindo
por motivos de convicção e crença pessoal do magistrado, e não
em face da moralidade instituidora da comunidade política.
Já a Judicialização é um fenômeno que independe da vontade
do Poder Judiciário, está diretamente envolvida por uma
transformação cultural profunda pela qual passaram os países
que se organizam politicamente em torno do regime democrático
como o Brasil.
Nesse sentido então, percebe-se que o Ativismo Judicial
não é fato, mas sim atitude. Acontece quando há um déficit de
outros Poderes e o Judiciário aplica princípios a situações
não previstas em leis.
O Ativismo Judicial como já dito, é um movimento que está
presente na atividade jurisdicional do país, o que demonstra a
postura de muitos magistrados.
41
Já tornou comum a denominação, papel criativo do
judiciário, onde o julgador se vale de princípios e até mesmo
de suas próprias convicções para decidir.
No entanto a doutrina é unanime na necessidade de limites
ao Ativismo Judicial.
Para alguns o julgador frente ao caso concreto pode se
valer de princípios como os Princípios da Proporcionalidade e
Razoabildiade em busca da garantia aos direitos do cidadão,
porém há quem defenda o uso dos princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade como instrumentos de
manipulação do subjetivismo individualista, passando por cima
das posições fixadas pela lei, no desejo de se fazer justiça
com os próprios conceitos de justiça. Para muitos até mesmo
esse desejo de fazer justiça é entendido como desejo de ser o
dono da justiça.
Nesse contexto encontra-se a criação jurisdicional de
novos direitos, onde o magistrado ao interpretar a lei ao caso
concreto, ou ainda se não houver lei sobre aquele determinado
tema, busca soluções nos princípios.
Ainda que se fizesse necessária essa atuação do magistrado
diante do caso concreto num conflito de direitos, a mesma se
deve acontecer com cuidados e pautadas na Constituição,
preservando a imparcialidade do julgador.
Nesse mesmo entendimento, é inaceitável que o julgador
extrapole a norma legal ou decida conforma sua convicção, isso
abala a construção do ordenamento jurídico do país, ensejando
na insegurança jurídica.
Diante das jurisprudências analisadas comprova-se a
prática do Ativismo judicial de forma a justificar as decisões
42
conforme as próprias convicções, o que leva a críticas e esse
movimento no Brasil.
Tal situação ganhou proporção no âmbito jurídico,
intitulado de ativismo judicial à brasileira, dada a conotação
em razão do exagero por parte de sua aplicação no sistema
judiciário brasileiro.
Com o movimento do ativismo judicial e sua influencia no
direito brasileiro, houve o reconhecimento de uma vinculação
entre política e direito. Esta circunstância influenciou
soberanamente na atuação dos juízes propagando ainda mais o
movimento.
Sendo assim quando há a ausência de atuação dos outros
poderes e há uma necessidade de se atender a demanda sobre
especifica matéria, resta ao judiciário se fazer valer de
princípios e da interpretação constitucional para atender
aquelas situações até então não previstas em lei.
A doutrina ainda diverge sobre o tema, sendo o mesmo
enfrentado sobre diversas perspectivas, o que gera certos
questionamentos na compreensão do que venha a ser o ativismo
judicial.
Em meio às dificuldades de se compreender o ativismo
judicial á brasileira, e diferentes opiniões doutrinárias
sobre o tema, o que se compreende é que a atividade
jurisdicional deve-se pautar em limites constitucionais, para
tanto o magistrado deve deixar de lado seu livre
convencimento, muito criticado na doutrina, e se fazer valer
da lei constitucional.
É evidente que há a necessidade de atuação pró ativa do
judiciário para de alcançar o Estado de Direito, mas o mesmo
43
Estado de Direito se faz com segurança jurídica, a qual se
alcança no texto normativo, impedindo de se alegar suas
próprias convicções para decidir. Não se pode permitir numa
decisão judicial a interferência do próprio julgador, isso
seria um verdadeiro retrocesso às conquistas constitucionais.
Contudo, compreende-se que o ativismo judicial deve ser
encarado como algo sério em nos tribunais respeitando os
limites que a própria Constituição traz em seu texto, não se
admitindo o seu uso indiscriminado como uma desculpa para
decidir conforme a consciência do julgador.
REFERÊNCIAS
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BARROSO, Luís Roberto, Disponível em <http://www.oab.org.br/editora/revista/users/revista/1235066670174218181901.pdf > Acesso em 01/03/2014 às 9:49h.
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CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoriada Constituição. 3.ed. (reimpressão). Coimbra: Almedina, 1999.
44
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Álvaro de Oliveira). Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris
Editor, 1993 (reimpressão, 1999).
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Camargo. Revisão técnica Gildo Sá Leitão Rios. 2ª Ed. São
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SARRETA, Cátia Rejane Liczbinski, Meio ambiente e consumosustentável: direitos e deveres do consumidor. Passo fundo:UPF, 2007.
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STRECK, Lenio Luiz, O ativismo judicial existe ou é imaginação de alguns?, Disponível em http://www.conjur.com.br/secoes/colunas/senso-incomum Acesso em 18/03/2014 às 16:15 h.
STRECK, Lenio Luiz, O dia em que o TST conheceu um recurso...de ofício! Disponível em http://www.conjur.com.br/secoes/colunas/senso-incomum Acesso em 18/03/2014 às 17:00 h.
STRECK, Lenio Luiz, Não havia provas, mas a juíza disse: “testemunhei os fatos”! E cassou o réu!
45
Disponível em http://www.conjur.com.br/2014-jul-10/nao-provas-juiza-disse-testemunhei-fatos-cassou-reu Acesso em 18/07/2014 às 16:15 h.
STRECK, Lenio Luiz, O que é isto- Decido conforme a minhaconsciência? 4.ed. rev. Porto Alegre, Livraria do advogadoeditora, 2013.
TASSINARI, Clarissa. Jurisdição e ativismo judicial: limitesde atuação do judiciário/ Clarissa Tassinari. – Porto Alegre:Livraria do Advogado, 2013.
TEIXEIRA, Anderson Vichinkeski Teixeira. Ativismo judicial:nos limites entre racionalidade jurídica e decisão política.Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-24322012000100002 Acesso em 16/06/2014 às 15:00 h.
ANEXO 1
Circunscrição : 1 - BRASILIA
Processo : 2013.01.1.076604-6
Vara : 604 - QUARTA VARA DE ENTORPECENTES DO DISTRITO FEDERAL
Processo : 2013.01.1.076604-6
Classe : Ação Penal - Procedimento Ordinário
Assunto : Tráfico de Drogas e Condutas Afins
Autor : MPDFT MINISTERIO PUBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITORIOS
Réu : MARCUS VINICIUS PEREIRA BORGES
Sentença
Exposição sucinta da acusação (art. 381, II, CPP):
O MPDFT ofereceu denúncia contra MARCUS VINICIUS PEREIRA BORGES e lhe
imputou a prática da conduta descrita no art. 33, caput, cc art. 40, III,
46
todos da lei 11343/06 por, no dia 30/05/2013, por volta de 10:20h, no
complexo penitenciário PDF II, trazer consigo para fins de difusão ilícita
52 porções de maconha com peso de 46,15g.
Em alegações finais, o MPDFT pediu a condenação do acusado, nos termos da
denúncia.
Exposição sucinta da defesa (art. 381. II, CPP):
A defesa, em resposta preliminar, discordou das imputações da acusação e
reservou-se ao direito de manifestar-se sobre o mérito ao final da
instrução.
Em alegações finais, a defesa afirmou que o acusado confessou os fatos, ao
dizer que entrou no estabelecimento penal com as drogas, e pediu a
aplicação da pena no mínimo legal e a substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos diante das condições favoráveis do
acusado.
Fundamentos da sentença:
Estão presentes a materialidade e autoria dos fatos narrados na denúncia.
Analisando os autos da prisão em flagrante, verifico que as testemunhas ELY
DOS SANTOS PINHEIRO NETO e RODRIGO NERES DA SILVA RODRIGUES, ambos agentes
de atividade penitenciária, afirmaram que no dia, hora e local indicados na
denúncia obtiveram denúncia que uma grande quantidade de droga chegaria ao
estabelecimento penal com o objetivo de difusão ilícita.
Diante dessa notícia, os agentes abordaram o acusado MARCUS VINICIUS
PEREIRA BORGES e este, diante da ameaça dos agentes penitenciários de que
seria levado ao IML diante da suspeita de ter drogas dentro de seu corpo,
voluntariamente prontificou-se a expeli-las, por meio de provocação de
vômito.
Os agentes apreenderam a droga, conforme o auto (fls. 17) e encaminharam o
acusado à 30ª DP, onde lá, de acordo com o auto, exerceu seu direito ao
silencio.
Em Juízo, o acusado afirmou que transportava a droga no interior de seu
47
estômago, que pretendia entregá-la a um amigo que se encontrava preso no
estabelecimento penal e que no momento da abordagem provocou o vômito e
expeliu as trouxinhas de maconha, o que confirma os depoimentos e apreensão
constantes do auto de prisão em flagrante.
A testemunha ELY DOS SANTOS PINHEIRO NETO, em juízo, confirmou seu
depoimento prestado perante a autoridade policial.
Por fim, constatou-se que a substância transportada pelo acusado é
conhecida como THC, conforme o laudo definitivo (fls. 102/104).
A conduta praticada pelo acusado, com efeito, parece se adequar àquela
descrita no art. 33, caput, cc art. 40, da lei 11343/06.
Contudo, no meu entender, há inconstitucionalidade e ilegalidade nos atos
administrativos que tratam da matéria.
Com efeito, o art. 33, caput, da lei 11343/06 é classificado pela doutrina
do Direito Penal como norma penal em branco o que, em brevíssima síntese, é
aquela que depende de um complemento normativo, a fim de permitir de forma
mais rápida a regulamentação de determinadas condutas.
No caso, o Ministério da Saúde, por meio da portaria 344/1998, com o
objetivo de complementar a norma do art. 33, caput, da lei 11343/06,
estabeleceu um vastíssimo rol de substâncias sujeitas à controle e, sem
qualquer justificativa constante na referida portaria, na lista F, proibiu,
entre outras, o THC.
O ato administrativo, em especial o discricionário restritivo de direitos,
diante dos direitos e garantias fundamentais e também dos princípios
constitucionais contidos no art. 37 da Constituição da República devem ser
devidamente motivados, sob pena de permitir ao Administrador atuar de forma
arbitrária e de acordo com a sua própria vontade ao invés da vontade da
lei.
A portaria 344/98, indubitavelmente um ato administrativo que restringe
direitos, carece de qualquer motivação por parte do Estado e não justifica
os motivos pelos quais incluem a restrição de uso e comércio de várias
substâncias, em especial algumas contidas na lista F, como o THC, o que, de
plano, demonstra a ilegalidade do ato administrativo.
Sem motivação, tal norma fica incapaz de poder complementar a norma penal
do art. 33, caput, da lei 11343/06.
48
Ademais, ainda que houvesse qualquer justificativa ou motivação expressa do
órgão do qual emanou o ato administrativo restritivo de direitos, a
proibição do consumo de substâncias químicas deve sempre atender aos
direitos fundamentais da igualdade, da liberdade e da dignidade humana.
Soa incoerente o fato de outras substâncias entorpecentes, como o álcool e
o tabaco, serem não só permitidas e vendidas, gerando milhões de lucro para
os empresários dos ramos, mas consumidas e adoradas pela população, o que
demonstra também que a proibição de outras
substâncias entorpecentes recreativas, como o THC, são fruto de uma cultura
atrasada e de política equivocada e violam o princípio da igualdade,
restringindo o direito de uma grande parte da população de utilizar outras
substâncias.
O THC é reconhecido por vários outros países como substância entorpecente
de caráter recreativo e medicinal, diante de seu baixo poder nocivo e
viciante e ainda de seu poder medicinal para a saúde do usuário, sem
mencionar que em outros o seu uso é reconhecido como parte da cultura.
Não é por outro motivo que os estados americanos da Califórnia, Washington
e Colorado e os Países Baixos, dentre vários outros, permitem não só o uso
recreativo e medicinal da droga como também a sua venda, devidamente
regulamentada, e outros países permitem somente o uso, como Espanha, dentre
outros, e o Uruguay está praticamente a ponto de, a exemplo desses outros
entes do Direito Internacional, regulamentar a venda e o uso do THC.
Também não se desconhece a opinião pública de escol, em especial de ex-
presidente da República, a qual demonstra a falência da política repressiva
do tráfico e ainda a total discrepância na proibição de substâncias
entorpecentes notoriamente reconhecida como recreativas e de baixo poder
nocivo.
Portanto, no meu entender, a portaria 344/98, ao restringir a proibição do
THC não só é ilegal, por carecer de motivação expressa, como também é
inconstituicional, por violar o princípio da igualdade, da liberdade e da
dignidade humana.
Diante de todo o exposto, ABSOLVO MARCUS VINICIUS PEREIRA BORGES, nos
termos do art. 386, III, CPP.
Sem custas.
49
Em que pesem os fundamentos acima, diante da inexistência da regulamentação
da venda da substância, determino a sua destruição.
Expeça-se o alvará de soltura.
Intimem-se.
Brasília - DF, quarta-feira, 09/10/2013 às 17h.
Frederico Ernesto Cardoso Maciel
Juiz de Direito Substituto
ANEXO 2
Acórdão Inteiro Teor nº RR-258600-03.2007.5.09.0004 de 6ª Turma,12 de Fevereiro de 2014Magistrado Responsável: No âmbito da Suprema Corte, ajurisprudência esteve oscilante, até o julgamento do ProcessoRE-565714-SP, RelatoraActor: VALDIR RODRIGUES DA SILVADemandado: WMS SUPERMERCADOS DO BRASIL LTDA. e RecorridoVALDIR RODRIGUES DA SILVA.Data da Resolução: 12 de Fevereiro de 2014Emissor: 6ª Turma
RECURSO DE REVISTA. RECLAMADA. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE.
BASE DE CÁLCULO. É inconstitucional lei ou ato normativo do
Poder Público que adote o salário-mínimo como base de cálculo
do adicional de insalubridade, nos termos da Súmula Vinculante
nº. 4 do STF. Porém, em conformidade com entendimento do STF,
seguido por esta Corte Superior, diante da impossibilidade de
fixação de qualquer outra base de cálculo pela via judicial,
já que matéria reservada a disposição de lei ou ajuste
coletivo, determina-se que a parcela seja calculada conforme
base de cálculo já adotada no âmbito da empresa, qual seja, o
50
salário mínimo. Recurso de revista de que se conhece e a que
se dá provimento. HORAS EXTRAS. CARGO DE CONFIANÇA. Os
elementos de prova consignados pelo TRT, que transcreveu os
depoimentos das partes, bem como das testemunhas, corroboram a
conclusão daquela Corte, de que o reclamante não se enquadrava
no disposto no art. 62, II, da CLT, pois, não obstante o
exercício de cargo de chefia, subordinava-se a horários e
revistas como os demais funcionários, além de ter poder de
decisão limitado por seus superiores. Decisão contrária
demandaria novo exame das provas, o que é vedado pela Súmula
n.º 126 do TST. Recurso de revista de que não se conhece.
HORAS EXTRAS. MINUTOS. TROCA DE UNIFORME. A troca de uniforme,
quando exigida pela atividade econômica desempenhada pelo
empregador, é tempo à sua disposição, devendo ser computado na
jornada de trabalho, conforme jurisprudência desta Corte
Superior. Recurso de revista de que não se conhece. DANO
MORAL. INSPEÇÃO COM DETECTOR DE METAIS 1. Os paradigmas
cotejados são inespecíficos, nos termos da Súmula n.º 296 do
TST, porque não analisam a questão relativa à ocorrência de
dano moral pela inspeção mediante detector de metais. 2. O TRT
não decidiu a questão com amparo na distribuição do ônus da
prova, mas baseando-se na análise da prova produzida, motivo
pelo qual não há como reconhecer violação do art. 818 da CLT.
Ademais, conforme entendimento desta Corte, o que deve ser
provado são os fatos que ensejam o dano moral e, não, a dor
moral sofrida, pois tal prova não é possível. 3. O art. 2.º da
CLT estabelece o poder diretivo do empregador, mas não dispõe
especificamente sobre a questão em debate nos autos, sobre o
possível dano moral causado por revistas diárias nos
51
empregados mediante detector de metais, motivo pelo qual não
há como reconhecer ofensa a seus termos. 4. Recurso de revista
de que não se conhece. DANO MORAL. INSPEÇÃO COM DETECTOR DE
METAIS. VALOR DA INDENIZAÇÃO Entende esta Corte Superior que a
mera revista de bolsas e sacolas dos empregados, de forma
impessoal e sem toques, não configura dano moral passível de
indenização. No caso dos autos, ocorria apenas a inspeção dos
trabalhadores com detector de metais, de forma uniforme e
impessoal, sem toques no corpo do revistado. A indenização, no
caso dos autos, somente não foi excluída da condenação porque
o recurso de revista, no particular, não preencheu os
pressupostos de admissibilidade estabelecidos no art. 896 da
CLT. Assim sendo, ante os termos do art. 5.º, V, da
Constituição Federal, e reconhecendo-se a desproporcionalidade
da indenização em face dos fatos comprovados, é cabível sua
redução de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) para R$
1.000,00 (mil reais). Recurso de revista de que se conhece e a
que se dá provimento.
ANEXO 3
091ª Zona Eleitoral - MACARANI
Sentenças
Autos nº 396-31.2012.6.05.0091 e nº 394-61.2012.6.05.0091
Autos nº 396-31.2012.6.05.0091 - Ação de Investigação Judicial
Eleitoral
52
Investigante: Coligação “O Povo em Liberdade”
Advogados: Bel. Siro Jardim OAB/Ba 31030; Bel. Fernando G.
Campinho OAB/BA 15.656; Bel. Magno Israel Miranda Silva AB/BA
26115
Investigados: Coligação“Trabalho e Experiência”, Jesulino de
Souza Porto e Nemésio Meira Júnior.
Advogado: Bel. Juracy Silva Varges, OAB/BA 29544
Município: Maiquinique/Ba.
Autos nº 394-61.2012.6.05.0091 - Ação de Investigação Judicial
Eleitoral
Investigante: Maria Aparecida Lacerda e Adelson Martins
Marques.
Advogados: Bela. Byanca K. Rodrigues Santos, OAB/BA Nº 29.257;
Bel. Marlon Nogueira Flick, OAB/BA 28.238,; Bel. Alberto de
Sousa Silva OAB/BA n.º 23.967e; Bel. Juarez Gomes Teixeira
OAB/BA n.º 21.934e; Bela. Clarinda Soares Andrade OAB/BA
30417; Bela. Mabia Ferraz Bahia, OAB/BA 31863; Bela. Aline
Correia Santos.
Investigado: Jesulino de Souza Porto e Nemésio Meira Júnior
Advogado: Bel. Juracy Silva Varges, OAB/BA 29544
Município: Maiquinique/Ba.
SENTENÇA
A COLIGAÇÃO “O POVO EM LIBERDADE” propôs Ação de Investigação
Judicial, autos nº 396-31.2012.6.05.0091, em face da COLIGAÇÃO
“TRABALHO E EXPERIÊNCIA” e, os candidatos à reeleição ao cargo
de Prefeito e Vice Prefeito de Maiquinique, JESULINO DE SOUZA
PORTO e NEMÉSIO MEIRA JÚNIOR. Relata a vestibular, a pratica
53
de vários ilícitos eleitorais consubstanciados nas condutas
vedadas de veiculação de propaganda institucional no período
eleitoral, utilização de bens móveis e imóveis e servidores
municipais em prol da candidatura dos investigados,
inauguração de obras públicas e a captação ilícita de sufrágio
configurada na distribuição de materiais de construção,
distribuição de cervejas e camisetas em comícios, e pagamento
de aluguel, a eleitores. Instruem a exordial com exemplar da
propaganda, documentos e uma mídia contendo vários fotografias
e filmagens.
Nos autos em apenso, nº 394-61.2012.6.05.0091, MARIA APARECIDA
LACERDA CAMPOS e ADELSON MARTINS MARQUES, candidatos ao cargo
de Prefeito e Vice-Prefeito Municipal pela Coligação
investigante na retromencionada AIJE, propuseram outra Ação de
Investigação Judicial, em face do atual Prefeito à época,
JESULINO DE SOUZA PORTO, posteriormente aditada para se
colocar no polo passivo o vice-Prefeito, litisconsorte passivo
necessário, NEMÉSIO MEIRA JÚNIOR. Narra a exordial, um dos
ilícitos eleitorais apontados na primeira AIJE,
consubstanciado no pagamento de aluguel à eleitora.
Regularmente notificados, os investigados apresentam sua
defesa conjunta, na primeira AIJE mencionada, suscitando a
preliminar de litispendência entre as duas retromencionadas
AIJE's, no que tange à captação ilícita de sufrágio
consubstanciada no pagamento de aluguel a eleitora e a
incompatibilidade dos ritos utilizados.
No mérito rebatem os ilícitos alegados, com as razões expostas
de fls. 56 a 77, nos autos nº 396-31.2012.6.05.0091, e nas
54
fls. 24 a 144, dos autos nº 394-61.2012.6.05.0091, contestação
que veio instruída com vários documentos, para elucidar que o
pagamento do aluguel realizado a eleitora foi feito de acordo
com a legislação e programa social do município de
Maiquinique. Nas duas defesas, os investigados asseveram não
ter ficado comprovado o abuso de poder político, econômico ou
a captação ilícita de sufrágio.
Despacho saneador proferido às fls. 84/85, afasta a alegação
de litispendência entre as duas supracitadas AIJE's, aduzindo
que mesmo que a causa de pedir e pedido da segunda ação esteja
contido na primeira ação, as partes são diferentes, o que
implica em conexão e, não em litispendência, devendo as ações
serem instruídas concomitantemente. Neste mesmo despacho, foi
afastada a nulidade aduzida de incompatibilidade de ritos, por
ser o rito da AIJE, o adotado, o rito mais adequado e
abrangente, por proporcionar melhor defesa aos investigados,
haja vista que os ilícitos eleitorais aduzidos na exordial se
submetem a ritos diversos. A audiência una de instrução foi
realizada em 03.12.2012, onde foram inquiridas quatro
testemunhas dos investigantes, sendo uma ouvida delas ouvida
em termos de declaração, visto ter trabalhado na campanha dos
investigantes. Os investigantes e os investigados desistem da
oitiva das demais testemunhas arroladas.
As partes requereram diligências e, a investigante a oitiva de
duas testemunhas referidas. Após várias remarcações, todas
devidamente justificadas, foram ouvidas as testemunhas
referidas em 26.07.2013, na presença dos investigantes e seu
advogado, ausente os investigados e seus advogados, apesar de
regularmente intimados. Cumpre ressaltar que, na audiência
55
anterior, no dia 27.06.2013, os investigados e seus advogados
também não haviam comparecido e, como uma das testemunhas
justificasse, com atestado médico, seu não comparecimento, a
audiência foi remarcada para o dia 26.07.2013, quando então,
os investigados intimados pelo DJE, como se verifica da
certidão da serventia às fls. 144, novamente não compareceram.
Nesta assentada visando dar prosseguimento ao feito, devido à
desídia dos investigados e advogados, foi designado advogado
para o ato e, finalizada a fase das diligências.
A investigante, em seu parecer final, de fls. 156/168, reitera
os pedidos da inicial, pugnando pela procedência da AIJE, haja
visto ter ficado comprovado os ilícitos eleitorais.
Os investigados requerem a improcedência da ação, afirmando
que as condutas vedadas e, a captação ilícita de sufrágio para
serem reconhecidas tem que ter a força ou potencialidade de
desestabilizar o pleito, o que não ocorreu no caso em
hipótese, uma vez que os candidatos da investigante venceram
as eleições.
O Ministério Público Eleitoral manifesta pela procedência do
pedido, por ter restado comprovado a pratica dos ilícitos
eleitorais descritos na exordial.
Relatados, passo a fundamentar e a decidir.
As preliminares aduzidas na defesa foram afastadas no momento
oportuno, ou seja, no despacho saneador, proferido às fls. 84
e 85. Verifico a ausência de nulidades ou vícios no
processamento do feito, tendo sido oportunizado às partes a
ampla defesa e o contraditório. Presentes os pressupostos
processuais e as condições da ação.
56
Adentro ao mérito.
Cumpre anotar que, por se tratar de direito público e portanto
indisponível, ao magistrado eleitoral incumbe a árdua tarefa
de trilhar os caminhos da Carta Magna e da legislação
infraconstitucional, sopesando as situações de conflito
geradas quando se confrontam, no caso em concreto, a soberania
do voto, pilar do regime democrático representativo, e a
lisura do pleito eleitoral.
Cabe à Justiça Eleitoral e ao Ministério Público Eleitoral,
cujos interesses são suprapartidários e sintonizados com a
necessidade de se produzir um resultado legítimo nas eleições,
em homenagem ao Princípio Democrático, adotar as medidas
necessárias para toda a forma de “abuso” praticado pelos
candidatos.
conter
No caso em epígrafe, restou comprovado, com as filmagens
trazidas aos autos, as provas documentais e testemunhais
produzidas, o abuso político e econômico dos investigados e
candidatos a reeleição que se utilizaram, escancaradamente, da
máquina pública para sua campanha política, em completo
descaso com a legislação eleitoral, como se fossem donos e
proprietários da Prefeitura de Maiquinique, praticando, na
forma como afirmado pelos investigantes, quase todos os
ilícitos eleitorais previstos em lei.
Não importa que os investigados não tenham vencido as
eleições, a gravidade das condutas praticadas é suficiente
para que estas AIJE's sejam julgadas procedentes. Por
oportuno, frise-se que os investigantes, em um total de 5.472
votos válidos, venceram as
57
96 votos.
eleições com uma diferença pequena de
Cumpre ressaltar que, a previsão legal das condutas vedadas,
reguladas na Lei 9.504/97, foi a resposta dada pelo
ordenamento
reelegibilidade para mais
jurídico à introdução pela EC nº 16/97, da
um mandado, para os cargos do Poder Executivo, sem a
necessidade de desincompatibilização. O legislador buscou
garantir, com as vedações impostas, o exercício pleno da
igualdade de oportunidade, entre os candidatos, afastando dos
pleitos eleitorais a influência do abuso do poder econômico e
político, introduzindo, na aludida lei, diversas hipóteses de
utilização indevida deste poder político, com a finalidade de
desequilibrar a disputa eleitoral. Todavia, os investigados,
Prefeito e Vice-Prefeito, em completo descaso com a lei, se
utilizaram de bens públicos e servidores públicos na sua
campanha, doaram bens e serviços da administração pública para
eleitores, com o fito de angariar votos.
Cumpre ressaltar a dicção do art. 23 da Lei Complementar
nº 64/1990, que autoriza o julgador a formar sua convicção
“pela livre apreciação dos fatos públicos e notórios, dos
indícios e presunções e prova produzida, atentando para
circunstâncias ou fatos, ainda que não indicados ou alegados
pelas partes, mas que preservem o interesse público de lisura
eleitoral.”
Em sintonia com este comando legal, saliento que esta
julgadora estava diuturnamente presente na Comarca e,
58
acompanhou de perto todo o pleito eleitoral de 2012,
presenciando a dificuldade dos investigantes, para comprovar
os ilícitos praticados pelos investigados, durante todo o
período eleitoral, demonstrado com a propositura de várias
ações cautelares.
Saliente-se, por oportuno que, o teor do depoimento do
declarante JARDEL SILVEIRA SANTOS DA LUZ, que não foi
compromissado apenas pelo fato dele ter trabalhado na por esta
magistrada,
campanha dos investigantes, realizando as filmagens da mídia
que instrui a exordial, está em consonância com as demais
provas produzidas.
Nesta ótica, passo a explicitar, passo a passo, a convicção
desta magistrada que foi formada pelo conjunto probatório
produzido e carreado aos autos, pelas partes.
CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO CONSUBSTANCIADA NA DOAÇÃO DE
MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO, ALUGUEL E CERVEJAS AOS ELEITORES.
Para a caracterização da captação ilícita de sufrágio e, a
intervenção incisiva da Justiça Eleitoral, nos moldes do
disciplinado no artigo 41-A da Lei 9.504/1997, há que restarem
cabalmente demonstrados os fatos que sustentam o pedido do
investigante.
Neste sentido, os ensinamentos de Edson de Resende Castro e
julgado do Tribunal Superior Eleitoral:
“Observa-se que o foco da preocupação da lei agora é outro: a
liberdade do eleitor e não mais a lisura do pleito como um
todo. Por conseguinte, para efeito da aplicação das sanções
previstas no art.
59
não será
41-A (multa ou cassação do registro ou diploma),
necessária a demonstração de que o agente deu, ofereceu,
prometeu ou entregou a um número expressivo de eleitores bem
ou vantagem pessoal de qualquer natureza. Na verdade, bastará
a prova de que um único eleitor foi corrompido para que se
tenha caracterizado a violação do art. 41-A...” (grifei)
“Para a configuração do ilícito do art. 41-A da Lei 9.504/97,
acrescentado pela Lei 9.840/99, não é necessária a aferição da
potencialidade de o fato desequilibrar a disputa eleitoral.”
(Ac. n. 21.264, de 27/04/2004, Min. Carlos Velloso.
Precedentes TSE: Ac. n. 21.312, de 02/12/2003; RO n. 787/DF,
de 13/12/2005.) (grifei)
Frise-se que, configura-se a captação ilícita de sufrágio,
quando o candidato doa, oferece, promete ou entrega qualquer
espécie de vantagem ao eleitor, sendo desnecessário o pedido
expresso de votos, porque a norma supracitada apenas exige o
especial fim de agir, ou seja, a finalidade de afetar a
liberdade do eleitor. Sob este enfoque é que será analisado o
conjunto probatório carreado e produzido nos autos.
A testemunha referida, CELI FERRAZ DE SOUZA, em seu depoimento
de fls. 147/148, empregado da empresa Brollios, terceirizada,
que prestava serviço ao Município de Maiquinique, confirma
que, por mais de cem vezes entregou, nas casas dos munícipes,
areia e barro para construção, utilizando dos veículos da
empresa terceirizada, a mando do Prefeito Municipal. Esclarece
que este número não se refere apenas ao período eleitoral e
sim aos quatro anos de gestão dos investigados. De fato,
60
verifica-se no DVD acostado às fls. 49 dos autos, na faixa 23,
nitidamente, a caçamba descrita pela testemunha descarregando
areia em casa de eleitor.
continuaram a ser concedidos
Ou seja, os benefícios aos eleitores
no período eleitoral, violando a isonomia entre os candidatos.
Neste contexto, o declarante JARDEL SILVEIRA SANTOS DA LUZ
(fls. 94/97), relata que, inúmeras vezes visualizou, pois
morava próximo ao depósito de materiais de construção da
Prefeitura, e ainda costumava seguir os veículos municipais,
quando desconfiava
a
que os materiais transportados seriam doados aos eleitores,
entrega de sacos de cimento, “areia de levante” e areia do rio
a particulares. Especifica que a “areia de levante” era
entregue pela caçamba e, a areia do rio pelo trator, o que se
coaduna com a filmagem supracitada e com o depoimento de CELI.
Relata JARDEL que, inicialmente não foi contratado para
proceder às filmagens, mas que como ficasse indignado por
presenciar constantemente a entrega dos material de
construção, tanto no depósito, quanto na casa dos eleitores,
feita pela caçamba da Prefeitura ou pelo trator, começou a
tentar filmar a pratica destes ilícitos. Afirma que procurou a
candidata da investigante e esta disse que não tinha nada com
isto e, foi quando então o declarante entregou a mídia para o
advogado da mesma.
Narra JARDEL, que iniciou as filmagens em agosto de 2012, pois
residia próximo ao depósito de material de construção da
61
Prefeitura, na Praça William Valadão. Relata que a pessoa de
CLÁUDIO ADÃO era o servidor municipal responsável por este
depósito. Assevera que os sacos de cimento eram entregues por
CLÁUDIO ADÃO ou
presenciou várias
por MARCOS, sobrinho do investigado. Aduz que,
doações a eleitores, mas que não era fácil registrá-las pois,
assim que visualizava que iria acontecer a doação, pois não
ficava o dia todo à disposição destas filmagens, corria para
sua casa para pegar a máquina e que, quando retornava, o
eleitor já havia saído. Assevera que seu celular atual não
possui câmera de filmagem.
Em suas declarações, JARDEL afirma que depois QUE começou a
filmar, os responsáveis, ficaram mais cautelosos, passando a
não doar estes materiais na praça e, quando o trator, puxando
a carretinha, levava os sacos de cimento para local onde
empresa terceirizada estava confeccionando os bloquetes de
cimento para a Prefeitura (fato que ficou sabendo na instrução
desta ação), pode
que apenas chegava na pista do vaqueiro, 80% dos sacos
observar,
de cimento que saíam do depósito, enquanto que os outros 20%
eram entregues na casa dos eleitores.
De fato, em harmonia com estes depoimentos estão as imagens
registradas na mesma mídia, nas faixas 27 e 28, onde constata-
se, na primeira filmagem o trator azul da Prefeitura se
dirigindo para a zona rural, com sua carretinha carregada de
blocos e outros materiais de construção, e o mesmo
62
descarregando estes materiais, em residência de eleitor, como
se verifica na faixa 28. É incontroverso nos autos, que o
trator azul pertence à Prefeitura de Maiquinique. Inclusive,
pode se constatar isto, na propaganda institucional juntada
aos autos, às fls. 47.
Frise-se que, as imagens falam por si só, não havendo outra
interpretação para um veículo da Prefeitura descarregando
materiais de construção em casa particular, no período
eleitoral. Por outro
desconstituir fato impeditivo,
lado, cabia aos investigados
modificativo ou extintivo provado pelos investigantes, o que
não foi feito.
Visualiza-se ainda, na faixa 16, da mídia que instrui os
autos, a doação de caixa com mantimentos à eleitor em Pouso
Alegre, distrito de Maiquinique, na forma como afirmado por
JARDEL, às fls. 96, pessoa que realizou as filmagens. Ao ser
mostrado a ele a filmagem, reconhece o rapaz de camiseta
laranja como servidor público lotado no CRAS e professor de
capoeira, nesta órgão. Por certo, não foi corroborado na
instrução o que estava dentro da caixa, o que seria quase
impossível se o eleitor não delatasse os investigados.
Entretanto, como são servidores públicos em período eleitoral,
fazendo entrega de uma caixa, em casa de eleitor e, os
investigados novamente não desconstituíram esta alegação,
presume-se verdadeira a afirmação de ser cesta básica.
Por outro lado, com relação à doação irregular de
medicamentos, como alegado pelos investigados, não restou
63
comprovado que tais medicamentos eram desviados para pessoas
que deles não necessitavam.
A distribuição de camisetas vermelhas, restou demonstrada
pelas filmagens de faixas 21 e 22, em consonância com o
depoimento da testemunha JONATHAN BLESSA BUENO, às fls. 90/91,
que afirma que foi ZÉ FOLIA, a pessoa que o convidou para
participar da
segurança dos investigados nos comícios, ganhando uma camiseta
vermelha e a quantia de R$ 30,00. Aduz que recebeu a camiseta
vermelha de TIÃO GALÉ, servidor público, mas não recebeu os R$
30,00. Relata que outros amigos dele receberam uma camiseta e
assevera que nenhum deles foi cabo eleitoral na campanha dos
investigados. De fato, observa-se nas aludidas faixas da
filmagem, bem como na de nº 02, que foram distribuídos aos
eleitores não apenas camisetas vermelhas, bem como perucas
vermelhas.
Com relação à doação de cervejas, em que pese a liminar
proferida na ação cautelar de busca e apreensão, autos nº 398-
98.2012.6.05.0091, ter sido sem proveito, não tendo sido
apreendido carne para churrasco ou latas de cerveja, no local
indicados pelos investigantes, como se constata da certidão do
Oficial de Justiça de fls. 25, isto não significa que em
outras oportunidades os investigados não doaram latas de
cervejas nos comícios, conforme vedado na lei eleitoral, e
afirmado na exordial.
Realmente, as filmagens registradas no DVD, que instrui os
autos,
64
em especial nas faixas 19 e 20, apesar de nas faixas
17, 18, 19 e 20,
um pouco escura não impede de se evidenciar, sem sombra de
dúvidas, a entrega das cervejas aos eleitores, em dia de
comício. Não procede as alegações dos investigados de que
estas latas de cerveja estariam sendo vendidas e não doadas.
Inicialmente, JARDEL, corrobora a doação em suas declarações
de fls. 95, quando esclarece que estas latas de cerveja eram
entregues na casa de sua tia ITAMAR, eleitora dos
investigados. Assevera que as latas de cerveja também eram
doadas ao eleitor, por CHARLINHOS, proprietário do mini clube
próximo ao Colégio Nataniel Silveira.
Na faixa 19, visualiza-se um eleitor jovem com várias latas de
cerveja nas mãos. Por outro lado, na faixa 20, cuja filmagem
tem a duração de mais de trinta minutos, foi registrada a
doação das latas de cervejas, próximo ao comício dos
investigados, por mais de vinte minutos, na casa da pessoa
que, presume-se chamar ITAMAR. De fato, pode se verificar que
não se tratou de venda, uma vez que se visualiza, na filmagem,
um grande número de pessoas chegar correndo e sair com várias
latas, umas chamando as outras, restando comprovado, de forma
contundente, a doação de bens a eleitores, na forma como
vedado na legislação eleitoral.
Aduzem ainda os investigantes, a captação ilícita de sufrágio,
consubstanciado no pagamento de aluguel a eleitora, pelos
investigados, através de cheque emitido pelo Prefeito
Municipal, conforme se verifica da cártula, no valor de R$
120,00, juntada com a exordial, às fls. 48.
65
Cumpre ressaltar que em 25.09.2012, os candidatos ao cargo de
Prefeito e Vice Prefeito investigantes propuseram uma AIJE,
autos nº 394-61.2012.6.05.0091, para apuração destes fatos,
sendo contestado, com peça de defesa acostada às fls. 24/39,
instruída com os documentos de fls. 41 a 144, onde os
investigados tentam, exaustivamente, demonstrar que não
ocorreu o ilícito eleitoral, por estar previsto em lei
municipal, a possibilidade de pagamento de auxílio moradia a
munícipes.
Por outro lado, a AIJE nº 396-31.2012.6.05.0091, proposta em
29.09.2012, ação que está sendo analisada nesta oportunidade,
suscitou este mesmo fato e vários outros ilícitos eleitorais.
Os investigados arguiram a litispendência entre estas duas
ações, preliminar que não foi acolhida, porque as partes eram
diferentes, consubstanciando-se a conexão entre as aludidas
ações. Ressaltese que, este ilícito eleitoral será analisado
sob a luz das razões insertas nas peças da defesa formuladas
nas duas AIJE's supracitadas.
Não procede a alegação dos investigados, de que o pagamento
feito a eleitora NILZA ALMEIDA DOS SANTOS, com cheque da
Prefeitura, emitido nominalmente ao locador LUCIANO SOUZA
SILVEIRA, que não chegou a ser descontado, não se configura
ilícito eleitoral, visto que este benefício era regularmente
pago pelo Município, na forma como autorizado pela Lei
Municipal 092/2010, antes do período eleitoral. Ressalta a
defesa, que o § 10, do art. 73 da Lei 9.504/97, não veda a
concessão de benefícios sociais que já estejam em execução
desde o exercício anterior ao pleito eleitoral.
66
Observa-se na Lei Municipal 092/2010, em seu artigo 22, que o
auxílio moradia, apenas poderá ser concedido, como uma ação da
assistência social, em parceria com a Secretaria de Infra
Estrutura municipal, para as famílias de baixa renda que
tenham sofrido
calamidade pública e/ou se encontre em perdas do
imóvel devido à
situação de rua.
No caso em questão, NILVA não se enquadrava em nenhuma destas
hipóteses legais, pois não houve nenhuma calamidade pública na
cidade de Maiquinique e, ela não era moradora de rua.
De fato, a testemunha e proprietário do imóvel alugado a esta
eleitora, LUCIANO SOUZA SILVEIRA, relata em seu depoimento de
fls. 98/99, dos autos nº 396-31.2012.6.05.0091, que possuía
quatro imóveis para aluguel, no Bairro Bela Vista, mas que não
tinha muito contato com seus inquilinos, por não morar na
cidade e, trabalhar como vaqueiro na Fazenda de SEVERINO SOUZA
CUNHA. Afirma que era MANOEL PAIVA, seu amigo, quem cobrava os
alugueis para ele. Relata ainda LUCIANO, que MANOEL recebeu o
cheque emitido pelo investigado, desta locatária, que lhe
disse para descontar o cheque na farmácia do senhor ROBÉRIO e,
não diretamente no banco. Por outro lado, é sabido que não
existe agência do Banco do Brasil em Maiquinique.
Salienta LUCIANO que o senhor ROBÉRIO, proprietário da
referida farmácia disse para MANOEL, quando o mesmo foi
descontar a cártula que, “até ontem ainda estava aceitando
cheque da Prefeitura, mas agora não mais”, não explicando o
motivo. Novamente MANOEL foi na farmácia, agora na companhia
67
de LUCIANO e, não conseguiram descontar o cheque. A cártula
foi devolvida para a locatária e, ela disse que levaria o
cheque para o Prefeito trocar. Afirma o proprietário que a
inquilina pagou o aluguel em espécie, mas não sabe informar se
foi o Prefeito que lhe deu o dinheiro. De outra banda, LUCIANO
afirma que nunca celebrou qualquer contrato escrito com seus
locatários.
Inquirida a testemunha referida, MANOEL PAIVA, às fls. 149,
confirma o quanto relatado por LUCIANO, esclarecendo que a
inquilina se chamava NILVA e que a mesma permaneceu por cerca
de quatro meses no imóvel. Corrobora a afirmação de LUCIANO de
que o cheque de fls. 48, emitido pela Prefeitura Municipal foi
recebido por ele, da locatária, em pagamento do aluguel do
imóvel de LUCIANO. Ratifica o afirmado por LUCIANO de não ter
sido celebrado nenhum contrato com NILVA ou com qualquer outro
locatário dos imóveis.
Estranhamente, nos autos nº 394-61.2012.6.05.0091, os
investigados juntaram, em sua defesa, um contrato firmado
entre LUCIANO e NILVA, às fls. 64/65, que não foi reconhecido
nem por LUCIANO nem por seu amigo MANOEL que administrava os
imóveis de LUCIANO.
Por outro lado, nesta mesma defesa, os investigados juntam uma
grande quantidade de documentos, especificamente, cópias de
processos de pagamentos de benefícios sociais concedidos pela
assistência social, nos anos anteriores da gestão dos
investigados, tentando demonstrar a legalidade do pagamento do
aluguel à eleitora. Primeiramente, como afirmado
anteriormente, NILVA não preenche os requisitos da lei para
68
receber o auxílio moradia, depois não foi trazido aos autos
qualquer documento referente a um processo de pagamento deste
específico aluguel. Na realidade, como fundamentado acima não
havia nem contrato idôneo, muito
Restou demonstrado, de maneira menos processo de
pagamento.
pura e simples, uma doação do candidato à reeleição, à uma
eleitora, com cheque emitido pela Prefeitura Municipal, em
03.09.2012, em pleno período eleitoral, configurando-se
captação ilícita de sufrágio.
CONDUTAS VEDADAS CONSUBSTANCIADAS NA UTILIZAÇÃO DE BENS MÓVEIS
E SERVIDORES MUNICIPAIS EM PROL DA CANDIDATURA DOS
INVESTIGADOS, VEICULAÇÃO DE PROPAGANDA INSTITUCIONAL NO
PERÍODO ELEITORAL E COMPARECIMENTO DOS CANDIDATOS EM
REINAUGURAÇÃO DE OBRA PÚBLICA.
O uso do poder político ou de autoridade desequilibra o jogo
de forças do processo eleitoral, devendo ser firmemente
combatido. No caso em epígrafe, os investigados, candidatos à
reeleição, se utilizaram, escancaradamente, da “máquina
pública”, bens públicos e servidores, para alavancar sua
candidatura, só não conseguindo seu intento por muito pouco,
ou seja, por 96 votos.
De fato, a testemunha ANA GORETE GOMES DA SILVA, técnica em
enfermagem, em seu depoimento de fls. 92/92, ratifica o quanto
aduzido na exordial, na parte em que relata que a servidora
pública ILZETE DE JESUS SOUZA, conhecida como “ZETINHA”, que
presta serviços na área de limpeza do Hospital Municipal de
Maiquinique, durante todo o pleito eleitoral não prestou
69
serviços à Prefeitura, tendo sido substituída por sua irmã,
ELIANA DE JESUS SOUZA, (nome declinado na inicial), enquanto a
mesma era vista habitualmente nas ruas, trabalhando ativamente
na campanha do investigado, com bandeiras e visitando
eleitores. Assevera tal testemunha que ZETINHA também era
auxiliada por seu esposo, pessoa de apelido TOIÇA, também
servidor municipal, na função de gari, que não esteve doente
no período eleitoral e sim, estava trabalhando na campanha do
candidato.
O declarante JARDEL SILVEIRA SANTOS DA LUZ, em seu depoimento
de fls. 95, acrescenta que visualizou MARCOS, CLÁUDIA, VALÉRIA
e ELIZABETE, todos eles servidores públicos, cooptando votos
de eleitores para os investigados, em horário de serviço.
Relata que servidores do Posto de Saúde chegaram a fechar este
local para trabalhar na campanha dos investigados, e nomina
tais servidores como EUTÁLIA e NEUZA. Acrescenta que SEBASTIÃO
MOREIRA ALVES, que conforme descrito na exordial era o
Secretário do Meio Ambiente, foi visto por ele, no horário do
expediente municipal visitando eleitores no Bairro Morumbi.
A testemunha JONATHAN BLESSA BUENO, às fls. 90 relata que
visualizou os servidores públicos municipais Dr. ZÉ ROBERTO e
a esposa do policial MOACIR, trabalhando na campanha dos
investigados na parte da manhã, no horário do expediente
municipal. Ficou demonstrado que o assessor de imprensa
municipal
locutor da campanha dos investigados. Esta GILBERTO
REIS, era o
70
afirmação está confimada pelo folheto Informativo de
Maiquinique, às fls. 47, e pelas declarações de JARDEL, às
fls. 96.
Além dos servidores públicos, os investigados se utilizaram
ainda dos veículos municipais. Os investigantes afirmam na
inicial que, foi utilizado pelos investigados, em sua campanha
política, o caminhão Ford Cargo 2428 Truck, placa policial NYO
7077, veículo pertencente à Associação dos Municípios do Sul,
Extremo Sul e Sudoeste da Bahia, AMURC. De fato, as imagens
registradas nas filmagens dos comícios nas faixas 03, 04, 05 e
06 da mídia anexa, corroboram esta asserção. Enquanto que,
verifica-se ainda na faixa
este mesmo veículo descarregando objetos que parecem ser 06,
parte de um palco de comício. Asseveram os investigantes na
exordial, fato este confirmado pelo depoimento do declarante
JARDEL, às fls. 95 que, tanto este palco, como os equipamentos
de sonorização e material de campanha eram guardados, durante
toda campanha política, no imóvel da Secretaria da Ação
Social.
O descaso com a legislação eleitoral, e o abuso do poder
político foi tanto, durante a campanha política, que os
investigados chegaram a se utilizar da Escola Municipal
Edivaldo Flores para a confecção de suas bandeiras. De fato,
observa-se que os investigantes propuseram uma ação cautelar
de busca e apreensão, autos nº 361-71.2012.6.05.0091, onde
foram apreendidas dentro da referida instituição de ensino,
tecido vermelho e bandeiras vermelhas com o número 55.
71
Neste contexto, as imagens registradas nas faixas 07 e 08 da
mídia, bem como as declarações de JARDEL são ratificadas pelas
bandeiras apreendidas. Relata o declarante, às fls. 96, que
vizinhos, que residiam em frente da referida escola, confirmam
a entrada e saída de várias pessoas com bandeiras e hastes de
bandeiras. Afirma que ficou sabendo que eram FERNANDA,
ELIZABETE e NETE quem confeccionava as bandeiras.
Verifica-se ainda o uso do trator, de cor azul, do Município,
no comício dos investigados, como se observa da filmagem na
mídia, na faixa 02.
O informativo acostado aos autos pelos investigados de fls. 40
a 47, não poderia de forma alguma ter sido veiculado no
período eleitoral, por se tratar de uma excelente propaganda
política para os investigados. Infere-se do quanto apurado,
que este informativo realmente foi publicado antes do período
eleitoral. Todavia, no período eleitoral ele foi novamente
veiculado, como se observa das afirmações de JARDEL, às fls.
96, que teve acesso a ele no salão de GESSINHO, conduta que
afronta o art. 73, VI, b, da Lei das Eleicoes.
Por outro lado, a Lei 9.504/97 em seu art. 77, veda o
comparecimento, em inaugurações públicas, dos candidatos ao
pleito, por se configurar um abuso do poder político dos
mesmos. Os investigados, como se constata das filmagens
registradas na mídia, nas faixas 14 e 15, compareceram, com as
esposas, sem nenhum respeito à legislação eleitoral, à
reinauguração do ginásio esportivo da cidade, Centro Esportivo
Heraldo Rocha, fechado por cerca de oito meses e reaberto com
um torneio de futebol de salão. Relata JARDEL, às fls. 96 que
72
a reinauguração do ginásio foi precedida de grande divulgação
em carros de som, pela ruas da cidade.
Em suma, restou cabalmente comprovado que os investigados se
utilizaram de servidores públicos, para cooptarem eleitores,
no horário de expediente municipal, escolas para
confeccionarem bandeiras, prédios públicos para guardarem seus
materiais de campanha, tratores, caminhões públicos para doar
areia de levante, areia de rio, blocos e cimento a eleitores,
captaram ilicitamente eleitores com a distribuição de
materiais de construção, pagamento de aluguel, cesta básica,
camisetas. Divulgaram informativo publicitário pago pelos
cofres públicos em período eleitoral e compareceram a
inauguração de obra pública.
Ou seja, os investigados, candidatos à reeleição, praticaram
abuso do poder político e econômico, usando da “máquina
pública” para alavancar sua candidatura.
Em processo eleitoral, há um bem jurídico maior que deve ser
tutelado, sempre e sempre, que é a lisura e normalidade das
eleições, que deve ser protegido contra a influência do abuso
do poder. Não há como se negar que o poder econômico e o poder
político influenciam as eleições, pois são fatos inseparáveis
da vida em sociedade, frutos do convívio social e do regime
capitalista por nós adotado. Inobstante, não os possa
proscrever da sociedade atual, pode o direito positivo impor
limites ao seu exercício legítimo, tornando ilícito, e por
isto mesmo abusivo todo abuso de poder econômico ou político
que interfira na liberdade do voto e no resultado legítimo das
eleições.
73
Teço aqui outras considerações, atinentes à Coligação que
figura no polo passivo da ação. O entendimento consolidado na
jurisprudência é de que as coligações e agremiações
partidárias, não figuram como litisconsortes passivos
necessários, nas ações fundadas no art. 41-A da Lei 9.504/97,
a não ser nas hipóteses de pedido de perda de mandato por
infidelidade partidária, ou seja, as sanções cumulativamente
cominadas neste artigo não se aplicam às coligações, pois a
sanção principal aqui é a cassação do registro ou diploma que
não se aplicam às coligações ou agremiações partidárias.
Por outro lado, nos termos do art. 73, § 8º, da Lei
nº 9.504/97, as sanções decorrentes da prática de conduta
vedada são aplicáveis não somente a agentes públicos, mas
alcançam partidos, coligações e candidatos que delas se
beneficiarem.
Na esteira da orientação da atual jurisprudência eleitoral, o
abuso de poder, quando analisado para efeito de
inelegibilidade, por certo terá de assumir proporções que
comprometam a lisura e a normalidade das eleições. Não mais se
fala em nexo de causalidade com o resultado do pleito, pois no
caso em hipótese os investigados, com uma pequena diferença de
96 votos com os investigantes, perderam as eleições. O que
realmente importa é o comprometimento da lisura do processo
eleitoral, pois a conduta abusiva durante a campanha atinge o
bem jurídico maior do Direito Eleitoral, que é a normalidade e
legitimidade das eleições.
Em qualquer de sua modalidade, o abuso de poder denota a
ocorrência de ato ilícito eleitoral, exigindo-se, portanto, a
74
aplicação de uma sanção e a responsabilização tanto dos
promotores quanto dos beneficiários do evento.
Cumpre ressaltar que, no caso em hipótese, pela pratica da
captação ilícita de sufrágio, ocorreu a perda do objeto com
relação à desconstituição do registro dos investigados, não
havendo mandato
mas deve
a ser desconstituído, pois eles não venceram as eleições,
ser-lhes aplicada a multa. Com relação às condutas vedadas
praticadas, cabe também a aplicação de multa aos responsáveis
e aos beneficiários. Saliente-se que as referidas multas serão
aplicadas com fulcro nos Princípios da Razoabilidade e
Proporcionabilidade.
Diferentemente, na análise deste mesmo abuso para a cominação
da sanção da inelegibilidade, que é pena de caráter pessoal,
deve se no mínimo, o conhecimento de ambos os perquirir se
houve,candidatos. No caso em hipótese, dúvidas inexistem, uma
vez que tanto o prefeito, quanto o vice prefeito, foram
candidatos à reeleição. Isso posto, JULGO PROCEDENTE a
Investigação Judicial Eleitoral, nos autos nº 396-
31.2012.6.05.0091 e nº 394-61.2012.6.05.0091 e COMINO a
JESULINO DE SOUZA PORTO, NEMÉSIO MEIRA
cada
JÚNIOR e a COLIGAÇÃO “TRABALHO E EXPERIÊNCIA”, a
um deles a MULTA de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) pela
pratica das condutas vedadas, acrescido do montante de R$
20.000,00 (vinte mil reais) pela pratica de captação ilícita
de sufrágio para JESULINO DE SOUZA PORTO e NEMÉSIO MEIRA
75
JÚNIOR, ao tempo em que DECLARO A INELEGIBILIDADE dos
investigados pelo prazo de 8 (oito) anos, após a confirmação
desta decisão por órgão colegiado ou, no seu trânsito em
julgado, com fulcro no art. 269, I do CPC, c/c art. 41-A c/c
art. 73, incisos I, II e VI, alínea b, c/c § 4º e § 8º, todos
da Lei 9.504/97, c/c art. 1º, I, alíneas h e j da Lei
Complementar nº 64/90, alterada pela Lei
Complementar 135/2010.
Ao Cartório Eleitoral para as devidas providências. Sobrevindo
recurso, por oportuno, observe-se as disposições contidas nos
p arágrafos do art. 267 do Código Eleitoral. Arquivem-se após
o trânsito em julgado.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Ciência ao Ministério
Público Eleitoral.
DOU FORÇA DE MANDADO DE INTIMAÇÃO A ESTA SENTENÇA Macarani, 06
de maio de 2014.
Giselle de Fátima Cunha Guimarães Ribeiro
Juíza da 91ª Zona Eleitoral
ANEXO 4
MANDADO DE INJUNÇÃO. GARANTIA FUNDAMENTAL (CF, ART. 5º, INCISOLXXI). DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS (CF, ART. 37, INCISO VII). EVOLUÇÃO DO TEMA NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS DE COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL PARA APRECIAÇÃO NO ÂMBITO DA JUSTIÇA FEDERAL E DA JUSTIÇA ESTADUAL ATÉ A EDIÇÃO DA LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA PERTINENTE, NOS TERMOS DO ART. 37, VII, DA CF. EM OBSERVÂNCIA AOS DITAMES DA SEGURANÇA JURÍDICA E À EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL NA INTERPRETAÇÃO DA OMISSÃO LEGISLATIVA SOBRE O DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS, FIXAÇÃO DO PRAZO DE 60 (SESSENTA) DIAS PARA QUE O CONGRESSO NACIONAL LEGISLE SOBRE A MATÉRIA. MANDADO DE
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INJUNÇÃO DEFERIDO PARA DETERMINAR A APLICAÇÃO DAS LEIS Nos 7.701/1988 E 7.783/1989. 1. SINAIS DE EVOLUÇÃO DA GARANTIA FUNDAMENTAL DO MANDADO DE INJUNÇÃO NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). 1.1. No julgamento do MI no 107/DF, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 21.9.1990, o Plenário do STF consolidou entendimento que conferiu ao mandado de injunção os elementos operacionais:seguintes i) os direitos constitucionalmente garantidos por meio de mandado de injunçãoapresentam-se como direitos à expedição de um ato normativo, os quais, via de regra, não poderiam ser diretamente satisfeitos por meio de provimento jurisdicional do STF; ii) adecisão judicial que declara a existência de uma omissão inconstitucional constata, igualmente, a mora do órgão ou poder legiferante, insta-o a editar a norma requerida; iii) a omissão inconstitucional tanto pode referir-se a uma omissão total do legislador quanto a uma omissão parcial; iv) a decisão proferida em sede do controle abstrato de normas acerca da existência, ou não, de omissão é dotada de eficácia erga omnes, e não apresenta diferença significativa em relaçãoa atos decisórios proferidos no contexto de mandado de injunção; iv) o STF possui competência constitucional para, naação de mandado de injunção, determinar a suspensão de processos administrativos ou judiciais, com o intuito de assegurar ao interessado a possibilidade de ser contemplado por norma mais benéfica, ou que lhe assegure o direito constitucional invocado; v) por fim, esse plexo de poderes institucionais legitima que o STF determine a edição de outrasmedidas que garantam a posição do impetrante até a oportuna expedição de normas pelo legislador. 1.2. Apesar dos avanços proporcionados por essa construção jurisprudencial inicial, o STF flexibilizou a interpretação constitucional primeiramente fixada para conferir uma compreensão mais abrangente à garantia fundamental do mandado de injunção. A partir de uma série de precedentes, o Tribunal passou a admitir soluções "normativas" para a decisão judicial como alternativa legítimade tornar a proteção judicial efetiva (CF, art. 5o, XXXV). Precedentes: MI no 283, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 14.11.1991; MI no 232/RJ, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 27.3.1992; MI nº 284, Rel. Min. Março Aurélio, Red. para o acórdão Min. Celso de Mello, DJ 26.6.1992; MI no 543/DF, Rel. Min. Octavio Gallotti, DJ 24.5.2002; MI no 679/DF, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 17.12.2002; e MI no 562/DF, Rel. Min. EllenGracie, DJ 20.6.2003. 2. O MANDADO DE INJUNÇÃO E O DIREITO DE
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GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS NA JURISPRUDÊNCIA DO STF. 2.1. O tema da existência, ou não, de omissão legislativa quanto à definição das possibilidades, condições e limites para o exercício do direito de greve por servidores públicos civis já foi, por diversas vezes, apreciado pelo STF. Em todasas oportunidades, esta Corte firmou o entendimento de que o objeto do mandado de injunção cingir-se-ia à declaração da existência, ou não, de mora legislativa para a edição de normaregulamentadora específica. Precedentes: MI no 20/DF, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 22.11.1996; MI no 585/TO, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 2.8.2002; e MI no 485/MT, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ 23.8.2002. 2.2. Em alguns precedentes, aventou-se apossibilidade de aplicação aos servidores públicos civ (em especial, no voto do Min. Carlos Velloso, proferido no julgamento do MI no 631/MS, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 2.8.2002) is da lei que disciplina os movimentos grevistas no âmbito do setor privado . 3. DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS. HIPÓTESE DE OMISSÃO LEGISLATIVA INCONSTITUCIONAL. MORA JUDICIAL, POR DIVERSAS VEZES, DECLARADAPELO PLENÁRIO DO STF. RISCOS DE CONSOLIDAÇÃO DE TÍPICA OMISSÃOJUDICIAL QUANTO À MATÉRIA. A EXPERIÊNCIA DO DIREITO COMPARADO.LEGITIMIDADE DE ADOÇÃO DE ALTERNATIVAS NORMATIVAS E INSTITUCIONAIS DE SUPERAÇÃO DA SITUAÇÃO DE OMISSÃO. 3.1. A permanência da situação de não-regulamentação do direito de greve dos servidores públicos civis contribui para a ampliaçãoda regularidade das instituições de um Estado democrático de Direito (CF, art. 1o). Além de o tema envolver uma série de questões estratégicas e orçamentárias diretamente relacionadasaos serviços públicos, a ausência de parâmetros jurídicos de controle dos abusos cometidos na deflagração desse tipo específico de movimento grevista tem favorecido que o legítimoexercício de direitos constitucionais seja afastado por uma verdadeira "lei da selva". 3.2. Apesar das modificações implementadas pela Emenda Constitucional no 19/1998 quanto à modificação da reserva legal de lei complementar para a de leiordinária específica (CF, art. 37, VII), observa-se que o direito de greve dos servidores públicos civis continua sem receber tratamento legislativo minimamente satisfatório para garantir o exercício dessa prerrogativa em consonância com imperativos constitucionais. 3.3. Tendo em vista as imperiosasbalizas jurídico-políticas que demandam a concretização do direito de greve a todos os trabalhadores, o STF não pode se abster de reconhecer que, assim como o controle judicial deve
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incidir sobre a atividade do legislador, é possível que a Corte Constitucional atue também nos casos de inatividade ou omissão do Legislativo. 3.4. A mora legislativa em questão já foi, por diversas vezes, declarada na ordem constitucional brasileira. Por esse motivo, a permanência dessa situação de ausência de regulamentação do direito de greve dos servidores públicos civis passa a invocar, para si, os riscos de consolidação de uma típica omissão judicial. 3.5. Na experiência do direito comparado (em especial, na Alemanha e na Itália), admite-se que o Poder Judiciário adote medidas normativas como alternativa legítima de superação de omissões inconstitucionais, sem que a proteção judicial efetiva a direitos fundamentais se configure como ofensa ao modelo de separação de poderes (CF, art. 2o). 4. DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS. REGULAMENTAÇÃO DA LEI DE GREVE DOS TRABALHADORES EM GERAL (LEI No 7.783/1989). FIXAÇÃO DE PARÂMETROS DE CONTROLE JUDICIAL DO EXERCÍCIO DO DIREITO DE GREVE PELO LEGISLADOR INFRACONSTITUCIONAL. 4.1. A disciplina do direito de greve para os trabalhadores em geral, quanto às "atividades essenciais", é especificamente delineada nos arts.9o a 11 da Lei no 7.783/1989. Na hipótese de aplicação dessa legislação geral ao caso específico do direito de greve dos servidores públicos, antes de tudo, afigura-se inegável o conflito existente entre as necessidades mínimas de legislaçãopara o exercício do direito de greve dos servidores públicos civis (CF, art. 9o, caput, c/c art. 37, VII), de um lado, e o direito a serviços públicos adequados e prestados de forma contínua a todos os cidadãos (CF, art. 9o, § 1o), de outro. Evidentemente, não se outorgaria ao legislador qualquer poder discricionário quanto à edição, ou não, da lei disciplinadora do direito de greve. O legislador poderia adotar um modelo mais ou menos rígido, mais ou menos restritivo do direito de greve no âmbito do serviço público, mas não poderia deixar de reconhecer direito previamente definido pelo texto da Constituição. Considerada a evolução jurisprudencial do tema perante o STF, em sede do mandado de injunção, não se pode atribuir amplamente ao legislador a última palavra acerca da concessão, ou não, do direito de greve dos servidores públicoscivis, sob pena de se esvaziar direito fundamental positivado.Tal premissa, contudo, não impede que, futuramente, o legislador infraconstitucional confira novos contornos acerca da adequada configuração da disciplina desse direito constitucional. 4.2 Considerada a omissão legislativa alegada
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na espécie, seria o caso de se acolher a pretensão, tão-somente no sentido de que se aplique a Lei no 7.783/1989 enquanto a omissão não for devidamente regulamentada por lei específica para os servidores públicos civis (CF, art. 37, VII). 4.3 Em razão dos imperativos da continuidade dos serviços públicos, contudo, não se pode afastar que, de acordocom as peculiaridades de cada caso concreto e mediante solicitação de entidade ou órgão legítimo, seja facultado ao tribunal competente impor a observância a regime de greve maissevero em razão de tratar-se de "serviços ou atividades essenciais", nos termos do regime fixado pelos arts. 9o a 11 da Lei no 7.783/1989. Isso ocorre porque não se pode deixar decogitar dos riscos decorrentes das possibilidades de que a regulação dos serviços públicos que tenham características afins a esses "serviços ou atividades essenciais" seja menos severa que a disciplina dispensada aos serviços privados ditos"essenciais". 4.4. O sistema de judicialização do direito de greve dos servidores públicos civis está aberto para que outras atividades sejam submetidas a idêntico regime. Pela complexidade e variedade dos serviços públicos e atividades estratégicas típicas do Estado, há outros serviços públicos, cuja essencialidade não está contemplada pelo rol dos arts. 9oa 11 da Lei no 7.783/1989. Para os fins desta decisão, a enunciação do regime fixado pelos arts. 9o a 11 da Lei no 7.783/1989 é apenas exemplificativa (numerus apertus). 5. O PROCESSAMENTO E O JULGAMENTO DE EVENTUAIS DISSÍDIOS DE GREVE QUE ENVOLVAM SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS DEVEM OBEDECER AO MODELO DE COMPETÊNCIAS E ATRIBUIÇÕES APLICÁVEL AOS TRABALHADORES EM GERAL (CELETISTAS), NOS TERMOS DA REGULAMENTAÇÃO DA LEI No 7.783/1989. A APLICAÇÃO COMPLEMENTAR DA LEI No 7.701/1988 VISA À JUDICIALIZAÇÃO DOS CONFLITOS QUE ENVOLVAM OS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS NO CONTEXTO DO ATENDIMENTO DE ATIVIDADES RELACIONADAS A NECESSIDADES INADIÁVEIS DA COMUNIDADE QUE, SE NÃO ATENDIDAS, COLOQUEM "EM PERIGO IMINENTE A SOBREVIVÊNCIA, A SAÚDE OU A SEGURANÇA DA POPULAÇÃO" (LEI No 7.783/1989, PARÁGRAFO ÚNICO, ART. 11). 5.1.Pendência do julgamento de mérito da ADI no 3.395/DF, Rel. Min. Cezar Peluso, na qual se discute a competência constitucional para a apreciação das "ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União,dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios" . 5.2. Diante da singularidade do debate constitucional do direito de
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greve dos servid (CF, art. 114, I, na redação conferida pela EC no 45/2004) ores públicos civis, sob pena de injustificada e inadmissível negativa de prestação jurisdicional nos âmbitosfederal, estadual e municipal, devem-se fixar também os parâmetros institucionais e constitucionais de definição de competência, provisória e ampliativa, para a apreciação de dissídios de greve instaurados entre o Poder Público e os servidores públicos civis. 5.3. No plano procedimental, afigura-se recomendável aplicar ao caso concreto a disciplina da Lei no 7.701/1988 , no que tange à competência para apreciar e julgar eventuais conflitos judiciais refe (que versa sobre especialização das turmas dos Tribunais do Trabalho em processos coletivos) rentes à greve de servidores públicos que sejam suscitados até o momento de colmatação legislativa específica da lacuna ora declarada, nos termos do inciso VII do art. 37 da CF. 5.4. A adequação e a necessidade da definição dessas questões de organização e procedimento dizem respeito a elementos de fixação de competência constitucional de modo a assegurar, a um só tempo, a possibilidade e, sobretudo, os limites ao exercício do direitoconstitucional de greve dos servidores públicos, e a continuidade na prestação dos serviços públicos. Ao adotar essa medida, este Tribunal passa a assegurar o direito de greve constitucionalmente garantido no art. 37, VII, da Constituição Federal, sem desconsiderar a garantia da continuidade de prestação de serviços públicos - um elemento fundamental para a preservação do interesse público em áreas que são extremamente demandadas pela sociedade. 6. DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS DE COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL PARA APRECIAÇÃO DO TEMA NO ÂMBITO DA JUSTIÇA FEDERAL E DA JUSTIÇA ESTADUAL ATÉA EDIÇÃO DA LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA PERTINENTE, NOS TERMOS DO ART. 37, VII, DA CF. FIXAÇÃO DO PRAZO DE 60 (SESSENTA) DIAS PARA QUE O CONGRESSO NACIONAL LEGISLE SOBRE A MATÉRIA. MANDADODE INJUNÇÃO DEFERIDO PARA DETERMINAR A APLICAÇÃO DAS LEIS Nos 7.701/1988 E 7.783/1989. 6.1. Aplicabilidade aos servidores públicos civis da Lei no 7.783/1989, sem prejuízo de que, diante do caso concreto e mediante solicitação de entidade ou órgão legítimo, seja facultado ao juízo competente a fixação de regime de greve mais severo, em razão de tratarem de "serviços ou atividades essenciais" (Lei no 7.783/1989, arts. 9o a 11). 6.2. Nessa extensão do deferimento do mandado de injunção, aplicação da Lei no 7.701/1988, no que tange à competência para apreciar e julgar eventuais conflitos
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judiciais referentes à greve de servidores públicos que sejam suscitados até o momento de colmatação legislativa específica da lacuna ora declarada, nos termos do inciso VII do art. 37 da CF. 6.3. Até a devida disciplina legislativa, devem-se definir as situações provisórias de competência constitucionalpara a apreciação desses dissídios no contexto nacional, regional, estadual e municipal. Assim, nas condições acima especificadas, se a paralisação for de âmbito nacional, ou abranger mais de uma região da justiça federal, ou ainda, compreender mais de uma unidade da federação, a competência para o dissídio de greve será do Superior Tribunal de Justiça (por aplicação analógica do art. 2o, I, a, da Lei no 7.701/1988). Ainda no âmbito federal, se a controvérsia estiver adstrita a uma única região da justiça federal, a competência será dos Tribunais Regionais Federais (aplicação analógica do art. 6o da Lei no 7.701/1988). Para o caso da jurisdição no contexto estadual ou municipal, se a controvérsia estiver adstrita a uma unidade da federação, a competência será do respectivo Tribunal de Justiça (também poraplicação analógica do art. 6o da Lei no 7.701/1988). As greves de âmbito local ou municipal serão dirimidas pelo Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal com jurisdição sobre o local da paralisação, conforme se trate de greve de servidores municipais, estaduais ou federais. 6.4. Considerados os parâmetros acima delineados, a par da competência para o dissídio de greve em si, no qual se discutaa abusividade, ou não, da greve, os referidos tribunais, nos âmbitos de sua jurisdição, serão competentes para decidir acerca do mérito do pagamento, ou não, dos dias de paralisaçãoem consonância com a excepcionalidade de que esse juízo se reveste. Nesse contexto, nos termos do art. 7o da Lei no 7.783/1989, a deflagração da greve, em princípio, corresponde à suspensão do contrato de trabalho. Como regra geral, portanto, os salários dos dias de paralisação não deverão ser pagos, salvo no caso em que a greve tenha sido provocada justamente por atraso no pagamento aos servidores públicos civis, ou por outras situações excepcionais que justifiquem o afastamento da premissa da suspensão do contrato de trabalho (art. 7o da Lei no 7.783/1989, in fine). 6.5. Os tribunais mencionados também serão competentes para apreciar e julgar medidas cautelares eventualmente incidentes relacionadas ao exercício do direito de greve dos servidores públicos civis, tais como: i) aquelas nas quais se postule a preservação do
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objeto da querela judicial, qual seja, o percentual mínimo de servidores públicos que deve continuar trabalhando durante o movimento paredista, ou mesmo a proibição de qualquer tipo de paralisação; ii) os interditos possessórios para a desocupaçãode dependências dos órgãos públicos eventualmente tomados por grevistas; e iii) as demais medidas cautelares que apresentem conexão direta com o dissídio coletivo de greve. 6.6. Em razãoda evolução jurisprudencial sobre o tema da interpretação da omissão legislativa do direito de greve dos servidores públicos civis e em respeito aos ditames de segurança jurídica, fixa-se o prazo de 60 (sessenta) dias para que o Congresso Nacional legisle sobre a matéria. 6.7. Mandado de injunção conhecido e, no mérito, deferido para, nos termos acima especificados, determinar a aplicação das Leis nos 7.701/1988 e 7.783/1989 aos conflitos e às ações judiciais queenvolvam a interpretação do direito de greve dos servidores públicos civis.
(STF - MI: 708 DF , Relator: Min. GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 25/10/2007, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-206 DIVULG 30-10-2008 PUBLIC 31-10-2008 EMENT VOL-02339-02PP-00207 RTJ VOL-00207-02 PP-00471)